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513 ‘Arc.© 164.° Aste eribunal compete: 1.© Conceder ou denegar revistas nas causas€ pela maneira que a lei determinar. 2.2 Conhecer dos delitos e ertos de oficio que comererem os seus ministros, os cempregados do corpo diplomitico e os presiclentes das provicas. 3.9 Conhecer e decidir sobre conflitos de jurisdicio. — A DOUTRINA E A CIENCIA DO DIREITO A doutrina desempenha, na evolucio do direito moderno, um papel muito importante. A ciéncia do direito conheceu, no decurso dos sécs. XIX ¢ KX, um grande desenvolvimento, gracas a importincia adquirida pelo ensino universitério do diteito nacional ¢ gracas & publicacio de inumeréveis obras de direito, £ assim que, na Bélgica, foram publicados mais de 10 000 livros ¢ artigos relativos ao direito, entre 1814 e 1900; ‘este ntimero passou para 17 000, para o periodo de 35 anos entre 1919 ¢ 1955. O ensino do direito, como, de resto, quase todo o ensino universitério, tinha, no entanto, sido suprimido pela Revolucio Francesa. O direito — ou, antes, a «legislacao» — continuou a ser sumariamente ensinado nas Escolas Centrais, escolas de nivel secundirio, apenas uma por departamento. Foi preciso esperar pelo ano de 1806 para ver ctiat doze Escolas de direieo no Império francés, algumas das quais situadas em cerrit6rios anexados (Bruxelas, Coblenca, Turim); estas foram pouco depois transformadas em Faculdades de direito, organizadas no quadro da Universidade imperial, subsistindo até aos nossos dias, cada vez mais numerosas °". Nestas Escolas, depois Faculdades de direito, o programa de ensino era muito diferente dos das universidades do Antigo Regime. Nestas, odo 0 ensino se baseava ainda no direito romano: Insticatas e Digesto; no méximo, tinha havido timidas reformas para introduzir af um curso de direito nacional ¢ um curso de direito das gentes ou de dircito piblico. A partir dos inicios do século XIX, 0 ensino do diteito romano era limitado a um curso elementar; dai em diante, € 0 ensino do direito civil que domina, com alguns cursos elementares de direito penal, de direito piblico, de proceso” A situacio é diferente na Alemanha, onde, durante todo 0 sé. XIX, domina a Pandektenwisienschaft (ciéncia pandectistica), baseada no estudo dogmitico do direito romano; é apenas na sequéncia da codificagio do direito civil, no final do século, que a importancia do direito romano diminui no ensino universicério. Em Franca e nos outros paises do mundo romanista, 0 ensino de outros ramos do diceito nao consegue destronar o do direito civil seniio no decurso do séc, XX; Jenea, mas (01) B. PONTE, Hii de eminent on Prac (1789-19), Pais 1966; 1 LARD, Lceignenent pian France (1789-1859), 2 VOIS., PARIS 1888-1894 (0) GILISSEN, «Lemscignement du deit rai A cle, puis Fault du Droit de Bruce (1806-17), em ‘Satara Fectra(en ropes. 314 sistematicamente, 0 direito publico e administrativo, o direito penal, o direito comercial, adquiriram mais importancia, seado agota acompanhados pelo direito econémico ¢ financeiro, pelo diteito judicidrio e, sobretudo, pelo direito socis E praticamente impossivel, resumir em algumas paginas toda a histéria da doutrina nos sés, XIX e XX, pois as tendéacias € as opinides dos juristas revelam-se muitas vezes diferentes em cada um dos ramos do direico, Qualquer classificagio muito : sistematica é, aliés, temeraria ””. oN Ne whe A Escola histérica— nite sare uf oo Sygh nibon epg 0h frock}) ‘As primeiras obras de doutrina, escritas depois da codificagio napoleénica, foram-no por juristas que, tendo ainda conhecido 0 direito consuetudinério do Antigo { Regime ¢ sido formados pelo estudo tradicional do direito romano, nfo amitiam 0 “ principio da exclusividade da lei como fonte de direito; para eles, a lei retirava a sua forga do ditcico, e nia. dircio da lei. a - Por outras palavras, a interpretacio da ei nio se pode fazer senio em funcio da concepgao que a fez nascer; ora os autores dos cédigos napoleénicos foram buscar muita coisa ao direito romano e a0 direito costumeiro francés do Antigo Regime. E, portanto, com 0 auxilio do direito romano e do direito costumeiro francés que se devern explicat os cédigos € as outras leis da época revolucionétia € napolednica. Dai o nome de «Escola Histérica» ou «Escola romanista ¢ costumeira». ‘Uma das primeiras obras sobre 0 Cédigo Civil de 1804 foi ade Durour, aparecida em 1806, cujo titulo (Code civil avec toutes les sources on ses dispositions ont été puisées, 4 vols.) mostra a intencio do seu autor de procurar na histéria do direito a explicagio das disposigées legislativas. O principal autor francés da Escola Histérica foi Merlin, ministro da Justica sob 0 Directorio, procurador-geral na Cour de Cattation sob Napoledo, mas que teve que se refugiar na Bélgica depois de 1814, Publicou um importance Repertoire univeriele raisonné de jurisprudence, completado por urn Recueil alphabérique des quetions de droit, cujas quateo primeitas edigdes apaseceram em Franca antes de 1815 e a quinta, em 54 volumes, na Bélgica, de 1825 a 1835. Para cada questdo, Merlin expde longamente o antigo direito Francés, a fim de explicar o sentido das novas leis: 0 costume tem, para Merlin, a mesma forca obrigatéria que a lei, podendo mesmo derrogar a lei. A Ouvier LECLERCQ (1760-1842), que veio a ser procurador-geral no Tribunal superior de Lidge, se deve um dos primeiros comentérios do Cade Civil, a parti das fontes romanas; publicado em 8 9A) iy ws sacs pe de dic Jan fe \ (08) E. VAN DIEVOET Lede io Blige on Holland de 18004 1940. 81-234: do mese0,Prabe ddr stich dito, 1931; J. BONNEECASE, La nei fom ce 1804 ne pret 2 yl Pats 1933; J. ARNAUD, Let {wife hla hd XIX, aie ma jr, Pass 1973, A. BRIMO, La grand an ea hla doeFat, ac 1967: ]. CARBONNIBR, Hdd, Par 969, 515 volumes, de 1810 a 1812, em Litge: Le droit romain dans ses rapports avec le droit frangais et es principes des deux législasions Foi sobretudo na Alemanha que a Escola hist6rica conheceu um grande sucesso. Reagindo contra a influéncia francesa ¢ sobretudo contra a ideia de codificagéo, juristas eminentes enfatizaram ideia de Volkigeist (espirito do povo): 0 papel do povo é, a seus olhos, predominante na formacio do direito, constituindo os cédigos obsticulos & sua evolugio natural, que se faz sob a influéncia das modificagdes constantes da vida social prépria de cada povo. Entre os numerosos representantes da Historische Schule, uns referem-se sobrecudo a0 direito germinico (Eichhorn, Jacob Grimm, Beseler), outros 20 direito romano, tal como tinha sido recebido na Alemanha (Hugo, Savigny, Puchta). Savigny (1779-1861) publicou em 1814 0 seu célebre Uber den Beruf unserer Zeit fiir Gusetzgebung und Rechaswissenschafi (Sobre a tendéncia do nosso tempo para a legislacio € a ciéncia do direito), em que combatia o trabalho de Thibaut, que tinha preconizado uma codificacio do direito civil alemao. As Faculades de direito criadas por Guilherme I em 1816 em Gand, Lovaina Liége, sofreram uma forte influéncia da cincia juridica alema da épcoa; um professor de origem alema, L. A. WARNKOENIG (1794-1866) exerceu uma influéncia real pelos seus estudos de histéria € de filosofia do direito *: Quando, em 1834, surgiram a Universidade Catélica de Lovaina ¢ a Universidade Livre de Bruxelas, a influéncia da Historische Schule alema predominou nas aovas faculdades de diteito, substicuindo progressivamente a influéncia francesa, © alemdo Ahrens (1808-1874) ensinou o direito natural, de 1834 a 1848 em Bruxelas; 0 seu Cours de droit naturdl, aparecido em 1838, mas com oito edigoes até 1852, acentua 2 idade do direito em relacio a lei. Um outro alemio, E. ARNTZ(1812-1884), professor de direito civil em Bruxelas, publicou, de 1860 a 1875, um curso de direito civil (Cours de droit civil francais) que, dominado ja pela Escola da Exegese, nfo negou, todavia, todo. interesse pela contribuicdo da hiscéria e exigéncjas priticas da vida quotidiana, 7-0 9 Coty ray Men qe U8 mee aye 2. Ascolada Exes: pits ela ara A pa dedicando-se mais especialmente a anilise do seu texto. Consideravam-no como algo de absolutamente novo, que