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Ernani Pimentel • Rodrigo Regazonni • Saulo Fontana • Raquel Mendes de Sá
Ferreira • Fabrício Sarmanho • Eduardo Muniz Machado Cavalcanti • Gladson
Miranda • Edgard Antônio Lemos Alves • Welma Maia

PREPARATÓRIA

conhecimentos
gerais e
específicos

Língua Portuguesa • Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural,


Política e Econômica do Estado de Goiás • Noções de Direito Penal • Noções de
Direito Constitucional • Noções de Direito Processual Penal • Noções de Direito
Administrativo • Noções de Direito Penal Militar • Legislação Extravagante

“O que é uma apostila preparatória? É uma apostila elaborada antes da


publicação do edital, com base nos concursos anteriores, ou no último edital,
para permitir ao aluno antecipar seus estudos. Comece agora a se preparar”.

2016
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da obra, bem como às suas características gráficas.

Título da obra: Polícia Militar do Estado de Goiás – PMGO (Preparatória)


Soldado
Conhecimentos Gerais e Específicos – Nível Superior
(AP484)

(Baseada no edital nº 1, de 17/10/2012 – UEG)

Língua Portuguesa • Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e


Econômica do Estado de Goiás • Noções de Direito Penal • Noções de Direito Constitucional
Noções de Direito Processual Penal • Noções de Direito Administrativo
Noções de Direito Penal Militar • Legislação Extravagante

Autores:
Ernani Pimentel • Rodrigo Regazonni • Saulo Fontana • Raquel Mendes de Sá Ferreira
Fabrício Sarmanho • Eduardo Muniz Machado Cavalcanti • Gladson Miranda
Edgard Antônio Lemos Alves • Welma Maia

GESTÃO DE CONTEÚDOS
Welma Maia

PRODUÇÃO EDITORIAL
Dinalva Fernandes

revisão
Dinalva Fernandes
Érida Cassiano

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Marcos Aurélio Pereira

CAPA
Lucas Fuschino

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PMGO

SUMÁRIO

Língua Portuguesa

Linguagem:
como instrumento de ação e interação presente em todas as atividades humanas.......................................................... 3
funções da linguagem na comunicação.............................................................................................................................. 8
diversidade linguística (língua padrão, língua não padrão)................................................................................................. 7

Leitura:
capacidade de compreensão e interpretação do contexto social, econômico e cultural (leitura de mundo)....................3

Texto:
os diversos textos que se apresentam no cotidiano, escritos nas mais diferentes linguagens verbais e não verbais ........6

Estrutura textual:
organização e hierarquia das ideias: ideia principal e ideias secundárias........................................................................... 5
relações lógicas e formais entre elementos do texto: a coerência e a coesão textual......................................................10
defesa do ponto de vista: a argumentação e a intencionalidade...................................................................................... 14
elementos da narrativa....................................................................................................................................................... 8
discurso direto; discurso indireto e indireto livre................................................................................................................ 8
semântica: o significado das palavras e das sentenças..................................................................................................... 10
linguagem denotativa e conotativa................................................................................................................................... 10
sinonímia, antonímia e polissemia.................................................................................................................................... 10
LÍNGUA PORTUGUESA
Ernani Pimentel

LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE d) Tanto o PROÁGUA/Semiárido como o PROÁGUA/


AÇÃO E INTERAÇÃO PRESENTE EM TODAS Nacional promovem o uso racional dos recursos
hídricos.
AS ATIVIDADES HUMANAS e) A implantação de infraestruturas hídricas viáveis do
ponto de vista técnico, financeiro, econômico, am-
As relações de comunicação entre os seres humanos cor- biental e social é exclusiva do PROÁGUA/Nacional.
respondem a uma troca de visões de mundo. Essas visões são
individuais e se encontram no cérebro de cada indivíduo. Para Gabarito
que ele as transmita a outrem, é necessário que utilize um
tipo de linguagem, quer verbal (uso de palavras, faladas ou d
escritas), quer não verbal (mímica, música, dança, escultura,
desenho, pintura...).
Interpretação
CAPACIDADE DE COMPREENSÃO E Interpretação significa dedução, inferência, conclusão,
INTERPRETAÇÃO DO CONTEXO SOCIAL, ilação. As questões de interpretação não querem saber o
ECONÔMICO, CULTURAL (LEITURA DE que está escrito, mas o que se pode inferir, ou concluir, ou
MUNDO) deduzir do que está escrito.

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS Comandos para Questão de Interpretação


Da leitura do texto, infere-se que...
Textum, em latim, particípio do verbo tecer, significa O texto permite deduzir que...
tecido. Dessa palavra originou-se textus, que gerou, em Da fala do articulista pode-se concluir que...
português, “texto”. Portanto, está-se falando de “tecido” de Depreende-se do texto que...
frases, orações, períodos, parágrafos... Uma “tessitura” de Qual a intenção do narrador quando afirma que...
ideias, de argumentos, de fatos, de relatos... Pode-se extrair das ideias e informações do texto que...
Intelecção (ou Compreensão) Questão
Intelecção significa entendimento, compreensão. Os 1. Observe a tirinha a seguir, da cartunista Rose Araújo:
testes de intelecção exigem do candidato uma postura muito
voltada para o que realmente está escrito.

Comandos para Questão de Compreensão


O narrador do texto diz que...
O texto informa que...
Segundo o texto, é correto ou errado dizer que...
De acordo com as ideias do texto...

Questão (www.fotolog.com/rosearaujocartum)

1. Assinale a opção correta em relação ao texto. Infere-se que o humor da tirinha se constrói:
a) pois a imagem resgata o valor original do radical que
O Programa Nacional de Desenvolvimento dos Recur- compõe a gíria bombar.
sos Hídricos – PROÁGUA Nacional é um programa do b) pois o vocábulo bombar foi dito equivocadamente
Governo Brasileiro financiado pelo Banco Mundial. O no sentido de “bombear”.
Programa originou-se da exitosa experiência do PRO- c) pois reflete o problema da educação no país, em
5
ÁGUA / Semiárido e mantém sua missão estruturante, que os alunos só se comunicam por gírias, como é
com ênfase no fortalecimento institucional de todos os o caso de fessor.
atores envolvidos com a ges­tão dos recursos hídricos d) porque a forma fessor é uma tentativa de incluir na
no Brasil e na implantação de infraestruturas hídricas norma culta o regionalismo fessô.
viáveis do ponto de vista técnico, financeiro, econômico, e) porque o vocábulo bombar não está dicionarizado.
10
ambiental e social, promovendo, assim, o uso racional
dos recursos hídricos. Gabarito
Língua Portuguesa

(http://proagua.ana.gov.br/proagua)
a
a) O PROÁGUA / Semiárido é um dos subprojetos de-
rivados do PROÁGUA/Nacional. Preste, portanto, atenção aos comandos para não errar.
b) A expressão “sua missão estruturante” (l. 5) refere- Se o texto diz que o rapaz está cabisbaixo, você não pode
-se a “Banco Mundial” (l. 3). “deduzir”, ou “inferir”, que ele está de cabeça baixa, porque
c) A ênfase no fortalecimento institucional de todos os isso já está dito no texto. Mas você pode interpretar ou con-
atores envolvidos com a gestão de recursos hídricos cluir que, por exemplo, ele esteja preo­cupado, ou tímido, em
é exclusiva do PROÁGUA/Semiárido. função de estar de cabeça baixa.

3
Comandos para Medir Conhecimentos Gerais Comandos para Medir Conhecimentos
Linguísticos
Tendo o texto como referência inicial...
Considerando a amplitude do tema abordado no texto... Considerando as estruturas linguísticas do texto, julgue
Enfocando o assunto abordado no texto... os itens.
Assinale a alternativa que apresenta erro gramatical.
Nesses casos, o examinador não se apega ao ponto de Aponte do texto a construção que não foge aos preceitos
vista do texto em relação ao assunto, mas quer testar o da norma culta.
conhecimento do candidato a respeito daquela matéria.
Aqui a questão pretende medir o conhecimento grama-
Questões tical do candidato e pode abordar assuntos de morfologia,
sintaxe, semântica, estilística, coesão e coerência...
Texto para os itens de 1 a 11.
Questões
Os oceanos ocupam 70% da superfície da Terra,
mas até hoje se sabe muito pouco sobre a vida em suas Considerando as estruturas linguísticas do texto, julgue os
regiões mais recônditas. Segundo estimativas de ocea- itens seguintes.
nógrafos, há ainda 2 milhões de espécies desconhecidas 6. No trecho “até hoje se sabe” (l.2), o elemento linguís-
5
nas profundezas dos mares. Por ironia, as notícias mais tico “se” tem valor condicional.
frequentes produzidas pelas pesquisas científicas relatam
não a descoberta de novos seres ou fronteiras marinhas, 7. O trecho “muito pouco sobre a vida em suas regiões
mas a alarmante escalada das agressões impingidas mais recônditas” (ls.2-3) é complemento da forma
aos oceanos pela ação humana. Um estudo recente do verbal “sabe” (l.2).
10
Greenpeace mostra que a concentração de material
plástico nas águas atingiu níveis inéditos na história. Se- 8. A palavra “recônditas” (l.3) pode, sem prejuízo para
gundo o Programa Ambiental das Nações Unidas, existem a informação original do período, ser substituída por
46.000 fragmentos de plástico em cada 2,5 quilômetros profundas.
quadrados da superfície dos oceanos. Isso significa que
15
a substância já responde por 70% da poluição marinha 9. O termo “mas” (l.8) corresponde a qualquer um dos
por resíduos sólidos. seguintes: todavia, entretanto, no entanto, conquanto.
Veja, 5/3/2008, p. 93 (com adaptações).
10. Na linha 9, a presença de preposição em “aos oceanos”
Tendo o texto acima como referência inicial e considerando a justifica-se pela regência do termo “impingidas”.
amplitude do tema por ele abordado, julgue os itens de 1 a 5.
11. O termo “a substância” (l.15) refere-se ao antecedente
1. Ao citar o Greenpeace, o texto faz menção a uma das “plástico” (l.11).
mais conhecidas organizações não governamentais
cuja atuação, em escala mundial, está concentrada na Gabarito
melhoria das condições de vida das populações mais
pobres do planeta, abrindo-lhes frentes de trabalho no Itens 6, 7 e 9 errados; itens 8, 10 e 11 certos.
setor secundário da economia.

2. Por se decompor muito lentamente, o plástico pas- Erros Comuns de Leitura


sa a ser visto como um dos principais responsáveis
pela degradação ambiental, razão pela qual cresce o Extrapolação ou ampliação
movimento de conscientização das pessoas para que A questão abrange mais do que o texto diz.
reduzam o consumo desse material. O texto disse: Os alunos do Colégio Metropolitano es-
tavam felizes.
3. Considerando o extraordinário desenvolvimento cien- A questão diz: Os alunos estavam felizes.
tífico que caracteriza a civilização contemporânea, é Explicação: o significado de “alunos” é muito mais amplo
correto afirmar que, na atualidade, pouco ou quase que o de “alunos de um único colégio”.
nada da natureza resta para ser desvendado.
Redução ou limitação
4. A exploração científica da Antártida, que enfrenta enor- A questão reduz a amplitude do que diz o texto.
mes dificuldades naturais próprias da região, envolve O texto disse: Muitos se predispuseram a participar do
a participação cooperativa de vários países, mas os jogo.
elevados custos do empreendimento impedem que A questão diz: Alguns se predispuseram a participar do
representantes sul-americanos atuem no projeto. jogo.
Explicação: o sentido da palavra “alguns” é mais limitado
Língua Portuguesa

5. Infere-se do texto que a Organização das Nações Unidas que o de “muitos”.


(ONU) amplia consideravelmente seu campo de atuação e,
sem deixar de lado as questões cruciais da paz e da segurança Contradição
internacional, também se volta para temas que envolvem A questão diz o contrário do que diz o texto.
o cotidiano das sociedades, como o meio ambiente. O texto disse: Maria é educada porque é inteligente.
A questão diz: Maria é inteligente porque é educada.
Gabarito Explicação: no texto, “inteligente” justifica “educada”; na
questão se inverteu a ordem e “educada” é que justifica
Itens 1, 3 e 4 errados; itens 2 e 5 certos. “inteligente”.

4
Desvio ou Deturpação 5. Certo Por quê? Essa inferência (dedução) nasce da in-
O texto disse: A contratação da funcionária pode ser formação de que “foram raros os maestros que,
considerada competente. nas décadas que se seguiram à sua morte, se
A questão diz: A funcionária contratada pode ser consi- empenharam na apresentação de suas obras.”
derada competente. 6. Errado Por quê? Primeiro, o texto não abrange as-
Explicação: no texto, “competente” refere-se a “contra- sunto nacional, mas internacional. Segundo,
tação” e não a “funcionária”. não se pode deduzir que haja unanimidade,
mas uma boa ou grande aceitação.
Leia o Texto
7. Certo
Em vida, Gustav Mahler (1860-1911), tanto por sua per- 8. Certo
sonalidade artística como por sua obra, foi alvo de intensas 9. Certo
polêmicas – e de desprezo por boa parte da crítica. A incom- 10. Certo
preensão estética e o preconceito antissemita também o 11. Certo Por quê? Conforme o texto, tais críticos,
acompanhariam postumamente e foram raros os maestros além de não compreenderem o lado estético
que, nas décadas que se seguiram à sua morte, se empe- do artista, incorreram em preconceito.
nharam na apresentação de suas obras. [...]

Julgue os itens a seguir. ORGANIZAÇÃO E HIERARQUIA DAS IDEIAS:


1. Deduz-se do texto que Gustav Mahler foi alvo de inten- IDEIA PRINCIPAL E IDEIAS SECUNDÁRIAS
sas polêmicas.
2. Deduz-se do texto que o personagem central (Mahler) Em vida, Gustav Mahler (1860-1911), tanto por sua per-
foi um compositor. sonalidade artística como por sua obra, foi alvo de intensas
3. Deduz-se do texto que o personagem central (Mahler) polêmicas – e de desprezo por boa parte da crítica. A incom-
era de origem judaica. preensão estética e o preconceito antissemita também o
4. Pode-se deduzir do texto que o personagem central acompanhariam postumamente e foram raros os maestros
(Mahler) foi um compositor de músicas eruditas. que, nas décadas que se seguiram à sua morte, se empenha-
5. Pode-se inferir do texto que só depois de se terem ram na apresentação de suas obras.
passado algumas ou várias décadas desde sua morte
é que Mahler acabou por ser admirado artisticamente
Julgue os itens.
e deixou de ter sua obra segregada.
6. Pode-se inferir do texto que hoje a avaliação positiva da 12. O parágrafo lido constitui-se de dois períodos, residindo
obra de Mahler constitui uma unanimidade nacional. a ideia principal no segundo.
7. Intelecção, ou entendimento do texto é a captação 13. A ideia principal está contida no primeiro período,
objetiva das informações que o texto traz abertamente, representando o segundo um desenvolvimento das
explicitamente. ideias do primeiro.
8. Interpretação, ilação, dedução, conclusão, percepção
do texto é resultado de raciocínio aplicado, permitindo 14. Qual a ideia principal do texto?
captar-lhe tanto as informações explícitas, quanto as a) Mahler foi um compositor.
implícitas. b) Mahler tinha origem judaica.
9. A aplicação do raciocínio lógico às informações contidas c) Mahler compunha música erudita.
no texto, expostas ou subentendidas, permite ao leitor d) O valor de Mahler só foi reconhecido devidamente
tirar dele conclusões ou interpretá-lo corretamente.
a partir de algumas décadas após seu falecimento.
10. A leitura de um texto deve levar em consideração o mo-
mento e as circunstâncias em que foi construído, bem e) A finalidade do texto é dizer que boa parte da críti-
como à finalidade a que se propõe. ca foi contrária a Mahler.
11. Segundo opinião dedutível do texto, os críticos que
desprezaram o compositor estavam errados. Gabarito Comentado

Gabarito Comentado 12. Errado A questão seguinte esclarece o assunto.


13. Certo
1. Errado Por quê? Esta informação – “foi alvo de in- 14. d
tensas polêmicas” – não “se deduz” do texto,
está claramente expressa nele. Nesta questão 14, todas as cinco alternativas exprimem
informações contidas no texto dado. Contudo, entre as
2. Certo Por quê? Esta dedução se origina da infor-
ideias lançadas em qualquer texto, existe uma hierarquia,
mação de que “maestros” apresentaram
uma gradação de importância. Daí os conceitos de IDEIA
obras dele.
CENTRAL OU PRINCIPAL e IDEIAS SECUNDÁRIAS OU PERIFÉ-
3. Certo Por quê? A informação de que ele foi alvo de RICAS. A ideia central ou principal será a responsável pelo
”preconceito antissemita” leva à conclusão TEMA, que não se define por uma só palavra, mas por uma
de que ele era “de origem judaica”.
AFIRMAÇÃO. Pode-se dizer que o tema do trecho lido é a
Língua Portuguesa

4. Certo Por quê? A palavra “maestro” tem uma co- valorização póstuma da obra mahleriana. As demais ideias,
notação diferente (sem vírgula) de “cantor”, secundárias, servem para dar maior compreensão ao texto
“compositor”, “DJ”, “intérprete” etc. Maestro e propiciar ao leitor uma visão mais detalhada do assunto.
pressupõe erudição, por sua própria forma-
ção acadêmica; por isso, “pode-se deduzir
que as músicas sejam eruditas, pois ‘eruditos’ COMO ACHAR A IDEIA PRINCIPAL OU O TEMA
se empenham na sua apresentação”. O “po-
de-se deduzir” é aceitável, porque não impõe Tratando-se de texto expositivo, argumentativo, os exa-
que seja uma “dedução obrigatória”. minadores buscam avaliar no candidato a capacidade de

5
captar o mais importante. Quando você tem pouco tempo Descrição ou retrato
na prova e precisa responder a uma questão que indaga
sobre o tema ou a ideia central de um longo texto, ou de 1. Texto que mostra um ambiente.
um texto completo, basta concentrar-se na leitura do último O Sol estava a pino, as portas trancadas, as janelas
parágrafo. Necessariamente lá está a resposta da questão. escancaradas, as ruas vazias, os carros estacionados, os
Normalmente, num parágrafo, a ideia principal se encon- galhos das árvores e o capim absolutamente parados.
tra na parte inicial sendo seguida de um desenvolvimento,
em forma de explicação, detalhamento, exemplificação etc.. 2. Texto que mostra ações simultâneas.
Essa ideia principal também é conhecida por TÓPICO FRASAL. Enquanto ela falava, o cachorro latia, a criança cho-
Mais raramente, pode ser encontrada no final do parágrafo, rava, o vizinho aplaudia. (As ações acontecem no
sob a forma de conclusão das informações ou explanações mesmo momento, o tempo está parado)
que a antecedem. Repetindo: a ideia central ou principal de
um parágrafo se situa no início ou no final. Nas outras partes, Dissertação ou ideias
aparecem os argumentos.
Quando a abordagem é não apenas de um parágrafo, Texto construído não para contar história ou fazer um
mas de um texto completo, o tema ou ideia principal se retrato, mas para desenvolver um raciocínio.
encontra no último parágrafo, podendo também aparecer É sábio dizer-se que o limite de um homem é o limite de
no primeiro, conhecido como parágrafo introdutório. Os seu próprio medo.
parágrafos centrais são reservados às argumentações, que
contribuem para dar suporte à principal ideia. Na prática, um texto pode misturar as tipologias, por isso
é comum classificá-lo com base em qual tipologia predomina,
Intertextualidade ou seja, para atender a qual tipologia o texto foi feito.
Chama-se intertextualidade a relação explícita ou implí- O tipo DISSERTAÇÃO modernamente vem sendo subs-
cita de um texto com outro. tituído, conforme o caso, por Argumentação, Exposição, ou
Quando Chico Buarque diz, na música Bom Conselho, “de- Injunção:
vagar é que não se vai longe”, “quem espera nunca alcança”, • Argumentação: apresenta argumentos na defesa
cria uma intertextualidade implícita com os ditos populares
de um ponto de vista:
“devagar se vai ao longe” e “quem espera sempre alcança”.
A sua expansão industrial e comercial ocorreu muito antes
dos países vizinhos, não só porque dispunha de extensa
Veja a estrofe seguinte:
rede de ferrovias, hidrovias e rodovias, mas também por-
que detinha maiores recursos para investimento.
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar • Exposição: apenas expõe as ideias, sem apresentar
Os passarinhos daqui argumentos:
Não cantam como os de lá A Bulgária se tornou membro da União Europeia em
(Oswald de Andrade) janeiro de 2007, após dez anos de negociação.
• Injunção: orienta o comportamento do receptor:
E responda C (certo) ou E (errado): Manuais de utilização de equipamentos. Orientações
de como tomar um remédio. Como ligar e desligar a
( ) Esses versos lembram “Minha terra tem palmeiras, / irrigação do jardim...
Onde canta o sabiá; / As aves, que aqui gorjeiam, / Não
gorjeiam como lá. /”, de Gonçalves Dias. ARGUMENTAÇÃO: ENUMERAÇÃO DE
( ) A criação de Oswald de Andrade constitui um combate
à estética romântica. IDEIAS, CAUSA E CONSEQUÊNCIA,
( ) trata-se de bom exemplo de intertextualidade. COMPARAÇÃO, OPOSIÇÃO
Gabarito Exercícios
C, C, C
O texto seguinte tem cinco parágrafos construídos com
indicação de esquemas retóricos argumentativos diferentes.
OS DIVERSOS TEXTOS QUE SE APRESENTAM Assinale nos parênteses que o seguem, o número do pará-
NO COTIDIANO, ESCRITOS NAS MAIS grafo que apresenta:
I. Minha filha, para que você pense em casamento, talvez
DIFERENTES LINGUAGENS VERBAIS precise pensar em alguns detalhes: está realmente querendo?
E NÃO VERBAIS (jornais, revistas, Tem certeza de que conhece o rapaz? Está disposta a dividir
fotografias, esculturas, músicas, e aceitar opiniões e posições diferentes e contrárias? Está
segura de que se deixará dominar, sem rancor?
vídeos, entre outros) II. Na verdade sinto você exalando certa insegurança,
como naquele dia em que seu “ex” pegou na sua mão, fitou
Tipologia Textual
Língua Portuguesa

bem dentro dos seus olhos e lhe indagou de supetão: você


tem certeza definitiva?
Narração ou história III. A mim me parece que resolveu terminar com o Carlos,
porque ele se negou a lhe dar detalhes da conversa que tivera
Texto que conta uma história, curtíssima ou longa, tendo com a Beatriz, aliás você estava ultrapassando os limites do
personagem, ação, espaço e tempo, mas o tempo tem de respeito à individualidade dele.
estar em desenvolvimento. IV. Como vocês estavam na varanda e eu atrás de vocês
Ela chegou, abriu a porta, entrou e olhou para mim. (As na sala, tentando cochilar com a janela entre nós aberta, não
ações acontecem em sequência) pude deixar de notar a sua entonação sussurrante, a fala mais

6
firme, depois ríspida, o tom de advertência, os gritos e os cortina, esperou que os olhos se acostumassem à clari-
verdadeiros berros tresloucados com que o expulsava de casa. dade que invadiu o quarto, só então deitou-se no chão
V. Eu, que estou de fora, penso que talvez fosse bom e vasculhou com os olhos a parte embaixo da cama.
você ouvir seu irmão quando cita a paciência, a delicadeza, Teve certeza de que o bicho não estava lá.
a maturidade, a humildade do Carlos e a pressa, a rispidez,
a infantilidade, a altivez do André. Texto 3 (EP).
( ) Berenice percebeu que André não lhe estava sendo fiel
( ) Enumeração de ideias. porque ele dissera não conhecer Isaura, mesmo depois
( ) Relação de causa e consequência. de ter dormido na casa dela. Além disso, as duas vezes
( ) Comparação. que Berenice citou o nome de Isaura, André desviou
( ) Gradação. primeiro o olhar, em seguida mudou de assunto. Sem
( ) Oposição. falar no perfume que o acompanhava quando entrou
em casa: o preferido de Isaura.
Gabarito
Texto 4.
I, III, II, IV, V ( ) Para investigadores, há indícios de que parte do dinheiro
desviado tenha sido usado por Collor para compra de
Parágrafo I – Enumeração: está realmente querendo? Tem carros de luxo em nome de empresas de fachada. Al-
certeza de que conhece o rapaz? Está disposta a dividir e guns desses automóveis foram apreendidos pela Polícia
aceitar opiniões e posições diferentes e contrárias? Está Federal na Operação Politeia, um desdobramento da
segura de que se deixará dominar, sem rancor? Lava Jato, realizada em 14 de julho.
Parágrafo II – Comparação: sinto você exalando certa in-
segurança, como naquele dia em que seu “ex” pegou na Texto 5.
sua mão, fitou bem dentro dos seus olhos e lhe indagou ( ) A manhã estava radiosa e cálida. Sequer uma nuvem.
de supetão: você tem certeza definitiva. As folhagens das árvores, dos arbustos e das gramíneas
Parágrafo III – Causa e consequência: resolveu terminar oscilavam suavemente. Juritis, sabiás e bemtevis har-
com o Carlos, porque ele se negou a lhe dar detalhes da monizavam seus cantares, vez por outra salpicados por
conversa que tivera com a Beatriz. latidos um tanto quanto lentos e preguiçosos. O perfu-
Parágrafo IV – Gradação: sua entonação sussurrante, a fala me do jasmim ocupava a beira da piscina, envolvendo
mais firme, depois ríspida, o tom de advertência, os gritos o tom rosado da pele de Janaína.
e os verdadeiros berros tresloucados com que o expulsava
de casa. ( ) Ponha nestes parênteses o número do texto que faz uso
Parágrafo V – Oposição: a paciência, a delicadeza, a ma- do diálogo em sua organização.
turidade, a humildade do Carlos e a pressa, a rispidez, a
infantilidade, a altivez do André. Gabarito

Texto 1 (I)
Use as letras iniciais das cinco frases seguintes para identificar Texto 2 (N)
nos parênteses, os cinco textos que as acompanham. Texto 3 (A)
N. Constitui exemplo de narração. Texto 4 (E)
D. Predomina o caráter de descrição. Texto 5 (D)
I. Tem como base um parágrafo injuntivo. Texto 1
E. Exemplifica dissertação expositiva.
A. Classifica-se como dissertação argumentativa.
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA (LÍNGUA
Atenção para as partes em itálico. PADRÃO, LÍNGUA NÃO PADRÃO)
Texto 1 (EP).
( ) Quando Clarice se mostrou chateada com algumas es- NÍVEIS DE FALA (TIPOS DE NORMA)
trias no seio, Rogério prontamente informou:
– Tenho solução para isso. NORMA (ou LÍNGUA) PADRÃO
– É verdade que você tem?
– Claro!
– Então me ensina. Registro formal ou adloquial
– Ponha duas colheres de sopa de azeite numa frigi- As circunstâncias exigem do emissor postura concentrada
deira. Amasse três dentes de alho, depois de tirar a e adequada a um grupo sofisticado de falantes. Tende ao uso
casca, e misture-os ao azeite. Deixe a mistura no fogo da norma culta (também chamada de padrão, ou erudita),
médio por cinco minutos e apague o fogo. Aguarde que que se estuda nas gramáticas normativas.
ela esfrie um pouco até a temperatura ficar suportável Por favor, entenda que seria importante para nós sua
ao tato. Durante oito minutos, embeba quantas vezes presença.
necessárias um algodão naquele azeite, e passe-o su-
Língua Portuguesa

avemente em movimentos circulares no seio estriado. NORMAS (ou LÍNGUA) NÃO PADRÃO
Vá ao espelho e veja o resultado.
– As estrias vão embora? Registro informal ou coloquial
– Podem ir, mas se não forem, você pode estrear um O ambiente permite ao emissor uma postura mais à
peitinho a alho e óleo. vontade, sem preocupações gramaticais.
Vem, que sua presença é importante. (A gramática orien-
Texto 2 (EP). ta: Vem, que tua presença... ou Venha, que sua presença...)
( ) Paulo abriu a porta devagar, observou com calma o Na informalidade, a língua é usada na forma de cada
ambiente, caminhou pé ante pé até a janela, abriu a região, profissão, esporte, gíria, internet...

7
Registro vulgar Função Fática
Normalmente envolve uso de calão ou gíria. Predomina em importância o canal e normalmente
Oi, cara, pinta lá no pedaço. aparece em trechos pequenos, dentro de outras funções.

Registro de baixo calão Canal: meio físico (ar, luz, telefone...) e psicológico (a
É o nível das gírias pesadas e dos palavrões. atenção) que interliga emissor e receptor.
Naquele cafofo só vai ter piranha e Zé-mané, porra.
Cada texto deve obedecer a um nível de formalidade ou Usa-se a função fática para:
informalidade, com a escolha do vocabulário e de construções 1. testar o funcionamento do canal – Um, dois, três...
frásicas adequada ao público e ao ambiente a que se destina. Alô, alô...
2. prender a atenção do receptor – Bom dia. Como vai?
Até logo. Certo ou errado?
Variação linguística 3. distrair a atenção do receptor –
Uma língua se realiza na fala de grupos diferentes, no
Ele: Onde você estava até esta hora?
tempo (compare os escritos da carta de Caminha, de José
Ela: Por favor, ligue agora para o José e lhe deseje
de Alencar e de hoje), no espaço (veja as diferenças de ex-
sorte. (Ela desviou a atenção do assunto dele)
pressão das várias regiões brasileiras), nas profissões (atente
para seus jargões ou expressões características), em grupos
de relacionamentos (cada um com suas gírias e constru- Função Metalinguística
ções frásicas identificadoras: DJs, políticos, cantores de rap, Predomina o assunto “língua”, é o uso da língua para
religiosos, surfistas, tatuadores, traficantes, escaladores...) falar da própria língua.

Funções da Linguagem NA COMUNICAÇÃO Língua: tipo de código usado na comunicação.

Todo emissor, no momento em que realiza um ato de fala, Os dicionários, as gramáticas, os livros de texto, de re-
dação, as críticas literárias são exemplos de metalinguagem.
atribui, consciente ou inconscientemente, maior importância
a um dos seis elementos da comunicação (emissor, recep-
tor, referente, canal, código ou mensagem). Descobrir qual Função Poética (ou Estética)
elemento está em destaque é definir a função da linguagem. Predomina em importância a elaboração da mensagem.

Mensagem, fala ou discurso: é o como se diz e não o


Função Emotiva (ou Expressiva) que se diz.
Predomina em importância o emissor e é muito usada
em textos líricos, amorosos, autobiográficos, testemunhais...
As frases “Você roubou minha caneta” e “Você achou minha
Constitui uma característica de subjetividade.
caneta antes de eu a perder”, embora tenham o mesmo assunto
ou referente, são mensagens, falas ou discursos diferentes, tanto
Emissor: aquele que fala, representado por eu, nós, a
é que provocam sensações diferentes no receptor.
gente (no sentido de “nós”). A função poética valoriza a escolha das palavras, ora pela
sonoridade, ora pelo ritmo (Quem casa quer casa. Quem tudo
São índices desta função: quer tudo perde. Quem com ferro fere com ferro será ferido),
1. sujeito emissor – Eu vi Mariana chegar. A gente viu ora pelo significado inusitado (Penso, logo desisto), ora por
Mariana chegar. Nós vimos Mariana chegar. mais de uma dessas ou outras características.
2. uso de exclamação – Mariana chegou!
3. uso de interjeição – Ih! Mariana chegou. Obs.: todas essas funções podem interpenetrar-se no
texto, mas uma (qualquer uma) tenderá a ser predominante.
Função Conativa (ou Apelativa) No caso de um texto poético ou estético, as demais funções
Predomina em importância o receptor e é frequente em ocupam o segundo plano.
linguagem de publicidade e de oratória.
Elementos da Narrativa
Receptor: com quem se fala, representado por tu, vós,
você(s), Vossa Senhoria, Vossa Alteza, Vossa... Toda narrativa apresenta necessariamente os seguintes
São índices desta função: elementos: personagem principal e secundário(s), ação em
1. sujeito receptor – Você sabia que Mariana chegou? desenvolvimento, tempo em desenvolvimento, espaço físico
2. vocativo – Paulo, tu estás correto. e/ou psicológico e ponto de vista do narrador.
3. imperativo – Por favor, venha cá. Beba guaraná.
DISCURSO DIRETO, INDIRETO E INDIRETO
Função Referencial (ou Informativa) LIVRE
Predomina em importância o referente e é empregada
nos textos científicos, jornalísticos, profissionais – correspon-
dências oficiais, atas... É uma característica de objetividade. Discurso Direto
Língua Portuguesa

Reprodução exata da fala do personagem.


Referente: de que ou de quem se fala, representado por Julieta respondeu: Estou satisfeita com sua resposta.
ele(s), ela(s), Sua Excelência, Sua Majestade, Sua..., ou por Pode vir entre aspas: “Estou satisfeita com sua resposta.”
qualquer substantivo ou pronome substantivo de terceira Pode vir após travessão: – Estou satisfeita com sua resposta.
pessoa.
Discurso Indireto
É índice desta função: O narrador traduz a fala do personagem.
1. sujeito referente – Mariana chegou. Ele chegou. Sua Julieta respondeu que estava satisfeita com a resposta dele.
Senhoria chegou. Quem chegou? Julieta respondeu estar satisfeita com a resposta dele.

8
Discurso Indireto Livre núcleos temáticos, revezando também como protagonistas
A fala do personagem se confunde com a do narrador. grupos diferentes de personagens.
Mariana sentou-se em frente ao guri, o que se passava
naquela cabecinha? Que sorrisinho maroto... Parábola
Narrativa que transmite uma mensagem indireta, geral-
Discurso do Narrador mente de cunho moral, por meio de comparação ou analogia.
É a fala de quem conta a história. Cristo falava por parábolas, como a do Filho Pródigo e a
Julieta respondeu: Estou satisfeita com sua resposta. do Joio e do Trigo.

Monólogo Fábula
Fala de um personagem consigo mesmo. Tipo de parábola curta, em prosa ou verso, que apresenta
Paulo atravessou o bar, resmungando: “Não acredito no animais como personagens e que ilustra um ensinamento
que acabei de ver”. moral. Famosas são as fábulas de Esopo, como A Raposa e
as Uvas, O Lobo e o Cordeiro.
Diálogo
Conversa entre dois ou mais personagens. Sátira
– Você devia ser mais suave na sua fala. Texto crítico, picante, sarcástico, maledicente, irônico,
– Vou tentar. zombeteiro para criticar instituições, costumes ou ideias.

Gêneros do Discurso, Gêneros Textuais Apólogo


Narrativa didática, em prosa ou verso, em que se animam
Desde os estudos de Bakhtin até os de Koch, chegou-se e dialogam seres inanimados. Um bom exemplo é o texto de
à percepção de certas sequências relativamente estáveis de Machado de Assis intitulado A Agulha e a Linha.
enunciados, voltadas a atender necessidades diferentes da
vida social, sequências essas definidoras do que se conven- Lenda
cionou chamar Gêneros do Discurso, adaptáveis à sociedade História com base em informações imaginárias. São len-
e seus comportamentos. dários o saci-pererê, a boiuna, a mula sem cabeça...

Gêneros primários Anedota


São os que se desenvolvem primeiro, realizados em situa- História curta engraçada ou picante.
ções de comunicação, no âmbito social cotidiano das relações
humanas: diálogo, telefonema, bilhete, carta, piada, oração, Paródia
comando militar rápido, situações de interação face a face.. Imitação artística, jocosa, satírica, bufa; arremedo de
outro texto. Vejam-se os segundos textos.
Gêneros secundários Quem com ferro fere com ferro será ferido.
Referentes a circunstâncias mais complexas, públicas, de Quem confere ferro, com ferro...
interação social, muitas vezes escritas, monologadas, capazes Penso, logo existo.
de incorporar e transmutar os gêneros primários. Necessitam de Penso, logo desisto.
instrução formal e aparecem sob a forma de 1. Gêneros literá-
rios: provérbios, crônicas, contos, novelas, romances, dramas...; Paráfrase ou frase paralela
2. Gêneros oficiais: cartas, ofícios, memorandos, anais, tratados, É um texto criado na tentativa de reproduzir o sentido
textos de lei, documentos de escritório...; 3. Gêneros científi- de outro. É um texto sinônimo, de sentido semelhante. Veja
cos: pesquisas, relatórios, críticas, análises, teses, ensaios... 4. o segundo texto.
Gêneros Jornalísticos: notícia, matéria, entrevista, charge ... 5. Todo dia ela faz tudo sempre igual / Me sacode às três
Gêneros outros como dos círculos artísticos, sócio-políticos, horas da manhã / Me sorri um sorriso pontual / E me beija
retóricos, jurídicos, políticos, publicísticos, esportivos... com a boca de hortelã... (Chico Buarque)
Dia após dia ela faz as mesmas coisas. Me tira da cama
Eis alguns tipos explorados em provas elaboradas pelo às três da madrugada. Me dá um sorriso rotineiro e um beijo
Cespe: com gosto de pasta de dente...
Obs.: a paráfrase sempre altera algo no sentido subjetivo
do texto.
Crônica
Texto curto dissertativo, comentando fato ou situação
do momento. Epígrafe
Inscrição que antecede um texto (no frontispício de um li-
vro, no início de um capítulo, de um poema, de uma crônica...).
Conto
História curta com poucos personagens em torno de um
núcleo de ação. Título: EPICÉDIO III
Língua Portuguesa

Novela Epígrafe: À morte apressada de um amigo


História mais longa que o conto e que também envolve
só um núcleo de ação. Texto: Comigo falas; eu te escuto; eu vejo
Quanto apesar de meu letargo, e pejo,
Romance Me intentas persuadir, ó sombra muda,
História longa e complexa em que os personagens atuam Que tudo ignora quem te não estuda.
em torno de vários núcleos de ação. As chamadas novelas de
televisão literariamente são romances porque revezam vários (Cláudio Manuel da Costa)

9
SEMÂNTICA: O SIGNIFICADO DAS Antonímia
PALAVRAS E DAS SENTENÇAS; LINGUAGEM Existência de palavras ou termos de sentidos opostos:
claro e escuro, branco e negro, alto e baixo, belo e feio...
DENOTATIVA E CONOTATIVA; SINONÍMIA
ANTONÍMIA E POLISSEMIA Homonímia
Palavras iguais na escrita ou no som com sentidos dife-
Semântica rentes: cassa e caça, cardeal (religioso), cardeal (pássaro),
cardeal (principal)...
Sema Paronímia
É unidade de significado. A palavra “garotas” tem três Palavras parecidas: eminência e iminência, vultoso e
semas: vultuoso...
1. garot é o radical e significa ser humano em formação;
2. a é desinência e significa feminino;
RELAÇÕES LÓGICAS E FORMAIS ENTRE
3. s é desinência e significa plural.
ELEMENTOS DO TEXTO: A COERÊNCIA E A
Monossemia ou unissignificação COESÃO TEXTUAL
É o fato de uma expressão ter no texto apenas um sig-
nificado.
Qualidades do Texto
Um texto bem redigido deve ter algumas qualidades.
Polissemia ou plurissignificação A seguir, cada tópico apresenta uma dessas qualidades e,
É o fato de uma expressão, no texto, ter múltiplos sig- também, seu defeito, o oposto.
nificados.
Clareza
Ambiguidade ou anfibologia Clareza é a qualidade que faz um texto ser facilmente
Significa duplo sentido. entendido. Obscuridade é o seu antônimo.

Questões
Denotação
Sentido objetivo da palavra – Teresa é agressiva. O menino e seu pai foram hospedados em prédios diferentes
o que o fez ficar triste.
Conotação Assinale C para certo e E para errado.
Sentido figurado da palavra – Teresa é um espinho. 1. ( ) A estruturação da frase se dá de maneira clara e
objetiva.
2. ( ) A leitura desse trecho se torna ambígua em virtude
Campo Semântico do mau uso do pronome oblíquo “o”.
Área de abrangência ou de interpenetração de 3. ( ) Colocando-se o oblíquo “o” no plural, caberia plu-
significado(s). ralizar “ficar triste” (o que os fez ficarem tristes) e a
Chuteira, pênalti, drible, estádio... pertencem ao campo clareza se restaura porque o “triste” passa a se referir
semântico do futebol. a ambos, “o menino” e “seu pai”.
Oboé, melodia, contralto... pertencem ao campo semân- 4. ( ) Substituindo-se o oblíquo “o” por “este” (o que fez
tico da música. este ficar triste ), também se elimina a ambiguidade,
Aeromoça, aterrissar, taxiar... pertencem ao campo se- passando a significar que só o pai ficou triste.
mântico da aviação. 5. ( ) Substituindo-se o oblíquo “o” por “aquele” (o que
fez aquele ficar triste) comete-se uma incorreção
gramatical.
Contexto 6. ( ) Substituindo-se o oblíquo “o” por “aquele” (o que
As palavras ou signos podem estar soltos ou contextua- fez aquele ficar triste) resolve-se também a obscu-
lizados. O contexto é a frase, o texto, o ambiente em que a ridade, pois afirma-se que só o menino ficou triste,
palavra ou signo se insere. Normalmente, uma palavra solta, porque o demonstrativo “aquele” refere-se ao subs-
fora de um contexto, desperta vários sentidos (polissemia) e tantivo mais distante.
os dicionários tentam relacioná-los, apresentando cada um
dos sentidos (monossemia) ligado a um determinado contexto. Gabarito
No Dicionário Houaiss, a palavra ponto tem 62 significa-
Itens 2, 3, 4 e 6 certos; itens 1 e 5 errados.
dos e contextos; linha tem outros 58, sendo que, em cada
um desses contextos, a monossemia prevalece.
Nos textos literários ou artísticos, ambiguidade e po- Coerência
lissemia são valores positivos. O texto artístico pode ser Se as ideias estão entrelaçadas harmoniosamente em
considerado tão mais valioso quanto mais plurissignificativo. termos lógicos, encontra-se no texto coerência. O seu an-
Língua Portuguesa

Nos textos informativos (jornalísticos, históricos, cien- tônimo é ilogicidade, incoerência.


tíficos... ), a monossemia é valor positivo, enquanto a ambi-
guidade e a polissemia devem ser evitadas. Questões

I – Toda mulher gosta de ser elogiada. Se queres agradar a


Sinonímia uma, mostra-lhe suas qualidades.
Existência de palavras ou termos com significados con-
vergentes, semelhantes: vermelho e encarnado, brilho e II – Toda mulher gosta de ser elogiada. Se queres agradar a
luminosidade, branquear e alvejar... uma, mostra-lhe seus defeitos.

10
Assinale C para certo e E para errado. Coesão
1. ( ) O texto I exemplifica raciocínio incoerente. Coesão é a inter-relação bem construída entre as partes
2. ( ) O texto II desenvolve raciocínio coerente. de um texto. Seu antônimo é a incoesão ou desconexão.
3. ( ) A incoerência se faz presente em ambos os parágrafos.
4. ( ) Os dois parágrafos são perfeitamente coerentes.
5. ( ) O raciocínio do texto I é perfeitamente lógico e
Coesão e conectores
coerente.
6. ( ) O desenvolvimento racional do texto II peca por Coesão é a inter-relação bem construída entre as partes
incoerência. de um texto e se faz com o uso de conectores ou elementos
coesivos.
Gabarito
Coesão gramatical (ou coesão referencial
Itens 1, 2, 3 e 4 errados; itens 5 e 6 certos. endofórica)

Concisão Os componentes de um texto se inter-relacionam, referin-


Concisão é a capacidade de se falar com poucas palavras. do-se uns aos outros, evidenciando o que se chama coesão
O seu oposto é prolixidade. referencial endofórica, ou coesão gramatical. Além do uso das
preposições e conjunções, eis alguns recursos de coesão refe-
Questões rencial endofórica e seus elementos coesivos ou conectores:

I – Andresa trouxe Ramiro e Osvaldo à minha presença, no Nominalização


meu escritório e me apresentou essas duas pessoas. Substantivo que retoma ideia de verbo anteriormente
expresso.
II – Andresa trouxe-me ao escritório Ramiro e Osvaldo e Os alunos esforçados foram aprovados e a aprovação
mos apresentou. lhes trouxe euforia.
Elemento coesivo: “aprovação” retoma “foram apro-
Assinale C para certo e E para errado. vados”.
1. ( ) Os dois textos apresentam o mesmo teor informativo.
2. ( ) O primeiro é mais prolixo (dezessete palavras, uma Pronominalização
vírgula e um ponto final). Pronome retomando ou antecipando substantivo.
3. ( ) O segundo é mais conciso (onze palavras e um ponto Conector: na frase anterior, “lhes” retoma “alunos”.
final).
4. ( ) A última oração da frase II deve ser corrigida para Repetição vocabular
“e nos apresentou”. Repetição de palavra.
5. ( ) No período II, “mos” funciona como objeto indireto e A mulher se apoia no homem e o homem na mulher.
direto, porque representa a fusão de dois pronomes Elemento coesivo: na segunda oração repetem-se os
oblíquos átonos (me + os). substantivos “homem” e “mulher”.

Gabarito Sintetização
Uso de expressão sintetizadora.
Itens 1, 2, 3 e 5 certos; item 4 errado.
Viagens, passeios, teatros, espetáculos... Tudo nos mos-
tra o mundo.
Correção Gramatical Conector: na segunda oração, a expressão “tudo” sinte-
Correção é o ajuste do texto a um determinado padrão tiza “Viagens, passeios, teatros, espetáculos...”.
gramatical. Tradicionalmente as provas sempre visaram a
medir o conhecimento da norma culta (também chamada de Uso de numerais
erudita ou padrão), por isso, quando simplesmente pedem São possíveis três situações. A primeira é ela estar sendo
para apontar o que está certo ou errado gramaticalmente, sincera. A segunda é estar mentindo. A terceira é não saber
estão-se referindo à adequação ou inadequação do texto a o que fala.
essa norma culta. Elemento coesivo: os ordinais, “primeira”, “segunda” e
“terceira” retomam o cardinal “três”.
Questões
Uso de advérbios
I – Nóis num é loco, nóis só véve ansim pruquê nóis qué. Hesitando, entrou no quarto de Raquel. Ali deveria estar
escondida a resposta.
II – Não somos loucos, só vivemos assim porque queremos. Conector: o advérbio “Ali” recupera a expressão “quarto
de Raquel”.
Língua Portuguesa

Assinale C ou E, conforme julgue a afirmação certa ou errada.


a) O texto I está correto em relação ao padrão popular Elipse
regional e errado relativamente ao culto. Omissão de termo facilmente identificável.
b) O texto II está certo de acordo com o padrão culto e Nós chegamos ao jardim. Estávamos sedentos.
errado se a referência for o popular regional. Elemento coesivo: a desinência verbal “mos” retoma o
sujeito “nós” expresso na primeira oração.
Gabarito
Sinonímia
Ambas as afirmações estão corretas. Palavras ou expressões de sentidos semelhantes.

11
O extenso discurso se prolongou por mais de duas horas. 4. a) Encontrei o artigo que você falou.
A peça de oratória cansativa foi responsável pelo desinte- b) Encontrei o artigo de que você falou.
resse geral.
Conector: o sinônimo “peça de oratória” retoma a ex- 5. a) Foi essa a frase que você falou.
pressão “discurso”. b) Foi essa a frase de que você falou.

Hiperonímia 6. a) Era uma situação que ele fugia.


Hiperônimo é palavra cujo sentido abrange o de outra(s). b) Era uma situação de que ele fugia.
Roupa constitui hiperônimo em relação a calça, vestido,
paletó, camisa, pijama, saia... 7. a) Estamos diante de um texto que falta coesão.
Ela escolheu a saia, a blusa, o cinto, o sapato e as meias... b) Estamos diante de um texto a que falta coesão.
Aquele conjunto estaria, sim, adequado ao ambiente.
Elemento coesivo: o hiperônimo “conjunto” retoma os 8. a) Finalmente chegou ao quarto onde estava escondido
substantivos anteriores. o dinheiro.
b) Finalmente chegou ao quarto aonde estava escon-
Hiponímia dido o dinheiro.
Hipônimo é palavra de sentido incluído no sentido de
outra. Boneca, pião, pipa, bambolê, carrinho, bola de gude... 9. a) Veja o local onde você chegou.
são hipônimos de brinquedo. b) Veja o local aonde você chegou.
Naquela disputa havia cinco times, contudo apenas o
Flamengo se pronunciou. 10. a) Convide para a mesa as senhoras cujos os maridos
Conector: o hipônimo “Flamengo” cria coesão com a estão presentes.
palavra “times”. b) Convide para a mesa as senhoras cujos maridos estão
presentes.
Anáfora
chama-se anafórico ao elemento de coesão que retoma Gabarito
algo já dito.
1. b. Uso dos demonstrativos: aquele, para o mais dis-
O lobo e o cordeiro se olharam; aquele, com fome; este, tante; esse, para o intermediário; este, para o mais
com temor. próximo.
Coesivos anafóricos: “aquele” e “este” retomam “lobo” 2. a. Uso dos demonstrativos: este refere-se ao que se
e “cordeiro”. vai falar; esse, ao que já foi dito.
3. a. Uso dos demonstrativos: este refere-se ao que se
Catáfora vai falar; esse, ao que já foi dito.
Palavra ou expressão que antecipa o que vai ser dito. 4. b (falar de um artigo).
5. a (falar uma frase).
Não se esqueça disto: já estamos comprometidos. 6. b (fugir de algo).
Conector catafórico: “disto” antecipa a oração “já esta- 7. b (falta coesão a algo).
mos comprometidos”.
8. a (o dinheiro estava escondido no quarto).
9. b (você chegou a um local).
Obs.: a coesão é uma qualidade do texto e sua falta cons-
titui erro. Desconexo ou incoeso é o texto a que falta coesão. 10. b (cujo não vem seguido de artigo).

Domínio dos Mecanismos de Coesão Outros Conceitos


Textual
Os mecanismos de coesão textual exigem conhecimentos Barbarismo
outros, como uso dos pronomes, regência, concordância, Erro no uso de uma palavra.
colocação... 1. Erro de pronúncia ou grafia: Ele é adevogado e co-
nhece o pograma.
Resolva as questões seguintes, onde aparecem 10 co- 2. Erro de flexão: Eu reavi os leitães. (O certo é reouve
esões bem feitas e 10 imperfeitas, com relação à norma os leitões)
padrão oficial. 3. Troca de sentido: tráfico x tráfego, estrutura x esta-
tura, ascendente x descendente...
Qual dos dois textos está mais bem escrito, levando em con-
sideração os mecanismos de coesão textual? Cacofonia
1. a) O cavalo, o ganso e a ovelha andavam lado a lado; Som desagradável ou ambíguo.
enquanto este relinchava, aquele grasnava e ela balia. Meus afetos por ti são (tição). Louca dela (cadela), por
b) O cavalo, o ganso e a ovelha andavam lado a lado; en- não perceber que dedico a ti (quati) o meu amor.
Língua Portuguesa

quanto aquele relinchava, esse grasnava e esta balia.


Eco ou Colisão
2. a) Atenção a este aviso: “Piso Escorregadio”.
Rima na prosa.
b) Atenção a esse aviso: “Piso Escorregadio”.
Depois da primeira porteira, encontrou a costureira
descendo a ladeira da goiabeira.
3. a) Silêncio e respeito. Essas palavras se viam por toda
parte.
b) Silêncio e respeito. Estas palavras se viam por toda Estrangeirismo
parte. Uso de palavras ou expressões estrangeiras.

12
Internet, slow motion, pick-up, abat-jour, débauche, Figuras de Sintaxe
front-light...
São as figuras relacionadas à construção da frase.
Solecismo
Erro sintático.
1. De regência: Emprestei de você um calção. Ele obede- Elipse
ceu o pai. Omissão de termo facilmente identificável – (eu) cheguei,
2. De concordância: Nós vai... A gente pensamos... As (nós) chegamos.
menina...
Hipérbato
Arcaísmo Inversão da frase – Para o pátio correram todos.
Uso de palavras ou expressões antigas.
Palavras adrede escolhidas (especialmente). Brincavam
de trocar piparotes (petelecos).
Pleonasmo vicioso
Repetição desnecessária de ideia – Chutou com o pé,
roeu com os dentes, saiu para fora, lustro de cinco anos...
Neologismo
Palavra recém-inventada.
– O que ele está fazendo? Pleonasmo estilístico
– Ah! Deve estar internetando. A mim, não me falaste. Aos pais, lhes respondi que...

Preciosismo Assíndeto
Preocupação exagerada com a construção do texto. Ausência de conjunção coordenativa – Chegou, olhou,
sorriu, sentou.
Figuras de Linguagem
Podem-se subdividir em Figuras de Pensamento, Figuras Polissíndeto
de Sintaxe, Figuras de Sonoridade, e ainda Tropos (Uso de Repetição de conjunção coordenativa – Chegou, e olhou,
Sentido Figurado ou Conotação). e sorriu, e sentou.

Figuras de Pensamento Gradação


Sequência de dados em crescendo – Balbuciou, sussur-
São as figuras que atuam no campo do significado. rou, falou, gritou...

Antítese Paralelismo Sintático


Aproximação de ideias opostas – O belo e o feio podem Obediência a um mesmo padrão.
ser agressivos ou não. Sem paralelismo: Quero de você admiração, honestidade
e que me obedeça.
Paradoxo Ela é alta, inteligente e tem beleza.
Aparente contradição – Esta sua tia é uma beleza de Com paralelismo: Quero de você admiração, honestidade
feiura. e obediência. (todos, substantivos)
Ela é alta, inteligente e bela. (todos, adjetivos)
Ironia
Afirmação do contrário – O animal estava limpo, com Silepse
os cascos reluzentes, firme, saudável... Muito maltratado!
Concordância com a ideia, não com a palavra.
Eufemismo Silepse de Gênero: Vossa Senhoria está cansado?
Suavização do desagradável – Passou desta para a me-
lhor (= morreu).
Silepse de Número: E o casal de garças pousaram tran-
quilamente.
Hipérbole
Exagero – Já repeti cem mil vezes.
Silepse de Pessoa: Todos deveis estar atentos.
Perífrase
Substituição de uma expressão mais curta por uma mais Figuras de Sonoridade
longa e pode ser estilisticamente negativa ou positiva, de-
pendendo do contexto. São as figuras relacionadas ao trabalho com os sons das
palavras.
Língua Portuguesa

Texto: Apoio sinceramente sua decisão.


Perífrase: Antes de mais nada, é importante que você Aliteração
me permita neste momento comunicar-lhe meus sinceros
Repetição de sons consonantais próximos – “Gil engendra
sentimentos de apoio ao resultado de suas meditações.
em Gil rouxinol” (Caetano Veloso).
Também constitui perífrase o uso de duas ou mais pala-
vras em vez de uma: Assonância
titular da presidência (= presidente); a região das mil e Repetição de sons vocálicos próximos – Cunhã poranga
uma noites (= Arábia) na manhã louçã.

13
Onomatopeia DEFESA DO PONTO DE VISTA:
Tentativa de imitação do som – coxixo, tique-taque, zum- A ARGUMENTAÇÃO E A INTENCIONALIDADE
-zum, miau...
Ponto de Vista do Autor
Paronomásia ou trocadilho
Contudo... ele está com tudo. Todo e qualquer autor, ao produzir um texto, falado, can-
tado ou escrito, seja para descrever uma cena, narrar um fato,
ou desenvolver um raciocínio, coloca nesse texto, mesmo
Tropos (Uso do Sentido Figurado ou que não o perceba, sua visão de mundo, sua posição política,
Conotação) religiosa, artística, econômica, social , seu ponto de vista etc.,
além de sua preferência por este ou aquele assunto, este ou
aquele personagem. A linguística textual levanta com base
Comparação ou Analogia nos vocábulos escolhidos e na organização dos enunciados,
Relação de semelhança explícita sintaticamente. o que se denomina Ponto de Vista do Autor.
Ele voltou da praia parecendo um peru assado.
Teresa está para você, assim como Júlia, para mim. Leia com atenção o depoimento de duas testemunhas
Corria qual uma lebre assustada. sobre o fato que presenciaram.
Sua voz é igual ao som de panela rachada. Testemunha A: o irmão Antônio, com frieza, gestos con-
trolados, voz macia e baixa, olhar de Madalena arrependida,
consciente da importância de sua postura no convencimento
Metáfora dos irmãos, desfiava um rosário de mentiras que convencia os
Relação de semelhança subentendida, sem conjunção presentes. Em dado momento, deixou escapar, numa fração
ou palavra comparativa. de segundo, um esboço de sorriso vitorioso que fez o irmão
Voltou da praia um peru assado. Lauro levantar-se e se aproximar dele. De repente estavam os
A sua Tereza é a minha Júlia. dois no chão, irmão Antônio por cima, irmão Lauro por baixo
e com dificuldade foram separados pelos outros.
Correndo, ele era uma lebre assustada.
Testemunha B: Seu Antônio estava falando, Seu Lauro voou
Sua voz era uma panela rachada. pra cima dele com um soco armado que passou no vazio. Seu
Antônio, mais forte e mais pesado, atracou-se ao agressor,
Metonímia derrubou-o no chão e o dominou completamente, segurando-
Relação de extensão de significado, não de semelhança. -lhe ambos os punhos, numa montada completa, sem desferir
Continente x conteúdo um golpe sequer, mas incapaz de impedir que o subjugado lhe
mandasse, de baixo para cima, uma cusparada no rosto. Eu e
Só bebi um copo. (Bebeu o conteúdo e não o copo)
um colega caímos sobre eles, seguramos os dois e os separamos.
Origem x produto Exercícios
Comeu um bauru. (Bauru é a origem do sanduíche)
Veja agora como os pontos de vista das duas testemunhas são
Causa x efeito diferentes, respondendo C ou E para as afirmações seguintes
Cigarro incomoda os vizinhos. (A fumaça é que incomoda) e conferindo suas respostas com as do gabarito.
1 ( ) O fato motivador de ambas as narrativas foi o mes-
mo: uma briga entre dois indivíduos.
Autor x obra
2 ( ) Ambas as narrativas indicam que as duas testemu-
Vamos curtir um Gilberto Gil? (Curtir a música) nhas demonstram bom nível de escolaridade pelo
domínio do padrão linguístico apresentado.
Abstrato x concreto 3 ( ) No trecho “o irmão Antônio, com frieza, gestos con-
Estou com a cabeça em Veneza. (O pensamento em Veneza) trolados, voz macia e baixa, olhar de Madalena arre-
pendida, consciente da importância de sua postura
Símbolo x simbolizado no convencimento dos irmãos, desfiava um rosário
A balança impôs-se à espada. (Justiça... Forças Armadas) de mentiras”, a testemunha A descreve psicologica-
mente Antônio como frio, calculista e mentiroso.
4 ( ) as expressões “o irmão”, “Madalena arrependida”,
Instrumento x artista “dos irmãos”, ”rosário”, “o irmão”, “outros irmãos”
O cavaquinho foi a grande atração. (O artista) e a própria repetitividade, refletem repertório reli-
gioso e caracterizam o autor do texto como conviva
Parte x todo do mesmo grupo dos demais personagens.
Havia mais de cem cabeças no pasto. (Cem reses) 5 ( ) No segundo período a testemunha A indica que
Antônio agrediu moralmente com “um esboço de
sorriso vitorioso” a Lauro, tendo provocado a briga.
Catacrese
Língua Portuguesa

6 ( ) A testemunha A se mostrou imparcial.


Metáfora estratificada, que já faz parte do uso comum. 7 ( ) Com a descrição psicológica (item 2) e a agressão
Asa da xícara, asa do avião, barriga da perna, bico de moral (item 4) a testemunha A construiu a culpa-
bule, pé de limão... bilidade de Antônio.
8 ( ) A testemunha A narra em 3ª pessoa, como obser-
vadora dos acontecimentos.
Prosopopeia ou Personificação 9 ( ) O tratamento “Seu” usado em “Seu Antônio” e “Seu
O céu sorria aberto e cintilante... As folhas das palmeiras Lauro” indica pouca intimidade e distanciamento
sussurravam aos nossos ouvidos. respeitoso da testemunha B.

14
10. ( ) A linguagem da testemunha B não indica ponto de 1. A demanda doméstica depende de vários fatores, e a
vista religioso, mas de quem entende ou convive produção industrial depende da perspectiva do aumen-
com ambiente de luta (“voou pra cima dele com to dessa demanda.
um soco armado que passou no vazio”, “mais forte 2. Essa taxa de desemprego é a menor em julho de 2002.
e mais pesado, atracou-se ao agressor, derrubou”, Paralelamente, em 142 mil postos, a carteira de trabalho
“dominou completamente”, “montada completa”, assinada melhorou a qualidade do emprego já existente.
“desferir golpe” , “subjugado” ). 3. O aumento do desemprego acompanha a ligeira re-
11. ( ) Segundo a testemunha B, “Seu Lauro” agrediu duas tomada da economia norte-americana, enquanto no
vezes “Seu Antônio”: uma fisicamente (“voou pra Brasil o quadro é diferente.
cima dele com um soco armado”) e outra física e 4. Nas seis principais regiões do País, os dados de julho
moralmente (“uma cusparada no rosto”). mostram a geração de 185 mil postos de trabalho, o
12. ( ) A testemunha B mostrou-se imparcial. que significa redução do desemprego de 8,1% para 8%.
13. ( ) A testemunha B posiciona-se pela culpabilidade de 5. É normal, então, dar atenção especial tanto ao nível do
“Seu Lauro”. emprego e à evolução da massa salarial real quanto às
14. ( ) A testemunha B, como narrador de 1ª pessoa (Eu receitas e despesas do governo federal.
e um colega caímos sobre eles, seguramos os dois
Texto 1 (extraído de Natália Petrin in www.estudopratico.
e os separamos), coloca-se na cena como um dos
com.br/satira-literatura-ant)
personagens, ou seja, como narrador participante.

Gabarito
1. V 5. V 9. V 13. V
2. V 6. F 10. V 14. V
3. V 7. V 11. V
4. V 8. V 12. F

Conclusão:
Pela leitura dos dois textos, percebem-se pontos de vista
diferentes dos dois autores, no caso os dois narradores.
Ponto de vista do narrador A: usa a 3ª pessoa, fala como
observador, visão de fora; demonstra bom domínio linguísti-
co; posta-se como integrante de uma irmandade; considera
agressor e provocador o “irmão Antônio””.
Ponto de vista do narrador B: usa a 1ª pessoa, fala como
um dos personagens; demonstra bom domínio linguístico; Assinale C ou E:
posta-se como entendedor de luta; mostra distanciamento 6. ( ) O texto mistura linguagem escrita e icônica (letra
e pouca intimidade com os envolvidos na briga; considera e imagem visual).
agressor e provocador o “Seu Lauro”. 7. ( ) Trata-se de um banner divulgado por meio eletrô-
nico.
Exercícios 8. ( ) Sua mensagem tem a ironia como base predomi-
nante.
Uma das formas de se cobrar paráfrase e conhecimen-
tos de redação nas provas são exercícios de reescrita de Texto 2 (Propaganda da BomBril, baseada na Monalisa de
textos ou trechos, que adaptamos de prova para Auditor- Leonardo Da Vinci)
-Fiscal da Receita Federal do Brasil – AFRFB, com base no
seguinte texto:

A demanda doméstica depende de vários fatores, e da


perspectiva do seu aumento depende a produção industrial.
É normal, então, dar atenção especial ao nível do emprego
e à evolução da massa salarial real, sem deixar de acompa-
nhar as receitas e despesas do governo federal. Enquanto
a ligeira retomada da economia norte-americana é acom-
panhada por aumento do desemprego, no Brasil o quadro
é diferente. Os dados de julho, nas seis principais regiões
do País, mostram redução do desemprego de 8,1% para
8%, o que significa a geração de 185 mil postos de trabalho.
Língua Portuguesa

Essa taxa de desemprego, em julho, é a menor da série


desde 2002. Paralelamente, houve melhora na qualidade
do emprego, e 142 mil postos foram criados com carteira
de trabalho assinada.
(O Estado de S. Paulo, Editorial, 21/8/2009)

Assinale a opção em que a reescrita de segmento do texto


não mantém as informações originais.

15
Assinale C ou E: do representamos um sol, uma terra, uma árvore, um
9. ( ) A propaganda é só o quadro maior, pois o menor, círculo, um quadrado, o pensamento, o ser, sem formar
com finalidade didática, mostra como é a Mona Lisa, 10 sobre isso nenhum juízo expressamente. E a forma pela
de Miguel Ângelo. qual nós representamos essas coisas se denomina ideia.
10. ( ) Trata-se de propaganda bimidiática, pois usa duas Denominamos julgar a ação de nossa mente pela
linguagens, ou dois meios de comunicação: um ver- 13 qual unimos duas ideias que podem ter relação uma
bal e um não verbal. com a outra, por exemplo, sabendo o que é a Terra
11. ( ) A sugestão base dessa mensagem propagandística e o que é redondo, afirmo acerca da Terra que ela é
é a comparação. 16 redonda.
Denominamos raciocinar a ação de nossa mente
Texto 3 (Trabalho de Ziraldo, colhido na internet) pela qual esta forma um juízo a partir de vários outros;
19 por exemplo, julgando que a verdadeira virtude deva
relacionar-se a um Ser supremo, e que a virtude daque-
les que não acreditam na existência desse Ser não se
22 relaciona a Ele, conclui-se que a virtude daqueles que
não acreditam não é uma verdadeira virtude.
Denominamos ordenar a ação de nossa mente pela
25 qual, tendo várias ideias, vários juízos e vários raciocí-
nios sobre um mesmo assunto como, por exemplo, o
corpo humano, a mente organiza tais ideias, juízos e
28 raciocínios de maneira mais adequada para nos dar a
conhecer esse assunto.
Tudo isso é feito naturalmente, e algumas vezes
31 melhor por aqueles que não aprenderam nenhuma
regra da lógica do que por aqueles que as aprenderam.
Portanto, essa arte não consiste em encontrar a
34 maneira de realizar tais operações, pois a natureza já
Assinale C ou E: nos forneceu isto ao nos dar a razão; mas consiste em
12. ( ) Podem-se atribuir ao trabalho do Ziraldo caracte- realizar reflexões sobre o que a natureza nos faz realizar
rísticas de charge. 37 – o que serve para três coisas.
13. ( ) Trata-se de texto bimidiático, pois usa duas lingua- A primeira consiste em estarmos seguros de que
gens, ou dois meios de comunicação: um verbal e nos utilizamos bem de nossa razão, porque a conside-
um não verbal. 40 ração da regra nos faz dar a isso uma atenção nova.
14. ( ) O recurso comunicativo em que se baseia o texto é A segunda consiste em descobrir e explicar mais
o diálogo. facilmente o erro ou o defeito que se pode encontrar
43 nas operações de nossa mente, pois ocorre frequente-
Preencha os parênteses das afirmações a seguir, relacionan- mente que descobrimos naturalmente que um racio-
do-as aos três últimos textos. (Dilma, Monalisa e Ziraldo) cínio é falso, mas não descobrimos a razão pela qual é
15. Assim como Manuel Bandeira, quando disse ”O sapo- 46 falso.
-tanoeiro,/Parnasiano aguado,/ Diz: - ‘meu cancioneiro/É A terceira consiste em nos fazer conhecer melhor
bem martelado...’, satirizou os poetas tradicionais, nota- a natureza de nossa mente por meio das reflexões e
-se um exemplo de sátira no texto número ( ). 49 especulações que realizamos sobre suas ações.
16. Muito frequente na imprensa, a charge constitui um tipo Se os raciocínios que fazemos sobre nossos pen-
de ilustração em traços de caricatura, geralmente para samentos dissessem respeito apenas a nós mesmos,
criticar ou satirizar personagens ou fatos do cotidiano. 52 bastaria considerá-los em si próprios, sem revesti-los
Pode-se ver exemplo de charge no texto número ( ). de nenhuma palavra, nem de quaisquer outros sinais;
17. Paródia, tipo de criação muito frequente não só na lite- mas, uma vez que não podemos fazer compreender
ratura, mas também na internet e na televisão, vem a 55 nossos pensamentos uns aos outros sem acompanhá-
ser uma releitura irônica, debochada, cômica de outro -los de signos exteriores, e mesmo porque essas práticas
texto. Pode-se apontar exemplo de paródia no texto são tão fortes que quando pensamos solitariamente
número ( ) 58 as coisas não se apresentam à nossa mente senão por
meio das palavras com as quais nos acostumamos a
Exercícios revesti-las quando falamos aos outros, é necessário na
61 lógica considerar as ideias juntamente com as palavras,
(UEG/PM/Soldado/2013) e as palavras juntamente com as ideias.
ARNAULT, Antoine; NICOLE, Pierre. Lógica ou a arte de pensar.
Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 5. In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos de linguagem.
Rio de Janeiro: Zahar, 2009. p. 47-48. (Adaptado).
Língua Portuguesa

Lógica ou a arte de pensar


1. É ideia defendida no texto:
1 A lógica é a arte pela qual o homem conduz bem a) As operações de conceber e julgar são consideradas
a sua razão em busca do conhecimento das coisas. Essa sinônimas no texto, já que ambas se referem ao ato
arte consiste em reflexões que os homens fazem sobre mental de formação de um juízo a partir de vários
4 as quatro principais operações da mente humana: con- outros.
ceber, julgar, raciocinar e ordenar. b) As operações de conceber e julgar são noções anta-
Denominamos conceber a visão que temos das gônicas, uma vez que se configuram como operações
7 coisas que se apresentam à nossa mente, como quan- da mente humana que independem uma da outra.

16
c) A lógica abarca unicamente os raciocínios e opera- 7. São vocábulos pertencentes ao mesmo campo semân-
ções que o indivíduo faz sobre si mesmo, apenas por tico de “alegria” e “campinas”, respectivamente:
meio de signos interiores, isto é, sem a utilização de a) deleite – prados
palavras para expressar suas ideias. b) sonho – moradias
d) A lógica é definida como a arte pela qual o homem c) travessura – nuvens
conduz sua razão, abarcando operações que podem d) pensamento – brisas
ser feitas naturalmente, mesmo por aqueles que não
aprenderam nenhuma regra da lógica. Leia o fragmento a seguir para responder às questões de
8 a 10.
2. No trecho que engloba as linhas 38 a 40, os autores
a) desenvolvem ideias apresentadas no parágrafo an- Como me lembro deles...
terior.
b) apresentam paráfrases dos três primeiros parágrafos 1 De muita coisa passada na infância nós nos esque-
do texto. cemos, de outras não. Elas nos acompanham a vida
c) desenvolvem argumentos de outros autores para inteira, embora não sejam coisas de profundidade
contradizê-los. 4 nem tenham em si nenhum conteúdo de alto ensina-
d) apresentam argumentos opostos ao pensamento mento. Foram simplesmente alguns traços vivos que,
apresentado no parágrafo anterior. repetidos, de certa forma gravaram-se no disco das
7 impressões deixando marca para sempre. Nos vários
3. Os termos “portanto” e “pois” (linha 33) expressam, anos que passei longe da velha casa, sobrecarregada
respectivamente, sentido com os fardos, mais arrochos da vida, muita coisa de
a) conformativo – aditivo 10 sapareceu da minha lembrança, sobre outras se fecha-
b) conclusivo – explicativo
ram de forma inviolável as gavetinhas da memória. Mas
c) concessivo – adversativo
aqueles papéis de circunstância e junto a eles, a figura
d) consecutivo – comparativo
13 alta, magra e severa de minha mãe, esse quadro só a
morte poderá apagar.
4. No último parágrafo do texto, os pronomes que acom- CORALINA, Cora. Papéis de circunstância. In: Estórias da
panham as formas verbais “acompanhá-los” (linha 56) casa velha da ponte. 13. ed. São Paulo: Global, 2006.
e “revestí-las” (linha 60) referem-se, respectivamente, p. 87. (Adaptado).
a
a) pensamentos – coisas 8. Predomina, no trecho acima, uma linguagem
b) signos – ideias a) oral.
c) sinais – práticas b) informal.
d) raciocínios – palavras c) culta.
d) coloquial.
5. No texto, a palavra “especulações” (linha 49) pode ser
substituída, sem prejuízo de sentido, por 9. É exemplo de uso conotativo da linguagem:
a) certezas a) “velha casa” (linha 8)
b) realidades b) “Nos vários anos” (linha 7)
c) indagações c) “nós nos esquecemos” (linha 1)
d) conveniências d) “gavetinhas da memória” (linha 11)
Leia os textos a seguir para responder às questões 6 e 7. 10. Quanto ao trabalho com os elementos da narrativa,
verifica-se que o fragmento
Texto 1
a) é narrado em terceira pessoa.
Junte-se aos campeões. Garanta seus ingressos em
b) é narrado em primeira pessoa.
FIFA.COM.
Superinteressante. Editora Abril, mar. 2013, p. 35. c) apresenta tempo social que indica o contexto socio-
político do trecho.
Texto 2 d) apresenta tempo cronológico que faz referência ao
A alegria morava em sua alma. A filha dos sertões era futuro da narradora.
feliz, como a andorinha, que abandona o ninho de seus pais
e peregrina para fabricar novo ninho no país onde começa (UEG/Pref. de Santa Helena de Goiás/Analista de Controle
a estação das flores. Também Iracema achara ali nas praias Interno/2015)
do mar um ninho do amor, nova pátria para seu coração.
Como o colibri borboleteando entre as flores da acácia, 11.
ela discorria as amenas campinas. A lua da manhã já a en- Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
contrava suspensa ao ombro do esposo e sorrindo, como a De um povo heroico o brado retumbante.
enrediça que entrelaça o tronco robusto, e todas as manhãs Joaquim Osório Duque-Estrada
Língua Portuguesa

o coroa de nova grinalda.


ALENCAR, José. Iracema. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 80. Os dois versos do Hino Nacional Brasileiro, quando
colocados na ordem sintática direta, isto é, seguindo
6. Tem-se, como funções da linguagem predominantes no a sequência Sujeito – Verbo – Objeto, assumem a se-
texto 1 e no texto 2, respectivamente, as funções guinte configuração:
a) poética – conativa a) As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado
b) conativa – poética retumbante de um povo heroico.
c) fática – metalinguística b) Do Ipiranga ouviram de um povo heroico as margens
d) metalinguística – fática plácidas o brado retumbante.

17
c) O brado retumbante de um povo heroico as margens Leia o texto a seguir para responder às questões de 16 a 20.
plácidas do Ipiranga ouviram.
d) Ouviram as margens plácidas do Ipiranga o brado Reconhecendo e distinguindo
retumbante de um povo heroico. o preconceito e a intolerância

Leia o texto a seguir para responder às questões de 12 a 15. 1 À primeira vista, pode-se dizer, simplesmente, que
as palavras preconceito e intolerância são sinônimas.
Calcule o tempo em dobro Um exame um pouco mais detido, contudo, pode mos-
4 trar que preconceito é a ideia ou sentimento que pode
1 Para fazer um bom texto informativo, você vai preci- conduzir o indivíduo à intolerância, à atitude de não
sar de tempo, bastante tempo. Em vez de reservar dois admitir opinião divergente e, por isso, à atitude de re
dias para redigir um relatório de dez páginas, reserve 7 agir com violência ou agressividade a certas situações.
4 quatro. Isso indica uma primeira diferença: o traço semântico
Na produção de um filme, as cenas são refeitas mais forte registrado no sentido de intolerância é ser
até que seja conseguido o melhor resultado. Com as 10 um comportamento, uma reação explícita a uma ideia
7 frases é a mesma coisa. Raramente uma frase sai boa ou opinião contra a qual se pode objetar. Não constitui,
na primeira edição. É preciso reescrever as partes do simplesmente, uma discordância tácita. Um preconceito,
texto algumas vezes, até que o conjunto fique fácil de 13 ao contrário, pode existir sem jamais se revelar e, por
10 ler, correto, harmonioso. Pense no bem- estar do leitor. isso, existe antes da crítica.
Corrija, emende, substitua. Voltaire diz: “o preconceito é uma opinião sem
O computador permite reescrever sem dramas. 16 julgamento” e, ainda mais, até afirma a existência de
13 Com um mínimo de esforço, essa máquina maravilhosa “preconceitos universais, necessários, que representam
corta, cola, inverte, repete, guarda o original, passa a a própria virtude”. Disso se conclui, pois, que o filósofo
limpo e assim por diante. Isso põe fim às desculpas dos 19 admitia o bom e o mau preconceito. No Dicionário Filo-
16 acomodados, dos que não gostam de refazer as coisas. sófico não há o verbete intolerância, mas se pode che-
E, nunca é demais repetir: para o leitor, texto ruim gar a esse conceito pelo de tolerância, definida como o
não tem desculpa, seja cansaço, tristeza ou preguiça. Se 22 “apanágio da humanidade”, isto é, um privilégio, uma
19 o texto está enrolado, o leitor, sim, é quem fica cansado, regalia, uma vantagem, fato que, como se sabe, não
triste e com preguiça. E aí, adeus informação. é próprio de todos os seres humanos, em todas as cir
ASSUMPÇÃO, M. E. O. O.; BOCCHINI, M. O. Para escrever bem. 25 cunstâncias de suas vidas.
São Paulo: Manole, 2002. p. 80. (Adaptado). A ausência da tolerância é a dificuldade de o ser
humano aceitar bipolaridades, especificamente as re-
12. O texto, pelas propriedades estilísticas e pelo conteúdo 28 ligiosas, o que pode levar o homem a um comporta-
temático, assume um caráter instrucional, fato que se mento agressivo, à perseguição do adversário.
constata a partir da seguinte marca linguística: Bobbio (2004) examina dois dos principais signifi-
a) organização em parágrafos curtos. 31 cados que a palavra tolerância tem, para, a partir disso,
b) uso frequente de verbos no imperativo. formular os conceitos de preconceito e intolerância. O
c) períodos compostos por coordenação. termo tolerância pode ser empregado em referência à
d) argumentação por análise e comparação. 34 aceitação da diversidade de crenças e opiniões, prin-
cipalmente religiosas e políticas. A intolerância, pois,
13. De acordo com Assumpção e Bocchine, a produção de refere-se à incapacidade de o indivíduo conviver com
um bom texto informativo exige 37 a diversidade de conceitos, crenças e opiniões. Para
a) pesquisa em diversas fontes de informação. Rouanet (2003), “a intolerância pode ser definida como
b) computadores modernos e atualizados. uma atitude de ódio sistemático e de agressividade irra-
c) conhecimento de bons filmes e livros. 40 cional com relação a indivíduos e grupos específicos, à
d) diversos procedimentos de reescrita. sua maneira de ser, a seu estilo de vida e às suas cren-
ças e convicções. Essa atitude genérica se atualiza em
14. No texto de Assumpção e Bocchine, defende-se a ideia 43 manifestações múltiplas, de caráter religioso, nacional,
de que, quando se escreve um texto, o autor deve racial, étnico e outros”.
a) provocar a admiração do leitor com construções Já o preconceito, embora tenha em comum com o
difíceis e incomuns. 46 significado de intolerância a não aceitação da diferença
b) utilizar um vocabulário rebuscado para mostrar do- do outro, o que também se manifesta comportamental-
mínio da língua. mente, não leva o sujeito à construção de um discurso
c) buscar a clareza, a correção e a harmonia do texto 49 acusatório sobre a diferença, porque o preconceito
como um todo. pode construir-se sobre o que nem foi pensado, mas
d) focar nas ideias iniciais e evitar ao máximo a reela- apenas assimilado culturalmente, ou plasmado em ir
boração do texto. 52 racionalidades, emoções e sentimentos. O preconceito,
Língua Portuguesa

portanto, não tem origem na crítica, mas na tradição, no


15. Em qual das frases a seguir o verbo apresenta a mes- costume ou autoridade. Pode o preconceito redundar
ma regência encontrada na frase “você vai precisar de 55 em uma discriminação, mas não se manifesta discur-
tempo”? sivamente sobre argumentos que visam a sustentar
a) “texto ruim não tem desculpa”. “verdades”.
b) “o leitor, sim, é quem fica cansado”. 58 Apesar de as duas concepções examinadas serem
c) “dos que não gostam de refazer as coisas”. diferentes, pode-se extrair de ambas a mesma lição:
d) “O computador permite reescrever sem dramas”. o preconceito não surge, exclusivamente, de uma

18
61 dicotomia. Pode ser uma rejeição, um “não-querer” ou Gabarito
um “não-gostar” sem razão, e pode até mesmo não se
manifestar; a intolerância, por sua vez, nasce, necessa- 1. d 6. b 11. a 16. d
64 riamente, de julgamentos, de contrários, e se manifesta 2. a 7. a 12. b 17. b
discursivamente. É resultado da crítica e do julgamento 3. b 8. c 13. d 18. a
de ideias, valores, opiniões e práticas. 4. a 9. d 14. c 19. d
LEITE, Marli Quadros. Preconceito e intolerância na linguagem. 5. c 10. b 15. c 20. b

São Paulo: Contexto, 2008. p. 20-22. (Adaptado).

16. A autora do texto usa um procedimento argumentativo


que
a) utiliza figuras e imagens concretas para discutir e
exemplificar temas filosóficos.
b) repete e confirma as ideias dos senso comum utili-
zando uma linguagem científica.
c) rejeita o conhecimento filosófico e científico para
defender ideias do senso comum.
d) recorre ao discurso filosófico-científico para explicar
as diferenças entre dois conceitos.

17. A expressão “isto é” (linha 22) tem, no texto, a função de


a) estabelecer a oposição entre dois termos.
b) introduzir uma paráfrase explicativa.
c) retificar o uso inadequado de uma palavra.
d) negar um argumento apresentado.

18. Defende-se no texto a ideia de que preconceito e into-


lerância são termos
a) com sentidos diferentes, já que o primeiro refere-se
à opinião sem julgamento, baseada em emoções e
sentimentos, ao passo que o segundo refere-se à
atitude de ódio sistemático e de agressividade irra-
cional com relação a indivíduos e grupos específicos.
b) incompatíveis entre si, pois o preconceito é sempre
manifesto e geralmente apresenta um lado positivo,
que deve ser cultivado pelo indivíduo, ao passo que a
intolerância é uma reação inconsciente do indivíduo
contra as ideias dos outros.
c) sinônimos, já que ambos pressupõem atitude irra-
cional e inconsciente de ódio que um indivíduo nutre
por um ou mais grupos diferentes do seu, o que é
manifestado culturalmente pelo modo de agir do
indivíduo.
d) dicotômicos, pois o primeiro é uma manifestação
racional de determinados pontos de vista, razão pela
qual se apresenta em oposição ao segundo, que é
constituído pelo que foi assimilado culturalmente
pelo indivíduo.

19. A frase “embora tenha em comum com o significado


de intolerância a não aceitação da diferença do outro”
(linhas 45-46) estabelece, com o trecho no qual está
inserida, uma relação de
a) adição.
b) condição.
c) explicação.
d) concessão.
Língua Portuguesa

20. No texto, a autora coloca a frase “o preconceito é uma


opinião sem julgamento” (linha 15) entre aspas com
objetivo de
a) apontar uma ambiguidade.
b) indicar uma citação direta.
c) marcar uma metáfora.
d) enfatizar uma ideia.

19
PMGO

SUMÁRIO

Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica,


Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás
Formação econômica de Goiás:
mineração e pecuária.......................................................................................................................................................... 3

A construção de Goiânia e a nova dinâmica econômica de Goiás........................................................................................ 5

Modernização da agricultura:
impactos na economia goiana............................................................................................................................................ 6

Partidos políticos e democracia:


o fim do regime militar e a ordem política em Goiás.......................................................................................................... 6

Nação e região:
a cultura goiana................................................................................................................................................................... 8

Goiás:
diferenças regionais............................................................................................................................................................ 9

Urbanização e mudanças sociais em Goiás.......................................................................................................................... 10


Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica,
Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás Rodrigo Regazonni

Formação econômica de Goiás: Capitania de Goiás, desmembrada de São Paulo, em 1744,


mineração e pecuária vindo a receber o seu primeiro governador, Dom Marcos de
Noronha, quatro anos depois. Por oportuno, cabe lembrar
Durante o Brasil Colonial (1500-1822), em especial entre que o “Triângulo Mineiro” pertenceu à capitania de Goiás
os séculos XVI e XVII, o território goiano começou a receber até 1816. Sua incorporação à província de Minas Gerais é
resultado de pressões pessoais de integrantes de grupos diri-
diversas expedições exploratórias. Oriundas de São Paulo,
gentes da região, sendo que em 1861 a Assembleia Geral foi
as Bandeiras se empenhavam em aprisionar índios para
palco de discussões acaloradas entre parlamentares de Minas
empregá-los em seguida como mão de obra escrava em ati-
Gerais, que buscavam ampliar ainda mais a incorporação de
vidades associadas à agricultura e mineração. Havia também
territórios até o Rio São Marcos e de Goiás.
outras expedições originadas no Pará, que foram conhecidas
Em meados do século XVIII, as principais regiões ocu-
como Descidas com o objetivo de promover a catequese e
padas no período aurífero foram o Centro-Sul (próximo ao
o aldeamento dos índios existentes naquela região. Ambas
caminho para São Paulo), o Alto Tocantins e Norte da capi-
passavam pelo território, mas não resultava na criação de
tania, próximo à cidade de Porto Nacional (hoje Estado do
vilas permanentes, muito menos o estabelecimento de uma
Tocantins). Grandes áreas como o Sul, o Sudoeste, o Vale
população em número estável. A ocupação propriamente do Araguaia e as terras ao Norte de Porto Nacional foram
dita tornou-se mais efetiva somente após a descoberta de ocupadas mais intensamente durante os séculos XIX e XX,
ouro nessas localidades. Na época, havia sido encontrado com a ampliação da pecuária e da agricultura. O ouro goiano
ouro em Minas Gerais, próximo à atual cidade de Ouro Preto era principalmente de aluvião – retirado na superfície dos
(1698), e em Mato Grosso, próximo a Cuiabá (1718). Uma rios pela peneiragem do cascalho – e veio a escassear após a

Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás
crença associada ao período renascentista revelava que o década de 1770. Com a redução da atividade de extração, a
nobre metal era mais abundante quanto mais próximo ao região passou a viver principalmente da pequena agricultura
Equador e no sentido Leste-Oeste. Nisto, sua procura no “ter- de subsistência e de pecuária. Corumbá de Goiás e Crixás
ritório dos Goyazes” fomentou a formação de expedições podem ser citadas como dois dos municípios goianos que
em direção à região. A bandeira de Francisco Bueno foi a tiveram a sua origem ligada a atividades de garimpagem.
primeira a lograr êxito ao encontrar ouro em 1682, embora Devido ao esgotamento das jazidas auríferas, a partir de
em quantidade mínima. A expedição efetuou explorações 1780, a Capitania de Goiás iniciou um processo de ruralização
até as margens do Rio Araguaia. Junto com Francisco Bueno, e retrocesso a uma economia de subsistência, gerando graves
veio seu filho, Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido por problemas financeiros pela ausência da produção de um item
Anhanguera (Diabo velho). Conforme relatos, este teria se básico rentável. Para tentar reverter esta situação, o governo
interessado sobre o ouro que adornava algumas índias de português buscou incentivar e promover a agricultura em
uma tribo, mas não foi bem-sucedido na tentativa de obter Goiás. Contudo, não obteve resultados satisfatórios, em face
informações sobre a procedência do metal. Para conseguir do temor dos agricultores quanto ao pagamento de dízimos;
a localização, teria ameaçado atear fogo nas fontes e rios da da falta de interesse dos mineiros pela atividade agrícola e
região com aguardente para convencer os índios de que po- sua baixa rentabilidade; da ausência de um mercado consu-
deria realmente executar o feito, o que lhe conferiu o apelido. midor e, por fim, das dificuldades de exportação em função
Seu filho, também chamado de Bartolomeu Bueno da Silva, da inexistência de um sistema viário de transportes.
40 anos depois, também promoveu buscas nos locais onde Posteriormente, com a Independência do Brasil (1822),
seu pai havia transitado, atraído pelo mito da “Serra dos Mar- a Capitania de Goiás foi elevada à categoria de província.
tírios”, um lugar fantástico onde grandes cristais aflorariam Porém, a mudança não alterou a realidade socioeconômica
assumindo formas análogas a coroas, lanças e cravos, refe- de Goiás, que experimentava ainda um quadro de pobreza
rentes à “Paixão de Cristo”. Alcançou, assim, locais próximos e isolamento. As diminutas alterações observadas foram
ao rio Vermelho, no qual encontrou ouro (1722) em maior apenas de ordem política e administrativa. Por outro lado,
quantidade na comparação com outras paragens. Tendo se a expansão da atividade pecuária no território goiano, nas
estabelecido na região, fundou então a Vila de Sant’Anna três primeiras décadas do século XIX, alcançou relativo êxito,
(1727), chamada depois Vila Boa de Goyaz. Ao retornar para vindo a gerar como consequência o aumento da população.
São Paulo para revelar seus achados, foi nomeado Capitão- A atividade mostrou ser facilmente adaptável à geografia do
-Mor das “minas das terras do povo Goiá”. É preciso salientar cerrado, bem como à escassez progressiva de escravos em
que, durante o Período Colonial, o território que hoje com- virtude da mão de obra livre de vaqueiros e assalariados.
preende o estado de Goiás foi administrado pela Capitania de A Província de Goiás recebeu correntes migratórias
São Paulo. Na época, constituía a maior delas, estendendo-se oriundas, principalmente, dos estados do Pará, Maranhão,
do Uruguai até o atual estado de Rondônia. Bahia e Minas Gerais. Surgiram novas cidades. No sudoeste
Todavia, o poder de Bueno da Silva foi sendo reduzido em goiano, podemos citar Rio Verde, Jataí, Mineiros, Caiapônia
decorrência da administração régia ter se organizado melhor (Rio Bonito), Quirinópolis (Capelinha), entre outras. Por sua
na região. À medida que o ouro era encontrado pelas terras vez, ao norte (hoje Estado do Tocantins), observou-se uma
do sertão brasileiro, o governo português buscava aproximar- mesma tendência. E cidades já existentes, como Imperatriz,
-se da região produtora. Em 1733, foi privado dos direitos Palma, São José do Duro, São Domingos, Carolina e Arraias,
obtidos junto ao Rei, sob a alegação de sonegação de rendas. ganharam novo impulso.
Faleceu em 1740, empobrecido e com seus poderes esvazia- As modificações no panorama socioeconômico vieram a
dos. Ademais, com o objetivo de aperfeiçoar o controle sobre suscitar insatisfações e mudanças no âmbito político. No Bra-
a produção de ouro, evitar o contrabando, responder mais sil Independente, os presidentes de província e outros cargos
rapidamente aos ataques de índios nativos e coibir revoltas relevantes eram ocupados por indicações de livre escolha do
entre os mineradores, foi criada por meio de alvará régio a poder central entre pessoas de nacionalidade portuguesa,

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fato que descontentava os grupos locais. Com a abdicação projetos como o Polocentro e Polamazônia, o norte do estado
de D. Pedro I, surgiu em Goiás um movimento nacionalis- ainda tinha fraco desempenho econômico. A campanha tam-
ta liderado pelo bispo Dom Fernando Ferreira, pelo padre bém foi apoiada por intelectuais por meio do surgimento da
Luiz Bartolomeu Marquez e pelo coronel Felipe Antônio, Comissão de Estudos do Norte Goiano (Conorte), em 1981,
que recebeu o apoio das tropas e conseguiu depor todos que promoveu debates públicos sobre o assunto em Goiânia.
os portugueses que ocupavam cargos públicos em Goiás, A discussão pela divisão foi levada do nível estadual para o
inclusive o presidente da província. Já nas últimas décadas nível federal, onde a proposta foi rejeitada duas vezes pelo
do século XIX, grupos locais insatisfeitos fundaram partidos presidente José Sarney (1985), sob a alegação de o estado ser
políticos: O Liberal, em 1878, e o Conservador, em 1882. inviável economicamente. A mobilização popular e política da
Também fundaram jornais para divulgarem suas ideias: Tri- região norte fizeram com que o governador eleito de Goiás,
buna Livre, Publicador Goiano, Jornal do Comércio e Folha de em 1986, Henrique Santillo, apoiasse a proposta de divisão,
Goyaz. Com isso, representantes próprios foram enviados à passando a ser grande articulador da questão. A efetivação
Câmara Alta, fortalecendo grupos políticos locais e lançando dessas articulações deu-se durante a Assembleia Constituin-
as bases para a formação das oligarquias posteriores. Com a te, que elaborou a nova Constituição Nacional, promulgada
Proclamação da República (1889), o quadro dos problemas em 1988, e que contemplou a criação do Estado do Tocantins,
socioeconômicos enfrentados pela população goiana perma- efetivamente, a partir do dia 1º de janeiro de 1989. A divisão
neceu inalterado, em grande medida, devido ao isolamento partia do desmembramento da porção norte de Goiás, desde
decorrente da carência dos meios de comunicação. Pesava aproximadamente o paralelo 13° até a região do Bico do
negativamente a ausência de centros urbanos e de um mer- Papagaio, na fronteira do estado com o Pará e o Maranhão.
cado interno satisfatório. Não havia sido notadas mudanças No entanto, a cisão vinha sendo almejada desde o período
no quadro das elites dominantes, tendo elas se limitado a colonial. Em 1821, um movimento separatista do norte de
aspectos político-administrativos. Por outro lado, a partir Goiás chegou a estabelecer um governo autônomo provisório
de 1891, Goiás começou a vivenciar certo desenvolvimento na cidade de Cavalcante, que se declarou independente da
com a instalação do telégrafo para a transmissão de notícias. Comarca do Sul.
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Com a chegada da estrada de ferro no território goiano, no


começo do século XX, a urbanização na localização sudeste Governo JK e a construção de Brasília
foi incrementada, além de facilitar também a exportação de
arroz. Contudo, por falta de recursos financeiros, a estra- Antes mesmo de seu início, o governo de Juscelino
da de ferro não se estendeu até a capital e o norte goiano, Kubitschek (JK) se deparou com uma série de dificuldades. As
que permanecia praticamente incomunicável. O setor mais adversidades políticas que marcaram o período entre sua indi-
dinâmico da economia era a pecuária, com predomínio do cação como candidato e sua posse como presidente não deixa-
latifúndio no estado. vam dúvidas quanto à ferrenha oposição que teria pela frente.
Com a Revolução de 30 (1930), responsável por alçar O novo governo, fruto da aliança PSD-PTB, certamente seria
Getúlio Vargas à Presidência da República, foram registradas hostilizado por adversários capitaneados pela UDN, para quem
mudanças no campo político. Destituídos os governantes, Juscelino e Jango representavam a continuação política do ex-
Getúlio Vargas empossou em cada estado um governo pro- -presidente Getúlio Vargas. Parecia não existir possibilidade
visório composto por três membros. Em Goiás, um deles foi de meio termo para o novo presidente, e por isso mesmo o
o Dr. Pedro Ludovico Teixeira, que, dias depois, foi nomea- apoio da opinião pública seria a única forma de garantir sua
do interventor. O governo havia adotado como meta levar manutenção no cargo. Era preciso ousar, e JK o fez ao anunciar
o desenvolvimento para o estado, resolver os problemas do seu programa de governo – 50 anos de progresso em 5 anos de
transporte, da educação, da saúde e da exportação, além de realizações, com pleno respeito às instituições democráticas.
atribuir importância à probidade administrativa de maneira a Esse ideal desenvolvimentista foi consolidado num conjunto
rechaçar as práticas políticas tradicionais das oligarquias locais. de 30 objetivos a serem alcançados em diversos setores da
Importante notar que o crescimento e a especialização economia, que se tornou conhecido como Programa ou Plano
da agropecuária em Goiás, a partir das primeiras décadas de Metas. Na última hora o plano incluiu mais uma meta, a
do século XX, decorreu do avanço da fronteira agrícola do 31a, chamada de meta-síntese: a construção de Brasília e a
Sudeste, não tendo a crise do complexo cafeeiro, no final transferência da capital federal.
da década de 1920, interrompido o processo. A atividade Havia, no estado de Goiás, o interesse na efetivação da
agropecuária orientou-se na expansão de lavouras alimen- transferência, apesar da oposição de alguns jornais, assim
tares e na pecuária de corte destinadas ao abastecimento como no Rio de Janeiro, onde se observou uma campanha
do mercado interno. A implantação de uma infraestrutura aberta contra os defensores da NovaCap (nome da estatal res-
de transportes, as mudanças político-institucionais pós 1930, ponsável por coordenar as obras de Brasília e que, por exten-
bem como a construção de duas capitais (Goiânia e Brasília) são, virou uma alusão a própria cidade). Com o compromisso
em um intervalo de poucas décadas, serviram de base de assumido por JK em um comício na cidade de Jataí, Brasília
sustentação para o incremento das atividades agrícolas no passou a materializar-se imediatamente, mas a cada passo
estado, também impulsionada pela industrialização da região político ou técnico dado, uma onda de acusações era lançada
Sudeste, haja vista a importância das matérias-primas para contra a iniciativa. Construída em pouco mais de 3 anos (de
a produção de manufaturados. outubro de 1956 a abril de 1960), Brasília tornou-se símbolo
Tempos depois, durante o período do regime militar, as do espírito da época. Goiás, por outro lado, tornou-se a base
modificações na organização territorial dos estados ficaram para a construção, sendo que Planaltina, Formosa, Corumbá
a cargo do Governo Central e se submeteram a orientações de Goiás, Pirenópolis e, principalmente, Anápolis tiveram suas
políticas. A fusão do estado da Guanabara, pelo Rio de Janeiro dinâmicas modificadas, econômica e socialmente.
(1975), e o desmembramento do Sul do Mato Grosso (1977)
ilustram a afirmação. Nesse contexto, o deputado federal Aspectos político-sociais atuais de Goiás
Siqueira Campos iniciou uma campanha na Câmara onde so-
licitava a redivisão territorial da Amazônia Legal (com ênfase Goiás é governada hoje por Marconi Perillo. Seu vice é
no norte goiano), uma vez que mesmo com investimentos de José Eliton de Figuerêdo Júnior. O estado possui 246 municí-

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pios. É o sétimo maior em extensão territorial, com 340.086 pela industrialização. A economia seguia baseada no setor
km². Possui 17 deputados federais, 3 senadores e 41 deputa- primário – agricultura e pecuária – e persistia a vigência do
dos estaduais. A população é composta hoje por 6.610.681 sistema latifundiário.
habitantes. Na divisão por sexos, há 3.056.587 homens e Posteriormente, nos anos de 1950, foi criado o Banco do
3.554.094 mulheres. Os municípios mais populosos são Goi- Estado e a Centrais Elétricas de Goiás S.A (Celg). O governo
ânia, com 1,4 milhão de habitantes, seguido de Aparecida Mauro Borges Teixeira (1960-1964) propôs como diretriz de
de Goiânia, com cerca de meio milhão, e Anápolis, com 350 ação um “Plano de Desenvolvimento Econômico de Goiás”,
mil. A capital é administrada pelo prefeito Paulo Garcia. Seu contemplando as áreas de agricultura e pecuária, transportes
vice é Agenor Mariano. É a segunda cidade mais populosa e comunicações, energia elétrica, educação e cultura, saúde
da região Centro-Oeste, sendo superada apenas por Brasília. e assistência social, recursos naturais, turismo, entre outras.
De acordo com o IBGE, é também a sexta maior cidade do Ademais, fundou as seguintes autarquias e paraestatais:
Brasil em tamanho, com 256,8 quilômetros quadrados de • Consórcio de Empresas de Radiodifusão e Notícias do
área urbana. A Região Metropolitana de Goiânia possui mais Estado (Cerne);
de 2,2 milhões de habitantes, o que a torna a décima mais • Organização de Saúde do Estado de Goiás (Osego);
populosa do país. • Escola de Formação de Operadores de Máquinas Agrí-
colas e Rodoviárias (Eformago);
A construção de Goiânia e a nova • Caixa Econômica do Estado de Goiás (Caixego);
• Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do
dinâmica econômica de Goiás Estado de Goiás (Ipasgo);
• Escola Superior de Educação Física de Goiás (Esefego);
A mudança da capital de Goiás já havia sido cogitada • Centro Penitenciário de Atividades Industriais de Goiás
por governos anteriores, mas tornou-se realidade somente (Cepaigo);
a partir da Revolução de 1930, impulsionada pelo forte viés • Instituto de Desenvolvimento Agrário de Goiás (idago);
ideológico de seus líderes e à importância que conferiam • Departamento de Estradas de Rodagem de Goiás (Dergo);
aos fatores “progresso” e “desenvolvimento”. Por meio do

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• Metais de Goiás S/A (Metago);
Decreto nº 2.737, de 20 de dezembro de 1932, o então in- • Indústria Química do Estado de Goiás (Iquego) etc.
terventor de Goiás, Pedro Ludovico Teixeira, nomeou uma
comissão para realizar estudos relativos à escolha do local A Região Metropolitana de Goiânia
onde seria construída a futura capital. A região de Campi-
nas foi selecionada por revelar condições hidrográficas, to- A Região Metropolitana de Goiânia (RMG), conhecida
pográficas e climáticas propícias, além da proximidade da como Grande Goiânia, consiste em uma conurbação de cida-
estrada de ferro. Três localidades também foram objeto de des ao redor da capital. Criada pela Lei Complementar Esta-
análise do estudo: Pires do Rio, Bonfim (atual Silvânia) e dual nº 27, em 30 de dezembro de 1999, a RMG é a primeira
Ubatam (atual município de Orizona). A iniciativa resultou do Centro-Oeste do Brasil. Em 2010, outra Lei Complementar
em elevado crescimento demográfico, em consequência da Estadual – de 25 de março –, incluiu mais seis municípios
chegada de pessoas interessadas em participar do trabalho na RMG: Brazabrantes, Caldazinha, Caturaí, Inhumas, Nova
de construção da cidade. Veneza e Teresópolis de Goiás. Atualmente, a Região integra
Em 24 de outubro de 1933 foi lançada a pedra fundamen- 20 municípios e ocupa uma área de mais de sete milhões de
tal. Dois anos depois, em 7 de novembro de 1935, foi iniciada quilômetros quadrados.
a mudança provisória da nova capital. O nome “Goiânia”,
sugerido pelo professor Alfredo de Castro, foi escolhido em Aspectos étnicos do estado de Goiás
um concurso promovido pelo semanário “O Social”. A trans-
ferência definitiva da nova capital, da Cidade de Goiás para Pode-se afirmar que a composição inicial da população
Goiânia, se deu no dia 23 de março de 1937, por meio do de Goiás se deu por meio da convivência – não raro hostil
Decreto nº 1.816. Em 5 de julho de 1942, quando foi realiza- – entre índios nativos, paulistas e portugueses em busca
do o “batismo cultural”, Goiânia já contava com mais de 15 de riquezas minerais. Estes, por sua vez, trouxeram negros
mil habitantes. Cabe frisar que algumas de suas principais africanos consigo para o trabalho escravista, moldando a
edificações – como, por exemplo, o Cine Teatro Goiânia e costumeira tríade da miscigenação brasileira entre índios,
a Estação Ferroviária – foram construídas segundo um pa- negros e brancos, e todas as suas derivações. Entretanto, a
drão arquitetônico característico, denominado art déco. Visto formação do caráter goiano vai além dessa visão simplista
como passagem do art nouveau para o modernismo, o estilo e adquiriu características especiais à medida que o espaço
durou pouco mais que uma década. Todavia, foi o suficiente físico do Estado passou a ser ocupado. Até o início do sé-
para situar Goiânia em seu mapa de abrangência. culo XIX, a maioria da população em Goiás era composta
Pode-se afirmar que a construção de Goiânia devolveu por negros. Os índios que habitavam o estado ou foram di-
aos goianos a confiança em si mesmos, após um período zimados pelo ímpeto colonizador ou migraram para aldea-
de decadência da mineração e da percepção de isolamento mentos oficiais supervisionados por autoridades leigas ou
nacional. Em vez do saudosismo concernente às memórias religiosas. Segundo o recenseamento de 1804 (o primeiro
de grandeza do passado, emergia um pensamento mais oti- oficial), 85,9% dos goianos eram “pardos e pretos” e este
mista em relação às expectativas quanto ao futuro. Assim, perfil continuou constante até a introdução das atividades
a partir de 1940, Goiás passa a crescer em ritmo acelerado, agropecuárias na agenda econômica do Estado. Havia no
também em virtude do desbravamento do Mato Grosso imaginário popular da época a ideia de sertão presente na
Goiano, da campanha nacional de “Marcha para o Oeste” constituição física do Estado. O termo, no entanto, remeteria
e da construção de Brasília. A população do estado se mul- a duas possibilidades distintas de significação: assim como
tiplicou, estimulada pela forte imigração, oriunda principal- na África, representava o vazio, isolado e atrasado, mas que
mente dos Estados do Maranhão, Bahia e Minas Gerais. A por outro lado se revelava como desafio a ser conquistado
urbanização foi provocada essencialmente pelo êxodo rural. pela ocupação territorial. Esta ocupação viria acompanhada
Contudo, o fenômeno neste período não foi acompanhado predominantemente pela domesticação do sertão segundo

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um modelo de trabalho familiar, cujo personagem principal, fatores que explicam isso, não raro são mencionados aqueles
o sertanejo, assumiria para si a responsabilidade pela cons- de ordem ambiental, com destaque para o relevo tabular. Na
trução do País, da ocupação das fronteiras e, por seguinte, prática, determinadas localidades foram mais favorecidas
da Marcha para o Oeste, impulsionadora do desenvolvimen- que outras. É o caso dos municípios goianos de Rio Verde e
to brasileiro. Registros da época revelam a deflagração de Jataí, beneficiados por sua geografia e também por políticas
processos migratórios ao longo do século XIX e metade do agrícolas. Um dos programas é o Programa de Desenvolvi-
século XX, com correntes oriundas de Minas Gerais, Bahia, mento dos Cerrados (Polocentro). Os recursos oferecidos
Maranhão e Pará resultando em uma ampla mestiçagem por estas iniciativas foram, em larga medida, responsáveis
na caracterização do personagem sertanejo. O calendário por desenvolver as potencialidades econômicas da região.
litúrgico e a chegada de tropas e boiadas traziam as únicas Vale lembrar que a atividade pecuária goiana também se
novidades pelos cristãos e mascates. Nessa época, a signi- projetou expressivamente no período.
ficação da vida estava diretamente ligada ao campo e dele Entre 2003 a 2014, Goiás alcançou grande expressão com
resultaram, segundo as atividades registradas nos arraias, a expansão da agropecuária. Apresentou, em volume, varia-
o militar, o jagunço, o funcionário público, o comerciante e ção média anual de 5,2%, fruto do significativo avanço da
o garimpeiro. Consequentemente, ao longo do século XX, produtividade e da diversificação de culturas. O estado figura
novas levas migratórias, dessa vez do sul e de estrangeiros atualmente entre os maiores produtores em nível nacional
começam a ser registradas no território goiano, de modo que de soja (3º), sorgo (1º), milho (3º), feijão (3º), cana-de-açúcar
no Censo do ano 2000, os cinco milhões de habitantes se (3º) e algodão (3º). Na pecuária, Goiás é destaque em reba-
declararam brancos (50,7%), pardos (43,4%), negros (4,5%) nho bovino (3º) e na produção de leite (4º). A produção de
e de outras etnias (0,24%). suínos e frangos também tem ganhado importância, prin-
cipalmente após a criação de complexo agroindustrial no
Césio-137 município de Rio Verde e região a partir de 2001. Na pauta
dos produtos de exportação, destacam-se complexos grãos
Há 28 anos, Goiânia sediou o que muitos consideram e carnes. A soja, apesar de presente em todo o território
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como o maior acidente radiológico do mundo. A tragédia goiano, tem mais da metade de sua produção concentrada
envolvendo o Césio-137 deixou um saldo de centenas de em alguns municípios, dentre os quais despontam Jataí, Rio
vítimas contaminadas, entre mortos e pessoas portadoras de Verde e Cristalina.
sequelas irreversíveis. Na esfera radioativa, o episódio com o Embora com crescimento menor do que as demais ativi-
Césio 137 só não foi maior que o acidente na usina nuclear dades, a indústria nos últimos anos tem alterado a estrutura
de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, segundo a Comissão produtiva da economia goiana, com a indústria de transfor-
Nacional de Energia Nuclear (Cnen). O incidente teve início mação ganhando participação entre os setores econômicos.
depois que dois jovens catadores de papel encontraram e As indústrias do ramo alimentício, farmacêutico e, recente-
abriram um aparelho contendo o elemento radioativo. A peça mente, da cadeia produtiva sucroalcooleira e automotiva,
foi achada em um prédio abandonado, onde funcionava uma impulsionam hoje o setor. Tais mudanças realocaram espa-
clínica desativada. Mesmo passadas mais de duas décadas cialmente a produção industrial no Estado, com a formação
da tragédia, o acidente ainda deixa resquícios de medo. Um de polos como os existentes em Anápolis e Catalão. Já a
exemplo é a situação do local onde morava uma das pessoas indústria sucroalcooleira teve disseminação maior, ao alcan-
que encontraram a peça. A casa em que vivia o catador foi çar uma quantidade superior de municípios e fortalecer as
demolida no mesmo ano em que tudo ocorreu. Apesar de o economias locais. Por sua vez, o setor de serviços ainda é
solo ter sido todo retirado e ter sido substituído por várias ca- o maior gerador de renda e empregos no estado. O comér-
madas de concreto, não se conhece registros de construções cio tem um peso relevante na economia, nas dimensões do
feitas no local. Cerca de 6 mil toneladas de lixo radioativo varejo e do atacado, sendo que este último se beneficia da
foram recolhidas na capital goiana após o acidente. Todo esse localização estratégica do estado como centro de distribuição
material com suspeita de contaminação foi levado para a uni- para o restante do País.
dade do Cnen em Abadia de Goiás, na Região Metropolitana
da capital, onde foi enterrado. Após mais de duas décadas,
os resíduos já perderam metade da radiação. No entanto, Partidos políticos e democracia:
o risco completo de radiação só deve desaparecer em pelo o fim do regime militar e a ordem
menos 275 anos, de acordo com especialistas. política em Goiás
Modernização da agricultura: No início da década de 1980, o Regime Militar revelava
impactos na economia goiana desgastes decorrentes da recessão econômica e de apelos
em favor da abertura política. No Parlamento, a oposição
As alterações na estrutura produtiva da região Centro- crescia com o MDB e com os partidos que o sucederam na
-Oeste, como em parte significativa do cerrado brasileiro, pós-reforma eleitoral de 1979/1980, dando fim à hegemonia
ocorreram notadamente por intermédio da modernização da Arena. Nisto, a proposta do Governo Geisel de abertura
da agricultura. A partir da década de 1970, o estado de Goiás lenta e gradual apresenta-se como uma saída sem rupturas
sofreu um amplo processo de aprimoramento de suas ativi- drásticas, reforçado pelo movimento em prol da anistia e do
dades agrícolas. Este fenômeno se caracterizou em especial retorno dos exilados políticos.
pelo emprego de técnicas modernas de cultivo, marcadas A retomada da eleição direta para o governo estadual,
pela utilização de maquinários, insumos químicos e sementes em 1982, possibilitou a campanha para eleição direta para
aperfeiçoadas na produção de grãos – como a soja –, desti- presidente da República. As Diretas Já mostravam a força da
nados ao mercado externo. Todavia, é preciso salientar que articulação política e da desagregação do partido do Gover-
esse processo de modernização da agricultura não se deu no. Mesmo tendo o Congresso decidido pela eleição indireta,
de forma homogênea pelo território goiano. No Sudoeste a vitória de Tancredo Neves para substituir o general João
do estado, por exemplo, ocorreu de forma desigual. Entre os Figueiredo abriu caminho para uma transição sem rupturas.

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Na sequência, observou-se o fim do ciclo dos governos em 1º de janeiro de 1987 e governou até 31 de dezembro de
militares. Fatores como a posse de José Sarney (em 1985); 1990. O processo de redemocratização fez com que o chama-
a superação do AI-5 e da legislação autoritária; a campanha do “entulho autoritário” – conjunto de legislação restritiva e
pela Constituinte em 1987; a Constituição de 1988 e a eleição imposta pelo Regime Militar – fosse questionado, levando o
direta para Presidência da República (em 1989) constituíram Congresso Nacional a atribuir a esta Legislatura, agora eleita,
indicadores de um novo período da história política nacional. o caráter Constituinte. Assim, o Congresso Nacional formulou
No novo período, os mecanismos de democracia afloraram uma nova Constituição, que foi promulgada em 5 de outubro
com a participação eleitoral, liberdade política, legalização de 1988, conhecida como Constituição Cidadã. Por exigência
dos partidos comunistas, livre organização da esquerda e da nova Carta Constitucional, em 1989, a Assembleia Legis-
liberdade de imprensa, tendo estabelecido as condições para lativa do Estado de Goiás também foi revestida do caráter
a consolidação do regime representativo no País. constituinte, com a nova Constituição Estadual promulgada
Em 1982, os governadores estaduais foram eleitos di- em 5 de outubro de 1989.
retamente – desde 1965 as eleições eram realizadas indi- A 11ª Legislatura (1987-1991) teve um número alto de
retamente pelas Assembleias Legislativas. Com isso, pela novos deputados, 25 (61%), com apenas 16 deputados re-
alteração dos quadros políticos na maioria dos estados e a eleitos (39%). O PMDB, que já governava o estado, elegeu
força de que os governadores dispunham, a política nacional 27 deputados (66%); o PDC, 6 (14,6%); o PFL, 5 (12,2%); o
sofreu uma melhora e lançou perspectivas menos sectárias PT, 2 (4,8%); e o PDS, 1 (2,4%). Duas mulheres foram eleitas
para a política nacional. Em Goiás, na eleição de outubro de deputadas – Cleuzita Antônia Resende de Assis (PFL) e Maria
1982, Íris Rezende Machado (PMDB), foi eleito governador da Conceição Gayer (PDC). Vale observar que, desde 1967, na
estadual, tendo seu partido composto a maior bancada na 6ª Legislatura, nenhuma mulher havia sido eleita deputada
Assembleia Legislativa e a maioria dos deputados federais. em Goiás, compondo um período de 20 anos. Registre-se
Com o pleito, o PMDB estabeleceu sua hegemonia sobre a que não houve, durante todo o Regime Militar, nenhum im-
política estadual, elegendo sucessivos governadores e tendo pedimento legal para tal ocorrência. Assim, razões de outra
maioria nas bancadas federal e estadual até 1998. Em 1986, natureza tolheram a participação feminina na política. Sob

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o médico Henrique Santillo (PMDB) elegeu-se para governar os preceitos da Constituição de 1988, ocorreu, em 3 de ou-
de 1987 a 1991; em 1990, Íris Rezende Machado (PMDB) tubro de 1990, a primeira eleição geral desde os anos 1960,
foi novamente eleito e, em 1994, foi eleito Maguito Vilela voltando a ser eleito, de forma direta, o presidente da Re-
(PMDB), que governou de 1995 a 1999. Nesse período de pública. Com o estabelecimento de eleição em dois turnos,
predomínio do PMDB, houve quatro legislaturas (10ª, 11ª, Fernando Collor de Melo sagrou-se vitorioso nas urnas. Neste
12ª e 13ª), com 163 deputados eleitos. Além da Constituição pleito, novamente o PMDB manteve sua força política em
Estadual de 1989, o retorno da mulher como parlamentar e Goiás, elegendo o governador, o senador e a maioria dos
um crescente número de partidos políticos marcaram essas deputados federais e estaduais. Para governador do Estado,
legislaturas. Íris Rezende Machado, do PMDB, foi escolhido novamente
para administrar Goiás de 1º de janeiro de 1991 a 1º de
10ª e 13ª Legislaturas (1983-1999) dezembro de 1995, vencendo Mauro Borges, que rompera
com o PMDB, levando seus aliados para o PDC.
Conforme já descrito, em 15 de novembro de 1982, na Na 12ª Legislatura, de 1991 a 1995, 11 partidos elegeram
primeira eleição direta para Governador desde o AI-2, em deputados – o PMDB fez a maior bancada, com 18 (43,9%),
1965, Íris Rezende Machado (PMDB) foi eleito governador seguido pelo PDC, com 6 (14,6%), pelo PT e PSDB, ambos com
do estado de Goiás, vencendo o ex-governador Otávio Lage 3 deputados (7,3%), os partidos PFL, PL, PRN e PDS, com 2
de Siqueira (PDS). Nesta eleição, também foi eleita a repre- deputados (4,8%), e, finalmente, PC do B, PSD e PDT, com
sentação do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e da apenas 1 deputado eleito (2,4%). A renovação da Assembleia
Assembleia Legislativa de Goiás. Vale observar que, embora foi muito expressiva. Apenas 4 parlamentares (9,8%) se ree-
o sistema bipartidário estivesse terminado, apenas duas le- legeram, com 37 novos deputados (90,2%), considerando-se
gendas elegeram deputados para a 10ª Legislatura (1983- a banca anterior. Duas mulheres foram eleitas deputadas –
1987) – o PMDB elegeu 27 deputados (67,5%) e o PDS, 13 Denize Aparecida Carvalho (PC do B) e Vanda Lúcia Dias de
deputados (32,5%). Posteriormente, alguns parlamentares Melo (PRN) –, sendo que a suplente de deputada Cleuzita A.
se transferiram para o PDC e outros para o PFL. Foi grande a R. de Assis efetivou-se no decorrer da legislatura, e, posterior-
renovação do Legislativo estadual. Somente 11 deputados mente, a bancada feminina foi ampliada em uma suplente.
(27,5%) se reelegeram, com 29 (72,5%) novos deputados. É Na eleição de 3 de outubro de 1994, venceu, na cena
bom lembrar que o PMDB goiano foi beneficiado pela mu- federal, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que havia sido
dança na legislação eleitoral que estabeleceu a vinculação ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco e respon-
de voto. Ela, sem dúvida, reforçou o apelo eleitoral da chapa sável pela implantação do Plano Real – projeto que visou
encabeçada por Íris Rezende, o PMDB, que, além de eleger o estabilizar a economia brasileira. Mais uma vez, o PMDB
Governador e o maior número de deputados federais, empla- elegeu o governo e a maioria dos deputados federais e es-
cou 10 deputados estaduais a mais que na eleição anterior taduais. Para o governo, venceu Maguito Vilela (PMDB), que
(novembro/1978). O PDS, que substituiu a Arena, além de era vice-governador.
não governar o estado, viu reduzidas as suas bancadas fe- Na 13ª Legislatura (1995-1999), 10 partidos elegeram
deral e estadual. Cabe destacar que na presente Legislatura deputados. O PMDB apontou 13 (31,7%), tendo sua banca-
nenhuma mulher foi eleita deputada. da reduzida. O PSD elegeu 5 deputados; o PL, PFL e PSDB
Já encerrado o ciclo de governos militares, uma vez que, emplacaram 4 (9,7%) cada um; o PT, PPR e PP, 3 (7,3%) cada
em janeiro de 1985, Tancredo Neves e José Sarney já haviam um; e o PTB e PC do B, somente um (2,5%). Também foi alta a
sido eleitos presidente e vice-presidente da República pelo renovação – 35 novos deputados eleitos (85,4%), com apenas
Congresso Nacional, foram eleitos, em 15 de novembro de 6 reeleitos (14,6%). Cresceu muito a bancada feminina com
1986, os governadores de estado e o Congresso Nacional. 5 mulheres eleitas – Denise A. de Carvalho (PC do B), Dária
Em Goiás, para o Executivo estadual, elegeram-se o médico Alves Rodrigues (PMDB), Mara Merly de Pina Naves (PMDB),
Henrique Antônio Santillo, candidato do PMDB, que assumiu Nelci Silva Spadoni (PSDB) e Onaide Silva Santillo (PFL).

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A eleição de 4 de outubro de 1998 promoveu uma virada lamento estadual – 24 novos deputados (51,2%), com 14
na política estadual. O PMDB, que desde 1983 governava o legendas inicialmente representadas.
estado, perdeu a eleição mesmo tendo seu principal líder na A bancada feminina, com oito deputadas eleitas, foi a
disputa (Íris Rezende Machado). Marconi Perillo, candida- maior na comparação com outras Legislaturas. E conside-
to pela Coligação PSDB/ PP/PFL, foi eleito para a gestão do rando três suplentes que assumiram, 11 mulheres vieram a
Governo Estadual de 1999 a 2003. É preciso destacar que, integrar esta Legislatura, representando mais de um quarto
nesta eleição, o então presidente da República, Fernando (26,8%) da composição da Assembleia Legislativa de Goiás.
Henrique Cardoso, foi reeleito graças à introdução na Cons- Por sua vez, a eleição de 2006 compôs a 16ª Legislatura.
tituição Federal de emenda relativa à reeleição para cargos Duas legendas (PSDB e PMDB) elegeram o mesmo número
do Executivo no Brasil. Para a 14ª Legislatura (1999-2003), de deputados – 10 cada uma, ou seja, quase a metade da
11 partidos elegeram deputados. O PMDB elegeu a maior composição da Assembleia (48,8%), sendo que outras nove
bancada, com 16 (39%); seguido pelo PSDB, com 6 (14,6%); legendas compuseram a outra metade. Nesta legislatura, foi
o PL e o PSD elegeram 4 cada um (9,8%); o PPB, 3 (7,3%); PFL maior o número de deputados reeleitos 24 (58,5%), com 17
e PST, 2 (4,8%); e, elegendo apenas 1 deputado, os seguintes novos deputados (41,5%). A continuidade da base Tempo
partidos PSC, PT, PC do B e PDT (2,4%). Novo ocorreu com a eleição de Alcides Rodrigues (PP/PSDB)
No início da Legislatura, cinco deputados desligam-se do para o governo estadual, também porque a situação pros-
PMDB e migram para partidos da base do Governo que, dessa seguiu com a maioria de deputados no Parlamento goiano.
forma, passa a ter maioria. Também foi alta a renovação – 29 O número de mulheres eleitas deputadas foi menor que da
novos deputados (70,7%) e apenas 12 reelegeram-se (29,3%). última Legislatura, com seis, tendo representado somente
Manteve-se alta a eleição de mulheres para o Legislativo es- 14,6% da composição do Legislativo estadual.
tadual, 6 (14,6%), com mais uma que assumiu como suplente. A eleição de outubro de 2010 compôs a 17ª legislatura. O
número de partidos com representação no Legislativo esta-
14ª e 17ª Legislaturas (1999-2015) dual (14) elevou-se, com duas legendas formando as maiores
bancadas (PSDB e PMDB) – oito deputados cada uma. Nesta
Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás

Um novo momento na política estadual descortinou-se Legislatura, foi maior a quantidade de novos deputados, 23
com a vitória de Marconi Perillo (PSDB/PPB/PFL) para o go- (56,1%), com 18 deputados reconduzidos (43,9%). Desde a
verno de Goiás. O PMDB, que desde 1983 administrava o redemocratização, foi a Legislatura com o menor número de
estado, perdeu as eleições realizadas em 4 de outubro de deputadas eleitas, com apenas duas representantes (4,9%). A
1998, mesmo tendo Íris Rezende como candidato. Para a 14ª eleição de 2010, embora tenha mantido a rivalidade federal
Legislatura (1999-2003), 11 partidos elegeram deputados. O entre PT e aliados x PSDB e aliados, apresentou como novida-
PMDB emplacou a maior bancada com 16 deputados (39%), de a eleição da primeira mulher à Presidência da República,
seguido pelo PSDB, com 6 (14,6%); o PL e o PSD elegeram 4 Dilma Rousseff, da Coligação PT/PMDB. Em Goiás, a eleição
cada um (9,8%); o PPB/PP, 3 (7,3%); PFL e PST, 2 (4,8%); e, foi marcada pela rivalidade entre PSDB e PMDB, tendo as
elegendo apenas 1 deputado, os partidos PSC, PT, PC do B e candidaturas de Marconi Perillo (PSDB) e Iris Resende (PMDB)
PDT (2,4%). No início da Legislatura, o quadro partidário de- reeditado o confronto de 1998. Os dois candidatos foram os
finido nas eleições foi alterado. Cinco deputados desligaram- mais votados no 1º turno, tendo disputado juntos o segun-
-se do PMDB e migraram para partidos da base do governo do turno. Marconi Perillo foi eleito novamente. Governando
que, dessa forma, passou a constituir maioria. Também foi Goiás pela terceira vez e, apesar da ruptura do Governo Al-
alta a renovação – 29 novos deputados (70,7%). Apenas 12 cides Rodrigues, constituirá o quarto mandato do chamado
se reelegeram (29,3%). Seis mulheres foram eleitas para o “Tempo Novo”. Por sua vez, a coligação PSDB/DEM emplacou
Legislativo estadual (14,6%), tendo mais uma assumido o também os senadores para as vagas existentes – Demóste-
cargo como suplente. nes Torres (DEM) e Lúcia Vânia (PSDB). Na bancada federal,
Ainda no ano de 1999, foi votada pela Assembleia Le- predominou a reeleição, com dez partidos elegendo os 17
gislativa a Lei nº 13.550, de 11 de novembro de 1999, que deputados, sendo que três deles – PMDB, 4; PSDB, 3; e, DEM,
modificou intensamente a organização administrativa do Po- 3 – obtiveram o maior aumento de parlamentares federais.
der Executivo do estado. Essa lei extinguiu diversas Secreta-
rias, bem como algumas autarquias e fundações. A principal Nação e região: a cultura goiana
inovação foi percebida na criação das Agências Goianas de
Administração e Negócios Públicos; de Comunicação; de O professor e historiador Nasr Fayad Chaul afirma que
Desenvolvimento Regional; de Desenvolvimento Rural e compreender a identidade do goiano consiste em uma ma-
Fundiário; de Meio Ambiente; de Regulação, de Controle de neira de pensar melhor a ideia de um Brasil Central ou de
Fiscalização de Serviços Públicos; de Transportes e Obras; do uma identidade de Centro-Oeste. Culturalmente, goianos
Sistema Prisional; de Turismo; de Desenvolvimento Industrial seriam frutos de uma rica mestiçagem, composta de ele-
e Mineral; de Esporte e Lazer e de Defesa Agropecuária. Essas mentos e traços culturais do índio nativo, do negro africano e
autarquias vieram absorver as atribuições de Secretarias e o branco europeu, perceptível da literatura às artes plásticas,
outros órgãos públicos extintos, na tentativa de descentra- passando também pela música e pela dança. O especialista
lizar mais efetivamente a administração pública estadual, a aponta que, com o esgotamento do ciclo aurífero, criou-se
exemplo de providências do Governo Federal. um estigma de decadência que passou a permear todas as
O pleito de 6 de outubro de 2002 acusou o triunfo de Luiz análises realizadas sobre a história de Goiás. Esse estigma de
Inácio Lula da Silva, líder sindical e candidato do Partido dos terra do “atraso”, da “decadência”, do marasmo e do ócio,
Trabalhadores para a Presidência da República. Em Goiás, teria servido para se identificar o goiano e criar o que pode-
esta eleição apresentou o confronto da base de sustentação ríamos chamar de goianice por vários séculos, até que outra
do Governo (PSDB/PP/PFL) contra o PMDB. Marconi Perillo construção e outro estigma viesse a substituí-lo, baseado na
foi reeleito governador, vencendo Maguito Vilela, do PMDB, ideia de modernização em forma de progresso preconizada
no segundo turno. A base aliada do Governador elegeu 19 após o movimento de 1930. Por meio do viés do progresso,
parlamentares (46,8%), tendo o PSDB a maior bancada, com os arautos de 30 teriam procurado reconstruir a imagem de
13 deputados eleitos. Foi significativa a renovação no Par- Goiás e imprimir uma face mais contemporânea ao estado, o

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que poderia ser visto como a tentativa de inserir a região Centro Goiano
na construção da nação. Assim, a título de representação,
a “goianice” se remeteria à época em que a ideia de “deca- O Centro Goiano representa 13,47% do PIB. Destacam-
dência” serviu para rotular o contexto da história de Goiás -se o setor industrial (17,37%) e o de impostos (26,24%). O
após a crise da mineração, enquanto o termo “goianidade” município de Anápolis tem participação de 76,54% do total
indicaria a construção da ideia de modernização por inter- gerado na Região, com destaque para o setor de serviços.
médio de uma de suas representações, o progresso, fruto Entre 2009 e 2010, o município cresceu 24,05%.
dos projetos político-econômicos do pós-30. Assim, a “goia- Principais atividades: comércio atacadista; polo confec-
nidade” abrangeria uma época em que se buscou mesclar o cionista; polo Industrial, com destaque para o segmento
“velho” e o “novo”, fundir o “antigo” e o “moderno”, envolver farmacêutico; polo educacional/universitário; produção
o rural e o urbano e confluir o “atraso” e o “progresso” pelos agrícola; polo agropecuário.
caminhos da história.
Entrementes, é preciso destacar a existência de cidades Entorno do Distrito Federal
reconhecidas como patrimônio nacional e internacional em
Goiás, além de manifestações seculares como as Cavalhadas O Entorno do Distrito Federal tem participação e 8,63%
e a Festa do Fogaréu, promovidas em Pirenópolis e cidade de no PIB. Na Região destacam-se o setor agropecuário e o setor
Goiás, respectivamente. No estado, ainda se localiza o San- de serviços. A economia de Luziânia corresponde a 24,69%
tuário do Divino Pai Eterno, em Trindade, além de tradições do total da Região, com destaque para o setor agropecu-
passadas de geração para geração. Destaques para as cidades ário. Cristalina e Formosa seguem com 13,32% e 10,83%
de Alto Paraíso, Cavalcante, Cidade de Goiás, Pirenópolis, respectivamente.
Serranópolis e Trindade. Principais atividades: agricultura; agroindústria; pecuária;
polo educacional/universitário; turismo.
Goiás: diferenças regionais
Sul Goiano

Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás
Goiás constitui, em termos populacionais, um território
ocupado de forma heterogênea, com a grande maioria de sua A Região tem 7,39% em participação no PIB. Itumbiara
população concentrada nas regiões do Entorno de Brasília detém 31,36% do total seguido de Caldas Novas (11,88%),
e Metropolitana de Goiânia, com áreas praticamente vazias Goiatuba (9,51%) e Morrinhos (9,48%). Nestes municípios
ou de densidade demográfica muito reduzida. A maior parte destaca-se o setor de serviços.
dos municípios do interior do Estado abriga um contingente Principais atividades: agroindústria; turismo e hotelaria;
reduzido de populações voltado para atividades agropecuá- polo educacional/universitário; polo confeccionista.
rias. No estado goiano, há dez Regiões de Planejamento ca-
racterizadas por suas atividades e potencialidades no que se Sudeste Goiano
refere às riquezas naturais, aos setores industriais, serviços,
extrativistas, de turismo e lazer, dentre outros, de acordo O Sudeste Goiano tem participação de 7,24% no PIB e
com o que segue (dados e estatísticas referentes a 2010). corresponde à maior contribuição do setor agropecuário,
impulsionado pelo município de Ipameri. O município de
Catalão detém 56,17% do total gerado na Região, que tem
Região Metropolitana de Goiânia por destaque o setor industrial.
Principais atividades: agricultura; agronegócio; minera-
A Região Metropolitana de Goiânia foi responsável por ção; pecuária; plataforma tecnológica; polo confeccionista;
36,86% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. Dentre os polo educacional/universitário; centro de formação profis-
vinte municípios que compõe a região, destacam-se em par- sional; turismo.
ticipação: Goiânia (67,96%), Aparecida de Goiânia (14,31%)
e Senador Canedo (8,86%), sendo que, entre 2009 e 2010 Norte Goiano
apresentam aumento de 14,34%, 11,95% e 19,86% respec-
tivamente. Nos três municípios o setor de serviços detém O Norte Goiano detém 5,04% do PIB. Destacam-se os
maior participação. A Região possui o maior índice de partici- municípios de Minaçu (18,24%), Alto Horizonte (15,33%) e
pação nas atividades industrial e de serviços na comparação Niquelândia (15,11%). Em Minaçu o a maior participação é do
com as demais, com 26,49% e 47,92%, respectivamente. setor industrial seguido dos setores de serviços e impostos.
Principais atividades: comércio de produtos alimentícios Principais atividades: agricultura; indústria; mineração;
e higiene pessoal; polo empresarial; polo industrial; polo pecuária; polo educacional/universitário; turismo.
educacional/universitário; prestação de serviços.
Oeste Goiano
Sudoeste Goiano
O Oeste Goiano participa com 4,52% do PIB estadual,
O Sudoeste Goiano tem participação de 13,50% no PIB do sendo o setor agropecuário o de maior representação. Na
estado. Os municípios de Rio Verde (31,59%), Jataí (16,27%) região destaca-se Palmeiras de Goiás, com 11,24% no total
e São Simão (10,50%) detêm as maiores participações na gerado pela Região.
região onde se destacam os setores de serviços e indústria. Principais atividades: agropecuária; indústria; mineração;
Entre 2009 e 2010, Jataí tem crescimento de 10,92%, São polo educacional/universitário; turismo.
Simão 10,18% e Rio Verde -2,35%. É a Região com maiores
índices de produção agropecuária na comparação com as Nordeste Goiano
demais, com 27,5% do total.
Principais atividades: indústria; mineração; polo agrope- O Nordeste Goiano corresponde a 1,69% no PIB. Caval-
cuário; polo educacional/universitário; turismo. cante (18,56%), Posse (13,19%) e Buriti Alegre (10,46%),

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são os municípios com maior participação na região. Em do solo com temperatura de até 37ºC e abastecem piscinas
Cavalcante, o setor industrial contribui com a maior parte da região. Ademais, a vegetação predominante é o cerrado,
da produção municipal, seguido dos setores de serviços e com faixas de floresta tropical. Prevalece o clima tropical.
agropecuária.
Principais atividades: agroindústria; agropecuária; mine- Urbanização e Mudanças Sociais em
ração; plantas fitoterápicas; polo educacional/universitário;
setor hidroelétrico; turismo.
Goiás
A estrutura social de Goiás sofreu transformações signi-
Noroeste Goiano ficativas ao longo de sua história. Todavia, desde o início da
mineração no século XVIII, não se viu alterações mais expres-
O Noroeste corresponde a 1,66% no PIB. Itaberaí é res- sivas quanto às observadas nas quatro décadas passadas.
ponsável por 36,65% do PIB na Região, com destaque para Neste período, o estado passou por um processo de intensa
o setor de serviços. Os municípios de Goiás e Itapuranga urbanização, tendo alcançado as primeiras colocações neste
detêm 15,03% e 14,13% respectivamente. quesito junto ao ranking nacional. Este fenômeno se deu com
Principais atividades: agricultura; indústria; mineração; a modernização agrícola, gerada em larga medida pela chega-
pecuária; polo educacional/universitário; turismo. da da Revolução Verde no Brasil, na forma de um programa
idealizado para aumentar a produção agrícola no mundo por
Goiás na Comparação com Outros Estados meio de melhorias genéticas em sementes, emprego intensi-
Brasileiros vo de insumos industriais, mecanização e redução do custo
de manejo. A novidade modificou o modelo de apropriação
Com o nono maior Produto Interno Bruto (PIB) do País do espaço e, consequentemente, a dinâmica econômica e
e ocupando a oitava colocação entre as unidades da fede- territorial de Goiás. Desde então, o estado recebe migrantes
ração com maior índice de desenvolvimento humano (IDH), oriundos de diversas regiões do País, além de experimentar
o estado de Goiás ganha cada vez mais projeção no cenário uma forte movimentação de seus habitantes do campo para
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nacional. No período entre 2003 a 2014, cresceu a uma taxa as cidades. Com isso, as alterações no quadro populacional
média anual de 4,8%, superior à registrada para a economia goiano se tornaram cada vez mais evidentes, com a figura
brasileira, de 3,6%. O bom desempenho propiciou avanços do sertanejo sendo paulatinamente eclipsada pelo “cidadão
significativos de participação junto à produção nacional e moderno”, interligado à nova dinâmica socioeconômica.
inseriu o estado no seleto grupo dos dez mais ricos do País. Entretanto, toda essa percepção de progresso não com-
O feito deriva de investimentos privados e também do apoio porta apenas benefícios, mas também problemas sociais
governamental a todos os setores produtivos, com destaque graves nas esferas rural e urbana. Processos de “metropoli-
para as atividades agropecuárias e minerais voltadas à pro- zação” e “periferização” transcorrem na capital goiana, cuja
dução de commodities (matérias-primas). área metropolitana já alcança hoje mais de dois milhões de
pessoas. Em consonância com tendências observadas pelo
Geografia do Território Goiano Brasil, as cidades que integram a Região Metropolitana de
Goiânia apresentam crescimento mais acelerado que a pró-
A geografia de Goiás é caracterizada por um relevo pria capital, tendo esta se tornado uma cidade com marcas
composto majoritariamente de chapadas e serras, com de- de desigualdade cada vez mais visíveis, caracterizada pela di-
pressões ao norte do território. O ponto mais alto da região ferenciação espacial entre o centro e a periferia. Isto ocorre,
localiza-se na Chapada dos Veadeiros, com 1.691 metros. em larga medida, devido ao intenso processo de valorização
Seus rios principais são o Aporé, Araguaia, Claro, Corumbá, do solo na cidade, compelindo a população com baixo po-
dos Bois, Paranã, Paranaíba, Maranhão, São Marcos. O es- der aquisitivo a se fixar nas áreas mais afastadas do centro
tado é rico em recursos hídricos, sendo considerado um dos de Goiânia, ou nos municípios vizinhos, como Aparecida de
mais peculiares e abundantes na comparação com as demais Goiânia, Senador Canedo e Trindade.
unidades da federação. Graças ao seu histórico geológico No que se refere à região do Entorno de Brasília, o inchaço
constituído durante milhões de anos, foram depositadas urbano evidenciado neste território explica-se, em grande
várias rochas sedimentares, entre elas o arenito de alta po- parte, à atração e repulsão de contingentes populacionais
rosidade e alta permeabilidade, que permitiram a formação gerados pela capital federal. Consequências ruins já se fazem
de grandes cursos d’água e o depósito de parte de grandes sentir com o agravamento do quadro demográfico, tendo
aquíferos, como o Bambuí, o Urucuia e o Guarani, este último as cidades de Luziânia, Águas Lindas e Valparaíso revelado,
um dos maiores do mundo, com área total de até 1,4 milhão nos últimos anos, taxas de homicídios muito elevadas na
de km². A utilização das águas no território goiano é bastante comparação com o restante do Brasil.
distinta, dependendo, sobretudo, de fatores de povoamento,
relevo e disponibilidade hídrica. Para a produção de ener- Aspectos atuais relacionados ao Transporte em
gia e para o abastecimento humano, Goiás conta com duas Goiás
principais bacias, que são as dos rios Corumbá e Meia Ponte.
No território goiano está situado também o lago artificial da Devido à sua localização no País, a infraestrutura de
Usina de Serra da Mesa, no Noroeste do Estado. Considerado transportes goiana revela ser fundamental para o desen-
o quinto maior lago do Brasil (1.784 km² de área inundada), volvimento econômico do estado. Seus diferentes modais
é o primeiro em volume de água (54,4 bilhões de m³). For- – rodoviário, ferroviário, aeroviário, hidroviário e dutoviário
mado pelos rios Tocantins, Traíras e Maranhão, destaca-se – interligam estrategicamente as demais regiões do Brasil
pelos atrativos turísticos para a região, com a realização de e contribuem de forma decisiva para a economia. Alguns
torneios esportivos e de pesca, além da geração de energia apresentam vantagens e desvantagens em decorrência de
elétrica. Por formarem a mais importante estância hidroter- fatores como segurança e eficiência no atendimento às de-
mal do País e o principal polo turístico goiano, cabe destacar mandas, custo do frete em relação ao valor da mercadoria,
as cidades de Caldas Novas e Rio Quente. As águas afloram tipo e destino do produto etc. A dependência histórica em

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relação ao modal rodoviário tem motivado a formulação de o aumento nos casos, o secretário Leonardo Vilela fez um
planejamentos de longo prazo, haja vista a sobrecarga cada alerta. “Estado de Goiás caminha para ter uma epidemia de
vez maior do segmento. Nesse sentido, cabe mencionar a H1N1, por isso antecipamos a vacinação, que é a medida
importância do Plano de Desenvolvimento do Sistema de profilática mais eficaz”, disse. Dos 10 casos confirmados de
Transporte do Estado de Goiás (PDTG), por ter sido o pri- H1N1 no estado, três deles foram em Rio Verde, no sudoeste
meiro planejamento estratégico intermodal de transportes de Goiás e dois em Goiânia. Cachoeira Alta, Quirinópolis,
realizado em Goiás, que contou com a participação das três Caldas Novas, Planaltina de Goiás e Ouvidor registraram um
instâncias governamentais e da sociedade civil na sua ela- caso cada. Já as mortes aconteceram em Goiânia, Rio Verde,
boração. Teve como meta alinhar políticas e ações públicas Caldas Novas, Planaltina de Goiás e Ouvidor. Com o aumento
necessárias para adequar o setor de transportes aos fluxos nos casos, a secretaria vai começar a imunização de pessoas
produtivos relevantes para o Estado e constituir parte do no chamado grupo de risco pelo sistema público de saúde no
financiamento da malha rodoviária estadual. próximo dia 12 em Goiânia, Anápolis e Região Metropolitana.
Ainda sobre o modal rodoviário, um dos estudos mais Já no restante do estado, a imunização será a partir do dia 18
importantes sobre o segmento é feito periodicamente pela de abril. A previsão inicial era que a vacinação começasse dia
Confederação Nacional do Transporte (CNT). Para Goiás, o 30. Poderão receber a dose gestantes, trabalhadores da área
estudo cobriu 5.384 km de rodovias em 2014. A frota goiana da saúde, portadores de doenças crônicas como hipertensão,
era de mais de 3,2 milhões de veículos para uma extensão de diabete, crianças de 6 meses a 5 anos e idosos a partir de 60
11.155 km pavimentados, dos quais 3.466 km são federais e anos. “Esse grupo é prioritário porque 70% dos óbitos estão
7.629 km são estaduais. DO total, 87% são de pistas simples dentro desse grupo de risco”, disse o secretário.
de mão dupla e apenas 13% de pista dupla. A condição geral Fonte: Portal G1. 6 de abril de 2016 (adaptado).
das rodovias localizadas no Estado é de 7% em ótimo, 30%
bom, 44% regular, 13% ruim e 6% péssimo. Sobre a classifi- Assassino do cartunista Glauco, Cadu é morto em
cação de alguns aspectos especificamente, a respeito da su- presídio de Goiás
perfície do pavimento e pinturas das faixas centrais e laterais,

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quase metade está em ótimas condições, entretanto, a outra Preso há quase dois anos em Goiás, Carlos Eduardo Sun-
metade está desgastada ou em más condições, sendo esta dfeld Nunes, conhecido como Cadu, de 30 anos, foi morto
uma das fragilidades do principal meio de escoamento da no Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiânia, na Região
produção goiana. 81% dos quilômetros de rodovias em Goiás Metropolitana da capital. Assassino confesso do cartunista
possuem placas de indicação, com 80% destas visíveis e 85% Glauco e do filho, ele cumpria pena por matar duas pessoas
legíveis. Recentemente o Governo de Goiás anunciou paco- durante assaltos, em Goiânia. Cadu foi morto com uma arma
te de obras de conclusão e construção de novas estradas, artesanal, durante uma briga com outro detento, no banho
pontes, aeroportos, viadutos e duplicações. Este volume de de sol, informou a Secretaria de Segurança Pública e Admi-
obras significou o maior pacote de investimentos já feito na nistração Penitenciária de Goiás (SSAP-GO). O órgão disse
infraestrutura rodoviária e aeroportuária em Goiás, por meio que agentes penitenciários perceberam a movimentação e
do Programa Rodovida. O programa foi dividido em quatro intervieram, mas não conseguiram evitar o homicídio. De
eixos (Reconstrução, Urbano, Manutenção e Construção), acordo com a SSAP-GO, o interno suspeito de matar Cadu
sendo que para o modal rodoviário a prioridade foi atender se apresentou à direção do Núcleo de Custódia. “Disse ter
trechos que apresentavam dificuldades nas condições de usado uma arma artesanal para se defender durante uma
tráfego e propor o aumento da vida útil das rodovias em, briga que, segundo o suposto autor, teria sido iniciada pela
no mínimo, 10 anos. vítima”, informa a nota. O caso será investigado pelo Grupo
Entrementes, é preciso destacar o esforço de Goiânia em de Investigação de Homicídios de Aparecida de Goiânia (GIH).
Fonte: Portal G1. 4 de abril de 2016 (adaptado).
prol da melhoria do seu sistema de transportes. Em 2015,
foi anunciada a adoção, pela capital, da solução ITS4Mo-
Goiás tem 72,3 mil casos suspeitos de dengue em
bility da Volvo. O recurso permite o rastreamento da frota
menos de 3 meses
em tempo real, tendo acesso à informação sobre duração
da viagem, pontualidade e quantidade de ônibus em cada Mais de 72,3 mil casos de dengue já foram notificados em
rota. A informação revela-se fundamental para a operadora Goiás em 2016, segundo dados do último boletim divulga-
de ônibus distribuir os veículos de maneira otimizada, bem do pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO). Trinta e seis
como para aperfeiçoar o serviço oferecido ao passageiro. pessoas morreram com suspeita da doença. Estas mortes
Além disso, prevê-se a redução emissões de CO2 devido ao estão sob investigação. Uma delas é a da secretária Ângela
gerenciamento mais eficiente da frota. Goiânia é a primeira Maria de Sousa, de 49 anos, em Caldas Novas, no sul goiano.
cidade no Brasil – e também na América Latina – a selecio- O levantamento considera dados coletados até o dia 19 de
nar o recurso. Este permite aos passageiros usufruírem de março. De acordo com o boletim, das 72.319 notificações,
acesso à informação em tempo real sobre os horários de 16.051 foram confirmadas. Se comparado ao mesmo período
chegadas e localização dos ônibus via internet e aplicativos do ano passado, o número é 18,12% maior. Goiânia concen-
de smartphones. De acordo com o contrato, a Ericsson será tra o maior número de casos notificados, já são 28.763. Em
responsável pela customização da solução para as necessida- segundo lugar, está Anápolis, a 55 km da capital, com 6.688.
des específicas de Goiânia, além do suporte e manutenção. Na terceira posição está Luziânia, no Entorno do Distrito Fe-
deral, com 5.843 registros da doença, que é transmitida pelo
Últimas Notícias Aedes aegypti. Fonte:
Portal G1. 27 de março de 2016 (adaptado).
Secretário de Saúde diz que Goiás ‘caminha para
epidemia de H1N1’ Duas mães com zika dão à luz bebês sem microcefalia
em GO, diz SES
A Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) di-
vulgou que 10 casos do vírus H1N1 já foram confirmados Duas mulheres que foram diagnosticadas com vírus da
em todo estado. Destes, cinco pacientes morreram. Com zika no primeiro trimestre de gestação tiveram bebês saudá-

11
veis e sem microcefalia, segundo informações da Secretaria G1 procurou a assessoria do Palácio do Planalto, que, até a
Estadual de Saúde (SES). As mães moram em Santo Antônio última atualização desta reportagem, não tinha informado
do Descoberto, no Entorno do Distrito Federal, e em Rio se irá se manifestar.
Verde, no sudoeste de Goiás. A cidade do leste goiano foi Fonte: Portal G1. 06 de abril de 2016 (adaptado).
a primeira do estado a ter um caso confirmado para zika,
transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. A vítima é uma Interesse por política é pouco ou nulo para 81% dos
jovem, de 22 anos. De acordo com a secretaria, do início do goianienses, diz UFG
ano até 5 de março, foram notificados 244 casos de vírus da
zika em Goiás. Destes, 24 foram confirmados e 13, descarta- Pesquisa divulgada pela Universidade Federal de Goiás
dos. Os outros 207 registros seguem em investigação. O vírus (UFG) traçou um panorama sobre os eleitores de Goiânia.
da zika é apontado como uma das causas de microcefalia. Segundo o levantamento, 81% dos entrevistados têm pouco
No entanto, a doença também pode ter causas genéticas, ou nenhum interesse por política. Além disso, dois terços dos
passadas dos pais para a criança, como também por uso de votantes relacionam o tema com o sentimento de decepção.
drogas, álcool ou outros produtos tóxicos durante a gestação, O estudo, denominado “O comportamento político do eleitor
além de possíveis infecções que atinjam o bebê durante a goianiense”, concluiu ainda que 64% dos eleitores acreditam
gestação. De março de 2015 até o último dia 14 de março, que os políticos não se preocupam com pessoas como elas
foram notificados 117 casos de microcefalia em Goiás. Por e que os partidos políticos são considerados “todos iguais”
enquanto, não há caso confirmado da malformação provoca- por um a cada sete ouvidos. Os dados foram coletados entre
da por zika no estado. Outras sete situações de microcefalia os dias 14 de novembro de 2015 e 17 de janeiro deste ano.
registras em Goiás tiveram como causa infecções congênitas, Foram ouvidas 1,2 mil eleitores com idade superior ou igual
como sífilis. A microcefalia é uma condição rara em que o a 18 anos. A margem de erro é de 2,9% para mais ou para
bebê nasce com uma malformação no crânio. As crianças menos e o nível de confiança é de 95%. De acordo com o
podem ter complicações no desenvolvimento da fala, motora coordenador da pesquisa, professor Pedro Santos Mundim,
e até quadros de convulsão. Em visita a Goiânia no último a quantidade de pessoas pouco ou desinteressadas pela po-
Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás

dia 9 de março, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse lítica, apesar de alta, estava dentro o previsto. Mas é preciso
que o protocolo para diagnósticos de microcefalia mudou. cautela para analisar a influência do atual cenário político
Desde então, passaram a ser notificados como suspeitos os nesta situação. “Quando me perguntam se o momento po-
casos de meninos com crânio medindo menos do que 31,9 lítico influencia, digo sim, e não. Sim, porque em um contex-
centímetros e de meninas, menos de 31,5 centímetros. No to com tantas denúncias a população tende a querer achar
início da emergência de microcefalia no Brasil, em novem- um culpado, no caso, a classe política. E não, porque esse
bro, todos os bebês com perímetro cefálico menor que 33 resultado é muito recorrente, não se relacional com algo
cm eram notificados como microcefalia. Em dezembro, o muito específico e pontual”, disse ao G1. Já em relação ao
ministério alterou esse parâmetro, que passou a ser de 32 sentimento de decepção, o pesquisador explica que ele está
centímetros. diretamente ligado ao momento político e que pode variar
Fonte: Portal G1. 17 de março de 2016 (adaptado). de acordo como este panorama se apresenta.
Fonte: Portal G1. 12 de março de 2016 (adaptado).
Relator dá parecer favorável a processo de
impeachment de Dilma Laboratório em Goiás está apto para fazer exames de
zika e chikungunya
O Relator da Comissão Especial do Impeachment da Câ-
mara dos Deputados, Jovair Arantes (PTB-GO), apresentou A rede pública de Saúde em Goiás deve começar a fazer
parecer favorável à abertura do processo de afastamento exames para diagnóstico de zika e chikungunya a partir de
da presidente Dilma Rousseff. A leitura do parecer, de 128 14 de março. O Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni
páginas, levou quase 5 horas. Concluída a leitura, deputa- Cysneiros (Lacen-GO) está apto para realizar os procedi-
dos favoráveis ao afastamento de Dilma levantaram cartazes mentos. A expectativa é de que o tempo de espera para os
com os dizeres “Impeachment já” enquanto parlamentares resultados reduza de cerca de 30 dias para 7. “O prazo de
contrários portavam cartazes com a inscrição “Impeachment entrega diminuiu enormemente e isso facilita. As gestantes,
sem crime é golpe”. Os parlamentares pró-impeachment can- que são prioridade, quando há positividade para zika serão
taram o Hino Nacional enquanto os governistas gritavam: encaminhadas para um pré-natal com mais atenção para
“Golpistas, golpistas!”. Na conclusão do parecer, Jovair Aran- evitar qualquer agravamento”, declarou Murilo do Carmo
tes diz que a denúncia, de autoria dos juristas Hélio Bicudo, Silva, coordenador geral de controle de dengue da Secretaria
Miguel Reale Junior e Janaina Paschoal, preenche “todas as Estadual de Saúde (SES). Atualmente, as amostras de sangue
condições jurídicas e políticas” para ser aceita. No parecer, colhidas no estado para diagnóstico de zika são enviadas pelo
o relator avalia somente a “admissibilidade” do processo, Lacen-GO para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Já os
isto é, se reúne os requisitos mínimos para ser instaurado. casos suspeitos de chikungunya são encaminhados para o
Na hipótese de o plenário da Câmara aprovar a abertura do Instituto Evandro Chagas, no Pará. Por isso, o resultado de-
processo, o julgamento do impeachment será feito poste- morava para ficar pronto. O Ministério da Saúde enviou os
riormente pelo Senado. “Uma vez que a Denúncia preenche insumos para o laboratório com o objetivo de descentralizar
todas as condições jurídicas e políticas relativas à sua admis- os diagnósticos dessas doenças. Durante o mês de fevereiro,
sibilidade, e que não são pertinentes as diligências, a oitiva o laboratório recebeu o material para a realização dos testes.
das testemunhas e a produção de provas ao juízo preliminar A unidade foi estruturada tecnicamente com equipamentos
desta Casa, sendo relacionadas ao juízo de mérito, vale di- de alta tecnologia. Também houve a capacitação de profis-
zer, à procedência ou improcedência da acusação, conclui o sionais para a implantação dos novos exames. De acordo
Relator pela admissibilidade jurídica e política da acusação com o coordenador geral de controle de dengue, a previsão
e pela consequente autorização para a instauração, pelo Se- inicial é de que o laboratório faça de 40 a 50 exames de zika
nado Federal, do processo por crime de responsabilidade”, por semana, sendo que essas amostras também passam por
escreveu o relator no texto. Após a divulgação do relatório, o triagem para dengue. Em relação à chikungunya, não há uma

12
A
estimativa porque a demanda é pequena. “Para chikungunya, Mitsubishi abre programa de demissão voluntária em
até agora não há a necessidade de fazer tanto diagnóstico Catalão, GO
porque não existem muitos casos notificados. Os exames que
chegarem pra zika passam por triagem para dengue tam- A Mitsubishi abriu um Programa de Demissão Voluntária
bém. Os que chegarem para zika não passam por triagem (PDV) na fábrica de Catalão, no sudoeste de Goiás, nesta
de chikungunya porque a chikungunya tem sintomas muito semana. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Catalão
específicos”, explicou Silva. (Simecat), a medida ocorreu em função da queda nas vendas
Fonte: Portal G1. 9 de março de 2016. de veículos. Desde o início do mês, a empresa passou a parar
a produção dois dias por semana. De acordo com o Simecat,
Lei que libera Uber só para taxistas é aprovada e gera o funcionário que optar pelo desligamento, receberá os di-
confusão em Goiânia reitos trabalhistas e ainda um bônus no valor de R$ 1 mil.
Mesmo assim, a entidade diz que a medida não deve ter
Por unanimidade, a Câmara dos Vereadores de Goiânia muitas adesões. “A empresa já fez os ajustes necessários,
aprovou com 22 votos, em 1ª votação, um projeto de Lei pois o ano passado já teve um PDV. O mercado está muito
que propõe que somente taxistas cadastrados na Prefeitura adverso, então, para o trabalhador aderir a esse programa,
de Goiânia possam usar o serviço prestado pela empresa ele teria que ter uma perspectiva fora. Neste momento, em
Uber, na capital. O texto ainda precisa ser aprovado em 2ª Catalão, percebemos que não há uma gama muito grande de
votação. Durante a sessão, um grupo de taxistas discutiu e opções para a reinserção no mercado”, afirmou o secretário-
vaiou um motorista cadastrado na plataforma. As imagens -geral do Simecat, Thiago Cândido Ferreira. A assessoria de
imprensa da Mitsubishi informou ao G1, que a abertura do
mostram que a galeria da Câmara estava lotada de taxistas.
PDV foi motivada pela “não recuperação da economia e as
Durante o debate sobre a medida, os taxistas dizem que o
baixas vendas no setor automotivo”. Além disso, ressaltou
associado ao Uber, afirmando que o serviço é clandestino. que quem optar pelo desligamento receberá “todos os direi-
O condutor, que consegue clientes por meio do aplicativo tos trabalhistas, férias antecipadas, aviso prévio indenizado e
disponibilizado pela empresa, se defendeu. “Melhor coisa

Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás
adicional de R$ 1 mil”. Segundo o Simecat, no ano passado,
que vocês vão ter. Você vai trabalhar com seu carro. Você 29 funcionários aderiram ao PDV. Além disso, de 2015 até
vai ter o seu emprego, não vai trabalhar para os caras”. Após fevereiro deste ano, 1,4 mil pessoas foram dispensadas pela
dizer isso ele vai embora. O projeto é de autoria do vereador empresa. No início deste mês, a assessoria de imprensa da
Carlos Soares (PT) e assinado também por Anselmo Pereira Mitsubishi informou ao G1 que a redução da produção por
(PSDB) e Djalma Araújo (SDD). Segundo o texto, “nos limites dois dias será aplicada até junho e que essa mudança da
do município de Goiânia, a utilização de aplicativos ficará res- jornada de trabalho foi devidamente acordada com o sin-
trita aos veículos com cadastros e autorizações vigentes junto dicato da categoria.
à cidade de Goiânia, não sendo permitido a tais programas a Fonte: Portal G1. 1º de abril de 2016 (adaptado).
veiculação e disponibilização de veículos e profissionais não
autorizados na forma da Lei”. A proposta prevê que o serviço Milhares de fiéis acompanham a Procissão do
prestado por motoristas não cadastrados como taxistas seja Fogaréu em Goiás
considerado clandestino, “ficando o infrator sujeito à multa
A Procissão do Fogaréu reuniu cerca de 20 mil pessoas
e demais medidas administrativas”, como afirma o texto. O
na Cidade de Goiás, a 142 quilômetros de Goiânia. Aponta-
documento também exige que os aplicativos usados por ta- do como um dos principais eventos religiosos do estado, o
xistas sejam cadastrados na Prefeitura de Goiânia. Procurada espetáculo revive a perseguição e prisão de Jesus Cristo. Os
pelo G1, a assessoria de imprensa do Uber informou, por fiéis acompanharam a procissão pelas ruas e se emociona-
meio de nota que “o serviço que os motoristas parceiros da ram. “É uma tradição que nunca deve acabar. Eu estou mui-
Uber prestam tem respaldo na Constituição Federal e está to emocionada”, declarou a enfermeira Dilceia Carvalho. O
previsto na Política Nacional de Mobilidade Urbana – PNMU evento iniciou no século XVIII, quando o pároco do município
(Lei Federal nº 12.587/2012) como transporte individual pri- na época, o padre espanhol João Perestelo de Vasconcelos
vado, que é diferente do serviço prestado por táxis”. Ainda Espíndola, trouxe o costume à cidade. Conforme a tradição,
conforme o texto, a empresa ressalta que “a Uber continua os 40 Farricocos, personagens encapuzados que representam
completamente legal no Brasil”. Após a votação, o projeto os soldados enviados por Caifás para prender Jesus, saem, à
será encaminhado para a Comissão de Trabalho e de Servi- meia-noite, do Museu da Boa Morte acompanhados pelos
ços Públicos, que deve estudar a proposta. Os vereadores sons dos tambores. Descalços, com tochas de fogo e em
podem chamar Audiências Públicas para que a população passos apressados eles percorrem as ruas de pedra da antiga
possa participar da discussão sobre o assunto. Caso seja capital do estado. A Igreja do Rosário é a primeira parada
aprovado pela 2ª votação, o projeto segue para avaliação dos farricocos. No local, está encenada a última ceia, mas,
do prefeito Paulo Garcia (PT), que poder sancionar ou vetar como Jesus não está lá, eles seguem com a perseguição. A
a proposta. A empresa de tecnologia Uber começou a atuar busca pelo filho de Deus só termina cerca de 2,5 quilômetros
depois, diante da Igreja de São Francisco, que representa o
na capital no dia 29 de janeiro deste ano. Ela conecta moto-
Monte das Oliveiras. Neste momento, surge um estandarte
ristas cadastrados na plataforma aos usuários, que pedem o
com a imagem de Cristo. Em seguida, o toque do clarim anun-
serviço por meio de um aplicativo de celular. Em Goiânia, está cia que Jesus está preso e se faz um momento de silêncio.
disponível o UberX, em que o condutor oferece carros com É o fim da procissão. Depois disso, é celebrada uma missa.
quatro portas, ar condicionado e com menos de sete anos de Fonte: Portal G1. 24 de março de 2016 (adaptado).
uso. Ao chegar a Goiânia, o serviço prestado pela empresa
dividiu opiniões. Enquanto alguns clientes que conheciam o População reclama que está sem água há 7 dias, em
trabalho oferecido em outras cidades brasileiras pontuaram Senador Canedo
que a qualidade era superior, os taxistas afirmaram que a
chegada do Uber representava uma “concorrência desleal”. Moradores de alguns bairros de Senador Canedo, na
Fonte: Portal G1. 23 de março de 2016 (adaptado). Região Metropolitana de Goiânia, relataram que estão há

13
sete dias sem água nas casas. A população reclama que as em R$ 500 mil. O jovem era investigado desde fevereiro.
torneiras continuam secas mesmo com a promessa da pre- Os maços de cigarros estavam escondidos dentro de uma
feitura de que o fornecimento seria normalizado. A moradora caminhonete e também dentro da casa do suspeito, no Jar-
Enierce Rodrigues Soares está indignada com a situação. “A dim Curitiba III, em Goiânia. O delegado responsável pelo
Prefeitura de Senador Canedo prometeu que em 24 horas iria caso, Alexandre Bruno Barros, disse que no momento da
restabelecer a nossa água, que não teríamos mais problemas, prisão, o jovem confessou o crime. “Ele confirmou que fazia
que 80% da água de Senador Canedo já estava restabelecida, esse contrabando e a mulher dele também nos contou que
só faltávamos nós. Hoje, 24 horas depois, a condição nossa não participava do crime, mas que sabia das atividades do
continua a mesma”, reclamou. A Agência de Saneamento marido, inclusive deu detalhes de como funcionava a ope-
de Senador Canedo (Sanesc), administrada pela prefeitura, ração”, contou. O investigador contou ainda que o suspeito
informou que os bairros Boa Vista, Solar Monte Cristo, Boa é considerado o maior contrabandista do estado pelo volu-
Esperança, Vila Galvão, Flor do Ipê e Morada do Bosque ain- me de mercadorias comercializadas. “Esse volume de 100
da estão sem água por causa de falhas nas bombas e poços mil carteiras era por semana. Além disso, ele é investigado
artesianos que abastecem a cidade. Conforme a companhia, por roubo a cargas de cigarros originais de uma empresa.
caminhões pipa distribuem água nesses bairros. A Sanesc Ele vivia em uma casa suntuosa”, explicou o delegado. O
declarou ainda que, nas próximas 36 horas as casas devem suspeito já tem passagem pela polícia pelo mesmo crime.
ser reabastecidas. O problema já havia sido relatado pela “Ele foi preso há um ano e meio atrás. Na época, ele era um
população dias antes, quando os moradores afirmaram que pequeno contrabandista e não comercializava nem 10% do
estavam sem abastecimento há quatro dias. A população que ele vendia hoje. Depois que foi solto, voltou com toda
reforçou que os períodos sem água são frequentes na cidade. força”, disse Barros. Os cigarros vinham do Paraguai e eram
Em outubro do ano passado um problema nas bombas gerou distribuídos no estado. O produto é ainda mais prejudicial
a instabilidade de pelo menos um mês no abastecimento de à saúde por não ter as especificações e fiscalização neces-
regiões consideradas “altas” pela Sanesc. sárias para a produção. Com a prisão do suspeito, a polícia
Fonte: Portal G1. 24 de março de 2016 (adaptado). acredita que haverá uma grande diminuição do contrabando
de cigarros no estado. O suspeito vai responder por contra-
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Represas rompidas em Santa Helena de Goiás não bando. Já a esposa, que não foi presa, vai ser investigada
tinham licença, diz PM como coautora. “A principio, ela não tinha relação direta com
o crime, mas sabia do esquema e se aproveita dos lucros e
A Polícia Militar Ambiental identificou os responsáveis da vida luxuosa que tinha com o dinheiro do contrabando”,
finalizou o delegado.
por represas que se romperam na zona rural de Santa Helena Fonte: Portal G1. 18 de abril de 2016 (adaptado).
de Goiás, no sudoeste do estado. De acordo com a corpora-
ção, as barragens eram antigas e não tinham licença, por isso, Veja como votaram os deputados de Goiás na sessão
os representantes poderão responder por crime ambiental. do impeachment
“Fomos a todos os locais e nenhum deles tem licença ambien-
tal, haja vista que essas represas foram construídas há mais A maioria dos deputados federais de Goiás votou a fa-
de 40 anos”, disse o cabo José Marcos da Cruz, que destacou vor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) na
que os envolvidos vão prestar depoimento nesta semana. O Câmara dos Deputados. Dos 17 parlamentares goianos, 16
rompimento das duas represas, ocorrido na madrugada do disseram sim à continuidade do processo, e um foi contra.
dia 2 de março, durante fortes chuvas, afetou 13 famílias, Nenhum representante do estado optou pela abstenção. A
segundo levantamento do Corpo de Bombeiros. A corpo- sessão foi aberta pontualmente às 14h pelo presidente da
ração vistoriou a região e diz que tudo começou em uma Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e terminou quase 10 horas
represa antiga, que pertence a uma empresa de agricultura depois. Por 367 votos favoráveis e 137 contrários, a Câmara
e biotecnologia. A água desceu e passou por mais duas bar- aprovou o prosseguimento no Senado do processo de impe-
ragens, existentes em fazendas, que ficaram comprometidas. achment da presidente. Confira o posicionamento de cada
A correnteza chegou a uma quarta represa, que também deputado federal goiano.
acabou estourando. Segundo os bombeiros, o rompimento
afetou diretamente cinco famílias que moram às margens da Votos a favor:
primeira represa. Uma das casas foi invadida pela água e os Alexandre Baldy (PTN)
móveis estragaram. Oito famílias que moram em fazendas Célio Silveira (PSDB)
vizinhas também tiveram prejuízos. Fiscais da Secretaria de Daniel Vilela (PMDB)
Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades Delegado Waldir Soares (PR)
e Assuntos Metropolitanos (Secima), que também estão na Fábio Sousa (PSDB)
Flávia Morais (PDT)
cidade, disseram que também é preciso verificar se hou-
Giuseppe Vecci (PSDB)
ve negligência ou se a causa do rompimento foi o excesso
Heuler Cruvinel (PSD)
de chuva. O acidente também é investigado pela Delegacia João Campos (PRB)
Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente Jovair Arantes (PTB)
(Dema). Segundo o delegado Luziano Severino de Carvalho, Lucas Vergilio (SD)
já foi solicitado à secretaria municipal um relatório sobre os Magda Mofatto (PR)
impactos ambientais. Marcos Abrão (PPS)
Fonte: Portal G1. 6 de março de 2016 (adaptado).
Pedro Chaves (PMDB)
Roberto Balestra (PP)
Maior contrabandista de GO é preso com R$ 500 mil Thiago Peixoto (PSD)
em cigarro, diz polícia
Voto contra:
A Polícia Civil prendeu um homem suspeito de 27 anos de Rubens Otoni (PT)
ser o maior contrabandista de cigarro de Goiás. Com ele, os
agentes apreenderam 100 mil carteiras de cigarros avaliadas Fonte: Portal G1. 18 de abril de 2016 (adaptado).

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Dois detentos são indiciados por matar Cadu em EXERCÍCIOS
presídio de Goiás
1. (CS-UFG/Auditor do Município de Goiânia-GO/2016)
A Polícia Civil indiciou dois detentos pela morte de Carlos Muitos municípios goianos têm origem relacionada ao
Eduardo Sundfeld Nunes, conhecido como Cadu, de 30 anos, período de garimpagem do ouro em Goiás. São exem-
dentro do Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiânia, na plos de município que têm essa origem os seguintes:
Região Metropolitana da capital. Segundo a investigação, o a) Corumbá de Goiás e Crixás.
crime foi cometido porque um dos presos descobriu que a ví- b) Niquelândia e Palmeiras de Goiás.
tima tinha um plano para matá-lo. O autor dos golpes, Nilson c) Pilar de Goiás e São João da Paraúna.
Ferreira de Almeida, e o comparsa, Adriano Silva Guimarães,
d) São Luiz do Norte e Minaçu.
vão responder por homicídio doloso – quando há a intenção
de matar. “Nilson acabou descobrindo o plano de Cadu para
tirar a vida dele e se anteviu. No jargão do crime, se quer 2. (CS-UFG/Auditor do Município de Goiânia-GO/2016) Na
me jantar, vou te almoçar primeiro. Então, ele, agiu antes. década de 1930, por meio do Decreto nº 2.737, de 20
A colaboração de Adriano, responsável por ficar olhando e de dezembro de 1932, o interventor de Goiás, Pedro
verificando a movimentação dos agentes para que Nilson par- Ludovico Teixeira, nomeou uma comissão para realizar
tisse para o ataque na melhor oportunidade foi decisiva para estudos para escolha do local onde seria construída a
a morte da vítima”, disse ao G1 o delegado responsável pelo futura capital. Além de Campinas (atual bairro de Goi-
caso, Anderson Pimentel. Assassino confesso do cartunista ânia), outras três localidades escolhidas para realização
Glauco e do filho dele, Raoni, Cadu estava preso há quase do estudo foram:
dois anos no Núcleo de Custódia. Ele respondia por dois a) Paraúna, Santa Luzia (atual Luziânia) e Meia Ponte
latrocínios cometidos em Goiânia. Segundo Pimentel, eles (atual Pirenópolis).
concluíram a investigação após o confronto dos depoimen- b) Bela Vista de Goiás, Goiabeira (atual Inhumas) e
tos, com base em informações do local do crime e em laudos Curralinho (atual Itaberaí).
periciais. O delegado revelou que as imagens das câmeras do c) Pires do Rio, Bonfim (atual Silvânia) e Ubatam (atual

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presídio, que não foram divulgadas por terem sido feitas em município de Orizona).
uma área de segurança, também foram fundamentais para a d) Ipameri, Pouso Alto (atual Piracanjuba) e Caraíba
elucidação do crime. “Nelas é possível ver a movimentação (atual município de Vianópolis).
do Adriano observando a rotina de vigilância dos agentes
prisionais. É perceptível ver que ele direciona Nilson, dizendo 3. (CS-UFG/Auditor do Município de Goiânia-GO/2016) A
‘agora vai’ ou ‘fica’. Às 10h05 Nilson vai até os fundos do pá- Região Metropolitana de Goiânia foi criada em 30 de de-
tio, toma determinado objeto e vai correndo até onde Cadu zembro pela Lei Complementar Estadual de número 27.
estava e acaba procedendo o ataque, que durou pouco mais A Lei Complementar nº 78, aprovada em 25 de março
de um minuto”, descreve o delegado. de 2010, incluiu outros seis municípios, dentre os quais,
Fonte: Portal G1. 12 de abril de 2016 (adaptado).
de acordo com o censo demográfico de 2010 do IBGE,
três possuem os menores quantitativos populacionais
dessa Região Metropolitana. São eles:
Referências a) Santo Antônio de Goiás, Nova Veneza e Guapó.
b) Bonfinópolis, Aragoiânia e Terezópolis de Goiás.
ASSOCIAÇÃO DE BANCOS. Regiões de Planejamento do es-
c) Abadia de Goiás, Goianira e Goianápolis.
tado de Goiás. PIB 2010. Disponível em: http://www.asban.
com.br d) Brazabrantes, Caldazinha e Caturaí.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS. Disponível (CS-UFG/Procurador do Município de Goiânia-GO/2015) Leia


em: http://al.go.leg.br/ o fragmento apresentado a seguir.

BERTRAN, Paulo. Desastres Ambientais. Revista Ciência Hoje, É no percurso de retorno à cidade de Pedro Afonso
1991. que os irmãos José e João Porfírio se depararam com uma
região de serras, muito fértil, com vários ribeirões e pontas
CHAUL, Nasr Fayad. A identidade cultural do Goiano. Revista de mato em torno das grotas e grotões. Um lugar diferente
Ciência e Cultura, 2011. dos velhos e secos cerrados que cobrem quase todo o norte
goiano. Era uma área vazia, com pouquíssimas fazendas, qua-
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Pesquisa e Docu- se só de terras devolutas, que o estado de Goiás pretendia
mentação Histórica. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/ colonizar. Ali parecia um bom lugar para se morar e criar os
filhos. Decidiram, então, levar suas famílias para lá e convidar
GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS. Disponível em: http:// outros conhecidos que, como eles, buscavam uma terra onde
www.goias.gov.br/ plantar. Retornaram a Pedro Afonso, prepararam a mudança
e, meses depois, voltaram.
Sites consultados: STARLING, Heloisa Maria Murgel; BRAGA, Pauliane de Carvalho.
Portal G1. Sentimentos da terra: imaginação de reforma agrária, imaginação de
Link de acesso: http://g1.globo.com/index.html república. Belo Horizonte: PROEX/UFMG, 2013. p. 100. (Adaptado).

Jornal Folha de S. Paulo 4. (CS-UFG/Procurador do Município de Goiânia-GO/2015)


Link de acesso: http://www.folha.uol.com.br/ O episódio narrado teve como consequência um dos
mais importantes conflitos da história de Goiás, que se
BBC Brasil caracterizou pela luta entre
Link de acesso: http://www.bbc.com/portuguese a) camponeses e grileiros.
b) posseiros e arrendatários.
Exame.com c) latifundiários e assentados.
Link de acesso: http://exame.abril.com.br/ d) população nativa e colonos.

15
Leia o fragmento apresentado a seguir. de Terra Ronca, lugar de atração turística por sua paisa-
gem cultural. Destaca-se na descrição a ação humana,
Não há dúvida que a Revolução de 30 foi vivida pelos marcada pela
contemporâneos como uma grande esperança. Os telegra- a) apropriação da paisagem natural, acrescentando-lhe
mas de felicitação recebidos pela Junta falavam de “trazer atributos imateriais.
a liberdade ao povo goiano escravizado”, “inauguração do b) adaptação da biodiversidade regional, fornecendo-
regime de moralidade administrativa”, “regime de liberdade -lhe atrativos universais.
e justiça”, “reivindicação dos direitos e liberdades públicas”, c) adequação do patrimônio hídrico, proporcionando-
“emancipação da oligarquia Caiado em nosso Estado”. -lhe utilidades medicinais.
PALACÍN, Luís; MORAES, Maria Augusta de Sant’Anna.
História de Goiás. 5. ed. Goiânia: Editora da UCG. p. 104. d) transformação do meio ambiente, adicionando-lhe
(Adaptado). características funcionais.

5. (CS-UFG/Procurador do Município de Goiânia-GO/2015) A Leia o texto.


referida revolução teve como consequência, no estado
de Goiás, Essa região foi objeto de uma política de expansão da
a) o banimento das oligarquias da cidade de Goiás do fronteira agrícola, demográfica e econômica adotada por Ge-
cenário político goiano. túlio Vargas nos anos revolucionários de 30 – a Marcha para
b) a urbanização e o rompimento da política com a o Oeste –, que teve como consequência imediata a criação
estrutura fundiária. de Goiânia. Possui a mais significativa placa de solos de boa
c) a modificação das bases sociais e a redemocratização fertilidade natural que existe em todo o estado de Goiás e
do estado. se constituiu no mais autêntico polo de atração das popu-
d) a afirmação da ideologia progressista e modernizan- lações migrantes.
te no estado. GOMES, H.; TEIXEIRA NETO, A.; BARBOSA, A. S. Geografia:
Goiás/Tocantins. Goiânia: UFG, 2005.
Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás

Leia o fragmento apresentado a seguir.


8. (CS-UFG/Analista Legislativo/2015) O texto faz referên-
As instruções dadas aos governadores ordenavam: cia à região goiana anteriormente denominada
“tentem primeiro todos os meios de suavidade e persuasão a) Vale do Meia Ponte.
para reduzir os índios bravos a viver civilizados [...] a Divina b) Vale do São Patrício.
Providência não permitiu estender o poder desta Monarquia c) Caminho dos Trilhos.
nessas vastas regiões para destruir, ou reduzir à escravidão d) Mato Grosso Goiano.
os naturais habitantes delas, mas para os trazer ao conheci-
mento da religião, e para mudar seus bárbaros costumes em
9. (CS-UFG/Analista Legislativo/2015) Além de possibilitar
outros humanos, e mais úteis para sua própria conservação”.
PALACÍN, Luís; MORAES, Maria Augusta de Sant’Anna. a circulação de bens e produtos, as redes de transportes
História de Goiás. 5. ed. Goiânia: Editora da UCG. p. 38. são meios elementares para as relações entre diferentes
regiões. A Estrada de Ferro Goiás, inaugurada no início
6. (CS-UFG/Procurador do Município de Goiânia-GO/2015) do século XX, interligou o território goiano ao Sudeste
Em Goiás, na segunda metade do século XVIII, para dar brasileiro, a partir da seguinte cidade mineira:
cumprimento a essas ordens, os governadores adota- a) Monte Carmelo.
ram a política de b) Araguari.
a) aldeamento, promovendo o controle e a supervisão c) Tupaciguara.
dos índios por autoridades leigas ou religiosas. d) Divinópolis.
b) colonato, garantindo o trabalho indígena no cultivo
da terra nas grandes propriedades. 10. (CS-UFG/Analista Legislativo/2015) Em Goiás, dentre
c) meação, estabelecendo medidas que objetivavam os principais produtos de exportação, destacam-se
restituir parcialmente a posse da terra aos índios. aqueles relacionados aos complexos grãos, carnes e
d) assentamento, estabelecendo um sistema de glebas minérios. A soja, apesar de ser verificada em todas as
indígenas nas zonas fronteiriças do norte do estado.
regiões, tem mais de 50% de sua produção concentrada
nos dez maiores municípios produtores desse grão, com
(CS-UFG/Analista Legislativo/2015) Leia o fragmento apre-
sentado a seguir. destaque para
a) Jataí, Rio Verde e Cristalina.
À esquerda da entrada localiza-se o altar com um b) Iporá, Fazenda Nova e Niquelândia.
crucifixo ao centro e outras imagens. Tão logo se adentra c) Mineiros, Doverlândia e Trindade.
o imenso salão, já se podem observar as estalactites. Al- d) Sanclerlândia, Piracanjuba e Urutaí.
gumas contorcidas, de formas helicoidais. Em seguida, em
uma fenda na rocha, foi instalada a Sala dos Milagres, onde Em 1943, os nossos quarenta e tantos milhões de habi-
se guardam ex-votos e muletas dos peregrinos miraculados. tantes viviam praticamente na faixa litorânea. A Amazônia era
Entranhando-se um pouco mais, há uma pequena nascente um mundo remoto, e o Brasil Central, como dizia o jornalista
que goteja do teto para o piso, chamada Água Benta, usada George Ferreira, “parecia mais distante que a África”. A faixa-
para os fiéis se persignarem enquanto pedem ou agradecem -limite do conhecimento civilizado morria ali mesmo no Ara-
o milagre. Uma mina d’água marca o último limite entre a guaia. E a Segunda Guerra, com a sua tônica do espaço vital,
luz e as trevas que, a partir daí, tornam-se assustadoras. serviria para trazer à nossa visão a imensa carta geográfica
MOURA DELPHIN, Carlos Fernando. Terra Ronca. Revista brasileira, com suas não menos imensas manchas brancas.
UFG. v. I, n. 1, 1999, p. 169,183 e 177. VILLAS BOAS, Orlando e Cláudio. A Marcha para o Oeste –
A epopeia da expedição Roncador-Xingu. São Paulo: Globo, 1994,
7. (CS-UFG/Analista Legislativo/2015) O texto descreve a p. 24. Apud FRANCO GARCIA, Ledonias. Goyas: uma província do
Caverna de Terra Ronca, localizada no Parque Estadual sertão. Goiânia: Cânone, PUC-Goiás, 2010. p. 170.

16
11. (CS-UFG/Analista Legislativo/2015) O texto dos irmãos a) a evolução acelerada das atividades agrícolas e in-
sertanistas, Cláudio e Orlando Villas Boas, apresenta um dustriais.
argumento para justificar a Expedição Roncador-Xingu, b) o surto dos movimentos de imigração de origem
por eles comandada, de acordo com a política varguista, europeia.
de caráter c) o crescimento demográfico das populações indígenas
a) militar, de adequação ao cenário internacional. d) as altas taxas de natalidade em todos os estratos
b) civilizatório, de integração do território nacional. sociais.
c) expansionista, de ampliação das fronteiras territo- e) as correntes migratórias oriundas de estados vizi-
riais. nhos.
d) governamental, de manutenção das diferenças re-
gionais. 17. (CS-UFG/CELG/GT-GO/2014) Um fato que marcou a his-
tória político-administrativa de Goiás foi a divisão de seu
12. (CS-UFG/Analista Legislativo/2015) O Governo do Es- território, com a criação do estado do Tocantins pela
tado de Goiás, no começo da década de 1960, iniciou Constituição de 1988. Mas essa ideia de emancipação
um programa de ações planejado com o propósito de da região norte goiana não era nova, pois surgiu, pela
modernizar a administração e ampliar sua atuação no primeira vez, no contexto
território goiano. Esse conjunto de transformações a) do lançamento do “Movimento Pró-Criação do Es-
ocorreu no governo tado do Tocantins”, ocorrido em 1956, na cidade
a) Jerônimo Coimbra Bueno nortista de Porto Nacional, promovendo inúmeros
b) Mauro Borges Teixeira. debates e atividades em prol da implantação do novo
c) Otávio Lage de Siqueira estado.
d) Irapuan Costa Junior. b) das inaugurações das novas capitais de Goiás e do
Brasil – Goiânia (1942) e Brasília (1960) –, as quais
Leia o texto. contribuíram para o maior desenvolvimento da re-

Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás
gião sul e o isolamento da região norte do estado.
A região e caracterizada, especialmente no inicio do c) do movimento separatista do norte de Goiás, do ano
século XX, pela ocupação estimulada pelos trilhos da Estrada de 1821, que chegou a estabelecer um governo au-
tônomo provisório na cidade de Cavalcante, que se
de Ferro. Atualmente, apresenta uma rede urbana pouco
declarou independente da Comarca do Sul.
densa, com predomínio de cidades abaixo de 10.000 habi-
d) da implantação da República em Goiás e da autono-
tantes. Além da forte agricultura, sua economia se destaca
mia do estado, dada pelo novo regime federativo, a
pela produção mineral e pela presença de indústrias do setor
partir de 1889, o que gerou intensas lutas pelo poder
automotivo.
entre lideranças políticas do norte e do sul.
e) do desmembramento da Capitania de Goiás da Capi-
13. (CS-UFG/Analista Legislativo/2015) O texto faz referen- tania de São Paulo, em 1749, quando os senhores de
cia a região goiana conhecida como escravos do norte goiano queriam mais autonomia
a) Sudeste Goiano. na exploração das minas em sua região.
b) Nordeste Goiano.
c) Sudoeste Goiano. 18. (CS-UFG/DPE-GO/2014) A construção de Goiânia, a par-
d) Região Metropolitana tir de 1933, transformou o espaço urbano do município
de Campinas. Nessa construção, a cidade de Campinas
14. (CS-UFG/Analista Legislativo/2015) O povoamento do a) passou por um processo de planejamento e rees-
território goiano do século XVIII é distinto daquele re- truturação urbanística associado a tendência de
gistrado no século XIX e XX, especialmente em relação verticalização da nova capital.
à rede de cidades e à integração econômica. A principal b) apresentou um alto crescimento demográfico em
atividade econômica, no período citado, era consequência da chegada de trabalhadores para a
a) o extrativismo vegetal. construção da nova capital.
b) a criação de gado vacum. c) foi escolhida para sediar a nova capital em virtude do
c) o cultivo de arroz potencial econômico do município que era atendido
d) a exploração do ouro. pela Estrada de Ferro Goiás.
d) preservou a autonomia municipal frente à criação
15. (CS-UFG/Analista Legislativo/2015) A composição da po- da nova capital por meio do redimensionamento do
pulação goiana, considerando a migração, é bastante território sob sua administração.
heterogênea. Contudo, é possível estabelecer um perfil e) tornou-se um centro de atração religiosa em decor-
regional da migração, uma vez que ela foi influenciada, rência da chegada e ao estabelecimento da missão
sobretudo, pelo trabalho. Tendo em vista o Entorno redentorista na região.
do Distrito Federal, a maior parte dos migrantes foram
oriundos da região 19. (CS-UFG/SEDUC-GO/2010) Leia o texto a seguir.
a) Sul. A utilização das águas no território goiano é bastante
b) Norte. distinta, dependendo, sobretudo, de fatores de povoa-
c) Nordeste. mento, relevo e disponibilidade hídrica. Para a produção
d) Sudeste. de energia e para o abastecimento humano, Goiás conta
com duas principais bacias, que são as dos rios
16. (CS-UFG/CELG/GT-GO/2014) Ao longo do século XIX, a) Corumbá e Meia Ponte.
verificou-se um substancial e progressivo aumento da b) Araguaia e Rio dos Bois.
densidade populacional de Goiás. Vários fatores con- c) Tocantins e Rio Vermelho.
tribuíram para a ocorrência desse fenômeno, incluindo d) Paraná e Maranhão.

17
20. (CS-UFG/SEDUC-GO/2010) O processo de modernização e) distanciamentos. Dentre os episódios mais contro-
agrícola no Sudoeste Goiano ocorreu de forma desigual versos, destaca-se
e concentrada. Entre os fatores que explicam essa mo- a) o apoio de Iris Rezende, então Ministro da Agricul-
dernização são citados, frequentemente, aqueles de tura, ao candidato Henrique Santillo, que disputou o
ordem ambiental, com destaque para governo estadual contra Mauro Borges nas eleições
a) os solos férteis. de 1986.
b) o relevo tabular. b) o conflito interno no PMDB, motivado pela recusa
c) as formações florestais. de Mauro Borges em aceitar a candidatura de Iris
d) o clima úmido. Rezende ao governo estadual nas eleições majori-
tárias de 1982.
21. (CS-UFG/SEDUC-GO/2010) Os fluxos migratórios para c) a aceitação de Iris Rezende ao convite de Dante Un-
o território goiano, durante o século XX, seguiram pa- garelli, presidente da UDN, partido de oposição a
drões regionais influenciados pela dinâmica econômica Pedro Ludovico, para disputar um mandato de ve-
e projetos de integração nacional. Ao observar o perfil reador em 1953.
demográfico do Sudoeste Goiano e do Entorno do Dis- d) a cassação de Iris Rezende do cargo de prefeito de
trito Federal, percebe-se que esse padrão foi determi-
Goiânia, realizada pelos militares em 1968, em repre-
nado, respectivamente, pela
sália à resistência de Mauro Borges ao Golpe Militar
a) edificação de Goiânia e pela modernização agrícola.
de 1964.
b) construção da ferrovia e pela implantação de proje-
tos de irrigação.
c) criação de projetos de colonização e por programas Tentaremos mostrar a seguir porque foi preciso buscar
de transferência de renda. fora do estado a mão de obra para a construção civil, e a vida
d) modernização da agricultura e pela edificação de dos operários na edificação de uma nova Capital que viria a
Brasília. trazer o “progresso” para os proprietários de terra, para os
grupos oligárquicos e para os capitalistas em geral.
Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás

CHAUL, Nasr N. Fayad. A construção de Goiânia e a


Leia o fragmento a seguir.
transferência da capital. Goiânia: CEGRAF, 1988. p. 111.
Esta secção zurgindo,
Zurgirá sem pena ou dó 24. (UEG/PM/Soldado/2013) O fato de que parte consi-
Enquanto estiver agindo derável dos operários e técnicos que trabalharam na
Com desmandos o Totó construção de Goiânia foi trazida de fora do estado se
(ZUMBI, 24.06.27) In: MACHADO, Maria Cristina Teixeira. explica porque
Pedro Ludovico: um tempo, um carisma, uma história. a) o projeto de construção de uma nova capital era
Goiânia: Cegraf/UFG, 1990, p. 119. impopular para os muitos entusiastas das tradições
da antiga Vila Boa de Goyaz.
22. (CS-UFG/SEDUC-GO/2010) Esse fragmento faz alusão b) o governo dos Caiado investia pouco na qualificação
ao contexto político de Goiás, no final da década de de mão de obra, inexistindo instituições de Ensino
1920, fundamentando-se na crítica à oligarquia local Superior em Goiás nos anos 1920.
e indicando que, com a mudança do centro de poder, c) o conflito gerado pela passagem da Coluna Prestes
o Estado em Goiás provocou a desarticulação das escolas de
a) deixaria de promover a concentração fundiária, in- nível técnico existentes no estado.
centivando o desenvolvimento político e econômico d) o maior contingente da população de Goiás era de
mais equânime.
trabalhadores rurais, sem a experiência e o conhe-
b) fomentaria a ocupação de novos espaços em suas
cimento técnico necessários para obras de maior
diversas regiões, vinculando-se às atividades pecu-
vulto.
árias.
c) permitiria a inserção mais dinâmica das oligarquias,
impulsionando a competitividade das novas forças As minas eram, assim, uma espécie de colônia dentro
produtivas. da colônia [...] isso nos explica o pouco desenvolvimento da
d) entraria em uma nova era de realizações e de pro- lavoura e da pecuária em Goiás, durante os cinquenta pri-
bidade administrativa, rompendo com a política meiros anos; todos os esforços de capital e de mão de obra
tradicional. deveriam concentrar-se na mineração. Tal sistema não se
devia exclusivamente aos desejos e à política dos dirigentes;
Iris Rezende recebeu uma formação política e uma edu- era também decorrente da mentalidade do povo.
cação familiar que o diferencia dos políticos em atividade no PALACÍN, Luís; MORAES, Maria Augusta de Sant’anna. História
de Goiás (1722-1972). Goiânia: Ed. da UCG,1994. p. 16.
final da década de 1960. Com a disposição para conhecer o
novo, ele abriu-se à liderança inovadora de Mauro Borges
no comando do Estado, no início dos anos 60. Mauro foi seu 25. (UEG/PM/Soldado/2013) A sociedade goiana desenvol-
grande inspirador. Paralelamente, buscou em Pedro Ludovi- veu códigos sociais bastante peculiares durante o Ciclo
co um mestre hábil, profundo conhecedor da arte de fazer do Ouro. A profissão de um indivíduo determinava seu
política, o que faltava em CUNHA, Cileide Alves. A inserção prestígio, a partir das necessidades e prioridades espe-
de Iris Rezende na política – entre o estilo político de Pedro cíficas da época. De acordo com a mentalidade popular
Ludovico e a gestão inovadora de Mauro Borges. In: do século XVIII
FERREIRA, D. P; BEZERRA, H. D. (Orgs). Panorama da política a) o vaqueiro era desprezado, pois tratava-se apenas
em Goiás. Goiânia: Ed. da UCG, 2008. p. 11-12. de um transportador das riquezas produzidas.
b) o roceiro era considerado importante, pois era o
23. (UEG/PM/Soldado/2013) A relação política do ex-gover- único que produzia alimento na região das minas.
nador Iris Rezende Machado com a família Ludovico foi c) a profissão de mineiro era considerada a mais hon-
marcada por aproximações rosa, tendo o mais alto status social na capitania.

18
d) a atividade de coletor de impostos gozava de grande
popularidade, uma vez que representava a Coroa.

26. (UEG/PM/Soldado/2013) A partir da década de 1970,


Goiás passou por um intenso processo de urbanização,
em decorrência da modernização da agricultura. A con-
sequência foi uma configuração territorial atualmente
caracterizada por
a) existirem menos de dez cidades no estado que pos-
suem uma população superior a 100 mil habitantes.
b) concentrar nos 5 maiores núcleos urbanos de Goiás
mais de 70% da sua população total.
c) concentrar na região metropolitana de Goiânia mais
de 70% da população total do estado.
d) existir ainda um alto índice de população rural, que
atinge cerca de 50% da população do estado.

27. (UEG/PM/Soldado/2013) Goiás apresentou, a partir da


década de 1970, um acelerado aumento na produção
agrícola, o que contribuiu para que o estado se tornasse
um grande exportador de grãos para o mercado exte-
rior. Um fator que contribuiu para isso foi
a) a criação de colônias agrícolas e assentamentos po-
pulares no estado, que passou a cultivar grãos em

Realidade Étnica, Social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás
larga escala.
b) a existência de grandes bacias hidrográficas que
permitiram a expansão das lavouras irrigadas no
sudoeste goiano.
c) a expansão do cultivo nas grandes extensões de so-
los sobre chapadões planos e o clima favorável aos
cultivos de verão.
d) a implantação de políticas públicas de incentivo à
produção agrícola voltadas principalmente para o
pequeno e médio produtor.

GABARITO
1. a 8. d 15. c 22. d
2. c 9. b 16. e 23. a
3. d 10. a 17. c 24. d
4. a 11. b 18. b 25. c
5. d 12. b 19. a 26. a
6. a 13. c 20. b 27. c
7. a 14. d 21. d

19
PMGO

SUMÁRIO

Noções de Direito Penal

Princípios constitucionais do Direito Penal........................................................................................................................ 3/9

A lei penal no tempo.............................................................................................................................................................. 3

A lei penal no espaço............................................................................................................................................................ 16

Interpretação da lei penal...................................................................................................................................................... 8

Infração penal:
espécies............................................................................................................................................................................. 23

Sujeito ativo e sujeito passivo da infração penal................................................................................................................. 11

Tipicidade, ilicitude, culpabilidade, punibilidade................................................................................................................ 20

Excludentes de ilicitude e de culpabilidade......................................................................................................................... 36

Erro de tipo; erro de proibição............................................................................................................................................. 33

Imputabilidade penal........................................................................................................................................................... 39

Concurso de pessoas............................................................................................................................................................ 42

Das Penas.............................................................................................................................................................................. 46

Crimes contra a pessoa......................................................................................................................................................... 73

Crimes contra o patrimônio.................................................................................................................................................. 92

Dos Crimes contra os Costumes......................................................................................................................................... 109

Dos Crimes contra a Paz Pública......................................................................................................................................... 115

Crimes contra a Administração Pública.............................................................................................................................. 116


NOÇÕES DE Direito Penal
Saulo Fontana / Raquel Mendes de Sá Ferreira

NOÇÕES DE DIREITO PENAL Quadro Esquemático


(introdução, conceito de Direito
PARTE GERAL PARTE ESPECIAL
Penal, fontes do Direito Penal, DO CÓDIGO PENAL DO CÓDIGO PENAL
conflito aparente de normas, Prevê regras de aplicação da lei pe- Prevê os crimes.
interpretação da lei penal, nal: traz as regras para aplicação da
legítima defesa, para o concurso de
princípios constitucionais e demais pessoas, as hipóteses de agravantes
princípios de Direito Penal, sujeito e ate­nuantes da pena etc.
do crime) Finalidade

Noções de Direito Penal A finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens


jurídicos mais importantes e necessários para a própria
sobrevivência da sociedade. Para efetivar essa proteção,
Introdução
utilizam-se da cominação, aplicação e execução da pena,
embora a pena não seja a finalidade do Direito Penal, mas
O Direito é uma ciência e, como tal, visa estudar os apenas um instrumento de coerção de que se vale para a
costumes sociais. Ele acompanha a evolução da sociedade, proteção desses bens, valores e interesses mais significativos
procurando disciplinar a conduta do homem no meio social, da sociedade, logo, a criação de qualquer tipo penal incri-
elaborando normas de conduta a fim de que todos os que minador deve apontar com precisão o bem jurídico que por
vivem socializados tenham uma vida harmônica. O Direito intermédio dele pretende-se proteger (Rogério Greco).
Penal se distingue dos demais ramos do Direito, pois, en- Breve Histórico do Direito Penal
quanto estes procuram devolver a cada indivíduo o patri-
mônio jurídico lesionado, aquele procura punir o infrator, Vigoraram no Brasil as ordenações Afonsinas, Manue-
aplicando-lhe sanções impostas que, geralmente, redundam linas e Filipinas. Seguiu-se o Código Criminal do Império
em 1930, o Código Penal Republicano de 1890 e as Conso-
na perda de um direito. lidações das Leis Penais, de 1932. O estatuto em vigor é o
A própria sociedade impõe ao Estado o dever de se Código Penal de 1940, que foi instituído pelo Decreto-Lei
criarem regras, a fim de que sejam observadas por todos nº  2.848/1940, nos termos do art.  180, da Constituição
aqueles que vivem em sociedade para que o convívio so- de 1937, o qual no decorrer dos anos sofreu várias mu-
cial não fique ao livre arbítrio dos seres humanos, o  que danças, sendo que as principais delas foram introduzidas
se faz então necessário que existam normas reguladoras pelas Leis nº 6.416/1977, nº 7.209/1984, nº 9.983/2000,
nº 10.028/2000 e nº 10.224/2001, dentre outras.
previamente estabelecidas, que visem coibir as ações não
desejadas, impondo aos que assim procederem, sanções Observações:
(punições). As ações, aqui, ditas indesejadas, nada mais são
que os ilícitos penais, ou seja, crimes, cabendo, pois, ao Es- I – o Código Penal de 1890, apesar dos defeitos apre-
tado, punir o infrator, aplicando-lhe a pena descrita ao tipo. sentados, trouxe avanços como a extinção da pena
O Direito Penal qualifica alguns comportamentos hu- de morte e a criação de um regime penitenciário
manos e os eleva ao status de infração penal, definindo convencional;
II – o atual Código Penal traz influências das escolas
seus agentes e estabelecendo as consequências jurídicas positivista e clássica;
correspondentes (Luiz Antônio de Souza). Em outras palavras, III – completando a legislação em matéria penal,
o  Direito Penal cuida de proteger diversos bens jurídicos, tivemos a Lei de Contravenções Penais de 1941 e o
importantes para a sociedade, definindo infrações penais Código penal Militar de 1944;
(crime ou contravenção) e cominando sanções a quem não IV – a parte geral do Código foi reformada pela Lei
os respeite (Leandro Cadenas Prado). O CP é dividido em nº 7.209/1984. Porém a reforma não se estendeu à
parte especial, dessa forma, temos um Código Penal
duas partes: geral (arts. 1º ao 120) e especial (arts. 121 a
decorrente da Lei nº 7.209/1984 e a parte especial
361). A parte geral cuida das regras de aplicação da lei penal, de 1940.
os ensinamentos introdutórios do DP, aplicáveis a todas as
leis que tratam de matéria penal, ainda que fora do Código Algumas Definições Importantes
Noções de Direito Penal

Penal. Assim, estabelece regras temporárias e espaciais de


aplicação da lei penal brasileira, da conduta do agente, do As definições aqui apresentadas foram respaldadas na
concurso de pessoas, das agravantes e atenuantes, das ex- obra de Zélio Maia da Rocha e Luiz Carlos Bivar Corrêa Júnior.
cludentes de ilicitude, da inimputabilidade, além de referir-se Ilícito Civil
à ação penal, medidas de segurança e prazos prescricionais.
Já a parte especial cuida de estabelecer os diversos delitos Suas consequências restringem-se exclusivamente ao cam-
e suas penas respectivas, contendo também previsões de po do Direito Civil. Procura devolver a cada um o bem jurídico
isenção de pena (arts. 143, 181, 348, § 2º), de exclusão protegido que foi objeto de violação ou, quando isso não for
possível, promover o devido ressarcimento pelos prejuízos
de ilicitude (art.  128) e artigos meramente explicativos sofridos. A partir do momento que o credor busca contra o
(arts. 327, 337-D). devedor o ressarcimento de suas perdas decorrentes do ilícito

3
ou de descumprimento de contrato, é que se está no campo jus accusationis, ou seja, o direito de vir a juízo e pleitear a
do ilícito civil. Como nem sempre é possível ao Direito Civil condenação de seu agressor, e não o direito de executar, por
coibir a prática do ilícito com a simples atitude de devolver si só a sentença condenatória (Greco). Em outras palavras,
ou reparar os prejuízos causados, nasce a necessidade de se poder-se-ia resumir o Direito Penal subjetivo como o direito
punir com penas diversas das elencadas no Direito Civil. Aí é de punir, também conhecido por jus puniendi.
que entra em ação a aplicação de normas distintas como as
elencadas na esfera penal, ou seja, aquele que cometeu um Conceito de Direito Penal
ilícito, como, por exemplo, um homicídio, deve ser punido com
a pena de reclusão, que varia de 6 a 20 anos. Direito Penal é o ramo do Direito Público encarregado de
definir as infrações penais (crimes e contravenções) e impor
Ilícito Penal penalidades (para os imputáveis: aqueles que são maiores e
capazes) ou medidas de segurança (para os semi-imputáveis
Visa punir o infrator da norma com uma sanção de cará- ou inimputáveis: doentes mentais), por intermédio do Estado
ter punitivo, preventivo e reeducativo. É punitivo quando se na busca da proteção pelos bens jurídicos tidos como funda-
pune um mal com um mal; preventivo quando se mostra às mentais (vida, honra, liberdade, patrimônio etc.).
demais pessoas na sociedade e ao próprio infrator que existe O Direito Penal pode então ser conceituado como o
uma sanção aplicável a determinada conduta; e reeducativo, conjunto de normas e regras jurídicas que regulam o poder
pois visa reintegrar o criminoso ao convívio social. punitivo do Estado, em face de atos humanos considerados
infrações penais (Luiz Antônio de Souza). As infrações penais
A mesma conduta do agente pode ter consequências civis
são divididas em crimes e contravenções e as sanções penais
e penais. Seria penal quando coubesse a ele uma punição
podem ser subdivididas em penas e medidas de segurança.
como prisão e civil, quando o criminoso além de ser privado
É um ramo do Direito que é, ao mesmo tempo, garantista
de sua liberdade de locomoção, tivesse de ressarcir os danos e punitivo, visto que esse garantismo não se dá apenas
materiais e morais sofridos pela família prejudicada, objeto contra atos humanos de violência, mas também contra
da ação delitiva do infrator. uma possível ingerência estatal. Deve-se salientar que nem
todas as normas ocupam um mesmo patamar dentro do
Objeto do Direito Penal ordenamento jurídico. Existem normas superiores e normas
inferiores. Há também uma norma que é superior a todas as
“Bem” é tudo aquilo que traz satisfação ao homem. demais (a Constituição Federal), conferindo-lhes legitimidade
É tudo que nos agrada. Aos bens que exigem a atuação do Di- e coesão dentro do ordenamento (Rogério Greco). A essa
reito chamamos de bens jurídicos. O Direito Penal, portanto, norma superior denominou-se Norma Fundamental. Luigi
mediante sanções, procura proteger os bens juridicamente Ferrajoli parte desse raciocínio para desenvolver seu modelo
protegidos como a vida, a liberdade etc. penal garantista, onde no Estado Constitucional de Direito
entende esse garantismo como o conjunto de vínculos e de
Quadro Esquemático regras racionais impostos a todos os poderes na tutela dos
direitos de todos. Finalizando, para o garantismo de Ferrajoli,
Ilícito Penal Ilícito Civil o juiz não é um mero aplicador da lei, um mero executor da
vontade do legislador ordinário. Ele é o guardião de nossos
Tutela os bens jurídicos mais Tutela os demais bens jurí- direitos fundamentais. O  garantismo penal fundamenta-
importantes para a sociedade. dicos da sociedade. -se em diversos axiomas, dentre eles podemos destacar: a
Em caso de violação de um Em caso de violação de um pena só poderá ser aplicada quando houver efetivamente a
bem jurídico, aplicação, em bem jurídico, aplicação, em prática de uma infração penal; a infração penal deve estar
regra, de uma pena. regra, de uma indenização. expressamente prevista em lei; somente as ações culpáveis
podem ser reprovadas (lembrando que tais condutas podem
Objeto Material se dar mediante ação do agente, ou omissão, quando pre-
visto em lei); o juiz que julga não pode ser responsável pela
É a coisa sobre a qual recai a ação do agente, podendo acusação; fica a cargo do acusador todo o ônus probatório,
tratar-se tanto de um bem material como de uma pessoa que não poderá ser transferido ao acusado pela prática de
no sentido corporal. determinada infração penal; deve ser assegurada ao acusado
Assim, observe a seguinte assertiva de prova: Felizberto a ampla defesa, com todos os recursos a ela inerentes.
procurou o Delegado de Polícia da sua cidade e acusou-se Enquanto os demais ramos do Direito procuram devolver
de um crime que não havia existido. Assim, pode-se afirmar a cada um o patrimônio jurídico lesionado, o Direito Penal
que não há objeto material, em face do crime praticado procura punir os responsáveis mediante sanções impostas
por Felizberto.1 que, em regra, redundam na perda de um Direito.
Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo Quadro Esquemático
a) Objetivo: é o conjunto de leis vigentes no País, editadas
Noções de Direito Penal

pelo Estado, que define crimes e contravenções, bem como Direito Penal Outros ramos do Direito
todas as outras que cuidem de questões de natureza penal Tutela os bens jurídicos mais Tutela os demais bens ju-
(legítima defesa, estado de necessidade, concurso de pessoas). importantes. rídicos.
b) Subjetivo: é a possibilidade que tem o Estado de criar
Em caso de descumprimento Em caso de descumprimento
e fazer cumprir suas normas, executando as decisões conde-
da norma, ou seja, de lesionar da norma, ou seja, de lesio-
natórias proferidas pelo Judiciário, ou seja, é o próprio jus
o bem jurídico por ela prote- nar o bem jurídico por ela
puniendi. Observe que ainda que a ação penal seja privada,
gido: imposição de Pena. protegido: indenização.
o Estado não transfere seu jus puniendi ao particular, haja
vista que este detém tão somente o jus persequendi ou o
Obs.: bem jurídico – valores protegidos pela sociedade:
Funcab/PC-ES/Escrivão de Polícia/2013.
1 vida, patrimônio, liberdade, integridade física.

4
Deve-se salientar, ainda, que o estudo do Direito que é descreve condutas que, se praticadas, levará o infrator a uma
pautado sob dois grandes pilares: Garantismo Penal e Direito condenação correspondente à pena prevista para aquela
Penal da lei e da ordem. Para o garantismo penal, segundo infração penal. No caso, por exemplo, do crime de homicí-
Luigi Ferrajoli, o Direito Penal deve ser interpretado a partir dio (art. 121, CP), o legislador não dispôs “é proibido matar
dos Direitos Fundamentais previstos na Constituição Federal, alguém”, mas descreveu a conduta: “matar alguém”. Diante
ou seja, o autor de um crime é um sujeito de direito e não dessa observação, Binding concluiu que, na verdade, quan-
um objeto para aplicação da pena. Diante disto, o juiz não é do o criminoso praticava a conduta descrita no núcleo do
um mero aplicador da lei, um mero executor da vontade do tipo (verbo), a rigor não infringia a lei, pelo contrário, ele se
legislador ordinário. Ele é o guardião de nossos direitos fun- amoldava perfeitamente ao tipo incriminador, ou seja, o que
damentais. O garantismo penal fundamenta-se em diversos ele infringia era a norma penal implicitamente contida na lei.
axiomas, dentre eles podemos destacar: a pena só poderá Logo, para a Teoria de Binding, a lei teria caráter descritivo
ser aplicada quando houver efetivamente a prática de uma da conduta proibida ou imposta, tendo a norma, por sua
infração penal; a infração penal deve estar expressamente vez, caráter proibitivo (Greco). São espécies/classificação
prevista em lei; somente as ações culpáveis podem ser de normas penais:
reprovadas, o juiz que julga não pode ser responsável pela
acusação; fica a cargo do acusador todo o ônus probatório, Norma penal incriminadora: são aquelas que definem
que não poderá ser transferido ao acusado pela prática de as infrações penais sob ameaça de pena (crime), que podem
determinada infração penal; deve ser assegurada ao acusa- ser proibitivas ou mandamentais. Enquanto a referida norma
do a ampla defesa, com todos os recursos a ela inerentes. faz a descrição detalhada e perfeita de uma conduta que
Em nosso Direito Penal Brasileiro podemos dar exemplos se procura proibir ou impor, tem-se o chamado preceito
de garantismo penal como as medidas despenalizadoras: primário (preceptum iuris); já quando individualiza a pena,
conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de cominando-a em abstrato, tem-se o chamado preceito
Direito, como, por exemplo, a entrega de cesta básica. secundário (sanctio iuris). Ex.: no art. 121, caput, do CP,
Já o Direito Penal da lei e da ordem, o aplicado nos o preceito primário é “Matar alguém”. Quanto ao preceito
Estados Unidos, ao autor de um crime deve se aplicada secundário, tem-se, para o mesmo artigo, “Pena – reclusão,
as consequências previstas no ordenamento jurídico, com de 6 (seis) a 20 (vinte) anos”.
poucas flexibilizações. Assim verificamos os casos de prisões
perpétuas e penas de mortes. Modelo da Norma Penal Incriminadora – Todo tipo penal
vem previsto desta forma:
Fontes do Direito Penal Ex.: art. 121 do CP – Homicídio.
Fonte é o local de onde as coisas (normas) provêm. Em
matéria penal as fontes podem ser: material ou formal. Descrição da conduta (também cha- Matar alguém.
mado de preceito primário).
Material (fonte de produção): é o próprio Estado, a quem Descrição da pena (também chama- Pena de 6 a 20 anos.
compete a produção legislativa; do de preceito secundário).
Formal (fonte de conhecimento): a única fonte de cog-
nição ou de conhecimento do Direito Penal é a Lei. A fonte Norma penal não incriminadora: são aquelas que não
formal se subdivide em imediata (que é a própria lei em sen- estipulam tipos penais, ou seja, não estão prevendo um cri-
tido estrito) e mediata (que são os costumes e os princípios me, apenas complementam regras relativas ao Direito Penal,
gerais de Direito). Lembre-se que costume não pode criar esclarecendo ou explicando conceitos, sendo, portanto:
infração penal, nem pena e também não pode revogar lei • explicativas: como, por exemplo, no art. 327, CP, que
penal. Ele é utilizado praticamente para interpretar a norma traz a definição de funcionário público para efeitos
penal. Quanto aos princípios, eles ajudam a formar o raciocí- penais;
nio jurídico, tendo em vista que, por serem normas jurídicas • complementares: fornecem princípios gerais para a
de especial relevância, servem como vetores interpretativos aplicação da lei penal como, por exemplo, no art. 59,
para o operador do Direito (Luiz Antônio de Souza). CP, que prevê que o juiz para punir, deve levar em con-
sideração a culpabilidade, os antecedentes, a conduta
Norma Penal social, a personalidade do agente etc.;

Decorre do princípio constitucional (inciso II, art. 5º da Obs.: o art.  68 do CP traz as regras para a fixação da
CF) onde “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer pena – é o chamado sistema trifásico – , primeiro, o juiz
alguma coisa senão em virtude de lei”. Assim só haverá cri- estabelece a pena-base, depois considera as circunstâncias
me se uma lei penal dispor que aquela conduta é um crime. atenuantes e agravantes e, por último, as causas de diminui-
Mesmo a conduta do agente sendo socialmente reprovável, ção e de aumento de pena; para estabelecer a pena-base – a
se não houver tipo penal incriminador proibindo-a, não primeira fase da fixação da pena  – o juiz deve seguir as
Noções de Direito Penal

poderá sofrer qualquer sanção ao praticá-la. As  normas diretrizes do art. 59 do CP – as circunstâncias judiciais – ,
penais são as proibições ou mandamentos inseridos na portanto, o art. 59 complementa o art. 68.
lei penal, que se constituem em espécie do gênero norma
jurídica e que têm seu cumprimento garantido pela sanção • permissivas justificantes: excluindo a antijuridicida-
nela prevista, contudo, nem todas as normas penais têm o de de algumas condutas, também ditas normas que
intuito de punir, ou seja, nem todas são incriminadoras. Elas trazem a prática de um crime mas que naquele caso
podem prever excludentes, formas de isenção de aplicação concreto não constituem uma infração penal como,
da pena, explicações etc. É bom salientar que existem ar- por exemplo, aquelas mencionadas nos arts. 23 a 25,
tigos do CP, na sua parte especial, em que o legislador usa CP, ou seja, legítima defesa, estado de necessidade,
um meio interessante para proibir determinadas condutas, estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular
tendo em vista que ele, ao invés de estabelecer proibições, de um Direito;

5
• permissivas exculpantes: isentam o agente de pena mas não traz a pena. Esta, para ser aplicada, requer que o
afastando a sua culpabilidade como, por exemplo, no órgão julgador recorra ao Código Penal para poder aplicar a
art. 26, caput, quando traz a inimputabilidade: me- pena ao caso concreto. Este é o clássico exemplo de norma
nor de idade, doente mental etc. Observe que nessa penal incompleta ou imperfeita.
situação, embora haja isenção de pena, permanece a Não confundir:
conduta praticada sendo típica e antijurídica.
Norma Penal em Branco Norma Penal Incompleta
Norma penal em branco: são aquelas que necessitam de
integração por outra norma para que se torne viável a sua O preceito primário (descri- O preceito secundário (des-
aplicação. Aqui, há a descrição da conduta proibida, contu- ção da conduta criminosa) crição da pena a ser aplica-
do, ela requer obrigatoriamente um complemento extraído precisa ser complementado da) é complementado por
de outro diploma para se tornar possível a sua aplicação. por outra lei (homogênia), outra lei.
As normas penais em branco recebem essa denominação decreto, portaria ou regula-
por deixarem “claro” que será preenchido por outra norma, mento (heterogênia).
de natureza penal ou não. A complementação pode ser:
a) homogênea ou em seu sentido amplo: decorre de lei. Conflito aparente de normas: dá-se quando houver duas
Ex.: o art. 237 do CP pune aquele que contrai casamento ou mais normas que, aparentemente, regulam o mesmo fato,
conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a mas, na verdade, apenas uma delas é que será aplicada. Não
nulidade absoluta. Todavia o CP não enumera tais impedi- se pode confundir com a antinomia, que “é a situação que
mentos, e sim o Código Civil em seu art. 1.521, I a VII; se verifica entre duas normas incompatíveis, pertencentes
b) heterogênea ou seu sentido estrito: decorre de por- ao mesmo ordenamento jurídico e tendo o mesmo âmbito
taria, decreto, regulamento, como, por exemplo, quando a de validade”. (Bobbio)
Lei nº 11.343/2006 cita o tráfico de substância entorpecente, Este mesmo autor sugere três critérios para solucionar
sem, contudo, definir o que é substância entorpecente. Tal a antinomia entre as normas: o critério cronológico (onde a
definição é encontrada em portaria da Agência Nacional
lei posterior revoga a anterior), o critério hierárquico (onde
de Vigilância Sanitária  – Anvisa, que é uma autarquia em
regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde e criada a norma hierarquicamente superior prevalece sobre a norma
pela Lei nº 9.782/1999, o que não contraria o princípio da hierarquicamente inferior) e o critério da especialidade (onde
legalidade, tendo em vista que o tipo penal está previsto a lei especial afasta a aplicação da lei geral).
em lei, apenas o seu complemento é que está veiculado em
instrumento infralegal. Conflito Aparente de Antinomia
Normas
Obs.: para Greco, a norma penal em branco heterogênea, Um fato aparentemente Duas normas incompatíveis
por ser oriunda de outra fonte legislativa, que não a lei em pode ser regulado por duas no mesmo ordenamento
seu sentido estrito, feriria ao princípio da legalidade, por normas. Atenção apenas jurídico.
ofensa ao art. 22, I, da CF, tendo em vista ser competência aparentemente.
exclusiva da União legislar sobre Direito Penal, alegando a
falta de legitimidade da autoridade administrativa para am- Solução: aplicação dos prin- Solução: aplicação dos prin-
pliar e mesmo restringir o alcance da norma penal carecedora cípios da Especialidade, Sub- cípios cronológico, hierárqui-
de complementação. sidiariedade e Consunção. co e da especialidade.

Quadro Esquemático Princípios para Solucionar o Conflito Aparente de


Normas
Norma Penal em Branco Norma Penal em Branco
Especialidade: o caráter especial prevalece sobre o geral
Homogênea Heterogênea
(lex specialis derrogat lex generalis). A norma especial é
A descrição da conduta cri- A descrição da conduta cri- igual a norma geral, todavia contém algumas especialidades.
minosa precisa ser comple- minosa precisa ser com-
Vejamos o esquema abaixo:
mentada por outra lei. plementada por decretos,
portarias ou regulamentos.
Norma Geral Norma Especial
Norma penal incompleta ou imperfeita: ela não se O crime de homicídio é O crime de infanticídio é norma
confunde com a norma penal em branco, tendo em vista norma geral e dispõe: especial em relação ao crime de
que esta é formalmente deficiente em seu preceito primário “matar alguém”. homicídio e dispõe: “matar sob a
(descrição da conduta criminosa), precisando ser comple- influência do estado puerperal o
mentada por outras normas jurídicas, enquanto o preceito próprio filho durante o parto ou
secundário está plenamente justificado. Quanto à norma logo após”.
Noções de Direito Penal

penal incompleta ou imperfeita, ela é deficiente em seu


preceito secundário. Em outras palavras, na norma penal Assim, se estivermos diante do seguinte fato: uma mãe,
incompleta ou imperfeita, verifica-se a previsão do tipo sob o estado puerperal (espécie de depressão pós-parto),
penal, ou seja, o preceito primário da norma incriminadora,
matar o recém-nascido, aparentemente poderia haver dúvida
porém lhe falta a sanção, que está prevista em outra lei ou
a outro texto de lei. Ex.: o crime de uso de documento falso acerca de qual crime deveria ser aplicado, homicídio ou infan-
prevê em seu preceito primário: “Fazer uso de qualquer dos ticídio, todavia, com aplicação do princípio da especialidade
papéis falsificados ou alterados”, todavia no seu preceito verifica-se que o fato constitui-se um infanticídio.
secundário prevê: “Pena: aplicada ao crime de falsificação ou Outro exemplo seria o crime de contrabando, art. 334-A
adulteração. Outro exemplo é o crime de genocídio previsto do CP, norma geral, em relação ao crime de tráfico ilícito de
no art. 1º da Lei nº 2.889/1956, que traz a tipificação penal, entorpecentes, art. 33 da Lei nº 11.343/2006, Lei Especial.

6
Subsidiariedade: as normas subsidiárias são aquelas que nele e matando-o. O crime de porte ilegal de arma,
têm relação com outras, mas que só têm aplicação enquanto fato anterior, menos grave é absorvido pelo crime de
não violado o bem jurídico tutelado pela norma principal. homicídio, fato posterior e mais grave, respondendo
Segundo Nelson Hungria, a norma subsidiária é considerada o autor apenas pelo crime de homicídio.
um “soldado de reserva”, ou seja, na ausência ou impossibi- • Postfactum não punível – O fato posterior é menos
lidade de aplicação da norma principal mais grave, aplica-se grave e é absorvido pelo fato anterior, mais grave. Ex.:
a norma subsidiária menos grave (Lex primaria derrogat legi aquele que falsifica moeda (fato mais grave) e depois a
subsidiariae). Aqui, o tipo penal pode fazer menção quanto à introduz em circulação (fato menos grave), o agente só
subsidiariedade, como, por exemplo, no crime de perigo para irá responder pelo delito de moeda falsa, o agente furta
a vida ou saúde de outrem (art. 132 do CP), que menciona o relógio da vítima (fato mais grave) e depois o destrói
a pena e diz “desde que o fato não constitua crime mais (fato menos grave). O agente responderá apenas pelo
grave”. Pode também não fazer qualquer menção quanto crime de furto, ficando o crime de dano absorvido.
à subsidiariedade. Ocorre toda vez que determinado delito
for “elementar ou circunstância” de outro. Ex.: o constran- Deve-se ter atenção para não confundir crime progres-
gimento ilegal (art. 146 do CP) funciona como elementar do sivo com progressão criminosa.
crime de estupro (art. 213 do CP). Vejamos:

Norma Subsidiária Norma Específica Crime Progressivo Progressão Criminosa


(menos grave) (mais grave)
O agente, desde o início, O agente pretende inicial-
Descreve um grau menor Contém em sua conduta almeja a realização de um mente praticar um crime
de violação ao bem jurídi- a norma subsidiária, bem resultado mais grave. menos grave e, após sua
co. É parte do crime maior. como acresce a ela circuns- realização, resolve praticar
Ex.: crime de constrangi- tâncias mais gravosas. Ex.: uma nova infração mais gra-
mento ilegal (art.  146 do crime de estupro (art. 213 do ve (antefactum não punível)
CP) – “Constranger alguém, CP) – “Constranger alguém, ou o agente pretende ini-
mediante violência ou grave mediante violência ou grave cialmente praticar um crime
ameaça, ou depois de lhe ameaça, a ter conjunção mais grave e, após sua reali-
haver reduzido, por qualquer carnal ou a praticar ou per- zação, resolve praticar uma
outro meio a capacidade de mitir que com ele se pratique nova infração menos grave
resistência, a não fazer o que outro ato libidinoso”. (postfactum não punível).
a lei permite, ou a não fazer Assim, o crime de estupro é
o que ela manda”. um constrangimento, toda- Também é de bom alvitre diferenciar os seguintes prin-
via voltado para fins sexuais. cípios:
Desta forma o agente res-
ponderá apenas pelo crime Princípio da Princípio da Princípio
de estupro e não por estupro Especialidade Subsidiariedade da Consunção
e constrangimento ilegal.
Há um único fato. Há um único fato. Há uma sequên-
Consunção ou Absorção: ocorre quando um fato mais A norma especial A norma subsidiá- cia de fatos. O fato
amplo e mais grave absorve o fato menos amplo e menos contém todos os ria é parte de um maior absorve o
grave (Fernando Capez). O seu estudo divide-se em: elementos da ge- crime maior. fato menor.
a) crime progressivo – O agente, desde o início, almeja ral mais algumas
a realização de um resultado mais grave e, para alcançá-lo, circunstâncias es-
pratica diversas lesões ao bem jurídico. Neste caso, o último pecializantes.
ato absorve todos os anteriores, respondendo o agente ape-
nas pelo resultado mais grave. Ex.: o agente deseja desde o Alternatividade: ocorre, normalmente, quando em
início matar a vítima e desfere vários golpes (lesões corporais) um tipo penal há a descrição de várias condutas. São os
até atingir seu intento, que é a morte. Neste caso, o autor chamados crimes de ação múltipla ou conteúdo variado ou
responderá apenas pelo crime de homicídio (fato mais gra- também plurinuclear, no qual o tipo penal prevê mais de
ve) ficando o crime de lesões corporais (fato menos grave) uma conduta em seus vários núcleos. Ex.: art.  122 do CP
absorvido pelo crime de homicídio. prevê três condutas: induzir, instigar ou auxiliar a prática
b) progressão criminosa – O agente pretende inicialmen- de suicídio. Note que, num mesmo contexto, se o agente
te praticar um crime menos grave e, após sua realização, apenas induzir a prática do suicídio (uma conduta), ou se
resolve praticar uma nova infração mais grave. Assim, induzir e instigar (duas condutas), ou ainda induzir, instigar
o último crime absorve todos os anteriores, respondendo ou auxiliar (três condutas), irá responder apenas por um
o agente apenas pelo resultado mais grave Ex.: no primeiro crime. O número de condutas praticadas influenciará apenas
momento o agente só queria lesionar a vítima, contudo, na na quantidade da pena a ser aplicada, ou seja, quanto maior
Noções de Direito Penal

sequência, resolve matá-la. Neste caso, o homicídio absorve o número, maior a pena.
as lesões corporais. O conflito aparente de normas poderia ser assim resu-
Ocorre ainda na progressão criminosa o antefactum não mido:
punível e no postfactum não punível. Ocorre o conflito quando duas ou mais normas incidem
• Antefactum não punível – O fato anterior por ser efetivamente sobre a mesma ação, ou a mesma norma incide
menos grave é absorvido pelo fato posterior mais mais de uma vez, embora única a ação.
grave. É o caso do exemplo acima, onde o crime de Tem-se que:
lesão corporal é absorvido pelo crime de homicídio. • de acordo com o princípio da especialidade, a norma
Outro exemplo seria o cidadão que pretendendo matar especial exclui a norma geral;
seu inimigo, sem possuir porte de arma, sai de casa • pelo princípio da subsidiaridade, uma norma só será
e logo na esquina encontra seu desafeto, atirando aplicada se não for aplicada outra;

7
• segundo o princípio da consumação, se uma conduta judiciários (como, por exemplo, as súmulas, que têm força
mostrar-se como etapa para a realização de outra vinculativa). Observe que tal interpretação deve ser feita
conduta, diz-se que a primeira foi consumida pela intra-autos (dentro do processo), pois se o órgão julgador
segunda, restando apenas a punibilidade da última; proferir palestras, a interpretação será doutrinária. Em outras
• o crime consumado absorve o crime tentado. O dano palavras, é aquela emanada pelos tribunais, mediante os
absorve o perigo. julgamentos que realizam.

*Obs.: o princípio da alternatividade refere-se aos Quanto ao modo ou aos meios interpretativos
chamados crimes de ação múltipla, em que o mesmo tipo empregados
contém duas ou mais condutas, havendo, porém, punição
única. Quem instiga ao suicídio e também auxilia no suicídio a) literal (ou gramatical): somente é levado em conside-
comete um crime só, e não dois crimes. ração o sentido real e efetivo das palavras;
b) teleológica (ou lógica): os fins para os quais a norma
Interpretação e Integração da Lei Penal foi produzida são priorizados. O intérprete busca sempre
alcançar a finalidade da lei, aquilo ao qual ela se destina
Interpretar é buscar o real alcance da norma, ou seja, regular, ou seja, decorre da conjunção metodológica do
buscar o seu real sentido. Dependendo do contexto, por mais raciocínio ao que busca a lei;
clara que ele seja, requer interpretação, sendo que a própria Pode-se afirmar que a interpretação teleológica busca a
conclusão sobre a clareza da norma advém de um exercício vontade ou intenção objetiva da lei, valendo-se dos elemen-
intelectual dito interpretação. Não se pode esquecer que tos ratio legis, sistemáticos, históricos, Direito Comparado
a missão primeira do juiz, como guardião da legalidade ou Extrapenal e Ciências Extrajurídicas.2
constitucional, antes de julgar os fatos, é julgar a própria lei c) sistemática (ou sistêmica): a interpretação dá-se olhan-
a ser aplicada, é julgar, enfim, a sua compatibilidade formal do para o todo, e não apenas para uma parte do dispositivo
e substancial com a Constituição, para, se entender lesiva à legal do sistema no qual ele está contido. Procura-se, num
Carta Magna, interpretá-la conforme o texto constitucional método dedutivo, concluir-se pela posição diante de todo o
ou, não sendo possível, deixar de aplicá-la, simplesmente, conteúdo do texto legal (sistema);
declarando-a inconstitucional (Greco). d) histórica: segundo Rogério Greco, o intérprete aqui
volta ao passado, ao tempo em que foi editado o diploma
* Obs.: se após o uso de todos os métodos interpreta- que se quer interpretar, buscando os fundamentos de sua
tivos, que serão mencionados, perdurar dúvida, deve-se criação, o momento pelo qual atravessava a sociedade, com
aplicar a solução mais favorável ao réu: princípio in dubio vistas a entender o motivo pelo qual houve a necessidade de
pro reo. Para que haja a condenação de qualquer pessoa modificação do ordenamento jurídico. Em outras palavras,
não se pode basear exclusivamente em indícios, suposições pode-se dizer que se analisa a norma em face do momento
ou probabilidades, a culpa deve ser sempre provada e nunca histórico em que foi produzida.
presumida, pois, se assim o for, ou seja, se não se puder im-
putar ao criminoso a culpabilidade pelo fato delituoso, deve Quanto aos resultados obtidos
ser ele absolvido. Ainda, segundo a doutrina, esse princípio
in dubio pro reo não é uma regra de interpretação, mas um a) declarativa: a lei diz exatamente o que o legislador
critério de valoração da prova. pretende, ou seja, o intérprete não amplia nem restringe o
alcance da lei, apenas declara sua vontade;
Espécies de Interpretação b) restritiva: as palavras da lei dizem mais do que seu
exato sentido e, por isso, é necessário reduzir o alcance de
Quanto ao sujeito que a realiza aplicação literal, sob pena de entrar em contradição com o
que quer a lei (José Carlos Gobbis Pagliuca);
a) autêntica (ou contextual): é realizada levando-se em c) extensiva: ocorre quando o texto legal não expressou
consideração o texto da lei, feita pelo próprio legislador (como, tudo o que pretendia, sendo necessária sua ampliação.
por exemplo, aquela prevista no art. 327 do CP, que traz a O exemplo clássico é quando o Código Penal proíbe a biga-
definição de funcionário público). É feita por quem elaborou mia, obviamente está proibindo também a poligamia.
a norma, ou seja, pelo Legislativo. A própria lei dá o limite em
que ela deve ser entendida, expresso no seu próprio texto. Interpretação Analógica
O exemplo clássico encontra-se quando ela define “casa”;
Nem sempre é possível ao legislador prever todas as
b) doutrinária: é realizada pelos estudiosos do Direito
situações possíveis, nesse caso, sem fugir ao princípio da
quando emitem suas opiniões pessoais sobre o significado
legalidade, busca o intérprete casos semelhantes, análogos,
de determinado instituto. É  aquela gerada pelos autores
similares, mas já descritos de forma abrangente na legisla-
e jurisconsultos (comunis opinio doctorum). Aqui poderia
ção penal. Exemplo disso pode ser aferido do art. 28, II, CP,
ser encaixada perfeitamente a exposição de motivos dos
que menciona o álcool ou substância de efeitos análogos,
Noções de Direito Penal

códigos, não podendo ser confundida tal exposição com a


contudo o termo pode ser entendido como qualquer uma
interpretação autêntica pelo fato de esta não ser votada pelo
apta a inebriar, entorpecer, estupefaciar etc. (Pagliuca)
Congresso Nacional e nem sancionada pelo Presidente da
Veja que interpretação analógica difere de analogia. Esta
República, não sendo, portanto, uma lei, já que as conclusões
é forma de integração da norma, enquanto que aquela é
e exposições levadas a efeito não podem ser consideradas
espécie de interpretação. Em outras palavras, a analogia é
interpretações autênticas, mas sim doutrinárias (elas não
o instituto de abranger fatos semelhantes, não previstos em
têm força vinculativa, mas tal entendimento pode constituir
lei, o que é vedado pelo Direito Penal. A interpretação ana-
regra, dependendo do doutrinador que tenha omitido sua
lógica, ao contrário, decorre da própria vontade e indicação
opinião sobre a referida norma);
da lei penal. Sendo assim, há duas espécies permitidas de
c) judicial (ou jurisprudencial): é realizada pelos aplica-
dores do Direito, ou seja, é fruto das decisões dos órgãos Funcab/PC-ES/Escrivão de Polícia/2013.
2

8
interpretação extensiva: a) a interpretação analógica intra do fato (princípio da anterioridade) e que a norma penal,
legem, ou seja, dentro da lei, em que o próprio texto legal que define o delito, deve fazê-lo de maneira precisa, do
indica a sua aplicação; b) a interpretação analógica in bonam contrário, a autoridade poderia, a pretexto de interpretar
partem, ou seja, a favor do réu. extensivamente a lei, transformar em crimes fatos não pre-
vistos no comando legal (princípio da tipicidade). O princípio
Integração da Lei Penal da reserva legal tem como fundamento o apego puro e ex-
clusivo ao positivismo jurídico. Ele complementa o princípio
A analogia não é meio de interpretação, mas forma de da legalidade afirmando que somente lei em seu sentido
integração ao sistema jurídico. Ela consiste em aplicar a uma estrito poderá definir crime, ou seja, medidas provisórias,
hipótese não prevista em lei a disposição legal a um caso portaria, regulamentos etc., não poderão prever condutas
semelhante. No Direito Penal é terminantemente proibida, criminosas. Também, não se admite a aplicação da analogia
em virtude do princípio da legalidade, jamais ela pode ser (aplicação da lei existente a um caso parecido em razão de
utilizada de modo a prejudicar o agente, seja ampliando o não haver expressa disposição legal para esse caso), devendo
rol de circunstâncias agravantes, seja ampliando o conteúdo ser aplicada a lei a cada caso concreto.
dos tipos penais incriminadores, a fim de abranger hipóteses
não previstas expressamente pelo legislador (é a chamada Obs.: a doutrina e a jurisprudência admitem a aplicação
analogia in malam partem, inadmissível no Brasil). Porém, da analogia desde que in bonam partem (em benefício do
a doutrina tem admitido a analogia in bonam partem, ou seja, réu).
aquela benéfica ao agente. A integração só pode ocorrer em
relação às normas penais não incriminadoras. O exemplo Irretroatividade da Lei Penal
clássico era a possibilidade de se excluir a punibilidade do
agente pela prática do crime de aborto decorrente de ges- XL – A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar
tação proveniente de atentado violento ao pudor, situação o réu.
esta perfeitamente possível quando ainda vigorava a lei que
previa o referido delito. Note que o ordenamento jurídico, em Baseada na anterioridade da lei penal proíbe-se que leis
si, apenas menciona a tal excludente, se a gravidez resulta de promulgadas posteriormente à prática da conduta sirvam
estupro. Mesmo sendo diferentes os crimes e a lei tratando, para incriminá-la. A Carta Magna acolheu o princípio, proi-
tão somente, do delito de estupro, por analogia, aplicava- bindo que a lei retroaja prejudicando o acusado, ao mesmo
-se a referida excludente. Frise-se que, com o advento da tempo em que determina a necessária retroação da lei mais
Lei nº 12.015/2009 (Dos crimes contra a dignidade sexual), favorável. Vê-se que as leis são editadas para serem aplicadas
o crime de atentado violento ao pudor, que era previsto no a situações posteriores a elas, logo, as normas incriminadoras
art. 214 do CP, foi revogado. não podem ter efeito para o passado, exceto se para favo-
Em linhas gerais, as leis penais devem ser interpretadas recerem o agente. Da mesma forma, as leis posteriores não
de forma declarativa estrita, ou até com preocupação restri- retroagem quando, mesmo sem incriminar, vêm prejudicar
tiva, mas nunca de forma ampliativa ou extensiva. a situação do agente.
A lei penal prevê textualmente duas espécies de retroa-
Princípios Constitucionais do Direito Penal ção da lei, que são: abolitio criminis e lex mitior.
Abolitio criminis (crime abolido): ocorre a descriminali-
Princípios são imperativos éticos extraídos do ordena- zação, ou seja, o que era ilícito agora deixou de sê-lo. Ex.:
mento jurídico. São normas estruturais do Direito Positivo, crime de sedução deixou de existir com o advento da Lei
que orientam a compreensão e aplicação do conjunto das nº 11.106/2005. Assim, todo aquele que seduzir mulher
normas jurídicas. Os  princípios constitucionais do Direito virgem entre 14 e 18 anos e com ela mantiver conjunção
Penal são normas, extraídas da Carta Magna, que dão fun- carnal aproveitando-se de sua inexperiência não mais terá
damento à construção do Direito Penal. Eles estão compre- praticado crime. Cumpre lembrar, entretanto, que o referido
endidos no seu art. 5º, dos quais se pode elencar: princípio aplica-se exclusivamente aos efeitos penais da lei,
• reserva legal ou legalidade; não sendo possível a sua aplicação no que se refere aos efei-
• irretroatividade da lei penal; tos de natureza civil, sendo esta, então, sempre retroativa.
• intranscendência ou responsabilidade pessoal; Assim, as consequências penais são:
• presunção de inocência; • Se o autor do delito estiver preso, deverá ser posto em
• individualização das penas. liberdade.
• Se houver inquérito ou processo, estes deverão ser
Reserva Legal ou Legalidade (sentido lato) trancados.
• Não será o autor considerado reincidente nem terá
XXXIX – Não há crime sem lei anterior que o defina, maus antecedentes.
nem pena sem prévia cominação legal. • Todavia os efeitos civis permanecem, qual seja, poderá
Noções de Direito Penal

ser pleiteada uma indenização.


Para a conduta do homem ser punível a título de crime,
é necessária a sua inclusão em delitos como o que acontece Por fim, a abolitio criminis é uma das causas de extinção
com a tipificação penal por intermédio da lei. É lícita, pois, da punibilidade.
e não será punível qualquer conduta, mesmo que imoral Lex mitior (lei mais branda – melhor): ocorre quando a
ou injusta, que não se encontre definida em lei penal in- nova lei penal é mais favorável. A conduta do agente continua
criminadora. É considerada a mais importante garantia do sendo incriminada, mas ele é favorecido em decorrência de
cidadão contra possíveis abusos do Estado, pois só a lei pode previsão de uma pena mais branda ou de qualquer outra
estabelecer que condutas serão consideradas criminosas e vantagem que o beneficie. Deve-se salientar que o indivíduo
definirá as punições para cada crime. Saliente-se que a lei, aqui não ficaria com sua “ficha limpa”, apenas seria atribuí-
que define o crime e estabelece a pena, deve existir à data do a ele um benefício da lei, o abrandamento de sua pena.

9
Intranscendência ou Responsabilidade Pessoal mo porque seria impossível tutelar todos os bens jurídicos
existentes no mundo do Direito (Luiz Antônio de Souza).
XLV – Nenhuma pena passará da pessoa do condena- c) Lesividade (ou ofensividade): para que haja crime,
do, podendo a obrigação de reparar o dano e a decre- é necessário que haja lesão ou ameaça de lesão a bem
tação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, jurídico tutelado. Assim, mesmo que a conduta seja con-
estendidos aos sucessores e contra eles executados, siderada imoral, aética ou meramente interna ao próprio
até o limite do patrimônio transferido (neste último autor só haverá crime se lesionar o bem jurídico tutelado
caso, é necessário que a vítima proponha a ação). pelo Direito Penal. Aqui, o objetivo é indicar quais condutas
não podem ser incriminadas. Ex.: não incriminação daquele
A compreensão literal desse princípio é simples, no sen- que não toma banho.
tido de que somente o condenado é que deve sofrer a repri- Constituem funções do princípio da lesividade, proibir
menda estatal, não podendo seus sucessores sofrer qualquer a incriminação de atitudes internas, de condutas que não
espécie de punição. Abre-se, na Constituição Federal, uma excedam a do próprio autor do fato, de simples estados e
única exceção quando se aplica a pena de perdimento de condições existenciais e de condutas moralmente desviadas
bens ou a reparação do dano em caso de morte do conde- que não afetem qualquer bem jurídico.3
nado, o que gera para os herdeiros a obrigação de reparar o d) Adequação social: é a teoria concebida por Hans
dano, atingindo-se o patrimônio deixado para eles. Assim, Welzel, a  qual significa que, apesar de uma conduta ser
os herdeiros apenas responderão com o valor da herança a enquadrada como crime, não será considerada típica se for
eles deixado. Atenção, se a pena aplicada ao condenado for socialmente adequada ou reconhecida de acordo com a or-
de multa, os herdeiros não responderão por ela. dem social da vida historicamente presente. Ela não se presta
a revogar tipos penais incriminadores, mas a adequá-los
Presunção de Inocência diante da sociedade. Ex.: furar a orelha, fazer uma tatuagem
são lesões corporais, todavia adequadas socialmente, não
LVII  – Ninguém será considerado culpado senão sendo assim consideradas crimes.
após o trânsito em julgado da sentença penal con- e) Insignificância (ou bagatela): por esse princípio, deve
denatória. o Direito Penal procurar proteger a sociedade de crimes que
tenham gravidade razoável, evitando punir os chamados
Culpado será o réu somente após o trânsito em julgado crimes de bagatela (Leandro Cadenas Prado), como furtar
da sentença, que ocorrerá quando todas as instâncias ordi- um palito de fósforo. Não se trata de fomentar a prática de
nárias ou extraordinárias forem vencidas ou quando o réu crimes, mas a finalidade é a de ajustar a aplicação da lei penal
não utilizar o seu direito de recorrer no prazo legal. Observe aos casos que lhe são apresentados, evitando a proteção
que enquanto couber qualquer tipo de recurso, por mais de bens cuja inexpressividade, efetivamente, não merece
que existam indícios suficientes da autoria de um crime, não a atenção do legislador penal (Greco). Deste princípio,
há que se falar em culpado, vez que só existirá essa figura podem afirmar: ele exclui a tipicidade do fato4; deve haver
após o trânsito em julgado, embora, deve-se salientar que proporção entre a lesão praticada e a pena imposta; e, se a
a lei admite prisão antes da formação da culpa (exceção ao lesão não tem qualquer importância no meio social, deve a
princípio da presunção de inocência), é o caso da prisão em lei, igualmente, desprezá-la e não qualificá-la como crime,
flagrante delito, que se justifica por haver indícios suficientes por exemplo, a subtração de apenas uma folha de papel não
de autoria de um crime. deve caracterizar o crime de furto.
A existência de condenações criminais pretéritas impu-
Individualização das Penas tadas a um indivíduo impede a posterior aplicação do prin-
cípio da insignificância, consoante a jurisprudência do STF.5
XLVI – A lei regulará a individualização da pena e ado- f) Individualização da pena: a imposição da sanção penal
tará, entre outras, as seguintes: privação ou restrição para cada agente deve ser analisada e graduada individu-
de liberdade; perda de bens; multa; prestação social almente, ainda que todos respondam pelo mesmo crime.
alternativa; e suspensão ou interdição de direitos. Inicialmente, cabe ao legislador a previsão de penas para os
diversos crimes, punindo com mais rigor àquelas condutas
Como o Direito Penal visa à ressocialização do indivíduo, mais danosas. Cabe ao juiz a individualização da pena, levan-
são levadas em conta a personalidade e os antecedentes do do-se em conta as características de cada pessoa e cada fato
réu, para que a fixação da pena sirva tanto para evitar que em si, com a devida observância das características judiciais,
as demais pessoas cometam crimes, como para recuperar atenuantes, agravantes, causas de aumento ou diminuição
o indivíduo para o convívio em sociedade. Em razão disso, de pena, para que seja aplicada a sanção mais justa possível
as penas são individualizadas, de acordo com a natureza do (Prado). Segundo Greco, o primeiro momento da individu-
delito e as características pessoais do condenado. alização da pena dá-se quando da escolha das modalidades
Demais Princípios de Direito Penal de pena a serem aplicadas, as quais se encontram elencadas
no art. 5º, da CF, inciso XLVI: “a lei regulará a individualização
A seguir, serão destacados vários princípios vinculados da pena e adotará, entre outras, as seguintes: privação ou
ao Direito Penal de acordo com Rogério Greco: restrição da liberdade, perda de bens, multa, prestação social
a) Intervenção mínima: por esse princípio, o Direito alternativa e suspensão ou interdição de direitos”. A segun-
Noções de Direito Penal

Penal só deve atuar nos casos em que os demais ramos do da fase é a atribuição de uma pena a determinados crimes
Direito forem insuficientes para dar resposta efetiva à socie- de acordo com sua lesividade ao bem jurídico protegido,
dade, atuando, pois, como ultima ratio. Observe que este levando-se em consideração, também, a intenção do agente
princípio preza por limitar o legislador na criação de novos
(se agiu com dolo ou culpa). A essa fase dá-se o nome de co-
crimes, orientando-o também no sentido de descriminalizar
aquelas condutas que não são mais consideradas tão lesivas minação. A terceira fase é a denominada aplicação da pena,
à sociedade. Ex.: a descriminalização do adultério. na qual o juiz deve se atentar para as determinações contidas
b) Fragmentariedade: por força do princípio da interven- no art. 59 do CP, também chamadas circunstâncias judiciais,
ção mínima, o Direito Penal somente é chamado a tutelar 3
Cespe/DPE-TO/Defensor Público/2013.
as lesões de maior gravidade para os bens jurídicos, ou seja, 4
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-TO/Defensor Público/2013.
apenas protege um fragmento dos interesses jurídicos, mes- 5
Cespe/DPE-TO/Defensor Público/2013.

10
em que o juiz deve se atentar para a culpabilidade, para os tipificação penal apenas das leis formalmente consideradas,
antecedentes, para a conduta social, para a personalidade ou seja, que respeitam o procedimento legislativo próprio
do agente, para os motivos, para as circunstâncias e para as das leis ordinárias, incluídas aqui as leis complementares.
consequências do crime, bem como para o comportamento l) Anterioridade: em regra, um tipo penal só é aplicado
da vítima. A fixação da pena-base, de acordo com o critério aos fatos posteriores a sua vigência. Segundo essa premis-
trifásico determinado pelo art. 68 do CP deve se atentar para sa, é fundamental que exista primeiro a lei estabelecendo
as circunstâncias judiciais, para as circunstâncias atenuantes a conduta como criminosa e fixando a pena respectiva, ou
e agravantes e para as causas de diminuição e de aumento de seja, a lei deve existir anterior ao fato delituoso.
pena (no concurso de causa de aumento ou de diminuição m) Irretroatividade: decorre do princípio da anteriorida-
previstas na parte especial do CP, pode o juiz limitar-se a um de, ou seja, a lei penal não atinge fato pretérito, contudo,
só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, haverá retroatividade em benefício do agente. A lei penal
a causa que mais aumente ou diminua). Por fim ocorre tam- tem eficácia a partir de sua existência sendo vedada, como
bém a individualização na fase de execução penal, de acordo regra, a aplicação de forma retroativa, de forma a atingir con-
com o art. 5º, da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal), dutas anteriores à lei. A exceção aqui mencionada limita-se
em que os condenados serão classificados, segundo os seus tão somente à esfera penal, não sendo aplicável sequer ao
antecedentes e personalidade, para orientar a individualiza- processo penal, a teor do art. 2º do CPP onde se estatui que
ção da execução penal. a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo
g) Proporcionalidade: também chamado de razoabilida- da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
de ou de proibição de excesso. Serve para graduar e impor n) Extratividade: em alguns casos, a lei penal, mesmo
as penas aos delitos, ou até mesmo para tornar irrelevante após sua revogação, continua regulando atos cometidos
penal determinado fato, observando-se certos limites ou
durante sua vigência (ultratividade da lei penal) ou retroage
parâmetros entre o fato ofensivo considerado típico e a
para alcançar acontecimentos anteriores a sua entrada em
respectiva sanção a ser imposta, ou seja, a pena deve ser
vigor (retroatividade da lei penal, quando mais benéfica ao
proporcional ao delito praticado (nocividade social).
agente).
h) Responsabilidade pessoal: princípio pelo qual ne-
o) Alteridade: por esse princípio, não é possível punir a
nhuma pena poderá passar da pessoa do condenado. Ele
também pode ser denominado princípio da pessoalidade autolesão, não podendo o agente cometer crime contra si
ou da intranscendência da pena, onde somente a pessoa mesmo; somente é punível o comportamento que importa
do condenado é que terá que se submeter à sanção que lhe lesão ou ameaça a bem jurídico de terceiros (Luiz Antônio
foi aplicada pelo estado. de Souza).
i) Limitação das penas: segundo o que preceitua a p) Territorialidade: como regra, a lei penal brasileira só
Constituição Federal, não haverá penas de morte (salvo em é aplicada à infração penal cometida no território nacional;
caso de guerra declarada), de caráter perpétuo, de trabalhos q) Pavilhão ou bandeira: as embarcações e aeronaves
forçados, de banimento e cruéis. (públicas e a serviço do governo e as privadas, quando es-
j) Culpabilidade: é o juízo de censura, de reprovabilidade tão em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente) são
que se faz sobre a conduta típica e ilícita do agente. Deste consideradas extensões do território brasileiro, estando
princípio surgem três subprincípios: o da personalidade, intimamente ligadas ao princípio da territorialidade.
quem impede de punir alguém por conduta que não realizou; r) Especialidade: segundo este princípio, sempre que
o da responsabilidade pelo fato, por que puni o caráter do duas leis puderem ser aplicadas a um mesmo caso, aplicar-
fato praticado e não o modo ou o caráter de ser do agente; -se-á a mais especial, afastando a lei genérica. É o que diz o
e o princípio do dolo e da culpa, ou seja, a necessidade brocardo lex specialis derrogat generali. Ex.: o infanticídio
de buscar na conduta a vontade do agente ou a sua culpa, em relação ao homicídio.
opondo-se a qualquer responsabilidade objetiva puramente s) Non bis in idem: por este princípio, o mesmo agente
pelo resultado sem se pesquisar a causa (Pagliuca). Se não não pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato, ou seja,
houver dolo ou culpa, não haverá conduta. Sem conduta não ninguém pode sofrer duas penas motivadas pelo mesmo
há fato típico. Sem fato típico não haverá crime. crime.
k) Legalidade: não há crime sem lei anterior que o de- t) Taxatividade: o tipo penal incriminador deve ser bem
fina nem pena sem cominação legal (nullum crimen, nulla definido e detalhado para não gerar qualquer dúvida quanto
poena sine praevia lege), é o que se estatui do art. 1º do ao seu alcance e aplicação. Evite expressões ambíguas, equí-
CP e também do art. 5º, inciso XXXIX da CF. A única fonte vocas e vagas de modo a ensejar diferentes entendimentos
do Direito Penal, segundo Nelson Hungria, é a norma legal. (Guilherme de Souza Nucci).
Entende-se lei em seu sentido estrito (Medida Provisória, u) Humanidade: não pode haver penas cruéis.6
Resoluções, Decretos, Costumes não podem tipificar cri-
mes). Do princípio da legalidade decorrem quatro funções:
proibir a retroatividade da lei penal, exceto quando mais Sujeitos do Crime
benéfica ao réu; proibição de criação de crimes e penas
Em uma conduta criminosa, necessariamente teremos o
Noções de Direito Penal

pelos costumes; proibição do emprego da analogia para


criar crimes, fundamentar ou agravar penas; proibição de polo ativo (quem pratica a conduta) e o polo passivo (aquele
incriminações vagas e indeterminadas, ou seja, é vedada a quem é dirigida a conduta incriminadora).
a criação de tipos que contenham conceitos vagos ou im-
precisos. Há diferença entre o princípio da legalidade e o Sujeito Ativo
princípio da reserva legal. Pelo princípio da legalidade seria
possível a adoção de quaisquer dos diplomas elencados no Como regra, seria apenas o ser humano, vez que a lei
art. 59 (lei ordinária, lei complementar, medida provisória, atribui a este a capacidade de delinquir. Em princípio, autor
decreto legislativo ou resoluções), ou leis materialmente de crime só poderia ser pessoa física, maior de 18 anos,
consideradas para tipificar crimes. Por outro lado, quando
se faz menção à reserva legal, limita-se a aceitação para a Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-TO/Defensor Público/2013.
6

11
que pratica a conduta descrita em lei. Por exceção, porém, (art. 139, CP). Por último, ninguém pode ser sujeito ativo e
pessoas jurídicas também podem responder penalmente passivo do crime ao mesmo tempo, vez que ninguém pode
quando praticarem crime contra o meio ambiente (Lei praticar crime contra si mesmo, é a aplicação dos princípios
nº 9.605/1998), as quais poderão ser responsabilizadas da alteridade e da transcendência, haja vista que, para que
administrativa, civil e penalmente, quando a infração é co- exista o crime, o agente deve violar ou ameaçar bem jurídico
metida por decisão de seu representante legal ou contratual, de terceiro, ultrapassando a sua esfera individual. Portanto,
ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua autolesão não constitui crime, exceto se o agente o faz para
entidade, contudo, conforme se depreende da referida Lei, receber seguro, caso em que ele estará cometendo crime
a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das contra a seguradora, que é pessoa jurídica, havendo violação
pessoas físicas autoras, coautoras ou partícipes do mesmo de bem jurídico de terceiro, daí à existência de crime contra
fato. As sanções penais aplicáveis às pessoas jurídicas são o patrimônio.
a multa, a restrição de direitos e a prestação de serviços à
comunidade. Sendo assim, pode-se afirmar que: Sintetizando o sujeito passivo, ter-se-ia:
a) formal: Estado, porque ele é o titular da lei incrimi-
Ativo: quem comete o crime, quem pratica a conduta nadora.
delituosa. O sujeito ativo pode praticar a conduta descrita b) material: é o que sofre a ação. Geralmente o ser
no tipo penal sendo, portanto, o  autor, ou concorrer de humano.
qualquer forma para a prática do crime, ou seja, o partíci-
pe. O sujeito ativo é, pois, tanto o executor direto como o APLICAÇÃO DA LEI PENAL
indireto. Havendo mais de um autor, diz-se que o crime foi (princípios da legalidade e da
praticado em coautoria, havendo mais de um partícipe, ter-
-se-á a coparticipação. Quando o legislador exige especial anterioridade, lei penal no tempo,
capacidade do sujeito ativo, tem-se o chamado crime pró- ultratividade da lei – excepcional
prio, como, por exemplo, no crime de infanticídio, em que o e temporária, tempo do crime,
sujeito ativo precisa ser mãe em estado puerperal da mesma territorialidade, lugar do crime,
forma que no crime de peculato exige-se que o seu sujeito
ativo seja funcionário público. Às vezes, o legislador exige
extraterritorialidade, pena
que o agente pratique pessoalmente a conduta delituosa. cumprida no estrangeiro, eficácia
É o chamado crime de mão própria ou também de atuação da sentença estrangeira, contagem
pessoal ou infungível, crime este que não admite coautoria, de prazo, frações não computáveis
mas pode haver participação, como, por exemplo, o crime de pena, legislação especial –
de autoaborto, que somente pode ser praticado pela ges-
tante. É, pois, sujeito ativo, em regra, o ser humano. Como imunidades)
exceção, a pessoa jurídica, conforme já mencionado na Lei
nº 9.605/1998, especificamente em seus art. 3º e 21 a 24. Aplicação da Lei Penal (arts. 1º a 12)

Sujeito Passivo O art. 1º do CP traz dois princípios: o da legalidade e o


da anterioridade. Conforme já visto, somente a lei em seu
O titular do bem jurídico lesionado ou ameaçado é o sentido estrito pode definir crimes e cominar penalidades.
sujeito passivo do crime. Geralmente, sendo ele ser humano, Ela deve nascer no Poder Legislativo, do contrário, não haverá
teremos o sujeito material; se for o Estado, teremos o sujeito crime, motivo pelo qual uma medida provisória, por exemplo,
formal. Pode-se, então, afirmar que: não poderia tipificar uma conduta delituosa, embora ela
tenha força de lei. Observe que por tratar de norma que não
é oriunda de uma representação popular, ela não é lei, uma
Passivo: é o titular do bem diretamente lesado pelo
vez que pode perder a eficácia, desde sua edição, se não for
delito, que é o sujeito material, ou o titular do direito de
convertida em lei no prazo de 60 (sessenta) dias, a partir de
punir, que é o Estado. Qualquer pessoa, seja física ou ju-
sua publicação (art. 62, § 3º, da CF, com a redação dada pela
rídica, incapaz (louco, recém-nascido), feto, estrangeiro,
EC nº 32/2001), motivo este que impede a referida norma
em situação irregular no país etc., pode ser sujeito passivo de dispor sobre matéria penal criando crimes e cominando
de crime. Os animais jamais poderão ser sujeitos passivos, penas. Quanto à anterioridade, visto foi que a lei que rege
mas apenas objetos do crime, tendo em vista que, se algum o ato deve existir à data do fato, haja vista que qualquer lei
crime é cometido contra um animal, o sujeito passivo será é editada para atos futuros e não para atos pretéritos, mo-
o seu dono ou, eventualmente, a coletividade. Existem tipos tivo pelo qual veda o ordenamento jurídico brasileiro toda
penais que possuem apenas um bem jurídico tutelado, como, espécie de retroatividade da lei, salvo quando para beneficiar
por exemplo, o crime de furto no qual se tutela apenas o o réu, entendendo ainda que a tal proibição não se aplica
patrimônio como bem jurídico. Existem outros tipos penais
Noções de Direito Penal

somente às penas, mas a qualquer norma de natureza pe-


que tutelam mais de um bem jurídico, como, por exemplo, nal, como, por exemplo, quando impedem ou acrescentam
o crime de roubo em que a tutela se estende à incolumidade requisitos para a progressão de regime (CAPEZ).
física, psíquica e ao patrimônio, ou, até mesmo, à vida, no Já o art. 2º do CP traz o princípio da irretroatividade. Faz-
caso de latrocínio. Logo, conclui-se que todos os titulares -se necessário enfatizar que o princípio da irretroatividade se
de bens jurídicos e violados ou ameaçados pelo crime são restringe às normas de caráter penal, já que a lei processual
considerados sujeitos passivos. O Estado pode figurar como não se submete a tal princípio. Segundo Luiz Flávio Gomes,
sujeito passivo formal ou material do crime, como, por a lei processual penal nova tem incidência imediata sobre
exemplo, no caso de crime de dano ao patrimônio público. todos os processos em andamento, pouco importando se o
Tanto a pessoa física como jurídica podem ser sujeito passivo crime foi cometido antes ou depois de sua entrada em vigor
de crimes, inclusive, nos crimes contra a honra, a difamação ou se a inovação é ou não mais benéfica.

12
Vigência e Revogação da Lei Penal ficiar o réu; à segunda, denomina-se de ultratividade. Daí,
podem-se surgir os chamados conflitos intertemporais, que
Assim como as demais, a lei penal também começa a são resolvidos da seguinte forma: se alguém é processado
vigorar na data nela indicada, ou, na omissão, em 45 dias sob a vigência de uma lei e, quando do julgamento, surgir
após a publicação dentro do país, e em três meses no exterior. uma nova lei mais benéfica, esta será aplicada, perfazendo,
O espaço do tempo compreendido entre a publicação da lei então a retroatividade, por ser mais benéfica. Contudo, se a
e sua entrada em vigor denomina-se vacatio legis. lei mais nova, quando do julgamento, for mais gravosa, não
Não há revogação pelo simples desuso da lei. A  revo- será aplicada, haja vista sua gravidade, o que faz com que
gação total denomina-se ab-rogação. A  revogação parcial a lei anterior, a qual se encontra revogada pela atual, seja
denomina-se derrogação. A revogação é expressa quando a aplicada, já que o fato se deu quando ela ainda estava em
nova lei traz expressamente quais os textos da lei anterior vigor, sendo assim, aplicar-se-á a lei então revogada, que
serão revogados e será tácita quando regula inteiramente a nada mais é do que a ultratividade.
matéria de que tratava a lei anterior ou quando incompatível
com a referida lei. Extratividade Retroatividade Ultratividade
É a possibili- É a aplicação de uma É a aplicação de uma
A seguir, encontram-se breves conceitos extraídos da obra dade de apli- lei penal benéfica lei penal já revogada
de Rodolpho Priebe Pedde Junior. cação de uma a um fato ocorrido a um fato ocorrido
lei a situações antes do período da durante o período
Sanção: é o ato pelo qual o Chefe de Governo aprova e ocorridas fora sua vigência. Ex.: em de sua vigência. Ex.:
confirma uma lei. do âmbito de 15 de janeiro de 2007 em 15 de janeiro de
Promulgação: é o ato pelo qual se atesta a existência da lei sua vigência. “A” atira em “B” e 2007 “A” atira em “B”
e se determina a todos que a observem; tem a finalidade Divide-se em este morre. Na data e este morre. Na data
de conferir-lhe o caráter de autenticidade; dela deriva o retroatividade do fato a pena era de do fato a pena era de
cunho de executoriedade. e ultrativida- 25 anos. Todavia, em 16 anos. Todavia, em
Publicação: é o ato pelo qual se torna conhecida de todos, de. 15 de maio de 2010, 15 de maio de 2010,
impondo sua obrigatoriedade. nova lei vem preven- nova lei vem preven-
Revogação: é expressão genérica que traduz a ideia de do para o mesmo do para o mesmo
cessação da existência de regra obrigatória, em virtude crime a pena de 16 crime a pena de 25
de manifestação, nesse sentido, do poder competente; anos. Assim, deve ser anos. Assim deve ser
compreende: a derrogação (revogação parcial), quando aplicada a lei nova aplicada a lei antiga
cessa em parte a autoridade da lei; e a ab-rogação (re- mais benéfica, de- mais benéfica, de-
vogação total), quando se extingue totalmente; a revo-
vendo retroagir para vendo ultragir a ser
gação poder ser expressa (quando a lei, expressamente,
atingir fatos fora da aplicada mesmo es-
determina a cessação da vigência da norma anterior) ou
sua vigência. tando revogada.
tácita (quando o novo texto, embora de fora não expresse
é incompatível com o anterior ou regula inteiramente a Observe o esquema:
matéria precedente).
Q pratica atentado violento ao pudor, em 2000, e é condenado
Sinteticamente, tomando por base as definições acima, a cumprir 10 anos de reclusão, de acordo com a lei A.
bem como a Lei de Introdução ao Código Civil, poderíamos
assim definir:
a) vigência: na data prevista na lei;
A
a) na omissão: 10 anos
1) Brasil: 45 dias; (2000)
2) Exterior: três meses;
b) vacatio legis: espaço compreendido entre a publica- abolitio
não retroage

ção e a vigência da lei; criminis lex mitior

b) revogação:
c) expressa: informam-se os textos que serão revogados;
d) tácita: lei nova incompatível ou lei que regula o que há B B
extinção 6 anos
na anterior; (2004) (2004)
e) total: ab-rogação; B
15 anos
f) parcial: derrogação; (2004)
g) não há revogação pelo simples desuso da lei.
Noções de Direito Penal

Em 2004, surge a lei B, que


Em 2004, surge a lei B, reduz a pena do crime para 6
que extingue o crime. anos. Por ser benéfica ao réu,
Embora seja sabido que a revogação se dá com a morte Por ser benéfica ao réu, ela retroagirá e será aplicada,
da lei, o próprio ordenamento jurídico brasileiro prevê a ela retroagirá e alcançará reduzindo a pena de 10 para 6
o réu, deixando-o livre.
possibilidade de uma determinada lei regular situações que anos e descontando o período
que já foi cumprido. Esse
ocorreram fora de seu período de vigência. Não se trata de re- desconto é chamado de
gra, mas de exceção, a qual recebe o nome de extratividade, detração penal .

que pode decorrer de situações passadas (antes da entrada


em vigor da lei) ou futura (quando a lei se aplica a situações Em 2004, surge a lei B, que eleva a pena do crime para 15
mesmo tendo sido revogadas). À  primeira, denomina-se anos. Como a lei não é benéfica ao réu, não será aplicada,
ou seja, não retroagirá.
retroatividade, que, conforme visto, só irá existir para bene-

13
A título de exemplo: A Portaria nº 104/2011, do Gabinete Transcrevendo para a forma de quesito, poder-se-ia
do Ministério da Saúde, definiu a relação de doenças de notifi- questionar: de quem seria a competência para aplicação
cação compulsória em todo o território nacional. Joaquim, mé- da novatio legis in melius? Conforme Capez, se o processo
dico, ao tomar conhecimento de um paciente que estava com estiver em primeira instância, a  competência para aplicar
uma patologia descrita na referida normativa, por amizade a lei mais benéfica é do juiz de primeiro grau encarregado
ao mesmo, não comunicou a doença aos órgãos competentes, de prolatar a sentença. Se o processo estiver em grau de
motivo pelo qual, ao ser descoberto tal fato, foi processado recurso, a competência será do tribunal incumbido de julgar
criminalmente. Na hipótese de antes do julgamento, ser edi- o recurso. Após o trânsito em julgado, segundo os arts. 66, I,
tada nova normativa, retirando a referida patologia do rol de da Lei de Execuções Penais, art. 13 da Lei de Introdução ao
doenças de notificação compulsória, pode-se afirmar que deve Código de Processo Penal e, por fim, a Súmula nº 611 do STF,
incidir a retroatividade do abolitio criminis , considerando que a competência é do juiz da execução e não do tribunal revisor.
se alterou a matéria da proibição.7 Por fim, é bom salientar que não se deve admitir a aplicação
As hipóteses de lei posterior são: a abolitio criminis, da nova lei mais benéfica por meio de revisão criminal, uma
a novatio legis in melius, a novatio legis in pejus e a novatio vez que impediria o conhecimento da matéria pela instância
legis incriminadora. inferior, ferindo o princípio do duplo grau de jurisdição.
Questiona-se, ainda, a possibilidade de se aplicar a lex
Novatio legis Incriminadora mitior durante o período de vacatio legis. Embora a Doutrina
não seja pacífica neste ponto, a Jurisprudência já a admite,
A lei nova passa a considerar crime uma conduta que antes considerando que por trazer a nova lei dispositivos que
não era tida como tal. Ex.: homofobia passou a ser crime. Ela beneficiam o réu, é possível a sua aplicação pelo juiz ainda
não pode retroagir. Todos que praticaram condutas de homo- que não expirado o prazo da vacatio legis, sendo suficiente
fobia antes da entrada em vigor da lei não praticaram crime. que o texto da nova lei seja publicado.
Pode ser que a autoridade judiciária fique em dúvida de
Novatio legis in pejus (nova lei mais grave) que lei aplicar por não saber qual seria a mais benéfica para
o réu. Neste caso, ele poderia ouvir o réu, na presença de
Surge quando a nova lei passa a dar um tratamento mais seu defensor, e deles concluir o que seria mais benéfico. Em
gravoso ao crime. Ex.: uma lei nova prevê um aumento de outras palavras, quando o juiz ficar invencível acerca de qual
pena para o crime de homicídio. Ela não pode retroagir. lei aplicar ao réu, por não saber qual delas é a mais benéfica,
Este aumento de pena será aplicado apenas aos crimes de deverá ouvir o réu, pois é ele, obviamente, o melhor para
homicídio praticados a partir da vigência da lei que o previu. conhecer as disposições que lhe são benéficas.
Quanto à possibilidade de combinação de leis, a doutrina
Novatio legis in mellius (nova lei mais benéfica) diverge. Há combinação de leis quando se questiona a pos-
sibilidade de se aplicar uma parte de cada lei, com o fim de
Surge quando a nova lei passa a dar um tratamento mais favorecer o agente. Nesse sentido, já houve decisão do STF
benéfico ao crime. É retroativa, pois favorece o agente, já pela possibilidade de combinação de leis em benefício do réu
que, segundo o art. 2º, CP, qualquer lei posterior que benefi- (HC nº 69.033-5, rel. Min. Marco Aurélio, DJU de 13/3/1992, p.
cie o agente, deve ser aplicada aos fatos anteriores, ainda que 2925). Contudo, é de se ressaltar que a questão não é pacífica
decididos por sentença condenatória transitada em julgado. nem mesmo dentro do próprio STF. A Segunda Turma enten-
Existe, ainda, a possibilidade da lex intermedia (lei inter- deu pela possibilidade de combinação de leis no tempo para
mediária), aquela que ocorre quando é publicada mais de favorecer o réu (STF, HC nº 95.435, rel. Min. Cezar Peluzo, j.
uma lei entre o momento da prática do delito e o julgamento 21/10/2008); já a Primeira Turma da Egrégia Corte entendeu
do acusado. Aplica-se a lei mais benéfica, ainda que esta não pela impossibilidade, até mesmo para beneficiar o réu, sob o
seja a vigente ao tempo do crime ou por ocasião da prolação fundamento de que isto implicaria na criação de uma tercei-
da sentença. No caso de haver três leis, sendo a intermediária ra lei pelo judiciário (STF, RHC nº 94.802, rel. Min. Menezes
mais benéfica, ela retroagirá em relação à primeira, e será Direito, 1ª Turma, DJe 20/3/2009). Vê-se, pois, que a questão
ultra-ativa em relação à terceira. Decorre da sucessão de lei deve ser resolvida pelo Pleno do STF, entretanto, há uma leve
no tempo. Se a lei nova é mais benéfica será retroativa, caso tendência dos doutrinadores em admitir a combinação de leis
contrário, será ultra-ativa. penais no tempo quando em benefício do réu.
Quanto à fixação da lei aplicável ao tempo do crime nos
Competência para Aplicação da lex mitior casos de delitos continuados e permanentes, temos:

Quando uma lei nova, mais benéfica, ao agente surgir Crimes Permanentes e Continuados
durante a fase investigatória, o MP, ao receber os autos do
Crime permanente é aquele cuja execução se prolonga
inquérito, já deverá oferecer a denúncia com base no novo
no tempo. O  agente, a  cada instante, enquanto durar a
texto legal. Se a lei nova surge durante o curso da ação
permanência, está praticando ato de execução, é o caso do
penal, o juiz ou o tribunal poderão aplicar, imediatamente,
crime de sequestro.
a lex mitior. Se já houve o trânsito em julgado da sentença
Crime continuado é aquele que ocorre quando o agente,
na ação penal, caberá ao juiz da execução aplicar o novo
Noções de Direito Penal

mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou


regramento (art. 66, I, da Lei de execução penal). Contudo,
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo,
deve ser observado que o juiz da execução só será compe-
lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem
tente para dar efetividade à nova lei caso as alterações no
os crimes subsequentes ser havidos como continuação do
processo não necessitarem de apreciação do mérito da ação
primeiro (art. 71, CP).
penal de conhecimento, ou seja, o juiz só poderá praticar
Havendo uma sucessão de leis enquanto esses delitos
tal ato quando as alterações do processo se resumirem a
estiverem em andamento, deve-se aplicar a última das leis
cálculos matemáticos. Do contrário, a competência será do
que surgir, ainda que mais gravosa ao acusado (Súmula
respectivo Tribunal, que deverá aplicar nova legislação em
nº  711 do STF: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime
grau de recurso, via ação de revisão criminal.
continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
Funcab/PC-ES/Escrivão de Polícia/2013.
7 anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.).

14
Sinteticamente, teríamos: 1. Teoria da atividade: considera-se praticado o crime
na hora da conduta, aplicando-se, por conseguinte, a lei que
Crime Permanente Crime Continuado vigora nesse momento.
2. Teoria do resultado: considera-se praticado o crime no
Ex.: se durante a prática de Ex.: durante três meses o momento do resultado, desprezando-se o momento da ação.
um sequestro surge uma lei agente desvia verbas públi- 3. Teoria da ubiquidade ou mista: o crime é considerado
mais severa aumentando a cas, todavia durante a prática tanto no momento da ação como no momento do resultado.
pena deste crime, será esta dos crimes de peculato surge
lei nova mais gravosa aplica- uma lei nova agravando a sua Prevalece no ordenamento jurídico pátrio a Teoria da
da a todo o fato. pena, esta nova lei, mesmo Atividade, não interessando o momento em que se produziu
mais gravosa, é  aplicada a o resultado. Nos crimes permanentes, quando o agente inicia
todo conjunto de crimes. a sua prática sob a vigência de uma lei, vindo a se prolongar
até a entrada em vigor de outra, deve-se, pois, ser-lhe apli-
Leis de Vigência Temporária cada a última, mesmo que seja a mais severa.
Quanto ao crime continuado, se a nova lei modifica de
Lei temporária: lei elaborada com expressa previsão de algum modo o tipo legal já existente, aplica-se a última lei.
sua vigência em um lapso temporal. O legislador, previamen- Se a nova lei deixa de considerar a conduta como crime,
te, fixa o seu período de duração. No próprio texto da lei já deverá retroagir aos textos executados antes de sua vigência.
se encontra a data de sua cessação. Se a lei penal for modificada durante o processo penal
Lei excepcional: lei criada com o fim específico de ou durante a execução da pena, prevalecerá a norma mais
atender a uma situação circunstancial e transitória, como, favorável ao réu, não importa se a anterior ou a posterior.
por exemplo, nos casos de guerra, calamidades etc. A lei irá Da mesma forma, se a lei nova deixar de considerar o fato
existir enquanto durar a anormalidade. como crime (abolitio criminis), será aplicada esta última, por
ser mais favorável ao réu.
Características: Frise-se, ainda, que nos casos de crime permanente (ex.:
a) autorrevogáveis: não necessitam de outra lei para sequestro) em que a consumação se prolonga pela própria
revogá-las, pois têm em seu próprio texto a data de sua vontade do agente, uma eventual lei posterior, ainda que
cessação ou duram enquanto a situação de calamidade se mais severa, será aplicável à conduta que ocorreu durante
perdurar. sua vigência. Semelhantemente, se quando do sequestro o
b) ultrativas: as ações ou omissões ao tempo da lei agente ainda não possuía 18 anos, mesmo assim retém-se
temporária ou excepcional serão punidas, mesmo que a lei a vítima que, após alcançar a maioridade, será penalmente
já esteja revogada. A lei será aplicada mesmo após cessada a responsável pelos atos que praticou a partir do dia em que
sua vigência; é o que se chama ultratividade. Essa é exceção completou os 18 anos, não respondendo pelos atos pratica-
à regra da retroatividade benéfica, uma vez que tal princípio dos anteriormente, pois era inimputável. Essa mesma regra
não é aplicável em casos de leis excepcionais ou temporárias. aplica-se ao crime continuado.
Isso se justifica, pois, se o agente soubesse, de antemão, De maneira resumida:
que após cessada a anormalidade ou findo o período de
vigência ele fosse ficar impune, tais leis não teriam sentido,
pois perderiam toda sua força intimidativa. A regra da aplicação da lei penal no tempo encontra-se
disposta no art.  4º do CP  – “Considera-se praticado o
Tempo do Crime crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado”. Assim adota-se a Teoria da
É o momento da ação ou omissão que tenha dado Atividade – princípio tempus regit actum: é o tempo que
causa ao resultado lesivo, não importando o momento do deve reger o ato, ou seja, é a lei que está em vigor no dia
resultado: Teoria da Atividade ou Ação – Princípio tempus em que o crime foi cometido, não importando a data do
regit actum (é o tempo que deve reger o ato, ou seja, é a resultado. Ex.: um menor com 17 anos e 11 meses atira
lei que está em vigor no dia em que o crime foi cometido)8. contra a sua namorada, que vem a falecer em decorrência
Em outras palavras, a principal consequência da teoria dos ferimentos dois meses depois. Segundo a Teoria da
adotada é quanto à imputabilidade do agente, já que a sua Atividade o menor não responderá pelo crime praticado,
capacidade de autodeterminação é aferida no momento em pois o momento do crime (ação) era menor de idade.
que o crime é praticado e não na data que o resultado venha Exceção: se o crime for permanente, por exemplo, o crime
a ocorrer. Diferentemente, ocorre na prescrição, já que nesse de sequestro, supondo que um menor de 17 anos e 11
sentido o CP adotou a teoria do resultado, já que o lapso meses priva a vítima de sua liberdade, a qual é libertada
prescricional começa a correr a partir da consumação e não somente após seis meses, neste caso ele responderá pelo
do dia em que se deu a ação delituosa (art. 111, I) (CAPEZ). crime de sequestro, haja vista que a ação do agente se
Há exceção, caso o crime seja permanente, haja vista prolonga no tempo, vindo ele a responder pelo delito por
que a ação do agente se prolonga no tempo, vindo ele a já ter completado a maioridade.
responder pelo delito por já ter completado a maioridade. Essa mesma regra aplica-se ao crime continuado.
Noções de Direito Penal

Surgindo conflito aparente de normas, já que somente Atenção! Em relação à prescrição, o CP adotou a Teoria do
uma delas é que poderá ser aplicada, mesmo havendo mais Resultado, já que o lapso prescricional começa a correr a partir
de uma regulando o mesmo fato, será ele solucionado pelos da consumação, e não do dia em que se deu a ação delituosa.
princípios da especialidade, subsidiariedade, consunção ou
alternatividade. Lugar do Crime
A fixação do instante em que ocorreu o crime é relevante Vigora a Teoria da Ubiquidade: é tanto o local do crime
para se poder aplicar a lei penal, para se determinar a me- da ação ou omissão que tenha dado causa ao resultado
noridade ou não do agente ao tempo da ação, entre outras. lesivo, quanto onde se produziu (crime consumado) ou
A doutrina destaca três teorias: deveria produzir-se (crime tentado) o resultado9. Como
Assunto cobrado na prova da FMP-RS/MPE-AC/Analista/2013.
8
Assunto cobrado na prova da Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013.
9

15
exemplo, poder-se-ia citar um estelionato praticado no Brasil aeronave brasileira no espaço aéreo correspondente ao
e consumado no Uruguai. Ambos os países são considerados alto-mar (TFR, RJTFR nº 51/46).
lugar do crime.
Exceção: nos casos de crimes conexos, cada crime deve Princípios Básicos referentes à Lei Penal no Espaço
ser julgado pelo país onde foi cometido, não se aplicando,
portanto, a referida teoria. A soberania é um dos fundamentos da República Fede-
Atenção! Não confundir com as regras previstas no rativa do Brasil assim como das demais nações, os quais são
Código de Processo Penal, em que o local competente para reconhecidos pelos tratados e convenções internacionais. E,
processar e julgar o crime será o local do resultado. como tal, cada país tem suas próprias leis, que são editadas
para serem aplicadas no seu espaço territorial. Cinco são os
Lei Penal no Espaço princípios que norteiam a aplicação da lei no espaço. São eles:
• Princípio da Territorialidade: por este princípio aplica-
Territorialidade -se a lei brasileira a todas as condutas praticadas no
Brasil ou cujo resultado venha a ocorrer no território
Prevê o CP que ao crime praticado em território nacional brasileiro. Em outras palavras, importa aos Estados
aplica-se a lei penal nacional. Todavia o CP vai mais além, aplicarem as suas leis aos crimes ocorridos dentro de
uma vez que a legislação brasileira adotou a Territorialidade seus territórios jurídicos, não importando a naciona-
Temperada ou Mitigada, em que será aplicada a lei penal lidade do criminoso ou a origem da vítima.
brasileira, em regra, ao crime cometido no território nacional. • Princípio da Nacionalidade (ou personalidade): aplica-
Porém, prevê a possibilidade de se aplicar a lei estrangeira, ex- -se a legislação penal de determinado Estado a todos
cepcionalmente, aos crimes aqui cometidos quando tratados os seus cidadãos, ainda que o crime tenha sido prati-
e convenções internacionais assim determinarem. Em outras cado fora de suas fronteiras. Nesse caso, mesmo que
palavras, pode-se afirmar que o Brasil adotou o princípio da um brasileiro tenha praticado crime fora do território
Territorialidade Mitigada ou Temperada, tendo em vista que brasileiro, onde de regra não seria aplicada a legislação
o Estado pode abrir mão de sua jurisdição em atendimento brasileira, poderá ser punido pelas leis pátrias pelo fato
a convenções, tratados e regras de Direito Internacional. Em de ser de nacionalidade brasileira.
síntese, território, aqui, compreende o espaço terrestre, flu- • Princípio da Defesa (ou real, ou proteção): aplica-se a
vial, marítimo e aéreo, onde o Brasil é soberano. Quantos aos lei de um determinado país aos crimes que ofendam
navios e aviões, estes são ditos públicos quando de guerra, ou seus bens jurídicos, pouco importando quem cometeu
em serviço militar, bem como os que estão a serviço oficial. o crime ou onde ele foi cometido. Aplica-se a lei do país
São privados quando mercantes ou de propriedade particular. a que pertença o bem jurídico lesionado, independen-
temente de onde tenha ocorrido o fato com o intuito
Extraterritorialidade de se ver preservados interesses básicos dos Estados.
• Princípio da Justiça Universal (ou Cosmopolita, ou Ju-
É a exceção para a lei penal no espaço, pois a regra, como risdição Mundial, ou Repressão Universal, ou da Uni-
já visto, é a territorialidade (território é todo espaço aéreo, versalidade do Direito de Punir): aplica-se a legislação
marítimo e terrestre em que um país é soberano), ou seja, penal de um Estado desde que o sujeito ativo ingresse
todos os crimes ocorridos no território brasileiro devem no seu território, pouco importando a nacionalidade
ser julgados aplicando-se a lei penal brasileira, e os crimes das pessoas envolvidas ou o local de prática do delito.
ocorridos fora do Brasil serão julgados pela lei estrangeira. Para esse princípio não interessa a nacionalidade do
Mas, existem crimes que, mesmo sendo praticados fora do agente, o bem jurídico lesionado, ou o local onde foi
Brasil, ficam sujeitos ao julgamento pela lei brasileira: é a praticada a conduta, sendo sempre aplicada a lei do
extraterritorialidade. local onde for encontrado o delinquente.
O princípio da universalidade, preconizado no artigo
Casos de territorialidade: 7º, II, a, do CP, não obsta a concessão da extradição
ao Estado no qual ocorreram as práticas delituosas.10
a) crimes ocorridos no Brasil ou nas suas extensões. A título de exemplo: O marinheiro Jonas matou seu
Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do colega de farda a bordo do navio-escola NE Brasil, da
território nacional: Marinha Brasileira, quando o navio estava em águas
• as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza sob soberania do Japão. Assim, a lei penal brasileira
pública (de guerra, em serviço militar) ou a serviço do será aplicada ao caso, em razão do princípio da justiça
governo brasileiro (serviço oficial – chefes de Estado universal.11
ou representantes diplomáticos) onde quer que se • Princípio da Representação (ou pavilhão ou da ban-
encontrem; deira): o autor da infração deve ser julgado pelas leis do
• as aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou país em que a embarcação ou aeronave está registrada.
de propriedade privada, que se achem, respectivamen- Aplica-se a lei do Estado da bandeira do navio ou da
te, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar; aeronave privados, quando, no seu interior, houverem
ocorrido crimes no estrangeiro e lá não foram julgados.
Noções de Direito Penal

b) também é aplicável a lei brasileira aos crimes pratica-


dos a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de A legislação brasileira não adotou nenhum desses
propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no ter- princípios com exclusividade. Na realidade todos eles são
ritório nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, acolhidos por nosso Código Penal, que deu maior ênfase ao
e estas em porto ou mar territorial do Brasil. princípio da territorialidade, pelo qual a lei penal brasileira
é aplicada no território brasileiro, independentemente da
Obs.: os crimes cometidos a bordo de navios são da nacionalidade do autor e da vítima do delito. Como há ex-
competência da Justiça Federal (STJ, RHC nº 1.386, DJU de ceções a tal princípio, respaldadas nas convenções, tratados
9/1/1991, p. 18044). São também da competência da Justiça
Federal brasileira do Estado-Membro em cujo aeroporto Funcab/PC-ES/Delegado de Polícia/2013.
10

primeiro pousou o avião, os crimes cometidos a bordo de Funcab/PC-ES/Escrivão de Polícia/2013.


11

16
e regras de Direito Internacional, além dos casos especiais utilizadas as dependências para a prática de crimes ou dar
de extraterritorialidade, diz-se que o Brasil adota a territo- abrigo a criminosos comuns, pois, se assim o for, cessa a in-
rialidade temperada. violabilidade. Outrossim, as sedes diplomáticas não são mais
consideradas extensões do território alienígena, pertencem
Imunidades ao Estado onde se encontra, embora seja também inviolável,
mas permite-se que sejam invadidas por autoridades locais
Quando se fala em imunidade, tem-se a falsa impressão em casos de urgência, como a ocorrência de algum acidente
de que seja tal palavra sinônima de impunidade, o que grave; somente o Estado acreditante pode renunciar a imu-
não é verdade, uma vez que a própria Convenção de Viena nidade diplomática, nunca o próprio diplomata, uma vez
expressa a esse respeito, quanto aos diplomatas, demons- que ela pertence ao Estado e não ao indivíduo.12
trando que os mesmos devem ser processados pelos crimes
por eles cometidos nos seus Estados de origem, Convenção *Observações gerais quanto às imunidades consulares:
esta dita como a fonte das imunidades não só diplomáticas vale ressaltar que somente os funcionários consulares de
como consulares. carreira (o cônsul-geral, o cônsul, o vice-cônsul e o agente
A figura das imunidades não está relacionada à pessoa,
consular), no exercício de suas funções, gozam de tal imu-
mas, sim, ao cargo ocupado pelo agente. Gozam de imuni-
nidade, uma vez que ela não beneficia qualquer tipo de
dades os diplomatas e os parlamentares. Ei-las:
funcionário consular honorário, inclusive o cônsul honorário.
Atribui-se ainda tal imunidade aos empregados consulares,
Imunidades Diplomáticas
Os agentes estrangeiros que cometem crimes devem ser desde que estes façam parte do corpo técnico e adminis-
submetidos às leis de seu país, ficando, com isso, imunes trativo consulado, excluindo-se aqui da imunidade penal os
às leis do país em que tiverem cometido infração. Estão membros de sua família e os empregados pessoais tendo
excluídos os funcionários particulares daqueles que gozam em vista que eles não podem atuar no exercício da função,
de imunidades (tais como o cozinheiro, o faxineiro, o jar- apenas os funcionários e empregados consulares gozam de
dineiro etc. ainda que tenham a mesma nacionalidade), tal prerrogativa, mas desde que estejam no exercício de sua
porém incluem-se secretários de embaixadas, servidores função e tão somente nos limites geográficos do distrito
que ocupam cargos técnicos e administrativos das repre- consular, mas podem ser detidos ou presos preventivamente
sentações, bem como os seus respectivos familiares. São em casos de crimes graves por eles praticados, por ordem
ainda alcançados por tais imunidades os funcionários de judicial. O adido consular é a pessoa sem delegação de re-
organismos internacionais, como, por exemplo, a  ONU, presentatividade e, portanto, não tem imunidade.
chefes de Estado estrangeiro, desde que estejam no Brasil,
assim como suas respectivas comitivas. Os representantes Imunidades Parlamentares
diplomáticos de governos estrangeiros gozam não só de Segundo o texto constitucional, a imunidade do congres-
imunidade penal (embora já se admita que sejam presos sista somente será suspensa em estado de sítio e desde que
em flagrante o diplomata que esteja envolvido em tráfico de por decisão de 2/3 dos membros da respectiva Casa, quan-
entorpecentes, em infrações aduaneiras e terrorismo, sem do referente a atos praticados fora do Congresso Nacional
qualquer autorização do Estado de origem, com o álibi de e incompatível com a efetivação da medida. A  finalidade
que tal atividade criminosa foge completamente à função precípua dessa prerrogativa é permitir ao congressista que,
de representação inerente à diplomacia), como tributária mesmo em época de conturbação social, expresse seu pen-
(exceto impostos indiretos incluídos no preço) e civil (exceto samento, vez que neste momento estaria manifestando o
no que diz respeito a Direito sucessório e ações referentes desejo do povo que representa. A imunidade parlamentar
à profissão liberal exercida pelo agente diplomático fora pode ser formal ou material.
das funções). Observe que a imunidade aqui mencionada a) Imunidade Formal: hoje temos a não imunidade como
abrange os diplomatas de carreira (desde o embaixador ao regra e, acaso deseje a casa respectiva conceder imunidade
terceiro-secretário) e todos os membros do quadro admi- ao seu componente deverá manifestar-se positivamente,
nistrativo e técnico (como tradutores, contabilistas etc.) da enquanto isso, o processo prossegue perante o STF.
sede diplomática, desde que recrutados no Estado de origem. b) Imunidade Material: o agente não responde por suas
Vê-se ainda que quando se tratar de familiares de diplomatas opiniões, palavras (aqueles que envolvem a opinião, como,
de carreira é bom salientar que tais pessoas só gozam de tal por exemplo, crimes contra a honra, apologia de crime e
prerrogativa quando habitarem com eles e viverem sob sua incitação ao crime, mas desde que não sejam estranhas a sua
dependência econômica; a imunidade descrita aqui atinge atividade como membro do Legislativo, na Casa do Congres-
ainda os familiares dos membros do quadro administrativo
so a que pertence, ou em missão oficial, por determinação
e técnico, os  funcionários das organizações mundiais (em
dela, pois, caso se faça externamente, não há que se falar
serviço), os chefes de Estado estrangeiro, e os diplomatas ad
em inviolabilidade) portanto, o congressista que, fazendo uso
hoc (pessoas nomeadas pelo Estado acreditante para uma
determinada função no Estado acreditado, como, por exem- de suas palavras vier a cometer a infração tipificada como
plo, acompanhar a posse de algum Presidente da República). injúria, não cometeria crime algum.
Noções de Direito Penal

*Observações gerais quanto às imunidades diplomáti- As imunidades aqui descritas estendem-se aos depu­tados
cas: por não poderem ser presos ou detidos, nem obrigados estaduais, que possuem as mesmas imunidades que os par-
a depor como testemunha (embora possam ser investigados lamentares federais, mas tais prerrogativas devem constar
pela polícia), gozam da inviolabilidade pessoal, mesmo que das Constituições Estaduais. Eles podem ser processados
em trânsito estejam, quer seja, desde o momento da saída sem autorização da Assembleia Legislativa do seu Estado,
de seu país de origem, para assumir a função no exterior, até em qualquer tipo de crime, inclusive federal ou eleitoral,
a sua volta; gozam ainda de independência, vez que agem mas o processo pode ser sustado pelo voto da maioria do
livremente em relação a tudo o que se refere a sua qualidade Parlamento, caso haja a provocação de algum partido polí-
de representantes de um Estado estrangeiro; gozam tam-
bém de inviolabilidade de habitação, desde que não sejam Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-BA/Delegado de Polícia/2013.
12

17
tico nela representado. Outrossim, caso cometam crimes da • contra a Administração Pública, por quem está a seu
competência da Justiça Federal, devem ser processados pelo serviço (princípio real, da defesa ou proteção);
TRF; se o delito for da esfera eleitoral, serão processados no • de genocídio, quando o agente for brasileiro ou do-
TRE, portanto é incabível o que previa a Constituição anterior miciliado no Brasil (princípio da justiça universal, que
quando determinava que a imunidade concedida a deputa- defende que o genocida onde quer que se encontre,
dos estaduais era restrita à Justiça do Estado. deverá ser punido com a lei do país respectivo; ou
Quanto aos vereadores, eles gozam de imunidade ab- princípio real, da defesa ou proteção, que defende
soluta, enquanto estiverem no exercício do seu mandato e que quando o genocídio atinja um bem brasileiro, a lei
na circunscrição de seu Município, mas não têm imunidade brasileira deverá ser aplicada).
processual e nem foro privilegiado, embora possuam direito
à prisão especial, de acordo com a Lei nº 3.181/1967. b) Condicionada: dependendo do concurso de algumas
“Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e pe- condições, os crimes:
nalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. • que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a
Os Deputados e Senadores desde a expedição do diploma reprimir (princípio da justiça universal);
serão submetidos a julgamento perante o STF. Desde a expe- • praticados por brasileiro (princípio da nacionalidade
dição do diploma, os membros do Congresso Nacional não ativa);
poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. • praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras,
Neste caso, os  autos serão remetidos dentro de 24 horas mercantes ou de propriedade privada, quando em
à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus território estrangeiro e aí não sejam julgados (princípio
membros, resolva sobre a prisão. A sustação do processo da representação).
suspende a prescrição, enquanto durar o mandato”. Não
pode o congressista abrir mão dessa imunidade, vez que a As condições que devem ser atendidas são:
imunidade pertence ao Parlamento e não ao congressista, de • entrar o agente no território nacional;
modo que é irrenunciável, por ser tal prerrogativa de caráter • ser o fato punível também no país em que foi praticado;
institucional, inerente ao Poder Legislativo, que só é confe- • estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei
rida ao parlamentar ratione numeris, em função do cargo e brasileira autoriza a extradição;
não do mandato que exerce, portanto, não se reconhece ao • não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não
congressista, em tema de imunidade parlamentar, a facul- ter aí cumprido a pena;
dade de a ela renunciar. Ressalte-se ainda que a imunidade • não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por
parlamentar não se estenda ao corréu sem essa prerrogativa. outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo
Outrossim, prevalece, ainda, no contexto das imunidades o a lei mais favorável.
sigilo parlamentar, que desobriga o congressista “a testemu-
nhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão Atendidas as condições supramencionadas, a lei brasileira
do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra
confiaram ou deles receberam informações”. Além disso, brasileiro fora do Brasil, se reunidas as condições previstas
os parlamentares devem ser ouvidos em lugar previamente no parágrafo anterior:
agendado com o juiz, quando forem testemunhas, não ca- • não foi pedida ou foi negada a extradição;
bendo qualquer tipo de condução coercitiva. • houve requisição do Ministro da Justiça.
Por fim, é relevante frisar que, quanto às imunidades di-
plomáticas e consulares, trata-se de exceção ao princípio da Observações
territorialidade, previsto em Convenção subscrita pelo Brasil,
concedendo aos diplomatas e cônsules isenção à jurisdição • Este item atenta-se para o chamado Princípio da Defesa
brasileira, motivo pelo qual somente podem ser processados ou da Personalidade Passiva.
criminalmente em seus países de origem; quanto às imunida- • É bom salientar que, quanto ao crime de tortura, a Lei
des parlamentares, cuida-se de exceção ao princípio da terri- nº 9.455/1997 prevê em seu art. 2º, que no que se re-
torialidade previsto na CF, possibilitando que o parlamentar, fere ao princípio da extraterritorialidade condicionada,
no exercício de seu mandato, por opiniões, palavras e voto, aplica-se a lei brasileira ainda que o crime não tenha
não possa ser criminal e civilmente responsabilizado. Permi- sido cometido em território nacional, sendo a vítima
te, ainda, que os processos criminais contra eles instaurados brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
possam ser sustados pela Casa Legislativa correspondente. jurisdição brasileira.

Casos de Extraterritorialidade Eficácia da Sentença Estrangeira

a) Incondicionada: ainda que absolvido ou condenado no Toda sentença judicial é ato de soberania do Estado. Mas
estrangeiro, o agente será punido segundo a lei brasileira (se para garantir a maior eficiência possível ao combate das práti-
o agente já foi condenado no estrangeiro, deve-se observar cas de fatos criminosos, o Estado se vale, por exceção, de atos
o art. 8º do CP que traz: “a pena cumprida no estrangeiro
Noções de Direito Penal

de soberania de outros Estados aos quais atribuem certos e


atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando determinados efeitos. Para tanto, homologa a sentença penal
diversas, ou nela é computada, quando idênticas”) nos casos estrangeira, de modo a torná-la um verdadeiro título executi-
de crimes: vo nacional, ou independentemente de prévia homologação,
• contra a vida ou a liberdade do Presidente da República dá-lhe o caráter de fato juridicamente relevante, de acordo
(princípio real, da defesa ou proteção); com o art. 9º do CP (Greco). Segundo este artigo, a sentença
• contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Dis- estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na
trito Federal, de Estado, de Território, de Município, espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no
de empresa pública, sociedade de economia mista, Brasil para obrigar o condenado a reparar o dano, a restituir
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público a coisa e a outros efeitos civis, sujeitando-o ainda a medida
(princípio real, da defesa ou proteção); de segurança, contudo a homologação depende de pedido

18
da parte interessada e da existência de tratado de extradição Territorialidade
com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de con-
ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça venções, tratados e regras de direito internacional,
(observe-se que o sujeito não pode ser preso, no Brasil, em ao crime cometido no território nacional.
razão de homologação de sentença estrangeira). § 1º Para os efeitos penais, consideram-se como
Como a execução da pena também é um ato de sobera- extensão do território nacional as embarcações e ae-
nia, os efeitos da sentença penal estrangeira são limitados ronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço
aqui no Brasil. Assim como as leis estrangeiras não são aplica- do governo brasileiro onde quer que se encontrem,
das no território nacional, aqui seus julgados não podem ser bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
executados, exceto quando a lei penal brasileira produzir as mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
mesmas consequências da lei estrangeira, aí se homologa a respectivamente, no espaço aéreo correspondente
sentença estrangeira, mas somente para consequências civis ou em alto-mar.
(reparação do dano, restituições) e aplicação de medidas de § 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes
segurança. A homologação aqui dita cabe ao STJ. praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
A sentença estrangeira pode ser homologada no Brasil. estrangeiras de propriedade privada, achando-se
A homologação depende do pedido da parte interessada, aquelas em pouso no território nacional ou em voo
da existência de tratado de extradição com o país de cuja no espaço aéreo correspondente, e estas em porto
autoridade judiciária emanou a sentença ou de requisição ou mar territorial do Brasil.
do Ministro da Justiça.
Lugar do Crime
Contagem de Prazo Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
Nos prazos processuais não se computa o dia do começo, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se
incluindo-se, porém, o do vencimento; já, segundo o art. 10 o resultado.
do CP, que não é prazo processual, mas penal, o dia do
começo inclui-se no cômputo do prazo, sendo contados os Extraterritorialidade
dias, os meses e os anos pelo calendário comum, contudo, Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora come-
segundo o art. 11 do CP, desprezam-se nas penas privativas tidos no estrangeiro:
de liberdade e nas restritivas de direito as frações de dia e, I – os crimes:
na pena de multa, as de “cruzeiro”. Em outras palavras, não a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
importa a que horas do dia começou a correr o prazo, já República;
que se conta o dia todo para efeito de contagem de prazo. b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do
Assim, se alguém é preso por força de uma prisão temporária, Distrito Federal, de Estado, de Território, de Muni-
às 23h55min, os cinco minutos restantes já são considerados cípio, de empresa pública, sociedade de economia
como um dia inteiro. mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder
É de bom alvitre salientar que os prazos penais são fatais Público;
e improrrogáveis, mesmo que terminem em domingos e c) contra a administração pública, por quem está a
feriados (CAPEZ). seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
Artigos Pertinentes
domiciliado no Brasil;
II – os crimes:
Anterioridade da Lei
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina.
a reprimir;
Não há pena sem prévia cominação legal.
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasilei-
Lei Penal no Tempo
ras, mercantes ou de propriedade privada, quando
Art.  2º Ninguém pode ser punido por fato que lei
posterior deixa de considerar crime, cessando em em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
virtude dela a execução e os efeitos penais da sen- § 1º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo
tença condenatória. a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado
Parágrafo único. A  lei posterior, que de qualquer no estrangeiro.
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos ante- § 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira
riores, ainda que decididos por sentença condena- depende do concurso das seguintes condições:
tória transitada em julgado.13 a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi
Lei Excepcional ou Temporária praticado;
Noções de Direito Penal

Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a
decorrido o período de sua duração ou cessadas as lei brasileira autoriza a extradição;
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou
praticado durante sua vigência. não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,
Tempo do Crime por outro motivo, não estar extinta a punibilidade,
Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento segundo a lei mais favorável.
da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento § 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime come-
do resultado. tido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil,
se, reunidas as condições previstas no parágrafo
Assunto cobrado na prova da FMP-RS/MPE-AC/Analista/2013.
13 anterior:

19
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; Deve-se considerar duas visões:
b) houve requisição do Ministro da Justiça. • bipartida: o crime é um fato típico e antijurídico;
• tripartida: o crime é um fato típico, antijurídico e
Pena Cumprida no Estrangeiro culpável.
Art.  8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a
pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando A visão bipartida considera a culpabilidade um mero pressu-
diversas, ou nela é computada, quando idênticas. posto para aplicação da pena, por isso a exclui de seu conceito.
Já a visão tripartida inclui a culpabilidade em seu conceito.
Eficácia de Sentença Estrangeira Adotaremos, então, a  Teoria Tripartida, que é a mais
Art. 9º A sentença estrangeira, quando a aplicação aceita pela doutrina.
da lei brasileira produz na espécie as mesmas con- Conceito de crime a partir da Teoria Tripartida.
seqüências, pode ser homologada no Brasil para:
I – obrigar o condenado à reparação do dano, a res- Quadro Esquemático
tituições e a outros efeitos civis;
II – sujeitá-lo a medida de segurança. Antijurídico
Fato Típico Culpável
Parágrafo único. A homologação depende: (ilícito)
(Elementos) (Elementos)
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da (Excludentes)
parte interessada; Conduta. Estado de necessi- Imputabilidade.
c) para os outros efeitos, da existência de tratado de dade.
extradição com o país de cuja autoridade judiciária Resultado. Legítima defesa. Potencial consciência
emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de re- da ilicitude.
quisição do Ministro da Justiça. Nexo causal. Estrito cumprimen- Exigibilidade de condu-
to de dever legal. ta diversa.
Contagem de Prazo Tipicidade. Exercício regular de
Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do direito.
prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo
calendário comum. O fato típico é composto dos seguintes elementos: con-
duta (dolosa/culposa, omissiva/comissiva), resultado (para
Frações não Computáveis da Pena os crimes materiais – aqueles que dependem do resultado
Art. 11. Desprezam-se, nas penas privativas de liber- para se consumarem), nexo de causalidade (elo entre a
dade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, conduta e o resultado) e a tipicidade (formal – subsunção
na pena de multa, as frações de cruzeiro. do fato à norma; conglobante – que é a tipicidade formal
associada à tipicidade material, ou seja, leva-se em conside-
Legislação Especial ração o princípio da insignificância).
Art.  12. As  regras gerais deste Código aplicam-se A ilicitude refere-se à relação de contrariedade ao orde-
aos fatos incriminados por lei especial, se esta não namento jurídico. Por exclusão, lícita será toda conduta em
dispuser de modo diverso. que o agente tiver atuado sobre o amparo das excludentes de
ilicitude previstas no Código Penal, a saber: legítima defesa,
estado de necessidade, estrito cumprimento de dever legal
e o exercício regular de direito. Ainda, segundo a doutrina,
Teoria Geral do Crime – INFRAÇÃO existe uma causa supralegal como excludente de ilicitude,
PENAL (conceito de crime, crime e que é o consentimento do ofendido, contudo, este requer
contravenção penal, elementos que o ofendido tenha capacidade para consentir, que o bem
sobre o qual recaia a conduta do agente seja disponível e
do crime: conduta (ação e que o consentimento tenha sido dado anteriormente ou
omissão), resultado, relação simultaneamente ao ato.
de causalidade, tipicidade; A culpabilidade, que é um juízo de reprovação pessoal
consumação e tentativa, desistência que se faz sobre a conduta do agente, para a teoria finalis-
ta, é composta dos seguintes elementos: a imputabilidade,
voluntária e arrependimento a potencial consciência da ilicitude do fato e a exigibilidade
eficaz, arrependimento posterior, de conduta diversa.
crime impossível, crime doloso e Objeto de um Crime
culposo, agravamento da pena pelo
resultado, erros, coação moral e Pode-se afirmar que o objeto é aquilo sobre o que incide
a conduta delituosa. Ele se divide em:
obediência hierárquica)
Noções de Direito Penal

a) jurídico: é o bem ou interesse protegido pela norma;


Exemplo: homicídio (vida) e furto (patrimônio).
O que é Crime? b) material: é a pessoa, coisa ou interesse sobre a qual
recai a conduta do agente.
a) Conceito material – Conduta humana que lesa ou
expõe a perigo bens jurídicos tutelados. Sintetizando, temos como um dos exemplos o crime de
b) Conceito formal – Conduta humana proibida por lei, furto, em que o objeto jurídico seria o patrimônio e o objeto
com cominação de pena. material seria a coisa furtada. Pode haver coincidência entre
c) Conceito analítico – Analisa cada um dos elementos esses objetos quando ocorre, por exemplo, o homicídio, pois
do crime, sem que com isso se queira fragmentá-lo, já que o o homem é objeto material e também o titular do objeto
crime é um todo unitário e indivisível. jurídico lesionado, ou seja, a vida. A regra é que inexistindo

20
objeto material, surge o crime impossível. Contudo, pode Finalmente, quanto às penas previstas para as contra-
haver crime sem objeto material, nos casos de ato obsceno venções penais, o art. 5º da LCP traz prisão simples e multa,
ou falso testemunho, por exemplo. que poderão ser aplicadas isoladas ou cumulativamente.
A prisão simples é aquela cumprida, sem rigor penitenciário,
Diferença entre Crime e Contravenção Penal em cadeia pública, no regime semiaberto ou aberto, ficando
o preso separado dos condenados a pena de detenção ou
Contravenção reclusão, penas estas aplicadas aos praticantes de crime e
não de contravenção.
É um crime anão, um pequeno crime no sentido de
ferir patrimônio jurídico de menor reprovabilidade ante a Diferenças básicas entre Crime e Contravenção
sociedade. Em suma, definido apenas como um crime anão.
Para Nélson Hungria, as contravenções, por serem infrações Crime Contravenção
menos graves que os crimes, ofendem bens jurídicos não tão 1. Pune as condutas mais 1. Pune as condutas menos
importantes quanto os protegidos ao se tipificar um crime. graves. graves.
As contravenções penais são infração de menor potencial 2. Punido com pena de reclu- 2. Punida apenas com pena
ofensivo (suas penas isoladamente não excedem a dois anos), são ou pena de detenção, de prisão simples ou multa.
portanto, são da competência dos Juizados Especiais. Elas são podendo haver a multa 3. Tem caráter preventivo,
infrações de ação penal pública incondicionada (não neces- cumulativa ou alternativa. visando à lei das contraven-
sitam de representação como condição de procedibilidade 3. Tem caráter repressivo, ções penais a coibir condu-
para a propositura da ação penal). situando o direito somente tas conscientes que possam
O Brasil adotou o sistema dicotômico, sendo que as infra- após a ocorrência do dano trazer prejuízo a alguém.
ções penais se classificam em crimes (ou delitos) e contraven- a alguém. 4. Só é cabível a Ação Penal
ções. Nos crimes ocorre uma lesão ou um perigo concreto/ 4. São possíveis todos os tipos Pública Incondicionada.
objetivo, ou seja, a probabilidade de ocorrência de uma lesão, de ações penais. 5. Cometido no exterior, não
nas contravenções penais há apenas um perigo subjetivo, ou 5. Cometido no exterior pode pode ser punido no Brasil.
seja, aquele abstrato, mera representação mental. ser punido no Brasil. 6. A tentativa não é punida.
As contravenções penais não admitem tentativa. É o que 6. É punível a tentativa. 7. Limite máximo de cumpri-
se depreende do art. 4º da LCP (Lei de Contravenções Pe- 7. Limite máximo de cumpri- mento da pena: 5 anos.
nais). O legislador adotou esse critério por política criminal, mento da pena: 30 anos. 8. S e g u e o r i t o d a L e i
em virtude da pequena potencialidade lesiva da tentativa 8. Segue qualquer rito proces- nº 9.099/1995, Lei do Jui-
de contravenção. sual. zado Especial Criminal,
O art. 7º da LCP traz: pois trata-se de conduta de
menor potencial ofensivo.
verifica-se a reincidência quando o agente pratica
uma contravenção depois de passar em julgado a Classificação dos Crimes
sentença que tenha condenado, no Brasil ou no
estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por 1. Crime comissivo: resulta de um agir, de um fazer por
motivo de contravenção. parte do agente, que alcança o resultado mediante uma
ação positiva.
No que se refere à conversão da pena de multa (caso não 2. Crime omissivo: nasce de um não agir por parte do
fosse paga) em prisão simples, a legislação atual já não mais agente, quando era seu dever agir. Independe de qualquer re-
permite, embora fosse esse o teor do art. 9º da LCP. Contudo, sultado. É um típico crime de mera conduta. Em consequên­
foi ele revogado pela Lei nº 9.268/1996. O referido artigo cia, não se admitem a tentativa e a coautoria.
trazia que a multa era convertida em prisão simples, de acor- 3. Crime comissivo por omissão (omissivo impróprio):
do com o que dispõe o Código Penal sobre a conversão de ocorre a omissão do agente que, por disposição legal, tem
multa em detenção. Todavia, a lei aqui mencionada, alterou o dever de se manifestar em determinadas situações, e sua
a redação do art. 51 do CP estabelecendo que, “transitada omissão concorre para a ocorrência de uma ação criminosa.
em julgado a sentença penal condenatória, a  multa será
Exemplo clássico é quando a mãe abandona o próprio filho
convertida em dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas da
recém-nascido, provocando-lhe a morte. Essa classificação
legislação relativa à dívida da Fazenda Pública, inclusive no
que concerne às causas interruptivas e suspensivas da pres- só é admitida nos crimes materiais (crimes de resultado),
crição”. Resumindo, hoje não existe mais no CP a conversão entretanto eles admitem a tentativa, mas não admitem a
de multa em detenção e, reflexamente, também não mais coautoria, sendo possível a participação.
existe a citada conversão para prisão simples no caso das 4. Crime material: é aquele em que a lei prevê a condu-
contravenções penais. É o que ensina Vítor E. Rios Gonçalves. ta e o respectivo resultado. Exemplo: furto.
Traz, também, o art. 8º da LCP: 5. Crime formal: para a sua caracterização, exige-se ape-
nas a ação, independentemente do resultado pretendido ser
no caso de ignorância ou de errada compreensão da ou não alcançado. Exemplo: crime de extorsão. Como regra,
Noções de Direito Penal

lei, quando escusáveis (aquele em que qualquer pes- esta modalidade não admite tentativa, só ocorrendo quando
soa comum incorreria, nas mesmas circunstâncias), verificada a possibilidade de fracionamento da conduta.
a pena pode deixar de ser aplicada. 6. Crime de mera conduta: caracteriza-se com a simples
Há entendimento de que este artigo foi revogado desde 1984 conduta do agente que não deseja qualquer resultado.
com a reforma do CP, que trouxe o erro de proibição, se ine- Exemplo: crime de violação de domicílio. Em outras palavras,
vitável, como causa de exclusão da culpabilidade, devendo o é aquele em que o tipo penal somente prevê a conduta e com a
réu ser absolvido. Como o referido artigo faz alusão a crime, sua prática ocorre a consumação. Não há previsão de um resul-
que é infração mais grave que contravenção, seria injusto tado naturalístico. A consumação se dá com a ação prevista na
que nas contravenções, infrações de menor gravidade, não norma. Ex.: porte ilegal de arma; violação de domicílio. Esses
se aplicasse o referido princípio. crimes não admitem tentativa e nem concurso de agentes.

21
7. Crime geral: pode ser praticado por qualquer pessoa, Ressalte-se que o delito de latrocínio é crime hediondo e é
não exigindo condição ou situação de seu agente. Exemplo: julgado por juízes singulares, por não se tratar de crime doloso
furto. contra a vida, mas de crime contra o patrimônio.
8. Crime especial ou próprio: para a sua existência é ne- 14. Crimes permanentes: o delito tem sua consumação
cessário que o agente detenha alguma condição específica, por todo o tempo em que o bem jurídico tutelado está sendo
sem a qual inexiste o crime. Exemplo: a condição de funcio- atacado, vindo a prolongar-se no tempo. Exemplo: crime de
nário público para a prática do crime de corrupção passiva. cárcere privado.
9. Crime de mão própria: essa espécie de crime poderá 15. Crime continuado: é a prática reiterada da mesma
ser praticada por qualquer pessoa, desde que o faça dire- conduta típica considerada dentro de um lapso temporal que
tamente, sendo incabível a autoria imediata. É impossível a caracterize a homogeneidade da conduta. O agente pratica
coautoria, podendo haver, porém, a participação. vários crimes, mas, por uma ficção jurídica, será punido
A título de exemplo: Túlio, em razão de seu casamento considerando-se uma só ação com a pena aumentada de
com Maria, declarou no cartório de registro de pessoas um sexto a dois terços.
naturais que era divorciado, sendo o matrimônio com Maria 16. Crime plurissubjetivo: exige-se o concurso de pes-
consumado. Entretanto, Túlio era casado com Claudia, mas soas, ou seja, somente poderá ser praticado por duas ou
estavam separados de fato há muitos anos. Serviram como mais pessoas. Exemplo: formação de quadrilha.
testemunhas Joana e Paulo, primos de Túlio, que tinham 17. Crime hediondo: são insuscetíveis de fiança, anistia,
conhecimento do casamento e da separação de fato deste graça e indulto, mas admitem liberdade provisória, devendo
com Claudia. Assim pode-se afirmar que se trata de crime ainda a pena ser cumprida inicialmente em regime fechado,
próprio, sendo coautores Joana e Paulo, primos de Túlio.14 podendo, entretanto, haver progressão de regime após o
10. Crime preterdoloso ou preterintencional: em linhas cumprimento de 2/5 da pena (se o réu é primário) ou 3/5
gerais, são os crimes qualificados pelo resultado. O agente (no caso de reincidência). É bom ressaltar ainda que para tais
não pretende o resultado que alcança; entretanto, por culpa, crimes, a prisão temporária terá duração de 30 (trinta) dias,
produz resultado além do desejado. É necessária a vontade prorrogáveis uma vez, por igual período, no caso de extrema
(dolo). Exemplo: lesões corporais seguidas de morte. necessidade. São hediondos os crimes:
Poderia ser assim também dissertado: é o crime no qual • homicídio simples, quando praticado em atividade
o resultado lesivo vai além daquele pretendido pelo agente. típica de grupo de extermínio, ainda que praticado por
Este visa a um determinado ato lesivo, mas o resultado ex- um só agente;
cede o desejado. Há dolo no antecedente (conduta inicial) • homicídio qualificado;
e culpa no consequente (resultado final). Há um resultado • latrocínio;
agravador culposo após a conduta típica dolosa. • extorsão qualificada pela morte;
11. Crimes qualificados pelo resultado: segundo Rogério • extorsão mediante sequestro e na forma qualificada;
Greco, o  crime será qualificado pelo resultado quando o • estupro;
agente atua com dolo na conduta e dolo quanto ao resultado • estupro de vulnerável;
do qualificador, ou dolo na conduta e culpa no que diz respei- • epidemia resultando em morte;
to ao resultado qualificador (que é o crime preterdoloso). No • falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de
crime qualificado pelo resultado existe dolo e dolo ou dolo produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais;
e culpa, daí, pode-se afirmar que todo crime preterdoloso é • genocídio.
qualificado pelo resultado, mas nem todo crime qualificado
pelo resultado é preterdoloso. Caracteriza dolo e dolo a con- 18. Crimes putativos: quando o agente supõe estar pra-
duta descrita como lesão corporal qualificada pela perda ou ticando uma conduta delituosa e, na realidade, os seus atos
inutilização de membro e dolo e culpa na conduta descrita não caracterizam crime. Há erro, blefe.
como lesão corporal qualificada pelo resultado do aborto. 19. Crimes comuns: são aqueles que podem ser pratica-
O crime será, ainda, qualificado pelo resultado quando hou- dos por qualquer pessoa.
ver culpa e culpa, como, por exemplo, causar lesão corporal 20. Crimes próprios: para que existam, é necessário que
a terceiro acidentalmente, que devido a elas, correr à vítima o agente detenha uma condição especial, como ser mãe em
risco de morte, ocorrendo a forma culposa tanto no tipo infanticídio, ou funcionário público em crimes de peculato,
quanto no seu resultado, ou culpa e dolo, como, por exemplo, corrupção passiva etc.
no caso de o agente causar lesões corporais a terceiros sem 21. Crimes de perigo: são crimes que se consumam com
intenção, mas, propositalmente, deixar de prestar socorro. a mera possibilidade de dano, basta que haja exposição do
12. Crime simples: é aquele que apresenta apenas um bem a perigo de dano, como no caso do crime de periclitação
tipo penal, como no homicídio. da vida ou saúde de outrem. O perigo pode ser concreto,
13. Crime complexo: dá-se quando a conduta é tipificada quando o próprio tipo exige a existência de uma situação
pela fusão de mais de um tipo legal. São também chamados de perigo efetivo, ou abstrato, em que a situação de perigo
pluriofensivos por lesarem ou exporem a perigo de lesão mais é somente presumida, como no caso do crime de quadrilha,
de um bem jurídico tutelado. Exemplo: latrocínio (roubo e em que o agente será punido, mesmo que o bando não tenha
homicídio). Em outras palavras, é aquele no qual há a fusão cometido um ilícito sequer.
de dois ou mais tipos penais. O crime complexo tutela mais de 22. Crimes de dano: para que existam é necessário que
um bem jurídico. O crime complexo pode existir, também, no haja efetiva lesão ao bem jurídico protegido pela norma,
Noções de Direito Penal

caso em que um tipo serve como circunstância qualificadora como no caso de homicídio.
de outro. Exemplificam a fusão de dois ou mais tipos penais o 23. Crime instantâneo: é aquele em que o seu momento
crime de extorsão mediante sequestro (em que se conjuga o consumativo se dá num instante determinado, como no
crime de extorsão e o crime de sequestro, que são dois tipos homicídio.
penais distintos), o roubo (que une o crime de furto ao crime 24. Crimes instantâneos de efeitos permanentes: são
de violência corporal e/ou ao constrangimento ilegal, que tam- aqueles que se consumam em um dado instante, mas os seus
bém são tipos penais distintos). Exemplifica o segundo caso, ou efeitos são permanentes, como no homicídio.
seja, quando um tipo serve como circunstância qualificadora 25. Crime principal: ele existe independentemente de
de outro o latrocínio (em que o homicídio qualifica o roubo). outro, como no furto.
26. Crime acessório: é aquele que depende de outro para
Funcab/PC-ES/Delegado de Polícia/2013.
14 existir, como o crime de receptação.

22
27. Crime progressivo: é aquele em que agente quer O Brasil adotou o sistema dicotômico, sendo que as infra-
atingir um resultado mais grave, mas, para atingi-lo, vai ções penais se classificam em crimes (ou delitos) e contraven-
praticando várias e sucessivas ações delituosas até atingir o ções. Nos crimes ocorre uma lesão ou um perigo concreto/
seu intento, como no caso daquele que vai lesionando seu objetivo, ou seja, a probabilidade de ocorrência de uma lesão,
desafeto gradativamente até levá-lo à morte. Note que neste nas contravenções penais há apenas um perigo subjetivo, ou
caso ele só irá responder por homicídio, já que este crime seja, aquele abstrato, mera representação mental.
absorve o de lesões corporais (princípio da consunção). Para se atingir um ilícito penal, o agente normalmente
28. Progressão criminosa: diferentemente do crime pro- perfaz alguns caminhos a fim de obter uma meta delineada.
gressivo, nesse o agente busca atingir um resultado e o atinge, A esse caminho dá-se o nome de iter criminis, que, nada mais
sendo que, após conseguir realizar o seu intento, resolve é do que o caminho percorrido pelo agente para a obtenção
violar outro bem jurídico protegido pela norma, produzindo do resultado delituoso. O iter criminis é composto das se-
um crime ainda mais grave, como querer lesionar alguém e, guintes fases: cogitação, preparação, execução, consumação
após atingir esse objetivo, resolve matar a vítima. Observe que, e exaurimento.
mesmo tendo praticado dois delitos, irá o agente responder Pois bem, vamos voltar ao conceito de crime e passar a
apenas pelo mais grave (princípio da consunção), no caso, por estudá-lo de forma pormenorizada, que é a chamada Teoria
homicídio. O que diferencia a progressão criminosa do crime Geral do Crime.
progressivo é que neste caso há um só crime; já, naquele, há Lembrando o conceito de crime, segundo a teoria tri-
dois crimes, daí ser chamado de progressão criminosa. Em partida:
outras palavras, no crime progressivo existe apenas o crime
fim, embora, para alcançá-lo, o agente tivesse que percorrer Fato Típico Antijurídico (Ilícito) Culpável
um caminho que violasse bens jurídicos tutelados pelo orde- (Elementos) (Excludentes) (Elementos)
namento jurídico. Já na progressão criminosa, o agente pratica
mais de um crime, querendo violar o ordenamento jurídico e, Conduta. Estado de necessidade. Imputabilidade.
não satisfeito, procura realizar outro delito, atingindo um outro Resultado. Legítima defesa. Potencial consciên-
bem jurídico tutelado e mais grave que o primeiro. cia da ilicitude.
29. Crime falho: é o mesmo que tentativa perfeita ou Nexo causal. Estrito cumprimento Exigibilidade de
acabada, em que o agente esgota toda sua capacidade ofen- de dever legal. conduta diversa.
siva, mas que não produz nenhum resultado naturalístico.
30. Crime exaurido: é o crime em que o agente o con- Tipicidade. Exercício regular de
suma e, logo após, vem a agredir o mesmo bem jurídico, Direito.
lesionando-o, contudo, não representa irrelevante penal,
como no caso de furtar um celular de alguém e, logo após, Elementos ou Requisitos do Fato Típico
destruí-lo. Nessa situação, o agente só responderá pelo furto.
31. Crime unissubsistente: é aquele em que, com um Conduta: é a ação ou omissão, consciente e voluntária,
único ato, ele se perfaz, como no caso da injúria verbal. manifestada no mundo exterior, dirigida a uma finalidade.
32. Crime plurissubsistente: é aquele em que, para se (CAPEZ).
consumar, depende da realização de mais de um ato, como O conceito de conduta evoluiu durante os séculos atra-
no estelionato. vessando várias teorias quais sejam: Teoria Naturalista ou
33. Crime vago: é aquele em que o seu sujeito passivo Causal ou Clássica, Teoria NeoKantista ou Causal-Valorativa
é a coletividade, por não ter personalidade jurídica, como ou Neoclássica, Teoria Finalista, Teoria Social da Ação, Teoria
o ato obsceno. Funcional e Teoria Constitucionalista do Delito (elaborada
34. Crime multitudinário: é aquele cometido por tumul- por Luiz Flávio Gomes).
to, como o linchamento.
35. Crime de opinião: é aquele decorrente do abuso de a) Teoria Naturalista ou Causal ou Clássica
liberdade de expressão, como o crime de injúria. • Concebida no século XIX, por Liszt e Beling, perdurou
36. Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado: até o século XX, com a chegada do finalismo.
é aquele em que o próprio tipo já o descreve de várias • O momento histórico era o fim do absolutismo monár-
modalidades de realização, como no caso de induzimento, quico e domínio do positivismo, em que havia forte
instigação ou auxílio ao suicídio. influência das ciências físicas e naturais.
37. Crime habitual: é todo aquele que só pode se con- • A sociedade vinha de um histórico em que o Estado
sumar se houver habitualidade na conduta. era submetido ao império de uma pessoa e agora com
38. Crime de ímpeto: é aquele cometido por um mo- o positivismo passou ao império da lei.
mento de impulsividade. • Neste contexto político nasceu a Teoria Naturalista,
39. Crime funcional: é aquele em que o sujeito ativo é em que pouco havia para se interpretar a norma. A lei
funcionário público. era para ser cumprida. Portanto crime era aquilo que
o legislador dizia sê-lo e ponto final.
Infração Penal (arts. 13 a 22) • O conceito de fato típico era o resultado de uma sim-
ples comparação objetiva com o que fora praticado,
Infração penal significa ofensa real ou potencial a um com o que se encontra descrito em lei. Não havia
Noções de Direito Penal

bem jurídico, levando-se em consideração os elementos nenhuma apreciação subjetiva.


subjetivos do tipo, a ilicitude e a culpabilidade.15 • Segundo essa teoria, o conceito de conduta é a ação
Em linhas gerais, infração penal se refere a crime, o qual ou omissão voluntária e consciente que exterioriza
pode ser conceituado sob dois aspectos: o material e o movimentos corpóreos. Ela é meramente neutra, ou
formal ou analítico. No material, o crime se relaciona a um seja, sem qualquer valoração, não se analisando neste
comportamento humano voluntário ou descuidado, que lesa momento a finalidade do agente.
ou expõe a perigo bens jurídicos colocando a coletividade • O crime estava dividido em dois momentos: Parte
ou sociedade em desarmonia. Sob o aspecto formal ou ana-
Objetiva, ou também chamada de externa (era o
lítico, o crime seria todo fato que subsumiria a uma norma
preestabelecida num ordenamento jurídico. chamado injusto penal formado pelo fato típico e anti-
juridicidade) e a Parte Subjetiva ou também chamada
Funcab/PC-ES/Escrivão de Polícia/2013.
15 de interna (culpabilidade).

23
• O fato típico era oco, sem valoração. A conduta era a -normativa. A culpabilidade passou a ser formada de
exteriorização de movimentos corpóreos que causava imputabilidade, dolo normativo (vontade, consciência
um resultado. O fato típico era meramente descritivo. de praticar elementos do tipo e consciência da ilicitude
Para um fato ser típico somente interessava quem real e atual) e exigibilidade de conduta diversa. Assim,
tinha causado o resultado e se este resultado estava os elementos normativos são: consciência da ilicitude
previsto em lei. Se um suicida pulasse em frente a um no dolo e a exigibilidade de conduta diversa.
carro e morresse, o motorista teria praticado um fato • O erro de tipo continua sendo tratado como causa de
típico. Na parte subjetiva do crime é que se discutiria excludente da culpabilidade. Da mesma forma a inim-
se houve intenção de matar ou não. putabilidade, o erro de proibição e a inexigibilidade de
• A ilicitude era objetiva, traduzida como a contrariedade conduta diversa.
ao Direito. Não havia a necessidade que o agente esti- • Nesta fase há uma teoria unitária do erro, pois tanto o
vesse atuando com consciência da causa de exclusão erro de tipo como o erro de proibição excluem o dolo
de ilicitude. Era definida por exclusão: todo fato típico que aqui é normativo, pois contém a consciência da
que não fosse acobertado por uma causa de exclusão ilicitude.
de ilicitude era um fato ilícito. Estávamos diante do • Assim, segundo a Teoria Neoclássica, descobriu-se que
injusto penal. o tipo penal continha elementos objetivos, normativos
• Assim, a ação era desgarrada de qualquer finalidade. e subjetivos, todavia não se transportou o dolo e a
Se havia uma modificação no mundo exterior por culpa da culpabilidade para o fato típico.
obra da conduta, havia nexo de causalidade. Se este
fato estivesse tipificado em lei havia fato típico. Se a c) Teoria Finalista
conduta não estivesse amparada por uma causa de • Reação a Teoria Naturalista. Preconizada por Welzel,
excludente de ilicitude, estávamos diante da parte no final de 1920 e início de 1930.
objetiva completa de um crime. • Welzel parte do pressuposto que o delito não poderia
• A culpabilidade era psicológica, formada apenas: pela ser mais qualificado a partir de um simples desvalor
finalidade do agente (dolo e a culpa) e a imputabi- do resultado, sendo primeiro um desvalor da conduta.
lidade. Assim a ausência de dolo ou culpa excluía a Segundo exemplo de Fernando Capez, matar alguém
do ponto de vista objetivo, configura sempre a mesma
culpabilidade. O dolo era natural, formado de: vontade
ação. Todavia matar alguém para vingar o estupro da
e consciência de praticar os elementos do tipo.
filha é diferente de matar por dinheiro. A diferença está
Assim, a culpabilidade era concebida como o vínculo
no desvalor da ação, já que o resultado em ambos os
psicológico que une o autor ao fato.16
casos foi o mesmo: a morte.
• O erro de tipo excluía o dolo, sendo tratado como causa
• Assim dependendo de elemento subjetivo do agente,
de excludente de culpabilidade. ou seja, a sua finalidade mudará a qualificação jurídica
• Nesta fase a concepção bipartida de crime era incabí- do crime. Portanto o dolo e a culpa estão na própria
vel, uma vez que não se pode admitir um delito sem conduta. Com a mera observação externa não se pode
dolo ou culpa. Como estes elementos se encontravam concluir qual crime foi praticado. Ex.: um médico apal-
na culpabilidade, esta necessariamente deveria ser pa um a mulher despida. Sem a análise da finalidade
elemento do crime. Assim a teoria adotada era a Tri- não é possível saber se estamos diante do tipo penal
partida. de atentado violento ao pudor ou de um simples exa-
me, fato atípico. Da mesma forma em atropelamento,
b) Teoria Neokantista ou Causal-Valorativa ou Neoclássica não se sabe se decorreu de uma imprudência ou da
• É uma reação a teoria clássica, pois afirma que o vontade de matar.
tipo penal não é somente descritivo de uma conduta • A conduta, portanto é conceituada como a ação ou
reprovável. A definição de crime como composto de omissão voluntária, voltada a uma finalidade do agente.
elementos puramente objetivo (fato típico e ilícito) e • O dolo e a culpa saem da culpabilidade e passam a
elemento subjetivo (culpabilidade) é questionado. integrar a conduta. O dolo deixa de ser normativo e
• Em 1915, Mezger afirma que alguns tipos penais eram volta a ser natural, composto de vontade e consciência
compostos além de componentes objetivos, de subjeti- de praticar os elementos do tipo.
vos (“para si ou para outrem”, “com o intuito de” etc.) e • A ilicitude continua sendo a contrariedade ao Direito.
normativos (“ato obsceno”, “documento”, “coisa alheia”). Constitui um desvalor sobre o fato típico. Em princípio
• A conduta não era neutra, como afirma os causalistas, todo fato típico é ilícito. A tipicidade é ratio cognoscendi
e sim expressava uma valoração. da ilicitude, ou seja, é critério indicador da ilicitude.
• Mezger afirma que na análise do revogado tipo penal O fato típico somente não será ilícito se o agente atuar
da rapto para fins libidinosos (“raptar + mulher honesta sob o abrigo de uma causa de excludente de ilicitude
+ com fim libidinoso”) era impossível uma mera com- (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cum-
paração externa do fato concreto com a norma. Há a primento do dever legal e exercício regular do Direito).
necessidade de um outro tipo de análise. • A culpabilidade é a reprovação social da conduta do
Noções de Direito Penal

• Assim concluiu-se que o tipo penal não era composto agente. O dolo e a culpa deixam de ser seus elementos
somente de elementos objetivos, mas havia a presença e passam a integrar a conduta. A culpabilidade passa
de elementos normativos e subjetivos. a ser normativa pura composta de: imputabilidade,
• A ilicitude não era puramente formal. Nasce o tipo do potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
injusto: a tipicidade perde sua autonomia e é inserida conduta diversa.
na antijuridicidade (ratio essendi). • O erro de tipo passa a excluir o fato típico e o erro de proi-
• Frank, em relação à culpabilidade, em 1907, descobriu bição a culpabilidade. Excluem também a culpabilidade,
a existência de elementos normativos. Assim a culpabi- a imputabilidade e a inexigibilidade de conduta diversa.
lidade deixa de ser psicológica e passa a ser psicológico- • O atual Código Penal Brasileiro adotou a teoria finalista
da ação. Em seu art. 18, I e II, expressamente reconhece
UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013.
16 que um crime é doloso ou culposo, desconhecendo a

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nossa legislação a existência de um crime em que não deve compelir o legislador a retirar a norma do
haja dolo ou culpa. ordenamento jurídico.
• O art. 20, caput, do CP, afirma que o erro incidente c) O termo “relevância social” é extremamente vasto,
sobre os elementos do tipo exclui o dolo, o que de- podendo abarcar fenômenos diversos.
monstra que este último pertence ao fato típico. d) O nosso ordenamento jurídico prevê para diversas
• Críticas: há três hipóteses em que o CP não é finalista: situações o estrito cumprimento do dever legal e o
a) Crime impossível: o CP adotou a Teoria Objetiva exercício regular do Direito.
temperada. Se houver absoluta ineficácia do meio e) Concentra enorme subjetivismo nas mãos do julga-
ou do objeto, o fato será atípico. Todavia segundo dor, o que gera uma enorme insegurança e contraria
a teoria finalista a ação dirigida a uma finalidade o princípio da taxatividade.
(ex.: matar alguém) deve ser punida. Welzel adotou f) Conclui-se, portanto, que a Teoria Social da Ação
a Teoria Subjetiva, encontrada no CP Alemão, pois pretendeu ir além da Teoria Finalista, todavia ao
se alguém tenta matar um cadáver responderá pelo privilegiar o resultado socialmente relevante, regre-
crime tentado. diu a Teoria Causalista, pois enfatizou o desvalor do
b) A pena da tentativa: o CP adotou a Teoria Objetiva, resultado deixando de lado o desvalor da ação.
em que a pena da tentativa é menor que a pena do
crime consumado. Segundo a Teoria Finalista de e) Teoria Funcional
Welzel, a teoria a ser adotada deveria ser a Subje- • Não se trata de uma Teoria da Conduta, e sim, de uma
tiva, uma vez que se deve prestigiar o desvalor da análise de toda a Teoria Geral do Crime. Tal teoria tenta
ação de não o desvalor do resultado. O Código Penal explicar o Direito Penal a partir de suas funções. Há
Militar Brasileiro adotou em relação a tentativa a duas concepções em relação a essa teoria: segundo
Teoria Subjetiva. Roxin e segundo Jakobs.
c) Concurso de pessoas: o CP adotou a Teoria Restritiva • Com Roxin, em 1970, nasce o funcionalismo teleoló-
em que o mandante é considerado partícipe. Para gico, que analisa a Teoria Geral do Crime não a partir
Welzel a teoria a ser adotada é a Teoria do Domínio da dogmática e do tecnicismo jurídico, e sim, a partir
Final do Fato. de políticas criminais.
• O Estado deve, em primeiro lugar, estabelecer qual
d) Teoria Social da Ação a sua estratégia de política criminal, tendo em vista
• Preconizada por Hans-Heinrich Jescheck, afirma aceitar
a defesa da sociedade, o desenvolvimento pacífico e
a Teoria Finalista da Ação, todavia acrescentado a ela
harmônico entre os cidadãos e a aplicação da justiça
a visão do impacto social da conduta praticada.
ao caso concreto. A subsunção formal do fato concreto
• Para Jescheck, um fato quando for considerado por
e a norma pouco valem aos fins de Direito Penal.
uma sociedade como normal, correto e justo, não
• A conduta para essa teoria não pode ser entendida
poderá ao mesmo tempo ser enquadrado como um
somente em sua concepção finalista, mas inserida
fato típico.
• Assim, para Jescheck, a conduta é toda ação ou omis- dentro de um contexto social. Se o Direito Penal tem
são com a finalidade de causar um resultado típico a função de proteger bens jurídicos, somente haverá
socialmente relevante. Tal pensamento foi por ele crime quando tais valores forem lesados ou expostos
denominado de Teoria da Adequação Social. a lesão.
• Para esta teoria, todo fato típico possui uma elementar • Assim, Roxin passa a considerar a Teoria Geral do Crime
implícita, não escrita, que consiste na repercussão do a partir de dois aspectos: a separação da causação
dano na coletividade. Se a conduta for socialmente da imputação e aplicação da política criminal como
aceita, não há que se falar em fato típico. norteadora do conceito de crime.
• Atenção: não confundir adequação social com princípio • CRIME = FATO TÍPICO + ILÍCITO + RESPONSABILIDADE
da insignificância: este o fato é atípico porque o bem (CULPABILIDADE e NECESSIDADE CONCRETA DA PENA).
jurídico tutelado sofreu uma lesividade ínfima na ade- • É a aplicação do princípio da insignificância.
quação social a conduta é atípica porque a sociedade • Com Jakobs, em 1984, nasce o funcionalismo-sistêmi-
deixou de considerá-la injusta. co, em que afirma que o Direito Penal não existe para
• Portanto, para a Teoria Social da Ação, somente será simples proteção do bem jurídico. Sua função é cuidar
crime aquelas condutas voluntárias que produzam re- da vigência da norma e da estabilidade do Direito
sultados típicos de relevância social. As ações humanas Penal. Não se deve preocupar-se com o conteúdo da
que não produzirem um dano socialmente relevante norma, mas, sim, com o seu cumprimento, de forma a
e se mostrarem ajustadas à vida social num determi- manter a estabilidade do sistema. Assim, o crime não
nado momento histórico não podem ser consideradas tem a finalidade de proteção a bens jurídicos, e sim,
crimes. conservar o sistema e a norma. Aquele que descumpre
• Jescheck exemplifica a sua teoria: ferimentos produzi- a norma e pratica um crime desestabiliza o sistema e
Noções de Direito Penal

dos em uma luta entre profissionais do boxe. A conduta deve ser retirado dele. A finalidade da pena é exercitar
a despeito de ser voluntária e finalística produz um a confiança despertada pela norma, não havendo que
resultado típico e aceito socialmente. Assim, conclui se falar em aspecto retributivo. É o chamado Direito
que se trata de um fato atípico. Penal do Inimigo.
• Críticas
a) Mutação de critérios de justo e injusto na evolução f) Teoria Constitucionalista do Delito (Luiz Flávio Gomes)
dos costumes. • Luiz Flávio Gomes, baseado em Munhoz Conde e Silva
b) O nosso ordenamento jurídico no art. 2º da LICC Sanches (doutrinadores espanhóis) constrói um con-
afirma que o costume, ainda que contrário à lei, não ceito analítico tripartite. Ele chama o crime de injusto
a revoga. Da mesma forma, não é dado ao julgador punível. Para ele, a Teoria Geral do Crime, ou melhor,
revogar regras editadas pelo legislador. O desuso do injusto punível consiste em:

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• INJUSTO PUNÍVEL = FATO TÍPICO + ILÍCITO + PUNIBILI- Crimes Omissivos Crimes Omissivos
DADE ABSTRATA. Próprios Impróprios
• Fato típico é: conduta, resultado, nexo causal e tipicida-
Omissão prevista no tipo Omissão não prevista no
de penal. A TIPICIDADE PENAL = TIPICIDADE FORMAL
penal. tipo penal.
+ TIPICIDADE MATERIAL. A tipicidade formal é a ade-
quação do fato a lei. A tipicidade material é: Existência Agente não tem o dever Agente tem o dever jurídico
de um resultado jurídico (lesão ou perigo de lesão ao jurídico de agir. de agir.
bem jurídico); Imputação objetiva da conduta (criação Crime de mera Conduta. Crime Material.
de um incremento de um risco proibido penalmente Não cabe tentativa nem Comporta tentativa. Não com-
relevante); Imputação objetiva do resultado (cone- concurso de agentes. porta concurso de agentes.
xão direta com o risco criado e esteja o resultado no
âmbito de proteção da norma); Imputação subjetiva 3) Consciente e Voluntária: possibilidade, ainda que
(dolo e culpa e outros eventuais requisitos subjetivos mínima de escolha consciente.
especiais). • Haverá vontade: atos impulsivos (emoção e paixão),
• Ilicitude: é a contrariedade da conduta com o ordena- atos automáticos, atos de inimputáveis, coação moral
mento jurídico. irresistível (há conduta o que não há é culpabilidade),
• Punibilidade abstrata: existência de um fato formal- atos instintivos.
mente ameaçado por uma pena. • Não haverá vontade: atos inconscientes (sedado, hip-
• A culpabilidade está fora do Direito Penal. É o juízo de notizado, sonâmbulos), atos reflexos (susto), atos de
reprovação do agente. É o elo entre o delito e a pena. caso fortuito, força maior e coação física.
Passemos a analisar cada uma das partes do conceito 4) Manifestado no mundo exterior: ao Direito, só importa
de conduta: “é a ação ou omissão, consciente e voluntária, o que é externado. O pensamento ou a mera vontade não
manifestada no mundo exterior, dirigida a uma finalidade”. configuram crime.
(CAPEZ).
5) Dirigida a uma finalidade: segundo a Teoria Finalista
da Ação, adotada por nosso Código Penal, o dolo e a culpa
1) Ação: comportamento positivo. Toda ação no Direito
encontram-se na conduta.
Penal deve ser revestida de dolo ou culpa.
2) Omissão: o comportamento negativo pode gerar duas
Resultado: é a modificação do mundo exterior decor-
hipóteses de crime:
• Crime omissivo próprio: inexiste o dever jurídico de agir. rente de um comportamento, ou seja, é onde se chegou
Assim para a omissão ter relevância causal com o resul- devido à conduta delituosa. A Teoria Naturalística classifica
tado deve haver um tipo incriminador descrevendo a os crimes em:
omissão. Ex.: crime de omissão de socorro, art. 135 CP. • Crimes materiais: é aquele que o tipo penal prevê
• Crimes omissivos impróprios (omissivos impúrios, conduta e resultado e o crime se consuma com a ocor-
espúrios ou comissivos por omissão): o agente possui rência do resultado. Ex.: homicídio (a conduta é matar
o dever jurídico de agir previsto em uma norma e se e o resultado é a morte. O crime somente se consuma
omite. Há uma norma dizendo o que deve ser feito, com o resultado morte).
criando uma relação causal. Omitindo-se, responderá • Crime formal: é aquele que o tipo penal prevê conduta
pelo resultado ocorrido. O art. 13 § 2º descreve quem e resultado e o crime se consuma com a ocorrência da
são as pessoas que possuem o dever jurídico de agir: conduta. Ex.: extorsão mediante sequestro. São tam-
a) Dever legal: quando houver determinação especí- bém chamados de crimes incongruentes (a conduta é
fica em lei, ex.: pai, mãe, policial, bombeiro – mãe a privação da liberdade, o resultado é a obtenção do
deixa de amamentar o filho e este morre. resgate. Assim, com a privação da liberdade o crime
b) Dever do garantidor: quando o omitente assumiu já se consuma, independentemente da obtenção do
por qualquer modo a obrigação de agir, podendo ser resgate, sendo este chamado exaurimento do crime).
obrigação contratual ou extracontratual. Ex.: olha • Crime de mera conduta: é aquele que o tipo penal
meu filho para mim que eu vou dar um mergulho, somente prevê a conduta e com a sua prática ocorre
e a pessoa se distrai e a criança morre afogada. a consumação. Não há previsão de um resultado natu-
c) Dever por ingerência da norma: com o seu compor- ralístico. Ex.: porte ilegal de arma (a conduta é portar
tamento anterior criou o risco. Ex.: “A” joga “B” na arma sem possuir a permissão para tanto. O crime não
piscina e não procura salvá-lo, vindo “B” a falecer. prevê resultado, consumando-se, assim, com o simples
porte de arma ilegal).
Nos três exemplos, a mãe, o desconhecido e o “A” têm
o dever jurídico de agir, e se omitiram, respondendo, então, Nexo de causalidade: assim como no resultado, o nexo
pelo resultado ocorrido, qual seja a morte, e, portanto, pelo causal só pode ser verificado nos crimes materiais. É a re-
crime de homicídio, e não pelo crime de omissão de socorro. lação objetiva de causa e efeito existente entre a conduta
Noções de Direito Penal

Para finalizar o entendimento, observe o exemplo a se- e o resultado naturalístico, averiguando-se se a conduta foi
guir: Maria está passeando no parque e avista uma criança se a causadora do resultado. A sua verificação atende apenas
afogando, e nada faz, vindo a criança a morrer. Como Maria as leis da física, mais especificamente da causa e efeito. Por
não está relacionada entre as pessoas que têm o dever jurí- esta razão a sua aferição independe de qualquer apreciação
dico de agir, responderá pelo crime de omissão de socorro jurídica, da verificação de dolo ou culpa. Ex.: motorista diri-
qualificado pela morte, classificado como crime omissivo gindo prudentemente atropela pedestre que atravessa a rua
próprio. Todavia, se um bombeiro avista uma criança se sem olhar. Mesmo sem atuar com dolo ou culpa o motorista
afogando, e nada faz, vindo a criança a morrer, como há o deu causa ao resultado. A teoria adotada pelo nosso CP é a
dever jurídico de agir, responderá o bombeiro pelo resultado Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais: segundo
ocorrido, ou seja, pelo crime de homicídio, classificado aqui essa teoria, toda e qualquer conduta que de algum modo,
como crime omissivo impróprio. ainda que minimamente tiver causado o resultado, será

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causa. É também conhecida como a Teoria da conditio sine material. Ao somatório de tais tipicidades, dá-se o nome de
qua non. Temos como espécies de causas: dependentes: é tipicidade conglobante.
aquela que se origina na conduta e independentes: é aquela
que foge ao desdobramento causal da conduta, produzindo Tipicidade conglobante = Tipicidade formal + Tipicidade
por si só o resultado. As causas ou concausas absolutamente material.
independentes e as causas relativamente independentes • Tipicidade formal: verifica-se se a conduta praticada
constituem limitações ao alcance da teoria da equivalência amolda-se a um tipo penal.
das condições.17 Quanto às causas independentes podemos • Tipicidade material: verifica-se se a conduta praticada
classificá-las em: ofende a bens considerados relevantes para a legisla-
ção penal.
a) Causas absolutamente independentes podem ser
(exemplos segundo Capez): Ex.: “A” subtrai uma caneta de “B”. A conduta de sub-
• Preexistente: existe antes da conduta ser praticada trair um patrimônio alheio amolda-se ao crime de fur-
e atua independentemente de seu cometimento de to, portanto, temos a tipicidade formal. Todavia, a sub-
maneira que com ou sem ação o resultado ocorreria. tração de uma caneta, lesiona de forma insignificante
Ex.: A aguarda B sair de casa para atirar nele. A atira o patrimônio alheio, aplicando-se, assim, o princípio
e B morre. Causa da morte envenenamento ocorrido da insignificância. Portanto, temos no exemplo acima
anteriormente. B estava com depressão e tomou ve- a tipicidade formal, mas não a material, e então, não
neno. há que se falar em tipicidade conglobante, tendo em
• Concomitante: não tem qualquer relação com a con- vista que esta é a somatória daquela.
duta e produzem o resultado independentemente
desta, no entanto por coincidência, atuam no mesmo O tipo penal passa por três momentos distintos: no
momento. Ex.: no momento que A atira em B, B está primeiro, procura-se, tão somente, verificar se a conduta
sofrendo um infarto. Causa mortis: infarto. praticada pelo agente encontra-se descrita na norma penal;
• Superveniente: atuam após a conduta. Ex.: A queren- no segundo, procura-se verificar se a conduta praticada pelo
do matar B coloca veneno em seu copo. B toma e sai agente tem comportamento ilícito, ou seja, procura-se veri-
para trabalhar. Antes que o veneno faça efeito, B ao ficar se o caráter da conduta tem indício de antijuridicidade
atravessar a rua é atropelado por um ônibus. Causa (tipo como ratio cognoscendi – tipo como razão indiciária
mortis: atropelamento. da ilicitude); no terceiro, há uma fusão entre a tipicidade e
a antijuridicidade, ou seja, não existe fato típico se a con-
Consequências: rompe o nexo causal e o agente somente duta praticada pelo agente é permitida pelo ordenamento
responde pelos atos até então praticados. Nos três exem- jurídico. Sendo assim, quem atua de forma típica também
plos, A não deu causa à morte de B, portanto responde por atua antijuridicamente, enquanto não houver uma causa
homicídio tentado. de exclusão do injusto. Havendo causa justificativa, elas
atingem não só a tipicidade da conduta, mas, também,
b) Causas Relativamente Independentes a antijuridicidade. No terceiro momento o tipo passa a ser
São elas: a razão de ser da ilicitude (ratio assendi). Em decorrência
• Preexistente: atuam antes da conduta. Ex.: A desfere da ratio assendi surge a teoria dos elementos negativos do
uma facada no braço de B, com o intuito de lesionar, tipo, ou seja, sempre que a conduta do agente não é ilícita
todavia B é hemofílica e vem a falecer em face da não existe o próprio fato típico, tendo em vista que a anti-
conduta somada à contribuição de seu peculiar estado juridicidade integra o tipo penal e a existência de causas de
fisiológico. justificação faz desaparecer a tipicidade. Em outras palavras,
• Concomitante: A atira na vítima que, com o susto, sofre os pressupostos das causas de justificação nada mais são do
um ataque cardíaco e morre. O tiro provocou o susto que elementos negativos do tipo, os quais, quando faltarem,
e, indiretamente, a morte. A causa da morte fora a tornam-se possível fazer um juízo definitivo sobre a antiju-
parada cardíaca. ridicidade do fato. Os elementos negativos do tipo são as
• Superveniente: A colide no carro de B, causando-lhe causas de justificação, uma vez que eles integram o tipo e só
lesões. No caminho do hospital, a ambulância capota permitem que ele opere quando ausentes no caso concreto
e B morre. (Greco). Partindo-se do pressuposto de que se deve estudar
Obs.: em relação às causas relativamente indepen- a conduta típica concomitantemente com as suas causas jus-
dentes, preexistentes e concomitantes, não rompem o tificativas, surge a Teoria Finalista de Welzel afirmando que
nexo causal , respondendo o autor pelo resultado ocor- uma ação só pode ser convertida em um delito, se presentes
rido: Homicídio Consumado. Na causa superveniente, a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade, sendo que
se ela estiver na linha de desdobramento físico da ação cada elemento seguinte deve pressupor o antecedente. Para
(choque anafilático), responderá pelo crime na forma a Teoria dos Elementos Negativos do Tipo, ou o fato é típico
consumada, caso contrário, se não estiver na linha de e antijurídico, ou não é nenhuma coisa e nem outra. A partir
desdobramento (ambulância capotar), responderá do instante em que o agente realiza uma conduta típica sem
pelo crime ocorrido em sua forma tentada.
Noções de Direito Penal

nenhuma justificativa, faz surgir a ideia do injusto (injusto


penal ou injusto típico), que é a terceira fase da análise do
Tipicidade: em linhas gerais, a tipicidade nada mais é do delito. Enquanto os adeptos da Teoria dos Elementos Nega-
que a perfeita subsunção da conduta praticada pelo agente a tivos do tipo afirmam que a tipicidade e a antijuridicidade
um tipo penal incriminador. Em outras palavras, procura-se compõem a mesma fase do delito e a culpabilidade compõe a
verificar se a conduta do agente se amolda a alguma descri- segunda fase do crime, para a concepção tripartite bem como
ção trazida pela lei penal. Se a conduta é contrária à norma para a Teoria da Ratio Cognoscendi (ou Teoria Indiciária),
penal, ou seja, antinormativa, ter-se-á a chamada tipicidade
que é a que tem preferência da maioria dos doutrinadores,
formal. Se a conduta ofender a bens considerados relevan-
haveria três fases do crime: a tipicidade, a antijuridicidade
tes para a legislação penal, ter-se-á a chamada tipicidade
e a culpabilidade, esta sendo entendida como injusto típico
Cespe/PC-BA/Delegado de Polícia/2013.
17 ou injusto penal.

