SEDUFSM

S I N D I C AT O Impresso

ANDES
Especial
9912248799/2009-DR/RS

NACIONAL Sedufsm

CORREIOS

Publicação mensal da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES - Julho de 2010 ISSN 2177-9988

FRITZ NUNES

55º CONAD prioriza

defesa da Carreira
Najla Passos/ANDES-SN

Reunião que aprovou proposta, no dia 1º de julho

CEPE da UFSM, dividido, aprova

proposta de Ingresso da reitoria
Radar, pág. 03

RENATO SEERIG

Rondon, atual presidente da SEDUFSM

Rondon de Castro fala dos

planos para a presidência da
Evento de Fortaleza atualizou plano de lutas da categoria docente SEDUFSM
Cerca de 150 professores de todo o Brasil participaram do 55º CONAD (Conselho Com a palavra, págs. 08 e 09
do ANDES-SN), em Fortaleza (CE), de 24 a 27 de junho. Um dos encaminhamentos
VILMA OCHOA
importantes do encontro é a defesa da carreira docente contra os ataques do governo
federal. Em relação a esse tema, a mobilização do Sindicato Nacional e de outras
entidades garantiu um recuo do governo, que não mais enviará antes das eleições o
projeto que altera a Carreira. Durante o 55º CONAD assumiu a nova diretoria do
ANDES-SN, incumbida da tarefa de não apenas fortalecer o sindicato como também
ampliar a base de filiados. Leia mais nas págs. 02, 04, 05 e 07

Ainda nesta edição:

Estatuto da Igualdade Racial aprovado Público prestigiou filme e debate

sem cotas Pág. 06 Cultura na SEDUFSM debate
Junho marcou a posse da nova diretoria relação entre ditadura militar
da SEDUFSM Extra-classe, pág. 10 e empresários
Extra-classe, pág. 11

Acompanhe o Encarte Especial sobre o reajuste de julho de 2010

02 JULHO 2010
EDITORIAL
Recuo estratégico
O ANDES - SN, através dos professores que estiveram
no 55º CONAD, em Fortaleza, no final do mês de junho,
aprovaram como uma de suas bandeiras a defesa da
Carreira Docente. Não que a estruturação atual seja a
ideal, que não tenha suas distorções. A questão é que a
proposta que o governo tem na gaveta simplesmente
implode com o que ainda resta de uma concepção de
carreira construída com base num modelo de
universidade.
Quando nos referimos a um modelo de universidade,
estamos falando de instituições públicas, gratuitas,
socialmente referenciadas e que tinham no Estado seu
principal sustentáculo. A concepção de Carreira que foi
apresentada e formatada em projeto de lei e decretos
apresenta uma universidade cujo futuro é cinzento.
A avaliação pode parecer pessimista, mas, se
pensarmos que a universidade brasileira, que ainda é
bastante jovem, foi construída com uma concepção
democrática, em que o espaço de produção do saber é
independente e vinculado à sociedade, mas aos poucos
vem sendo desviada de sua finalidade, passando a ser um
local onde o que contam são os interesses econômicos.
E é justamente essa a concepção que é trazida pela
proposta do governo federal. A carreira docente vai
facilitar a vida não daqueles educadores preocupados em
dedicar seu tempo à sala de aula, às pesquisas e às
extensões com abrangência social. A nova carreira abre
espaço para aqueles docentes que têm capacidade de
buscar recursos na iniciativa privada. Esse poderá ser
bem remunerado. Aqueles que não preenchem esse
requisito, especialmente os que já se aposentaram, serão
relegados a um segundo plano.
Por isso, é importante que, apesar do recuo
m o m en tâ n eo , a n u n ci a d o p elo M in is tér io d o
Planejamento, de que não será enviado o projeto da
Carreira antes das eleições, que todos fiquemos atentos. O
passo atrás parece ser mais estratégico do que
propriamente uma derrota governamental. Que o
Movimento Docente se prepare, pois após o período
eleitoral, os ataques devem retornar com todo o ímpeto,
pois além de força política, o governo conta com inúmeros
braços sindicais em meio aos servidores públicos.
EXPEDIENTE
A diretoria da SEDUFSM é composta por:
Presidente: Rondon Martim Souza de Castro; Vice-presidente: Julio Ricardo
Quevedo dos Santos; Secretária-geral: Leila Wolff; Tesoureiro-geral: Sérgio A.
Massen Prieb; Primeira secretária: Carmem Deleacil Ribeiro Gavioli; Primeira
tesoureira: Glaucia Vieira Ramos Konrad; Primeira suplente: Glades Tereza
Félix; Segunda suplente: Rejane Terezinha Pereira dos Santos e Terceiro
suplente: Luís Eduardo de Souza Robaina.
Jornalista responsável: Fritz R. F. Nunes (MTb nº 8033)
Relações Públicas: Vilma Luciane Ochoa
Arquivista: Cláudia Rodrigues
Demais funcionários: Claudionéia Petry, Márcio Prevedello, Paulo Marafiga e
Maria Helena Ravazzi da Silva.
Diagramação e projeto gráfico: J. Adams Propaganda
Ilustrações: Clauber Sousa e Reinaldo Pedroso
Impressão: Gráfica Pale, Vera Cruz (RS) Tiragem: 1.500 exemplares
Obs: As opiniões contidas neste jornal são da inteira responsabilidade de quem
as assina. Sugestões, críticas, opiniões podem ser enviadas via fone(fax)
(55)3222.5765 ou pelo e-mail sedufsm@terra.com.br
Informações também podem ser buscadas no site do sindicato:
www.sedufsm.com.br
A SEDUFSM funciona na André Marques, 665, cep 97010-041, em Santa
Maria(RS).
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
Clauber
PONTO A PONTO
Fundações Revista e as cotas
Mais dois escândalos envolvendo a relação das
Arquivo/ANDES-SN
universidades públicas com as fundações
privadas ditas de apoio estouraram poucas
semanas atrás. No Distrito Federal, o Ministério
Público propôs ação de improbidade
administrativa contra dois ex-reitores da
Universidade de Brasília UnB, três
funcionários da editora da instituição e o
presidente da Fundação Nacional de Saúde
Funasa. Eles são acusados de desviar, via
fundações privadas da UnB, R$ 8,8 milhões do
montante que deveria ser investido em saúde
indígena. No Rio Grande do Sul, Justiça Federal
e Tribunal de Contas da União TCU Durante o 55º CONAD (Conselho do ANDES-
condenaram o reitor da Universidade Federal de SN), ocorrido em Fortaleza (CE), de 24 a 27 de
Pelotas UFPel, César Borges, e o médico e junho, foi lançada a edição nº 46 da revista
professor da instituição, Alípio Coelho, pelo Universidade e Sociedade (ver foto). Nessa
suposto crime de improbidade administrativa. edição o tema abordado foi das Cotas. A
Eles teriam permitido que um laboratório publicação tem como título principal: Cotas.
privado funcionasse dentro da universidade, Acesso, permanência e democratização na
utilizando a estrutura física e humana da Universidade . O debate prioritário deste tema
instituição pública, sem pagar qualquer se deve em função de uma deliberação tomada
contrapartida. (Fonte: ANDES-SN)
durante o 29º Congresso do ANDES-SN,
ocorrido em Belém do Pará, em janeiro deste
Jornal obtém ISSN ano. A professora Lighia Matsushigue, que
integra a comissão editorial da revista, informa
O jornal da SEDUFSM, cuja periodicidade é que os 12 artigos encaminhados para publicação
mensal, agora já possui o registro ISSN. A se pautaram na defesa das cotas raciais. Não
sigla representa um Número Internacional
conseguimos nenhum artigo contrário ,
para Publicações Seriadas (International
explicou a docente. Interessados em assinar a
Standard Serial Number). A publicação da
revista podem enviar mensagem eletrônica para
SEDUFSM passa a ter então a referência
andesregsp@uol.com.br, podendo ainda acessar
ISSN 2177-9988. Com isso, qualquer artigo
a página eletrônica do ANDES-SN
publicado no jornal já pode ser incluído no
currículo Lattes. www.andes.org.br e utilizar o formulário
eletrônico.
Novidades no site
A SEDUFSM tem duas novidades em relação a sua página eletrônica. A primeira delas é que ao invés
de www.sedufsm.com.br, agora o endereço a ser acessado é www.sedufsm.org.br. A outra novidade é
que no espaço de notícias do site, desde o início de julho, os internautas já podem postar também
comentários junto a essas notícias. Importante destacar que os comentários não entram
automaticamente, eles dependem da autorização de um mediador, que é o assessor de imprensa do
sindicato.
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES JULHO 2010 03

