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3. SISTEMA FINANCEIRO
FINANCEIRO DA HABITAÇÃO:
ANÁLISE E PROPOSTA DE
DE SOLUÇÃO.
Introdução
Nos últimos tempos multiplicou-se intensamente o número de ações que discutem
contratos avençados sob a égide do Sistema Financeiro da Habitação. Tais ações
têm em comum a premissa de que o valor das prestações bem como do saldo
devedor vem sendo calculado de forma lesiva aos mutuários.
Não deve passar despercebido que as ações inicialmente aforadas em geral não
abordavam a evolução do saldo devedor, certamente porque os contrato mais
antigos contavam com cobertura do Fundo de Compensação de Variações Salariais
– FCVS. Tais contratos garantiam ao mutuário que o imóvel lhe seria adjudicado
com o pagamento da última prestação avençada, independentemente da existência
de resíduo. O mutuário contribuía com o FCVS e, assim, ficava livre de qualquer
responsabilidade para com o saldo devedor ainda existente depois do pagamento da
última prestação. Bastava a esse mutuário, portanto, discutir o valor da prestação,
pouco lhe importando o que ocorreria com o saldo devedor.
Depois de algum tempo o FCVS foi extinto para os novos contratos, pelo que o
mutuário passou a assumir o resíduo contratual. Desde então as ações aforadas
abordam diretamente a evolução do saldo devedor, combatendo-lhe a forma de
reajuste, tanto quanto combatem o valor das prestações cobradas.
Basicamente o que se tem é que o critério de reajuste do valor das prestações do
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que, por se discutir apenas o valor das prestações e não a evolução do saldo
devedor, justo seria considerar o critério de uma anuidade, abstraindo-se o valor do
contrato. Assim o equivalente a doze prestações compunha o montante a ser
considerado para a causa.
Corrente ainda mais liberal passou a considerar que o valor da causa
corresponderia à diferença entre o valor cobrado e aquele reputado devido pelo
mutuário. Dessarte chegou-se ao critério do montante duodecimal da diferença
entre o quanto cobrado e o quanto entendido devido pelo mutuário.
Todavia a mudança nos contratos, ao obrigar os mutuários à discussão do saldo
devedor, levou também à alteração do conteúdo econômico da lide. Assim, por se
perseguir a revisão do contrato de modo abrangente, tornou-se adequado o critério
do valor do próprio contrato, isto é, da dívida. Circunstancialmente, na maioria das
vezes o Judiciário prefere continuar com o critério anterior como forma de maior
distribuição de justiça social.
A Essência do SFH
A Lei fundamental do Sistema Financeiro da Habitação, conquanto muito tenha-se
alterado desde sua edição, continua sendo a Lei 4380/64.
É de sua ementa:
Institui a Correção Monetária nos Contratos Imobiliários de Interesse Social,
o Sistema Financeiro Para a Aquisição da Casa Própria, Cria o Banco
Nacional de Habitação (BNH), e Sociedades de Crédito Imobiliário, as Letras
Imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e dá outras
Providências.
Já no artigo 5° ficava disposto que (...) os contratos de vendas ou construção de
habitações para pagamento a prazo ou de empréstimos para aquisição ou
construção de habitações poderão prever o reajustamento das prestações mensais
de amortização e juros, com a conseqüente correção do valor monetário da dívida
toda vez que o salário mínimo legal for alterado.
Eis aí a semente plantada no solo do Direito, oriunda da política habitacional que o
Governo resolvera aplicar para fazer frente ao caos que o País vivia em termos de
casa própria para seus cidadãos. A componente social era tão óbvia que não era
vinculação primeva da norma de regência senão o próprio salário mínimo. O
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francês. Na prática o que se tem é que há muitos contratos PES/CP sob o regime da
tabela Price, mas, é bom que se destaque, o fato do contrato reger-se pelo critério
PES/CP não o vincula obrigatoriamente ao sistema francês de amortização.
Se o mutuário pretender a modificação das cláusulas estabelecidas no contrato sob
a premissa de que todo contrato PES/CP deve obedecer à tabela Price, deverá
prevalecer o princípio pacta sunt servanda, já que ao mutuário não advém prejuízo
tão-só em razão de ter-se este ou aquele sistema de amortização previsto na avença.
