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quistar a experiéncia que 0 converter, mais tarde, numa das {rans figuras de nossa cena dramiticn, Emboratvesse procurado Eerearse de valores expressivos como 0 autor Gusmao, um dos melhores elementas da companhia de Joo Caetano, desasiroso resultado proven que este tivera sobradas ra76es oo suspendet 0s censaios de O Jesuia em 1861 is, em reves rages, © que foi a obra teatal dk Alencat, — toda ea fro de ums atvidade desenvolvida mo period de tim lusto, entre os vinlee sete e 08 trita dois anos de idade, fem époea posterior 0 O Guarani e anterior a tracema e 0 Tronco do Ipé. Considerada denico de sua 60a, das imitagbes do nosso meio lero antitieo, das condigbes precérias de um teatro qve mal comegara a desponta, vinte anos antes, com Martins Pena © Domingos Gongalves de Magalies, a bagogem teatral de José de Alencar de modo algum é desdenhivel, Quando se alinharem 25 ‘omédias que Ficaram do nosso teatro, no culo XIX, O Deménio Familiar estar de pi, 30 lado de O Novieo, de Martins Pena, de AS Dowtoras, de Franga Binior, de O Badejo, de Artur Azevedo, ¢ de poucas mais. A divulgacio dos pecas de Alencar, esquecidas pelos fditors, se impunha como uma fonte nova e acessivel pars 0 estudo da evolugio itertia do iluste eseritor RMI a O DemoOnio FaMILiaR Conpia Ex 4 Atos Representada pela primeira vez no Teatro do Gindsio, do Rio de Janeiro, em 5 de setembro de 1857. ‘GREDITOS (© Copyritu ators Martin Claret, 2003 Ditegio de Ane Reauuzagio Jest Duarte Fe Coste, Marin Care: — Grecia Gaui Leonard Cars sogs0 dior lernica ‘Clan Giesfardni Edo Mert Claret Fotis da Ca Mio.o = Revisio Morini Argema Para Lnpene Rice Tria Of St 7098 Projet Geico ose Duarte T- de Casto Imeessioe Acabaresto Pauius Grfica Baltora Martin Claret — Rus Alegre, 62 (CEP01254010 - Sto Paulo -SP “el: (Oxalt) 3672-8144 ~ Pax: (Oxall) 3673-7146 ‘werwemartinclaret.com.br Agraecemos todos os nesses amigos eculboradores — pes fie ‘Sse juries — que deram conde para gus fosseposivela publi coodsielve. Ente lito foi composto ¢ impresso no eutono de 2003. PRERACLU Ahist6ria do livro ¢ a colegao “A Obra-Prima de Cada Autor” saan ctaRer 6 vr? Para fins estaicos ma década de 60, a UNESCO, considera o Tivo “uma publcagio impress, no perddica, «que consta de no minim 49 paginas, sem contar a8 capas” Olivo € um pret indus ‘Mas também € mis do que um simples proto. priteir conce to que devertanos ttt €0 de que o livro coma objeto € 0 veiculo, © spore de uma informagde, Oliv € ume dis mais revoluionaias invenses do homer, ‘A Encilopda Abril (1972), publicada pelo editor e empresitio Victor Civitan verhete livro™ Ira concise imporuntes infor magies sobre Pista do lve. A seguir. anserevemes alguns {épicos desse estado distico sobre o liv Olivro na Antiguidade Antes mesmo que 0 homem pensasse em utilizar determinados materia para eseever (como, por exemplo, bra vezetase tei don) as bibliotecas da Antiguidade estavam repleias de textos gra- ‘alos em tabuinhas de Barto cozido. Eram os primeitos Tivos, depois progressivamente modificados até chegar a ser feitos — em [grande tragens-— em papel impresso mecanicamente,proporco- nando facilidade de leitura eranspore. Comeles,tomou's possivel, fem todas a8 époeas, transmit fos, acotesimentos histrieos ‘escoberas, tratades,cédigos ow apenas enrteniiento. ‘Como sia fabricagio, a fungao do live sofrevenormes mesic PERSONAGENS ‘CARLOTINHA HENRIQUETA EDUARDO PEDRO JORGE ALFREDO AZEVEDO D.MARIA , VASCONCELOS ATO Em casa de Eduardo. Gabinete de estudo. CENAT | Carlotinha, Henriqueta CARLOTINHA — Mano, mano! (Voltando-se para a porte) io te disse? Sui! Acenando.) Vem, psiu, vem! HENRIQUETA — Nao, ele pode zangar-se quando souber. CARLOTINHA — Quem vai contarthe? Demais, que tm iso? Os homens i dizem que a8 mogas 30 curosas? HENRIQUETA — Mas, Carlotinha, no € bonito uma moa eiurar no quarto de um mogo soleio. ‘CARLOTINHA — Soainha, sim: nas com ami no ar ma. HENRIQUETA — Sempre fz CARLOTINHA — Ora! Estavas morrendo de vontade HENRIQUETA — Eu no; tw € que me chamaste CARLOTINHA — Porque me fazias tantas perguntinhas, que Jogo percebi o que havia gui dentro. (No coragéo ) HENRIQUETA — Carlotinh CARLOTINHA — Est bom, nto te zangues. HENRIQUETA — Nao; mas ens lemibrangast CARLOTINHA — Que parecem esquecimentos, nfo 62 Es _quecia-me que no gostas que adivinhem os teus segredos. HENRIQUETA —Nio 05 tenho, CARLOTINHA — Ands li!..Oh! meu Deus! Que desordem! _Aguele moleque nfo aranja o quarto do senhor, depois mano vem fefica magado, HENRIQUETA — Vamos nés arani-lo? CARLOTINHA— Est ditosele nunca teve riadas desta orden. HENRIQUETA (A meta vor.) — Porque no quis! CCARLOTINHA — Que dizes?. Ca est uma