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DA ARTE DE REPRESENTAR (1728)

(extrado de Esthtique Thtrale, M. BORIE e outros, SEDES, Paris,


1982)

Louis RICCOBONI

Escute-me eu te ensinarei uma Doutrina que, ainda que ela no seja


aquela de Plato, divina e te convir.
Na arte da Representao, a primeira das regras acreditar que tu
ests s em meio de mil pessoas
E que o Ator que fala contigo o nico que te v, e que somente ele
deve entender a verdade de tuas palavras.
Quando qualquer pobre diabo interpreta um Prncipe, como um
Prncipe que tu deves trat-lo, mesmo que ele seja um aougueiro;
Dispe-te ento a escut-lo como se tudo ignorasse suas palavras e
acompanha-o em seus pensamentos.
(...)
E agora ns chegamos a este velho conto de comadre (eu acredito te
escutar dizer com nimo) de tua inacreditvel Escola.
Sem os olhos, tua palavra est morta; sem os olhos, teu silncio nulo;
sem os olhos, o cego caminha perdido.
A este dogma do princpio original soma ento a tarefa de ter cem
olhos bem desenhados, conforme a Natureza de cem paixes;
E quando eles tero sido experimentados, com ajuda do espelho e
deles mesmos, tu vers ento mais de mil espectadores aderirem de vez.
Sem procurar o arteso, tu o encontrars em ti no menor desejo se
consultares sempre teu prprio corao.
Ressente o medo e teu olho abatido o expressar; uma grande raiva,
teu olho ficar em chamas.
A Vergonha dar o horror e a Ironia uma Alegria corrompida, que eu
desafio um pintor a reproduzir.
O Amor uma doura inegvel, a Preocupao uma tristeza sem dor, a
Indiferena um no sei o qu inexplicvel;
E aquilo que tu te desgostas ou aquilo que no desejas, a alegria e a
dor, se tu os ressentes, eles ultrapassaro o patamar de teu olhar.
Pela segunda vez, tu me provocas e me fazes repetir aquilo que eu
dissera anteriormente.
Eu te deixo, de agora em diante, como Regra Geral.

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