No que respeita ao mtodo, Scrates preferiu no ensinar, de modo a permitir
aos jovens que aprendessem por si mesmos. Aprender, na perspetiva socrtica, seria aceitar o desafio do dilogo, seria estar aberto a perguntas e a ter a coragem de responder, responder por si e a si, concluir por si prprio acima de tudo. Aprender seria, assim, conhecer-se a si mesmo. Antes do conhecimento de outras coisas seria importante o conhecimento de si mesmo. O princpio pedaggico socrtico era ento conhece-te a ti mesmo. Este conhecimento no era transmitido pelo professor, era apreendido pelo jovem atravs do dilogo. O dilogo tinha dois momentos essenciais: a ironia e a maiutica. A ironia consistia em interrogar o jovem de modo a que ele prprio, em virtude das contradies em que se enredava, reconhecesse o seu engano, o erro do seu argumento. A maiutica (que Scrates comparou profisso de sua me) consistia em, uma vez reconhecido o erro, e com o auxlio do mestre, construir fundamentos prprios e seguros acerca da temtica que acabava de discutir. Do conhecimento de si depende o conhecimento da virtude. Conhecer-se a si mesmo implica cuidar mais da alma do que do corpo e das suas riquezas. A excelncia do Homem depende do conhecimento da Alma e, por isso, sobre a Alma que importa investigar. Scrates, assim, apresentou um projeto pedaggico inovador: fez depender do prprio jovem o conhecimento de si mesmo, sendo a interveno do mestre semelhante de um moscardo que se agarra a um cavalo forte e de bom sangue que, por causa do tamanho, precisa de ser despertado por um aguilho. Scrates no quis ensinar ningum, muito menos ser pago pelo seu ensino. Deste modo, a virtude que Scrates que procura despertar nos jovens a sabedoria, no a que possa ser ensinada, mas aquela que uma procura e um processo de descoberta pessoal.
Texto adaptado do manual Introduo Filosofia (1997), pp.174