RADAR

Forma de ingresso aprovada por um voto ANAQUELE RUBIN/ASSUFSM

A alteração na forma de ingresso na
UFSM, que a partir do próximo concurso
terá uma modalidade seriada e outra
única foi aprovada por apenas um voto,
sendo este o chamado voto de minerva ,
dado pelo reitor, professor Felipe Müller.
Os conselheiros do CEPE (Conselho de
Ensino, Pesquisa e Extensão) se reuniram
e, após horas de discussão, votaram, mas
o placar foi 19 a 19. A decisão então aca-
bou sendo desempatada pelo reitor, que
justificou a imprensa que não seria
incoerente e votar contra uma proposta
apresentada pela própria Administração.
E é o fato de apenas a proposta da reitoria
ter ido à votação que acabou sendo o
ponto de discórdia.
A pró-reitoria de Graduação, unidade
administrativa de onde surgiu a proposta,
alegou que o debate foi feito nos centros
de ensino da UFSM, além de em outros
espaços, como em uma atividade ocor-
rida na SEDUFSM e em outra na Câmara
de Vereadores. No entanto, os estudantes,
sejam eles vinculados ao DCE ou a
grupos independentes, insistiram que a
proposta estava excessivamente fechada
e sendo exposta num prazo muito curto.
Com base nisso, elaboraram uma
contraproposta.
A polêmica aumentou no dia em que,
durante a reunião do CEPE do dia 18 de
junho, mesmo o projeto da Adminis-
tração não estando na ordem do dia, o
reitor Felipe Müller o trouxe do expe-
diente para a pauta. Feito isso, pediu que
as comissões do CEPE (Legislação e
Normas e de Ensino, Pesquisa e Ex-
tensão) dessem um parecer à proposta
em 15 minutos. Mesmo com algumas
reclamações, os pareceres foram elabo-
rados e com posição favorável à pro-
posta da reitoria. Contudo, antes que
fosse aprovada, a representação estu-
dantil pediu vistas , impedindo a
votação.
Interessado na celeridade do proces-
so, o reitor convocou uma reunião
extraordinária do CEPE para a terça,
22, que só não ocorreu porque os estu-
dantes fizeram uma ocupação pacífica
do hall de entrada da sala dos conselhos,
no 9º andar da reitoria. Durante esse
episódio, confrontado pelo protesto
estudantil, que teve apoio de diretores
da SEDUFSM e da ASSUFSM, Felipe
Müller adiou a reunião do CEPE para o Mesmo pressionado, reitor da UFSM, Felipe Müller (d) conseguiu aprovar a sua proposta
dia 1º de julho e garantiu que a proposta
estudantil seria apreciada pelas comis- como o processo foi conduzido dentro e Educação Física, Maristela Souza, fez
sões do CEPE. fora do CEPE e também pela ausên- críticas à aprovação. Segundo ela, o
cia de dados que justificassem a mudan- empate na votação demonstrou que,
O DIA D - Na reunião do CEPE do ça . Segundo ele, as comissões do apesar de vitoriosa a proposta da reitoria,
dia 1º de julho, a proposta dos estudan- CEPE haviam solicitado um estudo a dúvida pairou em relação ao proces-
tes teve parecer das comissões para que sócio-econômico dos alunos atualmen- so. Segundo Maristela, a dúvida sempre
continuasse tramitando e sendo discu- te beneficiados pelo PEIES, mas que existiu, tanto é que, no dia em que o reitor
tida, inviabilizando sua votação junta- esse pedido não foi atendido. O restante puxou a proposta que não estava na
mente com a da reitoria. Coube ao da trama já se sabe. Houve debate e, em ordem do dia e sim no expediente para a
representante do DCE, José Luiz Zasso, meio a uma divisão acirrada, a votação discussão no CEPE, sequer havia um
apresentar o parecer a partir do pedido e o empate, que acabou definido pelo parecer conclusivo das comissões. Para
de vistas anterior. Zasso pediu o indefe- voto do reitor. ela, foram pressões como fazer um
rimento da proposta da reitoria tendo A ex-diretora da SEDUFSM e parecer em 15 minutos é que acabaram
como argumentos centrais a maneira integrante do CEPE, professora de balizando o voto de muitos conselheiros.

Da reitoria Resumo das propostas Dos estudantes

Unificação entre o PEIES e o vestibular. Todas as pessoas disputarão as
mesmas vagas com provas diferentes (modalidade seriada e única).
A modalidade seriada consiste em provas anuais concorrendo a 100% das
vagas e com o direito de refazer a prova dos anos anteriores e melhorar a sua
nota. Já a modalidade única teria três dias de provas.
Uso do novo ENEM- 20% do total composto pela nota do ENEM
Realização da prova em dezembro.
A primeira etapa seria baseada no novo ENEM, tendo peso de 50%;
A segunda etapa consiste em uma prova dissertativa, levando em
conta 10 temas que seriam trabalhados ao longo do ano anterior ao
processo de seleção, em conjunto com as escolas. A prova dissertativa
seria realizada no terceiro domingo de dezembro em todas as
microrregiões do RS, sendo composta por cinco questões dissertativas
com até 15 linhas de resposta para cada questão.

Déborah Krebs (e), professora de Química
O mês de junho foi marcado por duas
perdas importantes: faleceram o profes-
sor do departamento de História, Luiz
Eugênio Véscio, em período de plena
atividade, e a professora Déborah Krebs
Conceição, aposentada do departamento
de Química. Ambos eram filiados à
Seção Sindical dos Docentes
(SEDUFSM).
A professora Déborah faleceu no dia 6
de junho, em Cacequi (RS), onde residia
Perdas na UFSM
atualmente com seu esposo. Uma das
fundadoras da SEDUFSM, ela, quan-
do no exercício da docência, havia sido
coordenadora do curso de Química.
Segundo a colega de departamento,
professora Marta Tocchetto, Déborah
era uma pessoa inigualável. Tinha um
jeito único de ser, de se vestir, de se
relacionar com as pessoas e com a
vida. Não havia lugar que não se en-
chesse de alegria, risadas e o silêncio
não fosse quebrado quando ela chega-
va. Sempre foi uma pessoa que
desafiou a tristeza .
Ainda segundo Martha, que escre-
veu em seu blog uma crônica a respeito
da colega: Até se aposentar, (Débo-
rah) se dedicou integralmente à UFSM
e à família, especialmente às sobri-
nhas, cujo cuidado e sentimento era de
mãe para filhas. Apesar de não tido
filhos, adotou afetivamente as sobri-
nhas e os alunos, especialmente os do
curso da química licenciatura .
E quem também partiu precoce-
mente, no dia 12 de junho, foi o
professor e historiador, Luiz Eugênio
Véscio. Para o colega de departa-
mento, Vitor Biasoli, Véscio era um
professor que tinha idéias sobre o
mundo e as compartilhava com cole-
gas e alunos . Diz ainda Vitor que no
catálogo da editora da UFSM, além do
seu livro ('O crime do padre Sório'), há
mais dois que nasceram de suas provo-
cações: 'As ruínas da velha matriz', do
seu aluno, Alexandre Karsburg e, O
Catolicismo ultramontano', de minha
autoria. E vem mais por aí: uma tese de
doutorado sobre crimes na Quarta
Aline, Véscio e o filho, Francisco
Colônia. Um legado respeitável, digno
de um professor que desafiava colegas e
alunos .
Véscio, que era paulista de nascimen-
to, faleceu em decorrência de compli-
cações após uma cirurgia, deixando um
filho (Francisco), fruto do casamento
com a jornalista Aline Dalmolin. Ele foi
sepultado em Silveira Martins, muni-
cípio próximo de Santa Maria, no qual
residia junto com a família.
 04 JULHO 2010 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

RADAR ESPECIAL 55º CONAD

Docentes atualizam plano de lutas da categoria Arquivo/ANDES-SN

Em clima de disposição para enfrentar os desafios impostos pela

conjuntura, os docentes que participaram do 55º CONAD do ANDES-SN
atualizaram o plano de lutas da categoria, fixando como objetivos centrais
a defesa o Sindicato Nacional e da educação pública de qualidade, a
valorização do trabalho docente e a contribuição para o processo de
reorganização da classe trabalhadora. Aprovamos resoluções que
fortalecem nosso Sindicato e saímos deste CONAD mais preparados para
as lutas , avaliou a presidente do ANDES-SN, Marina Barbosa Pinto.
Realizado em Fortaleza (CE), de 24 a 27 de junho, o 55º CONAD reuniu
42 delegados e 100 observadores de 49 Seções Sindicais e da Diretoria do
Sindicato Nacional, empossada durante a abertura do evento. Já na
Plenária de Instalação, no dia 24 de junho, os delegados demonstraram o
grau de confiança que depositam na direção que assumiu a condução do
Sindicato ao aprovarem, por unanimidade, a proposta apresentada pela
Diretoria para alteração da pauta e do calendário do evento. Com isso,
suprimiram a discussão do tema Políticas Sociais, focando os debates e
deliberações no Plano de Lutas.
Construímos coletivamente uma vitória neste CONAD,
principalmente porque fizemos o debate aprofundado nos grupos com o
objetivo de priorizar a definição de ações para atualizar o Plano de Lutas,
nos armando para responder aos desafios neste segundo semestre. Essa
decisão se pautou na compreensão de que a atual conjuntura está marcada
pelo avanço da ofensiva capitalista com recrudescimento da exploração
do trabalho e da retirada de direitos dos trabalhadores , avaliou a
presidente do ANDES-SN. Cerca de 150 professores participaram do 55º CONAD, em Fortaleza (CE)