era necessirio explicar sem ter o passado em conta. Atribuiram ¥ andlise textual uma imporcincia capital, explicando um artigo a partir de outro, combinando-os entre si, elaborando assim na base das disposicies legais teorias novas, muitas vezes imprevistas, que os autores do Cédigo nio tinham, decerto, imaginado, (00 G. WILD, Lal Aust Waring, 1794-1866, Rie Reber einen Narahy wba Sb ed Vermiter debe ster Weta, Katia 1961; R. HARSIN, La Fact de dos le Lge) sus le ime bland, (Chrmigu Uni. Lge, 1967676 do tes ol. Wartkorig Universe de bes, dp. 97-127 4 da promulgacdo do Code Civil,,os juristas ‘comecaram a ieridacto, KC pexstoals 516 L Isolavam assim 0 Code Civil — e também os outros cédigos — do meio social no qual ele tinha nascido e no qual ele devia ser aplicado; consideravam-no em si, como um todo, do qual eles deviam deduzir por via de raciocinio todas as solugdes teoricamente possiveis Método, portanto,!puramente dogmitico, baseado na anélise exegécica dos textos legais , O fundamento da nova concepsao do estudo do direito era a doutrina legalista: todo o direito esré na lei. S6 0 legislador, agindo em nome da nacio soberana, tem o poder de claborar 0 direito. Nao pode, portanto, existir outra fonte de direito senio a fei. «Nio conhego o direito civil; apenas ensino 0 Code Napoledn», teria dito 0 professor Bugnet. “Todavia, como o legislador nao péde prever todas as dificuldades que podem surgir, © juiz deve, para por fim as questées que Ihe forem submetidas, interpretat os textos da lei pela via do raciocinio légico, de forma racional. A Escola da Exegese leva, assim, a viesria das ideias filosoficas € politicas dos grandes pensadores fra -. XVIM: estatismo.e ‘nalismo. Estatismo: a concepcao legalista consagra o culto do Estado-Deus e da soberania da nacio; o legislador, sozinho, cria 0 direito. Racionalismo: as leis deve ser interpretadas racionalmente, logicamente; a experimentagio, a hist6ria, © direito comparado, nada disso tem qualquer interesse para o jurista. Sob a influéncia das ideias filos6ficas de Kant na Alemanha, de Saint-Simon ¢, sobretudo, de Auguste Comte em Franca, deu-se o nome de positivismo legal, ou Gesetzpositivismus, as teorias da Escola da Exegese, Esta Escola dominou a cigncia do diteito em Franga e na maior parte dos paises da Europa continental de 1830 a 1880; teve precursores; ¢ ainda exerce, mesmo nos nossos dias, uma profunda influéncia sobre 0 ensino (sobretudo sobre o do direito civil) sobre a pritica do direico. Entre os precursores, citemos, desde logo, MALLEVILLE, um dos redactores do Cade Civil, que publicou entre 1805 ¢ 1814, a sua Analyse raisonnée dela discussion du Code Civil (4 volumes). Obra bastante mediocre, que nio teve grande influéncia, mas que indicou a nova via, Depois vieram os Conrs de droit civil dos professores Detvincourt (em 1808), JEAN PROUDHON (em 1809) ¢ TOULUER (em 1811); mas, se enunciam j& certos pontos fundamentais da doutrina da exegese, permanecem ainda sob a influéncia do direito romano e costumeiro. primeiro daqueles que foram chamados os «grandes comentadores» do. Cade Napoleén € A. DURANTON, cujos 22 volumes do Cours de droit francais suivant le Code Civil apareceram a partir de 1825. Depois, sio Ausry ¢ Rau (8 volumes, 1838-1844), DeMoLomBé (31 volumes, 1845-1876), TROPLONG (27 volumes, 1833 e seguintes) e, mais tarde, BAUDRY-LACANTINERIE (29 volumes, 1895 € seguintes). Na Bélgica, a Escola da Exegese exerceu uma influéncia profunda e durivel, (09) J. BONNECASE, fale Peden do, 2.0, ase 1924 i 317 Desde 1830 que os juristas da Bélgica independence, quase todos francéfonos, se voltam para a Franca; a maior parte dos grandes tratados so, de resto, reimpressos em Briixelas. O chefe de fila da Escola da Exegese belga foi Francois LAURENT (1810-1887), professor da Universidade de Gand. Liberal, reve graves problemas com os bispos de Gand ¢ Bruges, por causa do seu ensino. Publicou 33 volumes dos seus Principes de drt civil, de 1869 a 1879. Aplicou, duma forma sistemécica, o método exegético. No preficio desta obra, expde a sua concepcio do direito: para ele, «0 direito é uma ciéncia racional»; o juiz nao pode «desobedecer& letra da lei sob 0 pretexto de penetrar no seu espirito»; «os cédigos nada deixam ao arbitrio do intérprete; este jé no tem por missio fazer o dircito, pois © direito esta feito. Acabou a incerteza: 0 direito esta escrito nos textos autéaticos». Laurent foi o defensor mais aguerrido da Escola da Exegese ‘A influéncia de Laurent foi consideravel, mesmo em Franca; na Bélgica, os Principes de Laurent continuaram a ser a tinica grande sintese de direito civil até ao aparecimento, em 1933, do Traité de droit civil de HewRi DE PAGE. Professores, magistrads e advogados concinuam a servir-se dele, De resto, poucas outras obras importantes em matéria de direito civil, na Bélgica; foram geralmente cursos de dieito civil, relativamente sumérios ", Na Alemanha, a ciéncia do diteito foi dominada por duas correntes, complemen- tares uma da outra: a Pandektenwissenschaft ¢ 0 Gestzepasitivismus. As codificagoes — pru central dos Estados germénicos; af, 0 ius commune, ou seja, 0 direito romano, tal como tinha sido compreendido ¢ explicado nas universidades, continuava a sera base do direito privado ¢ constituia 0 objecto de trabalhos dogmaticos cada vez mais aprofundados. Os representantes mais célebres desta pandectistica (Pandektistit) sio 1892) € von Jehring (1818-1892). O Lehrbuch des Pandektenreihte primeiro, do: codificacdo do B.G.B.; com as suas traducdes em italiano € em grego, ele exerceu uma forte influéncia sobre os juristas destes paises. De von Jehring, citemos 0 seu Geist des rimischen Rechts auf den Stafen seiner Entwicklung (Espirito do direito romano nas fases da sua evolugio, 1852) e, sobretudo, Der Zueck im Recht (O fir no direito, 1877-1884), na, bavara, francesa, etc. — dos inicios do século nao se tinham imposto na parte ou a ciéneia do direito civil na Alemanha antes e mesmo depois da 106 Acerca do pret de cio ivi igo por Laurent, vp. 414; R. WARLOMONT, Prema Lav, ry, ome actin pay, Bera (938 (Om E_ARNTZ (1812-1884), Car dc, es, 2 ols, 1860-1875, 2. ed Av, 1879-1860; P. NAMUR (1815-1890), prof scetvarente tas Universidade de Brel, de Gand ede Lige, Cer mii be dit, Inradcion sia ied du den, Breas 1875, THIRY (1817-1889), Coe ded, Liege 1892; G. GALOPIN (1849-1921), Cwr ‘Xe dt inl (econ cc), 1910-1919; J, VAN BIERVLIBT (1814-1938), Ons Bares Wet, 190; Cons det cil Iceivar, 1925, H. ROLIN Wine, 18741946, poe sa Universidade de Brose), Prligmins & l md dt, 19015, "riiqe, Radda or lipid dra, 1923, KLUNSKENS, Segara Bergih Ra, 0. 8, 1948-19515 IRIEZ, ise del Faculté de dt de Lovin de 1835 A 19350, Ame. Soi lit, 1V, 1938; R, VICTOR, Ft tm Viamic abi, 1935. 318 O positivismo legalista apresentava as mesmas tendéncias que em Franga: a lei é todo 0 direico. Foi ele que produziu o dogma da soberania absoluca do Estado que se enconcra nas teorias nacional-socialistas do século XX e, sobretudo, na concepsao soviética do direito oN Teli eet aS acct Sain 08 3. A Escola ciedeifica 2a tii a a me pen Bo aased cit A reaccao contra os excessos da Escola da Exegese manifesta-se em Franca a partir dos anos 80 do século passado. No entanto, ela ndo conseguiu impor-se sendo por volta. de 1900, e tendo ainda de combater os iiltimos defensores da concepcio legalista € dogmitica. , A nova doutrina recusa-se a considerar a lei como fonte tinica de direito; admite a ¥ sua preeminéncia, embora entenda que o costume, a jurisprudéncia, a doutrina € a 4 equidade devam também ser seconhecidas como fonces de direieo. © jurista deve procurar as soluges mais justas © mais adequadas, como complemento as normas impostas pelo legislador. Ja em 1904, o presidente do Tribunal de Cassagio francés, BALLoT-BEAUpRE afirmava que «o juiz no deve obstinar-se em procurar determinar qual foi, hi cem anos, o pensamento dos aucores do Code, ao redigir este ou aquele artigo; © que se deve perguntar é qual seria 0 seu pensamento se o mesmo artigo fosse redigido hoje»; deve ter em consideracio todas as modificagées que «se