gravata HENRIQUETA — Um par de luvs. ‘CARLOTINHA — As botinas em cima dacadeir, HENRIQUETA — Os ios no chi. CCARLOTINHA — Ah! Agora podesse ver! HENRIQUETA — Nio shrimos 8 janela? CARLOTINHA ~F verdade (bre) HENRIQUETA —Daguivésea minha css; ola! CCARLOTINHA — Pois agora € que sabes? Nunca vise mano Eduardo nesta janela? HENRIQUETA —Nio; munca, CARLOTINHA — Fala a vordade, Henriqueta! HENRIQUETA — 16 te disse que nfo: se w, nl me Tembea. tanto tempo que eta jaca nose abre! CARLOTINHA — Bravo! Depois no digas que siolembrangas sminhas HENRIQUETA — 0 que? O que disse eu? CARLOTINHA — Nada: trafste 0 tu segredo, minha amiga nha, Se tm sabes que esta janela no se are, € porque todos os dias colhas para ele HENRIQUETA — Poisnio. CARLOTINHA — Para que procuras esconder uma coisa que tens olhos extio dizendo? Tu choras!.. Por qué? E pelo que ex {isse? Perdoa, no falo mas em semelhante co's HENRIQUETA — Simm ‘que eu soft. 1 te pogo, Carotinha, Se soubesses 0 CARLOTINHA — Como! Meu imo & to indigno de ti, enrique, que te ofendes com um simples gracejoa seu respite? HENRIQUETA — Eu 6 que ao sou digna dele; nBo merego, ‘nem mesmo por tua causa, uma palavra de amizade! CARLOTINHA — Que dizes! Mano Eduardo te tta mal? HENRIQUET§ — Mal, nfo: mas com indiferenga, com uma fiezal.. AS eres nem me ol, CARLOTINHA — Mas antes, quando nos visitayas mais mio, e passovas dia conosco, ele brincava tanto contigo! HENRIQUETA— fe me lembyo.. ainda me di! Um diam passar “durante todo o tempo que estive aqui ele nfo me dew uma palavra CARLOTINHA — Distrago! Nao foi de propssite. HENRIQUETA — Ont tou! Desae entao ess ja ni. se abr. Agora posso dizer-te tudo... Eu o via do meu quart a todas as horas do dia; de manha, apenas acordava,jé ele esta mtes de Jantar, quando ele chegava, eu 0 esperava: ¢ 8 tarde, 20 CARLOTINHA —E nunca me disseste nade! HENRIQUETA —+ Tinha vergonha, Hoje mesmo se nio adivinhasses, se eu fo me rise. CARLOTINHA—Deixa estar que hei de pergumtar-the arazion diste. HENRIQUETA — Eu te suplico! No the digas mada. Para «que? Soft dois meses, softi como tu no fazes tie. Uns vorsos| “bbreudo que ele me mandou fizeram-me chorur uma noite inter, CARLOTINHA — Mas por isso mesmo! Nao quero que cle te fagachorar Hei de obvigiloa ser para tio mesmo queer. HENRIQUETA — Agora... impossvel! ‘CARLOTINHA — Por qué? HENRIQUETA — Nto tenho coragem de dizer, entrtanto, vim hoje 56 para date parte para... despedir-me desta asa, CCARLOTINHA — Vais fazer alguma viagem? HENRIQUETA —Nio, mas vou. (Quve-se subir escada,) CARLOTINHA — Ele! E mano! HENRIQUETA — Ab! Meu Deus! CCARLOTINHA — Depressa! Corel. EDUARDO — Pedro! Moleque!..O breeiro anda passeande, naturalmente! Pedro! CCARLOTINHA (Enurando.) —O que quer, mano? Pedro saiu EDUARDO — Oni foi? (CARLOTINHA — Nao se. EDUARDO — Por ue o CARLOTINHA — Ora! Hi quem possa com aquele seu moleque? E um azougue; nem & mamfe tem respeito. EDUARDO — Realmente ¢insuportvel; én 0 possoaturar. ‘CENA III (0s mesmos, Pedro PEDRO— Senhor chamou? EDUARDO — Onde andava? PEDRO — Fui ali ma loj da esq EDUARDO — Fever 0 qué? Quem the mandow i? CCARLOTINEA — Foi vodiar; é 60 que ele fa PEDRO — Nico, nhanha; fui comprar soldadinho de chumbo, EDUARDO — Ah! O senhor ainda brinca com soldados de ‘humbo... Corea, véchamar-me um lbu na pra, de um pul, PEDRO — Sim, seahor CENAIV ‘Eduardo, Carlota CARLOTINHA — Onde vai, mano’ EDUARDO — Vou a0 Catete ver um dosnt volo jf CARLOTINHA —Eu queria falar-the. EDUARDO— Quando volta, menina CARLOTINHA —E por que no agora? EDUARDO— Tenho press, no posio esperar. Quees ir hoje 0 Teatro Liico? CARLOTINHA — No, nfo estou disposta EDUARDO — Fois representa-se uma dpera bonita. (Enche a carteira de charwtos.) Canta a Charton, HS muito tempo que nto ‘amos a0 tate CARLOTINHA — £ verdade; mas quem nos acompana é ‘ocd, seus tabahos, sa vida ocupada.. Depois, mano, not que ands iste EDUARDO — Triste? Nao, & mou génio; sou naturalmente s200% gosto pouco de divertimentos. CARLOTINHA — Mas houve um tempo em que no era assim brincdvamos, passévamos as notes a tocar piano ¢ a conversa voce, Hentiqueta eeu. Lembra-se? EDUARDO — Se me lembro!... Estava formando hi pouco rio tnha clini. Hoje falta-me o tempo part a dstagées CENAY ‘Os mesmos, Pedro PEDRO — Est fo bur, sim, senhar; cato novo, cavalo tom, EDUARDO — Agora veja se se larga outra vez, Queto tudo isto arumado, no seu lugar: no me toque nos meus livtos;escove cesta ropa, Respite-me os charuios. Quem abeiu aquelajanela? CARLOTINHA — Fui eu, mano. Fiz mal? EDUARDO — Nio gesto que esteja aber; 0 vento leva-me os papéis. (A Pedro.) Fecha! CARLOTINHA — Voc$ outrora gostava de passar as tres fumando ou leno. EDUARDO — Até logo, Carltinha. Molegue ni si CCARLOTINHA — Ouga, nant. No quer ver Heniqueta? EDUARDO — ht. Hi muito tempo no te vistaval CCARLOTINHA — Por isso mesmd, vena falar-the EDUARDO — Nio; me demore mas do que pretena CARLOTINHA— Escwe! CENA VI Pedro, Calis PEDRO — Sr. mogo Eduardo pensa que a gente tem per de pau e io preciso ander! CARLOTINHA — Foch aguela porta! PEDRO — Ent, nani, Vineé nid recehe aquele ile i? CARLULINMA — moteque! 