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PIAGET E V 2 mpossivel, nos dias de hoje, deixar de atribuir E importancia ao trabalho de Piaget e Vygotsky. Em especial no campo da psicologia do desenvolvimen: to€, maisrecentemente, da psicologia da educagao, esses autores tém seu lugar assegurado. Talvez por isso, q get ou Vygotsky espeito das diga-se de passagem. € um problema sé ‘rea, Muitos mente, a pergunta se coloc: Decorrem daf, acredito, as vér obras de ambos, trabalho nada fi sinteses Na verdade, responder a essa questio Tio, tendo em vista que no hi consenso pesquisadores da atualidade tendem dades do que oposigées entre as propos: vygotskianas. Inversamente, outros tantos a clas sio teorias to distintas que, em se escolh se esté necessariamente descartando a outra Buscarei aqui indicar como a fundamentacao filoséfica de Piaget € Vygotsky dificul de aproximagoes entre eles. Em is similar piagetianas ¢ se no impede, a busca primeiro aspecto, discuto outros em que as diferencas, parecem ser evidentes: (a) o papel cificamente da cs 30, nas duas propostas 'b) a concepgio sobre o vetor do de 0, Ou Seja, Sobre sua direcio, (c) a concepcao Concluo, finalme que escolher entre uma ou outra proposta, no campo d: ensino-aprendizagem € tratada educag3o, parece ser P ‘Mais recentemente, desde o inicio da di no auge da adoggo do construtivismo pi professores, um crescente interesse em relacio aos auto: tes soviéticos, em especial Vygotsky, surgiu no émbito universitéria, Buscava-se neles um efetiva contraponto 4 proposta de Piaget, sobretudo porque, na maioria dos e305, uma compreensao errénea do construtivismo acebou por desarticular o modo de atuar dos professores, sem ccolocar, em seu lugar, um ensino inovador, conforme se esperava, Assim, tentava-se, simultaneamente, entender como ser um professor piagetiano €, a0 mesmo tempo, VIVER MENTE&CEREBRO OINTERACIONISMO NAO E LEVADO AS ULTIMAS CONSEQUENCIAS EM OTSKY; FALTA AO PRIMEIRO A ENFASE NO MEIO SOCIAL E, AO SEGUNDO, O PAPEL DO SUJEITO NA PROPRIA.CONSTITUICAO Por Claupia Davis encontrar outras referéncias para subsidiar a docéncia. A questao Piaget ou Vygotsky?” anareceu, portanto, no bojo de questdes educacionais e de sua tentativa de fornecer subsidios para a didatica Mas essa no era uma tarefa para a psicologia que, em materia de educacio, esté, como outras disciplinas, em seus fundamentos. Cabe lembrarque tanto Piaget como Vygorsky yootskyvinculam-se & picologia do nda consieragdes aprofundadas 2 U sobre a dinimica em ala de aula desenvolvimento, no respeito do proceso duc ESPECIAL VYGOTSKY PIAGET OU VYGOTSKY se-vinculam 3 psicologia do desenvolvimento, de modo que rnenhum dos dois, mas em especial 0 primeiro, teceu consi deracbes aprofundadasa respeito do processo educativo. Esta ,de fato, uma questdo de nosso tempo. A educagao nunca foi interes especifico de Piaget: sua preocupacio era com Co sujeito epistémico ~ 0 sujeto que conhece ~e, portanto, deliberadamente, em suas pesquisas, procurava fugir daquilo que poderia tersido ensinado, Decorre dafoimusitado de suas perguntas: De onde vém os sonhos? Quem inventou 0 jogo das bolinhas de gude? Por que 0 sol no cai? ‘Como seria de esperar, as respostas obtidas consti ram, para Piaget, rica fonte de informacéo, ajudando-o, em WWW.VIVERMENTECEREBRO.COM.BR muito, a elaborar sua teoria. Ora, seas respostas variavam a depender da idade dos informantes, elas no poderiam serinatas, porque oinato € permanente, fxo, no mutével Por outro lado, também nao poderiam ter sido ensinadas a grande semethanca encontrada nos relatos de criangas € adolescentes em diferentes contextos e culturaslevava acer ‘que ndo foram meramente transmitidas pela experiéncia social, posto que as cultures sio diversas justamente porque tém identidade propria, ou seja, porque pensam de forma distnta uma mesma coisa. Cabe, ainda, mencionaro fato de {que dificilmente as respostas para as perguntas formuladas por Piaget eram ensinadas as criangas. Daf a conclisio a VIVER MENTESCEREBRO 39 40 ‘que chega: as “idéias’ das criangas e dos adolescentes so cconstruies que envolvem tanto estruturas mentais como cexperiéncia, a qual no €apreendida de forma direta linea, ‘mas sim, de maneira organizada, pela inteligéncia, ‘Vygotsky, por outro lado, aliava duas preocupagées muito distintas: um projeto de construir uma nova psico- Jogia e um projeto de construiruma nova sociedade. Nesse sentido, ao articular seus interesses, dé intenso relevo &s ccondigdes em que a vida humana se processa, acreditan- do que o homem pode se constituir enquanto sujeito de vérias maneiras, dependendo das situagées concretas em. que vive. E pela apropriagio ativa, que se dé nas e pelas interagdes humanas organizadas em atividades, que os seres humanos se constituem como sujeitos capazes de pensar autonomamente, distanciando-se de seu ambiente aa seus livros. Leitor dvido de Piaget, Vygotsky o elege, a distancia € sem o seu conhecimento, um de seus princi- pais interlocutores. Hé, dessa forma, como nio poderia deixar de ser, preocupagdes proximas e convergentes, ‘muito embora elas tenham acabado por ser encaradas a partir de dpticas distintas. Piaget — informado por Kant, Husserl, Bergson, acorrente estruturalistae pelo campo da biologia —constr6i uma teoria universalista, com acentuada énfase na interagio individuo/meio, no pélo do sujeito.Jé Vygotsky, partindo dos pressupostos de Spinoza, Hegel Engels, Marx e Lénin, ndo chega a constituir uma escola de psicologia: sua contribuicdo esté em ter esbogado, em suas linhas gerais, ocaminho para alcancar uma psicologia ‘com inspirago no materialismo dialético, que encara 0 desenvolvimento humano como sendo constituido pelas COMO UM DE SEUS PRINCIPAIS INTERLOCUTORES [ LEITOR AVIDO DE PIAGET, VYGOTSKY O ELEGEU imediato para melhor analisé-lo, percebendo suas falhas € encaminhando solugdes. Assim, em sua visio, a escola constitui-se em espago privilegiado para que a crianca se aproprie das conquistas das geragoes precedentes, na ‘medida em que nela se conta com o amparo ¢ 0 auxilio de membros mais experientes da cultura, na dificil empreitada de construir uma visio prépria e critica do real. Vale também lembrar que Vygotsky foi o introdutor das obras de Piaget na entéo recém-constitufda Unio das Repiblicas Socialistas Soviéticas (URSS), prefaciando PRECURSORES, Partindo dos ressupostos de Spinoza, Hegel, Engels, Marxe Lenin, Wygotsky (0 lado) no chega a consttuir tuma escola de Psicologia VIVER MENTE&CEREBRO (€ constituinte das) circunstancias — sempre cambiantes = do ambiente fisico e social em que se di A despeito de terem chegado a visées distintas, Piaget ¢ Vygotsky podem dialogar porque partem do mesmo pressuposto: o desenvolvimento humano se dé em razio de sujeito e objeto (meios fisicoe social) manterem entre si relagdes reciprocas e continuas, de modo que um cons- tituio outro continuamente. Sao, portanto, autores que se vvinculam & corrente interacionista em psicologia, ‘Mas 0 que se entende por "interacionismo'? Tal como ‘vemos, trata-se de uma abordagem que, em psicologia, cestuda as trocas que se estabelecem entre o homem a realidade em que vive, elucidando, de um lado, o impacto do sujeito sobre o meio fisico e sociale, de outro, o papel desse meio na construgdo do sujet. Esse pressuposto omum no pode, no entanto, mascararo fato de que hi divergéncias centrais entre os dois autores, que precisam ser explicitadas para que ndo se corra o risco de tornar igual o que é, em esséncia, diferente De ato, héinteracionismose interacionismos. Vygotsky cenvereda por um de cunho sociohistérico, no qual salienta as interages do sujeito com o objeto, apontando quea agi do primeiro sobre o segundo passa, necessariamente, pela ‘mediagio do social. Daf sua proposta ser conhecida como “sécio-interacionista’-o adjetivo “sécio" qualificaanatureza do interacionismo por ele adotado, Jéo interacionismo de Piaget, pela razio mesmo de sua formacio em biologi pode ser denominado de “evolucionista’, tendo em vista a primazia que coloca no pélo do sueito, com forte énfase nas