27
Em síntese, o  modelo clássico do finalismo de Hanz Para o Código Penal, ninguém pode ser punido por um
Welzel não se afasta da Teoria Indiciária, pelo contrário, fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosa-
prevalece em detrimento da Teoria dos Elementos Negativos mente, exceto se tal modalidade vier prevista em lei admitin-
do Tipo, uma vez que a tipicidade opera como um desvalor do a punição na forma culposa. Em outras palavras, a regra
provisório, que deve ser configurado ou descartado mediante é que todo crime é doloso, só podendo haver punição por
a comprovação de causas de justificação, em que o tipo nada crime culposo se houver previsão expressa em lei, ou seja,
mais é do que a razão indiciária da ilicitude (Greco). a culpa é exceção.
Em outras palavras, a  tipicidade poderia ser definida Partindo dessas premissas, sinteticamente, dois seriam
como a subsunção do fato à norma. É a integral correspon- os tipos de dolo:
dência do fato praticado com a conduta prevista no tipo a) direto (determinado): o agente quer, efetivamente,
penal. É a relação entre o fato e a descrição legal. Segundo cometer a conduta descrita no tipo penal incriminador, livre
Zaffaroni, o tipo penal é um instrumento legal, logicamente e conscientemente. Aqui, se adotada a Teoria da Vontade.
necessário e de natureza predominantemente descritiva, Exemplo: A atira em B, porque quer matá-lo.
que tem por função a individualização de condutas humanas b) indireto (indeterminado): divide-se em:
penalmente relevantes. 1) dolo eventual: embora o agente atue sem a vontade
A tipicidade conglobante seria a tipicidade formal asso- de efetivamente causar o resultado danoso, assumiu o risco
ciada à tipicidade material. de fazê-lo19. Aqui, encontra-se o dolo eventual, aquele em
Tipicidade formal (ou tipicidade legal) seria a subsunção que o agente assume o risco e antevê o resultado, mas tem
do fato à norma penal, ou seja, seria o ato antinormativo; já a dúvida quanto a sua efetivação. Adota-se a Teoria do Assen-
tipicidade material deve se atentar para a relevância do bem timento (ou Consentimento). Exemplo: A quer tirar um racha
jurídico lesado do caso concreto, a fim de que se aplique o com B e acaba por atropelar e matar C. A vontade de A era
princípio da insignificância. tirar um racha, mas assumiu o risco de atropelar e matar C.
O tipo penal pode ser básico ou derivado. Básico será 2) dolo alternativo: o agente dirige a sua ação a resultado
o tipo descrito na conduta proibida ou imposta pela lei incerto, não lhe importando qual venha ser o alcançado.
penal. Ex.: homicídio simples. Derivado são as descrições Exemplo: o agente atira para matar ou ferir a vítima.
complementares por circunstâncias que podem aumentar
ou diminuir a pena prevista para o tipo básico. Ex.: homicídio Crime Culposo
privilegiado, homicídio qualificado etc.
Também é relevante mencionar as chamadas elemen- Também dito quando não há intenção. No delito culposo,
tares do crime. Segundo Greco, elementares são figuras a conduta do agente é dirigida, em regra, a um fim lícito.
essenciais da conduta tipificada, sem as quais podem ocorrer Enquanto que no delito doloso, pune-se o agente pela ação
duas formas de atipicidade: absoluta ou relativa. A absoluta impulsionada para uma finalidade ilícita, no culposo, visto ser
ocorre quando, pela falta da elementar, o fato se torna um a finalidade geralmente lícita, pune-se o agente pelos meios
indiferente penal. Ex.: furtar coisa própria, pensando ser de empregados, já que desatendeu à obrigação objetiva de cui-
outrem. Neste caso o agente não pratica furto, por lhe faltar dado para não lesar a bens jurídicos de terceiros (Greco).
a elementar “coisa alheia móvel”, prevista no tipo. A relativa Já Mirabete define delito culposo como a conduta humana
passa a existir quando, pela ausência da elementar ocorre voluntária que produz resultado antijurídico não querido,
desclassificação do fato para uma outra figura típica. Ex.: mãe mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia,
que mata o próprio filho, logo após o parto, sem estar sob com a devida atenção, ser evitado. Os crimes culposos, por
influência do estado puerperal. Nessa situação, ela não irá sua natureza, são considerados tipos penais abertos, tendo
responder por infanticídio, mas, por homicídio. em vista que o texto não traz uma definição precisa que se
Em síntese, a atipicidade absoluta é um indiferente pe- adéque à conduta do agente ao modelo abstrato previsto
nal, enquanto que a atipicidade relativa é a desclassificação na lei. Aqui, a ação típica não está determinada legalmente,
do crime. contudo, não fere o princípio da legalidade, pois, impossível
é que a lei possa descrever com exatidão todos os compor-
Crime Doloso tamentos negligentes suscetíveis de se realizar.
No Direito Penal não existem compensação e nem
O dolo é a vontade livre e consciente de realizar a conduta presunção de culpas. O primeiro caso ocorre quando dois
prevista no tipo penal incriminador. Nos termos do CP, a carac- agentes, agindo de forma culposa, causam danos recíprocos,
terização de uma conduta dolosa prescinde da consciência ou
neste caso, cada agente responderá por sua conduta culposa,
do conhecimento da antijuridicidade dessa conduta e requer
independentemente da conduta do outro. No segundo caso,
apenas a presença dos elementos que compõem o tipo obje-
a culpa do agente deve ser sempre provada e nunca presu-
tivo.18 No Brasil, duas teorias são adotadas para explicá-lo: a
mida, tendo em vista o princípio da presunção de inocência.
Teoria da Vontade, que define o dolo direto, ou seja, aquele
Parte da doutrina tradicional e da jurisprudência brasi-
em que o agente quer levar a efeito a conduta prevista no tipo
leira admite coautoria em crime culposo. Quanto à partici-
incriminador; e a Teoria do Assentimento (ou consentimento),
pação, a doutrina é praticamente unânime: não é possível
que define o dolo eventual, ou seja, aquele em que o agente
nos crimes culposos. A verdade é que a culpa (como infração
não quer diretamente o resultado, mas o aceita de antemão.
Noções de Direito Penal

Aqui, atua com dolo aquele que, antevendo como possível o do dever de cuidado ou como criação de um risco proibido
resultado lesivo com a prática de uma conduta, mesmo não relevante) é pessoal. Doutrinariamente, portanto, também
o querendo de forma direta, não se importa com a sua ocor- não é sustentável a possibilidade de coautoria em crime
rência, assumindo o risco de vir a produzi-lo. culposo. Cada um responde pela sua culpa, pela sua parcela
Também chamado intencional, o dolo é a vontade livre de contribuição para o risco criado. A jurisprudência admite
e consciente de realizar a conduta prevista no tipo penal coautoria em crime culposo, mas tecnicamente não deveria
incriminador. Para Welzel, o dolo possui dois momentos, ser assim, mesmo porque a coautoria exige uma concordân-
sendo um intelectual (o sujeito decide o que quer) e um cia subjetiva entre os agentes (Luiz Flávio Gomes).
volitivo (o sujeito decide fazer o que queria).
Cespe/TC-DF/Procurador/2013.
18
Vunesp/PC-SP/Papiloscopista Policial/2013.
19

28
Observações b) negligência: deixar de praticar um ato que deveria
Faz-se mister ressaltar que a punição por dolo é a regra, ter sido praticado. Falta o comportamento esperado do
mas admite-se sanção por culpa. É caso excepcional, uma vez agente (conduta negativa, uma omissão). É considerada uma
que ela só é admissível quando a lei textualmente a prevê. inércia psíquica. Ex.: esquecer arma municiada em local de
fácil acesso;
Vários são os elementos que compõem o delito culposo. c) imperícia (falta de conhecimento técnico): prática de
São eles: um ato sem a devida aptidão, seja ela momentânea ou não.
• conduta humana voluntária, seja ela comissiva ou Há, nesse ato praticado, imprudência e negligência. Exemplo:
omissiva (geralmente dirigida a uma finalidade lícita); médico-cirurgião que comete um erro médico durante uma
• inobservância de um dever objetivo de cuidado (de- cirurgia. Observe que a imperícia está ligada a uma atividade
corrente de imprudência, negligencia ou imperícia,
profissional do agente.
causando, por consequência, danos a bens de terceiros);
• resultado lesivo não querido nem assumido pelo
agente (é necessário que cause resultado naturalís- Diferença entre Dolo Eventual e Culpa Consciente
tico, ou seja, alteração no mundo exterior para que
seja penalmente relevante)20; Em ambos os casos, o agente é capaz de prever o resultado
• nexo de causalidade (o resultado só será imputado ao lesivo. No dolo eventual, o agente não queria diretamente o
agente se a sua conduta lhe tiver dado causa); resultado, mas assume o risco de vir a produzi-lo. Ele não se
• previsibilidade (previsível é o resultado quando puder importa que o resultado ocorra. A ele é indiferente. Já na cul-
ser mentalmente antecipado por normal diligência do pa consciente, o agente espera sinceramente que não ocorra
agente). Observe que se o agente não puder prever o resultado. Na culpa consciente há superconfiança; no dolo
aquilo que é previsível, tem-se a culpa inconsciente, eventual, indiferença. Havendo dúvida na ocorrência de um ou
visto que, no caso da culpa consciente, o agente é capaz outro, deve-se optar pelo culposo (Princípio do in dubio pro reo).
de prever que o resultado possa ocorrer, mas acredita
sinceramente que não ocorrerá. A Doutrina divide a Culpa Imprópria
previsibilidade em objetiva e subjetiva. A objetiva É aquela em que o agente por erro de tipo inescusável
se refere a saber se é possível a uma pessoa comum (evitável) supõe estar diante de uma causa excludente de
prever o resultado naturalístico, pois, caso não seja licitude. Em virtude de erro evitável pelas circunstâncias,
possível, ou seja, se qualquer homem comum agisse o agente dá causa dolosamente a um resultado, mas res-
da mesma forma, não poderia ser imputado ao agente ponde como se tivesse praticado um delito culposo. É  a
o resultado. Já na previsibilidade subjetiva não se faz
chamada descriminante putativa prevista no art. 20, § 1º,
a substituição pelo homem médio. O que se analisa
do CP, em que traz que não há isenção de pena quando o
são as condições pessoais, particulares às quais estava
submetido o agente ao tempo da conduta realizada, erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
ou seja, consideram-se as limitações e experiências A culpa imprópria ocorre sob a forma de descriminante pu-
pessoais do agente no caso concreto (Greco); tativa, como, por exemplo, a legítima defesa putativa, que
• tipicidade (deve haver previsão legal expressa para tal constitui erro de tipo permissivo. A culpa imprópria também
modalidade de infração). pode ser chamada culpa por assimilação, por extensão ou
por equiparação, onde o agente age com dolo, quando o
Os crimes culposos decorrem de três fatores: erro é vencível, respondendo por um crime culposo. Parte
a) imprudência (ação descuidada): prática de ato que da Doutrina entende que se o ato é doloso, mas o crime é
não deveria ter ocorrido. É o desprezo pela conduta normal culposo, seria uma exceção no cabimento de tentativa em
(conduta positiva sem os devidos cuidados, que causa resul- crime culposo, contudo, o entendimento majoritário é que
tado lesivo previsível ao agente). É exteriorizada em um fazer. não se admite tentativa para os delitos culposos, tendo em
Exemplo: dirigir em alta velocidade. Outro exemplo: João, que vista que o primeiro elemento da tentativa é o dolo, àquele
nunca usou uma arma de fogo, manuseia uma e acaba por definido como a vontade livre e consciente de querer praticar
dispará-la, matando José, que a tudo assistia ao seu lado. infração penal. Como nos crimes culposos o agente não tem
Ao fazer isso, pratica uma conduta culposa imprudente.21 em sua conduta um fim ilícito, não cabe tentativa.

Dolo Direito Dolo Eventual Culpa Inconsciente Culpa Consciente


O agente prevê o resul- O agente prevê o resultado O agente possui previsibilidade, todavia O agente tem previsão do resul-
tado e quer o resultado. e assume o risco de produ- diante do caso concreto há ausência de tado, mas em momento algum
zir o resultado. previsão e o agente em nenhum mo- aceita a produção do resultado.
mento quis produzir o resultado.

Crime Consumado • execução: o bem jurídico tutelado começa a ser atin-


gido ou exposto a perigo. Coloca-se em prática aquilo
Consumado é quando nele se reúnem todos os elemen- que se programou;
tos de sua definição legal. Iter criminis é o caminho percorrido • consumação: é a realização de todos os atos contidos
Noções de Direito Penal

pelo crime desde sua idealização até sua consumação. Cinco no tipo penal. Normalmente o agente atinge o resul-
são as fases do iter criminis: tado a que se quis chegar.
• cogitação (cogitatio ): é a fase interna ao agente. São • exaurimento: é quando se esgota plenamente o delito.
os pensamentos, as maquinações;
• preparação (atos preparatórios): é munir-se de ape- Obs.: o exaurimento, de acordo com a doutrina domi-
trechos, ou seja, é a escolha dos meios utilizáveis na nante, é fase do iter criminis, embora, para muitos, não
produção do resultado; se enquadra, haja vista a possibilidade da consumação do
2021

Assunto cobrado na prova do Cespe/CNJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2013.


20

UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia Civil/2013.


21

29
crime sem o seu exaurimento, fato verificado nos crimes ratórios, a execução, a consumação e o exaurimento), como,
formais, como, por exemplo, o crime de extorsão, que se por exemplo, a ameaça verbal, que se consuma quando o
consuma mesmo que o autor não receba a vantagem inde- agente a profere e a vítima toma conhecimento da promessa
vida. O recebimento da vantagem indevida, aqui menciona- de um mau futuro, injusto e grave); omissivos próprios (pois
do, seria mero exaurimento. Só há se falar em iter criminis a omissão por si só configura o crime. Ex.: omissão de so-
quando se tratar de delito doloso, não existindo quando a corro); habituais próprios (pois só vai se configurar quando
conduta do agente for culposa. determinada conduta é reiterada pelo agente com habitu-
alidade. Ex.: rufianismo, uma vez que os atos isolados são
Em princípio, não há punição para a preparação. Excepcio- penalmente irrelevantes); contravenções penais (pois, por
nalmente, haverá se se tratar de formação de quadrilha ou crime se tratarem de delitos ditos menores, deixa de ser relevante
independente. Observe que a cogitação e preparação são fases para o Direito Penal a mera tentativa); permanentes na forma
internas de realização do crime e, como regra, são irrelevantes omissiva (pois não há iter criminis possível de diferenciar a
para Direito Penal, exceto quando o CP tipifica a simples cogita- preparação da execução. Ex.: carcereiro que recebe um alvará
ção e preparação como infrações de per si, autônomas, ou seja, de soltura e decide não dar cumprimento, deixando preso o
não se trata de mero ato preparatório, mas de crime autônomo. beneficiado. Aqui ele comete o crime de cárcere privado na
Ex.: incitação ao crime; quadrilha ou bando etc. modalidade omissiva, sem possibilidade de fracionamento);
condicionados (pois, para que se concretizem, submetem-
Obs.: vale ressaltar que a cogitação jamais poderá ser ob- -se à superveniência de uma condição. Ex.: o crime de
jeto de repreensão penal (cogitationis poenam nemo patitur). induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, que somente
se configurará se houver lesão grave ou morte da vítima).
Crime Tentado É de bom alvitre distinguir tentativa, de crime impossível.
Saliente-se que o CP adotou a Teoria Objetiva Moderada ou
Crime tentado é aquele que, iniciada a execução, não se Temperada pela qual só há crime impossível se a ineficácia do
consuma por motivos alheios à vontade do agente, também meio e a impropriedade do objeto forem absolutas; por isso,
denominado de tentativa idônea. O agente tem noção do que se forem relativas haverá crime tentado, como no caso de
quer, inicia sua prática a fim de obter o resultado típico, mas alguém que faz uso de revólver e projéteis verdadeiros que,
não consegue por algum fato alheio. entretanto, não detonam por estarem velhos; aqui, a inefi-
Como regra, a pena para o crime tentado é a mesma do cácia do meio é acidental e existe tentativa de homicídio.
crime consumado reduzida de um a dois terços. É salutar também relacionar a tentativa com o crime com-
plexo. É sabido que este se origina da fusão de dois ou mais tipos
A tentativa pode ser: penais. Também pode ocorrer quando um tipo penal funciona
• perfeita ou acabada: também conhecida como crime como qualificadora de outro. Em outras palavras, pode-se afir-
falho. Dá-se quando o agente pratica todos os atos
mar que no crime complexo a norma penal tutela dois ou mais
executórios, mas não se consuma o crime por questões
bens jurídicos. Ex.: extorsão mediante sequestro, o qual surge
alheias à sua vontade. Observe que aqui ele esgota
da fusão do “sequestro” e da “extorsão” e, portanto, tutela
toda sua capacidade ofensiva, porém o crime não se
o patrimônio e a liberdade individual. Outro exemplo seria o
consuma. Ex.: desferir todos os tiros de que dispõe
latrocínio, que é um roubo qualificado pelo resultado morte e,
contra a vítima, mas esta não vem a óbito;
assim, atinge também dois bens jurídicos, o patrimônio e a vida.
• imperfeita ou inacabada: ocorre quando não são
Sendo assim, embora exista o questionamento, vê-se,
praticados todos os atos executórios, que são inter-
aqui, que é perfeitamente possível a existência da tentativa
rompidos, geralmente por circunstâncias externas. Ex.:
em crime complexo.
o agente inicia atos de execução do crime de estupro,
mas, quando chega a polícia, ele empreende fuga; Sinteticamente, tentado é o crime em que, iniciada a exe-
• branca ou incruenta: a vítima sequer é atingida, não cução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
sofrendo qualquer dano. Não resulta nenhum tipo do agente. Veja a seguir quadros esquemáticos que tradu-
de lesão na vítima. Ela pode ser verificada tanto na zem, na sua essência, uma sutil diferença entre um crime
tentativa perfeita quanto na imperfeita; tentado e um consumado, mesmo tendo sido o resultado
• cruenta: a vítima é atingida, mas não da forma que almejado alcançado com a conduta delituosa.
pretendia o agente. Ex.: o agente, com animus necandi
(vontade de matar), dispara vários tiros, não mata a tentativa de
vítima, mas lhe causa lesões. Também se verifica na homicídio homicídio
tentativa perfeita e imperfeita;
• inidônea: também denominada crime impossível.
Verifica-se quando iniciada a execução, o crime jamais
se consumaria por ineficácia absoluta do meio (como
A B
usando arma desmuniciada para matar alguém) ou
por absoluta impropriedade do objeto (como tentando
Noções de Direito Penal

matar uma pessoa que já se encontra morta, fato este


desconhecido pelo agente).

Segundo o Mestre Guilherme de Souza Nucci, os crimes


que não admitem tentativas , dentre outros, são: os culposos
(pois o resultado é sempre involuntário); os preterdolosos C
(pois o resultado não advém de dolo. Ex.: lesão corporal
seguida de morte, vez que deve haver dolo no antecedente A e B, desconhecidos, atiram
e culpa no consequente); unissubsistentes (pois são consti- em C, mas o tiro que matou
tuídos de ato único, não admitindo iter criminis – fases pelas C foi o de A
quais o crime passa, quais sejam: a cogitação, os atos prepa-

30
quado ou inidôneo para alcançar o resultado criminoso) ou
tentativa de tentativa de por absoluta impropriedade do objeto (o objeto material do
homicídio homicídio
crime é absolutamente impróprio para que o ilícito se consu-
me), é impossível consumar-se o crime. Ineficácia absoluta
A B do meio pode ser exemplificada quando se tenta ceifar a
vida de alguém, utilizando-se de uma arma desmuniciada,
enquanto que absoluta impropriedade do objeto pode se
dar quando se tenta matar alguém que já está morto, sendo
tal circunstância desconhecida pelo agente, ou mulher que
ingere pílulas abortivas, pensando estar grávida, quando na
verdade não está.
C Em outras palavras, quando não existe a possibilidade
de o crime se consumar devido à ineficácia absoluta do
meio ou à absoluta impropriedade do objeto tem-se o
A e B, desconhecidos, atiram em C, mas não
crime impossível. Aqui, o agente não responde sequer pela
é possível provar de onde saiu o tiro que
matou C. Sendo assim, leva-se em tentativa. Veja que a ineficácia ou a impropriedade devem
consideração oo princípio
princípiodo
doin
indubio
dubiopro
proreu.
reu. ser absolutas para que o agente não seja punido, pois, se
relativas, haverá tentativa.
Nessa situação, não há que se falar em tentativa, já que a
conduta é considerada atípica.
a) ineficácia absoluta do meio: meio é tudo aquilo uti-
homicídio homicídio lizado pelo agente capaz de ajudá-lo a produzir o resultado
por ele pretendido. Ineficaz é aquele meio em que o agente
jamais conseguiria com a sua utilização atingir o seu intento.
A B Usar arma desmuniciada, quebrada ou de brinquedo para
praticar homicídio, acreditando que ela esteja em perfeito
funcionamento; ministrar açúcar no lugar do veneno para
praticar homicídio, acreditando ser, por exemplo, arsênico.
b) absoluta impropriedade do objeto (o objeto material
não existe ou até existe, mas não está no local do delito): ob-
jeto é tudo aquilo contra o qual recaia a conduta do agente.
C Impropriedade absoluta do objeto se refere à impossibili-
dade de se lesar o bem jurídico tendo em vista que ele não
A e B, conhecidos, atiram em C, após existe ou cuja lesão já se exauriu de forma absoluta. Matar
combinarem o crime. Nesse caso, há o o morto (tentar contra a vida de alguém que já está morto
concurso de pessoas, logo todos os acreditando que a pessoa esteja viva); usar pílula abortiva
participantes respondem pelo mesmo crime. acreditando que está grávida, quando na verdade não está.
Obs.: o Código Penal adotou a Teoria Objetiva Temperada
(os atos praticados pelo agente, só são puníveis se os meios
e os objetos são relativamente eficazes), pois, se a ineficácia
Elementos da Tentativa: for absoluta, será crime impossível. Se relativa, será tentativa.
Segundo a Súmula nº 145 do STF, “não há crime, quando
a) conduta dolosa; a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
b) prática de atos de execução; consumação”. Flagrante preparado é aquele em que o agen-
c) não consumação por circunstâncias alheias à vontade te é induzido a praticar uma conduta delituosa, ou seja, se
do agente (por interrupção dos atos executórios ou, mesmo não houvesse a ação do agente preparador (isca), não haveria
tendo sido utilizados todos os meios disponíveis, não ocorreu o crime, pois, se o agente não tiver qualquer possibilidade
o resultado pretendido). de chegar à consumação do delito, o crime será impossível.
Por fim, o crime impossível se difere do delito putativo.
Consequência da Tentativa No crime impossível, a  conduta do agente é descrita em
algum tipo penal, mas o resultado não ocorre por ineficácia
Aplica-se a mesma pena do crime consumado, reduzida absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto.
de 1/3 a 2/3.
Já no delito putativo, a conduta não é descrita em qualquer
Exceção: para o crime previsto no art. 352 do CP, em que
tipo penal, tendo em vista que o agente acredita está prati-
Noções de Direito Penal

a simples tentativa de fuga do indivíduo preso ou submetido


à medida de segurança faz com que a pena seja aplicada cando o crime, quando na verdade não está, por atipicidade
integralmente. Crime este em que a simples prática da ten- da conduta, ou seja, o delito putativo é considerado apenas
tativa é punida com as mesmas penas do crime consumado. um indiferente penal, como, por exemplo, vender chá pen-
É a chamada adequação típica de subordinação mediata ou sando ser maconha.
indireta.
Desistência Voluntária
Crime Impossível (tentativa inidônea ou quase-crime)
Também é conhecida por tentativa abandonada ou qua-
Segundo a legislação, não se pune a tentativa quando, lificada (ou ponte de ouro). O agente desiste voluntariamente
por ineficácia absoluta do meio (quando totalmente inade- de prosseguir na execução. Ele não esgota sua capacidade

31
ofensiva. Exemplo: o agente ministra veneno à vítima, mas, diferencia da desistência voluntária reside no momento em
quando esta vai ingerir, ele mesmo impede que ela sequer que o agente interrompe a conduta que era direcionada
venha a fazer uso de tal substância, interrompendo, assim para a produção do ilícito penal. Enquanto na desistência
sua ação delituosa. A desistência é voluntária, mas não voluntária, o processo de execução do crime está em curso,
precisa ser espontânea. O legislador não exige que a ideia no arrependimento eficaz a execução do crime já foi encer-
da desistência parta espontaneamente do agente, basta rada. Dessa forma, o agente só irá responder pelos atos já
que ele no momento em que interrompe a ação seja dono praticados, mas nunca pelo crime fim, na sua forma tentada.
de sua vontade. Ocorre inação do agente após o início da Em suma, havendo desistência voluntária ou arrependimento
execução do crime. Só pode ocorrer onde aconteceria a ten- eficaz, não se fala em tentativa. Pode-se concluir do referido
tativa imperfeita. O agente só responde pelos atos até então instituto (arrependimento eficaz): o agente impede que o
praticados. A desistência voluntária ocorre quando o agente resultado se produza. Ele esgota sua capacidade ofensiva;
já ingressou na fase dos atos de execução de um crime. se, no exemplo apresentado, a vítima sobreviver, o agente
O objetivo do instituto é impedir que o agente responda pela pode responder por lesão corporal ou periclitação da vida e
tentativa, portanto, quando se fala em o agente responder da saúde. Se a vítima não sobreviver, o agente responderá
somente pelos atos já praticados, não se está falando de por homicídio, mesmo prestando socorro; o arrependimento
tentativa, tanto é, que se a conduta antecedente, por si só, deve ser voluntário, não necessitando ser espontâneo. Deve
não configurar crime, o agente por nada responderá. A de- ser eficaz, pois, sendo ineficaz, poderá haver mera atenuante.
sistência voluntária se diferencia da tentativa, pois, nesta, Trata-se de uma ação que ocorre após iniciada a execução
o agente quer prosseguir na ação, mas não pode, enquanto e esgotados todos os seus meios. Só pode ocorrer onde
naquela, o agente pode prosseguir na ação, mas não quer. aconteceria a tentativa perfeita (ou crime falho).
Segundo entendimento majoritário, a natureza jurídica da Segundo Capez, para o item “arrependimento eficaz”,
desistência voluntária, é que se trata de causa que conduz deve-se observar:
à atipicidade do fato. • voluntariedade, mas não espontaneidade;
Segundo o ordenamento jurídico, o agente que volun- • deve ser eficaz. Se ineficaz, atenuante do art. 65, III, b
tariamente desiste de prosseguir na execução (interrompe do CP;
o processo de execução que iniciara por medo, decepção • trata-se de uma ação, depois que iniciada a execução
ou remorso) só responde pelos atos já praticados, se estes e esgotado todos os meios de execução;
• só pode ocorrer onde aconteceria a tentativa perfeita
constituírem crime. Ex.: A põe veneno na xícara de café que B
ou crime falho;
está utilizando. Porém, quando B vai tomar o café, A detém-
• responde pelos atos até então praticados.
-se abandonando a empreitada. Neste caso ele pode vir a
não responder por nada, já que a conduta, em tese, não
constituiria crime. Seria também exemplo de desistência Situação
Conduta Atitude Responde por
voluntária alguém que, visando a seu desafeto em parte vital da Vítima
do corpo (cabeça, tórax), desfecha-lhe um tiro que apenas Veneno Socorro Volun- Salvação Atos praticados
o fere levemente, e deixa de fazer novos disparos, embora tário
dispondo de outras munições em sua arma. Neste caso, Veneno Socorro Volun- Morte Homicídio
o agente iria responder apenas pelos atos já praticados, ou tário
seja, por lesões corporais leves.
Veneno Socorro Involun- Salvação Tentativa de Ho-
Segundo Capez, para o item “desistência voluntária”,
tário micídio
deve-se observar:
• voluntariedade, mas não se exige espontaneidade. Veneno Socorro Involun- Morte Homicídio
• inação do agente após o início da execução do crime. tário
• só pode ocorrer onde aconteceria a tentativa imper-
feita.
Obs.1: no caso de concurso de pessoas, ainda que um
• responde pelos atos até então praticados.
só deles desista voluntariamente ou se arrependa, os insti-
tutos da desistência voluntária ou do arrependimento eficaz
Arrependimento Eficaz
se aplicam a todos os envolvidos, desde que o crime não
ocorra. O mesmo se aplica ao arrependimento posterior.
Segundo o CP, só responde pelos atos já praticados o Observe que neste caso (arrependimento posterior) o crime
agente que impede que o resultado se produza, depois de já ocorreu.
realizados todos os atos necessários à consumação. Ex.:
semelhante à conduta descrita no exemplo da desistência Obs.2: tanto na desistência voluntária quanto no arre-
voluntária, mencionada anteriormente, porém, A  deixa B pendimento eficaz o  agente não responde por tentativa,
tomar o café envenenado, mas, de imediato, ele o socorre e mas pelos atos já praticados. Somente poderá responder
B, por essa atitude, vem a se salvar. Ressalte-se que se mesmo por tentativa no caso do arrependimento eficaz, quando o
assim B viesse a falecer, teria havido o arrependimento, mas, socorro for involuntário.
Noções de Direito Penal

por não ter sido eficaz, responderia A por homicídio doloso.


Frise-se, ainda, que, se a paralisação se deveu a ações Arrependimento Posterior
externas, não há que se falar em desistência voluntária
ou arrependimento eficaz, mas em tentativa, que é puní- Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à
vel. O  arrependimento eficaz, assim como a desistência pessoa (como no crime de furto, por exemplo), reparado o
voluntária, possui como natureza jurídica, para a maior dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia
parte da doutrina, causa que conduz à atipicidade do fato. ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será redu-
Este instituto ocorre quando o agente, após esgotar todos zida de um a dois terços. Note-se que alguns examinadores
os meios de que dispunha para chegar à consumação do trazem capciosamente a expressão “antes do oferecimento
crime, arrepende-se e atua em sentido contrário, evitando da denúncia”, o  que tornaria a questão errada, já que tal
a produção do resultado inicialmente pretendido. O que o momento é atribuição do Ministério Público e o primeiro

32
do magistrado. Ainda é de bom alvitre salientar que o texto, • reparação do dano ou restituição da coisa;
quanto ao arrependimento posterior, é bem claro quando • voluntariedade do agente;
aduz somente crimes praticados sem violência ou grave • até o recebimento da denúncia – sendo após, trata-se
ameaça à pessoa, portanto, para alguns crimes como roubo de atenuante genérica (art. 65, III, b do CP).
e extorsão, não há que se falar em arrependimento posterior.
O arrependimento posterior diferencia-se da desistência Erros no Direito Penal
voluntária e do arrependimento eficaz, pois, quando se fala em
arrependimento posterior, o resultado do delito já foi atingido. É a falsa ideia que se tem de fato ou circunstância.
A natureza jurídica do arrependimento posterior é ser causa de Na Legislação Penal brasileira, dois tipos de erros são
diminuição de pena. Tal instituto tem por objetivo beneficiar mencionados: o erro de tipo e o erro de proibição.
o infrator para que ele, em contrapartida, venha a reparar o
dano ou a restituir a coisa, beneficiando, também, a vítima. Erro de Tipo
O referido instituto cabe para qualquer crime que não exista
como elementar do tipo a violência ou a grave ameaça contra Há determinados crimes que trazem em sua conduta
a pessoa. Haverá, pois, arrependimento posterior: típica elementos constitutivos de sua estrutura que muitas
• somente para crimes em que não há emprego de vezes são mal compreendidos, fazendo com que o agente
violência ou grave ameaça à pessoa; pratique atos que julga serem ilícitos quando, na verdade,
• o agente deve reparar o dano ou restituir a coisa não o são. O  agente se engana sobre o fato, pensa estar
totalmente antes do recebimento da denúncia ou fazendo uma coisa e está fazendo outra. Exemplo: quem,
da queixa. Se depois, haverá apenas uma atenuante juntamente com servidor público, subtrai bem que estava
genérica (art. 65, III, b, CP); sob a guarda deste, sem, entretanto, saber a qualidade de
servidor de seu comparsa, não responderá por peculato, mas,
• o ato deve ser voluntário por parte do agente. Não
sim, apenas por furto. Uma outra situação poderia se dar no
necessita ser espontâneo;
caso de uma pessoa atirar em outra pensando se tratar de
• a pena será reduzida de 1/3 a 2/3;
um boneco de cera. O erro de tipo exclui o dolo, mas permite
• é um instituto que concede uma premiação àquele a punição por crime culposo.
que ainda, em tempo, se arrepende da conduta típica No erro de tipo, o agente acredita que sua conduta não
praticada. seja crime, supondo que a lei permita praticá-lo. Esse erro
exclui o dolo, mas permite punição na modalidade culposa.
Se o delito foi praticado em concurso de agentes, mas Em outras palavras, o erro de tipo pode ser traduzido como
apenas um deles resolveu restituir a coisa ou reparar o dano, a falsa percepção da realidade. O  erro de tipo pode ser
antes do recebimento da denúncia ou queixa, por ato volun- essencial ou acidental. A título de exemplo: João, ao sair
tário, o benefício da diminuição de pena se estenderá a todos do mercado, pega uma bicicleta idêntica à sua, que havia
os concorrentes do crime, porém, a reparação deve ser total estacionado do lado de fora do estabelecimento, e deixa o
e não parcial. Entretanto, se houver uma conjugação com o local conduzindo-a. Ao fazer isso, incide em erro de tipo.22
conformismo da vítima, poderá ser reconhecido o instituto
do arrependimento posterior. Essencial
O arrependimento posterior se difere do arrependimento
eficaz. Enquanto neste, o resultado do crime foi evitado, na- Incide sobre elementares, circunstâncias e pressupostos
quele, o resultado já foi produzido. Ainda, no arrependimento fáticos de uma justificante. A falsa percepção impede que
posterior, haverá diminuição de pena sob a condição de não ter o sujeito compreenda a natureza criminosa do fato. Ele se
sido praticado o ilícito penal com violência ou grave ameaça subdivide em:
à pessoa, enquanto que no arrependimento eficaz não existe a) Erro invencível, inevitável, escusável ou inculpável:
tal restrição. Por fim, no arrependimento posterior, há uma aquele que não poderia ser evitado por normal exigência, ou
redução obrigatória de pena, enquanto que no arrependi- seja, qualquer pessoa naquela situação incidiria no mesmo
mento eficaz, o agente só responde pelos atos já praticados. erro. Ele exclui o dolo e a culpa e o agente não responde
Não se pode também confundir os efeitos produzidos por crime algum23. Exemplo: matar um homem, numa ca-
pelo arrependimento posterior com os benefícios da repa- çada a animais, em local escuro, pensando tratar-se de um
ração dos danos previstos na Lei nº 9.099/1995, que trata animal feroz, desde que fique comprovado que o erro jamais
dos juizados especiais criminais. Neste, não importa se o poderia ser evitado.
crime foi cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, b) Erro vencível, evitável ou inescusável: aquele que po-
pois, havendo a reparação dos danos, haverá extinção da deria ser evitado, ou seja, uma outra pessoa, naquela situação,
punibilidade (art. 107, V, CP), enquanto que no arrependi- não incidiria no mesmo erro. Exclui o dolo, mas não a culpa,
mento posterior, além de o crime não poder ser praticado respondendo o agente culposamente pelo crime, se previs-
com violência ou grave ameaça à pessoa, não haverá ex- to em lei como ilícito penal24. Devem-se verificar, portanto,
tinção da punibilidade, apenas causa de redução de pena. as modalidades de negligência e imprudência, por tratar-se
Por fim, a causa de extinção da punibilidade prevista na Lei de crime culposo. Exemplo: na mesma situação hipotética
descrita no item anterior, contudo, seria o caso de o erro poder
Noções de Direito Penal

nº 9.099/1995, aplica-se aos crimes de ação penal privada


ou de ação penal pública condicionada à representação, ser evitado, já que houve imprudência por parte do agente.
exigência esta não relacionada ao arrependimento posterior. Acidental
Segundo Fernando Capez, o Arrependimento Posterior
é instituto que concede uma premiação àquele que ainda O erro acidental ou secundário refere-se a circunstâncias
em tempo se arrepende da conduta típica praticada. Tem situadas à margem da descrição do crime. Incide sobre da-
por Natureza jurídica uma causa de diminuição de pena. dos secundários do tipo penal, não impedindo que o sujeito
Estende-se aos coautores e partícipes. compreenda o caráter ilícito da conduta.
Requisitos:
• crimes cometidos sem violência ou grave ameaça a UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia Civil/2013.
22
23
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-BA/Delegado de Polícia/2013.
pessoa; 24
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-BA/Delegado de Polícia/2013.

33
a) Erro sobre o objeto (error in objecto): é o objeto É isento de pena quem, por erro plenamente justi-
material de um crime. Não exclui a tipicidade nem a pena. ficado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
O  agente imagina que sua conduta esteja recaindo sobre que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há
determinada coisa, mas, na verdade, está recaindo sobre isenção de pena quando o erro deriva culpa e o fato
outra. Exemplo: furtar açúcar pensando ser sal, ou furtar é punível como crime culposo.
uma lata de verniz pensando tratar-se de tinta, fato que não
altera a figura típica do furto. Na descriminante putativa por erro de tipo ou erro de
tipo permissivo, não há uma perfeita noção da realidade.
b) Erro sobre a pessoa (error in persona): é o erro na
O  agente imagina situação de fato totalmente divorciada
representação mental do agente. Não exclui a tipicidade da realidade na qual está configurada a hipótese em que ele
nem a pena. O agente atinge pessoa diversa, pensando estar pode agir acobertado por uma causa de exclusão de ilicitude.
atingindo aquela por ele pretendida. Irá responder levando- Ex.: A está em sua residência, à noite, quando um parente
-se em consideração todas as qualidades da pessoa contra seu, brincalhão, surge a sua frente disfarçado de assaltante.
quem o agente queria efetivamente atingir. Ex.: matar B, Imaginando uma situação de fato, na qual se apresenta uma
pensando tratar-se de A, fato que não altera a figura típica agressão iminente, o agente dispara, pensando estar agindo
do homicídio. Com isso, se o agente desejava matar um velho em legítima defesa. Consequência: se inevitável exclui o dolo
e vem a atingir pessoa diversa sem essa condição, ser-lhe-á e a culpa, e o agente não responde por crime algum. Se evi-
agravada a pena. tável, excluirá o dolo, mas o agente responderá pelo crime a
c) Erro na execução (aberratio ictus): o agente não se título de culpa, se prevista tal modalidade como crime.
confunde quanto à pessoa que pretende atingir, mas realiza No delito putativo (ou imaginário), o agente acredita que
o crime de forma desastrada. Não exclui a tipicidade do está cometendo um crime, quando, na verdade, sua conduta
fato. O agente atinge pessoa diversa da pretendida por erro é um irrelevante penal. Se o delito é putativo por erro de tipo,
de pontaria. Se o resultado for único (unidade simples), o crime é impossível, em face da absoluta impropriedade do
objeto, como no caso daquele que atira numa pessoa para
ou seja, o agente só atinge terceiro inocente, ao invés de
matá-la, sem saber que ela já estava morta.
atingir a vítima pretendida, responde pelo mesmo modo
que no erro sobre a pessoa, contudo, se o resultado for Erro de Proibição
duplo (unidade complexa), ou seja, o agente atinge tanto a
pessoa visada quanto a um terceiro inocente, aplicar-se-á a Nessa modalidade, o agente não se engana sobre o fato
pena do concurso formal, impondo-se a pena do crime mais que pratica, mas pensa erroneamente que o mesmo é lícito.
grave, aumentando-se de 1/6 até a metade. Se houver dolo Aqui, não se desconhece a lei, ao contrário, o agente acha que
eventual em relação ao terceiro inocente, aplica-se a regra a conhece, mas o faz erroneamente. É a interpretação leiga
do concurso formal impróprio ou imperfeito, onde as penas da lei. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta
serão somadas. de pena; se evitável, poderá diminuí-la de 1/6 a 1/3. Tal erro
d) Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis): não exclui o dolo nem o crime, pode excluir a culpabilidade
pune-se o agente a título de culpa pelo resultado diverso do e, em consequência, a pena. Exemplo: A subtrai algo de B,
pretendido. O agente atinge espécie de crime diferente da seu devedor, a título de cobrança forçada, pensando ser tal
que pretendia. Exemplificaria a conduta do agente que des- atitude lícita.
fere uma pedrada em um veículo tentando danificá-lo, mas, O erro de proibição, como regra, é excludente da cul-
acaba por atingir uma pessoa, ao invés de danificar o veículo. pabilidade. Ele pode se contrapor a um dos elementos da
As mesmas consequências previstas para o erro na execução, culpabilidade, a saber, a potencial consciência da ilicitude,
que se refere à possibilidade de que tem o agente de co-
quanto ao resultado simples ou duplo, são aplicadas. Aqui,
nhecer o caráter injusto do fato. Ele também é chamado de
o erro leva à lesão de um bem ou interesse diverso daquele erro sobre a ilicitude do fato. O agente age supondo que sua
que o agente procurava atingir. Pelo resultado não desejado conduta está de acordo com a lei. O desconhecimento da lei
o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime é inescusável, não se pode alegar a ignorância da lei dizendo
culposo. Se ocorrer também o resultado pretendido, aplica- que não a conhece.
-se a regra do concurso formal. Aqui, o agente acha que conhece a lei, mas o faz erro-
e) erro sobre o nexo causal (aberratio causae): dá-se neamente.
quando o agente, imaginando já ter consumado um crime, As consequências são:
realiza nova conduta, acreditando tratar-se, tão somente, de a) inevitável: isenta de pena o autor;
um mero exaurimento e, com esta atitude, é que, de fato, faz b) evitável: poderá a pena ser reduzida de 1/6 a 1/3.
consumar o crime. Esse erro pode ser também chamado de Exemplo: contrair novas núpcias sem estar divorciado, mas
dolo geral ou erro sucessivo. Não há exclusão do crime se o apenas separado judicialmente.
resultado desejado vier a ocorrer por uma outra coisa, dire-
tamente relacionada com a ação desenvolvida pelo agente. Descriminantes Putativas por Erro de Proibição
Luiz Flávio Gomes exemplifica a modalidade com a conduta
do agente que, depois de estrangular a vítima, crendo que Erro de proibição indireto ou descriminante putativa por
erro de proibição – o erro incide sobre os limites normativos
Noções de Direito Penal

ela está morta, enforca-a para simular um suicídio; todavia,


de uma excludente ou sobre a existência da justificante não
fica comprovado que a vítima na verdade morreu em razão reconhecida em lei. Aqui, diferentemente da descriminante
do enforcamento. Consequência: o agente irá responder por putativa por erro de tipo, há uma perfeita noção da realidade.
um só homicídio doloso consumado. Ex.: um senhor de idade é esbofeteado por um jovem e supõe
poder matá-lo em legítima defesa. Imagina, por erro, a exis-
Descriminantes Putativas por Erro de Tipo tência de uma causa de exclusão de ilicitude que, na verdade,
não existe. Consequência: as mesmas do erro de proibição.
As excludentes do crime são decorrentes de situações No delito putativo (ou imaginário), o agente acredita que
reais (legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, está praticando uma conduta delituosa, quando, de fato, não
exercício regular de direito e estado de necessidade). Con- está. Se o delito é putativo por erro de proibição, não há
forme o CP: crime, haja vista que a conduta do agente é perfeitamente

34
normal, embora para ele seja ilícita. É o caso, por exemplo, Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
do pugilista que nocauteia seu opositor, vindo este a experi- resultado não teria ocorrido.
mentar lesões graves. Para o nocauteador, ele praticou crime,
quando, na verdade, não o fez. Superveniência de causa independente
§  1º A superveniência de causa relativamente in-
Coação Moral Irresistível e Obediência Hierárquica dependente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto,
A coação irresistível trata-se de coação moral, pois a coa- imputam-se a quem os praticou.
ção física é excludente da conduta e, portanto, da tipicidade
do fato, já que o indivíduo, por si só, não agiria. Nessa coação Relevância da omissão
geralmente figuram três pessoas, vez que é constituída por § 2º A omissão é penalmente relevante quando o
ameaça feita ao agente, dirigida a um bem jurídico seu ou de omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
terceiro. Essas pessoas são o coator (quem dirige a ameaça), O dever de agir incumbe a quem:
o coacto (ou coagido, que sofre a ameaça) e a vítima (que a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou
suporta a ação criminosa). Permite-se que a própria vítima vigilância;
aja como coatora (quando a própria vítima ameaça o agente, b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de
obrigando-o a matá-la). Essa coação deve ser irresistível, ou impedir o resultado;
seja, não se poderia exigir do agente que, naquelas circuns- c) com seu comportamento anterior, criou o risco da
tâncias, agisse de forma diversa. Se a coação for resistível o ocorrência do resultado.
agente responde, mas pode ter sua pena atenuada. A coação Art. 14. Diz-se o crime:
moral irresistível é uma hipótese de autoria mediata, em Crime consumado
que o autor da coação detém o domínio do fato e comete I  – consumado, quando nele se reúnem todos os
o fato punível por meio de outra pessoa.25 A título de exem- elementos de sua definição legal; 
plo: Joaquim, mediante um soco desferido contra o rosto
da frágil Maria, obrigou-a a assinar um cheque no valor Tentativa
de R$ 5.000,00, utilizando-o para saldar uma dívida em II – tentado, quando, iniciada a execução, não se con-
um comércio, sabendo que não existia tal importância no suma por circunstâncias alheias à vontade do agente;
banco. O cheque foi depositado e devolvido. Assim, Maria
não praticou crime, pois estava sob coação moral irresistí- Pena de tentativa
vel26. Já na obediência hierárquica, como o próprio nome diz, Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, pune-
deve haver uma relação de hierarquia calcada em normas de -se a tentativa com a pena correspondente ao crime
Direito Público, vez que não há que se falar em obediência consumado, diminuída de um a dois terços.
hierárquica quando se tratar de natureza religiosa, familiar,
associativa etc. A ordem proferida aqui deve ser ilegal, pois, Desistência voluntária e arrependimento eficaz
se fosse lícita, tratar-se-ia de estrito cumprimento de dever Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de
legal, que é causa excludente da antijuridicidade, porém tal prosseguir na execução ou impede que o resultado
ilicitude não pode ser explícita, pois se for clara a ilegalidade se produza, só responde pelos atos já praticados.
da ordem, o subordinado pode e deve se negar a cumpri-
-la. Caso o agente tema por reprimenda, e cumpra a ordem Arrependimento posterior
mesmo sabendo de sua ilicitude, agiria sob coação moral, Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave
e não por obediência hierárquica. Porém, caso ele pratique ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
o fato acreditando na legalidade da ordem, incidiria em coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa,
erro de proibição. É necessária a dúvida sobre a legalidade, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida
não podendo o subordinado recusar-se a cumpri-la, porém, de um a dois terços.
quando do cumprimento, o  agente não pode ultrapassar
os limites da ordem proferida, caso contrário, responderá Crime impossível
o agente pelo excesso. A  obediência hierárquica é causa Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficá-
excludente de culpabilidade. Somente será punido o autor cia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade
da ordem, devendo ser a ordem não manifestamente ilegal do objeto, é impossível consumar-se o crime.
e desde que haja subordinação hierárquica. Art. 18. Diz-se o crime:
Tanto a coação moral irresistível quanto a obediência
hierárquica são causas de exclusão da culpabilidade. Elas se Crime doloso
contrapõem a um dos elementos da culpabilidade, a saber, I  – doloso, quando o agente quis o resultado ou
a exigibilidade de conduta diversa. Se o fato é cometido sob assumiu o risco de produzi-lo;
coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível Crime culposo
o autor da coação ou da ordem. II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado
Assim, na coação moral irresistível, só responde pelo por imprudência, negligência ou imperícia;
crime o coator, o coato não. Na obediência hierárquica, só Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, nin-
guém pode ser punido por fato previsto como crime,
Noções de Direito Penal

responde pelo crime o superior hierárquico (na qualidade de


autor mediato) que deu a ordem não manifestamente ilegal senão quando o pratica dolosamente.
(ordem aparentemente legal). Agravação pelo resultado
Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a
Artigos Pertinentes pena, só responde o agente que o houver causado
ao menos culposamente.
Relação de causalidade
Art. 13. O resultado, de que depende a existência do Erro sobre elementos do tipo
crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição
Cespe/TC-DF/Procurador/2013.
25

Funcab/PC-ES/Escrivão de Polícia/2013.
26 por crime culposo, se previsto em lei.

35
Descriminantes putativas consentimento do paciente ou de seu representante legal,
§ 1º É isento de pena quem, por erro plenamente se justificada por iminente perigo de morte, ou na coação
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de exercida para impedir suicídio). Existem ainda outras causas
fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não que, embora não constem no rol do art. 23, nem estejam
há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e expressamente previstas na lei penal, constituem causas
o fato é punível como crime culposo. justificantes, também chamadas de causas supralegais de
exclusão de ilicitude, tal como o consentimento do ofendido.
Erro determinado por terceiro
§ 2º Responde pelo crime o terceiro que determina Estado de Necessidade
o erro.
Conforme preceitua o art. 24 do CP,
Erro sobre a pessoa
§ 3º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime considera-se em estado de necessidade quem pra-
é praticado não isenta de pena. Não se consideram, tica o fato para salvar-se de perigo atual, que não
neste caso, as  condições ou qualidades da vítima, provocou por sua vontade, nem podia de outro
senão as da pessoa contra quem o agente queria modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifí-
praticar o crime. cio, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.27

Erro sobre a ilicitude do fato Está amparado pela referida excludente, por exemplo,
Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. aquele que se encontra na iminência de ser atacado por um
O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta bravo cão e vem a matá-lo.
de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto Ressalte-se que existem profissões que, por sua própria
a um terço. natureza, possuem riscos que são previamente assumidos
Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o pelas pessoas que as ocupam, tais como: polícia, segurança,
agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude salva-vidas etc. Tais profissionais, geralmente, não podem
do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, alegar a excludente do estado de necessidade, é o que se
ter ou atingir essa consciência. aduz do art. 24, § 1º que diz: “não pode alegar estado de
necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo”.
Coação irresistível e obediência hierárquica Contudo, essa regra não é absoluta, já que não é razoável
Art. 22. Se o fato é cometido sob coação irresistível ou exigir que o agente se comporte de maneira heroica, agindo
em estrita obediência a ordem, não manifestamente em situações que coloquem suas vidas ou integridade em
ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor risco acima do normal para a atividade que executam.
da coação ou da ordem. Conforme ensina Nucci, o dever legal é o resultante de
lei, considerada esta em seu sentido lato. Entretanto, deve-
EXCLUDENTES DE ANTIJURIDICIDADE -se ampliar o sentido da expressão para também abranger o
dever jurídico, aquele que advém de outras relações previstas
Causas de Exclusão da Antijuridicidade – Ilicitude no ordenamento jurídico, como o contrato de trabalho ou
mesmo a promessa feita pelo garantidor de uma situação
ou Crime (Arts. 23 a 25) qualquer. Assim, de fato, a abnegação em face do perigo só
é exigível quando corresponde a um especial dever jurídico.
Ilicitude é a contrariedade entre a conduta e o ordena- Por isso, tem o dever de enfrentar o perigo tanto o policial
mento jurídico em que a conduta típica também se torna (dever advindo de lei), quanto o segurança particular con-
ilícita. Em regra, o fato típico também é ilícito, exceto quando tratado para a proteção do seu empregador (dever jurídico
ocorrer alguma causa que lhe retire a ilicitude. Essas causas advindo do contrato de trabalho), mas, nas duas situações,
podem estar previstas em lei, sendo chamadas de legais, não se exige dos referidos agentes atos de heroísmo ou ab-
ou, podem decorrer de aplicações analógicas ante a falta dicação de direitos fundamentais, a pretexto de sacrificarem
de previsão legal, sendo chamadas de supralegais. As causas suas próprias vidas em detrimento de outrem.
legais de exclusão de ilicitude estão previstas no art. 23 do Há duas teorias que definem o estado de necessidade: a
CP, a saber: estado de necessidade, legítima defesa, estrito Unitária, que defende que o estado de necessidade é sem-
cumprimento de dever legal e exercício regular de direito. pre causa de exclusão de ilicitude; e a Diferenciadora, que
A antijuridicidade consiste na falta de autorização da ação defende que só haverá a excludente de ilicitude, se o bem
típica. As causas de exclusão da antijuricidade reconhecem- sacrificado for de valoração inferior ao salvo, haja vista que
-se em regra pela expressão “não há crime”. O excesso no se for de igual valor, só haverá exclusão da culpabilidade e
exercício da justificativa pode ser punido a título de dolo não da ilicitude. O Código Penal adotou a teoria unitária, que
ou de culpa. tem como natureza jurídica ser o estado de necessidade que
Conforme Rogério Greco, as  causas de exclusão de sempre causa excludente de ilicitude, ou seja, o estado de ne-
ilicitude são também denominadas causas de exclusão da cessidade é sempre justificante e não meramente exculpante.
antijuridicidade, justificativas ou descriminantes. São elas São requisitos para que haja a referida excludente:
condições especiais em que o agente atua que impedem que • que o perigo ao qual esteja submetido o agente deva
elas venham a ser antijurídicas. O art. 23, CP, prevê quatro
Noções de Direito Penal

ser atual. Embora a lei fale somente no perigo atual,


formas de exclusão de ilicitude: “o estado de necessidade, a doutrina admite o perigo iminente;
a legítima defesa, o estrito cumprimento de dever legal e o • que o perigo não tenha sido provocado pela vontade
exercício regular de direito”. Contudo, esse rol não é taxativo, do agente (dolosamente);
existindo causas de exclusão da ilicitude também na parte • que não haja como evitar de outro modo (inevitabilida-
especial do Código Penal, como no art. 128 (o aborto provo- de da lesão ao perigo de outrem). Em outras palavras,
cado por médico, quando não há outro meio de salvar a vida só se admite o sacrifício do bem, quando não há uma
da gestante e aquele em que a gravidez foi decorrente de outra forma de se evitar;
estupro e o aborto foi precedido de consentimento da ges- • que o perigo deva ameaçar direito próprio ou alheio.
tante, ou, quando incapaz, de seu representante legal) e no O direito aqui mencionado se refere a qualquer bem
art. 146, § 3º (em que não constitui o constrangimento ilegal
as seguintes condutas: intervenção médica ou cirúrgica, sem Assunto cobrado na prova da Vunesp/PC-SP/Papiloscopista Policial/2013.
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jurídico como a vida, a integridade física, o patrimônio Ele deve escolher dentre os meios colocados a sua
etc., contudo tal bem deve estar protegido pelo ordena- disposição aquele necessário, tão somente, capaz de
mento jurídico. Conforme exemplifica Capez, o conde- conter a agressão. Ocorrendo imoderação, o agente
nado a morte não poderia alegar estado de necessidade responderá pelo excesso.
contra o carrasco no momento da execução; • que a agressão seja humana e injusta (observe que ani-
• que não se exija sacrifício por parte do agente em mal não agride, ataca. Sendo assim, contra animal não
decorrência da situação (razoabilidade do sacrifício); configura legítima defesa, mas pode configurar estado
aqui, o CP não estipula que o bem sacrificado deva ser de necessidade). Em outras palavras, contra animais
de menor valor que o bem protegido, todavia, quando ou coisas caracteriza-se estado de necessidade e não
houver desproporção nessa relação, ou seja, falta de de legítima defesa. Pode haver legítima defesa contra
razoabilidade, o agente responderá pelo crime com di- animais, se estes forem usados por um ser humano
minuição de pena de 1/3 a 2/3. A falta de razoabilidade como uma arma, ou seja, caso sejam atiçados pelo ser
não exclui a ilicitude, já que se trata de uma faculdade humano para que venham a atacar alguém, do contrá-
do juiz e não de um direito do réu; rio, tal excludente não estará caracterizada. No que se
• que haja por parte do agente conhecimento da situa- refere à agressão injusta, ela nada mais é do que aquela
ção justificante. Na verdade, refere-se a um elemento contrária ao ordenamento jurídico, portanto, ilícita.
subjetivo do estado de necessidade, haja vista que • que a agressão seja atual ou iminente. Sendo passada
mesmo tendo sido reconhecidos todos os requisitos ou futura, não haverá legítima defesa.
da referida excludente, o seu desconhecimento pelo • que a agressão seja invocada na defesa de direito pró-
agente não lhe dá o direito de alegar o estado de ne- prio ou alheio. Todo e qualquer direito é abrangido pela
cessidade, já que a sua vontade talvez não fosse a de justificativa, não se distinguindo entre bens pessoais
salvar alguém, mas a de causar um crime que não deu ou patrimoniais, pertencentes ao próprio defendente
certo. ou a terceiro. A reação deve ser moderada e os meios
realmente necessários.
Formas de estado de necessidade: • que o agente tenha conhecimento da situação justifi-
a) próprio (defende direito próprio) ou de terceiros cante – o agente deve conhecer que está agindo em
tal situação.
(defende direito de terceiros);
b) agressivo (o agente se volta contra bem de terceiros)
A título de exemplo: O policial militar Efigênio estava
ou defensivo (o agente se volta contra bem do agressor);
efetuando uma ronda, quando se deparou com dois elemen-
c) real (a situação de perigo é real) ou putativo (a situa­ tos que se agrediam, um deles já bastante ferido. Solicitou
ção de perigo é irreal) . Sendo putativo, não há a extinção que parassem de brigar, mas eles não o atenderam. Apesar
da antijuridicidade, apenas da culpabilidade e, por conse­ do PM portar um bastão, que seria suficiente para contê-
quência, da pena. -los, efetuou um disparo com sua arma de fogo para o ar,
haja vista o local não ser habitado. Entretanto, o agressor
Segundo Capez, o Estado de Necessidade possui os que estava em vantagem não se intimidou e partiu em sua
seguintes requisitos: direção para agredi-lo, ocasião em que Efigênio efetuou
• Perigo atual: é aquele que está ocorrendo no exato um disparo contra o agressor, causando-lhe lesões, que o
momento. levaram a permanecer durante trinta e cinco dias em coma.
• Perigo deve ameaçar direito próprio ou de terceiro. Pode-se, então, afirmar que o policial militar Efigênio não
• Perigo não causado voluntariamente pelo agente  – praticou crime, pois obrou nos estritos limites da legítima
dolosamente. defesa.28
• Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo.­ Obs.: não existe legítima defesa recíproca, nem contra
• Inevitabilidade da lesão ao perigo de outrem. agressão futura, nem contra aquela que já cessou.
• Razoabilidade do sacrifício: o CP não estipula que o
bem sacrificado deva ser de menor valor que o bem Obs.: quanto aos quesitos desafio e provocação, deve-se
protegido, todavia quando houver desproporção nes- ter em mente:
ta relação, ou seja, falta de razoabilidade, o  agente a) desafio: quem aceita desafio para uma luta, não pode
responderá pelo crime com diminuição de 1/3 a 2/3. alegar legítima defesa, porque o duelo não é aceito pela lei
A falta de razoabilidade não exclui a ilicitude. brasileira;
• Conhecimento da situação justificante. b) provocação: só pode alegar legítima defesa aquele
que foi provocado.
Legítima Defesa
Formas de legítima defesa:
O instituto da legítima defesa tem por fundamento per- a) Legítima defesa putativa: é a errônea suposição da
mitir que uma pessoa se defenda de uma agressão atual ou existência de uma legítima defesa por erro de tipo ou de
iminente, quando não houver outro meio, haja vista que o proibição ou hipótese de legítima defesa não prevista no
Estado não teria, naquelas circunstâncias, como oferecer ao ordenamento jurídico. Ocorre quando há erro, blefe. Não há
agredido a devida proteção, já que não há presença estatal a extinção da antijuridicidade, mas da culpabilidade.
Noções de Direito Penal

em todos os lugares e momentos. Outrossim, deve-se en- b) Legítima defesa sucessiva: conforme ensina Greco,
tender como natureza jurídica da legítima que ela é sempre ocorre quando se repele o excesso na legítima defesa29.
causa de exclusão da ilicitude. A  agressão praticada pelo agente, embora inicialmente
São requisitos da referida excludente: legítima, transforma-se em agressão injusta quando incidiu
• que os meios utilizados na repulsa sejam moderados no excesso. Nessa hipótese, o revide caracteriza a legítima
e necessários (meios necessários são aqueles menos defesa sucessiva. Em outras palavras, é a repulsa contra o
lesivos colocados à disposição do agente no momento excesso, pois quem pratica a agressão não pode alegar a
que ele sofre lesão, para fazê-la cessar). A utilização do legítima defesa em seu favor, somente em relação ao excesso.
meio desnecessário caracteriza o excesso doloso ou
culposo, que é punível. Meios moderados são aqueles
Funcab/PC-ES/Delegado de Polícia/2013.
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dentro do limite razoável para conter as agressões. Assunto cobrado na prova da Funcab/PC-ES/Escrivão de Polícia/2013.
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c) Legítima defesa subjetiva: o agente está inicialmente Quando se fala em estrito cumprimento do dever legal,
em uma situação de legítima defesa, todavia não percebe deve-se ter em mente que o agente aqui deve agir em nome
que a agressão cessou e continua a se defender, imaginando da lei e não da ética, moral ou religião. Apesar de praticar
ainda estar sofrendo agressões, transformando-se em um uma conduta típica, quem age em estrito cumprimento de
ataque. É o erro de tipo permissivo. um dever que lhe é imposto pela lei não pratica crime, mas
poderá vir a responder pelos excessos que vier a cometer.
Outro ponto relevante é que não existe legítima defesa Não pode ser invocado nos delitos praticados na modalida-
da honra conjugal na conduta do cônjuge traído agredir o de culposa. Quando se fala em dever legal, fala-se naquele
cônjuge traidor ou o(a) amante deste(a), ou ambos, pois decorrente de lei, decreto, entre outros. A estrita obediência
a honra que foi atingida não é a do cônjuge traído, mas a se refere aos limites impostos pelo próprio dever, já que se
daquele que traiu, podendo ser reconhecido em favor do houver excesso, haverá punição para o autor, ou seja, o ex-
primeiro apenas a atenuante da violenta emoção ou do re- cesso após a prática da conduta será caracterizado como
levante valor moral. Os direitos passíveis de lesão ou ameaça doloso ou culposo, que também é punível. Sendo assim,
são protegidos pela legislação penal brasileira, não fazendo pode-se exemplificar a referida excludente pela conduta
o Código Penal distinção expressa entre os direitos passíveis de um policial, que no estrito cumprimento do dever legal,
de proteção pelo instituto da legítima defesa, além do que provoca lesões no indivíduo que, logo após receber voz
o CP admite a legítima defesa da honra, mas não a da honra de prisão, continua sua ação fugitiva. Poder-se-ia figurar
conjugal, neste sentido. É possível como na repulsa a calú- também, como exemplo, a conduta do policial que efetua
nia, a injúria e a difamação, por exemplo. Mas, em relação legalmente uma prisão em flagrante.
à honra conjugal, não se fala na referida excludente. Senão,
vejamos: é entendimento doutrinário e social, por consequ- Exercício Regular de Direito
ência segue as decisões dos Tribunais: “Não age em legítima
defesa da honra quem, em razão de traição por adultério, Caracteriza-se pela utilização de um direito ou faculdade
mata o respectivo amante [...]”. (TJ-SC  – ACr 01.000885-
que pode decorrer da lei, de um fim social ou dos costumes,
3 – 1ª C.Crim. – Rel. Des. Solon Deça Neves – J. 12/6/2001).
dando ao agente a permissão para que pratique condutas
“Hodiernamente, afigura-se inconcebível a tese da legítima
dentro dos limites estabelecidos e com finalidades diversas.
defesa da honra, eis que não se pode admitir que a honra,
bem em tese juridicamente protegido pela excludente de Quem não atender às regras impostas por normas regula-
ilicitude, possa se sobrepujar à vida, bem supremo do ser mentares deve ser punido.
humano”. (TJ-MG – ACr 000.270.179-5/00 – 2ª C.Crim. – Rel. O exercício regular de direito é a prática de um fato
Des. Reynaldo Ximenes Carneiro – J. 9/5/2002). típico pelo agente autorizado por um direito, entendido
em sentido amplo, ou seja, abrangendo todas as formas de
*Obs.: pode haver coexistência entre estado de neces- direito subjetivo, penal ou extrapenal (CAPEZ). Também, por
sidade e legítima defesa. Um bom exemplo seria aquele em qualquer excesso, poderá o agente receber punição, já que
que “A”, para se defender legitimamente de “B”, pega a arma faz desaparecer a excludente. São exemplos de exercício
de “C” sem a sua autorização. (CAPEZ) regular de direito: corretivo aplicado pelos pais aos filhos;
lesões provocadas no adversário durante uma luta de boxe,
Segundo Fernando Capez, a  legítima defesa possui os desde que as regras sejam obedecidas; incisão realizada
seguintes requisitos: por médico.
• Agressão atual ou iminente: a agressão deve estar Questiona-se, ainda, se é possível haver estupro entre
acontecendo ou prestes a acontecer. marido e mulher, ou se há amparo pelo exercício regular
• Agressão injusta: é a contrária ao ordenamento jurídico. de direito. Ora, embora a conjunção carnal seja débito con-
• Direito próprio ou de terceiro. jugal, não justifica o ato de se constranger a companheira,
• Repulsa com meios necessários: são os meios menos obrigando-a ao ato sexual, pois não há se falar em exercício
lesivos colocados à disposição do agente no momento regular de direito, mas de uma irregularidade desse exercício,
em que ele sofre a lesão, para fazê-la cessar. A utili- o que tipifica a conduta criminosa. Reforçando a possibili-
zação do meio desnecessário caracteriza o excesso dade de crime sexual entre cônjuges, a Lei nº 11.106/2005,
doloso, culposo. em seu art.  226, II, prevê que se o agente é ascendente,
• Uso moderado de tais meios: é o emprego do meio padrasto, madrasta, irmão, cônjuge, companheiro, tutor ou
necessário dentro do limite razoável para conter as curador, preceptor ou empregador da vítima ou se assumiu,
agressões. Ocorrendo imoderação, responderá pelo por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
excesso. vigilância, a  pena será majorada de metade, bem como
• Conhecimento da situação justificante: o agente deve a Lei nº  11.340/2006, em seu art.  7º, III, etiquetou esse
conhecer que está agindo em tal situação. comportamento como violência doméstica e familiar conta
a mulher (Cunha).
Estrito Cumprimento do Dever Legal Quanto aos ofendículos (ofensáculos), que são os apa-
ratos para defesa de uma propriedade (como cacos de vidro
É a prática de um fato típico por força do cumprimento ou cercas elétricas sobre muros, ponta de lança em portão,
de um dever legal. Estrito cumprimento refere-se à prática animais etc.), por exemplo, a doutrina não é unânime. Há
Noções de Direito Penal

da conduta típica dentro dos limites de seu dever legal. Aqui quem defenda que se trata de exercício regular de direito
também o agente deve ter conhecimento da justificante. A no momento de sua instalação e não de seu funcionamento,
título de exemplo: O oficial de justiça que, acompanhando que é sempre futuro; há outros que defendem tratar-se de
o cumprimento de uma ordem judicial de busca e apreen- legítima defesa preordenada já que ele é colocado em uma
são pela polícia, diante da recusa do morador em facultar propriedade para funcionar no momento em que esse local
a entrada na residência, determina o arrombamento da é invadido contra a vontade do morador, portanto serve
porta pelos agentes policiais, atua em estrito cumprimento como defesa necessária contra injusta agressão. Há uma
do dever legal.30 O excesso, no início da conduta, chama-se terceira corrente que defende ser exercício regular de direito
excesso na causa e não há excludente de ilicitude, e sim, enquanto ali predispostos e que sejam facilmente perceptí-
abuso de autoridade ou outro delito. veis, contudo, a partir do momento em que tal aparato entra
UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia Civil/2013.
30 em ação para defender a propriedade de alguém, passa a

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existir a legítima defesa preordenada. Sendo uma ou outra, Esquematicamente, tem-se como causas excludentes da
trata-se de excludente de ilicitude, portanto, qualquer ex- antijuridicidade:
cesso, seja ele doloso ou culposo, fará com que o instalador
do ofendículo venha a responder pelo ilícito causado. Isso
Parte Geral Parte Especial
significa que, no caso de cerca eletrificada, a intenção tem
de ser apenas a de repelir o invasor, logo o ofendículo deve do Código do Código
ser razoável e moderado (obedecendo às normas técnicas), 1. estado de neces- 1. ofensa irrogada em juízo na dis-
devendo o agente tomar certas precauções na utilização sidade. cussão da causa (art. 142, I, CP).
desses instrumentos, sob pena de responder pelos resultados 2. legítima defesa. 2. aborto para salvar a vida da
advindos caso coloque em perigo inocentes. gestante ou quando a gravidez é
Finalmente, assim como as demais excludentes de ilicitu- resultante de estupro.
de, o agente deve ter conhecimento da situação justificante. 3. estrito cumprimen­ 3. violação de domicílio quando um
to de dever legal. crime é praticado, ou para prestar so-
Consentimento do Ofendido corro ou por ordem judicial (art. 150,
§ 3º, II, CP c/c art. 5º da CF).
Embora não esteja expressamente previsto na legislação 4. exercício regular 4. coação visando a impedir a prática
penal como causa excludente de ilicitude, trata-se, na ver- de direito. de suicídio.
dade, de uma causa supralegal de excludente da antijuridi-
cidade. Contudo, sendo reconhecida a referida excludente Observe que a parte geral do CP traz as causas legais de
apenas para bens disponíveis (patrimoniais), nunca para bens exclusão de ilicitude (ou antijuridicidade). Já na parte especial
indisponíveis (vida, integridade física), já que se esta fosse
reconhecida pelo ordenamento jurídico brasileiro, admitir- do mesmo ordenamento jurídico, veem-se algumas causas
-se-ia a eutanásia. supralegais de exclusão da ilicitude.
Ilicitude é a relação de contrariedade que se estabelece
entre o fato típico e o ordenamento jurídico. Existem previ- Artigos Pertinentes
sões de excludentes de ilicitude (ou tipos permissivos) ex-
pressos na parte especial do Código Penal. São eles: o aborto Exclusão de ilicitude
para salvar a vida da gestante ou quando a gravidez resulta de Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:
estupro (art. 128, I e II, CP); a injúria e a difamação, quando a I – em estado de necessidade;
ofensa é irrogada em juízo na discussão da causa, na opinião II – em legítima defesa;
desfavorável da crítica artística, literária ou científica e no III – em estrito cumprimento de dever legal ou no
conceito emitido por funcionário público em informação exercício regular de direito.
prestada no desempenho de suas funções (art. 142, I, II e III,
CP); o constrangimento ilegal se é feita à intervenção médica
Excesso punível
ou cirúrgica sem o consentimento do paciente, ou de seu
representante legal, se justificada por iminente perigo de Parágrafo único. O  agente, em qualquer das hipó-
vida, e na coação exercida para impedir suicídio (art. 146, teses deste artigo, responderá pelo excesso doloso
§ 3º, I e II, CP); e na violação de domicílio, quando um crime ou culposo.
está sendo ali cometido (art. 150, § 3º, II, CP).
Em síntese, conforme ensina Vinícius Paulo Mesquita, Estado de necessidade
o  consentimento do ofendido funciona como uma causa Art. 24. Considera-se em estado de necessidade
legal de exclusão da tipicidade e como causa supralegal de quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
exclusão da ilicitude. Porém, para que possamos falar em não provocou por sua vontade, nem podia de outro
consentimento do ofendido deve ser o aquiescente penal- modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício,
mente capaz e o bem jurídico em questão deve estar no rol nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
dos bens disponíveis. § 1º Não pode alegar estado de necessidade quem
Para que o consentimento do ofendido possa ser consi- tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
derado como excludente, é necessário, segundo Francisco
§  2º Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do
de Assis Toledo:
• que o ofendido tenha manifestado a sua aquiescência direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de
livremente, sem coação, fraude ou vício da vontade; um a dois terços.
• que o ofendido, no momento da aquiescência, esteja
em condições de compreender o significado e as con- Legítima defesa
sequências de sua decisão, possuindo, pois, capacidade Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usan-
para tanto; do moderadamente dos meios necessários, repele
• que o bem jurídico lesado e exposto se situe na esfera injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou
da disponibilidade do aquiescente; de outrem.
• que o fato típico realizado se identifique com o que
foi revisto e se constitua em objeto de consentimento
IMPUTABILIDADE PENAL
Noções de Direito Penal

pelo ofendido. A título de exemplo: Geraldino permitiu


seu encarceramento pelo patologista André, para se
submeter a uma experiência científica. Ao terminar Imputabilidade Penal (arts. 26 a 28)
o período da experiência, Geraldino procurou a de-
legacia de polícia da circunscrição de sua residência, Para a Teoria da Imputabilidade Moral (ou do livre ar-
alegando que fora vítima de crime, em face do seu bítrio), o homem é um ser inteligente e livre, que possui a
encarceramento. Do relato apresentado, conclui-se capacidade de poder escolher entre o bem e o mal, o certo
que não há crime, pois o consentimento do ofendido e o errado, podendo, pois, vir a ser responsabilizado pelos
excluiu a ilicitude.31 atos ilícitos que vier a praticar. Imputável é, pois, aquele
que tem aptidão para ser culpável, já que ele sabe o que
Funcab/PC-ES/Delegado de Polícia/2013.
31 faz e age de acordo com esse entendimento. Sendo assim,

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a imputabilidade penal seria um elemento ou pressuposto Consequência: medida de segurança. Todavia, “se não era
da culpabilidade, haja vista que o agente deve saber que sua inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato” –
conduta pode gerar consequências. será a pena diminuída de 1/3 a 2/3. A aferição da menori-
Segundo o ordenamento jurídico brasileiro, imputar é dade dá-se pelo sistema exclusivamente biológico (não se
atribuir a alguém a responsabilidade pelos atos praticados. questiona se o agente era ou não capaz de entendimento
O  agente deve ter capacidade de se autodeterminar, ou ou de se autodeterminar).
seja, deve ele agir sabendo que sua conduta pode lhe gerar b) menor de idade – menor de 18 anos. O sistema de
consequências. Se no momento da ação ou omissão que aferição é o biológico (causa gerada em lei). A consequência
tenha dado causa ao resultado lesivo o agente é inteira- será a aplicação de medida socioeducativa;
mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de c) embriaguez completa proveniente de caso fortuito
determinar-se segundo este entendimento, deverá ficar (inesperado, imprevisível) ou força maior (forçado por tercei-
isento de pena. Contudo, sendo o agente parcialmente capaz, ros), também chamada de embriaguez acidental. Aqui, o sis-
não haverá exclusão da imputabilidade, mas apenas redução tema de aferição é biopsicológico e tem por consequência a
da pena imposta de um a dois terços. Ao agente inimputá- absolvição. Todavia, se incompleta, sendo que o agente não
vel ou semi-imputável, aplica-se medida de segurança e, possuía a plena capacidade de entendimento, a pena será
não necessariamente, pena. Observe que ao inimputável reduzida de 1/3 a 2/3.
cabe medida de segurança; já, ao semi-imputável, ou seja, Obs.: inclui-se como causa de exclusão da imputabilidade
aquele que teve parte de sua capacidade de entendimento a embriaguez patológica.
prejudicada em razão de alguma doença mental ou de um
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, cabe o Não extinguem a imputabilidade:
redutor de pena de um a dois terços, contudo o juiz poderá a) emoção (estado afetivo, violento, repentino ou de
curta duração) ou paixão (crônica e duradoura: amor, ódio,
optar por aplicar a medida de segurança a ele no lugar da
ciúmes). Nesses casos, pode haver a redução da pena;
pena, já que não pode aplicar as duas ao mesmo tempo.
b) embriaguez voluntária ou culposa – Embriaguez não
Sinteticamente, teríamos:
acidental. Voluntária é aquela em que o agente quis se em-
a) a incapacidade é plena: haverá absolvição (isenção de briagar ou aceitou o risco de se embriagar. Culposa é aquela
pena) e aplicação de medida de segurança ao inimputável; em que o agente se embriagou imprudentemente – excedeu-
b) a incapacidade é relativa: haverá redução de pena de -se. Em outras palavras, a embriaguez que poderá excluir a
1/3 a 2/3 ou apenas medida de segurança. imputabilidade e, por consequência, isentar o autor de pena
é a embriaguez acidental e não a voluntária ou culposa, já
Faz-se mister frisar que para que os doentes mentais que, se o agente tem a intenção de embriagar-se ou, mesmo
sejam considerados inimputáveis, deverão ter ao tempo que não a tenha, mas podia decidir em fazê-lo ou não, não
da ação ou omissão, incapacidade plena de compreender poderá ter reconhecida a excludente da imputabilidade,
a ilicitude da sua conduta, senão serão responsabilizados tendo em vista que possuía livre-arbítrio naquele momento.
pelo resultado lesivo por eles causados, e tal incapacidade, Há uma outra forma de embriaguez em que o agente
para que seja provada, requer exames específicos (como se embriaga ou se entorpece com o fito de praticar crime,
psicológicos e psiquiátricos). é a chamada actio liberae in causa, ou ação livre quando da
Sistemas ou critério de aferição da inimputabilidade: conduta. Diferentemente da embriaguez voluntária, em que
a) biológico (ou etiológico): segundo essa corrente, toda o agente se embriaga por que assim pretendeu, mas não
anomalia psíquica é causa de inimputabilidade. Não se leva para praticar crime, aqui, ele tem esse propósito. A doutrina
em conta se a perturbação retirou do agente a inteligência denominou tal tipo de embriaguez como preordenada, que,
ou vontade quando do cometimento do fato. Uma vez com- além de não reduzir a pena imposta ao autor, irá exasperá-
provada a anomalia, o agente não pode ser responsabilizado -la. É a agravante genérica prevista no art. 61, II, “l”, do CP).
por sua conduta. Por fim, vale frisar que a inimputabilidade tem o condão
b) psicológico: para essa corrente são verificadas so- de excluir a culpabilidade.
mente as condições psíquicas do autor no momento do
fato, desconsiderando se naquele instante o agente possuía Artigos Pertinentes
algum distúrbio psíquico, que, uma vez verificado, deve ser
considerado causa de inimputabilidade, não podendo ser Inimputáveis
responsabilizado pelos atos praticados. Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou re-
c) biopsicológico (ou biopsicológico normativo ou misto):
tardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteira-
é o produto da combinação entre os dois primeiros. Para essa
mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
corrente, verifica-se, nesta ordem:
de determinar-se de acordo com esse entendimento.
• se o agente é doente mental ou possui desenvolvimen-
to mental incompleto ou retardado; Redução de pena
• se o agente era capaz de entender o caráter ilícito do
Noções de Direito Penal

Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a


fato. dois terços, se o agente, em virtude de perturbação
de saúde mental ou por desenvolvimento mental
Extinguem a imputabilidade: incompleto ou retardado não era inteiramente capaz
a) doença mental (esquizofrenia, psicopatia, epilepsia de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
etc.) ou desenvolvimento mental incompleto, (índio não -se de acordo com esse entendimento.
civilizado ou não adaptado à sociedade, surdo-mudo que
não tenha capacidade de entendimento) ou retardado Menores de dezoito anos
(imbecil, idiota, oligofrênico ou demente, ou com déficit de Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são pe-
inteligência). O sistema de aferição é biopsicológico (causa nalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
geradora prevista em lei, causa presente na época do fato). estabelecidas na legislação especial.

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Emoção e paixão superior, sabendo de sua ilegalidade, ambos responderão
Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal: pela conduta caso não o saiba, somente o superior hierár-
I – a emoção ou a paixão; quico irá responder pelo ato praticado, ficando afastada a
culpabilidade do agente subordinado.
Embriaguez A culpabilidade, portanto, refere-se a juízo de censura,
II – a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool de reprovabilidade, que se faz sobre a conduta típica e anti-
ou substância de efeitos análogos. jurídica do agente, podendo-se exigir do agente que ele se
§ 1º É isento de pena o agente que, por embriaguez comporte de maneira diversa em algumas circunstâncias,
completa, proveniente de caso fortuito ou força que, não o fazendo, poderá vir a ser responsabilizado crimi-
maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteira- nalmente. Não havendo a culpabilidade, a conduta continua
mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou típica e antijurídica, mas, por faltar o pressuposto para
de determinar-se de acordo com esse entendimento. aplicação da pena, o agente não poderá ser punido por suas
§ 2º A pena pode ser reduzida de um a dois terços, atitudes. São elementos da culpabilidade a imputabilidade
se o agente, por embriaguez, proveniente de caso (capacidade de se autodeterminar), potencial consciência
fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da da ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa. Por
ação ou da omissão, a plena capacidade de entender consequência, são causas que excluem a culpabilidade, den-
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo tre outras: a) a inimputabilidade: que se apura por doença
com esse entendimento. mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado,
embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força
CULPABILIDADE maior; b) não potencial consciência da ilicitude do fato:
que é o erro de proibição inevitável; c) inexigibilidade de
A culpabilidade está associada à censurabilidade ou conduta diversa: que se verifica na coação moral irresistível
reprovabilidade. Portanto, se a conduta do agente é re- e na obediência hierárquica. Há, ainda, outras causas de
provável, também será culpável, ou seja, a culpabilidade exclusão da culpabilidade como a legítima defesa putativa.
consiste num juízo de desvalor da conduta. Os requisitos As definições, outrora apresentadas, no que se refere
da culpabilidade são imputabilidade, potencial consciên- aos elementos normativos da culpabilidade são trazidas
cia da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa, sendo pelo finalismo de Welzel, contudo, em relação a potencial
que imputabilidade se refere a poder se atribuir a alguém consciência sobre a ilicitude do fato, que é um desses ele-
responsabilidade por seus atos. No momento da ação ou mentos, faz-se mister frisar que o dolo e a culpa migram da
omissão que tenha dado causa ao resultado lesivo, o agen- culpabilidade para o fato típico, mais especificamente para a
te deve ser plenamente capaz de entender o caráter ilícito conduta do agente. O dolo passou a ser elemento normativo
do fato ou de determinar-se segundo esse entendimento, na culpabilidade (potencial consciência da ilicitude). Quando
caso contrário, ficará isento de pena. Portanto, a imputabi- se fala em potencial consciência da ilicitude, não significa que
lidade tem a ver com a menoridade penal (idade inferior a o agente deva efetivamente saber que sua conduta incorre
18 anos), com a doença mental (como a esquizofrenia) ou em ilícito penal, mas, basta que ele tenha a possibilidade
desenvolvimento mental incompleto (aqui se inclui o índio de, no caso concreto, alcançar esse conhecimento, que de-
não civilizado e o surdo-mudo que não possui capacidade de verá ser responsabilizado penalmente, caso pratique algum
se autodeterminar) ou retardado (o imbecil, o idiota) e com ilícito. Aqui, procura-se verificar se nas condições em que se
a embriaguez completa proveniente de caso fortuito (algo encontrava o agente tinha ele condições de compreender
inesperado, imprevisível) ou força maior (quando, por exem- que o fato que pratica é ilícito. Assim, o erro sobre a ilicitude
plo, forçado por terceiros). Em todos esses casos o agente do fato não é visto no erro de tipo, mas na culpabilidade.
é dito inimputável; por potencial consciência da ilicitude Conforme já visto, para a teoria finalista de Welzel, a cul-
ou da antijuridicidade deve-se entender como aquela não pabilidade possui três elementos normativos: a imputabili-
necessariamente efetiva, bastando que seja potencial, ou dade, que é a possibilidade de se atribuir ou imputar o fato
seja, se o agente, com algum esforço ou cuidado, poderia típico e ilícito ao agente; a potencial consciência da ilicitude,
saber que o fato é ilícito, portanto, verifica-se se ele tinha
que é verificar se nas condições em que se encontrava o
capacidade de se autodeterminar. A potencial consciência
agente tinha ele condições de compreender que o fato que
da ilicitude, portanto, se refere à possibilidade de que tem
praticava era ilícito; e exigibilidade de conduta diversa, que
o agente de conhecer o caráter injusto do fato. Trata-se do
chamado erro de proibição, ou também erro sobre a ilici- é a possibilidade que tinha o agente de, no momento da ação
tude do fato, aquele que faz com que o agente não saiba ou omissão, agir de acordo com o Direito, considerando-se a
que pratica um ato ilícito, excluindo assim a consciência da sua particular condição de pessoa humana. Para isso, levam-
ilicitude de sua ação ou omissão. Se no momento em que -se em consideração as características subjetivas do agente,
realizava a conduta não a sabia proibida, exclui a culpabilida- como sua instrução, inteligência, situação econômica etc.
de, desde que inevitável ou escusável. Todavia, se evitável ou (Greco).
inescusável, terá pena reduzida de 1/6 a 1/3; por fim, tem-se Quanto à coação irresistível e a obediência hierárquica,
Noções de Direito Penal

a exigibilidade de conduta diversa, a qual se refere ao fato foi visto que ambas se referem a causas de exclusão da culpa-
de se saber se, naquelas circunstâncias, seria exigível que o bilidade e não da ilicitude, por faltar um dos seus elementos
agente agisse de forma diversa, pois, se, nas circunstâncias, normativos, quer seja, a exigibilidade de conduta diversa.
era impossível ao agente agir de outra forma, não haveria Mas é bom frisar que a coação irresistível, aqui mencionada,
pena para ele. Este item se refere à coação moral irresistí- refere-se somente a coação moral, pois, se a coação for física,
vel e à obediência hierárquica, quer seja, à obediência a não será causa de exclusão da culpabilidade, como a primeira
ordem não manifestamente ilegal (aquela aparentemente o é, mas será causa de atipicidade da conduta.
legal) de superior hierárquico, tornando viciada a vontade Desta forma, o Código Penal adotou a Teoria Normativa
do subordinado e afastando a exigência de conduta diversa. Limitada. Todavia, verifiquemos a evolução histórica da
Observe que se o subordinado cumpre ordem ilegal de seu culpabilidade.

41
Teoria Psicológica Teoria Psicológica-normativa
1. Sistema causalista. 1. Sistema neokantista.
2. Elementos: imputabilidade, dolo natural (vontade e 2. Elementos: imputabilidade, dolo normativo (vontade,
consciência). consciência, consciência da ilicitude), exigibilidade de
3. Erro de tipo e erro de proibição excluíam a culpabilidade. conduta diversa).
3. Erro de tipo e erro de proibição excluem a culpabilidade.
Teoria Normativa Pura Teoria Normativa Limitada
1. Sistema finalista. 1. Sistema finalista.
2. Elementos: imputabilidade, potencial consciência da ili- 2. Elementos: imputabilidade, potencial consciência da ili-
citude, exigibilidade de conduta diversa. citude, exigibilidade de conduta diversa.
3. Erro de tipo: erra sobre as elementares ou as circunstân- 3. Erro de tipo: sobre elementares ou circunstância ou
cias de um tipo penal. Se invencível exclui o dolo e culpa, pressupostos fáticos de uma causa justificante. (descri-
se vencível exclui a culpa. minante putativa por erro de tipo ou erro de tipo permis-
Paradigma: previsibilidade objetiva. sivo. Ex.: atira no primo pensando ser um assaltante).
4. Erro de proibição: direito (não conhece a proibição) indi- 4. Erro de proibição: Direito (não conhece a proibição, ex.:
reto (todo erro que recai sobre excludente ou dirimente). holandês fumando maconha ou conhece e interpreta
Se invencível exclui a culpabilidade, se vencível, diminui- mal, ex.: mãe “transportando droga para a delegacia) e
ção de pena. indireto ou descriminante putativa por erro de proibição
Paradigma: previsibilidade subjetiva. (erro sobre os limites normativos de uma excludente ou
Obs.: erro de tipo incide sobre situação fática. Erro de proi- sobre a existência da justificante, ex.: matar mulher trai-
bição, limites autorizadores da norma. Toda espécie de des- dora por legítima defesa da honra).
criminante putativa é erro de proibição. Obs.: no erro de proibição indireto, tem perfeita noção da
situação fática, mas aprecia erroneamente os limites da
norma. O agente não sabe que está praticando um crime.

Em síntese, são causas excludentes da culpabilidade: a ação moral irresistível e a legítima defesa putativa. Já os itens
inimputabilidade (menoridade, doença mental ou desenvolvi- “estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento
mento mental incompleto ou retardado e a embriaguez com- do dever legal, exercício regular de direito e consentimento
pleta proveniente de caso fortuito ou força maior), o erro de do ofendido” (neste caso, quando o bem é disponível), não
proibição (quando inevitável), a obediência hierárquica, a co- excluem a culpabilidade, mas a antijuridicidade (ou ilicitude).

Culpabilidade (Elementos) Excludentes da Culpabilidade


Imputabilidade: pode se atribuir a alguém res- Inimputabilidade (menor de idade, doente mental e embriaguez completa
ponsabilidade por seus atos. e acidental).
Potencial Consciência da Ilicitude: o agente, com Erro de Proibição: faz com que o agente não saiba que pratica um ato
algum esforço ou cuidado, poderia saber que o ilícito, excluindo assim a consciência da ilicitude de sua ação ou omissão.
fato é ilícito, portanto, verifica-se que ele tinha Se no momento em que realizava a conduta não a sabia proibida, exclui
capacidade de se autodeterminar. Basta ser a culpabilidade, desde que inevitável ou escusável. Todavia, se evitável
potencial, não necessitando ser total. ou inescusável, terá pena reduzida de 1/6 a 1/3.
Exigibilidade de Conduta Diversa: naquelas cir- Obediência Hierárquica (obediência a ordem não manifestamente ilegal –
cunstâncias, seria exigível que o agente agisse aquela aparentemente legal – de superior hierárquico, tornando viciada
de forma diversa e não praticasse um crime. a vontade do subordinado e afastando a exigência de conduta diversa;
todavia se o subordinado tiver conhecimento da ilegalidade também
responde pelo crime praticado) e Coação Moral Irresistível (se a coação
for irresistível somente o coator responderá pelo crime praticado pelo
coato, todavia se resistível, ambos respondem pela prática do crime, sendo
aplicada uma atenuante ao coagido, art. 65, II, c, do CP).

CONCURSO DE PESSOAS A teoria adotada, a Monista, se respaldada no art. 29


do CP, a qual traz que todos os que concorrem para o crime
Concurso de Pessoas (arts. 29 a 31) incidem nas mesmas penas a este cominadas, na medida de
sua culpabilidade32. Em outras palavras, ainda que o crime
Há concurso de pessoas quando dois ou mais indivíduos seja praticado por diversas pessoas, ele permanece único e
concorrem para a prática de um mesmo crime. Pode também indivisível. Contudo, a própria lei admite que haja punições
Noções de Direito Penal

ser chamado de concurso de agentes ou codelinquência. diferenciadas conforme a participação dos agentes, ou seja,
Ao definir o concurso de agentes, o CP adotou a Teoria pune-se de forma diferente a participação em determina-
Monista ou Unitária, segundo a qual o autor é aquele que das situações, diferenciando-se a autoria da participação,
realiza a conduta principal descrita no tipo penal e o partícipe aproximando-se, portanto, da Teoria Dualista. Sendo assim,
é aquele que, embora não realize a conduta descrita no há quem defenda que o Brasil adotou a Teoria Monista “mi-
tipo penal, concorre para a sua realização. Para essa teoria, tigada”, temperada ou matizada para definir o concurso de
havendo concurso de pessoas há um só crime. A Reforma pessoas em práticas delituosas.
Penal de 1984 adotou a Teoria Monista, equiparando auto-
res e partícipes, ou seja, todos os concorrentes incidem nas
mesmas penas, mas na medida de sua culpabilidade. Assunto cobrado na prova da Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013.
32

42
al.
ESQUEMA nº 1 – TEORIA MONISTA: afirma que todos que os diferencia é que na coautoria várias pessoas têm o
concorrerem para prática de um crime, responderão em domínio do fato. Coautor é quem possui qualidades
regra pelo mesmo crime. específicas do autor capaz de decidir a respeito do
fato por tomar parte também na execução do delito,
Ex.: A, B, C e D resolvem fazer um assalto e se organizam embora não se exija que todos os concorrentes prati-
da seguinte forma: quem a conduta descrita no núcleo do tipo.
• A – fica vigiando a casa do lado de fora.
• B – entra na casa e passa subtrair os bens no andar de cima. Restando patente a divisão de tarefas entre os corréus,
• C – entra na casa e passa a subtrair os bens no andar de não há que se falar em conduta estanque do partícipe, tam-
baixo. bém chamada de participação de menos importância, mas
• D – é o motorista que fica no carro para dar fuga. numa efetiva colaboração de todos os envolvidos. A conduta
Assim, segundo a Teoria Monista adotada pelo CP, todos daquele que não realizou o verbo núcleo do tipo, mas par-
(A, B, C, D e E) irão responder pelo crime de furto, apesar ticipou efetivamente da execução do crime é considerada
de apenas B e C terem realizado a subtração. A diferença funcional ou parcial, sendo assim, aquele que age como “ba-
estará na quantidade de pena que será aplicada a cada tedor”, transportando os comparsas e aguardando-os para
um, onde hipoteticamente, B e C receberão pena maior. fuga, responde como coautor e não apenas como partícipe
do crime. Em outras palavras, realizou conduta considerada
Quanto à definição de autoria e participação, o CP adotou imprescindível à consecução do evento, mesmo não tendo
praticado qualquer elemento objetivo do tipo, participando
a Teoria Restritiva, onde autor é somente aquele que pratica
da execução do crime sem realizar o verbo núcleo do tipo.
a conduta descrita no núcleo do tipo penal e o partícipe é Ao adotar, como regra, a Teoria Monista quanto à nature-
aquele que, de alguma forma, auxilia o autor, mas sem rea- za do concurso de pessoas, quis o legislador reconhecer que
lizar a conduta narrada pelo tipo penal. todos os que contribuem para a prática do delito cometem
o mesmo crime, não importa se eles se enquadram como
ESQUEMA nº 2 – TEORIA RESTRITIVA: define quem é autor coautores ou partícipes da prática delituosa.
e partícipe. Autor é aquele que pratica a conduta descrita Infere-se, ainda, da legislação brasileira, que se algum dos
no núcleo do tipo penal, ou seja, aquele que subtrai, mata, concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á
constrange alguém, falsifica; partícipe é aquele que, de aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a me-
alguma forma, auxilia o autor, mas sem realizar a conduta tade na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
narrada pelo tipo penal. Aprovar a prática de um crime, ou estar de acordo com
ele, mas sem nenhuma participação, não constitui ilícito
Novamente analisando o exemplo acima: A, B, C, e D re- penal. Por outro lado, porém, é crime fazer publicamente
solvem fazer um assalto e se organizam da seguinte forma: apologia de fato criminoso ou de autor de crime, embora,
• A – fica vigiando a casa do lado de fora. isoladamente, não há que se falar em concurso de agentes
• B – entra na casa e passa subtrair os bens no andar de cima. em práticas delituosas.
• C – entra na casa e passa a subtrair os bens no andar de Por fim, saliente-se que, na aplicação da lei penal, o caráter
baixo. é pessoal, mas proporcional à culpa. Sendo assim, segundo a
• D – é o motorista que fica no carro para dar fuga. teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, ao definir
Já verificamos que segundo a Teoria Monista todos responde- que todos os que contribuem para a prática do delito cometem
rão pelo mesmo crime, ou seja, furto. Agora segundo a Teoria o mesmo crime, não havendo distinção quanto ao enquadra-
Restritiva, autor é somente que pratica a conduta típica, ou mento típico entre o autor e o partícipe, engessaria a tipificação,
seja, no exemplo acima aqueles que efetuaram a subtração. por exemplo, do crime de corrupção ativa, já que o funcionário
Assim autores serão B e C. Já A e D, auxiliaram a prática crimi- público não comete o mesmo crime do particular que lhe ofe-
nosa, sem diretamente executá-la, ou seja, serão os partícipes. rece a vantagem indevida, mas crime de corrupção passiva, se
vier a receber a tal vantagem, motivo pelo qual a teoria adotada
Agora vamos incrementar este exemplo acrescendo mais não pode vista apenas na literalidade de seu texto.
Requisitos do concurso de pessoas:
uma personagem, E, que planejou todo o assalto, é o man-
• pluralidade de comportamentos – no mínimo duas
dante, e fica em casa aguardando o cometimento do assalto. condutas;
Segundo a Teoria Restritiva, por ele executar a conduta típica, • nexo de causalidade – todas as condutas devem ter
ele será um partícipe. Isto pode causar espanto, todavia, de- contribuído para a ocorrência do resultado;
vemos lembrar que segundo a Teoria Monista ele responderá • vínculo (liame) subjetivo – há vontade de cada agente
também pelo crime de furto, tendo a sua penalidade aplicada de contribuir para a produção do resultado. Não haven-
conforme sua influência para prática criminosa. do concursos de vontades, desaparecerá o concurso
Todavia, há uma parte da doutrina que discorda do po- de agentes, surgindo a autoria colateral. Aqui, todos
sicionamento acima apontado e para, então complementar buscam o mesmo resultado;
a Teoria Restritiva, surge a Teoria do Domínio do Fato, em • identidade de infrações – a infração é a mesma para
lições de Hanz Welzel. Para ela: todos os concorrentes. Todos respondem solidaria-
• Autor é o senhor do fato, ou seja, é aquele que possui mente pela ação, apurando-se o grau de participação.
Noções de Direito Penal

o domínio final do fato, haja vista que aquele que re- O crime é o mesmo.
aliza a conduta descrita no tipo penal tem o poder de
decidir se vai até o fim com o plano criminoso. Aqui, Teorias, sobre a Autoria, Aplicadas à Legislação Penal
surge a divisão de tarefas, onde o agente, além de Brasileira
ter o poder de decisão sobre o fato último, possui a Teoria Restritiva: segundo essa teoria, autor é somente
capacidade de cumprir ou não a parcela do delito que aquele que pratica a conduta descrita no tipo penal.
lhe foi atribuída. Sendo assim, o autor possui o manejo Teoria do Domínio do Fato: segundo ela, autor é todo
dos fatos e o leva a sua realização. aquele que detém o controle final da produção do resultado,
• Partícipe é aquele que simplesmente colabora, sem possuindo, assim, o domínio completo de todas as ações até
poderes decisórios, a respeito da consumação do fato. a eclosão do evento pretendido. Não importa se ele realizou o
Para essa teoria, coautor é o mesmo que autor. O que núcleo do tipo (CAPEZ).

43
Embora o CP tenha adotado a Teoria Restritiva, por ela c) Participação: dá ideia de situação acessória. O partí-
não tratar de forma satisfatória as hipóteses do mandante e cipe colabora para a consumação, mas não se encontra em
do autor intelectual, surge a Teoria do Domínio do Fato para condições de influir no resultado. É aquele que participa
complementar a primeira, afirmando que o mandante e o autor indiretamente do crime. Para a Teoria Restritiva, é aquele
intelectual são autores, e não partícipes do delito, uma vez que que concorre para o crime sem praticar os elementos do tipo,
a Teoria Restritiva diz que, por eles não praticarem os elementos ou seja, induzindo, instigando e auxiliando. Para a Teoria do
do tipo, não são considerados autores, mas, sim, partícipes. Domínio do Fato, partícipe é quem, sem domínio próprio do
fato, ocasiona ou, de qualquer forma, promove, como figura
Formas no Concurso de Agentes lateral do acontecimento real, o seu cometimento. É todo
aquele cujo comportamento na cena criminosa não reste
a) Autor: é aquele que pratica diretamente a ação ou tem, imprescindível à consecução do evento.
sob seu absoluto domínio, o total comando da ação, mesmo
que outros sejam os executores. Ele participa diretamente da Formas de participação: a participação pode apresentar-
conduta delitiva. Para a Teoria Restritiva, é aquele que pratica os -se de duas formas:
elementos do tipo. Já para a Teoria do Domínio do Fato, o autor • Moral: instigando ou induzindo ao cometimento da
é aquele que detém o controle final do fato, dominando toda a prática delituosa. Não é necessário ato executório,
realização delituosa, com plenos poderes para decidir sobre sua bastando o apoio moral.
prática, interrupção ou circunstâncias. Não importa se o agente • Material: fornecimento de materiais que contribuem
pratica ou não o verbo descrito no tipo penal, pois, o que a lei para a prática do delito.
exige, é o controle de todos os atos, desde o início da execução
até a produção do resultado. Por essa razão, o mandante, em- Atente-se para o fato: se A e B matam alguém, ou seja,
bora não realize o núcleo da ação típica, deve ser considerado se B amarra ou segura a pessoa enquanto A atira nela, A e B
autor, uma vez que detém o controle final do fato até a sua serão coautores do crime. É errôneo dizer aqui que A foi o
consumação, determinando a prática delitiva. autor e B o coautor. Só existiria autor, nesse caso, se A atirasse
na pessoa e fosse apenas auxiliado por B, que lhe forneceu a
Formas de autoria: arma ou o instigou para que efetuasse os disparos.
• Autor executor: é aquele que, materialmente, realiza
a conduta típica prevista no texto legal. Autoria colateral
• Autor intelectual: é aquele que idealiza e dirige a ação
por meio de terceiros sobre quem tem absoluto con- Ela não se confunde com o concurso de pessoas, já que
trole, podendo, inclusive, determinar a continuação ou um dos requisitos do concurso de agentes é a existência do
paralisação da conduta. A título de exemplo: Cleverson, vínculo psicológico entre os envolvidos, ou seja, o liame de
vulgarmente conhecido como “Pão com Ovo”, antigo vontades. Na autoria colateral, não há tal vínculo entre os
traficante de drogas ilícitas, continuou a dar as ordens agentes. Esta ocorre quando duas pessoas procuram dar
a sua quadrilha, mesmo estando encarcerado em um causa a um determinado resultado, convergindo suas con-
presídio de segurança máxima. Logo, “Pão com Ovo” dutas para tanto, sem estarem unidas pelo liame subjetivo.
deve responder como autor intelectual do crime de Os agentes desconhecem cada um a conduta do outro, mas
tráfico de drogas, mesmo não praticando atos de realizam atos convergentes à produção do evento a que todos
execução deste crime.33 visam, mas que ocorre em face do comportamento de um só
• Autor mediato: é aquele que de forma consciente e deles. A título de exemplo: Dois veículos chocaram-se em
deliberada faz atuar por ele o outro cuja conduta não um cruzamento. Em razão da colisão, um dos motoristas
reúne todos os requisitos para ser punível. Normal- fraturou um braço, o que o impossibilitou de trabalhar por
mente faz uso de um inimputável ou usa de coação seis meses. O outro motorista teve uma luxação no joelho
moral irresistível para que terceiros pratique a conduta direito. O fato foi apurado pela delegacia local, restando
descrita no tipo penal. cabalmente provado que os motoristas de ambos os carros
concorreram para a colisão, pois um, em face da ausência
b) Coautoria: é a união de vontades de diversas pessoas de manutenção, estava sem freio, e o outro havia avançado
para alcançar o mesmo resultado. Na coautoria, ocorre a o sinal e estava em velocidade acima da permitida. Assim,
divisão dos atos que tendem à execução de ação delituosa. conclui-se que se trata de hipótese de autoria colateral.35
É quem executa, juntamente com outras pessoas que tenham A autoria colateral pode ser classificada, então, em dois tipos:
o mesmo objetivo, a ação ou omissão que tipifica o delito. • autoria colateral certa: ocorre quando é possível iden-
Para a Teoria Restritiva, o coautor é aquele que pratica os tificar qual dos agentes deu causa ao resultado;
elementos do tipo ou parte dele (divisão de tarefas). Para • autoria colateral incerta: ocorre quando não é possível
a Teoria do Domínio do Fato, é aquele que, possuindo o saber qual dos indivíduos produziu o resultado.
domínio do fato, divide tarefas, auxiliando o autor. Existem
duas espécies de coautoria: a coautoria propriamente dita, Obs.: não se confunde autoria colateral incerta com
ou seja, há uma divisão de tarefas em sede de tipo em que autoria desconhecida. Na primeira, sabem-se quem são os
o coautor realiza tarefas tidas como essenciais ao crime; autores do crime, apenas não se sabe, ao certo, qual deles
a coautoria funcional, ou seja, aquela cuja conduta reste deu causa ao resultado. Na autoria desconhecida, os autores
imprescindível à consecução do evento, mesmo que não é que não são conhecidos, não se podendo imputar os fatos
Noções de Direito Penal

tenha praticado qualquer elemento objetivo do tipo. A título a qualquer pessoa.


de exemplo: Sílvio e Mário, por determinação de Valmeia, Comunicação de circunstâncias
prima de Sílvio, tomaram vários eletrodomésticos da casa
de Joaquina, que havia saído para trabalhar. Após a divisão Segundo o CP, não se comunicam as circunstâncias e as
em partes iguais, Valmeia, por necessitar para utilização condições de caráter pessoal (motivos ou relações com a
em sua casa, comprou de Sílvio e Mário os eletrodomésticos vítima, estado civil etc.) dos agentes, salvo quando elemen-
que lhes couberam na divisão. Logo, pode-se afirmar que tares do crime (dados que constam do tipo). É necessário que
Valmeia, Sílvio e Mário são coautores do crime de furto.34 o coautor ou partícipe tenha conhecimento da elementar,
para que se comunique.
Funcab/PC-ES/Delegado de Polícia/2013.
33

Funcab/PC-ES/Delegado de Polícia/2013.
34
Funcab/PC-ES/Delegado de Polícia/2013.
35

44
Observe que, para se comunicarem, segundo essa redação, Artigos Pertinentes
as circunstâncias pessoais devem ser elementares do crime.
Elementar é um componente essencial do tipo penal, sem o Regras comuns às penas privativas de liberdade
qual desaparecerá o crime. Exemplificaria a expressão o cri- Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o
me de peculato, em que a condição de funcionário público é crime incide nas penas a este cominadas, na medida
elementar do delito. Ora, não existindo a figura do funcionário de sua culpabilidade.
público, que é elementar do crime de peculato, não existe o § 1º Se a participação for de menor importância,
delito. As elementares, não importa se subjetiva (de caráter a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
pessoal) ou objetiva (de caráter não pessoal), sempre se co- §  2º Se algum dos concorrentes quis participar de
municam. Já as circunstâncias, que são dados acessórios agre- crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste;
gados ao tipo penal, cuja função é precípua de influir na pena, essa pena será aumentada até metade, na hipótese
se de caráter pessoal (subjetiva), jamais irão se comunicar no de ter sido previsível o resultado mais grave.
concurso de agentes, e as de caráter não pessoal (objetiva),
só se comunicarão aos demais envolvidos se eles delas tiver Circunstâncias incomunicáveis
conhecimento. Exemplo disso seria no crime de furto praticado Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as
condições de caráter pessoal, salvo quando elemen-
durante o repouso noturno. Ora, se a conduta dos agentes se
tares do crime.
der em período diurno, o delito de furto continuará existindo,
só não se aplicando, no caso, o agravante de ter sido praticado Casos de impunibilidade
durante o período de repouso noturno. Art. 31. O ajuste, a determinação ou instigação e o
Em face do exposto, visto foi que elementar é componente auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não
essencial do crime e circunstância é mero acessório do ilícito são puníveis, se o crime não chega, pelo menos,
penal , motivo pelo qual o texto do CP se contradiz ao mencio- a ser tentado.
nar circunstância elementar. Esta se refere às qualificadoras,
que são circunstâncias comuns, que, por sua vez, não têm o Síntese Esquemática sobre a Teoria Geral do Crime
condão de eliminar o crime, apenas de passá-lo de sua forma
qualificada para a forma simples, seguindo, então, a orientação Crime: definição de crime sob o aspecto analítico, ou seja,
para as circunstâncias. Estas podem ser objetivas e se referem aquele que o conceitua sob o prisma jurídico, estudando seus
aos aspectos do crime, como tempo, lugar, modo de execução, elementos estruturais.
meios empregados, qualidades do objeto, da vítima etc. Elas
se referem ao fato em si, e não ao agente; já as circunstâncias Fato Típico Antijurídico (ilícito) Culpável
subjetivas se referem ao agente, e não ao fato, como reincidên- (Elementos) (Excludentes) (Elementos)
cia, antecedentes, conduta social, personalidade etc. (CAPEZ) Conduta Estado de necessidade Imputabilidade
Resultado Legítima defesa Potencial consciência
Observações gerais sobre o concurso de agentes da ilicitude
Nexo causal Estrito cumprimento de Exigibilidade de condu-
1 – Pode haver coautoria em crime culposo, como no caso dever legal ta diversa
de dois médicos imperitos realizando juntos uma operação. Tipicidade Exercício regular de direito
2 – Entende a doutrina que no crime culposo não pode
haver partícipe, uma vez que a colaboração consciente para Culpabilidade: juízo de reprovação.
o resultado só existe no crime doloso.
3 – Não é possível a coautoria em crime omissivo. Na Elementos Excludentes
confluência de duas ou mais omissões, cada um responderá, Imputabilidade Inimputabilidade (arts. 26,
isoladamente, pela sua própria omissão.
27 e 28, § 1º)
4 – O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio,
salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis se Potencial consciência da Erro de proibição
o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. ilicitude
5 – No crime de extorsão mediante sequestro, o coautor
Exigibilidade de conduta Coação moral irresistível e
que denunciar o fato à autoridade, facilitando a libertação
do sequestrado, terá a pena reduzida de um a dois terços. diversa obediência hierárquica

Excludentes Diversas

Ilicitude Culpabilidade Tipicidade Punibilidade


Estado de necessidade Inimputabilidade (todas as causas) Coação física irresistível Morte do agente
Legítima defesa Erro de proibição inevitável Princípio da insignificância Anistia, graça e indulto
Estrito cumprimento de dever legal Coação moral irresistível Erro de tipo escusável Prescrição, decadência e perempção
Exercício regular de direito Obediência hierárquica Abolitio criminis (retroatividade da lei
que não mais considera o fato criminoso)
Noções de Direito Penal

* Consentimento do ofendido (para Estado de necessidade putativo Renúncia e perdão


bens disponíveis)
* Ofensa irrogada em juízo na dis- Legítima defesa putativa Retratação do agente
cussão da causa
* Aborto terapêutico e aborto Perdão judicial
sentimental
* Violação de domicílio nos casos
previstos na CF
* Coação visando a impedir a prá-
tica de suicídio

(*) São causas supralegais de exclusão de ilicitude.

45
AÇÃO PENAL E APLICAÇÃO DAS PENAS Público. Dá-se pela relevância do bem jurídico atingido e pe-
los reflexos que poderão ser causados no mundo exterior, não
dependendo, pois, o seu exercício da vontade de terceiros e
Ação Penal (arts. 100 a 106 do CP) nem da própria vítima. Será proposta, independentemente
de qualquer condição, desde que preenchidos os requisitos
Conceitos iniciais legais. São exemplos de crimes de ação penal pública incon-
dicionada: roubo, homicídio, extorsão, peculato etc.
Procedimento: é a sequência a que os atos processuais Condicionada: embora aqui também o Estado seja o
devem obedecer, os quais estão previamente descritos em titular da ação penal, sua propositura depende de vonta-
lei. Em outras palavras, os procedimentos nada mais são do de do ofendido ou de seu representante legal. Em outras
que ritos processuais. palavras, o Estado permanece como titular da ação penal,
Ação: é o direito da parte de agir em juízo, ou seja, de mas transfere o exercício desta ação ao particular. Para ser
se invocar a tutela jurisdicional do Estado, a fim de que se proposta, depende de uma manifestação do ofendido de
aplique o Direito Material ao caso concreto. Para a doutrina, vir seu algoz punido. Essa vontade será expressa por um
tem como características ser um direito subjetivo público, termo chamado de “representação”, que, nada mais é do
autônomo, instrumental e relativamente abstrato. que uma condição de procedibilidade para a propositura
Processo: conjunto de atos praticados que visa a fazer da ação, sem a qual ela não poderá ser iniciada. Ela pode
valer e aplicar a real vontade da lei. Em outras palavras, é a ser dirigida ao delegado, ao juiz ou ao MP, por escrito ou
materialização do procedimento. Na prática, refere-se à verbalmente, sendo que, neste caso, será reduzida a termo.
atividade jurisdicional realizada por um Juiz de Direito que Normalmente, cabe ao ofendido ou seu representante legal
busca aplicar a lei abstrata ao caso concreto. manifestar a sua intenção de ver o autor da infração sendo
Processo penal: forma de operacionalização do direito processado e julgado pelo ato cometido, mas esse direito
material, no caso, o penal. Material, neste sentido, porque pode ser exercido por procurador com poderes especiais.
define as infrações penais e suas respectivas penas. Visa a Esse direito de representação também poderá ser transferido
compor as lides de natureza penal, por meio da aplicação para os sucessores (cônjuge, ascendente, descendente ou
do Direito Penal objetivo. irmão) do ofendido, no caso de seu falecimento ou de sua
ausência judicial declarada. São exemplos de crimes de ação
Condições gerais da ação: penal pública condicionada à representação: ameaça, lesão
• possibilidade jurídica do pedido: refere-se à existência corporal leve, lesão corporal culposa etc. (desde que não se
de algum direito protegido pela norma, que possa ser trate de casos de violência doméstica ou familiar contra a
objeto de apreciação judicial; mulher). Em casos específicos, a ação penal pública condi-
• legítimo interesse: significa que o postulante só deve cionada poderá ser iniciada mediante “requisição” (também
exigir a ação estatal para satisfazer interesse que seja condição objetiva de procedibilidade para a propositura da
legítimo, evitando que o autor recorra à autotutela, ação penal) do Ministro da Justiça, que é a pessoa legitimada
quando a parte contrária se nega a satisfazer o direito para propor a ação penal nos seguintes casos:
alegado ou quando exige que determinados direitos – crimes contra a honra praticados contra o presidente
só possam ser exercidos mediante prévia declaração da República ou contra chefe de Estado estrangeiro;
judicial, como, por exemplo, na ação penal condena- – crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora
tória; do Brasil.
• justa causa: refere-se à necessidade de se ter suporte
probatório mínimo para o ajuizamento da ação penal; Observações: 1ª) embora não exista prazo decadencial
• legitimação para agir: também chamada de ad cau- para se fazer a requisição, deve-se observar se o crime já não
sam, refere-se à titularidade de alguém poder ingressar está prescrito; 2ª) uma vez feita a requisição, ela será irretra-
com a ação, ou seja, requer que o agente postulante tável, ou seja, o Ministro da Justiça não pode mais voltar atrás
tenha, de fato, legitimidade para agir dentro dos dita- e se retratar; 3ª) a requisição feita pelo Ministro da Justiça
mes legais. não obriga o Ministério Público a oferecer a denúncia; 4ª) a
representação só poderá ser retratada até o oferecimento
A legitimação poderá ser: (e não recebimento) da denúncia; 5ª) a jurisprudência vem
admitindo a retratação da retratação, desde que se faça
• ordinária: aquela em que o MP é o detentor da ação;
antes do oferecimento da denúncia e que ocorra dentro do
• extraordinária: aquela em que o próprio ofendido é o prazo decadencial de 6 meses, contados do conhecimento
titular da ação.
da autoria do crime.
Classificação da Ação Penal Privada
Noções de Direito Penal

Pública Embora continue cabendo ao Estado o jus puniendi (direito


de punir), ao particular é transferida a iniciativa da ação penal,
É aquela que se inicia por “denúncia” do Ministério uma vez que o interesse é exclusivo dele. Neste caso, há a
Público, já que ele é o dominus litis da ação penal pública, chamada substituição processual, tendo em vista que este
ou seja, o dono da ação. O Estado é o soberano para movi- tipo de ação, de iniciativa privada, inicia-se por “queixa” (ou
mentar a ação por meio do Ministério Público. A ação penal queixa-crime), elaborada pela vítima ou por seu representante
pública pode ser: legal, os quais são representados por profissional legalmente
habilitado – advogado. A ação penal privada pode ser:
Incondicionada (ou plena): é a regra. Aqui, o Estado é o • Exclusiva (ou genérica, ou comum, ou principal, ou
titular do direito de ação, sendo representado pelo Ministério propriamente dita): é aquela de iniciativa exclusiva

46
da vítima ou de seu representante legal, podendo os • divisibilidade: pode o MP denunciar apenas um dos
seus sucessores iniciarem ou darem continuidade ao corréus, aguardando que se reúnam provas contra os
processo nos casos de falecimento da vítima ou de demais. Depois disso, eles poderiam ser denunciados.
sua ausência declarada por decisão judicial. Como A denúncia poderia ser, inclusive, aditada;
regra, são exemplos de crimes de ação penal privada • intranscendência: a acusação é pessoal e não pode
exclusiva: calúnia, difamação, injúria, dano etc. passar da pessoa do acusado, ou seja, somente ele
• Personalíssima: é aquela que só poderá ser proposta poderá responder pela infração penal que realmente
pelo próprio ofendido, não havendo transmissão cometeu, não podendo a acusação transcender para
aos seus sucessores no caso de falecimento e nem outra pessoa.
a possibilidade de o representante legal exercê-la.
O Código Penal só traz um crime sujeito a este tipo Privada:
de ação: o induzimento a erro essencial e ocultação • oportunidade/conveniência: o ofendido tem a facul-
de impedimento (art. 236, CP). Obs.: previa também dade, e  não a obrigatoriedade de promover a ação
o crime de adultério (art. 240 do CP), mas o referido penal. Dá-se a liberdade à vítima ou ofendido de julgar
artigo foi revogado pela Lei nº 11.106/2005; a conveniência ou não da propositura da ação penal
• Subsidiária da Pública (ou Supletiva): ocorre quando privada. Há total discricionariedade para ela decidir se
da inércia do Ministério Público. Este, por omissão processa ou não o autor da infração;
injustificada, não oferece a denúncia no prazo legal, • disponibilidade/desistibilidade: a vítima tem a facul-
ou seja, em 5 dias (quando o réu estiver preso), ou dade de poder desistir de uma ação já proposta, ou
em 15 dias (quando o réu estiver solto). Neste caso, mesmo de abandoná-la, perdoando o acusado. Em
o próprio ofendido, por intermédio de seu advogado, outras palavras, poderá desistir da demanda, demons-
ingressa com a ação penal privada subsidiária da trando que não mais lhe interessa permanecer como
pública. É a chamada queixa substitutiva da denúncia parte na lide;
• indivisibilidade: a queixa deve incluir todos os ofenso-
ou queixa subsidiária ou supletiva. Neste caso, o MP
res, de modo que, havendo mais de um autor na infra-
acompanha todos os atos realizados e, se por algum
ção, a vítima, se vier a oferecer a ação, deverá propô-la
motivo, verificar que houve negligência por parte do
contra todos, tendo em vista que, se renunciar contra
querelante poderá retomar a ação como parte prin-
um deles, estará renunciando contra todos os outros;
cipal, podendo, inclusive, aditar a queixa, repudiá-la
• intranscendência: somente poderá ser parte no feito
e oferecer denúncia substitutiva. Obs.: 1ª) a regra é aquele que tenha cometido o delito, sendo que sua
que o prazo decadencial, de 6 meses, inicia-se com responsabilidade penal jamais poderá passar para
conhecimento da autoria. Mas, na ação penal privada terceiros;
subsidiária da pública, o prazo decadencial, também • legalidade: a ação penal privada, assim como a pública,
de 6 meses, começa a contar a partir do momento deve observar os ditames da lei.
em que se finda o prazo que o MP tem para ofertar
a denúncia; 2ª) a doutrina e a jurisprudência vêm en- Requisitos da denúncia e da queixa:
tendendo que o MP não pode, na ação penal privada • exposição do fato criminoso com todas as suas circuns-
exclusiva, aditar a queixa para incluir fato ou pessoa tâncias;
nova, pelo fato de não ser ele o titular da ação penal • qualificação do acusado ou sinais pelos quais se possa
privada, mas o ofendido. Contudo, isso não prevalece identificá-lo;
na ação penal privada subsidiária da pública, que, por • classificação do crime;
ser originariamente pública, as atribuições do MP são • o rol de testemunhas, quando necessário;
mais amplas, razão pela qual vêm admitindo que o adi- • endereçamento correto da denúncia ou da queixa;
tamento inclua pessoa ou fato novo que não tenham • pedido de condenação, ainda que implícito;
sido apontados pelo querelante. • assinatura daquele que elaborou a denúncia ou a
queixa.
Princípios inerentes à ação penal:
Causas para rejeição da denúncia ou queixa:
Pública: • quando for manifestamente inepta (quando as acusa-
• obrigatoriedade: uma vez comprovada a materialida- ções não são descritas de maneira precisa e completa,
de e a autoria da infração penal, não sendo caso de impedindo o exercício da ampla defesa por parte do
arquivamento do inquérito, o  MP estará obrigado a réu);
oferecer a denúncia; • quando faltar pressuposto processual ou condição
• oficialidade: cabe ao Estado promover a ação penal, para o exercício da ação penal;
sendo este representado por um órgão oficial, o MP; • quando faltar justa causa para o exercício da ação
• legalidade: em toda ação penal deve-se prezar por penal.
Noções de Direito Penal

observar os ditames impostos pela lei;


• indisponibilidade/indesistibilidade: uma vez iniciada Prescrição, Decadência e Perempção
a ação, não poderá o MP dela desistir, bem como não
pode desistir do recurso por ele interposto, nem renun- • Prescrição: ocorre quando o Estado perde o direito de
ciar ou abandonar a ação e nem conceder o perdão, punir o criminoso, por não ter exercido esse direito no
o que não impede que o MP requeira a absolvição do prazo legal. A prescrição pode ser verificada tanto aos
acusado, caso convencido de sua inocência; crimes sujeitos à ação penal pública quanto àqueles
• oficiosidade: só existe este princípio na ação penal públi- sujeitos à ação penal privada, exceto para os crimes
ca incondicionada, tendo em vista que ela é a única que de racismo e ação de grupos armados contra a ordem
pode ser iniciada de ofício pelo MP, independentemente constitucional e o estado democrático, haja vista haver
da vontade da vítima ou de seu representante legal; preceitos constitucionais nesse sentido.

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• Decadência: embora se refira à perda do direito de se Artigos Pertinentes
iniciar a ação, em razão do seu não exercício no prazo
legal, ela só será verificada nos crimes de ação penal Ação pública e de iniciativa privada
pública condicionada à representação e nos crimes de Art. 100. A ação penal é pública, salvo quando a lei
ação penal privada. Esse prazo, normalmente, é de 6 expressamente a declara privativa do ofendido.
meses contados do conhecimento da autoria do cri- §  1º A ação pública é promovida pelo Ministério
me, sem que a vítima tenha manifestado o desejo de Público, dependendo, quando a lei o exige, de repre-
processar o seu agressor. sentação do ofendido ou de requisição do Ministro
• Perempção: é a perda do direito de prosseguir na ação da Justiça.
penal privada em razão de inércia ou negligência pro- § 2º A ação de iniciativa privada é promovida median-
cessual. Ela só se aplica à ação penal privada, exceto te queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade
se for subsidiária da pública, pois, neste caso, o MP para representá-lo.
irá retomar a ação como parte principal. A ação será § 3º A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos
crimes de ação pública, se o Ministério Público não
perempta nos seguintes casos: a) quando, iniciada
oferece denúncia no prazo legal.
esta, o querelante deixar de promover o andamento
§ 4º No caso de morte do ofendido ou de ter sido
do processo durante 30 dias seguidos; b) quando,
declarado ausente por decisão judicial, o direito de
falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapaci-
oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao
dade, não comparecendo em juízo, para prosseguir cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
no processo, dentro do prazo de 60 dias, qualquer de
seus sucessores (cônjuge, ascendente, descendente ou A ação penal no crime complexo
irmão); c) quando o querelante deixar de comparecer, Art. 101. Quando a lei considera como elemento ou
injustificadamente, a qualquer ato do processo a que circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos,
deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de constituem crimes, cabe ação pública em relação
condenação nas alegações finais; d) quando, sendo o àquele, desde que, em relação a qualquer destes, se
querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar deva proceder por iniciativa do Ministério Público.
sucessor.
Obs.: A prescrição, a decadência e a perempção, de Irretratabilidade da representação
acordo com o art. 107 do CP, são causas de extinção Art. 102. A representação será irretratável depois de
da punibilidade do agente. oferecida a denúncia.

Renúncia e Perdão Decadência do direito de queixa ou de represen-


tação
• Renúncia: antecede a propositura da ação penal, ou Art. 103. Salvo disposição expressa em contrário,
seja, só existe enquanto não for oferecida a queixa; é o ofendido decai do direito de queixa ou de repre-
ato unilateral, uma vez que não precisa ser aceito pelo sentação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis)
querelado para produzir efeitos; pode ser expressa (há meses, contado do dia em que veio a saber quem
manifestação expressa do ofendido no sentido de não é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100
querer iniciar a ação penal) ou tácita (ocorre quando deste Código, do dia em que se esgota o prazo para
o ofendido pratica qualquer ato incompatível com oferecimento da denúncia.
o direito de queixa, dando a entender que ele está
renunciando a este direito); é causa de extinção da Renúncia expressa ou tácita do direito de queixa
punibilidade; em regra, só existe na ação penal privada Art. 104. O direito de queixa não pode ser exercido
quando renunciado expressa ou tacitamente.
(exceto na subsidiária da pública); pode ser escrita ou
Parágrafo único. Importa renúncia tácita ao direito
verbal; pode ser concedida mediante procuração com
de queixa a prática de ato incompatível com a von-
poderes especiais; se concedida a um dos querelados
tade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de
a todos se estenderá. receber o ofendido a indenização do dano causado
• Perdão: é ato posterior à ação penal, ou seja, só existe pelo crime.
após o oferecimento da queixa; é ato bilateral, uma vez
que precisa ser aceito pelo querelado para produzir Perdão do ofendido
efeitos (desde que ocorra antes do trânsito em julgado Art. 105. O perdão do ofendido, nos crimes em que
da sentença); pode ser expresso ou tácito; a aceitação somente se procede mediante queixa, obsta ao
do perdão também poderá ser expressa ou tácita (de- prosseguimento da ação. 
pois de concedido o perdão, o querelado tem 3 dias Art. 106. O perdão, no processo ou fora dele, expresso
Noções de Direito Penal

para dizer se o aceita ou não. Se ele vier a silenciar, este ou tácito:


silêncio importa aceitação). Já a recusa do perdão só I – se concedido a qualquer dos querelados, a todos
poderá ser expressa, uma vez que, se o querelado se aproveita;
calar, é sinal de que o aceitou; é causa de extinção da II – se concedido por um dos ofendidos, não prejudica
punibilidade; em regra, só existe na ação penal privada o direito dos outros;
(exceto na subsidiária da pública); pode ser escrita ou III – se o querelado o recusa, não produz efeito. 
verbal; pode ser concedida mediante procuração com § 1º Perdão tácito é o que resulta da prática de ato
poderes especiais; se concedida a um dos querelados, incompatível com a vontade de prosseguir na ação.
a todos se estenderá, contudo, só produzirá efeitos em § 2º Não é admissível o perdão depois que passa em
relação àquele que o aceitar. julgado a sentença condenatória.

48
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE Anistia, Graça ou Indulto

Extinção da Punibilidade (arts. 107 a 120) Em quaisquer das situações aqui apresentadas, há,
por parte do Estado, a renúncia ao direito de punir. Essas
A punibilidade deve ser entendida como o poder/dever formas estão elencadas no Código Penal e se originam das
do Estado de aplicar sanção àqueles que infringiram as nor- indulgências ou clemências soberanas, que eram oriundas
mas contidas no ordenamento jurídico do próprio Estado, já da boa vontade dos reis. Embora hoje elas componham o
que a punibilidade não é requisito do crime, mas consequên- ordenamento jurídico brasileiro, elas não se aplicam a todos
cia jurídica deste. Sendo assim, quando o Estado não puder os crimes e nem a todos os criminosos, já que, por exemplo,
aplicar a devida reprimenda por alguma causa impeditiva do não cabem para os crimes hediondos. Resumidamente, elas
seu jus puniendi, haverá extinção da punibilidade do agente. poderiam assim ser tratadas:
Em outras palavras, muitas vezes o Estado perde o direito
de punir o infrator, por lapso temporal, por exemplo, ou, em Anistia:
razões de política criminal, às vezes deixa de punir o autor • pode ser concedida antes ou depois da sentença;
do ilícito, concedendo-lhe o perdão judicial, como exemplo. • tem abrangência, em especial, entre os crimes políticos;
Não se trata de simples causa de extinção de pena, como • tem efeitos ex tunc, ou seja, retroativo, que retira
ocorre, por exemplo, no crime de peculato culposo, quando consequências de alguns crimes praticados e promo-
o agente repara o dano ou restitui a coisa antes da sentença ve o seu esquecimento jurídico. Em outras palavras,
irrecorrível, mas da perda do direito do Estado de exercer uma vez concedida, faz cessar todos os efeitos penais,
o jus puniendi. Cabe ao juiz, em qualquer fase do processo, como a reincidência, exceto os civis, que continuam.
se reconhecer extinta a punibilidade, declará-la de ofício, ou Portanto, o réu volta a ser primário;
mediante requerimento de qualquer das partes, extinguindo • a concessão é competência privativa do Congresso
a punibilidade. Nacional (CN), mediante lei federal, com sanção do
No sistema penal brasileiro, há causas pessoais que
Presidente da República (PR);
excluem e extinguem totalmente a punibilidade e, igual-
• refere-se a fatos, e não a pessoas; contudo, atinge a
mente, causas pessoais de exclusão e extinção parcial da
punibilidade.36 todos os que os cometeram;
De acordo com o art. 107 do CP, são causas de extinção • pode-se dar, parcialmente, uma vez que algum re-
da punibilidade: quisito deve ser preenchido como, por exemplo, ser
réu primário (só os que se encontram nessa situação
Morte do Agente seriam beneficiados);
• não pode ser revogada depois de concedida para não
Decorre do princípio da Intranscendência, que diz que a prejudicar os anistiados;
pena não pode passar da pessoa do condenado. Para que o • não se aplica aos crimes hediondos e nem aos equipa-
juiz venha a declarar extinta a punibilidade, é necessário que rados, como o tráfico de entorpecentes e drogas afins,
lhe chegue às mãos cópia da certidão de óbito e da oitiva do a prática de tortura e o terrorismo.
Ministério Público. Outrossim, tendo sido o crime praticado
em concurso de agentes, o reconhecimento da extinção da Obs.: em síntese, teríamos: a anistia exclui o crime,
punibilidade só se aplica ao falecido, já que se trata de causa apagando a infração penal. É dada por lei, abrangendo fatos,
personalíssima que não se comunicam aos demais integrantes e não pessoas. Pode vir antes ou depois da sentença. Rescin-
do crime. Com a morte do agente, extingue-se a sua punibi- de a condenação, ainda que transitada em julgado. Afasta a
lidade e, por consequência, cessam todos os efeitos penais reincidência. Pode ser recusada, se condicionada, uma vez
da sentença condenatória. Se o óbito se der após o trânsito que o réu pode não concordar com a condução. Aplica-se,
em julgado, não há impedimento algum ao direito de punir, em regra, a crimes políticos. Não abrange os direitos civis.
mas outros efeitos, como a extinção da pena, além do que,
permite-se que se execute no juízo cível. Questiona-se se com Graça:
a morte do agente há extinção também da pena de multa. • clemência (ou perdão) de caráter individual;
Ora, de acordo com a Carta Magna (art. 5º, XLV), a pena de • pode ser chamada de indulto individual;
pena não pode passar da pessoa do condenado (Princípio • é concedida pelo Presidente da República, de ofício ou
da Intranscendência), sendo assim, não resta dúvida de que mediante requerimento:
ela não pode ser cobrada dos herdeiros do morto. Por fim, • do condenado;
saliente-se que há discussão no sentido de se fazer apresentar • de qualquer do povo;
ao juiz uma certidão de óbito falsa do agente para que ele
• do Ministério Público (MP);
se exima de qualquer tipo de punição. Embora não esteja
• do Conselho Penitenciário;
pacificada em nossa doutrina, sendo apresentada certidão
de óbito falsa e havendo sentença transitada em julgado • da autoridade administrativa responsável pelo estabe-
extinguindo a punibilidade do agente, duas vertentes devem lecimento onde a pena é cumprida.
ser observadas: 1ª) há quem defenda que só resta ao Estado • só pode ser concedida depois do trânsito em julgado,
processar os autores da falsidade, uma vez que o ordenamento uma vez aos efeitos executórios da condenação;
Noções de Direito Penal

jurídico brasileiro não admite a revisão pro societate; 2ª) há a • há incidência dos diversos efeitos condenatórios,
contrapartida, ou seja, quem defenda que o processo poderá inclusive a reincidência;
ser reaberto, pois não se fez coisa julgada em sentido estrito • embora a competência seja do Presidente da Repúbli-
e o fato, por se fundar em ato juridicamente inexistente, não ca, mediante decreto, este poderá delegar:
pode produzir qualquer efeito. Esse parece ser o posiciona- • aos Ministros de Estado;
mento dominante. De qualquer forma, pela morte do agente, • ao Advogado-Geral da União;
poderá haver extinção da punibilidade a qualquer momento • ao Procurador-Geral da República.
processual ou durante a execução, e não se comunicam aos • alguns requisitos para concessão:
demais envolvidos no delito. – réu primário;
– cumprimento de parte da pena;
Cespe/TC-DF/Procurador/2013.
36 – boa conduta social;

49
• obtenção de ocupação lícita. Observe que todos os efeitos penais cessam em face da
• não faz desaparecer o delito, podendo ser concedido abolitio criminis, mas os efeitos civis continuam.
de forma parcial: atenuação da pena por meio de
redução, substituição ou cancelamento de penas Prescrição, Decadência ou Perempção
eventualmente impostas.
• pode ser concedida, parcialmente, diminuindo a pena Prescrição
ou comutando por outra de menor gravidade.
• se concedia parcialmente, poderá ser recusada, uma É a perda do direito de punir por parte do Estado pelo
vez que poderá agravar a situação do réu; decurso de tempo.
• se concedida integralmente, não poderá ser recusada Não cabe prescrição para os seguintes crimes:
• não se aplica aos crimes hediondos e nem aos equipa- • racismo;
rados, como o tráfico de entorpecentes e drogas afins, • ação de grupos armados, civis ou militares, contra a
a prática de tortura e o terrorismo. ordem constitucional e o Estado democrático (art. 5º,
XLII e XLIV, da CF).
Indulto:
• clemência de caráter coletivo; Se ocorrer antes do trânsito em julgado, não há que se
• incide sobre determinados grupos de condenados; falar em reincidência se o agente vier a praticar novos delitos.
• é competência do PR, que poderá delegar aos ministros Se for posterior ao trânsito em julgado, a sentença con-
de Estado, ao Procurador-Geral da República (PGR) e denatória permanece produzindo os seus efeitos, inclusive
ao Advogado-Geral da União (AGU); quanto à reincidência, porém o Estado fica impedido de punir
• não faz desaparecer o delito, podendo ser concedido o sujeito (PRADO );
de forma parcial: atenuação da pena por meio de
redução, substituição ou cancelamento de penas Há dois tipos de prescrição:
eventualmente impostas;
• alguns requisitos para concessão: a) prescrição da pretensão punitiva: é a prescrição
• réu primário; que ocorre antes do trânsito em julgado da sentença penal
• cumprimento de parte da pena; condenatória, impedindo que a ação se inicie ou continue.
• boa conduta social; O prazo prescricional começa a correr, antes do trânsito em
• ocupação lícita; julgado da sentença, da seguinte forma:
• não há necessidade de requerimento por parte do • se o crime se consumou: a partir desse dia;
grupo interessado; • se o crime foi tentado: a partir do dia em que cessou
• só pode ser concedida depois do trânsito em julgado, a atividade criminosa;
uma vez aos efeitos executórios da condenação; • se o crime é permanente: a partir do dia em que cessou
• há incidência dos diversos efeitos condenatórios, a permanência;
inclusive a reincidência; • nos crimes de bigamia e nos crimes de falsificação ou
• não faz desaparecer o delito, podendo ser concedido alteração de assentamento do registro civil: a partir da
de forma parcial: atenuação da pena por meio de data em que o fato se tornou conhecido.
redução, substituição ou cancelamento de penas
eventualmente impostas; Uma vez reconhecida a prescrição, cessam todos os
• pode ser concedida parcialmente, diminuindo a pena efeitos penais. Cada crime tem o seu prazo prescricional,
ou comutando por outra de menor gravidade. que será verificado na pena máxima em abstrato para cada
• se concedia parcialmente, poderá ser recusada, uma tipo penal. Sendo assim, o prazo será quantificado a partir
vez que poderá agravar a situação do réu; da tabela a seguir:
• se concedida integralmente, não poderá ser recusada;
• não se aplica aos crimes hediondos e nem aos equi- Pena (em anos) Prescrição (em anos)
parados, como o tráfico de entorpecentes e drogas Menos de 1 3
afins, a prática de tortura e o terrorismo. De 1 até 2 4
Mais de 2 até 4 8
Obs.: sinteticamente, teríamos: o indulto exclui apenas Mais de 4 até 8 12
a punibilidade, e não o crime. Pressupõe, em regra, conde- Mais de 8 até 12 16
nação com trânsito em julgado. Compete ao Presidente da Mais de 12 20
República, abrangendo grupo de sentenciados. Não afasta a
reincidência se já houver sentença com trânsito em julgado. Como regra, não se computam no momento da quanti-
ficação as agravantes ou atenuantes genéricas, exceto se o
Retroatividade da lei criminoso era menor de 21 anos ou maior de 70 anos. Não
se pode confundir com as causas de aumento ou diminuição
Refere-se à abolitio criminis, que não considera mais o de pena, já que essas são consideradas nos cálculos da pena
Noções de Direito Penal

fato como criminoso, uma vez que extinto foi o tipo penal. máxima em abstrato.
Caberá a quem declarar extinta a punibilidade? A prescrição pode ser suspensa ou interrompida.
• se o processo tiver em andamento – ao juiz de primeiro A suspensão poderá se dar, por exemplo, se o agente ainda
grau; cumpre pena no estrangeiro; já a interrupção poderá se dar,
• se o processo estiver em grau de recurso – ao tribunal por exemplo, pelo recebimento da denúncia ou queixa, pela
incumbido de julgar esse recurso; sentença condenatória recorrível etc. Se suspensa, o prazo
• se já houve o trânsito em julgado – ao juízo da execu- recomeça a correr pelo remanescente. Se houve interrupção,
ção, conforme Súmula nº 611 do STF, para não violar o recomeça a correr pelo total do prazo.
princípio do duplo grau de jurisdição, uma vez que, se
fosse feito pelo Tribunal, por meio de revisão criminal, b) prescrição da pretensão executória: é a prescrição
haveria a violação a tal princípio. que ocorre após o trânsito em julgado da sentença. Aqui,

50
a prescrição não se computa pelo prazo da pena máxima Perdão
em abstrato, uma vez que já houve a fixação da pena. Neste
caso, irá se verificar se houve ou não prescrição, que só afe- • Trata-se de uma forma de desistência da ação penal
tará a pena principal, mas não irá atingir os demais efeitos privada, já que o ofendido ou seu representante legal
não quis dar prosseguimento a ela, embora ela já
da condenação. Aqui também pode haver suspensão ou
tivesse sido iniciada.
interrupção. Haverá suspensão da prescrição depois de pas- • É procedimento posterior à propositura da ação penal.
sada em julgado a sentença condenatória durante o tempo • Só cabe para crimes de ação privada, já que não se
em que o condenado está preso por outro motivo. Haverá admite nas ações penais privadas subsidiárias.
interrupção pela reincidência ou pelo início ou continuação • Pode ser proposta depois de iniciada a ação desde que
do cumprimento da pena. não tenha havido o trânsito em julgado.
• Ato bilateral, uma vez que depende de aceitação do
Decadência querelado para produzir efeitos.
• Pode ser expresso ou tácito.
É a perda do direito de queixa, nas ações penais privadas,
ou de representação, nas ações penais públicas condiciona- Retratação do Agente
das. A perda do prazo de iniciar a ação não é do Estado, mas Retratar é voltar atrás e retirar o que foi dito. É o desmen-
do ofendido ou de seu representante legal. tido público promovido pelo ofensor em favor do ofendido
Esquematicamente, teríamos: e deve ser feito antes da sentença. Exemplos: calúnia e
• o prazo, normalmente, é de 6 meses, a contar do dia difamação. Observe que nos crimes contra a honra não se
em que o ofendido ou seu representante legal tem admite retração para o crime de injúria, uma vez que a lei
conhecimento da autoria do crime; só menciona os dois primeiros.
• o prazo decadencial é fatal, não podendo ser prorro- O agente pode se retratar até a sentença de primeira
gado, suspenso ou interrompido; instância do processo em que ocorreu o falso. Se o crime for
• deve ser declarado de ofício pelo juiz; da competência do júri, até a sentença condenatória, e não
• no caso de requisição do Ministro da Justiça, não se até a sentença de pronúncia. A retratação é pessoal e não
aplica o prazo decadencial, uma vez que poderá ser se comunica aos demais ofensores (CAPEZ ).
feita a qualquer tempo, exceto se a punibilidade já foi Em relação à Lei de Imprensa (art. 26 da Lei nº 5.250/1967),
a retratação somente operará seus efeitos se oferecida antes
declarada extinta por outros motivos;
do recebimento da denúncia ou queixa.
• nos casos de crime permanente, o prazo se iniciará
após o fim da permanência, podendo, inclusive, extra- Perdão Judicial
polar os 6 meses, já que a ação se prolonga no tempo;
• nos casos de crime continuado, o prazo será contado Por haver alguma situação excepcional, o juiz poderá dei-
independentemente para cada crime. xar de aplicar a pena, mas somente nos casos especificados
em lei. Exemplo: homicídio culposo, em situações em que
Perempção: as consequências da infração atingirem o próprio agente de
• atinge exclusivamente a ação penal privada; forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
• decorre da inércia do querelante de seu direito de Sendo reconhecido o perdão judicial, todos os crimes pra-
continuar no processo, como, por exemplo, quando ele ticados no mesmo contexto serão atingidos por essa causa
de extinção da punibilidade.
deixa de promover o andamento do processo durante
A sentença que concede perdão judicial não será consi-
trinta dias consecutivos ou deixa de comparecer a atos
derada para efeitos de reincidência, permanecendo o sujeito,
do processo aos quais deveria estar presente. que praticar nova infração, como primário.
A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória
Renúncia do direito de queixa ou perdão aceito da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito
condenatório.37
Assim como na decadência, perempção e prescrição, Obs.: sinteticamente, poderíamos dizer que o perdão
por terem sido tratados mais detalhadamente no capítulo judicial extingue a punibilidade, embora tendo sido configu-
concernente às ações penais, apenas breves comentários rado o crime. Exclui o efeito da reincidência e não pode ser
estão sendo feitos em relação a tais itens. recusado. É um favor dado pela lei, devendo ser concedido
pelo juiz, sempre que preenchidos os requisitos legais.
Renúncia do Direito de Queixa
Artigos Pertinentes
• Trata-se de uma forma de desistência da ação penal, já Extinção da punibilidade
que precede a propositura da queixa. Em outras pala- Art. 107. Extingue-se a punibilidade:
vras, o ofendido ou seu representante legal abdica-se I – pela morte do agente;
Noções de Direito Penal

de promover a ação penal privada. II – pela anistia, graça ou indulto;


• Antecede a propositura da ação. III – pela retroatividade de lei que não mais considera
• Cabe para os crimes de ação privada apenas, já que não o fato como criminoso;
se aplica aos crimes de ação pena privada subsidiária. IV – pela prescrição, decadência ou perempção;
• Ato unilateral, já que independe de aceitação do que- V – pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão
aceito, nos crimes de ação privada;
relado para produzir efeitos.
VI – pela retratação do agente, nos casos em que a
• Pode ser expressa (datada e assinada pelo querelante lei a admite;
ou representante legal ou procurador com poderes es- VII – (Revogado);
peciais) ou tácita (quando se pratica algo incompatível
com o direito de queixa). UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013.
37

51
VIII – (Revogado); II – do dia em que se interrompe a execução, salvo
IX – pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. quando o tempo da interrupção deva computar-se
Art. 108. A extinção da punibilidade de crime que é na pena.
pressuposto, elemento constitutivo ou circunstân-
cia agravante de outro não se estende a este. Nos Prescrição no caso de evasão do condenado ou de
crimes conexos, a extinção da punibilidade de um revogação do livramento condicional
deles não impede, quanto aos outros, a agravação Art. 113. No caso de evadir-se o condenado ou de
da pena resultante da conexão.38 revogar-se o livramento condicional, a prescrição é
Prescrição antes de transitar em julgado a sentença regulada pelo tempo que resta da pena.
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado
a sentença final, salvo o disposto no § 1º do art. 110 Prescrição da multa
deste Código, regula-se pelo máximo da pena priva- Art. 114. A prescrição da pena de multa ocorrerá:
tiva de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I  – em 2 (dois) anos, quando a multa for a única
I – em vinte anos, se o máximo da pena é superior cominada ou aplicada;
a doze; II – no mesmo prazo estabelecido para prescrição
II – em dezesseis anos, se o máximo da pena é supe- da pena privativa de liberdade, quando a multa for
rior a oito anos e não excede a doze; alternativa ou cumulativamente cominada ou cumu-
III – em doze anos, se o máximo da pena é superior lativamente aplicada.
a quatro anos e não excede a oito;
IV – em oito anos, se o máximo da pena é superior a Redução dos prazos de prescrição
dois anos e não excede a quatro; Art. 115. São reduzidos de metade os prazos de
V – em quatro anos, se o máximo da pena é igual a prescrição quando o criminoso era, ao tempo do
um ano ou, sendo superior, não excede a dois; crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data
VI – em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior da sentença, maior de 70 (setenta) anos.
a 1 (um) ano.
Prescrição das penas restritivas de direito Causas impeditivas da prescrição
Parágrafo único. Aplicam-se às penas restritivas de Art. 116. Antes de passar em julgado a sentença final,
direito os mesmos prazos previstos para as privativas a prescrição não corre:
de liberdade. I – enquanto não resolvida, em outro processo, ques-
tão de que dependa o reconhecimento da existência
Prescrição depois de transitar em julgado sentença do crime;
final condenatória II – enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.
Art. 110. A prescrição depois de transitar em julgado Parágrafo único. Depois de passada em julgado a
a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada sentença condenatória, a prescrição não corre du-
e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, rante o tempo em que o condenado está preso por
os quais se aumentam de um terço, se o condenado
outro motivo.
é reincidente.
§ 1º A prescrição, depois da sentença condenatória
com trânsito em julgado para a acusação ou depois de Causas interruptivas da prescrição
improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:
não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo I – pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
inicial data anterior à da denúncia ou queixa. II – pela pronúncia; 
III – pela decisão confirmatória da pronúncia;
Termo inicial da prescrição antes de transitar em IV – pela publicação da sentença ou acórdão conde-
julgado a sentença final natórios recorríveis;
Art. 111. A prescrição, antes de transitar em julgado V – pelo início ou continuação do cumprimento da
a sentença final, começa a correr: pena;
I – do dia em que o crime se consumou;  VI – pela reincidência.
II  – no caso de tentativa, do dia em que cessou a § 1º Excetuados os casos dos incisos V e VI deste
atividade criminosa; artigo, a  interrupção da prescrição produz efeitos
III – nos crimes permanentes, do dia em que cessou relativamente a todos os autores do crime. Nos
a permanência;
crimes conexos, que sejam objeto do mesmo pro-
IV – nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração
de assentamento do registro civil, da data em que o cesso, estende-se aos demais a interrupção relativa
fato se tornou conhecido; a qualquer deles.
V – nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e § 2º Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do
adolescentes, previstos neste Código ou em legislação inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr,
especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) novamente, do dia da interrupção.
Noções de Direito Penal

anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a Art. 118. As penas mais leves prescrevem com as
ação penal. (Redação dada pela Lei nº 12.650, de 2012) mais graves.

Termo inicial da prescrição após a sentença conde- Reabilitação


natória irrecorrível Art. 119. No caso de concurso de crimes, a extinção
Art. 112. No caso do art. 110 deste Código, a prescri- da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,
ção começa a correr:  isoladamente.
I – do dia em que transita em julgado a sentença conde-
natória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão Perdão judicial
condicional da pena ou o livramento condicional;
Art. 120. A sentença que conceder perdão judicial
Cespe/CNJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2013.
38 não será considerada para efeitos de reincidência.

52
CONCURSO DE CRIMES aumentada também de um sexto até metade. Entretanto,
como exceção, poderá haver aplicação cumulativa das penas,
O concurso de crimes surgirá quando mais de uma infra- se da ação ou omissão dolosa, os crimes praticados resultam
ção penal for praticada, independentemente do quantitativo de desígnios autônomos.
de agentes nele envolvidos. O certo é que jamais a pena referente ao concurso formal
Procura o legislador verificar qual ou quais penas devem poderá exceder a que seria cabível ao concurso material.
ser aplicadas ao autor dos ilícitos. Para tanto, algumas defini- O concurso formal também pode ser homogêneo ou
ções trazidas pelo Código Penal devem ser observadas, como heterogêneo, conforme a natureza do delito. Entretanto,
a do concurso material e a do concurso formal de crimes e diferentemente do concurso material, a  distinção é rele-
também a do crime continuado. vante, já que a própria legislação traz soluções diversas no
Antes de se fazer alusão às formas aqui expressas, vale instante em que a pena será aplicada. Sendo homogêneo,
lembrar que, em qualquer dessas situações, o juiz deverá o juiz aplicará uma das penas e a aumentará de um sexto até
aplicar, isoladamente, a pena correspondente a cada infração metade. Sendo heterogêneo, o juiz escolherá a mais grave
penal praticada e, após, aplicar as regras correspondentes das penas e a aumentará também de um sexto até metade.
àqueles concursos (GRECO). O concurso formal pode ser próprio (perfeito) ou impró-
No que se refere ao item prescrição, traz a legislação que prio (imperfeito), distinção esta que depende da intenção do
no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade agente ao iniciar sua conduta. Se sua conduta inicial é cul-
deve incidir sobre a pena de cada crime, isoladamente. posa e os resultados advindos dela são atribuídos ao agente
Assim, o juiz deverá observar as penas por ele aplicadas e também culposamente, ou, se a conduta inicial é dolosa e os
verificar o prazo prescricional corresponde a cada uma das resultados advindos dela lhe são imputados culposamente,
infrações praticadas. dir-se-á que o concurso formal foi próprio. Entretanto, se
Retomando, pois, as situações de concursos de crimes, o agente atua dolosamente, como desígnios autônomos,
têm-se: querendo produzir diversos resultados com sua conduta
inicial, ter-se-á o concurso formal impróprio.
Concurso Material (ou Real) de Crimes As consequências do concurso formal próprio é que será
aplicada a pena somente do crime mais grave, aumentada
É material quando mais de uma ação ou omissão é pra- de um sexto até metade. Sendo formal impróprio, aplica-
ticada gerando dois ou mais crimes, sejam idênticos ou não, -se a pena de cada crime em concurso material, uma vez
culminando na responsabilização do agente que tais ilícitos que houve, por parte do agente, desígnios autônomos.
tiver praticado. Ressalte-se que em relação às penas aplicadas, neste caso,
As consequências previstas em lei, nessa situação, são a não houve diferença entre esta e a do concurso material,
aplicação cumulativa das penas privativas de liberdade em mas a diferença tênue está tão somente na quantidade de
que o agente haja incorrido. ações praticadas pelo agente.
Uma vez verificado o concurso material de crimes, deve Já que se trata de regra, o concurso formal próprio de
o juiz encontrar a pena correspondente de cada crime crimes pode ser assim resumido:
praticado pelo agente e, concluído o cálculo, haverá o so- • decorre de uma só ação que resulta dois ou mais crimes;
matório de todas elas a fim de que se possa aplicar a pena • aplica-se a pena mais grave, acrescida sempre de um
ao condenado. Observe que, se houver penas de reclusão sexto até metade. Se for de igual gravidade, aplica-se
e detenção concomitante, aplica-se primeiro a pena mais uma só delas, aumentada também de um sexto até
grave, no caso, a reclusão. metade.
O concurso material poderá ser homogêneo ou hete-
rogêneo, ou seja, de naturezas iguais ou distintas, respec- Ele pode ser:
tivamente. Essa diferença no concurso material não tem • homogêneo: crimes de mesma natureza. Exemplo:
nenhuma relevância. calúnia e injúria;
O concurso material de crimes poderia ser assim resu- • heterogêneo: crimes de naturezas diversas. Exemplo:
mido: dano e lesão corporal.
• é aquele em que há duas ou mais ações que geram
dois ou mais crimes; Crime continuado
• as penas correspondentes a cada crime são somadas.
Há, ainda, o concurso de crimes nos chamados delitos
Ele pode ser: continuados, quando o agente, mediante mais de uma ação
• homogêneo: crimes de mesma natureza. Exemplo: ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie
furto e receptação; e, pelas condições de tempo, lugar, modo de execução e
• heterogêneo: crimes de naturezas diversas. Exemplo: outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos
roubo (patrimônio) e estupro (dignidade sexual). como continuação do primeiro, é o que traz o art. 71 do CP.
Uma vez comprovada a continuidade delitiva aqui expres-
Noções de Direito Penal

Concurso Formal (ou Ideal) de Crimes sa, a pena a ser aplicada é a de um só crime, se idênticas, ou
a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de
Em razão de política criminal, criou-se o concurso formal um sexto a dois terços, exceto se forem praticados crimes
de crimes a fim de favorecer o agente que, com uma única dolosos contra vítimas diferentes, cometidos com violência
ação, provocou dois ou mais crimes. O que o diferencia do ou grave ameaça à pessoa, ocasião em que uma só das pe-
concurso material é tão somente a quantidade de atos prati- nas será aplicada, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
cados pelo agente, já que aqui há apenas um enquanto que aumentadas, em qualquer caso, até o triplo.
naquele há duas ou mais ações sendo praticadas pelo agente. A teoria adotada no Brasil quanto à natureza jurídica
As consequências previstas são a aplicação da pena do crime continuado é a da ficção jurídica, que considera
mais grave, caso haja, acrescida de um sexto à metade ou fictamente as diversas ações praticadas pelo agente como
aplicação de somente uma delas, se de igual gravidade, um único delito.

53
Artigos Pertinentes • Regime inicial será o semiaberto se pena aplicada ao
criminoso for maior de 4 anos, e não superior a 8 anos.
Concurso material • Regime inicial será o aberto se a pena aplicada ao
Art.  69. Quando o agente, mediante mais de uma criminoso for 4 anos ou menos.
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idên- • Se o réu for reincidente, a lei diz que, independente-
ticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas mente da pena o início de cumprimento da pena, será
privativas de liberdade em que haja incorrido. No o regime fechado. Todavia, a Súmula nº 269 do STJ diz
caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão que o juiz poderá fixar semiaberto se a pena aplicada
e de detenção, executa-se primeiro aquela. ao reincidente não for superior a 4 anos.
§ 1º Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver • Da mesma forma, o juiz poderá, se as circunstâncias
sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspen- judiciais do art. 59 do CP forem desfavoráveis, impor
sa, por um dos crimes, para os demais será incabível a o cumprimento da pena em regime inicial fechado,
substituição de que trata o art. 44 deste Código. independentemente da quantidade da pena.
§  2º Quando forem aplicadas penas restritivas de
direitos, o condenado cumprirá simultaneamente Pena da Detenção
as que forem compatíveis entre si e sucessivamente
as demais.
• Regime inicial será o semiaberto se a pena aplicada ao
Concurso formal criminoso for superior a 4 anos.
Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou • Regime inicial será o aberto se a pena aplicada ao
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou criminoso for igual ou inferior a 4 anos.
não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis • Se o réu for reincidente, o regime inicial será o semia-
ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, berto.
em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas • Da mesma forma, o juiz poderá, se as circunstâncias
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação judiciais do art. 59 do CP forem desfavoráveis, impor
ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resul- o cumprimento da pena em regime inicial semiaberto,
tam de desígnios autônomos, consoante o disposto independentemente da quantidade da pena.
no artigo anterior.
Parágrafo único. Não poderá a pena exceder a que Pena de Prisão Simples
seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.
Não existe regime inicial fechado, devendo a pena ser
Crime continuado cumprida no regime semiaberto ou aberto, em estabele-
Art.  71. Quando o agente, mediante mais de uma cimento especial ou seção especial de prisão comum, sem
ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da rigor penitenciário. A lei não admite o regime fechado nem
mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, em caso de regressão e somente se aplica em relação às
maneira de execução e outras semelhantes, devem contravenções penais.
os subsequentes ser havidos como continuação do
primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, Regras do Regime Fechado
se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada,
em qualquer caso, de um sexto a dois terços. • Exame criminológico – No início do cumprimento da
Parágrafo único. Nos crimes dolosos, contra vítimas pena, o condenado será submetido, obrigatoriamente,
diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça ao exame criminológico de classificação para individu-
à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, alização da execução.
os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, • Trabalho interno
aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, – Está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões
ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas e capacidades. Será durante o dia. A recusa ocasionará
as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 falta grave.
deste Código. – O preso provisório não está obrigado a trabalhar.
– Tem finalidade educativa e produtiva.
DAS PENAS – Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocu-
pação adequada à sua idade. Os doentes ou deficientes
As Penas: as penas previstas em nosso CP são: privati- físicos somente exercerão atividades apropriadas ao
vas de liberdade, restritiva de direito e multa. Passemos a seu estado.
estudar cada uma separadamente. – O trabalho poderá ser gerenciado por fundação ou
empresa pública, com autonomia administrativa, e terá
Da pena privativa e liberdade por objetivo a formação profissional do condenado.
• Subdividem-se nas seguintes espécies: Reclusão, De- – Os órgãos da Administração direta ou indireta da União,
Noções de Direito Penal

tenção e Prisão simples. estados, territórios, Distrito Federal e dos municípios


• Quanto aos regimes, dividem-se em: Fechado, Semia- adquirirão, com dispensa de concorrência pública,
berto e Aberto. os bens ou produtos do trabalho prisional, sempre que
não for possível ou recomendável realizar-se a venda
Obs.: o regime inicial de cumprimento da pena é esta- a particulares.
belecido pelo juiz na sentença. – Todas as importâncias arrecadadas com as vendas
reverterão em favor da fundação ou empresa pública
Pena de Reclusão a que alude o artigo anterior ou, na sua falta, do esta-
belecimento penal.
• Regime inicial será o fechado se pena aplicada ao – É remunerado, não podendo ser inferior a ¾ do salário
criminoso for superior a 8 anos. mínimo.

54
– O produto da remuneração pelo trabalho deverá Regras do Regime Semiaberto
atender: à indenização dos danos causados pelo
crime, desde que determinados judicialmente e não • Exame criminológico: será facultativo.
reparados por outros meios; à assistência à família; • Trabalho interno e externo: idem às regras aplicadas
a pequenas despesas pessoais; ao ressarcimento ao ao regime fechado.
Estado das despesas realizadas com a manutenção do • Permissão de saída: idem ao regime fechado.
condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo • Saída temporária: os condenados que cumprem pena
da destinação prevista nas letras anteriores. Ressalva- em regime semiaberto poderão obter autorização para
das outras aplicações legais, será depositada a parte saída temporária do estabelecimento, sem vigilância
restante para constituição do pecúlio, em Caderneta direta, nos seguintes casos: visita à família; frequência
de Poupança, que será entregue ao condenado quando a curso supletivo profissionalizante, bem como de
posto em liberdade. instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo
– As tarefas executadas como prestação de serviço à
da Execução; participação em atividades que concor-
comunidade não serão remuneradas.
ram para o retorno ao convívio social. A autorização
– Não segue as regras da CLT, todavia tem direito aos
será concedida por ato motivado do Juiz da execução,
benefícios da Previdência social.
ouvidos o Ministério Público e a administração pe-
– A jornada não será inferior a 6 horas nem superior
a 8 horas, com descansos nos domingos e feriados. nitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes
Os serviços de manutenção e conservação do estabe- requisitos: comportamento adequado; cumprimento
lecimento penal poderão ser em horário especial. mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado
– A cada 3 dias de trabalho, terá descontado um dia de for primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente; com-
pena. Todavia, se praticar falta grave, o preso perderá patibilidade do benefício com os objetivos da pena.
o direito a todo o tempo remido. A autorização será concedida por prazo não superior a
– Se já estava trabalhando e sofrer acidente do trabalho 7 (sete) dias, podendo ser renovada por mais 4 (quatro)
e ficar impossibilitado de prosseguir, será beneficiado vezes durante o ano. Quando se tratar de frequência
pela remição. a curso profissionalizante, de instrução de 2º grau ou
– Os governos federal, estadual e municipal poderão superior, o tempo de saída será o necessário para o
celebrar convênio com a iniciativa privada, para im- cumprimento das atividades discentes. O  benefício
plantação de oficinas de trabalho referentes a setores será automaticamente revogado quando o condenado
de apoio dos presídios. praticar fato definido como crime doloso, for punido
por falta grave, desatender as condições impostas na
• Trabalho externo autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento
– Somente em serviços ou obras públicas, desde que to- do curso. A recuperação do direito à saída temporária
madas as cautelas contra fuga e em favor da disciplina dependerá da absolvição no processo penal, do can-
(para o preso em regime fechado). celamento da punição disciplinar ou da demonstração
– O limite máximo é de 10% do total dos empregados do merecimento do condenado.
na obra. • Local de cumprimento: colônia agrícola industrial ou
– Requisitos para o trabalho externo: responsabilidade similar. O condenado poderá ser alojado em compar-
e cumprimento de 1/6 da pena, prévio exame crimi- timento coletivo, observada a seleção adequada de
nológico e autorização do diretor do estabelecimento presos e o limite de capacidade máxima que atenda
prisional. os objetivos da individualização da pena.
– Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao
preso que vier a praticar fato definido como crime, se Saída Temporária
for punido por falta grave, ou tiver comportamento
contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo A alteração da Lei nº 12.258/2010 reza que “A ausência
– Caberá ao órgão da administração, à  entidade ou à de vigilância direta não impede a utilização de equipamento
empresa empreiteira a remuneração desse trabalho. de monitoração eletrônica pelo condenado, quando assim
– A prestação de trabalho à entidade privada depende
determinar o juiz da execução”.
do consentimento expresso do preso.
Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao bene-
– Permissão de saída – Condenados e presos provisórios:
ficiário as seguintes condições, entre outras que entender
falecimento ou doença grave do cônjuge, companhei-
ra, ascendente, descendente ou irmão; necessidade compatíveis com as circunstâncias do caso e a situação
de tratamento médico. A permissão de saída será pessoal do condenado:
concedida pelo diretor do estabelecimento em que • fornecimento do endereço onde reside a família a ser
se encontra o preso. A permanência do preso fora do visitada ou onde poderá ser encontrado durante o gozo
estabelecimento terá a duração necessária à finalidade do benefício;
• recolhimento à residência visitada, no período noturno;
Noções de Direito Penal

da saída.
– Local de cumprimento – Penitenciária (reclusão e • proibição de frequentar bares, casas noturnas e esta-
regime fechado). Será para presos provisórios e con- belecimentos congêneres.
denados, bem como para o regime disciplinar diferen-
ciado. O condenado será alojado em cela individual, Quando se tratar de frequência a curso profissionalizan-
que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório, te, de instrução de ensino médio ou superior, o tempo de
com área mínima de 6 m². Deverá ser localizada em saída será o necessário para o cumprimento das atividades
local afastado do centro urbano, a distância que não discentes.
restrinja a visitação. A penitenciária de mulheres po- Nos demais casos, as autorizações de saída somente
derá ser dotada de seção para gestante e parturiente poderão ser concedidas com prazo mínimo de 45 (quarenta
e creche. e cinco) dias de intervalo entre uma e outra.

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Regras do Regime Aberto Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferen-
ciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam
• Exame criminológico: não necessário. fundadas suspeitas de envolvimento ou participação,
• Requisitos: o ingresso do condenado em regime aberto a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha
supõe a aceitação de seu programa e das condições ou bando.
impostas pelo Juiz. Somente poderá ingressar no re- A autorização para a inclusão do preso em regime disci-
gime aberto o condenado que: estiver trabalhando ou plinar dependerá de requerimento circunstanciado elabo-
comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente, rado pelo diretor do estabelecimento ou outra autoridade
apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado administrativa.
dos exames a que foi submetido, fundados indícios de A decisão judicial sobre inclusão de preso em regime
que se ajustará, com autodisciplina e senso de respon- disciplinar será precedida de manifestação do Ministério Pú-
sabilidade, ao novo regime. Poderão ser dispensadas blico e da defesa e prolatada no prazo máximo de quinze dias.
do trabalho as pessoas referidas no art. 117 desta Lei
(regime aberto em residência). Fixação do Regime
• O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a
concessão de regime aberto, sem prejuízo das seguin- O Juiz, na sentença, estabelecerá o regime no qual o
tes condições gerais e obrigatórias permanecerem no condenado iniciará o cumprimento da pena privativa de
local que for designado, durante o repouso e nos dias liberdade, observado o disposto no art. 33 e seus parágrafos
de folga; sair para o trabalho e retornar, nos horários do Código Penal.
fixados; não se ausentar da cidade em que reside, sem Se a sentença for omissa quanto ao regime inicial, a dú-
autorização judicial comparecer a Juízo, para informar vida deve ser resolvida em prol do regime mais benéfico,
e justificar as suas atividades, quando for determinado. desde que juridicamente cabível.
• O Juiz poderá modificar as condições estabelecidas,
de ofício, a  requerimento do Ministério Público, da Do Juízo da Execução
autoridade administrativa ou do condenado, desde
que as circunstâncias assim o recomendem. A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei local
• Local de cumprimento: casa do Albergado destina- de organização judiciária e, na sua ausência, ao da sentença.
-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade,
em regime aberto, e da pena de limitação de fim de Progressão de Regime
semana. O prédio deverá situar-se em centro urbano,
separado dos demais estabelecimentos, e caracterizar- A pena privativa de liberdade será executada em forma
-se pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga. progressiva com a transferência para regime menos rigoroso,
Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido
Albergado, a qual deverá conter, além dos aposentos ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar
para acomodar os presos, local adequado para cursos bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor
e palestras. O estabelecimento terá instalações para os do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a
serviços de fiscalização e orientação dos condenados. progressão.
• A legislação local poderá estabelecer normas comple- A decisão será sempre motivada e precedida de mani-
mentares para o cumprimento da pena privativa de festação do Ministério Público e do defensor.
liberdade em regime aberto. A cada nova progressão, exige-se o requisito temporal,
• Prisão-albergue domiciliar: somente se admitirá o ou seja, um novo cumprimento de 1/6 da pena, porém
recolhimento do beneficiário de regime aberto em referente ao restante da pena, e não à pena inicialmente
residência particular quando se tratar de: condenado fixada na sentença.
maior de 70 (setenta) anos; condenado acometido de Todavia, o art. 112 da LEP, § 2º, exige para a progressão de
doença grave; condenada com filho menor ou deficiente regime o mesmo procedimento do livramento condicional,
físico ou mental; condenada gestante. Atenção: a ine- ou seja, prévio parecer do Conselho Penitenciário.
xistência de vaga em casa de albergado o STJ entende Na Lei nº 8.072/1990, o novo posicionamento permite a
que é autorizada a prisão domiciliar. progressão de regime para crimes hediondos e assemelha-
dos, onde já houve alteração expressa no texto legal. Assim,
a Súmula nº 698 do STF deverá ser cancelada.
Regime Disciplinar Diferenciado Nos crimes praticados contra a Administração Pública,
a  progressão de regime ficará condicionada à reparação
A prática de fato prevista como crime doloso constitui dos danos causados ao Erário ou à devolução do produto
falta grave e, quando ocasiona subversão da ordem ou dis- do crime.
ciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, Na LEP, não é permitida a progressão por salto, ou seja,
sem prejuízo da sanção penal, ao  regime disciplinar dife- a passagem direta do regime fechado para o regime aberto.
Noções de Direito Penal

renciado, com as seguintes características: duração máxima É obrigatória a passagem pelo regime intermediário. Só há
de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da um caso em que a jurisprudência permite a progressão por
sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de salto: quando o condenado já cumpriu 1/6 da pena em re-
um sexto da pena aplicada; recolhimento em cela individual; gime fechado, não conseguiu a passagem para o semiaberto
visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, por falta de vaga, permanece mais 1/6 no regime fechado,
com duração de duas horas; o preso terá direito à saída da que acaba por ser entendido como se estivesse no semia-
cela por 2 horas diárias para banho de sol. berto, e, terminando esse prazo, vai direto para o aberto.
O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar O preso provisório – segundo a Súmula nº 716 do STF:
presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, “Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena
que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do ou a aplicação de regime menos severo nela determinada,
estabelecimento penal ou da sociedade. antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.”

56
Regressão de Regime As faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e
graves. A legislação local especificará as leves e médias, bem
É a volta do condenado ao regime mais rigoroso, por ter assim as respectivas sanções.
descumprido as condições impostas para ingresso e perma- Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta
nência no regime mais brando. consumada.
Embora a lei vede a progressão de regime por salto,
é perfeitamente possível a regressão por salto, podendo Das Sanções
o condenado passar diretamente do regime aberto para
o fechado. Constituem sanções disciplinares: advertência verbal;
Do mesmo modo, a despeito de a pena de detenção repreensão; suspensão ou restrição de direitos (art. 41,
não comportar regime inicialmente fechado, ocorrendo a parágrafo único, da Lei de Execuções Penais – 7.210/1984);
regressão, o condenado poderá ser transferido para aquele isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos esta-
regime. belecimentos que possuam alojamento coletivo, observado
o disposto no art. 88 desta Lei. Podem ser aplicadas por ato
Hipóteses: prática de fato definido como crime doloso,
motivado do diretor do estabelecimento. Inclusão no regime
(se crime culposo ou contravenção penal, a regressão ficará
disciplinar diferenciado, só podendo ser aplicada por prévio
a critério do juiz da execução), devendo ser previamente despacho fundamentado do juiz.
ouvido o condenado; prática de faltas graves: incitar ou Na aplicação das sanções disciplinares, levar-se-ão em
participar de movimento para subverter a ordem ou a disci- conta a natureza, os  motivos, as  circunstâncias e as con-
plina, fugir; possuir, indevidamente, instrumento capaz de sequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu
ofender a integridade física de outrem; provocar acidente tempo de prisão.
de trabalho; descumprir, no regime aberto, as  condições Nas faltas graves, aplicam-se as sanções de suspensão ou
impostas; inobservar os deveres previstos nos incisos II e restrição de direitos; isolamento na própria cela ou em local
V do art. 39 da Lei de Execuções Penais – 7.210/1984; tiver adequado e inclusão no regime disciplinar diferenciado, bem
em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de como a regressão de regime quando cabível.
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros O isolamento, a suspensão e a restrição de direitos não
presos ou com o ambiente externo. O disposto neste artigo poderão exceder a trinta dias, ressalvada a hipótese do
aplica-se, no que couber, ao preso provisório. Comete falta regime disciplinar diferenciado.
grave o condenado à pena restritiva de direitos que: des- O isolamento será sempre comunicado ao Juiz da exe-
cumprir, injustificadamente, a  restrição imposta; retardar, cução.
injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta;
inobservar os deveres previstos nos incisos II e V do art. 39 Do Procedimento Disciplinar
da Lei de Execuções Penais – 7.210/1984, sofre condena-
ção, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o
pena em execução, torne incabível o regime (art. 111 da procedimento para sua apuração, conforme regulamento,
Lei de Execuções Penais – 7.210/1984); frustrar o fim da assegurado o direito de defesa. A decisão será motivada.
execução no caso de estar em regime aberto, por exemplo, A autoridade administrativa poderá decretar o isolamen-
quando o condenado assume uma conduta que demonstre to preventivo do faltoso pelo prazo de até dez dias.
incompatibilidade com o regime aberto, como abandonar A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no
o emprego; não pagamento de multa cumulativa, no caso interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá
de regime aberto. de despacho do juiz competente.
O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regi-
me disciplinar diferenciado será computado no período de
Das Disciplinas cumprimento da sanção disciplinar.
A disciplina consiste na colaboração com a ordem, na
Das Recompensas
obediência às determinações das autoridades e seus agentes
e no desempenho do trabalho. Estão sujeitos à disciplina o As recompensas têm em vista o bom comportamento
condenado à pena privativa de liberdade ou restritiva de reconhecido em favor do condenado, de sua colaboração
direitos e o preso provisório. Não haverá falta nem sanção com a disciplina e de sua dedicação ao trabalho.
disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regu- São recompensas: o elogio; a concessão de regalias. A le-
lamentar. gislação local e os regulamentos estabelecerão a natureza e
As sanções não poderão colocar em perigo a integridade a forma de concessão de regalias.
física e moral do condenado. É vedado o emprego de cela
escura, bem como são vedadas as sanções coletivas. Da Remição
O condenado ou denunciado, no início da execução da
pena ou da prisão, será cientificado das normas disciplinares. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou
Noções de Direito Penal

O poder disciplinar, na execução da pena privativa de semiaberto poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo de
liberdade, será exercido pela autoridade administrativa execução da pena.
conforme as disposições regulamentares. A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita
Na execução das penas restritivas de direitos, o poder à razão de um dia de pena por três de trabalho.
disciplinar será exercido pela autoridade administrativa a O preso impossibilitado de prosseguir no trabalho, por
que estiver sujeito o condenado. acidente, continuará a beneficiar-se com a remição.
Nas faltas graves, a autoridade representará ao Juiz da A remição será declarada pelo Juiz da execução, ouvido
execução para os fins dos arts. 118, inciso I, 125, 127, 181, o Ministério Público.
§ 1º, d, e § 2º, da Lei de Execuções Penais – 7.210/1984 O condenado que for punido por falta grave perderá o
(praticar fato definido como crime doloso, perda do tempo direito ao tempo remido, começando o novo período a partir
remido). da data da infração disciplinar.

57
O tempo remido será computado para a concessão de nalizante. Assim, será perfeitamente possível a implemen-
livramento condicional e indulto. tação efetiva do estudo no interior do sistema carcerário
A autoridade administrativa encaminhará, mensalmente, brasileiro. Faltará, no entanto, vontade política para tanto.
ao Juízo da execução, cópia do registro de todos os conde-
nados que estejam trabalhando e dos dias de trabalho de Identificação Genética
cada um deles.
Ao condenado dar-se-á relação de seus dias remidos. A Lei nº 12.654/2012 estabelece a identificação genética
Constitui o crime do art. 299 do Código Penal declarar ou para os condenados por crime praticado com violência contra
atestar, falsamente, prestação de serviço para fim de instruir pessoa ou considerado hediondo.
pedido de remição. Assim, o art. 9º-A da Lei de Execução Penal (LEP), confor-
De acordo com o art. 126, § 1º, da Lei de Execução Penal me o novo texto, os condenados por crime praticado dolo-
– LEP (Lei nº 7.210/1984), alterado pela Lei nº 12.433/2011, samente com violência de natureza grave contra pessoa ou
a contagem de prazo, para fins de remição, será feito da considerado hediondo serão submetidos obrigatoriamente
seguinte maneira: à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA
a) 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência (ácido desoxirribonucleico) por técnica adequada e indolor. A
escolar (atividade de ensino fundamental, médio, inclusive autoridade policial, federal ou estadual poderá requerer ao
profissionalizante, ou superior, ou, ainda, de requalificação juiz competente, no caso de inquérito instaurado, o acesso
profissional), divididas, no mínimo, em 3 (três) dias; ao banco de dados de identificação de perfil genético.
b) 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho,
cuja jornada deverá ser de 6 (seis) a 8 (oito) horas diárias. Das Penas Restritivas de Direito
O estudo, nos termos do art. 126, § 2º, da LEP, já com as As penas restritivas de direitos são:
alterações promovidas pelo diploma legal acima referido, I – prestação pecuniária;
poderá ser desenvolvido de forma presencial ou por meto- II – perda de bens e valores;
dologia de ensino a distância (telepresencial), sendo de rigor III – prestação de serviço à comunidade ou a entidades
a certificação pelas autoridades educacionais competentes públicas;
dos cursos frequentados. V – interdição temporária de direitos;
É perfeitamente possível a cumulação do trabalho e do V – limitação de fim de semana.
estudo do preso para fins de remição (ex.: trabalho na parte
da manhã e estudo à noite). Nesse caso, a cada 3 (três) dias Regras de Aplicação: as penas restritivas de direitos são
trabalhados e de estudo, será o condenado recompensado autônomas e substituem as privativas de liberdade, ou seja,
com o abatimento de 2 (dois) dias de pena. após o juiz condenar o réu em sentença, aplicando-lhe uma
Ainda, deve-se registrar que o preso impossibilitado, por pena privativa de liberdade, preenchidos os requisitos legais,
acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos, conti- poderá haver a substituição desta pena privativa de liberdade
nuará a beneficiar-se com a remição (art. 126, § 4º, da LEP). em restritiva de direito. Vejamos os requisitos:
Ao preso que, durante o cumprimento da pena, concluir I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a
o ensino fundamental, médio ou superior, desde que haja quatro anos e o crime não for cometido com violência ou
certificado expedido pelo órgão competente, terá acrescido grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada,
1/3 (um terço) às horas de estudo que serão utilizadas para se o crime for culposo (Atenção: se o crime for doloso, deverá
a remição (art.126, § 6º, da LEP). ser observada a quantidade da pena, ou seja, até quatro
Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um anos, se o crime for culposo, não há quantificação de pena);
terço) do tempo remido, recomeçando a contagem a partir II – o réu não for reincidente em crime doloso;
da data da infração disciplinar (art. 127, da LEP). A regra em III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
comento foi introduzida em nossa legislação especial (LEP) personalidade do condenado, bem como os motivos e as cir-
pela Lei nº 12.433/2011, motivo pelo qual resta revogada, cunstâncias, indicarem que essa substituição seja suficiente.
ainda que tacitamente, a Súmula Vinculante nº 9, do STF, que Verificados os requisitos para se efetivar a substituição
de uma pena privativa de liberdade em restritiva de direito,
assim dispõe: “O disposto no artigo 127 da Lei nº 7.210/1984
passemos a analisar as formas possíveis de substituição:
foi recebido pela ordem constitucional vigente e não se lhe
• na condenação igual ou inferior a um ano, a substitui-
aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58”.
ção pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva
Em suma, a Súmula em questão produzia o seguinte
de direitos;
efeito: a prática de falta grave pelo condenado acarretava a
• se superior a um ano, a pena privativa de liberdade
perda de todos os dias remidos. Porém, como visto, com a pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos
alteração da redação do precitado art. 127, da LEP, perdeu e multa ou por duas restritivas de direitos;
o sentido o enunciado, devendo-se aplicar a novel regula- • se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar
mentação da matéria. a substituição, desde que, em face de condenação
A remição, até o advento da Lei nº 12.433/2011, que, anterior, a medida seja socialmente recomendável e
como dito, alterou sobremaneira o instituto em comento,
Noções de Direito Penal

a reincidência não se tenha operado em virtude da


somente era admissível aos condenados aos regimes fechado prática do mesmo crime.
e semiaberto, visto que o trabalho é requisito indispensável
à progressão ao regime aberto. Atenção:
No entanto, com a admissão do estudo como fato gerador 1) Em caso de descumprimento – A pena restritiva de
da remição, aos condenados que estejam cumprindo pena direitos converte-se em privativa de liberdade quando
em regime aberto, também será possível o aproveitamento ocorrer o descumprimento injustificado da restrição
do benefício, desde que estudem. imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a
Finalmente, cabe-nos registrar que a Lei nº 12.245/2010 executar, será deduzido o tempo cumprido da pena
determinou a instalação de salas de aula nos estabelecimen- restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de
tos penais, destinadas a cursos do ensino básico e profissio- trinta dias de detenção ou reclusão.

58
2) Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade cará, a qualquer tempo, a ausência ou falta disciplinar do
por outro crime – O juiz da execução penal decidirá condenado.
sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la, se for Da Interdição Temporária de Direitos – As penas de
possível, ao condenado que cumprir a pena substitu- interdição temporária de direitos são: proibição do exercício
tiva anterior. de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato
eletivo; proibição do exercício de profissão, atividade ou
Características das penas restritivas de direito: ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou
Da Prestação Pecuniária – A prestação pecuniária consis- autorização do poder público; suspensão de autorização ou
te no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes de habilitação para dirigir veículo e proibição de frequentar
ou a entidade pública ou privada com destinação social, de determinados lugares. Caberá ao Juiz da execução comunicar
importância fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo à autoridade competente a pena aplicada, determinada a
nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários míni- intimação do condenado.
mos. O valor pago será deduzido do montante de eventual
condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os Da Pena de Multa
beneficiários. Todavia, se houver aceitação do beneficiário,
a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra É uma das modalidades de penas a ser aplicada ao cri-
natureza. minoso. É  realizada mediante pagamento em dinheiro ao
Da Perda de Bens e Valores – A perda de bens e valores Fundo Penitenciário.
pertencentes aos condenados dar-se-á, ressalvada a legis- O valor da multa é fixado pelo juiz na sentença. No Brasil,
lação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, adota-se o sistema de dias-multa em que são verificadas
e seu valor terá como teto – o que for maior – o montante três etapas: encontrar o número de dias-multa, encontrar
do prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou o valor de cada dia multa, multiplicar o valor do número de
por terceiro, em consequência da prática do crime. dias-multa pelo valor de cada um deles. O dias-multa será de
Da Prestação de Serviços à Comunidade – A prestação no mínimo 10 dias e no máximo 360 dias. O valor da multa
de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicá-
não poderá ser inferior a 1/30 do salário mínimo mensal
vel às condenações superiores a seis meses de privação da
vigente na época dos fatos, nem superior a 5x esse salário.
liberdade e consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao
O juiz ao fixar o valor da pena deve atender, principalmente
condenado. A prestação de serviço à comunidade dar-se-á
a situação econômica do réu, podendo seu valor ser aumen-
em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e
tado até o triplo se o juiz considerar que é ineficaz, embora
outros estabelecimentos congêneres, em programas comu-
aplicada ao máximo. O valor da multa será atualizado pelos
nitários ou estatais. As tarefas serão atribuídas conforme as
índices monetários.
aptidões do condenado, devendo ser cumpridas à razão de
O procedimento para a execução da pena de multa
uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo
a não prejudicar a jornada normal de trabalho. Se a pena está disciplinado nos arts. 164 a 170 da Lei de Execuções
substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado Penais. Entretanto, em face da modificação do art. 51 do CP,
cumprir a pena substitutiva em menor tempo, nunca inferior mantém-se o entendimento predominante de que deve ser
à metade da pena privativa de liberdade fixada. Caberá ao considerada dívida de valor, passível de execução conforme
Juiz da execução: designar a entidade ou programa comunitá- as regras da Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execuções Fiscais),
rio ou estatal, devidamente credenciado ou convencionado, sendo competente o juízo da Vara Cível.
junto ao qual o condenado deverá trabalhar gratuitamente, Procedimento será a extração de certidão da sentença
de acordo com as suas aptidões; determinar a intimação do condenatória após o trânsito em julgado formando autos
condenado, cientificando-o da entidade, dias e horário em apartados, nos quais se fará a execução. O MP irá requerer a
que deverá cumprir a pena; alterar a forma de execução, citação do condenando para dentro de 10 dias pagar a multa
a fim de ajustá-la às modificações ocorridas na jornada de ou nomear bens a penhora.
trabalho. Decorrido o prazo sem pagamento ou nomeação de bens,
O trabalho terá a duração de oito horas semanais e será o escrivão extrairá nova certidão e remeterá à Procuradoria
realizado aos sábados, domingos e feriados, ou em dias úteis, da Fiscal o Estado a qual se encarregará de promover a exe-
de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho, cução fiscal da pena de multa.
nos horários estabelecidos pelo Juiz. A execução terá início Sobrevindo doença mental acarretará a suspensão da
a partir da data do primeiro comparecimento. A entidade execução de multa, todavia prescrição continua correndo.
beneficiada com a prestação de serviços encaminhará,
mensalmente, ao Juiz da execução, relatório circunstanciado Dos Estabelecimentos Penais
das atividades do condenado, bem como, a qualquer tempo,
comunicação sobre ausência ou falta disciplinar. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado,
Da Limitação de Fim de Semana – A limitação de fim de ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório
semana consiste da obrigação de permanecer, aos sábados e e ao egresso.
Noções de Direito Penal

domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado ou A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente,
outro estabelecimento adequado. Durante a permanência, serão recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à
poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras sua condição pessoal. “§ 2º O mesmo conjunto arquitetôni-
ou atribuídas atividades educativas. co poderá abrigar estabelecimentos de destinação diversa
A execução terá início a partir da data do primeiro com- desde que devidamente isolados.”
parecimento. O estabelecimento penal, conforme a sua natureza,
Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz deverá contar em suas dependências com áreas e serviços
poderá determinar o comparecimento obrigatório do agres- destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação
sor a programas de recuperação e reeducação. e prática esportiva.
O estabelecimento designado encaminhará, mensal- Haverá instalação destinada a estágio de estudantes
mente, ao Juiz da execução, relatório, bem assim comuni- universitários.

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Os estabelecimentos penais destinados a mulheres • Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do
serão dotados de berçário, onde as condenadas possam Albergado, a qual deverá conter, além dos aposentos
amamentar seus filhos. para acomodar os presos, local adequado para cursos
O preso provisório ficará separado do condenado por e palestras. O estabelecimento terá instalações para os
sentença transitada em julgado; da mesma forma, o preso serviços de fiscalização e orientação dos condenados.
primário cumprirá pena em seção distinta daquela reservada
para os reincidentes. Do Centro de Observação. No Centro de Observação,
O preso que, ao  tempo do fato, era funcionário da realizar-se-ão os exames gerais e o criminológico, cujos
Administração da Justiça Criminal ficará em dependência resultados serão encaminhados à Comissão Técnica de Clas-
separada. sificação. “Parágrafo único. No Centro poderão ser realizadas
O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível pesquisas criminológicas.”
com a sua estrutura e finalidade. O Conselho Nacional de • O Centro de Observação será instalado em unidade
Política Criminal e Penitenciária determinará o limite má- autônoma ou em anexo a estabelecimento penal.
ximo de capacidade do estabelecimento, atendendo a sua • Os exames poderão ser realizados pela Comissão Técni-
natureza e peculiaridades. ca de Classificação, na falta do Centro de Observação.
As penas privativas de liberdade aplicadas pela Justiça
de uma Unidade Federativa podem ser executadas em outra Do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. O
unidade, em estabelecimento local ou da União. Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se
A União Federal poderá construir estabelecimento aos inimputáveis e semi-imputáveis referidos no art. 26 e seu
penal em local distante da condenação para recolher os parágrafo único do Código Penal. Parágrafo único. Aplica-se
condenados, quando a medida se justifique no interesse ao hospital, no que couber, o disposto no parágrafo único
da segurança pública ou do próprio condenado. Conforme do art. 88 desta Lei.
a natureza do estabelecimento, nele poderão trabalhar os • O exame psiquiátrico e os demais exames necessários ao
liberados ou egressos que se dediquem a obras públicas ou
tratamento são obrigatórios para todos os internados.
ao aproveitamento de terras ociosas.
• O tratamento ambulatorial, previsto no art. 97, segun-
Caberá ao juiz competente, a requerimento da auto-
da parte, do Código Penal, será realizado no Hospital
ridade administrativa, definir o estabelecimento prisional
de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro
adequado para abrigar o preso provisório ou condenado, em
local com dependência médica adequada.
atenção ao regime e aos requisitos estabelecidos.
Da Penitenciária. A penitenciária destina-se ao condena-
do à pena de reclusão, em regime fechado. A União Federal, Da Cadeia Pública. A cadeia pública destina-se ao reco-
os estados, o Distrito Federal e os territórios poderão cons- lhimento de presos provisórios.
truir penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos presos • Cada comarca terá pelo menos uma cadeia pública
provisórios e condenados que estejam em regime fechado, a fim de resguardar o interesse da Administração da
sujeitos ao regime disciplinar diferenciado, nos termos do Justiça Criminal e a permanência do preso em local
art. 52 da Lei de Execuções Penais. próximo ao seu meio social e familiar.
• O condenado será alojado em cela individual, que • O estabelecimento de que trata este Capítulo será
conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. instalado próximo de centro urbano, observando-se na
• São requisitos básicos da unidade celular: a) salubrida- construção as exigências mínimas referidas no art. 88
de do ambiente pela concorrência dos fatores de aera- e seu parágrafo único desta Lei.
ção, insolação e condicionamento térmico adequado
à existência humana; b) área mínima de 6,00 m2 (seis Da Suspensão Condicional da Pena – É um direito público
metros quadrados). subjetivo do réu de ter a execução da pena suspensa quando
• Além dos requisitos referidos no artigo anterior, a peni- preenchidos os requisitos legais. A  sua finalidade é evitar
tenciária de mulheres poderá ser dotada de seção para o cumprimento da pena por parte de alguns condenados
gestante e parturiente e de creche com a finalidade de frente à superlotação do sistema carcerário brasileiro, sendo,
assistir ao menor desamparado cuja responsável esteja portanto, política criminal. Também é conhecido pela sua
presa. abreviatura Sursis.
• A penitenciária de homens será construída, em local Atenção: não confundir a suspensão condicional da pena
afastado do centro urbano, a distância que não res- prevista no Código Penal com a suspensão condicional do
trinja a visitação. processo prevista na Lei nº 9.099/1995:

Da Colônia Agrícola, Industrial ou Similar. A Colônia Suspensão condicional Suspensão condicional do pro-
Agrícola, Industrial ou Similar destina-se ao cumprimento da pena cesso
da pena em regime semiaberto.
• O condenado poderá ser alojado em compartimento Prevista no Código Penal Prevista na Lei nº 9.099/1995 –
coletivo, observados os requisitos da alínea a do pará- Juizado Especial Criminal
Noções de Direito Penal

grafo único do art. 88 desta Lei. São também requisitos Já houve um processo e Inicia-se o processo com o
básicos das dependências coletivas: a) a seleção ade- uma sentença. O que se oferecimento da denúncia pelo
quada dos presos; b) o limite de capacidade máxima suspende é o cumprimen- Ministério Público e então se
que atenda aos objetivos de individualização da pena. to da pena suspende o trâmite processual

Da Casa do Albergado. A Casa do Albergado destina-se A pena privativa de liberdade, uma vez aplicada na sen-
ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime tença pelo juiz, poderá ser suspensa a sua execução, desde
aberto, e da pena de limitação de fim de semana. que preenchidos os seguintes requisitos, quais sejam:
• O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado 1) A execução da pena privativa de liberdade, não su-
dos demais estabelecimentos, e caracterizar-se pela perior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a
ausência de obstáculos físicos contra a fuga. 4 (quatro) anos, desde que:

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I – o condenado não seja reincidente em crime doloso (é Revogação do Sursis: Ela pode ser:
cabível no caso de condenação anterior em pena de multa
e após, em crime doloso, do mesmo modo quando ocorrer a) Obrigatória
transação pena ou suspensão condicional do processo). • Durante o período de prova, o sentenciado é conde-
II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e nado, irrecorrivelmente, por crime doloso;
personalidade do agente, bem como os motivos e as circuns- • Frustra, embora solvente, a execução de pena de
tâncias, autorizem a concessão do benefício; multa;
III – Não seja indicada ou cabível a substituição prevista • Frustra a prestação de serviço à comunidade ou à
no art. 44 deste Código (penas restritivas de direito) limitação de final de semana.
Obs.: primeiro verifica-se a possibilidade de substituição
da pena privativa de liberdade em restritiva de direito. Em b) Facultativa
não sendo possível, então, passe-se a aplicação da suspensão • Descumpre as regras de proibição de frequentar cer-
condicional da pena, desde que preenchido os requisitos tos lugares, proibição de se ausentar da comarca em
legais. que reside sem autorização do juiz, comparecimento
2) A execução da pena privativa de liberdade, não mensal obrigatório perante o juiz para justificar suas
atividades;
superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a
• Durante o período de prova, é condenado, irrecorri-
seis anos, desde que:
velmente, por crime culposo e contravenção penal;
I – o condenado seja maior de setenta anos de idade;
• Descumpre qualquer das condições impostas pelo juiz.
II – ou razões de saúde justifiquem a suspensão.

Período de Prova – É o período em que a execução


Cassação do Sursis
da pena privativa de liberdade encontra-se suspensa e o
Quando o condenado não comparece na audiência ad-
condenado, em liberdade, cumpre algumas condições a ele
moestatória, momento no qual lhe é comunicado o benefício
imposta. Tais são as condições: que lhe será aplicado e as condições a que tem que cumprir,
a) Legais – No primeiro ano do prazo, deverá o condenado o prazo de seu período de prova, bem como as consequências
prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação em caso de descumprimento.
de fim de semana. Se o condenado houver reparado o dano, Quando ocorre um recurso da sentença que aplicou o
salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do sursis e o Tribunal revoga a decisão de 1º grau reformando
art. 59 do Código Penal lhe forem inteiramente favoráveis, a sentença.
o juiz poderá substituir as exigências anteriores pelas seguin-
tes condições, aplicadas cumulativamente: a) proibição de Prorrogação do Período de Prova – Prorroga-se o período
frequentar determinados lugares; b) proibição de ausentar-se de prova quando o réu está sendo processado por crime
da comarca onde reside, sem autorização do juiz; c) compa- doloso, culposo ou contravenção penal. Tal prorrogação
recimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para será até julgamento definitivo. Durante a prorrogação, não
informar e justificar suas atividades. subsistem as condições impostas. Tal é a regra, tendo em
b) Judiciais – São aquelas impostas, pelo juiz, nas senten- vista que a revogação somente ocorrerá com o trânsito em
ças diversas das estabelecidas na lei, desde que adequadas julgado. Assim, deve-se aguardar a decisão do julgamento
ao fato e à situação pessoal do condenado. para verificar se houve uma absolvição e então ser prosseguir
na aplicação do suris ou se houve uma condenação, e sendo
Classificação dos Sursis em crime doloso, a revogação do sursis torna-se obrigatória,
se culposo ou contravenção penal, facultativa.
a) Etário – É aquele em que o condenado é maior de Findo o prazo do período de provas sem ter havido
70 anos à data da sentença. Neste caso, o sursis poderá ser nenhuma revogação, considera-se extinta a pena privativa
concedido desde que a pena não exceda a 4 anos, mais os de liberdade.
demais requisitos previsto em lei . O período de prova será no
mínimo de 4 e no máximo de 6 anos, todavia não se aplicam Do Livramento Condicional
as condições legais acima descritas.
b) Humanitário – É aquele que, por razões de saúde, in- Trata-se de um incidente aplicado na fase de execução da
dependentemente de sua idade, tem direito ao sursis, desde pena privativa de liberdade que consiste na antecipação de
que a pena não exceda a 4 anos, mais os demais previsto em liberdade do condenado, desde que preenchido os requisitos
lei. O período de prova será de no mínimo de 4 e no máximo legais, devendo o condenado cumprir certas regras. É um
de 6 anos, todavia não se aplicam as condições legais acima direito público subjetivo.
São os requisitos:
descritas. Deve ser aplicado aos casos de doentes terminais.
a) Estar cumprindo pena privativa de liberdade igual ou
c) Simples – Basta apenas o preenchimento dos requi-
superior a 2 anos;39
sitos legais. Período de prova de 2 a 4 anos. O primeiro ano
Noções de Direito Penal

b) Ter reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;


do período de prova fica sujeito à prestação de serviço à
c) Cumprimento de:
comunidade ou à limitação de final de semana. • 1/3 da pena se não for reincidente e tiver bons ante-
d) Especial – Igual ao sursis simples. A diferença está se cedentes;
o réu reparar o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, não • 1/2 se for se reincidente em crime doloso;
mais ficará sujeito à prestação de serviço à comunidade ou • entre 1/3 e 1/2 se tiver maus antecedentes, mas não
limitação de final de semana e sim ficará sujeito cumulati- for reincidente;
vamente: proibição de frequentar certos lugares, proibição • 2/3 se for crime hediondo, vedado se reincidente
de se ausentar da comarca onde reside sem autorização do específico.
juiz, comparecimento mensal obrigatório perante o juiz para
justificar suas atividades. Assunto cobrado na prova da Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013.
39

61
Obs.: as penas que correspondem às infrações diversas Suspensão do Livramento Condicional
devem ser somadas para concessão do benefício.
a) Quando cometido crime durante a vigência do benefí-
d) Comportamento carcerário satisfatório; cio, o livramento é suspenso, decreta-se a prisão e ouve-se o
e) Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; Conselho Penitenciário e o MP. A revogação fica submetida
f) Aptidão para prover a própria subsistência mediante à decisão final43. O STJ afirma a necessidade de defesa do
trabalho honesto sentenciado antes da suspensão do benefício.
g) Nos crimes dolosos cometidos com violência ou grave b) Nas hipóteses de descumprimento das obrigações
ameaça à pessoa, o benefício fica sujeito à verificação da constantes na sentença – o art. 145 da LEP não admite tal
cessação da periculosidade do agente40. suspensão.

Condições a Serem Cumpridas – Uma vez preenchidos Extinção da Pena


os requisitos legais, o condenado, ao fazer jus à concessão
do benefício do livramento condicional, deverá cumprir as a) Art. 90 do CP – Cumprida as condições sem nenhum
seguintes condições: motivo para revogação, a pena será declara extinta.
b) Art.  89 do CP  – O juiz não poderá declarar extinta
Obrigatórias a pena enquanto não transitar em julgado a sentença em
a) Proibição de ausentar-se da comarca sem autorização processo a que responde o liberado por crime cometido
do juiz. na vigência do livramento. Assim, o período de prova será
b) Comparecimento periódico do juiz para justificar suas prorrogado até a decisão final para saber se o livramento
atividades. condicional será ou não revogado. Se o crime foi praticado
c) Obter ocupação lícita dentro do prazo razoável. antes da concessão do livramento, não há que se falar em
prorrogação do período de prova, uma vez que este fato não
Facultativas invalida o tempo em que o condenado esteve em livramento
a) Não mudar de residência sem comunicar o juiz. condicional.
b) Recolher-se à habitação em hora marcada
c) Não frequentar determinados locais Da Medida de Segurança
Judiciais – Nada impede que o juiz coloque novas con- O termo Sanção penal é gênero que tem como espécies:
dições. pena e medida de segurança. Aquele que pratica um fato
Revogação do Livramento Condicional – São causas que típico ilícito e culpável surge como consequência a pena. To-
revogam a concessão do benefício: davia, ao que pratica um injusto penal, ou seja, um fato típico
a) Obrigatória  – Condenação irrecorrível por crime a e ilícito, mas não culpável por ser inimputável decorrente de
pena privativa de liberdade por crime praticado antes do be- doença mental, aplica-se, em regra, medida de segurança.
nefício, condenação irrecorrível por crime a pena privativa A pena tem por finalidade reprovar e prevenir a prática
de liberdade por crime praticado durante do benefício.41 da infração penal. Já a medida de segurança tem a finalidade
b) Facultativa – Condenação irrecorrível por crime ou exclusiva de prevenção, no sentido de evitar que o autor de
contravenção a pena não privativa de liberdade: pena res- uma infração penal que tenha demonstrado periculosidade
tritiva de direito ou pena de multa e descumprimento das volte a delinquir, bem como tratá-lo ou ainda curá-lo.
condições impostas. O CP adotou o sistema Vicariante, ou seja, ou se aplica
Obs.: na revogação facultativa, o juiz poderá: revogar à pena, ou se aplica à medida de segurança. No Brasil, não
o benefício; advertir novamente o condenado; alterar as vigora o sistema Duplo Binário em que há a possibilidade de
condições impostas acrescentando outras.42 se aplicar pena e medida de segurança.
A medida de segurança é aplicada aos inimputáveis: “o
agente que por doença mental ou desenvolvimento mental
Efeitos da Revogação do Livramento Condicional incompleto era ao tempo da ação ou omissão inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se
a) Por crime praticado durante o benefício: não se des- de acordo com esse entendimento.” O inimputável pratica
conta o tempo em que o sentenciado esteve solto e deve um fato típico e ilícito, mas é inculpável. Na verdade, ele
cumprir, integralmente, a sua pena, somente podendo obter pratica um injusto penal. Deverá ser absolvido, mas sua
novo benefício em relação à nova condenação. Não poderá absolvição é chamada de imprópria porque lhe é aplicado
somar o tempo que deverá cumprir com a nova pena, resul- uma medida de segurança. A periculosidade, que é a poten-
tante de outro delito para obter novo benefício. cialidade para praticar ações lesivas, é presumida, bastando
b) Por crime anterior ao benefício: é descontado o tempo o laudo apontar a perturbação mental para que a medida de
em que o sentenciado esteve solto, devendo cumprir preso segurança seja imposta.
apenas o tempo que falta para completar o período de prova. Já o semi-inimputável poderá receber a pena reduzida
Além disso, terá direito de somar o que resta da pena com a 1/3 a 2/3 ou medida de segurança. Para tanto, deve-se veri-
nova condenação, calculando o livramento sobre este total. ficar se o agente em virtude da perturbação de saúde mental
Noções de Direito Penal

c) Por descumprimento das condições impostas: não é ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado
descontado o tempo em que esteve solto e não pode obter não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do
novo livramento em relação a essa pena, um vê que traiu a fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
confiança do juízo. Aqui, a periculosidade não é presumida. Mesmo o laudo
Obs.: é inadmissível a revogação do livramento condi- apontando a perturbação mental deverá ser investigado no
cional sem prévia oitiva do condenado para então exercer o caso concreto se é caso de pena ou de medida de segurança.
seu direito de ampla defesa e contraditório. Assim, poderá haver uma sentença condenatória com dimi-
nuição de pena ou uma sentença absolutória imprópria com
40
Assunto cobrado na prova da Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013.
aplicação de medida de segurança.
41
Assunto cobrado na prova da Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013.
42
Assunto cobrado na prova da Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013. Assunto cobrado na prova da Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013.
43

62
São espécies de medida de segurança: persistindo a necessidade de tratamento, deverá o conde-
a) Detentiva: nado ser encaminhado ao juízo cível nos termos do art. 682,
• internação em hospital de custódia e tratamento psi- § 2º do CPP.
quiátrico (art. 97 CP). Obs.: a nova lei de drogas deixa a critério do juiz a ava-
• obrigatória quando a pena imposta é de reclusão, não liação quando a necessidade ou não de internação, inde-
podendo aplicar a medida restritiva pendentemente da natureza da pena privativa de liberdade.
• por tempo indeterminado, perdurando enquanto não Assim, não se aplica a regra do art. 97 do CP.
for averiguado, mediante perícia médica, a cessação Não há a previsão de execução progressiva, ou seja,
da periculosidade. a passagem da medida de segurança da internação para o
• na falta de vaga, o  tratamento poderá ocorrer em tratamento ambulatorial.
hospital comum ou particular, mas nunca em cadeia
pública. Dosimetria da Pena (Esquema baseado na obra de
b) Restritiva: Fernando Capez)
• tratamento ambulatorial (art. 97 do CP).
• quando a pena imposta é de detenção, sendo facul- Art. 68 do CP – A pena-base será fixada atendendo-se
tativa. Se o juiz achar mais conveniente a internação ao critério do art. 59 do CP; em seguida serão consi-
em hospital de custódia, assim poderá fazê-lo, mesmo deradas as circunstâncias atenuantes e agravantes;
sendo crime apenado com detenção. por último, as causas de diminuição e de aumento.
• será por prazo indeterminado até a constatação da
cessação de periculosidade.
Regras para Aplicação da Pena pelo Juiz
• § 4º do art. 97 afirma que o juiz poderá, em qualquer
fase do tratamento ambulatorial, determinar a inter-
nação do agente se essa medida for necessária para 1) O juiz fixará a pena-base baseado nos critérios do
fins curativos. O contrário não é possível ocorrer. art. 59 do CP.
2) Verificação da presença de circunstâncias atenuantes
Obs.: Greco afirma que poderá o juiz, em qualquer das e agravantes.
penas previstas, optar pelo tratamento mais adequado ao 3) Verificação de causa de aumento e diminuição da pena.
inimputável. Obs.: há quem fale em uma quarta fase, a substituição da
pena privativa de liberdade em restritiva de direito.
Procedimento de aplicação da medida de segurança:
a) O juiz, na sentença, irá fixar o prazo mínimo de inter- Atenção: o juiz deverá fundamentar cada etapa da
nação, que poderá ser de 1 a 3 anos. dosimetria da pena, garantindo ao réu o amplo direito do
b) Cumprido esse prazo, será realizado o primeiro exame exercício da defesa.
de cessação de periculosidade.
c) Segundo a LEP, esse exame poderá ser determinado Primeira Fase – Art. 59 do Cp
pelo juiz a qualquer momento.
d) Constatada a presença de periculosidade, será reno- a) O juiz analisará livremente as circunstâncias elencadas
vado todo ano o exame até sua melhora. no art. 59 para a escolha da pena abstrada a ser aplicada.
e) Constatada a sua melhora, será posto em liberdade (Ex.: homicídio, pena reclusão de 6 a 20 anos. O juiz, por
(desinternação) e acompanhado por 1 ano. Nesse prazo, se meio das circunstancias do art. 59, escolherá se vai aplicar
não praticar atos que demonstrem a sua periculosidade, a pena 6, 8, 10, 12 ou 20 anos).
estará revogada a medida de segurança. Se praticar, retoma b) Para se aplicar a pena-base, deverá se verificar se o
a aplicação da medida de segurança. fato praticado se enquadra na forma simples do tipo penal ou
f) Transitada em julgado a sentença, expede-se a guia de em sua modalidade qualificada. (Ex.: roubo simples, art. 157,
internamento ou tratamento. caput, ou latrocínio, 157, § 2º, do CP). A forma simples do
g) Ciência obrigatória ao MP da expedição da guia. crime é chamada de tipo fundamental. Já a qualificadora
h) O diretor do estabelecimento de cumprimento da estão sediadas em parágrafos dos tipos incriminadores,
medida de segurança, até um mês antes de expirar o prazo tipo derivado.
mínimo, remeterá ao juiz um minucioso relatório para auxiliar c) O início da dosagem da pena parte sempre do limite
o julgamento da revogação ou não da medida de segurança. mínimo da pena em abstrato.
i) O relatório será instruído com laudo psiquiátrico, pois d) As circunstâncias previstas no art. 59 estão previstas
aquele não supre a este. de forma exaustiva.
j) Juiz decide. Caberá agravo, com efeito suspensivo. e) O juiz fará uma análise discricionária das circunstâncias
Não há possibilidade de aplicação de medida de segu-
e terá liberdade de escolha da pena a ser aplicada.
rança em caráter provisório.
f) Segundo a Súmula nº 231 do STJ, nessa primeira fase
É possível a conversão da pena em medida de segurança
de fixação da pena, o juiz jamais poderá fixar a pena-base
durante a execução da pena privativa de liberdade quando
sobrevenha doença mental ao condenado, devendo o juiz de abaixo de seu mínimo previsto abstratamente, bem como
Noções de Direito Penal

ofício ou a requerimento do MP ou da autoridade adminis- acima de seu máximo legal.


trativa realizar a conversão. Efetivada a conversão, discute-se
por quanto tempo deverá perdurar, pelo restante da pena pri- As circunstâncias judiciais são:
vativa de liberdade a cumprir, ou por tempo indeterminado. Culpabilidade  – Crítica ao nome, pois culpabilidade,
a) Capez – Por tempo indeterminado, fazendo um exame conforme a teoria adotada, poderá ser, segundo a tripartida,
de cessação de periculosidade, anualmente, pois passarão elemento do crime, e segundo a bipartida, pressuposto de
a incidir todas as regras das medida de segurança (art. 97 e aplicação da pena. Assim, o  que o legislador quis dizer a
SS do CP e 171 e SS da LEP). respeito dessa circunstância seria “o grau de culpabilidade”,
b) STJ – A medida de segurança convertida não poderá pois todos os culpáveis serão puníveis, mas aqueles que
ultrapassar o tempo de duração do restante da pena, de tiverem um grau maior de culpabilidade receberão, por jus-
modo que, encerrado o prazo de duração da pena e ainda tiça, uma apenação mais severa. Assim, o grau de culpa e a

63
intensidade do dolo importam na quantidade da pena será Segunda Fase – Circunstâncias agravantes e
atribuída ao acusado. atenuantes
Antecedentes – São os fatos da vida pregressa do agente
no que diz respeito ao seu histórico criminal; inquéritos po- Circunstâncias – Greco: são dados periféricos que gravi-
liciais e processos penais. Todavia, a polêmica consiste em tam ao redor da figura típica e tem por finalidade diminuir
saber qual a amplitude do termo “antecedentes”: ou aumentar a pena aplicada ao sentenciado. Por permane-
a) 1ª corrente – Anteriores envolvimentos em inquéritos cerem ao lado da definição típica, as circunstâncias em nada
policiais, processos criminais. Considera-se, ainda que em interferem na definição jurídica da infração penal. As ele-
caso de absolvição por insuficiência de provas (art. 386, VI, do mentares, ao contrário, são dados essenciais indispensáveis
CPP) e inquéritos policiais arquivados, também configuram à definição da figura típica, sem os quais o fato poderá ser
maus antecedentes. considerado atípico (atipicidade absoluta) ou se transformará
b) 2ª corrente  – Antecedentes é a vida pregressa do em outro crime (atipicidade relativa).
agente que não configura reincidência, em virtude do O CP não apresenta um quantum para fins de atenuação
princípio da presunção de inocência. Assim, somente as ou agravamento da pena, diferentemente do que ocorre com
condenações anteriores com trânsito em julgado que não as causas de aumento e diminuição.
sirvam para forjar reincidência é que poderão ser conside- A atenuação ou o agravamento deverá respeitar os limi-
radas maus antecedentes, jamais inquéritos ou ações em tes mínimos e máximos da pena em abstrato.
andamento. (Ex.: sentenciado que possui três condenações Segundo Bitencourt, pelo princípio da razoabilidade,
transitadas em julgado, todavia o fato que praticou ocorreu ante a ausência de determinação legal para a quantidade
antes destes trânsitos em julgado. Será considerado para de agravamento e atenuação previstos em lei, estas deverão
maus antecedentes e não reincidência, da mesma forma se ser fixadas em 1/6, média de agravamentos e atenuações da
o fato praticado ocorreu após 5 anos do trânsito em julgado, parte especial do CP.
não será mais reincidência, pois a mesma terá prescrito, mas Agravantes Genéricas – Estão previstas no art. 61 do CP:
será maus antecedentes). sempre agravam a pena, não podendo o juiz deixá-las de
Obs. 1: transação penal e suspensão condicional do levar em consideração. A enumeração é taxativa. Todavia,
processo não geram maus antecedentes (art. 76, § § 4º e se qualificarem ou forem elementares do tipo penal, não
6º, e art. 89 da Lei nº 9.099/1990). serão aplicadas. São as hipóteses legais:
Obs. 2: a prova de maus antecedentes será realizado por 1) Reincidência  – prática de um crime após ter sido
certidão do cartório, art. 155 do CPP, não bastando para isto condenado por crime anterior com sentença transitada em
a folha de antecedentes criminais. julgado. Tem como termo inicial:
Conduta Social – Enquanto os antecedentes se restrin- a) se a pena foi cumprida: contagem de 5 anos, inicia-se
gem aos envolvimentos criminais do agente, a conduta social na data em que o agente termina o cumprimento da pena;
tem alcance mais amplo, referindo-se a sua atividade do b) se a pena foi extinta: inicia-se a contagem dos 5 anos
da data da extinção em que a pena realmente ocorreu;
trabalho, familiar e social ou qualquer outro comportamento
c) se houve aplicação de sursis ou de livramento condi-
em sociedade.
cional: termo inicial da contagem é a data da audiência de
Personalidade do Agente – Não se trata de um conceito
advertência.
jurídico, mas, sim, da psicologia e da psiquiatria. Relaciona-se
Obs.: crimes que não induzem reincidência: crime mi-
ao nível de periculosidade e irritabilidade, bem como a in-
litar próprio e crimes políticos44. Se condenado por crime e
tensidade de violência, brutalidade, ausência de sentimento
apenado com multa, haverá reincidência.
humanitário, de arrependimento dentre outros.
A transação penal e suspensão condicional do processo
Motivos do Crime – As razões que antecederam e le-
não geram reincidência.
varam o agente a praticar o crime. Influenciará na pena a Em caso de reincidência, fixada a pena em patamar
maior ou menor aceitação da motivação que levou o agente inferior a 4 (quatro) anos, o condenado poderá iniciar o
a praticar o crime, por exemplo, praticou por piedade ou por cumprimento da pena em regime semiaberto, desde que
ruindade. Atenção: caso o motivo configure qualificadora, as circunstâncias judiciais o recomendem.45
agravante ou atenuante, causa de aumento ou diminuição, Reincidência específica significa o mesmo tipo incrimina-
não poderá ser considerada circunstância judicial, evitando dor (furto/furto; lesão/lesão). Na lei dos crimes hediondos,
o bis in idem. é  a prática de qualquer crime hediondo. Já a reincidente
Circunstâncias e Consequências do Crime – As circuns- em crime doloso significa a prática de crime doloso, e após
tâncias dizem respeito à prática do crime, são elementos aci- outro crime doloso.
dentais que não participam da estrutura de cada crime, mas Por fim, a terminologia primário retrata aquele que não
que influem na quantidade punitiva. São elas: duração do é reincidente. Já a primariedade técnica é aquele que possui
delito, que pode demonstrar maior ou menor determinação várias condenações anteriores, mas não é considerado rein-
do criminoso, local do crime, que indica maior periculosidade cidente, porque não praticou nenhum delito após ter sido
do agente, tempo de preparação. As consequências dizem condenado definitivamente.
respeito à extensão do dano produzido pelo delito, por 3) Motivo fútil  – Sem significância, sem importância.
exemplo, morte de um pai de família, atropelamento que Quanto à ausência de motivos, a jurisprudência diverge se
Noções de Direito Penal

deixa uma pessoa paralítica, como também o exaurimento é o caso de motivo fútil. O ciúme não é motivo fútil, pois
do crime nas condutas em que ele é cabível. se origina da paixão, um forte motivo para praticar crimes.
Comportamento da Vítima – No direito penal, não há 4) Motivo torpe – Motivo repugnante, ofensivo à mora-
a compensação de penas, todavia, por vezes, a vítima, com lidade média da sociedade. A vingança não é motivo torpe
seu comportamento, faz nascer o ato criminoso, embora para jurisprudência.
não justificando os mesmos. Deve-se ressaltar quando o 5) Finalidade de facilitar ou assegurar a execução, ocul-
comportamento da vítima for circunstância atenuante (“in- tação, impunidade ou vantagem de outro crime – Quando
justa provocação da vítima”, art. 65, III, c, última parte do há conexão entre os crimes (teleológica: para assegurar a
CP) ou causa de diminuição (art. 121, § 1º, segunda parte e
art. 129, § 4º, do CP), não será ela considerada na primeira Assunto cobrado na prova do Cespe/TC-DF/Procurador/2013.
44

fase da dosimetria da pena. UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013.


45

64
execução de outro crime; consequencial: quando praticado tes inomindas, as quais muito embora não previstas em lei,
em consequência de outro visando a garantir a impunidade, podem ser aplicadas.
ocultação ou vantagem de outro crime). 1) Ser o agente menor de 21 anos na data do fato – A
6) Traição, emboscada, dissimulação ou qualquer ou- lei diz que a prova se faz mediante certidão de nascimento.
tro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do Todavia, a jurisprudência tem admitido prova por meio do
ofendido – Traição – quebra de prévia confiança; embosca- RG ou outro documento hábil, Súmula nº 74 do STJ. É irrele-
da – tocaia; dissimulação – disfarce; qualquer outro meio vante, se houve emancipação civil, tal efeito não repercute
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido  – na esfera penal.
formulação genérica, cujo significado se extrai por meio de 2) Ser o agente maior de 70 anos na data da sentença –
interpretação analógica. Data da publicação.
7) Emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou ou- 3) Desconhecimento da lei – Não isenta de pena, ape-
tro meio insidioso ou cruel, ou que possa resultar perigo nas atenua (todavia o erro sobre a ilicitude do fato exclui a
comum  – Veneno: substância tóxica; fogo: combustão ou culpabilidade.
qualquer outro meio que provoque queimadura; explosivo: 4) Motivo de relevante valor moral ou social – Valor
substância inflamável; tortura: sofrimento físico e moral moral é interesse individual, valor social é interesse coletivo.
desnecessário; meio insidioso: formulação genérica, meio 5) Ter o agente procurado, por sua espontânea vontade
que se inicia sem se perceber e somente se percebe quando e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar
está em grau avançado (ministração de veneno sem que a as consequências  – No arrependimento eficaz, o  agente
vítima perceba); meio cruel: outra fórmula geral, onde se consegue evitar o resultado, aqui, o resultado já ocorreu.
aumenta o sofrimento ou revela uma brutalidade intensa 6) Reparação do dano até o julgamento – Deve ser o
(várias facadas); resultar perigo comum: fórmula genérica, julgamento de primeiro grau. Se reparar o dano até o rece-
por exemplo, disparo de arma de fogo em praça pública. bimento da denúncia e o crime for sem violência ou grave
8) Contra ascendente, descendente, cônjuge e irmão – ameaça contra a pessoa, será arrependimento posterior.
CADI. O parentesco pode ser natural ou civil. Inclui-se a 7) Praticar o crime sob coação moral resistível, obedi-
união estável. Em caso de separação da fato ou judicial, não ência de autoridade superior, ou sob influência de violenta
prevalece a agravante. emoção provocada por ato injusto da vítima – Coação
9) Com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de irresistível e obediência à ordem não manifestamente ilegal
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade – exclui a culpabilidade. O domínio de violenta emoção pode
Abuso de autoridade está relacionado às relações privadas, ser causa de diminuição de pena no homicídio e na lesão
e não públicas, por exemplo, tutores. Coabitação é debaixo corporal (mais o requisito “logo após”).
do mesmo teto. 8) Confissão espontânea do crime perante a autorida-
10) Com abuso de poder ou violação de dever inerente de – Pode ser judicial ou extrajudicial. Deve ocorrer quando
a cargo, ofício, ministério ou função (o crime de concussão a autoria ainda não é conhecida. Se concedida e depois de
já tem essa situação como elementar, não se aplicando essa negada, não incidirá a atenuante, bem como a confissão em
qualificadora). segunda instância.
11) Contra maior de 60 anos, enfermo ou mulher grá- 9) Praticar o crime sob a influência de multidão e tu-
vida. multo, se não o provocou.
12) Quando o ofendido estava sob proteção da auto- As atenuantes inominadas  – Não estão especificadas
ridade. em lei, podendo ser anteriores ou posteriores ao crime. Ex.:
13) Em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou praticar o crime em virtude de longo desemprego, moléstia
qualquer calamidade pública ou desgraça particular do grave na família ou própria.
ofendido – Pune-se o sadismo e oportunismo.
14) Em caso de embriaguez preordenada – O agente se Terceira Fase – Causas de aumento e diminuição de
embriaga para cometer crimes. pena
As agravantes genéricas previstas no art. 62 do CP estão
relacionadas ao de concurso de pessoas. São de aplicação obrigatória e podem aumentar a pena
15) Promover ou organizar a cooperação no crime – É além do máximo e diminuir aquém do mínimo. Estão pre-
o autor intelectual do crime. vistas na Parte Geral do CP – causa de diminuição: tentativa
16) Dirigir a atividade dos demais  – Quem fiscaliza a (art. 14), arrependimento posterior (art. 16), erro de proibi-
execução do crime. ção evitável (art. 21), semi-imputabilidade (art. 26, parágrafo
17) Induzir ou coagir outrem à execução do crime – Co- único); causa de aumento: concurso formal (art. 70), crime
agir fisicamente ou moralmente. A agravante incidirá quer continuado e na parte especial do CP – furto privilegiado,
a coação seja irresistível, quer não. Induzir é dar uma ideia. homicídio privilegiado.
18) Instigar ou determinar a cometer crime alguém que No conflito entre agravantes e atenuantes – No fato
esteja sob a sua autoridade ou não seja punível em virtude concreto, poderá haver 3 agravantes e duas atenuantes.
de condição ou qualidade pessoal – Instigar é reforçar ideia Como resolver? Subtrai-se 3 agravantes das duas atenuantes
já existente. Determinar é ordenar. Deve haver uma relação e sobra uma agravante e agrava-se a pena? Não. O art. 67 do
de subordinação qualquer que seja. Não punível: menor, CP e a jurisprudência trazem as repostas. São preponderantes
Noções de Direito Penal

insanidade mental. segundo o art. 67 os motivos do crime, a personalidade do


19) Executar o crime ou dele participar em razão de agente e a reincidência (caráter subjetivo). Jurisprudência
pagar ou promessa de recompensa – Pune-se o criminoso afirma que a mais importante é a menoridade.
mercenário, não necessitando do efetivo recebimento da Já no conflito entre circunstâncias judiciais preponderam
recompensa. Não se aplica essa agravante aos crimes contra as de caráter subjetivo: personalidade do agente, motivos
o patrimônio, uma vez que esse delito visa à obtenção de do crime e antecedentes.
vantagem econômica. No concurso entre agravantes genéricas e qualificadoras,
por exemplo: homicídio triplamente qualificado (motivo tor-
Atenuantes Genéricas  – art.  65 do CP: obrigatória a pe, emprego de veneno e recurso que impossibilite a defesa
atenuação da pena, nunca poderá ir aquém do mínimo legal do ofendido), a primeira serve para qualificar o crime, na
(Súmula nº 231 do STJ). Possui no art. 66 do CP as atenuan- primeira fase, fixando a pena base. As duas outras:

65
1º corrente – As demais qualificadoras assumem a função § 4º O condenado por crime contra a administração
de circunstâncias judiciais, influindo na pena-base. pública terá a progressão de regime do cumprimento da
2º corrente – As demais qualificadoras funcionam como pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à
agravantes genéricas na segunda fase de fixação da pena devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos
No concurso entre causa de aumento de pena na Parte legais. (Incluído pela Lei nº 10.763, de 12/11/2003)
Geral e na Parte Especial, aplicam-se ambos os aumentos,
primeiro o da parte específica e após e sobre o valor já au- Regras do regime fechado
mentado, a outra causa de aumento agora da parte geral. Art. 34. O condenado será submetido, no início do cum-
No que tange ao concurso entre causa de diminuição primento da pena, a exame criminológico de classificação
de pena na Parte Geral e na Parte Especial, aplica-se a regra para individualização da execução. (Redação dada pela Lei
acima exposta. nº 7.209, de 11/7/1984)
Se houver concurso de causa de diminuição prevista na §  1º O condenado fica sujeito a trabalho no período
parte especial, segundo o art. 68 do CP, o juiz poderá optar diurno e a isolamento durante o repouso noturno. (Redação
pela causa que mais diminua ou aumente a pena, aplicar dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
somente ela. Ex.: art. 226, CP – concurso de agentes, sendo § 2º O trabalho será em comum dentro do estabeleci-
um deles ascendente, cometem um estupro. mento, na conformidade das aptidões ou ocupações anterio-
Obs.: nas hipóteses de concurso entre causas de aumento res do condenado, desde que compatíveis com a execução
e diminuição da parte especial, o juiz poderá aplicar todas, da pena.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
§ 3º O trabalho externo é admissível, no regime fecha-
mas sempre a partir da pena-base.
do, em serviços ou obras públicas. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11/7/1984)
Legislação
Regras do regime semiaberto
DAS PENAS Art. 35. Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, caput,
ao condenado que inicie o cumprimento da pena em regime
CAPÍTULO I semiaberto. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Das Espécies de Pena § 1º O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante
o período diurno, em colônia agrícola, industrial ou estabeleci-
Art. 32. As penas são: (Redação dada pela Lei nº 7.209, mento similar. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
de 11/7/1984) § 2º O trabalho externo é admissível, bem como a frequ-
I – privativas de liberdade; ência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de
II – restritivas de direitos; segundo grau ou superior. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
III – de multa. de 11/7/1984)

Seção I Regras do regime aberto


Das Penas Privativas de Liberdade Art. 36. O regime aberto baseia-se na autodisciplina e
senso de responsabilidade do condenado. (Redação dada
Reclusão e detenção pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Art. 33. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime § 1º O condenado deverá, fora do estabelecimento e
fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer outra
semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o
a regime fechado. (Redação dada pela Lei nº  7.209, de período noturno e nos dias de folga. (Redação dada pela Lei
11/7/1984) nº 7.209, de 11/7/1984)
§ 1º Considera-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de § 2º O condenado será transferido do regime aberto, se
11/7/1984) praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os fins da
a) regime fechado a execução da pena em estabeleci- execução ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamen-
mento de segurança máxima ou média; te aplicada. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
b) regime semiaberto a execução da pena em colônia
agrícola, industrial ou estabelecimento similar; Regime especial
c) regime aberto a execução da pena em casa de alber- Art. 37. As mulheres cumprem pena em estabelecimento
próprio, observando-se os deveres e direitos inerentes à sua
gado ou estabelecimento adequado.
condição pessoal, bem como, no que couber, o disposto neste
§ 2º As penas privativas de liberdade deverão ser executa-
Capítulo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
das em forma progressiva, segundo o mérito do condenado,
observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses Direitos do preso
de transferência a regime mais rigoroso: (Redação dada pela Art. 38. O preso conserva todos os direitos não atingidos
Lei nº 7.209, de 11/7/1984) pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá o respeito à sua integridade física e moral. (Redação dada
Noções de Direito Penal

começar a cumpri-la em regime fechado; pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)


b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior
a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o Trabalho do preso
princípio, cumpri-la em regime semiaberto; Art. 39. O trabalho do preso será sempre remunerado,
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou sendo-lhe garantidos os benefícios da Previdência Social.
inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
em regime aberto.
§ 3º A determinação do regime inicial de cumprimento Legislação especial
da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no Art. 40. A legislação especial regulará a matéria prevista
art. 59 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de nos arts. 38 e 39 deste Código, bem como especificará os
11/7/1984) deveres e direitos do preso, os critérios para revogação e

66
transferência dos regimes e estabelecerá as infrações disci- § 4º A pena restritiva de direitos converte-se em privativa
plinares e correspondentes sanções. (Redação dada pela Lei de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado
nº 7.209, de 11/7/1984) da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liber-
dade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena
Superveniência de doença mental restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias
Art. 41. O condenado a quem sobrevém doença men- de detenção ou reclusão. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
tal deve ser recolhido a hospital de custódia e tratamento § 5º Sobrevindo condenação a pena privativa de liberda-
psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado. de, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao
condenado cumprir a pena substitutiva anterior. (Incluído
Detração pela Lei nº 9.714, de 1998)
Art. 42. Computam-se, na pena privativa de liberdade e
na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Conversão das penas restritivas de direitos
Brasil ou no estrangeiro, o  de prisão administrativa e o de Art. 45. Na aplicação da substituição prevista no artigo
internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no anterior, proceder-se-á na forma deste e dos arts. 46, 47 e
artigo anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) 48. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
§ 1º A prestação pecuniária consiste no pagamento em
Obs.: Segundo entendimento consolidado do Superior dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública
Tribunal de Justiça, em tema de aplicação e execução da ou privada com destinação social, de importância fixada
pena admite-se a aplicação do benefício da detração pe- pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior
nal em processos distintos, desde que o delito pelo qual o a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos47. O valor pago
sentenciado cumpre pena tenha sido cometido antes da será deduzido do montante de eventual condenação em ação
segregação cautelar.46 de reparação civil, se coincidentes os beneficiários. (Incluído
pela Lei nº 9.714, de 1998)
Seção II § 2º No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do
Das Penas Restritivas de Direitos
beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir em pres-
tação de outra natureza. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
Penas restritivas de direitos
§ 3º A perda de bens e valores pertencentes aos conde-
Art.  43. As  penas restritivas de direitos são: (Redação
nados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do
dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto – o
I – prestação pecuniária; (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
que for maior – o montante do prejuízo causado ou do pro-
II – perda de bens e valores; (Incluído pela Lei nº 9.714,
vento obtido pelo agente ou por terceiro, em consequência
de 1998)
III – (Vetado) (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) da prática do crime. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
IV – prestação de serviço à comunidade ou a entidades § 4º (Vetado) (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
públicas; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984, renume-
rado com alteração pela Lei nº 9.714, de 25/11/1998) Prestação de serviços à comunidade ou a entidades
V – interdição temporária de direitos; (Incluído pela Lei públicas
nº 7.209, de 11/7/1984, renumerado com alteração pela Lei Art.  46. A prestação de serviços à comunidade ou a
nº 9.714, de 25/11/1998) entidades públicas é aplicável às condenações superiores
VI – limitação de fim de semana. (Incluído pela Lei a seis meses de privação da liberdade. (Redação dada pela
nº 7.209, de 11/7/1984 , renumerado com alteração pela Lei nº 9.714, de 1998)
Lei nº 9.714, de 25/11/1998) § 1º A prestação de serviços à comunidade ou a entida-
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas des públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao
e substituem as privativas de liberdade, quando: (Redação condenado. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
dada pela Lei nº 9.714, de 1998) § 2º A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em
I  – aplicada pena privativa de liberdade não superior entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros
a quatro anos e o crime não for cometido com violência estabelecimentos congêneres, em programas comunitários
ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena ou estatais. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
aplicada, se o crime for culposo; (Redação dada pela Lei § 3º As tarefas a que se refere o § 1º serão atribuídas
nº 9.714, de 1998) conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas
II – o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas
dada pela Lei nº 9.714, de 1998) de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho.
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
a personalidade do condenado, bem como os motivos e as § 4º Se a pena substituída for superior a um ano, é facul-
circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficien- tado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor
te. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa
§ 1º (Vetado) (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) de liberdade fixada. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
§ 2º Na condenação igual ou inferior a um ano, a substitui-
Noções de Direito Penal

ção pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de di- Interdição temporária de direitos (Redação dada pela
reitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por Art. 47. As penas de interdição temporária de direitos
duas restritivas de direitos. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) são: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
§ 3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar I – proibição do exercício de cargo, função ou atividade
a substituição, desde que, em face de condenação anterior, pública, bem como de mandato eletivo; (Redação dada pela
a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. II  – proibição do exercício de profissão, atividade ou
(Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998) ofício que dependam de habilitação especial, de licença

UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013.
46
Cespe/CNJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2013.
47

67
ou autorização do poder público; (Redação dada pela Lei CAPÍTULO II
nº 7.209, de 11/7/1984) Da Cominação das Penas
III – suspensão de autorização ou de habilitação para di-
rigir veículo; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) Penas privativas de liberdade
IV – proibição de frequentar determinados lugares; (In- Art. 53. As penas privativas de liberdade têm seus limites
cluído pela Lei nº 9.714, de 1998) estabelecidos na sanção correspondente a cada tipo legal
V – proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou de crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
exame públicos. (Incluído pela Lei nº 12.550, de 2011)
Penas restritivas de direitos
Limitação de fim de semana Art. 54. As penas restritivas de direitos são aplicáveis,
Art. 48. A limitação de fim de semana consiste na obri- independentemente de cominação na parte especial, em
gação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) substituição à pena privativa de liberdade, fixada em quanti-
horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimen- dade inferior a 1 (um) ano, ou nos crimes culposos. (Redação
to adequado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Parágrafo único. Durante a permanência poderão ser Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos in-
ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribuídas cisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena
atividades educativas. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de privativa de liberdade substituída, ressalvado o disposto no
11/7/1984) § 4º do art. 46. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
Art. 56. As penas de interdição, previstas nos incisos I
Seção III e II do art. 47 deste Código, aplicam-se para todo o crime
Da Pena de Multa cometido no exercício de profissão, atividade, ofício, cargo ou
função, sempre que houver violação dos deveres que lhes são
Multa inerentes. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Art. 49. A pena de multa consiste no pagamento ao fundo Art. 57. A pena de interdição, prevista no inciso III do
penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em art. 47 deste Código, aplica-se aos crimes culposos de trân-
dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de sito. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
360 (trezentos e sessenta) dias-multa. (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11/7/1984) Pena de multa
§ 1º O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não poden- Art. 58. A multa, prevista em cada tipo legal de crime, tem
do ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo men- os limites fixados no art. 49 e seus parágrafos deste Código.
sal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
esse salário. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) Parágrafo único. A multa prevista no parágrafo único do
§ 2º O valor da multa será atualizado, quando da exe- art. 44 e no § 2º do art. 60 deste Código aplica-se indepen-
cução, pelos índices de correção monetária. (Redação dada dentemente de cominação na parte especial. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)

Pagamento da multa CAPÍTULO III


Art. 50. A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias Da Aplicação da Pena
depois de transitada em julgado a sentença. A requerimento
do condenado e conforme as circunstâncias, o juiz pode Fixação da pena
permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais. Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antece-
dentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos mo-
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
tivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como
§ 1º A cobrança da multa pode efetuar-se mediante
ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
desconto no vencimento ou salário do condenado quando:
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do cri-
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
me: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
a) aplicada isoladamente;
I – as penas aplicáveis dentre as cominadas; (Redação
b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de
dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
direitos; II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites
c) concedida a suspensão condicional da pena. previstos; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
§ 2º O desconto não deve incidir sobre os recursos III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de
indispensáveis ao sustento do condenado e de sua família. liberdade; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) IV – a substituição da pena privativa da liberdade apli-
cada, por outra espécie de pena, se cabível. (Redação dada
Conversão da Multa e revogação (Redação dada pela pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Critérios especiais da pena de multa
Modo de conversão. Art. 60. Na fixação da pena de multa o juiz deve atender,
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, principalmente, à situação econômica do réu. (Redação dada
Noções de Direito Penal

a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda § 1º A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz
Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e considerar que, em virtude da situação econômica do réu,
suspensivas da prescrição. (Redação dada pela Lei nº 9.268, é ineficaz, embora aplicada no máximo. (Redação dada pela
de 1º/4/1996) Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
§ 1º e § 2º (Revogado pela Lei nº 9.268, de 1º/4/1996)
Multa substitutiva
Suspensão da execução da multa § 2º A pena privativa de liberdade aplicada, não superior
Art.  52. É suspensa a execução da pena de multa, se a 6 (seis) meses, pode ser substituída pela de multa, obser-
sobrevém ao condenado doença mental. (Redação dada vados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste Código.
pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)

68
Circunstâncias agravantes mento condicional, se não ocorrer revogação; (Redação dada
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
quando não constituem ou qualificam o crime: (Redação II – não se consideram os crimes militares próprios e
dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) políticos. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
I – a reincidência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11/7/1984) Circunstâncias atenuantes
II – ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
Lei nº 7.209, de 11/7/1984) (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
a) por motivo fútil ou torpe; I – ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do
b) para facilitar ou assegurar a execução, a  ocultação, fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença;
a impunidade ou vantagem de outro crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou II – o desconhecimento da lei; (Redação dada pela Lei
outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa nº 7.209, de 11/7/1984)
do ofendido; III – ter o agente: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura 11/7/1984)
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar a) cometido o crime por motivo de relevante valor social
perigo comum; ou moral;
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; b) procurado, por sua espontânea vontade e com efici-
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de ência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as con-
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou sequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
com violência contra a mulher na forma da lei específica; c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou
(Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto
cargo, ofício, ministério ou profissão; da vítima;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou d) confessado espontaneamente, perante a autoridade,
mulher grávida; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) a autoria do crime;
e) cometido o crime sob a influência de multidão em
Nesse sentido, considere que Marcos, penalmente im- tumulto, se não o provocou.
putável, subtraia de seu genitor de sessenta e oito anos de Art.  66. A pena poderá ser ainda atenuada em razão
idade, um relógio de alto valor. Nessa situação, o autor não de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime,
pode beneficiar-se da escusa penal absolutória, em razão embora não prevista expressamente em lei. (Redação dada
da idade da vítima.48 pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)

i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes
autoridade; Art. 67. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias
qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam
ofendido; dos motivos determinantes do crime, da personalidade do
l) em estado de embriaguez preordenada. agente e da reincidência. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11/7/1984)
Agravantes no caso de concurso de pessoas
Art. 62. A pena será ainda agravada em relação ao agente Cálculo da pena
que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) Art. 68. A pena-base será fixada atendendo-se ao critério
I – promove, ou organiza a cooperação no crime ou diri- do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as
ge a atividade dos demais agentes; (Redação dada pela Lei circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as cau-
nº 7.209, de 11/7/1984) sas de diminuição e de aumento. (Redação dada pela Lei
II – coage ou induz outrem à execução material do crime; nº 7.209, de 11/7/1984)
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) Parágrafo único. No concurso de causas de aumento ou
III – instiga ou determina a cometer o crime alguém sujei- de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-
to à sua autoridade ou não punível em virtude de condição -se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo,
ou qualidade pessoal; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de todavia, a causa que mais aumente ou diminua. (Redação
11/7/1984) dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
IV – executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou
promessa de recompensa. (Redação dada pela Lei nº 7.209, Concurso material
de 11/7/1984) Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação
ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não,
Reincidência aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade
Art. 63. Verifica-se a reincidência quando o agente co- em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de
Noções de Direito Penal

mete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) § 1º Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver
Art. 64. Para efeito de reincidência: (Redação dada pela sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por
Lei nº 7.209, de 11/7/1984) um dos crimes, para os demais será incabível a substituição
I – não prevalece a condenação anterior, se entre a data de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei
do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior nº 7.209, de 11/7/1984)
tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, § 2º Quando forem aplicadas penas restritivas de direi-
computado o período de prova da suspensão ou do livra- tos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem
compatíveis entre si e sucessivamente as demais. (Redação
Cespe/PC-BA/Delegado de Polícia/2013.
48 dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)

69
Concurso formal Concurso de infrações
Art.  70. Quando o agente, mediante uma só ação ou Art. 76. No concurso de infrações, executar-se-á primei-
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, ramente a pena mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, de 11/7/1984)
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso,
de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, CAPÍTULO IV
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes Da Suspensão Condicional da Pena
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o
disposto no artigo anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, Requisitos da suspensão da pena
de 11/7/1984) Art. 77. A execução da pena privativa de liberdade, não
Parágrafo único. Não poderá a pena exceder a que seria superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a
cabível pela regra do art. 69 deste Código. (Redação dada 4 (quatro) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209,
pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) de 11/7/1984)
I – o condenado não seja reincidente em crime doloso;
Crime continuado (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social
ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e personalidade do agente, bem como os motivos e as cir-
e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e cunstâncias autorizem a concessão do benefício; (Redação
outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um III – Não seja indicada ou cabível a substituição prevista
só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, no art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. de 11/7/1984)
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) § 1º A condenação anterior a pena de multa não impede
Parágrafo único. Nos crimes dolosos, contra vítimas dife- a concessão do benefício.(Redação dada pela Lei nº 7.209,
rentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, de 11/7/1984)
poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, § 2º A execução da pena privativa de liberdade, não
a conduta social e a personalidade do agente, bem como superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro
os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta
dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.
triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
do art. 75 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, Art.  78. Durante o prazo da suspensão, o condenado
de 11/7/1984) ficará sujeito à observação e ao cumprimento das condições
estabelecidas pelo juiz. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
Multas no concurso de crimes 11/7/1984)
Art. 72. No concurso de crimes, as penas de multa são § 1º No primeiro ano do prazo, deverá o condenado
aplicadas distinta e integralmente. (Redação dada pela Lei prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à
limitação de fim de semana (art. 48). (Redação dada pela
nº 7.209, de 11/7/1984)
Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
§ 2º Se o condenado houver reparado o dano, salvo
Erro na execução
impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59
Art. 73. Quando, por acidente ou erro no uso dos meios
deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá
de execução, o  agente, ao  invés de atingir a pessoa que
substituir a exigência do parágrafo anterior pelas seguintes
pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como condições, aplicadas cumulativamente: (Redação dada pela
se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se Lei nº 9.268, de 1º/4/1996)
ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser a) proibição de frequentar determinados lugares; (Reda-
também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, ção dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
aplica-se a regra do art. 70 deste Código. (Redação dada pela b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside,
Lei nº 7.209, de 11/7/1984) sem autorização do juiz; (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11/7/1984)
Resultado diverso do pretendido c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensal-
Art. 74. Fora dos casos do artigo anterior, quando, por mente, para informar e justificar suas atividades. (Redação
acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato Art. 79. A sentença poderá especificar outras condições
é previsto como crime culposo; se ocorre também o resul- a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas
tado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. ao fato e à situação pessoal do condenado. (Redação dada
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Art. 80. A suspensão não se estende às penas restritivas
Limite das penas de direitos nem à multa. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
Noções de Direito Penal

Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de de 11/7/1984)


liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) Revogação obrigatória
§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas Art.  81. A suspensão será revogada se, no curso do
de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, prazo, o beneficiário: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo 11/7/1984)
deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) I – é condenado, em sentença irrecorrível, por crime
§ 2º Sobrevindo condenação por fato posterior ao início doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, despre- II – frustra, embora solvente, a execução de pena de
zando-se, para esse fim, o  período de pena já cumprido. multa ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) do dano; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)

70
III – descumpre a condição do § 1º do art. 78 deste Códi- Revogação do livramento
go. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) Art.  86. Revoga-se o livramento, se o liberado vem a
ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença
Revogação facultativa irrecorrível: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
§ 1º A suspensão poderá ser revogada se o condenado I – por crime cometido durante a vigência do benefício;
descumpre qualquer outra condição imposta ou é irrecorri- (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
velmente condenado, por crime culposo ou por contraven- II – por crime anterior, observado o disposto no art. 84
ção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos. deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Revogação facultativa
Prorrogação do período de prova
Art. 87. O juiz poderá, também, revogar o livramento,
§ 2º Se o beneficiário está sendo processado por outro
se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações
crime ou contravenção, considera-se prorrogado o prazo da
constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado,
suspensão até o julgamento definitivo. (Redação dada pela
por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de
Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
liberdade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
§ 3º Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés
de decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo,
Efeitos da revogação
se este não foi o fixado. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
Art. 88. Revogado o livramento, não poderá ser nova-
de 11/7/1984)
mente concedido, e, salvo quando a revogação resulta de
Cumprimento das condições condenação por outro crime anterior àquele benefício,
Art. 82. Expirado o prazo sem que tenha havido revoga- não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o
ção, considera-se extinta a pena privativa de liberdade. (Re- condenado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
dação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Extinção
CAPÍTULO V Art. 89. O juiz não poderá declarar extinta a pena, en-
Do Livramento Condicional quanto não passar em julgado a sentença em processo a
que responde o liberado, por crime cometido na vigência do
Requisitos do livramento condicional livramento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Art. 83. O juiz poderá conceder livramento condicional Art. 90. Se até o seu término o livramento não é revo-
ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior gado, considera-se extinta a pena privativa de liberdade.
a 2 (dois) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
de 11/7/1984)
I – cumprida mais de um terço da pena se o condenado CAPÍTULO VI
não for reincidente em crime doloso e tiver bons anteceden- Dos Efeitos da Condenação
tes; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
II – cumprida mais da metade se o condenado for rein- Efeitos genéricos e específicos
cidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, Art. 91. São efeitos da condenação: (Redação dada pela
de 11/7/1984) Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
III – comprovado comportamento satisfatório durante a I – tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado
execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe pelo crime49; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência II – a perda em favor da União, ressalvado o direito do
mediante trabalho honesto; (Redação dada pela Lei nº 7.209, lesado ou de terceiro de boa-fé50: (Redação dada pela Lei
de 11/7/1984) nº 7.209, de 11/7/1984)
IV  – tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de a) dos instrumentos do crime, desde que consistam
fazê-lo, o dano causado pela infração; (Redação dada pela em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção
Lei nº 7.209, de 11/7/1984) constitua fato ilícito51;
V – cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor
condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico que constitua proveito auferido pelo agente com a prática
ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o do fato criminoso52.
apenado não for reincidente específico em crimes dessa § 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores
natureza. (Incluído pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes
Parágrafo único. Para o condenado por crime doloso, não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a conces- (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
são do livramento ficará também subordinada à constatação § 2º Na hipótese do § 1°, as medidas assecuratórias pre-
de condições pessoais que façam presumir que o liberado vistas na legislação processual poderão abranger bens ou va-
não voltará a delinquir. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de lores equivalentes do investigado ou acusado para posterior
Noções de Direito Penal

11/7/1984) decretação de perda. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)


Art. 92. São também efeitos da condenação: (Redação
Soma de penas dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Art. 84. As penas que correspondem a infrações diversas I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
devem somar-se para efeito do livramento. (Redação dada (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º/4/1996)
pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) a) quando aplicada pena privativa de liberdade por
tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados
Especificações das condições
Art. 85. A sentença especificará as condições a que fica 49
Assunto cobrado na prova da Vunesp/Cetesb/Advogado/2013.
subordinado o livramento. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
50
Assunto cobrado na prova da Vunesp/Cetesb/Advogado/2013.
51
Assunto cobrado na prova da Vunesp/Cetesb/Advogado/2013.
de 11/7/1984) 52
Assunto cobrado na prova da Vunesp/Cetesb/Advogado/2013.

71
com abuso de poder ou violação de dever para com a Admi- Parágrafo único. Extinta a punibilidade, não se impõe
nistração Pública53; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º/4/1996) medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta.
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. (Incluído
pela Lei nº 9.268, de 1º/4/1996) Imposição da medida de segurança para inimputável
II – a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz determinará
ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como
cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; (Redação crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a
dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
III – a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado de 11/7/1984)
como meio para a prática de crime doloso. (Redação dada Prazo
pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) § 1º A internação, ou tratamento ambulatorial, será por
Parágrafo único. Os efeitos de que trata este artigo não tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averi-
são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na guada, mediante perícia médica, a cessação de periculosi-
sentença54. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) dade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
CAPÍTULO VII
Da Reabilitação Perícia médica
§ 2º A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo
Reabilitação mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a
Art. 93. A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução. (Reda-
em sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo ção dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
dos registros sobre o seu processo e condenação. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) Desinternação ou liberação condicional
Parágrafo único. A reabilitação poderá, também, atingir § 3º A desinternação, ou a liberação, será sempre con-
os efeitos da condenação, previstos no art. 92 deste Código, dicional devendo ser restabelecida a situação anterior se o
vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos inci- agente, antes do decurso de 1 (um) ano, pratica fato indica-
sos I e II do mesmo artigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, tivo de persistência de sua periculosidade. (Redação dada
de 11/7/1984) pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Art. 94. A reabilitação poderá ser requerida, decorridos § 4º Em qualquer fase do tratamento ambulatorial,
2 (dois) anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, poderá o juiz determinar a internação do agente, se essa
a pena ou terminar sua execução, computando-se o período providência for necessária para fins curativos. (Redação dada
de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
sobrevier revogação, desde que o condenado: (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) Substituição da pena por medida de segurança para o
I – tenha tido domicílio no País no prazo acima referido; semi-imputável
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) Art. 98. Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste
II – tenha dado, durante esse tempo, demonstração efe- Código e necessitando o condenado de especial tratamento
tiva e constante de bom comportamento público e privado; curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) pela internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo
III – tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo
demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia anterior e respectivos §§ 1º a 4º. (Redação dada pela Lei
do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia nº 7.209, de 11/7/1984)
da vítima ou novação da dívida. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11/7/1984) Direitos do internado
Parágrafo único. Negada a reabilitação, poderá ser Art. 99. O internado será recolhido a estabelecimento
requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido seja ins-
dotado de características hospitalares e será submetido a
truído com novos elementos comprobatórios dos requisitos
tratamento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
necessários. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
Art.  95. A  reabilitação será revogada, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for REFERÊNCIAS
condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena
que não seja de multa. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de Capez, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Sa-
11/7/1984) raiva, ed. 15, vol. I, 2011.

TÍTULO VI Gomes, Luiz Flávio. Direito Penal: Parte Geral. Revista dos
DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA Tribunais, vol. 7.
Noções de Direito Penal

Espécies de medidas de segurança Greco, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Impe-
Art. 96. As medidas de segurança são: (Redação dada tus, ed. 13, vol. I, 2011.
pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
I – Internação em hospital de custódia e tratamento Jesus, Damásio de. Direito Penal: Parte geral. Saraiva, ed. 32,
psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequa- 2011.
do; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984)
II – sujeição a tratamento ambulatorial. (Redação dada Mirabete, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Atlas,
pela Lei nº 7.209, de 11/7/1984) ed. 8, vol. I.

Vunesp/Cetesb/Advogado/2013.
53 Nucci, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado.
Assunto cobrado na prova da Vunesp/Cetesb/Advogado/2013.
54 Revista dos Tribunais, ed. 10º, 2010.

72
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA ralístico para a sua consumação), de forma livre (pode ser
praticado de qualquer maneira, não existindo no tipo penal
O seu estudo subdivide-se em: dos crimes contra a vida, uma forma previsão), comissivo (por ação) ou omissivo (por
das lesões corporais, da periclitação da vida e da saúde, da omissão), instantâneo de efeitos permanentes (a consuma-
rixa e dos crimes contra a honra. ção ocorre em um dano momento, ou seja, com a morte,
porém este efeito, a morte, se prolonga no tempo), de dano
(há efetiva lesão ao bem jurídico protegido pela norma),
Dos Crimes Contra a Vida  unissubjetivo (pode ser praticado por apenas uma pessoa),
plurissubsistente (para se consumar, depende da realização
Quando praticado de forma dolosa, são julgados perante
de mais de um ato), admite tentativa, monoofensivo (atinge
o Tribunal do Júri. Abarcam:
apenas um objeto jurídico).
• Homicídio doloso (o homicídio culposo não será jul- 10) Homicídio simples é crime hediondo? Somente se
gado perante o Tribunal do Júri); praticado em grupo de extermínio.
• Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio;
• Infanticídio; Homicídio privilegiado 
• Aborto.
Art. 121. [...]
Homicídio § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
Consiste na conduta de “Matar alguém”. Ele se classifi- de violenta emoção, logo em seguida a injusta provo-
ca em: homicídio simples, homicídio privilegiado, homicídio cação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um
qualificado e homicídio culposo. sexto a um terço.

Homicídio simples Também consiste em matar alguém, todavia tal homicídio


decorre de algumas circunstâncias, tais como: por motivo de
Art. 121. Matar alguém. relevante valor moral, por motivo de relevante valor social ou
Pena – reclusão de 6 a 20 anos. sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima. Desta formam o autor responde pelo
1) Classificação: dos crimes contra a vida. Julgamento: crime, contudo, com uma diminuição de pena.
Tribunal do Júri.
2) Conceito: matar alguém. 1) Natureza jurídica ­­­­­­­­­­­­­­­­­­do crime de homicídio privilegiado:­­­
3) Objeto jurídico (bem jurídico tutelado, protegido, por causa de diminuição de pena de 1/6 a 1/3.
aquele tipo penal): vida humana extrauterina (a morte de 2) A redução de pena é obrigatória ou facultativa? Obriga-
uma vida intrauterina será aborto). tória. Estando presentes tais circunstâncias o juiz é obrigado
4) Objeto material (coisa sobre a qual recai a ação do a reduzir a pena.
agente): vida humana.
5) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Portanto, crime comum, Hipóteses
ou seja, aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa. a) Motivo de relevante valor moral  – Significa matar
6) Sujeito passivo: ­­­­qualquer pessoa. alguém motivado por um sentimento individual, que por
7) Consumação: morte, que para o direito penal ocorre muitos é considerado morte, por exemplo, a eutanásia, em
com o encerramento das atividades encefálicas. Portanto, que o agente por piedade desliga os aparelhos de um parente
crime material, pois necessita do resultado naturalístico para que encontra-se em um estado vegetativo. Será um homi-
a sua consumação. cídio, todavia com a aplicação de uma diminuição de pena.
8) Cabe tentativa. b) Motivo de relevante valor social  – Significa matar
alguém motivado por um interesse coletivo, por um anseio
Qual a diferença entre o crime de tentativa de homicídio, social, por exemplo, matar um traidor da pátria.
em que a vítima ao receber um tiro na perna fica ferida, ou c) Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
seja, com lesões corporais, do crime de lesão corporal con- injusta provocação da vítima – O agente deve ter ser sido pro-
sumado? É o dolo, vejamos o esquema abaixo: vocado injustamente pela vítima, o que o deixou dominado
por uma violenta emoção que o levou a matá-la. Exemplo:
Tentativa de Homicídio Crime de Lesão Corporal pai encontra o estuprador de sua filha e mata-o.
Todavia, não confundir:
Consumado
• Domínio  – O agente deve estar dominado de uma
“A” querendo matar “B” “A” querendo lesionar “B” violenta emoção e não apenas sob a influência de uma
(portanto, dolo de matar) (portanto, dolo de lesionar) violente emoção. Estar dominado significa estar total-
atirou. todavia, a bala atingiu atirou em sua perna. Assim, mente controlado pela emoção, sem indícios de razão.
a perna de “B” causando “A” responderá pelo crime Desta forma, estará dentro da norma do homicídio
lesões corporais, e não vindo de lesão corporal consu- privilegiado. Agora, se ele estiver apenas influenciado
Noções de Direito Penal

“B” a falecer. Assim, como a mado. por uma violenta emoção é porque há ainda indícios
intenção de “A” era matar, de razão, assim, estaremos diante de um homicídio
apesar da morte não ter simples com a aplicação da atenuante genérica prevista
ocorrido por circunstâncias no art. 65, inciso III, alínea c do Código Penal.
alheia à vontade do agente, • Emoção – Atenção, o legislador usou o termo emoção
“A” responderá por tentativa e não paixão, tendo em vista que a emoção é algo
de homicídio e não por lesão passageiro e a paixão, algo duradouro. Assim, há o
corporal consumada. homicídio privilegiado quando estamos diante de um
descontrole momentâneo e não duradouro. Portanto,
9) Classificação: crime comum (pode ser praticado por matar por ciúmes não será homicídio privilegiado, pois
qualquer pessoa), material (necessita do resultado natu- este não é um sentimento repentino e sim prolongado.

73
• Logo em seguida – Não pode haver um lapso temporal – Sufocação – Objeto que impede a entrada do ar.
muito grande entre momento da provocação e o ho- Pano ou travesseiro no nariz, boca;
micídio. No momento do crime o agente ainda deve – Afogamento – Submersão em meio líquido;
estar dominado de violente emoção. – Soterramento – Submersão em meio sólido;
• Injusta provocação – Xingamento, flagrante adultério. – Imprensamento – Peso na região do diafragma;
Todavia, se houver uma injusta agressão, estaremos – Uso de gás asfixiante;
diante de legítima defesa. – Confinamento – Reduto fechado sem circulação
de ar.
Atenção! Observe que todas as causas privilegiadoras • Meio insidioso – Armadilha ou fraude para atingir a
são de caráter subjetivo, porque estão ligadas a motiva- vítima sem que ela perceba, por exemplo, sabotagem
ção do crime e conforme a aplicação do art. 30 do Código de freio.
Penal não se comunicam aos coautores e partícipes que • Qualquer meio que possa ocasionar perigo comum –
tenham atuado por outros motivos. Assim, no exemplo Meio utilizado para causar a morte da vítima e tenha
do pai que mata o estuprador da filha, supondo que um potencialidade de causar risco de vida para inúmeras
amigo do pai ao ver a cena, não sabendo que se tratava de outras pessoas, por exemplo, desabamento, corte
um estuprador, ajude o amigo o matá-lo. O pai responderá de luz em hospital. Se for fogo ou explosivo, será a
qualificadora de fogo e explosivo.
por homicídio privilegiado e o seu amigo por homicídio.
• Tortura ou qualquer outro meio cruel – Sujeitar a
vítima a graves e inúteis sofrimento físico e mental.
3) Existe homicídio privilegiado hediondo? Não. Ex.: apedrejamento, pisoteamento, choque elétrico,
mutilações.
Homicídio qualificado

Art. 121. [...] Atenção! Qual a diferença entre o crime de homicídio


§ 2º Se o homicídio é cometido: qualificado pela tortura e o crime de tortura qualificado
I – mediante paga ou promessa de recompensa ou pela morte? Novamente afirmados que é o dolo. Vejamos:
por outro motivo torpe; Homicídio Qualificado Crime de Tortura
II – por motivo fútil; pela Tortura Qualificado pela Morte
III  – com o emprego de veneno, fogo, explosivo,
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou Aqui o agente tem o dolo de Aqui o agente tem o dolo de
que posso resultar perigo comum; matar e usa a tortura como torturar e a título de culpa
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimula- meio. a vítima acaba vir a falecer.
ção ou outro recurso que dificulte ou torne impossível
a defesa do ofendido; c) Quanto ao modo de execução
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impu- • Traição – A vítima tem uma prévia confiança no autor
nidade ou vantagem de outro crime. de crime, nunca imaginando que ele a mataria.
Pena – reclusão de 12 a 30 anos. • Emboscada – Tocaia.
• Dissimulação – Usa-se de um disfarce para cometer
1) O homicídio qualificado é crime hediondo? Sim. o crime.
2) Passemos a estudar todas as qualificadoras. Vamos • Qualquer outro recurso que dificulte ou torne impos-
dividi-las por grupo: sível a defesa da vítima. Ex.: atirar pelas costas, matar
a) Quanto ao motivo quem está dormindo.
• Mediante paga ou promessa de recompensa – Homi- d) Por conexão – O tempo entre o dois crimes é irrelevante.
cídio mercenário. O mandante paga para o executor • Teleológica  – Mata-se para assegurar a execução
cometer o crime ou o executor comete o crime de outro crime. Ex.: mata o marido para estuprar a
mediante a promessa de uma recompensa. Ambos esposa. Este homicídio será qualificado.
• Consequencial  – Mata para assegurar a ocultação,
respondem pelo crime. A recompensa não necessita
impunidade ou vantagem de outro crime. Ex.: mata
ser apenas econômica, podendo ser uma promessa testemunha que presenciou o crime, ou matar o
de emprego, um casamento etc. É um crime de con- comparsa para ficar com toda a vantagem do crime.
curso necessário, pois pressupõe o envolvimento de
no mínimo duas pessoas. Obs.: a premeditação não é qualificadora.
• Motivo torpe – Repugnante. Ex.: matar os pais para
ficar com a herança. e) É possível homicídio privilegiado qualificado? Sim,
• Motivo fútil  – Insignificante. Ex.: matar alguém em desde que as qualificadoras sejam objetivas, uma vez que
uma briga de trânsito. todas as causas privilegiadoras são subjetivas. Assim, as qua-
b) Quanto aos meios empregados lificadoras podem ser classificadas:
• Veneno – Substância química introduzida no organis- • Qualificadoras objetivas – Quanto aos meios empre-
mo que pode causar a morte. Deve ser introduzida gados e quanto ao modo de execução;
Noções de Direito Penal

sem que a vítima perceba. Se esta perceber considera- • Qualificadoras subjetivas – Quanto ao motivo e por
-se homicídio qualificado pelo meio cruel. conexão.
• Fogo ou explosivo – O crime de dano qualificado fica
absorvido, art. 163, II do CP, princípio da subsidiarie- Dessa maneira, para montar a figura do homicídio privile-
dade expresso. giado qualificado deve-se unir as qualificadoras objetivas
• Asfixia – Impedimento da função respiratória. Poderá com as causas privilegiadoras (que são todas subjetivas).
ser: Ex.: matar o estupra da filha (sob domínio de violenta
– Esganadura – Mãos e pés no pescoço do agente; emoção – causa privilegiadora) mediante uma emboscada
– Estrangulamento – Fios, arames, cordas no pescoço (qualificadora objetiva).
do agente;
– Enforcamento – O próprio peso da vítima; f) Homicídio qualificado privilegiado é hediondo? Não.

74
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Homicídio doloso tem Homicídio culposo tem como
como causa de aumento causa de aumento de pena:
Art. 121. [...] de pena: 1/3. 1/3.
§ 2º Se o homicídio é cometido: Quando praticado contra Quando praticado:
[...] menor de 14 anos e maior • Inobservância de regra téc-
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo de 60 anos. nica de profissão ou ofício.
feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) • Deixar de prestar socorro.
• Não procura diminuir as
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts.
conse­quências de seus atos.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do • Foge para evitar prisão em
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança flagrante.
Pública, no exercício da função ou em decorrência
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou paren- Perdão judicial. Somente é aplicado ao homicídio culposo:
te consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa a) quando o sofrimento percebido pelo próprio agente
condição: H (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) em face de sua conduta culposa for tão grande que torna a
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. aplicação da pena insignificante;
§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de b) aplica-se no momento da sentença;
sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela c) natureza jurídica – causa de extinção da punibilidade.
Lei nº 13.104, de 2015)
I – violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei Obs. 1: “A” e “B” agem imprudentemente e matam o filho
de “A”. Somente A receberá o perdão judicial.
nº 13.104, de 2015)
Obs. 2: “A” imprudentemente causa a morte de seu filho
II – menosprezo ou discriminação à condição de mu- e do colega dele. A  doutrina e a jurisprudência divergem
lher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) acerca do cabimento de perdão em relação a ambos ou
somente em relação ao filho.
Homicídio culposo
Obs.: com a regra prevista no art. 121, § 6º:
Art. 121. [...] § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a
[...] metade se o crime for praticado por milícia privada,
§ 3º Se o homicídio é culposo: sob o pretexto de prestação de serviço de segurança,
Pena – detenção, de um a três anos. ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº
12.720, de 2012)
Dar causa ao resultado morte por imprudência, negli-
gência e imperícia. Obs.: com a nova regra prevista no art. 121, § 7º:
De maneira diferente ao homicídio doloso o agente não
quer a produção do resultado morte, apenas pratica a con- § 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um
terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído
duta de forma desastrosa de forma a alcançar o resultado,
pela Lei nº 13.104, de 2015)
morte. I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses poste-
1) Matar alguém por imprudência – Ação descuidada. riores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Ex.: limpar a arma em local público, vindo esta a disparar. II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior
2) Matar alguém por negligência  – Ausência de uma de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído
precaução. Ex.: deixar uma arma ao alcance de crianças. pela Lei nº 13.104, de 2015)
3) Matar por imperícia – Falta de aptidão para o exercício III – na presença de descendente ou de ascendente
de uma função. Ex.: erro médico. da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

Induzimento, Auxílio ou Instigação ao Suicídio


Atenção! Não existe compensação de culpas. Se o
agente e a vítima agiram culposamente para a ocorrência Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou
do crime, a responsabilidade de um não exclui a do outro. prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena – reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se
Causa de aumento de pena consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentati-
va de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave
Art. 121. [...]
[...] 1) A doutrina chama o presente crime de participação
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de em suicídio.
2) Conduta: a lei não pune quem tenta se suicidar e sim
1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância
quem:
de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o a) induz: dar a ideia;
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, b) instiga: reforçar a ideia já existente;
Noções de Direito Penal

não procura diminuir as consequências do seu ato, c) auxilia materialmente, por exemplo, quer empresta
ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso uma arma para quem manifestou a vontade de se suicidar.
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) 3) Objeto jurídico (bem jurídico tutelado, protegido, por
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 aquele tipo penal): vida humana.
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 4) Objeto material (coisa sobre a qual recai a ação do
§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá agente): vida humana.
deixar de aplicar a pena, se as consequências da in- 5) Sujeito ativo: qualquer pessoa. É crime comum.
6) Sujeito passivo: qualquer pessoa determinada ou
fração atingirem o próprio agente de forma tão grave determinável, bem como que tenha capacidade de enten-
que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído dimento e resistência. A  conduta deve ser dirigida a uma
pela Lei nº 6.416, de 24/5/1977) pessoa ou grupo de pessoas determinados. Assim, autores de

75
livros ou de letras de música que instigam ao suicídio, e tendo 3) Objeto material (coisa sobre a qual recai a ação do
alguém que efetivamente influenciado por tais ideias vem a agente): vida humana.
se matar, tais autores não respondem por este crime, pois 4) Sujeito ativa: mãe no estado puerperal. É crime próprio,
ao escreverem suas letras e obras acabaram por atingirem pois somente pode ser praticado por este sujeito ativo. Agora
uma gama indeterminada de pessoas. em relação ao concurso de pessoas: deve-se verificar se o coau-
7) Consumação: com a ocorrência da morte ou da lesão tor conhece a elementar “sob a influência do estado puerperal”.
grave. Este crime possui uma característica peculiar, pois não há
tentativa. Vejamos, ou o agente induz, instiga ou auxilia alguém Mãe sob a influência do Mãe sob a influência do es-
a se matar e esta pessoa efetivamente morre ou fica com uma estado puerperal juntamen- tado puerperal juntamente
lesão grave e o crime encontra-se efetivamente consumado, ou te com o pai (concurso de com o pai (concurso de pes-
a vítima apenas fica com lesões leves é o fato é atípico, hipótese pessoas), que sabe do estado soas), que não sabe do esta-
do crime tentado. Esta foi uma opção do legislador. de saúde de sua mulher (co- do de saúde de sua mulher
8) Casos clássicos: nhece a elementar do tipo (não conhece a elementar do
• várias pessoas fazem roleta-russa, uns estimulando penal “sob a influência do tipo penal “sob a influência
os outros, os sobreviventes respondem pelo crime estado puerperal”) matam do estado puerperal”) ma-
do artigo 122; o filho recém-nascido. tam o filho recém-nascido.
• se duas pessoas fazem pacto de morte e uma delas Ambos respondem pelo A mãe responde por infanti-
se mata e a outra desiste, a sobrevivente responderá crime de infanticídio. cídio e o pai por homicídio.
pelo crime previsto no artigo 122;
• se duas pessoas decidem morrer conjuntamente e se 5) Sujeito passivo: próprio filho recém-nascido. Deve ser
trancam em um compartimento fechado e uma delas apenas o recém-nascido porque o tipo penal fala em “durante
liga o gás, mas apenas a outra morre, haverá homicídio o parto ou logo após”. Assim:
por parte daquela que ligou o gás.
9) Causa de aumento de pena:
• se o crime é praticado por motivos egoísticos. Ex.: ob- Mãe sob a influência do Mãe sob a influência do
tenção de vantagem econômica com a morte da vítima; estado puerperal mata seu estado puerperal mata seu
• a vítima é menor de idade, 18 anos; próprio filho recém-nascido. próprio filho recém-nascido
• se a vítima tem diminuída a sua capacidade de resis- e o outro filho de 5 anos.
tência – está bêbado ou em depressão. Responderá por infanticídio. Em relação ao recém-nasci-
do responderá pelo crime de
Atenção! Se a vítima não tiver nenhuma capacidade de infanticídio. Já em relação ao
filho de 5 anos responderá
resistência (ex.: débil mental) o crime será de homicídio. pelo crime de homicídio.
10) Classificação: crime comum (pode ser praticado por
6) Consumação: morte. É crime material.
qualquer pessoa); material (necessita do resultado naturalísti-
co para a sua consumação); de forma livre (pode ser praticado
de qualquer maneira, não existindo no tipo penal uma forma Obs.: somente haverá o crime de infanticídio se este foi
previsão); comissivo (por ação); instantâneo (a consumação praticado por influência do estado puerperal. Do contrário,
ocorre em um dano momento); de dano (há efetiva lesão ao não diagnosticado por perícia médica o estado de puerpério,
bem jurídico protegido pela norma); unissubjetivo (pode ser estaremos diante do crime de homicídio.
praticado por apenas uma pessoa), não admite tentativa;
monoofensivo (atinge apenas um objeto jurídico). 7) Não confundir os crimes abaixo:

Art. 121. Infanticídio – Art. 123 do CP Abandono de recém-nas-


[...] • Conduta – Matar, sob a in- cido – Art. 134, § 2º do CP
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um fluência do estado puerpe- • Conduta – Expor ou
terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído ral, o próprio filho, durante abandonar recém-nas-
pela Lei nº 13.104, de 2015) o parto ou logo após. cido, para ocultar de-
I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses poste- • O dolo é de matar e se sonra própria.
riores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) pratica sob a influência do • O dolo é de abandonar
II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior estado puerperal. o recém-nascido devido
de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído a vergonha acerca da
pela Lei nº 13.104, de 2015) gestação.
III – na presença de descendente ou de ascendente
da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Obs.: se o dolo for de matar
mediante abandono do
Infanticídio recém-nascido, se a mãe
estiver sob o estado puer-
Noções de Direito Penal

Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal, peral será infanticídio, se


o próprio filho, durante o parto ou logo após. não será homicídio.
Pena – detenção de 2 a 6 anos.
Aborto
1) Conduta: matar + influência do estado puerperal + pró-
prio filho + durante o parto ou logo após. Trata-se de um tipo de Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir
homicídio, mas o legislador entendeu que por se tratar de uma que outrem lho provoque.
pena mais branda. É a aplicação do princípio da especialidade. Pena – detenção de 1 a 3 anos.
2) Objeto jurídico (bem jurídico tutelado, protegido, por Art. 125. Provocar aborto sem o consentimento da
aquele tipo penal): vida humana extrauterina (a morte de gestante.
uma vida intrauterina será aborto). Pena – reclusão de 3 a 10 anos.

76
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da • 2ª parte: “Consentir que terceiro lhe pratique o
gestante. aborto”  – ocorre quando a gestante consente que
Pena – reclusão de 1 a 4 anos. uma terceira pessoa pratique o aborto nela. Nesta
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, situação, vemos uma coautoria, pois os sujeitos ati-
se a gestante não é maior de 14 anos ou é alienada vos deste crime serão tanto o terceiro que pratica as
ou débil mental, ou se o consentimento é obtido manobras abortivas quanto a gestante que lhe deu o
mediante fraude, grave ameaça ou violência. consentimento para tal prática. Todavia, aqui temos
Art. 127. As penas cominadas nos artigos anteriores uma exceção à Teria Monista adotada pelo Código Pe-
são aumentadas de 1/3, se, em consequência do nal, a qual prevê que “todos os que concorrem para o
aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, crime, respondem pelo mesmo crime”. Se não estivés-
a  gestante sofre lesão corporal de natureza grave; semos diante de uma exceção prevista pelo legislador,
são duplicadas, se, por destas causas, lhe sobrevém tanto a gestante como o terceiro responderiam por
a morte. este crime previsto no art. 124 do CP. Porém, estamos
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: diante da Exceção Pluralista à Teria Monista, porque
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante; o próprio legislador previu que a gestante neste caso
II  – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é responderá pelo crime descrito no art. 124 do CP e o
precedido de consentimento da gestante ou quando terceiro que pratica manobras abortivas nela e com
incapaz, de seu representante legal. o consentimento dela responderá pelo crime previsto
no art. 126 do CP: “Aborto provocado com o consen-
1) Conceito de aborto: interrupção da gravidez com timento da gestante”.
consequente morte do feto.
2) Início da gravidez: há uma divergência em relação ao
início da vida, parte entende que ocorre com a fecundação e Resumo
parte entende que ocorre com a nidação, que é a implantação Gestante consente que terceiro pratique aborto nela, es-
do óvulo já fecundado no útero. tando diante de uma coautoria:
3) Objeto jurídico: tutela-se a vida intrauteirna, ou seja, • Gestante – Responderá pelo crime previsto no art. 124
a vida do feto. do CP.
4) Objeto material: também será a vida do feto. • Terceiro – Responderá pelo crime previsto no art. 126
do CP.
Atenção! Para configurar o crime de aborto a conduta deve
O sujeito passivo será o feto e a consumação ocorrerá
ser praticada enquanto o feto encontra-se no ventre da
com morte deste.
gestante, independentemente se é expelido ou não com
vida, pois conforme a Teoria Geral do Crime, o crime ocorre b) Aborto provocado com o consentimento da gestan-
no momento da ação ou omissão, independentemente do te – art. 126 do CP.
momento de resultado criminoso. Assim, vejamos: Neste caso, como já colocado o sujeito ativo do crime
a) são praticadas manobras abortivas enquanto o feto é o terceiro que pratica o aborto com o consentimento da
encontra-se no ventre da gestante e ali mesmo ele vem a gestante. Ela, responderá pelo crime previsto no artigo 124
óbito – configura-se o crime de aborto; do Código Penal. O sujeito passivo será o feto e a consuma-
b) são praticadas manobras abortivas enquanto o feto ção ocorrerá com morte deste.
encontra-se no ventre da gestante, todavia ele é expelido
com vida e logo após vem a óbito – configura-se o crime c) Aborto provocado por terceiro sem o consentimento
de aborto porque a conduta foi praticada quando o feto da gestante – art. 125 do CP.
encontrava-se no ventre materno; Aqui estamos diante de uma situação diversa. O crime
c) são praticadas manobras abortivas enquanto o feto ocorrerá nas seguintes situações:
encontra-se no ventre da gestante, todavia o feto é expelido • Terceiro pratica aborto na gestante sem o consenti-
com vida, vindo a sobreviver. Logo em seguida ele é asfi- mento desta;
xiado – configura-se o crime de homicídio, pois a conduta • Terceiro pratica aborto na gestante e esta lhe dá um
foi praticada quando o feto encontrava-se fora do ventre consentimento, todavia, este não pode ser conside-
da gestante. rado válido por que:
Assim: I – a gestante não é maior de 14 anos;
• Conduta praticada com o feto dentro do ventre da ges- II – a gestante é alienada ou débil mental;
tante – aborto. III – o consentimento da gestante foi obtido mediante
• Conduta praticada com o feto fora do ventre da gestan- fraude, grave ameaça ou violência.
te – homicídio. Assim o sujeito ativo deste crime será o terceiro que pra-
tica o aborto nestas condições descritas acima. O sujeito pas-
5) Consumação: com a morte do feto. É crime material. sivo será o feto e a consumação ocorrerá com morte deste.
6) Tentativa: se são realizadas manobras abortivas e o
feto é expelido com vida e sobrevive.
Noções de Direito Penal

7) Espécies: Atenção! O art.127 prevê uma causa de aumento de pena


a) Autoaborto e consentimento para o aborto – art. 124 de 1/3 a ser aplicada apenas ao terceiro que pratica aborto
do CP. na gestante, com ou sem o consentimento dela, nos casos
em que em consequência do aborto ou dos meios empre-
• 1ª parte: “Autoaborto” é o aborto praticado pela pró- gados para provocá-lo a gestante sofre lesão corporal de
pria gestante em si mesma. Tem como sujeito ativo a natureza grave ou a pena é duplicada se sobrevém a morte
gestante e o sujeito passivo o feto. Consuma-se com da gestante. Algumas considerações:
a morte do feto. Destaca-se que qualquer pessoa que • A pena somente é aplicada ao terceiro que pratica o
auxilie a gestante nesta conduta será considerada aborto com ou sem o consentimento da gestante, não
partícipe deste crime, pois é considerado crime de se aplicando a gestante, tendo em vista que o direito
mão-própria o qual não admite coautoria. penal não pune a autolesão.

77
• Somente se aplica o aumento de pena de 1/3 se sobre- III  – perda ou inutilização de membro, sentido ou
vier a gestante lesão corporal grave ou gravíssima. Se função;
a lesão for leve a causa de aumento de pena não será IV – deformidade permanente;
aplicada. V – aborto.
• Se a gestante vier a falecer, a pena será duplicada. Pena – reclusão de 2 a 8 anos.

Obs.: trata-se de crimes preterdolosos, ou seja, onde Lesão corporal seguida de morte
houve o dolo na prática do aborto e culpa no resul- § 3º Se resultar morte e as circunstâncias evidencia-
tado lesão grave ou morte da gestante. Se o terceiro rem que o agente não quis o resultado, nem assumiu
quis praticar o aborto e após quis lesionar ou matar a o risco de produzi-lo.
gestante, o terceiro responderá pelo crime de aborto e
lesão corporal grave ou homicídio. Diminuição de pena
Pena – reclusão de 4 a 12 anos.
• Se mesmo que o crime de aborto não tenha se consuma- § 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo
do, mas a gestante tenha sofrido lesão grave ou morte, de relevante valor social ou moral ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro-
a aumento de pena será aplicado.
vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um
d) Aborto legal – art. 128 do CP: causa especial de ex- sexto a um terço.
clusão de ilicitude.
Substituição da pena
• Aborto necessário: médico + não há outro meio para § 5º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda
salvar a vida da gestante. substituir a pena de detenção pela de multa:
Não é necessário que o risco que a gestante sofre I  – se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo
anterior;
seja atual, apenas deve ficar comprovado que o pros-
II – se as lesões são recíprocas.
seguimento da gravidez irá gerar risco de vida para
a gestante. Deve ser praticado por médico, mas em
um caso de emergência extrema em que não se pode Lesão corporal culposa
esperar a chegada e de um médico, o aborto poderá § 6º Se a lesão é culposa:
Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.
ser praticado por uma enfermeira.
• Aborto sentimental: médico + consentimento da
gestante ou seu representante lega se incapaz + crime Aumento de pena
de estupro. § 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer
qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 des-
Neste caso, somente pode ser praticado por médico,
te Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
pois não há situação de emergência. Se cometido
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
pela própria gestante ou por uma enfermeira, estas
art. 121.
responderão pelo crime de aborto. Não é necessário
que haja uma condenação pelo crime de estupro, ape-
Violência doméstica
nas que o médico tenha prova da existência do crime.
§  9º Se a lesão for praticada contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou
Algumas Situações Peculiares:
com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
1) O agente quer o aborto e quer a morte da gestante:
prevalecendo-se o agente das relações domésticas,
responderá pelo crime de aborto e homicídio. de coabitação ou de hospitalidade:
2) O agente quer matar a mulher e sabe que ela está Pena – detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
grávida, caso o feto também morra – responderá pelo crime § 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo,
de homicídio e aborto em dolo eventual, pois assumiu o risco se as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste
deste crime ao matar mulher. artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
3) O agente quer matar a mulher e não sabe que ela § 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será
está grávida e o feto vem a óbito – responderá apenas pelo aumentada de um terço se o crime for cometido
crime de homicídio. contra pessoa portadora de deficiência.
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou
Das Lesões Corporais agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Código Penal Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, com-
Art.129. Ofender a integridade corporal ou a saúde panheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
de outrem. em razão dessa condição, a pena é aumentada de um
Pena – detenção de 3 meses a 1 ano. a dois terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Lesão corporal de natureza grave 1) Conceito de lesão corporal: ofender a integridade
Noções de Direito Penal

§ 1º Se resultar: física ou a saúde de outrem. Abrange tanto a ofensas ao


I – incapacidade para as ocupações a habituais, por corpo como ao funcionamento de órgãos. Assim, incluem
mais de 30 dias; a causação de hematomas, provocação de vômitos, convul-
II – perigo de vida; sões, desmaios.
III – debilidade permanente de membro, sentido ou 2) Objeto jurídico: a incolumidade da pessoa em sua
função; integridade física ou psíquica.
IV – aceleração de parto. 3) Objeto material: o físico e o psíquico da vítima.
Pena – reclusão de 1 a 5 anos. 4) Sujeito ativo: qualquer pessoa. É crime comum.
§ 2º Se resultar: 5) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
I – incapacidade permanente para o trabalho; 6) Consumação: com a ocorrência da lesão a integridade
II – enfermidade incurável; física ou psíquica da vítima.

78
7) Espécies: Passemos a estudar cada uma das espécies.
a) Lesão corporal dolosa, ela pode ser classificada em: a) Lesão Corporal Leve:
• Leve – art. 129, caput; Conceito – Prevista no caput do art. 129 do CP, o seu
• Grave – art. 129, § 1º; conceito é retirado por exclusão, ou seja, será lesão corpo-
• Gravíssima – art. 129, § 2º; ral leve aquela que não for nem grave nem gravíssima. Da
• Seguida de morte – art. 129, § 3º. mesma maneira, ela não se confunde com a contravenção
b) Lesão corporal culposa – art. 129, § 6º. de vias de fato nem com o crime de injúria real. Portanto,
é necessário não confundir os conceitos. Vejamos o quadro:

Lesão Leve Contravenção de Vias de Fato Injúria Real


Conceito previsto no art. 129 do CP. Conceito previsto no art. 21 da Lei Conceito previsto no art. 140, § 2º do CP,
É tido como por exclusão, não sendo de Contravenções Penais e consiste consiste na violência empregada com o fim
a lesão nem grave nem a gravíssima. em uma violência que é empregada, de humilhar a vítima. Exemplo: uma bofetada
todavia não causa qualquer dano ao leve na cara em público.
corpo da vítima. Exemplo seria um
empurrão.

Atenção! Com a Lei nº 9.099/1995, a lesão corporal leve passou a ser processada através da ação penal pública condi-
cionada à representação da vítima ou de seu representante legal (art. 88 da Lei nº 9.099/1995). As demais formas de lesões
corporais permanecem sendo processadas por meio de ação penal pública incondicionada.

Passemos a analisar as lesões corporais graves e gravíssimas:

Lesão Corporal Grave – Prevista no art. 129, § 1º, do CP. Lesão Corporal Gravíssima – Prevista no art. 129, § 2º, do CP.
I) Resultar incapacidade para ocupações habituais por mais I) Resultar incapacidade permanente para o trabalho
de 30 dias Aqui as agressões causaram incapacidade permanente e
Para o delito estar configurado é necessário que a vítima, não temporária para o trabalho, não se referindo às demais
devidos as lesões sofridas fique incapacitada para desenvol- atividades.
ver as suas atividades habituais. É necessária a realização de
exame de corpo de delito. Deve-se destacar que atividades
habituais são as condutas rotineiras da vítima como andar,
trabalhar, praticar esportes, não sendo, portanto, apenas o
trabalho. Da mesma forma, se a vítima conseguir desenvolver
suas atividades rotineiras e não as fizer apenas por vergonha
das lesões, não se tratará de lesão corporal grave e sim de
lesão corporal leve.
II) Resultar perigo de vida II) Resultar enfermidade incurável
Se a vítima em decorrência da lesão estiver correndo risco Das agressões surge uma enfermidade incurável, por exem-
de morte. Exemplo: em decorrência das lesões sofridas plo, atingido o pâncreas, diminui-se a produção de insulina
houve grande perda de sangue. Necessário se faz o exame e a vítima torna-se diabética.
de corpo de delito.
III) Resultar debilidade permanente de membro, sentido III) Perda ou inutilização de membro, sentido ou função
e função Muito semelhante ao item ao lado, todavia enquanto no inci-
Debilidade consiste na redução ou enfraquecimento da ca- so IV do § 1º do art. 129 fala-se em redução permanente, aqui
pacidade de funcionamento. Ela deve ser permanente para falamos em perda ou inutilização total de membros, sentidos
então estar configurada a lesão corporal grave. ou função. Exemplo: mutilação de um braço, amputação de
Membros – São braços e pernas. uma perna, perda da visão, incapacidade reprodutora.
Sentido – Olfato, visão, audição, paladar e tato.
Função – Digestiva, reprodutora, respiratória.
Assim, para se configurar o crime de lesão corporal grave a
agressão deve reduzir de forma permanente a capacidade
de membros, sentidos e função, por exemplo: diminuir os
movimentos de um braço, o paladar, o sistema circulatório.
IV) Aceleração do parto IV) Resultar aborto
Das agressões sofridas decorrer um parto prematuro. Só é Neste caso o aborto não foi praticado intencionalmente,
Noções de Direito Penal

aplicado quando o feto nasce com vida, pois se ocorrer o ele decorreu das agressões. É crime preterdoloso em que
aborto o crime será de lesão corporal gravíssima. o agente tem o dolo de praticar lesões corporais na vítima
que está gestante e por culpa acaba por cometer o aborto.
O agente deve saber que a vítima está grávida. Se o agente
tiver a intenção de também causar o aborto, não responderá
pelo crime de lesão corporal gravíssima e sim pelo crime de
aborto.
V) Resultar deformidade permanente
Se das agressões advir um dano estético como queimaduras
ou cicatrizes. O dano estético deve ser permanente.

79
b) Lesão Corporal Seguida de Morte corporais em outrem, mesmo em momento algum tendo
É aquela prevista no art. 129, § 3º, do CP em que se pretendido alcançar este resultado.
verifica a presença do dolo na lesão corporal, todavia Diferentemente da lesão corporal dolosa, a culposa não
em decorrência desta acaba por advir uma morte cul- possui a classificação em graus de leve, grave ou gravíssima.
posa. O  agressor quis causar lesões corporais na vítima, A pena será aumentada de 1/3 nas seguintes situações –
todavia em nenhum momento quis a ocorrência de sua quando praticado com:
morte, nem tampouco assumiu o risco para que esta • inobservância de regra técnica de profissão ou ofício;
ocorresse. É um crime preterdoloso e assim, não admitem • deixar de prestar socorro;
tentativa. • não procura diminuir as consequências de seus atos;
Qual a diferença entre o crime de homicídio e de lesão • foge para evitar prisão em flagrante.
corporal seguida de morte, tendo em vista que nos dois casos Da mesma forma do homicídio culposo, na lesão corporal
teremos um cadáver estendido ao chão? culposa é cabível o perdão judicial. Relembrando:

– Perdão judicial:
Crime de Homicídio Crime de Lesão Corporal • quando o sofrimento percebido pelo próprio agente
seguida de Morte em face de sua conduta culposa for tão grande que torna a
Aqui o dolo é de matar. Aqui o dolo é de lesionar aplicação da pena insignificante;
Ex.: A atira em B com vonta- e por culpa (negligência, • aplica-se no momento da sentença;
de de matar e B morre. imprudência ou imperícia) a • natureza jurídica – causa de extinção da punibilidade.
vítima vem a morrer.
Ex.: A querendo lesionar B e) Violência Doméstica – Se a lesão corporal leve for
começa a espancá-lo, toda- praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge
via B acaba por morrer dos ou companheiro ou ainda prevalecendo-se o agente da
ferimentos. relação doméstica de coabitação e hospitalidade a pena
c) Lesão Corporal Privilegiada será de detenção de 6 meses a 1 ano.
Requisitos – Muito se assemelha ao crime de homicídio Todavia, se esta lesão for grave ou gravíssima ou seguida
privilegiado: se o agente comete o crime impelido por motivo de morte e for praticada contra estas mesmas pessoas a
de relevante valor social ou relevante valor moral ou sob pena será de 1/3.
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta Da mesma forma, se quaisquer das pessoas elencadas
provocação da vítima (neste item se aplicam os mesmo acima forem portadoras de deficiência física, a  pena será
comentários atribuídos ao crime de homicídio privilegiado). aumentada de 1/3.
Consequências – O juiz pode reduzir a pena de um sex-
to a um terço. Da mesma forma, poderá, ainda o juiz, não Da Periclitação da Vida e da Saúde
sendo graves as lesões, substituir a pena de detenção pela
de multa, tanto no caso de lesão corporal privilegiada como Perigo de Contágio Venéreo – art. 130 do CP e Perigo
de lesões recíprocas. de Contágio de Moléstia Grave – art. 131 do CP
d) Lesão Corporal Culposa
Conceito – Quando o agente por praticar uma conduta Devido à proximidade destes dois crimes passemos a
imprudente, negligente ou imperita acaba por causar lesões estudá-los de forma comparativa:

Crime de Perigo de Contágio Venéreo – Art. 130 do CP Crime de Perigo de Contágio de Moléstia Grave – Art. 131 do CP
Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
saber que está contaminado: Pena – reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.
§ 1º Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Objeto jurídico: incolumidade física. Objeto jurídico: incolumidade física.
Sujeito ativo: qualquer pessoa contaminada com uma doença Sujeito ativo: qualquer pessoa contaminada com uma moléstia
venérea. grave.
Obs.: doença venérea é aquela sexualmente transmissível. Obs.: moléstia grave é qualquer doença que provoca séria per-
turbação da saúde, pouco importando se curável ou não, todavia
deve ser transmissível.
Sujeito passivo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: qualquer pessoa.
Noções de Direito Penal

Modo de execução do crime: mediante ato sexual ou qualquer Modo de execução do crime: qualquer meio como aperto de
ato libidinoso. É um crime de ação vinculada, em que o legislador mão, beijo, abraço, injeção, talheres.
prevê a forma em que o delito é praticado. Atenção! Se estivermos diante de uma doença venérea, sendo
ela grave e desde que ela não tenha sido transmitida através de
um ato sexual ou ato libidinoso, estaremos diante do presente
delito e não do crime previsto no art. 130 do CP.
O autor do delito sabe que é portador da doença (dolo direto) O autor de delito sabe da doença a qual é portador (dolo direto).
ou deveria saber (modalidade culposa). O tipo penal não traz a previsão de sua prática na modalidade
culposa. Assim, se por descuido pessoal o autor não sabe que
estar infectado com uma moléstia grave e por isso não toma os
devidos cuidados, não haverá crime.

80
Será processada mediante ação penal pública condicionada a Será processada mediante ação penal pública incondicionada.
representação.
Consumação: ocorre com a prática do ato sexual ou do ato Consumação: com a prática do ato capaz de transmitir a molés-
libidinoso independentemente de haver contaminação. É crime tia grave, independentemente de haver contaminação. É crime
formal. formal.
Atenção! Dolo presente neste crime é classificado como dolo de Atenção! Aqui o dolo é de dano, pois o tipo penal prevê a con-
perigo, tendo em vista que o tipo penal afirma que a conduta duta de “praticar ato com o fim de transmitir moléstia grave”.
delituosa é “expor alguém a contágio de doença venérea”, não Neste caso a intenção do agente é o contágio da doença e não
sendo necessário a contaminação ou a morte da vítima. A sim- a simples exposição a uma situação de perigo.
ples exposição já cria uma situação de perigo.
§ 1º Se a intenção do agente é transmitir a doença”. Neste caso
a pena do crime é maior devido a presença do dolo de dano,
bem como o agente deve saber que está contaminado com uma
doença venérea.

Perigo para Vida ou Saúde de Outrem dano efetivo a alguém. A simples exposição já configura o
presente crime. É o chamado dolo de perigo.
Código Penal 5) Consumação: com a prática do ato que faz gerar a
situação de perigo.
Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo 6) Ação nuclear: a exposição a perigo pode ser praticada
direto e iminente: através de uma ação, por exemplo, agredir motorista de
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se ônibus colocando em risco a vida de todos os passageiros,
o fato não constitui crime mais grave. ou por omissivo, patrão não concede aparelhos de segurança
Parágrafo único. A  pena é aumentada de 1/6 (um aos empregados.
sexto) a 1/3 (um terço) se a exposição da vida ou da 7) A conduta deve ser praticada em relação a pessoas
saúde de outrem a perigo decorre do transporte de determinadas.
pessoas para a prestação de serviços em estabele- 8) O perigo deve ser concreto.
9) Previsão expressão do princípio da subsidiariedade –
cimentos de qualquer natureza, em desacordo com
somente haverá o presente crime se o fato não constituir
as normas legais.
um delito mais grave.
1) Objeto jurídico: vida ou saúde de outrem. Abandono de Incapaz – art. 133 e Abandono de
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Recém-Nascido – art. 134
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
4) Elemento subjetivo: o crime consiste em expor alguém Passemos a estudar estes crimes de forma comparativa.
a uma situação de perigo, não necessitando que ocorra um Vejamos:

Abandono de Incapaz – Art. 133 do CP Abandono de Recém-Nascido – Art. 134 do CP


Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guardar, vi- Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra
gilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de própria:
defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos. § 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
§ 1º Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. § 2º Se resulta a morte:
§ 2º Se resulta a morte: Pena – detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

Aumento de pena
§ 3º As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um
terço:
I – se o abandono ocorre em lugar ermo;
II – se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão,
tutor ou curador da vítima.
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.
Objeto jurídico: a vida e saúde do incapaz. Objeto jurídico: a vida e a saúde do recém-nascido.
Noções de Direito Penal

Sujeito ativo: pessoa que tenha o dever de zelar pelo in- Sujeito ativo: somente pode ser praticado pela mãe ou pelo
capaz, pois o tem sob o seu cuidado, vigilância, guarda ou pai para esconder uma gravidez indesejada.
autoridade.
Obs.: não havendo esta relação de assistência entre as partes
o crime poderá ser eventualmente de omissão de socorro,
art. 135 do CP.
Sujeito passivo: a pessoa que esta subordinada ao sujeito Sujeito passivo: o recém-nascido.
ativo.
Elemento subjetivo: dolo de abandonar, dolo de perigo Elemento subjetivo: dolo de abandonar, dolo de perigo
concreto. concreto.

81
Consumação: com o abandono a vítima sofre uma situação Consumação: quando o recém-nascido é abandonado.
de perigo concreto.
Forma qualificada (preterdolo): se do abandono resultar Forma qualificada (preterdolo): se do abandono resultar
lesão corporal grave ou a morte. lesão corporal grave ou a morte.
Haverá dolo de abandonar e culpa no resultado lesão grave Haverá dolo de abandonar e culpa no resultado lesão grave
ou morte. ou morte.
Aumento de pena de 1/3 se o abandono:
• ocorrer em lugar ermo (desabitado);
• o agente for ascendente, descendente, cônjuge, irmão
tutor e curador;
• vítima maior de 60 anos.

Crime de Omissão de Socorro são – responderá pelo crime de omissão de socorro


qualificado.
Código Penal • O agente tem dolo de omitir socorro e a vítima vem
a falecer em decorrência desta omissão – responderá
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando
possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abando- pelo crime de omissão de socorro qualificado.
nada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, • O agente tem dolo de matar, atira na vítima e estando
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não esta ainda com vida, nega o socorro, vindo, então,
pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: a  vítima a falecer  – responderá apenas pelo crime
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. de homicídio, sendo o crime de omissão de socorro
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se absorvido por se tratar de post factum impunível.
da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, • O agente comete um crime de homicídio culposo e
e triplicada, se resulta a morte. não presta socorro à vítima – responderá pelo crime
de homicídio culposo com causa de aumento de pena
1) Conduta: consiste em deixar de prestar socorro a (art. 121, § 4º do CP).
quem necessite.
2) Objeto jurídico: dever de assistência e solidariedade 8) Consumação: momento da omissão do socorro.
entre os homens. 9) Omissão de socorro no trânsito:
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. a) aquele que age culposamente na direção de veículo
4) Sujeito passivo: as pessoas enumeradas na lei: automotor e causar lesões corporais e não socorre a vítima:
• criança abandonada; responderá pelo crime previsto no art. 303, parágrafo único,
• criança extraviada – perdida (perigo abstrato); III, do CTB (Lei nº 9.503/1997);
• pessoa inválida ao desamparo; b) aquele que se envolve em acidente automobilístico,
• pessoa ferida ao desamparo; todavia sem ter agido culposamente e causou lesão e não
• pessoa em grave e eminente perigo (perigo concreto). socorreu a vítima: responderá pelo crime previsto no art. 304
do CTB;
5) Elemento subjetivo: dolo de perigo. c) qualquer outra pessoa envolvida no acidente ou que
6) Elemento objetivo: o crime pode ser praticado de presencia o acidente e não presta socorro – responderá pelo
duas maneiras: crime previsto no art.135 do CTB.
a) falta de assistência imediata – Quando o agente pode
prestar o socorro pessoalmente, sem colocar em risco a sua Exemplo: A dirigindo o seu carro de forma imprudente vem
própria vida e mesma assim se omite; a bater no B, que com a pancada sobe na calçada e atropela
b) falta de assistência mediata – Quando o agente corre C que está no ponto de ônibus. D, pedestre, que também
risco em prestar socorro à vítima pessoalmente deve este está no ponto de ônibus não sofre nenhum ferimento.
solicitar ajuda imediatamente à autoridade pública. Tanto A, como B, como D não prestam socorro a C. Assim:
Obs.: o pedido de ajuda deve ser imediato. • A por estar dirigindo um veículo automotor de forma
imprudente, sua omissão de socorro está prevista no
Atenção! Havendo possibilidade de prestação de socorro Código de Trânsito – art. 303, parágrafo único, III do CTB.
pessoalmente ante a ausência de risco pessoal, o  agente • B por estar dirigindo um veículo automotor, mesmo sem
assim deve proceder, pois não se trata de opção do agente, ter dado causa a ele, contribuiu para a ocorrência das
pois se tem condições de socorrer pessoalmente e não o faz, lesões, sua omissão de socorro está prevista no Código
responde pelo crime de omissão de socorro, ainda que peça de Trânsito – art. 304 do CTB.
auxílio imediato a autoridade competente. • D por ser um pedestre que a tudo presencia e nada faz,
responderá pelo crime de omissão de socorro previsto
no Código Penal – art. 135.
Noções de Direito Penal

7) Crime de omissão de socorro qualificadora: trata-se


de crime preterdoloso:
• se da omissão de socorro ocorrer lesão corporal na 10) Não confundir crimes omissivos próprios com crimes
vítima a pena é aumentada de ½; omissivos impróprios.
• se da omissão de socorro ocorrer a morte da vítima
a pena é triplicada. a) Crime omissivo próprio – Inexiste o dever jurídico
de agir. Assim para a omissão ter relevância causal com o
Todavia, não se deve confundir: resultado deve haver um tipo incriminador descrevendo a
omissão. Ex.: crime de omissão de socorro, art. 135 CP.
• O agente tem dolo de omitir socorro e a vítima vem b) Crimes omissivos impróprios (omissivos impuros, es-
a sofre lesão corporal em decorrência desta omis- púrios ou comissivos por omissão) – O agente possui o dever

82
jurídico de agir previsto em uma norma e se omite. Há uma quer abusando de meios de correção ou disciplina:
norma dizendo o que deve ser feito, criando uma relação Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano,
causal. Omitindo-se, responderá pelo resultado ocorrido. ou multa.
O art. 13, § 2º descreve quem são as pessoas que possuem § 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
o dever jurídico de agir: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
• Dever legal – Quando houver determinação específica § 2º Se resulta a morte:
em lei, ex.: pai, mãe, policial, bombeiro, mãe deixa de ama- Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
mentar o filho e este morre. § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é
• Dever do garantidor – Quando o omitente assumiu por praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
qualquer modo a obrigação de agir, podendo ser obrigação
contratual ou extracontratual. Ex.: olha meu filho para mim 1) Conduta: o crime prevê a situação de o agente, o qual
que eu vou dar um mergulho, e a pessoa se distrai e a criança tem um dever de cuidado em relação à vítima, acaba por
morre afogada. expor a perigo a vida desta, trazendo o tipo penal as formas
• Dever por ingerência da norma – Com o seu compor- desta exposição.
tamento anterior criou o risco. Ex.: “A” joga “B” na piscina e 2) Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois o tipo
não procura salvá-lo, vindo “B” a falecer. penal descreve a existência de uma relação jurídica de subor-
dinação entre o autor da infração penal e a vítima: tal como
Nos três exemplos, a mãe, o desconhecido e o “A” têm de guarda, vigilância ou autoridade para fim de educação,
o dever jurídico de agir e se omitiram, respondendo então ensino, tratamento ou custódia o sobre a vítima. Ex.: pais,
pelo resultado ocorrido, qual seja, a morte, e, portanto, pelo tutores, carcereiro, professores, enfermeiros etc.
crime de homicídio, e não pelo crime de omissão de socorro. 3) Sujeito passivo: as pessoas subordinadas ao sujeito
Para finalizar o entendimento observe o exemplo a se- ativo.
guir: Maria está passeando no parque e avista uma criança se 4) Assim, o tipo penal prevê em seu texto a forma pela
afogando e nada faz, vindo a criança a morrer. Como Maria qual o sujeito ativo irá “expor a perigo de vida ou a saúde...”
não está relacionada dentre as pessoas que têm o dever ju- do sujeito passivo, sendo, portanto, classificado como um cri-
rídico de agir, responderá pelo crime de omissão de socorro me de ação vinculada. Desta forma, o sujeito ativo deve agir:
qualificado pela morte, classificado como crime omissivo • privando à vítima de alimentação;
próprio. Todavia, se um bombeiro avista um a criança se • privando à vítima de cuidados indispensáveis (trata-
afogando e nada faz, vindo a criança a morrer, como há o mento médico, agasalho);
dever jurídico de agir, responderá o bombeiro pelo resultado • ocasionando trabalho excessivo ou inadequado à vítima;
ocorrido, ou seja, pelo crime de homicídio, classificado aqui • abusando dos meios de disciplina e correção.
como crime omissivo impróprio.
5) Consumação: no momento da produção do perigo,
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar sendo classificado como crime formal. É cabível a tentativa
emergencial nas figuras comissivas.
6) Crime de maus-tratos qualificado:
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória • Se dos maus-tratos resultar lesão corporal ou morte.
ou qualquer garantia, bem como o preenchimento
prévio de formulários administrativos, como condição 7) Causa de aumento de pena: a pena será aumentada
para o atendimento médico-hospitalar emergencial: de 1/3 se o crime for praticado contra menor de 14 anos.
(Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012) E se for contra um idoso? Tal conduta está previsto no es-
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e tatuto do idoso.
multa. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012)
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se Atenção! Não confundir o crime de maus-tratos com
da negativa de atendimento resulta lesão corporal o crime de tortura: se o meio empregado é muito intenso,
de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. estará configurado o crime de tortura. A intensidade do sofri-
(Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012) mento físico e mental sentido pela vítima é o que diferencia
este crime do crime de maus-tratos.
1) Conduta: exigir garantia para atendimento médico-
-hospitalar em caso de emergência, bem como preenchi- Diferença entre:
mento prévio de formulário.
2) Sujeito ativo: pessoa responsável pelo primeiro aten- Crime de Maus-Tratos – Perigo para a Vida ou Saú-
dimento emergencial. Art. 136 do CP de de Outrem – Art. 132
3) Sujeito passsivo: qualquer pessoa. do CP.
4) Consumação: com a exigência. É crime formal. 1) Crime de ação vinculado, 1) Crime de ação livre, po-
5) A pena é aumentada de metade se da omissão re- pois o legislador prevê as dendo ser praticado de qual-
Noções de Direito Penal

sultar lesão corporal grave, e triplicada se resultar morte. formas de sua prática. quer forma.
2) Sujeitos ativo e passivo 2) Sujeitos ativo e passivo
Maus-Tratos previstos no tipo penal – indeterminados.
crime próprio.
Código Penal
Da Rixa
Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim Código Penal
de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer
privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, Art.  137. Participar de rixa, salvo para separar os
quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, contendores:

83
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, Exceção da verdade
ou multa. § 3º Admite-se a prova da verdade, salvo: (Acrescen-
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal tado pela Lei nº 8.069, 13/7/1990)
de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participa- I – se, constituindo o fato imputado crime de ação
ção na rixa, a pena de detenção, de 6 (seis) meses a privada, o ofendido não foi condenado por sen-
2 (dois) anos. tença irrecorrível; (Acrescentado pela Lei nº 8.069,
13/7/1990)
1) Conduta: participar de rixa salva para separar os II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas
contentores. indicadas no inciso I do art. 141; (Acrescentado pela
Lei nº 8.069, 13/7/1990)
Obs.: rixa é um tumulto, uma luta desordenada onde III – se do crime imputado, embora de ação pública,
não se sabe quem está agredindo a quem. Assim, quando o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
tratar-se de grupos rivais se enfrentando não há que se falar
rixa, pois as pessoas são identificáveis, respondendo cada 1) Conduta: imputar falsamente a alguém fato definido
qual pelas lesões corporais praticadas. como crime.
Ex.: João diz que Maria matou seu pai, todavia João sabe
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Todavia, devem ser que quem matou seu pai foi Antônia.
várias pessoas, pois uma única pessoa jamais conseguirá
praticar este crime. Assim classifica-se como crime de con- Obs. 1: no crime de calúnia imputa-se fato criminoso
curso necessário. falso. Esta falsidade pode ser do fato criminoso (o crime não
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que sejam várias. ocorreu) ou pode ser quanto à autoria (o crime ocorreu, mas
não foi aquela pessoa que cometeu).
Atenção 1! Não há crime na conduta de quem quer
separar os agressores.
Obs. 2: quando falamos em fato, significa a descrição de
uma situação, como no exemplo acima: “Maria matou meu
4) Consumação: com as múltiplas agressões.
pai”. Se apenas o agente disser “Maria, a assassina”, será o
5) Rixa qualificada: se das agressões advir lesão grave
crime de injúria, que trata-se de um xingamento, pois não
ou morte.
há a descrição de um fato.
Atenção 2! Todos os envolvidos na rixa responderão pelo
crime na sua forma qualificada, se do tumulto ocorrido, al- Obs. 3: se o agente pensa que o que diz não é falso,
gum dos participantes vier a sofrer uma lesão grave ou morte, ou seja, que a imputação é verdadeira há erro de tipo que
independentemente de terem sido os responsáveis por tais exclui o dolo.
resultados. Até mesmo a vítima das lesões graves responderá
por rixa qualificada. Todavia devemos considerar que: 2) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
• se identificado o autor da lesão grave ou morte, este 3) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
responderá pelo crime de lesão corporal grave ou 4) Consumação: no momento que a imputação chega aos
homicídio, bem como pelo crime de rixa. Os demais ouvidos de terceira pessoa. Trata-se de ofensa a honra obje-
participantes responderão pelo crime de rixa; tiva. É crime formal independe da ocorrência do resultado,
• se alguém participou do crime de rixa e saiu antes ou seja, do sujeito passivo se sentir ofendido.
de ocorrer uma lesão grave ou morte, responderá 5) Tentativa: é possível sua ocorrência apenas na forma
pelo crime de rixa qualificada, pois a sua participação escrita. Ex.: alguém escreve uma carta com a descrição de
contribuiu para ocorrência de tais resultados. fatos criminosos inverídicos e esta é lida por uma autoridade
• se alguém ingressou nas múltiplas agressões após a pública antes de chegar a seu destinatário.
ocorrência do resultado lesão grave ou morte, res- 6) O § 1º prevê que nas mesmas penas incorre quem
ponderá apenas pelo crime de rixa simples. propala (relata verbalmente) ou divulga (relata por qualquer
outro meio) sabendo falsa imputação. É o crime do fofo-
Dos Crimes Contra a Honra queiro – aquele que espalhou o crime do caput. Todavia, aqui
só cabe o dolo direto, ele tem que saber que a imputação
Conceito de honra: atributos morais, físicos e intelectuais é falsa.
de uma pessoa. Ela pode ser: 7) O § 2º prevê a punição do crime de calúnia contra os
• Honra objetiva: é o que os outros pensam de você. mortos. Mas atenção, o sujeito passivo neste caso não é o
• Honra subjetiva: sentimento que cada um tem a res- morto e sim seus familiares.
peito de seus próprios atributos. Autoestima. 8) Exceção da verdade: é um instituto previsto pelo
legislador como um meio de defesa. Só existe o crime de
Noções de Direito Penal

Calúnia calúnia se a imputação criminosa feita a outrem é falsa, se


Código Penal ela for verdadeira será fato atípico. A falsidade da imputação
é presunção relativa. Assim se o ofendido ingressa com uma
Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente ação criminal, é  possível ao ofensor alegar a exceção da
fato definido como crime: verdade provando que sua imputação é verdadeira. Ficando
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, provado que o fato imputado como crime é verdadeiro,
e multa. ocorrerá atipicidade do crime de calúnia, uma vez que a
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a “falsidade” integra a descrição do crime.
imputação, a propala ou divulga. Assim no exemplo acima em que João alegou que Maria
§ 2º É punível a calúnia contra os mortos. matou seu pai, tendo Maria entrado com uma ação criminal

84
de calúnia contra João, este poderá utilizar-se da exceção Injúria
da verdade, ou seja, tentar provar que realmente foi Maria
que matou seu pai. Se isto ficar comprovado, João não pra- Código Penal
ticou o crime de calunia, pois, o fato criminoso imputado é
verdadeiro. Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade
ou o decoro:
Atenção! A regra no crime de calúnia é caber a exceção Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
da verdade. Todavia, o  legislador optou por apresentar § 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena:
algumas hipóteses em que não será possível a utilização da I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
exceção da verdade: diretamente a injúria;
a) fato imputado como crime de ação privada, o ofendido II – no caso de retorsão imediata, que consista em
outra injúria.
não foi condenado por sentença irrecorrível, pois se o ofensor
§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato,
quiser provar que sua ofensa é verdadeira estará passando
que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
por cima da vítima real do crime e tocando em assunto que considerem aviltantes:
ela quis evitar; Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
b) se o fato é imputado ao Presidente da República ou e multa, além da pena correspondente à violência.
Chefe de governo estrangeiro; § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos
c) se o ofendido foi absolvido pelo crime tanto em Ação referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a con-
Penal Pública, como em Ação Penal Privada em sentença dição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
irrecorrível. Pena – reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

Difamação 1) Conduta: é o xingamento, atribuição de qualidade


negativa. Ex.: assassino, ladrão, bêbado, safado, burro, im-
Código Penal becil, entre outros.
Obs. 1: não há descrição de nenhum fato como na calúnia
Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofen- e na difamação, apenas trata-se um xingamento.
sivo à sua reputação:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, 2) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
e multa. 3) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
4) Consumação: trata-se de crime contra a honra subje-
Exceção da verdade tiva e somente se consuma quando o fato chega ao conhe-
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se cimento da vítima. Crime Formal.
admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa 5) Tentativa: é possível na forma escrita.
é relativa ao exercício de suas funções.” 6) Não cabe exceção da verdade, pois não há a impu-
tação de fato.
1) Conduta: imputar a alguém um fato ofensivo que não
seja crime. Obs. 2: na queixa-crime ou denúncia é necessário trans-
Ex.: Douglas sempre vai trabalhar embriagado. crever as palavras injuriosas sob pena de inépcia.

Obs. 1: na difamação é a imputação de um FATO DESON- 7) Injúria qualificada: se a injúria consiste na utilização
de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem,
ROSO, em que não importa se é verdadeiro ou falso, pois
pessoa idosa ou portadora de deficiência. Ex.: xingar a pessoa
será crime. Não se confunde com o crime de calúnia que é
de manco, velho caduco, negrinho.
um fato criminoso falso.
Obs. 3: não confundir com o crime de racismo previsto
Obs. 2: quando falamos em fato, significa a descrição de na Lei nº 7.716/1989. Estas são manifestações preconcei-
uma situação, como no exemplo acima: “Douglas sempre vai tuosas generalizadas ou a prática de algum tipo de segre-
trabalhar embriagado”. Se o que for dito tratar-se de “Dou- gação. Ex.: todo índio é safado e preguiçoso, ou neste clube
glas, bêbado”, o crime será de injúria, pois é um xingamento é proibida a entrada de negros ou deficientes.
e não a descrição de um fato.
Obs. 4: o crime de injúria qualificada visa pessoas deter-
Obs. 3: se o fato imputado for contravenção penal tam- minadas e não trata de segregações.
bém será difamação. 8) A lei prevê ao crime de injúria a possibilidade de apli-
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. cação do perdão judicial, no qual o juiz deixará de aplicar a
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa. pena ao ofensor quando:
a) o ofendido de forma reprovável provocou diretamente
4) Consumação: quando terceira pessoa fica sabendo da
Noções de Direito Penal

(face a face) a injúria;


imputação. Crime formal. b) no caso de retorsão (revide, tão logo é ofendida a
5) Tentativa: somente possível por escrito. vítima também ofende).
6) Exceção da verdade: A regra é não caber exceção 9) Injúria real: se a injúria consiste em violência ou vias
da verdade no crime de difamação, já que na difamação é de fato. Ex.: tapa na cara, empurrão com o fim de humilhar,
indiferente que a imputação seja falsa ou verdadeira. levantar a saia, rasgar a roupa.
7) Hipótese de cabimento da exceção da verdade: a) se 10) Se ocorrer alguma lesão corporal o agente responderá
o fato é imputado a funcionário público e diz respeito ao pelo crime de injúria real + o crime de lesão corporal (que
exercício de suas funções. Assim se ofensor provar que é poderá ser leve, grave ou gravíssima).
verdadeira a imputação ocorrerá excludente específica de 11) Se ocorrer apenas vias de fato o agente responderá
ilicitude, já que a falsidade não integra o tipo penal. somente pelo crime de injúria real.

85
Quadro Esquemático

Calúnia – Art. 138 do CP Difamação – Art. 139 do CP Injúria – Art. 140 do CP


Conduta: imputar falsamente a alguém fato definido Conduta: imputar a alguém um fato ofen- Conduta: é o xingamento, atribuição de qua-
como crime. sivo que não seja crime. lidade negativa.
No crime de calúnia imputa-se fato criminoso falso, Na difamação é a imputação de um fato Não há descrição de nenhum fato como na
que significa a descrição de uma situação. desonroso, em que não importa se é calúnia e na difamação, apenas trata-se um
verdadeiro ou falso, pois será crime. Não xingamento.
se confunde com o crime de calúnia que
é um fato criminoso falso.
Ex.: João diz que Maria matou seu pai, todavia João Ex.: Douglas sempre vai trabalhar em- Ex.: Maria assassina, Douglas bêbado.
sabe que quem matou seu pai foi Antônia. briagado.
Consumação: no momento que a imputação chega Consumação: quando terceira pessoa fica Consumação: Trata-se de crime contra a honra
aos ouvidos de terceira pessoa. Trata-se de ofensa a sabendo da imputação. Trata-se de ofensa subjetiva e somente se consuma quando o fato
honra objetiva. a honra objetiva. chega ao conhecimento da vítima.
A regra no crime de calúnia é caber a exceção da A regra é não caber exceção da verdade Não cabe exceção da verdade, pois não há a
verdade. no crime de difamação. imputação de fato.
Hipóteses em que não será possível a utilização da Hipótese de cabimento da exceção da Injúria qualificada: se a injúria consiste na
exceção da verdade: verdade: se o fato é imputado a funcio- utilização de elementos referentes a raça,
1) fato imputado como crime de ação privada, o ofen- nário público e diz respeito ao exercício cor, etnia, religião, origem, pessoa idosa ou
dido não foi condenado por sentença irrecorrível, pois de suas funções. Assim se ofensor provar portadora de deficiência. Ex.: xingar a pessoa
se o ofensor quiser provar que sua ofensa é verdadeira que é verdadeira a imputação ocorrerá de manco, velho caduco, negrinho.
estará passando por cima da vítima real do crime e excludente específica de ilicitude, já
tocando em assunto que ela quis evitar; que a falsidade não integra o tipo penal.
2) se o fato é imputado ao Presidente da República ou
Chefe de governo estrangeiro;
3) se o ofendido foi absolvido pelo crime tanto em
Ação Penal Pública, como em Ação Penal Privada em
sentença irrecorrível.
Injúria real: se a injúria consiste em violência ou
vias de fato. Ex.: tapa na cara, empurrão com o
fim de humilhar, levantar a saia, rasgar a roupa.

Disposições comuns Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha


praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de
Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se
aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em
é cometido: que se praticou a ofensa. (Incluído pela Lei nº 13.188,
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de 2015)
de governo estrangeiro; Art. 144. Se, de referências, alusões ou frases, se
II - contra funcionário público, em razão de suas infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga
funções; ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da dá satisfatórias, responde pela ofensa.
injúria. Art. 145. Nos crimes previstos neste Capítulo somen-
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou te se procede mediante queixa, salvo quando, no caso
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
(Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003) Parágrafo único. Procede-se mediante requisição
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput
paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena do art. 141 deste Código, e mediante representação
em dobro. do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo,
bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código.
Exclusão do crime (Redação dada pela Lei nº 12.033. de 2009)
Art. 142. Não constituem injúria ou difamação pu-
nível: Considerações Gerais acerca dos Crimes Contra a
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, Honra
pela parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística Tais considerações abaixo descritas, aplicam-se a todos
ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de os crimes contra a honra: calúnia, difamação e injúria.
injuriar ou difamar; 1) Sujeito ativo: apresentamos em relação aos três
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário
Noções de Direito Penal

crimes como sendo qualquer pessoa o seu sujeito ativo.


público, em apreciação ou informação que preste no Todavia, há exceções:
cumprimento de dever do ofício. a) Imunidade parlamentar: segundo o art.  53 da CF,
Parágrafo único. Nos casos dos ns. I e III, responde os deputados e senadores são invioláveis em palavras
pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publi- quando no exercício do mandato. Assim, se um deputado
cidade. quando estiver discursando na Tribuna do Congresso Nacio-
nal e disser, por exemplo, “Vossa Excelência é um corrupto,
Retratação desonesto, que desviou o dinheiro público para compra de
Art. 143. O querelado que, antes da sentença, se Fazendas”, não estará praticando o crime de calúnia, nem
retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica difamação, nem injúria. Porém, se este mesmo parlamentar
isento de pena. estiver na reunião de condomínio de seu prédio e ofender a

86
um vizinho, não estará no exercício de suas funções e assim d) por se tratar de circunstância subjetiva, a retratação
praticará os crimes contra a honra. não se comunicando com os demais coauotres, somente
b) Vereadores: da mesma forma o art. 29, VIII da CF prevê será aplicada àquele que se retratou;
que os vereadores também possuem a mesma inviolabilidade e) a retratação independe de aceitação da vítima;
dos parlamentares, todavia, além de terem que estar no exer- f) a retratação somente será aplicada em relação aos
cício de suas funções, devem também estar na circunscrição crimes de calúnia e difamação.
do seu município. Assim, se um vereador vai até uma rádio
da cidade vizinha discursar e ali pronunciar palavras contra a 7) Pedido de Explicação: está previsto no art. 144 do CP
honra de alguém, apesar de estar no exercício de suas funções, e trata-se de meio utilizado pelo ofendido para obter escla-
estará fora de sua circunscrição e praticará, então, um crime. recimento acerca das palavras proferidas pelo ofensor, para
c) Advogado: segundo a Lei nº 8.906/1994 (Estatuto da então decidir se irá ou não ingressar com uma ação criminal.
OAB), os advogados possuem imunidade, não praticando injúria São os requisitos legais:
e difamação no exercício regular de suas atividades, sem preju- a) o pedido de explicação é facultativo;
ízo das sanções aplicáveis pela OAB. Assim, em uma audiência b) deve ser realizado antes do oferecimento da denúncia
se o advogado disser: “Excelência, está mulher se prostitui, não ou queixa-crime;
cuida de seus filhos, é preguiçosa, descuidada, não pode ficar c) é utilizada quando a vítima fica com dúvida acerca de
com a guarda das crianças”, não terá praticado crime algum. No ter sido ofendida;
entanto, se disser: “Esta mulher trafica drogas” e este fato for d) o Juiz receberá o pedido, notificará o autor da imputa-
inverídico, o advogado terá praticado o crime de calúnia, pois ção para se explicar. Com ou sem resposta do ofensor, o Juiz
a sua imunidade não alcança tal ilícito penal. entregará os autos ao requerente, não julgando o pedido
de explicação;
2) Sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa – desonra- e) o pedido de explicação não interrompe o prazo de-
do, doente mental, menor de idade, pessoa jurídica (somente cadencial para queixa crime, mas torna o juízo prevento.
em relação ao crime de calúnia no que tange a crimes am- 8) Ação Penal:
bientais; todavia em relação ao crime de difamação e injúria a) Regra: os crimes contra a honra serão processados
não há a possibilidade de sua prática, pois a pessoa jurídica mediante Ação Penal Privada.
não possui honra subjetiva) e o morto (tendo em vista que o b) Exceção:
sujeito passivo será a família). • será processada mediante Ação Penal Púbica Condicio-
nada a Requisição do Ministro da Justiça – quando a ofensa
3) O consentimento da vítima exclui o crime porque a
for praticada contra o Presidente da República ou Chefe de
honra é um bem disponível. Se a pessoa aceita o fato que
Governo Estrangeiro;
lhe é imposto ou o xingamento, não haverá crime.
• será processada mediante Ação Penal Pública Condi-
4) Causas de aumento de pena, 1/3 (art.141): aplicam-se
cionada a Representação da vítima ou seu representante
a todos os crimes:
legal – quando a ofensa for praticada contra o funcionário
a) contra o Presidente da República ou Chefe de Governo público no exercício de suas funções e no caso de injúria real
estrangeiro (se a calúnia ou difamação contra o Presidente quando a lesão corporal for de natureza leve;
tiver motivação política e lesão real ou potencial a bens • será processada mediante Ação Penal Pública Incondi-
inerentes à Segurança Nacional, haverá crime contra a Se- cionada no caso de injúria real e a lesão corporal for grave
gurança Nacional – Lei nº 7.170/1983); ou gravíssima.
b) contra funcionário público em razão de suas funções, des-
de que aja nexo de causalidade da ofensa com a função exercida;
c) na presença de várias pessoas que facilite a divulgação EXERCÍCIOS
(mínimo de três pessoas. Não se computa coautores e os que
não podem entender os fatos); Julgue os itens.
d) contra maior de 60 anos ou portador de deficiência, exce- 1. Imputar falsamente fato criminoso a alguém configu­
to no caso de injúria, pois como vimos será injúria qualificada; ra-se calúnia, da mesma foram imputar fato desonroso
e) será em dobro se o crime é cometido mediante paga configura-se difamação. Em ambos como regra cabe
ou promessa de recompensa. exceção da verdade.
2. Na injúria o fato consistem em xingar alguém. Não cabe
exceção da verdade. Existem diversas formas de injúria:
5) Causas especiais de exclusão da antijuridicidade: não
real, que consiste na utilização de vias de fatos e injúria
constituem injúria ou difamação:
racial, que consiste em xingar alguém utilizando-se
a) ofensa ocorrida em juízo na discussão da causa pela
critério de raça, cor, etnia.
parte ou seu procurador (advogado é aplicado o estatuto da
OAB. A ofensa tem nexo com a causa. Ofensa contra o juiz
não se aplica tal excludente); GABARITO
b) opinião desfavorável da crítica literária, artística e
científica; 1. C 2. C
Noções de Direito Penal

c) conceito desfavorável emitido por funcionário público


em cumprimento de dever de ofício.
Dos Crimes Contra a Liberdade Individual
6) Retratação: retirar o que foi dito. O  ofensor tem a
possibilidade de se retratar desde que preenchido os re- Constrangimento Ilegal
quisitos abaixo:
a) a retratação deve ocorrer antes da sentença; Código Penal
b) a retratação de ser total e incondicional;
c) a retratação causará a extinção da punibilidade Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou
(art. 107, VI ); grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por

87
qualquer outro meio, a capacidade de resistência, 1) Conduta: ameaçar alguém de causa mal grave ou
a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela injusto.
não manda:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, Obs: ameaçar – Intimidar alguém por meio de palavras,
ou multa. gestos, escrita. A ameaça deve ser grave (de morte, lesões) e
injusta (não acolhida pela lei). Assim, se houver a ameaça de
Aumento de pena processar judicialmente alguém que está lhe devendo uma
§  1º As penas aplicam-se cumulativamente e em quantia em dinheiro, não será crime de ameaça, pois esta
dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem conduta é prevista em lei, e, portanto, justa.
mais de três pessoas, ou há emprego de armas. A doutrina coloca, ainda, que a ameaça deve ser veros-
§ 2º Além das penas cominadas, aplicam-se as cor- símil (plausível de acontecer) e iminente.
respondentes à violência.
§ 3º Não se compreendem na disposição deste artigo: 2) Objeto jurídico: a liberdade e tranquilidade das pessoas.
I – a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consen- 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
timento do paciente ou de seu representante legal, 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
se justificada por iminente perigo de vida; 5) Consumação: quando a vítima toma conhecimento
II – a coação exercida para impedir suicídio. da ameaça, independentemente de se sentir amedrontada.
É crime formal.
1) Conduta: constranger alguém mediante violência ou 6) Crime subsidiário: na existência de um delito mais
grave ameaça ou reduzindo a sua capacidade de resistência grave, como por exemplo, roubo, extorsão, estupro, o crime
a não fazer o que a lei permite ou fazer aquilo que ela não de constrangimento ilegal ficará afastado.
manda. A principal diferença entre o crime de constrangimento
ilegal e ameaça consiste no momento consumativo:
Obs.: constranger  – obrigar, coagir. O  crime pode ser
praticado de duas maneiras: Crime de Constrangimento Crime de Ameaça
a) obrigar a vítima a fazer algo, por exemplo, obrigar a Ilegal
vítima a ir a um local em que ela não deseja. Conduta: constranger al- Conduta: ameaçar alguém
b) obrigar a vítima a deixar de fazer algo, exemplo, obriga guém mediante violência ou de causa mal grave ou in-
a vítima a deixar de ir prestar um concurso público. grave ameaça ou reduzindo justo.
a sua capacidade de resis-
2) Objeto jurídico: a liberdade de agir do cidadão, dentro tência a não fazer o que a lei
dos limites da lei. permite ou fazer aquilo que
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. ela não manda.
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa. Sujeito ativo/Sujeito passi- Sujeito ativo/Sujeito passi-
5) Modo de execução do crime: mediante violência, grave vo: qualquer pessoa. vo: qualquer pessoa.
ameaça ou reduzindo a capacidade de resistência da vítima.
Consumação: quando a ví- Consumação: quando a
6) Consumação: quando a vítima toma a atitude preten-
tima toma a atitude preten- vítima toma conhecimento
dida pelo agente. É crime material. dida pelo agente. É  crime da ameaça, independen-
7) Crime subsidiário: na existência de um delito mais material. temente de se sentir ame-
grave, como, por exemplo, roubo, extorsão, estupro, o crime drontada. É crime formal.
de constrangimento ilegal ficará afastado.
Crime subsidiário: na exis- Crime subsidiário: na exis-
8) Causa de aumento de pena do crime de constrangi-
tência de um delito mais tência de um delito mais
mento ilegal:
grave, como, por exemplo, grave, como, por exemplo,
a) praticado por mais de três pessoas, ou seja, há a ne- roubo, extorsão, estupro, roubo, extorsão, estupro,
cessidade de serem pelo menos quatro pessoas; o crime de constrangimento o crime de constrangimento
b) emprego de armas, abrange tanto as armas próprias ilegal ficará afastado. ilegal ficará afastado.
(arma de fogo,faca, punhal) quanto as armas impróprias
(navalha, faca de cozinha).
9) Excludente de ilicitude: não irá configurar o crime de Sequestro ou Cárcere Privado
constrangimento ilegal:
a) a intervenção médico cirúrgica sem o consentimento Código Penal
do paciente ou de seu representante legal, se houver imi-
nente perigo de vida; Art. 148. Privar alguém de sua liberdade, mediante
b) coação para evitar o suicídio. sequestro ou cárcere privado:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Noções de Direito Penal

Ameaça § 1º A pena é de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos:


I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge
Código Penal ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta)
anos;
Art.  147. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou II – se o crime é praticado mediante internação da
gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar- vítima em casa de saúde ou hospital;
-lhe mal injusto e grave: III – se a privação da liberdade dura mais de 15
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. (quinze) dias;
Parágrafo único. Somente se procede mediante IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (de-
representação. zoito) anos;

88
A
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. II  – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia,
§  2º Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos religião ou origem.
ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico
ou moral: 1) Conduta: reduzir alguém a condição análoga à de es-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos cravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de tra-
1) Conduta: privar alguém de sua liberdade. balho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção
em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.
Obs.: não confundir o crime de sequestro (privar alguém
de sua liberdade) com o crime de extorsão mediante se- Obs.: “Reduzir alguém a condição análoga à de escravo” –
questro (privar alguém de sua liberdade no intuito de obter sujeitar uma pessoa ao poder de outra.
um resgate).
Exemplo de crime de sequestro: privar uma filha de sua 2) Objeto jurídico: liberdade do cidadão.
liberdade trancafiando-a no porão de casa por anos. Não 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
há que se falar em extorsão mediante sequestro, pois em 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
nenhum momento houve a requisição de resgate. 5) Modo de execução do crime: é um crime classificado
como de ação vinculada, pois o tipo penal prevê as forma pelas
2) Objeto jurídico: a liberdade de ir e vir do cidadão. quais irá se reduzir alguém a condição análoga à de escravo:
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. a) submetendo a trabalhos forçados;
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa. b) submetendo a jornada exaustiva;
5) Consumação: com a privação de liberdade. Trata-se de c) sujeitando a condições degradantes de trabalho;
crime permanente, ou seja, aquele em que a consumação d) restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em
se prolonga no tempo. Se uma pessoa encontra-se privada razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.
de sua liberdade por anos, a consumação do crime estará 6) Consumação: quando o agente efetivamente reduz
acontecendo a todo momento, e quando descoberto caberá alguém a condição análoga de escravo. É crime material.
prisão em flagrante. 7) Figuras equiparadas: também considera-se crime de
6) Causas de aumento de pena do crime de sequestro: redução a condição análoga de escravo:
• Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge, a) cerceiar o uso de qualquer meio de transporte por par-
companheiro ou maior de 60 anos. te do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
• Se o crime é praticado mediante internação da vítima. b) manter vigilância ostensiva no local de trabalho ou se
• Se a privação da liberdade dura mais de 15 dias. apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador,
• Se o crime é praticado contra menor de 18 anos. com o fim de retê-lo no local de trabalho.
• Se o crime é praticado com fins libidinosos. 8) Crime de redução a condição análoga de escravo
qualificado:
Obs. 2: se efetivamente ocorrer um estupro, o agente a) se cometido contra criança ou adolescente;
responderá pelo crime de sequestro e estupro. b) por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião
ou origem.
7) Crime de sequestro qualificado: se do sequestro
resultar grave sofrimento físico ou mental. Violação de Domicílio

Código Penal
Redução a Condição Análoga de Escravo
Art. 150. Entrar ou permanecer, clandestina ou
Código Penal
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
Art.  149. Reduzir alguém a condição análoga à de
dependências:
escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.
a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
§ 1º Se o crime é cometido durante a noite, ou em
degradantes de trabalho, quer restringindo, por
lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
arma, ou por duas ou mais pessoas:
contraída com o empregador ou preposto:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, além
além da pena correspondente à violência.
da pena correspondente à violência.
§ 2º Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é co-
Noções de Direito Penal

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:


metido por funcionário público, fora dos casos legais,
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por
ou com inobservância das formalidades estabelecidas
parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local em lei, ou com abuso do poder.
de trabalho; § 3º Não constitui crime a entrada ou permanência
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho em casa alheia ou em suas dependências:
ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do I – durante o dia, com observância das formalidades
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. legais, para efetuar prisão ou outra diligência;
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é II – a qualquer hora do dia ou da noite, quando al-
cometido: gum crime está sendo ali praticado ou na iminência
I – contra criança ou adolescente; de o ser.

89
§ 4º A expressão “casa” compreende: Sonegação ou destruição de correspondência
I – qualquer compartimento habitado; § 1º Na mesma pena incorre:
II – aposento ocupado de habitação coletiva; I – quem se apossa indevidamente de correspon-
III  – compartimento não aberto ao público, onde dência alheia, embora não fechada e, no todo ou
alguém exerce profissão ou atividade. em parte, a sonega ou destrói;
§ 5º Não se compreendem na expressão “casa”: Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica
I – hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita- ou telefônica
ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do II  – quem indevidamente divulga, transmite a
nº II do parágrafo anterior; outrem ou utiliza abusivamente comunicação
II – taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou
conversação telefônica entre outras pessoas;
1) Conduta: entrar ou permanecer clandestinamente,
astuciosamente ou contra a vontade expressa ou tácita de III – quem impede a comunicação ou a conversação
quem de direito, em casa alheia ou suas dependências. referidas no número anterior;
IV  – quem instala ou utiliza estação ou aparelho
Obs.: algumas considerações: radioelétrico, sem observância de disposição legal.
a) entrar em casa alheia – ingressar sem autorização; § 2º As penas aumentam-se de metade, se há dano
b) permanecer em casa alheia – o ingresso foi autoriza- para outrem.
do pelo morador, todavia em dado momento solicitou-se a §  3º Se o agente comete o crime, com abuso de
retirada do agente e ele permaneceu. função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico
ou telefônico:
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
3) Sujeito passivo: morador. A lei diz “de quem de direi- § 4º Somente se procede mediante representação,
to”. Assim inclui proprietário, locatário, possuidor.
salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.
4) Conceito de casa para o crime de violação de domicílio:
a) qualquer compartimento habitado e suas adjacências
Obs.: este artigo foi tacitamente revogado pelo art. 40
(quintal, garagem, jardim);
b) aposento ocupado de habitação coletiva (quarto de da Lei nº 6.538/1978.
hotel);
c) compartimento não aberto ao público, onde alguém Correspondência Comercial
exerce profissão ou atividade (consultório médio, escritório
de advocacia, parte interna de uma oficina). Código Penal
5) Modo de execução do crime: o ingresso ou perma-
nência em casa alheia deve ocorrer: Art. 152. Abusar da condição de sócio ou empregado
a) clandestinamente – sem a percepção do morador; de estabelecimento comercial ou industrial para,
b) astuciosamente – com emprego de fraude; no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
c) contra a vontade expressa ou tácita de quem de di- suprimir corre spondência, ourevelar a estranho
reito – expressa é a verbalizada; tácita é a comportamental. seu conteúdo:
6) Consumação: quando a vítima entra ou permanece Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
sem autorização em casa alheia. Parágrafo único.  Somente se procede mediante
7) Crime de violação de domicílio qualificada: representação.
• Se praticado durante a noite – ausência de luz solar;
• Lugar ermo – desabitado; 1) Conduta: abusar da condição de sócio ou empregado
• Com violência contra a pessoa ou coisa;
de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo
• Emprego de arma – tanto arma própria (faca, punhal,
ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir corres-
revolver), como arma imprópria (faca de cozinha,
pondência, ou revelar a estranho seu conteúdo.
navalha);
• Por duas ou mais pessoas.
8) Causa de aumento de pena: se praticado por funcio- Obs.: trata-se de um tipo misto alternativa, pois em
nário público. um único tipo penal há a previsão de 4 condutas – desviar
9) Excludente de ilicitude: não haverá crime de violação (dá rumo diverso), sonegar (esconder), subtrair (furtar) ou
de domicílio quando praticado nas seguintes condições: suprimir (destruir) correspondência comercial, abusando
• durante o dia com observância das formalidades da condição de sócio ou empregado.
legais;
Noções de Direito Penal

• a qualquer hora do dia ou da noite: com autorização 2) Objeto jurídico: inviolabilidade das correspondên-
do morador, em caso de flagrante delito, em caso de cias.
desastre e para prestar socorro a alguém. 3) Objeto material: a correspondência comercial.
4) Sujeito ativo: é crime próprio e somente pode ser
Violação de Correspondência praticado pelo sócio ou empregado do estabelecimento
comercial ou industrial.
Código Penal
5) Sujeito passivo: o estabelecimento comercial ou
Art.  151. Devassar indevidamente o conteúdo de industrial.
correspondência fechada, dirigida a outrem: 6) Consumação: com o desvio, sonegação, subtração
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. ou supressão de correspondência comercial.

90
Divulgação de Segredo da conduta definida no caput. (Incluído pela Lei
nº 12.737, de 2012)
Código Penal § 2º Aumenta‑se a pena de um sexto a um terço se
da invasão resulta prejuízo econômico. (Incluído pela
Art. 153. Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo
Lei nº 12.737, de 2012)
de documento particular ou de correspondência con-
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo
fidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja
de comunicações eletrônicas privadas, segredos
divulgação possa produzir dano a outrem:
comerciais ou industriais, informações sigilosas,
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
assim definidas em lei, ou o controle remoto não
§ 1º-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilo-
autorizado do dispositivo invadido: (Incluído pela Lei
sas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou
nº 12.737, de 2012)
não nos sistemas de informações ou banco de dados
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
da Administração Pública:
e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
§ 2º Quando resultar prejuízo para a Administração § 4º Na hipótese do § 3o, aumenta‑se a pena de um a
Pública, a ação penal será. dois terços se houver divulgação, comercialização ou
transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados
1) Conduta: divulgar conteúdo de documento particular ou informações obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737,
ou correspondência confidencial cuja divulgação possa pro- de 2012)
duzir dano a outrem. § 5º Aumenta‑se a pena de um terço à metade
se o crime for praticado contra: (Incluído pela Lei
Obs.: é necessário que a informação seja vinculada nº 12.737, de 2012)
através de documento particular ou de correspondência I – Presidente da República, governadores e prefeitos;
confidencial. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
II – Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído
2) Objeto jurídico: inviolabilidade de segredo. pela Lei nº 12.737, de 2012)
3) Sujeito ativo: destinatário da correspondência. III – Presidente da Câmara dos Deputados, do Sena-
4) Sujeito passivo: a pessoa que pode sofrer o dano com do Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da
a divulgação do segredo. Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara
5) Consumação: quando o segredo é divulgado para um Municipal; ou (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
número indeterminado de pessoas, sendo desnecessário IV  – dirigente máximo da administração direta e
que alguém sofra efetivamente um prejuízo. É crime formal. indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito
6) O crime deve ser praticado “sem justa causa”, ou seja, Federal. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
o  segredo deve ser divulgado sem que exista um motivo
razoável para tal conduta. Ação penal (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, so-
Violação do Segredo Profissional mente se procede mediante representação, salvo se
o crime é cometido contra a administração pública
Código Penal direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União,
Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra em-
Art. 154. Revelar alguém, sem justa causa, segredo, presas concessionárias de serviços públicos. (Incluído
de que tem ciência em razão de função, ministério, pela Lei nº 12.737, de 2012)
ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir
dano a outrem: 1) Conduta: revelar segredo que tem ciência em razão de
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, função, ministério, ofício ou profissão, o qual possa produzir
ou multa. dano a outrem. Ex.: advogado, médico, padre que revelam
Parágrafo único. Somente se procede mediante informações obtidas no exercício de suas atividades.
representação. 2) Objeto jurídico: inviolabilidade de segredo.
3) Sujeito ativo: são os confidentes das informações
Art.  154-A. Invadir dispositivo informático alheio, obtidas através de suas funções, ministérios, ofícios ou
conectado ou não à rede de computadores, mediante profissões.
Noções de Direito Penal

violação indevida de mecanismo de segurança e com 4) Sujeito passivo: quem sofre com o dano da divulgação
o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou infor- do segredo.
mações sem autorização expressa ou tácita do titular 5) Consumação: no momento que o segredo chega a
do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter terceiros, mesmo que não cause dano a vítima.
vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) 6) Se o agente tomar conhecimento do segredo em
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, razão da função pública o crime será de Violação de Sigilo
e multa. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Profissional, art. 325 do CP.
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, 7) O crime deve ser praticado “sem justa causa”, ou seja,
distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa o  segredo deve ser divulgado sem que exista um motivo
de computador com o intuito de permitir a prática razoável para tal conduta.

91
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO c) Coisa alheia – que tem dono. Assim:
• Res nullius (coisa que nunca teve dono) e res derelicta
Furto (coisa abandonada) – não são objetos do crime de
furto.
• Res despereticta (coisa perdida) – se a coisa está per-
Código Penal
dida é porque tem dono, podendo tratar-se de crime
de furto, se a coisa foi encontrada em local privado,
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa
ou crime de apropriação de coisa achada, art. 169,
alheia móvel:
parágrafo único, II do CP, se encontrada em local
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. público.
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
praticado durante o repouso noturno. d) Para si ou para outrem – a subtração da coisa alheia
§ 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno va- móvel deve ter o fim de assenhoramente definitivo, ou seja,
lor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de não há a intenção de devolver. Assim aqui surge a figura do
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois furto de uso:
terços, ou aplicar somente a pena de multa.
§ 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou Furto de uso – quando o agente desde o início tem in-
qualquer outra que tenha valor econômico. tenção de usar momentaneamente a coisa alheia móvel e a
devolvê-la, bem como restitui o bem que utilizou de forma
Furto Qualificado imediata e integral. Ex.: o agente pega a bicicleta de seu
§ 4º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, vizinho, sem autorização deste para ir ao trabalho e logo
e multa, se o crime é cometido: após o final do expediente a restitui sem nenhum dano. Não
I – com destruição ou rompimento de obstáculo à haverá crime de furto.
subtração da coisa;
II  – com abuso de confiança, ou mediante fraude, 2) Objetivo jurídico: patrimônio.
escalada ou destreza; 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
III – com emprego de chave falsa; 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa física ou jurídica.
IV – mediante concurso de duas ou mais pessoas. 5) Consumação e tentativa: há três teorias para explicar
§ 5º A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, o momento consumativo do crime de furto:
se a subtração for de veículo automotor que venha a a) Teoria da Apphreensio – Para o crime de furto se
ser transportado para outro Estado ou para o exterior consumar basta que o agente tocar na coisa e removê-la.
Não aplicada.
1) Conceito: subtrair para si ou para outrem, coisa alheia b) Teoria da Ablacio – Para o crime de furto se consumar
móvel. há a necessidade de que o agente retire o bem da esfera de
disponibilidade da vítima e obtenha a posse mansa e pacífica
Obs.: passemos a analisar cada elemento do tipo penal: deste. Esta teoria foi aplicada por muitos anos em nosso
a) Subtrair – pode ser praticado de duas formas: Direito Penal. Desta forma se, por exemplo, A subtraísse
• Lançar mão de bem, tirando-o do poder de alguém, a bolsa de B e saísse correndo, e B também corresse atrás
ex.: O agente entre em uma loja, furtando uma blusa para recuperar o seu bem, o crime de furto somente estaria
sem ninguém perceber. consumado quando A conseguisse despistar B, estando então
• Quando a vítima entrega o bem na mão do agente, com a posse da bolsa de forma mansa e pacífica. Entretanto,
mas não autoriza a sua retirada. Ex.: a vendedora se B em perseguição conseguisse recuperar a sua bolsa, sem
entrega a blusa na mão do agente para este provar, que A tivesse conseguido lograr com a posse mansa e pacífica
quando ela se distrai ele sai da loja levando a blusa desta, estaríamos diante do crime de tentativa de furto.
sem pagar. Aqui é o caso em que o agente tem a c) Teoria da Amotio – É a teoria aplicada em nosso
posse vigiada do bem. Não confundir com crime de Direito Penal. O crime de furto consuma-se com a retirada
apropriação indébita, que estudaremos logo a frente, do bem da esfera de disponibilidade da vítima, sem haver
onde o agente tem a posse desvigiada do bem. a necessidade da posse mansa e pacífica do bem. Desta
forma seguindo o mesmo exemplo: A subtrai a bolsa de B
b) Coisa móvel – que pode ser removido. Não se utiliza a e sai correndo. B, vítima, sai em perseguição e retoma sua
classificação de bens móveis e imóveis do Código Civil, pois se bolsa sem que A tenha conseguido a posse mansa e pacífica
deste bem. A, segundo esta teoria responderá pelo crime de
um bem classificado como imóvel para o Direito Civil puder
furto consumado.
ser removido, ele será objeto material do crime de furto.
• Da mesma forma os semoventes e os animais quando
Vejamos o entendimento dos Tribunais Superiores: se-
tiverem dono podem ser objeto de furto.
Noções de Direito Penal

gundo o entendimento do STF e do STJ, para a consumação


• O artigo 155 parágrafo 3º equipara à coisa móvel a do furto, basta a posse, ainda que momentânea, é desneces-
energia com valor econômico. Assim pode ser objeto sária a posse tranquila do bem subtraído por parte do agente,
de furto a energia elétrica, a TV a cabo, a internet, bem ou a sua retirada da esfera de vigilância da vítima, bastando
como a energia genética, que é o caso de sêmen de a posse do objeto material por curto tempo.
animais.
• O ser humano não poderá ser objeto de furto pois 6) Tentativa: quando o agente não consegue, por
não é coisa, tratando-se pois do crime de sequestro. circunstâncias alheias a sua vontade, a posse, ainda que
• Cadáver poderá ser objeto de furto se pertencer a momentânea, da coisa.
um museu ou universidade, do contrário será o crime 7) Furto noturno: a pena aumenta-se de um terço, se o
previsto no artigo 211 do CP. crime é praticado durante o repouso noturno.