verificaram nas ideias, nos ; costumes, nas instituigdes, no estado da economia ¢ da sociedade». Outros dirio que 0 1 juiz deve interpretar a lei no sentido do seu fim social actual: que ele «deve ser do seu : tempo», que ele «ndo é um féssil ; E pela livre investigagio cientifica (em alemao: Freie Rechtsfindung) que o jurisca deve esforcar-se por revelar o direito do seu tempo: deve tomar em consideragao todos os elementos constitutivos do estado actual do direito; a sua pesquisa deve, nomeadamente, ser guiada pela histéria das insticuigdes. Os progressos feitos pela sociologia do direito € a pela filosofia do direito devem ser utilizados para um melhor conhecimento ¢ compreensio das normas juridicas da vida actual. O jurista deve considerar as experiéncias feitas, os sucessos ou fracassos que resultam dos movimentos constantes do direito. Deve procurar a expressio do justo € nao exclusivamente a vontade do legislador. O direito é, em si mesmo, coisa diferente da lei; se esta continua a ser o elemento principal para o conhecimento do direito, nio exclui os outros elementos: sobretudo, 0 costume, os principios gerais ea jurisprudéncia. Apesar da importincia, desde ha cerca de um século, das novas tendéncias doucrinais, o positivismo legalista continua ainda muito vivaz, tanto Ho ensino do direito ‘como na jurisprudéncia. Os juizes, sob 0 constrangimento moral dos supremos tribunais, procuram ainda basear sempre as suas decis6es num texto legal, como condigio essencial para a seguranga juridica, Para o eminence jurista austrfaco, Hans Kelsen (1881-1973), @ ciéncia do direito deve permanecer puramente juridica (Reine Rechtslebre, 1927; 2.* ed 1960), depurada de influéncias sociol6gicas, politicas ou éticas; 0 diceito € um conjunto 519 de normas estabelecidas pelo Estado, deduzido de uma norma fundamental (Grundnorm) que implica a submissio & Constituicao. Na realidade, nao existe «uma» escola cientifica; ha varias, cada uma delas pondo © acento sobre um ou outro aspecto das fontes do direito: histérico, sociol6gico, econdmico, etc. Por isso, também se the atribuem diversas denominacées: escola de interpretagio realisca, escola sociolégica, etc. Na Alemanha, encontram-se as mesmas tendéncias sob outras desigoagdes: Naturalismus, Freirecbtibewegung, Interessenjurisprudentz, Wertungsjurisprudent, et. A Escola cientifica ceve precursores em Franca ¢ na Bélgica, como noutros paises; mais exactamente, a obra de certos juristas constitui o elo entre a Escola histérica decadente ¢ a nova doutrina cientifica. Tal é 0 caso, para a Franga, de A. Jourpane do grupo da revista La Thémis, revista que apareceu de 1819 a 1931, de H. KuMRATH, sobretudo historiador do direito, do civilista R. SALEILLES, que acentuou a evolucio constante do direito. Na Bélgica, 0 procurador-geral junto da Cassacio, Cx. FAIDER (1811-1893) resistiu a accio da doutrina legalista ¢ conseguiu conservar na jurisprudéncia © do Tribunal um sentido realista e progressista; o advogado EDMUND PicaRD (1836-1924), um dos primeiros senadores socialistas, lutou contra a «erudigéo pedante» dos comentadores do Code civil; para ele, 0 direito é um «fenémeno social» sempre dinamico, «Um povo esti verdadeiramente em estado permanente de revelacio do seu diceito», escreveu ele em Droit pur, aparecido em 1899, no qual atacou o legislador todo-poderoso. Apesar de uma excessiva preocupacio de originalidade, foi uma das grandes figuras do direito belga de antes de 1914 . Os principios da doutrina cientifica foram, em primeito lugar, bem patenteados por FRANCOIS GENy, em Méthode d'interprétation et sources en droit privé francais, aparecido em 1899; ele restituiu a cada uma das fontes de direito, sobrecudo ao costume € & jurisprudéncia, o lugar que os exegetas thes tinham contestado. A partir desta época, 0 novo método impée-se rapidamente: A. EsMeIN fundou, em 1902, a Revue Trimestille de Droit Civil, que insiste no papel da jurisprudéncia como fonte de direito civil; EDOUARD Lampert, professor em Lido, dev, a partir de 1903, um lugar ao direito comparado na compreensio e interpretacio do direito nacional. Por fim, Mace. PLaniot. (1853-1931) escreve, a partir de 1899, 0 primeito Traité éémentaire de droit civil, inspirando-se nas ideias da nova escola. Nos outros ramos do direito, a renovacio situa-se pela mesma época; no direito Ptiblico, com as obras de Duguit ¢ Hauriou; no direito penal com as de GARRAUD, ‘Garcon e ROUX; no direito comercial com as de THALER ¢ de LYON-CAEN. O seino de «Sua Majestade o Code Civil terminou por volta de 1880-1900, tendo os outros ramos de direito adquirido uma certa auronomia. (08 A. PASQUIER, Edmad Piard, Bre 1945 Leca Pe 520 Na Bélgica, a influéncia da nova tendéncia francesa fe2-se sentir rapidamence, sobretudo na Faculdade de Direito da Universidade de Bruxelas. A partic de 1906, P. VAN Der EYCKEN (1873-1943) defende af uma cese sobre La méthode positive de Vinterprésation juridique, combacendo a incerpretacio exegética das leis e pondo em relevo a averiguagao do fim social das instituicdes juridicas. No mesmo ano, MAURICE VauTHiER (1860-1931), num estudo sobre Le détat judiciaire, insiste no papel do juiz no desenvolvimento do direito. Muito mais tarde, em 1924, Guorces Conn, (1863-1944), professor de direito romano, publicou 0 seu Droit privé, cujo subtitulo encerra um ‘programa (Essai de socologie juridique simplifieé); em 1928, PteRRE HARVEN (1896-1900) estudou os Monvements générauce di droit coil belge contemporain sob o vitulo: Individualisme et socialisme, Por firm, 0 professor Henat DE PAGE (1894-1969), (75) auxiliado pelo professor DEKKERS (1909-1976) publicou, a partie de 1933, um importantissimo Traité lémentaire de droit civil belge 10 + 4 volumes), dominado pela nova dourrina cientifica, sobretudo na sua concepcio sociolégica, Obra magistral que substitui definicivamence os Principes de Laurent, fazendo enfim diminuir a influéncia da escola exegética ”, Uma reaccio idealista, por veves designada por «neoclissica», contra as tendéncias realistas, positivistas © sociolégicas, deseavolveu-se na Universidade de Lovaina, sobretudo nas obras dos professores JAN Duin (1889-1971) e cénego Jacques LECLERQ (1891-1971) NOTA DO TRADUTOR Eine itu eri Parga ot es XI XN. © casino do dieto em Porugl,abederu, busicamente, so siodelo europea, com + exclusive ou france predominincia do ensinn do die tomsno. A Reforma Pom dos Farad Jurisica (1772) costa, 9 ntat, wpe ‘de viagern, proce 1 nivel earopen, ao gute 0 manapaio do enino romania (ecananits pee inte de wn car de Direte Naural Piblico Univemal ¢ das Gene a verdad vrais 0 esi dat inary deutinas © legsatva dt Bupa ‘contemporaine, de Hiséia Civil dos Pows, «Diets Romano « Poregudse, obra, de Dieta Pati, Fa iia, servida oe umm compéndio oesvl, 25 Fusion aris ols lsat, de Pace Jue de MELO PREIRE, vt de (ct, torte ‘sciplina cera! do ecsinn judo ainda derante ied sécul XVII A cic acu de Le, tora, pcan a de ‘Ginoaes, eo 1836 permit alaguteno do cleo das aes deceit eaconl (Ditto Pablin, de cadens de Dito Co Diteto comercial, Dist criminal, sem ds Heononia polite , depos, do Dito aiminisevo (HB). Dv poco de ise “constrain, no entant, x atonumia em lao & goin rman fi a como Eg ras iil dear, end @ legndo da pandecttc,sobrerdo ale, do. XVII (Marini, einen, Thora, Wolf, Seva, Necteblat) dominate 4 siseematizagio e expo © os gels cones mais gens. Mo, partir do nin do culo XIX, + inflecafuncess Goran, Pochie, Demclombe, et.) ore inpende, eo pane yelo prio do Codec. em pare, também, pot ete) Tinguiscicas, A patie don Finan de 1870, x comenes pitas pasa nfloeiaeReterente + Unneidde (iio Gare ‘Afonso Cows), ominande oconte6do das princpi caer ete enfin eine 191, dey, na igi, em Lsban, 1091 HL, DE PAGE, De mpi dai, Coritatioa i ere etd psig, 1925: A pros cde ganveneeas sh ages: Egon aed drs, 1991. 19. 