1u esus niu weve PEDRO — Pois ole, nhanhi; 0 mogo € bonito, petimetre mesmo da moda... Mais Jo que 0 Sr. mojo Eduardo. Xi... Nem tem comparagio! CARLOTINHA — Nao o conhegot PEDRO — Pos ele gonheoe abanha; passa aqui todo o dia, (Chopé beaneo de castor, deste de aa revirada;chapéu fino; custa ‘ato! Sobrecasaca assim meio recorada, que em um nome francés, «ala jstinha na perna;bota do Dias; bengainha dessebicho, que se chara waicore. Se abanha chegar na janela depois do almogo Inde ver ele pasar, 56 gingendos Teh, tc, ich. Hum... Mogo bonito mesma! CARLOTINHA— Melhor para ele; no falta a quem namore PEDRO — Nio falta, nfo; mas cle 6 gosta de han, Quando passe, ahanbi nov; mas eu, c4 de baito, estou s6 espretando, ‘Vai olhando para tris, de pescdcinho toto! Porém nbn no faz caso dele! CARLOTINHA — & um destruivel! Esti sempre a torcer 0 bigode! PEDRO —E da moda, nhankal Aquelebigedinio, assim enros- ‘eado, onde nhanha v8, € um anzok, anda s6 peseando corapao de mogs. CARLOTINHA — Molegue, sew me falares mais em semelhante coisa, conto a teu senfor. Otha lst PEDRO — Esti bom, nhanhiy nfo precisa se zangar. Eu digo a0 mogo que ahanha nao gosta dele, que ele tem uma eara de frasquinto de cheiro. CCARLOTINHA — Dize o que tu uiseres, conan que nome ‘contes mais hstris. PLDKU—stas agora coma na ge set. Fle He We We uses CARLOTINHA — Para qué? PEDRO — Para eniregarbilhete 9 Bithetino cheitoso; papel todo bordado! tanh. (Tira 0 bilhete.) CARLOTINHA — Ah! Se mano soubesse! PEDRO — File é amigo de Se. moso Eduardo. CARLOTINHA — Nunca vem aguit PEDRO — Oh! se vem: ainda ontem:; por sinal que me pergunton se jf tinha encegado. CARLOTINHA — Ew que espondeste? PEDRO — Que shanti mio queria receber. CARLOTINHA — E por que nd resiustea cart? PEDRO — Porque acartavoio com os ez mils. eeu gastl dinheiro, han CARLOTINHA — Ab! Peo, sabes em que te moteste? PEDRO — Mas que tem que rihanha roeeba! um moso. mesmo na order! CARLOTINHA — Niol.. nfo devo! (Chega-se @ estanze ¢ escolhe un lvro,) PEDRO — Nhonhs aio hi de sor fica! (Mere a carr no bolso sem que ela o perceba)Entregus esti elat ‘CARLOTINHA— Que dizes? PEDRO — Nado, akan! Que Vint & uma moss muito bonita 60 Pedro um moleque muito sabido! CARLOTINHA — B melhor gue arrumes quarto de teu senor, vaio! (Carlotinha sema-se ele) PEDRO — Isto ¢ um instante! Mas nani precisa easart Com lum mago tea como Sr. Alfredo, que ponha nhanha mesmo 10 bom, fazendo figura. Nhanhi hc de ter umacasa grande, grande, ‘com jardin na femte, molegue de gesso 90 telhodor quatro catos ‘ocheira; dass parethas, © Pedro cocheiro de nhanki CCARLOTINHA — Mas 1 no és meu, 6 de mano Eduardo, PEDRO — Ni faz mal han fica rca, compra Pedro; manda fazer poi ele sobreensaca peta inglesa: Dota de canto até aqui (Marea o joetho y; chapeu de east; tope de sinh tope azul no ‘ombro. E Pedro x, rs, 232, 242! E moleque da rua dizendo: ‘socheiro de sinks. Catlexinha!™ CARLOTINHA — Cuida no que tons que fazer, Pedro. Teu senor mio tarda, PEDRO — € ro cust! Meio-dia, hank vai possear na ua do Ovvdor no brago da mario. Chaeazino ag na mis Peitinbo estado. tuna arastndo a6! Assim, toga bonita Quebranda debaixo da edn, esa fnendo 10, x8, x8! Mogo, Tapa dept, tad aos do Desmarais noth" Qe patio!” O vio js "V.Ex? passa bem?” Eaguele Rome {jue serene Ho ora tran nota para meter nant no fle CARLOTINHA — Oh! meu Deus! Que moleque falador! Nio tecalaris? a) PEDRO — Quando € de tarde, carro na porta; parelha de ccavalos hraneos, fogesos; Pedto na boléia, drctinho,chapéu de Tado, #6 tenteando as xédess. Nhank entra; vestido toma o carro todo, corpo relinado embalangando: “Botafogo!” Pedro puxou fas ideas: chieote esalow; tat, 10; cavalo, 10, 1, te; e370 Url. Gente toda na janela perguntando: “Quem €? Quem 7" — 1D. Carltinba..” Bonito carro! Cocheiro bom, E Pedto s6 dei tando pocira nos olhos de boleeto de aluguel CCARLOTINHA — Ora, mano nso vem! Disse que vltavs jt PEDRO — De nite, baile de etrondo, como baile do St. Batio de Metts linha de carro na poria, até so fim da rua, e tore na fovtra; ministo, deputado, senador, homem do pago, so de fda bordada, com pio-de-rala no peito. Moga como formiga! Mas nina psa tudo; brlhantereluzindo na testa como fafa, leque anando, vestido cheio de renda. Tudo cafdo s6, com o olbo de Jncaré assim, E shana