92
Obs.: verifica-se que se o crime de furto for praticado Furto de Coisa Comum
durante o repouso noturno a pena será aumentada de 1/3.
Todavia, o que é repouso noturno? Este não se confunde Código Penal
com noite, que é ausência de luz solar. O repouso noturno é
verificado quando determinada localidade dorme, momento Art. 156. Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio,
em que o patrimônio fica mais vulnerável, e, portanto, mais para si ou para outrem, a  quem legitimamente a
fácil de ser subtraído. Assim, por vezes em uma capital, detém, a coisa comum:
às 20h30min já é noite, mas não podemos dizer que aquela Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
cidade está tranquila, pois na verdade deve estar ainda en- ou multa.
frentando alguns congestionamentos. § 1º Somente se procede mediante representação.
§ 2º Não é punível a subtração de coisa comum
fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
8) Furto privilegiado: se o criminoso é primário, e é de
direito o agente.
pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, 1) Aplica-se tudo relativo ao crime de furto simples, salvo
ou aplicar somente a pena de multa. em relação ao sujeito ativo, que, no presente crime somente
poderá ser praticado por condômino, co-herdeiro ou sócio,
Obs.: são requisitos para aplicação do furto privilegiado: tratando-se, pois de crime próprio.
a) Primariedade do criminoso – Primário é o não reinci- 2) Se a coisa comum for fungível (pode ser substituído
dente, ou seja, aquele que após o trânsito em julgado de uma por outra) e não exceder a quota a que o sujeito ativo tem
sentença condenatória não praticou mais nenhum crime. direito, não haverá crime.
b) Coisa de pequeno valor – Segundo a jurisprudência é
aquela cujo valor não excede a um salário mínimo. Roubo
Atenção: Não confundir “coisa de pequeno valor” com Código Penal
“coisa de valor insignificante”. A primeira trata-se de furto
privilegiado se conjugado com o fato do criminoso ser pri- Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou
mário. A segundo é a aplicação do princípio da insignificância para outrem, mediante grave ameaça ou violência
que torna o fato atípico, como, por exemplo, furtar uma a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
caneta comum. reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos,
9) Furto qualificado: o crime de furto será qualificado e multa.
quando se verificar: § 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de
a) Destruição ou rompimento de obstáculo – O obstáculo subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa
a ser destruído ou rompido deve ser diverso da coisa a ser ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do
crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
subtraída, por exemplo, destrói-se uma janela, porta, trinco,
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
cadeado para adentrar em uma casa e furtar. A destruição
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego
deve ocorrer para viabilizar a prática do crime de furto, fi- de arma;
cando desta forma absorvido o crime de dano. Se, todavia, II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;
primeiramente o agente furtar e depois de consumado este III  – se a vítima está em serviço de transporte de
crime destruir ou romper algum obstáculo, o crime de dano valores e o agente conhece tal circunstância;
ocorrerá. IV – se a subtração for de veículo automotor que
b) Com abuso de confiança  – A vítima possui prévia venha a ser transportado para outro
confiança no agente, de forma a deixar seu patrimônio Estado ou para o exterior;
vulnerável. Ex.: amizade, parentesco, relações profissionais. V – se o agente mantém a vítima em seu poder, res-
c) Mediante fraude – É a utilização de um meio enganoso tringindo sua liberdade.
para iludir a vítima e efetivar a subtração. Ex.: disfarce de §  3º Se da violência resulta lesão corporal grave,
agente de inspeção da dengue para adentrar na residência a pena é de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos,
da vítima. além da multa; se resulta morte, a reclusão é de 20
d) Escalada – Ingresso anormal em determinado local, (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo da multa.
por exemplo, transpor muito, janelas, cavar túneis.
e) Destreza – Boa habilidade com as mãos, onde a vítima 1) Conceito: possui os mesmos requisitos do furto:
não percebe que está sendo subtraída. Ex.: batedores de • Subtração;
carteira. • Coisa alheia móvel (objeto material);
• Para si ou para outrem (com o fim de assenhoramento
f) Com emprego de chave falsa – Instrumento utilizado
definitivo – elemento subjetivo);
para abrir ou fechar. Ex.: gazua, mixa, grampo, arame.
Noções de Direito Penal

• Todavia, para efetuar a subtração deve haver emprego


g) Mediante concurso de duas ou mais pessoas – Para de uma das seguintes formas de execução:
computar o número de duas ou mais pessoas inclui-se os
inimputáveis, bem como agente não identificável. a) Violência – vis absoluta. É o emprego de desforço físico
h) Subtração de veículo automotor que venha se trans- que deve ser praticada sempre contra a pessoa. Ex.: Tapas,
porta para o exterior ou para outro Estado – Já deve haver socos, violentos empurrões ou trombadas, todavia se forem
o dolo em retirar o veículo do Estado. Todavia, se o agente leves não será o crime de roubo.
for detido antes de conseguir chegar a outro Estado ou País b) Grave ameaça – vis relativa promessa de mal grave
responderá pelo crime de furto simples e não tentativa de e iminente.
furto qualificado. Só restará configurado o presente crime c) Qualquer outro meio que reduza á vitima à impossi-
se a apreensão ocorrer próximo da divisa. bilidade de resistência – Ex.: sonífero.

93
Atenção: se o agente dá sonífero para vítima para Atenção! O Roubo Impróprio não admite a terceira hipó-
aproveitar e realizar a subtração é roubo. Se a vítima toma tese de execução: “de qualquer modo reduza a capacidade
o sonífero e o agente se aproveita dessa situação é furto. da vítima”, somente podendo ser praticado por violência
ou grave ameaça.
Obs.: uso de arma de brinquedo e abordagem à vítima
de surpresa gritando que se trata de um assalto mesmo não Assim o roubo impróprio será praticado da seguinte
mostrando qualquer arma configura violência ou grave ame- forma:
aça, tratando-se, portanto, de crime de roubo e não de furto. a) o agente subtrai a coisa alheia móvel;
b) após estar na posse do bem;
2) Objeto jurídico: patrimônio e liberdade. Trata-se de c) emprega violência ou grave ameaça;
um crime complexo, pois atine mais de um bem jurídico. d) com o fim de garantir a impunidade ou a detenção da
3) Objeto material: a coisa alheia subtraída. coisa para si ou para terceiro.
4) Sujeito ativo: qualquer pessoa, menos o proprietário.
É crime comum é possível a coautoria, por exemplo, A segura Enquanto que no roubo próprio (art. 157, caput) a vio-
a vítima e B subtrai. É concurso de agentes porque ambos lência ou grave ameaça são empregadas antes ou durante
cometeram parte executória do crime: violência e subtração. a subtração, no roubo impróprio o agente inicialmente pra-
Houve divisão de tarefas. tica um furto, e, já tendo se apoderado do bem, emprega
5) Sujeito passivo: proprietário, possuidor e detentor violência ou grave ameaça para garantir a impunidade da
da coisa, bem como qualquer outra pessoa que seja vítima subtração ou assegurar a detenção do bem.
da violência ou grave ameaça, por exemplo, A ameaça B e C
com uma arma com o fim de subtrair o carro que pertence 1) Consumação e tentativa: consuma-se no exato mo-
a B. Assim, B é vítima do patrimônio e da violência e C é mento em que é empregada a violência ou grave ameaça,
vítima da violência. mesmo que o agente não consiga garantir a impunidade ou
6) Consumação: mesmas teorias aplicadas ao furto. Se- assegurar a posse dos objetos subtraídos. Consequentemen-
gundo entendimento do STF e do STJ, para a consumação do te, não admite tentativa, pois ou se pratica a violência e o
roubo é desnecessária a posse tranquila do bem subtraído crime estará consumado ou será furto.
por parte do agente, bastando a posse do objeto material por
curto período de tempo, não precisa tirar a coisa da esfera Resumo
de vigilância da coisa (STJ, HC nº 25.489, EREsp. nº 235.205).
Ocorre a tentativa quando o agente não consegue, por
circunstâncias alheias a sua vontade, a posse, ainda que Roubo Próprio Roubo Impróprio
momentânea, da coisa. Também está consumado o roubo O agente utiliza de violência, O agente subtrai a coisa
quando o agente se desfaz da coisa subtraída ou a mesma grave ameaça ou qualquer alheia móvel
se extravia na fuga, não a recuperando a vítima, ou quando, outro meio que reduza á Após estar na posse do bem
havendo concurso de agentes, um deles consegue empre- vitima à impossibilidade de
ender fuga na posse do bem. resistência
7) Crime de roubo e princípio da insignificância: é inad- Para subtrair a coisa alheia Emprega violência ou grave
missível a sua aplicação, pois ainda que ínfimo o valor da móvel ameaça
coisa, não afetando o bem jurídico patrimônio, a violência Consumação: com a retirada Com o fim de garantir a im-
e a grave ameaça permanecem. do bem da esfera de disponi- punidade ou a detenção da
8) Concurso de crimes: segundo Victor Eduardo Rios bilidade da vítima. coisa para si ou para terceiro.
Gonçalves:
Consumação: com o em-
• Grave ameaça concomitantemente contra duas pes-
prego da violência ou grave
soas, mas subtrai objeto de apenas uma: crime de
ameaça.
roubo único, um patrimônio foi lesado e houve duas
vítimas.
Causa de Aumento de Pena – A pena do crime de roubo
• Mesmo contexto fático emprega violência contra duas
será aumentada de um terço até metade nos seguintes casos
pessoas ou mais e subtrai o objeto de todas, crime
(art. 157, § 2º):
de roubo em concurso formal (na verdade são dois
roubos). Ex.: assalto em ônibus. a) Se a violência ou ameaça é exercida com emprego
• Grave ameaça contra uma só pessoa, mas subtrai de arma – A causa de aumento de pena está relacionada
bens de pessoas distintas que estão com essa pes- ao uso de arma que é um meio executório do crime com
soa, crime formal, desde que o agente saiba que os grande poder intimidatório. Todavia para esta majoração
bens pertencem a pessoas distintas, para se evitar a de pena considera-se arma todo e qualquer objeto com
responsabilidade objetiva, por exemplo, leva dinheiro potencial vulnerante. Assim é possível abarcar tanto arma
do caixa do banco e o relógio do funcionário. própria ou imprópria (revólver, faca, garrafa, barra de ferro,
gás de pimenta etc.).
Noções de Direito Penal

Roubo Impróprio
Para a aplicação do aumento de pena não basta que o
Código Penal agente apenas porte a arma, sendo necessária a sua utiliza-
ção ostensiva e intimidadora.
Art. 157. [...] A Súmula nº 174 do STJ (que estabelecia que “no crime de
§ 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa o aumento de pena”) foi revogada (STJ, REsp. nº 213.054);
ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade arma de brinquedo apenas configura violência ou grave
do crime ou a detenção da coisa para si ou para ter- ameaça, sendo, portanto, crime de roubo e não de furto,
ceiro. (Grifo nosso) todavia não é causa de aumento de pena.

94
.
Arma de brinquedo – É crime de roubo e não de furto, pois dolo no ato de roubar e pode haver culpa ou dolo no ato
a utilização da arma representa grave ameaça. Todavia, de causar lesão corporal grave ou a morte. Assim, não se
não se aplica a causa de aumento de pena, pois arma de trata necessariamente de um crime preterdoloso.
brinquedo não é arma e sim brinquedo.
Roubo Qualificado:
Deve haver a comprovação que a pessoa estava arma-
da e comprovar que a mesma foi usada para intimidar a Dolo de roubar + culpa ou Dolo de roubar + culpa ou
vítima. Assim, falar que está armado (simulação de arma) e dolo nas lesões corporais dolo na morte causada à
não mostrá-la, estando ou não realmente armado e a vítima causadas na vítima (estas vítima (estas decorrentes da
não a vê, configura grave ameaça do caput, sem o aumento decorrentes da violência violência utilizada no crime
de pena, pois do contrário seria bis in idem. utilizada no crime de roubo). de roubo). Também chama-
Arma desmuniciada, não aumenta a pena, pois não do de latrocínio.
causa perigo a mais, mas se der uma coronhada com esta
arma haverá aumento de pena. O aumento de pena deve 1) Tais qualificadoras são aplicadas tanto ao roubo pró-
ser algo a mais, que aumente o perigo. prio como ao impróprio.
Se em concurso de agentes, apenas um dos coautores
utiliza arma de fogo, este aumento de pena comunica com 2) Lesões corporais graves são aquelas descritas no
os demais, pois trata-se de circunstância objetiva. art.  129, §§  1º e 2º. Assim, segundo a classificação da
doutrina, engloba tanto as lesões corporais graves como as
b) Se há o concurso de duas ou mais pessoas – Exige-
gravíssimas. Já a lesão corporal leve é absorvida pelo roubo,
-se no mínimo duas pessoas. Agente inimputável ou não
identificado também computa para o número de duas ou pois trata-se de uma elementar, qual seja a violência.
mais pessoas, qualificando o crime. Não é necessário que
mais de um agente esteja no local do fato para qualificar Atenção! Somente haverá o crime de roubo qualificado
o crime, bastando a comprovação da divisão de tarefas do se as lesões corporais graves ou a morte decorrerem da
concurso de pessoas. violência exercida para a prática do crime de roubo. Se estas
decorrerem da grave ameaça exercida para a execução do
c) Se a vítima está em serviço de transporte de valores crime de roubo estaremos diante do concurso formal entre
e o agente conhece tal circunstância – Abrange qualquer roubo e lesão corporal ou homicídio. Assim:
transporte de valores, como roubo a carro-forte, a office-boy
que carrega valores para depósito em banco, todavia o autor Se da violência exercida para Se da grave ameaça exercida
deve saber que tais pessoas estão transportando valores. a prática do crime de roubo para a prática do crime de
ocorrer lesão corporal grave roubo ocorrer lesão corpo-
d) Se a subtração for de veículo automotor que venha na vítima ou a sua morte, ral grave na vítima ou a sua
a ser transportado para outro estado ou para o exterior – estaremos diante do crime morte, estaremos diante
Dolo de transportar para fora. Igual comentário do furto de roubo qualificado (que no concurso formal entre roubo
qualificado. caso de ocorrer o resultado e lesão corporal ou homicí-
morte também denomina-se dio. Ex.: A querendo subtrair
e) Se o agente mantém a vítima em seu poder, restrin- latrocínio). Ex.: A querendo o carro de B ameaça-o com
gindo sua liberdade – O inciso utiliza a expressão “restrição subtrair o carro de B atirou uma arma de fogo. B, com
de liberdade” e não “privação de liberdade”. Quando a neste que veio a falecer em o susto sai correndo e é
vítima deve permanecer por um período prolongado com decorrência dos ferimentos. atropelado.
o agente, ou seja, um tempo maior que o necessário para
a execução do crime de roubo, ocorrerá a prática do crime 3) A violência empregada para o crime de roubo que vem
de roubo em concurso material com o crime de sequestro.
a causar lesões graves ou a morte da vítima deve observar
Deve haver subtração. A vítima passa o cartão no caixa
alguns requisitos: (conforme exposição de Victor Eduardo
eletrônico e o SA retira o $. Houve subtração.
Rios Gonçalves – Sinopse Jurídica)
Se ele quer a senha para subtrair será extorsão mediante
sequestro, porque aqui o agente exige que a vítima faça algo. a) A violência deve ser empregada no mesmo contexto
Se a privação da liberdade ocorre após a subtração, há fático do roubo. Ex.: três meses depois o agente encontra
concurso de crimes (roubo e sequestro). a vítima e a mata com medo de ser reconhecido. Não será
latrocínio;
Obs.: tais causas de aumento de pena são aplicadas tanto b) Nexo causal entre a morte e a subtração: violência
ao roubo próprio como ao impróprio. foi empregada durante e em razão do roubo. Mata inimigo
durante o roubo que avista do outro lado da rua. Não será
Roubo Qualificado latrocínio;
c) Respeitados os requisitos acima, haverá latrocínio
Noções de Direito Penal

Código Penal qualquer que seja a morte: tanto da vítima como de quem
a acompanhava, como também do segurança do estabele-
Art. 157. [...] cimento comercial que está sendo roubado, do policial que
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, tenta evitar o roubo.
a pena é de reclusão, de 7 a 15 anos, e multa; se
resulta morte, a reclusão é de 20 a 30 anos, e multa. Obs.1: a lesão grave ou morte de coautor ou partícipe
(Grifo nosso) não qualifica o roubo.

O crime de roubo pode ser qualificado tanto com a Obs.2: mata-se a vítima e após a morte surge a ideia de
ocorrência de lesão corporal grave como pela morte. O que subtrair seus pertences, será crime de homicídio em concurso
se tem é o chamado crime qualificado pelo resultado. Há material com o crime de furto.

95
4) Dá-se o nome de latrocínio ao roubo qualificado pelo • Sempre no intuito de se obter uma vantagem econô-
resultado morte. mica (porque estamos nos crime contra o patrimônio)
indevida (injusta, pois se for devida, haverá o crime
5) O latrocínio, consumado ou tentado, é crime hediondo de exercício arbitrário das próprias razões).
(art. 1º, II, da Lei nº 8.072/1990).
1) Objetividade jurídica: o patrimônio, a liberdade indi-
6) Consumação do crime de roubo qualificado: com a vidual e a integridade física (em caso de violência).
ocorrência da lesão grave ou morte, independentemente do 2) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
agente conseguir efetuar a subtração do bem pretendido: 3) Sujeito passivo: qualquer pessoa sofra a violência ou
a) o agente subtrai o bem e a vítima não morre – latro- prejuízo patrimonial.
cínio tentado; 4) Tipo subjetivo: o dolo. Exige o elemento subjetivo do
b) o agente subtrai o bem e a vítima morre – latrocínio tipo, consistente na vontade de obter indevida vantagem
consumado; econômica, para si ou para outrem.
c) o agente não subtrai o bem e a vítima não morre – 5) Consumação e tentativa: consuma-se no instante em
latrocínio tentado; que a vítima, após sofrer a violência ou grave ameaça, toma
d) o agente não subtrai o bem e a vítima morre – latro- a atitude que o agente deseja, ainda que este não consiga
cínio consumado; obter qualquer vantagem econômica. É crime formal. (Sú-
e) o agente subtrai o bem e a vítima não fica com lesão mula nº 96 do STJ). A obtenção da vantagem econômica é
corporal grave – roubo qualificado tentado; mero exaurimento do crime. Ocorre a tentativa quando a
f) o agente subtrai o bem e a vítima fica com lesão cor- vítima, apesar da violência ou grave ameaça, não se submete
poral grave – roubo qualificado consumado; à vontade do agente.
g) o agente não subtrai o bem e a vítima não fica com 6) Ação penal: pública incondicionada.
lesão corporal grave – roubo qualificado tentado; 7) O crime de extorsão difere-se do crime de roubo: se
h) o agente não subtrai o bem e a vítima fica com lesão o bem for subtraído o crime será sempre de roubo. Agora
corporal grave – roubo qualificado consumado.
se a vítima entrega o bem, mediante violência ou grave
ameaça, para o agente, o crime poderá ser tanto de roubo
Obs.: assim deve-se verificar se ocorreu o resultado lesão
como de extorsão. Será extorsão quando a colaboração da
grave ou morte para o crime estar consumado, não devendo
vítima é imprescindível para que o agente obtenha o que
se ater a subtração ocorreu ou não.
visa. Agora se a entrega era prescindível, ou seja, mesmo se
a vítima não entregasse havia a possibilidade de subtração
Extorsão será o crime de roubo.
Código Penal
Roubo Extorsão
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou O comportamento da víti- O comportamento da vítima
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para ma é dispensável. Mesmo é indispensável. Se a vítima
outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar se a vítima não colaborar, não colaborar não é possível
que se faça ou deixar fazer alguma coisa: o agente conseguirá subtrair executar a subtração do
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, o bem. Ex.: A aponta arma bem. Ex.: A querendo a se-
e multa. para B exigindo que este lhe nha do banco de B, ameaça-
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, entregue a sua carteira. Se B -o com uma arma de fogo.
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um não quiser colaborar entre- Se B não lhe disser qual é
terço até metade. gando a carteira é possível a senha, A não tem como
§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência que A a subtrai-a. Será crime subtraí-la. Será crime de
o disposto no § 3º do artigo anterior. de roubo. extorsão.
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da
liberdade da vítima, e  essa condição é necessária 8) O crime de extorsão se difere do estelionato: na
para a obtenção da vantagem econômica, a  pena hipótese em que a vítima é obrigada a entregar algo para o
é de reclusão, de 6 (seis) a12 (doze) anos, além da agente, assemelha-se ao crime de estelionato já que neste é
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, também a própria vítima quem entrega os seus pertences ao
aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e sujeito ativo da infração. No estelionato, entretanto, ela quer
3º, respectivamente. efetivamente entregar o objeto, uma vez que foi induzida ou
mantida em fraude. Na extorsão a vítima desapoja-se de seu
O crime decorre de o agente constranger a vítima me- patrimônio contra a sua vontade já que o faz em decorrência
diante violência ou grave ameaça com o intuito de obter uma de ter sofrido violência ou grave ameaça.
vantagem econômica indevida através da prática de uma
conduta ou de uma omissão da vítima. Passemos a analisar
Extorsão Estelionato
Noções de Direito Penal

as elementares deste tipo penal:


• Constranger significa obrigar, coagir alguém. A vítima entrega o bem por- A vítima entrega o bem por-
• O meio executório do crime, ou seja, de se realizar o que está sofrendo violência que foi ludibriada por uma
constrangimento é mediante violência (física) ou grave ou grave ameaça. fraude.
ameaça (moral).
• Após constrangida a vítima deve: fazer algo (entregar Obs.: Sequestro Relâmpago? Há duas formas de seques-
dinheiro ou bem móvel ou imóvel, comprar alguma tro relâmpago: a vítima, mediante violência ou grave ameaça,
coisa para o agente), tolerar que se faça (permitir que retira o dinheiro do caixa eletrônico, e o assaltante subtrai o
o agente rasgue um contrato ou título de crédito) ou dinheiro. Neste caso é o crime de roubo. Se a vítima entre-
deixar de fazer alguma coisa (não ingressar com ação ga o cartão e diz a senha será crime de extorsão, porque o
de execução ou cobrança). assaltante que retira o dinheiro.

96
Causa de Aumento de Pena 2) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa, podendo ser tanto
Código Penal a que sofre a privação da liberdade ou a lesão patrimonial
através do pagamento do resgate.
Art. 158. [...] 4) Consumação e tentativa: é crime formal e permanen-
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, te. Consuma-se com o sequestro ou cárcere privado, por
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um tempo juridicamente relevante, independentemente da
terço até metade. (Grifo nosso) obtenção da vantagem pretendida. O pagamento do resgate
é mero exaurimento do crime. Quando a vítima se liberta
1) Por duas ou mais pessoas: prevalece o entendimento ou é liberada pelo próprio agente, por insucesso da exigên-
de que é indispensável a presença de pelo menos duas cia, o crime já está consumado. Ocorre a tentativa quando,
pessoas quando da execução do delito, diferente do furto e iniciada a execução do crime, os  agentes não conseguem
do roubo, porque o 157, § 2º, I do CP, que fala em concurso arrebatar a vítima, não conseguiu sequestrar.
de duas ou mais pessoas. 5) Ação penal: pública incondicionada.
2) Com emprego de arma: a causa de aumento de pena 6) A extorsão mediante sequestro, consumada ou
está relacionada ao uso de arma que é um meio executório tentada, simples e nas suas formas qualificadas, é crime
do crime com grande poder intimidatório. Contudo, para hediondo (art. 1º, IV, da Lei nº 8.072/1990).
esta majoração de pena considera-se arma todo e qualquer 7) A privação de liberdade de animal de estimação ou de
objeto com potencial vulnerante. Assim é possível abarcar raça, mesmo que tenha por finalidade a obtenção de resgate,
tanto arma própria ou imprópria (revólver, faca, garrafa, barra caracteriza crime de extorsão.
de ferro, gás de pimenta etc.). Para a aplicação do aumento
de pena não basta que o agente apenas porte a arma, sendo Extorsão Mediante Sequestro Qualificado:
necessária a sua utilização ostensiva e intimidadora. 1) se o sequestro dura mais de 24 horas;
2) se o sequestrado é menor de 18 anos ou maior de
Extorsão Qualificada 60 anos;
3) se o crime é cometido por bando ou quadrilha;
Código Penal 4) se do fato resulta lesão corporal de natureza grave;
5) se do fato resulta morte.
Art. 158. [...]
§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência Obs.: nas duas últimas hipóteses a lei diz “se do fato”
o disposto no art. 157, § 3º do CP. e não “da violência” resultar lesão grave ou morte, não ha-
vendo necessidade de que a lesão grave ou morte decorram
1) As qualificadoras somente se aplicam quando a extor- de violência, bastando que decorram do sequestro. Todavia,
são é cometida com emprego de violência. em ambas as hipóteses, o resultado qualificador deve recair
2) São seguidas as mesmas regras já estudadas no roubo sobre a pessoa sequestrada. Se os sequestradores matam
qualificado. o segurança da vítima ou a pessoa que estava efetuando o
3) Somente a extorsão qualificada pela morte, con- pagamento do resgate, há concurso material com homicídio
sumada ou tentada, é crime hediondo (art. 1º, III, da Lei qualificado. Trata-se de duas hipóteses de crime qualificado
nº 8.072/1990). pelo resultado. O resultado qualificador pode advir de dolo
ou culpa.
Extorsão Mediante Sequestro
Delação Premiada
Código Penal
Código Penal
Art.  159. Sequestrar pessoa com o fim de obter,
para si ou para outrem, qualquer vantagem, como Art. 159. Se o crime é cometido em concurso, o con-
condição ou preço do resgate. A pena é de 8 a 15 corrente que o denunciar à autoridade, facilitando
anos de reclusão. a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida
de um a dois terços.
O crime consiste em privar alguém de sua liberdade
como fim de se obter resgate. Abrange o cárcere privado 1) Para que seja aplicada a causa de diminuição de
(quando a vítima é colocada em recinto fechado, havendo pena, a delação tem que ser eficaz (facilitar a libertação
maior restrição da liberdade). do sequestrado).
Não se deve confundir com o crime de sequestro ou 2) É causa obrigatória de diminuição.
cárcere privado previsto no art. 148 do CP, que apesar de tam- 3) O quantum da diminuição leva em conta a maior ou
bém consistir no fato de privar alguém de sua liberdade, não
Noções de Direito Penal

menor colaboração para libertação da vítima.


tem a visão patrimonial, qual seja, da obtenção do resgate.
Extorsão Indireta
Extorsão mediante Sequestro ou cárcere
sequestro privado Código Penal
Privar alguém de sua liber- Privar alguém de sua li-
dade para obter um resgate. berdade. Crime contra a Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de dívida,
Crime contra o patrimônio. restrição de liberdade. abusando da situação de alguém, documento que
pode das causa a procedimento criminal contra a
1) Objetividade jurídica: o patrimônio e a liberdade vítima ou contra terceiro.
individual. Pena – reclusão de 1 a 3 anos e multa.

97
Para a prática do crime deve-se verificar a presença de 4) Sujeito passivo: a vítima que sofre o dano em decor-
três requisitos: rência do desvio das águas.
a) Exigência (crime formal) ou recebimento (crime ma- 5) Consumação: no momento em que a agente desvia
terial) de documento que possa dar causa a processo penal ou represa as águas alheias, independentemente de obter
contra a vítima ou terceiro; proveito próprio.
b) Intenção do agente em garantir ameaçadoramente o
pagamento da dívida; Esbulho Possessório
c) Abuso da situação de necessidade financeira do su-
jeito passivo (deve saber que a vítima está em momento Código Penal
de dificuldade).
Art. 161. [...]
Exemplo: ocorrência de simulação de um corpo de delito § 1º [...]
de uma infração penal, preenchimento de cheque sem fundo, II – na mesma pena incorre quem invade, com violên-
assinatura em duplicata simulada, ou qualquer outra coisa cia a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso
capaz de dar início ao um processo criminal. de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio,
para o fim de esbulho possessório.
Os demais itens assemelham-se ao crime de extorsão.
1) Conduta: invadir mediante violência ou grave ame-
Da Alteração de Limites aça exercida contra a pessoa, bem como em concurso de
mais de duas pessoas, terreno alheio com o fim de esbulho
Código Penal possessório.

Art. 161. Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou Obs.: Esbulho Possessório – desejo de excluir a posse de
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, quem a exerce para passar exercê-la.
para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa
imóvel alheia: 2) Meio executório: deve-se invadir terreno alheio me-
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa. diante violência ou grave ameaça, bem como em concurso
§ 1º Na mesma pena incorre quem: de mais de duas pessoas, ou seja, deve haver ao menos três
Usurpação de águas pessoas.
I – desvia ou represa, em proveito próprio ou de 3) Objeto jurídico: proteção da posse alheia.
outrem, águas alheias; 4) Sujeito ativo: qualquer pessoa salvo o possuidor do
Esbulho possessório terreno.
II – invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, 5) Sujeito passivo: o proprietário ou possuidor do ter-
ou mediante concurso de mais de duas pessoas, reno invadido.
terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho 6) Consumação: no momento da invasão.
possessório. 7) Se no momento da invasão o agente causar lesões
§ 2º Se o agente usa de violência, incorre também corporais, ainda que leves responderá por ambos os crimes.
na pena a esta cominada. 8) Se a propriedade é particular, e não há emprego de
§ 3º Se a propriedade é particular, e não há emprego violência, somente se procede mediante queixa.
de violência, somente se procede mediante queixa.
Supressão ou Alteração de Marca em Animais
1) Conduta: suprimir (retirar) ou deslocar (mover) ta-
pume, marco ou qualquer outro sinal indicativo de linha Código Penal
divisória com o fim de apropriar-se de coisa alheia móvel.
2) Objeto jurídico: visa a resguardar a posse a proprie- Art. 162. Suprimir ou alterar, indevidamente, em
dade de bens imóveis. gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo
3) Sujeito ativo: o vizinho do imóvel alterado. É crime de propriedade:
próprio. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos,
4) Sujeito passivo: o proprietário do imóvel que teve sua e multa.
propriedade invadida.
5) Consumação: com a supressão ou deslocamento do 1) Conduta: suprimir (retirar) ou alterar (modificar),
marco, ainda que o agente não atinja a sua finalidade de indevidamente, marca ou sinal indicativo de propriedade
apropriar-se do imóvel alheio. É crime formal. em gado ou rebanho alheio.
2) Objeto jurídico: propriedade e posse de animais
Usurpação de Águas semoventes.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Código Penal 4) Sujeito passivo: dono do animal.
Noções de Direito Penal

5) Consumação: com a supressão ou alteração da marca,


Art. 161. [...] ainda que ocorra em apenas um animal.
§ 1º [...] 6) Em caso de furto de animal e posterior supressão da
I – na mesma pena incorre quem desvia ou represa, marca, este último crime fica absorvido pelo crime de furto.
em proveito próprio ou de outrem, águas alheias.
Dano
1) Conduta: desviar ou represar em proveito próprio
águas alheias. Código Penal
2) Objeto jurídico: resguardar as águas públicas ou par-
ticulares que passem por um determinado local. Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

98
Dano Qualificado 1) Conduta: introduzir (é uma ação, locar o animal) deixar
Parágrafo único. Se o crime é cometido: (é uma omissão, em que o agente não retira o animal que
I – com violência à pessoa ou grave ameaça; livremente adentrou em propriedade alheia) animal em
II – com emprego de substância inflamável ou explo- propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito,
siva, se o fato não constitui crime mais grave; desde que resulte prejuízo.
III – contra o patrimônio da União, Estado, Municí-
pio, empresa concessionária de serviços públicos ou Atenção! Não é somente introduzir ou deixar animal em
sociedade de economia mista; propriedade alheia, deve também tal conduta não estar auto-
IV – por motivo egoístico ou com prejuízo conside- rizada por quem de direito e mais, deve causar um prejuízo.
rável para a vítima:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, 2) Sujeito ativo: qualquer pessoa, proprietário ou não
e multa, além da pena correspondente à violência. do animal.
3) Sujeito passivo: proprietário ou possuidor do imóvel.
1) Conduta: destruir (eliminar, destituir), inutilizar (retirar 4) Consumação: com a introdução ou abandono de
a sua finalidade) ou deteriorar (danificar) coisa alheia. Ex.:
apenas um animal em propriedade alheia.
destruir em carro, matar um animal, arrebentar uma fiação
5) Processa-se mediante queixa-crime.
elétrica.

Obs.: o ato de pichar monumentos urbanos configura o Dano em Coisa de Valor Artístico Econômico ou Histórico
crime previsto no art. 65, caput da Lei n º 9.605/1998. Toda-
via, se o monumento ou coisa for tombado será o parágrafo Código Penal
único do art. 65 da Lei nº 69.605/1998.
Art. 165. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tom-
2) Objeto jurídico: propriedade alheia. bada pela autoridade competente em virtude de
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o proprietário valor artístico, arqueológico ou histórico:
da coisa danificada. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
4) Sujeito passivo: o proprietário da coisa. e multa.
5) Consumação: com a destruição, inutilização ou dete-
riorização da coisa. Obs.: revogado pelo art. 62, I da Lei nº 9.605/1998.
6) Para que o crime de dano exista é necessário que a
destruição, inutilização ou deteriorização da coisa seja um fim Alteração de Local Especialmente Protegido
em si mesmo. Se, todavia constituir um meio para prática de
um crime mais grave, como, por exemplo, crime de furto com Código Penal
destruição de obstáculo, o crime de dano restará absorvido.
Art. 166. Alterar, sem licença da autoridade compe-
Crime de Dano Qualificado – O crime será qualificado tente, o  aspecto de local especialmente protegido
quando cometido com: por lei:
• Violência à pessoa ou grave ameaça – A violência ou Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou
grave ameaça devem constituir meio para execução multa.
do crime de dano. Se praticadas após a deteriorização
da coisa o agente responderá pelo crime de dano e Obs.: revogado pelo art. 63 da Lei nº 9.605/1998.
por lesões corporais ou ameaça. Da mesma forma a
violência pode ser praticada contra o próprio dono do
Apropriação Indébita
objeto danificado como contra terceiros.
• Com o emprego de substância inflamável ou explosi-
va, se o fato não constituir crime mais grave – É uma Código Penal
qualificadora expressamente subsidiária.
• Contra o patrimônio da União, Estado, Município, Art. 168. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que
empresa concessionária de serviço público ou socie- tem a posse ou a detenção:
dade de economia mista – Embora não haja a menção Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
expressa em relação a empresa pública, autarquias Aumento de pena
e fundações instituídas pelo poder público, estas § 1º A pena é aumentada de um terço, quando o
integram, ainda que parcialmente, o patrimônio da agente recebeu a coisa:
União, Estados e Municípios. I – em depósito necessário;
• Por motivo egoístico ou com prejuízo considerável II – na qualidade de tutor, curador, síndico, liquida-
para vítima – No caso deste inciso somente se pro- tário, inventariante, testamenteiro ou depositário
cessa mediante queixa-crime. judicial;
Noções de Direito Penal

III – em razão de ofício, emprego ou profissão.


Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade
Alheia 1) Conduta: apropriar-se de coisa alheia móvel, de que
tem a posse ou detenção.
Código Penal
Obs. 1: o crime se caracteriza pela quebra de confiança,
Art. 164. Introduzir ou deixar animais em propriedade pois a vítima espontaneamente entrega o objeto ao agente,
alheia, sem consentimento de quem de direito, desde e este, depois de já estar na sua posse ou detenção, inverte
que o fato resulte prejuízo: seu ânimo em relação ao bem, passando a comportar-se
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, como proprietário. Assim, são as elementares do crime de
ou multa. apropriação indébita:

99
a) Apropriar-se – É a disposição do agente de fazer sua 8) Diferença entre o crime de apropriação indébita e o
a coisa alheia. Ele inverte o título da posse, comportando-se crime de estelionato – É o momento de surgimento do dolo.
como se fosse o dono. Isso pode ocorrer de duas formas: com No estelionato o agente se utiliza de fraude, há dolo para o
a prática de um ato de disposição que somente poderia ser bem ser entregue, na apropriação o agente recebe o bem
efetuado pelo proprietário (venda, locação, doação, troca de boa-fé e posteriormente haverá inversão da vontade
etc.) ou quando o agente resolve ficar com a coisa para si, surgindo o dolo.
recusando-se a devolvê-la ao sujeito passivo;
b) Posse ou detenção – Que deve ser legítima, tendo em
Apropriação indébita Estelionato
vista que o agente recebe o bem entregue pela vítima de
boa-fé. Poderá haver apropriação indébita nas relações de Primeiro a vítima recebe o O agente antes de entrar na
locação, mandato, depósito, penhor, usufruto etc.; bem de boa-fé, e após estar posse do bem já possui o
c) A posse deve ser desvigiada (se for vigiada, haverá na posse do bem surge o dolo de apropriar-se. Assim
furto); dolo de apropriar-se. aplica uma fraude e então
d) Coisa móvel é o objeto material da apropriação indébi- apropria-se do bem.
ta. Somente bens móveis podem ser objeto de apropriação.
Se imóvel o fato é atípico. O STF e o STJ consideram admissível 9) Se o agente é funcionário público e apropria-se de
a apropriação indébita de bem fungível; bem que tenha vindo ao seu poder em razão do cargo que
e) Coisa alheia (elemento normativo) é aquela que exerce, comete o crime de peculato (art. 312).
tem dono ou possuidor, não pertencendo àquele que está
apropriando-se da mesma. Causa de Aumento de Pena

Obs. 2: requisitos para prática do crime de apropriação Aumenta-se a pena de um terço, quando o agente rece-
indébita: beu a coisa (art. 168, § 1º):
a) a vítima entrega o bem ao agente a posse ou a deten- Em depósito necessário – O depósito pode: legal, mi-
ção do bem de forma livre, espontânea e consciente; serável e por equiparação – art. 647, I, II, III do CC. Abrange
b) o agente recebe a coisa de forma lícita e de boa-fé, somente o depósito miserável, por exemplo, em uma cala-
não pretendendo praticar crime; midade pública como é o caso de uma inundação, a vítima
c) a posse deve ser desvigiada. Caracteriza um crime de em desespero entregar seus bens para primeira pessoa que
quebra de confiança; aparece. Apesar de não haver uma relação de confiança,
d) aapós estar na posse ou detenção do bem resolve se o agente recebe os bens de boa-fé e se, depois decidir se
apoderar do bem e assim comete o crime. apropriar de tais bens será o crime de apropriação indébita
com causa de aumento de pena.
2) Objeto jurídico: a posse e a propriedade. Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário,
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa que tenha a posse inventariante, testamenteiro ou depositário judicial – É um
ou detenção lícita de um bem. Deve estar de boa-fé para rol taxativo. Tais pessoas não são funcionários públicos, as-
receber a coisa. Se já estiver de má-fé será estelionato. Se sim, não será peculato e sim apropriação indébito. Atenção!
funcionário público, no exercício de sua função, será peculato Não existe mais a figura do liquidante e o síndico passou a
apropriação. chamar administrador judicial.
4) Sujeito passivo: geralmente é o proprietário da coisa, Em razão de ofício, emprego ou profissão – O recebi-
mas pode ser também o possuidor. mento da coisa deve ter sido em razão do ofício, emprego ou
5) Consumação e tentativa: a apropriação indébita se profissão, exigindo-se, ainda, que haja relação de confiança.
consuma no momento em que o agente inverte o título da Emprego é a prestação de serviço com subordinação. Ofício
posse, comportando-se como dono, ou no momento em que
é a ocupação manual ou mecânica que supõe certo grau de
o agente se recusa a devolver o objeto material.
habilidade (mecânico, costureiro). Profissão diz respeito ao
Ocorre a tentativa quando o agente, por circunstâncias
exercício de atividade técnica e intelectual sem vinculação
alheias a sua vontade, não consegue inverter o título da
posse, por exemplo, quando tenta vender a coisa e não hierárquica (médico, advogado), é o profissional liberal.
consegue. Na negativa de devolução, é impossível a tenta-
tiva, pois ou não devolve e o crime consuma ou devolve e Apropriação Indébita Previdenciária
não há crime.
6) Não há crime quando o agente tem direito de retenção Código Penal
da coisa (ex.: arts. 644 e 681 do CC), pois o exercício regular
de direito exclui a antijuridicidade. Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as
7) Diferença ente o crime de apropriação indébita e o contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo
crime de furto: e forma legal ou convencional. A pena é de 2 a 5 anos
de reclusão, e multa.
Apropriação indébita Furto 1) Conduta: deixar de repassar à previdência social as
Noções de Direito Penal

Posse desvigiada e há apro- Posse vigiada e há subtração contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e for-
priação do bem (atos de dis- do bem. ma legal ou convencional. O responsável pelo repassar dos
posição como venda, troca tributos recolhidos, não o faz no prazo legal.
etc. ou a passar comportar- 2) Objetividade jurídica: o patrimônio previdenciário.
-se como dono). 3) Sujeito ativo: somente a pessoa que seja responsável
Ex.: bibliotecária empresta Ex.: bibliotecária empresta pelo repasse, à previdência social, das contribuições reco-
livro ao aluno para consulta livra ao aluno para consulta lhidas dos contribuintes (firma individual, sócios, gerentes,
em casa por 10 dias. No local. Quando esta se distrai diretores, administradores). É um crime próprio.
terceiro dia o aluno vende ele subtrai o livro e se retira 4) Sujeito passivo: é o órgão da previdência social (INSS)
o livro. da biblioteca. e o contribuinte lesado. Dupla subjetividade passiva.

100
5) Tipo objetivo: a conduta é omissiva própria, pois o • o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios,
agente deixa de praticar uma ação que a norma penal impõe. seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previ-
Trata-se de norma penal em branco, pois os prazos e as dência social, administrativamente, como sendo o
formas de repasse estão estabelecidos na Lei nº 8.212/1991. mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
6) Consumação e tentativa: a apropriação indébita
previdenciária se consuma no momento em que se esgota Apropriação de Coisa alheia por Erro ou Caso Fortuito
o prazo para o repasse da contribuição à previdência social. ou Força Maior
A tentativa é inadmissível, pois o crime é omissivo próprio.
É crime de mera conduta. Código Penal
7) Ação penal: pública incondicionada.
Art. 169. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao
Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:
qualquer acessório constitui crime de sonegação de contri- Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou
buição previdenciária (art. 337-A). multa.

Figuras Assemelhadas Obs. 1: a apropriação neste caso ocorrerá devido a erro –


a vítima entrega o bem espontaneamente para o agente,
Código Penal como na apropriação indébita do caput, todavia, por algum
motivo incide em erro. O agente somente percebe o erro
Art. 168-A. [...] após estar na posse ou detenção do bem e então decide se
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de: apropriar do bem. Ex.: compro uma bijuteria e o vendedor
embrulha uma joia e somente percebo depois que chego em
• Recolher, no prazo legal, contribuição ou outra im- caso, todavia resolvo me apropriar da jóia.
portância destinada à previdência social que tenha
sido descontada de pagamento efetuado a segurados, Obs. 2: agora se a vítima incide em erro e o agente perce-
a terceiros ou arrecadada do público. be desde logo o erro e incentiva o erro ou aplica uma fraude
• Recolher contribuições devidas à previdência social para que permaneça no erro será estelionato.
que tenham integrado despesas contábeis ou custos
relativos à venda de produtos ou à prestação de ser- Obs. 3: se não há a possibilidade de devolução da coisa
viços. que lhe foi entregue espontaneamente e erroneamente, não
• Pagar benefício devido a segurado, quando as respec- haverá crime, pois diferentemente da apropriação de coisa
tivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à achada, não há obrigação de procurara a autoridade pública.
empresa pela previdência social (ex.: salário-família,
salário-maternidade). Esses são pagos pelo emprega- 1) Caso Fortuito – Quando há participação humana, por
dor, que recebe essa verba da previdência e repassa exemplo, em um acidente automobilístico e as coisas do
ao empregado. carroceiro vieram parar em seu quintal.
2) Força Maior – Evento da natureza, por exemplo, vento
Extinção da Punibilidade lança roupas de um varal para o seu quintal.

• É extinta a punibilidade se o agente, espontanea- Atenção! Somente existe crime se o agente sabe que o
objeto é alheio e veio parar em suas mãos por Caso Fortuito
mente, declara, confessa e efetua o pagamento das
ou Força Maior.
contribuições, importâncias ou valores e presta as
informações devidas à previdência social, na forma
Apropriação de Tesouro
definida em lei ou regulamento, antes do início da
ação fiscal (art. 168-A, § 2º).
Código Penal
• O art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/2003, que prevê a
extinção da punibilidade a qualquer momento, só se
Art. 169. [...]
aplica ao crime da sonegação fiscal, não se aplicando
I – quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria,
a apropriação indébita previdenciária, quando a
no todo ou em parte, da quota a que tem direito o
pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o
proprietário do prédio;
pagamento integral dos débitos oriundos de tributos
e contribuições sociais, inclusive acessórios, não se Quem encontra casualmente tesouro em terreno alheio
aplicando à apropriação indébita previdenciária, já deve dividi-lo com o proprietário da terra. Se, porventura,
que o art. 5º, § 2º, da mesma lei, foi vetado, razão pela se apoderar de tudo, cometerá o crime de apropriação de
qual a referência ao art. 168-A existente no caput do
Noções de Direito Penal

tesouro.
art. 9º restou inócua (STF, HC nº 81.134).
Apropriação de Coisa Achada
Perdão Judicial ou Aplicação Exclusiva de Pena de Multa
Código Penal
O juiz pode conceder o perdão judicial ou aplicar somente
a pena de multa, quando o agente for primário e de bons Art. 169. [...]
antecedentes, desde que (art. 168-A, § 3º): II – quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria,
• tenha promovido após o início da ação fiscal e antes total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono
de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade
social previdenciária, inclusive acessórios; ou competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias.

101
Obs. 1: o objeto material é a coisa perdida, ou seja, aque- 4) Sujeito passivo: é a pessoa física ou jurídica que sofre
la que se extraviou de seu dono em local público. O agente o prejuízo patrimonial, e também quem é ludibriado pela
deve ter consciência que se trata de coisa perdida. fraude.

Obs. 2: quando o agente encontrar coisa perdida, se- Obs. 1: na hipótese de enganar uma máquina clonando
gundo o art. 1.170 do CPC, caso a devolução da coisa seja cartão bancário e sacando dinheiro da conta corrente junto
possível e o agente não souber quem seja o proprietário, a um caixa eletrônico, não existe “alguém” que tenha sido
terá 15 dias para efetuar a entrega da coisa para autoridade ludibriado, tratando-se, portanto, de crime de furto.
pública. O delito somente se consuma após o prazo de 15
dias, salvo se o agente antes disso praticar atos de disposi- Obs. 2: deve ser pessoa determinada. Assim no caso
ção. Antes desse prazo se a pessoa é presa o fato é atípico. de adulteração de taxímetro ou de bomba de gasolina, inú-
meras pessoas, indeterminadas serão vítimas, tratando-se,
Obs. 3: será crime de furto: portanto de crime contra a economia popular (art. 2º, XI da
• se o agente achar coisa perdida dentro de uma resi- Lei nº 1.521/1951).
dência e dela se apoderar;
• se o agente provocar a perda; 5) Tipo subjetivo: o dolo, consistente na vontade de
• se o agente presenciar a perda, por exemplo, o agente enganar a vítima e obter a vantagem econômica ilícita. Exige
vê a carteira da vítima caindo e nada faz para alertar ainda o elemento subjetivo do tipo (contido na expressão
a vítima, pois tem o intuito de subtraí-la.
“para si ou para outrem”).
6) Consumação e tentativa: o estelionato se consuma no
Obs. 4: agora se achar coisa abandonada não comete
momento em que o agente obtém a vantagem ilícita visada,
crime algum, porque não constitui coisa alheia.
em prejuízo alheio.
Estelionato A tentativa é admissível:
a) quando o agente emprega a fraude e não consegue
Código Penal enganar a vítima (desde que a fraude empregada seja capaz
de enganar);
Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem b) sendo a vítima enganada, quando o agente não con-
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo segue obter a vantagem pretendida.
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer 7) Ação penal: pública incondicionada.
outro meio fraudulento:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. O estelionato difere do furto mediante fraude, pois neste
§ 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a fraude ilude a vigilância do ofendido, que não sabe que a
o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o coisa está sendo subtraída, enquanto que naquele a própria
disposto no art. 155, § 2º. vítima, voluntariamente, se despoja de seus bens.

1) Conduta: obter, para si ou para outrem, vantagem Estelionato Furto mediante fraude
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém A fraude é utilizada para que A fraude é utilizada para
em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
a vítima entregue o bem ao distrair a vítima para que o
fraudulento.
agente. agente realize a subtração.
Obs.: o crime de estelionato exige quatro requisitos: A diferença entre o crime de apropriação indébita e o
a) Obtenção de vantagem ilícita, pelo agente ou por
crime de estelionato está no momento em que surge o dolo.
terceiro – Se a vantagem pretendida for lícita, o crime é de
No estelionato o agente se utiliza de fraude, há dolo para o
exercício arbitrário das próprias razões. A vantagem tem que
bem ser entregue, na apropriação o agente recebe o bem
ser de natureza econômica;
de boa-fé e posteriormente haverá inversão da vontade
b) Causação de prejuízo alheio;
c) Induzimento ou manutenção da vítima em erro – surgindo o dolo.
Induzir a vítima em erro é fazer a vítima ter uma percepção
errônea da realidade. Manter a vítima em erro é, percebendo Apropriação indébita Estelionato
que ela equivocou-se em relação a determinada situação, Primeiro a vítima recebe o O agente antes de entrar na
incentivar para que ela continue equivocada; bem de boa-fé, e após estar posse do bem já possui o
d) Artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento na posse do bem surge o dolo de apropriar-se. Assim
• Artifício é a utilização de algum aparato ou objeto dolo de apropriar-se. aplica uma fraude e então
para enganar a vítima (disfarce, documento falso). apropria-se do bem.
• Ardil é a conversa enganosa, a astúcia.
• Ou qualquer outro meio fraudulento, por exemplo, Diferença entre o crime de extorsão e o crime de este-
Noções de Direito Penal

o silêncio – percebe que a vítima está incidindo em lionato:


erro e fica em silêncio.

A idoneidade da fraude deve ser verificada em relação à Estelionato Extorsão


vítima efetiva (critério objetivo), levando em consideração A vítima entrega o bem ao A vítima entrega o bem ao
sua ignorância ou especial ingenuidade. agente devido ao emprego agente devido ao emprego de
Se a fraude for inidônea, haverá crime impossível. de uma fraude. violência ou grave ameaça.

2) Objetividade jurídica: o patrimônio. A falsificação de documento utilizada como meio fraudu-


3) Sujeito ativo: qualquer pessoa que emprega a fraude lento no estelionato fica por este absorvida (Súmula nº 17
ou recebe a vantagem ilícita. do STJ).

102
A
A fraude bilateral (quando a vítima também quer enganar e) Destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa
o agente) não afasta o estelionato. A boa-fé da vítima não é própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava
elementar do crime. as consequências de lesão ou doença, com o intuito de
Falsa promessa de cura quando esta é improvável e o haver indenização ou valor de seguro – Exige a existência
agente recebe dinheiro por tal prática será estelionato e de contrato de seguro em vigor. A lei pune alternativamente
ficará absorvido o crime de curandeirismo. três condutas:
I – destruir ou ocultar coisa própria;
Estelionato Privilegiado II – lesionar o próprio corpo ou a saúde;
III – agravar as consequências da lesão ou doença.
• Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o Exige o dolo de receber o valor do seguro. Nesta hipó-
prejuízo (não superando 1 salário mínimo), o juiz tese, o crime é formal, não exigindo o resultado (obtenção
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, de vantagem ilícita).
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
pena de multa (art. 171, § 1º do CP). Emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em
• Aplica-se tanto ao caput quanto ao § 2º do artigo. poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento:
a) Emitir é colocar em circulação. É necessário que não
Figuras Assemelhadas (baseado em Victor Eduardo Rios haja fundos em poder do sacado e o dolo do agente. Na
Gonçalves: Sinopse Jurídica) segunda modalidade, frustrar o pagamento significa sacar
o dinheiro ou sustar o cheque antes que a vítima consiga
Nas mesmas penas do estelionato incorre quem (art. 171, receber o pagamento;
§ 2º): b) Para que haja o crime é necessário que o agente tenha
a) Vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou agido de má-fé (Súmula nº 246 do STF);
em garantia coisa alheia como própria  – Distingue-se da c) Cheque pré-datado ou entregue como garantia de
apropriação indébita, pois exige dolo anterior à posse ou dívida descaracteriza o crime, pois não há dolo;
detenção da coisa. Pode ser bem móvel ou imóvel. Se houver d) É necessário que a emissão do cheque tenha sido a
crime anterior (furto, apropriação indébita), a venda de coisa causa direta do convencimento da vítima e a razão de seu
alheia como própria será mero exaurimento daquele (post prejuízo. Assim, de ocorreu uma colisão de veículo e dali
para ressarcir o prejuízo fora emitido um cheque sem fundo,
factum não punível); Consuma-se com o recebimento do va-
não será estelionato porque a causa do prejuízo é anterior a
lor mesmo sem ter havido a tradição ou transcrição do bem.
emissão do cheque (agora basta uma execução e não mais
b) Vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia
uma ação de indenização por perdas e danos);
coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou
e) Também não há estelionato na emissão de cheque sem
imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante paga-
fundo para substituir outro titulo de crédito, pois trata-se de
mento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas
causa anterior;
circunstâncias  – Neste caso a coisa é do agente, mas ele f) Quando o agente susta o cheque ou encerra a conta
dispõe do bem omitindo circunstância importante sobre o bancária antes de emitir o cheque, pratica estelionato co-
mesmo. Coisa inalienável é aquela que não pode ser vendida mum, pois a fraude foi anterior à emissão do título de crédito;
em razão de determinação legal, convenção ou testamento. g) A emissão de cheque sem fundo deve causar prejuízo
Coisa gravada de ônus é aquela sobre a qual recai um direito para vítima, assim se for decorrente de pagamento de jogo
real (hipoteca, anticrese). Coisa litigiosa é a que é objeto de do bicho, não haverá crime;
discussão judicial; h) Em se tratando de cheque especial, só haverá crime
se ultrapassar o limite;
Obs.: alienar coisa litigiosa não é crime, silenciar-se a i) Quem recebe cheque nominal e vai ao banco sacá-lo
respeito dela que será crime. e descobre que não tem fundo e endossa-o passando para
outra pessoa, comete estelionato, divergindo a doutrina se
c) Defrauda, mediante alienação não consentida pelo do caput ou do 2º, VI;
credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando j) O pagamento de cheque emitido sem suficiente provi-
tem a posse do objeto empenhado – Com a celebração do são de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta
contrato de penhor, o  bem normalmente é entregue ao ao prosseguimento da ação penal (Súmula nº 554 do STF).
credor. Excepcionalmente, o  objeto pode ficar em poder O STF criou uma extinção de punibilidade por súmula, que
do devedor. Nesse caso, se ele o alienar sem autorização é um absurdo.
ou de alguma outra forma inviabilizar o objeto da garantia k) Consumação – Quando o banco sacado recusa o
(destruindo-o, ocultando-o), cometerá tal delito. O objeto pagamento em razão da ausência e fundos ou em razão da
material é coisa móvel, pois somente ela pode ser empenha- contra-ordem de pagamento.
da; Consuma-se quando o agente aliena ou destrói o bem. l) Competência; Súmula nº 521 do STF 244 do STJ – Local
onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
d) Defrauda substância, qualidade ou quantidade de coi- m) Basta uma única apresentação do cheque.
Noções de Direito Penal

sa que deve entregar a alguém – Pressupõe a existência de n) Se o agente se arrepende antes do crime se consumar
um negócio jurídico envolvendo agente e vítima. Se o agente e deposita o valor, será arrependimento eficaz, e o fato será
modifica fraudulentamente a substância a ser entregue, sua atípico.
qualidade ou quantidade, pratica o delito; Pode ser crime o) Se o agente se arrepende após a consumação do cri-
contra a economia popular, ou crime contra o consumidor. Só me, ma antes do recebimento da denúncia haverá extinção
será estelionato se for contra vítima certa e determinada. Ex.: da punibilidade, se após haverá uma atenuante genérica,
empresário encomenda remessa de combustível para o pos- art. 65, III, b, do CP.
to, que envia substância adulterada. O proprietário responde p) Tentativa é possível: emite cheque sem fundo e um
por estelionato. Se todo o combustível é adulterado, não parente deposita o valor sem seu conhecimento, emite o
somente uma remessa será crime contra economia popular. cheque e manda uma carta para o banco sacado para sustar
Consuma-se com a entrega da substância. o cheque, mas a carta se extravia.

103
Causas de Aumento de Pena alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo
qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir
A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
em detrimento de entidade de direito público ou de institu- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
to de economia popular, assistência social ou beneficência
(art. 171, § 3º). 1) Conduta: abusar (fazer mau uso, aproveitar-se), em
Entidade de direito público é a União, os Estados, proveito próprio ou alheio, de menor de idade ou alienado
o Distrito Federal, os Municípios, as autarquias, entidades mental, convencendo-o a praticar um ato jurídico que possa
paraestatais e a Previdência Social (Súmula nº 24 do STJ). produzir efeito em seu próprio prejuízo ou em prejuízo de
Se o crime for cometido contra idoso, a pena será apli- terceiro.
cada em dobro (art. 171, § 4º). 2) Objeto jurídico: o patrimônio do menor ou alienado
mental.
Duplicata Simulada 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: menor ou alienado mental.
Código Penal 5) Consumação: com a prática do ato pela vítima, ainda
que este não venha resultar em prejuízo para ela própria ou
Art.172. Emitir fatura, duplicata ou nota de venda terceiro. É crime formal.
que não corresponda à mercadoria vendida,em
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Obs.: o crime em tela não se confunde com o crime de
Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, estelionato, tendo em vista que este utiliza-se de fraude para
e multa. ludibriar a vítima e o crime de abuso de incapaz o agente
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele aproveita-se da necessidade, paixão ou inexperiência da
que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de vítima, muito embora a intenção em ambos os crimes seja
Registro de Duplicatas. a obtenção de vantagem econômica ilícita.

1) Conduta: emitir fatura, duplicata ou nota de venda que Crime de estelionato Crime de abuso de incapaz
não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou O meio utilizado para ludi- O meio utilizado é a neces-
qualidade, ou ao serviço prestado. briar a vítima é a fraude. sidade, paixão ou inexperi-
O sujeito passivo pode ser ência. O sujeito passivo é o
Obs. 1: passemos a analisar as elementares deste tipo qualquer pessoa. menor ou alienado mental.
penal
a) Emitir – Por em circulação; Induzimento à Especulação
b) Fatura, duplicata, nota de venda – Títulos de crédito
utilizados nas vendas à prazo. Código Penal

Obs. 2: a duplicata uma vez emitida será posta em circula- Art. 174. Abusar, em proveito próprio ou alheio, da
ção podendo o vendedor ter o valor nela contido descontado inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade
antecipadamente com terceira pessoa, e esta por ocasião do mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou
vencimento receberá do comprador o a quantia respectiva. aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias,
Todavia, se o valor contido nela for inverídico, poderá gerar sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
um prejuízo para quem a descontar, tendo em vista que não Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
obterá o valor nela descrito.
1) Conduta: abusar (fazer mau uso, aproveitar-se), em
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa que falsifique o conte- proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simpli-
údo do título de crédito. cidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa. prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou
4) Consumação: com a simples emissão da duplicata, mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é
fatura ou nota de venda. A tentativa é inadmissível, pois ou ruinosa.
o agente emite o documento e o crime está consumado ou
nada faz e a conduta é atípica. Obs.: aqui a figura penal também apresenta a situação
de abuso, todavia delimita a vítima (pessoa inexperiência,
Falsidade no Livro de Registro da Duplicata simples ou com inferioridade mental), em como a maneira de
se praticar o crime: induzindo-o à prática de jogo ou aposta,
Código penal ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou
devendo saber que a operação é ruinosa.
Noções de Direito Penal

Art. 172. [...]
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele 2) Objeto jurídico: a proteção do patrimônio de pessoas,
que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de simplórias, rústicas ou ignorantes.
Registro de Duplicatas. 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: pessoa inexperiente (com pouco
Abuso de Incapaz vivência nos negócios), simples (sem malícia) ou com desen-
volvimento mental deficiente (índice de inteligência inferior
Código Penal ao normal).
5) Consumação: com a prática do ato pela vítima, in-
Art. 173. Abusar, em proveito próprio ou alheio, de dependentemente da obtenção de vantagem por parte do
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da autor ou te terceiro.

104
Fraude no Comércio a) tomar refeição em restaurante sem dispor de recursos
para efetuar o pagamento;
Código Penal b) alojar-se em hotel sem dispor de recursos para efetuar
o pagamento;
Art. 175. Enganar, no exercício de atividade comercial, c) utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recur-
o adquirente ou consumidor: sos para efetuar o pagamento.
I – vendendo, como verdadeira ou perfeita, merca-
doria falsificada ou deteriorada; Obs. 1: a primeira conduta engloba lanchonetes, bares,
II – entregando uma mercadoria por outra: cafés, bem como bebidas. A  segunda, motéis e pensões.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, A terceira, táxi, ônibus, avião, trem, metrô etc.
ou multa.
§ 1º Alterar em obra que lhe é encomendada a qua- Obs. 2: para a realização do crime é necessário que o
lidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo agente não disponha de recursos para o pagamento. Assim,
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de me- se ele dispõe de dinheiro para pagar e se recusar a quitar
nor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, sua dívida, como é o caso dos famosos “pinduras” realizados
como precioso, metal de outra qualidade: pelos estudantes de direito, não haverá a prática deste crime.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. Da mesma forma, quem efetuar o pagamento com cheque
§ 2º É aplicável o disposto no art. 155, § 2º. sem fundo, pratica o crime previsto no art. 171, § 2º, VI do CP.

1) Conduta: enganar, no exercício da atividade comercial, 2) Objeto jurídico: patrimônio.


adquirente ou consumidor da seguinte forma: 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
a) vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
falsificada ou deteriorada; 5) Consumação: com a utilização do serviço de restau-
b) entregando uma mercadoria por outra; rante, hospedagem e meio de transporte.
c) alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade
ou o peso de metal; Obs. 3: o juiz poderá conceder perdão judicial se as
d) substituindo pedra verdadeira por falsa ou por outra circunstâncias, tais como pequeno valor, antecedentes fa-
de menor valor; voráveis, conduta social, forem benéficas.
e) vendendo pedra falsa por verdadeira;
f) vendendo, como precioso, metal de outra qualidade. Obs. 4: no caso de estado famélico, não haverá crime
por se considerar estado de necessidade.
Obs. 1: o crime é classificado de como de forma vincula-
da, tendo em vista que o legislador apresentou as maneiras Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de
em que o crime pode ser praticado. Sociedade por Ações

Obs. 2: a conduta descrita na aliena a foi revogada pelo Código Penal


art. 7º da Lei nº 8.137/1990 que rege os crimes de relação
de consumo. Art. 177. Promover a fundação de sociedade por
ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação
2) Objeto jurídico: patrimônio e a boa-fé nas relações ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a
de consumo. constituição da sociedade, ou ocultando fraudulen-
3) Sujeito ativo: comerciante. tamente fato a ela relativo:
4) Sujeito passivo: qualquer adquirente, incluindo até Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e mul-
um comerciante, e o consumidor. ta, se o fato não constitui crime contra a economia
5) Consumação: no momento da entrega do bem ao popular.
adquirente ou consumidor. § 1º Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui
crime contra a economia popular:
Obs. 3: se o crime for praticado por qualquer outra pes- I – o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por
soa que não seja um comerciante, restará configura do tipo ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balan-
penal de fraude na entrega de coisa, art. 171, § 2º, IV do CP. ço ou comunicação ao público ou à assembleia, faz
afirmação falsa sobre as condições econômicas da
Obs. 4: é aplicado ao crime em tela do privilégio, desde sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou
que preenchidos os requisitos previstos no art. 155, § 2º em parte, fato a elas relativo;
do CP. II  – o diretor, o  gerente ou o fiscal que promove,
por qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de
Outras Fraudes outros títulos da sociedade;
III – o diretor ou o gerente que toma empréstimo à
Código Penal sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro,
Noções de Direito Penal

dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização


Art. 176. Tomar refeição em restaurante, alojar-se em da assembleia geral;
hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor IV – o diretor ou o gerente que compra ou vende,
de recursos para efetuar o pagamento: por conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, quando a lei o permite;
ou multa. V  – o diretor ou o gerente que, como garantia de
Parágrafo único. Somente se procede mediante crédito social, aceita em penhor ou em caução ações
representação, e o juiz pode, conforme as circuns- da própria sociedade;
tâncias, deixar de aplicar a pena. VI – o diretor ou o gerente que, na falta de balanço,
em desacordo com este, ou mediante balanço falso,
1) Conduta: a lei prevê três condutas distintas: distribui lucros ou dividendos fictícios;

105
VII – o diretor, o gerente ou o fiscal que, por inter- 3) Sujeito ativo: é quem emite o conhecimento de de-
posta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue pósito ou warrant em desacordo com a lei.
a aprovação de conta ou parecer; 4) Sujeito passivo: é o endossatário ou portador que
VIII – o liquidante, nos casos dos nºs I, II, III, IV, V e VII; recebe o título sem saber das irregularidades.
IX – o representante da sociedade anônima estran- 5) Consumação: com a circulação do título.
geira, autorizada a funcionar no País, que pratica os
atos mencionados nos nºs I e II, ou dá falsa informação Fraude à Execução
ao Governo.
§ 2º Incorre na pena de detenção, de 6 (seis) meses a Código Penal
2 (dois) anos, e multa, o acionista que, a fim de obter
vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas Art. 179. Fraudar execução, alienando, desviando,
deliberações de assembleia geral. destruindo ou danificando bens, ou simulando
dívidas:
1) Conduta: promover sociedade por ações (sociedade Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
anônima e comandita por ações) induzindo ou mantendo ou multa.
em erro os candidatos à sócios, o  público ou presentes à Parágrafo único. Somente se procede mediante
assembleia, fazendo falsa afirmação sobre circunstâncias re- queixa.
ferentes à sua constituição ou ocultando, fraudulentamente
fato a ela relativo. 1) Conduta: a conduta pode ser praticada de três for-
2) Objeto jurídico: patrimônio e a boa-fé. mas – fraudar execução:
3) Sujeito ativo: o fundador da sociedade por ações. a) alienando bens;
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa. b) desviando bens;
5) Consumação: no momento da afirmação falsa ou omis- c) destruindo bens;
são, ainda que deles não decorram qualquer resultado lesivo. d) danificando bens;
e) simulando dívidas.
Obs. 1: a fraude pode constar de prospecto ou de comu-
nicação feita ao pública ou assembleia geral. Obs.: o crime consiste na existência de uma ação civil,
em que já há a prolação de sentença e esta encontra-se
Obs. 2: este dispositivo é expressamente subsidiário, em fase de execução. Tal execução de sentença que ao ser
tendo em vista que somente será aplicado se a conduta não fraudada nas modalidades apresentadas pelo tipo penal,
constitui crime.
configurar crime contra a economia popular.
2) Objeto jurídico: patrimônio.
Obs. 3: o § 1º pune também o diretor, o gerente, repre-
3) Sujeito ativo: devedor, não comerciante.
sentante de sociedade estrangeira, e em alguns casos o fiscal
e liquidante que incidam em fraude afirmando situações 4) Sujeito passivo: credor da ação de execução.
enganosas em relação a situação econômica da empresa. 5) Consumação: com o prejuízo patrimonial percebido
pela vítima. É crime material.
Obs. 4: o § 2º perdeu sua importância com a aplicação do
art. 118 da Lei nº 6.404/1976, que permitiu o acordo entre Receptação
acionistas em relação ao exercício do direito ao voto. Assim,
somente haverá crime se a negociação envolvendo o voto Código Penal
não estiver revestida das formalidades legais ou contrariar
texto expresso da lei. Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe
Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de
Warrant boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Código Penal
Receptação qualificada
Art. 178. Emitir conhecimento de depósito ou war- § 1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar,
rant, em desacordo com disposição legal: ter em depósito, desmontar, montar, remontar, ven-
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. der, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
1) Conduta: emitir conhecimento de depósito ou warrant comercial ou industrial, coisa que deve saber ser
em desacordo com disposição legal. produto de crime:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
Obs. 1: o crime não reside no fato de se emitir conhe- § 2º Equipara-se à atividade comercial, para efeito
cimento de depósito ou warrant, e sim a sua emissão em do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio
Noções de Direito Penal

desacordo com a disposição legal, que vem a ser o Decreto irregular ou clandestino, inclusive o exercido em
nº 1.102/1903. Assim, trata-se de norma penal em branco. residência.
§ 3º Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza
Obs. 2: conhecimento de depósito ou warrant consiste ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou
em títulos negociáveis por endosso em relação a mercadorias pela condição de quem a oferece, deve presumir-se
que são depositadas em armazéns gerais. O primeiro é o do- obtida por meio criminoso:
cumento de propriedade da mercadoria e confere ao dono o Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou
poder de disponibilidade sobre a coisa. Já o segundo confere multa, ou ambas as penas.
ao portador o direito real de garantia sobre as mercadorias. § 4º A receptação é punível, ainda que desconhecido
ou isento de pena o autor do crime de que proveio
2) Objeto jurídico: patrimônio. a coisa.

106
A
§ 5º Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, 6) Ação penal: pública incondicionada.
pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, 7) Considerações gerais:
deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica- • É possível a receptação de receptação, respondendo
-se o disposto no § 2º do art. 155. todos pela receptação.
§ 6º Tratando-se de bens e instalações do patrimônio • Haverá receptação mesmo que o crime anterior seja
da União, Estado, Município, empresa concessioná- mediante queixa e a mesma não fora apresentada.
ria de serviços públicos ou sociedade de economia • A receptação exige a finalidade de proveito próprio ou
mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se alheio. Se o agente quiser beneficiar o próprio autor
em dobro. do crime antecedente, cometerá favorecimento real
(art. 349).
1) Conduta: adquirir, receber, transportar, conduzir ou • Aquele que encomenda carro furtado é partícipe do
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser furto e não comente o crime de receptação porque,
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, pois instigou ou induziu a ideia do furto.
a adquire, receba ou oculte. • O advogado comete receptação quando recebe como
forma de pagamento produto de crime.
Obs. 1: o crime é classificado como receptação própria • A receptação é punível, ainda que desconhecido ou
ou imprópria: isento de pena o autor do crime de que proveio a
a) Receptação Própria: coisa (art. 180, § 4º). Foi acrescentado em 1996.
• Adquirir significa obter a propriedade (compra, doação,
permuta); Basta o fato original ser típico e ilícito para haver recep-
• Receber é tomar a posse da coisa (depósito, uso, tação, não necessitando o agente ser culpável. Portanto,
penhor); adquirir produto de furto praticado por menor haverá
• Transportar é levar a coisa de um lugar a outro; receptação.
• Conduzir é dirigir, guiar; Se houver exclusão de ilicitude, não há como punir o
• Ocultar é esconder; receptador.
b) Receptação Imprópria – Só exista uma modalidade: • Assim, para haver receptação é necessária a existência
influir significa convencer, estimular. O  agente atua como de crime anterior. Todavia não há necessidade que o
intermediário sendo evidente que ele não pode ter sido o agente seja punido. Agora se estiver extinta a punibili-
autor do crime antecedente, uma vez que o ato de influir
dade do crime anterior como regra haverá receptação,
será post factum não punível, seja em relação a receptação
segundo o art. 108 do CP. Se o crime de furto já estiver
imprópria, seja em relação a disposição de coisa alheia como
própria (art. 171, § 2º, I) prescrito, esta nada afetará o crime de receptação.
O terceiro que adquire, recebe ou oculta deve estar de • Contudo, se ocorrer a abolitio criminis do crime ante-
boa-fé, ou seja, não saiba da origem ilícita do bem. Se o cedente, não há que se falar em receptação, uma vez
terceiro estiver de má-fé, comete receptação própria. que não haverá “produto do crime”.

Obs. 2: a coisa, objeto material do crime, é um produto Causa de aumento de pena
de crime, obtido pelo autor do crime antecedente, sendo,
portanto, a receptação um crime acessório que possui como 1) Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da
pressuposto indispensável a sua existência a ocorrência de União, Estado, Município, empresa concessionária de servi-
um crime anterior. O crime anterior não necessita ser contra ços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista
o patrimônio podendo ser, por exemplo, o crime de peculato. no caput deste artigo aplica-se em dobro (art. 180, § 6º).
O receptador deve saber que trata-se de bens dessas
Obs. 3: se o objeto a ser receptado for se for produto de entidades.
contravenção não haverá crime de receptação. 2) O agente tem que saber que o objeto material provém
de uma das pessoas jurídicas mencionadas.
Obs. 4: o agente deve saber que a coisa é produto de
crime anterior, ou seja, não admite dolo eventual, somente Somente se aplica ao caput, não incidindo sobre a recep-
dolo direto. Assim se o agente recebe o bem de boa-fé e após tação qualificada ou culposa.
descobre a origem ilícita do bem e continua usando-o não
será receptação. Se houver mera desconfiança da origem Receptação Qualificada
ilícita do objeto será crime de receptação culposa.
1) Conduta: adquirir, receber, transportar, conduzir, ocul-
2) Objeto jurídico: o patrimônio.
tar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender,
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o autor, coautor
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito
ou partícipe do crime anterior. Para eles, a receptação é post
factum não punível. próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
4) Sujeito passivo: é a mesma vítima do crime anterior, industrial, coisa que deve saber ser produto de crime.
Noções de Direito Penal

titular da posse, detenção ou propriedade.


5) Consumação e tentativa: Obs.: muito embora somente se refira ao dolo eventual,
a) no caso de receptação própria, o crime é material, o tipo o penal abrange toda e qualquer forma de dolo.
consumando-se com a efetiva tradição da coisa;
b) na receptação imprópria, o crime é formal, exigindo 2) O crime é próprio, pois só pode ser praticado por
apenas que haja a influência sobre terceiro de boa-fé; comerciante ou industrial. Este é o motivo da qualificadora,
c) o crime é permanente nas modalidades transportar, a facilidade de repassar o produto a terceiro de boa-fé,
conduzir e ocultar; iludidos pela impressão de maior garantia oferecidos por
d) a tentativa somente é admissível na receptação pró- profissionais desta área.
pria, pois a imprópria é crime unissubsistente, que se pratica 3) É tipo misto alternativo, praticando vários verbos do
mediante um único ato (influir). caput responde somente por uma infração penal.

107
4) Equipara-se à atividade comercial qualquer forma de II – de ascendente ou descendente, seja o parentesco
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
residência (art. 180, § 2º) – norma penal explicativa. Art. 182. Somente se procede mediante represen-
tação, se o crime previsto neste título é cometido
Receptação Privilegiada em prejuízo:
I – do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
1) Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do II – de irmão, legítimo ou ilegítimo;
art. 155 (art. 180, § 5º, 2ª parte). III – de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
2) Assim, se o criminoso é primário, e é de pequeno valor Art. 183. Não se aplica o disposto nos dois artigos
a coisa receptada, o juiz pode substituir a pena de reclusão anteriores:
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar I – se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em
somente a pena de multa (art. 155, § 2º). geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
violência à pessoa;
Receptação Culposa II – ao estranho que participa do crime;
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade
1) Conduta: adquirir ou receber coisa que, por sua natu- igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
reza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por O legislador previu duas espécies de imunidades aos
meio criminoso (art. 180, § 3º). praticantes de crimes contra o patrimônio:
Obs. 1: na receptação culposa estão descritos apenas os
verbos “adquirir” e “receber”. Ao contrário do que acontece Imunidade Absoluta Imunidade Relativa
com os delitos culposos em geral, o tipo penal não é aberto, É isente de pena quem pra- Somente será processado
e o legislador descreve os parâmetros que indicam a culpa ticar um dos crimes contra o mediante representação,
do agente, capaz de gerar no homem médio a presunção patrimônio contra: quem praticar o crime con-
de origem ilícita. a) cônjuge na constância da tra:
sociedade conjugal (ou seja, a) cônjuge desquitado ou
Obs. 2: há três modalidades de receptação culposa: devem estar casados); judicialmente separado (não
a) Natureza do objeto – Certos objetos, por sua própria b) contra ascendente ou des- necessita estar divorciado)
natureza, indicam que não foram comercializados conforme cendente, seja o parentesco b) irmão, legítimo ou ilegí-
a lei, e, levarão ao reconhecimento da receptação culposa legítimo ou ilegítimo, seja timo;
(revólver desacompanhado de registro ou sem numeração, civil ou natural (incluindo os c) tio ou sobrinho, com quem
automóvel sem documentação ou com adulteração grosseira casos de adoção). o agente coabita (devem
do chassi); Ex.: furtar o pai, o marido, morar na mesma residência).
b) Desproporção entre o valor de mercado e o preço o neto, o avô.
pago – A desproporção entre o valor e o preço deve ser sufi- Somente se aplicará a isen- Somente será processado
ciente para fazer surgir desconfiança sobre a origem do bem; ção de pena nos casos acima mediante representação nos
c) Condição do ofertante – Adquirir ou receber objeto se: casos acima se:
de desconhecido ou criminoso, ou de pessoa que não tem a) não se tratar de crime de a) não se tratar de crime de
condições financeiras de possuir o bem oferecido. roubo ou extorsão, ou se não roubo ou extorsão, ou se não
houver a prática de violência houver a prática de violência
Obs. 3: deve-se provar efetivamente que o objeto é ilícito ou grave ameaça; ou grave ameaça;
para, então poder haver uma condenação em receptação b) ao estranho que partici- b) ao estranho que partici-
culposa. pa do crime (por exemplo, pa do crime (por exemplo,
o filho e a namorada deste, o filho e a namorada deste,
Perdão Judicial furtam o pai do primeiro. furtam o pai do primeiro.
Somente haverá isenção de Somente haverá isenção de
1) Na receptação culposa, se o criminoso é primário, pena ao filho); pena ao filho);
pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar c) se a vítima tiver idade igual c) se a vítima tiver idade igual
de aplicar a pena (art. 180, § 5º, 1ª parte). ou superior a 60 anos (por ou superior a 60 anos (por
2) Requisitos: exemplo, filho furta pai que exemplo, filho furta pai que
a) Primariedade do agente tem 74 anos. A ele não será tem 74 anos. A ele não será
b) As circunstâncias do crime devem indicar que ele não aplicada a isenção de pena). aplicada a isenção de pena).
se revestiu de especial gravidade, por exemplo, adquirir coisa
de pequeno valor. Algumas observações:
3) Presentes os requisitos legais é obrigatória a concessão 1. Estas enumerações são taxativas;
do perdão. 2. Somente são aplicadas aos crimes contra o patrimônio;
Noções de Direito Penal

4) É causa de extinção da punibilidade, conforme Súmula 3. No que tange ao art. 182, os crimes contra o patrimô-
nº 18 do STJ. nio, em regra são processados mediante ação penal pública
incondicionada, ou seja, aquela em que o Ministério Público
Disposições Gerais acerca dos Crimes Contra o é seu titular, não havendo necessidade de autorização da
Patrimônio vítima para início da ação penal. Assim nos casos previstos no
art. 182, o legislador afirmou que tais crimes não serão pro-
Código Penal cessados por ações penais públicas incondicionadas, e sim
por ações penais públicas condicionadas à representação,
Art. 181. É isento de pena quem comete qualquer dos que são aquelas que apesar de também terem como titular
crimes previstos neste título, em prejuízo: o Ministério Público, somente poderão ser iniciadas quando
I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; as vítimas ou seus representantes legais a autorizarem.

108
Crimes Contra a Dignidade Sexual ou 5) Tipo subjetivo: o dolo, consistente na vontade de
Crimes contra os costumes praticar um ato libidinoso ou uma conjunção carnal.
6) Consumação e tentativa: o crime consuma-se com a
(Reforma pela Lei nº 12.015/2009) introdução, ainda que parcial, do pênis na vagina, ainda que
a introdução seja parcial, não necessitando haver ejaculação,
Estupro para o caso de conjunção carnal, e nos casos dos demais atos
libidinosos o crime consuma-se com a prática do ato libidi-
Código Penal
noso. Ocorre a tentativa quando o agente, por circunstâncias
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou alheias à sua vontade, não consegue a conjunção carnal ou
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou qualquer outro ato libidinoso com a vítima.
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: 7) Qualificação doutrinária: o crime de estupro é:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. • Material – Para sua consumação, exige a ocorrência
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza do resultado (contra: Damásio, para quem o crime é
grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de mera conduta).
de 14 (catorze) anos: • Comum – Não exige uma qualidade pessoal do agente.
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. • Instantâneo – Consuma-se num momento específico.
§ 2º Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. Todas as formas de estupro são crimes hediondos.
Não há obrigatoriedade de exame de corpo de delito
1) Conduta: constranger alguém, mediante violência ou para consumação, pois o estupro pode ter decorrido de
grave ameaça a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir grave ameaça.
que com ele se pratique outro ato libidinoso. A pena é de 6 O consentimento da vítima exclui o crime.
a 10 anos de reclusão (art. 213). O crime de atentado violento ao puder não mais existe
2) Objetividade jurídica: a liberdade sexual. como crime autônomo, sendo que sua conduta passou a
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. (Antes da reforma da estar prevista como estupro.
lei somente poderia ser homem). A violência praticada durante ato sexual consentido
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa. (Antes da reforma poderá constituir crime de lesão corporal, porque para
da lei somente poderia ser mulher). haver estupro deve haver discenso da vítima em relação a
conjunção carnal.
Observações: O concurso entre estupro e perigo de contágio venéreo
1. constranger significa obrigar, coagir alguém a fazer algo
(art. 130) será formal. Todavia, se o agente desejar transmitir
contra a vontade. Portanto, o dissenso da vítima é pressuposto
a doença (art. 130, § 1º), o concurso será formal imperfeito.
do delito. Esse dissenso deve ser sério, demonstrando que a
mulher não aderiu à conduta do agente. Não se exige, todavia, Conjunção carnal após a morte da vítima é crime de
resistência heróica por parte da vítima. Jurisprudência: o fato de vilipêndio de cadáver (221 do CP).
pedir o uso de preservativo não desconfigura o crime; prostituta
pode ser vítima de estupro; cônjuge pode estuprar o outro. Forma Qualificada art. 231 parágrafo 1º e 2º – Se da
2. Conjunção carnal é a introdução do órgão sexual conduta resultar
masculino na vagina. • lesão grave ou morte;
3. Ato libidinoso é gênero que abrange todo ato que • for pratica contra menor de 18 anos e maior de 14 anos.
visa o prazer sexual, como o coito anal, felação (sexo oral),
a masturbação, o apalpamento, o beijo lascivo, bem como Estupro de vulnerável (art. 217ª) – Ter conjunção carnal
conjunção carnal etc. ou praticar ato libidinoso com:
4. Assim, o  crime pode ser praticado por conjunção • vítima menor de 14 anos;
carnal ou em relação aos demais atos libidinosos através • com alguém que por enfermidade ou deficiência
de duas formas: mental não tenha o necessário discernimento para
• obrigando a vítima a praticar o ato libidinoso (mas- praticar o ato;
turbar a si própria ou ao agente, praticar sexo oral no • não pode oferecer resistência.
agente)
• obrigando-a a permitir que com ela se pratique o ato Não encontra-se superado a questão da presunção ab-
libidinoso (suportar que o agente nela pratique sexo soluta ou relativa em relação ao menor de 14 anos. Todavia
oral ou coito anal). há a possibilidade de aplicação das regras de erro de tipo.
Atenção! Não mais existe o crime de atentado violento Estupro vulnerável qualificado – Se da conduta resultar
ao pudor. O crime de estupro, após a reforma da lei engloba • lesão grave (pena de 10 a 20 anos).
tanto conjunção carnal como demais atos libidinosos.
• morte (pena de 12 a 30 anos).
Contravenção penal do art. 61 – Desclassificação quando
Noções de Direito Penal

ocorrer beijo lascivo, apalpadela. Ex.: em coletivo lotado encos- Atentado Violento ao Pudor
tar-se na vítima, será uma contravenção penal, pois somente Art. 214. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 7/8/2009)
haverá o crime de estupro se houver violência ou grave ameaça.
Violação Sexual Mediante Fraude
5. Violência é o emprego de desforço físico sobre a vítima
(agarrar à força, agredir, amarrar suas mãos). Esta é a violên- Código Penal
cia real. Violência presumida é a prevista no art. 224 do CP.
6. Grave ameaça é a promessa de mal grave e iminente Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
(morte, lesões corporais). A jurisprudência entende que o libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro
temor reverencial da filha em relação ao pai pode configurar meio que impeça ou dificulte a livre manifestação
grave ameaça. de vontade da vítima:

109
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. gimento na vítima em seu ambiente de trabalho, embaraçar,
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de acanhar, criar situação constrangedora para a vítima, fazer com
obter vantagem econômica, aplica-se também multa. que ela se sinta na iminência ou probabilidade de sofrer grave
dano ou prejuízo de natureza funcional ou trabalhista (demis-
1) Conduta: ter conjunção carnal ou praticar outro ato são, redução da remuneração, impedimento de progressão
libidinoso com alguém mediante fraude ou outro meio que na carreira). A chantagem deve ser em relação ao trabalho.
impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima. A importunação tem de ser séria, grave, ofensiva,
chantagiosa ou ameaçadora. Simples gracejos, galanteios
Obs.1: nesse crime o agente emprega fraude para possuir ou paqueras não têm idoneidade para caracterizar o crime.
a mulher, por exemplo, ele ingressa em um quarto escuro
onde a mulher aguarda seu marido para com ele manter Obs.3: é indispensável que o agente se prevaleça de sua
relações sexuais, ou quando um curandeiro ou pai de santo condição de superioridade hierárquica, no serviço público
afirma ser necessário ele manter relações sexuais com a ou particular, ou de ascendência (situação de influência
vítima para retirar o encosto. ou respeitoso domínio que o empregado tem com aquela
pessoa, que embora não seja o seu superior hierárquico)
Obs.2: quanto ao outro meio que impeça ou dificulte sobre a vítima. Emprego diz respeito a relação de caráter
a livre manifestação de vontade da vítima, este pode vir a trabalhista (celetista). Cargo é o lugar instituído na organi-
fazer confusão com art. 217-A, § 1º. Para compatibilizar os zação do serviço público. Função é atribuição ou conjunto
dois tipos penais deve-se analisar o grau de resistência da de atribuições que a Administração Pública confere a cada
vítima, quando for relativa, há alguma condição de haver carreira, não pode ser em qualquer outra função privada,
inteligência sobre o ato sexual, sendo, portanto aplicado o como tutela ou curatela não é cabível este crime.
art. 215, não for absoluta, sem qualquer condição da vítima
entender o que se passa será o art. 217-A, § 1º. Obs.4: entre aluno e professor também não é possível.

Obs.3: não há mais o crime de atentado violento ao 2) Objetividade jurídica: a liberdade sexual e a dignidade
pudor mediante fraude, bem como retirou-se a condição das relações trabalhistas ou funcionais.
de aumento de pena no caso de a mulher virgem ter entre 3) Sujeito ativo: superior hierárquico da vítima ou que
14 e 18 anos. tenha ascendência sobre a mesma, em virtude de relação
administrativa ou trabalhista. Se realizado pelo sublaterno
Obs.4: todavia acrescentou-se a possibilidade de pena em relação ao chefe não será crime.
de multa se o crime é praticado com o fim de se obter van- 4) Sujeito passivo: o hierarquicamente subalterno, em
tagem econômica. virtude de relação administrativa ou trabalhista.
5) Tipo subjetivo: o dolo. Exige elemento subjetivo do
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. tipo, consistente na vontade de obter vantagem ou favore-
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa. cimento sexual.
4) Consumação: com a introdução mesmo que parcial 6) Consumação e tentativa: consuma-se com a chanta-
do pênis na vagina, bem como com a prática de qualquer gem, se ocorrer a relação sexual será exaurimento, todavia,
outro ato libidinoso. se ainda houve violência ou grave ameaça, haverá crime
mais grave (estupro ou atentado violento ao puder). Não
Atentado Violento ao Pudor Mediante Fraude será absorvido, porque não é crime meio, será sempre
concurso material.
Código Penal 7) A tentativa é admissível (constrangimento por escrito
que não chega ao conhecimento da vítima), quando não
Art. 216. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 7/8/2009) chega a vítima o conhecimento sobre a chantagem.
8) Qualificação doutrinária: o crime de assédio sexual é:
Assédio Sexual • Formal – Para sua consumação, não exige a ocorrência
do resultado (obtenção de vantagem ou favorecimen-
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de ob- to sexual);
ter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo- • Próprio – Exige uma qualidade pessoal do agente (ser
superior hierárquico ou possuir ascendência sobre a
-se o agente da sua condição de superior hierárquico
vítima);
ou ascendência inerentes ao exercício de emprego,
• De ação livre – Pode ser praticado por qualquer meio;
cargo ou função.
• Instantâneo – Consuma-se num momento específico.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Parágrafo único. (Vetado)
9) A tipificação não exige o emprego de violência ou grave
§ 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima
ameaça, bastando o temor reverencial e a proposta constran-
é menor de 18 (dezoito) anos. gedora do agente, demonstrando que eventual recusa poderá
produzir prejuízo profissional ou funcional ao recusante.
Noções de Direito Penal

1) Conduta: constranger alguém com o intuito de obter 10) Se houver violência ou grave ameaça, o crime será outro
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agen- (estupro, atentado violento ao pudor) em concurso material.
te da sua condição de superior hierárquico ou ascendência
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. A pena Atenção! Assédio sexual, não é cantada, namorico, brin-
é de 1 a 2 anos de detenção (art. 216-A). cadeira. Deve haver uma chantagem séria. Nada impede um
convite de um superior hierárquico para jantar, sair, transar
Obs.1: é a chantagem com finalidade sexual. com funcionária, desde que não haja uma chantagem.
Obs.2: constranger, aqui, tem um sentido diverso daquele 11) O mero constrangimento com intuito sexual, sem
empregado nos crimes já estudados, porque aqui não há violência, ameaça ou fraude, do agente que se prevalece
violência ou grave ameaça. Significa humilhar, causar constran- de relações domésticas (exceto no caso patrão/empregado

110
doméstico), de coabitação ou de hospitalidade, ou que atua I – quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidino-
com abuso ou violação de dever inerente a ofício ou minis- so com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (ca-
tério, é fato atípico. torze) anos na situação descrita no caput deste artigo;
12) Alteração: a pena será aumentada em até 1/3 se a II – o proprietário, o gerente ou o responsável pelo
vítima é menor de 18 anos. local em que se verifiquem as práticas referidas no
caput deste artigo.
Código Penal § 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, constitui efeito
obrigatório da condenação a cassação da licença de
Sedução localização e de funcionamento do estabelecimento.

Art. 217. (Revogado pela Lei nº 11.106, de 28/3/2005) 1) Conduta – submeter, induzir ou atrair à prostituição
ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18
Mediação de Menor Vulnerável para Satisfazer a anos ou quem por enfermidade ou deficiência mental não
Lascívia de Outrem tiver o necessário discernimento para prática do ato, faci-
litá-la ou dificultar que abandone.
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos
Obs. 1: é tipo misto alternativo.
a satisfazer a lascívia de outrem:
Obs. 2: não se confunde com o crime do artigo 218 (me-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
diação para servir a lascívia de outrem), pois neste o agente
Parágrafo único. (Vetado)
induz a vítima a satisfazer a lascívia de determinada pessoa,
já no favorecimento (artigo 218-B), o agente leva, atrai, pro-
1) Conduta: induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer picia ou retém a vítima visando o exercício da prostituição.
a lascívia de outrem.
2) Objetividade jurídica: liberdade sexual.
Obs.: lascívia é desejo sexual. 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo (SP): alguém menor de 18 anos (e
2) Objetividade jurídica: liberdade sexual. maior de 14 anos, pois ao menor de 14 anos será estupro de
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. vulnerável, ainda que na forma de participação) ou quem por
4) Sujeito passivo: menor de 14 anos. enfermidade ou deficiência mental não tiver o necessário
5) Consumação: com o induzimento. discernimento para prática do ato.
5) A prostituta pode ser vítima deste delito?
Satisfação de lascívia mediante presença de criança Quando impedida de deixar a prostituição, sim. Contudo
ou adolescente por já se dedicar por conta própria ao comércio carnal não será
possível o crime em tela nas outras modalidades de conduta.
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 6) Aplica-se a mesma pena para quem pratica conjunção
14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjun- carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18
ção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer anos e maior de 14 anos na situação descrita no caput, bem
lascívia própria ou de outrem: como o proprietário, gerente ou o responsável pelo local em
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. que se verificam as práticas referidas, tendo neste último
caso como efeito da condenação a cassação da licença de
1) Conduta: praticar na presença de alguém menor de 14 localização e funcionamento do estabelecimento.
anos ou induzi-lo a presenciar conjunção carnal ou outro ato 7) Obs.: os enfermos e deficientes são considerados com
libidinoso a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem. vulnerabilidade absolta, sendo portanto o delito previsto no art.
227-A. Será o caso de vulnerabilidade relativa, prevista no art.
Obs.: o agente não tem qualquer contato físico com o 215 se não houver pagamento. Todavia se houver será o delito
menor, nem o obriga a praticar nenhum ato sexual. O menor previsto no art. 218-B, pois estaremos no cenário da prostituição.
apenas assiste. A lesão será em nível psicológico. 8) Consumação: com a submissão, induzimento, atração,
facilitação ou atos que dificultem.
2) Objetividade jurídica: liberdade sexual. 9) A Lei nº 12.978/2014 inclui o artigo 218-B no rol dos
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. crimes hediondos.
4) Sujeito passivo: menor de 14 anos.
5) Consumação: com a prática ou induzimento. Rapto violento ou mediante fraude

Favorecimento da Prostituição ou de Outra Forma de Art. 219. (Revogado pela Lei nº 11.106, de 28/3/2005)
Exploração Sexual de Criança ou Adolescente ou de
Vulnerável Rapto consensual

Art. 220. (Revogado pela Lei nº 11.106, de 28/3/2005)


Código Penal
Noções de Direito Penal

Diminuição de pena
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição
ou outra forma de exploração sexual alguém menor Art. 221. (Revogado pela Lei nº 11.106, de 28/3/2005)
de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou de-
ficiência mental, não tem o necessário discernimento Concurso de rapto e outro crime
para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar
que a abandone: Art. 222. (Revogado pela Lei nº 11.106, de 28/3/2005)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 1º Se o crime é praticado com o fim de obter van- Formas qualificadas
tagem econômica, aplica-se também multa.
§ 2º Incorre nas mesmas penas: Art. 223. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 7/8/2009)

111
Presunção de violência Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 1º Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de
Art. 224. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 7/8/2009) 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente,
descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor
Ação Penal ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para
fins de educação, de tratamento ou de guarda:
Código Penal Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 2º Se o crime é cometido com emprego de violência,
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II
grave ameaça ou fraude:
deste Título, procede-se mediante ação penal pública
condicionada à representação. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, além da
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante pena correspondente à violência.
ação penal pública incondicionada se a vítima é § 3º Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. -se também multa.

1) A regra consiste em processar e julgar os crimes contra 1) Conduta: induzir alguém para satisfazer a lascívia de
a liberdade sexual mediante Ação Penal Pública Condicionada outrem.
à Representação, em que o titular da ação é o Ministério Pú-
blico, todavia este somente pode agir mediante autorização Obs.: induzir: convencer, persuadir alguém a satisfazer
da vítima ou de sua representação legal. a lascívia de outrem.
2) Porém, quando a vítima é menor de 18 anos ou pessoa
vulnerável (como vítima menor de 14 anos ou com alguém 2) Objetividade jurídica: regramento e a moralidade da
que por enfermidade ou deficiência mental não tenha o vida sexual.
necessário discernimento para praticar o ato ou não pode 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
oferecer resistência) a ação será pública incondicionada, ou 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
seja, o titular é o Ministério Público e este não necessita de
5) Elemento subjetivo: dolo.
autorização para iniciar a ação penal.
6) Consumação: com a prática do ato que possa importar
Causa de Aumento de Pena satisfação ainda que esta não se efetive.
7) O crime será qualificado:
Código Penal a) vítima maior de 14 anos e menor de 18, se o agente
é ascendente, descendente, cônjuge, companheiro, irmão,
Art. 226. A pena é aumentada: tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins
I  – de quarta parte, se o crime é cometido com o de educação, de tratamento ou de guarda;
concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; b) com emprego de violência, grave ameaça ou fraude,
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto somadas as penas da violência.
ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
curador, preceptor ou empregador da vítima ou por Atenção! O emprego de violência ou grave ameaça para
qualquer outro título tem autoridade sobre ela; praticar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso
III – (Revogado pela Lei nº 11.106, de 28/3/2005) será estupro. O parágrafo 2º será para forçar a vítima a fazer
sexo por telefone, uma strip tease.
Obs.: preceptor é o mestre, mentor. A fórmula genérica
abrange o amásio da mãe da vítima, a autoridade do carce- 8) Se o crime for praticado com o fim de lucro será apli-
reiro sobre a presa etc.
cado também a pena de multa.
Atenção! Novidades da Lei nº 11.106/2005: 9) Não confundir com o crime de favorecimento a pros-
1. Abolição dos crimes: sedução, rapto e adultério. O rap- tituição, pois no art. 227 a vítima não é prostituta.
to passou a ser punido na forma qualificada do sequestro
ou cácere privado na forma qualificada. O homem passa a Favorecimento da Prostituição
ser sujeito passivo.
2. A causa de extinção de punibilidade por casamento Código Penal
com a vítima ou terceiro, não existe mais. Todavia nos crimes
de ação penal privada o casamento da vítima com o autor do Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou
fato antes do oferecimento da queixa equivale a renúncia e outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir
após será perdão judicial. ou dificultar que alguém a abandone:
3. O sujeito ativo casado, não mais tem aumento de pena. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
4. O tráfico de mulheres passou a ser tráfico internacional § 1º Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta,
de pessoas (homem também). irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
5. Criou o tráfico interno de pessoas. Pessoas que vêm de curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se
localidade pobres para se prostituírem em locais mais ricos. assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuida-
Noções de Direito Penal

do, proteção ou vigilância:


Do Lenocídio e do Tráfico de Pessoas Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
§ 2º Se o crime é cometido com emprego de violência,
Legislador visa impedir o desenvolvimento da prostitui-
ção e comportamentos imorais no aspecto sexual. grave ameaça ou fraude:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, além
Mediação para Servir a Lascívia de Outrem da pena correspondente à violência.
§ 3º Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-
Código Penal -se também multa.

Art.  227. Induzir alguém a satisfazer a lascívia de 1) Conduta: induzir ou atrair alguém à prostituição,
outrem: facilitá-la ou impedir que alguém a abandone.

112
As
Obs.1: o delito pune o agente que convence direta ou Rufianismo
indiretamente alguém a se prostituir, colabore de alguma
forma para o seu ato ou toma providências para evitar que Art. 230. Tirar proveito da prostituição alheia, par-
alguém a abandone. ticipando diretamente de seus lucros ou fazendo-se
sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
Obs.2: a prostituição pode ser feminina ou masculina. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§  1º Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior
Obs.3: se o crime é praticado com o fim de lucro haverá de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por
pena de multa. ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor
2) Objetividade jurídica: regramento e a moralidade da ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por
vida sexual. lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. ou vigilância:
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa. Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
5) Elemento subjetivo: dolo. § 2º Se o crime é cometido mediante violência,
6) Formas qualificadas: grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou
a) vítima maior de 14 anos e menor de 18, se o agente dificulte a livre manifestação da vontade da vítima:
é ascendente, descendente, cônjuge, companheiro, irmão, Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem pre-
tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins juízo da pena correspondente à Violência.
de educação, de tratamento ou de guarda;
b) com emprego de violência, grave ameaça ou fraude, 1) Conduta: tirar proveito da prostituição alheia partici-
somadas as penas da violência. pando direitamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar,
no todo ou em parte, por quem a exerça.
Atenção! O emprego de violência ou grave ameaça para
praticar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso Obs.1: o rufianismo diverge da facilitação da prostituição
será estupro. O parágrafo 2º será para forçar a vítima a fazer com o fim de lucro porque nesta o agente induz a vítima a
sexo por telefone, uma strip tease. ingressar no campo da prostituição, enquanto naquela o
agente visa a obtenção de vantagem econômica de forma
7) Consumação: quando a vítima assume a vida de reiterada tirando proveito de quem exerce a prostituição.
prostituta colocando-se a disposição para comércio. Na
modalidade de impedimento o crime é permanente. Obs.2: são as pessoas que gerenciam encontros, “em-
8) Como afirma o art. 232 do CP se decorrer morte ou presariam” mulheres.
lesão grave o crime será qualificado. As formas de violência
presumida, do art. 224, também ser aplicam, salvo se menor Obs.3: o agente deve receber porcentagem no preço do
de 14 anos que se aplicará o art. 244 A do ECA. comércio sexual.

Casa de Prostituição 2) Objetividade jurídica: regramento e a moralidade da


vida sexual.
Código Penal 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, 5) Elemento subjetivo: dolo.
estabelecimento em que ocorra exploração sexual, 6) Consumação: o crime é habitual e se consuma com a
haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do reiteração das condutas.
proprietário ou gerente: 7) Tentativa: inadimissível.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Tráfico Internacional de Pessoas
1) Conduta: manter por conta própria ou de terceiro,
casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no territó-
libidinoso, haja ou não intuito de lucro ou mediação direta rio nacional, de alguém que nele venha a exercer a
do proprietário ou gerente. prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou
a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro.
Obs.1: casa de prostituição é o imóvel onde as prostitutas Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
permanecem a espera de seus clientes. §  1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar,
aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como,
Obs.2: a conduta exige habitualidade, ou seja, que o tendo conhecimento dessa condição, transportá-la,
agente conserve o local de forma a permitir reiteração de transferi-la ou alojá-la.
atos. Uma só ação não tipifica o ato. § 2º A pena é aumentada da metade se:
I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
2) Objetividade jurídica: regramento e a moralidade da II – a vítima, por enfermidade ou deficiência mental,
Noções de Direito Penal

vida sexual. não tem o necessário discernimento para a prática


3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. do ato;
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa. III – se o agente é ascendente, padrasto, madrasta,
5) Elemento subjetivo: dolo. irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
6) Consumação: com a reiteração do ato. Crime habitual. curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se
7) Tentativa: incabível nos crimes habituais. assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuida-
8) A prostituta que mantém o lugar e explora sozinha o do, proteção ou vigilância; ou
comércio carnal não comete crime. IV  – há emprego de violência, grave ameaça ou
9) O tipo penal abrange o dono do local, o gerente, os em- fraude.
pregados quer façam mediação para o atendimento ou não. § 3º Se o crime é cometido com o fim de obter van-
10) Se a exploração for de menor – art 244-A do ECA. tagem econômica, aplica-se também multa.

113
1) Conduta: promover, intermediar ou facilitar a entrada, 1) Conduta: praticar ato obsceno em lugar público ou
no território nacional, de pessoas que venha exercer a pros- aberto ou exposto ao público.
tituição ou a saída de pessoas para exercê-la no estrangeiro.
Obs.1: ato obsceno é o ato revestido de sexualidade e que
Obs.: o fim de lucro não é requisito para existência do fere o sentimento médio de pudor, por exemplo, exposição
crime. de órgãos sexuais, dos seios, das nádegas, prática de ato
libidinoso em local público. O ato obsceno deve ser praticado
2) Objetividade jurídica: regramento e a moralidade da em: local público (ruas, praças, praia), local aberto ao público
vida sexual. (onde qualquer pessoa pode entrar ainda que tenha que
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. pagar, como: cinema, teatro, estádio de futebol), exposto ao
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
público (local privado, mas que pode ser visto por número
5) Elemento subjetivo: dolo.
indeterminado de pessoas que passem pelas proximidades,
6) Consumação: com a entrada e saída de pessoas do
território nacional. Não se exige o efetivo exercício da pros- como por exemplo: janelas abertas, varanda, terreno baldio,
tituição, bastando a sua intenção. interior de automóvel).
7) Tentativa: é possível, por exemplo, pessoa é presa ao
tentar embarcar. Obs.2: não há crime se o ato é praticado em local escuro
ou afastado, que não puder ser normalmente visto por
Tráfico Interno de Pessoas pessoas.

Código Penal 2) Objetividade jurídica: moralidade pública.


3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
alguém dentro do território nacional para o exercício 5) Elemento subjetivo: dolo.
da prostituição ou outra forma de exploração sexual: 6) Consumação: com a prática do ato, ainda que não
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. seja presenciado por ninguém, mas desde que pudesse sê-
§  1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, -lo,ainda quando o assistente não se sente ofendido.
aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, as- 7) Tentativa: impossível por não se poder fracionar a
sim como, tendo conhecimento dessa condição, conduta.
transportá-la, transferi-la ou alojá-la.
§ 2º A pena é aumentada da metade se: Escrito ou Objeto Obsceno
I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
II – a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, Código Penal
não tem o necessário discernimento para a prática
do ato;
III – se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, Art. 234. Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição
curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura,
assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuida- estampa ou qualquer objeto obsceno:
do, proteção ou vigilância; ou Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
IV  – há emprego de violência, grave ameaça ou ou multa.
fraude. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
§ 3º Se o crime é cometido com o fim de obter van- I – vende, distribui ou expõe à venda ou ao público
tagem econômica, aplica-se também multa. qualquer dos objetos referidos neste artigo;
II – realiza, em lugar público ou acessível ao público,
1) Conduta: promover ou facilitar o deslocamento de representação teatral, ou exibição cinematográfica
alguém dentro do território nacional para o exercício da de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo,
prostituição ou outra forma de exploração sexual. que tenha o mesmo caráter;
2) Objetividade jurídica: regramento e a moralidade da III – realiza, em lugar público ou acessível ao públi-
vida sexual. co, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. obsceno.
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
5) Elemento subjetivo: dolo. 1) Conduta: fazer, importar, exportar, adquirir ou ter
6) Consumação: com o deslocamento de pessoas no sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou
território nacional. Não se exige o efetivo exercício da pros-
exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou
tituição, bastando a sua intenção.
7) Tentativa: é possível, por exemplo, pessoa é presa ao qualquer ao obsceno.
tentar embarcar. 2) Objetividade jurídica: moralidade pública.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Art. 232. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 7/8/2009) 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
Noções de Direito Penal

5) Elemento subjetivo: dolo.


Do Ultraje Público ao Pudor 6) Consumação: com a prática da conduta, independen-
temente da efetiva ofensa à moral pública.
Ato Obsceno 7) Nos incisos I, II, III temos figuras equiparadas puni-
das com a mesma pena – quem comercializa os objetos
Código Penal
mencionados apresentam ao público peça teatral ou filmes
Art. 233. Praticar ato obsceno em lugar público, ou cinematográficos de caráter obsceno ou realiza audição
aberto ou exposto ao público: ou declamação obscenas em local público ou acessível ao
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, público. (nos dias atuais não tem havido repressão a esta
ou multa. infração, por exemplo, donos de cinema e bancas de jornal).

114
DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA Associação Criminosa

Incitação ao Crime Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para


o fim específico de cometer crimes: Pena – reclusão,
Código Penal de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se
Art. 286. Incitar, pubicamente, a prática de crime: a associação é armada ou se houver a participação
Pena – detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou de criança ou adolescente.
multa.
1) Conduta: associarem-se três ou mais pessoas para o
1) Conduta: incitar, pubicamente, a prática de crime.
fim de cometer crimes.
Obs.1: deve ser praticada em público, ou seja, na presen- Obs. 1: a Lei nº 12.850/2013 modificou o art. 288 do CP: o
ça de um número elevado de pessoas, e que o agente induza crime de quadrilha passou a se chamar associação criminosa,
grande número de pessoas a praticar crime determinado, alterou-se o número mínimo de agentes para prática do deli-
uma vez que induzir uma pessoa a prática de um crime será to de 4 (quatro) para 3 (três) e a causa de aumento de pena
participação no delito efetivamente praticado. não será apenas para agentes armados, mas também quando
houver a participação de crianças ou adolescentes, sendo
Obs.2: se incitar a prática de contravenção penal não este aumento, agora de até a metade e não mais o dobro.
há crime.
Obs. 2: trata-se de crime de concurso necessário, pois de-
2) Objetividade jurídica: a paz pública. pende da união de pelo menos 3 pessoas. A Lei nº 12.350/2013,
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. em seus arts. 1º e 2º, define o crime de organização criminosa
4) Sujeito passivo: a coletividade.
e exige o número mínimo de 4 (quatro) participantes para a
5) Elemento subjetivo: o dolo.
6) Consumação: com a simples incitação. É crime for- sua configuração.
mal que dispensa a efetiva prática de crime pelas pessoas
incitadas. Obs. 3: o fato de um dos envolvidos ser menor de idade
7) Tentativa: é possível. ou não ter sido identificado no caso concreto não afasta
8) Ação Penal: pública incondicionada. o crime. Da mesma forma não descaracteriza o crime de
associação criminosa o fato de os componentes não se co-
Apologia de Crime ou Criminoso nhecerem.

Código Penal Obs. 4: diferencia-se do concurso de pessoas, pois na as-


sociação criminosa as pessoas se reúnem de forma estável e
Art. 287. Fazer, publicamente, apologia de fato cri- visam cometer número indeterminado de crimes, no concur-
minoso ou de autor de crime: so de pessoas, as pessoas se juntam de forma momentânea
Pena – detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou para praticar um crime determinado.
multa.

1) Conduta: fazer, publicamente, apologia de fato crimi- Obs. 5: o crime de associação criminosa é autônomo em
noso ou de autor de crime. relação aos delitos que venham a ser praticados por seus
integrantes, havendo concurso material entre o crime de
Obs. 1: apologia significa defender, justificar, exaltar, associação criminosa e os demais efetivamente praticados
aprovar ou elogiar de maneira a incentivar direta ou indire- pelo grupo. Assim, se uma determinada associação criminosa
tamente a repetição da ação delituosa, ou ainda, o próprio se formou para praticar roubos a bancos, e efetivamente
autor do crime em função do delito que cometeu. roubaram cinco bancos, seus componentes responderão
pelo crime de associação criminosa e por cinco roubos, em
Obs. 2: a apologia deve ser feita em público, atingindo concurso material, ou seja, serão somadas as penas de todos
número indeterminado de pessoas. os crimes.
2) Objetividade jurídica: a paz pública. 2) Objetividade jurídica: a paz pública.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Número mínimo de 3
4) Sujeito passivo: a coletividade.
5) Elemento subjetivo: o dolo. pessoas. Crime de concurso necessário.
6) Consumação: com a exaltação feita em público, in- 4) Sujeito passivo: a coletividade.
dependentemente de qualquer outro resultado. É crime de 5) Elemento subjetivo: o dolo.
mera conduta. 6) Consumação: no momento em que se verifica a as-
Noções de Direito Penal

7) Tentativa: é possível de forma escrita. sociação de pelo menos 3 pessoas, independentemente da


8) Ação Penal: pública incondicionada. prática de qualquer crime. Trata-se de crime permanente, ou
seja, aquele em que a consumação se prolonga no tempo.
Atenção! Não confundir: Assim, a qualquer tempo é possível a ocorrência de prisão
em flagrante.
Incitação ao Crime Apologia de Crime ou Cri-
minoso Atenção: mesmo que um dos integrantes se retire do
Incitar, pubicamente, a prá- Fazer, publicamente, apolo- grupo não havendo mais o número necessário de 3 pessoas,
tica de crime. gia de fato criminoso ou de o crime já se consumou, e a associação criminosa deixou
autor de crime. de existir.

115
7) Tentativa: é impossível pois, ela é um ato preparatório • Dos Crimes Praticados por Particulares Contra a Ad-
para prática de outros crimes. ministração em Geral – arts. 328 a 337-A do CP.
8) Ação Penal: pública incondicionada. • Dos Crimes Contra a Administração da Justiça –
9) Causa de aumento de pena: a pena será aumentada arts. 338 a 359 do CP.
de até a metade se a associação criminosa é armada ou se • Dos Crimes Contra as Finanças Públicas – arts. 359-A
houver a participação de criança ou adolescente. a 359-H do CP.

Obs.: basta que um dos integrantes da associação crimi- Dos Crimes Praticados por Funcionário Público
nosa esteja armado e guarde relação com os fins criminosos
do grupo, podendo ser arma própria ou imprópria. Contra a Administração em Geral – Arts. 312 a 327

10) Qualificadora: o art. 8° da Lei nº 8.72/1990 prevê uma Os delitos previstos neste capítulo (arts. 312 a 326) so-
circunstância qualificadora que eleva a pena de reclusão de mente podem ser praticados de forma direta por funcionário
3 a 6 anos, quando a associação tiver por fim a prática de público, razão pela qual são chamados de crimes funcionais.
crimes hediondos ou equiparados. São, portanto, crimes próprios, pois exigem uma qualidade
11) O art. 8°, parágrafo único, prevê a figura da delação especial do sujeito ativo.
premiada, com a consequente diminuição da pena: inte- Os crimes funcionais podem ser:
grante da associação criminosa e denúncia eficaz, a qual • Próprios: são aqueles cuja exclusão da qualidade
possibilite o desmantelamento da associação. de funcionário público torna o fato atípico (prevari-
cação).
Constituição de Milícia Privada • Impróprios: excluindo-se a qualidade de funcionário
público ocorrerá a desclassificação para crime de outra
Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou natureza (peculato).
custear organização paramilitar, milícia particular,
grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar O funcionário público é denominado intraneus. O não
qualquer dos crimes previstos neste Código. funcionário público é chamado extraneus.
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. O condenado por qualquer crime contra a administração
pública (contido no Título XI da Parte Especial) terá a pro-
Obs.: crime acrescentado pela Lei nº 12.720/2012, com a gressão de regime no cumprimento da pena condicionada à
finalidade de endurecer as consequências jurídicas no com- reparação do dano que causou, ou à devolução do produto
bate aos grupos de extermínio e milícias privadas. do ilícito praticado, com os acréscimos legais (art. 33, § 4º).
Caso contrário cumprirá a pena integral no regime em que
1) Conduta: constituir, organizar, integrar, manter ou foi condenado.
custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou
esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes
Conceito de Funcionário Público
previstos no Código Penal.

Obs.: Organização paramilitar – associação civil com es- Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
trutura, armas e organizações militares, sem sê-la. Milícia quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exer-
particular – grupo de pessoas civis ou não, com o fim de ce cargo, emprego ou função pública (art. 327).
devolver a paz em determinada região, costumeiramente, São funcionários públicos para efeitos penais: Presiden-
carente. Tal controle é mediante violência e ignora as ações te da República, Prefeitos, Deputados, Vereadores, Juízes,
estatais. Grupo ou esquadrão – matadores ou justiceiros Promotores de Justiça, Delegados de Polícia, serventuários
que praticam a matança de pessoas por eles consideradas das instituições públicas etc.
marginais e perigosos.
Funcionário Público por Equiparação
2) Objetividade jurídica: a paz pública.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Crime de concurso Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
necessário. emprego ou função em entidade paraestatal (empresa
4) Sujeito passivo: a coletividade. pública e sociedade de economia mista, segundo o Direito
5) Elemento subjetivo: o dolo. Administrativo, mas para o Direito Penal inclui a fundação
6) Consumação: no momento em que se verifica a cons- pública e a autarquia), e  quem trabalha para empresa
tituição, organização, manutenção ou custeio da milícia. prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
Trata-se de crime permanente, ou seja, aquele em que a execução de atividade típica da Administração Pública,
consumação se prolonga no tempo. Assim, a qualquer tempo CEB, CAESB, Brasil Telecon, (art. 327, § 1º). Ex.: médico
é possível a ocorrência de prisão em flagrante. de hospital particular credenciado pelo SUS (STJ, REsp.
Noções de Direito Penal

7) Tentativa: é impossível, pois ela é um ato preparatório nº 331.055).


para prática de outros crimes.
8) Ação Penal: pública incondicionada. Aumento de Pena

Crimes Contra a Administração A pena será aumentada da terça parte quando os au-
Pública tores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes
de cargos em comissão ou de função de direção ou asses-
O estudo destes crimes é dividido da seguinte forma: soramento de órgão da administração direta, sociedade de
• Dos Crimes Praticados por Funcionário Público Contra economia mista, empresa pública ou fundação instituída
a Administração em Geral – arts. 312 a 327 do CP. pelo poder público.

116
Peculato 10) Não há crime na conduta de usar serviço ou mão de
obra pública, restando configurado tão somente a conduta
O crime de Peculato classifica-se em: de improbidade administrativa, salvo se o funcionário público
a) Peculato Doloso – Peculato-apropriação, Peculato- for Prefeito, tendo em vista a previsão de crime específico
-desvio, Peculato-furto, Peculato mediante erro de outrem; para este caso no Decreto-Lei nº 201/1967, art. 1º, II.
b) Peculato Culposo.
Peculato-Desvio
Peculato-Apropriação
Código Penal
Código Penal
Art. 312. [...] ou desviá-lo, em proveito próprio ou
Art.  312. Apropriar-se o funcionário público de di- alheio:
nheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
ou particular, de que tem a posse em razão do cargo.
[...] 1) Conduta: funcionário público desvia, em proveito pró-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. prio ou alheio, dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo.
1) Conduta: apropriar-se o funcionário público de dinhei-
ro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, Obs. 1: desviar significa alterar o destino. Sempre que
de que tem a posse em razão do cargo, em proveito próprio para desviar a coisa houver a necessidade de primeiro se
ou alheio (art. 312, 1ª parte). apropriar dela, o crime será de peculato apropriação e o
desvio é um exaurimento do crime.
Obs. 1: apropriar-se significa passar a se comportar
como se fosse dono. Ter a posse em razão do cargo abrange Obs. 2: se o desvio não foi em proveito próprio ou de
a detenção e a posse indireta. A posse deve ser obtida de terceiro, mas sim da própria Administração, haverá crime de
forma lícita. emprego irregular de verbas ou rendas públicas (art. 315
do CP).
Obs. 2: assim, os  requisitos para prática do crime em
Obs. 3: assim, os  requisitos para prática do crime em
tela são:
tela são:

– Funcionário Público;
– Funcionário público;
– Apropria-se de bem público ou particular que está sob
a custódia da Administração Pública; – Desviar bem público ou particular que está sob a custó-
dia da Administração Pública;
– Bem este de que tem a posse lícita em razão do cargo
que exerce. – Bem este de que tem a posse lícita em razão do cargo
que exerce.
2) Objeto jurídico: o patrimônio público ou particular e
2) Objeto jurídico: o patrimônio público ou particular e
a probidade administrativa.
a probidade administrativa.
3) Tipo subjetivo: o dolo. Exige também o elemento
3) Sujeito ativo: funcionário público. E o particular pode
subjetivo do tipo, contido na expressão “em proveito próprio
praticar este crime? Somente se estiver em concurso de pes-
ou alheio”. O proveito pode ser material ou moral, não se
soas com o funcionário público e conhecer desta elementar .
referindo apenas à vantagem econômica, porque o peculato 4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular
não é crime contra o patrimônio. quando o bem pertencer a este.
4) Sujeito ativo: funcionário público. E o particular pode 5) Tipo subjetivo: o dolo. Exige também o elemento
praticar este crime? Somente se estiver em concurso de pes- subjetivo do tipo, contido na expressão “em proveito próprio
soas com o funcionário público e conhecer desta elementar . ou alheio”.
5) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular 6) Consumação e tentativa: o crime se consuma no mo-
quando o bem pertencer a este. mento em que ocorre o desvio, pouco importando se a van-
6) Consumação e tentativa: o crime se consuma no tagem visada é conseguida ou não. A tentativa é admissível.
momento em que o agente inverte o título da posse, 7) Só há crime de peculato-desvio quando o objeto
comportando-se como dono. Ocorre a tentativa quando o material é fungível (agente que usa dinheiro público para
agente, por circunstâncias alheias a sua vontade, não con- comprar alguma coisa: o crime está consumado, mesmo que
Noções de Direito Penal

segue inverter o título da posse. depois o agente reponha o dinheiro aos cofres públicos).
7) O objeto material do peculato é o dinheiro, valor (tí- 8) Se o objeto material é infungível, não há crime, porque
tulos da dívida pública, apólices, ações) ou qualquer outro a lei não pune o mero uso.
bem móvel. Não existe peculato de bem imóvel. 9) O uso de bem público por funcionário público para fins
8) A lei tutela bem público ou particular que esteja sob particulares caracteriza ato de improbidade administrativa,
custódia da Administração. No último caso, o crime é cha- sendo, para fins penais, fato atípico (salvo se o funcionário
mado de peculato-malversação. público for Prefeito conforme o Decreto-Lei nº  201/1967,
9) Se a coisa particular não estiver sob a guarda ou cus- art. 1º, II).
tódia da Administração Pública e o funcionário público dela 10) Se o agente se apropriar do bem e após desviá-lo,
se apropriar, haverá crime de apropriação indébita. cometerá apenas o crime de peculato-apropriação.

117
Peculato-Furto punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a
pena imposta.
Código Penal
1) Conduta: o funcionário ao praticar uma conduta negli-
Art. 312. [...] gente, imperita ou imprudente contribui para a ocorrência
§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi- de crime praticado por outrem.
co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou
bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, Obs. 1: aqui há dois crimes: funcionário pratica peculato
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilida- culposo e o terceiro pode praticar crime doloso contra a
de que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Administração Pública ou contra o patrimônio.
Ex.: o porteiro da escola pública esquece (negligência)
1) Conduta: funcionário público que, embora não tendo a de trancar o colégio – Peculato Culposo. Um terceiro que
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para presencia a cena, adentra na escola e subtrai os computa-
que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se dores – crime doloso.
de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
Obs. 2: não há concurso de agente entre o funcionário
Obs. 1: o crime pode ser praticado em duas modalidades: e o terceiro, porque não há identidade de infração penal e
a) funcionário, valendo-se da facilidade que lhe propor- nem liame subjetivo.
ciona o cargo, pratica o peculato furto.
b) funcionário, valendo-se da facilidade que lhe propor- Obs. 3: assim, os  requisitos para prática do crime em
ciona o cargo, concorre para que terceiro subtraia. O funcio- tela são:
nário público deve colaborar dolosamente para a subtração.

Obs. 2: o peculato é impróprio porque o funcionário não – Funcionário público pratica uma conduta culposa;
tem a posse lícita do bem, apenas o fato de ser funcionário – Terceiro pratica crime doloso, aproveitando-se da faci-
lhe favorece para a prática do crime. lidade provocada pelo funcionário público;
– Não há concurso de pessoas entre o funcionário e o
Obs. 3: subtrair significa furtar, tirar, desapossar com terceiro.
ânimo de assenhoramento definitivo.
2) Objeto jurídico: o patrimônio público ou particular e
Obs. 4: assim, os  requisitos para prática do crime em a probidade administrativa.
tela são: 3) Sujeito ativo: funcionário público.
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular
– Funcionário público; quando o bem pertencer a este.
5) Tipo subjetivo: a culpa.
– Subtrair ou concorrer para a subtração de bem público
6) Consumação e tentativa: o crime de peculato culposo
ou particular que está sob custódia da Administração
Pública, em razão do cargo que ocupa; se consuma no momento em que se consuma o crime doloso
praticado pelo terceiro. Se o crime doloso for apenas tentado
– Bem este de que não tem a posse lícita.
não há que se falar em peculato culposo, tendo em vista que
a tentativa de crime culposo é inadmissível
2) Objeto jurídico: o patrimônio público ou particular e
7) No caso de peculato culposo, a reparação do dano
a probidade administrativa.
3) Sujeito ativo: funcionário público. E o particular pode antes do trânsito em julgado da sentença extingue a puni-
praticar este crime? Somente se estiver em concurso de pes- bilidade; após o trânsito em julgado, a reparação reduz de
soas com o funcionário público e conhecer desta elementar . metade a pena imposta (art. 312, § 3º). Inédito, reduzir a
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular pena depois de prolatada a sentença.
quando o bem pertencer a este. 8) No peculato doloso, a reparação do dano reduz a pena
5) Tipo subjetivo: o dolo. Exige também o elemento de um a dois terços, se antecede o recebimento da denúncia
subjetivo do tipo, contido na expressão “em proveito próprio (arrependimento posterior – art. 16), ou atenua a pena, se
ou alheio”. antecede a sentença (atenuante – art. 65, III, b).
6) Consumação e tentativa: o crime se consuma da 9) Se o funcionário público pratica uma conduta culposa
mesma forma que o furto, ou seja, com a posse do objeto que vem a gerar um prejuízo ao erário, sem que resulte na
material por curto período de tempo, sendo desnecessária ocorrência de um crime doloso praticado por terceiro, o fato
a posse tranquila do bem subtraído por parte do agente. será atípico. Ex.: porteiro de escola pública esquece a janela
A tentativa é admissível. aberta e naquela noite chove intensamente inundando a sala
em que se encontram os computadores.
Noções de Direito Penal

Peculato Culposo
Peculato mediante Erro de Outrem (ou Peculato
Código Penal Estelionato)

Art. 312. [...] Código Penal


§ 2º Se o funcionário concorre culposamente para o
crime de outrem: Art. 313. Apropriar-se de dinheiro ou qualquer uti-
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. lidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do de outrem:
dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

118
1) Conduta: apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilida- 5) Tipo subjetivo: o dolo.
de que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem. 6) Consumação e tentativa: com a inserção ou exclusão
Obs. 1: Tipo objetivo: apropriar-se significa fazer sua indevida.
coisa que pertence a outrem. É chamado de peculato-
-estelionato, pois o terceiro entrega um bem ao agente Modificação ou Alteração não Autorizada no Sistema
por estar em erro. O erro do terceiro é espontâneo, não é de Informações
provocado pelo agente.
Código Penal
Obs. 2: o objeto material é dinheiro ou qualquer coisa
móvel de valor econômico. Art.  313-B. Modificar ou alterar, o  funcionário,
sistema de informações ou programa de informá-
Obs. 3: o recebimento da coisa deve decorrer em razão tica sem autorização ou solicitação de autoridade
do exercício do cargo. competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
Obs. 4: assim, os  requisitos para prática do crime em e multa.
tela são: Parágrafo único. As  penas são aumentadas de um
terço até a metade se da modificação ou alteração
– A vítima entrega espontaneamente e erroneamente o resulta dano para a Administração Pública ou para
bem ao funcionário público; o administrado.
– O funcionário público recebe o bem de boa-fé e em
razão do cargo; 1) Conduta: o funcionário público não autorizado a
operar no sistema informatizado da Administração Pública,
– Após estar na posse do bem, percebe o erro e apropria-se
do bem. acaba por modificar ou alterar informações sem autorização
ou solicitação de autoridade.
2) Objeto jurídico: o patrimônio público ou particular e
a probidade administrativa. Obs. 1: a conduta pode ser praticada de duas formas:
3) Sujeito ativo: funcionário público. E o particular pode a) modificar informações;
praticar este crime? Somente se estiver em concurso de pes- b) alterar informações.
soas com o funcionário público e conhecer desta elementar .
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular Obs. 2: este crime se difere do crime anterior, tendo
quando o bem pertencer a este. em vista que a conduta prevista no art. 313-A é praticada
5) Tipo subjetivo: o dolo. por funcionário público autorizado a operar no sistema
6) Consumação e tentativa: com a apropriação do bem, informatizado da Administração Pública, já no presente
que ocorre no momento em que o agente, tomando conhe- artigo, a conduta é praticada por funcionário público não
cimento do erro e torna a coisa sua. A tentativa é admissível. autorizado a operar em tal sistema.
7) Se o agente induziu ou manteve a vítima em erro,
o crime é de estelionato. 2) Objeto jurídico: a probidade administrativa.
3) Sujeito ativo: funcionário público não autorizado a
Inserção de Dados Falsos em Sistema de Informação operar no sistema informatizado da Administração Pública.
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular
Código Penal se este vier a ser prejudicado.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autori- 6) Consumação e tentativa: com a modificação ou alte-
zado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir ração indevida.
indevidamente dados corretos nos sistemas infor-
matizados ou bancos de dados da Administração Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou
Pública com o fim de obter vantagem indevida para Documento
si ou para outrem ou para causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Código Penal

1) Conduta: o funcionário público autorizado a operar no Art. 314. Extraviar livro oficial ou qualquer documen-
sistema informatizado ou no banco de dados da Administra- to, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo
ção Pública, acaba por inserir ou facilitar a inserção de dados ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
falsos, ou ainda excluir indevidamente dados verdadeiros, Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, se o
sempre com o fim de obter uma vantagem indevida. fato não constitui crime mais grave.
Noções de Direito Penal

Obs.: a conduta pode ser praticada de três formas:


a) inserir dados falsos; 1) Conduta: o funcionário público em razão do cargo que
b) facilitar a inserção de dados falsos; ocupa extravia, sonega ou inutiliza livro oficial ou qualquer
c) excluir dados verdadeiros. outro documento.
Obs. 1: a conduta pode ser praticada de três formas:
2) Objeto jurídico: a probidade administrativa. a) extraviar: desaparecer;
3) Sujeito ativo: funcionário público autorizado a operar b) sonegar: ocultar;
no sistema informatizado da Administração Pública. c) inutilizar: tornar imprestável.
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular
se este vier a ser prejudicado. 2) Objeto jurídico: a probidade administrativa.

119
3) Sujeito ativo: funcionário público. § 2º Se o funcionário desvia, em proveito próprio
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular ou de outrem, o que recebeu indevidamente para
nos casos em que este tenha o documento sob a guarda da recolher aos cofres públicos:
Administração. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
6) Consumação e tentativa: com o extravio ou inutili- 1) Conduta: o funcionário público que EXIGE, para si ou
zação, bem como no caso de sonegação, no momento em para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
que o agente deveria fazer a entrega do documento ou livro função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
oficial e não o faz. indevida.
7) Princípio da subsidiariedade: a própria lei em seu Passemos a analisar as elementares do tipo penal:
preceito secundário estabelece que somente haverá o crime a) Exigir significa impor como obrigação, ordenar,
o fato não constituir um crime mais grave. aproveitando-se do temor de represálias a que fica cons-
8) Não confundir o crime em tela: com o previsto no trangida a vítima.
art. 356 do Código Penal, o qual descreve a conduta daquele b) A vantagem exigida tem que ser indevida, e não se
que inutiliza documento ou objeto de valor probatório que limita à vantagem de natureza patrimonial, pois não se trata
recebeu na qualidade de advogado ou procurador, bem como de crime contra o patrimônio.
previsto no art. 337 do Código Penal, o qual prevê a conduta c) É indispensável que o agente se valha da função que
do particular que subtrai ou inutiliza, total ou parcialmente, exerce ou vai exercer, ou que se prevaleça da autoridade
livro oficial, processo ou documento confiado à Administração. que possui ou vai possuir.
d) “Ainda que fora da função” – Não importa que esteja
Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas afastado da função pública, desde que se valha dela. Todavia,
a lei não abrange a pessoa exonerada ou demitida, caso em
Código Penal que irá praticar usurpação de função pública em concurso
formal com estelionato, por fato de fraude enganar o parti-
Art. 315. Dar às verbas ou rendas públicas aplicação cular. Aposentado não comete este crime porque não é mais
diversa da estabelecida em lei: funcionário público.
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. e) “Antes de assumi-la” – Engloba a pessoa que foi no-
meada, mas ainda
1) Conduta: o funcionário público que emprega verbas
ou rendas públicas em destinação diversa da prevista em lei. 2) Objetividade jurídica: o normal desenvolvimento dos
encargos funcionais, por parte da Administração Pública, e o
Obs. 1: para a ocorrência deste crime é necessária a patrimônio do particular.
existência de uma lei anterior que regule a destinação das 3) Sujeito ativo: o funcionário público.
verbas ou rendas públicas. 4) Sujeito passivo: o Estado e a pessoa contra quem é
dirigida a exigência.
Obs. 2: neste crime, o funcionário público não desvia ou 5) Tipo subjetivo: o dolo. Exige ainda o elemento subje-
se apropria das verbas ou rendas públicas, apenas a emprega tivo do tipo contido na expressão “para si ou para outrem”.
de forma diversa da previsão legal. Ex.: determinada verba 6) Consumação e tentativa: consuma-se no momento
deveria ser empregada para construção de determinada obra em que a exigência da vantagem chega ao conhecimento
pública e acaba sendo empregada em outra obra pública. da vítima. Sobrevém-se a percepção desta, ocorre o exauri-
mento. A tentativa é admissível, desde que a exigência não
2) Objeto jurídico: a regularidade da Administração seja verbal. CRIME FORMAL.
Pública. 7) Distingue-se da corrupção passiva (art. 317) porque
3) Sujeito ativo: funcionário público. nesta o agente solicita, recebe ou aceita a vantagem indevida,
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e a entidade enquanto que na concussão o funcionário público constran-
eventualmente prejudicada. ge, exige a vantagem indevida. Na corrupção passiva, a vítima
5) Tipo subjetivo: o dolo. visa obter benefício em troca da vantagem prestada, enquan-
6) Consumação e tentativa: com o efetivo emprego to que na concussão, temendo alguma represália, ela cede
irregular das verbas públicas. à exigência. Assim, a concussão descreve fato mais grave.

Concussão Concussão Corrupção Passiva


O agente EXIGE vantagem O agente SOLICITA vanta-
Código Penal indevida em razão do cargo. gem indevida em razão do
O que motiva a vítima a pagar cargo que ocupa. O  que
Art.  316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou
Noções de Direito Penal

a vantagem indevida é o te- motiva a vítima a pagar a


indiretamente, ainda que fora da função ou antes de mor de represália. Ex.: agente vantagem indevida é o fato
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: penitenciário exige propina dela também se beneficiar
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. de mãe de preso. Esta paga da situação. Ex.: policial so-
o valor requerido em razão licita propina de motorista
Excesso de exação do temor de represálias em que carregava seu filho de
§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribuição razão do cargo ocupado. 5 anos sem estar na cadei-
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan- rinha apropriada. O fato
do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou de o pai pagar a propina o
gravoso, que a lei não autoriza: beneficiará da multa que
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. não lhe será aplicada.

120
Excesso de Exação – art. 316, § 1º, do CP corrupção passiva, e o particular autor do crime de corrupção
ativa. Todavia, se o particular pagar a vantagem indevida
1) Conduta: exigir tributo ou contribuição social, que solicitada pelo funcionário público não há que se falar em
sabe ou devia saber indevido, ou quando devido emprega crime de corrupção ativa, somente de corrupção passiva.
na cobrança meio vexatório ou gravoso.
Corrupção Passiva Corrupção Ativa
Obs. 1: o crime pode ser praticado de duas maneiras:
a) Funcionário público exigir tributo ou contribuição so- Sujeito ativo  – funcionário Sujeito ativo – particular.
cial, que sabe ou devia saber indevido (cabendo as hipóteses público.
de dolo direito – saber se; ou dolo eventual – devia saber).
b) Funcionário público ao cobrar tributo ou contribui- Funcionário público SOLICI- Não há crime na conduta
ção social devida emprega na cobrança meio vexatório ou TA vantagem indevida. correspondente praticada
gravoso. pelo particular  – “pagar” a
vantagem indevida.
Obs. 2: em ambas as hipóteses o recolhimento indevido Funcionário público RECEBE Particular OFERECE vanta-
destina-se aos cofres públicos. vantagem indevida. gem indevida.
2) Objetividade jurídica: o normal desenvolvimento das Funcionário público ACEITA Particular PROMETE vanta-
cobranças de tributos. PROMESSA de vantagem gem indevida.
3) Sujeito ativo: o funcionário público. indevida.
4) Sujeito passivo: o Estado e a pessoa contra quem é
dirigida a exigência. Obs. 2: para a configuração da corrupção passiva não é
5) Tipo subjetivo: o dolo direto e eventual. imprescindível a ocorrência concomitante da corrupção ativa.
6) Consumação e tentativa: consuma-se com a exigência
indevida do tributo ou contribuição social, ou ainda com o Obs. 3: se em um mesmo fato o particular oferecer ou
emprego do meio vexatório na cobrança do tributo ou con- promoter vantagem indevida ao funcionário público e este
tribuição social devidos. receber ou aceitar tal promessa de vantagem indevida,
7) Quando o funcionário público desviar para si ou para estaremos diante da aplicação da exceção a teoria monista,
outrem o que recebe indevidamente o crime será qualifica- em que todos que contribuem para ocorrência de um crime
do – art. 316, § 2º, do CP. não irão responder pelo mesmo crime, sendo, portanto,
o funcionário público responsável pelo crime de corrupção
Corrupção Passiva passiva e particular pelo crime de corrupção ativa.

Código Penal 2) Objetividade jurídica: a moralidade administrativa e


o patrimônio do particular.
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, 3) Sujeito ativo: o funcionário público.
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou 4) Sujeito passivo: o Estado e a pessoa lesada, quando
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem não pratica o crime de corrupção ativa.
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: 5) Tipo subjetivo: o dolo. Exige ainda o elemento subje-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. tivo do tipo contido na expressão “para si ou para outrem”.
§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em con- 6) Consumação e tentativa: consuma-se com a solicita-
sequência da vantagem ou promessa, o funcionário ção ou recebimento da vantagem, ou com a aceitação da
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício promessa. Nas formas “receber” e “aceitar”, a tentativa é im-
ou o pratica infringindo dever funcional. possível, porque o crime é unissubsistente. CRIME FORMAL.
§  2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, Obs. 4: dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer
cedendo a pedido ou influência de outrem: outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa. ou intérprete para fazer afirmação falsa, negar ou calar a
verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou
1) Conceito: funcionário público que solicita ou recebe,
interpretação, dentro do processo: haverá o crime de falso
para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
testemunho ou falsa perícia.
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida, ou aceita promessa de tal vantagem.
Passemos a analisar as elementares do tipo penal: Causa de Aumento de Pena – Crime de Corrupção
a) Solicitar é pedir. Passiva
b) Receber é obter, adquirir, alcançar.
c) Aceitar é concordar, consentir, anuir ao futuro rece- A pena é aumentada de um terço, se, em consequência
bimento. da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa
Noções de Direito Penal

d) É indispensável que o agente se valha da função que de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo
exerce ou vai exercer. Não importa que esteja afastado da dever funcional.
função pública, desde que se valha dela.
e) A vantagem visada tem de ser indevida, e não se Corrupção Passiva Privilegiada
limita à vantagem de natureza patrimonial. Normalmente,
essa vantagem indevida tem a finalidade de fazer com que o Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda
funcionário público pratique ato ilegal ou deixe de praticar, ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a
de forma ilegal, ato que deveria praticar de ofício. pedido ou influência de outrem.
Nessa hipótese, o agente, ao invés de atuar no interesse
Obs. 1: se funcionário público atende ao oferecimento próprio, visando uma vantagem indevida para si ou para
ou promessa da vantagem indevida será autor do crime de outrem, cede a pedido ou influência de terceiro. Não há

121
vantagem indevida, apenas o funcionário público cede ao Resumão:
pedido de “dar um jeitinho” formulado pelo particular. Este,
por sua vez, não comete crime algum. Corrupção Passiva Corrupção Ativa
1) O crime é material, pois exige a ocorrência do resul-
tado. Sujeito ativo – funcionário Sujeito ativo – particular.
2) Não está solicitando nenhuma vantagem, apenas público.
atendendo ao pedido de terceiro ou influência do mesmo. Funcionário público SOLICITA Não há crime na conduta
vantagem indevida. correspondente praticada
Atenção! Não confundir: pelo particular – “pagar” a
vantagem indevida.
1) Corrupção Passiva – Solicitar, receber ou aceitar pro- Funcionário público RECEBE Particular OFERECE vanta-
messa de vantagem indevida. vantagem indevida. gem indevida.
2) Corrupção Passiva com Causa de Aumento de Pena – Se Funcionário público ACEITA Particular PROMETE vanta-
o funcionário público em consequência da vantagem PROMESSA de vantagem in- gem indevida.
indevida retarda ou deixa de praticar qualquer ato de devida.
ofício ou o pratica infringindo dever funcional. A pena é aumentada de um A pena é aumentada de um
3) Corrupção Passiva Privilegiada – Se o funcionário terço, se, em consequência terço, se, em consequência
pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, da vantagem ou promessa, da vantagem ou promessa,
com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou o funcionário retarda ou deixa o funcionário retarda ou
influência de outrem. de praticar qualquer ato de deixa de praticar qualquer
ofício ou o pratica infringindo ato de ofício ou o pratica in-
Corrupção Ativa dever funcional. fringindo dever funcional.
Se o funcionário pratica, deixa O particular que realiza o
Código Penal de praticar ou retarda ato de pedido, não pratica crime
ofício, com infração de dever algum.
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida funcional, cedendo a pedido
a funcionário público, para determiná-lo a praticar, ou influência de outrem.
omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Facilitação de Contrabando ou Descaminho
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço,
se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário Código Penal
retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo
dever funcional. Art. 318. Facilitar, com infração de dever funcional,
a prática de contrabando ou descaminho:
1) Conduta: oferecer ou prometer vantagem indevida a Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou
retardar ato de ofício. 1) Conduta: funcionário público que facilita a prática do
contrabando ou descaminho.
Obs. 1: aplicação da teoria monista: funcionário público
responde por corrupção passiva e particular por corrupção Obs. 1: diferença ente contrabando e descaminho.
ativa. a) Contrabando – Mercadoria ilícita, ou seja, que não
possui autorização para ser comercializada no país;
2) Sujeito ativo: particular. b) Descaminho – Mercadoria lícita, a qual possui autoriza-
3) Sujeito passivo: a Administração Pública. ção para ser comercializada no país. Todavia, o seu ingresso
4) Consumação: com a oferta ou promessa. CRIME ocorre de forma ilegal, tendo em vista o não pagamento dos
FORMAL. tributos referentes a tal ingresso.
Obs. 2: se o particular pedir para o funcionário “dar um
Obs. 2: a conduta é praticada por um funcionário público
jeitinho”, sem haver o oferecimento de vantagem indevida,
que facilita a entrada de mercadorias oriundas de contra-
não há crime de corrupção ativa, somente o crime de cor-
rupção passiva privilegiada. bando ou descaminho, todavia tal facilitação deve infringir
o dever funcional.
Particular pede para o fun- O funcionário público ce- 2) Objetividade jurídica: Administração Pública.
cionário “dar um jeitinho”, dendo ao pedido de “dar 3) Sujeito ativo: o funcionário público que facilita a en-
sem haver o oferecimento um jeitinho”, formulado trada de mercadorias infringindo o dever funcional.
Noções de Direito Penal

de vantagem indevida, não pelo particular, e acaba por


4) Sujeito passivo: o Estado.
há crime de corrupção ativa. praticar, deixar de praticar ou
5) Tipo subjetivo: o dolo. Não há elemento subjetivo.
retardar ato de ofício, pratica
o crime de corrupção passiva 6) Consumação e tentativa: consuma-se com a facilitação
privilegiada. para entrada das mercadorias oriundas de contrabando ou
descaminho. CRIME FORMAL.
Obs. 3: causa de aumento de pena do crime de corrupção 7) O crime é de ação penal pública incondicionada e
passiva: a pena é aumentada de um terço, se, em consequên- será processado perante a Justiça Federal.
cia da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa 8) Em caso de entrada de drogas ou armas, incide o
de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo princípio da especialidade, aplicando-se a lei de drogas e
dever funcional. o estatuto do desarmamento.

122
.
9) O agente do contrabando ou descaminho que tem Código Penal
facilitada a entrada de sua mercadoria pela conduta de um
funcionário público pratica o crime previsto nos arts. 134 Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou
e 134-A do CP. agente público, de cumprir seu dever de vedar ao
preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou si-
Prevaricação milar, que permita a comunicação com outros presos
ou com o ambiente externo:
Código Penal Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Art.  319. Retardar ou deixar de praticar, indevida- 1) Conduta: o Diretor de Penitenciária ou outro funcio-
mente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição nário público que deixando de cumprir o seu dever funcional
expressa de lei, para satisfazer interesse ou senti- permite ao preso o acesso a aparelhos telefônicos.
mento pessoal: 2) Objeto jurídico: segurança da Administração Pública.
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, 3) Sujeito ativo: funcionário público.
e multa. 4) Sujeito passivo: Estado e a sociedade como um todo.
5) Elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Não se exige o
1) Conduta: retardar ou deixar de praticar indevidamente elemento subjetivo específico.
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, 6) Consumação: com a omissão.
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
Obs.: a famosa “vista grossa”, que significa fingir não ver
Obs. 1: análise dos elementos do tipo penal: o aparelho circulando no estabelecimento penitenciário já é
a) Retardar, por exemplo, não expedir uma certidão; suficiente para configuração do crime.
b) Deixar de fazer – Conduta que deveria fazer, por exem-
plo, delegado não instaura Inquérito Policial; Condescendência Criminosa
c) Pratica ato contra disposição expressa na lei, por exem-
plo, delegado arquiva Inquérito Policial (somente Juiz pode Código Penal
arquivar Inquérito Policial a pedido do Ministério Público).
Art.  320. Deixar o funcionário, por indulgência, de
Obs. 2: o que motiva o funcionário público a praticar responsabilizar subordinado que cometeu infração no
ou deixar de praticar tais atos de ofício é para satisfazer exercício do cargo ou, quando lhe falte competência,
interesse pessoal, como vingança, inveja, preguiça, prote- não levar o fato ao conhecimento da autoridade
ção. NESTE CRIME NÃO HÁ A OBTENÇÃO DE VANTAGEM competente:
INDEVIDA. Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês,
ou multa.
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública.
3) Sujeito ativo: funcionário público. 1) Conduta: funcionário público que deixa por indulgên-
4) Sujeito passivo: Estado e o particular eventualmente cia de responsabilizar subordinado que cometeu infração no
prejudicado. exercício do cargo quando possuir competência para tal ou
5) Elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Exige-se o quando lhe falte competência não levar o fato ao conheci-
elemento subjetivo específico consistente na vontade de mento da autoridade competente.
satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
6) Consumação: com a omissão ou retardo ou a realiza- Obs. 1: o crime pode ser praticado de duas maneiras:
ção do ato. CRIME FORMAL. a) funcionário público que deixa por indulgência de res-
7) Não se confunde com corrupção passiva, pois nesta o ponsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício
funcionário negocia seus atos visando vantagem indevida. do cargo quando possuir competência para tal;
8) Não se confunde com corrupção passiva privilegiada, b) funcionário público que deixa por indulgência de co-
pois nesta o agente atende a pedido ou influencia de outrem. municar à autoridade competente infração que subordinado
cometeu no exercício do cargo.
Prevaricação Corrupção Passiva com
Causa de Aumento de Pena Obs. 2: para a configuração deste crime, não há a neces-
sidade de que o subordinado seja sancionado pela infração
Deixa de praticar ato de ofí- Em consequência da vanta-
cometida, nem tampouco que o superior seja obrigado
cio ou pratica ato de ofício gem indevida ou promessa
a puni-lo. O que realmente deve ser levado em conta é o
contra disposição expres- de tal vantagem, o funcioná-
cumprimento do dever funcional do superior em apurar a
sa de lei, para satisfazer rio retarda ou deixa de prati-
responsabilidade do subordinado pela infração, em tese, que
interesse ou sentimento car qualquer ato de ofício ou
praticou no exercício do cargo.
pessoal. o pratica infringindo dever
Noções de Direito Penal

funcional.
Obs. 3: o que a move omissão do funcionário público em
apurar a falta de seu subordinado é a indulgência, ou seja,
Prevaricação Corrupção Passiva o sentimento de piedade.
Privilegiada
Deixar de praticar ato de O funcionário pratica, deixa Obs. 4: assim, se um fiscal adentra em um estabelecimen-
ofício ou praticar ato de de praticar ou retarda ato de to comercial e verifica que o mesmo não possui condições
ofício contra disposição ex- ofício, com infração de dever mínimas de higiene para o regular funcionamento e mesmo
pressa de lei, para satisfazer funcional, cedendo a pedido assim deixa de aplicar uma multa, por sentir pena do pro-
interesse ou sentimento ou influência de outrem. prietário, qual crime terá praticado? Mesmo verificando que
pessoal. o que moveu a omissão do funcionário público foi o senti-

123
As
mento de indulgência, o  proprietário do estabelecimento Abandono de Função
comercial não é seu subordinado, não havendo que se falar
na ocorrência do crime de condescendência criminosa. Mas Código Penal
qual crime este fiscal praticou? No citado exemplo, não há
menção acerca do recebimento de vantagem indevida, o que Art.  323. Abandonar cargo público, fora dos casos
de pronto nos leva a descartar a hipótese do crime de cor- permitidos em lei:
rupção passiva. Todavia, o que motivou o funcionário público Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês,
foi um sentimento pessoal, tendo, portanto ele praticado o ou multa.
crime de prevaricação. § 1º Se do fato resulta prejuízo público:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
2) Objeto jurídico: moralidade da administração pública. e multa.
3) Sujeito ativo: funcionário público. § 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
4) Sujeito passivo: Estado. de fronteira:
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo de omissão, mo- Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
tivado pela indulgência. Se deixar de punir por vantagem
indevida será corrupção passiva. Se deixar de punir por 1) Conduta: abandonar cargo público fora dos casos
sentimento pessoal será prevaricação. permitidos em lei.
6) Consumação: quando o superior toma conhecimento
da infração e nada faz. Obs. 1: abandonar significa deixar o cargo por tempo
7) Tentativa: é inadmissível em crimes omissivos pró- juridicamente relevante. Falta eventual ou desleixo na rea-
prios. lização do serviço é apenas falta funcional punida na esfera
administrativa.
Advocacia Administrativa
Obs. 2: muito embora o nome do crime seja abandono de
Código Penal função, somente comete este delito aquele que ocupa cargo.

Art. 321. Patrocinar, direta ou indiretamente, interes- Obs. 3: o abandono por caso fortuito ou força maior não
se privado perante a administração pública, valendo- configuram crime (prisão, doença).
-se da qualidade de funcionário:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. 2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública.
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo: 3) Sujeito ativo: funcionário público que ocupa um cargo
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, público.
além da multa. 4) Sujeito passivo: Estado.
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo de abandonar.
1) Conduta: patrocinar, direta ou indiretamente, interes- 6) Consumação: com o abandono do cargo por tempo
se privado perante a Administração Pública, valendo-se da juridicamente relevante, ainda que não traga efetivo prejuízo
qualidade de funcionário. para Administração.
7) Tentativa: é inadmissível por se tratar de crime omis-
Obs. 1: o delito ocorre quando um funcionário público sivo próprio.
valendo-se de sua condição defende interesse alheio legítimo 8) Formas qualificadas: se do abandono resultar prejuízo,
ou ilegítimo perante a Administração. se o fato ocorrer em lugar compreendido na faixa de fronteira.

Obs. 2: não necessita ser na repartição que trabalha, Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou
podendo ser em outra e se valer de valendo da qualidade de Prolongado
funcionário público para obter privilégios (amizades, contatos).
Código Penal
Obs. 3: se estiver defendendo interesse próprio não há
Art. 324. Entrar no exercício de função pública antes de
crime.
satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la,
sem autorização, depois de saber oficialmente que foi
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública.
exonerado, removido, substituído ou suspenso:
3) Sujeito ativo: funcionário público. Apesar do nome
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês,
não necessita ser praticado por advogado.
ou multa.
4) Sujeito passivo: Estado.
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo. 1) Conduta: o crime pode ser praticado de duas formas:
6) Consumação: no ato de patrocinar interesse alheio. a) entrar no exercício de função pública antes de satis-
CRIME FORMAL. feitas as exigências legais;
7) Tentativa: é admissível. b) continuar a exercer a função pública, sem autorização,
Noções de Direito Penal

depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido,


Violência Arbitrária substituído ou suspenso.
Código Penal Obs. 1: analisaremos as elementares do tipo penal:
a) Entrar no exercício de função pública antes de satis-
Art. 322. Praticar violência, no exercício de função ou feitas as exigências legais – o agente já foi nomeado, mas,
a pretexto de exercê-la: ainda, não pode exercer legalmente a função por restarem
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, exigências a serem observadas, como, por exemplo, realiza-
além da pena correspondente à Violência.1 ção de exame médico ou a posse;
b) Continuar no exercício da função – deve o agente ter
1
Este dispositivo encontra-se revogado pela Lei nº 4.898/1965. sido comunicado oficialmente que foi exonerado, removido,

124
A
substituído ou suspenso. Deve ser pessoalmente, não bas- Crimes Praticados por Particulares Contra a
tando à publicação do Diário Oficial. Administração Pública – Arts. 328 a 337 do Cp
c) Não há crime continuar exercendo a função de está
de férias, licença ou aposentado, por falta de previsão legal. Usurpação de Função Pública
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública. Código Penal
3) Sujeito ativo: na primeira hipótese é o funcionário
público que foi nomeado e ainda não tomou posse. Na se- Art. 328. Usurpar o exercício de função pública:
gunda, o funcionário público que foi exonerado, removido, Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
substituído ou suspenso. e multa.
4) Sujeito passivo: Estado.
Parágrafo único. Se do fato o agente aufere vantagem:
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo de entrar ou continuar.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
6) Consumação: com a prática de ato inerente a função
pública. Crime material.
7) Tentativa: é admissível. 1) Conduta: usurpar o exercício da função pública.

Violação de Sigilo Profissional Obs. 1: usurpar significa desempenhar indevidamente


uma função pública. Ex.: executar atos de ofício sem que
Código Penal tenha sido aprovado em concurso público ou nomeado.

Art. 325. Revelar fato de que tem ciência em razão Obs. 2: o crime pode ser praticado tanto por particular
do cargo e que deva permanecer em segredo, ou como por um funcionário público, este em relação a uma
facilitar-lhe a revelação: função diversa a que ocupa.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
ou multa, se o fato não constitui crime mais grave. 2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública.
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: 3) Sujeito ativo: particular e funcionário que assume
I – permite ou facilita, mediante atribuição, for- indevidamente a função de outro.
necimento e empréstimo de senha ou qualquer 4) Sujeito passivo: Estado.
outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas 5) Elemento subjetivo do tipo: dolo. O agente deve ter
a sistemas de informações ou banco de dados da consciência de que está usurpando.
Administração Pública; 6) Consumação: prática de ato inerente à função usur-
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. pada.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Adminis- 7) Se da conduta obtém vantagem será usurpação qua-
tração Pública ou a outrem: lificada.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. 8) A simples conduta de se intitular funcionário público
perante terceiros sem praticar atos inerentes a função é
1) Conduta: o crime pode ser praticado de duas maneiras: contravenção penal. Ex.: rapaz afirma, falsamente, para moça
a) revelar fato de quem ciência em razão do cargo e que que é policial, no intuito de impressioná-la.
deva permanecer em segredo;
b) Facilitar a revelação de fato de quem ciência em razão Resistência
do cargo e que deva permanecer em segredo.
Código Penal
2) Objeto jurídico: sigilo das informações da Adminis-
tração Pública.
3) Sujeito ativo: funcionário público e particular que Art. 329. Opor-se à execução de ato legal, mediante
colabora com a divulgação em coautoria. O particular que se violência ou ameaça a funcionário competente para
limita a tomas conhecimento não pratica o delito. executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
4) Sujeito passivo: Estado e particular que sofre o pre- Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos.
juízo com a divulgação. § 1º Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo de revelar. Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
6) Consumação: no momento em que terceiro, que § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
não podia tomar conhecimento, passa a saber, seja outro das correspondentes à violência.
funcionário ou particular. CRIME FORMAL. Independe da
ocorrência do prejuízo. 1) Conduta: pode ser praticada de duas formas:
7) Subsidiariedade explícita: só haverá o presente crime a) opor-se a execução de ato legal, mediante violência
se o fato praticado não constituir crime mais grave, por exem- ou grave ameaça a funcionário competente para executá-lo;
plo, fraude a licitação, crime contra a segurança nacional b) opor-se a execução de ato legal, mediante violência
etc. Tal regra vem descrita no preceito secundário do crime. ou grave ameaça a quem esteja prestando auxílio ao fun-
cionário público.
Noções de Direito Penal

Violação do Sigilo de Proposta de Concorrência


Obs.: passemos a analisar algumas situações:
Código Penal a) há necessidade de ser funcionário competente para
aquela ordem;
Art.  326. Devassar o sigilo de proposta de concor- b) se empregada a violência ou grave ameaça contra
rência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo terceiro que auxilia o funcionário público haverá crime de
de devassá-lo:
resistência;
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
c) particular que efetuar prisão em flagrante e o preso
e multa2.
resistir, não haverá crime de resistência, pois não se trata de
2
Este dispositivo encontra-se revogado pela Lei nº 8.666/1993. funcionário público.

125
d) a violência deve ser empregada contra o funcionário 7) Princípio da Absorção: se a lei civil ou administrativa
público ou quem o acompanhe. Se contra a coisa, por exem- prevê sanção para condutas de desobediência, a norma
plo, viatura será crime de dano. penal não será aplicada, por exemplo, o Código de Trânsito
e) a resistência passiva, por exemplo, segurar em um Brasileiro prevê multa para quem desrespeitar a ordem de
poste para não ser conduzido não será crime. parada feita por um policial. Desta forma, tal conduta não
f) a violência e a ameaça devem ser usadas como meio será crime de desobediência.
de executar o crime. Se utilizadas após o ato, será crime de
ameaça ou lesão corporal. Desacato
g) se a violência for utilizada como fuga, será o crime de
evasão mediante violência. Código Penal
h) a ordem deve ser legal, em relação a seu conteúdo e
forma. Se ilegal a resistência não configura crime. Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício
da função ou em razão dela:
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, mesmo aquela diversa ou multa.
da ordem dirigida. Ex.: policial vai prender A e este o agride
ou policial vai prender A e B, amigo de A, indignado, agride 1) Conduta: pode ser praticada de duas formas:
o policial. a) desacatar funcionário público no exercício da função;
9) Sujeito passivo: Estado, funcionário público contra b) desacatar funcionário público em relação à sua função,
quem é dirigida a violência e eventualmente quem esteja apesar deste estar de folga.
auxiliando o funcionário público.
10) Elemento subjetivo do tipo: dolo. Obs. 1: desacatar significa humilhar, desprestigiar. A ofen-
11) Consumação: com o emprego da violência ou ame- sa pode ser praticada de várias formas: palavras, gestos,
aça. Crime formal. ameaças, vias de fato etc.
12) Se da violência ou ameaça o agente conseguir impedir
Obs. 2: algumas considerações:
a execução do ato, este será o exaurimento, e a forma quali-
a) a ocorrência do crime independe de o funcionário
ficada prevista no parágrafo primeiro deste artigo.
público se julgar ofendido ou não, pois o que a lei visa é a
13) Se da violência ocorrer lesão ou morte as penas
dignidade do cargo;
serão somadas, em concurso material de crimes, segundo
b) o crime deve ser praticado contra o funcionário pú-
o parágrafo segundo. blico no exercício de suas funções, ou seja, quando esteja
14) Se ocorrer apenas xingamento, será crime de desaca- trabalhando, ou se de folga, desde que a ofensa seja em
to. Se ocorrer violência, ameaça e xingamento será apenas relação a suas funções;
resistência, pois ao desacato ficará absorvido. c) não há necessidade que a ofensa seja feita cara a cara.
O agente pode ofender e o funcionário que está na sala ao
Desobediência lado ouvir;
d) o crime existe mesmo que o fato não seja presenciado
Código Penal por terceiro, pois não é requisito do crime a publicidade;
e) a ofensa feita a funcionário em sua ausência será o
Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário crime de injúria qualificada, por exemplo, a ofensa por meio
público: de carta ou e-mail;
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, f) exaltação de ânimos não exclui o crime. A embriaguez
e multa. somente se completa e proveniente de caso fortuito ou força
maior excluirá o crime.
1) Conduta: desobedecer a ordem legal de funcionário
público. 2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública
e do funcionário público ofendido.
Obs. 1: desobedecer significa não cumprir. 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Poderá também, se-
gundo a doutrina majoritária, ser praticado por um funcioná-
Obs. 2: requisitos para prática do delito: rio em relação a outro. E o advogado pode praticar o crime
1. deve haver uma ordem material e formalmente legal; de desacato quando estiver no exercício de suas funções?
2. deve ser emanada de funcionário competente. Ex.: de- Segundo o estatuto da OAB, ele é imune, mas o STF, afirma
legado não é competente para determinar quebra de sigilo; que ele pode praticar sim o crime de desacato.
3. o destinatário deverá ter o dever jurídico de cumprir 4) Sujeito passivo: Estado e funcionário ofendido.
a ordem. 5) Elemento subjetivo do tipo: dolo de desacatar.
6) Consumação: no momento da ofensa, independente-
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública. mente do funcionário público sentir-se ofendido.
Noções de Direito Penal

3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. E se o funcionário 7) Tentativa: não é possível pela impossibilidade de
publico deixar de cumprir ordem de outro funcionário no fragmentar o iter criminis.
exercício de suas funções? Sanção administrativa ou, depen-
dendo do caso, prevaricação. Se o funcionário não estiver no Tráfico de Influência
exercício de sua função poderá ser desobediência.
4) Sujeito passivo: Estado e o funcionário que proferiu a Código Penal
ordem.
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo. Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
6) Consumação: depende do conteúdo da norma. Se para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
determinar omissão, consuma-se no momento da ação; a pretexto de influir em ato praticado por funcionário
se determinar ação, consuma-se no momento da omissão. público no exercício da função:

126
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 1) Conduta: oferecer ou prometer vantagem indevida a
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou
o agente alega ou insinua que a vantagem é também retardar ato de ofício.
destinada ao funcionário.
Obs. 1: aplicação da teoria monista: funcionário público
1) Conduta: o crime pode ser praticado das seguintes responde por corrupção passiva e particular por corrupção ativa.
formas:
a) solicitar para si ou para outrem, vantagem ou promes- 2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública.
sa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por 3) Sujeito ativo: particular.
4) Sujeito passivo: o Estado.
funcionário público no exercício da função;
5) Consumação: com a oferta ou promessa. CRIME
b) exigir para si ou para outrem, vantagem ou promessa FORMAL.
de vantagem, a  pretexto de influir em ato praticado por
funcionário público no exercício da função; Obs. 2: se o particular pedir para o funcionário “dar um
c) cobrar para si ou para outrem, vantagem ou promes- jeitinho”, sem haver o oferecimento de vantagem indevida,
sa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por não há crime de corrupção ativa, somente o crime de cor-
funcionário público no exercício da função; rupção passiva privilegiada.
d) obter para si ou para outrem, vantagem ou promessa
de vantagem, a  pretexto de influir em ato praticado por Particular pede para o fun- O funcionário público cedendo
funcionário público no exercício da função. cionário “dar um jeitinho”, ao pedido de “dar um jeitinho”,
sem haver o oferecimento formulado pelo particular,
Obs. 1: o agente sob a alegação de possuir influência, de vantagem indevida, não e acaba por praticar, deixar
prestígio junto a Administração Pública, reclama vantagem há crime de corrupção de praticar ou retardar ato
de outrem a pretexto de exercer influência nos atos por ela ativa. de ofício, pratica o crime de
praticados. Assim, é a venda de suposta influência exercida corrupção passiva privilegiada.
pelo agente junto a Administração Pública. Na realidade o
agente não possui nenhuma influência. Seria a prática do cri- Obs. 3: causa de aumento de pena do crime de corrupção
me de estelionato, todavia, como para aplicação da suposta passiva: a pena é aumentada de um terço, se, em consequên-
fraude utiliza-se o nome da Administração Pública, o crime cia da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa
passa a ser o de tráfico de influência. Ex.: despachante alega de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo
possuir influência junto aos funcionários do Detran e solicita dever funcional.
vantagem da vítima a pretexto de fazer com que multas de
infração de trânsito não sejam cobradas; conduto, o despa- Resumão:
chante não conhece nenhum funcionário do Detran e acaba
por embolsar a vantagem indevida e as multas são cobradas. Corrupção Passiva Corrupção Ativa
Sujeito ativo  – funcionário Sujeito ativo – particular.
Obs. 2: agora se for verdade, ou seja, se o agente possuir público.
a tal influência que alega ter, estaremos diante do crime de
corrupção passiva ou ativa. Funcionário público SOLICI- Não há crime na conduta
TA vantagem indevida. correspondente praticada
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública. pelo particular  – “pagar” a
vantagem indevida.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: Estado. Funcionário público RECEBE Particular OFERECE vanta-
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo. vantagem indevida. gem indevida.
6) Consumação: quando o agente solicita, exige, cobra Funcionário público ACEITA Particular PROMETE vanta-
ou obtém a vantagem. PROMESSA de vantagem gem indevida.
7) Tentativa: é possível quando o crime é praticado por indevida.
escrito e esta carta se extravia. A pena é aumentada em um A pena é aumentada de um
8) A pena é aumentada quando o agente diz ou dá a terço, se, em consequência terço, se, em consequência
entender que a vantagem também é endereçada ao fun- da vantagem ou promessa, da vantagem ou promessa,
cionário público. o funcionário retarda ou o funcionário retarda ou
9) Se o agente exige vantagem para influir especificamen- deixa de praticar qualquer deixa de praticar qualquer
te em ralação ao Juiz, Ministério Público ou funcionários da ato de ofício ou o pratica ato de ofício ou o pratica
justiça, o crime será de exploração de prestígio previsto no infringindo dever funcional. infringindo dever funcional.
art. 357 do CP. Se o funcionário pratica, deixa O particular que realiza o
de praticar ou retarda ato de pedido não pratica crime
Corrupção Ativa ofício, com infração de dever algum.
Noções de Direito Penal

funcional, cedendo a pedido


Código Penal ou influência de outrem.

Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida Descaminho e Contrabando


a funcionário público, para determiná-lo a praticar,
omitir ou retardar ato de ofício: Código Penal
Pena – reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Descaminho
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento
se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída
retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo ou pelo consumo de mercadoria:
dever funcional. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

127
A
§ 1º Incorre na mesma pena quem: 7) Tentativa: é possível no caso de exportação, quando
I – pratica navegação de cabotagem, fora dos casos a mercadoria não chega a sair do país. Já no caso de impor-
permitidos em lei; tação, não há a hipótese da tentativa.
II – pratica fato assimilado, em lei especial, a des- 8) O crime é de ação penal pública incondicionada e será
caminho; processado perante a Justiça Federal.
III – vende, expõe à venda, mantém em depósito 9) O § 1º prevê várias figuras equiparadas: a) pratica
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou – a navegação de cabotagem tem a finalidade de realizar co-
industrial, mercadoria de procedência estrangeira mércio entre os portos de um mesmo país e somente poderá
que introduziu clandestinamente no País ou impor- ser realizada nos casos previstos em lei. É norma penal em
tou fraudulentamente ou que sabe ser produto de branco; b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contra-
introdução clandestina no território nacional ou de bando ou descaminho, por exemplo, a entrada e saída de
importação fraudulenta por parte de outrem; mercadorias da Zona Franca de Manaus sem pagamento de
IV – adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio tributo; c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou,
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
industrial, mercadoria de procedência estrangeira, exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria
desacompanhada de documentação legal ou acom- de procedência estrangeira que introduziu clandestinamen-
panhada de documentos que sabe serem falsos. te no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os produto de introdução clandestina no território nacional ou
efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio de importação fraudulenta por parte de outrem – o legisla-
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, dor está punindo a conduta do próprio contrabandista que
inclusive o exercido em residências. vende, expõe à venda, mantém em depósito mercadorias
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de des- ilegais; d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
caminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
ou fluvial. mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de
documentação legal, ou acompanhada de documentos que
1) Conduta: quem iludi, mediante artifício, ardil ou qual- sabe serem falsos – assemelha-se ao crime de receptação, to-
quer meio fraudulento o pagamento dos impostos devidos davia, aplica-se em relação a mercadorias contrabandeadas.
em face da entrada ou saída de mercadoria não proibida no 10) O § 2° é a chamada cláusula de equiparação, a qual
país (crime comum).
amplia o significado de toda a terminologia “atividade co-
mercial’, podendo assim o crime ser praticado por camelôs
Obs. 1: a Lei nº 13.008/2014 alterou o Código Penal no
ou comerciantes de fundo de quintal.
que diz respeito a este artigo. Antes da reforma, o artigo 334
11) O § 3° dispõe sobre causa de aumento de pena quan-
do CP previa as condutas de contrabando e descaminho.
do o crime de descaminho é praticado por meio de transporte
Com a modificação, surgiram os arts. 334 e 334-A. O primeiro
aéreo, marítimo ou fluvial. Tal majorante é justificada pelo
pune o descaminho; o segundo, o contrabando.
fato de tais transportes tornarem mais difícil a fiscalização e
Obs. 2: diferença entre contrabando e descaminho: a) repressão do crime.
contrabando – mercadoria ilícita, ou seja, que não possui
autorização para ser comercializada no país; b) descami- Contrabando
nho – mercadoria lícita, a qual possui autorização para ser Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proi-
comercializada no país. Todavia, o seu ingresso ocorre de bida:
forma ilegal, tendo em vista o não pagamento dos tributos Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.
referentes a tal ingresso. § 1º Incorre na mesma pena quem:
I – pratica fato assimilado, em lei especial, a con-
Obs. 3: o art. 34 da Lei nº 9.469/1995 estabelece que trabando;
“extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei II – importa ou exporta clandestinamente mercadoria
nº 8.137/1990 e na Lei nº 4.729/1965, quando o agente que dependa de registro, análise ou autorização de
promover o pagamento do tributo ou contribuição social, órgão público competente;
inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia”. III – reinsere no território nacional mercadoria bra-
Muito embora esta lei não mencione o crime de descaminho, sileira destinada à exportação;
tem-se entendido que esta regra a ele se aplica. IV – vende, expõe à venda, mantém em depósito
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
Obs. 4: o funcionário público que facilita a entrada de ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
mercadorias oriundas de contrabando ou descaminho, in- industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
fringindo seu dever funcional, pratica o crime previsto no V – adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
art. 318 do CP. ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
Noções de Direito Penal

industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.


2) Objetividade jurídica: controle da Administração Pú- § 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os
blica acerca da entrada e saída de mercadorias do país. efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
3) Sujeito ativo: particular. O funcionário público que, no irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras,
exercício de suas funções, facilita a entrada de mercadorias inclusive o exercido em residências.
oriundas de contrabando ou descaminho pratica o crime de § 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de con-
facilitação ao contrabando, art. 318 do CP. trabando é praticado em transporte aéreo, marítimo
4) Sujeito passivo: o Estado. ou fluvial.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
6) Consumação: consuma-se com a entrada ou saída das 1) Conduta: quem importa ou exporta mercadoria proi-
mercadorias do país. bida.

128
Obs. 1: não abrange produtos de importação tempora- 11) O § 3° dispõe sobre causa de aumento de pena quan-
riamente suspensa. do o crime de contrabando é praticado por meio de transpor-
te aéreo, marítimo ou fluvial. Tal majorante é justificada pelo
Obs. 2: é norma penal em branco, a qual depende de fato de tais transportes tornarem mais difícil a fiscalização e
uma lei a qual irá regulamentar as mercadorias proibidas de repressão do crime.
entrarem ou saírem do país.
Impedimento, Perturbação ou Fraude de Concorrência
Obs. 3: há a definição de contrabando próprio, quando
exporta ou importa o produtos proibidos utilizando-se de Código Penal
repartições alfandegárias, e contrabando impróprio, quando
Art. 335. Impedir, perturbar ou fraudar concorrência
o ingresso e saída das mercadorias proibidas ocorre sem pública ou venda em hasta pública, promovida pela
passar pela zona alfandegária. administração federal, estadual ou municipal, ou
por entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar
Obs. 4: há mercadorias proibidas que, contudo, a sua concorrente ou licitante, por meio de violência, grave
entrada ou saída do país é tutelada por outras normas, ante ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
a aplicação do princípio da especialidade, tais como a Lei Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
de Drogas (substância entorpecente – artigo 40, I, da Lei nº ou multa, além da pena correspondente à violência.
11.343/2006), Estatuto do Desarmamento (armas – artigo Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se
18 da Lei nº 10.826/2003). abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem
oferecida.3
Obs. 5: não se aplica o princípio da insignificância em
relação ao crime de contrabando. Inutilização de Edital ou de Sinal

Obs. 6: o funcionário público que facilita a entrada de Código Penal.


mercadorias oriundas de contrabando ou descaminho, in-
fringindo seu dever funcional, pratica o crime previsto no Art. 336. Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou
art. 318 do CP. conspurcar edital afixado por ordem de funcionário
público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado,
por determinação legal ou por ordem de funcionário
2) Objetividade jurídica: controle da Administração Pú-
público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:
blica acerca da entrada e saída de mercadorias do país. Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou
3) Sujeito ativo: particular. O funcionário público que, no multa.
exercício de suas funções, facilita a entrada de mercadorias
oriundas de contrabando ou descaminho pratica o crime de 1) Conduta: o crime pode ser praticado de duas formas:
facilitação ao contrabando, art. 318 do CP. a) rasgar (cortar), inutilizar (tornar ilegível) ou conspurcar
4) Sujeito passivo: o Estado. (sujar) edital afixado por ordem de funcionário público;
5) Tipo subjetivo: o dolo. b) violar (transpor) ou inutilizar (tornar ilegível) selo
6) Consumação: consuma-se com a entrada ou saída das ou sinal empregado por determinação legal ou por ordem
mercadorias proibidas do país. de funcionário público para identificar ou cerrar qualquer
7) Tentativa: é possível no caso de exportação, quando objeto.
a mercadoria não chega a sair do país. Já no caso de impor-
tação, não há a hipótese da tentativa. Obs. 1: na hipótese da alínea a o edital afixado por
8) O crime é de ação penal pública incondicionada e será ordem do funcionário público pode ser administrativo (de
processado perante a Justiça Federal. casamento), judicial (de penhora) ou legislativo.
9) O § 1º prevê várias figuras equiparadas: a) pratica fato
assimilado, em lei especial, a contrabando – mesmo exemplo Obs. 2: o selo ou sinal previstos na alínea b visam nor-
dado acima em relação à Zona Franca de Manaus; b) importa malmente das garantia oficial à identificação ou ao conteúdo
de certos pacotes, envelope etc.
ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de
registro, análise ou autorização de órgão público competen- 2) Objetividade jurídica: interesse patrimonial da Admi-
te. Ex.: fertilizantes que devem ser registrados no Ministério nistração Pública.
da Agricultura; c) reinsere no território nacional mercadoria 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
brasileira destinada à exportação – produto nacional no qual 4) Sujeito passivo: o Estado.
a venda é proibida em nosso território, porque é destinado 5) Tipo subjetivo: o dolo. Não há elemento subjetivo.
exclusivamente à exportação, há uma reintrodução em nosso 6) Consumação: com o ato de rasgar, inutilizar, conspur-
país; d) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de car edital ou violar selo ou qualquer outro sinal, independen-
qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no temente da produção de qualquer outro resultado.
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria 7) Tentativa: é possível.
Noções de Direito Penal

proibida pela lei brasileira – assemelha-se com o artigo 334, Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento
§ 1°, III, do CP, diferenciando-se por ser mercadoria proibida;
e) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, Código Penal
no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria
proibida pela lei brasileira – assemelha-se com o artigo 334, Art. 337. Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmen-
§ 1°, IV, do CP, diferenciando-se por ser mercadoria proibida. te, livro oficial, processo ou documento confiado à
10) O § 2° é a chamada cláusula de equiparação, a qual custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de
amplia o significado de toda a terminologia “atividade co- particular em serviço público:
mercial’, podendo assim o crime ser praticado por camelôs
Este dispositivo foi revogado pelos arts. 93 e 95 da Lei nº 8.666/1993, Lei de
3

ou comerciantes de fundo de quintal. licitações.

129
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, se o fato mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena
não constitui crime mais grave. de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa.
§ 4º O valor a que se refere o parágrafo anterior será
1) Conduta: pode ser praticada de duas formas: reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices
a) subtrair (retirar) livro oficial, processo ou documento do reajuste dos benefícios da previdência social.
confiado à custódia de funcionário público, em razão de
ofício, ou de particular em serviço público; 1) Conduta: elas são omissivas e pode ser praticada de
b) inutilizar (tornar imprestável) total ou parcialmente, duas formas:
livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de a) suprimir (deixar de declarar) contribuição social pre-
funcionário público, em razão de ofício, ou de particular em videnciária e qualquer acessório;
serviço público. b) reduzir (declarar valor menor que o devido) contribui-
ção social previdenciária e qualquer acessório.
Obs. 1: se a conduta for praticada por funcionário público
em razão do cargo será o crime previsto no art. 314 do CP, Obs. 1: as formas em que a supressão e a redução da con-
se for advogado que tenha recebido os autos ou documento tribuição social previdenciária são praticadas estão descritas
nesta qualidade o crime será do art. 356 do CP. nos incisos I, II e III do art. 337-A, tratando-se, portanto, de
crime de ação vinculada:
Obs. 2: livro oficial é aquele utilizado para escriturações I  – omitir de folha de pagamento da empresa ou de
e registros. Processo abarca tanto o judicial quanto o admi- documento de informações previsto pela legislação previ-
nistrativo. O documento pode ser público ou privado. denciária segurados empregado, empresário, trabalhador
avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que
2) Objetividade jurídica: documentos e processos cus- lhe prestem serviços;
todiados à Administração Pública. II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos
4) Sujeito passivo: o Estado. segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador
5) Tipo subjetivo: o dolo. Não há elemento subjetivo. de serviços;
6) Consumação: com a subtração ou inutilização. III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros au-
7) Tentativa: é possível. feridos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos
8) Em seu preceito secundário o presente crime prevê geradores de contribuições sociais previdenciárias:
expressamente a aplicação do princípio da subsidiariedade,
ou seja, somente haverá este crime se a conduta não se Obs. 2: o delito traz como objeto material do crime ape-
enquadrar em delito mais grave. nas as contribuições sociais previdenciárias e seus acessórios.

Sonegação de Contribuição Previdenciária 2) Objetividade jurídica: a seguridade social.


3) Sujeito ativo: somente o responsável pelo lançamento
Código Penal das informações nos documentos endereçados à autarquia,
englobando, assim, os sócios e diretores que tenham sido coni-
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social ventes com a conduta criminosa, gerentes ou administradores.
previdenciária e qualquer acessório, mediante as 4) Sujeito passivo: o Estado.
seguintes condutas: 5) Tipo subjetivo: o dolo.
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de 6) Consumação: no momento em que o agente reduz ou
suprime a contribuição social.
documento de informações previsto pela legislação
7) Tentativa: é impossível por se tratar de crime omissivo
previdenciária segurados empregado, empresário,
próprio.
trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a
8) Extinção da punibilidade:
este equiparado que lhe prestem serviços;
1. se o agente, espontaneamente, declara e confessa as
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios contribuições, importâncias ou valores e presta as informa-
da contabilidade da empresa as quantias descontadas ções devidas à previdência social, na forma definida em lei
dos segurados ou as devidas pelo empregador ou ou regulamento, antes do início da ação fiscal;
pelo tomador de serviços; 2. se a pessoa jurídica relacionada com o agente efetu-
III  – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lu- ar o pagamento integral dos débitos, inclusive acessórios
cros auferidos, remunerações pagas ou creditadas (art. 9º, § 2º da Lei nº 10.864/2003), em qualquer momento
e demais fatos geradores de contribuições sociais da persecução penal.
previdenciárias:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Obs. 3: a ação fiscal se inicia com a notificação pessoal
§  1º É extinta a punibilidade se o agente, espon- do contribuinte a respeito de sua instauração.
taneamente, declara e confessa as contribuições,
importâncias ou valores e presta as informações Obs. 4: o art. 9º, § 1º da Lei nº 10.864/2003 estabelece
devidas à previdência social, na forma definida em que a suspensão da pretensão punitiva estatal, se a empresa
lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. obtiver o parcelamento dos valores devidos. Com a quitação
Noções de Direito Penal

§ 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou do parcelamento, extinta estará a punibilidade.
aplicar somente a de multa se o agente for primário
e de bons antecedentes, desde que: 9) Perdão judicial ou aplicação somente de multa: é fa-
I – (Vetado) cultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a
II – o valor das contribuições devidas, inclusive de multa se o agente for:
acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
cido pela previdência social, administrativamente,
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas primário + bons antecedentes + valor das contribuições de-
execuções fiscais. vidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele esta-
§ 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha belecido pela previdência social, administrativamente, como
de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

130
10) Causa de diminuição de pena: se o empregador 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não 4) Sujeito passivo: pessoa física ou jurídica prejudicada
ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), e o Estado, incluindo o estrangeiro.
o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou 5) Tipo subjetivo: o dolo.
aplicar apenas a de multa. O valor a que se refere o parágrafo 6) Consumação: no momento em que o agente promete,
anterior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos oferece ou dá a vantagem indevida, independentemente da
índices do reajuste dos benefícios da previdência social. ocorrência do efetivo prejuízo material do Estado.
7) Tentativa: é possível.
Dos Crimes Praticados por Particulares Contra a 8) Causa de aumento de pena: a pena é aumentada
Administração Pública Estrangeira de 1/3 (um terço), se, em razão da vantagem ou promessa,
o funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato de
Corrupção Ativa em Transação Comercial Internacional ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

Código Penal Tráfico de Influência

Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indi- Código Penal


retamente, vantagem indevida a funcionário público
estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si
praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem
à transação comercial internacional: ou promessa de vantagem a pretexto de influir em
Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. ato praticado por funcionário público estrangeiro no
Parágrafo único. A  pena é aumentada de 1/3 (um exercício de suas funções, relacionado a transação
terço), se, em razão da vantagem ou promessa, comercial internacional:
o funcionário público estrangeiro retarda ou omite o Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se
o agente alega ou insinua que a vantagem é também
1) Conduta: o crime pode ser praticado: destinada a funcionário estrangeiro.
a) Prometer – Obrigar-se a dar algo a alguém, direta
ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público 1) Conduta: o crime pode ser praticado das seguintes
estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a prati- formas:
car, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação a) solicitar para si ou para outrem, vantagem ou pro-
comercial internacional. messa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado
b) Oferecer – Apresentar algo para ser aceito, direta por funcionário público estrangeiro no exercício da função,
ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público relacionado a transação comercial internacional;
estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a prati- b) exigir para si ou para outrem, vantagem ou promessa
car, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação de vantagem, a  pretexto de influir em ato praticado por
comercial internacional. funcionário público estrangeiro no exercício da função, re-
c) Dar – Entregar, ceder, direta ou indiretamente, vanta- lacionado a transação comercial internacional;
gem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira c) cobrar para si ou para outrem, vantagem ou pro-
pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato messa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado
de ofício relacionado à transação comercial internacional. por funcionário público estrangeiro no exercício da função,
relacionado a transação comercial internacional;
Obs. 1: a conduta típica, o momento consumativo e o
d) obter para si ou para outrem, vantagem ou promessa
sujeito ativo seguem as mesmas regras da do crime de cor-
rupção ativa comum, previsto no art. 333 do CP. A diferença de vantagem, a  pretexto de influir em ato praticado por
reside no fato de que no presente crime a conduta visa a funcionário público estrangeiro no exercício da função, re-
funcionário estrangeiro e que o agente tenha o intuito de lacionado a transação comercial internacional.
obter uma vantagem indevida relacionada com alguma
transação comercial internacional. Obs. 1: este artigo é praticamente idêntico ao crime
previsto no art. 332 do CP, havendo alteração apenas em
Obs. 2: transação comercial internacional é qualquer relação ao funcionário público que no caso é estrangeiro,
ajuste ou acordo relativo ao comércio concernente a duas bem como o crime deve estar relacionado a transação co-
ou mais nações, envolvendo pessoas físicas ou jurídicas. mercial internacional.

Obs. 3: a lei brasileira só se refere à corrupção ativa, ten- Obs. 2: transação comercial internacional é qualquer
do em vista que a punição do funcionário público estrangeiro ajuste ou acordo relativo ao comércio concernente a duas
ocorrerá em seu país de origem. ou mais nações, envolvendo pessoas físicas ou jurídicas.

Obs. 4: considera-se funcionário público estrangeiro, para Obs. 3: considera-se funcionário público estrangeiro, para
Noções de Direito Penal

os efeitos penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem os efeitos penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública em remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública em
entidades estatais ou em representações diplomáticas de entidades estatais ou em representações diplomáticas de
país estrangeiro. Equipara-se a funcionário público estran- país estrangeiro. Equipara-se a funcionário público estran-
geiro quem exerce cargo, emprego ou função em empresas geiro quem exerce cargo, emprego ou função em empresas
controladas, diretamente ou indiretamente, pelo Poder controladas, diretamente ou indiretamente, pelo Poder
Público de país estrangeiro ou em organizações públicas Público de país estrangeiro ou em organizações públicas
internacionais – art. 337-D do CP. internacionais – art. 337-D do CP.

2) Objetividade jurídica: a Administração Pública es- 2) Objetividade jurídica: a administração pública es-
trangeira. trangeira.

131
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa inclusive outro fun- § 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação
cionário público. é de prática de contravenção.
4) Sujeito passivo: pessoa física ou jurídica prejudicada
e o Estado, incluindo o estrangeiro. 1) Conduta: dar início investigação policial, de processo
5) Tipo subjetivo: o dolo. judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito
6) Consumação: no momento em que o agente solicita, civil ou ação de improbidade administrativa. Pode ser direta
exige, cobra ou obtém a vantagem indevida, independente- ou indiretamente (telefonema anônimo).
mente da ocorrência do efetivo prejuízo material do Estado.
7) Tentativa: é possível. Obs. 1: o denunciante deve ter plena consciência que
8) Causa de aumento de pena: a pena é aumentada a denúncia que faz é falsa. Só admite o dolo direto. Assim,
da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é • denuncia crime que até ocorreu, mas o agente sabe
também destinada a funcionário estrangeiro. que o denunciado não o praticou;
• denuncia crime que sabe que não ocorreu e imputa
Dos Crimes Contra a Administração da Justiça ao denunciado.

Reingresso de Estrangeiro Obs. 2: ocorrerá o delito descrito se alguém narrar um


crime ou uma contravenção. Todavia, se a narrativa estiver
Código Penal relacionada com uma falta funcional será atípica a conduta.

Art. 338. Reingressar no território nacional o estran- Obs. 3: não haverá o delito previsto no art. 339 do CP
geiro que dele foi expulso: se crime narrado à autoridade estiver prescrito ou houver
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, sem pre- exclusão de ilicitude.
juízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
1) Conduta: estrangeiro que reingressa no território 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, até advogado que saiba
que a imputação que seu cliente faz é falsa.
nacional depois que dele foi expulso.
4) Sujeito passivo: Estado e a vítima de imputação falsa.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
Obs. 1: reingressar significa voltar, ingressar novamente.
6) Consumação: com o início da investigação policial
ou administrativa, antes mesmo de se instaurar o Inquérito
Obs. 2: estrangeiro é a pessoa que possui vínculo jurídico-
Policial ou o processo. Se o agente volta atrás e conte a ver-
-político com outro Estado que não o Brasil. Por exclusão,
dade antes do início da investigação será arrependimento
o  estrangeiro é aquele que não é considerado brasileiro
eficaz, se a investigação já se iniciou será atenuante genérica
segundo o art.12 da CF.
da confissão.
7) Tentativa: é possível.
Obs. 3: não confundir:
8) A pena será aumentada se o agente se utilizar do
a) Expulsão  – É a exclusão,por castigo do estrangeiro
anonimato ou nome falso para praticar o crime.
que apresenta indícios sérios de periculosodade ou indese-
Atenção! Não confundir o crime de denunciação calu-
jabilidade no país;
niosa com calúnia. Nesta o agente quer atingir a honra da
b) Deportação – É a saída compulsória do estrangeiro
vítima e a imputação falsa é de crime, naquela o agente quer
enviando-o para o país da sua nacionalidade ou de sua pro-
prejudicar a vítima perante a justiça e a imputação falsa é de
cedência no estrangeiro;
crime ou contravenção.
c) Extradição – É um instrumento de cooperação entre
as nações para fazer com que uma pessoa acusada ou con-
denada pela prática de um crime possa ser enviada para o Denunciação Caluniosa Calúnia
país que a processou. O agente imputa falsamente O agente quer atingir a honra
a autoria de um crime contra da vítima imputando-lhe
Atenção! O tipo penal prevê em sua conduta apenas a alguém perante a autori- falsamente a prática de um
hipótese de EXPULSÃO. dade, dando início a uma crime. Tal crime pode ser
investigação. O crime atinge praticado perante qualquer
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. a administração da justiça. pessoa.
3) Sujeito ativo: o estrangeiro.
4) Sujeito passivo: Estado. Comunicação Falsa de Crime
5) Tipo subjetivo: o dolo.
6) Consumação: no momento em que o estrangeiro Código Penal
reingressa no país após ter sido dele expulso.
7) Tentativa: é possível. Art. 340. Provocar a ação de autoridade, comunican-
do-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que
Denunciação Caluniosa sabe não se ter verificado:
Noções de Direito Penal

Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.


Código Penal
1) Conduta: provocar ação de autoridade, ou seja, oca-
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação poli- sionar a investigação por parte dela, a partir da comunicação
cial, de processo judicial, instauração de investigação de crime ou de contravenção que sabe que não ocorreu.
administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa contra alguém, imputando-lhe crime Obs. 1: não confundir com o crime de denunciação
de que o sabe inocente: caluniosa, pois nesta o agente aponta a pessoa certa e de-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. terminada como autora da infração e na comunicação falsa
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente o agente se limita a comunicar falsamente a ocorrência de
se serve de anonimato ou de nome suposto. crime ou contravenção não apontando qualquer pessoa.

132
Obs. 2: o agente sabe que sua comunicação é falsa, § 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença
somente sendo cabível o dolo direto. no processo em que ocorreu o ilícito, o  agente se
retrata ou declara a verdade.
Denunciação Caluniosa Comunicação Falsa de crime
Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como
O agente aponta a pessoa O agente se limita a comunicar testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em
certa e a determina como falsamente a ocorrência de processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou
autora da infração. crime ou contravenção não em juízo arbitral.
apontando qualquer pessoa
como sendo autora de crime. 1) Conduta: pode ser praticada das seguintes formas:
a) fazer afirmação falsa (conduta comissiva) como
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou
4) Sujeito passivo: Estado. em juízo arbitral;
5) Tipo subjetivo: o dolo. b) negar a verdade (conduta comissiva) como testemu-
6) Consumação: com o início da investigação policial nha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo
ou administrativa, antes mesmo de se instaurar o Inquérito judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo
Policial ou o processo. arbitral;
7) Tentativa: é possível. c) calar a verdade (conduta omissiva) como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial,
Autoacusação Falsa ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.

Código Penal Obs. 1: a falsidade deve ser em relação a fato juridica-


mente relevante que possa influir no resultado.
Art. 341. Acusar-se, perante a autoridade, de crime
inexistente ou praticado por outrem: Obs. 2: algumas considerações:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, a) só há crime quando o agente sabe da divergência entre
ou multa. seu depoimento e o fato que realmente ocorreu;
b) se a testemunha mente em relação a seus dados pesso-
1) Conduta: pode ser praticada de duas formas: ais não há crime de falso testemunho e sim falsa identidade
a) acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente; previsto no art. 307 do CP.
b) acusar-se, perante a autoridade, de crime praticado c) também não há crime se o agente mente para evitar que
por outrem. se descubra fato que posa levar a sua própria incriminação.

Obs. 1: na denunciação caluniosa o agente acusa terceiro 2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
que sabe ser inocente. Aqui o agente se autoacusa de crime 3) Sujeito ativo: só pode ser praticado por testemunha,
que não ocorreu ou, se ocorreu, foi praticado por terceiro. perito, contador, tradutor ou intérprete.

Obs. 2: não existe o crime se o agente comete o crime Obs. 3: as partes e a vítima não são testemunhas, não
mediante tortura. podendo, portanto, praticar este crime se mentirem.

Obs. 3: é somente em relação a crime. Se o agente se Obs. 4: antes da colheita do depoimento, as testemu-
autoacusar como autor de contravenção inexistente ou nhas são advertidas no compromisso de dizer a verdade sob
praticada por outrem a conduta será atípica. pena de serem punidas pelo crime de falso testemunho, é o
chamado compromisso do art. 203 do CPP. Todavia, certas
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. pessoas não prestam o compromisso, são as chamadas
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. testemunhas informantes do juízo, segundo os arts. 206 e
4) Sujeito passivo: Estado. 209 do CPP, quais sejam, os doentes, deficientes mentais,
5) Tipo subjetivo: o dolo. menor de 14 anos, ascendente, descendente, cônjuge ainda
6) Consumação: no momento que a auto-acusação é que divorciado, irmão.
conhecida pela autoridade. A doutrina se divide em relação ao fato dessas pessoas
7) Tentativa: na forma escrita. praticarem tal delito ou não. Predomina que praticam, pois
o compromisso de dizer a verdade não é elementar do crime
de falso testemunho e o delito ocorre da desobediência do
Falso Testemunho ou Falsa Perícia
dever de dizer a verdade.
O art. 207 do CPP fala nas pessoas proibidas de serem
Código Penal,
testemunhas: ministério ofício e profissão devem guardar
segredo, salvo se desobrigadas pela parte interessada. Assim
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a quando desobrigadas podem depor e se mentirem praticam
Noções de Direito Penal

verdade como testemunha, perito, contador, tradutor o crime de falso testemunho.


ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral: Obs. 5: o crime de falso testemunho é crime de mão-pró-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. pria. Assim se duas pessoas praticarem o crime respondem
(Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) autonomamente, não havendo que se falar em coautoria.
§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, Todavia, é possível a ocorrência de participação – indu-
se o crime é praticado mediante suborno ou se come- zindo ou instigando alguém a mentir em juízo. Aqui pode
tido com o fim de obter prova destinada a produzir ser até o advogado.
efeito em processo penal, ou em processo civil em
que for parte entidade da administração pública 4) Sujeito passivo: Estado e a pessoa prejudicada com o
direta ou indireta. falso testemunho ou falsa perícia.

133
5) Tipo subjetivo: o dolo. tiver como parte entidade da Administração Pública direta
6) Consumação: no crime de falso testemunho: quando ou indireta.
se encerra o depoimento; no crime de falsa perícia: quando
entrega o laudo. Exercício Arbitrário das Próprias Razões
7) Tentativa: é possível, por exemplo, audiência inter-
rompida. Código Penal
8) Causa de aumento de pena: se ocorrer suborno, se
for prova em processo penal ou prova em processo civil que Art.  345. Fazer justiça pelas próprias mãos, para
tiver como parte entidade da Administração Pública direta satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando
ou indireta. a lei o permite:
9) Retratação: se antes da sentença em que ocorreu Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês,
o ilícito o agente se retratar e contar a verdade ocorrerá a ou multa, além da pena correspondente à violência.
extinção da punibilidade. Parágrafo único. Se não há emprego de violência,
somente se procede mediante queixa.
Obs. 6: o processo do crime de falso testemunho pode
ser iniciado mas não pode ser julgado antes da sentença do 1) Conduta: fazer justiça pelas próprias mãos, para satis-
outro processo em que o falso foi praticado. fazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei permite.

Corrupção Ativa de Testemunha ou Perito Obs. 1: para a ocorrência do crime, o direito do agen-
te deve poder ser solucionado pelo Poder Judiciário, por
Código Penal exemplo, em uma cobrança de dívida, ao invés do autor
ingressar com uma ação judicial para obter o valor devido,
Art. 343. Dar, oferecer, ou prometer dinheiro ou qual- vai até a casa de seu devedor e toma a televisão dele como
quer outra vantagem a testemunha, perito, contador, quitação da dívida.
tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa,
negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, Obs. 2: em se tratando de uma pretensão que não possa
cálculos, tradução ou interpretação: ser solucionada pelo Poder Judiciário, por exemplo, a co-
Pena – reclusão, de 3 (três) a 4 (quatro) anos, e multa. brança de uma dívida prescrita ou de uma dívida de jogo ou
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto ainda de drogas, não há que se falar na ocorrência do delito
a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter em tela, se a questão for solucionada pelas próprias mãos.
prova destinada a produzir efeito em processo penal
ou em processo civil em que for parte entidade da Obs. 3: se da justiça realizada com as próprias mãos advir
Administração Pública direta ou indireta. lesão corporal as penas de ambos os crimes serão somadas.
Todavia, se advir vias de fato, ficam estas absorvidas.
1) Conduta: pode ser praticado da seguinte forma:
a) dar (presentear ou conceder) dinheiro ou qualquer 2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor 3) Sujeito ativo: o particular. Se for funcionário público
ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar será crime de abuso de autoridade.
4) Sujeito passivo: Estado e a vítima eventualmente
a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou
prejudicada.
interpretação;
5) Tipo subjetivo: o dolo.
b) oferecer (propor ou apresentar) dinheiro ou qualquer
6) Consumação: no momento que o agente emprega o
outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou
meio executório.
intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade
7) Tentativa: é possível.
em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação;
c) prometer (comprometer-se a fazer alguma coisa) di- Atenção! Se “A” adentra na casa de “B” e leva a televisão
nheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, deste qual crime praticou? Furto ou exercício arbitrário das
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, próprias razões? Deve-se analisar o dolo do agente:
negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos,
tradução ou interpretação.
Exercício arbitrário das pró- Furto
Obs.: o corruptor (aquele que dá, oferece ou promete) prias razões
responde pelo crime do art. 343 do Código Penal. A teste- Com o intuito de quitar a Dolo de subtrair a TV para si
munha, perito, contador, tradutor e intérprete corrompidos dívida, dolo de fazer justiça ou para outrem.
respondem pelo crime previsto no art. 342, § 1º do CP. Aqui com as próprias mãos.
é outra exceção dualista a teoria monista, em que todos que
concorrem para a ocorrência do crime não responderão pelo Subtipo do Crime de Exercício Arbitrário das Próprias
mesmo crime. Razões
Noções de Direito Penal

2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. Código penal


3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: Estado e a vítima eventualmente Art. 346. Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa
prejudicada. própria, que se acha em poder de terceiro por de-
5) Tipo subjetivo: o dolo. terminação judicial ou convenção:
6) Consumação: no momento em que o agente dá, Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
oferece ou promete a vantagem indevida. È crime formal, e multa.
independentemente da aceitação.
7) Tentativa: é possível. 1) Conduta: tirar, suprimir ou danificar coisa própria que
8) Causa de aumento: se for prova produzida pela tes- se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou
temunha em processo penal ou prova em processo civil que convenção.

134
Obs. 1: Assemelha-se ao crime de exercício arbitrário Obs. 1: o crime é praticado por todo aquele que auxilia
das próprias razões, mas no crime em tela o agente pratica a o autor de crime punido com reclusão e esquivar-se da au-
conduta em relação a bem que se acha em poder de terceiro toridade pública. Ex.: ajudar na fuga emprestando carro ou
por determinação judicial, como, por exemplo, objeto em dinheiro ou qualquer outra forma, deste que o criminoso es-
que ocorreu a busca e apreensão. teja solto, esconder o criminoso, enganar a autoridade dando
informação equivocada acerca do paradeiro do criminoso.
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
3) Sujeito ativo: o dono do objeto que está em poder de Obs. 2: tal crime só pode ser praticado de forma comis-
terceiro em razão de uma ordem judicial. siva. Na forma omissiva o fato será atípico, por exemplo,
4) Sujeito passivo: Estado. indagada pela autoridade afirma que nada sabe.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
Consumação: no momento que o agente tira, suprime Obs. 3: trata-se de crime acessório que depende da
ou danifica a sua coisa própria. ocorrência de crime anterior. Se este estiver alguma exclu-
6) Tentativa: é possível. são de ilicitude, culpabilidade ou extinta a punibilidade não
haverá crime de favorecimento pessoal. Se o agente vier a
Fraude Processual ser absolvido, salvo absolvição imprópria, o agente do crime
de favorecimento pessoal não poderá ser punido.
Código Penal
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
Art. 347. Inovar artificiosamente, na pendência de 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, menos coautor ou
processo civil ou administrativo, o estado de lugar, partícipe do crime anterior.
de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o 4) Sujeito passivo: Estado.
juiz ou o perito: 5) Tipo subjetivo: o dolo.
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, 6) Consumação: quando o beneficiado consegue subtrair-
e multa. -se, ainda que por poucos instantes da ação da autoridade.
Parágrafo único. Se a inovação se destina a produzir 7) Tentativa: é possível, quando o auxílio é prestada mas
efeito em processo penal, ainda que não iniciado, o agente não se livra da ação da autoridade, haverá mera
as penas aplicam-se em dobro. tentativa.
1) Conduta: inovar empregando um artifício qualquer Obs. 4: mesmo que o autor do crime antecedente não
de modo que altere o estado de lugar, coisa ou pessoa com
seja identificado, haverá crime de favorecimento pessoal.
o fim de induzir a erro o juiz ou perito, durante o trâmite
de ação civil ou processo administrativo. Ex.: Simular maior
8) Escusa absolutória: se quem presta auxílio é ascen-
deficiência auditiva em ação indenizatória que visa reparar
dente, descendente, cônjuge ou irmão, ficam isento de pena.
dano causado por exposição à ruídos, durante anos.

Obs.: se o fato visa produzir efeito em ação penal, aplica- Favorecimento Real
-se a pena em dobro. Ex.: colocar a arma na mão da vítima
de homicídio para simular um suicídio. Código Penal

2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. Art. 349. Prestar a criminoso, fora dos casos de co-
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, que tenha ou não -autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar
interesse na causa. seguro o proveito do crime:
4) Sujeito passivo: Estado e eventual terceiro prejudicado Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
com as alterações.
5) Tipo subjetivo: o dolo. 1) Conduta: prestar a criminoso, fora dos casos coautoria
6) Consumação: no momento da alteração, desde que ou receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito
esta seja idônea a ludibriar o juiz ou perito. do crime.
7) Tentativa: é possível.
8) A fraude processual é crime subsidiário que fica ab- Obs. 1: será crime qualquer tipo de auxílio que torne
sorvido quando o fato constitui crime mais grave, como por seguro o proveito do crime, o  mais comum é esconder o
exemplo, supressão de documento, falsidade documental. produto do crime para que o autor do delito venha buscar
posteriormente.
Favorecimento Pessoal
Obs. 2: proveito do crime é o objeto material do crime ou
Código Penal até o preço do crime, não abrangendo os instrumentos do crime

Art. 348. Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade Obs. 3: é necessária a existência de crime anterior que não
pública autor de crime a que é cominada pena de precisa ser crime contra o patrimônio. Se ação anterior for
Noções de Direito Penal

reclusão: contravenção penal não há que se falar em favorecimento real.


Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
§ 1º Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Obs. 4: é possível favorecimento real consumado e ao
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, crime anterior tentado, por exemplo, “A” recebe dinheiro
e multa. para matar “B”. “A” atira em “B’ e este não morre, ocorren-
§ 2º Se quem presta o auxílio é ascendente, descen- do o crime de tentativa de homicídio. Todavia, “C” já está
dente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento escondendo o dinheiro recebido.
de pena.
Obs. 5: se o crime anterior foi praticado sob alguma
1) Conduta: auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade excludente de culpabilidade ou extinção da punibilidade,
pública autor de crime a que é cominada de reclusão. dependendo da corrente adotada (bipartida – em que há

135
crime e não há aplicação de pena ou tripartida – onde não Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano.
há crime) haverá produto de crime ou não, havendo ou não Parágrafo único. Na mesma pena incorre o funcio-
a possibilidade da existência do crime de favorecimento real. nário que:
I – ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou
Obs. 6: a lei não prevê nenhuma escusa absolutória. a estabelecimento destinado a execução de pena
privativa de liberdade ou de medida de segurança;
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. II – prolonga a execução de pena ou de medida de
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, menos coautor ou segurança, deixando de expedir em tempo oportuno
partícipe do crime anterior. ou de executar imediatamente a ordem de liberdade;
4) Sujeito passivo: Estado. III  – submete pessoa que está sob sua guarda ou
5) Tipo subjetivo: o dolo custódia a vexame ou a constrangimento não auto-
6) Consumação: no instante em que o agente presta o rizado em lei;
auxílio independentemente de saber se vai conseguiu tornar IV – efetua, com abuso de poder, qualquer diligência.4
seguro o proveito do crime.
7) Tentativa: é possível, quando o auxílio é prestado, Fuga de Pessoa Presa ou Submetida a Medida de
mas o agente não se livra da ação da autoridade, haverá Segurança
mera tentativa.
9) Não há a aplicação da escusa absolutória, desta forma, Código Penal
se quem presta auxílio é ascendente, descendente, cônjuge
ou irmão, não ficarão isento de pena. Art. 351. Promover ou facilitar a fuga de pessoa le-
galmente presa ou submetida a medida de segurança
Obs. 7: no favorecimento pessoal visa tornar seguro o au- detentiva:
tor do crime. No favorecimento pessoal, o produto do crime. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
§ 1º Se o crime é praticado a mão armada, ou por
Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento,
ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comu- a pena é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
nicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização §  2º Se há emprego de violência contra pessoa,
legal, em estabelecimento prisional. aplica-se também a pena correspondente à violência.
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. § 3º A pena é de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos,
se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia
1) Conduta: a conduta pode ser praticada das seguintes ou guarda está o preso ou o internado.
formas:
§ 4º No caso de culpa do funcionário incumbido da
a) ingressar (adentrar) com aparelho telefônico de co-
custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de
municação móvel, de rádio ou simular em estabelecimento
3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
prisional, sem autorização legal;
b) promover (por em execução) a entrada de aparelho
telefônico de comunicação móvel, de rádio ou simular em 1) Conduta: o crime pode ser pratica das seguintes
estabelecimento prisional, sem autorização legal. formas:
c) intermediar (situar-se entre) a entrada de aparelho a) Promover: o agente dá causa à fuga, sendo desneces-
telefônico de comunicação móvel, de rádio ou simular em sária a ciência por parte do preso;
estabelecimento prisional, sem autorização legal. b) Facilitar: exige a colaboração de alguém para auxiliar
d) auxiliar (ajudar) a entrada de aparelho telefônico de na fuga de pessoa presa.
comunicação móvel, de rádio ou simular em estabelecimento
prisional, sem autorização legal. Obs. 1: se a prisão for ilegal não há crime na conduta de
e) facilitar (tornar exequível) a entrada de aparelho promover ou facilitar a fuga de pessoa presa.
telefônico de comunicação móvel, de rádio ou simular em
estabelecimento prisional, sem autorização legal. Obs. 2: preso: engloba qualquer tipo de prisão: flagrante,
preventiva, temporária, sentença condenatória e medida
Obs.: a conduta se aplica em relação a aparelho telefô- de segurança apenas detentiva (internação em hospital de
nico de comunicação móvel, de rádio ou simular. custódia).

2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. Atenção! O preso que foge não comete crime. Todavia,
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive os funcioná- se usar de violência no momento da fuga responde pelo
rios do estabelecimento prisional. crime do art. 352 do CP. Assim, o crime em tela é somente
4) Sujeito passivo: Estado. praticado por que promove ou facilita a fuga.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
6) Consumação: no instante em que o agente presta 2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
auxílio independentemente de saber se vai conseguiu tornar 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive os funcioná-
seguro o proveito do crime. rios do estabelecimento prisional.
Noções de Direito Penal

7) Tentativa: é possível, quando o auxílio é prestado, 4) Sujeito passivo: Estado.


mas o agente não se livra da ação da autoridade, haverá 5) Tipo subjetivo: o dolo.
mera tentativa. 6) Consumação: com a fuga.
7) Tentativa: é possível.
Exercício Arbitrário ou Abuso de Poder 8) Forma qualificada: com o emprego de arma, mediante
concurso de duas ou mais pessoas (não conta o preso), arrom-
Código Penal bamento, e por quem tem a guarda ou custodiado detento.
9) Se o ocorrer lesão corporal, haverá concurso material.
Art. 350. Ordenar ou executar medida privativa de
liberdade individual, sem as formalidades legais ou Este dispositivo foi revogado pelo art. 4º da Lei nº 4.898/1965 (Lei de Abuso
4

com abuso de poder: de Autoridade).

136
10) Na modalidade culposa será crime próprio somente Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, além
podendo ser praticado por quem tem a guarda ou custódia da pena correspondente à Violência.
do detento.
1) Conduta: arrebatar preso, a  fim de maltratá-lo, do
Evasão Mediante Violência Contra a Pessoa poder de quem o tenha sob custódia ou guarda.

Código Penal Obs. 1: arrebatar significa tirar o preso do poder de quem


o tenha sob custódia ou guarda para maltratá-lo. Aqui é a
Art. 352. Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o situação de linchamento.
indivíduo submetido a medida de segurança deten-
tiva, usando de violência contra a pessoa: Obs. 2: se do fato resultar em lesão corporal ou morte
Pena – detenção, de 3 (três) meses a (um) ano, além haverá concurso material.
da pena correspondente à Violência.
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
1) Conduta: fugir ou tentar fugir mediante o emprego 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
de violência pessoa que se encontra presa ou sob medida 4) Sujeito passivo: Estado e o preso maltratado.
de segurança. 5) Tipo subjetivo: o dolo.
6) Consumação: com a tomada do preso independente-
Obs.: passemos a analisar as seguintes situações:
mente de conseguir maltratá-lo ou não. Crime formal.
a) se for somente fuga, sem violência será mera falta
7) Tentativa: é possível.
disciplinar;
b) se usar emprego de ameaça no momento da fuga será
crime de ameaça; Motim de Preso
c) se houver emprego de violência contra coisa no mo-
mento da fuga, será crime de dano; Código Penal
d) se usar da violência para evitar a prisão, será crime
de resistência. Art. 354. Amotinarem-se presos, perturbando a
ordem ou disciplina da prisão:
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
3) Sujeito ativo: pessoa que se encontra presa ou sob além da pena correspondente à Violência.
medida de segurança.
4) Sujeito passivo: Estado.
5) Tipo subjetivo: o dolo. 1) Conduta: amotinarem-se presos, perturbando a ordem
6) Consumação: com a fuga ou a tentativa de fuga. A lei ou disciplina da prisão.
equipara para fim de consumação a fuga efetivada e tentada. Obs.: Motim significa revolta conjunta de grande número
Não há a figura da tentativa. de presos em que os participantes assumem posição de vio-
7) Tentativa: não há a figura da tentativa. lência contra os funcionários provocando depredação com
8) Se do fato resultar lesão corporal ou morte haverá prejuízo ao Estado e a ordem da cadeia.
concurso material.
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
Arrebatamento de Preso 3) Sujeito ativo: número elevado de presos. É crime de
concurso necessário.
Código Penal 4) Sujeito passivo: Estado.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
Art. 353. Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do 6) Consumação: perturbação da ordem carcerária.
poder de quem o tenha sob custódia ou guarda: 7) Tentativa: é possível.

Atenção! Não confundir:

Fuga de pessoa presa Evasão mediante violência Arrebatamento de preso Motim de preso
Promover ou facilitar a fuga Evadir-se ou tentar evadir-se o pre- Arrebatar preso, a fim de Amotinarem-se presos, perturbando
de pessoa legalmente presa so ou o indivíduo submetido a me- maltratá-lo, do poder de a ordem ou disciplina da prisão.
ou submetida a medida de dida de segurança detentiva usando quem o tenha sob custódia
segurança detentiva. de violência contra a pessoa. ou guarda.
Aqui o crime é praticado Neste delito o autor é o próprio Muito embora o nome do É a rebelião, sendo o crime somente
por alguém que auxilia o preso que foge ou tenta fugir. crime pareça que alguém pode ser praticado por um número
preso a fugir. O preso que está arrebatando o pre- elevado de presos, jamais um único
foge não pratica este crime. so para libertá-lo, o delito preso sozinho poderá cometer este
Noções de Direito Penal

é arrebatar o preso para delito. Assim, desta forma ele é


linchá-lo. classificado como crime de concurso
necessário.

Patrocínio Infiel Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos,


e multa.
Código Penal
Patrocínio simultâneo ou tergiversação
Art. 355. Trair, na qualidade de advogado ou procu- Parágrafo único. Incorre na pena deste artigo o advoga-
rador, o dever profissional, prejudicando interesse, do ou procurador judicial que defende na mesma cau-
cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado: sa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.

137
1) Conduta: advogado ou procurador que infringindo Atenção! Não confundir:
o seu dever profissional trai seu cliente prejudicando o
interesse deste. Patrocínio Infiel Patrocínio Simultâneo ou
Tergiversação
Obs. 1: o delito pode ser praticado por ação, por exemplo, Para a consumação do crime Para a consumação do crime
o advogado que desiste de testemunha imprescindível para necessita da ocorrência do não necessita da ocorrência
comprovação dos fatos, ou por omissão, por exemplo, advo- prejuízo. do prejuízo.
gado que perde o prazo para recurso de maneira proposital.
Sonegação de Papel ou Objeto de Valor Probatório
Obs. 2: o erro profissional realizado sem intenção, ou
Código Penal
seja, de forma culposa, não caracteriza o crime em tela.
Art. 356. Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. de restituir autos, documento ou objeto de valor
3) Sujeito ativo: o crime somente pode ser praticado probatório, que recebeu na qualidade de advogado
por advogado ou procurador, tratando-se, portanto, de ou procurador:
crime próprio. Pena – detenção, de 6 (seis) a 3 (três) anos, e multa.
4) Sujeito passivo: Estado e a pessoa lesada pela conduta
praticada por seu advogado ou procurador. 1) Conduta: inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar
5) Tipo subjetivo: o dolo. Há o dolo específico de preju- de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório,
dicar o interesse de seu representado. que recebeu na qualidade de advogado ou procurador.
6) Consumação: com a ocorrência do efetivo prejuízo
por parte da vítima. Obs. 1: passemos a analisar os elementos do tipo penal:
7) Tentativa: é possível. a) Inutilizar – É uma conduta comissiva. Tornar impres-
tável, como por exemplo, atendo fogo em um documento.
A inutilização pode ser total ou parcial;
Patrocínio Simultâneo ou Tergiversação
b) Deixar de restituir autos, documentos ou objeto de
valor probatório – É uma conduta omissiva.
Código Penal
Obs. 2: se a conduta de inutilizar ou deixar de restituir
Art. 355. [...] for praticada culposamente, ou seja, sem intenção, não
Parágrafo único. Incorre na pena deste artigo o advoga- haverá crime.
do ou procurador judicial que defende na mesma cau-
sa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias. Obs. 3: autos são as peças que integram o processo.
Documento é todo papel escrito que contenha valor proba-
1) Conduta: advogado ou procurador judicial que defen- tório. Objeto de valor é tudo aquilo que não compreende
de na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes um documento, por exemplo, revólver.
contrárias.
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
Obs. 1: quando o legislador coloca “mesma causa”, signi- 3) Sujeito ativo: o crime somente pode ser praticado
fica mesmas partes e mesmo litígio, não necessitando estar por advogado ou procurador, tratando-se, portanto, de
no mesmo processo. Ex.: “A” move várias ações contra “B” crime próprio.
4) Sujeito passivo: Estado e a pessoa lesada pela conduta
baseadas no mesmo fato. Não poderá o advogado em uma
praticada pelo advogado ou procurador.
causa representar “A” e em outra representar “B”. 5) Tipo subjetivo: o dolo.
6) Consumação: em relação à conduta inutilizar, no mo-
Obs. 2: o crime ocorrerá se o advogado ou procurador mento em que o objeto se torna imprestável. Já em relação à
defender as parte contrárias simultaneamente (ao mesmo conduta deixar de devolver quando do vencimento do prazo
tempo) ou sucessivamente (tergiversação, ou seja, em pro- para devolução.
cessos seguidos). 7) Tentativa: é possível.

Obs. 3: o crime somente ocorre se o agente age dolosamen- Exploração de Prestígio


te, ou seja, com intenção. A mera culpa não caracteriza o crime.
Código Penal
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
3) Sujeito ativo: o crime somente pode ser praticado Art. 357. Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer
Noções de Direito Penal

por advogado ou procurador, tratando-se, portanto, de outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado,
crime próprio. órgão do Ministério Público, funcionário de justiça,
4) Sujeito passivo: Estado e a pessoa lesada pela conduta perito, tradutor, intérprete ou testemunha:
praticada pelo advogado ou procurador. Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um ter-
5) Tipo subjetivo: o dolo. Há o dolo específico de preju-
ço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou
dicar o interesse de seu representado. utilidade também se destina a qualquer das pessoas
6) Consumação: com a prática de algum ato processual referidas neste artigo.
em favor da parte contrária, sendo desnecessária a ocorrên-
cia de algum prejuízo. 1) Conduta: o crime pode ser praticado das seguintes
7) Tentativa: é possível. formas:

138
a) Solicitar (requer) dinheiro ou qualquer outra utilidade, 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Pú- 4) Sujeito passivo: Estado e pessoas eventualmente
blico, funcionário de justiça, perito, intérprete ou testemunha. lesadas.
b) Receber (obter como recompensa) dinheiro ou qual- 5) Elemento subjetivo do tipo: dolo.
quer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, 6) Consumação: quando a arrematação é impedida, per-
órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, turbada ou fraudada, ou ainda, quando o agente emprega
intérprete ou testemunha. violência, grave ameaça, fraude ou oferece vantagem ao
concorrente ou licitante.
Obs. 1: o agente sob a alegação de possuir influência, 7) Tentativa: é possível.
prestígio junto às pessoas que trabalham no Poder Judici-
ário, reclama vantagem de outrem a pretexto de exercer Obs. 3: em se tratando de licitação realizada pela Admi-
influência nos atos por elas praticados. Assim é a venda de nistração Pública o crime será o previsto na Lei de Licitação,
suposta influência exercida pelo agente junto a Administra- Lei nº 8.666/1993.
ção da Justiça. Na realidade o agente não possui nenhuma
influência. Seria a prática do crime de estelionato, todavia Desobediência a Decisão Judicial sobre Perda ou
como para aplicação da suposta fraude utiliza-se o nome da Suspensão de Direito
Administração da Justiça, o crime passa a ser o de exploração
de prestígio. Exemplo, advogado alega ter influência sob juiz Código Penal
que vai decidir acerca do divórcio. Na verdade não possui
influência alguma. Art.  359. Exercer função, atividade, direito, autori-
dade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por
Obs. 2: agora se for verdade, ou seja, se o agente possuir decisão judicial:
a tal influência que alega ter estaremos diante do crime de Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
corrupção passiva ou ativa. ou multa.

2) Objeto jurídico: moralidade da administração justiça. 1) Conduta: exercer função, atividade, direito, autoridade
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial.
4) Sujeito passivo: Estado e pessoas eventualmente
lesadas. Obs. 1: o agente desempenha função em desobediência
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo. a decisão judicial, seja ela cível ou penal.
6) Consumação: quando o agente solicita ou recebe a
vantagem. 2) Objeto jurídico: moralidade da administração justiça.
7) Tentativa: é possível. 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: Estado e pessoas eventualmente
8) A pena é aumentada quando o agente diz ou dá enten-
lesadas.
der que a vantagem também é endereçada ao funcionário
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo.
público.
6) Consumação: quando o agente inicia a conduta pela
9) Se o agente solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
qual foi determinada a sua abstinência.
para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pre-
7) Tentativa: é possível.
texto de influir em ato praticado por funcionário público no
exercício da função o crime será o de tráfico de influência
previsto no art. 332 do CP. Dos Crimes Contra as Finanças Públicas
Estes crimes foram acrescentados pela Lei nº 10.028/2000
Violência ou Fraude em Arrematação Judicial
com a finalidade de resguardar os cofres públicos da ação de
maus administradores, os quais, por vezes, criam enormes
Código Penal
endividamentos ao Estado.
Art. 358. Impedir, perturbar ou fraudar arrematação Contratação de Operação de Crédito
judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou
licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude Código Penal
ou oferecimento de vantagem:
Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação de
multa, além da pena correspondente à violência”. crédito, interno ou externo, sem prévia autorização
legislativa:
1) Conduta: o crime pode ser praticado das seguintes Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
formas: Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena,
a) Impedir, tornar impraticável, arrematação judicial; autoriza ou realiza operação de crédito, interno ou
b) Perturbar, causar desordem, em arrematação judicial; externo:
Noções de Direito Penal

c) Fraudar, burlar, arrematação judicial; I – com inobservância de limite, condição ou montan-
d) Afastar ou procurar afastar, apartar, concorrente ou te estabelecido em lei ou em resolução do Senado
licitante. Federal;
II – quando o montante da dívida consolidada ultra-
Obs. 1: arrematação judicial são os bens levados à hasta passa o limite máximo autorizado por lei.
pública por ordem judicial.
1) Conduta: ordenar, autorizar ou realizar operação de
Obs. 2: o crime é praticado por meio de violência, grave crédito, interno ou externo, sem prévia autorização legis-
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem. lativa.

2) Objeto jurídico: moralidade da administração justiça. Obs. 1: passemos a analisar as elementares do tipo penal:

139
As
a) Ordenar – (mandar que se faça) operação de crédito, Assunção de Obrigação no Último Ano do Mandato
interno ou externo, sem prévia autorização legislativa; ou Legislatura
b) Autorizar – (permitir) operação de crédito, interno ou
externo, sem prévia autorização legislativa; Código Penal
c) Realizar – (executar) operação de crédito, interno ou
externo, sem prévia autorização legislativa. Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obri-
gação, nos 2 (dois) últimos quadrimestres do último
Obs. 2: “Operação de crédito é o compromisso finan- ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa
ceiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, ser paga no mesmo exercício financeiro ou, caso reste
emissão de aceite de título, aquisição financiada de bens, parcela a ser paga no exercício seguinte, que não tenha
recebimento antecipado de valores provenientes da venda a contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa:
termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos
financeiros” (Lei Complementar nº 101/2000, art. 29, III). 1) Conduta: ordenar ou autorizar a assunção de obriga-
ção, nos 2 (dois) últimos quadrimestres do último ano do
Obs. 3: “Somente haverá crime se a operação de crédi- mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no
to for realizada sem prévia autorização legislativa ou se a mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga
no exercício seguinte, que não tenha contrapartida suficiente
operação desrespeitar limite, condição ou montante nela
de disponibilidade de caixa:
estabelecido ou em resolução do Senado Federal. Também
haverá crime se o montante da dívida consolidada ultrapassar Obs. 1: a conduta consiste em ordenar ou autorizar des-
o limite máximo autorizado por lei. Dívida compreende o pesas ou obrigações que não possa ser paga no mesmo ano
“montante total, apurado sem duplicidade, das obrigações e vigora nos últimos oito meses do mandato ou legislatura.
financeiras do ente da Federação, assumidas em virtude
de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de Obs. 2: a finalidade é evitar os antigos “trens da alegria”
operações de crédito, para amortização em prazo superior em que o administrador, no término de sua gestão, assumia
a doze meses” (Lei Complementar nº 101/2000, art. 29, I). inúmeras despesas a serem pagas pelo seu sucessor. (Vitor
Eduardo Rios Gonçalves).
2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em
relação às finanças públicas 2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em
3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo relação às finanças públicas
ato. Trata-se de crime próprio. 3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo
4) Sujeito passivo: Estado. ato. Trata-se de crime próprio.
5) Elemento subjetivo: o dolo. 4) Sujeito passivo: Estado.
6) Consumação: no momento da ação ou omissão. 5) Elemento subjetivo: o dolo.
7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva. 6) Consumação: no momento da ação ou omissão.
8) Ação Penal: pública incondicionada. 7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva.
8) Ação Penal: pública incondicionada.
Inscrição de Despesas não Empenhadas em Restos a
Pagar Ordenação de Despesas não Autorizadas

Código Penal Código Penal

Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em restos Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei:
a pagar, de despesa que não tenha sido previamente Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
empenhada ou que exceda limite estabelecido em lei.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. 1) Conduta: ordenar despesa não autorizada por lei.

1) Conduta: ordenar ou autorizar a inscrição em restos Obs.: o tipo penal prevê a punição do agente que cria,
a pagar, de despesa que não tenha sido previamente empe- a qualquer tempo, despesas não previstas na Lei Orçamen-
tária, Lei de Diretrizes Orçamentária e Plano Plurianual.
nhada ou que exceda limite estabelecido em lei.
2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em
Obs. 1: restos a pagar referem-se à transferência para relação às finanças públicas.
o exercício financeiro seguinte de despesas assumidas pelo 3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo
administrador e que, portanto, serão pagas pelo orçamento ato. Trata-se de crime próprio.
do próximo ano. 4) Sujeito passivo: Estado.
5) Elemento subjetivo: o dolo.
Obs. 2: somente haverá o crime se a despesa não tiver 6) Consumação: no momento da ação ou omissão.
sido previamente empenhada ou se exceder limite previsto 7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva.
Noções de Direito Penal

em lei, ainda que não tenha sido trocado o administrador. 8) Ação Penal: pública incondicionada.
2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em Prestação de Garantia Graciosa
relação às finanças públicas.
3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo Código Penal
ato. Trata-se de crime próprio.
4) Sujeito passivo: Estado. Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito
5) Elemento subjetivo: o dolo. sem que tenha sido constituída contragarantia em
6) Consumação: No momento da ação ou omissão. valor igual ou superior ao valor da garantia prestada,
7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva. na forma da lei:
8) Ação Penal: pública incondicionada. Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

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A
1) Conduta: prestar garantia em operação de crédito Obs. 1: este delito não se confunde com o crime previsto
sem que tenha sido constituída contragarantia em valor igual no art. 359-C, tendo em vista que este último engloba toda
ou superior ao valor da garantia prestada, na forma da lei: e qualquer despesa e abarca um período de oito meses,
enquanto o crime em tela refere-se apenas ao aumento de
Obs. 1: segundo o art. 40, § 1º, II da Lei nº 101/2000, despesas com pessoal e limita-se a um prazo de 180 dias.
Acrescenta-se, ainda, que o crime do art. 359-C é punido o
a contragarantia exigida pela União a Estado ou gasto que não pode ser pago na mesma gestão, enquanto no
Município, ou pelos Estados aos Municípios, poderá art. 359-G, pune-se o aumento de despesas com pessoal a
consistir na vinculação de receitas tributárias direta- ser pago no mesmo ou em outro exercício financeiro.
mente arrecadadas e proveniente de transferências
constitucionais, com outorga de poderes ao garan- Assunção de obrigação noAumento de despesas total
tidor para retê-las e empregar o respectivo valor na último ano do mandato ou com pessoal no último ano
liquidação da dívida vencida. legislatura do mandato ou legislatura
Engloba toda e qualquer des-
Refere-se apenas ao aumen-
Obs. 2: assim, por meio deste tipo penal, se um estado pesa e abarca um período de
to de despesas com pessoal
ou município fizer um empréstimo, a União, por exemplo, só oito meses. e limita-se a um prazo de
poderá prestar garantia de adimplência de tal dívida se hou- 180 dias.
ver sido prestada contragarantia em valor igual ou superior.
É punido o gasto que não Pune-se o aumento de des-
2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em pode ser pago na mesma pesas com pessoal a ser
relação às finanças públicas. gestão. pago no mesmo ou em outro
3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo exercício financeiro.
ato. Trata-se de crime próprio.
4) Sujeito passivo: Estado. 2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em
5) Elemento subjetivo: o dolo. relação às finanças públicas
6) Consumação: no momento da ação ou omissão. 3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo
ato. Trata-se de crime próprio.
7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva.
4) Sujeito passivo: Estado.
8) Ação Penal: pública incondicionada. 5) Elemento subjetivo: o dolo.
6) Consumação: no momento da ação ou omissão.
Não Cancelamento de Restos a Pagar 7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva.
8) Ação Penal: pública incondicionada.
Código Penal
Oferta Pública ou Colocação de Títulos no Mercado
Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de
promover o cancelamento do montante de restos a Código Penal
pagar inscrito em valor superior ao permitido em lei:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta
pública ou a colocação no mercado financeiro de
1) Conduta: deixar de ordenar, de autorizar ou de promo- títulos da dívida pública sem que tenham sido criados
ver o cancelamento do montante de restos a pagar inscrito por lei ou sem que estejam registrados em sistema
em valor superior ao permitido em lei. centralizado de liquidação e de custódia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Obs.: o crime consiste em o agente tomar conhecimen-
to da ilegalidade e deixar de ordenar o cancelamento dos 1) Conduta: ordenar, autorizar ou promover a oferta
valores acima do limite legal. pública ou a colocação no mercado financeiro de títulos
da dívida pública sem que tenham sido criados por lei ou
2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em sem que estejam registrados em sistema centralizado de
relação às finanças públicas. liquidação e de custódia.
3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo
ato. Trata-se de crime próprio. Obs.: somente haverá o crime se os títulos da dívida pú-
4) Sujeito passivo: Estado. blica forem emitidos sem autorização legal, comprometendo
5) Elemento subjetivo: o dolo. os cofres públicos, pois havendo autorização legal o Estado
6) Consumação: no momento da ação ou omissão. pode vender títulos da dívida pública para captar recursos
7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva. no mercado financeiro.
8) Ação Penal: pública incondicionada.
Disposições Finais
Aumento de Despesas Total com Pessoal no Último
Código Penal
Ano do Mandato ou Legislatura
Art. 360. Ressalvada a legislação especial sobre os cri-
Noções de Direito Penal

Código Penal mes contra a existência, a segurança e a integridade


do Estado e contra a guarda e o emprego da economia
Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que popular, os crimes de imprensa e os de falência, os de
acarrete aumento de despesa total com pessoal, responsabilidade do Presidente da República e dos
nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores ao final do Governadores ou Interventores, e os crimes militares,
mandato ou da legislatura: revogam-se as disposições em contrário.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Art. 361. Este Código entrará em vigor no dia 1º de
janeiro de 1942.
1) Conduta: ordenar, autorizar ou executar ato que acar-
rete aumento de despesa total com pessoal, nos 180 (cento e Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 1940; 119º da
oitenta) dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura. Independência e 52º da República.

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Busca Informatizada Vestcon a) testamento particular.
b) ações de sociedade comercial.
c) título ao portador ou transmissível por endosso.
EXERCÍCIOS d) nota fiscal.
e) livros mercantis.
1. (UEG/PM/Soldado/2013) Sobre as hipóteses de confli-
tos de leis penais no tempo, verifica-se que 7. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Analista Judiciário/2016)
a) a lei nova incrimina fatos antes considerados lícitos. Em relação aos crimes contra a administração da justiça,
b) a lei nova modifica o regime anterior beneficiando assinale a opção correta.
o sujeito. a) É atípica a conduta do agente que faz justiça pelas
c) a lei nova suprime normas incriminadoras anterior- próprias mãos sem o emprego de violência ou com
mente existentes. o objetivo de satisfazer pretensão legítima.
d) ninguém pode ser punido por fato que a lei posterior b) A configuração do crime de exploração de prestígio
deixa de considerar crime. depende de a conduta do agente incluir a alegação
ou a insinuação de que o dinheiro ou a utilidade
2. (UEG/PM/Soldado/2013) João da Silva, estando no também se destina ao juiz, jurado, órgão do Minis-
aconchego do seu lar, se vê surpreendido por um as- tério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor,
saltante. João pega uma faca e desfere golpe fatal contra intérprete ou testemunha.
o assaltante, matando-o. Que crime cometeu? c) O agente que acusa a si mesmo, perante a autorida-
a) Legítima defesa de, de ter cometido infração penal que não ocorreu
b) Crime impossível pratica o crime de comunicação falsa de crime.
c) Homicídio doloso d) Em se tratando do crime de falso testemunho, o
d) Homicídio culposo agente que se retrata ainda durante o processo no
qual testemunhou faz jus a causa de diminuição de
3. (UEG/PM/Soldado/2013) Com relação a sujeito ativo e pena.
passivo do crime, verifica-se o seguinte: e) É isento de pena, ainda que pratique o crime de fa-
a) o sujeito ativo do crime não pode receber, conforme vorecimento pessoal, o ascendente, o descendente,
situação processual ou o aspecto pelo qual é exami- o cônjuge ou o irmão de criminoso que o auxilia a
nado, o nome de agente. fugir da ação da autoridade policial.
b) fala-se em sujeito passivo constante ou formal quan-
do o Estado não é o titular do mandamento proibi- 8. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Analista Judiciário/2016)
tivo. Ele é lesado pela conduta do sujeito ativo. Oficial de justiça que solicita determinada quantia em
c) embora toda pessoa humana possa ser sujeito pas- dinheiro a advogado, para deixar de cumprir diligência
sivo de crime, não há hipótese em que a lei se refe- de que estava incumbido, comete o crime de
re à vítima em relação às suas condições físicas ou a) tráfico de influência.
psíquicas. b) concussão.
d) o conceito abrange não só aquele que pratica o nú- c) prevaricação.
cleo da figura típica, mas também o coautor ou par- d) corrupção ativa.
tícipe, que colaboram de alguma forma na conduta e) corrupção passiva.
típica.
9. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Analista Judiciário/2016)
4. (UEG/PM/Soldado/2013) Sobre concurso de pessoas, Com base no que dispõe a Constituição Federal de 1988
tem-se que quanto ao direito penal, assinale a opção correta.
a) participação é a prática da atividade principal da- a) Não se permitem penas de caráter perpétuo, de tra-
quele que colabora para conduta do autor. balhos forçados, de banimento, cruéis ou de morte,
b) autoria mediata é apenas o que realiza diretamente salvo esta última em caso de guerra declarada.
e indiretamente ação ou omissão típica. b) Por ser uma pena pecuniária, a multa pode ser, nos
c) coautor é quem executa, juntamente com outras termos da lei, estendida aos sucessores e contra
pessoas, a ação ou omissão que configura o delito. eles executada, até o limite do valor do patrimônio
d) autoria dirige-se àquele que realiza o tipo penal, ou transferido.
seja, o sujeito que não realiza a ação tipificada. c) A escolha do estabelecimento onde o agente cumpri-
rá pena restritiva de liberdade depende de aspectos
5. (UEG/PM/Soldado/2013) Sobre as penas e os regimes como periculosidade do delito, aptidão para o tra-
das condutas restritivas de liberdade no Direito Penal, balho, idade, escolaridade e sexo do apenado.
tem-se o seguinte: d) É permitida a extradição do brasileiro naturalizado que
a) regressão é a transferência de um regime para outro pratique, após a naturalização, crime comum ou crime
Noções de Direito Penal

menos rigoroso. de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins.


b) continuam sendo três os regimes, fechado, semia- e) Constituem crimes inafiançáveis e imprescritíveis o
berto e aberto. racismo, a tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
c) na progressão evolui-se de um regime para outro drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
muito mais rigoroso. hediondos.
d) as penas são classificadas em restritivas de direito,
multa, penas acessórias. 10. (Cespe/TJ-AM/Juiz de direito/2016) Determinada sen-
tença justificou a dosimetria da pena em um crime de
6. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Analista Judiciário/2016) roubo da forma seguinte.
Caracteriza falsificação de documento particular a alte- A culpabilidade do réu ficou comprovada, sendo a sua
ração de conduta altamente reprovável; não constam informações

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detalhadas sobre seus antecedentes, mas consta que c) A hipótese configura aberractio ictus, devendo Júlio
ele foi anteriormente preso em flagrante acusado de responder por duplo homicídio doloso, um consu-
roubo – embora não haja prova do trânsito em julga- mado e outro tentado, com as penas aplicadas em
do da condenação – e que responde também a dois concurso formal de crimes, sem se levar em conta
inquéritos policiais nos quais é acusado de furtar. A as condições pessoais da vítima atingida acidental-
conduta social do réu não é boa e denota personalidade mente.
voltada para o crime; os motivos e as circunstâncias do d) O fato configura duplo homicídio doloso, consumado
crime não favorecem o réu; e as consequências do fato contra o filho, e tentado contra Laura, e, em razão de
são muito graves, pois as vítimas, que em nada contri- aquele ter menos de quatorze anos, a pena deverá
buíram para a deflagração do ato criminoso, tiveram ser aumentada em um terço.
prejuízo expressivo, já que houve desbordamento do e) Houve, na situação considerada, homicídio privile-
caminho usualmente utilizado para a consumação do giado consumado, considerando que Júlio agiu im-
crime. É relevante observar que, sendo o réu pobre, pelido sob o domínio de violenta emoção depois de
semianalfabeto, sem profissão e sem emprego, muito ter sido provocado por Laura.
provavelmente voltará ao crime, fato que, por si, justifi-
ca o aumento da pena-base como forma de prevenção. 12. (Cespe/TJ-AM/Juiz de direito/2016) Ainda com refe-
Tendo em vista os elementos apresentados na justifi- rência à situação hipotética descrita no texto anterior
cação hipotética descrita, assinale a opção correta de e a aspectos legais a ela pertinentes, assinale a opção
acordo com a jurisprudência do STJ. correta com respaldo na jurisprudência do STJ.
a) Por ser inerente ao crime de roubo, compondo a a) Além dos crimes de homicídio, Júlio responderá em
fase de criminalização primária, a perda material concurso material pelo crime de posse irregular de
não poderia justificar o aumento da pena-base como arma de fogo, uma vez que, ao mantê-la guardada
consequência negativa do crime. em sua residência durante mais de dois meses, já
b) O juiz decidiu corretamente, pois apresentou justi- havia consumado esse crime.
ficação convincente, baseada no princípio do livre b) Opera-se o fenômeno da consunção entre o ato de
convencimento. possuir arma de fogo sem autorização legal e o ato
c) Considerando que o réu já tinha sido preso em dispará-la com ânimo de matar, uma vez que o crime
flagrante por roubo e, mesmo sem o trânsito em mais grave sempre absorve o menos grave.
julgado da respectiva sentença, ele ainda responde c) O fato de Júlio possuir guardado na sua casa, fora do
a dois inquéritos policiais por furtos, justifica-se a alcance de crianças, um revólver municiado constitui
exacerbação da pena-base. ante factum não punível em relação ao homicídio
d) O juiz deveria ter levado em conta o fato de as víti- posteriormente praticado.
mas em nada terem contribuído para a ocorrência d) Laura também deverá responder pelo fato de haver
do crime também como motivo para exasperação escondido o revólver dentro da residência, sabendo
da pena-base do réu, a fim de atender as funções ou devendo saber ser proibido deter sua posse sem
repressivas e preventivas da sanção penal. licença da autoridade competente.
e) A exasperação da pena-base por causa da pobreza, e) O fato de possuir um revólver guardado em casa
ignorância ou desemprego caracteriza a prática do e posteriormente utilizá-lo para praticar homicídio
que a doutrina denomina direito penal do inimigo. pode caracterizar continuidade delitiva.

11. (Cespe/TJ-AM/Juiz de direito/2016) Júlio foi denun- 13. (Cespe/TJ-AM/Juiz de direito/2016) Assinale a opção
ciado em razão de haver disparado tiros de revólver, correta de acordo com a jurisprudência do STJ.
dentro da própria casa, contra Laura, sua companheira, a) Diz-se tentado o latrocínio quando não se realiza ple-
porque ela escondera a arma, adquirida dois meses namente a subtração da coisa, mas ocorre a morte
atrás. Ele não tinha licença expedida por autoridade da vítima.
competente para possuir tal arma, e a mulher tratou b) Tendo o CP adotado a teoria monista, não há como
de escondê-la porque viu Júlio discutindo asperamente punir diferentemente todos quantos participem di-
com um vizinho e temia que ele pudesse usá-la contra reta ou indiretamente para a produção do resultado
esse desafeto. Raivoso, Júlio adentrou a casa, procurou danoso.
em vão o revólver e, não o achando, ameaçou Laura, c) É impossível o concurso de pessoas nos crimes cul-
constrangendo-a a devolver-lhe a arma. Uma vez na sua posos, ante a ausência de vínculo subjetivo entre os
posse, ele disparou vários tiros contra Laura, ferindo-a agentes na produção do resultado danoso.
gravemente e também atingindo o filho comum, com d) O crime de latrocínio não admite forma preterdolo-
nove anos de idade, por erro de pontaria, matando-o sa, considerando a exigência do animus necandi na
instantaneamente. Laura só sobreviveu em razão de conduta do agente.
pronto e eficaz atendimento médico de urgência. e) No crime de roubo praticado com pluralidade de
Noções de Direito Penal

Com referência à situação hipotética descrita no texto agentes, se apenas um deles usar arma de fogo e
anterior, assinale a opção correta de acordo com a ju- os demais tiverem ciência desse fato, todos respon-
risprudência do STJ. derão, em regra, pelo resultado morte, caso este
a) Júlio cometeu homicídio doloso contra Laura e cul- ocorra, pois este se acha dentro do desdobramento
poso contra o filho, porque não teve intenção de normal da conduta.
matá-lo.
b) Júlio deverá responder por dois homicídios dolosos, 14. (Cespe/TJ-AM/Juiz de Direito/2016) Assinale a opção
sendo um consumado e o outro tentado, e as pe- correta em relação a tipos penais diversos.
nas serão aplicadas cumulativamente, por concurso a) Somente o dolo qualifica os crimes contra a incolu-
material de crimes, já que houve desígnios distintos midade pública, se estes resultam em lesão corporal
nos dois resultados danosos. ou morte de pessoa.

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b) Não constitui crime vilipendiar as cinzas de um ca- ação ou omissão, e resultarem na aplicação cumu-
dáver, sendo tal conduta atípica por ausência de lativa de penas de reclusão e detenção, o agente
previsão legal. deverá cumprir, primeiramente, a pena de detenção.
c) Se três indivíduos, mediante grave ameaça contra d) O agente, condenado por sentença transitada em
pessoa e com emprego de arma de fogo, renderem julgado pela prática de crime de motim, será consi-
o motorista e os agentes de segurança de um carro- derado reincidente, em caso de sentença condena-
-forte e subtraírem todo o dinheiro nele transporta- tória por crime de furto.
do, haverá apenas duas causas especiais de aumento e) Se, no curso do prazo, o agente cometer novo crime
de pena: o concurso de duas ou mais pessoas e o doloso ou culposo, a suspensão condicional da pena
emprego de arma de fogo. deverá ser revogada; no entanto, se o beneficiado
d) Distribuir símbolos ou propaganda que utilizem a for condenado, irrecorrivelmente, por contravenção
cruz suástica ou gamada para fins de divulgação do penal à pena privativa de liberdade, a revogação será
nazismo é uma conduta típica prevista em lei. facultativa.
e) Pratica crime previsto no CP aquele que contrai ca-
samento conhecendo a existência de impedimento 18. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de Direito/2016) Carlos, em unida-
que lhe cause a nulidade absoluta ou relativa. de de desígnios previamente ajustado com Bruno, seu
primo em terceiro grau, acompanhou seu pai André,
15. (Cespe/TRE-PI/Analista Judiciário/2016) Com relação de cinquenta anos de idade, até uma agência da Caixa
aos crimes contra a administração pública, assinale a Econômica Federal, situada em Brasília – DF. Na agência,
opção correta. Carlos aproveitou-se de um momento de distração do
a) O detentor de cargo em comissão não é equiparado pai, que tinha acabado de efetuar um saque, e subtraiu-
a funcionário público para fins penais. -lhe da carteira a quantia de R$ 2.000,00 . Na sequência,
b) A exigência, por funcionário público no exercício da ao tentar fugir com o produto do crime, Carlos danificou
função, de vantagem indevida, configura crime de deliberadamente a porta giratória da agência bancária
corrupção ativa. e dirigiu-se à esquina, onde Bruno o aguardava, em um
c) Caso os autores de crime contra a administração veículo, para empreenderem fuga. No entanto, antes de
pública sejam ocupantes de função de direção de conseguir fugir, ambos foram presos, em flagrante, por
órgão da administração direta, as penas a eles im- policiais militares que estavam seguindo Carlos desde o
postas serão aumentadas em um terço. momento da subtração do dinheiro dentro da agência
d) Tratando-se de crime de peculato culposo, a repara- bancária.
ção do dano após o trânsito em julgado de sentença Em face dessa situação hipotética e tendo em vista que
penal condenatória ocasiona a extinção da punibili- Carlos e Bruno são penalmente imputáveis, assinale a
dade do autor. opção correta com base nas disciplinas legal e jurispru-
e) Não configura crime o fato de o funcionário deixar dencial referentes aos delitos contra o patrimônio.
de praticar ato de ofício a pedido de outrem se, com a) Carlos responderá pelo delito de furto qualificado
isso, ele não obtiver vantagem patrimonial. por rompimento de obstáculo, ao passo que Bruno
será processado pelo crime de furto simples.
b) Carlos responderá pelos delitos de furto simples e de
16. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de Direito/2016) De acordo com o CP,
dano qualificado, devido ao fato de a Caixa Econômi-
constituem hipóteses de exclusão da antijuridicidade
ca Federal ter natureza jurídica de empresa pública
a) o estrito cumprimento do dever legal e o estado de
federal.
necessidade.
c) Bruno responderá pelo delito de dano qualificado,
b) a insignificância da lesão e a inexigibilidade de con-
já que aderiu, integralmente, à conduta danosa de
duta diversa. Carlos, perfeitamente previsível na hipótese concreta.
c) a legítima defesa putativa e o estrito cumprimento d) Se André estivesse com sessenta e cinco anos de ida-
do dever legal. de à época dos fatos, Bruno responderia, em razão
d) o estado de necessidade e a coação moral irresistível. do crime praticado, pelo delito de furto, e a conduta
e) o exercício regular de direito e a inexigibilidade de de Carlos seria considerada atípica.
conduta diversa. e) Se a Caixa Econômica Federal não apresentar queixa,
no prazo de seis meses, após o cometimento do ato
17. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de Direito/2016) Considerando as delituoso, Carlos não será denunciado por nenhum
orientações legais relativas a aplicação de penas, assi- delito, e Bruno deverá ser denunciado pelo crime
nale a opção correta. de furto simples.
a) Havendo concurso formal de delitos, em que o agen-
te, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois 19. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de Direito/2016) De acordo com as
ou mais crimes, idênticos ou não, aplicar-se-á a pena súmulas em vigência do STF, assinale a opção correta.
privativa de liberdade mais grave, ou, se as penas a) Admite-se continuidade delitiva nos crimes contra
Noções de Direito Penal

forem iguais, aplicar-se-á apenas uma delas, majo- a vida.


rada, em qualquer caso, de um sexto até metade, b) Os crimes falimentares, por serem tipificados em lei
sem prejuízo de eventual cumulação de penas, nas especial, não se sujeitam às causas interruptivas da
situações em que a ação ou a omissão for dolosa, e prescrição previstas no CP.
os crimes resultarem de desígnios autônomos. c) A definição dos crimes de responsabilidade e o es-
b) As agravantes e as atenuantes previstas no CP são tabelecimento das respectivas normas de processo
numerus clausus, ou seja, não é possível invocar cir- e julgamento são da competência legislativa concor-
cunstância atenuante ou agravante que não tenha rente da União e das unidades da Federação.
sido expressamente prevista no texto legal. d) Ainda que o agente não subtraia bens da vítima,
c) No caso de concurso material de delitos, quando configura-se o crime de latrocínio quando o homi-
os crimes forem praticados, mediante mais de uma cídio se consuma.

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e) A conduta de reduzir tributo mediante prestação de d) Em decorrência do princípio da confiança, há pre-
declaração falsa às autoridades fazendárias, antes sunção de legitimidade e legalidade dos atos dos
do lançamento definitivo do tributo, configura crime órgãos oficiais de persecução penal, razão pela qual
contra a ordem tributária. a coletividade deve guardar confiança em relação a
eles.
20. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de Direito/2016) Com relação à apli- e) Dado o princípio da intranscendência da pena, o con-
cação da lei penal, assinale a opção correta. denado não pode permanecer mais tempo preso do
a) As frações de dia são computadas como um dia in- que aquele estipulado pela sentença transitada em
tegral de pena nas penas privativas de liberdade e julgado.
nas restritivas de direitos.
b) O direito penal, quanto ao tempo do crime, conside- 23. (Cespe/TCE-PR/Auditor/2016) Assinale a opção correta
ra praticado o crime no momento do seu resultado. com relação aos crimes contra a fé pública.
c) A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei a) O tipo penal que incrimina a conduta de possuir ou
brasileira produz as mesmas consequências, poderá guardar objetos especialmente destinados à falsifi-
ser homologada no Brasil para todos os efeitos, ex- cação de moeda constitui exceção à impunibilidade
ceto para obrigar o condenado à reparação do dano. dos atos preparatórios no direito penal brasileiro.
d) Ficam sujeitos à lei brasileira os crimes contra o patri- b) Os documentos emitidos pelas empresas públicas
mônio ou a fé pública do DF, de estado, de município, estaduais são equiparados a documentos particu-
de empresa pública, sociedade de economia mista, lares para efeitos penais.
autarquia ou fundação instituída pelo poder público, c) O servidor público que dolosamente faz afirmação
embora cometidos no estrangeiro, sendo o agente falsa em procedimento de licenciamento ambiental
punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido comete o crime de falsidade ideológica, previsto
no estrangeiro. no CP.
e) Não é aplicável a lei brasileira aos crimes praticados d) O agente que falsificar e posteriormente usar docu-
a bordo de aeronaves ou embarcações estrangei- mento público cometerá os crimes de falsificação de
ras de propriedade privada, ainda que achando-se documento público e uso de documento falso em
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo concurso material, nos termos do CP.
no espaço aéreo correspondente, e estas em porto e) Segundo o entendimento consolidado nos tribunais
ou mar territorial do Brasil. superiores, será tida como atípica a conduta do acu-
sado que, ao ser preso em flagrante, informar nome
21. (Cespe/TCE-PR/Auditor/2016) A respeito das fases do diverso, uma vez que agirá em legítimo exercício de
iter criminis, assinale a opção correta. autodefesa.
a) O crime de concussão é classificado pela doutrina
como material, não bastando, portanto, para sua 24. (Cespe/TCE-PR/Auditor/2016) Considerando o enten-
consumação, a mera exigência de vantagem indevida dimento doutrinário e jurisprudencial a respeito dos
para si ou para outrem, direta ou indiretamente. crimes contra a administração pública, assinale a opção
b) Configura-se tentativa imperfeita ou crime falho se correta.
o agente esgota todos os atos executórios e, por a) Situação hipotética: João, chefe de determinada re-
circunstâncias alheias a sua vontade, o crime não partição pública, deixou de instaurar o devido pro-
se consuma. cedimento administrativo disciplinar para apurar a
c) Dado o princípio da alteridade, a atitude meramente responsabilidade por falta funcional de Pedro, que,
interna do agente não pode ser incriminada, razão além de ser seu subordinado, era seu amigo de longa
pela qual não se pune a cogitação. data, fato que o fez atuar com um grau de tolerân-
d) No direito brasileiro, os atos preparatórios não são cia maior. Assertiva: Nessa situação, João cometeu
puníveis em nenhuma circunstância, nem mesmo o crime capitulado no CP como condescendência
como tipo penal autônomo. criminosa.
e) O crime de falsificação de documento público é cri- b) Para efeitos penais, o CP excepciona do conceito
me material e, portanto, somente se consuma por de funcionário público os servidores temporários
ocasião do dano provocado pela aludida falsificação. contratados por prazo determinado para atender
necessidade transitória de excepcional interesse
22. (Cespe/TCE-PR/Auditor/2016) A respeito dos princípios público.
aplicáveis ao direito penal, assinale a opção correta. c) O CP prevê a figura do peculato culposo. Se a repara-
a) Do princípio da individualização da pena decorre a ção do dano ocorrer até o recebimento da denúncia
exigência de que a dosimetria obedeça ao perfil do haverá extinção da punibilidade. Caso se dê após
sentenciado, não havendo correlação do referido prin- o recebimento da denúncia, a reparação ensejará
cípio com a atividade legislativa incriminadora, isto é, causa de diminuição da pena.
com a feitura de normas penais incriminadoras. d) Prefeito municipal que der aplicação diversa da es-
Noções de Direito Penal

b) Conforme o entendimento doutrinário dominante tabelecida em lei a verba ou renda pública comete-
relativamente ao princípio da intervenção mínima, rá crime de emprego irregular de verbas ou rendas
o direito penal somente deve ser aplicado quando as públicas, previsto no CP.
demais esferas de controle não se revelarem eficazes e) Cometerá o crime de corrupção passiva o agente
para garantir a paz social. Decorrem de tal princípio público que, na condição de fiscal de tributos, exigir
a fragmentariedade e o caráter subsidiário do direito de uma empresa de pequeno porte tributo de com-
penal. petência estadual que saiba ser indevido.
c) Ao se referir ao princípio da lesividade ou ofensivi-
dade, a doutrina majoritária aponta que somente 25. (Cespe/TCE-PR/Auditor/2016) Assinale a opção correta
haverá infração penal se houver efetiva lesão ao bem a respeito dos institutos da desistência voluntária, do
jurídico tutelado. arrependimento eficaz e do arrependimento posterior.

145
a) A voluntariedade e a espontaneidade da interrupção a) abuso de autoridade e falsidade ideológica, e José
da execução do crime são requisitos caracterizadores praticou o crime de desobediência.
fundamentais das hipóteses de desistência voluntária. b) abuso de autoridade e falsificação de documento
b) Conforme previsto no CP, a consequência penal do público, e José cometeu o crime de desobediência.
arrependimento eficaz é a mesma do arrependimen- c) abuso de autoridade e falsidade ideológica, e José
to posterior. cometeu o delito de resistência.
c) Caso a restituição da coisa ou a reparação do dano se d) violência arbitrária e falsidade ideológica, e José
dê até o recebimento da denúncia, configurar-se-á o praticou o delito de desobediência.
arrependimento posterior. Caso se dê após o recebi- e) violência arbitrária e falsificação de documento pú-
mento da denúncia e até a sentença, a restituição ou blico, e José praticou a infração penal de resistência.
reparação será considerada circunstância atenuante.
d) No arrependimento posterior, o agente pratica todos 28. (Cespe/DPE-RN/Defensor Público/2015) A respeito de
os atos executórios, e, arrependido, assume nova arrependimento posterior, crime impossível, circuns-
conduta, visando impedir que o resultado inicial- tâncias judiciais, agravantes e atenuantes, assinale a
mente almejado se concretize. opção correta à luz da legislação e da jurisprudência
e) De acordo com o artigo pertinente do CP, a restitui-
do STJ.
ção da coisa, quando cabível e desde que feita até o
a) Existindo duas qualificadoras ou causas de aumento
recebimento da denúncia, é condição indispensável
de pena, uma delas implica o tipo qualificado ou a
para a redução da pena em razão do arrependimento
posterior, mas a recusa do ofendido em receber a majorante na terceira fase da dosimetria, enquanto
coisa de volta inviabilizará a referida causa de dimi- a outra pode ensejar, validamente, a valoração ne-
nuição da pena. gativa de circunstância judicial e a exasperação da
               pena-base.
26. (Cespe/TRE-RS/Analista Judiciário/2015) Assinale a al- b) O arrependimento posterior, por ser uma circuns-
ternativa correta. tância subjetiva, não se estende aos demais corréus,
Mário, chefe e advogado do escritório onde Caio tra- uma vez reparado o dano integralmente por um dos
balhava como estagiário, mandou-o oferecer a José, autores do delito até o recebimento da denúncia.
servidor de uma serventia judicial, o valor de R$ 1.000 c) A existência de sistema de segurança ou de vigilân-
em espécie, para que José não juntasse aos autos de cia eletrônica torna impossível, por si só, o crime
um processo petição protocolada pela parte adversa. de furto cometido no interior de estabelecimento
José aceitou a oferta, deixou de juntar a peça proces- comercial.
sual aos autos, mas a propina, que deveria ser paga d) Condenações anteriores transitadas em julgado al-
posteriormente, não foi paga. cançadas pelo prazo depurador de cinco anos previs-
No que se refere à situação hipotética apresentada, to no art. 64, I, do CP, além de afastarem os efeitos
assinale a opção correta. da reincidência, também impedem a configuração
a) Mário cometeu o crime de corrupção ativa na moda- de maus antecedentes.
lidade tentada e José, o crime de corrupção passiva e) Na hipótese de o autor confessar a autoria do crime,
consumada, sendo Caio isento de pena nesse caso. mas alegar causa excludente de ilicitude ou culpabi-
b) Caio e Mário cometeram o crime de corrupção ativa lidade, não se admite a incidência da atenuante da
e José, o crime de corrupção passiva, todos na mo- confissão espontânea, descrita no art. 65, III, d, CP.
dalidade consumada.
c) Caio e Mário cometeram o crime de corrupção ativa, 29. (Cespe/DPE-RN/Defensor Público/2015) Em cada uma
mas a conduta de José não é considerada crime. das seguintes opções, é apresentada uma situação hi-
d) Caio e Mário cometeram o crime de corrupção pas- potética relativa ao concurso de crimes, seguida de uma
siva na modalidade tentada e José, o de corrupção assertiva a ser julgada. Assinale a opção que apresenta
ativa, também na modalidade tentada. assertiva correta de acordo com a legislação penal e a
e) Mário cometeu o crime de corrupção ativa e José, o jurisprudência do STJ.
crime de corrupção passiva, ambos na modalidade a) No interior de um ônibus coletivo, Sérgio subtraiu,
consumada, não tendo Caio cometido nenhum cri-
com o emprego de grave ameaça, os aparelhos ce-
me, uma vez que agiu em obediência hierárquica.
lulares de cinco passageiros, além do dinheiro que
o cobrador portava. Nessa situação, como houve a
27. (Cespe/TRE-RS/Analista Judiciário/2015) Ao participar
de uma blitz, Marcelo, policial militar, solicitou que de- violação de patrimônios distintos, Sérgio praticou o
terminado condutor parasse o veículo que conduzia, crime de roubo simples em concurso material.
para verificações de rotina. O condutor parou o veículo, b) Plínio praticou um crime de latrocínio (previsto no
mas recusou-se a apresentar os documentos do carro, art. 157, § 3.º, parte final, do CP) no qual houve
contrariando, reiteradamente, as ordens de Marcelo, uma única subtração patrimonial, com desígnios
Noções de Direito Penal

que, irritado, passou a agredir o motorista com socos e autônomos e com dois resultados mortes (vítimas).
pontapés. Os envolvidos foram encaminhados à dele- Nessa situação, Plínio praticou o crime de latrocínio
gacia de polícia, onde foi aberto inquérito policial para em concurso formal impróprio, disposto no art. 70,
apurar os fatos. Marcelo foi, então, ao Instituto Médi- caput, parte final, do CP, no qual se aplica a regra
co Legal e, sem qualquer autorização, preencheu um do concurso material, de forma que as penas devem
formulário de exame de corpo de delito que estava em ser aplicadas cumulativamente.
branco, de forma a fazer nele constar a inexistência de c) Túlio, em um mesmo contexto fático, praticou, com
lesões corporais no condutor, que, conforme apurado, uma menor impúbere de treze anos de idade, sexo
se chamava José. oral (felação), além de cópula anal e conjunção
Nessa situação hipotética, Marcelo cometeu os crimes carnal. Nessa situação, Túlio perpetrou o crime de
de estupro de vulnerável em concurso material.

146
d) Zélio foi condenado pela prática de crimes de roubo ras causadas por um incêndio que destruiu toda a
e corrupção de menores em concurso formal, come- área de internação dos enfermos. Assertiva: Nessa
tidos em continuidade delitiva. Nessa situação, na situação, e considerando a teoria da equivalência
dosimetria da pena aplicar-se-ão cumulativamente dos antecedentes ou da conditio sine qua non, Aldo
as regras do concurso formal (art. 70 do CP) e da será responsabilizado criminalmente pelo resultado
continuidade delitiva (art. 71 do CP). naturalístico (morte).
e) Múcio, mediante grave ameaça exercida com o em- d) O agente condenado a pena privativa de liberda-
prego de arma de fogo, subtraiu bens pertencentes de inferior a quatro anos de reclusão, reincidente
a Bruna e, ainda, exigiu dela a entrega de cartão e com circunstância judicial desfavorável somente
bancário e senha para a realização de saques. Nessa pode iniciar o cumprimento da sanção corporal em
situação, Múcio praticou, em concurso formal, os cri- regime semiaberto.
mes de roubo circunstanciado e extorsão majorada. e) O aumento da pena de multa no concurso formal de
crimes, dentro do intervalo de um sexto a um meio
30. (Cespe/DPE-RN/Defensor Público/2015) Acerca do con- previsto no art. 70 do CP, deve adotar o critério da
curso de agentes, assinale a opção correta conforme a quantidade de infrações praticadas. Assim, aplica-se
legislação de regência e a jurisprudência do STJ. o aumento de um sexto pela prática de duas infra-
a) A ciência da prática do fato delituoso caracteriza coni- ções; um quinto, para três infrações; um quarto, para
vência e, consequentemente, participação, mesmo que quatro infrações; um terço, para cinco infrações; um
inexistente o dever jurídico de impedir o resultado. meio, para seis infrações ou mais infrações.
b) Em um crime de roubo praticado com o emprego
de arma de fogo, mesmo que todos os agentes te- 32. (Cespe/DPE-RN/Defensor Público/2015) Dalva, em pe-
nham conhecimento da utilização do artefato bélico, ríodo gestacional, foi informada de que seu bebê sofria
somente o autor do disparo deve responder pelo de anencefalia, diagnóstico confirmado por laudos mé-
resultado morte, visto que não se encontrava dentro dicos. Após ter certeza da irreversibilidade da situação,
do desdobramento causal normal da ação delitiva. Dalva, mesmo sem estar correndo risco de morte, pediu
Nesse caso, não há que se falar em coautoria no aos médicos que interrompessem sua gravidez, o que
crime mais gravoso (latrocínio). foi feito logo em seguida.
c) Não se admite o concurso de agentes no crime de Nessa situação hipotética, de acordo com a jurispru-
porte ilegal de arma de fogo, haja vista que somente dência do STF, a interrupção da gravidez
o agente que efetivamente porta a arma de fogo a) deve ser interpretada como conduta atípica e, por-
incorre nas penas do delito. tanto, não criminosa.
d) É admissível, segundo o entendimento doutrinário b) deveria ter sido autorizada pela justiça para não
e jurisprudencial, a possibilidade de concurso de configurar crime.
agentes em crime culposo, que ocorre quando há c) é isenta de punição por ter ocorrido em situação de
um vínculo psicológico na cooperação consciente aborto necessário.
de alguém na conduta culposa de outrem. O que d) configurou crime de aborto praticado por Dalva.
não se admite nos tipos culposos é a participação. e) configurou crime de aborto praticado pelos médicos
e) O falso testemunho, por ser crime de mão própria, com consentimento da gestante.
não admite a coautoria ou a participação do advo-
gado que induz o depoente a proclamar falsa afir- 33. (Cespe/DPE-RN/Defensor Público/2015) João, imputá-
mação. vel, foi preso em flagrante no momento em que subtraía
para si, com a ajuda de um adolescente de dezesseis
31. (Cespe/DPE-RN/Defensor Público/2015) No que tange a anos de idade, cabos de telefonia avaliados em cem
nexo de causalidade, iter criminis, espécies e aplicação reais. Ao ser interrogado na delegacia, João, apesar de
da pena, assinale a opção correta à luz da legislação e ser primário, disse ser Pedro, seu irmão, para tentar
jurisprudência do STJ. ocultar seus maus antecedentes criminais. Por sua vez,
a) Situação hipotética: Lino e Vítor, mediante comple- o adolescente foi ouvido na delegacia especializada,
xa logística, escavaram por dois meses um túnel de continuou sua participação nos fatos e afirmou que já
setenta metros entre um imóvel que adquiriram e havia sido internado anteriormente pela prática de ato
o cofre de uma instituição bancária que pretendiam infracional análogo ao furto.
furtar, cessando a empreitada em decorrência de Nessa situação hipotética, conforme a jurisprudência
prisão em flagrante, quando estavam a doze metros dominante dos tribunais superiores, em tese, João pra-
do ponto externo do banco. Assertiva: Nesse contex- ticou os crimes de
to, Lino e Vítor colocaram em risco o bem jurídico a) furto qualificado privilegiado, corrupção de menores
tutelado e praticaram atos executórios do crime de e falsa identidade.
furto qualificado. b) corrupção de menores e falsidade ideológica.
Noções de Direito Penal

b) Na aplicação da pena, na primeira fase do proces- c) furto simples, falsa identidade e corrupção de me-
so dosimétrico, o julgador encontra-se vinculado a nores.
critério objetivo, sendo que, na hipótese de aferir d) furto qualificado e falsidade ideológica.
negativamente circunstância judicial, não pode exas- e) furto simples e corrupção de menores.
perar a pena-base do réu em fração superior a um
sexto. 34. (Cespe/TRE-MT/Analista/2015) Com relação às fontes e
c) Situação hipotética: A vítima Lúcia foi alvejada e aos princípios de direito penal, bem como à aplicação
ferida por disparo de arma de fogo desfechado por e interpretação da lei penal no tempo e no espaço,
Aldo, que agiu com animus laedandi. Internada em assinale a opção correta.
um hospital, Lúcia faleceu não em decorrência dos a) No Código Penal brasileiro, adota-se, com relação
ferimentos sofridos, mas em razão de queimadu- ao tempo do crime, a teoria da ubiquidade.

147
b) A lei penal brasileira aplica-se ao crime perpetrado b) A coação física irresistível configura causa excludente
no interior de navio de guerra de pavilhão pátrio, da culpabilidade.
ainda que em mar territorial estrangeiro, dado o c) No que se refere ao concurso de pessoas, configuram
princípio da territorialidade. exceções à teoria dualista a previsão expressa de
c) Segundo a doutrina majoritária, os costumes e os conduta de cada concorrente em tipo penal autô-
princípios gerais do direito são fontes formais ime- nomo e a cooperação dolosamente distinta.
diatas do direito penal. d) Conforme o STJ, aquele que, ao juiz, admite a auto-
d) Dado o princípio da legalidade estrita, é proibido o ria de um crime, ainda que alegue, em seu favor, a
uso de analogia em direito penal. existência de causa excludente de ilicitude, pode se
e) Dada a ampla margem de escolha atribuída ao le- beneficiar da atenuante genérica relativa à confissão
gislador no que se refere à tipificação dos crimes e espontânea.
cominações de pena, é-lhe permitido tipificar crimes e) De acordo com a jurisprudência do STJ, em se tra-
de perigo abstrato e criminalizar atitudes internas tando de delitos ocorridos em comarcas limítrofes
das pessoas, como orientações sexuais. ou próximas, não se admite a continuidade delitiva.

35 (Cespe/TRE-MT/Analista/2015) A respeito das leis pe- (Cespe/TCE-RN/Assessor Jurídico/2015) Acerca da aplicação


nais em branco e da teoria geral do delito, assinale a da lei penal, dos princípios de direito penal e do arrependi-
opção correta. mento posterior, julgue os itens a seguir.
a) A concepção welzeliana de ação implicou a inclusão 38. Pelo princípio da irretroatividade da lei penal, não é pos-
do dolo — sem a consciência de ilicitude — e da sível a aplicação de lei posterior a fato anterior à edição
culpa nos tipos de injustos. Além disso, conforme desta. É exceção ao referido princípio a possibilidade de
essa concepção, ao desvalor da ação corresponderia retroatividade da lei penal benéfica que atenue a pena
um desvalor do resultado, consistente na lesão ou ou torne atípico o fato, desde que não haja trânsito em
perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. julgado da sentença penal condenatória.
b) Em se tratando de crimes omissivos próprios ou puros, 39. O crime contra a fé pública de autarquia estadual brasi-
não há uma causalidade fática, mas jurídica, uma vez leira cometido no território da República Argentina fica
que o omitente, devendo e podendo, não impede o sujeito à lei do Brasil, ainda que o agente seja absolvido
resultado. Nesse caso, apesar de se tratar de crime naquele país.
material, o agente responde não por ter causado o
resultado, mas por não ter evitado sua ocorrência. (Cespe/TCE-RN/Assessor Jurídico/2015) Com relação à teoria
c) Com relação ao dolo, o legislador penal brasileiro do crime e culpabilidade penal, julgue o seguinte item.
adotou a teoria da representação, conforme a qual, 40. Se a preparação de flagrante pela polícia impedir a
para a existência do dolo, é suficiente a representa- consumação do crime, estará caracterizado crime im-
ção subjetiva ou a previsão do resultado como certo possível.
ou provável.
d) Configura lei penal em branco em sentido estrito o (Cespe/TCE-RN/Assessor Jurídico/2015) Acerca dos delitos
artigo do Código Penal, que estabelece como cri- previstos na parte especial do Código Penal e na legislação
minosa a conduta de casar-se mesmo conhecendo extravagante, julgue o item que se segue.
existir impedimento que acarrete a nulidade abso- 41. No peculato culposo, a reparação do dano antes do
luta do casamento. recebimento da denúncia incorre em extinção da pu-
e) Crimes pluriofensivos são aqueles dotados de iter nibilidade, ao passo que a reparação realizada entre o
criminis fracionável, de forma que sua execução se recebimento da denúncia e o trânsito em julgado da
desdobra em vários atos. sentença condenatória possibilita a aplicação de causa
de diminuição de pena.
36. (Cespe/TRE-MT/Analista/2015) Com relação aos ins-
titutos da desistência voluntária, do arrependimento (Cespe/TCE-RN/Administrador/2015) Acerca do concurso
posterior e do arrependimento eficaz, ao crime impos- de pessoas e dos princípios de direito penal, julgue os itens
sível e às infrações qualificadas pelo resultado e descri- seguintes.
minantes putativas, assinale a opção correta. 42. Segundo o princípio da intervenção mínima, o direito
a) Crime qualificado pelo resultado é o mesmo que penal somente deverá cuidar da proteção dos bens mais
crime preterdoloso. relevantes e imprescindíveis à vida social.
b) Conforme a teoria limitada da culpabilidade, todo 43. No concurso de pessoas, o auxílio prestado ao agente,
e qualquer erro que recaia sobre uma causa de jus- quando não iniciada a execução do crime, é passível de
tificação é erro de proibição. punição.
c) De acordo com a doutrina majoritária, a esponta-
neidade não é requisito para o reconhecimento da (Cespe/TCE-RN/Administrador/2015) Julgue o item subse-
Noções de Direito Penal

desistência voluntária e do arrependimento eficaz. quente acerca dos delitos previstos na parte especial do
d) O instituto do arrependimento posterior não se apli- Código Penal.
ca ao autor de um crime de lesão corporal culposa. 44. O furto praticado por um irmão em desfavor do outro
e) Com relação ao crime impossível, o legislador penal deve ser considerado isento de pena, por expressa pre-
brasileiro adotou a teoria subjetiva. visão legal.

37. (Cespe/TRE-MT/Analista/2015) No tocante a aplicação (Cespe/TCE-RN/Auditor/2015) Julgue os itens a seguir, re-


da pena, concurso de crimes e causas de exclusão de ferentes à lei penal no tempo e no espaço e aos princípios
ilicitude e de culpabilidade, assinale a opção correta. aplicáveis ao direito penal.
a) A legítima defesa sucessiva é inadmissível como cau- 45. Situação hipotética: João, brasileiro, residente em Por-
sa excludente de ilicitude da conduta. tugal, cometeu crime de corrupção e de lavagem de

148
dinheiro no território português, condutas essas tipifi- 56. Pode haver participação dolosa em crime culposo, não
cadas tanto no Brasil quanto em Portugal. Antes do fim sendo necessário, para a caracterização do concurso de
das investigações, João fugiu e retornou ao território pessoas, que autor e partícipes tenham atuado com o
brasileiro. Assertiva: Nessa situação, a lei brasileira pode mesmo elemento subjetivo-normativo.
ser aplicada ao crime praticado por João em Portugal.
46. A revogação de um tipo penal pela superveniência de (Cespe/TJDFT/Analista Judiciário/2015) Acerca dos crimes
lei descriminalizadora alcança também os efeitos ex- previstos na parte especial do Código Penal, julgue o item
trapenais de sentença condenatória penal. a seguir.
57. De acordo com a doutrina e a jurisprudência dominan-
(Cespe/TCE-RN/Auditor/2015) Em relação aos crimes contra tes, o chamado homicídio privilegiado-qualificado, ca-
a fé pública bem como à aplicação das penas, julgue os itens racterizado pela coexistência de circunstâncias privile-
que se seguem. giadoras, de natureza subjetiva, com qualificadoras, de
47. Segundo o STJ, tanto os inquéritos policiais quanto natureza objetiva, não é considerado crime hediondo.
as ações penais sem trânsito em julgado podem ser
considerados como maus antecedentes para fins de (Cespe/TJDFT/Analista Judiciário/2015) A respeito do direito
dosimetria da pena. penal, julgue o item a seguir.
48. De acordo com a jurisprudência consolidada do STF e 58. O erro de proibição pode ser direto — o autor erra so-
do STJ, não pratica o crime de falsa identidade o agente bre a existência ou os limites da proposição permissiva
que, no momento da prisão em flagrante, atribuir para —, indireto — o erro do agente recai sobre o conteú-
si falsa identidade, visto que essa é uma situação de do proibitivo de uma norma penal — e mandamental
autodefesa. — quando incide sobre o mandamento referente aos
crimes omissivos, próprios ou impróprios.
(Cespe/TJDFT/Técnico/Administração/2015) Acerca da im-
putabilidade penal, julgue os itens a seguir.
49. A embriaguez completa, culposa por imprudência ou
Gabarito
negligência – aquela que resulta na perda da capacida-
de do agente de entender o caráter ilícito de sua con- 1. d 13. e 25. c 37. d 49. c
duta –, no momento da prática delituosa, não afasta a 2. a 14. d 26. b 38. e 50. e
culpabilidade. 3. d 15. c 27. b 39. c 51. c
50. A doença mental e o desenvolvimento mental incom- 4. c 16. e 28. a 40. c 52. c
pleto ou retardado, por si só, afastam por completo a 5. b 17. a 29. b 41. e 53. c
responsabilidade penal do agente. 6. d 18. e 30. d 42. c 54. c
7. e 19. d 31. a 43. e 55. c
(Cespe/TRE-RS/Analista Judiciário/2015) Em relação à apli- 8. e 20. d 32. a 44. e 56. e
cação da lei penal e aos institutos do arrependimento eficaz 9. a 21. c 33. a 45. c 57. c
e do erro de execução, julgue o item seguinte. 10. e 22. b 34. b 46. e 58. e
51. Se um indivíduo praticar uma série de crimes da mes- 11. c 23. a 35. a 47. e
ma espécie, em continuidade delitiva e sob a vigência 12. a 24. a 36. c 48. e
de duas leis distintas, aplicar-se-á, em processo contra
ele, a lei vigente ao tempo em que cessaram os delitos,
ainda que seja mais gravosa.

(Cespe/TJDFT/Técnico/Administração/2015) Acerca do crime


e da aplicação da lei penal no tempo e no espaço, julgue os
itens que se seguem.
52. A lei mais benéfica deve ser aplicada pelo juiz quando
da prolação da sentença – em decorrência do fenômeno
da ultratividade – mesmo já tendo sido revogada a lei
que vigia no momento da consumação do crime.
53. Sob o prisma formal, crime corresponde à concepção
do direito acerca do delito, em uma visão legislativa do
fenômeno; sob o prisma material, o conceito de crime
é pré-jurídico, ou seja, é a concepção da sociedade a
respeito do que pode e deve ser proibido.
54. Ainda que se trate de tentativa delituosa, considera-
-se lugar do crime não só aquele onde o agente tiver
praticado atos executórios, mas também aquele onde
Noções de Direito Penal

deveria produzir-se o resultado.


55. Caracteriza-se a autoria colateral na hipótese de dois
agentes, imputáveis, cada um deles desconhecendo a
conduta do outro, praticarem atos convergentes para
a produção de um delito a que ambos visem, mas o
resultado ocorrer em virtude do comportamento de
apenas um deles.

(Cespe/TJDFT/Técnico/Administração/2015) Em relação à im-


probidade administrativa, ao concurso de pessoas e às hipó-
teses de extinção da punibilidade, julgue o item subsecutivo.

149
PMGO

SUMÁRIO

Noções de Direito Constitucional

Dos princípios fundamentais.................................................................................................................................................. 3

Dos direitos e garantias fundamentais (direitos e deveres individuais e coletivos, nacionalidade)....................................4

Da organização do Estado (organização político-administrativa, União, Estados Federados, Municípios,


Distrito Federal e Territórios, militares dos Estados, Distrito Federal e Territórios)........................................................... 23

Da organização dos poderes (poder legislativo, congresso nacional, atribuições do congresso nacional, câmara dos
deputados, senado federal, deputados e senadores, processo legislativo, poder executivo)...........................................46

Da defesa do Estado e das Instituições Democráticas (estado de defesa e estado de sítio, Forças Armadas,
segurança pública)................................................................................................................................................................ 80

Da administração pública..................................................................................................................................................... 35
Noções de Direito Constitucional
Fabrício Sarmanho / Eduardo Muniz Machado Cavalcanti

Princípios Fundamentais No art. 1º, parágrafo único, da Constituição Federal já se


encontra traduzida a soberania popular. Segundo a Consti-
Fundamentos tuição Federal, todo poder emana do povo, que o exerce
por meio de seus representantes eleitos ou diretamente,
Nosso País é denominado República Federativa do Brasil. nos termos desta Constituição.
República representa nossa forma de governo. Na repú-
blica a figura estatal possui um caráter público, deixando, Separação dos Poderes
assim, de pertencer a uma monarca. A forma de governo
republicana pressupõe alguns elementos que a diferenciam Visando à limitação dos poderes estatais, desenvolveu‑se
da forma monárquica: a teoria da tripartição dos poderes. Parte‑se do pressuposto
• temporariedade dos cargos; de que a divisão das principais funções estatais para serem
• eletividade; exercidas separadamente evita a formação de poderes ab-
• responsabilidade dos governantes. solutos. Sendo assim, desenvolveu‑se, inspirada nas ideias
de Montesquieu, a técnica de separação das três principais
Federação é nossa forma de estado. A forma fe­derativa funções do Estado (admi­nistrar, legislar e julgar) para que
de estado traduz‑se na descentralização política do país, sejam exercidas por três poderes.
tornando‑o uma reunião de entes autônomos, que não podem No Brasil foi adotada uma separação que, podemos dizer,
se desvincular dessa união, ou seja, não podem exercer direito não se mostra absoluta, já que as funções não são exercidas
de secessão. A autonomia dos entes fe­derados não pode ser de maneira exclusiva por um dos agentes estatais. Define o
confundida com a soberania que possui o país. A soberania art. 2º da Constituição Federal que “são Poderes da União,
pressupõe a não sujeição a qualquer vontade externa. A autono- independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Exe-
mia, por sua vez, apenas impõe a existência de três elementos: cutivo e o Judiciário”. Um poder não poderá, dessa forma,
• auto‑organização (capacidade de estabelecer legisla- intervir nas atividades do outro, mas a atuação dos poderes
ção própria); será harmônica, envolvendo todos os poderes na execução
• autogoverno (eleição de seus representantes); das políticas públicas.
• autoadministração (prestação de serviços públicos). Tendo em vista que a execução de uma função não
é atribuída de forma exclusiva a nenhum dos poderes,
No Brasil a federação compõe‑se pela união indissolúvel desenvolveu‑se a divisão de funções em típicas e atípicas.
dos Estados, Municípios e Distrito Federal1. As funções típicas são aquelas para as quais um determinado
É também um princípio fundamental de nosso país o poder é criado, representando a vocação dessa estrutura
fato de constituirmos um Estado Democrático de Direito, política. A função atípica representa uma atribuição exercida
o que significa que o Estado obedece às imposições legais, de maneira excepcional por um determinado poder, dado
que são elaboradas de maneira democrática (feitas pelo que é concebida como uma função típica de outro poder.
povo e para o povo).2 O Poder Judiciário possui a função típica de julgar, exer-
O art. 1º da Constituição Federal define cinco fundamen- cendo, porém, a função atípica de administrar quando, por
tos, quais sejam: exemplo, realiza um concurso público.
a) Soberania; O Poder Legislativo possui as funções típicas de legislar
b) Cidadania;3 e de fiscalizar, exercendo, por outro lado, a função atípica
c) Dignidade da Pessoa Humana;4 de julgar, quando julga os crimes de responsabilidade, bem
d) Valores Sociais do Trabalho e da Livre Iniciativa; como a função atípica de administrar, quando, por exemplo,
Observe a seguinte assertiva cobrada em prova: caso realiza uma licitação7. Nesse sentido, observe a seguinte
o Governo Federal decidisse adotar medidas a partir das assertiva de prova: no Brasil, as funções atípicas, relacio‑
quais o Estado passasse a planejar e dirigir, de forma nadas à teoria da separação de poderes, possibilitam ao
determinante, a ordem econômica do país, inclusive em Senado Federal julgar o Presidente da República por crime
relação ao setor privado, essas medidas violariam o valor de responsabilidade.8
constitucional da livre iniciativa.5 O Poder Executivo exerce função típica de administrar,
e) Pluralismo Político6. mas também exerce atividade atípica ao legislar, editando
medidas provisórias ou leis delegadas9.
Importante observar que pluralismo político não é A busca pela harmonia das funções exercidas pelo
Noções de Direito Constitucional

sinônimo de pluripartidarismo político. Pluralismo Políti- Estado levou à adoção de um mecanismo denominado
co significa liberdade de adoção de concepções políticas. checks and balances, checks and counter checks, ou freios
O pluripartidarismo, por sua vez, que está previsto no art. e contrapesos. O referido sistema consiste na previsão de
17 da Constituição Federal, traduz‑se na possibilidade de se freios mútuos, que servem à manutenção do equilíbrio de
criar, no País, mais de um partido político. forças entre os Poderes.
1
Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
Nacional de Defesa Civil/2012.
Objetivos Fundamentais
2
Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
Nacional de Defesa Civil/2012. De acordo com o art. 3º da Constituição Federal, são
3
Assunto cobrado na prova do Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/ objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
Técnico em Radiologia/2012. • construir uma sociedade livre, justa e solidária;
4
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/Classe A/
Padrão I/2012.
5
Cesgranrio/Bacen/Técnico/2010. 7
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico
6
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010.
Legislativo/Técnico em Radiologia/2012; Esaf/Ministério da Integração Nacio- 8
FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Técnico Legislativo/Direito/2010.
nal/Secretaria Nacional de Defesa Civil/2012 e FCC/Assembleia Legislativa-SP/ 9
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico
Agente Legislativo de Serviços Técnicos e Administrativos/2010. Judiciário/Área Administrativa/2010.

3
• garantir o desenvolvimento nacional; Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmôni-
• erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as cos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
desigualdades sociais e regionais10; Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República
• promover o bem de todos, sem preconceitos de ori- Federativa do Brasil:
gem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
de discriminação. II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
As normas definidoras dos objetivos fundamentais são, desigualdades sociais e regionais;
por sua natureza, normas programáticas. Isso não significa IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de
que elas possam ser esquecidas pelo poder público. As nor- origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
mas programáticas vinculam o Estado mas são sujeitas à discriminação.
reserva do possível, que significa a necessidade de o Estado Art. 4º A República Federativa do Brasil rege‑se nas suas
implementar políticas públicas dentro do que é considerado relações internacionais pelos seguintes princípios:
economicamente viável. O princípio da reserva do possível I – independência nacional;
não pode servir de estímulo ao total desprezo das normas II – prevalência dos direitos humanos;
programáticas, já que há um mínimo existencial a vincular a III – autodeterminação dos povos;
implementação de tais objetivos. Quando o Poder Judiciário IV – não intervenção;
intervém na atuação administrativa para determinar o respeito V – igualdade entre os Estados;
a tais objetivos, tem‑se o que é denominado ativismo judicial. VI – defesa da paz;
VII – solução pacífica dos conflitos;
Princípios Aplicáveis às Relações Internacionais VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX – cooperação entre os povos para o progresso da
Os princípios aplicáveis nas relações internacionais estão humanidade;
definidos no art. 4º da Constituição Federal. Tais princípios X – concessão de asilo político.
são sempre aplicáveis com vistas à reciprocidade, princípio Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará
geral que incide em nossas relações internacionais. Estão a integração econômica, política, social e cultural dos povos
listados no referido artigo os seguintes princípios: da América Latina, visando à formação de uma comunidade
• independência nacional11; latino‑americana de nações.
• prevalência dos direitos humanos;
• autodeterminação dos povos12; Direitos e Garantias Fundamentais
• não intervenção13;
• igualdade entre os Estados; Os direitos fundamentais ganham destaque principal-
• defesa da paz; mente após a Revolução Francesa, momento em que diversas
• solução pacífica dos conflitos; correntes filosóficas e políticas como o racionalismo e o
• repúdio ao terrorismo e ao racismo; contratualismo inspiram a vontade popular de impor limites
• cooperação entre os povos para o progresso da huma- ao Estado, reconhecendo um núcleo mínimo de proteção do
nidade; indivíduo perante o Estado. A ideia de direitos fundamentais
• concessão de asilo político. surge da tentativa de se estabelecer um rol de direitos que
seria inerente à própria condição humana, que não depen-
A República Federativa do Brasil buscará a integração desse de uma vontade política. São, por isso, considerados
econômica, política, social e cultural dos povos da América direitos naturais.
Latina, visando à formação de uma comunidade latino‑ame- Nossa Constituição relaciona os direitos fundamentais
ricana de nações. em seu Título II, denominado “Dos Direitos e Garantias
Fundamentais”. A posição “geográfica” desse título, logo
Dispositivos Constitucionais no início do texto constitucional, demonstra a importância
dos direitos fundamentais em nossa ordem constitucional.
TÍTULO I Partindo do pressuposto de que o constituinte não utiliza
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS palavras inúteis, podemos concluir que direitos e garantias
possuem diferenças axiológicas. Os direitos possuem um ca-
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela ráter declaratório, enquanto as garantias possuem um nítido
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito sentido assecuratório. Os direitos se declaram, enquanto as
Federal, constitui‑se em Estado Democrático de Direito e garantias se estabelecem, demonstrando que as garantias
tem como fundamentos: são elementos instrumentais que garantem o respeito aos
Noções de Direito Constitucional

I – a soberania; direitos que são declarados na Constituição Federal.


II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana; Titularidade dos Direitos Fundamentais
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político. Os direitos fundamentais podem ser exercidos tanto
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o pelas pessoas físicas quanto pelas pessoas jurídicas. Apesar
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, de o art. 5º, caput, da Constituição Federal referir‑se tão
nos termos desta Constituição. somente aos brasileiros e estrangeiros residentes no país,
10
Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria entende‑se que os estrangeiros em geral, ainda que apenas
Nacional de Defesa Civil/2012. visitando a República Federativa do Brasil, também são
11
Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria titulares desses direitos.
Nacional de Defesa Civil/2012.
12
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/MF/Assistente Técnico/Adminis- A título de exemplo: Pablo, argentino e residente na Ar-
trativo/2012 e Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Técnico em gentina, solteiro, de dezoito anos de idade, de passagem pelo
Radiologia/2012. Brasil, com destino aos Estados Unidos da América, foi inter-
13
Assunto cobrado na prova da FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Técnico
Legislativo/Direito/2010. ceptado em operação da PRF. Nessa situação hipotética, não

4
obstante Pablo não seja residente no Brasil, todos os direitos mesmo nos casos em que não existe uma reserva legal, ou
individuais fundamentais elencados no caput do art. 5º da CF seja, mesmo quando a constituição não faz referência à lei
devem ser respeitados durante a referida operação policial.14 é possível que o legislador venha a delimitar a forma de
As pessoas jurídicas também podem ser titulares de utilização dos direitos fundamentais.
direitos fundamentais, mas apenas daqueles direitos que No caso de choque de direitos fundamentais, teremos
são com elas compatíveis. São, assim, impedidas de exercer de observar certos parâmetros. Em primeiro lugar, deve ser
certos direitos como os direitos políticos (votar, ser votado observado o princípio da legalidade. Segundo esse princípio,
etc.). Até mesmo as pessoas jurídicas de direito público são a atuação do intérprete deve ser pautada nos critérios de
titulares de direitos fundamentais. necessidade e adequação. Além disso, a hipótese de choque
de direitos fundamentais também inspira a utilização do
Geração dos Direitos Fundamentais princípio da harmonização ou da concordância prática, que
requer que o aplicador adote uma interpretação que evite
Os direitos fundamentais não surgiram de forma instantâ- o sacrifício total de um dos direitos em conflito.
nea. A conquista dos direitos fundamentais ocorreu ao longo Inalienabilidade – Não é possível transferir um direito
da história, de tal forma que podemos identificar diversas fundamental.
gerações de direitos, que nada mais são do que a represen- Irrenunciabilidade – Não é possível renunciar totalmente
tação de momentos históricos e os direitos ali conquistados. a um direito fundamental.
As gerações de direitos também podem ser denominadas Imprescritibilidade – Os direitos fundamentais não são
dimensões de direitos fundamentais, termo que deixa mais alcançados pela prescrição. A prescrição corresponde à perda
claro o fato de que as gerações não são superadas, mas sim de uma pretensão em virtude do decurso do tempo.
incorporadas às novas gerações de direitos fundamentais. Historicidade – Os direitos e garantias fundamentais
possuem origem histórica.
Primeira Geração Inviolabilidade – Não podem ser violados os direitos
fundamentais.
Surge no Século XVIII, no âmbito da Revolução Fran- Efetividade – O Estado deve primar por garantir o res-
cesa. Os direitos fundamentais conquistados nessa época peito e a efetividade dos direitos fundamentais.
configuram liberdades negativas (status negativus), já que Universalidade – Os direitos fundamentais alcançam a
representam um impedimento à atividade estatal, uma todos.
omissão, um não fazer. Trata‑se dos direitos civis e políticos.
Obs.: os direitos e as garantias fundamentais consa‑
Segunda Geração grados constitucionalmente não são ilimitados, uma vez
que encontram seus limites nos demais direitos igualmente
Desenvolvem‑se no Século XIX, inspirados pela Revolu- consagrados na mesma Carta Magna.15
ção Industrial, sendo reconhecidos constitucionalmente no
Século XX. Tais direitos possuem um caráter positivo (status
positivus) e exigem uma prestação do Estado. Inserem, assim, Direitos e Deveres Individuais e Coletivos
uma obrigação de fazer, uma ação do ente estatal. São os
direitos sociais, econômicos e culturais. Assim dispõe o art. 5º da Constituição Federal:

Terceira Geração Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
quer natureza, garantindo‑se aos brasileiros e aos
Os direitos de terceira geração, desenvolvidos no Sé- estrangeiros residentes no País a inviolabi­lidade do
culo XX, voltam‑se à defesa dos interesses de titularidade direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
coletiva, denominados interesses difusos. Esses direitos e à propriedade, nos termos seguintes:
são supraindividuais, já que não pertencem a um indivíduo
especificamente, mas sim a uma coletividade. São exemplos Em primeiro lugar, há que se frisar que o dispositivo acima
o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado transcrito reproduz o princípio da isonomia, que consiste
e a proteção do idoso. na proibição de criação de distinções que não sejam funda-
A primeira geração remonta ao ideal de liberdade. mentadas. Assim, impõe a Constituição que os iguais sejam
A segunda geração volta‑se à igualdade. Por fim, a terceira tratados de forma igual e que os desiguais sejam tratados de
geração preocupa‑se com a fraternidade ou solidariedade. forma desigual. Assim, por exemplo, justifica‑se a existência
Temos, assim, a célebre frase, que marcou a Revolução Fran- de critérios diferenciados para homens e mulheres em uma
cesa: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. prova física em um concurso público ante as nítidas diferen-
Há quem defenda a existência de quarta e quinta geração ças fisiológicas entre os gêneros.
Noções de Direito Constitucional

de direitos fundamentais. Não há, porém, um consenso sobre Denomina‑se igualdade material aquela que permite
quais sejam esses direitos fundamentais. a existência de diferenciações, desde que devidamente
justificadas. A igualdade formal que impede a estipulação
Características dos Direitos Fundamentais de distinções em qualquer hipótese muitas vezes resultará
em injustiças, pois deixa de considerar as peculiaridades de
Relatividade – Os direitos não são absolutos: eles podem certas formações sociais.
ser relativizados, principalmente quando entram em choque. A igualdade em nossa ordem constitucional deve ser le-
Até mesmo o direito à vida, que pode ser considerado o mais vada em conta tanto na lei quanto perante a lei. A igualdade
fundamental dos direitos, pode ser relativizado. Exemplo na lei é verificada quando da elaboração legislativa, impondo
de relativização do direito à vida é encontrado no caso da a formação de leis que tenham como pilar a inexistência de
pena de morte, autorizada na hipótese de guerra declarada. diferenciações odiosas. A igualdade perante a lei impõe o
A relativização dos direitos fundamentais pode advir da tratamento igualitário por parte do aplicador do direito, ou
capacidade de conformação que é dada ao legislador. Assim, seja, por parte daquele que venha a interpretar a norma e a
aplicar a disposição abstrata a um caso concreto.
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/Classe A/
14

Padrão I/2012. Cespe/MPS/Agente Administrativo/2010.


15

5
Passamos a comentar os setenta e oito incisos que com- dos direitos fundamentais somente é efetiva se acompanhada
põem o art. 5º da Constituição Federal. de identificação do responsável. O anonimato é vedado jus-
tamente por impossibilitar a responsabilização daqueles que
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obriga- venham a utilizar o direito fora dos limites constitucionais.
ções, nos termos desta Constituição;
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
Comentário: trata‑se de mais uma decorrência do prin- agravo, além da indenização por dano material, moral ou
cípio da isonomia. A previsão acima, porém, não impede à imagem;
a existência de distinções entre homens e mulheres. Tais
diferenciações podem ser feitas tanto no âmbito constitu- Comentário: duas possíveis punições contra quem uti-
cional quanto na órbita legal16. A Constituição Federal de liza de forma errada sua liberdade de expressão estão aqui
1988 estabelece uma série de prerrogativas para as mulhe- dispostas. Primeiramente, temos o direito de resposta, que
res, como a proteção de seu mercado de trabalho, prazo exige do ofensor a concessão de meios para que o ofendido
diferenciado para a licença à gestante, prazo reduzido para venha a defender‑se publicamente. A segunda forma de
a aposentadoria e inexistência de obrigação de alistamento punição corresponde à indenização por dano material, moral
militar em tempos de paz. ou à imagem. A Constituição não define parâmetros para a
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer fixação do valor da indenização, que deverá ser fixado, em
alguma coisa senão em virtude de lei; regra, pelo Poder Judiciário.

Comentário: traduz esse inciso o princípio da legalida- VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
de17. Todos nós podemos fazer tudo o que a lei não proíba, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
o que exprime a nossa capacidade de autodeterminação, garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
também chamada autonomia das vontades. e a suas liturgias21;

A autonomia das vontades definida no art. 5, II, da Cons- Comentário: a liberdade acima descrita alcança os fenô-
tituição Federal não pode ser confundida com o princípio da menos, possibilitando o livre exercício das crenças religiosas e
legalidade estrita ou restrita, que está descrito no art. 37 a livre adoção de concepções científicas, filosóficas, políticas
da Constituição Federal. O referido artigo, ao estipular a etc. Sendo o Brasil um país laico, não é mais aceita a previsão
necessidade de observância da legalidade, impõe que o de religião oficial no País.
administrador público apenas faça o que está previsto em
lei. Podemos assim distinguir as duas legalidades: VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de
Autonomia das vontades Legalidade estrita (art. 37 da CF). internação coletiva22;
(art. 5º, II, da CF)
Comentário: são considerados locais de internação
Vincula os particulares Vincula o administrador público. coletiva os hospitais, as prisões e os quartéis, por exemplo.
Permite que se faça tudo Apenas admite que se faça o que
o que a lei não proíba a lei prevê. VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se
O princípio da legalidade não pode ser confundido com as invocar para eximir‑se de obrigação legal a todos imposta
o princípio da reserva legal. A reserva legal impõe que certas e recusar‑se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei23;
matérias sejam regidas apenas por lei em sentido estrito18.
É o caso, por exemplo, da previsão de crimes e cominação Comentário: são consideradas obrigações a todos im-
de penas, que somente pode ser feita por lei. postas, a obrigação de votar e o alistamento militar, que em
tempos de paz obriga a todos os homens de nacionalidade
III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamen‑ brasileira. Se alguém oferecer uma excusa de consciência
to desumano ou degradante19; para deixar de cumprir uma obrigação a todos imposta,
terá de se sujeitar ao ônus de uma obrigação alternativa.
Comentário: cuida o dispositivo da dignidade da pessoa Se, porém, a obrigação alternativa não for cumprida, será
humana. Este inciso está em consonância com o que dispõe aplicada, por exemplo, a pena de perda dos direitos políticos,
o art. 1º, III, da Constituição Federal. nos termos do art. 15, IV, da Constituição Federal.

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo ve‑ IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artís-
tica, científica e de comunicação, independentemente de
Noções de Direito Constitucional

dado o anonimato20;
censura ou licença24;
Comentário: a liberdade de expressão, como todo direito
fundamental, não é absoluta. Diversos limites serão encon- Comentário: a proibição da censura não impede que o
trados no exercício concreto de tais direitos. Primeiramente, Estado venha a limitar a atividade de comunicação social,
não se pode utilizar a liberdade de expressão para cometer impedindo que os meios de comunicação venha a oferecer pro-
atos ilícitos, ofendendo os direitos fundamentais. Assim, gramação que não seja condizente com os valores da sociedade
impede‑se, por exemplo, a utilização desse direito com a in- ou que sejam ofensivos a determinados grupos. A classificação
tenção de ofender alguém. A repressão contra a má utilização
21
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judiciário/2012.
22
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Administra-
16
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Adminis- tiva/2010.
trativa/2013. 23
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Ministério da Integração Nacio-
17
Assunto cobrado na prova da Funcab/MPE-RO/Técnico/Oficial de Diligên- nal/Secretaria Nacional de Defesa Civil/2012; FCC/Assembleia Legislativa-SP/
cias/2012. Agente Técnico Legislativo/Direito/2010 e FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área
18
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ-RO/Técnico Judiciário/2012. Administrativa/2010.
19
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012. 24
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Ancine/Técnico Administrati-
20
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012. vo/2012 e FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010.

6
indicativa de diversões públicas e a limitação à publicidade de o referido sigilo. Outra imposição posta em relação ao sigilo
tabaco, bebidas alcoólicas, remédios, terapias e agrotóxicos são das comunicações telefônicas é a necessidade de que somente
exemplos desse tipo de atividade, que é plenamente legítima. seja determinada a quebra para fins de investigação criminal
ou instrução processual penal. Não é possível quebrar o refe-
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra rido sigilo em causas cíveis. Além disso, é necessário que seja
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização observada a forma estabelecida em lei.
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; O sigilo das comunicações telefônicas não pode ser
confundido com o sigilo dos dados telefônicos. O extrato das
Comentário: a proteção ao direito de intimidade pode ligações telefônicas é protegido pelo sigilo de dados, que não
ser relativizado quando entra em choque com outros direi- está sujeito à reserva jurisdicional. O conteúdo das ligações
tos, como o direito de informação, que será estudado mais é o que se denomina sigilo telefônico e está protegido pela
à frente. A proteção da intimidade, como veremos a seguir, reserva jurisdicional.
é apta até mesmo para justificar o segredo de justiça, que O sigilo de dados engloba, por exemplo, os dados ban-
impede a publicidade de atos processuais. cários, fiscais e telefônicos.
O direito de imagem envolve aspectos físicos, inclusive Não estão sujeitos à reserva jurisdicional o sigilo da cor-
a voz. Fica configurada a proteção, por exemplo, com a utili- respondência, das comunicações telegráficas e de dados. As-
zação comercial da imagem sem a autorização do titular do sim, é possível que a quebra seja determinada, nesses casos,
direito. Pessoas públicas possuem uma tendência à relativi- por ordem de uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito.
zação do direito de imagem frente ao direito de informação
da sociedade. XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela estabelecer;
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar Comentário: esse inciso dispõe sobre norma de eficácia
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial25;
contida, já que a liberdade de exercício de trabalho, ofício ou
profissão pode ser restringida pela lei que venha a estabele-
Comentário: a penetração sem o consentimento do mo-
cer qualificações profissionais para determinada profissão.
rador pode ocorrer a qualquer hora do dia quando se tratar
Dessa forma, a inexistência de uma lei regulamentadora de
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro.
certa profissão não é impedimento ao seu exercício, mas
Para que o ingresso no domicílio seja realizado mediante
sim a garantia de uma ampla liberdade de acesso à atividade
determinação judicial, porém, é necessário que ele ocorra
profissional.
durante o dia, considerado esse o período entre a aurora e
A liberdade profissional não engloba, porém, atividades
o crepúsculo, ou seja, aquele em que há luz solar.
O ingresso por determinação judicial está limitado por ilícitas. O princípio da legalidade, anteriormente estudado,
reserva jurisdicional, o que significa que não poderá ocorrer permite que se faça tudo que não seja proibido por meio de
por determinação de qualquer outra autoridade (polícia, lei. Assim, não se pode exercer a “profissão” de traficante de
Ministério Público etc.) ou por comissão parlamentar de drogas porque tal atividade é ilícita, proibida pela legislação.
inquérito. Por outro lado, a prostituição é totalmente livre em nosso
O conceito de casa para efeito de inviolabilidade de do- País porque não existe lei regulamentando a atividade.
micílio não se limita ao conceito civil, alcançando os locais
habitados de maneira exclusiva. São incluídos no conceito XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e
os escritórios, as oficinas, os consultórios e, ainda, os locais resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exer‑
de habitação coletiva, como hotéis e motéis. cício profissional28;
A título de exemplo: no curso de uma investigação criminal,
a autoridade policial competente encontra indícios de que Comentário: o direito de informação pode ser encarado
bens furtados há um ano de uma repartição pública estejam sobre duas óticas.
guardados na residência dos pais de um dos investigados. A Sob o ponto de vista privado, o direito de informação da
autoridade policial dirige-se, então, ao imóvel, durante o dia, sociedade englobará, por exemplo, a atividade jornalística,
onde, sem o consentimento dos moradores e independen‑ que pode divulgar informações, ainda que pessoais, que
temente de determinação judicial, efetua busca que resulta sejam de interesse da sociedade. Admite‑se, nessa atividade,
na localização dos bens furtados. Nessa hipótese, será inad‑ porém, o sigilo da fonte, quando for necessário ao exercício
missível, no processo, por ter sido obtida de maneira ilícita.26 profissional. Esse sigilo não impede, porém, a responsabi-
lização do responsável pela informação no caso de ela ser
XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das inverídica, por exemplo.
O direito de informação sob o aspecto privado será es-
Noções de Direito Constitucional

comunicações telegráficas, de dados e das comunicações


telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas tudado adiante, no inciso XXXIII deste artigo.
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal27; XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele
Comentário: os sigilos, assim como todos os demais direi- entrar, permanecer ou dele sair com seus bens29;
tos fundamentais, não são absolutos. Eles podem sofrer limi-
tação legal ou judicial. Em relação ao sigilo das comunicações Comentário: o direito de locomoção, como os demais
telefônicas, verifica‑se a previsão de uma reserva jurisdicional. direitos fundamentais, não é absoluto.
Sendo assim, somente por ordem judicial é possível quebrar Primeiramente, há que se observar, para o seu exercício,
a prevalência da paz. Em hipóteses de guerra, que suscitam
25
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Ministério da Integração Nacio- a instituição de Estado de Sítio, é possível a restrição da
nal/Secretaria Nacional de Defesa Civil/201 e Vunesp/Tribunal de Justiça-SP/
Escrevente Técnico Judiciário/2010. 28
Assunto cobrado na prova do Vunesp/Tribunal de Justiça-SP/Escrevente Técnico
26
FCC/TJRJ/Técnico de Atividade Judiciária/2012. Judiciário/2010.
27
Assunto cobrado na prova do Vunesp/Tribunal de Justiça-SP/Escrevente Técnico 29
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/Classe A/
Judiciário/2010. Padrão I/2012.

7
liberdade de locomoção no território nacional. Além desse que, para tanto, será necessário obter, junto à Prefeitura,
aspecto, há que se observar que o direito de locomoção uma autorização para sua criação e funcionamento. Nesta
inclui os bens pertencentes ao seu titular. Isso não significa, hipótese, a informação que receberam está errada, pois a
porém, que os bens possuam de forma autônoma o direito Constituição Federal estabelece que a criação de associa‑
de locomoção, mas sim que eles possam acompanhar o ções independe de autorização.33
proprietário que esteja se locomovendo.
O direito de locomoção é protegido pelo habeas corpus XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente
e somente é garantido dentro do território nacional. dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão ju‑
dicial, exigindo‑se, no primeiro caso, o trânsito em julgado34;
XVI – todos podem reunir‑se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao público, independentemente de autori‑ Comentário: como estudado no inciso anterior, as as-
zação, desde que não frustrem outra reunião anteriormente sociações podem ser compulsoriamente dissolvidas ou
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio terem suas atividades suspensas por uma decisão judicial.
aviso à autoridade competente30; A hipótese de dissolução, porém, mostra uma medida mais
drástica, o que impõe que a decisão judicial seja revestida de
Comentário: o direito de reunião, como se pode perce- um caráter definitivo, sem possibilidade de reforma por meio
ber, depende do preenchimento de uma série de requisitos: de recurso. Por conta disso, exige‑se o trânsito em julgado
a) ser realizada de forma pacífica; de uma decisão judicial para que ela possa dissolver uma
b) seus participantes não podem estar armados; associação. Uma decisão terá trânsito em julgado quando
c) a reunião deve ocorrer em locais abertos ao públicos; não for mais cabível a interposição de recurso contra ela.
d) exige um prévio aviso à autoridade competente, sem
a necessidade, porém, de autorização dessa autoridade; XX – ninguém poderá ser compelido a associar‑se ou a
e) não pode frustrar uma reunião anteriormente convo- permanecer associado;
cada para o mesmo local.
Outro requisito que pode ser inserido nesse rol é o de Comentário: assim como há a liberdade de criação de
que a reunião seja temporária e episódica, como nos ensina associações, temos também a liberdade individual de inte-
o autor Alexandre de Moraes. grar ou deixar de integrar a associação. Os integrantes da
O direito de reunião também engloba passeatas, carrea- associação, portanto, não poderão ser compelidos a ingressar
tas, comícios, desfiles, assim como cortejos e banquetes de na entidade ou de continuar compondo a associação.
caráter político, que são formas legítimas de reunião. Caso
o direito de reunião seja desrespeitado, o remédio cabível XXI – as entidades associativas, quando expressamente
será o mandado de segurança, ação cabível para a proteção autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados
de direito líquido e certo. judicial ou extrajudicialmente35;

XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, Comentário: a principal finalidade de uma associação é,
vedada a de caráter paramilitar31; sem dúvida, a defesa de interesses dos associados. A defesa
dos interesses pode ocorrer perante o poder judiciário ou
Comentário: o direito de associação permite que pessoas de forma extrajudicial. A defesa de interesses por meio da
físicas e jurídicas se agrupem em prol de um interesse comum. associação, porém, depende de autorização dos associados,
Segundo o texto constitucional, é livre a formação de asso- que podem se expressar de forma individualizada ou conce-
ciações, desde que elas tenham um fim lícito e não possuam der uma autorização genérica.
caráter paramilitar. Para que uma associação tenha caráter A defesa de interesses dos associados é realizada por
paramilitar, é necessário que ela venha a ter características meio do instituto da representação processual. Na represen-
similares às estruturas militares, tais como o uso de uniformes, tação processual a associação fala em nome do associado e,
palavras de ordem, hierarquia militarizada, táticas militares etc. por tal razão, precisa da autorização desse associado.
Existe uma situação em que a associação atua de forma
XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de extraordinária por meio da substituição processual. Trata‑se
cooperativas independem de autorização, sendo vedada a da hipótese de impetração de mandado de segurança coletivo.
interferência estatal em seu funcionamento32; A associação, nesse caso, defende interesses dos associados em
nome próprio, razão pela qual não necessita de autorização.
Comentário: como visto no inciso anterior, é livre a
criação de associações. A associação de pessoas em um XXII – é garantido o direito de propriedade;
regime de cooperativa, porém, pressupõe o preenchimen-
to de diversos requisitos legais, tendo em vista os diversos Comentário: o núcleo de direitos enumerados no caput
Noções de Direito Constitucional

benefícios que são concedidos a esse tipo de associativismo. do art. 5º já dispõe sobre o direito de propriedade, consi-
Não é permitida a interferência do estado no funcionamento derado pela doutrina como inserido em norma de eficácia
das associações, o que não impede que o Poder Judiciário contida. Isso significa que é possível que o legislador venha a
venha a suspender ou dissolver uma associação no caso de restringir certos aspectos da propriedade, desde que não ve-
se verificar a prática de uma atividade ilícita. nha a reduzi‑la aquém de seu núcleo mínimo, ou seja, desde
A título de exemplo: cinco amigos, moradores de uma que não venha a desconfigurar esse direito de propriedade.
favela, decidem criar uma associação para lutar por me‑
lhorias nas condições de saneamento básico do local. Um XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;
político da região, sabendo da iniciativa, informa-lhes
Comentário: a propriedade, como qualquer direito funda-
mental, não é absoluta, devendo ser garantida na proporção
30
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico
Legislativo/Técnico em Radiologia, Esaf/Ministério da Integração Nacional/
Secretaria Nacional de Defesa Civil/2012. Vunesp/Tribunal de Justiça-SP/ 33
FCC/Instituto Nacional do Seguro Social/Técnico do Seguro Social/2012.
Escrevente Técnico Judiciário/2010. 34
Assunto cobrado na prova da FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Legislativo
31
Funcab/MPE-RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012. de Serviços Técnicos e Administrativos/2010.
32
Assunto cobrado na prova da FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Técnico Legis- 35
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judi-
lativo/2010 e Vunesp/Tribunal de Justiça-SP/Escrevente Técnico Judiciário/2010. ciário/2013 e FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Técnico Legislativo/2010.

8
em que também garante o bem‑estar da sociedade. O des- Comentário: a propriedade intelectual também é pro-
cumprimento da função social da propriedade pode levar, por tegida no âmbito constitucional. Aqui estamos a tratar dos
exemplo, à desapropriação do bem, destinando‑o a uma fina- direitos autorais, que protegem bens imateriais destinados
lidade que atenda ao interesse social, como a reforma agrária. essencialmente a uma função estética (obras literárias,
músicas, pinturas etc.). Compete à legislação a definição
XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapro- do prazo o qual os herdeiros poderão usufruir dos direitos
priação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse patrimoniais da propriedade intelectual.
social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro,
ressalvados os casos previstos nesta Constituição; XXVIII – são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras co-
Comentário: a desapropriação não pode ser confundida letivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive
com o confisco, que é uma forma de expropriação definida nas atividades desportivas;
no art. 243 da Constituição Federal. A desapropriação resulta b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico
na aquisição compulsória de uma propriedade por parte do das obras que criarem ou de que participarem aos criadores,
Estado, que deverá fundamentar tal ato de força na neces- aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e
sidade pública, na utilidade pública ou no interesse social. associativas;
Essa previsão demonstra bem a ideia do inciso anterior, que
demonstra que o interesse do Estado está acima de interes- Comentário: a coautoria, por exemplo, também deve ser
ses particulares quando se trata de dar à propriedade uma protegida, tendo em vista que o texto constitucional protege
função social. A indenização devida pelo ente estatal será, as participações individuais em obras coletivas. A imagem e
de regra, justa, prévia e em dinheiro. A própria Constituição a voz humanas também são protegidas, independentemente
Federal, porém, excepciona tal previsão, dispondo, em seus de sua utilização comercial. Cabe lembrar, porém, que tanto a
arts. 182, §4º, III, e 184, acerca da desapropriação‑sanção, imagem quanto a voz podem sofrer divulgação, independen-
na qual a indenização é recolhida com base em títulos da temente de autorização, quando houver um interesse público
dívida pública e títulos da dívida agrária. de informação. Nesse caso, a relativização desse dispositivo
XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade encontra amparo no art. 5º, XIV, da Constituição Federal, que
competente poderá usar de propriedade particular, assegu‑ trata do direito de informação. O direito de fiscalização do
rada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano36; aproveitamento econômico das obras é feito, por exemplo,
por meio do Ecad – Escritório Central de Arrecadação e Dis-
Comentário: esse inciso trata da requisição adminis- tribuição, entidade que arrecada e distribui direitos autorais.
trativa, que permite ao Estado a utilização compulsória da
propriedade particular. Existem duas diferenças quanto à XXIX – a lei assegurará aos autores de inventos indus-
indenização paga na requisição e na desapropriação. Pri- triais privilégio temporário para sua utilização, bem como
meiramente, a indenização na requisição administrativa não proteção às criações industriais, à propriedade das marcas,
representará o valor total do bem, mas apenas o valor do aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo
dano eventualmente causado. Em segundo lugar, tendo em em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico
vista que o perigo iminente não é previsível, temos que o pro- e econômico do País;
prietário somente será indenizado posteriormente ao uso,
e não de forma prévia, como acontece na desapropriação. Comentário: apesar de se relacionar também com a
propriedade intelectual, a propriedade industrial se difere do
XXVI – a pequena propriedade rural, assim definida em direito autoral em virtude do caráter pragmático da invenção,
lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de que se volta à utilidade da atividade criativa. Como a utilidade
penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua ati- deve ser regulada segundo o interesse social e o desenvolvi-
vidade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar mento tecnológico e econômico do País, o privilégio de utili-
o seu desenvolvimento; zação dessa propriedade será apenas temporário. Após um
determinado período, uma invenção, por exemplo, poderá ser
Comentário: a penhora consiste na utilização de bens do produzida e comercializada sem necessidade de licença de seu
devedor para a quitação de sua dívida. O Poder Judiciário, inventor ou do detentor do direito de propriedade industrial.
porém, não poderá utilizar‑se desse instituto para penhorar
propriedades rurais se estiverem presentes alguns requisitos: XXX – é garantido o direito de herança;
– tratar‑se de uma propriedade pequena, tal qual defi-
nido em lei; Comentário: o direito de herança, como todos os de-
– for a propriedade trabalhada pela família; mais direitos fundamentais, não é absoluto, podendo ser
– a obrigação objeto do inadimplemento referir‑se a relativizado, por exemplo, quando a ele se opõem débitos
Noções de Direito Constitucional

dívida contraída para a produção. decorrentes de atividades ilícitas praticadas pelo de cujus,
como estudaremos no dispositivo a seguir.
Tendo em vista a impossibilidade de penhora dessas
terras, torna‑se pouco interessante o empréstimo de valores XXXI – a sucessão de bens de estrangeiros situados no
aos respectivos produtores rurais. Por tal razão, dispõe a País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge
Constituição que a lei disporá sobre os meios de financiar seu ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais
desenvolvimento, que muitas vezes é fomentado pelo Estado. favorável a lei pessoal do de cujus38;

XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de Comentário: a Constituição brasileira tenta proteger
utilização, publicação ou reprodução de suas obras, trans‑ cônjuge e filhos brasileiros quando da partilha de bens de
missível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar37; estrangeiros situados no Brasil. Para tanto, dispõe que deve
ser aplicada a lei mais favorável aos familiares brasileiros,
36
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PRF/Agente Administrativo/ mesmo que, para tanto, seja necessário afastar a legislação
Classe A/ Padrão I/2012 e Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
Nacional de Defesa Civil/2012.
37
Assunto cobrado na prova do Cespe/Ancine/Técnico Administrativo/2012. FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Técnico Legislativo/2010.
38

9
civil brasileira para que seja aplicada a legislação do país de Essas são as disposições constitucionais relacionadas ao
origem do de cujus, ou seja, do estrangeiro falecido. Impor- Direito do Consumidor.
tante salientar que essa regra, por questões de soberania,
somente é aplicável aos bens situados no Brasil. XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse
XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
do consumidor; pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo
seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado39;
Comentário: o Direito Constitucional constitui a base de
diversos ramos do Direito, instituindo as diretrizes necessá- Comentário: o direito de informação pode ser encarado
rias para que o legislador venha a criar a base legal necessária sob ótica pública ou privada. Sob o aspecto privado, refere‑se
à plena eficácia de seus preceitos. ao direito de ser informado, independentemente de censura.
Isso é exatamente o que ocorre com o Direito do Con- Sob a ótica pública, podemos entender tal prerrogativa como
sumidor. Estudar o Direito Consumerista sob a ótica cons- o direito que possuímos de obter, junto aos órgãos públicos,
titucional é visitar os preceitos que servem de base para a informações de interesse particular, ou de interesse coletivo ou
instituição de diversas garantias, tal qual aquelas definidas geral. Esse direito é essencial, tendo em vista a adoção de forma
no Código de Defesa do Consumidor. de governo republicana, que insere a ideia de que o Estado é
Sendo assim, não se cuida aqui de estudar o Direito do uma coisa pública, de todos, razão pela qual deve imperar o
Consumidor, mas sim as disposições inseridas dentro da princípio da publicidade. A lei definirá o prazo no qual, sob pena
ótica constitucional. Esse é um ponto que merece destaque de responsabilidade, a informação será prestada. Há, porém,
no presente estudo. exceções a esse princípio e que possibilitam a existência de
A Constituição Federal começa a referir-se ao consumidor informações sigilosas nos órgãos públicos. Esse sigilo deverá
em seu art. 5º, XXXII, que assim determina: “XXXII – o Estado estar amparado na segurança da sociedade e do Estado.
promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;”. Interessante notar que os fundamentos para o sigilo das
Verifica-se que a Constituição Federal não elabora lista- informações constantes dos órgãos públicos recebeu funda-
gem sobre o que venha a ser o direito do consumidor. Por mento diverso do segredo de justiça, que, segundo o art. 5º,
outro lado, traz a obrigação constitucional de sua proteção LX, da CF, será possível nos casos de proteção do interesse
pelo Estado. Tal defesa será efetivada por meio da edição de social ou da intimidade.
leis, como se verifica no Código de Defesa do Consumidor
(Lei nº 8.078/1990). XXXIV – são a todos assegurados, independentemente
O referido código também possui previsão no Ato das do pagamento de taxas:
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). O ADCT,
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
em seu art. 48, determina que o Congresso Nacional deveria
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
elaborar o Código de Defesa do Consumidor dentro de cento
b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
e vinte dias após a promulgação da Constituição Federal.
para defesa de direitos e esclarecimento de situações de
Esse dispositivo possui grande importância, já que criou a
obrigação de legislar sobre a matéria, reduzindo, assim, a interesse pessoal40;
discricionariedade do Poder Legislativo.
O referido prazo não foi respeitado, visto a data de edição Comentário: trata o presente inciso de uma gratuidade
da Lei nº 8.078, 11 de setembro de 1990. constitucional incondicionada, o que significa dizer que a
Os consumidores também são protegidos pelo texto cons- cobrança de taxas para o exercício do direito de petição ou do
titucional quando é estabelecida, no art. 24, VIII, da Constitui- direito de obter certidões será sempre inconstitucional. Há que
ção Federal, a competência concorrente para a edição de lei se ressaltar que a constituição dispõe também sobre a gratui-
que disponha sobre a responsabilidade por dano causado ao dade de duas certidões específicas: de óbito e de nascimento,
consumidor. Amplia-se, assim, a gama de normas que podem no art. 5º, LXXVI, da CF, que no âmbito constitucional alcança
ser editadas nesse sentido, nas órbitas federal e estadual. apenas os reconhecidamente pobres, nos termos da lei.
Outro dispositivo de grande interesse para o direito do
consumidor é o que garante o esclarecimento acerca dos XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
impostos que incidem sobre mercadorias e serviços. Assim lesão ou ameaça a direito;
dispõe o art. 150, § 5º, da CF:
Comentário: cuida‑se da inafastabilidade da jurisdição
A lei determinará medidas para que os consumidores ou do princípio do amplo acesso ao Poder Judiciário, que
sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam demonstra a intenção do constituinte de submeter ao Poder
sobre mercadorias e serviços. Judiciário toda lesão ou amea­ça de lesão a direito, afastando,
assim, o modelo francês de contencioso administrativo, ou
Noções de Direito Constitucional

Essa disposição constitucional ganha destaque pelo fato seja, de submissão de questões administrativas a tribunais
de consistir em obrigação destinada ao ente Estatal, que específicos. Sendo assim, seria inconstitucional, por exemplo,
institui tributos. Demonstra-se, assim, que o Direito do Con- a estipulação de taxas judiciárias elevadas ou fixadas em per-
sumidor não se restringe a impor obrigação ao fornecedor de centuais sobre o valor da causa, sem limite, pois impedem o
bens ou serviços, mas também a todos aqueles que possam amplo acesso da população ao Poder Judiciário.
atingir a categoria dos consumidores. Em certos casos é possível transacionar acerca do direito
Por fim, destacamos a disposição expressa no de acesso à máquina judiciária, por exemplo, nas hipóteses
art. 170, V, que estabelece a defesa do consumidor como um de convenção de arbitragem livremente acordada em um
dos princípios da ordem econômica. A inserção do direito negócio jurídico. É possível também que a Fazenda Pública
consumerista em nossa ordem econômica representa um venha a condicionar um parcelamento tributário à renúncia
contrapeso ao liberalismo econômico, destacado pela liber-
dade de iniciativa. Demonstra que a atividade econômica, 39
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico
apesar de livre, não se situa em posição de anarquia, tendo Judiciário/2012 e Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional
de Defesa Civil/2012.
em vista o papel cogente dos direitos fundamentais, como 40
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci-
do consumidor. vil/2012.

10
do direito de discutir o débito perante o Poder Judiciário. Como foi dito, o tribunal do júri possui competência para
Em alguns casos, o prévio acesso à via recursal adminis- julgar os crimes dolosos contra a vida, que são aqueles crimes
trativa se mostra necessário para a configuração do interesse cometidos intencionalmente e que se voltam diretamente
de agir, condição para o ajuizamento de uma ação. Para contra o bem “vida”. São exemplos de crimes contra a vida o
a impetração de habeas data, por exemplo, é necessário homicídio, o aborto, auxílio ou a instigação ao suicídio e o in-
que o interessado em obter acesso ou a retificação de seus fanticídio. Para que o crime seja julgado pelo júri, é necessário
dados pessoais comprove a existência de prévia negativa do que ele se volte diretamente contra a vida, não sendo cabível
detentor do banco de dados. o julgamento de crimes que se destinam a ofender outros
A justiça desportiva possui uma precedência sobre o valores, mas que acabam por atingir também a vida da vítima,
sistema judicial no que se refere às causas relativas à dis- tais como o latrocínio e a lesão corporal seguida de morte.
ciplina e às competições desportivas. Nesse caso, a justiça No júri, é admitida a utilização de quaisquer meios lícitos
desportiva terá o prazo de 60 dias, a partir da instauração para o convencimento do conselho de sentença, garantia que
do processo, para proferir sua decisão final. Somente após a Carta Maior denomina plenitude de defesa. Também será
o esgotamento da instância desportiva é que será possível garantido o sigilo da votação, o que impede que os juízes
submeter a causa ao Poder Judiciário. leigos sejam ameaçados ou que sejam feitas tentativas de
suborno, por exemplo. Por fim, cabe lembrar que o vere-
XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato dicto resultante do julgamento do conselho de sentença é
jurídico perfeito e a coisa julgada; soberano, o que impede que o juiz‑presidente do tribunal
venha a alterar alguma conclusão decorrente da votação. Isso
Comentário: nosso sistema constitucional adota a ideia não impede, por outro lado, que sejam interpostos recursos
de irretroatividade da lei, impedindo, assim, que uma nova contra a decisão proferida pelo tribunal do júri, ocasião na
lei produza efeitos sobre atos anteriormente realizados, até qual é possível que o julgamento seja desconstituído.
mesmo sobre os efeitos futuros desses atos. A irretroativida-
de, porém, não é total. A proibição constitucional limita‑se XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem
aos casos em que a aplicação retroativa da lei prejudica o pena sem prévia cominação legal;
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
A Lei de Introdução ao Código Civil, o Decreto‑Lei Comentário: trata‑se do princípio da reserva legal ou da
nº 4.657/1942, define o alcance dos referidos termos da anterioridade da lei penal. A definição de crimes e a comina-
seguinte forma: ção de penas somente é possível por meio de lei em sentido
estrito, excluindo‑se portanto atos normativos primários,
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, como as medidas provisórias. A previsão constitucional
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido desse inciso, porém, não impede a existência de leis penais
e a coisa julgada. em branco, que admitem a existência de complemento a ser
§ 1º Reputa‑se ato jurídico perfeito o já consumado veiculado por normas infraconstitucionais, como a Lei de
segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Tóxicos, por exemplo, que possui regulamento infraconstitu-
§ 2º Consideram‑se adquiridos assim os direitos cional no intuito de disciplinar quais substâncias devem ser
que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, consideradas entorpecentes para efeitos penais.
como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo
pré‑fixo, ou condição preestabelecida inalterável, XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama‑se coisa julgada ou caso julgado a decisão Comentário: trata‑se do princípio da irretroatividade da
judicial de que já não caiba recurso. lei penal mais maléfica, da retroatividade da lei penal mais
benéfica ou da ultratividade da lei penal mais benéfica.
XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; Segundo o referido princípio, a legislação penal não pode
ser aplicada a fatos produzidos antes de sua vigência, salvo
Comentário: a proibição da existência de juízo ou tribunal quando tratar‑se de aplicação que beneficie o réu.
de exceção impede que alguém seja julgado por um órgão Dessa forma, se uma pessoa comete um crime quando
judicial que não seja aquele ordinariamente competente para da vigência de uma Lei A e, posteriormente, surge uma lei
o julgamento da causa. A vedação do dispositivo, porém, não B, mais maléfica, a data do julgamento será aplicada a Lei A,
se limita a esse aspecto, relativo à competência. A proibição ainda que não mais tenha vigência, tendo em vista que não
também visa a evitar que no processo seja utilizado proce- se trata de retroatividade em prol do réu.
dimento diverso daquele previsto em lei, ofendendo, assim,
a legislação processual.
Noções de Direito Constitucional

XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a orga-


nização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos; No caso de a lei posterior ser mais benéfica, a condena-
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos ção aplicar‑lhe‑á, ainda que não vigente à época da conduta
contra a vida; delitiva. Essa retroação pode até mesmo desconstituir deci-
sões que já tenham transitado em julgado.
Comentário: o júri configura uma forma de exercício Cabe nota de que não se admite a Combinação de Leis.
direto da soberania popular, tendo em vista que assegura Se a lei posterior for em parte melhor e em parte pior que a
ao povo o julgamento de crimes dolosos contra a vida. No anterior, o juiz não pode se utilizar da parte benéfica de uma
tribunal do júri, o conselho de sentença, formado por pes- Lei W e da parte benéfica da Lei K, sob pena de agir como
soas leigas, do povo, será o juiz de fato, sendo que o juiz de um legislador positivo, já que criará uma terceira lei. O juiz
direito, togado, apenas terá a função de coordenar os atos deverá, portanto, analisar qual das leis é mais branda para
processuais. beneficiar o réu no caso concreto.

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Ex. 1:

Crime Permanente
Na hipótese de crime permanente, a prática criminosa se alonga no tempo. Como na extorsão mediante sequestro, a lei
será aplicada levando‑se em conta o último momento em que praticado ato executório do crime. Vejamos.

Ex. 2:

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos – imprescritíveis: racismo e ação de grupos armados
direitos e liberdades fundamentais; contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
– sujeitos a reclusão: racismo;
Comentário: trata‑se de cláusula genérica de proteção – insuscetíveis de graça ou anistia: hediondos, tráfico,
ao próprio sistema de garantias fundamentais do cidadão. tortura e terrorismo.

XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e Cabe lembrar que nada impede que a legislação venha a
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; ampliar as características aqui listadas, prevendo, por exem-
plo, que outros crimes também sejam sujeitas a prescrição.
Comentário: primeiramente, há que se asseverar que o
racismo consiste em atitude de segregação, não se limitando a XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
ofensas verbais de conteúdo discriminatório. Ademais, o racis- podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
mo não precisa estar atrelado a critérios biológicos, englobando perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
qualquer forma de discriminação baseada em critérios étnicos, sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
religiosos etc. A inafiançabilidade impede a concessão de liber- patrimônio transferido;
dade provisória mediante pagamento de fiança. A imprescriti-
bilidade impede que o Estado venha a perder sua pretensão Comentário: o princípio da pessoalidade da pena impede
punitiva em virtude do decurso do tempo. Por fim, a pena de que a condenação penal venha a ser estendida, subjetiva-
reclusão impõe a aplicação de regime de pena inicialmente mente, extrapolando a figura do autor. Nosso sistema repudia
fechado, sendo cabível, porém, a progressão de regime. a responsabilidade de pena objetiva, razão pela qual a pena
somente pode ser aplicada a quem seja culpado (em sentido
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetí- lato) pela conduta delitiva. A referida limitação, porém, não
veis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito se aplica aos reflexos patrimoniais da atividade criminosa.
de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos A obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandan- de bens pode alcançar os herdeiros, desde que a execução
tes, os executores e os que, podendo evitá‑los, se omitirem;
da dívida se limite ao patrimônio efetivamente transferido.
Dessa forma, ainda que os reflexos patrimoniais sejam
Comentário: os delitos definidos nesse inciso não admitem
transferidos aos sucessores, a obrigação nunca poderá ser
o pagamento de fiança com a finalidade de se obter a liberdade
cobrada em montante superior ao valor do patrimônio
provisória, bem como a concessão dos benefícios da graça ou
da anistia. Interessante notar que será cabível a modalidade transferido, o que, de certa forma, impede a existência de
omissiva em relação àqueles que puderem evitar esses crimes. uma responsabilidade penal objetiva.

XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará,
ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
Noções de Direito Constitucional

constitucional e o Estado Democrático41;


b) perda de bens;
Comentário: o presente inciso disciplina o terceiro grupo c) multa;
de crimes que mereceram do constituinte uma repressão d) prestação social alternativa;
especial. Tal qual no racismo, foi excluída a possibilidade de e) suspensão ou interdição de direitos;
pagamento de fiança e de prescrição de tais delitos.
Sendo assim, temos o seguinte panorama no que se Comentário: as penas descritas no presente inciso for-
refere aos crimes com repressão especial, definidos cons- malizam um rol meramente exemplificativo das penas que
titucionalmente: podem ser adotadas em nosso ordenamento jurídico. Estabe-
– inafiançáveis: racismo, crimes hediondos, tráfico, lece a Constituição, ainda, o princípio da individualização da
tortura, terrorismo e ação de grupos armados contra pena, que impõe a pena adequada ao réu, segundo elemen-
a ordem constitucional e o Estado Democrático; tos objetivos (relacionados à conduta criminosa) e subjetivos
(relativos ao perfil do réu). Segundo esse preceito, deve o juiz,
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente
41
ao proceder à dosimetria da pena, adequar a pena de forma
Técnico Legislativo/2010; FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Administrati-
va/2010 e FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/Área
a amoldar‑se perfeitamente à situação segundo critérios de
Administrativa/2010. quantidade, tipo e regime de cumprimento.

12
Por conta desse preceito já foi considerada inconstitucional Resumindo:
a tentativa de se proibir a progressão de regime, que permite
ao réu progredir, passando do regime fechado, mais grave,
para os regimes semiaberto e aberto. A imposição de regime
integralmente fechado retira do juiz a possibilidade de indivi-
dualizar a pena segundo as peculiaridades existentes no caso,
aplicando o mesmo regime de pena em qualquer situação.

XLVII – não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos Por fim, registra a Constituição do Brasil a proibição
termos do art. 84, XIX; de aplicação de penas cruéis, já que ferem a dignidade da
b) de caráter perpétuo; pessoa humana.
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento; XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos
e) cruéis; distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o
sexo do apenado;
Comentário: a pena de morte, como podemos perce-
ber, somente é cabível quando o Presidente da República Comentário: a medida acima visa a resguardar a figura do
declara guerra, sendo aplicada nas hipóteses previstas na preso, evitando abusos em virtude da maior suscetibilidade de
certos presos. Evita também que a prisão deixe de ser um local
legislação penal específica57.
de ressocialização para se tornar uma verdadeira escola de
Apesar de a Constituição Federal proibir a condenação crime, já que os presos de menor periculosidade poderiam ser
em relação a penas de caráter perpétuo, é possível que uma influenciados pelos presos de maior tendência à criminalidade.
sentença condenatória venha a impor pena de duzentos anos
de reclusão, por exemplo. Ocorre que, apesar de a sentença XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade
impor pena que provavelmente extrapola a prazo de vida física e moral;
de um ser humano, impõe o Código Penal que a execução
dessa pena não poderá ultrapassar o prazo de trinta anos, Comentário: o preso fica sob a tutela do Estado, devendo
o que acaba por impedir que a condenação resulte em uma ter resguardada sua integridade física e moral. O Estado será
penalidade de caráter perpétuo. responsável tanto pelos danos gerados por seus agentes,
A pena de trabalhos forçados impede que o condenado quanto por aqueles que sejam gerados pelos demais presos,
seja obrigado a trabalhar de forma desumana, sendo obri- tendo em vista o dever de cuidar da integridade daqueles
gado a empreender esforços que extrapolem o limite da que estão sob sua custódia.
capacidade humana.
O banimento significa o exílio, o desterro de um nacional. L – às presidiárias serão asseguradas condições para
Consiste na proibição de permanência no território de seu que possam permanecer com seus filhos durante o período
país. Não pode ser confundido com a expulsão, que se refere de amamentação;
apenas aos estrangeiros e não é propriamente uma pena,
mas uma medida de resguardo da soberania do país. Se fosse Comentário: o direito à amamentação assegura, de certa
considerada uma pena, seríamos obrigados a obedecer a um forma, a obediência ao princípio da pessoa­lidade da pena,
devido processo legal para poder expulsar um estrangeiro, já que a criança não será afetada nem sofrerá prejuízo em
virtude do fato cometido pela mãe.
o que não ocorre. Na expulsão, o estrangeiro é retirado do
País por ter cometido ato contrário aos interesses nacionais. LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o na-
Também não pode ser confundida com banimento a ex- turalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
tradição, que consiste na entrega de um estrangeiro ou de um naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico
brasileiro naturalizado a um país estrangeiro, permitindo‑se, ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei58;
assim, seu julgamento e a aplicação de pena naquele Estado.
Por fim, registramos que o banimento não pode ser Comentário: cuida‑se, aqui, da primeira distinção trazida
confundido com a deportação, que decorre da retirada do no texto constitucional acerca dos brasileiros natos e dos na-
território brasileiro daqueles estrangeiros que não cumprem turalizados. Graficamente podemos representar a disposição
com os requisitos legais migratórios. acima da seguinte maneira:
4243
Noções de Direito Constitucional

Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012.


42

Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Técnico em Radiologia/2012 e FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente
43

Legislativo de Serviços Técnicos e Administrativos/2010.

13
LII – não será concedida extradição de estrangeiro por A doutrina e a jurisprudência reconhecem a regra da
crime político ou de opinião44; prova ilícita por derivação (teoria dos frutos da árvore en-
venenada). Segundo tal regra, também serão inadmitidas no
Comentário: o disposto neste inciso impede que o ins- processo as provas que forem obtidas a partir de uma prova
tituto da extradição venha a ser utilizado como forma de obtida por meio ilícito. Vamos supor, por exemplo, que um
perseguição política. É respeitado, portanto, o pluralismo policial faça uma escuta clandestina, descobrindo que um
político, que é a liberdade de se optar por determinadas crime será cometido no dia seguinte, em tal lugar, em tal
concepções políticas. Cabe lembrar, ainda, que a Constituição hora. Se esse policial presenciar o crime e fotografar a cena,
Federal, em seu art. 4º, X, prevê a concessão de asilo políti- tais fotos também serão ilícitas, pois somente foram obtidas
co, que nada mais é do que um impedimento à extradição, a partir das informações colhidas na escuta clandestina,
concedido àqueles que sofrem de perseguição política em atividade criminosa que contamina as provas subsequentes.
país estrangeiro. Por fim, ressaltamos que o simples fato de existirem provas
obtidas por meios ilícitos em um processo não significa que
LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão haverá absolvição do réu. É possível, dessa forma, a conde-
pela autoridade competente45; nação se existirem no processo outras provas independentes
e capazes de fundamentar eventual sentença condenatória.
Comentário: cuida‑se do princípio do juiz natural, que
garante ao jurisdicionado o direito a receber a prestação LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito
jurisdicional segundo as regras rigidamente estabelecidas em em julgado de sentença penal condenatória;
lei. Se uma causa é julgada em juiz incompetente, por exem-
plo, estamos diante de nítida ofensa ao referido princípio. Comentário: cuida o presente inciso do que comumente
Há quem defenda a existência do princípio do promotor se denomina princípio da presunção de não culpabilidade
natural, que também seria um consectário do presente inci- ou da presunção de inocência. Com base nesse dispositivo,
so. Esse princípio diz respeito à impossibilidade de alteração, somente após o trânsito em julgado da sentença condenató-
de forma arbitrária, do membro do Ministério Público desig- ria, o réu poderá ser considerado culpado. Isso não significa,
nado para uma causa, buscando‑se, dessa forma, a garantia porém, que ele não poderá ser preso antes disso. A prisão
da independência funcional, já que impede que os membros não é atrelada à culpa, já que pode ser uma medida de cau-
do parquet sofram qualquer pressão. tela, evitando‑se a fuga do preso ou o risco de cometimento
de novos delitos.
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens São exemplos de prisões cautelares as temporárias,
sem o devido processo legal; preventivas, por pronúncia etc.

Comentário: estamos diante do princípio do devido pro- LVIII – o civilmente identificado não será submetido a
cesso legal, que impõe a observância das normas processuais identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
vigentes para que alguém seja privado de sua liberdade
ou de seus bens. A presente regra também é denominada Comentário: em nosso país, privilegiando‑se a presun-
“devido processo legal substancial” e impõe a observância ção de legitimidade e a fé pública, adota‑se como regra a
da proporcionalidade de da razoabilidade. identificação feita por meio de documentos civis. Em casos
excepcionais, porém, desde que haja previsão legal, poderá
ser feita a identificação criminal, papiloscópica ou fotográfica,
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrati-
por exemplo.
vo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório
Assim, quando alguém é detido, somente será obrigado
e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
a proceder a uma identificação criminal se, por exemplo,
não possuir identificação civil, tiver identificação civil em
Comentário: este inciso explicita o conteúdo do devido mau estado de conservação ou cometer delitos específicos,
processo legal processual, estipulando duas regras básicas, previstos em lei.
que são o contraditório e a ampla defesa.
O contraditório consiste no direito de con­tra‑argumen­tar, LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação
ou seja, de apresentar uma versão que conteste as alegações pública, se esta não for intentada no prazo legal46;
feitas pela parte adversa.
A ampla defesa pressupõe a possibilidade de se produzir Comentário: esse é o caso da ação penal privada sub-
provas no processo, juntando elementos fáticos à argumen- sidiária da pública. Vamos aqui, de forma sintética, resumir
esse trâmite.
Noções de Direito Constitucional

tação feita em sua defesa.


O Poder Judiciário somente age quando é provocado.
LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas A isso chamamos princípio da inércia. Dessa forma, para
por meios ilícitos; que o Estado possa condenar alguém pelo cometimento de
um crime, é necessário que o Judiciário seja provocado por
Comentário: no exercício da ampla defesa, não é possível meio de uma ação penal.
juntar aos autos provas que tenham sido obtidas por meios As ações penais podem ser ajuizadas pela vítima (ação
ilícitos. A presente medida busca evitar que a atividade de pro- penal privada) ou pelo Ministério Público (ação penal pú-
dução de provas se torne um estímulo à prática de atos ilícitos. blica), quando for o caso. Quando proposta pela vítima,
Em certos casos, porém, essa proibição é relativizada, denominamos queixa‑crime; quando iniciada pelo Ministério
Público, denominamos denúncia.
desde que a prova obtida por meio ilícito seja o único meio
A lei penal possui o papel de definir qual será a forma de
de prova capaz de garantir o direito de defesa de pessoa que
propositura da ação, sendo mais comum a propositura pelo
esteja na condição de acusada. Ministério Público. Nesse caso, se o Ministério Público não
Vunesp/Tribunal de Justiça-SP/Escrevente Técnico Judiciário/2010.
44

Esaf/MF/Assistente Técnico/Administrativo/2012.
45
FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012.
46

14
apresentar denúncia no prazo legal, abrir‑se‑á oportunidade A segunda hipótese de prisão diz respeito à ordem
de a vítima substituir o Ministério Público, por meio da ação judicial escrita e fundamentada. Nesse caso, deverá o juiz
penal privada subsidiária da pública. determinar a expedição do respectivo mandado, que poderá
instrumentalizar diversos tipos de prisão (preventiva, tem-
LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos porária etc.). Cabe notar o fato de que essa prisão, por ser
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse escrita, nada tem a ver com a voz de prisão, que pode ser
social o exigirem47; dada pelo juiz em uma audiência, por exemplo.
A terceira hipótese de prisão refere‑se à transgressão
Comentários: os atos processuais, via de regra, são militar ou crime propriamente militar, que, no caso, pres-
públicos, assim como os julgamentos realizados no âmbito cindem de ordem judicial. Ressalte‑se que a Constituição
do Poder Judiciário (art. 93, IX, da CF). Excepcionalmente, expressamente proíbe a impetração de habeas corpus, que
porém, teremos o chamado “segredo de justiça”, que impõe é uma medida destinada à proteção do direito de ir e vir,
restrição à publicidade dos atos processuais. A Constituição nas hipóteses de punição disciplinar militar (art. 142, § 2º).
Federal traz duas hipóteses de restrição do acesso aos atos Por fim, cabe registrar uma hipótese bem específica de
processuais: prisão, que será criada no caso de decretação de Estado de
a) defesa da intimidade; Defesa. Trata‑se da prisão por crime contra o Estado, que
b) interesse social. tem previsão no art. 136, § 3º, da Constituição do Brasil.
É importante que o aluno não confunda esse segredo
com o segredo relativo às informações de caráter público. LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
O art. 5º, XXXIII, da CF dispõe sobre o acesso às informações encontre serão comunicados imediatamente ao juiz com‑
constantes de órgãos públicos. Naquele caso, as hipóteses de petente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada49;
sigilo são as relacionadas à defesa do Estado e da sociedade.
Interessante notar que a Constituição defenda a possi- Comentário: duas são, portanto, as comunicações obri-
bilidade de um julgamento ser sigiloso para a proteção da gatórias relativas à prisão de uma pessoa e ao local onde
intimidade, mas dispõe que não será possível restringir a se encontre:
publicidade se a sua divulgação for necessária para o res- a) ao juiz competente. Essa comunicação justifica‑se, por
guardo do direito de informação (art. 5º, XIV, da CF), que exemplo, pelo fato de esse juiz possuir o poder de relaxar a
possui titularidade coletiva. prisão, quando ilegal.
b) à família do preso ou à pessoa por ele indicada. A co-
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou municação à família ou a pessoa indicada é essencial para
por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária que o direito à assistência seja prontamente exercido.
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou Se, porém, o preso não indicar nenhuma pessoa, torna‑se
crime propriamente militar, definidos em lei48; irrelevante a previsão da segunda comunicação, segundo o
entendimento do Supremo Tribunal Federal.
Comentário: nesse ponto do texto constitucional, come-
ça a ser tratado o instituto da prisão. A utilização do termo LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre
“ninguém será preso senão...” dá a entender que se trata os quais o de permanecer calado, sendo‑lhe assegurada a
de um rol taxativo, motivo pelo qual não há que se aceitar assistência da família e de advogado50;
hipóteses de prisão que não se ajustem às hipóteses previstas
constitucionalmente. Comentário: o presente dispositivo garante ao preso três
O presente inciso inicialmente dispõe sobre duas hipóte- prerrogativas: permanecer calado, assistência da família e
ses de prisão: prisão em flagrante e prisão por ordem judicial assistência de advogado.
escrita e fundamentada. O direito de permanecer calado deve ser garantido a
A prisão em flagrante, primeira hipótese tratada, pode todos, independentemente de serem presos. As testemu-
ser feita por “qualquer do povo”, nos termos do que dispõe nhas, porém, somente possuem direito de permanecerem
o art. 301 do Código de Processo Penal. Está em situação caladas em relação às informações que possam servir para
de flagrante quem: sua incriminação. Essa determinação protege o direito que
• está cometendo a infração penal; temos contra autoincriminação (princípio do nemo tenetur
• acaba de cometê‑la; se detegere).
• é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofen- O direito de permanecer calado pode ser estendido
dido ou por qualquer pessoa, em situação que faça para alcançar também o direito de mentir sem incorrer em
presumir ser autor da infração; atividade ilícita.
• é encontrado logo depois com instrumentos, armas, A assistência da família impede, por exemplo, que o preso
Noções de Direito Constitucional

objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da fique incomunicável. A assistência do advogado é irrestrita,
infração. devendo ser assegurada proteção da defensoria pública ao
preso que não possua condições de contratar um advogado
Atenção! Nas infrações permanentes, como na de ex- às suas expensas.
torsão mediante sequestro, entende‑se o agente em fla-
grante delito enquanto não cessar a permanência. Dessa LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsá-
forma, é possível sua prisão durante todo o período do veis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
sequestro, sem necessidade de autorização judicial.
Comentário: a identificação dos responsáveis pela prisão
Como a prisão em flagrante pode ser feita por qualquer ou pelo interrogatório do preso é um instrumento necessário
do povo, ela será a única possibilidade de prisão que é con- à proteção contra abusos, já que intimida o agente público
cedida às Comissões Parlamentares de Inquérito.
49
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/Senado Federal/Técnico Legisla-
47
Assunto cobrado na prova da FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Admi- tivo/Administração/2012 e FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Administrati-
nistração/2012. va/2010.
48
FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012. 50
FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012.

15
quanto às práticas abusivas ou ilícitas. Importante notar que tornou, na prática, inviável a utilização do instrumento de
a identificação será obrigatória mesmo nas hipóteses de cri- prisão nessas hipóteses.
minosos de alto grau de periculosidade, independentemente
de supostamente oferecerem risco de retaliação em relação LXVIII – conceder‑se‑á habeas corpus sempre que al‑
aos agentes públicos. guém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou
coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela abuso de poder51;
autoridade judiciária;
Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
Comentário: como já ressaltado, cabe ao juiz analisar “Remédios Constitucionais”.
a legalidade da prisão, podendo, de ofício, determinar o
relaxamento da prisão. LXIX – conceder‑se‑á mandado de segurança para prote-
ger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus
ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;
Comentário: a liberdade provisória consiste no direito de Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
o preso responder ao processo em liberdade. A lei definirá “Remédios Constitucionais”.
quais são as hipóteses em que a liberdade provisória será
admitida, casos em que o acusado não poderá ser levado à LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser im‑
prisão ou nela mantido. petrado por:
Existem duas modalidades de liberdade provisória: sem a) partido político com representação no Congresso
pagamento de fiança e mediante pagamento de fiança. Com- Nacional.
pete à lei definir quais serão as hipóteses em que a liberdade b) organização sindical, entidade de classe ou associa‑
provisória exigirá o pagamento de fiança, que é um valor ção legalmente constituída e em funcionamento há pelo
dado em garantia pelo preso, assegurando sua colaboração menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros
nas investigações e na instrução. ou associados52.
Não admitem fiança: racismo, crime de grupos armados
contra o Estado Democrático e contra a ordem constitucional, Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e terrorismo. “Remédios Constitucionais”.

LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do LXXI – conceder‑se‑á mandado de injunção sempre que
responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício
de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania53;
Comentário: a prisão civil é aquela utilizada na cobrança
de dívidas. Não tem um caráter punitivo, mas sim coerciti- Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
“Remédios Constitucionais”.
vo, voltado ao adimplemento da obrigação. A prisão civil é
admitida em duas hipóteses: LXXII – conceder‑se‑á habeas data:
a) inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação a) para assegurar o conhecimento de informações
alimentícia; relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
b) depositário infiel. ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
A prisão por obrigação alimentícia somente ocorrerá caráter público.
nos casos em que a dívida é voluntária, ou seja, quando não b) para a retificação de dados, quando não se prefira
houver um motivo de força maior para o inadimplemento fazê‑lo por processo sigiloso, judicial ou administra­tivo.
da obrigação.
O depositário infiel é responsável pelo bem, devendo Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
devolvê-lo imediatamente nas hipóteses legais. “Remédios Constitucionais”.
Tais hipóteses eram definidas em nosso ordenamento
jurídico. Ocorre que o Supremo Tribunal Federal veio a consi- LXXIII – qualquer cidadão54 é parte legítima para propor
derar o Pacto de São José da Costa Rica, tratado internacional ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio pú‑
que impede esse tipo de prisão, uma norma supralegal, ou blico ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
Noções de Direito Constitucional

seja, superior às demais normas legais. Isso fez com que administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico
fossem derrogadas as normas legais que dispunham sobre a e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má‑fé, isento
prisão civil do depositário infiel. de custas judiciais e do ônus da sucumbência55;
Antes desse entendimento, a prisão do depositário infiel
era justificada por uma obrigação processual ou por uma Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
obrigação contratual. Na primeira situação, estando o bem “Remédios Constitucionais”.
em discussão perante o Poder Judiciário, determinava-se que
o detentor fosse nomeado depositário infiel. Na segunda si- 51
Assunto cobrado nas seguintes provas: Funcab/MPE-RO/Técnico/Oficial de
tuação, o depositário recebia o bem em virtude de uma obri- Diligências/2012 e FCC/Instituto Nacional do Seguro Social /Técnico do Seguro
gação contratual, como no contrato de alienação fiduciária. Social/2012.
Em resumo, a situação que temos hoje é a seguinte: 52
Esaf/MF/Assistente Técnico/Administrativo/2012.
53
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci-
a prisão civil do depositário infiel é prevista na Constituição vil/2012.
nos casos previstos em lei. O Pacto de São José da Costa 54
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 10ª Região (DF e TO)/Técnico Judiciário/
Rica, porém, com seu status supralegal, derrogou todas as Administrativo/2013.
55
Assunto cobrado na prova da Vunesp/Tribunal de Justiça-SP/Escrevente Técnico
previsões legais de prisão do depositário, de tal forma que Judiciário/2010.