Fortalecimento do ANDES-SN Não à privatização

As propostas discutidas durante o
CONAD apontam para a urgente
necessidade de ampliação da base da
categoria, por meio do aumento do número
de sindicalizações e da criação de novas
Seções Sindicais nas universidades recém
implantadas. Para isso, os delegados deli-
beraram a realização, ainda no segundo
semestre deste ano, de uma reunião inter-
setorial para organizar um conjunto de
ações unificadas, que possam alavancar a
mobilização dos docentes em defesa da
concepção de Sindicato Nacional, na luta
pela valorização do trabalho docente e da
educação pública. Nos nossos debates,
destacamos a urgente necessidade de
Luta dos professores sempre em defesa da qualidade do ensino
definir ações de reaproximação do
ANDES-SN com a categoria, priorizando
aquelas que nos permitam estar mais
presentes nas universidades, dando maior
visibilidade ao Sindicato , destacou
Marina Barbosa.
O plenário deliberou diversas ações nos
campos político e jurídico, com o
propósito de assegurar a defesa do
ANDES-SN como legítimo representante
dos docentes do ensino superior brasileiro,
mantendo a mobilização e rechaçando as
tentativas do governo e de setores por ele
cooptados de promover a fragmentação da
base da categoria.
Os docentes continuarão lutando para
que o ANDES-SN recu-
pere a representação ple-
na dos professores das
instituições de ensino
superior, já que o registro
sindical, restabelecido no
ano passado foi dirigido à
representação daqueles
que atuam no campo das
instituições de ensino
superior públicas. Luta-
rão, também, para que o
governo não conceda
registro sindical para ou-
tras entidades divisio-
nistas que se arvoram a
representar os docentes
do ensino superior no
território brasileiro.
O CONAD de Fortaleza reafirmou a continuidade da sua luta
contra a privatização da educação, por meio, principalmente, do
combate à atuação das fundações privadas ditas de apoio.
Afirmou, também, a manutenção do embate pela ampliação do
financiamento público da educação, com destinação de 10% do
Produto Interno Bruto PIB brasileiro, de acordo com a
proposta do Plano Nacional de Educação - PNE da Sociedade
Brasileira.
Ainda no campo da educação, os professores aprovaram
diversas medidas de denúncia e combate à reforma universitária
do governo, em trâmite no Congresso Nacional, à expansão
desqualificada promovida pelo REUNI e à transferência de
verbas públicas para o sistema privado de ensino, por meio de
programas como o Prouni.
Em relação aos Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia IF, os delegados decidiram denunciar à sociedade
sua utilização para o favorecimento de pesquisas do tipo
instrumental, direcionadas apenas aos interesses empresariais.
Este mecanismo permite ao governo impulsionar um tipo de
expansão sem qualidade, quando se exime de aplicar os
recursos públicos necessários, transferindo a sobrevivência
financeira dos institutos à captação por meio da chamada
prestação de serviços . O plenário deliberou a organização de
eventos, em conjunto com o Sindicato Nacional dos Servidores
Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica
Sinasefe.
EaD- Os delegados e observadores avaliaram que o ensino a
distância EaD é utilizado pelos governos como estratégia para
expandir o acesso às universidades, sem garantir a necessária
qualidade da educação ofertada, reduzindo investimentos,
conforme determinam os ditos organismos multilaterais de
financiamento, com o objetivo de atender aos interesses dos
empresários do ensino.
Para mudar esse quadro, decidiram dar continuidade à luta
pela revogação do Decreto nº 6.303/07, acompanhar e analisar a
expansão do ensino superior por meio da EaD nas instituições
públicas e privadas e levantar dados sobre oferta de cursos,
matrículas, número de ingressantes e concluintes, dentre outros,
para elaboração de diagnósticos.
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES JULHO 2010 05

RADAR ESPECIAL

Reafirmados princípios para a Carreira NAJLA PASSOS/ANDES-SN

A intenção anunciada pelo governo de
reestruturar a carreira dos docentes das
instituições federais de ensino superior
sem discuti-la com o ANDES-SN soou
como uma ameaça e foi repudiada pelos
delegados do 55º CONAD. Eles também
reafirmaram os princípios defendidos
historicamente pelo Sindicato Nacional
para embasar a carreira.
Dentre os princípios destacam-se a
valorização do trabalho docente, que
deve ser estruturado a partir da indisso-
ciabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão para a garantia de um padrão
unitário de qualidade; a isonomia
salarial em valor integral, correspon-
dente a cada posição da carreira; a
paridade e integralidade na aposenta-
doria; e a garantia de transposição dos
docentes aposentados, com enquadra-
mento na nova carreira que corresponda
à posição relativa na carreira no momen-
to em que se deu a aposentadoria.
Dedicação exclusiva
Outro princípio reafirmado para
embasar as discussões acerca da carreira
docente foi o da valorização da Dedica-
Proposta do governo de alterar a carreira foi rechaçada em Fortaleza
ção Exclusiva - DE. O plenário se posi-
cionou contrário às iniciativas gover-
namentais que descaracterizam o Re-
gime de Trabalho de DE, reafirmando-
o como regime de trabalho preferen-
cial do docente, pressuposto para o de-
senvolvimento de um projeto de uni-
versidade socialmente referenciada.
Em relação à política salarial, o 55º
CONAD apostou na continuidade da
luta travada pela incorporação das
gratificações. Vamos continuar defen-
dendo o mote de apenas uma linha no
contracheque , resumiu a presidente,
Marina Barbosa Pinto.
Para construir o debate e mobilizar a
categoria para a implementação dessas
ações, definiu a realização de uma
reunião conjunta do Setor das IFES com
o Grupo de Trabalho sobre Carreira, nos
dias 16 e 17 de julho (Leia mais sobre o
assunto na pág. 07).
Reorganização dos trabalhadores
Após aprofundar os debates sobre a
importância do processo de reorganiza-
ção da classe trabalhadora, os docentes
referendaram a participação do ANDES-
SN na Secretaria Executiva Provisória
da nova Entidade Classista - Central
Sindical e Popular, fundada no Congres-
so da Classe Trabalhadora Conclat,
realizado em Santos SP, no início de
junho. Os professores também delibera-
ram que a intervenção do Sindicato
Nacional no processo mantenha os
princípios aprovados no 29º Congresso,
realizado em Belém (PA).

‘Transformação radical' Maringá

Definir pautas e planos de lutas com as quais os
docentes se identifiquem; propiciar ações que
promovam maior unidade entre setores do sindicato,
e a defesa do Sindicato Nacional docente com
ampliação das filiações e a organização de Seções
Sindicais nas novas universidades. Esses serão os
eixos centrais da luta que a nova diretoria do
ANDES-SN, empossada no dia 24 de junho,
pretende empreender em prol da categoria que
representa, conforme o discurso de posse da
presidente, Marina Barbosa Pinto.
A presidente lembrou que o momento atual é
especialmente preocupante, em função da grave crise
estrutural do capital, que faz com que a burguesia, na
tentativa de minimizá-la, combine utilização de
recurso público para salvar os capitalistas, a
superexploração dos trabalhadores, a retirada de
direitos, a retração no investimento em políticas
públicas de interesse social.
Marina observou também que é necessário superar
a fragmentação que caracteriza a resistência levada a
termo pelos trabalhadores na atualidade. No que se
refere à Universidade brasileira, reafirmamos que
precisamos de uma radical transformação e não de
uma reforma. Precisamos de uma universidade que
produza e socialize conhecimento novo capaz de
contribuir para a construção de uma sociedade justa e
fraterna , pontua ela.
A cidade de Maringá (PR) será a sede do
56º CONAD do ANDES-SN, previsto para
ocorrer em junho de 2011. A aprovação foi
unânime durante o evento em Fortaleza
(CE). A deliberação se deu de forma
inusitada, com a candidatura da cidade sendo
apresentada em clima de seresta.
Sobre o tema da Política de Comunicação
para o ANDES-SN, foi aprovado, por
maioria, um Texto de Resolução (TR)
Substitutivo apresentado pela diretoria do
ANDES-SN. O TR propôs que a diretoria
construa uma proposta de política de
comunicação para o ANDES-SN, a ser
apresentada à plenária do Congresso de
Uberlândia (MG), em janeiro de 2011.