sem fazer cas, CARLOTINHA (Rindo.) — Onde & que tw aprendeste todas esas histrias, moleque? Ess adiantado! PEDRO — Pedro sae todo. Dai a pouco, mésica vom, vom, ‘om, eral, teraeta; sem ministro, toma bana para dangar Contrada; © nana 6 requebrando © corpo! (Arremeda a con tradanga,) (CARLOTINHA — On, senor! J4 se viu que eapetnha! CENA VIL (Os mesmes, Jonge JORGE — Mana Corlotinha, Hearqueta esté Ihe chamsndo para dizerleadeus, PEDRO — Sinha Henriqueta est af? CARLOTINHA — Ela f vai? JORGE — Ji est detando o chapéu, CARLOTINHA — F tho cedo ainda! PEDRO — Duos hors jf dew hé muito tempo em 8. Francisco de Paula, CARLOTINHA (A janela.) — Mano ni volar para jana PEDRO — Nio tarda a, nbannat JORGE (i meso.) — Othat Que pintura bonita, Pedro! PEDRO—Comecs, comece a remenet! Depos ea todo derre- tido, Foi moleqve! CARLOTINHA — Quando Eduardo voltsr, vai me chamar, cuviste, Pedro... Jorge, venha! JORGE — 38 you, Carlotinha! CCARLOTINHA.— Ni toque nos popes de Edward; ele no gost. CENA VIL Pedro, Jorge PEDRO (Querenda tomar 0 iro.) — Ande, ande, aonb; v8 1 para dentro! Dee o livro. JORGE — Se tu és capaz, vem tomar! PEDRO— Oni! £6 quer! JORGE — Poiseu to most PEDRO — Es erumado! Pero, moleque capoeira, mesmo da malts, conta com merino de colegio! Cia Es neste ete: pé no gueixo, testa na barrga JORGE —Espera; vou dizer a mame que tests te engragando comigo! PEDRO — Es6 o que sabe fazer; enredo da gente! Nhonhd no sé que é de brincadeira, Olhe este Tivo; tem pintura também: rulhor bonita mesmo! (Abre ovr) JORGE — Dei ver! Bravo!.. Que bela (Tizando wn papel) Que g isto? PEDRO — Um verso!..Oh! Pedro vai levar viva! JORGE — Que viva? PEDRO — Essa que mora gui adiante! JORGE — Para qué? PEDRO — Nhonkd mio sabe? Ela tom paixio forte por Sr. ogo Eduardo; quando vé ele passa, corasio faz t2e0, e9, taco! (Quer casar com dour JORGE — E mano vai casar com ela? PEDRO — Pois entio! Mas mio vf agora contar a too 0 mundo, JORGE — E ele gosta daguela mulher Go fein? Antes fosse ‘com D. Henriqueta, PEDRO — Menino nio entende dista! Sink Henriquets é ‘maga bonita mas € pobre! A vidva € rica, duzentos cons! Sr 'mogo casa com ela fica capitalist, com dinheto grosso! Compra ‘caro ¢ faz Pedro cocheiro... Leia 0 vers, nhoald. JORGE — Doixa-me; nao estou paraiso! PEDRO — Ah! Se Pedro soubesse ler (Sertando-se.) faeia como doutor, sentado na polrona, com 9 livro na mo e puxando ‘6a fumacinina do havana. Por falar em havana...(Ergue-se, val mesa e mete a mado na caixa dos charuto.) Com efeto! St. nog Eduardo esta famando muito! Uma caixa aberta ontem; neste jeito ‘acaba-me 08 charutes, JORGE — An! Tuestis tirando os eharutos de mano! PEDRO — Cale a boca, nhonhd Jorge! E para furar quando ‘és formos passear K na Glia de tarde JORGE — Amani? PEDRO — Sim. JORGE — Bu vou pedira mame PEDRO — Fspere, dite sobreserito neste verse, roX0, nos viva nio posta desta cor; verde, corde esperangat! JORGE — Toma! PEDRO — Pronto. Agora Peo chega li, deta na banquinha de costra, volta as cosas fazendo que nio vé! Ela, fogo! (Finge ‘que beija.) LE. E guards no seo, tal qual como se 0 Sr. mogo rmandasse. O pior & se vai erguntar, como outro dia, por gue Sr _mogo no vai visitar els; ev respondi que era para mo Gar que fal :mas viva no quer saber de nada; ests morrendo por tomar Banh a jreja para deixar vestigo preto! JORGE —Entiot evas verso ela sem mno mandar? PEDRO — Pedro sabe que fz! Agora ve se vai coma! JORGE — Eu no! Que me importa isto! CENA IX Piro, Alfredo ALFREDO — 0 Dr. Eduardo nfo est? PEDRO— No, senor; sis, Sr Alffedo! ALFREDO — Entio,jéentregaste? PEDRO — Hoje mesmo! ALFREDO — A resposta? PEDRO — Logo: & preciso dar tempo, V.me8 cuida que moga escreve a vapor! Pots mio: primeiro passa uin dia iteto # ler a «ara, depois out dia ela assim para oar com amndo no queixa, depois tem dor de cabega para dormir acordad: por fim vai esere vere rasga um eademno de papel ALFREDO — Parece-me que tu me estis enganando; no entregate a carta a D. Carlotnha, e para te deseulpae me contas estas histo, PEDRO — Nio sou capaz de enganar a meu senhor ALFREDO — Pois bem; 0 que disse ea quando reecbeu? PEDRO — Perguntou quem era Vime. ALFREDO — E tu, que respondesto? PEDRO — Ora jf se sabe: mogo rico bem parecido, ALFREDO — Quem te disse que ever ico? Nio quero passr pelo que nio sou. PEDRO — Nao tem nada; rqueza faz creser amor, ALFREDO — Tamém sabes isto?... Mas depois, que fez ela da carta? PEDRO — Deitou no bolso. Fui eu que deiteis mas € 0 mesmo. ALFREDO — Como? Foste tn que deitaste PEDRO— No bolso do vestido! Ela estava com vergonha. Sr. Alfredo nfo sabe moga como é, no? . ALPREDO — Ben; olha que espero a resposta! PEDRO — Dé tempo a0 tempo, que tudo se arranja CENAX (0s mesmos, Carlota CARLOTINHA (Fora) — Pedro! PEDRO (Puxando Aired pare a pore.) —E shanna! [ALFREDO — Nio far mal! PEDRO — Bate nego assim mio est bor, io! ALFREDO — Por que? CARLOTINHA— Moleque, ti siveste o atrevimento.Wendo Alfredo.) Ai! ALFREDO — Perdio, minha senhora procwrava o Dr. Edvard. CARLOTINHA — Ble sui. Eu vou chamar mame ALFREDO — Nio precisa, minha senhor, eu me retro; mas antes desejava ter a honra de. DRO (Baixo, pusando-the pela manga.) — NB assuste a Seno ests todo perio. [ALFREDO — E nif hei de fazer a declarago do meu amor? ‘PEDRO — Qual deglirago! 