16
LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição
e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico República Federativa do Brasil seja parte.
“Gratuidades Constitucionais”.
Comentário: o presente dispositivo deixa claro que o rol
LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judi- de direitos do art. 5º não possui caráter exaustivo, mas sim,
ciário, assim como, o que ficar preso além do tempo fixado exemplificativo. Fica, portanto, aberta a oportunidade de
na sentença; reconhecimento de novos direitos e garantias decorrentes
do regime e dos princípios constitucionais, bem como de
Comentário: essa indenização não poderá ser plei­teada tratados internacionais.
pela via do habeas corpus. Será necessário portanto que, Nesse sentido, já foi reconhecida a existência de direitos
além do habeas corpus liberatório, seja ajuizada ação ordi- e garantias individuais até mesmo no art.150 da Constituição
nária para demonstração da responsabilidade civil do Estado. Federal, que estabelece as limitações constitucionais ao
poder de tributar.
LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, Cabe lembrar que os tratados internacionais que apenas
na forma da lei: disponham de direitos e garantias fundamentais, sem se
a) o registro civil de nascimento; submeter ao procedimento de aprovação similar ao da pro-
b) a certidão de óbito56. posta de emenda constitucional, não terá status de emenda
constitucional, mas força de norma supralegal.
Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
“Gratuidades Constitucionais”. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
exercício da cidadania57. emendas constitucionais59.

Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico Comentário: o presente dispositivo, inserido pela Emen-
“Gratuidades Constitucionais”. da Constitucional nº 45/2004, abriu a possibilidade de trata-
dos e convenções internacionais possuírem força de emenda
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são constitucional. Para tanto, será necessário preencher os dois
assegurados a razoável duração do processo e os meios que requisitos, de forma cumulada: tratar de direitos humanos
garantam a celeridade de sua tramitação. e ser aprovado por três quintos de cada Casa do Congresso
Nacional em dois turnos de votação.
Comentário: esse dispositivo foi inserido na reforma Os tratados que não cumprirem tais requisitos, como
constitucional de 2004 que, por meio da Emenda Constitucio- vimos, terão forma de lei ordinária ou força supralegal.
nal nº 45, realizou a chamada “reforma do Poder Judiciário”.
No caso, os processos judicial e administrativo passam a ter § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
a garantia da razoável duração do processo. Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão60.
Dois problemas surgem em relação a tal dispositivo.
Primeiramente, temos a dificuldade em definir qual será a Comentário: essa importante determinação acaba por
duração razoável do processo, principalmente pelo fato de colocar em discussão a noção clássica de soberania, que vê no
que as ações possuem múltiplos graus de complexidade. Estado Soberano um ente totalmente independente. Passa
Em segundo lugar, a dificuldade encontrada reside no fato o Brasil, a partir da inserção desse dispositivo pela Emenda
de o dispositivo possuir uma redação muito ampla, que não Constitucional nº 45/2004, a submeter‑se à jurisdição de um
especifica, no caso concreto, as medidas a serem adotadas. organismo internacional se houver manifestado adesão ao
A conclusão a que chegamos, portanto, é a de que se trata ato de criação. Cumpre ressaltar, porém, que essa previsão
de uma norma‑princípio, que exigirá concretização por meio se limita aos tribunais penais, não podendo ser estendida a
de políticas públicas e da atividade legislativa. outras áreas como a do comércio internacional.
O judiciário, em caráter excepcional, tem deferido pedi-
dos de julgamento imediato da causa em respeito ao direito Remédios Constitucionais
à razoável duração do processo.
Os remédios constitucionais são garantias definidas no
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias corpo do art. 5º da Constituição Federal, que visam à prote-
fundamentais têm aplicação imediata58. ção de valores também definidos na Carta Maior. Apesar de
Noções de Direito Constitucional

a maioria dos remédios tramitar perante o Poder Judiciário,


Comentário: o fato de as normas desse artigo terem apli- existem remédios, como o direito de petição, que podem
cação imediata significa dizer que podem ser aplicadas a um tramitar perante órgãos administrativos. Consideraremos,
caso concreto imediatamente, sem necessidade de norma em nosso estudo, os seguintes remédios constitucionais:
regulamentadora, por exemplo. Essa é a razão pela qual di- • habeas corpus;
versos remédios constitucionais, ainda que não tivessem seu • habeas data;
papel bem definido pela legislação, puderam ser utilizados • mandado de segurança;
imediatamente, como é o caso do mandado de segurança. • mandado de injunção;
A aplicação imediata, porém, não impede que uma nor- • ação popular;
ma tenha eficácia contida, ou seja, que admita a restrição • direito de petição.
de sua eficácia por meio da atuação do legislador ordinário.
59
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico
56
FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/Área Administrati- Judiciário/2012; Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Técnico
va/2010. em Radiologia/2012 e FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Técnico Legisla-
57
FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013. tivo/2010.
58
FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013. 60
FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013.

17
Habeas Corpus no que toca à atipicidade da atitude do réu, pode conceder
habeas corpus de ofício, para reconhecer que o crime está
Finalidade: este remédio constitucional, previsto no prescrito.
art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, visa à proteção da
liberdade de locomoção (direito de ir, vir e permanecer) Gratuidade: trata‑se de ação gratuita, independente-
contra lesão ou ameaça causada por abusos de poder ou mente de qualquer condição.
ilegalidade61. Como se percebe, não há uma necessária
correlação desse remédio ao Direito Penal, motivo pelo qual Habeas Data
o habeas corpus poderá ser impetrado até mesmo no caso Finalidade: o presente remédio constitucional, previsto
de prisão civil por dívida, já que está envolvida, nesse caso, no art. 5º, LXXII, da Constituição do Brasil possui uma dupla
a liberdade de locomoção. finalidade. Vejamos no quadro abaixo.
Como já salientamos anteriormente, este remédio constitu-
cional não se presta a discutir punições disciplinares militares. de informações relativas à pessoa do
O habeas corpus não se submete a prazo prescricional acesso impetrante, constantes de registros
Visa a
ou decadencial, sendo cabível enquanto durar a lesão ou
assegurar
ou  ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter
ameaça de lesão ao direito que se pretende proteger. retificação público.

Legitimidade ativa: possui legitimidade ativa aquele


que pode impetrar o habeas corpus, chamado, portanto, Portanto, uma das finalidades do habeas data é a pos‑
de impetrante. Esse remédio é dos mais informais, já que sibilidade de retificação de dados, quando não se prefira
pode ser impetrado por qualquer pessoa, física ou jurídica, fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo.62
independentemente de capacidade civil, de advogado e de A impetração do habeas data exige, ainda, a demonstra-
mandato outorgado pelo paciente. Exige‑se, porém, como ção de que houve uma prévia negativa administrativa. Em
um formalismo mínimo, que a petição seja assinada, já que outras palavras, o impetrante deve demonstrar que buscou
é considerado inexistente o habeas corpus apócrifo. previamente o acesso às informações diretamente junto ao
banco de dados, sem obter, porém, sucesso.
Paciente: será considerado paciente aquele que estiver a Legitimidade ativa: qualquer pessoa pode impetrar o
sofrer lesão ou ameaça a seu direito de locomoção e venha habeas data, desde que as informações pleiteadas se refiram
a ser protegido pelo remédio constitucional. O paciente exclusivamente ao impetrante. Trata‑se, dessa forma, de uma
será necessariamente uma pessoa física, já que as pessoas ação personalíssima.
jurídicas não possuem liberdade de locomoção, prerrogativa
que é incompatível com elas. Legitimidade passiva: apenas pode ser impetrado o
banco de dados de caráter público (Serasa, SPC etc.) ou
Legitimidade passiva: a legitimidade passiva é conferida respectiva entidade governamental (INSS, Receita Federal
àquele que age como coator, praticando atos ilícitos ou em do Brasil, Polícia Federal etc.).
abuso de poder, razão pela qual será considerado impetrado.
Gratuidade: trata‑se de ação gratuita, independente-
Tipos: podemos classificar o habeas corpus como pre- mente de qualquer condição.
ventivo, que é aquele impetrado quando há uma amea­ça ao
direito de locomoção, ou repressivo, impetrado quando já Mandado de Segurança
se configura a ilegalidade ou o abuso de poder, e “de ofício”,
concedido pelo juiz independentemente de impetração. Finalidade: o mandado de segurança se presta à proteção
No habeas corpus preventivo, pode ser expedido salvo de direito líquido e certo contra abuso de poder ou ilegalida-
conduto, que é instrumento que impede a prisão do paciente de. Direito líquido e certo é aquele que se mostra delimitado
nas hipóteses descritas na ordem judicial concessiva da ordem. quanto à extensão e inquestionável quanto à existência. De
Imaginemos uma situação em que o paciente será ouvido forma simplificada, podemos dizer que o direito líquido e
como acusado em uma Comissão Parlamentar de Inquérito certo é aquele que não demanda ampla instrução probatória,
e requer, por meio de um habeas corpus, a expedição de um motivo pelo qual a única prova admitida no mandado de
salvo conduto para garantia de seu direito de permanecer ca- segurança é a de caráter documental.
lado. Poderá o Supremo Tribunal Federal, nesse caso, conceder No mandado de segurança, o direito é facilmente aferí-
o remédio para que o paciente não seja preso caso venha a vel a partir da leitura das normas legais aplicáveis ao caso.
legitimamente exercer seu direito sem que incida, portanto, Compete à parte, portanto, apenas demonstrar que se
em crime, caso recaia em falso testemunho. enquadra na situação descrita na lei. Cabe mandado de se-
No writ repressivo, já existe a situação de coação e o gurança, portanto, para pleitear aposentadoria por tempo de
Noções de Direito Constitucional

paciente requer, portanto, a sua soltura, por exemplo. Tanto serviço, quando bastar a certidão de tempo de serviço para
no habeas corpus preventivo quanto no repressivo, há a comprovar que o impetrante preenche os requisitos legais
possibilidade de concessão de medida liminar. para usufruir do benefício. No caso, porém, de aposentadoria
A liminar é uma medida precária, que busca a proteção por invalidez, quando é necessário realizar perícias e ouvir
do bem quando exista perigo de dano irreparável ao bem testemunhas, o direito não é líquido e certo, motivo pelo qual
tutelado. Somente será concedida a liminar se houver a fu- não será possível, a priori, impetrar mandado de segurança.
maça do bom direito, ou seja, a plausibilidade das alegações Dessa forma, no mandado de segurança não se discute
feitas pelo impetrante. matéria probatória, de cunho fático. Por outro lado, mos-
Por fim, o habeas corpus ex officio é aquele que é tra‑se plenamente possível discutir questões de direito, de
concedido pelo juiz independentemente de provocação. cunho abstrato. Nesse sentido, a Súmula nº 625/STF dispõe
Imaginemos que um impetrante ingressa com um recurso que “a controvérsia sobre matéria de direito não impede
requerendo a atipicidade da conduta do réu. Nesse caso, concessão de mandado de segurança”.
o magistrado, ainda que não concorde com o impetrante A impetração do mandado de segurança não está vincu-
lado ao esgotamento da instância administrativa. Por conta
61
Assunto cobrado na prova do Cespe/MPS/Agente Administrativo/2010. 62
FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Técnico Legislativo/Direito/2010.

18
disso, dispõe a Súmula nº 430/STF que “pedido de reconsi- direito, já que o seu titular poderá pleitear seu direito por
deração na via administrativa não interrompe o prazo para meio de uma ação ordinária. Cabe lembrar que, no mandado
o mandado de segurança”. de segurança preventivo, não há prazo decadencial, tendo
em vista que o ato coator sequer foi produzido.
Legitimidade ativa: o mandado de segurança pode ser
ajuizado por qualquer pessoa, física ou jurídica. Súmula nº 512/STF: segundo entendimento jurispru-
dencial do Supremo Tribunal Federal, não cabe condenação
Legitimidade passiva: somente pode ser impetrado em em pagamento de honorários advocatícios em Mandado
um mandado de segurança quem seja autoridade pública de Segurança. Em outras palavras, a parte que sucumbente
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições não será obrigada a pagar à parte vencedora uma parcela
do Poder Público63, ou seja, a ela equiparado por atuar em do valor da causa para pagamento do advogado responsável
função eminentemente pública, mediante delegação. pelo êxito.
Tipos: o mandado de segurança pode ser classificado em
preventivo ou repressivo, e ainda em individual ou coletivo. Atenção! O prazo decadencial para impetração do man-
O mandado de segurança preventivo presta‑se a evitar dado de segurança foi considerado constitucional pelo
ofensa a direito líquido e certo que seja e que se ache ame- Supremo Tribunal Federal, o que resultou na edição da
açado, ainda que não exista o ato lesivo. Súmula nº 632/STF.
O mandado de segurança repressivo volta‑se a afastar
ofensa já perpetrada contra direito líquido e certo. Já existe, Jurisprudência: vejamos alguns entendimentos jurispru-
nesse caso, lesão ao bem jurídico que se quer tutelar. denciais acerca do cabimento do mandado de segurança.
O mandado de segurança individual busca a proteção
dos interesses do impetrante. O mandado de segurança será Cabe mandado de se­gurança Não cabe mandado de se­­
individual ainda que vários impetrantes optem por ajuizar gurança
uma só ação, na condição de litisconsortes. Para a proteção do direito de Contra lei em tese.
No mandado de segurança coletivo, previsto no art. 5º, reunião.
LXIX, da Constituição Federal, o impetrante defende, em
Para proteção do direito de Contra decisão judicial transi-
nome próprio, um direito alheio. Cuida‑se de forma de subs-
certidão. tada em julgado.
tituição processual, razão pela qual não há necessidade de
autorização dos titulares do direito protegido. Nesse sentido, Para a proteção de direito que Contra ato judicial passível
a Súmula nº 629/STF, que determina que a “impetração de esteja na pendência de decisão de recurso.
mandado de segurança coletivo por entidade de classe em na esfera administrativa.
favor dos associados independe da autorização destes”. Mandado de Injunção
São legitimados a impetrar o mandado de se­gurança
coletivo: Cabimento: o mandado de injunção, previsto no art. 5º,
• partido político com representação no Congresso LXXI, da Constituição Federal, pode ser impetrado sempre que
Nacional64; a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício
• organização sindical, entidade de classe ou associação dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania67.
um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou Cuida‑se, assim, de ação voltada à supressão de omissão
associados. legislativa relativa à regulamentação de direitos previstos cons-
titucionalmente. Se tivermos uma norma de eficácia limitada,
Um partido político com representação no Congresso por exemplo, que ainda não produza totalmente seus efeitos
Nacional possui legitimidade para impetrar mandado de porque ainda não foi produzida lei regulamentadora, será
segurança coletivo apenas em defesa de seus filiados.65 cabível o mandado de injunção contra o órgão responsável
É possível a concessão de mandado de segurança cole‑ pela omissão, buscando‑se a edição da norma.
tivo impetrado por partido político com representação no Durante muito tempo defendeu‑se que o mandado de
Congresso Nacional, para proteger direito líquido e certo injunção não poderia dar ao Poder Judiciá­rio o poder de,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando persistindo a omissão, determinar qual será a disciplina legal
o responsável pelo abuso de poder for ministro de Estado.66 a ser aplicada ao caso concreto. Entendia‑se, nesse caso, que
Destaca‑se que a entidade de classe possui legitimidade estaríamos ferindo o princípio da separação dos poderes,
para impetrar o mandado de segurança ainda que a preten- motivo pelo qual era necessário adotar posicionamento não
são veiculada interesse apenas a uma parte da categoria concretista. Esse não é, porém, o atual entendimento do
(Súmula nº 630/STF). Supremo Tribunal Federal, que já admite que o Poder Judiciário
indique, no caso de omissão, quais serão as regras aplicáveis
Noções de Direito Constitucional

para que os impetrantes possam usufruir de forma plena os


Atenção! O mandado de segurança coletivo é hipótese iso- direitos que lhe foram conferidos pela Constituição do Brasil.
lada em que as associações fazem substituição processual. O desrespeito à determinação de regulamentação de um
Nas demais ações ajuizadas pelas associações, o que se dispositivo constitucional é denominada inconstitucionalida-
pratica é a representação processual, que exige autorização de por omissão, e também pode ser combativa por meio da
dos representados. ação direta de inconstitucionalidade por omissão, que será
posteriormente tratada.
Prazo Decadencial: a impetração do mandado de se­
gurança deve ser feita no prazo de cento e vinte dias, con- Legitimidade ativa: o mandado de injunção pode ser
tados da data da ciência do ato ilegal ou cometido em abuso impetrado por qualquer pessoa que possua interesse direto
de poder. A perda desse prazo, porém, não leva à perda do na regulamentação do dispositivo constitucional.

63
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anatel/Técnico Administrativo/2012.
Legitimidade passiva: será considerado impetrado aque-
64
Assunto cobrado na prova da FCC/Assembleia Legislativa- SP/Agente Legislativo le que seja responsável pela omissão legislativa.
de Serviços Técnicos e Administrativos/2010.
65
Cespe/Anatel/Técnico Administrativo/2012. 67
FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Legislativo de Serviços Técnicos e Admi-
66
Cespe/MPU/Técnico Administrativo/2013. nistrativos/2010.

19
Tipos: são cabíveis o mandado de injunção individual e o Gratuidades Constitucionais
mandado de injunção coletivo. O segundo tipo de mandado O texto constitucional trata de diversas hipóteses de
de segurança é uma criação pretoriana, ou seja, foi reco- gratuidade, sendo de suma importância que o candidato
nhecido pelos tribunais, ainda que não houvesse disciplina identifique quais as condicionantes para a fruição desse
constitucional a respeito. Assim, devem ser aplicadas ao direito. Vamos esquematizar.
mandado de injunção coletivo as disposições do mandado
de segurança coletivo. Dispositivo Gratuidade Observações
5º, XXXIV Direito de peti- Incondicionada – independe
Ação Popular ção do pagamento de taxas
Finalidade: a ação popular é voltada à anulação de ato 5º, XXXIV Direito de certi- Incondicionada – independe
dão do pagamento de taxas
lesivo:
• ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado 5º, LXXIII Ação Popular Condicionada à boa-fé do autor
participe; 5º, LXXIV Assistência jurídi-Condicionada à comprovação
• à moralidade administrativa; ca integral da insufi­ciência de recursos
• ao meio ambiente; 5º, LXXVI Certidão de nas- Condicionada à comprovação
• ao patrimônio histórico e cultural. cimento de pobreza, na forma da lei
5º, LXXVI Certidão de óbito Condicionada à comprovação
Cumpre notar que a ação popular só se presta à anulação de pobreza, na forma da lei
desses atos, não sendo o instrumento adequado à punição 5º, LXXVII Habeas corpus Incondicionada
do agente público que causou um dano a interesses da socie-
5º, LXXVII Habeas data Incondicionada
dade. A punição, no caso, poderá ser discutida em eventual
ação de improbidade. 5º, LXXVII Atos necessários Gratuitos na forma da lei
É possível declarar a inconstitucionalidade de uma lei ao exercício da
por meio da ação popular, desde que essa declaração não cidadania
seja o objeto principal da ação popular. Assim, a declaração
de inconstitucionalidade da lei pode ser um meio, nunca a Nacionalidade
finalidade precípua da ação.
A ação popular deverá ter por objeto um ato adminis- Nacionalidade é o laço de caráter político e jurídico que
trativo. Não é cabível essa ação contra uma decisão judicial. liga um indivíduo a um determinado Estado, de forma a
Por permitir que o cidadão defenda diretamente os qualificá‑lo como parte integrante do povo. Esse laço traz em
interesses do povo, pode‑se considerar a ação popular uma si muitos direitos e muitos deveres àqueles que se enquadram
forma de exercício da democracia direta. nos requisitos necessários à aquisição de uma nacionalidade.
Não existe foro por prerrogativa de função em relação à
ação popular. Assim, ainda que a ação seja ajuizada contra Origem da Nacionalidade
o Presidente da República, não será julgada pelo Supremo
Tribunal Federal. A nacionalidade pode ser adquirida por um critério terri-
torial ou por critério hereditário. No primeiro caso, trata‑se
Legitimidade ativa: só podem ajuizar ações populares do ius soli, hipótese na qual se adquire uma nacionalidade em
os cidadãos, ou seja, aqueles que possuam direitos políticos. virtude do nascimento dentro do território de determinado
Ficam excluídas, portanto, as pessoas jurídicas e as pessoas fí- Estado. Por outro lado, a aquisição de uma nacionalidade
sicas que não estejam no pleno gozo de seus direitos políticos. pode decorrer da nacionalidade dos pais do indivíduo, caso
em que teremos um direito transferido de maneira consan-
Legitimidade passiva: a ação popular deve ser ajuizada guínea, hereditária, o que a doutrina denomina ius sanguinis.
contra a autoridade pública autora do ato impugnado. Na maioria dos países, os critérios utilizados para a con-
cessão do vínculo da nacionalidade combinam os critérios
Gratuidade: a ação popular será gratuita, mas sua gratuida- consanguíneo e territorial, como no caso do Brasil, que
de é condicionada à boa‑fé. Se a ação for ajuizada com má‑fé, veremos à frente.
o autor será condenado ao pagamento das custas judiciais. Cabe notar que o Direito Constitucional tem um caráter
histórico muito marcante, decorrente da evolução gradativa
Direito de Petição nos negócios do Estado. Dessa maneira, conseguimos per-
ceber fatores históricos que influenciam demasiadamente
Finalidade: o direito de petição, previsto no art. 5º, XX- na adoção dos critérios de nacionalidade. Por exemplo,
Noções de Direito Constitucional

XIV, da CF, também considerado um remédio constitucional, em países que tiveram forte movimento emigratório ou
difere‑se dos demais por não consistir em uma ação judicial. que apresentam baixa densidade demográfica, percebe‑se
Trata‑se de instrumento exercido perante o Poder Público uma tendência à adoção do critério do ius sanguinis (ex.:
com o objetivo de: Itália e Japão). Em outros, porém, que recebem um grande
• defesa de direitos; contingente de imigrantes ou que possuem alta densidade
• representação contra ilegalidade ou abuso de poder. demográfica, nota‑se que o critério do ius soli ganha mais
força (ex.: Estados Unidos da América).
Qualquer pessoa pode utilizar‑se do direito de petição,
que não pode ser impedido por meio de obstáculos legais.
Espécies de Nacionalidade
Dessa forma, segundo o novo entendimento do Supremo
Tribunal Federal, é inconstitucional exigir depósito prévio Destacam‑se duas espécies de nacionalidade: a primária
ou arrolamento de bens e direitos como condição de ad- e a secundária. A primária ou originária é aquela que resulta
missibilidade de recurso administrativo68. do nascimento, por mais que o reconhecimento somente
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012.
68 ocorra posteriormente. Em nosso país denominamos bra-

20
sileiro nato aquele que possui esse tipo de nacionalidade. – sejam registrados em repartição brasileira compe-
A nacionalidade secundária, derivada ou adquirida, se forma tente; ou
após o nascimento do indivíduo, caso em que brasileiros são – venham a residir na República Federativa do Brasil e
denominados naturalizados. optem, em qualquer tempo, após atingida a maiorida-
de, pela nacionalidade brasileira. A jurisprudência do
Polipátridas e Apátridas STF diz que, nesse caso, a nacionalidade é primária,
pois existe desde o nascimento, ficando apenas sujeita
É possível que uma pessoa possua mais de uma nacio- a uma condição para o seu implemento.
nalidade. Trata‑se do polipátrida, indivíduo que adquire,
de forma primária ou de forma secundária, nacionalidades A título de exemplo: Eulina, nascida em 18 de novembro
diversas, mantendo‑as69. No caso do Brasil, as hipóteses de de 2011 no Brasil, é filha de cidadão espanhol e de cidadã
dupla (ou múltipla) nacionalidade estão prevista no art. 12, croata que estavam passando suas férias em passeio turís‑
§ 4º, II, que estudaremos a seguir. tico no Piauí. Carmem, nascida em 22 de fevereiro de 2012
Por sua vez, os apátridas, também chamados heimatlos, na Grécia, é filha de cidadãos brasileiros que estavam a
não possuem qualquer nacionalidade. Tal situação ocorrerá, serviço da República Federativa do Brasil no mencionado
por exemplo, no caso de os pais possuírem a nacionalidade país. Neste caso, Eulina e Carmem são brasileiras natas73.
de um país que adota exclusivamente o critério do ius soli e Segundo o Supremo Tribunal Federal, a opção pela na-
terem seu filho em um país que apenas aceita o ius sanguinis. cionalidade tem caráter personalíssimo (só pode ser exercida
A criança não possuirá a nacionalidade do país de origem pelo titular do direito), só podendo ser exercida quando o
de seus pais nem a nacionalidade do país em que nasceu. indivíduo adquirir a capacidade civil, ou seja, o menor não
O art. 15 da Declaração Universal dos Direitos Humanos pode ser representado ou assistido pelos pais para exercer
estatui que todos têm direito a uma nacionalidade e proíbe a opção. Assim sendo, depois de atingir a maioridade civil,
que as pessoas sejam privadas de sua nacionalidade ou que a opção passa a ser condição suspensiva da nacionalidade
sejam obrigados a mudar a nacionalidade de forma arbitrária. brasileira, isto é, o direito só vale a partir do implemento da
condição. O menor, antes da opção, é, portanto, brasileiro
Formas de Aquisição de Nacionalidade no Brasil nato, sendo que, após a maioridade, a opção passa a cons-
tituir condição para a continuidade do vínculo do indivíduo
Primária (brasileiros natos) com o Brasil. A necessidade da maioridade para a realiza-
A Constituição brasileira denominou natos aqueles bra- ção da opção foi positivada pela Emenda Constitucional
sileiros que adquirem a nacionalidade primária. A naciona- nº 54/2007, que inseriu, ainda, a possibilidade de registro
lidade primária pode ser estabelecida pelo ius soli (critério em repartição brasileira no exterior.
territorial), que é aquele determinado pelo local de nasci-
mento, ou pelo ius sanguinis (critério hereditário), quando Secundária
a aquisição se dá pela ascendência, ou seja, pelo sangue70. Existem duas formas de se adquirir a nacionalidade
No Brasil os critérios de ius soli e ius sanguinis foram brasileira, que estão previstas na Constituição Federal. Há
adotados de forma mesclada, de tal maneira que diversas outras hipóteses de naturalização, que são previstas em lei,
hipóteses descritas no texto constitucional envolvem ques- mas não possuem cunho constitucional, estando afetas à
tões territoriais e hereditárias ao mesmo tempo. matéria Direito Internacional Público. Deixaremos de tratar
das hipóteses legais, referindo‑nos apenas às hipóteses
São brasileiros natos: previstas expressamente no texto constitucional.
1º caso: São brasileiros naturalizados:
• nascidos no Brasil; 1º Caso (naturalização ordinária)
• excetuando‑se os filhos de pais estrangeiros a serviço • ser um estrangeiro originário de país de língua por-
de seu país de origem. tuguesa;
2º caso: • residir há pelo menos um ano, sem interrupção, no
• nascidos no estrangeiro, filho de pai ou mãe brasilei- Brasil;
ro (não importa se nato ou naturalizado), a serviço • possuir idoneidade moral, ou seja, ter uma conduta
moralmente correta perante a sociedade.74
do Brasil71. Por exemplo, o filho de uma diplomata
2º Caso (naturalização extraordinária)
brasileira a serviço do Brasil em Cuba. A utilização do
• ser estrangeiro, de qualquer nacionalidade;
termo ou deixa claro que basta que um dos genitores
• residir no Brasil há pelo menos quinze anos, sem
esteja na situação descrita para que o filho receba a
interrupção;
nacionalidade brasileira.
Noções de Direito Constitucional

• não possuir condenação penal;


Ex.: conforme disposição da CF, será brasileiro nato
• requerer a naturalização.75
o filho, nascido em Paris, de mulher alemã e de em‑
baixador brasileiro que esteja a serviço do governo
O primeiro caso de naturalização depende de um ato
brasileiro naquela cidade quando do nascimento do
discricionário do Presidente da República, enquanto o se-
filho.72
gundo caso configura um direito subjetivo do estrangeiro,
3º caso:
ficando o Estado brasileiro obrigado a concedê‑la caso todos
• nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileiros,
os requisitos estejam preenchidos. A concessão da naturali-
desde que:
zação, portanto, não está sujeita a juízo de conveniência da
administração, sendo um ato vinculado.
69
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anatel/Técnico Administrativo/2013.
70
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 10ª Região (DF e TO)/Técnico Judiciário/ 73
FCC/Ministério Público do Estado do Amapá/Técnico Ministerial/Auxiliar Ad-
Administrativo/2013. ministrativo/2012.
71
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/MF/Assistente Técnico/Adminis- 74
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/MF/Assistente Técnico/Adminis-
trativo/2012 e Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de trativo/2012 e Esaf/Ministério da Intergação Nacional/Secretaria Nacional de
Defesa Civil/2012. Defesa Civil/2012.
72
Cespe/TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013. 75
Assunto cobrado na prova da Esaf/MF/Assistente Técnico/Administrativo/2012.

21
Importante lembrar que a naturalização sempre depen- • Ministro do Supremo Tribunal Federal79;
derá de requerimento do estrangeiro, não existindo mais • Carreira diplomática;
previsão para a naturalização automática, como a grande • Oficial das Forças Armadas80;
naturalização que ocorreu no governo provisório do marechal • Ministro de Estado da Defesa;
Deodoro da Fonseca (1889‑1891). • Membros do Conselho da República (art. 89, VII), que
O STF decidiu que o requerimento de naturalização define a existência de seis brasileiros natos a serem
possui caráter meramente declaratório. O que isso traz de indicados para esse Conselho.
efeito prático? Na prática, isso leva ao entendimento de que
os efeitos da naturalização retroagem à data da solicitação. Perda da Nacionalidade
Assim, um estrangeiro que possua os 15 anos de residência
ininterrupta e não tenha sido condenado criminalmente, Perderá a nacionalidade o brasileiro que:
nos termos do art. 12, II, b, da CF, poderá ser investido em • tiver contra si sentença judicial que cancele a naturali-
um cargo público, mesmo que sua posse tenha ocorrido zação, por haver o brasileiro cometido atividade nociva
antes da naturalização, desde que ele já tenha solicitado a ao interesse nacional (não alcança os natos).
nacionalidade brasileira. • adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos em que
é admitida a dupla nacionalidade:
Observação: aos portugueses residentes no Brasil – concessão de nacionalidade estrangeira de forma
podem ser atribuídos os mesmos direitos reservados originária pela lei estrangeira, ou seja, o brasileiro não
aos brasileiros naturalizados107. Tal instituto, chamado tenha optado por adquiri‑la. Ainda que o brasileiro se
de quase nacionalidade (a ser estudado a seguir), não esforce por reconhecer essa nacionalidade, esse reco-
pode ser confundido com a naturalização ordinária. nhecimento não pode ser confundido com pedido de
76
naturalização, já que se trata de nacionalidade originá-
ria. Tal situação é muito comum com os descendentes
Quase Nacionalidade de italianos, caso em que a nacionalidade italiana é
concedida pelo critério do ius sanguinis, tornando o
É possível que os portugueses possuam todas as prerro- brasileiro um polipátrida.
gativas dos brasileiros naturalizados, caso em que teremos a – exigência da aquisição da nacionalidade estrangeira
figura do português equiparado. Para obter um certificado de para que o brasileiro exerça seus direitos civis no país
equiparação, é necessário que o português venha a residir estrangeiro, ou para que permaneça no território desse
no Brasil e que haja reciprocidade em relação aos brasileiros país.
que venham a residir em Portugal. Não há, como se pode
perceber, um prazo mínimo de residência e sequer critérios Dispositivos Constitucionais
quanto à índole do português que requer a naturalização.
Cabe ressaltar que a quase nacionalidade não é concedida TÍTULO II
a todos aqueles que sejam oriundos de países que adotem Dos Direitos e Garantias Fundamentais
o idioma português como língua oficial, mas apenas àqueles .............................................................................................
que sejam oriundos da República de Portugal. CAPÍTULO III
Nesse caso, não teremos um português naturalizado Da Nacionalidade
brasileiro, mas sim, um português que, mesmo sem se natu-
ralizar, possui todos os direitos que são conferidos aos brasi- Art. 12. São brasileiros:
leiros naturalizados, bastando um certificado de equiparação. I – natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda
Distinções entre Natos e Naturalizados que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a
serviço de seu país81;
Não poderá haver distinções entre brasileiros natos e na- b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
turalizados, salvo nos casos previstos na Constituição, a saber: brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da
• possibilidade de extradição apenas dos brasileiros República Federativa do Brasil;
naturalizados (art. 5º, LI, da CF); c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe
• restrições quanto à propriedade de empresas de brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasi-
comunicação social para os brasileiros naturalizados, leira competente ou venham a residir na República Federativa
consistente na exigência de um mínimo de dez anos do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a
de naturalização (art. 222 da CF); maioridade, pela nacionalidade brasileira;
Noções de Direito Constitucional

• previsão de cargos privativos de brasileiros natos II – naturalizados:


a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade
(art. 12, § 3º, da CF).
brasileira, exigidas aos originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e
São cargos privativos, ou seja, reservados apenas aos
idoneidade moral;
brasileiros natos: b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes
• Presidente e Vice‑Presidente da República77; na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos
• Presidente da Câmara dos Deputados78; ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram
• Presidente do Senado Federal; a nacionalidade brasileira.
79
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judi-
76
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci- ciário/2012; FCC/Ministério Público do Estado do Amapá/Técnico Ministerial/
vil/2012. Auxiliar Administrativo/2012; Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secre-
77
Assunto cobrado na prova da FCC/Ministério Público do Estado do Amapá/ taria Nacional de Defesa Civil/2012 e Vunesp/Tribunal de Justiça-SP/Escrevente
Técnico Ministerial/Auxiliar Administrativo/2012. Técnico Judiciário/2010.
78
Assunto cobrado na prova da FCC/Ministério Público do Estado do Amapá/ 80
Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judiciário/2012.
Técnico Ministerial/Auxiliar Administrativo/2012. 81
Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judiciário/2013.

22
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no contra as frequentes ofensivas britânicas, cada um dos
País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão treze Estados Norte‑Americanos cedeu sua soberania para
atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos um órgão central, responsável pela unificação, formando
previstos nesta Constituição. os Estados Unidos da América, como forma de fortalecer‑se
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasi- contra as frequentes ofensivas britânicas. Ou seja, passou‑se
leiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta de uma Confederação à Federação, em um movimento,
Constituição. chamado pela doutrina, de centrípeto (por agregação), de
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: fora para dentro, em que os Estados cedem parcela de sua
I – de Presidente e Vice‑Presidente da República; soberania. Em contraposição, denomina‑se o movimento
II – de Presidente da Câmara dos Deputados; centrífugo quando o Estado principal transfere aos entes
III – de Presidente do Senado Federal; menores certo nível de autonomia.
IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal; É nesse panorama, de Estados Federados, que se en-
V – da carreira diplomática; quadra a República Federativa do Brasil, em que, como dito,
VI – de oficial das Forças Armadas; um ente federado principal guarda soberania, enquanto as
VII – de Ministro de Estado da Defesa. unidades federadas são autônomas entre si, conforme as
§ 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasi- regras previstas constitucionalmente, inclusive quanto aos
leiro que: limites de competência material e legislativa.
I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judi- Isso significa que as unidades federadas são autônomas,
cial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; mas não soberanas, ou seja, possuem capacidade política
II – adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: (elaboração de suas próprias leis pelo Poder Legislativo
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela próprio) sem, contudo, terem independência. É a chamada
lei estrangeira; descentralização política, com pluralidade de entes políticos.
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, Não quer dizer que há um ente hierarquicamente superior
ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição em face dos demais, mas, simplesmente, repartição de
para permanência em seu território ou para o exercício de competências, dentro dos limites traçados pela Constituição
direitos civis. Federal.
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da Repú- Esses entes autônomos são dotados de auto‑organização
blica Federativa do Brasil. e normatização própria, ou seja, Legislativo próprio e estru-
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a tura organizacional do Poder Executivo.
bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. No Federalismo clássico, ou dual, a repartição do poder
é rigidamente dividida entre a União (Poder Central) e os
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pode-
Estados (Poder Regional). No Federalismo contemporâneo,
rão ter símbolos próprios.
ou cooperativo, as entidades federativas compartilham par-
cela das respectivas competências. No Brasil, o federalismo
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO apresenta‑se de forma peculiar, posto ser tricotômico, ou
seja, engloba três unidades federativas: a União (Poder
Da Organização Político‑Administrativa Central), os Estados (Poder Regional), o Distrito Federal e
os Municípios (Poder local).
Os Estados, enquanto agrupamentos humanos, estabe- A República Federativa do Brasil, portanto, tem sua
lecidos em um certo território e sob um Poder Soberano, organização político‑administrativa composta pela União,
podem ser divididos em Unitários e Compostos. São Unitá- os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo como
rios os Estados em que há apenas um ente com capacidade capital federal Brasília.
política no território, embora se admita sua descentralização Segundo a CF, a capital federal não é um ente autônomo
administrativa. Já os Estados Compostos são aqueles que da Federação82.
comportam mais de um ente político, distinguindo‑se entre Pode‑se sistematizar os entes políticos da seguinte forma:
Federados e Confederados, em razão do grau de autonomia • União: pessoa jurídica de direito público, sob uma
dos entes que os integram. perspectiva interna, relativa às demais unidades federadas,
As diferenças principais entre as ditas modalidades de e uma visão externa, em face dos Estados estrangeiros. In-
ternamente, a União não apresenta nenhuma hierarquia ou
Estados Compostos são as seguintes:
vantagem com os demais entes federativos, com igualdade
• instrumento que perfaz o vínculo: a federação é
de deveres e prerrogativas. No âmbito externo, a União re-
formada por uma Constituição, enquanto a confederação é
presenta a República Federativa do Brasil, como se fosse um
Noções de Direito Constitucional

formada por um tratado internacional;


Estado unitário, já que o direito internacional não reconhece
• (in)dissolubilidade do vínculo: enquanto na federação
a personalidade jurídica dos Estados‑membros e Municípios
é vedado o direito de separação (secessão), este é plenamen- naquele âmbito.
te acolhido na confederação; • Estados federados: são pessoas jurídicas de direito
• na federação, os entes abrem mão de sua soberania, público como regiões autônomas, sem soberania, mas mera
ou seja, de sua independência interna e externa, em favor autonomia. Deve ser destacado que entre os Estados e a
do poder central para, juntando‑se aos demais, cada um União não há hierarquia, um não é superior ao outro como
preservar parcela de seu poder sob a forma de autonomia. Já costuma‑se pensar na visão de um leigo, estando, portanto,
na confe­deração, os entes que a constituem são soberanos. no mesmo nível jurídico. A autonomia pode ser caracterizada
Destaca‑se que o poder autônomo, ao contrário do soberano, pelo poder de auto‑organização, autogoverno, autoadmi-
fica limitado a um outro poder superior, como ocorre no nistração e autolegislação, da qual decorre a autonomia
Brasil, com os Municípios e os Estados‑membros em relação tributária, financeira e orçamentária, todos definidos pela
à nossa República Federativa. Constituição.
A forma federativa de Estado tem sua origem nos EUA,
com a Constituição de 1787. Visando ao fortalecimento Cespe/PRF/Agente Administrativo/Classe A/Padrão I/2012.
82

23
– auto‑organização e autolegislação: atribuição que tem Municipal, apresentados e publicados na forma da lei,
o Estado‑membro de elaborar sua própria constituição e sua antes da realização do plebiscito, devendo a criação ser
legislação, delineando os contornos da organização política, feita por lei estadual, dentro do período determinado por
por exemplo, quando a constituição de um Estado‑membro Lei Complementar Federal.84
cria uma Secretaria de Industrialização definindo e estimu- A Constituição Federal de 1988 ao passo em que esta-
lando polos industriais; beleceu a estrutura e funcionamento dos entes federados,
– autogoverno: significa a atribuição à sociedade local retirou‑lhes certa autonomia no que tange à vedação aos en-
de eleger seus próprios representantes; tes federados de estabelecerem cultos religiosos ou criarem
– autoadministração: capacidade de organizar a forma igrejas, subvencioná‑los, ou embaraçar‑lhes o funcionamen-
em que serão prestados seus serviços, instituindo seus órgãos to, ou ainda, manter relações de dependência ou qualquer
e repartições, ao tempo em que delimita as atribuições de tipo de aliança, salvo, na forma da lei, de colaboração de
seus agentes públicos; interesse público. Também proibiu o estabelecimento de
– autonomia financeira e orçamentária: os Estados‑mem- distinções entre brasileiros ou preferências entre si.
bros possuem fontes de arrecadação próprias, as quais ga- Em síntese: especificou, no âmbito orgânico da ad-
rantem sua manutenção, com a competência de elaborar leis ministração pública brasileira, o princípio do Estado laico
orçamentárias próprias, prevendo suas receitas e despesas. (leigo), em que o Estado não se confunde com a Igreja, e
• Municípios: a Constituição Federal de 1988, inovadora- ainda o princípio da igualdade ao se referir à indispensável
mente, considerou os Municípios como componentes da es- necessidade de tratamento isonômico entre brasileiros que
trutura federativa. Os municípios, que antes faziam parte dos se apresentem nas mesmas condições.
Estados, passam a possuir autonomia política, administrativa
e financeira, em moldes similares ao dos Estados‑membros. Dispositivos Constitucionais
• Distrito Federal: antes considerado uma mera descen-
tralização territorial, a Constituição Federal de 1988 elevou‑o TÍTULO III
à qualidade de pessoa política, integrante da federação, Da Organização do Estado
detentor de auto‑organização, autogoverno, autolegislação
e autoadministração, embora sofra certas limitações (como a CAPÍTULO I
organização e manutenção, pela União, do Poder Judiciário, Da Organização Político-Administrativa
do Ministério Público, das Polícias Civil e Militar, além do
Corpo de Bombeiros Militar). A competência legislativa do Art. 18. A organização político‑administrativa da Repú­
DF abrange as atribuídas aos Estados e Municípios: o Poder blica Federativa do Brasil compreende a União, os Estados,
Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa (espécie de o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos
mistura entre Câmara Municipal e Assembleia Legislativa); termos desta Constituição85.
o Poder Executivo, pelo governador. O Poder Judiciário do § 1º Brasília é a Capital Federal.
DF, assim como do Ministério Público do Distrito Federal e § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua
dos Territórios, faz parte dos respectivos entes da União. Há criação, transformação em Estado ou reintegração ao
ainda a peculiaridade de não poder ser o Distrito Federal Estado de origem serão reguladas em lei complementar86.
dividido em municípios. § 3º Os Estados podem incorporar‑se entre si, subdivi‑
• Territórios: são descentralizações administrativas dir‑se ou desmembrar‑se para se anexarem a outros, ou
ligadas à União. Não são pessoas políticas, possuindo ape- formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante
nas capacidade administrativa. Não integram a federação. aprovação da população diretamente interessada, através
A CF/1988 transformou os territórios até então existentes de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complemen‑
em Estados, à exceção de Fernando de Noronha, que foi tar87.
reincorporado a Pernambuco. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmem-
A Constituição Federal de 1988 admitiu a incorporação bramento de Municípios, far‑se‑ão por lei estadual, dentro
entre estados, sua subdivisão ou até seu desmembramento do período determinado por Lei Complementar Federal,
para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às
Territórios Federais, dependendo, para tanto, de plebiscito populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos
da população diretamente interessada, e de Lei Comple- Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados
mentar a ser elaborada pelo Congresso Nacional83. na forma da lei.
A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Fede-
de Municípios, por sua vez, são estabelecidos mediante lei ral e aos Municípios:
estadual, dentro do período determinado por lei comple- I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencio‑
Noções de Direito Constitucional

mentar federal, dependendo de consulta prévia, mediante ná‑los, embaraçar‑lhes o funcionamento ou manter com
plebiscito, à população diretamente interessada, após divul- eles ou seus representantes relações de dependência ou
gação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
publicados na forma da lei. interesse público88;
A título de exemplo: no ano de 2010, realizou-se no II – recusar fé aos documentos públicos89;
Município de Porto Velho, em Rondônia, uma consulta III – criar distinções entre brasileiros ou preferências
plebiscitária sobre a criação do Município de Extrema entre si90.
de Rondônia, na região então conhecida como Ponta do
Abunã, que abrange quatro distritos da capital do Estado. 84
FCC/TJRJ/Técnico de Atividade Judiciária/2012.
O resultado do plebiscito foi favorável à criação do novo
85
Assunto cobrado na prova da Esaf/MF/Assistente Técnico/Administrativo/2012.
86
Esaf/MF/Assistente Técnico/Administrativo/2012.
Município. Considerada a disciplina constitucional da ma‑ 87
Esaf/MF/Assistente Técnico/Administrativo/2012.
téria, devem ter sido divulgados Estudos de Viabilidade 88
Esaf/MF/Assistente Técnico/Administrativo/2012.
89
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Ancine/Técnico Administra-
tivo/2012 e Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de
Assunto cobrado na prova da FCC/Assembleia Legislativa- SP/Agente Legislativo
83
Defesa Civil/2012.
de Serviços Técnicos e Administrativos/2010. 90
Esaf/MF/Assistente Técnico/Administrativo/2012.

24
A
Da União § 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de
largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como
A Constituição Federal de 1988 traz expressamente os faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa
bens considerados da União, constantes no seu art. 20 e do território nacional, e sua ocupação e utilização serão
seguintes. Destaca‑se, apenas a título ilustrativo, aqueles reguladas em lei.
que são considerados de maior relevância. Logo em seguida,
transcreve‑se a literalidade do dispositivo: Competência

a) as terras devolutas, que são aquelas indispensáveis A forma federativa de Estado tem como uma de suas
à defesa das fronteiras, das fortificações e constru- principais características a repartição de competências entre
ções militares, das vias federais, de comunicação e à os entes federados que a compõem.
preservação ambiental, definidas em lei; Pode‑se dizer que a competência é o conjunto de atribui-
b) os lagos, rios e quaisquer correntes de água em ções traçadas pela Constituição que respaldam a autonomia
terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
Estado, sirvam de limites com outros países, ou se A divisão da competência estabelece a repartição de
estendam a território estrangeiro ou dele provenham, funções para que os entes federativos realizem as atribuições
bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; públicas de forma harmoniosa, com o objetivo de se alcançar
c) as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com maior eficiência.
outros países; as praias marítimas; A dificuldade que pode surgir é em relação ao critério de
d) o mar territorial91; repartição da competência, ou seja, qual o ente federativo
e) terrenos de marinha e seus acrescidos; tem exclusividade ou predominância na matéria. Tem‑se
f) potenciais de energia hidráulica; como regra geral: se o interesse for predominantemente
g) recursos minerais, inclusive os do subsolo; nacional, cabe à União; se for estadual, ao Estado; se for
h) cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueo­ municipal, ao Município; o Distrito Federal, por sua vez,
lógicos e pré‑históricos; acumula a competência estadual e municipal. Todos atuam
i) terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. na conjugação de esforços para a realização do bem comum.
Na verdade, o critério é essencialmente político, partin-
TÍTULO III do‑se do pressuposto de que as matérias que necessitam de
Da Organização do Estado maiores recursos financeiros ou de uniformidade legislativa
............................................................................................. na federação devem ficar ao encargo da União.
CAPÍTULO II A Constituição Federal de 1988, formalmente, tentou
Da União implantar um federalismo cooperativo, segundo o qual
os entes federativos teriam atribuições, em certa medida
Art. 20. São bens da União:
isonômica, construindo‑se a prestação eficiente de serviços
I – os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem
públicos cada um na medida de suas atribuições políticas.
a ser atribuídos;
Acontece, entretanto, que, na prática, o federalismo brasi-
II – as terras devolutas indispensáveis à defesa das frontei-
ras, das fortificações e construções militares, das vias federais leiro é centrípeto, havendo uma concentração de funções e
de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; prerrogativas a cargo da União.
III – os lagos, rios e quaisquer correntes de água em A Constituição Federal estabeleceu sistema de reparti‑
terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Es- ção de competências entre os entes político-administrativos
tado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam que combina competências exclusivas, privativas e princi‑
a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os piológicas com competências comuns e concorrentes, com
terrenos marginais e as praias fluviais; vistas ao equilíbrio federativo.92
IV – as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com As competências constitucionais podem ser classificadas
outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as como atividades administrativas (materiais), legislativas
costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de (formais) e tributárias. As primeiras caracterizam‑se pela
Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público organização de serviços, na realização de uma obra, na
e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; proteção de um bem, entre outras atividades desenvolvidas
V – os recursos naturais da plataforma continental e da pelo Poder Executivo. As segundas são caracte­rizadas pela
zona econômica exclusiva; confecção de normas que regulamentará um objeto espe-
VI – o mar territorial; cífico. A competência tributária, por sua vez, caracteriza‑se
VII – os terrenos de marinha e seus acrescidos; pela conjugação dos dois postulados: material, na medida em
Noções de Direito Constitucional

VIII – os potenciais de energia hidráulica; que arrecada tributos e, ainda, legislativo, quando elabora
IX – os recursos minerais, inclusive os do subsolo; normas de fiscalização e arrecadação de tributos.
X – as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueo- A competência material pode ser exclusiva ou comum,
lógicos e pré‑históricos; enquanto que a competência legislativa pode ser privativa,
XI – as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. concorrente, suplementar e residual.
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, A competência exclusiva está descrita no art. 21 da
ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da Constituição Federal de 1988 e pertence à União, sem ne-
administração direta da União, participação no resultado da nhuma possibilidade de delegação para os Estados e para os
exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos Municípios. Ela é material ou administrativa. Caracteriza‑se
para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos por ser de grande vulto, de valor mais elevado (construção
minerais no respectivo território, plataforma continental, mar de rodovias federais, exploração de aeroportos etc.) ou ati-
territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação vidades administrativas que exigem uniformidade em todo
financeira por essa exploração. o território brasileiro (emitir moeda, serviço postal etc.).
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci-
91

vil/2012. Cespe/TJ-RO/Técnico Judiciário2012.


92

25
A Constituição Federal também outorgou algumas com- XVII – conceder anistia;
petências exclusivas a outros entes fe­derativos, por exemplo, XVIII – planejar e promover a defesa permanente
a competência exclusiva dos Estados‑membros (art. 25, § 1º) contra as calamidades públicas, especialmente as
e a competência exclusiva dos Municípios (art. 30, I, da CF). secas e as inundações94;
Esse tipo de competência caracteriza‑se pela impossibilidade XIX – instituir sistema nacional de gerenciamento
de delegação, ou o exercício de competência suplementar de recursos hídricos e definir critérios de outorga de
ou complementar. direitos de seu uso;
São competências exclusivas da União, ou seja, compe- XX – instituir diretrizes para o desenvolvimento
tências materiais ou administrativas (art. 21 da CF): urbano, inclusive habitação, saneamento básico e
transportes urbanos;
Art. 21. Compete à União: XXI – estabelecer princípios e diretrizes para o siste-
I – manter relações com Estados estrangeiros e par- ma nacional de viação;
ticipar de organizações internacionais; XXII – executar os serviços de polícia marítima, aero-
II – declarar a guerra e celebrar a paz; portuária e de fronteiras;
III – assegurar a defesa nacional; XXIII – explorar os serviços e instalações nucleares de
IV – permitir, nos casos previstos em lei complemen- qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre
tar, que forças estrangeiras transitem pelo território a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessa-
nacional ou nele permaneçam temporariamente; mento, a industrialização e o comércio de minérios
V – decretar o estado de sítio, o estado de defesa e nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes
a intervenção federal; princípios e condições:
VI – autorizar e fiscalizar a produção e o comércio a) toda atividade nuclear em território nacional so-
de material bélico; mente será admitida para fins pacíficos e mediante
VII – emitir moeda; aprovação do Congresso Nacional;
VIII – administrar as reservas cambiais do País e b) sob regime de permissão, são autorizadas a co-
fiscalizar as operações de natureza financeira, espe- mercialização e a utilização de radioisótopos para
cialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
como as de seguros e de previdência privada; c) sob regime de permissão, são autorizadas a produ-
IX – elaborar e executar planos nacionais e regionais ção, comercialização e utilização de radioisótopos de
de ordenação do território e de desenvolvimento meia‑vida igual ou inferior a duas horas;
econômico e social; d) a responsabilidade civil por danos nucleares inde-
X – manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; pende da existência de culpa;
XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, XXIV – organizar, manter e executar a inspeção do
concessão ou permissão, os serviços de telecomuni- trabalho;
cações, nos termos da lei, que disporá sobre a organi- XXV – estabelecer as áreas e as condições para o
zação dos serviços, a criação de um órgão regulador exercício da atividade de garimpagem, em forma
e outros aspectos institucionais; associativa95.
XII – explorar, diretamente ou mediante autorização,
concessão ou permissão: Perceba‑se que o mais importante é entender que o
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e art. 21, anteriormente transcrito, trata de uma atividade
imagens; material, ou seja, um fazer do Estado, no caso da União.
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o A competência privativa é a chamada legislativa, que
aproveitamento energético dos cursos de água, em
pertence a um ente federativo, mas que pode ser delegada
articulação com os Estados onde se situam os poten-
a outro. As competências privativas estabelecidas no art. 22
ciais hidroenergéticos;
da Constituição Federal pertencem à União, mas podem ser
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura
delegadas para os Estados‑membros e para o Distrito Federal,
aeroportuária;
por intermédio de Lei Complementar, a depender de sua con-
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário
veniência política em transferir as atribuições enumeradas
entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou
neste dispositivo a outro ente federado.
que transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual
e internacional de passageiros; Art. 22. Compete privativamente à União legislar
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; sobre:
XIII – organizar e manter o Poder Judiciário, o Minis- I – direito civil, comercial, penal, processual, elei-
toral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
Noções de Direito Constitucional

tério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a


Defensoria Pública dos Territórios; trabalho;
XIV – organizar e manter a polícia civil, a polícia II – desapropriação;
militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito III – requisições civis e militares, em caso de iminente
Federal, bem como prestar assistência financeira perigo e em tempo de guerra;
ao Distrito Federal para a execução de serviços IV – águas, energia, informática, telecomunicações
públicos, por meio de fundo próprio93; e radiodifusão;
XV – organizar e manter os serviços oficiais de esta- V – serviço postal;
tística, geografia, geologia e cartografia de âmbito VI – sistema monetário e de medidas, títulos e ga-
nacional; rantias dos metais;
XVI – exercer a classificação, para efeito indicativo, VII – política de crédito, câmbio, seguros e transfe-
de diversões públicas e de programas de rádio e rência de valores;
televisão;
94
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Ministério da Integração Nacional/
Assunto cobrado na prova da Esaf/ Ministério da Integração Nacional/Secretaria
93
Secretaria Nacional de Defesa Civil/2012.
Nacional de Defesa Civil/2012. 95
FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Técnico Legislativo/2010.

26
VIII – comércio exterior e interestadual; III – proteger os documentos, as obras e outros
IX – diretrizes da política nacional de transportes; bens de valor histórico, artístico e cultural, os mo-
X – regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, numentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
marítima, aérea e aeroespacial96; arqueológicos;
XI – trânsito e transporte; IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracte-
XII – jazidas, minas, outros recursos minerais e me- rização de obras de arte e de outros bens de valor
talurgia; histórico, artístico ou cultural;
XIII – nacionalidade, cidadania e naturalização; V – proporcionar os meios de acesso à cultura, à
XIV – populações indígenas; educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à
XV – emigração e imigração, entrada, extradição e inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional
expulsão de estrangeiros; nº 85/2015)
XVI – organização do sistema nacional de emprego e VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição
condições para o exercício de profissões; em qualquer de suas formas;
XVII – organização judiciária, do Ministério Público VII – preservar as florestas, a fauna e a flora100;
do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria VIII – fomentar a produção agropecuária e organizar
Pública dos Territórios, bem como organização ad- o abastecimento alimentar;
ministrativa destes; IX – promover programas de construção de mora-
XVIII – sistema estatístico, sistema cartográfico e de dias e a melhoria das condições habitacionais e de
geologia nacionais97; saneamento básico;
XIX – sistemas de poupança, captação e garantia da X – combater as causas da pobreza e os fatores de
poupança popular; marginalização, promovendo a integração social dos
XX – sistemas de consórcios e sorteios; setores desfavorecidos;
XXI – normas gerais de organização, efetivos, mate- XI – registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões
rial bélico, garantias, convocação e mobilização das de direitos de pesquisa e exploração de recursos
polícias militares e corpos de bombeiros militares; hídricos e minerais em seus territórios;
XXII – competência da polícia federal e das polícias XII – estabelecer e implantar política de educação
rodoviária e ferroviária federais; para a segurança do trânsito.
XXIII – seguridade social; Parágrafo único. Leis complementares fixarão nor-
XXIV – diretrizes e bases da educação nacional; mas para a cooperação entre a União e os Estados,
XXV – registros públicos; o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o
XXVI – atividades nucleares de qualquer natureza; equilíbrio do desenvolvimento e do bem‑estar em
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em âmbito nacional.
todas as modalidades, para as administrações pú-
blicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Por fim, a Constituição Federal estabelece a competência
Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o concorrente para legislar acerca das matérias enumeradas
disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas no art. 24, entre as quais podem‑se destacar as matérias
e sociedades de economia mista, nos termos do de direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico,
art. 173, § 1º, III; (Redação dada pela Emenda Cons- urbanístico, orçamento, produção e consumo, entre outras.
titucional nº 19, de 1998) Compete aos entes federados legislar sobre as referidas
XXVIII – defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa matérias, podendo‑se dizer que dois entes federativos atuam
marítima, defesa civil e mobilização nacional98; em um mesmo campo de incidência, normatizando a mesma
XXIX – propaganda comercial. matéria, mas com atribuições distintas. De fato, a União tem
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar a competência para legislar normas gerais, enquanto que os
os Estados a legislar sobre questões específicas das Estados‑membros e Distrito Federal legislam sobre questões
matérias relacionadas neste artigo99. específicas. É o chamado modelo vertical de competência.
É importante destacar que a União não pode elaborar a
A competência comum consiste na competência mate- norma geral de forma exaustiva, devendo deixar uma zona
rial conferida aos entes federados: União, Estados, Distrito para atuação das normas específicas, no sentido de que os
Federal e Municípios. Refere‑se às atividades de prestação Estados‑membros possam adequar as normas gerais às suas
realidades regionais.
de um serviço, como a assistência à saúde, as medidas de
A norma específica pode ser complementar ou suple-
acesso à cultura, educação e ciência, entre outros. Consistem
mentar: complementar é quando os Estados‑membros ou o
em um fazer por parte do ente federativo.
Distrito Federal produzem normatizações para especificar a
Noções de Direito Constitucional

legislação geral da União, enquanto é suplementar quando


Art. 23. É competência comum da União, dos Estados,
há uma omissão da União em produzir a legislação geral,
do Distrito Federal e dos Municípios:
possibilitando que os Estados possam elaborar normas
I – zelar pela guarda da Constituição, das leis e das
gerais e específicas acerca dos temas constantes do art. 24
instituições democráticas e conservar o patrimônio
da Constituição Federal. Não é necessária uma delegação
público;
expressa da União para se transmitir o poder de legislar de
II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção
forma suplementar, pois a simples ausência de norma geral
e garantia das pessoas portadoras de deficiência; da União faz com que haja o imediato poder de confecção
das normas pelos Estados‑membros.
96
Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Técnico em Radiologia/2012.
97
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci-
Na competência concorrente suplementar, voltando a
vil/2012. União a legislar sobre assuntos gerais, as normas produzidas
98
Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria pelos Estados que estiverem em colisão com as normas da
Nacional de Defesa Civil/2012.
99
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PRF/Agente Administrativo/ União serão suspensas do ordenamento jurídico.
Classe A/Padrão I/2012 e Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
Nacional de Defesa Civil/2012. Assunto cobrado na prova do Cespe/MPU/Técnico Administrativo/2013.
100

27
Atenção! Aqui se trata de suspensão da norma, e não de Art. 25. Os Estados organizam‑se e regem‑se pelas
revogação, o que implica retorno de eficácia da norma Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.
estadual anterior, se revogada a norma federal posterior.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências
A razão desse fato deve‑se ao federalismo, que impos-
que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
sibilita a União de revogar uma norma produzida pelo
outro ente federado. Note‑se que os Estados‑membros e Os municípios, como entes autônomos que são, mesmo
o Distrito Federal não poderão produzir normas contrárias inseridos geograficamente no âmbito dos Estados‑membros
à norma geral que foi elaborada pela União. têm, de forma geral, a competência referente a assuntos de
interesse local.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito
Federal legislar concorrentemente sobre: Art. 30. Compete aos Municípios:
I – direito tributário, financeiro, penitenciário101, I – legislar sobre assuntos de interesse local;
II – suplementar a legislação federal e a estadual no
econômico e urbanístico;
que couber;
II – orçamento;
III – instituir e arrecadar os tributos de sua compe-
III – juntas comerciais; tência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo
IV – custas dos serviços forenses; da obrigatoriedade de prestar contas e publicar
V – produção e consumo; balancetes nos prazos fixados em lei;
VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da IV – criar, organizar e suprimir distritos, observada a
natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, legislação estadual;
proteção do meio ambiente e controle da poluição; V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime
VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, ar- de concessão ou permissão, os serviços públicos de
tístico, turístico e paisagístico; interesse local, incluído o de transporte coletivo, que
VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, tem caráter essencial;
ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, VI – manter, com a cooperação técnica e financeira
estético, histórico, turístico e paisagístico; da União e do Estado, programas de educação infantil
IX – educação, cultura102, ensino, desporto, ciência, e de ensino fundamental;
tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; VII – prestar, com a cooperação técnica e financeira
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85/2015) da União e do Estado, serviços de atendimento à
X – criação, funcionamento e processo do juizado de saúde da população;
pequenas causas; VIII – promover, no que couber, adequado ordena-
XI – procedimentos em matéria processual; mento territorial, mediante planejamento e controle
XII – previdência social, proteção e defesa da saúde; do uso, do parcelamento e da ocupação do solo
XIII – assistência jurídica e Defensoria pública103; urbano;
IX – promover a proteção do patrimônio históri-
XIV – proteção e integração social das pessoas por-
co‑cultural local, observada a legislação e a ação
tadoras de deficiência; fiscalizadora federal e estadual.
XV – proteção à infância e à juventude;
XVI – organização, garantias, direitos e deveres das
polícias civis.
Estados‑Membros
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competên- Os Estados‑membros podem ainda, como decorrência
cia da União limitar‑se‑á a estabelecer normas gerais. natural do federalismo adotado pela Constituição Fe­deral,
§ 2º A competência da União para legislar sobre respeitados seus limites territoriais, estruturar sua organi-
normas gerais não exclui a competência suplemen‑ zação administrativa. A Constituição Federal faz referência
tar dos Estados104. expressa aos bens dos Estados‑membros.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais,
os Estados exercerão a competência legislativa Art. 25. Os Estados organizam‑se e regem‑se pelas
plena, para atender a suas pe­culiaridades105. Constituições e leis que adotarem, observados os
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas princípios desta Constituição.
gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que § 1º São reservadas aos Estados as competências
lhe for contrário. que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou
mediante concessão, os serviços locais de gás cana-
Noções de Direito Constitucional

Por fim, faz‑se referência à competência residual,


que consiste, como regra geral, na permissão dada aos lizado, na forma da lei, vedada a edição de medida
Estados‑membros e ao DF de legislarem sobre todos os as- provisória para a sua regulamentação106.
suntos que não tenham sido vedados ou não especificados § 3º Os Estados poderão, mediante lei comple-
pela Constituição Federal, em síntese, tudo aquilo que não mentar107, instituir regiões metropolitanas, aglo-
está discriminado após a enumeração de competência para merações urbanas e microrregiões, constituídas
os entes federados. por agrupamentos de municípios limítrofes, para
integrar a organização, o planejamento e a execução
de funções públicas de interesse comum108.
101
Assunto cobrado na prova do Cespe/CNJ/Técnico Judiciário/Área Administra-
tiva/2013.
102
Assunto cobrado na prova do Cespe/Ancine/Técnico Administrativo/2012. 106
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Ad-
103
FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Técnico Legislativo/2010. ministrativa/2010 e FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/
104
FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/Área Administrati- Área Administrativa/2010.
va/2010. 107
Assunto cobrado na prova da FCC/MPPE/Técnico Ministerial/Área Administra-
105
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Ju- tiva/2012.
diciário/Área Administrativa/2013 e FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente 108
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Administra-
Técnico Legislativo/Direito/2010. tiva/2010.

28
Art. 26. Incluem‑se entre os bens dos Estados: cimo de qualquer gratificação, adicional, abono,
I – as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, prêmio, verba de representação ou outra espécie
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o dis-
na forma da lei, as decorrentes de obras da União109; posto no art. 37, X e XI.
II – as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que esti-
verem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio Importante destacar que a Emenda Constitucional
da União, Municípios ou terceiros; nº 50/2006 vedou o pagamento de parcela indenizatória em
III – as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à caso de convocação para sessão legislativa extraordinária.
União; Esse subsídio corresponde a 75% (setenta e cinco por
IV – as terras devolutas não compreendidas entre cento) do subsídio estabelecido, em espécie, para os depu-
as da União. tados federais.

A organização político‑administrativa dos Estados‑mem- Dispositivos Constitucionais


bros segue, por simetria, a estrutura da União, diferencian-
do‑se em questões pontuais que a Constituição Federal faz TÍTULO III
expressa menção, como no caso do número de deputados Da Organização do Estado
que irão compor a Assembleia Legislativa. Vejamos o que .............................................................................................
diz o caput do art. 27. CAPÍTULO III
Dos Estados Federados
Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Le- .............................................................................................
gislativa corresponderá ao triplo da representação Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legis-
do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o lativa corresponderá ao triplo da representação do Estado
número de trinta e seis, será acrescido de tantos na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e
quantos forem os Deputados Federais acima de seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados
doze110. Federais acima de doze.
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Esta-
Por exemplo: um Estado com oito deputados federais terá duais, aplicando‑ sê‑lhes as regras desta Constituição sobre
vinte e quatro deputados estaduais. Com doze, terá trinta e sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração,
seis deputados federais. Com vinte deputados federais, terá perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação
quarenta e quatro deputados estaduais (36 + 8). às Forças Armadas.
O mandato dos deputados estaduais será de quatro anos, § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por
aplicando, como dito, o paralelismo em relação à configu- lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no
ração no âmbito da União, respeitando o sistema eleitoral, máximo, setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em
a inviolabilidade, as imunidades, a remuneração, a perda espécie, para os Deputados Federais, observado o que dis-
de mandato, a licença, os impedimentos e a incorporação põem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
às Forças Armadas. § 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre
seu regimento interno, polícia e serviços administrativos de
Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Le- sua secretaria, e prover os respectivos cargos111.
gislativa corresponderá ao triplo da representação § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo
do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o legislativo estadual112.
número de trinta e seis, será acrescido de tantos Art. 28. A eleição do Governador e do Vice‑Governador
quantos forem os Deputados Federais acima de doze. de Estado, para mandato de quatro anos, realizar‑se‑á no pri-
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados meiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último
Estaduais, aplicando‑sê‑lhes as regras desta Consti- domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano
tuição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imu- anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a
nidades, remuneração, perda de mandato, licença, posse ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subsequente,
impedimentos e incorporação às Forças Armadas. observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77.
§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir
Os deputados estaduais recebem remuneração definida outro cargo ou função na administração pública direta ou
por meio de lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, sendo indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público
denominada subsídio. Este tipo de remuneração é fixada em e observado o disposto no art. 38, I, IV e V.
parcela única, extinguindo as gratificações, auxílios ou qual- § 2º Os subsídios do Governador, do Vice‑Governador e
Noções de Direito Constitucional

quer outra parcela remuneratória, salvo os casos de verbas dos Secretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa da
indenizatórias, as quais não possuem natureza salarial, mas, Assembleia Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37,
de ressarcimento de despesas efetuadas, como, por exemplo, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
o caso de indenização transporte, moradia etc.
Municípios
Art. 39. [...]
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato ele-
O Município é regido por lei orgânica, diferentemente
tivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais
dos Estados‑membros, que possuem Constituição Estadual.
e Municipais serão remunerados exclusivamente por
Diz‑se lei orgânica porque o Estado‑federado brasileiro
subsídio fixado em parcela única, vedado o acrés-
é fragmentado em unidades federativas (União, Estados,
109
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/DNIT/Técnico Administrativo/2013,
FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010 e FCC/Tribunal Re- 111
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Ad-
gional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010. ministrativa/2010 e FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/
110
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Ad- Área Administrativa/2010.
ministrativa/2010 e FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente Técnico Legislativo/ 112
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico
Direito/2010. Judiciário/Área Administrativa/2010.

29
Municípios e DF), restando apenas a competência relacio- Dispositivos Constitucionais
nada ao interesse local, a ser disciplinado pelos Municípios,
inclusive porque os mesmos devem obedecer, por simetria, TÍTULO III
a estrutura organizacional da União e Estados‑membros. Da Organização do Estado
Os municípios contam com os Poderes Legislativo e Exe‑ .............................................................................................
cutivo, com cargos para os quais há eleição, na qual votam CAPÍTULO IV
seus eleitores, mas não com Poder Judiciário próprio113. Dos Municípios
O prefeito, vice‑prefeito e vereadores são eleitos para
mandatos de quatro anos, em pleito direto e simultâneo Art. 29. O Município reger‑se‑á por lei orgânica, votada
em todo o País. em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e apro‑
O número de vereadores é proporcional à população do vada por dois terços dos membros da Câmara Municipal115,
município, observando‑se os limites fixados pela CF: que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos
nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e
Número de os seguintes preceitos:
População (em número de habitantes) I – eleição do Prefeito, do Vice‑Prefeito e dos Verea­dores,
vereadores
Até 15.000 9
para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e
simultâneo realizado em todo o País;
Mais de 15.000 – até 30.000 11 II – eleição do Prefeito e do Vice‑Prefeito realizada no primei-
Mais de 30.000 – até 50.000 13 ro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato
Mais de 50.000 – até 80.000 15 dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso
de Municípios com mais de duzentos mil eleitores;
Mais de 80.000 – até 120.000 17
III – posse do Prefeito e do Vice‑Prefeito no dia 1º de
Mais de 120.000 – até 160.000 19 janeiro do ano subsequente ao da eleição;
Mais de 160.000 – até 300.000 21 IV – para a composição das Câmaras Municipais, será
Mais de 300.000 – até 450.000 23 observado o limite máximo de: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 58, de 2009)   (Produção de efeito)
Mais de 450.000 – até 600.000 25
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000
Mais de 600.000 – até 750.000 27 (quinze mil) habitantes116; (Redação dada pela Emenda
Mais de 750.000 – até 900.000 29 Constitucional nº 58, de 2009)
Mais de 900.000 – até 1.050.000 31 b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de
15.000 (quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil)
Mais de 1.050.000 – até 1.200.000 33 habitantes; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
Mais de 1.200.000 – até 1.350.000 35 58, de 2009)
Mais de 1.350.000 – até 1.500.000 37
Mais de 1.500.000 – até 1.800.000 39 Ex.: o Município “1” possui 10.000 habitantes; o Mu‑
nicípio “2” possui 20.000 habitantes; o Município “3” possui
Mais de 1.800.000 – até 2.400.000 41 14.000 habitantes; e o Município “4” possui 25.000 habitan‑
Mais de 2.400.000 – até 3.000.000 43 tes. De acordo com a Constituição Federal brasileira, para
Mais de 3.000.000 – até 4.000.000 45 a composição das Câmaras Municipais, será observado o
limite máximo de 11 Vereadores apenas para os Municípios
Mais de 4.000.000 – até 5.000.000 47
“2” e “4”.117
Mais de 5.000.000 – até 6.000.000 49
Mais de 6.000.000 – até 7.000.000 51 c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de
Mais de 7.000.000 – até 8.000.000 53 30.000 (trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta
mil) habitantes118; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
Mais de 8.000.000 55
nal nº 58, de 2009)
d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de
O prefeito, o vice‑prefeito e os vereadores recebem
50.000 (cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta
subsídio em parcela única fixado pela Câmara Municipal em
mil) habitantes; (Incluída pela Emenda Constitucional nº
cada legislatura para a subsequente, ou seja, em seu man-
58, de 2009)
dato, o vereador não pode aumentar o próprio vencimento
e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais
e de seus pares, mas apenas da próxima legislatura, que é
de 80.000 (oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento
de quatro anos.
Noções de Direito Constitucional

e vinte mil) habitantes; (Incluída pela Emenda Constitucional


A remuneração dos vereadores corresponde a até 75%
nº 58, de 2009)
(setenta e cinco por cento) do subsídio estabelecido para os
f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais
deputados estaduais, devendo‑se observar os limites fixados de 120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000
na CF para os habitantes do Município. (cento sessenta mil) habitantes; (Incluída pela Emenda Cons-
O total da despesa com remuneração dos vereadores tituição Constitucional nº 58, de 2009)
não poderá ultrapassar o montante de 5% (cinco por cento) g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
da receita do Município114. 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000
Os vereadores possuem imunidade por suas opiniões, (trezentos mil) habitantes; (Incluída pela Emenda Constitu-
palavras e votos no exercício do mandato e desde que sejam cional nº 58, de 2009)
proferidos na circunscrição do Município.
115
FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010.
116
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Administra-
tiva/2010.
Cespe/TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013.
113 117
FCC/Ministério Público do Estado do Amapá/Técnico Ministerial/Auxiliar Ad-
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Administra-
114
ministrativo/2012.
tiva/2010. 118
FCC/MPPE/Técnico Ministerial/Área Administrativa/2012.

30
h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais V – subsídios do Prefeito, do Vice‑Prefeito e dos Secre-
de 300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (qua- tários Municipais fixados por lei de iniciativa da Câmara
trocentos e cinquenta mil) habitantes; (Incluída pela Emenda Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º,
Constitucional nº 58, de 2009) 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais VI – o subsídio dos Vereadores será fixado pelas res-
de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e pectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a
de até 600.000 (seiscentos mil) habitantes; (Incluída pela subsequente, observado o que dispõe esta Constituição,
Emenda Constitucional nº 58, de 2009) observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Or-
j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais gânica e os seguintes limites máximos:
de 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio
(setecentos cinquenta mil) habitantes; (Incluída pela Emenda máximo dos Vereadores corresponderá a vinte por cento
Constitucional nº 58, de 2009) do subsídio dos Deputados Estaduais119;
k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habi-
de 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até tantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a
900.000 (novecentos mil) habitantes; (Incluída pela Emenda trinta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
Constitucional nº 58, de 2009) c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil ha-
l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de bitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá
900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um a quarenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
milhão e cinquenta mil) habitantes; (Incluída pela Emenda d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habi-
Constitucional nº 58, de 2009) tantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a
m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais cinquenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
de 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de até
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil
1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes; (Incluída
habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponde-
pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
rá a sessenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais
f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes,
de 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de até
1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitan- o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta
tes; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009) e cinco por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;
o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de VII – o total da despesa com a remuneração dos Verea-
1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes dores não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento
e de até 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes; da receita do Município;
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009) VIII – inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões,
p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição
de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes e do Município;
de até 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; IX – proibições e incompatibilidades, no exercício da
(Incluída pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009) vereança, similares, no que couber, ao disposto nesta
q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de Constituição para os membros do Congresso Nacional e
mais de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes na Constituição do respectivo Estado para os membros da
e de até 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habi- Assembleia Legislativa;
tantes; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009) X – julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de XI – organização das funções legislativas e fiscalizadoras
mais de 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitan- da Câmara Municipal;
tes e de até 3.000.000 (três milhões) de habitantes; (Incluída XII – cooperação das associações representativas no
pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009) planejamento municipal;
s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de XIII – iniciativa popular de projetos de lei de interesse
mais de 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até específico do Município, da cidade ou de bairros, através de
4.000.000 (quatro milhões) de habitantes; (Incluída pela manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado;
Emenda Constitucional nº 58, de 2009) XIV – perda do mandato do Prefeito, nos termos do
t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de art. 28, parágrafo único.
mais de 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de Art. 29‑A. O total da despesa do Poder Legislativo Mu-
até 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes; (Incluída pela nicipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos
Emenda Constitucional nº 58, de 2009) os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes
Noções de Direito Constitucional

u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das
de mais de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de transferências previstas no § 5º do art. 153 e nos arts. 158 e
até 6.000.000 (seis milhões) de habitantes; (Incluída pela 159, efetivamente realizado no exercício anterior:
Emenda Constitucional nº 58, de 2009) I – 7% (sete por cento) para Municípios com população
v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de de até 100.000 (cem mil) habitantes; (Redação dada pela
mais de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
7.000.000 (sete milhões) de habitantes; (Incluída pela Emen- II – 6% (seis por cento) para Municípios com população
da Constitucional nº 58, de 2009) entre 100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes;
w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
mais de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até III – 5% (cinco por cento) para Municípios com população
8.000.000 (oito milhões) de habitantes; e  (Incluída pela entre 300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos
Emenda Constitucional nº 58, de 2009) mil) habitantes; (Redação dada pela Emenda Constitucional
x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de nº 58, de 2009)
mais de 8.000.000 (oito milhões) de habitantes. (Incluída
pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009) FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010.
119

31
A
IV – 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para para exame e apreciação, o qual poderá questionar‑lhes a
Municípios com população entre 500.001 (quinhentos mil e legitimidade, nos termos da lei.
um) e 3.000.000 (três milhões) de habitantes; (Redação dada § 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos
pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009) de Contas Municipais.
V – 4% (quatro por cento) para Municípios com popula-
ção entre 3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito Distrito Federal
milhões) de habitantes; (Redação dada pela Emenda Cons-
titucional nº 58, de 2009) Em alguns países, como no caso do Brasil e Estados Uni-
VI – 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para dos da América, a sede do Estado Federal, conhecida como
Municípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões a Capital Federal, é estabelecida em um território à parte,
e um) habitantes. (Redação dada pela Emenda Constitucio- desvinculado dos demais Estados‑membros.
nal nº 58, de 2009) A Constituição de 1988 instituiu Brasília como Capital Fe-
§ 1º A Câmara Municipal não gastará mais de setenta deral, estando inserida no Distrito Federal (DF). É importante
por cento de sua receita com folha de pagamento, incluído destacar que o Distrito Federal não se confunde com Brasília,
o gasto com o subsídio de seus Vereadores. pois aquele tem a natureza jurídica de entidade federativa
§ 2º Constitui crime de responsabilidade do Prefeito com autonomia político‑administrativa, competências espe-
Municipal: cíficas, receitas, despesas e atribuições próprias, enquanto
I – efetuar repasse que supere os limites definidos neste que Brasília é a cidade conhecida como capital federal.
artigo; Mesmo não sendo estado nem município, o Distrito
II – não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou Federal (DF) possui autonomia, parcialmente tutelada
III – enviá‑lo a menor em relação à proporção fixada na pela União.120
Lei Orçamentária. O Distrito Federal (DF) é uma unidade‑federativa di-
§ 3º Constitui crime de responsabilidade do Presidente ferenciada das demais, pois absorve tanto a competência
da Câmara Municipal o desrespeito ao § 1º deste artigo. legislativa dos Estados‑membros, como a dos Municípios121,
possuindo as características principais de uma unidade‑fe-
Art. 30. Compete aos Municípios:
derada, quais sejam, autonomia política, auto‑organização,
I – legislar sobre assuntos de interesse local;
autolegislação, autogoverno e autoadministração.
II – suplementar a legislação federal e a estadual no que
• autonomia política: tem seus próprios Parlamentares
couber;
e Chefe de Governo;
III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência, • auto‑organização: tem sua estrutura organizacional
bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigato- definida nos termos de sua Lei Orgânica, aprovada por
riedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos 2/3 dos votos e promulgada pela Câmara Legislativa,
fixados em lei; respeitando a simetria constitucional;
IV – criar, organizar e suprimir distritos, observada a • autolegislação: elaboração de leis próprias por meio
legislação estadual; da Câmara Legislativa, acumulando as competências
V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de legislativas e tributárias conferidas pela CF aos Estados
concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse e Municípios;
local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter • autogoverno e autoadministração: decisões políticas
essencial; tomadas no âmbito do DF, com Poder Executivo próprio
VI – manter, com a cooperação técnica e financeira da exercido pelo governador do Distrito Federal. O Poder
União e do Estado, programas de educação infantil e de Legislativo é exercido por uma Câmara Legislativa
ensino fundamental; composta por deputados distritais. O Poder Judiciário é
VII – prestar, com a cooperação técnica e financeira da exercido por juízes aprovados em concurso de provas e
União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da títulos, com Tribunal de Justiça próprio (Distrito Federal
população; e Territórios).
VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento
territorial, mediante planejamento e controle do uso, do Importante destacar, por se tratar de uma exceção cobra-
parcelamento e da ocupação do solo urbano; da em concursos públicos, que compete à União organizar
IX – promover a proteção do patrimônio histórico‑cul- e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Polícia
tural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora Civil, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros do Distrito
federal e estadual. Federal.
Noções de Direito Constitucional

Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Apenas para fixar: o DF tem Lei Orgânica e Câmara
Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, Legislativa, enquanto os Estados‑membros são regidos por
e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Constituições Estaduais e Assembleia Legislativa.
Municipal, na forma da lei. É vedada a divisão do DF em municípios122, devendo‑se
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exer- estabelecer sua repartição em administrações regionais,
cido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou por indicação do governador, que nomeará administradores
do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos para as diferentes regiões, como no caso de Brasília e das
Municípios, onde houver. cidades-satélites.
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente
sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só
deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos mem- Cespe/TJ-DF/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013.
120
121
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-AM/Técnico Judiciário/Área Adminis-
bros da Câmara Municipal. trativa/2010.
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta 122
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente
Técnico Legislativo/Direito/2010 e FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Admi-
dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, nistrativa/2010.

32
Dispositivos Constitucionais § 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios,
aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo
TÍTULO III IV deste Título.
Da Organização do Estado § 2º As contas do Governo do Território serão submetidas
............................................................................................. ao Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de
CAPÍTULO V Contas da União.
Do Distrito Federal e dos Territórios § 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil
habitantes, além do Governador nomeado na forma desta
Seção I Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e segunda
Do Distrito Federal
instância, membros do Ministério Público e defensores pú-
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em blicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara
Municípios123, reger‑se‑á por lei orgânica, votada em dois Territorial e sua competência deliberativa.
turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por ..............................................................................................
dois terços da Câmara Legislativa124, que a promulgará, A Intervenção
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências Introdução
legislativas reservadas aos Estados e Municípios.
§ 2º A eleição do Governador e do Vice‑Governador, A regra geral do sistema federativo é a da não inter-
observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais venção das unidades federativas umas nas outras. Excep-
coincidirá com a dos Governadores e Deputados Estaduais, cionalmente, existe a possibilidade de a União intervir nos
para mandato de igual duração125. Estados‑membros e no Distrito Federal (intervenção federal)
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa e de os Estados intervirem nos Municípios (intervenção
aplica‑se o disposto no art. 27.
estadual). O mecanismo da intervenção federal hoje em dia
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo
do Distrito Federal, das polícias civil e militar e do corpo de pode ser encontrado em praticamente todas as constitui-
bombeiros militar126. ções republicanas, sendo inerente ao próprio conceito de
federalismo.
Territórios
Hipóteses
Os territórios são entidades que possuem natureza
jurídica de autarquias, ou seja, não possuem autonomia Vejamos as hipóteses de Intervenção Federal (interven-
política, administrativa e judiciária. São apenas pessoas ção da União nos Estados e no Distrito Federal):
jurídicas de natureza de direito público vinculadas à União. • manter a integridade nacional (art. 34, I);
Não confundir território como mais uma espécie de enti- • repelir invasão estrangeira e invasão de unidade da
dade federativa. Federação em outra (art. 34, II);
O território assemelha‑se, por exemplo, a uma autarquia • pôr termo a grave comprometimento da ordem pública
como o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ou mesmo (art. 34, III);
a uma Universidade Federal, que são autarquias (pessoas • garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas
jurídicas de direito público) vinculadas à União – entidades unidades federativas (art. 34, IV);
administrativas da União. • reorganizar as finanças da unidade da Federação que
No Brasil, existiam os territórios de Roraima, Amapá e (art. 34, V):
Fernando de Noronha. Os dois primeiros foram transforma-
– suspender pagamento de dívida fundada (a LRF dá
dos em unidades federadas (Estados‑membros), enquanto
que o território de Fernando de Noronha foi reincorporado o conceito de dívida consolidada ou fundada – mon-
ao Estado de Pernambuco (ADCT, arts. 14 e 15). tante total, apurado sem duplicidade das obrigações
Assim é que, atualmente, não existem territórios no financeiras do ente da federação assumidas em
Brasil, nada impedindo a sua criação por meio de lei federal, virtude de lei; contratos, convênios ou tratados e
admitindo sua divisão em municípios, com representação realização de operação de crédito para amortização
fixa de quatro deputados na Câmara dos Deputados. em prazo superior a doze meses) por mais de dois
anos consecutivos, salvo força maior;
Dispositivos Constitucionais – deixar de entregar aos Municípios receitas tributá-
rias fixadas na CF, dentro dos prazos legais;
TÍTULO III • prover a execução de lei federal, ordem ou decisão
Noções de Direito Constitucional

Da Organização do Estado judicial (art. 34, VI);


............................................................................................. • assegurar a observância dos seguintes princípios
CAPÍTULO V constitucionais (estes são os chamados princípios
Do Distrito Federal e dos Territórios constitucionais sensíveis do art. 34, VII):
............................................................................................. – forma republicana, sistema representativo e regime
Seção II democrático;
Dos Territórios – direitos da pessoa humana;
Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa – autonomia municipal;
e judiciária dos Territórios. – prestação de contas da administração pública, direta
e indireta;
123
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Assembleia Legislativa-SP/Agente – aplicação do mínimo exigido da receita resultante
Técnico Legislativo/Direito/2010 e FCC/TRE-AL/Técnico Judiciário/Área Admi-
nistrativa/2010.
de impostos estaduais, compreendida a provenien-
124
FCC/TRE-AM/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010. te de transferências, na manutenção e desenvolvi-
125
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-AM/Técnico Judiciário/Área Adminis- mento do ensino e nas ações e serviços públicos de
trativa/2010.
126
FCC/TRE-AM/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010. saúde.

33
A decretação de intervenção, em decorrência da inobser- Requisição do Supremo Garantir o livre exercício do Poder
vância de princípios constitucionais sensíveis, depende de Tribunal Federal. Judiciário nas unidades da Fede-
provimento, pelo STF, de representação do Procurador‑Geral ração.
da República. Trata‑se da representação interventiva, que Requisição do STF, STJ Prover a execução de ordem ou
será novamente abordada no capítulo relativo ao controle ou TSE. decisão judiciária.
de constitucionalidade. Provimento, pelo Su- • Prover a execução de lei federal.
O decreto que fixa as condições da intervenção federal premo Tribunal Fede- • Assegurar a observância dos
deve também nomear o interventor, caso a sustação do ato ral, de representação princípios constitucionais “sen-
não baste aos fins almejados. do Procurador‑Geral da síveis”: – forma republicana,
República. sistema representativo e regi-
Requisitos me democrático; – direitos da
pessoa humana; – autonomia
Nos casos do art. 34, incisos I, II, III e V, fica a critério do municipal; – prestação de contas
Presidente da República, sob o crivo do Congresso Nacional. da administração pública, direta
Por sua vez, no caso do art. 34, inciso IV, a decretação e indireta; – aplicação do mínimo
dependerá de solicitação do Legislativo ou Executivo ou exigido da receita de impostos
requisição do STF. estaduais, inclusive transferên-
Na hipótese do art. 34, inciso VI, dependendo do tipo de cias, em ensino e saúde.
desobediência à ordem ou decisão judicial, a intervenção
dependerá de requisição do STF, do STJ (TST e justiça militar Intervenção Estadual
não dependem de requisição do STJ, mas sim do STF), ou
Existem ainda as hipóteses de intervenção estadual (in-
do TSE, de acordo com a natureza da matéria (art. 36, II).
tervenção de um Estado‑membro em um Município, ou da
Quando a hipótese for de ferimento dos princípios cons- União em Município de Território), que são:
titucionais sensíveis (art. 34, VII) ou houver desobediência à • reorganizar as finanças quando “deixarem de ser pagas,
lei federal (art. 34, VI), a intervenção depende do provimento sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos
pelo STF e de representação interventiva da PGR. Cabe ressal- à dívida fundada”;
tar que a hipótese de desobediência à lei federal, antes da EC • não forem prestadas contas, na forma da lei;
nº 45/2004, era resolvida pelo STJ, mas agora foi transferida • não tiver aplicado o mínimo na educação e na saúde;
para o rol de competências do STF. • o TJ der provimento a representação para assegurar
Há algum controle sobre o decreto de intervenção? os princípios da CE, ou para prover a execução de lei,
Sim, o Congresso Nacional pode, por exemplo, suspender de ordem ou de decisão judicial.
a medida (art. 49, IV). Essa análise do Congresso pode ser
dispensada nos casos que envolvam requisição ou autori- Dispositivos Constitucionais
zação do Poder Judiciário e a suspensão do ato impugnado
tenha sido bastante para o restabelecimento da normalidade. TÍTULO III
O Poder Judiciário, atente‑se, não pode controlar ele- Da Organização do Estado
mentos discricionários da decretação, somente os elementos .............................................................................................
formais. CAPÍTULO VI
Cessados os motivos da intervenção, as autoridades Da Intervenção
serão reconduzidas, salvo impedimento legal (art. 36, § 4º).
Em alguns casos, existirá a figura do interventor, que Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito
ninguém mais é do que alguém designado a praticar atos de Federal, exceto para:
governo, buscando normalizar a situação excepcional que I – manter a integridade nacional;
justificou a intervenção. II – repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da
Federação em outra;
III – pôr termo a grave comprometimento da ordem
Quadro Esquemático
pública;
IV – garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes
Requisito Hipóteses nas unidades da Federação;
Mera decretação pelo • Manter a integridade nacional. V – reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
Presidente da República. • Repelir invasão estrangeira ou de a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais
unidade da Federação em outra. de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
Noções de Direito Constitucional

• Pôr termo a grave comprometi- b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias
mento da ordem pública. fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos
• Reorganizar as finanças da unida- em lei;
de da Federação que suspender o VI – prover a execução de lei federal, ordem ou decisão
pagamento da dívida fundada por judicial;
mais de dois anos consecutivos, VII – assegurar a observância dos seguintes princípios
salvo motivo de força maior, ou constitucionais:
deixar de entregar aos Municípios a) forma republicana, sistema representativo e regime
receitas tributárias fixadas nesta democrático;
Constituição, dentro dos prazos b) direitos da pessoa humana;
estabelecidos em lei. c) autonomia municipal;
Solicitação do Poder Le- Garantir o livre exercício de qual- d) prestação de contas da administração pública, direta
gislativo ou do Poder quer dos Poderes (Executivo ou e indireta.
Executivo coacto ou im- Legislativo) nas unidades da Fe- e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de
pedido. deração. impostos estaduais, compreendida a proveniente de trans-

34
ferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e Vejamos o conceito de cada um:
nas ações e serviços públicos de saúde. • Legalidade: a noção de legalidade para a administração
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, pública pode ser bem resumida na expressão usada pelo
nem a União nos Municípios localizados em Território Fe- direito administrativo: o particular pode fazer tudo aquilo
deral, exceto quando: que não estiver vedado em lei, enquanto a administração
I – deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por pública somente pode fazer o que determina o ordenamen-
dois anos consecutivos, a dívida fundada; to jurídico. Isso não significa que os cidadãos não estejam
II – não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; submetidos à imperatividade das normas, pelo contrário,
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita ambos – Estado e sociedade – estão sob a sujeição da Cons-
municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e tituição e das leis infraconstitucionais. Contudo, o Estado tem
nas ações e serviços públicos de saúde; rigidamente controlada sua conduta de administrar, desde
IV – o Tribunal de Justiça der provimento a representa- o Presidente da República até o mais modesto servidor.
ção para assegurar a observância de princípios indicados na É uma forma de preservar o patrimônio público ao impor
Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de procedimentos de atuação.
ordem ou de decisão judicial. O agente público tem o poder-dever de agir conforme o
Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: ordenamento jurídico.
I – no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legis- Essa distinção é chamada por Hely Lopes Meirelles de cri-
lativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de tério de subordinação à lei (o agente público somente pode
requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for fazer o que a lei determina) e critério de não contradição
exercida contra o Poder Judiciário; à lei (o particular pode fazer tudo o que a lei não proíbe).
II – no caso de desobediência a ordem ou decisão judici-
ária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Cuidado! Pelo princípio da legalidade, a conduta do agente
Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; público não precisa estar descrita totalmente na lei. É o
III – de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de que acontece nos atos discricionários, em que a lei confere
representação do Procurador‑Geral da República, na hipótese certa margem de liberdade de atuação, segundo um juízo
de conveniência e oportunidade do agente público, obser-
do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal.
vados os parâmetros fixados no ordenamento jurídico.
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a ampli-
Exemplo: quando o município concede permissão de uso
tude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, de bem público para que seja realizada uma festa de bairro.
nomeará o interventor, será submetido à apreciação do
Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa do Estado,
no prazo de vinte e quatro horas. Caso o agente público venha a desrespeitar o princípio
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou da legalidade, estará sujeito à responsabilidade disciplinar
a Assembleia Legislativa, far‑se‑á convocação extraordinária, (administrativa), civil e criminal, conforme o caso.
no mesmo prazo de vinte e quatro horas. A doutrina faz uma distinção decorrente do princípio
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, da legalidade.
dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela – princípio da legalidade em sentido estrito: nos termos
Assembleia Legislativa, o decreto limitar‑se‑á a suspender explicados acima;
a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao – princípio da reserva de lei: quando a Constituição
restabelecimento da normalidade. faz referência à determinada matéria que venha a ser re­
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades gulamentada por certa espécie legislativa, ou seja, o assunto
afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento X deve ser tratado por meio de lei ordinária, ou que o tema
legal. Y deve ser abordado por meio de lei complementar.
• Impessoalidade: por este princípio, o agente público
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA deve conduzir suas atividades de forma genérica e abstrata,
sem visar interesses pessoais próprios ou de terceiros. Ou
A legislação brasileira ordenou a administração pública seja, a administração pública não pode agir com o intuito de
em direta e indireta. beneficiar ou prejudicar pessoas ou grupos. A impessoalida-
Administração pública direta: é formada pela União, de representa o interesse público, e a pessoalidade significa
Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios. o interesse particular (subjetivo).
Administração pública indireta: é formada pelas au- Nada impede, contudo, que em determinadas situa­
tarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de ções o interesse público também represente um interesse
Noções de Direito Constitucional

economia mista. particular, como ocorre, por exemplo, nos casos de contratos
A administração pública direta corresponde à entidade entre particulares e administração pública para realização
política (unidade-federada) centralizada, já a administração de uma obra. O que não pode acontecer, nesse exemplo, é
pública indireta compõe-se das entidades descentralizadas. eleger uma empresa (particular) sem a licitação necessária
A Constituição Federal estabeleceu cinco princípios – concorrência pública.
expressos (não significa que outros não existam) a serem
obedecidos pela administração pública. São eles: legalida- Atenção! O fato de haver políticas públicas voltadas para
de, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência o desenvolvimento de determinado setor econômico, ou
(L.I.M.P.E). mesmo políticas públicas sociais direcionadas para certas
regiões, não significa, necessariamente, violação ao princípio
Atenção! Os concursos costumam trocar os princípios da impessoalidade, pois se estiver em consonância com o
acima, como impessoalidade por isonomia. Mas é preciso princípio da igualdade (isonomia) – tratar os iguais de forma
ficar atento, pois, embora possuam conceitos muito próxi- igualitária e os desiguais de forma desigual na medida de sua
mos, às vezes, a questão exige a literalidade do dispositivo. desigualdade – não haverá afronta à norma constitucional.

35
• Moralidade: o agente público deve atuar com hones- Estrutura da Administração Pública
tidade, lealdade, retidão, integridade, boa-fé, norteando-se
pelos princípios éticos e morais. A aplicação do princípio da Administração Pública direta: União, Estados-Mem­bros,
moralidade ao agente público deve ser revestida de boa Distrito Federal e Municípios.
administração (bom administrador), buscando as melhores
condutas gerenciais. A Administração Pública direta foi objeto de estudo no
O princípio da moralidade administrativa, que deve capítulo pertinente à organização político-administrativa.
reger a atuação do poder público, confere substância e dá
expressão a uma pauta de valores éticos sobre os quais
Administração Pública indireta: Autarquias, Fundações,
se funda a ordem jurídica do Estado. Nesse contexto, a
inobservância do referido princípio pode configurar impro‑ Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista.
bidade administrativa e acarretar, para o agente público, a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, • Autarquias: segundo Maria Sylvia Di Pietro, é a pessoa
a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, jurídica de direito público, criada por meio de lei, com aptidão
sem prejuízo da ação penal cabível, se sua conduta confi‑ de autoadministração, para o desempenho de serviço público
gurar, também, a prática de ato tipificado como crime.127 descentralizado, mediante controle administrativo exercido
A moralidade na administração pública deve ser vista nos limites da lei. Um exemplo é o Instituto Nacional do
não só sobre o resultado, mas no procedimento realizado Seguro Social – INSS; ou o Instituto Nacional de Colonização
para alcançá-lo. e Reforma Agrária – INCRA.

• Publicidade: o agente público deve agir com transpa- • Fundações: podem ser de direito privado ou de direito
rência, fazendo com que os administrados (cidadãos) tomem público. As fundações de direito privado são entes dotados
conhecimento (ciência/informação) dos atos praticados. de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucra-
Como exemplos, podem ser citados: o oferecimento de tivos, com patrimônio próprio. Têm o intuito de desenvolver
certidões quando requeridas; a publicação dos contratos atividades em que não seja necessária a execução por órgão
celebrados pela administração pública na Imprensa Oficial, ou entidade de direito público. Como exemplo, temos a
dentre outros meios. Fundação Roberto Marinho. As fundações também podem
Esse princípio representa uma forma de tornar possível ostentar natureza jurídica de direito público, assemelhando-
a fiscalização dos atos (e contratos) públicos pela sociedade -se às autarquias. Um exemplo é a Fundação Universidade
e órgãos oficiais de controle, assim como uma forma de de Brasília.
se exigir da sociedade e do Estado o cumprimento dos co-
mandos administrativos, já que, após a publicidade, não há
justificativa para alegação de desconhecimento da existência • Empresas públicas: possuem personalidade jurídica
de determinado ato administrativo. de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclu-
Em curtas palavras, o dinheiro público é do povo, que tem sivamente público. São criadas para exploração de atividade
direito a saber o que está sendo feito com as verbas públicas. econômica ou prestação de serviço, em razão da necessária
intervenção do poder público, principalmente como forma
Atenção! O princípio da publicidade pode sofrer exceções, de fomentar determinado setor. Como exemplo, pode-se
considerando que os princípios, de uma maneira geral, não citar a Caixa Econômica Federal e a Empresa Brasileira de
são rígidos em sua aplicação. A doutrina aponta a situação Correios e Telégrafos.
na qual o direito à informação sobre atos administrativos
pode acarretar insegurança nacional. Por isso, deve haver • Sociedades de economia mista: assim como as empresas
uma ponderação de interesses: informação x segurança. públicas, possuem personalidade jurídica de direito privado,
Mas, a regra é de publicidade dos atos públicos. tendo como objetivo a exploração de atividade econômica,
sob a forma de sociedade anônima. Constitu­i-se por parte
• Eficiência: este princípio foi incorporado via emenda do capital público e parte do capital privado, ou seja, colabo-
constitucional (EC nº 19/1998). Significa agilidade, sem ração do Estado e do particular. Pode-se citar como exemplo
desperdício de dinheiro público, ao tempo em que venha a Petrobras (Petróleo Brasileiro S.A) e o Banco do Brasil S.A.
atender ao interesse do bem comum. Deve ser visto como
qualidade no serviço público, ou seja, celeridade com resul- Segundo a Constituição, somente por lei específica pode-
tado satisfatório. rá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa
O administrador deve obter um bom resultado, com o pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
menor custo possível. cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as
áreas de sua atuação.
Noções de Direito Constitucional

Observações:
a) Os atos que venham a violar os princípios nortea­dores • Autarquia: lei específica cria a autarquia.
da administração pública podem caracterizar improbidade • Empresas públicas, sociedade de economia mista
administrativa. Importarão como penalidades: a suspen- e fundação: lei específica autoriza a criação dessas
são dos direitos políticos, a perda da função pública, a entidades.
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário,
na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da Depende de autorização legislativa, em cada caso, a
ação penal cabível. criação de subsidiárias das entidades mencionadas ante-
b) Os cidadãos, usuários dos serviços públicos, têm o
riormente, assim como a participação de qualquer delas em
direito de reclamar indenização das pessoas jurídicas de
direito público e das de direito privado prestadoras de empresa privada.
serviços públicos, pelos danos que seus agentes, nessa A Administração Pública direta e indireta, como regra,
qualidade, causarem, assegurado o direito de regresso deve fazer licitação para contratação de obras, serviços,
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. compras e alienações, que assegure igualdade de condições
a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
Cespe/MPS/Agente Administrativo/2010.
127 obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas

36
da proposta, nos termos da lei. A licitação exigirá somente entende que é possível fazer exigências específicas em certos
a qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia concursos públicos em razão do cargo a ser ocupado, como
do cumprimento das obrigações. ocorre, por exemplo, nos concursos públicos para policial,
A licitação corresponde ao processo de concorrência para em que se fazem imperiosas determinadas condições. Para
que a administração pública realize, de forma impessoal, a citar um exemplo: em um concurso público para o cargo de
contratação de obras, serviços, compras e alienações. mergulhador policial, seria praticamente inviável o ingresso
A administração pública não pode se valer da publicidade de candidato com idade mais avançada. É por isso que os
de seus atos, programas, obras, serviços e campanhas dos requisitos estipulados no edital do concurso público devem
órgãos públicos, constando nomes, símbolos ou imagens que corresponder, diante da proporcionalidade, à natureza do
caracterizem promoção pessoal de autoridade e servidores serviço a ser prestado.
públicos. A publicidade deve ter caráter educativo, informa- Destaca-se que é ilegal a reprovação em con­curso pú-
tivo ou de orientação social. blico com base em critério subjetivo, como pode ocorrer
A Constituição prevê que a administração pública direta pelo exame psicotécnico, sem lei que preveja essa etapa de
e indireta venha a oferecer condições, re­gulamentadas por seleção, assim como seus critérios.
lei, para a participação do usuário (cidadão), especialmente: A admissão para cargo sem concurso público, salvo as ex-
• reclamações relativas à prestação de serviços públicos ceções constitucionais, implica a nulidade do ato e a punição
em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendi- da autoridade responsável, nos termos da lei.
mento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, A lei reserva percentual dos cargos e empregos públicos
da qualidade dos serviços; para as pessoas portadoras de deficiência e também define
• acesso dos usuários a registros administrativos e às os critérios de sua admissão.
informações sobre atos de governo, observado o disposto
no art. 5º, X e XXXIII; Concurso Público e Prazo de Validade
• disciplina da representação contra o exercício negligen-
te ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração Será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual pe-
pública. ríodo. Durante esse prazo previsto no edital do concurso pú-
blico, o candidato aprovado será convocado com prioridade
SERVIDORES PÚBLICOS sobre novos concursados para assumir o cargo ou emprego
na carreira. A título de exemplo: órgão da administração
Regime Jurídico direta estadual realiza concurso público para o preenchi‑
mento de cinquenta cargos de seu quadro de pessoal, sendo
A denominação “servidores públicos” atende, de forma o prazo de validade do concurso de dois anos, prorrogável
estrita, àqueles que se vinculam à administração pública por uma vez por igual período. Trinta candidatos são aprovados,
uma relação estatutária. As empresas públicas e as socie- mas apenas quinze são convocados para assumir os cargos
dades de economia mista, que se enquadram no conceito nos dois primeiros anos. O concurso tem sua validade pror‑
de administração indireta, podem contratar por vínculo rogada, mas, passado um ano, ninguém mais é convocado,
trabalhista aqueles que virão a cumprir suas funções, que a despeito de ainda haver necessidade de preenchimento
são denominados empregados públicos. da totalidade das vagas remanescentes. Nessa hipótese,
A Emenda Constitucional nº 19, de 1998, excluiu do art. o órgão da administração poderá realizar novo concurso,
39 da Constituição Federal a previsão de regime jurídico único para o preenchimento das vagas remanescentes, mesmo
de contratação, que era obrigatório para os entes da adminis- durante o prazo de validade do concurso anterior, mas
tração direta, fundações e autarquias. Dessa forma, ficavam deverá dar prioridade aos aprovados naquele, sobre novos
autorizados a contratar com base na Consolidação das Leis do concursados, para assumirem os cargos.128
Trabalho – CLT. Contudo, foi identificado um vício formal na Apesar da natureza jurídica de Direito Privado, as em‑
emenda, que teria recebido votos favoráveis de número insu- presas públicas e as sociedades de economia mista precisam
ficiente de parlamentares, inferior ao quórum constitucional contratar os seus empregados por meio de concurso público129.
(três quintos). Assim, o Supremo Tribunal Federal considerou,
cautelarmente, inconstitucional a alteração do caput do art. Cargos de Confiança e em Comissão
39 da Constituição Federal, o que gerou o retorno da obriga-
toriedade de contratação exclusivamente por meio do regime Não se faz necessário o concurso público. Seus ocupan-
jurídico único – no âmbito federal, é regulamentado pela Lei tes são demitidos conforme a vontade do administrador –
nº 8.112/1990. ad nutum. Entretanto, é de se ressaltar que esses cargos
devem estar limitados às funções de direção, chefia e asses-
Investidura na Administração Pública soramento. Há também um limite de cargos em comissão a
Noções de Direito Constitucional

serem ocupados por servidores públicos efetivos, que será


Os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis indicado pela lei, assim como suas condições e percentuais
aos brasileiros e estrangeiros, nos termos da lei, depen- mínimos para preenchimento.
dendo, como regra, de aprovação em concurso público de • cargo de confiança: preenchidos por pessoas que já
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e são servidores públicos;
a complexidade do cargo ou emprego, salvo as nomeações • cargo em comissão: preenchidos por pessoas que não
para cargo em comissão declarado por lei como de livre fazem parte do serviço público.
nomeação e exoneração.
Portanto, é exceção à regra do concurso público o provi- Direitos dos Servidores
mento para os cargos em comissão e de confiança, os quais
podem ser de livre nomeação e exoneração, conforme o Além dos direitos já abordados, como a greve e a sindi-
interesse da administração pública. calização, outros direitos, originalmente atribuídos a outros
O concurso público é a forma de consagração do princípio trabalhadores, são estendidos aos servidores públicos.
da igualdade, pois oferece oportunidade, indistintamente,
FCC/TJRJ/Técnico de Atividade Judiciária/2012.
128
aos candidatos. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal Esaf/MF/Assistente Técnico-Administrativo/2012.
129

37
Descrição resumida Texto constitucional Dispositivo
Salário mí­nimo salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a 7º, IV
suas necessidades vitais básicas e às de sua família como moradia, alimen-
tação, edu­cação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência
social, com reajustes perió­dicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;
Salário mínimo aos que perce- garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remu- 7º, VII
bem remuneração variável neração variável;
Décimo-ter­ceiro décimo-terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da 7º, VIII
aposentadoria;
Remuneração superior para o remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; 7º, IX
trabalho noturno
Salário-fa­mília salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda 7º, XII
nos termos da lei;
Jornada de trabalho de oito duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta 7º, XIII
horas e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da
jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
Repouso semanal remunerado repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; 7º, XV
Hora extra remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta 7º, XVI
por cento à do normal;
Férias gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do 7º, XVII
que o salário normal;
Licença à gestante licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração 7º, XVIII
de cento e vinte dias;
Licença-paternidade licença-paternidade, nos termos fixados em lei; 7º, XIX
Proteção do mercado de traba- proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos especí- 7º, XX
lho da mulher ficos, nos termos da lei;
Redução dos riscos redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, 7º, XXII
higiene e segurança;
Isonomia salarial proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de 7º, XXX
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

Estabilidade As três primeiras hipóteses de perda do cargo por servidor


estável podem ser encontradas no art. 41 da Constituição Fede-
A estabilidade do servidor público garante que o ocupan- ral. A quarta hipótese encontra-se no art. 169 da Constituição
te somente perderá o cargo em quatro hipóteses: Federal e refere-se à necessidade de adequação das finanças
• sentença judicial transitada em julgado; do Estado aos percentuais previstos na Lei de Responsabilidade
• processo administrativo em que seja assegurada a Fiscal, podendo alcançar inclusive servidores já estáveis.
ampla defesa; Nesse caso, deverão ser reduzidos primeiramente 20%
• avaliação periódica de desempenho; dos cargos em comissão e os servidores não estáveis. Não
sendo o bastante para adequar os gastos aos limites estabele-
• adequação dos gastos públicos à lei complementar
cidos na lei complementar, deverão ser exonerados também
que define o limite de gastos com o funcionalismo público os servidores já estáveis, sendo devida indenização corres-
(art. 169, § 4º, da CF). pondente a uma remuneração por ano de serviço prestado.
Outra hipótese de perda do cargo, não vinculada, nesse
O dispositivo estabelece, portanto, hipóteses de relati- caso, à estabilidade, foi inserida pela Emenda Constitucional
vização das regras de estabilidade. Essas regras, porém, não nº 51/2006 e refere-se à possibilidade de o agente comunitá-
Noções de Direito Constitucional

podem ser estendidas àqueles agentes que sejam dotados de rio de saúde ou de combate às endemias perder o cargo caso
vitaliciedade. No caso da vitaliciedade, as hipóteses de perda não cumpra os requisitos específicos para o seu exercício,
são as taxativamente estabelecidas no art. 95 e no art. 128. que serão previstos em lei.
O direito de a Administração Pública Federal punir seus O servidor público efetivo possui a prerrogativa da rein-
servidores prescreve em cinco anos em relação às infrações tegração. Se a demissão do servidor estável for invalidada
passíveis de demissão, cassação de aposentadoria ou dispo- por sentença judicial, esse servidor será reintegrado, sendo
nibilidade e destituição de cargo em comissão, contados a que o eventual ocupante da vaga, se também estável, será:
partir da data em que o fato tornou-se conhecido. • reconduzido ao cargo de origem, sem direito à inde-
A estabilidade será alcançada após três anos de efeti- nização;
• aproveitado em outro cargo; ou
vo exercício130, sendo exigida, como condição obrigatória,
• posto em disponibilidade com remuneração propor-
a avaliação especial de desempenho por comissão instituída
cional ao tempo de serviço.
para essa finalidade.
Se o cargo público for extinto ou for declarada a sua
130
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Ancine/Técnico Administrati-
desnecessidade, o servidor estável deve ficar em disponibi-
vo/2012 e Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judiciário/2012. lidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço,

38
A
até seu adequado aproveitamento em outro cargo. Ex.: Bru‑ para os servidores do Executivo (art. 37, XII). A Constituição
no, servidor público federal, ocupou por exatos 5 anos um assegura revisão geral e anual, sempre na mesma data e sem
cargo na administração pública, até que foi aprovada uma distinção de índices da remuneração dos servidores públicos.
lei federal extinguindo o referido cargo. Nesse caso, Bruno Ao contrário da iniciativa privada, é vedada a vin­culação
ficará em disponibilidade com remuneração proporcional ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para
ao tempo de serviço.131 o efeito de remuneração de pessoal do serviço público, salvo,
em alguns casos, em que a própria Constituição faz vinculação
Livre Associação Sindical e Direito de Greve ou equiparação: é o que ocorre com os Ministros dos Tribunais
de Contas, que são equiparados aos Ministros do Superior
Aos servidores públicos civis é garantido o direito de Tribunal de Justiça, com a vinculação entre os subsídios dos
associarem-se às entidades de classe (sindicatos), assim Ministros do STF com os do STJ e demais magistrados.
como ocorre na iniciativa privada132. Os membros das Forças A Constituição Federal fixa um teto remuneratório para
Armadas, das Polícias Militares e do Corpo de Bombeiros o funcionalismo público, tendo como parâmetro limite o
Militar têm seus direitos associativos restringidos em razão subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
do grau de hierarquia e disciplina exigidas na carreira. É de Tribunal Federal. Nos Municípios, o teto, no âmbito do Poder
se destacar que o direito de greve dos servidores públicos Executivo, é o subsídio dos prefeitos. Nos Estados e no Distri-
exige lei específica para sua regulamentação. Trata-se de to Federal, da mesma forma, no âmbito do Poder Executivo,
norma constitucional de eficácia limitada. o  subsídio mensal do governador, e  no âmbito do Poder
Legislativo, o teto é os subsídios dos deputados estaduais
Contratação por Tempo Determinado e distritais. No Poder Judiciário Estadual, o teto do subsídio
é o fixado para os desembargadores do Tribunal de Justiça
Essa é mais uma forma de exceção à regra do concurso (que corresponde a 90,25% do subsídio do Ministro do STF),
público, pois a contratação se faz independentemente desse sendo esse mesmo limite aplicado aos membros do Minis-
processo. São dois os requisitos para contratação temporária: tério Público, aos procuradores e aos defensores públicos.
a) excepcional interesse público, de forma que não se possa
aguardar todo o processo de realização de um concurso público; Teto Remuneratório
b) por tempo determinado; c) hipóteses expressamente
previstas em lei. Um exemplo é a contratação de médicos
UNIÃO

para sanar uma epidemia. Executivo, Legislativo e Judiciário:


Subsídio mensal em espécie, dos Ministros do STF.
Remuneração dos Servidores Públicos
Executivo: o subsídio mensal do governador.
Legislativo: o subsídio mensal dos deputados estaduais
ESTADOS E DF

Pode ocorrer de duas formas: a) vencimento; e b) sub-


ou distritais.
sídio.
• vencimentos: admite várias parcelas, como indeni- Judiciário: o subsídio dos desembargadores do Tribunal
zações, adicionais, gratificações, abonos, dentre outras, de Justiça, limitados a 90,25% dos subsídios dos Minis-
acrescido do vencimento (vencimento + parcelas extras); tros do STF; assim como aos membros do Ministério
• subsídios: é fixado em parcela única, vedado o acrés- Público, procuradores e defensores públicos.
cimo de qualquer verba extra;
MUNICÍPIOS

Já o salário é a remuneração paga aos empregados pú-


Executivo e Legislativo:
blicos da administração pública direta e indireta regidos pela
Subsídio do prefeito.
CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
A remuneração ou subsídio, como veremos, deve levar
em consideração o grau de complexidade e responsabilida-
de, suas peculiaridades, a natureza do cargo e os requisitos Observações:
para ingresso. • Todas as categorias devem observar a norma que esta-
A remuneração é irredutível, salvo exceções previstas na belece o teto remuneratório previsto no art. 37, XI, CF: “[...]
própria Constituição133, como o caso de aumento na alíquota não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
do imposto de renda. Ministros do Supremo Tribunal Federal [...]”. Por isso que, no
Alguns cargos obrigatoriamente devem receber remunera- âmbito Estadual e Municipal, deve-se observar os subtetos.
ção por subsídio, como os políticos, os juízes, os procuradores, • É facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em
os promotores, os Ministros de Estado e os Secretários Esta- seu âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições
Noções de Direito Constitucional

duais e Municipais. Mas nada impede que outras carreiras e Lei Orgânica, como limite único, o  subsídio mensal dos
também recebam por meio de subsídio, desde que haja desembargadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado
previsão em lei específica. a 90,25% do subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tri-
Deve-se observar a legitimação para apresentar projetos bunal Federal, não se aplicando aos subsídios dos deputados
de lei que visem a fixar ou alterar vencimentos ou subsídios estaduais e distritais e dos vereadores.
dos servidores públicos, como no caso do Poder Executivo, • Os salários dos empregados públicos das empresas pú-
em que se exige iniciativa privativa do Chefe do Poder Exe- blicas e das sociedades de economia mista, assim como suas
cutivo. Também deve-se atinar para a iniciativa privativa em subsidiárias, só estarão submetidas ao teto geral se essas
cada caso: Chefe do Executivo, Tribunais, Ministério Público pessoas jurídicas receberem recursos da União, dos Estados,
e Tribunais de Contas. Cada órgão remete ao legislativo pro- do DF ou dos municípios para pagamento das despesas de
jeto de lei, devendo todos observar os limites estabelecidos pessoal ou de custeio em geral (CF, art. 37, § 9º).
• Não serão computadas, para efeito dos limites remune-
131
Cesgranrio/Bacen/Técnico/2010. ratórios citados, as parcelas de caráter indenizatório previstas
132
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Anac/Técnico Administrati- em lei. A indenização considera-se como ressarcimento por
vo/2012 e Cespe/TRT 10ª Região (DF e TO)/Técnico Judiciário/2013.
133
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012. dinheiro gasto pelo servidor.

39
Acumulação de Cargos Públicos eletivo137, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a
norma do inciso anterior;
É vedada a acumulação remunerada de cargos públi- • em qualquer caso que exija o afastamento para o
cos, exceto quando houver compatibilidade de horários, exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será
e observando-se sempre o teto do funcionalismo público: contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção
• a de dois cargos de professor; por merecimento;
• a de um cargo de professor com outro técnico ou • para efeito de benefício previdenciário, no caso de
científico; afastamento, os  valores serão determinados como se no
• a de dois cargos ou empregos privativos de profissio- exercício estivesse.
nais de saúde, com profissões regulamentadas134.
Aposentadoria dos Servidores Públicos
Ex.: Joaquim, servidor público federal, é médico, ocupa
cargo privativo de profissional de saúde, com profissão Os servidores titulares de cargos efetivos, incluí­dos os
regulamentada, tendo ingressado no serviço público por de autarquias ou fundações, terão direito a um regime de
concurso há dez anos. Joaquim pretende prestar novo con‑ previdência de caráter contributivo e solidário, observado o
equilíbrio financeiro e atuarial. Apesar do caráter contribu-
curso público com o objetivo de cumular, de forma remune‑
tivo do regime próprio de previdência, é cabível a aplicação
rada, dois cargos públicos. A Constituição Federal admite,
da penalidade de cassação de aposentadoria em virtude de
em situações excepcionais, a acumulação remunerada de
faltas cometidas pelo servidor quando em atividade.
cargos públicos, desde que haja compatibilidade de horá‑
A aposentadoria pode ser concedida em três hipóteses:
rios. No caso narrado, Joaquim somente poderá cumular
• por invalidez permanente. Nesse caso, os proventos
se o segundo cargo público for privativo de profissional de
serão proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se
saúde, com profissão regulamentada.135
decorrer de acidente em serviço, moléstia profissional ou
doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei. Caso
É de se destacar que a acumulação de aposentadorias
o servidor seja aposentado em virtude de doença ou moléstia
somente é permitida nos cargos em que haja possibilidade
não especificada na lei, os proventos serão proporcionais;
de acumulação na ativa.
• compulsoriamente. Quando completar setenta anos de
O Supremo Tribunal Federal entende que não pode haver
idade ou, nos termos de lei complementar, quando completar
acumulação de proventos com remuneração na atividade,
quando os cargos efetivos de que decorrem ambas as remu- setenta e cinco anos de idade. Os proventos também serão
nerações não sejam acumuláveis na atividade. proporcionais ao tempo de contribuição;
A proibição de acúmulo da remuneração estende-se • voluntariamente. A aposentadoria voluntária poderá
a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, ser integral ou proporcional ao tempo de contribuição. An-
empresas públicas, sociedades de economia mista, suas tes de tratarmos, porém, dos requisitos para cada tipo de
subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indireta- aposentadoria voluntária, vamos enumerar dois requisitos
mente, pelo poder público136. genéricos, aplicáveis às duas formas de aposentadoria volun-
tária. São requisitos genéricos: 10 anos no serviço público e
Política Remuneratória 5 anos no cargo em que se requer a aposentadoria. Vejamos
os requisitos específicos para a aposentadoria voluntária:
A política de remuneração dos servidores deverá, na – integral: 60 anos de idade e 35 anos de contribuição
fixação dos padrões de vencimento e vantagens, observar: para homens; ou 55 anos de idade e 30 anos de contribuição
• natureza, grau de responsabilidade e complexidade para as mulheres;
da função; – proporcional: 65 anos de idade, se homem; 60 anos,
• requisitos para investidura; se mulher.
• peculiaridades dos cargos. Os valores pagos a título de aposentadoria não podem
exceder a remuneração do cargo efetivo. Os  proventos de
O valor das remunerações e dos subsídios deve ser pu- aposentadoria serão equivalentes à base de cálculo da sua
blicado anualmente (princípio da publicidade). contribuição previdenciária. Para aqueles servidores que não
Ademais, devem ser previstos cursos e programas de ingressaram no serviço público antes da Emenda Constitucio-
aperfeiçoamento dos servidores públicos, o  que deve ser nal nº 41 de 2003, será aplicado o teto diferenciado das apo-
requisito para promoção na carreira. sentadorias, desde que instituída a previdência complementar
(art. 40, § 3º). Esse teto deve ser revisto de modo a preservar-
Servidor Público e Mandato Eletivo -lhe o seu valor real, equivalendo ao teto dos benefícios pagos
aos beneficiários do regime geral de previdência.
Os professores que se dedicam ao magistério terão uma
Noções de Direito Constitucional

O servidor público da administração direta, autárquica e


fundacional, no exercício do mandato eletivo, tem o seguinte diminuição de cinco anos nos prazos específicos de conces-
regimento: são da aposentadoria voluntária integral. A Suprema Corte
• tratando-se de mandato eletivo federal, esta­dual ou mudou o entendimento de que o professor que trabalha em
distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; cargos burocráticos dentro da Secretaria de Educação não
• investido no mandato de prefeito, será afastado do faz jus ao referido benefício (Súmula nº 726/STF). A partir do
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela julgamento proferido na ADI nº 3.772, o STF decidiu que as
sua remuneração; funções de direção, coordenação e assessoramento pedagó-
• investido no mandato de vereador, havendo compati- gico integram a carreira do magistério, desde que exercidos
bilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, em estabelecimentos de ensino básico, por professores de
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo carreira, excluídos os especialistas em educação, fazendo
jus aqueles que as desempenham ao regime especial de
aposentadoria estabelecido nos arts. 40, § 4º, e 201, § 1º,
134
Assunto cobrado na prova do Cespe/Ancine/Técnico Administrativo/2012. da Constituição Federal.
135
FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013.
136
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico
Judiciário/2013 e Cespe/TRE-BA/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010. Assunto cobrado na prova da Esaf/MF/Assistente Técnico-Administrativo/2012.
137

40
O valor das pensões por morte corresponderá: adquiridos o regime jurídico aplicável aos já aposentados,
• ao valor integral dos proventos do servidor falecido, que, por exemplo, não poderão arguir o disposto no art. 5º,
até o limite dos benefícios concedidos pelo regime XXXVI, da CF, para se eximirem de recolher contribuição
geral (art. 201) + 70 % do excedente (se houver) caso previdenciária.
já aposentado à época do óbito; As aposentadorias e pensões daqueles que exercem
• ao valor integral da remuneração do servidor, até o cargos em comissão será concedida pelo Regime Geral de
limite dos benefícios concedidos pelo regime geral Previdência Social (RGPS).
(art.  201) + 70 % do excedente (se houver) caso o Cabe lembrar que as regras do art. 40 da Constituição
servidor esteja em atividade na data do óbito. Federal são de observância obrigatória aos Estados, o que
significa que será eivada de inconstitucionalidade uma nor-
Vamos entender, demonstrando matematicamente, ma estadual que disponha de modo diverso do disposto na
como isso ocorre. Imagine que o servidor ganhe R$ 13.000 Carta Maior.
e o teto seja R$ 3.000. O excedente será R$ 10.000; 70 % do
excedente será, então, 7.000, que, somados aos R$ 3.000 ini- Dispositivos Constitucionais
ciais, referentes ao teto, totalizará uma pensão de R$ 10.000.
Antes da reforma da previdência de 2003, havia a pre- TÍTULO III
visão de que os proventos das aposentadorias e pensões Da Organização do Estado
seriam reajustados na mesma proporção e data da remu-
.............................................................................................
neração dos servidores da ativa, incluindo reclassificações
CAPÍTULO VII
ou alteração dos cargos e quaisquer outras vantagens. Havia
Da Administração Pública
uma vinculação, portanto, entre o valor das remunerações
e o valor das aposentadorias. Com a reforma, alterou-se o
§  8º do art.  40 para que se assegurasse o reajustamento Seção I
dos benefícios em caráter permanente apenas de modo a Disposições Gerais
preservar o seu valor real. Há, portanto, a possibilidade de se
reajustar de forma diferenciada os proventos dos ativos e dos Art. 37. A  administração pública direta e indireta de
inativos. Cabe ressaltar que esse reajuste pode ser veiculado qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
por medida provisória editada pelo Presidente da República. Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali-
A partir da Emenda Constitucional nº 47/2005, podem ser dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
privilegiados com regras especiais de aposentadoria, median- e, também, ao seguinte138:
te lei complementar, servidores portadores de deficiência, I – os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis
os que exercem atividades de risco e aqueles cujas atividades aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos
sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei139;
a saúde ou a integridade física. Outro benefício concedido II – a investidura em cargo ou emprego público depende
àqueles que possuem doença incapacitante consiste no di- de aprovação prévia em concurso público de provas ou
reito de pagar contribuição sobre aposentadoria ou pensão, de provas e títulos140, de acordo com a natureza e a com-
imposição criada pela Emenda Constitucional nº 41/2003, plexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
que cabe apenas quando os proventos excederem o dobro ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado
do limite estabelecido para os benefícios do regime geral da em lei de livre nomeação e exoneração;
previdência social. III – o prazo de validade do concurso público será de até
Há a possibilidade de contagem recíproca das contribui- dois anos, prorrogável uma vez, por igual período;
ções pagas a instituições previdenciárias federais, estaduais IV – durante o prazo improrrogável previsto no edital
ou municipais. de convocação, aquele aprovado em concurso público de
Não poderá haver contagem fictícia de tempo. Um exem- provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade
plo muito comum que acontecia era o de leis que permitiam sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego,
a servidores públicos terem o tempo de licença-prêmio não na carreira141;
gozada em dobro ou em triplo, para efeitos de aposentadoria. V – as funções de confiança, exercidas exclusivamente
O Poder Executivo deve iniciar processo legislativo visan- por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em
do instituir regime de previdência complementar, formado comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira
por entidades fechadas de previdência, de natureza pública, nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em
que oferecerão planos de benefícios na moda­lidade de con- lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e
tribuição definitiva, optativos aos servidores. assessoramento142;
Com a reforma da previdência (Emenda Constitucional VI – é garantido ao servidor público civil o direito à livre
Noções de Direito Constitucional

nº 41/2003), começou a incidir contribuição previdenciária associação sindical;


sobre os proventos de aposentadoria e pensão que supe- VII – o direito de greve será exercido nos termos e nos
rem o limite do Regime Geral da Previdência, o  que era limites definidos em lei específica;
vedado pela ordem constitucional anterior. VIII – a lei reservará percentual dos cargos e empregos
O servidor que já tenha tempo para se aposentar volun- públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá
tariamente com proventos integrais, mas opte por continuar os critérios de sua admissão;
trabalhando, terá um abono de permanência correspondente
ao valor da contribuição previdenciária.
Por fim, a Emenda Constitucional nº 41/2003 trouxe a
138
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judi-
ciário/2013, Cespe/Anatel/Técnico Administrativo/2012 e Cespe/Anac/Técnico
estipulação de que deve haver apenas um regime de previ- Administrativo/2012.
dência social para as carreiras públicas, bem como a exis- 139
Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
Nacional de Defesa Civil/2012.
tência de uma única unidade gestora para cada ente estatal. 140
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci-
Em qualquer caso, será preservado o direito adquirido vil/2012.
dos servidores que já estavam em condições de se aposentar 141
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci-
vil/2012.
à data das reformas. Não está incluído dentre o rol de direitos 142
Vunesp/Tribunal de Justiça-SP/Escrevente Técnico Judiciário/2010.

41
IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo XX – depende de autorização legislativa, em cada caso,
determinado para atender a necessidade temporária de a  criação de subsidiárias das entidades mencionadas no
excepcional interesse público; inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas
X – a remuneração dos servidores públicos e o subsídio em empresa privada;
de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados XXI – ressalvados os casos especificados na legislação,
ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa as obras, serviços, compras e alienações serão contratados
em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mediante processo de licitação pública que assegure igual-
mesma data e sem distinção de índices; dade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas
XI – a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as
funções e empregos públicos da administração direta, autár- condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o  qual
quica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes somente permitirá as exigências de qualificação técnica e
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes obrigações.
políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remu- XXII – as administrações tributárias da União, dos Estados,
neratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao
as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carrei-
poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Minis- ras específicas, terão recursos prioritários para a realização
tros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive
nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no com o compartilhamento de cadastros e de informações
Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito fiscais, na forma da lei ou convênio.
do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços
Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educa‑
Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa tivo, informativo ou de orientação social, dela não podendo
inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem
mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos147.
Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite § 2º A não observância do disposto nos incisos II e III
aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade res-
Defensores Públicos; ponsável, nos termos da lei.
XII – os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usu-
do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos ário na administração pública direta e indireta, regulando
pelo Poder Executivo; especialmente:
XIII – é vedada a vinculação ou equiparação de quais- I  – as reclamações relativas à prestação dos serviços
quer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços
de pessoal do serviço público143; de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa
XIV – os acréscimos pecuniários percebidos por servidor e interna, da qualidade dos serviços;
público não serão computados nem acumulados para fins de II – o acesso dos usuários a registros administrativos e a
concessão de acréscimos ulteriores; informações sobre atos de governo, observado o disposto
XV – o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos no art. 5º, X e XXXIII;
e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto III  – a disciplina da representação contra o exercício
nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na
153, III, e 153, § 2º, I; administração pública.
XVI – é vedada a acumulação remunerada de cargos pú- § 4º Os atos de improbidade administrativa importa‑
blicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, rão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
observado em qualquer caso o disposto no inciso XI. pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao
a) a de dois cargos de professor144; erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou da ação penal cabível148.
científico; § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilí-
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissio- citos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que
nais de saúde, com profissões regulamentadas; causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações
XVII – a proibição de acumular estende-se a empregos e de ressarcimento.
funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito
sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e socieda- privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
Noções de Direito Constitucional

des controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público; danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a tercei-
XVIII  – a administração fazendária e seus servidores ros, assegurado o direito de regresso contra o responsável
fiscais terão, dentro de suas áreas de competência e juris‑ nos casos de dolo ou culpa.
dição, precedência sobre os demais setores administrativos, § 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao
na forma da lei145; ocupante de cargo ou emprego da administração direta e
XIX  – somente por lei específica poderá ser criada indireta que possibilite o acesso a informações privilegiadas.
autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira
de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo dos órgãos e entidades da administração direta e indireta
à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado en-
sua atuação146; tre seus administradores e o poder público, que tenha por
objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou
143
Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
Nacional de Defesa Civil/2012. entidade, cabendo à lei dispor sobre:
144
Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
Nacional de Defesa Civil/2012. 147
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci-
145
Esaf/MF/Assistente Técnico-Administrativo/2012. vil/2012.
146
Assunto cobrado na prova da Esaf/MF/Assistente Técnico-Administrativo/2012. 148
Esaf/MF/Assistente Técnico-Administrativo/2012.

42
I – o prazo de duração do contrato; XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos dife-
II – os controles e critérios de avaliação de desempenho, renciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.
direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo,
III – a remuneração do pessoal. os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Munici-
§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públi- pais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado
cas e às sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratifi-
que receberem recursos da União, dos Estados, do Distrito cação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou
Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso,
pessoal ou de custeio em geral. o disposto no art. 37, X e XI.
§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a
com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, menor remuneração dos servidores públicos, obedecido, em
ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constitui- qualquer caso, o disposto no art. 37, XI.
ção, os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciá­rio publi-
em lei de livre nomeação e exoneração. carão anualmente os valores do subsídio e da remuneração
§ 11. Não serão computadas, para efeito dos limites re- dos cargos e empregos públicos.
muneratórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
as parcelas de caráter indenizatório previstas em lei. Municípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentá-
§ 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste rios provenientes da economia com despesas correntes em
artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no desen-
em seu âmbito, mediante emenda às respectivas Constitui- volvimento de programas de qualidade e produtividade,
ções e Lei Orgânica, como limite único, o subsídio mensal dos treinamento e desenvolvimento, modernização, reapare-
Desembargadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado lhamento e racionalização do serviço público, inclusive sob
a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, § 8º A remuneração dos servidores públicos organizados
não se aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios dos em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. Art. 40. Aos  servidores titulares de cargos efetivos da
Art. 38. Ao  servidor público da administração direta, União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime
aplicam-se as seguintes disposições: de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante
I – tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos
distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preser-
II – investido no mandato de Prefeito, será afastado do vem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela § 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdên-
sua remuneração; cia de que trata este artigo serão aposentados, calcula­dos
III – investido no mandato de Vereador, havendo compa- os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos
tibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, §§ 3º e 17:
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo I – por invalidez permanente, sendo os proventos propor-
eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a cionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de
norma do inciso anterior; acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave,
IV – em qualquer caso que exija o afastamento para o contagiosa ou incurável, na forma da lei;
exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será II  – compulsoriamente, com proventos proporcionais
contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade,
por merecimento; ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei
V – para efeito de benefício previdenciário, no caso de complementar; (Redação dada pela Emenda Constitucional
afastamento, os  valores serão determinados como se no nº 88/2015)
exercício estivesse. III – voluntariamente, desde que cumprido tempo mí-
nimo de dez anos de efetivo exercício no serviço público e
Seção II cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria,
Dos Servidores Públicos observadas as seguintes condições:
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribui-
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- ção, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta
nicípios instituirão conselho de política de administração e de contribuição, se mulher;
remuneração de pessoal, integrado por servidores designa-
Noções de Direito Constitucional

b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta


dos pelos respectivos Poderes.
anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais
tempo de contribuição149.
componentes do sistema remuneratório observará:
§ 2º Os proventos de aposentadoria e as pensões, por
I – a natureza, o grau de responsabilidade e a complexi-
ocasião de sua concessão, não poderão exceder a remu-
dade dos cargos componentes de cada carreira;
neração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que
II – os requisitos para a investidura;
se deu a aposentadoria ou que serviu de referência para a
III – as peculiaridades dos cargos.
concessão da pensão.
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão § 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por
escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento ocasião da sua concessão, serão consideradas as remunera-
dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos ções utilizadas como base para as contribuições do servidor
cursos um dos requisitos para a promoção na carreira, fa- aos regimes de previdência de que tratam este artigo e o
cultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos
art. 201, na forma da lei.
entre os entes federados.
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Escrevente Técnico Judici-
149

o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, ário/2013 e Vunesp/Tribunal de Justiça-SP/Escrevente Técnico Judiciário/2010.

43
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferen- que oferecerão aos respectivos participantes planos de be-
ciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos nefícios somente na modalidade de contribuição definida.
pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos § 16. Somente mediante sua prévia e expressa opção,
definidos em leis complementares, os casos de servidores: o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor
I – portadores de deficiência; que tiver ingressado no serviço público até a data da publi-
II – que exerçam atividades de risco; cação do ato de instituição do correspondente regime de
III  – cujas atividades sejam exercidas sob condições previdência complementar.
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. § 17. Todos os valores de remuneração considerados para
§ 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribuição o cálculo do benefício previsto no § 3º serão devidamente
serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no atualizados, na forma da lei.
§ 1º, III, a, para o professor que comprove exclusivamente § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de apo-
tempo de efetivo exercício das funções de magistério na sentadorias e pensões concedidas pelo regime de que trata
educação infantil e no ensino fundamental e médio. este artigo que superem o limite máximo estabelecido para
§  6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos os benefícios do regime geral de previdência social de que
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a trata o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para
percepção de mais de uma aposentadoria à conta do regime os servidores titulares de cargos efetivos.
de previdência previsto neste artigo. § 19. O servidor de que trata este artigo que tenha comple-
§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pensão tado as exigências para aposentadoria voluntária estabelecidas
por morte, que será igual: no § 1º, III, a, e que opte por permanecer em atividade fará
I – ao valor da totalidade dos proventos do servidor fa- jus a um abono de permanência equivalente ao valor da sua
lecido, até o limite máximo estabelecido para os benefícios contribuição previdenciária até completar as exigências para
do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, aposentadoria compulsória contidas no § 1º, II.
acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este §  20. Fica vedada a existência de mais de um regime
limite, caso aposentado à data do óbito; ou próprio de previdência social para os servidores titulares de
II – ao valor da totalidade da remuneração do servidor cargos efetivos, e de mais de uma unidade gestora do res-
no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o limite pectivo regime em cada ente estatal, ressalvado o disposto
máximo estabelecido para os benefícios do regime geral no art. 142, § 3º, X.
de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de § 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá
setenta por cento da parcela excedente a este limite, caso apenas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e de
em atividade na data do óbito. pensão que superem o dobro do limite máximo estabelecido
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para para os benefícios do regime geral de previdência social de
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, confor- que trata o art. 201 desta Constituição, quando o benefici-
me critérios estabelecidos em lei. ário, na forma da lei, for portador de doença incapacitante.
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual ou muni- Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício
cipal será contado para efeito de aposentadoria e o tempo os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo
de serviço correspondente para efeito de disponibilidade. em virtude de concurso público.
§ 10. A lei não poderá estabelecer qualquer forma de § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
contagem de tempo de contribuição fictício. I – em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
§ 11. Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total II – mediante processo administrativo em que lhe seja
dos proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes assegurada ampla defesa;
da acumulação de cargos ou empregos públicos, bem como III – mediante procedimento de avaliação periódica de
de outras atividades sujeitas a contribuição para o regime desempenho, na forma de lei complementar, assegurada
geral de previdência social, e  ao montante resultante da ampla defesa.
adição de proventos de inatividade com remuneração de § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do ser-
cargo acumulável na forma desta Constituição, cargo em vidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem
e de cargo eletivo. direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto
§ 12. Além do disposto neste artigo, o regime de pre- em disponibilidade com remuneração proporcional ao tempo
vidência dos servidores públicos titulares de cargo efetivo de serviço.
observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade,
para o regime geral de previdência social. o servidor estável ficará em disponibilidade, com remune-
§ 13. Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo ração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado
em comissão declarado em lei de livre nomea­ção e exone‑ aproveitamento em outro cargo.
Noções de Direito Constitucional

ração bem como de outro cargo temporário ou de emprego §  4º Como condição para a aquisição da estabilidade,
público, aplica-se o regime geral de previdência social150. é obrigatória a avaliação especial de desempenho por co-
§ 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- missão instituída para essa finalidade.
nicípios, desde que instituam regime de previdência com- [...]
plementar para os seus respectivos servidores titulares de
cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO
e pensões a serem concedidas pelo regime de que trata este
artigo, o limite máximo estabelecido para os benefícios do
FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
regime geral de previdência social de que trata o art. 201.
Os Estados, o Distrito Federal e os Territórios possuirão
§  15. O  regime de previdência complementar de que
militares responsáveis pela polícia ostensiva e pela defesa
trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo
civil. São militares dos estados os membros das Polícias
Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus
Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades
Tais membros eram denominados, antes da Emenda
fechadas de previdência complementar, de natureza pública,
Constitucional nº  18, de 1998, servidores públicos mi­
Funcab/MPE-RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012.
150 litares. Com isso fica excluída qualquer possibilidade de

44
se equiparar os militares aos servidores públicos civis. A não VII – o oficial condenado na justiça comum ou militar
equiparação traz inúmeras consequên­cias, por exemplo, a pena privativa de liberdade superior a dois anos,
a possibilidade de os praças perceberem remuneração infe- por sentença transitada em julgado, será submetido
rior ao salário mínimo (Súmula Vinculante nº 6), o que seria ao julgamento previsto no inciso anterior;
inadmissível caso se tratasse de servidores públicos. VIII  – aplica-se aos militares o disposto no art. 7º,
A referida emenda simplificou a redação do art. 42 da incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37,
Constituição, deixando de descrever em detalhes as dispo- incisos XI, XIII, XIV e XV, bem como, na forma da lei
sições relativas aos militares dos Estados, passando a fazer e com prevalência da atividade militar, no art. 37,
referência às disposições relativas aos militares das Forças inciso XVI, alínea c; (Redação dada pela Emenda
Armadas, que são aplicadas por equiparação. Constitucional nº 77/2014)
As instituições militares estaduais, distritais ou do terri- X  – a lei disporá sobre o ingresso nas Forças
tório, assim como as Forças Armadas, são organizadas com Armadas, os  limites de idade, a  estabilidade e ou-
base na hierarquia e na disciplina. As patentes dos oficiais das tras condições de transferência do militar para a
respectivas instituições serão conferidas pelos governadores. inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração,
Para os referidos militares, também será contado tempo as  prerrogativas e outras situações especiais dos
de contribuição federal, estadual ou municipal já cumprido, militares, consideradas as peculiaridades de suas
que será levado a efeito tanto para os benefícios previden- atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de
ciários quanto para efeito de disponibilidade. compromissos internacionais e de guerra.
Não é cabível a impetração de habeas corpus no caso de
punições disciplinares militares. Aos militares estaduais elegíveis devem ser aplicadas as
Lei estadual específica deve definir a forma de ingresso seguintes regras, no caso de candidatura:
nas Forças Armadas, os  limites de idade, a  estabilidade e • se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-
outras condições de transferência do militar para a inativida- -se da atividade;
de, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas • se contar mais de dez anos de serviço, será agregado
e outras situações especiais dos militares, consideradas as pela autoridade superior e, se eleito, passará automatica-
peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpri-
mente, no ato da diplomação, para a inatividade.
das por força de compromissos internacionais e de guerra.
Lei estadual específica também deverá definir o regime
jurídico dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Dispositivos Constitucionais
Territórios.
Devem ser aplicadas aos Militares dos Estados, do Distrito TÍTULO III
Federal e dos Territórios as disposições do art. 142, § 3º, da DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
Constituição, in verbis: .............................................................................................
CAPÍTULO VII
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denomina- Da Administração Pública
dos militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem .............................................................................................
a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: Seção III
I – as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres Dos Militares dos Estados, do
a elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da Distrito Federal e dos Territórios
República e asseguradas em plenitude aos oficiais
da ativa, da reserva ou reformados, sendo-lhes pri- Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de
vativos os títulos e postos militares e, juntamente Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na
com os demais membros, o uso dos uniformes das hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito
Forças Armadas; Federal e dos Territórios.
II – o militar em atividade que tomar posse em cargo §  1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito
ou emprego público civil permanente, ressalvada a
Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei,
hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea c, será
as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142,
transferido para a reserva, nos termos da lei; (Reda-
§§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as
ção dada pela Emenda Constitucional nº 77/2014)
III – o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos
posse em cargo, emprego ou função pública civil tem- oficiais conferidas pelos respectivos governadores.
porária, não eletiva, ainda que da administração indi- § 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Dis-
reta, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso trito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado em
XVI, alínea c, ficará agregado ao respectivo quadro e lei específica do respectivo ente estatal.
Noções de Direito Constitucional

somente poderá, enquanto permanecer nessa situa-


ção, ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe REGIÕES
o tempo de serviço apenas para aquela promoção e
transferência para a reserva, sendo depois de dois A União, para efeitos administrativos, poderá articular
anos de afastamento, contínuos ou não, transferido sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social,
para a reserva, nos termos da lei; (Redação dada pela visando a seu desenvolvimento e à redução das desigual-
Emenda Constitucional nº 77/2014) dades regionais.
IV – ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; Regiões são espaços geográficos que possuem carac-
V – o militar, enquanto em serviço ativo, não pode terísticas comuns: as mesmas condições geoeconômicas,
estar filiado a partidos políticos; sociais, culturais, climáticas, históricas etc., possibilitando
VI – o oficial só perderá o posto e a patente se for a união entre esses ambientes. É  uma forma de investir
julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, de forma mais eficiente, propiciando um desenvolvimento
por decisão de tribunal militar de caráter permanen- uniforme para o País.
te, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em As regiões não possuem personalidade jurídica, não
tempo de guerra; comportando competências administrativas ou legislativas.

45
Lei complementar disporá sobre: as condições para inte- A Separação de Poderes é um sistema pensado por
gração de regiões em desenvolvimento e a composição dos Montesquieu, que evita a concentração de forças na mão de
organismos regionais que executarão, na forma da lei, os pla- uma única pessoa ou instituição. Este sistema surgiu com o
nos regionais, integrantes dos planos nacionais de desenvolvi- escopo de derrubar os Estados Absolutistas, que consistiam
mento econômico e social, aprovados juntamente com estes. na concentração de poderes no Monarca, acabando por
Para exemplificar, pode-se dizer que a região Nordeste consagrar os Modelos Liberais de Estado. É um sistema que
teve, por meio da Sudene (extinta), uma instituição voltada privilegia os direitos individuais dos cidadãos.
para o desenvolvimento dessa região. No lugar da Sudene • Poder Legislativo (Função Legislativa): elaboração de
foi criada a Agência Nacional de Desenvolvimento do Nor- leis gerais e abstratas.
deste (Adene). • Poder Executivo (Função Executiva): administração
Outra forma de incentivar o desenvolvimento de re­giões do Estado.
é por meio de incentivos fiscais destinados a pessoas físicas • Poder Judiciário (Função Judiciária): aplicação da lei
e empresas. Além de igualdade de tarifas, fretes, seguros ao caso concreto nas disputas judiciais.
e outros itens de custos e preços de responsabilidade do
Poder Público, também pode-se citar como incentivos juros A característica principal da Separação de Poderes está
favorecidos para financiamento de atividades prioritárias e no sistema de freios e contrapesos, ou seja, até mesmo para
prioridade para o aproveitamento econômico e social dos rios não se concentrar funções específicas em um único Poder,
e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões admite‑se que haja interferências recíprocas como forma de
de baixa renda, sujeitas a secas periódicas. controle de um Poder sobre o outro. Essa denominação de
freios e contrapesos vem do direito norte‑americano (checks
Dispositivos Constitucionais and balances), significando que a separação de poderes não
é absoluta (rígida). No mesmo sentido, a função típica do
TÍTULO III Poder Legislativo é legislar, do Poder Executivo, administrar
DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO e do Poder Judiciário, exercer a jurisdição. Contudo, cada um
............................................................................................. dos poderes exerce, em pequena proporção, função que se‑
CAPÍTULO VII ria originariamente de outro. Isso ocorre para assegurar-se
Da Administração Pública a própria autonomia institucional de cada poder e para que
............................................................................................. um poder exerça, em última instância, um controle sobre o
Seção IV outro, evitando-se o arbítrio e o desmando.151
Das Regiões Assim é que, por exemplo, o Poder Executivo pode exercer
a edição de medidas provisórias, mesmo considerando que a
Art.  43. Para efeitos administrativos, a  União poderá função típica de legislar é do Poder Legislativo. Outro exemplo
articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico
é quando um tribunal vem a declarar a inconstitucionalidade
e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das
de uma lei, excluindo‑a do mundo jurídico, fazendo nada mais
desigualdades regionais.
que legislar negativamente, ao “revogar” determinada norma
§ 1º Lei complementar disporá sobre:
I – as condições para integração de regiões em desen- jurídica, função típica do Poder legislativo.
volvimento; Nesse sentido é que se fala em função típica e atípica.
II – a composição dos organismos regionais que execu- Típica quando o órgão exerce suas atribuições específicas
tarão, na forma da lei, os planos regionais, integrantes dos definidas pela Constituição e atípicas quando o órgão exerce
planos nacionais de desenvolvimento econômico e social, uma função que, em princípio, é de outro Poder.
aprovados juntamente com estes. Função típica é quando o Poder Legislativo elabora leis,
§  2º Os incentivos regionais compreenderão, além de gerais e abstratas, dotadas de impositividade a todos os
outros, na forma da lei: cidadãos, ou quando o Judiciário julga os casos que lhes são
I  – igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens apresentados, ou, ainda, quando o Executivo administra o
de custos e preços de responsabilidade do Poder Público; Estado.
II – juros favorecidos para financiamento de atividades Função atípica é quando, por exemplo, o Judiciário, por
prioritárias; meio do Tribunal de Justiça, elabora o seu regimento interno.
III  – isenções, reduções ou diferimento temporário Ou quando o Presidente da República (Chefe do Executivo)
de tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas; edita uma medida provisória. Ou, ainda, quando o Legislativo,
IV – prioridade para o aproveitamento econômico e social por meio do Senado Federal, julga o Presidente da República
dos rios e das massas de água represadas ou repre­sáveis nas em crimes de responsabilidade – processo de impeachment,
regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas. sob a presidência do Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Noções de Direito Constitucional

§ 3º Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União incenti- As situações de controle que um Poder pode exercer
vará a recuperação de terras áridas e cooperará com os pe- sobre o outro não está ao livre dispor de cada um, mas
quenos e médios proprietários rurais para o estabelecimento, literalmente estipuladas no texto da Constituição Federal,
em suas glebas, de fontes de água e de pequena irrigação. pois são consideradas como uma forma de exceção à regra
da Separação dos Poderes.
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES São exemplos extraídos da Constituição Federal os
seguintes:
O sistema de Separação dos Poderes estabelece a tri-
partição de Poderes: Poder Executivo, Poder Legislativo e Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presiden-
Poder Judiciário. te da República poderá adotar medidas provisórias,
Alguns autores costumam não aceitar a divisão dos Pode- com força de lei, devendo submetê‑las de imediato
res, considerando que o Poder Político do Estado é uno e indi- ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda
visível. Entendem que a divisão seria das funções do Estado, Constitucional nº 32, de 2001);
entre órgãos diferentes e especializados, preferindo‑se falar
em Função Executiva, Função Legislativa e Função Judiciária. Cespe/MPS/Agente Administrativo/2010.
151

46
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de
seus membros ou dos membros do respectivo órgão quatro anos.
especial poderão os tribunais declarar a inconstitu- Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe‑se de repre-
cionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. sentantes do povo155, eleitos, pelo sistema proporcional,
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal156.
I – processar e julgar o Presidente e o Vice‑Presidente § 1º O número total de Deputados, bem como a repre-
da República nos crimes de responsabilidade, bem sentação por Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido
como os Ministros de Estado e os Comandantes da por lei complementar, proporcionalmente à população,
Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes procedendo‑se aos ajustes necessários, no ano anterior às
da mesma natureza conexos com aqueles; (Redação eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação
dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 2/9/1999) tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados.
§ 2º Cada Território elegerá quatro Deputados.
Cabe destacar, ainda, que o sistema de Separação de Art. 46. O Senado Federal compõe‑se de representan-
Poderes está consagrado no art. 2º da Constituição Fe­deral, tes dos Estados e do Distrito Federal157, eleitos segundo o
ao estabelecer que os Poderes Executivo, Legislativo e Judi- princípio majoritário158.
ciário da União são independentes e harmônicos entre si. § 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Se-
nadores, com mandato de oito anos.159
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmô- § 2º A representação de cada Estado e do Distrito Federal
nicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. será renovada de quatro em quatro anos, alternadamente,
por um e dois terços.
Poder Legislativo § 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes160.
Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário,
A Constituição Federal determina que o Poder Legisla- as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão
tivo da União é exercido pelo Congresso Nacional, dividido tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta
em duas casas – Câmara dos Deputados e Senado Fede- de seus membros.
ral – a quem incumbe a função típica de elaboração de leis
(sentido amplo). Este modelo é denominado bicameral152. Câmara dos Deputados
O modelo bicameral é uma forma de se prestigiar o equi-
líbrio federativo, pois a Câmara dos Deputados representa o A Câmara dos Deputados, como dito, representa a socie-
povo, enquanto o Senado representa os Estados‑membros. dade brasileira, de uma forma geral, tendo a sua composição
A sede, Congresso Nacional, desenhada pelo arquiteto Oscar definida pela Constituição por meio de eleição proporcional,
Niemeyer, reflete o espírito idealizado do modelo bicameral ao em que o candidato, para ser eleito, deve alcançar certo
formar‑se por duas cúpulas distintas, uma voltada para baixo, número de votos, que será definido pelo quociente eleitoral.
local de reflexão da autonomia política dos Estados‑membros Por meio desse sistema, tanto partidos maiores, como os
da Federação, em que se reúnem os senadores, enquanto que menores, ou seja, com pouca reper­cussão eleitoral, podem
a outra é voltada para cima, está aberta aos anseios populares, compor a casa legislativa.
local de reunião dos deputados federais. É assegurado a cada Estado, pelo sistema proporcional,
No âmbito estadual, o modelo seguido é o unicameral, o número mínimo de oito e o máximo de setenta deputados
correspondendo o Poder Legislativo na Assembleia Legis- federais, bem como o fixo de quatro para cada Território,
lativa, que é formada apenas por deputados estaduais153. caso venha a ser criado.
No âmbito municipal, também, se adota o modelo O número de deputados que irá representar os Estados
unicameral, ou seja, com a existência de uma única Casa e o Distrito Federal é fixado por meio de lei complementar,
Legislativa154. conforme a população. O Tribunal Superior Eleitoral, após
• União: Congresso Nacional, composto pela Câmara dos as informações do IBGE acerca das estatísticas demográficas
Deputados e pelo Senado. das unidades federadas, estabelecerá o número de cargos
• Estados: Assembleia Legislativa. que cada Estado e o Distrito Federal possui, observando‑se
• Distrito Federal: Câmara Legislativa. o limite acima apontado.
• Municípios: Câmara Municipal.
Dispositivos Constitucionais
Dispositivos Constitucionais
TÍTULO IV
TÍTULO IV Da Organização dos Poderes
Da Organização dos Poderes
Noções de Direito Constitucional

CAPÍTULO I
CAPÍTULO I
Do Poder Legislativo
Do Poder Legislativo
.............................................................................................
Seção III
Seção I
Da Câmara dos Deputados
Do Congresso Nacional
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:
Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso
Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do 155
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico
Senado Federal. Judiciário/Área Administrativa/2010.
156
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico
Judiciário/Área Administrativa/2010.
152
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico 157
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico
Judiciário/Área Administrativa/2010. Judiciário/Área Administrativa/2010.
153
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico 158
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico
Judiciário/Área Administrativa/2010. Judiciário/Área Administrativa/2010.
154
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico 159
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/2012.
Judiciário/Área Administrativa/2010. 160
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/2012.

47
I – autorizar, por dois terços de seus membros, a instau‑ IV – aprovar previamente, por voto secreto, após ar-
ração de processo contra o Presidente e o Vice‑Presidente guição em sessão secreta, a escolha dos chefes de missão
da República e os Ministros de Estado161; diplomática de caráter permanente;
II – proceder à tomada de contas do Presidente da V – autorizar operações externas de natureza financeira,
República, quando não apresentadas ao Congresso Na‑ de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
cional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão Territórios e dos Municípios;
legislativa162; VI – fixar, por proposta do Presidente da República, limi-
III – elaborar seu regimento interno; tes globais para o montante da dívida consolidada da União,
IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, VII – dispor sobre limites globais e condições para
empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei as operações de crédito externo e interno da União, dos
para fixação da respectiva remuneração, observados os pa‑ Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas
râmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias163; autarquias e demais entidades controladas pelo Poder
V – eleger membros do Conselho da República164, nos Público federal165;
termos do art. 89, VII. VIII – dispor sobre limites e condições para a concessão
de garantia da União em operações de crédito externo e
Senado Federal interno;
IX – estabelecer limites globais e condições para o mon-
O Senado Federal é composto por três representantes tante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal
dos Estados e do Distrito Federal, sendo eleitos pelo sistema e dos Municípios;
majoritário, ou seja, ganha o candidato que obtiver o maior X – suspender a execução, no todo ou em parte, de lei
número de votos. declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo
Os senadores são eleitos para mandatos de oitos anos, Tribunal Federal;
com dois suplentes. A renovação obedece à forma alternada XI – aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto,
de quatro em quatro anos, significando, portanto, que haverá a exoneração, de ofício, do Procurador‑Geral da República
eleições para senadores de quatro em quatro anos, porém de antes do término de seu mandato;
1/3 e 2/3, ou seja, votação de um para determinada eleição e XII – elaborar seu regimento interno;
votação de dois para a próxima eleição e assim sucessivamente. XIII – dispor sobre sua organização, funcionamento, polí-
Todos os Estados‑membros possuem o mesmo número cia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos
de representantes (três), ou seja, 26 Estados‑membros e do e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação
Distrito Federal x 3 = 81 senadores. da respectiva remuneração, observados os parâmetros es-
tabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
Dispositivos Constitucionais XIV – eleger membros do Conselho da República, nos
termos do art. 89, VII.
TÍTULO IV XV – avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema
Da Organização dos Poderes Tributário Nacional, em sua estrutura e seus componentes,
e o desempenho das administrações tributárias da União,
CAPÍTULO I dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios.
Do Poder Legislativo Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II,
............................................................................................. funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal,
Seção IV limitando‑se a condenação, que somente será proferida por
Do Senado Federal dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo,
com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Fe­deral: pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.
I – processar e julgar o Presidente e o Vice‑Presidente
da República nos crimes de responsabilidade, bem como Atribuições Privativas da Câmara dos Deputados e do
os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Senado Federal
Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza
conexos com aqueles; Determinadas atribuições são exclusivas de cada Casa
II – processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Legislativa do Congresso Nacional, não necessitando ser
Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do aprovadas pela outra para que sejam consideradas válidas.
Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador‑Geral Podem ser destacadas algumas atribuições privativas
da República e o Advogado‑Geral da União nos crimes de da Câmara dos Deputados: autorização da instauração de
Noções de Direito Constitucional

responsabilidade; processo contra o Presidente e o Vice‑Presidente da Re-


III – aprovar previamente, por voto secreto, após arguição
pública e os Ministros de Estado (art. 51, I, CF); proceder à
pública, a escolha de:
tomada de contas do Presidente da República, quando não
a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Consti-
apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta
tuição;
dias após a abertura da sessão legislativa (art. 51, II, CF);
b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados
elaborar seu regimento interno (art. 51, III, CF). O Senado
pelo Presidente da República;
Federal tem como importante atribuição o julgamento no
c) Governador de Território;
processo de impeachment de autoridades como o Presidente
d) Presidente e diretores do banco central;
e Vice‑Presidente nos crimes de responsabilidade (art. 52, I).
e) Procurador‑Geral da República;
Percebe‑se, como regra geral, que o Senado Federal tem
f) titulares de outros cargos que a lei determinar;
como competências: a) o julgamento por crimes de respon-
161
FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012.
sabilidade; b) a aprovação de nomeação para determinados
162
FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012.
163
FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012. Assunto cobrado na prova da FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Admi-
165
164
FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012. nistração/2012.

48
A
cargos públicos; c) operações financeiras. Trata‑se apenas petências fixadas pelo texto da Constituição, não evitando,
de uma forma mais simples de se entender todas as com- contudo, a leitura do texto constitucional, a seguir transcrito:

Câmara dos Deputados Senado Federal


I – autorizar, por dois terços de seus I – processar e julgar o Presidente e o Vice‑Presidente da República nos crimes
membros, a instauração de processo de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da
contra o Presidente e o Vice‑Presidente Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos
da República e os Ministros de Estado; com aqueles;
II – proceder à tomada de contas do II – processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros
Presidente da República, quando não do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público,
apresentadas ao Congresso Nacional o Procurador‑Geral da República e o Advogado‑Geral da União nos crimes de
dentro de sessenta dias após a abertura responsabilidade;
da sessão legislativa; III – aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de:
III – elaborar seu regimento interno; a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;
IV – dispor sobre sua organização, b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da Re-
funcionamento, polícia, criação, trans- pública;
formação ou extinção dos cargos, c) Governador de Território;
empregos e funções de seus serviços, d) Presidente e diretores do banco central;
e a iniciativa de lei para fixação da e) Procurador‑Geral da República;
respectiva remuneração, observados f) titulares de outros cargos que a lei determinar;
os parâmetros estabelecidos na lei de
IV – aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em sessão secreta,
diretrizes orçamentárias;
a escolha dos chefes de missão diplomática de caráter permanente;
V – eleger membros do Conselho da
V – autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União,
República, nos termos do art. 89, VII.
dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
VI – fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o mon-
tante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios;
VII – dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo
e interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas
autarquias e demais entidades controladas pelo Poder Público federal;
VIII – dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da União em
operações de crédito externo e interno;
IX – estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida mobiliária
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
X – suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional
por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;
XI – aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do
Procurador‑Geral da República antes do término de seu mandato;
XII – elaborar seu regimento interno;
XIII – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transforma-
ção ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa
de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros esta-
belecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
XIV – eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.
XV – avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tributário Nacional, em
sua estrutura e seus componentes, e o desempenho das administrações tributá-
rias da União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios.
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente
Noções de Direito Constitucional

o do Supremo Tribunal Federal, limitando‑se a condenação, que somente será


proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com
inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das
demais sanções judiciais cabíveis.

Atribuições do Congresso Nacional • Fiscalização e controle: tem como função fiscalizar e


controlar os atos do Poder Executivo, seja da Administração
A doutrina classifica em grupos as atribuições mais rele- direta (União), seja da indireta (autarquias, fundações,
vantes do Congresso Nacional: empresas públicas e sociedades de economia mista).
• Legislativa: trata‑se da função típica de legislar, obe- A título exemplificativo, a fiscalização pode ocorrer por
decendo aos passos de elaboração do texto, discussão e meio de:
aprovação de projetos, que ainda serão submetidos à sanção – pedidos de informações aos Ministros ou diretores de
ou veto do Presidente da República, resguardando a compe- órgãos diretamente subordinados ao Presidente da
tência legislativa da União; República;

49
– convocação de Ministros para esclarecimentos sobre XI – criação e extinção de Ministérios166 e órgãos da
assuntos relevantes no âmbito do Ministério relacio- administração pública;
nado; XII – telecomunicações e radiodifusão;
– Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs); XIII – matéria financeira, cambial e monetária, institui-
– controle externo do dinheiro público com o auxílio do ções financeiras e suas operações;
Tribunal de Contas da União; XIV – moeda, seus limites de emissão, e montante da
dívida mobiliária federal.
• Julgamento de crimes de responsabilidade: compete XV – fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tri-
à Câmara dos Deputados autorizar a instauração do proces- bunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º;
so no caso de crimes comuns e de responsabilidade, e ao 150, II; 153, III; e 153, § 2º, I.
Senado Federal processar e julgar a acusação no processo Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Na-
de impeachment. cional:
– Câmara dos Deputados: autoriza a instauração do I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
processo; atos internacionais que acarretem encargos ou compromis‑
– Senado Federal: julgar altas autoridades no caso de sos gravosos ao patrimônio nacional167;
acusação por processo de impeachment. II – autorizar o Presidente da República a declarar guerra,
• Constituinte: ao Congresso Nacional compete a a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem
aprovação de emendas à Constituição, ou seja, reformar a pelo território nacional ou nele permaneçam temporaria-
Constituição; mente, ressalvados os casos previstos em lei complementar;
• Deliberativa: tal atribuição está prevista nos arts. 49, 51 III – autorizar o Presidente e o Vice‑Presidente da Repú-
e 52 da CF, destacando‑se a aceitação de acordos, tratados blica a se ausentarem do País, quando a ausência exceder
ou atos internacionais; sustar os atos do Poder Executivo
a quinze dias;
que exorbitem do seu poder regulamentar ou dos limites da
IV – aprovar o estado de defesa e a intervenção federal,
delegação legislativa, sendo realizada por meio de resolução
autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma
ou decreto legislativo.
dessas medidas;
V – sustar os atos normativos do Poder Executivo que
Dispositivos Constitucionais exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de dele-
gação legislativa;
TÍTULO IV VI – mudar temporariamente sua sede;
Da Organização dos Poderes
VII – fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais
e os Senadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39,
CAPÍTULO I
§ 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
Do Poder Legislativo
VIII – fixar os subsídios do Presidente e do Vice‑Presiden-
.............................................................................................
te da República e dos Ministros de Estado, observado o que
Seção II
dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
Das Atribuições do Congresso Nacional
IX – julgar anualmente as contas prestadas pelo Presi-
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do dente da República e apreciar os relatórios sobre a execução
Presidente da República, não exigida esta para o especifica- dos planos de governo;
do nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de X – fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer
competência da União, especialmente sobre: de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da
I – sistema tributário, arrecadação e distribuição de administração indireta;
rendas; XI – zelar pela preservação de sua competência legislativa
II – plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento em face da atribuição normativa dos outros Poderes;
anual, operações de crédito, dívida pública e emissões de XII – apreciar os atos de concessão e renovação de con-
curso forçado; cessão de emissoras de rádio e televisão;
III – fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas; XIII – escolher dois terços dos membros do Tribunal de
IV – planos e programas nacionais, regionais e setoriais Contas da União;
de desenvolvimento; XIV – aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes
V – limites do território nacional, espaço aéreo e maríti- a atividades nucleares168;
Noções de Direito Constitucional

mo e bens do domínio da União; XV – autorizar referendo e convocar plebiscito;


VI– incorporação, subdivisão ou desmembramento de XVI – autorizar, em terras indígenas, a exploração e o
áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas As- aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra
sembleias Legislativas; de riquezas minerais;
VII – transferência temporária da sede do Governo XVII – aprovar, previamente, a alienação ou concessão
Federal; de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos
VIII – concessão de anistia; hectares.
IX – organização administrativa, judiciária, do Ministério Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Fe­deral,
Público e da Defensoria Pública da União e dos Territórios ou qualquer de suas Comissões, poderão convocar Ministro
e organização judiciária e do Ministério Público do Distrito de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente
Federal; subordinados à Presidência da República para prestarem,
X – criação, transformação e extinção de cargos, em-
pregos e funções públicas, observado o que estabelece o 166
Assunto cobrado na prova da Cesgranrio/Bacen/Técnico/2010.
167
Esaf/MF/Assistente Técnico-Administrativo/2012.
art. 84, VI, b; 168
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/2012

50
pessoalmente, informações sobre assunto previamente de- prazo certo, com poderes de investigação próprios das au-
terminado, importando crime de responsabilidade a ausência toridades judiciais, sendo as conclusões encaminhadas ao
sem justificação adequada. Ministério Público analisar a viabilidade de se interpor ação
§ 1º Os Ministros de Estado poderão comparecer ao cível ou criminal contra os infratores. Trata‑se de importante
Senado Federal, à Câmara dos Deputados, ou a qualquer de função de fiscalização pelo Poder Legislativo.
suas Comissões, por sua iniciativa e mediante entendimentos – Requisitos para instauração da CPI:
com a Mesa respectiva, para expor assunto de relevância de a) requerimento de 1/3 dos membros da respectiva
seu Ministério. Casa Legislativa;
§ 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Fe- b) deve ter prazo certo para terminar;
deral poderão encaminhar pedidos escritos de informações c) investigação e apuração de fato determinado. Não
a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas referidas
pode haver investigação sobre assuntos genéricos,
no caput deste artigo, importando em crime de responsabi-
como queria se abrir uma CPI do Judiciário, sem
lidade a recusa, ou o não – atendimento, no prazo de trinta
delimitar fato(s) específico(s).
dias, bem como a prestação de informações falsas.
– Poderes da CPI: as CPIs possuem poderes semelhantes
Mesas Diretoras e Comissões ao de um juiz em se tratando de investigação judicial.

As mesas são órgãos de direção do Congresso Nacional Atenção! Não se trata dos mesmos poderes de um juiz mas
e de suas Casas Legislativas. A Mesa do Congresso Nacional de poderes próprios (ainda que semelhantes), o que não
é presidida pelo Presidente do Senado Federal, enquanto os significa necessariamente os mesmos. Portanto, podem co-
demais cargos são exercidos, alternadamente, pelos ocupan- lher depoimentos, ouvir indiciados, inquirir testemunhas,
requisitar documentos e buscar todos os meios de prova
tes de cargos equivalentes na Câmara dos Deputados e no
legalmente admitidos. Importante saber que os dados,
Senado Federal. A importância do cargo está na direção dos informações e do­cumentos, mesmo que resguardados por
trabalhos, a elaboração da pauta, a condução das votações, sigilo, podem ser objeto de investigação pela CPI, obser-
a proclamação do resultado. vando as cautelas legais, ou seja, pode haver quebra do
Há a Mesa da Câmara dos Deputados, a Mesa do Senado sigilo fiscal, bancário, e de dados, incluindo‑se também o
Federal e a Mesa do Congresso Nacional. São órgãos dire- telefônico (apenas os registros relacionados com chamadas
tores das Casas do Congresso. Sua composição é matéria telefônicas realizadas), além de poder determinar buscas e
regimental e cada Casa disciplina como melhor lhe parecer. apreensões, resguardando‑se o princípio da inviolabilidade
O art. 58, § 1º, da Constituição Federal, todavia, impõe que domiciliar.
na constituição das Mesas seja assegurada, tanto quanto
possível, a representação proporcional dos partidos ou dos
– Limites da CPI: a CPI não tem poder ilimitado, estando
blocos parlamentares que participam da respectiva casa.
sujeita a restrições estabelecidas no texto constitucio-
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
serão eleitas respectivamente pelos deputados e senadores, nal e pelo entendimento da doutrina e da jurisprudên-
para mandato de dois anos, vedada a recondução para o cia. Assim, é vedado à CPI:
mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente. Tal a) decretar prisão, salvo em flagrante delito;
regra (art. 57, § 4º, CF) não é de reprodução obrigatória nas b) decretar mandado de busca e apreensão domiciliar;
Constituições Estaduais, que poderão estabelecer normas c) decretar a quebra do sigilo telefônico em se tra-
diversas, inclusive com a possibilidade de reeleição. tando de conversas telefônicas, admitindo‑se,
As comissões são órgãos constituídos para exame de exclusivamente, quanto aos registros de chamadas
determinadas matérias, antes da votação em Plenário. já realizadas;
Podem ser: d) a punição de delitos, considerando que a mesma
• Comissões permanentes: são instituídas em razão da apenas tem poder de investigação, competindo
matéria. Destaca‑se a Comissão de Constituição e Justiça e ao Ministério Público, em sendo o caso, oferecer
de Orçamento. São várias as especializações das comissões denúncia contra os acusados, restando ao Poder
como a de Ciên­cia e Tecnologia, de Comunicação e Infor- Judiciário eventual punição.
mática; de Finanças e Tributação; de Meio Ambiente e de
Noções de Direito Constitucional

Desenvolvimento Sustentável etc. Estatuto dos Congressistas


• Comissão temporária ou especial: é instituída para
uma determinada finalidade, extinguindo‑se pela conclusão
Algumas garantias são reservadas aos parlamentares,
dos trabalhos, pelo decurso do prazo ou pelo término da
como membros do Poder Legislativo, no sentido de res-
legislatura. A principal forma é a Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI). guardar a liberdade de atuação sem pressões políticas e
• Comissão mista: é composta por membros da Câmara econômicas existentes na sociedade. Tais garantias, como
dos Deputados e do Senado Federal. Há uma previsão ex- regra, não podem ser renunciadas, como no caso das imu-
pressa de Comissão Mista de Orçamento (art. 166, § 1º, CF). nidades, haja vista não ser direito do parlamentar, mas da
• Comissão representativa: é formada no período de função que ele exerce.
recesso parlamentar para representar o Congresso Nacional A Constituição estabelece uma série de prerrogativas,
(art. 58, § 4º, CF). direitos, imunidades e incompatibilidades direcionadas aos
• Comissão Parlamentar de Inquérito: é uma comissão deputados federais e senadores, sendo conhecidos pela
instituída para investigar e apurar fato determinado, por doutrina de Estatuto dos Congressistas.

51
PRERROGATIVAS INCOMPATIBILIDADES OU IMPEDIMENTOS
• Imunidade material: inviolabilidade por opiniões, palavras Os parlamentares não podem:
e votos. Os parlamentares devem exercer seu mandato A partir da expedição do diploma:
com independência e tranquilidade, sem estarem ame- • Impedimentos funcionais: aceitar ou exercer cargo,
açados por represálias contra denúncias que fizer, votos função ou emprego remunerado em entidades da Admi-
que apresentar, entre outros. É importante dizer que o nistração Pública direta e indireta.
parlamentar pode se pronunciar na Casa Legislativa, ou • Impedimentos negociais: firmar ou manter contrato com
mesmo fora dela (na imprensa, por exemplo) – desde que órgãos da Administração Pública direta e indireta, salvo
no exercício do mandato legislativo – sem sofrer futuras quando obedecer a cláusulas uniformes.
ações civis e criminais pelo que foi dito. Essa imunidade • Impedimentos políticos: ser titulares de mais de um cargo
existe até mesmo em situação excepcional (como o estado ou mandato político eletivo. Contudo, podem ser nomeados
de sítio), só podendo ser suspensa mediante o voto de 2/3 para exercer o cargo de Ministro de Estado, Governador
da Casa respectiva, no caso de atos praticados fora do re- de Território, Secretário de Estado, Prefeitura Municipal
cinto do Congresso Nacional que sejam incompatíveis com ou Chefe de Missão Diplomática, sem perder o cargo de
a execução da medida. parlamentar. O deputado ou senador opta por uma das
• Imunidade formal, processual ou relativa: atualmente, remunerações, assumindo o suplente seu lugar durante o
o parlamentar pode ser processado pelo STF sem a prévia período em que esteja afastado.
licença da Casa Legislativa, mas se admite que seja sustado
o andamento do processo caso assim entendam seus pa- Os parlamentares não podem:
res. A iniciativa de votar acerca da suspensão do processo A partir da posse:
é do partido político e pelo voto da maioria absoluta dos • ser proprietários, controladores ou diretores de empresa
membros. O pedido de sustação deve ser apreciado pela que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurí-
Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias de seu dica de direito público, ou nela exercer função remunerada;
recebimento pela Mesa Diretora. Sendo suspenso o pro- • ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad
cesso pela Casa Legislativa, o prazo prescricional para a nutum (demissão de cargos em comissão ou confiança) na
condenação criminal pelo STF não correrá. Administração Pública direta, indireta e concessionária de
• Não podem ser presos, salvo em flagrante de crime ina- serviços públicos;
fiançável217: caso venha a ser preso por crime inafiançável, • patrocinar causa em que seja interessada a Administra-
os autos do processo serão remetidos em 24 horas à Casa ção Pública direta, indireta e concessionária de serviços
respectiva para que ela resolva sobre a prisão, mediante o públicos;
voto da maioria dos seus membros. • ser titulares de mais de um cargo ou mandato público
• Foro por prerrogativa de função: os deputados e senados eletivo.
são processados criminalmente perante o Supremo Tribunal
Federal durante o exercício do seu mandato, retornando o
processo para os juízes das instâncias inferiores ao término
do mandato.
• Limitação ao poder de testemunhar sobre as informa-
ções recebidas e sobre as fontes: os parlamentares não
podem ser obrigados a prestar esclarecimentos acerca
de informações recebidas, nem sobre pessoas que lhes
confiaram ou deles receberam informações em razão do
exercício do mandato.
• Isenção do serviço militar: os parlamentares não estão
obrigados, ainda que já sejam militares, a incorporar‑se às
Forças Armadas, mesmo em tempo de guerra, salvo licença
da Casa Legislativa a que estejam vinculados.
• Vencimento: o Congresso Nacional fixará idêntico subsídio
Noções de Direito Constitucional

para depu­tados e senadores, não podendo ultrapassar o


subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
• Licença: pode ser licenciado pela respectiva Casa por
motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração, de
interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento
não ultrapasse 120 dias por sessão legislativa. O suplente
será convocado nos casos de vaga, de investidura em fun-
ções de Ministro, Secretário de Estado etc., ou de licença
superior a cento e vinte dias. Ocorrendo vaga e não havendo
suplente, far‑se‑á eleição para preenchê‑la se faltarem mais
de quinze meses para o término do mandato.
169

Assunto cobrado na prova do Cespe/Anatel/Técnico Administrativo/2012.


169

52
PERDA DO MANDATO
Perderá o mandato o deputado ou senador que:
1. infringir as proibições sobre incompatibilidades ou impedimentos;
2. praticar ato que seja atentatório ao decoro parlamentar (considera‑se decoro parlamentar os casos previstos no regimento
interno da Casa Legislativa, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vanta-
gens indevidas);
3. deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença
ou missão por esta autorizada;
4. perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
5. quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos na Constituição;
6. sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
Nos casos previstos de nos 1, 2 e 6, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por
maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, asse-
gurada ampla defesa.
* Nos casos previstos de nºs 3 a 5, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de
qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
* A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou possa levar à perda do mandato terá seus efeitos suspensos até
as deliberações finais do mesmo. Em outras palavras, o parlamentar que tentar renunciar para manter seus direitos políticos
na próxima eleição terá seu requerimento de renúncia suspenso até que se decida sobre o processo que possa levar à perda do
mandato. Nada impede, por sua vez, que, na iminência de se abrir processo contra o parlamentar, o mesmo venha a requerer a
renúncia, a qual deverá ser acatada por não haver ainda processo instaurado.
* No caso de renúncia ou de perda do mandato de deputado federal ou senador, o suplente deverá ser chamado para assumir
a vaga na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal.

Atenção!
A infidelidade partidária não é causa de perda do mandato por não haver previsão expressa na Constituição nesse sentido. Contudo,
o Supremo Tribunal Federal admitiu que os partidos políticos têm o direito de preservar a vaga obtida pelo sistema proporcional
se, não ocorrendo razão política que justifique a troca de partido (como a perseguição política), venha o parlamentar a modificar
sua legenda. Ou seja, a vaga no Congresso Nacional não é do membro eleito, mas do partido pelo qual se elegeu. Caso venha a
ocorrer a infidelidade, o partido político, para recuperar a vaga, deve pugnar pela instauração de procedimento perante a Justiça
Eleitoral, assegurando‑se a ampla defesa e o devido processo legal.

É importante destacar que as mesmas regras de invio- O Congresso Nacional reunir‑se‑á, anualmente, na Capital
labilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a
licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas se 22 de dezembro.
estendem para os depu­tados estaduais. Já em relação aos Poderá ocorrer convocação extraordinária do Congresso
vereadores, aplicam‑se as mesmas proibições e incompati- Nacional pelo presidente do Senado Federal, por exemplo,
em caso de decretação de estado de defesa ou de interven-
bilidades, mas, ao se tratar de prerrogativas, a Constituição
ção federal, de pedido de autorização para a decretação de
Federal somente assegura a imunidade material (opinião, estado de sítio e para o compromisso e a posse do Presidente
palavras e votos) no exercício do mandato e na circunscrição e do Vice‑Presidente da República, assim como nas demais
do Município. situações previstas na Constituição Federal.

TERMOS EMPREGADOS NO FUNCIONAMENTO DO PODER LEGISLATIVO


QUORUM: consiste no número mínimo exigido para reunião e votação nos órgãos colegiados, nos termos da CF: “salvo disposição
constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria de votos, presente a
maioria absoluta de seus membros” (art. 47).
MAIORIA: representa mais da metade dos membros de um órgão colegiado até alcançar o primeiro número inteiro. Isso não significa que
maioria é a metade mais um, devendo‑se levar em consideração o número de membros do órgão, se par ou ímpar. Veja que, no caso de
número par de membros do órgão colegiado, realmente a maioria significa a metade mais um. Já no caso de órgão colegiado com número
ímpar, a maioria será representada pela metade até se chegar ao número inteiro mais próximo. Por exemplo, a maioria no Supremo Tribunal
Federal (11 Ministros) é de 6, ou seja, a metade (5,5) até se alcançar o primeiro número inteiro após 5, que é 6. Se fôssemos considerar
a regra de que a maioria é a metade mais um, teríamos 5,5 + 1 = 6 pessoas e meia, sendo impensável computar um voto pela metade.
– simples ou relativa: importa saber a quantidade de parlamentares em plenário. É necessária a presença de metade mais um
Noções de Direito Constitucional

parlamentar. No caso de deputados, são 257 (metade mais um de 513); no caso de senadores, são 41 (metade mais um de 81).
Em seguida, contam‑se os votos, que podem ser a favor da matéria, contra a matéria e de abstenção. Para aprovação, basta o
número de votos favoráveis superar o de votos contrários. Segundo o Supremo Tribunal Federal, as expressões “simples” ou
“relativa” são sinônimas.
– absoluta: nesse caso, além da necessária presença de metade mais um parlamentar, 257 deputados e 41 senadores, faz‑se
imprescindível que, para a aprovação, tenham‑se 257 deputados favoráveis ou 41 senadores favoráveis no cômputo dos votos,
conforme a votação seja na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal.
– qualificada ou fracionária: podem ser de 2/3 (dois terços) e 3/5 (três quintos). Para encontrar esses quóruns, basta multiplicá‑los
pelo número total de senadores (81) ou pelo número de deputados (513). Exemplo: para encontrar o quorum de três quintos de
deputados, deve‑se multiplicar 3/5 por 513 = 308 deputados.
* Regra geral de maioria: a regra geral das votações na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e nas respectivas comissões,
bem como nas comissões do Congresso Nacional, é a maioria simples.
* Caso o texto constitucional não preveja o quorum a ser utilizado, deve ser usado o quorum de maioria simples, mediante lei
ordinária, lei delegada ou medida provisória. Caso seja por meio de lei complementar, que exige maioria absoluta, deve vir pre-
visão expressa na CF, assim como nos casos de maioria qualificada, por exemplo, em se tratando de emendar à CF com exigência
do quorum de 3/5 para aprovação.

53
Dispositivos Constitucionais Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas
TÍTULO IV no artigo anterior;
Da Organização dos Poderes II – cujo procedimento for declarado incompatível com
o decoro parlamentar;
CAPÍTULO I III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa,
Do Poder Legislativo à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer,
............................................................................................. salvo licença ou missão por esta autorizada;
Seção V IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
Dos Deputados e dos Senadores V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos pre-
vistos nesta Constituição;
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil VI – que sofrer condenação criminal em sentença tran-
e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e sitada em julgado.
§ 1º É incompatível com o decoro parlamentar, além dos
votos.
casos definidos no regimento interno, o abuso das prerro-
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do
gativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a
diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo
percepção de vantagens indevidas.
Tribunal Federal.
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do
será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado
Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão
respectiva Mesa ou de partido político representado no
remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva,
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. (Redação
para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva
dada pela Emenda Constitucional nº 76/2013)
sobre a prisão.
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou median-
por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal te provocação de qualquer de seus membros, ou de partido
Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa político representado no Congresso Nacional, assegurada
de partido político nela representado e pelo voto da maio- ampla defesa.
ria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o § 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo
andamento da ação. que vise ou possa levar à perda do mandato, nos termos
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as deliberações
respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias finais de que tratam os §§ 2º e 3º.
do seu recebimento pela Mesa Diretora. Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, Se­nador:
enquanto durar o mandato. I – investido no cargo de Ministro de Estado, Governa-
§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a dor de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal,
testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão
razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que diplomática temporária;
lhes confiaram ou deles receberam informações. II – licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença,
§ 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e ou para tratar, sem remuneração, de interesse particular,
Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guer- desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento
ra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva. e vinte dias por sessão legislativa.
§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsis- § 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, de
tirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas investidura em funções previstas neste artigo ou de licença
mediante o voto de dois terços dos membros da Casa superior a cento e vinte dias.
respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do § 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far‑se‑á
Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execu- eleição para preenchê‑la se faltarem mais de quinze meses
ção da medida. para o término do mandato.
Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão: § 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador
I – desde a expedição do diploma: poderá optar pela remuneração do mandato.
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de
direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de Seção VI
economia mista ou empresa concessionária de serviço públi- Das Reuniões
Noções de Direito Constitucional

co, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes;


b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remune- Art. 57. O Congresso Nacional reunir‑se‑á, anual­mente,
rado, inclusive os de que sejam demissíveis ad nutum, nas na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º
entidades constantes da alínea anterior; de agosto a 22 de dezembro.
II – desde a posse: § 1º As reuniões marcadas para essas datas serão transfe-
a) ser proprietários, controladores ou diretores de ridas para o primeiro dia útil subsequente, quando recaírem
empresa que goze de favor decorrente de contrato com em sábados, domingos ou feriados.
pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função § 2º A sessão legislativa não será interrompida sem a
remunerada; aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias.
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad § 3º Além de outros casos previstos nesta Constituição,
nutum, nas entidades referidas no inciso I, a; a Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir‑se‑ão
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das em sessão conjunta para:
entidades a que se refere o inciso I, a; I – inaugurar a sessão legislativa;
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público II – elaborar o regimento comum e regular a criação de
eletivo. serviços comuns às duas Casas;

54
III – receber o compromisso do Presidente e do Vice‑Pre- pectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados
sidente da República; e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
IV – conhecer do veto e sobre ele deliberar. mediante requerimento de um terço de seus membros,
§ 4º Cada uma das Casas reunir‑se‑á em sessões pre- para a apuração de fato determinado e por prazo certo,
paratórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao
legislatura, para a posse de seus membros e eleição das Ministério Público, para que promova a responsabilidade
respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada a civil ou criminal dos infratores170.
recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente § 4º Durante o recesso, haverá uma Comissão represen-
subsequente. tativa do Congresso Nacional, eleita por suas Casas na última
§ 5º A Mesa do Congresso Nacional será presidida pelo sessão ordinária do período legislativo, com atribuições
Presidente do Senado Federal, e os demais cargos serão definidas no regimento comum, cuja composição reprodu-
exercidos, alternadamente, pelos ocupantes de cargos equi- zirá, quanto possível, a proporcionalidade da representação
valentes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. partidária.
§ 6º A convocação extraordinária do Congresso Nacional
far‑se‑á: Processo Legislativo
I – pelo Presidente do Senado Federal, em caso de
decretação de estado de defesa ou de intervenção federal, Processo é um conjunto de atos com uma finalidade
de pedido de autorização para a decretação de estado de específica, seja para solucionar um problema (processo judi-
sítio e para o compromisso e a posse do Presidente e do cial), seja para a elaboração de algo, como uma lei (processo
Vice‑Presidente‑ Presidente da República; legislativo). É uma consagração do Estado Democrático de
II – pelo Presidente da República, pelos Presidentes Direito e, consequentemente, do princípio da legalidade.
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal ou a Estado e cidadãos estão sujeitos aos ritos processuais esta-
requerimento da maioria dos membros de ambas as Ca- belecidos pelas normas constitucionais ou legais.
sas, em caso de urgência ou interesse público relevante, O processo legislativo tem com objetivo delimitar a forma
em todas as hipóteses deste inciso com a aprovação da maio- como as normas serão elaboradas pelo Poder Legislativo,
ria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Nacional. ao instituir um procedimento que deve ser seguido para
§ 7º Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso sua realização.
Nacional somente deliberará sobre a matéria para a qual A Constituição tem a função de definir qual o procedi-
foi convocado, ressalvada a hipótese do § 8º deste artigo, mento a ser seguido pelo Poder legislativo para que uma
vedado o pagamento de parcela indenizatória, em razão da norma seja produzida, sob pena de se ter uma norma incons-
convocação. titucional formalmente, ou seja, seu conteúdo pode estar
§ 8º Havendo medidas provisórias em vigor na data de acordo com os parâmetros constitucionais, mas, caso
de convocação extraordinária do Congresso Nacional, não venha a seguir os trâmites definidos pela Constituição
serão elas automaticamente incluídas na pauta da convo- para sua elaboração, terá sua inconstitucionalidade formal
cação. evidenciada.
A CF estabelece (art. 59) os tipos de disposições norma-
Seção VII tivas existentes no ordenamento jurídico brasileiro:
Das Comissões I – emendas à Constituição;
II – leis complementares;
Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comis- III – leis ordinárias;
sões permanentes e temporárias, constituídas na forma e IV – leis delegadas;
com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no V – medidas provisórias;
ato de que resultar sua criação. VI – decretos legislativos;
§ 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, VII – resoluções.
é assegurada, tanto quanto possível, a representação pro-
porcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que Dispositivo Constitucional
participam da respectiva Casa.
§ 2º às comissões, em razão da matéria de sua compe- TÍTULO IV
tência, cabe: Da Organização dos Poderes
I – discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma
do regimento, a competência do Plenário, salvo se houver CAPÍTULO I
recurso de um décimo dos membros da Casa; Do Poder Legislativo
Noções de Direito Constitucional

II – realizar audiências públicas com entidades da so- .............................................................................................


ciedade civil; Seção VIII
III – convocar Ministros de Estado para prestar informa- Do Processo Legislativo
ções sobre assuntos inerentes a suas atribuições;
IV – receber petições, reclamações, representações ou Subseção I
queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das Disposição Geral
autoridades ou entidades públicas;
V – solicitar depoimento de qualquer autoridade ou Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração
cidadão; de:
VI – apreciar programas de obras, planos nacionais, re- I – emendas à Constituição;
gionais e setoriais de desenvolvimento e sobre eles emitir II – leis complementares;
parecer. III – leis ordinárias;
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que
terão poderes de investigação próprios das autoridades
Assunto cobrado na prova da FCC/Assembleia Legislativa- SP/Agente Legislativo
170
judiciais, além de outros previstos nos regimentos das res- de Serviços Técnicos e Administrativos/2010.

55
IV – leis delegadas; • Reservada/exclusiva/privativa: reservada a deter­
V – medidas provisórias; minado agente ou órgão. Exemplo: Presidente da Repúbli-
VI – decretos legislativos; ca – art. 61, § 1º da CF (fixem ou modifiquem os efetivos das
VII – resoluções. Forças Armadas; criação de cargos, funções ou empregos
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a ela- públicos na administração direta e autárquica ou aumento
boração, redação, alteração e consolidação das leis. de sua remuneração; organização administrativa e judiciária,
matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pes-
A doutrina, de uma forma geral, apresenta a seguinte soal da administração dos Territórios; servidores públicos
classificação do processo legislativo: da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de
• Quanto às formas de organização política cargos, estabilidade e aposentadoria; organização do Minis-
– autocrático: expressão do próprio governante. tério Público e da Defensoria Pública da União, bem como
– direto: discutido e votado pelo povo. normas gerais para a organização do Ministério Público e
– indireto ou representativo: (Brasil) o povo escolhe da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e
seus mandatários, que receberão de forma autôno- dos Territórios; criação e extinção de Ministérios e órgãos
ma poderes para decidir sobre os assuntos de sua da administração pública, observado o disposto no art. 84,
competência constitu­cional. VI; militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, pro-
– semidireto: órgão representativo + referendo po- vimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração,
pular. reforma e transferência para a reserva).
É uma forma que a CF encontrou para reservar, em razão
• Quanto à sequência das fases procedi­mentais das consequências políticas e orçamentárias, de determi-
– comum ou ordinário: mais extenso, elaboração de nar a titularidade do Presidente da República em propor
leis ordinárias. projeto de lei.
– sumário ou “regime de urgência constitucional”: • Popular: quando a população pode apresentar projeto
cada casa do CN tem o prazo de 45 dias para deli- de lei. Configura um instrumento da democracia participa-
berar sobre o assunto em pauta, e de 10 dias para tiva adotado pela CF. Exemplo: A CF estabelece que
apreciação de eventuais emendas (art. 64, §§ 1º
ao 4º). A iniciativa popular pode ser exercida pela apre-
sentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei
subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado
Requisitos:
nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados,
a) projetos de iniciativa do Presidente da República;
com não menos de três décimos por cento dos elei-
b) solicitação de urgência ao CN.
tores de cada um deles (art. 61, § 2º da CF).
Sanção: o projeto de lei será incluído na ordem do dia,
sobrestando‑se a deliberação quanto aos demais assuntos,
• Conjunta: a CF estabelecia que os subsídios dos Mi-
com exceção das matérias que tenham prazo constitucional nistros do Supremo Tribunal Federal dependeriam de uma
determinado (ex.: medidas provisórias). lei de iniciativa conjunta (simultânea) dos Presidentes da
Limitação circunstancial: durante o recesso do CN. República, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal
Limitação material: para apreciação de projetos de código. e do Supremo Tribunal Federal (Chefes do Poder Executivo,
– especiais: procedimentos para espécies normativas Legislativo e Judiciário). Após cinco anos, sem ter sido editada
diferenciadas como emendas, leis com­plementares, a proposta de lei, a Emenda nº 41/2003 revogou‑a. Exemplo
delegadas, medidas provisórias, decretos‑legislativos, art. 48, XV, da CF:
resoluções, leis financeiras, leis orgânicas dos municí-
pios e do DF. fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal, por lei de iniciativa conjunta dos Pre-
Fases do Processo Legislativo Ordinário sidentes da República, da Câmara dos Deputados,
O processo legislativo ordinário é utilizado para a ela- do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal,
boração de leis ordinárias. É decomposto em três fases: observado o que dispõem os arts. 39, § 4º; 150, II;
introdutória, constitutiva e complementar que, por sua vez, 153, III; e 153, § 2º, I.
compreende o seguinte conjunto de atos:
• iniciativa; • Concorrente (comum/geral): vários legitimados podem
• emendas; apresentar o projeto de lei. Diferencia‑se da conjunta porque
• votação ou deliberação; podem ser exercidas de forma conjunta ou isolada.
• sanção ou veto; • Parlamentar: apresentada por membro do Poder
Noções de Direito Constitucional

• promulgação; Legislativo. Exemplo:


• publicação.
A iniciativa das leis complementares e ordinárias
A fase introdutória trata da iniciativa da proposta. A fase cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara
constitutiva abrange desde a apresentação de emendas, dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso
a votação ou deliberação (discussão do projeto), até a sanção Nacional... (art. 61)
ou veto do chefe do Poder Executivo. A fase complementar
diz respeito à promulgação e publicação da lei. • Extraparlamentar: apresentada por quem não seja
membro do Poder Legislativo. Exemplo: Presidente da
Fase Introdutória República, Supremo Tribunal Federal, Tribunais Superiores,
A iniciativa (fase introdutória) corresponde à legitimi- Procurador‑Geral da República e cidadãos (art. 61).
dade para apresentação de processos legislativos, ou seja, Pode ocorrer a usurpação de iniciativa, acarretando o
quem pode propor o projeto de lei. Pode ser reservada (ex- vício de inconstitucionalidade formal, em razão de apresen-
clusiva/privativa), popular, conjunta, concorrente (comum/ tação de projeto de lei versando sobre matéria por quem não
geral), parlamentar ou extraparlamentar: tem legitimidade para tanto. Um exemplo dessa situação é

56
l.
quando o Presidente do Supremo Tribunal Federal apresenta Iniciativa do Ministério Público
projeto de lei que trata da criação de cargos, funções ou
empregos públicos na Administração direta ou indireta e o Art. 127.
aumento de sua remuneração. [...]
A controvérsia pode existir se, mesmo apresentado o § 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia
projeto de iniciativa privativa do Presidente da República por funcional e administrativa, podendo, observado o disposto
quem não tem a atribuição, vier aquele a sancionar dito proje- no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação e extin-
to de lei, ou seja, demonstrando sua concordância. A posição ção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo‑os por
doutrinária e jurisprudencial (STF) é de que a sanção não supre concurso público de provas ou de provas e títulos, a política
o defeito de iniciativa, pois aquilo que nasce nulo não pode vir remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre
a ser convalidado, em razão de ser um vício insanável. sua organização e funcionamento.

Dispositivos Constitucionais Art. 128.


[...]
Iniciativa do Poder Judiciário § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja
iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores‑Gerais,
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tri- estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de
bunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura171, cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus
observados os seguintes princípios: membros [...]
Iniciativa Privativa do Presidente da República Iniciativa Popular
Art. 61. Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio
[...] universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República todos, e, nos termos da lei, mediante:
as leis que: [...]
I – fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas; III – iniciativa popular.
II – disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordiná-
na administração direta e autárquica ou aumento de sua rias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
remuneração; Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional,
b) organização administrativa e judiciária, matéria
ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal,
tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da
aos Tribunais Superiores, ao Procurador‑Geral da República
administração dos Territórios;
e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Cons-
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime
tituição.
jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pú- [...]
blica da União, bem como normas gerais para a organização § 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresen-
do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, tação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por,
do Distrito Federal e dos Territórios; no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da adminis- pelo menos por cinco Estados, com não menos de três déci-
tração pública, observado o disposto no art. 84, VI; mos por cento dos eleitores de cada um deles.
f) militares das Forças Armadas, seu regime ju­rídico, pro-
vimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, Atenção! Comparando-se os textos abaixo transcritos
reforma e transferência para a reserva. (revogado e em vigor), percebe-se que a iniciativa
legislativa para fixação do subsídio dos Ministros do
Observações: Supremo Tribunal Federal deixou de ser conjunta.
• Matéria tributária não é objeto de iniciativa
exclusiva, mas concorrente. Quando a CF faz menção Art. 48.
de que compete privativamente ao Presidente da Repú- [...]
blica a iniciativa em matéria tributária, isto se restringe XV – fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tri-
ao caso de aplicação aos Territórios (art. 61, § 1º, II, b). bunal Federal, por lei de iniciativa conjunta dos Presidentes
• Emendas parlamentares a projetos de lei de
Noções de Direito Constitucional

da República, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal


iniciativa privativa do Presidente da República: em e do Supremo Tribunal Federal, observado o que dispõem
regra são aceitas, salvo se versarem sobre aumento os arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Revogado)
de despesa (fere o princípio da independência e har-
monia dos Poderes), a qual não se aplica em matéria XV – fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tri-
orçamentária, por força do art. 166, §§ 3º e 4º, da CF. bunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º;
• Vício de iniciativa e sanção: não é possível suprir o 150, II; 153, III; e 153, § 2º, I. (Em Vigor)
vício de iniciativa com a sanção. Ou seja, caso a matéria
de iniciativa privativa do Presidente da República seja
Fase Constitutiva
deflagrada por parlamentar, a sanção do Chefe do Exe-
A fase constitutiva, que envolve desde a discussão, de-
cutivo não supre o defeito. Essa é a posição atual do STF.
liberação e votação, propostas de emendas ao projeto de
Houve o cancelamento da Súmula nº 5 do STF: “A sanção
lei até a sanção ou veto, pode ser dividida em deliberação
de projeto supre a falta de iniciativa do Poder Executivo”.
legislativa e executiva.
• deliberação legislativa: o projeto de lei passa pela Casa
Assunto cobrado na prova do Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/
171

Técnico em Radiologia/2012. Legislativa que se iniciou e pela a Casa Revisora;

57
• deliberação executiva: corresponde à sanção ou veto objetivo de alterar o projeto de lei. É uma faculdade exclusiva
do projeto de lei pelo Presidente da República. dos parlamentares.
– Espécies:
Deliberação Legislativa a) supressiva: exclusão de qualquer parte da propo-
Projeto de lei ordinária – inicia‑se pela Câmara dos De- sição principal;
putados ou Senado Federal. b) aditiva: acrescenta algo à proposição inicial;
c) aglutinativa: resultam da fusão de outras emendas
1. Casa deliberativa principal (iniciou o projeto de lei): ou a destas com o texto original por transação ten-
dente à aproximação dos objetos;
Fase de instrução – comissões d) modificativa: alteram a proposição sem a modificar
• Análise de constitucionalidade pelas comissões substancialmente;
– Câmara dos Deputados: comissão de constituição, e) substitutiva: outra proposta com alterações subs-
justiça e redação. tanciais da anterior, ou seja, que visa substituir todo
– Senado Federal: comissão de constituição, justiça e o projeto de lei;
cidadania. f) subemenda: apresentada em comissão a outras
• Análise do mérito: comissões temáticas da Câmara emendas;
e do Senado: possibilidade de apresentação de emendas. g) de redação: sanar vício de linguagem, incorreção
de técnica legislativa ou lapso manifesto.
Deliberação Principal
Fase de instrução Observação: a regra geral é que, em projetos de inicia-
tiva exclusiva do Presidente da República, não se aceita
emenda de parlamentares que importe em aumento de
Análise de Análise do Mérito despesas. (art. 63, I, CF). Somente em projetos de leis
Constitucionalidade Comissões temáticas
orçamentárias podem ser acolhidas emendas que gerem
Comissão de
constituição e justiça
aumento de gastos, desde que observadas as restrições
estabelecidas no próprio texto constitucional (art. 63, I,
e 166, §§ 3º e 4º, da CF).
• Aprovação do projeto nas comissões.
• Plenário da casa deliberativa principal (se necessário – 3. Procedimento legislativo sumário, abreviado ou em
art. 58, § 2º, I, CF). regime de urgência.
Quorum: art. 47, CF. O Presidente da República poderá solicitar urgência na
• para instalação da sessão: apreciação dos projetos de sua iniciativa. Nesse procedimen-
– lei ordinária: maioria absoluta.
to, tanto a Câmara dos Deputados quanto o Senado Federal,
• para votação:
devem se pronunciar, sucessivamente, em no máximo 45
– lei ordinária: maioria simples dos membros.
dias sobre o projeto de lei. Caso o prazo venha a ser esgotar,
– lei complementar: maioria absoluta.
haverá o trancamento da pauta do dia até que se conclua
– emenda constitucional: 3/5.
o processo de votação da proposta que seguiu com regime
2. Casa revisora – art. 65, caput, CF. de urgência. Caso existam emendas no processo legislativo
sumário, a Câmara dos Depu­tados (Casa em que se inicia esse
• análise nas comissões; tipo de procedimento de urgência) deverá fazer apreciação
• discussão e votação; no prazo de 10 dias. Não se aplica o regime de urgência
• aprovação: segue para o Presidente da República; quando a matéria em análise for relacionada a projetos de
• rejeição: o projeto deverá ser arquivado. A matéria Código.
somente poderá ser objeto de novo projeto na próxima
sessão legislativa, salvo no caso da reapresentação mediante Prazo máximo no regime de urgência:
proposta da maioria absoluta dos deputados federais ou Projeto de lei do Presidente da República = Câmara dos
senadores, nos termos do art. 67, CF; Deputados (45 dias) + Senado Federal (45 dias) + emendas
• aprovação com alterações; pelo Senado + Câmara dos Deputados (10 dias) = 100 dias.
• parte aprovada;
• alterações: (princípio do bicameralismo) vão para Dispositivos Constitucionais
Noções de Direito Constitucional

a casa deliberativa principal (que iniciou o projeto de lei)


para exame e votação em um único turno. Não podem ser TÍTULO IV
alteradas por subemendas, a discussão e votação são feitas Da Organização dos Poderes
globalmente, salvo se a emenda for suscetível de divisão e se
qualquer comissão manifestar‑se favorável a uma e contrária CAPÍTULO I
a outra (votação em grupos), ou se for aprovado destaque Do Poder Legislativo
para a votação de qualquer emenda; .............................................................................................
• autógrafo: instrumento formal, o qual consubstanciará Seção VIII
o texto definitivamente aprovado pelo Poder Legislativo, Do Processo Legislativo
devendo representar, com fidelidade, o resultado da deli- .............................................................................................
beração parlamentar, antes de ser remetido ao Presidente Subseção III
da República. Cópia autêntica da aprovação parlamentar do Das Leis
projeto de lei; .............................................................................................
• Emenda: é a proposição apresentada, com exclusivi- Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de
dade, pelos parlamentares como acessória de outra, com o iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal

58
Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara da Silva, Michel Temer, Manoel G. Ferreira Filho, Pontes de
dos Deputados. Miranda). Nelson Sampaio assume posição contrária, en-
§ 1º O Presidente da República poderá solicitar urgência tendendo que a promulgação incide sobre o projeto de lei.
para apreciação de projetos de sua iniciativa. É ato do Presidente da República, que será transferido para
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o o Presidente do Senado Federal e para o Vice‑Presidente do
Senado Federal não se manifestarem sobre a proposição, Senado Federal na hipótese de não promulgação no prazo
cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, de 48 horas.
sobrestar‑se‑ão todas as demais deliberações legislativas • Publicação: condição de eficácia da lei; compete ao
da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo Presidente da República. Vigência: vacatio legis ou imediata.
constitucional determinado, até que se ultime a votação. Assim, uma lei pode não ser obrigatória após sua publicação,
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) pois depende da vacatio legis (“férias” da lei) que, caso não
§ 3º A apreciação das emendas do Senado Federal pela seja estipulada pelo texto da norma, será de 45 dias. Nada
Câmara dos Deputados far‑se‑á no prazo de dez dias, ob- impede que a lei determine que sua obrigatoriedade se dê
imediatamente após a publicação.
servado quanto ao mais o disposto no parágrafo anterior.
§ 4º Os prazos do § 2º não correm nos períodos de re-
cesso do Congresso Nacional, nem se aplicam aos projetos Dispositivos Constitucionais
de código.
Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será TÍTULO IV
revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, Da Organização dos Poderes
e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o
CAPÍTULO I
aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Do Poder Legislativo
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à
.............................................................................................
Casa iniciadora. Seção VIII
Do Processo Legislativo
Deliberação Executiva .............................................................................................
a) incidirá sobre o autógrafo; Subseção III
b) finalidade: controle entre os Poderes. Das Leis
.............................................................................................
Espécies:
• Sanção: é a aquiescência do Presidente da República Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação
aos termos de um projeto de lei aprovado pelo Congresso enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que,
Nacional. Pode ser expressa ou tácita (15 dias), total ou aquiescendo, o sancionará.
parcial. Havendo sanção, segue para a fase complementar. § 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no
• Veto: é a manifestação de discordância do Presidente todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse
da República com o projeto de lei aprovado pelo Congresso público, vetá‑lo‑á total ou parcialmente, no prazo de quinze
Nacional, no prazo de 15 dias úteis a partir do recebimento, dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará,
excluindo‑se o dia inicial e incluindo‑se o final. Natureza dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado
jurídica: direito (Pinto Ferreira), poder (Manoel Gonçalves Federal os motivos do veto.
Ferreira Filho), poder‑dever (Pontes de Miranda, Bernard § 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de
Schwartz). Pode ser jurídico, político ou ambos. É irretratável. artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
Outras características: expresso, motivado ou formalizado § 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Pre-
(ao vetar um projeto de lei, o Presidente da República deverá sidente da República importará sanção.
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro
apresentar seus motivos, considerando que esse veto será
de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser
apreciado posteriormente pelo Congresso Nacional – os
rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e
motivos podem ser jurídicos pela inconstitucionalidade ou Senadores. (Redação dada pela Emenda Constitucional
políticos em razão de contrariedade ao interesse público), nº 76/2013)
total ou parcial (texto integral de artigo, parágrafo, inciso § 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado,
ou alínea), supressivo (nunca poderá ser aditivo), superável para promulgação, ao Presidente da República.
ou relativo (poderá ser afastado pela maioria absoluta dos § 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no
deputados e senadores, em sessão conjunta). Tramitação: § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imedia-
Noções de Direito Constitucional

segue para o Congresso Nacional para reapreciação. Se for ta, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final.
parcial, somente o texto vetado volta para o Congresso Na- § 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito
cional. O texto aprovado segue para a fase complementar. A horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º,
reapreciação ocorrerá no prazo de 30 dias da apresentação. o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer
Veto mantido: arquivamento. Veto superado: quorum de em igual prazo, caberá ao Vice‑Presidente do Senado fazê‑lo.
maioria absoluta, o texto segue para a fase complementar. Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado
somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma
Fase Complementar sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta
A fase complementar compreende a promulgação e dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional.
publicação.
• Promulgação: é o atestado de que a ordem jurídica foi Lei de Introdução ao Código Civil
inovada, declarando que uma lei existe e, em conse­quência,
deverá ser cumprida. A promulgação incide sobre a própria Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar
lei, sendo mera certificação de existência da lei e promulga- em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
ção de sua executoriedade, no entendimento de (José Afonso publicada.

59
§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei constituição) ao Poder Legislativo (Congresso Nacional) no
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de sentido de que a constituição possa vir a ser alterada, con-
oficialmente publicada. (Vide Lei nº 2.145, de 1953) siderando que as normas são mutáveis ao sabor dos anseios
§ 2º A vigência das leis, que os Governos Estaduais elabo- e da evolução social.
rem por autorização do Governo Federal, depende da aprova- As emendas constitucionais podem ser introduzidas no
ção deste e começa no prazo que a legislação estadual fixar. texto constitucional como parte efetivamente integrante –
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova pu- “inserção”, ou no seu final, como um anexo – “anexação”.
blicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste A CF adotou o princípio da incorporação, ou seja, a emenda
artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da é inserida no próprio texto constitucional, o que não exclui
nova publicação. a possibilidade, principalmente quando se tratar de norma
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram‑se constitucional transitória, em ser anexada ao final do texto
lei nova. constitucional, sem necessariamente alterar o texto da
constituição. Peculiaridade a ser apontada é de que as novas
Processos Legislativos Especiais normas constitucionais, quando resultarem de modificações
de dispositivos anteriores, devem vir com a indicação (NR).
A CF estabelece procedimentos especiais para determi- A iniciativa de propor emendas à CF é concorrente, pois
nados projetos, como no caso das emendas constitucionais, podem assim proceder:
leis delegadas, medidas provisórias, leis complementares e • 1/3, no mínimo, dos deputados ou senadores;
leis financeiras. Ao analisar cada ato legislativo em separado, • Presidente da República;
iremos pontuar o procedimento específico de tramitação no • mais da metade das Assembleias Legislativas das uni-
Congresso Nacional. dades da Federação, manifestando‑se, cada uma delas, por
maioria simples.
Controle Judicial do Processo Legislativo O procedimento para a aprovação de uma emenda cons-
titucional é de discussão, votação e aprovação em ambas as
Casas do Congresso Nacional em dois turnos, exigindo‑se
Pode haver, em situação de exceção, o controle judicial
maioria qualificada de 3/5.
em face da tramitação do projeto de lei no Congresso Na-
O procedimento de tramitação das emendas à constituição
cional. Isso ocorrerá quando houver vício no procedimento
dispensa a sanção ou veto do Presidente da República que,
ou sequência dos atos legislativos, cabendo exclusivamente
quando aprovadas, são promulgadas conjuntamente pelas
ao parlamentar, como membro do Poder Legislativo, impetrar
Mesas da Câmara dos Deputados e Senado Federal. A publi-
mandado de segurança no sentido de ver resguardado seu cação, após promulgação, ocorrerá por meio do Diário Oficial.
direito de participar de um processo legislativo de acordo Há dois limites principais em relação ao poder de reforma
com os parâmetros definidos pela CF. Assim, não é possível da constituição: formais e materiais. Os limites formais cor-
que um cidadão venha a interpor mandado de segurança, ou respondem à observância das regras exigidas para tramitação
mesmo um Chefe do Executivo, pois a legitimidade é exclusiva do processo legislativo pertinente às emendas constitucio-
do membro do Poder Legislativo em exercício de seu mandato. nais, enquanto os limites materiais significam o respeito
Esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal. às cláusulas pétreas (cláusula de pedra), que consistem na
parte imutável da Constituição, não se admitindo emendas à
Aplicação das Regras do Processo Legislativo Federal constituição tendentes a aboli‑las. Importante frisar que são
às Demais Unidades Federadas possíveis emendas constitucionais que acresçam direitos
ligados às cláusulas pétreas, mas não sua supressão.
O entendimento é que, em razão do princípio da si- Há de se falar ainda em limites temporais, que significam
metria (paralelismo), adotado pela Federação Brasileira, determinados lapsos de tempo em que estão proibidas alte-
as Constituições Estaduais e Leis Orgânicas devem seguir rações no texto constitucional. No Brasil, a única Constituição
os parâmetros definidos na CF em relação aos trâmites e a adotar esse tipo de limitação foi a de 1824, que impedia
iniciativas dos projetos de leis nas Assembleias Legislativas modificações pelo prazo mínimo de quatro anos. A atual CF
(Câmara Legislativa no caso do DF) e Câmaras Municipais. não incorporou o limite temporal. Por fim, a doutrina tam-
Em verdade, as normas básicas sobre processo legislativo bém menciona os limites circunstanciais, que representam
inseridas na CF são de observância obrigatória para as Cons- situações fático‑jurídicas impeditivas quanto à alteração da
tituições Estaduais e Leis Orgânicas. Constituição. Pretendem evitar modificações na constituição
em certas ocasiões anormais e excepcionais do país a fim de
Atos Legislativos em Espécie evitar perturbações na liberdade e independência dos órgãos
incumbidos da reforma. A CF adotou o limite circunstancial
Noções de Direito Constitucional

São sete espécies de atos legislativos: quando houver intervenção federal, estado de defesa ou
• emendas à Constituição; estado de sítio.
• leis complementares;
• leis ordinárias; Cláusulas pétreas:
• leis delegadas; I – a forma federativa de Estado;
• medidas provisórias; II – o voto direto, secreto, universal e periódico;
• decretos legislativos; III – a separação dos Poderes;
• resoluções. IV – os direitos e garantias individuais.

Emendas à Constituição Assim, não pode ser objeto de emenda constitucional


a proposta tendente a abolir o direito de petição aos po-
As emendas à CF são modificações, supressões ou adi- deres públicos ou a obtenção de certidões em repartições
ções ao próprio texto constitucional. É uma decorrência do públicas.172
poder constituinte reformador, ou seja, significa a atribui-
ção conferida pelo constituinte originário (que elaborou a 172
Assunto cobrado na prova do Cespe/MPS/Agente Administrativo/2010.

60
Dispositivos Constitucionais decretos legislativos e resoluções promulgadas durante a
legislatura imediatamente anterior, ordenados e indexados
TÍTULO IV sistematicamente.
Da Organização dos Poderes
Leis Complementares
CAPÍTULO I
Do Poder Legislativo Leis complementares são leis aprovadas por maioria
............................................................................................. absoluta em hipóteses previstas pela Constituição. Trata‑se
Seção VIII de espécie legislativa diferenciada da lei ordinária sob dois
Do Processo Legislativo aspectos:
............................................................................................. • material: a Constituição reserva matérias para serem
Subseção II tratadas por lei complementar, o que não faz em relação às
Da Emenda à Constituição leis ordinárias;
• formal: quorum de aprovação é de maioria absoluta
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante (257 deputados /41 senadores). O procedimento legislativo
proposta: será determinado pela matéria a ser disciplinada, se houver
I – de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos exigência constitucional.
Deputados ou do Senado Federal; O procedimento das leis complementares segue o
II – do Presidente da República; mesmo das leis ordinárias para serem aprovadas, desde
III – de mais da metade das Assembleias Legislativas das a iniciativa até a fase de sanção ou veto do Presidente da
unidades da Federação, manifestando‑se, cada uma delas, República, mas possui o diferencial de um quorum mais
pela maioria relativa de seus membros. exigente, de maioria absoluta, ou seja, faz necessário mais
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vi‑ da metade da totalidade da Casa Legislativa, considerando
gência de intervenção federal, de estado de defesa ou de os parlamentares presentes e ausentes. A exigência de
estado de sítio173. maioria absoluta é uma forma de dotar certas matérias de
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa maior importância e estabilidade, dificultando alterações
do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando‑se constantes em seu texto.
aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos Uma questão que muito se discute em relação à lei com-
respectivos membros. plementar e lei ordinária é acerca da existência ou não de
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas hierarquia entre as mesmas. A pergunta que se faz é: a lei
Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com complementar, por exigir um quorum maior para aprovação,
o respectivo número de ordem. sobrepõe‑se à lei ordinária quando esta lhe for contrária,
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emen- revogando‑a?
da tendente a abolir: Há duas correntes doutrinárias:
I – a forma federativa de Estado; Existe hierarquia entre lei complementar e lei ordinária?
II – o voto direto, secreto, universal e periódico; • Existe: Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Haroldo Va-
III – a separação dos Poderes; ladão, Pontes de Miranda, Wilson Accioli, Nelson Sampaio,
IV – os direitos e garantias individuais. Geraldo Ataliba, Alexandre de Moraes, e outros. O argumen-
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejei- to é que, por necessitar de um quorum mais elevado para
tada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova aprovação da lei complementar, haveria então a hierarquia,
proposta na mesma sessão legislativa. não se admitindo que lei ordinária superveniente possa alte-
rar uma lei complementar aprovada por um quorum maior.
Lei Complementar nº 95/1998 • Não existe: Celso Bastos, Michel Temer, e outros. O ar-
gumento é de que ambas as espécies tiram seu fundamento
Art. 2º (Vetado) de validade da Constituição e possuem diferentes campos
§ 1º (Vetado) materiais de competência, e por isso estariam no mesmo
§ 2º Na numeração das leis serão observados, ainda, plano hierárquico, impossibilitando o conflito entre essas
os seguintes critérios: duas espécies de normas, pois certos assuntos só podem ser
I – as emendas à Constituição Federal terão sua nume- tratados legislativamente por leis complementares e outros
ração iniciada a partir da promulgação da Constituição; assuntos por leis ordinárias. É a ideia de que as leis comple-
II – as leis complementares, as leis ordinárias e as leis mentares e as leis ordinárias possuem diferentes campos
delegadas terão numeração sequencial em continuidade às de incidência normativo, cada um com o seu definido pela
Noções de Direito Constitucional

séries iniciadas em 1946. Constituição, que, no caso, quanto às leis ordinárias, seria
[...] residual (o que não for de competência de lei complementar).
Art. 12. [...] Um argumento contrário a essa tese é que todas as espécies
d) é admissível a reordenação interna das unidades normativas têm na Constituição seu fundamento de validade;
em que se desdobra o artigo, identificando‑se o artigo determinada matéria reservada à lei complementar poderá
assim modificado por alteração de redação, supressão ou ser subdividida, ocasionando aparente conflito com maté-
acréscimo com as letras ‘NR’ maiúsculas, entre parênteses, ria residual a ser disciplinada por lei ordinária (ex.: art. 79,
uma única vez ao seu final, obedecidas, quando for o caso, parágrafo único, CF e art. 90, §2º, da CF). Nesses casos,
as prescrições da alínea c. não há como admitir‑se que a lei ordinária possa revogar
Art. 15. Na primeira sessão legislativa de cada legislatura, a lei complementar. Observação: Celso Bastos reconhece
a Mesa do Congresso Nacional promoverá a atua­lização da que lei ordinária não poderá invadir campo material da lei
Consolidação das Leis Federais Brasileiras, incorporando às complementar.
coletâneas que a integram as emendas constitucionais, leis, O Supremo Tribunal Federal, ao tratar do tema, definiu
que se uma lei complementar invadir um assunto que não
Cespe/Ibama/Técnico Administrativo/2012.
173 lhe é conferido pela Constituição como de sua atribuição,

61
esses dispositivos, embora advindos de lei complementar, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal,
podem ser revogados por lei ordinária, pois são apenas aos Tribunais Superiores, ao Procurador‑Geral da República
formalmente leis complementares (o conteúdo é de lei ordi- e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Cons-
nária), acarretando a retomada de seu campo de incidência tituição.
normativo. Em verdade, o Supremo Tribunal Federal acolheu § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República
a tese de que não existe hierarquia entre lei complementar as leis que:
versus lei ordinária. I – fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
Para ficar bem clara a questão, exemplificamos: se a II – disponham sobre:
Constituição expressar que o conteúdo X deverá ser regula- a) criação de cargos, funções ou empregos públicos
mentado por lei complementar e esta, em vez de disciplinar na administração direta e autárquica ou aumento de sua
apenas esse conteúdo, extrapola sua função, regulamentado remuneração;
o conteúdo de X + Y, a parcela que exorbita – X + Y – poderá b) organização administrativa e judiciária, matéria
ser revogada por lei ordinária, enquanto que o espaço X, que tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da
deveria ser regulamentado por lei complementar, somente administração dos Territórios;
poderá ser revogado por outra norma da mesma espécie. As- c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime
sim, pode‑se dizer que uma lei ordinária pode revogar uma lei jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
complementar, desde que esta última tenha exorbitado o seu d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pú-
campo de incidência normativo definido pela Constituição. blica da União, bem como normas gerais para a organização
do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados,
Dispositivos Constitucionais do Distrito Federal e dos Territórios;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da adminis-
TÍTULO IV tração pública, observado o disposto no art. 84, VI;
Da Organização dos Poderes f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, pro-
vimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração,
CAPÍTULO I reforma e transferência para a reserva.
Do Poder Legislativo § 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresen-
............................................................................................. tação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por,
Seção VIII no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído
Do Processo Legislativo pelo menos por cinco Estados, com não menos de três déci-
............................................................................................. mos por cento dos eleitores de cada um deles.
Subseção III [...]
Das Leis Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista:
............................................................................................. I – nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da
Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º;
maioria absoluta. II – nos projetos sobre organização dos serviços adminis-
trativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos
Leis Ordinárias Tribunais Federais e do Ministério Público.
Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de
As leis ordinárias representam o ato legislativo típico mais iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal
comum. São aprovadas por meio de procedimento legislativo Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara
definido pela Constituição, por maioria simples. A principal dos Deputados.
característica da lei ordinária, pode‑se dizer, é a competência § 1º O Presidente da República poderá solicitar urgência
para dispor sobre toda e qualquer matéria, salvo as reserva- para apreciação de projetos de sua iniciativa.
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o
das às leis complementares e às de competência exclusiva do
Senado Federal não se manifestarem sobre a proposição,
Congresso Nacional ou de suas Casas Legislativas, que são
cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias,
tratadas por decretos legislativos e resoluções (competência
sobrestar‑se‑ão todas as demais deliberações legislativas
residual). É costume afirmar que, quando o texto da Consti-
da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo
tuição faz referência apenas à “lei”, trata‑se de lei ordinária.
constitucional determinado, até que se ultime a votação.
§ 3º A apreciação das emendas do Senado Federal pela
Dispositivos Constitucionais Câmara dos Deputados far‑se‑á no prazo de dez dias, ob-
servado quanto ao mais o disposto no parágrafo anterior.
Noções de Direito Constitucional

TÍTULO IV § 4º Os prazos do § 2º não correm nos períodos de re-


Da Organização dos Poderes cesso do Congresso Nacional, nem se aplicam aos projetos
de código.
CAPÍTULO I Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será
Do Poder Legislativo revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação,
............................................................................................. e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o
Seção VIII aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Do Processo Legislativo Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à
............................................................................................. Casa iniciadora.
Subseção III Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação
Das Leis enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que,
aquiescendo, o sancionará.
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordiná- § 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no
rias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, público, vetá‑lo‑á total ou parcialmente, no prazo de quinze

62
dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, – O Presidente poderá não editar a lei delegada,
dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado apesar da autorização legislativa. Manoel Gonçalves
Federal os motivos do veto. Ferreira Filho sustenta ser possível a edição de mais
§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de de uma lei delegada sobre a matéria autorizada
artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. durante o prazo fixado pelo Congresso Nacional.
§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Pre- Porém, esta tese não é acolhida por Clèmerson
sidente da República importará sanção. Merlin Clève. Já Alexandre de Moraes entende que
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro a resolução deverá disciplinar essa questão, sendo
de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo que o silêncio indicará proibição.
ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados • O Congresso Nacional tem o poder de sustar a lei
e Senadores. (Redação dada pela Emenda Constitucional delegada como forma de controle político, pois essa
nº 76/2013) função não é exercida pelo Poder Judiciário.
§ 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, – A sustação opera efeitos ex nunc (para frente, ou
para promulgação, ao Presidente da República. seja, a invalidade opera efeitos somente a partir
§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no da sustação, conservando os efeitos já produzidos)
§ 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imedia- a partir da publicação do decreto legislativo, porque
ta, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. não houve declaração de nulidade.
§ 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito – A lei delegada pode ser objeto de Ação Direta de
horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, Inconstitucionalidade, e se for declarada sua in-
o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer constitucionalidade, os efeitos serão ex tunc (para
em igual prazo, caberá ao Vice‑Presidente do Senado fazê‑lo. frente e para trás, ou seja, desfaz todos os efeitos
Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado então produzidos).
somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma
sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta
dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional. Cuidado! Importante distinguir que o Congresso Nacional
delega a competência ao Presidente da República por
Leis Delegadas meio de resolução e não lei delegada. A lei delegada é
editada pelo Presidente da República, nos limites dispos-
É ato normativo elaborado e editado pelo Presidente da tos na resolução. Caso a lei delegada venha a extrapolar
República, em razão de autorização do Poder Legislativo, os limites definidos pela resolução, o Congresso Nacional
e nos limites postos por este, constituindo‑se verdadeira poderá sustar os efeitos daquilo que exorbitou por meio
delegação externa da função de legislar. É um mecanismo de nova resolução.
necessário para possibilitar a eficiência do Estado e sua
necessidade de maior agilidade e celeridade, desde que
observados os limites impostos pelo Poder Legislativo. Dispositivos Constitucionais
• Natureza jurídica: espécie normativa primária.
• A delegação tem caráter temporário: jamais poderá TÍTULO IV
ultrapassar a legislatura. Da Organização dos Poderes
• A delegação tem caráter precário: nada impede que,
mesmo durante o prazo concedido ao Presidente, CAPÍTULO I
o Congresso Nacional discipline a matéria por lei, Do Poder Legislativo
bem como é possível que o Poder Legislativo desfaça .............................................................................................
a delegação. Seção II
• Processo legislativo especial: Das Atribuições do Congresso Nacional
– Iniciativa solicitadora do Presidente da República: .............................................................................................
deverá indicar o assunto (vide limitações materiais Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Na-
no art. 68, §1º). cional:
– Congresso Nacional (votação – sessão bicameral [...]
conjunta ou separadamente, quorum de maioria V – sustar os atos normativos do Poder Executivo que
simples): aprovação em forma de resolução, a qual exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de dele-
deverá estabelecer as restrições de conteúdo e exer-
gação legislativa;
cício que entender necessárias, tais como termo
.............................................................................................
de caducidade da habilitação, linhas gerais da lei,
Noções de Direito Constitucional

período de vigência, entre outras. Seção VIII


– Retornando a resolução ao Presidente, este ela- Do Processo Legislativo
borará o texto normativo, promulgando‑o e deter- .............................................................................................
minando sua publicação, na hipótese de não ser Subseção III
exigida a ratificação parlamentar (delegação típica Das Leis
ou própria). .............................................................................................
– Delegação atípica ou imprópria: é a denominação
dada ao processo legislativo que exige que o projeto Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Pre-
elaborado pelo Presidente retorne ao Legislativo sidente da República, que deverá solicitar a delegação ao
para apreciação em votação única, vedada apresen- Congresso Nacional.
tação de emenda, podendo ser aprovado (hipótese § 1º Não serão objeto de delegação os atos de compe-
em que o projeto seguirá para promulgação e pu- tência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência
blicação a ser feita pelo Presidente) ou rejeitado privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal,
(sendo arquivado e, se for reapresentado, será nos a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação
termos do art. 67, da CF). sobre:

63
I – organização do Poder Judiciário e do Ministério Pú- Dispositivos Constitucionais
blico, a carreira e a garantia de seus membros;
II – nacionalidade, cidadania, direitos individuais, polí- TÍTULO IV
ticos e eleitorais; Da Organização dos Poderes
III – planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e or-
çamentos. CAPÍTULO I
§ 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma Do Poder Legislativo
de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu .............................................................................................
conteúdo e os termos de seu exercício. Seção VIII
§ 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto Do Processo Legislativo
pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, ve- .............................................................................................
dada qualquer emenda. Subseção III
Das Leis
Medidas Provisórias .............................................................................................
Art. 62. [...]
A medida provisória é ato legislativo emanado pelo § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre
matéria:
Presidente da República, como uma forma excepcional e
I – relativa a:
célere para situações de relevância e urgência. Não é lei,
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos
mas tem força de lei, tendo eficácia imediata e devendo ser
políticos e direito eleitoral;
submetida ao Congresso Nacional para apreciação e possível b) direito penal, processual penal e processual civil;
conversão em lei. c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Públi-
A medida provisória tem como pressupostos a relevên- co, a carreira e a garantia de seus membros;
cia e a urgência. d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orça-
A doutrina questiona a natureza da medida provisória mento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o
como ato político, lei ou ato administrativo. O Supremo previsto no art. 167, § 3º.
Tribunal Federal destacou que se trata de ato político, pois II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de pou-
é praticado com uma margem grande de discricionariedade. pança popular ou qualquer outro ativo financeiro;
As medidas provisórias seguem um procedimento distin- III – reservada a lei complementar;
to dos demais atos legislativos, principalmente porque elas IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Con-
têm um prazo de validade para serem apreciadas pelo Con- gresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente
gresso Nacional, sob pena de perda de eficácia. O referido da República.
prazo, de até sessenta dias, é prorrogável, uma única vez, por .............................................................................................
igual período. Esse prazo foi resultado de alteração no texto
constitucional, que, até pouco tempo, admitia a reedição de TÍTULO IX
medidas provisórias pelo Presidente da República por prazos Das Disposições Constitucionais Gerais
indeterminados. .............................................................................................
Art. 246. É vedada a adoção de medida provisória na
• Efeitos da medida provisória: regulamentação de artigo da Constituição cuja redação tenha
– vigência temporária: devendo ser apreciada no sido alterada por meio de emenda promulgada entre 1º de
prazo de sessenta dias, prorrogáveis uma vez, sob janeiro de 1995 até a promulgação desta emenda, inclusive.
pena de perda de eficácia. O prazo de 60 dias será
contado da publicação da Medida Provisória, porém Observação: é importante dizer que é possível a edição
ficará suspenso durante os períodos de recesso do de medida provisória ao se tratar de matéria tributária,
Congresso Nacional (antes o Congresso Nacional que, em princípio, pode levar a entender ser inviável
era convocado extraordinariamente para reunir‑se em razão do princípio da estrita legalidade que permeia
no prazo de 5 dias e deliberar sobre a matéria). esse ramo do Direito. Fazem‑se, entretanto, algumas
– suspensão da eficácia de leis anteriores com ela ressalvas:
conflitantes: tão só haja aprovação pelo Congresso
Nacional, a medida provisória transformar‑se‑á em Art. 62. [...]
lei, revogando as disposições legais em contrário. § 2º Medida provisória que implique instituição
Caso a medida provisória seja rejeitada pelo Con- ou majoração de impostos, exceto os previstos nos
Noções de Direito Constitucional

gresso Nacional, a lei anterior, que estava com seus arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos
efeitos suspensos, volta a produzir efeitos. É impor- no exercício financeiro seguinte se houver sido
tante destacar que durante o período em que esteve convertida em lei até o último dia daquele em
vigendo a medida provisória – posteriormente não que foi editada.
convertida em lei no prazo de sessenta dias, pror-
rogável por igual período –, esta deve ser objeto
de deliberação do Congresso Nacional a respeito Observação: a Emenda Constitucional nº 32/2001 modi-
das relações jurídicas travadas nesse período, por ficou bastante o regime das medidas provisórias, princi-
palmente no tocante à vedação de reedições indefinidas,
meio de decreto legislativo. Porém, se o Congresso
mas trouxe um detalhe curioso: as medidas provisórias
Nacional não editar o referido decreto legislativo,
existentes na data de publicação da emenda tiveram sua
as relações jurídicas constituídas e decorrentes de
prorrogação indefinida, não necessitando de novas reedi-
atos praticados durante sua vigência continuarão
ções. Aguardam uma medida provisória que as modifique
por ela regidas. ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional,
• vedações de medidas provisórias: tratam de limites aprovando ou rejeitando expressamente.
materiais expressos no texto da Constituição.

64
É importante dizer que o controle sobre a relevância e não há emendas, ela vai à Presidência da República
urgência da medida provisória é conferido, como regra geral, a fim de providenciar a publicação. Portanto, a san-
ao Presidente da República no momento de sua edição, mas ção só é exigível se houver alteração, com supres-
se admite que, ao ser apreciada pelo Congresso Nacional, são ou acréscimo, no texto da medida provisória;
este possa aferir os referidos pressupostos, antes mesmo de – a lei de conversão deve ser relacionada ao assunto
cada uma das Casas do Congresso Nacional se pronunciar tratado na medida provisória, ou seja, não pode
sobre o mérito das medidas provisórias. Em verdade, a re- obviamente tratar de matéria diversa;
levância e urgência constituem pressupostos conjuntos – não pode haver reedição, na mesma sessão legisla-
para sua validade. Por sua vez, o Supremo Tribunal Federal tiva, de medida provisória que tenha sido rejeitada
admite que o Poder Judiciário realize o controle de consti- (rejeição expressa) ou que tenha perdido a eficácia
tucionalidade quanto à relevância e urgência em casos de por decurso de prazo (rejeição tácita), nem mesmo
manifesto abuso. se houver um quórum muito grande para aprova-
A noção de relevância e urgência deve partir do pres- ção. Trata‑se de vedação constitucional;
suposto de que, em caso de se aguardar o procedimento – caso a medida provisória não seja convertida em
normal do processo legislativo, a edição da norma não faria lei, seja pelo decurso de prazo ou pela sua rejeição,
mais sentido, em razão da ineficácia que o ato teria. Um e caso ela tenha revogado dispositivo anterior, este
exemplo, sem sombra de dúvidas, seria a edição de medida volta a viger normalmente, considerando que a
provisória para regulamentar crédito extraordinário para o medida provisória apenas suspende a eficácia da
orçamento da União em se tratando de calamidade pública. norma pretérita.
Na prática, houve um desvirtuamento desse ato legislativo, – em caso de rejeição expressa ou por decurso de
chegando‑se à edição de três medidas provisórias por dia, prazo, cabe ao Congresso Nacional regulamentar as
em determinada época. relações jurídicas constituídas durante o período de
vigência da medida provisória por meio de decreto
• Procedimento para edição de Medida Provisória: legislativo, e, caso assim não o faça, mantêm‑se as
– edição exclusiva do chefe do Poder Executivo relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos
(a Constituição Federal prevê que o Presidente da praticados durante sua vigência.
República tem essa prerrogativa, mas o Supremo
Tribunal Federal entende que a regra é para os Dispositivos Constitucionais
chefes do Executivo, incluindo‑se, portanto, o go-
vernador e o prefeito. Contudo, deve haver previsão TÍTULO IV
expressa na Constituição Estadual e Lei Orgânica, Da Organização dos Poderes
respectivamente, admitindo essa possibilidade).
Em relação aos Estados‑membros não há muita dú- CAPÍTULO I
vida, porque a própria Constituição Federal prevê,
Do Poder Legislativo
a contrário senso, no § 2º, art. 25, a possibilidade
.............................................................................................
de os Estados‑membros explorarem diretamente,
Seção VIII
ou mediante concessão, os serviços locais de gás
Do Processo Legislativo
canalizado, vedando a edição de medida provisória
.............................................................................................
para sua regulamentação, ou seja, se proíbe em de-
Subseção III
terminada hipótese é porque em outras é possível;
– as medidas provisórias devem ser convertidas Das Leis
em lei no prazo de sessenta dias, a contar de sua .............................................................................................
publicação, prorrogável uma única vez, por igual Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da
período. Ou seja, caso a medida provisória não seja República poderá adotar medidas provisórias, com força de
apreciada em sessenta dias, ocorre sua prorrogação lei, devendo submetê‑las de imediato ao Congresso Nacional.
pela reedição. Esse prazo é suspenso no período § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre
de recesso do Congresso Nacional (sendo assim, matéria:
volta‑se a contar o período, computando‑se o que I – relativa a:
já transcorreu por se tratar de suspensão); a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos
– a medida provisória, chegando ao Congresso Na- políticos e direito eleitoral;
cional, será apreciada por uma comissão mista, b) direito penal, processual penal e processual civil;
formada por deputados e senadores, que emitirão c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Públi-
Noções de Direito Constitucional

parecer, para em seguida ser apreciada pelo Ple- co, a carreira e a garantia de seus membros;
nário de cada Casa Legislativa, começando pela d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orça-
Câmara dos Deputados; mento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o
– a medida provisória aprovada integralmente pelas previsto no art. 167, § 3º.
duas Casas do Congresso Nacional será convertida II – que vise à detenção ou sequestro de bens, de pou-
em lei, promulgada e publicada pelo Presidente do pança popular ou qualquer outro ativo financeiro;
Senado; III – reservada a lei complementar;
– caso haja modificações na medida provisória, quan- IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Con-
do for submetida ao Congresso Nacional, o projeto gresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente
de conversão em lei deve retornar ao Presidente da República.
da República para sanção ou veto (este pode ser § 2º Medida provisória que implique instituição ou ma-
derrubado pelo Congresso Nacional); joração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II,
– caso não haja alterações na medida provisória, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro
quando ainda se constitui em projeto de conversão seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia
em lei pelo Congresso Nacional, ou seja, quando daquele em que foi editada.

65
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos V – sustar os atos normativos do Poder Executivo que
§§ 11 e 12, perderão eficácia, desde a edição, se não forem exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de
convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, delegação legislativa;
nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo VI – mudar temporariamente sua sede;
o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, VII – fixar idêntico subsídio para os Depu­tados Fe-
as relações jurídicas delas decorrentes. derais e os Senadores, observado o que dispõem
§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar‑se‑á da pu-
os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º,
blicação da medida provisória, suspendendo‑se durante os
I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
períodos de recesso do Congresso Nacional.
§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso de 1998)
Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá VIII – fixar os subsídios do Presidente e do Vice‑Pre-
de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos sidente da República e dos Ministros de Estado, ob-
constitucionais. servado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150,
§ 6º Se a medida provisória não for apreciada em até II, 153, III, e 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda
quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em Constitucional nº 19, de 1998)
regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das IX – julgar anualmente as contas prestadas pelo Pre-
Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que sidente da República e apreciar os relatórios sobre a
se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas execução dos planos de governo;
da Casa em que estiver tramitando. X – fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qual-
§ 7º Prorrogar‑se‑á uma única vez por igual período a quer de suas Casas, os atos do Poder Exe­cutivo,
vigência de medida provisória que, no prazo de sessenta dias,
incluídos os da administração indireta;
contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada
nas duas Casas do Congresso Nacional. XI – zelar pela preservação de sua competência le-
§ 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada gislativa em face da atribuição normativa dos outros
na Câmara dos Deputados. Poderes;
§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores XII – apreciar os atos de concessão e renovação de
examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, concessão de emissoras de rádio e televisão;
antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plená- XIII – escolher dois terços dos membros do Tribunal
rio de cada uma das Casas do Congresso Nacional. de Contas da União;
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, XIV – aprovar iniciativas do Poder Executivo referen-
de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha tes a atividades nucleares;
perdido sua eficácia por decurso de prazo. XV – autorizar referendo e convocar plebiscito;
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o XVI – autorizar, em terras indígenas, a exploração e
§ 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa
de medida provisória, as relações jurídicas constituídas
e lavra de riquezas minerais;
e decorrentes de atos praticados durante sua vigência
conservar‑se‑ão por ela regidas. XVII – aprovar, previamente, a alienação ou conces-
§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o são de terras públicas com área superior a dois mil e
texto original da medida provisória, esta manter‑se‑á inte- quinhentos hectares.
gralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o
projeto. O art. 62, § 3º, também contempla mais uma hi­pótese
de matéria a ser tratada por decreto legislativo:
Decreto Legislativo
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto
Os decretos legislativos são instrumentos utilizados pelo nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se
Poder Legislativo para regulamentar atos com efeitos exter- não forem convertidas em lei no prazo de sessenta
nos, sendo de competência exclusiva (privativa) do Congresso dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por
Nacional, e que não se sujeitam à apreciação de sanção e igual período, devendo o Congresso Nacional disci-
veto do Presidente da República.
plinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas
As matérias tratadas pelo decreto legislativo envolvem:
delas decorrentes.
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso
Noções de Direito Constitucional

Nacional: Cuidado! Não confundir o decreto legislativo com o antigo


I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos decreto‑lei (não mais em vigor) e o decreto expedido pelo
ou atos internacionais que acarretem encargos ou Presidente da República (faculdade do Chefe do Poder
compromissos gravosos ao patrimônio nacional; Executivo de expedir decretos e regulamentos para fiel
II – autorizar o Presidente da República a declarar execução das leis; trata‑se de ato normativo, que não pode
guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças es- contrariar leis nem criar direitos e obrigações aos cidadãos
trangeiras transitem pelo território nacional ou nele face ao princípio da legalidade).
permaneçam temporariamente, ressalvados os casos
previstos em lei complementar;
Resoluções
III – autorizar o Presidente e o Vice‑Presidente da Re-
pública a se ausentarem do País, quando a ausência
exceder a quinze dias; Assim como os decretos, as resoluções são atos exclu-
IV – aprovar o estado de defesa e a intervenção sivos (privativos) do Congresso Nacional – Senado Federal
federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender e Câmara dos Deputados. Entretanto, são voltadas, como
qualquer uma dessas medidas; regra, para efeitos internos do Parlamento.

66
Dispositivos Constitucionais IX – estabelecer limites globais e condições para o mon-
tante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal
TÍTULO IV e dos Municípios;
Da Organização dos Poderes X – suspender a execução, no todo ou em parte, de lei
declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo
CAPÍTULO I Tribunal Federal;
Do Poder Legislativo XI – aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto,
............................................................................................. a exoneração, de ofício, do Procurador‑Geral da República
Seção III antes do término de seu mandato;
Da Câmara dos Deputados XII – elaborar seu regimento interno;
XIII – dispor sobre sua organização, funcionamento, polí-
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: cia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos
I – autorizar, por dois terços de seus membros, a instau- e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação
ração de processo contra o Presidente e o Vice‑Presidente da respectiva remuneração, observados os parâmetros es-
da República e os Ministros de Estado; tabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
II – proceder à tomada de contas do Presidente da Re- XIV – eleger membros do Conselho da República, nos
pública, quando não apresentadas ao Congresso Nacional termos do art. 89, VII;
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa; XV – avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema
III – elaborar seu regimento interno; Tributário Nacional, em sua estrutura e seus componentes,
IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, polí- e o desempenho das administrações tributárias da União,
cia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios.
e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II,
da respectiva remuneração, observados os parâmetros es-
funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal,
tabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
limitando‑se a condenação, que somente será proferida por
V – eleger membros do Conselho da República174, nos
dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo,
termos do art. 89, VII.
com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função
Seção IV pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.
Do Senado Federal .............................................................................................
Seção VIII
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: Do Processo Legislativo
I – processar e julgar o Presidente e o Vice‑Presidente .............................................................................................
da República nos crimes de responsabilidade, bem como Subseção III
os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Das Leis
Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza .............................................................................................
conexos com aqueles; Art. 68. [...]
II – processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma
Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu
Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador‑Geral conteúdo e os termos de seu exercício.
da República e o Advogado‑Geral da União nos crimes de .............................................................................................
responsabilidade;
III – aprovar previamente, por voto secreto, após arguição TÍTULO VI
pública, a escolha de: Da Tributação e do Orçamento
a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Consti-
tuição; CAPÍTULO I
b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados Do Sistema Tributário Nacional
pelo Presidente da República; .............................................................................................
c) Governador de Território; Seção IV
d) Presidente e diretores do banco central; Dos Impostos dos Estados e do Distrito Federal
e) Procurador‑Geral da República;
f) titulares de outros cargos que a lei determinar; Art. 155. [...]
IV – aprovar previamente, por voto secreto, após ar- § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
guição em sessão secreta, a escolha dos chefes de missão [...]
Noções de Direito Constitucional

diplomática de caráter permanente; IV – resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presi-


V – autorizar operações externas de natureza financeira, dente da República ou de um terço dos Senadores, aprovada
de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos pela maioria absoluta de seus membros, estabelecerá as
Territórios e dos Municípios; alíquotas aplicáveis às operações e prestações, interestaduais
VI – fixar, por proposta do Presidente da República, limi- e de exportação;
tes globais para o montante da dívida consolidada da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; Lei Federal e Lei Nacional
VII – dispor sobre limites globais e condições para as ope-
rações de crédito externo e interno da União, dos Estados,
A Constituição não institui no rol dos atos legislativos em es-
do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e
pécie a lei federal e lei nacional, porque essas não representam
demais entidades controladas pelo Poder Público federal;
VIII – dispor sobre limites e condições para a concessão um novo tipo, mas propriamente um campo de incidência (a
de garantia da União em operações de crédito externo e quem se dirige a lei), seja ela lei ordinária ou lei complementar.
interno; A lei federal é aquela que alcança os órgãos que per-
tencem à União, Administração Pública direta e indireta
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/2012.
174 (funcionários, autarquias, fundações, empresas públicas

67
etc.). Por sua vez, a lei nacional é aquela que se dirige não I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
só à União, mas também aos Estados‑membros, Municípios atos internacionais que acarretem encargos ou compromis-
e o Distrito Federal. sos gravosos ao patrimônio nacional;
Dois exemplos para bem distingui‑las são a Lei .............................................................................................
nº 8.112/1990 (Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores CAPÍTULO II
públicos civis da União, das autarquias e das fundações pú- Do Poder Executivo
blicas federais) – Lei Federal – e o Código Civil – Lei Nacional. .............................................................................................
É importante dizer que não há hierarquia entre lei federal Seção II
e lei nacional, admitindo‑se que lei nacional possa revogar lei Das Atribuições do Presidente da República
federal e vice‑versa, desde que se respeite a autonomia do
ente federado, assim como a competência delimitada pela Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da
Constituição Federal. República:
[...]
Tratados Internacionais VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais,
sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
Os tratados internacionais constituem acordos realiza-
dos no âmbito externo entre o Brasil e outro(s) Estado(s). Leis Orçamentárias
A produção de efeito no âmbito interno, segundo a doutrina
preponderante, dá‑se a partir do momento em que é editado As leis orçamentárias também não constam expressa-
um decreto legislativo e pela promulgação mediante decreto mente como parte do processo legislativo inserido no âmbito
presidencial, em um verdadeiro ato complexo – Poder Exe- comum da Constituição Federal. Trata‑se de leis que exigem
cutivo + Poder Legislativo. Essa é a forma de internalização um procedimento específico para sua edição. Matéria estu-
das normas advindas de um acordo ou tratado internacional. dada com profundidade pelo direito financeiro.
Aprova‑se o conteúdo do acordo internacional por decreto São basicamente três espécies de leis orçamentárias:
legislativo (Poder Legislativo) e o Presidente irá promulgá‑lo • Lei do plano plurianual;
e publicá‑lo, conferindo executoriedade ao acordo. • Lei de diretrizes orçamentárias;
• Lei do orçamento anual.
Validade = celebração do tratado + decreto
legislativo + decreto presidencial
Dispositivos Constitucionais
O tratado internacional entrará no ordenamento jurídico
brasileiro com status (qualidade) de lei ordinária, como regra TÍTULO VI
geral. Mas se admite que o referido ingresso possa ostentar Da Tributação e do Orçamento
envergadura equivalente à emenda constitucional quando .............................................................................................
versar sobre direitos humanos e for aprovado, em cada Casa CAPÍTULO II
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos Das Finanças Públicas
votos dos respectivos membros. Cabe ao tratado, ainda, o .............................................................................................
status supralegal, quando tratar de direitos humanos e não Seção II
for aprovado pelo quorum qualificado de três quintos. Dos Orçamentos

Dispositivos Constitucionais Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabe-


lecerão:
TÍTULO II I – o plano plurianual;
Dos Direitos e Garantias Fundamentais II – as diretrizes orçamentárias;
III – os orçamentos anuais.
CAPÍTULO I § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá,
Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da
administração pública federal para as despesas de capital e
Art. 5º [...] outras delas decorrentes e para as relativas aos programas
[...] de duração continuada.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre § 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do metas e prioridades da administração pública fe­deral, incluindo
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente,
Noções de Direito Constitucional

votos dos respectivos membros, serão equivalentes às orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre
emendas constitucionais. as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de
............................................................................................. aplicação das agências financeiras oficiais de fomento.
TÍTULO IV § 3º O Poder Executivo publicará, até trinta dias após
Da Organização dos Poderes o encerramento de cada bimestre, relatório resumido da
execução orçamentária.
CAPÍTULO I § 4º Os planos e programas nacionais, regionais e se-
Do Poder Legislativo toriais previstos nesta Constituição serão elaborados em
............................................................................................. consonância com o plano plurianual e apreciados pelo
Seção II Congresso Nacional.
Das Atribuições do Congresso Nacional § 5º A lei orçamentária anual compreenderá:
............................................................................................. I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da União,
seus fundos, órgãos e entidades da administração direta
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Na- e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo
cional: Poder Público;

68
II – o orçamento de investimento das empresas em que a § 5º O Presidente da República poderá enviar mensagem
União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital ao Congresso Nacional para propor modificação nos projetos
social com direito a voto; a que se refere este artigo enquanto não iniciada a votação,
III – o orçamento da seguridade social, abrangendo todas na Comissão mista, da parte cuja alteração é proposta.
as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração di- § 6º Os projetos de lei do plano plurianual, das diretrizes
reta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos orçamentárias e do orçamento anual serão enviados pelo
e mantidos pelo Poder Público. Presidente da República ao Congresso Nacional, nos termos
§ 6º O projeto de lei orçamentária será acompanhado de da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º.
demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e § 7º Aplicam‑se aos projetos mencionados neste artigo,
despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsí- no que não contrariar o disposto nesta seção, as demais
dios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia. normas relativas ao processo legislativo.
§ 7º Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste artigo, § 8º Os recursos que, em decorrência de veto, emenda
compatibilizados com o plano plurianual, terão entre suas ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem
funções a de reduzir desigualdades inter‑regionais, segundo sem despesas correspondentes poderão ser utilizados, con-
critério populacional. forme o caso, mediante créditos especiais ou suplementares,
§ 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo com prévia e específica autorização legislativa.
estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não § 9º As emendas individuais ao projeto de lei orçamen-
se incluindo na proibição a autorização para abertura de cré- tária serão aprovadas no limite de 1,2% (um inteiro e dois
ditos suplementares e contratação de operações de crédito, décimos por cento) da receita corrente líquida prevista no
ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. projeto encaminhado pelo Poder Executivo, sendo que a
§ 9º Cabe à lei complementar: metade deste percentual será destinada a ações e serviços
I – dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os pra- públicos de saúde. (Acrescentado pela EC 86/2015)
zos, a elaboração e a organização do plano pluria­nual, da § 10. A execução do montante destinado a ações e servi-
lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual; ços públicos de saúde previsto no § 9º, inclusive custeio, será
II – estabelecer normas de gestão financeira e patrimo- computada para fins do cumprimento do inciso I do § 2º do
nial da administração direta e indireta bem como condições art. 198, vedada a destinação para pagamento de pessoal ou
para a instituição e funcionamento de fundos; encargos sociais. (Acrescentado pela EC 86/2015)
III – dispor sobre critérios para a execução equitativa, § 11. É obrigatória a execução orçamentária e financeira
além de procedimentos que serão adotados quando houver das programações a que se refere o § 9º deste artigo, em
impedimentos legais e técnicos, cumprimento de restos a montante correspondente a 1,2% (um inteiro e dois décimos
pagar e limitação das programações de caráter obrigatório, por cento) da receita corrente líquida realizada no exercício
para a realização do disposto no § 11 do art. 166. (Acrescen- anterior, conforme os critérios para a execução equitativa da
tando pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015). programação definidos na lei complementar prevista no § 9º
Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianu- do art. 165. (Acrescentado pela EC 86/2015)
al, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos § 12. As programações orçamentárias previstas no § 9º deste
créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do artigo não serão de execução obrigatória nos casos dos impe-
Congresso Nacional, na forma do regimento comum. dimentos de ordem técnica. (Acrescentado pela EC 86/2015)
§ 1º Caberá a uma Comissão mista permanente de Se- § 13. Quando a transferência obrigatória da União, para
nadores e Deputados: a execução da programação prevista no § 11 deste artigo,
I – examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos for destinada a Estados, ao Distrito Federal e a Municípios,
independerá da adimplência do ente federativo destinatário
neste artigo e sobre as contas apresentadas anualmente pelo
e não integrará a base de cálculo da receita corrente líquida
Presidente da República;
para fins de aplicação dos limites de despesa de pessoal de
II – examinar e emitir parecer sobre os planos e programas
que trata o caput do art. 169. (Acrescentado pela EC 86/2015)
nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição
§ 14. No caso de impedimento de ordem técnica, no
e exercer o acompanhamento e a fiscalização orçamentária,
empenho de despesa que integre a programação, na forma
sem prejuízo da atuação das demais comissões do Congresso
do § 11 deste artigo, serão adotadas as seguintes medidas:
Nacional e de suas Casas, criadas de acordo com o art. 58.
I – até 120 (cento e vinte) dias após a publicação da lei
§ 2º As emendas serão apresentadas na Comissão mista,
orçamentária, o Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder
que sobre elas emitirá parecer, e apreciadas, na forma regi- Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública envia-
mental, pelo Plenário das duas Casas do Congresso Nacional. rão ao Poder Legislativo as justificativas do impedimento;
§ 3º As emendas ao projeto de lei do orçamento anual II – até 30 (trinta) dias após o término do prazo previsto
ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser no inciso I, o Poder Legislativo indicará ao Poder Executivo
aprovadas caso: o remanejamento da programação cujo impedimento seja
Noções de Direito Constitucional

I – sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei insuperável;


de diretrizes orçamentárias; III – até 30 de setembro ou até 30 (trinta) dias após o
II – indiquem os recursos necessários, admitidos apenas prazo previsto no inciso II, o Poder Executivo encaminhará
os provenientes de anulação de despesa, excluídas as que projeto de lei sobre o remanejamento da programação cujo
incidam sobre: impedimento seja insuperável;
a) dotações para pessoal e seus encargos; IV – se, até 20 de novembro ou até 30 (trinta) dias após o
b) serviço da dívida; término do prazo previsto no inciso III, o Congresso Nacional
c) transferências tributárias constitucionais para Estados, não deliberar sobre o projeto, o remanejamento será imple-
Municípios e Distrito Federal; ou mentado por ato do Poder Executivo, nos termos previstos
III – sejam relacionadas: na lei orçamentária. (Acrescentado pela EC 86/2015)
a) com a correção de erros ou omissões; ou § 15. Após o prazo previsto no inciso IV do § 14, as pro-
b) com os dispositivos do texto do projeto de lei. gramações orçamentárias previstas no § 11 não serão de
§ 4º As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamen- execução obrigatória nos casos dos impedimentos justifica-
tárias não poderão ser aprovadas quando incompatíveis com dos na notificação prevista no inciso I do § 14. (Acrescentado
o plano plurianual. pela EC 86/2015)

69
§ 16. Os restos a pagar poderão ser considerados para § 3º A abertura de crédito extraordinário somente será
fins de cumprimento da execução financeira prevista no § 11 admitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes,
deste artigo, até o limite de 0,6% (seis décimos por cento) como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calami-
da receita corrente líquida realizada no exercício anterior. dade pública, observado o disposto no art. 62.
(Acrescentado pela EC 86/2015) § 4º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas
§ 17. Se for verificado que a reestimativa da receita e da pelos impostos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos
despesa poderá resultar no não cumprimento da meta de recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II,
resultado fiscal estabelecida na lei de diretrizes orçamen- para a prestação de garantia ou contragarantia à União e
tárias, o montante previsto no § 11 deste artigo poderá ser para pagamento de débitos para com esta.
reduzido em até a mesma proporção da limitação incidente § 5º A transposição, o remanejamento ou a transferência
sobre o conjunto das despesas discricionárias. (Acrescentado de recursos de uma categoria de programação para outra
pela EC 86/2015) poderão ser admitidos, no âmbito das atividades de ciência,
§ 18. Considera-se equitativa a execução das programa- tecnologia e inovação, com o objetivo de viabilizar os resul-
ções de caráter obrigatório que atenda de forma igualitária tados de projetos restritos a essas funções, mediante ato
e impessoal às emendas apresentadas, independentemente do Poder Executivo, sem necessidade da prévia autorização
da autoria. (Acrescentado pela EC 86/2015) legislativa prevista no inciso VI deste artigo. (Acrescentado
Art. 167. São vedados: pela Emenda Constitucional nº 85/2015)
I – o início de programas ou projetos não incluídos na lei Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações
orçamentária anual; orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares
II – a realização de despesas ou a assunção de obrigações e especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo
diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais; e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública,
III – a realização de operações de créditos que excedam ser‑lhes‑ão entregues até o dia 20 de cada mês, em duo-
o montante das despesas de capital, ressalvadas as autori- décimos, na forma da lei complementar a que se refere o
zadas mediante créditos suplementares ou especiais com art. 165, § 9º.
finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União,
maioria absoluta; dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá
IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo exceder os limites estabelecidos em lei complementar.
ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arre- § 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de
cadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou
a destinação de recursos para as ações e serviços públicos alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão
de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos
e para realização de atividades da administração tributária, e entidades da administração direta ou indireta, inclusive
como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só
212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de poderão ser feitas:
crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, I – se houver prévia dotação orçamentária suficiente para
§ 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo; atender às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos
V – a abertura de crédito suplementar ou especial sem dela decorrentes;
prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos II – se houver autorização específica na lei de diretrizes
correspondentes; orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as socie-
VI – a transposição, o remanejamento ou a transferência dades de economia mista.
de recursos de uma categoria de programação para outra ou § 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar
de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa; referida neste artigo para a adaptação aos parâmetros ali pre-
VII – a concessão ou utilização de créditos ilimitados; vistos, serão imediatamente suspensos todos os repasses de
VIII – a utilização, sem autorização legislativa específica, verbas federais ou estaduais aos Estados, ao Distrito Federal
de recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social para e aos Municípios que não observarem os referidos limites.
suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações § 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com
e fundos, inclusive dos mencionados no art. 165, § 5º; base neste artigo, durante o prazo fixado na lei complementar
IX – a instituição de fundos de qualquer natureza, sem referida no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
prévia autorização legislativa. Municípios adotarão as seguintes providências:
X – a transferência voluntária de recursos e a concessão I – redução em pelo menos vinte por cento das despesas
de empréstimos, inclusive por antecipação de receita, pelos com cargos em comissão e funções de confiança;
Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, II – exoneração dos servidores não estáveis.
para pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e § 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo an-
Noções de Direito Constitucional

pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. terior não forem suficientes para assegurar o cumprimento
XI – a utilização dos recursos provenientes das contribui- da determinação da lei complementar referida neste artigo,
ções sociais de que trata o art. 195, I, a, e II, para a realização o servidor estável poderá perder o cargo, desde que ato
de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime normativo motivado de cada um dos Poderes especifique
geral de previdência social de que trata o art. 201. a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa
§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um objeto da redução de pessoal.
exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão § 5º O servidor que perder o cargo na forma do parágrafo
no plano plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob anterior fará jus a indenização correspondente a um mês de
pena de crime de responsabilidade. remuneração por ano de serviço.
§ 2º Os créditos especiais e extraordinários terão vigência § 6º O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos
no exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o anteriores será considerado extinto, vedada a criação de
ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou asse-
daquele exercício, caso em que, reabertos nos limites de melhadas pelo prazo de quatro anos.
seus saldos, serão incorporados ao orçamento do exercício § 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem
financeiro subsequente. obedecidas na efetivação do disposto no § 4º.

70
Da Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária • apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presi-
dente da República, mediante parecer prévio que deverá ser
O Estado Democrático de Direito consubstancia-se na elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;
harmonização entre os Poderes (funções) Executivo, Legislati- • julgar as contas dos administradores e demais respon-
vo e Judiciário, de forma que os três poderes vigiem-se de for- sáveis por dinheiro, bens e valores públicos da Administração
ma mútua, tanto externa quanto internamente, sempre nos direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades insti-
casos expressamente delineados pela Constituição Federal. tuídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas
A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, opera- daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irre-
cional e patrimonial da União e das entidades da Administra- gularidade de que resulte prejuízo ao erário público;
ção Direta e Indireta, no tocante à legalidade, legitimidade, • apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de
economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de admissão de pessoal, a  qualquer título, na Administração
receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e manti-
controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada das pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo
Poder. Isso significa que em todos os atos públicos deve ser de provimento em comissão, bem como a das concessões
observada a economia do dinheiro público, atendendo a seus de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as me-
objetivos com o menor preço possível. lhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do
É importante fazer a distinção entre a fiscalização do ato concessório;
erário público em controle interno e externo: • realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputa-
• controle interno: é o controle exercido pelo próprio dos, do Senado Federal, de comissão técnica ou de inquéri-
órgão administrativo, em que cada um dos poderes to, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira,
internamente atua na fiscalização de seus atos. É uma orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades ad-
espécie de controle realizado dentro do próprio órgão ministrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário
(intraórgão), limitando-se à sua estrutura, com carac- e demais entidades;
terísticas meramente administrativas e não judicial, • fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacio-
que os superiores hierárquicos exercem sobre os fun-
nais de cujo capital social a União participe, de forma direta
cionários subordinados quando atuam no exercício de
ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;
suas atribuições, essencialmente por envolver verbas
• fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados
públicas. Esse controle não se restringe apenas ao
pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros
ângulo financeiro, mas também tem o intuito de coibir
instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou
práticas que afrontem os princípios da Administração
a Município175;
Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, pu-
blicidade e eficiência. O  controle interno é exercido • prestar as informações solicitadas pelo Congresso Na-
nos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, cional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das res-
nas esferas municipal, estadual e federal. pectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira,
• controle externo: é o controle realizado por órgãos orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados
estranhos ao órgão fiscalizado, ou seja, por outro órgão de auditorias e inspeções realizadas;
(interórgão). A  doutrina, com base na Constituição • aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de
Federal, faz a subdivisão entre controle parlamentar despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas
direto, controle exercido pelo Tribunal de Contas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa
(órgão auxiliar do legislativo no controle) e controle proporcional ao dano causado ao erário;
jurisdicional. É  de fundamental importância para a • assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as
configuração do Estado Democrático de Direito, pois providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se
consagra a fórmula da teoria dos freios e contrapesos verificada ilegalidade;
(checks and balances), em que os Poderes (funções) • sustar, se não atendida, a execução do ato impugna-
Executivo, Legislativo e Judiciário devem “conter” uns do, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao
aos outros, de forma harmônica e nos casos devida- Senado Federal;
mente previstos na Constituição Federal. O controle • representar ao Poder competente sobre irregularidades
externo é exercido principalmente pelo Poder Legis- ou abusos apurados.
lativo auxiliado pelo Tribunal de Contas. Importante observar que, ao se tratar de contrato
firmado pela administração pública em que se vislumbre
O controle interno ou externo poderá ser exercido quan- irregularidade, o  ato de sustação do contrato será feito
do qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de
Noções de Direito Constitucional

utilizar, arrecadar, guardar, gerenciar ou administrar dinheiro, imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, O Tribunal de Contas encaminhará ao Congresso Nacio-
ou que, em nome deste ente político, assuma obrigações de nal, trimestral e anualmente, relatório de suas atividades.
natureza pecuniária. É uma forma de concretização do princípio da publicidade.
Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem co- Em caso de indícios de despesas não autorizadas, a Co-
nhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela missão Mista de Deputados e Senadores poderá solicitar à
darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de autoridade governamental responsável que, no prazo de
responsabilidade solidária. cinco dias, preste os esclarecimentos necessários. Caso esses
Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindica- esclarecimentos não sejam prestados ou sejam considerados
to é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregulari- insuficientes, a Comissão solicitará ao Tribunal de Contas da
dades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União. União pronunciamento conclusivo sobre a matéria, no prazo
O controle pelo Congresso Nacional será exercido com o de trinta dias. O Tribunal de Contas entendendo irregular a
auxílio do Tribunal de Contas da União, este com as seguintes
Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
175
atribuições: Nacional de Defesa Civil/2012.

71
despesa, a Comissão, se julgar que o gasto possa causar dano Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Na-
irreparável ou grave lesão à economia pública, proporá ao cional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da
Congresso Nacional sua sustação. União, ao qual compete:
I – apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presi-
Composição do Tribunal de Contas da União: é integrado dente da República, mediante parecer prévio que deverá ser
por nove Ministros, que serão nomeados entre brasileiros elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;
que satisfaçam os seguintes requisitos: II – julgar as contas dos administradores e demais res-
• mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco ponsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da adminis-
anos de idade; tração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades
• idoneidade moral e reputação ilibada; instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas
• notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econô­ daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregu-
micos e financeiros ou de administração pública; laridade de que resulte prejuízo ao erário público;
• mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva III – apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de
atividade profissional que exija os conhecimentos mencio- admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e
nados acima. indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Po-
Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão der Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimen-
escolhidos: to em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias,
• um terço pelo Presidente da República, com aprovação reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que
do Senado Federal, sendo dois alternadamente entre audi- não alterem o fundamento legal do ato concessório;
tores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, IV  – realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos
indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou
de antiguidade e merecimento; de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil,
• dois terços pelo Congresso Nacional. financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas
unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo
Observação: as Constituições Estaduais disporão e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;
sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão V  – fiscalizar as contas nacionais das empresas supra-
integrados por sete Conselheiros. nacionais de cujo capital social a União participe, de forma
direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;
VI – fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassa-
Sede: Distrito Federal. dos pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros
Jurisdição: de regra, exercerá suas atividades em todo instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou
o território nacional quando envolver verbas públicas de a Município;
âmbito federal. VII – prestar as informações solicitadas pelo Congresso
O Tribunal de Contas tem a competência de julgar os Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer
responsáveis pelos recursos públicos, sendo administrativas das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil,
as decisões proferidas nesse âmbito, pois somente consti- financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre
tuem decisões judiciais as emanadas do Poder Judiciário, resultados de auditorias e inspeções realizadas;
considerando que a Constituição Federal adota o princípio VIII – aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de
da unicidade de jurisdição. despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas
As normas constantes da Constituição Federal referen- em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa
tes ao Tribunal de Contas da União devem ser aplicadas às proporcional ao dano causado ao erário;
Constituições dos Estados, naquilo que couber. IX – assinar prazo para que o órgão ou entidade adote
as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se
Dispositivos Constitucionais verificada ilegalidade;
X – sustar, se não atendido, a execução do ato impugna-
TÍTULO IV do, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao
DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES Senado Federal;
XI – representar ao Poder competente sobre irregulari-
CAPÍTULO I dades ou abusos apurados.
Do Poder Legislativo § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado
.............................................................................................. diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de
Noções de Direito Constitucional

Seção IX imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.


Da Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária § 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no
prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no
Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.
operacional e patrimonial da União e das entidades da admi- § 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de
nistração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, débito ou multa terão eficácia de título executivo.
economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de recei- §  4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional,
tas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle trimestral e anualmente, relatório de suas atividades.
externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física art. 166, § 1º, diante de indícios de despesas não autorizadas,
ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, ainda que sob a forma de investimentos não programados
gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou de subsídios não aprovados, poderá solicitar à autorida-
ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, de governamental responsável que, no prazo de cinco dias,
assuma obrigações de natureza pecuniária. preste os esclarecimentos necessários.

72
§ 1º Não prestados os esclarecimentos, ou considerados Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem
estes insuficientes, a Comissão solicitará ao Tribunal pronun- como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
ciamento conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias. Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão so-
§ 2º Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Co- bre os Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados
missão, se julgar que o gasto possa causar dano irreparável por sete Conselheiros.
ou grave lesão à economia pública, proporá ao Congresso
Nacional sua sustação. Poder Executivo
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por
nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro pró- Ao Poder Executivo compete a administração e gerencia-
prio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, mento do Estado, desenvolvendo as mais variadas políticas
exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96. públicas – educação, saúde, habitação, saneamento, obras
§ 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão de infraestrutura – exercer atividade econômica, desenca-
nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes dear determinados projetos de lei, enfim, governar toda a
requisitos: máquina estatal.
I – mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco O Poder Executivo, no âmbito federal, é exercido pelo
anos de idade; Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado.
II – idoneidade moral e reputação ilibada; Na esfera estadual, é exercido pelo governador e na munici-
III – notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econô- pal, pelo prefeito, com o auxílio de secretários.
micos e financeiros ou de administração pública; A Constituição faz referência ao tratar do Poder Executivo
IV – mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva ao Presidente da República (chefe do Poder Exe­cutivo), mas
atividade profissional que exija os conhecimentos mencio- em razão do princípio da simetria, estende‑se, como regra
nados no inciso anterior. geral, aos chefes do Poder Executivo nos âmbitos estaduais
§ 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão e municipais.
escolhidos:
I – um terço pelo Presidente da República, com aprova- Dispositivo Constitucional
ção do Senado Federal, sendo dois alternadamente dentre
auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, TÍTULO IV
indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios Da Organização dos Poderes
de antiguidade e merecimento; .............................................................................................
II – dois terços pelo Congresso Nacional. CAPÍTULO II
Do Poder Executivo
§ 3º Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão
as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, ven‑
Seção I
cimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal
Do Presidente e do Vice-Presidente da República
de Justiça176, aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e
pensão, as normas constantes do art. 40. Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da
§ 4º O auditor, quando em substituição a Ministro, terá República, auxiliado pelos Ministros de Estado.
as mesmas garantias e impedimentos do titular e, quando
no exercício das demais atribuições da judicatura, as de juiz Processo Eleitoral do Presidente da República
de Tribunal Regional Federal.
Art.  74. Os  Poderes Legislativo, Executivo e Judi­ciário A eleição do Presidente e do Vice‑Presidente da Repú-
manterão, de forma integrada, sistema de controle interno blica realizar‑se‑á, simultaneamente, no primeiro domingo
com a finalidade de: de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de
I – avaliar o cumprimento das metas previstas no plano outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao
plurianual, a  execução dos programas de governo e dos do término do mandato presidencial vigente.
orçamentos da União; Será considerado eleito Presidente o candidato que,
II – comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de
à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e votos, não computados os em branco e os nulos. A eleição
patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, do Presidente da República importará a do Vice‑Presidente
bem como da aplicação de recursos públicos por entidades com ele registrado.
de direito privado; Importante lembrar que para assumir o cargo de Presi-
III – exercer o controle das operações de crédito, avais e dente da República fazem‑se necessários alguns requisitos:
Noções de Direito Constitucional

garantias, bem como dos direitos e haveres da União; a) ser brasileiro nato (CF, art. 12, § 3º); b) estar em pleno
IV – apoiar o controle externo no exercício de sua missão gozo de direitos políticos (CF, art. 14, § 3º); c) possuir mais
institucional. de trinta e cinco anos (CF, art. 14, § 3º, VI, a)
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem A eleição poderá ocorrer em dois turnos. O segundo tur-
conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, no só ocorrerá se nenhum candidato alcançar maioria absolu-
dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena ta na primeira votação, caso em que se fará nova eleição em
de responsabilidade solidária. até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo
§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindi- os dois candidatos mais votados e considerando‑se eleito
cato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregula- aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.
ridades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União. Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte,
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, desistência ou impedimento legal de candidato, convo-
no que couber, à organização, composição e fiscalização dos car‑se‑á, entre os remanescentes, o de maior votação177. Se

Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-BA/Técnico Judiciário/Área Adminis-


177

FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013.


176
trativa/2010.

73
remanescer em segundo lugar mais de um candidato com a § 4º Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer
mesma votação, qualificar‑se‑á o mais idoso. morte, desistência ou impedimento legal de candidato,
O Presidente e o Vice‑Presidente da República tomarão convocar‑se‑á, dentre os remanescentes, o de maior votação.
posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o com- § 5º Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanes-
promisso de manter, defender e cumprir a Constituição, cer, em segundo lugar, mais de um candidato com a mesma
observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, votação, qualificar‑se‑á o mais idoso.
sustentar a união, a integridade e a independência do Art. 78. O Presidente e o Vice‑Presidente da República to-
Brasil178. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, marão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o
o Presidente ou o Vice‑Presidente, salvo motivo de força compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição,
maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago. observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro,
Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil.
e suceder‑lhe‑á, no caso de vaga, o Vice‑Presidente. Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a
A função do Vice‑Presidente, além de outras atribuições que posse, o Presidente ou o Vice‑Presidente, salvo motivo de força
lhe forem conferidas por lei complementar, é auxiliar o Presi- maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago.
dente sempre que for por ele convocado para missões especiais. Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimen-
A substituição do Presidente da República ou do to, e suceder‑ lhe‑á, no de vaga, o Vice‑Presidente.
Vice‑Presidente far‑se‑á, sucessivamente, pelo Presidente Parágrafo único. O Vice‑Presidente da República, além de
da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do outras atribuições que lhe forem conferidas por lei comple-
Supremo Tribunal Federal para o exercício do cargo de mentar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado
Presidente da República179. para missões especiais.
Caso restem vagos os cargos de Presidente e Vice‑Presi- Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do
dente da República, far‑se‑á eleição noventa dias depois de Vice‑Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão
aberta a última vaga. Se essa vacância ocorrer nos últimos sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o
dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal
cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Con- e o do Supremo Tribunal Federal.
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice‑Presi-
gresso Nacional, na forma da lei, para completar o período
dente da República, far‑se‑á eleição noventa dias depois de
de seus antecessores.
aberta a última vaga.
O mandato do Presidente da República é de quatro anos
§ 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do pe-
e terá início em primeiro de janeiro do ano seguinte ao da
ríodo presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita
sua eleição.
trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional,
O Presidente e o Vice‑Presidente da República não poderão,
na forma da lei.
sem licença do Congresso Nacional, ausentar‑se do País por
§ 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar
período superior a quinze dias, sob pena de perda do cargo. o período de seus antecessores.
Art. 82. O mandato do Presidente da República é de
Dispositivos Constitucionais quatro anos e terá início em primeiro de janeiro do ano
seguinte ao da sua eleição.
TÍTULO IV Art. 83. O Presidente e o Vice‑Presidente da República
Da Organização dos Poderes não poderão, sem licença do Congresso Nacional, ausen-
............................................................................................. tar‑se do País por período superior a quinze dias, sob pena
CAPÍTULO II de perda do cargo.
Do Poder Executivo
Atribuições do Presidente da República
Seção I
Do Presidente e do Vice-Presidente da República As atribuições do Presidente da República estão traçadas
............................................................................................. no texto constitucional (art. 84). Podem ser funções de chefe
Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice‑Presidente da de Estado e chefe de Governo. A função de chefe de Estado
República realizar‑se‑á, simultaneamente, no primeiro do- caracteriza‑se por exercer tarefas no âmbito externo, trava-
mingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo das com outros Estados (países), considerando a República
de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior Fe­derativa do Brasil como Estado soberano. A função de
chefe de Governo condiz com atividades no âmbito interno –
Noções de Direito Constitucional

ao do término do mandato presidencial vigente.


§ 1º A eleição do Presidente da República importará a basicamente são funções relacionadas à administração da
do Vice‑Presidente com ele registrado. máquina pública.
§ 2º Será considerado eleito Presidente o candidato que, Entre as atribuições como Chefe de Governo, destaca‑se,
registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de em razão da constante exigência em provas de concursos,
votos, não computados os em branco e os nulos. a faculdade de regulamentar.
§ 3º Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na Trata‑se da forma pela qual o Chefe do Poder Executivo
primeira votação, far‑se‑á nova eleição em até vinte dias após vem dotar de cumprimento uma determinada lei, expedindo
a proclamação do resultado, concorrendo os dois candidatos para tanto um decreto no sentido de imprimir maior nível
mais votados e considerando‑se eleito aquele que obtiver a de executoriedade. O decreto irá pormenorizar o conteúdo
maioria dos votos válidos. da lei, explicando em maior detalhe, no intuito de facilitar
o processo de eficácia da lei, sem, contudo, obviamente,
contrariá‑la, sob pena de ilegalidade.
178
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Há uma exceção no texto constitucional que admite
Judiciário/Área Administrativa/2010.
179
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012. a edição de um decreto sem a existência de uma lei que

74
regulamente primariamente a matéria, chamado, por parte XIV – nomear, após aprovação pelo Senado Fe­deral,
da doutrina, de decreto autônomo. Trata‑se de autorização os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Su-
ao Presidente da República para dispor, mediante decreto, periores, os Governadores de Territórios, o Procurador‑Geral
sobre a organização e funcionamento da administração da República, o presidente e os diretores do banco central e
federal, quando não implicar aumento de despesa, nem outros servidores, quando determinado em lei;
criação ou extinção de órgãos. Também é possível extinguir XV – nomear, observado o disposto no art. 73, os Minis-
funções ou cargos públicos, quando vagos. tros do Tribunal de Contas da União;
XVI – nomear os magistrados, nos casos previstos nesta
Ou seja, há duas possibilidades: Constituição, e o Advogado‑Geral da União;
• organização e funcionamento da administração federal XVII – nomear membros do Conselho da República, nos
(não pode haver aumento de despesa, nem criação ou termos do art. 89, VII;
extinção de órgãos públicos); XVIII – convocar e presidir o Conselho da República e o
• extinguir funções ou cargos públicos, quando vagos. Conselho de Defesa Nacional181;
XIX – declarar guerra, no caso de agressão estrangeira,
autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por
Cuidado! Como regra geral, a Constituição Federal não ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas,
admite o decreto autônomo, salvo nas duas hipóteses e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente,
citadas. a mobilização nacional;
XX – celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do
Congresso Nacional;
Dispositivos Constitucionais XXI – conferir condecorações e distinções honoríficas;
XXII – permitir, nos casos previstos em lei com­plementar,
TÍTULO IV que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou
Da Organização dos Poderes nele permaneçam temporariamente;
............................................................................................. XXIII – enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual,
CAPÍTULO II o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas
Do Poder Executivo de orçamento previstos nesta Constituição;
............................................................................................. XXIV – prestar, anualmente, ao Congresso Nacional,
Seção II dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa,
Das Atribuições do Presidente da República as contas referentes ao exercício anterior;
XXV – prover e extinguir os cargos públicos federais, na
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da forma da lei;
República: XXVI – editar medidas provisórias com força de lei, nos
I – nomear e exonerar os Ministros de Estado; termos do art. 62;
II – exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a di- XXVII – exercer outras atribuições previstas nesta Cons-
tituição.
reção superior da administração federal;
Parágrafo único. O Presidente da República poderá de-
III – iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos
legar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV,
previstos nesta Constituição; primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador‑Ge-
IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem ral da República ou ao Advogado‑Geral da União, que ob-
como expedir decretos e regulamentos para sua fiel exe- servarão os limites traçados nas respectivas delegações182.
cução;
V – vetar projetos de lei, total ou parcialmente180; Atribuições do Vice‑Presidente da República
VI – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração fede- As funções do Vice‑Presidente, de acordo com Alexan-
ral, quando não implicar aumento de despesa nem criação dre de Moraes, podem ser classificadas em próprias ou
ou extinção de órgãos públicos; impróprias. Funções próprias: substituição e sucessão do
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; Presidente da República, participação no Conselho da Repú-
VII – manter relações com Estados estrangeiros e acre- blica, participação no Conselho de Defesa Nacional. Funções
ditar seus representantes diplomáticos; impróprias: auxílio ao Presidente em caso de convocação
VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, para missões especiais.
sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
Noções de Direito Constitucional

IX – decretar o estado de defesa e o estado de sítio; TÍTULO IV


X – decretar e executar a intervenção federal; Da Organização dos Poderes
XI – remeter mensagem e plano de governo ao Congresso .............................................................................................
Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, ex- CAPÍTULO II
pondo a situação do País e solicitando as providências que Do Poder Executivo
julgar necessárias; .............................................................................................
XII – conceder indulto e comutar penas, com audiência, Seção I
se necessário, dos órgãos instituídos em lei; Do Presidente e do Vice-Presidente da República
XIII – exercer o comando supremo das Forças Armadas, .............................................................................................
nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Ae- Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimen-
ronáutica, promover seus oficiais‑generais e nomeá‑los para to, e suceder‑lhe‑á, no de vaga, o Vice‑Presidente.
os cargos que lhes são privativos; FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/Área Administrati-
181

va/2010.
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Ancine/Técnico Administrati-
182

Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Adminis-


180
vo/2012 e FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/Área
trativa/2013. Administrativa/2010.

75
Parágrafo único. O Vice‑Presidente da República, além de julgado, este terá direito de ser restituído ao cargo. Não se
outras atribuições que lhe forem conferidas por lei comple- trata de sanção preliminar, mas apenas de medida cautelar
mentar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado no sentido de evitar que o Presidente da República utilize‑se
para missões especiais. de expedientes que venham a tumultuar o andamento do
processo de impeachment.
Responsabilidade do Presidente da República A segunda fase é realizada pelo Senado Fe­deral, que
atuará como uma função julgadora. Serão convocados vários
A Constituição brasileira não faz referência expressa ao parlamentares, dos mais diversos partidos, que participarão
vocábulo impeachment, de origem inglesa, com tradução de do preparatório para julgamento pelo Plenário do Senado.
“impedimento”, expressão também não utilizada no sentido A preparação constitui-se na oportunidade conferida ao Pre-
aqui designado, preferindo chamar de “responsabilidade”. sidente da República para se defender (contraditório e ampla
A responsabilidade do Presidente da República ocorre defesa). O Presidente do Supremo Tribunal Federal é quem
com sua destituição do mandato, por ter praticado crime presidirá o julgamento pelo Senado Federal, com a função
de responsabilidade ou crime tipificado em lei penal. Em de assegurar a aplicação do contraditório, ampla defesa e
curtas palavras, trata‑se da perda do cargo do Chefe do devido processo legal no julgamento, o que não significa que
Poder Executivo. o Presidente do Supremo Tribunal Federal votará.
Os crimes de responsabilidade são as infrações praticadas Se o Senado julgar procedente, ou seja, pela condenação,
contra a Constituição (de forma geral, os crimes previstos o Presidente do Supremo Tribunal Federal fará a proclamação
no art. 85), enquanto que a Lei nº 1.079/1950 estabelece do resultado do julgamento (também se exige um quorum
situações mais específicas (tipos penais). Por sua vez, a res- de 2/3).
ponsabilidade do Presidente da República pelos crimes O Presidente da República, na vigência de seu mandato,
tipificados em lei penal é, simplesmente, a prática de crimes não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercí-
comuns definidos no âmbito do direito penal (código penal cio de suas funções. É uma responsabilidade relativa, porque
+ legislação específica). só exclui os atos estranhos ao exercício de suas funções.
A doutrina debate se a natureza jurídica do impeachment A sanção nos crimes de responsabilidade corresponda:
é penal ou política. A maioria dos autores sustenta que se a) perda do cargo; e b) inabilitação por oito anos para o
trata de natureza política, isso porque o processo de perda do exercício de função pública.
cargo do Presidente da República somente pode ser realizado Caso venha o Presidente da República a renunciar a
após a aceitação pela Câmara dos Deputados, responsável seu mandato no cargo quando já instaurada a sessão de
pelo juízo de admissibilidade. julgamento, isso não acarretará a extinção do processo de
impeachment. É uma forma de evitar que o Presidente venha
Procedimento nos Crimes de Responsabilidade a burlar a condenação de inabilitação por oito anos para o
A Lei nº 1.079/1950 estabelece o procedimento nos exercício da função pública. Esse foi o entendimento profe-
crimes de responsabilidade, o qual se divide em duas fases: rido pelo Supremo Tribunal Federal no caso do ex‑presidente
acusação e julgamento. A primeira fase é feita pela Câmara Fernando Collor de Mello.
dos Deputados, enquanto a segunda é realizada pelo Senado.
O processo na Câmara dos Deputados se inicia a partir de Procedimento nos Crimes Comuns
notitia criminis (notícia do crime) por parte de um cidadão. Da mesma forma que nos crimes de responsabilidade,
Assim, é permitido a qualquer cidadão denunciar o Presi- a Câmara dos Deputados deliberará acerca do juízo de admis-
dente da República ou Ministro de Estado por crime de res- sibilidade do Presidente da República, e posteriormente, em
ponsabilidade perante a Câmara dos Deputados. Quando a caso positivo, será enviada a acusação ao Supremo Tribunal
legislação menciona “cidadão”, significa que os estrangeiros, Federal, o qual julgará o caso. Nos crimes comuns, o Supremo
os que não podem votar e aqueles que tiverem, por qualquer Tribunal Federal é o responsável pelo julgamento.
motivo, com seus direitos políticos perdidos ou suspensos
não podem apresentar a imputação penal. Percebe‑se que os
partidos políticos ou pessoas jurídicas não podem apresentar
Dispositivos Constitucionais
notitia criminis, no intuito de se evitar denúncias arbitrárias
e abusivas, com mero interesse eleitoreiro. TÍTULO IV
A Câmara dos Deputados irá receber a acusação pelo Da Organização dos Poderes
Presidente da Casa, que submeterá a uma comissão escolhida .............................................................................................
para discussão e votação, no sentido de decidir se é caso de CAPÍTULO II
Noções de Direito Constitucional

levar a Plenário ou não o juízo de admissibilidade (decidirá se a Do Poder Executivo


acusação irá a julgamento pelo Senado). Ou seja, se o parecer .............................................................................................
for negativo, será arquivada a notícia criminal, caso contrário, Seção III
submete‑se ao Plenário a acusa­ção. É importante destacar Da Responsabilidade do Presidente da República
que essa votação é aberta, sem possibilidade de voto secreto.
A regra geral na Constituição é a transparência das votações no Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do
Parlamento, resguardando‑se a publicidade dos atos públicos, Presidente da República que atentem contra a Constituição
sendo exceção a previsão de voto secreto somente nos casos Federal e, especialmente, contra:
expressamente definidos no texto constitucional. I – a existência da União;
Após esse período (primeira fase), sendo o caso de II – o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judi-
deliberação para se dar continuidade ao julgamento do ciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais
Presidente da República pelo Senado Federal (é necessário das unidades da Federação;
obter 2/3 dos votos), fica o Presidente afastado de suas fun- III – o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
ções, por no máximo 180 dias. Em caso de não conclusão do IV – a segurança interna do País;

76
V – a probidade na administração; Art. 16. A denúncia assinada pelo denunciante e com a
VI – a lei orçamentária; firma reconhecida, deve ser acompanhada dos documentos
VII – o cumprimento das leis e das decisões judiciais. que a comprovem, ou da declaração de impossibilidade de
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei espe- apresentá‑los, com a indicação do local onde possam ser
cial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento. encontrados, nos crimes de que haja prova testemunhal,
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da a denúncia deverá conter o rol das testemunhas, em número
República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será de cinco no mínimo.
ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal
Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Prerrogativas do Presidente da República
Federal, nos crimes de responsabilidade.
§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções: As prerrogativas do Presidente da República não cons-
I – nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia tituem privilégios, mas uma forma jurídica de se alcançar
ou queixa‑crime pelo Supremo Tribunal Federal; um grau maior de estabilidade ao mais alto cargo do Poder
II – nos crimes de responsabilidade, após a instauração Executivo.
do processo pelo Senado Federal.
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, Dispositivos Constitucionais
o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento TÍTULO IV
do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do Da Organização dos Poderes
processo. .............................................................................................
§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, CAPÍTULO II
nas infrações comuns, o Presidente da República não estará Do Poder Executivo
sujeito a prisão. .............................................................................................
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu man- Seção III
dato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao Da Responsabilidade do Presidente da República
exercício de suas funções. .............................................................................................
Art. 86. [...]
Dispositivos da Lei nº 1.079/1950 § 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória,
nas infrações comuns, o Presidente da República não estará
Art. 1º São crimes de responsabilidade os que esta lei sujeito a prisão.
especifica. § 4º O Presidente da República, na vigência de seu man-
Art. 2º Os crimes definidos nesta lei, ainda quando dato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao
simplesmente tentados, são passíveis da pena de perda do exercício de suas funções.
cargo, com inabilitação, até cinco anos, para o exercício de .............................................................................................
qualquer função pública, imposta pelo Senado Federal nos CAPÍTULO III
processos contra o Presidente da República ou Ministros de Do Poder Judiciário
Estado, contra os Ministros do Supremo Tribunal Federal ou .............................................................................................
contra o Procurador Geral da República. Seção II
Art. 3º A imposição da pena referida no artigo anterior Do Supremo Tribunal Federal
não exclui o processo e julgamento do acusado por crime .............................................................................................
comum, na justiça ordinária, nos termos das leis de processo
penal. Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, preci-
Art. 4º São crimes de responsabilidade os atos do Pre- puamente, a guarda da Constituição, cabendo‑lhe:
sidente da República que atentarem contra a Constituição I – processar e julgar, originariamente:
Federal, e, especialmente, contra: [...]
I – A existência da União: b) nas infrações penais comuns, o Presidente da Repúbli-
II – O livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judi- ca, o Vice‑Presidente, os membros do Congresso Nacional,
ciário e dos poderes constitucionais dos Estados; seus próprios Ministros e o Procurador‑Geral da República;
III – O exercício dos direitos políticos, individuais e sociais:
IV – A segurança interna do país: As prerrogativas elencadas na Constituição ao Presidente
V – A probidade na administração; da República não se estendem aos governadores dos esta-
Noções de Direito Constitucional

VI – A lei orçamentária; dos e do Distrito Federal, pois, segundo a jurisprudência do


VII – A guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos; Supremo Tribunal Federal, foram conferidas ao Presidente
VIII – O cumprimento das decisões judiciárias (Consti- da República como chefe de Estado e não como chefe de
tuição, art. 89). governo.
[...] A única ressalva, feita pelo Supremo Tribunal Federal,
Art. 14. É permitido a qualquer cidadão denunciar o é quanto à imunidade formal, em que, para que possa ser
Presidente da República ou Ministro de Estado, por crime processado o Governador por crimes cometidos durante o
de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados183. exercício do mandato, deve haver licença prévia da Assem-
Art. 15. A denúncia só poderá ser recebida enquanto o bleia Legislativa (votos de 2/3), e desde que tenha previsão
denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado defini- expressa nesse sentido na Constituição Estadual.
tivamente o cargo. Nos crimes comuns, enquanto o Presidente da República
é julgado pelo Supremo Tribunal Federal, os governadores de
Assunto cobrado na prova do Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/
183 estado e do Distrito Federal são julgados perante o Superior
Técnico em Radiologia/2012. Tribunal de Justiça.

77
Dispositivos Constitucionais III – apresentar ao Presidente da República relatório
anual de sua gestão no Ministério;
TÍTULO IV IV – praticar os atos pertinentes às atribuições que
Da Organização dos Poderes lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da
............................................................................................. República.
CAPÍTULO III Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Mi-
Do Poder Judiciário nistérios e órgãos da administração pública.
.............................................................................................
Seção III É importante destacar uma função em especial: a de
Do Superior Tribunal De Justiça “referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da
............................................................................................. República” na faculdade de regulamentar lei, conferindo fiel
execução à lei. Isso significa que os decretos editados pelo
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: Presidente da República devem vir acompanhados do refe-
I – processar e julgar, originariamente: rendo do Ministro da respectiva Pasta Ministerial pertinente
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados à matéria tratada. Como exemplo o Decreto nº 6.445/2008
e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, (dispõe sobre os efetivos do pessoal Militar do Exército, em
os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados serviço ativo, a vigorar em 2008), em que assinam o Presi-
e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dente da República Luiz Inácio Lula da Silva e o Ministro de
dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Estado Nelson Jobim.
Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, Os Ministros de Estado também podem cometer crimes
os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos de responsabilidade e crimes comuns, ambos julgados pelo
Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem Supremo Tribunal Federal, salvo os crimes de responsabilida-
perante tribunais; de conexos aos cometidos pelo Presidente e Vice‑Presidente
da República, os quais serão julgados pelo Senado Federal.
Os governadores dos estados e do Distrito Fe­deral, em
regra, nos crimes de responsabilidade, são julgados pela Dispositivos Constitucionais
respectiva Assembleia Legislativa, ou mesmo por um Tribunal
Especial, mas sempre havendo licença prévia da Assembleia
TÍTULO IV
Legislativa. Esse Tribunal Especial ou o julgamento pela
Da Organização dos Poderes
própria Assembleia Legislativa deve estar previsto expres-
samente na Constituição do Estado.
CAPÍTULO I
Do Poder Legislativo
Ministros de Estado
.............................................................................................
Seção II
Os Ministros de Estado são auxiliares do Presidente
Das Atribuições do Congresso Nacional
da República na função de governar184. São nomeados de
.............................................................................................
acordo com a livre vontade do Presidente da República (car-
go de livre nomeação e exoneração). São requisitos para o
Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Fe­deral,
exercício do cargo de Ministro de Estado ser brasileiro, maior
ou qualquer de suas Comissões, poderão convocar Ministro
de vinte e um anos e em pleno gozo dos direitos políticos.
de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente
As atribuições dos Ministros de Estado estão destacadas em
negrito nos incisos do art. 87, logo abaixo. subordinados à Presidência da República para prestarem,
pessoalmente, informações sobre assunto previamente de-
TÍTULO IV terminado, importando crime de responsabilidade a ausência
Da Organização dos Poderes sem justificação adequada.
............................................................................................. .............................................................................................
CAPÍTULO II Seção III
Do Poder Executivo Da Câmara dos Deputados
.............................................................................................
Seção IV Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Depu-
tados:
Noções de Direito Constitucional

Dos Ministros de Estado


I – autorizar, por dois terços de seus membros, a instau-
Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre ração de processo contra o Presidente e o Vice‑Presidente
brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos da República e os Ministros de Estado;
direitos políticos. .............................................................................................
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de Seção IV
outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei: Do Senado Federal
I – exercer a orientação, coordenação e supervisão dos
órgãos e entidades da administração federal na área de sua Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
competência e referendar os atos e decretos assinados pelo I – processar e julgar o Presidente e o Vice‑Presidente
Presidente da República; da República nos crimes de responsabilidade, bem como
II – expedir instruções para a execução das leis, decretos os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do
e regulamentos; Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza
conexos com aqueles;
184
Assunto cobrado na prova da Cesgranrio/Bacen/Técnico/2010.
.............................................................................................

78
CAPÍTULO III III – o Presidente do Senado Federal;
Do Poder Judiciário IV – os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos
............................................................................................. Deputados;
Seção II V – os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
Do Supremo Tribunal Federal VI – o Ministro da Justiça;
............................................................................................. VII – seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, preci- cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente
puamente, a guarda da Constituição, cabendo‑lhe: da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos
I – processar e julgar, originariamente: pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três
[...] anos, vedada a recondução.
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de respon- Art. 90. Compete ao Conselho da República pronun-
sabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da ciar‑se sobre:
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto I – intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio;
no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tri- II – as questões relevantes para a estabilidade das insti-
bunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática tuições democráticas.
de caráter permanente; § 1º O Presidente da República poderá convocar Ministro de
Estado para participar da reunião do Conselho, quando constar
Conselho da República e Conselho de Defesa Nacional da pauta questão relacionada com o respectivo Ministério.
§ 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do
O Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional Conselho da República.
têm a função de assessorar o Presidente da República na
tomada de decisões estratégicas, consideradas essenciais O Conselho de Defesa Nacional tem a função principal de
para o País. O Presidente da República é quem presidirá resguardar a soberania nacional e deliberar sobre questões
as reuniões do Conselho, tendo os pareceres emitidos por vinculadas a esse tema.
esses órgãos caráter meramente opinativo, não vinculando Participam do Conselho de Defesa Nacional:
o Presidente da República. • o Vice‑Presidente da República;
Participam do Conselho da República: • o Presidente da Câmara dos Deputados;
• o Vice‑Presidente da República; • o Presidente do Senado Federal;
• o Presidente da Câmara dos Deputados; • o Ministro da Justiça;
• o Presidente do Senado Federal; • o Ministro de Estado da Defesa;
• os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos • o Ministro das Relações Exteriores;
Deputados; • o Ministro do Planejamento;
• os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal; • os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aero-
• o Ministro da Justiça; náutica.
• seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e
São atribuições do Conselho de Defesa Nacional:
cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente
• opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de
da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos
celebração da paz, nos termos desta Constituição;
pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três
• opinar sobre a decretação do estado de defesa, do
anos, vedada a recondução.
estado de sítio e da intervenção federal;
• propor os critérios e condições de utilização de áreas
A competência do Conselho da República cinge‑se no
indispensáveis à segurança do território nacional e opinar
pronunciamento sobre: sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira
• intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio; e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos
• as questões relevantes para a estabilidade das institui- recursos naturais de qualquer tipo;
ções democráticas. • estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de
iniciativas necessárias para garantir a independência nacional
Dispositivos Constitucionais e a defesa do Estado democrático.

TÍTULO IV Dispositivos Constitucionais


Da Organização dos Poderes
............................................................................................. TÍTULO IV
Noções de Direito Constitucional

CAPÍTULO II Da Organização dos Poderes


Do Poder Executivo .............................................................................................
............................................................................................. CAPÍTULO II
Seção V Do Poder Executivo
Do Conselho da República e do .............................................................................................
Conselho de Defesa Nacional Seção V
Do Conselho da República e do
Subseção I Conselho de Defesa Nacional
Do Conselho da República .............................................................................................
Subseção II
Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de Do Conselho de Defesa Nacional
consulta do Presidente da República, e dele participam:
I – o Vice‑Presidente da República; Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional é órgão de con-
II – o Presidente da Câmara dos Deputados; sulta do Presidente da República nos assuntos relacionados

79
com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, iminente instabilidade institucional ou atingidas por cala-
e dele participam como membros natos: midades de grandes proporções na natureza.
I – o Vice‑Presidente da República; O decreto presidencial deverá definir: I) duração da medida;
II – o Presidente da Câmara dos Deputados; II) áreas abrangidas; III) medidas coercitivas que devem vigorar.
III – o Presidente do Senado Federal; Após a decretação do estado de defesa, o ato será sub-
IV – o Ministro da Justiça; metido com a respectiva justificação, dentro de 24 horas,
V – o Ministro de Estado da Defesa; ao Congresso Nacional, que decidirá, por maioria absoluta,
VI – o Ministro das Relações Exteriores; dentro do prazo de dez dias contados do recebimento do
VII – o Ministro do Planejamento. ato. Caso o Congresso Nacional rejeite o decreto, cessará
VIII – os Comandantes da Marinha, do Exército e da imediatamente o estado de defesa.
Aeronáutica. A medida terá duração não superior a trinta dias, po-
§ 1º Compete ao Conselho de Defesa Nacional: dendo ser prorrogada apenas uma vez, por igual período.
I – opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de Poderão ser adotadas as seguintes medidas:
celebração da paz, nos termos desta Constituição; • Restrição aos direitos de:
II – opinar sobre a decretação do estado de defesa, do – reunião (ainda que exercida no seio das associações);
estado de sítio e da intervenção federal; – sigilo das comunicações (correspondência, comunica-
III – propor os critérios e condições de utilização de áreas ção telegráfica e telefônica).
indispensáveis à segurança do território nacional e opinar • Ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos,
sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira na hipótese de calamidade pública. Nessa hipótese, a União
e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos será responsável pelos danos e custos decorrentes185.
recursos naturais de qualquer tipo; Durante a vigência do estado de defesa, será possível
IV – estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de a prisão por crime contra o Estado, que será determinada
iniciativas necessárias a garantir a independência nacional e pelo executor da medida.
a defesa do Estado democrático. Nessa hipótese de prisão, o juiz competente deve ser
§ 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do imediatamente comunicado, podendo relaxar a prisão se
Conselho de Defesa Nacional. ilegal. A comunicação da prisão será acompanhada de decla-
ração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido
Observação: em relação ao estado de sítio, ao estado de no momento de sua autuação.
defesa e à intervenção federal deve haver parecer tanto Faculta-se ao preso o requerimento de exame de corpo
do Conselho da República como do Conselho de Defesa de delito à autoridade policial. Ao preso também há a prer-
Nacional. Isso porque aquele analisará sob o ângulo da rogativa de não ficar incomunicável, bem como a de não
defesa das instituições democráticas, enquanto esse últi- ficar preso ou detido por prazo superior a dez dias, exceto
mo fará sua observação sob o enfoque da preservação da quando houver decisão judicial.
soberania nacional.
Estado de Sítio
O estado de sítio, que configura medida mais gravosa,
DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES será decretado nas seguintes hipóteses:
DEMOCRÁTICAS • comoção grave de repercussão nacional;
• ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de
No título ora tratado, a Constituição do Brasil institui um medida tomada durante o estado de defesa;
verdadeiro sistema constitucional das crises, composto pelas • declaração de estado de guerra ou resposta à agressão
situações de estado de exceção (Estado de Defesa e Estado armada estrangeira.
de Sítio), bem como pela possibilidade de intervenção das Sua decretação também será feita pelo Presidente da
Forças Armadas e do sistema de Segurança Pública. República. Nesse caso, porém, devido à relevância da me-
dida, deverá ser solicitada autorização prévia do Congresso
O Estado de Defesa e o Estado de Sítio
Nacional, relatando os motivos para a decretação ou a sua
O estado de defesa e o estado de sítio são medidas que prorrogação. Nesse caso, a autorização será concedida ape-
podem ser tomadas visando à superação de uma situação nas se aprovada por maioria absoluta.
excepcional que esteja prejudicando o País. Como sabemos, O decreto presidencial indicará:
os direitos e garantias individuais findam por enfraquecer • duração da medida;
o Estado, já que coloca freios em sua atuação. Quando há • normas necessárias a sua execução;
uma situação excepcional em que é necessário um Estado • garantias constitucionais que ficarão suspensas.
Noções de Direito Constitucional

fortalecido, como na hipótese de guerra, mostra-se essencial


impor limitações a liberdades e direitos individuais e cole- Depois de publicado, o Presidente da República designará
tivos, de modo a possibilitar o restabelecimento da ordem o executor das medidas específicas e as áreas abrangidas.
sob o ponto de vista interno ou internacional. Nesse caso, A duração do estado de sítio será de até trinta dias,
a legalidade normal dá espaço a uma legalidade extraordi- podendo ser prorrogável, cada vez, por prazo não superior
nária, que possibilita a adoção de medidas inimagináveis em a esse período. No caso de declaração de estado de guerra
uma situação ordinária. ou resposta à agressão armada estrangeira, o estado de sítio
Vejamos quais são as hipóteses de cabimento dessas será decretado por todo o tempo que perdurar a situação
medidas e suas consequências. motivadora.
No caso de estado de sítio decretado por comoção gra-
Estado de Defesa ve ou ineficácia do estado de defesa, somente podem ser
tomadas as seguintes medidas:
O estado de defesa será decretado para preservar ou
prontamente restabelecer, em locais restritos e determina- Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci-
185

dos, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e vil/2012.

80
• obrigação de permanência em localidade determinada; dante, nomeados pelo Presidente da República, e, embora
• detenção em edifício não destinado a acusados ou sem a denominação, possuem o status de Ministros de Estado.
condenados por crimes comuns; Os membros das Forças Armadas são considerados
• restrições relativas à inviolabilidade da correspondên- servidores públicos, mas com a particularidade de sua
cia, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações militarização, que traz algumas diferenças em relação aos
e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma servidores públicos civis.
da lei. Essas restrições não se aplicam, porém, à  difusão As Forças Armadas podem ser divididas como:
de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Forças Armadas externas: atuam de forma a garantir a
Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa; soberania nacional contra ameaças e investidas estrangeiras.
• suspensão da liberdade de reunião; Forças Armadas internas: atuam para garantir a pre-
• busca e apreensão em domicílio; servação da lei e da ordem, mas só podem agir quando
• intervenção nas empresas de serviços públicos; houver requisição de qualquer dos poderes estabelecidos.
• requisição de bens. Essa requisição é uma inovação da Constituição Federal de
Na listagem acima foram destacadas aquelas medidas 1988 como forma de se evitar a tentativa de implantação de
que possuem identidade ou semelhança com as também qualquer forma de regime militar no País.
adotadas no estado de defesa. Apenas os chefes dos três Poderes de âmbito federal
podem solicitar a intervenção das Forças Armadas na ma-
Disposições Gerais nutenção da lei e da ordem, ou seja, o Presidente da Repú-
blica, o Presidente do Congresso Nacional e o Presidente do
Em ambos os casos que acabamos de tratar, o Conselho Supremo Tribunal Federal.
da República e o Conselho de Defesa Nacional deverão ser A organização das Forças Armadas é marcada pelo tra-
ouvidos previamente. ço rígido de hierarquia e disciplina, em que os superiores
No caso de decretação de estado de defesa ou pedido exercem uma ascendência direta sobre seus subordinados.
de decretação de estado de sítio, se o Congresso estiver de Em caso de descumprimento de uma ordem superior, o su-
recesso, será obrigado a se reunir extraordinariamente em bordinado estará sujeito a uma punição, geralmente ríspida.
cinco dias. Durante a vigência do estado de defesa ou das É para manter a hierarquia que não cabe habeas corpus pela
medidas coercitivas do estado de sítio, o Congresso Nacional aplicação de punições disciplinares, salvo se for dada por
deve permanecer em funcionamento. autoridade incompetente.
Ouvidos os líderes partidários, a  Mesa do Congresso Essa hierarquia se dá pelo escalonamento hierárquico
Nacional designará comissão composta de cinco de seus de patentes privativas que existem nas Forças Armadas,
membros para acompanhar e fiscalizar a execução das me- outorgadas pelo Presidente da República.
didas referentes ao estado de defesa e ao estado de sítio. Por ter essa estrutura peculiar, o  militar não pode se
Compete ao Poder Judiciário realizar o controle sobre sindicalizar, fazer greve ou se filiar a partido político enquan-
os atos praticados durante tais medidas, de forma a evitar to estiver no serviço ativo, o que afasta a manipulação de
abusos. Não compete ao Judiciário, porém, em respeito à votos. A filiação a partido político somente pode ser feita na
condição de agregado ou por militares na reserva.
separação dos Poderes, estabelecer juízo quanto à oportuni-
O serviço militar é obrigatório aos dezoito anos. É impres-
dade e à conveniência no tocante aos motivos da decretação
cindível comprovar o alistamento para exercer função pública.
do estado de defesa ou do estado de sítio.
Compete às Forças Armadas atribuir serviço alternativo,
Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, cessarão
em tempo de paz, para aqueles que, alegando escusa de
também seus efeitos, hipótese em que as medidas aplicadas
consciência, se recusarem a prestar serviço de caráter es-
em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da Repúbli-
sencialmente militar. Em caso de guerra declarada, a escusa
ca, em mensagem ao Congresso Nacional, com especifica- de consciência não pode ser invocada.
ção e justificação das providências adotadas, com relação As mulheres e aqueles que se dedicam a atividades
nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas. religiosas não precisam prestar o serviço militar, salvo em
Ainda que cessado o estado de defesa ou o estado de caso de guerra ou estado de exceção da legalidade, quando
sítio, será possível a responsabilização dos executores ou a lei poderá atribuir outros encargos, de acordo com suas
agentes pelos ilícitos cometidos durante a medida. aptidões e no interesse da mobilização.
Forças Armadas Dispositivos Constitucionais
As Forças Armadas são constituídas pela Marinha, Exér-
TÍTULO V
cito e Aeronáutica. Constituem um contigente de homens
DA DEFESA DO ESTADO E
Noções de Direito Constitucional

que têm como prerrogativa precípua a defesa da nação. DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
É organizada de forma permanente e regular, cabendo à lei
complementar a sua estruturação. CAPÍTULO I
A principal função das Forças Armadas é garantir a so- Do Estado de Defesa e Do Estado de Sítio
berania nacional.
O Presidente da República é o comandante supremo das Seção I
Forças Armadas, destinando-as à defesa da pátria, à garantia Do Estado de Defesa
dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer
desses, da lei e da ordem. Art. 136. O  Presidente da República pode, ouvidos o
As três armas (Marinha, Exército e Aeronáutica) têm Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,
relativa autonomia, obedecendo às diretrizes formuladas decretar estado de defesa para preservar ou prontamente
pelo Ministro da Defesa. restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem
O Ministério da Defesa deve ser ocupado privativamente pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente
por brasileiros natos, com a responsabilidade de gerir as Forças instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de
Armadas. Os chefes dessas forças ocupam cargos de coman- grandes proporções na natureza.

81
§ 1º O decreto que instituir o estado de defesa determi- do Federal, de imediato, convocará extraordinariamente o
nará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim
abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas de apreciar o ato.
coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes: § 3º O Congresso Nacional permanecerá em funciona-
I – restrições aos direitos de: mento até o término das medidas coercitivas.
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações; Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com
b) sigilo de correspondência; fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; as pessoas as seguintes medidas:
II – ocupação e uso temporário de bens e serviços pú- I – obrigação de permanência em localidade determinada;
blicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a II – detenção em edifício não destinado a acusados ou
União pelos danos e custos decorrentes. condenados por crimes comuns;
§ 2º O tempo de duração do estado de defesa não será III – restrições relativas à inviolabilidade da correspondência,
superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à
por igual período, se persistirem as razões que justificaram liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;
a sua decretação. IV – suspensão da liberdade de reunião;
§ 3º Na vigência do estado de defesa: V – busca e apreensão em domicílio;
I – a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo VI – intervenção nas empresas de serviços públicos;
executor da medida, será por este comunicada imediatamente VII – requisição de bens.
ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a di-
preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial; fusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas
II – a comunicação será acompanhada de declaração, pela Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.
autoridade, do estado físico e mental do detido no momento
de sua autuação; Seção III
III – a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá Disposições Gerais
ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder
Judiciário; Art. 140. A  Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os
IV – é vedada a incomunicabilidade do preso. líderes partidários, designará Comissão composta de cinco de
§ 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das
o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas,
medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de sítio.
submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso
Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio,
Nacional, que decidirá por maioria absoluta.
cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabili-
§ 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será
dade pelos ilícitos cometidos por seus executores ou agentes.
convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias.
Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o
§ 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de
dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão
funcionando enquanto vigorar o estado de defesa. relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao
§ 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado Congresso Nacional, com especificação e justificação das
de defesa. providências adotadas, com relação nominal dos atingidos
e indicação das restrições aplicadas.
Seção II
Do Estado de Sítio CAPÍTULO II
Das Forças Armadas
Art. 137. O  Presidente da República pode, ouvidos o
Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha,
solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
estado de sítio nos casos de: permanentes e regulares, organizadas com base na hierar-
I – comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência quia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente
de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos
durante o estado de defesa; poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes,
II – declaração de estado de guerra ou resposta a agressão da lei e da ordem.
armada estrangeira. § 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar serem adotadas na organização, no preparo e no emprego
Noções de Direito Constitucional

autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorroga- das Forças Armadas.
ção, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo § 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições
o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta. disciplinares militares.
Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua du- § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados
ração, as normas necessárias a sua execução e as garantias militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixa-
constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publi- das em lei, as seguintes disposições:
cado, o Presidente da República designará o exe­cutor das I – as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a
medidas específicas e as áreas abrangidas. elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da República
§ 1º O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva
ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos
cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser militares e, juntamente com os demais membros, o uso dos
decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a uniformes das Forças Armadas;
agressão armada estrangeira. II – o militar em atividade que tomar posse em cargo ou
§  2º Solicitada autorização para decretar o estado de emprego público civil permanente, ressalvada a hipótese
sítio durante o recesso parlamentar, o Presidente do Sena- prevista no art. 37, inciso XVI, alínea c, será transferido para a

82
reserva, nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda praticados, no sentido de embasar uma futura ação penal, se for
Constitucional nº 77/2014) o caso. É importante dizer que o termo Judiciária aqui empre-
III – o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar gado não significa propriamente que a Polícia exerce função
posse em cargo, emprego ou função pública civil temporária, judiciária, exclusiva do Poder Judiciário (Polícia judiciária).
não eletiva, ainda que da administração indireta, ressalvada
a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea c, ficará Órgãos da Segurança Pública
agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto I – Polícia Federal;
permanecer nessa situação, ser promovido por antiguidade, II – Polícia Rodoviária Federal;
contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela III – Polícia Ferroviária Federal;
promoção e transferência para a reserva, sendo depois de IV – Polícias Civis;
dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para V – Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares.
a reserva, nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 77/2014) Esfera de Segurança Pública
IV – ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; • nível federal: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal
V – o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar e Polícia Ferroviária Federal;
filiado a partidos políticos; • nível estadual: Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de
VI – o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado Bombeiros;
indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão • nível municipal: Guarda Municipal.
de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz,
ou de tribunal especial, em tempo de guerra; Polícia Federal: é organizada em carreira e tem natureza
VII – o oficial condenado na justiça comum ou militar a de polícia preventiva e repressiva. A Polícia Federal tem como
pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sen- atribuição evitar a prática de ilícitos penais, apurar as infrações
tença transitada em julgado, será submetido ao julgamento penais praticadas, especialmente, contra bens, serviços e inte-
previsto no inciso anterior; resses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
VIII – aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos públicas, assim como os crimes de repercussão interestadual,
VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, internacional ou que exigem repressão uniforme. A polícia
XIV e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da judiciária no âmbito federal é de sua exclusividade. Incluem-
atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea c; (Redação -se, portanto, nessas atribuições, prevenir e reprimir o tráfico
dada pela Emenda Constitucional nº 77/2014) de entorpecentes e drogas afins, o contrabando; policiar os
X – a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, aeroportos, mares e as fronteiras do País, entre outras.
os  limites de idade, a  estabilidade e outras condições de Polícia Rodoviária Federal: tem a função de patrulhar
transferência do militar para a inatividade, os direitos, os de- as rodovias federais, tanto para evitar acidentes como para
veres, a remuneração, as prerrogativas e outras si­tuações impedir a prática de crimes.
especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de Polícia Ferroviária Federal: tem a função de patrulhar
suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de as ferrovias federais.
compromissos internacionais e de guerra. Polícia Civil: é o exercício da Polícia Judiciária, ou seja,
Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. apuração de infrações cometidas, exceto as infrações mili-
§ 1º às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir tares e aquelas reservadas à Polícia Federal.
serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, Polícia Militar: tem a função de repressão, ou seja, im-
alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como pedir a prática de infrações.
tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosó- Corpo de Bombeiros: tem a função de executar ativida-
fica ou política, para se eximirem de atividades de caráter des de defesa civil, especialmente o combate a incêndios
essencialmente militar. e acidentes186.
§ 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do ser- * As Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares
viço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, são forças auxiliares e reserva do Exército, podendo atuar
externamente em caso de guerra declarada.
a outros encargos que a lei lhes atribuir.
Guarda Municipal: os Municípios poderão constituir
Guardas Municipais destinadas à proteção de seus bens,
SEGURANÇA PÚBLICA serviços e instalações. É importante dizer que muitos mu-
Busca garantir a todos os cidadãos a proteção de seus di- nicípios têm se utilizado da Guarda Municipal como polícia
reitos, individuais e sociais, proporcionando um convívio social repressiva. Contudo, tal atividade não se reveste de emba-
mais harmônico. É dever do Estado manter uma segurança samento constitucional.
Noções de Direito Constitucional

pública, assim como é direito e responsabilidade de todos os * A remuneração dos servidores policiais será feita por
cidadãos manter a ordem pública e a salvaguarda das pessoas subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de
e do patrimônio. Isso significa que as pessoas não são obrigadas qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
a manter a segurança pública, sob pena de regresso à vingança representação ou outra espécie remuneratória.
privada, mas revela que é imprescindível a participação dos A EC nº 82/2014 inseriu no capítulo da Segurança Pública
cidadãos no cumprimento das leis e no respeito ao próximo, previsão expressa acerca da segurança viária, exercido por
fomentando a consciência de cidadania na sociedade. órgãos ou entidades executivos e agentes de trânsito no
A segurança pública brasileira pode ser preventiva, de na- âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Tais
tureza administrativa, ou judiciária, de natureza repressiva. carreiras, estruturadas em Carreira, são responsáveis pela
• Preventiva: é aquela que atua no sentido de evitar a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
prática de condutas delituosas. Função administrativa de e do seu patrimônio nas vias públicas, por meio de políticas
manter a tranquilidade pública, evitando a prática de ilícitos que envolvam educação, engenharia e fiscalização de trânsito.
(Polícia administrativa).
• Judiciária: é aquela que visa descobrir a autoria de in- Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
186

frações criminais já praticadas. Função de investigar os delitos Nacional de Defesa Civil/2012.

83
Dispositivos Constitucionais § 10. A segurança viária, exercida para a preservação
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu
TÍTULO V patrimônio nas vias públicas:
Da Defesa do Estado e Das I – compreende a educação, engenharia e fiscalização de
Instituições Democráticas trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que asse-
............................................................................................. gurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
CAPÍTULO III II – compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal
Da Segurança Pública e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades exe-
cutivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira,
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito na forma da lei. (Parágrafo e incisos acrescidos pela Emenda
e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação Constitucional nº 82, de 16/7/2014)
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do pa- ...................................................................................................
trimônio, através dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal; EXERCÍCIOS
III – polícia ferroviária federal;
IV – polícias civis; 1. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) Os direitos
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. fundamentais exercem múltiplas funções na ordem
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão per- jurídica, que se justificam pelo contexto histórico em
manente, organizado e mantido pela União e estruturado que foram gerados, como pela compreensão da dupla
em carreira, destina-se a: perspectiva subjetiva-objetiva desses direitos. Nessa
I – apurar infrações penais contra a ordem política e perspectiva, verifica-se que a função de
social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da a) prestação, tributária do pensamento liberal, cor-
União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, responde ao direito a prestação de tutela contra as
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão inserções na esfera individual.
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, b) defesa, originária da matriz social, corresponde ao
segundo se dispuser em lei; direito de defesa contra ações lesivas à isonomia na
II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e
distribuição dos bens jurídicos.
drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da
c) prestação, tributária do pensamento social, corres-
ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas
áreas de competência; ponde ao direito à igualdade formal na prestação da
III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária tutela jurisdicional.
e de fronteiras; d) defesa, originária na matriz liberal-burguesa, corres-
IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia ponde ao direito ao não impedimento às ações do
judiciária da União187. titular do direito fundamental.
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente,
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, 2. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) No modelo
destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das brasileiro, a repartição de competências, enquanto pro-
rodovias federais188. cesso de distribuição constitucional de poderes entre
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, as entidades federadas, é definida constitucionalmente
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, pela enumeração
destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das a) dos poderes da União, ficando os poderes remanes-
ferrovias federais. centes para estados federados e municípios.
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia b) dos poderes dos estados federados e dos municípios,
de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, ficando poderes indicativos para a União.
as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações c) dos poderes da União, com poderes remanescentes
penais, exceto as militares. para os estados e indicativos para os municípios.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a d) de todos os poderes, tanto dos municípios, quanto
preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros dos estados federados e da União.
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a
execução de atividades de defesa civil. 3. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) A Constituição
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros mi­litares, Federal prevê, dentre as retribuições pecuniárias ao ser-
Noções de Direito Constitucional

forças auxiliares e reserva do Exército, subor­dinam-se, junta-


vidor público, além da remuneração e dos vencimentos,
mente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados,
a figura do subsídio como modalidade
do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento a) obrigatória a todos os servidores públicos de car-
dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira reira, paga em parcelas múltiplas, pelo exercício de
a garantir a eficiência de suas atividades. cargo ou função.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais b) obrigatória a certos agentes públicos, em parcela
destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, única, sendo vedado o acréscimo de gratificação,
conforme dispuser a lei. adicional ou outra espécie remuneratória.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes c) facultativa a todos os agentes públicos, paga em
dos órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma parcela única, sendo cumulativa com gratificação,
do § 4º do art. 39. adicional ou outra espécie remuneratória.
d) facultativa aos servidores públicos de carreira, paga
em parcelas múltiplas, fixada ou alterada por lei es-
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/2012.
187

Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/2012.


188 pecífica.

84
4. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) O caput do b) comportam controle e acompanhamento, respon-
artigo 1º da Constituição Federal, ao dispor que a “Re- dendo os responsáveis pelos ilícitos praticados nes-
pública Federativa do Brasil, formada pela união indis- ses períodos.
solúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, c) não comportam controle, mas fiscalização e acom-
constitui-se em Estado democrático de direito...”, con- panhamento e posterior responsabilidade por ilícito
sagra o princípio do Estado democrático de direito que praticado nesses períodos.
se traduz em d) não comportam controle, mas acompanhamento
a) princípio valor fonte, que exclui valores pessoais e fiscalização, o que pressupõe o impedimento de
como a isonomia e a dignidade das pessoas. abusos e a inexistência de prática de ilícito nesses
b) princípio restritivo ao asseguramento da participa- períodos.
ção política por sufrágio.
c) princípio nuclear, que implica o pluralismo político, 8. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) O mandado de
na separação de poderes e na legalidade. segurança coletivo é uma inovação trazida ao ordena-
d) superprincípio que distingue os modelos liberal e mento jurídico brasileiro pela Constituição Federal de
social de Estado de direito. 1988, com o objetivo de suprir uma lacuna entre os
remédios constitucionais. Assim, entende-se que
5. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) A Constituição a) os conceitos de ilegalidade e abuso de poder, direito
Federal protege o domicílio, dispondo no artigo 5º, XI, líquido e certo, assim como o objeto do mandado de
que a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela segurança individual, são os mesmos do mandado
podendo penetrar sem consentimento do morador, sal- de segurança coletivo.
vo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para b) as regras do mandado de segurança individual
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação aplicam-se ao coletivo, distinguindo-se apenas na
judicial. Nesse sentido, casa legitimidade para impetração.
a) é o espaço de residência e moradia, incorporando c) o mandado de segurança coletivo tem regras pró-
os aposentos ocupados por habitação coletiva, res- prias, previstas constitucionalmente, afastando-se
tringindo-se à noção de habitação civil. do mandado de segurança individual.
b) é o espaço de moradia e de projeção da pessoa, d) os conceitos de ilegalidade e abuso de poder, di-
ainda que sem caráter habitual, incluindo o com- reito líquido e certo e campo residual do mandado
partimento de exercício da atividade profissional. de segurança individual devem ser estendidos ao
c) restringe-se ao espaço habitacional como espaço mandado de segurança coletivo.
de moradia da pessoa, assim definido na esfera da
civilística pátria. 9. (UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013) O artigo 5° da
d) é o espaço definido como moradia e escolhido para Constituição Federal assegura a igualdade ao afirmar
residência permanente do núcleo familiar ou da que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
pessoa individualmente considerada, excluindo-se qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
dessa noção o espaço profissional. estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di-
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
6. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) Na divisão das propriedade”. As facilidades do mundo contemporâneo
funções entre os poderes da república, cabe ao legisla- e as oportunidades oferecidas pelo Brasil, por outro
tivo tarefas de legislar e fiscalizar, dentre outras. Essas lado, têm permitido o trânsito de muitos estrangeiros
tarefas são exercidas por meio do Congresso, cujos tra- em nosso país. Assim, como deve ser interpretada a
balhos desenvolvem-se expressão “estrangeiros residentes no País”, contida no
a) no período da legislatura, que é de quatro anos e dispositivo constitucional citado, referente aos atos pra-
cujo término impede a continuidade das comissões. ticados por essas pessoas que se encontram em trânsito
b) por meio de sessões legislativas ininterruptas, or- no Brasil?
dinárias e extraordinárias, em períodos legislativos a) A Constituição Federal assegura a todos os estrangei-
anuais. ros em território nacional igualdade de tratamento
c) no período da legislatura, que é de oito anos, coin- perante a lei, o que inclui o acesso às ações e remé-
cidente com o mandato de senadores, dividido em dios constitucionais.
sessões legislativas. b) A Constituição Federal assegura apenas aos estran-
d) em sessões legislativas ininterruptas, coincidentes geiros com residência fixa comprovada no Brasil
com os mandatos dos deputados federais, que são igualdade de tratamento perante a lei, o que não
Noções de Direito Constitucional

de quatro anos. inclui o acesso às ações e remédios constitucionais.


c) A Constituição Federal assegura apenas aos estran-
7. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) A Constituição geiros com residência fixa comprovada no Brasil
Federal estabelece um conjunto de normas visando ao igualdade de tratamento perante a lei, o que inclui
respeito e à preservação do regime democrático e das o acesso às ações e remédios constitucionais.
instituições políticas, por meio do equilíbrio entre as d) A Constituição Federal assegura a todos os estrangei-
forças do poder e a normalidade das relações sociais ros em território nacional igualdade de tratamento
e dos entes privados. Delineou-se, no que a doutrina perante a lei, o que não inclui o acesso às ações e
denomina de sistema constitucional de crises, o estado remédios constitucionais.
de exceção, em que estão previstos os estados de defesa
e o de sítio. As medidas tomadas durante os estados de 10. (UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013) No sistema cons-
exceção e de sítio titucional do gerenciamento das crises, a Constituição
a) comportam controle, fiscalização e acompanha- Federal prevê medidas excepcionais para a restaura-
mento, o que pressupõe a vedação dos abusos e a ção da ordem, em momentos de anormalidade. São
inexistência de prática de ilícito nesses períodos. medidas que ampliam o poder repressivo do Estado,

85
informadas pelos princípios da necessidade e da tempo- c) vedado à autoridade pública interpretar e aplicar
ralidade, restringindo os direitos e garantias individuais. a lei de forma a criar ou aumentar desigualdades
Dentre essas medidas excepcionais para a restauração arbitrárias, qualquer que seja a finalidade da ordem
da ordem, encontra-se o estado de normativa.
a) defesa, que pode ser estabelecido por vezes suces- d) vedada a criação de tratamentos diferenciados,
sivas e consecutivas, sendo de âmbito nacional. consoante os valores constitucionais, por ordem
b) sítio, que permite a restrição ao sigilo de correspon- normativa de qualquer natureza, qualquer que seja
dência, ao direito de propriedade e à liberdade de a finalidade do ato.
manifestação do pensamento.
c) defesa, que permite a restrição à inviolabilidade do- 14. (UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia/2013) Os direitos polí-
miciliar, ao sigilo de correspondência e à liberdade ticos constituem garantia constitucional de atuação da
de expressão do pensamento. soberania popular. A Constituição Federal prevê expres-
d) sítio, que, depois de estabelecido, pode ser prorro- samente que uma das formas do exercício da soberania
gado por tempo indeterminado, sendo de âmbito popular se dá pela realização direta de consulta popular,
nacional. mediante plebiscitos e referendos. Salvo hipótese de
previsão expressa na Constituição,
11. (UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013) A sociedade con- a) cabe ao Senado Federal convocar referendo e ple-
temporânea é considerada a sociedade da informação, biscito, ouvido o Presidente da República.
dada sua importância nas relações sociais hodiernas. b) compete ao Congresso Nacional, com autorização
Nos diversos setores da realidade social, ela tem re- do Presidente da República, autorizar referendo e
cebido tratamento cuidadoso. A Constituição Federal, convocar plebiscito.
no inciso XIV do artigo 5º, garante a todos o acesso à c) compete privativamente ao Presidente da República
informação, resguardado o sigilo da fonte quando ne- autorizar referendo e convocar plebiscito.
cessário ao exercício profissional. Isso significa a ampla d) cabe privativamente ao Congresso Nacional autori-
liberdade na divulgação zar referendo e convocar plebiscito.
a) de fatos, independente da origem da fonte, se astu-
ciosa ou errônea. 15. (UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia/2013) O artigo 5°, II da
b) de condutas íntimas e pessoais, ainda que vexatórias, Constituição Federal, consagra o princípio da legalidade
que infrinjam o interesse público. ao estabelecer que “ninguém será obrigado a fazer ou
c) de condutas íntimas e pessoais vexatórias, desde deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.
que conhecida a origem da fonte. Esse preceito é multifuncional e tem consequências no
d) de fatos de interesse público, ainda que resguardado ordenamento jurídico, originando muitas expressões,
o sigilo da fonte. entre as quais se encontram as seguintes:
a) legalidade administrativa, probidade administrativa,
12. (UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013) Os direitos polí- isonomia.
ticos são a manifestação da soberania popular, tendo b) reserva da lei, repristinação da lei, igualdade diante
da lei.
por núcleo central o direito de sufrágio. A Constituição
c) processo legislativo, devido processo legal, princípio
Federal, no artigo 14, dispõe que “a soberania popular
da isonomia.
será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto
d) vigência da lei, legalidade tributária, devido processo
e secreto”. Nesse sentido, direito de sufrágio é
legal.
a) o direito público subjetivo de votar e é representado
politicamente sob a forma de escrutínio.
16. (UEG/PM-GO/Soldado – QPPM2ª Classe/2013) A Cons-
b) direito público subjetivo e compreende o direito de
tituição Federal consagra, dentre os princípios funda-
votar e de ser eleito, sendo o escrutínio o modo de mentais, a Soberania Popular, ao dispor no parágrafo
seu exercício. único do artigo 1° que “Todo o poder emana do povo,
c) o direito político do escrutínio, sendo mais amplo que o exerce por meio de representantes eleitos ou
que o direito de voto que se apresenta pela alista- diretamente, nos termos desta Constituição”. Nestes
bilidade. termos, a Constituição Federal adota o modelo
d) direito público coletivo de natureza política, que a) misto de democracia representativa e direta, cujo
compreende a alistabilidade e o direito de votar. exercício se dá pela eleição de representantes e por
instrumentos de participação direta.
13. (UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia/2013) A Constituição b) exclusivo de democracia representativa, cujo exer-
Noções de Direito Constitucional

Federal, ao garantir a igualdade de todos perante a lei, cício se dá pela participação direta, pelo voto direto
no artigo 5°, determina que não haverá distinção de e secreto, na eleição de representantes.
qualquer natureza entre as pessoas, o que tem sido en- c) misto de democracia direta e participativa, cujo exer-
tendido como a vedação de diferenciações arbitrárias. cício se dá apenas por instrumentos de participação
Isso tem norteado a atuação do judiciário, do legislativo direta na formação da vontade política.
e do executivo pátrios, que buscam conferir plena efi- d) exclusivo de democracia participativa, cujo exercí-
cácia ao dispositivo constitucional ao entender que é cio se dá apenas pela participação direta, pelo voto
a) permitido o tratamento normativo diferenciado, direto e secreto, na eleição de representantes.
qualquer que seja a finalidade imediata do ato nor-
mativo ou o fim mediato visado por ele e a propor- 17. (UEG/PM-GO/Soldado – QPPM2ª Classe/2013) Dentre
cionalidade entre ambos. os direitos e garantias fundamentais, a Constituição Fe-
b) permitido norma genérica impeditiva de diferencia- deral determina a inviolabilidade do sigilo da corres-
ções consoante valores constitucionais, qualquer pondência e de comunicação. Inclui-se nessa garantia
que seja a finalidade do ato normativo ou o fim a comunicação telefônica, cuja interceptação poderá
imediato por ele visado. ocorrer por

86
a) ordem judicial, quando essa autoridade entender a) emprego público civil temporário.
conveniente, ainda que dispensável. b) exercício do direito de sufrágio e voto.
b) determinação judicial, para fins de investigação cri- c) transferência para outra unidade da federação.
minal, nas hipóteses e na forma da lei. d) sindicalização e greve.
c) determinação de qualquer autoridade pública, quan-
do houver fundado receio da prática de ilícito. 22. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área
d) ordem da autoridade policial, para fins de investigação Administrativa/2016) Acerca da medida provisória, es-
criminal, quando for conveniente e indispensável. pécie de norma jurídica prevista na CF, assinale a opção
correta.
18. (UEG/PM-GO/Soldado – QPPM2ª Classe/2013) O pro- a) É permitida a edição de medida provisória para a
cesso legislativo se constitui por um conjunto de atos instituição ou a majoração de tributos de pessoa
preordenados, interdependentes e contínuos, cujo fim física.
é a elaboração das espécies normativas. O processo b) A apreciação das medidas provisórias inicia-se no
legislativo comporta ritos diferentes, entre os quais está Senado Federal.
o procedimento c) Permite-se a edição de medidas provisórias concer-
a) ordinário, cujo trâmite não pode ultrapassar o prazo nentes a matéria de direito eleitoral
de cem dias, sob pena de trancamento de pauta. d) A medida provisória constitui forma de elaboração
legislativa excepcional, admitida somente para tratar
b) especial, cuja característica é o trâmite de urgência,
de matérias consideradas de urgência e de relevância.
solicitado pelo(a) Presidente da República, sob pena
e) É permitida a edição de medidas provisórias que
de trancamento de pauta.
tratem dos direitos do acusado em matéria penal e
c) sumário, cuja característica é o trâmite de urgência, processual penal.
com prazo limite de cem dias, solicitado pelo(a) Pre-
sidente da República. 23. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área
d) sumaríssimo, cujo trâmite de urgência é solicitado Administrativa/2016) Constitui objetivo fundamental
pelo(a) Presidente da República, não podendo ultra- da República Federativa do Brasil
passar quarenta e cinco dias para a sua aprovação a) a independência nacional.
final. b) a solução pacífica de conflitos.
c) a autodeterminação dos povos.
19. (UEG/PM-GO/Soldado – QPPM2ª Classe/2013) O d) a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
Congresso Nacional dispõe, consoante os dispositivos e) a cooperação entre os povos para o progresso da
constitucionais, de competência exclusiva para, com a humanidade.
sanção do(a) Presidente da República,
a) dispor sobre o sistema tributário, arrecadação e dis- 24. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área
tribuição de rendas. Administrativa/2016) Assinale a opção correta a respei-
b) aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a to dos princípios da administração pública.
atividades nucleares. a) Em decorrência do princípio da hierarquia, nega-se
c) declarar o estado de defesa e a intervenção federal, o direito de greve e de livre associação sindical para
autorizar o estado de sítio. funcionários do Poder Judiciário.
d) sustar atos normativos do Executivo que extrapolem b) Em decorrência do princípio da legalidade, é permi-
os limites de delegação legislativa. tido ao agente público praticar atos administrativos
que não sejam expressamente proibidos pela lei.
20. (UEG/PM-GO/Soldado – QPPM2ª Classe/2013) A ad- c) A observância dos princípios da eficiência e da lega-
ministração pública dos estados, dos municípios e da lidade é obrigatória apenas à administração pública
União, de acordo com o caput do art. 37 da Constitui- direta.
ção Federal, organiza-se a partir de uma administração d) A proibição de nomear parentes para ocupar cargos
direta e uma administração indireta. Em relação a isso, comissionados na administração pública é expressão
tem-se que a administração da aplicação do princípio da moralidade.
a) indireta é composta por órgãos públicos desper- e) O princípio da publicidade não está expressamente
sonificados que atuam na atividade administrativa previsto na CF.
central do Estado.
b) direta é composta por órgãos públicos descentrali- 25. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área
zados que atuam diretamente na atividade adminis- Administrativa/2016) No que se refere às emendas à
CF, assinale a opção correta
Noções de Direito Constitucional

trativa do Estado.
a) É vedada a proposta de emenda à Constituição que
c) indireta é composta por entidades constituídas sob
trate de matéria referente à ordem tributária.
a forma de pessoas jurídicas por meio das quais o
b) A CF pode ser emendada na vigência de intervenção
Estado realiza diretamente a administração.
federal, mas não na vigência de estado de defesa ou
d) direta é composta por entidades públicas, consti- de estado de sítio.
tuídas sob a forma de pessoas jurídicas que atuam c) A iniciativa das emendas à Constituição compete
diretamente na atividade administrativa do Estado. somente ao presidente da República ou à maioria
qualificada de qualquer das Casas do Congresso.
21. (UEG/PM-GO/Soldado – QPPM2ª Classe/2013) As For- d) Emenda à Constituição pode versar sobre a abolição
ças Armadas são instituições nacionais permanentes da forma federativa de Estado.
e regulares, organizadas com base na hierarquia e na e) A proposta de emenda à Constituição deve ser
disciplina, sob a autoridade suprema do(a) Presidente examinada, em dois turnos, em ambas as Casas do
da República. De acordo com o art. 142, parágrafo 3°, Congresso Nacional, sendo necessários, para sua
os membros das Forças Armadas são denominados mi- aprovação, três quintos de votos de seus respectivos
litares, sendo-lhes vedado membros.

87
26. (Cespe/TRE-PI/Técnico-Administração/2016) A respeito b) Para que ocorra o desmembramento do território de
dos princípios fundamentais da Constituição Federal de um estado, é necessário que a população da área a
1988 (CF), assinale a opção correta. ser desmembrada e a população do território rema-
a) A soberania nacional pressupõe a soberania das nor- nescente sejam consultadas.
mas internas fixadas pela CF sobre os atos norma- c) Cabe à União o exercício de atribuições da sobera-
tivos das organizações internacionais nas situações nia do Estado brasileiro, razão por que esse ente se
em que houver conflito entre ambos. confunde com o próprio Estado federal.
b) A dignidade da pessoa humana não representa, for- d) Compete à União, aos estados, ao Distrito Federal e
malmente, um fundamento da República Federativa aos municípios assegurar a defesa nacional.
do Brasil. e) O município é dotado de capacidade de auto-orga-
c) Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa nização e de autoadministração, no exercício das
visam proteger o trabalho exercido por qualquer competências administrativas e tributárias conferi-
pessoa, desde que com finalidade lucrativa. das pela constituição do estado no qual se localiza.
d) Em decorrência do pluralismo político, é dever de
todo cidadão tolerar as diferentes ideologias polí- 30. (Cespe/TRE-PI/Técnico-Administração/2016) A respeito
tico-partidárias, ainda que, na manifestação dessas
dos direitos e das garantias fundamentais, assinale a
ideologias, haja conteúdo de discriminação racial.
opção correta.
e) A forma federativa do Estado pressupõe a repartição
a) Os direitos sociais, econômicos e culturais são, atu-
de competências entre os entes federados, que são
dotados de capacidade de auto-organização e de almente, classificados como direitos fundamentais
autolegislação. de terceira geração.
b) O direito ao meio ambiente equilibrado e o direito
27. (Cespe/TRE-PI/Técnico-Administração/2016) A respei- à autodeterminação dos povos são exemplos de di-
to da administração pública e dos servidores públicos, reitos classificados como de segunda geração.
assinale a opção correta. c) A comissão parlamentar de inquérito tem autonomia
a) O sistema constitucional brasileiro adota o modelo para determinar a busca e a apreensão em domicílio
descentralizado de administração, em que há diver- alheio, com o objetivo de coletar provas que inte-
sas entidades e órgãos com competências diferencia- ressem ao poder público.
das para a realização das atividades administrativas. d) A entrada em domicílio, sem o consentimento do
b) O servidor público dotado de estabilidade e de car- morador, é permitida durante o dia e a noite, desde
go efetivo apenas responderá civilmente por dano que haja autorização judicial.
causado a terceiro no exercício da função, se com- e) A doutrina moderna classifica os direitos civis e
provado que ele agiu com dolo. políticos como direitos fundamentais de primeira
c) A proibição de acumular remunerações de cargos geração.
públicos não se estende aos empregados públicos
de sociedades de economia mista. 31. (Cespe/TRE-RS/Técnico Judiciário/Administrativo/2016)
d) O princípio da moralidade administrativa impõe ao No que se refere aos princípios e aos direitos e garantias
servidor somente o dever de praticar atos que sejam fundamentais, assinale a opção correta.
juridicamente corretos. a) Por ser um princípio geral da atividade econômica
e) Dado o princípio da impessoalidade, em nenhuma regulado pelo mercado e não pelo Estado, o valor
hipótese, será considerado válido ato fundado em social do trabalho não é considerado um princípio
interesses pessoais. fundamental da República Federativa do Brasil.
b) Ao estrangeiro em trânsito no território nacional,
28. (Cespe/TRE-PI/Técnico-Administração/2016) A respeito por não ser residente no país, não está assegurado
do Poder Legislativo, assinale a opção correta. o exercício dos direitos e garantias fundamentais.
a) O mandato dos senadores é de quatro anos. c) Os direitos humanos, dado seu caráter abstrato e não
b) O quórum de votação de proposta em cada casa tangível, protegem as pessoas naturais, mas não se
do Congresso Nacional e em suas comissões é de aplicam às pessoas jurídicas.
maioria simples de votos, ao passo que o quórum
d) Previsto expressamente na CF, o princípio do devido
de instalação das sessões é de maioria absoluta de
processo legal assegura o contraditório e a ampla
seus membros.
defesa aos litigantes em processo judicial, mas não
c) Compete ao Senado autorizar, por dois terços de
seus membros, a instauração de processo contra o em processo administrativo.
Noções de Direito Constitucional

presidente e o vice-presidente da República. e) Com base no princípio da dignidade da pessoa hu-


d) Compete privativamente à Câmara dos Deputados mana, o ordenamento jurídico brasileiro restringe o
processar e julgar o presidente e o vice-presidente da uso de algemas no país.
República em casos de crimes de responsabilidade.
e) É vedado ao Poder Legislativo exercer as funções 32. (Cespe/TRE-RS/Técnico Judiciário/Administrativo/2016)
de administrar e de julgar, sob pena de violação da No que se refere à administração pública e aos servi-
separação dos poderes. dores públicos, assinale a opção correta.
a) Caso o servidor público ocupe apenas cargo em
29. (Cespe/TRE-PI/Técnico-Administração/2016) No que se comissão declarado em lei de livre nomeação e
refere aos entes federativos, assinale a opção correta. exoneração, deve-se aplicar-lhe regime próprio de
a) Os estados podem incorporar-se entre si, subdividir- previdência social do respectivo ente federativo.
-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, b) O servidor público efetivo da administração direta
ou formarem novos, desde que haja aprovação da que se investir no mandato de prefeito deverá ser
população interessada, por referendo, e do Congres- afastado do cargo, sendo-lhe permitido optar pela
so Nacional, por lei aprovada por maioria simples. sua remuneração.

88
c) Dado o princípio da separação de poderes, apenas a a) Por uma questão de soberania nacional, a CF veda
administração pública pode declarar a nulidade dos o acesso a cargos, empregos e funções públicas a
seus próprios atos. estrangeiros.
d) Em decorrência do princípio da continuidade do ser- b) A organização político-administrativa da República
viço público, a CF proíbe ao servidor público civil o Federativa do Brasil compreende a União, os estados
exercício do direito de greve. e o Distrito Federal, entes autônomos, excluídos os
e) A CF prevê expressamente que a contratação por municípios, por não possuírem constituição.
tempo determinado para atender a necessidade c) Segundo a CF, lei complementar federal poderá au-
temporária de excepcional interesse público deve torizar os estados-membros a legislarem em matéria
ser realizada por meio de prévio concurso público de competência privativa da União.
de provas ou de provas e títulos. d) Os princípios explícitos da administração pública pre-
vistos na CF não se aplicam às sociedades de eco-
33. (Cespe/TRE-RS/Técnico Judiciário/Administrativo/2016) nomia mista, em razão da natureza eminentemente
Assinale a opção correta em relação à organização do empresarial desempenhada por essas entidades.
Estado. e) O indivíduo que tenha exclusivamente ocupado, por
a) Compete à União, aos estados e aos municípios le- mais de dez anos, um cargo em comissão no TRE/MT,
gislar concorrentemente sobre direito eleitoral. caso possua os requisitos de idade e contribuição,
b) Nos municípios, é possível a iniciativa popular de tem direito à aposentadoria estatutária.
projetos de lei de interesse específico da cidade
mediante a manifestação de, pelo menos, cinco por 36. (Cespe/TRE-MT/Técnico Judiciário/Administrativo/2015)
cento do eleitorado do respectivo ente federativo. Acerca dos Poderes Executivo e Legislativo, assinale a
c) A abolição da forma federativa de Estado é possível, opção correta.
mediante emenda constitucional proposta por dois a) Na hipótese de, ao editar decreto, o presidente da
terços dos membros da Câmara dos Deputados ou República extrapolar o poder regulamentar, a sus-
do Senado Federal. tação de seu ato dependerá de decisão da maioria
d) O ordenamento jurídico constitucional brasileiro absoluta dos membros da Câmara dos Deputados e
admite o direito de secessão, que se refere à des- do Senado Federal, em votação separada.
centralização político-administrativa. b) Segundo a CF, as competências privativas do presi-
e) Em se tratando de competência legislativa concor- dente da República não poderão ser objeto de de-
rente, no caso de inexistir lei federal sobre normas legação.
gerais, os estados exercerão a competência legis- c) Ocorrendo, a qualquer momento, a vacância dos
lativa plena, mas a superveniência de lei federal cargos de presidente e de vice-presidente da Repú-
sobre normas gerais revoga automaticamente a lei blica no decorrer do mandato, deverá ser convoca-
estadual sobre o tema. da eleição no âmbito do Congresso Nacional para a
ocupação de ambos os cargos.
34. (Cespe/TRE-MT/Técnico Judiciário/Administrativo/2015) d) Ao contrário do que ocorre quando da assunção do
Assinale a opção correta acerca da Constituição Fede- cargo de ministro de Estado, o deputado federal que
ral de 1988 (CF) e dos princípios fundamentais por ela se investir no cargo de secretário de Estado perderá
reconhecidos. o seu mandato.
a) O princípio do pluralismo político expresso na CF e) Nos termos da CF, as comissões parlamentares de
refere-se não apenas a preferências de cunho par- inquérito, comissões temporárias destinadas a inves-
tidário, mas também a uma sociedade plural com tigar fato certo e determinado, possuem poderes de
respeito às diferenças, à pessoa humana e à liber- investigação próprios das autoridades judiciais.
dade.
b) O poder constituinte derivado decorrente refere-se 37. (Cespe/TJ-CE/Técnico Judiciário/Área Administrativa/
à capacidade de modificar a CF, por meio de proce- 2014) Conforme disposições da CF, assinale a opção
dimento específico, estabelecido pelo poder cons- correta a respeito da administração pública.
tituinte originário e proveniente deste. a) As funções de confiança destinam-se apenas às atri-
c) Quanto à sua origem, a CF classifica-se como híbrida, buições de chefia, direção e assessoramento.
pois tem elementos tanto de constituição outorgada, b) A lei deverá reservar parte dos cargos e empregos
em razão da ausência do exercício direto de escolha públicos para afrodescendentes e pessoas portado-
Noções de Direito Constitucional

do povo sobre o novo texto constitucional, como de ras de deficiência.


promulgada, por ter sido elaborada por uma assem- c) É vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer
bleia constituinte. espécies remuneratórias, exceto entre os cargos do
d) Embora possua um núcleo intangível denominado de Poder Executivo e do Legislativo.
cláusulas pétreas, a CF é classificada, quanto à esta- d) Somente por lei complementar poderão ser criadas
bilidade, como semirrígida, o que justifica o grande autarquia, empresa pública, sociedade de economia
quantitativo de emendas ao seu texto. mista e fundação.
e) Nos termos da CF, em casos de crise institucional ou e) É deferida aos servidores públicos a garantia da vi-
por decisão da população diretamente interessada, taliciedade, após dois anos de efetivo exercício.
é garantido ao ente federativo o direito de secessão,
ou seja, de desagregar-se da Federação. 38. (Cespe/TJ-CE/Técnico Judiciário/Área Administrativa/
2014) Assinale a opção correta no que se refere à or-
35. (Cespe/TRE-MT/Técnico Judiciário/Administrativo/2015) ganização político-administrativa.
Acerca da organização político-administrativa e da ad- a) Com o advento da CF ficou proibida a criação de
ministração pública, assinale a opção correta. novos territórios federais.