190) J. DABIN, La Pile de ord fron tif, pant dat la rapt dedi rik, 1929; do ese, Lat ‘uchnige de daberain a dt i 989; J. LECLERQ, Lg eet mature, ol; Let it eee si 3h 19485 a om de plitign, 3a, 1A; Le fil, 2%, 1945; a dt dns nih, 2 1946 521 le vom Faculdade de Estudos Sexist ede Dio 1915), Mas = pada, desenilve se, scree no domino do dito pina, ‘une orenacio dogdtcojriin, dnuenciad pola pacctierie set dfn do selo XIX (Gulee Moti), que de ms ‘eum predominanremente consrutivit © terciea Gnas io, cm geal, doutii) so sino univers meant ont dit, fenbors este teosicnmo — mais esl ra wecla de Cima ten incrprnd, saa terpo, a novidades de =jutopanin dos inerssess (VAZ SERRA, MANUEL DE ANDRADE) ou lterires aque de seo atipertves PEREIRA COELHO, CASTANHEIRA NEVES, ORLANDO DE CARVALHO). No dominio do dicta pie, a componente consrutvis fol imarizada poe uma orienta ral, bebide sober cm I. Dust © M. Haun (FEZAS VITAL, CARLOS MOREIRA, MARCELLO CAETANO, AFONSO QUEIRO) (Quanto overages segue ur denn pei de eluant por, en eel, se em condi 0 com of ahs iverson, 08 com a predic ata dos profesor cde dat, Num pemeit pei, ers erm snes de 1772 ‘0 Chdigo civil de 1867, a deartna ¢ fundamenramente subir de dogma romans co ot aden Pender, omiaanee na Universidade’ Contraandoo ditete rmno Gusepie de sso moderns) ase espnha dsl do diteo pata, 1 douttia funda-ewobrenad nas clues da pudectiica romani exten, cenualment ara pels dads da racic ea fo douteinal portuguesa. No quad das ots do dito, prog dona cups si, a har ental: gma at ae bras deseenpenhaam, em Portia, pape de sineatzaci, de modernzai € de ceric do ceito ar, sao ales, fo Alsempentado pelos eign. Tl ¢ exo, dese go das tats arcs (emia) las de ral Jost de MELO TFREIRE (1780-1794); mas umm dat estirdrts(1849, de Nae Aninno COELHO DA ROCHA (1793-1850) ¢ bo Digest Ported (1835), de}. H. CORREIA TELES (178-1849). No dominio de fst do dri, ete pth € domirad, Primeiro pela cotentesdamininas (bread pels ceo mais compaiiliiven com 0 fino exeinico tndiional, "Thaeasios © Welly eps por KF. Kou, ide srva de Aes, ss cpl dvdr prc us tino, x larcin se etende, mo em Esjenk, st i do ete qr do al, combimando a eno 9a slain cm 9 csp oman «emus mais der de araicann(), M. RODRIGUES DE BRITO (FILHO), SILVA PERRAO, C. MARTENS, COSTA HOBO). Kane, em conraparida, eerceu wm inflate dice, sober sre de Verte Fser NETO PAIVA (1798-1866), ‘Um Segundo pied € aero pla sarin do digo Ci, em 1867, pela conequete reer radical do satema das font de deo, A rendéncin €, cnt, a de seguir um método mat titumeteexegtco. No ensino universta ‘traduz-se na adopcto do texto do cig como masa, mesine pa cadets com a Floxofaea Hiscris do dtete. Suge os Brandes comencitos sx cies (mo, pars 0 Cig Ci, o de JOSE DIAS FERREIRA (1837-1905), Cie cn poruee sermiae (1872-1877) pars Cio petal, ode LEVY MARIA JORDAO (1831-1873), Coen ws Coy eal rapes 1839 art 0 Codigo de procasn civ, o de JOSE DIAS FERREIRA, Casi depress cil armtade, ou de ALVES DE SA (1849-1910), Coneiirie a Cie de pci; prn dito comer, a8 Amaia Cad omer pga (LASS) de Diogo Fs, bees que acuralmente, continua no clo XX (CUNHA GONCALVES, JOSE ALBERTO DOS REIS, F. PIRES DE LIMA J. MC ANTUNES VARELA). A corente argc, coos epreatants em, em Real univer, corbioava, to ean, om oienagSes mai mazeadamere dutinai. Por urs ad, com 9 2caogim de Cone, de Lit ou dos rales J nc do se. XX — Duguit, Hou) or out lado, com o onsrcirises da padecttic end ds Basis do te, XIX (Windschide, 90 ieito pevade; Laban e Jelinek, no deo pblice) Osocologisme domisou 0 peodo do fal de sul ¢ a das prcins décadas do se. XX, tend sido pecialmente alate oa hairs da deco (MARNOCO E SOUSA, PEDRO MARTINS), Aieto politico ¢adminstntivo JOSE FREDERICO LARANJO, EMIDIO GARCIA, MARNOCO E SOUSA: eno sei de a orrente «relists, sobretado FEZAS VITAL, MAGALHAES COLLACO), no dineo scale econamia palit (ainda MARNOCO FE SOUSA) eo dirs peal €FONSO COSTA). No dominio do dreito prvado, em conrnpartid, influ mai contri coacetualista, sobre partir ds Inti de dit ci fragt (1908, 1911) de GULMERNE MOREIRA (1861-1922) [Nos anos trina dest seulo, eu ia ver acon em oientaies algo elias, embor 0 sociolgimo até eatio dominance tena sda uleapusado por evicwagies dogmins, eu meso pot tendéacas kelgeoians (LCABRAL DE MONCADA, AFONSO R. QUEIRO). Na jusabliciiceprslomina umn instracionlismo de raz face Cron) ou ialiana (Santi Rome), cmbinato com 0 fundo ne-cccistice da ieloga do tegine estabelido em 195%; embora, stamens © cstabeleciment do Esta Now e dolegia ca Order Aatcdaderenhar emer et iastrcnlismo cm am ace ada (a) Sobre «evolu do ensio juice om Parga, M.J ALMEIDA COSTA, cs crn, dito, Di. it. Pot 1; A. M. HESPANHA, Resor rfrms Polina? Re dr. inde! iain, 1KI97A) $34; do meno, «Hiri ji © politica do dieiton «Poreagal 19001950), Anaemia, 72-4 (1982), 795812: MARIO REIS MARQUES, “Flemenes puma ‘proximacio a estado do easss modemot pandecanam em Porigale, em Fea om bene nt Pref. Mend Pala Mee ¢ Gaitherme Brags ds Cree, Coimbra 1983; MANUEL PAULO MEREA, =O ens do deo em orugal» (1905-1836), em Jerivannis pres dk. XIX, Lisbon 1947, 149.50; do mato, «slog de uma hia da Faculdade de Diet, Bl Pa Dir. Coimbra, 281952), 241953), 041954), 31,1999), 3801957 M,J. ALMEIDA COSTA, -O enn do diet em Parga mo 46, XX (efits de 1901 21911), Bol Fa. Dir Coimbra, (1963); MARCELLO CAETANO, «Apontamentos pars 2 hiria «4 Faculdade de Diteio de Lisboa, Res: Far Di. Lid, 130961), 2 seta am de Parade Di de Lis. Cali ‘pei dcr, Liston 1984 522 stvio evans, sabauninds of sorte ao «Bnd «odio lei MANUEL RODRIGUES; 889-192). Os princps ‘omer si. ser de tal, MARCELLO CAETANO, ce manus waivers (edo aminizativ ede dint ence) Covctam une wllvenciatnizpatada ste as ass dist Sept, FEZAS VITAL, AFONSO QUEIRO ¢ CARLOS MOREIEA Na civil, 9 pend tonics edogmatico rfc se, cm a alse, dic ox medi, da dont lena. Nes noe quasent. » pevattcn poepvess tem Um for areniadarente tics, poerandn, rom prnie sontde moe 8 lepelaao Uoormedamente, a Cig cil idividilina de 1461, agor devotee dar orenexccs ernvndidvttar do erporatinmo ede our concep do fst socal) nora slugs propugad pela vl dace copes. por ‘ata in que so itraduida €pratcaas (an una ciel relic dee tid, mui mais alisas do que # Sexton “anweritria slugs dexonbecdes da epi, coma elerinia da oe aoa, do principal, co cariguecmento sen caus, ds iio abject legit de interpreta, pre 6 fa dx pntos mais erase mas rice). Ag 8 arandes otis sp, tes de wdo, MANUEL DE ANDRADE (899-1958), depis, ADRIANO VAZ.SERRA, GALVAO TELES, PIRES DE LIMA, ANTUNES VARELA, seus diepuls Em sui, 2 dovtrina jin — que x entiicow, never ds sca, com produc unweit — reve ue papel eccrine aa eva era peta do dio pita. Olgas mais adic i sempee mateo por un lool, eoaten ‘ou atvumida, que valores ax cmponenes trperitivar do dito Geetinigber, dieco atuml; ote stim, de ro, ‘aprentmenteinvecado 0 Cig ci ar. * 16%) Contin de 193 Cart), Por oer ao, 0 dog ca epargio de ppovees © do primado do legiaivo que fandaneatanen legumes cntemporac) sempre form cots plas cnet nsecradore, om um iprante po nat fuldnr de dio. Soba quando ther cacao © canta dor meceinnes politics (coma shunts a | RepUbice 9 depois de 25 de Abr de 1974, « outa univers langov mio do usnturi ‘oma ieiramenro de combate, so plano de die or outo ldo. o estore dat Faaldae de Dei sempreiveram un acest fica poder, nto a enquan minis si justia dared durante 0 Hxado Now), ono enquanto membros de comise gisais, pas cigos mai inportances foram sempre elsboroe por comises onde o elemento academic era perdomisante. Dai qe, fequenemecte, 8 solutes dloutrinais venham passado divectamence para a lei © que, consequenterente, a dovtrina funcone muita vexes como Torerpreracio =quaseaucénecee, A seuacho apenas se alterou quando aconjoneurs politica impos o elemento representative oclemento universcario DOCUMENTOS 1. J. H. CORREIA TELES, Digsste portngucz ow tratado des dicto eobrigavisivs acomodade as eit © ‘costumes da Nagi portaguera para servir de subsidio ao noo cdigo civil, Lisboa, 1835. Preficio, 1-6. “Tendo tido a honea de ser eleico pelos meus Provincianos, Deputado is Cortes de 1821, ¢ as de 1826; e havendo-se em umas € outras deliberado, por unanimidade de votos, fazer novos Cédigos: como membro da Comissio de Legislagéo, julguei do meu dever empregar minhas poucas forcas, em ajuntar materiais para o Cédigo Civil, que € 0 mais defectivo no corpo