Delegação da SEDUFSM
A Seção Sindical dos Docentes da UFSM (SEDUFSM) esteve
representada em Fortaleza (CE), no 55º CONAD, pelo seu presidente,
professor Rondon de Castro, que participou como delegado. Ainda
estiveram presentes as professoras Rejane dos Santos (diretora da
SEDUFSM) e a professora Maristela Souza, ex-diretora do sindicato.
Todos os nomes foram aprovados em assembleia.
Para a professora Rejane dos Santos, um dos pontos positivos do
Conad de Fortaleza foi o início das plenárias no horário, de acordo com o
cronograma. Como ponto negativo, a distância do local de realização das
plenárias de abertura e instalação, que dificultou um pouco a locomoção
para o local onde ocorriam as reuniões dos grupos mistos. No geral,
considerou que houve agilidade na dinâmica do evento.
Já a professora Maristela Souza, que integrava a diretoria anterior da
SEDUFSM e da Regional RS do ANDES-SN, avaliou que sua
expectativa era de que o 55º CONAD avançasse nas discussões sobre
carreira docente e política de comunicação, que já vinham sendo
debatidas há alguns meses. Entretanto, considera que as propostas
substitutivas apresentadas pela diretoria e aprovadas pelos delegados
presentes, demonstram um voto de confiança da categoria a esta nova
diretoria, que tem como um de seus princípios o fortalecimento da base e
a valorização do trabalho docente.
Rondon de Castro, delegado pela SEDUFSM, acredita que os passos
dados em Fortaleza foram importantes no sentido de apontar para a
categoria quais são as grandes preocupações que estão no horizonte.
06 JULHO 2010
OPINIÃO
Qual a sua avaliação sobre a
nova proposta de ingresso na
UFSM, aprovada no CEPE?
Fotos: RENATO SEERIG E FRITZ NUNES
Luciana Ferrari Montemezzo, 40
anos, professora do departamento
de Letras Estrangeiras e
Modernas do Centro de Artes e
Letras.
Penso que a proposta contém
alguns avanços, sobretudo no
sentido de paulatinamente ir
eliminando o PEIES. Mas, ao
mesmo tempo, continuamos
engessados no vestibular, que
contempla alguns conteúdos em
detrimento de outros: justamente
aqueles que são os mais importantes para formar um
cidadão crítico e que também poderiam ajudar a libertar o
espírito humano, tais como as artes. A Filosofia, por
exemplo, foi contemplada no vestibular, mas isso é algo
ainda muito recente. Talvez por meio de uma mudança no
processo de ingresso fosse possível alterar a forma como os
conteúdos são abordados nas escolas e, num efeito cascata,
isso ajudasse a melhorar a educação no nosso estado e na
nossa região. Parece-me então, que a discussão deveria ter
atendido essa expectativa, de realmente se propor a fazer
uma mudança mais profunda, pensando no papel que a
UFSM desempenha como formadora de educadores e de
cidadãos preparados para a vida em sociedade."
Vitor Otavio Fernandes Biasoli,
54 anos, professor do
departamento de História do
Centro de Ciências Sociais e
Humanas.
Como professor que já se
envolveu diversas vezes no PEIES
e Vestibular, achei muito boas as
propostas da Reitoria quanto às
mudanças no sistema de ingresso
na Universidade. Entendo que, no
que diz respeito a unificar o PEIES
e o Vestibular, que a proposta
atende a uma demanda antiga dos professores que
trabalharam na área. Em relação à combinação entre as
notas do ENEM e do sistema de ingresso da UFSM, também
achei boa, pois houve um esforço para integrar o projeto do
Governo ao sistema já estabelecido pela UFSM. Foram
mudanças técnicas e fiquei impressionado com a reação do
DCE, que apresentou uma proposta - a das questões
dissertativas - muito mais discriminatória (e mais cruel)
para o processo de classificar aqueles que devem entrar e os
que vão ficar de fora da Universidade .
Eloiz Guimarães Cristino, 48
anos, servidor técnico-
administrativo, membro da
coordenação geral do Sindicato
dos Servidores (ASSUFSM).
A nova proposta de forma de
ingresso na UFSM, aprovada no
CEPE, numa votação empatada,
em que o voto de minerva garantiu
a proposta da Administração,
serviu para que a reitoria fique
alerta. Os projetos estão sendo
impostos, não proporcionam o debate, negando o
contraponto. A Administração Felipe, eleita legitimamente,
deveria protagonizar a democracia no interior da
Instituição, no entanto, deixa a desejar. A falta de diálogo
com as entidades representativas dos três segmentos é uma
marca nesse início de gestão. Pela manutenção da
Universidade pública, de qualidade, socialmente
referenciada, desejamos que essa lógica seja revertida .
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
Ato público pressiona Ministério Arquivo ANDES-SN
Diretores do Sindicato Na-
cional e delegações das Seções
Sindicais reorganizadas na
Universidade Federal de Santa
Catarina e na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
promoveram ato no Ministério
do Trabalho e do Emprego
MTE, no início de junho, em
defesa da representação do
Sindicato Nacional em todo o
país.
A manifestação teve por
objetivo demonstrar a insatis-
fação dos docentes com a
recente publicação do Registro
Sindical da Apufsc Sindical,
concedido pelo MTE, e solici-
tar que o ato seja revisto, em
função das irregularidades Ato público em frente ao Ministério do Trabalho (MTE), em Brasília
comprovadas no processo de
constituição daquela entidade e da impossibilidade preceitos da Lei do Processo Administrativo, o
da sua concessão diante da legislação em vigor. Ministério deveria ter garantido o direito ao
Após negociação com o cerimonial do Gabinete contraditório, ouvindo o legítimo Sindicato Nacio-
do Ministro e reunião prévia com os atuais nal dos Docentes antes de tomar a medida, que
ocupantes da Secretaria de Relações de Trabalho retirou o Estado de Santa Catarina da base de
SRT, a secretária Zilmara David de Alencar e o representação do ANDES-SN.
secretário-adjunto André Grandizolli, uma Na audiência foi também destacada a
delegação de manifestantes foi recebida pelo chefe necessidade de que o Ministério não mais acolha
de Gabinete, Marcelo Panella. O ministro se solicitações de registro na base do ANDES-SN,
encontrava fora, cumprindo agenda no Estado de sem ouvir previamente as entidades em disputa.
São Paulo. Diante dos pedidos formulados, Marcelo Panella
Os representantes do ANDES-SN reivindicam a se comprometeu a tratar do assunto com o ministro
revisão do ato, argumentando que, conforme os e dar retorno sobre as demandas encaminhadas.
Estatuto sem cotas raciais
O plenário do senado federal aprovou, no dia 16 elas sejam implementadas . Diz a professora:
de junho, o Estatuto da Igualdade Racial. Apesar No Estatuto não se fala em cotas, mas se ressalta
de considerado positivo, um elemento chama a a importância das políticas de ações afirmativas e
atenção: no novo Estatuto não foi incluída a as cotas fazem parte das ações afirmativas .
questão das cotas raciais, previsto inicialmente na Carmem Gavioli também entende que as cotas
proposta do senador Paulo Paim (PT-RS), mas podem continuar existindo na UFSM. Não exis-
retirado pelo relator, senador Demóstenes Torres te qualquer tipo de proibição das cotas no Esta-
(DEM-GO). Para o próprio Paim, apesar de não tuto , afirma ela, discordando daqueles que fa-
contemplar as cotas, representaria um avanço. O zem uma interpretação diferente sobre a questão.
estatuto tem um valor simbólico que Avaliação semelhante tem o Pró-reitor de
ilumina os caminhos dos que lutam Graduação da UFSM, professor Orlan-
pela igualdade de direitos e ações Não do Fonseca. Segundo ele, enquanto
afirmativas , destaca o senador estiver em vigência a autonomia
gaúcho. existe proibição universitária e enquanto o Supre-
Para a professora do departa- de cotas no mo Tribunal (STF) não julgar os
mento de Letras Estrangeiras e processos que estão lá, questio-
Modernas, Carmem Deleacir Estatuto nando a legalidade das cotas, a
Gavioli, que também é diretora da (Professora Carmem resolução que criou as cotas conti-
SEDUFSM, a aprovação do Estatu- Deleacir Ribeiro nua valendo aqui na universidade .
to é fruto de uma luta do movimento Gavioli) Mesmo com os aspectos positivos
negro . Diz ela também que mesmo do Estatuto, a professora Carmem
que o senador Demóstenes Torres tenha lamenta pelo menos um ponto negativo: a
tirado do estatuto a palavra 'raça', o próprio título retirada da parte que falava sobre saúde do negro.
desse documento demonstra que temos, sim, Para ela, quando se fala em saúde do negro
desigualdade racial em nosso país . No entendi- estamos chamando atenção sobre algumas
mento de Carmem, a palavra 'raça' não deveria ter doenças que são peculiares aos descendentes de
sido tirada, pois ela não se refere a um conceito africanos. E o que se gostaria, segundo Carmem,
biológico, mas seu uso se dá em função de é que o Estado trabalhasse mais aprofunda-
aspectos culturais e sociais. damente nessa questão, o que não foi possível,
Sobre a exclusão das cotas raciais do momentaneamente, graças à exclusão desse
Estatuto, Carmem avalia que isso não proíbe que aspecto do novo Estatuto.
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES JULHO 2010 07