89
b) São bens dos municípios os sítios arqueológicos lo-
calizados em seus territórios.
c) A criação de conselhos de contas municipais depen-
de de autorização legal específica.
d) Segundo a CF, a faixa de até cento e cinquenta quilô-
metros de largura, ao longo das fronteiras terrestres,
é considerada essencial para a defesa do território
nacional.
e) São bens dos estados-membros os recursos minerais,
inclusive os do subsolo, localizados em seus respec-
tivos territórios.

39. (Cespe/TJ-CE/Técnico Judiciário/Área Administrativa/


2014) Acerca da organização político-administrativa,
assinale a opção correta.
a) É competência comum da União e do Distrito Federal
exercer a classificação de diversões públicas para
efeito indicativo.
b) Compete privativamente à União legislar sobre or-
çamento.
c) Compete à União, aos estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente a respeito de comércio
interestadual.
d) Compete privativamente à União legislar a respeito
de direito econômico.
e) Incumbe aos estados explorar os serviços locais de
gás canalizado.

40. (Cespe/TJ-CE/Técnico Judiciário/Área Judiciária/2014)


No que se refere aos direitos e deveres individuais e
coletivos e às garantias fundamentais previstos na CF,
assinale a opção correta.
a) Os presos federais não têm direito à identificação
dos responsáveis por sua prisão.
b) A publicidade dos atos processuais é restrita às par-
tes e aos seus advogados.
c) A todos os cidadãos é gratuita a ação de habeas data.
d) O mandado de segurança coletivo pode ser impe-
trado sempre que alguém sofrer violência em sua
liberdade de locomoção.
e) A prisão ilegal só será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária quando decorrente de prova
ilícita.

Gabarito
1. d 15. d 29. b
2. c 16. a 30. e
3. b 17. b 31. e
4. c 18. c 32. b
5. b 19. a 33. b
6. a 20. b 34. a
Noções de Direito Constitucional

7. c 21. d 35. c
8. d 22. d 36. e
9. a 23. d 37. a
10. b 24. d 38. d
11. d 25. e 39. e
12. b 26. e 40. c
13. c 27. a
14. d 28. b

90
PMGO

SUMÁRIO

Noções de Direito Processual Penal

Princípios do Processo Penal.................................................................................................................................................. 3



Sistemas Processuais............................................................................................................................................................ 12

Inquérito Policial................................................................................................................................................................... 18

Ação Penal:
espécies............................................................................................................................................................................. 49

Da prova:
exame de corpo de delito, indícios, busca e apreensão, local do crime........................................................................... 77

Da Prisão e da Liberdade Provisória..................................................................................................................................... 90


Noções de Direito Processual Penal
Gladson Miranda

PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL ou abrandar pena ou, ainda, ampliar os casos de isenção
de pena ou extinção de punibilidade.10
O Direito Processual Penal se utiliza de diversos princípios, Entretanto, há julgado do STF publicado antes da Emen‑
seja em relação a cada um dos seus institutos, seja em relação da Constitucional nº  32/2001 em sentido contrário, onde
aos princípios basilares inerentes ao sistema como um todo. se destacava que, quanto à inadmissibilidade da medida
Os princípios constitucionais, no que se refere à matéria provisória em matéria penal,
penal e processual penal, têm por objetivo limitar o poder
estatal tanto na elaboração quanto na aplicação da lei penal Não compreende a de normas penais benéficas,
e processual.1 assim, as que abolem crimes ou lhes restringem o
alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam
Princípios Gerais Informadores do Processo os casos de isenção de pena ou de extinção de puni‑
bilidade (STF, RE nº 254.818/PR, Rel. Min. Sepúlveda
Princípio da Subsunção à Constituição Pertence, Tribunal Pleno, Julgamento: 8/11/2000).

Conforme já destacado, com a edição da Constituição Fe‑ Entendemos que referido julgado tem aplicação mesmo
deral de 1988, Estatuto garantista, é necessário se fazer uma após a Emenda Constitucional nº 32/2001. Neste sentido,
leitura constitucional do Código de Processo Penal, sendo destaca o Tribunal Regional da 2ª Região que “não há que
que diversos dispositivos do Código de Processo Penal não se falar em vedação à medida provisória em matéria penal,
foram recepcionados pela Lei Maior do nosso país. quando esta traz situação mais favorável ao réu” (TRF2  –
A Carta Magna traz rol extenso de direitos e garantias RECURSO CRIMINAL: RCCR nº 912 2000.02.01.020267-1,
que influenciam diretamente o processo penal. Rel. Desembargador Federal Poul Erik Dyrlund, Julgamento:
8/10/2003; Órgão Julgador: Data Decisão: Publicação: DJU,
Princípio da legalidade Data:16/10/2003 – Página: 213).
O princípio da legalidade também pauta o processo
O princípio que repousa sob a noção de Estado de direito penal. A lei estabelece os ritos a serem seguidos, como o
é o da legalidade2. No Estado democrático de direito, a lei ordinário, sumário, sumaríssimo, dentre outros. Fixa, tam‑
tem não só o papel de limitar a ação estatal como também bém, a legislação os permissivos que autorizam a utilização
a função de transformação da sociedade.3 do processo penal. Com efeito, o exercício do direito de ação,
O art. 5º, inciso II, da Constituição Federal estabelece não obstante constitucional, deve acatar os pressupostos
que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algu‑ processuais11. Por outro lado, a denúncia genérica no pro‑
ma coisa senão em virtude de lei”4. Com efeito, o princípio cesso penal configura lesão ao princípio da ampla defesa
da reserva de lei atua como limitação constitucional ao e do contraditório.12
poder do Estado.5
Devido ao princípio da legalidade, não há crime sem Princípio da igualdade processual
lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação
legal6. É o que determina o art. 5º, XXXIX, da CF/1988. A lei deve tratar todos os brasileiros e estrangeiros
Embora no campo administrativo não exista necessi‑ residentes no País, sem distinção de qualquer natureza13.
dade de tipificação estrita que subsuma rigorosamente a É o que determina o art. 5º, caput, da CF/1988.
conduta à norma, a capitulação do ilícito administrativo No processo penal, referido princípio se encontra ma‑
não pode ser tão aberta a ponto de impossibilitar o direito terializado no princípio da paridade de armas. O  art.  14
de defesa, pois nenhuma penalidade poderá ser imposta, do Pacto de Direitos Civil e Políticos das Nações Unidas
tanto no campo judicial quanto nos campos administrativos estabelece que
ou disciplinares, sem a necessária amplitude de defesa.7
O princípio da legalidade representa o avanço do Estado todos são iguais perante os tribunais e demais cor‑
de Direito, que subordina os comportamentos às normas tes de justiça. Toda pessoa tem direito a que a sua
jurídicas, das quais as leis são a suprema expressão.8 causa seja ouvida equitativa e publicamente por
Viola o princípio da legalidade a medida provisória que um tribunal competente, independente e imparcial,
define crimes e comina sanções penais.9 E mais, o art. 62, § 1º, estabelecido pela lei.
Noções de Direito Processual Penal

I, b estabelece que é vedada a edição de medidas provisórias


sobre matéria relativa a direito penal e processual penal. Não bastam, para fazer observar referido princípio, regras
Consoante entendimento do STF, em face ao princípio formais destinadas a assegurar as partes paridade de trata‑
da legalidade, é inadmissível medida provisória em matéria mento. É necessário que o magistrado não permita que uma
penal, mesmo tratando‑se de normas penais benéficas, que parte atue com inferioridade demasiada em relação à outra
visem abolir crimes ou lhes restringir o alcance, extinguir parte, propiciando ao réu, parte débil da relação processual,
o pleno acesso aos meios de defesa, buscando atingir um
equilíbrio justo entre acusação e defesa, que devem ter
1
Assunto cobrado na prova da OAB‑RS/1º Exame/2006.
2
Cespe/Delegado Federal/Nacional/1997.
idênticas faculdades no processo.
3
Cespe/Delegado Federal/Nacional/1997. Às partes devem ser asseguradas as mesmas oportuni‑
4
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe dades e instrumentos processuais, apresentando razões e
de Goiás/2003 e FCC/ TRF 1ª Região/Técnico Judiciário/Área Administrati‑ provas, concorrendo de forma efetiva para a atuação judicial.
va/2006.
5
Cespe/TJ‑RR/Oficial Contador Distribuidor Partidor/2006.
6
OAB‑RS/1º Exame/2007. 10
Cespe/Advocacia‑Geral da União/Advogado da União/2006.
7
Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor Público. 11
Promotor/MG/2004.
8
Promotor/RO/2002. 12
Esaf/AGU/Advogado da União de 2ª Categoria/1998.
9
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. 13
FCC/TRF 5ª Região/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2008.

3
Princípio da liberdade Princípio da publicidade dos atos processuais

A liberdade pauta o processo penal. Ganha força a liber‑ Considerando os princípios constitucionais aplicáveis ao
dade principalmente em face do princípio da presunção de processo penal, a Constituição Federal prevê a publicidade
inocência. Aury Lopes (2004, p. 206), a título de exemplo, dos atos no processo penal.16
destaca que Nos termos do art. 93, IX, os atos processuais são públicos,
é inconstitucional atribuir à prisão cautelar a função podendo a lei restringir‑lhes a publicidade quando a defesa
de controlar o alarma social, e por mais respeitáveis da intimidade ou o interesse social o exigirem17. Dessa forma,
que sejam os sentimentos de vingança, nem a prisão pode a lei restringir a publicidade dos atos processuais18. Deve
preventiva pode servir como pena antecipada e fins haver legislação a amparar a limitação da publicidade, nesse
de prevenção, nem o Estado, enquanto reserva ética, sentido, não pode o juiz restringir a publicidade dos atos
pode assumir esse papel vingativo. Também a ordem processuais sempre que solicitado pelo Ministério Público;
pública ao ser confundida com o tal ‘clamor público’ nem por insuficiência de funcionários da Justiça para prestar
corre o risco da manipulação pelos meios de comu‑ atendimento ao público, entre outros casos ou para preservar
nicação de massas, fazendo com que a dita opinião a independência do Poder Judiciário.19
pública não passe de mera opinião publicada, com Pierobom (2009, p. 96-97) classifica as formas de pu‑
evidentes prejuízos para todos. blicidade:

A Constituição dá primazia à liberdade em diversos Interna (ou absoluta): significa a vedação de sigilo
dispositivos do art. 5º, como se percebe da leitura dos se‑ às partes, que devem ter amplo conhecimento dos
guintes incisos: autos. É decorrência do contraditório.
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens Externa (ou relativa): é dirigida à coletividade, tanto
sem o devido processo legal; aos eventuais interessados quanto aos veículos de
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, mídia. Nesse sentido, a publicidade externa é uma
e aos acusados em geral são asse­gurados o contraditório e garantia política da sociedade de controle das deci‑
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; sões judiciais.
LX  – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos Ativa: a iniciativa da publicidade decorre do processo
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse (v.g., publicação de edital).
social o exigirem; Passiva: Significa que o processo está aberto à inicia‑
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou tiva do conhecimento pelo público.
por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária Imediata: cognição direta dos autos.
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime Mediata: cognição indireta (por certidões ou por
propriamente militar, definidos em lei; meio da mídia).
LXII  – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz com‑ Princípio da dignidade da pessoa humana
petente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII  – o preso será informado de seus direitos, entre O art. 1º da CF/1988 determina que a República Federa‑
os quais o de permanecer calado, sendo‑lhe assegurada a tiva do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados
assistência da família e de advogado; e Municípios e do Distrito Federal, constitui‑se em Estado
LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsá‑ Democrático de Direito e tem como um de seus fundamen‑
veis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; tos a dignidade da pessoa humana.20
LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela Dessa forma, a República Federativa do Brasil, constituída
autoridade judiciária; sob o Estado Democrático de Direito, traz como um de seus
LXVI  – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, fundamentos a dignidade da pessoa humana.
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; Os atos das autoridades devem se pautar em referido
LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do res‑ princípio. Por exemplo, em face do princípio da inviolabili‑
ponsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de dade da vida privada e da imagem das pessoas (art. 5º, X,
obrigação alimentícia e a do depositário infiel; da Constituição Federal), a divulgação de “retratos falados”
LXVIII – conceder‑se‑á habeas corpus sempre que alguém de suspeitos e da imagem de indiciados ou réus em cartazes
sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação de “procura‑se” atenta contra a honra e configura abuso
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de autoridade.21
de poder. Por outro lado, os meios de prova, além de prestar subor‑
dinação à lei, também submetem‑se aos princípios morais.22
Noções de Direito Processual Penal

O princípio da liberdade ou da proteção da liberdade nor‑


teia inclusive o direcionamento da decisão do juiz, caso não
forme um juízo de certeza sobre os fatos delitivos apurados. Princípio do contraditório ou audiência bilateral
Com efeito, em nosso sistema processual penal consagra‑se
o princípio do favor rei ou favor inocentiae pelo qual, num É previsto de forma expressa no art. 5º, LV, da CF/1988.
conflito entre o jus puniendi do Estado e o jus libertatis do O contraditório é garantia de participação dialética efetiva
acusado, deve a balança inclinar‑se a favor deste último.14 em extensão e profundidade quanto às ponderações sobre
O princípio do non bis in idem também tem forte ligação a produção bem como sobre a interpretação dos atos pro‑
com o princípio da liberdade. A adoção do princípio do non batórios juntados aos autos.
bis in idem pelo ordenamento jurídico penal complementa
os direitos e garantias individuais previstos na Constituição, 16
Assunto cobrado na prova da FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004.
cuja interpretação sistemática leva à conclusão de que o 17
FCC/TRE‑CE/Analista Judiciário/Judiciária/2002.
direito à liberdade, com base em coisa julgada material, 18
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
prevalece sobre o dever estatal de acusar.15
19
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE‑CE/Analista Judiciário/2002.
20
Assunto cobrado nas seguintes provas: Opet/Câmara de Curitiba/Analista
Legislativo/2008 e TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto.

14
13º Concurso Público para Procurador da República. 21
TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto.

15
Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007. 22
Promotor/MG/2004.

4
Em nosso sistema processual penal o princípio do con‑ mo, indiciado. Em referida fase preliminar ao processo penal,
traditório não passou a vigorar apenas com a Constituição embora não haja contraditório, há participação do sujeito
de 1988.23 passivo da investigação, por meio de seu advogado que tem
Em consonância com o princípio da igualdade das partes direito a vista dos elementos de investigação já juntados ao
e do contraditório, sempre que for carreado aos autos docu‑ inquérito, podendo também requerer diligências.
mento novo, relevante para a decisão, deve ser concedida
à parte contrária, em face da qual foi produzida a prova, Princípio da ampla defesa
oportunidade de manifestação a respeito.24 Fere o direito
ao contraditório o fato de uma só das partes ser informada O art. 5º, inciso LV, da Constituição da República, assegura
acerca de novo documento juntado aos autos.25 aos acusados em geral o contraditório e a ampla defesa,
Trata‑se do princípio da bilateralidade da prova (audiatur com os meios e recursos a ela inerentes.33
et altera pars). É  em razão do princípio do contraditório Percebe‑se que a Constituição da República Federa­tiva
que as testemunhas arroladas pela acusação são ouvidas do Brasil garante que ninguém será privado da liberdade
anteriormente às de defesa, se arroladas.26 ou de seus bens sem o devido processo legal, assegurando
Também é com base em referido princípio que o acusado, ainda aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
embora preso, tem o direito de comparecer, de assistir e de e aos acusados em geral o contraditório e a ampla defesa,
presenciar, sob pena de nulidade absoluta, os atos proces‑ com os meios e recursos a ela inerentes.34
suais, notadamente aqueles que se produzem na fase de Com apoio nesse dispositivo, o acusado tem direito de
instrução do processo penal, que se realiza, sempre, sob a estar pessoalmente presente nos atos processuais, além do
égide do contraditório.27 interrogatório, como exercício de sua autodefesa.35
Aury Lopes (2008, p. 185) destaca que O princípio constitucional da ampla defesa se manifesta
pela defesa técnica feita pelo defensor e pela defesa pessoal
O contraditório deve ser visto basicamente como o do acusado.36
direito de participar, de manter uma contraposição A autodefesa é a participação pessoal do acusado, o que se
em relação à acusação e de estar informado de todos materializa nos direitos de audiência, o que impõe seja interro‑
os atos desenvolvidos no inter procedimental, sendo, gado pelo juiz, bem como no de presença, que torna imperativa,
‘essencialmente, o direito de ser informado e de em regra, a presença do acusado, na audiência de produção de
participar no processo’. provas como o é a audiência de instrução e julgamento.
A autodefesa também pode ser positiva, que ocorre
Para o processo penal, o contraditório tem de ser efetivo, quando o acusado deseja dar sua versão sobre os fatos, ou,
real, substancial, implicando defesa técnica substancial do negativa, quando se reserva o direito constitucional ao silêncio.
réu, ainda que revel, para que se tenha por obedecido o man‑ Ao acusado é assegurada a possibilidade de provar os
damento constitucional. Para isso, a norma é completada fatos por ele alegados. De acordo com a seguinte situação
pelo dispositivo do Código de Processo Penal, que manda seja hipotética: o réu I, em juízo, apresenta carta confidencial,
dado defensor ao réu quando o juiz o considerar indefeso.28 que lhe fora endereçada, em defesa própria. No caso em
A inovação da Constituição Federal de 1988 em relação análise, o princípio da plena defesa ampara a atitude de I.37
ao contraditório foi profunda porque fez com que o prin‑ Tem‑se também a necessidade de uma defesa técnica.
cípio alcançasse expressamente os processos civil, penal Aury Lopes (2008, p. 187) destaca que
e administrativo. Na Constituição Federal de 1969, havia
previsão expressa da garantia do contraditório somente a defesa técnica é considerada indisponível, pois,
para o processo penal, inobstante houvesse manifestação além de ser uma garantia do sujeito passivo, existe
da doutrina no sentido de que aquele princípio se aplicava um interesse coletivo na correta apuração do fato.
também ao processo civil e ao processo administrativo.29 Trata‑se, ainda, de verdadeira condição de paridade
O contraditório e a ampla defesa são princípios aplicá‑ de armas, imprescindível para a concreta atuação do
veis tanto no processo judicial quanto no administrativo30. contraditório. Inclusive, fortalece a própria imparcia‑
Nesse sentido, Demétrio, policial civil do estado de Roraima, lidade do juiz, pois, quanto mais atuantes e eficientes
conduzindo viatura policial em alta velocidade, na perse‑ forem ambas as partes, mais alheio ficará o julgador.
guição a bandidos, perdeu o controle do veículo, vindo a
atingir uma senhora que estava em uma parada de ônibus. Para a efetividade da ampla defesa, a Constituição Fe‑
Do acidente, resultou a morte da vítima. Se Demétrio for deral, em seu art. 5º, LXXIV, estabelece que o Estado deve
punido administrativamente, sem direito de defesa, com prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que com‑
pena de suspensão, por ter provocado o acidente, poderá provarem insuficiência de recursos. Entretanto, no processo
ajuizar mandado de se­gurança visando anulá‑la.31 penal, mesmo para quem tenha recurso e não queira contra‑
Noções de Direito Processual Penal

Entretanto, o princípio do contraditório não é adotado tar os serviços de algum advogado, para o prosseguimento
no inquérito policial.32 Isto porque ainda não há acusação do processo, o Estado deve lhe nomear um defensor dativo,
formal. Não há ainda acusado, mas, investigado, ou, no máxi‑ eis que o advogado é imprescindível.
A defesa técnica tem caráter obrigatório, só podendo ser
23
Assunto cobrado no 13º Concurso público para Procurador da República. Com dispensada se o acusado for habilitado nos quadros da OAB.
efeito, a Carta Magna de 1967 já previa em seu art. 150, § 16, a instrução
contraditória.
Nesse sentido, o  art.  261 do CPP determina que nenhum
24
Cespe/Nordeste/1º Exame da Ordem/1ª Fase/2006. acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado
25
Assunto cobrado: Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009. ou julgado sem defensor, tendo, portanto, a defesa técnica
26
Promotor/AP/2005. o caráter da indeclinabilidade.
27
Cespe/1º Exame da Ordem/1ª Fase/2007.
28
Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor Público/2002.
29
Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor Público/2002. 33
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RJ/21º Exame de Ordem/
30
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acafe/Polícia Civil/SC/Escrivão de 1ª Fase/2003 e NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
Polícia/2006 e TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador. 34
Assunto cobrado nas seguintes provas: 19º Concurso Público para Procurador
31
Cespe/Polícia Civil‑RR/Agente de Polícia/2003. da República/2002; 5º Concurso Público para Procurador da República/1996
32
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor/DF/2002; Delegado de Polí‑ e 20º Concurso Público para Procurador da República/2003.
cia Substituto de Santa Catarina/2001; Polícia Judiciária Civil/MT/Escrivão de 35
Assunto cobrado na prova de Promotor/DF/2002.
Polícia/2005; Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor Público/2002; 36
Assunto cobrado na prova da OAB‑RJ/22º Exame de Ordem/1ª Fase/2003.
NCE/Polícia Civil do DF/Agente de Polícia/2004. 37
15º Concurso Público para Procurador da República/1996.

5
O parágrafo único do referido artigo determina ainda quanto no âmbito formal, ao assegurar‑lhe paridade total
que a defesa técnica, quando realizada por defensor público de condições com o Estado‑persecutor e plenitude de de‑
ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fesa47. O devido processo legal configura dupla proteção
fundamentada, devendo, portanto, sempre ser efetiva. ao indivíduo, atuando tanto no âmbito material, como
Deve abranger também todo o processo penal, até mesmo instrumento de defesa dos direitos individuais, quanto no
perante as instâncias recursais, tendo o caráter de plenitude. âmbito processual, assegurando um regular processo penal,
O art. 264 do CPP estabelece que, salvo motivo relevante, civil e administrativo.48
os  advogados e solicitadores serão obrigados, sob pena O princípio do devido processo legal faz referência à
de multa, a prestar seu patrocínio aos acusados, quando ampla defesa e ao duplo grau de jurisdição.49
nomeados pelo Juiz. E mais, o art. 265 do CPP estabelece O direito de audiência, de um lado, e o direito de pre‑
que o defensor não poderá abandonar o processo senão sença do réu, de outro, traduzem prerrogativas jurídicas
por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob essenciais que derivam da garantia constitucional do due
pena de multa, sem prejuízo das demais sanções cabíveis. process of law.50
A Súmula nº 523 do STF determina que Do princípio do devido processo legal emanam diversos
outros princípios constitucionais.
No processo penal, a falta da defesa constitui nuli‑
dade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará Princípio da economia processual
se houver prova de prejuízo para o réu.38
O princípio da economia processual é considerado como
O princípio da ampla defesa não é, entretanto, absoluto. uma das garantias individuais, assegurado pela Constitui‑
Com efeito, os princípios processuais penais de publicidade, ção Federal.51
ampla defesa e devido processo legal, mesmo traduzindo O provimento final, a ser conseguido ao final do desen‑
garantias constitucionais ao processado, podem admitir inter‑ volvimento do procedimento processual, deve ser alcançado
pretação limitativa ou valorada pela proporcionalidade39. Por com o mínimo de gastos, no que se refere a recursos mate‑
outro lado, o princípio da ampla defesa pode conviver com o riais, humanos e temporais.
indeferimento de diligência probatória pelo juiz.40 O exercício O referido princípio tem previsão expressa nos Juizados
da ampla defesa também fica condicionado à observância de Especiais Criminais (art. 62 da Lei nº 9.099/1995).
prazos e das cargas processuais que pesam sobre o acusado. Na Constituição Federal, o art. 5º, LXXVIII, determina que
a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados
Princípio do devido processo legal41 (due process of a razoável duração do processo e os meios que garantam a
law) celeridade de sua tramitação.
O direito do réu à observância, pelo Estado, da garantia Princípio da celeridade processual
pertinente ao due process of law, além de traduzir expres‑
são concreta do direito de defesa, também encontra suporte Todo acusado tem direito à finalização do processo
legitimador em convenções internacionais que proclamam criminal dentro dos prazos previstos na lei processual ou
a essencialidade dessa franquia processual, que compõe em tempo razoável, não se tolerando demora injustificável
o próprio estatuto constitucional do direito de defesa, en‑ e abusiva por inércia de órgãos do estado‑administração.52
quanto complexo de princípios e de normas que amparam É o que determina o art. 5º, LXXVIII, da CF/1988: a to‑
qualquer acusado em sede de persecução criminal.42 dos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados
Encontra‑se previsto de forma expressa na Constituição a razoável duração do processo e os meios que garantam
Federal, em seu art. 5º, LIV. a celeridade de sua tramitação. Já havia inclusive previsão
O princípio do devido processo legal, como garantia pro‑ no art.  7º, inciso 5, da Convenção Americana de Direitos
cessual e material de direitos fundamentais, foi introduzido, Humanos (Pacto de São José da Costa Rica):
no Brasil, pela Constituição de 198843. O devido processo legal
foi insculpido na Constituição da República como cláusula Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem
pétrea, para vedar que qualquer cidadão seja privado da sua demora, à presença de um juiz ou outra autoridade au‑
liberdade ou de seus bens sem que se realize um julgamento torizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito
justo, ou seja, informado pelo devido processo legal.44 a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta
Sem o devido processo legal, ninguém será privado de em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo.
sua liberdade ou propriedade.45 Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que
A cláusula do devido processo legal foi introduzida, assegurem o seu comparecimento em juízo.
de modo expresso, pela Constituição brasileira de 1988 e
Noções de Direito Processual Penal

se aplica aos processos judiciais e administrativos com o Aury Lopes (2008, p. 144) destaca os principais fun‑
sentido formal e substantivo de proteção de direitos fun‑ damentos da necessidade de uma célere tramitação do
damentais46. Com efeito, o devido processo legal configura processo:
ampla proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito
material de proteção ao direito de liberdade e propriedade – Respeito à dignidade do acusado: considerando
os altíssimos custos (econômicos, físicos, psíquicos,
38
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 45/Item familiares e sociais) gerados pela estigmatização ju‑
II/2011; Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/Questão 69/Assertiva rídica e social, bem como todo o conjunto de penas
A/2011 e Fepese/Prefeitura de Florianópolis/Procurador/Questão 75/Asser‑
tiva E/2011. processuais (medidas cautelares reais, pessoais etc.)
39
Assunto cobrado na prova do TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005. que incidem sobre o acusado, o processo penal deve
40
Assunto cobrado na prova do Promotor/MG/2004.
41
TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001. 47
Assunto cobrado na prova da Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor
42
Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009. Público/2002.
43
FCC/Defensoria Pública do Estado do Maranhão/Defensor Público de 1ª 48
Assunto cobrado na prova da OAB‑RJ/27º Exame de Ordem/1ª Fase/2005.
Classe/2003. 49
Assunto cobrado na prova da OAB‑RS/1º Exame/2007.
44
Cespe/Nordeste/1º Exame da Ordem/1ª Fase/2006. 50
Cespe/1º Exame da Ordem/1ª Fase/2007.
45
14º Concurso Público para Procurador da República. 51
Promotor/AP/2005.
46
TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001. 52
Cespe/1º Exame da Ordem/1ª Fase/2006.

6
desenvolver‑se sem dilações indevidas, pois esse “cus‑ Pacelli (2009, p. 37) destaca:
to” multiplica‑se de forma proporcional a sua duração.
– Interesse probatório: é inegável que o tempo que O princípio da inocência, ou estado ou situação
passa é a prova que se esvai, na medida em que os jurídica de inocência, impõe ao Poder Público a ob‑
vestígios materiais e a própria memória em torno do servância de duas regras específicas em relação ao
crime, enquanto acontecimento histórico, perdem a acusado: uma de tratamento, segundo a qual o réu,
eficácia com o passar dos anos. A atividade probatória em nenhum momento do iter persecutório, pode
como um todo se vê prejudicada pelo tempo, pois se sofrer restrições pessoais fundadas exclusivamente
trata de juntar os resquícios do passado que estão na possibilidade de condenação, e outra de fundo
no presente (na verdade, um presente do passado, probatório, a estabelecer que todo o ônus da prova
que é a memória), e  que tendem naturalmente a relativa à existência do fato e à sua autoria devem
desaparecer quando o presente do presente (intuição recair exclusivamente sobre a acusação.
direta) passa para o presente do futuro.
– Interesse coletivo: no correto funcionamento das Acerca do princípio da inocência, o juiz deve ter plena
instituições, inerente à própria estrutura do Estado convicção de que o acusado é responsável pelo delito, bas‑
Democrático de Direito. tando à dúvida a respeito da sua culpa para absolvê‑lo.55
– A confiança na capacidade da Justiça: de resolver Seguindo o mesmo raciocínio, o princípio da presunção de
os assuntos que a ela são levados, no prazo legalmen‑ inocência recomenda que em caso de dúvida o réu seja
te considerado como adequado e razoável. Para além absolvido (in dubio pro reo).56
do limite geral, é fundamental que a administração da O princípio da presunção da inocência não impede a
justiça, na medida em que invocou para si o mono‑ prisão cautelar do réu.57 É o que determina a Súmula nº 9
pólio da jurisdição, atue num prazo razoável também do STJ, que, entretanto, só tem aplicação se demonstrados
para o jurisdicionado, pois não podemos continuar presentes os requisitos, fundamentos e condições de admis‑
desprezando o eterno problema entre o tempo ob‑ sibilidade da prisão preventiva.
Com efeito, Pacelli (2009, p. 37) diz que
jetivo (absoluto), em que se estrutura o Direito, e o
tempo subjetivo daquele que sofre a incidência ou
o princípio exerce função relevantíssima, ao  exigir
que necessita do amparo do sistema jurídico.
que toda privação de liberdade antes do trânsito
em julgado deva ostentar natureza cautelar, com a
Princípio da utilização de normas universais imposição de ordem judicial devidamente motivada.
O § 3º do art. 5º, da CF/1988, determina que os tratados O princípio da presunção de inocência recomenda que
e convenções internacionais sobre direitos humanos que processos criminais em andamento não sejam considerados
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, como maus antecedentes para efeito de fixação de pena.58
em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos Entretanto, o STF já entendeu que
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
O Pacto de São José da Costa Rica traz inúmeras disposi‑ inquéritos policiais e ações penais em andamento
ções processuais sobre direitos humanos. Embora não tenha configuram, desde que devidamente fundamenta‑
caráter de emenda constitucional, por não ter sido aprovado, dos, maus antecedentes para efeito da fixação da
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por pena‑base, sem que, com isso, reste ofendido o
três quintos dos votos dos respectivos membros, o STF tem princípio da presunção de não culpabilidade (STF, AI
ressaltado que referido tratado tem hierarquia intermediária nº 604.041AgR/RS, Rel. Min Ricardo Lewandowski,
de norma supralegal. (STF, HC nº 94.013/SP, São Paulo, Rel. Primeira Turma, Julgamento: 3/8/2007).
Min. Carlos Britto, Primeira Turma, Julgamento: 10/2/2009)
A Segunda Turma do STF, entretanto, já decidiu que
Princípio da presunção da inocência ou princípio da
proibição da presunção de culpabilidade O simples fato de existirem ações penais ou mesmo in‑
quéritos policiais em curso contra o paciente não induz,
O art. 5º, LVII, da CF/1988, determina que ninguém será automaticamente, à conclusão de que este possui maus
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença antecedentes. A análise do caso concreto pelo julgador
penal condenatória. O Pacto de São José da Costa Rica, em determinará se a existência de diversos procedimentos
seu art. 8.2, determina: criminais autoriza o reconhecimento de maus antece‑
dentes. (STF, HC nº 84.088/MS, Rel. Min Gilmar Mendes,
Segunda Turma, Julgamento: 29/11/2005)
Noções de Direito Processual Penal

Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se


presuma sua inocência enquanto não se comprove Ressalto, ainda:
legalmente sua culpa. Os maus antecedentes representam os fatos anterio‑
res ao crime, relacionados ao estilo de vida do acu‑
O privilégio contra a autoincriminação (nemo tenetur se sado e, para tanto, não é pressuposto a existência de
detegere) impõe ao inquiridor o dever de advertir o inter‑ condenação definitiva por tais fatos anteriores. A data
rogado do seu direito ao silêncio; a falta dessa advertência da condenação é, pois, irrelevante para a configura‑
faz ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça o acusado, ção dos maus antecedentes criminais, diversamente
ainda quando observadas as formalidades procedimentais do que se verifica em matéria de reincidência (CP,
art. 63). 3. Levando em conta o disposto no art. 33,
do interrogatório.53
§  3°, do Código Penal, a  determinação do regime
A garantia de que ninguém será considerado culpado
inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade
até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória
significa que mesmo quem for preso em flagrante cometen‑ 55
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008.
do homicídio será possuidor da presunção de inocência.54 56
FGV/TJ‑MS/Juiz de Direito Substituto de Carreira/2008.
57
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PI/Juiz Substituto/2001 e 13º

53
Cespe/Delegado Federal/Nacional/2002. Concurso Público para Procurador da República.

54
Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/Área Administrativa/2013. 58
FGV/TJ‑MS/Juiz de Direito Substituto de Carreira/2008.

7
deve considerar os maus antecedentes criminais (CP, grafotécnicos para fins periciais, sopro para o instrumento
art. 59), não havendo qualquer ilegalidade ou abuso do bafômetro, reprodução simuladas dos fatos, ou mesmo
na sentença que impõe o regime fechado à luz da fornecer objetos ou mesmo material de seu próprio corpo
presença de circunstâncias judiciais desfavoráveis ao para a realização do exame de DNA.
condenado, como é o caso dos maus antecedentes. Sobre a extração coativa de sangue, Thiago Pierobom
(STF, HC nº 95.585/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda (2009, p. 111) destaca que
Turma, Julgamento: 11/11/2008).
a omissão legislativa impede a realização da extração
O STJ tem entendimento no mesmo sentido que o da coativa de sangue na hipótese de recusa injustificada
Segunda Turma do STF, destacando que pelo investigado, sem prejuízo de lei posterior vir a
regular este procedimento. Caso haja autorização do
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do investigado, é possível a realização do exame, sendo
Superior Tribunal de Justiça consolidaram o entendi‑ recomendável que sua autorização seja prévia, for‑
mento de que, em face do princípio da não culpabili‑ necida por escrito, e resguardada com testemunhas
dade, inquéritos policiais e ações penais em curso não da inexistência de qualquer coação.
podem ser considerados como maus antecedentes ou
má conduta social para exacerbar a pena‑base. (STJ, Feitoza (2009, p. 145) destaca que
HC nº 119.444/SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima,
Quinta Turma, DJe 3/8/2009). no direito processual penal alemão, diversamente,
não somente a intervenção é permitida, como, ainda,
Princípio da presunção de inocência e princípio da pre‑ o consentimento do acusado não é necessário para
sunção de não culpabilidade são expressões usadas com intervenções corporais, uma vez que sua saúde não
igual denotação pelas Constituições de inúmeros países.59 corra risco. Se, contudo, a  intervenção médica for
Com base em referido princípio, tem‑se que o art. 393, II, particularmente grave ou suscetível de resultado
do CPP, permite que o nome do réu seja lançado no rol dos negativo, seu consenso é obrigatório.
culpados, só pode ser aplicado após o trânsito em julgado
da sentença penal condenatória. O comportamento do réu durante o processo, na ten‑
Aury Lopes (2008, p. 179-180) lista o que se pode extrair tativa de defender-se, não se lhe presta a agravar a pena,
da presunção da inocência: pois a CF consagra o princípio nemo tenetur se detegere.62

a) Predeterminada a adoção da verdade processual, Princípio do amplo acesso ao Poder Judiciário


relativa, mas dotada de um bom nível de certeza prá‑
tica, eis que obtida segundo determinadas condições; O art. 5º, XXXV, da CF/1988, determina que “a lei não
b) Como consequência, a obtenção de tal verdade de‑ excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
termina um tipo de processo, orientado pelo sistema a direito”63. Trata‑se de uma garantia constitucional.64
acusatório, que impõem a estrutura dialética e mantém A Constituição da República, em seu art. 5º, dispõe acer‑
o juiz em estado de alheamento (rechaço à figura do ca dos direitos e deveres individuais e coletivos. Entre esses
juiz‑inquisidor – com poderes investigatórios/instrutó‑ direitos, firma o texto constitucional o princípio do acesso
rios – e consagração do juiz de garantias ou garantidor); ao Poder Judiciário, segundo o qual não se pode excluir da
c) Dentro do processo, se traduz em regras para o apreciação judicial qualquer lesão ou ameaça de direito.
julgamento, orientando a decisão judicial sobre os Acerca desse princípio, é correto afirmar que ele assegura
fatos (carga da prova); o direito de pleitear prestação jurisdicional sempre que
d) Traduz‑se, por último, em regras de tratamento do algum direito for lesado ou ameaçado.65
acusado, posto que a intervenção do processo penal Ao Poder Judiciário a lei não poderá excluir o acesso
se dá sobre um inocente. para a apreciação de lesão ou ameaça a direito.66
O princípio constitucional da inafastabilidade da juris‑
dição implica a consagração do direito de acesso ao Poder
Princípio da não autoincriminação (Nemo tenetur se
Judiciário.67
detegere)
Princípio do juiz natural
O direito ao silêncio emana do art. 5º, LXIII, da CF/1988
que prevê o direito ao silêncio. Não se pode exigir que o Pacelli (2009, p. 28) destaca as origens do princípio do
acusado participe de ato que eventualmente possa produzir juiz natural:
prova contra ele (art.  8º da Convenção Americana sobre
Noções de Direito Processual Penal

Direitos Humanos – Pacto de São José da Costa Rica). O princípio do juiz natural tem origem no direito
O preso tem o direito de permanecer calado60. Não anglo‑saxão, construído inicialmente com base na
apenas o preso, também o investigado, indiciado ou mesmo ideia da vedação do tribunal de exceção, isto é,
acusado judicialmente tem o direito ao silêncio, autodefesa a proibição de se instituir ou de se constituir um órgão
negativa. Com efeito, o fato de permanecer calado, quando do Judiciário exclusiva ou casuisticamente para o pro‑
qualquer pessoa, na condição de indiciado, réu ou corréu, cesso e julgamento de determinada infração penal.
deva ser interrogado perante os órgãos competentes, Intimamente conectado ao princípio da legalidade
constitui privilégio contra a autoincriminação, traduzindo (nulum crimen lege), o princípio do juiz natural exi‑
um direito público subjetivo da pessoa.61 gia que somente um órgão previamente constituído
O direito ao silêncio também impede que seja o in‑
vestigado ou acusado obrigado a produzir prova contra si 62
Assunto cobrado: Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009.
mesmo, por meio, por exemplo, do fornecimento de padrões 63
FCC/TRF 5ª Região/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2008 e 17º Con‑
curso Público para Procurador da República/1999.

59
Promotor/DF/2002. 64
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007.

60
OAB‑PR/1º Exame de Ordem/1ª Fase/2004 e NCE/Faepol/Delegado da Polícia 65
Cespe/Promotor/AM/2001.
Civil do Rio de Janeiro/2001. 66
15º Concurso Público para Procurador da República/1996.

61
FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/2004. 67
Promotor/SP/2005.

8
para o processo de crimes, também anteriormente independentemente de intermediação legislativa
definidos, isto é, antes de seu cometimento, seria (Ministros SEPÚLVEDA PERTENCE, MARCO AURÉLIO
competente para o respectivo julgamento. e CARLOS VELLOSO). – Reconhecimento da possibili‑
Posteriormente, por obra do direito norte‑americano, dade de instituição de princípio do Promotor Natural
acrescentou‑se, na elaboração do princípio, a exigên‑ mediante lei (Ministro SIDNEY SANCHES). – Posição
cia da regra de competência previamente estabele‑ de expressa rejeição à existência desse princípio con‑
cida ao fato, fruto, provavelmente, do federalismo signada nos votos dos Ministros PAULO BROSSARD,
adotado desde a formação política daquele Estado. OCTAVIO GALLOTTI, NÉRI DA SILVEIRA e MOREIRA
ALVES”. 4. Tal orientação foi mais recentemente con‑
O princípio do juiz natural consiste na proibição dos firmada no HC nº 84.468/ES (rel. Min. Cezar Peluso,
juízos e tribunais de exceção e também na garantia de Primeira Turma, DJ 20/2/2006). Não há que se cogitar
julgamento pelo juiz competente.68 da existência do princípio do promotor natural no
Com efeito, dispõe o art. 5º, inciso XXXVII, da Constitui‑ ordenamento jurídico brasileiro. (STF, HC nº 90.277/
ção da República Federativa do Brasi, que DF, Rel. Min. Ellen Gracie, Julgamento: 17/6/2008,
Segunda Turma)
não haverá juízo ou Tribunal de exceção”. Por sua
vez, o  inciso LIII do referido artigo determina que Já o STJ tem admitido a aplicação de tal princípio, res‑
ninguém será processado nem sentenciado senão saltando, entretanto, que o princípio do promotor natural
pela autoridade competente. somente se mostra violado mediante demonstração, com
ônus probatório da defesa, de “inequívoca lesão ao exercício
Tais disposições consagram o princípio do juiz natural.69 pleno e independente das atribuições do parquet” ou

Princípio do promotor natural possível manipulação casuística ou designação seletiva


por parte do Procurador‑Geral de Justiça a deixar entre‑
O princípio do promotor natural não tem previsão ex‑ ver a figura do acusador de exceção. (STJ, HC nº 12.616/
pressa na Constituição Federal. MG, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ de 5/3/2001)
Vigora no processo penal o princípio do promotor
natural.70 Referida assertiva é corrente em questões de con‑ Assim, não ofende o princípio do promotor natural a
cursos, notadamente para certames de ingresso na carreira designação de membro do Ministério Público por sorteio
do Ministério Público. para atuar em processos originários de segunda instância.76
O princípio do promotor natural expressa o princípio A denúncia oferecida em face de designação de promotor
institucional de previsão constitucional da independência de justiça pelo procurador‑geral de justiça não ofenderá o
funcional dos membros do Ministério Público.71 No mesmo princípio do promotor natural quando estiver ausente a ma‑
sentido, o princípio do “Promotor Legal” é princípio do ga‑ nipulação casuística ou a designação seletiva capaz de afetar
rantismo constitucional de toda e qualquer pessoa (física o exercício pleno e independente das funções do parquet.77
ou jurídica) dentro de um Estado Democrático de Direito.72
O princípio do promotor natural significa que o mesmo Princípio da jurisdição
não pode ser afastado imotivadamente do inquérito policial
a ele distribuído.73 Trata‑se conceito que trama todo o arcabouço da apli‑
De acordo com a construção doutrinária e jurispru‑ cação da justiça, com a definição dos órgãos a efetivarem a
dencial, configura hipótese de violação do princípio do atuação de um dos poderes, o Judiciário.
promotor natural a designação de um Promotor de Justiça Feitoza (2009, p. 132) destaca que
ad hoc ou de exceção com a finalidade de processar uma
o “instituto” essencial e decisivo do direito processual
pessoa ou caso específico.74
sempre foi e continua a ser a jurisdição. Como aspecto
Entretanto, o princípio do promotor natural não impede
da soberania estatal, é o núcleo do qual gravitam os de‑
manifestações discordantes dos membros da instituição, no
mais institutos processuais, que podem ou não “existir”,
mesmo processo, em caso de substituição legal.75
seja a ação, o processo, as partes, as condições da ação
Por outro lado, o  STF vem afastando a aplicação, no
ou os pressupostos processuais, mas, “existindo”, têm
direito processual pátrio, do princípio do promotor natural,
sua “entidade” estabelecida em razão da jurisdição.
conforme se percebe da leitura das seguintes ementas:
O STF não reconhece o postulado do promotor natu‑ Princípio do duplo grau de jurisdição
ral como inerente ao direito brasileiro (HC nº 67.759,
Noções de Direito Processual Penal

Pleno, DJ 1/7/1993): “Posição dos Ministros CELSO O princípio do duplo grau de jurisdição permite a revisão
DE MELLO (Relator), SEPÚLVEDA PERTENCE, MARCO das decisões judiciais por instância superior.
AURÉLIO e CARLOS VELLOSO: Divergência, apenas, O duplo grau de jurisdição não é princípio explícito na
quanto à aplicabilidade imediata do princípio do Constituição Federal.78 Entretanto, em matéria penal, está
Promotor Natural: necessidade de interpositio presente em nosso ordenamento jurídico.79 Isto em face
legislatoris para efeito de atuação do princípio (Mi‑ das disposições do § 2º do art. 5º, da CF/1988. Não se aplica,
nistro CELSO DE MELLO); incidência do postulado, entretanto, o § 3º do art. 5º da CF, em face de o Pacto não
ter sido aprovado internamente por maioria qualificada.
O duplo grau de jurisdição é princípio inerente ao Es‑
68
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/1ª Fase/2004. tado Democrático de Direito, que exige controle de todo
69
FCC/MPU/Analista/Área Processual/2007.
70
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/ 2º Exame de Ordem/1ª Fase/2004.
ato estatal, controle esse que também pode ser exercido
71
20º Concurso Público para Procurador da República/2003.
72
Promotor/BA/2004.
76
Cespe/STJ/Analista Judiciário/2004.
73
Assunto cobrado na prova do 13º Concurso Público para Procurador da
77
Cespe/Defensoria Pública do Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª
República. Classe/2003.
74
Femperj/TCE-RJ/Técnico de Notificações/2012.
78
Assunto cobrado na prova da OAB‑MS/80º Exame de Ordem/1ª Fase/2004.
75
Assunto cobrado na prova do 20º Concurso Público para Procurador da
79
Assunto cobrado na prova da FCC/Procuradoria‑Geral do Estado de Pernam‑
República. buco/Procurador do Estado I/2004.

9
por meio das ações autônomas de impugnação de habeas Adicionalmente, segundo entendimento majoritário do STF,
corpus e mandado de segurança.80 decreta‑se a nulidade das provas subsequentes obtidas com
fundamento na ilícita (prova ilícita por derivação).92
Princípio do processo acusatório Assim, tendo chegado ao conhecimento da autoridade
policial, por meio de gravação telefônica de origem ilícita,
Com base em tal princípio, adota‑se o sistema acusa­ que Caio mantém em casa joias por ele roubadas dez dias
tório. Nele, em regra, ninguém pode ser levado a juízo sem antes, de uma empresa que comercializa peças preciosas,
uma acusação, seja ela efetivada por populares ou por órgão o Delegado de Polícia requer e obtém, da autoridade judi‑
público – nemo in iudicium tradetur sine accusatione. Não ciária competente, exclusivamente com esse fundamento,
se admite que o julgador inicie o processo ou pratique atos ordem de busca e apreensão a ser executada na casa do sus‑
de investigação ou produção de provas, nem que efetive o peito. Ao cumprir a ordem, a autoridade policial realmente
ato de julgar de forma obscura. apreende parte das joias subtraídas, além de fotografias de
O sistema acusatório estrutura‑se, entre outros aspec‑ Tício e Mévio, que são identificados e reconhecidos pelas
tos, a partir da atribuição às partes da gestão probatória e vítimas como coautores do roubo. Considerando‑se a tese
da radical separação entre as funções de acusar e julgar.81 da prova ilícita por derivação, pode‑se afirmar que as joias
No sistema processual acusatório, o sistema de provas subtraídas e o reconhecimento não serão válidos como
adotado é o do livre convencimento.82 Os indícios, segundo prova, porque ambos foram derivados de prova ilícita.93
sistema adotado por nosso direito processual, são valorados As provas ilícitas devem ser desentranhadas do processo.94
em pé de igualdade com as provas diretas, confirmando De acordo com a seguinte situação hipotética: A au‑
umas, infirmando outras, pois o juiz é livre na apreciação toridade policial, após deter, sem flagrante e sem ordem
da prova, sendo garantido ao réu conhecer os fundamentos judicial, o suspeito de chefiar uma quadrilha de traficantes
que informaram tal apreciação.83 de substâncias entorpecentes, em conversa informal gravou
em uma fita cassete, sem autorização, a sua confissão e a
Princípio da liberdade probatória revelação do modus operandi do bando. Nessa situação,
consoante orientação do STF, trata‑se de prova ilícita em
O sistema de avaliação de prova adotado no processo face da detenção ilegal e, por ter sido a conversa informal
penal brasileiro é o sistema da persua­são racional.84 Signi‑ uma modalidade de interrogatório sub‑reptício, realizado
fica que o juiz forma o seu convencimento de maneira livre, sem as formalidades legais e sem o indiciado ser advertido
embora fundamentando sua decisão.85 do seu direito ao silêncio.95
A persuasão racional se afina com o princípio do Entretanto, a prova ilícita que não foi utilizada pelo juiz
livre convencimento judicial.86 Com efeito, impera no proces‑ na formação de seu convencimento não vicia a decisão.96
so penal o princípio da verdade real e não da verdade formal, Os princípios inerentes aos diversos institutos processuais
próprio do processo civil, em que, se o réu não se defender, serão abordados quando da análise de cada instituto. Por hora,
presumem‑se verdadeiros os fatos alegados pelo autor.87 limitar‑nos‑emos a indicar a nomenclatura de cada princípio.
A legislação brasileira alberga o princípio da verdade
real de forma relativa, tanto que não é permitida a rescisão
de uma absolvição já transitada em julgado quando surjam Princípios do Inquérito Policial
provas concludentes contra o agente.88
No processo penal, o  juiz tem o dever de investigar O inquérito policial é pautado pelos princípios da:
como os fatos se passaram na realidade, não devendo se 1) Dispensabilidade.
conformar com a verdade formal constante dos autos.89 2) Inquisitorialidade.
É em razão do princípio da busca da verdade real que pode 3) Formalidade Escrita.
o juiz proceder novo interrogatório do réu ou a inquirição de 4) Sigilo.
testemunhas, se não houver presidido a instrução processual.90 5) Discricionariedade.
Sabendo‑se que a busca da verdade real e o sistema do 6) Obrigatoriedade.
livre convencimento do juiz, que conduzem ao princípio 7) Legalidade.
da liberdade probatória, levam a doutrina a concluir que 8) Oficialidade.
não se esgotam nos arts. 158 e 250 do Código de Processo 9) Indisponibilidade.
Penal os meios de prova permitidos na legislação brasi‑
leira, conclui‑se que a previsão legal não é exaustiva, mas Princípio da Ação Penal
exemplificativa, sendo admitidas as chamadas provas
inominadas. Ilícitas são as provas que afrontam norma de São princípios da ação penal pública:
direito material.91 1) Oficialidade.
Noções de Direito Processual Penal

2) Legalidade.
Princípio da proibição das provas ilícitas 3) Obrigatoriedade.
4) Indisponibilidade.
São inadmissíveis no processo as provas obtidas por 5) Divisibilidade.
meios ilícitos. É o que determina o art. 5º, LVI, da CF/1988. 6) Princípio do Promotor Natural.
80
OAB‑RS/1º Exame de Ordem/1ª Fase/2005. Já da ação penal privada, citam‑se os seguintes princípios:
81
OAB‑RS/1º Exame de Ordem/1ª Fase/2004.
82
Assunto cobrado na prova do Cespe/2º Exame da Ordem/1ª Fase/2006. 1) Oportunidade (ou Conveniência).
83
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/2º Exame de Ordem/1ª Fase/2003. 2) Disponibilidade.
84
OAB‑RJ/22º Exame de Ordem/1ª Fase/2003. 3) Indivisibilidade.
85
Promotor/AP/2005.
86
Assunto cobrado na prova do 15º Concurso Público para Procurador da
República/1996. 92
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
87
Cespe/Secadto/Delegado de Polícia Civil 1ª Classe/2008. 93
Assunto cobrado na prova NCE/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janei‑
88
Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009. ro/2001.
89
Cespe/OAB‑SP/135º Exame/2008. 94
19º Concurso Público para Procurador da República/2002.
90
Promotor/AP/2005. 95
Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2005.
91
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑MT/Analista Judiciário/2004-2005. 96
OAB‑MG/1º Exame de Ordem/1ª Fase/2004.

10
O princípio da Intranscendência e o Princípio da Ação 2) Princípio da Intangibilidade da Sentença.
(Demanda) se aplicam tanto às ações penais públicas quanto 3) Princípio da Correlação entre Acusação e Sentença
às privadas. (congruência).
4) Princípio do iuria novit curia (narra mihi factum dabo
Princípios relativos à Defesa tibi ius).
5) Princípio da Motivação; Princípio do Favor Rei100.
Aqui incidem os princípios da Obrigatoriedade da Defesa 6) Princípio da Identidade Física do Juiz.
Técnica, bem como da Autodefesa, Negativa ou Positiva, ma‑
Obs.: O Superior Tribunal de Justiça vem admitindo a
terializando, esta última nos Direitos de Presença e Audiência.
mitigação do princípio da identidade física do juiz nos casos
de convocação, licença, promoção ou de outro motivo que
Princípios relativos à persecução penal impeça o juiz que tiver presidido a instrução de sentenciar
o feito, aplicando, por analogia, a lei processual civil.101
Destacamos aqui os princípios:
1) da Autoritariedade do Juiz. Princípios inerentes aos recursos
2) do Impulso Oficial.
3) da Oralidade. São os seguintes os princípios gerais dos recursos:
4) da Indisponibilidade do Rito Processual. 1) Princípios Gerais dos Recursos.
2) Princípio do Duplo Grau de Jurisdição.
Princípios inerentes às provas 3) Princípio da Unirrecorribilidade, Singularidade ou
Unicidade.
Podem ser citados os seguintes princípios probatórios: 4) Princípio da Fungibilidade Recursal.
1) Princípio da Oralidade. 5) Princípio da Voluntariedade.
2) Princípio da Concentração. 6) Princípio da Taxatividade.
7) Princípio da Proibição Reformatio in pejus e admissão
Obs.: O Princípio da Concentração decorre do Princípio da Reformatio in mellius.
da Oralidade.97
Princípios inerentes às nulidades
3) Princípio da publicidade.
4) Princípio da Liberdade Probatória. Regram as nulidades:
5) Princípio da licitude da prova. 1) Princípio da Convalidação.
6) Princípio da Proporcionalidade. 2) Princípio do Prejuízo.
7) Princípio das Provas Ilícitas por Derivação. 3) Princípio do Interesse.
8) Princípio da Verdade Real. 4) Princípio da Lealdade.
9) Princípio da Comunhão da Prova (aquisição). 5) Princípio da Instrumentalidade das Formas (ou da
10) Princípio da Persuasão Racional98. finalidade).
11) Princípio do Contraditório (bilateralidade/audiência 6) Princípio da Conservação dos Atos Processuais.
contraditória). 7) Princípio da Eficácia.
12) Princípio da Proporcionalidade. 8) Princípio da Tipicidade das Formas.
13) Princípio da Prova Legal (ou tarifada). 9) Princípio da Causalidade ou da Consequencialidade.102
14) Princípio da Convicção Íntima.
15) Princípio da não Autoincriminação. Princípios inerentes às medidas cautelares reais e
pessoais
Princípios inerentes à jurisdição
Limitam a atuação estatal:
São os seguintes os princípios que norteiam o exercício 1) Princípio da Proporcionalidade.
da atividade jurisdicional do Estado: 2) Princípio da Liberdade.
1) Princípio do Juiz Natural. 3) Princípio da Presunção de Inocência.
2) Princípio da Investidura.
3) Princípio da Titularidade ou Inércia. REFERÊNCIAS
4) Princípio da Iniciativa das Partes (ne procedat judex
ex officio). ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Direito processual penal.
5) Princípio da Inevitabilidade (irrecusabilidade, indecli‑ 15. ed., Brasília: Vestcon, 2009.
nabilidade ou inafastabilidade).
Noções de Direito Processual Penal

6) Princípio da Indelegabilidade. LOPES JR. Aury. Introdução crítica ao processo penal (fun‑
7 Princípio da Improrrogabilidade. damentos da instrumentalidade garantista). Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2004.
8) Princípio do Devido Processo Legal.
9) Princípio da Imparcialidade do Juiz. __________. Direito processual penal e sua conformidade
10) Princípio da Autoritariedade. constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, v. 1.
11) Princípio da Correlação.
12) Princípio da Identidade Física do Juiz.99 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 11.
ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
Princípios inerentes às decisões judiciais PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria,
crítica e práxis. 6. ed. rev. ampl. e atual. com a Emenda Constitu‑
Pautam as decisões judiciais: cional da “Reforma do Judiciário”. Rio de Janeiro: Impetus, 2009.
1) Princípio da Proibição do ne bis in idem. 100
Assunto cobrado na prova do TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001.
101
Assunto cobrado nas seguintes provas: Femperj/TCE-RJ/Técnico de Notifica‑
97
Assunto cobrado na seguinte prova: Esaf/AFC/Correição/2012. ções/2012 e FCC/DPE-SP/2012.
98
Assunto cobrado na prova do TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001. 102
Assunto cobrado na prova do Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/
99
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. Questão 69/Assertiva D/2011.

11
SISTEMAS PROCESSUAIS Em 1914, conforme destaca Manzini (1951, p. 104),
entrou em vigor na Itália um código de processo penal que
Ao longo da história, houve sistemas processuais que
nortearam o processo penal. Referidos sistemas pautaram pode ser considerado como o primeiro código verda‑
e pautam as linhas bases do sistema de investigação, dife‑ deiramente italiano guiado pelo critério fundamental
renciando ou não, por exemplo, as figuras do acusador, do da relação jurídica processual. Não obstante alguns
julgador, a valoração das provas, o sigilo ou não processo, defeitos, foi obra notável e preparou o caminho para
as formas de penalidade, e outros aspectos. o Código adjetivo do autor e de Alfredo Rocco.

Sistema Acusatório O Código de Rocco de 1930 foi substituído em 1989


pelo Codice di Procedura Penale, que suprimiu o sistema
de investigação judicial, passando o magistrado apenas à
Em tal sistema, em regra, ninguém pode ser levado a juízo
figura de assegurador da regularidade do procedimento
sem uma acusação, seja ela efetivada por populares ou por
investigatório, não mais realizando tarefas investigatórias
órgão público – nemo in iudicium tradetur sine accusatione.
ou instrutórias. No comando da indagini preliminari, está
Não se admite que o julgador inicie o processo ou pratique
o Ministério Público, que pode se valer da polícia judiciária
atos de investigação ou produção de provas, nem que efetive
para angariar provas. Como características da investigação
o ato de julgar de forma obscura.
preliminar italiana, pode-se citar a sumariedade, já que dura
O sistema acusatório estrutura-se, entre outros aspec‑
de 6 meses a 1 ano, sendo que eventual prorrogação deve ser
tos, a partir da atribuição às partes da gestão probatória e
autorizada pelo magistrado; o segredo, que poderá durar até
da radical separação entre as funções de acusar e julgar.1
que exista imputação delitiva formal ao investigado; os atos
No sistema processual acusatório, o sistema de provas
realizados são de mera investigação e não atos de provas a
adotado é o do livre convencimento.2 Os indícios, segundo
serem utilizados no processo penal, além da dispensabilida‑
sistema adotado por nosso direito proces­sual, são valorados
de, eis que a instauração ou não da indagini preliminari fica
em pé de igualdade com as provas diretas, confirmando
a cargo do parquet (LOPES JR., 2003, p. 237-245).
umas, infirmando outras, pois o juiz é livre na apreciação
Na Alemanha, em face da expansão do pensamento re‑
da prova, sendo garantido ao réu conhecer os fundamentos
volucionário francês, fora editada, em 1848, a declaração dos
que informaram tal apreciação.3
direitos fundamentais do povo alemão, buscando-se superar
Decorre do sistema acusatório a capacidade investiga‑
o ranço inquisitorial existente naquele país (PRADO, 1999, p.
tória do Ministério Público.4
92), assim como conferir publicidade e oralidade ao processo
São características do sistema processual acusatório,
e descentralizar as funções de acusar, defender e julgar.
dentre outras, o contraditório na atividade das partes e a
Ali, também a persecução penal se inicia por um procedi‑
publicidade dos atos processuais, como regra.5
mento preparatório, sendo, entretanto, tal fase dirigida pelo
Aury Lopes (2004, p. 152) destaca que
Ministério Público, órgão também incumbido de exercer a
persecução penal na fase processual, titularizando a ação
a origem do sistema acusatório remonta ao Direito
penal, com a observância dos princípios da obrigatoriedade,
grego, onde se desenvolve referendado pela parti‑
mitigados pelo princípio da oportunidade. Neste modelo
cipação direta do povo no exercício da acusação e
investigatório, capitaneado pelo promotor investigador, são
como julgador. Vigorava o sistema de ação popular
características a sumariedade, eis que a coleta de provas em
para os delitos graves (qualquer pessoa podia acusar)
tal fase se dá apenas com o objetivo de se exercitar ou não a
e acusação privada para os delitos menos graves, em
ação penal, e o sigilo, não tendo o investigado ou seu patrono
harmonia com os princípios do Direito Civil.
o direito de presenciar as diligências investigatórias levadas
a cabo pelo parquet (LOPES JR., 2003, p. 247)6.
Após a Idade Média, onde vigorou o sistema inquisitorial Embora a ordem jurídica da Inglaterra não tivesse in‑
puro, o movimento garantista da Escola Clássica de Direito Pe‑ fluência significativa do modelo legal romano-germânico
nal, capitaneado por Verri e Beccaria, foi generosamente reco‑ vigorante na Europa, percebe-se ali típico sistema processual
nhecido pelos demais países europeus, com reflexos em seus penal acusatório privado ou popular.
processos de codificação processual penal dos séculos XVIII Com efeito, desde o século XII vigora naquele país o
e XIX, que passam a adotar novamente o sistema acusatório. Common Law, no qual os costumes também são fonte do
A Itália, que difundira universalmente, por meio da Igreja, direito (PRADO, 1999, p. 97)7. Com efeito.
o modelo inquisitorial, cultivado nas sedutoras universidades
italianas pelos glosadores (de 1100 a 1250) e pós-glosadores No sistema legal inglês, o processo legislativo é divi‑
(de 1250 a 1450 ), custou a se desvencilhar totalmente – se dido, não necessariamente de forma igualitária, entre
é que o conseguiu – das características marcantes deste
Noções de Direito Processual Penal

modelo processual penal, sendo algumas delas o segredo,


6
“Com relação ao órgão encarregado, o sistema alemão atribui ao Ministério
a denúncia anônima e o início da investigação de ofício rea‑ Público a titularidade da ação penal – dominus litis – e também da investigação
lizada pelo magistrado. preliminar, cabendo-lhe ainda dirigir e controlar a atividade de Polícia Judiciá­
Entretanto, como pontuado por Marques (1997, p. 115), ria. Explica Gomez Colomer que o Ministério Público é o órgão instrutor das
causas penais, cabendo a intervenção judicial naquelas resoluções que impli‑
foi dali que partiram as ideias humanistas com dimensão uni‑ quem restrições de direitos fundamentais do sujeito passivo, principalmente
versal de Beccaria e Carrara, sendo que o último dedicou um as que afetem a liberdade (§§ 64, 114, 126-A etc.). O MP tem o monopólio da
dos volumes de seu monumental Programma à abordagem ação penal (§ 243, ap. 3 da StPO), dispondo de faculdades discricionárias em
do Juízo Criminal, sistematizando institutos processuais com virtude da adoção do princípio de oportunidade, sendo, por isso, a autoridade
suprema da acusação e também da investigação preliminar.”
supedâneo em ideias jusnaturalistas.
7
“Já no século XII, a partir da conquista normanda, os costumes parecem ser
a única ou mais importante fonte do direito, dividindo-se em costumes locais
anglo-saxônicos, costumes das novas cidades e costumes dos mercadores,

1
Assunto cobrado nas seguintes provas: Femperj/TCE-RJ/Técnico de Notifica‑ de um modo geral denominados lex mercatoria. Neste século, portanto mais
ções/2012 e OAB-RS/1º Exame de Ordem/2004. cedo que na Europa Continental, os reis da Inglaterra conseguem impor sua

2
Assunto cobrado nas seguintes provas: Femperj/TCE-RJ/Técnico de Notifica‑ autoridade sobre o conjunto do território, desenvolvendo a competência da
ções/2012 e Cespe/2º Exame da Ordem/2006. sua própria jurisdição em prejuízo das jurisdições senhoriais e locais, que
3
Assunto cobrado na prova da OAB-DF/2º Exame de Ordem/2003. perdem progressivamente, ao longo dos séculos XII e XIII, a maior parte das
4
18º Concurso Público para Procurador da República/2001. suas atribuições. Para isso, especialmente em matéria criminal, serviram-se
5 Assunto cobrado na seguinte prova: Femperj/TCE-RJ/Técnico de Notifica‑ de juízes que percorriam todo o território, reuniam as cortes locais e julgavam
ções/2012. os casos em pauta, conferindo unidade ao Common Law.”

12
dois órgãos. Enquanto o Parlamento se incumbe da ou pelo promotor, sendo que ambos devem demonstrar os
feitura das leis internas, o seu poder é suplementado fatos que ensejaram a imputação. A partir daí o investigado
pelas atividades do poder judiciário que desempenha é apresentado à Corte Criminal, para que, após uma preli-
suas funções de forma mais conservadora (INGMAN, minary hearing, decida o magistrado sobre a viabilidade da
2002, p. 310)8. persecução processual penal (FEINMAN, 2000, p. 300)10.
Em tal modelo, embora as decisões dos magistrados, os Aury Lopes (2008, p. 58) lista as características do sistema
“precedentes”, tenham força inferior à lei e a jurisprudência acusatório:
possa ser suplantada pela legislação oriunda do parlamento,
estes são precedentes que devem ser rigorosamente ob‑ a) clara distinção entre as atividades de acusar e
servados – a não ser que haja lei dispondo diferentemente julgar;
dos julgados. b) a iniciativa probatória deve ser das partes;
As criminal courts ouvem e determinam acusação contra c) mantém-se o juiz como um terceiro imparcial,
os que violaram a lei penal, sendo que, na maioria dos casos, alheio ao labor de investigação e passivo no que se
as acusações são feitas por alguém representando o Estado refere à coleta da prova, tanto de imputação como
(INGMAN, 2002, p. 1). Geraldo Prado (1999, p. 98) arremata de descargo;
dizendo que, nos casos criminais ingleses anteriormente julga‑ d) tratamento igualitário das partes (igualdade de
dos pelo júri (INGMAN, 2002, p. 273)9, sempre equidistante e oportunidades no processo);
imparcial, a acusação era confiada “... a qualquer habitante do
e) procedimento é em regra oral (ou predominan‑
reino, pois que, por ficção, admite-se que toda conduta crimi‑
temente);
nal atinge a figura do rei, o que perdura até os dias de hoje”.
Tourinho Filho (2005, p. 87) também destaca o caráter f) plena publicidade de todo o procedimento (ou de
acusatório do processo criminal inglês, consignando que sua maior parte);
g) contraditório e possibilidade de resistência (defesa);
Enquanto o sistema inquisitivo dominava a Europa h) ausência de uma tarifa probatória, sustentando-se
continental, com seus processos secretos e indispen‑ a sentença pelo livre convencimento motivado do
sáveis torturas, na Inglaterra, após o IV Concílio de órgão jurisdicional;
Latrão, que aboliu os “Juízos de Deus”, considerava-se i) instituição, atendendo a critérios de segurança
o processo, diz Beling, um fair trial, e se entendia jurídica (e social) da coisa julgada;
que se devia tratar o acusado como a um gentleman. j) possibilidade de impugnar as decisões e o duplo
Ali, naquele clássico país do liberalismo, dominava a grau de jurisdição.
instituição do Júri, sendo que a persecução ficava a
cargo de qualquer do povo. Arremata o referido autor que, embora a principal crítica
ao sistema acusatório seja a inércia do juiz, é o sistema que
Vislumbrar um modelo acusatório no Direito Processual está em voga nos Estados, eis que inclina-se o sistema pela
Penal inglês não é pacífico na doutrina. Fauzi Hassan (2001, supressão dos abusos e prepotência estatal, primando pela
p. 100-101), por exemplo, pondera que, no processo penal atividade qualitativa das partes.
bretão, não se conheceu a organização acusatória, não ha‑
vendo nada semelhante ao Ministério Público do continente Sistema Inquisitivo
europeu. Destaca que, no exemplo inglês, a ausência de um
órgão estatal persecutório fez com que a titularidade da ação
penal fosse exercida pela polícia investigativa. No sistema inquisitorial que, embora seja histórico, vez
Nos Estados Unidos da América, embora se fale ou outra é aplicado por Estados ditatoriais ou mesmo demo‑
em “the” criminal process, diferentes sistemas são uti‑ cráticos, tem-se a completude das atividades do juiz que in‑
lizados em cada estado e nas próprias cortes federais. vestiga, acusa, preside o processo sigiloso e sem contraditório
Cada sistema tem sua normatização própria, que, em alguns ou ampla defesa, realizando as atividades probatórias que
casos, são convertidas em códigos para evitar a superposição tem no corpo do investigado e na confissão a excelência, além
legislativa, todos devendo observância ao Bill of Rights. de julgar com base em um sistema de provas determinadas
O processo penal se inicia por meio de uma denúncia pelo legislador e muitas vezes participa da execução da pena,
do promotor público que, nos casos delitivos mais graves, é da qual o corpo do apenado se torna o objeto.
precedida de uma análise por parte do grand jury, que decide No sistema inquisitório puro, a concentração do poder
se há evidências suficientes para uma ação penal iminente. processual dá-se nas mãos do inquisidor, em regra escolhi‑
Na acusação, o investigado é informado dos fatos que lhe são do, que, em processo escrito, sigiloso e com comum prisão
imputados sendo-lhe oferecida a oportunidade de, desde já, cautelar, age com supremacia na produção probatória,
declarar-se ou não culpado, ocorrendo aí o plea bargaining, re­gulando os limites de atuação da defesa, acusando e,
Noções de Direito Processual Penal

em que o imputado se declara culpado em troca de acusações ao final, julgando a lide penal por critérios de justiça basi‑
reduzidas ou sentença mais favorável. (FEINMAN, 2000, p. 304) camente vinculados.11
Nota-se ali uma forte e independente atuação preliminar No sistema inquisitório o réu é tratado como objeto do
processual da polícia judiciária, sempre com o propósito de se processo e não como sujeito, e as funções de acusar, defen‑
atingir o princípio do truth-seeking. Quando reunidas provas der e julgar estão confiadas ao mesmo órgão.12
suficientes contra o investigado, efetiva-se seu indiciamento, Durante a Idade Média, as cruzadas pela fé renderam à
em regra feito pelo oficial policial de graduação mais elevada Igreja não apenas benefícios espirituais, mas também tem‑
porais e mundanos. Enquanto um grande número de nobres,

8
“The interrelationship between legislation and the judiciary is of crucial
importance, for the judges are the ultimate enforcers of the law, whether cavaleiros, comerciantes, mulheres e crianças morreram sem
civil or criminal, and whether Parliamentary in origin or judge-made. A judge qualquer propósito, alguns beneficiados obtiveram terras,
will spend approximately one-half of his judicial time on the interpretation of
legislation, as a glance at the law reports will confirm.”

9
“The jury is used in the Crown Court. There is no jury in the magistrates’ courts,
10
“Police, for example, should not be burdened with cumbersome procedures
which try about 98 per cent of criminal cases. The jury is thus used (theoretically) or hypertechnical requirements about what they must do in investigating
in only the 2 per cent of criminal trials which take place at the Crown Court. In crimes, seizing evidence, or interrogating suspects, burdens which would
practice, however, the jury is used even less than this (in about 0.8 per cent of only diminish the system’s ability to determine the truth.”
criminal trials) because 58 per cent of defendants at the Crown Court plead guilty
11
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.
and do not need a jury trial (Judicial Statistics 2000, Cm 5223, 2001, p. 67).”
12
Promotor-BA/2004.

13
títulos e recompensas que eram trazidas da Terra Santa contradição entre a opulência e luxo dos altos escalões da
para a Europa (CARVALHO, 2003, p. 9)13. O Papa exortava os Igreja e a ignorância e despreparo teológico dos padres locais,
cristãos a matar os infiéis islâmicos, concedendo-lhes para que não resistiam aos embates com descrentes em disputas
tanto diversas garantias a serem conferidas em vida ou após intelectuais sagradas.
a morte (BAIGENT; LEIGH, 2001, p. 20)14. Diante de uma situação insustentável para a Igreja, em
Entretanto, a hierarquia eclesiástica, ao se enriquecer, 1233, o Papa Gregório IX inaugurou oficialmente a Inquisição,
foi tomada por uma arrogância clerical com forte propensão criando um tribunal permanente em Toulouse, corte esta
à corrupção e extorsões insuportáveis incididas sobre os composta por inquisidores dominicanos (BAIGENT; LEIGH,
nobres, comerciantes e camponeses. Muitos padres igno‑ 2001, p. 34)18, que receberam autoridade papal para prender
ravam os fiéis e se dedicavam ao comércio, propriedades e os suspeitos de heresia sem qualquer possibilidade de recurso,
amantes (BAIGENT; LEIGH, 2001, p. 26-27)15. Tal situação fez além de poderem sentenciar inclusive à morte. Iniciava-se,
com que cada vez mais parcelas substanciais da população, com a benção divina, o instrumento administrativo de exter‑
completamente alheias ao bem-estar espiritual e temporal, mínio em massa oficial baseado na lei, cuja fonte era a mais
abraçassem outras religiões que ofere­cessem flexibilidade, alta autoridade eclesiástica. (BAIGENT; LEIGH, 2001, p. 39)
tolerância, generosidade e honestidade não encontradas na A metodologia da Inquisição possuía ritual de destaque,
religião oficial (SCHMIDT, in GAUER, Gabriel; GAUER, Ruth, sendo possível considerá-la como precursora da polícia se‑
1999, p. 126)16. creta de Stalin, da SS e da Gestapo nazista (CARVALHO, 2003,
Diante de tais deserções e notável queda na renda, a p. 6)19. Quando um inquisidor chegava em uma cidade, com
Igreja determinava aos reis e nobres que, por meio de força escolta armada e equipe de escrivães, médicos, assessores,
militar, suprimissem os hereges de seus domínios, sendo que, havia uma espécie de procissão que, após exortar heresias
em troca, receberiam recompensas de propriedade confis‑ tais como o Islã e o judaísmo, anunciava o evento. Posterior‑
cadas e as mesmas indulgências prometidas e conferidas mente, era realizada uma convocação para que as pessoas
aos cruzados na Terra Santa (BAIGENT; LEIGH, 2001, p. 28)17. que quisessem declarar-se culpadas apresentassem-se (BAI‑
Ao lado das campanhas militares contra os hereges e GENT; LEIGH, 2001, p. 48)20.
com base na influência e atuação na Igreja dos Dominica‑ Paralelamente a isso, os clérigos mantinham fortes
nos na França, cujos pregadores eram educados, eruditos, redes inquisitoriais de investigação, atuando ex officio na
aptos ao debate com os infiéis, a cultura passou a consistir descoberta de eventuais hereges, adentrando residências
em instrumento de pregação. Isto se dera tendo em vista a e coletando dados sobre as condutas tidas por criminosas
(EYMERICH, 1993, p. 16).21
A audiência era dotada de total publicidade com acesso

13
“A modificação do ambiente do século XIII provoca uma profunda alteração na
consciência social e na estrutura organizal: tudo era relativamente fácil (aos que
a todos, sendo que tal prática não visava assegurar a regula‑
faziam parte da elite, é claro); cada pessoa era um ser segundo sua classe e seu ridade do procedimento ou integridade do investigado, mas
sobrenome, uma ‘virtus’ medida pelas ações heroicas; a economia monetária sim a exposição abusiva e espetacular de mero suspeito,
desorganizou os valores introduzindo uma variável insensata; o ser constituía que era estigmatizado por meio da não aceitação perante
um dado estável; o haver flutua; agora, cada um é aquilo que possui... Estamos
em um século de alto nível cultural: não é o mais o tempo do êxtase fantástico; a população local. Ervin Goffman (1988, p. 14) destaca a
pesquisadores indagavam sobre os mecanismos causais; muito úteis os con‑ existência de estigma nas
tatos com o mundo árabe, evoluído em relação à Europa feudal; da alquimia
à psicologia, florescem interesses experimentais; Aristóteles oferece mapas ... culpas de caráter individual, percebidas como
enciclopédicos. Esse gosto sofisticado rejeita os processos-espetáculo onde
um único e agonístico ato liquida todo o jogo: duelos, juramentos, ordália, vontades fracas, paixões tirânicas ou não naturais,
não dizem o que aconteceu; muito menos respondem a um conhecimento crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo es‑
histórico adequado aos vereditos emitidos pelo petty jury, como vox patriae sas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por
ou voix du pays. O saber técnico imposto pelas fontes romanas exige novas
máquinas instrutórias; se alguém deve ou não ser punido é assunto cientifi‑
exemplo, distúrbio mental, prisão, vício, alcoolismo,
camente regulável; em primeiro lugar, devem ser reexaminados os fatos, com homossexualismo, desemprego, tentativas de suicí‑
métodos adequados à cultura dominante; depois conhecedores do Corpus Iuris dio e comportamento político radical.
ou dos cânones dirão quanto vale in iure o acontecido. Os antigos rituais não
distinguiam as duas questões, facti e iuris.”
14
“Além da permissão para matar, os bons cristãos obteriam remissão de A informação colhida dos delatores era inventariada e
qualquer pena que já houvessem sido condenados a cumprir no Purgatório, catalogada para ser facilmente recuperada e utilizada em
e de penitências a serem pagas ainda na terra. Se o cristão morresse nesse interrogatórios posteriores. Seria a gênese do que mais tarde
esforço, prometiam-lhe automática absolvição de todos os seus pecados. Se
sobrevivesse, seria protegido de castigo temporal por qualquer pecado que
cometesse (...). Além dos benefícios espirituais e morais, o cruzado gozava
18
“Os homens de Dominic seriam educados, capazes de debate erudito, de
de muitas outras proteções em sua jornada por este mundo, antes mesmo enfrentar os pregadores cátaros ou quaisquer outros em ‘torneios teológicos’.
de passar pelos portões celestes. Podia tomar bens, terras, mulheres e títulos Podiam vestir roupas simples e andar descalços, mas levavam livros consigo
no território que conquistasse.” (...) Dominic tornou-se o primeiro indivíduo na história da Igreja a defender

15
“Os bispos da época eram descritos por um contemporâneo como ‘pescadores a cultura como ajuda e instrumento integrais de pregação.”
de alma, com mil fraudes para esvaziar os bolsos dos pobres’. O legado papal na “... na Inquisição está o modelo ideal da implantação de regimes totalitários,
Noções de Direito Processual Penal

19

Alemanha queixava-se de que o clero em sua jurisdição se refestejava no luxo e dos seus métodos de tortura, de como são tratados dissidentes políticos e
na gulodice, não observava jejuns, caçava, jogava e fazia transações comerciais. sociais, de como isolar milhares de pessoas proibidas de conhecer suas origens
As oportunidades de corrupção eram imensas, e poucos padres faziam qualquer culturais, da miséria dos condenados ao silêncio e à incomunicabilidade, do
tentativa séria de resistir à tentação. Muitos exigiam pagamento até pela reali‑ racismo mascarado em novas ideologias e da apropriação de bens como fiança
zação de seus deveres oficiais. Casamentos e funerais não se faziam sem que se desses crimes.”
pagasse adiantado. A comunhão era recusada até que se recebesse uma doação.
20
“Os suspeitos de heresia recebiam um ‘tempo de graça’ – em geral de quinze
Mesmo os últimos sacramentos se recusavam aos agonizantes enquanto não se a trinta dias – para denunciar-se. Se o fizessem dentre desse período, eram
extorquisse uma soma de dinheiro. O poder de conceder indulgências, remissão geralmente aceitos de volta no seio da Igreja sem pena mais severa que uma
de penitências em expiação por pecados, levantava imensa renda extra.” penitência. Mas também eram obrigados a nomear e fornecer informação
16
“No século IV ocorre a conversão do imperador constantino ao cristianismo. Tal detalhada sobre todos os outros hereges que conheciam. O interesse último
fato desencadeia uma inversão de valores: a Igreja abandona o plano absoluto a Inquisição era pela quantidade. Estava disposta a ser branda com um
e passa a relativizar-se, ao passo que o Estado passa a absolutizar-se. Essa transgressor, ainda que culpado, desde que pudesse colher uma dúzia ou
conversão tornou a religião católica oficial, levantou a questão do que seria mais de outros, ainda que inocentes. Como resultado dessa mentalidade, a
um Estado Cristão. Nesse sentido, podemos dizer que a Igreja foi posta face população como um todo, e não apenas os culpados, era mantida num estado
a face com o mundo. Em outras palavras: a Igreja adentra no mundo – e, por de constante pavor, que conduzia à manipulação e ao controle. E todos, com
consequência, o indivíduo também -, ao passo que o Estado sai dele.” relutância ou não, se transformavam em espiões.”

17
“O Papa também escreveu ao Rei da França, exigindo que se fizesse uma ‘guerra
21
“... é prescrita pelo Concílio de Tolosa: Em todas as paróquias se escolherão
santa’ para exterminar os hereges cátaros, descritos como piores que o infiel um ou dois padres e dois ou três leigos, pessoas de bem, a quem se fará
muçulmano. Todos os que participassem dessa campanha seriam imediata‑ prestar juramento, e que farão buscas frequentes e escrupulosas em todas as
mente postos sob a proteção do papado. Seriam liberados de pagamento de casas, nos quartos, celeiros, subterrâneos, etc., com o fim de se certificarem
todo juro sobre suas dívidas e isentos da jurisdição dos tribunais seculares.” se porventura não há hereges escondidos.”

14
.
se valerá o Estado moderno para controlar seus cidadãos. des. (...) Credes que Jesus Cristo encarnou no seio de
Leonardo Boff (in EYMERICH, 1993, p. 23) destacou que uma Virgem? Eles respondem: Oh meu Deus! Porque
me fazeis perguntas dessas? Tomais-me por um ju‑
a característica desse sistema de poder é o autori‑ deu? Eu sou cristão, creio tudo o que um bom cristão
tarismo. Autoritário é um sistema quando os porta‑ deve crer; subentendendo que um bom cristão não
dores de poder não necessitam do reconhecimento deverá crer naquilo. (...) Acreditas que Jesus Cristo
livre e espontâneo dos membros da comunidade estava ainda vivo quando sobre a Cruz foi traspassado
para se constituir e exercer. Por isso temos a ver com por uma lança? Eles respondem: Tenho ouvido dizer
um sistema de dominação. Quando há aceitação que existe hoje grande discussão sobre esse assunto e
livre e espontânea de uma pessoa ou instituição de sobre o da visão beatífica! Valha-me Deus, senhores,
direção por parte dos membros da comunidade, pondes toda a gente de cabeça à roda com essas
então estamos diante da legítima autoridade. Se‑ contestações! Dizei-nos o que devemos crer, porque
parada desse reconhecimento, a autoridade decai eu bem desejaria não errar nunca na fé. (...) quando
para autoritarismo. É o que vigorou e vigora na Igreja são interrogados sobre algum ponto da fé, respon‑
romano-católica já há séculos. dem: Meu padre, eu sou um homem simples e pouco
instruído; sirvo a Deus em simplicidade, ignoro essas
Os inquisidores, cujo poder provinha da exploração dos subtilizas sobre as quais sou interrogado; é-vos fácil
mais fracos, ouviam confissões e denúncias, sendo que seus fazer-me cair numa armadilha e induzir-me em erro;
nomes, bem como o das teste­munhas, jamais eram referidos. em nome de Deus, não me façais dessas perguntas.
Era comum que as pessoas se valessem do aparato da Inquisição (EYMERICH, 1972, p. 35-37)
para acertar velhas contas, vingar-se e até mesmo eliminar
rivais comerciais. As pessoas temiam os vizinhos ou concor‑ Havia também sortilégios que o inquisidor empregava
rentes profissionais, sendo que, para evitar denúncias por contra as evasivas dos hereges. Em caso de presunção de que
outros, o indivíduo se autoincriminava com o intento de o acusado cometera um crime pelas circunstâncias de sua
evitar a Inquisição. Não era raro que comunidades inteiras prisão ou depoimento de testemunhas e carcereiros, o inqui‑
confessassem em massa. sidor dirigia palavras dóceis ao investigado, atribuindo a culpa
Com o objetivo de evitar tal prática, as testemunhas que a alguém que tivesse influência sobre o pretenso criminoso
juravam em falso eram condenadas muitas vezes à prisão (EYMERICH, 1972, p. 39)22, ou demonstrando compaixão,
perpétua ou a pena eivada de crueldade, tornando-se o fosse preocupando-se com o fato de o investigado ter que
processo e até a condenação de falsos testemunhos parte permanecer preso durante a longa viagem do interrogante,
do processo principal. (EYMERICH, 1972, p. 29) sendo que seria a vontade deste liberar desde já o acusado,
O investigado recebia uma intimação para comparecer ou fosse com a permissão de que o herege recebesse visitas
perante o tribunal da Inquisição, que era acompanhada por que o instigariam a confessar o crime.
declaração anônima da acusação que pesava sobre ele. Se fu‑ Como a heresia era um crime do espírito que não deixava
gisse, repetia-se a intimação por três domingos consecutivos. vestígios ou indícios probatórios, a confissão era a rainha e
Após este período, o suspeito era formalmente excomungado talvez a única prova (CARVALHO, in BONATO, 2001, p. 4)23. Se
e declarado herege. o interrogatório não a conseguisse? Havia outros métodos.
Caso o investigado atendesse à intimação, o inquisidor A tortura, utilizada como busca da verdade real (LOPES
usava todos os meios possíveis para arrancar uma confissão, JR., 2004, p. 159)24, servia para fazer o acusado confessar os
valendo-se, para tanto, de interrogatórios prolongados, seus crimes e, segundo o manual dos inquisidores (EYMERI‑
isolamento, fome e tortura. Nas sessões de investigação e in‑ CH, 1972, p. 208), ocorria nos seguintes casos:
terrogatórios da Inquisição, as perguntas, respostas, reações
do acusado, tudo era devidamente anotado pelo escrivão. 1. Um Acusado que varia as suas respostas, negando
No interrogatório, após juramento sobre os Evangelhos, o fato principal. 2. Aquele que, tendo tido reputação
perguntava-se ao investigado seu nome, lugar de nascimento, de herege, e estando já provada a difamação, tenha
em que locais morara, se conhecia o assunto sob análise, contra si uma testemunha (mesmo que seja única)
sobre a vida de Cristo, a razão pela qual fora preso, suspeitas a afirmar que o viu dizer ou fazer algo contra a fé;
de quem o delatara, há quanto tempo havia confessado na com efeito, a partir daí, um testemunho somado à
Igreja e quem seria o seu confessor, seguindo-se diversas anterior má reputação do Acusado são já meia prova
perguntas, sempre vagas e gerais para não dar ao acusado e índice bastante para ordenar a tortura. 3. Se não se
condições de evasivas para ludibriar o inquisidor. Havia apresentar qualquer Testemunha, mas à difamação se
um rol de perguntas religiosas, todas meticulosamente juntarem outros fortes indícios ou mesmo um só, de‑
elaboradas para verificar se o investigado estaria mentindo verá proceder-se também à tortura. 4. Se não houver
caso respondesse de acordo com as previsões dos manuais. difamação por heresia, mas houver uma Testemunha
Noções de Direito Processual Penal

Vejamos exemplos de equívocos dos investigados citados no


22
“Repara, meu filho, tenho pena de ti; houve quem seduzisse a tua simpleza
Manual dos Inquisidores, fruto do trabalho do Frei Nicolau e agora estás totalmente perdido. Por mais criminoso que tu sejas, mais
Eymerich (1320-1399), verbis: criminoso é quem te ensinou; não queiras tornar-te culpado do pecado de
outrem e não queiras ser também tu mestre depois de teres sido discípulo;
confessa-me a verdade, porque, como vês, eu sei tudo. Para conservares a
O primeiro dos seus artifícios é o equívoco (...) se tua boa reputação, para te poder mandar em paz para tua casa, para que em
se lhes pergunta: Acreditas que Jesus Cristo nasceu breve te libertar e absolver, tens que me dizer quem foi que te corrompeu.
de uma Virgem? Eles respondem firmemente, mas Tu, que vivias de forma inocente!”

23
“Não é por acaso que – desde sempre – a confissão tem sido considerada a
dando a entender com isso a firmeza com que persis‑ ‘rainha das provas’, e, embora a doutrina ensine que ela não tem valor abso‑
tem na sua heresia. (...) Acreditas na ressurreição da luto, em verdade, no plano da prática – o que realmente importa, porque é
carne? Sim, se essa for a vontade de Deus, respondem daí que o cidadão sofre as consequências – ainda hoje seu valor é espetacular,
eles, como quem crê que não é vontade de Deus eles quase definitivo: no senso comum dos operadores jurídicos, é SIM a ‘rainha
das provas’.”
crerem um tal mistério. (...) Crês que a usura é um
24
“A lógica inquisitorial está centrada na verdade absoluta e, nessa estrutura, a
pecado? Eles respondem: E vós, que é que vós cre‑ heresia era o maior perigo, pois atacava o núcleo fundante do sistema. Fora
des sobre isso? Diz-se-lhes: Nós e todos os católicos dele não havia salvação. Isso autoriza o ‘combate a qualquer custo’ da heresia
cremos que a usura é um pecado. Eles então juntam: e do herege, legitimando até mesmo a tortura e a crueldade nela empregada.
A maior crueldade não era a tortura em si, mas o afastamento do caminho
Também nós cremos. Subentendendo que vós o cre‑ para a eternidade.”

15
que diga ter visto ou ouvido fazer ou dizer algo contra II – determinar, no curso da instrução, ou antes de
a Fé, ou se aparecem quaisquer fortes indícios, um proferir sentença, a realização de dili­gências para
ou vários, é o bastante para se proceder à tortura. dirimir dúvida sobre ponto relevante.
Art. 196 do CPP. A todo tempo, o juiz poderá proce‑
Findando-se as resistências do investigado, ouvia-se e der a novo interrogatório, independentemente de
transcrevia-se sua confissão. Liam-na e perguntavam-lhe requerimento das partes.
formalmente se era verdade. Se a resposta fosse afirmativa, Art. 209 do CPP. Possibilita ao magistrado, quando
registrava-se o caráter livre, espontâneo e sem máculas da julgar necessário, ouvir outras testemunhas, além
declaração. Após, era proferida a sentença e executada a das indicadas pelas partes, que são as testemunhas
pena (BAIGENT; LEIGH, 2001, p. 54)25. do juízo.
Se o investigado fosse de alta periculosidade, a exemplo Art. 234 do CPP. Se o juiz tiver notícia da existência de
dos bruxos, o ritual era um pouco modificado, com o escopo documento relativo a ponto relevante da acusação
de evitar que os poderes sobrenaturais do réu enfeitiçassem
ou da defesa, providenciará, independentemente
o inquisidor (BAIGENT; LEIGH, 2001, p. 132)26. Com a utiliza‑
de requerimento de qualquer das partes, para sua
ção da psicologia, os inquisidores, que se valiam do estado de
apreensão do acusado, inferindo-lhe desespero, conseguiam juntada aos autos, se possível.
um eficaz meio probatório. Art. 241 do CPP. Permite ao juiz realizar pes­soalmente
Até os dias de hoje, é muito forte o ranço inquisitorial a busca e apreensão domiciliar.
nos processos penais de alguns países, entre eles o Brasil. Art. 311 do CPP. Permite ao juiz, de ofício, em
Vejamos alguns artigos do Código de Processo Penal que qualquer fase do inquérito policial ou da instrução
possuem traços inquisitoriais, segundo parte da doutrina: criminal, determinar a prisão preventiva.
Art. 574 do CPP. Recurso de ofício.
Art. 5º, II, do CPP. Nos crimes de ação pública o inqué‑
rito policial poderá ser iniciado mediante requisição Sistema Misto
da autoridade judicial.
Art. 10, § 3º, do CPP. Fixação de novo prazo pelo juiz Na França, onde a influência iluminista foi preponde‑
para as investigações da autoridade policial quando rante, com a Revolução Francesa de 1789, marco político
o fato for de difícil elucidação. Defende-se também inquestionável, buscou-se modernizar e humanizar a justiça
que o juiz deveria deixar de ser o intermediário no criminal, que, desde o século XIII, era inquisitorial (PRADO,
trâmite do inquérito policial entre a Polícia Judiciária 1999, p. 92)27. Editou-se o Código Napoleônico em 1808
e o Ministério Público. (Code d´Instruction Criminelle), o qual, devido às guerras
Art. 13, II, do CPP. O juiz pode requisitar diligências à napoleônicas, bem como aos seus próprios méritos, rapida‑
autoridade policial, ainda na fase de inquérito policial. mente estendeu seus princípios pelo mundo.
Art. 26 do CPP. O juiz pode iniciar a ação penal por Vislumbrava-se no referido Código duas fases proces‑
portaria, nas contravenções. Referido dispositivo não suais penais distintas, o que caracteriza um sistema misto
subsiste em face das determinações do art. 129, I,
ou formal – um tertium genius entre a perseguição penal
da CF/1988, que confere exclusividade ao Ministério
Público para o ajuizamento da ação penal. inquisitória e acusatória (COUTINHO, 2001, p. 60)28.
Art. 28 do CPP. O dispositivo torna o juiz fiscal da No momento prévio à ação penal, comandado por um juiz
observância do princípio da obrigatoriedade da ação instrutor, com a função de buscar o cometimento de delitos,
penal. Estabelece que, se o órgão do Ministério Pú‑ materializando formalmente e de forma secreta a reconstitui‑
blico, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o ção do fato criminoso, não havia contraditório ou formas de
arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer defesa. Já na segunda fase, em juízo, realizado publicamente,
peças de informação, o juiz, no caso de considerar havia debates perante um tribunal entre o réu e o acusador,
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do sendo que este poderia ser um particular, o ofendido ou um
inquérito ou peças de informação ao procurador‑ órgão público (TOURINHO FILHO, 2005, p. 89)29.
-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro O sistema misto, com alterações no que se refere à real
órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou titularidade da investigação (LOPES JR., 2003, p. 236)30,
insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só delegada quase sempre à polícia judiciária (CHOUKR, 2001,
então estará o juiz obrigado a atender. Há corrente
doutrinária que entende que o controle deveria ser 27
“A França da mesma forma suportou o sistema inquisitório, especialmente a
feito por instâncias internas do Ministério Público. partir da Ordenação de 1254, de Luís IX, editada sob a influência do Direito
Romano-Canônico, com a disposição da apuração das infrações penais de
Art. 156 do CPP. Determina que a prova da alegação ofício e a imposição da jurisdição real em todo o território. Meier salienta,
incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado todavia, que foi a Ordenação Prévia, de 1535, o diploma que definitivamen‑
Noções de Direito Processual Penal

ao juiz de ofício: te incorporou a Inquisição, fazendo sucumbir o modelo acusatório. Pietro


I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, Fredas destaca, por sua vez, que a ordenação criminal de Luís XIV, de agosto
de 1670, ordenou o procedimento criminal na França e apresentou-se como
a produção antecipada de provas consideradas a codificação completa e última do procedimento inquisitório, pretendendo
urgentes e relevantes, observando a necessidade, pôr fim ao caos então vigente na administração da justiça.”
adequação e proporcionalidade da medida; 28
Não admitindo a denominação sistema misto: “Diante desses dois sistemas,
há quem assevere que Napoleão fez fazer surgir um sistema misto, mesclando
características de ambos, também conhecido como reformado ou napoleôni‑

25
“Para assegurar o número máximo de espectadores, as execuções, sempre co. Todavia, há uma impropriedade no termo sistema misto, impossibilitando
que possível, realizavam-se em feriados públicos. O acusado era amarrado sua configuração, porque o que caracteriza cada um dos sistemas já vistos é a
a um poste acima de uma pira de lenha seca, alto o bastante para ser visto existência de um princípio unificador próprio: naquele, inquisitório, o princípio
pela multidão reunida. Mais tarde, na Espanha, as vítimas eram às vezes regente é inquisitivo; no acusatório, o princípio regente é o dispositivo.”
estranguladas antes de ascenderem à pira, sendo assim misericordiosamente 29
“Os princípios do sistema inquisitivo eram consagrados na fase de instrução
poupadas da agonia das chamas.” probatória: o processo, dirigido por um Magistrado, desenvolvia-se por escrito,

26
“Quando uma bruxa era capturada, tomavam-se complicadas precauções para secretamente e sem ser contraditório. A defesa era nula durante a instrução
neutralizar seus poderes. A fim de negar-lhe o contato com a terra, e através preparatória. Na sessão de julgamento tornava-se acusatório o processo: oral,
dela com as regiões infernais, carregavam-na suspensa, numa tábua ou cesta. público e contraditório.”
Apresentavam-na ao seu juiz de costas, para impedir qualquer tentativa de
30
“O juiz (ou o promotor conforme o caso) poderá exercer ele mesmo seus poderes
enfeitiçá-lo com o olhar. Os juízes e outros envolvidos no julgamento ‘não de investigação ou determinar que a polícia judiciária realize a diligência. Na
deviam deixar-se tocar fisicamente pela bruxa, sobretudo em qualquer contato maioria dos casos, segundo Crenier, os juízos utilizam as comissões rogatórias,
de seus braços e mãos nus’.” que permitem aos membros da polícia judiciária proceder em seu nome.”

16
p. 97)31, ainda continua em vigor na França, conforme se Mas o sistema processual penal pátrio pode ser conside‑
percebe no Code de Procédure Pénale, de 1958 (PRADO, rado também como misto em face de várias regras que pos‑
1999, p. 103)32. suem caráter inquisitivo. Com efeito, há previsão do recurso
Estão previstos no referido Código dois tipos de instrução necessário (art. 574 do CPP), da iniciativa probatória do juiz
preliminar. A enquête préliminaire, consubstanciada nas (art. 156 do CPP), a possibilidade de requisitar a instauração
investigações secretas dos delitos de menor gravidade e de inquérito policial (art. 5º, II, do CPP), a fiscalização pelo
complexidade realizadas pelo Ministério Público com auxílio juiz do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública
da polícia judiciária; e a instruction préparatoire, da qual é (art. 28 do CPP), dentre outros.
encarregado um juiz instrutor, que deve apurar a prática de
delitos mais nefastos, sendo, desde já, assegurado ao investi‑ Referências
gado acesso aos autos do procedimento investigatório, além
de contraditório (LOPES JR., 2003, p. 234-237)33. BAIGENT, Michael, LEIGH, Richard. A inquisição. Tradução:
Aury Lopes (2008, p. 68) destaca a primazia que muitas Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
vezes a fase preliminar tem sobre a fase plenária. Destaca que
CARVALHO, Amílton Bueno de. Nós, juízes, inquisidores (ou
a fraude reside no fato de que a prova é colhida na da não presença do advogado no interrogatório). In BONATO,
inquisição do inquérito, sendo trazida integralmente Gilson (org.). Direito penal e direito processual penal: uma
para dentro do processo e, ao final, basta o belo visão garantista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001.
discurso do julgador para imunizar a decisão. Esse
discurso vem mascarado com as mais variadas fórmu‑ CARVALHO, Salo de. Pena e garantias. 2. ed. rev. e atual. Rio
las, do estilo: a prova do inquérito é corroborada pela de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
prova judicializada; cotejando a prova policial com a CHOUKR, Fauzi Hassan. Garantias constitucionais na in‑
judicializada; e assim todo um exercício imunizatório vestigação criminal. 2. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro:
(ou melhor, uma fraude de etiquetas) para justificar Lumen Juris, 2001.
uma condenação, que na verdade está calcada nos
elementos colhidos no segredo da inquisição. O pro‑ COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (coord.). Crítica à
cesso acaba por converter-se em uma mera repetição teoria geral do direito processual penal. Rio de Janeiro:
ou encenação da primeira fase. Renovar, 2001.
Sistema Processual Brasileiro EYMERICH, Nicolau. Manual dos inquisidores. Lisboa: Afro‑
dite, 1972.
O sistema processual penal pátrio é acusatório. A CF não
assegura o sistema inquisitivo misto no processo penal.34 EYMERICH, Nicolau. Manual dos inquisidores. Tradução de
Com efeito, o art. 129, I, da CF/1988 atribui a titularidade Maria José Lopes da Silva. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos;
da ação penal ao Ministério Público. A Carta Magna de 1988 Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1993.
prevê o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV), a igualdade
processual (art. 5º, caput), a persuasão racional do juiz (art. FEINMAN, Jay M. Law 101: everything you need to know
93, I), a publicidade (art. 5º, LX), a economia processual (art. about the american legal system. New York: Oxford Univer‑
5º, LXXVIII), a necessidade de um juiz natural (art. 5º, XXXVII sity Press, 2000.
e LIII), o devido processo legal (art. 5º, LIV), a presunção de
inocência (art. 5º, LVII), a proibição de provas ilícitas (art. 5º, GOFFMAN, Erving. Estigma. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988.
LVI), a inevitabilidade do judiciário (art. 5º, XXXV), a imutabi‑ INGMAN, Terence. The english legal process. 9. ed. New
lidade de suas decisões (art. 5º, XXXVI), proteção dos direitos York: Oxford University Press, 2002.
e liberdades fundamentais (art. 5º, XLI), a intranscendência da
pena (art. 5º, XLV a L), excepcionalidade das medidas restritivas LOPES JR., Aury. Sistemas de investigação preliminar no
de liberdade (art. 5º, LIV), entre outros. processo penal. 2. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Lumen
Entretanto, pode-se considerar o processo penal brasileiro Juris, 2003.
também como misto se for considerado em conjunto com a
fase preliminar processual, qual seja o inquérito policial. Assim, _______. Introdução crítica ao processo penal: fundamen‑
referida fase seria inquisitorial e a fase judicial, acusatória. tos da instrumentalidade garantista. Rio de Janeiro: Lumen
Assim, o Sistema Processual Penal Brasileiro é acusa‑ Juris, 2004.
tório, excluída a fase pré-processual dessa consideração.35
_______. Direito processual penal e sua conformidade consti‑
tucional. Volume 1. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2008.
“A legislação francesa constitui o berço do nascimento do que hoje compre‑
Noções de Direito Processual Penal

31

endemos por polícia judiciária. Nesse ponto, Lavignes e Lemonde apontam o MANZINI, Vincenzo. Tratado de derecho procesal penal.
recrudescimento da Polícia que, instituição praticamente inexistente no início do
século XIX, passou a desempenhar função relevante também em nível interno
Tradução de Santiago Sentis Melendo e Marino Ayerra Redín.
de relação processual, muito em função do comodismo do juiz instrutor e do Buenos Aires: Europa-America, 1951.
titular da ação penal, crítica, aliás, inteiramente aplicável ao caso nacional.”

32
“Novella Galantini, estudando o Processo Penal Francês, observou na década MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual
de 1980 a tendência de aproximação ao modelo acusatório, principalmente por penal, v. I. Campinas: Bookseller, 1997.
meio do controle de poderes atribuídos ao juiz de instrução, situação revertida
posteriormente, conforme as Leis 93-2, de janeiro de 1993, e 93-1013, de
agosto do mesmo ano, que se inclinaram em direção ao retorno ao processo de PRADO, Geraldo. Sistema Acusatório: a conformidade
tipo misto, que atualmente predomina, progredindo a persecução a partir da constitucional das leis processuais penais. Rio de Janeiro:
investigação inicial, levada a cabo pela polícia, sob a coordenação do Ministério Lumen Juris, 1999.
Público, passando pelo exercício da ação penal e instauração da fase de instrução,
até chegar ao juízo propriamente dito, este último oral, público e contraditório.”
33
Lopes destaca ainda, na p. 235, a existência de outras formas de investigação
SCHMIDT, Andrei Zenkner. A violência na desconstrução do
derivada naquele país para a apuração de determinados delitos, como terro‑ indivíduo. In: GAUER, Gabriel J. Chittó, GAUER, Ruth M. Chittó
rismo, tráfico de entorpecentes, delitos perpetrados por pessoas jurídicas, Gauer. A fenomenologia da violência. Curitiba: Juruá, 1999.
flagrantes e contravenções.

34
Assunto cobrado na prova do Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009.

35
Assunto cobrado na prova da Acadepol-MG/Delegado da Polícia Civil de Minas TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal, v. I.
Gerais/2003. 27. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005

17
INQUÉRITO POLICIAL 5) das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros
(Arts. 4º ao 23 do CPP) Militares.
Nos §§ 1º e 4º do referido artigo, o constituinte origi‑
Noções Introdutórias nário firmou orientação no sentido de competir à polícia a
investigação das infrações penais. Estabeleceu que cabe à
Ao longo da História, houve práticas judiciárias que Polícia Federal “exercer, com exclusividade, as funções de
tinham por alvo conseguir a reconstituição de fato delitivo. polícia judiciária da União” (art. 144, § 1º, IV, da CF/1988)1.
Para tanto, seguiam‑se rituais que buscavam a descoberta Dos órgãos policiais descritos, pode‑se fazer a seguinte
da verdade, o que sempre guardou relação com fatores de‑ classificação, embora não absoluta, eis que os órgãos policiais
terminantes das modalidades de convivência social. Segundo podem apresentar, em alguns casos, atuação preventiva e
Foucault (2003, p. 11), repressiva. Vejamos:
1) Polícia Federal. Embora tenha atuação preventiva
as práticas judiciárias – a maneira pela qual, entre os em diversos campos de atuação, como no de controle das
homens, se arbitram os danos e as responsabilida‑ fronteiras, atuação fazendária, prevenindo os delitos de
des, o modo pelo qual, na história do Ocidente, se contrabando e descaminho, prevenção do tráfico ilícito de
concebeu e se definiu a maneira como os homens entorpecentes e drogas afins, segurança de dignitários e
podem ser julgados em função dos erros que haviam atuação preventiva em relação a delitos praticados na esfera
cometido, a maneira como se impôs a determinados federal, para fins do processo penal, predomina o seu caráter
indivíduos a reparação de algumas de suas ações e de polícia repressiva, eis que apura os crimes de ordem fe‑
a punição de outras, todas essas regras ou, se qui‑ deral, com o escopo de formar a opinio delicti do Ministério
serem, todas essas práticas regulares, é claro, mas Público Federal, a iniciar o processo perante a justiça federal.
também modificadas sem cessar através da histó‑ 2) Polícia Rodoviária e Ferroviária Federal. Trata‑se de
ria – me parecem uma das formas pelas quais nossa típica polícia administrativa que, atuando de forma ostensiva,
sociedade definiu tipos de subjetividade, formas de previne os crimes verificados em rodovias e ferrovias, res‑
saber e, por conseguinte, relações entre o homem e pectivamente, sendo que quando estes são materializados,
a verdade que merecem ser estudadas. impõe o flagrante e encaminha para a Polícia Civil ou Federal,
dependendo do delito, para que ali se realizem as atividades
O inquérito policial tem o objetivo de embasar o titular da de polícia investigativa.
eventual ação penal com elementos de provas a justificarem 3) Polícias Civis. Embora também tenham atuação admi‑
ou não o ajuizamento dela, conferindo elementos mínimos nistrativa, predomina sua atuação investigativa, eis que apura
para que a ação seja recebida pelo magistrado, que necessita os crimes para formar a opinio delicti do parquet estadual,
de um mínimo conteúdo probatório a embasar a ação penal, que iniciará o processo perante a justiça estadual.
conferindo‑se a ela a necessária justa causa. 4) Polícia Militar. Assim como a polícia rodoviá­ria federal,
Para se propor a ação penal, é necessário que o Estado tem atuação ostensiva e preventiva. Entretanto, também
disponha de um mínimo de elementos probatórios que realizam funções de polícia investigativa, quando se está
indiquem a ocorrência de uma infração penal e sua autoria, diante de crimes militares estaduais.
sendo o mais comum que isso seja obtido com o inquérito 5) Corpo de Bombeiros Militares. A atuação administra‑
policial. Cabe à Polícia Judiciária, exercida pelas autoridades tiva, preventiva e ostensiva, principalmente em relação à
policiais, a  atividade destinada à apuração das infrações emissão de diversos tipos de licenças.
penais e da autoria por meio do inquérito policial. Dessa forma, apura principalmente os crimes elencados
A finalidade precípua do inquérito policial é a inves‑ no art. 109 da CF/1988, que trata da competência da Justiça
tigação do crime e a sua autoria, com o fito de fornecer Federal, cabendo, assim, à Polícia Federal apurar: a) os crimes
elementos para que o titular da ação penal, seja este o políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de
Ministério Público, no caso da ação pública incondicionada bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
e condicionada, seja o particular, no caso da ação penal autárquicas ou empresas públicas; b) os crimes previstos
privada, a promova em juízo, uma vez que o juiz só pode em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido
receber a ação penal quando ela se basear em elementos
no estrangeiro, ou reciprocamente; c) os crimes contra a
probatórios, ainda que mínimos.
organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico‑financeira;
Polícia Judiciária
d) os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves,
Há duas espécies de polícia, a administrativa (também Em março de 1944, na antiga capital da República, Rio de Janeiro, a Polícia
Noções de Direito Processual Penal

chamada preventiva ou ostensiva) e a judiciária (também do Distrito Federal foi transformada em Departamento Federal de Segurança
chamada de investigativa ou repressiva). Embora ambas Pública (DFSP). Apesar de no seu nome trazer a expressão “Federal”, o DFSP,
como ficou conhecido, somente atuava na área do Distrito Federal, no que
pertençam ao poder executivo, a administrativa serve mais dizia respeito à segurança pública, agindo em âmbito nacional apenas na
ao Poder Executivo, atuando de forma preventiva/ostensiva. parte de polícia marítima, aérea e de fronteiras. Já na metade do ano de 1946,
Já a polícia judiciária tem atuação que interessa mais ao as atribuições do DFSP foram estendidas para todo o território nacional em
alguns casos, como o comércio clandestino de entorpecentes e crimes contra
Poder Judiciário, eis que com base nos elementos investigati‑ a fé pública, quando de interesse da Fazenda Nacional. Todavia, com a nova
vos materializados no inquérito policial, o Ministério Público Constituição Federal, promulgada a 18 de setembro daquele ano, os Estados
terá base para iniciar o processo penal por meio da denúncia. passaram a ter poderes para atenderem as suas necessidades de governo e
administração, sendo considerada uma espécie de limitação dessa autonomia
A Constituição Federal, em seu art.  144, ao  tratar da a existência de um órgão de segurança com atuação nacional. Com a mudança
segurança pública, consignou que esta é exercida com o da capital Federal, em 1960, o DFSP transferiu‑se para Brasília, ficando com
escopo de garantir a ordem pública e a incolumidade das o então Estado da Guanabara os seus serviços de segurança pública, bem
como grande parte de seu efetivo. Devido à carência de pessoal, o DFSP teve
pessoas e do patrimônio, por meio: de ser reestruturado, buscando‑se como modelo as polícias da Inglaterra,
1) da Polícia Federal; dos Estados Unidos e do Canadá, passando a ter, efetivamente, atribuições
2) da Polícia Rodoviária Federal; em todo o território brasileiro a partir de 16/11/1964, dia da edição da Lei
nº 4.483 e até hoje comemorada como sua data maior. Ainda em 1967, o DFSP
3) da Polícia Ferroviária Federal; trocou de nome, surgindo o Departamento de Polícia Federal (DPF), por meio
4) das Polícias Civis; do art. 210 do Decreto‑Lei nº 200, de 25/2/1967.

18
ressalvada a competência da Justiça Militar, e e) os crimes jurídico traçado a partir da Constituição Federal, mecanismo
de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro. que é das atividades genuinamente estatais de segurança
Com base no art. 109, I, da CF, cabe também à Polícia pública.2
Federal investigar infrações penais praticadas em detrimento A atividade de polícia judiciária consiste na realização de
de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades uma investigação preliminar ao processo penal, materializada
autárquicas ou empresas públicas, inclusive em relação às pelo inquérito policial, que é um procedimento administra‑
contravenções penais, sendo o processo posteriormente tivo. Conforme Barbosa (2002, p. 23),
remetido à Justiça Estadual, uma vez que a Justiça Federal
não apura contravenção. O tema será abordado de forma o inquérito policial surgiu entre nós com a Lei
mais extensiva quando se tratar da competência da Justiça nº 2.033, de setembro de 1871 e regulamentada pelo
Federal. Decreto‑Lei nº 4.824, de 28 de novembro de 1871.
Nos termos do art. 1º da Lei nº 10.446/2002: No art. 42 da referida lei, conceituava o inquérito
policial como o instituto que consistia em todas as
Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da Consti‑ diligências necessárias para o descobrimento dos
tuição, quando houver repercussão interestadual ou fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus
internacional que exija repressão uniforme, poderá
autores e cúmplices, devendo ser reduzido a instru‑
o Departamento de Polícia Federal do Ministério da
mento escrito.
Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos
de segurança pública arrolados no art. 144 da Cons‑
tituição Federal, em especial das Polícias Militares Destaca Lopes Júnior (2003, p. 35):
e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre
outras, das seguintes infrações penais: No Brasil, a definição legal do inquérito policial não
I – sequestro, cárcere privado e extorsão mediante consta claramente em nenhum artigo do CPP, e, para
sequestro (arts.  148 e 159 do Código Penal), se o ser obtida, devemos cotejar as definições dos arts. 4º
agente foi impelido por motivação política ou quando e 6º do CPP, de modo que é a atividade desenvolvida
praticado em razão da função pública exercida pela pela Polícia Judiciária com a finalidade de averiguar
vítima; o delito e sua autoria.
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º
da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990); Tem‑se assim um sistema misto de persecução penal,
III – relativas à violação a direitos humanos, que a com uma primeira fase inquisitiva e uma fase principal acu‑
República Federativa do Brasil se comprometeu a satória, que se dá em juízo, a exemplo do sistema francês,
reprimir em decorrência de tratados internacionais estrutura essa que, a despeito das inúmeras inovações legis‑
de que seja parte; e lativas e constitucionais no Direito Pátrio, permanece até os
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive dias atuais. Segundo Carvalho (2003, p. 55),
bens e valores, transportadas em operação inte‑
restadual ou internacional, quando houver indícios o nosso Código era muito mais liberal, pois, no mode‑
da atuação de quadrilha ou bando em mais de um lo francês, o acusado era colocado em uma situação
Estado da Federação. de inferioridade em relação ao acusador oficial e o
juiz exercitava uma atividade de produção de prova,
Referido artigo diz, ainda, em seu parágrafo único, que, valendo‑se, para esse fim, até mesmo da tortura.
quando houver repercussão interestadual ou interna­cional
que exija repressão uniforme, o Departamento de Polícia No Brasil, o fundamento da atividade da Polícia Judiciária
Federal procederá à apuração de outros casos, desde que tal decorre do poder de polícia inerente à Administração, tendo
providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro como finalidades: 1) garantir a eficácia do processo penal; 2)
de Estado da Justiça. dar subsídios para a interposição de eventuais ações penais,
A Polícia Federal atua também nos crimes de competên‑ funcionando, ademais, como filtro processual; 3) manter a
cia da Justiça Eleitoral. regularidade das relações sociais, desestimulando a prática
Já às Polícias Civis dos Estados, de novas infrações.
De acordo com Meirelles (2000, p. 122), poder de polícia
dirigidas por delegados de polícia de carreira, incum‑
é “o mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração
bem, ressalvada a competência da União, as funções
Pública para conter os abusos do direito individual”. Para
de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
Noções de Direito Processual Penal

exceto as militares (art. 144, § 4º, da CF/1988). Mello (2000, p. 673),

Trata‑se da atribuição para investigar os crimes a serem o que efetivamente aparta a polícia administrativa de
julgados pela Justiça Comum. polícia judiciária é que a primeira se predispõe unica‑
Tem‑se também investigação prévia realizada pela Polícia mente a impedir ou paralisar atividades antissociais
Militar, que tem atribuição para investigar os crimes militares enquanto a segunda se preordena à responsabiliza‑
dos Estados, inclusive contra civil, ressalvados os dolosos ção dos violadores da ordem jurídica.
contra a vida (art. 125, §§ 4º e 5º, da CF/1988).
Verifica‑se que a CF/1988 conferiu o poder de investi‑ Embora sejam atos administrativos, referidos autores
gação às autoridades policiais. É a investigação preliminar destacam que, no caso da Polícia Judiciária, o procedimento
policial que faz com que toda a formalização dos atos e a é regulado pela legislação processual penal.
diretriz investigativa sejam direcionadas pela polícia. Tal
método é adotado também na Inglaterra.
Dessa forma, com base na verificação das atribuições
2
Cespe/1º Exame da Ordem/2007 (Tocantins, Sergipe, Rio Grande do Norte,
Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
dos órgãos policiais, pode‑se afirmar que todo inquérito Maranhão, Espírito Santo, Distrito Federal, Ceará, Bahia, Amazonas, Amapá,
policial é modalidade de investigação que tem seu regime Alagoas, Acre).

19
Conceito de Inquérito IV – Foi mantido o inquérito policial como processo
preliminar ou preparatório da ação penal, guardadas
O inquérito é peça escrita, preparatória da ação penal, as suas características atuais. O ponderado exame da
de natureza inquisitiva.3 realidade brasileira, que não é apenas a dos centros
O inquérito policial é procedimento administrativo, urbanos, senão também a dos remotos distritos das
efetivado no âmbito da Polícia Judiciária, cujo objeto são comarcas do interior, desaconselha o repúdio do
os atos de investigação a serem reduzidos à forma escrita, sistema vigente.
com o objetivo de dar elementos ao titular da ação penal, O preconizado juízo de instrução, que importaria li‑
Ministério Púbico ou ofendido, para o ajuizamento ou não da mitar a função da autoridade policial a prender crimi‑
ação penal em face de autor de infração penal. O inquérito nosos, averiguar a materialidade dos crimes e indicar
policial tem natureza jurídica de processo administrativo. testemunhas, só é praticável sob a condição de que
Entretanto, não se lhe aplicam todos os princípios pertinentes as distâncias dentro do seu território de jurisdição
à Administração Pública. Com efeito, o inquérito policial é sejam fácil e rapidamente superáveis. Para atuar
considerado um procedimento administrativo sigiloso, proficuamente em comarcas extensas, e posto que
inquisitivo, escrito e não contraditório.4 deva ser excluída a hipótese de criação de juizados de
A finalidade investigatória do inquérito policial objetiva instrução em cada sede do distrito, seria preciso que
dar elementos para a opinio delicti do órgão acusador de o juiz instrutor possuísse o dom da ubiquidade. De
que há prova suficiente do crime e da autoria, para que a outro modo, não se compreende como poderia pre‑
ação penal tenha justa causa. Para a ação penal, justa causa sidir a todos os processos nos pontos diversos da sua
é o conjunto de elementos probatórios razoáveis sobre a zona de jurisdição, a grande distância uns dos outros
existência do crime e da autoria.5 e da sede da comarca, demandando, muitas vezes,
com os morosos meios de condução ainda praticados
Natureza Jurídica na maior parte do nosso hinterland, vários dias de
viagem. Seria imprescindível, na prática, a  quebra
O inquérito policial não tem natureza judicial. É um do sistema: nas capitais e nas sedes de comarca em
procedimento administrativo inquisitório conduzido pela geral, a imediata intervenção do juiz instrutor, ou a
polícia judiciária, com a finalidade de reunir elementos e
instrução única; nos distritos longínquos, a continu‑
informações necessárias à elucidação do crime.6
ação do sistema atual. Não cabe, aqui, discutir as
Paulo Rangel (2009, p. 73) destaca que a natureza jurídica
proclamadas vantagens do juízo de instrução.
do inquérito é “de um procedimento de índole meramente
administrativa, de caráter informativo, preparatório da ação Preliminarmente, a sua adoção entre nós, na atuali‑
penal”. dade, seria incompatível com o critério de unidade
De início, deve ser afastada a existência da tutela satisfa‑ da lei processual. Mesmo, porém, abstraí­da essa
tiva no bojo dos autos do inquérito policial, que materializa consideração, há em favor do inquérito policial, como
apenas medidas cautelares de perpetuação da prova. Com instrução provisória antecedendo à propositura da
efeito, os princípios processuais constitucionais, tais como ação penal, um argumento dificilmente contestável: é
o do devido processo legal, da igualdade entre acusação e ele uma garantia contra apressados e errôneos juízos,
defesa, da presunção de inocência, do contraditório e do formados quando ainda persiste a trepidação moral
direito à prova, entre outros, impedem que o delegado, pro‑ causada pelo crime ou antes que seja possível uma
motor ou juiz antecipem, provisoriamente, a própria solução exata visão de conjunto dos fatos, nas suas circuns‑
definitiva, “condenando”, desde já, o acusado, apenas por tâncias objetivas e subjetivas. Por mais perspicaz e
estar sendo investigado de forma prévia. circunspecta, a autoridade que dirige a investigação
Quanto à sua natureza, o inquérito policial é sempre inicial, quando ainda perdura o alarma provocado
escrito, inquisitivo e sigiloso.7 pelo crime, está sujeita a equívocos ou falsos juízos
a priori, ou a sugestões tendenciosas.
Finalidade Não raro, é preciso voltar atrás, refazer tudo, para que
a investigação se oriente no rumo certo, até então
O art.  12 do CPP determina que “O inquérito policial despercebido. Por que, então, abolir‑se o inquérito
acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de preliminar ou instrução provisória, expondo‑se a
base a uma ou outra”. Embora seja o inquérito dispensável, justiça criminal aos azares do detetivismo, às mar‑
prescindível para que o titular da ação penal promova a chas e contramarchas de uma instrução imediata e
denúncia ou a queixa – pois a ação penal pode se embasar única? Pode ser mais expedito o sistema de unidade
em outros elementos de prova que não o inquérito policial –, de instrução, mas o nosso sistema tradicional, com o
Noções de Direito Processual Penal

na prática, o  caderno apuratório policial dá supedâneo à inquérito preparatório, assegura uma justiça menos
maioria das ações penais. aleatória, mais prudente e serena.
Ainda sobre a finalidade do inquérito, serve ele também
como filtro processual, fazendo uma seleção dos fatos a Desta forma, verifica‑se que a finalidade do inquérito
serem levados à apreciação do Poder Judiciário. Vejamos o policial é a de dar justa causa à ação penal, eis que, com base
que diz o item IV da Exposição de Motivos do vigente Código
nele, será formada a opinio delicti por parte do Ministério Pú‑
de Processo Penal:
blico ou do querelante, que ajuizarão a ação penal, denúncia
ou queixa, respectivamente, após a análise dos elementos de
3
Cespe/Bacen/Procurador/2009.
investigação materializados no caderno investigativo policial.
4
Assunto cobrado na prova do 32º Exame da Ordem (Rio de Janeiro). Os elementos de investigação contidos no inquérito
5
Cespe/Bacen/Procurador/2009. policial também podem materializar o fumus comissi delicti
6
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
Segurança/Questão 41/Item III/2011; FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
a permitir medidas invasivas na esfera do investigado, como
Segurança/Questão 41/Item I/2011 e Cespe/DPF/Agente/2009. buscas e apreensões, quebras de sigilo fiscal e bancário,
7
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 3ª interceptações telefônicas e prisões cautelares.
Entrância/2001; Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia, Ceará,
Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito
Também serve o inquérito de filtro processual, eis que
Santo). nem tudo o que é noticiado em uma delegacia, por meio

20
das notitia criminis (ou boletins de ocorrência) ensejará a O inquérito policial não pode ser presidido pelo Minis‑
instauração de uma ação penal. tério Público.13

Características Inquisitivo
O Direito Eclesiástico da Idade Média influenciou a ju‑
Embora tenha o inquérito policial natureza jurídica risdição criminal, que conferia excessivos poderes à pessoa
de processo administrativo, não se aplica a este todos os do juiz, o  qual restringia a publicidade e incrementava as
princípios pertinentes à Administração Pública8. O Inqué‑ hipóteses de tortura, sempre em detrimento dos direitos e
rito tem algumas características próprias como o sigilo e a da presunção de inocência, o que conferia ao processo penal
inquisitorialidade. de então um caráter extremamente inquisitório.
Tinha‑se assim intensa justificação teocrática no Direito
Formal ou Escrito Penal medieval, sendo que a pena não se baseava no livre
As peças do inquérito policial devem ser reduzidas a arbítrio ou na culpabilidade do indivíduo por algum fato
escrito ou datilografadas.9 É o que determina o art. 9º do externo que se houvesse cometido, mas sim na moral ou no
CPP, que exige, ainda, que sejam as peças rubricadas pela au‑ dever de consciência individual. Punia‑se o pecado moral ou
toridade policial. Referida exigência se faz por ser o inquérito religioso e não algum fato externo que lesasse a sociedade,
policial a base documental para a propositura da ação penal. caracterizando‑se, assim, um Direito Penal do indivíduo e
não do fato. Conforme Carvalho (2003, p. 15),
Oficial10
O inquérito é presidido pela autoridade policial, da o primeiro aspecto da epistemologia inquisitva seria
chamada polícia judiciária, pois atua em face do fato cri‑ uma concepção ontológica de delito. A análise do sis‑
minoso já ocorrido.11 tema penal não recairia sobre fato (pré) determinado
O inquérito policial é realizado no âmbito de órgão oficial, pela lei penal válida mas, ao contrário, seria dirigida à
qual seja, a polícia judiciária, embora sem exclusividade eis personalidade da pessoa classificada como perversa,
que há outros órgãos oficiais que também apuram delitos. perigosa, herética. A conduta imoral ou antissocial e
Nos primórdios da civilização romana, a vítima de um o resultado produzido seriam frutos da exteriorização
delito, ou seus familiares, retribuía o mal com o mal, sem a da maldade do autor. Esta concepção foi traduzida
utilização de qualquer método procedimentalizado de busca na história da humanidade em inúmeras versões,
do fato ocorrido. Era a vingança privada, que evoluíra para das doutrinas moralistas que identificam no crime
a pena de talião (olho por olho, dente por dente), conforme um pecado às naturalistas que veem no crime um
explica Brasiello apud Tucci (1976, p. 28): sinal de anormalidade ou patologia psicofísica do
sujeito, até aquelas pragmáticas e utilitaristas que a
De fato, em princípio, o  lesado podia vingar‑se: este conferem relevância somente quando se mostra
desforra ilimitada num primeiro momento, mas que como sintoma especial e alarmante da periculosidade
se tornava depois, quando possível, proporcional do seu autor.
à ofensa (lei de taglione, aplicada, sobretudo, nos
casos de iniura corporal). Mais tarde, admitiu‑se Sob a Inquisição, instalara‑se um complexo formal para
a composição pecuniária, com a qual se impedia a todo o processo de investigação, indiciamento, julgamento,
vingança, proporcionando‑se satisfação de outra tortura e execução, que buscava o máximo de dor com o
natureza ao ofendido. mínimo de sangue. Como coloca Prado (1999, p. 90),
Giordani (1997, p. 6) destaca que da busca da verdade real renascem os tormentos
pelas torturas, dispostas a racionalmente extraí­rem
a repressão do próprio homicídio (parricidium), con‑ dos acusados a sua versão dos fatos e, na medida do
siderado como lesivo à pessoa física e não ao Estado possível, a confissão, fim do procedimento, preço da
como tal, cabia inicialmente aos parentes da vítima vitória e sanção representativa da penitência. Dis‑
e não a um órgão estatal.
tintamente das ordálias, dos povos germânicos, que
presumiam uma manifestação das divindades por
Com a criação e o desenvolvimento do Estado, este,
intermédio de um sinal físico facilmente observável,
visando resguardar a segurança coletiva, passou a chamar
a iluminar a verdade e fazer justiça, a tortura impu‑
para si a repressão delitiva, por meio do processo.
nha‑se como procedimento científico de investigação,
Não se permite, nos dias atuais, a justiça privada, princi‑
meio, portanto, considerado à época mais evoluído.
palmente na fase de investigação prévia ao processo penal,
Noções de Direito Processual Penal

ocasião em que os ânimos estão bastante exacerbados.


Tais práticas ultrapassam as barreiras da Idade Média,
A Constituição Federal, em seu art. 144, elenca os órgãos aos
podendo ser verificadas ainda no século XIX, não mais com
quais compete efetivar a investigação preliminar, citando as
Polícias Civis e a Federal. prestação de contas ao papado, mas, sim, às  Coroas. Na
A investigação criminal é regida pelo princípio da não Espanha, por exemplo, apenas em 1834, foi editado um de‑
exclusividade, ou seja, no sistema brasileiro, admite-se creto de supressão que levara a Inquisição ao final naquele
que mais de um órgão a faça. Entretanto, em relação ao país (BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard, 2001, p. 100-101).
inquérito policial propriamente dito, em face do princípio Além do ritual inquisitorial, que já se constituía em
da autoritariedade, apenas a autoridade policial pode tortura psicológica, havia várias engenhocas, tais como o
presidi-lo.12 ecúleo e o saca‑unhas, para atormentar o corpo e a alma dos
acusados de heresia ou bruxaria. Havia também a tortura na
8
MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. água, sendo, entretanto, o “instrumento” supremo da Inqui‑
9
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/ sição o fogo, que constituía a base dos sistemas judiciais da
Área Judiciária/2007. Europa, os quais se utilizavam da piromania para castigar os
10
FCC/TJ-SE/Técnico Judiciário/2009.
11
Cespe/Bacen/Procurador/2009.
12
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/2009.
13
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009.

21
parricidas, bruxos, traidores, entre outros (BAIGENT, Michael; Da leitura da exposição de motivos, percebe‑se que o
LEIGH, Richard, 2001, p. 46). investigado era tratado como mero objeto de investigação
Tais métodos evidenciavam as condições do processo e não como um sujeito de direitos.
inquisitorial, que se caracterizava pela ausência de regula­ Em face do princípio da inquisitorialidade que pauta o
mentação do procedimento e falta ou desvirtuamento e inquérito policial, não se pode, por exemplo, opor suspeição
inutilidade da defesa, além de busca da verdade real por às autoridades policiais nos atos do inquérito.14 É o que
meio da tortura. De acordo com Eymerich (1972, p. 51), determina o art. 107 do CPP.
Com a edição da Constituição Federal de 1988, estatuto
os modos de se defender são estes: a intervenção garantista, é necessário fazer uma leitura constitucional do
de um Advogado que o Acusado possa consultar, Código de Processo Penal, uma vez que diversos dispositivos
a rejeição das testemunhas no caso de ele ser capaz não foram recepcionados pela Lei Maior do nosso país.
de adivinhar quem foi que depôs contra si, a rejeição A título de exemplo, não pode mais ao investigado ser
do Inquisidor e finalmente a apelação. Não se con‑ relegada a condição de objeto de investigação, mas sim
cede ao Acusado um Advogado senão depois de ele de sujeito, ao qual deve ser assegurado o rol de garantias
negar os crimes de que é acusado e isso depois de ter previsto na Lei Maior.
sido por três vezes advertido de que deve confessar Mesmo em face da atual Constituição, é pacífico que não
a verdade. O Advogado deverá ser pessoa cheia de há de se falar em contraditório ou ampla defesa no inquérito
probidade, sábio e zelador da Fé. É nomeado pelo policial. Com efeito, não são assegurados em sua plenitude,
Inquisidor. Deverá ser obrigado a jurar e defender na fase preliminar processual (inquérito policial), os direitos
o Acusado com equidade e fidelidade e a guardar inerentes ao contraditório e à ampla defesa, mesmo diante
inviolável segredo sobre tudo o que vir e ouvir. O seu das disposições do art. 5º, LV, da CF/1988, que destaca que
principal cuidado será aconselhar o Acusado a con‑
fessar a verdade e a pedir perdão do seu crime, no aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
caso de ser culpado. A resposta que o acusado der e aos acusados em geral são assegurados o contra‑
deverá dá‑la de viva voz ou por escrito, de concreto ditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
com o seu Advogado, e deverá ser comunicada ao ela inerentes.
Fiscal do Santo‑Ofício. Além disso, esta comunicação
do Acusado, conjuntamente com o Advogado, deve No inquérito policial, ainda não se pode falar em
ser feita em presença do Inquisidor. “acusado” – o que só se dará na fase judicial do processo –,
mas sim em investigado ou, no máximo, indiciado. Dessa
Nos dias de hoje, a característica inquisitorial do inquérito forma, o referido dispositivo constitucional não tem aplicação
policial se dá principalmente pela ausência de contraditório plena em face do inquérito.
e ampla defesa. Nos termos do art. 185 do CPP,
É forte o ranço autoritário e antigarantista do nosso Es‑
tatuto de Atuação da Justiça. Vejamos o que diz o item II da O acusado que comparecer perante a autoridade
Exposição de Motivos do vigente Código de Processo Penal: judiciária, no curso do processo penal, será quali‑
ficado e interrogado na presença de seu defensor,
II – De par com a necessidade de coordenação sis‑ constituído ou nomeado.
temática das regras do processo penal num Código
único para todo o Brasil, impunha‑se o seu ajusta‑ Dessa forma, percebe‑se que, na fase judicial, a ausência
mento ao objetivo de maior eficiên­cia e energia da de defensor é causa de nulidade absoluta, por atentar contra
ação repressiva do Estado contra os que delinquem. a própria CF.
As nossas vigentes leis de processo penal asseguram O art. 185 tem aplicação na fase do inquérito policial em
aos réus, ainda que colhidos em flagrante ou con‑ face do disposto no art. 6º, V, do CPP. Entretanto, não há
fundidos pela evidência das provas, um tão extenso nulidade do inquérito se não houver defensor constituído ou
catálogo de garantias e favores, que a repressão se dativo acompanhando o interrogatório do indiciado, posto
torna, necessariamente, defeituosa e retardatária, que no inquérito não se aplicam os princípios do contradi‑
decorrendo daí um indireto estímulo à expansão da tório e da ampla defesa. Assim, não é obrigatória a presença
criminalidade. Urge que seja abolida a injustificável de defensor para o indiciado durante o interrogatório feito
primazia do interesse do indivíduo sobre o da tutela na fase policial.
social. Não se pode continuar a contemporizar com Nesse sentido é o entendimento do STJ:
pseudodireitos individuais em prejuízo do bem co‑
Noções de Direito Processual Penal

mum. O indivíduo, principalmente quando vem de Como o inquérito policial é um procedimento admi‑
se mostrar rebelde à disciplina jurídico‑penal da vida nistrativo informativo, de natureza inquisitiva, e não
em sociedade, não pode invocar, em face do Estado, observa os princípios do contraditório e ampla defe‑
outras franquias ou imunidades além daquelas que o sa, a ausência de advogado no interrogatório policial
assegurem contra o exercício do Poder Público fora não acarreta a nulidade do processo. (STJ, Quinta
da medida reclamada pelo interesse social. Este o Turma, HC nº 86.800/SP, DJe: 5/5/2008)
critério que presidiu à elaboração do presente projeto
de Código. No seu texto, não são reproduzidas as Em face da natureza informativa do inquérito, Aury Lopes
fórmulas tradicionais de um mal‑avisado favore‑ (2008, p. 279) destaca que não há presunção de veracidade
cimento legal aos criminosos. O processo penal é aos atos do inquérito, sendo que os elementos obtidos na
aliviado dos excessos de formalismo e joeirado de fase pré‑processual devem acompanhar a ação penal apenas
certos critérios normativos com que, sob o influxo para justificar o recebimento ou não da acusação, ou para
de um mal‑compreendido individualismo ou de um fundamentar medidas de natureza endoprocessual, como
sentimentalismo mais ou menos equívoco, se tran‑
sige com a necessidade de uma rigorosa e expedita
14
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Exame de Ordem/2007 e Cespe/
aplicação da justiça penal. (Grifo nosso) Delegado Federal/Nacional/2004.

22
prisões e apreensões, por exemplo, não devendo ser valo‑ Discricionário
rado o inquérito pelo juiz quando da prolação da sentença. Durante o inquérito, a autoridade policial é quem de‑
Desta forma, imperioso que os elementos de convicção termina quais diligências investigatórias serão realizadas,
produzidos no inquérito sejam repetidos na fase processual, decidindo quando se darão as oitivas, as missões etc.
salvo aqueles cuja natureza não permitir por não serem No que se refere ao momento e à oportunidade de se
renováveis, como a prova pericial, que, impõem, entretanto, realizar as atividades investigativas, há poder discricionário
que seja efetivado o contraditório diferido, na fase judicial da autoridade policial, que pode indeferir requerimento de
da instrução criminal. prova dos interessados, quando, por exemplo, for destituído
Então, de acordo com as novas regras processuais de relação com os fatos apurados. Ainda que tenha relação
penais, não é obrigatória a presença do advogado do in‑ com os fatos, cabe à autoridade policial definir o melhor
diciado durante o interrogatório feito na fase policial, não momento para a apuração.
cabendo ao defensor o direito de interferência, uma vez O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
que não são admitidos na fase inquisitiva o contraditório poderão requerer a realização de perícia ou qualquer outra
e a ampla defesa.15 diligência, podendo a autoridade indeferir ou não o pedido,
Tratando‑se de provas não renováveis, a exemplo do exa‑ caso entenda conveniente à investigação que preside18
me de corpo de delito, o contraditório será exercido apenas (art. 14 do CPP).
durante a fase judicial (contraditório diferido). Com efeito, Dessa forma, se comparece o investigado ao Distrito
Policial e formula requerimento de diligência no curso do
não cabe ao investigado nomear assistente técnico para ques‑
inquérito policial, a  autoridade determinará a realização
tionar o laudo pericial ainda na fase policial. A prova pericial
da diligência caso entenda conveniente à investigação que
produzida na fase do inquérito, sem a prévia manifestação preside. A título de exemplo, no âmbito do inquérito policial
da defesa para formular quesitos, não é inválida.16 instaurado para apuração de crime contra os costumes, o
Diferente situação se tem em juízo, nos termos do § 5º direito ao contraditório pelo suposto autor é limitadamente
do art. 159 do CPP (nova redação dada pela Lei nº 11.690, exercido, apenas com o direito de requerer diligências que
de 2008): serão realizadas ou não a juízo da autoridade.19
Em situações excepcionais, o  STJ já entendeu estar a
Durante o curso do processo judicial, é permitido às autoridade policial obrigada a atender a requerimentos de
partes, quanto à perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, diligências:
de 2008)
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a Inquérito policial (natureza). Diligências (requerimento/
prova ou para responderem a quesitos, desde que o possibilidade). Habeas corpus (cabimento). 1. Embora
mandado de intimação e os quesitos ou questões a seja o inquérito policial procedimento preparatório da
serem esclarecidas sejam encaminhados com antece‑ ação penal (HCs nos 36.813, de 2005, e 44.305, de 2006),
dência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar é ele garantia “contra apressados e errôneos juízos”
as respostas em laudo complementar; (Exposição de motivos de 1941). 2. Se bem que, tecnica‑
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresen‑ mente, ainda não haja processo – daí que não haveriam
tar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser de vir a pelo princípios segundo os quais ninguém será
inquiridos em audiência. (Incluído pela Lei nº 11.690, privado de liberdade sem processo legal e a todos são
de 2008) assegurados o contraditório e a ampla defesa –, é lícito
admitir possa haver, no curso do inquérito, momentos
Referido artigo não tem aplicação no inquérito policial. de violência ou de coação ilegal (HC nº 44.165, de 2007).
Não será contraditada perícia na fase policial. Assim, como 3. A lei processual, aliás, permite o requerimento de
visto, o contraditório será exercido apenas durante a fase diligências. Decerto fica a diligência a juízo da autoridade
judicial, de forma diferida. policial, mas isso, obviamente, não impede possa o indi‑
Há inquéritos com contraditório, tais como: 1) o inquérito ciado bater a outras portas. 4. Se, tecnicamente, inexiste
falimentar, previsto na antiga Lei de Falências (Decreto‑Lei processo, tal não haverá de constituir empeço a que se
nº 7.661/1945), que, embora também se constitua de mera garantam direitos sensíveis – do ofendido, do indicia‑
peça informativa, pressupõe contraditório prévio, à falta do do, etc. 5. Cabimento do habeas corpus (Constituição,
qual são inadmissíveis o oferecimento e o recebimento da art. 105, I, c). 6. Ordem concedida a fim de se determinar
denúncia, (LF, art. 107) (STF, Primeira Turma, HC nº 82.222, à autoridade policial que atenda as diligências requeridas.
DJ: 6/8/2004). Entretanto, referida modalidade de inqué‑ (STJ, Sexta Turma, HC nº 69.405/SP, DJ: 25/2/2008, p. 362)
rito foi revogada pela Lei nº 11.101/2005; e 2) o inquérito
da Polícia Federal para a expulsão de estrangeiro (art. 184 Sabe-se que em muitos casos a autoridade policial tem
atribuições discricionárias.20
da Lei nº 6.815/1980). No IP instaurado por requisição do
Noções de Direito Processual Penal

Por outro lado, em inquérito policial, o poder discricionário


ministro da Justiça, objetivando a expulsão de estrangeiro,
da autoridade policial de realizar as diligências solicitadas pelo
o contraditório é obrigatório.17 Referido inquérito não obje‑ ofendido ou seu representante legal deve ser mitigado quando
tiva materialização de provas de crimes, mas sim de sanção se tratar de exame de corpo de delito. Deixando a infração
administrativa de expulsão a estrangeiro. vestígios, deve a autoridade policial determinar a realização

15
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado de
do exame do corpo de delito. Dessa forma, levando a vítima,
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área ou mesmo o autor dos fatos, ao conhecimento da autoridade
Judiciária/2006; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Vunesp/TRF 3ª Região/Ana‑ policial a notícia de que sofrera lesões, deve o delegado deter‑
lista Judiciário/Área Judiciária/2002; OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2004; minar a realização da perícia. Isso porque não pode a confissão
Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba,
Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo); OAB‑ES/2º
suprir a ausência de realização do exame de corpo de delito.
Exame de Ordem/2004; Cespe/1º Exame da Ordem/2007 (Tocantins, Sergipe, Rio
Grande do Norte, Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso, Mato
18
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001;
Grosso do Sul, Maranhão, Espírito Santo, Distrito Federal, Ceará, Bahia, Amazonas, PC‑PR/Delegado de Polícia Civil/2007; FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/
Amapá, Alagoas, Acre); Cespe/3º Exame de Ordem/2007; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Área Judiciária/2007 e OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004.
Justiça Avaliador/1997; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; Cespe/1º Exame da
19
FCC/DPE-PA/Defensor Público/2009.
Ordem/2004 (Espírito Santo); Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.
20
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
16
Assunto cobrado na prova da OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004. Segurança/Questão 41/Item IV/2011 e FCC/TRT 1ª região/Técnico Judiciário/
17
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. Segurança/Questão 41/Item II/2011.
A autoridade policial também não pode recusar‑se a re‑ segundo recentes precedentes do egrégio Supremo Tribunal
alizar diligências requisitadas por juiz ou Ministério Público, Federal e do Superior Tribunal de Justiça, pode o advogado
ainda que entenda desnecessárias à elucidação do crime. regularmente constituído pelo investigado obter acesso aos
É o que determina o art. 13, II, do CPP. Não se trata aqui autos do inquérito policial contra ele instaurado.23 (STJ, Sexta
de requerimento, mas sim de requisição que, sendo descum‑ Turma, RMS nº 20.484/ES, DJe: 12/8/2008)
prida, sujeita a autoridade policial a punições administrativas Desta forma, constitui direito do investigado e do respec‑
e até mesmo penais. tivo defensor o acesso aos elementos coligidos no inquérito
O art. 156 (com a redação dada pela Lei nº 11.690, de policial, ainda que este tramite sob segredo de justiça.24
2008) destaca inclusive que No mesmo sentido, é direito do defensor, no interesse
do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, que, já documentados em procedimento investigatório
porém, facultado ao juiz de ofício ordenar, mesmo realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada digam respeito ao exercício do direito de defesa.25
de provas consideradas urgentes e relevantes, obser‑ O STF editou a Súmula Vinculante nº 14, onde se destaca
vando a necessidade, adequação e proporcionalidade que:
da medida.
É direito do defensor, no interesse do representado,
Embora referido artigo seja passível de críticas – já que o ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
juiz, ao atuar de ofício na busca de provas na fase preliminar, documentados em procedimento investigatório reali‑
está a atentar contra a sua imparcialidade –, reforça‑se a obriga‑ zado por órgão com competência de polícia judiciária,
toriedade de a autoridade policial atender à requisição judicial. digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Sigiloso Desta forma, tal prerrogativa não se estende às provas


O art. 5º, LX, da CF/1988, determina que “a lei só poderá ainda não juntadas aos autos do inquérito, aos documentos
de terceiros, nem
restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem”.
a atos que por sua própria natureza não dispensam a
Como exemplo: PM prende dupla que roubou relógio e R$
mitigação da publicidade (v.g., futuras interceptações
0,50 de aposentado em Salvador – BA. Dois assaltantes foram telefônicas, dados relativos a outros indiciados) (STJ,
presos após roubarem um aposentado em Salvador – BA. Quinta Turma, HC nº 95.979/SP. DJe: 18/8/2008).
Armados com um revólver, a dupla ameaçou o aposentado
e roubou um relógio, R$ 0,50 e alguns bilhetes de loteria que Assim, tendo em vista o enunciado da Súmula Vincu‑
estavam na carteira da vítima, segundo a polícia. De acordo lante nº 14 do Supremo Tribunal Federal, quanto ao sigilo
com a polícia, após o roubo, os assaltantes tentaram fugir do inquérito policial, é correto afirmar que a autoridade
em uma motocicleta, porém um deles foi imobilizado por policial poderá negar ao advogado o acesso aos elementos
pedestres que presenciaram a cena. O segundo assaltante de prova que ainda não tenham sido documentados no
também foi preso momentos depois pela polícia, durante procedimento investigatório.26
tentativa de fuga. Os dois criminosos – que não tiveram as Se a escuta telefônica já não está mais em sigilo, por ter
identidades reveladas – foram presos e encaminhados à 3ª sido incorporada aos autos do inquérito, o que na linguagem
DP de Salvador, onde prestaram depoimento. O aposenta‑ policial se chama “abrir o grampo”, daí cabe a intervenção
do vítima do assalto não se feriu e recuperou os pertences de advogado. Nesse sentido, a  participação de Defensor
roubados. (Fonte: Folha On-Line, 22/6/2009). Nesse caso, Público no inquérito policial nos casos de crimes hediondos
não revelar a identidade dos assaltantes não fere o direito onde há decretação de sigilo por interceptação telefônica
fundamental à informação, tendo em vista que a autoridade é direito do indiciado solicitar intervenção diretamente à
pode impor o sigilo necessário à elucidação dos fatos.21 Defensoria Pública.27
Comumente se verifica abuso por parte de órgãos policiais Entretanto, não é absoluto o direito do advogado, con‑
que, em evidente exploração midiática dos fatos, embora forme resta demonstrado no seguinte julgado:
limite o acesso aos fatos apurados ao investigado (restrição da
publicidade interna), expõe as investigações à imprensa (pu‑ Há de se ressaltar, porém, que, além da necessidade
blicidade externa), conduta que deve sempre ser combatida. da demonstração de que o seu cliente está sendo,
Dessa forma, pode o delegado limitar o acesso aos autos do efetivamente, alvo de investigação no inquérito
inquérito para a imprensa, testemunhas, vítima e até mesmo policial, o acesso conferido aos causídicos deverá se
para o investigado. Não são abrangidos pelo sigilo decretado limitar aos documentos já disponibilizados nos autos,
pela autoridade policial o juiz, nem o representante do Minis‑ não sendo possível, assim, sob pena de ineficácia do
Noções de Direito Processual Penal

tério Público. Isto porque o juiz fiscaliza a legalidade dos atos meio persecutó­rio, que a defesa tenha acesso, “à de‑
efetivados no inquérito e o representante do Ministério Público cretação e às vicissitudes da execução de diligências
é o próprio destinatário dos atos de investigação, que irão em curso (HC nº 82.354/PR, Primeira Turma, Rel. Min.
formar a persuasão sobre o ajuizamento ou não da ação penal. Sepúlveda Pertence, DJ de 24/09/2004)”. (STJ, Quinta
De acordo com a recente orientação jurisprudencial do Turma, HC nº 58.377/RJ, DJe: 30/6/2008)
Supremo Tribunal Federal sobre a possibilidade de decretação
do sigilo do inquérito policial, não é possível a decretação Percebe‑se da leitura do julgado a necessidade de que
alcançando o advogado do investigado, por força do art. 5º, o advogado, para ter acesso aos autos, deva estar atuando
LXIII, da CF, e do art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/1994.22 Com efeito, para o investigado. Entretanto, há julgados no sentido de que

21
Assunto cobrado na prova do Cespe/Sejus-ES/Agente Penitenciário/2009.

22
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Procuradoria Geral do Distrito Fe‑ 23
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substi‑
deral/2007; NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004; OAB‑RJ/30º Exame da tuto/2009.
Ordem; OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005 24
Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009.
e Cespe/1º Exame da Ordem/2007 (Tocantins, Sergipe, Rio Grande do Norte, 25
FCC/DPE-SP/Questão 15/Item III/2012.
Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, 26
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão
Maranhão, Espírito Santo, Distrito Federal, Ceará, Bahia, Amazonas, Amapá, 54/Assertiva A/2011 e FGV/OAB/V/Questão 65/2011.
Alagoas, Acre). 27
Assunto cobrado na prova da FCC/DP‑MA/Defensor Público/2009.

24
é direito do advogado examinar em qualquer repar‑ do inquérito é servir de filtro processual e formar a opinio
tição policial, mesmo sem procuração nos autos de delicti da acusa­ção. A forma é a escrita. O motivo é a exis‑
flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, tência de um fato típico e não estar extinta a punibilidade.
ainda que conclusos à auto­ridade, podendo copiar O objeto são os atos de investigação.
peças e tomar apontamentos (art. 7º, XIV, da Lei Entretanto, a polícia judiciária exerce a função de inves‑
nº 8.906/1994). tigação preliminar ao processo penal, sem exclusividade,
conforme adiante se verá quando forem abordados os
Entretanto, no mesmo julgado, ressaltou‑se, ao final, inquéritos extrapoliciais.

ao advogado que possui procuração nos autos e está Oficioso ou Obrigatório


no exercício da profissão, indispensável à administra‑ Nos crimes de ação pública, a instauração do inquérito
ção da justiça, não se pode impedir o acesso ao inqué‑ policial poderá ser feita de ofício.32
rito policial (RMS nº 20.719/RS, Min. Arnaldo Esteves A instauração do inquérito policial, nos crimes de ação
Lima, Quinta Turma, 24/4/2008, DJe 23/6/2008). penal pública incondicionada, é feita, de ofício, pela autori‑
dade policial, que não depende de provocação do ofendido
Dessa forma, pode‑se entender que, quando o segredo ou de quem quer que seja, nos termos do art. 5º, I, do CPP.
das informações for imprescindível para as investigações, Referida característica deriva do princípio da legalidade, que
o  sigilo atingirá também o advogado, apenas se houver impõe à autoridade policial o dever, e não a faculdade, de
determinação judicial nesse sentido. determinar a instauração de inquérito policial sempre que
Em relação à retirada dos autos fora da secretaria do tomar conhecimento da ocorrência de infração penal de ação
juízo, o STJ entende que o direito do advogado de acesso penal pública incondicionada. Dessa forma, em se tratando
aos autos não é absoluto, pois, nos termos do Estatuto de crime de ação penal pública incondicionada, deve a
da Ordem dos Advogados do Brasil, o magistrado pode, autoridade policial instaurar o inquérito policial de ofício.33
de forma fundamentada, negar o pedido de vista fora do Nos crimes de ação penal pública incondicionada, nada
cartório, quando entender existir circunstância relevante impede que haja requerimento do ofendido. O requerimento
que justifique a permanência dos autos no cartório, como a da vítima pode servir para dar início ao inquérito policial
diversidade de réus e necessidade de juntada frequente de tanto nos crimes de ação penal pública incondicionada,
documentos de interesse de todas as partes (STJ, RMS nº quanto nos crimes de ação penal privada34. Desse modo,
20.100/SC, Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 29/06/2007).28 pode ou não haver representação para a instauração de
O § 6º do art. 201 (nova redação dada pela Lei nº 11.690, inquérito nos crimes de ação penal pública incondicionada.
de 2008) determina, nesse sentido, que O mesmo não ocorre no caso de crimes de ação penal
pública condicionada e ação penal privada, em que a repre‑
O juiz tomará as providências necessárias à preserva‑ sentação (ou requisição) e o requerimento, respectivamente,
ção da intimidade, vida privada, honra e imagem do são imprescindíveis para a instauração do inquérito policial.
ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo Assim, para que o delegado instaure o inquérito em
de justiça em relação aos dados, depoimentos e ou‑ crimes como o de ameaça (art. 147 do CP) ou o de lesões
tras informações constantes dos autos a seu respeito corporais leves (art. 129, caput, do CP), deve o ofendido ou
para evitar sua exposição aos meios de comunicação. seu representante legal oferecer representação na delega‑
cia. Dessa forma, o  inquérito, nos crimes em que a ação
De sua natureza eminentemente sigilosa, podem ser uti‑ pública depender de representação, não poderá sem ela
lizados em procedimento administrativo disciplinar, contra ser iniciado.35
outros servidores, cujos eventuais ilícitos administrativos No crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora
teriam despontado à colheita dessa prova29.
do Brasil, para a instauração de investigação no Brasil, é ne‑
cessária a requisição do Ministro da Justiça (§ 3º do art. 7º
Autoritário ou oficial
do Código Penal).
O inquérito policial é presidido pela autoridade policial,
Nos casos de crimes de ação penal privada – exemplo:
ou seja, o delegado de polícia, agente público dotado de
calúnia (art. 138 do CP), injúria (art. 139 do CP) e difamação
competência administrativa para tanto. É o que determina
o art. 4º do CPP: (art. 140 do CP) –, é necessário requerimento da vítima para
que se lavre uma portaria ou o auto de prisão em flagrante.
A polícia judiciária será exercida pelas autoridades Portanto, o requerimento, ou manifestação do ofendido,
policiais no território de suas respectivas circunscri‑ é indispensável para a instauração de inquérito policial vi‑
ções e terá por fim a apuração das infrações penais sando apurar crime de ação penal exclusivamente privada.
Noções de Direito Processual Penal

e da sua autoria. Cabe lembrar que, em relação aos crimes que se proces‑
sam mediante ação penal de iniciativa privada, é possível a
O inquérito policial não pode ser presidido por mem‑ prisão em flagrante, embora seja necessário requerimento
bro do Ministério Público ainda quando designado pelo da vítima para a lavratura do auto de prisão em flagrante
Procurador-Geral de Justiça, por ser a apuração do delito na delegacia.
for de interesse público.30 Se, em crime de ação penal privada, o ofendido formular
Não se deve confundir oficialidade com oficiosidade.31 requerimento para a abertura do inquérito, e o delegado de
O inquérito policial, embora seja peça meramente in‑ polícia, por despacho, indeferir o referido requerimento,
formativa, sujeita‑se aos requisitos do ato administrativo: caberá recurso ao chefe de polícia por parte do ofendido
competência, finalidade, forma, motivo e objeto. Não pode, (art. 5º, § 2º, do CPP). Aury Lopes (2008, p. 257) destaca que
assim, o auto de prisão em flagrante ser lavrado por escrivão,
mas apenas pelo delegado, autoridade policial. A finalidade FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/2009.
32


33
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-RJ/Questão 19/Assertiva
C/2012 e Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009.
28
Assunto cobrado: Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009.
34
OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005.
29
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009.
35
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/
30
Assunto cobrado: FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009. Área Administrativa/Questão 55/Assertiva C/2011; FGV/SSP‑RJ/Oficial de
31
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. Cartório/2009 e Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009.

25
trata‑se de recurso inominado, de caráter adminis­trativo e delitos de lesão corporal simples significaria retirar
de pouca ou nehuma eficácia, sendo mais efetivo o questio‑ da vítima o direito de relacionar-se com o parceiro
namento da omissão via Mandado de Segurança. escolhido, ainda que considerado ofensor. (STJ; AgRg
O vício de consentimento do ofendido leva à nulidade nº REsp. nº 1.120.965 / MG; 6º Turma; Ministro OG
da representação deste mesmo ofendido, no instante em FERNANDES; DJe 31/5/2010)
que visa apurar crime de ação pública condicionada à
representação.36 Dispensável ou Facultativo
O inquérito policial é dispensável, já que o Ministério
Indisponível Público pode embasar seu pedido em peças de informação
Apenas o juiz poderá mandar arquivar os autos de in‑ que concretizem justa causa para a denúncia.43
quérito policial, sendo vedado tal ato ao delegado.37 Caso as informações obtidas por outros meios sejam
Em razão do princípio da indisponibilidade do inqué‑ suficientes para sustentar a inicial acusatória, o inquérito
rito policial, não pode este ser arquivado pela autoridade policial torna‑se dispensável.44
policial.38 (art. 17 do CPP). O inquérito policial é peça não imprescindível para o
Nem mesmo surgindo questões prejudiciais na fase oferecimento da denúncia ou queixa.45 Isso porque o art. 12
inquisitorial, como a anulação de um casamento na esfera do CPP determina que “o inquérito policial acompanhará a
cível devido a crime de bigamia, a autoridade policial não denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou
poderá suspender o inquérito policial.39 outra”.
O inquérito policial instaurado pela autoridade policial Assim, o titular da ação penal pode propor ação direta‑
não pode ser por ela arquivado, ainda que não fique apu‑ mente com base em outras informações que não as do inqué‑
rado quem foi o autor do delito.40 rito policial. O inquérito policial não é peça necessariamente
Decorre do princípio da indisponibilidade do processo a indispensável ao oferecimento de denúncia pelo Ministério
possibilidade do juiz discordar do pedido de arquivamento Público. Com efeito, em tema de investigação criminal,
do inquérito policial pleiteado pelo Ministério Público.41 o inquérito civil público é bastante a embasar persecução
O delegado não suspende nem arquiva as investigações. criminal judicial46. Assim, não é necessária a formalização
Entendendo a autoridade policial que o fato não constitui do procedimento criminal no próprio Ministério Público
crime, que já está extinta a punibilidade ou mesmo que não para o ajuizamento da denúncia.47 Por outro lado, pode o
há provas suficientes para o indiciamento, ela não poderá MP oferecer a denúncia antes de concluído e relatado o IP
determinar o arquivamento do inquérito policial, mas ape‑ pela autoridade policial.48
nas relatar o inquérito, destacando referida circunstância e Como exemplo, a mãe de Lívia foi atropelada em uma
submetendo à apreciação do magistrado.42 avenida à beira-mar. Inconformada pelo fato de o motorista
Nas hipóteses de crime de ação penal privada ou pública não ter prestado socorro à sua mãe, a filha investigou o
condicionada à representação, a  manifestação da vítima atropelamento por conta própria e descobriu o autor do
ainda durante o inquérito não permite ao delegado arquivar crime e as provas da materialidade do delito. Com base
as investigações, devendo a autoridade policial relatar o nessa situação hipotética, Lívia pode provocar a iniciativa
inquérito e encaminhar os autos ao juiz competente. do MP diretamente, fornecendo pessoalmente todas as
Referida assertiva ganha mais força em casos de vio‑ informações acerca do fato, sendo dispensável a instau‑
lência doméstica e familiar contra a mulher, o art. 16 da Lei ração de IP.49
nº 11.340/2006 determina que O inquérito não é indispensável para o ajuizamento da
ação penal. Entretanto, é indispensável que a ação venha
Nas ações penais públicas condicionadas à repre‑ acompanhada de justa causa, ou seja, elementos probató‑
sentação da ofendida de que trata esta Lei, só será
rios mínimos a ensejar o início da fase judicial, sendo esses
admitida a renúncia à representação perante o juiz,
elementos de prova um inquérito policial, um inquérito
em audiência especialmente designada com tal fina‑
administrativo de algum órgão público, uma representação
lidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido
ou qualquer elemento de prova que caracterize, ainda que
o Ministério Público.
de forma superficial, a  materialidade do crime e indícios
suficientes de autoria.
Desta forma, se a vítima for à Delegacia se retratar, deve
Indícios é uma circunstância conhecida e comprovada
o delegado continuar as investigações, devendo, ao final das
que tem ligação com o fato probando no campo da prova
investigações, encaminhar os autos ao juiz.
A Terceira Seção do STJ no Direito Processual Penal.50

concluiu que, em sede de recurso submetido à siste‑ Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009.


Noções de Direito Processual Penal

43

mática do art. 543-C do CPC, quando do julgamento 44


Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB‑DF/2009; Cespe/OAB/
Exame de Ordem/2009 e Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009.
do Recurso Especial nº 1.097.042-DF, a Lei Maria 45
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Ava‑
da Penha não alterou a natureza da ação penal por liador/1997; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 2ª Entrância/2001; Cespe/
crime de lesões corporais leves, que continua sendo TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; Procurador da República/2003; OAB‑PR/Exame
pública condicionada à representação da vítima. 03/2006; Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001/2002; Cespe/Defensoria Pública
do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; TJ‑PI/Juiz Substitu‑
No julgamento do aludido apelo, acentuou-se que to/2001; Cespe/Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003; PC‑PR/Delegado
reconhecer a incondicionalidade da ação quanto aos de Polícia Civil/2007; Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006;
Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2002; OAB‑PR/Exa‑
me 03/2006; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; OAB‑PR/Exame 03/2006;
36
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004;
Classe do RJ/2002 e Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004; Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas,
37
Assunto cobrado na prova da Movens/PC-PA/Delegado/2009. Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte,
38
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑AP/2005; OAB‑Nordeste/1º Sergipe e Espírito Santo); Cespe/1º Exame da Ordem/2004 (Espírito Santo).
Exame de Ordem/2005; Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009 46
Assunto cobrado nas seguintes provas: Procurador da República/2003 e
e Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009. MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
39
Cespe/AGU/Advogado da União/2002. 47
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2003.
40
FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009. 48
Asunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.
41
OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2003. 49
Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil Substituto/2009.
42
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/Exame de Ordem/2009. 50
Fumarc/DPE-MG/Defensor Público/2009.

26
Valor Probatório prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
As provas colhidas no inquérito policial não podem informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
servir como fundamento único para a sentença penal con‑ cautelares, não repetíveis e antecipadas. Arremata Rangel
denatória, pois aquele, como procedimento administrativo (2009, p. 76) que
inquisitório, não é regido pelo princípio do contraditório e
da ampla defesa.51 a lei veda, expressamente, que o juiz condene o réu
A decisão judicial pode se fundamentar no inquérito com base apensa nas provas (rectius = informações)
policial desde que não exclusivamente.52 colhidas durante a fase do inquérito policial, sem
Evidencia Lopes Júnior (2003, p. 131) o reduzido valor que elas sejam corroboradas no curso do processo
probatório do inquérito policial, ponderando que os atos ali judicial, sob o crivo do contraditório, pois a ‘instrução’
realizados são meros atos de investigação, produzidos pela policial ocorreu sem a cooperação do indiciado e,
autoridade policial, e não atos de prova, produzidos perante portanto, inquisitorialmente.
o juiz na fase judicial. Sobre a diferenciação entre essas duas
categorias de atos destaca: Vícios ou Irregularidade

Sobre os atos de prova, podemos afirmar que: Vícios formais verificados no inquérito policial não
a) Estão dirigidos a convencer o juiz da verdade de ensejam a nulidade da respectiva ação penal.53
uma afirmação; O STF entende que as nulidades processuais concernem,
b) Estão a serviço do processo e integram o processo tão somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os
penal; atos praticados ao longo da ação penal condenatória, sendo
c) Dirigem‑se a formar um juízo de certeza – tutela que o inquérito constitui peça informativa e que eventuais
de segurança; vícios nele existentes não contaminam a ação penal. Debateu
d) Servem à sentença; a Corte Suprema questão interessante, no sentido de saber se
e) Exigem estrita observância da publicidade, contra‑ a delação dos corréus, retratada em juízo, poderia amparar
dição e imediação; a condenação do paciente. O  STF admite a invocação da
f) São praticados ante o juiz que julgará o processo. delação, desde que não seja o motivo exclusivo da conde‑
Substancialmente distintos, os atos de investigação nação. Se as delações feitas na fase policial forem retratadas
(instrução preliminar): em juízo, onde não se produziu outra prova conclusiva que
a) Não se referem a uma afirmação, mas a uma pudesse implicar a responsabilidade penal do paciente,
hipótese; impõe‑se a absolvição. (STF, Primeira Turma, HC nº 94.034/
b) Estão a serviço da instrução preliminar, isto é, da SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, 10/6/2008, Inf. nº 510)
fase pré‑processual e para o cumprimento de seus Assim, irregularidades verificadas no inquérito policial a
objetivos; ele se resumem. Por exemplo, o auto de prisão em flagrante
c) Servem para formar um juízo de probabilidade, presidido, lavrado e assinado por um escrivão de polícia
e não de certeza; perde completamente o seu caráter coercitivo, visto que
d) Não exigem estrita observância da publicidade, o inquérito policial, apesar de ser uma peça meramente
contradição e imediação, pois podem ser restringidas; informativa, se sujeita aos requisitos do ato administrati‑
e) Servem para a formação da opinio delicti do vo.54 Referida nulidade não impede que o Ministério Público
acusador; ajuíze denúncia com base em outros elementos de prova.
f) Não estão destinados à sentença, mas a demons‑ As irregularidades verificadas no inquérito têm o condão
trar a probabilidade do fumus commissi delicti para de diminuir-lhe o valor probatório.
justificar o processo (recebimento da ação penal) ou As irregularidades ocorridas no inquérito policial não
o não processo (arquivamento); repercutem na validade do processo penal quando a conde‑
g) Também servem de fundamento para decisões nação se apoia em elementos de provas colhidos em juízo.55
interlocutórias de imputação (indiciamento) e ado‑ Eventuais vícios do inquérito policial não contaminam o
ção de medidas cautelares pessoais, reais ou outras acervo probatório arrecadado na fase judicial sob o crivo
restrições de caráter provisional; do contraditório, sendo, portanto, prematura a aplicação da
h) Podem ser praticados pelo Ministério Público ou teoria dos frutos da árvore envenenada nessa fase.56 Os ví‑
pela Polícia Judiciária. cios ocorridos no curso do inquérito policial, em regra, não
repercutem na futura ação penal, ensejando, apenas, a nu‑
Dessa forma, as  provas colhidas no inquérito policial lidade da peça informativa, salvo quando houver violações
devem ser renovadas em juízo não sendo provas absolutas. de garantias constitucionais e legais expressas e nos casos
Com relação a provas que não podem ser renovadas em juízo, em que o órgão ministerial, na formação da opinio delicti,
Noções de Direito Processual Penal

Noções de Direito Processual Penal

o contraditório será feito de forma diferida. não consiga afastar os elementos informativos maculados
Especificamente em relação à prova pericial, Rangel
para persecução penal em juízo, ocorrendo, desse modo, a
(2009, p. 74) destaca que

o exame de corpo de delito, prova dita não renovável,


53
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 03/2006; OAB‑ES/2º
é realizado nos estritos limites dos arts. 158 e seguin‑ Exame de Ordem/2004; Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia,
Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe
tes do CPP (princípio da legalidade) e, portanto, até e Espírito Santo); Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2006; Delegado
que se prove em contrário, é presumido legítimo, de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001; Delegado da Polícia Civil de
pois elaborado por agente público (perito criminal) São Paulo/2002; FCC/TRE‑PB/Analista Judiciário/Área Administrativa/2007;
Cespe/1º Exame da Ordem/2004 (Espírito Santo); Cespe/TJ‑PA/Analista Ju‑
investido das atribuições legais inerentes ao cargo. diciário/Área Judiciária/2006; OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004; Cespe/
TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001;
O entendimento contido no art. 155 do CPP arremata Procurador da República/2003; Promotor‑DF/2002; OAB‑MG/1º Exame de
que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da Ordem/2005.

54
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/
Defensor Público de 2º Categoria/2005.

51
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005;
55
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001/2002
Cespe/TRE‑TO/Analista Judiciário/2004-2005/Área Administrativa. e Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.

52
Assunto cobrado: Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009.
56
Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007.

27 27
l.
extensão da nulidade à eventual ação penal.57 No entanto, Entretanto, as diligências feitas em circunscrição diversa
se o inquérito policial for lastreado, unicamente, em busca da autoridade investigante podem também ser efetivadas
e apreensão considerada ilegal, aplicar‑se‑á a doutrina do por meio de carta precatória.
fruits of the poisonous tree.58 Por outro lado, também com Por outro lado, a investigação feita por autoridade policial
base no entendimento do STF, se o ip for instaurado com sem atribuição específica não gera a nulidade do processo
base em apreensão ilícita de documentos, o eventual vício penal.
na primeira apreensão não contaminará a segunda, se esta Capez (2005, p. 69), ressaltando não existir o princípio do
for precedida de autorização judicial. Assim, não caberá o delegado natural, entendido este como o delegado previa‑
trancamento do inquérito.59 mente investido para apurar os fatos, destaca que
Em recente orientação jurisprudencial, o  STF entendeu
que o poder jurídico que as partes têm de requerer e produ‑ não obstante as disposições sobre a competência das
zir provas que julguem necessárias à apuração da verdade autoridades policiais, tem‑se entendido que a falta de
encontra limite intransponível no seu eventual caráter ilícito, atribuição destas não invalida os seus atos, ainda que
repudiado pela Constituição (art. 5º, LVI). (STF, Segunda Turma, se trate de prisão em flagrante, pois, não exercendo
HC nº 82.862/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, 19/2/2008, Inf. nº 495) a Polícia atividade jurisdicional, não se submete ela
As provas ilícitas eventualmente obtidas no inquérito não à competência jurisdicional ratione loci.
contaminam as obtidas na fase judicial que com aquelas não
guarde qualquer relação. Repercutindo no território de sua atribuição, a  auto‑
O privilégio contra a autoincriminação (nemo tenetur se ridade policial de uma circunscrição pode investigar fatos
detegere), erigido em garantia fundamental pela Constitui‑ criminosos praticados em outra, sem ocasionar a nulidade
ção, além da inconstitucionalidade superveniente da parte da ação penal.63
final do art. 186 do CPP, importou compelir o inquiridor, A incompetência da autoridade policial não anula as
na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o interrogado investigações realizadas, podendo gerar apenas reflexos
do seu direito ao silêncio. A falta da advertência, e da sua de ilegalidade na prisão.64
documentação formal, faz ilícita a prova.60 Considere que o delegado de polícia de determinada
O custodiado tem o direito de ficar em silêncio quando circunscrição tenha ordenado diligências em outra, sem
de seu interrogatório policial, e deve ser informado pela ter expedido carta precatória, requisições ou solicitações.
própria polícia, antes de falar, que tem direito de comuni‑ Nessa situação, não há nulidade no inquérito policial res‑
car‑se com seu advogado ou com seus familiares. pectivo.65
Na oitiva do indiciado, no interrogatório policial, o ter‑ Entretanto, gera constrangimento ilegal a instauração,
mo respectivo deve conter a assinatura de duas testemu‑ em paralelo, pela autoridade policial estadual, de inquérito
nhas que lhe tenham ouvido a leitura.61 sobre crimes de competência da Justiça Federal, já objetos
Entretanto, se, na fase policial, o delegado não assegurar de investigação em inquérito da Polícia Federal.66
o direito ao silêncio, isso, por si só, não anulará o processo Nesse sentido, o STF entende que não se aplica às ativi‑
judicial, que for pautado em outros elementos probatórios dades de polícia judiciária a determinação contida no art. 5º,
lícitos não decorrentes da confissão obtida na fase policial. LIII, da CF/1988, pois

Área de Exercício das Atribuições ao expressar que a polícia judiciária é exercida pelas
autoridades policiais no território de suas respectivas
O art. 4º do CPP estabelece que jurisdições (rectius: circunscrição), o art. 4º do Código
de Processo Penal não impede que autoridade policial
a polícia judiciária será exercida pelas autoridades de uma circunscrição (estados ou municípios) investi‑
policiais no território de suas respectivas circunscri‑ gue os fatos criminosos que, praticados noutra, hajam
ções e terá por fim a apuração das infrações penais repercutido na de sua competência. (STF, Primeira
e da sua autoria. Turma, HC nº 54.933/SP, 14/12/1976, DJ: 4/3/1977)

A polícia investiga o crime cometido dentro dos limites Isso por serem os atos de investigação inquisitórios.
de suas circunscrições, salvo a existência de delegacias espe‑
cializadas, como a de repressão a tráfico de drogas, roubos Instauração
e furtos, de crimes de violência doméstica etc.
A polícia atua no local onde exerce suas atribuições. O inquérito policial pode se iniciar apenas de duas formas.
Entretanto, no Distrito Federal e nas comarcas em que Ou se inicia com a apresentação, na delegacia, de alguém
houver mais de uma circunscrição policial, o art. 22 do CPP preso em flagrante delito ou, então, após o conhecimento
pela autoridade policial da eventual prática de um crime.
Noções de Direito Processual Penal

Noções de Direito Processual Penal

determina que
A notícia de crime levada ou que chega ao conhecimento da
A autoridade com exercício em uma delas poderá, autoridade policial é chamada de notitia criminis. A notitia
nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar criminis é o conhecimento, espontâneo ou provocado, pela
diligências em circunscrição de outra, independen‑ autoridade policial de um fato aparentemente criminoso.67
temente de precatórias ou requisições, e bem assim A notitia criminis pode chegar ao conhecimento da
providenciará, até que compareça a autoridade autoridade policial através da prisão em flagrante.68
competente, sobre qualquer fato que ocorra em
sua presença, noutra circunscrição.62 63
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001;
Delegado de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001.
57
Cespe/TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/Questão 22/Assertiva B/2012. 64
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.
58
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2003. 65
Asunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Delegado Federal/2004.
59
Cespe/TJ‑AC/Juiz de Direito Substituto/2007. 66
Assunto cobrado na seguinte prova: Delegado de Polícia Substituto de Santa
60
Esaf/Procuradoria Geral do Distrito Federal/Procurador do Distrito Fe­ Catarina/2001.
deral/2007. 67
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
61
Assunto cobrado nas seguintes provas: ACP/Delegado da Polícia Civil de São Segurança/Questão 38/Assertiva A/2011 e FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judi‑
Paulo/2002 e Acadepol/SP/Delegado de Polícia de São Paulo/2003. ciário/Segurança/Questão 38/Assertiva E/2011.
62
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 54/ 68
Asunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
Assertiva B/2011. Segurança/Questão 38/Assertiva B/2011.

28 28
No caso de ser apresentado alguém preso em flagrante, Espécies de Notitia Criminis
lavra‑se o auto de prisão em flagrante, cujas formalidades
estão descritas nos termos dos arts. 301 a 310 do CPP, que Tem‑se as seguintes espécies de notitia criminis:
serão oportunamente abordados. a) de cognição direta ou imediata (espontânea ou não
Se não houve prisão em flagrante, mas chegou ao conheci‑ qualificada) – A notitia criminis é classificada como direta
mento da autoridade policial, por qualquer forma, a notícia da ou indireta.76 A direta ocorre quando a autoridade policial,
prática de uma possível infração penal (notitia criminis), deve por exemplo, toma conhecimento de algum crime por meio
o inquérito policial se iniciar por peça denominada portaria. de jornal ou mesmo quando está em diligências policiais.
Assim, havendo prisão em flagrante, não haverá necessidade Notitia criminis de cognição direta, imediata ou es‑
de instauração do inquérito policial mediante portaria. pontânea é aquela em que o conhecimento da infração
A portaria, documento hábil a instaurar inquérito policial, penal pelo destinatário ocorre direta e imediatamente
será editada apenas pelo delegado de polícia, não podendo pela autoridade policial, no exercício de sua atividade
ser suprida pelo Boletim de Ocorrência ou pelo Boletim de funcional.77 Portanto, não é considerada notitia criminis
Acidente de Trânsito.69 Portanto, o inquérito policial deve espontânea quando o autor do delito, espontaneamente,
ser instaurado através de portaria e encerrado mediante comparece perante as autoridades policiais e confessa o
relatório da autoridade policial.70 crime, logo após o seu cometimento, indicando ou não as
Ressalte‑se que na doutrina, citam-se várias formas de se
provas; nem aquela em que o conhecimento da infração
iniciar o inquérito policial: a) portaria; b) auto de prisão em
flagrante; c) requerimento do ofendido ou de seu represen‑ penal pelo destinatário ocorre por comunicação formal
tante legal; d) requisição do juiz; e) requisição do Ministério da vítima que, espontaneamente, comparece perante as
Público; f) representação do ofendido ou seu representante autoridades policiais e noticia o delito; bem como quando
legal; g) requisição do Ministro da Justiça. o conhecimento da infração penal pelo destinatário ocorre
Entendemos, no entanto, que só há duas peças inaugurais por comunicação formal do Ministério Público ou do juiz de
do inquérito policial: o auto de prisão em flagrante e a portaria. direito que determina a instauração de inquérito policial.78
Nos casos de requerimento, representação ou requisição, b) de cognição indireta ou mediata (provocada ou
o  delegado, com base, em tais peças, terá de formalizar a qualificada)  – Verifica‑se quando há comunicação formal
portaria para se iniciar o inquérito. Referida distinção não é (documento de autoridade pública, representação ou re‑
feita pela maioria da doutrina. Pacheco (2006, p. 144), em‑ querimento, por exemplo) ou mesmo pela figura de um
bora destaque haver várias formas de se iniciar o inquérito, interlocutor.
assevera que Qualquer pessoa do povo que tomar conhecimento de
um crime pode comunicá-lo à autoridade policial.79
nada impede – e é até recomendável – que a primeira Sobre o inquérito policial, a pessoa que tiver conheci‑
peça seja sempre a portaria da autoridade policial mento da existência de infração penal em que caiba ação
determinando a instauração do inquérito, na qual
constará, obviamente, se está sendo de ofício, por pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à
requisição do Ministério Público etc. autoridade policial.80
Quando o interlocutor, seja qualquer do povo, uma tes‑
Isso guarda total consonância com a prática verificada temunha, a vítima ou mesmo o próprio autor dos fatos, leva
em sede policial. ao conhecimento da autoridade policial, de forma verbal ou
O boletim policial não é documento hábil à comprova‑ escrita, a notitia criminis, tem‑se a chamada delatio criminis.
ção da efetiva ocorrência de fato nele narrado.71 A delatio criminis efetivada por testemunha somente
Se ocorrer prisão em flagrante, não haverá necessidade autorizará a instauração do inquérito policial nos crimes
de instauração do inquérito policial mediante portaria, pois de ação penal pública incondicionada.81 A comunicação de
o que dará início ao inquérito é o próprio auto de prisão crimes efetivada por testemunha, ou mesmo por pessoa
em flagrante.72 Portanto, não é correto dizer que o inquérito estranha aos fatos, é chamada de notitia criminis “popular”
inicia‑se, em qualquer hipótese, pela portaria.73 e somente autorizará a instauração do inquérito policial nos
Mas se dois investigadores policiais, quando do cumpri‑ crimes de ação penal pública incondicionada, uma vez que
mento de mandado de prisão, necessitaram utilizar‑se de nos demais casos a atuação da vítima é condição sine qua
meios para se defender de violência praticada pelo sujeito
non para a instauração do inquérito policial.
a ser capturado e, ao final do procedimento, o preso apre‑
sentou algumas lesões corporais compatíveis com os atos O art. 5º do CPP estabelece que, nos crimes de ação
praticados pelos policiais para sua defesa durante o estrito pública, o inquérito policial será iniciado de ofício, pela auto‑
cumprimento de dever legal, ao tomar conhecimento do ridade policial, podendo o delegado ser instigado a instaurar
fato, a autoridade policial deverá lavrar o auto de resistên‑ o inquérito mediante requisição da autoridade judiciária,
do Ministério Público ou a requerimento do ofendido ou de
Noções de Direito Processual Penal

cia à prisão, e não auto de prisão em flagrante contra os


policiais ou termo de compromisso.74 quem tiver qualidade para representá‑lo. O § 5º do referido
Obs.: Contra eventuais infrações penais praticadas por artigo complementa estabelecendo que, nos crimes de ação
gestores públicos cujos atos e contas estejam submetidos privada, a autoridade policial somente poderá proceder a
à apreciação do TCU, nos termos do atual entendimento inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para
dos tribunais superiores, poderá ser instaurado inquérito intentá‑la.82
policial ou deflagrada a persecução penal em juízo ainda
que não encerrada a via administrativa.75

76
Promotor/2005.

77
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Procuradoria Geral do Estado do
69
Assunto cobrado na seguinte prova: Delegado de Polícia Substituto de Santa Maranhão/Procurador do Estado – 3ª Classe/2003; Cespe/Tribunal de Justiça
Catarina/2001. do Estado de Roraima/Técnico Judiciário/2006.
70
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/
78
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/Procuradoria Geral do Estado do
Área Judiciária/2007. Maranhão/Procurador do Estado – 3ª Classe/2003.
71
TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007.
79
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
72
Assunto cobrado na prova da NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
80
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/Procuradoria Geral do Estado do
73
Assunto cobrado na seguinte prova: Ipad/PC‑PE/Perito Criminal/2006. Maranhão/Procurador do Estado – 3ª Classe/2003.
74
Assunto cobrado na prova do Cesgranrio/PC‑RJ/Investigador Policial/2006.
81
Assunto cobrado na seguinte prova: NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
75
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/
82
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-RJ/Questão 19/Assertiva
Questão 23/Assertiva A/2011. B/2012 e Consulplan/Sejus-RN/Agente Penitenciário/2009.

29
Acrescente‑se que qualquer pessoa do povo que tiver persecução e, diante dessa hipótese, a autoridade policial
conhecimento da existência de infração penal em que verifique que não houve infração penal, mesmo assim
caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, estará obrigada a atender tal requisição e, ao seguir tal pro‑
comunicá‑la à autoridade policial para que seja instaurado cedimento, não responderá pelo constrangimento ilegal.88
inquérito83. É o que estabelece § 3º do art. 5º do CPP. Desta forma, a polícia judiciária não tem total autonomia
Nos crimes de ação pública incondicionada, qualquer em relação ao MP.89
pessoa – ainda que não seja vítima, ou esteja envolvida no Sendo o crime de ação penal pública incondicionada, se
crime – pode ser autora de notitia criminis, provocando a o promotor de justiça com atribuições para tanto requisitar
iniciativa da autoridade policial ou do Ministério Público. a instauração do IP, a autoridade policial não pode deixar
Não se trata de obrigação e sim de faculdade da pessoa de de instaurá‑lo, ainda se entender descabida a investigação,
oferecer uma delatio criminis. Isso porque não vigora no Bra‑ ante a presença de causa excludente de antijuridicidade.90
sil a regra geral da notícia crime obrigatória.84 Dessa forma, A requisição de inquérito por parte de magistrado tem
pessoa que toma conhecimento do crime não é obrigada a sofrido críticas, em face do princípio do processo penal
levar o conhecimento dos fatos à autoridade policial. acusatório e da imparcialidade do magistrado. Oliveira (2008,
Já a delatio criminis feita pela vítima ou mesmo pelo autor p. 45) destaca que
dos fatos é chamada de “postulatória”. A representação ou o
requerimento do ofendido, dessa forma, constituem notícia hoje, com a afirmação da privatividade da ação penal
crime qualificada85. O mesmo se diga do autor dos fatos que pública para o Ministério Público, pensamos ser ab‑
se apresenta espontaneamente perante a autoridade policial. solutamente inadmissível a requisição de inquérito
Como não pode ser preso em flagrante, o inquérito policial policial pela autoridade judiciária.
será instaurado mediante portaria.
c) de cognição coercitiva ou obrigatória – Ocorre quando Não somos partidários da corrente que denomina noti-
a autoridade policial recebe requisição do juiz, do Ministério tia criminis de cognição coercitiva a hipótese de prisão em
Público (5º, II, do CPP) ou mesmo do Ministro da Justiça flagrante (CAPEZ, 2005, p. 78). Ora, como visto, se há prisão
(arts. 7º, § 3º, b, e 141, I, c/c art. 145, parágrafo único, do em flagrante, não há que se falar em notícia de crime, mas
Código Penal). Nesses casos, a autoridade policial, ainda que sim do próprio flagrante, que será materializado por meio da
entenda não haver crime, deve instaurar o inquérito por lavratura do competente auto de prisão e não de portaria.
meio de portaria. Se a autoridade policial desatende, pode
incorrer em infração administrativa ou mesmo no delito de d) “anônima” ou delação apócrifa  – Ocorre quando o
prevaricação. interlocutor não se identifica ou mesmo envia à autoridade
Duclerc (2008, p. 98/99) ressalta que policial um documento sem assinatura, ou seja, apócrifo.
No que se refere à notitia criminis anônima, ou apócrifa,
parece clara a possibilidade de responsabilização que não identifica o delator, embora seja corrente sua ocor‑
da autoridade policial, e até mesmo sua prisão em rência por meio dos “Disque‑Denúncias”, o STF não vinha
flagrante pelo crime de prevaricação, previsto no admitindo instauração de inquérito com base em documento
art.  319 do CP, mas a grande dificuldade, nesses sem identificação de autor. Vejamos jurisprudência noticiada
casos, é fazer a prova de que o delegado deixou de em informativo daquela Corte:
atender à requisição... para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal... Por essa razão, alguns autores Em recente orientação jurisprudencial do STF foi
pretendem enquadrar a conduta omissiva do agente deferido habeas corpus para trancar, por falta de
na hipótese genérica do art. 330 do CP, que prevê o justa causa, notícia‑crime, instaurada no STJ com base
crime de desobediência e não exige qualquer elemen‑ unicamente em denúncia anônima. Entendeu‑se que
to subjetivo para a configuração do tipo. O problema, a instauração de procedimento criminal originada
aqui, é que o crime de desobediência está capitulado apenas em documento apócrifo seria contrária à or‑
como crime praticado pelo particular contra a admi‑ dem jurídica constitucional, que veda expressamente
nistração pública, o que elimina a possibilidade de o anonimato. Salientando‑se a necessidade de se
ser praticado por funcionário público. preservar a dignidade da pessoa humana, afirmou‑se
que o acolhimento da delação anônima permitiria
Segundo o STJ, a recusa da autoridade policial em cum‑ a prática do denuncismo inescrupuloso, voltado
prir requisição judicial relativa a cumprimento de diligências a prejudicar desafetos, impossibilitando eventual
não configura o crime de desobediência86. indenização por danos morais ou materiais, o  que
É certo que o delegado, para instaurar inquérito policial, ofenderia os princípios consagrados nos incisos V e
Noções de Direito Processual Penal

deve verificar hipótese de justa causa. Entretanto, hipóteses X do art. 5º da CF. Ressaltou‑se, ainda, a existência
de justa causa são as requisições do juiz e do representante da Resolução nº 290/2004, que criou a Ouvidoria do
do Ministério Público. Como decorrência, incumbirá também STF, cujo inciso II do art. 4º impede o recebimento de
à autoridade policial realizar as diligências requisitadas por reclamações, críticas ou denúncias anônimas. O Min.
juiz ou pelo Ministério Público, ainda que desnecessárias à Sepúlveda Pertence, com ressalvas no tocante à tese
elucidação do crime, bem como cumprir os mandados de de imprestabilidade abstrata de toda e qualquer
prisão expedidos pelas autoridades judiciárias.87 notícia‑crime anônima, asseverou que, no caso,
Portanto, caso um promotor de justiça requisite a os vícios da inicial seriam de duas ordens: a vagueza
instauração de inquérito policial sem fundamento para a da própria notícia anônima e a ausência de base
empírica mínima. (Primeira Turma, HC nº  84.827/
83
PC‑PR/Delegado de Polícia Civil/2007. TO, Rel. Min. Marco Aurélio, Inf. nº 475)
84
Assunto cobrado na prova do NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do
RJ/2002.
85
Assunto cobrado na prova do NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do
88
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Ministério Público do Estado de
RJ/2002. Tocantins/Analista Ministerial/Especialidade: Ciências Jurídicas/2006.

86
Assunto cobrado: Cespe/DPU/Defensor Público Federal/2010/Questão 74.
89
Assunto cobrado: Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009.

87
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avalia‑
90
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009
dor/1997 e Esaf/Promotor‑CE/2001. e MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.

30
Referida orientação é por demais abrangente, sendo de Para viabilizar a responsabilização criminal, admite-se
perfeita aplicação às hipótese de ajuizamento de ação penal a notitia criminis anônima.93
e não de instauração de inquérito.
O inquérito policial serve como filtro processual e, na Justa Causa para a Instauração do Inquérito Policial
realidade pátria, em que o Estado não consegue dar uma
digna proteção às testemunhas ou a seus familiares, exigir O inquérito policial não deve ser instaurado se a au‑
que se identifiquem a fim de que se instaure o inquérito toridade policial verificar que não há justa causa para o
policial é providência desnecessária e não recomendável. procedimento, como, por exemplo, se o fato denunciado for
Oliveira (2008, p. 44), nesse sentido, destaca que atípico ou quando a punibilidade já estiver extinta94. Nesse
sentido, o delegado de polícia poderá indeferir requerimen‑
a chamada delação anônima, com efeito, não pode to do ofendido para o início do inquérito policial.95 E, do
ser submetida a critérios rígidos e abstratos de inter‑ despacho da autoridade policial que indeferir o pedido de
pretação. O único dado objetivo que se pode extrair abertura de inquérito policial, caberá recurso ao chefe de
dela é a vedação à instauração de ação penal, com polícia.96 É o que determina o § 2º do art. 5º do CPP.
base, unicamente, em documento apócrifo. Se a autoridade policial concluir que o fato apurado no
inquérito não constitui crime, não deverá abrir inquérito
Em interpretação mais branda, há entendimento do policial contra a pessoa que deu início à investigação poli‑
Pleno do STF, que rejeitou questão de ordem suscitada pelo cial.97. Para a instauração de inquérito policial é necessário
que tenha ocorrido um fato típico. Não se instaura inquérito
Ministro Marco Aurélio, que discutia a validade da notitia
para apurar adultério, dívidas ou mesmo furto de uso, hipó‑
criminis anônima para deflagrar procedimento de investi‑
teses que não são tipificadas pela nossa legislação penal.
gação. O Ministro Celso de Melo, em abordagem coerente Interessante questão surge quando da instauração
do tema, destacou que: de inquérito policial nas hipóteses de crimes tributários.
Entende‑se que a circunstância de não conclusão do pro‑
a) os escritos anônimos não podem justificar, só cedimento administrativo fiscal visando à constituição do
por si, desde que isoladamente considerados, a crédito tributário não impede a investigação policial e a
imediata instauração da persecutio criminis, eis que instauração de inquérito policial do crime contra a ordem
peças apócrifas não podem ser incorporadas, formal‑ tributária sobre o mesmo fato.98
mente, ao processo, salvo quando tais documentos Entretanto, o STJ entende que
forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando
constituírem, eles próprios, o corpo de delito (como antes de constituído definitivamente o crédito tribu‑
sucede com bilhetes de resgate no delito de extorsão tário, não há justa causa para a instauração de inqué‑
mediante sequestro, ou como ocorre com cartas rito policial com base no art. 1º da Lei nº 8.137/1990,
que evidenciem a prática de crimes contra a honra, tendo em vista que os delitos ali tipificados são ma‑
ou que corporifiquem o delito de ameaça ou que teriais ou de resultado, isto é, somente se consumam
materializem o crimen falsi, p. ex); com a ocorrência concreta do resultado previsto
b) nada impede, contudo, que o Poder Público, pro‑ abstratamente (redução ou elisão do tributo) (...)
vocado por delação anônima (‘disque-denúncia’, p. Tendo em vista que somente a Autoridade Fiscal pode
ex.), adote medidas informais destinadas a apurar, realizar o lançamento tributário, impõe‑se concluir
previamente, em averiguação sumária, ‘com pru‑ que o trâmite de IPL em matéria tributária, quando
dência e discrição’, a possível ocorrência de eventual ainda pendente a exigibilidade de crédito, constitui
situação de ilicitude penal, desde que o faça com o algo desnecessário ou mesmo incabível, já que à
objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela Autoridade Policial não compete realizar atividade
denunciados, em ordem a promover, então, em caso alguma, no que tange à apuração de créditos tribu‑
positivo, a formal instauração da persecutio criminis, tários. (STJ, Quinta Turma, RHC nº 22.300/RJ, Min.
mantendo-se, assim, completa desvinculação desse Napoleão Nunes Maia Filho, DJe: 5/5/2008)
procedimento estatal com relação às peças apócri‑
fas (STF, Inq. nº 1.957/PR, Rel. Min. Carlos Velloso, O inquérito policial é passível de trancamento por meio
Tribunal Pleno, Julgamento: 11/5/2005). de habeas corpus quando o fato investigado não for crime.99
O mesmo se diga nas hipóteses de já se encontrar extinta
Por isso, se a autoridade policial receber uma notitia a punibilidade, haver coisa julgada ou litispendência sobre
criminis anônima imputando a um indivíduo a prática os fatos a serem apurados, ou mesmo se faltar alguma das
de algum crime, apesar do princípio da obrigatoriedade, condições de procedibilidade.
Noções de Direito Processual Penal

Thiago Pierobom (2009, p. 173) acrescenta que


caberá à autoridade policial preliminarmente proceder
com cautela às investigações preliminares, no sentido de
Não impedem a instauração do inquérito policial o
apurar a verossimilhança das informações recebidas, para,
desconhecimento da autoria ou a circunstância de
havendo indícios da ocorrência dos ilícitos penais, instaurar
o procedimento regular.91

93
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-BA/Questão 18/Assertiva
O STJ destaca não haver “impedimento de que o A/2012 e Cespe/Sejus-ES/Agente Penitenciário/2009.
inquérito policial tenha se iniciado após denúncias
94
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciá­rio/Área
anônimas”. (STJ, Sexta Turma, HC nº 97.212/PE, Min. Jane Sil‑ Judiciária/2003/2004.

95
Assunto cobrado na prova da NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
va [desembargadora convocada do TJ‑MG], DJe: 30/6/2008)
96
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-RJ/Questão 19/Assertiva
Assim, a jurisprudência do STJ admite a possibilidade de D/2012; FGV/OAB/IV Exame Unificado//Questão 69/Assertiva B/2011; FCC/
instauração de procedimento investigativo com base em TRE-AP/Analista Judiciário/Área Administrativa/Questão 55/Assertiva A/2011;
Promotor‑BA/2004; Delegado de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001;
denúncia anônima, desde que acompanhada de outros Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009 e MPDFT/28º
elementos.92 Concurso para Promotor/2009.

97
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003.

98
Assunto cobrado na prova do Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciá‑

91
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. ria/2004.

92
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Advogado/Questão 14/2012.
99
Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2002.

31
l.
o fato típico ter sido cometido com excludentes da Condicionada
ilicitude (CP, art. 23: estado de necessidade, legítima O inquérito policial não pode ser instaurado de ofício,
defesa, estrito cumprimento de dever legal, exercício quando se tratar de ação penal pública condicionada.104
regular de direito). O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender
de representação, não poderá sem ela ser iniciado (§ 4º do
Por outro lado, quando se perceber nítido abuso da art. 5º do CPP), ainda que requisitado por juiz ou membro
autoridade policial na instauração de um inquérito policial, do Ministério Público ou mesmo nos casos de grande
ou a condução das investigações na direção de determinada repercussão social.105 Portanto, recebendo notitia criminis
pessoa sem a menor base probatória, é cabível, por via de de crime em que a ação penal depende de representação,
habeas corpus, o  trancamento da atividade persecutória a  autoridade policial, depois de lavrar Boletim de Ocor‑
do Estado. rência, deve aguardar a representação para instaurar o
Dessa forma, o IP representa procedimento investigató‑ inquérito policial.106
rio, levado a efeito pelo Estado‑administrador, no exercício Exige poderes especiais, quando assinada por procura‑
de atribuições referentes à polícia judiciária e, assim, so‑ dor, a representação do ofendido, solicitando a instaura‑
mente deve ser trancado quando for manifesta a ilegalidade ção de inquérito policial, em crime de ação penal pública
ou patente o abuso de autoridade, por exemplo.100 condicionada.107
Sobre a possibilidade de o delegado de polícia analisar A requisição do Ministro da Justiça para a instauração do
o fato à luz do princípio da insignificância para não instaurar inquérito também é imprescindível nos casos em que ela é
inquérito policial, pela atipicidade do fato, a interpretação de exigida como condição. Na hipótese, por exemplo, do crime
julgado do STJ admite a interpretação de que a autoridade cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, para
policial não é obrigada a instaurar inquérito caso não exista a instauração de investigação no Brasil, é necessária requisi‑
justa causa em face do reconhecimento da atipicidade do ção do Ministro da Justiça (§ 3º do art. 7º do Código Penal).
fato. O julgado HC nº 72.234/PE, relatado pelo Ministro Na‑
poleão Nunes Maia Filho, da Quinta Turma, DJ 5/11/2007, Nos Crimes de Ação Penal Privada
permite o trancamento de inquérito policial instaurado sem O inquérito policial, procedimento persecutório de
justa causa por atipicidade em face da aplicação do princí‑ caráter administrativo instaurado pela autoridade policial,
pio da bagatela ou insignificância. Se o inquérito pode ser em algumas hipóteses, tem como destinatário imediato o
trancado por ausência de justa causa, sequer deveria ter ofendido ou seu representante legal, titular único e exclusivo
sido instaurado. da ação penal privada. Concluído o inquérito, tratando‑se
de crime em que somente se procede mediante queixa,
Instauração do Inquérito Policial em Face dos Tipos os autos serão remetidos ao juízo competente,108 onde
de Ação Penal aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu represen‑
tante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
A instauração do inquérito policial depende do tipo de mediante traslado (art. 19 do CPP).109
ação penal prevista para cada delito. Se o crime for de alçada privada, o inquérito policial
não poderá ser iniciado mediante portaria do delegado
Nos Crimes de Ação Penal Pública de polícia110, sem que o ofendido apresente à autoridade
O inquérito policial, procedimento persecutório de policial requerimento para a instauração do procedimento
caráter administrativo instaurado pela autoridade policial, investigatório.111 Com efeito, o § 5º do art. 5º do CPP diz que,
tem como destinatário imediato o Ministério Público, titular “nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente
único e exclusivo da ação penal pública.101 poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha
qualidade para intentá‑la”.112
Incondicionada Nos crimes de ação penal privada, o inquérito policial
Com base no disposto no Código de Processo Penal, inicia‑se por requerimento do ofendido, ou quem legalmen‑
nos crimes de ação pública incondicionada, o  inquérito te o represente, ou mediante auto de prisão em flagrante.113
policial será iniciado de ofício, mediante requisição da Portanto, não poderá iniciar‑se: por determinação do juiz de
autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou ainda direito, por pedido formulado pelo Ministério Público, por
a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade
para representá‑lo.102 104
Assunto cobrado na provas do Cespe/OAB‑DF/2009.
Quando o ofendido fizer requerimento para o delegado 105
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/Área Di‑
com o escopo de instaurar procedimento investigatório, deve reito/2004; OAB‑PR/Exame 1/2006; OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004; FCC/
abranger, sempre que possível, a) a narração do fato, com Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco/Procurador do Estado/2004;
FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; FCC/TRE-2ª Região/
Noções de Direito Processual Penal

todas as circunstâncias; b)  a individualização do indiciado Analista Judiciário/Área Judiciá­ria/2007 e Promotor‑BA/2004.


ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de 106
FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007.
presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de Assunto cobrado na seguinte prova: Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São
107

Paulo/2003.
impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das testemunhas, 108
OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004.
com indicação de sua profissão e residência (art. 5º, § 1º). 109
Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997.
Para tais crimes, vigorará o princípio da obrigatoriedade 110
Assunto cobrado na prova de Delegado de Polícia Substituto de Santa Cata‑
rina/2001.
para a autoridade policial.103  111
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009.
112
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRE-RJ/Analista Judiciário/Área
Administrativa/Questão 17/2012; FCC/TJ-RJ/Técnico de Atividade Judiciária/
100
Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. Questão 63/2012; FGV/OAB/IV Exame Unificado/Questão 69/Assertiva A/2011
101
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado de Polícia Civil de 1ª Clas‑ e Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 81/Item/I2011.
se/2008. 113
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª
102
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acafe/Ministério Público do Estado Classe do RJ/2002; FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; De‑
de Santa Catarina/Oficial de Diligência/2004; FCC/TRE‑PB/Analista Judiciário/ legado de Polícia/2006; OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Ana‑
Área Administrativa/2007; OAB‑PR/Exame 1/2007; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Jus‑ lista Processual/2006; Delegado de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001;
tiça da 1ª Entrância/2001; TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002; FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006; Cespe/TJ‑DF/Analista Judiciário/Área
Cartório/2009 e FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. Judiciária/Atividade Processual/2003; OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004;
103
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil do Promotor‑RN/2004; Cespe/DFTrans/Analista/Direito e Legislação/2008;
DF/2004; OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2003. Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.

32
notícia da prática do crime efetuado por qualquer cidadão tal hipótese, o prazo decorrido da instauração do inquérito
à autoridade policial, tampouco por portaria do delegado até a descoberta do autor não é computado. O prazo para
de polícia, após tomar conhecimento do fato por qualquer o ajuizamento da queixa só passa a ser computado a partir
pessoa do povo. 114 do conhecimento da autoria do fato delitivo.
Vejamos exemplo corriqueiro cobrado por banca de
concurso público: determinado empregado de um super‑ Diligências Investigativas
mercado foi acusado pelo gerente do estabelecimento de
ter subtraído várias mercadorias; porém, todos sabiam que Noções Introdutórias
o verdadeiro responsável pelo furto era uma empregada
com quem o gerente mantinha um relacionamento amo‑ Além de ser o titular das investigações efetivadas por
roso. Nessa situação, confirmada a calúnia e chegando ao meio do inquérito policial, o art. 13 do CPP lista, exemplifica‑
conhecimento da autoridade policial os fatos citados, esta tivamente, outras atividades conferidas à autoridade policial:
não poderá instaurar, de ofício, inquérito policial, uma vez
que o crime de calúnia também é de ação penal privada.115 I – fornecer às autoridades judiciárias as informações
O inquérito policial não é instaurado através de quei‑ necessárias à instrução e julgamento dos processos;
xa‑crime.116 Esta dá início à fase judicial do processo penal. II  – realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou
Embora seja imperiosa a prisão em flagrante de quem es‑ pelo Ministério Público;
teja cometendo delito de ação penal privada, para a lavratura III – cumprir os mandados de prisão expedidos pelas
do auto de prisão em flagrante, é necessária manifestação autoridades judiciárias;
da vítima ou seu representante legal. Com efeito, é exigida IV – representar acerca da prisão preventiva.
a autorização da vítima ou de seu representante legal para
a formalização da prisão em flagrante em crime de ação Incumbirá à autoridade policial realizar as diligências
penal privada.117 requisitadas por juiz ou pelo Ministério Público, ainda que
Em face do exposto, percebe‑se que há diferença entre desnecessárias à elucidação do crime, bem como cumprir
os termos requerimento, requisição e representação. Fala‑se os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judi‑
em requerimento quando o ofendido ou seu representante ciárias.119
legal comparece na delegacia para solicitar a instauração de O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
inquérito policial quando ocorrer crime de ação penal privada poderão requerer a realização de perícia ou qualquer outra
ou pública incondicionada. Se a solicitação for para se apurar diligência, podendo a autoridade indeferir ou não o pedido,
crime de ação penal pública condicionada, o pedido passa a caso entenda conveniente à investigação que preside120
se chamar representação. Já quando é o ministério público (art. 14 do CPP).
que entende deva ser instaurado inquérito policial, tem‑se Mesmo quando já relatado o inquérito, a autoridade
a requisição, que deve ser atendida pela autoridade policial. policial deve atender a requisições judiciais em relação aos
fatos já apurados. Com efeito, a autoridade policial não po‑
Instauração do Inquérito Policial e Prazo Decadencial derá recusar‑se a prestar testemunho em processo crime,
O pedido de instauração de inquérito policial, na hi‑ quando presidiu o inquérito policial sobre o fato.
pótese de crime de ação privada, não tem o condão de Nem toda diligência a ser realizada pela autoridade po‑
interromper o prazo decadencial.118 licial precisa ser autorizada pelo magistrado competente121.
Como regra, nos casos de ação penal privada, o prazo da
decadência é de 6 (seis) meses contados a partir do momento Com relação ao inquérito policial, a interceptação
em que a vítima toma conhecimento da autoria (art. 38 do telefônica não poderá ser determinada pela autori‑
CPP). Em se tratando de causa de extinção da punibilidade, dade policial, no curso da investigação, ainda que o
referido prazo tem natureza penal, devendo ser contado nos faça de forma motivada e observando os requisitos
termos do art. 10 do Código Penal e não de acordo com o legais122. Apenas com ordem judicial pode‑se ter
art. 798, § 1º, do Código de Processo Penal, o que implica interceptação telefônica, nos termos do art. 5º, XII,
dizer que se inclui o dia do conhecimento do crime (dies a da CF/1988.
quo) no cômputo do prazo.
Tem‑se que o prazo decadencial não se suspende e nem De acordo com o Código de Processo Penal, sendo o
se interrompe. Dessa forma, conhecida a autoria pela vítima fato de difícil elucidação, estando os indiciados soltos,
ou seu representante legal, o prazo de 6 meses passa a ser a autoridade policial poderá requerer ao juiz a devolução
contado. Oliveira (2008, p. 144) destaca que o prazo flui dos autos para ulteriores diligências, que serão realizadas
no prazo a ser marcado pelo juiz.123
Noções de Direito Processual Penal

independentemente da data do início ou da eventual Se o delegado relata o inquérito policial, o Ministério


morosidade das investigações, desde que, por óbvio, Público não pode requerer a sua devolução à autoridade
já se saiba previamente acerca da autoria do fato. policial senão para novas diligências imprescindíveis ao
oferecimento da denúncia.124
Situação diversa ocorre quando não se sabe a autoria
e, no curso do inquérito, descobre‑se o autor do delito. Em
119
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avalia‑
114
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acafe/Ministério Público do Estado de dor/1997 e Esaf/Promotor‑CE/2001.
Santa Catarina/Oficial de Diligência/2004; OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; 120
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/Prefeitura de São José do Rio
Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Preto-SP/Procurador Municipal/Questão 64/2011 e Delegado de Polícia Civil
Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo); OAB‑DF/2º da Bahia/2001; PC‑PR/Delegado de Polícia Civil/2007; FCC/TRF 4ª Região/
Exame de Ordem/2004 e Vunesp/OAB‑SP/130º Exame. Analista Judiciário/Área Judiciária/2007 e OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004.
115
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑DF/2003/Analista Judiciário/Área 121
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑PR/Exame 1/2006.
Judiciária – Atividade Processual. 122
Assunto cobrado na prova do Cespe/3º Exame de Ordem/2007.
116
OAB‑Nordeste/1º Exame de Ordem/2003. 123
Assunto cobrado na prova da UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/
117
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005. 2003.
118
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001/2002; 124
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área
Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2002; NCE/Delegado Judiciária/2006; Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2003-2004;
da Polícia Civil do DF/2004; TJ‑GO/Juiz Substituto/2004-2005. Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008; Cespe/OAB‑DF/2009.

3
Preservação do Estado das Coisas testemunha, é necessária autorização judicial. Outros
entendem que esse poder de condução seria uma
Nos termos do art. 6º, inciso I, do CPP, logo que a auto‑ extensão da possibilidade de prisão em flagrante
ridade policial tiver conhecimento da prática da infração (pelo possível delito de desobe­diência à intimação),
penal, deverá dirigir‑se ao local, providenciando para que que, no caso, se limitaria à mera condução, colheita
não se alterem o estado e a conservação das coisas.125 Isso do depoimento e liberação.
para permitir a atuação da polícia técnica, composta por
peritos criminais. Rangel (2009, p. 148) defende que a autoridade policial
Nas hipóteses de acidente de trânsito, o art. 1º da Lei não pode determinar a condução coercitiva de testemunha
nº 5.970/1973, a autoridade ou agente policial que primeiro que se recuse a comparecer para ser ouvida
tomar conhecimento do fato poderá autorizar, indepen‑
dentemente de exame do local, a imediata remoção das a uma, porque as regras restritivas de direito não
pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos comportam interpretação extensiva nem analógica.
nele envolvidos, se estiverem no leito da via pública e pre‑ A duas, porque a condução coercitiva da testemunha
judicarem o tráfego. implica a violação de seu domicílio, que é proibida
pela Constituição Federal.
Apreensão de Instrumentos e Outros Objetos
As características da prova testemunhal serão abordadas
O Código de Processo Penal permite que a autoridade em momento próprio.
policial efetue a apreensão dos objetos que tiverem relação
com o fato, após liberados pelos peritos criminais. É o que Oitiva do Indiciado
determina o art. 6º, inciso II, do CPP.
A autoridade policial deve também colher todas as pro‑ Nos termos do art. 6º, inciso V, do CPP, o delegado pode
vas que servirem para o esclarecimento do fato e das suas ouvir o indiciado, que é aquele sobre o qual recaem suspeitas
circunstâncias (art. 6º, III, do CPP). fundamentadas de ter cometido a infração penal.
Os instrumentos do crime, bem como os objetos que in‑
teressarem à prova, acompanharão os autos de inquérito126 Direito ao Silêncio
(art. 11 do CPP). O art. 91, II, do Código Penal assenta, ainda, O indiciado tem direito, no curso do inquérito policial,
que são efeitos da condenação a perda em favor da União, de permanecer em silêncio.127 Tal prerrogativa é manifes‑
ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa‑fé, dos tação do direito de defesa pessoal negativa, que assegura
instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo ao sujeito passivo a possibilidade de não declarar, bem
fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilíci‑ como de não praticar, nenhum ato de prova, sem que dessa
to, bem como a perda do produto do crime ou de qualquer negativa decorra qualquer prejuízo.128
bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente
com a prática do fato criminoso. Incomunicabilidade do Indiciado
Destaque‑se que, não sendo hipótese de flagrante delito, O art. 21 do CPP dispõe que “a incomunicabilidade do
para a busca e apreensão domiciliar é necessária ordem indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e so‑
judicial. O delegado só pode efetuar desde logo a apreensão mente será permitida quando o interesse da sociedade ou a
de objetos e documentos quando relacionados à flagrante conveniência da investigação o exigir”. Referido artigo não foi
de prática delitiva. recepcionado pelo art. 136, § 3º, IV, da CF/1988, que, nem
em estados de exceção, admite a incomunicabilidade. Com
Oitiva da Vítima, Testemunhas, Reconhecimentos e efeito, o ordenamento jurídico não prevê a incomunicabi‑
Acareações lidade do preso durante o estado de defesa.129
Nem nos processos cuja imputação seja o delito de ter‑
rorismo, tráfico de entorpecentes ou tortura, a autoridade
O delegado deve ouvir a vítima (art. 6º, IV, do CPP) bem
policial poderá decretar a incomunicabilidade do preso.130
como qualquer pessoa que tenha conhecimento dos fatos
No entanto, algumas bancas examinadoras de concursos
por meio de seus sentidos (art. 202 do CPP).
públicos, possivelmente embasadas em doutrinadores como
A autoridade policial deverá, ainda, durante o inquérito
Damásio e Vicente Greco, entendem ser ainda aplicável a
policial, realizar o reconhecimento da vítima e fazer as aca‑
incomunicabilidade, desde que preenchidos os requisitos
reações (art. 6º, VI, do CPP). A normatização da realização do art. 21 do Código de Processo Penal, entre os quais o de
do reconhecimento de pessoas está prevista nos arts. 226 que a incomunicabilidade ocorra sempre por despacho nos
a 228 do CPP e a da acareação, nos arts. 229 e 230 do CPP. autos e o da proibição de que ela se estenda ao advogado
O § 1º do art. 201 do CPP determina que se, intimado do indiciado.131
Noções de Direito Processual Penal

para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo,


o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade. Exames Periciais
O  mesmo se diga em relação à testemunha, nos termos
do art. 218 do CPP que determina que, se regularmente O art. 6º, inciso VII, do CPP autoriza que a autoridade
intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo policial determine, se for caso, que se proceda a exame de
justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a
corpo de delito e a quaisquer outras perícias.132
sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial
de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública. 127
Assunto cobrado na prova do Cespe/1º Exame da Ordem/2007 (Tocantins,
Pierobom (2009, p. 198) destaca que Sergipe, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, Paraíba,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Espírito Santo, Distrito Federal,
Esses dispositivos aplicam‑se tanto na fase de investi‑ Ceará, Bahia, Amazonas, Amapá, Alagoas, Acre).
128
Assunto cobrado na prova da OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005.
gações preliminares quanto em juízo. Há doutrinador 129
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
que defende que, para realizar a condução coercitiva 130
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2005.
sendo necessário violar o domicílio da vítima ou da 131
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004;
OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004; Cespe/Delegado da Polícia Fe­deral/2002;
Promotor‑DF/2002; Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/Exame 1/2007.
125 132
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Substi‑
OAB‑PR/Exame 1/2007.
126
tuto/2009.

34
Em inquérito policial, o poder discricionário da autorida‑ em flagrante – em que, mais que indícios, têm‑se evidências
de policial de realizar as diligências solicitadas pelo ofendido de que o acusado é o autor do crime – ou, quando iniciado
ou seu representante legal deve ser mitigado quando se o inquérito por portaria, pode ocorrer durante o inquérito
tratar de exame de corpo de delito.133 ou mesmo no relatório final feito pela autoridade policial.
Em regra, não vigora, no inquérito policial, o princípio Quanto ao objeto do crime, o indício não é classificado
do contraditório. Tratando‑se de provas não renováveis, pela doutrina unânime como prova direta. Diante da impos‑
a exemplo do exame de corpo de delito, o contraditório será sibilidade de produção de outras provas, é  inadmissível a
exercido apenas na fase judicial. É o chamado contraditório condenação do réu com base apenas em indício, ainda que o
diferido.134 Entretanto, há entendimento doutrinário no julgador fundamente sua decisão. O art. 239 do CPP determi‑
sentido de se admitir assistente técnico também na fase do na que se considera indício a circunstância conhecida e pro‑
inquérito, como destaca Pierobom (2009, p. 200). vada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução,
concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
Reprodução Simulada dos Fatos Cabe fazer a diferenciação em relação à nomenclatura do
sujeito passivo do processo penal. Com efeito, ao sujeito que
Como peça de investigação, o inquérito policial admite praticou os fatos delitivos dá‑se o nome de autor dos fatos.
a reconstituição do crime135, ao ditar o Código do Processo Entretanto, este muitas vezes não é, de pronto, conhecido.
Penal, no art. 7º: Surge a figura do suspeito. Se se instaurar inquérito policial
visando apurar a conduta de algum suspeito, este passa a
Para verificar a possibilidade de haver a infração se chamar investigado durante toda a investigação policial.
sido praticada de determinado modo, a autoridade Reunidos elementos de autoria quanto ao investigado, o de‑
policial poderá proceder à reprodução simulada dos legado pode indiciá‑lo, surgindo a figura do indiciado, o que
fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou torna imperiosa a realização do boletim de vida pregressa e
a ordem pública.136 da identificação criminal, se presentes as hipóteses legais.
Uma vez que a Acusação, pública ou privada, verifique haver
Temos, no enunciado em apreço, a  consagração do fortes indícios de autoria delitiva em relação ao indiciado,
Princípio da discricionariedade.137 oferece‑se a ação penal, passando o indiciado a se chamar
Nos termos do art. 5º, LXIII, da CF/1988, o investigado acusado, o que só ocorre na fase judicial do processo penal.
tem o direito de ficar calado. Com base em tal direito, Sobrevindo sentença penal condenatória transitada em jul‑
pode‑se afirmar que não é obrigado o investigado a produzir gado, o acusado passa a se chamar condenado. Iniciada a
prova contra si. Com efeito, o suspeito ou indiciado não é execução penal, tem‑se a figura do apenado. A diferenciação
obrigado a participar da reconstituição do crime, durante tem importância na medida em que, durante as diversas fases
a fase do inquérito policial. E, o princípio que autoriza tal do processo penal, uma ou outra nomenclatura é a correta.
direito é o detegere nemo tenetur se detegere.138 Deve ser destacado que, para haver a figura do acusa­do,
Caso se negue a participar da reprodução simulada dos não necessariamente tenha de haver a figura do indiciado,
fatos, não comete crime de desobediência. Por outro lado, pois a Acusação pode dispensar o inquérito policial e emba‑
se for obrigado a fornecer elementos para a reconstituição sar a acusação com base em outras peças probatórias. Por
delitiva, a autoridade pode responder por abuso de autori‑ outro lado, “não se admite a determinação de indiciamento,
dade e, se a exigência se der por meio de violência física ou medida própria do inquérito policial, quando o feito já se
psíquica, responde por crime de tortura. encontra na fase judicial” (STJ, Sexta Turma, HC nº 82.497/
SP, Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe: 2/6/2008).
Isso porque “com o recebimento da denúncia, encontra‑se
Indiciamento encerrada a fase investigatória e o indiciamento dos réus,
neste momento, configura coação desnecessária e ilegal”
Noções Introdutórias
(STJ, Quinta Turma, HC nº 84.142/SP, Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, DJe: 28/4/2008.)
O ato da autoridade policial de imputação a alguém Nos termos do parágrafo único do art. 20 do CPP,
da prática de ilícito penal nos autos do IP é denominado
indiciamento. Nos atestados de antecedentes que lhe forem soli‑
Para dar ao investigado a condição de indiciado, a auto‑ citados, a autoridade policial não poderá mencionar
ridade policial deve estar embasada, no mínimo, em indícios quaisquer anotações referentes à instauração de
de autoria. O  investigado passa a ser indiciado quando a inquérito contra os requerentes, salvo no caso de
autoridade policial angaria indícios de que o investigado é existir condenação anterior.
o autor do crime. Indício, como prova indireta, é a circuns‑
tância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato,
Noções de Direito Processual Penal

Caso a autoridade policial descubra indícios de partici‑


autorize, por indução, concluir‑se a existência de outra ou pação de autoridade com prerrogativa de foro, deverá ime‑
outras circunstâncias.139 diatamente encaminhar os autos do inquérito à auto­ridade
Não há um momento fixo para o indiciamento. Ele pode judiciária competente para julgar o suspeito.140 A autoridade
ocorrer no início do inquérito iniciado por auto de prisão policial não pode indiciar investigados que tenham foro por
prerrogativa de função, como juízes, membros do Ministério
133
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Público, deputados e senadores.
Judiciária/2003-2004. O art.  41 da Lei nº  8.625/1993 destaca, por exemplo,
134
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública do Estado de
Sergipe/Defensor Público de 2ª Categoria/2005. que constituem prerrogativas dos membros do Ministério
135
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ-BA/Questão 18/Assertiva E/2012. Público, no exercício de sua função, não ser indiciado em
136
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área inquérito policial, além de ressaltar também que,
Administrativa/Questão 55/Assertiva B/2011 e FGV/OAB/IV Exame Unificado/
Questão 69/2011.
137
Assunto cobrado na prova da Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor Quando no curso de investigação, houver indício da
Público/2002. prática de infração penal por parte de membro do
138
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RO/42° Exame; 20º Concurso
Público para Procurador da República/2003; Cespe/Delegado da Polícia
Federal/2002 e Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003. Assunto cobrado nas seguintes provas: MPDFT/28º Concurso para Promo‑
140
139
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto. tor/2009 e Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001.

35
Ministério Público, a autoridade policial, civil ou militar VI – o indiciado ou acusado não comprovar, em qua‑
remeterá, imediatamente, sob pena de responsabilida‑ renta e oito horas, sua identificação civil.
de, os respectivos autos ao Procurador‑Geral de Justi‑
ça, a quem competirá dar prosseguimento à apuração. Destaque‑se que a Lei nº 10.054/2000 era taxativa no que
se referia às hipóteses de identificação criminal, revogando,
São as decorrências do foro por prerrogativa de função inclusive, o art. 5º da Lei nº 9.034/2000. É o que destaca o STJ:
que têm também reflexos na fase preliminar do processo
penal. O art. 3º, caput e incisos, da Lei nº  10.054/2000,
enumerou, de forma incisiva, os  casos nos quais
Consequências do Indiciamento o civilmente identificado deve, necessariamente,
sujeitar‑se à identificação criminal, não constando,
Com o indiciamento, realizam‑se o boletim de vida pre‑ entre eles, a hipótese em que o acusado se envolve
gressa e a identificação criminal (verificação das impressões com a ação praticada por organizações criminosas.
digitais e também de fotografias), se verificadas as hipóteses Com efeito, restou revogado o preceito contido no
previstas em lei. art. 5º da Lei nº 9.034/1995, o qual exige que a iden‑
Identificação Criminal tificação criminal de pessoas envolvidas com o crime
Admite‑se no inquérito policial, quanto ao indiciado, organizado seja realizada independentemente da
o  procedimento de identificação datiloscópica. É o que existência de identificação civil. (STJ, Quinta Turma,
determina o art. 6º, inciso VIII, do CPP. RHC nº 12.968/DF, Min. Felix Fischer, DJ: 20/9/2004).
A já superada Súmula nº 568 do STF previa que
Dessa forma, durante o inquérito policial, era deter‑
a identificação criminal não constitui constrangi‑ minada a identificação criminal do autuado por crime de
mento ilegal, ainda que o indiciado já tenha sido homicídio doloso, mesmo se já civilmente identificado.
identificado civilmente. Ocorre que a Lei nº 12.037/2009 revogou a Lei nº
10.054/2000. Agora, nos termos do art. 3º da referida Lei,
Referida súmula não mais subsiste em face da Constitui‑ embora apresentado documento de identificação, poderá
ção Federal de 1988, que, em seu art. 5º, inciso LVIII, esta‑
ocorrer identificação criminal quando:
belece que “o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”.
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício
Havia discussão corrente sobre a possibilidade de o in‑
diciado no inquérito policial ser identificado criminalmente, de falsificação;
mesmo estando identificado civilmente, portando seu do‑ II – o documento apresentado for insuficiente para
cumento de identificação, como carteira nacional de habi‑ identificar cabalmente o indiciado;
litação, registro civil emitido pelas secretarias de segurança III – o indiciado portar documentos de identidade
pública, passaporte ou carteira funcional. distintos, com informações conflitantes entre si;
O art. 1º da Lei nº 10.054/2000 havia posto fim às di‑ IV – a identificação criminal for essencial às investi‑
vergências determinando que o preso em flagrante delito, gações policiais, segundo despacho da autoridade
o indiciado em inquérito policial, aquele que pratica infra‑ judiciária competente, que decidirá de ofício ou
ção penal de menor gravidade, assim como aqueles contra mediante representação da autoridade policial, do
os quais tenha sido expedido mandado de prisão judicial, Ministério Público ou da defesa;
desde que não identificados civilmente, serão submetidos à V – constar de registros policiais o uso de outros
identificação criminal, inclusive pelo processo datiloscópico nomes ou diferentes qualificações;
e fotográfico. Ressaltava também que a prova de identifi‑ VI – o estado de conservação ou a distância temporal
cação civil far‑se‑á mediante apresentação de documento ou da localidade da expedição do documento apre‑
de identidade reconhecido pela legislação (art.  2º da Lei sentado impossibilite a completa identificação dos
nº 10.054/2000). caracteres essenciais.
Desta forma, se o acusado apresentasse identidade civil
válida, não poderia ser novamente identificado, salvo se in‑ Quando houver necessidade de identificação criminal,
corresse em uma das hipóteses descritas na lei. Assim sendo, a autoridade encarregada tomará as providências necessá‑
havia hipóteses em que, mesmo havendo apresentação de rias para evitar o constrangimento do identificado (art. 4º
documento de identidade, haveria identificação criminal, da Lei nº 12.037/2009). A identificação criminal incluirá o
inclusive pelo processo datiloscópico e fotográfico, o que se processo datiloscópico e o fotográfico, que serão juntados
dava, de acordo com o art. 3º da Lei nº 10.054/2000, quando: aos autos da comunicação da prisão em flagrante, ou do
inquérito policial ou outra forma de investigação (art. 5º da
Noções de Direito Processual Penal

I  – estiver indiciado ou acusado pela prática de Lei nº 12.037/2009).


homicídio doloso141, crimes contra o patrimônio pra‑
ticados mediante violência ou grave ameaça, crime Antecedentes e Vida Pregressa
de receptação qualificada, crimes contra a liberdade
sexual ou crime de falsificação de documento público; O inciso IX do art. 6º do CPP determina que compete à
II – houver fundada suspeita de falsificação ou adul‑ autoridade policial
teração do documento de identidade;
III – o estado de conservação ou a distância temporal averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto
da expedição de documento apresentado impossibili‑ de vista indivi­dual, familiar e social, sua condição
te a completa identificação dos caracteres essenciais; econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e
IV  – constar de registros policiais o uso de outros depois do crime e durante ele, e quaisquer outros
nomes ou diferentes qualificações; elementos que contribuírem para a apreciação do
V  – houver registro de extravio do documento de seu temperamento e caráter.
identidade;
Resta assentada a jurisprudência do Superior Tribunal de
Assunto cobrado na prova da FCC/DP-SP/Questão 15/Item I/2012.
141 Justiça no sentido de que,

36
por maus antecedentes criminais, em virtude do que dias, prorrogáveis por igual período no caso de comprovada
dispõe o artigo 5º, inciso LVII, da Constituição de Re‑ necessidade para a investigação, a contar da data do recebi‑
pública, deve‑se entender a condenação transitada mento da requisição ou requerimento ou notitia criminis146
em julgado, excluída aquela que configura reincidência (art. 10 do CPP). Reiterando, o prazo para conclusão do IP
(art. 64, I, CP), excluindo‑se processo criminal em curso é de 30 dias, quando o indiciado estiver solto, podendo ser
e indiciamento em inquérito policial (HC nº 31.693/ prorrogado pela autoridade competente para cumprimento
MS, Rel. Min. Paulo Medina, DJ: 6/12/2004). de diligências.147
O inquérito deverá terminar no prazo de 10 (dez) dias,
A Súmula nº 444/STJ determina que “é vedada a utili‑ se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
zação de inquéritos policiais e ações penais em curso para preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir
agravar a pena-base”. do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo
de 30 (trinta) dias, quando estiver solto, mediante fiança
O Indiciamento de “Menor” ou sem ela.148
Entretanto, o inquérito policial, para o indiciado preso,
O art. 15 do Código de Processo Penal estabelece que não deve terminar em 10 dias, em qualquer hipótese.149
“se o indiciado for menor, ser‑lhe‑á nomeado curador pela Com efeito, nos crimes de competência da Justiça Federal,
autoridade policial”. estando o indiciado preso, o  prazo será de quinze dias
No entanto, o menor a que se refere tal artigo não é o (art.  66 da Lei nº  5.010/1966), prorrogáveis por igual
menor de 18 anos, uma vez que este é sequer investigado período, após apresentação do preso ao juízo. Estando o
por meio de inquérito policial, afinal, esse indivíduo não indiciado solto, o prazo será de trinta dias150. Dessa forma,
pratica crime, mas sim ato infracional, assegurando‑lhe o estando preso em flagrante o indiciado pela prática de
Estatuto da Criança e do Adolescente modalidade diversa crime contra a Administração Pública Federal, o prazo para
de investigação. a conclusão do inquérito policial é de 15 dias prorrogáveis
O menor em análise no art. 15 do CPP era o indivíduo que por igual prazo.151
tinha entre 18 anos completos e 21 anos incompletos. No Já para apuração do crime de tráfico ilícito de entorpe‑
entanto, atualmente, a determinação do art. 15 do Código centes, o prazo para conclusão do inquérito policial é de 30
de Processo Penal perdeu o sentido, uma vez que o novo dias, para o indiciado preso, e de 90 dias se o indiciado esti‑
Código Civil diz possuir maioridade absoluta quem completa ver solto152 (art. 51 da Lei nº 11.343/2006). Nesse sentido, se
18 anos de idade.142 determinado indivíduo está sendo investigado pela prática
Assim, ao indiciado menor de 21 e maior ou igual a 18 do delito de tráfico ilícito de entorpecentes encontrando‑se
anos, não há mais a necessidade de se nomear curador para solto, a autoridade policial dispõe, para concluir o referido
inquérito policial, do prazo de 90 dias.153 O parágrafo único
acompanhar o inquérito e o processo.143
do referido artigo estabelece que
Nesse sentido, interrogatório de indiciado menor de 21
anos de idade desacompanhado de curador não nulifica o
os prazos a que se refere este artigo podem ser dupli‑
inquérito policial.144
cados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante
Capez (2005) já destaca referido entendimento em suas pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.
Notas à 10ª Edição de sua obra, ressaltando que
Por sua vez, nos crimes contra a economia popular (Lei
se o sujeito for menor de 18 anos, não poderá ser nº  1.521/1951) é de 10 dias o prazo para conclusão do
indiciado, já que é inimputável; se for maior de 18, inquérito policial, estando o indiciado preso ou solto.154
não poderá mais ser considerado menor, ante sua Quanto aos crimes que se processam mediante ação
maioridade civil e a plena capacidade para praticar penal de iniciativa privada, os autos, em regra, deverão ser
atos civis, dentre os quais os processuais. conclusos nos mesmos prazos dos inquéritos que apuram os
crimes que se processam por ação penal pública.
Portanto, as  disposições relativa a curador constantes Apesar de se tratar de procedimento administrativo,
no CPP (art. 15, 262 e 564, III, c, do CPP) não se aplicam ao o  prazo para conclusão do inquérito policial é proces­
investigado, salvo se este for portador de alguma deficiência sual155. Dessa forma, o prazo é contado segundo as regras
mental (art. 149, § 2º, do CPP). O mesmo raciocínio se aplica do art. 798, § 1º, do CPP, que estabelece que todos os prazos
à dispensa de representante também para a vítima quando correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não
esta for maior de 18 anos e não apresentar nenhuma debili‑ se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado, sendo
dade mental, perdendo aplicação os arts. 34 e 50, parágrafo que não se computará no prazo o dia do começo (dies a
único, do CPP. quo), incluindo‑se, porém, o do vencimento (dies ad quem).
Noções de Direito Processual Penal

Prazos para a Conclusão do Inquérito Policial 146


Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005;
OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004; Delegado de Polícia Substituto de Santa
Catarina/2001; FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; FCC/
O inquérito policial possui prazos estipulados para sua TRE‑PB/Analista Judiciário/Área Administrativa/2007; Vunesp/OAB‑SP/128º
conclusão. Assim, nos crimes de competência da Justiça Exame; FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2001; Vunesp/
Estadual, estando o indiciado preso, salvo disposição em OAB‑SP/128º Exame; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997; OAB‑PR/
Exame 1/2006; Promotor- BA/2004.
contrário, o prazo para conclusão será de dez dias impror‑ 147
Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Substituto/2009.
rogáveis, contados da efetivação da medida restritiva de 148
Consulplan/Sejus-RN/Agente Penitenciário/2009.
direito145. Estando o indiciado solto, o prazo será de trinta 149
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004.
150
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004;
TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto; Procurador da República/2002.
142
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado 151
Procurador da República.
de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça 152
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil
Avaliador/1997; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005. do Rio de Janeiro/2001; OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑GO/1º Exame
143
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. de Ordem/2003.
144
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ/DF/Analista Judiciário/Área Judiciá­ 153
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
ria/2003 154
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem e
145
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ-RJ/Técnico de Atividade Judi‑ MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
ciária/Questão 62/2012 e FCC/MPE-SE/Analista/Direito/2009. 155
Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2003-2004.

37
Capez, apud Mirabete, destaca que do art. 10 do CPP, no relatório poderá a autoridade indicar
testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando
não se aplica a regra segundo a qual a contagem do o lugar onde possam ser encontradas. Isso porque, na fase
prazo cujo termo a quo cai na sexta inicia‑se somente policial, bastam meros indícios para a formação da opinio
no primeiro dia útil, porquanto na Polícia Judiciária delicti sobre os fatos pela autoridade policial.
há expediente aos sábados, domingos e feriados, em Se a autoridade policial não conseguir relatar o inquérito
tempo integral, graças a plantões e rodízios. dentro do prazo legal, pode solicitar ao juiz prorrogação de
prazo para a continuidade das investigações (art. 10, § 3º,
Entretanto, iniciando‑se o inquérito por auto de prisão do CPP ).
em flagrante, o prazo é contado a partir da data da prisão, O relatório final da autoridade policial não é peça
não se excluindo o dia em que se iniciou a medida restritiva imprescindível para a sua conclusão e oferecimento de
da liberdade. Contudo, referida assertiva não é pacífica na denúncia.161
doutrina. Pierobom (2009, p. 206) atenta para a divergência Não se aplicam às atividades desenvolvidas no inquérito
de entendimentos, destacando que os princípios da atividade jurisdicional, não encerrando o
inquérito um juízo de formação de culpa com um veredic‑
Existe controvérsia quanto ao termo inicial para a con‑ to de possibilidade ou não da ação penal.162 Isto porque o
tagem do prazo, estando o indiciado preso. Segundo inquérito é dispensável e não vincula a autoridade judiciária
parte da doutrina, o prazo seria de Direito Material, ou a acusação no que se refere às conclusões levadas a cabo
incluindo o dia da realização da prisão no prazo, por pela autoridade policial.
tratar‑se de prazo que interfere no jus libertatis (CP, O promotor de justiça poderá oferecer denúncia mesmo
art.  10). Nesse sentido: Tourinho Filho, Mirabete, que o inquérito policial seja enviado ao Ministério Público
Rangel e Nucci. Em sentido contrário, entendendo sem o seu relatório conclusivo, mas, para tanto, o promotor
que se trata de prazo de Direito Processual, portanto, tem que entender já existirem elementos suficientes para
exclui‑se o dia do início, nos termos do art. 798, § 1º, a propositura da ação penal.163
do CPP: Damásio e Capez). Por outro lado, o Ministério Público não pode requerer a
devolução do inquérito policial à autoridade policial senão
A não conclusão do inquérito policial no prazo legal não para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da
implica no encerramento das investigações, não acarretan‑ denúncia164 (art. 16 do CPP).
do nulidade do feito.156 Consoante a jurisprudência do STF, ainda que não se per‑
De acordo com o art. 10, § 3º, do CPP, sendo o fato de mita ao MP a condução do inquérito policial propriamente
difícil elucidação, estando o indiciado solto, a autoridade dito, não há vedação legal para que este órgão proceda
policial poderá requerer ao juiz a devolução dos autos a investigações e colheita de provas para a formação da
para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo a opinio delicti.165
ser marcado pelo juiz157. Em face ao pedido da dilação de Assim, embora já relatado o inquérito policial, o re‑
prazo ao término da investigação policial, o prazo é o que presentante do Ministério Público poderá determinar a
é concedido pelo juiz.158 realização de exame pericial, por exemplo, na faca que teria
Mesmo estando o investigado preso, pode haver sido utilizada pelos indiciados para constranger a vítima à
prorrogação do prazo do inquérito para a conclusão das conjunção carnal.
investigações. Nessa hipótese, entretanto, para que a prisão O que não se admite é que, uma vez relatado o inquérito
seja mantida, deverá ser decretada a prisão temporária ou pela autoridade, o membro do Ministério Público requisite
preventiva do investigado. A prisão temporária não influencia a devolução para investigações genéricas ou para que se
no prazo de conclusão do inquérito. façam quaisquer diligências. É permitido ao juiz indeferir
requerimento de devolução dos autos do inquérito, mesmo
Encerramento do Inquérito Policial quando o órgão do Ministério Público entender conveniente
a coleta de mais evidências166. Se ocorrer referida hipótese,
O término do inquérito policial é caracterizado pela entretanto, é dado ao Ministério Público requerer diretamen‑
elaboração de um relatório e por sua juntada pela te as diligências à autoridade policial, nos termos do art. 13,
autoridade policial responsável, que pode, nesse II, do CPP. Há entendimento no sentido de que o juiz não pode
relatório, indicar testemunhas que não tiverem negar pedido de novas diligências feito pelo representante
sido inquiridas.159 É o que determina o § 2º, do art. do Ministério Público, cabendo, do indeferimento, recurso
10 do CPP. de correição parcial (ÁVILA, 2009, p. 207)
Polastri (2009, p. 100) também destaca que
Noções de Direito Processual Penal

Na conclusão do inquérito, incumbe à autoridade


policial que presidir os autos fazer relatório minucioso ao não se pode cogitar, à luz da Constituição de 1988, é
término das investigações, enviando‑o ao juiz competente o magistrado examinar e aferir a imprescindibilidade
(§ 1º do art. 10 do CPP), que não fica vinculado no que diz de diligências requisitadas pelo Ministério Público em
respeito à tipificação do fato praticado pelo indiciado.160 As‑ sede de procedimento inquisitorial, o que atenta con‑
sim, o conteúdo do inquérito policial não vincula o juiz ou tra a Carta Magna e desvirtua o princípio acusatório
o promotor. adotado pela legislação pátria, retirando a necessária
A autoridade policial deve relatar o inquérito quando imparcialidade do Judiciário.
entender estar ou não suficientemente evidenciada a prova
de materialidade e autoria. Com efeito, nos termos do § 2º 161
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
162
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/2009.
156
MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009. 163
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003.
157
Assunto cobrado na seguinte prova: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de 164
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área
Goiás/2003. Judiciária/2006; Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Judiciária, 2003-2004;
158
TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto. Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.
159
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPF/Agente/2009. 165
Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 54/Assertiva D/2011.
160
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/ 166
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/1999. Assunto aborda‑
Defensor Público de 1ª Classe/2003. do por Fernando Capez (2005, p. 91), que entende como correta tal assertiva.

38
Entretanto, em tema de investigação criminal, não cabe policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito,
ao juiz, rejeitando a denúncia, indicar os dados de inves‑ uma vez que tal arquivamento é de competência da auto‑
tigação ausentes na peça acusatória e, então, devolver os ridade judicial.168
autos ao Ministério Público para a complementação das Estando o indiciado preso e sendo pedido o arquiva‑
investigações.167 mento do inquérito, o juiz, aceitando o pedido, ordenará a
Ocorre que a Lei nº 11.690/2008 alterou a redação do soltura do indiciado.
art. 156 do CPP permitindo ao juiz determinar diligências Assim, cabe exclusivamente ao juiz de direito determi‑
ainda durante a fase de inquérito sem a denúncia do Minis‑ nar o arquivamento do inquérito policial, sendo necessá‑
tério Público, nos seguintes termos: rio o requerimento do membro do Ministério Público169.
Magistrado não pode arquivar inquérito policial de ofício,
A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, dependendo sempre de requerimento do Parquet.
porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo Em tema de arquivamento de inquérito policial, o ato
antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada judicial, em tal procedimento, não é decisório170, mas sim
de provas consideradas urgentes e relevantes, obser‑ decisão administrativo‑judicial, por ser oriundo do Poder
vando a necessidade, adequação e proporcionalidade Judiciário (LIMA, 2006, p. 133).
da medida. Portanto, a autoridade policial, após a instauração do
inquérito policial, não pode, em hipótese alguma, deter‑
O art. 23 do CPP determina que,
minar o seu arquivamento, mesmo que descubra pela
Ao  fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz inexistência do fato ou que o fato praticado não é crime,
competente, a  autoridade policial oficiará ao Ins‑ devendo relatar o ocorrido, sugerindo o arquivamento do
tituto de Identificação e Estatística, ou repartição inquérito, e encaminhá‑lo ao juízo171.
congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido No mesmo sentido, ainda que o delito seja apenado
distribuídos, e os dados relativos à infração penal e apenas com detenção, ou não exista suficiente fumus
à pessoa do indiciado. commissi delicti ou, ainda, que o indiciado venha a falecer,
não poderá também a autoridade policial arquivar os autos
Uma vez remetidos os autos do inquérito ao juiz, este de inquérito.172
abre vista ao promotor caso se trate de crime de ação pe‑ Segundo o disciplinamento do inquérito policial no
nal pública. O promotor, recebendo os autos do inquérito Código de Processo Penal, só o Ministério Público pode
policial, conforme ressalta Pacheco (2006, p. 158), tem as requerer seu arquivamento.173  Dessa forma, o  órgão do
seguintes opções: Ministério Público poderá, entendendo pública a ação penal,
mas discordando das conclusões da autoridade policial no
a) requerimento de devolução dos autos à autoridade relatório que encerrou o inquérito policial, requerer ao juiz
policial, para a realização de diligências imprescindíveis competente o arquivamento dos autos, por falta de provas
ao oferecimento da denúncia (art. 16, CPP); b) reque‑ da materialidade do crime.
rimento para que os autos permaneçam em cartório, O membro do Ministério Público pode pedir ao juiz o
aguardando a iniciativa do ofendido ou de quem possa arquivamento por entender não constituir o fato um crime,
representá‑lo, no caso de crime de ação penal privada por já estar extinta a punibilidade ou mesmo por não haver
exclusiva ou personalíssima (art. 19 do CPP); c) alega‑ provas suficientes para o exercício da ação penal.
ção de incompetência e requerimento da remessa dos Não cabe o ajuizamento de ação privada subsidiária
autos de inquérito a outro juízo [...]; d) requerimento quando houver pedido de arquivamento do inquérito
de declaração da extinção da punibilidade, se identi‑ policial pelo promotor de justiça, pois o pedido de arqui‑
ficar causa de extinção da punibilidade. Observação: vamento não pode ser equiparado à omissão174.
há quem entenda que o promotor deva requerer o Levando‑se em conta o Código de Processo Penal, da
arquivamento dos autos, com fundamento no art. 43, II, decisão que arquiva o inquérito policial, a pedido do Mi‑
CPP, pois, se oferecesse a denúncia, ela seria rejeitada;
e) requerimento de arquivamento do inquérito policial
(art. 43 do CPP, a contrario sensu), em razão da atipici‑ 168
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área
dade penal do fato, coisa julgada etc. (A referência ao Administrativa/Questão 55/Assertiva D/2011; Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto//
Questão 54/Assertiva E/2011; Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 81/
art. 43 do CPP, em face da Lei nº 7.719/2008, agora se Item IV/2011; FGV/OAB/IV Exame Unificado/Questão 69/Assertiva D/2011;
encontra acobertada pelo art. 395 do CPP). Cespe/OAB‑DF/2009 e Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administra‑
tiva/2009.
169
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Substituto de
Em caso de ação penal privada, os autos do inquérito são Santa Catarina/2001 e OAB‑SP/124º Exame de Ordem/2004.
enviados ao juiz, nos termos do art. 19 do CPP: Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2001.
Noções de Direito Processual Penal

170
171
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004;
Nos crimes em que não couber ação pública, os autos UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003; TJ‑PI/Juiz Substitu‑
to/2001; Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002; FCC/TRE‑SP/Analista
do inquérito serão remetidos ao juízo competente, Judiciário/Área Judiciária/2006; FCC/TRE‑PB/Analista Judiciário/Área Admi‑
onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu nistrativa/2007; Cespe/Ministério Público do Estado de Tocantins/Analista
representante legal, ou serão entregues ao reque‑ Ministerial/Especialidade: Ciências Jurídicas/2006; OAB‑PR/Exame 1/2007;
rente, se o pedir, mediante traslado. OAB‑PR/Exame 1/2007; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/Área Direito/2004;
OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004; OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005;
OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003;
Arquivamento OAB‑SP/124º Exame de Ordem/2004; Cespe/Ministério Público do Estado
do Tocantins/Analista Ministerial/Área Ciências Jurídicas/2006; Cespe/TRF 1ª
Região/Juiz Federal Substituto/2004; TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997;
Arquivamento na Hipótese de Crime de Ação Penal OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003; OAB/1º Exame de Ordem/2004;
Pública OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003; Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.
172
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004;
OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª
O art. 17 do CPP é taxativo: “A autoridade policial não Entrância/2001.
poderá mandar arquivar autos de inquérito.” A autoridade 173
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004.
174
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PA/Juiz Substitu‑
to/2001/2002; Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2003-2004;
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2003.
167
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2005, Procurador da República.

39
nistério Público, não cabe qualquer recurso, mesmo que Discordância do Juiz sobre o Pedido de Arquivamento
evidente o erro de interpretação.175  Não pode a vítima do Parquet
sequer se valer de alguma medida judicial, como o mandado
de segurança, para obrigar o Ministério Público a ajuizar a Caso um membro do Ministério Público requeira o arqui‑
denúncia. vamento de um inquérito policial fundamentado na ausência
A decisão de arquivamento é irrecorrível. Luiz Bivar de base para denúncia, por entender inexistente o crime
(2009, p. 52) destaca algumas exceções: apurado ou mesmo por já estar extinta a punibilidade, e o juiz
discorde, considerando improcedentes as razões invocadas,
Exceção 1: a decisão que arquiva o inquérito policial por ser fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal,
ou absolve o réu nos crimes contra a saúde pública deverá encaminhar os autos ao Procurador‑Geral de Justiça
ou economia popular estão sujeitas ao ‘recurso de (chefe do Ministério Público Estadual), nos termos do art. 28
ofício’ (reexame necessário ou remessa obrigatória do CPP. Recebendo os autos do inquérito, o Procurador‑Geral
– art. 7º da Lei nº 1.521/1951). de Justiça oferecerá a denúncia, designará outro órgão do
Exceção 2: a decisão que arquiva o inquérito quando Ministério Público para oferecê‑la ou insistirá no pedido de ar‑
se tratar das contravenções previstas nos arts. 58 e quivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
60 do Decreto-Lei nº 6.259/1944 (jogo do bicho e Se, por outro lado, o juiz discordar das razões aduzidas,
aposta em competições esportivas) está sujeita ao não deve atender imediatamente ao pedido de arquiva‑
recurso em sentido estrito. mento formulado pelo órgão do Ministério Público.178 No
entanto, o juiz é obrigado a arquivar o inquérito policial caso
O arquivamento do inquérito policial não impede a o Procurador‑Geral insista no arquivamento já solicitado
propositura de ação civil.176 pelo órgão do Ministério Público.179
Se não houver inquérito, mas sim peças de informação Dessa forma, verifica‑se a existência de três possibili‑
obtidas pelo próprio Ministério Público, por meio de parti‑ dades para o chefe do Ministério Público, quais sejam: 1)
culares ou de órgãos públicos, não haverá pronunciamento oferecer a denúncia; 2) designar outro órgão do Ministé‑
judicial sobre referidas peças, salvo se houver práticas de rio Público para oferecê‑la180; ou 3) insistir no pedido de
atos a serem determinados exclusivamente por magistrados, arquivamento. Não cabe ao chefe do Ministério Público
como as medidas constritivas de bens ou de liberdade. solicitar remessa dos autos à polícia para que se façam mais
Haverá, entretanto, pronunciamento judicial se houver diligências. Dessa forma, em relação à atuação de membro
pedido de arquivamento por parte do representante do do Ministério Público, há ofensa ao princípio do promotor
Ministério Público. natural quando o Procurador‑Geral, invocando a aplicação
O arquivamento do inquérito policial pode se dar em analógica do art. 28, decide sobre pedido de baixa dos autos
virtude da promoção ministerial no sentido da incidência de à complementação de diligências181.
causa excludente de ilicitude (STJ, RHC nº 17.389/SE, Min. Ao juiz não resta alternativa senão concordar com o
Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 7/4/2008). pedido de arquivamento feito pela chefia do Ministério Pú‑
blico. O juiz é obrigado a arquivar o inquérito policial caso o
Arquivamento na Hipótese de Crime de Ação Penal Procurador‑Geral insista no arquivamento já solicitado pelo
Privada órgão do Ministério Público.
Se o juiz se negar a arquivar os autos do inquérito em tal
Sobre o arquivamento do inquérito na hipótese de ação hipótese, caberá correição parcial, por error in procedendo,
penal privada, ressalta‑se que essa hipótese é difícil de ser sendo nulo o prosseguimento das investigações eventual‑
verificada. Com efeito, se o ofendido, ciente da autoria, faz mente determinadas pelo magistrado, já que ao juiz não é
o pedido de arquivamento após o prazo decadencial de 6 permitido dar início ao procedimento ex officio.
meses, o juiz promove o arquivamento, embasado na deca‑ Por outro lado, conforme jurisprudência recente do STF,
dência e não no pedido de arquivamento propriamente dito. não ofende o princípio do promotor natural o fato de ter sido
Já se o pedido de arquivamento é efetivado dentro do pedido o arquivamento dos autos do inquérito policial por
prazo decadencial para o oferecimento da queixa, o  juiz um promotor de justiça e, posteriormente, apresentada a de‑
determinará o arquivamento, embasado na renúncia ex‑ núncia por outro promotor, indicado pelo Procurador‑Geral
pressa, não mais podendo os autos do inquérito serem de Justiça, depois de o juízo singular haver reputado impro‑
desarquivados, uma vez que a renúncia é causa extintiva cedente o pedido de arquivamento. (Primeira Turma, HC
de punibilidade. nº 92.885/CE, Rel. Min. Cármen Lúcia. Inf. nº 504.)
O mesmo se diga se o ofendido não souber quem é o O membro do Ministério Público designado pelo
autor da infração penal. Se decidir pelo pedido de arquiva‑ Procurador‑Geral – ou pelo órgão colegiado que detenha
tal atribuição – para denunciar não pode negar‑se a fazê‑lo,
Noções de Direito Processual Penal

mento das peças de informação, ao juiz não cabe decidir de


forma contrária. invocando o princípio constitucional da independência fun‑
A decisão judicial que determina o trancamento de um cional.182 Ademais, tal membro, designado à denúncia, não
inquérito policial admite, por parte do defensor da vítima, se limita à extensão do decidido pelo Procurador‑Geral, ou
reabertura do inquérito policial, desde que novas provas pelo órgão colegiado que detenha tal atribuição.183
surjam acerca da materialidade ou da autoria.177
Se, posteriormente, surgirem novas provas que atestem Arquivamento Implícito
a autoria, o  prazo decadencial passa a correr, podendo o
ofendido oferecer a queixa ou pedir novo arquivamento, Não é difícil de se verificar a hipótese em que o repre‑
o  que agora configurará causa extintiva da punibilidade sentante do Ministério Público oferece denúncia contra um
pela renúncia.
178
Assunto cobrado na prova do TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997.
179
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Judiciá­
175
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/130º Exame; ria/2003-2004.
OAB‑SP/125º Exame de Ordem/2005; TRF 4ª Região/Juiz Federal Substitu‑ 180
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
to/2005. 181
Procurador da República/2003.
176
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003. 182
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2001.
177
Vunesp/OAB‑SP/132º Exame. 183
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2001.

40
agente, mas não denuncia um outro agente, por não verificar a recusa de oferecer denúncia por considerar incom‑
suporte fático suficiente a embasar a ação penal quanto a petente o juiz, que, no entanto, julga‑se competente,
este, sendo que não faz qualquer manifestação expressa não suscita um conflito de atribuições, mas um pedi‑
sobre as razões pelas quais não o denunciou e, muito menos, do de arquivamento indireto que deve ser tratado à
pede o arquivamento do inquérito em face do agente contra luz do art. 28 do CPP. (STF, Tribunal Pleno, Rel. Min.
o qual não há elementos probatórios mínimos de autoria. Rafael Mayer, 1º/4/1982)
Poder‑se‑ia, entender, portanto, que em relação a tal agente,
ocorreria o chamado “arquivamento implícito”. No mesmo sentido é a jurisprudência do STJ que destaca
Referida hipótese não deve ser admitida, uma vez que, que
em face do princípio da obrigatoriedade e divisibilidade da
ação penal pública, pode o Parquet, durante o processo, se o magistrado discorda da manifestação minis‑
promover ao aditamento da denúncia, fazendo referência a terial, que entende ser o juízo incompetente, deve
corréu não denunciado na primeira oportunidade. encaminhar os autos ao Procurador‑Geral de Justiça,
Dessa forma, o arquivamento implícito do inquérito para, na forma do art. 28 do CPP, dar solução ao
policial não tem lugar quando houver falta de descrição da caso, vendo‑se, na hipótese, um pedido indireto de
conduta de algum dos autores do crime de ação penal públi‑ arquivamento. (STJ, Terceira Seção, Min. Anselmo
ca, tampouco diz respeito à revelação da inércia do membro Santiago, DJ: 4/8/1997)
do Ministério Público e do juiz que não exerceu a fiscalização
sobre o princípio da oportunidade da ação penal.184 O juiz criminal, diante do pedido de arquivamento do
O mesmo se diga em relação a inquérito policial formulado pelo promotor, por incompe‑
tência do Juízo, considera‑se competente. Nessa situação,
eventuais omissões na denúncia quanto a elementos deve o juiz provocar a audiência do Procurador‑Geral de
acidentais do delito, como as qualificadoras, que não Justiça, conforme preceitua o art. 28 do Código de Processo
configuram arquivamento implícito, o que pode ser Penal187.
sanado mediante aditamento, sendo que, nos termos Em se tratando de dissenso entre Procurador da Repú‑
da Súmula nº 524 do STF, blica, que conclui pela incompetência do juiz federal, e este,
que se tem por competente, cria pedido de arquivamento
novas provas são exigidas para o desarquiva‑ indireto a ser resolvido pela Câmara Criminal do Ministério
mento do inquérito policial apenas quando seu Público Federal188.
arquivamento houver sido determinado mediante Se o promotor pede arquivamento do inquérito por ser o
decisão judicial, a pedido do representante do juiz estadual incompetente para julgar os fatos e o juiz con‑
Parquet. (STJ, HC nº 111.972/RJ, Min. Jane Silva corda, nada impede que o Procurador da República ofereça
(Desembargadora convocada do TJ/MG), Sexta a denúncia perante o juízo federal competente. Hipótese
Turma, DJe 2/2/2009). análoga ocorre em caso de foro privilegiado em que a com‑
petência para apurar os fatos é de tribunal de segunda ins‑
Se o promotor denuncia apenas um dos autores, pode o tância. A título de exemplo: considera‑se que, em face de sua
juiz velar pela obrigatoriedade. Com efeito, Polastri (2009, incompetência, o Tribunal de Justiça do Estado determinou
p. 182), destaca que: o arquivamento de inquérito policial instaurado pela Polícia
Estadual para apurar o desvio, em um município, de recur‑
Tratando-se de ação penal pública, conhecidos to‑ sos federais do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
dos os autores, estes deverão ser denunciados, isto do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
não sendo, obviamente, caso de arquivamento em (Fundef). Nessa situação, diante do arquivamento da peça
relação a alguns, mas, como já visto, ocorrendo falta informativa, a Procuradoria Regional da República poderá
de qualificação ou mesmo de outros elementos em requerer ao TRF a instauração de outro inquérito policial
relação a maior esclarecimento sobre a identificação para apurar a infração penal189.
ou particular contribuição de um dos agentes, nada
impedirá o posterior oferecimento de aditamento Determinação de Arquivamento do Inquérito por Juiz
naquele processo ou mesmo nova denúncia, se findo Incompetente
o processo original.
Situação interessante surge quando juiz incompetente
O princípio da indivisibilidade, aqui, está contido no determina o arquivamento dos autos do inquérito. Para
princípio maior da obrigatoriedade da ação penal pública, determinar o arquivamento, o juiz teve, necessariamente,
Noções de Direito Processual Penal

e, assim, havendo elementos para a denúncia e não tendo de firmar sua competência. A título de exemplo, vejamos
o promotor denunciado o agente, o juiz poderá, na forma hipótese em que um Procurador da República, por entender
do art. 28 do CPP, remeter os autos ao Procurador-Geral de não ser da Justiça Federal a competência para processar e
Justiça, pois a hipótese se equivale ao arquivamento. julgar crime ambiental de desmatamento da floresta nativa
O STF185 não tem acolhido a tese do arquivamento im‑ da Mata Atlântica, requer o arquivamento dos autos. Na
plícito do inquérito policial186. hipótese, o juiz federal deveria não arquivar o inquérito, mas
remetê‑lo à Justiça Estadual, eis que, para determinar o ar‑
Arquivamento Indireto quivamento, deve o magistrado firmar pela sua competência.
Por outro lado, vejamos a hipótese em que um Pro­
Referida modalidade ocorreria quando o membro do curador da República requer o arquivamento de inquérito em
Ministério Público, entendendo ser o juiz incompetente, não que se apura crime ambiental de desmatamento da floresta
oferece a denúncia. Nesse caso, o STF entende que nativa da Mata Atlântica, por não haver provas suficientes
187
Assunto cobrado na prova da Esaf/Promotor‑CE/2001.
184
17º Concurso para Procurador da República/1999/Grupo III. 188
Assunto cobrado nas seguintes provas: Procurador da República/1996; Pro‑
185
STF, Primeira Turma, RHC nº 93.247/GO, Min. Marco Aurélio, 18/3/2008. curador da República/Grupo III.
186
Assunto cobrado na prova do Cespe/Tribunal de Justiça do Acre/Juiz de Direito 189
Assunto cobrado na prova de Cespe/TRF  5ª Região/Juiz Federal Substitu‑
Substituto/2007. to/2004.

41
a embasar a ação penal. Arquivado o inquérito, os  fatos gada apenas formalmente. Isso significa que se a ação penal
são relatados a um promotor estadual, que entende haver for proposta sem novas provas, pode ser trancada em face
provas suficientes de materialidade e indícios de autoria do ajuizamento de habeas corpus.
que permitem o ajuizamento da ação penal no âmbito da Diante de novas provas, o Delegado não pode, de ofício,
Justiça Estadual. desarquivar inquérito já encerrado.192
Caso o promotor de justiça ofereça a denúncia e o juiz Se o promotor pede o arquivamento por falta de provas,
estadual, por ser competente para apreciar o caso, resolve pode o inquérito ser desarquivado, mediante pedido feito ao
receber a ação, resta configurado conflito entre juízes não juiz. Polastri (2009, p. 120) traz posicionamento no sentido
vinculados ao mesmo Tribunal, sendo competência do STJ de que sequer é necessário pedido ao juiz. Ressalta que
resolver tal conflito de competência, nos termos do art. 105,
I, d, da CF/1988. O fato de a decisão de arquivamento ser judicial não
permite o entendimento de que o requerimento de
Arquivamento dos Autos do Inquérito em Decorrência
desarquivamento deva ser submetido ao Judiciário,
da Prescrição Punitiva Antecipada pela Pena em
Perspectiva pois, como já visto, é o Ministério Público que sempre
dará a última palavra quanto à pertinência ou não
Muitas vezes, o órgão do Ministério Público, ao apreciar do arquivamento, e, consequentemente, ao mesmo
a data em que se verificaram os fatos delitivos, bem como a cabe decidir sobre o desarquivamento. Ao Ministério
situação do autor dos fatos, como a primariedade, percebe Público cabe, privativamente, a promoção da ação
que a eventual pena a ser aplicada quando da prolação da penal pública, e o Judiciário não pode obrigar à Ins‑
sentença será atingida pela prescrição. Dessa forma, optaria tituição ou seus membros a tal promoção, ou seja,
o Parquet por requerer o arquivamento dos autos, em face a desarquivar procedimentos e oferecer denúncia,
da ausência de interesse processual, por não se verificar a como também, segundo o mesmo raciocínio, não
utilidade do provimento jurisdicional a ser eventualmente pode impedir o desarquivamento do inquérito.
proferido. Isso porque ocorreria a extinção da punibilidade
da pena in concreto. Porém, Ao juiz, então, o que cabe, segundo os termos do art. 28,
é o controle sobre o arquivamento do inquérito, e não sobre
O Supremo Tribunal Federal tem rechaçado a aplica‑ seu desarquivamento.
ção do instituto da prescrição antecipada reconhecida Não é possível que o magistrado, em busca da verdade
antes mesmo do oferecimento da denúncia, (STF, real, determine diligências em IP, na situação de crime de
HC nº 83.458/BA, DJ: 6/2/2004) ação penal pública incondicionada em que o membro do
MP já tenha pugnado pelo arquivamento dos autos.193
A Suprema Corte salienta que, Em tal caso, a  decisão sobre o pedido de desarquiva‑
mento, em surgindo novas provas, cabe ao representante
Antes da sentença, a pena é abstratamente comina‑ do Ministério Público. É condição sine qua non para o de‑
da e o prazo prescricional se calcula pelo máximo, sarquivamento do inquérito o surgimento de novas provas.
não podendo ser concretizada por simples presun‑ É o que determina a Súmula nº 524 do STF:
ção (STF, Primeira Turma, RHC  nº  66.913/DF. DJ:
18/11/1988) Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz,
a requerimento do promotor de justiça, não pode a
Dessa forma, verificando o juiz que a denúncia, ofere‑
ação penal ser iniciada, sem novas provas.194
cida pelo promotor de justiça, narra um crime, cuja pena
máxima já foi alcançada pela prescrição, deverá rejeitar a
ação penal.190 O STF entende que o membro do Ministério Público não
pode simplesmente se retratar de pedido de arquivamento
Desarquivamento dos Autos do Inquérito anteriormente feito. (STF, Tribunal Pleno, Inq. nº 2.054/DF,
Rel. Min. Ellen Gracie, 29/3/2006). Ele tem de fundamentar
O inquérito policial, como visto, pode ser arquivado a o pedido com base em novas provas.
pedido do membro do Ministério Público que, em face do Mirabete (2005, p. 106) destaca que
princípio da obrigatoriedade, deve fundamentar o pedido,
por exemplo, por não ser o fato tido como criminoso, por essas novas provas, capazes de autorizar início da
já estar extinta a punibilidade ou mesmo por não haver ele‑ ação penal, são somente aquelas que produzem
alteração no panorama probatório dentro do qual foi
Noções de Direito Processual Penal

mentos probatórios mínimos para o exercício da ação penal.


Determinado o arquivamento do inquérito policial concebido e acolhido o pedido de arquivamento do
por falta de base para a denúncia, poderá ele voltar a ser inquérito. A nova prova há de ser substancialmente
objeto de investigações pela autoridade policial diante da inovadora, e não apenas formalmente inovadora.
informação de novas provas (art. 18 do CPP), uma vez que
a decisão de arquivamento não faz coisa julgada material, No entanto, o arquivamento do inquérito policial a re‑
nem causa preclusão, pois se trata de uma decisão tomada querimento do Ministério Público poderá, em determinadas
rebus sic stantibus191, configurando‑se hipótese de coisa jul‑ hipóteses, fazer coisa julgada material.195 Com efeito, quan‑
do o inquérito policial é arquivado com base na atipicidade
Assunto cobrado na prova de Promotor‑RN/2004.
190

Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto;


191 do fato ou sob a alegação de já estar extinta a punibilidade,
Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2002; OAB‑ES/2º
Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑AC/Juiz de Direito Substituto/2007; TJ‑PI/ 192
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
Juiz Substituto/2001; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑PA/ 193
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substi‑
Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; OAB‑RJ/30º Exame; OAB‑MT/2º tuto/2009.
Exame de Ordem/2004; OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑SP/126º 194
Assunto cobra nas seguintes provas: Funiversa/PC-DF/Delegado de Polí‑
Exame de Ordem/2005; Cespe/1º Exame da Ordem/2004; Procurador da cia/2009 e MS/TRE-SC/Analista Judiciário/2009.
República/2003; Esaf/Promotor‑CE/2001; Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia 195
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promotor/
Civil Substituto/2009. 2009.

42
tal decisão tem eficácia de coisa julgada material e gera fato e a vítima, providenciando‑se as requisições dos
preclusão, mesmo que a decisão seja emanada de juiz exames periciais necessários.
absolutamente incompetente, o que impede a instauração
de processo que tenha por objeto os mesmos fatos, ainda O parágrafo único determina, ainda, que
que a denúncia se baseie em novos elementos de prova196.
Por outro lado, não se impede o desarquivamento do Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
inquérito policial com vistas a prosseguir as investigações imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir
nas hipóteses de decisões judiciais, reconhecendo a pre‑ o compromisso de a ele comparecer, não se imporá
sença de alguma excludente de ilicitude.197 prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.
Caso o representante do Ministério Público requeira fun‑
damentadamente o arquivamento de um inquérito policial Dessa forma, nas infrações de menor potencial ofensivo,
por entender que a conduta do indiciado era atípica ou por ou seja, nas contravenções penais e nos crimes em que a
entender já estar extinta a punibilidade, acatando o juiz as pena máxima cominada seja igual ou inferior a dois anos,
razões e determinando o arquivamento do inquérito, não não haverá inquérito policial, mas tão somente a lavratura
será admitido que, posteriormente, um outro membro do de um termo circunstanciado.199 Nas hipóteses de incidência
Ministério Público oferte denúncia, pois a decisão do juiz da Lei nº 9.099/1995, a autoridade não deverá instaurar
transita em julgado. inquérito policial e nem proceder ao indiciamento do
Se os fatos apurados forem de ação penal privada, para acusado, de imediato200. A título de exemplo, o crime de
haver o desarquivamentos dos autos do inquérito, deve-se constrangimento ilegal, cuja pena é de detenção de três
atentar para o prazo decadencial para o oferecimento da meses a um ano ou multa, é da alçada do Juizado Especial
queixa caso já seja conhecida a autoria dos fatos. Criminal. Nessa situação, o delegado de polícia não deve
lavrar o auto de prisão em flagrante, mas termo circunstan‑
Inquérito Policial e os Juizados Especiais Criminais ciado, desde que o autor da infração seja imediatamente
encaminhado para o juizado ou assuma o compromisso de
Os Juizados Especiais Criminais têm previsão no art. 98, fazê‑lo201.
I, e § 1º, da CF/1988. Como maior exemplificação: Iramar da Silva, com von‑
O art. 61 da Lei nº 9.099/1995 ressalta que tade livre, consciente e com nítido intento de ultrajar e
desprestigiar, desacatou – quando cumpriam mandado de
Consideram‑se infrações penais de menor potencial penhora e avaliação extraído da execução promovida em
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções desfavor da companheira dele, portanto, no pleno exercício
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima das atribuições dos cargos públicos que exercem – as ofi‑
não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com cialas de Justiça Cacilda e Irinéia, chamando‑as de ladras
multa. e afirmando que nada seria penhorado em sua residência.
Preso em flagrante pelo crime de desacato (art. 331, CP),
São exemplos de crimes que, quando de seu pro‑ que prevê uma pena de detenção de seis meses a dois anos,
cessamento e julgamento, obedecerão às regras da Lei ou multa, Iramar foi encaminhado à delegacia de polícia.
nº 9.099/1995 e deverão ser julgados pelos Juizados Espe‑ Considerando o entendimento predominante na doutrina e
ciais Criminais: lesão corporal leve ou culposa (art. 129 do na jurisprudência, o(a) delegado(a) de polícia encarregado
CP); perigo de contágio venéreo (art. 130 do CP); omissão desse caso deverá lavrar um termo circunstanciado de ocor‑
de socorro da qual resulta lesão corporal de natureza grave rência e encaminhá‑lo imediatamente ao Juizado Especial
(art. 135, § 1º, do CP); e exercício arbitrário das próprias Criminal com o autor do fato e as vítimas202.
razões (art. 345 do CP)198. Se o autor dos fatos se negar a ir de imediato ao Juizado
O conceito de infração de menor potencial ofensivo Especial Criminal ou mesmo a assumir o compromisso de
abrange inclusive os crimes que tenham procedimento espe‑ ali comparecer quando for chamado, pode‑se impor a ele a
cial, como os de abuso de autoridade. Entretanto, em relação prisão em flagrante, que, por si só, configura peça inicial de
à Justiça Militar, a Lei nº 9.099/1995 não tem aplicação, nos inquérito policial. Também pode ser instaurado inquérito
termos de seu art. 90-A. O rito dos Juizados Especiais Crimi‑ policial quando, após envolvimento em infração penal de
nais também não se aplica às infrações de menor potencial menor potencial ofensivo, o  autor dos fatos for encami‑
ofensivo, se praticadas em razão de violência doméstica e nhado ao Juizado Especial Criminal, onde o promotor de
familiar contra a mulher, nos termos da Lei nº 11.340/2006. justiça requererá a abertura de inquérito policial em face
Quanto à Justiça Federal, há previsão específica na Lei da complexidade do caso, o  que impedirá a formulação
nº 10.259/2001. O procedimento sumaríssimo do Juizado imediata da denúncia203.
Noções de Direito Processual Penal

Especial Criminal se aplica na Justiça Federal. Lembre‑se


de que a Justiça Federal não julga contravenção, ainda que 199
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Analista Judiciá­rio/Área
praticada em detrimento da União, suas autarquias e em‑ Judiciária  – Atividade Processual/2003; TJ‑PA/Juiz Substituto/2001-2002;
presas públicas. Havendo contravenção, será competente OAB‑RS/1º Exame/2006.
200
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001-2002.
para julgamento a Justiça Estadual. 201
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor Público de 2ª
O art.  69 da Lei nº  9.099/1995 destaca como se dá a Categoria/2005.
apuração das infrações penais de menor potencial ofensivo:
202
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003.
203
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública do Estado do
Amazonas/Defensor Público de 4ª/2003. Hipótese semelhante se encontra na
A autoridade policial que tomar conhecimento da seguinte prova: NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001:
ocorrência lavrará termo circunstanciado e o enca‑ Em um sábado à noite, Pompílio solicita a presença de policiais militares,
alegando que seu vizinho, Josafá, conhecido e temido na região por seu
minhará imediatamente ao juizado, com o autor do temperamento agressivo, o estaria ameaçando gravemente, na presença dos
filhos da vítima. De fato, os policiais militares chegam ao condomínio onde
196
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AC/Juiz de Direito Substitu‑ vivem Pompílio e Josafá e presenciam Josafá e Manoel, cunhado de Pompílio,
to/2007; TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2005 e Cespe/PC-RN/Delegado em concurso, ameaçarem de morte a vítima, que havia se recusado a pagar
de Polícia Civil Substituto/2009. uma dívida contraída com a empresa de que são sócios Josafá e Manoel.
197
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Todos são levados à presença da autoridade policial e Pompílio representa
Classe/2009. expressamente pelo processo criminal em face de Josafá, por crime de
198
TJ‑MA/Juiz/2003. ameaça, que é de ação pública condicionada à representação e prevê pena
Dessa forma, em relação à Lei nº 9.099/1995, a instau‑ quência, em tema de mandado de segurança ou de
ração do inquérito policial torna‑se medida de exceção. Sua habeas corpus, ao controle jurisdicional originário
simples instauração não pode determinar a modificação da do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, d e i).
competência do Juizado Especial Criminal204. [...] LIMITAÇÕES AOS PODERES INVESTIGATÓRIOS
Polastri (2009, p. 82) destaca, por sua vez, que, nas DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO.  – A
infrações de menor potencial ofensivo, em somente duas Constituição da República, ao outorgar às Comissões
hipóteses poderá ser instaurado inquérito pela polícia judi‑ Parlamentares de Inquérito “poderes de investigação
ciária: 1) quando não houver autor ou vítima conhecidos; e próprios das autoridades judiciais” (art.  58, §  3º),
2) quando a complexidade ou as circunstâncias do caso não claramente delimitou a natureza de suas atribuições
permitirem a imediata formulação de denúncia. institucionais, restringindo‑as, unicamente, ao cam‑
po da indagação probatória, com absoluta exclusão
Inquéritos Extrapoliciais de quaisquer outras prerrogativas que se incluem,
ordinariamente, na esfera de competência dos ma‑
O parágrafo único do art. 4º do CPP ressalva que as atri‑ gistrados e Tribunais, inclusive aquelas que decorrem
buições da Polícia Judiciária no que se refere à investigação do poder geral de cautela conferido aos juízes, como
criminal não excluirão as de autoridades administrativas, o poder de decretar a indisponibilidade dos bens
a quem por lei seja cometida a mesma função. pertencentes a pessoas sujeitas à investigação parla‑
Desse modo, a  investigação criminal não está mono‑ mentar. A circunstância de os poderes investigatórios
polizada no trabalho policial205, pois há outros órgãos que de uma CPI serem essencialmente limitados levou a
também têm atribuição para apurar delitos. jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal
Podem ser consideradas formas de investigação prelimi‑ Federal a advertir que as Comissões Parlamentares de
nar: o inquérito parlamentar, o inquérito policial militar206, Inquérito não podem formular acusações e nem punir
o inquérito civil, o inquérito administrativo, o inquérito rea‑ delitos (RDA 199/205, Rel. Min. Paulo Brossard), nem
lizado pelas polícias da Câmara dos Deputados e do Senado desrespeitar o privilégio contra a autoincriminação
Federal e inquéritos judiciais. que assiste a qualquer indiciado ou testemunha (RDA
As Comissões Parlamentares de Inquérito têm poderes 196/197, Rel. Min. Celso de Mello – HC nº 79.244-
de investigação próprios da autoridade judiciária, para a DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence), nem decretar a
apuração de fato determinado e por prazo certo, no en‑ prisão de qualquer pessoa, exceto nas hipóteses
tanto, suas conclusões não serão encaminhadas à mesa do de flagrância (RDA 196/195, Rel. Min. Celso de
Senado ou da Câmara para promover a responsabilidade Mello – RDA 199/205, Rel. Min. Paulo Brossard). [...]
civil e criminal207, mas sim ao Ministério Público. As CPIs, A QUEBRA DO SIGILO CONSTITUI PODER INERENTE
nos termos do art. 58, § 3º, da CF/1988, terão poderes de À COMPETÊNCIA INVESTIGATÓRIA DAS COMISSÕES
investigação próprios das autoridades judiciais. Entretanto PARLAMENTARES DE INQUÉRITO. – O sigilo bancário,
há limitação em face dos atos que se constituem reserva de o sigilo fiscal e o sigilo telefônico (sigilo este que in‑
jurisdição, conforme já ressaltou o STF: cide sobre os dados/registros telefônicos e que não
se identifica com a inviolabilidade das comunicações
EMENTA: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRI‑ telefônicas) – ainda que representem projeções es‑
TO  – PODERES DE INVESTIGAÇÃO (CF, ART. 58, § pecíficas do direito à intimidade, fundado no art. 5º,
3º) – LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS – LEGITIMIDA‑ X, da Carta Política – não se revelam oponíveis, em
DE DO CONTROLE JURISDICIONAL – POSSIBILIDADE nosso sistema jurídico, às Comissões Parlamentares
DE A CPI ORDENAR, POR AUTORIDADE PRÓPRIA, de Inquérito, eis que o ato que lhes decreta a quebra
A QUEBRA DOS SIGILOS BANCÁRIO, FISCAL E TELE‑ traduz natural derivação dos poderes de investigação
FÔNICO – NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DO que foram conferidos, pela própria Constituição da
ATO DELIBERATIVO  – DELIBERAÇÃO DA CPI QUE, República, aos órgãos de investigação parlamentar.
SEM FUNDAMENTAÇÃO, ORDENOU MEDIDAS DE As Comissões Parlamentares de Inquérito, no entan‑
RESTRIÇÃO A DIREITOS – MANDADO DE SEGURANÇA to, para decretarem, legitimamente, por autoridade
DEFERIDO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉ‑ própria, a quebra do sigilo bancário, do sigilo fiscal
RITO  – COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO e/ou do sigilo telefônico, relativamente a pessoas
TRIBUNAL FE­DERAL. – Compete ao Supremo Tribu‑ por elas investigadas, devem demonstrar, a  partir
nal Federal processar e julgar, em sede originária, de meros indícios, a existência concreta de causa
mandados de segurança e habeas corpus impetra‑ provável que legitime a medida excepcional (rup‑
tura da esfera de intimidade de quem se acha sob
Noções de Direito Processual Penal

dos contra Comissões Parlamentares de Inquérito


constituídas no âmbito do Congresso Nacional ou investigação), justificando a necessidade de sua efe‑
no de qualquer de suas Casas. É que a Comissão Par‑ tivação no procedimento de ampla investigação dos
lamentar de Inquérito, enquanto projeção orgânica fatos determinados que deram causa à instauração
do Poder Legislativo da União, nada mais é senão a do inquérito parlamentar, sem prejuízo de ulterior
longa manus do próprio Congresso Nacional ou das controle jurisdicional dos atos em referência (CF,
Casas que o compõem, sujeitando‑se, em conse‑ art. 5º, XXXV). (...) A QUESTÃO DA DIVULGAÇÃO DOS
DADOS RESERVADOS E O DEVER DE PRESERVAÇÃO
de detenção de um a seis meses ou multa, não se referindo a Manoel. Nesse DOS REGISTROS SIGILOSOS.  – A Comissão Parla‑
caso, a autoridade policial: lavrará termo circunstanciado, indicando como mentar de Inquérito, embora disponha, ex propria
autores do fato Josafá e Manoel, independentemente de a representação da
vítima mencionar com exclusividade Josafá, tomando o compromisso de que auctoritate, de competência para ter acesso a da‑
Josafá e Manoel comparecerão ao Juizado Especial Criminal competente. dos reservados, não pode, agindo arbitrariamente,

204
NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004. conferir indevida publicidade a registros sobre os

205
Assunto cobrado nas seguintes provas: Procurador da República/2003; Tri‑
bunal de Justiça do DF e Territórios/Juiz de Direito Substituto/2007. quais incide a cláusula de reserva derivada do sigilo

206
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/Exame 3/2006. bancário, do sigilo fiscal e do sigilo telefônico. Com a

207
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/131º Exame; Cespe/ transmissão das informações pertinentes aos dados
Delegado da Polícia Federal/2002; Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008.

44
reservados, transmite‑se à Comissão Parlamentar de Nos casos de crimes de competência originária de tribu‑
Inquérito – enquanto depositária desses elementos nais, fala‑se em inquérito judicial209. Versando o inquérito
informativos –, a nota de confidencialidade relativa sobre ato de autoridade com foro privativo, este tramitará
aos registros sigilosos. Constitui conduta altamente perante o Tribunal competente.210 Não é possível que
censurável – com todas as consequências jurídicas autoridade policial, de ofício, investigue e indicie pessoa
(inclusive aquelas de ordem penal) que dela possam com foro especial, sem a devida supervisão de magistrado
resultar – a transgressão, por qualquer membro de naturalmente competente para julgar tal detentor de prer‑
uma Comissão Parlamentar de Inquérito, do dever rogativa funcional.211
jurídico de respeitar e de preservar o sigilo concer‑ Também era chamado inquérito judicial a investigação
nente aos dados a ela transmitidos. Havendo justa que o próprio juiz fazia pessoalmente (juiz de instrução), nos
causa – e achando‑se configurada a necessidade de termos do art. 3º da Lei nº 9.034/1995. Entretanto, o STF, na
revelar os dados sigilosos, seja no relatório final dos Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.570-2, declarou a
trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito inconstitucionalidade da referida previsão legal.
(como razão justificadora da adoção de medidas a O parágrafo único do art. 41 da Lei Orgânica Nacional
serem implementadas pelo Poder Público), seja para do Ministério Público (Lei nº 8.625/1993) determina que,
efeito das comunicações destinadas ao Ministério
Público ou a outros órgãos do Poder Público, para os Quando no curso de investigação, houver indício da
fins a que se refere o art. 58, § 3º, da Constituição, prática de infração penal por parte de membro do
seja, ainda, por razões imperiosas ditadas pelo inte‑ Ministério Público, a autoridade policial, civil ou mi‑
resse social – a divulgação do segredo, precisamente litar remeterá, imediatamente, sob pena de respon‑
porque legitimada pelos fins que a motivaram, não sabilidade, os respectivos autos ao Procurador‑Geral
configurará situação de ilicitude, muito embora
de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento à
traduza providência revestida de absoluto grau de
apuração.
excepcionalidade. POSTULADO CONSTITUCIONAL
DA RESERVA DE JURISDIÇÃO: UM TEMA AINDA PEN‑
Quanto aos magistrados, o parágrafo único do art. 33 da
DENTE DE DEFINIÇÃO PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. O postulado da reserva constitucional de Lei Orgânica da Magistratura Nacional dispõe que
jurisdição importa em submeter, à esfera única de
decisão dos magistrados, a prática de determinados Quando, no curso de investigação, houver indício da
atos cuja realização, por efeito de explícita determi‑ prática de crime por parte do magistrado, a autori‑
nação constante do próprio texto da Carta Política, dade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos
somente pode emanar do juiz, e não de terceiros, autos ao Tribunal ou órgão especial competente para
inclusive daqueles a quem se haja eventualmente o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.
atribuído o exercício de “poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais”. A cláusula cons‑ Dessa forma, por determinação legal, não podem ser
titucional da reserva de jurisdição – que incide sobre presididas por delegado de polícia as investigações criminais
determinadas matérias, como a busca domiciliar (CF, contra promotores de justiça e magistrado212.
art. 5º, XI), a interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) Há, por fim, intenso debate sobre a investigação criminal
e a decretação da prisão de qualquer pessoa, ressal‑ levada a cabo pelo Ministério Público, ou seja, a hipótese
vada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º, LXI) – traduz do Promotor Investigador, que seria o titular da instrução.
a noção de que, nesses temas específicos, assiste ao É grande, no Brasil, o movimento jurídico nesse sentido213.
Poder Judiciário, não apenas o direito de proferir a O Ministério Público atuaria diretamente na investigação.
última palavra, mas, sobretudo, a  prerrogativa de Embora caiba ao Ministério Público o controle da ativi‑
dizer, desde logo, a primeira palavra, excluindo‑se, dade policial, há divergências doutrinárias e jurisprudenciais
desse modo, por força e autoridade do que dispõe sobre a possibilidade de esse órgão realizar investigações de
a própria Constituição, a possibilidade do exercício infrações penais.
de iguais atribuições, por parte de quaisquer outros Doutrinadores de escol apresentam o entendimento de
órgãos ou autoridades do Estado. Doutrina.  – O que o Parquet pode realizar atos de investigação para fins
princípio constitucional da reserva de jurisdição, de eventual oferecimento de denúncia, podendo requisitar
embora reconhecido por cinco (5) Juízes do Supremo esclarecimentos ou diligenciar de forma direta, buscando
Tribunal Federal – Min. Celso de Mello (Relator), Min. subsídios para a propositura da ação penal (nesse sentido:
Marco Aurélio, Min. Sepúlveda Pertence, Min. Néri
Noções de Direito Processual Penal

FERNANDES, 2002, p. 254-255; MIRABETE, 2001, p. 75. Em


da Silveira e Min. Carlos Velloso (Presidente) – não sentido contrário: TOURINHO FILHO, 2003, p. 207; OLIVEI‑
foi objeto de consideração por parte dos demais RA, 2008, p. 72; LIMA, 2006, p. 80). O Superior Tribunal de
eminentes Ministros do Supremo Tribunal Federal, Justiça apresenta entendimentos cristalizados nesse sentido,
que entenderam suficiente, para efeito de concessão in verbis:
do writ mandamental, a falta de motivação do ato
impugnado. (STF, MS nº 23.452/RJ, Rel. Min. Celso CRIMINAL. HC. DETERMINAÇÃO DE COMPARECIMEN‑
de Mello, Tribunal Pleno, Julgamento: 16/9/1999) TO AO NÚCLEO DE INVES­TIGAÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO PARA DEPOR. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Além disso, nos termos da Súmula nº 397 do STF, o poder
de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, 209
Assunto cobrado na prova de Promotor‑BA/2004.
em caso de crime cometido nas suas dependências, com‑ 210
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
preende a prisão em flagrante do agente e a realização do 211
Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substituto/2009.
212
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Delegado da Polícia Fe‑
inquérito.208 deral/2002; Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008.
213
Na internet, há diversas ponderações nesse sentido, em textos, sobretudo,
de membros do Ministério Público, podendo ser citados, entre outros: SILVA,
Cespe/OAB/1º Exame de Ordem//2008.
208
E.; SILVA, A., ARAÚJO, CORRÊA; MOREIRA.

45
NÃO CONFIGURADO. ORDEM DENEGADA. Tem‑se administrativos; (3) pode propor ação penal sem o
como válidos os atos investigatórios realizados pelo inquérito policial, desde que disponha de elementos
Ministério Público, que pode requisitar esclarecimen‑ suficientes. (Segunda Turma, RE nº 233.072/RJ, DJ:
tos ou diligenciar diretamente, visando à instrução 3/5/2002)
de seus procedimentos administrativos, para fins de EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL.
oferecimento de denúncia. Ordem denegada. (Quinta MINISTÉRIO PÚBLICO: ATRIBUIÇÕES. INQUÉRITO.
Turma, HC nº 13.368/DF, DJ: 3/4/2001) REQUISIÇÃO DE INVESTIGAÇÕES. CRIME DE DESO‑
CRIMINAL. RHC. ABUSO DE AUTORIDADE. TRANCA‑ BEDIÊNCIA. C.F., art. 129, VIII; art. 144, §§ 1º e 4º.
MENTO DE AÇÃO PENAL. COLHEITA DE ELEMENTOS I  – Inocorrência de ofensa ao art. 129, VIII, CF, no
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. CONSTRANGIMENTO fato de a autoridade administrativa deixar de aten‑
ILEGAL NÃO CONFIGURADO. LIMINAR CASSADA. der requisição de membro do Ministério Público no
RECURSO DESPROVIDO. Tem‑se como válidos os atos sentido da realização de investigações tendentes à
investigatórios realizados pelo Ministério Público, que apuração de infrações penais, mesmo porque não
pode requisitar esclarecimentos ou diligenciar dire‑ cabe ao membro do Ministério Público realizar,
tamente, visando à instrução de seus procedimentos diretamente, tais investigações, mas requisitá‑las à
administrativos, para fins de oferecimento da peça autoridade policial, competente para tal (CF, art. 144,
acusatória. A simples participação na fase investiga‑ §§ 1º e 4º). Ademais, a hipótese envolvia fatos que
tória, coletando elementos para o oferecimento da estavam sendo investigados em instância superior.
denúncia, não incompatibiliza o Representante do II – R.E. não conhecido. (Segunda Turma, RE nº
Parquet para a proposição da ação penal. A atuação 205.473/AL, DJ: 19/3/1999)
do Órgão Ministerial não é vinculada à existência do EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
procedimento investigatório policial – o qual pode MINISTÉRIO PÚBLICO. INQUÉRITO ADMINISTRATIVO.
ser eventualmente dispensado para a proposição NÚCLEO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E CONTROLE
da acusação. (Quinta Turma, RHC nº  8.106/DF, DJ: EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL/DF. PORTARIA.
4/6/2001) PUBLICIDADE. ATOS DE INVESTIGAÇÃO. INQUIRI‑
PROCESSUAL PENAL. INQUÉRITO POLICIAL. DISPEN‑ ÇÃO. ILEGITIMIDADE. 1. PORTARIA. PUBLICIDADE
SABILIDADE. PROPOSIÇÃO DE AÇÃO PENAL PÚBLICA. A Portaria que criou o Núcleo de Investigação Cri‑
MINISTÉRIO PÚBLICO. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. minal e Controle Externo da Atividade Policial no
POSSIBILIDADE. DENÚNCIA. DESPACHO DE RECEBI‑ âmbito do Ministério Público do Distrito Federal,
MENTO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. NÃO OCOR‑ no que tange a publicidade, não foi examinada no
RÊNCIA. INÉPCIA. INEXISTÊNCIA. CRIME EM TESE. STJ. Enfrentar a matéria neste Tribunal ensejaria
AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. supressão de instância. Precedentes. 2. INQUIRIÇÃO
1 – Esta Corte tem entendimento pacificado no sen‑ DE AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. ILEGITIMIDADE.
tido da dispensabilidade do inquérito policial para A  Constituição Federal dotou o Ministério Público
propositura de ação penal pública, podendo o Par- do poder de requisitar diligências investigatórias e a
quet realizar atos investigatórios para fins de eventual instauração de inquérito policial (CF, art. 129, VIII).
oferecimento de denúncia, principalmente quando os A norma constitucional não contemplou a possibili‑
envolvidos são autoridades policiais, submetidos ao dade do Parquet realizar e presidir inquérito policial.
controle externo do órgão ministerial. (Sexta Turma, Não cabe, portanto, aos seus membros inquirir
RHC nº 11.670/RS, DJ: 4/2/2002) diretamente pessoas suspeitas de autoria de crime.
Mas requisitar diligência nesse sentido à autoridade
O STJ não adotou a tese da necessidade do Promotor policial. Precedentes. O recorrente é delegado de
Prevento, conforme se percebe do entendimento cristalizado polícia e, portanto, autoridade administrativa. Seus
na Súmula nº 397 do STJ: atos estão sujeitos aos órgãos hierárquicos próprios
da Corporação, Chefia de Polícia, Corregedoria.
A participação de membro do Ministério Público Recurso conhecido e provido. (Segunda Turma,
na fase investigatória criminal não acarreta o seu RHC nº 81.326/DF, DJ: 1/8/2003)
impedimento ou suspeição para o oferecimento da
denúncia. Entretanto, em recente decisão, a  Segunda Turma do
STF acena com mudança de entendimento ao destacar que:
Já o Supremo Tribunal Federal tem entendimento to‑
Noções de Direito Processual Penal

talmente contrário214, conforme se percebe das seguintes Ministério Público e Poder Investigatório – Relativa‑
decisões, in verbis:
mente à possibilidade de o Ministério Público pro‑
mover procedimento administrativo de cunho inves‑
MINISTÉRIO PÚBLICO. INQUÉRITO ADMINISTRATIVO.
tigatório, asseverou‑se, não obstante a inexistência de
INQUÉRITO PENAL. LEGITIMIDADE. O  Ministério
um posicionamento do Pleno do STF a esse respeito,
Público (1) não tem competência para promover
ser perfeitamente possível que o órgão ministerial
inquérito administrativo em relação à conduta de ser‑
promova a colheita de determinados elementos de
vidores públicos; (2) nem competência para produzir
prova que demonstrem a existência da autoria e da
inquérito penal sob o argumento de que tem possi‑
materialidade de determinado delito. Entendeu‑se
bilidade de expedir notificações nos procedimentos
que tal conduta não significaria retirar da Polícia Ju‑
diciária as atribuições previstas constitucionalmente,
Em recente acórdão proferido no ROHC nº  81.326-7/DF, relator ministro
214

Nelson Jobim, trata‑se da matéria objeto de análise, citando‑se, inclusive, mas apenas harmonizar as normas constitucionais
o histórico da controvérsia. A questão está novamente sendo debatida no (arts.  129 e 144), de modo a compatibilizá‑las para
âmbito da Corte Constitucional, o que ocorre no Inq. nº 1.968/DF, relator permitir não apenas a correta e regular apuração
ministro Marco Aurélio, 1º/9/2004, estando concluso para vista do ministro
Cézar Peluso. dos fatos, mas também a formação da opinio delicti.

46
Ressaltou‑se que o art. 129, I, da CF, atribui ao parquet Tal sistema tem sido adotado, por exemplo, na Itália
a privatividade na promoção da ação penal pública, (1988), na Alemanha (1974) e em Portugal (1995).
bem como, a seu turno, o Código de Processo Penal
estabelece que o inquérito policial é dispensável, já A supervalorização do Ministério Público na Itália
que o Ministério Público pode embasar seu pedido tem uma justificação histórica calcada no combate
em peças de informação que concretizem justa causa ao crime a qualquer custo, ainda que para isso se
para a denúncia. Aduziu‑se que é princípio basilar da cometam algumas injustiças. A Itália do pós‑guerra
hermenêutica constitucional o dos poderes implícitos, estava completamente assolada pela corrupção dos
segundo o qual, quando a Constituição Federal conce‑ órgãos públicos, pela máfia e pelo crime organizado.
de os fins, dá os meios. Destarte, se a atividade‑fim – A reforma realizada em 1988 pretendia, de uma vez
promoção da ação penal pública – foi outorgada ao por todas, mudar esse panorama a qualquer custo.
parquet em foro de privatividade, é inconcebível não (LOPES JÚNIOR, 2003, p. 90)
lhe oportunizar a colheita de prova para tanto, já que A reforma processual levada a cabo na Alemanha,
o CPP autoriza que peças de informação embasem em 1974, foi produto da pressa do legislador em
a denúncia. Considerou‑se, ainda, que, no presente combater a qualquer custo o terrorismo do grupo
caso, os delitos descritos na denúncia teriam sido Baader‑Meinhof. O  que importava era dar armas
praticados por policiais, o  que, também, justificaria para a acusação, aumentando a eficácia da instrução
a colheita dos depoimentos das vítimas pelo Minis‑ em respeito ao fim punitivo pretendido, ainda que
tério Público. Observou‑se, outrossim, que, pelo que com claros prejuízos para o sujeito passivo. (LOPES
consta dos autos, a denúncia também fora lastreada JÚNIOR, 2003, p. 90)
em documentos (termos circunstanciados) e em
depoimentos prestados por ocasião das audiências Foi constatado em um estudo realizado pelo Instituto
preliminares realizadas no juizado especial criminal de Max‑Plank, no ano de 1978, que nos países que já
origem. Por fim, concluiu‑se não haver óbice legal para adotam a investigação a cargo do promotor, como,
que o mesmo membro do parquet que tenha tomado por exemplo, Alemanha, na grande maioria dos ca‑
conhecimento de fatos em tese delituosos – ainda que sos, a instrução preliminar era realizada pela polícia
por meio de oitiva de testemunhas – ofereça denúncia e o promotor só tomava conhecimento do realizado
em relação a eles. (HC nº 91.661/PE, Rel. Min. Ellen depois da conclusão das investigações policiais.
Gracie, 10/3/2009). O  promotor investiga muito pouco pessoalmente
e, na prática, não pode modificar substancialmente
o resultado da atuação policial, pois esta já chega
Parece ser mais acertado o entendimento antigo do Su‑
concluída, caráter inibitório. Segundo a autora, é uma
premo Tribunal, com algumas ressalvas, conforme a seguir
prática habitual que a investigação recaia, quase que
se aduzirão.
exclusivamente, na polícia, limitando‑se o promotor
Podem‑se resumir, com a lição de Lopes Júnior (2003, p.
a uma mera revisão formal posterior. (LOPES JÚNIOR,
86-97), os prós e contras de a titularidade da investigação
2003, p. 96)
preliminar ficar a cargo do Ministério Público. Destaca o au‑
tor os prós: 1) o promotor, embora fosse parte no processo,
Permitindo‑se ao Ministério Público dirigir, por si próprio,
seria imparcial; 2) a atividade prévia à ação penal deve estar
as atividades investigatórias, com benefícios incomensurá‑
a cargo do titular da ação penal; 3) a imparcialidade do MP
veis à acusação, restaria, com certeza, ferido o princípio da
permitiria, de forma justa, se este deveria acusar ou não,
paridade de armas no processo penal. A função parcial do
sendo que a investigação poderia também favorecer a defesa;
Parquet, que decorre de sua própria natureza como órgão
4) celeridade e economia processual; e os contras: 1) o mo‑
de acusação, dificilmente seria afastada quando ele atuasse
delo está associado ao combate do crime a qualquer custo;
nas investigações, quando o apurador do fato e da autoria
2) elevação dos casos de abuso de autoridade e perseguição deve ser totalmente imparcial.
política, devendo o modelo ser aplicado com cautelas; 3) De início, cumpre salientar que o Ministério Público é
impossibilidade prática e humana de que uma pessoa possa órgão, por natureza, parcial. É a incorporação da litigiosidade
conciliar tarefas que se repelem, acusar e defender; 4) um típica de uma lide, que, entretanto, não deveria existir no
órgão de natureza acusatória, ao agir de forma imparcial, processo penal.
atenta contra a sua própria existência; 5) quanto maior a Ao atuar na fase de inquérito, o representante do Mi‑
parcialidade dos litigantes, maior a parcialidade do juiz; 6) nistério Público, ao invés de se despir de sua parcialidade,
por ser um órgão acusador, está o MP inclinado a produzir
Noções de Direito Processual Penal

estaria potencializando‑a, uma vez que sua atuação funcional


provas contra o imputado; 7) o MP teria de realizar atividades também visaria ser útil à ação penal, o que poderia gerar
totalmente alheias à sua função, em nome de uma suposta abusos. As almejadas celeridade e economia processual,
atuação em benefício do acusado; 8) seria necessário criar com certeza, atentariam contra a igualdade processual dos
a figura do promotor prevenido, ou seja, o membro do MP sujeitos processuais.
que investiga não poderia acusar, em face de diversos prejul‑ Não subsiste o argumento de que a atividade prévia à
gamentos que ocorreriam; 9) a atividade pré‑processual, por ação penal deve estar a cargo do titular da ação penal. Um
estar voltada para a acusação, atentaria contra o princípio dos objetivos do inquérito policial é justamente evitar a ação
da igualdade de armas; 10) a maioria dos acusados não teria penal, eis que serve de filtro processual, evitando ações
recursos financeiros para contratar um bom profissional infundadas. Se a desigualdade entre acusação e defesa no
para fazer com que a instrução também fosse ao seu favor; processo já é descomunal durante o processo penal, em
11) o acusado, impedido de se valer da fase pré‑processual, que há o contraditório, o que teremos se essa desigualdade
teria de produzir todas as provas no curso do processo; também se estender à investigação preliminar?
12) estaria inviabilizada a função da investigação preliminar As desvantagens em se adotar o sistema do Promotor
de filtrar provas; 13) a investigação, em países que adotam Investigador ou do juiz instrutor são estruturais e não en‑
tal sistema, acabaria recaindo na polícia. contram guarida na Constituição Federal.

47
Controle Externo da Atividade Policial FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. 3. ed.
Rio de Janeiro: Nau Editora, 2003.
O art. 129, VIII, da CF/1988 estabelece que é função insti‑
tucional do Ministério Público exercer o controle externo da GIORDANI, Mário Curtis. Direito Penal romano. 3. ed. Rio
atividade policial. Moldando referida norma constitucional, de Janeiro: Lúmen Juris, 1997.
o art. 3º da LC nº 75/1993 estabelece que o Ministério Público
da União exercerá o controle externo da atividade policial LIMA, Marcellus Polastri. Curso de Processo Penal. 3. ed. Rio
tendo em vista: a) o respeito aos fundamentos do Estado de Janeiro: Lumen Juris, 2006, v. I.
Democrático de Direito, aos objetivos fundamentais da Re‑
pública Federativa do Brasil, aos princípios informadores das LOPES Júnior, Aury. Sistemas de investigação preliminar
relações internacionais, bem como aos direitos assegurados no processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
na Constituição Federal e na lei; b) a preservação da ordem
pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio pú‑ ______. Direito processual penal e sua conformidade
blico; c) a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso constitucional). Volume 1. Rio de Janeiro: Editora Lúmen
de poder; d) a indisponibilidade da persecução penal; e) a Júris, 2008.
competência dos órgãos incumbidos da segurança pública.
O art. 9º da referida Lei determina que o Ministério Público
MEIRELLES, Hely Lopes. Administrativo brasileiro. 25. ed.
da União exercerá o controle externo da atividade policial
por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: São Paulo: Malheiros, 2000.
I – ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou
prisionais; MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Admi‑
II  – ter acesso a quaisquer documentos relativos à nistrativo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2000.
atividade‑fim policial;
III – representar à autoridade competente pela adoção de MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 12. ed. São Paulo:
providências para sanar a omissão indevida, ou para prevenir Atlas, 2001.
ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder;
IV – requisitar à autoridade competente para instauração ______. Processo penal. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
de inquérito policial sobre a omissão ou fato ilícito ocorrido
no exercício da atividade policial; MOREIRA, Rômulo de Andrade. Ministério público e poder
V – promover a ação penal por abuso de poder. investigatório criminal. Disponível em: <http://www1.jus.
Rangel (2009, p. 96) destaca que com.br/doutrina/texto.asp?id=1055>.

o papel institucional do Ministério Público não sig‑ OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 10.
nifica ingerência nos assuntos interna corporis da ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
polícia, muito menos subordinação desta ao Parquet,
mas, sim, controle da legalidade dos atos praticados PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria,
no inquérito policial e/ou das diligências realizadas crítica e práxis. 4. ed. Com Emenda Constitucional da “Refor‑
visando à instauração deste. ma do Judiciário”. Niterói, RJ: Impetus, 2006.

Referências LIMA, Marcellus Polastri. Manual de Processo Penal. 2. ed.


Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Direito processual penal.
15. ed., Brasília: Vestcon, 2009. PRADO, Geraldo. Sistema Acusatório: a conformidade
constitucional das leis processuais penais. Rio de Janeiro:
BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A inquisição. Tradução: Lumen Juris, 1999.
Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
RANGEL. Paulo. Direito processual penal. 16. ed. ver., atu‑
BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial. 3. ed. São al. e de acordo com as reformas processuais penais e a Lei
Paulo: Método, 2002. 11.900/2009, 2009.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed. São SILVA, Aloísio Firmo Guimarães da; ARAÚJO, Maria Emília
Noções de Direito Processual Penal

Paulo: Saraiva, 2005. Moraes de; CORRÊA, Paulo Fernando. Ainda e sempre
a investigação criminal direta pelo ministério público.
CARVALHO, Salo de. Pena e garantias. 2. ed. Rio de Janeiro:
Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.
Lumen Juris, 2003.
asp?id=1054>.
CORRÊA JR, Luiz Carlos Bivar. Direito processual penal. 4. ed.
Brasília: Vestcon, 2009. SILVA, Edmar Carmo da. Ministério Público e a titularidade
privativa do jus postulandi para a ação penal pública e
DUCLERC, Elmir. Direito Processual Penal. Rio de Janeiro: procedimentos incidentes. Disponível em: <http://www1.
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48
ação PENAL uma relação jurídica com o réu. Portanto, do resultado das
referidas ações é que poderia se falar ou não na existência
Introdução do direito material.

Na graduação, é comum, na maioria das faculdades, Teoria da ação como direito autônomo
se não em todas, a existência de uma cadeira denominada Em meados do século XIX, a polêmica Windscheid‑Mu‑
Teoria Geral do Processo. ther teve como saldo a ampla aceitação do direito de ação
Grande parte da doutrina1 pátria também evidencia a como um direito autônomo, desassociado do direito mate‑
existência de um tronco comum que define os conceitos e rial. Windscheid desenvolveu trabalho sobre a actio romana.
princípios do processo, que é o instrumento do qual se vale Muther, rebatendo algumas ideias de Windscheid, distinguiu
o Estado para dar solução a lides ou litígios, aplicando a lei nitidamente direito lesado e direito de ação, destacando a
ao caso concreto. existência de dois direitos, ambos de natureza pública: o di‑
Em regra, o  estudo do processo penal é realizado reito do ofendido à tutela jurídica do Estado (dirigido contra
tomando‑se por base princípios do processo civil. Isso em o Estado) e o direito do Estado à eliminação da lesão, contra
face da argumentação de que faltaria rigor técnico ao pro‑ aquele que a praticou.
cesso penal, o que não deixa de ser verdade, uma vez que
nosso Estatuto Processual Penal entrou em vigor em 1º de Teoria concreta
janeiro de 1942, durante o terceiro mandato do Presidente Avançando na autonomia, em 1888, Adolpho Wach,
Getúlio Vargas, época em que prevaleciam os interesses do jurista alemão, tratou da ação declaratória negativa, arre‑
Estado sobre os do cidadão. Veja as Exposições de Motivos matando que o direito de ação era autônomo do direito
do Código de Processo Penal, item II: material em disputa, pois nas ações declaratórias busca‑se
o reconhecimento de relação jurídica, enquanto, nas ações
Urge que seja abolida a injustificável primazia do in‑ declaratórias negativas, busca‑se a declaração de inexistência
teresse do indivíduo sobre o da tutela social. Não se da relação jurídica.
pode continuar a contemporizar com pseudodireitos Wach destacava que o direito de ação era autônomo e
individuais em prejuízo do bem comum. O indivíduo, público, definindo‑o como um direito concreto. Para ele,
principalmente quando vem de se mostrar rebelde à somente haveria ação se fosse reconhecido o direito mate‑
disciplina jurídico‑penal da vida em sociedade, não rial, ao final do processo, ou seja, caso a ação fosse julgada
pode invocar, em face do Estado, outras franquias procedente.Assim, o direito de ação só competiria a quem
ou imunidades além daquelas que o assegurem é titular de um interesse real e não imaginário. Houve várias
contra o exercício do poder público fora da medida críticas, eis que não se conseguia justificar a natureza dos atos
reclamada pelo interesse social. Este o critério que realizados até a prolação da sentença, quando esta julgava
presidiu à elaboração do presente projeto de Códi‑ os pedidos improcedentes.
go. No seu texto, não são reproduzidas as fórmulas Destaque‑se que a teoria da ação como direito potestati‑
tradicionais de um mal‑avisado favorecimento legal vo, do italiano Giuseppe Chiovenda (1903), também se afilia
aos criminosos. à teoria concreta. Referida teoria destacava que a ação devia
ser entendida como uma potestação jurídica para obter,
Há, ainda, a  nítida tendência de “civilizar” o processo contra o adversário, um resultado favorável no processo.
penal, conforme destaca Tucci (2002, p. 54). Com efeito, são Para ele, da ação não resulta nenhuma obrigação para o réu,
simplesmente transplantadas as definições do processo civil apenas sujeitando‑o aos efeitos jurídicos por ela visados.
para o ramo adjetivo penal, tendo em vista a existência de Referida teoria também sofreu várias críticas. Alfredo
farta doutrina tratando dos temas processuais civis2, quase Rocco ponderava que a ausência de qualquer obrigação,
sempre com supedâneo em uma Teoria Geral do Processo. por parte do réu, em decorrência do exercício de um direito
potestativo, por parte do autor, geraria uma relação jurídica
atípica.
Teorias da Ação
Teoria abstrata
Teoria imanentista
Prega o desligamento total do direito material do direito
A teoria imanentista da ação, conhecida também como
de ação. O húngaro Plósz (1876) e o alemão Degenkolb (1877)
clássica ou civilista, sendo defendida com afinco por Savigny,
elaboraram o supedâneo da teoria abstrata da ação. Oskar
apregoa que o direito de ação seria imanente, ou seja,
Von Bülow publicou obra que traz conceitos que sistemati‑
integrado ao direito material, eis que todo direito, material
zam o direito processual como ciência.
ou substancial, possui uma reação à sua violação. Referida
Noções de Direito Processual Penal

teoria sofreu críticas, eis que, com base em sua tese, ficaria
Teoria eclética
sem explicação a justificativa à ação meramente declarató‑
Pinçando um pouco das teorias concreta e abstrata, nas‑
ria ou à ação declaratória negativa, já que o próprio autor
ceu a teoria eclética, de obra do jurista italiano Enrico Tullio
pede que seja declarada a existência ou inexistência de
Liebman e exposta, pela primeira vez, na aula inaugural da

1
Theodoro Júnior (2000, p. 6), in verbis: “Para regular esse método de com‑ Universidade de Turim, em 24 de novembro de 1949. Lieb‑
posição dos litígios, cria o Estado normas jurídicas que formam o direito man, incorporando as teorias concreta e abstrata, afirmava
processual, também denominado formal ou instrumental, por servir de forma que a ação é um direito abstrato, mas não genérico, eis que
ou instrumento de atuação da vontade concreta das leis de direito material
ou substancial, que há de solucionar o conflito de interesses estabelecido há uma situação fática concreta. Referida concretude era
entre as partes, sob a forma de lide.” Para os doutrinadores Cintra; Grinover; verificada por meio da presença das condições da ação – pos‑
Dinamarco (2001, p. 23) processo é o “instrumento por meio do qual os sibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade
órgãos jurisdicionais atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminado
os conflitos e fazendo cumprir o preceito jurídico pertinente a cada caso que ad causam. Não havendo qualquer dessas condições da ação,
lhes é apresentado em busca de solução”. o autor é julgado carecedor do direito de ação, o que não

2
Cintra; Grinover; Dinamarco (2001, p. 43) destacam que “houve clima me‑ permite ao juízo que se pronuncie sobre o meritum causae.
todológico, então, para o desenvolvimento de uma teoria geral do processo,
favorecendo o progresso científico do processo penal, historicamente muito
Não se pode negar que o Direito Processual Civil evoluiu
menos aprimorado que o processo civil”. cientificamente com mais rapidez que o Direito Processual

49
Penal, sendo adotadas, no ramo adjetivo civil, teorias como se de outra, na consecução de um bem desejado por ambas.
a das condições da ação e dos pressupostos processuais, Essa subordinação de interesses ficou conhecida, graças aos
que são sempre adaptadas às peculiaridades da relação ensinamentos de Carnelutti (1944, p. 44), como pretensão.
processual criminal. Esta é definida como “exigência de subordinação de um inte‑
Entretanto, não há que se perder de vista a dificuldade resse alheio ao interesse próprio”. Seria, ademais, resistida,
em se amalgamar ambos os ramos processuais. É bastante quando houvesse uma atitude contrária à pretensão.
escassa a bibliografia estrangeira relativa à Teoria Geral Teríamos, portanto, pretensão, no processo penal? Teria
do Processo, tendo como principal expoente e precursor o Ministério Público interesse em sobrepor o jus puniendi
Francesco Carnelutti. Ele trata da referida visão unificada, do Estado ao interesse do acusado de permanecer em liber‑
partindo, contudo, do aspecto civil, conforme se percebe dade? Poderia essa pretensão do Parquet não ser resistida,
em sua obra Sistema do Direito Processual Civil (1944), em podendo‑se, então, condenar o acusado em face de sua
que destaca, na página 4, que a Teoria Geral do Processo confissão e vontade de ser submetido à lei penal? Haveria
lide no processo penal?
representa uma ulterior evolução da fase prece‑ Cremos que não e justificamos tão somente pelo fato de
dente, inspirada no desejo de se alcançar uma mais se tratar, no bojo do processo penal, de interesses indispo‑
alta síntese dos princípios de direito processual, níveis, além de ser o Ministério Público, acima de tudo, um
compreensiva não só das instituições do processo fiscal da lei, que tem por missão não a de assumir a condição
de conhecimento, senão das de qualquer outro tipo de parte extremamente litigiosa e combativa, mas a de tentar
de processo, e, portanto, quer se refira ao processo buscar, por meio de atividade recognitiva, a  evidenciação
de conhecimento quer se refira ao processo de do cometimento de conduta delituosa. Apenas tentativa, já
execução, e  quer se trate do processo civil ou do que a verdade propriamente dita e, muito menos, a deno‑
(processo) penal. minada “verdade real” dos fatos não podem ser alcançadas
pelos homens4.
Entre nós, José Frederico Marques revelou‑se um entu‑ Nesse sentido, Tucci (2002, p. 35) tece coerentes argu‑
siasta da elaboração de uma Teoria Geral do Processo, que mentações, destacando que
tem procurado reduzir as desigualdades do dualismo proces‑
sual. Já em 1952, em seu Ensaio sobre a jurisdição voluntária, [...] apresentando‑se ela (a pretensão) como elemen‑
defendia a unificação. Manteve essa linha de pensamento to caracterizador da ocorrência de lide  – seja pela
em sua obra Instituições de Direito Processual Civil. resistência oposta pelo sujeito passivo da relação
Ocorre que já é tempo de se obter uma ótica própria jurídica, cuja definição constitui a meta do processo
para o Direito Processual Penal, com o escopo de conferir‑lhe extrapenal de conhecimento; seja pela insatisfação
um incremento científico. Há diversas vozes nesse sentido3. do direito neste reconhecido, ou reconhecível, dada
Já se pode ter a diferenciação entre a ação penal e a a omissão ou, mesmo, atuação da parte vencida ou
ação civil pela verificação dos caracteres pe­culiares da pró‑ demandada –, é, igualmente, irrelevante no âmbito
pria relação jurídica existente no âmbito do processo penal do processo penal, para cuja existência se mostra
(BULOW, 1964, p. 2). suficiente a ocorrência (suposta que seja) de infração,
Sabemos que a jurisdição é atividade principal do Poder por membro da comunidade, a norma penal material.
Judiciário, efetivada por meio do processo. Este, por sua
vez, decorre do exercício do direito de ação. Esse poder Ademais, como já visto, é a pretensão, na realidade, uma
autônomo do Estado tem o condão, no âmbito penal, de declaração de vontade impositiva, formulada em face de
aplicar concretamente a pena contida na norma penal incri‑ outrem, a fim de se obter a satisfação de um interesse. Por‑
minadora quando do julgamento de acusados pela prática tanto, somente é verificável concretamente, ou seja, como
de infrações penais. fato da vida, ocorrente entre duas ou mais pessoas, com
Mas no processo penal haveria julgamento da “preten‑ efetiva atuação (“exigência de subordinação de interesse de
são” punitiva do Ministério Público? Estaríamos diante da outrem ao próprio”, na relembrada e insuperada formulação
presença de “ato jurisdicional decorrente de litígio”, que de Carnelutti) de uma das partes e negação da outra. E isso
impõe ao infrator da norma penal a devida punição? Haveria não acontece, ou melhor, não deveria ocorrer, em âmbito
lide no processo penal? Esse resgate temático é essencial penal (TUCCI, 2002, p. 35).
para se entender a lógica do desenvolvimento da investi‑ Na mesma linha segue Calamandrei apud Tucci (2002,
gação processual preliminar ao processo penal. Vejamos. p. 33-34), in verbis:
O conceito imortalizado e consagrado de lide é oriundo
das lições de Carnelutti (1973, p. 28): conflito de interesses O processo penal não tem, de fato, o escopo de remo‑
Noções de Direito Processual Penal

qualificado por uma pretensão resistida. Segundo referido ver um desacordo existente entre acusador e acusado
autor, poder‑se‑ia dizer que bem é a coisa apta à satisfação de a respeito da existência do crime ou da medida da
uma necessidade humana, e interesse seria a posição favorá‑ pena, de sorte a perder sua razão de ser onde tal de‑
vel à satisfação das necessidades. Como os bens da vida são sacordo seja amigavelmente composto entre os dois
limitados e os interesses ilimitados, surgem os conflitos de “litigantes”; mas tem lugar porque, em nosso ordena‑
interesses entre os membros de uma sociedade. O interesse mento jurídico, a punição do culpado só pode ocorrer
de uma pessoa consistiria, então, em sobrepor‑se ao interes‑

4
Coutinho (2002, p. 175): “Justamente porque a coisa é uma parte; ela é e não
é; pode ser comparada a uma moeda sobre cuja cara está gravada o seu ser

3
Lopes Júnior (IBCCRIM, nº  39, p. 104); Mirabete (2001, p. 30), in verbis: e, sobre a sua coroa, o seu não ser. Mas para conhecer a verdade da coisa,
“Embora a doutrina predominante se concentre numa concepção unitária ou digamos, precisamente, da parte, necessita‑se conhecer, tanto a sua cara,
do processo, porque a teoria geral do processo é uma consequência inarre‑ quanto a sua coroa: uma rosa é uma rosa, ensinava Francesco, porque não é
dável do estudo sistemático das diversas categorias processuais, o conteúdo alguma outra flor; queria dizer que para conhecer verdadeiramente a rosa,
do processo penal, que é a pretensão punitiva, individualiza o ramo jurídico isto é, para chegar à verdade, é necessário conhecer não somente aquilo que
denominado Direito Processual Penal.” No mesmo sentido, Tucci (2002, p. a rosa é, mas também aquilo que ela não é. Por isso, a verdade de uma coisa
51), in verbis: “A pretensa comunidade ou analogia de fins e meios nunca nos foge até que nós não possamos conhecer todas as outras coisas e, assim,
ultrapassaria o domínio puramente formal, além de que iria por certo, não não podemos conseguir senão um conhecimento parcial dessa coisa. E quando
poucas vezes, fazer violência à necessária autonomia funcional e teleológica digo uma coisa, refiro‑me, também, a um homem. Em síntese, a verdade está
de cada tipo.” no todo, não na parte; e o todo é demais para nós”.

50
mediante pronunciamento jurisdicional. O processo Quanto à afirmação da existência de lide no processo
penal tem, portanto, em qualquer caso, para atingir penal, Lopes Júnior (IBCCRIM nº  39, p. 110) pondera ser
o efeito jurídico da punição do réu, aquele mesmo partidário
caráter de necessidade (nulla poena sine judicio),
que, no campo civil, para obter efeitos jurídicos que [...] da existência de uma lide de natureza penal, pois,
as partes não podem conseguir através de contrato, no processo penal, como aponta Leone, existe sem‑
é próprio do processo de tipo inquisitório. pre um conflito, um contraste de interesses, e a atu‑
ação das partes pode ser delineada no conflito entre
Assim, não há que se falar em pretensão no processo o poder de penar do Estado e o direito de liberdade
penal, muito menos em pretensão resistida, em face da do imputado. Até porque, para o conceito de lide,
indisponibilidade do direito do acusado (isso ocorre, entre‑ basta um conflito potencial, isto é, uma lide latente.
tanto, nos crimes de menor potencial ofensivo, nos termos do
art. 76 da Lei nº 9.099/1995, que trata da transação penal). Também aqui, com a máxima vênia, não verificamos, em
Desse modo, não vislumbramos, também, a possibilidade tese, a existência de lide no processo penal, não se podendo
de encarar o processo penal à luz da Teoria da Situação Jurí‑ falar em contenciosidade no referido processo.
dica, de James Goldschmidt. Com efeito, Goldschimidt, confe‑ O próprio criador do conceito de lide, Francesco Car‑
nelutti, mudou seu entendimento, retirando do conteúdo
rindo uma visão dinâmica ao processo, afirma que os vínculos
da ação de natureza condenatória o conceito de pretensão
existentes entre as partes processuais criam expectativas de
punitiva, in verbis:
uma decisão favorável ou não, dependendo do modo como
elas atuam no processo. Assim, a sorte do acusado depen‑
Esta primeira observação [...] induz‑me a corrigir
deria de ele se desvencilhar das cargas processuais que lhe um erro, no qual eu próprio havia caído, ainda
são atribuídas, além de aproveitar satisfatoriamente todas depois de já ter afirmado o caráter voluntário do
as possibilidades processuais (COUTINHO, 2001, p. 184). processo penal; uma afirmação da qual em princípio
Não “deveria” o processo ser analisado sob o prisma da eu não lograra tirar todas as consequências. Ora o
situação jurídica. Entretanto, em face da inversão de papéis erro consistiu em eu ter posto, como conteúdo da
existente no Direito Processual Penal, com a total ausência demanda do Ministério Público, a pretensão penal
de segurança jurídica e a inexistência de uma verdade real [...] O conceito de pretensão, tão diversamente
a ser alcançada, reconhecemos que a noção de “situações entendido, havia sido por mim definido, depois de
jurídicas”, de Goldschmidt, ganha amplo espaço prático. algumas vacilações, como exigência da satisfação de
Com efeito, na prática corrente, resta verificado no processo um interesse próprio perante um interesse alheio;
penal a litigiosidade exacerbada entre acusação e defesa e como tal, a pretensão é um elemento da lide. E no
a sujeição do acusado a diversos ônus existentes, tal como primeiro intento de estudo de processo penal adap‑
ocorre no processo civil. O processo penal, ao invés de pro‑ tei, a este, tal conceito, definindo a pretensão penal
porcionar a atividade recognitiva, submete‑se a vaidades da como um erro por várias razões: em primeiro lugar,
acusação ou a deslizes do investigado. É sempre tortuoso e porque uma exigência só se coloca face a outrem
incerto o caminho do acusado no percurso até a decisão final que a deva satisfazer, enquanto o Ministério Público,
(GOLDSCHMIDT, 1936, p. 8). que está investido no magistério punitivo, não tem
Atento ao que se verifica na realidade processual pátria motivo nem possibilidade de exigir o seu exercício,
e destacando que o objeto do processo penal seria não uma de alguma outra pessoa, e menos ainda do imputa‑
condenação, mas uma acusação, Lopes Júnior (IBCCRIM do; em segundo lugar porque, admitindo‑se mesmo
nº 39, p. 119) ressalta, in verbis: que o castigo do culpado satisfaz um interesse da
sociedade, personificada no Estado, tal satisfação não
O objeto do processo penal é uma pretensão acu‑ está a cargo do imputado, o qual, até pelo contrário,
satória, vista como a faculdade de solicitar a tutela enquanto culpado tem um interesse, solidário com
jurisdicional, afirmando a existência de um delito, o Estado em ser castigado.5
para ver ao final concretizado o poder punitivo
estatal pelo juiz através de uma pena ou medida de Assim, se não há lide, não há que se falar em jurisdição
segurança. O titular da pretensão acusatória será o contenciosa no processo penal. A jurisdição, atividade prin‑
Ministério Público. Ao acusador (público ou privado) cipal do Poder Judiciário, existe para solucionar um conflito.
corresponde apenas o poder de invocação (acusa‑ Que atividade seria, então, desempenhada pelo magistrado
ção), pois o Estado é o titular soberano do poder de no processo penal?
Noções de Direito Processual Penal

punir, que será exercido no processo penal através Existem muitos atos jurídicos da vida privada que se re‑
vestem de importância que transcende os limites da esfera de
do juiz e não do Ministério Público (tampouco do
interesses das pessoas diretamente envolvidas, interessando
acusador privado)
a toda a coletividade. Atento a esse aspecto, o próprio Estado
prevê em seu ordenamento jurídico que, para a validade
Opomos resistência a tal entendimento. O objeto do desses atos de repercussão na vida social, é  necessária a
processo penal é a futura condenação ou absolvição profe‑ participação de um órgão público. É a administração pública
rida pelo juiz na sentença, mas postuladas já na denúncia, de interesses privados.
defesa prévia ou em sede de alegações finais. A acusação ou Tutelam alguns interesses privados: a) órgãos extrajudi‑
invocação do poder estatal para que se condene e, conforme ciais (os tabeliães, no registro de imóveis; os registradores
destaca Lopes Júnior (IBCCRIM nº 39, p. 109), sua contrapo‑ civis, nas documentações de nascimentos, casamentos e
sição, “materializada no exercício do direito de defesa, com óbitos; os oficiais de protesto; e a arbitragem); b) órgãos
todos os instrumentos processuais que lhe oferece o orde‑ administrativos (intervenção do Ministério Público, no ato
namento jurídico”, no nosso entender, são apenas atividades
desempenhadas no bojo do processo penal para se buscar
Carnelutti (1946, p. 129-130); Carnelutti (1971, p. 94-95); Tucci
5
um dos resultados pedidos: a condenação ou a absolvição. (In: CARNELUTTI, 1971, p. 36).

51
de criação das fundações; e as Juntas Comerciais, no arqui‑ Pacelli (2009, p. 87) destaca que
vamento dos estatutos da sociedade; e c) órgãos judiciais.
Ao Poder Judiciário, pelo conhecimento jurídico, idonei‑ a noção deveria anteceder a de processo, até mesmo
dade e, sobretudo, “em tese” pela independência e imparcia‑ do ponto de vista lógico. Enquanto a ação qualificaria
lidade de seus membros, são submetidos alguns interesses. os meios de provocação de jurisdição, o  processo
No processo civil, há todo um capítulo que trata desses inte‑ seria o instrumental manejado para tal finalidade.
resses (arts. 1.103 a 1.210 do CPC), entre os quais podem ser
destacados: 1) publicação em juízo do testamento particular Características do Direito de Ação
(art. 1.130 do CPC); 2) separação consensual (art. 1.120 do
CPC); 3) curatela de interditos (art. 1.177 do CPC). Por não se confundir com o direito material, o direito de
Isso é a chamada jurisdição voluntária, que trata de inte‑ ação é autônomo. Por não guardar relação com o provimento
resses não necessariamente em conflito. Há a necessidade do judicial final, diz abstrato o direito de ação. Por ser exercido
processo, o chamado processo necessário. Veja o exemplo do pelo Estado, que tem o dever de prestar a atividade jurisdi‑
divórcio. Ainda que duas pessoas queiram se divorciar, elas cional, o direito de ação é considerado público.
não podem simplesmente acordar pela manhã e se divorciar.
É necessária a intervenção judicial, ainda que as partes não Fundamento Constitucional da Ação Penal
divirjam em qualquer aspecto.
Vislumbramos, assim, que a jurisdição promovida por A ação penal se encontra fundamentada no art. 5º,
meio do processo penal é a jurisdição voluntária. Não há XXXV, da Constituição Federal de 1988, que destaca que “a
lide no processo penal, não havendo que se falar em conten‑ lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito”.
ciosidade. O MP apenas requer a imposição da ação penal
O Poder Judiciário tem a atribuição de examinar todas
ao processado em caso de restar comprovado em sede do
as demandas que lhe forem propostas, mesmo que, poste‑
processo que o réu participara de fato tido por criminoso6. riormente, as considere improcedentes. Só o Judiciário pode
Carvalho (2003, p. 43), conceituando a relação existente realizar a atividade jurisdicional, sendo vedado ao particular
no âmbito do processo penal, traz importantes elementos que exerça justiça com as próprias mãos.
para se caracterizar as peculiaridades da ação penal:
Condições da Ação
[...] A lei penal – geral, anterior, taxativa e abstrata
(legalidade) – advém de contrato social (jusnaturalis‑ São condições da ação penal, que devem ser analisadas
mo antropológico), livre e conscientemente aderido pelo juiz quando do recebimento da denúncia ou da queixa
por pessoa capaz (culpabilidade/livre arbítrio), que a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a
se submete à penalidade (retributiva) em decorrência legitimação para agir.7
da violação do pacto por atividade externamente Na falta de quaisquer das condições da ação penal
perceptível e danosa (direito penal do fato), recons‑ pública, o juiz poderá rejeitar liminarmente a peça inicial.8
tituída e comprovada em processo contraditório As condições da ação são mecanismos que permitem
e público, orientado pela presunção de inocência, o exercício regular do direito de ação, conduzindo o juiz ao
com atividade imparcial de magistrado que valora exame do mérito. Há, ainda, na seara penal, uma dificuldade
livremente a prova (sistema processual acusatório). em se diferenciar as condições da ação dos pressupostos
processuais. Pacheco (2006, p. 181) destaca que
Aury Lopes (2008, p. 323) destaca que tendo em vista as peculiaridades do processo penal,
é perfeitamente possível, em princípio, concluir‑se
O conceito de ação processual penal, na estrutura que as “condições da ação”, e os “pressupostos pro‑
da pretensão acusatória, circunscreve‑se a um po‑ cessuais” não apenas integram a mesma “categoria”,
der jurídico constitucional de invocação da tutela mas não se distinguem entre si mesmos.9
jurisdicional e que se exterioriza por meio de uma
declaração petitória (acusação formalizada) de que Desde o momento em que é exercido pelo autor da de‑
existe o direito potestativo de acusar e que procede manda, o direito de ação da acusação se submete às regras
a aplicação do poder punitivo estatal. processuais, devendo respeitar as condições previstas no
CPP, que, uma vez presentes, permitem sua admissibilidade
Assim, no processo penal, a ação penal não materializa regular pelo Poder Judiciário, dando ensejo a que, no pro‑
Noções de Direito Processual Penal

uma pretensão da acusação, mas dá início a processo cri‑ cesso de conhecimento, profira‑se decisão de mérito sobre o
minal para apurar fato previsto como crime por lei prévia cometimento e as circunstâncias do fato delitivo (WAMBIER,
e, como consequência, aplicar penalidade em decorrência 1997, p. 140).
da violação, após a conduta delitiva restar reconstituída e Por mérito, conforme destaca Oliveira (2008, p. 91),
comprovada em processo que observa o contraditório e a entende‑se:
ampla defesa.
a) a existência de um fato (materialidade);

6
Nesse sentido: Tucci (2002, p. 46); Lacerda (2001, p. 17). Em sentido contrário:
b) ser este fato imputável ao acusado (autoria);
Mirabete (2001, p. 163), in verbis: “[...] na relação processual, acha‑se de
um lado o titular da persecutio criminis, e, de outro, o acusado, ameaçado
em sua liberdade, havendo, pois, um conflito que será dirimido pelo Juízo,
7
Assunto cobrado na provas da FCC/TJ-SE/Analista Judiciário/Questão 72/
podemos dizer que a jurisdição penal é o poder de dirimir o conflito entre Assertivas A, B, C, D e E/2009.
a pretensão punitiva e os direitos concernentes à liberdade do indivíduo.”;
8
MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 63/Assertiva B/2009.
Cintra; Grinover; Dinamarco (2001, p. 65); Tourinho Filho (2003, p. 20), in
9
Ressalta, ainda, na p. 183, que “se a denominação é ‘pressupostos processuais’,
verbis: “A distinção que se faz entre jurisdição penal e jurisdição civil assen‑ ‘condições da ação’ ou, como diria Bülow, outra mais adequada para expressar
ta, única e exclusivamente, na divisão do trabalho.”; Nucci (2003, p. 99), in o conceito, pouco importa, o fato é que integram a mesma categoria, e não
verbis: “Através da ação, tendo em vista a existência de uma infração penal duas categorias distintas. São institutos processuais, submetidos ao mesmo
precedente, o Estado consegue realizar a sua pretensão de punir o infrator.” regime jurídico e integrantes da mesma categoria”.

52
c) constituir este fato uma ação típica, ilícita e cul‑ Isso de modo a propiciar o pleno exercício do direito de
pável (a materialidade normativa, ou, em uma pa‑ defesa. É inepta a ação penal que formula acusação genérica
lavra, o crime, na sua definição dogmática [conceito ou que não aponta de modo circunstanciado o fato punível
analítico]); imputado ao acusado.
d) não se encontrar extinta a punibilidade. Com efeito, a inicial acusatória deve expor fatos que, em
tese, constituam crimes, descrevendo as suas circunstâncias
Ao contrário do que ocorre com os pressupostos pro‑ e apontado os respectivos tipos penais. Além disso, deve de‑
cessuais, a lei enumera as condições da ação. Com efeito, terminar a conduta do acusado. Em caso de coautoria, deve
segundo a moderna doutrina, constituem condições da ação também individualizar cada acusado e indicar o rol de testemu‑
penal: a possibilidade jurídica do pedido, a  legitimidade nhas. Só com a satisfação dos requisitos do art. 41 do Código
de partes, o interesse de agir e a justa causa.10 A moderna de Processo Penal não haverá inépcia da peça acusatória.
doutrina já vinha destacando a existência de uma quarta A falta de descrição de uma elementar na denúncia
condição da ação, a justa causa, materializada na necessidade provoca sua inépcia.16
de se ter suporte probatório mínimo para o ajuizamento da Arrematando, o STJ destaca:
ação penal. Referida condição da ação foi incorporada ao
ordenamento processual penal pela Lei nº 11.719, de 2008, A denúncia deve atender os requisitos do art. 41
que a inseriu no art. 395 do CPP. do Código de Processo Penal – expondo o fato tido
Assim, considera-se fundamento para rejeição da de‑
como delituoso, suas circunstâncias, a qualificação do
núncia oferecida pelo Ministério Público a ausência de justa
acusado, a classificação do crime, o pedido de conde‑
causa para o exercício da ação penal pública.11
O art. 43 do CPP, revogado pela Lei nº 11.719, de 2008, nação e a apresentação do rol de testemunhas –, sob
trazia as condições da ação como sendo: 1) a narração de pena de ser considerada inepta.17 (STJ, Quinta Turma,
fato criminoso; 2) não estar extinta a punibilidade; 3) ilegiti‑ HC nº 111.073/SC, Habeas Corpus 2008/0156228-5,
midade da parte ou outra condição exigida por lei, a exemplo Min. Arnaldo Esteves Lima, 18/11/2008)
da necessidade de representação ou requisição nas ações
penais públicas condicionadas. O vício de legitimidade Entretanto, não acarreta, por si só, a inépcia da denún‑
leva à carência da ação e, no processo penal, é causa de cia por erro na designação dos meses de competência das
nulidade absoluta.12 contribuições sociais no crime de apropriação previsto na
Agora, as  condições da ação estão vislumbradas, de Lei de Custeio da Seguridade Social.18
forma mais ampla e genérica, no art. 395 do CPP, que es‑ O art. 41 do CPP torna também imperioso que na inicial
tabelece que conste da qualificação do acusado ou de esclarecimentos pelos
quais se possa identificá‑lo. Na ação penal, devem estar nome,
A denúncia ou queixa será rejeitada quando: naturalidade, filiação, endereço e número de documentos
I – for manifestamente inepta;13 de identificação do acusado. A ação penal poderá deixar de
II – faltar pressuposto processual ou condição para o ter o nome do acusado, desde que tenham sido prestados
exercício da ação penal; ou esclarecimentos pelos quais o réu possa ser identificado19,
III – faltar justa causa para o exercício da ação penal. como apelido (alcunha), ta­tuagem, características físicas que
deem individualidade e outros sinais característicos.
Verifica-se que o texto trouxe a justa causa destacada das A denúncia deve conter a identificação e qualificação
condições da ação, o que não significa que a justa causa não do denunciado, de maneira que não haja dúvida sobre a
pode ser considerada uma condição da ação. Entretanto, há autoria, e a descrição do fato criminoso em todas as circuns‑
entendimento doutrinário que não considera a justa causa tâncias.20 Não se exige que a denúncia contenha o histórico
como condição da ação. Polastri (2008, p. 218) destaca que da vida pregressa do denunciado, a opinio doctorum sobre o
a justa causa não é uma condição da ação, mas sim um delito, tipificando o delinquente e a vítima e estabelecendo
requisito especial para o recebimento da inicial, ou seja, é as medidas de controle social cabíveis.21
uma condição de admissibilidade. A denúncia deve primar pela concisão, limitando-se
a apontar os fatos cometidos pelo autor, sem juízo de
Inépcia da Ação Penal valoração.22
A impossibilidade de identificação do acusado com o seu
A ação penal, nos termos do art. 41 do CPP, deve conter verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a
a narração do fato criminoso, com todas as suas circunstân‑ ação penal, desde que certa a identidade física.23
cias, indicação precisa da conduta impetrada ao acusado,
sua qualificação ou esclarecimentos pelos quais se possa
O art. 259 do CPP determina que
identificá‑lo, a classificação do crime e, quando necessário,
Noções de Direito Processual Penal

o rol das testemunhas.


É inepta a denúncia que, contendo narração incon‑ A impossibilidade de identificação do acusado com
gruente dos fatos, impossibilita o exercício pleno do direito o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não
de defesa.14 retardará a ação penal, quando certa a identidade
O interesse de agir é instrumental e secundário e, desta física. A qualquer tempo, no curso do processo,
maneira, a ausência de justa causa para a persecutio cri‑ do julgamento ou da execução da sentença, se for
minis torna inepta a acusação.15 16
Cespe/Bacen/Procurador/Questão 83/Assertiva D/2009.
17
Assunto cobrado na prova do IESES/TJ-MA/Analista Judiciário – Direito/Nível
10
OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003. Superior/2011/Questão 82/Item III.
11
IBFC/MPE-SP/Oficial de Promotoria/Questão 51/2011. 18
TRF 3ª Região/IX Concurso para Juiz Federal Substituto.
12
Cespe/Bacen/Procurador/Questão 82/Item II/2009. 19
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
13
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑MG/Comissão de Exame de 20
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 83/Assertiva
Ordem/2008. A/2009.

14
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/1º Exame da Ordem/2007 21
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 83/Assertiva
(Tocantins, Sergipe, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, B/2009.
Paraíba, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Espírito Santo, Distrito 22
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/Questão 82/Item IV/2011.
Federal, Ceará, Bahia, Amazonas, Amapá, Alagoas, Acre) e Cespe/OAB‑SP/2008. 23
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-AP/Analista Judiciári/Área
15
Promotor‑BA/2004. Judiciária/Questão 54/Assertiva a/2011.

53
descoberta a sua qualificação, far‑se‑á a retificação, Havendo prova de causa de exclusão de culpabilidade
por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos (como erro de proibição, por exemplo), pré‑constitu‑
atos precedentes. ída na investigação preliminar, está o juiz autorizado
a rejeitar a acusação.
Polastri (2008, p. 257) destaca que
Após a resposta, também analisa o magistrado, como
no caso de coautoria, se conhecida a qualificação de mérito:
um agente e não conhecida ao menos a identidade I – a existência manifesta de causa excludente da ilicitude
física do coautor, a denúncia só deve ser oferecida do fato;
contra aquele, ficando pendente de posterior adita‑ II – a existência manifesta de causa excludente da culpa‑
mento para incluir o que venha a ser futuramente bilidade do agente, salvo inimputabilidade;
identificado ou qualificado. III  – se o fato narrado evidentemente não constitui
crime; ou
O crime também deve ser devidamente classificado. Ca‑ IV – se está extinta a punibilidade do agente.
rece haver a indicação do tipo penal no qual incide a conduta. Entretanto, o art. 395 do CPP, também com redação
É inadmissível a denúncia alternativa, em respeito ao princípio dada pela Lei nº 11.719/2008, destaca que será hipótese de
da ampla defesa. A conduta do acusado deve se amoldar a rejeição da denúncia ou queixa quando:
alguma infração penal, crime ou contravenção. A acusação I – for manifestamente inepta;
deve indicar qual o artigo da lei que se amolda à conduta II  – faltar pressuposto processual ou condição para o
descrita na ação penal. A errônea capitulação legal do crime exercício da ação penal; ou
na denúncia, com excesso na classificação, não a torna inep‑ III – faltar justa causa para o exercício da ação penal. (In‑
ta, pois se trata de irregularidade sanável até a sentença.24 cluído pela Lei nº 11.719, de 2008)
Quando necessário, deve constar também do rol das Ora, a doutrina clássica conceitua, como condições da ação,
testemunhas. A denúncia pode ou não conter rol de teste‑ a possibilidade jurídica, a legitimidade e o interesse de agir.
munhas, de acordo com a necessidade.25 Para a acusação, Dessa forma, o magistrado analisará a tipicidade do fato
o momento adequado para indicar testemunhas é no ofe‑ em dois momentos. Após o oferecimento da denúncia ou
recimento da ação penal. Se não constar do rol de testemu‑ queixa, que poderão ser rejeitadas. Caso o magistrado não
nhas na denúncia ou queixa, há preclusão da faculdade de as rejeite de plano, determinará a citação do acusado para
produzir prova testemunhal. Pode, entretanto, ser solicitado que ele apresente defesa escrita em 10 dias. Então o juiz ou
ao magistrado que uma ou outra testemunha seja ouvida receberá a ação penal e marcará audiência de instrução ou
como testemunha do juízo (art. 209 do CPP). absolverá sumariamente o réu (art. 399 do CPP). Percebe‑se,
Quando inepta, a denúncia deve ser rejeitada, sendo assim, ausência de técnica do legislador na diferenciação
que, se não o for, possível trancar a ação penal por meio entre as condições da ação, os pressupostos processuais e
de habeas corpus.26 as questões de mérito, bem como em relação ao momento
da análise de referidos institutos processuais.
Possibilidade Jurídica do Pedido ou Fumus Commissi Todavia, havendo dúvidas quanto ao reconhecimento
Delicti27 (Criminalidade Aparente, Tipicidade Aparente ou não da excludente, deve a ação penal ser recebida. Para
ou Tipicidade Subjetiva) o seu recebimento ou não, incide o princípio in dubio pro
societatis. Nesse caso, apenas quando do julgamento dos
Na ação penal, deve vir descrita uma conduta criminosa, fatos por meio da sentença é que se reconhecerá ou não
para que se materialize a possibilidade jurídica do pedido, uma excludente de ilicitude.
que ocorre quando se admite juridicamente, de forma abs‑ Nesse sentido, o STF destaca que
trata, o que se está a pleitear, de forma concreta (WAMBIER,
1997, p. 42). a denúncia somente pode ser rejeitada quando a
Na seara penal, a possibilidade jurídica do pedido se evi‑ imputação se referir a fato atípico certo e delimitado,
dencia quando imputada ao acusado um crime, uma vez que, apreciável desde logo, sem necessidade de produção
apenas em face de condutas delitivas previstas em lei geral e de qualquer meio de prova, eis que o juízo é de cog‑
anterior, pode‑se dar início ao processo penal. Deve, assim, nição imediata, incidente, acerca da correspondência
haver preceito legal penal que se amolde à conduta do autor. do fato à norma jurídica, partindo‑se do pressuposto
O fato descrito na ação penal deve ser um crime, ou seja, de sua veracidade, tal como narrado na peça acu‑
um fato típico e antijurídico. Tratando‑se de hipótese de ex‑ satória. (STF, Tribunal Pleno, Inq.  nº  1.926/DF, Rel.
cludente da ilicitude (estado de necessidade, legítima defesa, Min. Ellen Gracie, Julgamento: 9/10/2008, DJe: 222,
Noções de Direito Processual Penal

estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de Divulgação: 20/11/2008, Publicação: 21/11/2008)
direito), deve o juiz rejeitar a ação penal se o juiz de plano
se convencer da existência da excludente. Já se a excluden‑ A jurisprudência do STF é no sentido de que o princípio da
te não for de plano constada, mas apenas com a resposta insignificância é reconhecido como capaz de tornar atípico o fato
apresentada pelo réu, o juiz deve absolver sumariamente o denunciado, como se percebe da leitura da seguinte ementa:
réu, nos termos do art. 397, I, do CPP.
O  juiz analisa referidas circunstâncias para rejeitar a EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
denúncia, manifestando‑se sobre as condições da ação e PENAL MILITAR. PROCESSUAL PENAL MILITAR. FUR‑
sobre os pressupostos processuais. Aury Lopes (2008, p. TO. INEXISTÊNCIA DE LESÃO A BEM JURIDICAMENTE
338) destaca que PROTEGIDO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. AU‑
SÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A PROPOSITURA DA

24
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Promotor‑AM/2001; TRF 3ª
AÇÃO PENAL MILITAR. 1. Os  bens subtraídos pelo
Região/X Concurso para Juiz Federal Substituto. Paciente não resultaram em dano ou perigo concreto

25
Assunto cobrado na prova da OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005. relevante, de modo a lesionar ou colocar em perigo o

26
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 83/Assertiva
E/2009.
bem jurídico reclamado pelo princípio da ofensivida‑

27
Lopes Júnior (2008, p. 351). de. Tal fato não tem importância relevante na seara

54
penal, pois, apesar de haver lesão a bem juridica‑ cuperado pela vítima no mesmo dia –, insere‑se na
mente tutelado pela norma penal, incide, na espécie, concepção doutrinária e jurisprudencial de crime de
o princípio da insignificância, que reduz o âmbito de bagatela. 2. Em caso de furto, para considerar que o
proibição aparente da tipicidade legal e, por conse‑ fato não lesionou o bem jurídico tutelado pela norma,
quência, torna atípico o fato denunciado. É manifesta excluindo a tipicidade penal, deve‑se conjugar o dano
a ausência de justa causa para a propositura da ação ao patrimônio da vítima com a mínima periculosidade
penal contra o ora Recorrente. Não há se subestimar social e o reduzido grau de reprovabilidade do com‑
a natureza subsidiária, fragmentária do Direito Penal, portamento do agente, elementos que estão presen‑
que só deve ser acionado quando os outros ramos do tes na espécie, porque o desvalor da ação é mínimo e
direito não sejam suficientes para a proteção dos bens o fato não causou qualquer consequência danosa. 3.
jurídicos envolvidos. 2. Recurso provido. (STF, Primeira Precedentes do Supremo Tribunal Federal. 4. Ordem
Turma, RHC  nº  89.624/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, concedida para anular a decisão condenatória. (STJ,
Julgamento: 10/10/2006, DJ: 7/12/2006) Quinta Turma, HC nº 114.176/SP, Min. Laurita Vaz,
DJe: 15/12/2008)
O STJ também segue referida orientação:
PENAL. HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO. AU‑
HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO PELO CON‑ SÊNCIA DE DEFENSOR NA FASE POLICIAL. QUESTÃO
CURSO DE PESSOAS. 02 CARTELAS DE PILHAS E 05 QUE NÃO FOI EXAMINADA PELO TRIBUNAL ESTADUAL.
CD´S, ESTIMADOS EM MENOS DE R$ 50,00. PENA DE CONHECIMENTO PARCIAL. OBJETO CUJO VALOR NÃO
02 ANOS E 05 MESES DE RECLUSÃO. ANTECEDENTES ULTRAPASSA R$68,00 – IMEDIATA DEVOLUÇÃO DO
CRIMINAIS DESFAVORÁVEIS. PRINCÍPIO DA INSIGNI‑ BEM À PESSOA DA VÍTIMA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
FICÂNCIA. APLICABILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA. POSSIBILIDADE.
O princípio da insignificância, que está diretamente PEDIDO CONCEDIDO. 1. Se o bem tutelado é de
ligado aos postulados da fragmentariedade e inter‑ ínfimo valor e nem mesmo chegou a ser ofendido,
venção mínima do Estado em matéria penal, tem sido não há relevância na conduta praticada e o princípio
acolhido pelo magistério doutrinário e jurispruden‑ da insignificância deve ser aplicado, afastando‑se a
cial tanto desta Corte, quanto do colendo Supremo tipicidade. 2. Ordem concedida. (STJ, Sexta Turma,
Tribunal Federal, como causa supra‑legal de exclusão HC nº 110.875/RS, Min. Jane Silva – desembargadora
de tipicidade. Vale dizer, uma conduta que se subsu‑ convocada do TJMG, DJe: 1/12/2008)
ma perfeitamente ao modelo abstrato previsto na
legislação penal pode vir a ser considerada atípica HABEAS CORPUS. PENAL. TENTATIVA DE FURTO. PRE‑
por força deste postulado. 2. No caso em apreço, TENSÃO DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFI‑
o  valor total dos bens furtados pelo recorrente, CÂNCIA. AUSÊNCIA DE TIPICIDADE MATERIAL. TEORIA
além de ser ínfimo, não afetou de forma expressiva CONSTITUCIONALISTA DO DELITO. INEXPRESSIVA
o patrimônio da vítima, razão pela qual incide na LESÃO AO BEM JURÍDICO TUTELADO. ORDEM CON‑
espécie o princípio da insignificância. Precedentes. CEDIDA. 1. O princípio da insignificância surge como
3. Firme é o posicionamento desta Corte Superior instrumento de interpretação restritiva do tipo penal
quanto à possibilidade de incidência do princípio que, de acordo com a dogmática moderna, não deve
da insignificância, mesmo diante da existência de ser considerado apenas em seu aspecto formal, de
antecedentes criminais desfavoráveis ao acusa­do. subsunção do fato à norma, mas, primordialmente,
(STF, Quinta Turma, HC nº 110.384/DF, Min. Napoleão em seu conteúdo material, de cunho valorativo, no
Nunes Maia Filho, 24/11/2008, DJe: 9/12/2008) sentido da sua efetiva lesividade ao bem jurídico
tutelado pela norma penal, consagrando os postula‑
HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO QUALIFICA‑ dos da fragmentariedade e da intervenção mínima.
DO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PRINCÍPIO DA 2. Indiscutível a sua relevância, na medida em que
INSIGNIFICÂNCIA. 1. A intervenção do Direito Penal exclui da incidência da norma penal aquelas condutas
apenas se justifica quando o bem jurídico tutelado cujo desvalor da ação e/ou do resultado (dependen‑
tenha sido exposto a um dano com relevante lesivida‑ do do tipo de injusto a ser considerado) impliquem
de. Inocorrência de tipicidade material, mas apenas uma ínfima afetação ao bem jurídico. 3. A tentativa
a formal, quando a conduta não possui relevância de subtrair uma calha de água pluvial, embora se
jurídica, afastando‑se, por consequên­cia, a ingerência amolde à definição jurídica do crime de furto tenta‑
da tutela penal, em face do postulado da intervenção do, não ultrapassa o exame da tipicidade material,
Noções de Direito Processual Penal

mínima. 2. No caso, não há como deixar de reconhe‑ mostrando‑se desproporcional a imposição de pena
cer a mínima ofensividade do comportamento do pa‑ privativa de liberdade, uma vez que a ofensividade
ciente, que subtraiu, juntamente com outra pessoa, da conduta se mostrou mínima; não houve nenhuma
do interior de um estabelecimento comercial, uma periculosidade social da ação; a reprovabilidade do
garrafa de bebida e um pacote de goma de mascar, comportamento foi de grau reduzidíssimo e a lesão
sendo de rigor o reconhecimento da atipicidade da ao bem jurídico se revelou inexpressiva. 4. Ordem
conduta. 3. Ordem concedida. (STJ, Sexta Turma, HC concedida para determinar a extinção da ação penal
nº 118.481/SP, Min. Og Fernandes, DJe: 9/12/2008) instaurada contra o paciente, invalidando, por conse‑
quência, a condenação penal contra ele imposta. (STJ,
HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO DE UM BONÉ. Quinta Turma, HC nº  83.302/SP, Rel. Min. Arnaldo
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. Esteves Lima. DJe: 1/12/2008)
MÍNIMO DESVALOR DA AÇÃO. BEM SUBTRAÍDO
RESTITUÍDO À VÍTIMA. IRRELEVÂNCIA DA CONDUTA AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PENAL.
NA ESPERA PENAL. PRECEDENTES DO SUPREMO DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
TRIBUNAL FE­DERAL. 1. A conduta perpetrada pelo APLICABILIDADE. 1. A Segunda Turma do Supremo
agente – furto qualificado de um boné, que foi re‑ Tribunal Federal, no julgamento do HC nº 92.438/PR,

55
Relator o Ministro Joaquim Barbosa, firmou entendi‑ Entretanto, nos crimes praticados em concurso de pes­
mento no sentido de ser aplicável, na prática de des‑ soas, seja o concurso necessário ou o eventual (autoria
caminho, o princípio da insignificância quando o valor coletiva ou multitudinários), há entendimentos de que se ad‑
do tributo suprimido é inferior a R$ 10.000,00. 2. No mite a narração genérica do fato, principalmente nos crimes
caso, o valor do tributo sonegado é de R$ 1.698,64, societários. Com efeito, nos crimes multitudinários, como
que não excede o limite de R$ 10.000,00 adotado comumente ocorre nos praticados contra a ordem tributá‑
pela Lei nº 11.033/2004, sendo de rigor a extinção ria, pode o promotor narrar genericamente a participação
do crédito tributário. 3. Agravo regimental provido. de cada agente.29 Nos crimes de autoria coletiva, a denúncia
(STJ, Sexta Turma, AgRg no REsp nº  1.021.805/SC, também pode narrar genericamente a participação, ficando,
Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Rel. p/ acórdão: Min. para a instrução criminal, a individualização da conduta.30
Paulo Gallotti, DJe: 17/11/2008) Assim tem considerado a jurisprudência do STF:

O princípio da insignificância não é aplicável a todos os em sede de crime societário, não se exige a individu‑
tipos de crime, indistintamente. Com efeito, o STJ destaca ser alização pormenorizada de condutas, mesmo porque
normalmente a comunhão de desígnios e vontades
inaplicável, aos crimes de roubo, o princípio da insig‑ quanto à divisão de tarefas e atos executó­rios para
nificância – causa supralegal de exclusão de ilicitude, a prática do crime somente é conhecida pelos pró‑
pois tratando‑se de delito complexo, em que há ofensa prios sócios, e não por terceiros, como exatamente
a bens jurídicos diversos (o patrimônio e a integridade ocorre no caso em tela. (STF, Segunda Turma, HC
da pessoa), é inviável a afirmação do desinteresse es‑ nº  94.773/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, Julgamento:
tatal à sua repressão. (STJ, Sexta Turma, AgRg no REsp 2/9/2008, DJe: 202, Divulgação: 23/10/2008, Publi‑
nº 823.787/GO, Rel. Min. Jane Silva – desembargadora cação: 24/10/2008)
convocada do TJMG, DJe: 9/12/2008)
Nos crimes societários, de acordo com o entendimento
O pedido também deve ser juridicamente possível, ou do STJ, é dispensável na denúncia a descrição minuciosa
seja, deve ser de uma pena admitida, nos termos do art. 5º, e individualizada da conduta de cada acusado, bastando,
XLVI, da CF/1988: a) privação ou restrição da liberdade; b) para tanto, que seja narrada à conduta delituo­sa de forma
perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) a possibilitar o exercício da ampla defesa.31
suspensão ou interdição de direitos.
Nos termos do art.  5º, XLVII, da CF/1988, não haverá Condição da Ação ou Pressuposto Processual para o
penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos Exercício da Ação Penal
termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos
forçados; d) de banimento; e e) cruéis. Como condição da ação, temos também, de forma indi‑
Uma vez instaurada, o habeas corpus pode trancar ação vidualizada, trazida pela doutrina, a legitimidade de parte,
penal cujo pedido seja juridicamente impossível.28 o interesse de agir e as condições de procedibilidade.
Legitimidade possuirá todo aquele que for titular da
Indicação Precisa da Conduta e suas Circunstâncias relação jurídica de direito material afirmada em juízo. Há
também a possibilidade de a lei atribuir legitimação a quem
Além de descrever um fato criminoso e pedir uma pena não é titular dessa relação hipotética, o que ocorre com a
admitida, a conduta deve vir suficientemente esclarecida, legitimação extraordinária, no caso da ação penal privada,
a fim de que o acusado possa, plenamente, exercer o seu em que a vítima substitui o Estado na persecução penal.
direito de defesa. Deve ser clara a narrativa quanto à exis‑ Segundo Wambier (1997, p. 44), “a legitimidade é um liame
tência de fatos aparentemente delituosos. que se estabelece entre um sujeito, um objeto e um outro
O fato deve ser exposto de forma clara, com todos os sujeito”. Trata‑se da pertinência subjetiva da ação.
elementos e todas as circunstâncias. As condutas dos acusa‑ O Ministério Público é titular da ação penal pública e a víti‑
dos devem ser descritas de forma específica e não genérica. ma (ou seu representante ou sucessor) da ação penal privada
A ação penal deve permitir o contraditório e ampla defesa, (substituição processual). Trata‑se do polo ativo da ação penal.
não podendo, assim, conter elementos genéricos que não Quanto ao polo passivo, deve ser dirigida a ação penal
permitam com que o réu se defenda. ao autor dos fatos criminosos apontados pelas provas ou
pelos indícios. O acusado não é parte legítima apenas por
Denúncias genéricas, que não descrevem os fatos na sua
ser homônimo do autor dos fatos, ou mesmo, por ser apenas
devida conformação, não se coadunam com os postu‑
uma testemunha. A conduta deve estar bem evidenciada na
lados básicos do Estado de Direito. (HC nº 84.768/PE.
Noções de Direito Processual Penal

acusação quanto à autoria.