Veja-se que há plena liberdade para o mutuário discutir as cláusulas estabelecidas,
abordando a correção ou não dos reajustes realizados, bem como os índices
empregados, sem que, no entanto, possa pretender pura e simplesmente alterar a
essência do contrato, descaracterizando cláusulas livremente estabelecidas.
É óbvio que se ambas as partes contratantes desejassem tal modificação poderiam
simplesmente aditar o contrato originário. Mas unilateralmente, por intervenção
do Judiciário, não é possível violentar-se o ente financeiro infligindo-lhe toda sorte
de alterações só porque se trata de uma rica empresa pública de natureza bancária,
como se tal circunstância pudesse alicerçar uma cerebrina presunção de abuso de
poder econômico.
Não.
Bastas vezes o que ocorre é o arrependimento do mutuário que optou por um
determinado regime contratual que não atendeu às suas expectativas. Conquanto a
componente social da questão habitacional seja evidente, não se pode perder de
vista que o ente financeiro somente pode continuar a financiar imóveis se houver
cumprimento dos contratos estabelecidos.
A Essência das Distorções
A raiz de toda a problemática situação que se formou está na origem dos recursos
dirigidos ao financiamento da habitação. Conquanto não caiba aqui aquilatar do
acerto ou desacerto das políticas habitacionais adotadas na condução dos recursos,
o fato é que o dinheiro usado para o financiamento da casa própria origina-se dos
depósitos da poupança.
Ironicamente, a estabilização da moeda, em se prolongando no tempo, fez com que
boa parte dos brasileiros, até então poupadores, simplesmente deixasse de fugir da
inflação e se lançasse no mercado consumidor. Equivale a dizer que os depósitos
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não admitir que o mutuário continue pagando o financiamento nos exatos moldes
do contrato por reconhecer-lhe a injustiça e o atentado ao princípio rudimentar de
que o preço não deve ultrapassar o valor do bem negociado.
É óbvio que os recursos serão interpostos de imediato, até porque as ações
certamente não ostentam pedido formulado exatamente nesses moldes, ao menos
na grande maioria dos casos.
Todavia, abstraindo-se os rigores científicos da Processualística e com olhos fixos
na realidade forense, é inafastável que, com muito maior freqüência do que se
imagina, a tutela jurisdicional concedida ao fim do processo atende ao quanto
pedido na inicial sem contudo refletir-lhe os exatos contornos.
Nem por isso o pedido é acolhido de modo parcial ou sob o vício dos provimentos
infra, extra ou ultra petita. As causas habitacionais mais e mais são tidas à conta de
demandas de natureza alimentar.
Realmente, o direito à habitação caminha em largos passos em direção ao solo dos
direitos fundamentais do cidadão, aqueles direitos que repousam sobre o dever de
atendimento que toca ao próprio Estado. Não menos evidente é a caracterização do
mutuário como consumidor, juridicamente considerado à sombra da proteção das
normas consumeiristas, de modo que sua hipossuficiência é de absoluta presunção.
Ora, daí advém necessariamente que a tutela jurisdicional do Estado não se poderá
obstar por rigores formais nada adequados à flexibilidade típica da fungibilidade
inerente aos direitos de cunho alimentar.
Busquemos analogias.
Ninguém tem dúvida de que o segurado da Previdência Social, caso peça menos do
que poderia, terá a tutela jurisdicional que melhor lhe atenda às necessidades de
acordo com que prevê a lei. De fato, pouco importa que o pedido restrinja-se à
concessão de auxílio-doença, por hipótese, bastando que se comprove a plena
incapacidade laborativa para que o Judiciário possa condenar o INSS no pagamento
do benefício adequado, determinando a aposentação do segurado.
Esse tipo de flexibilidade, a bem da verdade, já existe no que tange às ações que se
fundam no SFH. É muito comum o juiz liminarmente determinar o pagamento
pelos mutuários do valor incontroverso diretamente ao agente financeiro quando o
pedido sumário, na verdade, buscava o depósito de tais valores.
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Ainda nesse contexto, há juízes que liminarmente vedam desde logo a eventual
realização de praceamento extrajudicial do imóvel financiado tão-só diante de
pedidos genéricos dirigidos a medidas administrativas como a não-inclusão dos
mutuários em registros de inadimplentes.
É o Judiciário dando à parte o que melhor lhe cabe sem restrições meramente de
forma diante da natureza alimentar do direito à habitação.
