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COPYRIGHT © 2000 by Jorge Ferreiea capa Evelyn Greanach PROJETO GRAFICO Evelyn Grumoch e Jodo de Sousa Leite CIP-ARASIL, CATALOGAGAO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL BOS EDITORFS DE LIVROS. RJ Pees © populism e sua histrin: debate e critica / organizagio, pea Jonge Ferreira. ~ 3" ed, ~ Rig de Janeico: Civiizagae Brasilec tn, 2018, ISBN 978-85-200-0577-4 1. Populismo = Brasil 2. Binal ~ Politien © governo ~ 1930. 1, Ferreira. Jorge. epp 320.981 on eu 3208) Todos os direitos reservados. Proibida a reprodugio, armazenamento ou cransmissio de partes deste liveo, através de quaisquer meios, sem prévia aurorizagio por esetito. Direigos desta edigio adquiridos pela EDITORA CIVILIZAGAO BRASILEIRA tom selo da EDITORA JOSE OLYMPIO Rus Argentina 171 — Rio de Janeiro, RJ. Brasil, 20921-380 ~ Tel: 2585-2000 Seia wm leitor preferencial Record, Cadastre-se e recebn informagées sobre nossos Iangamentos © nossas promogées. Arendimenta ¢ venda direra a0 leitor: indirera@record.com-br ou (21) 2585-2002 Impresso no Brasil 2013, Sumario inTRODUGAO. (© POPULISMO E AS CIENCIAS SOCIAIS NO BRASIL: NOTAS SOBRE A ‘TRAJETORIA DE UM CONCEITO Angela de Castro Gomes © NOME E A COISA: 0 POPULISMO NA POLITICA BRASILEIRA Jorge Ferreira POPULISMO LATINO-AMERICANO EM DISCUSSAG Maria Helena Rolim Capelato TRABALHISMO, NACIONALISMO € DESENVOWVIMENTISMO: UM PROJETO PARA © BRASIL (1945-1964) Lucilia de Almeida Neves TRABALHADORES URBANOS E POPULISMO: UM BALANGO 00S ESTUDOS RECENTES Fernando Teixeira da Silva Hélio da Costa A redemocratizago ocorrida em varios paises da América Lati- na apés a queda de regimes militares (final da década de 1970 inicio de 1980) colocou como problema pata essas sociedades a convivéncia e/ou confronto entre culturas politicas democrati- cas ¢ autoritarias. As dificuldades econémicas ¢ sociais, a eno me desigualdade na distribuigéo de renda, os mecanismos de exclusao social e politica criavam obstaculos A consolidagao da democracia. A conquista dos direitos sociais e da cidadania ple- na implicava a destrui¢do de um legado autoritario que fora reforcado com a introdugao de novas formas de controle social a partir de 1 — do liberalismo ® da @emocracia, apés a Primeira Guerra Munttat-abrit’Caminho pa®a a correntes de pensa- mento antiliberais que defendiam a necessidade da presenca de um Estado forte, intervencionista, capaz de promover o Progresso dentro da ordem. A Revolugao Russa de 1917 pro- undo duziu o fantasma do comunismo, que circulou pelo todo. Na América Latina, 0 temor de sublevacdo das cama- das populares se fez presente desde 0 processo cle Indepen- déncia e, no século XX, tornou-se mais agudo a partir da experiéncia comunista: os setores dominantes aventavam a 127 possibilidade de que a “Revolug&o” encontrasse terreno fér- til nestas plagas. A questo social passou a ser considerada como grande problema a partir dos anos 1920-30, € as cor: ventes nacionalistas de direita, que se fortaleceram em pafses como Argentina, Brasil e outros, acusavam © liberalismo ea demoeracia como responsaveis pela desordem e atraso rei- nantes nesta parte do Continente. As idéias liberais, impor- tadas dos Estados Unidos ¢ Europa, eram vistas como inade- guadas & realidade latino-americana. A extrema direita colo- cou-se contra as “oligarquias liberais”, tidas como aliadas do imperialismo e incapazes de realizar a independéncia econd- mica e controlar a ordem social. Nesse contexto, o antili- beralismo ganhou terreno, ¢ a integracao politica das massas foi indicada como solugio capaz de evitar a revolucdo popu- lav. A extrema direita era favordvel a um regime autoritario comandado por um lider forte, capaz de evitar o avango do comunismo. Nos anos 1930, as teses favordveis & construgao de um Es- tado com capacidade para planejar/organizat/dirigir 0 desenvol- vimento econémico e intervir nos conflitos sociais e politicos ganharam terreno, ¢ os regimes fascista italiano € nazista ale- mao passaram a ser indicados como alternativas de sucesso 20s regimes liberais em descrédito. Mesmo governantes contrérios ao nazi-fascismo procuraram intréduzit em seus paises um Es: promotor da legislagio social € mediador dos confli- s, tendo A sua frente aim [ider carismiatico em contato diveco