Relator p/ Acórdão: ministro Gilmar Mendes)
Pessoa jurídica pode figurar tanto no polo ativo, quando
no polo passivo de uma ação penal. No polo ativo, pode, por
Sem tais especificações, a peça exordial se consubstancia
meio de seu representante, apresentar queixa em relação,
em “denúncia genérica” ou “denúncia arbitrária”.
por exemplo, ao delito de difamação. No polo passivo, pode
A conduta do acusado deve ser suficientemente indivi‑
figurar como ré em processo que apura crime ambiental.
dualizada, com o objetivo de se efetivar um juízo positivo
de admissibilidade da imputação feita na denúncia. Deve a Quando houver a rejeição da denúncia ou queixa, em
acusação narrar o modus operandi utilizado pelo acusado. razão de manifesta ilegitimidade da parte, não se obstará
O órgão de acusação deve demonstrar o vínculo do o exercício da ação penal, desde que promovida por parte
acusado com a atividade ilícita supostamente desenvolvi‑
29
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/STJ/Analista Judiciá­rio/Área
da, descrevendo, com elementos concretos, a conduta do Judiciária/2004; Procurador da República/2001.
paciente, evidenciando como concorreu o acusado para o
30
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
delito, bem como demonstrando a sua adesão subjetiva à do Amazonas/Defensor Público de 4ª Classe/2003 e Cespe/TRF 5ª Região/
Juiz Federal Substituto/2006.
vontade de eventual corréu.
31
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-BA/2012; Cespe/TJ-PB/
Juiz Substituto/Questão 52/Assertiva c/2011 e Cespe/TJ‑CE/Juiz Substitu‑

28
Cespe/Bacen/Procurador/Questão 82/Item III/2009. to/2004-2005.

56
legítima. A decisão de rejeição por ilegitimidade faz apenas requisição, como ocorre nos crimes comuns de
coisa julgada formal. injúria, difamação e calúnia contra o presidente da
O interesse de agir caracteriza‑se pela utilidade potencial República (por exemplo, art.  145, parágrafo único,
da jurisdição (punibilidade concreta), consistente na aptidão e 7º, § 3º, b, CP);
da decisão em produzir alguma vantagem jurídica para o a.3) o trânsito em julgado da sentença que, por mo‑
pedido do autor. Theodoro Júnior (2000, p. 50) destaca que, tivo de erro ou impedimento, anule o casamento,
na seara cível, nos crimes de induzimento a erro essencial e de
ocultação de impedimento de casamento (art. 236,
o interesse processual, a  um só tempo, haverá de parágrafo único, CP);
traduzir‑se numa relação de necessidade e também a.4) as “novas provas”, após o trânsito em julgado
numa relação de adequação do provimento postu‑ da impronúncia, nos crimes dolosos contra vida de
lado, diante do conflito de direito material trazido à competência do tribunal do júri (art. 409, parágrafo
solução judicial. único, CPP); (Artigo alterado pela Lei nº 11.689/2008)
a.5) o exame pericial dos objetos que constituam
Na esfera penal, também é necessária a utilidade do pro‑ o corpo de delito, no processo por crime contra a
vimento jurisdicio­nal. Como não há possibilidade de se fazer propriedade imaterial (art. 525, CPP);
justiça com as próprias mãos, sempre é necessário se dirigir a.6) a sentença declaratória de falência em crimes
ao Estado, para que, por meio do processo penal, seja aplicada falimentares do DL 7.661/1945 (o art.  183 da Lei
a lei penal ao caso concreto. Quanto à utilidade do provimen‑ nº 11.101/2005 estabelece que se trata de condição
to jurisdicional, ela não existirá quando já estiver extinta a objetiva de punibilidade);
punibilidade, pela morte do autor dos fatos, pela prescrição a.7) a exibição do jornal ou periódico, nos crimes
ou decadência, pela abolitio criminis, pela renúncia ou pela de imprensa (art. 43, caput, da Lei nº 5.250/1967);
perempção e demais hipóteses previstas no art. 107 do CP. b) relativas a certos autores do fato:
A denúncia ou queixa será rejeitada quando já estiver b.1) a autorização, por dois terços dos membros da
extinta a punibilidade, pela prescrição ou por outra causa. Câmara dos Deputados, de instauração de processo
Como condição da ação, pode ainda ser feita referência contra o presidente da República, o vice‑presidente
às condições objetivas de procedibilidade (condições de da República e os ministros de Estados (art. 51, I, CR);
perseguibilidade, condições especiais à ação ou condições b.2) por simetria constitucional, a autorização da As‑
específicas da ação). A manifestação do ofendido ou seu sembleia Legislativa paulista, pelo voto de 2/3 dos seus
representante legal, no sentido de demonstrar seu interesse membros, para ser instaurado processo contra gover‑
em ver apurado o crime praticado e autorizar a persecução nador de Estado, quanto aos crimes comuns e crimes
estatal, constitui condição objetiva de procedibilidade da de responsabilidade (art. 49 da Constituição paulista);
ação penal pública condicionada à representação.32 b.3) por simetria constitucional, a autorização, por
Pode‑se citar, como exemplo, a representação da vítima dois terços dos membros da Assembléia Legislativa
ou a requisição do Ministro da Justiça, no caso das ações mineira, de instauração de processo contra o gover‑
penais públicas condicionadas. O mesmo se diga em relação nador e o vice‑governador do Estado, nos crimes de
à entrada do agente no território nacional, nas hipóteses responsabilidade, e, contra o secretário de Estado,
do CP, art. 7º, § 3º, a e b, bem como em relação à defesa nos crimes de responsabilidade nos conexos com os
preliminar nos crimes de responsabilidade dos funcionários do governador (art. 62, XIII, da Constituição mineira);
públicos (CPP, art.  516). Há na doutrina entendimento de b.4) a qualidade de militar da ativa regular, nos crimes
que o art. 516 do CPP teria sido revogado em face das dis‑ militares de deserção (mais especificamente, a rein‑
posições do art. 394, § 4º, do CPP, o que afastaria referida clusão da praça sem estabilidade que foi excluída e
condição de procedibilidade nos crimes de responsabilidade a reversão da praça estável, conforme art. 457, §§ 2º
do funcionário público. (ÁVILA, 2009, p. 238) e 3º, do CPPM);
Corroborando o afirmado anteriormente, na ação penal c) relativas a certas situações:
pública condicionada à representação, a representação do c.1) a entrada do agente no território brasileiro, nos
ofendido é condição objetiva de procedibilidade.33 Também casos de extraterritorialidade condicionada (art. 7º,
é condição específica de procedibilidade da ação penal a § 2º, b, e § 3º, caput, do CP).
requisição do Ministro da Justiça.34
Pacheco (2006, p. 203-204), de forma didática, elenca A falta das referidas condições de procedibilidade impede
um rol de condições de procedibilidade: a propositura da ação penal.
Pode ser citado como pressuposto processual de exis‑
Noções de Direito Processual Penal

Há condições de procedibilidade: tência o órgão investido de jurisdição e uma acusação for‑


a) relativas a certas infrações penais: malmente efetivada. No que se refere aos pressupostos de
a.1) representação do ofendido (ou do represen‑ validade, Oliveira (2008, p. 106) destaca:
tante legal, ou dos “sucessores processuais”), nos a) Em relação aos requisitos subjetivos, pode‑se
crimes sujeitos à ação penal pública condicionada à arrolar a competência e a imparcialidade, ou seja,
representação, como ocorre nos crimes comuns de a ausência de hipóteses de suspeição, impedimento
ameaça (por exemplo, art. 147, parágrafo único, do ou incompatibilidade, ainda que o art.  564, I, do
CP e art. 88 da Lei nº 9.099/1995); CPP, refira‑se apenas à suspeição e ao suborno do
a.2) requisição do ministro da Justiça, nos crimes magistrado. Como vimos, a imparcialidade do juiz é
sujeitos à ação penal pública condicionada a tal regra imanente do sistema processual constitucional.
b) Quanto às partes:

32
MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 64/Assertiva D/2009. b.1) a capacidade processual ou legitimatio ad

33
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ‑PE/Analista Judiciário/2007 e processum, isto é, a  capacidade de estar em juízo
TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001. (exemplificativamente, relembre‑se do caso do ofen‑

34
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª
Categoria/2004 e FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. dido menor de 18 anos que somente pode exercer o

57
direito de ação por meio de seu representante legal, A vítima ou seu representante, na ação penal privada, e o
conforme art. 30, CPP). Note‑se, ainda, que o menor membro do Ministério Público, na ação penal pública, devem
de 18 anos também não tem capacidade para integrar trazer elementos probatórios mínimos a embasarem a ação
a relação processual nem mesmo como réu (além da penal. No caso de atuação do parquet, se o representante
inimputabilidade penal, de natureza material); julgar necessário maiores esclarecimentos e documentos
b.2) a capacidade postulatória, devendo a parte, se complementares ou novos elementos de convicção, deverá
não for habilitada, ser representada por advogado requisitá‑los, diretamente, de quaisquer autoridades ou fun‑
regularmente habilitado nos quadros da Ordem dos cionários que devam ou possam fornecê‑los (art. 47 do CPP).
Advogados do Brasil, à exceção da ação de habeas Entretanto, segundo entendimento do Superior Tribunal
corpus (art.  654, CPP), ação de revisão criminal de Justiça,
(art. 623, CPP), recursos (art. 577, CPP), e incidentes
de execução, tais como pedido de reconhecimento não se exige, na primeira fase da persecutio criminis,
de anistia ou indulto (art. 187, Lei de Execução Penal) que a autoria e a materialidade da prática de um
e de reabilitação (art. 743, CPP). delito sejam definitivamente provadas, uma vez
que a verificação de justa causa para a ação penal
Quanto aos requisitos objetivos de validade, a dou‑ pauta‑se em juízo de probabilidade, e não de certeza.
trina costuma arrolar: (STJ, Quinta Turma, HC nº 116.820/SP, Rel. Arnaldo
a) Citação válida, cujo vício poderá ser suprido pelo Esteves Lima, 11/11/2008)
comparecimento espontâneo (art. 570, CPP). Salien‑
te‑se, aqui, que há autores que sustentam a inexistên‑ O STF entende que o lançamento do tributo pendente
cia, e não a nulidade, da relação processual – e não do de decisão definitiva do processo administrativo configura
processo! – quando ausente a citação do réu. Ainda falta de justa causa para a ação penal, devendo ser, porém,
que nos pareça sedutora a observação, o fato é que suspenso o curso da prescrição enquanto obstada a sua
nosso ordenamento processual cuida da matéria como propositura pela falta do lançamento definitivo. Vejamos:
hipótese de nulidade absoluta (art. 564, III, e, CPP). Crime material contra a ordem tributária (Lei
b) Observância das exigências legais atinentes aos re‑ nº  8.137/1990, art.  1º): lançamento do tributo pendente
de decisão definitiva do processo administrativo: falta de
quisitos da denúncia ou queixa (art. 41, CPP), no que
justa causa para a ação penal, suspenso, porém, o curso da
se refere à idoneidade formal da peça de ingresso.
prescrição enquanto obstada a sua propositura pela falta
do lançamento definitivo. 1. Embora não condicionada a
A existência de coisa julgada e também da litispendência,
denúncia à representação da autoridade fiscal (ADInMC
pressupostos processuais de validade, impedem a proposi‑ nº 1.571), falta justa causa para a ação penal pela prática
tura da ação penal. Trata‑se do princípio do ne bis in idem. do crime tipificado no art. 1º da Lei nº 8.137/1990 – que é
O sujeito não pode ser perseguido criminalmente, seja na material ou de resultado – enquanto não haja decisão de‑
fase preliminar, seja na fase judicial, novamente ou simulta‑ finitiva do processo administrativo de lançamento, quer se
neamente pelos mesmos fatos. considere o lançamento definitivo uma condição objetiva de
No que se refere à coisa julgada, a Convenção Americana punibilidade ou um elemento normativo de tipo. 2. Por outro
sobre Direitos Humanos (CADH ou Pacto de São José da Costa lado, admitida por lei a extinção da punibilidade do crime
Rica), cujas normas foram incorporadas ao ordenamento pela satisfação do tributo devido, antes do recebimento da
jurídico pátrio, pelo Decreto nº 878/1992, estabelece, em denúncia (Lei nº 9.249/1995, art. 34), princípios e garantias
seu art. 8º, item 4, que “o acusado absolvido por sentença constitucionais eminentes não permitem que, pela anteci‑
transitada em julgado não poderá ser submetido a novo pada propositura da ação penal, se subtraia do cidadão os
processo pelos mesmos fatos”. meios que a lei mesma lhe propicia para questionar, perante
Assim, as condições da ação, bem como os pressupostos o Fisco, a exatidão do lançamento provisório, ao qual se de‑
processuais devem estar presentes obrigatoriamente na re‑ vesse submeter para fugir ao estigma e às agruras de toda
lação processual, para que o juiz possa receber a ação penal sorte do processo criminal. 3. No entanto, enquanto dure,
e, ao final, decidir sobre os fatos imputados ao acusado. por iniciativa do contribuinte, o processo administrativo sus‑
pende o curso da prescrição da ação penal por crime contra
Justa Causa para o Exercício da Ação Penal a ordem tributária que dependa do lançamento definitivo
(STF, HC nº 81.611/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal
A justa causa é condição de procedibilidade para o Pleno, Julgamento: 10/12/2003).
legítimo exercício do direito de ação penal. Há autores, Se a rejeição da ação penal se der por falta de justa cau‑
a  exemplo de Oliveira (2008, p. 103), que a tratam como sa, a decisão do juiz produz apenas coisa julgada formal, eis
Noções de Direito Processual Penal

condição da ação. que a ação penal pode novamente ser ajuizada caso venha
A peça inicial acusatória deve trazer consigo um substra‑ acompanhada de novas provas.37
to fático‑probatório mínimo e suficiente para o recebimento
da ação penal, a afastar a alegação de ausência de justa causa Conceito da Ação Penal
para a ação penal. A denúncia deve apresentar um conjunto
de fatos conhecidos e minimamente provados com base nos A ação penal pode ser conceituada como o direito
elementos colhidos durante o inquérito. público subjetivo de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do
O juízo de admissibilidade da denúncia ou queixa não direito penal objetivo ao caso concreto.38
exige apenas a viabilidade do direito de ação e a viabilidade
da relação processual.35 O oferecimento de denúncia ou Classificação da Ação Penal
queixa pressupõe a existência de elementos probatórios
mínimos que justifiquem a abertura de ação penal.36 O próprio Código Penal, quando descreve a conduta típi‑
ca, já estabelece o tipo de ação que dará início ao processo

35
Assunto cobrado na prova de Promotor‑BA/2004.

36
Cespe/2º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito
Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio Grande do Norte e Per‑
37
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/2013.
nambuco.
38
MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 63/Assertiva a/2009.

58
penal para apurar cada crime. O legislador buscou diferenciar Ação Penal Pública
os crimes nos quais o interesse estatal na repressão e punição
é relevante dos crimes onde o interesse subjetivo da vítima Aspectos Gerais
sobrepõe‑se ao jus puniendi estatal. A ação penal pública é proposta pelo órgão do Estado ao
Do ponto de vista constitucional e processual é correto qual a Constituição atribui essa função de forma privativa
afirmar que a ação penal é de direito público, apesar de (art. 129, I, da CF/1988), qual seja, o membro do Ministério
ser classificada subjetivamente como “pública” e “priva‑ Público (Promotor de Justiça no âmbito estadual ou Procu‑
da”, sendo que a “pública” pode ser incondicionada ou rador da República, no federal).
condicionada.39
A regra para determinar se a ação penal é privada ou Titularidade da Ação Penal Pública
pública encontra‑se, portanto, na própria lei, seja o Código A ação penal pública, seja ela condicionada ou incondi‑
Penal ou a lei penal extravagante. Portanto, se a lei que cionada, inicia‑se por denúncia do órgão estatal encarrega‑
descreve o delito não determina a ação penal, automatica‑ do de deduzir a pretensão punitiva junto ao Estado‑juiz.46
mente ela é pública. Dessa feita, só será privada quando a Portanto, compete privativamente ao Ministério Público
lei expressamente assim determinar.40 Entretanto, ainda promover a ação penal pública.47 É o que estabelece o art. 24
de acordo com o Código de Processo Penal, seja qual for o do CPP, que determina que, “nos crimes de ação pública,
crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou esta será promovida por denúncia do Ministério Público”.
interesse da União, Estado e Município, a ação penal será Ainda quando a lei exigir requisição do Ministro da Justiça
pública, ainda que a lei penal determine o contrário (§ 2º ou representação do ofendido, caberá ao Ministério Público
do art. 24 do CPP)41. ajuizar a ação, desde que a condição da requisição ou da
Destaque-se que, muitas vezes, quando o legislador se representação seja satisfeita.
refere a ação penal pública, está querendo se referir à ação Assim, nos crimes de ação pública, esta é promovida
penal pública incondicionada, eis que quando se trata da por denúncia do Ministério Público, mas depende, quando
ação penal pública condicionada, o legislador é expresso, a lei o exige, de requisição do Ministro da Justiça, ou de
como ocorre no art. 147 do CP. representação do ofendido ou de quem tenha qualidade
O caso de violação de direitos de autor de programa de para representá‑lo.48
computador que resulte em crime contra a ordem tributária Não mais subsistem as disposições do art. 26 do CPP,
será considerado de ação penal pública.42 que estabeleciam que
A ação penal pública e a ação penal privada diferem quanto
à sua titularidade. Enquanto naquela o titular é o Ministério a ação penal, nas contravenções, será iniciada com o
Público, nesta é o ofendido ou seu representante legal.43 auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria
A ação penal pública subdivide‑se em condicionada e expedida pela autoridade judiciária ou policial.
incondicionada e a privada pode ser exclusiva, personalís‑
sima ou subsidiária.44 A ação pública não pode ser iniciada por flagrante ou
Assim, quando o Código Penal silencia sobre o tipo de por portaria da autoridade policial ou judicial.49
ação, entende‑se que o delito é de ação penal pública in‑
condicionada, que é a regra geral (CP, art. 100, caput). Nos Prazo para o oferecimento da denúncia:
casos em que seja cabível a ação pública, qualquer pessoa Ao receber os autos do inquérito policial, o Ministério
do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público45 Público deverá oferecer denúncia no prazo de cinco dias,
(art. 27 do CPP). se o réu estiver preso, ou quinze dias, se ele estiver solto50.
Quando o Código Penal dispõe que “somente se procede Com efeito, o art. 46 do CPP impõe que
mediante representação”, trata‑se de ação penal pública
condicionada, como se verifica quanto aos crimes descritos O prazo para oferecimento da denúncia, estando o
nos arts. 130, § 2º, 141, II, c/c 145, parágrafo único, 147, réu preso, será de 5 dias, contado da data em que
parágrafo único, 151, § 4º, 152, parágrafo único, 153, § 1º, o órgão do Ministério Público receber os autos do
154, parágrafo único, 156, § 1º, 176, parágrafo único, do Có‑ inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto
digo Penal e quanto aos crimes contra o patrimônio quando ou afiançado. No último caso, se houver devolução do
verificadas as condições do art. 182 também do CP. inquérito à autoridade policial (art. 16), contar‑se‑á o
Quando o estatuto repressivo dispõe que “somente prazo da data em que o órgão do Ministério Público
se procede mediante queixa”, trata‑se de delito de ação receber novamente os autos.
penal privada. É o que ocorre nos tipos penais descritos nos
arts. 138 a 145; 161, § 3º; 163, IV; 164; 179, parágrafo único; Quando o Ministério Público dispensar o inquérito po‑
Noções de Direito Processual Penal

184 c/c 186, I; e 345, parágrafo único, todos do Código Penal. licial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar‑se‑á
da data em que tiver recebido as peças de informações ou
39
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário - Direito/2009. a representação (§ 1º do art. 46 do CPP).
40
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Ministério Público do Esta‑
do de Tocantins/Oficial de Diligências/Especialidade: Institucional/2006; 46
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Instituto de Previdência e
OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/TRE‑PA/Analista Judiciário/Área Assistência dos Servidores do Estado do Espírito Santo/Advogado/2006 e TRF
Judiciária/2005; OAB‑PR/Exame 2/2006; Cespe/1º Exame da Ordem/2004; 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001.
Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina/Procurador do Estado/2003
47
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fepese/Prefeitura de Florianópolis/
e OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004. Procurador/2011/Questão 75/Assertiva a/2011; OAB‑Nordeste/1º Exame de
41
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Ordem/2003; Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão,
Administrativa/Questão 56/Item II/2011; TRF 3ª Região/IX Concurso para Juiz Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo); TJ‑SC/
Federal Substituto; OAB‑PR/Exame 1/2007; TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002; Oficial de Justiça/2003; OAB‑Nordeste/1º Exame de Ordem/2003 e Cespe/TRE‑PA/
Promotor‑AP/2005; Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina/Procurador Analista Judiciário/Área Judiciária/2005.
do Estado/2003 e Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009. 48
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑RR/Analista Proces­sual/2006;
42
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2003. Cespe/TRE‑PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2005.
43
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑AP/Técnico Judiciá­rio/Áreas Judiciária 49
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Bacen/Procurador/Questão 82/
e Administrativa/2003-2004. Item V/2009; FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 18/Assertiva A/2009.
44
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 3/2006; FGV/TJ‑SE/ 50
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
Técnico Judiciário/Áreas Administrativa e Judiciária/2004. de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; MPE‑PA/UFPA/Bacharel em
45
Assunto cobrado na provas da OAB‑PR/Exame 1/2007. Direito/2004; FCC/TRF 2ª Região/Analista Judi­ciário/Área Judiciária/2007.

59
Há prazos diferenciados na legislação penal extravagante. movida por órgão oficial estatal, no caso, o representante do
Na apuração dos crimes de abuso de autoridade, a de‑ Ministério Público, considerado dominus litis.
núncia deve ser ofertada em até 48 horas, nos termos do Não foi recepcionado pelo art. 129, I, da CF/1988 o art. 26
art. 13 da Lei nº 4.898/1965. do CPP, que dizia que, em se tratando de contravenções,
Nos crimes contra a economia popular, o  prazo para caberia a instauração da ação penal por auto de prisão em
oferecimento da denúncia será de 2 dias, esteja ou não o flagrante ou portaria expedida pelo delegado ou pelo juiz de
réu preso (art. 10, § 2º, da Lei nº 1.521/1951). direito. Assim, não é compatível com a Constituição Federal
Tratando‑se de crime de imprensa (art. 40, § 1º, da Lei de 1988 o processo iniciado, de ofício, pela autoridade po‑
nº 5.250/1967), o prazo era de dez dias para oferecimento licial ou judiciária.57 A possibilidade de o próprio juiz iniciar
da denúncia.51 Entretanto, o STF julgou procedente pedido o processo penal, o que era denominado procedimento ju‑
formulado em arguição de descumprimento de preceito fun‑ dicialiforme, não foi recepcionada pela Constituição Federal.
damental para o efeito de declarar como não recepcionado Somente a ação penal pública rege‑se pelo princípio
pela Constituição Federal todo o conjunto de dispositivos da oficialidade.58
da Lei nº 5.250/1967, Lei de Imprensa (ADPF nº 130/DF, Rel. O titular da ação penal pública é exercido com monopólio
Min. Carlos Britto, 30/4/2009). pelo Ministério Público. Entretanto, o princípio da oficiali‑
A nova Lei de Tóxicos (art.  54 da Lei nº  11.343/1936) dade não legitima o simples repúdio da queixa‑subsidiária
confere ao Ministério Público o prazo de 10 dias para o re‑ pelo Procurador da República.59
presentante do Ministério Público ajuizar a denúncia. Destaque‑se que a existência de ações penais privadas
A Lei nº 11.101/2005, que regula a recuperação judicial, não desnaturam o princípio da oficialidade, de aplicação
a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade apenas às ações penais públicas. Com efeito, as “exceções”
empresária, estabelece que o Ministério Público, estando ao princípio da oficialidade estão nos arts. 29 e 30 do CPP,
o réu solto ou afiançado, terá o prazo de 15 (quinze) dias que tratam, respectivamente, da ação penal privada subsi‑
para oferecimento da denúncia, somente no caso de decidir diária da pública e da ação penal privada. Existe uma outra
aguardar a apresentação da exposição circunstanciada a possível exceção à oficialidade da ação penal. Trata‑se da
ser apresentada pelo administrador judicial.52 ação penal popular, instituída no art. 14 da Lei nº 1.079/1950,
O prazo para o Ministério Público ofertar denúncia ou que cuida dos “crimes” de responsabilidade do Presidente
pedir arquivamento é de 15 (quinze) dias, nos crimes de da República. A  sanção prevista para referidos crimes é a
ação penal pública de competência originária nos Tribunais perda do cargo com a inabilitação para a função pública.
(art. 1º da Lei nº 8.038/1990).53 A ação para apurar referidos “crimes”, que, na verdade, são
Embora a lei fixe o prazo para o ajuizamento da ação infrações político‑administrativas, pode ser ajuizada por
penal pública, a denúncia ofertada fora do prazo legal não qualquer do povo.
é nula de pleno direito.54 A não observância do prazo pelo
parquet não impossibilita o recebimento da ação penal Princípio da Legalidade
pelo magistrado. O promotor pode apresentar a denúncia Para a propositura da ação penal, o Ministério Público
enquanto não estiver extinta a punibilidade pela prescrição se embasa em previsão constitucional (art. 129, I, da Cons‑
ou outra causa. tituição Federal) e legal (art. 24 do CPP).
Entretanto, há consequências se o promotor não observa Dessa forma, qualquer previsão legal sobre outra forma
o prazo legal. A principal delas é que surge a possibilidade de início da persecução penal em crimes de ação penal públi‑
do ajuizamento da ação penal privada subsidiária da pública. ca está eivada de vício de ilegalidade e inconstitucionalidade.
Também é consequência do não ajuizamento da denún‑
cia no prazo a possibilidade de ensejar punição administrativa Princípio da Obrigatoriedade ou Oficiosidade60
ao promotor ou mesmo consubstanciar o delito de prevari‑ Não é facultado ao representante do Ministério Público
cação. Portanto, o promotor desidioso, no oferecimento da avaliar a conveniência ou não da propositura da ação penal
denúncia, poderá sofrer as sanções do art. 319 do Código pública. Ocorrendo delito de ação penal pública, o membro
Penal (prevaricação).55 do MP é obrigado a ajuizar a ação penal.
Tem‑se, ainda, que, em caso de o autor dos fatos estar Se entender que não há base para denúncia, pode pedir
preso, a não observância do prazo acarreta o relaxamento diligências ao órgão policial para posterior propositura da
da prisão, salvo se decretada pelo magistrado a prisão ação penal pública. Entendendo ser caso de arquivamento
preventiva. do inquérito policial ou das peças de informação, o pedido
ao magistrado deve ser feito de forma fundamentada.
Princípios que Regem a Ação Penal Pública Alguns promotores também deixam de ajuizar ação penal
quando a lesão do crime afeta minimamente a ordem jurídi‑
Noções de Direito Processual Penal

Princípio da Oficialidade, Autoritariedade ou da De‑ ca, o que é permitido com base no princípio da insignificância,
manda por ser o fato, em tal caso, considerado atípico, o que enseja
A ação penal pública pode ser promovida somente pelo pedido de arquivamento das peças de informação.
Ministério Público.56 Com base no princípio da obrigatoriedade, o pedido de
Apenas o representante do Ministério Público (órgão arquivamento do inquérito policial ou das peças de informa‑
oficial) pode ajuizar ação penal pública. Não o pode qualquer ção deve ser sempre fundamentado.
outra autoridade pública ou privada. Segundo o princípio da Segundo o mesmo princípio, o órgão do Ministério Públi‑
oficialidade, a ação penal pública é obrigatoriamente pro‑ co não pode recusar‑se a promover a competente ação penal,
quando identificar hipótese na qual a lei exija sua atuação.
51
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/ Entretanto, tal princípio encontra‑se atenuado pela previ‑
Defensor Público de 1ª Classe/2003.
52
DRS/Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/Delegado de Polí‑
cia/2007.
57
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/3º Exame de Ordem/2007.
53
Promotor‑AP/2005.
58
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/2º Exame de Ordem/2004 e
54
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004 OAB‑GO/2º Exame de Ordem/2004.
e Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997. 59
Assunto cobrado na prova para Procurador da República/1997.
55
UFPA/MPE‑PA/Bacharel em Direito/2004. 60
Alguns autores também denominam referido princípio como princípio da
56
FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Questão 64/Assertivas A, B, C, D e E/2009. legalidade.

60
são de transação nas infrações penais de menor potencial No tocante à indisponibilidade da ação penal, o Minis‑
ofensivo.61 Com efeito, nos juizados especiais, o princípio da tério Público pode pedir a absolvição do réu nas alegações
obrigatoriedade é mitigado pela possibilidade de se fazer a finais, mas o fato não vincula o juiz, que, ainda assim, pode
transação penal. Fala‑se, portanto, em discricionariedade condenar.70
regrada para a acusação no que se refere ao oferecimento O instituto da suspensão condicional do processo confi‑
da ação penal nos juizados especiais criminais (art. 76 da gura exceção ao princípio da indisponibilidade. Com base nas
Lei nº 9.099/1995). disposições do art. 89 da Lei nº 9.099/1995 que determina
O princípio da obrigatoriedade impede que se fale em que nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou
decadência processual para o Ministério Público.62 Com inferior a um ano, abrangidos ou não por esta Lei, o Ministério
efeito, o promotor apenas poderá pedir o arquivamento do Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão
inquérito policial ou das peças de informação em decorrência do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não
de prazo quando o crime já se encontrar prescrito, o que gera esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por
a extinção da punibilidade. outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam
É o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
que torna inaplicáveis, no Brasil, os  institutos do plea
bargaining e do pentitismo, em toda a plenitude que têm Princípio da (In)Divisibilidade
eles nos Estados Unidos e na Itália, respectivamente.63 Nos Há na doutrina certa divergência sobre a aplicação do
Estados Unidos, a titulariedade da proposição da ação penal princípio da indivisibilidade à ação penal pública. Já se
é do Ministério Público. Entretanto, pode deixar de propor afirmou que o princípio da indivisibilidade é previsto ex‑
a ação ou mesmo prosseguir com ação já ajuizada sem pressamente para as hipóteses de ação penal de iniciativa
qualquer interferência do Poder Judiciário, podendo fazer privada e aplicado, por analogia, às hipóteses de ação penal
acordos com a Defesa. No direito italiano, o pentitismo trata pública, condicionada e incondicionada.71 Já foi inclusive
dos “colaboradores da Justiça”. Com base em tal instituto, objeto de cobrança em concurso público que o princípio da
o  coautor que, submetido a processo penal, confessava indivisibilidade aplica‑se à ação penal pública, no instante
sua própria responsabilidade e fornecia às autoridades em que o oferecimento da denúncia contra um dos acu‑
notícias úteis à individualização dos demais responsáveis, sados possibilita posterior acusação de outro envolvido.72
era beneficiado.64 A confusão é meramente terminológica e de verificação
das consequências.
Princípio da Indisponibilidade Quando do ajuizamento da ação penal, o representante
Uma vez ajuizada a ação penal pública, não pode o do Ministério Público pode ajuizar a ação penal em face
representante do Ministério Público desistir da ação, nem de alguns dos autores delitivos, sem que, posteriormente,
se estiver provada a inexistência do fato ou da autoria65. esteja impedido ou tenha renunciado ao direito de aditar
Pode, entretanto, pedir absolvição em sede de alegações a ação penal ou mesmo de oferecer nova denúncia contra
finais, o  que, de qualquer forma, não vincula o juiz, que eventual coautor.73
pode condenar, ainda que o autor da denúncia peça uma Por isso, afirma‑se que a ação penal pública é divisível.
absolvição (art. 385 do CPP). Também não se pode desistir A acusação pública pode ajuizar ação apenas contra parte
de eventual recurso interposto66 (CPP, art. 576). dos coautores. Isso não ocorre na ação penal privada, pois
O Ministério Público não pode, assim, em hipótese al‑ esta é indivisível. Se a vítima ajuíza ação apenas em relação
guma, desistir da ação penal ou de recurso já interposto67 a um dos coautores, há reflexo em relação aos demais, uma
(arts. 42 e 576 do CPP). vez que há renúncia ao direito de queixa, extinguindo‑se a
Não se considera perempta a ação penal pública condi‑ punibilidade em relação a todos os autores do fato.
cionada quando, após seu início, o MP deixa de promover Há vários estudiosos com fortes argumentos sobre a
o andamento do processo durante trinta dias seguidos.68 aplicação à ação penal pública do princípio da indivisibilida‑
Dessa forma, se o MP ofereceu denúncia por crime de de, a exemplo de Capez (2005, p. 108). Lopes Júnior (2008,
roubo e, no decorrer do processo, entendeu pela impro‑ p. 368) aborda o tema, destacando a irrelevância de não
cedência da ação em face da inexistência do crime, não se ter consequências práticas o fato de o representante do
poderá, mesmo diante da situação apresentada, desistir Ministério Público não denunciar todos os autores do fato:
da ação penal proposta.69
A ação penal de iniciativa pública é regida pelo prin‑

61
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado cípio da indivisibilidade, disso não temos dúvida.
de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; OAB‑PR/2º Exame de Or‑ Contudo, há que se destacar um problema de eficá‑
dem/2004.
Noções de Direito Processual Penal


62
Procurador da República/2003.
cia: se o MP não denunciar a todos, qual é a sanção

63
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promo‑ processual? Nenhuma. Não existe, como na ação de
tor/2009 e MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova Prova/2009. iniciativa privada, a sanção prevista no art. 49 (extin‑

64
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promotor/
2009. ção da punibilidade para todos). Esse é o problema

65
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-CE/Insp/2012; FCC/TJ- e que gera algumas interpretações equivocadas no
GO/2012; MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009; Cespe/PGE-PE/Procurador sentido de que o princípio da indivisibilidade não
do Estado – grupo II/Questão 81/Assertiva D/2009 e FCC/DPE-MT/Defensor
Público/Questão 18/Assertiva B/2009. vigeria na ação pública. Ele vige, mas não tem uma

66
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-CE/Insp/2012. sanção processual pela sua inobservância. Mas isso

67
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PI/Juiz Substituto/2001; Pro­curador não é novidade, pois inúmeros outros casos de princí‑
da República/1997; OAB‑Nordeste/1º Exame de Ordem/2003; TRF 3ª Região/
Juiz Federal; OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004; OAB‑PR/1º Exame de
Ordem/2004; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/Área Direito/2004; OAB‑MS/79º 70
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 1ª Região/Juiz Federal Substitu‑
Exame de Ordem/2004; OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004; OAB‑RS/1º to/2004 e Promotor‑AP/2005.
Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑DF/ Oficial de Justiça Avaliador/1997; Cespe/ 71
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004 e
TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª Entrância/2001; TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002. Procurador da República/2003.

68
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª
72
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe
Classe/Questão 107/2009. do RJ/2002 e Cespe/1º Exame da Ordem (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão,

69
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Ministério Público do Estado de Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo).
Tocantins/Oficial de Diligências/Institucional/2006.
73
Assunto cobrado na seguinte prova: Esaf/AFC/CGU/Correição/2012.

61
pios sem sanção existem no processo penal brasileiro, Entretanto, a ação penal pública deverá ser promovida
a começar pela falta de sanção pela inobservância contra todos aqueles que participarem da ação delituosa e
dos prazos de duração do inquérito, da instrução forem conhecidos quando do oferecimento da ação penal
etc., como explicamos ao tratar do prazo razoável. e houver justa causa para tanto. Isso em face do princípio
da obrigatoriedade e não da indivisibilidade da ação penal
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no senti‑ pública. Dessa forma, não é correta a assertiva de que seria
do de que o princípio da indivisibilidade não se aplica à ação causa de rejeição da denúncia, por ofensa ao princípio da
penal pública (STF, Primeira Turma, HC nº 93.524/RN, Rel. indivisibilidade da ação, a circunstância de haver o Minis‑
Min. Cármen Lúcia, Julgamento: 19/8/2008) tério Público formulado a imputação penal contra apenas
Assim, o fato de terem sido denunciados apenas alguns um dos indiciados no inquérito policial.80 Estaria correta a
entre todos os supostamente envolvidos em crime não assertiva se fosse feita referência ao princípio da obrigatorie‑
conduz à inviabilidade da inicial acusatória. dade. Com efeito, se o representante do Ministério Público
A Suprema Corte entende que o princípio da indivisibilidade tem conhecimento da participação de todos os autores e não
é aplicável apenas às ações penais privadas, destacando que, denuncia todos, em face do princípio da obrigatoriedade,
pode responder administrativa ou penalmente.
tratando‑se de ação penal privada, o oferecimento Seguindo tal raciocínio, nos crimes de ação penal pública
de queixa‑crime somente contra um ou alguns dos condicionada, o órgão do Ministério Público poderá ofe‑
supostos autores ou partícipes da prática delituosa, recer denúncia contra coautores ou partícipes da infração
com exclusão dos demais envolvidos, configura penal não referidos na representação, desde que descober‑
hipótese de violação ao princípio da indivisibilidade tos pela autoridade policial após a apresentação daquela
(CPP, art. 48), implicando, por isso mesmo, renúncia peça pelo ofendido.81
tácita ao direito de querela (CPP, art. 49), cuja efi‑
cácia extintiva da punibilidade estende‑se a todos Princípio da Intranscendência
quantos alegadamente hajam intervindo no suposto Pelo princípio da intranscendência, a ação penal deve
cometimento da infração penal (CP, art. 107, V, c/c ser proposta, por um princípio lógico, em relação à pessoa
o art. 104). (STF, Segunda Turma, HC nº 88.165/RJ, ou às pessoas a quem se imputa a prática do ilícito.82 Assim,
Rel. Min. Celso de Mello, Julgamento: 18/4/2006) o art. 5º, XLV, da CF/1988 estabelece que,
Assim, se o promotor souber da participação de apenas Art. 5º [...]
um ou de alguns autores na prática delitiva quando do XLV – nenhuma pena passará da pessoa do conde‑
ajuizamento da ação penal, ou mesmo quando possua justa nado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
causa apenas em relação a alguns dos autores, nada impede decretação do perdimento de bens ser, nos termos
que depois adite a denúncia ou mesmo ofereça uma nova da lei, estendidas aos sucessores e contra eles execu‑
ação penal pública em face dos não acusados na peça inicial. tadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
Analisemos a seguinte situação hipotética: Roberto,
promotor de justiça, denunciou Gilvan pelo crime de lesões Dessa forma, a  acusação deve se basear em fatos co‑
corporais seguidas de morte. Ficou evidenciado, no curso da metidos pelo acusado, não podendo a responsabilidade ser
instrução criminal, que Gilvan atuou com intenção de matar. transferida ou compartilhada por seus sucessores, familiares,
Nessa situação, será imprescindível, para que Gilvan seja responsáveis. Quanto a estes apenas há responsabilidade
julgado pelo crime de homicídio, o aditamento da denúncia, civil e nos limites do patrimônio do autor dos fatos tidos
abrindo‑se o prazo para a defesa.74 como criminosos.
No mesmo sentido, tendo sido oferecida denúncia pela Referido princípio também se aplica às ações penais
prática de furto simples, poderá o magistrado proferir privadas.
sentença condenatória por furto qualificado pelo repouso
noturno, desde que baixe o feito ao Ministério Público para Espécies de Ação Penal Pública
aditamento da denúncia e, aditada, abra vista à defesa, A ação penal pública pode ser incondicionada ou condi‑
ainda que, em alegações finais, o  parquet tenha pedido cionada. Naquela, não há qualquer requisito ou condição a
condenação por furto simples.75 ser preenchido para a atuação do representante do Minis‑
Recebido o aditamento, que corresponde ao recebimen‑ tério Público. Já a ação penal pública condicionada é pro‑
to da denúncia, não pode o magistrado voltar à capitulação
movida pelo Ministério Público, mas depende de requisição
anterior.76
do Ministro da Justiça ou de representação do ofendido ou
O aditamento da peça acusatória não conduz, necessa‑
de quem tiver qualidade para representá‑lo.83
riamente, à nova citação do réu.77
Noções de Direito Processual Penal

Embora não destacada na divisão clássica, tem‑se a ação


Em caso de ação penal pública, uma denúncia poderá
penal popular de responsabilidade prevista no art.  14 da
ser aditada a qualquer tempo para incluir qualificadora
Lei nº 1.079/1950 (Define os crimes de responsabilidade e
que não conste expressamente da inicial, desde que ocorra
regula o respectivo processo de julgamento), que determina
antes da prolação da sentença de pronúncia.78 Tratando‑se
que é permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente
de queixa, o Promotor de Justiça na ação penal privada não
pode, mesmo que evidente, ampliar a extensão temática da República ou Ministro de Estado, por crime de respon‑
da pretensão punitiva.79 sabilidade, perante a Câmara dos Deputados. O art. 41 da
referida lei estabelece, ainda, que é permitido a todo cidadão
74
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego‑ denunciar perante o Senado Federal, os Ministros do Supre‑
ria/2004. mo Tribunal Federal e o Procurador Geral da República, pelos
75
Cespe/Defensoria Pública do Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª crimes de responsabilidade que cometerem.
Classe/2003.
76
Assunto cobrado na prova do TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007.
77
Procurador da República/2003. 80
Promotor‑DF/2002.
78
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado 81
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001.
do Amazonas/Defensor Público de 4ª Classe/2003; Cespe/TRF 5ª Região/Juiz 82
OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004.
Federal Substituto/2006. 83
FCC/Procuradoria Geral do Estado do Maranhão/Procurador do Estado – 3ª
79
Procurador da República/1997. Classe/2003.

62
Ação Penal Pública Incondicionada O titular da ação penal, que continua sendo o repre‑
Na ação penal pública incondicionada, a atuação do sentante do Ministério Público, inicia a ação por meio da
Ministério Público não depende da vontade do ofendido denúncia. Entretanto, na ação pública condicionada, o re‑
ou seu representante legal.84 presentante do MP não poderá ajuizá‑la enquanto não for
A ação penal pública incondicionada será iniciada por satisfeita a condição da representação do próprio ofendido
denúncia oferecida pelo representante do Ministério Pú‑ ou da requisição do Ministro da Justiça.
blico. Do mesmo modo se dá com a ação penal pública A ação penal pública condicionada não é iniciada por
condicionada. A diferença é que, sendo a ação penal pública meio de representação do ofendido ou seu representante
incondicionada, não se exige nenhuma condição para que legal, ou requisição do Ministro da Justiça.92
o representante do Ministério Público ajuíze a denúncia. Em determinados tipos de crime, o Estado, mesmo
O delito será de ação penal pública incondicionada mantendo a titularidade da persecução do crime, deixa a
sempre que a lei silenciar a respeito da sua titularidade ou critério da vítima a decisão de permitir ou não o início da
da legitimação para agir, a exemplo dos crimes previstos nos
ação penal, uma vez que questões de foro individual podem
arts. 121 a 128 do CP. O mesmo se diga em relação a crimes
fazê‑la preferir deixar os fatos no anonimato ou sem apu‑
constantes da legislação penal extravagante. A  título de
exemplo, é pública incondicionada a ação penal por crime de ração, buscando evitar o “escândalo do processo (strepitus
sonegação fiscal85, bem como os crimes previstos no Estatu‑ judicii ou strepitus processus)”93.
to do Idoso (Lei nº 10.741/2003), que são exclusivamente de A denúncia rejeitada pelo juiz por falta de representação
ação penal pública incondicionada, inadmitindo‑se o início faz coisa julgada formal, podendo ser renovada e recebida
da ação por representação.86 (art. 95 da Lei nº 10.741/2003) quando o requisito for preenchido.
Quanto ao procedimento aplicado aos crimes falimen‑ Quando o Código Penal ou a legislação extravagante
tares, via de regra, referidos crimes são apurados mediante dispuser que “somente se procede mediante representação”,
ação penal pública incondicionada.87 trata‑se de ação penal pública condicionada, como se verifica
Mesmo nos crimes apurados mediante ação penal públi‑ nos seguintes crimes:
ca incondicionada, o inquérito policial poderá ser dispensável • crime de perigo de contágio venéreo (art. 130, § 2º,
para o oferecimento de denúncia88. Com efeito, dispondo o do CP);
Ministério Público de elementos suficientes para a propositura • crime contra a honra praticado contra funcionário
da ação penal, pode, desde já, ajuizar a ação penal. público no exercício de suas funções (art. 141, II, c/c
Como dito, a ação penal pública incondicionada não fica 145, parágrafo único, do CP)  – neste caso, também
vinculada a qualquer condição, inclusive nas infrações de é admitida ação penal privada, como se percebe na
menor potencial ofensivo. leitura da Súmula nº 714 do STF:
Nos termos da Lei nº  9.099/1995, a composição dos
danos civis, que deve ser reduzida a termo e valer como É concorrente a legitimidade do ofendido, median‑
título executivo judicial, não impede a proposição da ação te queixa, e do Ministério Público, condicionada à
penal quando esta for pública incondicionada.89 Com efei‑ representação do ofendido, para a ação penal por
to, apenas quando há transação penal, nas ações penais crime contra a honra de servidor público em razão
privadas e públicas condicionadas à representação, entre do exercício de suas funções;94
o autor dos fatos e o representante do Ministério Público é
que se impede o ajuizamento da ação penal, nos crimes de • crime de ameaça (art. 147, parágrafo único, do CP);
menor potencial ofensivo. Isto porque a transação é exceção
• crime de violação de correspondência (art. 151, § 4º,
ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.90
Destaque-se que o art. 17 da Lei de Contravenções Penais do CP);
(Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941) determina • crime de violação de correspondência comercial
que a ação penal é pública, devendo a autoridade proceder (art. 152, parágrafo único, do CP);
de ofício. O STF entende que • crime de divulgação de segredo (art. 153, § 1º, do CP);
• crime de violação de segredo profissional (art.  154,
a regra do art. 17 LCP – segundo a qual a perse­cução parágrafo único, do CP);
das contravenções penais se faz mediante ação • crime de furto de coisa comum (art. 156, § 1º, do CP);
pública incondicionada – não foi alterada, sequer • crime de tomar refeição em restaurante, alojar‑se em
com relação à de vias de fato, pelo art. 88 da Lei hotel ou utilizar‑se de meio de transporte sem dispor
nº 9.099/1995, que condicionou à representação a de recursos para efetuar o pagamento (art. 176, pará‑
ação penal por lesões corporais leves (HC nº 80.617, grafo único, do CP);
Pertence, RTJ nº 177/866). (STF, HC nº 86.058/RJ, • crimes contra o patrimônio quando verificadas as
Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, Jul‑ condições do art. 182 do Código Penal;
Noções de Direito Processual Penal

gamento: 25/10/2005) • crimes de lesões corporais leves e lesões corporais


culposas (art. 88 da Lei nº 9.099/1995);
Ação Penal Pública Condicionada a Representação
Na ação pública condicionada, o Estado não delega ao 92

Assunto cobrado na prova do MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 64/
ofendido o direito de ação.91 Assertiva A/2009.
93
Oliveira (2008, p. 116), in verbis: “Conquanto a regra relativamente à legitima‑
84
Assunto cobrado na prova do MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 64/ ção para a persecução processual penal evidencie o interesse público de toda
Assertiva B/2009. a comunidade na repressão da atividade criminosa, daí se atribuir ao Estado
85
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 4ª Região/Juiz Federal Substitu‑ tal função, há casos em que outra ordem de interesses, igualmente relevantes,
to/2005 e Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina/Procurador do devem ser tutelados pelo ordenamento processual. Trata‑se da proteção da
Estado/2003. vítima de determinados crimes contra os deletérios efeitos que, eventualmente,
86
Promotor‑BA/2004. podem vir a ser causados pela divulgação pública do fato. Por isso, em razão do
87
Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado – grupo II/Questão 85/Assertiva A/2009. que a doutrina convencionou chamar de strepitus iudicii (escândalo provocado
88
Assunto cobrado na prova do OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005. pelo ajuizamento da ação penal), reserva‑se a ela o juízo de oportunidade e
89
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/ conveniência da instauração da ação penal, com o objetivo de evitar a produção
Defensor Público de 2ª Categoria/2005. de novos danos em seu patrimônio – moral, social, psicológico etc. – diante de
90
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-ES/Analista Judiciário/Questão possível repercussão negativa trazida pelo conhecimento generalizado do fato
102/2011. criminoso.”
91
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. 94
Cespe/MPE-SE/Promotor Substituto/2010/Questão 16/Assertiva A.

63
• crimes contra o patrimônio cometidos contra cônjuge Vejamos ementa sobre o tema:
separado judi­cialmente, irmãos e tio ou sobrinho, com
quem o agente coabita, quando não forem os crimes PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. LESÃO COR‑
praticados com vio­lência ou grave ameaça ou, ainda, PORAL LEVE PRATICADA COM VIOLÊNCIA FAMILIAR
que não praticados com violência ou grave ameaça ou CONTRA A MULHER. INAPLICABILIDADE DA LEI Nº
que tenham como vítimas pessoas com idade igual ou 9.099/1995 E, COM ISSO, DE SEU ART. 88, QUE
superior a 60 anos (arts. 182 e 183 do CP); e DISPÕE SER CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO O
• crimes contra a liberdade sexual95 (art. 225 do Código REFERIDO CRIME. AUSÊNCIA DE NULIDADE NA NÃO
Penal, com a redação dada pela Lei nº 12.015/2009), DESIGNAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ART. 16
desde que a vítima não seja menor de 18 anos, pes‑ DA LEI MARIA DA PENHA, CUJO ÚNICO PROPÓSITO
soa vulnerável ou tenha o crime sido praticado com É A RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO. PARECER
violência real. MINISTERIAL PELA CONCESSÃO DO WRIT. ORDEM
DENEGADA. 1. Esta Corte, interpretando o art. 41 da
Suponha que Marcos ofendeu a integridade corporal Lei nº 11.340/2006, que dispõe não serem aplicáveis
de Maria, esbofeteando‑a por duas vezes e causando‑lhe aos crimes nela previstos a Lei dos Juizados Especiais,
lesão corporal leve. No caso analisado, Maria deve repre‑ já resolveu que a averiguação da lesão corporal de
sentar para que Marcos possa ser denunciado pelo MP, uma natureza leve praticada com violência doméstica e
vez que tal crime é de ação penal pública condicionada à familiar contra a mulher independe de representa‑
representação.96 ção. Para esse delito, a Ação Penal é incondicionada
No mesmo sentido: Jair, dirigindo de maneira impru‑ (REsp. nº  1.050.276/DF, Rel. Min. Jane Silva, DJu
dente, causou a colisão de seu veículo com o de Maria, que 24/11/2008). 2. Se está na Lei nº 9.099/1990, que
sofreu lesão corporal grave, consistente na amputação de regula os Juizados Especiais, a previsão de que de‑
membro inferior, conforme comprovado por laudo produ‑ penderá de representação a ação penal relativa aos
zido pelo perito que realizou seu exame de corpo de delito. crimes de lesões corporais e lesões culposas (art. 88)
Nesse caso, a ação penal é pública condicionada à represen‑ e a Lei Maria da Penha afasta a incidência desse diplo‑
tação da vítima, tendo Maria o prazo decadencial de seis ma despenalizante, inviável a pretensão de aplicação
meses, contado da data em que tomou conhecimento de daquela regra aos crimes cometidos sob a égide desta
que o autor da lesão foi Jair, para contra ele representar.97 Lei. 3. Ante a inexistência da representação como
A falta de representação constitui‑se em vício que in‑ condição de procedibilidade da ação penal em que
viabiliza o início do processo penal.98 se apura lesão corporal de natureza leve, não há
Dessa forma, deve‑se providenciar a representação para como cogitar qualquer nulidade decorrente da não
permitir o ajuizamento da ação penal. realização da audiência prevista no art.  16 da Lei
nº 11.340/2006, cujo único propósito é a retratação
Representação e Lesão Corporal Contra a Mulher (STJ, HC nº  91.540/MS, Rel. Min. Napoleão Nunes
em Caso de Violência Doméstica Maia Filho, Quinta Turma, DJe 13/4/2009).

Nas hipóteses de crimes que decorram de violência O STJ passou a adotar entendimento contrário em
doméstica e familiar contra a mulher, o art. 16 da Lei 24/2/2010, tendo noticiado que, por maioria, a Terceira Se‑
nº 11.340/2006 destaca que, nas ações penais públicas condi‑ ção do Superior Tribunal de Justiça entendeu ser necessária
cionadas à representação da ofendida de que trata esta lei, só a representação da vítima no casos de lesões corporais de
será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em natureza leve, decorrentes de violência doméstica, para a
audiência especialmente designada com tal finalidade, antes propositura da ação penal pelo Ministério Público.
do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. Vejamos:
Entretanto, deve‑se verificar, no caso de lesão corporal
leve no âmbito de violência doméstica e familiar contra a A Seção, ao julgar recurso sob o regime do art. 543-C
mulher, não se tratar mais de infração de menor potencial do CPC c/c a Res. nº 8/2008-STJ, firmou, por maio‑
ofensivo, tendo em vista a pena máxima de três anos ria, o entendimento de que, para propositura da
prevista no art. 129, § 9º, do Código Penal. Dessa forma, ação penal pelo Ministério Público, é necessária a
não teriam aplicação as disposições da Lei nº 9.099/1995, representação da vítima de violência doméstica nos
notadamente o art. 88 da referida lei, que diz ser a ação casos de lesões corporais leves (Lei nº 11.340/2006
pública condicionada à representação da ofendida.99 – Lei Maria da Penha), pois se cuida de uma ação
Nesse sentido, o STJ destaca que pública condicionada. Observou-se, que entender
Noções de Direito Processual Penal

a ação como incondicionada resultaria subtrair da


a lesão corporal praticada contra a mulher no âmbito mulher ofendida o direito e o anseio de livremente
doméstico é qualificada por força do art. 129, § 9º, se relacionar com quem quer que seja escolhido
do Código Penal e se disciplina segundo as diretrizes como parceiro, o que significaria negar-lhe o direito
desse diploma legal, sendo a ação penal pública à liberdade de se relacionar, direito de que é titular,
incondicionada. (STJ, HC nº 106.805/MS, Min. Jane para tratá-la como se fosse submetida à vontade dos
Silva(desembargadora convocada do TJ/MG), Sexta agentes do Estado. Argumentou-se, citando a dou‑
Turma, DJe 9/3/2009) trina, que não há como prosseguir uma ação penal
depois de o juiz ter obtido a reconciliação do casal

95
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/ ou ter homologado a separação com a definição de
Questão 104/2009. alimentos, partilha de bens, guarda e visitas. Assim,

96
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJDF/Analista Judiciário/Área Judiciária –
Atividade Processual/2003.
a possibilidade de trancamento de inquérito policial

97
Cespe/MPE-TO/2012. em muito facilitaria a composição dos conflitos

98
Assunto cobrado na prova da Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina/ envolvendo as questões de Direito de Família, mais
Procurador do Estado/2003.

99
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 52/
relevantes do que a imposição de pena criminal ao
Assertiva D/2011. agressor. Para os votos vencidos, a Lei nº 11.340/2006

64
afastou expressamente, no art. 41, a incidência da Destaque-se que o rol contido no § 1º do art. 24 do CPP
Lei nº 9.099/1995 nos casos de crimes de violência é taxativo, não abrangendo o companheiro da vítima falecida
doméstica e familiares praticados contra a mulher. (LIMA, 2008, p. 242).
Com respaldo no art. 100 do CP, entendiam ser de A representação será exercida por curador nomeado
ação pública incondicionada o referido crime sujeito quando for menor o ofendido, e seus interesses estiverem
à Lei Maria da Penha. Entendiam, também, que a em conflito com o de seus genitores/responsáveis.103
citada lei pretendeu punir com maior rigor a violência
doméstica, criando uma qualificadora ao crime de Prazo para a apresentação da representação:
lesão corporal (art. 129, § 9º, do CP). Nesse contexto, O prazo para o oferecimento da representação será
defendiam não se poder exigir representação como decadencial de 6 (seis) meses, contados do dia em que a
condição da ação penal e deixar ao encargo da vítima vítima ou seu representante tomou conhecimento do autor
a deflagração da perse­cução penal. (STJ; Resp. nº da infração.104
1.097.042-DF, Rel. originário Min. Napoleão Nunes O art. 38 do CPP determina que:
Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, jul‑
gado em 24/2/2010) Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
representante legal, decairá no direito de repre‑
Titularidade do direito de representação: sentação, se não o exercer dentro do prazo de seis
O art. 39 do CPP, por sua vez, estabelece que meses, contado do dia em que vier a saber quem é
o autor do crime.105
O  direito de representação poderá ser exercido,
pessoalmente ou por procurador com poderes O prazo decadencial para o exercício do direito de re‑
especiais, mediante declaração, escrita ou oral, presentação não pode ser interrompido.106
feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à O prazo para exercício do direito de representação é de
autoridade policial.100 direito material, devendo ser computado o dia do começo
e excluído o dia final.107
Assim, com base no disposto no Código de Processo Referido prazo também tem incidência em relação aos
Penal, nos crimes em que a ação pública depender de re‑ sucessores, nos termos do § 1º dos arts. 24 e 31 do CPP.
presentação, não poderá sem ela ser iniciada.101 Desse modo, admitindo‑se a hipótese de crime de ação
No caso de morte do ofendido ou quando declarado penal pública condicionada à representação, esta, a repre‑
ausente por decisão judicial, o  direito de representação sentação (e não a denúncia), deverá ser oferecida no prazo de
passará ao cônjuge, aos  ascendentes, descendentes ou seis meses, contados a partir da data em que o ofendido ou o
irmãos.102 (§ 1º do art. 24 do CPP). Trata-se de caso de subs‑ seu representante legal tomou conhecimento da autoria do
tituição processual, em que se houver mais de um desses crime (art. 38 do CPP). Destaque‑se que prazo de decadência
legitimados para substituir a vítima, deve-se aplicar a regra da representação se conta do conhecimento inequívoco da
do art. 36 do CPP, que estabelece que terá preferência o autoria, não de meras suspeitas (STF, Segunda Turma, RHC
cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem nº 64.384, 4/11/1986, Carlos Madeira, RTJ nº 120/191).
de enumeração constante do art. 31, qual seja, ascendente, Sendo a vítima menor de idade ou se, ainda que maior,
descendente ou irmão, sendo que se uma delas exerce o não gozar de suas faculdades mentais em sua plenitude,
direito de representação, nada pode ser feito pelos demais a representação pode ser feita por seu representante legal.108
(LIMA, 2008, p. 242). Neste caso, o  prazo decadencial para o oferecimento de
Sobre o prazo decadencial para a representação, Polastri queixa ou de representação deve ser contado separadamente
(2008, p. 243) destaca que a contagem começa a fluir da para o ofendido e para o seu representante legal, ainda que
data que uma das pessoas enumeradas no § 1º, do art. 24 a data da ciência da autoria do crime tenha sido a mesma.109
do CPP, vem a saber quem é o autor do fato. Exemplifica que É o que se percebe da leitura da seguinte ementa:

se após a morte da vítima, v. g., o seu pai vem a saber DECADÊNCIA DO DIREITO DE QUEIXA OU DE RE‑RE‑
da autoria de crime em que se procede mediante PRESENTAÇÃO. 1) NO SISTEMA DO C.PR.PEN. HÁ
ação penal pública condicionada contra a falecida, AUTONOMIA DO DIREITO DE QUEIXA OU DE REPRE‑
terá seis meses, deste conhecimento, para repre‑ SENTAÇÃO, QUE PODE SER EXERCIDO PELO OFENDIDO
sentar, salvo se demonstrado que a vítima antes de OU POR SEU REPRESENTANTE LEGAL. APLICAÇÃO
morrer já sabia da autoria e deixou passar o prazo DOS ARTS. 34, 38 E 50, PARÁGRAFO ÚNICO. 2) O
PRAZO DE DECADÊNCIA, CUJO TERMO INICIAL É, EM
decadencial ou seu pai também já sabia da autoria
PRINCÍPIO, CONFORME O ART. 38, O DIA EM QUE O
antes da morte. Por outro lado, se o pai já sabia e
Noções de Direito Processual Penal

TITULAR DO DIREITO VIER A SABER QUEM É O AUTOR


nada fez, e depois de esgotados seis meses a cônjuge
DO CRIME, CORRE, SEPARADAMENTE, EM RELAÇÃO
quiser representar, também não será possível a repre‑
AO QUE TIVER ESSE CONHECIMENTO. OPERADA A
sentação, já que nessa hipótese, um dos legitimados
DECADÊNCIA, PARA UM, CONTINUARÁ TITULAR DO
já deixou de passar o prazo in albis.
DIREITO DE QUEIXA OU REPRESENTAÇÃO O QUE NÃO
100
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fepese/Prefeitura de Florianópolis/
Procurador/Questão 71/Assertiva d/2011 e FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/ 103
Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.
Área Administrativa/Questão 56/Item III/2011. 104
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRE‑PA/Analista Judiciário/
101
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Tribunal de Justiça do Estado Área Judiciária/2005; OAB‑RS/2º Exame/2006; OAB‑SP/126º Exame de
de Roraima/Analista Processual/2006; Esaf/Procurador da Fazenda Na‑ Ordem/2005; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame; Vunesp/OAB‑SP/130º Exame;
cional/2004; FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; Cespe/ Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.
TRE‑PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2005; Cespe/TJ‑RR/Analista Pro‑ 105
Assunto cobrado na seguinte prova: IBFC/MPE-SP/Oficial de Promotoria/
cessual/2006. Questão 49/Assertiva A/2011.
102
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ-GO/2012; Fepese/Prefeitura de 106
Assunto cobrado na seguinte prova: IBFC/MPE-SP/Oficial de Promotoria/
Florianópolis/Procurador/Questão 71/Assertiva C/2011; IBFC/MPE-SP/Oficial Questão 49/Assertiva C/2011.
de Promotoria/Nível Médio/Questão 49/Assertiva D/2011; FCC/TRE‑SP/Ana‑ 107
FCC/TJ-SE/Analista Judiciário/Questão 73/Assertiva C/2009.
lista Judiciário/Área Judiciária/2006; OAB‑RS/2º Exame/2006; Cespe/TJ‑AP/ 108
Assunto cobrado na prova do FCC/TJ-SE/Analista Judiciário/Questão 73/As‑
Analista Judiciário/Área Judiciária/2003-2004 e FCC/TRF 1ª Região/Analista sertiva D/2009.
Judiciário/Área Judiciária/2001. 109
Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004.
TIVER NOTÍCIA DO CRIME. 3) RECURSO ORDINÁRIO 2) requerer novas diligências ao órgão policial; 3) pedir ao
IMPROVIDO. (STF, Primeira Turma, RHC nº 49.052/GO, juiz o arquivamento do inquérito. Por isso, afirma‑se que a
Rel. Min. Barros Monteiro, Julgamento: 14/9/1971) representação não obriga o promotor.
Agora, se o promotor, mesmo recebendo a represen‑
Em caso de crime de ação penal pública condicionada à tação, ficar inerte, sem tomar quaisquer das providências
representação, a decadência do direito de representar em acima referidas, a inércia trará consequências, como a
relação ao ofendido não impede, segundo orientação do responsabilização administrativa ou criminal do promotor.
Supremo Tribunal Federal, o oferecimento de representação E mais: em um crime de ação penal pública condicio‑
por representante legal.110 nada, se a vítima representar e o Ministério Público ficar
Trata-se da Súmula nº 594 do STF, que estabelece que inerte, poderá o ofendido ajuizar queixa substitutiva da
denúncia, desde que o faça no prazo legal.116
os direitos de queixa e de representação podem ser
exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por Eficácia objetiva e subjetiva da representação
seu representante legal. Nos crimes de ação penal pública condicionada, o ór‑
gão do Ministério Público pode oferecer denúncia contra
Quando o ofendido for declarado ausente por decisão ju‑ coautores ou partícipes da infração penal não referidos
dicial não haverá caducidade do direito de representação.111 na representação, por exemplo, quando descobertos pela
A representação é subordinada às regras de direito autoridade policial após a apresentação daquela peça pelo
material, sendo, portanto, o  prazo decadencial contado ofendido.117 Isso porque à ação penal pública condicionada
incluindo‑se o dia do início. também se aplica o princípio da obrigatoriedade. Assim,
Nos crimes de ação penal pública condicionada à re‑ a representação tem eficácia objetiva, em relação aos fatos
presentação, tendo a vítima ou seu representante legal delitivos, e, subjetiva, em relação a todos os coautores.
oferecido a representação dentro do prazo decadencial,
é irrelevante que a denúncia do órgão do Ministério Público Possibilidade de retratação da representação:
tenha sido apresentada após os seis meses fatais.112 Ainda que iniciado o inquérito policial, a representação,
no caso de ação penal pública a ela condicionada, não será
Forma da representação: irretratável.118
Não há a necessidade de a representação ser formal.113 Ocorrendo crime que enseje ação penal pública condicio‑
A representação pode ser efetivada ao representante do nada à representação, a retratação do ofendido somente po‑
Ministério Público por qualquer meio de manifestação, não derá ser recebida até a data do oferecimento da denúncia119.
se exigindo formalidades especiais. Pode ser oral ou escrita. Com efeito, nos termos do art. 25 do CPP, “a representação
Neste último caso, o documento não precisa ser apresentado será irretratável, depois de oferecida a denúncia”.120
com firma reconhecida. Destaque-se que a retratação é até a data do ofere‑
Nos crimes de ação penal pública condicionada à re‑ cimento e não do recebimento da ação penal, que pode
presentação, não se exige rigor formal na representação ocorrer em momento diverso.121
do ofendido ou de seu representante legal.114 Com efeito, Por outro lado, a retratação da retratação, que se equi‑
o parágrafo 1º do art. 39 do CPP determina que: para a uma nova representação, pode ser efetivada, desde
que dentro dos 6 meses do conhecimento da autoria delitiva.
A representação feita oralmente ou por escrito, sem
assinatura devidamente autenticada do ofendido, de Representação e inquérito policial:
seu representante legal ou procurador, será reduzida A representação é condição necessária para o início
a termo, perante o juiz ou autoridade policial, pre‑ da ação penal, bem como para a instauração do inquérito
sente o órgão do Ministério Público, quando a este policial.122
houver sido dirigida.
116
OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2004.
Embora seja peça informal, a representação conterá 117
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001.
todas as informações que possam servir à apuração do fato 118
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Admi‑
e da autoria (§ 2º do art. 39 do CPP). nistrativa/2009.
119
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ-GO/2012; Vunesp/TJ-SP/Juiz/
Se for apresentada por procurador, a procuração tem de Questão 42/Item III/2011; Fepese/Prefeitura de Florianópolis/Procurador/
conferir poderes especiais ao representante. Logo, exige po‑ Questão 71/Assertiva A/2011; IBFC/MPE-SP/Oficial de Promotoria/Questão 49/
deres especiais, quando assinada por procurador, a petição Assertiva B/2011; FCC/Procuradoria Geral do Estado de Roraima/Procurador
de queixa ou representação.115 do Estado/2006; OAB‑RS/2º Exame/2006; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004;
Cespe/3º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito
Assim, a representação criminal não exige formalidades e
Noções de Direito Processual Penal

Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Rio Gran‑
pode ser dirigida também ao juiz ou ao delegado de polícia. de do Norte); Cespe/1º Exame da Ordem/2004 (Espírito Santo); Delegado de
Polícia Civil da Bahia/2001; FCC/Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco/
Não vinculação do representante do Ministério Público Procurador do Estado/2004; Esaf/Procurador da Fazenda Nacional/2004; FCC/
Defensoria Pública do Estado do Maranhão/Defensor Público de 1ª Classe/2003;
à representação: Covest/MPE‑MT/Analista Jurídico/2004; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004;
Mesmo havendo representação, o  representante do Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; TJ‑RR/Analista Proces‑
Ministério Público tem sempre três opções: 1) denunciar; sual/2006; OAB‑PR/Exame 1/2007; OAB‑RS/2º Exame/2006; Fundação Cefet
Bahia/TJ‑BA/Atendente Judiciário/2006; OAB‑PR/Exame 1/2006; Vunesp/
110
Assunto cobrado na prova do TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001. OAB‑SP/128º Exame; OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑GO/3º Exame
111
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Admi‑ de 2006; OAB‑RO/40º Exame; FCC/TRF 5ª Região/Analista Judiciário/Área Judi‑
nistrativa/2009. ciária/2003; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997; Cespe/TJ‑PE/Oficial
112
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Delegado da Polícia Civil de de Justiça da 1ª Entrância/2001; Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006; FCC/
Roraima/2003. TCE‑AL/Procurador/2008; Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/2009. FCC/
113
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. DPE-MT/Defensor Público/Questão 18/Assertiva C/2009 e MS/TRE-SC/Analista
114
Assunto cobrado na provas do Cespe/3º Exame da Ordem/1ª Fase/2006 Judiciário/Questão 64/Assertiva C/2009.
(Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso 120
Assunto cobrado na prova: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário-Área Judi‑
do Sul, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte). ciária/2010/Questão 49/Assertiva C.
115
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acadepol/Delegado de Polícia de São 121
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova Prova/2009.
Paulo/2003 e Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001; OAB‑MS/79º Exame 122
Assunto cobrado na prova da FCC/TJ-SE/Analista Judiciário/Questão 73/
de Ordem/2004. Assertiva A/2009.

66
Em crime de ação penal pública condicionada à representa‑ o Ministro da Justiça poderá oferecê‑la a qualquer tempo, en‑
ção, não pode ser instaurado inquérito, por auto de prisão em quanto não estiver extinta a punibilidade, pela prescrição.127
flagrante ou portaria, sem a necessária representação da vítima. Uma vez feita a requisição, não pode o Ministro da Justiça
Apenas quando oferecida ou reduzida a termo a repre‑ se retratar da requisição apresentada. Não há previsão legal
sentação, a autoridade policial procederá a inquérito ou, para tanto. Assim, não existe a possibilidade de retratação
não sendo competente, remetê‑lo‑á à autoridade que o for da requisição.128 Entretanto, há divergência doutrinária sobre
(§ 3º do art. 39 do CPP). Nesse sentido, recebendo noticia a possibilidade de o Ministro da Justiça se retratar. Pacheco
criminis de crime em que a ação penal depende de repre‑ (2006, p. 226), admitindo a possibilidade de retratação até
sentação, a autoridade policial, depois de lavrar boletim de o oferecimento da denúncia, destaca que
ocorrência, deve aguardar a representação para instaurar
o inquérito policial.123 há posições contra (José Frederico Marques, Hélio
No entanto, cumpre observar que o delegado de polícia Tornagui, Fernando da Costa Tourinho Filho e Júlio
poderá prender o autor do crime em flagrante, mesmo sem Fabbrini Mirabete) e a favor da retratabilidade da
a referida representação.124 A prisão em flagrante difere da requisição (Damásio Evangelista de Jesus, Fernando
lavratura do auto de prisão em flagrante, peça que dá início A. Pedroso e José Alberto Romeiro).
ao inquérito policial.
Conforme já estudado, o inquérito, nos crimes em que a A requisição do Ministro da Justiça, exigida em lei, como
ação pública depender de representação, não poderá sem condição para o oferecimento de denúncia, não obriga o
ela ser iniciado.125 Ministério Público a promover a ação penal.129
Efetivada a representação perante órgão do Ministério
Ação Penal Privada
Público, se já houver elementos probatórios a autorizarem a
ação penal, já é possível oferecer a denúncia. Caso contrário,
Aspectos Gerais
a representação também pode ser enviada para a autoridade O legislador penal entendeu que alguns crimes são de
policial para que esta proceda às investigações. Com efeito, interesse exclusivo do próprio ofendido, cabendo a este
o § 5º do art. 39 do CPP dispõe que: propor ou não a ação penal. Assim, nem toda ação penal
deve ser proposta pelo Ministério Público.130
O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, A queixa é o instrumento pelo qual o titular da ação pe‑
se com a representação forem oferecidos elementos nal privada, a vítima ou seu representante legal, provoca o
que o habilitem a promover a ação penal, e, neste Estado a efetivar a tutela jurisdicional. A queixa é direcionada
caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. diretamente ao magistrado e não ao promotor.
Somente lei expressa pode estabelecer a legitimação
A representação, quando feita ao juiz ou perante este extraordinária do ofendido ou de terceiro, que, embora
reduzida a termo, será remetida à autoridade policial para possam movimentar o aparelho repressivo estatal, não
que esta proceda a inquérito (§ 4º do art. 39 do CPP). O juiz titularizam o ius puniendi em nome do Estado.131
também pode enviar a representação ao Ministério Público, No caso da ação penal privada, há substituição proces‑
eis que, nos termos do art. 40 do CPP, sual, pois o seu titular age em nome próprio, mas defende
interesse alheio que é o direito de punir do Estado.132 Embora
Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, defenda interesse do Estado, segue a ação penal privada
os  juízes ou tribunais verificarem a existência de caminhos autônomos, pois a vítima decide se ajuí­za ou não
crime de ação pública, remeterão ao Ministério a ação penal, e, mesmo ajuizada, pode desistir do prosse‑
Público as cópias e os documentos necessários ao guimento do processo.
oferecimento da denúncia. Sujeito ativo, como autor, no processo penal, é o Estado.
O Ministério Público, órgão estatal da pretensão punitiva
Ação Penal Pública Condicionada e Juizado Especial e da ação penal, é o sujeito ativo material e processual na
No Juizado Especial Criminal, a  composição civil, em relação jurídica que se forma com a instauração da instância
ação penal pública condicionada, acarreta a extinção da penal. Nos delitos em que cabe a ação penal privada, o que‑
punibilidade.126 relante atua como substituto processual, ocupa a posição
Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Mi‑ de autor, mas tão só sob o aspecto formal.133
nistro da Justiça A atividade do Estado na persecução do crime fica intei‑
Se houver determinação no tipo penal de que somente se ramente submissa à vontade da vítima. Tanto a fase judicial
procede mediante requisição, é necessária a intervenção do quanto a fase preliminar ao processo penal não podem ter
Ministro da Justiça, como se dá na hipótese de crime come‑ início sem que a vítima manifeste interesse para tanto.
Noções de Direito Processual Penal

tido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, Nos crimes que se processam mediante ação penal de
iniciativa privada, o  inquérito policial só será instaurado
§ 3º, b, do CP) e crimes contra a honra do Presidente da
após o requerimento de quem tenha qualidade para
República ou contra chefe de governo estrangeiro (art. 145,
intentá‑lo.134 Uma vez apresentado o requerimento, a auto‑
parágrafo único, do CP).
A titularidade da ação continua sendo do Ministério 127
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área
Público por meio da denúncia. Entretanto, deve ser apresen‑ Judiciária/2006; 20º Concurso Público para Procurador da República/2003;
tada requisição do Ministro da Justiça ao representante do OAB‑PR/Exame 1/2006 e Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substi‑
Ministério Público para este ajuizar a denúncia. tuto/2009.
128
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Defensoria Pública do Estado do
O Código de Processo Penal é omisso a respeito do prazo Maranhão/Defensor Público de 1ª Classe/2003 e Vunesp/OAB‑SP/129º Exame.
para o oferecimento da requisição, portanto, entende‑se que 129
Assunto cobrado na prova do TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto.
130
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004.
131
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 82/Item
123
FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007. I/2009.
124
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado Federal/2004. 132
Cespe/MPE‑TO/Oficial de Diligências/Especialidade: Institucional/2006.
125
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ‑SE/Analista Judiciá­rio/2004; 133
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/2009.
OAB‑RS/2º Exame/2006 e OAB‑RO/41º Exame; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça 134
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001;
da 1ª Entrância/2001. FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; OAB‑MS/79º Exame de
126
FGV/TJ‑AM/Serviços Notariais e de Registro/2005. Ordem/2004 e Vunesp/OAB‑SP/130º Exame.

67
ridade policial tem o dever de atuar. Além disso, nos crimes sem privar‑se dos recursos indispensáveis ao próprio susten‑
de ação penal privada, os autos deverão ser concluídos nos to ou da família.” É prova suficiente de pobreza o atestado da
mesmos prazos dos inquéritos que apuram os crimes que autoridade policial em cuja circunscrição residir o ofendido.
se processam por ação penal pública incondicionada.135 Se o querelante assinar a queixa juntamente com seu
Embora para a lavratura do auto de prisão em flagrante, advogado, dispensa‑se procuração com poderes especiais.
que inicia o inquérito policial, seja necessário requerimento No caso de sucessor, que tem vez em caso de morte ou de‑
da vítima, é cabível a prisão em flagrante em crime de ação claração de ausência da vítima, a ordem preferencial é a seguinte:
penal privada.136 Também é cabível, em tais crimes, a de‑ cônjuge, ascendente, descendente e irmão (art. 31 do CPP).
cretação de prisão preventiva.137 Assim, nos termos do art. 36,
Para que o crime seja de ação penal privada, deve o tipo
penal trazer tal exigência, o que ocorre quando o artigo do Se comparecer mais de uma pessoa com direito de
crime destaca que “somente se procede mediante queixa”, queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida,
como ocorre nos crimes contra a honra – injúria, difamação o parente mais próximo na ordem de enumeração
e calúnia (art. 145 do CP). constante do art. 31, podendo, entretanto, qualquer
Ainda como exemplos de crimes de ação penal privada há delas prosseguir na ação, caso o querelante desista
o crime de alteração de limites e o de usurpação de águas, da instância ou a abandone.144
praticados sem violência e quando a propriedade é particular
(art. 161, § 3º, do CP); o crime de dano simples, de dano Exige poderes especiais, quando assinada por procura‑
praticado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável dor, a petição de queixa ou representação.145 Desse modo,
para a vítima; de introdução ou abandono de animais em o art. 44 do CP determina que
propriedade alheia (art. 167 do CP); de fraude à execução
(art. 179, parágrafo único, do CP); de violação de direito au‑ A queixa poderá ser dada por procurador com po‑
toral (art. 186, I, do CP); de induzimento a erro ou ocultação deres especiais, devendo constar do instrumento
de impedimento para casamento (art. 236, parágrafo único, do mandato o nome do querelante e a menção do
do CP); e de exercício arbitrário das próprias razões, sem fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos
violência (art. 345, parágrafo único, do CP). dependerem de diligências que devem ser previa‑
Conforme entendimento do STF, o funcionário público mente requeridas no juízo criminal. 146
atingido em sua honra, em razão da função que exerce, tem
legitimidade alternativa para oferecer queixa‑crime, a des‑ As pessoas jurídicas têm legitimidade para propor ação
peito de haver previsão legal de que a ação penal, nesse penal privada147, o fazendo por meio de seu representante
caso, é pública, condicionada à representação do ofendido.138 legal (art. 37 do CPP).
O art. 33 do CPP determina que,
Titularidade da Ação Penal Privada
O art. 30 do CPP dispõe que “ao ofendido ou a quem Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente
tenha qualidade para representá‑lo caberá intentar a ação enfermo, ou retardado mental, e não tiver represen‑
privada”. Portanto, a ação penal privada poderá ser inten‑ tante legal, ou colidirem os interesses deste com os
tada mediante queixa, tanto pelo ofendido como por seu daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por
representante legal, ocasião em que serão denominados curador especial, nomeado, de ofício ou a requeri‑
querelantes.139 mento do Ministério Público, pelo juiz competente
Haverá nulidade absoluta no caso de queixa-crime pro‑ para o processo penal.
posta por amiga da vítima menor de 18 (dezoito) anos.140
A mulher casada poderá exercer o direito de queixa sem A título de exemplo, se o ofendido for retardado mental e
o consentimento do marido.141 colidirem os interesses dele com os de seu representante legal,
o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial,
Em crime de ação penal privada não pode haver denúncia
nomeado pelo juiz competente para o processo penal.148
do Ministério Público. Dessa forma, se determinado indiví‑ O prazo decadencial para o oferecimento de queixa
duo foi acusado, em juízo, pelo cometimento de um crime deve ser contado separadamente para o ofendido e para o
sujeito, exclusivamente, à ação penal privada, a peça de seu representante legal no caso de vítima menor, ainda que
acusação, seguramente, foi uma queixa.142 a data da ciência da autoria do crime tenha sido a mesma.
A queixa deve ser ajuizada por intermédio de advogado
(art. 44 do CPP), sendo necessário procuração com poderes
especiais, com menção do fato criminoso e do nome do Prazo para o Oferecimento da Queixa
querelado, para que se determine, eventualmente, responsa‑
Com relação à ação penal privada, o direito de queixa
bilidade por eventual denunciação caluniosa (art. 339 do CP).
deve ser exercido no prazo decadencial de 6 meses contados
Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da do conhecimento da autoria.149
Noções de Direito Processual Penal

parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado


para promover a ação penal143 (art. 32 do CPP). Conside‑ Aditamento pelo Ministério Público
rar‑se‑á pobre, nos termos dos §§ 1º e 2º do referido artigo, A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do
“a pessoa que não puder prover às despesas do processo, ofendido, poderá ser aditada pelo MP.150

135
Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001. 144
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área
136
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑RN/2004; Delegado de Administrativa/Questão 56/Item I/2011.
Polícia Civil da Bahia/2001 e Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. 145
Acadepol/Delegado de Polícia de São Paulo/2003.
137
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado Federal/2004. 146
FCC/Procuradoria Geral do Estado do Maranhão/Procurador do Estado da 3ª
138
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Classe/2003.
Judiciária/2007; Promotor‑DF/2002 e Cespe/AGU/Advogado da União/2004. 147
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Ava‑
139
Assunto cobrado na prova da OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004; OAB‑PR/ liador/2004; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997 e FCC/TCE‑AL/
Exame 1/2006; OAB‑PR/Exame 2/2006 e OAB‑SP/122º Exame de Ordem/2003. Procurador/2008.
140
FCC/TRE-AM/Analista Judiciário – Área Judiciária/Questão 54/Assertiva e/2010. 148
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009;
141
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avalia‑ Assunto cobrado: FCC/TJ-SE/Analista Judiciário/Questão 73/Assertiva E/2009.
dor/1997 e FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. 149
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ-GO/2012 e Movens/PC-PA/
142
Assunto cobrado na prova da OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2004. Delegado/Questão 30/Assertiva B/2009.
143
Assunto cobrado na seguintes provas: OAB‑Nordeste/2º Exame de Or‑ 150
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Admi‑
dem/2004; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005. nistrativa/2009.

68
O Ministério Público não pode ajuizar a ação quando se repressivo criminal estatal contra seu agressor, ficando
tratar de hipótese de crime de ação penal privada. No Brasil, contudo reservada privativamente, sempre, ao  Estado,
portanto, não há a possibilidade de ação penal adesiva, que a possibilidade de executar a pena deste último, se con‑
ocorre quando o representante do Ministério Público pode denado.159
propor a ação mesmo em relação aos crimes sujeitos à ação Ao ofendido é dada a liberdade de julgar sobre a conveni‑
penal privada, como ocorre no Direito alemão (PACHECO, ência ou não da propositura da ação penal. A propositura da
2006, p. 207). ação penal é mera faculdade e não uma obrigação. A vítima
Mesmo sendo a ação penal privada, o Ministério Público pode renunciar ao direito de queixa se quiser.
deve intervir obrigatoriamente em todos os atos do processo A ação penal de iniciativa privada rege‑se pelo princípio
como fiscal da lei, sob pena de nulidade relativa, a ser alega‑ da oportunidade, isto é, o legitimado decide se exercita ou
da no momento oportuno, devendo‑se, ainda, demonstrar não o direito de ação, de acordo com sua conveniência.160
prejuízo (CPP, art. 564, III, d).
O Ministério Público, na ação penal privada subsidiária Princípio da Disponibilidade
da pública, não pode deixar de funcionar quando discordar Após o início do processo, com a materialização do exer‑
dos termos da queixa.151 cício do direito de queixa, pode o querelante desistir do seu
O Ministério Público tem poderes de atuação, poden‑ prosseguimento, seja por meio do perdão (arts. 51 a 58 do
do acrescentar à queixa dados acessórios. Nos termos do CPP), seja pela perempção, consubstanciada no abandono
art. 45 do CPP, do processo (art. 60, CPP). Assim, a disponibilidade da ação
penal privada manifesta‑se após a propositura por meio da
A queixa, ainda quando a ação penal for privativa perempção e do perdão.
do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério O princípio da disponibilidade refere‑se à ação penal
Público, a quem caberá intervir em todos os termos de iniciativa privada.161
subsequentes do processo.152
Princípio da Indivisibilidade
O prazo para o aditamento por parte do Ministério Pú‑ Em crime de ação penal privada, o ofendido terá de for‑
blico é de 3 dias (art. 46, § 2º, do CPP). mular a queixa, obrigatoriamente, contra todos os autores,
A intervenção do Ministério Público na ação penal coautores ou partícipes da prática delituosa, em obediência
privada se dá na qualidade de fiscal da lei, cabendo‑lhe a ao princípio da indivisibilidade da ação (art. 49, CPP).162
tarefa de aditar a queixa, para corrigir defeitos ou suprir Ou processa todos ou não processa nenhum.
omissões, e intervir em todos os termos do processo.153 Portanto, de acordo com o art.  48 do CPP, “a queixa
Na ação penal privada, o Ministério Público tem legiti‑ contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo
midade para recorrer buscando agravar a pena.154 de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisi‑
No caso de queixa subsidiária, o  Ministério Público bilidade163”. Tendo verificado o Ministério Público que foi
poderá aditá‑la, repudiá‑la ou oferecer denúncia substitu‑ proposta ação penal privada por meio de queixa dirigida
tiva.155 Assim, tratando‑se de ação penal privada ajuizada em a três dos quatro ofensores conhecidos, em virtude de
face da inércia do representante do Ministério Público, são perdão concedido expressamente, deverá manifestar‑se
ainda mais amplos os poderes dele, pois, originariamente, pela renúncia do direito de queixa contra o excluído, que
trata‑se de crimes de ação penal pública. De qualquer forma,
o princípio da oficialidade não legitima o simples repúdio beneficiará a todos os ofensores.164
da queixa subsidiária pelo procurador da República.156 Caso O princípio da indivisibilidade é previsto expressamente
vá oferecer denúncia substitutiva, deve indicar o porquê da para as hipóteses de ação penal de iniciativa privada.165
inépcia da queixa subsidiária.
O prazo para o aditamento da queixa será de 3 (três) Princípio da Intranscendência
dias, contado da data em que o órgão do Ministério Pelo princípio da intranscendência, a ação penal deve
Público receber os autos, e, se este não se pronunciar ser proposta, por um princípio lógico, em relação à pessoa
dentro do tríduo, entender‑se‑á que não tem o que aditar, ou às pessoas a quem se imputa a prática do ilícito.166 Isso
prosseguindo‑se nos demais termos do processo157 (§ 2º em decorrência das disposições do art. 5º, XLV, da CF/1988,
do art. 46 do CPP). que estabelece que

Princípios que Regem a Ação Penal Privada nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
São princípios que regem a ação penal de iniciativa podendo a obrigação de reparar o dano e a decre‑
privada: oportunidade, disponibilidade e indivisibilidade.158 tação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
Noções de Direito Processual Penal

estendidas aos sucessores e contra eles executadas,


Princípio da Oportunidade ou Conveniência até o limite do valor do patrimônio transferido.
O princípio da oportunidade da ação penal privada
transfere ao particular a decisão de movimentar o aparato Dessa forma, o princípio da intranscendência se aplica
tanto à ação penal pública quanto à ação penal privada.
151
FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Área Judiciária/Questão 57/Assertiva A/2011.
152
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Área 159
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPDFT/28º Concurso para Promo‑
Judiciária/Questão 57/Assertiva E/2011 e Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 42/Item tor/2009 e MPDFT/28º Concurso/Promotor - Nova Prova/2009.
IV/2011. 160
OAB‑PR/2º Exame de Ordem/2004.
153
Assunto cobrado na provas do Cespe/TRE‑MA/Analista Judiciário/Área Judiciá­ 161
OAB‑RJ/22º Exame de Ordem/2003.
ria/2005. 162
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004
154
MPDFT/28º Concurso/Promotor - Nova Prova/2009. e FCC/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007.
155
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto. 163
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Admi‑
156
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/1997. nistrativa/2009.
157
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/ 164
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova
Área Judiciária/2007; FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciá‑ Prova/2009.
ria/2007 e Promotor‑BA/2004. 165
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004;
158
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑R/32º Exame. FCC/TJ-PI/Analista Procurador da República/2003 e OAB‑RJ/22º Exame de Ordem/2003.
Judiciário – Área Administrativa/Questão 56/Assertivas A, B, C, D e E/2009. 166
OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004.
Espécies de Ação Penal Privada Como exemplo de crime que somente se procede
Têm‑se as seguintes espécies de ação penal privada: 1) mediante ação penal privada personalíssima, há o de indu‑
Ação penal privada genérica ou propriamente dita (ação pe‑ zimento a erro essencial e ocultação de impedimento ao
nal privada exclusiva ou ação penal exclusivamente privada); casamento (art. 236 do CP).
2) Ação penal privada personalíssima; 3) Ação penal privada
subsidiária da pública. Ação Privada Subsidiária da Pública (Ou supletiva)
Trata‑se de modalidade de ação penal secundária,
Ação Penal Privada Genérica (Exclusivamente privada, que ocorre quando a lei estabelece um titular ou uma
comum, principal ou propriamente dita) modalidade de ação penal para determinado crime, mas
A ação penal privada genérica ou propriamente dita mediante o surgimento de circunstâncias especiais, prevê,
poderá ser intentada mediante queixa, tanto pelo ofendido secundariamente, uma nova espécie de ação penal para
como por seu representante legal167. aquela mesma infração.173
Nesse tipo de ação, na hipótese de morte do ofendido, Caberá ação penal privada subsidiária da pública se
o  direito de prosseguir na ação passará ao cônjuge, as‑ o representante do parquet se mantiver inerte, não ofe‑
cendente, descendente ou irmão.168 Quando for decretada recendo a denúncia, no prazo legal, desde que não tenha
judicialmente a ausência do ofendido ou mesmo por ter a ele, tempestivamente, pugnado pela necessidade de novas
vítima falecido, os seus sucessores poderão iniciar o processo diligências a serem realizadas pela autoridade policial,
ou dar‑lhe continuidade, se este já estiver em andamento nem tenha se manifestado pelo arquivamento dos autos.174
(art. 31 do CPP). Conforme define o professor Nestor Távora (2009, p.
Os sucessores são: cônjuge, ascendente, descendente 147), a ação penal secundária175 ocorre quando “as cir‑
e irmão. Trata‑se de ordem preferencial. Havendo cônjuge, cunstâncias aplicadas ao caso fazem variar a modalidade de
o direito de ajuizar queixa ou prosseguir no processo lhe é ação a ser intentada”, como no exemplo dos crimes contra
dado com prioridade sobre os demais legitimados. a liberdade sexual, em que ação penal, em regra, é de ação
Na ação penal exclusivamente privada, o juiz não deve penal pública condicionada à representação, mas será pública
limitar‑se à oitiva das testemunhas arroladas pelas partes,
incondicionada será volência real.
pois, ainda que a ação seja de iniciativa do ofendido, cabe
O direito de ação penal privada subsidiária da publica
ao órgão julgador a iniciativa da inquirição de outras tes‑
está previsto na Constituição bem como no Código de
temunhas.169
Processo Penal.176
Ação Penal Privada Persona­líssima A Constituição Federal prevê, expressamente, a  ação
A ação penal privada personalíssima somente pode ser penal privada subsidiária da pública.177 Com efeito, o art. 5º,
intentada pelo ofendido, não havendo sucessão por morte LIX, da CF/1988 determina que “será admitida ação privada
ou ausência.170 Assim, em caso de morte, ou declaração nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no
de ausência por decisão judicial da vítima, não haverá a prazo legal”.
transmissão do direito de ajuizar queixa aos sucessores, não Regulamenta referido dispositivo o art. 29 do CPP, no qual
podendo estes, ainda, prosseguir no processo caso tenha se ressalta ainda que cabe ao Ministério Público aditar a quei‑
sido iniciado pela vítima. xa, repudiá‑la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em
Dessa forma, no caso de crime de induzimento a erro todos os termos do processo, fornecer elementos de prova,
essencial e ocultação de impedimento, previsto no art. 236 interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
do Código Penal, a ação penal não poderá ser intentada querelante, retomar a ação como parte principal.
diante do falecimento do ofendido, uma vez que tal crime Diante da inércia do Ministério Público a ação penal
é de ação privada personalíssima.171 O trânsito em julgado privada subsidiária da pública pode ser ajuizada pelo
da sentença é condição de procedibilidade da ação penal. ofendido ou por quem tenha qualidade para representá‑lo,
Portanto, se a vítima ajuíza uma queixa e, no curso do desde que a ação penal pública não tenha sido intentada
processo falece ou vem a ser declarada ausente por decisão no prazo legal.178
judicial, o direito de intentar a ação não se transmite ao côn‑ Nos crimes decorrentes de relação de consumo, conso‑
juge, ascendente, descendente ou irmão da vítima. Assim, se ante as disposições constantes do art. 80, c/c art. 82, III, da
José da Silva foi vítima do crime de adultério e propôs ação Lei nº 8.078/1990, as entidades e os órgãos da Administração
penal privada, mas, por uma fatalidade, veio a falecer no Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
curso do processo, deverá o juiz extinguir o processo, sem jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses
julgamento do mérito.172 Referida assertiva não tem mais e direitos protegidos pelo CDC, bem como as associações
aplicação, eis que o art. 240 do Código Penal, que previa o legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam
crime de adultério, foi revogado pela Lei nº 11.106/2005. entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos
Noções de Direito Processual Penal

A morte ou ausência da vítima é causa extintiva da protegidos pelo CDC, podem ajuizar ação penal subsidiária
punibilidade. em caso de inércia do Ministério Público.
Não se admite a ação penal privada subsidiária nos
167
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004; crimes de ação pública após ser decretado o arquivamento
OAB‑PR/Exame 1/2006; OAB‑PR/Exame 2/2006 e OAB‑SP/122º Exame de do inquérito policial ou das peças de informação pelo juiz,
Ordem/2003.
168
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ‑AM/Serviços Notariais e de acolhendo a pedido do órgão do MP.
Registro/2005; FCC/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007;
OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑PR/Exame 2/2006; FCC/TJ‑PE/
Analista Judiciário/2007; OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2004 e FCC/TCE‑AL/ 173
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2008.
Procurador/2008. 174
Cespe/DPE-PI/Defensor Público/Questão 37/Assertivas A, B, C, D e E/2009.
169
Assunto cobrado na prova do Cespe/MPE‑TO/Analista Ministerial/Área Ciên‑ 175
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009.
cias Jurídicas/2006. 176
Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009.
170
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 42/Item 177
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004
V/2011; Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de e FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/Área Direito/2004.
1ª Classe/2003; OAB‑SP/126º Exame de Ordem/2005; OAB‑MS/79º Exame 178
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/
de Ordem/2004 e Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009. Área Judiciária/2006; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005; Cespe/Defensoria
171
Assunto cobrado nas seguintes provas: DRS/Acadepol/Polícia Civil do Estado de Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; OAB‑PR/
Minas Gerais/Delegado de Polícia/2007 e OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2003. Exame 1/2007; OAB‑PR/Exame 2/2006; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 2ª
172
OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005. Entrância/2001; OAB‑PR/Exame 1-2006.

70
Assim, quando o Ministério Público pede arquivamento E, uma vez oferecida a queixa, a negligência do quere‑
da representação, descabe o ajuizamento de ação penal lante não causa a perempção, devendo o Ministério Público
privada subsidiária da ação penal pública, já que não houve retomar a ação como parte principal.186 Pode, entretanto,
omissão do Ministério Público.179 o querelante, quando for negligente e tiver perdido a titu‑
Com efeito, é inadmissível a ação penal privada subsi‑ laridade da ação, habilitar‑se como assistente da acusação.
diária da pública caso o Ministério Público já tenha pedido Vejamos o caso a seguir: A viúva de Normando Reis, diante
o arquivamento do inquérito ou das peças de informação. da inércia do Ministério Público, o qual ultrapassou o prazo
O mesmo se diga quando já tenha oferecido a denúncia ou legal de dar a denúncia e não o fez, ingressou em juízo com
solicitado novas diligências, no prazo legal, por não haver uma queixa, movendo, desta maneira, uma ação penal de
em tais casos inércia do parquet. iniciativa privada subsidiária da pública. Por negligência
Se o Ministério Público, ao invés de denunciar ou reque‑ da autora da ação, o Ministério Público retomou a ação
rer o arquivamento, pedir novas diligências, após o retorno como parte principal, passando, desta maneira, a  ser o
dos autos da delegacia, será aberto novo prazo ao Ministério dominus litis. Nesse caso, a viú­va pode retornar ao prélio
Público para o oferecimento da denúncia. Caso não observe como assistente do Ministério Público.187
o prazo, abre‑se a possibilidade de a vítima ajuizar a ação Não se admite o perdão na ação penal privada subsi‑
penal privada subsidiária da pública. diária da pública.188
Como a ação penal privada subsidiária da pública trata
de crimes de ação penal pública, continuam sendo amplos Prazo para o Oferecimento da Queixa
os poderes do Ministério Público eis que continuam sendo A regra geral dispõe que o ofendido decairá do direito
aplicáveis os princípios da ação penal pública. O art. 29 do de queixa se não o exercer dentro do prazo de 6 meses,
CPP determina que pode o contado do dia em que vier a saber quem é o autor do
crime189 (art. 38 do CPP). Referido prazo também tem in‑
Ministério Público aditar a queixa, repudiá‑la e ofere‑ cidência em relação aos sucessores do ofendido que vier
cer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos a óbito ou for declarado ausente, nos termos do § 1º do
do processo, fornecer elementos de prova, interpor art. 24 e 31, do CPP.
recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do No entanto, o  prazo para oferecimento de queixa
querelante, retomar a ação como parte principal. substitutiva de denúncia, em caso de ação penal privada
subsidiária da pública, é de seis meses, a contar da data em
Assim, em caso de ação privada subsidiária da pública, que se esgotar o prazo para o Ministério Público oferecer
o  Ministério Público pode aditar a queixa, repudiá‑la e denúncia190 (art. 38 do CPP).
oferecer denúncia substitutiva.180 O Ministério Público se Ultrapassado o prazo de seis meses sem o oferecimento
manifesta após a manifestação do titular de ação penal da queixa, verifica‑se a decadência, que é causa extintiva da
subsidiária da pública.181
punibilidade. Não se verifica decadência no caso de ação
A decadência, fator extintivo da punibilidade no proces‑
penal privada subsidiária da pública, uma vez que o repre‑
so penal, como perda do direito de propor a ação penal,
sentante do Ministério Público pode ajuizar a ação, enquanto
cabe tanto na ação privada exclusiva como na ação privada
não prescrito o crime.
subsidiária e na pública condicionada.182 Entretanto, na
Em caso de crime continuado, o prazo da queixa é con‑
ação penal privada subsidiária da pública se se entender
tado isoladamente em relação a cada delito.
que o não ajuizamento da queixa subsidiária no prazo de 06
meses contados da inércia do ministério público configura Se o crime for permanente, o início do prazo é de quando
decadência, esta não extingue a punibilidade, eis que o mi‑ a vítima toma conhecimento da autoria do fato, não impor‑
nistério público pode propor a ação penal pública enquanto tando a data da cessação da atividade delitiva.
o crime não tiver prescrito. O prazo de decadência para o exercício do direito de
Na ação penal privada subsidiária da pública, o ofen‑ queixa ou representação não deve ser suspenso pela ins‑
dido dispõe de prazo decadencial para propor a queixa tauração de inquérito policial.191
subsidiária, diante da inércia do Ministério Público.183 Tal Não corre o prazo até a vítima completar 18 anos,
prazo é de 6 meses, a contar da data em que se esgotar o quando o representante da vítima não ajuizar a queixa.
prazo para o Ministério Público oferecer denúncia.184 Isso porque o prazo decadencial para o oferecimento de
Já o prazo para oferecimento de denúncia é de cinco dias, queixa ou de representação deve ser contado separada‑
estando o indiciado preso, ou de quinze dias, estando solto. mente para o ofendido e para o seu representante legal,
A não intervenção do Ministério Público em todos os ainda que a data da ciência da autoria do crime tenha
sido a mesma.192
Noções de Direito Processual Penal

termos do processo por crime de ação penal privada sub‑


sidiária acarreta nulidade relativa.185
186
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPU/Analista/Área Proces‑
179
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área sual/2007; Acadepol/Delegado de Polícia de São Paulo/2003; FCC/Pro‑
Judiciária/2007; Cespe/Promotor‑AM/2001; Vunesp/OAB‑SP/130º Exame e curadoria Geral do Estado de Pernambuco/Procurador do Estado/2004 e
Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001 e FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão Promotor‑RN/2004.
18/Assertiva E/2009. 187
Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor Público/2002.
180
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Procuradoria Geral do Estado de 188
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJDF/Analista Judiciário/Área Judiciária –
Roraima/Procurador do Estado/2006; Cespe/Defensoria Pública do Estado de Atividade Processual/2003.
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame e 189
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Procuradoria Geral do Estado de
FCC/MPU/Analista/Área Processual/2007. Roraima/Procurador do Estado/2006; FCC/Procuradoria Geral do Estado de
181
Promotor‑AP/2005. Pernambuco/Procurador do Estado/2004; TRF 4ª Região/Juiz Federal Substitu‑
182
FCC/TJ-PI/Analista Judiciário – Escrivão Judicial/Questão 47/Assertivas A, B, to; OAB‑SP/124º Exame de Ordem/2004; OAB‑RJ/32º Exame; Cespe/1º Exame
C, D e E/2009. da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco,
183
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2004. Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo); Vunesp/OAB‑SP/128º
184
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador e Exame; OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004; Vunesp/OAB‑SP/130º Exame.
MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. 190
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
185
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Ava‑ 191
Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004.
liador/2004; OAB‑PR/2º Exame de Ordem/2004 e FCC/MPU/Analista/Área 192
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avalia‑
Processual/2007. dor/2004 e Promotor‑AP/2005.

71
Ação Penal nos Crimes Contra a Liberdade Sexual e Assim, se determinada mulher tivesse sido vítima de
Contra Pessoa Vulnerável estupro praticado mediante violência real e não ofertasse
a representação, não faltaria condição de procedibilidade
A Lei nº 12.015, de 2009, trouxe alteração em relação para a instauração da ação penal, uma vez que a ação penal
à persecução penal em relação aos antigos crimes contra neste caso seria pública incondicionada.195
os costumes. Por outro lado, o art. 225, § 1º, II, do CPP, com a redação
Com a lei, tem‑se os seguintes crimes contra a liberdade anterior à Lei nº 12.015/2009, estabelecia que se o crime
sexual: fosse cometido com abuso do pátrio poder, ou da qualidade
1) estupro e atentado violento ao pudor que foram amal‑ de padrasto, tutor ou curador a ação seria pública incon‑
gamados em única figura penal, o art. 213 do Código Penal; dicionada. Referida disposição não foi renovada, eis que,
2) violação sexual mediante fraude (art. 215 do Código agora, se o crime for cometido contra menor de 18 anos ou
Penal); e pessoa vulnerável (contra menor de 14 (catorze) anos ou
3) assédio sexual (art. 216-A do Código Penal). contra alguém que, por enfermidade ou deficiência mental,
Têm‑se, ainda, os crimes sexuais contra vulnerável: não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
1) estupro de vulnerável (art. 217-A; ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resis‑
2) corrupção de menores (art. 218 do Código Penal); tência (art. 217 do CP).
3) satisfação de lascívia mediante presença de criança Ressalte-se, ainda, que o art. 232 do ECA estabelece ser
ou adolescente (art. 218-A, do Código Penal); crime de ação penal publica incondicionada submeter criança
4) favorecimento da prostituição ou outra forma de ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a
exploração sexual de vulnerável (art. 218-B). vexame ou a constrangimento. Nos termos do art. 101 do
Nos termos do art. 225 do Código Penal, com a redação Código Penal, que trata da ação penal no crime complexo,
dada pela Lei nº 12.015/2009, nos crimes acima definidos, estabelece que quando a lei considera como elemento ou
procede‑se mediante ação penal pública condicionada à re‑ circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, cons‑
presentação. Desta forma, agora, o MP possui legitimidade tituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde
para propor ação penal pública condicionada à representa‑ que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por
ção pela suposta prática do delito de estupro ainda quando, iniciativa do Ministério Público.
não obstante a pobreza da vítima, o estado-membro possua
DPE devidamente aparelhada.193 Institutos Específicos de Ação Penal Privada
Entretanto, a ação se iniciará mediante ação penal pública
incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou Renúncia
pessoa vulnerável. A renúncia ao direito de queixa tem lugar quando,
Não há expressa previsão legal de que, nos crimes durante o prazo decadencial de 6 meses do conhecimento
de estupro ou de atentado violento ao pudor praticados da autoria, o ofendido abdica do direito de oferecer a ação
mediante violência física real, a ação penal será pública penal. Assim, é possível a renúncia no caso de ação penal
incondicionada.194 privada.196
Entretanto, em sendo os crimes cometidos em sua for‑ Admite‑se a renúncia tácita no processo penal brasilei‑
ma qualificada, ou seja, se resultar lesão corporal grave ou ro.197 Ocorre, por exemplo, quando o ofendido pratica ato
morte, a ação penal será pública incondicionada. Trata-se da incompatível com o direito de queixa, como passar a namorar
ação penal em crime complexo. O art. 101 do Código Penal com o autor de uma calúnia. O recebimento de indenização,
estabelece que, de acordo com o Código Penal, não caracteriza renúncia
tácita, diversamente do que ocorre nos delitos aos quais
quando a lei considera como elemento ou circuns‑ se aplique a Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais
tâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, cons‑ Criminais).198
tituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, Aury Lopes (2008) destaca que
desde que, em relação a qualquer destes, se deva
proceder por iniciativa do Ministério Público. Também deve ser considerado como renúncia o pedi‑
do de arquivamento do inquérito policial (instaurado
Trata-se da ação penal pública extensiva. para apuração de um delito de iniciativa privada) feito
pelo ofendido ao juiz.
Em relação ao estupro e atentado violento ao pudor, que
podem ser cometidos mediante violência ou grave ameaça, Em matéria de ação penal, a renúncia tácita e o perdão
Noções de Direito Processual Penal

tácito admitirão todos os meios de prova.199


se houver lesão corporal (violência real), ainda que leve, o
A renúncia poderá também ser expressa, quando feita
STF, por meio de sua Súmula nº 608, entende que: “No crime
verbalmente ou por escrito pelo ofendido. A renúncia
de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal
expressa constará de declaração assinada pelo ofendido,
é pública incondicionada”. Referida disposição também tem
por seu representante legal ou procurador com poderes
aplicação para a figura do atentado violento ao pudor, que
especiais200 (art. 50 do CPP).
agora foi colocado na mesma figura típica do estupro (art.
É comum haver confusão entre os institutos da renúncia
213 do CP).
e decadência do direito de queixa. A renúncia pressupõe
Destaque-se que o STF tem o entendimento, no sentido
de que, tendo havido lesão corporal ainda que leve, continua 195
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-AP/Analista Judiciário/Área
em vigor a Súmula nº 608 daquela Corte (STF, HC nº 72.088/ Judiciária/2003-2004 e OAB-RJ/26º Exame de Ordem/Prova 1ª Fase/2004.
GO, Rel. Min. Moreira Alves, Primeira Turma, Julgamento: 196
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Procurador da Fazenda Nacio‑
nal/2004 e OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004.
14/3/1995). 197
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004 e
NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001.
193
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/ 198
OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004.
Questão 104/2009. 199
FGV/TJ‑AM/Serviços Notariais e de Registro/2005.
194
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova Prova/2009. 200
NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001.

72
conduta da vítima, expressa ou tácita, no prazo decadencial A aceitação do perdão fora do processo constará de
de seis meses. Se nada fizer não resta configurada renúncia, declaração assinada pelo querelado, por seu repre‑
mas sim decadência. Entretanto, vejamos exemplo trazido sentante legal ou procurador com poderes especiais.
por banca de concurso: Nei, agente comunitário de saúde
do Distrito Federal, foi acusado de cometer crime contra O perdão judicial pode ser expresso ou tácito.207
a honra de Maria, sua colega de trabalho. Acerca dessa Será expresso, quando efetivado em algum documento
situação hipotética, caso Maria resolva não se manifestar ou mesmo quando dado verbalmente perante o juiz ou
quanto à sua intenção em ver aberta a instrução processual, testemunhas.
ter-se-á como ocorrida a renúncia, que é forma de extinção Será tácito, quando resultar da prática de ato incompa‑
da punibilidade antes da instauração da ação penal.201 Ora, tível com a vontade de prosseguir com a ação penal, sendo
na hipótese trazida, em que não há qualquer manifestação, admitidas todas as modalidades de prova para sua compro‑
mas sim resta materializada o fenômeno da decadência. vação (art. 57 do CPP).
A renúncia ao exercício do direito de queixa é pré‑pro‑ O acordo para a composição dos danos civis não implica
cessual, ou seja, só é cabível antes da instauração da ação em perdão do ofendido nos termos do art. 74, parágrafo
penal.202 único da Lei nº 9.099/1995.208 Com efeito, aplica-se o insti‑
Nos termos do art. 49 do CPP, “a renúncia ao exercício tuto da renúncia e não do perdão.
do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, O perdão concedido a um dos querelados será apro‑
a todos se estenderá” 203. veitado para todos, no entanto, não produzirá efeito em
Além disso, no parágrafo único do art. 50 do CPP consta relação ao que o recusar209 (art. 50 do CPP).
que O perdão é ato bilateral, ou seja, só produzirá efeitos se
aceito pelo querelado. Caso o querelado não aceite o perdão,
A  renúncia do representante legal do menor que não se extinguirá a punibilidade.
houver completado dezoito anos não privará este do Nas ações penais privadas, o perdão do ofendido, a
direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá despeito da disponibilidade que as rege, não dispensa a
o direito do primeiro.204 aceitação pelo ofensor e não produz efeitos ipso jure eis
que apenas o juiz pode decretar extinta a punibilidade.210
No entanto, em face de a maioridade civil se dar, agora, O fato do perdão, para produzir seus efeitos, impres‑
aos 18 anos, conforme determinação do Novo Código Civil, cindir da aceitação do réu, não retira a potestatividade do
referida disposição do Código de Processo Penal não mais direito de exercê-lo, por parte da vítima.211
subsiste. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos
A renúncia é ato unilateral, de sorte que não necessita autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de 3 dias,
de aceitação por parte do autor do fato. se o aceita. O art. 58 do CPP estabelece ainda que deve o
querelado, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu
Perdão silêncio importará aceitação. Assim, analisemos a seguinte
Admite‑se o perdão somente nos crimes de ação situação hipotética: Roberto foi acusado, em juízo, pelo
privada, e tal instituto tem o condão de extinguir a puni‑ cometimento de um crime sujeito, exclusivamente, à ação
bilidade.205 penal privada. No caso em questão, recebida a peça de
O perdão só é admitido depois de formada a relação acusação, se o ofendido vier a conceder perdão a Roberto,
processual, tratando‑se de fenômeno processual. Entretanto, o juiz não deverá extinguir a ação penal, se Roberto recusar
uma vez iniciado o processo pelo recebimento da queixa e o perdão.212
citação do querelado, o perdão pode ser dado nos autos do Não se esqueça: a aceitação do perdão pode ser tácita
processo ou de forma extraprocessual, devendo, em qual‑ ou expressa.213
quer caso, ser reconhecido pelo juiz, uma vez que somente A lei processual penal exige que o advogado ou mesmo o
este pode declarar extinta a punibilidade. Por isso, pode‑se procurador tenham poderes especiais para aceitar o perdão
afirmar que o perdão do ofendido, nos crimes de ação penal do ofendido214 (art. 55 do CPP).
privada, é sempre processual.206 O art. 53 do CPP determina, ainda, que se colidirem os
Do perdão, quando dado de forma extraproces­sual, deve interesses do representante com os do querelado, a acei‑
constar declaração assinada pelo ofendido, por seu repre‑ tação do perdão caberá ao curador que o juiz lhe nomear.
sentante legal ou procurador com poderes especiais (art. 56
do CPP). É o que estabelece o art. 59 do CPP: 207
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Admi‑
nistrativa/2009.
208
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promotor/
2009.
Noções de Direito Processual Penal

201
Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 26/Assertivas A, B, C, D e 209
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑Nordeste/2º Exame de Or‑
E/2009. dem/2004; Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2007; FCC/TRF
202
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/ 1ª Região/Analista Judiciário/Judiciária/2001; Cespe/Defensoria Pública do
Área Judiciária/2001; Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; FCC/TRF 1ª Região/
Cespe/AGU/Advogado da União/2002 e Cespe/AGU/Procurador Federal de Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; Cespe/TJDF/Oficial de Justiça
2ª Categoria/2004. Avaliador/1997; OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004; OAB‑PR/1º Exame de
203
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Procuradoria Geral do Estado Ordem/2004; OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004; OAB‑MS/79º Exame de
de Roraima/Procurador do Estado/2006; OAB‑Nordeste/2º Exame de Or‑ Ordem/2004; Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009 e
dem/2004; Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2007; FCC/TRF MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
1ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2001; OAB‑Nordeste/2º Exame 210
Assunto cobrado na prova do Cespe/MPE-SE/Promotor Substituto/2010/
de Ordem/2004 e FGV/TJ‑AM/Serviços Notariais e de Registro/2005. Questão 14/Assertiva A.
204
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciá­ 211
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor - Nova
rio/Área Judiciária/2001 e UFRJ/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Prova/2009.
Janeiro/2001. 212
OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2004.
205
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado de 213
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004;
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/3º Exame da Ordem/2006 Cespe/TJDF/Oficial de Justiça Avaliador/1997 e TRF 3ª Região/Juiz Federal
(Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso Substituto.
do Sul, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte); Cespe/OAB/3º 214
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004;
Exame de Ordem/2007 e Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007. Acadepol/Delegado de Polícia de São Paulo/2003; OAB‑GO/1º Exame de
206
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/1º Exame da Ordem/2004 Ordem/2005; Promotor‑AP/2005; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005 e
(Espírito Santo); OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004. FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006.
Não cabe perdão pelo ofendido em caso de ação penal a qualquer ato do processo a que deva estar presente222
privada subsidiária da pública215. (art. 60, inciso III, do CPP). A título de exemplo, tratando‑se
O perdão pode ocorrer mesmo após proferida a sentença de ação penal privada por crime de menor potencial ofen‑
condenatória, desde que a sentença não tenha transitado sivo, a ausência injustificada do querelante e de seu advo‑
em julgado (art. 106, § 2º, do Código Penal). gado, na audiência de instrução e julgamento, ocasionará
Os arts. 52 e 54 do CPP não têm mais aplicação, uma vez a perempção, que é causa de extinção da punibilidade.223
que o novo Código Civil equiparou a capacidade civil com a A perempção ocorrerá também quando o querelante,
penal, sendo o indivíduo capaz, em ambos os casos, quando após o início da ação, deixar de promover o andamento
completa 18 anos. do processo durante 30 dias seguidos224 (art. 60, inciso I,
do CPP).
Distinção entre Perdão e Renúncia Nos casos em que somente se procede mediante quei‑
A diferença entre a renúncia e o perdão nos crimes de xa, considera‑se perempta a ação quando, falecendo o
ação penal privada é que a renúncia ocorre antes de ser querelante, não comparecer em juízo para prosseguir no
apresentada a queixa e o perdão, depois da formulação processo, dentro do prazo de 60 dias, qualquer pessoa a
da queixa.216 Diz‑se, por isso, ser a renúncia fenômeno quem couber fazê‑lo225 (art. 60, inciso II, do CPP).
pré‑processual e o perdão fenômeno processual. Considerar‑se‑á perempta a ação penal quando, sendo
São institutos exclusivos da ação penal exclusivamente o querelante pessoa jurídica, nos casos em que somente
privada a renúncia e o perdão extraprocessual.217 Tais insti‑ se procede mediante queixa, a empresa se extinguir sem
tutos são também aplicáveis às ações penais personalíssimas. deixar sucessor226 (art. 60, inciso IV, do CPP).
A referência a perdão extraprocessual tem lugar quando o Também se dá a perempção se o querelante, em pro‑
perdão é dado fora da relação processual, como declaração cesso por crime de ação penal privada, deixar de formular
efetivada por escrito. Entretanto, para valer como causa de pedido de condenação nas alegações finais227. Assim, o juiz
extinção do processo, tem que ser juntado perdão extrapro‑ não poderá proferir sentença condenatória se o querelante
cessual ao processo e ser reconhecido pelo juiz como causa tiver formulado pedido de absolvição nas alegações finais.
de extinção de punibilidade. Com a redação do art. 403 do CPP, dada pela Lei nº 11.719, de
Enquanto a renúncia decorre do princípio da oportu‑ 2008, serão oferecidas alegações finais orais por 20 minutos,
nidade ou conveniência, o perdão decorre do princípio da respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis
disponibilidade. por mais 10, proferindo o juiz, a  seguir, sentença. Assim,
A renúncia não depende de aceitação da parte contrá‑ as  alegações finais escritas passaram a se consubstanciar
ria, sendo por isso unilateral. Já o perdão é bilateral, pode em exceção, só tendo lugar quando, nos termos do § 3º do
depender de aceitação do querelado. referido artigo, o juiz, considerando a complexidade do caso
ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de
Perempção 5 dias sucessivamente para a apresentação de memoriais.
Uma vez ajuizada uma ação penal, cabe à Acusa­ção, Dessa forma, seja em alegações finais orais ou escritas
ao longo dos atos processuais, ser diligente, com o fim de (memoriais), o juiz não poderá proferir sentença condenató‑
se chegar ao provimento final que porá fim ao processo, ria se o querelante não tiver formulado pedido de absolvição,
a sentença. eis que estará extinta a punibilidade pela perempção.
A decadência e a perempção não se confundem. A pe‑ A perempção é instituto exclusivo da ação penal priva‑
rempção não pode ser verificada antes do início da ação da, no entanto, não se aplica a todas as hipóteses de tal
penal privada.218 A perda do direito de representar ou de ação.228 Assim, é inadmissível a perempção quando se tratar
oferecer queixa, em razão do decurso do prazo fixado para de ação penal privada subsidiária da pública.229
o seu exercício, e o de continuar a movimentar a ação penal Também não há se falar em perempção nas ações penais
privada, causada pela inércia processual do querelante, públicas.230
configuram, respectivamente, decadência e perempção.219 Não ocorre a perempção quando o querelante não
Pelos mesmos motivos, também não há que se confundir comparece à audiência realizada por precatória.231
perempção com renúncia, sendo esta também fenômeno A perempção só pode ocorrer antes da sentença penal
pré‑processual. Com efeito, não é causa de perempção o condenatória, tenha ou não ela transitado em julgado.
ajuizamento desta contra apenas um dos vários indiciados
em inquérito policial instaurado para apurar crime de ação
penal privada.220 Referida hipótese configura‑se renúncia ao
222
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004;
OAB‑RO/41º Exame; Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008; FCC/DPE-PA/
direito de queixa. Defensor Público.
Se a ação penal for privada, em face do princípio da dis‑ 223
Cespe/AGU/2002.
ponibilidade, caso haja abandono do processo por parte do Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador;
Noções de Direito Processual Penal

224

OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑RO/41º Exame; Esaf/Procurador da


querelante, será declarada extinta a punibilidade, nos termos Fazenda Nacional/2002/2003 e Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008.
do art. 107, IV, do CP, por restar verificada a perempção, que 225
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004;
pode ocorrer nos casos descritos no art. 60 do CPP. Extingue OAB‑RO/41º Exame.
226
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Procurador da Fazenda Nacio‑
a punibilidade do agente a perempção, nos crimes de ação nal/2002/2003; OAB‑RO/41º Exame; OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004 e
penal privada.221 Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008.
Considerar‑se‑á perempta a ação penal quando o 227
Assunto cobrado nas seguintes provas: PUC-PR/TJ-RO/Juiz Substituto/Ques‑
tão 57/2011; FCC/Procuradoria Geral do Estado de Roraima/Procurador do
querelante, sem motivo justificado, deixar de comparecer Estado/2006; OAB‑SC/3º Exame de Ordem/2003; Vunesp/TRF 3ª Região/
Analista Judiciário/Área Judiciária/2002; Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área
215
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova Judiciária/2006; Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008; FCC/DPE-PA/
Prova/2009. Defensor Público/2009; MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
216
OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004. 228
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 3/2006; TRF 3ª Região/
217
12º Concurso Público para Procurador da República. Juiz Federal Substituto e Esaf/Procurador da Fazenda Nacional/2002-2003.
218
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004 e 229
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJDF/Oficial de Justiça Avalia‑
13º Concurso Público para Procurador da República. dor/1997; Esaf/Procurador da Fazenda Nacional 2002-2003 e FCC/Procura‑
219
FCC/Procuradoria Geral do Estado de Sergipe/Procurador do Estado de 2ª doria Geral do Estado de Pernambuco/Procurador do Estado/2004.
Classe/2005. 230
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/
220
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. Questão 107/2009.
221
Cespe/OAB/3º Exame de Ordem/2007. 231
Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004.

74
Reconhecimento da Extinção da Punibilidade ser a sentença penal transitada em julgado título executivo
“Em qualquer fase do processo, o  juiz, se reconhecer judicial, para a reparação do dano, os herdeiros da vítima
extinta a punibilidade, deverá declará‑lo de ofício” (art. 61 poderão executá‑la no juízo cível contra André.238
do CPP). Destaca, ainda, referido dispositivo legal que, Mesmo com a possibilidade de execução da sentença
penal condenatória conforme acima destacado, o art. 64 do
No caso de requerimento do Ministério Público, do CPP permite que a ação para ressarcimento do dano possa
querelante ou do réu, o juiz mandará autuá‑lo em apar‑ ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for o
tado, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, caso, contra o responsável civil. Entretanto, proposta a ação
concederá o prazo de cinco dias para a prova, proferindo penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso deste até
a decisão dentro de cinco dias ou reservando‑se para o julgamento daquela239 (parágrafo único do art. 64 do CPP).
apreciar a matéria na sentença final. Por outro lado, a possibilidade de o juízo criminal e o
juízo cível proferirem decisões divergentes a partir de uma
O art. 62 do CPP determina que, única causa de pedir não constitui justificação para que o
processo em trâmite no primeiro fique suspenso, aguar‑
No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista dando a decisão do segundo. Apenas se a decisão sobre a
da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério existência da infração depender da solução de controvérsia,
Público, declarará extinta a punibilidade. que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das
pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no
Ação Civil Ex Delicto juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada
em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das
Do sistema de jurisdições separadas, como o adotado testemunhas e de outras provas de natureza urgente.240
no Brasil, decorre que duas demandas podem ser ajuizadas, A ação civil poderá ser proposta ainda nas seguintes hi‑
uma na Justiça Cível e outra na Justiça Penal, tendo como póteses: 1) quando, não obstante a sentença absolutória no
causa de pedir o mesmo ato ilícito.232 juízo criminal, não tiver sido, categoricamente, reconhecida
O art. 63 do CPP determina que, a inexistência material do fato; 2) quando houver sido profe‑
rido despacho de arquivamento do inquérito ou das peças
Transitada em julgado a sentença condenatória, de informação241 – com efeito, o despacho de arquivamento
poderão promover‑lhe a execução, no juízo cível, do inquérito não impede a propositura de ação civil242 – ; 3)
para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu quando houver sido prolatada decisão que julgar extinta a
representante legal ou seus herdeiros.233 punibilidade243; dessa forma, sobre a influência do julgado
penal no cível, não impede a propositura da ação civil a
Polastri (2009, p. 238) destaca que a indenização da es‑ decisão que julgar extinta a punibilidade244; 4) quando hou‑
fera penal se baseia somente no dano patrimonial e não no ver sido prolatada sentença absolutória que decidir que o
moral, pois este será objeto de discussão no cível. fato imputado não constitui crime245 (arts. 66 e 67 do CPP).
Sendo um dos efeitos da condenação criminal tornar Assim, segundo o Código de Processo Penal, a ação civil
certa a obrigação de indenizar, decorrente do fato praticado, pode ser proposta mesmo em caso de sentença absolutória
fica, portanto, impedido o juízo cível de rediscutir a autoria no juízo criminal.246 No entanto, faz coisa julgada no cível a
e a materialidade do fato, devendo ele se ater apenas à
sentença absolutória quando reconhecida categoricamente
liquidação e execução da sentença penal condenatória.234
Com relação à obrigação de indenizar pelo dano emer‑ a inexistência material do fato, não podendo, nessa hipóte‑
gente do crime, a decisão penal condenatória irrecorrível é se, ser proposta ação civil para o reconhecimento do fato
título executivo cível, mas depende de liquidação.235 Entre‑ objeto da sentença penal.247
tanto, nos termos do parágrafo único do art. 63, com a redação Por outro lado, a prolação de sentença penal absolutória
dada pela Lei nº 11.719, de 2008, transitada em julgado a fundada na atipicidade do fato não impede a apuração da
sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo responsabilidade civil do réu.248
valor mínimo236 fixado pelo juiz na sentença condenatória, Nesse sentido, o sistema brasileiro privilegia a separa‑
para reparação dos danos causados pela infração, conside‑ ção da jurisdição, fazendo que a ação penal destine-se a
rando os prejuízos sofridos pelo ofendido, sem prejuízo da condenação do agente pela prática da infração penal e a
liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. ação civil tenha por finalidade a reparação do dano, quando
Assim, conforme jurisprudência do STJ, na hipótese de houver. Apesar dessa consagrada separação, prevalece a
ação indenizatória ex delicto, o prazo prescricional começa justiça penal sobre a civil, quando se tratar da indenização
a fluir a partir do trânsito em julgado na sentença penal de crime que inexistiu fato ou tiver afastado a autoria.249
condenatória.237
Acompanhe a seguinte situação hipotética: submetido
238
Cespe/AGU/Advogado da União/2002.
239
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PI/Juiz Substituto/2001; Acadepol/
a julgamento pelo tribunal do júri pela prática do crime Delegado de Polícia de São Paulo/2003; OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004;
Noções de Direito Processual Penal

de homicídio, André obteve a desclassificação da infração TJ‑PR/Juiz Substituto/2006; Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2004 e Cespe/TJ‑SE/
penal e foi condenado pela prática de crime de lesão cor‑ Juiz Substituto/2003-2004 e FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 20/As‑
poral seguida de morte. A sentença penal condenatória sertiva d/2009.
240
OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004.
transitou em julgado para as partes. Nessa situação, por 241
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE-TO/2012.
242
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PR/Juiz Substituto/2006 e FCC/
DPE-MT/Defensor Público/Questão 20/Assertiva B/2009.
232
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promotor/ 243
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE-TO/2012.
2009. 244
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005;
233
Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 20/ OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003;
Assertiva e/2009. TJ‑PR/Juiz Substituto/2006 e TJ‑PI/Juiz Substituto/2001 e FCC/DPE-MT/Defen‑
234
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promotor/ sor Público/Questão 20/Assertiva c/2009.
2009. 245
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 20/
235
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto Assertiva a/2009.
e Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004. 246
TJ‑MG/Ejef/Juiz Substituto/2005.
236
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia 247
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
Civil Substituto/2009 e Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/Questão de Sergipe/Defensor Público de 2ª Categoria/2005; Acadepol/Delegado de
108/2009. Polícia de São Paulo/2003; OAB‑RO/42º Exame e Promotor‑AP/2005.
237
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRE-RJ/Analista Judiciário/ 248
Assunto cobrado na prova da FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009.
Área Judiciária/2012; Cespe/AL-ES/Procurador/Questão 75/Assertiva a/2011 249
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/2012; Cespe/
e Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 52/Assertiva A/2011. TJ-BA/2012 e FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 20/Assertiva a/2009.

75
A absolvição por insuficiência de provas para a conde‑ ______. Lezioni sul processo penale. Roma: Ateneo, 1946,
nação também não impossibilita a propositura da ação civil v. I.
de reparação de danos.250
______. Principios del proceso penal. Tradução de Caste‑
Assim, diferentemente da sentença penal condenatória,
lhana de Santiago Sentís Melendo. Buenos Aires: Eje, 1971.
a  absolutória com fundamento na insuficiência de provas
da autoria ou da materialidade criminosa não produz coisa ______. Instituciones del proceso civil. Tradução de Santiago
julgada no juízo cível.251 Sentís Melendo. Buenos Aires, 1973, v. I.
O art. 65 do CPP determina que
CARVALHO, Salo de. Pena e garantias. 2. ed. Rio de Janeiro:
Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reco‑ Lumen Juris, 2003.
nhecer ter sido o ato praticado em estado de neces‑ CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini;
sidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do Processo. 17.
de dever legal ou no exercício regular de direito252. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.

Assim, a sentença penal, se excludente de ilicitude, faz COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (Coord.). Crítica à
coisa julgada no cível, nos moldes do art. 65 do Código de teoria geral do direito processual penal. Rio de Janeiro:
Processo Penal.253 Renovar, 2001.
O fato praticado sob alguma excludente de ilicitude ______. Glosas ao verdade, dúvida e certeza de Francesco
não enseja reparação civil, exceto na hipótese de estado Carnelutti, para os operadores do direito. Anuário Ibe‑
de necessidade agressivo e de legítima defesa, no caso ro‑Americano de Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Lumen
de ser atingido, por erro na execução, terceiro inocente.254 Juris, 2002.
No mesmo sentido, a reparação do dano é obrigatória
quando o autor do crime praticado em legítima defesa ti‑ GOLDSCHMIDT. James. Derecho procesal civil. Tradução de
ver incorrido nas hipóteses de aberratio ictus ou aberratio Leonardo Prieto Castro. Editorial Labor, 1936.
criminis.255 LACERDA, Galeno. Comentários ao código de processo civil,
Polastri (2009, p. 240) destaca que v. VIII, tomo I. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

no julgamento do Júri, negados os quesitos sobre LIMA, Marcellus Polastri. Curso de Processo Penal. Vol. I. 4.
autoria e materialidade, também não fica impedida ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
a propositura da ação civil, já que o fato não foi ___________________. Manual de Processo Penal. 2. ed.
afastado, comportando nova discussão da via cível. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009)
O MP detém legitimidade para promover ação civil LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal e sua con‑
indenizatória ex delicto em favor de necessitado, se a sua in‑ formidade constitucional. Vol. 1, Rio de Janeiro: Lumen
tervenção decorre da inexistência de defensoria pública no Juris, 2008.
Estado.256 No entanto, ainda que haja advogado na comarca, LOPES JÚNIOR, Aury. (Re)discutindo o objeto do processo
poderá o membro do Ministério Público promover a ação, no penal com Jaime Guasp e James Goldschimidt. Revista
juízo cível, de reparação de dano em favor de vítima pobre, IBCCRIM, nº 39.
contra o autor do crime.257 Basta que não exista Defensoria
Pública constituída de fato. ______. Direito processual penal e sua conformidade cons‑
titucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
Referências MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 12. ed. São Paulo:
Atlas, 2001.
ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Direito processual penal.
15. ed., Brasília: Vestcon, 2009. NUCCI. Guilherme de Souza, Código de processo penal
comentado. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
BÜLOW, Oskar von. La teoria de las excepciones procesales y
los presupuestos procesales. Buenos Aires: Europa‑America, OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 11.
1964. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed. São OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 10.
Paulo: Saraiva, 2005. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria,
Noções de Direito Processual Penal

CARNELUTTI, Francesco. Sistema de derecho procesal civil.


Tradução de Niceto Alcalá‑Zamora y Castillo; Santiago Sentis crítica e práxis. 4 ed. Atualizada com Emenda Constitucional
Melendo. Buenos Aires, 1944. da “Reforma do Judiciário”. Niterói, RJ: Impetus, 2006.
TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de
250
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PI/Juiz Substituto/2001; Cespe/ direito processual penal. 3 ed. rev. atual. e ampl. Salvador,
Promotor‑AM/2001 e OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2005. 2009.
251
MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
252
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PR/Juiz Substituto/2006; TJ‑PI/Juiz THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual
Substituto/2001; Acadepol/Delegado de Polícia de São Paulo/2003; Vunesp/
OAB‑SP/130º Exame; 16º Concurso Público para Procurador da Repúbli‑ civil. 33. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, v. I.
ca/1997; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003; Cespe/Defensoria Pública do
Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª Classe/2003 e TRF 4ª Região/ TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 25.
Juiz Federal Substituto. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, v. 1.
253
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003.
254
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003. TUCCI, Rogério Lauria. Teoria do Direito Processual Penal.
255
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004. São Paulo: RT, 2002.
256
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão
52/Assertiva B/2011 e Cespe/Promotor‑AM/2001. WAMBIER, Tereza Arruda Alvim. Nulidades do processo e
257
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2004 e
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003. da sentença. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

76
PROVAS alto juízo de certeza, e, não plenas, ou semiplenas, que se
baseiam em probabilidades, possibilidades; c) quanto ao
O objeto das provas abrange o fato criminoso e sua objeto a ser provado, podem ser as provas reais, quando con‑
autoria, todas as circunstâncias objetivas e subjetivas que sistirem de coisa ou bem fora do indivíduo, ou, pessoais, que
podem influir na responsabilidade penal e na fixação da exprimem o conhecimento atribuído a uma pessoa; d) quanto
pena ou na imposição da medida de segurança.1 à forma, podem ser documentais, testemunhais e materiais.
Nesse sentido, Mirabete (2000, p. 157) conclui que a
prova não abrange apenas o fato criminoso e sua autoria, Fatos que Dependem e Independem de Prova
mas também as “circunstâncias objetivas e subjetivas que
possam influir na responsabilidade penal e na fixação da Na instrução processual, nem todos os fatos relevantes
pena ou na imposição de medida de segurança”, ou seja, devem ser submetidos à atividade probatória.6
tudo aquilo que, de uma forma ou de outra, seja relevante Ensina Nucci (2003, p. 298-299) que alguns fatos não
para formar o convencimento do órgão julgador. necessitam ser provados, a  exemplo dos fatos notórios,
Guilherme Nucci (2003, p. 293) explica a origem da cujo conhecimento integra a cultura do homem mediano,
palavra no latim – probatio – que significa ensaio, exame, abrangendo: a) aqueles decorrentes das diversas ciências;
aprovação ou confirmação. Arremata o autor que, desse b) os decorrentes da lógica (fatos intuitivos); c) os originários
termo, deriva o verbo provar – probare – significando ensaiar, de presunção legal absoluta (juris et de jure), os quais não
examinar, reconhecer por experiência, aprovar, estar satisfei‑ admitem prova em contrário; d) os fatos impossíveis, como
to com algo, persuadir alguém a alguma coisa ou demonstrar. dizer que “o réu estava na lua no dia do crime”; e e) os irre‑
A finalidade da prova é convencer o julgador a respeito levantes ou impertinentes, assim considerados aqueles que
da verdade de um fato que as partes pretendem demonstrar. não dizem respeito à solução da causa.
O magistrado é o destinatário dos atos de prova. Já os fatos incontroversos dependem de prova. No pro‑
Mirabete (2000, p. 256) destaca que provar é cesso penal, deve ser objeto de prova o fato incontroverso,
ou seja, alegado pela acusa­ção e admitido pelo réu.7 Ainda
produzir um estado de certeza, na consciência e que o acusado confesse, a acusação deve comprovar a ma‑
mente do juiz, para sua convicção, a respeito da exis‑ terialidade e autoria delitiva. A própria confissão pode ser
tência ou inexistência de um fato, ou da verdade ou questionada pelo julgador.
falsidade de uma afirmação sobre uma situação de Em regra, o direito não precisa ser provado, eis que o
fato, que se considera de interesse para uma decisão juiz deve conhecê‑lo (jura novit curia). Isto em relação ao
judicial ou a solução de um processo. direito federal, já que o direito estadual, distrital, municipal,
alienígena ou consuetudinário deve ser provado pela parte.8
Os indícios são admitidos como elementos de convicção O nosso ordenamento jurídico admite a condenação
e integram o sistema de articulação de provas, pois com base em prova indiciária. Trata‑se de prova circunstan‑
autorizam, por indução, concluir-se a existência de cial, baseada em indícios. Indício, por sua vez, é 
circunstâncias relacionadas ao delito.2
O direito à prova deriva da garantida constitucional do toda circunstância conhecida e provada, a  partir
due process of law. (GRINOVER et al, 2001, p. 122-126) da qual, mediante raciocínio lógico, pelo método
O direito processual regula os meios de prova, que são indutivo, obtém‑se a conclusão sobre um outro
os instrumentos que trazem os elementos de convicção aos fato. A indução parte do particular e chega ao geral.
autos. A finalidade da prova é o convencimento do juiz, que (CAPEZ, 2005, p. 334).
é seu destinatário.3
Desta forma, a prova indiciária tem a mesma força pro‑
Conceito e Classificação bante que qualquer outra prova direta, como a testemunhal,
a documental ou a pericial.9
Prova é geradora da convicção do juiz para que se pro‑ Referida afirmação não é pacífica, já tendo sido assevera‑
nuncie acerca de determinado fato, declarando a existência do em certames públicos que não se admite a condenação do
da responsabilidade criminal e impondo, conforme o caso, réu com base apenas em indício, diante da impossibilidade
a sanção penal.4 de produção de outras provas, ainda que o julgador funda‑
O termo prova, segundo Grinover, Scarance e Gomes mente sua decisão.
Filho (2001, p. 120-121), pode ser distinguido em fontes
Noções de Direito Processual Penal

de prova (os fatos percebidos pelo juiz), meios de prova Sistemas de Apreciação da Prova
(instrumentos pelos quais os fatos se apresentam ao juiz) e
objetos de prova (os fatos a serem provados). Sistema da Persuasão Racional/Livre Apreciação/Livre
Mirabete (2000, p. 258) traz a seguinte classificação das Convencimento Motivado
provas: a) quanto ao objeto, diretas, quando se referirem
imediatamente ao fato a ser provado, ou, indiretas, quando O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
se referem a outros fatos ligados ao fato a ser provado;5 b) prova, não ficando adstrito a critérios valorativos, sendo
quanto ao efeito ou valor, plenas, quando completas e com livre a sua escolha, aceitação e valoração.10
1
Assunto cobrado nas seguintes provas: 17º Concurso Público para Procurador
6
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 84/Assertiva
da República/1999 e Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004. c/2009.
2
MPE-MS/Promotor de Justiça Substituto/Questão 38/Item III/2011.
7
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão
3
Cespe/Bacen/Procurador/Questão 84/Assertiva a/2009. 23/Assertiva b/2009.
4
Enunciado de questão do Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004;
8
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 84/Assertiva d/
Assunto cobrado na prova do Ieses/TJ‑MA/Analista Judiciário/Direito/2009. 2009.
5
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 84/Assertiva
9
MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
b/2009. 10
Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 21/Assertiva D/2009.

77
O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da Admitem‑se no processo penal inclusive os meios
prova produzida em contraditório judicial, não podendo de prova não arrolados no Código de Processo Penal.19
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos O juiz não está restrito ao rol contido no Código de Processo
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as pro‑ Penal. No entanto, o princípio da liberdade probatória não
vas cautelares, não repetíveis e antecipadas.11 Trata‑se do é absoluto.20
princípio da par conditio.12
Não há hierarquia entre as provas. O  juiz as aprecia
Assim, as provas cautelares antecipadas podem ser
e lhes dá o valor que entender devido, sempre de forma
consideradas pelo juiz na formação da sua convicção, ainda
fundamentada.
que não reproduzidas perante o contraditório.13
Sabendo‑se que a busca da verdade real e o sistema do
Vige em nosso sistema processual penal o princípio do
livre convencimento do juiz (que conduzem ao princípio
livre convencimento motivado ou da persuasão racional, se‑
da liberdade probatória) levam a doutrina a constatar
gundo o qual compete ao juiz processante valorar com ampla
que os meios de prova permitidos na legislação brasileira
liberdade os elementos de prova dos autos, desde que o faça
não se esgotam nos arts. 158 e 250 do Código de Processo
motivadamente, devendo suas conclusões ser pautadas em
Penal, conclui‑se que a previsão legal não é exaustiva,
parâmetros de legalidade e razoabilidade. O juiz formará sua
mas exemplificativa, sendo admitidas as chamadas provas
convicção pela livre apreciação da prova.14
inominadas.21 Polastri (2009, p. 355) lista como exemplos
O supedâneo do referido sistema tem sede constitucional
de provas inominadas a inspeção judicial e a utilização de
(art. 93, IX, CF/1988).
gravações fonográficas e visuais.
Cintra, Grinover e Dinamarco (2000, p. 352) asseveram
que Como corolário do sistema da verdade real, o juiz pode
ouvir testemunhas arroladas extemporaneamente pelas
partes, como testemunhas do juízo. Essa oitiva pode ser
persuasão racional, no sistema do devido processo le‑ efetivada mesmo após o término da instrução ou mesmo
gal, significa convencimento formado com liberdade após oferecidas as alegações finais.22 (STJ, HC nº 61.001/
intelectual, mas sempre apoiado na prova constante RS, Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 18/6/2007, p. 280)
dos autos e acompanhado do dever de fornecer a
motivação dos caminhos do raciocínio que conduzi‑
Sistema da Prova Legal ou Tarifada
ram o juiz à conclusão.
Não vigora mais entre nós o sistema das provas tarifadas,
Por isso, a confissão do réu, quando desarmônica com as
segundo o qual o legislador estabelecia previamente o valor,
demais provas do processo, deve ser valorada com reservas.
a força probante de cada prova. Referido sistema teve ampla
Segundo o STJ,
aplicação na Idade Média, em face da utilização do sistema
processual inquisitório. O princípio da valoração legal não
a palavra do corréu, condenado no mesmo proces‑ é aplicável às provas no processo penal pátrio.23
so, é  importante elemento de convicção do juiz, No entanto, há resquícios deste sistema em nossa le‑
quando se ajusta ao conjunto da prova dos autos, gislação. Quanto ao estado das pessoas, serão observadas
principalmente, se de forma veemente15 (STJ, REsp as restrições estabelecidas na lei civil (parágrafo único do
nº 194.714/MG, Min. Hamilton Carvalhido, Sexta art. 155 do CPP). Com efeito, no juízo penal, não se obser‑
Turma, DJ 17/9/2001, p. 200). vam, na produção de provas, as restrições da lei civil, salvo
quanto ao estado das pessoas.24
O processo penal adota o princípio da identidade física Assim, no caso de morte do acusado, o juiz somente à
do juiz, mas não é o contato do juiz com qualquer prova vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério
que o vincula ao julgamento do feito. Apenas em caso de Público, declarará extinta a punibilidade.25
colheita de prova oral ficará adstrito a julgar a causa.16 Há ainda outra hipótese de prova tarifada em nossa legis‑
A prova deve ser produzida em contraditório judicial, lação processual penal. Nos crimes que deixarem vestígios,
não podendo fundamentar o magistrado sua decisão exclu‑ é obrigatório o exame de corpo de delito.
sivamente nos elementos informativos colhidos na inves‑
tigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
Sistema da Convicção Íntima
antecipadas, sobre as quais o contraditório é efetivado na
Noções de Direito Processual Penal

fase judicial (art. 155 do CP).17


Com base no princípio do livre convencimento, pode o Existe ainda no ordenamento brasileiro resquício de
juiz, de ofício, determinar a produção de provas.18 julgamento por convicção íntima.26
Nem todos os juízes e membros de tribunais penais
formarão a sua convicção pela livre apreciação da prova,
11
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-MS/Promotor de Justiça Subs‑
tituto/Questão 38/Item II/2011; Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 50/Item I/2011
e FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. 19
Assunto cobrado na prova da FCC/TJ‑RR/Juiz de Direito Substituto/2008.
12
Cespe/TRE‑MA/Analista Judiciário/2009. 20
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004 e
13
Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 50/Item II/2011 NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
14
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; 21
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TRE‑MT/Analista Judiciá‑
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame e Cespe/ rio/2004-2005.
TRE‑AL/Analista Judiciário/2004. 22
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Juiz Substituto/TJ‑CE/2005-2004.
15
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑RN/Delegado de Polícia Civil Substi‑ 23
Assunto cobrado na prova da OAB‑RO/40º Exame.
tuto/2009. 24
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 4ª Região/IX Concurso/Juiz Federal
16
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 87/Item IV/2011. Substituto e TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002.
17
Assunto cobrado na prova da FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. 25
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/MPE-SP/Oficial de Promotoria/
18
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; Questão 50/Item I/2011; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; TJ‑RN/Oficial
Cespe/PC‑PB/Perito Oficial Criminal/2009; Cespe/PM‑DF/Soldado/2009 e de Justiça/2002 e TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
Movens/PC-PA/Delegado/Questão 30/Assertiva A/2009. 26
Assunto cobrado na prova da FCC/TJ‑RR/Juiz de Direito Substituto/2008.

78
fundamentando todas as suas decisões, sob pena de nulida‑ Princípio da Publicidade
de27. Com efeito, nos termos do art. 5º, XXXVIII, da CF/1988,
no julgamento dos crimes dolosos contra a vida, os jurados A Constituição Federal estabelece:
devem guardar sigilo em relação aos motivos pelos quais
entendem ser o réu culpado ou inocente.
a) a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
Segundo o STF, o convencimento do juiz‑presidente do
processuais quando a defesa da intimidade ou o
Tribunal do Júri, exigido na lei,
interesse social o exigirem (art. 5º, LX);
não é obviamente a convicção íntima do jurado, b) todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciá‑
que os princípios repeliriam, mas convencimento rio são públicos, e fundamentadas todas as decisões,
fundado na prova: donde, a exigência – que aí cobre sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse
tanto a da existência do crime, quanto da ocorrên‑ público o exigir, limitar a presença, em determina‑
cia de indícios de autoria, de que o juiz decline, na dos atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
decisão, ‘os motivos do seu convencimento’. (STF, somente a estes (art. 93, IX); e
HC  nº  81.646/PE, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, c) todos têm direito a receber dos órgãos públicos
Primeira Turma, Julgamento: 4/6/2002) informações de seu interesse particular, ou de inte‑
resse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
Princípios das Provas da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
São princípios gerais aplicáveis às provas no processo da sociedade e do Estado (art. 5º, XXXIII).
penal pátrio: oralidade, publicidade, concentração28,
licitude da prova, verdade real29, liberdade probatória, Com base em tais princípios, o art. 792 do CPP deter‑
comunhão da prova (aquisição), persuasão racional, con‑ mina que
traditório, proporcionalidade e não autoincriminação.
As audiências, sessões e os atos processuais serão,
Princípio da Oralidade em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos
juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do
Com base no princípio da oralidade, tanto quanto possí‑ secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro,
vel, busca‑se, com um mínimo de atuação judicante, a má‑ em dia e hora certos, ou previamente designados.
xima eficácia das normas que compõem a ordem jurídica.
Pode ser considerado, ainda, como princípio da oralidade a
necessidade de que o juiz que presidiu a instrução deve ser O juiz pode restringir a publicidade na fase judicial. A tí‑
o mesmo a proferir a sentença, materializando o princípio tulo de exemplo, o § 1º do art. 792 do CPP determina que
da identidade física do juiz.30 (art. 399, § 2º, do CPP, incluído
pela Lei nº 11.719, de 2008). Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato
processual, puder resultar escândalo, inconveniente
Princípio da Concentração grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou
o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou
O princípio da oralidade traz consigo o princípio da a requerimento da parte ou do Ministério Público,
concentração. Os  atos processuais devem, sempre que determinar que o ato seja realizado a portas fecha‑
possível, praticar‑se em uma só audiência ou em audiências das, limitando o número de pessoas que possam
de tal modo próximas no tempo que as impressões do juiz estar presentes.
colhidas na audiência não se apaguem da sua memória.
Com base em tal princípio, o art. 400 do CPP, com a O § 6º do art. 201 do CPP, incluído pela Lei nº 11.690, de
redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008, prevê a audi‑ 2008, determina ainda que
ência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo
máximo de 60 (sessenta) dias, onde se procederá à tomada O juiz tomará as providências necessárias à preserva‑
de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas ção da intimidade, vida privada, honra e imagem do
arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo
como aos esclarecimentos dos peritos, às acarea­ções e ao
de justiça em relação aos dados, depoimentos e ou‑
Noções de Direito Processual Penal

reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando‑se, em


tras informações constantes dos autos a seu respeito
seguida, o acusado. O art. 403 determina que, ao final da
para evitar sua exposição aos meios de comunicação.
referida audiência, o juiz proferirá a sentença.
Daí decorre a necessidade de o juiz que presidiu a ins‑
trução ser o mesmo a proferir a sentença, materializando Também é mitigado o princípio da publicidade em sede
o princípio da identidade física do juiz (art. 399, § 2º, do da investigação preliminar ao processo penal. Com efeito,
CPP, incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). É o princípio da pela natureza inquisitiva do Inquérito Policial, a autoridade
continuidade da audiência, que resguarda os princípios da assegurará no Inquérito o sigilo necessário à elucidação
imediação, da concentração e da celeridade processuais. dos fatos.

Princípio da Liberdade Probatória


27
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador, assertiva feita a partir de proposição falsa.
28
Assunto cobrado na prova da OAB‑RO/40º Exame.
29
Assunto cobrado no concurso do Tribunal de Justiça do DF e Territórios/Juiz Em regra, o  juiz é livre na admissão e valoração das
de Direito Substituto/2007. provas, salvo as hipóteses de prova tarifada e determinadas
30
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão
23/Assertiva A/2009. hipóteses de provas ilícitas.

79
Princípio da Licitude da Prova Por outro lado, é lícita a prova obtida mediante escuta
telefônica que incrimina outra pessoa e não o investigando
Cintra, Grinover e Dinamarco (2000, p. 349) notam que, em cujo nome constava telefone objeto da autorização
como é por meio da atividade probatória que se procura judicial prevista na Lei nº  9.296/1996.36 Tem‑se, ainda,
demonstrar a ocorrência ou não dos fatos tidos por crimino‑ que não constitui prova ilícita a quebra do sigilo bancário,
sos, em tese, não deveriam existir limitações ou restrições sem autorização judicial, quando o réu, corroborando as
à admissibilidade de quaisquer meios de catalogação fática. informações prestadas pela instituição bancária, as utiliza
Entretanto, o princípio da liberdade probatória não é para sustentar sua defesa.37 (STF; HC nº 74.197/RS; Relator
absoluto. A verdade real não pode ser utilizada para abusos Ministro Francisco Rezek; Segunda Turma; Julgamento:
e arbitrariedades. Nesse sentido, a Carta Magna, em seu 26/11/1996)
art.  5º, LVI, declarou serem “inadmissíveis, no processo, A gravação que não interessar à prova será inutiliza‑
as provas obtidas por meio ilícito”. da por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução
Alexandre de Moraes (2003, p. 261) destaca que processual ou, após esta, em virtude de requerimento do
Ministério Público ou da parte interessada.38
a inadmissibilidade das provas ilícitas no processo Preclusa a decisão de desentranhamento da prova decla‑
deriva da posição preferente dos direitos fundamen‑ rada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial,
tais no ordenamento jurídico, tornando impossível facultado às partes acompanhar o incidente. (art. 157, § 3º
a violação de uma liberdade pública para obtenção do CPP).
de qualquer prova. Prova ilegítima – é assim denominada quando houver
violação de normas de direito processual, como a violação
A prova ilegal, que afronta norma legal ou princípio, do contraditório (não se abrindo vista às partes para se ma‑
seja de natureza processual ou material, subdivide‑se em: nifestar sobre algum documento juntado ou mesmo ouvindo
Prova ilícita – quando for obtida com a inobservância
testemunhas da defesa antes da acusação), da ampla defesa
de normas de direito material, principalmente com status
(indeferimento de prova apta a ingressar no processo), da
constitucional31, tais como a violação à vida privada, às co‑
utilização de prova emprestada, sem a participação do
municações telefônicas (gravação ou escuta clandestina),
acusado no processo originário etc. São aquelas produzidas
à correspondência, ao domicílio (busca e apreensão sem
com violação das normas processuais colocadas em função
autorização judicial), aos  dados bancários (violação de
extrato bancário sem autorização judicial), à utilização de de interesses atinentes à lógica e à finalidade do processo.39
tortura (violência física ou psicologia para obter confissão Constitui, em regra, modalidade de prova ilegítima a jun‑
na esfera policial), bem como à integridade física (utilização tada de documentos no momento da apresentação das
de bafômetro, exame de sangue, contra a vontade do réu). alegações finais no rito do Júri.40
Assim, ilícitas são as provas que afrontam norma de A vedação da produção de provas obtidas por meios ilí‑
direito material.32 citos previstas na CF/1988 refere‑se tanto às provas obtidas
As provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em viola‑ com a inobservância de normas de direito material quanto
ção a normas constitucionais ou legais, são inadmissíveis, às normas de direito processual (art. 5º, LVI, CF/1988).
devendo ser desentranhadas do processo quando forem Referida proibição, apesar de possuir natureza de ga‑
entendidas como tal (art. 157 do CPP).33 rantia constitucional, não deve ser interpretada de forma
Considera‑se prova ilícita a quebra do sigilo das co‑ absoluta. Portanto, existe no processo penal a possibilidade
municações telefônicas para fins de investigação criminal, de avaliação de prova obtida por meios ilícitos.41
por ordem judicial, antes do advento da Lei nº 9.296/1996 Pelo princípio da instrumentalidade das formas, não se
(interceptação telefônica).34 declarará nulo o ato processual que não houver influído na
Não se admite a interceptação de comunicações apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.42
telefônicas quando o fato investigado constitui infração Eventuais vícios do inquérito policial, por exemplo, não
penal punida, no máximo, com pena de detenção.35 Nesse contaminam o acervo probatório arrecadado na fase judicial
sentido, o art. 2º da Lei nº 9.296/1996 estabelece que não sob o crivo do contraditório, sendo, portanto, prematura
será admitida a interceptação de comunicações telefônicas a aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada
quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I – não
Noções de Direito Processual Penal

nessa fase.43
houver indícios razoáveis da autoria ou participação em Assim, a regra de não se admitir as provas ilícitas em um
infração penal; II – a prova puder ser feita por outros meios processo tem exceções, dado que os direitos fundamentais
disponíveis; III – o fato investigado constituir infração penal não são absolutos. A  prova colhida com infringência a
punida, no máximo, com pena de detenção.
Destaca, ainda, que, em qualquer das hipóteses, deve
36
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego‑
ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, ria/2001.
inclusive com a indicação e qualificação dos investigados,
37
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor
Público da União de 2ª Categoria/2001.
salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
38
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/
Questão 26/Assertiva A/2011.

31
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑MG/Comissão de Exame de
39
Assunto cobrado na prova do MPE-MS/Promotor de Justiça Substituto/
Ordem/2008. Questão 38/Item I/2011.

32
Cespe/TRE- MT/Analista Judiciário/2004-2005.
40
NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.

33
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substi‑
41
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil do
tuto/2009. DF/2004 e Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004.

34
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública da União/
42
OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003.
Defensor Público da União de 2ª Categoria/2001.
43
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007

35
Cespe/DPE-ES/Defensor Público/Questão 55/2009. e Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007.

80
direitos fundamentais previstos na Constituição Federal sob a ótica da defesa, consubstanciando em manifestação
de 1988 pode, em determinadas hipóteses, ser utilizada do princípio do favor rei. Como exemplo, cita‑se hipótese de
no processo penal.44 gravação de conversa telefônica por parte do acusado para
Dessa forma, são consideradas provas ilícitas aquelas provar sua própria inocência.
que ao serem produzidas violam normas constitucionais.45 Uma vez não admitida a prova, por ser ilícita, eis que não
Há teorias que explicam o possível ingresso de provas ultrapassados os parâmetros destacados acima, todas as pro‑
ilícitas no processo, como a teoria da proporcionalidade. vas que dela decorrerem imediatamente também passarão
Teoria da Proporcionalidade  – visa a admitir provas a ser ilícitas, ainda que obtidas de forma lícita.
ilícitas em casos de extrema gravidade. Em tais casos, de Trata‑se do princípio das provas ilícitas por derivação.
forma excepcional, admite‑se a prova ilícita para o fim de Com base nele, são também inadmissíveis as provas deri‑
se equilibrar os direitos fundamentais, sendo requisitos para vadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de
tanto a adequação, a necessidade e a proporcionalidade no causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
que se refere ao choque entre os direitos. puderem ser obtidas por uma fonte independente das
primeiras (art. 157, § 1º, do CPP)49. Também há que se falar
Alexandre de Moraes (2003, p. 263), tratando da atenu‑
na exceção da descoberta inevitável, que tem lugar quando
ação do princípio da proibição das provas obtidas por meios
a obtenção da prova derivada ocorreria mesmo sem a utili‑
ilícitos, destaca, in verbis:
zação da prova ilícita.
Produzida prova ilícita em sede inquisitiva, as provas
Essa atenuação prevê, com base no Princípio da Pro‑
que dela derivarem, mesmo que produzidas exclusiva‑
porcionalidade, hipóteses de admissibilidade das pro‑
mente em fase acusatória, serão consideradas ilícitas por
vas ilícitas, que, sempre em caráter excepcional e em
derivação.50
casos extremamente graves, poderão ser utilizadas,
A teoria da prova ilícita por derivação está fundada na
pois nenhuma liberdade pública é absoluta, havendo
conhecida teoria fruits of the poisoned tree, da Suprema Cor‑
possibilidade, em casos delicados, em que se perceba
te americana, segundo a qual o vício da planta se transmite
que o direito tutelado é mais importante que o direito
a todos os seus frutos.
à intimidade, segredo, liberdade de comunicação, por
Trata‑se de princípio implícito, dado que a Constituição
exemplo, de permitir‑se sua utilização.
Federal não consagra expressamente a conhecida teoria
dos frutos da árvore envenenada em matéria criminal.51
Traz‑se, ainda, entendimento no STF no sentido de que
A título de exemplo: se Joaquim, indiciado em inquérito
policial, em seu interrogatório na esfera policial, foi cons‑
a gravação de conversa telefônica feita por um dos
trangido ilegalmente a indicar uma testemunha presencial
interlocutores, sem conhecimento do outro, quan‑
do crime de que era acusado. A testemunha foi regularmente
do ausente causa legal de sigilo ou de reserva da
ouvida e em seu depoimento apontou Joaquim como autor do
conversação não é considerada prova ilícita,46 (STF,
delito. Nessa situação, o depoimento da testemunha, apesar
AI 578.858 AgR/RS, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda
de lícito em si mesmo, é considerado ilícito por derivação,
Turma, Julgamento: 4/8/2009).
uma vez que foi produzido a partir de uma prova ilícita.52
Verifica‑se que a ilicitude da obtenção da prova trans‑
A gravação de conversa telefônica por um dos interlo‑
mite‑se às provas subsequentes que dela são derivadas,
cutores não é considerada interceptação telefônica, ainda
sendo todas desentranhadas do processo, demonstrando
que tenha sido feita com a ajuda de um repórter, pois, nesse
a aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada.53
caso, a gravação é clandestina, mas não ilícita, nem ilícito
Isto ocorrerá se a prova originária for absolutamente deter‑
é seu uso, em particular como meio de prova.47
minante para o descobrimento das provas derivadas. Com
Tem‑se ainda que caso o chefe do crime organizado de
efeito, se a prova decorrente também deriva de outras fontes
determinado estado, custodiado em presídio de segurança
independentes, não há contaminação.
máxima, receba carta de um comparsa com informações
Considera‑se fonte independente aquela que por si só,
acerca do sequestro do governador desse estado, que seria
seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investi‑
realizado no dia seguinte, o ordenamento jurídico não pro‑
gação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato
íbe que a administração penitenciária intercepte a referida
objeto da prova. (art. 157, § 2º, do CPP).
carta, em respeito à garantia constitucional do sigilo de
Vejamos ementa elucidativa do STF sobre o tema:
correspondência; além disso, caso ocorra a interceptação,
Noções de Direito Processual Penal

o conteúdo da carta poderá ser considerado meio de prova


contra o destinatário.48 A QUESTÃO DA DOUTRINA DOS FRUTOS DA ÁRVORE
Teoria da Proporcionalidade e prova ilícita pro reo – é ENVENENADA (FRUITS OF THE POISONOUS TREE): A
praticamente unânime a possibilidade de utilização, no QUESTÃO DA ILICITUDE POR DERIVAÇÃO. – Ninguém
processo penal, da prova favorável ao acusado, ainda que pode ser investigado, denunciado ou condenado com
colhida com infringência a direitos fundamentais seus ou de base, unicamente, em provas ilícitas, quer se trate
terceiros, em face da necessidade de se resguardar o jus liber- de ilicitude originária, quer se cuide de ilicitude por
tatis. Trata‑se de aplicação do princípio da proporcionalidade, derivação. Qualquer novo dado probatório, ainda que


44
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/
49
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRE‑MA/Analista Judi‑
2004, assertiva feita a partir de item falso. ciário/2009 e Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 23/Assertiva

45
OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008. D/2009.

46
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/AGU/Advogado/2012 e Cespe/
50
FCC/DPE-SP/Assertiva E/2012.
TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 50/Assertiva B/2011 e Funiversa/PC-DF/Del‑
51
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004
egado de Polícia/Questão 21/Assertiva B/2009. e FCC/TJ‑RR/Juiz de Direito Substituto/2008.

47
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2009.
52
Cespe/PGE‑ES/Procurador de Estado/2008.

48
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑MA/Analista Judiciário/2009.
53
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 50/Item IV/2011.
produzido, de modo válido, em momento subsequen‑ Já no que se refere ao Processo Penal, que tutela direitos
te, não pode apoiar‑se, não pode ter fundamento indisponíveis, o interesse público se sobrepõe ao privado,
causal nem derivar de prova comprometida pela o  que confere poderes ao magistrado para que promova
mácula da ilicitude originária. – A exclusão da prova a livre investigação das provas. Trata‑se do princípio da
originariamente ilícita – ou daquela afetada pelo vício verdade real.
da ilicitude por derivação – representa um dos meios Este princípio não é absoluto. Com efeito, têm aplicação
mais expressivos destinados a conferir efetividade à no processo penal os fenômenos da preclusão temporal e
garantia do due process of law e a tornar mais intensa, consumativa, bem como institutos de aplicação nas ações
pelo banimento da prova ilicitamente obtida, a tutela penais privadas, como o perdão e a perempção.
constitucional que preserva os direitos e prerrogati‑
vas que assistem a qualquer acusado em sede pro‑ Princípio da Comunhão da Prova (Aquisição)
cessual penal. Doutrina. Precedentes. – A doutrina da
ilicitude por derivação (teoria dos “frutos da árvore O princípio da comunhão da prova determina que a prova
envenenada”) repudia, por constitucionalmente inad‑ não pertence à parte que a produziu. Uma vez inserida no
missíveis, os meios probatórios, que, não obstante processo, passa a integrá‑lo, podendo ser usada tanto pela
produzidos, validamente, em momento ulterior, acusação quanto pela defesa. Não pode a parte, ainda, pre‑
acham‑se afetados, no entanto, pelo vício (gravíssi‑ tender utilizar a prova só no que lhe aproveita, sendo, por
mo) da ilicitude originária, que a eles se transmite, isso, a prova chamada de divisível.
contaminando‑os, por efeito de repercussão causal.
Hipótese em que os novos dados probatórios somen‑ Princípio da Persuasão Racional
te foram conhecidos, pelo Poder Público, em razão
de anterior transgressão praticada, originariamente, Não há hierarquia entre as provas. O  juiz as aprecia
pelos agentes estatais, que desrespeitaram a garantia e lhes dá o valor que entender devido, sempre de forma
constitucional da inviolabilidade domiciliar. – Reve‑ fundamentada.
lam‑se inadmissíveis, desse modo, em decorrência
da ilicitude por derivação, os elementos probatórios Princípio do Contraditório (Bilateralidade/Audiên­cia
a que os órgãos estatais somente tiveram acesso em Contraditória)
razão da prova originariamente ilícita, obtida como
resultado da transgressão, por agentes públicos, Toda juntada de material probatório admite que seja
de direitos e garantias constitucionais e legais, cuja oportunizada a realização de contraprova, e as partes podem
eficácia condicionante, no plano do ordenamento participar da produção das provas.
positivo brasileiro, traduz significativa limitação de Grinover, Scarance e Gomes Filho (2000, p. 122) destacam
ordem jurídica ao poder do Estado em face dos que o direito à prova
cidadãos. – Se, no entanto, o órgão da persecução
penal demonstrar que obteve, legitimamente, novos não tem como objetivo a defesa entendida em sen‑
elementos de informação a partir de uma fonte autô‑ tido negativo – como oposição ou resistência – mas
noma de prova – que não guarde qualquer relação de sim principalmente a defesa vista em sua dimensão
dependência nem decorra da prova originariamente positiva, como influência, ou seja, como direito de
ilícita, com esta não mantendo vinculação causal –, incidir ativamente sobre o desenvolvimento e o
tais dados probatórios revelar‑se‑ão plenamente ad‑ resultado do processo.
missíveis, porque não contaminados pela mácula da
ilicitude originária. – A QUESTÃO DA FONTE AUTÔNO‑ Mesmo ao determinar a produção de ofício de deter‑
MA DE PROVA (AN INDEPENDENT SOURCE) E A SUA minada prova, o  juiz oportuniza às partes o exercício do
DESVIN­CULAÇÃO CAUSAL DA PROVA ILICITAMENTE contraditório.
OBTIDA – DOUTRINA – PRECEDENTES DO SUPREMO Dessa forma, as provas antecipadas serão produzidas
TRIBUNAL FEDERAL (RHC nº 90.376/RJ, Rel. Min. na presença do Ministério Público e do defensor dativo.55
Celso de Mello, v.g.) – JURISPRUDÊNCIA COMPARADA
(A EXPERIÊNCIA DA SUPREMA CORTE AMERICANA): Princípio da Proporcionalidade
CASOS “SILVERTHORNE LUMBER CO. V. UNITED STA‑
TES (1920); SEGURA V. UNITED STATES (1984); NIX V. No processo penal, a produção das provas deve se nor‑
WILLIAMS (1984); MURRAY V. UNITED STATES (1988)”, tear pelo princípio da proporcionalidade. A necessidade do
Noções de Direito Processual Penal

v.g.. (STF, HC nº 93.050/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, ato probatório deve ser indispensável, já que a liberdade
e dignidade da pessoa humana também são princípios do
Segunda Turma, Julgamento: 10/6/2008)
processo. Dessa forma, pode‑se promover uma busca e
apreensão de documentos em vez de se decretar uma prisão
Conclui‑se, assim, que são inadmissíveis no processo as
preventiva com o objetivo de garantir a instrução criminal se
provas obtidas por meios ilícitos. Adicionalmente, segundo
ambas tiverem o mesmo efeito prático.
entendimento majoritário do STF, decreta‑se a nulidade das
provas subsequentes obtidas com fundamento na ilícita
Princípio da Não Autoincriminação
(prova ilícita por derivação).54
Princípio da Verdade Real Na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto
de São José da Costa Rica), foi reconhecido o princípio do
Na seara do processo civil, o juiz pode satisfazer‑se com a nemo tenetur se detegere entre as garantias mínimas a serem
verdade formal, consubstanciada na verdade criada por atos observadas ao acusado. Desta forma, toda pessoa acusada
ou omissões das partes, presunções, ficções e transações. de um crime tem direito a não se autoincriminar.


54
Cespe/Delegado de Polícia Federal/2002.
55
TJ‑SP/Comarca de Santos/Oficial de Justiça/1999.

82
Este direito pode ser exercido no curso do inquérito nosso país o princípio do processo acusatório que assegura
policial ou na fase judicial. a imparcialidade do magistrado, o juiz poderá, no curso da
Ada Pellegrini Grinover (1984, p. 111) inclui, ainda, instrução ou antes de proferir sentença, determinar, de ofí‑
o direito de mentir como resguardo da prerrogativa consti‑ cio, diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.60
tucional de defesa:
Prova Emprestada
O réu, sujeito da defesa, não tem obrigação nem
dever de fornecer elementos de prova que o preju‑ É a prova, em regra pericial ou testemunhal, produzida
diquem. Pode calar‑se ou até mesmo mentir. Ainda em um processo, sendo trasladada por cópia ou certidão,
que se quisesse ver no interrogatório um meio de para outro processo, onde terá caráter documental. É aquela
prova, só seria em sentido meramente eventual, em produzida em um processo de natureza jurisdicional para
face da faculdade dada ao acusa­do de não responder. nele gerar efeitos e transportada para outro na forma de
A autoridade judiciária não pode dispor do réu como documento, conservando o seu valor originário.61 Grande
meio de prova, diversamente do que ocorre com as parte da doutrina entende que a prova emprestada só pode
testemunhas; deve respeitar sua liberdade, no sen‑ gerar efeito se, no processo originário, for produzida entre
tido de defender‑se como entender melhor, falando as mesmas partes do processo destinatário.
ou calando‑se, e  ainda advertindo‑o da faculdade Para a prova emprestada ser admitida, não é necessá‑
de não responder. [...] o único arbítrio há de ser rio que as partes sejam iguais às constantes no processo
sua consciência, cuja liberdade há de ser garantida utilizado.62 Isto porque no processo penal, exige‑se apenas
em um dos momentos mais dramáticos para a vida que o réu seja o mesmo, pouco importando se a acusação
de um homem e mais delicado para a tutela de sua foi feita, em um processo, por representante do Ministério
dignidade. Público Estadual e em outro por representante do Ministério
Público Federal ou mesmo pelo querelante.
Ônus da Prova Com efeito, Grinover, Scarance e Gomes Filho (2000, p.
125-126) destacam que
Segundo Capez (2005, p. 273), o ônus da prova é “o encar‑
go que têm os litigantes de provar, pelos meios admissíveis, o princípio constitucional do contraditório exige que a
a verdade dos fatos”. prova emprestada somente possa ter valia se produ‑
O ônus da prova é de quem alegar. No processo penal, zida, no primeiro processo, perante quem suportará
quem deve provar a materialidade e a autoria é a acusação, seus efeitos no segundo, com a possibilidade de ter
eis que o processo penal se inicia por uma alegação de ma‑ contado, naquele, com todos os meios possíveis de
terialidade e autoria. Não compete, portanto, ao acusa­do contrariá‑la. Em hipótese alguma poderá a prova
provar ser inocente. Entretanto, se o réu alegar que agiu emprestada gerar efeitos contra quem não tenha
acobertado por uma excludente de ilicitude, culpabilidade, participado da prova no processo originário.
punibilidade, que lhe aproveitam circunstâncias atenu‑
antes de pena ou benefícios legais, deve provar os fatos Segundo o STF, os 
alegados.56
A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, mas o dados obtidos em interceptação de comunicações
juiz poderá, de ofício, ordenar a produção antecipada de telefônicas, judicialmente autorizadas para produção
provas consideradas urgentes e relevantes mesmo antes de de prova em investigação criminal ou em instrução
iniciada a ação penal, observando a necessidade, adequa‑ processual penal, bem como documentos colhidos
ção e proporcionalidade da medida.57 O juiz pode também na mesma investigação, podem ser usados em pro‑
determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir cedimento administrativo disciplinar, contra a mesma
sentença, a  realização de diligências para dirimir dúvida ou as mesmas pessoas em relação às quais foram
sobre ponto relevante58 (art. 156 do CPP). Polastri (2009, p. colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos
348) critica referido artigo, destacando que ilícitos teriam despontado à colheita dessas provas.
(STF, Pet nº 3.683 QO/MG, Rel. Min. Cezar Peluso;
deve ser entendido, em uma interpretação conforme Tribunal Pleno, Julgamento: 13/8/2008).
Noções de Direito Processual Penal

a Constituição, no sentido de que tal ‘ordenar do Juiz’


pressupõe pedido da parte se for em fase inquisito‑ Desta forma, percebe-se que o STF adota entendimento
rial, só podendo o juiz assim agir se já houver proces‑ que modifica os requisitos da prova emprestada, dispen‑
so, sob pena de se incidir em inconstitucionalidade. sando identidade de réus e exercício do contraditório no
processo originário.
Dessa forma, a regra de que o ônus incumbe a quem faz
a alegação não é absoluta.59 Com efeito, embora vigore em Providência Cautelar de Busca e Apreensão


56
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão A decisão exarada pela autoridade judiciária, para a
23/Assertiva C/2009. busca e apreensão, precisa ser fundamentada.63 Por con‑

57
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 50/Item III/2011.

58
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002;
OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; TRF 5ª Região/Juiz Federal Substitu‑
60
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002.
to/2001; Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007 e TRF 3ª Região/XII Concurso/
61
Assunto cobrado na seguinte prova: Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão
Juiz Federal Substituto. 84/Item II/2011.

59
Assunto cobrado na prova do 17º Concurso Público para Procurador da
62
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004.
República/1999.
63
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/2º Exame de Ordem/2004.

83
seguinte, a busca e apreensão domiciliar requerem ordem A busca domiciliar determinada pela autoridade policial
judicial, salvo hipótese de flagrante delito e desastre.64 é incompatível com a Constituição Federal de 1988.73 Desta
Embora estejam inseridas no capítulo das provas, a bus‑ forma, a apreensão de objetos durante o inquérito depende,
ca e a apreensão têm características genuínas de medida em regra, de autorização judicial74. Apenas em caso de situa‑
acautelatória.65 ção flagrancial, pode haver apreensão sem ordem judicial.
Por outro lado, a distribuição de pedido preparatório de Nesse sentido, a busca domiciliar, com o intuito de rea‑
busca e apreensão acarreta a competência do juízo para a lizar apreensão de coisas, não pode ser realizada durante
respectiva ação penal.66 o dia com base em mandado expedido pela autoridade
As buscas e apreensões podem ser realizadas antes policial, sendo necessário mandado judicial.75
da instauração do inquérito, durante a sua elaboração, Se restar verificada situação de flagrante, o ingresso pode
no curso da instrução criminal e até mesmo na fase da ocorrer durante o dia ou à noite, independentemente de
execução penal.67 consentimento do morador ou de ordem judicial. Isto porque
Em casos em que não tenha sido instaurado inquérito dizer que a pessoa é fugitivo da justiça não é o mesmo que
policial, não é proibida a expedição de mandado judicial dizer que está em situação flagrancial. Por outro lado, uma
de busca e apreensão domiciliar fundamentado em peças denúncia anônima informou à polícia que, em determinada
de informação.68 casa, estaria ocorrendo um crime. Comparecendo ao local,
A busca será domiciliar ou pessoal (art. 240 do CPP). a polícia constatou que muito provavelmente a denúncia era
verídica. Em face dessa situação e considerando que já era
Busca Domiciliar noite, a polícia poderá invadir a casa independentemente
de ordem judicial.76
Como regra, a Constituição Federal estabelece que a casa A busca domiciliar, por ser medida de natureza cautelar,
é asilo inviolável do indivíduo. Nesse caso, ninguém pode só se justifica quando presente o fumus boni juris, ou seja,
penetrá‑la sem consentimento do morador, salvo em caso somente quando fundadas razões a autorizarem.77
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, Proceder‑se‑á à busca domiciliar, quando fundadas
ainda que de noite.69 razões a autorizarem, para: a) prender criminosos; b) apre‑
A casa é asilo inviolável da pessoa. Contudo, a Consti‑ ender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; c)
tuição autoriza expressamente que outras pessoas ingres‑ apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação
sem neste recinto, sem o consentimento do morador e a e objetos falsificados ou contrafeitos; d) apreender armas
e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou
qualquer hora, para prestar socorro, em casos de desastre
destinados a fim delituoso; e) descobrir objetos necessários
e nos casos de flagrante delito.70
à prova de infração ou à defesa do réu; f) apreender cartas,
Preceitua a Constituição Federal que a casa é asilo
abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder,
inviolável do indivíduo, estabelecendo o que a doutrina
quando houver suspeita de que o conhecimento do seu
denomina de inviolabilidade do domicílio, cujo conteúdo conteúdo possa ser útil à elucidação do fato; g) apreender
também inclui o local onde o indivíduo exerce sua profissão, pessoas vítimas de crimes; h) colher qualquer elemento de
desde que não aberto ao público.71 convicção78 (art. 240, § 1º, do CPP).
Segundo o STF, A busca e apreensão domiciliar podem ser realizadas à
noite apenas com a concordância do morador.79
para os fins da proteção jurídica a que se refere o Quando a própria autoridade judiciária não a realizar
art. 5º, XI, da Constituição da República, o conceito pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedida da
normativo de “casa” revela‑se abrangente e, por expedição de mandado80 (art. 241 do CPP). Dessa forma,
estender‑se a qualquer compartimento privado não é possível a ocorrência da apreensão sem a busca.81
aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou A busca poderá ser determinada de ofício ou a reque‑
atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, obser‑ rimento de qualquer das partes (art. 242 do CPP). Quando
vada essa específica limitação espacial (área interna requerida, entretanto, só deve ser deferida pelo juiz quando
não acessível ao público), os escritórios profissionais, houver fundadas razões para a diligência como, por exem‑
inclusive os de contabilidade, “embora sem conexão plo, a existência de indícios de ocorrência de ilícito penal e
com a casa de moradia propriamente dita”. (STF, da necessidade de prova.82
HC nº 93.050/RJ, Rel.Min. Celso de Mello, Segunda
Turma, Julgamento: 10/6/2008). 73
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/3º Exame de Ordem/2007.
74
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova
A casa é o asilo inviolável da pessoa, que não pode ser Prova/2009.
Noções de Direito Processual Penal

transformada em garantia de impunidade de crimes prati‑


75
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Defensoria Pública do Estado
do Maranhão/Defensor Público de 1ª Classe/2003; OAB‑RO/42º Exame e
cados em seu interior. Por outro lado, existe a possibilidade OAB‑RO/42º Exame.
de invasão domiciliar durante o dia, que, entretanto, está 76
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Delegado PC‑GO/1998.
sujeita à denominada cláusula de reserva jurisdicional, com
77
OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005.
78
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002.
total exclusão de qualquer outro órgão estatal.72 79
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001,
OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004, OAB‑PR/Exame 01/2007; OAB‑RO/42º
Exame; FCC/Defensoria Pública do Estado do Maranhão/Defensor Público
64
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001 de 1ª Classe/2003; OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑SP/125º Exame
e OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004. de Ordem/2005; OAB‑RO/42º Exame; OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004 e
65
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avalia‑ OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004.
dor/2004 e OAB‑GO/2º Exame de Ordem/2004. 80
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de
66
TRF 3ª Região/IX Concurso/Juiz Federal Substituto. Goiás/2003; Delegado de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001; OAB‑GO/2º
67
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003. Exame de Ordem/2004; TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2005; OAB‑PR/1º
68
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑MT/Juiz Substituto/2004. Exame de Ordem/2004, OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004.
69
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe 81
Assunto cobrado na seguinte prova: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de
de Goiás/2003; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004. Goiás/ 2003.
70
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Advogado da União/2006. 82
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PR/Juiz Substituto/2006; Delegado
71
OAB‑AL/2º Exame de Ordem/2004. de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001; NCE/Faepol/Delegado da Polícia
72
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE‑BA/Analista Judiciário/2003. Civil do Rio de Janeiro/2001 e OAB‑SP/125º Exame de Ordem/2005.

84
O mandado de busca deverá: I – indicar, o mais precisa‑ Em casa habitada, a busca será feita de modo que não
mente possível, a casa em que será realizada a diligência e o moleste os moradores mais do que o indispensável para o
nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de êxito da diligência (art. 248 do CPP).
busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê‑la ou os A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no
sinais que a identifiquem; II – mencionar o motivo e os fins território de jurisdição alheia, ainda que de outro Estado,
da diligência; III – ser subscrito pelo escrivão e assinado pela quando, para o fim de apreensão, forem no seguimento de
autoridade que o fizer expedir (art. 243 do CPP). pessoa ou coisa, devendo apresentar‑se à autoridade local
Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do competente antes ou após a diligência, conforme a urgência
mandado de busca (art. 243, § 1º, do CPP). desta (art. 250 do CPP).
A busca e apreensão domiciliar, ainda que realizada com Entender‑se‑á que a autoridade ou seus agentes vão em
o intuito de somente prender alguém, poderá apreender seguimento da pessoa ou coisa quando: a) tendo conheci‑
objetos ilícitos que estejam relacionados com o inquérito mento direto de sua remoção ou transporte, a seguirem
onde a diligência é efetuada.83 Dessa forma, é possível a sem interrupção, embora depois a percam de vista; b) ainda
ocorrência da apreensão sem a busca.84 que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações
Não será permitida a apreensão de documento em fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo
poder do defensor do acusado, salvo quando constituir removida ou transportada em determinada direção, forem
elemento do corpo de delito85 (art. 243, § 2º, do CPP). ao seu encalço (art. 245, § 1º, do CPP).
A busca para “colher qualquer elemento de convic‑ Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para
ção” relacionado com o inquérito policial, em escritório duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas dili‑
gências, entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos
de advogado, reclama mandado da autoridade judicial
mandados que apresentarem, as primeiras poderão exigir as
e acompanhamento, na execução, de representante da
provas dessa legitimidade, mas de modo que não se frustre
OAB.86 Entretanto, houve alterações da lei da OAB. Com
a diligência. (art. 250, § 2º, do CPP).
efeito, o art. 7º, II, da Lei nº 8.906/1994, modificada pela Lei
nº 11.767/2008, não mais prevê a necessidade de acompa‑ Busca Pessoal
nhamento por representante da OAB quando for realizada
uma busca e apreensão. Proceder‑se‑á à busca pessoal quando houver fundada
As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou para
se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes apreender: coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos
mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando‑o, falsificados ou contrafeitos; armas e munições; instrumentos
em seguida, a abrir a porta (art. 245 do CPP). utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso;
Se a própria autoridade der a busca, declarará previa‑ cartas, abertas ou não, destinadas ao acusa­do ou em seu po‑
mente sua qualidade e o objeto da diligência (art. 245, § 1º, der, quando houver suspeita de que o conhecimento do seu
do CPP). conteúdo possa ser útil à elucidação do fato; para descobrir
Em caso de desobediência, será arrombada a porta e objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu,
forçada a entrada (art. 245, § 2º, do CPP). bem como para colher qualquer elemento de convicção.
Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de Segundo o STF,
força contra coisas existentes no interior da casa, para o
descobrimento do que se procura (art. 245, § 3º, do CPP). a ‘fundada suspeita’, prevista no art. 244 do CPP, não
Também se procederá assim quando os moradores estiverem pode fundar‑se em parâmetros unicamente subjeti‑
ausentes. Neste caso, qualquer vizinho, caso haja ou esteja vos, exigindo elementos concretos que indiquem a
presente, deve ser intimado a assistir a diligência (art. 245, necessidade da revista, em face do constrangimento
§ 4º, do CPP). que causa. (STF, HC nº  81.305/GO, Rel. Min. Ilmar
Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, Galvão, Primeira Turma, Julgamento: 13/11/2001).
o morador será intimado a mostrá‑la (art. 245, § 5º, do CPP).
Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, esta será Assim, deve‑se proceder busca pessoal para apreender
imediatamente apreendida e posta sob custódia da autori‑ cartas destinadas ao acusado quando houver suspeita de
que o conteúdo dessas missivas possa elucidar o crime,
dade ou de seus agentes (art. 245, § 6º, do CPP).
ainda que tal busca seja efetivada em terceira pessoa, que
Finda a diligência, os executores lavrarão auto circuns‑
não esteja envolvida no objeto da investigação.87
Noções de Direito Processual Penal

tanciado, assinando‑o com duas testemunhas presenciais A busca pessoal independerá de mandado, no caso de
(art. 245, § 7º, do CPP). prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa
Aplicar‑se‑á também esse procedimento quando se tiver esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis
de proceder à busca em compartimento habitado, ou em que constituam corpo de delito88, ou quando a medida for
aposento ocupado de habitação coletiva, ou em comparti‑ determinada no curso de busca domiciliar89 (art. 244 do CPP).
mento não aberto ao público em que alguém exerça profissão A busca em mulher será feita por outra mulher, se não
ou atividade (art. 246 do CPP). importar retardamento ou prejuízo da diligência90 (art. 249
Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procurada, do CPP).
os  motivos da diligência serão comunicados a quem tiver
sofrido a busca, se o requerer (art. 247 do CPP).

87
Cespe/TJ‑MT/Juiz Substituto/2004.

88
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe

83
Assunto cobrado na prova de Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001. de Goiás/2003; Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004 e Cespe/TJ‑SE/

84
Assunto cobrado na prova da UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goi‑ Juiz Substituto/2008.
ás/2003.
89
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑PR/Exame 01/2007.

85
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001
90
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/125º Exame de Ordem/2005;
e Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004. OAB‑PR/Exame 01/2007 e Cespe/TJ‑MT/Juiz Substituto/2004 e UESPI/Agente

86
Esaf/Promotor‑CE/2001. Penitenciário/2006.

85
É legal a busca e apreensão, sem mandado judicial, lavrará o auto respectivo, que será assinado pelos peritos
realizada em automóvel conduzido por pessoa sobre quem e, se presente ao exame, também pela autoridade (art. 179
pesem fundadas suspeitas de estar na posse de objetos que do CPP).
constituam corpo de delito.91
A busca não pode ser realizada de modo a causar Compromisso
constrangimentos desnecessários e abusivos, sob pena de Somente os peritos não oficiais deverão prestar o com‑
configuração de abuso de autoridade. promisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, sob
pena de nulidade do laudo98 (art. 159, § 2º, do CPP)
Perícias As partes não intervirão na nomeação do perito99
(art. 276 do CPP).
Dos Peritos, das Perícias e do Exame de Corpo de O perito nomeado pela autoridade será obrigado a
Delito aceitar o encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos
mil réis, salvo escusa atendível. Incorrerá na mesma multa
Dos peritos o perito que, sem justa causa, provada imediatamente: a)
O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;
disciplina judiciária92 (art. 275 do CPP). b) não comparecer no dia e local designados para o exame;
c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja
Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão
feita, nos prazos estabelecidos (art. 277 do CPP).
minuciosamente o que examinarem, e responderão aos
No caso de não comparecimento do perito, sem justa
quesitos formulados (art. 160 do CPP).
causa, a  autoridade poderá determinar a sua condução
coercitiva100 (art. 278 do CPP).
Quantidade de peritos
Não poderão ser peritos: I – os que estiverem sujeitos à
O art. 159 do CPP, com a redação dada pela Lei nº 11.690, interdição de direito mencionada nos incisos I e IV do art. 69
de 2008, determina que o exame de corpo de delito e outras do Código Penal; II – os que tiverem prestado depoimento no
perícias serão realizados por perito oficial, portador de processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da perí‑
diploma de curso superior.93 Não são mais necessários dois cia; III – os analfabetos e os menores de 21 anos (art. 279).
peritos oficiais para firmar o laudo. Não tem mais aplicação É extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o dis‑
a Súmula nº 361 do STF no que diz respeito à determinação posto sobre suspeição dos juízes101 (art. 280 do CPP).
de que, no processo penal, era nulo o exame realizado por
um só perito. Do laudo pericial
Tratando‑se de perícia complexa que abranja mais de O laudo pericial é uma emissão de conhecimento técnico
uma área de conhecimento especializado, poder‑se‑á desig‑ científico.102
nar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10
mais de um assistente técnico (art. 159, § 7º, do CPP).94 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excep‑
Não é nulo o laudo pericial contendo divergências entre cionais, a requerimento dos peritos103 (art. 160, parágrafo
os peritos.95 único, do CPP). Em tal hipótese, o  laudo, que poderá ser
Se houver divergência entre os peritos, as declarações datilografado, será subscrito e rubricado em suas folhas pelo
de um e de outro serão consignadas no auto do exame, ou perito (art. 179 do CPP).
cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade Na hipótese de ser o perito oficial, o exame será requisi‑
nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade tado pela autoridade ao diretor da repartição, juntando‑se
poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos ao processo o laudo assinado pelo perito (art. 178 do CPP).
(art. 180 do CPP).96 No caso de inobservância de formalidades, ou no caso
de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade
Espécie de peritos judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou
Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 esclarecer o laudo104 (art. 181 do CPP). A autoridade poderá
(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso também ordenar que se proceda a novo exame, por outros
superior preferencialmente na área específica, dentre as peritos, se julgar conveniente.
O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá‑lo
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza
ou rejeitá‑lo, no todo ou em parte105 (art.  182 do CPP).
do exame97 (art. 159, § 1º, do CPP). Neste caso, o escrivão
Noções de Direito Processual Penal

O magistrado pode utilizar outros elementos provados nos


autos para a formação de sua convicção.106
91
Promotor‑DF/2002.
92
OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004.
Nesse sentido, considere que, em determinada ação
93
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-CE/Inspetor de Polícia/2012 penal, foi realizada perícia de natureza contábil, nos moldes
e Cespe/DPF/Agente/2012.
94
Assunto cobrado na prova da Funrio/Agente Penitenciário Federal/2009.
95
Assunto cobrado na provas do Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004. 98
Assunto cobrado na prova da OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004.
96
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. 99
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004 e
97
Assertiva adaptada em face da minirreforma do Código de Processo Penal. Vunesp/OAB‑SP/128º Exame.
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Departamento da Polícia 100
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de
Federal/Agente/2012; TJ‑PR/Juiz Substituto/2006; Cespe/Secad‑TO/Dele‑ São Paulo/2003; OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004.
gado de Polícia Civil 1ª Classe/2008; OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004; 101
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004 e
OAB‑PR/Exame 02/2006; OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2005; Cespe/TJ‑RR/ OAB‑PR/Exame 02/2006.
Analista Processual/2006; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Cespe/TJ‑AP/ 102
Fumarc/DPE‑MG/Defensor Público/2009.
Analista Judiciário/2003-2004; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; OAB‑PR/ 103
Assunto cobrado na prova da Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São
Exame 01/2007; OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004; OAB‑SP/127º Exame Paulo/2003.
de Ordem/2005; TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001; IPAD/Polícia 104
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009.
Civil Pernambuco/Perito Criminal/2006; NCE/Polícia Civil RJ/Papiloscopista 105
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005.
Civil/2002; OAB‑PR/Exame 01/2007; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; 106
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB/1º Exame da Ordem/2007;
Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006. e OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005.

86
determinados pela legislação pertinente, o que resultou na evidência da morte, como ausência de movimentos res‑
elaboração do laudo de exame pericial competente. Na fase piratórios, desaparecimento do pulso ou enregelamento
decisória, o juiz discordou das conclusões dos peritos e, de do corpo.115
forma fundamentada, descartou o laudo pericial ao exarar Desta forma, o laudo de exame cadavérico não é peça
a sentença. Nesta situação, a sentença não é nula, pois o imprescindível para se aferir a materialidade do crime de
exame pericial não vincula o juiz da causa.107 homicídio.116
Nos crimes de competência dos juizados especiais cri‑ Em caso de exumação para exame cadavérico, a auto‑
minais, não é necessário o exame de corpo de delito para ridade providenciará para que, em dia e hora previamente
o oferecimento da denúncia.108 marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto
circunstanciado117 (art. 163 do CPP).
Do assistente técnico O administrador de cemitério público ou particular
Serão facultadas ao Ministério Público, ao  assistente indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência.
de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura,
formulação de quesitos e indicação de assistente técnico109 ou de encontrar‑se o cadáver em lugar não destinado a
(art. 159, § 3º, do CPP). inumações, a  autoridade procederá às pesquisas neces‑
sárias, o que tudo constará do auto (art. 163, parágrafo
Das perícias em geral único, do CPP).
Durante o curso do processo judicial, é permitido às par‑ Para representar as lesões encontradas no cadáver,
tes, quanto à perícia: I – requerer a oitiva dos peritos para os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame
esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, des‑ provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente
de que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a rubricados118 (art. 165 do CPP).
serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exu‑
mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas mado, proceder‑se‑á ao reconhecimento pelo Instituto
em laudo complementar110; II – indicar assistentes técnicos de Identificação e Estatística ou repartição congênere
que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo ou pela inquirição de testemunhas, lavrando‑se auto de
juiz ou ser inquiridos em audiência (art. 159, § 5º, do CPP). reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá
Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a o cadáver, com todos os sinais e indicações (art.  166 do
autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes CPP). Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados
quando não for necessária ao esclarecimento da verdade111 todos os objetos encontrados que possam ser úteis para a
(art. 184 do CPP). identificação do cadáver.
Nos crimes de ação penal privada, também será realizado Nesse sentido, em caso de acidente de tráfego e sobre‑
exame pericial se for o caso (art. 183 do CPP). vindo a morte da vítima, é dispensável o exame interno
A autoridade e as partes poderão formular quesitos até do cadáver quando as lesões externas permitirem uma
o ato da diligência112 (art. 176 do CPP). conclusão acerca da causa da morte.119
No exame por precatória, a  nomeação dos peritos
far‑se‑á no juízo deprecado. Havendo, porém, no caso de Do exame em lesões corporais
ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame
feita pelo juiz deprecante113 (art. 177 do CPP). Os quesitos pericial tiver sido incompleto, proceder‑se‑á a exame
do juiz e das partes serão transcritos na precatória. complementar por determinação da autoridade policial
ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério
Da autópsia (necropsia) Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor
A autópsia será feita pelo menos 6 (seis) horas depois (art. 168 do CPP).
do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de No exame complementar, os peritos terão presente o
morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, auto de corpo de delito, a fim de suprir‑lhe a deficiência
o que declararão no auto.114 ou retificá‑lo (art. 168, § 1º, do CPP).
Por determinação legal, o exame necroscópico ou ca‑ Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito
davérico deve ser realizado pelo menos seis horas após o no art. 129, § 1º, I, do Código Penal, deverá ser feito logo
Noções de Direito Processual Penal

óbito. Todavia, tal obrigatoriedade é dispensada se houver que decorra o prazo de 30 dias contados da data do crime
(art. 168, § 2º, do CPP).
107
Assunto cobrado na prova do Cespe/Secad‑TO/Delegado de Polícia Civil 1ª
A falta de exame complementar poderá ser suprida pela
Classe/2008. prova testemunhal (art. 168, § 3º, do CPP).
108
OAB‑PR/2º Exame de Ordem/2004.
109
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Departamento da Polícia
Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame
Federal/Agente/2012 e Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. pericial tiver sido incompleto, proceder‑se‑á a exame
110
Assertiva adaptada em face da minirreforma do Código de Processo Penal. complementar por determinação da autoridade policial
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 4ª Região/IX Concurso/Juiz Federal
Substituto; OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Analista Proces‑ ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do MP, ou do
sual/2006; OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004; OAB‑PR/Exame 02/2006 e
Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006. 115
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Secad‑TO/Delegado de Polícia
111
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Or‑ Civil 1ª Classe/2008; FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005; FCC/TRE‑RN/
dem/2008; DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/SSP‑MG/ Analista Judiciário/2005 e FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005.
Delegado de Polícia/2007 e OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005. 116
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova
112
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª Entrân‑ Prova/2009.
cia/2001. 117
Assunto cobrado na prova do FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005.
113
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. 118
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRT 1/Técnico Judiciário/Segurança/
114
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/ Questão 44/Assertiva C/2011.
Segurança/Questão 44/Assertiva A/2011. 119
Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004.

87
ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. A falta desse No exame para o reconhecimento de escritos, por compa‑
exame poderá ser suprida pela prova testemunhal.120 ração de letra, observar‑se‑á o seguinte: I – a pessoa a quem
Seguindo a mesma linha de raciocínio, considere a se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para
seguinte situação hipotética: João, imputável, agrediu o ato, se for encontrada; II – para a comparação, poderão
fisicamente Francisco, produzindo‑lhe lesões corporais servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer
leves. Transcorridos alguns dias após a agressão, Francisco ou que já tiverem sido judicialmente reconhecidos como
compareceu à repartição policial, onde noticiou o crime. de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver
Encaminhado para exame pericial, ficou constatado que dúvida; III – a autoridade, quando necessário, requisitará,
não mais existiam lesões. Nessa situação, por terem desa‑ para o exame, os documentos que existirem em arquivos ou
parecido os vestígios, a materialidade do delito poderá ser estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência
demonstrada por meio de prova testemunhal.121 se daí não puderem ser retirados; IV – quando não houver
O exame de corpo de delito direito ocorre quando é escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibi‑
feito o exame de corpo de delito. Se estes desaparecerem, dos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe
pode‑se usar a prova testemunhal, denominada exame de for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo,
corpo de delito indireto.122 esta última diligência poderá ser feita por precatória, em
que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada
Exame de local a escrever (art. 174 do CPP).
Para o efeito de exame do local onde houver sido pratica‑
da a infração, a autoridade imediatamente tomará providên‑ Do exame de corpo de delito
cias para que não se altere o estado das coisas até a chegada Faz‑se distinção entre corpo de delito e exame de corpo
dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, de delito.125 Corpo de delito são os vestígios materiais dei‑
desenhos ou esquemas elucidativos (art. 169 do CPP). xados em face da prática da infração penal. Exame de corpo
Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado de delito é o laudo pericial que analisa o corpo de delito.
das coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas O “corpo de delito” é a prova da existência do crime, que
alterações na dinâmica dos fatos (art. 169, parágrafo único pode ser feita de modo direto ou indireto.126
do CPP). Quando a infração deixar vestígios, será indis­pensável o
Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, supri‑lo a confissão do acusado127 (art. 158 do CPP). O refe‑
os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que rido artigo estabelece que a confissão não supre o exame
instrumentos, por que meios e em que época eles presumem de corpo de delito, guarda nítida ligação com o sistema de
que o fato foi praticado (art. 171 do CPP). prova tarifada ou da certeza moral do legislador.128
No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o Polastri (2009) destaca que o art. 158 do CPP atenta
lugar em que houver começado, o perigo para a vida ou para contra o livre convencimento do juiz, eis que a lei dá primazia
o patrimônio alheio que dele tiver resultado, a extensão do à prova pericial, citando julgado do STJ, que traria entendi‑
dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interes‑ mento de estar derrogada a parte final do referido artigo:
sarem à elucidação do fato (art. 173 do CPP).
HC – CONSTITUCIONAL – PROCESSUAL PENAL – COR‑
Perícias laboratoriais PO DE DELITO – O CORPO DE DELITO, NA CLÁSSICA
Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão ma‑ DEFINIÇÃO DE JOÃO MENDES, É O CONJUNTO DOS
terial suficiente para a eventualidade de nova perícia123. ELEMENTOS SENSÍVEIS DO FATO CRIMINOSO. DIZ-SE
Sempre que conveniente, os  laudos serão ilustrados com DIRETO QUANDO REÚNE ELEMENTOS MATERIAIS
DO FATO IMPUTADO INDIRETO, SE, POR QUALQUER
provas fotográficas ou microfotográficas, desenhos ou es‑
MEIO, EVIDENCIA A EXISTÊNCIA DO ACONTECIMEN‑
quemas (art. 170 do CPP).
TO DELITUOSO. A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA RES‑
GUARDA SEREM ADMITIDAS AS PROVAS QUE NÃO
Da avaliação
FOREM PROIBIDAS POR LEI. RESTOU, ASSIM, AFETA‑
Proceder‑se‑á, quando necessário, à avaliação de coisas
DA A CLÁUSULA FINAL DO ART. 158, CPP, OU SEJA,
destruídas, deterioradas ou que constituam produto do crime A CONFISSÃO NÃO SER IDÔNEA PARA CONCORRER
(art. 172 do CPP). PARA O EXAME DE CORPO DE DELITO. NO PROCESSO
Noções de Direito Processual Penal

Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão


à avaliação por meio dos elementos existentes nos autos e 125
Assunto cobrado na prova do Cespe/Secad‑TO/Delegado de Polícia Civil 1ª
dos que resultarem de diligências. Classe/2008.
126
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 85/Item I/2011.
127
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
Exame grafotécnico Segurança/Questão 44/Assertiva D/2011; Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 50/Item
V/2011; Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Ordem/2008; Cespe/STF/Analista Ju‑
O fornecimento de material para exame grafotécnico diciário/2008; FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005; FCC/Defensoria Pública
não é obrigatório para o acusado.124 do Estado do Maranhão/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/AGU/
Procurador Federal de 2ª Categoria/2004; DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado
de Minas Gerais/SSP‑MG/Delegado de Polícia/2007; Cespe/TJ‑RR/Analista
120
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/AFC/CGU)/Correição/Asser‑ Processual/2006; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; FGV/TJ‑SE/Analista Ju‑
tiva D/2012; Cespe/STF/Analista Judiciário/2008; OAB‑SC/3º Exame de diciário/2004; Cespe/TJ‑DF/Analista Judiciário/2003; OAB‑PR/Exame 02/2006;
Ordem/2003; Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São Paulo/2003; Cespe/ OAB‑PR/Exame 01/2007; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame; OAB‑MT/2º Exame
Delegado da Polícia Federal/2002; OAB‑PR/Exame 01/2007; Cespe/TJ‑RR/ de Ordem/2004; OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑GO/1º Exame de
Oficial de Justiça/2001 e Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª Entrância/2001. Ordem/2005; FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005; Cespe/TJ‑PE/Oficial de
121
Cespe/Secad‑TO/Delegado de Polícia Civil 1ª Classe/2008. Justiça da 1ª Entrância/2001; TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002; Cespe/TJ‑RR/
122
Assunto cobrado na prova do IESES/TJMA/Analista Judiciário/Direito/2009. Oficial de Justiça/2001; Cespe/2º Exame da Ordem/2006 e Funiversa/PC-DF/
123
Assunto cobrado na prova da Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São Pau‑ Delegado de Polícia/Questão 21/Assertiva A/2009.
lo/2003. 128
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor Público de 2ª
124
MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova Prova/2009. Categoria/2005.

88
MODERNO, NÃO HÁ HIERARQUIA DE PROVAS, NEM As públicas‑formas só terão valor quando conferidas com
PROVAS ESPECÍFICAS PARA DETERMINADO CASO. o original, em presença da autoridade (art. 237 do CPP).
TUDO QUE LÍCITO FOR, IDÔNEO SERÁ PARA PROJETAR O reconhecimento da menoridade, para efeitos penais,
A VERDADE REAL. NO CASO CONCRETO, ALÉM DA pressupõe a demonstração mediante prova documental
CONFISSÃO, HOUVE DEPOIMENTO DE TESTEMUNHA específica e idônea.
(STJ, HC nº 1.394/RN, Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, Nesse sentido, considere: Zeca e Juca, previamente ajus‑
Sexta Turma, DJ 15/3/1993). tados, adentraram em uma agência da Caixa Econômica Fe‑
deral e, mediante ameaça, com o emprego de armas de fogo
Referida tese não prevaleceu, eis que, como visto, as (revólveres), subtraíram a importância de R$ 20.000,00, que
bancas de concurso público dão total aplicação às disposições se encontrava no interior do cofre da instituição financeira.
do art. 158 do CPP. Logo depois da ocorrência, os autores da subtração foram
O exame de corpo de delito e outras perícias serão encontrados por policiais militares, alguns quarteirões
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso distantes da agência, em atitude suspeita (carregando
superior (art. 159, do CPP).129 sacolas e com armas na cintura), momento em que foram
O exame de corpo de delito poderá ser feito em qual‑ abordados e posteriormente presos. As armas do crime
quer dia e a qualquer hora130 (art. 161 do CPP). foram apreendidas e parte da res furtiva recuperada. Juca
Não sendo possível o exame de corpo de delito por de‑ alegou ter menos de dezoito anos de idade. Diante dessa
saparecimento dos vestígios, a prova testemunhal poderá situação hipotética, o reconhecimento da menoridade de
suprir‑lhe a falta131 (art. 167 do CPP). Assim, o exame de cor‑ Juca requererá prova por documento hábil.134
po de delito é sempre obrigatório na apuração de infrações Os temas relativos à prova testemunhal, interrogató‑
que deixem vestígios, somente podendo ser suprido pela rio, reconhecimento de pessoas e coisas e acareação são
prova testemunhal nos casos em que a prova pericial for estudados no capítulo Sujeitos Processuais e sua atuação
inviabilizada em razão do desaparecimento dos vestígios.132 probatória.

Prova Documental Referências


Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apre‑
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed. rev.
sentar documentos em qualquer fase do processo (art. 231
e atual. São Paulo: Saraiva, 2005.
do CPP).
Os documentos, como meios de prova utilizados pela
acusação e pela defesa para demonstrar as suas afirmações, FERNANDES SCARANCE, Antônio. Processo penal constitu‑
podem ser apresentados em qualquer fase do processo, cional. 3. ed. São Paulo: RT, 2002.
salvo os casos expressos em lei, como a vedação para a
juntada de documento na fase das alegações das partes GRINOVER, Ada Pellegrini et al. As nulidades no processo
que antecedem a decisão de pronúncia.133 penal. 7. ed. São Paulo: RT, 2001.
Consideram‑se documentos quaisquer escritos, instru‑
mentos ou papéis, públicos ou particulares (art. 232 do CPP). _______. Ada Pellegrini. O processo em sua unidade. São
À fotografia do documento, devidamente autenticada, se Paulo: Saraiva, 1984.
dará o mesmo valor do original (art. 232, parágrafo único,
do CPP). _______. SCARANCE FERNANDES, Antônio; GOMES FILHO,
As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo Antônio Magalhães. As nulidades no processo penal. 7. ed.
destinatário para a defesa de seu direito, ainda que não haja São Paulo: RT, 2001.
consentimento do signatário (art. 233, parágrafo único, do
CPP). FERNANDES SCARANCE, Antônio. Processo penal constitu‑
A letra e firma dos documentos particulares serão sub‑ cional. 3. ed. São Paulo: RT, 2002.
metidas a exame pericial, quando contestada a sua autenti‑
cidade (art. 235 do CPP). LIMA, Marcellus Polastri. Manual de Processo Penal. 2. ed,
Noções de Direito Processual Penal

Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.


129
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009
e OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008.
130
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/ MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 10. ed. São Paulo:
Segurança/Questão 44/Assertiva B/2011; Cespe/TJ‑RR/Analista Proces­ Atlas, 2000.
sual/2006; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Cespe/TJ‑RR/Analista Pro‑
cessual/2006 e Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 21/Assertiva
E/2009. MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais –
131
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004.
132
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Or‑ teoria geral – comentários aos arts. 1º e 5º da Constituição da
dem/2008; Cespe/STF/Analista Judiciário/2008; TJ‑PE/Juiz Substituto/2006; República Federativa do Brasil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2004; Cespe/STJ/Técnico
Judiciário/2004; MPE‑PR/Assessor Jurídico/2002; Cespe/TJ‑RR/Analista Proces‑
sual/2006; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Cespe/TJ‑RR/Analista Proces‑ NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal
sual/2006; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª Entrância/2001 e OAB‑MG/1º
Exame de Ordem/2004. comentado. 2. ed. São Paulo: RT, 2003.
133
Assunto cobrado nas seguintes provas: CPC/Polícia Civil do Estado do Paraná/
Delegado de Polícia Civil/2007; OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004; OAB‑MT/1º
Exame de Ordem/2005; OAB‑RO/41º Exame; OAB‑SP/124º Exame de Or‑
dem/2004 e Cespe/TJ‑AC/Juiz de Direito Substituto/2007. Assunto cobrado na prova do TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001.
134
PRISÃO, LIBERDADE PROVISÓRIA E provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares
MEDIDAS CAUTELARES previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios
constantes do art. 282 deste Código.
Trata-se de modalidade de liberdade provisória, quando
Introdução determina que, quando o juiz verificar, pelo auto de prisão
em flagrante, a inocorrência de qualquer das hipóteses que
Trata‑se de modalidade de restrição da liberdade por
autorizam a prisão preventiva (arts. 311 a 313 do CPP), de‑
ordem judicial ou em hipótese de flagrante delito.
verá conceder a liberdade provisória.
O art. 5º, LXI, da CF/1988, estabelece que ninguém será
No que diz respeito à prisão e à liberdade provisória,
preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciá­ria competente, salvo a Constituição Federal elegeu alguns delitos como inafiançá‑
nos casos de transgressão militar ou crime propriamente veis. Quanto a algumas infrações penais, declarou, de forma
militar, definidos em lei. expressa, a inafiançabilidade e, quanto a outras, subordinou
O art. 283 do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011 a vedação da fiança aos termos da lei ordinária. Os tribunais
determina que superiores sedimentaram o entendimento de possibilidade
da liberdade provisória, nos termos estabelecidos pelo CPP,
ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito mesmo para o caso de inafiançabilidade proclamada expres‑
ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade samente pela Lei Fundamental.1 Com efeito, o art. 310, III, do
judiciária competente, em decorrência de sentença CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011 autoriza a concessão
condenatória transitada em julgado ou, no curso da da liberdade provisória, com ou sem fiança.
investigação ou do processo, em virtude de prisão
temporária ou prisão preventiva. Momento da prisão

O art.  139, II, da CF/1988, permite prisão sem ordem O § 2º do art. 283 do CPP determina que “a prisão poderá
judicial ou prisão em flagrante. Com efeito, na vigência do ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas
estado de sítio decretado em face de comoção grave de re‑ as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio”.
percussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem
a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa, a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
as pessoas poderão ser detidas em edifício não destinado a podendo penetrar sem consentimento do morador,
acusados ou condenados por crimes comuns. salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
O art. 684 do CPP estabelece, ainda, que “a recaptura do prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
réu evadido não depende de prévia ordem judicial e poderá judicial.
ser efetuada por qualquer pessoa”.
Se houver violação a tais determinações, configura‑se o
Decretação das Medidas Cautelares durante o delito de abuso de autoridade previsto no art. 4º, a, da Lei
Inquérito Policial e na Fase Judicial nº 4.898/1965.
Sobre o conceito dia, com base no critério cronológico,
As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de seria o período compreendido das 6 às 18 horas. Referido
ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso critério é comumente utilizado pelas autoridades policiais e
da investigação criminal, por representação da autoridade públicas, eis que se tem dado objetivo da materialização dos
policial ou mediante requerimento do Ministério Público procedimentos de entrada em domicílios. Outro critério seria
(art. 282, § 2º, do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011). o astronômico, que considera o período em que há luz solar,
O § 1º do art. 283 do CPP determina que as medidas caute‑ definindo dia como o período entre a aurora e o crepúsculo.
lares não se aplicam à infração a que não for isolada, cumulativa
ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade. Uso de algemas
Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ine‑
ficácia da medida, o  juiz, ao  receber o pedido de medida Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência
cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acom‑ à prisão em flagrante ou à ordenada por autoridade com‑
panhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, petente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão
permanecendo os autos em juízo (art. 282, § 3º, do CPP, com usar dos meios necessários para defender‑se ou para vencer
a redação da Lei nº 12.403/2011). a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também
No caso de descumprimento de qualquer das obrigações por duas testemunhas2 (art. 292 do CPP).
Noções de Direito Processual Penal

impostas nas medidas cautelares, o juiz, de ofício ou median‑ Para a efetivação das prisões não será permitido o
te requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou emprego de força, salvo a indispensável no caso de resis‑
do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em tência ou de tentativa de fuga do preso3 (art. 284 do CPP).
cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventi‑ Se o sujeito passivo da prisão vier a ser lesionado, em face
va (art. 312, parágrafo único) (art. 282, § 4º, do CPP, com a da autorização legal do uso da força quando necessária e
redação da Lei nº 12.403/2011). no limite necessário, não haverá crime por parte do sujeito
O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la ativo da prisão, em face da verificação das excludentes de
quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como ilicitude como estrito cumprimento de dever legal por parte
voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem dos policiais ou mesmo ou como o exercício regular de di‑
(art. 282, § 5º, do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011). reito no caso do particular. Caso haja abuso, podem restar
A prisão preventiva será determinada quando não for configurados os delitos de abuso de autoridade ou lesão
cabível a sua substituição por outra medida cautelar previs‑ corporal, respectivamente.
ta no art. 319 (art. 282, § 6º, do CPP, com a redação da Lei
nº 12.403/2011). 1
Cespe/DPU/Defensor Público Federal/2010/Questão 89.
Portanto, ausentes os requisitos que autorizam a decre‑ 2
NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do RJ/2002.
3
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª
tação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade Classe do RJ/2002 e ACP/Delegado da Polícia Civil de São Paulo/2002.

90
Em geral, a custódia de um indivíduo por parte da polícia da proporcionalidade e da razoabilidade. (STF, HC
com o uso de algemas não se encontra regulada na legislação. nº  89.429/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira
A legislação regula o tema apenas de forma pontual. Turma, Julgamento: 22/8/2006).
Com efeito, não se permite o uso de algemas no acusa­do
durante o período em que permanecer no plenário do júri, Prisão por mandado judicial
salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos,
à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade O art. 285 do CPP determina que a autoridade que
física dos presentes (art. 474, § 3º, do CPP). ordenar a prisão fará expedir o respectivo mandado de
Já o art. 234, § 1º, do Código de Processo Penal Militar, prisão, que:
determina que o emprego de algemas deve ser evitado, a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;4
desde que não haja perigo de fuga ou de agressão da parte b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu
do preso, e de modo algum será permitido quando o preso nome, alcunha ou sinais característicos. Desta forma, o man‑
for uma das seguintes autoridades: dado de prisão poderá ser cumprido ainda que nele não
conste o nome da pessoa a ser presa;5
a) os ministros de Estado; c) mencionará a infração penal que motivar a prisão.
b) os governadores ou interventores de Estados, ou O ato que determina a expedição de mandado de prisão –
Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus res‑ ainda que proveniente de tribunal (do relator de apelação,
pectivos secretários e chefes de Polícia; por exemplo) – não dispensa fundamentação;6
c) os membros do Congresso Nacional, dos Conselhos d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afian‑
da União e das Assembleias Legislativas dos Estados; çável a infração;
d) os cidadãos inscritos no Livro de Mérito das ordens e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar‑lhe
militares ou civis reconhecidas em lei; execução.
e) os magistrados; O mandado de captura poderá ser cumprido por oficial
f) os oficiais das Forças Armadas, das Polícias e dos de justiça ou por autoridade policial.7
Corpos de Bombeiros, Militares, inclusive os da re‑ O art. 297 do CPP determina que
serva, remunerada ou não, e os reformados;
g) os oficiais da Marinha Mercante Nacional; Para o cumprimento de mandado expedido pela
h) os diplomados por faculdade ou instituto superior autoridade judiciária, a autoridade policial poderá
de ensino nacional; expedir tantos outros quantos necessários às dili‑
i) os ministros do Tribunal de Contas; gências, devendo neles ser fielmente reproduzido o
j) os ministros de confissão religiosa. teor do mandado original.

O STF, em face da ausência de legislação sobre o tema, O mandado será passado em duplicata, e o executor en‑
editou a Súmula nº 11, que estabelece: tregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares
com declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e deverá o preso passar recibo no outro exemplar; se recusar,
de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade não souber ou não puder escrever, o fato será mencionado
física própria ou alheia, por parte do preso ou de em declaração, assinada por duas testemunhas8 (art. 286
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, do CPP).
sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal Se a infração for inafiançável, a  falta de exibição do
do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão mandado não obstará à prisão, e o preso, em tal caso, será
ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o
da responsabilidade civil do Estado. mandado9 (art. 287 do CPP).
A prisão em virtude de mandado entender‑se‑á feita des‑
Com base na referida súmula, já existem diversos pedi‑ de que o executor, fazendo‑se conhecer do réu, apresente‑lhe
dos de relaxamento de prisão em face do uso injustificado o mandado e o intime a acompanhá‑lo (art. 291 do CPP).
de algemas. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à
Segundo o STJ, prisão em flagrante ou à determinada por autoridade com‑
petente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão
O emprego de algemas é degradante, desonroso, usar dos meios necessários para defender‑se ou para vencer
humilhante e indigno, devendo ser utilizadas quando, a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também
Noções de Direito Processual Penal

e somente quando, demonstrada a sua necessidade. por duas testemunhas (art. 292 do CPP).
(STJ, HC nº 111.112/DF, Rel. Min. Jane Silva [desem‑ Se o executor do mandado verificar, com segurança, que
bargadora convocada do TJ‑MG], Terceira Seção, DJe o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador
2/3/2009). será intimado a entregá‑lo, à vista da ordem de prisão. Se
não for obedecido imediatamente, o executor convocará
Para o STF, duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa,
arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o executor,
O uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo depois da intimação ao morador, se não for atendido, fará
de natureza excepcional, a ser adotado nos casos e guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável,
com as finalidades de impedir, prevenir ou dificul‑
tar a fuga ou reação indevida do preso, desde que 4
Assunto cobrado na prova da OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005.
haja fundada suspeita ou justificado receio de que 5
Cespe/TJ‑BA/Oficial de Justiça/2005.
6
Assunto cobrado na prova do Cespe/1º Exame da Ordem/2007.
tanto venha a ocorrer, e  para evitar agressão do 7
Assunto cobrado na prova do Ieses/TJ-MA/Oficial de Justiça/2009.
preso contra os próprios policiais, contra terceiros 8
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑BA/Oficial de Justiça/2005.
ou contra si mesmo. O emprego dessa medida tem
9
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/DPE-RO/Assertiva E/2012 e
DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/Delegado de
como balizamento jurídico necessário os princípios Polícia/2007.
e, logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará a Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimi‑
prisão10 (art. 293 do CPP). dade da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso,
O morador que se recusar a entregar o réu oculto em poderão custodiar o sujeito passivo do mandado de prisão,
sua casa será levado à presença da autoridade, para que se até que fique esclarecida a dúvida (art. 289-A, § 5º, com a
proceda contra ele como for de direito (art. 293, parágrafo redação da Lei nº 12.403/2011).
único, do CPP). O Conselho Nacional de Justiça deve regulamentar o re‑
Nos termos do art.  236 do Código Eleitoral, nenhuma gistro do mandado de prisão (art. 289-A, § 6º, com a redação
autoridade poderá, desde 5 (cinco) dias antes e até 48 da Lei nº 12.403/2011).
(quarenta e oito) horas depois do encerramento da eleição,
prender ou deter qualquer eleitor, salvo em flagrante delito Prisão fora do território do juiz
ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime
inafiançável. Não cabe, portanto, a prisão em face de cum‑ Quando o acusado estiver no território nacional, fora da
primento de mandado de prisão temporária ou preventiva. jurisdição do juiz processante, a sua prisão será deprecada,
A recaptura do réu evadido não depende de prévia or‑ devendo constar da precatória o inteiro teor do mandado.
dem judicial e poderá ser efetuada por qualquer pessoa.11 Em havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por
O art. 1º da Lei nº 11.473/2007 estabelece que a União qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o
poderá firmar convênio com os Estados e o Distrito Federal motivo da prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada.
para executar atividades e serviços imprescindíveis à preser‑ A autoridade deprecada a quem se fizer a requisição tomará
vação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do as precauções necessárias para averiguar a autenticidade da
patrimônio. O art. 3º da referida lei considera atividades e comunicação. Por sua vez, o juiz processante deverá provi‑
serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e denciar a remoção do preso no prazo máximo de 30 (trinta)
da incolumidade das pessoas e do patrimônio, para os fins
dias, contados da efetivação da medida (art. 289 do CPP com
de convênio:
a redação da Lei nº 12.403/2011).
I – o policiamento ostensivo;
O STF entende que a ausência de expedição de precatória
II – o cumprimento de mandados de prisão;
III – o cumprimento de alvarás de soltura; constitui mera irregularidade. Vejamos:
IV – a guarda, a vigilância e a custódia de presos;
V – os serviços técnico‑periciais, qualquer que seja EMENTA: HABEAS CORPUS. ILEGALIDADE DA PRI‑
sua modalidade; SÃO OCORRIDA EM COMARCA DIVERSA DAQUELA
VI – o registro de ocorrências policiais. EM QUE SE DETERMINARA A PRISÃO PREVENTIVA,
SEM EXPEDIÇÃO DE CARTA PRECATÓRIA E SEM A
Registro do Mandado de Prisão em Banco de Dados PRESENÇA DE AUTORIDADES LOCAIS. VIOLAÇÃO
mantido pelo CNJ DO ART. 289 DO CÓDIGO PENAL. A não expedição
de precatória acarreta mera irregularidade admi‑
O juiz competente providenciará o imediato registro nistrativa, perfeitamente sanável. Situação de fato
do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo inalterada, que não impediria a imediata expedição
Conselho Nacional de Justiça para essa finalidade (art. 289-A de novo decreto prisional, porquanto persistem os
com a redação da Lei nº 12.403/2011). pressupostos e fundamentos da prisão preventiva
Isso, com o objetivo de permitir que qualquer agente constantes do art. 312 do Código de Processo Penal.
policial possa efetuar a prisão determinada no mandado (STF, HC nº 85.712/GO, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
de prisão registrado no Conselho Nacional de Justiça, ainda Segunda Turma, Julgamento: 3/5/2005)
que fora da competência territorial do juiz que o expediu
(art. 289-A, § 1º, com a redação da Lei nº 12.403/2011). Prisão em perseguição
Ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça,
qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decretada, Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de outro
adotando as precauções necessárias para averiguar a auten‑ município ou comarca, o executor poderá efetuar‑lhe a prisão
ticidade do mandado e comunicando ao juiz que a decretou, no lugar onde o alcançar, apresentando‑o imediatamente à
devendo este providenciar, em seguida, o registro do man‑ autoridade local, que providenciará para a remoção do preso
dado na forma do caput deste artigo (art. 289-A, § 2º, com depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagrante (art. 290
a redação da Lei nº 12.403/2011). do CPP). Segundo o STF,
A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
Noções de Direito Processual Penal

de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão não havendo autoridade no local em que se tiver efe‑
extraída do registro do Conselho Nacional de Justiça e infor‑ tuado a prisão, deverá o preso ser, para a lavratura do
mará ao juízo que a decretou (art. 289-A, § 3º, com a redação auto de flagrante, apresentado à mais próxima”, sen‑
da Lei nº 12.403/2011).
do que “equivale a não haver a autoridade, recusar‑se
O preso será informado de seus direitos, nos termos do
a autoridade local a tomar qualquer providência. (STF,
inciso LXIII do art. 5º da Constituição Federal e, caso o autu‑
RHC nº 33.825, Rel. Min. Mário Guimarães, Primeira
ado não informe o nome de seu advogado, será comunicado
à Defensoria Pública (art. 289-A, § 4º, com a redação da Lei Turma, Julgamento: 19/10/1955)
nº 12.403/2011). Agora a comunicação à Defensoria Pública
não ocorre mais apenas quando da finalização do auto de Entretanto, tem‑se que não há nulidade do auto de prisão
prisão em flagrante. Quando do cumprimento do mandado em flagrante se lavrado em local diverso.
de prisão, também deve ser feita a comunicação quando o Ainda como exemplo, após assaltarem uma loja comer‑
custodiado não tiver advogado. cial no centro de Sobradinho – DF, Lauro e Tadeu fugiram
em direção a Formosa – GO. Alguns policiais militares do
10
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/DPE-RO/Assertiva A/2012 e NCE/ DF que passavam próximo ao local do assalto saíram em
Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do RJ/2002. perseguição aos bandidos e efetuaram a prisão dos assal‑
11
Cespe/TJ-SE/Juiz Substituto/2008.

92
tantes nessa cidade goiana. Nessa situação, a prisão é legal, edição da Lei nº 12.403/2011, agora a separação é obriga‑
podendo a prisão se dar em outra unidade da Federação.12 tória, eis que a nova redação do dispositivo determina que
Entender‑se‑á que o executor vai em perseguição do réu,
quando: a) tendo‑o avistado, for perseguindo‑o sem interrup‑ as pessoas presas provisoriamente ficarão separadas
ção, embora depois o tenha perdido de vista; b) sabendo, por das que já estiverem definitivamente condenadas,
indícios ou informações fidedignas, que o réu tenha passado, nos termos da lei de execução penal.
há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que o
procure, for no seu encalço (art. 290, § 1º, do CPP). c) Prisão especial
Quando as autoridades locais tiverem razões fundamen‑ Trata‑se de forma de submissão diferenciada da prisão
tadas para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou provisória, em face da função de determinadas pessoas.
da legalidade do mandado que apresentar, poderão pôr em As regras sobre prisão especial só se aplicam antes da con‑
custódia o réu até que fique esclarecida a dúvida (art. 290, denação definitiva.21 Em geral, a prisão especial somente
§ 2º, do CPP). poderá ser concedida durante o processo ou inquérito
policial, cessando o benefício após o trânsito em julgado.22
Espécies de Prisão Nos termos do art. 295 do CPP, serão recolhidos a
quartéis ou a prisão especial, à  disposição da autoridade
Têm‑se as seguintes modalidades de prisão: competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação
a) Prisão‑pena definitiva:
É imposta em virtude do trânsito em julgado de sentença I – os ministros de Estado23;
penal condenatória. Configura‑se durante o processo de exe‑ II  – os governadores ou interventores de Estados ou
cução, com base nas disposições da Lei de Execuções Penais, Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos
materializando o caráter repressivo da pena de prisão. secretários, os  prefeitos municipais, os  vereadores e os
chefes de Polícia;
b) Prisão processual (cautelar ou provisória) III – os membros do Parlamento Nacional, do Conselho
A Constituição Federal estipula várias disposições perti‑ de Economia Nacional e das Assembleias Legislativas dos
nentes ao processo penal, com eficácia imediata. A natureza Estados;
jurídica da necessidade do decreto de uma prisão cautelar, IV – os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”24;
sob este viés, é o de medida excepcional.13 V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos
Modernamente, admite-se que a prisão do réu ocorra Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. Determina,
antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, ainda, o parágrafo único do art. 300 do CPP, com a redação
mesmo diante do princípio constitucional penal do “estado dada pela Lei nº 12.403/2011, que
de inocência”.14
É compatível com a Constituição Federal de 1988 a o militar preso em flagrante delito, após a lavratura
prisão processual15, eis que é sempre determinada por dos procedimentos legais, será recolhido a quartel
ordem judicial ou se verifica em face do flagrante de prática da instituição a que pertencer, onde ficará preso à
delitiva. Com efeito, em face da possibilidade da prisão em disposição das autoridades competentes;
flagrante, pode‑se afirmar que nem todas as modalidades
de prisão processual dependem de ordem fundamentada VI – os magistrados;
do juízo competente.16 VII – os diplomados por qualquer das faculdades supe‑
Chama‑se prisão provisória a prisão decretada antes riores da República25;
ou durante o processo penal, em sua fase judicial, ainda VIII – os ministros de confissão religiosa;
que já tenha sido prolatada sentença penal condenatória. IX – os ministros do Tribunal de Contas;
Compreende:
X – os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a
1) a prisão em flagrante17 (arts. 301 a 310 do CPP);
função de jurado, salvo quando excluídos da lista por mo‑
2) a prisão preventiva18 (arts. 311 a 316 do CPP);
tivo de incapacidade para o exercício daquela função;26 O
3) a prisão decorrente de pronúncia (art. 413, § 3º, do CPP);
legislador, no art. 439 com a redação da Lei nº 12.403/2011,
4) a prisão decorrente de sentença penal condenatória
retirou a previsão de prisão especial para os jurados, mas
sem trânsito em julgado (art. 387, parágrafo único, do CPP);
não alterou o art. 295, X, do CPP, que continua prevendo a
5) a prisão temporária19 (Lei nº 7.960/1989).
A decisão judicial que decreta prisão cautelar deve ser prisão especial para jurado.
sempre fundamentada. Assim, com referência à prisão cau‑ XI – os delegados de polícia e os guardas‑civis dos Estados
telar requerida pelo Ministério Público após o oferecimento e Territórios, ativos e inativos.
Noções de Direito Processual Penal

de denúncia, o deferimento da medida cautelar deve ter


como fundamento os pressupostos previstos no Código de Nos termos do art. 296 do CPP, os inferiores e praças, onde
Processo Penal, devendo o juiz fundamentar a sua decisão.20 for possível, serão recolhidos à prisão, em estabelecimentos
O art. 300 do CPP determinava que, sempre que possível, militares, de acordo com os respectivos regulamentos.
as pessoas presas provisoriamente deveriam ficar separadas Há, ainda, diversas outras leis que preveem prisão espe‑
das que já estivessem definitivamente condenadas. Com a cial. Com efeito, tem direito à prisão especial o dirigente de
entidade sindical.27
12
Assunto cobrado na prova da Movens/PC-PA/Delegado/Questão 30/Assertiva D/ 21
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 02/2006; Cespe/TJ‑SE/
2009. Juiz Substituto/2008 e 13º Concurso Público para Procurador da República.
13
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/DP‑MA/Defensor Público/2009. 22
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2008; 13º
14
Assunto cobrado na prova do Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/2009. Concurso Público para Procurador da República e OAB‑PR/Exame 02/2006.
15
Cespe/OAB/3º Exame de Ordem/2007. 23
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002 e TJ‑PR/
16
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/Exame 02/2006. Juiz Substituto/2006.
17
Assunto cobrado na prova da NCE/Polícia Civil RJ/2002 e OAB‑RJ/24º Exame 24
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002 e TJ‑PR/
de Ordem/2004. Juiz Substituto/2006.
18
Assunto cobrado na prova da NCE/Polícia Civil RJ/Papiloscopista Civil/2002 e 25
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002 e TJ‑PR/
OAB‑RJ/24º Exame de Ordem/2004. Juiz Substituto/2006.
19
Assunto cobrado na prova da OAB‑RJ/24º Exame de Ordem/2004. 26
Assunto cobrado na seguinte prova: FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009.
20
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006. 27
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003.
O mesmo se aplica em relação ao advogado, já que o Es‑ A prisão especial consiste exclusivamente no recolhimen‑
tatuto da Advocacia, em seu art. 7º, inciso V, estabelece que to em local distinto da prisão comum para os presos provisó‑
o advogado não pode ser recolhido preso antes de sentença rios (art. 295, § 1º, do CPP), que, nos termos do art. 102 da
transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com Lei de Execuções Penais, são segregados nas cadeias públicas
instalações e comodidades condignas (não sendo necessário (ou centros de detenção provisória).
que sejam assim consideradas pela OAB, conforme determi‑ Não havendo estabelecimento específico para o preso es‑
na a ADin nº 1.127-8), e, na sua falta, em prisão domiciliar. pecial, este será recolhido em cela distinta da cadeia pública
Segundo o STF, entende-se que referida dependência (art. 295, § 2º, do CPP). De acordo com a orientação do STJ,
se trata de o direito do advogado, ou de qualquer outro preso especial,
deve circunscrever‑se à garantia de recolhimento em local
compartimento de qualquer unidade militar que, distinto da prisão comum. Não havendo estabelecimento
ainda que potencialmente, possa ser utilizado pelo específico, poderá o preso ser recolhido à cela distinta da
grupo de Oficiais que assessoram o Comandante da prisão comum, observadas as condições mínimas de salu‑
organização militar para exercer suas funções, o local bridade e dignidade da pessoa humana.29
deve oferecer instalações e comodidades condignas Dessa forma, o que não é permitido é que o preso
(STF, Rcl nº 6.387/SC, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal especial fique em mesma cela que o preso comum. A cela
Pleno, 21/11/2008). especial poderá consistir em alojamento coletivo (desde
que todos os que ali se encontrem sejam presos especiais),
Ainda segundo referido julgado, a questão referente à atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela
existência de grades nas dependências da Sala de Estado‑ concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicio‑
-Maior onde o advogado deve ser recolhido, por si só, não namento térmico adequados à existência humana (art. 292,
impede o reconhecimento do perfeito atendimento ao § 3º, do CPP). Na hipótese de acomodações adequadas ao
disposto no art. 7º, V, da Lei nº 8.906/1994 (Rcl. 5.192, Rel. preso especial, o titular do benefício poderá ser segregado
Min. Menezes Direito).28 em estabelecimentos militares.
Também têm direito à prisão especial: Há possibilidade de prisão especial mesmo após o trânsi‑
to em julgado. Com efeito, o art. 84, § 2º, da Lei de Execuções
a) juízes de paz (art. 112, § 2º, da Lei Complementar Penais, estabelece que o preso que, ao tempo do fato, era
nº 35/1979); funcionário da Administração da Justiça Criminal ficará em
b) Defensores Públicos (art. 44, III, da Lei Comple‑ dependência separada, não se referindo ao fato de o preso
mentar nº 80/1994); ser apenas provisório. O mesmo se diga em relação a Defen‑
c) membros do Ministério Público (art. 18, II, e, da sores Públicos e membros do Ministério Público.
Lei Complementar nº  75/1993; e art.  40, V, da Lei O art. 292, § 4º, do CPP, estabelece, ainda, que o preso
nº 8.625/1993); especial não será transportado juntamente com o preso
d) Dirigentes e empregados, eleitos, dos sindicatos comum, sendo os demais direitos e deveres do preso espe‑
(Lei nº 2.860/1966); cial os mesmos do preso comum30 (art. 292, § 5º, do CPP).
e) Jornalistas profissionais (art.  66, da Lei A Súmula nº 717 do STF destaca que
nº 5.250/1967), em qualquer caso;
f) Oficiais da Marinha Mercante (Lei nº  799/1949, não impede a progressão de regime de execução da
e Lei nº 5.606/1970); pena, fixada em sentença não transitada em julgado,
g) Pilotos de aeronaves mercantes nacionais (Lei o fato de o réu se encontrar em prisão especial.
nº 3.988/1961);
h) Professores de primeiro e segundo graus (Lei d) Prisão civil
nº 7.172/1983); O art. 5º, LXVII, da CF/1988, estabelece que não haverá
i) Cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadim‑
função de jurado do Tribunal do Júri (art. 439 do CPP); plemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia
Com a edição da Lei nº 12.403/2011, o art. 439 do e a do depositário infiel.
CPP passou não mais assegurar a prisão especial para Quanto à prisão do depositário infiel, não é mais ad‑
o jurado, determinando apenas que “o exercício efe‑ mitida.31
tivo da função de jurado constituirá serviço público Com efeito, nos termos do art.  5º, §  2º, da CF/1988,
relevante e estabelecerá presunção de idoneidade os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem
moral”. Entretanto, o art. 295, X, continua prevendo outros decorrentes do regime e dos princípios por ela ado‑
Noções de Direito Processual Penal

a prisão especial para jurado, conforme já destacado; tados, ou dos tratados internacionais em que a República
j) membro do Conselho Tutelar da Criança e do Ado‑ Federativa do Brasil seja parte.
lescente (art. 135, da Lei nº 8.069/1990); Por sua vez, o Pacto de São José da Costa Rica (ratificado
k) vogais e suplentes, juízes e Ministros classistas da pelo Brasil – Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992), em
Justiça do Trabalho (art. 665, da CLT); seu art. 7º, item 7, estabelece que ninguém deve ser detido
l) funcionário da administração da justiça criminal por dívidas, salvo nas hipóteses de mandados de autoridade
(arts. 84, § 2º, e 106, § 3º, da Lei de Execução Penal – judiciária competente expedidos em virtude de inadimple‑
Lei nº 7.210/1984); mento de obrigação alimentar. Assim, a única exceção seria
m) colaborador, nas hipóteses dos §§1º e 3º, da Lei a possibilidade de prisão civil do responsável pelo inadim‑
nº 9.807/1999, que trata da proteção de acusados plemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia.
ou condenados que tenham voluntariamente pres‑ Embora o referido Pacto não tenha caráter de emenda
tado efetiva colaboração à investigação policial e ao constitucional, eis que não foi aprovado, em cada Casa do
processo criminal. Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
29
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substitu‑
28 30
Assunto cobrado na prova da FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009.
to/2009. 31
Assunto cobrado: Cespe/DPE-ES/Defensor Público/Questão 46/2009.

94
votos dos respectivos membros, conforme exigência do § 3º No procedimento administrativo de extradição, Capez
do art. 5º da CF/1988, o STF tem ressaltado que o referido (2009, p. 255) destaca a existência de julgado do STF per‑
tratado tem hierarquia intermediária de norma supralegal mitindo a prisão administrativa, desde que decretada por
que autoriza afastar regra ordinária brasileira que possibilite juiz, posicionamento com o qual não concorda e por nós é
a prisão civil por dívida, no caso, os  arts. 652 do Código tangenciado, tendo em vista as disposições constitucionais.
Civil e 904, parágrafo único, do Código de Processo Civil, Referidos artigos não foram recepcionados pelo art. 5º,
mesmo que a Constituição Federal, em seu art. 5º, LXVII, LXI e LXVII, da CF/1988, que exige decisão judicial para a
de eficácia restringível, permita a prisão do depositário decretação da prisão.
infiel, e sejam as disposições do Código Civil posteriores
às do referido Pacto: f) Prisão disciplinar
O art. 5º, LXI, da CF/1988, permite a prisão disciplinar de
EMENTA: HABEAS CORPUS. SALVO‑CONDUTO. PRI‑ militar para o caso de transgressão militar. E mais, o art. 142,
SÃO CIVIL. DEPOSITÁRIO JUDICIAL. DÍVIDA DE CA‑ § 2º, da CF/1988, estabelece não caber habeas corpus em
RÁTER NÃO ALIMENTAR. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM relação a punições disciplinares militares.
CONCEDIDA. 1. O  Plenário do Supremo Tribunal A jurisprudência tem abrandado o rigor de tal proibição
Federal firmou a orientação de que só é possível a permitindo o questionamento por habeas corpus. Nesse
prisão civil do “responsável pelo inadimplemento sentido, o STF destaca que
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia”
(inciso LXVII do art.  5º da CF/1988). Precedentes: a legalidade da imposição de punição constritiva da li‑
HCs nos 87.585 e 92.566, da relatoria do Min. Marco berdade, em procedimento administrativo castrense,
Aurélio. 2. A norma que se extrai do inciso LXVII pode ser discutida por meio de ha­beas corpus. (STF,
do art. 5º da Constituição Federal é de eficácia res‑ RHC nº 88.543/SP, Rel.Min. Ricardo Lewandowski, Ór‑
tringível. Pelo que as duas exceções nela contidas gão Julgador: Primeira Turma, Julgamento: 3/4/2007)
podem ser aportadas por lei, quebrantando, assim,
Se a punição disciplinar militar atender aos pressupostos
a força protetora da proibição, como regra geral,
de legalidade, quais sejam, a hierarquia, o poder disciplinar,
da prisão civil por dívida. 3. O Pacto de São José da
o ato ligado à função e a pena susceptível de ser aplicada
Costa Rica (ratificado pelo Brasil – Decreto nº 678,
disciplinarmente, é incabível a impetração de habeas corpus,
de 6 de novembro de 1992), para valer como norma
eis que não se pode questionar, com base em referida ação
jurídica interna do Brasil, há de ter como fundamento autônoma de impugnação, questões referentes ao mérito da
de validade o § 2º do art. 5º da Magna Carta. A se punição disciplinar. (STF, RE nº 338.840/RS, Rel. Min. Ellen
contrapor, então, a qualquer norma ordinária origi‑ Gracie, Segunda Turma, Julgamento: 19/8/2003)
nariamente brasileira que preveja a prisão civil por
dívida. Noutros termos: o Pacto de São José da Costa g) Prisão para averiguação
Rica, passando a ter como fundamento de validade É incompatível com a Constituição Federal de 1988 a
o § 2º do art. 5º da CF/1988, prevalece como nor‑ prisão para averiguação.33 Além de inconstitucional, o autor
ma supralegal em nossa ordem jurídica interna e, de prisão para averiguação comete o crime de abuso de
assim, proíbe a prisão civil por dívida. Não é norma autoridade previsto no art. 3º, a e i da Lei nº 4.898/1965.34
constitucional – à falta do rito exigido pelo § 3º do A equipe policial, para constatar se há algum mandado
art. 5º –, mas a sua hierarquia intermediária de norma contra o agente, deve se valer de seus meios de comunica‑
supralegal autoriza afastar regra ordinária brasileira ção. Só poderá efetivar a prisão se restar configurada alguma
que possibilite a prisão civil por dívida. 4. No caso, das modalidades de flagrante ou se houver ordem judicial
o  paciente corre o risco de ver contra si expedido contra o sujeito.
mandado prisional por se encontrar na situação de Entretanto, poderá haver prisão em flagrante se o sujeito
infiel depositário judicial. 5. Ordem concedida. (STF, recusar a fornecer à autoridade quando esta, justificadamen‑
HC  nº  94.013/SP, Rel. Min. Carlos Britto, Primeira te, solicitar ou exigir dados ou indicações concernentes à
Turma, Julgamento: 10/2/2009) própria identidade, estado, profissão, domicílio e residência,
pois o sujeito incidirá, assim, na contravenção prevista no
e) Prisão administrativa art.  68 do Decreto‑Lei nº  3.688/1941. Isso mesmo se for
Prisão administrativa é a decretada por autoridade admi‑ uma infração em que o agente se livre solto, por não ser
nistrativa. Essa modalidade de prisão não foi recepcionada punida com pena privativa de liberdade. Já se o sujeito fizer
pela Constituição de 1988. Era prevista na antiga redação do declarações inverídicas a respeito de sua identidade pessoal,
Noções de Direito Processual Penal

art. 319 do CPP, que falava sobre a prisão administrativa de estado, profissão, domicílio e residência, também responde
quem não pagasse tributo ou de estrangeiro desertor. Referi‑ pela referida contravenção, que, no caso, prevê pena priva‑
da modalidade de prisão foi retirada de nosso ordenamento tiva de liberdade.
jurídico com a edição da Lei nº 12.403/2011. Era prevista:
1) no art. 319 do CPP32, que falava sobre a prisão admi‑ Medidas Cautelares Diversas da Prisão
nistrativa de quem não pagasse tributo ou de estrangeiro
desertor; O art. 319 com a redação da Lei nº 12.403/2011 trouxe
2) no art. 35 da antiga Lei de Falências, quando o falido as seguintes medidas cautelares diversas da prisão:
não cumpria suas obrigações; I  – comparecimento periódico em juízo, no prazo e
3) nos arts. 81 e 84, caput, da Lei nº 6.815/1980, que nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar
previa a possibilidade de o Ministro da Justiça decretar prisão atividades;
para fins de expulsão ou extradição de estrangeiro. II – proibição de acesso ou frequência a determinados
lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal
32

Substituto; NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004 e OAB‑DF/3º Exame de Assunto cobrado na prova do Cespe/3º Exame de Ordem/2007.
33

Ordem/2003. Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009.


34
o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais prender o autor do crime em flagrante sem a referida
para evitar o risco de novas infrações; representação.39
III – proibição de manter contato com pessoa determi‑ O estado de flagrante delito é uma das exceções cons‑
nada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva titucionais à inviolabilidade do domicílio, nos termos da
o indiciado ou acusado dela permanecer distante; Constituição Federal.40
IV – proibição de ausentar-se da Comarca quando a per‑
manência seja conveniente ou necessária para a investigação Momento
ou instrução;
V – recolhimento domiciliar no período noturno e nos A prisão pode ser efetuada em qualquer dia e a qualquer
dias de folga quando o investigado ou acusado tenha resi‑ hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do
dência e trabalho fixos; domicílio.
VI  – suspensão do exercício de função pública ou de
atividade de natureza econômica ou financeira quando Sujeito ativo
houver justo receio de sua utilização para a prática de in‑
frações penais; Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e
seus agentes deverão prender quem quer que seja encon‑
VII – internação provisória do acusado nas hipóteses de
trado em flagrante delito41 (art. 301 do CPP).
crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando
Com relação à possibilidade de qualquer do povo efetuar
os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável
prisão em flagrante, tem‑se hipótese de flagrante facultati‑
(art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; vo, sendo que até mesmo a vítima do crime pode prender
VIII – fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar aquele que for encontrado em flagrante delito, não havendo,
o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução entretanto, qualquer obrigatoriedade, mas sim possibilidade
do seu andamento ou em caso de resistência injustificada de que se efetue a prisão.
à ordem judicial; Já as autoridades policiais e seus agentes têm o dever
IX – monitoração eletrônica. legal de efetivar a prisão, sendo hipótese de flagrante obri‑
gatório ou compulsório.42
Prisão em Flagrante
Sujeito passivo
Conceito
É o indivíduo que se encontra em situação flagrancial,
A Prisão em Flagrante é um ato administrativo do Es‑ sendo que qualquer pessoa pode ser sujeito passivo de
tado, como deixa entrever o Código de Processo Penal; é prisão em flagrante.
uma medida cautelar de natureza processual que dispensa Entretanto, não são sujeitos passivos de flagrante:
ordem escrita e é prevista expressamente na Constituição 1) Menores de 18 anos, nos termos do art.  228 da
Federal.35 CF/1988 e do art.  27 do Código Penal, que consideram o
menor inimputável. Com efeito, nos termos do art. 172 do
Natureza jurídica Estatuto da Criança e do Adolescente, o adolescente apre‑
endido em flagrante de ato infracional será, desde logo, en‑
Trata‑se de modalidade de prisão que dispensa ordem caminhado à autoridade policial competente. Não há prisão
judicial, sendo prevista na própria Constituição Federal36, em flagrante e nem lavratura de auto de prisão em flagrante.
tendo cabimento quando o agente: Obs.: Se a inimputabilidade for por doença mental,
não há óbice à prisão. Nesse sentido, vejamos o seguinte
1) está cometendo a infração penal;
exemplo: em um sábado à noite, Lúcia, enfermeira do hos‑
2) acaba de cometê‑la;
pital psiquiátrico Dr. PINEL, solicita a presença de policiais
3) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendi‑
militares, alegando que Semprônio, paciente portador de
do ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir grave distúrbio mental que o impede inteiramente de en‑
ser autor da infração; ou tender o caráter ilícito de seu próprio comportamento, está
4) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, agredindo dolosamente o zelador Nilo. De fato, os policiais
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da in‑ militares chegam ao hospital e flagram Semprônio ofendendo
fração (art. 302 do CPP). a integridade corporal de Nilo. Diante da intervenção dos mi‑
É possível a prisão em flagrante não só de quem esteja licianos, Semprônio é detido e levado, juntamente com Nilo e
cometendo crime, mas também a de quem esteja cometendo Lúcia, à presença da autoridade policial. Nilo imediatamente
Noções de Direito Processual Penal

contravenção. representa pelo processo criminal em face do agressor e é


É cabível a prisão em flagrante em crime de ação penal encaminhado a exame de corpo de delito, constatando os
privada.37 Entretanto, nos crimes de ação penal privada peritos que foram leves as lesões suportadas pela vítima.
a lavratura do auto de prisão em flagrante depende de Encontrando‑se suficientemente demonstradas as informa‑
requerimento do ofendido.38 Deve-se, portanto, diferenciar ções anteriores, a autoridade policial deverá lavrar auto de
a prisão em flagrante da lavratura do auto de prisão em prisão em flagrante e, diante da notícia de que o autor do
flagrante. fato é doente mental, representar à autoridade judiciária
Em crime de ação penal pública condicionada à re‑ pela instauração de incidente de insanidade mental e pela
presentação, o  delegado de polícia também não poderá
39
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
35
Delegado de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001. 40
Cespe/2º Exame da Ordem/2006.
36
Assunto cobrado na seguinte prova: FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004. 41
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ-SP /Juiz/Questão 48/Item III/2011.
37
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Delegado da Polícia Fe­deral/2002; 42
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005;
OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; OAB‑PR/Exame 01/2006; OAB‑RS/1º Exame/2007; FGV/TJ‑SE/Analista Judici‑
OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; ário/2004; OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004; TJ‑SC/Oficial de Justiça/2003;
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002; OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004 Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego‑
e OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004. ria/2001 e Unama/Defensoria Pública do Estado do Pará/Defensor Público de
38
OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003. 1ª Entrância do Estado do Pará/2006.

96
imediata transferência de Semprônio para hospital de ADIN Nº 978-PB, REL. P/ O ACÓRDÃO MIN. CELSO DE
custódia e tratamento.43 MELLO (STF, ADI nº 1.010/MT, Rel. Min. Ilmar Galvão,
2) A pessoa do agente diplomático não poderá ser Tribunal Pleno, DJ 17/11/1995).
objeto de nenhuma forma de detenção ou prisão (Decreto
nº 56.435/1965, que promulgou a Convenção de Viena sobre 4) Desde a expedição do diploma, os membros do Congres‑
Relações Diplomáticas). so Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de cri‑
Os funcionários consulares não poderão ser detidos ou me inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro
presos preventivamente, exceto em caso de crime grave e de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto
em decorrência de decisão de autoridade judiciária compe‑ da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão (art. 53,
tente (Decreto nº 61.078/1967, que promulgou a Convenção § 2º, da CF/1988). Trata‑se da imunidade formal (processual
de Viena sobre Relações Consulares). Entretanto, pode ser ou relativa). Nos termos do art. 27, § 1º, da CF/1988, os de‑
sujeito passivo do flagrante o diplomata44 nacional. putados estaduais também possuem imunidade relativa. Já
3) O presidente da República, nos termos do art. 86, § 3º, os vereadores não têm imunidade processual. Os senadores,
da CF/1988, que estabelece que, enquanto não sobrevier os deputados federais e estaduais e os vereadores (no exercício
sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente do mandato e na circunscrição do Município) também gozam
da República não estará sujeito a prisão. de imunidade material, nos termos dos arts. 53, caput, e 29,
Tal proteção poderá não alcançar os governadores, VIII, da CF/1988, sendo invioláveis, civil e penalmente, por
ainda que haja previsão nas constituições estaduais.45 quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. Não cometem,
Nesse sentido, citemos a seguinte emenda do STF: portanto, os crimes contra a honra (arts. 138 a 140 do CP) e
apologia ao crime (art. 287 do CP).
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – CONS‑ Assim, se um deputado federal foi surpreendido e detido
TITUIÇÃO DO ESTADO DE MATO GROSSO – OUTORGA por agentes de polícia, em um restaurante, no momento
DE PRERROGATIVA DE CARÁTER PROCESSUAL PENAL em que efetuou seis disparos de revólver contra um desa‑
AO GOVERNADOR DO ESTADO – IMUNIDADE A PRI‑ feto, ceifando‑lhe a vida. A autoridade policial autuou o
SÃO CAUTELAR – INADMISSIBILIDADE – USURPAÇÃO parlamentar em flagrante delito, remetendo os autos, em
DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO – PRER‑ dezesseis horas, à Câmara dos Deputados. Nessa situação,
ROGATIVA INERENTE AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA a Câmara dos Deputados, pelo voto secreto da maioria de
ENQUANTO CHEFE DE ESTADO (CF/1988, art. 86, seus membros, resolverá sobre a prisão e autorizará, ou
§ 3º) – AÇÃO DIRETA PROCEDENTE. IMUNIDADE não, a formação de culpa.46
A PRISÃO CAUTELAR – PRERROGATIVA DO PRESI‑ Por outro lado, o STF entende que o art. 53 da Consti‑
DENTE DA REPÚBLICA – IMPOSSIBILIDADE DE SUA tuição da República dispõe que os Senadores, Depu­tados
EXTENSÃO, MEDIANTE NORMA DA CONSTITUIÇÃO Federais e Estaduais são isentos de enquadramento penal por
ESTADUAL, AO GOVERNADOR DO ESTADO. O ESTADO‑ suas opiniões, palavras e votos, ou seja, têm imunidade ma‑
-MEMBRO, AINDA QUE EM NORMA CONSTANTE terial no exercício da função parlamentar, ou seja, as palavras
DE SUA PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO, NÃO DISPÕE DE devem estar absolutamente ligadas ao exercício do mandato.
COMPETÊNCIA PARA OUTORGAR AO GOVERNADOR (STF, Inq. nº 2.297/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno,
A PRERROGATIVA EXTRAORDINÁRIA DA IMUNIDADE Julgamento: 20/9/2007)
O mesmo ocorre em relação aos vereadores, sendo que
À PRISÃO EM FLAGRANTE, A PRISÃO PREVENTIVA E A
PRISÃO TEMPORÁRIA, POIS A DISCIPLINAÇÃO DESSAS
o Supremo Tribunal Federal fixou entendimento de
MODALIDADES DE PRISÃO CAUTELAR SUBMETE-SE,
que a imunidade material concedida aos vereadores
COM EXCLUSIVIDADE, AO PODER NORMATIVO DA
sobre suas opiniões, palavras e votos não é absoluta,
UNIÃO FEDERAL, POR EFEITO DE EXPRESSA RESERVA
e é limitada ao exercício do mandato parlamentar
CONSTITUCIONAL DE COMPETÊNCIA DEFINIDA PELA
sendo respeitada a pertinência com o cargo e o inte‑
CARTA DA REPÚBLICA. A NORMA CONSTANTE DA resse municipal. (STF, RE‑AgR nº 583.559/RS, Rel. Min.
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL – QUE IMPEDE A PRISÃO Eros Grau, Segunda Turma, Julgamento: 10/6/2008)
DO GOVERNADOR DE ESTADO ANTES DE SUA CON‑
DENAÇÃO PENAL DEFINITIVA – NÃO SE REVESTE 5) São prerrogativas do magistrado não ser preso senão
DE VALIDADE JURÍDICA E, CONSEQUENTEMENTE, por ordem escrita do Tribunal ou do órgão especial compe‑
NÃO PODE SUBSISTIR EM FACE DE SUA EVIDENTE tente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafian‑
INCOMPATIBILIDADE COM O TEXTO DA CONSTI‑ çável (neste caso, a autoridade fará imediata comunicação
TUIÇÃO FEDERAL. PRERROGATIVAS INERENTES AO e apresentação do magistrado ao Presidente do Tribunal
Noções de Direito Processual Penal

PRESIDENTE DA REPÚBLICA ENQUANTO CHEFE DE a que esteja vinculado). (art.  33, II, da Lei Complementar
ESTADO. – OS ESTADOS-MEMBROS NÃO PODEM nº 35/1979 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional)
REPRODUZIR EM SUAS PRÓPRIAS CONSTITUIÇÕES O 6) Constituem prerrogativas dos membros do Ministé‑
CONTEÚDO NORMATIVO DOS PRECEITOS INSCRITOS rio Público ser preso somente por ordem judicial escrita,
NO ART. 86, §§ 3º E 4º, DA CARTA FEDERAL, POIS AS salvo em flagrante de crime inafiançável (neste caso, a au‑
PRERROGATIVAS CONTEMPLADAS NESSES PRECEITOS toridade fará, no prazo máximo de vinte e quatro horas,
DA LEI FUNDAMENTAL – POR SEREM UNICAMENTE a comunicação) e a apresentação do membro do Ministério
COMPATÍVEIS COM A CONDIÇÃO INSTITUCIONAL Público ao Procurador‑Geral de Justiça (art.  40, III, da Lei
DE CHEFE DE ESTADO – SÃO APENAS EXTENSÍVEIS nº 8.625/1993 – Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA. PRECEDENTE: 7) O advogado somente poderá ser preso em flagrante,
por motivo de exercício da profissão, em caso de crime ina‑
43
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil
do Rio de Janeiro/2001 e Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor
fiançável (art. 7º, § 3º, da Lei nº 8.906/1994). O art. 7º, IV, da
Público/2002. Lei nº 8.906/1994 estabelece ainda que o advogado tem di‑
44
Assunto cobrado na prova da DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas reito à presença de representante da OAB, quando preso em
Gerais/SSP/MG/Delegado de Polícia/2007.
45
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substitu‑
to/2009. Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
46
flagrante, por motivo ligado ao exercício da advocacia, para Nada obstará, entretanto, seja decretada prisão pre‑
lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos ventiva nos casos em que a lei a autoriza. Havia disposição
demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB. expressa nesse sentido na antiga redação do art. 317 do
8) A autoridade policial que tomar conhecimento da ocor‑ CPP, que foi suprimido pela Lei nº 12.403/2011. Entretanto,
rência de infração de menor potencial ofensivo lavrará termo entendemos que ainda é cabível a prisão preventiva se pre‑
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao juizado, sentes as hipóteses dos arts. 312 e 313 do CPP, com a redação
com o autor do fato e a vítima, providenciando‑se as requisi‑ dada pela Lei nº 12.403/2011. Caso alguém, após matar sua
ções dos exames periciais necessários. Ao autor do fato que, companheira, apresente-se, voluntariamente, à autoridade
após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado policial, comunicando o ocorrido e indicando o local do cri‑
ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, me, essa apresentação voluntária tornará inviável a prisão
não se imporá prisão em flagrante47, nem se exigirá fiança em flagrante mas não a preventiva, caso, por exemplo, esse
(art.  69, parágrafo único, da Lei nº  9.099/1995). Assim, há indivíduo dê argumentos de que fugirá do país.53
possibilidade de se lavrar auto de prisão em flagrante no caso 10) Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de
de infrações de menor potencial ofensivo, bastando o autor se trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em
recusar a assinar o compromisso de comparecer ao juizado. flagrante54, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral
Entretanto, após a lavratura do auto de prisão em flagrante, socorro àquela (art. 301 da Lei nº 9.503/1997).
muitas vezes será colocado em liberdade se restar configu‑
rada, por exemplo, hipótese em que o agente se livre solto, Espécies de flagrante
pelo fato de a figura penal não prever pena de prisão, como
ocorre com a conduta prevista no art. 28 da Lei de Drogas (Lei Segundo a lei processual penal, são consideradas
nº 11.343/2006), embora haja na doutrina entendimento de espécies de prisão em flagrante: próprio, impróprio e
que não é cabível sequer a prisão em flagrante (CAPEZ, 2009, presumido.55
p. 269). Nesse sentido, observa‑se que o crime de constran‑
gimento ilegal, cuja pena é de detenção de três meses a um Flagrante próprio (real, propriamente dito ou verda‑
ano ou multa, é da alçada do juizado especial criminal. Nessa deiro)
situação, o delegado de polícia não deve lavrar o auto de São duas as possibilidades, nos termos do art. 301, I e
prisão em flagrante, mas termo circunstanciado, desde que II, do CPP. O flagrante próprio ocorre quando o agente está
o autor da infração seja imediatamente encaminhado para cometendo a infração penal ou acaba de cometê‑la.56
o juizado ou assuma o compromisso de fazê‑lo.48 Na primeira hipótese, o agente é encontrado praticando
Seguindo a mesma linha de raciocínio, na manhã de os atos executórios do delito.
segunda‑feira, dia normal de trabalho, agentes peniten‑ Já na segunda hipótese, os  atos executórios já foram
ciários de serviço na Penitenciária de Bangu prendem em realizados, sendo o agente preso imediatamente após o
flagrante João, que estava agredindo José. Tanto João como cometimento da infração no local dos fatos. A  título de
José cumprem pena na referida instituição, condenados que exemplo, um policial rodoviário federal, durante um patru‑
foram, definitivamente, a oito anos de reclusão por tráfico lhamento ostensivo, foi alvejado com um tiro de revólver
de drogas. Levados à presença do Diretor da unidade, este desfechado pelo condutor‑infrator de um veículo, sofrendo
determinou a condução do agressor, da vítima e das teste‑ lesões corporais de natureza gravíssima, que ocasionaram
munhas para a delegacia de polícia da área, uma vez que José deformidade permanente. Neste caso, estará configurado o
manifestou a vontade de representar pelo processo em face denominado flagrante próprio, na hipótese de o condutor
de João. Na delegacia de polícia, José ratifica a representação do veículo ter sido preso ao acabar de desfechar o tiro de
e é levado a exame de corpo de delito, constatando os peri‑ revólver no policial rodoviário federal.57
tos que se trata de lesão corporal de natureza leve. Diante
disso, a autoridade policial lavrará termo circunstanciado e Flagrante impróprio (irreal ou quase‑flagrante)
providenciará o imediato encaminhamento do autor do fato Denomina‑se flagrante impróprio a prisão daquele que
ao Juizado Especial Criminal competente.49 é perseguido, logo após cometer o delito, em situação que
9) A apresentação espontânea do acusado à autorida‑ faça presumir ser o mesmo o autor da infração58, nos termos
de impedirá sua prisão em flagrante, por não configurar a do art. 302, III, do CPP.
apresentação espontânea hipótese prevista no art. 302 do No flagrante irreal, o  agente é perseguido logo após
CPP. Entretanto, o CPP não veda expressamente a prisão em cometer o ilícito, em situação que faça presumir ser ele o
flagrante do agente que se apresente à autoridade policial, autor da infração.59
ainda que logo após a prática de crime.50 Não tem cabimen‑ A título de exemplo: Quem, logo após o cometimento
to a prisão em flagrante do agente que, horas depois do de furto, é encontrado na posse do bem subtraído, pode ser
Noções de Direito Processual Penal

delito, entrega‑se espontaneamente à polícia, que não o preso em flagrante delito, ainda que inexistam testemunhas
perseguia, e confessa o crime diante da autoridade poli‑ da infração.60
cial.51 Assim, Jorge imediatamente após matar a esposa e o A perseguição deve ser iniciada “logo após”, ou seja, deve
amante desta, flagrados em adultério, Jorge, arrependido, haver um pequeno intervalo de tempo entre o fato e o início
procurou autoridade policial e confessou a autoria do crime, da perseguição, como, por exemplo, o prazo para a polícia
até então desconhecido pela polícia. Nessa situação, Jorge
poderá ser preso, mas não em flagrante.52 53
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substi‑
tuto/2009.
54
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑PI/Juiz Substituto/2001.
47
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005. 55
FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Escrivão Judicial/Questão 50/Assertivas A, B, C,
48
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor Público de 2ª Cate‑ D e E/2009.
goria/2005. 56
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑RN/Analista Judiciá­rio e FCC/
49
Assunto cobrado na prova da NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de TRE‑RN/Analista Judiciário/2005.
Janeiro/2001. 57
Cespe/PRF/2004.
50
Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Substituto/2009/ 58
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
Questão 19/Assertiva C. de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/TJ‑DF/Analista Judiciá‑
51
Assunto cobrado na prova de Delegado de Polícia Substituto de Santa Ca­ rio/2003; Cespe/IPAJM/Advogado/2006 e FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005.
tarina/2001. 59
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.
52
Cespe/TJ‑MT/Juiz Substituto/2004. 60
Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 48/Item I/2011

98
chegar ao local, levantar as primeiras evidências e sair no A caracterização do flagrante presumido prescinde da
encalço do suspeito, dando início à perseguição. perseguição ao agente logo depois da infração.67
Uma vez iniciada a perseguição, não há prazo para o seu
término, desde que seja ininterrupta. Assim, não é nula a Flagrante preparado (provocado, putativo por obra do
prisão em flagrante realizada 24 horas após o crime.61 agente provocador, de ensaio, de expe­riência)
Diligências policiais montadas com o objetivo de prender No flagrante preparado, o crime é impossível.68
o agente configuram “perseguição”. O chamado flagrante preparado não é admitido no
A perseguição exigida no flagrante impróprio pode processo penal, por ser a conduta do suposto autor do
ser caracterizada pelo patrulhamento e guarda visando delito obra do agente provocador.69 A vontade do agente,
à prisão do autor do delito, uma vez que a legislação não que existe perfeitamente, é, entretanto, viciada, eis que a
explicita as diligências que a caracteriza.62 ele foi instigada ou, de qualquer forma, facilitada a prática
do delito, por uma simulação.
Flagrante presumido (ficto ou assinalado) Além disso, tomam‑se as precauções para que o delito
não se consume. Assim, não há crime quando a preparação
Nos termos do art. 302, IV, do CPP, considera‑se flagrante
do flagrante pela polícia torna impossível a sua consuma‑
presumido quando o agente é encontrado, logo depois do ção.70 É o teor da Súmula nº 145 do STF71.
crime, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que Tem‑se, portanto, que o flagrante preparado traz a hipó‑
façam presumir seja ele o autor da infração.63 tese de crime impossível, eis que se afasta a possibilidade
A título de exemplo: José, mediante grave ameaça, de produção do resultado ou mesmo da fuga.
subtraiu de João uma carteira, contendo dinheiro, cartões No flagrante provocado ou preparado, não haverá, em
de crédito e diversos papéis, tendo, em seguida, fugido do nenhuma hipótese, a consumação do delito, exceto no caso
local. João avisou a polícia, que, logo depois, encontrou de drogas, em razão de a eventual conduta precedente já
José de posse de um recibo de depósito bancário realizado configurar o delito consumado.72 Com efeito, se um policial,
na conta de João, que estava dentro da carteira subtraída. passando‑se por viciado, com o fim de comprar drogas,
Ao ser abordado, José não resistiu e se entregou, confes‑ deu voz de prisão ao traficante, conduzindo‑o à presença
sando a autoria do crime de roubo. Nesse caso, José pode da autoridade policial competente, à  qual apresentou o
ser preso em flagrante, porque foi encontrado, logo depois conduzido, juntamente com grande quantidade de droga
do crime, de posse de papel que faz presumir ter sido ele o apreendida em seu poder no ato da suposta venda. Em rela‑
autor da infração.64 ção a essa situação hipotética, caberá à autoridade policial
O que caracteriza a referida modalidade de flagrante é o a autuação em flagrante do conduzido não pela venda da
agente ter sido “encontrado”, seja por uma viatura policial substância, mas porque trazia ou tinha em depósito subs‑
em ronda de rotina ou mesmo por uma blitz montada alea‑ tância entorpecente destinada ao comércio ilícito, sendo
toriamente sem visar prender o agente. tais condutas preexistentes à ação policial.73 Entretanto,
A expressão “logo depois” permite a prisão após lapso verifica‑se flagrante preparado na conduta do policial que dá
temporal maior do que o necessário no flagrante impró‑ voz de prisão em flagrante a agente que, induzido por policial
prio. Entretanto, não se pode ter um lapso temporal muito a fornecer‑lhe a droga que, no momento não possuía, mas
dilatado, sob pena de se descaracterizar o flagrante. Nesse que retorna com a substância entorpecente.
sentido, em uma ronda de rotina, policiais militares avis‑ Assim, tem‑se como exemplo do chamado “flagrante
taram Euclides, primário, mas com maus antecedentes, preparado” e não do “flagrante esperado”, a prisão oriunda
portando várias jóias e relógios. Consultando o sistema da conduta da vítima que, proprietária de lanchonete, per‑
cebendo a subtração de alguns gêneros alimentícios de seu
de comunicação da viatura policial, via rádio, os policiais
estabelecimento, deixa bandeja de petisco cuidadosamente
foram informados de que havia uma ocorrência policial de
arranjada, com linguiça, azeitona, refrigerante e cerveja,
furto no interior de uma residência na semana anterior, no para atrair os prováveis meliantes.74
qual foram subtraídos vários relógios e joias, que, pelas ca‑ Os conceitos de flagrante preparado e esperado não se
racterísticas, indicavam serem os mesmos encontrados em confundem.75 Não há o chamado “flagrante preparado”,
poder de Euclides. Com relação a essa situação hipotética, mas, sim, o “flagrante esperado”, se os policiais, com base
Euclides não deverá ser preso, pois não há que se falar em em escuta telefônica, efetuaram busca e apreensão na
flagrante no caso mencionado.65 residência do suspeito, ali encontrando vários papelotes
Ainda como exemplo, Motorista, cujo carro fora roubado de cocaína, dando‑lhe, em consequência, voz de prisão no
em rodovia federal, dirige-se imediatamente ao Posto da ato.76 Na modalidade referida, não houve qualquer instigação
Polícia Rodoviária Federal mais próximo e relata o fato. O ou facilitação para a prática do crime, não estando a vontade
agente policial registra a ocorrência e alerta, pelo rádio, do agente viciada por atuação do agente provocador.
todos os policiais rodoviários federais que patrulham aquela
Noções de Direito Processual Penal

rodovia. Vinte minutos depois, dois policiais interceptam Flagrante esperado


o veículo roubado, que estava sendo conduzido por um O nosso ordenamento Jurídico não repudia o flagrante
homem cuja descrição coincide com a que fora feita pela esperado.77
vítima. Considerando essa narrativa, os policiais devem
apreender o carro roubado e efetuar a prisão em flagrante 67
MPE-MS/Promotor de Justiça Substituto/Questão 38/Item V/2011.
do suspeito, pois a hipótese é de flagrante presumido.66
68
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva
C/2012 e Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.
69
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004;
61
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005. OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003 e Cespe/Espírito Santo/1º Exame da Or‑
62
Cespe/Defensoria Pública do Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª dem/2004.
Classe/2003. 70
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PR/Juiz Substituto/2006 e OAB‑MG/1º
63
Assunto cobrado nas seguintes provas: PUC-PR/TJ-RO/Juiz Substituto/Questão Exame de Ordem/2005.
55/2011; TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto; Cespe/TRE‑AL/ 71
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substitu‑
Analista Judiciário/2004; OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005; Fapeu/TRE‑SC/ to/2009.
Analista Judiciário/2005 e MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 66/Assertiva 72
Cespe/TJ‑RR/Técnico Judiciário/2006.
B/2009. 73
Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006.
64
FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/Segurança/Questão 42/2011. 74
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003.
65
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008. 75
Assunto cobrado na prova do Cespe/2º Exame da Ordem/2006.
66
Funrio/PRF/Policial Rodoviário Federal/Questão 71/Assertivas A, B, C, D e 76
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003.
E/2009. 77
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.

99
É legal a prisão decorrente de flagrante esperado.78 No Referida lei permite inclusive a infiltração de agentes
flagrante esperado, a polícia aguarda e observa a atuação nas organizações criminosas, que é prática admitida em
do agente, sem ocorrer indução ou provocação de crime.79 nosso ordenamento.85
É válida a prisão em flagrante se chega à polícia a infor‑ Há entendimentos doutrinários, como o de Capez (2009,
mação da iminente prática de um delito e esta se desloca p. 266 a 267) de que esta modalidade de flagrante só é cabí‑
para o local onde ocorrerá a suposta infração e aguarda o vel nas ações praticadas por organizações criminosas. Nesse
início da realização dos atos de execução, impedindo sua sentido, determinada organização criminosa voltada para
consumação e exaurimento.80 a prática do tráfico de armas de fogo esperava um grande
A título de exemplo, a  corretora de imóveis Carla foi carregamento de armas para dia e local previamente de‑
indiciada em inquérito policial, juntamente com os três terminados. Durante a investigação policial dessa organi‑
sócios, pela prática reiterada do crime de estelionato. Seu zação criminosa, a autoridade policial recebeu informações
modus operandi era vender o mesmo imóvel a mais de uma seguras de que parte do bando estava reunida em um bar
pessoa. Em uma de suas empreitadas, ofereceu um lote a e receberia o dinheiro com o qual pagaria o carregamento
Vasco, que, sabedor da conduta de Carla, foi a uma dele‑ das armas, repassando, ainda no local, grande quantidade
gacia e noticiou o fato à autoridade policial, comunicando de droga em troca do dinheiro. Mantido o local sob obser‑
data, horário e local marcado por ela para concretizarem o vação, decidiu a autoridade policial retardar a prisão dos
negócio. Na data informada e no momento em que Carla e integrantes que estavam no bar de posse da droga, para que
Vasco estavam no caixa do banco objetivando transferir a os policiais pudessem segui‑los, identificar o fornecedor das
quantia de uma conta para outra, surgiu a polícia. Quanto armas e, enfim, prendê‑los em flagrante. Nessa situação,
a essa situação hipotética e à prisão em flagrante, o fato não obstante as regras previstas no Código de Processo
em consideração trata do flagrante esperado, podendo Penal, são válidas as diligências policiais e as eventuais
ser lavrado o auto de prisão respectivo por tentativa de prisões, em face da denominada ação controlada, prevista
estelionato.81 na lei do crime organizado.86
Entretanto, a  figura do flagrante prorrogado é muito
Flagrante forjado (maquinado ou fabricado) comum na apuração de diversos tipos de crimes, principal‑
Não há crime quando a preparação do flagrante pela mente em crimes permanentes, sendo prática corriqueira da
polícia torna impossível a sua consumação. polícia que age com discricionariedade para buscar o melhor
momento para efetuar a prisão, buscando o maior resultado
Flagrante preparado não é sinônimo de flagrante for‑ possível com a medida restritiva de liberdade. Seguindo o
jado.82 mesmo raciocínio, analise a seguinte situação hipotética:
No flagrante forjado, os policiais ou mesmo algum par‑ após força‑tarefa policial que consistiu em investigação
ticular criam provas de um crime inexistente. Por exemplo, detalhada das ações de um grupo do qual José faz parte,
intitula‑se flagrante forjado a hipótese em que é colocada, houve a efetivação, mediante autorização judicial, de busca
no bolso de quem se submete a revista pessoal, quantidade e apreensão e de interceptação telefônica e concluiu‑se pela
de substância entorpecente, no intuito de criar falsa prova coautoria de José em crime de tráfico de entorpecentes.
de crime inexistente.83 Na situação apresentada, o policial poderá prender José
Na hipótese de flagrante forjado, a prisão é totalmente em flagrante no momento da venda de drogas, não sendo
ilegal, além de o “forjador” da prisão responder por abuso obrigado a prendê‑lo imediatamente, tendo em vista que é
de autoridade, se policial, ou denunciação caluniosa se for cabível, na hipótese, o flagrante prorrogado ou esperado.87
particular. Embora haja doutrinadores que destaquem que o flagran‑
te prorrogado também teria previsão na Lei nº 11.343/2006
Flagrante prorrogado ou retardado (ou ação controlada) (CAPEZ, 2009, p. 267), na referida lei há previsão de moda‑
O flagrante retardado tem previsão no art. 2º, II, da Lei lidade diversa do flagrante retardado. Com efeito, o que se
do Crime Organizado, devendo ser concretizado no momen‑ prevê no art. 53, II, da referida lei é a possibilidade de
to mais eficaz para a formação de provas e o fornecimento
de informações.84 a não atuação policial sobre os portadores de dro‑
O referido dispositivo legal estabelece que gas, seus precursores químicos ou outros produtos
utilizados em sua produção, que se encontrem no
a ação controlada, que consiste em retardar a inter‑ território brasileiro, com a finalidade de identificar
dição policial do que se supõe ação praticada por e responsabilizar maior número de integrantes de
organizações criminosas ou a ela vinculado, desde operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da
Noções de Direito Processual Penal

que mantida sob observação e acompanhamento ação penal cabível.


para que a medida legal se concretize no momento
mais eficaz do ponto de vista da formação de provas Esta medida, nos termos do parágrafo único do artigo
e fornecimento de informações. citado, exige‑se autorização judicial, que só será concedida
caso sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação
dos agentes do delito ou de colaboradores.
78
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004.
Se não restar configurada alguma das hipóteses de fla‑
79
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005. grante acima delineadas, a prisão será ilegal. Desta forma,
80
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 69/Item II/2011. analise a situação: Manoela de Jesus foi presa em flagrante,
81
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004.
82
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003.
quando estava em sua casa assistindo à televisão, porque
83
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Clas‑ supostamente teria jogado um bebê recém nascido no rio.
se/2003. Os responsáveis pela prisão foram dois policiais civis que
84
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal
Substituto; Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/ Defensor Público realizavam diligências no local a partir de uma denúncia
de 1ª Classe/2003; TJ‑PI/Juiz Substituto/2001; NCE/Delegado da Polícia Civil
do DF/2004; OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑MS/80º Exame de 85
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
Ordem/2004; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004 e OAB‑DF/3º Exame de 86
Cespe/PGE‑ES/Procurador de Estado/2008.
Ordem/2003. 87
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/2006.

100
anônima. Ao  realizar a prisão os policiais identificaram 3) Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farma‑
Manoela a partir da descrição fornecida pela denúncia cêutica (art. 282 do CP). Exercer, ainda que a título gratuito,
anônima. A prisão é ilegal, pois não está presente nenhuma a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem auto‑
das situações autorizadoras da prisão em flagrante.88 rização legal ou excedendo‑lhe os limites.
4) Charlatanismo (art. 283 do CP). Inculcar ou anunciar
Prisão em flagrante e crimes permanentes cura por meio secreto ou infalível.
5) Curandeirismo (art. 284 do CP). Exercer o curandeiris‑
Nas infrações permanentes, entende‑se o agente em mo: I – prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitual‑
flagrante delito enquanto não cessar a permanência89 mente, qualquer substância; II – usando gestos, palavras ou
(art. 303 do CPP). Como exemplo: Considere que, no curso qualquer outro meio; III – fazendo diagnósticos.
de investigação policial para apurar a prática de crime de Há controvérsia na doutrina sobre o cabimento da prisão
extorsão mediante sequestro contra um gerente do Banco X, em flagrante nos crimes habituais, que são aqueles em que
agentes da Polícia Federal tenham perseguido os suspeitos, o crime se aperfeiçoa com a reiteração de condutas. (CAPEZ,
que fugiram com a vítima, por dois dias consecutivos. Nessa 2009, p. 267)
situação, enquanto mantiverem a privação da liberdade da O crime habitual, cuja consumação se dá por meio
vítima, os suspeitos poderão ser presos em flagrante, por da prática de várias condutas, como o delito de casa de
se tratar de infração permanente.90 prostituição, de acordo com o STF (STF, HC nº 36.723, Min.
A apreensão de moeda falsa na residência do agente e Nelson Hungria, Tribunal Pleno, Julgamento: 27/5/1959) e
simultânea prisão em local diverso caracteriza o flagrante STJ, admite prisão em flagrante.93
delito.91
Sabe‑se que a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante Auto de prisão em flagrante
inaugura o Inquérito Policial. No entanto, quando diante de
crimes permanentes, haverá a possibilidade de prisão em Ao se deparar com uma situação flagrancial, o delegado
decide se homologa ou não o flagrante lhe apresentado,
flagrante, mesmo que já haja a instauração do Inquérito
ratificando ou não a voz de prisão do condutor que deteve
Policial.92
o sujeito passivo. A autoridade policial pode, por exemplo,
verificar que o fato ocorrido não é típico. Sobre as hipóteses
Prisão em flagrante e crimes continuados de exclusão de antijuridicidade, há doutrina no sentido de
que pode‑se deixar de lavrar o auto quando for evidente
O crime continuado tem previsão no art. 71 do CP e se a exclusão. Capez (2009, p. 271) destaca, entretanto, que
verifica
nessa fase, vigora o princípio do in dubio pro societate,
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou não podendo o delegado de polícia embrenhar‑se em
omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma questões doutrinárias de alta indagação, sob pena de
espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira antecipar indevidamente a fase judicial de apreciação
de execução e outras semelhantes, devem os subse‑ de provas; permanecendo a dúvida ou diante de fatos
quentes ser havidos como continuação do primeiro, aparentemente criminosos, deverá ser formalizada a
aplica‑se‑lhe a pena de um só dos crimes, se idên‑ prisão em flagrante.
ticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de um sexto a dois terços. Entendemos que, ainda que seja evidente uma excluden‑
te de ilicitude, o delegado deve instaurar o inquérito para
Trata‑se da modalidade de concurso de crimes. que, quando relatá‑lo, a acusação forme ou não sua opinio
Em tais crimes, as condutas por si só já configuram cri‑ delicti sobre os fatos apurados.
mes, podendo haver a prisão em flagrante. Caso a autoridade policial não homologue a prisão, como
ainda não se formalizou a prisão, não se configura relaxa‑
Prisão em flagrante e crimes habituais mento de prisão, modalidade que só pode ser efetivada por
meio de autoridade judicial.
O crime habitual configura‑se quando há reiteração de Uma vez homologada a prisão, far‑se‑á a lavratura do
práticas que, por si só, não configuram modalidade delitiva. auto de prisão em flagrante. Na falta ou no impedimento
Apenas quando as práticas forem configuradas como um do escrivão, qualquer pessoa designada pela autoridade
todo, como estilo ou modalidade de vida, que o delito será lavrará o auto, depois de prestado o compromisso legal94
(art. 305 do CPP).
Noções de Direito Processual Penal

materializado.
Dessa forma, a prisão em flagrante deve ser seguida da
A título de exemplo, tem‑se:
lavratura do respectivo auto de prisão em flagrante, que
1) Casa de prostituição (art.  229 do CP). Manter, por
deve observar todos os requisitos legais, sob pena de tornar
conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar ilegal a prisão.95 Isto porque o auto de prisão em flagrante
destinado a encontros para fim libidinoso, haja ou não intuito é ato administrativo e como tal goza de presunção de ve‑
de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente. racidade e legalidade, posto que juris tantum.96
2) Rufianismo (art. 230 do CP). Tirar proveito da pros‑ A lavratura do auto de prisão em flagrante seguirá se‑
tituição alheia, participando diretamente de seus lucros guintes etapas:
ou fazendo‑se sustentar, no todo ou em parte, por quem 1) Oitiva do condutor, pessoa pública ou privada que
a exerça. conduziu o preso à presença da autoridade policial. Geral‑
mente, o condutor é quem efetuou a prisão em flagrante,
88
Assunto cobrado na prova da FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009.
89
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004 e
OAB‑RS/1º Exame/2007 e Cespe/DPE-ES/Defensor Público/Questão 61/2009. 93
Assunto cobrado na prova TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007.
90
Cespe/DPF/Agente/2012 e Cespe/Polícia Federal/Papiloscopista/2012. 94
Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 48/Item IV/2011.
91
TRF 3ª Região/IX Concurso/Juiz Federal Substituto. 95
OAB‑PR/Exame 01/2006.
92
NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004. 96
OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2003.

101
não sendo descartada a hipótese de o policial assumir a indagam ainda de João onde estaria escondido o restante
condução do preso, por circunstância verificada no ato da da droga que ele pretendia traficar, bem como o nome do
prisão, quando, por exemplo, o sujeito passivo é detido por traficante de quem adquirira a droga. João indica o escon‑
diversas pessoas do povo. Após sua oitiva, colhe‑se, desde derijo onde guardava a droga, bem como declina o nome
logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e do traficante de quem comprara a droga. No momento em
recibo de entrega do preso, nos termos do art. 304 do CPP, que seria realizado seu interrogatório policial, João exige a
o  que faz com que o condutor seja desde logo liberado, presença de um advogado dativo ou defensor público, o que
sem necessidade de aguardar a confecção de todo o auto lhe é negado pelo Delegado, sob o argumento de que não
de prisão em flagrante.97 há previsão legal para essa assistência gratuita. João fica
2) Oitiva das testemunhas, presenciais ou não, sem qual‑ contrariado e, quando o interrogatório formal é iniciado,
quer limitação máxima ou mínima, com a colheita, desde modifica suas declarações negando a propriedade da droga.
logo, de sua assinatura (art. 304 do CPP). Contudo, o delegado gravara a confissão de João durante
3) Caso não haja testemunha presencial, deverão assinar a conversa informal. Nessa situação, João tem direito à
o termo pelo menos duas pessoas (testemunhas de apresen‑ assistência de advogado dativo no momento da lavratura
tação ou indiretas) que tenham presenciado a apresentação do auto de prisão, constituindo constrangimento ilegal a
do preso à autoridade, colhendo‑se, após cada oitiva, suas atitude do delegado de negá‑lo.102
respectivas assinaturas (art. 304, § 2º, do CPP). O STF entende que é ilícita a prova conseguida com base
Dessa forma, a falta de testemunhas da infração não em conversa informal, em que não se assegurou o direito
impedirá o auto de prisão em flagrante, mas, nesse caso, ao silêncio:
com o condutor, deverão assiná‑lo pelo menos duas pes‑
soas que hajam testemunhado a apresentação do preso à Gravação clandestina de “conversa informal” do indi‑
autoridade.98 ciado com policiais. 3. Ilicitude decorrente – quando
A título de exemplo: Horácio, policial militar, estava não da evidência de estar o suspeito, na ocasião,
caminhando sozinho, em seu período de folga, quando ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu
percebeu que Lúcio havia arrombado a janela de uma loja assentimento à gravação ambiental – de constituir,
e estava saindo do local portando um aparelho de DVD. dita “conversa informal”, modalidade de “interroga‑
Alex, delegado, recebeu Lúcio na delegacia, conduzido tório” sub‑reptício, o qual – além de realizar‑se sem
apenas pelo policial Horácio. Alex lavrou o auto de prisão as formalidades legais do interrogatório no inquérito
em flagrante. Com base nessa situação hipotética, o refe‑ policial (CPP, art. 6º, V) –, se faz sem que o indiciado
rido auto de prisão em flagrante deverá ser assinado por seja advertido do seu direito ao silêncio. 4. O privi‑
pelo menos duas pessoas que tenham testemunhado a légio contra a autoincriminação – nemo tenetur se
apresentação do preso.99 detegere  –, erigido em garantia fundamental pela
Na lavratura do auto de prisão em flagrante, para in‑ Constituição – além da inconstitucionalidade super‑
tegrar o mínimo legal, a autoridade policial poderá ouvir o veniente da parte final do art. 186 do CPP – importou
condutor do preso como testemunha, considerando‑o como compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever
de advertir o interrogado do seu direito ao silêncio:
testemunha numerária.100
a falta da advertência – e da sua documentação for‑
4) Oitiva da vítima, sendo referida oitiva absolutamente
mal – faz ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça
necessárias nos crimes de ação penal privada ou pública
o indiciado ou acusado no interrogatório formal e,
condicionada à representação, se ainda não formalizado com mais razão, em “conversa informal” gravada,
o requerimento ou representação, condições objetivas de clandestinamente ou não. (STF, HC nº 80.949/RJ, Rel.
procedibilidade. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, Julgamen‑
5) Nas oitivas, a  autoridade policial deverá zelar pela to: 30/10/2001)
incomunicabilidade entre condutor, vítima e testemunhas,
sendo todos inquiridos separadamente. 7) Assinaturas – as assinaturas são colhidas após cada
6) Interrogatório do suspeito sobre os fatos lhe imputa‑ depoimento. Se a vítima, testemunha ou condutor não
dos, sendo que, antes do interrogatório, deve ser assegurado souberem ou não puderem assinar o seu depoimento ou
o direito ao silêncio, além do direito de ser assistido por mesmo o auto de prisão em flagrante, alguém assinará a
advogado, nos termos do art. 5º, LXIII, da CF/1988. rogo, depois de lido na presença de ambos, nos termos do
Não é essencial a presença de advogado para lavratura art. 216 do CPP.
do auto de prisão em flagrante.101 O direito à assistência de Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou
advogado deve ser assegurado. Entretanto, se não houver não puder fazê‑lo, o auto de prisão em flagrante será assi‑
Noções de Direito Processual Penal

advogado, procede‑se normalmente ao interrogatório. nado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura
Entretanto, o delegado não pode negar ao investigado, na presença deste (art. 304, § 3º, do CPP). São as chamadas
de forma arbitrária ou sem embasamento legal, o direito ao testemunhas instrumentárias. Como exemplo, preso em
advogado. Observe a situação: Batista é preso em flagrante flagrante por porte de um fuzil, municiado, Martins, oficial
por populares porque estava oferecendo drogas à venda, de justiça aposentado, recusa‑se a assinar o auto de prisão
sendo levado imediatamente à Delegacia de Polícia. Na em flagrante. Caberá à autoridade policial, neste caso, lavrar
delegacia, a autoridade policial inicia uma conversa infor‑ o auto de prisão em flagrante, desde que haja duas teste‑
mal com João, que confessa a prática do crime. Os policiais munhas da leitura do auto ao indiciado, além do condutor
e das testemunhas da prisão.103
97
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 48/Item V/2011. 8) Indiciamento – como, com a lavratura do auto de
98
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judici‑ prisão em flagrante, há mais que indícios de materialidade
ário/2007; DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/ e autoria, a autoridade policial promoverá o indiciamento
Delegado de Polícia/2007; Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/2006 e FGV/TJ‑SE/
Analista Judiciário/2004. do flagrado, o que trará por consequência a confecção do
99
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Papiloscopista e Técnico em Perí‑
cia/2009. Assunto cobrado na prova da FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009.
102
100
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. Assunto cobrado na prova do NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de
103
101
Assunto cobrado na prova do TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto. Janeiro/2001.

102
boletim de vida pregressa e identificação criminal, se pre‑ com o imediatismo possível, a comunicação para a família
sentes as hipóteses da Lei nº 12.037/2009. Assim, o preso do preso, ou pessoa por ele indicada, ao juiz competente
em flagrante delito, desde que não identificado civilmente, e à defensoria pública, no caso de não haver advogado já
deve ser submetido à identificação criminal.104 constituído.110
9) Recolhimento à prisão  – resultando das respostas Assim, a autoridade policial deverá comunicar a prisão
fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará ao juiz competente dentro do prazo de 24 (vinte e quatro)
recolhê‑lo à prisão, exceto no caso de livrar‑se solto ou de horas, segundo o Código de Processo Penal.111
prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou pro‑ A homologação do auto de prisão em flagrante, mera
cesso, se para isso for competente; se não o for, enviará os formalidade legal, não exige fundamentação, salvo para
autos à autoridade que o seja (art. 304, § 1º, do CPP). relaxar a prisão. (STJ, HC nº 72.391/RS, Min. Felix Fischer,
10) Entrega da nota de culpa – também no prazo de 24 Quinta Turma, DJ 10/9/2007)
horas será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de A demora na comunicação da prisão em flagrante à
culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, autoridade judiciária não desnatura o auto de prisão, desde
o nome do condutor e o das testemunhas105. Com efeito, que observadas as demais formalidades legais, podendo,
a Constituição é imperativa, em seu art. 5º, LXIV, no sentido em tese, configurar ilícito administrativo e/ou penal.112
de que o preso tem direito à identificação dos responsáveis Assim, a  demora na comunicação à autoridade judiciária
por sua prisão ou por seu interrogatório policial. competente da prisão em flagrante do paciente não acarreta,
11) Comunicação da prisão – nos termos dos arts. 306 do por si só, nulidade no auto de prisão (STJ, HC nº 72.391/RS,
CPP, e 5º, LXII, da CF/1988, a prisão de qualquer pessoa e o Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJ 10/9/2007). Até mesmo
local onde se encontre serão comunicados imediatamente a ausência de comunicação da prisão em flagrante ao juiz
ao juiz competente, ao Ministério Público, à família do preso competente não ocasiona nulidade. (STJ, HC nº 28.575/BA,
ou à pessoa por ele indicada.106 Não tem mais aplicação o Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJ 28/10/2003)113
art. 21 do CPP. Por outro lado, não constitui irregularidade apta a
Com a redação dada ao art. 306 do CPP pela Lei anular o auto de prisão a comunicação tardia feita à família
nº  12.403/2011, a  prática de também comunicar ao Mi‑ do paciente quando de sua prisão em flagrante. (STJ, RHC
nistério Público a prisão de alguém agora é exigência legal. nº 10.220/SP, Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 23/4/2001)
Tem-se, ainda, que, A comunicação da prisão em flagrante a juiz de jurisdição
diversa não constitui, por si só, constrangimento ilegal (STJ,
em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização REsp. nº 242.808/RJ, Min. Fernando Gonçalves, Sexta Turma,
da prisão, será encaminhado ao juiz competente o DJ 12/11/2001).
auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não Lavrado o auto de prisão em flagrante, resta instaurado
informe o nome de seu advogado, cópia integral o inquérito policial.
para a Defensoria Pública107 (art. 306, § 1º, do CPP Sobre a possibilidade de o inquérito já iniciar a ação
com a redação da Lei nº 12.403/2011). penal, quando efetivado em face do cometimento de con‑
travenção, nos termos do art. 26 do CPP, referido artigo não
Percebe-se que não é, em qualquer caso, que é remetida foi recepcionado pelo art. 129, I, da CF/1988. Com efeito,
cópia integral para a defensoria pública108. a ação penal não pode ser iniciada com o auto de prisão
Embora a Lei nº  12.403/2011 não tenha repetido a em flagrante, em se tratando de contravenção penal.114
exigência de que o auto de prisão em flagrante deva ser A prisão, em flagrante delito, de uma pessoa, pela
acompanhado de todas as oitivas colhidas, entendemos polícia federal será sempre comunicada à Justiça e ao
que o legislador apenas retirou excesso legislativo, eis que Ministério Público.115
o auto de prisão em flagrante, necessariamente, é composto
da oitiva de condutor, de eventual vítima, das testemunhas, Local e autoridade perante a qual será lavrado o auto
sejam presenciais ou de apresentação, bem como do inter‑ de prisão em flagrante.
rogatório do flagranteado. O auto de prisão em flagrante deve ser lavrado pela
A prisão de qualquer pessoa, assim como o local onde autoridade policial. O auto de prisão em flagrante presidi‑
ela se encontra, deve ser comunicada imediatamente ao juiz do, lavrado e assinado por um escrivão de polícia perde o
competente e à família do preso ou à pessoa indicada por seu caráter coercitivo, visto que o inquérito policial é um
ele. Além disso, deve ser entregue a ele, em 24 horas, a nota procedimento administrativo, que se sujeita aos requisitos
do ato administrativo.116
de culpa, assinada pela autoridade e na qual constem o mo‑
A autoridade policial que efetuou a prisão deverá lavrar
tivo da prisão e o nome do condutor e das testemunhas.109
o auto de prisão em flagrante, mesmo que o fato delituoso
Noções de Direito Processual Penal

De acordo com o CPP, após uma prisão em flagrante,


tenha ocorrido em outro local.117
deve a autoridade policial que lavrar o auto providenciar,
Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetu‑
ado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais
104
Assunto cobrado na prova do Cespe/Nordeste/1º Exame da Ordem/2006. próximo.118 Entretanto, mesmo havendo autoridade policial
105
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cesgranrio/Polícia Civil do Estado do Rio
de Janeiro/Investigador Policial/2006; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame; OAB‑SC/3º
Exame de Ordem/2003; OAB‑SP/126º Exame de Ordem/2005; FGV/TJ‑SE/ 110
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substitu‑
Técnico Judiciário/2004; Cefet/TJ‑BA/Atendente Judiciário/2006; Ipad/Polícia to/2009.
Civil de Pernambuco/Perito Criminal/2006; UESPI/Agente Penitenciário/2006; 111
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/Exame 01/2006.
Cespe/Ministério da Justiça/Agente da Polícia Federal/1997; Delegado de Polícia 112
Assunto cobrado na prova do MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão
Substituto de Santa Catarina/2001 e Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São 69/Item III/2011.
Paulo/2003, art. 306, § 2º, do CPP, com a redação dada pela Lei nº 12.403/2011. 113
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB‑ES/Exame de Ordem/2006.
106
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/Área Adminis‑ 114
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004 e
trativa/Assertiva B/2013. OAB‑RS/1º Exame/2007.
107
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil 115
19º Concurso Público para Procurador da República/2002.
Substituto/2009 e FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2010/ 116
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/
Questão 50/Item III. Defensor Público de 2ª Categoria/2005.
108
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Polícia Civil do Estado do Espírito 117
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003.
Santo/Perito Criminal/2011/Questão 69. 118
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/128º Exame e
109
Cespe/Sejus-ES/Agente Penitenciário/2009/Questão 102. OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005.

103
na circunscrição, a lavratura de auto de prisão em flagrante preventiva, quando presentes os requisitos constantes
em local diverso da prisão não ocasiona a sua nulidade.119 do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou
Analise a seguinte situação hipotética: na noite de 17 de insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão;
dezembro do ano passado, Inácio, juntamente com Letício, ou III – conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.124
armados com um revólver, renderam o proprietário de um O parágrafo único do referido dispositivo dispõe, ainda,
veículo Ford Ranger na cidade de Itumbiara‑GO. Logo após que, se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante,
a subtração do automóvel, os agentes foram perseguidos que o agente praticou o fato em estado de necessidade, em
por policiais militares comunicados do roubo. Depois de legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou
uma troca de tiros, os  dois assaltantes abandonaram a no exercício regular de direito, poderá, fundamentadamente,
caminhonete na estrada e continuaram à fuga num Fiat conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo
modelo Tipo. Enquanto os perseguidores verificavam a de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena
caminhonete abandonada, foram comunicados que poli‑ de revogação.
ciais rodo­viários, em Caldas Novas‑GO, abordaram o Fiat Detalhemos referidas hipóteses.
Tipo e deram voz de prisão aos ocupantes do carro, depois
de encontrar dentro do veículo um capuz, um rolo de fita, Relaxamento da prisão em flagrante
uma embalagem vazia de dez cartuchos de balas calibre 38,
além de munição intacta. Em seguida, Inácio e Letício foram A prisão em flagrante ilegal deverá ser relaxada.125
conduzidos à Delegacia de Furtos e Roubos do município Assim, considere a seguinte situação hipotética: Dorvali‑
de Goiânia‑GO, local onde a autoridade policial autuou‑os no, primário e de bons antecedentes, é preso em flagrante
em flagrante por roubo qualificado. Diante do caso narrado, pela prática de crime de furto (art. 155, CP), para o qual
considerando o entendimento doutrinário e jurisprudencial está prevista pena de um a quatro anos, e multa. Encerrada
majoritário, além da ocorrência do flagrante delito, o auto a lavratura do auto, a autoridade policial mandou recolher
lavrado por autoridade diversa da do local das prisões dos Dorvalino à prisão. Havendo ilegalidade na elaboração do
assaltantes é considerado válido.120 auto de prisão em flagrante, é cabível ao preso pleitear ao
Quando o fato for praticado em presença da autoridade, juiz o relaxamento da prisão em flagrante.126
ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do A presença dos requisitos para a concessão da liberdade
auto a narração deste fato: a voz de prisão, as declarações provisória requerida não prejudica a análise do pedido de
que fizer o preso e os depoimentos das testemunhas. Tudo relaxamento do flagrante.127
isto será assinado pela autoridade, pelo preso e pelas tes‑ Eventuais defeitos porventura existentes no auto de
temunhas, e será remetido imediatamente ao juiz a quem prisão em flagrante não têm o condão de, por si só, conta‑
couber tomar conhecimento do fato delituoso, se não o for minar o processo e ensejar a soltura do réu.128
a autoridade que houver presidido o auto (art. 307 do CPP). Se ocorrer excesso de prazo na conclusão do processo,
Considere a seguinte situação hipotética. Intimado para que não pode ser atribuído à acusação ou ao juízo porque
prestar declarações em um inquérito policial, um cidadão decorre da complexidade do caso e da necessidade de se‑
desacatou a autoridade policial que o presidia, rasgando rem ouvidas testemunhas e cumpridas diligências em outras
peças dos autos e atirando‑as ao chão, além de proferir comarcas, não há de ser relaxada a prisão.129 Por outro lado,
palavras de baixo calão à sua pessoa. Nessa situação, a demora na instrução processual devida à instauração de
a autoridade policial poderá presidir a lavratura do auto incidente de insanidade mental em benefício da defesa não
de prisão em flagrante.121 gera constrangimento ilegal a permitir que o acusado seja
Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetu‑ imediatamente posto em liberdade.130
ado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais Contra decisão que defere pedido de relaxamento de
próximo (art. 308 do CPP). prisão em flagrante cabe recurso em sentido estrito.131
Não invalida a prisão em flagrante a audiência do con‑
duzido no leito de hospital, subsequentemente à lavratura Liberdade provisória após a lavratura do auto de
do auto na delegacia, quando impossibilitado de ser inter‑ prisão em flagrante
rogado por ter sido baleado durante perseguição policial.122
Com base no instituto da liberdade provisória, o acusado
Do Relaxamento da Prisão em Flagrante, da tem o direito de aguardar, durante o processo, o seu julga‑
Concessão da Liberdade Provisória e da Conversão da mento em liberdade, substituindo, portanto, as  hipóteses
Prisão em Flagrante em Prisão Preventiva de prisão em flagrante.
O relaxamento de prisão tem como causa uma prisão
No caso do flagrante delito, mesmo a prisão se dando em flagrante ilegal, ou seja, em desconformidade com o que
Noções de Direito Processual Penal

sem ordem judicial prévia, a autoridade policial não é mais determina o CPP, enquanto a liberdade provisória tem como
a responsável legal pela detenção e pela tutela da liberdade causa uma prisão em flagrante legal e, como consequência,
após comunicada a prisão e recebido o auto de flagrante a liberdade vinculada do autor do fato.132
pelo juiz competente123, que passa a ser possível autoridade Após o relaxamento da prisão em flagrante por falta
coatora caso mantenha prisão ilegal. de formalidade essencial no auto de prisão, caso o juiz
O art.  310 do CPP, com a redação dada pela Lei
nº 12.403/2011, estabelece que, ao receber o auto de prisão 124
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-RO/Assertiva B/2012.
em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: I – relaxar 125
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª
a prisão ilegal; ou II – converter a prisão em flagrante em Classe do RJ/2002; Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004 e OAB‑PR/1º
Exame de Ordem/2004.
119
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Delegado da Polícia Fe­deral/2002; 126
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003.
DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/Delegado de 127
TRF 3ª Região/XII Concurso/Juiz Federal Substituto.
Polícia/2007 e Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001. 128
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/2º Exame da Ordem/2006.
120
Assunto cobrado na prova de UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de 129
Assunto cobrado na prova do Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008.
Goiás/2003. 130
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PGE-CE/Procurador de Estado/2008.
121
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. 131
Assunto cobrado na prova da OAB‑RS/3º Exame/2006.
122
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. 132
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
123
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Polícia Civil do Estado do Espírito de Sergipe/Defensor Público de 2ª Categoria/2005; OAB‑SP/126º Exame de
Santo/Perito Papiloscópico/2011/Questão 74. Ordem/2005 e 20º Concurso Público para Procurador da República/2003.

104
verifique a necessidade de assegurar a aplicação da lei especial criminal. Caso não queira assinar o termo de com‑
penal, havendo prova da existência de crime doloso punido promisso entendemos que a autoridade policial deve lavrar o
com reclusão e indício suficiente de autoria, poderá, não auto de prisão em flagrante para depois verificar se trata-se
restabelecer essa prisão em flagrante, mas sim decretar a de hipótese de liberdade provisória.
prisão preventiva.133
A liberdade provisória somente pode ser concedida Liberdade provisória por ter sido o ato praticado em
ao réu preso em flagrante delito.134 Desta forma, apenas manifesta condição de excludente de ilicitude (art. 310, pa‑
admite‑se liberdade provisória em substituição a prisão rágrafo único, do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011).
em flagrante.135 Não se admite liberdade provisória em A prisão em flagrante não deve subsistir nos casos de
substituição a prisão temporária, prisão domiciliar, prisão exclusão de ilicitude.143
civil e prisão preventiva.136 A nova redação do parágrafo único do art. 310 do CPP
A contracautela, própria da prisão em flagrante legal, determina que, quando o juiz verificar, pelo auto de prisão
porém desnecessária, dispensável, ou seja, quando ausen‑ em flagrante, que o agente praticou o fato, nas condições
tes os pressupostos que legitimam a manutenção da segre‑ do art. 23 do Código Penal que tratam das excludentes de
gação cautelar do indivíduo, é a liberdade provisória, com ilicitude (estado de necessidade, legítima defesa, estrito
ou sem fiança, conforme o caso.137 Com efeito, conforme se cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
percebe da leitura do art. 310 do CPP com a redação da Lei direito), poderá conceder ao réu liberdade provisória,
nº 12.403/2011, são modalidades autônomas as solturas por mediante termo de comparecimento a todos os atos do
ser a prisão ilegal e por ser hipótese de liberdade provisória. processo, sob pena de revogação.144 Não se exige mais prévia
Nos termos da lei processual penal, a liberdade provi‑ oitiva do Ministério Público, como se fazia necessária antes
sória pode ser obrigatória, permitida ou vedada.138 da edição da Lei nº 12.403/2011.
Têm‑se as seguintes modalidades de liberdade provisória: Desta forma, o Ministério Público não mais deverá ser
ouvido nos autos antes da concessão da liberdade provisória
Liberdade Provisória sem Fiança (obrigatória139) vinculada decorrente do reconhecimento de prática do ato
em situação de excludente de ilicitude. Referida exigência
As hipóteses de liberdade provisória obrigatória e des‑ também é dispensável em se tratando de hipótese de pe‑
vinculada que ocorria nas hipóteses de o réu se livrar solto dido de liberdade provisória com fiança.145
foram revogadas pelo art. 321 do CPP com a redação da Lei Assim, é cabível a concessão de liberdade provisória
nº 12.403/2011. ao agente que pratica fato em estrito cumprimento do
Verificava-se quando o indiciado se livrava solto, nos ter‑ dever legal.146
mos da redação antiga art. 321 do CPP. Destacava o referido A palavra antiga “poderá” constante no art. 310 foi subs‑
dispositivo que, não sendo o réu vadio ou reincidente em tituída por “deverá”. Era uma exigência doutrinária que foi
crime doloso apenado com pena privativa de liberdade, incorporada pelo Legislador, eis que uma vez verificadas as
após a lavratura do auto de prisão em flagrante tem o direito situações caracterizadoras de excludente de ilicitude, tem-se
de se livrar solto140 quando cometesse: I – infração, a que direito público subjetivo do flagranteado aguardar o julga‑
não for, isolada, cumulativa ou alternativamente, cominada mento em liberdade. Pouco importa ser o crime afiançável
pena privativa de liberdade; ou II – quando o máximo da ou inafiançável.
pena privativa de liberdade, isolada, cumulativa ou alter‑ Deve-se interpretar extensivamente o disposto no pará-
nativamente cominada, não exceder a três meses.141 grafo único do art. 310 do CPP, para abranger hipóteses de
Referida modalidade de liberdade provisória não mais exclusão de ilicitude previstas na parte especial do Código
existe. Penal ou mesmo na legislação extravagante, a exemplo do
Se o acusado se livrava solto, não deveria permanecer que ocorre nas hipóteses de aborto necessário ou realizado
preso, depois de lavrado o auto de prisão em flagrante.142 no caso de gravidez resultante de estupro (art. 128, I e II,
Destaque-se que, em se livrando solto, o  investigado do CP); de injúria ou difamação decorrentes: 1) de ofensas
não tinha nenhuma obrigação para com o processo, sendo irrogadas em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por
sua liberdade provisória concedida sem fiança ou qualquer seu procurador; 2) da opinião desfavorável da crítica literária,
outra vinculação. artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de
Com a nova Lei a liberdade provisória na hipótese, não injuriar ou difamar; 3) da emissão de conceito desfavorável
pode ser caso de prisão preventiva ou de aplicação de alguma emitido por funcionário público, em apreciação ou informa‑
medida cautelar. ção que preste no cumprimento de dever do ofício (art. 142,
Em se tratando de infração de menor potencial ofensivo, I, II e III, do CPP); da intervenção médica ou cirúrgica, sem
o art. 69 da Lei nº 9.099/1995 estabelece que o sujeito será o consentimento do paciente ou de seu representante
Noções de Direito Processual Penal

liberado independentemente de pagamento de fiança se legal, se justificada por iminente perigo de vida e a coação
assumir o compromisso de comparecer perante o juizado exercida para impedir suicídio, que não configuram o crime
de constrangimento ilegal, nos termos do art. 146, § 3º, I
133
Assunto cobrado na prova do MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 66/ e II, do CP; de entrada ou permanência em casa alheia ou
Assertiva A/2009. em suas dependências, durante o dia, com observância das
134
Assunto cobrado na prova do 19º Concurso Público para Procurador da Repú‑ formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência,
blica/2002.
135
TJ‑PI/Juiz Substituto/2001. bem como a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum
136
Assunto cobrado na prova do TJ‑PI/Juiz Substituto/2001. crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser, que
137
OAB‑RJ/25º Exame de Ordem/2004. não constituem o crime de violação de domicílio, nos termos
138
Assunto cobrado na prova da FCC/TJ-PI/Analista Judiciário – Área Administra‑
tiva/Questão 54/Assertivas A, B, C, D e E/2009. do art. 150, § 3º, I e II, do CP.
139
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Clas‑
se/2003. 143
TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto.
140
Assunto, antes da Lei nº 12.403/2011, cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE‑ 144
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005;
-SE/Promotor Substituto/2010/Questão 19/Assertiva c. Promotor-MG/2006 e Cespe/MPE-SE/Promotor Substituto/2010/Questão 19/
141
Assunto, antes da Lei nº 12.403/2011, cobrado na seguinte prova: TJ-RN/Oficial Assertiva d.
de Justiça/2002. 145
Assunto cobrado na seguinte prova: Promotor-MG/2006.
142
Assunto, antes da Lei nº 12.403/2011, cobrado na seguinte prova: OAB-GO/1º 146
Assunto cobrado na seguinte prova: Cesgranrio/Polícia Civil do Estado do Rio
Exame de Ordem/2005. de Janeiro/Investigador Policial/2006.

105
Feitoza (2009, p. 914) defende, inclusive, a  concessão VII – internação provisória do acusado nas hipóteses
de liberdade provisória para as hipóteses de verificação de de crimes praticados com violência ou grave ameaça,
causas excludentes de culpabilidade, como a coação moral quando os peritos concluírem ser inimputável ou
irresistível e estrita obediência a ordem não manifestamente semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver
ilegal de superior hierárquico (art. 22 do CP). Referida orien‑ risco de reiteração;
tação não foi incorporada pelo legislador com a edição da VIII  – fiança, nas infrações que a admitem, para
Lei nº 12.403/2011, eis que o parágrafo único do art. 310 assegurar o comparecimento a atos do processo,
continua se referindo apenas às hipóteses de excludente evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de
de ilicitude. resistência injustificada à ordem judicial.
Uma vez concedida a liberdade provisória, o  único
compromisso do liberado é comparecer a todos os atos do Nos termos do § 4º do art. 319 do CPP, a fiança pode ser
processo o que, se não for feito, autoriza o restabelecimento cumulada com outras medidas cautelares.
da prisão em flagrante.
O art. 314 do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011 IX – monitoração eletrônica.
determina, por sua vez, que a prisão preventiva em nenhum
caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes Nos termos do art. 282 do CPP, com a redação da Lei
dos autos ter o agente praticado em situação de excludente nº  12.403/2011, para a aplicação das medidas cautelares
de ilicitude. previstas no art. 319 do CPP, deve-se observar a:
Liberdade provisória por não ser caso de prisão pre‑
ventiva com a possibilidade de imposição de medida I – necessidade:
cautelar (art.  321 do CPP, com a redação dada pela Lei I.I – para aplicação da lei penal,
nº 12.403/2011). I.II – para a investigação ou
A prisão em flagrante não deve subsistir quando não I.III – para a instrução criminal e,
conviver com alguma hipótese que autorize a prisão pre‑ I.IV – nos casos expressamente previstos, para evitar
ventiva.147 a prática de infrações penais;
O art. 321 do CPP, com a redação dada pela Lei
nº  12.403/2011, determina que, uma vez ausentes os re‑ II – adequação da medida:
quisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, II.I – à gravidade do crime,
o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for II.II – às circunstâncias do fato e;
o caso, medidas cautelares. II.III – às condições pessoais do indiciado ou acusado.
O art. 282 do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011,
inovou na legislação pátria, trazendo medidas cautelares No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
diversas da prisão. impostas nas medidas cautelares, o juiz, de ofício ou median‑
Segundo o art. 319, com a redação da Lei nº 12.403/2011, te requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou
são medidas cautelares diversas da prisão, a serem aplicadas
do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em
isolada ou cumulativamente:
cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva,
nos termos do art. 312, parágrafo único, do CPP (art. 282,
I  – comparecimento periódico em juízo, no prazo
§ 4º, do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011).
e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e
A prisão preventiva só será determinada quando não
justificar atividades;
for cabível a sua substituição por outra medida cautelar
II – proibição de acesso ou frequência a determina‑
dos lugares quando, por circunstâncias relacionadas prevista no art. 319 (art. 282, § 6º, do CPP, com a redação
ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer da Lei nº 12.403/2011).
distante desses locais para evitar o risco de novas O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí‑
infrações; -la quando verificar a falta de motivo para que subsista,
III – proibição de manter contato com pessoa deter‑ bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que
minada quando, por circunstâncias relacionadas ao a justifiquem (art. 282, § 5º, do CPP, com a redação da Lei
fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer nº 12.403/2011).
distante; Senão restar materializada qualquer das hipóteses
IV – proibição de ausentar-se da Comarca quando a que autorizam a prisão preventiva, deverá o juiz conceder
permanência seja conveniente ou necessária para a liberdade provisória.148
investigação ou instrução. Se restarem verificados os pressupostos da prisão pre‑
ventiva a prisão em flagrante será convertida em prisão
Noções de Direito Processual Penal

O art. 320 do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011 preventiva.


estabelece que a proibição de ausentar-se do País será co‑ A circunstância de ser réu primário e de ter bons an‑
municada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar tecedentes, por si só, não dá ao réu o direito a responder
as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou ao processo em liberdade.149 Devem ser analisados os fun‑
acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte damentos do art. 312 do CPP. Nas hipóteses de cabimento
e quatro) horas. de prisão preventiva, a liberdade provisória é vedada, por
força da legislação processual penal.150
V – recolhimento domiciliar no período noturno e Para a concessão da liberdade provisória, pouco importa
nos dias de folga quando o investigado ou acusado ser ou não fixada fiança.
tenha residência e trabalho fixos; Dessa forma, Peterpan foi autuado em flagrante pela
VI – suspensão do exercício de função pública ou prática de crime cuja pena mínima é de seis anos de re‑
de atividade de natureza econômica ou financeira
quando houver justo receio de sua utilização para a 148
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/128º Exame e TRF 3ª
prática de infrações penais; Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto.
149
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007.
150
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑MG/Analista Judiciário/2005;
TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto.
147
FCC/TRE‑MG/Analista Judiciário/2005 e FCC/TRE‑MG/Analista Judiciário/2005.

106
clusão. O  juiz entendeu que não estavam presentes os conceder-lhe a liberdade provisória, sujeitando-o às obri‑
requisitos da prisão preventiva e agiu corretamente ao gações previstas no Código de Processo Penal.157
dar liberdade provisória, independentemente de fiança.151 O art. 350 do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011
Seguindo tal raciocínio: João e Pedro, ambos com deze‑ estabelece que, nos casos em que couber fiança, o juiz, veri‑
nove anos de idade, após subtraírem mediante violência ficando a situação econômica do preso, poderá (entenda-se
bens pertencentes a Antônio, fogem. São imediatamente “deverá”) conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às
perseguidos por policiais que, depois de uma hora, en‑ obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a
contram João com parte dos bens subtraídos. O juiz pode outras medidas cautelares, se for o caso.
conceder liberdade provisória sem fiança, se não estiverem Desta forma, será obrigado o afiançado a comparecer
presentes os requisitos da preventiva, embora se trate de perante a autoridade, todas as vezes que for intimado para
crime cometido mediante violência.152 atos do inquérito e da instrução criminal e para o julga‑
mento. Quando o réu não comparecer, a fiança será havida
Deve o juiz criminal, sob pena de incidir em error como quebrada (art. 327 do CPP). Também se exige que o
in procedendo, apreciar, quando da verificação dos afiançado não poderá, sob pena de quebramento da fiança,
pressupostos de validade formal do flagrante delito, mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade
os pressupostos materiais da prisão preventiva.153 processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua
residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde
No mesmo sentido, o STJ destaca que será encontrado (art. 328 do CPP). O juiz também poderá
determinar que o afiançado cumpra alguma obrigação de
não basta ao juiz fazer a simples análise da legalidade medida cautelar prevista no art. 319 do CPP, com redação
da prisão, cingindo-se a verificar o preenchimento da Lei nº 12.403/2011.
das formalidades legais, especialmente quando Nos termos do parágrafo único do art. 350 do CPP com
é provocado por petição da defesa requerendo a a redação da Lei nº 12.403/2011, se o beneficiado descum‑
liberdade provisória do preso, devendo, quando prir, sem motivo justo, qualquer das obrigações ou medidas
da comunicação da prisão em flagrante, justificar a impostas, o  juiz, de ofício ou mediante requerimento do
manutenção da prisão, especificando os motivos que Ministério Público, de seu assistente ou do querelante,
o levaram a entender incabível a liberdade provisória poderá substituir a medida, impor outra em cumulação,
na espécie.154 ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312,
parágrafo único).
Há entendimento jurisprudencial no STJ no sentido de Com a edição da Lei nº  12.403/2011, que revogou o
que, § 2º do art. 325 do CPP não há mais forma diferenciada de
concessão ou fixação de valor de fiança para os casos de
para a manutenção da prisão em flagrante, deve prisão em flagrante pela prática de crime contra a economia
ser demonstrada, concretamente, a necessidade da popular ou de crime de sonegação fiscal.
custódia, notadamente com alguma das hipóteses
previstas no art. 312 do Código de Processo Penal, Liberdade Provisória com Fiança
não se admitindo a prisão ex legis.155
Momento da Concessão da Fiança
Também para a concessão de liberdade provisória é A fiança poderá ser prestada em qualquer termo do
necessária fundamentação, conforme destaca o STF: processo, enquanto não transitar em julgado a sentença
condenatória (art.  334 do CPP). Nesse sentido, a  fiança
a prisão em flagrante, em delito de reconhecida gra‑ pode ser prestada pelo réu por ocasião da interposição do
vidade, exige que o magistrado explicite a presença recurso especial sendo irrelevante a inexistência de efeito
dos requisitos legais para a concessão de liberdade suspensivo do recurso e de a prisão dele decorrente cons‑
provisória.156 tituir execução provisória da condenação.158

Com a edição da Lei nº 12.403/2011, referida orientação Autoridade Competente para Conceder
jurisprudencial foi incorporada ao direito pátrio. Com efeito, A fiança deverá ser concedida pela autoridade policial
a nova redação do art. 310 do CPP impõe ao juiz que, quando ou pela autoridade judiciária de acordo com a gravidade
este receber o auto de prisão em flagrante, deverá funda‑ do crime.159
mentadamente: I – relaxar a prisão ilegal; ou II – converter Em caso de prisão em flagrante, a autoridade que presidir
a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os o respectivo auto será competente para conceder a fiança,
requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve‑ e, em caso de prisão por mandado, o  juiz que o houver
Noções de Direito Processual Penal

larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares expedido ou a autoridade judiciária ou policial a quem tiver
diversas da prisão; ou  III  – conceder liberdade provisória, sido requisitada a prisão (art. 332 do CPP).
com ou sem fiança. A autoridade policial somente poderá conceder fiança
Liberdade provisória com fiança (art. 319, VIII, do CPP, nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade
com a redação da Lei nº 12.403/2011). máxima não seja superior a 4 (quatro) anos160 (art. 322 do
Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando ser CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011).
impossível ao réu prestá-la, por motivo de pobreza, poderá
157
MS/TRE-SC/Analista Judiciário/2009/Questão 66/Assertiva c.
151
FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004. 158
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego‑
152
TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001. ria/2001.
153
STF; HC nº 92.133/CE; Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julga‑ 159
MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
mento: 25/9/2007. 160
Assunto cobrado nas seguintes provas antes da Lei nº  12.403/2011: NCE/
154
STJ; HC nº 86.027/PR; Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001; OAB‑SP/123º Exame
1º/9/2008. de Ordem/2004; OAB‑RO/42º Exame; Vunesp/OAB‑SP/130º Exame; OAB‑
155
STJ; HC nº 86.833/PR; Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJ -Nordeste/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005;
18/2/2008. NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001; FGV/TJ‑AM/
156
STF; HC nº 93.862/SP; Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julga‑ Serviços Notariais e de Registro/2005 e DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do
mento: 10/6/2008. Estado de Minas Gerais/Delegado de Polícia/2007.

107
Nos termos do parágrafo único do art. 322, do CPP, se a que ele nega ter praticado. Júlio afirma querer demonstrar
pena prevista para infração for superior a 4 (quatro) anos, cabalmente sua inocência. Uma das testemunhas alega ter
a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta sido por ele ameaçada. A partir dessa situação hipotética,
e oito) horas. sendo afiançável o crime de constrangimento ilegal, será
Em caso de prisão por mandado, também será compe‑ possível, caso Júlio seja preso, o arbitramento pela autori‑
tente para conceder fiança a autoridade policial a quem dade policial de fiança em valores entre um e cem salários
tiver sido requisitada a prisão.161 mínimos.167
Recusando ou retardando a autoridade policial a conces‑ II – de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quan‑
são da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, do o máximo da pena privativa de liberdade cominada for
mediante simples petição, perante o juiz competente, que superior a 4 (quatro) anos.168 (Art. 325 do CPP, com a redação
decidirá em 48 (quarenta e oito) horas (art. 335 do CPP com da Lei nº 12.403/2011).
a redação da Lei nº 12.403/2011). Não há mais necessidade Nos termos do § 1º do referido artigo, se assim reco‑
de oitiva prévia da autoridade policial para a decisão do mendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser:
juiz, sendo que agora fixou-se prazo para que o juiz analise I – dispensada, na forma do art. 350 do CPP;
o pedido de fiança. II – reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou
Depois de prestada a fiança, que será concedida inde‑ III – aumentada em até 1.000 (mil) vezes.169
pendentemente de audiência do Ministério Público, este terá
vista do processo a fim de requerer o que julgar conveniente O § 2º do art. 325 do CPP, que estabelecia procedimento
(art. 331 do CPP). Dessa forma, segundo o Código de Processo diferenciado os casos de prisão em flagrante pela prática de
Penal, a fiança é concedida pela autoridade independente‑ crime contra a economia popular ou de crime de sonegação
mente da oitiva do Ministério Público.162 fiscal,170 foi revogado.
A fiança, nos casos em que é admitida, pode ser con‑ Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em
cedida sempre pela autoridade competente.163 Entretanto, consideração a natureza da infração, as condições pessoais
o  “pode” deve ser entendido como “deve”, eis que, uma de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias
vez verificadas as hipóteses legalmente previstas, o flagrado indicativas de sua periculosidade, bem como a importân‑
tem direito subjetivo ao arbitramento. Assim, a fiança é, em cia provável das custas do processo, até final julgamento
regra, obrigatória, devendo ser arbitrada sempre que não (art. 326 do CPP).
existirem óbices legais, não se tratando de faculdade das
autoridades.164 Reforço da Fiança
Será exigido o reforço da fiança: I – quando a autoridade
Objeto de Fiança tomar, por engano, fiança insuficiente; II – quando houver
A fiança é uma garantia real, que consiste no pagamen‑ depreciação material ou perecimento dos bens hipoteca‑
to em dinheiro ao Estado, visando assegurar ao agente o dos ou caucionados, ou depreciação dos metais ou pedras
direito de permanecer solto, durante o trâmite do processo preciosas; III – quando for inovada a classificação do delito
criminal.165 (art. 340 do CPP).
A fiança, que será sempre definitiva, poderá se con‑ A fiança ficará sem efeito e o réu será recolhido à prisão,
sistir também em depósito de pedras, objetos ou metais quando, nas hipóteses acima referidas, não for reforçada171
preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou (art. 340, parágrafo único, do CPP).
municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar166
(art. 330 do CPP). Obrigações do Beneficiário da Fiança
Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por meio A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a
de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo comparecer perante a autoridade todas as vezes que for
órgão do Ministério Público (art. 348 do CPP). intimado para atos do inquérito e da instrução criminal e
Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre‑ para o julgamento. Quando o réu não comparecer, a fiança
ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor será considerada quebrada (art. 327 do CPP).
(art. 349 do CPP). O réu e quem prestar a fiança serão, pelo escrivão, no‑
A avaliação de imóvel ou de pedras, objetos ou metais tificados das obrigações e da sanção previstas nos arts. 327
preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela e 328, o que constará dos autos (art. 329, parágrafo único,
autoridade (art. 330, § 1º, do CPP). do CPP ).
Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida O réu afiançado não poderá, sob pena de quebramento
pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, da fiança, mudar de residência sem prévia permissão da
e, sendo nominativos, exigir-se-á prova de que se acham autoridade processante ou ausentar-se por mais de 8 (oito)
Noções de Direito Processual Penal

livres de ônus (art. 330, § 1º, do CPP). dias de sua residência sem comunicar àquela autoridade o
lugar onde será encontrado (art. 328 do CPP).
Valor da Fiança
O valor da fiança será fixado pela autoridade que a con‑ Quebra da Fiança
ceder nos seguintes limites: Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado: I – re‑
I – de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se gularmente intimado para ato do processo, deixar de com‑
tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau má‑ parecer, sem motivo justo; II – deliberadamente praticar ato
ximo, não for superior a 4 (quatro) anos; A título de exemplo: de obstrução ao andamento do processo; III – descumprir
Determinada autoridade policial instaurou inquérito para medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança;
investigar Júlio pela prática de constrangimento ilegal, crime
167
Cespe/TJ-AC/Juiz Substituto.
168
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-CE/Analista Judiciário/Área
161
FGV/TJ‑AM/Serviços Notariais e de Registro/2005. Administrativa/Questão 60/2012.
162
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005. 169
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva
163
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB-Nordeste/1º Exame de Or‑ E/2012 e FCC/TRE-CE/Analista Judiciário/Área Administrativa/Questão 60/2012.
dem/2005 e OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004. 170
Assunto cobrado, antes da Lei nº 12.403/2011, na seguinte prova: OAB‑MG/
164
Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001. Comissão de Exame de Ordem/2008.
165
Promotor-AP/2005. 171
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acadepol-SP/Delegado de Polícia de
166
OAB‑PR/Exame 1/2006. São Paulo/2003 e OAB‑PR/Exame 1/2006.

108
IV – resistir injustificadamente a ordem judicial; V – praticar recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei (art. 345
nova infração penal dolosa172 (art. 341 do CPP, com a redação do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011).
dada pela Lei nº 12.403/2011).
Se vier a ser reformado o julgamento em que se declarou Devolução do Valor da Fiança
quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em julga‑
(art. 342 do CPP). do sentença que houver absolvido o acusado ou declarada
O quebramento injustificado da fiança importará na extinta a ação penal, o  valor que a constituir, atualizado,
perda de metade do seu valor173, cabendo ao juiz decidir será restituído sem desconto, salvo em ocorrendo prescrição
sobre a imposição de outras medidas cautelares ou, se for depois da sentença condenatória (art. 337 do CP).
o caso, a decretação da prisão preventiva (art. 343 do CPP Não ocorrendo hipótese de perda da fiança, o  saldo
com a redação da Lei nº 12.403/2011). será entregue a quem houver prestado a fiança, depois de
No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções deduzidos os encargos a que o réu estiver obrigado (art. 347
previstas no art. 345 do CPP, o valor restante será recolhido do CPP).
ao fundo penitenciário, na forma da lei (art. 346 do CPP com
a redação da Lei nº 12.403/2011). Fiança e Recurso
Da decisão do juiz que conceder,176 negar, arbitrar,
Livro de Fiança cassar ou julgar inidônea a fiança, ou que a julgar quebrada
Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá um ou determinar o perdimento do seu valor, cabe recurso em
livro especial, com termos de abertura e de encerramento, sentido estrito, nos termos do art. 581, V e VII, do CPP. Se
numerado e rubricado em todas as suas folhas pela autorida‑ negar, é cabível a ação autônoma de impugnação de habeas
de, destinado especialmente aos termos de fiança. O termo corpus, nos termos do art. 648, V, do CPP.
será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade e
por quem prestar a fiança, e dele extrair-se-á certidão para Liberdade provisória e infrações de menor potencial
juntar-se aos autos (art. 329 do CPP). ofensivo
O Juizado Especial Criminal tem competência para a
Destino da Fiança conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais
O valor em que consistir a fiança será recolhido à re‑ de menor potencial ofensivo, consubstanciadas as contra‑
partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao venções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima
depositário público, juntando-se aos autos os respectivos não superior a 2 (dois) anos (art. 61 da Lei nº 9.099/1995).
conhecimentos (art. 331 do CPP). Em referidas infrações, a princípio não há lavratura do
Nos lugares em que o depósito não se puder fazer de auto de prisão em flagrante, mas sim de termo circuns‑
pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa abonada, tanciado. O art. 69, parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995
a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á ao determina que
valor o destino que lhe assina este artigo, o que tudo cons‑
tará do termo de fiança (art. 331, parágrafo único, do CPP). ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir
Destino da Fiança o compromisso de a ele comparecer, não se imporá
O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.
pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação
pecuniária e da multa, se o réu for condenado, ainda em caso Para Pacheco (2009, p. 913), se o autor dos fatos se negar
de prescrição depois da sentença condenatória (Código Pe‑ a assumir o compromisso, a consequência é a lavratura do
nal, art. 110 e seu parágrafo) (art. 336 do CPP com a redação auto de prisão em flagrante. Após a lavratura, poderá se livrar
da Lei nº 12.403/2011). solto, com ou sem o pagamento de fiança, dependendo do
delito cometido e de suas circunstâncias pessoais.
Cassação da Fiança
A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie Liberdade provisória vedada177
será cassada em qualquer fase do processo174 (art. 338 do Tendo‑se em conta as garantias processuais penais inscri‑
CPP). Será também cassada a fiança quando reconhecida tas no art. 5º da Constituição Federal, é correto afirmar‑se
a existência de delito inafiançável, no caso de inovação na que a prisão em flagrante por crime inafiançável não
classificação do delito (art. 339 do CPP). impede a concessão de liberdade provisória, quando a lei
Nesse sentido, a fiança será cassada caso o represen‑ admitir.178 Com efeito, mesmo em sendo o crime inafiançá‑
tante do MP, no oferecimento da denúncia, tipifique como vel, cabe ao flagranteado pleitear junto ao juiz a concessão
de liberdade provisória se não restarem presentes os pres‑
Noções de Direito Processual Penal

crime inafiançável conduta provisoriamente considerada


afiançável, na fase de inquérito policial inaugurado por supostos da prisão preventiva.
força de auto de prisão em flagrante.175
Hipóteses de Vedação da Liberdade Provisória em
Perda da Fiança Face da Inafiançabilidade do Delito
Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fiança,
se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do Nos termos dos art. 323 e 324 do CPP com a redação da
cumprimento da pena definitivamente imposta (art. 344 do Lei nº 12.403/2011, não será concedida fiança:
CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011). I – nos crimes de racismo previstos na Lei nº 7.716/1989,
No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas as nos termos do art. 5º, XLII, da CF/1988;
custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será II – nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecen‑
tes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes
172
Assunto cobrado, antes da Lei nº 12.403/2011, na seguinte prova: TRF 3ª Região/
IX Concurso/Juiz Federal Substituto. 176
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2003.
173
Assunto cobrado na seguinte prova: TRF 3ª Região/IX Concurso/Juiz Federal 177
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública do Estado de
Substituto. Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003.
174
OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004. 178
Assunto cobrado na seguinte prova: TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal
175
Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva D/2012. Substituto.

109
hediondos (arts.  5º, XLIII, da CF/1988; art.  2º, II, da Lei de sentença condenatória, o  juiz decidirá fundamentada‑
nº 8.072/1990, art. 1º, §§ 1º e 6º, da Lei nº 9.455/1997, e 33, mente se o réu poderá apelar em liberdade.
caput, da Lei nº 11.343/2006); 3) O art. 21 do Estatuto do Desarmamento destacava
III – nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou que os crimes de posse ou porte ilegal de arma de fogo de
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Demo‑ uso restrito, comércio ilegal de arma de fogo183 e tráfico in‑
crático (art. 5º, XLIV, da CF/1988); ternacional de arma de fogo eram insuscetíveis de liberdade
IV  – aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado provisória. Entretanto, o referido dispositivo foi declarado
fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo inconstitucional, nos termos da Adin nº 3.112-1.
justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 4) Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico
e 328 do CPP; ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo eram
V – em caso de prisão civil ou militar179. Reiterando, não insuscetíveis de liberdade provisória, nos termos do art. 2º,
será concedida fiança em caso de prisão por mandado do inciso II, da Lei nº 8.072/1990.
juiz do cível.180; Quanto aos crimes hediondos e terrorismo, a  Lei
VI – quando presentes os motivos que autorizam a de‑ nº 11.464, de 2007, revogou a proibição de concessão da li‑
cretação da prisão preventiva (art. 312). berdade provisória. O inciso II do art. 2º da Lei nº 8.072/1990
A Nova Lei mudou completamente a sistemática da (Lei dos Crimes Hediondos) não veda mais a possibilidade
inafiançabilidade. da liberdade provisória aos agentes que cometerem crimes
Não há mais vedação da concessão de fiança: 1) a con‑ hediondos.184
travenções de vadiagem nos termos do art. 59 da Lei de Con‑ Dessa forma, os  referidos crimes continuam apenas
travenções Penais (Decreto-Lei nº 3.688/1941); 2) a Crimes sendo inafiançáveis. Entretanto, em face de continuarem
punidos com reclusão em que a pena mínima cominada for sendo inafiançáveis, continua impossível a concessão de
superior a 2 (dois) anos, não tendo mais aplicação a nº 81 liberdade provisória sem fiança, conforme entendimento
do STJ; 3) a crimes dolosos punidos com pena privativa que se encontra consolidado no STF:
da liberdade, se o réu já tiver sido condenado por outro
crime doloso, em sentença transitada em julgado;181 4) se Se o crime é inafiançável, e  preso o acusado em
houver no processo prova de ser o réu vadio; 5) nos crimes flagrante, o  instituto da liberdade provisória não
punidos com reclusão, que provoquem clamor público ou tem como operar. O inciso II do art. 2º da Lei
que tenham sido cometidos com violência contra a pessoa nº  8.072/1990, quando impedia a “fiança e a li‑
ou grave ameaça; 6) ao que estiver no gozo de suspensão berdade provisória”, de certa forma incidia em
condicional da pena ou de livramento condicional; e 7) crimes redundância, dado que, sob o prisma constitucional
contra o sistema financeiro. (inciso XLIII do art. 5º da CF/1988), tal ressalva era
desnecessária. Redundância que foi reparada pelo
Hipóteses de vedação da liberdade provisória seja o legislador ordinário (Lei nº 11.464/2007), ao retirar o
delito afiançável ou não excesso verbal e manter, tão somente, a vedação do
1) Membros ativos de organização criminosa (art.  7º instituto da fiança. 3. Manutenção da jurisprudência
da Lei nº  9.034/1995). Em sendo o indivíduo membro de desta Primeira Turma, no sentido de que “a proibição
organização criminosa (estrutura hierárquica com divisão da liberdade provisória, nessa hipótese, deriva logi‑
de tarefas e funções de seus membros), entende‑se que camente do preceito constitucional que impõe a ina‑
isso, por si só, já faz restar presentes os requisitos da prisão fiançabilidade das referidas infrações penais: ... seria
preventiva. Nesse sentido, o STF destaca que ilógico que, vedada pelo art. 5º, XLIII, da Constituição,
a  liberdade provisória mediante fiança nos crimes
a regra do art. 7º da Lei nº 9.034/1995, consoante hediondos, fosse ela admissível nos casos legais de
a qual não será concedida liberdade provisória, com liberdade provisória sem fiança...” (HC nº 83.468, da
ou sem fiança, aos agentes que tenham tido intensa relatoria do Min. Sepúlveda Pertence). Precedente:
e efetiva participação na organização criminosa, com HC nº 93.302, da relatoria da Min. Cármen Lúcia (STF,
efeito, revela‑se coerente com o disposto no art. 312, HC nº  95.060/SP, Rel. Min. Carlos Britto, Primeira
do CPP. (STF, HC nº 94.739/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, Turma, Julgamento: 16/12/2008)
Segunda Turma, Julgamento: 7/10/2008)
Com relação ao crime de tortura, há legislação específica.
2) Crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos Nos termos do § 6º do art. 1º da Lei nº 9.455/1997, a tor‑
e valores (art. 3º da Lei nº 9.613/1998). O STJ entende que tura é apenas crime inafiançável, não havendo ali previsão
a “vedação à liberdade provisória, que reforça a necessi‑ de proibição de liberdade provisória. Entretanto, conforme
Noções de Direito Processual Penal

dade de manutenção da prisão preventiva, contida na Lei visto acima, o fato de ser inafiançável, por si só, impede a
9.034/1995, constitui importante instrumento de que dispõe concessão de liberdade provisória sem fiança.
o Estado para desarticular organizações criminosas”. (STJ, No que se refere ao crime de tráfico ilícito de entorpecen‑
HC nº 28.671/MT, Min. Jorge Scartezzini, Quinta Turma, DJ tes e drogas afins, o art. 44 da Lei nº 11.343/2006 estabeleceu
5/4/2004) que os crimes de tráfico ilícito de drogas, tráfico ou manuten‑
Com relação aos chamados crimes de “lavagem” ou ção de maquinários, associação para o tráfico, financiamento
ocultação de bens, direitos e valores oriundos de outras do tráfico e sua associação para tanto e colaboração como
infrações, tratados na Lei nº 9.613/1998, não haverá con‑ informante do tráfico, previstos no art.  33, caput e § 1º,
cessão de liberdade provisória, ainda que sob fiança, mas e arts. 34 a 37 da referida lei, são inafiançáveis e insuscetíveis
não está retirada a possibilidade de o réu apelar solto.182 de liberdade provisória. No particular, o STF entende que
Com efeito, estabelece o art. 3º da referida lei que, em caso

179
Assunto cobrado, antes da Lei nº 12.403/2011, na seguinte prova: Cespe/PM-DF/ Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑SP/125º Exame de Ordem/2005.
183

Soldado/2009. Gabarito adaptado em face da alteração do art. 2º, inciso II, da Lei


184
180
Vunesp/OAB-SP/133º Exame. nº 8.072/1990. Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Secad-TO/De‑
181
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva A/2012 legado de Polícia Civil 1ª Classe/2008; Cespe/TJ‑RR/Analista Proces­sual/2006;
182
TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto. OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004 e OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004.

110
a vedação da liberdade provisória a que se refere se tratando de delito de tráfico ilícito de substância
o art. 44 da Lei nº 11.343/2006, por ser norma de entorpecente. Asseverou‑se, ainda, que, de acordo
caráter especial, não foi revogada por diploma legal com esse mesmo art. 5º, XLIII, da CF, são inafiançá‑
de caráter geral, qual seja, a Lei nº 11.464/2007. (STF, veis os crimes hediondos e equiparados, sendo que
HC nº 93.000/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, o art.  2º, II, da Lei nº  8.072/1990 apenas atendeu
Primeira Turma, Julgamento: 1/4/2008) ao comando constitucional’ (HC nº 92.495/PE. Rel.
Min. Ellen Gracie, julgado em 27/5/2008). Ordem
Vejamos jurisprudência elucidativa sobre o tema: denegada. (STJ, HC nº 106.143/AM, Min. Felix Fischer,
Quinta Turma, DJe 6/10/2008)
A proibição de concessão do benefício de liberdade
provisória para os autores do crime de tráfico ilícito As referências constantes no julgado acima feitas ao
de entorpecentes está prevista no art.  44 da Lei art. 310, parágrafo único, do CPP, são anteriores à Lei nº
nº 11.343/2006, que é, por si, fundamento suficien‑ 12.403/2011, sendo que agora a base das referências cons‑
te por se tratar de norma especial especificamente tantes acima é o inciso II do art. 310 do CPP.
em relação ao parágrafo único do art. 310 do CPP. A jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de que
IV – Precedentes do Pretório Excelso (AgReg no HC a proibição da liberdade provisória para os autores de trá‑
nº 85.711-6/ES, Primeira Turma, Rel. Min. Sepúlveda fico de drogas, prevista na Lei nº 11.343/2006, é, por si só,
Pertence; HC nº 86.118-1/DF, Primeira Turma, Rel. fundamento suficiente para a denegação do benefício.185
Min. Cezar Peluso; HC nº 83.468-0/ES, Primeira Tur‑ Dessa forma, a vedação constitucional da fiança implica
ma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; HC nº 82.695-4/ que não cabe liberdade provisória também sem fiança, o que
RJ, Segunda Turma, Rel. Min. Carlos Velloso). V – “De traz, como consequência imediata, a desnecessidade de o juiz
outro lado, é certo que a Lei nº 11.464/2007 – em ter que fundamentar e motivar previamente a manutenção
vigor desde 29/3/2007 – deu nova redação ao art. 2º, de eventual prisão em flagrante, sendo que, no caso, cabe ao
II, da Lei nº 8.072/1990, para excluir do dispositivo flagranteado comprovar a ausência de necessidade da prisão
a expressão “e liberdade provisória”. Ocorre que – cautelar para conseguir responder ao processo em liberdade,
sem prejuízo, em outra oportunidade, do exame demonstrando não estarem presentes os requisitos da prisão
mais detido que a questão requer –, essa alteração preventiva. Assim, verifica‑se a “irrelevância da existência, ou
legal não resulta, necessariamente, na virada da não, de fundamentação cautelar para a prisão em flagrante por
jurisprudência predominante do Tribunal, firme crimes hediondos ou equiparados”. (STF, HC nº 95.584/SP, Rel.
em que da “proibição da liberdade provisória nos Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, Julgamento: 21/10/2008)
processos por crimes hediondos (...) não se subtrai a A proibição de liberdade provisória, nos casos de crimes
hediondos e equiparados, decorre da própria inafiançabili‑
hipótese de não ocorrência no caso dos motivos au‑
dade imposta pela CF à legislação ordinária.186
torizadores da prisão preventiva” (v.g., HC nº 83.468,
Dessa forma, continua aplicável a Súmula nº 697 do STF,
Primeira Turma, 11/9/2003, Pertence, DJ 27/2/2004;
no sentido de que “a proibição de liberdade provisória nos
nº  82.695, Segunda Turma, 1/5/2003, Velloso, DJ
processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da
6/6/2003; nº  79.386, Segunda Turma, 5/10/1999, prisão processual por excesso de prazo”.187 (CAPEZ, 2009,
Marco Aurélio, DJ 4/8/2000; nº  78.086, Primeira p. 288)
Turma, 11/12/1998, Pertence, DJ 9/4/1999). Nos
precedentes, com efeito, há ressalva expressa no Recursos em face da concessão da liberdade provisória
sentido de que a proibição de liberdade provisória Da decisão do juiz que conceder liberdade provisória,
decorre da própria “inafiançabilidade imposta pela cabe recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, V,
Constituição” (CF, art. 5º, XLIII). (STF, HC nº 91.550/ do CPP. Se negar, é cabível a ação autônoma de impugnação
SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 6/6/2007). de habeas corpus, nos termos do art. 648, I, do CPP, eis que
VI  – Ademais, em decisão recente publicada no haverá coação sem justa causa.
Informativo de Jurisprudência nº  508, o  Pretório
Excelso assim se manifestou sobre o tema: ‘A Turma Prisão Preventiva
indeferiu habeas corpus em que pleiteada a soltura
da paciente, presa em flagrante desde novembro Conceito
de 2006, por suposta infringência dos arts. 33 e
35, ambos da Lei nº 11.343/2006. A defesa aduzia Trata-se de prisão cautelar e processual,188 de natu‑
que a paciente teria direito à liberdade provisória, reza excepcional, vinculada às hipóteses previstas em lei
Noções de Direito Processual Penal

bem como sustentava a inocorrência dos requisitos decretada por ordem judicial fundamentada189 sem prazo
para a prisão cautelar e a configuração de excesso específico,190 seja na fase de investigação preliminar ao pro‑
de prazo nessa custódia. Afirmou‑se que esta Corte cesso penal ou na fase judicial antes do trânsito em julgado.
tem adotado orientação segundo a qual há proibição Por decorrer de ordem judicial, considerando os princí‑
legal para a concessão da liberdade provisória em pios constitucionais aplicáveis ao processo penal, a prisão
favor dos sujeitos ativos do crime de tráfico ilícito preventiva está prevista na Constituição Federal.191
de drogas, o que, por si só, seria fundamento para
denegar‑se esse benefício. Enfatizou‑se que a aludida
Lei nº 11.343/2006 cuida de norma especial em rela‑ 185
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto /
ção àquela contida no art. 310, parágrafo único, do Questão 25/Assertiva D/2009; STJ; HC nº 14.4448 / PR; Ministro Celso Limongi;
Sexta Turma; DJe 18/12/2009.
CPP, em consonância com o disposto no art. 5º, XLIII, 186
Cespe/DPE-PI/Defensor Público/Questão 35/Assertiva A/2009.
da CF. Desse modo, a redação conferida ao art. 2º, II, 187
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 69/Item I/2011.
188
FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2001.
da Lei nº 8.072/1990, pela Lei nº 11.464/2007, não 189
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciá‑
prepondera sobre o disposto no art. 44 da citada Lei rio/2001; OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004; Vunesp/TRF 3ª Região/Analista
nº 11.343/2006, eis que esta se refere explicitamente Judiciário/2002 e OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005.
190
FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006.
à proibição da concessão de liberdade provisória em 191
FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004.