Aliás, é bom que não se defenda excessivo rigor de forma no que pertine às ações
tocantes à habitação, porquanto não haverá como dar-se solução às milhares de
famílias que demandam em cada Juízo se não se reconhecer a natureza alimentar
do direito à habitação, com todas as conseqüências daí advindas, máxime a
presunção absoluta de hipossuficiência do mutuário.
Em contrapartida, a Caixa Econômica Federal terá a garantia de que a quitação dos
contratos cinge-se estritamente à comprovação de que já foi pago valor suficiente,
entendido esse como o valor de mercado atual do imóvel.
A solução adotada atende, repise-se, à hipossuficiência econômica do mutuário em
termos de proteção consumeirista.
A eventual existência de superávit em favor do mutuário como resultado da
comparação entre o quanto pago e o valor atual de mercado do imóvel não implica
no reconhecimento de crédito como efeito da sentença que for proferida, já que o
deslinde da causa não terá advindo do encontro de contas ou investigação contábil
para esse fim.
O desfecho do litígio estará assente no princípio da distribuição da justiça e dos fins
sociais do processo, principalmente porque não se trata do reconhecimento de
culpa civil da CEF, mas sim do reconhecimento de que as distorções do Sistema
Financeiro da Habitação torna injusta a continuidade do financiamento quando o
valor pago supre o valor de mercado do imóvel.
Destarte, eventual pretensão em busca de diferenças há que fundar-se em nova
busca de tutela jurisdicional, sob fundamentos próprios.
Em suma, a questão se resolve pelo seu aspecto mais simples: o preço não pode
ultrapassar o conteúdo econômico do bem negociado.
Outro aspecto de relevo é o inadimplemento puro e simples que ocorre por parte
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mais submeter-se-á a um saldo devedor ilimitado, mas sim a um total que, mesmo
sendo monetariamente corrigido, não poderá ser majorado.
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Veja-se que, no que pertine às pessoas jurídicas irregulares, nada mais salutar do
que impor-lhes total capacidade tributária, como faz o CTN no inciso III acima
transcrito; contudo, quanto às pessoas naturais, a incapacidade civil absoluta (ao
menos a absoluta) efetivamente acarreta a incapacidade tributária, remanescendo,
de qualquer modo, a responsabilidade do representante legal (art. 134, CTN). O
efeito, na prática, resguarda igualmente o interesse do Fisco e mantém a plena
integração do ordenamento.
Sustenta-se que a incapacidade civil não influi na capacidade tributária porque a
vontade do indivíduo é irrelevante para a caracterização do liame que advém da
obrigação tributária. Sem dúvida, é verdade. Entretanto, capacidade tributária é
espécie do gênero capacidade jurídica, sendo rigorosamente desnecessário
caracterizar-se um ente sui generis quando o efeito perseguido pode ser alcançado,
da mesma forma, através da estrutura que existe. Repise-se que a obrigação
tributária há mesmo que ser satisfeita; simplesmente não deve figurar como sujeito
passivo o menor absolutamente incapaz, mas sim seu representante legal.
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5. A EXECUÇÃO INVERTIDA
INVERTIDA NAS AÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
PREVIDENCIÁRIAS
Nas ações previdenciárias, na grande maioria das vezes sob o procedimento comum
ordinário, após o exaurimento da função jurisdicional no processo de
conhecimento aporta-se ao processo de execução, a exemplo do que ocorre com os
feitos em geral.
No entanto, as ações previdenciárias vêm observando um rito próprio na fase de
execução, rito esse estabelecido na vida prática das Varas Federais e que atende
bem melhor ao princípio da duração razoável do processo tanto quanto bem se
coaduna com as peculiaridades dessa ação, notadamente a hipossuficiência do
segurado e a essência alimentar da renda previdenciária.
O INSS, como é cediço, compõe a Administração Indireta e ostenta a natureza de
Autarquia, pelo que as execuções em seu desfavor cingem-se ao rito estabelecido
no artigo 730 e seguintes do Código de Processo Civil, peculiarizando-se pelo prazo
dilatado para a eventual interposição de embargos à execução.
Assim, caso as coisas ocorram na fria letra do procedimento regrado, o segurado,
vencedor da demanda, deve apresentar a conta de liquidação e requerer a citação
do INSS para os fins do artigo 730 do CPC. A Autarquia, depois do ato de
chamamento à execução, pode embargar ou concordar com a pretensão executória.
Finalmente, verificada a conta em sede de embargos ou aceita a conta, a execução
finda com sentença fixando o valor a ser requisitado para o pagamento.