agBes que esse exerce sobre o objeto. [sso posto, passo a discutir os aspectos selecionados. ESPECIAL WGOTSKY DOIS AUTORES DIALETICOS? Uma questio que justifica a busca de similaridades nas propostas de Piaget € Vygotsky reside no fato de que ambos sio considerados, por muitos estudiosos da atualidade, como filiados & matriz do materalismo dia lético, Nesse sentido, a contradicéo, enquanto categoria propria desse modo de pensar, estaria na base mesma da nogio de desenvolvimento adotada pelos dois autores, na medida em que ambos consideram como fundamental 0 papel da interagdo e da contradicSo. Mas para entender 0 que € contradigzo e como ela € usada no contexto da obra de Piaget ¢ Wygotsky, cabe diferencid-la de oposigio, ndo tratando os dois conceitos como sinénimos. De fato, a contradicéo dialética refere-se, essencial ‘mente, & unidade indissolivel dos contrérios ¢, também, a0 trabalho do negativo. Mas 0 que se entende por isso? A contradicao marxsta nao se refere 8 superagio de dois contrérios em uma unidade superior, ela implica, antes, ain- versio da dominancia entre elesaté que se alcance aaboligao de um e a emancipagio do outro. Nao se trata mais, como em Hegel, de entender a contradigao como desdobramento genético circular: na dialética marxista, o desenvolvimento € tido como algo necessariamente transformador, que cria uma determinada historia, tida como sempre aberta, Piaget sempre se definiu como um estruturalista gené tico, uma das correntes do pensamento que contesta ouse opie & dialética, Assim, a visio de que ele se vincula a essa Ultima forma de pensar parece ser-Ihe atribuida sobretudo por outros pensadores. De fato, Piaget emprega o termo "contradicio’,referindo-se ao que ocorre entre agbes, con- dutas e atitudes, entendendo por isso que uma dada agio X serd vivida como contradigao em face 3 agio Y se essa “ltima impede a primeira de acontecere vice-versa, Como pode ser visto, existe nessa formulagio apenas oposigao WWW.VIVERMENTECEREBRO.COM.BR NO MODELO TEORICO de Vygotsy, a aprensizagem 6 condigao para a transtormagao das unges ementares em funcbes psicologicas superiors. Ao lado, sala de aula em Moscou (1949) € no contradicéo, tal como antes definida. Além disso, no se encontra também o trabalho do negativo, ou seja, ‘© movimento que, ao nos aproximar de uma dada situa- <0, ao mesmo tempo dela nos afasta. O que se observa, efetivamente, 6a presenga de dois movimentos dstintos € posts: um de aproximacio e outro de afastamento, algo ‘que nada tem que ver com a dialética marxista, Na medida em que no existe contradigao dialética no sentido marxista do termo, nido pode exis, de igual modo, 6 trabalho do negativo. Esse dltimo aparece, nas obras de Piaget, apenas € tio-somente como negativo € no como algo que é, simultaneamente, positivo. Nesse sentido, pode- se dizer que a contradigo é entendida por Piaget como ccompensagoes incompletas, como desequilrios, de modo que seu papel € 0 de acrescentar 0 que € necesséro para que se alcance novamente 0 equiliorio, Portanto, ela nfo existe, «em seu sentido préprio em Piaget, ano ser como processo de tese, antitesee sintese, que mesmo Hegel reeitava por centendé-lo mecanicista. A dialética piagetiana no engendra rnenhum movimento, uma vez que ela €considerada apenasa expressio, mas no a fonte, dos desequilibrios. Pode-se, com certeza, afirmar que hé, na proposta piagetiana, uma visio genética do processo de desenvolvimento, ainda que ndo se tenha dele um conceito dialtico. ‘Wyeotsky, por sua vez, a0 discutira questo do desen volvimento do psiquismo, reconhece que € preciso buscar para ele uma explicagao genético-causal, tal como propoe Piaget. Mas ressalta que, diferentemente dele, nao entende que desenvolvimento seja um desdobramento incessante de potencialidades encobertas por estidios anteriores, ou, melhor dizendo, discorda de que a evolucio da inteligén- cia seja da mesma natureza que 2 evolugao biolégica. Ao contrério, Vygotsky vai salientar que o desenvolvimento, rio se dé a partir da maturacio (que se encontra