16 ni seu ALFREDO — Entojuleas que no deve falarthe? PEDRO — Nem uma palavra. Mosire-se arrufado, que € para responder Moga é come carapato, quanto maisa gente mache: mais ela se ALFREDO — Ah! Ela no quer responder-me! (Cirmprimenta ianene.) CARLOTINHA — Nio espera por mano? REDO — Obrigado: no deseo incomod CARLOTINHA — A mit CENA XI CARLOTINHA — Nem sequer me olhou! E diz que gosta de rim! A primeira vez que me fal PEDRO — 0 mogo est queimado, hi. (CARLOTINHA — Ora, que me importa? 0 que te disse ele? PEDRO — Perguntou por que nan no quesia responder 3 carta dele. CARLOTINHA — Ah! E sobve isto mesmo. Tu sabes 0 que vio fazer, Pedro? PEDRO (Rindo-se.) — Velo ver Sr. Alfredo! CARLOTINHA — Eu adivinhava que ele estava aqui. Vi te chamar porque mame quer te perguntar donde sai esta carta (que deiasie no meu bol. PEDRO — Nhanhi foi dizer?.. Pois no! Esta Petro nio ongole. CARLOTINHA — Chego na sala; vou meter a mao no bos, econo um papel; abro-o; € uma carta de namoro! Nao sei como ‘mame no percebeu! PEDRO — Ah! Nhanhi abriu! Eno lew, CARLOTINHA — Nao lit mentrat PEDRO (Com um merase.) — Mase anda voor: tocou no ‘mel, eau dentro do proto, Nhanba leu! CARLOTINHA — E que tinha que lesse? PEDRO — Se eu, deve responder! CARLOTINHA —Faz-tede engragado! (Dando a carta) Toms: rio quero! PEDRO — Nhan far isto» um mogo dlicado! CARLOTINHA — Saiv;¢ nem sequer me show PEDRO — Nao sibe porqué? Porque nharhi no quisresponder cara dele CARLOTINHA —E 0 que hei de eu responder? PEDRO — Um palavreado, como nani diz quando est no baile CARLOTINHA — Mins eleesereveu em verso. PEDRO — Ah, é verso! E Ve ato sabe fazer verso? CARLOTINHA — Fu no; nunca aprendi, PEDRO — E muito Fle, cu ensino a ahanha; vejo Sr. mogo ‘Eduardo fazer. Quando 6 esta coisa que se cama pros, escreve-se ‘© papel todo; quando é verso, &s6 no meio, aquelas carceirinhas. (Wai a mesa.) Othe! ole, shan! CARLOTINHA — Sales que mais? A resposta que eu tenho de ar & esta: dize-the que, se deseja casarcomigo, fale a mano. PEDRO — Ora, tudo ests em recebor a primeira: depos ¢ carta para Me carta para ef: a gente anda como correo de minisro. CARLOTINHA — Eu te mostrar CENA XIL Pedro, Eduardo & Azevedo EDUARDO — Onde vai? PEDRO — Is abrir porta a meu senhor! EDUARDO (Para a escada) — Enira, Azevedo! Eis aqui 0 mew aposento de rapazsoltero; uma sae uma alcova. E pequeno, prem bastame! AZEVEDO — & win excelente appartememt! Magnifico para tum gargon., Este € teu vale de chambre? EDUARDO —E verdade: um vadio de conta! PEDRO (A Azevedo, em meia vor) — H6... Senor esti des- ‘compondo Pedro na lingua francesa. EDUARDO — Deste lado 6 0 interior da cass; aqui tenho {janes param pequeno jardim e uma bela vista. Vivo completa- ‘mente independente ds familia, Tenho esta entrada separada. Por isso podes vir eonversir quando quiseres, sem a menor ceriménia: cstaremos em perfeita iberdade escolistca AZEVEDO — Obrigado, hei paisagens signées Lacroix? Mas nit so legtimas; vi ‘chez Goupilfazem uma diferenga enorme. fe parecer, Ah! tens as twas om Paris EDUARDO — Nio hé ddvida; mas no as comprei pelo nome, achei-as bonitas. Queresfumar? AZEVEDO — Aceito, Esqueci 0 mev porte-cigarres. S30 cexeclentes os tes charutos. Onde os compas? No Desmarais? EDUARDO — Onde os enconito melhores. (Pedro acende sma vela) ; PEDRO (Baixo) — Raps muito desfravel, Sr. mogot Parece cabeleieio da Rua do Ouvior’ EDUARDO — Cala-te! AZEVEDO (Acende 0 charito}) — Obrigado. Bis 0 que se cama em Paris — parfumer la causere! CENA xm Fuvardo, Azevedo EDUARDO — Com que ento, vas te ear? Ora quem ciria que aquele Azevedo, que 0 cones to vollvel, Lo apologista do celibato.. AZEVEDO —E ainda sou, mew amigo; dou-te de conselho que ro te cases. O celibato &0 verdadero estado. Lembracte que Cristo foi garcon! EDUARDO — Sim; mas as was teorias nose conformam com cexse exemplo de sublime castidade! vai da AZEVEDO — Considera, meu caro, a diferenga que Aivindade a0 bomen. EDUARDO — Mas enfim, sempre te resolveste a casa? AZEVEDO — Certas aztes! EDUARDO — Uma paixio? AZEVEDO — Qual! Sees que su incapar de amar oquer que seja, Algum tempo quis convencer-me que © meu et