Todavia, a vida forense demonstrou de modo homogêneo que o segurado, salvo
raras exceções, não tem como proceder aos cálculos de seu crédito ante a
dificuldade de levantar com rigor matemático todos os elementos necessários,
aplicando-se os índices normativamente fixados, período a período. Quase sempre
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o segurado oferta um cálculo que diverge daquele que a Dataprev, por meio de seus
bancos de dados e programas bem elaborados, rapidamente procede a um comando
do operador do sistema. Eis que o INSS inevitavelmente embarga essas execuções e
com razão. Os embargos tornaram-se uma fase comum da execução para o
acertamento da conta, fugindo de seu caráter excepcional, alinhavada na vida
processual-executória como ação incidental.
Claro que esse procedimento importa em uma excessiva morosidade além da não
rara interposição de apelações da sentença dos embargos. De fato, o segurado
muitas vezes não se conforma em ver o acolhimento da conta do INSS em
detrimento da sua, buscando o socorro da Corte com um recurso que, tanto quanto
inviável, causa grande demora na satisfação do crédito.
Esse o quadro que levou à adoção da execução invertida nas ações previdenciárias.
Muito mais prático que o juiz determine que o INSS, tão-logo tenha-se o trânsito
em julgado da decisão de mérito, apresente a conta de liquidação. Como já
destacado, o INSS tem em sua estrutura plenas condições de bem elaborar o cálculo
com todos os elementos que retira de seus bancos de dados. Vinda a conta aos
autos, o autor manifesta-se. Se achar que o INSS não ofertou conta adequada, deve,
no prazo dessa manifestação, trazer seus cálculos. Importante destacar que é bem
raro o segurado inconformar-se com a conta do INSS, mas, se for esse o caso, o juiz
poderá, ante a nova conta, retomar o rito original mandando citar o INSS com essa
pretensão executória. Claro que os embargos serão inevitáveis.
Não se pense, com isso, que o segurado fica refém do INSS na elaboração da conta
de liquidação. Na verdade, além do cálculo da Autarquia estar de acordo na imensa
maioria das vezes, caso o segurado concorde com um valor que ao juiz, sob seu
prudente critério, pareça insuficiente, restará sempre o auxílio do contador judicial
para a verificação final.
O fato é que quando o INSS traz a conta de liquidação, é muito comum que o
segurado concorde por satisfazer-se com o valor fixado.
Nesse ponto, como a conta é oriunda do INSS, sequer de citação no artigo 730 se
cogita para a continuidade da execução, já que, por um mínimo de lógica
processual, o INSS não tem interesse em embargar os seus próprios cálculos.
Ainda assim, os juízes, em sua maioria, receiam dar vazão ao processo de execução
sem o ato de citação formalizado. Receio incabível vez que a conta de liquidação
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Mais uma vez, cremos, é de se destacar que não há, a rigor, necessidade de tomar-
se por termo o ato de "dar-se por citado" do INSS. Bastaria que já no despacho
inicial da fase de execução constasse cláusula determinando a expedição das
requisições pertinentes ante a eventual (e quase certa) concordância do segurado.
Nas Varas em que a execução invertida não estiver sendo praticada, nada impede
que o segurado requeira, por petição feita por seu Advogado, que assim se proceda
ao ensejo da liquidação do julgado.
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"Se o processo está em curso a despeito da falta de preparo, não mais incide o artigo
257 do Código de Processo Civil, restrito à hipótese em que a ação, à míngua do
pagamento das custas, não foi além da distribuição, caracterizando o abandono."
(Fonte DJ DATA:23/10/2000 PÁGINA:140 RSTJ VOL.:00136 PÁGINA:302
Relator(a) ARI PARGENDLER - RESP - RECURSO ESPECIAL - 259148 - Data da
decisão: 20/06/2000);
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7. IMPENHORABILIDADE:
IMPENHORABILIDADE: BENS QUE GUARNECEM
O IMÓVEL DE FAMÍLIA.