inscrita nna ordem da natureza) e sim da apropriacio daquilo que € social. O desenvolvimento das fungdes psicolégicas superiores no € genético, mas apropriativo de um psi quismo que € historicamente acumulado sob a forma de relagdes sociais entre os homens. Esse desenvolvimento CLAUDIA DAVIS & professora do Programa de Estudos Pés- Graduados em Psicologia da Educagao da PUC-SP e pesqui- sadora sénior da Fundarso Carlos Chagas. Este ensalo é uma ‘versio ampliada e atualizada de texto publicado nos Anas do Seminério internacional de alfabetizagdoe Educasdo Clentfca da Universidade Regional de Iu (1993).. VIVER MENTES&CEREBRO a 42 apropriativo, menos do que se opor ao genético, deve ser compreendido como a negagao da negagao, a superaczo dialética de tal oposigdo. Daf Vygotsky postular que, 120 logo aparega um novo nivel de desenvolvimento, de caréter superior, seu antecessor no desaparece, mas ele va-se a0 novo, negando-se, dialeticamente, naquele que co supera. Trata-se, como se pode ver, do conceito mesmo de superagio Observa-se, portanto, que se trata de outra forma de conceber o desenvolvimento, na qual existe nao s6 a contradigdo (enquanto identidade de contrérios), como o trabalho do negativo. O psiquismo humano, nessa Gptica, nada mais € do que a identidade de dois pélos contrérios de uma mesma realidade (o externo ~ entendido como meio social - € 0 interno ~ encarado como aquilo que € préprio do aparato da espécie). Na verdade,trata-se de um processo de desenvolvimento interno de esséncia externa, rno qual o outro desempenha um papel central E por intermédio da relagao com os adultos ou com- panheiros mais experientes que as geragdes mais novas se apropriam de formas mais abstratas de pensar que, por sua vez, 56 serio efetvas para a sobrevivéncia se conseguirem superar as anteriores, mais antigas € concretas, constitu das na experiéncia pessoal de cada um. Por isso, 0 autor considera que as formas mais elevadas do pensamento aparecem antes na vida coletiva ¢, s6 mais tarde, levam 20 desenvolvimento da reflex2o, na conduta humana. Assim, as fungdes psicol6gicas superiores sfo, antes de mais nada, relagdes reais entre os homens, constituindo um s6e tinico psiquismo, que envolve duas formas opostas: a externa ea interna, Desse modo, a pessoa torna-se para si o que ela € em si, pormeio daquilo que ela representa para 0 outro, po: dendo-se compreender,entao, porque o que é maisinterno nas formas superiores de pensamento é, necessariamente, externo (social): 0 social ests, sempre, em sua origem. O VETOR DO DESENVOLVIMENTO Para Piaget, o individuo nasce ¢ sobrevive exclusi vvamente por contar com mecanismos reflexos, providos pela espécie, Ao interagir com seu meio, os reflexos ~programados pela espécie para serem acionados apenas em determinadas circunstancias — passam a ser ativados| por outras,transformando-se em esquemas, cuja definigao mais simples parece sera seguinte: esquema é tudo aquilo que pode ser generalizado na acao. Assim, 0 reflexo de suclo, que visa a sobrevivéncia e que deveria ser ativado pela presenga exclusiva do seio da mae, ao ser acionado na presenca de mamadeiras, chupetas ¢ do proprio dedo do bebé, torna-se um esquema. Tais esquemas combinam:-se, por integracio e diferenciaglo, transformando-se qualita- tivamente a0 longo do desenvolvimento, formando, em seu conjunto, o que se chama de "sistema cognitivo”. O desenvolvimento, na visio piagetiana, prossegue, pois, ‘em uma espiral crescente, do nivel mais baixo ~ aquele centrado no préprio individuo ~ para o mais elevado — 0 do pensamento socializado ~ onde as mesmas questies so enfrentadas e solucionadas em sucessivas tapas. Pro- aride-se por integragao quando se passa de um conceito ‘mais primitivo para outro que, incorporando diferentes perspectivas, se torna nfo s6 diferenciado, como também mais claborado, Progride-se, ainda, por substituicéo, quando idéias primitivas so abandonadas, cedendo lugar a outras, mais complexas, De um modo geral, no parece ser falso considerar que, na perspectiva