Governo recua no projeto de Carreira ARQUIVO PESSOAL

Arquivo/ANDES-SN
Leonardo da Rocha Botega,
Enfrentando muitas re-
sistências em relação à 32anos, professor de História
proposta de alterar a car- do Colégio Agrícola de
reira, o ministro do Plane- Frederico Westphalen.
jamento, Paulo Bernardo, A grande ausência nos debates
recebeu o ANDES-SN e referentes às mudanças na forma
mais 12 entidades repre- de ingresso nas Universidades e
sentativas na quinta, 7 de
na nova proposta de ingresso da
julho, e confirmou a sus-
pensão do envio dos UFSM, em particular, tem sido a
projetos ao Congresso. De questão do perfil de estudante
acordo com o ministro, a que se quer. O que, por sua vez,
decisão se deve ao fato de requer um debate sobre o perfil de universidade que
que várias categorias não queremos. Esse debate está cada vez mais ausente do
conseguiram fechar acor- cotidiano acadêmico. Sem este debate qualquer
do com o governo federal
e, algumas delas, inclusi- proposta de modificação no sistema de ingresso torna-
ve, radicalizaram a mobi- se mero formalismo, o que acaba ressaltando o
lização para reivindicar pragmatismo em detrimento das mudanças estruturais
Prof. Schuch fala na audiência ocorrida no Ministério do Planejamento
não apenas mudanças nas que as Universidades em geral, e a UFSM em particular,
carreiras, mas também ganhos salariais, como é o possui impedimento legal para aumentar gastos este necessitam .
caso do Judiciário, do Ministério Público da União ano, em função das eleições, e impedimento ético
MPU e da Polícia Federal, do Ministério do para aumentar em 2011, quando outro governo
Jair Alan Siqueira, 58 anos,
Trabalho e do Meio Ambiente, dentre outras. assumirá.
Diz o ministro que se nós acatássemos as O 1º vice-presidente do ANDES-SN, Luiz jornalista, integrante da
mudanças reivindicadas para uma categoria, Henrique Schuch, lamentou as dificuldades Coordenadoria de
teríamos também que aceitar as das demais, o que verificadas historicamente nos processos de Comunicação Social da UFSM.
acarretaria um impacto muito grande para o discussão sobre carreira dos servidores públicos. A A educação superior neste país
orçamento. Só a implantação do Plano de Cargos e desconstituição da Mesa Nacional de Negociações estava estagnada há quase três
Salários do Judiciário e do MPU implicaria em Permanente foi um retrocesso e a rejeição, por parte décadas. Nos últimos cinco ou
cerca de R$ 7,5 bilhões. A questão dos servidores e do governo, da possibilidade de avançar na
docentes da UnB também é complicada, porque não discussão a respeito das Diretrizes dos Planos de seis anos, a impressão que se tem
há chances deles garantirem na Justiça a Carreira impediu que o debate sobre cada uma das é que querem recuperar este
manutenção do pagamento da URP , afirmou Paulo carreiras ocorresse num ambiente de transparência e tempo perdido. Pelo meu
Bernardo. O secretário de Recursos Humanos do voltado a atingir os pressupostos de uma política de espírito irrequieto, sou favorável
MP, Duvanier Paiva, acrescentou que o governo pessoal pactuada , criticou Schuch. a mudanças. Há um espírito conservador em Santa
Maria que sempre encara com ceticismo qualquer
ANDES propôs ações em seminário
CÂNDIDO SOUZA
alteração da ordem. Lembro-me de uma menina em
prantos desaforando um reitor quando houve mudança
so público de provas e títulos; a redução no inters- na data de realização do vestibular. O temor dela era que
tício para progressão funcional; hipótese de ace- aumentasse a concorrência quando a lógica dizia
leração de progressão funcional para contemplar exatamente o contrário. Foi o que aconteceu: o índice de
docentes que tiverem ministrado mais de duas abstenções foi alto já que muita gente já havia realizado
disciplinas, com a exigência mínima de horas- provas em outras localidades, passado e perdido o
aula, que varia de acordo com o regime; criação interesse na UFSM. Sou otimista. Outras
de nova classe, a ser intitulada Professor Sênior, universidades souberam usar o Enem de forma positiva.
acima da classe de Associado, com quatro É preciso adotar novas práticas. Se houver erro, há a
padrões; criação da Gratificação de Encargo de chance de se corrigir e aperfeiçoar .
Preceptoria, aos docentes incumbidos de
acompanhar programas de residência médica
multiprofissional; criação da gratificação para a
Seminário sobre Carreira, dia 23 de julho, em Fortaleza
atividade de coordenação de cursos.
No seminário de Fortaleza, após as discussões e
ELES DISSERAM
Antecedendo ao 55º CONAD, no dia 23 de sistematização, foram aprovados alguns tópicos, Depois de assinar um programa que não leu, parece
junho, ocorreu um seminário sobre Carreira entre os quais: rejeitar critérios produtivistas no
Docente , em Fortaleza (CE). Deste evento processo de avaliação e não aceitar o seu que quem está precisando de mais um professor em
participou a diretora da SEDUFSM, professora atrelamento à carreira; não considerar a questão sala de aula é a Dilma . (Paulo Renato Souza, do PSDB,
Rejane Terezinha Pereira dos Santos. A da avaliação individual do trabalho docente como secretário de Educação de São Paulo, criticando a candidata do PT,
preocupação era grande pelo fato de no dia 22 de elemento para a definição da carreira; Dilma Roussef. Folha de São Paulo, coluna Painel, pág. A4, em 11 de
junho ter ocorrido uma reunião no Ministério do desenvolver, no âmbito das instituições de ensino julho de 2010).
Planejamento (MPOG), em que o ANDES-SN superior, avaliação interna e externa; avaliação da
participou, e cuja pauta foi o projeto de lei (PL) instituição realizada no âmbito de sua autonomia; Se o Roberto (Marinho) recebeu o Fidel Castro aqui,
que o governo pretendia encaminhar ao estrutura simples, sem níveis horizontais, por que eu não posso receber o PT? . (Lily Marinho, viúva de
Congresso alterando a Carreira. Apesar do recuo relacionada com titulação possuída pelo docente; Roberto Marinho, da Rede Globo, se referindo a um almoço
momentâneo, é bom ter claro quais as pretensões valorização do tempo de trabalho por meio do compartilhado com a candidata do PT à Presidência da República, Dilma
do governo. anuênio, concedido de forma imediata; Roussef. Folha de São Paulo, pág. A8, em 10 de julho de 2010).
Os pontos fundamentais da proposta governista enquadramento de docentes aposentados,
são: a regulamentação da Dedicação Exclusiva, resguardando o posicionamento em relação ao Eu acho que se a CBF adotasse o que eu adotei
prevendo a hipótese de trabalho remunerado, topo em que houve a sua aposentadoria, evitando quando era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos
desde que não afete o regime; a instituição da o rebaixamento na carreira; fortalecer a
Retribuição por Projetos Institucionais de Pes- campanha salarial; realizar reunião do setor das de São Bernardo, a cada oito anos a gente trocava a
quisa e Extensão; o ingresso na carreira no pri- Federais após a divulgação do PL de Carreira direção da CBF. (Presidente Lula, sobre a renovação da direção da
meiro nível da primeira classe, mediante concur- Docente do Magistério Superior. CBF. Folha de São Paulo, pág. C8, em 11 de julho de 2010).
 08 JULHO 2010 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