das Ordenagées, que hi mais de dois séculos nos regem. Julguei entio, e ainda agora, que um Tratado dos Dircitos ¢ Obrigacées Civis, que fosse perfeito, seria 0 melhor Cédigo Civil, que desejar-se possa: porque codos os milhares de questées, que no Foro, ou fora dele, se podem agitar, vem a cifrar-se nisto; se uma parte tem direito, se @ outta tem obrigacao. (90 Sobre a evaluio dootina ets dois tus an de algumas da br ces wna anti), 1S CABRAL de MONCADA, «Origen so mero dio portuputs. Epc do individuals sis, Eud de tr dh dri, 2, Cob 1949, 55-178; do mest, =Subsiion paras hierin d este do die erm Prnpals Bul Pat, Dh Cninka, 141957 8, 151938-9); do mesmo, «Par hisrria da Resofa ean Portugal 90 século XX, Bal Fa Dir, 3641960), ANTONIO BRAZ TEIXEIRA, «A fksofn jin prec seal, Bol. Mi fs, 941999) 368-332, A.M IESPANHA, Sobre a picien dlogmtien dos jrisasotoceatitas, cit; do mesmo -Hisoriogaa jucica «politica de disor ci; LUIS CORRELA DE MENDONCA, As origes do Cilio Civil de 1966: ebogo para sta corbin, Ande mil, T2174 (1981), 829-968, Jeri peapuns do sale XIX (org. JOSE PINTO LOUREIRO), Lisbos 1947, Il, Em expec, pas a evligse da Publicitica, MARCELLO CABTANO, 0 itn ml rin admiiatie frags, Lisbon 1948, cpt cialis, EDUARDO CORREIA, Dini minal, Coasbry (963, 101-128 | | | 523 As accées forenses, ainda que na Legislacio Romana encham largas piginas, a meu ver devem ter 0 seu assento no Cédigo do processo, ¢ ai mesmo deverio ocupar pequeno espaco. Em quase todos os artigos da Obra apontei as Leis, ou DD. que os apoiam, porque as Cortes, que ji mencionei, nos seus Programas assentaram que os novos Cédigos. deveriam conformar-se, quanto possivel for, as Leis ¢ Costumes da Nacio, ¢ que somente se deveriam afastar naqueles pontes, em que razdes de justiga ou d’equidade assim o persuadissem. Por isso, para que nao parecesse aos menos versados em Jurisprudéncia, que o autor desta Obra era grande inovador, invoquei em auxilio de minkas opiniges DD. velhos,e jé falecidles. Sobre as Leis Romanas fiz. mais alguma firmeza, do que sobre os escritos dos DD., porque nto podemos negar-thes algum grau de autoridade extrinseca. Os novos Estatutos da Universidade L. 2. T. 5. Cap. 2. §. 19. em declaracio a Lei de 18 d’Agosto de 1769, dizem, que aquelas Leis so aplicéveis nos casos omissos nas do Reino, todas as vezes que se nio mostre, que elas esto em ‘oposigdo com estas, ow com as Leis Naturais, Politicas, Econémicas, Mercantis © Maritimas clas [Nacées civilizadas; e dio esta fortissima razio: = Porque & mais conveniente ao bem puiblico, que ‘n95 casos omissos haja uma Lei, ¢ norma fixa ¢ constance para a decisio das causas, do que ficar a administracdo da justica dependente do atbitrio dos Juizes. Enquanto pois nio tivermos Cédigos ‘menos imperteitos que as actuais Ordenacées, 2s quais em inumeréveis lugares deixaram de dispor ‘© que era necessirio, mandando guardar 0 Direito Comum; no podemos, como fizeram os Franceses, desautorar de todo 0 Direito Romano, sob pena de ficarmos em muitas matérias sem Lei alguma, lutando com a arbitrariedade, Na Franca mesmo ainda hoje élicito invocar 0 Direito Romano, ndo como Lei, mas como razio escrita: ou como alguns dizem, nom rations imperii, sed rationisiaperi, Em apoiar muitos artigos sobre disposicées de Cédigos estranhos, também aio introdusi novidade. Outro canto se encontra em Jurisconsultos nossos, ¢ antigos: € a razio, que davam para sua desculpa, era, que ainda que as Leis doutro Reino nio tivessem autoridade alguma em 0 nosso, contudo as suas disposicées podiam muitas vezes ser abracadas como opiniio mais provivvel, que merecera ser adoptada por lei. 2. M.A. COELHO DA ROCHA, Insttuigies de dirito civil portnguez, Coimbra Preficio, pp. IV-VI. ‘Quando 0 empreendemos, nio nos eram desconhecidas as dificuldades, Nao se trata de ‘explicar um cédigo, porque 0 no temas; nem de reduzir a sintese, ou desenvolver; 0s principios fixos constantes de um sistema coerente, porque 0 no hi na nossa leislacio civil. Pelo contririo, no meio do caos, em que ela se acha, o esctitor até certo ponto € obrigado a tomara ver do legislador: tem de formar o plano: tem de fazer a seleccao das doutrinas:¢ tem de redigir até as leimas ilagé ‘A compilacio das douttinas niio era sujeita a menos embaracos, do que a escotha do método. Tinhamos de extractar as leis publicadas no longo pertodo de mais de dois séculos: tinhamos de combinar as Ordenacées, @ cuja redacgio presidiu a influéncia eclesiéstica, ow a supremacia do diteito romano, com as leis da reforma Josephina, ditadas por um espicito inteiramente oposto; ¢ além disso de por em harmoaia umas e outras com os principios da Carta, ¢ 524 ‘com as reformas novissimas: tinhamos finalmence de suprir as imensas lacunas das leis pétrias, mendigando 05 materisis pelos escritos dos praxiseas, pelas colecgées do direito romano ¢ canénico, ¢ pelos cédigos modernos das nacées civilizadas. Esta tarefa complicada colocava-nos ‘em um estado de perplexidade; ou (porque 0 aio havemos de confessar?) dava-nos uma arbitrariedade, que sendo vantagem em outro género de escrtos, é wim verdadeiro embaraco nos de direito positivo, em que a’razio se deve ocupar ances de coligir, concordat ¢ filiar os principios jd fixados pelas leis, do que de os escolhere diseutir. Ainda que estejamos convencidos de que muito erraré aquele, que na execugio das Ordenacies e leis antigas atender a0 espirico, que as ditou, sem modificar a sua aplicacio cconforme as circunstincias, e tendéncia da época presente: contudo, em desempenho do nosso dever de professor, pusemos especial cuidado em as sustentar ¢ seguir, e somente as abandonémos por antiquadas, quando nem no sentido literal, nem no légico, as pudemos concordar com as reformas posterior. 'Nos casos omissos ordinariamente adoptimos as decisses do direito romano: muitas vezes poréin recorremos aos cédigos modernos, principalmente ao Civil Francés ¢ ao da Prissia, As razdes, que a isso nos impeliram, scham-se desenvolvidas na Nota B do Tom. 1.°, para onde emecemos os leitores. Finalmente, a fim de extrairmos destes variados clementos um todo homogéneo na subseancia ¢ na forma, € de evitar os defeitos, que com ruzio se argiem a0 Cédigo Comercial ficemos passar por igual fieira ce redacgo, assim os longos periodos das Ordenagées e leis antigas, 1s complicadas formulas das leis do Digesto, como as versées dos cédigos. Sobretudo nesta parte do nosso trabalho esforgimo-nos por unir a clareza com @ precisio: mio nos atrevemos @ Jisonjear-nos de ter conseguido tal fim, porque o mesmo principio, que parece clarissimo a quem cesté senhor da macéria, esti bem longe de o ser para outeos, principalmente para aqueles, que apenas conhecem os primeiros rudimentos: é este 0 inconvenient, que tora sobretudo dificeis de preencher as funcées do magistério. 3. JOSE DIAS FERREIRA, Codigo civil portuguez annotado, Coimbra 1870, 1. Preficio, pp. XIEXVIL Publicado assim o cédigo tio desacompanhado dos elementos necessirios para se estudar € compreender devidamente, era natural que desde logo se levantassem no foro, na imprensa, © m0 magistério, graves dividas e dificuldades sobre a inteligéncia dos preceitos de mais frequente aplicacio aos usos da vida. As faltas resultantes do laconismo, requisita indispensdvel da lei, eujas palavras devem pesar-se como os diamantes, no dizer de um filisofo inglés, sio sempre atenuadas e preenchidas pelos relatérios que ordinariamente acompanham as coleccées de les. Mas para inteligéncia do ‘nosso cédligo carecemos inteiramente d'esse valioso subsidio. [Nao poder suprie-s estas fltas eno por meio de comentrios e anotagies wo codigo. A nossa pubticacdo porém no € verdadeito comentirio ao cédigo, mas um simples ensaio, que poderi planar o caminho para 0s jurisconsultos consumades pelo seu saber ¢, pela sua longa experiéacia do foro, podetem tentar trabalho completo e acomodado as dificuldades da matétia e a elevacio do [Né6s limicimos 0 n0s80 propésito a explicar 0 que esta nos artigos, c 0 modo como deve ser 525 execurado € completado 9 preceito da lei, conquanto aio poucas vezes démos a razio da