amava a minha Bete, que era ogotsa, mas desenganeime, Fago tio poveo «380 de mim, como do resto da raga humana EDUARDO — Assim, ndo amas a wa noiva? AZEVEDO — No, de ext. EDUARDO —E rica tale; casas por conveniéncias? AZEVEDU— Uni, meu amy, vill Muy ve Mim si, Yue tem, como eu, uma fortuna independents, nio precisa tentat ‘chasse au mariage. Com wezentos cons poderse vive EDUARDO—E viverbilhantemente; porém, no compreend entio.o motivo. AZEVEDO — Es te digo! Estou completamente Blasé, estou _gasto para essa vida de flaneur dos sles; Paris me saci. Mabille fe Chiteau des Fleurs embriagaram-me tntas vezes de prazer gue te deisaran insensfvel. O amor hoje € pata mim um copo de Cligeo: que espuma no célice, mas jé no me wolda o esprito! EDUARDO Eeesperaste chegar a este esta para te casares? AZEVEDO — Justamente. Tito disso duas conveniéncias: a primeira €que um marido como euesté preparado para desempenhae perfeitamenteo seu grave papel de cartegador do mantelete, do leque ‘ou do binScul, e de apresentador dos apaixonados de susmulber EDUARDO — Com efeito! Admiro 0 singue fro com que desereves a perspectiva do teu easamento AZEVEDO — Chacin son tur, Eduardo, nada mais justo. A segunda conveniéncs, ea principal, & que, reo, independent, com alguna inteligércia, quanto basta para espendigarem uma conversa baal, resolv entrar na careea publica, EDUARDO Seriamente? AZEVEDO — 14 dei os primeiros pascs; pretendoadiplomacia (08 administragao. EDUARDO — E para isso precisa casar? AZEVEDO — De cero... Una mulher € indispensivel,¢ uma mulher bonita! E 0 meio pelo.qual um homem se distingue no grand monde... Um circulo de adoradores cereaimediatanente 3 Senhora eleganie,espirtuosa, que fez sua aparigio nus sales de tums maneira deslumbrante! Os elogios, 2 admiragio, « consi= erage social acompaniario na sua ascensto ese ato luminoso, ‘ea cauda & uma crinlina, cujo brilho vem da essa do Vals 0» tia Bera, 4 custa de alguns cons de ris! Ora, como no mats fmnio existe » comunho de corpo e de bens, 0: spaixondos da ther tomam-se amigos do marido, e viee-verse; 0 wiunfo que tem a beleza de uma, langa um eflexo sobre a posigao do outro. E assim eonsegue-se to! UARDO — Tu gracejas, Azevedo; no é possfvel que um hhomem aceite dignamente esse popel. A mulher no é, nem deve ‘er, um objeto de osteniagio que se traga como um afinere de brihante ow uma ja qualquer para chamaraatenso! AZEVEDO — Bravo! Fizeste mais jusia das comparagdes, meu amigo! Disseste com muito esprite, a muler€ wma ja, um taste de lixo.. Enada mais! EDUARDO — Ora, no acredito que fales seriamente! AZEVEDO — Podes ni sereditar, mas iss0 no impede que a realidade seja essa, Estés ainda muito poet, mea Eduardo! Vai a Parise volta Eu fui crianga no espstoe vote} coma rao de um velho de oitenia anos! EDUARDO — Mas com o coragto pervertidol... Ouve, ‘Arevedo. Estou convencido que hi um grande eiro na maneira de iver atualmente. A sociedade, isto é, 9 vida exterior, tem se Uesenvolvido tanto que ameaga desu a fami, isto & a vida fiima. A mulher, © maida, 8 filhos, es irmilos, atiramrse nesse turbilhao dos prazeres, passam dos bailes aos teatro, dos janares ‘as patidas e quando, nas horas de repouso, se einem no interior td suas casas, sho como esrangeiros que seencontram un momento Sob a tolda do mesmo mavio para se separarem logo. NGo hi alia doce efusio dos sentimentos, nem o Bemestar do homem que ‘respira nua atmosfera pura e suave, © serao da fafa desapaeceu;, ‘do apenas alguns parentes quo se juntam por habito,e que trazem pra a vida doméstia, am @ dio dos prazeres, 0 outro as recor Hiagnes da noite antecedents, © ous o aborrecimento das vigtas! AZEVEDO —E que conelvis desta iadaHlossfico sentimental? [EDUARDO — Concuo que € por is ques encom hae amor aos us como nse mgs pra gem cade consists em uma quadrilly tan{os maridos que cortem atts de fama sombra ehamada eonsideraglo;e tantos pais iludkdos que se ruinam para satistazer 0 capricho de suas filhosjulgando que & fesse 0 me de da-Ihes ventura! [AZEVEDO — Realmente estésexcentreo. Onde € que apr deste estas torins? EDUARDO — No expesigncia, Também fui atrido,tambsm fui levado pela imaginagi que me dourava esses prareres efémeros, nei que s6 havia mele de fel ums cosa AZEVEDO — O qué? EDUARDO — Umma ligdo; uma boa stil igo Ensinaran-me estimar agile que on antes fi sabia aprciar.fizram-me yotat 40 seio da fami, vida iim AZEVEDO — His do muda. (Toma o chapeéw € a3 lara.) EDUARDO —Nbo creio!. te vais? AZEVEDO — Tenbo que fazer. Alguniss magades de homem que se despode de sua vida de gargon_ Tanto hoje com minha noiva; Siank pato para minha fazenda, onde me demorare alguns dias, fa volta lerto prazer dete anuneiar, com