com as massas. Alguns regimes da América Latina do pés- 30 adotaram essa politica, denominada populista por muitos autores, 128 © varguismo, o cardenismo e 0 peronismo, analisados em conjunto ou separadamente, foram considerados como expres- sdes mais tipicas do populismo. © populismo latino-americano 0 tema desta exposicao, que pretende discutix duas questées fy ee caracterizagao dos regimes denominados populistas é fe inimeras polémicas que persistem até os dias de hoje. Indago em que medida essas experiéncias que apresentam como trago comum a introducdo de uma cultura politica baseada na intervengao clo Estado e novas formas de controle social podem ser consideradas democréticas porque voltadas para os interes- ses populares ou autoritdrias porque introduziram instrumen- tos mais eficazes de controle das classes trabalhadoras. Os estu- dos mais recentes realizados no Brasil, México e Argentina so- bre © perfodo demonstram 0 interesse atual sobre o tema. A maioria dos autores justificam essa escolha pela tentativa de compreensio mais apurada de legado populista. 2) O recente debate em torno do populismo € muito rico, porque apresenta uma grande variedade de interpretagées. Al- ‘autores realismam a validade das andlises mais tradicio- nais sobre 0 tema, outros referem-se ao “neopopulisino”', ices tptono ao dere 8 ponbiidade de manipula ds porslgter Alber 0995) cones ae a fo ee Ea, ton politic esociede do saree polo, sea ele desnrenlagio de soidade Clo peoverns {icone (1993), anleande o ess bolvons sen sec ononconcen tine 129 outros, ainda, negam a operacionalidade do conceito. Preten- do, inicialmente, apresentar alguns aspectos desse debate para, a Seguin voltar & primeira questo reference 8 natureza demo- cratica ou autoritaria dos regimes denominados populistas._ Dada a amplitude ¢ complexidade deste problema ¢ os limi- ncias mexicana tes desta exposicdo optei por fixar-me nas experi Bs © argentina jd que os demais artigos da coletanea estaraio anali ss de sevigo ede bermestar pars uma populagso afetada profundamente pot essa cit Esser arores chamam a acento pata problemas clacionadon com i a légica antiinstitucional ¢ os pro- Temas da angio medngora dor pardon Kenrectater eUiceetbe ve x tavsfomacn de poplin em Ansa Ls, eta per Mackinnon, Maria Moi e Petrone, Marie Albert Populism reopopui en America Latina, El problena dela canicienta. Buenos Aes, Fudeba, 1998) ; riamente ao primeiro, we tava crm pats chasis earsiouivinr scam 9 caterer Fes olberfee popine vn srreandencs seis fide Avocet do evo peruanoy le fo i eign novas formas de poplisne pode complement e reforaro neolibe conexton, ainda que adore uma forma diferente do populisme clissica de Peron, Vargn ova variante do populismo clistco de Peron, Vargas e aya dele Torre. Esa nova cealoeee tale ees [oes eee : lizadas de representacdo politica, que ocorre com freqiéncia du- Onc € econdmicos. Para este autor, 0 imo, que deve desrnculacse de quar fae do modo de ns svelte dh orga ple srOnoa ce wis populares e8 debilidade das inetituigdes intermediaries que aviettam ¢ Team ab demands sodas dentro arene pee bee soma so Sleia instinci, ov dol fendmence —~ populisine « heoliberalisme ae reforgam mutuamente. 130 © POPULIsMO © sum MistoRiA sando aspectos do “populismo” brasileiro. Cabe esclarecer, tam- bém, que pretendo restrirgir a discusséo a um problema ce gran- Ge relevancia em torno do qual ha muitas divergénciss que se gstenclem até os dias de hoje: as relagoes do cardeniomo ¢ Feronismo com as classes trabalhadoras. Esta quest4o apresenta clementos importantes pata a abordagem da problematics cen. tral do artigo, ou seja, a natureza democrética ou autoritaria des- ses regimes. E evidente que uma anilise mais apurada deste tema envolveria uma abordagem mais ampla aprofundada das socie- Gades em foco. Mas 0 objetivo do texto que apresento aos lens, res € bem mais modesto e pretende apenas indicar 2 Posigaio de alguns autores que tém participado do debate atual A grande maioria das referencias de autores aqui invocados foi retiraca de uma coletanea recentemente organizade por Ma- tia Moira Machinnon e Mario Alberto Petrone sobre Populismo eneopopulismo en América Latina. El problema de la cinicienta> Considero que os leitores brasileiros se beneficiarto de trabalho ‘ealizaclo por