Uma questão prática que costuma tocar no senso ético dos profissionais do Direito
é a extensão do conceito de impenhorabilidade dos bens que guarnecem o imóvel
de residência da família. Como se sabe, a Lei 8009/90 veio a proteger o chamado
bem de família da afetação ao processo de execução pela penhora, bem como os
bens que guarnecem a casa, exceptuando-se apenas, no rigor da lei, os veículos de
transporte, os bens de natureza supérflua e os suntuosos. Tem-se aí, portanto, dois
elementos valorativos culturais: o caráter supérfluo e a suntuosidade. No que
pertine aos veículo, não maiores dificuldades em entender que a lei possibilita sua
penhora, salvo é claro se for de uso profissional. Já quanto aos demais, é óbvia a
dificuldade em estabelecer-se, com toda a objetividade que uma regra de tal porte
certamente exige, conceitos unânimes do que seja supérfluo em uma casa de
família, conquanto a suntuosidade seja bem mais fácil de caracterizar-se. Já se
entendeu que um forno de microondas, por hipótese, não é um bem supérfluo,
consoante julgado do STJ (RESP 299392 RS QUINTA TURMA 20/03/2001), a
despeito de não ser nada comum uma residência que tenha nesse apetrecho um
ente indispensável à sua sobrevivência. Também no mencionado aresto ficou
expresso que, da mesma forma, o aparelho de ar condicionado tampouco poderia
ser penhorado. A Corte Superior estendeu a regra protetiva da Lei 8009/90 também
a coisas como aparelhos de som, vídeo-cassetes, microcomputadores e impressoras,
só mesmo ficando à conta da penhora um piano, assim mesmo sob a ressalva de
inexistir qualquer evidência de que o instrumento estaria sendo utilizado para fins
de aprendizado (STJ RESP 198370 MG 16/11/2000). Decisões como essas
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abundantemente.
Uma família que possua um único imóvel e dele se sirva para a própria existência,
mas que tenha em seu interior, digamos, três aparelhos de televisão, ou mais de um
aparelho de som, não parece estar sob a proteção da lei em tudo o que exceda a
condição de sobrevivência digna. É claro que o televisor, por exemplo, constitui
um elemento de informação do cidadão, instruindo-o muitas vezes naqueles pontos
em que falhou fragosamente o Poder Público. Todavia, a cidadania de todos da
família não será afetada pela penhora de um dos aparelhos disponíveis da casa, cuja
eventual perda acarretará, quando muito, uma diminuição do conforto original em
contrapartida à satisfação do direito do credor.
Entender-se ao contrafluxo cria a possibilidade do indivíduo conduzir-se de má-fé,
internando na casa elementos que lá não manteria, por serem desnecessários, como
eventuais acessórios de conforto em duplicidade. Não há justiça em considerar-se
impenhoráveis, digamos, todos os três televisores de nossa hipotética família,
relegando-se o credor a amargar duras penas para conseguir o pagamento de
quanto lhe devam. Não se perca de vista que o devedor efetivamente deve,
cabendo-lhe impugnar o crédito sempre que assim entender pertinente.
O caráter pendular da matéria leva a decisões até mais rigorosas contra o devedor,
como já ocorreu no TRF da quarta região: A proteção da LEI-8009 /90 é apenas
para os bens que guarnecem a residência do devedor indispensáveis à
habitabilidade mínima de sua família, bem como os necessários para a manutenção
da dignidade humana. Prossegue o julgado: Televisores e aparelho de som escapam
da protetora inspiração social da impenhorabilidade (TRIBUNAL - QUARTA
REGIÃO AC RS SEGUNDA TURMA10/10/1996).
O melhor critério em nossa opinião é o da hipossuficiência. Um bem que guarneça
a casa de família poderá ou não ser tido como impenhorável de acordo com o caso
concreto, conforme esse bem, no contexto daquela família, constitua ou não
elemento de sobrevivência condigna e de cidadania. Um único televisor é
Impenhorável; dois, talvez; de três em diante, não cremos possam ser excluídos os
excedentes da eventual penhora a ser realizada.
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ficado com seqüelas. Mesmo que a empresa dê-lhe dez milhões de reais, será em
decorrência dos danos, ainda que o pagamento ocorra voluntariamente, sem coação
judicial. Vale dizer, tal verba será indenizatória. É, no mínimo, de alguma
prepotência buscar-se em juízos próprios a partir de quanto aquela vítima já estará
indenizada e, consequentemente, a partir de quanto deve ser considerada uma
felizarda pelo que ganhou a mais.
Ora, o cidadão que perde o seu emprego certamente preferiria continuar
empregado do que receber esse ou aquele valor a mais, em "incentivo" à sua saída.