wodas as formaidades llvestlo, emearion porceine oh o competent enveloppesatinge ft dorée sur tranche, 0 meu easamento, com a Sra, D, Henrigueta te Vasconcelos EDUARDO — Henriquetat.. An! com cla que te casas? AZEVEDO — Sim. De que teadmiras? EDUARDO — Julguei que escolhesses melhor! E ti pobre! AZEVEDO — Mas 6 bonita e ten muito esprit, HA de fazer furor quando'a Gudin aetéla parisien, EDUARDO —Dizem que é muito modest AZEVEDO — Toda a mulher € vaidoso, Eduardo; a modéstia mesmo € uma expécie de vaidade inventada pel pobreza para seu uso exclusive. EDUARDO — Assim, esti decide? AZEVEDO — Mis que decidide! Estov noivo ja. Adews, spatece: andas muito 7. CENA XIV Bardo, Pedro PEDRO — 0 jantaresté na mesa. EDUARDO — Nio me maces! Vaie embora PEDRO — Sr. nto vem, entio? EDUARDO — Chegaagui Tu sabias que D. Henriquetaestava para casa? PEDRO — Sabia, sim, seahor:rpariga dela me contou. EDUARDO —E por que no viest dizer-me? PEDRO — Porque Vineé me deu ordem que nfo falase mais no nome dela EDUARDO —E verdad CENA XV 0 mesmos, Carlota CARLOTINHA — Demorou-se muito, mano, Eu the esperet Agora vamnos jatar PEDRO — Sr. mago esté triste porque sink Henriqueta vai EDUARDO — Moleque! ‘CARLOTINHA —Voc® sabia? Era dela mesmo que eu queria falarlbe. EDUARDO — Sabia: 0 seu noive acaba de sairdagu CARLOTINHA — Um Azevedo, no €? EDUARDO — Sim, um homem que, além de no amé-la, ceptima-a tanto como as suas boas enverizadas eos seus cavalos {do Cabo! (CARLOTINHA — Mas vod io sabe a raz dessecasamenio? EDUARDO — Sci, Carlotinha. Um amor pobre possuitesouros de sentiment, mas no € moeda com que se compren veludos e sedas! CARLOTINHA — Ob! Mano, no Set injusto! Bla me contou ude! EDUARDO — Desejava saber o que disse CARLOTINHA — Logo depois de janta, no jardin, Vena, mame est nos osperande. o ATOM Em casa de Eduardo. Jardim. CENAT Eduardo, Carlota, D. Maria EDUARDO — Lembra-te da que me prometete? CCARLOTINHA — Falarihe de Henriques. Lembro-me EDUARDO — Que te dss la? CARLOTINHA — Multa coisat Mamie no nos owirs? EDUARDO — Nio; podes falar. Estou impaetente! CARLOTINHA — Af vem eat D. MARIA — Or, Carlotnhs, 1 com a6 tins flores tens tomado de tal maneira 6s camtiros que ja no posso plantar ua hort, CARLOTINHA — Porém, mane... G0 bonito a gente ter vn flr, uma rosa para oferecera ume amiga gue nos vem visita! D. MARIA —E verdade, mina filha: mas not lems gue temibém gests de darthes uma fra delicads.. Assim os mes mmoranges esto morenda, porque a tas Moletan 0 dein CARLOTINHA — Ea flor da minha paindo! As violets! Que perfume! | | | | D. MARIA — Eos mets morangos, qué sabor! No tenho mais, um pé de alface ov de chisia EDUARDO — Nto se agonie, mina mie, eu mandrel fazer uma pequena divisto no quintal, Dest lado Carloinha ters 0 seu Jardim; do outro Vinc# mandaré prepara a sua hora, D. MARIA — Estimo muito, meu filho! E por voods que eu tong este batho. EDUARDO — E nds no 0 sahemos? Todo 0 nosso amor no pga esses paquenos cuidados, essas atengdes deicadas de ume ime que s8 vive para seus filbos. D. MARIA — 0 dni amor que nfo pede compensa, Ears, ‘60 amor de mic; mas se eva desejsse; que melhor podia ter do ‘que 0 orgutho de ver-te em ums bonits posicio, admirado pelos teus amigos e estimado mesmo pelos que nfo teconecem? CARLOTINHA — Nio o deite a perder, mamie; depois fica todo cheio desi! EDUARDO— Poe er ua ims como no €? ‘CARLOTINHA — Nose trata demi D. MARIA — Voces ficam? A tarde est bastante fresea! EDUARDO — 14 vamos, minha mle CENA Eduardo, Cerotiahs CARLOTINHA — Ora efit Podemos conversa, mano! EDUARDO — Sim! Escouansioso por saber o que ca eis? (Com que fim veio verte! Natralmemte foi para dat-me mais ua prove de indiferenea, panicipando-eo seu easarento! CARLOTINHA — Foi para vé-o uma éitima vee! Ah! Voo® rif se lembre, eno, do que se passou! Fala de inaiferenga? E-ela {que se queixa da sua friezs, do seu desdém! EDUARDO — Fla queita-se..E de mim?...Estava zombando? CARLOTINHA —Zomba-se com as ligrimas nos clos € cart 4 Vor cotada pelos solugos? EDUARDO — Que dizes? Ela chorava? CARLOTINHA — Sobre o meu seio;¢ ev nfo sabia como a consolasse. EDUARDO — Nao compreendo! (CARLOTINHA — Por qué? EDUARDO —Eu te direi depois. Contasme o que elate disse. CARLOTINHA — Foi santa coisa. Sim; dissé'me que todos ‘os dias Ihe via d casa dela, de manba e 3 tarde, na janela do seu quart. EDUARDO —E verdade. CARLOTINHA — Mas que uma tare, vindo aqui, mano no the dew uma pala, EDUARDO —E a razio disto nto declarou? CARLOTINHA — Ela ignora! EDUARDO — Como?! CARLOTINHA —Procuros reordar-sedas suas menores ages para verse podria ver dado causa sua mucanga: endo schow nada ‘que devesse servic nem mesmo de pretext. EDUARDO — Com clita! O finglmento chegas ese poato!