111
Legitimidade para o Requerimento para imediata execução da sentença. A prisão decretada
não viola o princípio da presunção de inocência, ao passo
Em qualquer fase da investigação policial ou do processo que a extração de carta de execução de sentença antes
penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de do trânsito em julgado é adequada, porque ensejará uma
ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do situação mais benéfica ao réu.197
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por
representação da autoridade policial192 (art. 311 do CPP com Recurso cabível
a redação da Lei nº 12.403/2011).
O juiz só pode decretar a prisão preventiva de ofício na Nos termos do art. 581, V, do CPP, cabe recurso em sen‑
fase judicial. Não pode mais decretar a prisão preventiva de tido estrito da decisão que indeferir requerimento de prisão
ofício na fase do inquérito policial. preventiva ou revogá‑la.
O assistente da acusação agora tem legitimidade para Se houver determinação de prisão preventiva ou mesmo
requerer a prisão preventiva. indeferimento do pedido de revogação, cabe habeas corpus,
nos termos do art. 648, I, do CPP.
Ordem judicial fundamentada Caso o delegado de polícia represente pela prisão pre‑
ventiva do indiciado, e se o juiz entender que não há ne‑
A prisão preventiva é decretada pelo juiz, mediante re‑ cessidade de se decretá‑la, o delegado não poderá interpor
querimento ou mesmo de ofício193, se no curso da ação penal. qualquer recurso contra a decisão judicial.198
A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão
preventiva será sempre motivada (art.  315 do CPP com a Momento
redação da Lei nº 12.403/2011).
A decisão que decreta a prisão preventiva deve ser A prisão preventiva somente pode ser decretada pela
sempre fundamentada. A que a nega também imprescinde autoridade judiciária, o  que o faz em qualquer fase do
de fundamentação.194 inquérito policial ou do processo.199
A título de exemplo, com referência à prisão cautelar Em qualquer fase da investigação policial ou do processo
requerida pelo Ministério Público após o oferecimento de penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de
denúncia, o deferimento da medida cautelar deve ter como ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do
fundamento os pressupostos previstos no Código de Pro‑ Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por
cesso Penal, devendo o juiz fundamentar a sua decisão.195 representação da autoridade policial200 (art. 311 do CPP,
A decretação de prisão preventiva pode tornar prevento com a redação da Lei nº 12.403/2011).
o juízo.196 A prisão preventiva poderá ser decretada, ainda que
A prisão preventiva também pode ser decretada por a prisão em flagrante venha a ser anulada por vício de
tribunal, seja nos casos de competência originária, seja forma.201
recursal, sendo limite apenas a verificação da coisa julgada. Pode também ser decretada a prisão preventiva, mes‑
Desta forma, analise a situação: Nicolas Santíssimo foi mo sem a instauração de inquérito policial, caso sejam
preso em flagrante como suspeito do assassinato de sua es‑ verificadas as hipóteses de cabimento da prisão preventiva.
posa. Durante o inquérito, permaneceu preso, assim como Nesse sentido, a falta de inquérito policial não impede a
durante toda a instrução criminal que se seguiu à denúncia decretação da prisão preventiva, se embasada em peças
por homicídio privilegiado que foi oferecida em seu desfa‑ informativas da existência do crime e em indícios da autoria
vor. Ao ser interrogado, confessou o crime. No momento apresentados pelo órgão do MP.202
da pronúncia, o juiz revogou a prisão por constatar que não Ao tribunal ad quem é permitido, em sede recursal,
estavam presentes os requisitos da preventiva. Julgado pelo ordenar a prisão do condenado quando improvido o re‑
Tribunal do Júri, Nicolas foi condenado à pena de seis anos curso por este interposto, conforme previsão expressa no
de reclusão em regime inicial fechado, sendo‑lhe facultado Código de Processo Penal.203 É o que determina o art. 675,
o direito de apelar em liberdade. O apelo de Nicolas não § 1º, do CPP. Para a referida prisão, devem restar presentes
foi provido pelo Tribunal que, ao  denegar a apelação, os requisitos da prisão preventiva.
decretou a prisão de Nicolas, na forma do art. 312, devido Durante o processo penal, a limitação é o trânsito em jul‑
às evidências contidas nos autos de que ele pretendia se gado. Se houver condenação, mas ainda não houver trânsito
furtar à aplicação da lei. Nicolas interpôs recurso especial em julgado, é cabível a manutenção da prisão preventiva se
e extraordinário, os  quais foram admitidos, processados materializadas as suas hipóteses. Entretanto, também será
e aguardam remessa para julgamento nos tribunais supe‑ analisado para a decretação ou não da prisão preventiva o
Noções de Direito Processual Penal

riores. Considerando que Nicolas já ficara preso durante regime fixado na condenação. Nesse sentido,
quase quatro anos, a  defesa de Nicolas requereu, e  o
Tribunal determinou a extração de carta de execução de
sentença e sua remessa à Vara de Execuções Penais (VEP) Assunto cobrado na seguinte prova: FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009.
197
198
Cespe/TJ‑DF/Técnico Judiciário/2003.
199
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/DPF/Agente/2012; Cespe/Polícia
192
Assunto cobrado, antes da Lei nº  12.403/2011, nas seguintes provas: FCC/ Federal/Papiloscopista/2012; Cespe/DPE-SP/Estagiário de Direito/2008; FCC/
TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2001; NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª TRE-RN/Analista Judiciário/2005 e Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e
Classe do RJ/2002; UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003; Escrivão de Polícia/2009.
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Clas‑ 200
Assunto cobrado antes da Lei nº  12.403/2011, nas seguintes provas: UEG/
se/2003; Acadepol-SP/Delegado de Polícia de São Paulo/2003; FGV/TJ‑SE/ Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003; Cespe/Defensoria Pública
Técnico Judiciário/2004; Cespe/Prefeitura Municipal de Vitória/Procurador do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; FGV/TJ‑SE/Técnico
Municipal/2007; FCC/TRF 5ª Região/Analista Judiciário/2003; OAB‑PR/Exame Judiciário/2004; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005; OAB‑DF/1º Exame de
2/2006 e OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005. Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; OAB‑MT/1º Exame de
193
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE-SE/Promotor Substituto/2010/ Ordem/2004 e Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 2ª Entrância/2001.
Questão 19/Assertiva e. 201
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública do Estado de
194
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Agente de Investigação e Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003.
Escrivão de Polícia/2009. 202
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva
195
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006. A/2012 e Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
196
OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005. 203
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/1º Exame da Ordem/2007.

112
estipulado o regime inicial semiaberto para cum‑ E mais,
primento da pena, mostra‑se incompatível com a
condenação a manutenção da prisão preventiva, não constitui constrangimento ilegal o excesso de
ainda que a acusação tenha recorrido.204/205 prazo na instrução, provocado pela defesa (Súmula
nº 64/STJ).
Entretanto, há entendimento contrário no próprio STJ,
no sentido de que O STF sedimentou o entendimento de que o referido
prazo de 81 dias para o término da instrução processual
não há incompatibilidade entre a fixação do regime não seria absoluto, devendo o prazo da prisão preventiva
semiaberto e a manutenção da custódia provisória, ser cotejado com critérios de razoabilidade e com base nas
desde que presentes os requisitos do art. 312 do circunstâncias de cada caso. Ressalta a Corte que
Código de Processo Penal.206
a razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII),
Por outro lado, segundo o STF, logicamente, deve ser harmonizada com outros
princípios e valores constitucionalmente adotados
no Direito brasileiro, não podendo ser considerada
existe constrangimento ilegal quando a decisão do
de maneira isolada e descontextualizada do caso
Tribunal, ao  alterar o regime de cumprimento de relacionado à lide penal que se instaurou a partir da
pena, do semiaberto para o aberto, não se pronuncia prática dos ilícitos.
quanto ao pedido de recolhimento do mandado de
prisão.207 Sendo que a prisão cautelar,
Prazo ainda que com prazo superior a 81 dias, pode se
justificar com base no parâmetro da razoabilidade,
A prisão preventiva não tem prazo determinado em lei, em se tratando de instruções criminais de caráter
podendo ser readequada em havendo alteração na situação complexo.209
fática que a autorizou.208
Embora a lei não determine prazo para a manutenção Com a reforma do rito ordinário, têm‑se os seguintes
da prisão preventiva, o art. 316 do CPP determina que o juiz prazos para a duração do julgamento, o que reflete nos prazos
poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, da prisão preventiva:
verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de • Inquérito Policial: 10 dias para investigado preso
novo decretá‑la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (art. 10 do CPP).
Por outro lado, indiretamente quando a lei fixa prazo para • Denúncia: 5 dias para acusado preso (art. 46 do CPP).
a finalização da instrução criminal quando o acusado estiver • Recebimento da Denúncia: 5 dias (art. 800, II, do CPP).
preso, há reflexos no prazo da prisão preventiva. Com efeito, • Resposta da Defesa: 10 dias (art. 396 do CPP).
o art. 8º da Lei nº 9.034/1995 determina 81 dias como sendo • Designação da audiência de instrução: 60 dias con‑
o prazo para encerramento da instrução criminal, quando o tados do despacho de recebimento da resposta da
defesa (art. 400 do CPP).
acusado estiver preso.
• Memoriais, caso não se efetivem as alegações orais
Em se tratando de rito ordinário, com a soma dos prazos
em audiência de instrução e julgamento: 5 dias para
processuais antes previstos, entendia‑se que a prisão pre‑ a Acusação e 5 dias para a Defesa (art. 403, § 3º, do
ventiva poderia durar, no máximo, 81 dias, sendo referido CPP).
prazo global o lapso temporal para se concluir a instrução • Sentença, caso não proferida na audiência de instru‑
processual, com a oitiva das testemunhas da acusação, não ção e julgamento: 10 dias (art. 403, § 3º, e art. 404,
se considerando, entretanto, os  prazos de forma isolada. parágrafo único, do CPP).
O STF destaca inclusive que
Desta forma, o prazo para a conclusão do procedimento
a proibição de liberdade provisória nos processos por ordinário poderia chegar a 110 dias. Entretanto, a caracte‑
crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão rização do prazo de conclusão do rito ainda não é unânime
processual por excesso de prazo (Súmula nº 697/STF). na doutrina. Pierobom (2009, p. 418) destaca:
Entretanto, a Súmula nº 52 do STJ estabelece que,
O prazo máximo para a conclusão do processo será de
Noções de Direito Processual Penal

encerrada a instrução criminal, fica superada a 95 dias (dez dias para o IP, cinco dias para a denúncia,
alegação de constrangimento por excesso de prazo. 60 dias do recebimento da denúncia até a audiência
de instrução, cinco + cinco dias para alegações finais
Também restou sedimentado que escritas e dez dias para a sentença), se não houver
requerimento de diligências complementares.
pronunciado o réu, fica superada a alegação do cons‑
trangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na Cabimento
instrução (Súmula nº 21/STJ).
De acordo com as categorias jurídicas próprias do
processo penal, o  requisito para decretação de prisão
204
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008. preventiva é o fumus commissi delicti, e seu fundamento
205
STJ; HC nº  80.631/SP; Ministro Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, DJ constitui o periculum libertatis.210
22/10/2007.
206
STJ; HC nº 89.773/RJ; Ministro Nilson Naves, Sexta Turma, DJe 28/10/2008.
207
STF; HC nº 93.899/SP; Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, 209
STF; HC nº 97.983/SP; Relator Ministro Ellen Gracie, Segunda Turma, Julgamen‑
Julgamento: 15/4/2008. to: 2/6/2009.
208
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006. 210
OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004.

113
Estabelece o Código do Processo Penal, no art. 312, que suficientes da autoria.218 Também devem estar presentes
um de seus fundamentos e uma de suas condições de ad‑
a prisão preventiva poderá ser decretada como missibilidade.
garantia da ordem pública, da ordem econômica,
por conveniência da instrução criminal, ou para Fundamentos ou circunstâncias (periculum libertatis)
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver
prova de existência do crime e indícios suficientes Os fundamentos da prisão preventiva encontram‑se no
de autoria.211 art. 312 do CPP. Para a decretação da prisão preventiva, no
mínimo uma das circunstâncias abaixo deve estar configurada:
No dispositivo em apreço, temos a configuração de
defesa da sociedade e do indivíduo contra o arbítrio do a) Garantia da ordem pública219
Estado. É o que nos dita o Princípio Político.212 Feitoza (2009, p. 862) destaca que a garantia da ordem
A decretação da prisão preventiva apenas poderá ter pública pode ser analisada na perspectiva individual e/ou
fundamento nas seguintes hipóteses: como garantia da social.
ordem pública, da ordem econômica, por conveniência No aspecto individual, tem‑se que, se o sujeito for rein‑
da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei cidente ou com diversos maus antecedentes, somente isso
penal, quando houver prova da existência do crime e indício já pode demonstrar sua periculosidade. Essa condição tem
suficiente de autoria.213 sido usada para a decretação da prisão preventiva, eis que
Assim, a prisão preventiva não pode ser decretada para objetiva
assegurar a incolumidade física do acusado da prática de
um crime.214 a garantia da ordem pública, entre outras coisas,
Para que seja decretada a prisão preventiva, o juiz deve evitar a reiteração delitiva, assim resguardando a
verificar a existência dos pressupostos e, no mínimo, de uma sociedade de maiores danos.220
das circunstâncias ou condições de admissibilidade abaixo
destacadas. A periculosidade do agente pode restar demonstrada
na hipótese de policiais que extorquem criminoso sob
Pressupostos ou requisitos (fumus commissi delicti) sua guarda,221 colaboração do paciente na atuação de
associação criminosa,222 ou quando
Aury Lopes Jr. (2008, p. 95) destaca que
a personalidade do acusado é voltada para o crime,
haja vista os diversos inquéritos policiais contra si
o fumus commissi delicti exige a existência de sinais
instaurados, inclusive para apuração de tráfico ilícito
externos, com suporte fático real, extraídos dos atos
de entorpecentes, e  a condenação pela prática de
de investigação levados a cabo, em que por meio de corrupção passiva, também em face da função de
um raciocínio lógico, sério e desapaixonado, permita Policial Rodoviário.223
deduzir com maior ou menor veemência a comissão
de um delito, cuja realização e consequências apre‑ Entretanto, a presença de condições subjetivas favoráveis
sentam como responsável um sujeito concreto. ao paciente não obsta a segregação cautelar. Se presentes
os requisitos legais, a primariedade do acusado, os bons
A prisão preventiva poderá ser decretada quando houver antecedentes, a residência fixa no distrito da culpa e família
prova da existência do crime e indício suficiente de autoria constituída não são circunstâncias que obstam a decretação
(art. 312 do CPP). da prisão preventiva.224
Indícios de autoria e prova da materialidade do crime Nesse sentido, analise esta situação hipotética: o órgão
são pressupostos para a decretação da prisão preventiva.215 do MP ofereceu denúncia e requereu, fundamentadamente,
A prisão preventiva pode fundar-se em indícios su‑ a decretação da prisão preventiva de Xisto, que foragiu do
ficientes da autoria, não havendo necessidade de haver distrito da culpa tão logo foi descoberto o crime perpetra‑
prova cabal.216 do. O juiz recebeu a exordial acusatória e, fundamentado
A prova da existência do crime exige indícios da materia‑ no requerimento do Parquet, decretou a custódia cautelar
lidade do crime, por meio de provas documentais, periciais, do réu. O defensor de Xisto, alegando a primariedade e os
testemunhais etc. O mesmo se diga em relação à autoria, bons antecedentes deste, requereu a revogação do decreto.
que também exige elementos idôneos que permitam, pelo Em face dessa situação hipotética e da legislação correlata,
menos, de forma preliminar, imputar a conduta delitiva ao ao decretar a prisão preventiva, o magistrado agiu correta‑
Noções de Direito Processual Penal

autor dos fatos. Dessa forma, a prisão preventiva não pode mente e adotou como razões de decidir os fundamentos do
ser decretada contra a testemunha que, regularmente requerimento formulado pelo órgão do MP.225
intimada, não comparece ao depoimento perante a auto‑
ridade judiciária.217 218
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública do Estado de
No entanto, para a decretação da prisão preventiva, Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003.
não bastam a prova da materialidade do crime e indícios
219
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil
Substituto/2009.
220
STF; HC nº 84.658/PE; Relator Ministro Joaquim Barbosa, DJ 3/6/2005.
211
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/Segurança/ 221
STF, HC nº 95.721/SP; Relator Ministro Cármen Lúcia, Primeira Turma, Julga‑
Questão 40/Assertiva C/2011. mento: 2/12/2008.
212
Assunto cobrado na seguinte prova: Defensoria Pública do Estado do Ceará/ 222
STF, HC nº 95.065/SP; Relator Ministro Cármen Lúcia, Primeira Turma, Julga‑
Defensor Público/2002. mento: 25/11/2008.
213
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DP‑MA/Defensor Público/2009; 223
STJ; RHC nº 23.409/RS; Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma,
Cespe/PC‑PB/Agente de Investigação e Escrivão de Polícia/2009 e Cespe/PC‑PB/ DJe 16/2/2009.
Delegado de Polícia/2009. 224
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva
214
FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/Segurança/Questão 40/Assertiva D/2011. D/2012; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; OAB‑Nordeste/2º Exame de
215
Cespe/Polícia Civil de RR/Agente de Polícia/2003. Ordem/2004; Cespe/Secad-TO/Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe/2008;
216
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 1/Técnico Judiciário/Segurança/Questão FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005 e Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciá­
40/Assertiva A/2011. rio/2002.
217
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005. 225
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe-AM/Promotor/2001.

114
Com efeito, ainda que o agente seja primário, com fundada na hipótese de garantia da ordem pública235
residência fixa, emprego definido e com bons ante‑ ou clamor público.236
cedentes, o juiz, considerando a perspectiva social,
poderá decretar a prisão preventiva caso constate, Assim, as justificativas para a decretação da prisão pre‑
baseado em dados concretos, que os fatos praticados ventiva não incluem a gravidade do delito.237
são de extrema gravidade, geram intranquilidade Por outro lado, no rol de requisitos e pressupostos para
para a sociedade e seus malefícios coletivos são a decretação da prisão preventiva do art. 312 do CPP, não
indiscutíveis.226 consta o da satisfação do clamor público causado pelo
crime.238
Entretanto, a mera gravidade do crime em abstrato não Como exemplo: Alan praticou um grave homicídio quali‑
configura hipótese de prisão preventiva227 (RTJ nº 137/287, ficado contra a sua esposa, morta por tiros à queima roupa,
Relator Ministro Sepúlveda Pertence). na porta de sua residência. O crime chocou os moradores
Para exemplo, da pequena e pacata cidade do interior onde mora Alan,
gerando clamor público considerável. Nessa situação, con‑
a  grande quantidade de droga apreendida em po‑ soante entendimento do STF e do STJ, o clamor público e a
der de traficantes,228 a apreensão de bombas de credibilidade das instituições não autorizam a decretação
fabricação caseira e grande quantidade de armas ou da prisão preventiva de Alan.239
munição de uso restrito,229 bem como a propensão Devem ser usados fundamentos concretos. Como
exemplo,
à pedofilia,230 materializam a gravidade concreta dos
fatos imputados como justificativa da necessidade de
o modus operandi do crime de homicídio qualificado,
garantia da ordem pública.231 O mesmo se diga em
praticado friamente, por motivo fútil e contra menor,
relação ao modus operandi em que se deu o ilícito.232
demonstra a personalidade do acusado voltada
para a prática criminosa, a ponto de justificar a sua
Outro exemplo, custódia preventiva, eis que indicativa de afronta à
ordem pública.240
é legítimo o decreto de prisão preventiva que res‑
salta, objetivamente, a  necessidade de garantir a Assim, de acordo com a jurisprudência majoritária, a pri‑
ordem pública, não em virtude da hediondez do são preventiva pode ser decretada para garantir a ordem
crime praticado, mas pela gravidade dos fatos inves‑ pública em face da periculosidade do agente, demonstrada
tigados na ação penal (sequestro de criança com 6 pela gravidade, pela violência ou pelas circunstâncias em
anos de idade pelo período de 2 meses), que bem que o crime foi perpetrado.241
demonstram a personalidade dos pacientes e dos Por outro lado, o simples fato de um acusado ser mo‑
demais envolvidos, sendo evidente a necessidade de rador de rua, não possuindo residência fixa nem ocupação
mantê-los segregados, especialmente pela organiza‑ lícita, não é motivo legal para a decretação da custódia
ção e o modo de agir da quadrilha.233 cautelar.242 Com efeito, devem estar presentes os pressu‑
postos ou requisitos da prisão preventiva, bem como suas
Tem‑se, ainda, que condições de admissibilidade.

a preservação da ordem pública não se restringe b) Garantia da ordem econômica


às medidas preventivas da irrupção de conflitos e Para o crime atingir a ordem econômica, deve trazer
tumultos, mas abrange também a promoção da‑ prejuízo ao Erário ou afetar a livre concorrência e a livre
quelas providências de resguardo à integridade das iniciativa, não bastando o crime ter conotação econômi‑
instituições, à sua credibilidade social e ao aumento ca, e  ser previsto, por exemplo, em relação aos crimes
da confiança da população nos mecanismos oficiais previstos na Lei de Falências (Lei nº  11.101/2005), na lei
de repressão às diversas formas de delinquência.234 que reprime os crimes contra o Sistema Financeiro Nacio‑
nal (Lei nº  7.492/1986), na Lei de Economia Popular (Lei
Por outro lado, nº 1.521/1951), na lei que define as infrações contra a ordem
econômica (Lei nº 8.884/1994) e na Lei que define os crimes
a mera alusão à gravidade genérica do delito não é contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo
Noções de Direito Processual Penal

suficiente para a manutenção da custódia cautelar (Lei nº 8.137/1990).

Ao lado de tais crimes, deve restar evidenciada a


226
STF; HC nº 96.424/MS; Relator Ministro Ellen Gracie, Segunda Turma, Julga‑ magnitude da lesão.243
mento: 10/3/2009.
227
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TRE-BA/Analista Judiciário/Área
Administrativa/2010/Questão 102.
228
STF; HC nº 95.060/SP; Relator Ministro Carlos Britto, Primeira Turma, Julga‑ 235
STJ; HC nº 119.757/SP; Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJe 16/3/2009.
mento: 16/12/2008. 236
STF; HC nº 91.616/RS; Relator Ministro Carlos Britto, Primeira Turma, Julga‑
229
STJ; RHC nº 24.970/RJ; Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma, mento: 30/10/2007.
DJe 16/3/2009. 237
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Papiloscopista e Técnico em
230
STJ; HC nº 114.034/RS; Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma, Perícia/2009.
DJe 2/3/2009. 238
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RJ/32º Exame; NCE/Delegado da
231
STF; HC nº 95.060/SP; Relator Ministro Carlos Britto, Primeira Turma, Julga‑ Polícia Civil do DF/2004 e Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2008.
mento: 16/12/2008. 239
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2005.
232
STJ; HC nº 108.057/SP; Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 23/3/2009. 240
STJ; RHC nº 23.358/MG; Ministro Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 28/10/2008.
233
STF; HC nº  94.947/SP; Relator Ministro Menezes Direito,  Primeira Turma, 241
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
Julgamento: 9/12/2008. 242
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009/
234
STJ; RHC nº 23.409/RS; Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma, Questão 39/Assertiva a.
DJe 16/2/2009. 243
STJ; HC nº 100.315/SP; Ministro Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 2/6/2008.

115
Nesse sentido, o STF entende que do crime, indícios de autoria e necessidade de garantir a
instrução criminal248.
a garantia da ordem econômica autoriza a custó­dia Deve haver elementos concretos de que as testemunhas
cautelar, se as atividades ilícitas do grupo criminoso a chegaram a ser influenciadas ou intimidadas,249 de que a
que, supostamente, pertence o paciente reper­cutem vítima está sendo coagida, o que por si só já será demons‑
negativamente no comércio lícito e, portanto, alcan‑ trado caso algumas delas estejam incluídas em programa
çam um indeterminado contingente de trabalhadores de proteção, ou mesmo quando houver elementos de que
e comerciantes honestos.244 o autor dos fatos esteja destruindo documentos.
E mais: Por outro lado, a prisão preventiva não tem como fina‑
lidade permitir a realização de diligências imprescindíveis
segundo entendimento jurisprudencial do STF, a ga‑ à investigação de um fato delituoso.250 É ilegal o decreto
rantia da ordem econômica, por sua vez, funda-se de prisão preventiva fundamentado na necessidade de
não somente na magnitude da lesão causada, mas identificação dos corréus e de prevenção de reincidência.251
também na necessidade de se resguardar a credibi‑
lidade das instituições públicas.245 d) Para assegurar a aplicação da lei penal
A finalidade da prisão preventiva é garantir a execução
c) Conveniência da instrução criminal da lei penal.
O STJ entende que Para a decretação da prisão preventiva, não é suficien‑
te a constatação de que em liberdade o suspeito poderá
colocar em risco a aplicação da lei penal.252
a prisão provisória para a conveniência da instrução
criminal somente pode ser determinada caso se
São indicativos de que o autor dos fatos não irá se
demonstre, com base em fatores concretos, que o
furtar à aplicação da lei penal, como o fato de ter
agente, em liberdade, possa vir a atrapalhar a correta
residência fixa ou emprego definido, o que não se
instrução processual, sendo inadmissível sua invoca‑ verifica, por exemplo, com estrangeiro sem qualquer
ção tão somente em razão da natureza dos crimes vínculo com o Brasil,253 ou mesmo pelo grande decur‑
que lhe foram atribuídos.246 so de tempo em que o réu se encontra foragido.254
A título de exemplo: João de Souza é investigado junta‑ O STJ entende que
mente com outras duas pessoas pelo crime de homicídio
em um inquérito policial. Intimado para prestar depoi‑ o perigo para aplicação da lei penal e a conveniência
mento na delegacia, deixa de comparecer sem oferecer da instrução criminal não defluem do simples fato
nenhuma justificativa. Novamente intimado, igualmente de se encontrar o réu em lugar incerto e não sabido.
não comparece. O delegado representa pela sua prisão Não há se confundir evasão com não localização.255
preventiva sob o argumento de que João se recusa a co‑
laborar com as investigações. O Ministério Público opina, Dessa forma, não é motivo suficiente para a decretação
favoravelmente, à  representação e o juiz decreta sua da prisão cautelar o fato de o réu jamais ter sido localizado,
prisão. Posteriormente, é oferecida e recebida denúncia tendo sido citado em edital e tendo deixado de comparecer
em face dos três investigados. Na audiência de instrução em juízo na data aprazada para seu interrogatório.256
e julgamento, os dois corréus prestam depoimento e con‑ Entretanto, se o acusado de crime de homicídio qualifi‑
fessam, ao passo que João nega, falsamente, as acusações, cado, sendo citado por edital, não comparece, o juiz deve
arrolando inclusive testemunhas que também mentiram suspender o processo e decretar, se for o caso, a  prisão
em juízo. Todos são condenados, sendo certo que João é preventiva.257
mantido preso “por conveniência da instrução criminal, É pacífica a jurisprudência do STF
já que continua se recusando a colaborar com a justiça”,
ao  passo que os corréus têm reconhecido o direito de no sentido de que a fuga do réu, logo após o cometi‑
apelar em liberdade. A pena de João é levemente agravada mento do crime e antes da decretação da prisão pre‑
devido ao fato de ter mentido em juízo e indicado teste‑ ventiva, é motivo bastante para a medida constritiva,
munhas que também mentiram, o  que permite avaliar justificada pela conveniência da instrução criminal e
sua personalidade como desviada dos valores morais da garantia da aplicação da lei penal.258
Noções de Direito Processual Penal

sociedade. A partir do episódio narrado, a prisão preven‑


tiva decretada na fase policial e sua manutenção na fase
judicial, pelos motivos apresentados, não são corretas.247 248
Cespe/Polícia Civil do Estado do Espírito Santo/Escrivão de Polícia/2011/
Questão 88.
Ainda como exemplo, Robson, policial militar, denuncia‑ 249
STJ; HC nº 108.469/RS; Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 23/3/2009.
do pela prática de homicídio qualificado cometido contra 250
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006.
251
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/3º Exame da Ordem/2006.
civil, passou a ameaçar testemunhas do processo. Nessa 252
Assunto cobrado na seguinte prova: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe
situação, para o juiz decretar a prisão preventiva, deverão do RJ/2002.
253
STJ; HC nº 109.677/SC; Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 23/3/2009.
estar presentes os seguintes requisitos: prova da existência 254
STJ; HC nº 116.709/RJ; Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma,
DJe 16/2/2009.
255
STJ; HC nº 118.942/TO; Ministro Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma,
244
STF; HC nº 91.285/SP; Relator Ministro Carlos Britto, Primeira Turma, Julga‑ DJe 19/12/2008.
mento: 13/11/2007. 256
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008.
245
STF; HC nº 85.615/RJ; Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, Julga‑ 257
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004;
mento: 13/12/2005. Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico Judiciário/2006 e CPC/Polícia Civil do Estado
246
STJ; HC nº 115.345/MG; Ministro Jane Silva (Desembargadora convocada do do Paraná/Delegado de Polícia Civil/2007.
TJ-MG), Sexta Turma. 258
STF; HC nº 96.006/PA; Relator Ministro Menezes Direito, Primeira Turma, Julga‑
247
Assunto cobrado na seguinte prova: FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009. mento: 3/2/2009.

116
Reiterando, a  simples fuga do acusado do distrito da Assim, não é mais possível a decretação de prisão preventiva
culpa, tão logo descoberto o crime, já justifica o decreto do autor de crime punido com reclusão, cuja pena máxima
de prisão preventiva para garantir a aplicação da lei penal seja inferior a quatro anos.263
e a conveniência da instrução criminal.259 Entretanto, não importa para a decretação da prisão pre‑
Concluindo, a prisão preventiva poderá ser decretada ventiva o tipo de ação penal. Em face de crime de ação penal
como garantia da ordem pública, da ordem econômica, privada, é cabível a decretação de prisão preventiva.264
por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a O decreto de prisão preventiva não é cabível nos crimes
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência culposos.265 Esta modalidade de prisão só é admitida em
do crime e indício suficiente de autoria.260 crimes dolosos.266
e) Em caso de descumprimento de qualquer das obri‑ Assim, não cabe prisão preventiva do denunciado
gações impostas por força de outras medidas cautelares por crime culposo que tenta evadir-se do país durante o
As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de processo.267
ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso Seguindo a mesma linha de raciocínio, não é cabível a pri‑
da investigação criminal, por representação da autoridade são preventiva de indivíduo acusado da prática de homicídio
policial ou mediante requerimento do Ministério Público
culposo, ainda que a prisão seja decretada para assegurar a
(art. 282, § 2º, do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011).
aplicação da lei penal e que haja prova do crime e indícios
Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ine‑
de autoria.268 Como exemplo, Márcio atropelou Cláudio, que
ficácia da medida, o  juiz, ao  receber o pedido de medida
atravessava via pública fora da faixa de pedestres e veio a
cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acom‑
panhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, falecer. Durante o processo, verificou-se que Márcio tentava
permanecendo os autos em juízo (art. 282, § 3º, do CPP, com impedir a produção de provas, ameaçando testemunhas.
a redação da Lei nº 12.403/2011). Nessa situação, não poderá ser decretada a prisão preven‑
No caso de descumprimento de qualquer das obrigações tiva de Márcio, para a conveniência da instrução criminal.269
impostas nas medidas cautelares, o juiz, de ofício ou median‑ Não será cabível a prisão preventiva do autor de le‑
te requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou sões corporais culposas praticadas em veículo automotor
do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em (art.  303 da Lei nº  9.503/1997), mesmo que presente o
cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventi‑ periculum libertatis.270
va (art. 312, parágrafo único) (art. 282, § 4º, do CPP, com a Não é cabível a decretação de prisão preventiva em
redação da Lei nº 12.403/2011). desfavor de autor de contravenção penal, mesmo presentes
O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí‑ os fundamentos da custódia cautelar.271
-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, Se o crime doloso for punido com detenção, em sendo
bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a pena máxima superior a 4 (quatro) anos , não é mais ne‑
a justifiquem (art. 282, § 5º, do CPP, com a redação da Lei cessário se apurar se o indiciado é vadio.
nº 12.403/2011).
A prisão preventiva será determinada quando não for Reincidente em crime doloso qualquer que seja a
cabível a sua substituição por outra medida cautelar previs‑ pena máxima prevista
ta no art. 319 (art. 282, § 6º, do CPP, com a redação da Lei
nº 12.403/2011). Nos crimes dolosos, qualquer que seja a pena máxima
prevista, se tiver sido o réu condenado por outro crime
Condições de admissibilidade doloso, em sentença transitada em julgado, caberá prisão
preventiva.
O art. 313 do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011 Não prevalece a condenação anterior, se entre a data do
traz as condições de admissibilidade da prisão preventiva, que cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver
autorizam a segregação se uma delas restar materializada. decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, com‑
putado o período de prova da suspensão ou do livramento
Crimes dolosos punidos com pena privativa de
condicional, se não ocorrer (art. 64, I, do CP).
liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos

A prisão preventiva poderá ser decretada nos crimes Crime que Envolve Violência Doméstica e Familiar
Contra a Mulher, Criança, Adolescente, Idoso, Enfermo
Noções de Direito Processual Penal

dolosos261 punidos com pena privativa de liberdade máxima


superior a 4 (quatro) anos.262 ou Pessoa com Deficiência, para Garantir a Execução das
Com a nova Lei, agora para a decretação da prisão Medidas Protetivas de Urgência
preventiva, importa o quantum de pena prevista. Não mais
importa se o crime é apenado com detenção ou reclusão. 263
Assunto cobrado antes da Lei nº 12.403/2011, na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/
Necrotomista/2009.
259
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. 264
Cespe/Nacional/Delegado Federal/2004.
260
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002; Cefet/ 265
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TRF 3ª Região/Analista
TJ‑BA/Atendente Judiciário/2006; TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005; Judiciário/2002; Cespe/TRE‑TO/Analista Judiciário/2004-2005; OAB‑RS/3º
OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004; Promotor‑BA/2004; OAB‑RS/2º Exame de Exame/2006; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005 e OAB‑ES/2º Exame de
Ordem/2004; UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003; Uespi/ Ordem/2005.
Agente Penitenciário/2006; FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2001; 266
Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Substituto/2009.
OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2004; FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciá­ 267
Juiz Substituto/TJ‑PR/2006.
rio/2004 e FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005. 268
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Regional/Delegado Federal/2004.
261
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Necrotomista/2009. 269
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª
262
Assunto cobrado, antes da Lei nº 12.403/2011, nas seguintes provas: Acade‑ Categoria/2004.
pol‑MG/Delegado da Polícia Civil de Minas Gerais/2003; FGV/TJ‑SE/Técnico 270
Assunto cobrado na seguinte prova: NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
Judiciário/2004; Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/2002; Cespe/PC-RN/ 271
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Delegado da Polícia Civil de
Agente de Polícia Civil Substituto/2009 e MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova Roraima/2003; Cespe/Ministério da Justiça/Agente da Polícia Federal/2004;
Prova/2009. OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005 e Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009.

117
Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra contra o sistema financeiro nacional). Conclui assim
a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a exe­ o autor que a preventiva não teria cabimento por
cução das medidas protetivas de urgência, caberá a decreta‑ esse fundamento.
ção da prisão preventiva nos casos de violência doméstica e Rechaçamos a hipótese da preventiva figurar como
familiar contra a mulher272 (Lei nº 11.340, de 2006). verdadeira prisão de cunho obrigacional, para
Nos termos do art. 5º da referida lei, configura violên‑ imprimir efeito coativo à realização das medidas
cia doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou protetivas. E dizemos isso pela própria previsão do
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, § 3º do art. 22, Lei nº 11.340/2006, autorizando ao
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou magistrado valer-se da força policial, a  qualquer
patrimonial: i – no âmbito da unidade doméstica, compre‑ tempo, para dar efetividade às medidas protetivas,
endida como o espaço de convívio permanente de pessoas, sem para isso ter que decretar prisão cautelar. Da
com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente mesma forma, o § 4º do referido dispositivo invoca
agregadas; ii – no âmbito da família, compreendida como a a aplicação dos §§ 5º e 6º do art. 461 do CPC, que
comunidade formada por indivíduos que são ou se conside‑ tratam das ferramentas de coação para dar efetivi‑
ram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou dade às obrigações de fazer ou de não fazer, como
por vontade expressa; iii – em qualquer relação íntima de imposição de multa, busca e apreensão, remoção de
afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a pessoas e coisas etc.
ofendida, independentemente de coabitação. Entendemos que durante a persecução penal por
A prisão preventiva poderá ser decretada nos crimes crime de violência doméstica, seja ele apenado com
punidos com detenção, se envolverem violência doméstica reclusão ou detenção, para que tenha cabimento a
ou familiar contra a mulher.273 preventiva, os pressupostos da mesma devem estar
Há doutrina no sentido de que caberia prisão preventiva, presentes, leia-se, indícios de autoria e prova da
inclusive, em relação a crimes culposos, desde que a conduta materialidade (fumus commissi delicti), além de uma
negligente assim o fosse, em razão da condição da mulher das hipóteses de decretação, quais sejam, garantia da
(PACHECO, 2009, p. 858). Dessa forma, restando configurado ordem pública, econômica, conveniência da instru‑
crime que admita a modalidade culposa, pode ser decretada ção ou ainda para evitar fuga. Estas são as hipóteses
a prisão preventiva para garantir as medidas protetivas de legais autorizadoras. O  descumprimento de uma
urgência previstas nos arts. 22 e 23 da referida lei. medida protetiva pelo infrator durante a persecução,
Com a edição da Lei nº 12.403/2011, ganha força tal cor‑ pode revelar que o mesmo, se solto permanecer,
rente, eis que o inciso III do art. 313 do CPP, com a redação continuará a delinquir, ofendendo a ordem pública,
da Lei nº 12.403/2011, não exige, na hipótese, que seja o o que caracterizaria o atendimento ao requisito legal
crime doloso. autorizador de decretação da segregação cautelar.
Entretanto, a referida hipótese é de difícil verificação, eis O desatendimento de uma medida protetiva, por via
que, nos termos do art. 18, II, do CP, diz‑se crime culposo transversa, pode desaguar na necessidade da prisão,
quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, se enquadrável em uma das hipóteses de decretação
negligência ou imperícia, não cabendo, dentro da hipótese, do art. 312 do CPP. Se não for assim, o dispositivo é
dolo específico diante dos atos que configurem violência insustentável.
doméstica e familiar contra a mulher. Por força do art. 21 da Lei nº 11.340/2006, a ofendida
Sobre o cabimento da prisão preventiva para assegurar deve ser informada do ingresso e saída do agressor do
a aplicação das medidas protetivas de urgência previstas cárcere, justamente para não ser tomada de surpresa,
na Lei Maria da Penha, Távora e Alencar (2009, p. 483-484) podendo novamente ser vitimizada.
ponderam:
A Lei nº 12.403/2011 também permite prisão preventiva
Ressalta Rômulo Moreira (2007) que se revela “mais quando cometido crime que envolve violência doméstica e
um absurdo e uma inconstitucionalidade da Lei familiar contra criança, adolescente, idoso, enfermo ou pes‑
Maria da Penha. Permite-se que qualquer que seja soa com deficiência, para garantir a execução das medidas
o crime (doloso), ainda que apenado com detenção protetivas de urgência.
(uma ameaça, por exemplo), seja decretada a prisão Quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa
preventiva, bastando que estejam presentes o fumus ou quando esta não fornecer elementos suficientes para
Noções de Direito Processual Penal

commissi delict (indícios da autoria e prova da exis‑ esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente
tência do crime – art. 312, CPP) e que a prisão seja em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese
necessária para garantir a execução das medidas recomendar a manutenção da medida.
protetivas de urgência. A  lei criou, portanto, este Antes da Lei nº 12.403/2011, quando a autoridade esti‑
novo requisito a ensejar a prisão preventiva. Não seria vesse em dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando
mais necessária a demonstração daqueles outros esta não fornecesse elementos suficientes para esclarecê-la,
requisitos (garantia da ordem pública ou econômica, poderia, nos termos do art. 1º da Lei nº 7.960/1989, ser de‑
conveniência da instrução criminal, e  aplicação da cretada pelo juiz a prisão temporária, apenas se cometidos
lei penal, além da magnitude da lesão causada  – quaisquer dos crimes previstos no rol taxativo da referida lei.
art. 30 da Lei nº 7.492/1986, que define os crimes Com o novo requisito de admissibilidade da prisão
preventiva, não há qualquer exigência de cometimento
272
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil
de determinado crime ou mesmo da quantidade da pena
Substituto/2009. prevista para o crime para que se permita a segregação em
273
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/ face de dúvida ou ausência no que se refere à identificação
Questão 22/Assertivas a, b, c, d e e; FCC/Defensoria Pública do Estado do Rio
Grande de Sul/Defensor Público de Classe Inicial/2011/Questão 62. de alguma pessoa.

118
Prisão preventiva e verificação de excludente de ilici‑ Apresentação espontânea
tude Antes da edição da Lei nº 12.403/2011, o art. 317 esta‑
A prisão preventiva não deve ser decretada se o juiz belecia que a apresentação espontânea do acusado à au‑
verificar, pelas provas constantes dos autos, ter o agente toridade não impedia a decretação da prisão preventiva283.
praticado o fato sob causa excludente de ilicitude274. Embora referido artigo tenha sido revogado, nada im‑
Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que pede que haja prisão preventiva em caso de apresentação
o agente praticou o fato em estado de necessidade, em espontânea, desde que presentes as condições de cabimento
legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou da prisão preventiva. Assim, ainda é possível a decretação
no exercício regular de direito, poderá, fundamentadamente, de prisão preventiva se o agente se apresentar esponta‑
conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo neamente perante a autoridade policial após a prática do
de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena
delito.284
de revogação. Com efeito, estabelece o art. 314 do CPP, com
a redação da Lei nº 12.403/2011, que a prisão preventiva
em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas Substituição da Prisão Preventiva por Prisão
provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato Domiciliar
nas condições de excludente de ilicitude275.
Assim, não será possível a decretação de prisão pre‑ A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado
ventiva quando se apurar que o agente praticou o fato em ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se
exercício regular do direito.276 com autorização judicial. (art. 317 do CPP, com a redação da
Por outro lado, o  CPP proíbe a decretação da prisão Lei nº 12.403/2011)
preventiva de quem, pelas provas constantes nos autos,
Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar
claramente tenha agido em legítima defesa.277
quando o agente for: i – maior de 80 (oitenta) anos; ii – ex‑
Assim, considere a seguinte situação hipotética: um
tremamente debilitado por motivo de doença grave;  iii  –
cidadão foi denunciado pelo MP sob a acusação de haver
im­prescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de
cometido crime de lesões corporais. No curso do processo,
veio aos autos prova de as lesões haverem surgido como 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; iv – gestante a
consequência do estrito cumprimento do dever legal do partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto
acusado. Não obstante, o membro do MP entendeu, a certa risco (art. 318 do CPP com, a redação da Lei nº 12.403/2011).
altura, cabível a decretação da prisão preventiva do réu, Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requi‑
motivo por que a requereu. Nessa situação, em face da sitos acima referidos (art. 318, parágrafo único, do CPP, com
prova mencionada, a  prisão preventiva não poderia ser a redação da Lei nº 12.403/2011).
validamente decretada.278
Prisão Decorrente de Pronúncia (art. 413, § 3º, do
Revogação e Redecretação Cpp)
Constatando que desapareceram os motivos que le‑
varam o juiz a decretar a prisão preventiva, este deverá No julgamento de crimes dolosos contra a vida, quan‑
revogar o decreto de prisão.279 São as determinações do do houver sentença de pronúncia, nos termos do § 3º do
art. 316 do CPP. art. 413 do CPP, com a redação dada pela Lei nº 11.689/2008,
Revogada a prisão preventiva, pode o juiz novamente determina que o juiz decidirá, motivadamente, no caso
decretá‑la, se sobrevierem razões que a justifiquem.280 Com de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou
efeito, o magistrado, caso acolha o requerimento de revo‑ medida restritiva de liberdade anteriormente decretada
gação da prisão preventiva, poderá restabelecê‑la, desde e, tratando‑se de acusado solto, sobre a necessidade da
que diante da ocorrência de fatos novos supervenientes.281 decretação da prisão preventiva.
Não há limites para as verificações de revogações e rede‑ Desta forma, não há mais obrigatoriedade da prisão.285
cretações.282 Por ocasião da sentença de pronúncia, se o réu estiver
solto, será determinada sua segregação cautelar se estiverem
presentes os pressupostos, fundamentos e condições de
274
Cespe/Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo/Analista Judiciário/Área admissibilidade da prisão preventiva.
Noções de Direito Processual Penal

Administrativa/2011/Questão 63.
275
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Polícia Civil/RR/Agente de
Polícia/2003; Cespe/Polícia Civil/PA/Papiloscopista Civil/2006 e FCC/TRE‑RN/ Prisão Decorrente de Sentença Penal
Analista Judiciário/2005.
276
Cespe/PC‑PB/Necrotomista/2009. Condenatória sem Trânsito em Julgado (art. 387,
277
Cespe/PC‑PB/Agente de Investigação e Escrivão de Polícia/2009.
278
Cespe/Ministério da Justiça/Departamento de Polícia Federal/Escrivão de Polícia Parágrafo Único, do Cpp)
Federal/2002.
279
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador e UESPI/
Agente Penitenciário/2006. Com base na sistemática atual, para que o réu seja preso
280
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado de se a sentença penal condenatória ainda não tiver transitado
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; NCE/Delegado da Polícia Civil de
3ª Classe do RJ/2002; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; FCC/TRF 1ª Região/ em julgado, deve‑lhe ser decretada a prisão preventiva.
Analista Judiciário/2001; OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005; Cespe/AM/
Promotor/2001 e OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005.
281
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/AM/Promotor/2001; OAB‑ES/2º 283
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004;
Exame de Ordem/2005; Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/De‑ OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; Cefet/TJ‑BA/Atendente Judiciário/2006;
fensor Público de 1ª Classe/2003; NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004;
do RJ/2002; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; FCC/TRF 1ª Região/Analista TJ‑PI/Juiz Substituto/2001 e Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004.
Judiciário/2001 e OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005. 284
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Necrotomista/2009.
282
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Substitu‑ 285
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal
to/2009. Substituto e OAB‑SP/122º Exame de Ordem/2003.

119
Não é mais exigível o recolhimento do réu à prisão para Federal assentou, por maioria de votos, a  incons‑
a admissibilidade da apelação.286 titucionalidade da execução provisória da pena.
Nesse sentido, o parágrafo único do art. 387 do CPP, com Isto por entender que o exaurimento das instâncias
a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, determina que o ordinárias não afasta, automaticamente, o  direito
juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, à presunção de não culpabilidade. 2. Em matéria
se for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra de prisão provisória, a garantia da fundamentação
medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento da apelação das decisões judiciais consiste na demonstração da
que vier a ser interposta. necessidade da custódia cautelar, a teor do inciso LXI
Desta forma, foi revogado o disposto no art.  393 do do art. 5º da Carta Magna e do art. 312 do Código de
CPP, pela Lei nº 12.403/2011, que estabelecia ser efeito da Processo Penal. A falta de fundamentação do decreto
sentença condenatória recorrível o réu ser preso ou conser‑ de prisão inverte a lógica elementar da Constituição,
vado na prisão, assim nas infrações inafiançáveis, como nas que presume a não culpabilidade do indivíduo até o
afiançáveis, enquanto não prestada fiança. momento do trânsito em julgado de sentença penal
Até mesmo em crimes graves, como os crimes hediondos, condenatória (inciso LVII do art.  5º da CF). 3. Na
já havia previsão legal sobre a necessidade de o juiz funda‑ concreta situação dos autos, contra o paciente que
mentar a prisão em face dos requisitos da prisão preventiva aguardou em liberdade o julgamento da apelação
quando prolatava sentença penal condenatória, nos termos interposta pela defesa foi expedido mandado de
do art. 2º, § 3º, da Lei nº 8.072/1990. prisão sem nenhum fundamento idôneo. 4. Ordem
A prolação de sentença condenatória no Tribunal do concedida.290
Júri não impede a revogação da prisão preventiva do con‑
denado, mesmo tendo este sido mantido preso durante a Por fim,
instrução do feito287.
Quanto aos delitos de tráfico de substância entorpecente, é pacífica a jurisprudência do STF de que não há lógica
associação para o tráfico, financiamento do tráfico, finan‑ em permitir que o réu, preso preventivamente duran‑
ciamento ou custeio do tráfico e ser informante de grupo, te toda a instrução criminal, aguarde em liberdade o
organização ou associação destinados à prática de tráfico de trânsito em julgado da causa, se mantidos os motivos
substâncias entorpecentes, o art. 59 da Lei nº 11.343/2006 da segregação cautelar.291
determina que o réu não poderá apelar sem recolher‑se à
prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim Prisão Temporária
reconhecido na sentença condenatória.
Entretanto, a jurisprudência tem atenuado o rigor da Conceito
lei, destacando que, para que a prisão seja determinada,
a  sentença penal condenatória deve evidenciar, de forma
A prisão temporária é modalidade de prisão processual
bem fundamentada, a necessidade de ser o condenado preso
ou cautelar e constitui medida de investigação policial, a ser
para a interposição de recurso, por ser o réu, por exemplo,
determinada em alguns crimes e quando imprescindível
para a busca dos elementos probatórios de autoria e ma‑
pessoa perigosa, disposta a se evadir do distrito da terialidade.
culpa para evitar a futura aplicação da lei penal, e,
ainda, porque o grau de sintonia, a inteligência e o
Momento
poder aquisitivo dela poderia estimular a fuga e a
perpetuação de práticas criminosas.288
A prisão temporária será decretada apenas na fase do
inquérito policial.292 Com relação à prisão temporária – Lei
Não se verificando presentes os pressupostos da prisão
nº 7.960/1989 – , só é cabível durante a fase de inquérito
preventiva, o réu tem o direito de apelar em liberdade, in‑
policial, sendo vedada a sua decretação no curso da ação
clusive em havendo recurso aos tribunais superiores. Dessa
penal.293
forma, só é cabível a execução da pena após o trânsito em
Não há que se falar que a prisão temporária só pode ser
julgado da sentença penal condenatória. O STF entende
decretada em se tratando de investigação policial referente
Noções de Direito Processual Penal

à prática de crime hediondo.294


no sentido de não admitir a execução provisória da
pena privativa de liberdade quando houver interpo‑
Legitimidade para o requerimento e decretação
sição e recebimento de recurso especial e/ou recurso
extraordinário.289
A prisão temporária deve ser decretada pelo juiz após
representação da autoridade policial ou de requerimento
Vejamos jurisprudência sobre o tema:

No julgamento do HC nº 84.078, da relatoria do 290


STF; HC nº 93.062/MG; Relator Ministro Carlos Britto, Primeira Turma, Julga‑
Ministro Eros Grau, o Plenário do Supremo Tribunal mento: 10/2/2009.
291
STF; HC nº 89.824/MS; Relator Ministro Carlos Britto, DJ 28/8/2008.
292
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado de
286
OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008. Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; TJ‑PI/Juiz Substituto/2001; FCC/
287
FCC/Defensoria Pública do Estado do Rio Grande de Sul/Defensor Público de TRE‑AP/Analista Judiciário/2006; OAB‑PR/Exame 02/2006; OAB‑RS/1º Exame
Classe Inicial/2011/Questão 62. de Ordem/2004 e Vunesp/TJ‑SP/Juiz/2005.
288
STF; HC nº 89.305/RJ; Relator Ministro Cármen Lúcia, Primeira Turma, Julga‑ 293
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009
mento: 18/12/2006. e MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova Prova/2009.
289
STF; RHC nº 89.550/SP; Relator Ministro Eros Grau, DJ 27/4/2007. 294
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ‑SP/Juiz/2005.

120
do MP, não sendo permitida a sua decretação de ofício295. O § 4º do art. 2º da Lei nº 8.072/1990 determina que a
Em caso de representação da autoridade policial, o  juiz, prisão temporária nos crimes referidos na referida lei terá
antes de decidir, deve ouvir o MP296 e, em qualquer caso, o prazo de 30 dias, prorrogável por igual período em caso
deve decidir fundamentadamente sobre o decreto de prisão de extrema e comprovada necessidade.307
temporária dentro do prazo de 24 horas, contadas a partir São os seguintes crimes tentados ou consumados:
do recebimento da representação ou do requerimento.297 I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade
(art. 2º, caput, e §§ 1º e 2º, da Lei nº 7.960/1989) típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um
Pode representar pela prisão temporária de um inves‑ só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV
tigado, estando legitimado para tanto a autoridade poli‑ e V, do CP);
cial.298 No entanto, não podem representar por tal prisão o II – latrocínio (art. 157, § 3º, in fine, do CP);
procurador do estado e a vítima.299 III – extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º, do
Não poderá o juiz, de ofício, decretar a prisão tempo‑ CP);
rária.300 IV – extorsão mediante sequestro e na forma qualificada
Com efeito a prisão temporária não pode ser decretada (art. 159, caput, e §§ lº, 2º e 3º, do CP);
pelo juiz de ofício, mas apenas em decorrência de repre‑ V – estupro e atentado violento ao pudor (art. 213 do CP);
sentação da autoridade policial ou do Ministério Público.301 VII – epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º, do
Nesse sentido, o juiz não pode decretar, de ofício, a prisão CP);
temporária do indiciado que não tem residência fixa ou VIII – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de
não fornece elementos necessários ao esclarecimento de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273,
sua identidade.302 caput e § 1º, § 1º‑A e § 1º‑B, do CP);
O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério IX – o crime de genocídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º
Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja da Lei nº 2.889/1956;
apresentado, solicitar informações e esclarecimentos da X – os crimes equiparados a hediondo, quais sejam a prá‑
autoridade policial e submetê‑lo a exame de corpo de delito tica da tortura (Lei nº 9.455/1997), o tráfico ilícito de entor‑
(art. 2º, § 3º, da Lei nº 7.960/1989). pecentes e drogas afins (Lei nº 11.343/2006) e o terrorismo.
Dessa forma, confrontadas as Leis nos 7.960/1989
Prazo e 8.072/1990, o prazo máximo de duração da prisão tem‑
porária em crime de extorsão é de cinco dias, prorrogável
A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da por igual período em caso de extrema e comprovada ne‑
representação da autoridade policial ou de requerimento cessidade.308 Já nos crimes de tráfico de entorpecentes ou
do Ministério Público, e terá o prazo de cinco dias, prorro‑ tortura, o prazo da prisão preventiva se estende para 30
gável por igual período em caso de extrema e comprovada dias, prorrogáveis por igual período, em caso de extrema
necessidade303 (art. 2º da Lei nº 7.960/1989). Referido prazo e comprovada necessidade.309
não é computado na duração do prazo para a conclusão do Nesse sentido, José Carlos foi detido por policiais civis,
inquérito policial304, não afetando o prazo global determinado por fundada suspeita de estar traficando entorpecentes em
para a conclusão do processo-crime. frente a uma escola de 2º grau. Seu efetivo indiciamento,
entretanto, depende ainda de algumas diligências. Assim,
Assim, o prazo máximo de duração da prisão temporária
o Delegado de Polícia, para ultimar as investigações, poderá
em crime de roubo impróprio é de cinco dias, prorrogável
representar ao juiz, requerendo a prisão temporária por 30
por igual período em caso de extrema e comprovada ne‑
dias, prorrogáveis por mais 30.310
cessidade.305
Pode se afirmar que o limite legal da prisão temporá‑
Não são em todos os casos legais que a prisão tempo‑
ria, em se tratando de criminalidade organizada, é cinco
rária terá a duração de cinco dias, prorrogável por igual
dias prorrogáveis, uma vez, por igual período em caso de
período em caso de extrema e comprovada necessidade.306
comprovada e extrema necessidade.311
Encerrado o período da prisão temporária, sem pror‑
295
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil rogação, a pessoa presa deve ser imediatamente posta em
Substituto/2009 e Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substituto/2009.
296
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004. liberdade, independentemente de expedição de alvará de
Noções de Direito Processual Penal

297
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/STF/Analista Judiciá­rio/2008; soltura pelo juiz.312
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2008; FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006.
298
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑GO/2º Exame/2006. Em caso de prisão temporária, o tempo da prisão efeti‑
299
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/2º Exame/2006. vamente cumprido, pode ser computado na pena eventual‑
300
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009
e OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008.
mente imposta.313 Entretanto, o prazo da prisão temporária
301
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciá‑ não deve contar para efeito do prazo global determinado
rio/2006; OAB‑PR/Exame 01/2007; DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do para a conclusão do processo crime.314
Estado de Minas Gerais/Delegado de Polícia/2007; FCC/TRE‑SP/Analista Judi‑
ciário/2006; NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004; Acadepol‑SP/Delegado
de Polícia de São Paulo/2003; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; OAB‑SP/126º 307
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC‑DF/Agente de Polícia/2009.
Exame de Ordem/2005; OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004 e OAB‑PR/3º Exame 308
Assunto cobrado na prova do NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
de Ordem/2004. 309
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Secad/TO/Delegado de Polícia
302
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004. Civil 1ª Classe/2008; Cespe/Secad/TO/Delegado de Polícia Civil 1ª Classe/ 2008;
303
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006 e OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005.
OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004; FCC/TRF 1ª Região/Analista Judi­ciário/2006; 310
Assunto cobrado na prova da OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004.
FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/2006; FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006 e 311
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.
OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004. 312
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/127º Exame de Ordem/1ª
304
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. Fase/2005 e FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2006.
305
Assunto cobrado na prova do NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do 313
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/
RJ/2002. Defensor Público de 2ª Categoria/2005.
306
Assunto cobrado na prova do TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto. 314
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
Requisitos Não cabe prisão temporária nas contravenções nem em
crimes culposos.320
Nos termos do art. 1º da Lei nº 7.960/1989, caberá prisão Incabível a prisão temporária em caso de furto quali‑
temporária: ficado.321
I – quando imprescindível para as investigações do in‑
quérito policial; Procedimento
II – quando o indiciado não tiver residência fixa ou não
fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da
identidade; representação da autoridade policial ou de requerimento do
III  – quando houver fundadas razões, de acordo com Ministério Público (art. 2º da Lei nº 7.960/1989).
qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou Em todas as comarcas e seções judiciárias, haverá um
participação do indiciado nos seguintes crimes:
plantão permanente de 24 (vinte e quatro) horas do Poder
a) homicídio doloso (art. 121, caput e § 2º, do CP). Judiciário e do Ministério Público para apreciação dos pe‑
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput e §§ 1º didos de prisão temporária (art. 5º da Lei nº 7.960/1989).
e 2º, do CP). O despacho que decretar a prisão temporária deverá
c) roubo (art. 157, caput e §§ 1º, 2º e 3º, do CP); ser fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24
d) extorsão (art. 158, caput e §§ 1º e 2º, do CP); (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento
e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput e §§ 1º, da representação ou do requerimento (art. 2º, § 2º, da Lei
2º e 3º, do CP); nº 7.960/1989).
f) estupro e atentado violento ao pudor (art. 213, do CP); O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério
g) epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º, do CP); Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja
h) envenenamento de água potável ou substância alimen‑ apresentado, solicitar informações e esclarecimentos da
tícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, autoridade policial e submetê‑lo a exame de corpo de delito
combinado com o art. 285 do CP); (art. 2º, § 3º, da Lei nº 7.960/1989).
i) quadrilha ou bando (art. 288 do CP); Decretada a prisão temporária, expedir‑se‑á mandado
j) genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889/1956), em de prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao
qualquer de suas formas típicas; indiciado e servirá como nota de culpa.322 (Art. 2º, § 4º, da
l) tráfico de drogas (Lei nº 11.343/2006); Lei nº 7.960/1989).
m) crimes contra o sistema financeiro (Lei nº 7.492/1986). A prisão somente poderá ser executada depois da expedi‑
Entende‑se na doutrina que, para o cabimento da prisão ção de mandado judicial (art. 2º, § 5º, da Lei nº 7.960/1989).
temporária, é necessário o cometimento de um dos crimes Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o pre‑
arrolados no item III e mais o preenchimento das hipóteses so dos direitos previstos no art. 5º da Constituição Federal
do item I ou II (CAPEZ, 2009, p. 284 e PACHECO, 2009, p. 879). (art. 2º, § 6º, da Lei nº 7.960/1989).
Com efeito, em sede de prisão temporária, as hipóteses à Decorrido o prazo de cinco dias de detenção, o  preso
sua decretação devem ser combinadas entre si.315 deverá ser posto imediatamente em liberdade, salvo se já
Justifica‑se a decretação da prisão temporária de pessoa tiver sido decretada sua prisão preventiva (art. 2º, § 7º, da
envolvida em crimes de roubo e homicídio qualificado que, Lei nº 7.960/1989).
por se encontrar foragida, impede a autoridade policial de Os presos temporários deverão permanecer, obrigato‑
concluir o inquérito policial.316 No curso de Inquérito Policial riamente, separados dos demais detentos (art. 3º da Lei
que apura homicídio qualificado, a autoridade policial que nº 7.960/1989).
o preside verifica que o investigado está em vias de fugir
Nos termos do art. 4º, i, da Lei nº 4.898/1965, constitui
para outro Estado. Em tal situação pode postular, no lugar
abuso de autoridade prolongar a execução de prisão tem‑
da prisão preventiva, a prisão temporária do investigado,
porária.
havendo diligências importantes a realizar.317
Também caberá prisão temporária, apenas durante o
inquérito policial, quando houver fundadas razões de auto‑ Referências
ria ou participação do indiciado em crime contra o sistema
Noções de Direito Processual Penal

financeiro nacional (Lei nº 7.492/1986).318 ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Direito processual penal.
Por outro lado, em face dos elementos que constituem 15. ed., Brasília: Vestcon, 2009.
as medidas cautelares de coerção, no processo penal,
é correto assinalar que a prisão temporária não poderá ser
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 16. ed. rev.
decretada em inquérito policial para apurar crime de furto
e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.
simples, atribuído a agente primário, ainda quando na pre‑
sença de indícios de autoria e prova da existência do delito
e estando comprovado que o indiciado não tem residência PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria,
fixa, porque estará ausente o requisito da homogeneidade crítica e práxis. 6. ed. rev. ampl. e atual. com Emenda Cons‑
ou proporcionalidade.319 titucional da “Reforma do Judi­ciário”. Niterói, RJ: Impetus,
2009.
315
20º Concurso Público para Procurador da República/2003.
316
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
317
Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.
318
TJ-PR/Juiz Substituto/2006. 320
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.
319
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª 321
FCC/MPE-SE/Analista - Direito/2009.
Classe do RJ/2002 e Cespe/TJ‑CE/Juiz Substituto/2004-2005. 322
Assunto cobra na prova da FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/2006.

122
EXERCÍCIOS d) a garantia da duração razoável e os meios que ga‑
rantam a celeridade da tramitação aplicam-se exclu‑
1. (Iades/TRE-PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2014) sivamente ao processo judicial.
O inquérito policial é um procedimento administrativo e) o civilmente identificado não será submetido, em
de investigação, a cargo das Polícias Judiciárias estadu‑ nenhuma hipótese, a identificação criminal.
ais e federal, com a finalidade precípua de subsidiar as
5. (FCC/DPE-SP/Defensor Público/2015) “Paridade de ar‑
futuras ações penais, públicas ou privada. Acerca do
mas no processo penal é a igual distribuição, durante
tema inquérito policial, é correto afirmar que o processo penal (...) aos envolvidos que defendem in‑
a) inquérito policial é imprescindível ao ajuizamento teresses contrapostos, de oportunidades para apresen‑
da ação penal. tação de argumentos orais ou escritos e de provas com
b) caderno investigativo tem como característica mar‑ vistas a fazer prevalecer suas respectivas teses perante
cante o contraditório. a autoridade judicial”
c) delegado de polícia, na condição de presidente do (Renato Stanziola Vieira, Paridade de armas no processo
inquérito policial, pode solicitar o arquivamento caso penal, Gazeta Jurídica, Brasília, 2014, p. 236).
não vislumbre qualquer linha de investigação.
d) Sendo a ampla defesa um direito constitucional‑ Com base no texto acima, é situação de não violação
mente consagrado, inclusive daquele que acabou ao princípio da paridade de armas:
a) Oferecimento de parecer do Ministério Público em
de ser preso, caberá ao delegado de polícia velar
recurso decorrente de ação penal de iniciativa pú‑
pela preservação desse direito no inquérito policial. blica.
e) ato de indiciamento é privativo do delegado de polí‑ b) Sustentação oral no Ministério Público após a defesa,
cia, não podendo o órgão ministerial imiscuir-se em em julgamento de recurso exclusivo da acusação.
tal questão. c) Sigilo das medias cautelares em curso na investiga‑
ção preliminar, cuja ciência ao investigado ou defen‑
2. (Iades/TRE-PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2014) sor possa prejudicar a eficácia do ato.
Especificamente em relação ao direito brasileiro, é cor‑ d) Abertura de vista ao Ministério Público após ofereci‑
reto afirmar que o Código de Processo Penal adotou, mento de resposta à acusação, onde se alega atipici‑
como regra, quanto aos sistemas de apreciação das dade pela incidência do princípio da insignificância.
provas e) Distribuição dos espaços físicos entre as partes nos
a) O sistema do livre convencimento motivado ou per‑ julgamentos populares.
suasão racional.
b) O sistema da íntima convicção. 6. (FCC/DPE-SP/Defensor Público/2015) Na defesa de
c) O sistema da prova tarifada ou certeza moral do le‑ um réu acusado da prática do crime de tráfico de dro‑
gislador. gas, a Defensora Pública, ao preparar os memoriais,
d) O sistema religioso ou ordálio. identificou no laudo toxicológico − juntado na data de
audiência − a menção ao fato de que a droga levada
e) Nenhuma das alternativas anteriores, já que o Juiz,
à perícia estava armazenada num saco transparente,
sendo o destinatário das provas, está sujeito tão so‑
fechado por grampos de papel, e com o lacre rompido.
mente ao princípio da legalidade. Em razão disso, Em suas alegações, a Defensora deverá sustentar:
ao valorar as provas, poderá seguir quaisquer dos a) a ilegitimidade da prova por conta da quebra da ca‑
sistemas acima, inclusive mesclando-os. deia de custódia.
b) a rejeição da denúncia, já que ela não poderia ter
3. (FCC/TJ-PI/Juiz de direito/2015) Conforme o Código de sido recebida sem a juntada do laudo toxicológico.
Processo Penal, certos requisitos, sempre que possível, c) apenas a negativa de autoria, já que é pacifico que
deverão constar do requerimento de instauração de a prova testemunhal poderá suprir a deficiência da
inquérito policial, exceto, prova pericial.
a) a individualização do indiciado ou seus sinais carac‑ d) a necessidade de realização de nova perícia.
terísticos. e) a realização de corpo de delito indireto.
b) a narração do fato, com todas as suas circunstâncias.
c) a classificação da infração penal em tese cometida. 7. (FCC/DPE-SP/Defensor Público/2015) O arquivamento
d) as razões de convicção ou de presunção de ser o implícito do inquérito policial é:
indiciado o autor da infração. a) consequência lógica da rejeição parcial da denúncia.
Noções de Direito Processual Penal

e) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua b) o fenômeno decorrente de o MP deixar de incluir na
denúncia algum fato investigado ou algum suspeito,
profissão e residência.
sem expressa justificação.
c) o arquivamento promovido fundamentadamente
4. (FCC/TJ-SE/Juiz de direito/2015) Em relação às garantias pelo Procurador-Geral da República dos inquéritos
constitucionais do processo penal, é correto afirmar que tratam de suposta prática de crimes de compe‑
que: tência originária do Supremo Tribunal Federal.
a) a defesa da intimidade não é motivo para restrição d) o arquivamento operado de ofício pelo delegado
da publicidade dos atos processuais. de polícia, quando este entende estarem ausentes
b) é reconhecida a instituição do júri, com a organização prova da materialidade delitiva e indícios mínimos
que lhe der a lei, assegurada a competência para de autoria.
o julgamento, exclusivamente, dos crimes dolosos e) o arquivamento promovido pelo Procurador-Geral
contra a vida. de Justiça, após a remessa dos autos pelo juiz de
c) a garantia do juiz natural é contemplada, mas não só, direito que discorda do pedido de arquivamento
na previsão de que ninguém será processado nem requerido pelo órgão do Ministério Público em pri‑
sentenciado senão pela autoridade competente. meiro grau.

123
8. (FCC/DPE-MA/Defensor Público/2015) O modelo pro‑ a) não havendo autoridade no lugar em que se tiver
cessual acusatório tem sido entendido como o adequa‑ efetuado a prisão, o preso será apresentado ao Mi‑
do a um Estado Democrático de Direito por ser o mais nistério Público da comarca, que decidirá sobre a
garantista. Tem-se como um pressuposto estrutural e manutenção da prisão e classificação do delito.
lógico do modelo a: b) as condições subjetivas favoráveis do réu, tais como
a) possibilidade de emendatio libelli e mutatio libelli. emprego lícito, residência fixa e família constituída,
b) existência de uma investigação prévia por delegado obstam a segregação cautelar.
de polícia. c) é fundamento válido para a decretação da prisão
c) possibilidade da prova ser colhida pelo próprio juiz. preventiva no delito de tráfico de drogas ser este um
d) previsão legal de prisões processuais. delito de origem para vários outros, especialmente
e) separação entre juiz e acusação. que envolvem violência ou grave ameaça à pessoa,
com grave perturbação da paz social.
9. (FCC/DPE-MA/Defensor Público/2015) A necessidade d) a necessidade de se interromper ou diminuir a
de assegurar que as partes gozem das mesmas oportu‑ atuação de integrantes da organização criminosa
nidades e faculdades processuais consiste o conteúdo enquadra-se no conceito de garantia da ordem pú‑
do princípio processual: blica, constituindo fundamentação cautelar idônea
a) da paridade de armas. e suficiente para a prisão preventiva.
b) do contraditório. e) o auto de prisão em flagrante deverá ser lavrado
c) da ampla defesa. somente por escrivão concursado e dotado de fé
d) da identidade física do juiz. pública.
e) do estado de inocência.
13. (FCC/MPE-PB/Técnico Ministerial/215) O Delegado
10. (FCC/DPE-MA/Defensor Público/2015) O inquérito po‑ de Polícia de um determinado Distrito da cidade de
licial: Campina Grande, após receber a notícia de um crime
a) após seu arquivamento, poderá ser desarquivado a de roubo cometido na cidade, no qual a vítima Silvio
qualquer momento para possibilitar novas investi‑ teve o carro subtraído por um meliante no centro da
gações, desde que haja concordância do Ministério cidade no dia 1o de maio de 2015, determina a instau‑
Público. ração de Inquérito Policial. No curso das investigações,
b) em curso poderá ser avocado por superior por mo‑ especificamente no dia 4 de maio de 2015, o veículo
tivo de interesse público. roubado é recuperado em poder de Manoel, o qual é
c) poderá ser instaurado por requisição judicial, a de‑ conduzido ao Distrito Policial. A vítima é chamada e
pender da análise de conveniência e oportunidade reconhece Manoel como sendo o autor do crime de
do delegado de polícia. roubo. A autoridade policial representa, então, ao juiz
d) nos casos de ação penal privada e ação penal pública competente o qual, após manifestação do Ministério
condicionada poderá ser instaurado mesmo sem a Público, decreta a prisão preventiva de Manoel, que
representação da vítima ou seu representante legal, é efetivada no mesmo dia 4 de maio. Neste caso, o
desde que se trate de crime hediondo.
Inquérito Policial deveria estar encerrado e relatado
e) independentemente do crime investigado deverá ser
pelo Delegado de Polícia no prazo de
impreterivelmente concluído no prazo de 30 dias se
a) 15 dias após iniciado o Inquérito Policial.
o investigado estiver solto.
b) 10 dias após iniciado o Inquérito Policial.
c) 5 dias após iniciado o Inquérito Policial.
11. (FCC/DPE-MA/Defensor Público/2015) Em matéria de
d) 15 dias, contado o prazo a partir da efetivação da
provas, segundo o Código de Processo Penal,
prisão de Manoel.
a) as acareações, em decorrência da própria essência
do ato, não poderão ser realizadas por carta preca‑ e) 10 dias, contado o prazo a partir da efetivação da
tória. prisão de Manoel.
b) após a determinação do desentranhamento de pro‑
va declarada inadmissível, esta será inutilizada por 14. (FCC/MPE-PB/Técnico Ministerial/215) Considere as
decisão judicial, facultado às partes o acompanha‑ seguintes situações hipotéticas:
mento do incidente, sendo vedado ao magistrado I – A Promotora de Justiça de uma comarca do Estado da
que tomou conhecimento da prova ilícita proferir a Paraíba requereu à autoridade policial a instauração de
sentença no mesmo processo. Inquérito Policial para apuração de crime de injúria, de
Noções de Direito Processual Penal

c) o juiz poderá ordenar a produção de provas antes ação penal privada, figurando como vítima Luis e como
mesmo do início da ação penal. autor do crime Edson. A autoridade policial atende ao
d) sempre que a infração penal deixar vestígios, o exa‑ pedido veiculado e instaura o Inquérito Policial.
me de corpo de delito poderá ser dispensado por de‑ II – Durante o trâmite de um Inquérito Policial instau‑
terminação da autoridade policial e judicial quando rado para apuração de crime de homicídio tentado a
sua elaboração puder comprometer a moral pública. vítima apresenta requerimento ao Delegado de Polícia
e) nos exames para reconhecimento de escritos exi‑ para realização de uma diligência que entende ser útil
ge-se que a pessoa a quem se atribua o escrito para apuração da verdade real. O Delegado de Polícia,
forneça, de próprio punho, material gráfico para a entendendo ser impertinente o requerimento e a dili‑
comparação, sendo inadmissíveis documentos já gência solicitada, deixa de realizar a diligência.
produzidos, ainda que a pessoa reconheça-os como III – O Delegado de Polícia de uma determinada cida‑
de seu punho. de no Estado da Paraíba, após instaurar um Inquérito
Policial para apuração de crime de furto que teria sido
12. (FCC/DPE-MA/Defensor Público/2015) Sobre as prisões cometido por Theo, não conseguindo apurar provas da
processuais, conforme o Código de Processo Penal e a autoria delitiva determina o imediato arquivamento dos
jurisprudência do STF, é correto afirmar que autos.

124
IV – Encerrado Inquérito Policial para apuração de cri‑ a) pode ocorrer, no caso, perempção e decadência.
me de ação penal privada a autoridade policial, após b) Ana precisa oferecer representação, para que seja
pedido do requerente, entrega os autos de inquérito instaurado inquérito policial.
ao requerente, mediante traslado. c) existe legitimidade concorrente de Ana e do Minis‑
tério Público, mediante representação, para propo‑
O Delegado de Polícia agiu dentro da legalidade apenas situra de ação penal.
nas situações indicadas em d) isso é suficiente para que o agressor seja também
a) I, II e IV. investigado criminalmente, independentemente de
b) II e IV. lesão sofrida, porque a assistente social é funcionária
c) II, III e IV. pública e, sob pena de prevaricação, deve comunicar
d) III e IV. o fato à autoridade competente.
e) I e III. e) Ana precisa oferecer queixa-crime para apuração dos
fatos também em âmbito penal.
15. (FCC/MPE-PB/Técnico Ministerial/2015) O Delegado de
Polícia de um determinado Distrito Policial da cidade 18. (FCC/TJ-GO/Juiz de Direito/2015) Não se trata de garan‑
de João Pessoa instaura um Inquérito Policial para apu‑ tia processual expressa na Constituição da República:
ração de crime de estelionato ocorrido no final do ano a) a liberdade provisória.
de 2014. Encerrada as investigações Rodolfo é indiciado b) a identificação do responsável pelo interrogatório
pelo referido crime. O inquérito é relatado e remetido policial.
ao Fórum local. O representante do Ministério Público, c) a publicidade restrita.
após receber os autos, requereu o arquivamento do d) o cumprimento da pena em estabelecimento distinto
Inquérito Policial entendendo que não haveria provas em razão da natureza do delito.
para instauração de ação penal contra Rodolfo. O Ma‑ e) o duplo grau de jurisdição.
gistrado competente, ao receber os autos, discordando
do parecer do Ministério Público, determina a remessa 19. (FCC/TJ-GO/Juiz de Direito/2015) Em relação às teste‑
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça do Estado da munhas no processo penal, de acordo com o Código de
Paraíba, requerendo a designação de outro Promotor Processo Penal,
para oferecimento da denúncia. O Procurador-Geral a) caso as testemunhas de acusação se sintam ameaça‑
de Justiça, após analisar o caso, insiste no pedido de das pelo réu, poderão deixar de prestar depoimento.
arquivamento e determina a devolução dos autos ao b) caso arrolado como testemunha, o Governador po‑
juízo de origem. Neste caso, o Magistrado: derá optar por prestar depoimento por escrito.
a) discordando da decisão do Procurador-Geral de Jus‑
c) as cartas rogatórias só serão expedidas se demons‑
tiça determinará a instauração da ação penal com
trada previamente a sua imprescindibilidade, arcan‑
base no Relatório da Autoridade Policial.
do a parte requerente com os custos de envio.
b) encaminhará os autos ao Conselho Nacional do Mi‑
d) caso a testemunha seja arrolada pela defesa e este‑
nistério Público, em Brasília, para que um Promotor
ja impossibilitada, por enfermidade, de comparecer
de Justiça seja designado para atuar no feito e ofe‑
recer denúncia. para depor, o juiz determinará que a defesa substitua
c) será obrigado a atender o pedido de arquivamento esta testemunha, sob pena de preclusão da prova.
veiculado pelo Ministério Público. e) são proibidas de depor, ainda que desobrigadas pela
d) encaminhará os autos ao Presidente do Tribunal de parte interessada, as pessoas que, em razão da pro‑
Justiça da Paraíba para que este determine a ins‑ fissão, devam guardar segredo.
tauração da ação penal, intimando-se o Procurador‑
-Geral de Justiça para oferecimento imediato da de‑ 20. (FCC/TJ-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/Execução
núncia. de Mandados/2014) Como regra, são proibidas de de‑
e) determinará a intimação da vítima para, querendo, por como testemunha as pessoas que
oferecer ação penal subsidiária da pública. a) estiverem interditadas e forem deficientes mentais.
b) tiverem vínculos familiares próximos com o acusado,
16. (FCC/TJ-RR/Juiz de Direito/2015) O princípio interna‑ tais como o ascendente, o descendente, o cônjuge
cionalmente consagrado do Duplo Grau de Jurisdição é e o irmão.
reconhecido por várias legislações ocidentais. No Brasil, c) forem menores de doze anos.
o princípio também é reconhecido e, segundo o Supre‑ d) não portarem documento e houver dúvida sobre a
mo Tribunal Federal, decorre sua identidade.
Noções de Direito Processual Penal

a) diretamente do texto constitucional brasileiro e está e) em razão de função, ministério, ofício ou profissão,
previsto no artigo 5º como uma garantia fundamental. devam guardar segredo.
b) diretamente do texto constitucional brasileiro, mas
não está previsto no artigo 5º . 21. (FCC/TJ-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/Execução
c) do Pacto de Direitos Civis e Políticos e tem previsão de Mandados/2014) Em relação ao mandado de busca
na Constituição Federal do Brasil. e apreensão domiciliar, considere as afirmações:
d) do Pacto de São José da Costa Rica e não tem previ‑ I – Deverá indicar, o mais precisamente possível, a casa
são Constitucional. em que será realizada a diligência e o nome do respec‑
e) diretamente dos pactos internacionais de direitos tivo proprietário ou morador.
humanos e tem previsão expressa na Constituição II – Deverá ser subscrito pelo escrivão e assinado pela
Federal do Brasil. autoridade judiciária que o fizer expedir.
III – Será executado de dia, salvo se o morador consentir
17. (FCC/TJ-PE/Juiz de Direito/2015) Ana, estudante de 20 que se realize à noite e, antes de penetrar na casa, o
anos, relatou à assistência social da universidade públi‑ executor mostrará e lerá o mandado ao morador, ou a
ca onde estuda que foi vítima de estupro no campus, quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir
não sofrendo lesões. É correto afirmar que: a porta.

125
IV – Obrigatoriamente será executado na presença de e) O perito oficial que realizar exame de corpo de de‑
qualquer vizinho ou pessoa que se encontrar nas pro‑ lito não precisa ser portador de diploma de curso
ximidades da casa. superior, bastando que tenha conhecimento técnico
relacionado com a natureza do exame.
Está correto o que se afirma em
a) I, II e III, apenas. 26. (FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014) Jeremias foi preso
b) I, II e IV, apenas. em flagrante delito pelo cometimento do fato previsto
c) II, III e IV apenas. no art. 157, § 2º, I e II, do Código Penal, e no mesmo
d) I e III , apenas. dia decretada a prisão preventiva com a legítima fina‑
e) I, II, III e IV. lidade de garantir a ordem pública. Com base nestes
dados, sob pena de caracterizado o constrangimento
22. (FCC/DPE-CE/Defensor Público/2014) Para efetivar ga‑ ilegal (CPP, art. 648, II), impõe-se que o inquérito policial
rantia existente na Convenção Americana de Direitos esteja concluído no prazo máximo de
Humanos, o sistema processual penal infraconstitucio‑ a) 60 dias.
nal deve prever a b) 10 dias.
a) inafiançabilidade de crimes relacionados à violência c) 05 dias.
doméstica. d) 15 dias.
b) admissibilidade de prova ilícita pro reo. e) 30 dias.
c) permissão de extradição de nacional.
d) audiência de custódia. 27. (FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014) José, menor de
e) publicidade processual ampla e irrestrita. 21 anos e primário, foi denunciado pela prática do fato
previsto no art. 171, caput (por 15 vezes), na forma do
23. (FCC/DPE-CE/Defensor Público/2014) Em relação à lei art. 71, caput, ambos do Código Penal. Determinada a
processual penal, é correto afirmar que, em regra, citação pessoal, não é encontrado, frustradas as ulte‑
a) admite suplemento dos princípios gerais do direito riores diligências empreendidas para sua localização.
e aplicação analógica. Com vista dos autos, manifesta-se o Ministério Público
b) a lei anterior tem ultratividade para beneficiar o pela citação editalícia, requerendo, ainda, a produção
acusado. antecipada da prova oral (cinco testemunhas foram
c) admite interpretação extensiva, mas não aplicação arroladas). Como argumento legitimador deste último
analógica. pedido, afirma que o passar do tempo, por si só, é mo‑
d) os atos realizados sob a vigência da lei anterior de‑ tivo suficiente para o respectivo deferimento, pois pode
vem ser refeitos. haver prejuízo ao processo de reconstrução da verdade.
e) tem aplicação imediata, mesmo em período de va- O pedido é acolhido pelo juiz a partir do fundamento
catio legis e ainda que menos benéfica. invocado pelo Ministério Público. Analisada a hipóte‑
se acima construída, mostra-se correto afirmar que a
24. (FCC/DPE-CE/Defensor Público/2014) A autoridade poli‑ decisão está
cial representou pela prisão temporária de José e o juiz a) correta, desde que assegurada ao réu a assistência
a decretou. Pode-se dizer que da defesa técnica, caso em que, observado o con‑
a) se o Juiz houvesse indeferido a decretação da pri‑ traditório e a ampla defesa, nenhum prejuízo será
são temporária, não precisaria ter fundamentado a experimentado.
decisão. b) correta, pois ao Ministério Público compete provar
b) dada a urgência, o Juiz pode ter decidido sem ter os fatos alegados, cabendo a este apresentar os
ouvido previamente o Ministério Público que, pos‑ elementos para formar a convicção do julgador, e
teriormente, deve tomar ciência da decisão, em igualmente a oportunidade para se desincumbir da
contraditório diferido. carga probatória.
c) José pode estar sendo investigado pela prática de c) correta, tendo em vista que se trata de crime doloso
homicídio doloso simples. praticado em continuidade delitiva.
d) dada a urgência, a prisão pode ser executada antes d) errada, porquanto se trata de réu menor e primário,
mesmo da expedição de mandado judicial. circunstância obstativa da antecipação da colheita
e) se José for posto em liberdade é porque necessaria‑ da prova.
mente decorreu o prazo determinado pelo juiz para e) errada, porque toda decisão que determina a pro‑
Noções de Direito Processual Penal

a prisão temporária. dução antecipada da prova deve ser concretamente


fundamentada, não a justificando o mero decurso
25. (FCC/DPE-CE/Defensor Público/2014) Em relação ao do tempo.
exame do corpo de delito, é correto afirmar, de acordo
com o Código de Processo Penal: 28. (FCC/DPE-PB/Defensor Público/2014) Acerca dos prin‑
a) O exame de corpo de delito somente pode ser feito cípios e garantias fundamentais aplicáveis ao processo
durante o dia. penal, o princípio
b) É vedado ao acusado requerer a oitiva do perito em a) da ampla defesa assegura ao réu a indisponibilidade
audiência, sob pena de desvirtuamento da natureza ao direito de defesa técnica, que pode ser exercida
deste meio de prova, que na essência é documental. por defensor privado ou público. Entretanto, quando
c) Não existe previsão legal que permita ao assistente a defesa técnica for realizada por Defensor Público,
de acusação formular quesitos e indicar assistente será sempre exercida através de manifestação fun‑
técnico no curso do processo judicial. damentada.
d) Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de b) do duplo grau de jurisdição, expressamente previsto
uma área de conhecimento especializado, poder-se‑ na Constituição Federal, assegura a todos os acusa‑
-á designar a atuação de mais de um perito oficial. dos a revisão da sentença condenatória.

126
c) da presunção de inocência impõe um dever de tra‑ d) sob o título de prisão temporária, José pode ter
tamento ao réu, que deve ser considerado inocen‑ ficado preso no curso do inquérito policial por no
te durante a instrução do processo. Porém, após o máximo 10 dias.
advento de uma sentença condenatória e enquanto e) na hipótese de ter havido representação da autori‑
tramitar(em) o(s) recurso(s), esta presunção passa a dade policial, o Juiz, antes de decidir pela decretação
ser de culpabilidade. da prisão temporária, teve que ouvir o Ministério
d) da publicidade, inserto no art. 93, IX, da Constituição Público.
Federal, estabelece que todos os julgamentos dos
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, não admi‑ 32. (FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/2014) No tocan‑
tindo qualquer limitação por lei ordinária, a fim de te à prova, de acordo com o Código de Processo Penal,
que não prejudique o interesse público à informação. a) durante o curso do processo, é vedada às partes a
e) ne procedat judex ex officio estabelece a inércia da indicação de assistentes técnicos.
jurisdição. Sendo assim, o Código de Processo Pe‑ b) o exame de corpo de delito e outras perícias serão
nal proíbe ao juiz determinar, de ofício, no curso da realizados sempre por dois peritos oficiais, portado‑
instrução, ou antes de proferir sentença, a realiza‑ res de diploma de curso superior.
ção de diligências para dirimir dúvida sobre ponto c) durante o curso do processo judicial, quanto à pe‑
relevante. rícia, é permitido às partes requerer a oitiva dos
peritos para esclarecerem a prova, mas não para
29. (FCC/DPE-PB/Defensor Público/2014) Em relação ao responderem a quesitos.
inquérito policial e à ação penal, é correto afirmar: d) quando a infração deixar vestígios, será necessário
a) Depois de ordenado o arquivamento do inquérito o exame de corpo de delito, mas a confissão do acu‑
pela autoridade judiciária, por falta de base para a sado pode supri-lo.
denúncia, a autoridade policial poderá proceder a e) o juiz formará sua convicção pela livre apreciação
novas pesquisas, se de outras tiver notícia. da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão, exclusivamente,
b) Nos crimes de ação penal de iniciativa pública con‑
nos elementos informativos colhidos na investiga‑
dicionada, a ação penal somente pode ser intentada
ção, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis
mediante representação do ofendido, mas a auto‑
e antecipadas.
ridade policial pode instaurar inquérito policial de
ofício.
33. (FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Área Adminis‑
c) É direito do defensor, no interesse do representa‑ trativa/2014) José foi indiciado em inquérito policial
do, ter acesso amplo aos elementos de prova que, que apura a prática do delito de estelionato contra seu
já documentados em procedimento investigatório ex-empregador. Diante disso,
realizado por órgão com competência de polícia ju‑ a) ante a constatação de que se trata, em verdade, de
diciária, digam respeito ao exercício do direito de ilícito civil, a autoridade policial poderá mandar ar‑
defesa, salvo quando decretado o sigilo do inquérito quivar os autos de inquérito.
policial. b) sem inquérito policial, não poderá, posteriormente,
d) O perdão concedido por um dos querelantes se es‑ haver propositura de ação penal.
tenderá aos demais. c) a vítima poderá requerer qualquer diligência, que
e) Não se admite renúncia tácita na ação penal de ini‑ será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
ciativa privada. d) este inquérito somente pode ser instaurado porque
houve representação da vítima.
30. (FCC/DPE-PB/Defensor Público/2014) Em relação à pri‑ e) José não poderá requerer diligência à autoridade
são temporária, policial.
a) poderá ser prorrogada quantas vezes forem neces‑
sárias, desde que a prisão temporária seja impres‑ 34. (FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Área Administra‑
cindível para investigação da infração penal. tiva/2014) A prisão temporária poderá ser decretada
b) o preso somente pode ser posto em liberdade me‑ a) em caso de homicídio qualificado, pelo prazo de
diante alvará de soltura expedido pelo juiz que de‑ trinta dias, prorrogável por igual período em caso
cretou a prisão temporária. de extrema e comprovada necessidade.
c) poderá ser decretada em caso de crime grave ou b) pelo juiz, sem ouvir o Ministério Público, na hipótese
hediondo, para assegurar a aplicação da lei penal. de representação da autoridade policial.
Noções de Direito Processual Penal

d) poderá ser decretada em qualquer fase da investi‑ c) sem fundamentação, em caso de comprovada ur‑
gação policial ou do processo penal. gência.
e) o Juiz poderá, de ofício, determinar que o preso lhe d) pelo delegado de polícia responsável pelo caso, pelo
seja apresentado. prazo máximo de cinco dias.
e) pelo juiz, em qualquer fase da ação penal.
31. (FCC/MPE-PA/Promotor de Justiça/2014) José respon‑
de, preso, a processo pela prática do delito de tráfico Gabarito
de drogas. Diante disso, é correto afirmar que
a) sob o título de prisão temporária, José pode ficar 1. e 8. e 15. c 22. d 29. a
preso no curso da ação penal por no máximo 60 dias. 2. a 9. a 16. d 23. a 30. e
b) a prisão preventiva de José pode ter sido decretada 3. c 10. b 17. b 24. c 31. e
de ofício no curso do inquérito policial. 4. c 11. c 18. e 25. d 32. e
c) mesmo que cumpridos todos os demais requisitos, o 5. c 12. d 19. c 26. b 33. c
Supremo Tribunal Federal, por maioria, tem enten‑ 6. a 13. e 20. e 27. e 34. a
dido que não é possível a concessão de liberdade 7. b 14. b 21. a 28. a
provisória a José.
PMGO

SUMÁRIO

Noções de Direito Administrativo

Direito Administrativo:
conceito, fontes, princípios................................................................................................................................................. 3

Administração Pública:
natureza, elementos, poderes e organização, natureza, fins e princípios; administração direta e indireta;
planejamento, coordenação, descentralização, delegação de competência, controle; da administração do
Distrito Federal; organização administrativa da União........................................................................................................ 8

Agentes públicos:
espécies e classificação; direitos, deveres e prerrogativas; cargo, emprego e função públicos........................................23

Atos administrativos:
conceito e requisitos; atributos; invalidação; classificação; espécies............................................................................... 24

Poderes administrativos:
poder vinculado, poder discricionário, poder hierárquico, poder disciplinar, poder regulamentar, poder de polícia......39

Do uso e do abuso do poder................................................................................................................................................ 40

Controle e responsabilização da administração:


controle administrativo; controle judicial; controle legislativo; responsabilidade civil do Estado....................................47
Noções de Direito Administrativo
Edgard Antônio Lemos Alves / Welma Maia

Direito ADMINISTRATIVO: Critério da Atividade Jurídica e Social do Estado


NOÇÕES PRELIMINARES
Seus defensores definem o Direito Administrativo consi-
O estudo do Direito Administrativo parte, necessaria- derando, de um lado, o tipo de atividade exercida (a atividade
mente, da noção geral de Direito. não contenciosa) e de outro, os órgãos que a regulam.

Direito Critério do Serviço Público

O Direito, objetivamente considerado, é um conjunto de Seus defensores definiam o Direito Administrativo
normas – regras e princípios – impostas coercitivamente pelo como sendo a disciplina jurídica que regulava a instituição,
Estado para disciplinar a vida em sociedade, restringindo a organização e o funcionamento dos serviços públicos e o
de certa forma a liberdade individual, porém garantindo o oferecimento aos administrados. Também é inadequado,
bem‑estar coletivo. visto que muitos serviços públicos, tais como os de utilidade
Uma das características naturais do homem é a vida pública, são prestados por meio de concessionários ou per-
gregária, isto é, o homem é um ser que vive em sociedade. missionários, utilizando o regime jurídico de Direito Privado.
Vivendo em sociedade, pessoas tendem a entrar em conflito
para predomínio de seus interesses pessoais. Daí surge a Critério da Administração Pública
necessidade das regras de Direito: para que não haja desor-
dem, mas harmonia.
Os autores que o adotaram diziam que o Direito Admi-
O Direito, portanto, mantém equilíbrio nas relações
nistrativo é o conjunto de princípios que regem a Adminis-
humanas para que a sociedade se conserve e não pereça.
Por isso é que se costuma simbolizar o direito com uma tração Pública.
balança – que representa o equilíbrio – e uma espada que
sustém a balança e que garante, pela força (ou sanção), Critério Teleológico ou Finalístico
o cumprimento das normas jurídicas. (MONTEIRO, 1954)
O Direito foi tradicionalmente dividido em dois grandes O Direito Administrativo seria o sistema de princípios que
ramos: o Direito Público e o Direito Privado. Este último regulam a atividade do Estado para o cumprimento de seus
regula as relações individuais, privadas, fazendo valer, em fins. Também é insuficiente, uma vez que o Estado não se
regra, o princípio da autonomia da vontade. Temos como utiliza só de princípios para reger a atividade administrativa.
ramos do Direito Privado, o Direito Civil, o Direito Comercial
e o Direito do Trabalho (Teoria dominante no Brasil). Já o Critério Negativo ou Residual
Direito Público, subdividindo‑se em dois – interno e exter-
no – regula, respectivamente, as relações do Estado com a De acordo com este critério, o  Direito Administrativo
coletividade e suas relações com outros Estados. Como ramos tem por objeto as atividades desenvolvidas para a conse-
do Direito Público, temos o Direito Constitucional, o Direito cução dos fins estatais, excluídas a legislação e a jurisdição
Administrativo, o Direito Tributário, o Direito Internacional, ou somente esta.
o Direito Financeiro, o Direito Penal e Processual (Penal, Civil Dada a dificuldade de se conceituar o que é o Direito
e Trabalhista), o Direito Eleitoral, entre outros.
Administrativo, ora pela insuficiência, ora pela limitação das
definições, vejamos os conceitos mais utilizados:
Conceito de Direito Administrativo
Hely Lopes Meirelles
Há vários critérios para se conceituar o Direito Adminis-
“Conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem
trativo. Cada doutrinador, em busca de fornecer a conceitu-
os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a
ação exata do Direito Administrativo, usa tais critérios para
realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados
embasar o seu próprio conceito, seja combinando‑os, seja
dando ênfase a um em especial. pelo estado”. Utiliza o critério da Administração Pública.

José Cretella Júnior


Noções de Direito Administrativo

Critério do Poder Executivo


“É o ramo do Direito Público interno que regula a ativida-
Resumia o estudo do Direito Administrativo ao estudo de e as relações jurídicas das pessoas públicas e a instituição
dos atos do Poder Executivo, limitando-o, pois sabemos que de meios e órgãos relativos à ação dessas pessoas”. Utiliza o
o Poder Judiciário e o Poder Legislativo também exercem critério da atividade jurídica e social do Estado.
atividades administrativas.
Maria Sylvia Z. Di Pietro
“É o ramo do Direito Público que tem por objeto os
Critério das Relações Jurídicas órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que
Pelo critério das relações jurídicas, o Direito Administra- integram a Administração Pública, a atividade jurídica não
tivo é o conjunto de regras jurídicas que disciplinam o rela- contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para a
cionamento da Administração Pública com os administrados. consecução de seus fins, de natureza pública”. Combina
Também não é suficiente, pois o Estado não se relaciona vários critérios, tais como o da atividade jurídica e social
juridicamente apenas com seus administrados, relaciona-se do Estado, o  critério teleológico e o critério negativo ou
também com seus agentes e com outros Estados. residual.

3
Celso Antônio B. de Mello opiniões jurídicas ou servindo de base para a formação ou
“É o ramo do Direito Público que disciplina a função interpretação das leis, usufruem a condição de autoridade
administrativa e os órgãos que a exercem”. Utiliza o critério no assunto.
da atividade jurídica e social do Estado. A doutrina resulta de trabalho de pesquisas e elaboração
de estudos. Ressalte‑se que, por ser a doutrina universal, é
Diógenes Gasparini possível recorrer tanto a doutrinadores brasileiros quanto a
“É a sistematização de normas de direito (conjunto estrangeiros para sua formação, sendo comum a lei incorpo-
harmônico de princípios jurídicos), destinadas a ordenar a rar em seu texto normas extraídas dessas doutrinas ou até
estrutura e o pessoal (órgãos e agentes) e os atos e atividades mesmo contar com participação de algum doutrinador em
da Administração Pública, praticadas ou desempenhadas sua elaboração. Como exemplo disso, temos Maria Sylvia
enquanto Poder Público”. Utiliza o critério teleológico. Zanella Di Pietro, integrante da comissão de juristas que
elaborou o anteprojeto do qual resultou a Lei nº 9.784/1999,
Objeto do Direito Administrativo que regula o processo administrativo no âmbito da Adminis-
tração Pública Federal (Maria Sylvia Zanella Di Pietro, 21ª
Tamanha é a amplitude do Direito Administrativo que edição, p. 80).
somente podemos compreender seu objeto se analisarmos
a relação existente entre a Administração Pública e seus Jurisprudência
administrados, agentes e órgãos.
Uma de suas vertentes tem como objeto o estudo dos Traduz‑se na reiteração de decisões de órgãos judicantes
órgãos públicos administrativos do Estado, bem como a em um mesmo sentido, influenciando de forma relevante
estrutura, a organização e a regulamentação das atividades a construção do Direito Administrativo. Mesmo não tendo
e serviços públicos que serão prestados aos administrados. caráter obrigatório, acaba por nortear os profissionais do
Hoje, também abrange toda a matéria atinente à intervenção Direito, bem como o cidadão, quanto à interpretação e
do Estado no domínio econômico e na propriedade privada. aplicação das leis. Cabe ressaltar que, com o advento da
Súmula Vinculante (Lei nº 11.417/2006), o Supremo Tribunal
Fontes do Direito Administrativo Federal poderá, de ofício ou por provocação, após reiteradas
decisões sobre matéria constitucional, editar enunciado de
Fonte, na concepção mais antiga e ainda em vigor, é o súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial,
lugar de onde nasce, provém, brota. No Direito Administra- terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder
tivo, é a sua origem, a sua base fundamental. Judiciário e à Administração Pública Direta e Indireta, nas
De acordo com a doutrina dominante, quatro são as esferas Federal, Estadual e Municipal.
fontes do Direito Administrativo: a Lei, a Doutrina, a Juris- Assim, a jurisprudência transformada em súmula vincu-
prudência e os Costumes. A  primeira fonte é primária ou lante passará a ser fonte primária do Direito Administrativo.
imediata. As demais são secundárias ou mediatas. Vale lembrar também que, diferentemente da doutrina,
a jurisprudência não é universal; a jurisprudência estrangeira
Lei não é fonte do Direito Administrativo, apesar de poder servir
de inspiração.
Em sentido amplo, é a fonte primária do Direito Adminis- Por fim, diga‑se que, como forma de garantir o princípio
trativo. É o conjunto de normas de conduta geral, impessoal da segurança jurídica, a alteração jurisprudencial no âmbito
e abstrata, que, impondo o seu poder normativo, traça os do Direito Administrativo não atinge situações já consolida-
limites de atuação dos indivíduos e do próprio Estado nas das: só vale para o futuro.
atividades administrativas. Abrange desde a Constituição até Nessa linha, prescreve o art.  2º, inciso XIII, parágrafo
os regulamentos executivos. único, da Lei nº 9.784/1999, que é critério a ser observado
A lei como fonte principal do Direito Administrativo tem na tramitação do processo administrativo
papel fundamental na aplicação do princípio da legalidade
previsto no art. 5º, II, da Constituição Federal, segundo o a interpretação da norma administrativa da forma
qual o cidadão pode praticar todos os atos não vedados pela que melhor garanta o atendimento do fim público a
lei, diferentemente do Estado, que só pode agir dentro dos que se dirige, vedada a aplicação retroativa de nova
parâmetros fixados expressamente na lei (entendida em suas interpretação.
várias espécies – Constituição, lei, medida provisória, lei com-
plementar, lei delegada, tratado, portaria, regulamento, reso- A adoção da súmula vinculante no nosso ordenamento
lução, entre outras). Ressalte‑se que algumas dessas espécies jurídico contribuirá decisivamente para desafogar a máquina
têm assegurada a apreciação pelo Poder Legislativo para sua judiciária, uma que vez que facilitará e simplificará o julga-
Noções de Direito Administrativo

plena eficácia; outras, porém, constituem‑se em meros atos mento de infinitos processos que possuam causas idênticas
unilaterais, originados de autoridades administrativas, seja ou semelhantes.
impondo condutas para os administrados, seja organizando Atualmente, temos 53 Súmulas Vinculantes. A Súmula
internamente a estrutura da própria Administração. Vinculante nº 30, todavia, encontra-se suspensa pelo Ple-
A lei é fundamental na conduta do agente público. nário do STF.
Enquanto o parti­cular pode fazer tudo aquilo que a lei não São elas:
proíbe, o agente público só pode praticar os atos determi-
nados por lei ou por ela permitidos. Súmula Vinculante nº 1
Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfei-
Doutrina to a decisão que, sem ponderar as circunstâncias do caso
concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo
Formando o sistema teórico de princípios aplicáveis ao constante de termo de adesão instituído pela Lei Comple-
Direito Positivo, é elemento construtivo do Direito Admi- mentar nº 110/2001. (Data de Aprovação: Sessão Plenária
nistrativo, pois emana de grandes estudiosos da matéria de 30/5/2007; Fonte de Publicação: DJe nº 31/2007, p. 1,
que, fornecendo poderosos argumentos para sustentar em 6/6/2007, DJ de 6/6/2007, p. 1, DOU de 6/6/2007, p. 1)

4
Súmula Vinculante nº 2 Súmula Vinculante nº 11
É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou dis- Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência
trital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade
inclusive bingos e loterias. (Data de Aprovação: Sessão Plená- física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,
ria de 30/5/2007; Fonte de Publicação: DJe nº 31/2007, p. 1, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
em 6/6/2007, DJ de 6/6/2007, p. 1, DOU de 6/6/2007, p. 1) responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual
Súmula Vinculante nº 3 a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
Nos processos perante o Tribunal de Contas da União Estado. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de 13/8/2008;
asseguram‑se o contraditório e a ampla defesa quando da de- Fonte de Publicação: DJe nº 157/2008, p. 1, em 22/8/2008,
cisão puder resultar anulação ou revogação de ato adminis- DOU de 22/8/2008, p. 1)
trativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação
da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, Súmula Vinculante nº 12
reforma e pensão. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públi-
30/5/2007; Fonte de Publicação: DJe nº 31/2007, p. 1, em cas viola o disposto no art. 206, IV, da Constituição Federal.
6/6/2007, DJ de 6/6/2007, p. 1, DOU de 6/6/2007, p. 1) (Data de Aprovação: Sessão Plenária de 13/8/2008; Fonte
de Publicação: DJe nº 157/2008, p. 1, em 22/8/2008, DOU
Súmula Vinculante nº 4 de 22/8/2008, p. 1)
Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário míni-
mo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de Súmula Vinculante nº 13
vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser subs- A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em
tituído por decisão judicial. (Data de Aprovação: Sessão Plená- linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
ria de 30/4/2008; Fonte de Publicação: DJe nº 83/2008, p. 1, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mes-
em 9/5/2008, DOU de 9/5/2008, p. 1) ma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou
assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de
Súmula Vinculante nº 5 confiança ou, ainda, de função gratificada na administração
A falta de defesa técnica por advogado no processo pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União,
admi­nistrativo disciplinar não ofende a Constituição. (Data de dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compre-
Aprovação: Sessão Plenária de 7/5/2008; Fonte de Publicação: endido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a
DJe nº 88/2008, p. 1, em 16/5/2008, DOU de 16/5/2008, p. 1)
Constituição Federal. (Data de Aprovação: Sessão Plenária
de 21/8/2008; Fonte de Publicação: DJe nº 162/2008, p. 1,
Súmula Vinculante nº 6
em 29/8/2008, DOU de 29/8/2008, p. 1)
Não viola a constituição o estabelecimento de remune-
ração inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras
Súmula Vinculante nº 14
de serviço militar inicial. (Data de Aprovação: Sessão Plenária
É direito do defensor, no interesse do representado, ter
de 7/5/2008; Fonte de Publicação: DJe nº 88/2008, p. 1, em
acesso amplo aos elementos de prova que, já documen-
16/5/2008, DOU de 16/5/2008, p. 1)
tados em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
Súmula Vinculante nº 7
A norma do § 3º do art. 192 da Constituição, revogada pela exercício do direito de defesa. (Data de Aprovação: Sessão
Emenda Constitucional nº 40/2003, que limitava a taxa de ju- Plenária de 2/2/2009; Fonte de Publicação: DJe nº 26/2009,
ros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edi- p. 1, em 9/2/2009, DOU de 9/2/2009, p. 1)
ção de Lei Complementar. (Data de Aprovação: Sessão Plená-
ria de 11/6/2008; Fonte de Publicação: DJe nº 112/2008, p. 1, Súmula Vinculante nº 15
em 20/6/2008, DOU de 20/6/2008, p. 1) O cálculo de gratificações e outras vantagens do servidor
público não incide sobre o abono utilizado para se atingir
Súmula Vinculante nº 8 o salário mínimo. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de
São inconstitucionais o parágrafo único do art.  5º 25/6/2009; Fonte de Publicação: DJe nº 121/2009, p. 1, em
do Decreto‑Lei nº  1.569/1977 e os arts.  45 e 46 da Lei 1/7/2009, DOU de 1º/7/2009, p. 1)
nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de
crédito tributário. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de Súmula Vinculante nº 16
12/6/2008; Fonte de Publicação: DJe nº 112/2008, p. 1, em Os art. 7º, IV, e 39, § 3º (redação da EC nº 19/1998), da
20/6/2008, DOU de 20/6/2008, p. 1) Constituição, referem‑se ao total da remuneração percebida
pelo servidor público. (Data de Aprovação: Sessão Plenária
Súmula Vinculante nº 9 de 25/6/2009; Fonte de Publicação: DJe nº 121/2009, p. 1,
Noções de Direito Administrativo

O disposto no art. 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Exe- em 1º/7/2009, DOU de 1º/7/2009, p. 1)


cução Penal) foi recebido pela ordem constitucional vigente,
e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do Súmula Vinculante nº 17
art. 58. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de 12/6/2008; Durante o período previsto no § 1º do art. 100 da Consti-
Fonte de Publicação: DJe nº 112/2008, p. 1, em 20/6/2008, tuição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que
DOU de 20/6/2008, p. 1) nele sejam pagos. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de
29/10/2009; Fonte de Publicação: DJe nº 210/2009, p. 1, em
Súmula Vinculante nº 10 10/11/2009. DOU de 10/11/2009, p. 1)
Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art.  97) a
decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não Súmula Vinculante nº 18
declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no
ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no
todo ou em parte. (Data de Aprovação; Sessão Plenária de § 7º do art. 14 da Constituição Federal. (Data de Aprovação:
18/6/2008; Fonte de Publicação: DJe nº 117/2008, p. 1, em Sessão Plenária de 29/10/2009; Fonte de Publicação: DJe
27/6/2008, DOU de 27/6/2008, p. 1) nº 210/2009, p. 1, em 10/11/2009. DOU de 10/11/2009, p. 1)

5
Súmula Vinculante nº 19 Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar
A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços pú- se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e
blicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim,
ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o art. 145, II, de modo fundamentado, a realização de exame criminoló-
da Constituição Federal. (Data de Aprovação: Sessão Plenária gico. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de 16/12/2009.
de 29/10/2009; Fonte de Publicação: DJe nº 210/2009, p. 1, Fonte de Publicação DJe nº 238, p. 1, em 23/12/2009. DOU
em 10/11/2009. DOU de 10/11/2009, p. 1) de 23/12/2009, p. 1.)

Súmula Vinculante nº 20 Súmula Vinculante nº 27


A Gratificação de Desempenho de Atividade Técnico‑Admi­ Compete à Justiça estadual julgar causas entre con-
nistrativa – GDATA, instituída pela Lei nº 10.404/2002, deve sumidor e concessionária de serviço público de telefonia,
ser deferida aos inativos nos valores correspondentes a 37,5 quando a Anatel não seja litisconsorte passiva necessária,
(trinta e sete vírgula cinco) pontos no período de fevereiro assistente, nem opoente. (Data de Aprovação: Sessão Ple-
a maio de 2002 e, nos termos do art. 5º, parágrafo único, nária de 18/12/2009. Fonte de Publicação: DJe nº 238, p. 1,
da Lei nº 10.404/2002, no período de junho de 2002 até a em 23/12/2009. DOU de 23/12/2009, p. 1.)
conclusão dos efeitos do último ciclo de avaliação a que se
Súmula Vinculante nº 28
refere o art. 1º da Medida Provisória nº 198/2004, a partir da
É inconstitucional a exigência de depósito prévio como
qual passa a ser de 60 (sessenta) pontos. (Data de Aprovação:
requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pre-
Sessão Plenária de 29/10/2009; Fonte de Publicação: DJe
tenda discutir a exigibilidade de crédito tributário. (Data de
nº 210/2009, p. 1, em 10/11/2009. DOU de 10/11/2009, p. 1)
Aprovação: Sessão Plenária de 3/2/2010. Fonte de Publicação
DJe nº 28, p. 1, em 17/2/2010. DOU de 17/2/2010, p. 1.)
Súmula Vinculante nº 21
É inconstitucional a exigência de depósito ou arrola- Súmula Vinculante nº 29
mento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa,
recurso administrativo1. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de um ou mais elementos da base de cálculo própria de
de 29/10/2009; Fonte de Publicação: DJe nº 210/2009, p. 1, determinado imposto, desde que não haja integral identi-
em 10/11/2009. DOU de 10/11/2009, p. 1) dade entre uma base e outra. (Data de Aprovação: Sessão
Plenária de 3/2/2010. Fonte de Publicação: DJe nº 28, p. 1,
Súmula Vinculante nº 22 em 17/2/2010. DOU de 17/2/2010, p. 1.)
A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar
as ações de indenização por danos morais e patrimoniais de- Súmula Vinculante nº 31
correntes de acidente de trabalho propostas por empregado É inconstitucional a incidência do Imposto sobre
contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam Serviços de Qualquer Natureza – ISS sobre operações de
sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação locação de bens móveis. (Data de Aprovação: Sessão Ple-
da Emenda Constitucional nº 45/2004. (Data de Aprovação: nária de 4/2/2010. Fonte de Publicação: DJe nº 28, p. 1, em
Sessão Plenária de 2/12/2009; Fonte de Publicação: DJe 17/2/2010. DOU de 17/2/2010, p. 1.)
nº 232/2009, p. 1, em 11/12/2009. DOU de 11/12/2009, p. 1)
Súmula Vinculante nº 32
Súmula Vinculante nº 23 O ICMS não incide sobre alienação de salvados de sinistro
A Justiça do Trabalho é competente para processar e pelas seguradoras. Data de Aprovação: Sessão Plenária de
julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício 16/2/2011. Fonte de Publicação: DJe nº 37 de 24/2/2011,
do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada. p. 1. DOU de 24/2/2011, p. 1.)
(Data de Aprovação: Sessão Plenária de 2/12/2009; Fonte
de Publicação: DJe nº 232/2009, p. 1, em 11/12/2009. DOU Súmula Vinculante 33
de 11/12/2009, p. 1) Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras
do regime geral da previdência social sobre aposentadoria
Súmula Vinculante nº 24 especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III, da Constituição
Se tipifica crime material contra a ordem tributária, Federal, até a edição de lei complementar específica. (Data de
previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/1990, antes Aprovação: Sessão Plenária de 9/4/2014. Fonte de Publicação:
do lançamento definitivo do tributo. (Data de Aprovação: DJe nº 77, de 24/4/2014, p. 1. DOU, de 24/4/2014, p. 1).
Sessão Plenária de 2/12/2009; Fonte de Publicação: DJe
Noções de Direito Administrativo

nº 232/2009, p. 1, em 11/12/2009. DOU de 11/12/2009, p. 1) Súmula Vinculante 34


A Gratificação de Desempenho de Atividade de Segu-
Súmula Vinculante nº 25 ridade Social e do Trabalho (gdasst), instituída pela Lei
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que 10.483/2002, deve ser estendida aos inativos no valor cor-
seja a modalidade do depósito. (Data de Aprovação: Sessão respondente a 60 (sessenta) pontos, desde o advento da Me-
Plenária de 16/12/2009. Fonte de Publicação: DJe nº 238, p. 1, dida Provisória 198/2004, convertida na Lei nº 10.971/2004,
em 23/12/2009. DOU de 23/12/2009, p. 1.) quando tais inativos façam jus à paridade constitucional (ec
nº 20/1998, 41/2003 e 47/2005). (Data de Aprovação: Sessão
Súmula Vinculante nº 26 Plenária de 16/10/2014. Fonte de Publicação: dje nº 210 de
Para efeito de progressão de regime no cumprimento 24/10/2014, p. 1. dou de 24/10/2014, p. 1.)
de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da
execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Súmula Vinculante 35
A homologação da transação penal prevista no artigo
Cespe/Tribunal de Contas-RO/Procurador do Ministério Público/2010.
1 76 da Lei nº 9.099/1995 não faz coisa julgada material e,

6
descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, Súmula Vinculante nº 44
possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a ha-
persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou bilitação de candidato a cargo público. (Data de Aprovação:
requisição de inquérito policial. (Data de Aprovação: Sessão Sessão Plenária de 8/4/2015).
Plenária de 16/10/2014. Fonte de Publicação: dje nº 210,
de 24/10/2014, p. 1. dou de 24/10/2014, p. 1.) Súmula Vinculante nº 45
A competência constitucional do Tribunal do Júri pre-
Súmula Vinculante 36 valece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido
Compete à justiça federal comum processar e julgar ci- exclusivamente pela Constituição Estadual. (Data de Apro-
vil denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de do­ vação: Sessão Plenária de 8/4/2015).
cumento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta
de Inscrição e Registro (cir) ou de Carteira de Habilitação Súmula Vinculante nº 46
de Amador (cha), ainda que expedidas pela Marinha do A definição dos crimes de responsabilidade e o estabe-
Brasil. (Data de Aprovação: sessão Plenária de 16/10/2014. lecimento das respectivas normas de processo e julgamen-
Fonte de Publicação: dje nº 210, de 24/10/2014, p. 1. dou to são de competência legislativa privativa da União. (Data
de 24/10/2014, p. 1. de Aprovação: Sessão Plenária de 9/4/2015).

Súmula Vinculante 37 Súmula Vinculante nº 47


Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legis- Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou
lativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o destacados do montante principal devido ao credor consubs-
fundamento de isonomia. (Data de Aprovação: Sessão Ple- tanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá
nária de 16/10/2014. Fonte de Publicação: dje nº 210, de com a expedição de precatório ou requisição de pequeno va-
24/10/2014, p. 2. dou de 24/10/2014, p. 1. lor, observada ordem especial restrita aos créditos dessa na-
tureza. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de 27/5/2015).
Súmula Vinculante nº 38 Fonte de Publicação: DJe nº 104, de 2/6/2015, p. 1,
É competente o Município para fixar o horário de fun- DOU de 2/6/2015, p. 1)
cionamento de estabelecimento comercial. (Data de Apro-
vação: Sessão Plenária de 11/3/2015. Fonte de Publicação: Súmula Vinculante nº 48
DJe nº 55 de 20/3/2015, p. 1. DOU de 20/3/2015, p. 1). Na entrada de mercadoria importada do exterior, é legí-
tima a cobrança do ICMS por ocasião do desembaraço adu-
Súmula Vinculante nº 39 aneiro. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de 27/5/2015;
Compete privativamente à União legislar sobre venci- Fonte de Publicação: DJe nº 104, de 2/6/2015, p. 1, DOU de
mentos dos membros das polícias civil e militar e do Corpo 2/6/2015, p. 1)
de Bombeiros Militar do Distrito Federal. (Data de Aprova-
ção: Sessão Plenária de 11/3/2015. Fonte de Publicação: Súmula Vinculante nº 49
DJe nº 55, de 20/3/2015, p. 1. DOU de 20/3/2015, p. 1). Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal
que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do
Súmula Vinculante nº 40 mesmo ramo em determinada área. (Data de Aprovação:
Sessão Plenária de 17/6/2015; Fonte de Publicação: DJe nº
A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV,
121, de 23/6/2015, p. 1, DOU de 23/6/2015, p. 1)
da Constituição Federal, só é exigível dos filiados ao sindi-
cato respectivo. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de
Súmula Vinculante nº 50
11/3/2015. Fonte de Publicação: DJe nº 55, de 20/3/2015,
Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obriga-
p. 1. DOU de 20/3/2015, p. 1).
ção tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade. (Data
de Aprovação: Sessão Plenária de 17/6/2015; Fonte de Publica-
Súmula Vinculante nº 41
ção: DJe nº 121, de 23/6/2015, p. 1, DOU de 23/6/2015, p. 1)
O serviço de iluminação pública não pode ser remune-
rado mediante taxa. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de
Súmula Vinculante nº 51
11/3/2015. Fonte de Publicação: DJe nº 55, de 20/3/2015, O reajuste de 28,86%, concedido aos servidores milita-
p. 2. DOU de 20/3/2015, p. 1). res pelas Leis nºs 8.622/1993 e 8.627/1993, estende-se aos
Noções de Direito Administrativo

servidores civis do Poder Executivo, observadas as eventuais


Súmula Vinculante nº 42 compensações decorrentes dos reajustes diferenciados con-
É inconstitucional a vinculação do reajuste de venci- cedidos pelos mesmos diplomas legais. (Data de Aprovação;
mentos de servidores estaduais ou municipais a índices fe- Sessão Plenária de 18/6/2015; Fonte de Publicação: DJe nº
derais de correção monetária. (Data de Aprovação: Sessão 121, de 23/6/2015, p, 1, DOU de 23/6/2015, p. 1)
Plenária de 11/3/2015. Fonte de Publicação: DJe nº 55, de
20/3/2015, p. 2. DOU de 20/3/2015, p. 2). Súmula Vinculante nº 52
Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao
Súmula Vinculante nº 43 IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas
É inconstitucional toda modalidade de provimento que pelo art. 150, VI, c, da Constituição Federal, desde que o valor
propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais
concurso público destinado ao seu provimento, em cargo entidades foram constituídas. (Data de Aprovação: Sessão
que não integra a carreira na qual anteriormente investido. Plenária de 18/6/2015; Fonte de Publicação: DJe nº 121, de
(Data de Aprovação: Sessão Plenária de 8/4/2015). 23/6/2015, p. 2, DOU de 23/6/2015, p. 2)
Súmula Vinculante nº 53 ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO
A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, PÚBLICA
VIII, da Constituição Federal alcança a execução de ofício das
contribuições previdenciárias relativas ao objeto da conde-
nação constante das sentenças que proferir e acordos por Considerações Gerais
ela homologados. (Data de Aprovação: Sessão Plenária de
18/6/2015; Fonte de Publicação: DJe nº 121, de 23/6/2015, Antes de iniciarmos o estudo da Administração Pública,
p. 2, DOU de 23/6/2015, p. 2) faz-se necessário estabelecermos o conceito de Estado,
pois é nele que encontramos toda a concepção moderna de
Costumes organização e funcionamento dos serviços públicos a serem
prestados aos administrados.
A regra é a legalidade, mas diante de situações em que
não exista norma jurídica para reger o caso concreto, o cos- Conceito de Estado
tume poderia ainda exercer influência. O costume não pode
ser acolhido se e quando contrário à lei, porém pode ser O termo Estado vem do latim status, com o sentido “estar
utilizado ante a sua omissão, como ocorre com a Analogia e firme”. Já o seu conceito pode variar segundo o ângulo em
com os Princípios Gerais do Direito (art. 4º da LICC). que é considerado.
O costume pode ser admitido como fonte do Direito, Porém, encontrar um conceito de Estado que satisfaça
mas seu uso é restritivo. Somente na ausência de norma todas as correntes doutrinárias é absolutamente impossível,
escrita é que poderia ser admitido. No caso de divergência pois o Estado é um ente complexo, que pode ser abordado
entre normas costumeiras e a norma positivada, sempre sob diversos pontos de vista e, além disso, sendo extrema-
prevalecerá esta última. mente variável quanto à forma por sua própria natureza,
O costume acaba por funcionar como elemento informa- haverá tantos pontos de partida quantos forem os ângulos
tivo da doutrina e, por conseguinte, da própria elaboração de preferência dos observadores. E, em função do elemento
da lei, não ganha muito espaço no Direito Administrativo por ou do aspecto considerado primordial pelo estudioso, é que
prevalecer o princípio da legalidade, restando‑lhe apenas a este desenvolverá o seu conceito. Assim, por mais que os
condição de resumir‑se a mera praxe administrativa. autores se esforcem para chegar a um conceito objetivo,
haverá sempre um quantum de subjetividade, vale dizer,
Outras fontes secundárias do Direito Administrativo haverá sempre a possibilidade de uma grande variedade de
conceitos. (DALLARI, 2006)
Regulamentos administrativos: Os regulamentos são Seguem os conceitos mais usuais:
atos administrativos, postos em vigência por Decreto, para
especificar os mandamentos da lei ou prover situações Malberg “Comunidade de homens, fixada sobre
ainda não disciplinadas. Desta conceituação ressaltam os (Político) um território com poder de mando, ação
caracteres marcantes do regulamento: é ato administrativo e coerção”.
(e não legislativo); ato explicativo ou supletivo da lei; ato hie- Jellinek “Corporação territorial dotada de um
rarquicamente inferior à lei; ato de eficácia externa. Existem (Jurídico) poder de mando originário”.
leis que dependem de regulamento para serem executadas; Paolo Biscaretti “Pessoa jurídica territorial soberana”.
outras, porém, que são autoexecutáveis. Qualquer delas Di Ruffia
entretanto, pode ser regulamentada, com a só diferença de (Constitucional)
que nas primeiras o regulamento é condição de sua aplicação, Código Civil, “Pessoa jurídica de Direito Público Inter-
e nas segundas é ato facultativo do Executivo. art. 41 no”. Aqui o Estado como ente federativo
(Legal) representa um compartimento interno do
Estatutos: normalmente regulam relações juridicas de Estado federativo brasileiro. Enquadra-se
determinadas pessoas com o Estado. também como um conceito jurídico.

Regimentos: atos internos referentes à organização de Analisando os conceitos ora apresentados, nota-se que
órgãos colegiados. Podem existir nos três Poderes, em qual- ou se dá mais ênfase a um elemento concreto ligado à noção
quer das pessoas políticas, e nas entidades da administração de força (Político e Jurídico) ou se realça a natureza jurídica
Noções de Direito Administrativo

descentralizada. (Constitucional e Legal).


Foi a partir da concepção da teoria da personalidade jurí-
Instruções: atos normativos ou ordinatórios destinados dica do Estado (de Jellinek) como algo real e não fictício que
à orientação da própria Administração e subordinados hie- o interesse coletivo consagrou-se como um dos principais
rárquicos, no cumprimento de lei ou outra norma jurídica e fundamentos do direito público.
ao desempenho das atribuições funcionais. Com essa consagração, tem-se que o Estado, no desem-
Tratados internacionais: Tratado é todo acordo formal penho da atividade administrativa, existe para realizar o
e escrito, celebrado entre Estados e/ou organizações inter- bem comum.
nacionais, que busca produzir efeitos numa ordem jurídica
de direito internacional. No Brasil, os tratados e convenções Elementos do Estado
internacionais que versem sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, O Estado é constituído de três elementos originários e
em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos indissociáveis: Povo, Território e Governo Soberano, sendo
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. assim definidos:

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Povo É o componente humano do Estado, ou seja, Legislativo Função normativa, ou seja, elaboração da lei.
o conjunto de nacionais ligados por laços de Judiciário Função jurisdicional, ou seja, aplicação coativa
tradição, idioma e crenças. É composto so- da lei aos litigantes.
mente de cidadãos que pertencem ao Estado,
estejam no país ou em território estrangeiro. Embora o ideal fosse a exclusividade de cada função para
Diferente de população que é o conglomerado cada um dos Poderes, sabemos que isso não ocorre, uma vez
de indivíduos estatisticamente considerados, que todos os Poderes praticam atos administrativos, ainda
num dado momento, dentro do território,
que restritos à sua organização e ao seu funcionamento ou
sejam eles nacionais ou estrangeiros.
desempenham funções, que em caráter excepcional são
Território É a sua base física, onde se estabelece o povo admitidos pela Constituição Federal, e que a rigor, seriam
e o limite de atuação jurisdicional do Estado. de outro Poder, por exemplo, quando o Executivo expede
Governo É o elemento condutor do Estado, que detém e decretos e regulamentos (art. 84, IV), o Legislativo processa
Soberano exerce o poder supremo e absoluto emanado e julga o Presidente da República (art. 52, I) ou quando o
do povo, de fazer leis e de obrigar o seu cumpri- Judiciário elabora seu regimento interno (art. 96, I, a), de
mento. Dentro dos limites territoriais do Estado modo que o quadro acima adquire a seguinte forma:
é poder superior a todos os demais, tanto dos
indivíduos quanto dos grupos sociais, com rela-
ção aos demais Estados, tem a significação de FUNÇÃO
PODER FUNÇÕES RESIDUAIS
independência, admitindo que haja outros pode- PRINCIPAL
res iguais; porém, nenhum que lhe seja superior. Executivo Administrar Legislar/Julgar

Dessa forma, para fazer valer esse Poder de Império é Legislativo Legislar Administrar/Julgar
que foram adotados, nos Estados de Direito, os denominados Judiciário Julgar Administrar/Legislar
Poderes de Estado.
Visto pelo prisma positivista, Estado de Direito é aquele Organização do Estado
que se submete às leis por ele próprio criadas, voltadas para
a promoção do interesse social. É aquele que prima pela de- Apesar de ser matéria constitucional, veremos tão
mocracia, zela pela moralidade pública e administrativa, pro- somente como está organizado politicamente (art. 18, CF).
move a Justiça, a segurança pública e o bem-estar coletivo.
Entidades que Compõem o Estado Federal
Poderes ou Funções do Estado
A organização político‑administrativa do Brasil compreende
Os Poderes ou Funções do Estado, na clássica tripartição a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos au-
de Montesquieu, são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, tônomos, cabendo à União exercer as prerrogativas de sobera-
independentes e harmônicos entre si e com suas funções nia do Estado brasileiro no âmbito internacional (art. 18 da CF).
reciprocamente indelegáveis (art. 2º da CF). Por autonomia entende‑se que a entidade tem capaci-
Quando Montesquieu escreveu em seu livro O Espírito dade de auto‑organização (pode criar seu próprio diploma
das Leis as três funções básicas do Estado, ele individualizou constitutivo), autogoverno (organizar seu próprio governo e
cada uma delas, “para que não se possa abusar do poder”. eleger seus dirigentes) e autoadministração (organizar seus
Também conhecido como Checks and balances (sistemas de próprios serviços).
freios e contrapesos), postulação norte‑americana. Por soberania entende-se a capacidade de autodeter-
Segundo ele, minação; superioridade; não se submete a nenhuma outra
vontade; é ilimitada; não se admite poder superior no plano
quando na mesma pessoa ou no mesmo corpo de internacional, nem igual no plano interno.
magistratura o poder legislativo está reunido ao poder Quem detém a soberania é a República Federativa do
executivo, não existe liberdade, pois pode‑se temer Brasil, a União apenas a representa.
que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas
estabeleçam leis tirânicas para executá‑las tiranica- Competências Exclusivas da União
mente. Não haverá também liberdade se o poder de
julgar não tivesse separado do poder legislativo e do Destacam‑se, dentre outras competências de caráter
poder executivo. Se tivesse ligado ao poder legislativo, exclusivo da União, as seguintes (art. 21 da CF):
o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria • manter relações com países estrangeiros;
Noções de Direito Administrativo

arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse ligado • a participação em organizações internacionais;
ao poder executivo, o juiz poderia ter a força de um • declarar guerra e celebrar a paz;
opressor. Tudo estaria perdido se o mesmo homem • assegurar a defesa nacional;
ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou • decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a
do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, intervenção federal;
o de executar as resoluções públicas e o de julgar os • autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de ma-
crimes ou as divergências dos indivíduos. terial bélico;
• emitir moeda;
Dessa forma, cada Poder tem a sua função precípua, • administrar as reservas cambiais do País;
assim determinada: • fiscalizar as operações de natureza financeira, em
especial as de crédito, câmbio, capitalização, seguros
e previdência privada;
PODER FUNÇÃO • manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
Executivo Função administrativa, ou seja, conversão da • organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério
lei em ato individual e concreto. Público do Distrito Federal e dos Territórios e a De-

9
fensoria Pública dos Territórios, bem como a Polícia exercidas de modo que cada unidade restrinja‑se a um de-
Civil, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar terminado espaço de atuação.
do Distrito Federal; Dentre estas competências, destacam‑se as seguintes
• organizar e manter os serviços oficiais de estatística, (art. 23 da CF):
geografia, geologia e cartografia; • zelar pela guarda da Constituição, das leis e das insti-
• organizar, manter e executar a inspeção do trabalho. tuições democráticas;
• conservação do patrimônio público;
Cumpre ressaltar que essas competências são indelegá- • saúde e assistência públicas;
veis, ou seja, cabem somente à União. • proteção dos bens de valor histórico, das paisagens
Por outro lado, existem competências que, apesar de
naturais notáveis e dos sítios arqueológicos;
serem exclusivas da União, podem ser outorgadas à uma
entidade integrante de sua Administração Indireta (uma • acesso à educação, à cultura e à ciência;
Autarquia, por exemplo) ou delegadas a terceiros (um con- • proteção ao meio ambiente e controle da poluição;
cessionário, por exemplo) não integrantes de sua Adminis- • preservar a fauna e a flora;
tração. Entre estas, destacam-se as seguintes: • combate às causas da pobreza e da marginalização,
• explorar, diretamente ou mediante autorização, promovendo a integração dos setores desfavorecidos.
concessão ou permissão, os serviços de radiodifusão
sonora, e de sons e imagens. Competências Concorrentes
• explorar, diretamente ou mediante autorização,
concessão ou permissão, os serviços e instalações de O art. 24 da Constituição Federal possibilita à União,
energia elétrica e o aproveitamento energético dos aos Estados e ao Distrito Federal legislarem de forma con‑
cursos de água, em articulação com os Estados onde corrente em matérias específicas, tais como:
se situam os potenciais hidroenergéticos; • Direito Tributário, Financeiro, Penitenciário, Econômico
• explorar, diretamente ou mediante autorização, con- e Urbanístico;
cessão ou permissão, os serviços de navegação aérea, • orçamento;
aeroespacial e a infraestrutura aeropor­tuária;
• custas dos serviços forenses;
• explorar, diretamente ou mediante autorização, con-
cessão ou permissão, os serviços de transporte ferro- • produção e consumo;
viário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras • florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
nacionais, ou que transponham os limites de Estado proteção do meio ambiente e controle da poluição;
ou Território; • proteção do patrimônio histórico, cultural, artístico e
• explorar, diretamente ou mediante autorização, con- paisagístico;
cessão ou permissão, os serviços de transporte rodo- • educação, cultura, ensino e desporto;
viário interestadual e internacional de passageiros; • previdência social, proteção e defesa da saúde;
• explorar, diretamente ou mediante autorização, con- • assistência jurídica e defensoria pública;
cessão ou permissão os portos marítimos, fluviais e • proteção à infância e à juventude.
lacustres.
Neste âmbito, a União limita‑se a estabelecer normas
Competências Privativas da União gerais. Caso inexista norma geral, os Estados poderão exer-
cer a competência legislativa plena, para atender às suas
Cabe à União, privativamente, legislar sobre matérias peculiaridades.
específicas, entre as quais destacam‑se as seguintes (art. 22
da CF):
• Direito Civil, Comercial, Penal, Processual, Eleitoral, Competências dos Estados
Agrário, Marítimo, Aeronáutico, Espacial e do Trabalho;
• desapropriação; Os Estados têm a denominada competência remanescen-
• atividades nucleares de qualquer natureza; te ou residual, uma vez que a Carta Magna (§ 1º do art. 25)
• água, energia (inclusive nuclear), informática, teleco- dispõe que: “São reservados aos Estados as competências
municações e radiodifusão; que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.”
• comércio exterior e interestadual; Além da competência residual, encontramos algumas
• serviço postal; poucas hipóteses de competência enumerada dos Estados:
• nacionalidade, cidadania, naturalização e direitos 1) Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante
referentes aos estrangeiros; concessão, os serviços locais de gás canalizado, na
Noções de Direito Administrativo

• população indígena; forma da lei, vedada a edição de medida provisória


• organização judiciária, do Ministério Público e da De- para a sua regulamentação (§ 2º do art. 25).
fensoria Pública do Distrito Federal e Territórios, bem 2) Os Estados poderão, mediante lei complementar, ins-
como a organização administrativa destes;
tituir regiões metropolitanas, aglomerações ur­banas
• seguridade social;
• diretrizes e bases da educação nacional; e microrregiões, constituídas por agrupamentos de
• normas gerais de licitação e contratação para a Ad- municípios limítrofes, para integrar a organização, o
ministração Pública nas diversas esferas de governo e planejamento e a execução de funções públicas de
empresas sob seu controle. interesse comum (§ 3º do art. 25).

Competências Comuns da União, dos Estados, do Competências do Distrito Federal


Distrito Federal e dos Municípios
Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legis-
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios lativas reservadas aos Estados e Municípios, nos termos do
possuem competências comuns (concomitantes), que são art. 32, § 1º, da Constituição Federal.

10
Competências dos Municípios • Planejamento. Com vistas a promover o desenvolvi-
mento econômico‑social do país e a segurança nacional,
Aos Municípios competem legislar (competência residual) a  Administração Pública Federal, através de seus órgãos
sobre assuntos de interesse local e ainda suplementar a de planejamento, deverá estabelecer por meio de planos
legislação federal e estadual, no que couber (art. 30 da CF). gerais de governo programas globais, setoriais e regionais de
duração plurianual, do orçamento‑programa anual e da pro-
Governo X Administração Pública gramação financeira de desembolso, diretrizes e metas que
orientarão a ação governamental, cabendo a cada Ministro
Um dos sentidos da palavra administrar é “governar”, por de Estado orientar e dirigir a elaboração do programa setorial
isso Administração e Governo muitas vezes se confundem, e regional correspondente a seu Ministério e ao Ministro de
até mesmo como sinônimos. Na verdade, são criações abs- Estado, Chefe da Secretaria de Planejamento, auxiliar dire-
tratas da Constituição e das leis, sendo assim definidos pela tamente o Presidente da República na coordenação, revisão
doutrina (MEIRELLES, 2005): e consolidação dos programas setoriais e regionais e na
elaboração da programação geral do Governo. A aprovação
Governo É a expressão política de comando, de ini- dos planos gerais, setoriais e regionais é de competência do
ciativa, de fixação de objetivos, do Estado e Presidente da República.
da manutenção da ordem jurídica vigente. Na obra Direito Administrativo Brasileiro, Hely Lopes
Meirelles (2005) discorre acerca do assunto da seguinte
Administração É o instrumental de que dispõe o Estado maneira:
para pôr em prática as opções políticas
do governo. A finalidade precípua da Administração é a promoção
do bem‑estar social, que a Constituição traduz na ela-
O Governo ora se identifica com os Poderes e órgãos boração e execução de planos nacionais e regionais
supremos do Estado, ora se apresenta nas funções originárias de ordenação do território e de desenvolvimento
desses Poderes e órgãos como manifestação da soberania. econômico e social (art. 21, IX).
Já a Administração Pública atua por intermédio de suas Bem‑estar social é o bem comum da coletividade,
entidades (pessoas jurídicas), de seus órgãos (centros de
expresso na satisfação de suas necessidades funda-
competência/decisão) e de seus agentes (pessoas físicas
mentais. Desenvolvimento é prosperidade. Prospe-
investidas em cargos e funções), gerindo o Estado, com vistas
ridade econômica e social; prosperidade material e
na satisfação das necessidades coletivas.
espiri­tual; prosperidade individual e coletiva; prospe-
Para ficar mais fácil diferenciá‑los, observe o quadro e o
que eles abrangem em seus três sentidos. ridade do Estado e de seus membros; prosperidade
global, enfim. Diante dessa rea­lidade, podemos
conceituar o desenvolvimento nacional como o
GOVERNO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA permanente aprimoramento dos meios essenciais
Formal É o conjunto de É o conjunto de órgãos ins- à sobrevivência dos indivíduos e do Estado, visando
Poderes e órgãos tituídos para a consecução ao bem‑estar de todos e ao conforto de cada um na
constitucionais. dos objetivos do Governo. comunidade em que vivemos. Assim, o  desenvol-
Material É o conjunto de É o conjunto de funções/ vimento nacional é obtido pelo aperfeiçoamento
funções estatais atribuições, necessárias aos ininterrupto da ordem social, econômica e jurídica;
básicas. serviços públicos em geral, pela melhoria da educação; pelo aumento da riqueza
a serem desempenhadas pública e particular; pela preservação dos direitos
por órgãos ou entidades do e garantias individuais; pelo aprimoramento das
Estado. instituições; pela manutenção da ordem interna e
Operacional Governar é con- Administrar é desempenhar; pela afirmação da soberania nacional. Todavia, esses
duzir politicamen- regular, continua­m ente, objetivos não podem ser deixados ao acaso e, para
te os negócios e os  serviços do Estado em sua consecução, necessitam da tranquilidade que
serviços públicos. benefício da coletividade. advém da segurança interna e externa.
Planejamento é o estudo e estabelecimento das
Princípios Fundamentais da diretrizes e metas que deverão orientar a ação
Administração Pública Federal governamental, através de um plano geral de gover-
no, de programas globais, setoriais e regionais de
duração plurianual, do orçamento‑programa anual
O planejamento, a coordenação, a descentralização,
Noções de Direito Administrativo

a delegação de competência e o controle surgiram por e da programação financeira de desembolso, que


intermédio do Decreto‑Lei nº  200, de 25 de fevereiro de são seus instrumentos básicos. Na elaboração do
1967, como princípios fundamentais a serem obedecidos plano geral, bem como na coordenação, revisão e
pela Administração Pública Federal. consolidação dos programas setoriais e regionais,
De acordo com o saudoso administrativista Hely Lopes de competência dos Ministros de Estado nas res-
Meirelles (2005, p. 735), esses princípios foram criados com pectivas áreas de atuação, o Presidente da República
a preocupação maior de diminuir o tamanho da máquina é assessorado pelo Conselho de Governo. Toda a
estatal e simplificar os procedimentos administrativos e, atividade da Administração Federal deve ajustar‑se à
consequentemente, reduzir as despesas causadoras do de- programação aprovada pelo Presidente da República
ficit público. Como forma de obter esses fins, foram editados e ao orçamento‑programa, vedando‑se assunção de
decretos e leis, visando à extinção e privatização de órgãos compromissos financeiros em discordância com a
e de entidades da Administração Federal, instituindo nova programação financeira de desembolso.
sistemática monetária e tributária e reorganizando a Presi-
dência da República e os Ministérios. Seguem visão geral de • Coordenação. Como forma de harmonizar a execução
cada um e suas finalidades. dos planos e programas de Governo ao que foi planejado,
as atividades da Administração Federal serão submetidas à per- O princípio da descentralização, previsto no Estatuto da
manente coordenação. Quando órgãos estaduais e municipais Reforma Administrativa de 1967, foi tratado por Meirelles
exercerem atividades idênticas, os órgãos fe­derais buscarão com (2005) da seguinte forma:
eles coordenar‑se. Com a coordenação evita‑se desperdício de
esforços e de investimentos na mesma área geográfica. Descentralizar, em sentido comum, é afastar do
Segundo Meirelles (2005), o princípio da coordenação centro; descentralizar, em sentido jurídico‑adminis-
foi tratado da seguinte maneira: trativo, é atribuir a outrem poderes da Administração.
O detentor dos poderes da Administração é o Estado,
O princípio da coordenação visa entrosar as ativida- pessoa única, embora constituída dos vários órgãos
des da Administração, de modo a evitar a duplicidade que integram sua estrutura. Despersonalizados, es-
de atuação, a dispersão de recursos, a divergência ses órgãos não agem em nome próprio, mas no do
de soluções e outros males característicos da bu- Estado, de que são instrumentos indispensáveis ao
rocracia. Coordenar é, portanto, harmonizar todas exercício de suas funções e atividades típicas. A des-
as atividades da Administração, submetendo‑as ao centralização administrativa pressupõe, portanto,
que foi planejado e poupando‑a de desperdícios, em a existência de uma pessoa, distinta da do Estado,
qualquer de suas modalidades. a qual investida dos necessários poderes de admi-
De aplicação permanente, a coordenação impõe‑se a nistração, exercita atividade pública ou de utilidade
todos os níveis da Administração, através das chefias pública. O ente descentralizado age por outorga do
individuais, de reuniões de que participem as chefias serviço ou atividade, ou por delegação de sua exe-
subordinadas e de comissões de coordenação em cução, mas sempre em nome próprio.
cada nível administrativo. Na Administração superior Diversa da descentralização é a desconcentração
a coordenação é, agora, da competência da Casa administrativa, que significa repartição de funções
Civil da Presidência da República (art. 2º da Lei nº entre vários órgãos (despersonalizados) de uma
10.683/2003). A  assistência direta e imediata ao mesma Administração, sem quebra de hierarquia. Na
Presidente da República, especialmente na coorde- descentralização a execução de atividades ou a pres-
nação política e na condução do relacionamento do tação de serviços pelo Estado é indireta e mediata;
Governo com o Congresso Nacional e com os partidos na desconcentração é direta e imediata.
políticos, assim como na interlocução com os Estados, Feitas essas considerações, verifica‑se que o legislador
o Distrito Federal e os Municípios, passou a ser exerci- da Reforma Administrativa, após enquadrar na Admi-
da pela Secretaria de Coordenação Política e Assuntos nistração indireta alguns entes descentralizados, [...],
institucionais, conforme as alterações introduzidas na propõe, sob o nome genérico de descentralização,
Lei nº 10.683/2003 pela Lei nº 10.869/2004. tomando o termo na sua acepção vulgar, um amplo
Como corolário do princípio da coordenação, nenhum descongestionamento da Administração Federal, atra-
assunto poderá ser submetido à decisão presidencial vés da desconcentração administrativa, da delegação
ou de qualquer autoridade administrativa compe- de execução de serviço e da execução direta.
tente sem ter sido previamente coordenado, isto é, A desconcentração administrativa opera desde logo
sem ter passado pelo crivo de todos os setores nele pela distinção entre os níveis de direção e execução.
interessados, através de consultas e entendimentos No nível de direção situam‑se os serviços que, em
que propiciem soluções integrais e em sincronia com cada órgão da Administração, integram sua estrutura
a política geral e setorial do Governo. central de direção, competindo‑lhe primordialmente
A fim de evitar a duplicação de esforços e de inves- as atividades relacionadas com o planejamento, a su-
timentos na mesma área geográfica, admite‑se a pervisão, a coordenação e o controle, bem como o
coordenação até mesmo com órgãos da Adminis- estabelecimento de normas, critérios, programas e
tração estadual e municipal que exerçam atividades princípios a serem observados pelos órgãos enqua-
idênticas às dos federais, desde que seja inviável a drados no nível de execução. A esses últimos cabem
delegação de atribuições àqueles órgãos. Com isso, a tarefa de mera rotina, inclusive as de formalização
além de economizar recursos materiais e humanos, de atos administrativos e, em regra, de decisão de
faculta‑se aos Estados e Municípios a integração nos casos individuais, principalmente quando localizados
planos governamentais, deles haurindo benefícios na periferia da administração, e em maior contato
de interesse local. com os fatos e com os administrados.
Em outras disposições do Estatuto da Reforma A delegação da prestação de serviço público ou de
preveem‑se medidas especiais de coordenação utilidade pública pode ser feita a particular – pessoa
Noções de Direito Administrativo

nos campos da Ciência e da Tecnologia, da Política física ou jurídica  – que tenha condições para bem
Nacional de Saúde, do Abastecimento Nacional, dos realizá‑lo, sempre através de licitação, sob regime de
Transportes e das Comunicações, abrangendo as concessão ou permissão (CF, art. 175). Esses serviços
atividades de todos os interessados nesses setores, também podem ser executados por pessoa adminis-
inclusive particulares. trativa, mediante convênio ou consórcio (CF, art. 23,
parágrafo único). Os signatários dos convênios ficam
• Descentralização. Conforme disposição prevista no sujeitos ao poder normativo, fiscalizador e controla-
Decreto‑Lei nº 200/1967 (art. 10), a execução das atividades dor dos órgãos federais competentes, dependendo
da Administração Federal deverá ser amplamente descen- a liberação dos recursos do fiel cumprimento dos
tralizada. A descentralização será feita dentro dos quadros programas e das cláusulas do ajuste.
da própria Administração Federal (é o que chamamos de A execução indireta das obras e serviços da Adminis-
desconcentração); da Administração Federal para a das uni- tração, mediante contratos com particulares, pessoas
dades federadas, quando estejam devidamente aparelhadas físicas ou jurídicas, tem por finalidade aliviá‑la das
e mediante convênio; e, da Administração Federal para a tarefas executivas, garantindo, assim, a melhor reali-
órbita privada, mediante contratos ou concessões. zação das suas atividades específicas (planejamento,

12
coordenação, supervisão e controle), bem como • Controle. De acordo com o Decreto‑Lei nº  200/1967
evitar o desmesurado crescimento da máquina admi- (art. 13), o controle das atividades da Administração Fe­deral
nistrativa. É estimulante e aconselhada sempre que, deverá ser exercido em todos os níveis e em todos os órgãos
na área de atuação do órgão interessado, a iniciativa (exceto os meramente formais e aqueles cujo custo seja supe-
privada esteja suficientemente desenvolvida e capaci- rior ao risco), compreendendo particularmente: a) o controle,
tada para executar o objeto do contrato, precedido de pela chefia competente, da execução dos programas e da
licitação, salvo nos casos de dispensa previstos em lei observância das normas que governam a atividade específica
ou inexigibilidade por impossibilidade de competição do órgão controlado; b) o controle, pelos órgãos próprios de
entre contratantes (Lei nº 8.666/1993, arts. 24 a 26). cada sistema, da observância das normas gerais que regulam
o exercício das atividades auxiliares; c) o controle da aplicação
• Delegação de competência. De acordo com o Decre- dos dinheiros públicos e da guarda dos bens da União pelos
to‑Lei nº 200 (art. 11), a delegação de competência será uti- órgãos próprios do sistema de contabilidade e auditoria.
lizada como instrumento de descentralização administrativa, Para Meirelles (2005), o princípio do controle é analisado
com o objetivo de assegurar maior rapidez e objetividade da seguinte forma:
às decisões, situando‑as na proximidade dos fatos, pessoas
ou problemas a atender. O  Decreto nº  83.937/1979, por O controle das atividades administrativas no âmbito
sua vez, regulamentando o disposto no Decreto‑Lei nº 200, interno da administração é, ao lado do comando, da
estabelece que a delegação de competência tem por objetivo coordenação e da correção, um dos meios pelos quais
acelerar a decisão dos assuntos de interesse público ou da se exercita o poder hierárquico. Assim, o órgão supe-
própria Administração. Por meio da delegação a autoridade rior controla o inferior, fiscalizando o cumprimento da
delegante transfere atribuições a seus subordinados, median- lei e das instruções e a execução de suas atribuições,
te ato próprio indicando à autoridade delegada o objeto da bem como os atos e o rendimento de cada servidor.
delegação, e quando for o caso, o prazo de vigência, que, na Todavia, o princípio do controle estabelecido na lei da
omissão, ter‑se‑á por indeterminado. A Lei nº 9.784/1999, ao Reforma Administrativa tem significado mais amplo,
tratar da matéria, estabeleceu em seu artigo 13 os atos que uma vez que se constitui num dos três instrumentos
não são passíveis de delegação: a) a edição de atos de caráter da supervisão ministerial, a que estão sujeitos todos
normativo; b) a decisão de recursos administrativos; e c) as os órgãos da Administração Federal, inclusive os en-
matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. tes descentralizados, normalmente não submetidos
O princípio da delegação de competência foi tratado da ao poder hierárquico das autoridades da Administra-
seguinte forma por Meirelles (2005): ção direta. Esse controle, que, quanto às entidades
A delegação de competência que o Decreto‑Lei da Administração indireta, visa, em especial, à conse-
nº 200/1967 (arts. 11 e 12) considera princípio autô- cução de seus objetivos e à eficiência de sua gestão,
nomo, melhor se situaria como forma de aplicação do é exercido de vários modos, [...], podendo chegar até
“princípio da descentralização”, pois é também simples a intervenção, ou seja, ao controle total.
técnica de descongestionamento da Administração. No âmbito da Administração direta preveem‑se, es-
O art. 11 da Lei nº 9.784, de 29/1/1999, estabelece pecificamente, os controles de execução e observân-
que a competência é irrenunciável e se exerce pelos cia de normas específicas, de observância de normas
órgãos administrativos a que foi atribuída como genéricas e de aplicação dos dinheiros públicos e
própria, salvo os casos de delegação e avocação guarda e bens da União.
legalmente admitidos. Em cada órgão, o controle da execução dos programas
Pela delegação de competência, o Presidente da que lhe concernem e o da observância das normas que
República, os Ministros de Estado e, em geral, as au- disciplinam suas atividades específicas são feitos pela
toridades da Administração transferem atribuições chefia competente. Já, o controle do atendimento das
normas gerais reguladoras do exercício das atividades
decisórias a seus subordinados, mediante ato próprio
auxiliares, organizadas sob a forma de sistemas (pes-
que indique com a necessária clareza e conveniente
soal, orçamento, estatística, administração financeira,
precisão a autoridade delegante, a delegada e o objeto
contabilidade e auditoria e serviços gerais, além de ou-
da delegação. O princípio visa assegurar maior rapidez
tros, comuns a todos os órgãos da Administração, que,
e objetividade às decisões, situando‑as na proximidade
a juízo do Poder Exe­cutivo, necessitem de coordenação
dos fatos, pessoas ou problemas a atender.
central), é  realizado pelos órgãos de cada sistema.
Considerando que os agentes públicos devem exercer Finalmente, o  controle da aplicação dos dinheiros
pessoalmente suas atribuições, a delegação de com- públicos e da guarda dos bens da União compete ao
Noções de Direito Administrativo

petência depende de norma que a autorize, expressa órgão próprio do sistema de contabilidade e auditoria
ou implicitamente. As atribuições constitucionais do de cada Ministério.
Presidente da República, por exemplo, só podem ser Estabelecidas as formas de controle das atividades
delegadas nos casos expressamente previstos na administrativas devem ser suprimidos todos os
Constituição (art. 84, parágrafo único). controles meramente formais, como determina,
Observamos, finalmente, que só é delegável a compe- acertadamente, o  Decreto‑Lei nº  200/1967, que
tência para a prática de atos e decisões administrati- prevê também a supressão daqueles cujo custo seja
vas, não o sendo para o exercício de atos de natureza evidentemente superior ao risco decorrente da ine-
política como são a proposta orçamentária, a sanção xistência de controle específico.
e o veto. Também não se transfere por delegação o A Administração Federal é constituída na forma de
poder de tributar. [...]. Nesse sentido, o art. 13 da Lei uma pirâmide, cujos componentes são mantidos
nº 9.784/1999 estatui que não podem ser objeto de no devido lugar pelo poder hierárquico e em cujo
delegação a edição de atos de caráter normativo, ápice coloca‑se o Presidente da República, ficando
a decisão de recursos administrativos e as matérias logo abaixo os Ministros de Estado, seus auxiliares
de competência exclusiva do órgão ou autoridade. diretos. Assim, o Presidente da República é o Chefe

13
supremo, exercendo o poder hierárquico em toda a execução de determinado serviço público. Há delegação,
sua plenitude, por isso que o Estatuto da Reforma quando o Estado transfere, por contrato (concessão ou con-
lhe confere expressamente o poder de, por motivo sórcio público) ou ato unilateral (permissão ou autorização),
de relevante interesse público, avocar e decidir qual- unicamente a execução do serviço, para que o ente delegado
quer assunto na esfera da Administração Federal, o preste à coletividade, em nome próprio e por sua conta e
o que faz dele o controlador máximo das atividades risco, mas nas condições e sob o controle do Estado.
administrativas. Desconcentração – Na desconcentração temos uma
Os Ministros de Estado detêm o poder‑dever de distribuição de competências no âmbito interno da própria
supervisão sobre os órgãos da Administração direta entidade encarregada de executar um ou mais serviços.
ou indireta enquadrados em suas respectivas áreas Com os conceitos expostos, podemos traçar o seguinte
de competência. Consoante dispõe o art. 17 da Lei quadro:
nº 10.683/2003, compete à Controladoria‑Geral da
União assistir direta e imediatamente ao Presidente
da República, no desempenho de suas atribuições,
quanto aos assuntos e providências que, no âmbito
do Poder Executivo sejam atinentes à defesa do
patrimônio público, ao controle interno, à auditoria
pública, às  atividades de ouvidoria‑geral e ao in-
cremento da transparência da gestão no âmbito da
Administração Pública Federal.

O art.  17 da Lei nº  10.683/2003 foi alterado pela Lei


nº 11.204, de 2005, hoje tendo a seguinte redação: “A concentração, por outro lado, é uma técnica admi-
nistrativa que promove a extinção de órgãos públicos. Veja
Art.  17. À  Controladoria‑Geral da União compete o exemplo de Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino para
assistir direta e imediatamente ao Presidente da Repú- caracterizar a concentração administrativa: “Pessoa jurídica
blica no desempenho de suas atribuições quanto aos integrante da administração pública extingue órgãos antes
assuntos e providências que, no âmbito do Poder Exe- existentes em sua estrutura, reunindo em um número menor
cutivo, sejam atinentes à defesa do patrimônio público, de unidade as respectivas competências. Imagine-se, como
ao controle interno, à auditoria pública, à correição, exemplo, que a secretaria da fazenda de um município tivesse
à prevenção e ao combate à corrupção, às atividades em sua estrutura superintendências, delegacias, agências e
de ouvidoria e ao incremento da transparência da postos de atendimento, cada um desses órgãos incumbidos de
gestão no âmbito da Administração Pública Federal. desempenhar específicas competências da referida secretaria.
Caso a administração pública municipal decidisse, em face de
ORGANIZAÇÃO e ESTrUTURA DA restrições orçamentárias, extinguir os postos de atendimento,
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA atribuindo às agências as competências que aqueles exerciam,
teria ocorrido concentração administrativa. Importante res-
Noções Gerais saltar que tanto a concentração quanto a desconcentração
podem ser utilizadas na administração direta e indireta.
O Estado desenvolve suas atividades administrativas
por si mesmo, podendo transferi-las a particulares e tam- Administração Pública Desconcentrada
bém criar outras pessoas jurídicas, com personalidade ju- Centralizada Direta
rídica de direito público ou privado, para desempenhá-las.2
A expressão Administração Pública admite mais de um É o conjunto de órgãos que integram as pessoas federati-
sentido, agora vamos estudá‑la em seu sentido subjetivo, ou vas, aos quais foi atribuída a competência para o exercício, de
seja, os órgãos de que se vale o Estado para atingir os fins forma centralizada, das atividades administrativas do Estado.
desejados. Como o Estado atua por meio de órgãos, agentes Sua abrangência não se limita, somente, ao Executivo, ape-
e pessoas jurídicas, sua organização engloba três situações sar de ser o incumbido da função administrativa em geral,
fundamentais:
alcança também o Legislativo e o Judiciário, pois precisam
se organizar no desempenho de suas atividades típicas –
Centralização – Na centralização, o Estado executa suas
normativa e jurisdicional. É composta na esfera Federal pela
Noções de Direito Administrativo

tarefas diretamente por meio dos órgãos e agentes admi‑


Presidência da República e Ministérios. Na esfera Estadual,
nistrativos que compõem sua estrutura funcional.3
pelo princípio da simetria, temos a Governadoria do Esta-
A chamada centralização desconcentrada é a atribuição
do, os órgãos de Assessoria ao Governador e as Secretarias
administrativa cometida a uma única pessoa jurídica divi-
Estaduais com seus órgãos internos. E na esfera municipal,
dida internamente em diversos órgãos.4
temos as Prefeituras e seus órgãos de Assessoria ao Prefeito
Descentralização – Na descentralização, ele o faz indire‑
tamente por meio de outras pessoas jurídicas5. Pode ser por e as Secretarias Municipais com seus órgãos internos.
meio de outorga ou delegação. Há outorga quando o Estado
cria uma entidade e a ela transfere, por lei, a titularidade e Estruturação em Órgãos

Necessariamente, a Administração Pública centralizada


2
Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013.
3
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Adminis-
deve utilizar‑se de uma estrutura interna, em que se dividem
trativa/2013. atribuições e poderes, de modo a permitir a efetiva prestação
4
Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013. de serviços e a materialização de sua função. A tal estrutura
5
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Apoio
Especializado/2013. interna damos o nome de órgãos.

14
Conceito de Órgãos Públicos c) Quanto à Atuação Funcional

São centros de competência despersonificados, criados Singulares


por lei (art. 48, XI, da CF), instituídos para o desempenho São aqueles que atuam e decidem por meio de um único
de funções estatais, por meio de seus agentes, cuja atuação agente, que é seu chefe e representante. Pode ter vários
é imputada à pessoa jurídica a que pertencem (Teoria do auxiliares, mas só um representante. Ex.: Presidência da
órgão). República (Presidente), Governadorias dos Estados, Prefei-
A principal característica da teoria do órgão consiste no turas Municipais etc.
princípio da imputação volitiva, ou seja, a vontade do órgão
público é imputada à pessoa jurídica que eles integram, en- Colegiados
tretanto, quando se tratar da chamada função de fato, se a São todos aqueles que atuam e decidem pela manifes-
atividade provém de um órgão, é irrelevante que tenha sido tação conjunta e majoritária da vontade de seus membros.
praticado por um agente que não tenha competência, basta Ex.: Tribunal.
a aparência de investidura e o exercício pelo órgão para que
os efeitos da conduta sejam imputados à pessoa jurídica. Administração Pública Desconcentrada
Descentralizada Indireta
Classificação dos Órgãos Públicos
É o conjunto de entidades, criadas ou autorizadas por
a) Quanto à Posição Estatal lei, que, vinculadas à respectiva Administração Direta, têm
o objetivo de desempenhar as atividades administrativas de
Independentes forma descentralizada. Em regra, abrange o Poder Executivo
São os órgãos originários da Constituição, e represen- Federal, Estadual e Municipal. De acordo com o Decreto‑Lei
tativos dos Poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Ju- nº 200/1967, compreende as seguintes entidades: Autar-
diciário). Não possuem qualquer subordinação hierárquica quias, Fundações Públicas, Empresas Públicas e Sociedades
e seus agentes são denominados de Agentes Políticos. Ex.: de Economia Mista.
Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, Presidência
da República etc. Autarquias

Autônomos Conceito
São os órgãos localizados na cúpula da administração; As Autarquias são pessoas jurídicas de Direito Público,
tem autonomia administrativa, financeira e técnica. Carac- integrantes da Administração Indireta, criadas por lei7 para
desempenhar funções que, despidas de caráter econômico,
terizam‑se como órgãos diretivos, com funções precípuas de
sejam próprias e típicas do Estado.
planejamento, supervisão, coordenação e controle das ativi-
As autarquias, pessoas administrativas que gozam de
dades que constituem sua área de competência. Ex.: Minis-
liberdade administrativa nos limites da lei que as criou, só
térios, Secretarias de Estado, Advocacia Geral da União etc. podem ser extintas por lei.8
Superiores Objeto
São os que detêm poder de direção, controle, decisão e As Autarquias destinam‑se à execução de serviços pú-
comando de assuntos de sua competência específica, mas blicos de natureza administrativa. Por desempenharem ati-
sempre sujeitos à subordinação e ao controle hierárquico vidades típicas do Estado, a descentralização administrativa
de uma chefia mais alta. Não gozam de autonomia adminis‑ ocorre por meio de outorga.
trativa nem financeira6. Ex.: Gabinetes, Secretarias Gerais,
Coordenadorias, Departamentos etc. Autoadminis­tra­ção
As Autarquias não possuem autonomia política para
Subalternos criar suas próprias normas, elas possuem apenas autonomia
São órgãos subordinados hierarquicamente. Detêm reduzi- administrativa, ou seja, auto‑organização.9
do poder decisório, pois se destinam basicamente à realização
de serviços de rotina e tem predominantemente atribuições Controle
de execução. Ex.: Portarias e seções de expediente. Institucional: não há subordinação hierárquica da autar-
quia com o ente que a criou e sim vinculação, cabendo a este
b) Quanto à Estrutura apenas o controle finalístico (supervisão ministerial), que visa
Noções de Direito Administrativo

mantê‑la no estrito cumprimento de suas finalidades (tutela).


Simples Administrativo: controle interno ou autotutelar, ou seja,
São constituídos por um único centro de competência. poder de rever seus próprios atos.
O órgão simples constitui uma única unidade. Ex.: Portaria, Judicial: os atos praticados pelas Autarquias e por seus
Agência da Secretaria da Receita. agentes são considerados atos administrativos, portanto,
estão sujeitos ao controle pelo Poder Judiciário.
Financeiro: é feito pelo Congresso Nacional com auxílio
Compostos
do Tribunal de Contas da União (arts. 70 e 71 da CF).
São aqueles que reúnem, na sua estrutura, outros órgãos
menores, com função principal idêntica ou com funções
auxiliares diversificadas. Ex.: Secretaria de Educação (esco- 7
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-RS/Técnico Judiciário/Área Administra-
las – órgãos menores). tiva/Analista Judiciário/Área Administrativa/2010.
8
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto
– II/2010.
9
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Prefeitura Municipal de Boa
Vista-RR/Analista Municipal/Procurador Municipal/2010 e Fepese/Conselho Re-
Assunto cobrado na prova da Esaf/TSIET/DNIT/Estradas/2013.
6
gional de Contabilidade de Santa Catarina/Fiscal/Auxiliar Administrativo/2010.

15
Regime de Pessoal No Direito Administrativo brasileiro, diferentemente do
Em regra, é o estatutário, da Lei nº 8.112/1990. modelo norte‑americano, as agências reguladoras tiveram
forte e decisiva influência francesa e, consequentemente,
Patrimônio incorporaram as ideias de centralização administrativa e
As Autarquias possuem orçamento, patrimônio e receita forte hierarquia. No entanto, ao  adaptarmos as agências
próprios. reguladoras ao Direito Administrativo brasileiro, devemos
O patrimônio das autarquias é formado inicialmente a levar em conta as diferentes características decorrentes de
partir da transferência de bens móveis e imóveis do ente cada ordenamento jurídico.
federado que as criou.10
O patrimônio das autarquias goza dos mesmos privilé- Natureza
gios atribuídos aos bens públicos em geral, é imprescrití- No Brasil, as  agências reguladoras foram constituí­
vel, não podendo ser adquirido mediante usucapião, bem das como autarquias de regime especial integrantes da
como não pode ser objeto de penhora a fim de garantir a administração indireta, vinculadas (não é subordinada)
execução judicial.11 ao Ministério competente para tratar da respectiva ativi‑
dade13. O regime especial vem definido nas respectivas leis
Foro Competente instituidoras e diz respeito, em regra, à  maior autonomia
Nos litígios comuns, sendo autoras, rés, assistentes ou em relação à Administração Direta; à estabilidade de seus
opoentes, o foro competente é a justiça federal, conforme dirigentes, garantida pelo exercício de mandato fixo, que
determina o art. 109, I, da CF. eles somente podem perder nas hipóteses expressamente
prevista, afastada a possibilidade de exoneração ad nutum;
Responsabilidade Civil ao caráter final das suas decisões que, a princípio, não são
A Autarquia responde objetivamente pelos danos que passíveis de apreciação por outros órgãos ou entidades
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, asse- da Administração, exceto no que se refere à legalidade.14
gurado o direito de regresso contra o responsável nos casos Vistas por outro ângulo, foram criadas para realizar as tra-
de dolo ou culpa (art. 37, § 6º, CF). dicionais atribuições da Administração Direta, na qualidade
de Poder Público concedente, nas concessões, permissões
Privilégios e autorizações de serviços públicos. Derivam, pois da ideia
Imunidade tributária; prescrição quinquenal de suas de descentralização administrativa (art.  10, Decreto‑Lei
dívidas; prazo em quádruplo para contestar e em dobro para nº 200/1967) e têm como função a regulação das matérias
recorrer; impenhorabilidade e imprescritibilidade de bens; afetas a sua área de atuação e a permanente missão de fis-
não estão sujeitas à falência. calizar a eficiência na prestação dos serviços públicos pelos
concessionários, permissionários e autorizados.
Exemplos Ou, ainda, em sentido amplo, agência reguladora no
Bacen, INSS, CVM, Incra, Ibama, Detran. Direito brasileiro seria qualquer órgão da Administração
Direta ou entidade da Administração Indireta com a função
Obs.: Os Conselhos Profissionais, além de possuírem de regular matéria específica que lhe está afeta. Se for enti-
personalidade jurídica própria, são autarquias.12 dade da Administração indireta, está sujeita ao princípio da
especialidade, significando que cada qual exerce e é espe-
Agências Reguladoras cializada na matéria que lhe foi atribuída por lei. A regulação
As Agências Reguladoras surgiram na Inglaterra, a partir engloba toda forma de organização da atividade econômica
da criação pelo Parlamento, em 1834, de diversos órgãos pelo Estado, seja a intervenção por meio da concessão de
autônomos com a finalidade de aplicação e concretização serviço público, seja pelo exercício do poder de polícia, ou
dos textos legais (MORAES, 2002, p. 22). seja, o Estado está ordenando ou regulando a atividade eco-
Posteriormente, em virtude da influência do direito nômica tanto quando concede ao particular a prestação de
anglo‑saxão, os Estados Unidos criaram, em 1887, a Inters- serviços públicos e regula sua utilização – impondo preços,
tate Commerce Comission, órgão inicialmente destinado a quantidade produzida, qualidade – como quando edita regras
regular o transporte ferroviário. no exercício do poder de polícia administrativo.
As agências reguladoras, porém, só passaram a intervir Dentro dessa função regulatória, podemos considerar a
fortemente no Direito Administrativo norte‑americano após existência de dois tipos de agências reguladoras no direito
a grande depressão (1929). No ápice da crise, já em 1933, brasileiro:
o Presidente americano Franklin Delano Roosevelt aprovou • As que exercem, com base em lei, típico poder de po-
uma série de medidas político‑econômicas para restabelecer lícia, com a imposição de limitações administrativas,
a economia e assistir os prejudicados. Essas medidas ficaram
Noções de Direito Administrativo

previstas em lei, fiscalização, repressão; é o caso, por


conhecidas como New Deal (novo acordo). Como resultado exemplo, da Anvisa, ANS e ANA.
do New Deal, foram criadas, por meio de leis, várias agências • As que regulam e controlam atividades que constituem
federais destinadas a regular os vários setores da economia, objeto de concessão, permissão ou autorização de
cada qual com seus procedimentos decisórios. serviço público (teleco­municações, energia elétrica,
Diante disso, tornou‑se necessária a padronização desse transportes etc.) ou de concessão para exploração
sistema e, em 1946, foi editado o Administrative Procedure de bem público (petróleo e outras riquezas minerais,
Act (Lei de Procedimento Administrativo), estabelecendo‑se, rodovias etc.).
assim, procedimentos uniformes a serem adotados por todas
as agências, conferindo‑lhes maior legitimidade. As primeiras não são muito diferentes das autarquias
comuns que nós conhecemos, tais como o Banco Central,
10
Fepese/Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina/Fiscal/Auxiliar o  Cade, o  Conselho Monetário Nacional ou a Comissão
Administrativo/2010.
11
Fepese/Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina/Fiscal/Auxiliar 13
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto
Administrativo/2010. – II/2010.
12
Fepese/Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina/Fiscal/Auxiliar 14
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto
Administrativo/2010. – II/2010.

16
de Valores Mobiliários. Já as segundas é que constituem normatizações deverão ser operacionais, no sentido
novidade maior no Direito brasileiro, pelo papel que vêm de- de regular a própria atividade da agência por meio de
sempenhando, ao assumirem os poderes que, na concessão, normas de efeitos internos, e conceituar, interpretar ou
permissão ou autorização de serviços públicos, eram antes explicitar conceitos jurídicos indeterminados contidos
desempenhados pela própria Administração Pública Direta, na lei, sem inovar na ordem jurídica. Por conceito jurídi-
na qualidade de poder concedente. co indeterminado entende‑se aquele que permite mais
de uma interpretação, ou seja, mutável em função da
As primeiras agências valoração que se proceda diante dos pressupostos da
Em 1995, as Emendas Constitucionais nºs 8 e 9 previram norma; geralmente seu sentido necessita de definição
a criação de um órgão regulador para o setor de teleco- por órgão técnico especializado.
municações (art.  21, XI) e outro para o setor de petróleo O grau de autonomia da agência reguladora depende
(art. 177, § 2º, III), o que foi implementado pelas Leis nºs dos instrumentos específicos que a respectiva lei
9.472/1997 e 9.478/1997, as quais instituíram respectiva- instituidora estabeleça.15
mente a Agência Nacional de Telecomunicações  – Anatel • Operam como instância administrativa final nos litígios
e a Agência Nacional do Petróleo – ANP. Porém a primeira sobre matérias de sua competência. Isso significa que,
agência reguladora brasileira tem origem infraconstitucional. em princípio, não cabe recurso hierárquico de suas
Trata‑se da Agência Nacional de Energia Elétrica, instituída decisões, exceto quanto ao controle de legalidade.
pela Lei nº 9.427/1996. • Possuírem direção colegiada, sendo os membros no-
meados pelo Presidente da República, com aprovação
A desestatização do Estado do Senado Federal (Lei nº 9.986/2000, art. 5º).
Em 1997, foi instituído o Plano Nacional de desestati- • Seus dirigentes possuírem mandato com prazo de
zação (Lei nº 9.491), com o objetivo estratégico de, entre duração determinado (Lei nº 9.986/2000, art. 8º).
outros fins, reduzir o déficit público e sanear as finanças • Após cumprido o mandato, seus dirigentes ficarem im-
públicas, transferindo para a iniciativa privada atividades pedidos, por um prazo certo e determinado (quarente-
indevidamente exploradas pelo setor público e permitindo, na), de atuar no setor atribuído à agência, sob pena de
dessa forma, que a Administração Pública concentrasse seus incidirem em crime de advocacia administrativa, sem
esforços nas atividades em que a presença do Estado fosse prejuízo das demais sanções cabíveis, administrativas
fundamental para a consecução das prioridades nacionais. e civis (Lei nº 9.986/2000, art. 8º, § 4º).
Com o afastamento do Estado da execução dessas ati- • Especialização técnica: refere‑se à especialização de
vidades, seria necessário que se instituíssem mais órgãos cada agência em relação à sua atribuição técnica. Este
reguladores. A partir daí, diversos órgãos da mesma natureza grau de especialização técnica das agências, emprega-
foram criados por lei infraconstitucionais como é o caso da do em suas decisões, fundamenta não só a criação da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, instituída própria agência, como também boa parte do poder
pela Lei nº 9.782/1999. Em 2000, as Leis nºs 9.661 e 9.984 normativo a ela conferido. Na verdade, as  impede
instituíram respectivamente a Agência Nacional de Saúde de exercer atividades diversas daquelas para as quais
Suplementar – ANS e a Agência Nacional de Águas – ANA. Em foram instituídas.
2001, a Lei nº 10.233 criou a Agência Nacional de Transportes • Sujeição a controle ou tutela: como nas autarquias
Terrestres – ANTT e a Agência Nacional de Transportes Aquá- comuns, o controle feito pelo Ministério é um controle
ticos – Antaq. No mesmo ano, a Medida Provisória nº 2.281 finalistico (supervisão ministerial), que visa mantê‑la
criou a Agência Nacional do Cinema – Ancine. Em 2005, a Lei no estrito cumprimento de suas finalidades (tutela).
nº 11.182, criou a Agência Nacional de Aviação Civil – Anac.
É claro que sendo decorrentes de lei criadora, compatível
Características com o ordenamento constitucional, as prerrogativas e auto-
As agências reguladoras distinguem‑se das demais au- nomias podem variar de uma agência para outra. No entanto
tarquias porque suas leis instituidoras lhes outorgam certas as suas atribuições encontram certo consenso na doutrina.
prerrogativas que não são encontráveis na maioria das enti-
dades autárquicas comuns. Segundo alguns doutrinadores, Atribuições
suas características podem envolver: As atribuições das agências, no que diz respeito à conces-
• Serem criadas por lei; a criação por lei é exigência que são, permissão e autorização de serviço público resumem‑se
vem desde o Decreto‑Lei nº 6.016/1943, repetindo‑se ou deveriam resumir‑se às funções que o poder concedente
no Decreto‑Lei nº  200/1967 e agora constando na exerce nesses tipos de contratos ou atos de delegação, ou seja:
Constituição Federal, art. 37, XIX. • regulamentar os serviços que constituem objeto da
Noções de Direito Administrativo

• Serem dotadas de autonomia financeira, administrativa delegação;


e poderes normativos complementares à legislação • realizar o procedimento licitatório para escolha do
própria do setor. A autonomia financeira é assegurada concessionário/ permissionário;
pela disponibilidade de recursos humanos e infraes- • celebrar o contrato de concessão ou permissão ou
trutura material fixados em lei, além da previsão de praticar ato unilateral de outorga da autorização;
dotações consignadas no orçamento geral da União, • definir o valor da tarifa e da sua revisão ou reajuste;
créditos especiais, transferências e repasses que lhe • controlar a execução dos serviços;
forem conferidos. A autonomia administrativa significa • aplicar sanções;
que, dada a personalidade jurídica própria, a autarquia • encampar;
contrata e administra em seu próprio nome, contrai • decretar a caducidade;
obrigações e adquire direitos, mas dentro das regras do • intervir;
ordenamento vigente; como exemplo, seus servidores • fazer rescisão amigável;
devem ingressar no quadro funcional por meio de • fazer a reversão de bens ao término da concessão;
concurso público. Com relação aos poderes normati-
vos, não abrange o poder de regulamentar leis, suas Esaf/TSIET/DNIT/Estradas/2013.
15

17
• exercer o papel de ouvidor de denúncias e reclamações causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra
dos usuários. o responsável nos casos de dolo ou culpa (art. 37, § 6º, CF).

Enfim, exercer todas as prerrogativas que a lei outorga Privilégios


ao Poder Púbico na concessão, permissão e autorização. As Fundações Públicas gozam dos mesmos privilégios que
as Autarquias, ou seja, imunidade tributária, prazo em quá-
Regime de pessoal druplo para contestar e em dobro para recorrer, prescrição
O regime jurídico de pessoal é o da Lei nº 8.112/1990, quinquenal, seus bens são considerados bens públicos, não
assim determinado pela Lei nº  10.871/2004, que dispõe estão sujeitas à falência.
sobre a criação de carreiras e organização de cargos efe‑
tivos das autarquias especiais denominadas Agências Exemplos
Reguladoras.16 Ipea, IBGE, Fundação Nacional de Saúde, Funai, Enap,
Caje.
Fundações Públicas
Quadro Comparativo
Conceito
Com propriedade, Di Pietro (2008) define a Fundação
instituída (autorização legislativa) pelo Poder Público como: Autarquia Fundação Pública
Criada por lei específica. Autorizada por lei específica.
o patrimônio, total ou parcialmente público, dotado Pessoa Jurídica de Direito Pessoa Jurídica de Direito
de personalidade jurídica, de direito público ou Público (SEMPRE). Público ou Privado.
privado, e destinado, por lei, ao desempenho de Exerce atividades típicas Exerce atividades atípicas.
atividades do Estado na ordem social, com capaci- do Estado.
dade de autoadministração e mediante o controle da
Possui natureza adminis‑ Possui natureza social (educa-
Administração Pública, nos limites da lei. trativa. tiva, recreativa e assistencial).
Obs.: As autarquias e as fundações públicas não são
Objeto consideradas entidades políticas.17
As Fundações Públicas destinam‑se às atividades de cará-
ter social, tais como, assistência social, assistência médica e Empresa Pública
hospitalar, educação e ensino, pesquisa e atividades culturais.
Conceito
Autoadministração As Empresas Públicas são pessoas jurídicas de Direito
As Fundações Públicas também não possuem autonomia Privado, integrantes da Administração Indireta, criadas por
política para criar suas próprias normas, elas possuem apenas autorização legal18, sob qualquer forma (Ltda., S.A) e capital
autonomia administrativa, ou seja, auto‑organização. exclusivamente público para que o Governo exerça atividades
gerais ou prestação de serviços públicos.
Controle É admitida a participação de outras pessoas jurídicas de
Institucional: não há subordinação hierárquica da Direito Público Interno, bem como de entidades da Admi‑
Fundação Pública com o ente que a criou e sim vinculação, nistração Indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal
cabendo a este apenas o controle finalístico (supervisão e dos Municípios, desde que a maioria do capital votante
ministerial), que visa mantê‑la no estrito cumprimento de permaneça de propriedade da União (art. 5º, Decreto‑Lei
suas finalidades (tutela). nº 900/1969).19
Administrativo: controle interno ou autotutelar, ou seja, A pessoa jurídica de direito privado criada por autoriza-
poder de rever seus próprios atos. ção legislativa específica, com capital formado unicamente
Judicial: assim como nas Autar­quias, as Fundações Pú- por recursos de pessoas de direito público interno ou de
blicas, também, sofrem o controle de legalidade feito pelo pessoas de suas administrações indiretas, para realizar
Poder Judiciário. atividades econômicas ou serviços públicos de interesse
Financeiro: é feito pelo Congresso Nacional com auxílio da administração instituidora, nos moldes da iniciativa
do Tribunal de Contas da União (arts. 70 e 71 da CF). particular, é denominada empresa pública.20
Obs.: O MP é curador das Fundações.
Objeto
Regime de Pessoal As Empresas Públicas têm por objeto o desempenho
Noções de Direito Administrativo

Em regra, é o estatutário, da Lei nº 8.112/1990. de atividades de caráter econômico ou de prestação de


serviços públicos.
Patrimônio
As Fundações Públicas possuem orçamento, patrimônio Subsidiárias
e receita próprios. A lei que autorizou a criação da Empresa Pública pode
prever, desde logo, a possibilidade de posterior instituição
Foro Competen­te de subsidiárias. Caso contrário, será necessária nova lei au-
O foro competente, assim como nas Autarquias, é a torizando sua criação (art. 37, XX, CF). As subsidiárias serão
Justiça Federal. instituídas com o objetivo de se dedicar a um dos seguimen-
Responsabilidade Civil
As Fundações Públicas, também, respondem objeti-
17
Assunto cobrado na prova do Cespe/TCU/AUFC/2010.
18
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área
vamente pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, Judiciária/Analista Judiciário/Área Judiciária/Execução de Mandatos/2010.
19
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto
16
Judiciária/Analista Judiciário/Área Judiciária/Execução de Mandatos/2010.
– II/2010. 20
Cespe/Seger-ES/Direito/2013.

18
tos da entidade primária, sendo a subsidiária controlada pela âmbito da Administração direta, consistente nos serviços de
primária, e ambas pelo Estado. ampliação e manutenção de hidrovia estadual, em face da
especialidade de tais serviços. Estudos realizados indicaram
Controle que será possível a cobrança de outorga pela concessão, a
Institucional: as empresas públicas não possuem subor- particulares, do uso de portos fluviais que serão instalados
dinação hierárquica com o ente que as criou e sim vinculação, na referida hidrovia, recursos esses que serão destinados
cabendo a este apenas o controle finalístico (supervisão a garantir a autossuficiência financeira da entidade a ser
ministerial), que visa mantê‑la no estrito cumprimento de criada. Considerando os objetivos almejados, poderá ser
suas finalidades (tutela). instituída sociedade de economia mista, caracterizada
Administrativo: controle interno ou autotutelar, ou seja, como pessoa jurídica de direito privado, submetida aos
poder de rever seus próprios atos. princípios aplicáveis à Administração pública, e cuja criação
Judicial: as empresas públicas sofrem o controle de é autorizada por lei.23
legalidade feito pelo Poder Judiciário. Em face de convênio de delegação celebrado com a
Financeiro: é feito pelo Congresso Nacional com auxílio União, o Estado obrigou-se a constituir entidade integrante
do Tribunal de Contas da União (arts. 70 e 71 da CF). de sua Administração indireta para atuar como delegatária
de serviço público federal, tendo por objeto a exploração
Regime de Pessoal comercial do Porto de São Sebastião. Optou pela criação de
Submetem‑se ao regime trabalhista comum, previsto no uma sociedade de economia mista. Essa opção afigura-se
Decreto nº 5.452/1943 (Consolidação das Leis do Trabalho). correta, salvo se a delegação envolver, também, exercício
de poder normativo e sancionador, que não se coaduna com
Patrimônio o regime de direito privado da entidade.24
As empresas públicas possuem orçamento, patrimônio
e receita próprios. Objeto
As Sociedades de Economia Mista têm por objeto o
Foro Competente desempenho de atividades de caráter econômico ou a pres-
tação de serviços, assim como as Empresas Públicas.
O juízo competente nos litígios comuns é a Justiça Fe­
deral, conforme determina o art. 109, I, da CF.
Capital Social
O Capital social das Sociedades de Economia Mista é
Responsabilidade Civil
formado pela composição de recursos públicos e privados,
As empresas públicas que exercem atividade econômica
sendo que o controle acionário pertence ao Poder Público,
estão isentas da responsabilidade civil decorrente do art. 37, independentemente de serem exploradoras de atividades
§ 6º, da CF. Dessa forma, os prejuízos que seus empregados econômicas ou prestadoras de serviços públicos.
causarem a terceiros deverão ser tratados pelo Código Civil.
Se forem prestadoras de serviços públicos, responderão Controle
objetivamente por tais prejuízos. Institucional: as Sociedades de Economia Mista não
possuem subordinação hierárquica com o ente que as criou
Privilégios e sim vinculação, cabendo a este apenas o controle finalís-
As Empresas Públicas exploradoras de atividade econô- tico (supervisão ministerial), que visa mantê‑la no estrito
mica não dispõem de qualquer privilégio fiscal não extensivo cumprimento de suas finalidades (tutela).
ao setor privado (art. 173, § 2º, da CF). Administrativo: controle interno ou autotutelar, ou seja,
poder de rever seus próprios atos.
Exemplos Judicial: as Sociedades de Economia Mista sofrem o
ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos); CEF controle de legalidade feito pelo Poder Judiciário.
(Caixa Econômica Federal); Embrapa (Empresa Brasileira de Financeiro: é feito pelo Congresso Nacional com auxílio
Pesquisa Agropecuária); Emater‑DF (Empresa de e Extensão do Tribunal de Contas da União (arts. 70 e 71 da CF).
Rural do Distrito Federal); Caesb (Companhia de Saneamento
Ambiental do Distrito Federal). Regime de Pessoal
Submetem‑se ao regime trabalhista comum, previsto no
Sociedade de Economia Mista Decreto nº 5.452/1943 (Consolidação das Leis do Trabalho).

Conceito Subsidiárias
Sociedades de Economia Mista são pessoas jurídicas de A lei que autorizou a criação da Sociedade de Economia
Noções de Direito Administrativo

Direito Privado, integrantes da Administração Indireta21, Mista, também, pode prever desde logo a possibilidade de
criadas por autorização legal22, sob a forma de Sociedades posterior instituição de subsidiárias.
Anônimas, cujo controle acionário pertença ao Poder Público,
tendo por objetivo, como regra, a exploração de atividades Patrimônio
de caráter econômico ou a prestação de serviços públicos, As Sociedades de Economia Mista possuem orçamento,
não exclusivos do Estado. patrimônio e receita próprios.
Após a autorização de sua criação, promoverão a apro- Respeitados os requisitos e trâmites legais, é possível
vação de seu estatuto, e o respectivo Registro, observando ao Estado-membro desapropriar, mediante prévia e justa
o que determina a Lei das Sociedades por Ações. indenização em dinheiro, imóvel não utilizado pertencente
A título de exemplo, o Estado pretende descentralizar a sociedade de economia mista federal exploradora de
a execução de atividade atualmente desempenhada no atividade econômica em sentido estrito.25

21
Assunto cobrado na prova do Cespe/CNJ/Técnico Judiciário/Área Administra- 23
FCC/AFR SP/Sefaz SP/Gestão Tributária/2013.
tiva/2013. 24
FCC/TCE-SP/Auditor/2013.
22
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área 25
FCC/Procuradoria Geral do Estado do Amazonas/Procurador do Estado de 3ª
Judiciária/Analista Judiciário/Área Judiciária/Execução de Mandatos/2010. Classe/2010.

19
Foro Competente em sentido estrito estabelece que a remuneração de seus
O juízo competente nos litígios comuns é a Justiça Estadual. agentes não está sujeita ao teto constitucional, a menos que
a entidade receba recursos orçamentários para pagamento
Súmula nº 517/STF: As Sociedades de Economia de despesa de pessoal ou de custeio em geral.30
Mista só têm foro na justiça federal, quando a União Nas empresas públicas e sociedades de economia mista,
intervém como assistente ou opoente.26 os servidores ocupam empregos públicos, ao passo que,
na administração direta, há servidores titulares de cargos
Súmula nº 556/STF: É competente a justiça comum efetivos e ocupantes de empregos públicos.31
para julgar as causas em que é parte Sociedade de
Economia Mista. Agências Executivas
As Agências Executivas, diferentemente das Agências
Responsabilidade Civil Reguladoras, não têm por objetivo a regulamentação,
As Sociedades de Economia Mista que exercem atividade controle e fiscalização, mas sim a execução de atividades
econômica, também, estão isentas da responsabilidade civil administrativas.
decorrente do art. 37, § 6º, da CF. Dessa forma, os prejuízos É apenas um qualificativo atribuído às autarquias e às
que seus empregados causarem a terceiros deverão ser fundações da Administração Pública Federal, por iniciativa
tratados pelo Código Civil. do Ministério supervisor ao qual está vinculada, que tive‑
Se forem prestadoras de serviços públicos, responderão rem com ele celebrado contrato de gestão e possuam plano
objetivamente por tais prejuízos.
estratégico de reestruturação e desenvolvimento institucional
Privilégios voltado para a melhoria da qualidade de sua gestão e para
As Sociedades de Economia Mista exploradoras de ativi- a redução de custos (art. 51 da Lei nº 9.649/1998).32
dade econômica não dispõem de qualquer privilégio fiscal O termo contrato de gestão tem sido utilizado tanto para
não extensivo ao setor privado (art. 173, § 2º, da CF). designar acordos celebrados entre entidades públicas, como
Exemplos entidades privadas que atuam paralelamente ao Estado, mais
Banco do Brasil; Banco da Amazônia; Petrobras; Banco especificamente às organizações sociais.
de Brasília. No âmbito da Administração Pública Federal foi criado
como uma das formas de materializar o princípio constitucio-
Quadro Comparativo27 nal da eficiência (art. 37, § 8º, da CF), garantindo a amplia-
Empresa Pública Sociedade de ção da autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos
Economia Mista órgãos e entidades da Administração direta e indireta. Seu
Pessoa jurídica de direito Pessoa jurídica de direito pri‑ objeto é a fixação de metas de desem­penho para os órgãos
privado.85 vado. e entidades. Nela, devem estar previstos, além das metas
Formação do capital social: Formação do capital social: a serem alcançadas, mecanismos de controle e critérios de
100% patrimônio público. capital social dividido entre o avaliação (controle de resultados), o prazo de sua duração,
poder público e particula­res remuneração do pessoal, bem como direitos, obrigações e
(privado); com maioria do ca- responsabilidades dos administradores.
pital votante (ações ordinárias) No âmbito da Administração indireta ressalte-se que as
em poder do Estado. autarquias e fundações que tenham um plano estratégico
Forma de constituição: qual- Forma de constituição: somen‑ de reestruturação e de desenvolvimento institucional em
quer forma. te S/A (Sociedade Anônima).86 andamento e que celebrem contrato de gestão com o respec-
Tem seus feitos (processos) Tem seus feitos (processos) tivo Ministério supervisor, serão qualificadas como Agências
julgados pela Justiça Federal julgados pela Justiça Esta­dual, Executivas (art. 51 da Lei nº 9.649/1998).
(exceto trabalhistas / elei- mesmo se forem federais. Fora do âmbito da Administração indireta, os contratos
torais), no caso de Empresa
de gestão estão previstos como modalidade de ajuste a ser
Pública Federal.
celebrado com instituições não governamentais passíveis de
Bens não podem ser penho- Bens podem ser penhorados
rados, se forem prestadoras ou executados (até o limite do
serem qualificadas pelo Poder Executivo como Organizações
de serviços públicos. particular). Sociais, para fins de fomento. As Organizações Sociais são
Prestação de serviços públi- Exploração de atividade econô- necessariamente pessoas jurídicas de direito privado, sem
cos ou atividades econômicas mica de utilidade pública. finalidade lucrativa, cujas atividades estão dirigidas ao ensi-
de interesse do Estado, ou no, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico,
consideradas como conve- à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à
nientes à coletividade. saúde, atendidos aos requisitos previstos no art. 2º da Lei
28
Noções de Direito Administrativo

nº 9.637/1998.
Obs.: O pessoal das empresas públicas e das sociedades
de economia mista são considerados agentes públicos, ENTIDADES POLÍTICAS E ADMINISTRATIVAS
para os fins de incidência das sanções previstas na Lei de
Improbidade Administrativa.29 Entidade é pessoa jurídica, pública ou privada; órgão é
elemento despersonalizado incumbido da realização das ativi-
O regime jurídico das empresas públicas e sociedades dades da entidade a que pertence, por meio de seus agentes.
de economia mista que desempenham atividade econômica Na organização política e administrativa brasileira, as en-
26
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho
tidades classificam-se em estatais, autárquicas, fundacionais,
Substituto – II/2010 e FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/ empresariais e paraestatais.
Analista Judiciário/Área Judiciária/Execução de Mandatos/2010.
27
Assunto cobrado na prova do Cespe/CNJ/Analista Judiciário/Área Administra-
tiva/2013. 30
FCC/Procuradoria Geral do Estado do Amazonas/Procurador do Estado de 3ª
28
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Apoio Classe/2010.
Especializado/2013. 31
Cespe/AE ES/Seger-ES/Direito/2013.
29
FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/Analista Judiciário/Área 32
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto
Judiciária/Execução de Mandatos/2010. – II/2010.

20
Entidades Estatais: são as pessoas jurídicas de direito Organizações Sociais35
público que integram a estrutura constitucional do Estado e
têm poderes políticos e administrativos, tais como a União, Após o Plano de desestatização do Estado em 1997,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Destas, a única o Governo, com a necessidade de ampliar a descentraliza-
soberana é a União, as demais têm apenas autonomia polí- ção de serviços públicos, instituiu o Programa Nacional de
tica, administrativa e financeira. Publicização – PNP (Lei nº 9.637/1998), por meio do qual o
Entidades Autárquicas: são pessoas jurídicas de Direito Poder Executivo poderia qualificar como organização social
Público, de natureza meramente administrativa, criadas pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas
por lei específica, para a realização de atividades, obras ou atividades fossem dirigidas ao ensino, à pesquisa científica,
serviços descentralizados da entidade estatal que as criou. ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação
Funcionam e operam na forma estabelecida na lei instituido- do meio ambiente, à cultura e à saúde.
ra e nos termos de seu regulamento. Podem desempenhar A parceria é concretizada por meio de um contrato
atividades econômicas, educacionais, previdenciárias e de gestão, no qual constam discriminadas as atribuições,
quaisquer outras outorgadas pela entidade estatal-matriz, responsabilidades e obrigações do Poder Público e da orga-
mas sem a subordinação hierárquica, sujeitas apenas ao nização social, bem como os incentivos que essas pessoas
controle finalístico de sua administração (conhecido como receberão do Estado para sua execução (recursos orça-
supervisão ministerial) e da conduta de seus dirigentes. Na mentários e bens públicos necessários ao cumprimento do
verdade, a autarquia é o próprio braço do Estado apesar de contrato de gestão).
pertencente à administração indireta. Na hipótese de decretação de indisponibilidade de bens
Entidades Fundacionais: são pessoas jurídicas de Direito das Organizações Sociais ou de sequestro de bens dos diri-
Público ou pessoas jurídicas de Direito Privado, devendo a lei gentes, o poder público será o depositário e gestor desses
definir as respectivas áreas de atuação, conforme disposto bens até o término da ação.36
no art. 37, inciso XIX, da Constituição Federal.
Serviços Sociais Autônomos
Art. 37, inciso XIX: somente por lei específica poderá
ser criada autarquia e autorizada a instituição de São todos aqueles instituídos por lei com personalidade
empresa pública, de sociedade de economia mista jurídica de direito privado (possuem CNPJ), para ministrar
e de fundação, cabendo à lei complementar, neste assistência ou ensino a certas categorias sociais ou grupos
último caso, definir as áreas de sua atuação; profissionais, e que não tenham finalidade lucrativa; atuam
ao lado do Estado em caráter de cooperação, sendo mantidos
Entidades Empresariais: são pessoas jurídicas de Direito por dotações orçamentárias ou por contribuições parafiscais.
Privado, instituídas sob a forma de sociedade de economia Exemplos: constituem basicamente o sistema S – Sesi,
mista ou empresa pública, com a finalidade de prestar serviço Sesc, Senai, Senac, Sebrae.
público que possa ser explorado no modelo empresarial,
ou de exercer atividade econômica de relevante interesse Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público37
coletivo. Sua criação deve ser autorizada por lei específica,
cabendo ao Poder Executivo as providências complementa-
É outro qualificativo atribuído às pessoas jurídicas de
res para sua instituição.
direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais
Entidades Paraestatais: são pessoas jurídicas de Direito
tenham pelo menos uma das seguintes finalidades: promoção
Privado que, por lei, são autorizadas a prestar serviços ou
da assistência social; promoção da cultura, defesa e conser-
realizar atividades de interesse coletivo ou público, mas não
vação do patrimônio histórico e artístico; promoção gratuita
exclusivos do Estado. As entidades paraestatais são autôno-
mas, administrativa e financeiramente, têm patrimônio e da educação; promoção gratuita da saúde; promoção da
operam em regime da iniciativa particular, na forma de seus segurança alimentar e nutricional38; defesa, preservação e
estatutos, ficando sujeitas apenas à supervisão do órgão da conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvi-
entidade estatal a que se encontrem vinculadas, para o con- mento sustentável; promoção do voluntariado; promoção do
trole de desempenho estatuário. São também denominadas desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;
de “entes de cooperação” com o Estado. São espécies de experimentação, não lucrativa, de novos modelos sociopro-
entidades paraestatais os serviços sociais autônomos (Sesc, dutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio,
Sesi, Senai, Sebrae entre outros), as organizações sociais e as emprego e crédito; promoção de direitos estabelecidos,
Oscips (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de
interesse suplementar; promoção da ética, da paz, da cidada-
Entidades Paraestatais (Terceiro Setor) nia, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores
Noções de Direito Administrativo

universais; estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecno-


Integram o terceiro setor as pessoas jurídicas de direito logias alternativas, produção e divulgação de informações e
privado, sem fins lucrativos, que exercem atividades de conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às
interesse público, não exclusivas de Estado, recebendo atividades mencionadas acima (art. 3º da Lei nº 9.790/1999).
fomento do Poder Público.33 Para serem consideradas OSs ou OSCIPs, as instituições
O terceiro setor coexiste com o primeiro setor, que é o não devem ter fins lucrativos, ou seja, não podem distribuir
próprio Estado e com o segundo setor, que é o mercado.34 entre os seus sócios, conselheiros, diretores, empregados ou
É composto por particulares, portanto, pessoa jurídica doadores, eventuais excedentes operacionais, dividendos,
de direito privado, que não integram a estrutura da Admi- bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio,
nistração Pública, mas que com ela mantém, por razões auferidos mediante o exercício de suas atividades, os quais
diversas e por meio de formas diferenciadas, parcerias com
o intuito de preservar o interesse público. São exemplos de 35
Assunto cobrado na prova da Esaf/AIET/DNIT/Ambiental/2013.
entidades paraestatais: 36
Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/Analista de Promotoria I/
Assistente Jurídico/2010.
37
Assunto cobrado na prova da Esaf/AIET/DNIT/Ambiental/2013.
Esaf/AIET/DNIT/Ambiental/2013.
33 38
Vunesp/Ministério Público do Estado de São Paulo/Analista de Promotoria I/
Esaf/AIET/DNIT/Ambiental/2013.
34
Assistente Jurídico/2010.

21
devem ser aplicados integralmente na consecução de seu Ao Governador incumbem as atribuições previstas no
objeto social.39 art. 100 da Lei Orgânica do Distrito Federal:
Diferentemente das organizações sociais, a parceria é
firmada por meio de termo de parceria, no qual deverão Art. 100. Compete privativamente ao Governador do
estar formalizados, de modo detalhado, os direitos e as Distrito Federal:
obrigações dos pactuantes. I – representar o Distrito Federal perante o Governo
da União e das Unidades da Federação, bem como
Súmulas Aplicáveis em suas relações jurídicas, políticas, sociais e admi-
nistrativas;
Súmula nº 516/STF: “O Serviço Social da Indústria – Sesi – II – nomear, observado o disposto no caput do art.
está sujeito à jurisdição da Justiça Estadual”. 244 e em seu parágrafo único, os membros do Con-
Súmula nº 517/STF: “As Sociedades de Economia Mista selho de Educação do Distrito Federal;
só têm foro na justiça federal, quando a União intervém como III – nomear e exonerar Secretários de Estado;
assistente ou opoente”. IV – exercer, com auxílio dos Secretários de Estado, a
Súmula nº 556/STF: “é competente a justiça comum direção superior da administração do Distrito Federal;
para julgar as causas em que é parte Sociedade de Economia V – exercer o comando superior da Polícia Militar e
Mista.” do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal,
e promover seus oficiais;
DA ADMINISTRAÇÃO DO DISTRITO VI – iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos
previstos nesta Lei Orgânica;
FEDERAL VII – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis,
bem como expedir decretos e regulamentos para sua
O Distrito Federal, localizado no Planalto central do País, é fiel execução;
a Capital da República (art. 18, § 1º, da CF). Nele foi construída VIII – nomear, na forma da lei, os Comandantes-
a região administrativa de Brasília, concebida, planejada e exe- -Gerais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros
cutada especialmente para a sede política e administrativa do Militar, bem como o Diretor da Polícia Civil;
Governo da União, como previam as Constituições anteriores IX – vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
e ficou assentado na de 1946 (art. 4º de seu ADCT). A nova X – dispor sobre a organização e o funcionamento
Capital foi instalada em 21 de abril de 1960, com a organiza- da administração do Distrito Federal, na forma desta
ção administrativa que lhe dera a Lei Federal n° 3.751, de 13 Lei Orgânica;
de abril do mesmo mês e ano, alterada pela Lei nº 4.545, de XI – remeter mensagem à Câmara Legislativa por
10/12/1964, que reestruturou sua administração. ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo
Com a atual organização político-administrativa, o Dis- a situação do Distrito Federal e indicando as provi-
trito Federal é um ente anômalo, pois se rege por Lei Orgâ- dências que julgar necessárias;
nica, e não Constituição Estadual como os demais Estados, XII – nomear os Conselheiros do Tribunal de Contas
porém não tem Prefeito, e sim Governador, assim como o do Distrito Federal, após a aprovação pela Câmara
é nos Estados. Daí ter competências legislativas de Estado Legislativa, observado o disposto no art. 82, §§ 1º e
e de Município. É entidade estatal, portanto, e não apenas 2º e seus incisos;
autarquia territorial, como são os Territórios Federais. A sua XIII – nomear e destituir o Procurador-Geral do Dis-
condição de pessoa estatal emana da própria Constituição trito Federal, na forma da lei;
da República (art. 18), que lhe permite o uso de símbolos XIV – nomear os membros do Conselho de Governo,
próprios (art. 13, § 2º, da CF). a que se refere o art. 108;
Sobre sua organização político-administrativa, a Consti- XV – nomear e destituir presidente de instituições
tuição estabelece que: financeiras controladas pelo Distrito Federal, após
a aprovação pela Câmara Legislativa, na forma do
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em art. 60, XXXV;
Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em XVI – enviar à Câmara Legislativa projetos de lei rela-
dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e tivos a plano plurianual, diretrizes orçamentárias, or-
aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que çamento anual, dívida pública e operações de crédito;
a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos XVII – prestar anualmente à Câmara Legislativa, no
nesta Constituição. prazo de sessenta dias após a abertura da sessão le-
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competên- gislativa, as contas referentes ao exercício anterior;
cias legislativas reservadas aos Estados e Municípios.
Noções de Direito Administrativo

XVIII – prover e extinguir os cargos públicos do Dis-


2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, trito Federal, na forma da lei;
observadas as regras do art. 77, e dos Deputados XIX – nomear e destituir diretores de sociedades de
Distritais coincidirá com a dos Governadores e De- economia mista, empresas públicas e fundações man-
putados Estaduais, para mandato de igual duração. tidas pelo Poder Público;
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa XX – subscrever ou adquirir ações, realizar ou aumen-
aplica-se o disposto no art. 27. tar capital, desde que haja recursos disponíveis, de
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Go- sociedade de economia mista ou de empresa públi-
verno do Distrito Federal, das polícias civil e militar ca, bem como dispor, a qualquer título, no todo ou
e do corpo de bombeiros militar. em parte, de ações ou capital que tenham subscrito,
adquirido, realizado ou aumentado, mediante auto-
Para fins administrativos, o Distrito Federal foi dividido rização da Câmara Legislativa;
em regiões administrativas (RA). Atualmente, temos um total XXI – delegar, por decreto, a qualquer autoridade do
de 31. Brasília é a Região Administrativa nº I (RA I). Executivo atribuições administrativas que não sejam
Cespe/JF TRF5/TRF 5/2013.
39 de sua exclusiva competência;

22
XXII – solicitar intervenção federal na forma estabe- AGENTES PÚBLICOS
lecida pela Constituição da República;
XXIII – celebrar ou autorizar convênios, ajustes ou A doutrina cita vários conceitos de agentes públicos. Ve-
acordos com entidades públicas ou particulares, na jamos:
forma da legislação em vigor;
XXIV – realizar operações de crédito autorizadas pela
“É todo aquele que colabora com o Estado na conse-
Câmara Legislativa;
XXV – decretar situação de emergência e estado de cução dos interesses coletivos. Os agentes desempe-
calamidade pública no Distrito Federal; nham as funções dos órgãos a que estão vinculados.”
XXVI – praticar os demais atos de administração, nos “É toda pessoa física vinculada, definitiva ou transi-
limites da competência do Poder Executivo; toriamente, ao exercício de função pública (encargos
XXVII – nomear e destituir o Defensor Público-Geral ou atribuições).”
do Distrito Federal, na forma da lei. “São todos aqueles que, a qualquer título, executam
uma função pública como preposto do Estado.”
Sua gestão é fiscalizada pelo Senado Federal com o auxílio “São todas as pessoas físicas incumbidas de exercer
do Tribunal de Contas local na parte financeira (CF, art. 52, alguma função estatal, definitiva ou transitoriamente.”
V, VI, VII e IX).
A Lei de Improbidade Administrativa trouxe um conceito
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: amplo de agente público:
[...]
V – autorizar operações externas de natureza finan-
Art. 2º Reputa-se agente público todo aquele que exerce,
ceira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios; ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por
VI – fixar, por proposta do Presidente da República, eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
limites globais para o montante da dívida consolida- outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
da da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos emprego ou função na Administração Direta, Indireta
Municípios; ou Fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos
VII – dispor sobre limites globais e condições para Estados, do Distrito Federal, de Território, de empresa
as operações de crédito externo e interno da União, incorporada ao patrimônio público ou em entidade para
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou con-
suas autarquias e demais entidades controladas pelo corra com mais de cinquenta por cento do patrimônio
Poder Público federal; ou da receita anual.
[...]
IX – estabelecer limites globais e condições para o Analisando os conceitos acima, vê-se que agente público
montante da dívida mobiliária dos Estados, do Dis- é considerado um gênero, do qual são espécies os Agentes
trito Federal e dos Municípios;
Políticos e os Agentes Administrativos. A doutrina também
O Poder Judiciário do Distrito Federal é mantido pela classifica como agente público os particulares que atuam
União. As áreas de saúde, educação e segurança pública (Polí- em colaboração com o Poder Público. São eles: os agentes
cias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros Militar) também é honoríficos, delegados e credenciados
mantida pela União por meio de fundo constitucional (Lei nº
10.633/2002), conforme disposto no art. 21, incisos XIII e XIV: Agentes Políticos
Art. 21. Compete à União: De acordo com a doutrina, consideram-se agentes políti-
[...] cos os componentes do Governo nos seus primeiros escalões.
XIII – organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministé- Os agentes políticos exercem atribuições constitucionais,
rio Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal podendo ser eleitos, nomeados ou designados. Os agentes
e dos Territórios;
políticos ocupam os cargos dos órgãos independentes (que
XIV – organizar e manter a polícia civil, a polícia militar
e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, representam os poderes do Estado) e dos órgãos autônomos
bem como prestar assistência financeira ao Distrito (que são os auxiliares imediatos dos órgãos independentes).
Federal para a execução de serviços públicos, por Ex.: Presidente da República, Ministros, Secretários de Esta-
meio de fundo próprio; do, Senadores, Governadores, Deputados, Prefeitos, Juízes,
membros do Ministério Público, membros dos Tribunais de
Noções de Direito Administrativo

O Poder Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa, Contas etc.


hoje composta por 24 deputados distritais eleitos para man-
dato de quatro anos, conforme determinação prevista no art. Agentes Administrativos
27 da Constituição Federal, que assim dispõe:
Agentes administrativos são os agentes públicos que
Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Le- se vinculam à Administração Pública direta ou indireta por
gislativa corresponderá ao triplo da representação
relações profissionais. Sujeitam-se à hierarquia funcional.
do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o
número de trinta e seis, será acrescido de tantos São eles:
quantos forem os Deputados Federais acima de doze. • Servidores públicos: ocupam cargo público e, em regra,
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados estão sujeitos ao regime estatutário.
Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Consti- Os Policiais Militares do Estado de Goiás, em razão
tuição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imu- da destinação constitucional da Corporação e em de-
nidades, remuneração, perda de mandato, licença, corrência das leis vigentes, constituem uma categoria
impedimentos e incorporação às Forças Armadas. especial de servidores públicos estaduais.

23
• Empregados públicos: ocupam emprego público. In- Cargo Público
gressam via concurso e estão sujeitos ao regime cele-
tista. Cargo público é o criado por lei, com denominação pró-
• Contratados para exercer função temporária: é o pria, quantitativo e vencimento certos. com o conjunto de
servidor que não titulariza cargo nem emprego, mas atribuições e responsabilidades previstas na estrutura orga-
exerce função por tempo determinado, para atender nizacional que devem ser cometidas a um servidor.
situação de excepcional interesse público. No âmbito De acordo com o Estatuto dos Policiais Militares do Esta-
federal, sua contratação está disciplinada pela Lei nº do de Goiás, o Cargo Policial Militar é aquele que só pode ser
8.745/1993, que regulamentou o art. 37, IX, da CF. exercido por Policial Militar em serviço ativo. A cada cargo
Policial Militar corresponde um conjunto de atribuições, de-
Agentes Honoríficos veres e responsabilidades que se constituem em obrigações
do respectivo titular.
Os agentes honoríficos são aqueles convocados ou no- Os cargos podem ser efetivos ou comissionados. Os car-
meados para prestarem serviços de natureza transitória, sem gos efetivos são os cargos que exigem previa aprovação em
vínculo empregatício, e em geral, sem remuneração. Consti- concurso público, de provas ou de provas e títulos. Já os
tuem os múnus públicos (serviços relevantes). Ex.: jurados, comissionados são cargos de livre nomeação e exoneração.
comissários de menores, mesários eleitorais.
Emprego Público
Agentes Delegados
Empregos públicos são núcleos de encargos de trabalho
Os agentes delegados são particulares que recebem a
a serem preenchidos por agentes contratados para desem-
incumbência da execução de determinada atividade, obra
penhá-los com vínculo celetista.
ou serviço público e o realizam em nome próprio, por sua
conta e risco, mas segundo as normas do Estado. Ex.: con-
cessionários e permissionários de serviços e obras públicas, Função Pública
serventuários notariais e de registro, leiloeiros, tradutores
e intérpretes públicos. Doutrinariamente, a função pública refere-se a uma
atribuição específica, dada pelo Poder Público, a um agente
Agentes Credenciados para exercê-la. Ocorre quando, por exemplo, um determina-
do servidor tem suas atribuições normais concernentes ao
Os agentes credenciados são aqueles que recebem a cargo que ocupa e adquire mais algumas, como, por exem-
incumbência da Administração Pública para representá-la plo, quando designado para exercer a função de chefe da
em determinado ato ou praticar certa atividade específica, seção em que trabalha. Em contrapartida, há acréscimo na
mediante remuneração do Poder Público credenciante. Ex.: remuneração.
representantes internacionais, um médico que seja creden- A Constituição Federal prevendo esta possibilidade de-
ciado para atender a população em determinado aconteci- termina que as funções de confiança sejam exercidas exclu-
mento etc. sivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo (aquele
que fez concurso público) e que se destinem apenas às atri-
Direitos, deveres e prerrogativas buições de direção, chefia e assessoramento.

Primeiramente precisamos entender o que é regime ATOS ADMINISTRATIVOS


jurídico para falar sobre direitos, deveres e prerrogativas.
Como Regime Jurídico entende-se o conjunto de regras
que disciplinam a relação existente entre a Administração Pú-
Introdução
blica e seus agentes. É no regime jurídico que são estabeleci-
dos os direitos e deveres existentes em tal vínculo funcional. Os atos administrativos são instrumentos por meio dos
Quando tratamos de agentes públicos, percebemos prin- quais se vale a Administração Pública para realizar a sua
cipalmente a existência de dois regimes jurídicos: um legal função executiva. É por meio de atos administrativos que
e outro contratual. ela se comunica com os seus administrados.
Noções de Direito Administrativo

O regime jurídico legal ou estatutário é aquele em que o O estudo do ato administrativo parte da sua inserção na
conjunto de direitos e deveres dos agentes a ele vinculado é Teoria Geral do Direito, com as distinções entre ato jurídico
estabelecido em lei, tendo como característica a unilaterali- e fato jurídico:
dade (é o próprio ente federativo que institui tais regras) e
ser típico do Direito Público. Fato Jurídico É um acontecimento material involuntário
O regime jurídico contratual, como o próprio nome já diz, (pode ser ordinário: nascimento, morte, ou
é aquele em que o conjunto de direitos e deveres dos agentes extraordinário: caso fortuito, força maior),
a ele vinculado é estabelecido por meio de um contrato de que produz efeitos no mundo jurídico.
trabalho. Tem como característica ser bilateral e ser típico Ato Jurídico É uma manifestação de vontade destinada
do Direito Privado. a produzir efeitos jurídicos.
É no regime jurídico estatutário que se insere a Lei nº
8.033/1975 que regula os direitos, deveres e prerrogativas Essa distinção é transplantada para o Direito Adminis-
dos Policiais Militares do Estado de Goiás. Trataremos, por- trativo, colocando‑se, de um lado, o ato administrativo e,
tanto, desses assuntos quando formos estudar o Estatuto. do outro, o fato administrativo:

24
Fato Administrativo É o acontecimento material da nistrativos praticados pela Administração Pública (requisitos,
Administração, que produz con- atributos, extinção etc.).
sequências jurídicas. No entanto,
não traduz uma manifestação de Elementos ou Requisitos do Ato Administrativo
vontade voltada para produção
dessas consequências, na verdade Parte da doutrina emprega a expressão “elementos”;
tem sentido de atividade material no outra parte, prefere utilizar a expressão “requisitos”. De uma
exercício da função administrativa, forma ou de outra, o importante é sabermos que todos são
visando ao efeito de ordem prática, pressupostos necessários para a existência e validade de
como, por exemplo, a construção de todo e qualquer ato administrativo.
uma obra pública, a desapropriação A doutrina dominante aponta cinco elementos ou
de bens privados, a apreensão de requisitos dos atos administrativos: competência, forma,
mercadorias. finalidade, motivo e objeto40. Porém Celso Antônio Bandeira
Acrescente-se ainda que até fenô- de Melo acrescenta outro, a causa.
menos naturais, quando repercutem
na esfera administrativa, constituem Competência – Forma – Finalidade
fatos administrativos, como é o
caso, por exemplo, de um raio que
São elementos ou requisitos sempre vinculados em
destrói um bem público ou de uma
qualquer ato administrativo, mesmo naqueles chamados
enchente que inutiliza equipamen-
discricionários41. Em relação a eles, a lei não oferece qual-
tos pertencentes ao serviço público.
Por outro lado, se o fato administra‑ quer margem para a apreciação do Administrador, que está
tivo não produz qualquer efeito jurí- preso ao seu conteúdo legal.
dico no Direito Administrativo, ele é Equivalem aos requisitos de validade do ato jurídico, no
chamado de fato da Administração. Direito Civil:

Diferentemente do fato administrativo, o ato adminis- Art. 104. A validade do negócio jurídico requer
trativo caracteriza‑se como uma manifestação unilateral da agente capaz, objeto lícito possível, determinado ou
Administração, preordenada à produção de efeitos jurídicos, determinável e forma prescrita ou não defesa em lei.
sendo o conceito mais usual o de Meirelles (2005, p. 149):
Motivo – Objeto
Conceito de Ato Administrativo – É a manifestação unilate-
ral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa Esses requisitos podem vir predeterminados rigorosa-
qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, mente na lei ou não. Quando estão, ocorre o ato vinculado.
transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor Quando, diferentemente, a lei confere uma margem de
obrigação aos administrados ou a si própria. liberdade ao Administrador no que tange a esses elementos,
estamos diante do que chamamos de ato discricionário.

Quando se diz que um ato administrativo é a manifesta- Causa


ção unilateral de vontade da administração, diz‑se que ela
está fazendo uso de suas prerrogativas de Poder Público, É a relação de adequação entre o motivo e o conteúdo
agindo com o poder de império de que dispõe em relação ao do ato, em função da finalidade.
particular. Esse ponto é o que distingue o ato administrativo Estudaremos pormenorizadamente os cinco elementos
do ato de direito privado praticado pela Administração. ou requisitos apontados pela doutrina dominante.
O ato de direito privado (Civil ou Comercial) praticado
pela Administração não dá a ela a prerrogativa de superiori- A Competência
dade em relação ao particular; ela se nivela com ele, abrindo
mão de sua supremacia de poder. Ocorre, por exemplo, É o poder que a lei outorga ao agente público para de-
quando ela emite um cheque ou assina uma escritura pública sempenho de suas funções. Constitui o primeiro requisito
de compra e venda, sujeitando em tudo às normas do Direito de validade do ato administrativo. Inicialmente, é necessário
Privado, inclusive às regras que antecedem o negócio jurídico verificar se a lei atribuiu aquela competência para o agente.
almejado, tais como a autorização legislativa, avaliação,
Noções de Direito Administrativo

Não basta que o sujeito tenha capacidade, é necessário que


licitação, entre outras. Por essa razão, a Administração não tenha competência. A competência decorre sempre de lei.
pode alterar, revogar, anular, nem rescindir, unilateralmente, Sendo um requisito de ordem pública, tem duas caracterís-
os  atos de direito privado; dependerá sempre da concor- ticas básicas: é intransferível (não se transfere a outro órgão
dância da outra parte ou da via judicial cabível, que, neste por acordo entre as partes; fixada por lei deve ser rigida-
caso, será o único privilégio que ainda lhe resta. As ações mente observada) e improrrogável (não se transmuda, ou
correspondentes devem ser propostas no juízo privativo da seja, um órgão que não é competente não poderá vir a sê‑lo
Administração interessada, ou seja, o foro eleito para dirimir superveniente). Entretanto, pode haver a delegação (atribuir
conflitos deverá ser sempre o da Administração. a outrem uma competência tida como própria) e a avocação
A prática de atos administrativos cabe normalmente (chamar para si competência atribuída a subordinado) de
aos órgãos executivos, mas as autoridades judiciárias e as competências, sendo, em regra, esses institutos resultantes
Mesas legislativas também os praticam quando, por exem-
plo, ordenam seus serviços, dispõem sobre seus servidores 40
Fepese/Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina/Fiscal/Auxiliar
ou expedem instruções sobre matéria de sua competência Administrativo/2010.
41
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área
privativa; sujeitos, portanto, a toda disciplina dos atos admi- Administrativa/2010.

25
da hierarquia. Nesse sentido, a competência administrativa, a) organização e funcionamento da administração
sendo requisito de ordem pública, é intransferível e impror- federal, quando não implicar aumento de despesa
rogável pela vontade dos interessados. Pode, entretanto, nem criação ou extinção de órgãos públicos;
ser delegada e avocada, desde que o permitam as normas b) extinção de funções ou cargos públicos, quando
reguladoras da Administração42. vagos;
[...]
Para Di Pietro (2008), a regra é a possibilidade de dele- XII – conceder indulto e comutar penas, com audi-
gação; a exceção é a impossibilidade, que só ocorre quando ência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
se trata de competência outorgada com exclusividade a [...]
determinado órgão. A autora cita os arts. 11, 12, 13 e 15 da XXV – prover e extinguir os cargos públicos federais,
Lei nº 9.784/1999 para corroborar sua afirmação: na forma da lei;
Parágrafo único. O Presidente da República poderá
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI,
pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado,
própria, salvo os casos de delegação e avocação ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-
legalmente admitidos. -Geral da União, que observarão os limites traçados
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular pode- nas respectivas delegações.
rão, se não houver impedimento legal, delegar parte
da sua competência a outros órgãos ou titulares, Como o parágrafo único só menciona esses três incisos,
ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente pressupõe que os demais sejam indelegáveis.
subordinados, quando for conveniente, em razão de Outro exemplo de delegação de competência está no
circunstâncias de índole técnica, social, econômica, art. 93, inciso XIV, da Constituição Federal, que assim estabelece:
jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O  disposto no caput deste artigo XIV  – os servidores receberão delegação para a
aplica-se à delegação de competência dos órgãos prática de atos de administração e atos de mero
colegiados aos respectivos presidentes. expediente sem caráter decisório.
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
I – a edição de atos de caráter normativo; Também temos modificação de competência no art. 103-B,
II – a decisão de recursos administrativos; § 4º, inciso III, da Constituição, que admitiu a possibilidade
III – as matérias de competência exclusiva do órgão de avocação pelo Conselho Nacional de Justiça de proces-
ou autoridade. sos disciplinares em curso instaurados contra membros do
Poder Judiciário:
Cabe ressaltar que o ato de delegação e a sua revogação
deverão ser publicados em meio oficial, conforme estabele- §  4º Compete ao Conselho o controle da atuação
cido no art. 14 do diploma em comento: administrativa e financeira do Poder Judiciário e
do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes,
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe
ser publicados no meio oficial. forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
§  1º O ato de delegação especificará as matérias [...]
e poderes transferidos, os limites da atuação do III – receber e conhecer das reclamações contra mem-
delegado, a duração e os objetivos da delegação e o bros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra
recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício seus serviços auxiliares, serventias e órgãos presta-
da atribuição delegada. dores de serviços notariais e de registro que atuem
§ 2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo por delegação do poder público ou oficializados, sem
pela autoridade delegante. prejuízo da competência disciplinar e correicional dos
§ 3º As decisões adotadas por delegação devem mencio- tribunais, podendo avocar processos disciplinares em
nar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou
editadas pelo delegado. a aposentadoria com subsídios ou proventos propor-
Art.  15. Será permitida, em caráter excepcional e cionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções
por motivos relevantes devidamente justificados, administrativas, assegurada ampla defesa;
a avocação temporária de competência atribuída a
Noções de Direito Administrativo

órgão hierarquicamente inferior. Por fim, observe o que o Decreto-Lei nº 200, de 25 de


fevereiro de 1967, estabelece sobre a delegação de com-
Outros exemplos de modificação de competência petência:

A delegação pode ser apreciada no art. 84, incisos VI, Art. 11. A delegação de competência será utilizada
XII e XXV, da Constituição Federal, conforme disposto no como instrumento de descentralização administra-
parágrafo único do texto constitucional. tiva, com o objetivo de assegurar maior rapidez e
objetividade às decisões, situando-as na proximidade
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da dos fatos, pessoas ou problemas a atender.
República: Art.  12. É  facultado ao Presidente da República,
[...] aos Ministros de Estado e, em geral, às autoridades
VI – dispor, mediante decreto, sobre: da Administração Federal delegar competência para a
prática de atos administrativos, conforme se dispuser
FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área Administrativa/2010.
42 em regulamento.

26
Parágrafo único. O ato de delegação indicará com pre- Usurpação de função pública
cisão a autoridade delegante, a autoridade delegada Art. 328. Usurpar o exercício de função pública:
e as atribuições objeto de delegação. Pena – detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único. Se do fato o agente aufere vantagem:
Regulamentando os arts. 11 e 12 do Decreto-Lei nº 200, Pena – reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
de 25 de fevereiro de 1967, referente à delegação de com-
petência, temos o Decreto nº 83.937, de 6 de setembro de • Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o
1979, que assim dispõe: ato está irregularmente investida no cargo, emprego
ou função, mas tem toda aparência de legalidade. Um
Art.  1º A delegação de competência prevista nos exemplo claro ocorre quando um chefe substituto
artigos 11 e 12 do Decreto-Lei nº 200, de 25 de fe- exerce funções além do prazo fixado.
vereiro de 1967, terá por objetivo acelerar a decisão • Excesso de poder: ocorre quando o agente ultrapassa
dos assuntos de interesse público ou da própria os limites de sua competência, comete um plus. Ex.:
administração. quando a autoridade policial excede no uso da força.
Art.  2º O ato de delegação, que será expedido a
critério da autoridade delegante, indicará a autori- O excesso de poder constitui juntamente com o desvio de
dade delegada, as atribuições objeto da delegação poder ou desvio de finalidade espécies de abuso de poder.
e, quando for o caso, o prazo de Vigência, que, na Tanto o excesso de poder como o desvio de finalidade
omissão, ter-se-á por indeterminado. podem configurar crime de abuso de autoridade (art. 4º da
Parágrafo único. A  delegação de competência não Lei nº 4.898/1965).
envolve a perda, pelo delegante, dos corresponden-
tes poderes, sendo-lhe facultado, quando entender Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
conveniente, exercê-los mediante avocação do caso, [...]
sem prejuízo da validade da delegação. h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa
Art. 3º A delegação poderá ser feita a autoridade não
natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou
diretamente subordinada ao delegante.
desvio de poder ou sem competência legal.
Art. 4º A mudança do titular do cargo não acarreta a
cessação da delegação.
Além dos vícios de incompetência, existem os de incapa‑
Art.  5º Quando conveniente ao interesse da Ad-
cidade, previstos no Código Civil, arts. 3º e 4º, e os previstos
ministração, as  competências objeto de delegação
na Lei nº 9.784/1999, arts. 18 e 20.
poderão ser incorporadas, em caráter permanente,
aos  regimentos ou normas internas dos órgãos e
entidades interessados. Art.  3º São absolutamente incapazes de exercer
Art. 6º O ato de delegar pressupõe a autoridade para pessoalmente os atos da vida civil:
subdelegar, ficando revogadas as disposições em I – os menores de dezesseis anos;
contrário constantes de decretos, regulamentos ou II – os que, por enfermidade ou deficiência mental,
atos normativos em vigor no âmbito da Administra- não tiverem o necessário discernimento para a prá-
ção Direta e Indireta. tica desses atos;
Art. 7º Cabe ao Ministro Extraordinário para a Des- III – os que, mesmo por causa transitória, não pude-
burocratização orientar e acompanhar as medidas rem exprimir sua vontade.
constantes deste Decreto, assim como dirimir as Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos,
dúvidas suscitadas em sua execução. ou à maneira de os exercer:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
Vícios Relativos ao Sujeito II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os
que, por deficiência mental, tenham o discernimento
Partindo-se do pressuposto de que não basta que o reduzido;
agente tenha capacidade e que é necessário que tenha III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental
competência, têm-se duas categorias de vícios: o de incom- completo;
petência e o de incapacidade. IV – os pródigos.
O vício de incompetência está previsto no art. 2º, pará- Parágrafo único. A capacidade dos índios será regu-
grafo único, a, da Lei nº 4.717/1965: lada por legislação especial.
Noções de Direito Administrativo

A incompetência fica caracterizada quando o ato No que se refere aos vícios de incapacidade previstos
não se incluir nas atribuições legais do agente que na Lei nº 9.784/1999, temos o impedimento e a suspeição.
o praticou. O impedimento gera a presunção absoluta de incapaci-
dade, razão pela qual o agente público fica proibido de atuar
Visto que a competência vem sempre definida em lei, no processo, devendo obrigatoriamente comunicar o fato à
será nulo o ato praticado por quem não seja detentor ou autoridade competente, sob pena de ser responsabilizado.
pratique o ato exorbitando o uso dessas atribuições. O  art.  18 da Lei prevê expressamente aqueles que estão
Os principais vícios quanto à competência são: impedidos de atuar no processo:
• Usurpação de função: ocorre quando a pessoa que
pratica o ato não foi investida no cargo, emprego ou Art. 18. É impedido de atuar em processo adminis-
função, ou seja, ela se apossa, por conta própria, trativo o servidor ou autoridade que:
do exercício das atribuições de agente público, sem I – tenha interesse direto ou indireto na matéria;
ter essa qualidade. O ato é considerado inexistente. II  – tenha participado ou venha a participar como
É tipificado como crime no art. 328, CP. perito, testemunha ou representante, ou se tais

27
situações ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro Vícios Relativos à Forma
ou parente e afins até o terceiro grau;
III – esteja litigando judicial ou administrativamente Como garantia do princípio da legalidade e da segurança
com o interessado ou respectivo cônjuge ou com- jurídica, a forma deve ser rigorosamente respeitada. Caso
panheiro. não seja observada, estaremos diante de um ato ilegal,
Art.  19. A autoridade ou servidor que incorrer em portanto nulo.
impedimento deve comunicar o fato à autoridade O vício de forma está previsto no art. 2º, parágrafo único,
competente, abstendo-se de atuar. b, da Lei nº 4.717/1965:
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar
o impedimento constitui falta grave, para efeitos O vício de forma consiste na omissão ou na obser-
disciplinares. vância incompleta ou irregular de formalidades indis-
pensáveis à existência ou seriedade do ato.
Já a suspeição gera a presunção relativa de incapacidade,
razão pela qual o vício fica sanado se não for arguido pelo
interessado no momento oportuno. O art. 20 também dispõe
A Finalidade
expressamente sobre quem poderá ser arguida a suspeição:
O ato deve alcançar a finalidade expressa ou implicita-
Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade mente prevista na norma que atribui competência ao agente
ou servidor que tenha amizade íntima ou inimizade para a sua prática, sendo o resultado que se busca alcançar
notória com algum dos interessados ou com os res- com a prática do ato. O Administrador não pode fugir da
pectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins finalidade que a lei imprimiu ao ato, sob pena de nulidade
até o terceiro grau. por desvio de finalidade45.
Dessa forma, podemos falar em finalidade ou fim em
A Forma dois sentidos diferentes:
• Em sentido amplo: a finalidade sempre corresponde à
É o meio pelo qual se exterioriza o ato. Em regra, consecução de um resultado de interesse público, ou
exige‑se a forma escrita para a sua prática. Excepcional‑ seja, o ato administrativo tem que ter sempre finali-
mente, admitem‑se as ordens verbais, gestos, apitos, sinais dade pública.
luminosos (como são feitos no trânsito)43. • Em sentido estrito: a finalidade é o resultado específico
A forma como requisito de existência e validade do ato que cada ato deve produzir, conforme definido na lei,
administrativo, se estabelecida em lei e não observada, ou seja, a finalidade do ato administrativo é sempre a
gera sua nulidade. Assim, sempre que a lei expressamente que decorre explícita ou implicitamente da lei.
exigir determinada forma para que um ato administrativo A finalidade não se confunde com nenhum outro
seja considerado válido, a inobservância dessa exigência elemento. Enquanto o objeto é o efeito jurídico ime-
acarretará a nulidade do ato44. diato que o ato produz (adquirir, transferir, extinguir),
A exigência da observância da forma é garantia dos ad- a finalidade é o efeito mediato (indireto).
ministrados contra a arbitrariedade e fator de estabilidade Distingue do motivo, porque este antecede a prática do
e segurança nas relações jurídicas. Nesse sentido, temos ato, correspondendo aos fatos, às circunstâncias, que
o disposto no inciso VIII, parágrafo único, art.  2º, da Lei levaram a Administração a praticar o ato. Já a finalidade
nº 9.784/1999, que assim estabelece: sucede a prática do ato, porque é justamente o que a
Administração quer alcançar com a sua edição.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão Tanto o motivo como a finalidade contribuem para a
observados, entre outros, os critérios de: formação de vontade da Administração que diante de
[...] certa situação de fato ou de direito (motivo) a autori-
VIII  – observância das formalidades essenciais à
dade (sujeito competente) pratica certo ato (objeto)
garantia dos direitos dos administrados;
para alcançar determinado resultado (finalidade).
Visando à proteção dos direitos dos administrados e
Vícios Relativos à Finalidade
ao melhor cumprimento dos fins da Administração, a Lei
nº 9.784/1999 estabeleceu em seu art. 22:
Visto que a finalidade pode ter duplo sentido (amplo
Os atos do processo administrativo não dependem e estrito), pode-se dizer que ocorre o desvio de finalidade
Noções de Direito Administrativo

de forma determinada senão quando a lei expressa- quando o agente pratica o ato com inobservância do interes-
mente a exigir. se público ou com objetivo diverso daquele previsto explícita
ou implicitamente na lei.
Se o Administrador puder escolher a forma, haverá dis- Está previsto no art. 2º, parágrafo único, e, da Lei
cricionariedade, porém, em alguns casos, a forma escrita é nº 4.717/1965:
particularizada e exige‑se um determinado tipo de forma O desvio de finalidade se verifica quando o agente
escrita para que o ato seja válido. Ocorre, por exemplo, no pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto,
decreto de expropriação. O decreto é uma das formas que
explícita ou implicitamente, na regra de competência.
deve revestir o ato do Chefe do Poder Executivo que declara
a expropriação (a outra é a lei); qualquer outra forma tornará
o ato nulo. Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário
45

– Apoio Especializado – Medicina, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Tec-


nologia da Informação, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Fisioterapia,
43
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto Analista Judiciário – Apoio Especializado – Estatística, Analista Judiciário – Apoio
– I/2010. Especializado – Medicina do Trabalho, Analista Judiciário – Apoio Especializado
44
Cespe/TCU/AUFC/2010. – Enfermagem, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Psicologia/2010.

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A grande dificuldade com relação ao desvio de finalidade III – decidam processos administrativos de concurso
é a sua comprovação, pois o agente não declara sua verda- ou seleção pública;
deira intenção; ele procura ocultá-la para produzir enganosa IV  – dispensem ou declarem a inexigibilidade de
impressão de que o ato é legal. Por isso mesmo, o desvio processo licitatório;
de finalidade comprova-se por meio de indícios, como, por V – decidam recursos administrativos;
exemplo, a falta de motivo ou a discordância dos motivos VI – decorram de reexame de ofício;
com o ato praticado. VII – deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre
a questão ou discrepem de pareceres, laudos, pro-
postas e relatórios oficiais;
O Motivo VIII – importem anulação, revogação, suspensão ou
convalidação de ato administrativo.
São as razões de fato e de direito que levam à prática
do ato. Pressuposto de fato corresponde ao conjunto de A Constituição Federal também vinculou as suas decisões
circunstâncias, de acontecimentos, de situações que levam à regra da motivação:
a Administração a praticar o ato; o pressuposto de direito
é o dispositivo legal em que se baseia o ato. Em alguns Art. 93, IX, da CF: Todos os julgamentos dos órgãos
casos, esses motivos já estão traçados na lei, sem margem do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas
de liberdade para o Administrador. Nesses casos, temos o todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo
motivo vinculado. Em outros, a lei permite ao Administra- a lei limitar a presença, em determinados atos,
dor certa margem de liberdade, sendo assim seu motivo é às próprias partes e a seus advogados, ou somente
discricionário. a estes, em casos nos quais a preservação do direito
Adquire relevância o aspecto de vinculação aos motivos à intimidade do interessado no sigilo não prejudique
a partir da presunção de legitimidade, em que o particular o interesse público à informação;
interessado em invalidar o ato é que tem o ônus de provar
a sua ilegalidade. É justamente a partir da demonstração da Art. 93, X, da CF: As decisões administrativas dos tri-
inexistência dos motivos declinados para a prática do ato bunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as
que se poderá conseguir a sua invalidação. disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta
A efetiva existência do motivo é sempre um requisito de seus membros;
para a validade do ato. Se o Administrador invoca deter‑
minados motivos, a validade do ato fica subordinada à Entretanto, sabemos que em determinados casos a mo-
efetiva existência desses motivos invocados para a sua tivação pode ser dispensada (art. 37, II, da CF, por exemplo),
prática. É a teoria dos motivos determinantes46. Em outras restando então como exceções a esse princípio quando a lei
palavras, se a Administração motiva o ato mesmo que a assim a dispensar ou quando a natureza do ato for com ela
lei não exija sua motivação, ele só será válido se os motivos incompatível.
forem verdadeiros.
Art.  37. A  administração pública direta e indireta
Ressalte-se que motivo não se confunde com moti‑
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
vação. O motivo é um fato, um dado real e objetivo que do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
autoriza ou impõe a prática do ato47. princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
Já a motivação é a exposição dos motivos, ou seja, é a publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
demonstração, por escrito, de que os pressupostos de fato [...]
realmente existiram. O ato sem motivo é nulo; o ato sem II  – a investidura em cargo ou emprego público
motivação só será nulo se está for obrigatória48. de­pende de aprovação prévia em concurso público
A Lei nº 9.784/1999, elevando a motivação à categoria de provas ou de provas e títulos, de acordo com a
de princípio a ser obedecido pela Administração Pública natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
(art. 2º), tornou-a obrigatória: forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre e exoneração;
outros, aos princípios da legalidade, finalidade, mo-
tivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralida- Vícios Relativos ao Motivo
de, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,
interesse público e eficiência. Para o ato administrativo, a inexistência de um motivo
atribuível à Administração ao cuidar do interesse público
Noções de Direito Administrativo

E ainda foi mais além, determinou, em seu art. 50, quais configura vício insanável, pela inexistência exatamente de
os atos administrativos que devem ser motivados. interesse público que determine sua finalidade. Para alguns
doutrinadores, como Di Pietro (2008), além da hipótese de
Art.  50. Os  atos administrativos deverão ser moti- inexistência, existe a falsidade do motivo, que da mesma for-
vados, com indicação dos fatos e dos fundamentos ma torna o ato nulo. A autora cita como exemplo o seguinte
jurídicos, quando: caso: se a Administração pune um funcionário (servidor), mas
I – neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; este não praticou qualquer infração, o motivo é inexistente,
II  – imponham ou agravem deveres, encargos ou porém, se ele praticou infração diversa, o motivo é falso.
sanções; O vício relativo ao motivo está previsto no art. 2º, pará-
grafo único, d, da Lei nº 4.717/1965:
46
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto
– I/2010. A inexistência dos motivos se verifica quando a ma-
47
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Adminis- téria de fato ou de direito, em que se fundamenta o
trativa/2013. ato, é materialmente inexistente ou juridicamente
48
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Adminis-
trativa/2013. inadequada ao resultado obtido.

29
O Objeto Mérito Administrativo
É o conteúdo do ato, ou seja, é o que ele prescreve ou dis- Corresponde à esfera de discricionariedade reservada
põe. Nota-se que, neste requisito, a Administração manifesta ao Administrador, ou seja, o mérito administrativo parte da
seu poder e sua vontade ou atesta simplesmente situações análise da valoração dos motivos e da escolha do objeto,
preexistentes. Ele só existe quando produz efeito jurídico, quando a Administração encontra-se devidamente autori-
ou seja, quando em decorrência dele, nasce, extingue-se, zada a decidir sobre a conveniência e a oportunidade do
transforma-se um determinado direito. No chamado ato ato administrativo.
vin­culado, o objeto já está predeterminado na lei (ex.: apo- Não pode o Poder Judiciário pretender substituir a dis-
sentadoria do servidor). Nos chamados atos discricionários, cricionariedade do administrador pela discricionariedade
há uma margem de liberdade do Administrador para pre- do Juiz, pois a ele é vedado adentrar nesta área. Pode, no
encher o conteúdo do ato (ex.: desapropriação – cabe ao entanto, examinar os motivos invocados pelo Administrador
Administrador escolher o bem, de acordo com os interesses para verificar se eles efetivamente existem. Ao Poder Judici-
ário somente é facultado discutir a respeito da competência,
da Administração), por isso, o objeto pode ser discricionário.
da finalidade e da forma.
Considerando-se constituir o ato administrativo em espé-
cie do gênero ato jurídico, seu objeto também deve ser lícito
(conforme a lei e a moral), possível (realizável no mundo dos O Silêncio no Direito Administrativo e seus Efeitos
fatos e do direito), determinado (quando o ato enuncia seu
No direito privado, a aplicação normativa sobre o silêncio
objeto de modo certo, definindo, por exemplo, seus destina-
encontra solução no art. 111 do Código Civil. De acordo com
tários, seus efeitos etc.) ou pelo menos determinável (quando esse dispositivo, o silêncio, como regra, importa consen-
adotar algum critério a ser observado subsequentemente, timento tácito, considerando os usos ou as circunstâncias
por exemplo: uma condição). normais. Só não valerá como anuência se a lei declarar
O objeto do ato administrativo, como no direito privado, indispensável a manifestação expressa.
também pode ser natural ou acidental. O objeto natural é
o efeito que o ato produz, sem necessidade de expressa Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as
menção. Ele decorre da própria natureza do ato, tal como circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for
definido na lei. necessária a declaração de vontade expressa.
Já o objeto acidental é o efeito jurídico que o ato produz
em decorrência de cláusulas acessórias apostas ao ato pelo No Direito Administrativo, o silêncio administrativo não
sujeito que o pratica, trazendo alguma alteração no objeto constitui ato administrativo, eis que inexiste manifestação
natural. Refere-se ao termo, ao encargo ou modo e à condição: formal de vontade. É sim mero fato administrativo, o que não
• Pelo termo, indica-se o dia em que inicia ou termina a impede a produção de efeitos no mundo jurídico.
eficácia do ato. Nesse sentido, é o ensinamento de Meirelles (2005, p. 114):
• O modo ou encargo é um ônus imposto ao destinatário
do ato. A omissão da Administração pode representar apro-
• A condição é a cláusula que subordina a eficácia do ato vação ou rejeição da pretensão do administrado, tudo
a evento futuro e incerto. Pode ser suspensiva (quan- dependendo do que dispuser a norma pertinente.
do suspende o início da eficácia do ato) ou resolutiva
(quando verificada, faz cessar a produção de efeitos Ocorre que a Administração pode ser omissa e não fazer
jurídicos do ato). qualquer referência sobre o efeito que produza tal silêncio.
Cumpre então distinguir, de um lado, a hipótese em que a
Vícios Relativos ao Objeto lei aponta a consequência da omissão e, de outro, aquela
em que a lei não aponta quais os efeitos que decorrem de
sua omissão.
São nulos os atos administrativos de conteúdo ou objeto No primeiro caso, a lei pode indicar dois efeitos:
ilícito, não sendo possível, portanto, sua convalidação49. • o silêncio importa manifestação positiva (anuência
A ilicitude do objeto se configura quando ele está em tácita); ou
desacordo com as normas jurídicas pertinentes ou então • o silêncio importa manifestação negativa (denegatória).
quando não corresponde ao interesse público que motivou
a declaração de vontade, motivo este que, se ilícito ou ine- Quando o efeito retrata manifestação positiva, conside-
xistente, comunicará o defeito à finalidade. ra‑se que a Administração pretendeu emitir vontade com
O vício relativo ao objeto está previsto no art. 2º, pará- caráter de anuência, de modo que o interessado decerto terá
grafo único, c, da Lei nº 4.717/1965: sua pretensão satisfeita. Por outro lado, quando a Adminis-
Noções de Direito Administrativo

tração emite manifestação com efeito denegatório, deve‑se


A ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado entender que ela contrariou o interesse do administrado,
do ato importa em violação de lei, regulamento ou o que o habilita a postular a invalidação do ato, se julgar que
outro ato normativo. tem vício de legalidade.
No segundo caso, é o mais comum, a omissão pode
O conceito acima não abrange todas as hipóteses possí- ocorrer também de duas maneiras:
veis, pois, como visto acima, o objeto do ato administrativo • com a ausência de manifestação volitiva no prazo
corresponde ao do ato jurídico. Assim, haverá vício quando fixado na lei; ou
a declaração sobre o objeto for ilícita ou imoral, impossível, • com a demora excessiva na prática do ato quando a lei
indeterminada ou indeterminável. não estabeleceu prazo (considera‑se excessiva aquela
Obs.: Motivo e Objeto, nos chamados atos discricionários, que foge dos padrões de razoabilidade).
caracterizam o que denominamos de Mérito Administrativo.
Nas duas situações o interessado faz jus a uma definição
por parte da Administração, valendo‑se, inclusive, do direito
Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto – II/2010.
49 de petição (art. 5º, XXXIV, da CF).

30
XXXIV – são a todos assegurados, independentemen- Não se confunde executoriedade com exigibilidade, pois
te do pagamento de taxas: aquela é a possibilidade de exigir o cumprimento do ato,
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa independentemente da via judicial, enquanto exigibilidade
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder. pode ser feita por Ação Judicial ou não.
Nos atos em que se vai envolver o patrimônio do admi-
Decorridos o “prazo legal” e o “razoável”, caso o adminis- nistrado (cobrança de uma multa, por exemplo), a Adminis-
trado não obtenha êxito na via administrativa, não restará tração tem de se utilizar da via judicial, não podendo utilizar
alternativa senão recorrer à via judicial adequada (mandado a força pública pelos seus próprios meios.
de segurança, mandado de injunção etc.). Só é possível a autoexecutoriedade quando permitida por
Por fim, cabe ressaltar que, dependendo da natureza lei ou para atender situações urgentes, como, por exemplo,
do silêncio ou omissão, o administrador omisso poderá ser a interdição de um prédio que ameaça desabar, entretanto,
responsabilizado administrativa, civil e penalmente. o administrado não fica impossibilitado de recorrer ao Poder
Judiciário para se insurgir contra o uso da autoexecutorieda-
Atributos e/ou Privilégios dos Atos de. É possível, inclusive, que por meio de medidas preventi-
Administrativos vas (Mandado de Segurança Preventivo, Ações Cautelares,
Antecipação de Tutela) venha o executado evitar que se
realize a autoexecutoriedade ou até mesmo após a prática
A palavra atributo significa qualidade própria, que, neste
do ato, o administrado pode ingressar em juízo pedindo a
caso, são aquelas outorgadas pelo ordenamento jurídico ao reconstituição do estado anterior, se for possível, inclusive,
ato administrativo, como decorrência do princípio da supre- as indenizações cabíveis.
macia do interesse público sobre o privado. Este requisito normalmente é verificável nos atos ad-
Essas qualidades não se apresentam em todos os atos ministrativos decorrentes do poder de polícia, nos quais
administrativos, mas somente naqueles regidos pelo Direito a Administração impõe coercitivamente seu cumprimento
Público e que tenham por finalidade condicionar ou restringir independentemente de mandado judicial (interdição de
a situação jurídica dos administrados ou impor obrigações. atividades, inutilização de gêneros alimentícios).
Se do atributo da executoriedade do ato administrativo
Presunção de Legitimidade resultar dano ao particular em razão de ilegitimidade ou
abuso, o Estado estará obrigado a indenizar o lesado, uma
A presunção de legitimidade diz respeito à conformidade vez configurados a conduta danosa, o dano e o nexo causal.54
do ato com a lei. Decorre do princípio da legalidade, sendo,
portanto, legais e verdadeiros os fatos alegados (presunção Imperatividade
de veracidade). Essa presunção, porém, é relativa (juris tan-
tum), pois cabe prova em contrário. É a inversão do ônus da É o atributo pelo qual os atos administrativos se im‑
prova, cabendo ao particular demonstrar tal irregularidade. põem a terceiros, independentemente de sua concordân‑
Ex.: Execução de Dívida Ativa – cabe ao particular o ônus de cia55. É uma consequência da ascendência da Administração
provar que não deve ou que o valor está errado. Pública sobre o particular, justificada pelo interesse público.
Um ato emanado do administrador goza de presunção É o denominado poder extroverso da Administração, porém
de legitimidade, independentemente de lei que expresse não existe em todos os atos administrativos, mas somente
atributo.50 naqueles que impõem uma obrigação ao administrado,
Presume-se que os atos administrativos são legítimos, como, por exemplo, os que decorrem do poder de polícia,
visando assegurar a eficiência e a segurança nas atividades do poder hierárquico, e  os que regulam condutas gerais
do Poder Público, autorizando a execução imediata ou ope- e abstratas56. Nos atos enunciativos (certidões, atestados,
ratividade dos atos administrativos, ainda que haja arguição pareceres) e nos que conferem direitos aos administrados
de vício. (licença, autorização, permissão) a imperatividade não existe.
Em todo e qualquer ato administrativo pode-se observar A imperatividade autoriza a produção imediata de seus
a presença da presunção de legitimidade51. efeitos até a declaração de possível invalidade, tornando
O ato administrativo ilegal praticado por agente ad- obrigatória a sua observância pelo particular.
ministrativo corrupto produz efeitos normalmente, pois
traz em si o atributo da presunção, ainda que relativa, de Exigibilidade
legitimidade.52
A presunção de legitimidade é conferida ao ato até o É a possibilidade de a Administração, coercitivamente,
momento em que for declarada sua nulidade. exigir o cumprimento da obrigação imposta ao administrado,
utilizando‑se de meios indiretos, como, por exemplo, a multa,
Não obstante os atos administrativos gozarem desta presun-
para induzir o acatamento dos seus atos.
ção, faz-se necessário que a Administração motive (indicação
Noções de Direito Administrativo

A exigibilidade permite que a Administração Pública


dos pressupostos de fato e de direito que ensejaram a prática
objetive o cumprimento efetivo da obrigação por ela esta-
do ato) sempre o ato, para fins de controle de legalidade.
belecida, socorrendo-se ou não da interferência do Poder
Judiciário.
Autoexe­cutoriedade
As determinações para que o particular construa muro no
alinhamento da rua, apare árvores cujos galhos ameaçam a
É atributo do ato administrativo, entre outros, a
segurança da rede elétrica ou a dissolução de passeatas com
autoexecutoriedade.53 o fim de resguardar o interesse da coletividade são exemplos
É a possibilidade que tem a Administração de, por seus de atos que possuem esse atributo. Nesses casos, a Admi-
próprios meios, exigir o cumprimento das obrigações impostas nistração não necessita da participação do Poder Judiciário
aos administrados, independentemente de ordem judicial. para seu cumprimento.
50
Cespe/AE ES/Seger-ES/Administração/2013. 54
Cespe/CNJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2013.
51
FCC/Procuradoria Geral do Estado do Amazonas/Procurador do Estado de 3ª 55
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-RS/Técnico Judiciário/Área Administrativa/
Classe/2010. Analista Judiciário/Área Administrativa/2010.
52
Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/Área Administrativa/2013. 56
Assunto cobrado na prova do Cespe/CNJ/Analista Judiciário/Área Judiciá-
53
FCC/TRE-Acre/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010. ria/2013.

31
Outras vezes, contudo, a  Administração deve trilhar Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo,
procedimento previamente estabelecido na lei, que exige entende-se por modalidades de remoção:
o trânsito pelo Judiciário. É o caso de um tributo que não I – de ofício, no interesse da Administração.
pago pelo administrado exige que a Administração promova
a competente execução fiscal. • quando a lei é omissa: por não ser possível prever
todas as situações supervenientes no momento de sua
Tipicidade promulgação, a autoridade deverá decidir de acordo
com princípios extraídos do ordenamento jurídico.
É o atributo pelo qual o ato administrativo deve corres-
ponder a figuras definidas previamente pela lei como aptas • quando a lei prevê determinada competência, mas
a produzir determinados resultados, ou seja, para cada não estabelece a conduta a ser adotada: ocorre, por
finalidade que a Administração pretende alcançar existe um exemplo, no âmbito do poder de polícia onde a razoa-
ato definido em lei. bilidade e a proporcionalidade devem ser observadas
Conforme ensina Di Pietro (2008), esse atributo repre- na aplicação das sanções.
senta uma garantia para o administrado, pois impede que
a Administração pratique atos dotados de imperatividade e Por ser muito amplo o âmbito de incidência da discri-
executoriedade, vinculando unilateralmente o particular sem cionariedade, cumpre, pois, analisarmos onde é possível
que haja previsão legal, e também fica afastada a possibili- localizá-la.
dade de ser praticado ato totalmente discricionário, pois a O primeiro aspecto a ser observado concerne ao mo-
lei, ao prever o ato, já define os limites em que a discricio- mento da prática do ato: se a lei nada estabelece a respeito,
nariedade poderá ser exercida.
a Administração escolhe o momento que lhe pareça mais
adequado para atingir a consecução de determinado fim.
Discricionariedade e Vinculação Como nem sempre é possível para o legislador fixar um
momento preciso para a prática do ato, normalmente ele
A discricionariedade e vinculação com que são expedi-
estabelece um prazo para que a Administração adote deter-
dos os atos administrativos estão relacionadas diretamente
com os poderes de que dispõe a Administração Pública para minadas decisões, com ou sem sanções para o caso de seu
praticá-los. descumprimento. Ocorre, por exemplo, com o prazo de 15
Para o desempenho de suas funções, a Administração dias de que dispõe o Executivo para vetar ou sancionar um
dispõe de poderes para a prática de seus atos que lhe asse- projeto de lei aprovado pelo Legislativo; decorrido o prazo,
guram posição de supremacia sobre o particular e sem os o silêncio do Executivo implica sua sanção (art. 66 da CF).
quais não conseguiria atingir os seus fins. Esses poderes, no
Estado Democrático de Direito como o nosso, têm como pos- Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação
tulado básico o princípio da legalidade, sendo limitados pela enviará o projeto de lei ao Presidente da República,
lei, sob pena de ilegalidade por abusos ou arbitrariedades. que, aquiescendo, o sancionará.
No entanto, esse regramento pode atingir os vários as- § 1º Se o Presidente da República considerar o proje-
pectos de uma atividade determinada. Nesse caso, o poder
to, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário
da Administração é vinculado, porque a lei não deixou opções
para a prática do ato, estabelecendo que diante de determina- ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente,
dos requisitos a Administração deve agir de tal ou qual forma. no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
Em outras hipóteses, o regramento não atinge todos os recebimento, e  comunicará, dentro de quarenta
aspectos da atuação administrativa; a lei deixa certa margem e oito horas, ao  Presidente do Senado Federal os
de liberdade de decisão diante do caso concreto, de tal motivos do veto.
modo que a autoridade poderá optar por uma dentre várias § 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral
soluções possíveis, todas válidas perante o direito. Nesses de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
casos, o poder da Administração é tido como discricionário; § 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do
a adoção de uma ou outra solução é feita segundo critérios Presidente da República importará sanção.
de oportunidade, conveniência, justiça, equidade, próprios
da autoridade, pois não foram definidos pelo legislador. Outro aspecto a ser considerado diz respeito à escolha
Mesmo aí, entretanto, o  poder de ação administrativa,
entre agir e não agir. Se diante de certa situação a Admi-
embora discricionário, não é totalmente livre, porque sob
alguns aspectos a lei impõe limitações57. nistração está obrigada a adotar determinada providência,
a atuação é vinculada; se ela tem possibilidade de escolher
Fonte e Âmbito de Aplicação da Discricionariedade entre atuar ou não, existe a discricionariedade. Como
Noções de Direito Administrativo

exemplo de atuação vinculada, temos que a Administração


A fonte da discricionariedade é a própria lei. A discricio- é obrigada a apurar e punir ilícitos administrativos, sob pena
nariedade só existe nos espaços deixados pela lei. Normal-
de condescendência criminosa (art. 320 do Código Penal).
mente ocorre:
• de forma expressa: quando a lei confere à Adminis-
tração o seu uso. Como exemplo, temos a remoção ex Condescendência criminosa
officio (de ofício). O servidor é removido pela Adminis- Art. 320. Deixar o funcionário, por indulgência, de
tração e no interesse dela, para atender à conveniência responsabilizar subordinado que cometeu infração no
do serviço (art. 36, I, da Lei nº 8.112/1990). exercício do cargo ou, quando lhe falte competência,
não levar o fato ao conhecimento da autoridade
Art.  36. Remoção é o deslocamento do servidor, competente:
a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
com ou sem mudança de sede.
Referindo-se aos elementos ou requisitos dos atos
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto – II/
57

2010. admi­nistrativos, a discricionariedade abrange tão somente

32
o motivo e o objeto. A competência, a forma e a finalidade provendo sobre seus direitos, obrigações, negócios ou condu-
são sempre vinculadas, até mesmo nos atos discricionários. ta perante a Administração. Tais atos, pela sua destinação, só
A partir da ideia de que certos atos administrativos são entram em vigor ou execução depois de divulgados pelo ór-
sempre vinculados (competência, forma, finalidade), afirma- gão oficial, dado o interesse do público no seu conhecimento.
-se que não existe ato administrativo inteiramente discricio-
nário. É também por isso que se diz que o ato vinculado é Quanto aos Destinatários
analisado sob o aspecto da legalidade (de acordo com a lei)
e que o ato discricionário pode ser analisado sob os aspectos Atos Gerais
da legalidade e do mérito (conveniência e oportunidade Destinam‑se a pessoas indeterminadas, atingindo todos
aqueles que estiverem em uma determinada situa­ção. É o
diante do interesse público a atingir).
caso do regulamento que estabelece normas para todos que
estiverem no âmbito das regras ali previstas. Ex.: o edital de
Limites da Discricionariedade e Controle pelo Poder um concurso público. 
Judiciário
Atos Individuais
A discricionariedade também encontra limites na própria Atingem uma situação determinada. Há um destinatário
lei. O  legislador, ao definir determinado ato, intencional- certo, podendo ser mais de uma pessoa (pluralidade de
mente deixa um espaço para livre decisão da Administração destinatários). Ex.: a nomeação.
Pública; legitimando previamente a sua opção, qualquer uma
delas será válida. Quanto ao Objeto
Como forma de fixar limites ao exercício do poder discri-
cionário, algumas teorias têm sido adotadas de modo a am- Atos de Império
pliar a possibilidade de sua apreciação pelo Poder Judiciário. O Poder Público atua com supremacia sobre o admi-
Uma delas é a que se refere ao abuso de poder na espécie nistrado, coercitiva e unilateralmente. Ex.: atos de polícia
desvio de poder ou desvio de finalidade. O desvio de poder (interdição de atividade, apreensão de bens).
ou desvio de finalidade ocorre quando a autoridade usa do
poder discricionário para atingir fim diverso daquele que a lei Atos de Gestão
fixou. Quando isso ocorre, fica o Poder Judiciário autorizado São aqueles em que o Poder Público se coloca em
a decretar a nulidade do ato, já que a Administração fez situação de igualdade com o particular. Atos de gestão
uso indevido da discricionariedade, ao desviar-se dos fins correspondem aos atos de direito privado que a Adminis-
tração Pública pratica. Ex.: locação de imóvel para funcionar
de interesse público definidos na lei58.
repartição pública.
A outra é a teoria dos motivos determinantes. Quando
a Administração indica os motivos que a levaram a praticar Atos de Expediente
o ato, este somente será válido se os motivos forem verda- São todos aqueles que se destinam a dar andamento
deiros. Para apreciar esse aspecto, o Poder Judiciário terá aos processos e papéis que tramitam nas repartições pú-
que examinar os motivos, ou seja, os pressupostos de fato blicas. São atos de rotina interna, sem caráter vinculante e
e as provas de sua ocorrência, para verificar se o motivo sem forma especial, geralmente, praticados por servidores
realmente existiu. Se não existiu ou se não for verdadeiro, subalternos, sem competência decisória.
anulará o ato.
O controle feito pelo Poder Judiciário ganha fundamental Quanto ao Regramento
importância após a distinção entre atos discricionários e
atos vinculados. Atos Vinculados
Nos atos vinculados, não existe restrição quanto aos São aqueles que possuem todos os seus requisitos
elementos que sofrem o chamado controle de legalidade, pré‑determinados na lei, não oferecendo margem de esco‑
visto que todos devem estar de acordo com a lei. lha para apreciação do administrador59. Cabe a este somente
Com relação aos atos discricionários, o  controle de verificar se esses requisitos estão em conformidade com a lei.
legalidade é possível, mas terá que respeitar a discriciona- Se estiverem, o administrador estará obrigado a praticar o ato.
riedade administrativa nos limites em que ela é assegurada Se faltar qualquer deles, o administrador não poderá praticar o
pela lei, ou seja, o Judiciário só pode apreciar os aspectos ato. Ex.: aposentadoria do servidor, nomea­ção de cargo efetivo. 
da legalidade e verificar se a Administração não ultrapassou
Atos Discricionários
os limites da discricionariedade.
Existem dois requisitos (motivo e objeto) em que a
lei oferece, na prática do ato, uma margem de opção ao
Classificação dos Atos Administrativos administrador, que irá fazer sua escolha de acordo com
Noções de Direito Administrativo

as razões de conveniên­cia e oportunidade, mas sempre


Quanto ao Alcance visando ao interesse público.60

Atos Internos Quanto à Eficácia


São os destinados a produzir efeitos no recesso das
repartições administrativas, e por isso mesmo incidem, Ato Válido
normalmente, sobre os órgãos e agentes da Administração É o que provém de autoridade competente para prati-
que os expediram. cá‑lo e contém todos os requisitos necessários à sua eficácia.

Atos Externos Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-Acre/Técnico Judiciário/Área Adminis-


59

trativa/2010.
São todos aqueles que alcançam os administrados, Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário
60

os contratantes e, em certos casos, os próprios servidores, – Apoio Especializado – Medicina, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Tec-
nologia da Informação, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Fisioterapia,
Analista Judiciário – Apoio Especializado – Estatística, Analista Judiciário – Apoio
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto
58
Especializado – Medicina do Trabalho, Analista Judiciário – Apoio Especializado
– II/2010. – Enfermagem, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Psicologia/2010.

33
Ato Nulo Ato Consumado
É o que nasce afetado de vício insanável por ausência ou É o que produziu todos os seus efeitos, tornando‑se, por
defeito substancial em seus elementos constitutivos ou no isso mesmo, irretratável ou imodificável por lhe faltar objeto.
procedimento formativo. Não produz qualquer efeito válido
entre as partes, pela evidente razão de que não se adquire Quanto ao Conteúdo
direito de ato ilegal.
Ato Constitutivo
Ato Inexistente É o que cria uma situação jurídica individual para seus
É o que apenas tem aparência de manifestação regular destinatários, em relação à Administração. Ex.: licença, no-
da Administração, mas não chega a se aperfeiçoar como ato meação, sanção administrativa.
administrativo. É o que ocorre, por exemplo, com o “ato”
praticado por um usurpador de função pública. Tais atos Ato Extintivo ou Desconstitutivo
equiparam‑se, em nosso Direito, aos atos nulos, sendo, É o que põe termo a situações jurídicas individuais,
assim, irrelevante e sem interesse prático a distinção entre como a cassação de autorização, a encampação de serviço
nulidade e inexistência, porque ambas conduzem ao mesmo de utilidade pública.
resultado – a invalidade – e subordinam-se às mesmas regras
de invalidação. Ato inexistente ou ato nulo é ato ilegal. Ato Declaratório
É o que visa preservar direitos, reconhecer situações
Quanto à Formação preexistentes ou, mesmo, possibilitar seu exercício. São
exemplos dessa espécie a apostila de títulos de nomeação,
Atos Simples a expedição de certidões e demais atos fundados em situa-
Resultam da manifestação de vontade de apenas um ções jurídicas anteriores.
único órgão, sendo ele unipessoal ou colegiado. Ex.: nomea­
Ato Alienativo
ção, exoneração, demissão de um servidor, despacho de
É o que opera a transferência de bens ou direitos de um
autoridade.
titular para outro. Ex.: venda de imóvel da Administração
para o particular.
Atos Complexos
Resultam da manifestação de vontade de dois ou mais Ato Modificativo
órgãos, sejam singulares ou colegiados, cuja vontade soma-se É o que tem por fim alterar situa­ções preexistentes, sem
à outra para a prática de um único ato. Ex.: nomeação de suprimir direitos ou obrigações, como ocorre com aqueles
Ministro do STF depende da aprovação do Senado. que alteram horários, percursos, locais de reunião e outras
Os atos normativos editados conjuntamente por diver- situações anteriores estabelecidas pela Administração.
sos órgãos da administração federal, como as portarias
conjuntas ou instruções normativas conjuntas da Secretaria Ato Abdicativo
da Receita Federal do Brasil e da Procuradoria da Fazenda É aquele pelo qual o titular abre mão de um direito.
Nacional, são exemplos de ato administrativo complexo.61 A peculiaridade desse ato é seu caráter incondicionável e
irretratável. Desde que consumado, o ato é irreversível e
Atos Compostos imodificável, como são as renúncias de qualquer tipo.
São aqueles praticados por um órgão, mas que exigem a
aprovação de outro órgão. Um pratica o ato e o outro confir- Quanto à Retratabilidade
ma. O ato só produz efeito depois de aprovado pelo último
órgão. Geralmente, os atos que dependem de autorização Ato Irrevogável
ou homologação são compostos (um depende do outro). É aquele que se tornou insuscetível de revogação, por
Ex.: nomeação de um dos indicados em lista tríplice para ter produzido seus efeitos ou gerado direito subjetivo para
Desembargador Federal. o beneficiário ou, ainda, por resultar de coisa julgada admi-
nistrativa. Neste último, cabe considerar que a coisa julgada
Quanto à Exequibilidade administrativa só o é para a Administração, uma vez que não
impede a reapreciação judicial do ato.
Ato Perfeito
É aquele que reúne todos os elementos necessários à Ato Revogável
sua exequibilidade ou operatividade, apresentando‑se apto É aquele que a Administração, e somente ela, pode in-
e disponível para produzir seus regulares efeitos. validar, por motivos de conveniência, oportunidade. Nesses
Noções de Direito Administrativo

atos devem ser respeitados todos os efeitos já produzidos,


Ato Imperfeito porque decorrem de manifestação válida da Administração.
É aquele que se apresenta incompleto na sua formação A revogação só atua ex nunc. Em princípio, todo ato admi-
ou carente de um ato complementar para tornar‑se exequí- nistrativo é revogável até que se torne irretratável para a
vel e operante. Para se tornar perfeito, necessita de um ato Administração, quer por ter exaurido seus efeitos ou seus
complementar que o torne operativo. recursos, quer por ter gerado direito subjetivo para o bene-
ficiário, interessado na sua manutenção.
Ato Pendente
É aquele que, embora perfeito, por reunir todos os Ato Suspensível
elementos de sua formação, não produz seus efeitos, por É aquele em que a Administração pode fazer cessar os
não verificado o termo ou a condição de que depende sua seus efeitos, em determinadas circunstâncias ou por certo
exequibilidade ou operatividade. tempo, embora mantendo o ato, para oportuna restauração
de sua operatividade. Difere a suspensão da revogação,
porque esta retira o ato do mundo jurídico, ao passo que
Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/Área Judiciária/2013.
61 aquela susta, apenas, a sua exequibilidade.

34
Quanto ao Modo de Execução Espécies de Atos Administrativos
Ato Autoexecutório Atos Normativos
É aquele que traz em si a possibilidade de ser exe­cutado
pela própria Administração, independentemente de ordem São aqueles que contêm um comando geral do Exe­cutivo,
judicial. visando à correta aplicação da lei62; o objetivo imediato é
explicitar a norma legal a ser observada pela Administração
Ato não Autoexe­cutó­rio e pelos administrados; estabelecem regras gerais e abstratas
de conduta; têm a mesma normatividade da lei e a ela equi-
É o que depende de pronunciamento judicial para produ-
param-se para fins de controle judicial; quando individualizam
ção de seus efeitos finais, tal como ocorre com a dívida fiscal, situações e impõem encargos específicos a administrados,
cuja execução é feita pelo Judiciário, quando provocado pela podem ser atacados e invalidados direta e imediatamente por
Administração interessada na sua efetivação. via judicial comum, ou por mandado de segurança.

Quanto ao Objetivo Visado pela Administração Principais Atos Normativos


Ato Principal Decretos
É o que encerra a manifestação de vontade final da São atos administrativos da competência exclusiva dos
Administração. O ato principal pode resultar de um único Chefes do Executivo, destinados a prover situações gerais
órgão (ato simples) ou da conjugação de vontades de mais ou individuais, abstratamente previstas de modo expresso,
de um órgão (ato complexo) ou, ainda, de uma sucessão de explícito ou implícito pela legislação. Como ato adminis-
atos intermediários (procedimento administrativo). trativo, está sempre em situação inferior à lei, por isso não
pode contrariá‑la.
Ato Complementar
Regulamentos
É o que aprova ou ratifica o ato principal, para dar‑lhe São atos administrativos, postos em vigência por decreto,
exequibilidade. O ato complementar atua como requisito de para especificar os mandamentos da lei ou prover situações
operatividade do ato principal, embora este se apresente ainda não disciplinadas por elas. Como ato inferior à lei, não
completo em sua formação desde a sua edição. pode contrariá‑la ou ir além do que ela permite.

Ato Inter­mediário Instruções Normativas


É o que concorre para a formação de um ato principal e São atos administrativos expedidos pelos Ministros de
final. Assim, em uma concorrência, são atos intermediários Estado para a execução das leis, decretos e regulamentos
o edital, a habilitação e o julgamento das propostas, porque (art. 87, parágrafo único, II, da CF). Podem ser utilizadas por
desta sucessão é que resulta o ato principal e final objetivado outros órgãos superiores para o mesmo fim.
pela Administração, que é a adjudicação da obra ou do ser-
viço ao melhor proponente. O ato intermediário é sempre Regimentos
autônomo em relação aos demais e ao ato final, razão pela São atos administrativos normativos de atuação interna
qual pode ser impugnado e invalidado isoladamente (o que que se destinam a reger o funcionamento de órgãos co-
legiados e de corporações legislativas, por esse motivo só
não ocorre com o ato complementar), no decorrer do pro-
se dirigem aos que devem executar o serviço ou realizar a
cedimento administrativo. atividade funcional regimentada.
Ato‑Con­dição Resoluções
É todo aquele que se antepõe a outro para permitir a sua São atos administrativos normativos expedidos pelas
realização. O ato‑condição destina‑se a remover um obstá- altas autoridades do Executivo (exceto Presidente, pois este
culo à prática de certas atividades públicas ou particulares, só pode expedir decreto) ou pelos presidentes de tribunais,
para as quais se exige a satisfação prévia de determinados órgãos legislativos e colegiados administrativos, para admi-
requisitos. Assim, o concurso é ato‑condição da nomeação nistrar matéria de sua competência específica.
efetiva; a concorrência é ato‑condição dos contratos adminis-
trativos. Como se vê, o ato‑condição é sempre um ato‑meio Deliberações
São atos administrativos normativos ou decisórios, ema-
para a realização de um ato‑fim. A ausência do ato‑condição
nados de órgãos colegiados. Quando normativos, são atos
invalida o ato final, e essa nulidade pode ser declarada pela
Noções de Direito Administrativo

gerais; quando decisórios, atos individuais. Devem sempre


própria Administração ou pelo Judiciário, porque é matéria obediência ao regulamento e ao regimento que houver para
de legalidade, indissociável da prática administrativa. a organização e funcionamento do colegiado.

Ato de Jurisdição Atos Ordinatórios


É todo aquele que contém decisão sobre matéria contro-
vertida. No âmbito da Administração, resulta, normalmente, São os que visam disciplinar o funcionamento da Admi‑
da revisão de ato do inferior pelo superior hierárquico ou nistração e a conduta funcional de seus agentes; emanam
tribunal administrativo, mediante provocação do interessa- do poder hierárquico; só atuam no âmbito interno das
do, ou de ofício. O ato administrativo de jurisdição, embora repartições e só alcançam os servidores hierarquizados à
decisório, não se confunde com o ato judicial propriamente chefia que os expediu.63
dito (despacho, sentença, acórdão em ação e recurso), nem
produz coisa julgada no sentido processual da expressão, mas 62
Assunto cobrado na prova do Fepese/Conselho Regional de Contabilidade de
Santa Catarina/Fiscal/Auxiliar Administrativo/2010.
quando proferido em instância final torna‑se imodificável 63
Assunto cobrado na prova do Fepese/Conselho Regional de Contabilidade de
pela Administração. Santa Catarina/Fiscal/Auxiliar Administrativo/2010.

35
Entre os atos ordinatórios merecem apreciação: A licença concedida ao administrado para o exercício
de direito poderá ser revogada pela administração pública
Instruções por critério de conveniência e oportunidade.66
São ordens escritas e gerais a respeito do modo e forma
de execução de determinado serviço público, expedidas pelo Autorização
superior hierárquico com o escopo de orientar os subalternos, É o ato administrativo discricionário e precário pelo qual
no desempenho das atribuições que lhes estão apresentadas o Poder Público torna possível ao pretendente a rea­lização
e assegurar a unidade de ação no organismo administrativo. de certa atividade, serviço ou utilização de determinados
bens particulares ou públicos, de seu exclusivo ou predomi-
Circulares nante interesse, que a lei condiciona à aquiescência prévia
São ordens escritas, de caráter uniforme, expedidas a de- da Administração, tais como o uso especial de bem público,
terminados funcionários incumbidos de certo serviço, ou de o porte de arma etc.
desempenho de certas atribuições em circunstâncias especiais.
Permissão
Avisos É o ato administrativo, discricionário e precário, pelo qual
São atos emanados dos Ministros de Estado a respeito o Poder Público faculta ao particular a execução de serviços
de assuntos dedicados aos seus ministérios. de interesse coletivo, ou o uso especial de bens públicos,
a título gratuito ou remunerado, nas condições estabelecidas
Portarias pela Administração.
São atos administrativos internos pelos quais os chefes
de órgão, repartições ou serviços expedem determinações Aprovação
É o ato administrativo pelo qual o Poder Público verifica a
gerais ou especiais a seus subordinados, ou designam ser-
legalidade e o mérito de outro ato ou de situações e realiza-
vidores para função e cargos secundários.
ções materiais de seus próprios órgãos, de outras entidades
ou de particulares, dependentes de seu controle, e consente
Ordens de Serviço na sua execução ou manutenção.
São determinações especiais dirigidas aos responsáveis
por obra ou serviços públicos autorizando seu início, ou Admissão
contendo imposições de caráter administrativo, ou especi- É o ato administrativo vinculado pelo qual o Poder
ficações técnicas sobre o modo e forma de sua realização. Público, verificando a satisfação de todos os requisitos legais
pelo particular, defere‑lhe determinada situação jurídica de
Ofícios seu exclusivo ou predominante interesse, como ocorre no
São comunicações escritas que as autoridades fazem ingresso aos estabelecimentos de ensino mediante concurso
entre si, entre subalternos e superiores e entre Administra- de habilitação.
ção e particulares.
Visto
Despachos É o ato pelo qual o Poder Público controla outro ato da
Os despachos podem ser: própria Administração ou do administrado, aferindo sua
• Administrativos: são decisões que as autoridades legitimidade formal para dar‑lhe exequibilidade.
executivas proferem em papéis, requerimentos e
processos sujeitos à sua apreciação; ou Homologação
• Normativos: é aquele que, embora proferido indivi- É o ato de controle pelo qual a autoridade superior
dualmente, a autoridade competente determina que examina a legalidade e a conveniência de ato anterior da
se aplique aos casos idênticos, passando a vigorar própria Administração, de outra entidade, ou de particular,
como norma interna da Administração para situa­ções para dar‑lhe eficácia.
análogas subsequentes.
Dispensa
Atos Negociais É o ato que exime o particular do cumprimento de deter-
minada obrigação até então exigida por lei. Ex.: a prestação
São todos aqueles que contêm uma declaração de von‑ do serviço militar.
tade da Administração, apta a concretizar determinado ne‑
gócio jurídico ou a deferir certa faculdade ao parti­cular, nas Renúncia
É o ato pelo qual o Poder Público extingue unilateral­
condições impostas ou consentidas pelo Poder Público.64
mente um crédito ou um direito próprio, liberando definiti-
Enquadram‑se nessa categoria os seguintes atos admi-
vamente a pessoa obrigada perante a Administração.
Noções de Direito Administrativo

nistrativos:
Protocolo Administrativo
Licença É o ato pelo qual o Poder Público acerta com o particular
É o ato administrativo vinculado e definitivo pelo qual o a realização de determinado empreendimento ou atividade
Poder Público, verificando que o interessado atendeu todas ou a abstenção de certa conduta, no interesse recíproco da
as exigências legais, faculta‑lhe o desempenho de atividades Administração e do administrado signatário do instrumento
ou a realização de fatos materiais antes vedados ao particular. protocolar.
No mesmo sentido, a licença é ato administrativo editado
no exercício de competência vinculada; preenchidos os Atos Enunciativos
requisitos necessários a sua concessão, ela não poderá ser
negada pela administração pública65. Ex.: o exercício de São todos aqueles em que a Administração se limita a
uma profissão. certificar ou atestar um fato, ou emitir uma opinião sobre
determinado assunto, sem se vincular ao seu enunciado.67
64
Assunto cobrado na prova do Fepese/Conselho Regional de Contabilidade de Cespe/CNJ/Analista Judiciário/Área Administrativa/2013.
66

Santa Catarina/Fiscal/Auxiliar Administrativo/2010. Assunto cobrado na prova do Fepese/Conselho Regional de Contabilidade de


67
65
Cespe/DPE-TO/2013. Santa Catarina/Fiscal/Auxiliar Administrativo/2010.

36
Entre os mais comuns, estão os seguintes: No entanto, existem vários casos de extinção do ato
administrativo, entre eles:
Certidões
São cópias ou fotocópias fiéis e autenticadas de atos ou Revogação
fatos constantes no processo, livro ou documento que se
encontra nas repartições públicas; o fornecimento de certi- É o ato pelo qual a Administração extingue um ato admi‑
dões é obrigação constitucional de toda repartição pública, nistrativo revestido de legitimidade, em razão de interesse
desde que requerida pelo interessado; devem ser expedidas público, buscando o bem‑estar coletivo. Os efeitos da revo‑
no prazo improrrogável de 15 dias, contados do registro do gação operam a partir de sua edição (ex nunc), respeitando
pedido (Lei nº 9.051/1995). os já produzidos70, conforme Súmula nº 473, 1969/STF:

A Administração pode anular seus próprios atos,


Atestados
quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
São os atos pelos quais a Administração comprova um porque deles não se originam direitos; ou revogá‑los,
fato ou uma situação de que tenha conhecimento por seus por motivo de conveniência ou oportunidade, respei-
órgãos competentes. tados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos
os casos, a apreciação judicial.
Pareceres
São manifestações de órgãos técnicos sobre assuntos A Lei nº 9.784/1999, em seu art. 53, estabelece que:
submetidos à sua consideração; tem caráter meramente
opinativo68. Podem ser: Art. 53. A Administração deve anular seus próprios
a) Normativos: é aquele que, ao ser aprovado pela atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode
autoridade competente, é convertido em norma de proce- revogá‑los por motivo de conveniência ou oportuni-
dimento interno; ou dade, respeitados os direitos adquiridos.
b) Técnicos: é o que provém de órgão ou agente espe-
Ademais, caso a Administração revogue várias autori-
cializado na matéria, não podendo ser contrariado por leigo zações de porte de arma, invocando como motivo o fato
ou por superior hierárquico. de um dos autorizados ter se envolvido em brigas, referida
revogação só será válida em relação àquele que perpetrou
Apostilas a situação fática geradora do resultado do ato.71
São atos enunciativos ou declaratórios de uma situa­ção O poder de revogar, como em qualquer ato discricionário,
anterior criada por lei. Equivale a uma averbação. encontra limites; portanto, não podem ser revogados:
• atos vinculados72: pois não existe margem para dis-
Atos Punitivos cricionariedade nesses atos.
• atos que exauriram seus efeitos73: se o ato já exauriu
São os que contêm uma sanção imposta pela Adminis‑ seus efeitos não há que se falar em revogação, pois ela
tração àqueles que infringem disposições legais, regula‑ surte efeito a partir de sua edição. Assim, não podem ser
revogados atos que exauriram os seus efeitos, pois a re‑
mentares ou ordinatórias dos bens e serviços públicos69.
vogação supõe ato que ainda esteja produzindo efeitos,
Visam punir e reprimir infrações administrativas ou condutas
como ocorre na autorização para porte de armas.74
irregulares dos servidores ou dos particulares, perante a • atos que geraram direitos adquiridos75: conforme
Administração. Exemplos: Súmula nº 473/STF.
Obs.: Os atos administrativos individuais são re-
Multa vogáveis desde que seus efeitos se revelem incon-
É toda imposição pecuniária a que sujeita o administrado venientes ou contrários ao interesse público, mas
a título de compensação do dano presumido da infração; é ocorre que esses atos podem se tornar irrevogáveis
de natureza objetiva e se torna devida in­dependentemente por circunstâncias supervenientes a sua emissão,
da ocorrência de culpa ou dolo do infrator. quando por exemplo geram direitos subjetivos para
os destinatários.76
Interdição de Atividade • meros atos administrativos77: pois seus efeitos decor-
É o ato pelo qual a Administração veda a alguém a prática rem de lei. Ex.: certidões, atestados, pareceres.
de atos sujeitos ao seu controle ou que incidam sobre seus • atos integrantes de procedimento administrativo78:
bens; deve ser precedida de processo regular e do respectivo pois a cada novo ato ocorre a preclusão do anterior.
auto, que possibilite defesa do interessado.
Anulação
Noções de Direito Administrativo

Destruição de Coisas
É o ato sumário da Administração pelo qual se inutilizam É a extinção do ato administrativo por motivo de ilega‑
alimentos, substâncias, objetos ou instrumentos imprestáveis lidade, feita pela Administração (autotutela) ou pelo Poder
ou nocivos ao consumo ou de uso proibido por lei. 70
Assunto cobrado na prova da Cespe/Prefeitura Municipal de Boa Vista-RR/
Analista Municipal/Procurador Municipal/2010.
71
FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área Administrativa/2010.
Desfazimento do Ato Administrativo – Cessação 72
Assunto cobrado na prova da Esaf/AIET/DNIT/Ambiental/2013.
da Eficácia 73
74
Assunto cobrado na prova da Esaf/AIET/DNIT/Ambiental/2013.
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário
– Apoio Especializado – Medicina, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Tec-
A forma normal de extinção do ato administrativo é o nologia da Informação, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Fisioterapia,
esgotamento do seu conteúdo. Analista Judiciário – Apoio Especializado – Estatística, Analista Judiciário – Apoio
Especializado – Medicina do Trabalho, Analista Judiciário – Apoio Especializado
– Enfermagem, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Psicologia/2010.
68
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto 75
Assunto cobrado na prova da Esaf/AIET/DNIT/Ambiental/2013.
– I/2010. 76
Soluções Concursos/Prefeitura Municipal de Mato Grosso-PB/Advogado/2010.
69
Assunto cobrado na prova do Fepese/Conselho Regional de Contabilidade de 77
Assunto cobrado na prova da Esaf/AIET/DNIT/Ambiental/2013.
Santa Catarina/Fiscal/Auxiliar Administrativo/2010. 78
Assunto cobrado na prova da Esaf/AIET/DNIT/Ambiental/2013.

37
Judiciário79, produzindo uma eficácia retroativa (ex tunc), tanto é possível que haja exceção à regra se devidamente
pois deles não se originam direitos.80 previsto em norma, foi o que fez a Lei nº 9.784/1999, em
Súmula nº 346, 1963/STF: “A Admi­nistração Pública pode seu art. 54, que diz o seguinte:
declarar a nulidade dos seus próprios atos.”
A Lei nº 9.784/1999, em seu art. 53, estabelece que: Art. 54. O direito da Administração de anular os atos
administrativos de que decorram efeitos favoráveis
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios para os destinatários decai em cinco anos, contados
atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode da data em que foram praticados, salvo comprovada
revogá‑los por motivo de conveniência ou oportuni‑ má-fé.84
dade, respeitados os direitos adquiridos.81
Convalidação ou Sanatória
Aqui, a anulação não seria pelo princípio da autotutela
e sim pelo princípio da legalidade. A convalidação é o processo de que se vale a Administra‑
Admite-se a anulação de concurso público, pela própria ção para aproveitar atos administrativos que possuam vícios
administração, ante a ocorrência de vício insanável e ofen- sanáveis, de forma a confirmá-los no todo ou em parte.85
sivo aos princípios da igualdade, da competitividade, da É a prática de um ato posterior que vai conter todos os re-
moralidade, da impessoalidade e da publicidade.82 quisitos de validade, inclusive, aquele que não foi observado
Deve‑se ressaltar que em alguns casos, quando terceiros
no ato anterior e determinar a sua retroatividade à data de
de boa-fé são atingidos por atos nulos, a doutrina reconhece
vigência do ato tido como anulável. Os efeitos passam a con-
a possibilidade de preservação dos seus efeitos, de forma
a garantir a estabilidade das relações jurídicas (DI PIETRO, tar da data do ato anterior (ex tunc); é editado um novo ato.
2008). Um exemplo bastante claro é o do funcionário de fato Normalmente as leis que tratam de direito público silen-
(alguém irregularmente investido no serviço público), que ciam sobre o instituto da convalidação. Entretanto, indicando
praticou atos que tenham atingido terceiro de boa-fé. Estes avanço decorrente da jurisprudência, a Lei nº 9.784/1999,
efeitos devem ser preservados. Por esse motivo, a aplicação em seu art. 55, assim se pronuncia:
da Súmula nº  473/STF tem recebido temperamentos na
jurisprudência, não sendo aplicável quando for possível a Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acar-
convalidação ou, ainda, diante de situações consolidadas, retarem lesão ao interesse público nem prejuí­zo a
que não trouxeram efetiva lesão para o interesse público. terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis
Nesse sentido: poderão ser convalidados pela própria Administração.

Embora o princípio da legalidade imponha a anulação O poder de convalidar também encontra limites, portanto
dos atos viciados, as  relações jurídicas hão de ter não podem ser convalidados:
segurança e as situações constituídas há muito re- • atos válidos ou inexistentes: não existe a possibilidade
querem a manutenção do ato. Segundo Miguel Reale, de convalidar atos que não sejam inválidos ou que não
é possível a convalidação de atos administrativos ei- existam no mundo jurídico;
vados de nulidade que não firam legítimos interesses • atos absolutamente nulos: não podem ser convali-
de terceiros ou do Estado, quando da inexistência de dados atos que apresentem vícios insanáveis, como,
dolo. É a sanatória excepcional do nulo em homena- por exemplo, o ato comprovadamente praticado com
gem à boa-fé. Ademais, há interesse público em se desvio de poder ou desvio de finalidade;
proteger a boa-fé e a confiança dos administrados,
• atos impugnados judicial ou administrativamente: não
garantindo-lhes a proteção da segurança jurídica,
é possível inovar sobre situação jurídica contestada ou
que não pode ser atingida por ilações relativas a uma
suposta atuação de má-fé por parte do administrador. mesmo resistida;
REO nº 1997.39.00.010815-2/PA-TRF. • atos que geraram direito subjetivo ao beneficiá­rio,
entre outros.
A título de exemplo: Simão, comerciante estabelecido na
capital do Estado, requereu, perante a autoridade compe- Cassação
tente, licença para funcionamento de um novo estabeleci-
mento. Embora o interessado não preenchesse os requisitos Ocorre em decorrência do descumprimento das condi-
fixados na normatização aplicável, a Administração, levada ções que deveriam ser atendidas pelo administrado para
a erro por falha cometida por funcionário no procedimento continuar merecedor do desfrute. Ex.: alguém obteve uma
correspondente, concedeu a licença. Posteriormente, cons- permissão para explorar um serviço público, porém des-
tatado o equívoco, a Administração deverá anular o ato, cumpriu uma das condições para a prestação desse serviço.
produzindo a anulação efeitos retroativos à data em que foi
Noções de Direito Administrativo

emitido o ato eivado de vício não passível de convalidação.83 Caducidade


Ainda em matéria de anulação, vale também lembrar,
a questão do prazo de que dispõe o poder público para anular É a cessação dos efeitos do ato em razão de uma lei su-
seus atos. Em regra, pelo princípio da legalidade, a anulação perveniente, com a qual esse ato é incompatível. Ex.: reti­rada
pode ser feita a qualquer momento, não existe prazo, entre- da licença para dirigir, outorgada a menor de idade, em face
da vigência de lei que impede o menor de dirigir.
79
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-Acre/Técnico Judiciário/Área
Administrativa/2010 e FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário – Apoio Especia-
lizado – Medicina, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Tecnologia da Mera Retirada
Informação, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Fisioterapia, Analista
Judiciário – Apoio Especializado – Estatística, Analista Judiciário – Apoio Es- É a revogação de um ato administrativo que ainda não
pecializado – Medicina do Trabalho, Analista Judiciário – Apoio Especializado
– Enfermagem, Analista Judiciário – Apoio Especializado – Psicologia/2010.
começou a produzir efeitos. Não se confunde com a revo-
80
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-Acre/Técnico Judiciário/Área Adminis- gação propriamente dita, uma vez que não existem efeitos
trativa/2010.
81
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal de Contas-RO/Auditor/Substituto 84
Assunto cobrado na prova do Cespe/CNJ/Analista Judiciário/Área Judiciá-
de Conselheiro/2010. ria/2013.
82
Cespe/TJ CNJ/CNJ/Apoio Especializado/Programação de Sistemas/2013. 85
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área
83
FCC/AFR SP/Sefaz SP/Gestão Tributária/2013. Administrativa/2010.

38
a serem preservados. Ex.: Houve nomeação para cargo pú- público podemos afirmar que ele é irrenunciável, consti-
blico e não houve posse. É retirado do mundo jurídico o ato tuindo múnus público (encargo) para o agente, ou seja, ele
de nomeação para que outro seja nomeado e tome posse. é obrigado a agir na defesa dos interesses coletivos.
Corroborando tal afirmação, Meirelles (2005, p. 105)
Conversão assim manifestou:

Aproveita‑se, com outro conteúdo, o ato que inicialmen- Se para o particular o poder de agir é uma faculdade,
te foi considerado nulo. Ex.: Nomeação de alguém para cargo para o administrador público é uma obrigação de
público sem aprovação em concurso, mas poderá haver a atuar, desde que se apresente o ensejo de exercitá‑lo
nomeação para cargo comissionado. A conversão dá ao ato a em benefício da comunidade. É que o Direito Pú-
conotação que deveria ter tido no momento da sua criação. blico ajunta ao poder do administrador o dever de
Produz efeito ex tunc. administrar.
Contraposição ou Derrubada Confirma tal posição Di Pietro (2008, p. 81):
É a retirada de um ato pelo exercício de competência Embora o vocábulo “poder” dê a impressão de que
diversa que gerou o ato anterior, mas cujos efeitos são con- se trata de “faculdade” da Administração, na reali-
traposto aos daqueles. Ex.: exoneração de um servidor, que dade trata‑se de “poder‑dever”, já que reconhecido
aniquila os efeitos do ato de nomeação. ao poder público para que o exerça em benefício da
coletividade; os poderes são, pois, irrenunciáveis.
Renúncia
A liberdade do administrador em deixar de praticar atos
Consiste na extinção dos efeitos do ato ante a rejeição
pelo beneficiário de uma situação jurídica favorável de que de sua competência é muito pouca ou nenhuma. Daí por
desfrutava em consequência daquele ato. Ex.: a renúncia que a omissão da autoridade ou o silêncio da administração,
a um cargo de Secretário de Estado, um beneficiário de quando deve agir ou manifestar‑se, pode gerar a responsabi-
um título honorífico (se desinteressando, a ele renuncia). lidade administrativa, civil e até penal para o agente omisso.
Geralmente, não investe o beneficiário no direito de ser Ainda referindo‑se aos poderes, Meirelles (2005) ensina:
indenizado.
Aos poderes administrativos contrapõem alguns de-
Recusa veres, como a eficiência, a probidade e, uma vez que
a prestação de contas que o administrador não é pro-
Ao recusar o que o ato outorga, seu beneficiário o ex- prietário e sim gestor dos negócios públicos, razão pela
tingue, dado que a aceitação era elemento necessário para qual não constituir‑se mera faculdade, mas poder‑dever.
que o ato pudesse produzir os efeitos para os quais estava
preordenado. A recusa não se confunde com a renúncia, pois Basicamente, são três os principais deveres do adminis-
na recusa rejeita o que não se possui, na renúncia, rejeita trador público: o dever de eficiência, o dever de probidade
o que já se possui. Também não investe o beneficiário no e o dever de prestar contas. Vejamos:
direito de ser indenizado.
Dever de Eficiência
PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Cabe ao agente agir com a máxima eficiência funcional.
O desempenho da atividade administrativa deve ser rápido e
Introdução oferecido de forma que satisfaça o interesse do administrado.
Reside na necessidade de se tornar cada vez mais qualitativa
Para realizar suas atividades, a Administração Pública
detém prerrogativas ou poderes que permitem à autoridade a atividade administrativa.
remover os interesses particulares que se opõem ao interesse A eficiência inicialmente foi acolhida pelo ordenamento
público. Os poderes e deveres do Administrador Público são jurídico no Decreto-Lei nº 200/1967 ao submeter toda a ati-
os expressos em lei, os impostos pela moral administrativa vidade administrativa da Administração Federal ao controle
e os exigidos pelo interesse da coletividade. Cada agente de resultado (arts. 13 e 25, V), ao fortalecer o sistema de
público é investido da necessária parcela de poder para o mérito (art. 25, VII), e ao sujeitar a Administração Indireta
desempenho de suas atribuições. Esse poder é para ser usado à supervisão ministerial quanto à eficiência administrativa
normalmente como atributo do cargo ou da função, e não (art. 26, III). Atualmente promovida a princípio, a eficiência
Noções de Direito Administrativo

como privilégio da pessoa que o exerce. É esse poder que é de observância obrigatória em toda a Administração Direta
empresta autoridade ao agente público quando recebe da e Indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
lei competência decisória e força para impor suas decisões do Distrito Federal e dos Municípios (art. 37, caput, da CF).
aos administrados. O princípio da efi­ciência pressupõe o dever de bem adminis-
Nessas condições, o poder de agir se converte no dever trar, impondo ao administrador a obrigação de realizar suas
de agir. Assim, se no Direito Privado o poder de agir é uma atribuições com rapidez, perfeição e rendimento. Nada justi-
faculdade, no Direito Público é uma imposição, um dever fica qualquer procrastinação, aliás, é justamente essa atitude
para o agente que o detém, pois não se admite a omissão do agente público que pode levar o Estado a indenizar os
da autoridade diante de situações que exijam sua atuação. prejuízos que o atraso possa vir a ocasionar ao administrado.
Após a EC nº 19/1998, que adicionou a efi­ciência no texto
Poder-Dever de Agir constitucional, vários dispositivos foram adicionados à Carta
Magna objetivando o seu cumprimento, tais como a razoável du-
O poder do agente significa um dever diante da socie- ração do processo e os meios que garantem a celeridade de sua
dade. Só aquele que o detém está sempre na obrigação de tramitação (art. 5º, LXXVIII, da CF), a possibilidade de perda do
exercitá‑lo. Pelo princípio da indisponibilidade do interesse cargo de servidor público estável que não seja eficiente (art. 41,

39
III, da CF), a promoção obrigatória de juízes por merecimento, Destarte, o  uso do poder só se legitima quando
conforme o desempenho (art. 93, II, c, e III, da CF). normal, isto é, quando aplicado para a consecução
de interesses públicos e na medida em que for ne-
Dever de Probidade cessário para satisfazer tais interesses.
É dever do agente agir com honestidade e moralidade.
O uso do poder é prerrogativa da autoridade, porém
Está constitucionalmente integrado na conduta do agente pú-
deve guardar conformidade com o que a lei dispuser; não é
blico como elemento necessário à legitimidade de seus atos.
incondicionado ou ilimitado.
Esse dever impõe ao administrador o desempenho de
O uso anormal do poder é o que caracteriza o abuso
suas atribuições pautadas em atitudes retas, leais, justas e
de poder; é a circunstância que torna ilegal, total (desvio
honestas, sob pena de ilegitimidade de suas ações.
de finalidade) ou parcialmente (excesso de poder), o  ato
Para aqueles que praticam atos de improbidade, a Consti-
administrativo, ou irregular sua execução (abuso de poder).
tuição Federal prevê punições civis e político‑administrativas,
O abuso de poder ocorre na fase executória do ato ad-
sem prejuízo das sanções penais cabíveis (art. 37, § 4º).
ministrativo e diz respeito somente aos aspectos materiais
A Lei nº 8.429/1992, que dispõe a respeito das sanções
de sua concretude.
aplicáveis a agentes públicos que cometem atos de impro-
Ocorre o abuso de poder quando a autoridade, embora
bidade administrativa, classifica tais atos em três espécies:
competente para a prática do ato, ultrapassa os limites de
os que importam enriquecimento ilícito (art. 9º), os que
sua atribuição (excesso) ou se desvia das finalidades admi-
causam prejuízo ao erário (art. 10) e os que atentam contra
nistrativas (desvio).
os princípios da Administração Pública, sujeitando seus au-
O abuso de poder, pela própria natureza do fato em si,
tores a penalidades previamente estabelecidas na própria lei
configura-se como ilegalidade, por isso pode ser revisto tanto
(art. 12), além de outras previstas em legislação específica.
administrativa (direito de petição – art. 5º, XXXIV, a, da CF)
quanto judicialmente (habeas data – art. 5º, LXXI, da CF e
Dever de Prestar Contas
Lei nº 9.507/1997; mandado de segurança – art. 5º, LXIX, da
CF e Lei nº 12.016/2009; ação popular – art. 5º, LXXIII, e Lei
O dever do agente público que decorre diretamente do nº 4.717/1965; direito de representação nos casos de abuso
princípio da indisponibilidade do interesse público, sendo de autoridade – Lei nº 4.898/1965).
inerente à função daquele que administra a coisa pública, O uso do poder é lícito; o abuso, sempre ilícito. Daí por
denomina-se dever de prestar contas.86 que todo ato abusivo é nulo, por excesso ou desvio de poder.
O agente deve prestar contas de todos os seus atos, O abuso de poder pode ocorrer de duas formas:
não só da gestão de dinheiros públicos (art. 70, CF) como
de todos os atos de governo (arts. 49, IX, e 71, I, da CF) e Excesso de Poder
de administração (art. 5º, XXXIV, c, da CF). É da essência da
gestão de bens, direitos e serviços alheios o dever de prestar Ocorre quando a autoridade, embora competente para
contas. Com a Administração Pública não poderia ser dife- praticar o ato, vai além do permitido e exorbita no uso de
rente, trata‑se da prestação de contas sobre a gestão de um suas faculdades administrativas. Essa conduta provoca a
patrimônio pertencente à coletividade. ilegitimidade do ato de forma parcial ou total, incidindo
O dever de prestar contas alcança não só os administra- sempre durante a execução do ato autorizado por lei. Pode
dores de entidades e órgãos públicos como, também enti- ser caracterizada pelo descumprimento frontal da lei (quan-
dades paraestatais ou até mesmo particulares que recebam do a autoridade age claramente além de sua competência)
subvenções. A regra é universal: quem utilize, arrecade, ou quando contorna dissimuladamente as limitações da
guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores lei (quando a autoridade se arroga poderes que não lhe
públicos deve prestar contas (art. 70, parágrafo único). são atribuídos legalmente). Para Gasparini (2006, p. 145),
De acordo com a Constituição Federal, essa prestação de o conceito de excesso de poder é o seguinte:
contas deve ser feita ao órgão legislativo de cada entidade
estatal por meio do Tribunal de Contas competente, que Há excesso de Poder quando o próprio conteúdo (o
é o responsável pelo controle externo (no âmbito federal, que o ato decide) vai além dos limites legais fixados.
o controle é feito pelo Congresso Nacional com o auxílio O excesso amplia ou restringe o conteúdo.
do Tribunal de Contas da União), e ao sistema de controle
interno de cada poder.
Embora aparente semelhança com o vício conhecido por
“desvio de finalidade”, com ele não se confunde. No desvio
Uso e Abuso do Poder
Noções de Direito Administrativo

de finalidade o ato administrativo é ilegal, portanto nulo.


No excesso de poder o ato praticado não é nulo por inteiro;
Em um Estado democrático de Direito como o nosso, no prevalece naquilo que não exceder.
qual a Constituição Federal assim o declara em seu art. 1º, O excesso de poder é uma forma de abuso que retira a
impõe-se à Administração que somente atue nos estritos legitimidade da conduta do administrador, colocando-o na
limites da legalidade. ilegalidade (art. 5º, LXIX, da CF) e até mesmo no crime de
O uso de poderes administrativos tem por objetivo im- abuso de autoridade, quando incidir nas previsões penais
pedir o arbítrio, a violência, as perseguições ou favoritismos da Lei nº 4.898/1965.
governamentais, que são desnecessários para atingir a finali-
dade do Estado e, por conseguinte da própria Administração, Desvio de Poder ou Desvio de Finalidade
sendo justamente por esse motivo que devem estar submeti-
dos à lei e principalmente ao princípio da proporcionalidade. Verifica‑se esta espécie de abuso quando a autoridade,
Nesse sentido, Gasparini (2006, p. 142) pronunciou-se: embora atuando nos limites de sua competência, pratica o
ato por motivos ou com fins diversos dos objetivados pela
Esaf/TSIET/DNIT/Estradas/2013.
86 lei ou exigidos pelo interesse público. Constitui-se na vio-

40
lação ideológica da lei, pois busca fins não desejados pelo l) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a
legislador utilizando-se de meios ou motivos imorais para vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;
agir. Este ato é sempre consumado às escondidas ou se apre- m) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz com-
senta disfarçado sob o manto da legalidade e do interesse petente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;
público. Pode-se citar como exemplo uma desapropriação n) deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão
por utilidade pública visando atender interesses próprios ou ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;
a favorecer interesses parti­culares ou, ainda, como instru- o) levar à prisão e nela deter quem quer que se pro-
mento de vingança. Entre os elementos indiciários do desvio ponha a prestar fiança, permitida em lei;
de finalidade está a falta de motivo ou a discordância dos p) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial
motivos com o ato praticado. carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra
No desvio de finalidade o ato administrativo é ilegal, não despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em
há como aproveitá-lo, é nulo. lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor;
É um vício que pode ser atacado por meio de ação po- q) recusar o carcereiro ou agente de autoridade
pular (art. 2º, parágrafo único, d e e, da Lei nº 4.717/1965), policial recibo de importância recebida a título de
e  mandado de segurança (art.  5º, LXIX, da CF e Lei carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer
nº 12.016/2009), constituindo também abuso de autoridade outra despesa;
(Lei nº 4.898/1965). r) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa
natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou
Abuso de Autoridade – Lei nº 4.898/1965 desvio de poder ou sem competência legal;
s) prolongar a execução de prisão temporária, de
A Lei nº 4.898/1965 regula o direito de representação e pena ou de medida de segurança, deixando de
o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, expedir em tempo oportuno ou de cumprir imedia-
nos casos de abuso de autoridade. tamente ordem de liberdade.
Considera-se autoridade (art.  5º) para efeitos dessa
lei: “quem exerce cargo, emprego ou função pública, de Sanções
natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem
remuneração.” Segundo a lei, aquele que pratica abuso de autoridade
Cabe lembrar que o abuso de poder pode ocorrer de está sujeito à responsabilidade administrativa, civil e penal;
duas formas: autônoma ou cumulativamente (art. 6º).
a) Por excesso de poder: quando a autoridade, embora
competente para praticar o ato, vai além do permitido Sanção Administrativa (art. 6º, § 1º)
(comete um plus) e exorbita no uso de suas faculdades As sanções administrativas consistem em:
administrativas. a) advertência;
b) Por desvio de poder ou desvio de finalidade: quando a b) repreensão;
autoridade, embora atuando nos limites de sua competência, c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de
pratica o ato por motivos ou com fins diversos dos objetiva- cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e
dos pela lei ou exigidos pelo interesse público. vantagens;
d) destituição de função;
Direito de Representação e) demissão;
f) demissão, a bem do serviço público.
Para exercer esse direito de representação, nos crimes de
abuso de autoridade, o interessado representará mediante A pena deverá ser aplicada de acordo com a gravidade
petição dirigida à autoridade (civil ou militar) superior que do abuso cometido.
tiver atribuição legal para apurar e aplicar a respectiva sanção
ou ao órgão do Ministério Público que tiver competência para Sanção Civil (art. 6º, § 2º)
iniciar o processo (art. 2º). A sanção civil será aplicada de acordo com a extensão
do dano.
Condutas que Caracterizam Abuso de Autoridade
Sanção Penal (art. 6º, § 3º)
Segundo a Lei nº  4.898/1965 (arts.  3º e 4º), constitui A sanção penal será aplicada de acordo com as regras do
abuso de autoridade qualquer atentado: Código Penal e consistirá em:
a) multa;
Noções de Direito Administrativo

a) à liberdade de locomoção; b) detenção;


b) à inviolabilidade do domicílio; c) perda do cargo e inabilitação para o exercício de
c) ao sigilo da correspondência; qualquer outra função pública por prazo de até três anos
d) à liberdade de consciência e de crença;
(quando a autoridade for policial-civil ou militar, poderá ser
e) ao livre exercício do culto religioso;
cominada a pena autônoma ou acessória de não poder o
f) à liberdade de associação;
acusado exercer funções de natureza policial ou militar no
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao
município da culpa, por prazo de um a cinco anos).
exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo; Poderes Administrativos
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exer-
cício profissional. É o conjunto de prerrogativas conferidas aos agentes
k) ordenar ou executar medida privativa da liberdade públicos que permitem ao Estado que alcance os seus fins.
individual, sem as formalidades legais ou com abuso Os poderes administrativos nascem com a Administração
de poder; e constituem-se em instrumentos necessários para atingir a

41
finalidade do Estado e, por conseguinte, da própria Adminis- de porte de armas (a Administração pode ou não deferir o
tração, que é o bem comum. pedido após analisar o caso).
Nesse sentido, ensina Hely Lopes Meirelles (2005, p. 116): Acontece que, muitas vezes, a lei não é capaz de traçar
todas as condutas de um agente público. Por mais que se
Os poderes administrativos nascem com a Adminis- procure definir elementos que lhe restringem a atuação,
tração e se apresentam diversificados segundo as é certo que, em algumas situações, a própria lei lhe oferece
exigências do serviço público, o interesse da coleti- a oportunidade de avaliar a conveniência e oportunidade
vidade e os objetivos a que se dirigem. dos atos que vai praticar na qualidade de administrador
dos interesses coletivos. É  justamente nessa prerrogativa
Os poderes administrativos são inerentes à Administra- de valoração que se situa o poder discricionário. Conveni-
ção de todas as entidades estatais (União, Estados, Distrito ência e oportunidade são os elementos nucleares do poder
Federal e Municípios) na proporção e limites de suas com- discricionário.
petências institucionais. Podem ser utilizados isoladamente A conveniência indica em que condições vai se conduzir
ou em conjunto para a consecução do mesmo ato, como o agente; a oportunidade diz respeito ao momento em que
ocorre, por exemplo, com o ato de polícia administrativa, a atividade deve ser produzida, ressaltando-se que essa
que normalmente é precedido de uma regulamentação liberdade de escolha tem que se conformar com a finalida-
do Executivo (poder regulamentar), em que a autoridade de, sob pena de não ter sido atingido seu objetivo, que é o
escalona e distribui as funções dos agentes fiscalizadores interesse coletivo.
(poder hierárquico), concedendo-lhes atribuições vinculadas A discricionariedade tanto pode concretizar-se no mo‑
(poder vinculado) ou discricionárias (poder discricionário) mento em que o ato é praticado, quanto a posteriori, no
para a imposição de sanções aos infratores (poder de polícia). momento em que a Administração decide por sua revoga‑
Nesse sentido, ensina Di Pietro (2008): ção88. Entretanto, não pode ser exercida arbitrariamente.
É  necessário que haja adequação (razoabilidade) entre a
Todos eles encerram prerrogativas da autoridade, conduta escolhida pelo agente e a finalidade exigida pela
as  quais, por isso mesmo, só podem ser exercidas norma. Se a conduta escolhida não está de acordo com a
nos limites da lei. finalidade da norma, ela é ilegítima e deve ser objeto de
controle judicial.
Feitas essas considerações, agora vamos estudar os Outro fator importante para se evitar o uso indevido da
poderes administrativos um a um: discricionariedade é a verificação dos motivos inspiradores
da conduta. Se o agente não permite o exame dos fundamen-
Poder Vinculado tos de fato ou de direito que basearam sua decisão, haverá,
no mínimo, fundada suspeita de má utilização do poder
É aquele cujos requisitos (competência, forma, finalida- discricionário e de desvio de finalidade. Tanto a razoabilidade
de, motivo e objeto) estão previamente estabelecidos na quanto a verificação dos motivos constituem meios de evitar
lei. A norma legal condiciona a expedição do ato aos dados o uso indevido da discricionariedade, possibilitando a revisão
constantes de seu texto. A administração fica sem liberdade da conduta administrativa no âmbito da própria administra-
para a expedição do ato. É a lei que regula o comportamento ção ou pelo Poder Judiciário. O que se veda ao Judiciário é
a ser seguido. Ex.: aposentadoria compulsória aos 70 anos. apenas a aferição da conveniência e oportunidade firmados
A atuação vinculada impõe ao administrador a obrigação em parâmetros legais; a ilegalidade sempre será passível de
de conduzir-se rigorosamente em conformidade com os sua revisão (art. 5º, XXXV, da CF).
parâmetros legais, diferentemente do poder discricionário,
em que o administrador tem a prerrogativa de decidir qual Súmula nº 346, 1963/STF: A Administração Pública
a conduta mais adequada à satisfação do interesse público. pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
Se todos os elementos do ato têm previsão legal, bastará
para o controle da legalidade. Havendo adequação entre os Súmula nº 473, 1969/STF: A Administração pode
seus elementos, o ato será válido; se não houver, haverá vício anular seus próprios atos, quando eivados de vícios
de legalidade passível de controle pela própria Administração que os tornam ilegais, porque deles não se originam
ou pelo Poder Judiciário. direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
O controle de legalidade feito pela própria Administração ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos,
pode atingir todos os elementos/requisitos (competência, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Noções de Direito Administrativo

forma, finalidade, motivo e objeto) do ato administrativo,


porém o controle de legalidade feito pelo Poder Judiciário Poder Hierárquico
abrange apenas os requisitos que são sempre vinculados
em todos os atos administrativos (competência, forma e É o poder por meio do qual “os órgãos e respectivas
finalidade), inclusive naqueles que são discricionários. funções são escalonados numa relação de subordinação
e de crescente responsabilidade”89. Do poder hierárquico
Poder Discricionário decorrem faculdades para o superior, tais como:
a) Dar ordens e fiscalizar seu cumprimento: dar ordens é
É a faculdade conferida à autoridade administrativa para, determinar, especificamente, aos subordinados os atos que
diante de certa circunstância, optar entre várias soluções devem praticar ou a conduta a ser seguida em caso concreto;
possíveis por aquela que melhor atenda ao interesse público. fiscalizar é vigiar permanentemente os atos praticados pelos
Há um juízo de conveniência e oportunidade87. Ex.: pedido
Cespe/AJ/CNJ/Analista Judiciário/Área Administrativa/2013.
88

Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-RS/Analista Judiciário/Área Judiciá-


87
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-RS/Analista Judiciário/Área Judiciá-
89

ria/2010. ria/2010.

42
subordinados, com o intuito de mantê-los dentro dos pa- Poder Regulamentar (ou Normativo)
drões legais regulamentares instituídos para cada atividade
administrativa. Impõe ao administrado obediência, sob pena É o poder conferido aos Chefes do Executivo para editar
de responsabilização. decretos e regulamentos com a finalidade de oferecer fiel
b) Delegar e avocar atribuições e rever atos dos inferiores: execução à lei, ou completá‑las, se for o caso96. Decorre de
delegar é conferir a outrem atribuições que originariamente disposição constitucional (art. 84, IV, CF/1988). Por viabilizar
competem ao delegante. As  delegações são admissíveis, sua execução, ao poder regulamentar não cabe contrariar
desde que expressamente prevista em lei. No âmbito admi- a lei, sob pena se sofrer invalidação. Seu exercício somente
nistrativo, as delegações são frequentes e, como emanam pode dar‑se em conformidade com o conteúdo da lei e nos
do poder hierárquico, não podem ser recusadas pelo subor- limites que ela impuser.
dinado. Não podem ser objeto de delegação as atribuições No poder de chefiar a Administração, o poder de regu-
de caráter exclusivo do órgão ou da autoridade. (Art. 13, I, lamentar a lei e suprir com normas próprias as omissões do
da Lei nº 9.784/1999). Legislativo (desde que esteja no âmbito de sua competência)
Avocar é chamar a si funções originariamente atribuí­ faz‑se necessário, uma vez que a imprevisibilidade de certos
das a um subordinado. Só pode ser adotada pelo superior fatos e circunstâncias, que surgem, reclamam providências
hierárquico e quando houver motivos relevantes para tal imediatas da Administração, impondo aos Chefes do Executi-
(art. 15 da Lei nº 9.784/1999).90 vo o poder de regulamentar, por meio de decreto, as normas
Rever atos de inferiores é apreciá-los em todos os seus legislativas incompletas, ou de prover situações não previstas
elementos (competência, forma, finalidade, motivo, objeto), pelo legislador, mas que ocorrem na prática administrativa.
a fim de mantê-los ou invalidá-los, de ofício ou por provoca- Tal poder compreende a edição de decretos autônomos,
ção do interessado. A revisão hierárquica é possível enquanto restringindo-se estes às hipóteses decorrentes de exercício
o ato não se tornou definitivo para a administração, ou não de competência própria, outorgada diretamente pela
criou direito subjetivo para o interessado. Constituição.97
c) decidir conflitos de atribuições (choque de competência). O regulamento é ato administrativo geral e normativo,
Não existe hierarquia no judi­ciário e no legislativo em expedido privativamente pelos Chefes do Executivo, por
suas funções essenciais. A hierarquia é privativa da função meio de decreto, com o fim de explicar o modo e forma
executiva. de execução da lei (regulamento de execução) ou prover
situações não disciplinadas em lei (regulamento autônomo
Poder Disciplinar ou independente).
Na omissão da lei o regulamento supre a lacuna, até que
É o poder atribuído a autoridades administrativas, com o legislador a complete. Enquanto não fizer, o regulamento
o objetivo de apurar e punir faltas funcionais91. O poder tem plena validade, desde que não invada matéria reservada
disciplinar não se confunde com o poder punitivo do Esta- à lei.
do por meio da justiça penal. Ele só abrange as infrações Caso contrário, quando a lei trouxer a recomendação de
relacionadas com o serviço92. O poder de aplicar a pena é o ser regulamentada, ela não será exequível antes da expe-
poder‑dever, ou seja, o superior não pode ser condescenden- dição do decreto regulamentar. Caso a lei estabeleça prazo
te na punição, ele não pode deixar de punir. É considerada a para a expedição da regulamentação, decorrido este sem a
condescendência, na punição, crime contra a Administração publicação do decreto, os destinatários da norma podem
Pública (art. 320 do Código Penal). invocar seus preceitos e auferir todas as vantagens dela
O poder disciplinar aplica-se aos servidores públicos decorrentes. Todavia, se o regulamento for imprescindível
hierarquicamente subordinados, bem como àqueles dota- para a execução da lei, o beneficiário poderá utilizar‑se de
dos de autonomia funcional.93 mandado de injunção para obter a norma regulamentadora
A doutrina aponta o poder disciplinar como discricio- (art. 5º, LXXI).
nário, o que deve ser entendido em seus devidos termos. Cabe ao Congresso Nacional sustar os atos normativos
A Administração não tem liberdade de escolha entre punir e dos Chefes do Executivo que exorbitem do poder regula‑
não punir, a discricionariedade está justamente na natureza mentar98 (art. 49, V, da CF).
e gravidade da penalidade a ser aplicada. Há também outros atos normativos que, editados por
Por outro lado, no mesmo diploma legal, temos casos outras autoridades administrativas, se caracterizam como
vinculados, afirmando expressamente os casos em que será inseridos no poder regulamentar. É o caso de instruções
aplicada a penalidade de demissão: normativas, resoluções, portarias, regimento, entre outros.
Noções de Direito Administrativo

É certo que a discricionariedade existe, mas é limita‑ Tais atos têm um círculo de aplicação mais restrito.
da, uma vez que nenhuma penalidade pode ser aplicada
sem prévia apuração por meio de procedimento legal, Poder de Polícia
sem a devida motivação (art. 128, parágrafo único, da Lei
nº 8.112/1990)94 e sem os meios que lhe assegurem o con‑ É o poder conferido à Administração para condicionar,
traditório e a ampla defesa (art. 5º, LV, da CF).95 restringir, frenar o exercício de direitos e atividades dos
particulares em nome dos interesses da coletividade. Essa
é uma definição construída pela doutrina. Existe, no entan-
90
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto
– I/2010. to, uma definição legal do poder de polícia que também
91
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-RS/Analista Judiciário/Área Judiciá-
ria/2010.
92
FCC/TCE-SP/Auditor/2013. 96
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TCE-SP/Auditor/2013 e FCC/TRE-RS/
93
FCC/Tribunal de Contas-RO/Auditor/Substituto de Conselheiro/2010. Analista Judiciário/Área Judiciária/2010.
94
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto 97
FCC/Tribunal de Contas-RO/Procurador do Ministério Público Junto ao Tribunal
– I/2010. de Contas/2010.
95
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto 98
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho
– I/2010. Substituto – I/2010 e FCC/TRE-RS/Analista Judiciário/Área Judiciá­ria/2010.

43
.
surge como fato gerador do gênero tributo, a taxa. Está Finalidade
prevista nos arts. 77 e 78, do Código Tributário Nacional (Lei A finalidade do poder de polícia é a proteção ao interesse
nº 5.172/1966), que assim dispõem: público no seu sentido mais amplo. Nesse interesse superior
da coletividade, entram não só os valores materiais como,
Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, também, o patrimônio moral e espiritual do povo, expresso
pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbi- na tradição, nas instituições e nas aspirações nacionais da
to de suas respectivas atribuições, têm como fato maioria que sustenta o regime político adotado e consagra-
gerador o exercício regular do poder de polícia, ou do na Constituição e na ordem jurídica vigente. Desde que
a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público ocorra um interesse púbico relevante, justifica-se o exercício
específico e divisível, prestado ao contribuinte ou do poder de polícia da Administração para a contenção de
posto à sua disposição. atividades particulares antissociais.
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da
administração pública que, limitando ou disciplinan- Condições de Validade
do direito, interesse ou liberdade, regula a prática As condições de validade do ato de polícia são as mes-
de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse mas do ato administrativo comum: a competência, a finali-
público concernente à segurança, à higiene, à ordem, dade e a forma, acrescidas da proporcionalidade da sanção
aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, e da legalidade dos meios empregados pela Administração.
ao exercício de atividades econômicas dependentes A competência, a finalidade e a forma são condições
de concessão ou autorização do Poder Público, à tran- gerais de eficácia de todo ato administrativo, a cujo gênero
quilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos pertence a espécie ato de polícia.
direitos individuais ou coletivos. A proporcionalidade entre a restrição imposta pela
Administração e o benefício social que se tem em vista
A competência para exercer o poder de polícia é, em prin- constitui requisito específico de validade do ato de polícia,
cípio, da pessoa federativa (arts. 21, 22, 25 e 30 da CF) à qual como também a correspondência entre a infração cometida
a Constituição Federal atribuiu o poder de regular a matéria e a sanção aplicada, quando se tratar de medida punitiva.
(poder de polícia originário), ou seja, os assuntos de interesse Sacrificar um direito ou uma liberdade do indivíduo sem
nacional ficam sujeitos a regulamentação e a policiamento vantagem para a coletiva invalida o fundamento social do
da União; as matérias de interesse regional sujeitam-se às ato de polícia, pela desproporcionalidade da medida. Des-
normas e à polícia estadual; e os assuntos de interesse local proporcional também é o ato que aniquila a propriedade
subordinam-se às normas e à polícia municipal. Aquelas ou a atividade a pretexto de condicionar o uso do bem ou
em que a competência for concorrente ensejam o exercício de regular a profissão.
conjunto do poder de polícia (art. 24 da CF). Já a legalidade dos meios empregados pela Administra-
Por fim, o poder de polícia pode ser originário ou dele- ção é o último requisito para a validade do ato de polícia.
gado. O poder de polícia originário é, conforme visto acima, Na escolha do modo de efetivar as medidas de polícia, não
aquele exercido pelas pessoas federativas; nascem com se compreende o poder de utilizar meios ilegais para sua
elas. Já o poder de polícia delegado é aquele outorgado às consecução, embora lícito e legal o fim pretendido.
pessoas administrativas do Estado, integrantes da chamada
Administração Indireta. Cabe ressaltar que a doutrina, em Liberdades Públicas e Poder de Polícia
sua maioria, não admite a delegação do poder de polícia O exercício dos direitos individuais deve ser compatí-
a pessoas da iniciativa privada, ainda que prestadores de vel com o bem estar-social ou com o próprio interesse da
serviços de titularidade do Estado, porque o poder de im- Administração Pública. Por vezes, os direitos individuais
pério é próprio e privativo do Poder Público. Nesse sentido, encontram-se plenamente delineados na lei, outras vezes,
temos o disposto no art. 4º, III, da Lei nº 11.079, que regula cabe à Administração Pública, nos limites legais, reconhecê-
as denominadas parcerias público-privadas: -los e aplicá-los ao caso concreto.
Convém destacar, todavia, que cabe ao Poder Legislati-
Art. 4º Na contratação de parceria público-privada vo criar as limitações administrativas, porém sua aplicação
serão observadas as seguintes diretrizes: concreta compete à Administração Pública que determinará,
[...] segundo as circunstâncias.
III – indelegabilidade das funções de regulação, juris- Desse modo, a Administração Pública regulamenta as
dicional, do exercício do poder de polícia e de outras leis e controla sua aplicação, por meio de ordens, licenças,
Noções de Direito Administrativo

atividades exclusivas do Estado. autorizações e notificações, agindo de forma repressiva ou


preventiva.
O que autoriza o Poder Público a condicionar ou restrin- Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, há o poder
gir o exercício de direitos e a atividade dos parti­culares é a de polícia em sentido amplo, sendo uma atividade estatal,
supremacia do interesse público sobre o interesse particular; abrangendo tanto os atos do Legislativo quanto do Executivo,
eis a sua finalidade (razão) e o seu fundamento. A finalidade que condicionam a liberdade e a propriedade, se ajustando
do poder de polícia é o interesse coletivo e o seu funda- aos interesses coletivos, e o conceito de poder de polícia em
mento está na supremacia geral que o Estado exerce em sentido restrito, que compreende apenas atos do Poder Exe-
seu território sobre todas as pessoas, bens e atividades, su- cutivo, sendo destinado a alcançar o mesmo fim de prevenir
premacia que se revela nos mandamentos constitucionais e e obstar ao desenvolvimento de atividades particulares que
nas normas de ordem pública, que a cada passo opõem contrastam com os interesses sociais, relacionando-se, assim,
condicionamentos e restrições aos direitos individuais em unicamente com as intervenções quer gerais e abstratas,
favor da coletividade, incumbindo ao Poder Público o seu como os regulamentos, quer concretas e específicas, como
policiamento administrativo. as autorizações, licenças e injunções.

44
Principais Setores de Atuação da Polícia cação de multa e a interdição da atividade, chegando até
Administrativa mesmo a fechar o estabelecimento no caso de reincidência.
A polícia administrativa manifesta-se em diferentes se- Já a polícia judiciária, em regra, age repressivamente,
tores: investigando delitos cometidos e aplicando a devida sanção,
• Polícia de caça: destina-se à proteção da fauna ter- mas também pode atuar preventivamente, por exemplo,
restre. quando faz policiamento de rotina em locais de risco,
• Polícia de pesca: destinada à proteção da fauna aquá- evitando‑se assim a prática de futuros crimes.
tica. Provada a impropriedade da referida aplicação, procedere-
• Polícia de divertimentos públicos: visando à defesa mos a uma diferenciação que não deixa margem para dúvidas:
dos valores sociais suscetíveis de serem feridos por
espetáculos teatrais, cinematográficos. Polícia Administrativa X Polícia Judiciária
• Polícia de pesos e medidas: para a fiscalização dos Atua sobre bens, direitos e X Atua sobre pessoas.
padrões de medida, em defesa da economia popular. atividades.
• Polícia de tráfego e trânsito: para garantia da ordem Direito Administrativo. X Direito Penal/Proces­
e segurança nas vias e rodovias, afetável por motivo sual112.
de circulação nelas. Inicia e encerra sua atividade X Inicia na Administração
• Polícia dos logradouros públicos: destinada à proteção na Administração. e prepara a atuação dos
da tranquilidade pública. órgãos jurisdicionais.
• Polícia sanitária: voltada à defesa da saúde pública e Ex.: qualquer setor onde as É privativa de corporações
incidente em vários campos, como a polícia de me- normas de polícia se fazem especializadas (Polícia Civil
dicamentos, das condições de higiene nas casas de sentir: Polícia de trânsito, Po- e Militar).
pasto, dos índices acústicos toleráveis. lícia sanitária, Polícia de pesca,
• Polícia da atmosfera e das águas: para impedir suas até a própria Polícia Militar.
respectivas poluições. 100
• Polícia edilícia: relativa às edificações, entre outras.
Abrangência do Poder de Polícia
Note que todos os setores acima citados são apenas O seu âmbito de incidência é amplo. Pode‑se dizer que
exemplificativos, outros, portanto existem. O importante, onde houver relevante interesse da coletividade, ou até mes-
entretanto, é saber que todos esses campos estão marcados mo do Poder Público, há de haver o poder de polícia para dar
pelas características aqui estudadas, referente ao pode de provimento a tais interesses. Ocorre, por exemplo, quando
polícia. atuar sobre o direito da livre manifestação do pensamento,
na intervenção da propriedade, no combate ao abuso do
poder econômico, a esta ou aquela liberdade, entre outros.
Polícia Administrativa X Polícia Judiciária
O poder de polícia pode ser exercido de duas formas Limites do Poder de Polícia
distintas: a polícia administrativa e a polícia judiciária. Antes O exercício do poder de polícia encontra limites no pró-
de traçar as diferenças entre cada um desses setores, cabe prio princípio da legalidade, uma vez que o setor encarregado
ressaltar que ambos se enquadram no âmbito da função de exercer o poder deve ter regulamentação legal, embora
administrativa, ou seja, representam atividades de gestão os atos materiais e administrativos em sua maioria guardem
de interesses públicos. boa dose de discricionariedade.
A polícia administrativa é atividade da Administração Outro aspecto, no que concerne aos limites do poder de
que se exaure em si mesma, ou seja, inicia e se completa no polícia, diz respeito aos requisitos de validade: competência,
âmbito da função administrativa, e é executada por órgãos forma e finalidade, que são requisitos vinculados em todos os
administrativos de caráter mais fiscalizador. O mesmo não atos administrativos e surgem como limites para o exercício
ocorre com a polícia judiciária, que, embora seja atividade do poder de polícia. Quanto aos requisitos que podem ser
administrativa, prepara a atuação da função jurisdicional e discricionários, motivo e objeto, deverão sempre atender ao
é executada por órgãos de segurança. princípio da proporcionalidade dos meios empregados, ou
O objeto do poder de polícia administrativa é todo bem, seja, adequação e necessidade entre a restrição imposta e o
direito ou atividade individual que possa afetar a coletivi- benefício coletivo que será colhido com tal medida.
dade ou pôr em risco a segurança nacional.99 Alguns doutrinadores costumam indicar regras a serem
Alguns doutrinadores tentam atribuir como traço mar-
Noções de Direito Administrativo

observadas pela polícia administrativa, com o fim de não


cante para a polícia administrativa atuar preventivamente e eliminar os direitos individuais:
para a polícia judiciária agir repressivamente. Essa afirmação,
entretanto, não é absoluta, pois as duas podem agir das
Necessidade O poder de polícia só deve ser adotado
duas formas.
Senão vejamos: para evitar ameaças reais ou prováveis
A polícia administrativa age preventivamente, quando, de perturbação ao interesse público.
por exemplo, visita um estabelecimento comercial e orienta Proporcionalidade É a exigência de uma relação entre
os comerciantes quanto à proibição de expor à venda produ- a limitação ao direito individual e o
tos impróprios para o consumo, mas na maioria das vezes a prejuízo a ser evitado.
vemos agindo repressivamente, geralmente motivada por Eficácia A medida deve ser adequada para
denúncia, pois quando chega ao estabelecimento já se depa- impedir o dano ao interesse público.
ra com mercadorias sendo vendidas sem a higiene adequada,
devendo então proceder à apreensão da mercadoria, à apli-
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área
100

Cespe/CNJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2013.


99
Administrativa/2010.

45
É por isso que os meios diretos de coação só devem ser Há doutrinadores que sustentam outro atributo:
utilizados quando não houver outro meio eficaz para alcançar
o mesmo objetivo; se forem desproporcionais ou excessivos Atividade negativa – É atividade negativa no sentido de que
deverão ser invalidados. sempre impõe uma abstenção ao particular; uma obrigação
de não fazer (BANDEIRA DE MELO, 2008, p.817).
Atributos do Poder de Polícia
O poder de polícia possui três atributos específicos e Meios de Atuação
inerentes ao seu exercício: No exercício do poder de polícia, a Administração age,
preventivamente, não só por meio de ordens e proibições,
Discricionariedade mas, sobretudo, por meio de normas limitadoras e sancio-
No poder de polícia, a discricionariedade traduz‑se na nadoras da conduta daqueles que utilizam bens ou exercem
opção legítima que a Administração Pública tem de escolher atividades que possam afetar a coletividade, estabelecendo
o melhor momento para agir, o meio de atuação necessário e as denominadas limitações administrativas (obrigação de
a sanção que mais se enquadra para atingir o fim colimado. fazer, de não fazer, deixar fazer; suportar).
Cabe ressaltar que o ato de polícia é, em princípio, Para tanto, o  Poder Público edita leis e os órgãos
discricionário, mas passará a ser vinculado se a norma executivos expedem regulamentos e instruções fixando
legal que o rege estabelecer o modo e a forma de sua as condições e requisitos para o uso da propriedade e o
rea­lização101. Nesse caso, a autoridade só poderá praticá-lo exercício das atividades que devam ser policiadas. Após as
validamente atendendo a todas as exigências da lei ou do verificações necessárias, é outorgado o respectivo alvará de
regulamento pertinente. Não se confunde discricionarie- licença ou autorização.
dade com arbitrariedade. Discricionariedade é liberdade Os alvarás de licença ou autorização são denominados
de agir dentro dos limites legais; arbitrariedade é ação na doutrina de atos de consentimento da Administração
fora ou excedente da lei, com abuso ou desvio de poder (atos concretos), ou seja, representam a resposta positiva
(desvio de finalidade). da Administração Pública aos pedidos formulados pelos
indivíduos que tenham interesse em exercer determinada
Autoexecutorie­dade atividade que dependa do referido consentimento para ser
É prerrogativa que tem a Administração Pública de exe- considerada legítima.
cutar o ato, por seus meios próprios, sem a necessidade de Convém, entretanto, estabelecermos a diferença entre
intervenção do Poder Judiciário. Com efeito, no uso desse alvará de licença e alvará de autorização.
poder, a Administração impõe diretamente as medidas ou O alvará de licença é ato vinculado e, como regra, defi-
sanções de polícia administrativa necessárias à contenção nitivo. Consubstancia um direito subjetivo do requerente e
antissocial que ela visa impedir102. Se o particular se sentir deve ser expedido desde que satisfeitas todas as exigências
prejudicado em seus direitos, poderá reclamar, pela via estabelecidas nas normas. Só pode ser anulado por ilegalida-
adequada, ao Judiciário, que intervirá oportunamente para de na sua expedição; revogado por interesse público super-
a correção de eventual ilegalidade administrativa ou fixação veniente, devidamente justificado e mediante indenização
da indenização que for cabível. A autoexecutoriedade auto- caso já iniciadas as obras; ou cassado por descumprimento
riza a prática do ato de polícia administrativa pela própria das normas legais na sua execução. Como exemplo, temos
administração, independentemente de mandado judicial. o alvará para construção; satisfeitas as normas edilícias,
A multa de trânsito é uma exceção à regra da autoexecu- necessariamente deve ser expedido.
toriedade. Para ser executada, deverá aguardar o prazo para Já o alvará de autorização constitui ato discricionário e
a defesa de quem foi multado, e sua execução só poderá ser precário. A Administração o concede por liberalidade e desde
efetivada pela via judicial. que não haja impedimento legal para a sua expedição. Por
sua vez, pode ser revogado a qualquer momento e sem in-
Coercibilidade denização. Como exemplo, temos o uso de um bem público,
Implica a imposição coativa das medidas ou decisões a autorização para compra de arma de fogo e também para
adotadas pela Administração ao administrado, admitindo o o seu porte. (Art. 4º e 10 da Lei nº 10.826/2003).
emprego da força – se houver oposição do infrator – dentro Além dos atos normativos e dos atos concretos (atos
dos limites da legalidade. de consentimento), a  Administração pode manifestar-se
Não existe ato de polícia facultativo para o particular, por meio de atos de fiscalização. De nada adiantaria a ela
todos eles admitem a coerção estatal para torná-los efetivos, poder impor restrições aos indivíduos se não dispusesse de
e essa coerção também independe de autorização judicial. mecanismos necessários à fiscalização de suas condutas.
Noções de Direito Administrativo

Essa fiscalização restringe-se à verificação da normalidade


É a própria Administração que determina e faz executar
do uso do bem público ou da atividade policiada, ou seja,
as medidas de força necessárias para a execução do ato ou
se a sua utilização ou realização condiz com estabelecido
aplicação da penalidade administrativa resultante do exer-
no respectivo alvará. Caso se depare com irregularidade ou
cício do poder de polícia. A coercibilidade do ato de polícia
infringência legal, é inevitável que o agente fiscalizador im-
justifica o emprego da força física quando houver oposição
ponha ao administrado alguma obrigação de fazer ou de não
do infrator, mas não legaliza a violência desnecessária ou des-
fazer ou aplique-lhe uma sanção, que deverá ser formalizada
proporcional à resistência, que em tal caso pode caracterizar
por meio do respectivo auto de infração constando a sanção
o excesso de poder e o abuso de autoridade nulificadores do cabível para oportuna execução pela própria Administração,
ato praticado e ensejadores das ações civis e criminais para salvo nos casos de multa, que só poderá ser executada por
reparação do dano e punição dos culpados. via judicial.
101
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/
Área Administrativa/2010 e FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área Admi- Sanções
nistrativa/201030. Como sanções decorrentes de atos de fiscalização do
102
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área
Administrativa/2010. poder de polícia, temos a multa, a demolição de construção,

46
a interdição de atividade, a destruição de coisa, a inutilização A necessidade de obtenção de autorização do Senado
de bens privados, a cassação de patentes, a proibição de fa- Federal para que os estados possam contrair empréstimos
bricar produtos e tudo o mais que houver de ser impedido em externos configura controle preventivo da administração
defesa da moral, da saúde e da segurança pública, bem como pública.103
da segurança nacional, ou seja, em benefício do interesse
coletivo,desde que estabelecidos em lei ou regulamento. Concomitante
Essas sanções, por ser o ato de polícia autoexecutável, Acompanha a situação administrativa no momento em
são impostas e executadas pela própria Administração em que ela se verifica. É o que ocorre, por exemplo, com a fis-
procedimentos administrativos compatíveis com as exigên- calização de um contrato em andamento.
cias do interesse público.
O que se requer é a legalidade da sanção e a proporcio- Posterior ou corretivo
nalidade à infração cometida ou ao dano que a atividade Tem por objetivo a revisão de atos já praticados, para
causa à coletividade ou ao próprio Estado. corrigi‑los, desfazê‑los ou, somente, confirmá‑los. Abrange
Na esfera federal a Lei nº 9.873/1999 (art. 1º), estabelece atos como os de aprovação, homologação, anulação, revo-
o prazo prescricional de cinco anos para a Administração gação ou convalidação.
apurar infrações no exercício do poder de polícia:
A prescrição também incide no procedimento administra- Quanto à Natureza do Controle
tivo parado por mais de três anos, pendente de julgamento
ou despacho (§1º do art. 1º da Lei nº 9.873/1999). Legalidade
Todavia, quando o fato constituir crime, a  prescrição É o que verifica a conformidade da conduta administrativa
reger-se-á pelo Código Penal (§2º do art. 1º da Lei nº com as normas legais que a regem. Vale dizer que a Admi-
9.873/1999). nistração exercita‑o de ofício (controle interno) ou mediante
Por fim, importante saber que o disposto nessa lei não provocação (controle externo); o Legislativo só o efetiva nos
se aplica a infrações de natureza funcional nem tributária. casos constitucionalmente previstos (art. 71 da CF); e o Judi-
(§ 5º do art. 1º da Lei nº 9.873/1999) ciário por meio da ação adequada. Por esse controle, o ato
ilegal e ilegítimo somente pode ser anulado, e não revogado.
CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Mérito
BRASILEIRA É o que se consuma pela verificação da conveniência e
da oportunidade da conduta administrativa. A competência
Conceito para exercê‑lo é da Administração, e, em casos excepcionais,
expressos na Constituição, ao Legislativo (art. 49, IX e X), mas
Ora aparece como o poder/dever de fiscalização e revi- nunca ao Judiciário.
são, ora aparece como a faculdade de vigilância, orientação
e correção que um Poder, órgão, ou autoridade exerce sobre Quanto ao Órgão que o Exerce
a conduta funcional de outro.
Em razão da amplitude do conceito, inúmeros são os No exercício de suas funções, a administração pública se
critérios adotados pela doutrina para identificar as espécies sujeita ao controle dos Poderes Legislativo e Judiciário, além
de controle. de exercer, ela mesma, o controle sobre os próprios atos.104

Espécies de Controle Controle Administrativo


É exercido pelo Executivo, mas também pode ser
Quanto à Extensão do Controle exercido pelos órgãos administrativos do Legislativo e do
Judiciário, sob os aspectos de legalidade e mérito, por
Interno iniciativa própria (autotutela) ou mediante provocação.105
É todo aquele realizado pela entidade ou órgão respon-
sável pela atividade controlada, no âmbito de sua própria Meios de Controle
administração. • Fiscalização Hierárquica – É a exercida pelos órgãos
superiores sobre os inferiores integrantes da mesma
Externo Administração. É meio de controle inerente ao poder
Ocorre quando o órgão fiscalizador se situa em Admi- hierárquico (autotutela).106
nistração diversa daquela de onde a conduta administrativa • Supervisão Ministerial  – Aplicável geralmente nas
Noções de Direito Administrativo

se originou. entidades de administração indireta vinculadas a


um Ministério (Decreto‑Lei nº 200/1967, art. 19).
Externo Popular Observe‑se que supervisão não é a mesma coisa que
É o que determina que as contas públicas fiquem durante subordinação, trata‑se de controle finalístico (tutela).
sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contri- A tutela corresponde ao controle exercido pela Admin-
buinte, para exame e apreciação, podendo ser questionada istração sobre entidade integrante da Administração
por meio de mandado de segurança ou ação popular. indireta, com o objetivo de garantir a observância de
suas finalidades institucionais.107
Quanto ao Momento em que se Efetua
103
Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/Área Judiciária/2013.
104
Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013.
Prévio ou Preventivo 105
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-RS/Analista Judiciário/Área
É o controle exercido antes de consumar‑se a conduta Judiciária/2010 e FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/Analista
administrativa, como ocorre, por exemplo, com aprovação Judiciário/Área Judiciária/Execução de Mandatos/2010.
106
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/Área Adminis-
prévia, por parte do Senado Federal, do Presidente e de trativa/2013.
Diretores do Banco Central. 107
FCC/TCE-SP/Auditor/2013.

47
• Recursos Administrativos  – São meios hábeis que próprios atos; a perda do prazo para aplicação de penalida-
podem ser utilizados para provocar o reexame do ato des administrativas.
administrativo, pela própria Administração Pública. Em
regra, o efeito é devolutivo, ou seja, devolve o exame Coisa Julgada Administrativa
da matéria à autoridade competente para decidir. Se Significa apenas que a decisão se tornou irretratável
for suspensivo, deve estar previsto em lei, pois, como pela própria Administração, podendo ser revista pelo Poder
o próprio nome já diz, suspende os efeitos do ato até Judiciário.
a decisão do recurso, podendo ser atacado pelas vias
judiciais somente se ocorrer omissão. Controle Legislativo
É o exercido pelos órgãos legislativos ou por Comis‑
Nesse sentido: sões Parlamentares sobre determinados atos do Poder
Executivo.110
Súmula nº 429/STF: A existência de recurso adminis-
trativo com efeito suspensivo não impede o uso do Meios de Controle
mandado de segurança contra omissão da autoridade. • Controle Político – Tem por base a possibilidade de
fiscalização sobre atos ligados à função administrativa
• Direito de Petição – É o direito que toda pessoa tem, pe-
e organizacional do Poder Executivo e do Poder Judi-
rante a autoridade administrativa competente, de defender
ciário. A instauração de CPIs, a oitiva de testemunhas
seus direitos ou noticiar ilegalidade ou abuso de autoridade
e indiciados, a competência do Congresso Nacional
pública (art. 5º, XXXIV, da CF). Dentro do direito de petição,
encontramos os seguintes recursos: para sustar os atos do Poder Executivo que exorbitem
do poder regulamentar ou dos limites de delegação
– Representação: constitui‑se em denúncia de irregu-
legislativa (art. 49, V, da CF) e outros procedimentos
laridades feita perante a própria Administração, o Tri-
bunal de Contas ou outros órgãos de controle, como apuratórios fazem parte do rol do controle político do
o Ministério, por exemplo. Quando for representação Poder Legislativo (art. 58, § 3º, da CF).
por abuso de autoridade, aplica‑se o disposto na Lei • Controle financeiro – É o controle exercido pelo Con-
nº 4.898/1995. gresso Nacional, com o auxílio do Tribunal de Contas da
– Reclamação administrativa: oposição expressa a atos União, sobre os atos do Executivo e do Judiciário (controle
da Administração que afetem direitos ou interesses externo) e sobre sua própria administração (controle
legítimos do interessado. Está prevista no Decreto interno) no que se refere à gestão dos recursos públicos.
nº 20.910/1932. Caberá reclamação administrativa, Áreas fiscalizadas: contábil, financeira, orçamentária,
perante o Supremo Tribunal Federal, quando ato admi- operacional e patrimonial da União e das entidades da admi-
nistrativo contrariar enunciado de súmula vinculante ou nistração direta e indireta quanto à legalidade, legitimidade,
que indevidamente a aplicar. Se a reclamação for julgada
economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de
procedente, anulará o ato administrativo e determinará
receitas (art. 70 da CF).
que outro seja proferido com ou sem a aplicação da
súmula, conforme o caso (art. 103‑A da CF).
Subvenções Valores repassados pelo Poder Público para subsídio e
– Pedido de Reconsideração: solicitação de reexame incremento de atividades de interesse social, tais como
dirigida à mesma autoridade que praticou o ato. assistência social, hospitalar e educacional.
– Recurso Hierárquico Próprio: por decorrer da hie- Renúncia de Por meio da renúncia fiscal (perdão de dívidas).
rarquia, deve ser dirigido à autoridade ou instância receitas
superior do mesmo órgão administrativo em que foi
praticado o ato (Lei nº 9.784/1999). Abrangência do Controle
– Recurso Hierárquico Impróprio: dirigido à autoridade O controle abrange não só os Poderes Constitucionais,
ou órgão estranho à repartição que expediu o ato mas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
recorrido, mas com competência julgadora expres‑ que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinhei-
sa108. Ocorre esse tipo de recurso impróprio no caso ro, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda,
da reclamação administrativa, proposta perante o ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza
Supremo Tribunal Federal, pois é órgão diverso do pecuniária (art. 70, parágrafo único, da CF).
qual a decisão foi emanada.
– Revisão: é o recurso de que se utiliza o servidor As Atribuições dos Tribunais de Contas
público, punido pela Administração, para reexame No controle externo da administração financeira, orça-
Noções de Direito Administrativo

da decisão, em caso de surgirem fatos novos ou mentária e da gestão fiscal é que se inserem as principais
circunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a atribuições dos nossos Tribunais de Contas, como órgãos in-
inadequação da sanção aplicada ou de demonstrar a dependentes, mas auxiliares dos Legislativos e colaboradores
sua inocência (art. 65 da Lei nº 9.784/1999 e art. 174 dos Executivos. A Constituição Federal elencou, no art. 71,
da Lei nº 8.112/1990).109 as atribuições dos Tribunais de Contas da União. São elas:
Art.  71. O  controle externo, a  cargo do Congresso
Prescrição Administrativa
Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de
Significa a perda do prazo, diferente da decadência, que
é a perda do direito. Administrativamente, pode ser, entre Contas da União, ao qual compete:
outros, a perda do prazo para recorrer da decisão adminis- I  – apreciar as contas prestadas anualmente pelo
trativa; a perda do prazo para a Administração rever seus Presidente da República, mediante parecer prévio
que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar
de seu recebimento;
108
Assunto cobrado na prova da FCC/Procuradoria Geral do Estado do Amazonas/
Procurador do Estado de 3ª Classe/2010.
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 9ª Região/Analista Judiciário/Área
110
109
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-Acre/Técnico Judiciário/Área Adminis-
Judiciária/Analista Judiciário/Área Judiciária/Execução de Mandatos/2010.
trativa/2010.