lei, € emitamos o nosso jufzo sobre o modo de a melhorar. Bscrevendo as anoragdes 20 cédigo, dirigimo-nos principalmente aqueles cuja missio se resume em explicar ou exccutar a lei, $6 por incidenre aos que pesam com 0 dificil encargo de a alterare reformat. Pareceu-nos conveniente preceder a anilise de cada seceio ou capitulo do cédigo da exposicio histérica do direito contido nessa reperticio, ¢ de um exame sintético dos preceitos Jegais ai consignados, ou preceder as anoragées de uma parte geral, em que fiéssemos a exposicio bist6rica ¢ a critica juridica das matérias contidas nas diferentes secgdes, capitulos ou titulos em que se divide 0 cédigo. Este sistema aproveitava aos encarregados da execucio da lei, que n’aquela introducio achavam valioso elemento para a interpretacdo do texto legal, ¢ sobretudo aos encarregados de a cexplicarem, que conjuntamente com aandlise do texto tém que fazer a expesiglo da doutrina. Porém este plano, ainda que a referida introducéo fosse concebida em ermos muito resummidos, nto podia deixar de avolumar consideravelmente a obra, retardaria muito a sua publicagio, ¢ pode ser objecto de um trabalho a parte. © sistema conciso, claro ¢ simples de Rogron as suas notas ao cédigo civil francés, pareceu-nos extremamente conveniente para o fim que nos propunhamos Ainda assim safram-n0s as nossas anoracées muito mais extensas ¢ circunstanciadas, no cendo em conta os arestos que aquele insigne jurisconsulto cranscceve como esclarecimento 20s respectivos artigos De citar a cada passo 08 artigos coctespondentes da legislacio estrangeira prescindimos nés muito de propésito. Podem © devem citar-se as fontes do texto sempre que a citacio seja ecessiia para a inceligéncia das disposicies legais. Mas acumular ¢ amontear citacdes de leis estrangeitas sem necessidade para a inteligéncia do eexto da lei portuguesa nem o mérico de ostentar erudigio rem hoje, que hi tantas e téo importantes obras cxcritas sobre 0 direito comparado. ‘Quem recorre aos comentiios das leis o que deseja principalmente saber é o que esti na lei, e como pode ser executada € preenchida a sua provisio; ¢, quando muito, procura alcangar também a razio da lei. Tudo o mais pode set itil e conveniente segundo os fins € as citcunstancias; mas é dispensivel para quem pretende unicamente conhecer ¢ executat lei © exame comparado dos diferentes artigos onde se regulam expécies andlogas, ou cuja redaccio oferece contradigées, é decerto a primeira obrigacio do comentador. A vantagem deste trabalho nio se encarece, nem se demonstra, aprende-se 003 exemplos, Quem, por exemplo, para aconselhar ou julgar a responsabilidade do albergueiro auma espécie e dano causado pelos héspedes tiver presente 56.0 artigo 1421.°, hi-de opinar ou decidir ue 0 albergueiro é responsivel por todos os danos causados pelos estranhos que houver albergado, ou tenha cumprido ou nao a respeito destes os regulamentos de policia Mas se for combinar o artigo 1421.° com 0 2381.° reconheceri que o albergueiro em caso neahum responde pelos danos causados pelos héspedes, se a respeito destes tiver cumprido os regulamentos de policia, Conjuntamente com a exposigio de alguns principios gertis, contidos em preceitos meramence ce6ricos, analisimos disposicies positivas € priticas, que erum como o corolirio 326 ‘'aqueles prinefpios, nko s6 porque a aproximacio dx hipstese € 0 melhor meio de esclarecer a ese, mas para evitar repetigies que, sem este método, haviam de ter lugar, sempre que se quisesse ver a ruzio filos6fica do preceito legal. ‘Também clevimos muicas vezes, i altura de regras gerais, preceitos com aplicacio expressa a certa matéria, porque eles serviam, por forca do disposto no artigo 16.°, para reger todos 05 casos anilogos estrankos 20 respectivo capitulo. ‘© maior subsidio que encontrimes para 0 estudo do cédigo foram efectivamente os escritos dos nossos praxistas sobre a lei anterior. O cédigo, ‘conquanto encerre alceracdes profundas nalguns pontos do nosso dircito civil, guardou em geral 0 velho diteito portugués, € ‘em questo de propriedade sobre cudo incerpretou mas suas inovagées as ideias mais geralmente recebidas ao pais, e defendidas como mais justas pelos nossos cracadistas de direiro positivo. 4, PORTUGAL. GUILHERME MOREIRA, Instituigées de direito civil portugués, Coimbra 1907. 33. 22. Dinvito subsididri segundo o cdigo civil. ©. nosso céstigo civil admite no artigo 16.° ‘como diteito subsididtio os principies de diveite natural, conforme as circunstancias do case (O gue se entencle por direito narural? Enxiste a este respeito grave divergéncia entre fildsofos ejurisconsultos. Para 0 autor do Projecto do codigo cvi? era o direito natural representado por principios imutaveis ¢ necessérios, que emanam da relagio entre os fins ¢ os meios de existéncia de cada ser ou da prépria natureza humana, ¢ nesse sentido € romada essa expressio no artigo 16.° #9 Nio manda, porém, o legislador aplicar os principios do direito natural em toda a sua pureza, mas confarme as circantancias do cas. B assim tem 0 juz que atender a todas as condicBes ‘que um dado caso reveste € portanto as condicées do pais ¢ an espirico das leis pitcias, critérios que dirigiram também o legislador ao formular as normas relativas aos casos que previu. Interpretados assim os principios de direito natural que 0 nosso legislador sancionou como direieo subsidiirio; vé-se que esses principios se confundem com os principios gerais de direito, no sentido em que esta expressio € comada pelos jurisconsultos. Principios gerais de direito sio os que dominam as normas relativas a uma instituicéo ou a tum detetminado grupo de relaes sociais. Assim, um dos prinefpios por que se orientou @ noss0 legislador relacivamente 20 direico familir, foi odo governo da familia pela fata, E por estes principios que 0 juiz se deve dirigir na resolucio dos casos omissos, pois, partindo sempre do principio de que mio € legislador € de que é a vontade deste, como érgio Competente para declarar o direito, que the cumpre acatar, deve suprir a falta de disposicses legais, formulando-as, para um caso concreto nao previsto pelo legistador, da mesma forma que este 0 faria dum modo geral abstracto, e portanto sobre os principios em que assenca a ordem juridica vigente, designadamente sobre os que respeitam as leis reguladoras de casos anilogos, nas {quais se manifesta, objectivada no fim dessas leis, a vontade do legislador. © direito vigeate deve ter em si mesmo, como organismo vivo, a forga suficiente para (®) Vejnse ANTONIOLUIZ.DESEABRA, A pore, pi. 44, von 527 regular todas as relagées, incluindo as gue nio forem previstas pelo legislador. Séo portanto os principios em que assenta esse direito e que 0 enformam que devem constituir fundamentalmente 0 direito subsidico 5. MARNOCO E SOUZA ¢ ALBERTO DOS REIS, A Faculdade de diteito € 0 seu ensino, Coimbra 1907, 548. Na Alemanha, na Ieiliae na Franca nota-se, hi anos, uma renovacio fecunda no estudo das ciencias juridicas Diversas causas impulsionaram esta renovacio. A influéncia da ecole bistérica, os progressos das ciéncias naturais ¢ o desenvolvimento das disciplinas sociais podem indicar-se como faccores principais de transformacao dos critérios e horizontes das cincias juridicas A escola histérica alema veio arruinar a concepcéo do dircito natural, e proporcionar ensejo a aplicacio dos processos de observacio « das doutrinas evolucionistas ao estudo € conhecimento das insticuicées juridicas. Dai resultou que os escritoresitalianos comecaram a construir as teorias juridicas sobre os dados da biologia e da antropologia. A influéncia revelou-se primeiramente na criminologia ¢ derivoa em seguida para os proprios instituros de direito civil. A obra de D’Aguanno, Genes evoluzione del dirt civile, € um exemplo tipico dessa tendéncia Por outto lado, os progresses notiveis da economia ¢ da ciéncia politica desacreditaram os prineipios sobre os quais assentavam viries organizacées juridicas de direito privado, O direito Civil © © diteito comercial forma assim iluminados pot critérios rasgados ¢ audaciosos, que no se compadeciam com os