COM A PALAVRA
Fotos: RENATO SEERIG

Rondon de Castro
MEC incentiva a
produtividade cega PERGUNTAS&RESPOSTAS
Um paulistano do bairro da Mooca, nascido há 50 anos, e que depois
de muitos anos nas fileiras do jornalismo impresso, enveredou pelo
caminho da docência. Rondon Martim Souza de Castro é professor do Pergunta- Quais as experiências mais Paulo para ser professor no interior
curso de Jornalismo da UFSM desde o final dos anos 1990, mas antes de marcantes na carreira de jornalista? do Rio Grande do Sul?
chegar a Santa Maria, já trilhava por instituições particulares em São Resposta- Foram várias, mas acho que R- Eu já era professor em São Paulo, em
a que mais marcou foi o trabalho na instituições particulares. Então, para
Paulo. A trajetória desse palmeirense nada fanático inclui uma paixão
editoria de polícia de jornal, que é uma mim foi só uma opção pela busca de
maior: o cinema. Na realidade, segundo ele mesmo, a paixão é por
editoria mais bruta. E eu tive uma boa qualidade de vida. Lá, ao mesmo tempo
contar história. O cinema é apenas um suporte para isso. No momento
escola, uma escola clássica, no final em que eu dava aula, também trabalhava
atual, Rondon desenvolve duas tarefas em paralelo. Uma delas é a dos anos 70, em que havia o contato em redação. Enfrentava um pique muito
direção das filmagens do longa-metragem Hamartia - Ventos do direto com a marginalidade, com os louco, saía antes das 7h de casa e voltava
destino , que está sendo realizado em Santa Maria neste mês de julho, crimes, numa cidade (de São Paulo) depois da meia-noite. Chega um tempo
numa parceria entre a UFSM e a Força Aérea Brasileira (FAB). E a muito mais tranqüila do que é hoje. que isso cansa e a gente fica desgastado.
outra, de temporalidade mais longa, presidir a SEDUFSM até junho de Por isso, eu vim para cá em busca de
2012. No que se refere ao tema sindical, Rondon de Castro não é um P- Uma boa escola em que sentido? qualidade de vida. E consegui.
neófito. Além de ser um militante político experiente, com anos de R- Boa porque ainda possibilitava ao
filiação ao PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados), repórter estar na rua, de pegar a P - Como surgiu a paixão pelo cinema?
ele já fez parte também do Sindicato dos Jornalistas. Em entrevista, informação direto com a fonte. Não se R- Na verdade, a minha paixão é por
Rondon Martim Souza de Castro fala um pouco sobre os desafios do fazia isso por telefone e a internet nem contar história. Inclusive o meu
próximo período para a SEDUFSM. Na avaliação que faz, o momento existia. Tinha que se fazer investi- doutorado é feito na área de Literatura.
atual é de grandes dificuldades, com os professores tendo que cumprir gação. É diferente do jornalismo atual, Eu adoro contar histórias e o cinema é
uma agenda enlouquecedora de produtividade, mas que leva a um pasteurizado. apenas um suporte que eu curto fazer.
produtivismo cego . Mesmo assim, Rondon entende que é importante Pressupõe um trabalho de equipe, contar
tirar um pouco da aridez da prática sindical. Acompanhe a seguir: P - Qual o sentimento de deixar São história em equipe, ouvir história e ficar
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
discutindo história com outros membros
da equipe. É isso que cativa. E na
verdade eu gosto um pouco de escrever.
Contar história é algo mais intimista, eu
e o teclado do computador.
P Uma das coisas que viraram uma
espécie de chavão é que seria
incompatível ter produção acadêmica e
atuar junto a um sindicato. Qual a sua
avaliação sobre isso?
R- A questão de fundo é que o MEC e o
governo estão investindo contra a uni-
versidade, dando valor a uma produti-
vidade meio cega. Não se avalia real-
mente o que está sendo produzido. Se
exige do professor que produza, mas não
controla o que está sendo produzido, ou
seja, procurar saber se é uma produção
para o bem público ou não. O próprio
governo libera os dados sobre a questão
de aproveitamento das pesquisas. Nós
temos que do total de projetos finan-
ciados por órgãos estatais, apenas 6% ou
7% chegam a seu objetivo fim. Ou seja,
não foram aproveitados ou não eram
necessários. E, desse percentual, mais da
metade está no eixo Rio - São Paulo. O
restante se distribui para o país inteiro.
Então, imaginemos, quantas universida-
des existem fora desse eixo e o que elas
produzem. E, na realidade, aquilo que é
considerado pesquisa, muitas vezes é
uma mera compilação com jogos de
citações de outros atores e que chegam
às mesmas conclusões. Schopenhauer (
Arthur Schopenhauer, filósofo alemão
que viveu no século XIX) que escreve
em um de seus livros, há cerca de uns
200 anos, que nós tiramos até o gosto de
ir à raiz da teoria. Nós temos os caras que
criaram as teorias e que são esquecidos e
nós trabalhamos em cima de algo já
digerido por outros. Daí eu opto, por
exemplo, em estudar marxismo não com
base em Marx, mas a partir da visão de
alguém que fala sobre Marx. Então, eu já
pego digerido. E assim, meu trabalho de
pesquisa, entre aspas, é concordar com
esse texto já digerido. Portanto, o novo
não existe. Ao mesmo tempo em que não
se inova, nós estamos numa guinada
técnica. Quer dizer, essa pesquisa feita
está voltada para o tecnicismo, voltada
para alguns bolsões financiados pela
iniciativa privada, dentro de padrões de
sigilo, de controle empresarial dessa
pesquisa. E isso é incoerente com a fun-
ção da universidade pública. Nós temos
teses que são defendidas em sigilo. Não
sabemos o que está acontecendo, que
tipo de projeto é realizado. Há pouco
tempo, alunos meus foram pesquisar
projetos realizados na UFSM e não
conseguiram acesso a esses projetos que
são considerados sigilosos. Então, é de
se questionar: que tipo de projeto pode
ser sigiloso dentro de uma universidade
pública? Ao menos se deveria saber o
que está acontecendo dentro de uma
universidade pública. Não podem existir
JULHO 2010 09
empresas que mandam nas pesquisas
produzidas na UFSM. Estamos com a
possibilidade de criação de um Instituto
de Tecnologia ligado diretamente à
reitoria, que vai quebrar toda a estrutura
organizacional da universidade. Já não
passa mais pelos centros de ensino. Dá
para se dizer que é quase um despotismo.
Por isso, eu diria que são várias frentes
para atacar. Um exemplo disso é a crise
econômica que abala a Europa e que
deve chegar ao Brasil. O sindicato
precisa alertar e propor saídas para
enfrentar esse quadro difícil que está
colocado no horizonte. Nós, da
SEDUFSM, temos uma responsabilida-
de enorme, pois se essa crise nos atingir,
sabemos que se houver um solavanco
salarial, se cair o poder de compra, isso
prejudica o desenvolvimento de Santa
Maria.
P - Quais as bandeiras prioritárias para
a direção da SEDUFSM nos próximos
dois anos?
R- Nós precisamos sair da defensiva e
construirmos uma entidade maior. E aí
entra a questão de uma sede do sindicato
no campus ou em Camobi. Temos que
encontrar uma solução para essa
questão. Vamos ter que enfrentar uma
campanha salarial. Uma outra ideia
também é de fazermos uma campanha de
sindicalização para fortalecermos mais a
bolsões com segredos. Se há uma com isso e reagir. Mas, tem outras entidade. Existem professores em
questão de segredo industrial, isso é entidades sindicais que estão passando Silveira Martins, na Cesnors, em
estatal, é propriedade do Estado e não apertadas, com efeitos financeiros que Frederico Westphalen e Palmeira das
de uma instituição particular. Não há se estendem até hoje. Ainda mais que Missões, outros na própria UFSM, que
como esconder o que está acontecen- nós tivemos entidades golpistas que se ainda não têm contato com o sindicato. E
do. Quando você fala sobre a relação meteram nessa história. Então, nós isso será pautado, ou seja, a necessidade
entre a produção acadêmica e a estamos reagindo agora, arruman- de crescimento da entidade.
participação no sindicato, é do a casa. Temos no próximo
interesse do governo deses- período toda uma reestru- P - O que a direção do sindicato pode
timular a prática sindical. Que a turação da universidade, fazer para buscar os professores para
O professor que não política sindical com um processo de participar mais das atividades?
produz está descartado privatização bastante R- Nós estamos nos pautando para
em meio a esse produti- seja a extensão avançado. É bem visível marcharmos juntos nas demandas da
vismo. Ele não ascende da poesia por para quem quiser enxer- categoria. A questão da progressão na
na carreira. E qual o pro- gar. Nós estamos com o carreira, por exemplo. Nós estamos inse-
fessor que quer isso? Por
outros meios setor de segurança, o ridos nessa luta, que tem por objetivo
isso, se dedicar à vida sindi- ingresso e as formaturas da garantir o direito desses professores que,
cal é um esforço a mais, já que universidade na mão do por uma compreensão legal equivocada,
o professor não pode abandonar capital privado. Se fala que o RU encontram-se estagnados e impedidos
essa lógica da produtividade indivi- (Restaurante Universitário) também de progredir. Estamos também com a
dual. E isso gera dificuldade, tanto é vai ser terceirizado. Tem universida- discussão das cotas. A nossa ideia é nos
que nós sequer temos um professor- des, como a USP, em que professores aproximarmos dessas lutas localizadas,
diretor liberado para o sindicato. são contratados por empresas para que nós tínhamos deixado de lado e que
ministrar determinadas disciplinas. agora temos que voltar a elas. Com essa
P- Na gestão anterior do sindicato Nós estamos jogando os professores a aproximação, nós queremos atrair mais
(2008-2010), o grande desafio foi captar recursos através de projetos. professores. Inclusive uma aproximação
enfrentar os efeitos da suspensão do Então, temos uma série de coisas a geográfica, por isso a ideia da sede na
registro sindical do ANDES-SN. Qual serem discutidas. região de Camobi. Isso possibilitará que
o grande desafio do próximo período? a categoria esteja no sindicato não
R- Na realidade, nós ainda estamos P- Mas a questão da terceirização, da apenas nos momentos ruins, mas
pagando o preço da questão da ampliação do privado dentro da também nos bons momentos. O grande
suspensão da carta sindical. O universidade está entre as prioridades desafio que nós temos é fazer da política
problema com o registro do ANDES- a serem discutidas? sindical uma extensão da poesia por
SN ainda não terminou. Primeiro, a R- Ah, sim. Nós estamos vendo carro outros meios. Essa é a grande tarefa que
suspensão causou um efeito danoso de empresas particulares andando nós temos. Tirar a aridez da política
para o Sindicato Nacional. Nós, aqui dentro do campus e com a frase escrita sindical e torná-la como parte do nosso
da SEDUFSM, soubemos trabalhar a serviço da UFSM . Temos dia a dia.
 10 JULHO 2010 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES

EXTRA-CLASSE

Posse de diretoria e confraternização Fotos: RENATO SEERIG

Um momento de ênfase à política
sindical, mas também marcado pela
emoção e pelo espírito de confraterni-
zação. Assim foi a posse da nova direto-
ria da Seção Sindical dos Docentes da
UFSM (SEDUFSM), ocorrida na noite
de segunda, 7 de junho. Para a presidente
que deixava o cargo, professora Fabiane
Costas, foram dois anos de muitas adver-
sidades, em virtude da suspensão do
registro sindical do ANDES-SN, mas
também de alegria, pois a diretoria que
deixava suas funções o fazia depois de
ter recuperado a entidade e a estar entre-
gando com as contas equilibradas. A
posse da nova diretoria, que é encabe-
çada pelo professor do departamento de
Ciências da Informação, Rondon de
Castro, ocorreu em uma assembleia
extraordinária. Cerca de 90 pessoas
estiveram presentes, entre eles, o reitor
Felipe Müller e o secretário de Finanças
de Santa Maria, Antonio Carlos Lemos.
Bastante emocionada, Fabiane fez
alguns desabafos, mas também vários
Rondon de Castro (ao microfone) preside a diretoria que assumiu no dia 7 de junho
agradecimentos. Enfrentamos acusa-
ções levianas, mas o aprendizado é de
que temos que agir e não se omitir ,
destacou ela. Fabiane agradeceu à co-
missão que conduziu o processo eleito-
ral e também desejou ao grupo que
assume muita perseverança e muito su-
cesso . A dirigente fez parte da diretoria
do biênio 2006-2008, quando atuou
como vice-presidente. Fabiane também
agradeceu aos filiados que, no início de
2009, entenderam as dificuldades finan-
ceiras da entidade e aderiram à
campanha da mensalidade com débito
em conta.
Em seu discurso de posse, o professor
Rondon de Castro fez críticas especial-
mente ao governo Lula, que, segundo
ele, governa com intervenções de medi-
da provisória e age em favor do siste-
ma financeiro . Entretanto, destacou
Rondon, apesar de estar temeroso com
o futuro, acredita ser possível crescer-
mos e nos fortalecermos . Para o presi-
dente que assume até 2012, a eleição foi
uma mera passagem, pois a luta está
apenas iniciando em um período que, se-
gundo ele, pode fazer com que tenha-
mos saudade do que já passamos ,
referindo-se à crise econômica que volta
a se espalhar em âmbito mundial.

Inquietude positiva Coletivo

Esteve presente na posse da nova diretoria, também, o professor da UFSM e
secretário de Finanças de Santa Maria, Antonio Carlos Lemos. Em seu
discurso, homenageou a diretoria que estava deixando o cargo. Segundo ele,
era digna de elogio a postura de jovens professores que demonstraram uma
positiva inquietude para resolver graves problemas enfrentados pelo
sindicato. Estou secretário, mas a minha verdadeira casa é a UFSM, como
professor , destacou ele. Também foi de Lemos a citação e homenagem a uma
professora que estava na plateia. Aposentada há muitos anos do curso de
Jornalismo, mas sempre presente nas lutas, Rhéa Sylvia Gäertner foi bastante
aplaudida.
Em nome do Conselho de
Representantes falou o
professor Diorge Alceno
Konrad, conselheiro mais
votado no pleito dos dias 11 e
12 de maio. Ele fez uma breve
retrospectiva da importância
histórica do movimento
sindical para a democratização
do país. Diorge também
enfatizou que os problemas
vivenciados pela universidade
têm relação direta com uma
espécie de privatização por
dentro que tem ocorrido nos
últimos anos. A lógica da
busca de recursos privados
para a manutenção da
instituição tem levado muitos
professores a se afastarem da
luta sindical , analisou o
conselheiro eleito.
Representando o Legislativo
municipal, falou o vereador
Jorge Trindade (PT). Ele
ressaltou em sua fala que um
Rhéa Sylvia, homenageada pela sua militância dos aprendizados dos seus 27
anos de vida pública é de que
a categoria vem sempre em primeiro lugar , deixando de lado preferências
de governo e de partidos.
O reitor da UFSM, Felipe Müller,
rememorou os tempos em que atuava no
movimento docente e alguns nomes que foram
importantes no seu aprendizado nessa época.
Ao homenagear a diretoria, o professor
enfatizou que lutar pelo coletivo é muito
mais difícil que lutar por interesses
individuais . Garantiu que respeitará sempre
as entidades representativas de classe e,
que, compreendendo as nuances de atuação de
cada segmento, estará aberto ao diálogo.
O vice-presidente eleito, professor Julio
Quevedo dos Santos, se pronunciou no ato
solene em nome da diretoria, já que o
presidente, Rondon de Castro, teve que se
ausentar. Segundo Quevedo, o grande
compromisso que estava sendo assumido por
aqueles que dirigirão o sindicato nos próximos Felipe Müller, reitor da UFSM, se
dois anos é de que estavam dispostos ao disse aberto ao diálogo
trabalho. Um trabalho bastante árduo ,
completou. O vice-presidente também ressaltou que a proposta do grupo que estava
assumindo era de defesa da universidade. Esta é a nossa bandeira, a defesa de uma
universidade pública, gratuita e socialmente referenciada , destacou.
Também fez parte da mesa solene, representando a Secretaria Regional RS do
ANDES-SN, a professora Maristela Silva e Souza. Ela leu uma correspondência
assinada pelo vice-presidente da secretaria regional, professor Fernando Molinos
Pires, que agradecia a diretoria que se despedia e ao mesmo tempo saudava os
diretores que estavam assumindo a função.
A assembleia extraordinária e a solenidade de posse ocorridas na noite desta
segunda foram prestigiadas por quase uma centena de pessoas, com destaque para os
integrantes do Conselho de Representantes. Outras autoridades também
compareceram, como por exemplo, o vice-reitor, professor Dalvan Reinert, o diretor
do Centro de Ciências da Saúde, professor Paulo Burmann, os vereadores Manoel
Badke (DEM), Maria de Lourdes Castro (PMDB) e Sandra Rebelato (PP).
Estiveram presentes também integrantes do Conselho Fiscal da SEDUFSM e
dezenas de sindicalizados, especialmente ex-presidentes. Das entidades
representativas da UFSM, diversos estudantes que compõem a direção do DCE e
dirigentes da ASSUFSM. Compareceram ainda representantes de sindicatos como
dos Metalúrgicos, dos Rodoviários, dos Professores Municipais e dos Professores da
Rede Privada de Ensino. Também se fizeram presentes integrantes da assessoria
jurídica atual e da anterior.
 Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES JULHO 2010 11

EXTRA-CLASSE

Os empresários e a repressão militar

Um filme que joga luz sobre o tão pou- nistas e que teria sido o principal arti-

Fotos: FRITZ NUNES

co falado protagonismo do setor empre-
sarial brasileiro no apoio, não apenas
político, mas também financeiro, à re-
pressão aos opositores da ditadura militar
ocorrida no Brasil de 1964 a 1984. A ideia
pode ser considerada uma síntese do
debate que ocorreu na noite do dia 16 de
junho, durante o Cultura na SEDUFSM,
em sua 42ª edição, a partir da exibição do
documentário Cidadão Boilesen . O
filme, realizado em 2009 e dirigido por
Chaim Litewsky, com um título que
remete à obra-prima de Orson Welles
('Cidadão Kane'), recebeu vários prêmios
Brasil afora e ainda não havia sido
exibido em Santa Maria.
Apesar da noite chuvosa, 35 pessoas
compareceram à exibição e prestigiaram
o debate que ocorreu na sequência, com a
participação dos professores Diorge
Konrad (História da UFSM), José Luiz
de Moura Filho (Direito da UFSM) e
César Santos (diretor do Sindicato dos
Bancários de Santa Maria). A coordena-
ção do debate ficou a cargo do professor
Vitor Biasoli (História da UFSM). O
evento aconteceu no auditório da seção
sindical.
A peça cinematográfica foi bastante
elogiada pelos debatedores. Segundo
Auditório da SEDUFSM quase lotado para assistir "Cidadão Boilesen"
Konrad, o filme trata das questões de
forma dialética, procurando dar voz aos
lados envolvidos na questão, ou seja,
tanto daqueles que participaram da luta
armada e foram responsáveis pelo
assassinato do empresário, presidente
do grupo Ultra (Ultragaz), no início da
década de 70, Henning Albert Boilesen,
como também de familiares e amigos
da vítima.
Nos depoimentos apresentados pelo
documentário, Boilesen é mostrado
como uma figura contraditória. De um
lado, uma pessoa interessada em proje-
tos sociais, que procurava a discrição, e,
de outro, corroborado inclusive por
agentes militares que trabalhavam na
repressão, alguém que odiava comu-
culador no meio empresarial paulista na
formação de uma caixinha para finan-
ciar a Operação Bandeirante (OBAN),
responsável pela captura, tortura e morte
de inúmeros membros da luta armada
contra a ditadura.
Civil e militar
Para o professor Diorge Konrad, os
inúmeros depoimentos trazidos pelo
documentário são elucidativos no sen-
tido de fortalecer a tese de importantes
historiadores do país, que advogam a
ideia de que o que houve no Brasil não foi
apenas uma ditadura de militares, mas,
uma ditadura civil militar , que teve
apoio também de setores da Igreja e ajuda
relevante de setores da imprensa do
centro do país.
Henning Boilesen, apesar de constar no
topo, por seu papel de articulador, não era
o único a flertar com o regime ditatorial.
Diversos empresários, donos de bancos,
proprietários de construtoras, a maioria
deles membros cativos da Federação das
Indústrias de São Paulo (FIESP), são
lembrados como assíduos participantes
de reuniões e convescotes com militares e
aliados nomeados pelo próprio regime
para governar centros importantes do
país.