Nem se diga que, afinal de contas, ele "aceitou" o plano de demissão voluntária. Por
certo não é preciso muita capacidade de previsão para chegar-se à conclusão de
que, tendo sido "convidado" à demissão incentivada, certamente já estava nos
planos de corte do empregador, podendo, quando muito, adiar por mais algum
tempo o desfecho danoso ou aceitá-lo desde logo com um pouco mais de
"vantagem".
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Execução Fiscal - Penhora de imóvel cuja transferência ainda não foi registrada
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ser indeferida, mesmo que não se tenha ainda ultimado o registro imobiliário. De
fato, a jurisprudência de um modo geral sedimentou-se pelo respeito ao direito do
terceiro de boa-fé, ainda que sob omissão do ato registrário.
A situação é complexa por submeter-se à incidência de diferentes princípios de
direito, princípios esse que levam a deslindes diferentes. A inércia do Judiciário
efetivamente impede que o Juiz profira decisão que tutele bem-interesse de pessoa
alheia ao processo de execução; no entanto, a economia processual recomenda que
o Magistrado não faça vistas grossas de circunstância que levará à ineficácia
posterior do ato, senão à sua nulidade, conforme progrida a lide em seus termos
com a constrição de bem anteriormente transferido em negociação de boa-fé. O
reconhecimento dessa circunstância não se confunde com a tutela de bem-
interesse alheio, mas sim a condução, sob razoabilidade e economia processual, do
próprio procedimento. O maior beneficiado é o processo em si, ainda que a decisão
vá ao encontro do interesse de terceiro. A celeridade e o trâmite processual sob
prazo razoável, aliás, vem em destaque na Emenda Constitucional nº 45/2004
(artigo 5º, LXXVIII, da CF), devendo nortear a ordem jurídica para o deslinde de
situações em que a solução de questão incidental ou final possa ser atingida sob
trilha menos tortuosa.
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Em bom passo, a Lei 10.666/2003, em seu artigo 3º, expressamente dispõe que a
perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão das
aposentadorias por tempo de contribuição e especial. Eis que a aposentadoria por
tempo de contribuição independe da condição de segurado. Não obstante, para que
o indivíduo possa beneficiar-se da aposentação, deverá preencher o requisito da
idade mínima. No que tange à aposentadoria por idade, dois requisitos se impõem,
quais sejam, a carência exigida pelo artigo 142 e a idade mínima estabelecida pelo
artigo 48. O mencionado artigo 3º da Lei 10.666/2003, em seu § 1º, dispõe que na
hipótese de aposentadoria por idade a perda da qualidade de segurado não será
considerada para a concessão, exigindo-se que se tenha contribuído ao menos pelo
tempo equivalente à carência exigida.
Vale repisar: há proteção previdenciária àquele que, tendo perdido a qualidade de
segurado, contribuiu ao menos por tempo equivalente ao lapso de carência,
exigindo-se-lhe a idade mínima.
Ora, a proteção constitucionalmente garantida para a cobertura previdenciária de
eventos danosos engloba a doença, a invalidez, a idade avançada e a morte. É o que
diz o artigo 201, caput e inciso "I", da Constituição Federal. Considerando que o
Ordenamento Jurídico há que se nortear harmonicamente pelos mesmos
princípios, a salutar regra estatuída no artigo 3º, caput e § 1º, da Lei 10.666/2003,
deve abranger toda a cobertura previdenciária constitucionalmente instituída no já
mencionado artigo 201, I, da Lei Maior.
Nada justifica entender-se que a Constituição da República e as normas ordinárias
releguem o evento morte a uma proteção social menor do que aquela
expressamente dada à aposentadoria por idade. Se para a aposentadoria por idade,
mesmo diante da perda da qualidade de segurado, basta que tenha havido
contribuições pelo prazo equivalente ao lapso de carência, também para a
concessão de pensão por morte há de prevalecer esse regime.
Com a EC 20/98 a ressalva do artigo 102, § 2º, da Lei 8213/91 passou a abranger
também aquele que, tendo perdido a qualidade de segurado, contava com a
carência mínima necessária para a aposentação e veio a falecer antes de completar
idade para tanto. Do contrário, estar-se-ia diante da escatológica possibilidade de
negar-se a pensão por morte aos dependentes de quem, tendo perdido a qualidade
de segurado, contribuiu por 29 anos e faleceu com 64 anos, ao mesmo tempo em
que teriam direito ao benefício caso a morte ocorresse com 65 anos, mesmo que
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