conceitos cradicionais ¢ clissicos, em volea des quais se haviam erigido as mais seguras e macigas construgées le ‘Uma evidéncia superior vencia todos os escripulos © quebrava todas as hesitagées: a insuficiéncia da legislagio codificada para satisazer as exigncias novas da vida social Efeccivamente, transformagies formidiveis, na ordem econémica e na ordem moral, de que os autores dos cédigos nem sequer suspeitavam, vieram modificar consideravelmente as necessidades ¢ as ideias dominances. Poucos instieutos juridicos deixaram de ser atingidos por esta cransformacéo; a maior parte deles softeram modificacées parciais; alguns foram mesmo inteiramente renovados; e instituigGes hé que se formaram posteriormente a claboracéo dos ‘cédligos, sem erem nestes correspondéncia, nem regulamentacio similar. Em tais condigées, os juristas modernos entenderam que era forcoso alterar a fungi € os critérios da interpretacio. A suposta reconsticuicio da vontade legislativa era uma ficgio € um equivoco, desde 0 momento em que 0 legislador do comeco ou do meado do século XIX no podia ter previsto 0 estado social da época presente, nem as necessidades juridicas dele emengentes. Portanto a interpretacio devia franca ¢ sinceramence pr de lado a preocupagio doentia de Sujeitar o movimento juridico moderno aos moldes escritamente tmgadot pelas codificacses oficiais; e assim a interpretagio passou a ter, como papel € como oficio, a adapracio da lei as condicées sociais, por forma a manter-se constantemente a harmonia entre a norma juridica © @ necessidade que ela se propde satisfazer. Na fixacio dos meios mais eficazes para a consecugio deste desidersatum, os modernos eseritores de direito privado nao chegaram ainda a acordo. Uns, como Planiol ¢ Esmein, dio imporeancia primacial& jurispradéncia, & qual atribuem a fungio de harmonizat o dircito com as 528 ‘exigéncias da vida real; outros, como Lambert, confiam mais na acgio da doutrina inspirada sobretudo nos dados da legislacio comparada; € outros ainda, como Geny ¢ Saleilles, rompem audazmente com a teoria tradicional, que vé na lei a fonte tinica do direico, colocando ao lado dela a livre imvetigagio cific. DOMINGOS FEZAS VITAL, Do acto juridico, Coimbra 1914, Introdugio, pp. 7 55. O direito pablico, que nos primeiros tempos vivia confundido com os elementos sociais € politicos que se encontram na sua base, comecou mais tarde, & medida que os conhecimentos se desenvolviam, & constituir-se em disciplina auténoma, aparecendo com configuracio propria € distinca das demais ciéacias socias, com que mantém necessariamence milltiplas relagSes, mas das ‘quis se distingue e diferencia, E certo que a unidade da vida social no permite a existéncia independente dos virios factos sociais, que vivem, pelo contricio, em intima colaboracao, (Os estudos cientificos no sio, contado, possiveis senao & custa de separaces ceéricas © abstractas, conteirias a realidade, mas legicimas. Para estudarmos urn objecto rorna-se necessério iso que o cercam| © pensamento cientifico, naturalmente Limitado, niio se contenta, porém, com esse isolamenco. Exige mais e, cm nome da lei da divisio do trabalho, confere a ciéncias diversas 0 cencargo da sua explicagio. assim que a fisica, a qui lo das ciecunstincias e contingéncias ica, a biologia, et., no fazem recair as suas obsecvacdes sobre factos ou objectos necessatiamente distineos ¢ opostos, mas estudam os mesmos objectos, cencarando-os sob: pontos de visea diferentes. Esta afitmagio, verdadeira em todos os cempos ientificos, €-0 também no dominio das jus ‘Uma instituigio juriica € sempre uma instiewiga0 muito complexa, que se nos apresenta sob varios aspectos, consoante os pontos de visca sob que a encaramos, , sobrecudo, a0 esquecimento desea verdade que devernos atribuie o atraso em que se encontravam, hé bem poucos anos, os estudos de direito piblico, araso que levou a0 espirivo de muitos juristas ¢ em especial dos civilistas, a convicgio da impossibilidade de sujeitar as relagdes dle direito pablico a principios técnicos cuja consisténcia pudesse ser comparuda & que domina, hi séculos, no diteito privado, [Nao queremos com isto afirmar que o dreito privado renha vivide completamente alheio = cesta falta. Algumnas das suas noc6es fundamentais, que reputamos errémeas, sio urna consequéncia da confusio apontada. £, porém, no direito publica e devido especialmente as intimas relagGes ern que este raino do diteito vive com elementos de natureza politica, que a sua acgo se em feito sentir com mais intensidade. © dominio da técnica juridica acha-se assim bastante reduzido. Limita-se ao estudo dos meios e processos juridicos, em si mesmas, independentemente das condigies de meio, fins vvantagens que justificam a sua adopcio. ‘56 uma separagio rigorosa entre 0 que é politico € o que é téen sonjutidico consegue, 529 porém, evitar que a literatura do direito publico desca ao nivel da literatura politica do jornal, como diria Laband. Basta folhear os antigos trabalhos de direito pablico para nos convencermas rapidamente da veracidade do que vimos de afirmar. E ficil encontrar descricas e criticadas com erudicio ¢ talento as virias instituicées politicas, mas € bastante dificil descortinar verdadeiros principios de direito. Fazia-se ciéncia politica e nio diteito publico. (Os tratadistas modernos, influenciados sobretudo pela literatura juridica alema, entraram num caminho diverso © pode dizer-se, com verdade, que os estudos de direito piblico constituem, hoje, verdadeiros trabalhos juridic 7. LUIS CABRAL DE MONCADA, Licécs de dircito civil (Pate Geral), Coimbra 1932, 6 ss. Ora 0 dieio & uma ciéncia toda feica de abstragées, de conceitos abstracts € delicados, ligados uns sos outros por uma logica sui generis, © se essas nocées abstractas, eses conceitos bisicos essa I6gica no forem devidamente assimilados e rigorosamente definides desde 0 principio, dai resultari necessariamente uma quase invencivel dificuldade no compreender os principios fundamentais do direito civil e mesmo até os de todo o sistema da ciéncia juridica Este o perigo. Parno evita, € queeu me permito chamar desde hoje a atengéo dos senhores estudances para este facto, 20 mesmo tempo que prometo insist, durante todo este curso, na definigio quanto possivelrigorosa dessesconceitos ¢ nogSes, procurando familiaixi-los com eles © mais possivel e a0 mesmo cempo insistindo sobretudo naqueles eujo valor pritico for mais indubitavel E preciso que nos convengamos de que a estrutura Igica € a anatomia de todo o sistema orgiinico de ideias que formam as diversas cincias do espiito — e a citncia do direito é uma delas — niio podem deixar de ser eminentemente flosdficas e que todas as chamadas noes fundamentais do diecito civil no tém outro carécter. 8, MANUEL RODRIGUES, Politica, direto ¢ justica, Coimbra 1934, 41 ss. 25 — O Estado € 0 primeitn facto social, condio de todos os outros, e ni pode, por isso, 4 sua existéncia deixar de ser « primeira existéncia, a sua vida a primeira vida, ¢ o seu lugar 0 primeiro, num problema de valores sociais. Mas, sendo 0 primeiro, condicio de todos os outros, cele €a fonte da regea superior do homem social A soberania pertence a0 Estado e nio a quaisquer pessoas determinadas. Quer dizer: aio ha tum poder transcendente, o poder pertence & Nacio organizada. Daqui resulta que 20 Estado pertence criar a norma da sua propria existéncia ¢ dos elementos que 0 consticuem, e, por consequéncia, a natureza dos seus poderes e a natureza dos oderes dos individuos. 