de Piaget, 0 desenvolvimento caminha de patamares mais centrados ‘no individuo pare uma progressiva socializacio do pensa- mento e do conhecimento. De maneira diversa, Vygotsky assume a posicéo de que 0 ser humano, téo logo nasca, vé-se envolvido em um mundo eminentemente social. E justamente em razo de se encontrar embebido nesse entorno humanizado e, Portanto, cultural e hist6rico, que o bebé humano pode sobreviver, Assim, todo trabalho do desenvolvimento consiste em converter o plano biolégico, préprio da espécie, no plano do social, mediante a a¢do da cultura ‘em que se processa. Essa cultura é internalizada por meio de mecanismos de mediagao simbélica, de maneira que, paulatinamente, o sujeito biol6gico converte-se er sujeito hhumano que, por sua vez, re-estrutura também o plano do social. Postula-se, dessa forma, a presenca de mecanismos de imternalizagio, pelos quais, a partir do plano interpes- soal, o bebé eleva suas formas de acao individual, incidindo 1no plano sociale, assim, sucessivamente PIAGET considera 0 desenvolvimento mals ‘undamental do que a aprendizagem VIVER MENTE&CEREBRO- ESPECIAL VYGOTSKY Entende-se por internalizacdo uma série de transfor: magBes, das quais talvez a principal delas seja aquela em ue um processo interpessoal (externa) converte-se em um processo intrapessoal (interno). O interessante dessa formulaco € que, para Vygotsky, 0 externo — 0 meio social ~ nao € outra coisa do que o interno — 0 psiquismo individual. De fato, se a mediagio € simbdlica, ela atua tanto nos individuos como fora deles, pois onde atuam 0s signos? Fora ou dentro do sujeito? Vygotsky diria que tanto "fora" como “dentro”, ou melhor, passando constan- temente de'fra' para “dentro” e vice-versa. Desse modo, postula que todas as fungées psicolégicas superiores da crianga (atengéo voluntéria, meméria légica, formagao de conceitos etc.) ndo passam de 'relagdes reais entre os homens’. Chega-se, assim, & constatagio de que, muito ‘embora haja apenas um psiquismo, ele € constituido por dduas formas que nele se opdem: a externa € a interna, Desta maneira, 0 desenvolvimento € entendido como engendrado no embate entre o interno € o externo, na contradicao interna desses dois momentos irdissocidveis , nao obstante, separados, do psiquismo humano em suas formas superiores. Cada um deles se manifesta como nega¢ao do outro: o psiquismo individual reelabora cons tantemente as relages reais entre os homens, as quais, por sua vez, impulsionam o psiquismo individual aretrabalhara si proprio. Assim, 20 longo do desenvolvimento, "a pessoa torna-se para si aquilo que ela é em si, por meio do que representa para 0s outros" Consegiientemente, pode-se supor que 0 vetor do de senvolvimento, na concepcio vygotskiana,sejainverso a0 postulado por Piaget: aquilo que & mais interno nas fungoes psicolégicas uperioresé, necessariamente,extemo pois, em sua origem, todas elas tém uma funcéo social. Em outras palavras, 0 plano do social encontra-se na genese mesma a atividade individual, participando da construgio de um \WWW.VIVERMENTECEREERO.COM.ER, (GRIANGAS SOVIETICAS na década de 1930 sujeito auténomo, que auto-regula sua conduta € pelos ‘outros regulado, Nessa éptica, o desenvolvimento caminha do social para o individual e do individual para o social CONSTRUCOES DO SUJEITO. Piaget parece ver a crianca como participante ativa do proprio proceso de desenvolvimento. Essa consideragio decorre do fato de que, para esse autor, a cogmnigdo € uma questio de agdes reas, ealizadas pelo sujeito, constituindo a matéria-prima de toda a adaptagio intelectual e percepti va. A principio, durante os dois primeiros anos de vida, as aces do bebe, por serem manifestas, sao bastante claras, tém visibilidade: ele pega coisas, amassa objetos, joga-os 1no chio etc. Com o desenvolvimento, as ages pouco a ppouco se interiorizam, tomando-se encobertas, ou seja, ‘no visfveis para o entorno. Ao longo desse processo, as ages concretas passam para o plano intemo, de forma

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