esses autores argentinos, que prestaram valioea con. tribuigio para a retomada ca discussao sobre o tema. AS INTERPRETAGOES SOBRE © POPULISMO NA AMERICA LATINA: A CONSTRUGAO DO CONCEITO © Dicionario de Politica organizado por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci ¢ Gianfranco Pasquino apresenta um verbers sobre Populismo. © texto indica que as definiges de populismo ct POPULISMO LATING-AMERICANO EM DISCUSSAO jo imprecisas, ambiguas, ¢ que os modelos ¢ tipologias so con- fasos e contraditérios. Além disso, o termo se presta A denomi- nacho de fenémenos histéricos muito diversos, perdendo, em decorréncia disso, sua forga explicativa. Os erfticos do conceito salientam a imprecisao do vocdbulo ea \, multiplicidade heterogénea de fenémenos que ele abarca. Consi- dero que os modelos e tipologias construfdos por cientistas sociais " (socidlogos e cientistas politicos especialmente) para caracterizat @ Ww og \e* populism latino-americano trouxeram grande contribuigdo para po estado do problema, mag{iio levaram devidamente em conta as particularidades nacionais ném as especificidaces conjunturais. O / enfoque genético impossibilita a recuperacao do evento na sua plena hiscoricidade. Mesmo quando analisadas como casos isolados, as grandes sinteses-abarcam perfodos muito extensos. Esta tiltima observacdo € valida, sobretudo, para o caso do Brasil: algumas anilises caracterizam o populismo brasileiro como uum todo indiferenciado cujos marcos cronolégicos situam-se en- tre 1930-1964; outras se referem ao populismo varguista (1930- ; outras ainda consideram que apenas o segundo perfodo Vargas (1951-54) pode ser definido como populista; ha também as que periodizam 0 populismo brasileiro entre 1945-54. A periodizagao no caso do cardenismo € do peronismo é mais pre~ cisa: a primeira (1934-1940), corresponde ao perfodo em que Lazaro Cardenas ocupow a presidéncia do México, ¢ a segunda (1946-1955) corresponde aos dois mandatos presidenciais de Juan Domingo Perén, 0 tiltimo interrompido com sua queda em 1955." ‘oe autores apresentam, além dos easos “clissicos” ja mencionados, uma } variedade de fenémenos caracterizados como populistas: Vieror Pa. Esrensoro 132 ERIE SE EE BUA ISTORII A ampla lista de Ifderes, movimentos e governos definidos como populistas, ou a divisdo do populismo por tempos dis- tintos, permite constatar como problemética a aplicagao desse (4944.50) © Adbena (1950-54) a Guatemala; ance (1927-31) no Chiles Rojas Pinilla (1953-57) na Colémbia; Belagnde Terry (1962-68) no Pe fe Bosch (1962-63) na Repbliea Dominicana, Também sho considerador como eer Goren ‘9s anos 30 e 40, eram Ifderes como Haya de la Torre, Grove, 28, promeeram medidas de bem sido. Nos anos $0/60 ax perspectivas do popalsmo poilassira decineramn ms importantes populistas continuaram aparecendo em cena, como Paz Estensoro na Bolivia, Vargas, Quadros, Brizola e Goulart no i, inane no Clie e Velasco aera no Equader. Els enfrenaram graves ext exons cas. J4 os populistas tardios 70 inch sheverria no Mexico ¢ nos an0e 70 inehemn Echevervia no Mevico ¢ Peron na Arges, Fl mi dil paces reviaaa altars «proven iss poplites d epcss anteriores, porate a tes perebersm oie 9 re g2 ee ici die masse (aumento de alts, inagio, eevee de eae além des fantasmas de Cuba ¢ Chile) agora parecia ser maior pictane] 3 riscos de uma exclu social forgada, Em eonsegignela, até mendes 1970, sob severas pressbes econdmicas e sociais, as forges armadas proscre: sero populsmo na msiova dos pats ea Amin Lain, (Dre, Pal onclsion séqien for populism? fx Michael Conn (ong). Latin Aveieay 133 INO-AMERICANO EM DISCUSsAO 6 6 m diversas. Dos anos 20 égneeigo para situagées histéricas bem diversas. D} pe 0870, a conjuntura latino-americana passou por transforma- ai luzem as questées indicadas s6es significativas que nao se reduzem as questé a para classificar os trés momentos. Além disso, os problema populinn in comparative perspective. Albuquerque, New Mexico University poplitmo clssico"y ii um eleneo gaito grande de interpretagdes, que os sure rdenram em quatro grup iterpregie ae come | sexist oprosrso de moderne, Fa defensin, gee | Sbseards ocieduc usckaonalparesioscres (Cine Corse bill InerpretagtohisSrco-estrutuel, gue vacuo Popullamo ae

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