0 Estado € a fonte de toda a regea normativa, toda a posicio individual esea subordinada a0 Estado e, por isso, por ele hé-de ser modelada. Nenhum poder estranho, nenhuma regra universal, nenhum principio que nao tenha sido gerado ou assimilado dentto das fronteiras, © cidadio nao pode recorrer a um principio estranho ao seu pais, nem mesmo iavocar regras de humanidade, $6 ¢ humano o que nacional. Mas o direito assim concebido nio é a 530 ‘nem injustica. Exactamente porque cudo é nacional, a0 Estado incumbe examinat com cuidado o que é0 bem comum, ¢ prové-lo com solicivude claro que estas ideiasnlo excluem o exame da vida doe ours povoe, © prosperse des sass inscituigdes, as solucées que encontraram para problemas idénticos. Os conactos si sites, necessirios mesmo. Querem significar que assim como ndo ha lei exterior que se imponha s0 Estado nas suat relacdes com os seus sibdios, também nio hié uma lei superior que se Ihe imponha, nas relagées com a outras nagbes. Isto no quer dizer que o Estado deva ser indlferente a certs coerentes, @ cers idlealidades que atravessam o Mundo por cima das fronteims, resultado da colaborcéo dos povos. Deve mesmo ineegri-las, depois verificar da sua bondade efaaé-as suas. Porgué? 26 — O Estado realiza um fim que é o fim da comunidade — bem comum — e daqui resulta, naturalmente, que o seu poder esti limicado por este mesmo fim. Esquecé-lo, & destruir-se a si pr6prio porque o Rstado nio existe para si, considerado como entidade absteacta, mas como uma comunidad. E o que é 0 bem comum — fonte naturale limite do poder do Estado? Parcindo de ideias erradas, muitos consideram regra do bem comum apenas a regra das instituigdes de comando do Estado, a sua organizagio © a sua defesa, como se o Estado, fosse um ‘organismo puramente politic. ‘A verdade, porém, € que aio consideramos 0 Estado apenas como uma méquina de coaegio, mas como a Nagio organizada De modo que, por bem comum deve entender-se eudlo o que conteibui para a conservacio ¢ desenvolvimento do Estado concebido este na sua organizagio superior e nos elementos que 0 compoem E assim compreende tudo 0 que pode fortalecer ¢ fazer prosperar todos 0s elementos cestiticos, quer se trate dos organismos tradicionalmente estaduais, quer se trace de individuos insticuigGes que compéem o Estado, (© bem piiblico é 4 medida dos beneficios ¢ também a medida das restricdes a conceder ou a impor a individuos ou organismos, ¢é igualmente o limite do poder estadual. (© Estado nio pode ir mais além, nem deve ficar aquém. Tendo atingido a sinteseestadual, descamos agora & anise dos seus elementos bisicos, das suas instituicées integradoras, daquelas instieuigBes que a hist6ria dos povos denuncia como ircedutiveis. © Homem social por si, considerado como uma consciéncia com o poder de se digi para tum fim, inspirado © dominado pelas ideias © forcas ambientes, é um primeito elemento, Integrando as ligdes do passado, € como uma alma que se continua num novo corpo, ¢ esta nocio da eternidade define-the ¢ orienta-Ihe as aspiragGes, dando-Ihe um valor social ‘Mas ele no esgota cods os elementos da vida social. Hi, no Estado, umn certo niimero de insticuigbes diferenciadas, geradas pela Natureza e pela Histéria, que néo é possivel desteuie nem Stil enfraquecer, porque por elas se defendem com mais proveito os interesses petmanentes € erais da sociedade, ¢ se valorizam os individuos. Sio: a Familia, a unidade local e a Corporacio. Examinemos cada uma delas A familia constitui um aiicleo de pequena extensio, em que os individuos se enconeram unidos pelos lacos do sangue, que sio, desde todos as eempos, of mais fortes. Tem o homem um interesse préprio © uma consciéacia propria, mas a sua conseiéacia é dominada frequentemence 331 pelos rebates do sangue, ¢ 0 set interesse normalmente subordinado ao interesse da familia, e & sobretudo na familia que ele forma e define o seu carscter. Mas nao s6 a famil ‘A unidade local é uma verdade real ¢ histérica. © meio gera inceresses que por si limita, ¢ que parecem eternos, pois se tém projectado através da hist6ria, cada vez mais forces, mais vives. Coimbra, por exemplo, é uma modalidade propria na vida nacional, com a sua capacidade de criar uma «élite» intelectual, artistica € politica; e, do mesmo passo que representa interesses perfeicamente individualizados, constitui uma unidade social que no se confunde com a dos outros enicleos de populagio — que, por sua vez, tém caracteristicas préprias ¢ inconfundiveis. Neste aglomerado hé um destino superior, hd uma vontade, e hé também uma comunidade de pensamento sobre o seu destino. Todos os que vivem em Coimbra — ¢ também aqueles que aqui viveram — a desejam cada ‘vez mais una, mais préspera, com maior capacidade para realizar 0 seu destino, o seu alto destino, ‘Os homens que aqui nascem, ¢ 0s que por aqui passam, estio imbuidos, certamente, desta ideia, mas ela é mais forte do que eles mesmos, deve prevalever sobre eles, e mesmo que alguns, fem nome de qualquer interesse, a quisessem diminuir, a instituigio — Coimbra — por intermédio da sua energia imanente, deveria reagir, lutar. Este € 0 sentido da colaboracio dos nicleos locais na formacio da sintese estadual, assemos a outra formacio, a outro nicleo institucional Hii na vida social certos inceresses interdependentes, ¢ tao intimamente ligados, que niio é possivel a realizacio de uns, sem, simultaneamente, s¢ tentar a realizacio de outros, nem é possivel organizacio, regularizagio ¢ defesa de uns sem que 0s outros sejam igualmente organizados, regulamentados e defendidos, isto porque esses interesses se diigem a um fim ilcimo, ou & melhor ‘constituicéo de um objectivo tinico, umas vezes de cardcter econdmico, outras de carter politico, sas sempre inceresses das forcas do trabalho, do trabalho intelectual, do trabalho patronal ¢ do trabalho assalatiado. “Todas elas: ordens, sindicatos e grémios, casas do povo — rgios primirios — federacies unides — érgaos secundéios — e corporacées — 6rgios superiores — no sisterna portugués — Constituem a organizagio necessiria da actividade particular que s6 por ela se pode disciplinar e defender, e fazer progredic & margem das grandes criss. ais slo 0s elementos do Estado. MARCELLO CAETANO, Manuel de diccito administrative, Lisboa 1973, pp. 77 ss. Em conclusto: a imstigazdo que condus & construcao do sistema do Direito Administeativo portugués deve incidir sobre as leis ¢ sobre a sua aplicacio pelos cribunais ¢ pela Administracéo, de modo a conhecer qual a realidade da vigéncia do Direito. Daf se deduzem os principios que vio sendo ordenados em sistema. Mas, este tem de er em conta os preceitas do Direito Natural bem como as regras fundamentais em que assenta a Ordem juridica de que 0 Diteito Adminiserativo & simples elemento componente, preceitos € regras que nao sio muciveis segundo os simples caprichos do empirismo da Administracio ou das flutuagdes da opinio piibice. 532 10, ANTUNES VARELA, «Algumas solucdes do Cédigo do Registo Civils, Rev. Leg. Jor., Ano 98(1965), 161. Eu sempre entendi, por virias razdes cujo desenvolvimento se no coaduna com a indole da Revista, que nas preleccdes feitas perance o pablico receptive ¢ impreparado dos alunos, o professor deve concencrar especialmente a sua atencio sobre os problemas de interpretagio da lei e de ineegracio das lacunas do sistema, © sobre as carefas de elaboracio cientifica dos materiais fornecidos pela legislacio, abstendo-se quanto possivel de intervir em questGes de outra ordem, incluindo as que entcam abertamente no dominio da politica legivlativa, Estas interessam de modo particular aos politicos, & administrocio, as assembleias legislativas ou is comissbes revisoras, nas ‘quais os professores tém sempre um papel destacado a desempenhar — mas fora do piblico escolar, longe do ambiente especifico da actividade docente Se outra for a orientagio seguida pela escola, entio os alunos, as familias deles © a propria Igreja tém uma palavea especial a proferit, porque nessa altura passam a tet pereito cabimento ‘quanto a0 ensino superior as consideragbes que 0 deputado ANTONIO SANTOS DA CUNHA ‘em tempos desenvolveu na Assembleia Nacional sobre os problemas gerais da educacio, e que mereceram a plena concordancia dum mestre ilustee da nossa Faculdade, 0 Professor GUI- LHERME BRAGA DA CRUZ # ts Anténio Maria Santos da Cunha, A poi de aan, 1963, Pe, pg. 4, onde exert: Porque 4 sue fang ie Fite), cet spect, 6 nnd e sempre de alae 0 qu famine ges poder ela por 0 Eta em |e arvra-se em dutrinads, anes rem de conforma com »erenaco dvecital gue mura Soci pairs dara ‘ucacio em ais sectors, hes fos oie desempenhar diecamente se mio

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