* © CARLOTINHA —E injusto, mano; aquele amor aio se tinge. (Quando ela me reitou os verss que voce Ihe mandou.. EDUARDO — Bu. veros? CARLOTINHA — Sim; uns versos em que @ chamava de rnamoradeira,em que ardiculrizav. EDUARDO — Mas nto hi ta, nunca Ihe mandei versos! CARLOTINHA — Ela os eoebeu de Pedto; eu os vi, esertos por sa leva, EDUARDO — Nip possvel! CARLOTINHA — Hi nistoalgum eagano, Deixe-me seabsr, depois ver EDUARDO— Bute escuto, CARLOTINHA — Os sous vertos EDUARDO — Mes no CARLOTINHA — Pois bom, 0s versos eausaram-the uma dor ‘mortal; conheceu que o mano escarnecia dele desde entao passava fb noites a chora, eo dia aolhar ene as cortnas para a0 menos ter ‘oconsolo do avisté-lo de longe ede relance. Mas vocE conservava fechada a dnia janela na qua cla podia v-lo, EDUARDO — Nao sabes por qué? Um dia mandousne dee por Pedro que a minha curisidade a incomodava. Desde entto privei-me do prazer de olhi-ta. CARLOTINHA —E inexplicavelt.. Mas como Ihe dizi, pass ram-se dois meses; ela perdeu esperanca: seu pai tou de casi- la. Desde que ndo podia The pertence, pouco the importava 0 hhomem a quem a destinavam. Consent em tudo, mas antes de dar 4 sua promessa definitiva, duis vé-o pela dima vez... EDUARDO — Para qué? CARLOTINHA — Para qué?...O noivo foi hoje jatar em sua casa; as tes horas devia deeidir-se tudo... Pois bem, antes de ‘dizer sim, ela veio e jrou-me, por sua mae, que se encontasse mano em casa, se mina a olhasse dacemento, sem squele olhat severo de outrora.. EDUARDO — Que fara? CARLOTINHA — Nao se easuria e viveria com essa nica cesperanga de que um dia mane compreenderiao sev amer! EDUARDO — Assim, como no me encontto.. CARLOTINHA — Como voeS no quis vé-a EDUARDO — Eu no quis? verdade! CARLOTINHA — Quando o chamei, ela nos esperava toda wémula, EDUARDO — Podia ev saber? Podia conceber semethante cous. vista do que se passou! (Refleindo.) Nio: no aredio, CARLOTINHA — 0 que? EDUARDO — Que Pedro tena maguinado semethante cois, CARLOTINHA —E eu seredito. EDUARDO — Vou saber disto! Porém, dize-me! Depois? CARLOTINHA — Vocé sau. Bu esperei muito tempo no seu {quarto para verse vole, Tardou ano, ge por fim vie obvigada 4 desenganila EDUARDO — Endo, ea votou CARLOTINHA — Com o coracio patio. EDUARDO — E foi dar esse consentimento, que sex pai cesperava,& est hora &noivade um homem que faz dela um objeto ‘de especulagse.(Passeia.) CENA IIT (Os mesmos, Pedro PEDRO— sini velba es chamsindo shan Calta nasal, CARLOTINHA — Para qué? PEDRO — Para ver moleque e reslejo que estépassando. (A ‘meia vo.) Menta 56! CARLOTINNA — O gut? PEDRO — Boneco de realejo que est dangando! ‘CARLOTINHA — Ora, a estou para iss. PEDRO — Un. Menina et einsndo, Nhanhi no val? CARLOTINHA — Que te importa? Chega agui, quero saber PEDRO — Quo é. akan? CARLOTINHA — Mano, vamos perguntar Ihe? EDUARDO — Deia esta, ev pergunto! (Afasta-ce com ela) Bscut, queria pedi-te um favor. ‘CARLOTINHA — Fale, mano; precisa pedir? EDUARDO—Desejo falar Henriqueta, Podes fazer com que la vena pasar a noite contigo” CARLOTINHA — Vou esérever he! Estou quase eerta de que cla vem! EDUARDO — Obrigado! cENAIY Eduardo, Pesto EDUARDO — Vem est PEDRO — Senor! EDUARDO — Responde-me s verdade PEDRO — Pedro no mente aonea EDUARDO — Que versos so uns que entregasie a D. Henrigueta, de minha parte? PEDRO — Foram versos que senhor esereveu, EDUARDO — Que eu eseevi? PEDRO — Sin, senor EDUARDO — A Henriqueta? PEDRO — Nio, seahor EDUARDO — A quem, entio? PEDRO—A PEDRO — Essa que mora aqui adiante: mulher ric, do grande ‘om. EDUARDO (Rindo.) — Ah! Lembro-me! E tu levaste esses versos Henriqueta? PEDRO — Levei, sim, senor. EDUARDO — Com que fim, Peto? PEDRO — Si. nose zanga, Pedro dz por qu fe isso EDUARDO — Fala logo de uma vez. Que remédio tenho eu sento rime do que me sucede? PEDRO — Sind Henrqueta & pobre; pai anda muito por ‘bso; senhor easando com els no aranja nada! Moga gasta mut: todo o dia vestdo novo, camaroteno teatro para ver aguels mulher {que morre cantando, eato de sluguel na port, val passear na Rua {do Ouvidor, quer compra tudo que v8. EDUARDO — Ora, no sabia que tin um moralista desta forga em easa! PEDRO— Depois modista, costurera, homem da loja,cabele- reiro,cambisa, eocheir, ourives, tudo mandando a conta e senor ‘vera “Diz que nio estou em casa", como faz quele homem gue ‘ora defronte! EDUARDO — Entio fo para que eu nio casasse pobre que fizeste tudo isto? Que inventaste@ recado que me deste em nome de Henriquta?. 3 PEDRO — Podro tinha arranjado easamento hom: viva rie, ‘duzenios cones, quatro earos, das pares, sala com apete, Mas senhorestava enfeitigado por sinh Henriguetae nao queria saber

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