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A questao da cientificidade ‘A ciéncia€ apenas uma parte da cultura humana, assim como 2 anc, a ilosfia,arligio eo conhecimento comum ou cotidiano. A ciéncia também no constitu a nica maneira de conheeer 0 mundo: ‘os saberesadguitidos no dia a dia, por exemplo, sio extremamente imporcantes na nossa vida Quand se diz que um conjunto de ideias nao &cientfcn, ss no significa que ee sj iso, absurdo, sem sentido ou ini Embora ‘© postive lgicotenkadefendide arse de que todos os problemas tenuinos seriam ou de carter ciemtiico ou de cariterlgico, a verdade que muita corns centifiassugiram de mitos ou sistemas filoséi- cos milo estives, como o atomismo grego, que airmava que toda 2 ‘matéria¢ formada por parts invsfves, os dtomos (POPPER, 1972) 1.0 problema da demarcacao [A distingio entre o que & ow io ciéncin nem sempre & clara ara centarelucidar ese “problema da demarcago", fram propostos ‘iris citérios diferentes de clentfcidade, com o objetivo de dif ‘eociat a cigncia tanto de outras formas de conhesimento quanto do que comumente échamado de “pseudociénca’ 1.1 A refutabilidade Para Popper, hipéteses com conteido empirico devem ser po- tencialmenterefutives. Por isso, cle critica certastntativas de mani: pulayso de hipéceses que procuram coloc-as a salvo de qualquer relutagio, reformulando-as a fim de que possam resi a qualquer teste: As hipsteses tomam-se assim “imunizadas”contea a refitagso, sendo confirmadas por praticamente qualquer observagzo ou experi- ‘mento (POPPER, 1972). Esa hipéeses sio desprovidas de interes cientfico porque nada “protbem’, ou enti “prtbem” muito powco — por isso, nao fornecem nenhuma infoemagio sobre quests em ‘as, uma ver que sio compativeis com qualquer acontecimento, Se- undo Popper, portanco, a refuabilidade pode ser wsada como crté- rio de demarcagao entre afrmagies que tém conteido empirco & afirmagbes destituidas de coated empirico. Somente hipdtescsre- faveis podem ser invetigadas empiricamente e fazer parte de uma ciénciaempirica, como as ciéncas natunais. A refutabilidade consi, entio, um eiéio negative, pois indica aquilo que no € cient, © critério de refutabilidade pode ser usado para diferencia as citncias empiricas das cincis formas, como aligica ea matemitica, cede outs formas de conhecimento, como conhecimentafilosi- «9, que trata de juts de valor e de conccitas« prio’ (MILLER, 2006). Esse eriéro pode ser urilzado também para diferenciar wma clcia empirica da preudocigncia. Para Bunge, prewdociénciaé uma ‘eoria ou campo do conhecimento que, apesar de ndo ser cientico, apresentz-se como tl (BUNGE, 1985b) (Uma das formas de tornar uma hipStse irfutivel consist em formula de modo que dela s6 se possam extra prevsdes vagas, ‘Muitasprfecias de videntes scuam-se nesse caso, Alguns afrmam, por exemplo, quc um politico importante morreté no ano seguinte. Um ripido exame revela que todos os anos algum politico importan- tefalece. Aém disso, oterma “importante” é sufiientementeclistica para englobar um nimero imenso de politicos, 0 que aumenta mais ainda a chance de a previsio se relia, dimsinuindo as chances de refutaglo. Iso também vale para afimagSes como “algo bom vai acontecer nos préximos meses". Assim, a hipdrese de que vidente tem realmente o poder de prever 0 futuro & sempre “confimad” pelo acerto de sua previsio, Entretanto, mesmo que essa hipérese 8 fesse falsa a prevsio também se confirmara, simplemente porque cla €suficientemente vaga para se acomodar a um niimero muito grande de acorréncia. [No capitulo 3, vimes algumas rccas fits ao criti de refabi- Iidade;ericas que se estendem ao critério de demarcagio de Poppet. ‘Assim, enunciadoscintficos do tipo "neutrinos existe” podem até sr verificados, mas ndo refutados. Por esses € outros motivos, nem todos os filsofos concordam com o principio de demarcagzo de Topper. As erticas vém, principalmente, de fildsofos como Kuhn, Lakatos c Feyerabend, quese valem da stra da egnca para mostrar que os cientsts nem sempre agem da manera proposta por Poppe 1.2 Outros critérios de demarcagao Para Kun (1970), que caracteriza uma pseudociéncia, como aasuologia, ¢auréncia da atvidade de resolugzo de problemas (puz- le) encontrada no que cle chama, como vos, de citncia normal ‘Mesmo que as preigesastrogieas falhem, essa anomalia no in forma, nio gera uma avidade de pesquisa que expique a conta aco 19s, 2010) Se ‘er saber mas wb fa encoder pedo por mito ie ‘ha cone asng (1990); Alec Burns Freeman (283) cnr (190 5); Carhon (1985) Caer nna (1984, 188); Dea (197) (4986, 1991); Gi 1990) Joo (1977); Kanter (1991); Rnd (1982 1995) Sagan (1996) Sherer (1987) Shs (2009) Standen (1977) Sea (0996) Ada sb aso veo eet diponlel eer cpa CO med as bri nate 2. Ciéncia e conhecimento cotidiano Taos nés sabemos muitas coisas que noe ajudam em nosso dia 4 dia e que funcionam bem na pritica. Nas zonas cuss, divesas pessoas, sem nunca tet frequentado cursos de agrcultura, saber paca certade plantar de colher. Esse conjunto de cengas eopinives, ‘ssencialmente de carter pritico ~ uma ver que procura resol pro- blemas cotidianos forma o que se costuma chamar de conhecimento A reltiva eficiéncia do senso comum deve-s a fato de que ee, assim como o conhecimento cientiico, também passout por um pro- cewo de aprendizagem por tentatva ¢ era. Gragas A linguagem, 0 ‘onhecimento adquitido por um individu pode ser cransmitido a ‘outos , também, is gerages seguintes; ets, por sua vez, podem ‘modificar o conhecimento cofrig-lo por meio do proceso de ten- tata e err, Portanco, pelo menos em certo grau, 0 conhecimento comum ¢ também um conhecimente critco.E alguns sofas de- fendem que hi uma continuidade entre a investigasio centfica e 2 investigacio empirica cotidiana (HAACK, 2003). No entanco, em certos casos, 0 nivel ritien do conbecimento cotidiano ¢ inferior no que dia respeto ao poder preditvo e ci ia —a0 do conhecimento cientfco, uma vez que suas hipéteses nem sempre io tesadas da mancira mais igorosa possvel ‘© conhecimento cotidiano limita-se, na maioria das vezes, &ten- tativa de resolver problemas de ondem pritica. Por iso, enquanto Aeterminade conhecimenco funcionar bem, considerindo as fnali-

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