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RESUMO
Primeiras Palavras...
1
A partir de 1968, as obrar de Freire são publicadas fora do Brasil (ao menos em sua 1ª edição) por conta da
censura.
Contemporaneamente, se percebe uma reconfiguração dos espaços e práticas em
Educação Popular. O período iniciado com os processos e lutas por redemocratização na
América Latina e marcado, depois, pelas tensões entre o seguimento ortodoxo da ―cartilha
neoliberal‖ pelos governos latino-americanos e concomitante ascensão de uma nova
esquerda (incluindo grupos e projetos políticos de contornos neopopulistas), constrói um
novo cenário social, onde a Educação Popular, ao menos discursivamente, tornou-se
referência.
É possível perceber que a Educação Popular, enquanto um jeito de fazer Educação,
ampliou sua abrangência e perspectivas de atuação, tanto na direção da formalidade, com a
adesão do Estado e de organizações da Sociedade Civil à Educação Popular enquanto
orientação para algumas políticas públicas, quanto na direção das práticas não-formais e
informais, expandindo-se assim a diversos setores. O panorama presente é, pois, de pouca
unidade, onde a diversidade de experiências – sem dúvidas, interessante no campo
educacional – não deixa sempre claro o que é e pretende a Educação Popular no século
XXI. No entendimento de Gadotti (2000):
As práticas de educação popular também
constituem-se em mecanismos de democratização, em que
se refletem os valores de solidariedade e de reciprocidade
e novas formas alternativas de produção e de consumo,
sobretudo as práticas de educação popular comunitária,
muitas delas voluntárias. O Terceiro Setor está crescendo
não apenas como alternativa entre o Estado burocrático e o
mercado insolidário, mas também como espaço de novas
vivências sociais e políticas hoje consolidadas com as
organizações não-governamentais (ONGs) e as
organizações de base comunitária (OBCs). Este está sendo
hoje o campo mais fértil da educação popular (p. 06).
Gadotti aponta os espaços públicos não burocratizados como o campo mais fértil da
Educação Popular no presente; no entanto, reconhece também sua crescente força enquanto
orientadora de políticas públicas educacionais, sobretudo no que concerne à educação
pública escolar.
Uma questão que, no entanto, se encontra ainda em aberto é concernente às novas
relações e tensões entre a Educação Popular – enquanto prática política – e o Estado no
mundo globalizado2; ou ainda, poderíamos levantar tais questionamentos em relação às
trocas, interferências e influências da Educação Popular nos novos movimentos sociais3.
2
Os estudos do professor Celso Rui Beisiegel referem-se às décadas de 1950 e 1960, quando a produção
intelectual crítica estava intimamente relacionada ao nacional-desenvolvimentismo e aos estudos isebianos
O modelo científico hegemônico ajudou a consolidar – e como seria diferente? –
uma tradição escolar-acadêmica que lhe co-respondia. Parece-nos, portanto, que a crítica
ao paradigma científico moderno deva trazer consigo a crítica às pedagogias hegemônicas,
construídas e consolidadas lado a lado com a ciência cartesiana. Nesse sentido,
4 A este respeito se desenvolve boa parte das reflexões do professor João Francisco de Souza,
inclusive, analisando a contribuição do pensamento freireano à problematização das diversidades culturais e
da multiculturalidade.
5 Reflexão nossa a partir das idéias expressas pelo professor Paulo Freire na “PEDAGOGIA DO
OPRIMIDO”.
6 Fals-Borda aprofunda tais questões em textos como “Política e Epistemologia”, “A ciência e o
Povo” e “Despertar dos Movimentos Sociais”, entre outros.
Assim, à Educação cabe o papel de orientação da busca de métodos, do fazer-
científico e, por isso mesmo, ela se constitui enquanto lócus e prática estratégicos para a
transformação das relações dos homens entre si e das sociedades entre si.
Nesse sentido, Boaventura de Sousa Santos fala em ―conhecimento-emancipação‖.
Tal conhecimento teria como desafios a passagem do monoculturalismo ao
multiculturalismo, a construção do conhecimento edificante (ou conhecimento prudente
para uma vida decente) e, por fim, da transição de uma ação conformista para a ação
rebelde (2009).
Em nossa compreensão, a crise do paradigma científico moderno implicou na crise
do modelo educacional a ele vinculado, hegemonicamente escolar, hierárquico e linear. As
rupturas epistemológicas necessárias à consolidação de um conhecimento emancipador
estaria, portanto, relacionadas às formas e finalidades do educar e à possibilidade da
Educação reinventar-se enquanto meio de interação dos homens entre si e destes com o
Mundo.
Enquanto prática educacional politicamente referenciada, voltada à participação
democrática e à emancipação dos sujeitos, a Educação Popular propõe e realiza uma
Pedagogia que participa de uma reinvenção do fazer-científico, da socialização do
conhecimento científico e da valorização da multiplicidade de saberes propostos na
expectativa de uma ruptura epistemológica que viabilize novas formas de produzir e
socializar conhecimento no mundo contemporâneo.
Elementos fundantes da perspectiva pedagógica da Educação Popular apontam para
a consolidação de um pensamento do Sul, para utilizarmo-nos da terminologia cunhada por
Boaventura, um pensamento que descoloniza, rompe hierarquias, promovendo autonomia e
emancipação.
Nesse sentido, podemos considerar a educabilidade de diversas práticas sociais e,
assim, compreender que em processos de organização comunitária, manifestações
culturais, conflitos políticos, movimentos reivindicatórios, entre outros modos de relação
social entre indivíduos e grupos, podem estar em ação um ou mais elementos constituintes
da Educação Popular.
Espaços e Tempos da Educação Popular
Bibliografia
FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a liberdade – e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1981.
______. Educação como Prática de Liberdade – 28ª. Edição. Editora Paz e Terra, São
Paulo, 2005a.
______. Educação e Mudança – 28ª. Edição. Ed. Paz e Terra. São Paulo, 2005b.
______. Pedagogia do Oprimido – 42ª. Edição. Ed. Paz e Terra. São Paulo, 2005c.