O “justiçamento” daOluta
empresário Henning Boilesen foi assassinado em abril de 1971 por uma ação coordenada pelos grupos
armada MTR e ALN. Alvejado por tiros de metralhadora, Boilesen foi morto com requintes de
crueldade , segundo o boletim do Serviço Nacional de Informações (SNI) da época. Na análise de algumas pessoas que depuseram ao
filme, a quantidade de tiros com que foi morto demonstraria que não era apenas um justiçamento usual, ou seja, matar alguém para
cumprir a justiça revolucionária . A morte do empresário simbolizava a queda de alguém que não apenas era responsável pela morte de
muitos membros da luta armada, como também de um sádico que gostava de conferir pessoalmente a humilhação dos presos que eram
torturados.
A forma como foi morto Henning Boilesen foi um dos pontos polêmicos do debate durante o Cultura na SEDUFSM. Para o professor de
História, Diorge Konrad, afirmar que os que faziam a luta armada teriam usado os mesmos métodos que os agentes da ditadura é distorcer
os fatos. O que se tinha, até mesmo do ponto de vista de uma legislação 'burguesa' (liberal), era um governo ilegítimo (militares),
constituído após o golpe de 1964, e que praticava o 'terrorismo de Estado'. Acrescenta Diorge que uma coisa são os órgãos do Estado
fazerem alguém prisioneiro, outra bem diferente é o Estado prender, e sob seus domínios, usar a estrutura oficial para torturar e matar um
Diorge: ditadura militar,
opositor sem qualquer direito à defesa .
mas também civil

REINALDO PEDROSO
Crimes imprescritíveis
Na avaliação do professor de Direito da UFSM, José Luiz de
Moura Filho, fatos como os levantados pelo filme reforçam ainda
mais a luta da sociedade em favor da abertura dos arquivos da
ditadura militar. É preciso saber quem foram os torturadores, pois,
os torturados já conhecemos todos. Moura ressalta que a tortura é
uma prática criminosa que é imprescritível, ou seja, que não pode
ser eximida das responsabilidades legais. Disse ainda que a anistia
aos torturadores representa uma aberração, pois um governo não
pode se auto-anistiar , como aconteceu em 1979, ainda durante o Moura: pressão pela
governo militar. O professor do curso de Direito defende que a abertura de arquivos
sociedade precisa se organizar e pressionar para que se possa fazer
um acerto de contas com o passado
Para o jornalista e bancário, atualmente ocupando a diretoria de
imprensa do Sindicato dos Bancários de Santa Maria, César Santos,
um dos pontos que chama a atenção no documentário é a questão da
tortura. Ao assistir o filme, diz ele, ficou com muitas interrogações,
e uma delas é será que a opção ideológica justifica que uma pessoa
seja torturada e eliminada? .
A resposta talvez esteja num dos depoimentos apresentado pelo
filme, concedido pelo coronel e ex-ministro dos governos militares,
Jarbas Passarinho. Ele diz que naquele período, década de 60, só
havia dois lados: os que eram comunistas e os que se opunham ao
César: tortura ainda comunismo. Diz o militar que ou se colocava de um lado ou de
é um tema-tabu outro.
 12 JULHO 2010
ARTIGO
Saramago:
Literatura
e Direitos
Humanos
O legado artístico e humano de José
Saramago (1922-2010) é imenso.
Nobel de Literatura de 1998, a
peregrinação pelas causas justas e a
obra romanesca granjearam-lhe ódios
localizados, mas, sobremaneira, reco-
nhecimento internacional, admiração
da crítica e muitos prêmios pelo mundo
afora.
Na literatura, ao longo de quarenta
anos, construiu uma série de mais de
quinze romances. Nessa trajetória
aperfeiçoou a persuasão da voz narra-
tiva, utilizando-se de recursos cujos
efeitos lembram o vigor dos contos de
tradição oral. Ao leitor, a força dessa
voz se revela através da hábil combi-
nação de meios estruturais singulares.
Os parágrafos imensos, a pontuação
que subverte as regras gramaticais (uso
de vírgulas ao invés de pontos em finais
de períodos) e o registro das falas das
personagens no comprido do texto, sem
o tradicional uso do travessão, fre-
quentemente são habilidades que nos
deixam sem saber se o que estamos
DICA CULTURAL
LI V RO
O futebol
explica o
Brasil
Editora: Contexto
Custo: R$ 39,00
Quem leu? Gilson Piber (*)
Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
lendo remete à realidade como no
estilo realista - ou ao fluxo de cons-
ciência como na tradição das narra-
tivas intimistas.
O respeitado crítico norte-america-
no Harold Bloom considera-o o mais Alberto Lungarzo (aposentado da escuridão luso-ibérica de profundas
talentoso romancista contempo- UNICAMP e membro da Anistia raízes históricas, estão entre as
râneo e um dos últimos titãs de um Internacional): Saramago não foi bandeiras que levantou e defendeu com
gênero evanescente . A obra de apenas um literato que expressou, ardor. A luta pelos direitos permanentes
Saramago, porém, não se impõe através de sua arte, uma visão da vida tornam sua figura um caso raro
apenas pelas questões humanista e progressista do no mundo em que vivemos, alguém
estilísticas. Ao contrário,
Um
mundo. Foi um homem com a imposição moral e intelectual
as formas originais de batalhador comprometido, um que a seu tempo tiveram um Sartre ou
expressão servem para que assumiu observador e um ator um Camus.
grafar seu permanente riscos consciente e corajoso, Ironicamente, na morte, teve seus
compromisso com o outro, radicais um batalhador que assu- restos pranteados por Portugal e
a singularidade dos simples miu riscos radicais, desde Espanha, num intercurso fecundo do
e dos imperfeitos, o contrato que emergiu em sua juventude, princípio federativo que tanto sublimou
inarredável da solidariedade, a de uma região do mundo dominada em vida ao ressaltar a importância da
denúncia a todas as manifestações de pelo fascismo e obscurantismo, até fraternidade entre as nações e a idéia de
tirania, perseguição e discriminação. anos recentes . que a pátria é muito maior do que o chão
À semelhança do compromisso Sua interferência em favor de onde se nasce.
social expresso pela ficção, inscreve- vítimas dos regimes militares sul-
se o capítulo de seu constante americanos, sua corajosa posição Pedro Brum Santos
ativismo. Sobre esse invoco o contra o terrorismo de estado em Doutor em Letras, Professor do departamento
testemunho do professor Carlos Israel, seu permanente combate à de Letras Vernáculas da UFSM
Um livro que fala em futebol, história, política, economia e sociedade. Assim é a
obra O futebol explica o Brasil Uma história da maior expressão popular do
país , de autoria do jornalista, historiador e doutorando da USP, Marcos
Guterman, e lançado em 2009. São 270 páginas de leitura convidativa, com texto
direto, objetivo e claro. É uma viagem agradável pelos caminhos do futebol
brasileiro, desde a sua chegada da Inglaterra. Após a introdução, o leitor tem mais
nove capítulos à disposição, com a trajetória do futebol no Brasil e muitos fatos
históricos. Para o próprio Guterman, este livro mostra é que o futebol, pelo
contrário, não é um mundo à parte, não é uma espécie de 'Brasil paralelo´. É pura
construção histórica, gerado como parte indissociável dos desdobramentos da vida
política e econômica do Brasil . O autor ressalta, ainda, que o futebol, se lido
corretamente, consegue explicar o Brasil . Uma boa pedida não só para quem
gosta de jornalismo esportivo. (* Jornalista da UFSM e professor da Unifra)