48
II  – julgar as contas dos administradores e demais As atividades dos Tribunais de Contas expressam-se
responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos fundamentalmente em funções técnicas opinativas, verifi-
da administração direta e indireta, incluídas as funda- cadoras, assessoradoras e jurisdicionais administrativas, de-
ções e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder sempenhadas simetricamente tanto pelo Tribunal de Contas
Público federal, e  as contas daqueles que derem da União quanto pelos Tribunais dos Estados-membros, do
causa a perda, extravio ou outra irregula­ridade de Distrito Federal e dos Municípios que os tiverem.
que resulte prejuízo ao erário público;
III  – apreciar, para fins de registro, a  legalidade dos Controle Judicial
atos de admissão de pessoal, a  qualquer título, na É o poder de fiscalização que o Judiciário exerce especifica-
administração direta e indireta, incluídas as fundações mente sobre a atividade administrativa do Estado. Alcança, ba‑
instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas sicamente, os atos administrativos do Exe­cutivo, mas também
as nomeações para cargo de provimento em comissão, examina os atos do Legislativo e do próprio Judiciário quando
bem como a das concessões de aposentadorias, refor- realiza atividade administrativa111. É vedado ao Judiciário apre‑
mas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores ciar o mérito administrativo, restringe‑se apenas ao controle
que não alterem o fundamento legal do ato concessório; da legalidade e da legitimidade do ato impugnado.112
IV  – realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos O controle judicial da administração pública, no Brasil, é
Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica realizado com base no sistema da unidade de jurisdição.113
ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza Assim, apesar de a decisão executória da administração
contábil, financeira, orçamentária, operacional e pa- pública dispensar a intervenção prévia do Poder Judiciário,
trimonial, nas unidades administrativas dos Poderes não há impedimento para que ocorra o controle judicial
Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades após a realização do ato.114
referidas no inciso II; De acordo com a doutrina, os atos administrativos podem
V – fiscalizar as contas nacionais das empresas suprana- estar sujeitos a controle comum ou especial.
cionais de cujo capital social a União participe, de forma
direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo; Atos sujeitos a controle comum
VI  – fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos Os atos sujeitos a controle judicial comum são os admi-
repassados pela União mediante convênio, acordo, nistrativos em geral. No nosso sistema de jurisdição única
ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, consagrado pelo preceito constitucional de que não se pode
ao Distrito Federal ou a Município; excluir da apreciação do poder judiciário qualquer lesão
VII  – prestar as informações solicitadas pelo Con- ou ameaça a direito (art.  5, inciso XXXV), a  justiça tem a
gresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por faculdade de julgar todo ato de administração praticado por
qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscali- agente de qualquer dos órgãos ou Poderes de Estado. Sua
zação contábil, financeira, orçamentária, operacional limitação é apenas quanto ao objeto do controle, que há de
e patrimonial e sobre resultados de auditorias e ser unicamente a legalidade, sendo-lhe vedado pronunciar-se
inspeções realizadas; sobre conveniência, oportunidade ou eficiência do ato em
VIII – aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade exame, ou seja, sobre o mérito administrativo.
de despesa ou irregularidade de contas, as sanções Atos sujeitos a controle especial
previstas em lei, que estabelecerá, entre outras comi- Enquanto os atos administrativos em geral expõem-se à
nações, multa proporcional ao dano causado ao erário; revisão comum da justiça, outros existem que, por sua ori-
IX – assinar prazo para que o órgão ou entidade adote gem, fundamento, natureza ou objeto, ficam sujeitos a um
as providências necessárias ao exato cumprimento controle especial do Poder Judiciário, e tais são os chamados
da lei, se verificada ilegalidade; atos políticos, os atos legislativos e os atos interna corporis.
X  – sustar, se não atendido, a  execução do ato Atos políticos: atos políticos são os que, praticados por
impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos agentes do Governo, no uso de competência constitucional,
Deputados e ao Senado Federal; se fundam na ampla liberdade de apreciação da conveni-
XI – representar ao Poder competente sobre irregula­ ência ou oportunidade de sua realização, sem se aterem a
ridades ou abusos apurados. critérios jurídicos preestabelecidos. São atos governamentais
§  1º No caso de contrato, o  ato de sustação será por excelência, e não apenas de administração. São atos de
adotado diretamente pelo Congresso Nacional, condução dos negócios públicos, e  não simplesmente de
que solicitará, de imediato, ao  Poder Executivo as execução de serviços públicos. Daí seu maior discriciona-
medidas cabíveis. rismo e, consequentemente, as maiores restrições para o
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no controle judicial. Mas nem por isso afastam a apreciação da
Noções de Direito Administrativo

prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previs- justiça quando arguidos de lesivos a direito individual ou ao
tas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito. patrimônio público.
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação Todos os poderes de Estado são autorizados constitucio-
de débito ou multa terão eficácia de título executivo. nalmente a praticar determinados atos, em determinadas
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, circunstâncias, com fundamento político. Nesse sentido,
trimestral e anualmente, relatório de suas atividades. pratica ato político o Executivo quando veta um projeto de
lei, quando nomeia Ministro de Estado, quando concede
Salvo no tocante ao controle da gestão fiscal e na forma indulto. O legislativo pratica-o quando rejeita veto, aprova
da Lei Complementar nº 101/2000, a atuação dos Tribunais contas. O judiciário pratica-o quando propõe a criação de
de Contas deve ser a posteriori, não tendo apoio constitu-
cional qualquer controle prévio sobre atos ou contratos da 111
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 1ª Região/Juiz do Trabalho Substituto
– II/2010.
Administração direta ou indireta, nem sobre a conduta de 112
Assunto cobrado na prova do Cespe/Tribunal de Contas-RO/Procurador do
particulares que tenham gestão de bens ou valores públicos, Ministério Público/2010.
salvo as inspeções e auditorias in loco, que podem ser rea- 113
Cespe/DPE-TO/2013.
114
Cespe/Prefeitura Municipal de Boa Vista-RR/Analista Municipal/Procurador
lizadas a qualquer tempo. Municipal/2010.

49
tribunais inferiores, quando escolhe advogado e membro • Habeas Corpus (art. 5º, LXVIII, CF – Visa proteger
do Ministério Público para compor o quinto constitucional. o direito de locomoção. Sempre que alguém sofrer
Em todos esses exemplos são as conveniências do Estado (HC Repressivo) ou se achar ameaçado de sofrer (HC
que comandam o ato e infundem caráter político que o Preventivo) violência ou coação em sua liberdade de
torna insuscetível de controle judicial quanto à valoração de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
seus motivos. Nenhum ato do Poder Público deixará de ser • Habeas Data (art. 5º, LXXII, CF) – Visa proteger o direi-
examinado pelo poder judiciário quando arguida sua incons- to a ter informações relativas à pessoa do impetrante,
titucionalidade ou for lesivo de direito subjetivo de alguém. constante de registro ou banco de dados de entidades
Não basta a simples alegação de que se trata de ato político governamentais ou de caráter público; serve também
para tolher o controle judicial, pois será sempre necessário para retificação de dados, quando não se prefira fazê‑lo
que a própria justiça verifique a natureza do ato e suas conse- por processo sigiloso, judicial ou administrativamente.
quências perante o direito individual do postulante. O que se A propositura da ação é gratuita. É uma ação persona-
nega ao Poder Judiciário é, depois de ter verificado a natureza líssima.
e os fundamentos políticos do ato, adentre seu conteúdo e • Mandado de Injunção (art. 5º, LXXI, CF) – Utilizado
valore seus motivos. Necessário se faz, portanto, que não sempre que a falta de norma regulamentadora torne
sejam excedidos os limites discricionários demarcados ao inviável o exercício dos direitos e liberdades constitu-
órgão ou autoridade para a prática do ato. cionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade,
Atos Legislativos: os atos legislativos, ou seja, as  leis à soberania e à cidadania. Qualquer pessoa (física ou
propriamente ditas (normas em sentido formal e material), jurídica) pode impetrar, sempre por intermédio de um
não ficam sujeitos à anulação judicial pelos meios proces- advogado.
suais comuns, mas sim pela via especial da ação direta de • Mandado de Segurança Individual (art. 5º, LXIX,
inconstitucionalidade bem como pela ação declaratória de CF – Lei nº 12.016/2009) – Visa proteger direito lí-
constitucionalidade, tanto para leis em tese como para atos quido e certo não amparado por HC ou HD, quando
normativos.Somente pela via constitucional da represen- o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
tação de inconstitucionalidade (art. 102, I, a) e através do autoridade, seja de que categoria for e sejam quais
processo especial estabelecido pela Lei nº 4.337, de 1º de forem as funções que exerça.
junho de 1964, promovido pelas pessoas e órgãos indicados Líquido e Certo: o direito não suscita dúvidas, está
(art. 103), é que o STF pode declarar a inconstitucionalidade isento de obscuridades.
da lei em tese ou de qualquer outros ato normativo. Qualquer pessoa física ou jurídica pode impetrar, mas
Atos interna corporis: os atos interna corporis das Câ- somente por intermédio de um advogado.
maras também são vedados a revisto judicial comum, mas • Mandado de Segurança Coletivo (art. 5º, LXX, CF –
é preciso que se entenda em seu exato conceito e nos seus Lei nº 12.016/2009) – Instrumento que visa proteger
justos limites, o significado de tais atos. Em sentido técnico- direito líquido e certo de uma coletividade, quando o
-jurídico, interna corporis não é tudo que provém do seio responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for au-
toridade, seja de que categoria for e sejam quais forem
da Câmara ou de suas deliberações. Interna corporis são só
as funções que exerça. Legitimidade para impetrar MS
aquelas questões ou assuntos que entendem direta e imedia-
Coletivo: Organização Sindical, entidade de classe ou
tamente com a economia interna da corporação legislativa,
associação legalmente constituída e em funcionamen-
com seus privilégios e com a formação ideológica da lei,
to a pelo menos 1 ano, assim como partidos políticos
que, por sua própria natureza, são reservados à exclusiva
com representação no Congresso Nacional. Objetivo:
apreciação e deliberação do Plenário da Câmara. Tais são os
defesa do interesse dos seus membros ou associados.
atos de escolha da Mesa (eleições internas), os de verificação
de poderes e incompatibilidade de seus membros (cassação
de mandatos, concessão de licenças etc.) e os de utilização Súmulas Aplicáveis
de suas prerrogativas institucionais (modo de funcionamento
da Câmara, elaboração de regimento, constituição de comis- Súmula nº 266/STF: “Não cabe mandado de segurança
sões, organização de serviços auxiliares etc.) e a valoração contra lei em tese.”
das votações. Súmula nº 267/STF: “Não cabe mandado de segurança
Daí não podemos concluir que tais assuntos afastam, por contra ato judicial passível de recurso ou correição.”
si sós, a revisão judicial. O que o Poder Judiciário não pode é Súmula nº 268/STF: “Não cabe mandado de segurança
substituir a deliberação da Câmara por um pronunciamento contra decisão judicial com trânsito em julgado.”
judicial sobre o que é da exclusiva competência discricionária Súmula nº 429/STF: “A existência de recurso administra-
do Plenário, da Mesa ou da Presidência. Mas pode confrontar tivo com efeito suspensivo não impede o uso do mandado
de segurança contra omissão da autoridade.”
Noções de Direito Administrativo

sempre o ato praticado com as prescrições constitucionais,


Súmula nº 430/STF: “Pedido de reconsideração na via
legais ou regimentais que estabeleçam condições, forma ou
administrativa não interrompe o prazo para o mandado de
rito para seu cometimento.
segurança.”
Súmula nº 2/STJ: “Não cabe habeas data se não houve re-
Meios de Controle
cusa de informações por parte da autoridade administrativa.”
• Ação Popular (art. 5º, LXXIII, CF)  – Objetiva a anu-
lação ou a declaração de nulidade de atos lesivos
ao Patrimônio Público, à moralidade Administrativa, RESPONSABILIDADE CIVIL
ao Meio Ambiente, ao Patrimônio Histórico e Cultural. EXTRACONTRATUAL DO ESTADO
A propositura cabe a qualquer cidadão (brasileiro) no
exercício de seus direitos políticos. Considerações Iniciais
• Ação Civil Pública (art. 129, III, CF – Lei nº 7.347/1985) –
Visa proteger o patrimônio público e social, o meio am- A Responsabilidade Civil teve sua origem no âmbito do
biente e outros direitos difusos e coletivos; é ajuizada Direito Privado, em que a obrigação de indenizar derivava
pelo Ministério Público. de um contrato.

50
No Direito Administrativo chamamos de Responsabilida- A Responsabilidade Civil do Estado na
de Civil Extracontratual, pois não decorre de um contrato. Constituição Federal de 1988
A Responsabilidade Extracontratual que aqui se evidencia
importa no reparo que o Poder Público deverá oferecer ao Assim dispôs a Constituição Federal, em seu art. 37, § 6º:
lesado pelo dano que, voluntária ou involuntariamente,
o tenha causado. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos responderão
Conceito pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, cau-
sarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
A Responsabilidade Civil do Estado é a obrigação im‑ contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
posta ao Poder Público para ressarcir os danos causados a
terceiros pelos seus agentes, quando no exercício de suas Por meio desse dispositivo, com auxílio da jurisprudência e
atribuições.115 da doutrina, temos que o nosso ordenamento jurídico adotou
a Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado, na modali-
Evolução da Responsabilidade do Estado dade risco administrativo, segundo a qual o Estado responde
objetivamente pelos danos que seus agentes causarem a
Irresponsabilidade do Estado terceiros, independentemente de dolo ou culpa, bastando
apenas que se comprove o nexo de causalidade entre a ação
Nos Governos absolutos prevalecia a irresponsabilidade ou omissão do Estado e o dano sofrido pelo administrado.
do Estado, uma vez que não era possível que o rei, represen- No mesmo sentido, no ordenamento jurídico brasileiro, a
tante do Estado, pudesse lesar seus súditos. (The King can do responsabilidade do poder público é objetiva, adotando-se
no Wrong – O rei não erra). Quanto aos seus agentes, estes a teoria do risco administrativo, fundada na ideia de soli-
sim, poderiam ser responsabilizados pes­soalmente por atos dariedade social, na justa repartição dos ônus decorrentes
ilícitos que viessem a cometer. da prestação dos serviços públicos, exigindo-se a presença
Teoria da Responsabilidade com Culpa dos seguintes requisitos: dano, conduta administrativa e
nexo causal. Admite-se abrandamento ou mesmo exclusão
Previam‑se dois tipos de atitudes, que poderiam distin- da responsabilidade objetiva, se coexistirem atenuantes
guir em quais atos o rei poderia ser responsabilizado ou não.
ou excludentes que atuem sobre o nexo de causalidade.117
Quando o Estado praticar atos de gestão em regime de
Para configurar a responsabilidade civil do Estado, o
igualdade com os particulares, amparados, portanto, no
agente público causador do prejuízo a terceiros deve ter
direito privado estaria sujeito à responsabilidade civil, entre-
agido na qualidade de agente público, sendo irrelevante o
tanto quando praticasse atos de império, ou seja, aqueles
fato de ele atuar dentro, fora ou além de sua competência
pelos quais desempenha prerrogativa de manutenção da
ordem e do bem comum, bem como relacionados ao geren- legal.118
ciamento de seus bens e serviços, não haveria a possibilidade Exs.: Um servidor público, condutor de uma viatura
de ser responsabilizado por tais atos. oficial, deu causa a acidente de trânsito com veículo de par-
Diante da dificuldade em distinguir na prática tais situações, ticular. Foram apurados danos materiais de grande vulto,
adotou‑se a teoria civilista da culpa ou culpa administrativa. equivalentes aos reparos promovidos no veículo particular e
às despesas médicas geradas pelo atendimento ao motorista
Teoria da Culpa Administrativa particular. O condutor da viatura particular tem pretensão
indenizatória para ressarcimento dos danos materiais.
O Estado respondia pelos danos causados a terceiros, Nesse caso, o Estado responde sob a modalidade objetiva,
desde que houvesse culpa no serviço: inexistência do serviço, presumindo-se a culpa do servidor, que poderá ser penalizado
o serviço não foi prestado e causou prejuízo; o serviço foi também disciplinarmente na esfera administrativa.119
prestado de forma deficiente e causou prejuízo. Um agente público, pertencente aos quadros de uma
empresa pública federal prestadora de serviço público, no
Teoria do Risco Administrativo exercício de suas atribuições, veio a causar dano a terceiro
usuário do serviço em decorrência de conduta culposa
O Estado indeniza independentemente de dolo ou culpa do comissiva. Nesse caso, responderá pelo dano causado ao
agente, porém, deve a vítima comprovar o nexo causal entre terceiro a empresa pública federal, sendo a responsabi-
a ação ou omissão do Estado e o dano sofrido. Admite exclu‑ lidade civil de natureza objetiva por tratar-se de pessoa
dente ou atenuante de responsabilidade, por exemplo, culpa jurídica de direito privado prestadora de serviço público,
da vítima, culpa concorrente, caso fortuito ou força maior.116 assegurado o direito de regresso contra o responsável.120
Noções de Direito Administrativo

Carlos, proprietário de um veículo licenciado na Capital


Teoria do Risco Integral do Estado de São Paulo, teve seu nome inscrito, indevida-
mente, no cadastro de devedores do Estado (“Cadin”), em
A teoria do risco integral é a modalidade extremada da face do suposto não pagamento de IPVA. Constatou-se,
teoria do risco administrativo. Por essa teoria o Estado teria subsequentemente, que o débito objeto do apontamento
que indenizar os danos causados a terceiro, mesmo que não fora quitado tempestivamente pelo contribuinte, decorren-
os tivesse causado, não podendo alegar nenhuma excludente do a inscrição no Cadin de um erro de digitação de dados
ou atenuante de responsabilidade. incorrido pelo servidor responsável pela alimentação do
Há doutrinadores, que não admitem a existência dessa sistema de informações. Em razão dessa circunstância,
teoria no nosso ordenamento jurídico, porém, a Constituição Carlos, que é consultor, sofreu prejuízos financeiros, entre
Federal, em seu art. 21, XXXIII, a, diz que: “a responsabilidade
civil por danos nucleares independe da existência de culpa.” 117
Cespe/CNJ/Técnico Judiciário/Área Apoio Especializado/2013.
118
Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013.
115
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-TO/2013. 119
FCC/Tribunal de Contas-RO/Auditor/Substituto de Conselheiro/2010.
116
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Técnico Judiciário/Área Adminis- 120
Cesgranrio/Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social/Advoga-
trativa/2013. do/2010.

51
os quais a impossibilidade de participar de procedimento por exemplo) e força maior como o acontecimento originário
licitatório instaurado pela Administração para contratação da vontade humana (por exemplo, no caso de uma greve),
de serviços de consultoria, bem como o impedimento de ob- e outros já falam que é exatamente o contrário, considerando
tenção de financiamento de projeto que estava conduzindo a força maior os eventos produzidos pela natureza e caso
pela Agência de Fomento do Estado, que dispunha de linha fortuito decorrente de ato humano. Nesses casos, como
de crédito com juros subsidiados, sendo obrigado a tomar eram imprevisíveis e inevitáveis, inexiste a responsabilidade
financiamento junto a instituição financeira privada em do Estado.
condições mais onerosas. Diante da situação narrada, de
acordo com o disposto na Constituição Federal sobre a res- Responsabilidade Civil do Estado por Atos
ponsabilidade civil do Estado, o Estado responde objetiva- Legislativos
mente pelos prejuízos sofridos por Carlos, podendo exercer
o direito de regresso em face do servidor, se comprovada Em regra, não acarretam a responsabilidade do Estado,
conduta culposa ou dolosa do mesmo.121 entretanto, podem surgir situações específicas que poderiam
Determinada professora da rede pública de ensino re- ensejá‑la, tal como leis inconstitucionais, que durante a sua
cebeu ameaças de agressão por parte de um aluno e, mais vigência e eficácia poderiam acarretar dano, ou leis de efeitos
de uma vez, alertou à direção da escola, que se manteve concretos, aquelas que atingem uma categoria de pessoas
omissa. Nessa situação hipotética, caso se consumem as ou número exíguo de pessoa. Nesses casos, o lesado pode
agressões, a indenização será devida pelo Estado, desde responsabilizar o Estado com o fim de obter a indenização
que presentes os elementos que caracterizem a culpa.122 pelos prejuízos sofridos.
O ônus da prova não cabe à vítima e sim ao Estado, de-
vendo a vítima apenas provar o nexo de causalidade. Cabe
Responsabilidade Civil do Estado por Atos
ação regressiva do Estado contra o agente, mas como sua
responsabilidade é subjetiva, o Estado deverá comprovar sua Jurisdicionais
conduta dolosa ou culposa. A ação regressiva é uma ação
judicial de natureza civil que a Administração tem contra Em regra, a responsabilidade do Estado não se aplica aos
o agente público ou o particular prestador de serviços pú- atos praticados pelo Poder Judiciário, porém, como garantia
blicos causador do dano a terceiros.123 fundamental estabelecida no art. 5º, LXXV, temos que o Es-
tado indenizará o condenado por erro judiciário, bem como
aquele que ficar preso além do tempo fixado na sentença.
Excludentes ou Atenuantes da Responsabilidade Um caso notório ocorrido no Brasil quanto a erro judiciário
foi o dos irmãos Naves em 1937.
Atos de Multidões

O Estado não responde civilmente pelos danos causados A Reparação do Dano


por atos praticados por agrupamentos de pessoas ou multi-
dões, por se tratar de atos de terceiros que caracterizam uma A existência de dano indenizável, quantificado e detalha-
excludente de causalidade, salvo quando se verificar omissão do em sua expressão econômica é requisito indispensável
do poder público em garantir a integridade do patrimônio da- para a reparação do prejuízo decorrente da lesão que em-
nificado, hipótese em que a responsabilidade civil é subjetiva. penha a responsabilidade civil do Estado, ou seja, inexiste
obrigação se não puder ser identificado o dano, pois é exa-
Culpa Exclusiva da Vítima tamente dele que resulta o dever de indenizar do Estado.
O dano indenizável deve decorrer de ato ou omissão,
Inexiste responsabilidade do Estado124. Ocorre, por atividades, coisas ou fatos imputáveis ao Estado (nexo de
exemplo, quando uma pessoa, com o intuito de suicidar‑se, causalidade), lícitos ou ilícitos, sem ocorrência de excludentes
se atira diante de veículo em movimento. Não tem como ela da responsabilidade, pois, caso contrário, embora existente,
requerer indenização pelos prejuízos sofridos, uma vez que o dano não será indenizável. Também não basta que o dano
ela concorreu para que o evento acontecesse. seja certo e real, para que seja indenizável é necessário que
a ordem jurídica reconheça o direito lesado e o direito ao
Culpa Concorrente ressarcimento como direitos do indivíduo.
Indiscutível é, pois, que a indenização deve ser completa,
O Estado e o lesado contribuem para o resultado danoso, devendo abranger o que a vítima perdeu (o dano efetivo,
desse modo, a indenização do Estado deverá atingir apenas ocorrido, emergente), o que despendeu (o que gastou) e o
o limite dos prejuízos que tenha causado, arcando o lesado que deixou de ganhar em razão do evento danoso (lucros
Noções de Direito Administrativo

com o restante. cessantes), bem como honorários advocatícios, correção


monetária e juros de mora, se houver atraso no pagamento.
Caso Fortuito e Força Maior
Meios de Reparação do Dano e a Ação de Indenização
Podem ocorrer também fatos imprevisíveis, que fogem
ao controle do Estado e das pessoas, são o que a doutrina A reparação do dano causado pela Administração a
costuma chamar de caso fortuito e força maior. Há diver- terceiros dá-se de duas formas: administrativa (amigável)
gência na doutrina com relação à caracterização de cada ou judicialmente.
um, pois alguns entendem que caso fortuito são eventos • Administrativa – Se for proposta no âmbito adminis-
produzidos pela natureza (um terremoto ou uma inundação, trativo, o lesado formulará reclamação administrativa
com pedido indenizatório junto ao órgão competente
da pessoa jurídica civilmente responsável, formando
121
FCC/AFR-SP/Sefaz SP/Gestão Tributária/2013.
122
Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/Área Administrativa/2013. assim o processo administrativo no qual os interessa-
123
FCC/TRE-Acre/Analista Judiciário/Área Judiciária/2010. dos se manifestarão, produzirão provas e chegarão a
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal de Contas-RO/Procurador do Mi- um resultado final sobre o pedido.
124

nistério Público Junto ao Tribunal de Contas/2010.

52
• Judicial  – Se não houver acordo, caberá ao lesado patrimônio do agente causador direto do dano, que agiu com
propor a adequada ação de indenização perante a dolo ou culpa no desempenho de suas funções.
Fazenda Pública. Esta será processada de acordo com A aplicação de tal medida pressupõe o trânsito em
os preceitos comuns do Código de Processo Civil (Título julgado de sentença que condenou a Administração ao
VIII) e paga na forma do art. 100 da Constituição Fede- pagamento da indenização, pois somente depois desse ato
ral (precatórios). Se a ação de indenização for contra consuma-se o efetivo prejuízo da Administração Pública, ou
a União, entidades autárquicas federais e empresas após esse pagamento, nos casos de acordo.
públicas, a justiça competente para se propor a referida Serão, portanto, requisitos para o ajuizamento da ação
ação é a Justiça Federal (art. 109, I, da CF); se for pessoa regressiva:
jurídica de Direito Privado, será competente a Justiça • a condenação da Administração Pública a indenizar;
Estadual ou, conforme o caso, deve ser examinado o • o pagamento do valor da indenização;
disposto na Lei de Organização Judiciária do local. • a conduta lesiva, dolosa ou culposa, do agente causa-
dor do dano.
Para eximir-se do dever de indenizar, caberá à Fazenda
Pública comprovar que a vítima concorreu para o evento Desse modo, se não houver o pagamento, não há como
danoso (dolo ou culpa). Enquanto não evidenciar a culpa- justificar o pedido de regresso, mesmo que haja sentença
bilidade da vítima, subsiste a responsabilidade objetiva da condenatória com trânsito em julgado e o agente tenha
Administração. Se, por outro lado, ficar comprovada a culpa agido com dolo ou culpa. O primeiro requisito pode até não
ou dolo exclusivo da vítima, ficará excluída a responsabi- existir, quando, por exemplo, a satisfação do prejuízo tenha
lidade da Fazenda Pública; se restar comprovada a culpa ocorrido de forma amigável. Entretanto, os  dois últimos
concorrente, o Estado arcará apenas no limite dos prejuízos devem estar devidamente comprovados, fato que deverá
que tenha causado. ser feito pelo Poder Público.
Cabe ainda ressaltar que como ação civil destinada
Prescrição a promover a reparação patrimonial, a  ação regressiva
transmite-se aos herdeiros e sucessores do servidor culpado
O direito do lesado à reparação dos prejuízos tem natu- e contra eles será executada até o limite do valor da herança
reza obrigacional e pessoal, portanto, como qualquer direito (Lei nº 8.112/1990, art. 122, § 3º).
subjetivo não pode ser objeto da inércia do seu titular, sob O direito de regresso no âmbito do direito privado en-
pena do surgimento da prescrição. A prescrição nada mais contra fundamento no art. 934 do Código Civil. Já o prazo
é do que a perda do direito de ação. para proposição da competente ação regressiva é de três
A União, Estados, Distrito Federal e Municípios bem anos nos termos do art. 206, § 3º, V, do mesmo diploma.
como suas Autarquias e Fundações Públicas, Empresas Pú- Já no âmbito do direito público, as ações de ressarcimen-
blicas e Sociedades de Economia Mista gozam da prescrição to ao erário são imprescritíveis conforme disposto no art. 37,
quinquenal, ou seja, o prazo de cinco anos contados a partir § 5º, da Constituição Federal.
do fato danoso.
O Decreto nº 20.910/1932, em seu art. 1º, estabelece EXERCÍCIOS
que:
1. (UEG/PM-GO/Soldado/QPPM 2ª Classe/2013) As ativi-
As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Mu- dades administrativas são exercidas de forma centrali-
nicípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação zada
contra a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, a) pelas fundações públicas e pelas autarquias.
seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco b) pelas autarquias e pelas organizações sociais.
anos contados da data do ato ou fato do qual se c) pelas sociedades de economia mista e pelas empre-
originarem. sas públicas.
d) pelo conjunto de órgãos que integram as pessoas
Já a Lei nº 9.494/1997, em seu art. 1º‑C, determina que: políticas do Estado.
Prescreverá em cinco anos o direito de obter inde- 2. (UEG/PM-GO/Soldado/QPPM 2ª Classe/2013) Os atos
nização dos danos causados por agentes de pessoas administrativos que podem ser praticados com certa
jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas liberdade de escolha são chamados atos
de direito privado prestadoras de serviços públicos. a) simples.
b) discricionários.
Noções de Direito Administrativo

O Direito de Regresso (ação regressiva) c) vinculados.


d) complexos.
De acordo com o sistema constitucional da responsabili-
dade objetiva do Estado, este indenizará o dano causado ao 3. (UEG/PM-GO/Soldado/QPPM 2ª Classe/2013) Em re-
particular, desde que seja configurado o nexo de causalidade lação ao tema do controle administrativo, quanto ao
entre a ação ou omissão do Estado e o prejuízo sofrido pelo momento do exercício, a homologação de um proce-
administrado. dimento licitatório é controle
Quando identificado o agente causador do dano, a par- a) preventivo.
te final do § 6º, art. 37, da CF assegura que, caso tenha o b) preparatório.
agente agido com dolo ou culpa, o Estado deve promover o c) subsequente.
ressarcimento ao erário das despesas havidas com a men- d) concomitante.
cionada indenização, intentando ação regressiva contra o
responsável. 4. (UEG/PM-GO/Soldado/QPPM 2ª Classe/2013) Constitui
A ação regressiva é, pois, medida judicial de rito ordinário forma pela qual o Poder Legislativo controla certos atos
que propicia ao Estado reaver o que desembolsou à custa do da Administração Pública:

53
a) sustação de atos normativos do Executivo. d) de cônjuge ou parente em linha reta, colateral ou
b) instauração de inquérito civil público para anulação por afinidade, até o segundo grau, inclusive, da au-
de ato viciado. toridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
c) revogação de atos administrativos por juízo de con- jurídica investido em cargo em comissão de direção,
veniência e oportunidade. chefia ou assessoramento.
d) concessão de liminar em ação popular para afasta-
mento do agente público do cargo. 9. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) O princípio
constitucional inserido no ordenamento jurídico brasi-
5. (UEG/PM-GO/Soldado/QPPM 2ª Classe/2013) Em rela- leiro pela Emenda constitucional nº 19, de 1998, acres-
ção aos atributos dos atos administrativos, tem-se que centado ao artigo 37, caput, da Constituição Federal é
a) a autoexecutoriedade é a capacidade de imposição o princípio da
a terceiros. a) cortesia.
b) a imperatividade autoriza a própria Administração b) eficiência.
a executar o ato. c) atualidade.
c) a tipicidade refere-se ao dever de o ato corresponder d) motivação.
a figuras definidas em lei.
d) a presunção de legitimidade é relativa à competência 10. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) Em relação ao
do órgão que editou o ato. tema da Responsabilidade Civil do Estado no ordena-
mento pátrio, tem-se que
6. (UEG/PM-GO/Cadete/2013) No tema dos atributos do a) aquele que sofreu o dano fica dispensado de provar
ato administrativo, a relação de causalidade entre a atividade da Admi-
a) a autoexecutoriedade autoriza a execução do ato nistração e a lesão decorrente.
sem intervenção do Poder Judiciário. b) o lesado deverá provar a imprudência, a negligência
b) a presunção de veracidade aponta que o ato é sem- ou imperícia do agente público na conduta adminis-
pre considerado legal. trativa.
c) a presunção de legitimidade diz respeito à compe- c) a teoria do risco integral fundamenta a responsabi-
tência da autoridade. lidade objetiva do Estado, pela qual há assunção de
d) a imperatividade é inerente a todos os atos admi- todas as consequências relativas à sua atuação.
nistrativos. d) a regra constitucional prevê a responsabilidade sub-
jetiva quanto ao exercício do direito de regresso con-
7. (UEG/PM-GO/Cadete/2013) Segundo a doutrina do tra o agente público causador do dano.
abuso de poder,
a) ocorre excesso de poder nas situações em que o 11. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) Quanto à for-
superior hierárquico avoca atribuições não exclusivas mação e aos efeitos do ato administrativo,
a) a eficácia é a situação jurídica gerada pelo ato ad-
do subordinado.
ministrativo editado com juridicidade.
b) excesso de poder e desvio de poder são vícios rela-
b) a presunção de legitimidade do ato administrativo
tivos à finalidade do ato administrativo.
é absoluta.
c) as condutas por abuso de poder são sancionadas
c) o motivo resulta das razões de fato ou de direito que
no âmbito administrativo, com exclusão da esfera
conduziram à edição do ato administrativo.
judicial. d) a exequibilidade e a eficácia do ato administrativo
d) o ato administrativo praticado para atender a inte- possuem o mesmo significado.
resse particular em detrimento do interesse público
apresenta vício de desvio de poder. 12. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) Quanto ao
desfazimento do ato administrativo:
8. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) A Súmula a) a Administração pode anular os seus atos por con-
Vinculante n. 13 do Supremo Tribunal Federal, editada veniência e oportunidade.
para combater a prática do nepotismo na administração b) a anulação produz efeitos retroativos à data em que
pública direta e indireta em qualquer dos poderes da o ato administrativo foi realizado.
União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, c) a publicação impede que o ato administrativo seja
veda a nomeação para o exercício de cargo em comissão anulado.
ou de confiança ou, ainda, de função gratificada, d) o Poder Judiciário não pode rever ato administrativo
Noções de Direito Administrativo

a) de cônjuge ou parente em linha reta, colateral ou anulado pela Administração.


por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da au-
toridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa 13. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013) É da compe-
jurídica investido em cargo em comissão de direção, tência do Conselho Superior da Polícia Civil:
chefia ou assessoramento. a) editar atos normativos para consecução das funções
b) de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, de competência da Polícia Civil.
colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, in- b) manifestar-se sobre lista de promoção por antigui-
clusive, da autoridade nomeante ou de servidor da dade ou merecimento.
mesma pessoa jurídica investido em cargo em co- c) decidir, em grau de recurso, sobre instauração de
missão de direção, chefia ou assessoramento. inquérito policial.
c) de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, d) promover a movimentação de policiais civis, obser-
colateral ou por afinidade, até o segundo grau, in- vadas as disposições legais.
clusive, da autoridade nomeante ou de servidor da
mesma pessoa jurídica investido em cargo em co- 14. (UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013) Um princípio pre-
missão de direção, chefia ou assessoramento. visto na Constituição Federal, pelo qual as atividades

54
da Administração devem ser amplamente divulgadas, b) se utiliza das sanções de avocação e delegação para
a fim de propiciar a possibilidade de os administrados correicionar servidores.
controlarem a atividade dos agentes administrativos, c) tem a discricionariedade para decidir entre punir e
é o princípio da não punir o servidor que faltou com o dever funcio-
a) legalidade. nal.
b) continuidade do serviço público. d) aplica penalidades às pessoas que com ela contra-
c) impessoalidade. tam.
d) publicidade.
21. (UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia/2013) São elementos
15. (UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013) Quanto à forma- constitutivos do ato administrativo:
ção do ato administrativo: a) sujeito, objeto, forma, motivo e finalidade.
a) ato perfeito é aquele que reúne todos os elementos b) sujeito, objeto, forma e presunção de veracidade.
de constituição. c) sujeito, objeto, forma e autoexecutoriedade.
b) a motivação do ato administrativo é a presença das d) sujeito, objeto, forma e imperatividade.
circunstâncias de fato e de direito.
c) motivo é elemento dispensável para a formação vá- 22. (UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia/2013) O controle que a
lida do ato administrativo. própria Administração exerce sobre seus órgãos decorre
d) a perfeição do ato diz respeito à conformidade com
a) do poder regulamentar.
o ordenamento jurídico.
b) da atividade discricionária.
c) da tutela.
16. (UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013) A interferência
do Poder Público nas relações sociais, de modo a limi- d) do poder de autotutela.
tar, condicionar e restringir os direitos individuais para
salvaguardar o interesse público, decorre do 23. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2012) O Diretor-Geral
a) poder de polícia. da Agência Goiana de Obras Públicas baixou portaria
b) princípio da motivação. pela qual nomeou servidores efetivos para compor co-
c) poder discricionário. missão de sindicância. O relatório final apontou para a
d) poder regulamentar. aplicação de pena disciplinar leve. Constatou-se que a
competência para composição da comissão pertence ao
17. (UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013) Na doutrina acer- presidente da agência. Aponte a solução administrativa
ca da organização administrativa, aplicável à situação do ato administrativo viciado:
a) a criação de vários órgãos no âmbito de uma mesma a) o processo de sindicância deve ser anulado, face
pessoa jurídica é chamada de descentralização do ao comando normativo do princípio da legalidade
poder. quanto à regra de competência.
b) a distribuição das atividades de escalões superiores b) o vício ocorrido impõe o arquivamento do processo,
para escalões inferiores dentro da mesma entidade trancando a possibilidade de reabertura de investi-
denomina-se desconcentração. gação.
c) a desconcentração pode ocorrer por meio da consti- c) deve o presidente avocar os autos para anular a in-
tuição de autarquias, empresas públicas, sociedades dicação da sanção disciplinar.
de economia mista e fundações. d) é possível a convalidação do ato pela ratificação.
d) os órgãos públicos possuem personalidade jurídica,
pelo que se responsabilizam diretamente perante 24. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2012) Acerca das
terceiros. atribuições dos tribunais de contas como órgãos de
auxílio ao Poder Legislativo na função fiscalizadora da
18. (UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013) No tema da res- Administração Pública, é CORRETO afirmar:
ponsabilidade civil do Estado o direito pátrio adota, a) o parecer prévio emitido pelos tribunais de contas
a) a irresponsabilidade, com fundamento no risco in- vincula o Poder Legislativo quando do julgamento
tegral. das contas.
b) a responsabilidade objetiva, com fundamento no
b) pela natureza das atribuições dos tribunais de con-
risco administrativo.
tas, eles não podem impedir a execução de ato ad-
c) a responsabilidade subjetiva, com fundamento no
ministrativo da administração direta e indireta.
risco integral.
d) a irresponsabilidade, com fundamento no risco ad- c) apreciar a legalidade dos atos de admissão de pes-
Noções de Direito Administrativo

ministrativo. soal, na administração direta e indireta, bem como a


das concessões de aposentadorias, reformas e pen-
19. (UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia/2013) Compõem a sões; excetuam-se dessa apreciação as nomeações
administração indireta: para cargo de provimento em comissão.
a) União, estados, municípios e Distrito Federal. d) apreciar as contas prestadas anualmente pelo chefe
b) autarquias, fundações, empresas públicas e socie- do Executivo, mediante elaboração de parecer pré-
dades de economia mista. vio, que deverá ser emitido em oitenta dias a contar
c) serviços sociais autônomos e entidades filantrópicas. de seu recebimento.
d) órgãos públicos e o terceiro setor.
25. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2012) Quanto às
20. (UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia/2013) No contexto do organizações da sociedade civil de interesse público -
poder disciplinar, a Administração OSCIP, é CORRETO afirmar:
a) pode deixar de aplicar o contraditório e de proporcio- a) a OSCIP exerce atividade de natureza privada.
nar ampla defesa nas situações em que a penalidade b) a OSCIP recebe ou pode receber delegação para
prevista para a falta disciplinar for de natureza leve. gestão de serviço público.

55
c) a OSCIP é criada por lei para desempenhar serviços c) Aprovação é ato unilateral e vinculado por meio do
sociais não exclusivos do Estado. qual a administração pública reconhece a legalidade
d) o Estado incentiva e fiscaliza os serviços desempe- de um ato jurídico apenas a posteriori.
nhados pela OSCIP, sendo indispensável o termo de d) Homologação é ato unilateral e discricionário por
convênio para prever as obrigações. meio do qual a administração pública exerce o con-
trole a priori do ato administrativo.
26. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2012) Pela inadequa- e) Licença é ato unilateral e vinculado por meio do qual
ção do modelo tradicional da centralização administra- a administração reconhece ao particular o direito à
tiva, houve a extinção total ou parcial do monopólio prestação de um serviço público.
estatal de alguns serviços públicos e de outras ativida-
des. Com a transferência total ou parcial da execução ao 30. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Analista Judiciária/Área
setor privado surgiram as agências reguladoras. Sobre Administrativa/2016) A respeito dos elementos do Es-
esse tema, é CORRETO afirmar: tado, assinale a opção correta.
a) podem as agências reguladoras definir políticas pú- a) Povo, território e governo soberano são elementos
blicas e executá-las nos diversos setores regulados.
indissociáveis do Estado.
b) a definição da política tarifária, os mecanismos de
b) O Estado é um ente despersonalizado.
revisão e os respectivos parâmetros são de compe-
c) São elementos do Estado o Poder Legislativo, o Poder
tência das agências reguladoras.
c) a independência quanto à atividade de regulação Judiciário e o Poder Executivo.
é relativizada, ainda que tenha como característica d) Os elementos do Estado podem se dividir em presi-
a inexistência de subordinação hierárquica face ao dencialista ou parlamentarista.
poder central. e) A União, o estado, os municípios e o Distrito Federal
d) as agências reguladoras têm natureza de autarquias são elementos do Estado brasileiro.
especiais e integram a administração federal direta;
os diretores são nomeados pelo Presidente da Re- 31. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Analista Judiciária /Área
pública. Administrativa/2016) João, servidor público, ao dirigir
veículo automotor pertencente à frota de seu órgão de
27. (UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2012) Sobre os as- lotação, no exercício de sua função, bateu em veículo
pectos do tema da aptidão do ato administrativo para automotor de particular.
produzir o resultado para o qual foi editado, é CORRETO Considerando essa situação hipotética, assinale a opção
afirmar: correta.
a) eficácia diz respeito ao atendimento a todas as exi- a) Poderia haver responsabilização do Estado por culpa
gências legais, para que seus efeitos sejam reconhe- in eligendo e culpa in vigilando caso João estivesse
cidos na ordem jurídica. atuando fora de suas funções mas a pretexto de
b) ato perfeito não é aquele que se amolda ao ordena- exercê-las.
mento jurídico, mas o ato administrativo que reúne b) A responsabilidade civil do Estado pela omissão se
todas as fases de formação. pauta pelos mesmos fundamentos da responsabili-
c) motivação do ato administrativo é a presença das dade civil do Estado por atos comissivos.
circunstâncias de fato e de direito que autorizam a c) Caso seja apurada culpa exclusiva de João, ele res-
edição do ato administrativo. ponderá diretamente ao particular pelo prejuízo cau-
d) suspensa a eficácia, o ato administrativo perde a sado, excluindo a responsabilidade civil do Estado.
vigência. d) Ainda que se apure culpa exclusiva do particular, o
Estado se responsabilizará por eventuais danos, dada
28. (UEG/PC-GO/ Delegado de Polícia/2012) Sobre o teor da a teoria do risco administrativo.
Súmula Vinculante n. 13, que proíbe a contratação de e) Para que seja ressarcido dos danos experimenta-
parentes na Administração Pública, é CORRETO afirmar:
dos, o particular deverá provar a culpa de João pelo
a) a vedação à nomeação de parentes não alcança a
acidente.
administração indireta.
b) a vedação oriunda da súmula dirige-se exclusivamen-
te aos parentes da autoridade nomeante. 32. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área
c) resta vedada a nomeação de cônjuge, companheiro Administrativa/2016) Com base nas disposições cons-
ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, titucionais e no regime jurídico referentes à adminis-
tração indireta, assinale a opção correta.
Noções de Direito Administrativo

até o 3º grau, inclusive.


d) na literalidade da Súmula Vinculante n. 13 restou a) Os conselhos profissionais são considerados autar-
previsto regramento quanto à nomeação pelos agen- quias profissionais ou corporativas.
tes políticos de seus parentes. b) Conforme a Constituição Federal de 1988 (CF), a
nomeação dos presidentes das entidades da admi-
29. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Analista Judiciária/Área nistração pública indireta independe de aprovação
Administrativa/2016) Assinale a opção correta acerca prévia do Senado Federal.
das espécies de ato administrativo. c) As sociedades de economia mista que exploram ati-
a) Permissão é ato unilateral e discricionário por meio vidade econômica não estão sujeitas à fiscalização
do qual a administração faculta ao particular a exe- do Tribunal de Contas da União.
cução do serviço público ou a utilização privativa de d) O consórcio público integra a administração direta de
bem público. todos os entes da Federação consorciados, ainda que
b) Autorização é ato unilateral e vinculado por meio do detenha personalidade jurídica de direito público.
qual a administração faculta ao particular o exercício e) Existe relação de hierarquia entre a autarquia e o
de uma atividade. ministério que a supervisiona.

56
33. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área c) Compete privativamente ao Senado Federal apreciar
Administrativa/2016) A autarquia atos de concessão de emissoras de televisão.
a) é pessoa jurídica de direito público. d) Depende de autorização legislativa apenas a aliena-
b) inicia-se com a inscrição de seu ato constitutivo em ção de bens imóveis das pessoas jurídicas da admi-
registro público. nistração direta.
c) subordina-se ao ente estatal que a instituir e) Encampação refere-se à retomada do serviço pelo
d) é uma entidade de competência política, desprovida poder concedente durante o prazo da concessão.
de caráter administrativo.
e) integra a administração pública direta. 38. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área
Administrativa/2016) A respeito dos atos administrati-
34. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área vos, assinale a opção correta.
Administrativa/2016) A respeito da responsabilidade a) São elementos dos atos administrativos a compe-
civil do Estado, assinale a opção correta. tência, a finalidade, a forma, o motivo e o objeto.
a) A responsabilidade civil objetiva das concessionárias b) Apenas o Poder Executivo, no exercício de suas fun-
e permissionárias de serviços públicos abrange so- ções, pode praticar atos administrativos.
mente as relações jurídicas entre elas e os usuários c) Mesmo quando atua no âmbito do domínio econô-
dos serviços públicos. mico, a administração pública reveste-se da quali-
b) A responsabilidade civil objetiva aplica-se a todas as dade de poder público.
pessoas jurídicas de direito público. d) Para a formação do ato administrativo simples, é
c) O princípio da pessoalidade é o que orienta a res- necessária a manifestação de dois ou mais diferentes
ponsabilidade civil do Estado. órgãos ou autoridades.
d) As pessoas jurídicas de direito público não se respon- e) Define-se ato nulo como ato em desconformidade
sabilizam pelos danos causados por seus agentes. com a lei ou com os princípios jurídicos, passível de
e) A responsabilidade da administração pública será convalidação.
sempre objetiva.
39. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área
35. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2016) No que diz respeito às espécies
Administrativa/2016) Assinale a opção correta, a res- de ato administrativo, assinale a opção correta.
peito dos poderes da administração. a) A homologação é ato unilateral e vinculado pelo qual
a) A autoexecutoriedade inclui-se entre os poderes da a administração pública reconhece a legalidade de
administração um ato jurídico.
b) A existência de níveis de subordinação entre órgãos e b) Decreto é ato exclusivamente geral emanado do
agentes públicos é expressão do poder discricionário chefe do Poder Executivo.
c) Poder disciplinar da administração pública e poder c) Licença é o ato administrativo bilateral e vinculado
por meio do qual a administração pública faculta ao
punitivo do Estado referem-se à repressão de crimes
particular o exercício de determinada atividade.
e contravenções tipificados nas leis penais.
d) A admissão é o ato discricionário e unilateral pelo
d) O poder regulamentar refere-se às competências do
qual a administração reconhece ao particular que
chefe do Poder Executivo para editar atos adminis-
preencha os requisitos legais o direito à prestação
trativos normativos.
de um serviço público.
e) O poder de polícia não se inclui entre as atividades
e) Parecer é ato opinativo e vinculante pelo qual os
estatais administrativas.
órgãos consultivos da administração pública emitem
opinião sobre assuntos técnicos ou jurídicos de sua
36. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área competência.
Administrativa/2016) A respeito do poder de polícia,
assinale a opção correta. 40. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Analista Judiciário/2016)
a) A competência, a finalidade, a forma, a proporcio- Marcos, motorista de um ônibus de transporte público
nalidade e a legalidade dos meios empregados pela de passageiros de determinado município, ao conduzir
administração são atributos do poder de polícia. o veículo, por sua culpa, atropelou e matou João. A fa-
b) O poder de polícia, quanto aos fins, pode ser exercido mília da vítima ingressou com uma ação de indenização
para atender a interesse público ou particular. contra o município e a concessionária de transporte
c) O exercício do poder de polícia pode ser delegado a público municipal, que administra o serviço. Citada, a
Noções de Direito Administrativo

entidades privadas. concessionária municipal denunciou à lide Marcos, por


d) A atuação do poder de polícia restringe-se aos atos entender que ele deveria ser responsabilizado, já que
repressivos fora o causador do dano. O município alegou ilegitimi-
e) Prescreve em cinco anos a pretensão punitiva da dade passiva e ausência de responsabilidade no caso.
administração pública federal, direta e indireta, no A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção
exercício do poder de polícia. correta conforme o entendimento doutrinário e juris-
prudencial relativamente à responsabilidade civil do
37. (Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Técnico Judiciário/Área Estado.
Administrativa/2016) Assinale a opção correta acerca a) A responsabilidade civil do município, no caso, será
do controle legislativo dos atos administrativos. objetiva, primária e solidária.
a) A celebração de convênio entre estado e município b) A denunciação à lide, no caso, não será obrigatória
exige autorização prévia do Poder Legislativo esta- para se garantir o direito de regresso da concessio-
dual e municipal. nária contra Marcos.
b) Exige-se autorização legislativa para a desapropria- c) A culpa exclusiva ou concorrente da vítima afasta a
ção, pelos estados, dos bens de domínio da União. responsabilidade civil objetiva da concessionária.

57
d) A reparação civil do dano pelo município sujeita-se a) Não cabe mandado de segurança contra ato de ges-
ao prazo prescricional de vinte anos. tão comercial praticado por administrador de em-
e) A responsabilidade civil da concessionária, na hipó- presa pública, de sociedade de economia mista ou
tese, será subjetiva, pois João não era usuário do de concessionária de serviço público.
serviço público de transporte coletivo. b) É exemplo de controle constitucional interno a de-
terminação de que as contas dos municípios fiquem
41. (Cespe/TJ-AM/Juiz de Direito/2016) Os poderes admi- à disposição dos contribuintes, para exame e apre-
nistrativos são prerrogativas outorgadas aos agentes ciação, durante sessenta dias a cada ano, podendo
públicos para a consecução dos interesses da coleti- o contribuinte questionar-lhes a legitimidade.
vidade. A respeito desses poderes, assinale a opção c) A CF não prevê expressamente que o Poder Legisla-
correta. tivo possa fiscalizar e controlar diretamente os atos
a) O pagamento de multa aplicada em decorrência do da administração indireta.
poder de polícia não pode configurar condição para d) A recusa da administração em corrigir dados incor-
que a administração pratique outro ato em favor do retos, por solicitação da pessoa interessada, natural
interessado. ou jurídica, é condição de procedibilidade para o
b) O poder restritivo da administração, consubstancia- ajuizamento de habeas data.
do no poder de polícia, não se limita pelos direitos e) Qualquer pessoa física ou jurídica é parte legítima
individuais. para propor ação popular que vise anular ato lesivo
c) O poder vinculado refere-se à faculdade de agir atri- ao patrimônio público, à moralidade administrativa,
buída ao administrador. ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
d) Entre os poderes administrativos incluem-se o poder
disciplinar, o poder regulamentar e o poder jurídico. 45. (Cespe/TRE-PI/Técnico/Administração/2016) Entidade
e) Poder regulamentar é a prerrogativa concedida à ad- administrativa, com personalidade jurídica de direito
ministração pública de editar atos gerais para com- público, destinada a supervisionar e fiscalizar o ensino
plementar as leis e permitir a sua efetiva aplicação. superior, criada mediante lei específica,
a) é regida, predominantemente, pelo regime jurídico
42. (Cespe/TJ-AM/Juiz de Direito/2016) Assinale a opção de direito privado.
correta com referência aos atos administrativos. b) integra a administração direta.
a) A finalidade reflete o fim mediato dos atos adminis-
c) possui autonomia e é titular de direitos e obrigações
trativos, enquanto o objeto, o fim imediato, ou seja,
próprios.
o resultado prático que deve ser alcançado.
d) tem natureza de empresa pública.
b) O silêncio administrativo consubstancia ato adminis-
e) é exemplo de entidade resultante da desconcentra-
trativo, ainda que não expresse uma manifestação
ção administrativa.
formal de vontade.
c) Autorização é o ato pelo qual a administração con-
46. (Cespe/TRE-PI/Técnico/Administração/2016) Considere
corda com um ato jurídico já praticado por particular
que determinada autoridade do TRE/PI tenha negado
em interesse próprio.
d) O objeto dos atos administrativos normativos é equi- pedido administrativo feito por um servidor do qua-
valente ao dos atos administrativos enunciativos. dro, sem expor fundamentos de fato e de direito que
e) Motivação e motivo são juridicamente equivalentes. justificassem a negativa do pedido. Nesse caso, o ato
administrativo praticado pela autoridade do TRE/PI
43. (Cespe/TJ-AM/Juiz de Direito/2016) No que se refere às a) não possui presunção de veracidade.
sociedades de economia mista e às empresas públicas, b) pode ser editado sob a forma de resolução.
assinale a opção correta. c) é considerado, quanto à formação da vontade, ato
a) A pessoa federativa a que estejam vinculadas as administrativo complexo.
sociedades de economia mista possui responsabi- d) classifica-se como ato administrativo meramente
lidade solidária quanto aos atos ilícitos praticados enunciativo.
por agentes dessas sociedades. e) apresenta vício de forma.
b) A composição do capital das sociedades de economia
mista é o resultado da conjugação de recursos públi- 47. (Cespe/TRE-PI/Técnico/Administração/2016) Determi-
cos e privados, sendo os recursos privados inadmiti- nada autoridade sanitária, após apuração da infração,
em processo administrativo próprio, aplicou a deter-
Noções de Direito Administrativo

dos na composição do capital das empresas públicas.


c) As empresas públicas assumem obrigatoriamente minada farmácia a pena de apreensão e inutilização
a forma de sociedades anônimas, enquanto as so- de medicamentos que haviam sido colocados à venda,
ciedades de economia mista podem-se revestir de sem licença do órgão sanitário competente, por viola-
qualquer das formas admitidas em direito. ção do disposto nas normas legais e regulamentares
d) O protesto apresentado por empresa pública federal pertinentes.
em execução que tramite na justiça estadual desloca
a competência para a justiça federal. Nessa situação hipotética, a autoridade sanitária exer-
e) A legislação relativa ao regime falimentar não se ceu o poder
aplica às empresas públicas e às sociedades de eco- a) hierárquico, em sua acepção de fiscalização de ati-
nomia mista, assim como os regimes de execução e vidades.
penhora. b) hierárquico, em sua acepção de imposição de or-
dens.
44. (Cespe/TJ-AM/Juiz de Direito/2016) Acerca do controle c) disciplinar, em razão de ter apurado infração e apli-
da administração pública, assinale a opção correta. cado penalidade.

58
d) regulamentar, em razão de ter constatado violação 51. (Cespe/TRE-PI/Analista Judiciário/2016) Determinado
das normas regulamentares pertinentes. agente público, valendo-se de sua função e no exercí-
e) de polícia, em razão de ter limitado o exercício de cio do poder de polícia, aplicou multa manifestamente
direito individual em benefício do interesse público. descabida a um desafeto pessoal.
Nessa situação, o ato administrativo
48. (Cespe/TRE-PI/Técnico/Administração/2016) Se deter- a) funda-se em discricionariedade administrativa, razão
minado agente de uma sociedade de economia mista por que somente está sujeito a controle pela via ad-
estadual, concessionária do serviço de energia elétrica, ministrativa, restando a via judicial como alternativa
causar, durante a prestação de um serviço, dano à resi- subsidiária.
dência de um particular, b) é passível de convalidação, se evidenciada a existên-
a) a concessionária responderá objetivamente, de acor- cia de razão justificadora da sanção.
do com a teoria do risco integral, caso fiquem com- c) atenta contra a moralidade administrativa, se conheci-
provados o dano causado ao particular, a conduta dos os verdadeiros motivos subjacentes à sua prática.
do agente e o nexo de causalidade entre o dano e a d) foi praticado com excesso de poder.
e) dispensa motivação expressa, o que dificulta seu
conduta.
controle.
b) a concessionária de serviço público poderá respon-
der pelo dano causado ao particular, independente-
52. (Cespe/TRE-PI/Analista Judiciário/2016) Acerca da res-
mente da comprovação de culpa ou dolo do agente. ponsabilidade civil do Estado, assinale a opção correta.
c) haverá responsabilidade subjetiva do estado fede- a) Se ato danoso for praticado por agente público fora
rado, caso a concessionária de serviço público não do período de expediente e do desempenho de suas
tenha condições de reparar o prejuízo causado. funções, a responsabilidade do Estado será afastada.
d) será excluída a responsabilidade da concessionária b) Os danos oriundos de ato jurisdicional ensejam a
e a do estado federado, caso o particular tenha con- responsabilização direta e objetiva do juiz prolator
corrido para a ocorrência do dano. da decisão.
e) a concessionária não responderá pelo dano, por não c) Em razão do princípio da supremacia do interesse
possuir personalidade jurídica de direito público. público, são vedados o reconhecimento da respon-
sabilidade e a reparação de dano extrajudicial pela
49. (Cespe/TRE-PI/Técnico/Administração/2016) O Tribunal administração.
Regional Eleitoral do Piauí (TRE/PI), cuja sede se encon- d) A responsabilidade objetiva de empresa conces-
tra na capital do estado, integra a administração sionária de serviço público alcança usuários e não
a) direta federal. usuários do serviço público.
b) direta fundacional federal. e) A responsabilidade objetiva do Estado não alcança
c) indireta estadual. atos que produzam danos aos seus próprios agentes,
d) autárquica indireta federal. hipótese em que sua responsabilidade será subjetiva.
e) indireta autárquica estadual.
53. (Cespe/TRE-PI/Analista Judiciário/2016) Um parecer
50. (Cespe/TRE-PI/Analista Judiciário/2016) O chefe do exarado por servidor público integrante do departa-
Poder Executivo federal expediu decreto criando uma mento jurídico de determinado órgão da administração
comissão nacional para estudar se o preço de deter- direta, que depende de homologação ainda pendente,
minado serviço público delegado estaria dentro dos de autoridade superior para ser validado, é um ato ad-
padrões internacionais, tendo, na ocasião, apontado ministrativo classificado, quanto
os membros componentes da referida comissão e sua a) à formação da vontade, como complexo.
respectiva autoridade superior. Nesse decreto, instituiu b) à exequibilidade, como pendente.
que a comissão deveria elaborar seu regimento interno, c) à função da administração, como de gestão.
d) aos efeitos, como enunciativo.
efetuar ao menos uma consulta pública e concluir a pes-
e) à função da vontade, como propriamente dito.
quisa no prazo de cento e vinte dias e que não poderia
gerar despesas extraordinárias aos órgãos de origem
de cada servidor integrante da referida comissão. Gabarito
A partir dessa situação hipotética, assinale a opção
correta no que se refere a atos administrativos e seu 1. d 12. b 23. d 34. b 45. c
controle judicial. 2. b 13. b 24. c 35. d 46. e
Noções de Direito Administrativo

a) O decreto federal é uma fonte primária do direito 3. c 14. d 25. a 36. e 47. e
administrativo, haja vista o seu caráter geral, abstra- 4. a 15. a 26. c 37. e 48. b
to e impessoal. 5. c 16. a 27. b 38. a 49. a
b) Uma vez instituído o referido decreto, não poderá o 6. a 17. b 28. c 39. a 50. e
chefe do Poder Executivo revogá-lo de ofício. 7. d 18. b 29. a 40. b 51. c
8. b 19. b 30. a 41. e 52. d
c) O Poder Judiciário, em sede de controle judicial,
9. b 20. d 31. a 42. a 53. d
poderá revogar o referido decreto por motivos de
10. d 21. a 32. a 43. b
oportunidade e conveniência.
11. c 22. d 33. a 44. a
d) O referido ato presidencial é inconstitucional, pois
é vedado instituir comissões nacionais que visem à
promoção de estudo de preços públicos mediante
decreto do chefe do Poder Executivo federal.
e) A expedição do decreto é ato vinculado do chefe do
Poder Executivo federal.

59
PMGO

SUMÁRIO

Noções de Direito Penal Militar

Aplicação da lei penal militar................................................................................................................................................. 3

Do Crime................................................................................................................................................................................. 5

Da Imputabilidade Penal........................................................................................................................................................ 6

Concurso de agentes............................................................................................................................................................... 7

Das penas principais............................................................................................................................................................... 7

Das Penas acessórias............................................................................................................................................................ 11

Efeitos da condenação.......................................................................................................................................................... 11

Ação penal............................................................................................................................................................................ 13

Extinção da punibilidade...................................................................................................................................................... 13

Dos crimes militares em tempo de paz................................................................................................................................ 14

Dos crimes contra a autoridade ou disciplina militar.......................................................................................................... 15

Dos crimes contra o serviço e o dever militar...................................................................................................................... 18

Dos crimes contra a Administração Militar.......................................................................................................................... 29



NOÇÕES DE Direito Penal MILITAR
Welma Maia

Código Penal Militar Lei supressiva de incriminação


Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei poste-
O Código Penal Brasileiro, aprovado em 21 de outubro de rior deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a
1969, surgiu num período conturbado do regime de exceção própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo
implantado desde 1964 (Ditadura Militar). quanto aos efeitos de natureza civil.
Nessa época, o Congresso Nacional encontrava-se com
suas atividades suspensas (AI-5) e o Brasil era dirigido pelos Retroatividade de lei mais benigna
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ten- § 1º A lei posterior que, de qualquer outro modo, favo-
do em vista a vacância dos cargos do Presidente, Marechal rece o agente, aplica-se retroativamente, ainda quando já
Arthur da Costa e Silva, e de seu Vice, Pedro Aleixo. tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível.
Durante esse período, embora o Congresso pudesse vir a
ser convocado, os Ministros Militares tinham o direito de, em Apuração da maior benignidade
caso de urgência ou de interesse público relevante, legislar, § 2º Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei pos-
mediante decreto-lei, sobre todas as matérias de competên- terior e a anterior devem ser consideradas separadamente,
cia da União. Assim, nasceu o Decreto-Lei nº 1.001. cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato.
O Código Penal Militar foi dividido em duas partes: Par-
te Geral e Parte Especial. Na Parte Geral encontramos os Medidas de segurança
Art. 3º As medidas de segurança regem-se pela lei vigente
seguintes títulos:
ao tempo da sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa,
Título I – Da Aplicação da Lei Penal Militar;
a lei vigente ao tempo da execução.
Título II – Do Crime;
Título III – Da Imputabilidade Penal;
Lei excepcional ou temporária
Título IV – Do Concurso de Agentes;
Art. 4º A lei excepcional ou temporária, embora decor-
Título V – Das Penas
rido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias
Título VI – Das Medida de Segurança;
que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua
Título VII – Da Ação Penal;
vigência.
Título VIII – Da Extinção da Punibilidade
Tempo do crime
Na Parte Especial do Código Penal Militar, encontramos
Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da
os Crimes em Espécie e as penas aplicáveis, quando da vio- ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado.
lação dos bens juridicamente tutelados por ele.
Na prova para Soldado de 2ª Classe aplicada em abril de Lugar do crime
2013 a banca organizadora do concurso – UEG – cobrou seis Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que
questões sobre o Código Penal Militar, e o que percebemos se desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em par-
é que não é necessário o candidato aprofundar o estudo do te, e ainda que sob forma de participação, bem como onde
Código Penal Militar com estudos doutrinários, visto que se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes
a banca cobrou apenas o texto ipsis litteris do decreto-lei. omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em que
Dessa forma, recomendamos a leitura do Código Penal deveria realizar-se a ação omitida.
Militar que disponibilizamos abaixo e logo após resolva os
exercícios que confirmam a orientação supramencionada. Territorialidade, extraterritorialidade
Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de con-
venções, tratados e regras de direito internacional, ao crime
Decreto-Lei nº 1.001, de 21 de Outubro de 1969 cometido, no todo ou em parte no território nacional, ou fora
dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processa-
Código Penal Militar. do ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira.

Os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Ae- Território nacional por extensão


ronáutica Militar, usando das atribuições que lhes confere o § 1º Para os efeitos da lei penal militar consideram-se
art. 3º do Ato Institucional nº 16, de 14 de outubro de 1969, como extensão do território nacional as aeronaves e os na-
Noções de Direito Penal Militar

combinado com o § 1º do art. 2º, do Ato Institucional nº 5, vios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob comando
de 13 de dezembro de 1968, decretam: militar ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem
legal de autoridade competente, ainda que de propriedade
CÓDIGO PENAL MILITAR privada.

PARTE GERAL Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros


LIVRO ÚNICO § 2º É também aplicável a lei penal militar ao crime pra-
ticado a bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde
TÍTULO I que em lugar sujeito à administração militar, e o crime atente
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR contra as instituições militares.

Princípio de legalidade Conceito de navio


Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina, nem § 3º Para efeito da aplicação deste Código, considera-se
pena sem prévia cominação legal. navio toda embarcação sob comando militar.

3
Pena cumprida no estrangeiro b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem com-
Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena prometer a preparação, a eficiência ou as operações militares
imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança
nela é computada, quando idênticas. externa do País ou podem expô-la a perigo;
IV – os crimes definidos na lei penal comum ou especial,
Crimes militares em tempo de paz embora não previstos neste Código, quando praticados em
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: zona de efetivas operações militares ou em território estran-
I – os crimes de que trata este Código, quando definidos geiro, militarmente ocupado.
de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos,
qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; Militares estrangeiros
II – os crimes previstos neste Código, embora também Art. 11. Os militares estrangeiros, quando em comissão
o sejam com igual definição na lei penal comum, quando ou estágio nas forças armadas, ficam sujeitos à lei penal mi-
praticados: litar brasileira, ressalvado o disposto em tratados ou con-
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, venções internacionais.
contra militar na mesma situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, Equiparação a militar da ativa
em lugar sujeito à administração militar, contra militar da Art. 12. O militar da reserva ou reformado, empregado
reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; na administração militar, equipara-se ao militar em situação
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, de atividade, para o efeito da aplicação da lei penal militar.
em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que
fora do lugar sujeito à administração militar contra militar Militar da reserva ou reformado
da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei Art. 13. O militar da reserva, ou reformado, conserva as
nº 9.299, de 8/8/1996) responsabilidades e prerrogativas do posto ou graduação,
d) por militar durante o período de manobras ou exercí- para o efeito da aplicação da lei penal militar, quando pratica
cio, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou contra ele é praticado crime militar.
ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado,
Defeito de incorporação
contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem
Art. 14. O defeito do ato de incorporação não exclui a
administrativa militar;
aplicação da lei penal militar, salvo se alegado ou conhecido
f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8/8/1996)
antes da prática do crime.
III – os crimes praticados por militar da reserva, ou re-
formado, ou por civil, contra as instituições militares, consi-
derando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, Tempo de guerra
como os do inciso II, nos seguintes casos: Art. 15. O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhe-
contra a ordem administrativa militar; cimento do estado de guerra, ou com o decreto de mobiliza-
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar ção se nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e
em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcio- termina quando ordenada a cessação das hostilidades.
nário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício
de função inerente ao seu cargo; Contagem de prazo
c) contra militar em formatura, ou durante o período Art. 16. No cômputo dos prazos inclui-se o dia do come-
de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, ço. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário
acampamento, acantonamento ou manobras; comum.
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar,
contra militar em função de natureza militar, ou no desempe- Legislação especial. Salário mínimo
nho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem Art. 17. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos
pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente re- incriminados por lei penal militar especial, se esta não dispõe
quisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação de modo diverso. Para os efeitos penais, salário mínimo é o
legal superior. maior mensal vigente no país, ao tempo da sentença.
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quan-
do dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da Crimes praticados em prejuízo de país aliado
competência da justiça comum, salvo quando praticados no Art. 18. Ficam sujeitos às disposições deste Código os
contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da crimes praticados em prejuízo de país em guerra contra país
Noções de Direito Penal Militar

Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 – Código Brasileiro inimigo do Brasil:


de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011) I – se o crime é praticado por brasileiro;
II – se o crime é praticado no território nacional, ou em
Crimes militares em tempo de guerra território estrangeiro, militarmente ocupado por força bra-
Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de sileira, qualquer que seja o agente.
guerra:
I – os especialmente previstos neste Código para o tempo Infrações disciplinares
de guerra; Art. 19. Este Código não compreende as infrações dos
II – os crimes militares previstos para o tempo de paz; regulamentos disciplinares.
III – os crimes previstos neste Código, embora também o
sejam com igual definição na lei penal comum ou especial, Crimes praticados em tempo de guerra
quando praticados, qualquer que seja o agente: Art. 20. Aos crimes praticados em tempo de guerra, salvo
a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente disposição especial, aplicam-se as penas cominadas para o
ocupado; tempo de paz, com o aumento de um terço.

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Assemelhado Art. 30. Diz-se o crime:
Art. 21. Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou
não, dos Ministérios da Marinha, do Exército ou da Aeronáu- Crime consumado
tica, submetido a preceito de disciplina militar, em virtude I – consumado, quando nele se reúne todos os elementos
de lei ou regulamento. de sua definição legal;

Pessoa considerada militar Tentativa


Art. 22. É considerada militar, para efeito da aplicação II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma
deste Código, qualquer pessoa que, em tempo de paz ou por circunstâncias alheias à vontade do agente.
de guerra, seja incorporada às forças armadas, para nelas
servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar. Pena de tentativa
Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena corres-
Equiparação a comandante pondente ao crime, diminuída de um a dois terços, podendo
Art. 23. Equipara-se ao comandante, para o efeito da o juiz, no caso de excepcional gravidade, aplicar a pena do
aplicação da lei penal militar, toda autoridade com função
crime consumado.
de direção.
Desistência voluntária e arrependimento eficaz
Conceito de superior
Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce auto- Art. 31. O agente que, voluntariamente, desiste de pros-
ridade sobre outro de igual posto ou graduação, considera-se seguir na execução ou impede que o resultado se produza,
superior, para efeito da aplicação da lei penal militar. só responde pelos atos já praticados.

Crime praticado em presença do inimigo Crime impossível


Art. 25. Diz-se crime praticado em presença do inimigo, Art. 32. Quando, por ineficácia absoluta do meio empre-
quando o fato ocorre em zona de efetivas operações milita- gado ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível
res, ou na iminência ou em situação de hostilidade. consumar-se o crime, nenhuma pena é aplicável.
Art. 33. Diz-se o crime:
Referência a “brasileiro” ou “nacional”
Art. 26. Quando a lei penal militar se refere a “brasileiro” Culpabilidade
ou “nacional”, compreende as pessoas enumeradas como I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu
brasileiros na Constituição do Brasil. o risco de produzi-lo;
II – culposo, quando o agente, deixando de empregar
Estrangeiros a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a
Parágrafo único. Para os efeitos da lei penal militar, são que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê
considerados estrangeiros os apátridas e os brasileiros que o resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe leviana-
perderam a nacionalidade. mente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo.

Os que se compreendem, como funcionários da Justiça Excepcionalidade do crime culposo


Militar Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém
Art. 27. Quando este Código se refere a funcionários, pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando
compreende, para efeito da sua aplicação, os juízes, os repre- o pratica dolosamente.
sentantes do Ministério Público, os funcionários e auxiliares
da Justiça Militar. Nenhuma pena sem culpabilidade
Art. 34. Pelos resultados que agravam especialmente as
Casos de prevalência do Código Penal Militar penas só responde o agente quando os houver causado, pelo
Art. 28. Os crimes contra a segurança externa do país
menos, culposamente.
ou contra as instituições militares, definidos neste Código,
excluem os da mesma natureza definidos em outras leis.
Erro de direito
TÍTULO II Art. 35. A pena pode ser atenuada ou substituída por
DO CRIME outra menos grave quando o agente, salvo em se tratando de
crime que atente contra o dever militar, supõe lícito o fato,
Relação de causalidade por ignorância ou erro de interpretação da lei, se escusáveis.
Noções de Direito Penal Militar

Art. 29. O resultado de que depende a existência do crime


somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se Erro de fato
causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria Art. 36. É isento de pena quem, ao praticar o crime, su-
ocorrido. põe, por erro plenamente escusável, a inexistência de cir-
§ 1º A superveniência de causa relativamente indepen- cunstância de fato que o constitui ou a existência de situação
dente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resul- de fato que tornaria a ação legítima.
tado. Os fatos anteriores, imputam-se, entretanto, a quem
os praticou. Erro culposo
§ 2º A omissão é relevante como causa quando o omi- 1º Se o erro deriva de culpa, a este título responde o
tente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agente, se o fato é punível como crime culposo.
agir incumbe a quem tenha por lei obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância; a quem, de outra forma, assumiu a Erro provocado
responsabilidade de impedir o resultado; e a quem, com seu 2º Se o erro é provocado por terceiro, responderá este
comportamento anterior, criou o risco de sua superveniência. pelo crime, a título de dolo ou culpa, conforme o caso.

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Erro sobre a pessoa Estado de necessidade, como excludente do crime
Art. 37. Quando o agente, por erro de percepção ou no Art. 43. Considera-se em estado de necessidade quem
uso dos meios de execução, ou outro acidente, atinge uma pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de pe-
pessoa em vez de outra, responde como se tivesse praticado rigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro
o crime contra aquela que realmente pretendia atingir. De- modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza e
vem ter-se em conta não as condições e qualidades da vítima, importância, é consideravelmente inferior ao mal evitado,
mas as da outra pessoa, para configuração, qualificação ou e o agente não era legalmente obrigado a arrostar o perigo.
exclusão do crime, e agravação ou atenuação da pena.
Legítima defesa
Erro quanto ao bem jurídico Art. 44. Entende-se em legítima defesa quem, usando
§ 1º Se, por erro ou outro acidente na execução, é atin- moderadamente dos meios necessários, repele injusta agres-
gido bem jurídico diverso do visado pelo agente, responde são, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
este por culpa, se o fato é previsto como crime culposo.
Excesso culposo
Duplicidade do resultado Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão
§ 2º Se, no caso do artigo, é também atingida a pessoa de crime, excede culposamente os limites da necessidade,
responde pelo fato, se este é punível, a título de culpa.
visada, ou, no caso do parágrafo anterior, ocorre ainda o
resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 79.
Excesso escusável
Art. 38. Não é culpado quem comete o crime:
Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta
de escusável surpresa ou perturbação de ânimo, em face
Coação irresistível da situação.
a) sob coação irresistível ou que lhe suprima a faculdade
de agir segundo a própria vontade; Excesso doloso
Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível
Obediência hierárquica o fato por excesso doloso.
b) em estrita obediência a ordem direta de superior hie-
rárquico, em matéria de serviços. Elementos não constitutivos do crime
1º Responde pelo crime o autor da coação ou da ordem. Art. 47. Deixam de ser elementos constitutivos do crime:
2º Se a ordem do superior tem por objeto a prática de I – a qualidade de superior ou a de inferior, quando não
ato manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na conhecida do agente;
forma da execução, é punível também o inferior. II – a qualidade de superior ou a de inferior, a de oficial
de dia, de serviço ou de quarto, ou a de sentinela, vigia, ou
Estado de necessidade, com excludente de culpabili- plantão, quando a ação é praticada em repulsa a agressão.
dade
Art. 39. Não é igualmente culpado quem, para proteger TÍTULO III
direito próprio ou de pessoa a quem está ligado por estrei- DA IMPUTABILIDADE PENAL
tas relações de parentesco ou afeição, contra perigo certo e
atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, Inimputáveis
sacrifica direito alheio, ainda quando superior ao direito Art. 48. Não é imputável quem, no momento da ação ou
protegido, desde que não lhe era razoavelmente exigível da omissão, não possui a capacidade de entender o caráter
conduta diversa. ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse enten-
dimento, em virtude de doença mental, de desenvolvimento
Coação física ou material mental incompleto ou retardado.
Art. 40. Nos crimes em que há violação do dever militar,
o agente não pode invocar coação irresistível senão quando Redução facultativa da pena
física ou material. Parágrafo único. Se a doença ou a deficiência mental não
suprime, mas diminui consideravelmente a capacidade de
Atenuação de pena entendimento da ilicitude do fato ou a de autodetermina-
ção, não fica excluída a imputabilidade, mas a pena pode ser
Art. 41. Nos casos do art. 38, letras a e b, se era possível
atenuada, sem prejuízo do disposto no art. 113.
resistir à coação, ou se a ordem não era manifestamente
ilegal; ou, no caso do art. 39, se era razoavelmente exigível
Embriaguez
o sacrifício do direito ameaçado, o juiz, tendo em vista as Art. 49. Não é igualmente imputável o agente que, por
Noções de Direito Penal Militar

condições pessoais do réu, pode atenuar a pena. embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força
maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramen-
Exclusão de crime te incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de
Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato: determinar-se de acordo com esse entendimento.
I – em estado de necessidade; Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois
II – em legítima defesa; terços, se o agente por embriaguez proveniente de caso
III – em estrito cumprimento do dever legal; fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou
IV – em exercício regular de direito. da omissão, a plena capacidade de entender o caráter cri-
Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o co- minoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse
mandante de navio, aeronave ou praça de guerra, na iminên- entendimento.
cia de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos,
por meios violentos, a executar serviços e manobras urgen- Menores
tes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o Art. 50. O menor de dezoito anos é inimputável, salvo se,
terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque. já tendo completado dezesseis anos, revela suficiente desen-

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volvimento psíquico para entender o caráter ilícito do fato a) morte;
e determinar-se de acordo com este entendimento. Neste b) reclusão;
caso, a pena aplicável é diminuída de um terço até a metade. c) detenção;
d) prisão;
Equiparação a maiores e) impedimento;
Art. 51. Equiparam-se aos maiores de dezoito anos, ainda f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou
que não tenham atingido essa idade: função;
a) os militares; g) reforma.
b) os convocados, os que se apresentam à incorporação
e os que, dispensados temporariamente desta, deixam de se Pena de morte
apresentar, decorrido o prazo de licenciamento; Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento.
c) os alunos de colégios ou outros estabelecimentos de
ensino, sob direção e disciplina militares, que já tenham
Comunicação
completado dezessete anos.
Art. 52. Os menores de dezesseis anos, bem como os Art. 57. A sentença definitiva de condenação à morte é
menores de dezoito e maiores de dezesseis inimputáveis, comunicada, logo que passe em julgado, ao Presidente da
ficam sujeitos às medidas educativas, curativas ou discipli- República, e não pode ser executada senão depois de sete
nares determinadas em legislação especial. dias após a comunicação.
Parágrafo único. Se a pena é imposta em zona de opera-
TÍTULO IV ções de guerra, pode ser imediatamente executada, quando
DO CONCURSO DE AGENTES o exigir o interesse da ordem e da disciplina militares.

Coautoria Mínimos e máximos genéricos


Art. 53. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o
incide nas penas a este cominadas. máximo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de
trinta dias, e o máximo de dez anos.
Condições ou circunstâncias pessoais
§ 1º A punibilidade de qualquer dos concorrentes é Pena até dois anos imposta a militar
independente da dos outros, determinando-se segundo a Art. 59. A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois)
sua própria culpabilidade. Não se comunicam, outrossim, as anos, aplicada a militar, é convertida em pena de prisão e
condições ou circunstâncias de caráter pessoal, salvo quando cumprida, quando não cabível a suspensão condicional: (Re-
elementares do crime. dação dada pela Lei nº 6.544, de 30/6/1978)
I – pelo oficial, em recinto de estabelecimento militar;
Agravação de pena
II – pela praça, em estabelecimento penal militar, onde
§ 2º A pena é agravada em relação ao agente que:
ficará separada de presos que estejam cumprindo pena dis-
I – promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige
a atividade dos demais agentes; ciplinar ou pena privativa de liberdade por tempo superior
II – coage outrem à execução material do crime; a dois anos.
III – instiga ou determina a cometer o crime alguém sujei-
to à sua autoridade, ou não punível em virtude de condição Separação de praças especiais e graduadas
ou qualidade pessoal; Parágrafo único. Para efeito de separação, no cumpri-
IV – executa o crime, ou nele participa, mediante paga mento da pena de prisão, atender-se- á, também, à condição
ou promessa de recompensa. das praças especiais e à das graduadas, ou não; e, dentre as
graduadas, à das que tenham graduação especial.
Atenuação de pena
§ 3º A pena é atenuada com relação ao agente, cuja par- Pena do assemelhado
ticipação no crime é de somenos importância. Art. 60. O assemelhado cumpre a pena conforme o posto
ou graduação que lhe é correspondente.
Cabeças
§ 4º Na prática de crime de autoria coletiva necessária, Pena dos não assemelhados
reputam-se cabeças os que dirigem, provocam, instigam ou Parágrafo único. Para os não assemelhados dos Minis-
excitam a ação. térios Militares e órgãos sob controle destes, regula-se a
§ 5º Quando o crime é cometido por inferiores e um ou correspondência pelo padrão de remuneração.
mais oficiais, são estes considerados cabeças, assim como
os inferiores que exercem função de oficial.
Noções de Direito Penal Militar

Pena superior a dois anos, imposta a militar


Art. 61. A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois)
Casos de impunibilidade
anos, aplicada a militar, é cumprida em penitenciária militar
Art. 54. O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio,
salvo disposição em contrário, não são puníveis se o crime e, na falta dessa, em estabelecimento prisional civil, ficando
não chega, pelo menos, a ser tentado. o recluso ou detento sujeito ao regime conforme a legislação
penal comum, de cujos benefícios e concessões, também,
TÍTULO V poderá gozar. (Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30/6/1978)
DAS PENAS
Pena privativa da liberdade imposta a civil
CAPÍTULO I Art. 62. O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça Militar,
Das Penas Principais em estabelecimento prisional civil, ficando ele sujeito ao regi-
me conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios
Penas principais e concessões, também, poderá gozar. (Redação dada pela
Art. 55. As penas principais são: Lei nº 6.544, de 30/6/1978)

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Cumprimento em penitenciária militar Limites legais da pena
Parágrafo único. Por crime militar praticado em tempo de § 2º Salvo o disposto no art. 76, é fixada dentro dos limi-
guerra poderá o civil ficar sujeito a cumprir a pena, no todo tes legais a quantidade da pena aplicável.
ou em parte em penitenciária militar, se, em benefício da
segurança nacional, assim o determinar a sentença. (Redação Circunstâncias agravantes
dada pela Lei nº 6.544, de 30/6/1978) Art. 70. São circunstâncias que sempre agravam a pena,
quando não integrantes ou qualificativas do crime:
Pena de impedimento I – a reincidência;
Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado a II – ter o agente cometido o crime:
permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instru- a) por motivo fútil ou torpe;
ção militar. b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a
impunidade ou vantagem de outro crime;
Pena de suspensão do exercício do posto, graduação, c) depois de embriagar-se, salvo se a embriaguez decorre
cargo ou função de caso fortuito, engano ou força maior;
Art. 64. A pena de suspensão do exercício do posto, d) à traição, de emboscada, com surpresa, ou mediante
graduação, cargo ou função consiste na agregação, no afas- outro recurso insidioso que dificultou ou tornou impossível
tamento, no licenciamento ou na disponibilidade do con- a defesa da vítima;
denado, pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do
e) com o emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo, ex-
seu comparecimento regular à sede do serviço. Não será
plosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou cruel, ou de
contado como tempo de serviço, para qualquer efeito, o do
cumprimento da pena. que podia resultar perigo comum;
f) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
Caso de reserva, reforma ou aposentadoria g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a
Parágrafo único. Se o condenado, quando proferida a cargo, ofício, ministério ou profissão;
sentença, já estiver na reserva, ou reformado ou aposenta- h) contra criança, velho ou enfermo;
do, a pena prevista neste artigo será convertida em pena de i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da
detenção, de três meses a um ano. autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, encalhe, alaga-
Pena de reforma mento, inundação, ou qualquer calamidade pública, ou de
Art. 65. A pena de reforma sujeita o condenado à si- desgraça particular do ofendido;
tuação de inatividade, não podendo perceber mais de um l) estando de serviço;
vinte e cinco avos do soldo, por ano de serviço, nem receber m) com emprego de arma, material ou instrumento de
importância superior à do soldo. serviço, para esse fim procurado;
n) em auditório da Justiça Militar ou local onde tenha
Superveniência de doença mental sede a sua administração;
Art. 66. O condenado a que sobrevenha doença mental o) em país estrangeiro.
deve ser recolhido a manicômio judiciário ou, na falta deste, Parágrafo único. As circunstâncias das letras c, salvo no
a outro estabelecimento adequado, onde lhe seja assegurada caso de embriaguez preordenada, l, m e o, só agravam o
custódia e tratamento. crime quando praticado por militar.

Tempo computável Reincidência


Art. 67. Computam-se na pena privativa de liberdade o Art. 71. Verifica-se a reincidência quando o agente co-
tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, e o de mete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
internação em hospital ou manicômio, bem como o excesso que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime
de tempo, reconhecido em decisão judicial irrecorrível, no anterior.
cumprimento da pena, por outro crime, desde que a decisão
seja posterior ao crime de que se trata. Temporariedade da reincidência
§ 1º Não se toma em conta, para efeito da reincidência,
Transferência de condenados a condenação anterior, se, entre a data do cumprimento ou
Art. 68. O condenado pela Justiça Militar de uma região, extinção da pena e o crime posterior, decorreu período de
distrito ou zona pode cumprir pena em estabelecimento de tempo superior a cinco anos.
outra região, distrito ou zona. Crimes não considerados para efeito da reincidência
§ 2º Para efeito da reincidência, não se consideram os
CAPÍTULO II crimes anistiados.
Da Aplicação da Pena
Noções de Direito Penal Militar

Art. 72. São circunstâncias que sempre atenuam a pena:


Fixação da pena privativa de liberdade
Art. 69. Para fixação da pena privativa de liberdade, o Circunstância atenuantes
juiz aprecia a gravidade do crime praticado e a personalidade I – ser o agente menor de vinte e um ou maior de se-
do réu, devendo ter em conta a intensidade do dolo ou grau tenta anos;
da culpa, a maior ou menor extensão do dano ou perigo de II – ser meritório seu comportamento anterior;
dano, os meios empregados, o modo de execução, os motivos III – ter o agente:
determinantes, as circunstâncias de tempo e lugar, os ante- a) cometido o crime por motivo de relevante valor social
cedentes do réu e sua atitude de insensibilidade, indiferença ou moral;
ou arrependimento após o crime. b) procurado, por sua espontânea vontade e com efici-
ência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as con-
Determinação da pena sequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
§ 1º Se são cominadas penas alternativas, o juiz deve c) cometido o crime sob a influência de violenta emoção,
determinar qual delas é aplicável. provocada por ato injusto da vítima;

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d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, Criminoso por tendência
a autoria do crime, ignorada ou imputada a outrem; 3º Considera-se criminoso por tendência aquele que
e) sofrido tratamento com rigor não permitido em lei. comete homicídio, tentativa de homicídio ou lesão corporal
Não atendimento de atenuantes grave, e, pelos motivos determinantes e meios ou modo de
Parágrafo único. Nos crimes em que a pena máxima co- execução, revela extraordinária torpeza, perversão ou mal-
minada é de morte, ao juiz é facultado atender, ou não, às vadez.
circunstâncias atenuantes enumeradas no artigo.
Ressalva do art. 113
Quantum da agravação ou atenuação 4º Fica ressalvado, em qualquer caso, o disposto no art.
Art. 73. Quando a lei determina a agravação ou atenua- 113.
ção da pena sem mencionar o quantum, deve o juiz fixá-lo
entre um quinto e um terço, guardados os limites da pena Crimes da mesma natureza
cominada ao crime. 5º Consideram-se crimes da mesma natureza os previstos
no mesmo dispositivo legal, bem como os que, embora pre-
Mais de uma agravante ou atenuante vistos em dispositivos diversos, apresentam, pelos fatos que
Art. 74. Quando ocorre mais de uma agravante ou mais os constituem ou por seus motivos determinantes, caracteres
de uma atenuante, o juiz poderá limitar-se a uma só agra- fundamentais comuns.
vação ou a uma só atenuação.
Concurso de crimes
Concurso de agravantes e atenuantes Art. 79. Quando o agente, mediante uma só ou mais de
Art. 75. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos
deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias ou não, as penas privativas de liberdade devem ser unifica-
preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam das. Se as penas são da mesma espécie, a pena única é a
dos motivos determinantes do crime, da personalidade do soma de todas; se, de espécies diferentes, a pena única e a
agente, e da reincidência. Se há equivalência entre umas e mais grave, mas com aumento correspondente à metade do
outras, é como se não tivessem ocorrido. tempo das menos graves, ressalvado o disposto no art. 58.
Majorantes e minorantes Crime continuado
Art. 76. Quando a lei prevê causas especiais de aumento Art. 80. Aplica-se a regra do artigo anterior, quando o
ou diminuição da pena, não fica o juiz adstrito aos limites da agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois
pena cominada ao crime, senão apenas aos da espécie de ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de
pena aplicável (art. 58). tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes,
Parágrafo único. No concurso dessas causas especiais, devem os subsequentes ser considerados como continuação
pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só dimi- do primeiro.
nuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente Parágrafo único. Não há crime continuado quando se
ou diminua.
trata de fatos ofensivos de bens jurídicos inerentes à pessoa,
salvo se as ações ou omissões sucessivas são dirigidas contra
Pena-base
a mesma vítima.
Art. 77. A pena que tenha de ser aumentada ou diminu-
ída, de quantidade fixa ou dentro de determinados limites,
Limite da pena unificada
é a que o juiz aplicaria, se não existisse a circunstância ou
Art. 81. A pena unificada não pode ultrapassar de trinta
causa que importa o aumento ou diminuição.
anos, se é de reclusão, ou de quinze anos, se é de detenção.
Criminoso habitual ou por tendência
Art. 78. Em se tratando de criminoso habitual ou por ten- Redução facultativa da pena
dência, a pena a ser imposta será por tempo indeterminado. § 1º A pena unificada pode ser diminuída de um sexto a
O juiz fixará a pena correspondente à nova infração penal, um quarto, no caso de unidade de ação ou omissão, ou de
que constituirá a duração mínima da pena privativa da liber- crime continuado.
dade, não podendo ser, em caso algum, inferior a três anos.
Graduação no caso de pena de morte
Limite da pena indeterminada § 2º Quando cominada a pena de morte como grau máxi-
1º A duração da pena indeterminada não poderá exceder mo e a de reclusão como grau mínimo, aquela corresponde,
a dez anos, após o cumprimento da pena imposta. para o efeito de graduação, à de reclusão por trinta anos.
Noções de Direito Penal Militar

Habitualidade presumida Cálculo da pena aplicável à tentativa


2º Considera-se criminoso habitual aquele que: § 3º Nos crimes punidos com a pena de morte, esta cor-
a) reincide pela segunda vez na prática de crime doloso responde à de reclusão por trinta anos, para cálculo da pena
da mesma natureza, punível com pena privativa de liberdade aplicável à tentativa, salvo disposição especial.
em período de tempo não superior a cinco anos, descontado
o que se refere a cumprimento de pena; Ressalva do art. 78, § 2º, letra b
Art. 82. Quando se apresenta o caso do art. 78, § 2º,
Habitualidade reconhecível pelo juiz letra b, fica sem aplicação o disposto quanto ao concurso
b) embora sem condenação anterior, comete sucessi- de crimes idênticos ou ao crime continuado.
vamente, em período de tempo não superior a cinco anos,
quatro ou mais crimes dolosos da mesma natureza, puníveis Penas não privativas de liberdade
com pena privativa de liberdade, e demonstra, pelas suas Art. 83. As penas não privativas de liberdade são aplica-
condições de vida e pelas circunstâncias dos fatos apreciados das distinta e integralmente, ainda que previstas para um só
em conjunto, acentuada inclinação para tais crimes. dos crimes concorrentes.

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CAPÍTULO III CAPÍTULO IV
Da Suspensão Condicional da Pena Do Livramento Condicional

Pressupostos da suspensão Requisitos


Art. 84. A execução da pena privativa da liberdade, não Art. 89. O condenado a pena de reclusão ou de detenção
superior a 2 (dois) anos, pode ser suspensa, por 2 (dois) por tempo igual ou superior a dois anos pode ser liberado
anos a 6 (seis) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº condicionalmente, desde que:
6.544, de 30/6/1978) I – tenha cumprido:
I – o sentenciado não haja sofrido no País ou no estrangei- a) metade da pena, se primário;
ro, condenação irrecorrível por outro crime a pena privativa b) dois terços, se reincidente;
da liberdade, salvo o disposto no 1º do art. 71; (Redação II – tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o
dada pela Lei nº 6.544, de 30/6/1978) dano causado pelo crime;
II – os seus antecedentes e personalidade, os motivos e III – sua boa conduta durante a execução da pena, sua
as circunstâncias do crime, bem como sua conduta poste- adaptação ao trabalho e às circunstâncias atinentes a sua
rior, autorizem a presunção de que não tornará a delinquir. personalidade, ao meio social e à sua vida pregressa permi-
(Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30/6/1978) tem supor que não voltará a delinquir.

Penas em concurso de infrações


Restrições
§ 1º No caso de condenação por infrações penais em
Parágrafo único. A suspensão não se estende às penas
concurso, deve ter-se em conta a pena unificada.
de reforma, suspensão do exercício do posto, graduação ou
função ou à pena acessória, nem exclui a aplicação de medida Condenação de menor de 21 ou maior de 70 anos
de segurança não detentiva. § 2º Se o condenado é primário e menor de vinte e um
ou maior de setenta anos, o tempo de cumprimento da pena
Condições pode ser reduzido a um terço.
Art. 85. A sentença deve especificar as condições a que
fica subordinada a suspensão. Especificações das condições
Art. 90. A sentença deve especificar as condições a que
Revogação obrigatória da suspensão fica subordinado o livramento.
Art. 86. A suspensão é revogada se, no curso do prazo,
o beneficiário: Preliminares da concessão
I – é condenado, por sentença irrecorrível, na Justiça Mi- Art. 91. O livramento somente se concede mediante
litar ou na comum, em razão de crime, ou de contravenção parecer do Conselho Penitenciário, ouvidos o diretor do
reveladora de má índole ou a que tenha sido imposta pena estabelecimento em que está ou tenha estado o liberando
privativa de liberdade; e o representante do Ministério Público da Justiça Militar;
II – não efetua, sem motivo justificado, a reparação do e, se imposta medida de segurança detentiva, após perícia
dano; conclusiva da não periculosidade do liberando.
III – sendo militar, é punido por infração disciplinar con-
siderada grave. Observação cautelar e proteção do liberado
Art. 92. O liberado fica sob observação cautelar e pro-
Revogação facultativa teção realizadas por patronato oficial ou particular, dirigido
§ 1º A suspensão pode ser também revogada, se o con- aquele e inspecionado este pelo Conselho Penitenciário. Na
denado deixa de cumprir qualquer das obrigações constantes falta de patronato, o liberado fica sob observação cautelar
da sentença. realizada por serviço social penitenciário ou órgão similar.

Prorrogação de prazo Revogação obrigatória


§ 2º Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés Art. 93. Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser
de decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, condenado, em sentença irrecorrível, a penal privativa de
se este não foi o fixado. liberdade:
§ 3º Se o beneficiário está respondendo a processo que, I – por infração penal cometida durante a vigência do
no caso de condenação, pode acarretar a revogação, consi- benefício;
dera-se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento II – por infração penal anterior, salvo se, tendo de ser
definitivo. unificadas as penas, não fica prejudicado o requisito do art.
89, nº I, letra a.
Noções de Direito Penal Militar

Extinção da pena
Revogação facultativa
Art. 87. Se o prazo expira sem que tenha sido revogada a
§ 1º O juiz pode, também, revogar o livramento se o libe-
suspensão, fica extinta a pena privativa de liberdade.
rado deixa de cumprir qualquer das obrigações constantes
Não aplicação da suspensão condicional da pena da sentença ou é irrecorrivelmente condenado, por motivo
Art. 88. A suspensão condicional da pena não se aplica: de contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade;
I – ao condenado por crime cometido em tempo de ou, se militar, sofre penalidade por transgressão disciplinar
guerra; considerada grave.
II – em tempo de paz:
a) por crime contra a segurança nacional, de aliciação e Infração sujeita à jurisdição penal comum
incitamento, de violência contra superior, oficial de dia, de § 2º Para os efeitos da revogação obrigatória, são to-
serviço ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão, de desres- madas, também, em consideração, nos termos dos ns. I e II
peito a superior, de insubordinação, ou de deserção; deste artigo, as infrações sujeitas à jurisdição penal comum;
b) pelos crimes previstos nos arts. 160, 161, 162, 235, e, igualmente, a contravenção compreendida no § 1º, se
291 e seu parágrafo único, ns. I a IV. assim, com prudente arbítrio, o entender o juiz.

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Efeitos da revogação Perda da função pública
Art. 94. Revogado o livramento, não pode ser novamente Art. 103. Incorre na perda da função pública o asseme-
concedido e, salvo quando a revogação resulta de condena- lhado ou o civil:
ção por infração penal anterior ao benefício, não se desconta I – condenado a pena privativa de liberdade por crime
na pena o tempo em que esteve solto o condenado. cometido com abuso de poder ou violação de dever inerente
à função pública;
Extinção da pena II – condenado, por outro crime, a pena privativa de li-
Art. 95. Se, até o seu termo, o livramento não é revogado, berdade por mais de dois anos.
considera-se extinta a pena privativa de liberdade. Parágrafo único. O disposto no artigo aplica-se ao militar
Parágrafo único. Enquanto não passa em julgado a sen- da reserva, ou reformado, se estiver no exercício de função
tença em processo, a que responde o liberado por infração pública de qualquer natureza.
penal cometida na vigência do livramento, deve o juiz abster-
-se de declarar a extinção da pena. Inabilitação para o exercício de função pública
Art. 104. Incorre na inabilitação para o exercício de fun-
Não aplicação do livramento condicional ção pública, pelo prazo de dois até vinte anos, o condenado
Art. 96. O livramento condicional não se aplica ao con- a reclusão por mais de quatro anos, em virtude de crime
denado por crime cometido em tempo de guerra. praticado com abuso de poder ou violação do dever militar
ou inerente à função pública.
Casos especiais do livramento condicional
Art. 97. Em tempo de paz, o livramento condicional por Termo inicial
crime contra a segurança externa do país, ou de revolta, Parágrafo único. O prazo da inabilitação para o exercício
motim, aliciação e incitamento, violência contra superior ou de função pública começa ao termo da execução da pena pri-
militar de serviço, só será concedido após o cumprimento de vativa de liberdade ou da medida de segurança imposta em
dois terços da pena, observado ainda o disposto no art. 89, substituição, ou da data em que se extingue a referida pena.
preâmbulo, seus números II e III e §§ 1º e 2º.
Suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela
CAPÍTULO V Art. 105. O condenado a pena privativa de liberdade
Das Penas Acessórias por mais de dois anos, seja qual fôr o crime praticado, fica
suspenso do exercício do pátrio poder, tutela ou curatela,
Penas Acessórias enquanto dura a execução da pena, ou da medida de segu-
Art. 98. São penas acessórias: rança imposta em substituição (art. 113).
I – a perda de posto e patente;
II – a indignidade para o oficialato; Suspensão provisória
III – a incompatibilidade com o oficialato; Parágrafo único. Durante o processo pode o juiz decretar
IV – a exclusão das forças armadas; a suspensão provisória do exercício do pátrio poder, tutela
V – a perda da função pública, ainda que eletiva; ou curatela.
VI – a inabilitação para o exercício de função pública;
Suspensão dos direitos políticos
VII – a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela;
Art. 106. Durante a execução da pena privativa de liber-
VIII – a suspensão dos direitos políticos.
dade ou da medida de segurança imposta em substituição,
ou enquanto perdura a inabilitação para função pública, o
Função pública equiparada
condenado não pode votar, nem ser votado.
Parágrafo único. Equipara-se à função pública a que é
exercida em empresa pública, autarquia, sociedade de eco-
Imposição de pena acessória
nomia mista, ou sociedade de que participe a União, o Estado Art. 107. Salvo os casos dos arts. 99, 103, nº II, e 106, a
ou o Município como acionista majoritário. imposição da pena acessória deve constar expressamente
da sentença.
Perda de posto e patente
Art. 99. A perda de posto e patente resulta da condena- Tempo computável
ção a pena privativa de liberdade por tempo superior a dois Art. 108. Computa-se no prazo das inabilitações tem-
anos, e importa a perda das condecorações. porárias o tempo de liberdade resultante da suspensão
condicional da pena ou do livramento condicional, se não
Indignidade para o oficialato sobrevém revogação.
Art. 100. Fica sujeito à declaração de indignidade para o
Noções de Direito Penal Militar

oficialato o militar condenado, qualquer que seja a pena, nos CAPÍTULO VI


crimes de traição, espionagem ou cobardia, ou em qualquer Dos Efeitos da Condenação
dos definidos nos arts. 161, 235, 240, 242, 243, 244, 245,
251, 252, 303, 304, 311 e 312. Obrigação de reparar o dano
Art. 109. São efeitos da condenação:
Incompatibilidade com o oficialato I – tornar certa a obrigação de reparar o dano resultante
Art. 101. Fica sujeito à declaração de incompatibilidade do crime;
com o oficialato o militar condenado nos crimes dos arts.
141 e 142. Perda em favor da Fazenda Nacional
II – a perda, em favor da Fazenda Nacional, ressalvado o
Exclusão das forças armadas direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liber- a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em
dade, por tempo superior a dois anos, importa sua exclusão coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção cons-
das forças armadas. titua fato ilícito;

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b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que Persistência do estado mórbido
constitua proveito auferido pelo agente com a sua prática. § 2º Se, ao término do prazo, persistir o mórbido esta-
do psíquico do internado, condicionante de periculosidade
TÍTULO VI atual, a internação passa a ser por tempo indeterminado,
DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA aplicando-se o disposto nos §§ 1º a 4º do artigo anterior.
Espécies de medidas de segurança Ébrios habituais ou toxicômanos
Art. 110. As medidas de segurança são pessoais ou patri- § 3º À idêntica internação para fim curativo, sob as mes-
moniais. As da primeira espécie subdividem-se em detentivas mas normas, ficam sujeitos os condenados reconhecidos
e não detentivas. As detentivas são a internação em manicô- como ébrios habituais ou toxicômanos.
mio judiciário e a internação em estabelecimento psiquiátrico
anexo ao manicômio judiciário ou ao estabelecimento penal,
Regime de internação
ou em seção especial de um ou de outro. As não detentivas
são a cassação de licença para direção de veículos motoriza- Art. 114. A internação, em qualquer dos casos previstos
dos, o exílio local e a proibição de frequentar determinados nos artigos precedentes, deve visar não apenas ao tratamen-
lugares. As patrimoniais são a interdição de estabelecimento to curativo do internado, senão também ao seu aperfeiçoa-
ou sede de sociedade ou associação, e o confisco. mento, a um regime educativo ou de trabalho, lucrativo ou
não, segundo o permitirem suas condições pessoais.
Pessoas sujeitas às medidas de segurança
Art. 111. As medidas de segurança somente podem ser Cassação de licença para dirigir veículos motorizados
impostas: Art. 115. Ao condenado por crime cometido na direção
I – aos civis; ou relacionadamente à direção de veículos motorizados,
II – aos militares ou assemelhados, condenados a pena deve ser cassada a licença para tal fim, pelo prazo mínimo
privativa de liberdade por tempo superior a dois anos, ou aos de um ano, se as circunstâncias do caso e os antecedentes
que de outro modo hajam perdido função, posto e patente, do condenado revelam a sua inaptidão para essa atividade
ou hajam sido excluídos das forças armadas; e consequente perigo para a incolumidade alheia.
III – aos militares ou assemelhados, no caso do art. 48; § 1º O prazo da interdição se conta do dia em que termina
IV – aos militares ou assemelhados, no caso do art. 115, a execução da pena privativa de liberdade ou da medida de
com aplicação dos seus §§ 1º, 2º e 3º. segurança detentiva, ou da data da suspensão condicional
da pena ou da concessão do livramento ou desinternação
Manicômio judiciário condicionais.
Art. 112. Quando o agente é inimputável (art. 48), mas § 2º Se, antes de expirado o prazo estabelecido, é ave-
suas condições pessoais e o fato praticado revelam que ele riguada a cessação do perigo condicionante da interdição,
oferece perigo à incolumidade alheia, o juiz determina sua
esta é revogada; mas, se o perigo persiste ao termo do prazo,
internação em manicômio judiciário.
prorroga-se este enquanto não cessa aquele.
Prazo de internação § 3º A cassação da licença deve ser determinada ainda
§ 1º A internação, cujo mínimo deve ser fixado de entre no caso de absolvição do réu em razão de inimputabilidade.
um a três anos, é por tempo indeterminado, perdurando
enquanto não fôr averiguada, mediante perícia médica, a Exílio local
cessação da periculosidade do internado. Art. 116. O exílio local, aplicável quando o juiz o considera
necessário como medida preventiva, a bem da ordem pública
Perícia médica ou do próprio condenado, consiste na proibição de que este
§ 2º Salvo determinação da instância superior, a perícia resida ou permaneça, durante um ano, pelo menos, na loca-
médica é realizada ao término do prazo mínimo fixado à lidade, município ou comarca em que o crime foi praticado.
internação e, não sendo esta revogada, deve aquela ser re- Parágrafo único. O exílio deve ser cumprido logo que
petida de ano em ano. cessa ou é suspensa condicionalmente a execução da pena
privativa de liberdade.
Desinternação condicional
§ 3º A desinternação é sempre condicional, devendo ser Proibição de frequentar determinados lugares
restabelecida a situação anterior, se o indivíduo, antes do Art. 117. A proibição de frequentar determinados luga-
decurso de um ano, vem a praticar fato indicativo de persis- res consiste em privar o condenado, durante um ano, pelo
tência de sua periculosidade. menos, da faculdade de acesso a lugares que favoreçam, por
§ 4º Durante o período de prova, aplica-se o disposto
Noções de Direito Penal Militar

qualquer motivo, seu retorno à atividade criminosa.


no art. 92. Parágrafo único. Para o cumprimento da proibição, aplica-
-se o disposto no parágrafo único do artigo anterior.
Substituição da pena por internação
Art. 113. Quando o condenado se enquadra no pará-
grafo único do art. 48 e necessita de especial tratamento Interdição de estabelecimento, sociedade ou associação
curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída Art. 118. A interdição de estabelecimento comercial ou
pela internação em estabelecimento psiquiátrico anexo ao industrial, ou de sociedade ou associação, pode ser decre-
manicômio judiciário ou ao estabelecimento penal, ou em tada por tempo não inferior a quinze dias, nem superior a
seção especial de um ou de outro. seis meses, se o estabelecimento, sociedade ou associação
serve de meio ou pretexto para a prática de infração penal.
Superveniência de cura § 1º A interdição consiste na proibição de exercer no
§ 1º Sobrevindo a cura, pode o internado ser transferido local o mesmo comércio ou indústria, ou a atividade social.
para o estabelecimento penal, não ficando excluído o seu § 2º A sociedade ou associação, cuja sede é interditada,
direito a livramento condicional. não pode exercer em outro local as suas atividades.

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Confisco IV – em doze anos, se o máximo da pena é superior a
Art. 119. O juiz, embora não apurada a autoria, ou ainda quatro e não excede a oito;
quando o agente é inimputável, ou não punível, deve ordenar V – em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois
o confisco dos instrumentos e produtos do crime, desde que e não excede a quatro;
consistam em coisas: VI – em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um
I – cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção cons- ano ou, sendo superior, não excede a dois;
titui fato ilícito; VII – em dois anos, se o máximo da pena é inferior a
II – que, pertencendo às forças armadas ou sendo de um ano.
uso exclusivo de militares, estejam em poder ou em uso do
agente, ou de pessoa não devidamente autorizada; Superveniência de sentença condenatória de que so-
III – abandonadas, ocultas ou desaparecidas. mente o réu recorre
Parágrafo único. É ressalvado o direito do lesado ou de § 1º Sobrevindo sentença condenatória, de que somente
terceiro de boa-fé, nos casos dos ns. I e III. o réu tenha recorrido, a prescrição passa a regular-se pela
pena imposta, e deve ser logo declarada, sem prejuízo do
Imposição da medida de segurança andamento do recurso se, entre a última causa interruptiva
Art. 120. A medida de segurança é imposta em sentença, do curso da prescrição (§ 5º) e a sentença, já decorreu tempo
que lhe estabelecerá as condições, nos termos da lei penal suficiente.
militar.
Parágrafo único. A imposição da medida de segurança Termo inicial da prescrição da ação penal
não impede a expulsão do estrangeiro. § 2º A prescrição da ação penal começa a correr:
a) do dia em que o crime se consumou;
TÍTULO VII b) no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade
DA AÇÃO PENAL criminosa;
c) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a per-
Propositura da ação penal manência;
Art. 121. A ação penal somente pode ser promovida por d) nos crimes de falsidade, da data em que o fato se
denúncia do Ministério Público da Justiça Militar. tornou conhecido.

Dependência de requisição Caso de concurso de crimes ou de crime continuado


Art. 122. Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141, a § 3º No caso de concurso de crimes ou de crime conti-
ação penal, quando o agente for militar ou assemelhado, nuado, a prescrição é referida, não à pena unificada, mas à
depende da requisição do Ministério Militar a que aquele de cada crime considerado isoladamente.
estiver subordinado; no caso do art. 141, quando o agente
for civil e não houver coautor militar, a requisição será do Suspensão da prescrição
Ministério da Justiça. § 4º A prescrição da ação penal não corre:
I – enquanto não resolvida, em outro processo, questão
TÍTULO VIII de que dependa o reconhecimento da existência do crime;
DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE II – enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.

Causas extintivas Interrupção da prescrição


Art. 123. Extingue-se a punibilidade: § 5º O curso da prescrição da ação penal interrompe-se:
I – pela morte do agente; I – pela instauração do processo;
II – pela anistia ou indulto; II – pela sentença condenatória recorrível.
III – pela retroatividade de lei que não mais considera o § 6º A interrupção da prescrição produz efeito relativa-
fato como criminoso; mente a todos os autores do crime; e nos crimes conexos,
IV – pela prescrição; que sejam objeto do mesmo processo, a interrupção relativa
V – pela reabilitação; a qualquer deles estende-se aos demais.
VI – pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo
(art. 303, § 4º). Prescrição da execução da pena ou da medida de segu-
Parágrafo único. A extinção da punibilidade de crime, que rança que a substitui
é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agra- Art. 126. A prescrição da execução da pena privativa de
vante de outro, não se estende a este. Nos crimes conexos, liberdade ou da medida de segurança que a substitui (art.
a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto 113) regula-se pelo tempo fixado na sentença e verifica-se
Noções de Direito Penal Militar

aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. nos mesmos prazos estabelecidos no art. 125, os quais se
aumentam de um terço, se o condenado é criminoso habitual
Espécies de prescrição ou por tendência.
Art. 124. A prescrição refere-se à ação penal ou à exe- § 1º Começa a correr a prescrição:
cução da pena. a) do dia em que passa em julgado a sentença condena-
tória ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o
Prescrição da ação penal livramento condicional;
Art. 125. A prescrição da ação penal, salvo o disposto no b) do dia em que se interrompe a execução, salvo quando
§ 1º deste artigo, regula-se pelo máximo da pena privativa o tempo da interrupção deva computar-se na pena.
de liberdade cominada ao crime, verificando-se: § 2º No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se
I – em trinta anos, se a pena é de morte; o livramento ou desinternação condicionais, a prescrição se
II – em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; regula pelo restante tempo da execução.
III – em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior § 3º O curso da prescrição da execução da pena suspen-
a oito e não excede a doze; de-se enquanto o condenado está preso por outro motivo, e
interrompe-se pelo início ou continuação do cumprimento Revogação
da pena, ou pela reincidência. § 5º A reabilitação será revogada de ofício, ou a reque-
rimento do Ministério Público, se a pessoa reabilitada for
Prescrição no caso de reforma ou suspensão de exercício condenada, por decisão definitiva, ao cumprimento de pena
Art. 127. Verifica-se em quatro anos a prescrição nos privativa da liberdade.
crimes cuja pena cominada, no máximo, é de reforma ou de
suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função. Cancelamento do registro de condenações penais
Art. 135. Declarada a reabilitação, serão cancelados, me-
Disposições comuns a ambas as espécies de prescrição diante averbação, os antecedentes criminais.
Art. 128. Interrompida a prescrição, salvo o caso do § 3º,
segunda parte, do art. 126, todo o prazo começa a correr, Sigilo sobre antecedentes criminais
novamente, do dia da interrupção. Parágrafo único. Concedida a reabilitação, o registro ofi-
cial de condenações penais não pode ser comunicado senão
à autoridade policial ou judiciária, ou ao representante do
Redução Ministério Público, para instrução de processo penal que
Art. 129. São reduzidos de metade os prazos da prescri- venha a ser instaurado contra o reabilitado.
ção, quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de
vinte e um anos ou maior de setenta. PARTE ESPECIAL
Imprescritibilidade das penas acessórias LIVRO I
Art. 130. É imprescritível a execução das penas aces- DOS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ
sórias.
TÍTULO I
Prescrição no caso de insubmissão DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA
Art. 131. A prescrição começa a correr, no crime de in- EXTERNA DO PAÍS
submissão, do dia em que o insubmisso atinge a idade de
trinta anos. Hostilidade contra país estrangeiro
Art. 136. Praticar o militar ato de hostilidade contra país
Prescrição no caso de deserção estrangeiro, expondo o Brasil a perigo de guerra:
Art. 132. No crime de deserção, embora decorrido o pra- Pena – reclusão, de oito a quinze anos.
zo da prescrição, esta só extingue a punibilidade quando
o desertor atinge a idade de quarenta e cinco anos, e, se Resultado mais grave
oficial, a de sessenta. § 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas, repre-
sália ou retorsão:
Pena – reclusão, de dez a vinte e quatro anos.
Declaração de ofício
§ 2º Se resulta guerra:
Art. 133. A prescrição, embora não alegada, deve ser
Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
declarada de ofício.
Provocação a país estrangeiro
Reabilitação Art. 137. Provocar o militar, diretamente, país estrangeiro
Art. 134. A reabilitação alcança quaisquer penas impostas a declarar guerra ou mover hostilidade contra o Brasil ou a
por sentença definitiva. intervir em questão que respeite à soberania nacional:
§ 1º A reabilitação poderá ser requerida decorridos cinco Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena
principal ou terminar a execução desta ou da medida de Ato de jurisdição indevida
segurança aplicada em substituição (art. 113), ou do dia em Art. 138. Praticar o militar, indevidamente, no território
que terminar o prazo da suspensão condicional da pena ou nacional, ato de jurisdição de país estrangeiro, ou favorecer
do livramento condicional, desde que o condenado: a prática de ato dessa natureza:
a) tenha tido domicílio no País, no prazo acima referido; Pena – reclusão, de cinco a quinze anos.
b) tenha dado, durante esse tempo, demonstração efe-
tiva e constante de bom comportamento público e privado; Violação de território estrangeiro
c) tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou de- Art. 139. Violar o militar território estrangeiro, com o fim
monstre absoluta impossibilidade de o fazer até o dia do de praticar ato de jurisdição em nome do Brasil:
pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da Pena – reclusão, de dois a seis anos.
Noções de Direito Penal Militar

vítima ou novação da dívida.


§ 2º A reabilitação não pode ser concedida: Entendimento para empenhar o Brasil à neutralidade
a) em favor dos que foram reconhecidos perigosos, salvo ou à guerra
Art. 140. Entrar ou tentar entrar o militar em entendi-
prova cabal em contrário;
mento com país estrangeiro, para empenhar o Brasil à neu-
b) em relação aos atingidos pelas penas acessórias do
tralidade ou à guerra:
art. 98, inciso VII, se o crime for de natureza sexual em de- Pena – reclusão, de seis a doze anos.
trimento de filho, tutelado ou curatelado.
Entendimento para gerar conflito ou divergência com
Prazo para renovação do pedido o Brasil
§ 3º Negada a reabilitação, não pode ser novamente re- Art. 141. Entrar em entendimento com país estrangeiro,
querida senão após o decurso de dois anos. ou organização nele existente, para gerar conflito ou diver-
§ 4º Os prazos para o pedido de reabilitação serão con- gência de caráter internacional entre o Brasil e qualquer
tados em dobro no caso de criminoso habitual ou por ten- outro país, ou para lhes perturbar as relações diplomáticas:
dência. Pena – reclusão, de quatro a oito anos.

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Resultado mais grave Resultado mais grave
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas: § 1º Se o fato compromete a segurança ou a eficiência
Pena – reclusão, de seis a dezoito anos. bélica do país:
§ 2º Se resulta guerra: Pena – reclusão, de dez a vinte anos.
Pena – reclusão, de dez a vinte e quatro anos.
Modalidade culposa
Tentativa contra a soberania do Brasil § 2º Contribuir culposamente para o fato:
Art. 142. Tentar: Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
I – submeter o território nacional, ou parte dele, à sobe-
rania de país estrangeiro; Penetração com o fim de espionagem
II – desmembrar, por meio de movimento armado ou Art. 146. Penetrar, sem licença, ou introduzir-se clandes-
tumultos planejados, o território nacional, desde que o fato tinamente ou sob falso pretexto, em lugar sujeito à adminis-
atente contra a segurança externa do Brasil ou a sua sobe- tração militar, ou centro industrial a serviço de construção
rania; ou fabricação sob fiscalização militar, para colher informação
III – internacionalizar, por qualquer meio, região ou parte destinada a país estrangeiro ou agente seu:
do território nacional:
Pena – reclusão, de três a oito anos.
Pena – reclusão, de quinze a trinta anos, para os cabeças;
Parágrafo único. Entrar, em local referido no artigo, sem
de dez a vinte anos, para os demais agentes.
licença de autoridade competente, munido de máquina fo-
Consecução de notícia, informação ou documento para tográfica ou qualquer outro meio hábil para a prática de
fim de espionagem espionagem:
Art. 143. Conseguir, para o fim de espionagem militar, Pena – reclusão, até três anos.
notícia, informação ou documento, cujo sigilo seja de inte-
resse da segurança externa do Brasil: Desenho ou levantamento de plano ou planta de local
Pena – reclusão, de quatro a doze anos. militar ou de engenho de guerra
§ 1º A pena é de reclusão de dez a vinte anos: Art. 147. Fazer desenho ou levantar plano ou planta de
I – se o fato compromete a preparação ou eficiência bélica fortificação, quartel, fábrica, arsenal, hangar ou aeródromo,
do Brasil, ou o agente transmite ou fornece, por qualquer ou de navio, aeronave ou engenho de guerra motomeca-
meio, mesmo sem remuneração, a notícia, informação ou nizado, utilizados ou em construção sob administração ou
documento, a autoridade ou pessoa estrangeira; fiscalização militar, ou fotografá-los ou filmá-los:
II – se o agente, em detrimento da segurança externa do Pena – reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui
Brasil, promove ou mantém no território nacional atividade crime mais grave.
ou serviço destinado à espionagem;
III – se o agente se utiliza, ou contribui para que outrem Sobrevoo em local interdito
se utilize, de meio de comunicação, para dar indicação que Art. 148. Sobrevoar local declarado interdito:
ponha ou possa pôr em perigo a segurança externa do Brasil. Pena – reclusão, até três anos.

Modalidade culposa TÍTULO II


§ 2º Contribuir culposamente para a execução do crime: DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, no caso do OU DISCIPLINA MILITAR
artigo; ou até quatro anos, no caso do § 1º, nº I.
CAPÍTULO I
Revelação de notícia, informação ou documento Do Motim e da Revolta
Art. 144. Revelar notícia, informação ou documento, cujo
sigilo seja de interesse da segurança externa do Brasil: Motim
Pena – reclusão, de três a oito anos. Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados:
I – agindo contra a ordem recebida de superior, ou ne-
Fim da espionagem militar gando-se a cumpri-la;
§ 1º Se o fato é cometido com o fim de espionagem
II – recusando obediência a superior, quando estejam
militar:
agindo sem ordem ou praticando violência;
Pena – reclusão, de seis a doze anos.
III – assentindo em recusa conjunta de obediência, ou
em resistência ou violência, em comum, contra superior;
Resultado mais grave
Noções de Direito Penal Militar

§ 2º Se o fato compromete a preparação ou a eficiência IV – ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou es-
bélica do país: tabelecimento militar, ou dependência de qualquer deles,
Pena – reclusão, de dez a vinte anos. hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar,
ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de
Modalidade culposa transporte, para ação militar, ou prática de violência, em
§ 3º Se a revelação é culposa: desobediência a ordem superior ou em detrimento da ordem
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, no caso do ou da disciplina militar:
artigo; ou até quatro anos, nos casos dos §§ 1º e 2. Pena – reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de
um terço para os cabeças.
Turbação de objeto ou documento
Art. 145. Suprimir, subtrair, deturpar, alterar, desviar, ain- Revolta
da que temporariamente, objeto ou documento concernente Parágrafo único. Se os agentes estavam armados:
à segurança externa do Brasil: Pena – reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de
Pena – reclusão, de três a oito anos. um terço para os cabeças.

15
Organização de grupo para a prática de violência § 4º Se da violência resulta morte:
Art. 150. Reunirem-se dois ou mais militares ou asseme- Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
lhados, com armamento ou material bélico, de propriedade § 5º A pena é aumentada da sexta parte, se o crime
militar, praticando violência à pessoa ou à coisa pública ou ocorre em serviço.
particular em lugar sujeito ou não à administração militar:
Pena – reclusão, de quatro a oito anos. Violência contra militar de serviço
Art. 158. Praticar violência contra oficial de dia, de ser-
Omissão de lealdade militar viço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão:
Art. 151. Deixar o militar ou assemelhado de levar ao Pena – reclusão, de três a oito anos.
conhecimento do superior o motim ou revolta de cuja pre-
paração teve notícia, ou, estando presente ao ato criminoso, Formas qualificadas
não usar de todos os meios ao seu alcance para impedi-lo: § 1º Se a violência é praticada com arma, a pena é au-
Pena – reclusão, de três a cinco anos. mentada de um terço.
§ 2º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além
Conspiração da pena da violência, a do crime contra a pessoa.
Art. 152. Concertarem-se militares ou assemelhados § 3º Se da violência resulta morte:
para a prática do crime previsto no artigo 149: Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
Pena – reclusão, de três a cinco anos.
Ausência de dolo no resultado
Isenção de pena Art. 159. Quando da violência resulta morte ou lesão
Parágrafo único. É isento de pena aquele que, antes da corporal e as circunstâncias evidenciam que o agente não
execução do crime e quando era ainda possível evitar-lhe as quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena
consequências, denuncia o ajuste de que participou. do crime contra a pessoa é diminuída de metade.

Cumulação de penas CAPÍTULO IV


Art. 153. As penas dos arts. 149 e 150 são aplicáveis sem Do Desrespeito a Superior e a
prejuízo das correspondentes à violência. Símbolo Nacional ou a Farda

CAPÍTULO II Desrespeito a superior


Da Aliciação e do Incitamento Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:
Pena – detenção, de três meses a um ano, se o fato não
Aliciação para motim ou revolta constitui crime mais grave.
Art. 154. Aliciar militar ou assemelhado para a prática de
qualquer dos crimes previstos no capítulo anterior: Desrespeito a comandante, oficial general ou oficial de
Pena – reclusão, de dois a quatro anos. serviço
Parágrafo único. Se o fato é praticado contra o coman-
Incitamento dante da unidade a que pertence o agente, oficial-general,
Art. 155. Incitar à desobediência, à indisciplina ou à prá- oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é aumentada
tica de crime militar: da metade.
Pena – reclusão, de dois a quatro anos.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem introduz, Desrespeito a símbolo nacional
afixa ou distribui, em lugar sujeito à administração militar, Art. 161. Praticar o militar diante da tropa, ou em lugar
impressos, manuscritos ou material mimeografado, fotoco- sujeito à administração militar, ato que se traduza em ultraje
piado ou gravado, em que se contenha incitamento à prática a símbolo nacional:
dos atos previstos no artigo. Pena – detenção, de um a dois anos.

Apologia de fato criminoso ou do seu autor Despojamento desprezível


Art. 156. Fazer apologia de fato que a lei militar considera Art. 162. Despojar-se de uniforme, condecoração militar,
crime, ou do autor do mesmo, em lugar sujeito à adminis- insígnia ou distintivo, por menosprezo ou vilipêndio:
tração militar: Pena – detenção, de seis meses a um ano.
Pena – detenção, de seis meses a um ano. Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o
fato é praticado diante da tropa, ou em público.
CAPÍTULO III
Noções de Direito Penal Militar

Da Violência Contra Superior ou Militar de Serviço CAPÍTULO V


Da Insubordinação
Violência contra superior
Art. 157. Praticar violência contra superior: Recusa de obediência
Pena – detenção, de três meses a dois anos. Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre
assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever im-
Formas qualificadas posto em lei, regulamento ou instrução:
§ 1º Se o superior é comandante da unidade a que per- Pena – detenção, de um a dois anos, se o fato não cons-
tence o agente, ou oficial general: titui crime mais grave.
Pena – reclusão, de três a nove anos.
§ 2º Se a violência é praticada com arma, a pena é au- Oposição a ordem de sentinela
mentada de um terço. Art. 164. Opor-se às ordens da sentinela:
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal, aplica-se, além Pena – detenção, de seis meses a um ano, se o fato não
da pena da violência, a do crime contra a pessoa. constitui crime mais grave.

16
Reunião ilícita Abuso de requisição militar
Art. 165. Promover a reunião de militares, ou nela tomar Art. 173. Abusar do direito de requisição militar, exce-
parte, para discussão de ato de superior ou assunto atinente dendo os poderes conferidos ou recusando cumprir dever
à disciplina militar: imposto em lei:
Pena – detenção, de seis meses a um ano a quem pro- Pena – detenção, de um a dois anos.
move a reunião; de dois a seis meses a quem dela participa,
se o fato não constitui crime mais grave. Rigor excessivo
Art. 174. Exceder a faculdade de punir o subordinado,
Publicação ou crítica indevida fazendo – o com rigor não permitido, ou ofendendo – o por
Art. 166. Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, palavra, ato ou escrito:
ato ou documento oficial, ou criticar publicamente ato de Pena – suspensão do exercício do posto, por dois a seis
seu superior ou assunto atinente à disciplina militar, ou a meses, se o fato não constitui crime mais grave.
qualquer resolução do Governo:
Pena – detenção, de dois meses a um ano, se o fato não Violência contra inferior
constitui crime mais grave. Art. 175. Praticar violência contra inferior:
Pena – detenção, de três meses a um ano.
CAPÍTULO VI
Da Usurpação e do Excesso Resultado mais grave
ou Abuso de Autoridade Parágrafo único. Se da violência resulta lesão corporal ou
morte é também aplicada a pena do crime contra a pessoa,
Assunção de comando sem ordem ou autorização atendendo-se, quando for o caso, ao disposto no art. 159.
Art. 167. Assumir o militar, sem ordem ou autorização,
salvo se em grave emergência, qualquer comando, ou a di- Ofensa aviltante a inferior
reção de estabelecimento militar: Art. 176. Ofender inferior, mediante ato de violência
Pena – reclusão, de dois a quatro anos, se o fato não que, por natureza ou pelo meio empregado, se considere
constitui crime mais grave. aviltante:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Conservação ilegal de comando Parágrafo único. Aplica-se o disposto no parágrafo único
Art. 168. Conservar comando ou função legitimamente do artigo anterior.
assumida, depois de receber ordem de seu superior para
deixá-los ou transmiti-los a outrem:
CAPÍTULO VII
Pena – detenção, de um a três anos.
Da Resistência
Operação militar sem ordem superior
Resistência mediante ameaça ou violência
Art. 169. Determinar o comandante, sem ordem superior
Art. 177. Opor-se à execução de ato legal, mediante ame-
e fora dos casos em que essa se dispensa, movimento de
aça ou violência ao executor, ou a quem esteja prestando
tropa ou ação militar:
Pena – reclusão, de três a cinco anos. auxílio:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Forma qualificada
Parágrafo único. Se o movimento da tropa ou ação militar Forma qualificada
é em território estrangeiro ou contra força, navio ou aeronave § 1º Se o ato não se executa em razão da resistência:
de país estrangeiro: Pena – reclusão de dois a quatro anos.
Pena – reclusão, de quatro a oito anos, se o fato não
constitui crime mais grave. Cumulação de penas
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
Ordem arbitrária de invasão das correspondentes à violência, ou ao fato que constitua
Art. 170. Ordenar, arbitrariamente, o comandante de crime mais grave.
força, navio, aeronave ou engenho de guerra motomecani-
zado a entrada de comandados seus em águas ou território CAPÍTULO VIII
estrangeiro, ou sobrevoá-los: Da Fuga, Evasão, Arrebatamento
Pena – suspensão do exercício do posto, de um a três e Amotinamento de Presos
anos, ou reforma.
Noções de Direito Penal Militar

Fuga de preso ou internado


Uso indevido por militar de uniforme, distintivo ou in- Art. 178. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legal-
sígnia mente presa ou submetida a medida de segurança detentiva:
Art. 171. Usar o militar ou assemelhado, indevidamen- Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
te, uniforme, distintivo ou insígnia de posto ou graduação
superior: Formas qualificadas
Pena – detenção, de seis meses a um ano, se o fato não § 1º Se o crime é praticado a mão armada ou por mais
constitui crime mais grave. de uma pessoa, ou mediante arrombamento:
Pena – reclusão, de dois a seis anos.
Uso indevido de uniforme, distintivo ou insígnia militar § 2º Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se
por qualquer pessoa também a pena correspondente à violência.
Art. 172. Usar, indevidamente, uniforme, distintivo ou § 3º Se o crime é praticado por pessoa sob cuja guarda,
insígnia militar a que não tenha direito: custódia ou condução está o preso ou internado:
Pena – detenção, até seis meses. Pena – reclusão, até quatro anos.

17
Modalidade culposa Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Art. 179. Deixar, por culpa, fugir pessoa legalmente presa, Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem substitui
confiada à sua guarda ou condução: o convocado.
Pena – detenção, de três meses a um ano.
Favorecimento a convocado
Evasão de preso ou internado Art. 186. Dar asilo a convocado, ou tomá-lo a seu serviço, ou
Art. 180. Evadir-se, ou tentar evadir-se o preso ou inter- proporcionar-lhe ou facilitar-lhe transporte ou meio que obste
nado, usando de violência contra a pessoa: ou dificulte a incorporação, sabendo ou tendo razão para saber
Pena – detenção, de um a dois anos, além da correspon- que cometeu qualquer dos crimes previstos neste capítulo:
dente à violência. Pena – detenção, de três meses a um ano.
§ 1º Se a evasão ou a tentativa ocorre mediante arrom-
bamento da prisão militar: Isenção de pena
Pena – detenção, de seis meses a um ano. Parágrafo único. Se o favorecedor é ascendente, descen-
dente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.
Cumulação de penas
§ 2º Se ao fato sucede deserção, aplicam-se cumulativa- CAPÍTULO II
mente as penas correspondentes. Da Deserção
Arrebatamento de preso ou internado Deserção
Art. 181. Arrebatar preso ou internado, a fim de maltratá- Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade
-lo, do poder de quem o tenha sob guarda ou custódia militar: em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por
Pena – reclusão, até quatro anos, além da correspon- mais de oito dias:
dente à violência. Pena – detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a
pena é agravada.
Amotinamento
Art. 182. Amotinarem-se presos, ou internados, pertur- Casos assimilados
bando a disciplina do recinto de prisão militar: Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que:
Pena – reclusão, até três anos, aos cabeças; aos demais, I – não se apresenta no lugar designado, dentro de oito
detenção de um a dois anos. dias, findo o prazo de trânsito ou férias;
II – deixa de se apresentar a autoridade competente, den-
Responsabilidade de participe ou de oficial tro do prazo de oito dias, contados daquele em que termina
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem participa
ou é cassada a licença ou agregação ou em que é declarado
do amotinamento ou, sendo oficial e estando presente, não
o estado de sítio ou de guerra;
usa os meios ao seu alcance para debelar o amotinamento
III – tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, den-
ou evitar-lhe as consequências.
tro do prazo de oito dias;
IV – consegue exclusão do serviço ativo ou situação de
TÍTULO III
DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO inatividade, criando ou simulando incapacidade.
MILITAR E O DEVER MILITAR Art. 189. Nos crimes dos arts. 187 e 188, ns. I, II e III:

CAPÍTULO I Atenuante especial


Da Insubmissão I – se o agente se apresenta voluntariamente dentro em
oito dias após a consumação do crime, a pena é diminuída de
Insubmissão metade; e de um terço, se de mais de oito dias e até sessenta;
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à incor-
poração, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresen- Agravante especial
tando-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorporação: II – se a deserção ocorre em unidade estacionada em
Pena – impedimento, de três meses a um ano. fronteira ou país estrangeiro, a pena é agravada de um terço.

Caso assimilado Deserção especial


§ 1º Na mesma pena incorre quem, dispensado tempora- Art. 190. Deixar o militar de apresentar-se no momento
riamente da incorporação, deixa de se apresentar, decorrido da partida do navio ou aeronave, de que é tripulante, ou do
o prazo de licenciamento. deslocamento da unidade ou força em que serve: (Redação
dada pela Lei nº 9.764, de 18/12/1998)
Diminuição da pena Pena – detenção, até três meses, se após a partida ou
Noções de Direito Penal Militar

§ 2º A pena é diminuída de um terço: deslocamento se apresentar, dentro de vinte e quatro horas,


a) pela ignorância ou a errada compreensão dos atos da à autoridade militar do lugar, ou, na falta desta, à autoridade
convocação militar, quando escusáveis; policial, para ser comunicada a apresentação ao comando
b) pela apresentação voluntária dentro do prazo de um militar competente. (Redação dada pela Lei nº 9.764, de
ano, contado do último dia marcado para a apresentação. 18/12/1998)
§ 1º Se a apresentação se der dentro de prazo superior a
Criação ou simulação de incapacidade física vinte e quatro horas e não excedente a cinco dias:
Art. 184. Criar ou simular incapacidade física, que inabi- Pena – detenção, de dois a oito meses.
lite o convocado para o serviço militar: § 2º Se superior a cinco dias e não excedente a oito dias:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos. (Redação dada pela Lei nº 9.764, de 18/12/1998)
Pena – detenção, de três meses a um ano.
Substituição de convocado § 2º-A. Se superior a oito dias: (Incluído pela Lei nº 9.764,
Art. 185. Substituir-se o convocado por outrem na apre- de 18/12/1998)
sentação ou na inspeção de saúde. Pena – detenção, de seis meses a dois anos.

18
Aumento de pena Pena – suspensão do exercício do posto, de três a seis
§ 3º A pena é aumentada de um terço, se se tratar de meses, se o fato não constitui crime mais grave.
sargento, subtenente ou suboficial, e de metade, se oficial. Parágrafo único. Se o objeto, plano, carta, cifra, código,
(Redação dada pela Lei nº 9.764, de 18/12/1998) ou documento envolve ou constitui segredo relativo à se-
gurança nacional:
Concerto para deserção Pena – detenção, de três meses a um ano, se o fato não
Art. 191. Concertarem-se militares para a prática da de- constitui crime mais grave.
serção:
I – se a deserção não chega a consumar-se: Omissão de eficiência da força
Pena – detenção, de três meses a um ano. Art. 198. Deixar o comandante de manter a força sob seu
comando em estado de eficiência:
Modalidade complexa Pena – suspensão do exercício do posto, de três meses
II – se consumada a deserção: a um ano.
Pena – reclusão, de dois a quatro anos.
Omissão de providências para evitar danos
Deserção por evasão ou fuga Art. 199. Deixar o comandante de empregar todos os
Art. 192. Evadir-se o militar do poder da escolta, ou de meios ao seu alcance para evitar perda, destruição ou inuti-
recinto de detenção ou de prisão, ou fugir em seguida à lização de instalações militares, navio, aeronave ou engenho
prática de crime para evitar prisão, permanecendo ausente de guerra motomecanizado em perigo:
por mais de oito dias: Pena – reclusão, de dois a oito anos.
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Modalidade culposa
Favorecimento a desertor Parágrafo único. Se a abstenção é culposa:
Art. 193. Dar asilo a desertor, ou tomá-lo a seu serviço, Pena – detenção, de três meses a um ano.
ou proporcionar-lhe ou facilitar-lhe transporte ou meio de
ocultação, sabendo ou tendo razão para saber que cometeu Omissão de providências para salvar comandados
qualquer dos crimes previstos neste capítulo: Art. 200. Deixar o comandante, em ocasião de incêndio,
Pena – detenção, de quatro meses a um ano. naufrágio, encalhe, colisão, ou outro perigo semelhante, de
tomar todas as providências adequadas para salvar os seus
Isenção de pena comandados e minorar as consequências do sinistro, não
Parágrafo único. Se o favorecedor é ascendente, descen- sendo o último a sair de bordo ou a deixar a aeronave ou o
quartel ou sede militar sob seu comando:
dente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.
Pena – reclusão, de dois a seis anos.
Omissão de oficial
Modalidade culposa
Art. 194. Deixar o oficial de proceder contra desertor,
Parágrafo único. Se a abstenção é culposa:
sabendo, ou devendo saber encontrar-se entre os seus co-
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
mandados:
Pena – detenção, de seis meses a um ano. Omissão de socorro
Art. 201. Deixar o comandante de socorrer, sem justa
CAPÍTULO III causa, navio de guerra ou mercante, nacional ou estrangeiro,
Do Abandono de Posto e de ou aeronave, em perigo, ou náufragos que hajam pedido
Outros Crimes em Serviço socorro:
Pena – suspensão do exercício do posto, de um a três
Abandono de posto anos ou reforma.
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou
lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou o serviço Embriaguez em serviço
que lhe cumpria, antes de terminá-lo: Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou
Pena – detenção, de três meses a um ano. apresentar-se embriagado para prestá-lo:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Descumprimento de missão
Art. 196. Deixar o militar de desempenhar a missão que Dormir em serviço
lhe foi confiada: Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como ofi-
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não cial de quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, ou,
Noções de Direito Penal Militar

constitui crime mais grave. não sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia, plantão às
§ 1º Se é oficial o agente, a pena é aumentada de um máquinas, ao leme, de ronda ou em qualquer serviço de
terço. natureza semelhante:
§ 2º Se o agente exercia função de comando, a pena é Pena – detenção, de três meses a um ano.
aumentada de metade.
CAPÍTULO IV
Modalidade culposa Do Exercício de Comércio
§ 3º Se a abstenção é culposa:
Pena – detenção, de três meses a um ano. Exercício de comércio por oficial
Art. 204. Comerciar o oficial da ativa, ou tomar parte
Retenção indevida na administração ou gerência de sociedade comercial, ou
Art. 197. Deixar o oficial de restituir, por ocasião da pas- dela ser sócio ou participar, exceto como acionista ou cotista
sagem de função, ou quando lhe é exigido, objeto, plano, em sociedade anônima, ou por cotas de responsabilidade
carta, cifra, código ou documento que lhe haja sido confiado: limitada:

19
Pena – suspensão do exercício do posto, de seis meses CAPÍTULO II
a dois anos, ou reforma. Do Genocídio

TÍTULO IV Genocídio
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Art. 208. Matar membros de um grupo nacional, étnico,
religioso ou pertencente a determinada raça, com o fim de
CAPÍTULO I destruição total ou parcial desse grupo:
Do Homicídio Pena – reclusão, de quinze a trinta anos.

Homicídio simples Casos assimilados


Art. 205. Matar alguém: Parágrafo único. Será punido com reclusão, de quatro a
Pena – reclusão, de seis a vinte anos. quinze anos, quem, com o mesmo fim:
I – inflige lesões graves a membros do grupo;
Minoração facultativa da pena II – submete o grupo a condições de existência, físicas ou
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de morais, capazes de ocasionar a eliminação de todos os seus
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta membros ou parte deles;
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o III – força o grupo à sua dispersão;
juiz pode reduzir a pena, de um sexto a um terço. IV – impõe medidas destinadas a impedir os nascimentos
no seio do grupo;
Homicídio qualificado V – efetua coativamente a transferência de crianças do
§ 2º Se o homicídio é cometido: grupo para outro grupo.
I – por motivo fútil;
II – mediante paga ou promessa de recompensa, por CAPÍTULO III
cupidez, para excitar ou saciar desejos sexuais, ou por ou- Da Lesão Corporal e da Rixa
tro motivo torpe;
III – com emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo, ex- Lesão leve
plosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou cruel, ou de Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de
que possa resultar perigo comum; outrem:
IV – à traição, de emboscada, com surpresa ou mediante Pena – detenção, de três meses a um ano.
outro recurso insidioso, que dificultou ou tornou impossível
a defesa da vítima; Lesão grave
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade § 1º Se se produz, dolosamente, perigo de vida, debilida-
ou vantagem de outro crime; de permanente de membro, sentido ou função, ou incapa-
VI – prevalecendo-se o agente da situação de serviço: cidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias:
Pena – reclusão, de doze a trinta anos. Pena – reclusão, até cinco anos.
§ 2º Se se produz, dolosamente, enfermidade incurá-
Homicídio culposo vel, perda ou inutilização de membro, sentido ou função,
Art. 206. Se o homicídio é culposo: incapacidade permanente para o trabalho, ou deformidade
Pena – detenção, de um a quatro anos. duradoura:
§ 1º A pena pode ser agravada se o crime resulta de Pena – reclusão, de dois a oito anos.
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício,
ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima. Lesões qualificadas pelo resultado
§ 3º Se os resultados previstos nos §§ 1º e 2º forem causa-
Multiplicidade de vítimas dos culposamente, a pena será de detenção, de um a quatro
§ 2º Se, em consequência de uma só ação ou omissão anos; se da lesão resultar morte e as circunstâncias eviden-
culposa, ocorre morte de mais de uma pessoa ou também ciarem que o agente não quis o resultado, nem assumiu o
lesões corporais em outras pessoas, a pena é aumentada de risco de produzi-lo, a pena será de reclusão, até oito anos.
um sexto até metade.
Minoração facultativa da pena
Provocação direta ou auxílio a suicídio § 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de
Art. 207. Instigar ou induzir alguém a suicidar-se, ou pres- relevante valor moral ou social ou sob o domínio de violenta
tar-lhe auxílio para que o faça, vindo o suicídio consumar-se: emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o
Pena – reclusão, de dois a seis anos. juiz pode reduzir a pena, de um sexto a um terço.
§ 5º No caso de lesões leves, se estas são recíprocas,
Noções de Direito Penal Militar

Agravação de pena não se sabendo qual dos contendores atacou primeiro, ou


§ 1º Se o crime é praticado por motivo egoístico, ou a quando ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior,
vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer motivo, a o juiz pode diminuir a pena de um a dois terços.
resistência moral, a pena é agravada.
Lesão levíssima
Provocação indireta ao suicídio § 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode considerar
§ 2º Com detenção de um a três anos, será punido quem, a infração como disciplinar.
desumana e reiteradamente, inflige maus tratos a alguém,
sob sua autoridade ou dependência, levando-o, em razão Lesão culposa
disso, à prática de suicídio. Art. 210. Se a lesão é culposa:
Pena – detenção, de dois meses a um ano.
Redução de pena § 1º A pena pode ser agravada se o crime resulta de
§ 3º Se o suicídio é apenas tentado, e da tentativa resulta inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício,
lesão grave, a pena é reduzida de um a dois terços. ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima.

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Aumento de pena Parágrafo único. A exceção da verdade somente se ad-
§ 2º Se, em consequência de uma só ação ou omissão mite se a ofensa é relativa ao exercício da função pública,
culposa, ocorrem lesões em várias pessoas, a pena é aumen- militar ou civil, do ofendido.
tada de um sexto até metade.
Injúria
Participação em rixa Art. 216. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou
Art. 211. Participar de rixa, salvo para separar os con- o decoro:
tendores: Pena – detenção, até seis meses.
Pena – detenção, até dois meses.
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão grave, aplica- Injúria real
-se, pelo fato de participação na rixa, a pena de detenção, Art. 217. Se a injúria consiste em violência, ou outro ato
de seis meses a dois anos. que atinja a pessoa, e, por sua natureza ou pelo meio em-
pregado, se considera aviltante:
CAPÍTULO IV Pena – detenção, de três meses a um ano, além da pena
Da Periclitação da Vida ou da Saúde correspondente à violência.

Abandono de pessoa Disposições comuns


Art. 212. Abandonar o militar pessoa que está sob seu Art. 218. As penas cominadas nos antecedentes artigos
cuidado, guarda, vigilância ou autoridade e, por qualquer deste capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos
motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do crimes é cometido:
abandono: I – contra o Presidente da República ou chefe de governo
Pena – detenção, de seis meses a três anos. estrangeiro;
II – contra superior;
Formas qualificadas pelo resultado III – contra militar, ou funcionário público civil, em razão
§ 1º Se do abandono resulta lesão grave: das suas funções;
Pena – reclusão, até cinco anos. IV – na presença de duas ou mais pessoas, ou de inferior
§ 2º Se resulta morte: do ofendido, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia,
Pena – reclusão, de quatro a doze anos. da difamação ou da injúria.
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante paga
Maus tratos ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro, se
Art. 213. Expor a perigo a vida ou saúde, em lugar sujeito o fato não constitui crime mais grave.
à administração militar ou no exercício de função militar,
de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para o Ofensa às forças armadas
Art. 219. Propalar fatos, que sabe inverídicos, capazes de
fim de educação, instrução, tratamento ou custódia, quer
ofender a dignidade ou abalar o crédito das forças armadas
privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
ou a confiança que estas merecem do público:
sujeitando-a a trabalhos excessivos ou inadequados, quer
Pena – detenção, de seis meses a um ano.
abusando de meios de correção ou disciplina:
Parágrafo único. A pena será aumentada de um terço,
Pena – detenção, de dois meses a um ano. se o crime é cometido pela imprensa, rádio ou televisão.
Formas qualificadas pelo resultado Exclusão de pena
§ 1º Se do fato resulta lesão grave: Art. 220. Não constitui ofensa punível, salvo quando ine-
Pena – reclusão, até quatro anos. quívoca a intenção de injuriar, difamar ou caluniar:
§ 2º Se resulta morte: I – a irrogada em juízo, na discussão da causa, por uma
Pena – reclusão, de dois a dez anos. das partes ou seu procurador contra a outra parte ou seu
procurador;
CAPÍTULO V II – a opinião desfavorável da crítica literária, artística
Dos Crimes Contra a Honra ou científica;
III – a apreciação crítica às instituições militares, salvo
Calúnia quando inequívoca a intenção de ofender;
Art. 214. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente IV – o conceito desfavorável em apreciação ou informa-
fato definido como crime: ção prestada no cumprimento do dever de ofício.
Pena – detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Nos casos dos ns. I e IV, responde pela
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a im- ofensa quem lhe dá publicidade.
putação, a propala ou divulga.
Noções de Direito Penal Militar

Equivocidade da ofensa
Exceção da verdade Art. 221. Se a ofensa é irrogada de forma imprecisa ou
§ 2º A prova da verdade do fato imputado exclui o crime, equívoca, quem se julga atingido pode pedir explicações em
mas não é admitida: juízo. Se o interpelado se recusa a dá-las ou, a critério do juiz,
I – se, constituindo o fato imputado crime de ação priva- não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
da, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas CAPÍTULO VI
no nº I do art. 218; DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE
III – se do crime imputado, embora de ação pública, o
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Seção I
Dos Crimes contra a Liberdade Individual
Difamação
Art. 215. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo Constrangimento ilegal
à sua reputação: Art. 222. Constranger alguém, mediante violência ou gra-
Pena – detenção, de três meses a um ano. ve ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer

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outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que Forma qualificada
a lei permite, ou a fazer ou a tolerar que se faça, o que ela § 1º Se o crime é cometido durante o repouso noturno,
não manda: ou com emprego de violência ou de arma, ou mediante ar-
Pena – detenção, até um ano, se o fato não constitui rombamento, ou por duas ou mais pessoas:
crime mais grave. Pena – detenção, de seis meses a dois anos, além da pena
correspondente à violência.
Aumento de pena
§ 1º A pena aplica-se em dobro, quando, para a execução Agravação de pena
do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de § 2º Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é come-
arma, ou quando o constrangimento é exercido com abuso tido por militar em serviço ou por funcionário público civil,
de autoridade, para obter de alguém confissão de autoria fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades
de crime ou declaração como testemunha. prescritas em lei, ou com abuso de poder.
§ 2º Além da pena cominada, aplica-se a correspondente
à violência.
Exclusão de crime
§ 3º Não constitui crime a entrada ou permanência em
Exclusão de crime
§ 3º Não constitui crime: casa alheia ou em suas dependências:
I – Salvo o caso de transplante de órgãos, a intervenção I – durante o dia, com observância das formalidades le-
médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de gais, para efetuar prisão ou outra diligência em cumprimento
seu representante legal, se justificada para conjurar iminente de lei ou regulamento militar;
perigo de vida ou de grave dano ao corpo ou à saúde; II – a qualquer hora do dia ou da noite para acudir vítima
II – a coação exercida para impedir suicídio. de desastre ou quando alguma infração penal está sendo ali
praticada ou na iminência de o ser.
Ameaça
Art. 223. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, Compreensão do termo “casa”
ou qualquer outro meio simbólico, de lhe causar mal injusto § 4º O termo “casa” compreende:
e grave: I – qualquer compartimento habitado;
Pena – detenção, até seis meses, se o fato não constitui II – aposento ocupado de habitação coletiva;
crime mais grave. III – compartimento não aberto ao público, onde alguém
Parágrafo único. Se a ameaça é motivada por fato refe- exerce profissão ou atividade.
rente a serviço de natureza militar, a pena é aumentada de § 5º Não se compreende no termo “casa”:
um terço. I – hotel, hospedaria, ou qualquer outra habitação cole-
tiva, enquanto aberta, salvo a restrição do nº II do parágrafo
Desafio para duelo anterior;
Art. 224. Desafiar outro militar para duelo ou aceitar-lhe II – taverna, boate, casa de jogo e outras do mesmo gê-
o desafio, embora o duelo não se realize: nero.
Pena – detenção, até três meses, se o fato não constitui
crime mais grave. Seção III
Dos Crimes contra a Inviolabilidade
Sequestro ou cárcere privado de Correspondência ou Comunicação
Art. 225. Privar alguém de sua liberdade, mediante se-
questro ou cárcere privado: Violação de correspondência
Pena – reclusão, até três anos. Art. 227. Devassar indevidamente o conteúdo de corres-
pondência privada dirigida a outrem:
Aumento de pena
Pena – detenção, até seis meses.
§ 1º A pena é aumentada de metade:
§ 1º Nas mesmas penas incorre:
I – se a vítima é ascendente, descendente ou cônjuge
do agente; I – quem se apossa de correspondência alheia, fechada
II – se o crime é praticado mediante internação da vítima ou aberta, e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói;
em casa de saúde ou hospital; II – quem indevidamente divulga, transmite a outrem
III – se a privação de liberdade dura mais de quinze dias. ou utiliza, abusivamente, comunicação telegráfica ou radio-
elétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre
Formas qualificadas pelo resultado outras pessoas;
Noções de Direito Penal Militar

§ 2º Se resulta à vítima, em razão de maus tratos ou III – quem impede a comunicação ou a conversação re-
da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: ferida no número anterior.
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
§ 3º Se, pela razão do parágrafo anterior, resulta morte: Aumento de pena
Pena – reclusão, de doze a trinta anos. § 2º A pena aumenta-se de metade, se há dano para
outrem.
Seção II § 3º Se o agente comete o crime com abuso de função,
Do Crime contra a Inviolabilidade do Domicílio em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico:
Pena – detenção, de um a três anos.
Violação de domicílio
Art. 226. Entrar ou permanecer, clandestina ou astucio- Natureza militar do crime
samente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de § 4º Salvo o disposto no parágrafo anterior, qualquer
direito, em casa alheia ou em suas dependências: dos crimes previstos neste artigo só é considerado militar
Pena – detenção, até três meses. no caso do art. 9º, nº II, letra a.

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Seção IV Aumento de pena
Dos Crimes contra a Inviolabilidade Art. 237. Nos crimes previstos neste capítulo, a pena é
dos Segredos de Caráter Particular agravada, se o fato é praticado:
I – com o concurso de duas ou mais pessoas;
Divulgação de segredo II – por oficial, ou por militar em serviço.
Art. 228. Divulgar, sem justa causa, conteúdo de docu-
mento particular sigiloso ou de correspondência confidencial, CAPÍTULO VIII
de que é detentor ou destinatário, desde que da divulgação Do Ultraje Público ao Pudor
possa resultar dano a outrem:
Pena – detenção, até seis meses. Ato obsceno
Art. 238. Praticar ato obsceno em lugar sujeito à admi-
nistração militar:
Violação de recato
Pena – detenção de três meses a um ano.
Art. 229. Violar, mediante processo técnico o direito ao
Parágrafo único. A pena é agravada, se o fato é praticado
recato pessoal ou o direito ao resguardo das palavras que por militar em serviço ou por oficial.
não forem pronunciadas publicamente:
Pena – detenção, até um ano. Escrito ou objeto obsceno
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem divulga Art. 239. Produzir, distribuir, vender, expor à venda, exibir,
os fatos captados. adquirir ou ter em depósito para o fim de venda, distribuição
ou exibição, livros, jornais, revistas, escritos, pinturas, gravu-
Violação de segredo profissional ras, estampas, imagens, desenhos ou qualquer outro objeto
Art. 230. Revelar, sem justa causa, segredo de que tem de caráter obsceno, em lugar sujeito à administração militar,
ciência, em razão de função ou profissão, exercida em local ou durante o período de exercício ou manobras:
sob administração militar, desde que da revelação possa re- Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
sultar dano a outrem: Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem distribui,
Pena – detenção, de três meses a um ano. vende, oferece à venda ou exibe a militares em serviço objeto
de caráter obsceno.
Natureza militar do crime
Art. 231. Os crimes previstos nos arts. 228 e 229 somente TÍTULO V
são considerados militares no caso do art. 9º, nº II, letra a. DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

CAPÍTULO VII CAPÍTULO I


Dos Crimes Sexuais Do Furto

Estupro Furto simples


Art. 232. Constranger mulher a conjunção carnal, me- Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
móvel:
diante violência ou grave ameaça:
Pena – reclusão, até seis anos.
Pena – reclusão, de três a oito anos, sem prejuízo da
correspondente à violência. Furto atenuado
§ 1º Se o agente é primário e é de pequeno valor a coisa fur-
Atentado violento ao pudor tada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção,
Art. 233. Constranger alguém, mediante violência ou gra- diminuí-la de um a dois terços, ou considerar a infração como
ve ameaça, a presenciar, a praticar ou permitir que com ele disciplinar. Entende-se pequeno o valor que não exceda a um
pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: décimo da quantia mensal do mais alto salário mínimo do país.
Pena – reclusão, de dois a seis anos, sem prejuízo da § 2º A atenuação do parágrafo anterior é igualmente
correspondente à violência. aplicável no caso em que o criminoso, sendo primário, res-
titui a coisa ao seu dono ou repara o dano causado, antes
Corrupção de menores de instaurada a ação penal.
Art. 234. Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa
menor de dezoito e maior de quatorze anos, com ela pra- Energia de valor econômico
ticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou § 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qual-
presenciá-lo: quer outra que tenha valor econômico.
Pena – reclusão, até três anos.
Furto qualificado
Noções de Direito Penal Militar

Pederastia ou outro ato de libidinagem § 4º Se o furto é praticado durante a noite:


Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com ele se Pena reclusão, de dois a oito anos.
pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito § 5º Se a coisa furtada pertence à Fazenda Nacional:
a administração militar: Pena – reclusão, de dois a seis anos.
Pena – detenção, de seis meses a um ano. § 6º Se o furto é praticado:
I – com destruição ou rompimento de obstáculo à sub-
tração da coisa;
Presunção de violência II – com abuso de confiança ou mediante fraude, escalada
Art. 236. Presume-se a violência, se a vítima: ou destreza;
I – não é maior de quatorze anos, salvo fundada suposi- III – com emprego de chave falsa;
ção contrária do agente; IV – mediante concurso de duas ou mais pessoas:
II – é doente ou deficiente mental, e o agente conhecia Pena – reclusão, de três a dez anos.
esta circunstância; § 7º Aos casos previstos nos §§ 4º e 5º são aplicáveis as
III – não pode, por qualquer outra causa, oferecer re- atenuações a que se referem os §§ 1º e 2º. Aos previstos no
sistência. § 6º é aplicável a atenuação referida no § 2º.
Furto de uso anos, ou se o crime é cometido por mais de duas pessoas, a
Art. 241. Se a coisa é subtraída para o fim de uso mo- pena é de reclusão de oito a vinte anos.
mentâneo e, a seguir, vem a ser imediatamente restituída § 2º Se à pessoa sequestrada, em razão de maus tratos
ou reposta no lugar onde se achava: ou da natureza do sequestro, resulta grave sofrimento físico
Pena – detenção, até seis meses. ou moral, a pena de reclusão é aumentada de um terço.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se a § 3º Se o agente vem a empregar violência contra a
coisa usada é veículo motorizado; e de um terço, se é animal pessoa sequestrada, aplicam-se, correspondentemente, as
de sela ou de tiro. disposições do art. 242, § 2º, ns. V e VI, e § 3º.

CAPÍTULO II Chantagem
Do Roubo e da Extorsão Art. 245. Obter ou tentar obter de alguém, para si ou para
outrem, indevida vantagem econômica, mediante a ameaça
Roubo simples de revelar fato, cuja divulgação pode lesar a sua reputação
Art. 242. Subtrair coisa alheia móvel, para si ou para ou- ou de pessoa que lhe seja particularmente cara:
trem, mediante emprego ou ameaça de emprego de violência Pena – reclusão, de três a dez anos.
Parágrafo único. Se a ameaça é de divulgação pela im-
contra pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer modo,
prensa, radiodifusão ou televisão, a pena é agravada.
reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena – reclusão, de quatro a quinze anos.
Extorsão indireta
§ 1º Na mesma pena incorre quem, em seguida à sub- Art. 246. Obter de alguém, como garantia de dívida,
tração da coisa, emprega ou ameaça empregar violência abusando de sua premente necessidade, documento que
contra pessoa, a fim de assegurar a impunidade do crime pode dar causa a procedimento penal contra o devedor ou
ou a detenção da coisa para si ou para outrem. contra terceiro:
Roubo qualificado Pena – reclusão, até três anos.
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego Aumento de pena
de arma; Art. 247. Nos crimes previstos neste capítulo, a pena
II – se há concurso de duas ou mais pessoas; é agravada, se a violência é contra superior, ou militar de
III – se a vítima está em serviço de transporte de valores, serviço.
e o agente conhece tal circunstância;
IV – se a vítima está em serviço de natureza militar; CAPÍTULO III
V – se é dolosamente causada lesão grave; Da Apropriação Indébita
VI – se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que
o agente não quis esse resultado, nem assumiu o risco de Apropriação indébita simples
produzi-lo. Art. 248. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem
a posse ou detenção:
Latrocínio Pena – reclusão, até seis anos.
§ 3º Se, para praticar o roubo, ou assegurar a impunidade
do crime, ou a detenção da coisa, o agente ocasiona dolosa- Agravação de pena
mente a morte de alguém, a pena será de reclusão, de quinze Parágrafo único. A pena é agravada, se o valor da coisa
a trinta anos, sendo irrelevante se a lesão patrimonial deixa excede vinte vezes o maior salário mínimo, ou se o agente
de consumar-se. Se há mais de uma vítima dessa violência recebeu a coisa:
à pessoa, aplica-se o disposto no art. 79. I – em depósito necessário;
II – em razão de ofício, emprego ou profissão.
Extorsão simples
Art. 243. Obter para si ou para outrem indevida vantagem Apropriação de coisa havida acidentalmente
econômica, constrangendo alguém, mediante violência ou Art. 249. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao
grave ameaça: seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:
a) a praticar ou tolerar que se pratique ato lesivo do seu Pena – detenção, até um ano.
patrimônio, ou de terceiro;
Apropriação de coisa achada
b) a omitir ato de interesse do seu patrimônio, ou de
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem acha coi-
terceiro:
sa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente,
Pena – reclusão, de quatro a quinze anos. deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor, ou
Noções de Direito Penal Militar

Formas qualificadas de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de


§ 1º Aplica-se à extorsão o disposto no § 2º do art. 242. quinze dias.
§ 2º Aplica-se à extorsão, praticada mediante violência, Art. 250. Nos crimes previstos neste capítulo, aplica-se
o disposto no § 3º do art. 242. o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 240.
Extorsão mediante sequestro CAPÍTULO IV
Art. 244. Extorquir ou tentar extorquir para si ou para Do Estelionato e Outras Fraudes
outrem, mediante sequestro de pessoa, indevida vantagem
econômica: Estelionato
Pena – reclusão, de seis a quinze anos. Art. 251. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita,
em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,
Formas qualificadas mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento:
§ 1º Se o sequestro dura mais de vinte e quatro horas, ou Pena – reclusão, de dois a sete anos.
se o sequestrado é menor de dezesseis ou maior de sessenta § 1º Nas mesmas penas incorre quem:

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Disposição de coisa alheia como própria no todo ou em parte, de coisa imóvel sob administração
I – vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou militar:
em garantia, coisa alheia como própria; Pena – detenção, até seis meses.
§ 1º Na mesma pena incorre quem:
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
II – vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coi- Usurpação de águas
sa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel I – desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem,
que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em águas sob administração militar;
prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
Invasão de propriedade
Defraudação de penhor
III – defrauda, mediante alienação não consentida pelo II – invade, com violência à pessoa ou à coisa, ou com
credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando grave ameaça, ou mediante concurso de duas ou mais pes-
tem a posse do objeto empenhado; soas, terreno ou edifício sob administração militar.

Fraude na entrega de coisa Pena correspondente à violência


IV – defrauda substância, qualidade ou quantidade de § 2º Quando há emprego de violência, fica ressalvada a
coisa que entrega a adquirente; pena a esta correspondente.

Fraude no pagamento de cheque Aposição, supressão ou alteração de marca


V – defrauda de qualquer modo o pagamento de cheque Art. 258. Apor, suprimir ou alterar, indevidamente, em
que emitiu a favor de alguém. gado ou rebanho alheio, sob guarda ou administração militar,
§ 2º Os crimes previstos nos ns. I a V do parágrafo an- marca ou sinal indicativo de propriedade:
terior são considerados militares somente nos casos do art. Pena – detenção, de seis meses a três anos.
9º, nº II, letras a e e.
CAPÍTULO VII
Agravação de pena Do Dano
§ 3º A pena é agravada, se o crime é cometido em detri-
mento da administração militar.
Dano simples
Abuso de pessoa Art. 259. Destruir, inutilizar, deteriorar ou fazer desapa-
Art. 252. Abusar, em proveito próprio ou alheio, no exer- recer coisa alheia:
cício de função, em unidade, repartição ou estabelecimento Pena – detenção, até seis meses.
militar, da necessidade, paixão ou inexperiência, ou da do- Parágrafo único. Se se trata de bem público:
ença ou deficiência mental de outrem, induzindo-o à prática Pena – detenção, de seis meses a três anos.
de ato que produza efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de
terceiro, ou em detrimento da administração militar: Dano atenuado
Pena – reclusão, de dois a seis anos. Art. 260. Nos casos do artigo anterior, se o criminoso é
Art. 253. Nos crimes previstos neste capítulo, aplica-se primário e a coisa é de valor não excedente a um décimo do
o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 240. salário mínimo, o juiz pode atenuar a pena, ou considerar a
infração como disciplinar.
CAPÍTULO V Parágrafo único. O benefício previsto no artigo é igual-
Da Receptação mente aplicável, se, dentro das condições nele estabelecidas,
o criminoso repara o dano causado antes de instaurada a
Receptação ação penal.
Art. 254. Adquirir, receber ou ocultar em proveito próprio
ou alheio, coisa proveniente de crime, ou influir para que
Dano qualificada
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena – reclusão, até cinco anos. Art. 261. Se o dano é cometido:
Parágrafo único. São aplicáveis os §§ 1º e 2º do art. 240. I – com violência à pessoa ou grave ameaça;
II – com emprego de substância inflamável ou explosiva,
Receptação culposa se o fato não constitui crime mais grave;
Art. 255. Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza III – por motivo egoístico ou com prejuízo considerável:
ou pela manifesta desproporção entre o valor e o preço, ou Pena – reclusão, até quatro anos, além da pena corres-
pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida pondente à violência.
por meio criminoso:
Noções de Direito Penal Militar

Pena – detenção, até um ano. Dano em material ou aparelhamento de guerra


Parágrafo único. Se o agente é primário e o valor da coisa Art. 262. Praticar dano em material ou aparelhamento de
não é superior a um décimo do salário mínimo, o juiz pode guerra ou de utilidade militar, ainda que em construção ou
deixar de aplicar a pena. fabricação, ou em efeitos recolhidos a depósito, pertencentes
ou não às forças armadas:
Punibilidade da receptação Pena – reclusão, até seis anos.
Art. 256. A receptação é punível ainda que desconhecido
ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. Dano em navio de guerra ou mercante em serviço militar
Art. 263. Causar a perda, destruição, inutilização, enca-
CAPÍTULO VI
Da Usurpação lhe, colisão ou alagamento de navio de guerra ou de navio
mercante em serviço militar, ou nele causar avaria:
Alteração de limites Pena – reclusão, de três a dez anos.
Art. 257. Suprimir ou deslocar tapume, marco ou qualquer § 1º Se resulta lesão grave, a pena correspondente é au-
outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, mentada da metade; se resulta a morte, é aplicada em dobro.

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§ 2º Se, para a prática do dano previsto no artigo, usou Pena – reclusão, de três a oito anos.
o agente de violência contra a pessoa, ser-lhe-á aplicada § 1º A pena é agravada:
igualmente a pena a ela correspondente.
Agravação de pena
Dano em aparelhos e instalações de aviação e navais, I – se o crime é cometido com intuito de obter vantagem
e em estabelecimentos militares pecuniária para si ou para outrem;
Art. 264. Praticar dano: II – se o incêndio é:
I – em aeronave, hangar, depósito, pista ou instalações a) em casa habitada ou destinada a habitação;
de campo de aviação, engenho de guerra motomecanizado, b) em edifício público ou qualquer construção destinada
viatura em comboio militar, arsenal, dique, doca, armazém, a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;
quartel, alojamento ou em qualquer outra instalação militar; c) em navio, aeronave, comboio ou veículo de transporte
coletivo;
II – em estabelecimento militar sob regime industrial,
d) em estação ferroviária, rodoviária, aeródromo ou cons-
ou centro industrial a serviço de construção ou fabricação
trução portuária;
militar: e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
Pena – reclusão, de dois a dez anos. f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
Parágrafo único. Aplica-se o disposto nos parágrafos do g) em poço petrolífero ou galeria de mineração;
artigo anterior. h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
§ 2º Se culposo o incêndio:
Desaparecimento, consunção ou extravio
Art. 265. Fazer desaparecer, consumir ou extraviar com- Incêndio culposo
bustível, armamento, munição, peças de equipamento de Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
navio ou de aeronave ou de engenho de guerra motome-
canizado: Explosão
Pena – reclusão, até três anos, se o fato não constitui Art. 269. Causar ou tentar causar explosão, em lugar
crime mais grave. sujeito à administração militar, expondo a perigo a vida, a
integridade ou o patrimônio de outrem:
Modalidades culposas Pena – reclusão, até quatro anos.
Art. 266. Se o crime dos arts. 262, 263, 264 e 265 é cul-
poso, a pena é de detenção de seis meses a dois anos; ou, Forma qualificada
se o agente é oficial, suspensão do exercício do posto de um § 1º Se a substância utilizada é dinamite ou outra de
a três anos, ou reforma; se resulta lesão corporal ou morte, efeitos análogos:
aplica-se também a pena cominada ao crime culposo contra Pena – reclusão, de três a oito anos.
a pessoa, podendo ainda, se o agente é oficial, ser imposta
a pena de reforma. Agravação de pena
§ 2º A pena é agravada se ocorre qualquer das hipóteses
previstas no § 1º, nº I, do artigo anterior, ou é visada ou
Capítulo Viii
atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo
Da Usura parágrafo.
§ 3º Se a explosão é causada pelo desencadeamento de
Usura pecuniária energia nuclear:
Art. 267. Obter ou estipular, para si ou para outrem, no Pena – reclusão, de cinco a vinte anos.
contrato de mútuo de dinheiro, abusando da premente ne-
cessidade, inexperiência ou leviandade do mutuário, juro Modalidade culposa
que excede a taxa fixada em lei, regulamento ou ato oficial: § 4º No caso de culpa, se a explosão é causada por dina-
Pena – detenção, de seis meses a dois anos. mite ou substância de efeitos análogos, a pena é detenção, de
seis meses a dois anos; se é causada pelo desencadeamento
Casos assimilados de energia nuclear, detenção de três a dez anos; nos demais
§ 1º Na mesma pena incorre quem, em repartição ou lo- casos, detenção de três meses a um ano.
cal sob administração militar, recebe vencimento ou provento
de outrem, ou permite que estes sejam recebidos, auferindo Emprego de gás tóxico ou asfixiante
ou permitindo que outrem aufira proveito cujo valor excede Art. 270. Expor a perigo a vida, a integridade física ou
a taxa de três por cento o patrimônio de outrem, em lugar sujeito à administração
militar, usando de gás tóxico ou asfixiante ou prejudicial de
Agravação de pena qualquer modo à incolumidade da pessoa ou da coisa:
Noções de Direito Penal Militar

2º A pena é agravada, se o crime é cometido por superior Pena – reclusão, até cinco anos.
ou por funcionário em razão da função.
Modalidade culposa
TÍTULO VI Parágrafo único. Se o crime é culposo:
DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA Pena – detenção, de seis meses a dois anos.

Abuso de radiação
Art. 271. Expor a perigo a vida ou a integridade física de
CAPÍTULO I outrem, em lugar sujeito à administração militar, pelo abuso
DOS CRIMES DE PERIGO COMUM de radiação ionizante ou de substância radioativa:
Pena – reclusão, até quatro anos.
Incêndio
Art. 268. Causar incêndio em lugar sujeito à administra- Modalidade culposa
ção militar, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o Parágrafo único. Se o crime é culposo:
patrimônio de outrem: Pena – detenção, de seis meses a dois anos.

26
Inundação Embriaguez ao volante
Art. 272. Causar inundação, em lugar sujeito à adminis- Art. 279. Dirigir veículo motorizado, sob administração
tração militar, expondo a perigo a vida, a integridade física militar na via pública, encontrando-se em estado de embria-
ou o patrimônio de outrem: guez, por bebida alcoólica, ou qualquer outro inebriante:
Pena – reclusão, de três a oito anos. Pena – detenção, de três meses a um ano.

Modalidade culposa Perigo resultante de violação de regra de trânsito


Parágrafo único. Se o crime é culposo: Art. 280. Violar regra de regulamento de trânsito, diri-
gindo veículo sob administração militar, expondo a efetivo
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
e grave perigo a incolumidade de outrem:
Pena – detenção, até seis meses.
Perigo de inundação
Art. 273. Remover, destruir ou inutilizar obstáculo natural Fuga após acidente de trânsito
ou obra destinada a impedir inundação, expondo a perigo Art. 281. Causar, na direção de veículo motorizado, sob
a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, em administração militar, ainda que sem culpa, acidente de trân-
lugar sujeito à administração militar: sito, de que resulte dano pessoal, e, em seguida, afastar-se
Pena – reclusão, de dois a quatro anos. do local, sem prestar socorro à vítima que dele necessite:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, sem prejuízo
Desabamento ou desmoronamento das cominadas nos arts. 206 e 210.
Art. 274. Causar desabamento ou desmoronamento, em
lugar sujeito à administração militar, expondo a perigo a vida, Isenção de prisão em flagrante
a integridade física ou o patrimônio de outrem: Parágrafo único. Se o agente se abstém de fugir e, na
Pena – reclusão, até cinco anos. medida que as circunstâncias o permitam, presta ou provi-
dencia para que seja prestado socorro à vítima, fica isento
Modalidade culposa de prisão em flagrante.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
CAPÍTULO II
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Dos Crimes Contra os Meios de
Transporte e de Comunicação
Subtração, ocultação ou inutilização de material de
socorro Perigo de desastre ferroviário
Art. 275. Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de Art. 282. Impedir ou perturbar serviço de estrada de
incêndio, inundação, naufrágio, ou outro desastre ou cala- ferro, sob administração ou requisição militar emanada de
midade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a ordem legal:
serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento; ou I – danificando ou desarranjando, total ou parcialmente,
impedir ou dificultar serviço de tal natureza: linha férrea, material rodante ou de tração, obra de arte ou
Pena – reclusão, de três a seis anos. instalação;
II – colocando obstáculo na linha;
Fatos que expõem a perigo aparelhamento militar III – transmitindo falso aviso acerca do movimento dos
Art. 276. Praticar qualquer dos fatos previstos nos artigos veículos, ou interrompendo ou embaraçando o funciona-
anteriores deste capítulo, expondo a perigo, embora em lugar mento dos meios de comunicação;
não sujeito à administração militar navio, aeronave, material IV – praticando qualquer outro ato de que possa resultar
ou engenho de guerra motomecanizado ou não, ainda que desastre:
Pena – reclusão, de dois a cinco anos.
em construção ou fabricação, destinados às forças armadas,
ou instalações especialmente a serviço delas: Desastre efetivo
Pena – reclusão de dois a seis anos. § 1º Se do fato resulta desastre:
Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
Modalidade culposa § 2º Se o agente quis causar o desastre ou assumiu o
Parágrafo único. Se o crime é culposo: risco de produzi-lo:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos. Pena – reclusão, de quatro a quinze anos.

Formas qualificadas pelo resultado Modalidade culposa


Art. 277. Se do crime doloso de perigo comum resulta, § 3º No caso de culpa, ocorrendo desastre:
além da vontade do agente, lesão grave, a pena é aumentada Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Noções de Direito Penal Militar

de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de


culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se Conceito de “estrada de ferro”
de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao § 4º Para os efeitos deste artigo, entende-se por “estra-
homicídio culposo, aumentada de um terço. da de ferro” qualquer via de comunicação em que circulem
veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo
aéreo.
Difusão de epizootia ou praga vegetal
Art. 278. Difundir doença ou praga que possa causar dano Atentado contra transporte
a floresta, plantação, pastagem ou animais de utilidade eco- Art. 283. Expor a perigo aeronave, ou navio próprio ou
nômica ou militar, em lugar sob administração militar: alheio, sob guarda, proteção ou requisição militar emanada
Pena – reclusão, até três anos. de ordem legal, ou em lugar sujeito à administração militar,
bem como praticar qualquer ato tendente a impedir ou di-
Modalidade culposa ficultar navegação aérea, marítima, fluvial ou lacustre sob
Parágrafo único. No caso de culpa, a pena é de detenção, administração, guarda ou proteção militar:
até seis meses. Pena – reclusão, de dois a cinco anos.

27
Superveniência de sinistro Art. 290. Receber, preparar, produzir, vender, fornecer,
§ 1º Se do fato resulta naufrágio, submersão ou encalhe ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer
do navio, ou a queda ou destruição da aeronave: consigo, ainda que para uso próprio, guardar, ministrar ou
Pena – reclusão, de quatro a doze anos. entregar de qualquer forma a consumo substância entor-
pecente, ou que determine dependência física ou psíquica,
Modalidade culposa
em lugar sujeito à administração militar, sem autorização
§ 2º No caso de culpa, se ocorre o sinistro:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos. ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, até cinco anos.
Atentado contra viatura ou outro meio de transporte
Art. 284. Expor a perigo viatura ou outro meio de trans- Casos assimilados
porte militar, ou sob guarda, proteção ou requisição militar § 1º Na mesma pena incorre, ainda que o fato incrimi-
emanada de ordem legal, impedir-lhe ou dificultar-lhe o nado ocorra em lugar não sujeito à administração militar:
funcionamento: I – o militar que fornece, de qualquer forma, substância
Pena – reclusão, até três anos. entorpecente ou que determine dependência física ou psí-
quica a outro militar;
Desastre efetivo II – o militar que, em serviço ou em missão de natureza
§ 1º Se do fato resulta desastre, a pena é reclusão de
militar, no país ou no estrangeiro, pratica qualquer dos fatos
dois a cinco anos.
especificados no artigo;
Modalidade culposa III – quem fornece, ministra ou entrega, de qualquer for-
§ 2º No caso de culpa, se ocorre desastre: ma, substância entorpecente ou que determine dependência
Pena – detenção, até um ano. física ou psíquica a militar em serviço, ou em manobras ou
exercício.
Formas qualificadas pelo resultado
Art. 285. Se de qualquer dos crimes previstos nos arts. Forma qualificada
282 a 284, no caso de desastre ou sinistro, resulta morte de § 2º Se o agente é farmacêutico, médico, dentista ou
alguém, aplica-se o disposto no art. 277. veterinário:
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
Arremesso de projétil
Art. 286. Arremessar projétil contra veículo militar, em
movimento, destinado a transporte por terra, por água ou Receita ilegal
pelo ar: Art. 291. Prescrever o médico ou dentista militar, ou
Pena – detenção, até seis meses. aviar o farmacêutico militar receita, ou fornecer substância
entorpecente ou que determine dependência física ou psí-
Forma qualificada pelo resultado quica, fora dos casos indicados pela terapêutica, ou em dose
Parágrafo único. Se do fato resulta lesão corporal, a pena evidentemente maior que a necessária, ou com infração de
é de detenção, de seis meses a dois anos; se resulta morte, preceito legal ou regulamentar, para uso de militar, ou para
a pena é a do homicídio culposo, aumentada de um terço. entrega a este; ou para qualquer fim, a qualquer pessoa, em
consultório, gabinete, farmácia, laboratório ou lugar, sujeitos
Atentado contra serviço de utilidade militar
à administração militar:
Art. 287. Atentar contra a segurança ou o funcionamento
de serviço de água, luz, força ou acesso, ou qualquer outro Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
de utilidade, em edifício ou outro lugar sujeito à adminis-
tração militar: Casos assimilados
Pena – reclusão, até cinco anos. Parágrafo único. Na mesma pena incorre:
Parágrafo único. Aumentar-se-á a pena de um terço até I – o militar ou funcionário que, tendo sob sua guar-
metade, se o dano ocorrer em virtude de subtração de ma- da ou cuidado substância entorpecente ou que determine
terial essencial ao funcionamento do serviço. dependência física ou psíquica, em farmácia, laboratório,
consultório, gabinete ou depósito militar, dela lança mão
Interrupção ou perturbação de serviço ou meio de co- para uso próprio ou de outrem, ou para destino que não
municação seja lícito ou regular;
Art. 288. Interromper, perturbar ou dificultar serviço
telegráfico, telefônico, telemétrico, de televisão, teleper- II – quem subtrai substância entorpecente ou que deter-
cepção, sinalização, ou outro meio de comunicação militar; mine dependência física ou psíquica, ou dela se apropria, em
lugar sujeito à administração militar, sem prejuízo da pena
Noções de Direito Penal Militar

ou impedir ou dificultar a sua instalação em lugar sujeito à


administração militar, ou desde que para esta seja de inte- decorrente da subtração ou apropriação indébita;
resse qualquer daqueles serviços ou meios: III – quem induz ou instiga militar em serviço ou em ma-
Pena – detenção, de um a três anos. nobras ou exercício a usar substância entorpecente ou que
determine dependência física ou psíquica;
Aumento de pena IV – quem contribui, de qualquer forma, para incentivar
Art. 289. Nos crimes previstos neste capítulo, a pena será ou difundir o uso de substância entorpecente ou que deter-
agravada, se forem cometidos em ocasião de calamidade mine dependência física ou psíquica, em quartéis, navios,
pública.
arsenais, estabelecimentos industriais, alojamentos, escolas,
CAPÍTULO III colégios ou outros quaisquer estabelecimentos ou lugares
Dos Crimes Contra a Saúde sujeitos à administração militar, bem como entre militares
que estejam em serviço, ou o desempenhem em missão para
Tráfico, posse ou uso de entorpecente ou substância a qual tenham recebido ordem superior ou tenham sido le-
de efeito similar galmente requisitados.

28
Epidemia TÍTULO VII
Art. 292. Causar epidemia, em lugar sujeito à adminis- DOS CRIMES CONTRA A
tração militar, mediante propagação de germes patogênicos: ADMINISTRAÇÃO MILITAR
Pena – reclusão, de cinco a quinze anos.
Forma qualificada CAPÍTULO I
§ 1º Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro. Do Desacato e da Desobediência

Modalidade culposa Desacato a superior


§ 2º No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois Art. 298. Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade
anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos. ou o decoro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade:
Pena – reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui
Envenenamento com perigo extensivo crime mais grave.
Art. 293. Envenenar água potável ou substância alimen-
tícia ou medicinal, expondo a perigo a saúde de militares em Agravação de pena
manobras ou exercício, ou de indefinido número de pessoas, Parágrafo único. A pena é agravada, se o superior é oficial
em lugar sujeito à administração militar: general ou comandante da unidade a que pertence o agente.
Pena – reclusão, de cinco a quinze anos.
Desacato a militar
Caso assimilado Art. 299. Desacatar militar no exercício de função de
§ 1º Está sujeito à mesma pena quem em lugar sujei- natureza militar ou em razão dela:
to à administração militar, entrega a consumo, ou tem em Pena – detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não
depósito, para o fim de ser distribuída, água ou substância constitui outro crime.
envenenada.
Desacato a assemelhado ou funcionário
Art. 300. Desacatar assemelhado ou funcionário civil no
Forma qualificada
exercício de função ou em razão dela, em lugar sujeito à
§ 2º Se resulta a morte de alguém: administração militar:
Pena – reclusão, de quinze a trinta anos. Pena – detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não
constitui outro crime.
Modalidade culposa
§ 3º Se o crime é culposo, a pena é de detenção, de seis Desobediência
meses a dois anos; ou, se resulta a morte, de dois a quatro Art. 301. Desobedecer a ordem legal de autoridade mi-
anos. litar:
Pena – detenção, até seis meses.
Corrupção ou poluição de água potável
Art. 294. Corromper ou poluir água potável de uso de Ingresso clandestino
quartel, fortaleza, unidade, navio, aeronave ou estabeleci- Art. 302. Penetrar em fortaleza, quartel, estabelecimento
mento militar, ou de tropa em manobras ou exercício, tor- militar, navio, aeronave, hangar ou em outro lugar sujeito
nando – a imprópria para consumo ou nociva à saúde: à administração militar, por onde seja defeso ou não haja
Pena – reclusão, de dois a cinco anos. passagem regular, ou iludindo a vigilância da sentinela ou
de vigia:
Modalidade culposa Pena – detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não
Parágrafo único. Se o crime é culposo: constitui crime mais grave.
Pena – detenção, de dois meses a um ano.
CAPÍTULO II
Fornecimento de substância nociva Do Peculato
Art. 295. Fornecer às forças armadas substância alimen-
tícia ou medicinal corrompida, adulterada ou falsificada, tor- Peculato
nada, assim, nociva à saúde: Art. 303. Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer
Pena – reclusão, de dois a seis anos. outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse
ou detenção, em razão do cargo ou comissão, ou desviá-lo
Modalidade culposa em proveito próprio ou alheio:
Parágrafo único. Se o crime é culposo: Pena – reclusão, de três a quinze anos.
Pena – detenção, de seis meses a dois anos. § 1º A pena aumenta-se de um terço, se o objeto da
apropriação ou desvio é de valor superior a vinte vezes o
Noções de Direito Penal Militar

Art. 296. Fornecer às forças armadas substância alimen-


tícia ou medicinal alterada, reduzindo, assim, o seu valor salário mínimo.
nutritivo ou terapêutico:
Peculato – furto
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
§ 2º Aplica-se a mesma pena a quem, embora não tendo
a posse ou detenção do dinheiro, valor ou bem, o subtrai,
Modalidade culposa ou contribui para que seja subtraído, em proveito próprio
Parágrafo único. Se o crime é culposo: ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a
Pena – detenção, até seis meses. qualidade de militar ou de funcionário.
Omissão de notificação de doença Peculato culposo
Art. 297. Deixar o médico militar, no exercício da função, § 3º Se o funcionário ou o militar contribui culposamente
de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação para que outrem subtraia ou desvie o dinheiro, valor ou bem,
é compulsória: ou dele se aproprie:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos. Pena – detenção, de três meses a um ano.

29
Extinção ou minoração da pena cimento, ou concessão de qualquer serviço concernente à
§ 4º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, administração militar, sobre que deva informar ou exercer
se precede a sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; fiscalização em razão do ofício:
se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Pena – reclusão, de dois a quatro anos.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem adquire
Peculato mediante aproveitamento do erro de outrem para si, direta ou indiretamente, ou por ato simulado, no
Art. 304. Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade todo ou em parte, bens ou efeitos em cuja administração,
que, no exercício do cargo ou comissão, recebeu por erro depósito, guarda, fiscalização ou exame, deve intervir em
de outrem: razão de seu emprego ou função, ou entra em especulação
Pena – reclusão, de dois a sete anos. de lucro ou interesse, relativamente a esses bens ou efeitos.
CAPÍTULO III CAPÍTULO V
Da Concussão, Excesso de Exação e Desvio Da Falsidade
Concussão Falsificação de documento
Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indi- Art. 311. Falsificar, no todo ou em parte, documento pú-
retamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, blico ou particular, ou alterar documento verdadeiro, desde
mas em razão dela, vantagem indevida: que o fato atente contra a administração ou o serviço militar:
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
Pena– sendo documento público, reclusão, de dois a seis
anos; sendo documento particular, reclusão, até cinco anos.
Excesso de exação
Art. 306. Exigir imposto, taxa ou emolumento que sabe
indevido, ou, quando devido, empregar na cobrança meio Agravação da pena
vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: § 1º A pena é agravada se o agente é oficial ou exerce
Pena – detenção, de seis meses a dois anos. função em repartição militar.

Desvio Documento por equiparação


Art. 307. Desviar, em proveito próprio ou de outrem, o § 2º Equipara-se a documento, para os efeitos penais, o
que recebeu indevidamente, em razão do cargo ou função, disco fonográfico ou a fita ou fio de aparelho eletromagné-
para recolher aos cofres públicos: tico a que se incorpore declaração destinada à prova de fato
Pena – reclusão, de dois a doze anos. juridicamente relevante.

CAPÍTULO IV Falsidade ideológica


Da Corrupção Art. 312. Omitir, em documento público ou particular,
declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer
Corrupção passiva inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indi- com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
retamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, verdade sobre fato juridicamente relevante, desde que o fato
mas em razão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa atente contra a administração ou o serviço militar:
de tal vantagem: Pena – reclusão, até cinco anos, se o documento é pú-
Pena – reclusão, de dois a oito anos. blico; reclusão, até três anos, se o documento é particular.

Aumento de pena Cheque sem fundos


§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequ- Art. 313. Emitir cheque sem suficiente provisão de fundos
ência da vantagem ou promessa, o agente retarda ou deixa em poder do sacado, se a emissão é feita de militar em favor
de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo de militar, ou se o fato atenta contra a administração militar:
dever funcional. Pena – reclusão, até cinco anos.
Diminuição de pena Circunstância irrelevante
§ 2º Se o agente pratica, deixa de praticar ou retarda o § 1º Salvo o caso do art. 245, é irrelevante ter sido o
ato de ofício com infração de dever funcional, cedendo a cheque emitido para servir como título ou garantia de dívida.
pedido ou influência de outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano.
Atenuação de pena
Noções de Direito Penal Militar

§ 2º Ao crime previsto no artigo aplica-se o disposto nos


Corrupção ativa
Art. 309. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vanta- §§ 1º e 2º do art. 240.
gem indevida para a prática, omissão ou retardamento de
ato funcional: Certidão ou atestado ideologicamente falso
Pena – reclusão, até oito anos. Art. 314. Atestar ou certificar falsamente, em razão de
função, ou profissão, fato ou circunstância que habilite al-
Aumento de pena guém a obter cargo, posto ou função, ou isenção de ônus ou
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, de serviço, ou qualquer outra vantagem, desde que o fato
em razão da vantagem, dádiva ou promessa, é retardado ou atente contra a administração ou serviço militar:
omitido o ato, ou praticado com infração de dever funcional. Pena – detenção, até dois anos.

Participação ilícita Agravação de pena


Art. 310. Participar, de modo ostensivo ou simulado, Parágrafo único. A pena é agravada se o crime é praticado
diretamente ou por interposta pessoa, em contrato, forne- com o fim de lucro ou em prejuízo de terceiro.

30
Uso de documento falso Inobservância de lei, regulamento ou instrução
Art. 315. Fazer uso de qualquer dos documentos falsifi- Art. 324. Deixar, no exercício de função, de observar lei,
cados ou alterados por outrem, a que se referem os artigos regulamento ou instrução, dando causa direta à prática de
anteriores: ato prejudicial à administração militar:
Pena – a cominada à falsificação ou à alteração. Pena – se o fato foi praticado por tolerância, detenção
até seis meses; se por negligência, suspensão do exercício do
Supressão de documento posto, graduação, cargo ou função, de três meses a um ano.
Art. 316. Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento Violação ou divulgação indevida de correspondência
verdadeiro, de que não podia dispor, desde que o fato atente ou comunicação
contra a administração ou o serviço militar: Art. 325. Devassar indevidamente o conteúdo de cor-
Pena – reclusão, de dois a seis anos, se o documento é pú- respondência dirigida à administração militar, ou por esta
blico; reclusão, até cinco anos, se o documento é particular. expedida:
Pena – detenção, de dois a seis meses, se o fato não
Uso de documento pessoal alheio
constitui crime mais grave.
Art. 317. Usar, como próprio, documento de identida-
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, ainda
de alheia, ou de qualquer licença ou privilégio em favor de
que não seja funcionário, mas desde que o fato atente contra
outrem, ou ceder a outrem documento próprio da mesma
natureza, para que dele se utilize, desde que o fato atente a administração militar:
contra a administração ou o serviço militar: I – indevidamente se se apossa de correspondência, em-
Pena – detenção, até seis meses, se o fato não constitui bora não fechada, e no todo ou em parte a sonega ou destrói;
elemento de crime mais grave. II – indevidamente divulga, transmite a outrem, ou abu-
sivamente utiliza comunicação de interesse militar;
Falsa identidade III – impede a comunicação referida no número anterior.
Art. 318. Atribuir-se, ou a terceiro, perante a adminis-
tração militar, falsa identidade, para obter vantagem em Violação de sigilo funcional
proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: Art. 326. Revelar fato de que tem ciência em razão do
Pena – detenção, de três meses a um ano, se o fato não cargo ou função e que deva permanecer em segredo, ou
constitui crime mais grave. facilitar-lhe a revelação, em prejuízo da administração militar:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não
CAPÍTULO VI constitui crime mais grave.
Dos Crimes Contra o Dever Funcional
Violação de sigilo de proposta de concorrência
Prevaricação Art. 327. Devassar o sigilo de proposta de concorrência de
Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, interesse da administração militar ou proporcionar a terceiro
ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de lei, o ensejo de devassá-lo:
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena – detenção, de três meses a um ano.
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Obstáculo à hasta pública, concorrência ou tomada de
Violação do dever funcional com o fim de lucro preços
Art. 320. Violar, em qualquer negócio de que tenha sido Art. 328. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de
incumbido pela administração militar, seu dever funcional hasta pública, concorrência ou tomada de preços, de inte-
para obter especulativamente vantagem pessoal, para si ou resse da administração militar:
para outrem: Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
Exercício funcional ilegal
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou docu-
Art. 329. Entrar no exercício de posto ou função militar,
mento
ou de cargo ou função em repartição militar, antes de sa-
Art. 321. Extraviar livro oficial, ou qualquer documen-
to, de que tem a guarda em razão do cargo, sonegá-lo ou tisfeitas as exigências legais, ou continuar o exercício, sem
inutilizá-lo, total ou parcialmente: autorização, depois de saber que foi exonerado, ou afastado,
Pena – reclusão, de dois a seis anos, se o fato não cons- legal e definitivamente, qualquer que seja o ato determinan-
titui crime mais grave. te do afastamento:
Noções de Direito Penal Militar

Pena – detenção, até quatro meses, se o fato não cons-


Condescendência criminosa titui crime mais grave.
Art. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que co-
mete infração no exercício do cargo, ou, quando lhe falte Abandono de cargo
competência, não levar o fato ao conhecimento da autori- Art. 330. Abandonar cargo público, em repartição ou
dade competente: estabelecimento militar:
Pena – se o fato foi praticado por indulgência, detenção Pena – detenção, até dois meses.
até seis meses; se por negligência, detenção até três meses.
Formas qualificadas
Não inclusão de nome em lista § 1º Se do fato resulta prejuízo à administração militar:
Art. 323. Deixar, no exercício de função, de incluir, por Pena – detenção, de três meses a um ano.
negligência, qualquer nome em relação ou lista para o efeito § 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
de alistamento ou de convocação militar: de fronteira:
Pena – detenção, até seis meses. Pena – detenção, de um a três anos.

31
Aplicação ilegal de verba ou dinheiro Pena – reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não cons-
Art. 331. Dar às verbas ou ao dinheiro público aplicação titui crime mais grave.
diversa da estabelecida em lei:
Pena – detenção, até seis meses. Inutilização de edital ou de sinal oficial
Art. 338. Rasgar, ou de qualquer forma inutilizar ou cons-
Abuso de confiança ou boa-fé purcar edital afixado por ordem da autoridade militar; violar
Art. 332. Abusar da confiança ou boa-fé de militar, as- ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal
semelhado ou funcionário, em serviço ou em razão deste, ou ordem de autoridade militar, para identificar ou cerrar
apresentando-lhe ou remetendo-lhe, para aprovação, re- qualquer objeto:
cebimento, anuência ou aposição de visto, relação, nota, Pena – detenção, até um ano.
empenho de despesa, ordem ou folha de pagamento, comu-
nicação, ofício ou qualquer outro documento, que sabe, ou Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência
deve saber, serem inexatos ou irregulares, desde que o fato Art. 339. Impedir, perturbar ou fraudar em prejuízo da
atente contra a administração ou o serviço militar: Fazenda Nacional, concorrência, hasta pública ou tomada
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, se o fato não de preços ou outro qualquer processo administrativo para
constitui crime mais grave. aquisição ou venda de coisas ou mercadorias de uso das
forças armadas, seja elevando arbitrariamente os preços,
Forma qualificada auferindo lucro excedente a um quinto do valor da transação,
§ 1º A pena é agravada, se do fato decorre prejuízo mate- seja alterando substância, qualidade ou quantidade da coisa
rial ou processo penal militar para a pessoa de cuja confiança ou mercadoria fornecida, seja impedindo a livre concorrência
ou boa-fé se abusou. de outros fornecedores, ou por qualquer modo tornando
mais onerosa a transação:
Modalidade culposa Pena – detenção, de um a três anos.
§ 2º Se a apresentação ou remessa decorre de culpa: § 1º Na mesma pena incorre o intermediário na tran-
Pena – detenção, até seis meses. sação.
§ 2º É aumentada a pena de um terço, se o crime ocorre
Violência arbitrária em período de grave crise econômica.
Art. 333. Praticar violência, em repartição ou estabe-
lecimento militar, no exercício de função ou a pretexto de TÍTULO VIII
exercê-la: DOS CRIMES CONTRA A
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, além da ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA MILITAR
correspondente à violência.
Recusa de função na Justiça Militar
Patrocínio indébito Art. 340. Recusar o militar ou assemelhado exercer, sem
Art. 334. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse motivo legal, função que lhe seja atribuída na administração
privado perante a administração militar, valendo-se da qua- da Justiça Militar:
Pena – suspensão do exercício do posto ou cargo, de
lidade de funcionário ou de militar:
dois a seis meses.
Pena – detenção, até três meses.
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo:
Desacato
Pena – detenção, de três meses a um ano.
Art. 341. Desacatar autoridade judiciária militar no exer-
cício da função ou em razão dela:
CAPÍTULO VII
Pena – reclusão, até quatro anos.
Dos Crimes Praticados por Particular
Contra a Administração Militar Coação
Art. 342. Usar de violência ou grave ameaça, com o fim
Usurpação de função de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade,
Art. 335. Usurpar o exercício de função em repartição parte, ou qualquer outra pessoa que funciona, ou é chamada
ou estabelecimento militar: a intervir em inquérito policial, processo administrativo ou
Pena – detenção, de três meses a dois anos. judicial militar:
Pena – reclusão, até quatro anos, além da pena corres-
Tráfico de influência pondente à violência.
Art. 336. Obter para si ou para outrem, vantagem ou
promessa de vantagem, a pretexto de influir em militar ou Denunciação caluniosa
Noções de Direito Penal Militar

assemelhado ou funcionário de repartição militar, no exer- Art. 343. Dar causa à instauração de inquérito policial
cício de função: ou processo judicial militar contra alguém, imputando-lhe
Pena – reclusão, até cinco anos. crime sujeito à jurisdição militar, de que o sabe inocente:
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
Aumento de pena
Parágrafo único. A pena é agravada, se o agente alega Agravação de pena
ou insinua que a vantagem é também destinada ao militar Parágrafo único. A pena é agravada, se o agente se serve
ou ao assemelhado, ou ao funcionário. do anonimato ou de nome suposto.
Subtração ou inutilização de livro, processo ou docu- Comunicação falsa de crime
mento Art. 344. Provocar a ação da autoridade, comunicando-
Art. 337. Subtrair ou inutilizar, total ou parcialmente, livro -lhe a ocorrência de crime sujeito à jurisdição militar, que
oficial, processo ou qualquer documento, desde que o fato sabe não se ter verificado:
atente contra a administração ou o serviço militar: Pena – detenção, até seis meses.

32
Autoacusação falsa Inutilização, sonegação ou descaminho de material
Art. 345. Acusar-se, perante a autoridade, de crime sujei- probante
to à jurisdição militar, inexistente ou praticado por outrem: Art. 352. Inutilizar, total ou parcialmente, sonegar ou dar
Pena – detenção, de três meses a um ano. descaminho a autos, documento ou objeto de valor proban-
te, que tem sob guarda ou recebe para exame:
Falso testemunho ou falsa perícia Pena – detenção, de seis meses a três anos, se o fato não
Art. 346. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a ver- constitui crime mais grave.
dade, como testemunha, perito, tradutor ou intérprete, em
inquérito policial, processo administrativo ou judicial, militar: Modalidade culposa
Pena – reclusão, de dois a seis anos. Parágrafo único. Se a inutilização ou o descaminho resulta
de ação ou omissão culposa:
Aumento de pena Pena – detenção, até seis meses.
1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado
mediante suborno. Exploração de prestígio
Art. 353. Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra
Retratação utilidade, a pretexto de influir em juiz, órgão do Ministério
2º O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença o Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete
agente se retrata ou declara a verdade. ou testemunha, na Justiça Militar:
Pena – reclusão, até cinco anos.
Corrupção ativa de testemunha, perito ou intérprete
Art. 347. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer Aumento de pena
outra vantagem a testemunha, perito, tradutor ou intérprete, Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se o
para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em de- agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também
poimento, perícia, tradução ou interpretação, em inquérito se destina a qualquer das pessoas referidas no artigo.
policial, processo administrativo ou judicial, militar, ainda
que a oferta não seja aceita: Desobediência a decisão sobre perda ou suspensão de
Pena – reclusão, de dois a oito anos. atividade ou direito
Art. 354. Exercer função, atividade, direito, autoridade
Publicidade opressiva ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão da
Art. 348. Fazer pela imprensa, rádio ou televisão, antes Justiça Militar:
da intercorrência de decisão definitiva em processo penal Pena – detenção, de três meses a dois anos.
militar, comentário tendente a exercer pressão sobre decla-
LIVRO II
ração de testemunha ou laudo de perito:
DOS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE GUERRA
Pena – detenção, até seis meses.
TÍTULO I
Desobediência a decisão judicial
DO FAVORECIMENTO AO INIMIGO
Art. 349. Deixar, sem justa causa, de cumprir decisão da
Justiça Militar, ou retardar ou fraudar o seu cumprimento: CAPÍTULO I
Pena – detenção, de três meses a um ano. Da Traição
§ 1º No caso de transgressão dos arts. 116, 117 e 118,
a pena será cumprida sem prejuízo da execução da medida Traição
de segurança. Art. 355. Tomar o nacional armas contra o Brasil ou Es-
§ 2º Nos casos do art. 118 e seus §§ 1º e 2º, a pena pela tado aliado, ou prestar serviço nas forças armadas de nação
desobediência é aplicada ao representante, ou represen- em guerra contra o Brasil:
tantes legais, do estabelecimento, sociedade ou associação. Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
mínimo.
Favorecimento pessoal
Art. 350. Auxiliar a subtrair-se à ação da autoridade au- Favor ao inimigo
tor de crime militar, a que é cominada pena de morte ou Art. 356. Favorecer ou tentar o nacional favorecer o
reclusão: inimigo, prejudicar ou tentar prejudicar o bom êxito das
Pena – detenção, até seis meses. operações militares, comprometer ou tentar comprometer
a eficiência militar:
Noções de Direito Penal Militar

Diminuição de pena I – empreendendo ou deixando de empreender ação


§ 1º Se ao crime é cominada pena de detenção ou im- militar;
pedimento, suspensão ou reforma: II – entregando ao inimigo ou expondo a perigo dessa
Pena – detenção, até três meses. consequência navio, aeronave, força ou posição, engenho
de guerra motomecanizado, provisões ou qualquer outro
Isenção de pena elemento de ação militar;
§ 2º Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, III – perdendo, destruindo, inutilizando, deteriorando ou
cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento da pena. expondo a perigo de perda, destruição, inutilização ou dete-
rioração, navio, aeronave, engenho de guerra motomecani-
Favorecimento real zado, provisões ou qualquer outro elemento de ação militar;
Art. 351. Prestar a criminoso, fora dos casos de coau- IV – sacrificando ou expondo a perigo de sacrifício força
toria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o militar;
proveito do crime: V – abandonando posição ou deixando de cumprir missão
Pena – detenção, de três meses a um ano. ou ordem:

33
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau CAPÍTULO IV
mínimo. Da Espionagem

Tentativa contra a soberania do Brasil Espionagem


Art. 357. Praticar o nacional o crime definido no art. 142: Art. 366. Praticar qualquer dos crimes previstos nos arts.
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau 143 e seu § 1º, 144 e seus §§ 1º e 2º, e 146, em favor do
mínimo. inimigo ou comprometendo a preparação, a eficiência ou as
operações militares:
Coação a comandante Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
Art. 358. Entrar o nacional em conluio, usar de violência mínimo.
ou ameaça, provocar tumulto ou desordem com o fim de
obrigar o comandante a não empreender ou a cessar ação Caso de concurso
militar, a recuar ou render-se: Parágrafo único. No caso de concurso por culpa, para
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau execução do crime previsto no art. 143, § 2º, ou de revelação
mínimo.
culposa (art. 144, § 3º):
Pena – reclusão, de três a seis anos.
Informação ou auxílio ao inimigo
Art. 359. Prestar o nacional ao inimigo informação ou
auxílio que lhe possa facilitar a ação militar: Penetração de estrangeiro
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau Art. 367. Entrar o estrangeiro em território nacional, ou
mínimo. insinuar-se em força ou unidade em operações de guerra,
ainda que fora do território nacional, a fim de colher docu-
Aliciação de militar mento, notícia ou informação de caráter militar, em benefício
Art. 360. Aliciar o nacional algum militar a passar-se para do inimigo, ou em prejuízo daquelas operações:
o inimigo ou prestar-lhe auxílio para esse fim: Pena – reclusão, de dez a vinte anos, se o fato não cons-
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau titui crime mais grave.
mínimo.
CAPÍTULO V
Ato prejudicial à eficiência da tropa Do Motim e da Revolta
Art. 361. Provocar o nacional, em presença do inimigo,
a debandada de tropa, ou guarnição, impedir a reunião de Motim, revolta ou conspiração
uma ou outra ou causar alarme, com o fim de nelas produzir Art. 368. Praticar qualquer dos crimes definidos nos arts.
confusão, desalento ou desordem: 149 e seu parágrafo único, e 152:
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau Pena – aos cabeças, morte, grau máximo; reclusão, de
mínimo. quinze anos, grau mínimo. Aos coautores, reclusão, de dez
a trinta anos.
CAPÍTULO II
Da Traição Imprópria Forma qualificada
Parágrafo único. Se o fato é praticado em presença do
Traição imprópria inimigo:
Art. 362. Praticar o estrangeiro os crimes previstos nos Pena – aos cabeças, morte, grau máximo; reclusão, de
arts. 356, ns. I, primeira parte, II, III e IV, 357 a 361: vinte anos, grau mínimo. Aos co – autores, morte, grau má-
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de dez anos, grau ximo; reclusão, de quinze anos, grau mínimo.
mínimo.
Omissão de lealdade militar
CAPÍTULO III
Art. 369. Praticar o crime previsto no artigo 151:
Da Cobardia
Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
Cobardia
Art. 363. Subtrair-se ou tentar subtrair-se o militar, por CAPÍTULO VI
temor, em presença do inimigo, ao cumprimento do dever Do Incitamento
militar:
Pena – reclusão, de dois a oito anos. Incitamento
Noções de Direito Penal Militar

Art. 370. Incitar militar à desobediência, à indisciplina


Cobardia qualificada ou à prática de crime militar:
Art. 364. Provocar o militar, por temor, em presença do Pena – reclusão, de três a dez anos.
inimigo, a debandada de tropa ou guarnição; impedir a reu- Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem introduz,
nião de uma ou outra, ou causar alarme com o fim de nelas afixa ou distribui, em lugar sujeito à administração militar,
produzir confusão, desalento ou desordem: impressos, manuscritos ou material mimeografado, fotoco-
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau piado ou gravado, em que se contenha incitamento à prática
mínimo. dos atos previstos no artigo.

Fuga em presença do inimigo Incitamento em presença do inimigo


Art. 365. Fugir o militar, ou incitar à fuga, em presença Art. 371. Praticar qualquer dos crimes previstos no art.
do inimigo: 370 e seu parágrafo, em presença do inimigo:
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau Pena – morte, grau máximo; reclusão, de dez anos, grau
mínimo. mínimo.

34
CAPÍTULO VII Modalidade culposa
Da Inobservância do Dever Militar § 2º Separar-se, por culpa, do comboio ou da escolta:
Pena – reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui
Rendição ou capitulação crime mais grave.
Art. 372. Render-se o comandante, sem ter esgotado os
recursos extremos de ação militar; ou, em caso de capitula- Caso assimilado
ção, não se conduzir de acordo com o dever militar: § 3º Nas mesmas penas incorre quem, de igual forma,
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau abandona material de guerra, cuja guarda lhe tenha sido
mínimo. confiada.

Omissão de vigilância Separação culposa de comando


Art. 373. Deixar-se o comandante surpreender pelo ini- Art. 380. Permanecer o oficial, por culpa, separado do
comando superior:
migo.
Pena – reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui
Pena – detenção, de um a três anos, se o fato não cons-
crime mais grave.
titui crime mais grave.
Tolerância culposa
Resultado mais grave Art. 381. Deixar, por culpa, evadir-se prisioneiro:
Parágrafo único. Se o fato compromete as operações Pena – reclusão, até quatro anos.
militares:
Pena – reclusão, de cinco a vinte anos, se o fato não Entendimento com o inimigo
constitui crime mais grave. Art. 382. Entrar o militar, sem autorização, em entendi-
mento com outro militar ou emissário de país inimigo, ou
Descumprimento do dever militar servir, para esse fim, de intermediário:
Art. 374. Deixar, em presença do inimigo, de conduzir-se Pena – reclusão, até três anos, se o fato não constitui
de acordo com o dever militar: crime mais grave.
Pena – reclusão, até cinco anos, se o fato não constitui
crime mais grave. CAPÍTULO VIII
Do Dano
Falta de cumprimento de ordem
Art. 375. Dar causa, por falta de cumprimento de ordem, Dano especial
à ação militar do inimigo: Art. 383. Praticar ou tentar praticar qualquer dos crimes
Pena – reclusão, de dois a oito anos. definidos nos arts. 262, 263, §§ 1º e 2º, e 264, em benefício
do inimigo, ou comprometendo ou podendo comprometer
Resultado mais grave a preparação, a eficiência ou as operações militares:
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
Parágrafo único. Se o fato expõe a perigo força, posição
mínimo.
ou outros elementos de ação militar:
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau Modalidade culposa
mínimo. Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena – detenção, de quatro a dez anos.
Entrega ou abandono culposo
Art. 376. Dar causa, por culpa, ao abandono ou à entrega Dano em bens de interesse militar
ao inimigo de posição, navio, aeronave, engenho de guerra, Art. 384. Danificar serviço de abastecimento de água, luz
provisões, ou qualquer outro elemento de ação militar: ou força, estrada, meio de transporte, instalação telegráfica
Pena – reclusão, de dez a trinta anos. ou outro meio de comunicação, depósito de combustível,
inflamáveis, matérias – primas necessárias à produção,
Captura ou sacrifício culposo depósito de víveres ou forragens, mina, fábrica, usina ou
Art. 377. Dar causa, por culpa, ao sacrifício ou captura qualquer estabelecimento de produção de artigo necessário
de força sob o seu comando: à defesa nacional ou ao bem – estar da população e, bem
Pena – reclusão, de dez a trinta anos. assim, rebanho, lavoura ou plantação, se o fato comprome-
te ou pode comprometer a preparação, a eficiência ou as
Separação reprovável operações militares, ou de qualquer forma atenta contra a
Art. 378. Separar o comandante, em caso de capitulação, segurança externa do país:
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
Noções de Direito Penal Militar

a sorte própria da dos oficiais e praças:


Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mínimo.
mínimo.
Envenenamento, corrupção ou epidemia
Art. 385. Envenenar ou corromper água potável, víveres
Abandono de comboio
ou forragens, ou causar epidemia mediante a propagação de
Art. 379. Abandonar comboio, cuja escolta lhe tenha germes patogênicos, se o fato compromete ou pode compro-
sido confiada: meter a preparação, a eficiência ou as operações militares, ou
Pena – reclusão, de dois a oito anos. de qualquer forma atenta contra a segurança externa do país:
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
Resultado mais grave mínimo.
§ 1º Se do fato resulta avaria grave, ou perda total ou
parcial do comboio: Modalidade culposa
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau Parágrafo único. Se o crime é culposo:
mínimo. Pena – detenção, de dois a oito anos.

35
CAPÍTULO IX Falta de apresentação
Dos Crimes Contra a Incolumidade Pública Art. 393. Deixar o convocado, no caso de mobilização
total ou parcial, de apresentar-se, dentro do prazo marcado,
Crimes de perigo comum no centro de mobilização ou ponto de concentração:
Pena – detenção, de um a seis anos.
Art. 386. Praticar crime de perigo comum definido nos Parágrafo único. Se o agente é oficial da reserva, aplica-se
arts. 268 a 276 e 278, na modalidade dolosa: a pena com aumento de um terço.
I – se o fato compromete ou pode comprometer a pre-
paração, a eficiência ou as operações militares; CAPÍTULO XIII
II – se o fato é praticado em zona de efetivas operações Da Libertação, da Evasão e do
militares e dele resulta morte: Amotinamento de Prisioneiros
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
mínimo. Libertação de prisioneiro
Art. 394. Promover ou facilitar a libertação de prisioneiro
CAPÍTULO X de guerra sob guarda ou custódia de força nacional ou aliada:
Da Insubordinação e da Violência Pena – morte, grau máximo; reclusão, de quinze anos,
grau mínimo.
Recusa de obediência ou oposição
Art. 387. Praticar, em presença do inimigo, qualquer dos Evasão de prisioneiro
crimes definidos nos arts. 163 e 164: Art. 395. Evadir-se prisioneiro de guerra e voltar a tomar
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de dez anos, grau armas contra o Brasil ou Estado aliado:
mínimo. Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
mínimo.
Coação contra oficial general ou comandante Parágrafo único. Na aplicação deste artigo, serão consi-
Art. 388. Exercer coação contra oficial general ou coman- derados os tratados e as convenções internacionais, aceitos
dante da unidade, mesmo que não seja superior, com o fim pelo Brasil relativamente ao tratamento dos prisioneiros de
de impedir-lhe o cumprimento do dever militar: guerra.
Pena – reclusão, de cinco a quinze anos, se o fato não
constitui crime mais grave. Amotinamento de prisioneiros
Art. 396. Amotinarem-se prisioneiros em presença do
Violência contra superior ou militar de serviço inimigo:
Art. 389. Praticar qualquer dos crimes definidos nos arts. Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
mínimo.
157 e 158, a que esteja cominada, no máximo, reclusão, de
trinta anos:
CAPÍTULO XIV
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
Do Favorecimento Culposo ao Inimigo
mínimo.
Parágrafo único. Se ao crime não é cominada, no máximo,
Favorecimento culposo
reclusão de trinta anos, mas é praticado com arma e em
Art. 397. Contribuir culposamente para que alguém pra-
presença do inimigo: tique crime que favoreça o inimigo:
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de quinze anos, Pena – reclusão, de dois a quatro anos, se o fato não
grau mínimo. constitui crime mais grave.
CAPÍTULO XI TÍTULO II
Do Abandono de Posto DA HOSTILIDADE E DA ORDEM ARBITRÁRIA
Abandono de posto Prolongamento de hostilidades
Art. 390. Praticar, em presença do inimigo, crime de aban- Art. 398. Prolongar o comandante as hostilidades, de-
dono de posto, definido no art. 195: pois de oficialmente saber celebrada a paz ou ajustado o
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau armistício.
mínimo. Pena – reclusão, de dois a dez anos.
CAPÍTULO XII Ordem arbitrária
Noções de Direito Penal Militar

Da Deserção e da Falta de Apresentação Art. 399. Ordenar o comandante contribuição de guerra,


sem autorização, ou excedendo os limites desta:
Deserção Pena – reclusão, até três anos.
Art. 391. Praticar crime de deserção definido no Capítulo
II, do Título III, do Livro I, da Parte Especial: TÍTULO III
Pena – a cominada ao mesmo crime, com aumento da DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
metade, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. Os prazos para a consumação do crime CAPÍTULO I
são reduzidos de metade. Do Homicídio

Deserção em presença do inimigo Homicídio simples


Art. 392. Desertar em presença do inimigo: Art. 400. Praticar homicídio, em presença do inimigo:
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau I – no caso do art. 205:
mínimo. Pena – reclusão, de doze a trinta anos;

36
II – no caso do § 1º do art. 205, o juiz pode reduzir a pena Saque
de um sexto a um terço; Art. 406. Praticar o saque em zona de operações militares
ou em território militarmente ocupado:
Homicídio qualificado Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
III – no caso do § 2º do art. 205: mínimo.
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
mínimo. TÍTULO V
DO RAPTO E DA VIOLÊNCIA CARNAL
CAPÍTULO II
Do Genocídio Rapto
Art. 407. Raptar mulher honesta, mediante violência
Genocídio ou grave ameaça, para fim libidinoso, em lugar de efetivas
Art. 401. Praticar, em zona militarmente ocupada, o crime operações militares:
previsto no art. 208: Pena – reclusão, de dois a quatro anos.
Pena – morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau
mínimo. Resultado mais grave
§ 1º Se da violência resulta lesão grave:
Casos assimilados Pena – reclusão, de seis a dez anos.
Art. 402. Praticar, com o mesmo fim e na zona referida § 2º Se resulta morte:
Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
no artigo anterior, qualquer dos atos previstos nos ns. I, II,
III, IV ou V, do parágrafo único, do art. 208:
Cumulação de pena
Pena – reclusão, de seis a vinte e quatro anos.
§ 3º Se o autor, ao efetuar o rapto, ou em seguida a este,
pratica outro crime contra a raptada, aplicam-se, cumulati-
CAPÍTULO III
vamente, a pena correspondente ao rapto e a cominada ao
Da Lesão Corporal
outro crime.
Lesão leve Violência carnal
Art. 403. Praticar, em presença do inimigo, crime definido Art. 408. Praticar qualquer dos crimes de violência carnal
no art. 209: definidos nos arts. 232 e 233, em lugar de efetivas operações
Pena – detenção, de seis meses a dois anos. militares:
Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
Lesão grave
§ 1º No caso do § 1º do art. 209: Resultado mais grave
Pena – reclusão, de quatro a dez anos. Parágrafo único. Se da violência resulta:
§ 2º No caso do § 2º do art. 209: a) lesão grave:
Pena – reclusão, de seis a quinze anos. Pena – reclusão, de oito a vinte anos;
b) morte:
Lesões qualificadas pelo resultado Pena – morte, grau máximo; reclusão, de quinze anos,
§ 3º No caso do § 3º do art. 209: grau mínimo.
Pena – reclusão, de oito a vinte anos no caso de lesão gra-
ve; reclusão, de dez a vinte e quatro anos, no caso de morte. DISPOSIÇÕES FINAIS

Minoração facultativa da pena Art. 409. São revogados o Decreto-Lei nº 6.227, de 24


§ 4º No caso do § 4º do art. 209, o juiz pode reduzir a de janeiro de 1944, e demais disposições contrárias a este
pena de um sexto a um têrço. Código, salvo as leis especiais que definem os crimes contra
§ 5º No caso do § 5º do art. 209, o juiz pode diminuir a a segurança nacional e a ordem política e social.
pena de um têrço. Art. 410. Este Código entrará em vigor no dia 1º de ja-
neiro de 1970.
TÍTULO IV
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO Brasília, 21 de outubro de 1969; 148º da Independência
e 81º da República.
Noções de Direito Penal Militar

Furto
Art. 404. Praticar crime de furto definido nos arts. 240 AUGUSTO HAMANN RADEMAKER GRUNEWALD
e 241 e seus parágrafos, em zona de operações militares ou AURÉLIO DE LYRA TAVARES
em território militarmente ocupado: MÁRCIO DE SOUZA E MELLO
Pena – reclusão, no dobro da pena cominada para o LUÍS ANTÔNIO DA GAMA E SILVA
tempo de paz.
EXERCÍCIOS
Roubo ou extorsão
Art. 405. Praticar crime de roubo, ou de extorsão defini- 1. (UEG/PM-GO/Soldado QPPM 2ª Classe/2013) Conside-
dos nos arts. 242, 243 e 244, em zona de operações militares ram-se crimes militares em tempo de paz os praticados
ou em território militarmente ocupado: por militar
Pena – morte, grau máximo, se cominada pena de re- a) durante o período de manobras ou exercício, contra
clusão de trinta anos; reclusão pelo dôbro da pena para o militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado
tempo de paz, nos outros casos. ou civil.

37
b) em lugar onde não haja administração militar, contra c) desobediência a uma ordem legal de autoridade mili-
militar em situação diferente, na mesma situação ou tar, em especial de um oficial general ou comandante
assemelhado. da unidade a que pertence o agente, pode variar de
c) em situação de atividade ou assemelhado, contra 6 a 8 meses.
o patrimônio sob a administração civil, ou a ordem d) desacato a um militar no exercício da função de na-
administrativa militar. tureza militar ou em razão dela, é de 6 meses a 2
d) em situação de atividade, atuando em razão da fun- anos, se o fato não constitui outro crime de natureza
ção, ainda que fora do lugar sujeito à administração mais grave.
militar, contra militar da reserva ou civil.
7. (CESPE/TJDFT/Juiz de Direito/2015) Acerca do concurso
2. (UEG/PM-GO/Soldado QPPM 2ª classe /2013) Em re- de agentes, assinale a opção correta à luz do CPM.
lação ao crime, verifica-se o seguinte: a) No cálculo da pena de crimes militares em que haja
a) salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser concurso de pessoas, as condições ou as circunstân-
punido por fato previsto como crime, desde que não cias de caráter pessoal dos coautores serão conside-
haja dolo evidente. radas apenas nos casos em que os agentes tenham
b) quando, por eficácia do meio empregado ou por consciência dessas condições ou circunstâncias.
impropriedade do objeto, não se consuma o crime, b) O CPM tipifica como causa de aumento da pena o
diz ser um crime impossível. fato de um agente dirigir as atividades dos demais
c) o agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir agentes envolvidos no evento delituoso.
na execução ou impede que o resultado se produza, c) Se o crime for praticado com o concurso de dois
só responde pelos atos já praticados. ou mais oficiais, a pena desses oficiais deverá ser
d) a existência do crime somente é imputável a quem aplicada em dobro.
lhe deu causa; e considera-se causa a ação ou omis- d) Agente cuja participação no crime seja de menor
são, sem a qual o resultado teria ocorrido. importância deve ser apenado na mesma proporção
que os demais agentes envolvidos no delito.
3. (UEG/PM-GO/Soldado QPPM 2ª Classe/2013) Em rela- e) Se o crime for cometido por inferiores juntamente
ção ao concurso de agentes, tem-se o seguinte:
com um ou mais oficiais, estes, assim como os de-
a) na prática de crime de autoria coletiva necessária,
mais inferiores que estiverem exercendo função de
reputam-se cabeças os que dirigem, provocam, ins-
oficial, serão considerados cabeças da ação delitu-
tigam, excitam ou impedem a ação.
osa.
b) o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio,
salvo disposição em contrário, são puníveis se o cri-
me não chega, pelo menos, a ser tentado. 8. (CESPE/TJDFT/Juiz de Direito/2015) Francisco, Pedro e
c) a pena pode ser atenuada em relação ao agente que Fábio, todos policiais militares, estavam de serviço em
executa o crime, ou nele participa, se o crime for co- uma mesma guarnição comandada por Pedro, até as
metido mediante paga ou promessa de recompensa. seis horas da manhã, quando, por volta das quatro horas
d) quando o crime é cometido por inferiores e um ou da manhã, em via pública, se depararam com Abel, de
mais oficiais, são estes considerados cabeças, assim vinte e três anos de idade, capaz, caminhando. Todos
como os inferiores que exercem função de oficial. os policiais militares desceram da viatura, momento em
que Francisco, já com um cassetete na mão, passou a
4. (UEG/PM-GO/Soldado QPPM 2ª Classe/2013) É consi- perguntar a Abel o que ele estava fazendo na rua na-
derada pena acessória: quele horário, enquanto lhe golpeava os braços com o
a) a inclusão nas forças armadas. cassetete. Abel, que estava desarmado e não esboçou
b) a reversão dos direitos políticos. nenhuma reação, após a agressão, foi para casa ferido.
c) a indignidade para o oficialato. A ação de Francisco foi presenciada por Pedro e Fábio,
d) a perda da função pública, exceto a eletiva. que nada fizeram para impedi-lo e não comunicaram o
fato ao oficial de dia. Em decorrência das lesões sofri-
5. (UEG/PM-GO/Soldado QPPM 2ª Classe/2013) A prescri- das, Abel ficou quarenta e cinco dias afastado de suas
ção da ação penal, excetuando-se a superveniência de ocupações habituais, conforme laudo pericial juntado
sentença condenatória de que somente o réu recorre, aos autos da ação penal ajuizada. A respeito dessa si-
ocorre após decorridos tuação hipotética, assinale a opção correta.
a) 12 anos, se o máximo da pena é de 8 anos. a) Pedro, Fábio e Francisco devem responder por le-
b) 20 anos, se o máximo da pena é de 10 anos. sões corporais graves na forma comissiva, uma vez
Noções de Direito Penal Militar

c) 30 anos, se o máximo da pena é de 20 anos. que todas as circunstâncias do crime, nesse caso, se
d) 16 anos, se o máximo da pena não excede 15 anos. comunicam.
b) As lesões corporais sofridas por Abel não são de
6. (UEG/PM-GO/Soldado QPPM 2ª Classe/2013) Quanto natureza grave, uma vez que não resultaram em
aos crimes contra a administração militar, verifica-se incapacidade permanente para o trabalho.
que a pena por c) Francisco cometeu crime de lesões corporais graves
a) penetrar em fortaleza, quartel, estabelecimento tipificado no CPM, mas Pedro e Fábio não devem
militar, navio, aeronave, hangar ou em outro lugar responder por referido crime, uma vez que não par-
sujeito à administração militar, é de até 6 meses de ticiparam das agressões.
detenção. d) Não se trata de crime militar, uma vez que Abel é
b) desacato a um superior hierárquico, ofendendo-lhe civil e não se encontrava em ambiente militar.
a dignidade ou o decoro, ou procurando deprimir- e) Pedro e Fábio devem responder por lesões corporais
-lhe autoridade, é de até 6 anos, se não houver graves por omissão em concurso de agentes com
agravantes. Francisco, que responderá na forma comissiva.

38
Em cada um do próximo item, é apresentada uma situação d) Nos crimes propriamente militares, sempre se admi-
hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada à luz do te a tentativa, eis que, somente o militar, na condição
direito penal militar. de autor, é que pode praticá-lo, além de coibir con-
9. (CESPE/DPU/Defensor Público/2015) Determinado dutas especiais, voltadas para aquele que enverga
soldado das Forças Armadas foi condenado por cri- uma farda.
me militar. Entretanto, inconformado com a decisão
proferida em sentença, ele recorreu ao STM, tendo 16. (FUMARC/TJM-MG/Técnico Judiciário/2013) Marque a
sua condenação sido confirmada por aquela corte por resposta certa:
meio de acórdão condenatório. Nessa situação, ocor- a) Sempre o excesso culposo será punido, desde que
rerá interrupção do prazo prescricional da ação penal haja expressa previsão legal.
pela publicação tanto da sentença quanto do acórdão b) O garantidor está sempre obrigado a evitar o resul-
recorríveis. tado, conquanto tenha o dever de agir.
c) O erro de tipo constitui na falsa representação da
10. (CESPE/DPU/Defensor Público/2015) Em determinada realidade por parte do agente ou no erro quanto aos
organização militar, durante o expediente, dois militares elementos normativos do tipo em sede do Direito
que trabalhavam na mesma seção desentenderam-se e Penal Militar.
um deles, sem justificativa e intencionalmente, disparou d) Na legítima defesa, sendo necessário o Comandante
sua arma de fogo contra o outro, que faleceu imedia- manter a disciplina e o controle da tropa, estará le-
tamente. Nessa situação, o autor do disparo cometeu gitimado o uso da força e de meios violentos contra
crime impropriamente militar. seus subalternos.

11. (CESPE/DPU/Defensor Público/2015) Certo militar das 17. (FUMARC/TJM-MG/Oficial Judiciário/Oficial de Justi-
Forças Armadas foi condenado por crime militar e, de- ça/2013) O Direito Penal Militar consagra, no Código
pois de cumpridos todos os requisitos e condições que Penal Militar, o Princípio da Reserva Legal como um
possibilitavam a concessão de livramento condicional, dos direitos individuais fundamentais. São princípios
foi-lhe concedido tal benefício. Nessa situação, se o decorrentes deste:
liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações a) o princípio da legalidade, o princípio da ultra-ativi-
constantes da sentença, a referida concessão deverá dade da lei penal e o princípio da territorialidade.
ser obrigatoriamente revogada. b) o princípio da irretroatividade da lei penal, o prin-
cípio da legalidade e o princípio da extraterritoriali-
12. (CESPE/DPU/Defensor Público/2015) Um militar das dade.
Forças Armadas, durante a prestação de serviço na or- c) o princípio da anterioridade da lei penal, o princí-
ganização militar onde ele servia, foi preso em flagrante pio da irretroatividade da lei penal e o princípio da
delito por estar na posse de substância entorpecente. retroatividade da lei mais benéfica ao réu.
Nessa situação, segundo o entendimento do STF, se a d) o princípio da retroatividade da lei penal, o princí-
quantidade da substância entorpecente for pequena, pio da aplicação da lei excepcional e o princípio da
poder-se-á aplicar ao caso o princípio da insignificância. legalidade.

13. (CESPE/DPU/Defensor Público/2015) Se um oficial das 18. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Acerca da
Forças Armadas cometer crime de furto simples, ele usurpação e do excesso ou abuso de autoridade, assi-
ficará sujeito à declaração de indignidade para o ofi- nale a alternativa correta.
cialato, qualquer que seja a sua pena. a) O crime de assunção ilegal de comando (art. 167,
CPM) assemelha-se ao crime de usurpação de função
14. (CESPE/DPU/Defensor Público/2015) Considere a se- pública (art. 328, CP), e pode ser cometido por qual-
guinte situação hipotética. Um grupamento do Exército quer pessoa, desde que em área sob administração
Brasileiro estava em determinada comunidade urbana militar.
realizando atividade de policiamento, em apoio a pro- b) O delito de operação militar sem ordem superior
cesso de ocupação e pacificação da região, quando, em na sua forma mais simples (art. 169, caput, CPM)
determinado dia, um civil desacatou um dos militares classifica-se como de mão própria e também como
do referido grupamento. subsidiário.
Nessa situação hipotética, segundo o entendimento do c) O crime de amotinamento de presos ou internados
STF, a lei penal militar deverá ser aplicada e a conduta (art. 182, CPM) é de concurso necessário, sendo que
do civil será considerada crime militar. o oficial presente e omisso incorre nas mesmas penas.
Noções de Direito Penal Militar

d) No crime de evasão de preso civil (art. 180, CPM) se ao


15. (FUMARC/TJM-MG/Técnico Judiciário/2013) Em relação fato sucede deserção (art. 180, § 2º, CPM), aplicam-se
aos crimes tentados no Direito Penal Militar, é correto cumulativamente as penas correspondentes.
afirmar:
a) Em se tratando do denominado crime falho, o agen- 19. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Analise as
te não precisa necessariamente ingressar nos atos proposições abaixo e assinale a alternativa correta.
executórios. a) Comete o crime de insubmissão o brasileiro que não
b) O Código Penal Militar não adota a teoria objetiva se apresentar para a seleção durante a época do
para os crimes tentados, sendo esta exclusiva do contingente de sua classe ou que, tendo-o feito, se
Código Penal Comum. ausenta sem a ter completado.
c) Excepcionalmente, por adotar também a teoria sub- b) O convocado selecionado e designado para incorpo-
jetiva, pode o Conselho Especial de Justiça aplicar a ração e matrícula, inclusive aquele na condição de
pena máxima cominada ao crime, devido à gravidade arrimo, que não se apresentar na organização militar
da conduta. que lhe for designada, dentro do prazo marcado ou

39
que, tendo-o feito, se ausentar antes do ato oficial ção do legislador de manter similaridade entre os
de incorporação ou matrícula, será declarado insub- dois códigos, que só devem se diferenciar naqueles
misso. princípios específicos da vida castrense.
c) Não se consuma o crime de deserção se: em que
pese o período de graça ter sido ultrapassado em 22. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Analise as
14/11/1998, sobressai o fato do Termo de Deserção proposições abaixo e assinale a alternativa incorreta.
ter sido lavrado apenas em 17/2/2000, quando da a) O civil somente responderá por crime militar de furto
captura do desertor. A não lavratura do Termo no nas hipóteses do inciso III, do art. 9º do CPM.
momento oportuno, implica em reconhecer a tole- b) Para o reconhecimento da figura do furto de uso,
rância da Administração Militar com a situação de tanto no direito penal militar como no direito penal
ausente do militar, sem considerá-lo desertor. comum, a coisa subtraída deve ter por finalidade o
d) Não se consuma o crime de deserção de policial mili- uso momentâneo e deve ser imediatamente resti-
tar se: em que pese a denúncia ter sido recebida em tuída ou reposta no lugar onde se encontrava.
26/11/2007, paralelamente o agente havia sido ex- c) O furto de uso de animal de tiro implica em uma
cluído administrativamente, a bem da disciplina, em causa de especial aumento de pena.
ato datado de 22/11/2007, cuja publicação em Bo- d) No crime militar de roubo simples, o emprego de vio-
letim Geral da Corporação ocorreu em 29/11/2007. lência contra pessoa pode ser concomitantemente
com a subtração da coisa ou logo após a subtração
20. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Acerca do tra- da coisa.
tamento dado ao erro no direito penal pátrio, analise
as proposições abaixo e depois assinale a alternativa 23. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Acerca das
incorreta. causas excludentes do crime, assinale a alternativa in-
a) O erro de direito (art. 35 do CPM) se relaciona com correta.
a ignorância ou falsa interpretação da lei. É mais a) No Código Penal Militar existe uma causa de justifi-
severo que o tratamento dado pelo Código Penal cação especial que é a discriminante do comandante
comum, pois, mesmo sendo invencível o erro (es- de navio, aeronave ou praça de guerra, conceden-
cusável) não exclui o dolo, mas apenas atenua ou do autoridade ao comandante para compelir seus
permite a substituição da pena. subordinados a realizarem manobras e serviços ur-
b) O erro de fato (art. 36 do CPM) incide sobre o fato gentes, com a finalidade de salvaguardar quer vidas
que constitui o crime, e se apresenta de duas formas:
humanas, quer a própria unidade.
a. engano quanto a circunstância de fato que cons-
b) O estrito cumprimento do dever legal é causa de
titui o crime (atualmente é erro de tipo); b. engano
exclusão de ilicitude, prevista no Código Penal Militar
quanto a circunstância que se existisse tornaria a
de 1969, que não o conceitua, assim como não é
ação legítima (descriminante putativa).
conceituado no Código Penal. Ambos, porém, defi-
c) Existe uma correspondência entre as denominações
“erro de tipo” e “erro de proibição”, vigentes no di- nem o estado de necessidade e a legítima defesa.
reito penal comum, com as denominações “erro de c) No direito militar pátrio, em matéria de legítima
fato” e “erro de direito”, previstas no direito penal defesa, em que pese ser permitida a repulsa à
militar. “agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou
d) O erro de tipo, tratado no art. 20 do CP, incide sobre de outrem”, serão sempre considerados elementos
os elementos do tipo, ou seja, sobre um dos fatos que constitutivos do crime: a qualidade de superior ou
compõe um dos elementos do tipo. Também pode a de inferior, a de oficial de dia, de serviço ou de
recair sobre um dos elementos normativos do tipo. quarto, ou a de sentinela, vigia ou plantão, quando
Seu efeito é a exclusão do dolo porque não há no a ação é praticada em repulsa à agressão.
agente a vontade de realizar o tipo objetivo. Permite, d) A diferença entre o estado de necessidade como ex-
no entanto, a punição por crime culposo, se previsto cludente de culpabilidade e o estado de necessidade
em lei. como excludente do crime, quanto aos requisitos
que os constituem, é que, neste, o agente não era
21. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Acerca das legalmente obrigado a arrostar o perigo e, naquele,
isenções de culpabilidade previstas no direito penal não lhe era razoavelmente exigível conduta diversa.
pátrio, assinale a alternativa incorreta.
a) São requisitos da coação moral que exclui a culpabi- 24. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Assinale a
lidade: 1º) irresistibilidade da coação; 2º) presença alternativa incorreta.
Noções de Direito Penal Militar

indispensável das figuras do coator, coacto e vítima. a) No crime militar de estelionato, não se aplica a agra-
b) No Código Penal existe uma circunstância atenuante vação da pena prevista no § 3º do art. 251 do CPM,
genérica em face de o agente ter cometido o crime se o agente for civil.
sob coação a que podia resistir, circunstância que b) O crime de fraude no pagamento de cheque (CPM,
está presente no Código Penal Militar, como atenu- art. 251, § 1º, V) somente será considerado militar
ante específica da coação. quando praticado por militar em situação de ativida-
c) O Código Penal Militar, ao tratar da obediência hie- de ou assemelhado, em lugar sujeito à Administração
rárquica (CPM, art. 38, letra b e §§ 1º e 2º), acolheu Militar, contra militar da reserva ou reformado, ou
um sistema intermediário ou sincrético entre as te- assemelhado ou civil.
orias conhecidas, em direito penal militar, como o c) São elementos constitutivos do crime militar de abu-
das baionetas inteligentes e o da obediência cega. so de pessoa (CPM, art. 252), dentre outros: 1. o
d) Quanto à excludente de culpabilidade da obediência abuso da doença ou deficiência mental de outrem;
hierárquica, o CPM de 1969 descreve um conceito 2. que esse abuso ocorra no exercício de função em
idêntico ao do Código Penal comum, em uma inten- unidade, repartição ou estabelecimento militar.

40
d) No crime militar de receptação, a pena, que é de a) I e II estão corretas e III e IV estão erradas.
um a cinco anos de reclusão, pode ser substituída, b) I está correta e II está errada.
atenuada ou considerada a infração como disciplinar. c) I, II, III e IV estão corretas.
d) II está correta e IV está errada.
25. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Acerca dos
crimes contra a incolumidade pública, assinale a alter- 28. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Assinale a
nativa correta. alternativa incorreta.
a) No crime militar de explosão (art. 269, CPM), ratione a) A doutrina se refere à corrupção subsequente, onde a
loci, pune-se a tentativa pela teoria objetiva. entrega da vantagem indevida é posterior. A corrup-
b) No crime militar de incêndio, o § 1º, do art. 268 do ção subsequente somente é possível de acontecer na
CPM, estabelece casos de agravação da pena, sem forma passiva e será inadmissível na sua forma ativa.
fixar o quantum, devendo o juiz aplicar o art. 73 do b) O Supremo Tribunal Federal vem, reiteradamente,
mesmo código, onde se encontram os limites. Já no negando habeas corpus para invalidar o procedimen-
crime comum de incêndio, no § 1º, do art. 250 do to penal instaurado contra civil acusado de crime
CP, o aumento da pena é fixado em um terço. militar – suposto uso de documento alegadamente
c) O crime militar de perigo de inundação (CPM, art. falso (CPM, art. 315), caderneta de inscrição e registo
253) é crime militar impróprio, e assim como seu se- (CIR) emitida pela Marinha do Brasil – considerando
melhante no CP comum (art. 255), é crime de perigo que, mesmo sendo a referida licença de natureza
abstrato, não sendo necessário a superveniência do civil, sobressai o caráter especial da jurisdição penal
perigo para o bem jurídico tutelado. militar sobre civis em tempo de paz (CF, art. 124).
d) O fornecimento de substância adulterada (CPM, c) No crime militar de falsa identidade (CPM, art. 318),
art. 296) é crime militar impróprio. Seu semelhante em que pese o quantum da pena (detenção, de três
encontra-se no art. 273 do CP, nominado de altera- meses a um ano), não se aplica o instituto da infra-
ção de substância alimentícia ou medicinal. Tanto a ção de menor potencial ofensivo, da Lei nº 9.099 de
norma penal comum como a castrense foram erigi- 1995, que criou os Juizados Especiais Criminais.
das à categoria de crime hediondo, pela Lei nº 9.677 d) O crime de uso de documento pessoal alheio (CPM,
de 2/7/1998. art. 317) é de natureza subsidiária, sendo conditio
sine qua non que o fato atente contra a Administra-
26. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Analise as ção ou Serviço Militar.
questões abaixo e assinale a alternativa incorreta.
a) O crime de desacato a superior (art. 298, CPM) é 29. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Assinale a
crime militar próprio, que exige do agente a circuns- alternativa incorreta.
a) Nos crimes previstos entre os artigos 136 a 141 do
tância de caráter pessoal de ser militar, mais que isso,
CPM, a lei não estabelece prazo para a requisição da
a de ser subordinado (inferior) da vítima, ainda que
ação penal.
de igual posto ou graduação.
b) Embora cediço no direito penal militar contempo-
b) O furto é um crime patrimonial, já o peculato – furto
râneo a existência da ação penal privada subsidiária
é um crime funcional.
da pública, a ela não aplicam as causas extintivas
c) Com exceção da modalidade culposa, no crime de da punibilidade próprias da ação penal privada ex-
ingresso clandestino (CPM, art. 302), é exigido um clusiva.
dolo específico de penetração na área militar por c) Com relação ao instituto da suspensão condicional
onde seja defeso. da pena – sursis – enquanto no direito penal comum
d) No crime militar de excesso de exação (CPM, art. exige-se que o condenado não seja reincidente em
306), caracterizado pela cobrança onde houve em- crime doloso (podendo ser reincidente em crime
prego de meio vexatório ou gravoso, não autorizado culposo), no direito penal militar exige-se que o
por lei, não há ofensa patrimonial ao contribuinte. sentenciado não seja reincidente em crime punido
com pena privativa de liberdade (que tanto pode ser
27. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Acerca do tra- doloso como culposo).
tamento dado às penas no Direito Penal Militar, analise d) Em tempo de paz, o livramento condicional especial
as proposições abaixo e assinale a resposta correta. (por crime contra a segurança externa do país), só
I – No direito penal militar é possível a aplicação da será concedido após o cumprimento de metade da
pena de morte (CPM, art. 55, letra a) em desfavor de pena, se primário, observada ainda a reparação do
uma praça, desde que a sentença capital tenha sido dano, salvo impossibilidade de fazê-lo e, a boa con-
decretada pelo Juiz-Auditor e confirmada pelo Conselho duta do condenado durante a execução da pena.
Superior de Justiça.
Noções de Direito Penal Militar

II – A sentença definitiva de condenação à morte de 30. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Analise as


oficial intermediário é comunicada, logo que passe em proposições abaixo e assinale a resposta correta.
julgado, ao Presidente da República e não pode ser exe- I – O sujeito ativo do crime militar de usurpação de
cutada, em hipótese alguma, senão depois de sete dias função é o civil.
após a comunicação. II – O indivíduo que, sem tê-la, alega possuir influência
III – O civil que cumpre a pena aplicada pela Justiça sobre funcionário da Junta Militar e por conta disso,
Militar, ainda que recolhido a estabelecimento penal solicita dinheiro ao conscrito, a pretexto de incluí-lo no
militar, ficará sujeito ao regime conforme a legislação excesso de contingente, comete o crime de estelionato.
penal comum, de cujos benefícios e concessões tam- III – No crime militar de inutilização de livro ou docu-
bém poderá gozar. mento (CPM, art. 337 – subtração ou inutilização de
IV – No Código Penal Militar, a perda da função pública, livro, processo ou documento), se o sujeito ativo possui
ainda que eletiva, é uma pena acessória, enquanto que a guarda do objeto material, o crime será o do art. 321
no Código Penal comum passou a ser um dos efeitos do CPM (extravio, sonegação ou inutilização de livro ou
da condenação. documento), de semelhante nomen iuris.

41
IV – Tanto o crime militar de impedimento, perturba- 34. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Acerca das
ção ou fraude de concorrência (CPM, art. 339), como causas extintivas da punibilidade, assinale a alternativa
seu semelhante no direito penal comum (CP, art. 335), incorreta.
foram revogados pelos artigos 93 e 95, da Lei nº 8.666 a) Apesar de não constar do rol das causas extintivas
de 21/6/1993, que instituiu normas específicas para da punibilidade (CPM, art. 123), o perdão judicial
licitações e contratos. está presente no Código Penal castrense, em caso
a) I e II estão corretas. único, diga-se de passagem.
b) I e III estão corretas e II e IV estão erradas. b) O instituto da retratação do agente, nos casos em
c) I está errada e IV está correta. que a lei admite, previsto no rol das causas extintivas
d) I e IV estão erradas. da punibilidade do Código Penal comum (art. 107,
VI), não foi previsto no CPM.
31. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Acerca das c) O ressarcimento do dano no peculato culposo, da
medidas de segurança, assinale a alternativa incorreta. mesma forma com que é tratado no Código Penal
a) Nos termos do art. 112, § 3º, do CPM, a medida de comum, conduz a uma extinção da punibilidade li-
segurança de internação é por tempo indetermina- mitada, visto que não aproveita as demais formas
do, ou seja, enquanto perdurar a periculosidade do de peculato.
internado. d) Apesar de estar previsto no rol das causas extintivas
b) A medida de segurança de cassação de licença para da punibilidade do CPM (art. 123, V), o instituto da
dirigir veículos motorizados (CPM, art. 110), em reabilitação, assim como ocorre no CP comum, não
que pese ser decretada pela autoridade judiciária, só deixou de ser causa extintiva.
somente será implementada pela autoridade de
trânsito. GABARITO
c) A medida de segurança de confisco de instrumentos
e produtos do crime, prevista no Código Penal Militar 1. a. Veja art. 9º, II, d, do Código Penal Militar.
é, ao mesmo tempo, um dos efeitos extrapenais da 2. c. Veja art. 31 do Código Penal Militar.
sentença condenatória previstos no mesmo código. 3. d. Veja art. 53, § 5º, do Código Penal Militar.
d) A proibição de que o condenado resida ou perma- 4. c. Veja art. 98, III, do Código Penal Militar.
neça, durante um ano pelo menos, na localidade,
5. a. Veja art. 125, IV, do Código Penal Militar.
município ou comarca onde o crime foi praticado,
6. Gabarito preliminar: d
será fiscalizado pela autoridade policial, conforme
Gabarito definitivo: questão anulada. A questão foi
determinação do juiz.
anulada corretamente, pois de acordo com o art. 299
32. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Analise as do Código Penal Militar a pena, para aquele que desa-
proposições abaixo e assinale a alternativa correta. catar militar no exercício de função de natureza militar
a) No crime de recusa de função militar (CPM, art. 340), ou em razão dela, é detenção de seis meses a dois
cujo sujeito ativo é o militar ou assemelhado, a recu- anos, se o fato não constitui outro crime, e não se o
sa torna-se atípica para este último, desde que haja fato constitui outro crime de natureza mais grave,
motivo legal para tanto (CPPM, artigos 37 e 38). conforme assinalou a letra d.
b) Atualmente, a única hipótese de presença de as- 7. e
semelhado, a que se refere o crime de recusa de 8. e
função na Justiça Militar, é a do PM Temporário, cuja 9. E
criação foi autorizada pela Lei Federal nº 10.029 de 10. C
20/10/2000. 11. E
c) No crime militar de desacato à autoridade judiciária 12. E
(CPM, art. 341), o IPM pode ser dispensado, salvo 13. C
diligência requisitada pelo Ministério Público. 14. E
d) No crime militar de coação (CPM, art. 342), se da 15. c
violência decorre lesão corporal, esta é absorvida 16. d
pela coação em si. 17. c
18. c
33. (MPM/Promotor de Justiça Militar/2013) Analise as 19. a
proposições abaixo e assinale a alternativa correta. 20. c
a) Aquele que der causa a instauração de um Conselho 21. d
Noções de Direito Penal Militar

de Justificação (investigação administrativa) contra 22. b


alguém, imputando-lhe o cometimento de falta ad- 23. c
ministrativa de que o sabe inocente, comete o crime 24. b
militar de denunciação caluniosa (CPM, art. 346). 25. b
b) A comunicação falsa de crime (CPM, art. 344), cuja 26. c
pena é de detenção, de trinta dias até seis meses 27. b
de detenção, inclui-se na categoria de infração de 28. b
menor potencial ofensivo. 29. d
c) No crime de falso testemunho ou falsa perícia, a 30. b
retratação do agente é condição resolutiva da pu- 31. a
nibilidade. 32. c
d) No crime de favorecimento pessoal (CPM, art. 350), 33. c
se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, 34. a
tutor ou curador do criminoso, fica isento de pena.

42
PMGO

SUMÁRIO

Legislação Extravagante

Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003)................................................................................................................. 3

Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/1990).................................................................................................................................. 9

Crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor (Lei nº 7.716/1989)........................................................................ 11

Apresentação e uso de documento de identificação pessoal (Lei nº 5.553/1968)............................................................. 13

O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de Abuso de
Autoridade (Lei nº 4.898/1965)........................................................................................................................................... 13

Definição dos crimes de tortura (Lei nº 9.455/1997)........................................................................................................... 17

Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990)................................................................................................. 19

Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003):


dos crimes em espécies .................................................................................................................................................... 50

Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/1997)............................................................................................................... 59

Juizados Especiais Criminais (Leis nº 9.099/1995 e nº 10.259/2001)......................................................................... 97/107

Lei Maria da Penha – Violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei nº 11.340/2006):
Título I e II, Cap. III do Título III....................................................................................................................................... 109

Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Lei nº 11.343/2006)...................................................................... 115

Crimes contra as Relações de Consumo (Título II da Lei nº 8.078/1990).......................................................................... 126

Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei nº 3.688/1941).............................................................................................. 127

Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente (Lei nº 9.605/1998)............................................................................................ 130

Estatuto dos Policiais Militares do Estado de Goiás (Lei nº 8.033/1975).......................................................................... 137


Legislação Extravagante
Gladson Miranda / Welma Maia

Gladson Miranda policial civil, é obrigatório fazer o registro da arma no ór-


gão competente. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº
Estatuto do Desarmamento 719/STF – RHC nº 111.931, Relator(a): Min. Gilmar Mendes,
Segunda Turma, julgado em 4/6/2013, Processo Eletrônico
(Lei nº 10.826/2003) DJe-117, Divulg 18/6/2013, Public 19/6/2013).
O Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003) dis- O interessado em adquirir arma de fogo de uso permiti-
põe sobre o registro, posse e comercialização de armas de do, além de declarar a efetiva necessidade, deverá atender
fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), a determinados requisitos5. São três requisitos: o primeiro é
além de definir crimes e dar outras providências. Entrou em a comprovação de idoneidade, com a apresentação de cer-
vigor na data da sua publicação, em 22 de dezembro de 2003, tidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela
e revogou a Lei nº 9.437/1997 (art. 36). Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar
respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que
poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; o segundo é
Do Sistema Nacional de Armas
a apresentação de documento comprobatório de ocupação
O Sistema Nacional de Armas (Sinarm), instituído no Mi- lícita e de residência certa; e o terceiro requisito é a compro-
nistério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem circuns- vação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para
crição em todo o território nacional1 (art. 1º). Será mediante o manuseio de arma de fogo, que serão atestadas na forma
o cadastro da arma de fogo que o Sinarm identificará as do regulamento (art. 4º e incisos). Com relação ao terceiro
características e a propriedade da arma de fogo2. Além disso, requisito, observa-se que este poderá ser dispensado quando
compete também ao Sinarm cadastrar as armas de fogo produ- o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido
zidas, importadas e vendidas no País, cadastrar as autorizações comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas
de porte de arma de fogo e as renovações expedidas pela características daquela a ser adquirida (art. 4º, § 8º).
Polícia Federal, cadastrar as transferências de propriedade, ex- Atendidos os requisitos, o Sinarm expedirá autoriza-
travio, furto, roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar ção de compra de arma de fogo em nome do requerente e
os dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização
de empresas de segurança privada e de transporte de valores, (art. 4º, § 1º). Ressalta-se que a concessão dessa autorização,
identificar as modificações que alterem as características ou ou mesmo a sua recusa com a devida fundamentação, se dará
o funcionamento de arma de fogo, e integrar no cadastro os no prazo de 30 dias úteis, contados da data do requerimen-
acervos policiais já existentes (art. 2º, incisos I a V). to (art. 4º, § 6º). Já com relação à aquisição de munição,
Compete, ainda, ao Sinarm cadastrar as apreensões de esta só poderá ser feita no calibre correspondente à arma
armas de fogo, inclusive as vinculadas a procedimentos po- registrada e na quantidade estabelecida no regulamento
liciais e judiciais, cadastrar os armeiros em atividade no País, (Decreto nº 5.123/2004)6 (art. 4º, § 2º).
bem como conceder licença para exercer a atividade, cadas- A empresa que comercializar arma de fogo em territó-
trar mediante registro os produtores, atacadistas, varejistas, rio nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade
exportadores e importadores autorizados de armas de fogo, competente7, como também a manter banco de dados com
acessórios e munições, cadastrar a identificação do cano da todas as características da arma e cópia dos documentos
arma, as características das impressões de raiamento e de que foram necessários para adquirir a autorização para
microestriamento de projétil disparado, conforme marca- aquisição da arma8 (art. 4º, § 3º).
ção e testes obrigatoriamente realizados pelo fabricante e Com relação às armas de fogo, acessórios e munições,
informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e estes são de responsabilidade da empresa que as comercia-
do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de liza, ficando registradas como de sua propriedade enquanto
armas de fogo nos respectivos territórios, bem como manter não forem vendidas (art. 4º, § 4º). Este registro em nome da
o cadastro atualizado para consulta (incisos VII a XI do art. 2º). empresa trata-se de registro precário e, por isso, prescinde
Ressalta-se que essas competências do Sinarm não al- de cumprir os requisitos que são exigidos do interessado
cançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, em adquirir arma de fogo de uso permitido (art. 4º, § 7º).
bem como as demais que constem dos seus registros próprios No caso de se dar entre pessoas físicas, a comercialização
(art. 2º, parágrafo único). somente será efetivada mediante autorização do Sinarm9
(art. 4º, § 5º).
Do Registro O certificado de Registro de Arma de Fogo tem valida-
de em todo o território nacional e é expedido pela Polícia
Com relação ao registro, o Estatuto prevê que é obriga- Federal após a obtenção da autorização do Sinarm10. Este
tório que se proceda ao registro de arma de fogo no órgão
Legislação Extravagante

certificado autoriza o seu proprietário a manter a arma


competente3. As armas de fogo de uso restrito serão regis- de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou
tradas no Comando do Exército4 (art. 3º e parágrafo único). domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local
O STF já se posicionou que mesmo no caso de o indivíduo de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável
possuir autorização para portar arma de fogo em decor-
rência do cargo que ocupa, que no caso do julgado era um 5
Assunto cobrado na prova: UESPI/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014.
6
Assunto cobrado na prova: Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciá-
1
Movens/PC-PA/Escrivão de Polícia Civil/2009. ria/2013.
2
FCC/TRT 1ª Região (RJ)/Técnico Judiciário/Segurança/2011. 7
Assunto cobrado na prova: UESPI/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014.
3
Assunto cobrado nas seguintes provas: UESPI/PC-PI/Escrivão de Polícia Ci- 8
Assunto cobrado na prova: EJEF/TJ-MG/Juiz/2006.
vil/2014; Movens/PC-PA/Investigador/2009. 9
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Polícia Federal/Agente Admi-
4
Assunto cobrado nas seguintes provas: Movens/PC-PA/Escrivão de Polícia Ci- nistrativo/2014; Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciária/2013.
vil/2009; Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013; FCC/TRF 4ª Região/Técnico 10
Assunto cobrado na prova: Fundação Sousândrade/Emap/Guarda Portuá-
Judiciário/Segurança e Transporte/2014. rio/2012.

3
legal pelo estabelecimento ou empresa (art. 5º, § 1º)11. Para tribunais do Poder Judiciário e os Ministérios Públicos da
que haja a renovação do Certificado de Registro de Arma União e dos Estados, para uso exclusivo de servidores de
de Fogo, é preciso que os três requisitos que devem ser seus quadros pessoais que efetivamente estejam no exer-
cumpridos pelo interessado em adquirir arma de fogo de cício de funções de segurança, na forma de regulamento a
uso permitido sejam comprovados periodicamente, em um ser emitido pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ e pelo
período não inferior a 3 (três) anos (art. 5º, § 2º)12. Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP (art. 6º e
O Estatuto do desarmamento prevê que aquele proprie- incisos IX a XI).
tário de arma de fogo com certificados de registro de proprie- As exceções acima citadas dizem respeito à exceção ge-
dade expedido por órgão estadual ou do Distrito Federal até ral. Passamos agora a analisar as peculiaridades de algumas
a data da publicação do Estatuto, que se deu em 22 de de- dessas exceções.
zembro de 2003, e que não optou pela entrega espontânea, Com relação aos integrantes das Forças Armadas; aos in-
deveria renová-lo mediante o pertinente registro federal, tegrantes da polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia
até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresentação de ferroviária federal, polícias civis e polícias militares e corpos
documento de identificação pessoal e comprovante de resi- de bombeiros militares; aos integrantes das guardas muni-
dência fixa, sendo dispensado do pagamento de taxas e do cipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais
cumprimento dos três requisitos que devem ser cumpridos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes; aos agentes opera-
pelo interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido cionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do
(art. 5º, § 3º). Ressalta-se que a Lei nº 11.922, de 2009, pror- Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Ins-
rogou este prazo para o dia 31 de dezembro de 2009. Para titucional da Presidência da República e aos integrantes dos
o cumprimento dessa renovação que mencionamos aqui, o órgãos policiais da Câmara dos Deputados e Senado Federal
proprietário poderia obter no Departamento de Polícia Fede- existe o direito de portar arma de fogo de propriedade parti-
ral, certificado de registro provisório, expedido pela internet cular ou fornecida pela respectiva corporação ou instituição,
com validade de 90 (noventa) dias e revalidação pela unidade mesmo fora de serviço. Esse direito terá validade em âmbito
do Departamento de Polícia Federal do certificado de registro nacional, salvo para os integrantes das guardas municipais das
provisório pelo prazo que estimar como necessário para a capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000
emissão definitiva do certificado de registro de propriedade (quinhentos mil) habitantes que ficará adstrito ao território
(art. 5º, § 4º, I e II). dos respectivos Estados e Municípios (art. 6º, § 1º).
A autorização para o porte de arma de fogo aos agentes
Do Porte operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes
do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança
Em regra, é proibido o porte de arma de fogo em todo o Institucional da Presidência da República; aos integrantes dos
território nacional13. A exceção é com relação aos integran- órgãos policiais da Câmara dos Deputados e Senado Federal;
tes das Forças Armadas; aos integrantes da polícia federal, aos integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas pri-
polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias sionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas
civis e polícias militares e corpos de bombeiros militares; aos portuárias e aos integrantes das Carreiras de Auditoria da
integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho,
e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário condiciona-se à
habitantes14; aos integrantes das guardas municipais dos comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica
Municípios com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de para o manuseio de arma de fogo (art. 6º, § 2º).
500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço15; Já a autorização para o porte de arma de fogo das guar-
aos agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência das municipais está condicionada à formação funcional de
e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete seus integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade
de Segurança Institucional da Presidência da República; aos policial e à existência de mecanismos de fiscalização e de
integrantes dos órgãos policiais da Câmara dos Deputados controle interno, com a supervisão do Ministério da Justiça
e Senado Federal; aos integrantes do quadro efetivo dos (art. 6º, § 3º). Além disso, somente quando em serviço, será
agentes e guardas prisionais, aos integrantes das escoltas autorizado o porte de arma de fogo aos guardas municipais
de presos e as guardas portuárias; às empresas de segurança dos municípios que integrem regiões metropolitanas nos
privada e de transporte de valores constituídas, nos termos estados da Federação18 (art. 6º, § 7º).
do Estatuto do Desarmamento16 (art. 6º e incisos I a VIII). Ressalta-se, ainda, que são dispensados de demons-
A exceção também se aplica para os integrantes das enti- trar o cumprimento dos três requisitos para adquirir arma
dades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades de fogo de uso permitido os integrantes das Forças Arma-
esportivas demandem o uso de armas de fogo, nos termos do das, das polícias federais e estaduais e do Distrito Federal,
Estatuto do Desarmamento, e com observância à legislação bem como os militares dos Estados e do Distrito Federal19
ambiental; para os integrantes das Carreiras de Auditoria da (art. 6º, § 4º).
Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, O porte de arma de fogo aos maiores de 25 anos re-
cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário17 e para os sidentes em áreas rurais, que comprovem depender do
Legislação Extravagante

emprego de arma de fogo para prover sua subsistência,


11
Assunto cobrado nas seguintes provas: UESPI/PC-PI/Escrivão de Polícia Ci- será autorizado, na forma prevista no regulamento dessa
vil/2014; Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciária/2013; EJEF/
TJ-MG/Juiz/2006; FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Segurança e Trans- Lei, o porte de arma de fogo na categoria “caçador”20, de
porte/2014. uma arma de uso permitido, de tiro simples, com 1 (um) ou
12
Assunto cobrado na prova: FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Segurança
e Transporte/2014.
2 (dois) canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a
13
Assunto cobrado na prova: FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Segurança 16 (dezesseis), desde que o interessado comprove a efetiva
e Transporte/2014. necessidade em requerimento e que anexe o documento de
14
Assunto cobrado na prova: FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Segurança
e Transporte/2014.
identificação pessoal, o comprovante de residência em área
15
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Investigador/2009.
16
Assunto cobrado na prova: Cesgranrio/Bacen/Técnico do Banco Central/Área 18
Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciária/2013.
2/2010. 19
Assunto cobrado na prova: Cespe/Polícia Federal/Agente Administrativo/2014.
17
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Escrivão de Polícia Civil/2009. 20
Ejef/TJ-MG/Juiz/2006.

4
rural e atestado de bons antecedentes (art. 6º, § 5º, I, II e III). à Polícia Federal e somente será concedida após autoriza-
O caçador para subsistência que der outro uso à sua arma ção do Sinarm24. Essa autorização pode ser concedida com
de fogo, independentemente de outras tipificações penais, eficácia temporária e territorial limitada e depende da de-
responderá, conforme o caso, por porte ilegal ou por disparo monstração efetiva da necessidade por exercício de atividade
de arma de fogo de uso permitido21 (art. 6º, § 6º). profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física;
Uma das exceções à proibição do porte de arma é com além da demonstração dos requisitos para adquirir arma de
relação às empresas de segurança privada e de transporte fogo e a apresentação de propriedade de arma de fogo, bem
de valores. As armas de fogo utilizadas pelos empregados como o seu devido registro no órgão competente (art. 10, §
destas empresas serão de propriedade, responsabilidade 1º, I, II e III). Destaca-se que ocorrerá a perda automática
e guarda das respectivas empresas, somente podendo ser da eficácia dessa autorização caso o portador dela seja de-
utilizadas quando em serviço, devendo essas observar as tido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito
condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo de substâncias químicas ou alucinógenas25 (art. 10, § 2º).
órgão competente, sendo o certificado de registro e a au- Conforme o que foi dito acima, em regra a competência
torização de porte expedidos pela Polícia Federal em nome para a autorização de arma de fogo de uso permitido é da
da empresa22 (art. 7º). Essas empresas devem, ainda, apre- Polícia Federal. Ocorre que há duas exceções. A primeira é que
sentar a documentação comprobatória dos requisitos com a autorização de porte de arma para os responsáveis pela se-
relação aos empregados que portarão arma de fogo, além de gurança de cidadãos estrangeiros em visita ao Brasil ou aqui
atualizar semestralmente a listagem dos empregados junto sediados é de responsabilidade do Ministério da Justiça.26 A
ao Sinarm (art. 7º, §§ 2º e 3º). segunda exceção é que será de competência do Comando
O proprietário ou diretor responsável responderá por do Exército o registro e a concessão de porte de trânsito de
omissão de cautela, prevista no parágrafo único do art. arma de fogo para colecionadores, atiradores e caçadores e
13 do Estatuto do Desarmamento, se deixar de registrar de representantes estrangeiros em competição internacional
ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, oficial de tiro realizada no território nacional27 (art. 9º).
furto, roubo ou outras formas de extravio de armas de fogo, Haverá a cobrança de taxa pela prestação de serviços re-
acessórios e munições que estejam sob sua guarda, nas lativos ao registro de arma de fogo; à renovação de registro
primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois de ocorrido o de arma de fogo; à expedição de segunda via de registro de
fato23. Esta responsabilidade ocorre sem prejuízo das sanções arma de fogo; à expedição de porte federal de arma de fogo; à
administrativas e civis (art. 7º, § 1º). renovação de porte de arma de fogo e à expedição de segunda
Com relação às armas de fogo que são utilizadas pelos via de porte federal de arma de fogo. Esses valores destinam-
servidores dos Tribunais do Poder Judiciário e dos Ministérios -se ao custeio e à manutenção das atividades do Sinarm, da
Públicos da União e dos Estados, responsabilidade e guarda Polícia Federal e do Comando do Exército, no âmbito de suas
dessas serão das respectivas instituições, somente podendo respectivas responsabilidades. As empresas de segurança pri-
ser utilizadas quando em serviço, devendo estas observar as vada e de transporte de valores, os integrantes das entidades
condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão de desporto cujas atividades esportivas demandem o uso de
competente, sendo o certificado de registro e a autorização de armas de fogo e os tribunais do Poder Judiciário e os Minis-
porte expedidos pela Polícia Federal em nome da instituição, térios Públicos da União e dos Estados, para uso exclusivo de
independentemente do pagamento de taxa (art. 7º-A e § 1º). servidores de seus quadros pessoais que efetivamente estejam
O presidente do tribunal ou o chefe do Ministério Público no exercício de funções de segurança deverão pagar as taxas,
designará os servidores de seus quadros pessoais no exercício sendo as demais pessoas e entidades do art. 6º isentas do
de funções de segurança que poderão portar arma de fogo, pagamento (art. 11, incisos e §§ 1º e 2º).
sendo esta listagem atualizada semestralmente no Sinarm. O Ministério da Justiça é o órgão responsável por disci-
Destaca-se que deve ser observado o limite máximo de 50% plinar a forma e as condições do credenciamento de profis-
(cinquenta por cento) do número de servidores que exerçam sionais pela Polícia Federal para comprovação da aptidão
funções de segurança. O porte de arma para esses servidores psicológica e da capacidade técnica para o manuseio de arma
condiciona-se à apresentação dos documentos que compro- de fogo. O valor cobrado pelo psicólogo, na comprovação
vem o atendimento aos requisitos para adquirir arma de da aptidão psicológica, não poderá exceder ao valor médio
fogo de uso permitido, além da formação funcional em es- dos honorários profissionais para realização de avaliação
tabelecimentos de ensino de atividade policial e à existência psicológica constante do item 1.16 da tabela do Conselho
Federal de Psicologia. Já com relação à comprovação da ca-
de mecanismos de fiscalização e de controle interno. Essas
pacidade técnica, versa o Estatuto do Desarmamento que o
instituições têm a obrigação de registrar ocorrência policial
valor cobrado não poderá exceder R$ 80,00 (oitenta reais),
e comunicar à Polícia Federal eventual perda, furto, roubo
mais o valor da munição. Caso ocorra a cobrança de valores
ou outras formas de extravio de armas de fogo, acessórios
superiores, a consequência será o descredenciamento do
e munições que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24
profissional pela Polícia Federal (art. 11-A e parágrafos).
(vinte e quatro) horas depois de ocorrido o fato (art. 7º-A,
§§ 2º, 3º, 4º, 5º).
As armas de fogo utilizadas em entidades desportivas Dos Crimes e das Penas
Legislação Extravagante

legalmente constituídas devem obedecer às condições de uso


e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente. O Estatuto do Desarmamento define em seu texto sete
O possuidor ou o autorizado a portar a arma responde pela crimes:
sua guarda (art. 8º). • posse irregular de arma de fogo de uso permitido;
Em regra, a autorização para o porte de arma de fogo • omissão de cautela;
de uso permitido, em todo o território nacional, compete • porte ilegal de arma de fogo de uso permitido;
24
Assunto cobrado na prova: FCC/TRT 1ª Região (RJ)/Técnico Judiciário/Segu-
21
Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013. rança/2011.
22
Assunto cobrado na prova: Ejef/TJ-MG/Juiz/2006. 25
Assunto cobrado na prova: UESPI/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014.
23
Assunto cobrado nas seguintes provas: Movens/PC-PA/Investigador/2009; 26
Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciária/2013.
Cespe/PC-DF/Escrivão de Polícia/2013; MPE-SP/Promotor de Justiça/2006; 27
Assunto cobrado na prova: Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciá-
PC-SP/Delegado de Polícia/2011; TJ-PR/Assessor Jurídico/2012. ria/2013.

5
• disparo de arma de fogo; niciada. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº 699/
• posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito; STF – HC nº 95073, Relator(a): Min. Ellen Gracie, Relator(a)
• comércio ilegal de arma de fogo; p/ Acórdão: Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, julgado em
• tráfico internacional de arma de fogo. 19/3/2013, DJe-066, divulg. 10/4/2013, public. 11/4/2013,
EMENT VOL-02687-01 PP-00001). Neste mesmo sentido,
A posse irregular de arma de fogo de uso permitido temos o posicionamento do STJ que para a configuração do
consiste na conduta de possuir ou manter sob sua guarda tipo penal de porte ilegal de arma de fogo, é irrelevante o
arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em fato de a arma estar desmuniciada, visto se tratar de delito
desacordo com determinação legal ou regulamentar, no in- de mera conduta ou de perigo abstrato (STJ/AgRg no AREsp
terior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no 603.097/RO, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado
seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o respon- em 3/2/2015, DJe 13/2/2015).
sável legal do estabelecimento ou empresa28. A pena é de Ainda sobre o porte ilegal de arma de fogo de uso permi-
detenção de um a três anos e multa (art. 12). Então, aquele tido, destacamos que o STJ entende que é típica a conduta
que é o responsável legal pela empresa e, em desacordo do praticante de tiro desportivo que transportava a arma
com determinação legal ou regulamentar, possui arma de municiada em desacordo com a guia de tráfego que auto-
fogo de uso permitido no seu local de trabalho, comete, rizava o transporte da arma desmuniciada. (Jurisprudência
em tese, o crime de posse irregular de arma de fogo de uso noticiada no Informativo nº 540/STJ – RHC nº 34.579/RS, Rel.
permitido29 e não omissão de cautela. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado
Já a omissão de cautela ocorre quando deixar de obser- em 24/4/2014, DJe 6/5/2014).
var as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 O disparo de arma de fogo ocorre mediante a conduta
(dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental de disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habi-
se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou tado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção
que seja de sua propriedade30, sujeito à pena de detenção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade
de um a dois anos e multa (art. 13). Incorrerá no crime de a prática de outro crime36. No parágrafo único do art. 15,
omissão de cautela, nas mesmas penas, o proprietário ou também há previsão de que seria delito inafiançável, po-
diretor responsável de empresa de segurança e transporte rém, este parágrafo também foi julgado inconstitucional
de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de na ADIN 3.112-137. A previsão de pena é de reclusão de 2 a
comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras 4 anos e multa (art. 15 e parágrafo único).
formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição O delito de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) restrito ocorre com a conduta de possuir, deter, portar, ad-
horas depois de ocorrido o fato31 (art. 13, parágrafo único). quirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,
O porte ilegal de arma de fogo de uso permitido é a ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar,
conduta de portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório
em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e
emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocul- em desacordo com determinação legal ou regulamentar38,
tar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, com pena de reclusão de 3 a 6 anos e multa. Nas mesmas
sem autorização e em desacordo com determinação legal penas incorrerá quem suprimir ou alterar marca, numeração
ou regulamentar32. Há a previsão no texto legal, no pará- ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou arte-
grafo único do art. 14, de que este crime é inafiançável, fato; modificar as características de arma de fogo, de forma
salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou
do agente. Entretanto, o STF julgou inconstitucional o que restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir
consta no parágrafo único, conforme a ADIN 3.112-133. Feita a erro autoridade policial, perito ou juiz; possuir, detiver,
esta ressalva, a pena para o delito aqui é de reclusão de 2 a fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem
4 anos e multa34 (art. 14 e parágrafo único). Tem-se, ainda, autorização ou em desacordo com determinação legal ou re-
que em caso de porte ilegal de munição, a ausência de po- gulamentar; portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer
tencialidade lesiva, vez que a munição não pode ser usada arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro
sozinha, configura o crime, por ser ele de mera conduta35. sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado39;
Ressalta-se que, segundo o STF, o tipo penal do art. 14 vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma
da Lei n° 10.826/2003, ao prever as condutas de portar, de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou ado-
lescente; e produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização
deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transpor-
legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
tar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
Ressalta-se que o crime de posse ou porte ilegal de arma de
empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo,
fogo de uso restrito é classificado como de perigo abstrato40
acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização
(art. 16 e parágrafo único).
e em desacordo com determinação legal e regulamentar,
Destacamos aqui que é típica a conduta de possuir arma
contempla crime de mera conduta, sendo suficiente a ação
de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qual-
de portar ilegalmente a arma de fogo, ainda que desmu-
Legislação Extravagante

quer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou


28
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Investigador/2009. adulterado, praticada após 23/10/2005, pois, em relação
29
Vunesp/MPE-SP/Analista de Promotoria I/2010. a esse delito, a abolitio criminis temporária cessou nessa
30
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fumarc/PM-MG/Oficial da Polícia data, termo final da prorrogação dos prazos previstos na
Militar/2011; UFPR/DPE-PR/Defensor Público/2014.
31
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fumarc/PM-MG/Oficial da Polícia redação original dos arts. 30 e 32 da Lei nº 10.826/2003. A
Militar/2011; Cespe/Polícia Federal/Agente da Polícia Federal/2012; PC-SP/
Delegado de Polícia/2011; Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal/2013; IBFC/PC-RJ/ 36
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Polícia Federal/Agente Admi-
Oficial de Cartório/2013; Cespe/PM-CE/Oficial da Polícia Militar/2014. nistrativo/2014; TJ-PR/Assessor Jurídico/2012.
32
Assunto cobrado nas seguintes provas: Movens/PC-PA/Investigador/2009; 37
Assunto cobrado na prova: Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil de 1a
Cespe/PC-DF/Escrivão de Polícia/2013; MPE-SP/Promotor de Justiça/2006; Classe/2015.
PC-SP/Delegado de Polícia/2011; TJ-PR/Assessor Jurídico/2012. 38
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-RS/Secretário de Diligên-
33
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013. cias/2010; Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe/2015.
34
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-AL/Agente de Polícia/2012. 39
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013.
35
COMVEST/UEPB/PM-PB/Soldado da Polícia Militar/2008. 40
Officium/TJ-RS/Juiz/2012.

6
nova redação do art. 32 da Lei nº 10.826/2003, trazida pela insuscetíveis de liberdade provisória (art. 21). Ocorre que
Lei nº 11.706/2008, não mais suspendeu, temporariamente, o STF, na já mencionada aqui ADIN nº 3.112-1, declarou
a vigência da norma incriminadora ou instaurou uma abo- inconstitucional essa vedação da lei47.
litio criminis temporária – conforme operado pelo art. 30
da mesma lei –, mas instituiu uma causa permanente de ex- Disposições Gerais
clusão da punibilidade, consistente na entrega espontânea
da arma. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº 519/ O Estatuto do Desarmamento traz algumas disposições
STJ – REsp 1311408/RN, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, gerais sobre a matéria de seu texto. Entre elas, está a possi-
Terceira Seção, julgado em 13/3/2013, DJe 20/5/2013). Ade- bilidade de o Ministério da Justiça celebrar convênios para
mais, o porte de arma de fogo com numeração raspada, o cumprimento do que é previsto neste Estatuto (art. 22).
previsto no parágrafo único, inciso IV, do art. 16, refere-se Traz, também, que serão disciplinadas, em ato do chefe
tanto à arma de fogo de uso permitido como à arma de do Poder Executivo Federal, mediante proposta do Coman-
fogo de uso proibido/restrito41. do do Exército a classificação legal, técnica e geral bem como
Uma observação importante aqui é com relação aos de- a definição das armas de fogo e demais produtos controla-
litos dos arts. 12, 14 e 16 do Estatuto do Desarmamento. dos, de usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos
O STJ posiciona-se no sentido de que para a caracterização e de valor histórico48 (art. 23).
desses delitos não é necessário que a arma seja apreendida e Todas as munições comercializadas no País deverão estar
periciada, uma vez que são crimes de perigo abstrato. Ocorre acondicionadas em embalagens com sistema de código de
que, uma vez apreendidas e periciadas, se ficar demonstra- barras, gravado na caixa, visando possibilitar a identificação
do que a arma é totalmente inapta a realizar disparos, não do fabricante e do adquirente, além de outras informações
estará caracterizado o crime, desde que desmuniciada. (Ju- definidas no regulamento do Estatuto do Desarmamento
risprudência noticiada no Informativo nº 544 STJ – AgRg no (art. 23, § 1º). Observa-se que, para os órgãos mencionados
AREsp 397.473/DF, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Quinta como exceção à regra da proibição de porte de arma de fogo
Turma, julgado em 19/8/2014, DJe 25/8/2014). no território nacional (art. 6º), somente serão expedidas au-
O comércio ilegal de arma de fogo é a conduta de ad- torizações de compra de munição com identificação do lote
quirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em e do adquirente no culote dos projéteis (art. 23, §§ 1º e 2º).
As armas de fogo que forem fabricadas a partir de um
depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender,
ano da data de publicação deste Estatuto, ou seja, a partir
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito
de 22 de dezembro de 2003, conterão dispositivo intrínseco
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou de segurança e de identificação, gravado no corpo da arma,
industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem auto- definido pelo regulamento desta Lei, exclusive para os órgãos
rização ou em desacordo com determinação legal ou regu- previstos no art. 6o (art. 23, § 3º). Ademais, é possível que
lamentar42. Será equiparada à atividade comercial ou indus- as instituições de ensino policial e as guardas municipais
trial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação adquiram insumos e máquinas de recarga de munição para
de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, o fim exclusivo de suprimento de suas atividades, mediante
inclusive o exercido em residência. A pena prevista para este autorização concedida nos termos definidos em regulamento
delito é de 4 a 8 anos e multa (art. 17 e parágrafo único). (art. 23, § 4º).
Por fim, tem-se o crime de tráfico internacional de Excetuadas as atribuições do Sinarm, é de competência
arma de fogo que é importar, exportar, favorecer a entrada do Comando do Exército autorizar e fiscalizar a produção,
ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma exportação, importação, desembaraço alfandegário e o co-
de fogo, acessório ou munição, sem autorização da auto- mércio de armas de fogo e demais produtos controlados,
ridade competente, com pena de reclusão de 4 a 8 anos e inclusive o registro e o porte de trânsito de arma de fogo de
multa43 (art. 18). colecionadores, atiradores e caçadores (art. 24).
Em havendo a utilização de armas de fogo, acessórios As armas de fogo que forem apreendidas, após a elabo-
ou munições de uso proibido ou restrito, terá a pena au- ração do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando não
mentada da metade o crime de comércio ilegal de arma mais interessarem à persecução penal serão encaminhadas
de fogo44 e tráfico internacional de arma de fogo (art. 19). A pelo juiz competente ao Comando do Exército, no prazo máxi-
pena também será aumentada da metade, com relação aos mo de 48 (quarenta e oito) horas, para destruição ou doação
crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, aos órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas, na
disparo de arma de fogo, posse ou porte ilegal de arma forma do regulamento (art. 25). As que receberam parecer
de fogo de uso restrito, comércio ilegal de arma de fogo e favorável à doação, obedecidos o padrão e a dotação de
tráfico internacional caso esses delitos sejam praticados por cada Força Armada ou órgão de segurança pública, atendidos
integrantes dos órgãos que mencionamos como exceções à os critérios de prioridade estabelecidos pelo Ministério da
proibição do porte de arma45 (art. 6º), além de os integran- Justiça e ouvido o Comando do Exército, serão arroladas em
tes empregados das empresas de segurança privada e de relatório reservado trimestral a ser encaminhado àquelas
transporte de valores e com uso de armas de fogo utilizadas instituições, abrindo-se-lhes prazo para manifestação de in-
em entidades desportivas46 (art. 20). teresse (art. 25, § 1º). A relação das armas a serem doadas
Ressalta-se aqui que no texto do Estatuto do Desarma- será enviada pelo Comando do Exército ao juiz competen-
Legislação Extravagante

mento há a previsão de que os crimes de posse ou porte te, que determinará o perdimento em favor da instituição
beneficiada (art. 25, § 2º). O transporte das armas doadas
ilegal de arma de fogo de uso restrito, o comércio ilegal de
será de responsabilidade da instituição beneficiada, que
arma de fogo e o tráfico internacional de arma de fogo são deverá proceder ao cadastramento no Sinarm (armas de uso
41
Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe/2015. permitido) ou no Sigma (armas de uso restrito), conforme
42
Assunto cobrado nas seguintes provas: PC-SP/Delegado de Polícia/2011; TJ-PR/ o caso49 (art. 25, § 3º).
Assessor Jurídico/2012.
43
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-SP/Promotor de Justiça/2006;
PC-SP/Delegado de Polícia/2011; TJ-PR/Assessor Jurídico/2012. 47
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013;
44
FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Segurança e Transporte/2014. UFPR/DPE-PR/Defensor Público/2014.
45
Assunto cobrado na prova: Cespe/TJ-RO/Analista Judiciário/Oficial de Justi- 48
Assunto cobrado na prova: FCC/TRT 1ª Região (RJ)/Técnico Judiciário/ Segu-
ça/2012. rança/2011; PC-SP/Delegado de Polícia/2011.
46
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-PI/Promotor de Justi- 49
Assunto cobrado na prova: Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciá-
ça/2012; Cespe/DPE-RR/Defensor Público/2013. ria/2013.

7
Há a disposição para que o Poder Judiciário institua ins- no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro
trumentos para o encaminhamento ao Sinarm ou ao Sigma, provisório, expedido na forma do § 4º do art. 5º desta Lei
conforme se trate de arma de uso permitido ou de uso res- (parágrafo único do art. 30). Destaca-se que a abolitio cri-
trito, semestralmente, da relação de armas acauteladas em minis temporária prevista na Lei nº 10.826/2003 aplica-se
juízo, mencionando suas características e o local onde se ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido com
encontram (art. 25, § 5º). numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação
Ressalta-se que, pelo Estatuto do Desarmamento, são raspado, suprimido ou adulterado, praticado somente até
vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a im- 23/10/2005 (Súmula nº 513, STJ). Ainda sobre a abolitio
portação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas criminis, a jurisprudencia do STJ é pacífica no sentido de
de fogo, que com estas se possam confundir. A exceção ser atípica a conduta de possuir arma de fogo ou munição,
à vedação fica com relação às réplicas e aos simulacros seja de uso permitido ou restrito, sem autorização ou em
destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de desconformidade com determinação legal ou regulamentar,
usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando no período abrangido pela abolitio criminis temporária pre-
do Exército50 (art. 26 e parágrafo único). Destacamos aqui vista no art. 30 da Lei nº 10.826/2003, cujo prazo de entrega
que, para efeito de tipificação dos crimes do Estatuto do foi prorrogado pelas Leis nº 10.884/2004, 11.118/2005 e
Desarmamento, as réplicas e simulacros de armas de fogo 11.191/2005, permitindo a devolução das armas e munições
nunca se equiparam às armas de fogo51. até 23 de outubro de 2005. (Jurisprudência noticiada no
Caberá ao Comando do Exército autorizar, excepcio- Informativo nº 506/STJ – HC nº 187.023/MS, Rel. Ministro
nalmente, a aquisição de armas de fogo de uso restrito52. Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 9/10/2012,
Entretanto, isso não se aplica às aquisições dos Comandos DJe 17/10/2012).
Militares (art. 27 e parágrafo único). O Estatuto prevê que os possuidores e proprietários de
Nos termos do Estatuto do Desarmamento é vedado armas de fogo adquiridas regularmente poderão, a qualquer
ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo, tempo, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e inde-
ressalvados os integrantes das Forças Armadas; os inte- nização (art. 31). Além disso, poderão entregar a arma de
grantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. fogo, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se
144 da Constituição Federal; os integrantes das guardas de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento,
municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular
mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições da referida arma54 (art. 32). Sobre o assunto, é pacífico no STF
estabelecidas no regulamento desta Lei; os agentes ope- que a conduta de posse de arma de fogo com numeração
racionais da Agência Brasileira de Inteligência; os agentes raspada não está abrangida pela vacatio legis prevista nos
do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança arts. 30 a 32 da Lei 10.826/200355.
Institucional da Presidência da República; os integrantes Há, ainda, previsão de multa de R$ 100.000,00 (cem mil
dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, reais) a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), conforme espe-
XIII, da Constituição Federal; os integrantes do quadro efe- cificar o regulamento desta Lei, à empresa de transporte aé-
tivo dos agentes e guardas prisionais; os integrantes das reo, rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial ou lacustre que
escoltas de presos; as guardas portuárias; e os integrantes deliberadamente, por qualquer meio, faça, promova, facilite
das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e ou permita o transporte de arma ou munição sem a devida
de Auditoria- Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal autorização ou com inobservância das normas de seguran-
e Analista Tributário53 (art. 28). ça e também será aplicada multa à empresa de produção
As autorizações de porte de armas de fogo já concedidas ou comércio de armamentos que realize publicidade para
expirar-se-ão 90 (noventa) dias após a publicação do Estatuto venda, estimulando o uso indiscriminado de armas de fogo,
do Desarmamento. Poderá o detentor de autorização com exceto nas publicações especializadas56 (art. 33 e incisos).
prazo de validade superior a 90 (noventa) dias renová-la, Por fim, os promotores de eventos em locais fechados,
perante a Polícia Federal, no prazo de 90 dias após a publi- com aglomeração superior a mil pessoas, adotarão, sob pena
cação, sem ônus para o requerente (art. 29). de responsabilidade, as providências necessárias para evi-
Com relação aos possuidores e proprietários de arma tar o ingresso de pessoas armadas, ressalvados os eventos
de fogo de uso permitido ainda não registrada, deverão garantidos pelo inciso VI do art. 5o da Constituição Federal
solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2009, (art. 34 e parágrafo único).
mediante apresentação de documento de identificação
pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados Disposições Finais
de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita
da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou Pelas disposições finais, é proibida a comercialização
declaração firmada na qual constem as características da de arma de fogo e munição em todo o território nacional57,
arma e a sua condição de proprietário, ficando este dis- salvo para as entidades previstas no art. 6º, que já listamos
pensado do pagamento de taxas e do cumprimento das quando tratamos do capítulo “Do porte”. Entretanto, essa ve-
Legislação Extravagante

demais exigências (art. 30). Ressalta-se aqui que o prazo dação dependia de aprovação mediante referendo popular,
previsto no Estatuto para solicitar o registro é até o dia 31 que ocorreu em outubro de 2005. A pergunta do referendo
de dezembro de 2008. A Lei nº 11.922 é que prorrogou para foi “o comércio de armas de fogo e munição deve ser proi-
31 de dezembro de 2009. bido no Brasil?” e a resposta vencedora foi “não”. Como não
Para cumprir a exigência de registro das armas ainda não houve aprovação do referendo, a proibição não entrou em
registradas, o proprietário de arma de fogo poderá obter, vigor (art. 35, §§ 1º e 2º).

50
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013; 54
Assunto cobrado na prova: OFFICIUM /TJ-RS/Juiz/2012.
Officium/TJ-RS/Juiz/2012. 55
STF/HC nº 117206, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, julgado em
51
UFPR/DPE-PR/Defensor Público/2014. 5/11/2013, Processo Eletrônico DJe-228 divulg 19/11/2013 public 20/11/2013.
52
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Escrivão de Polícia Civil/2009. 56
Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009.
53
TJ-PR/Juiz/2010; Cespe/TJ-RO/Analista Judiciário/Oficial de Justiça/2012. 57
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Investigador/2009.

8
Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/1990) Também se considera crime hediondo o crime de geno-
cídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de
A Lei nº 8.072, publicada em 25 de julho de 1990, dispõe outubro de 1956, tentado ou consumado69 (art. 1º, parágrafo
sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, único). Importante destacar aqui que este rol de crimes he-
da Constituição Federal, e determina outras providências. diondos trata-se de rol taxativo70. Além disso, o critério ado-
Esta lei entrou em vigor na data de sua publicação. tado de definição é o legal71. Isto significa que será crime he-
diondo aquele crime que estiver na letra da Lei nº 8.072/1990.
Dos Crimes Hediondos Sobre os crimes hediondos, destacamos que por in-
compatibilidade axiológica e por falta de previsão legal, o
São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipi- homicídio qualificado-privilegiado não integra o rol dos de-
ficados no Código Penal, consumados ou tentados58: homicídio nominados crimes hediondos. (STJ – HC nº 153.728/SP, Rel.
(art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 13/4/2010,
extermínio, ainda que cometido por um só agente59, e homicí- DJe 31/5/2010). Outra informação importante é que, no que
dio qualificado60 (art. 121, § 2º, I, II, III, IV e V); ; lesão corporal concerne aos crimes hediondos e equiparados, não pode
dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º) e lesão corporal ser classificado como de tal natureza a extorsão qualificada
seguida de morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra au- pela lesão grave72. Isto porque a extorsão qualificada que é
toridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição crime hediondo é aquela qualificada pela morte da vítima.
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Destaca-se que o Superior Tribunal de Justiça tem o en-
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência tendimento de que o delito de atentado violento ao pudor
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consan- praticado antes da vigência da Lei nº 12.015/2009, ainda que
guíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; latrocínio61 na sua forma simples e com violência presumida, configura
(art. 157, § 3º, in fine); extorsão qualificada pela morte62 (art. crime hediondo. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº
158, § 2º); extorsão mediante sequestro e na forma qualifica- 519 do STJ – AgRg no HC nº 250.451/MG, Rel. Ministro Jorge
da63 (art. 159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º); estupro64 (art. 213, caput Mussi, Quinta Turma, julgado em 19/3/2013, DJe 25/3/2013).
e §§ 1º e 2º); estupro de vulnerável65 (art. 217-A, caput e §§ 1º,
2º, 3º e 4º); epidemia com resultado morte66 (art. 267, § 1º); Disposições sobre os Crimes Hediondos e os
falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais67 (art. 273, caput Equiparados
e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a redação dada pela Lei nº 9.677,
de 2 de julho de 1998); favorecimento da prostituição ou de Destaca-se que os crimes hediondos, a prática da tor-
outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente tura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
ou de vulnerável68 (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). (Artigo 1º, terrorismo são insuscetíveis de anistia, graça e indulto; e
incisos I a VIII). fiança73 (art. 2º, incisos I e II). Existe previsão constitucional,
no art. 5º, inciso XLIII, que versa que a lei considerará crimes
58
Assunto cobrado nas seguintes provas: Copese/UFT/DPE-TO/Analista em Gestão
inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática
Especializado/Ciências Jurídicas/2012; MPE-RS/Assessor/2011; Funcab/PM-GO/ da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
Soldado da Polícia Militar/2010; Cespe/CBM-DF/Advogado/2007. o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
59
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/Susam/Advogado/2014; IBFC/MPE-SP/
Analista de Promotoria I/2013; Instituto Cidades/DPE-GO/Defensor Público/2010;
eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
TJ-SC/Juiz/2010; Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciária/2008. podendo evitá-los, se omitirem74.
60
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/Papiloscopista Policial de Sobre o indulto, o STF entende que os crimes hediondos
3ª Classe/2014; Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013; Vunesp/DPE-MS/
Defensor Público/2012; Instituto Cidades/DPE-GO/Defensor Público/2010; e os equiparados são insuscetíveis ao indulto, não sendo
PC-SP/Escrivão de Polícia Civil/2010; Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área possível ser concedido nem mesmo o indulto humanitário.
Judiciária/2008; PC-SP/Delegado de Polícia/2011. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº 745/STF – HC nº
61
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/Papiloscopista Policial de 3ª
Classe/2014; IOBV/PM-SC/Soldado da Polícia Militar/2013; Funcab/PC-ES/Perito 118213, Relator(a): Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma,
em Telecomunicação/2013; FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciário/Execução de julgado em 6/5/2014, Processo Eletrônico DJe-149, divulg.
Mandados/2012; Vunesp/TJ-SP/Titular de Serviços de Notas e de Registros/Critério
Remoção/2011; Instituto Cidades/DPE-GO/Defensor Público/2010; PC-SP/Escrivão
1/8/2014, public. 4/8/2014).
de Polícia Civil/2010; Funcab/PC-RO/Agente de Polícia/2009. Importante ressaltar aqui que a prática da tortura, o
62
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/TRE-PA/Técnico Judiciário/Segu- tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo
rança Judiciária/2011; Funcab/PC-RO/Agente de Polícia/2009.
63
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-CE/Analista Judiciário/Execu- não são crimes hediondos. Estes crimes são, na verdade,
ção de Mandados/2014; FGV/AL-MT/Procurador/2013; Funcab/PC-ES/Perito equiparados aos crimes hediondos. Ou seja, devem receber
em Telecomunicação/2013; Cespe/TJ-RO/Técnico Judiciário/2012; FCC/TJ-PE/ o mesmo tratamento que os crimes hediondos, mas com
Juiz/2011; Vunesp/TJ-SP/Titular de Serviços de Notas e de Registros/Critério
Remoção/2011; PC-SP/Escrivão de Polícia Civil/2010; FCC/TRF 5ª Região/Analista eles não se confundem75.
Judiciário/Área Judiciária/2008; PC-SP/Delegado de Polícia/2011.
64
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-CE/Analista Judiciário/Área Ju-
diciária/2014; FGV/AL-MT /Procurador/2013; IOBV/PM-SC/Soldado da Polícia
69
Assunto cobrado nas seguintes provas: CAIP-IMES/Câmara Municipal de São
Militar/2013; Funcab/PC-ES/Perito em Telecomunicação/2013; Vunesp/TJ-SP/ Caetano do Sul-SP/Procurador/2012; PC-SP/Escrivão de Polícia Civil/2010; PC-
Titular de Serviços de Notas e de Registros/Critério Remoção/2011; PC-SP/ -SP/Delegado de Polícia/2011.
Escrivão de Polícia Civil/2010; PC-SP/Delegado de Polícia/2011. 70
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia
65
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/DPE-MS/Defensor Públi- Civil de 1ª Classe/2015; Cespe/CNJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2013;
co/2012; FCC/TRF 5ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2012; Cespe/ MPE-PR/Promotor de Justiça/2008.
Legislação Extravagante

DPE-PI/Defensor Público/2009; PC-SP/Delegado de Polícia/2011. 71


Assunto cobrado nas seguintes provas: UEG/PM-GO/Cadete da Polícia Mili-
66
Assunto cobrado nas seguintes provas: IOBV/PM-SC/Soldado da Polícia Mili- tar/2013; MPE-PR/Promotor de Justiça/2008; Cespe/TJ-RR/Analista Judiciário/
tar/2013; Funcab/PC-ES/Perito em Telecomunicação/2013; CAIP-IMES/Câmara Área Judiciária/2006.
Municipal de São Caetano do Sul-SP/Procurador/2012; FCC/TRF 5ª Região/Analista 72
FCC/TJ-PE/Juiz/2011.
Judiciário/Área Judiciária/2012; FGV/TRE-PA/Técnico Judiciário/Segurança Judi- 73
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-CE/Analista Judiciário/Execu-
ciária/2011; Funcab/PM-GO/Soldado da Polícia Militar/2010; PC-SP/Escrivão de ção de Mandados/2014; IBFC/MPE-SP/Analista de Promotoria I/2013; Cespe/
Polícia Civil/2010; Funcab/PC-RO/Agente de Polícia/2009; Vunesp/DPE-MS/De- Sefaz-ES/Auditor Fiscal da Receita Estadual/2013; TRF 3ª Região/TRF 3ª Região/
fensor Público/2008; FCC/TRF 5ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2008. Juiz Federal/2013; FAURGS/TJ-RS/Analista Judiciário/2012; MPE-RS/Assessor/
67
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/AL-MT/Procurador/2013; Funiver-
sa/PM-DF/Soldado da Polícia Militar/Combatente/2013; MPE-SC/Promotor de Direito/2011; FCC/MPE-RS/Secretário de Diligências/2010; Cespe/MPU/Técnico
Justiça/2013; Vunesp/DPE-MS/Defensor Público/2012; FCC/TRF 5ª Região/ de Apoio Especializado/Segurança/2010; Cespe/MPU/Técnico de Apoio Especia-
Analista Judiciário/Área Judiciária/2012; Instituto Cidades/DPE-GO/Defensor lizado/Transporte/2010; TJ-SC/Técnico Judiciário/Auxiliar/2010; Funcab/PM-GO/
Público/2010; Cespe/MPU/Técnico de Apoio Especializado/Transporte/2010; Soldado da Polícia Militar/2010; Cespe/Polícia Federal/Escrivão da Polícia Federal/
PC-SP/Escrivão de Polícia Civil/2010; Funcab/PC-RO/Agente de Polícia/2009; Regional/2004; Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009.
PC-SP/Delegado de Polícia/2011. 74
Assunto cobrado na prova: Fumarc/Cemig-Telecom/Advogado Júnior/2010.
68
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Papiloscopista Policial de 3ª Classe/2014. 75
Assunto cobrado nas seguintes provas: Instituto Cidades/DPE-GO/Defensor

9
Anote-se aqui que é pacífico na jurisprudência que o Caso ocorra a sentença condenatória, o juiz decidirá
crime de associação para o tráfico não é equiparado aos cri- fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade84
mes hediondos. (STJ – HC nº 123.945/RJ, Rel. Ministro Jorge (art. 2º, § 3º).
Mussi, Quinta Turma, julgado em 6/9/2011, DJe 4/10/2011). Sobre o livramento condicional, existe previsão no Códi-
A lei prevê que a pena para estes crimes será cumprida go Penal, que o juiz pode concedê-lo ao condenado a pena
inicialmente em regime fechado76 (art. 2º, § 1º). Entretan- privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, des-
to, esta previsão já foi declarada inconstitucional pelo STF de que cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de
no julgamento do HC nº 111.84077. (STF – HC nº 111840, condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico
Relator(a): Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o
27/6/2012, Processo Eletrônico DJe-249, divulg. 16/12/2013, apenado não for reincidente específico em crimes dessa
public. 17/12/2013). Desde que o STF declarou incidental- natureza85. Isto está previsto no art. 83, V, do Código Penal.
mente a inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei nº
8.072/1990 (“A pena por crime previsto neste artigo [crime Da Prisão Temporária
hediondo] será cumprida inicialmente em regime fechado”),
não é mais obrigatória a fixação do regime inicial fechado A prisão temporária, nos casos de crimes hediondos e
equiparados, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável
para o condenado pelo crime de tráfico de entorpecentes,
por igual período em caso de extrema e comprovada ne-
podendo a pena privativa de liberdade ser substituída por cessidade86 (art. 2º, § 4º).
restritivas de direitos quando o réu for primário e sem an-
tecedentes e não ficar provado que ele se dedique ao crime
ou esteja envolvido com organização criminosa78. Assim, o
Dos Estabelecimentos Penais
condenado pela prática de crime hediondo ou assemelhado A União manterá estabelecimentos penais, de segurança
pode iniciar o cumprimento da pena privativa de liberdade máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a
em regime mais brando do que o fechado79. condenados de alta periculosidade, cuja permanência em
Ademais, é irrelevante a existência, ou não, de funda- presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade
mentação cautelar para a prisão em flagrante por crimes pública (art. 3º).
hediondos ou equiparados80.
Das Penas
Da Progressão do Regime
A lei de crimes hediondos prevê que será de três a 6 (seis)
Além disso, a progressão de regime ocorrerá após o cum- anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal,
primento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura,
primário, e de 3/5 (três quintos), se for reincidente81 (art. 2º, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo
§ 2º). Entretanto, ressaltamos a existência da Súmula nº 471, (art. 8º). Ressalta-se que o participante e o associado que
do STJ, que versa que os condenados por crimes hediondos denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibili-
ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei nº tando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um
11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei nº a dois terços87 (art. 8º, parágrafo único).
7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de Prevê, ainda, que as penas fixadas no art. 6º para os crimes
regime prisional. Ou seja, se sujeitarão ao cumprimento de capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§
1º, 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput
1/6 (um sexto) da pena82.
e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e
Registra-se, de acordo com a Súmula Vinculante nº 26,
parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de meta-
que para efeito de progressão de regime no cumprimento de, respeitado o limite superior de 30 (trinta) anos de reclusão,
de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da exe- estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224
cução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei também do Código Penal (art. 9º). Entretanto, a causa especial
nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar de aumento de pena prevista na lei de crimes hediondos, com
se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e acréscimo de metade da pena, respeitado o limite superior de
subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de 30 (trinta) anos de reclusão, foi revogada em relação ao crime
modo fundamentado, a realização de exame criminológico83. de estupro de vulnerável88. Isto porque com o advento da Lei
nº 12.015/2009, que deu novo tratamento aos denominados
Público/2010; Cespe/Sejus-ES/Agente Penitenciário/2009; Vunesp/DPE-MS/ “Crimes contra a Dignidade Sexual”, caiu por terra a causa de
Defensor Público/2008; Cespe/Polícia Federal/Escrivão da Polícia Federal/Na-
cional/2004; Cespe/Polícia Federal/Agente Federal da Polícia Federal/2000.
aumento prevista no art. 9º da Lei nº 8.072/1990, devendo
76
Assunto cobrado na prova: TJ-SC/Juiz/2009. ser aplicado ao condenado por estupro ou atentado violento
77
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil ao pudor praticados mediante violência ou grave ameaça a
de 1ª Classe/2015; Vunesp/MPE-SP/Analista de Promotoria I/2010; Cespe/ menor de 14 (quatorze) anos o preceito secundário do art. 217-
PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009.
78
Cespe/PG-DF/Procurador/2013; Cespe/Segesp-AL/Papiloscopista/2013; Cespe/ A do Código Penal. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº
MPE-PI/Promotor de Justiça/2012; FCC/TJ-PE/Juiz/2011; Cespe/OAB-SP/Exame 504/STJ – HC nº 107.949/SP, Rel. Ministro OG Fernandes, Sexta
de Ordem/2008; Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciária/2008. Turma, julgado em 18/9/2012, DJe 1º/10/2012).
Legislação Extravagante

79
FGV/Susam/Advogado/2014; IBFC/MPE-SP/Analista de Promotoria I/2013; Cespe/
TJ-RR/Analista/Processual/2012; MPE-RS/Assessor/2011; FCC/TJ-PE/Juiz/2011.
80
Cespe/PC-ES/Escrivão de Polícia/Específicos/2011. Procurador/2010.
81
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil 84
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-RS/Secretário de Diligên-
de 1ª Classe/2015; Cespe/TJ-SE/Analista Judiciário/2014; FGV/Susam/Advoga- cias/2010; Vunesp/MPE-SP/Analista de Promotoria I/2010; Cespe/OAB-SP/
do/2014; Cespe/TJ-CE/Analista Judiciário/Área Judiciária/2014; IBFC/MPE-SP/ Exame de Ordem/2008.
Analista de Promotoria I/2013; Cespe/Depen/Agente Penitenciário/2013; Cespe/ 85
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-CE/Analista Judiciário/Exe-
PC-BA/Delegado de Polícia/2013; PUC-PR/TJ-RO/Juiz/2011; Cespe/TJ-ES/Analista cução de Mandados/2014; MPE-RS/Assessor/2011; FCC/TJ-PE/Juiz/2011.
Judiciário/Área Judiciária/2011; Instituto Cidades/DPE-GO/Defensor Público/2010; 86
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/MPE-SP/Analista de Promotoria
Funcab/PM-GO/Soldado da Polícia Militar/2010; Cespe/OAB/Exame de Or- I/2013; FCC/MPE-RS/Secretário de Diligências/2010; Vunesp/MPE-SP/Analista
dem/2009; Movens/PC-PA/Delegado de Polícia/2009; TJ-SC/Juiz/2009; Cespe/ de Promotoria I/2010; Cespe/OAB-SP/Exame de Ordem/2008; Cespe/TJ-RR/
OAB-SP/Exame de Ordem/2008; Cespe/IPAJM/Advogado/2006. Analista Judiciário/Área Judiciária/2006.
82
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ-CE/Juiz/2014; FGV/AL-MT/Pro- 87
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/PC-SP/Investigador de Polí-
curador/2013; Cespe/DPE-DF/Defensor Público/2013; Cespe/TJ-ES/Analista cia/2014; FCC/MPE-RS/Secretário de Diligências/2010; Cespe/PC-RN/Escrivão
Judiciário/Área Judiciária/2011. de Polícia Civil/2009.
83
Cespe/TJ-CE/Analista Judiciário/Execução de Mandados/2014; Cespe/TCE-BA/ 88
Cespe/DPE-BA/Defensor Público/2010.

10
Crimes Resultantes de Preconceitos Recusar, negar, impedir inscrição ou ingresso em
de Raça OU de Cor estabelecimento de ensino público ou particular
(Lei nº 7.716/1989 e alterações) Também é crime a conduta de recusar, negar ou impe-
dir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de
A Lei nº 7.716/1989 define os crimes resultantes de pre- ensino público ou privado de qualquer grau98, com pena de
conceito de raça ou de cor e entrou em vigor na data de sua reclusão de 3 (três) a 5 (cinco) anos (art. 6º). Caso este crime
publicação, no dia 5 de janeiro de 1989 (art. 21). seja praticado contra menor de 18 (dezoito) anos a pena é
O referido diploma legal versa que serão punidos, na agravada de 1/3 (um terço)99 (art. 6º, parágrafo único).
forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência na- Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel,
cional89 (art. 1º). Atente-se que só se enquadrará nesta lei em pensão, estalagem ou qualquer estabelecimento similar
questão se forem condutas de discriminação ou preconceito
conforme listado aqui. A Lei nº 7.716/1989, que define os Há a conduta de impedir o acesso ou recusar hospedagem
crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, não prevê em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento
figuras típicas que incriminem o preconceito em razão de similar100, com pena de reclusão de 3 (três) a 5 (cinco) anos101
sexo, estado civil e opção sexual90. (art. 7º).
Dos Crimes Impedir o acesso ou recusar atendimento em
restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes
Ao longo de 13 artigos são previstos os tipos penais que abertos ao público
esta lei define.
A conduta de impedir o acesso ou recusar atendimento
Impedir ou obstar acesso a cargo na administração em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes
direta ou indireta abertos ao público102, tem pena de reclusão de 1 (um) a 3
(três) anos (art. 8º).
É crime impedir ou obstar o acesso de alguém, devida-
mente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta Impedir o acesso ou recusar atendimento em
ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços pú- estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou
blicos91, sob pena de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos (art. clubes sociais abertos ao público
3º). Incorrerá nas mesmas penas quem, por motivo de discri-
minação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, Outro crime é o de impedir o acesso ou recusar atendi-
obstar a promoção funcional92 (parágrafo único, art. 3º). mento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões,
ou clubes sociais abertos ao público103, com pena de reclusão
Negar ou obstar emprego na empresa privada de 1 (um) a 3 (três) anos (art. 9º). Sobre este, o STJ tem pre-
cedente de que a recusa de admissão no quadro associativo
Outro crime é a conduta de negar ou obstar emprego em de clube social, em razão de preconceito de raça ou de cor,
empresa privada93, com previsão de pena de reclusão de 2 caracteriza o tipo inserto no art. 9º da Lei nº 7.716/1989, en-
(dois) a 5 (cinco) anos94 (art. 4º). Incorrerá nas mesmas penas quanto modo da conduta impedir, que lhe integra o núcleo. A
quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas faculdade, estatutariamente atribuída à diretoria, de recusar
resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional propostas de admissão em clubes sociais, sem declinação dos
ou étnica, deixar de conceder os equipamentos necessários ao motivos, não lhe atribui a natureza especial de fechado, de
empregado em igualdade de condições com os demais traba- maneira a subtraí-lo da incidência da lei104. (Jurisprudência do
lhadores95; impedir a ascensão funcional do empregado ou STJ – RHC nº 12.809/MG, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido,
obstar outra forma de benefício profissional96; proporcionar ao Sexta Turma, julgado em 22/3/2005, DJ 11/4/2005, p. 381).
empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho,
especialmente quanto ao salário (art. 4º, § 1º e incisos I, II e III). Impedir atendimento em salões de cabeleireiros,
Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços barbearias, termas ou casas de massagem ou
à comunidade, incluindo atividades de promoção da igual- estabelecimento com as mesmas finalidades
dade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de
recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência Dando continuidade às condutas típicas, também são cri-
próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não mes as condutas de impedir o acesso ou recusar atendimento
justifiquem essas exigências, com pena de reclusão de 2 (dois) em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de
a 5 (cinco) anos (art. 4º, § 2º). massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades,
pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos (art. 10).
Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial
Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios
Mais uma conduta típica é a de recusar ou impedir acesso públicos ou residenciais e elevadores ou escada de
a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender acesso aos mesmos
ou receber cliente ou comprador97. A pena para este delito é
de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos (art. 5º). A conduta típica de impedir o acesso às entradas sociais
em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada
Legislação Extravagante

Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico de acesso aos mesmos105 prevê pena de reclusão de 1 (um) a
89

Legislativo/Agente de Polícia Legislativa/2014; IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartó-


rio/2013; TJ-PR/Juiz/2011; MPE-MG/Promotor de Justiça/50º Concurso/2010.
90
Acafe/PC-SC/Delegado de Polícia/2008; Fundep/TJ-MG/Oficial de Apoio Judi- 98
Assunto cobrado na prova: ESAF/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003.
cial/2010. 99
Assunto cobrado na prova: ESAF/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003.
91
Assunto cobrado na prova: Cespe/TJ-PB/Juiz/2011. 100
Assunto cobrado na prova: Cespe/Polícia Federal/Escrivão da Polícia Federal/
92
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013. Regional/2004.
93
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013; 101
Assunto cobrado na prova: TJ-PR/Juiz/2011.
PGT/MPT/Procurador/2009. 102
Assunto cobrado nas seguintes provas Vunesp/TJ-SP/Advogado/2013; MPT/
94
Assunto cobrado na prova: PGT/MPT/Procurador/2009. Procurador/2012.
95
Assunto cobrado na prova: COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013. 103
Assunto cobrado na prova: Vunesp/TJ-SP/Advogado/2013.
96
Assunto cobrado na prova: Cespe/AGU/Advogado da União/2012. 104
Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013.
97
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/ Oficial de Cartório/2013; 105
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Advogado/2013; MPT/
FCC/TRT/1ª Região (RJ)/Técnico Judiciário/Segurança/2011; Cespe/MPU/Téc- Procurador/2012; Fundep/TJ-MG/Oficial de Apoio Judicial/2010; Vunesp/DPE-
nico de Apoio Especializado/Transporte/2010. -MS/Defensor Público/2008.

11
3 (três) anos (art. 11). A respeito deste último delito mencio- de ele ser brasileiro, ocorrendo assim em preconceito com
nado, ressalta-se que não incorrerá em crime o síndico que relação à procedência nacional115 (Jurisprudência do STJ no
proíbe a circulação, nos elevadores sociais de edifício resi- voto do relator – HC nº 63.350/RJ, Rel. Ministro Felix Fischer,
dencial, de todos os empregados domésticos que trabalham Quinta Turma, julgado em 27/3/2007, DJ 14/5/2007, p. 341).
para os condôminos. Isso porque a vedação é a respeito de Anote-se que o STF já se posicionou que o disposto no ar-
todos aqueles que estão em horário de trabalho e esta lei tigo 20 da Lei nº 7.716/1989 tipifica o crime de discriminação
não prevê esta conduta como crime106. ou preconceito considerada a raça, a cor, a etnia, a religião
ou a procedência nacional, não alcançando a decorrente de
Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como opção sexual. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº
aviões, navios, barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou 754 do STF – (Inq. nº 3590, Relator(a): Min. Marco Aurélio,
qualquer outro meio de transporte concedido Primeira Turma, julgado em 12/8/2014, Acórdão Eletrônico
DJe-17, divulg. 11/9/2014, public. 12/9/2014).
A lei prevê, ainda, conduta de impedir o acesso ou uso
de transportes públicos, como aviões, navios, barcas, barcos, Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos,
ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda
concedido107, pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos (art. 12). que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de
divulgação do nazismo
Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em
qualquer ramo das forças armadas Por fim, a conduta típica prevê que aquele que fabricar,
comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas,
O crime de impedir ou obstar o acesso de alguém ao ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz
serviço em qualquer ramo das Forças Armadas108 tem pena suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo116,
de reclusão de dois a quatro anos (art. 13). estará sujeito à pena de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos
e multa117 (art. 20, § 1º).
Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o No caso de um dos delitos previstos no caput do art. 20 for
casamento ou convivência familiar e social cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou
publicação de qualquer natureza, a pena será de reclusão de 2
Também há a conduta típica de impedir ou obstar, por qual- (dois) a 5 (cinco) anos e multa (art. 20, § 2º). Neste caso, o juiz
quer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido
social109, com pena de reclusão de dois a quatro anos (art. 14). deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobe-
diência o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos
Efeitos da condenação exemplares do material respectivo; a cessação das respecti-
vas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da
Como efeito da condenação, a lei prevê a perda do cargo publicação por qualquer meio; e a interdição das respectivas
ou função pública, para o servidor público110, e a suspensão mensagens ou páginas de informação na rede mundial de
do funcionamento do estabelecimento particular por prazo computadores118 (art. 20, § 3º, incisos I, II e III). Além disso,
não superior a 3 (três) meses111 (art. 16). Estes efeitos não constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da
são automáticos e devem ser motivadamente declarados na decisão, a destruição do material apreendido119 (art. 20, § 4º).
sentença112 (art. 18).

Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito Da Competência para o Processo e Julgamento


de raça, cor, etnia, religião, ou procedência nacional
Destacamos aqui que a competência para processar e
Há ainda a previsão do delito de praticar, induzir ou incitar julgar o crime de racismo praticado na rede mundial de
a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou computadores estabelece-se pelo local de onde partiram as
procedência nacional113, com pena de reclusão de 1 (um) a 3 manifestações tidas por racistas120. (Jurisprudência noticiada
(três) anos e multa (art. 20). Ressaltamos aqui que responde no Informativo nº 515/STJ – CC nº 116.926/SP, Rel. Ministro
pela prática do crime de injúria racial, disposto no § 3º do art. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, julgado em 4/2/2013, DJe
140 do Código Penal Brasileiro e não pelo art. 20 da Lei nº 15/2/2013). Além disso, é da Justiça estadual a competência
7.716/1989 (Discriminação Racial) pessoa que ofende uma só para processar e julgar o crime de incitação à discriminação
pessoa, chamando-lhe de macaco e negro sujo114. Isso porque racial por meio da internet cometido contra pessoas deter-
a injúria racial é direcionada a uma pessoa em específico, com minadas e cujo resultado não ultrapassou as fronteiras ter-
o intuito de atingir a honra subjetiva desta pessoa e o que a ritoriais brasileiras. (Jurisprudência noticiada no Informativo
Lei nº 7.716/1989 visa punir é a segregação racial e proteger nº 744/STF – HC nº 121283, Relator(a): Min. Roberto Barroso,
a dignidade humana de uma determinada coletividade. Há Primeira Turma, julgado em 29/4/2014, Processo Eletrônico
precedente no STJ em que um comissário de bordo america- DJe-091, divulg. 13/5/2014, public. 14/5/2014).
no ofendeu um brasileiro durante uma discussão em pleno Ressalta-se que aquele que pratica racismo responderá
voo. A Corte entendeu que a conduta enquadrou-se na Lei por crime inafiançável e imprescritível, sujeitando-se à pena
nº 7.716, e não em injúria racial, uma vez que o comissário de reclusão prevista na lei121. Isto está previsto no art. 5º,
de bordo teve a intenção de ofender o passageiro pelo fato inciso XLII, da Constituição Federal de 1988. Além disso, os
crimes previstos nesta lei são de ação pública incondiciona-
da122. Por fim, anote-se que os tipos penais previstos nesta lei
Legislação Extravagante

106
Assunto cobrado na prova: Cespe/MPU/Técnico de Apoio Especializado/Trans-
porte/2010. são apenas condutas dolosas, uma vez que não há previsão
107
Assunto cobrado na prova: Vunesp/TJ-SP/Advogado/2013. de tipo penal culposo na Lei nº 7.716/1989123.
108
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013.
109
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório2013; Vunesp/
TJ-SP/Advogado/2013; Cespe/Polícia Federal/Delegado de Polícia/Regional/2004. 115
Assunto cobrado na prova: Funcab/PC-ES/Delegado de Polícia/2013.
110
Assunto cobrado na prova: Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003. 116
Assunto cobrado na prova: Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003.
111
Assunto cobrado na prova: Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003. 117
Assunto cobrado na prova: FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009.
112
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ-PR/TJ-PR/Juiz/2011; FCC/DPE-MT/ 118
Assunto cobrado na prova: COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013.
Defensor Público/2009; Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003. 119
Assunto cobrado na prova: Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003.
113
Assunto cobrado nas seguintes provas: COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polí- 120
Cespe/AGU/Advogado da União/2012.
cia/2013; MPT/Procurador/2012; TJ-PR/Juiz/2011; Cespe/Abin/Oficial Técnico 121
Cespe/TJ-CE/Analista Judiciário/Execução de Mandados/2014; FCC/PGE-BA/
de Inteligência/2010. Analista de Procuradoria/Área de Apoio Jurídico/2013; PaqTcPB/UEPB/Técnico
114
Fepese/MPE-SC/Promotor de Justiça/2014; Vunesp/TJ-PA/Juiz de Direito de Enfermagem/2012; Movens/PC-PA/Delegado de Polícia/2009.
Substituto/2014; COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013; Cespe/MPE- 122
Assunto cobrado na prova: COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013.
-PI/Promotor de Justiça/2012. 123
Assunto cobrado na prova: MPE-SP/Promotor de Justiça/2006.

12
Busa Informatizada Vestcon Gladson Miranda

LEI Nº 5.553, DE 6 DE DEZEMBRO DE 1968 Abuso de autoridade


(Lei nº 4.898/1965)
Dispõe sobre a apresentação
e uso de documentos de identifi- A Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, regula o
cação pessoal. direito de representação e o processo de Responsabili-
dade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Faço saber que o Congres- autoridade.
so Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º A nenhuma pessoa física, bem como a nenhuma Da Representação
pessoa jurídica, de direito público ou de direito privado, é
lícito reter qualquer documento de identificação pessoal, O direito de representação e o processo de responsa-
ainda que apresentado por fotocópia autenticada ou pública- bilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades
-forma, inclusive comprovante de quitação com o serviço que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são
militar, título de eleitor, carteira profissional, certidão de re- regulados pela Lei nº 4.898/1965 (art. 1º). O direito de re-
gistro de nascimento, certidão de casamento, comprovante presentação será exercido por meio de petição dirigida
de naturalização e carteira de identidade de estrangeiro. à autoridade superior que tiver competência legal para
Art. 2º Quando, para a realização de determinado ato, aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva
for exigida a apresentação de documento de identificação, sanção; dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver
a pessoa que fizer a exigência fará extrair, no prazo de até competência para iniciar processo-crime contra a autori-
5 (cinco) dias, os dados que interessarem devolvendo em dade culpada124 (art. 2º, a e b).
seguida o documento ao seu exibidor. A representação será feita em duas vias e conterá a
§ 1º Além do prazo previsto neste artigo, somente por exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com
ordem judicial poderá ser retirado qualquer documento de todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e
identificação pessoal. (Renumerado pela Lei nº 9.453, de o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver125
20/3/1997) (art. 2º, parágrafo único).
Verifica-se que a autoridade policial e o Ministério Públi-
§ 2º Quando o documento de identidade for indispen-
co, tendo conhecimento dos fatos e havendo indícios da prá-
sável para a entrada de pessoa em órgãos públicos ou par-
tica de crime de abuso de autoridade, devem agir de ofício,
ticulares, serão seus dados anotados no ato e devolvido o independente da representação ou manifestação de vontade
documento imediatamente ao interessado. (Incluído pela Lei da vítima126. O art. 1º da lei trata do direito de representação,
nº 9.453, de 20/3/1997) sendo esta nada mais do que o direito de petição estampado
Art. 3º Constitui contravenção penal, punível com pena no art. 5º, inciso XXXIV, da Constituição Federal.127
de prisão simples de 1 (um) a 3 (três) meses ou multa de
NCR$ 0,50 (cinqüenta centavos) a NCR$ 3,00 (três cruzeiros Do Abuso de Autoridade
novos), a retenção de qualquer documento a que se refere
esta Lei. A lei prevê que constitui abuso de autoridade qualquer
Parágrafo único. Quando a infração for praticada por atentado à liberdade de locomoção128; à inviolabilidade do do-
preposto ou agente de pessoa jurídica, considerar-se-á res- micílio129; ao sigilo da correspondência130; à liberdade de cons-
ponsável quem houver ordenado o ato que ensejou a reten- ciência e de crença131; ao livre exercício do culto religioso132;
ção, a menos que haja , pelo executante, desobediência ou à liberdade de associação133; aos direitos e garantias legais
inobservância de ordens ou instruções expressas, quando, assegurados ao exercício do voto134; ao direito de reunião135;
então, será este o infrator. à incolumidade física do indivíduo136; aos direitos e garantias
Art. 4º O Poder Executivo regulamentará a presente Lei legais assegurados ao exercício profissional137 (art. 3º, a a j).
dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de
sua publicação. 124
Assunto cobrado nas provas: Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia/2009; Cespe/
Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário. PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e
Agente de Polícia/2009.
125
Assunto cobrado na prova: UEG/PM-GO/Cadete da Polícia Militar/2013.
Brasília, 6 de dezembro de 1968; 147º da Independência 126
UEG/PM-GO/Cadete da Polícia Militar/2013.
e 80º da República. 127
COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013.
128
Assunto cobrado nas provas: Funiversa/Detran-DF/Agente de Trânsito/2012;
Fundep/TJ-MG/Assistente Social/2010; Funcab/PC-RO/Agente de Polícia/2009;
A. COSTA E SILVA Funrio/Depen/Agente Penitenciário/2009.
Luís Antônio da Gama e Silva 129
Assunto cobrado nas provas: Uespi/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014; Fu-
Augusto Hamann Rademaker Grunewald niversa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Atividades Urbanas/Controle Ambien-
tal/2011; Cespe/PC-ES/Escrivão de Polícia/Específicos/2011; Funcab/PM-GO/
Aurélio de Lyra Tavares Soldado da Polícia Militar/2010; Funrio/Depen/Agente Penitenciário/2009.
José de Magalhães Pinto 130
Assunto cobrado nas provas: Uespi/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014; Esaf/
Antônio Delfim Netto
Legislação Extravagante

Receita Federal/Auditor Fiscal da Receita Federal/2012; Fundep/TJ-MG/Assis-


tente Social/2010; Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009.
Mário David Andreazza 131
Assunto cobrado nas provas: Uespi/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014; Funiver-
Raymundo Bruno Marussig sa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Atividades Urbanas/Controle Ambiental/2011.
Tarso Dutra 132
Assunto cobrado nas provas: Uespi/C-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014; Cespe/
TRE-MA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009.
Jarbas G. Passarinho 133
Assunto cobrado nas provas: Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/Área Judi­
Marcio de Souza e Mello ciária/2009; Funrio/Depen/Agente Penitenciário/2009.
Leonel Miranda 134
Assunto cobrado na prova: Uespi/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014.
135
Assunto cobrado nas provas: Uespi/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014; Fun-
José Costa Cavalcanti cab/PC-RO/Agente de Polícia/2009.
Edmundo de Macedo Soares 136
Assunto cobrado nas provas: TRT 3ª Região/TRT 3ª Região (MG)/Juiz do Tra-
Hélio Beltrão balho/2012; Fundep/TJ-MG/Assistente Social/2010; Cespe/Secont-ES/Auditor
do Estado/2009.
Afonso A. Lima 137
Assunto cobrado nas provas: FCC/TRT 18ª Região (GO)/Juiz do Trabalho/2014; MPT/
Carlos F. de Simas Procurador/2013; UFPR/PC-PR/Delegado de Polícia/2007; PGT/Procurador/

13
Também constitui abuso de autoridade ordenar ou der na defesa social150. Assim, não tendo a intenção ou o
executar medida privativa da liberdade individual, sem as ânimo específico de exorbitar do poder que lhe for con-
formalidades legais ou com abuso de poder138; submeter ferido legalmente, não haverá a configuração de abuso
pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a cons- de autoridade.151
trangimento não autorizado em lei139; deixar de comunicar, Além disso, o crime de abuso de autoridade não ab-
imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de sorve as demais infrações penais perpetradas na mesma
qualquer pessoa140; deixar o Juiz de ordenar o relaxamento circunstância152. Com isso, a incolumidade pública tutelada
de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada141; na referida lei não abrange o crime de lesões corporais,
levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a admitindo-se o concurso entre os delitos.153
prestar fiança, permitida em lei142 (art. 4º, a a e).
Outras condutas que constituem abuso de autoridade Da Autoridade
são as de cobrar o carcereiro ou agente de autoridade po-
licial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra Será considerada autoridade, para os efeitos da lei de abu-
despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer so de autoridade, quem exerce cargo, emprego ou função pú-
quanto à espécie quer quanto ao seu valor; recusar o carce- blica, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e
reiro ou agente de autoridade policial recibo de importância sem remuneração154 (art. 5º). É preciso que o agente esteja no
recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou exercício da função para que haja a caracterização de crime de
de qualquer outra despesa143; o ato lesivo da honra ou do abuso de autoridade. Se o agente agiu de maneira abusiva, mas
patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado em razão de sua função, sem que esteja em exercício de sua
com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal144; função, não haverá o crime de abuso de autoridade, podendo
prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou a conduta ser enquadrada em outro delito.155
de medida de segurança, deixando de expedir em tempo Ressaltamos aqui que terceiros que não exerçam funções
oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberda- públicas poderão ser penalmente responsabilizados a título
de coautoria, nos termos do art. 29 do Código Penal, uma
de145 (art. 4º, f a i).
vez que a qualidade de autoridade é elementar dos tipos
Sobre as condutas que constituem abuso de autoridade,
penais da Lei156. A partir disto, considere que um agente
as hipóteses previstas no art. 3º da Lei não admitem a forma policial, acompanhado de um amigo estranho aos quadros
tentada, pois seus tipos penais incluem-se entre os crimes da administração pública, mas com pleno conhecimento da
de atentado, contudo, em tese, é possível a tentativa nos condição funcional do primeiro, efetuem a prisão ilegal de
crimes previstos no art. 4º, da mesma Lei146. um cidadão. Nesse caso, ambos responderão pelo crime de
Ressalta-se que não existe a modalidade culposa com abuso de autoridade, independentemente da condição de
relação aos crimes de abuso de autoridade. Assim, no que particular do coautor.157
se refere ao crime de abuso de autoridade, admitem-se as
modalidades dolosas, apenas147. Destaca-se que os crimes Das Sanções
de abuso de autoridade podem ser comissivos ou omissi-
vo148. Os crimes previstos nesta lei são de dupla subjetivida- Das sanções administrativas
de passiva: o sujeito passivo imediato, direto e eventual, e
o sujeito passivo mediato, indireto ou permanente.149 O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção
A punição à prática do crime de abuso de autoridade administrativa, civil e penal158 (art. 6º). Assim, a condenação
condiciona-se à presença do elemento subjetivo do injusto, penal do servidor público pela prática de abuso de auto-
consistente na vontade consciente do agente de praticar ridade não impede as sanções administrativa e civil pelo
as condutas mediante o exercício exorbitante do seu po- mesmo fato.159
A sanção administrativa será aplicada de acordo com a
2006; Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003; Funrio/Depen/Agen-
gravidade do abuso cometido e consistirá em advertência160;
te Penitenciário/2009.
138
Assunto cobrado nas provas: Funcab/PC-ES/Perito em Telecomunicação/2013; 150
Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Oficial de Justiça Avaliador/2013.
Funrio/PRF/2009; Uespi/PC-PI/Delegado de Polícia/2009. 151
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-AL/Escrivão de Polícia/2012.
139
Assunto cobrado nas provas: Funcab/PC-ES/Perito em Telecomunicação/2013; 152
Assunto cobrado nas provas: Cespe/DPE-RR/Defensor Público/2013; Cespe/
Cespe/PC-ES/Perito Papiloscópico/2011; TJ-SC/Juiz/2010; Funcab/PC-RO/ PC-AL/Escrivão de Polícia/2012; Cespe/MPU/Analista Processual/2010.
Agente de Polícia/2009; Uespi/PC-PI/Delegado de Polícia/2009; FGV/PC-RJ/ 153
UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013.
Oficial de Cartório/2008. 154
Assunto cobrado nas provas: Fepese/MPE-SC/Promotor de Justiça/2014;
140
Assunto cobrado nas provas: Vunesp/PC-SP/Investigador de Polícia/2014; FCC/TRT 18ª Região (GO)/Juiz do Trabalho/2014; Cespe/Depen/Agente Pe-
Funcab/PC-ES/Perito em Telecomunicação/2013; Funcab/PC-RO/Agente de nitenciário/2013; COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013; COPS-UEL/
Polícia/2009; Uespi/PC-PI/Delegado de Polícia/2009; Cespe/DPE-ES/Defen- PC-PR/Delegado de Polícia/2013; Cespe/DPE-RR/Defensor Público/2013;
sor Público/2009; FGV/PC-RJ/Oficial de Cartório/2008; FGV/TCM-RJ/Pro­ UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013; FCC/TRT 4ª REGIÃO (RS)/Juiz do Tra-
curador/2008. balho/2012; FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2011; Funcab/
141
Assunto cobrado nas provas: Cespe/Depen/Agente Penitenciário/2013; PM-GO/Soldado da Polícia Militar/2010; Funcab/PC-RO/Delegado de Polí-
Funiversa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Atividades Urbanas/Controle Am- cia/2009; Funcab/PC-RO/Agente de Polícia/2009; CEPERJ/PC-RJ/Delegado
biental/2011; Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009; FGV/TCM-RJ/Procura- de Polícia/2009; Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; IESES/TJ-MA/
dor/2008. Titular de Serviços de Notas e de Registros/2008; Cespe/TJ-SE/Juiz/2008;
142
Assunto cobrado nas provas: TRT 3ª Região(MG)/Juiz do Trabalho/2012; Uespi/ UFPR/PC-PR/Delegado de Polícia/2007; Cespe/CBM-DF/Advogado/2007;
PC-PI/Delegado de Polícia/2009; FGV/PC-RJ/Oficial de Cartório/2008; FGV/ Cespe/TJ-RR/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; Fundec/TRT 9ª RE-
Legislação Extravagante

TCM-RJ/Procurador/2008. GIÃO (PR)/Juiz do Trabalho/2003.


143
Assunto cobrado na prova: Funcab/PC-ES/Perito em Telecomunicação/2013. 155
Assunto cobrado na prova: Cespe/STM/Analista Judiciário/Execução de Man-
144
Assunto cobrado nas provas: Funiversa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Ativida- dados/2011.
des Urbanas/Controle Ambiental/2011; PGT/Procurador/2008; FGV/TCM-RJ/ 156
Assunto cobrado nas provas: MPE-PR/Promotor/2014; Cespe/DPE-RR/De-
Procurador/2008. fensor Público/2013; Cespe/MPU/Analista Processual/2010; Cespe/TCE-ES/
145
Assunto cobrado nas provas: FGV/PC-RJ/Oficial de Cartório/2008; Cespe/Polícia Procurador Especial de Contas/2009; Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia/2009;
Federal/Agente Federal da Polícia Federal/2000. Cespe/TJ-SE/Juiz/2008.
146
MPE-PR/Promotor/2014; Funcab/PC-RO/Delegado de Polícia/2009; Funiversa/ 157
Cespe/PC-ES/Delegado de Polícia/2011.
PC-DF/Agente de Polícia/2009. 158
Assunto cobrado nas provas: Funiversa/Detran-DF/Agente de Trânsito/2012;
147
Assunto cobrado na prova: Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/ TRT 3ª Região/TRT 3ª Região (MG)/Juiz do Trabalho/2012; Cespe/Caixa/Ad-
Agente de Polícia Legislativa/2014; Cespe/PRF/2013; Cespe/DPE-RR/Defen- vogado/2010; Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia/2009; Fundec/TRT 9ª Região
sor Público/2013; UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013; Funiversa/Detran-DF/ (PR)/Juiz do Trabalho/2003; Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciária/
Agente de Trânsito/2012; Funcab/PM-GO/Soldado da Polícia Militar/2010; Execução de Mandados/2003.
Cespe/TJ-SE/Juiz/2008; Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007. 159
Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciária/Execução de Mandados/2003.
148
Cespe/DPE-RR/Defensor Público/2013. 160
Assunto cobrado nas provas: FCC/TCE-SE/Analista de Controle Externo/Coor-
149
Cespe/MPE-TO/Promotor de Justiça/2012. denadoria Jurídica/2011; Fundep/TJ-MG/Técnico Judiciário/2010.

14
repreensão161; suspensão do cargo, função ou posto por Este inquérito administrativo obedecerá às normas es-
prazo de 5 (cinco) a 180 (cento e oitenta) dias, com perda tabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis
de vencimentos e vantagens162; destituição de função163; ou militares, que estabeleçam o respectivo processo (art. 7º,
demissão; demissão, a bem do serviço público164 (art. 6º, § 1º). A Lei de Abuso de Autoridade prevê que, não existin-
§ 1º, a a f). do no Município, no Estado ou na legislação militar normas
reguladoras do inquérito administrativo serão aplicadas su-
Da sanção cível pletivamente, as disposições dos arts. 219 a 225 da Lei nº
1.711, de 28 de outubro de 1952 - Estatuto dos Funcionários
A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do Públicos Civis da União (art. 7º, § 2º) Anote-se que esta Lei
dano, consistirá no pagamento de uma indenização de qui- nº 1.711 foi revogada pela Lei nº 8.112/1990.
nhentos a dez mil cruzeiros165 (art. 6º, § 2º). Ressalta-se que O processo administrativo não poderá ser sobrestado
a lei é do ano de 1965 e, por isso, traz os valores na moeda para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil172
corrente à época. (art. 7º, § 3º). Caso haja aplicação de sanção administrativa,
esta será anotada na ficha funcional da autoridade civil ou
Da sanção penal militar (art. 8º).

A sanção penal será aplicada de acordo com as regras Da ação civil


dos arts. 42 a 56 do Código Penal e consistirá em multa de
cem a cinco mil cruzeiros166; detenção por 10 (dez) dias a Simultaneamente com a representação dirigida à auto-
6 (seis) meses167; perda do cargo e a inabilitação para o ridade administrativa ou independentemente dela, poderá
exercício de qualquer outra função pública por prazo até 3 ser promovida pela vítima do abuso, a responsabilidade
(três) anos168 (art. 6º, § 3º, a a c). Estas penas poderão ser civil ou penal ou ambas, da autoridade culpada173 (art. 9º).
aplicadas autônoma ou cumulativamente169 (art. 6º, § 4º). Serão aplicáveis as normas do Código de Processo Civil à
ação civil (art. 11).
Do abuso cometido por autoridade policial, civil ou
militar, de qualquer categoria Da ação penal

Quando o abuso for cometido por agente de autoridade A ação penal será iniciada, independentemente de in-
policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser quérito policial ou justificação por denúncia do Ministério
cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o Público, instruída com a representação da vítima do abuso174
acusado exercer funções de natureza policial ou militar no (art. 12). Ressalta-se que a falta de representação do ofendi-
município da culpa, por prazo de 1 (um) a 5 (cinco) anos170 do, nos casos de abuso de autoridade, não obsta a iniciativa
(art. 6º, § 5º). ou o curso de ação pública. Isto está previsto no art. 1º da Lei
nº 5.249/1967175. Em se tratando de crime de abuso de auto-
Do processo administrativo ridade (Lei nº 4.898/1965) eventual falha na representação,
ou mesmo sua falta, não obsta a instauração da ação penal.
Após ser recebida a representação em que for solicitada Isso nos exatos termos do art. 1º da Lei nº 5.249/1967, que
a aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil ou prevê, expressamente, não existir, quanto aos delitos de que
militar competente determinará a instauração de inquérito trata, qualquer condição de procedibilidade. (Jurisprudência
para apurar o fato171 (art. 7º). do STJ – HC nº 59.591/RN, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta
Turma, julgado em 15/8/2006, DJ 4/9/2006, p. 317)
161
Assunto cobrado na prova: Funiversa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Atividades
Urbanas/Transportes/2011.
Logo, o Ministério Público, mesmo sem haver a repre-
162
Assunto cobrado nas provas: CAIP-IMES/Câmara Municipal de São Caetano sentação, pode oferecer a denúncia176. Assim, o crime de
do Sul-SP/Procurador/2012; Fundep/TJ-MG/Técnico Judiciário/2010; UFPR/ abuso de autoridade se procede mediante ação penal pública
PC-PR/Delegado de Polícia/2007. incondicionada.177
163
Assunto cobrado nas provas: Vunesp/SPTrans/Advogado Pleno Cível/2012;
FCC/PGM/Joao Pessoa-PB/Procurador Municipal/2012; Funiversa/Seplag-DF/ Destaca-se que compete à justiça comum processar e
Auditor Fiscal de Atividades Urbanas/Transportes/2011. julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que
164
Assunto cobrado nas provas: FCC/PGM-Joao Pessoa-PB/Procurador Munici- praticado em serviço, nos termos da Súmula nº 172 do Su-
pal/2012; Funiversa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Atividades Urbanas/Trans-
portes/2011. perior Tribunal de Justiça178. Ademais, eventual reconheci-
165
Assunto cobrado na prova: FCC/PGM/Joao Pessoa-PB/Procurador Municipal/2012.
166
Assunto cobrado nas provas: FCC/TRT 18ª Região (GO)/Juiz do Trabalho/2014; 172
Assunto cobrado nas provas: Cespe/PC-DF/Escrivão de Polícia/2013; Vunesp/
Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Agente de Polícia Legisla- SPTrans/Advogado Pleno Cível2012; FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Ju-
tiva/2014; FCC/TCE-SE/Analista de Controle Externo/Coordenadoria Jurídi- diciária/2011; Cespe/PC-ES/Perito Papiloscópico/Específicos/2011; Funcab/
ca/2011; Cespe/TJ-CE/Oficial de Justiça/2008. PC-RO/Delegado de Polícia/2009; Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009;
167
Assunto cobrado nas provas: FCC/TRT 18ª Região (GO)/Juiz do Trabalho/2014; Fundec/TRT 9ª Região (PR)/Juiz do Trabalho/2003.
Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Agente de Polícia Legisla- 173
Assunto cobrado nas provas: MPT/Procurador/2013; Cespe/PC-RN/Delegado
tiva/2014; FCC/TCE-SE/Analista de Controle Externo/Coordenadoria Jurídi- de Polícia/2009.
ca/2011; Cespe/TJ-CE/Oficial de Justiça/2008. 174
Assunto cobrado nas provas: Vunesp/MPE-ES/Promotor de Justiça/2013; Vu-
168
Assunto cobrado nas provas: Cespe/TJ-DF/Juiz de Direito Substituto/2014; nesp/SPTrans/Advogado Pleno Cível/2012.
Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Agente de Polícia Legisla- 175
Assunto cobrado nas provas: MPE-PR/Promotor/2014; Funcab/PC-RO/Delegado
Legislação Extravagante

tiva/2014; Cespe/TJ-BA/Titular de Serviços de Notas e de Registros/Remo- de Polícia/2009; Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009.
ção/2013; MPT/Procurador/2013; FCC/TCE-SE/Analista de Controle Externo/ 176
Assunto cobrado nas provas: Cespe/MPE-AC/2014; COPS-UEL/PC-PR/Delega-
Coordenadoria Jurídica/2011; Cespe/TJ-CE/Oficial de Justiça/2008. do de Polícia/2013; Funiversa/PC-DF/Agente de Polícia/2009; Cespe/PC-PB/
169
Assunto cobrado nas provas: IBFC/TRE-AM/Analista Judiciário/Área Judici- Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009.
ária/2014; Vunesp/SPTrans/Advogado Pleno Cível/2012; MPE-SP/Promotor 177
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/MPE-SP/Analista de Promotoria
de Justiça/2010; Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Objetiva/2009; Cespe/ II/2013; COPS-UEL/PC-PR /Delegado de Polícia/2013; UEG/PC-GO/Agente de
TJ-CE/Oficial de Justiça/2008. Polícia/2013; Cespe/MPE-TO/Promotor de Justiça/2012; Funiversa/Detran-DF/
170
Assunto cobrado nas provas: FCC/TJ-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/Execu- Agente de Trânsito/2012; Funcab/PM-GO/Soldado da Polícia Militar/2010;
ção de Mandados/2014; IBFC/TRE-AM/Analista Judiciário/Área Judiciária/2014; Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009; Cespe/TJ-RR/
Cespe/TJ-BA/Titular de Serviços de Notas e de Registros/Remoção/2013; FCC/ Analista Judiciário/Área Judiciária/2006.
PGM/Joao Pessoa-PB/Procurador Municipal/2012; FCC/TRE-AP/Analista Judici- 178
Assunto cobrado nas provas: FCC/TRT 18ª Região (GO)/Juiz do Traba-
ário/Área Judiciária/2011; Cespe/PC-ES/Perito Papiloscópico/Específicos/2011; lho/2014; COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013; MPDFT/Promotor de
Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; Funiversa/PC-DF/Agente de Polí- Justiça/2011; Cespe/PC-ES/Escrivão de Polícia/Específicos/2011; Cespe/TRE-
cia/2009; Cespe/TJ-RR/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006. -MA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009; Cespe/PRF/Policial Rodoviário
171
Assunto cobrado nas provas: MPT/Procurador/2013; Cespe/CBM-DF/Advoga- Federal/2008; Cespe/TJ-SE/Juiz/2008; Cespe/TJ-RR/Analista Judiciário/Área
do/2007. Judiciária/2006.

15
mento da coisa julgada ou da extinção da punibilidade do rejeitando a denúncia (art. 17). No despacho em que receber
crime de abuso de autoridade na Justiça comum não teria o a denúncia, o Juiz designará, desde logo, dia e hora para a
condão de impedir o processamento do Paciente na Justiça audiência de instrução e julgamento, que deverá ser realizada,
Castrense pelos crimes de lesão corporal leve e violação de improrrogavelmente, dentro de 5 (cinco) dias (art. 17, § 1º).
domicílio. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal fir-
mou entendimento no sentido de que, por não estar inserido Da citação do réu e da intimação das testemunhas
no Código Penal Militar, o crime de abuso de autoridade
seria da competência da Justiça comum, e os crimes de lesão A citação do réu para se ver processar, até julgamento fi-
corporal e de violação de domicílio, por estarem estabele- nal e para comparecer à audiência de instrução e julgamento,
cidos nos arts. 209 e 226 do Código Penal Militar, seriam será feita por mandado sucinto que, será acompanhado da
da competência da Justiça Castrense. (Jurisprudência do segunda via da representação e da denúncia (art. 17, § 2º).
STF – HC nº 92912, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, Primeira Com relação às testemunhas de acusação e de defesa,
Turma, julgado em 20/11/2007, DJe-165, divulg. 18/12/2007, estas poderão ser apresentadas em juízo, independentemen-
public. 19/12/2007, DJ 19/12/2007, PP-00055 EMENT VOL- te de intimação (art. 18).
02304-02 PP-00362 RTJ VOL-00205-01 PP-00365) Não serão deferidos pedidos de precatória para a au-
Depois de apresentada ao Ministério Público a repre- diência ou a intimação de testemunhas ou, salvo o caso
sentação da vítima, o MP, no prazo de 48 (quarenta e oito) previsto no art. 14, b, requerimentos para a realização de
horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado constitua diligências, perícias ou exames, a não ser que o Juiz, em des-
abuso de autoridade, e requererá ao Juiz a sua citação, e, pacho motivado, considere indispensáveis tais providências
bem assim, a designação de audiência de instrução e jul- (art. 18, parágrafo único). Este art. 14, b, versa que se abuso
gamento179 (art. 13). Esta denúncia do MP será apresentada de autoridade houver deixado vestígios e, o ofendido ou o
em duas vias (art. 13, § 1º). acusado, requerer ao juiz, até 72 horas antes da audiência
de instrução e julgamento, a designação de um perito para
Do abuso de autoridade que houver deixado vestígios fazer as verificações necessárias.

Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autoridade Da audiência


houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado poderá
promover a comprovação da existência de tais vestígios180, À hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro dos au-
por meio de duas testemunhas qualificadas; requerer ao Juiz, ditórios ou o oficial de justiça declare aberta a audiência,
até 72 (setenta e duas) horas antes da audiência de instru- apregoando em seguida o réu, as testemunhas, o perito,
ção e julgamento, a designação de um perito para fazer as o representante do Ministério Público ou o advogado que
verificações necessárias (art. 14, a e b). O perito ou as teste- tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu
munhas farão o seu relatório e prestarão seus depoimentos (art. 19). Esta audiência somente deixará de realizar-se se
verbalmente, ou o apresentarão por escrito, querendo, na ausente o Juiz (art. 19, parágrafo único). Se até meia hora
audiência de instrução e julgamento (art. 14, § 1º). depois da hora marcada o Juiz não houver comparecido, os
No caso em que o acusado puder promover a comprova- presentes poderão retirar-se, devendo o ocorrido constar do
ção da existência de tais vestígios, por meio de duas testemu- livro de termos de audiência (art. 20).
nhas qualificadas, a representação poderá contar a indicação A audiência de instrução e julgamento será pública, se
de mais 2 (duas) testemunhas (art. 14, § 2º). contrariamente não dispuser o Juiz, e será realizada em dia
útil, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede do Juízo
Do pedido de arquivamento da representação ou, excepcionalmente, no local que o Juiz designar (art. 21).
Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o inter-
Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a rogatório do réu, se estiver presente (art. 22). Caso não
denúncia requerer o arquivamento da representação, o Juiz, compareça nem o réu nem o seu advogado, o Juiz nomeará
no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, imediatamente defensor para funcionar na audiência e nos
fará remessa da representação ao Procurador-Geral e este ulteriores termos do processo (art. 22, parágrafo único).
oferecerá a denúncia, ou designará outro órgão do Ministério Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o Juiz dará
Público para oferecê-la ou insistirá no arquivamento, ao qual a palavra sucessivamente, ao Ministério Público ou ao ad-
só então deverá o Juiz atender (art. 15). vogado que houver subscrito a queixa e ao advogado ou
defensor do réu, pelo prazo de 15 (quinze) minutos para
Do cabimento da ação privada cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do Juiz
(art. 23). Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediatamente
Caso o órgão do Ministério Público não oferecer a de- a sentença (art. 24).
núncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação priva- Será lavrado em livro próprio, pelo escrivão, o ocorrido na
da181. O órgão do Ministério Público poderá, porém, aditar a audiência ditado pelo juiz, termo que conterá, em resumo,
queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e inter- os depoimentos e as alegações da acusação e da defesa, os
vir em todos os termos do processo, interpor recursos e, a requerimentos e, por extenso, os despachos e a sentença
todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar (art. 25). Subscreverão este termo o Juiz, o representante
Legislação Extravagante

a ação como parte principal182 (art. 16). do Ministério Público ou o advogado que houver subscrito a
queixa, o advogado ou defensor do réu e o escrivão (art. 26).
Do recebimento ou rejeição da denúncia Nas comarcas onde os meios de transporte forem difíceis
e não permitirem a observância dos prazos fixados nesta lei,
Após serem recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de o juiz poderá aumentá-las, sempre motivadamente, até o
48 (quarenta e oito) horas, proferirá despacho, recebendo ou dobro (art. 27). Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas
do Código de Processo Penal, sempre que compatíveis com o
179
Assunto cobrado nas provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Judiciá- sistema de instrução e julgamento regulado por esta lei (art.
ria/2011; Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009. 28). Caberão os recursos e apelações previstas no Código de
180
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-ES/Perito Criminal/Específicos/2011. Processo Penal das decisões, despachos e sentenças (art. 28,
181
Assunto cobrado na prova: Vunesp/SPTrans/Advogado Pleno Cível/2012.
182
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009.
parágrafo único).

16
Lei de Tortura (Lei nº 9.455/1997) que no crime de tortura em que a pessoa presa ou sujeita
a medida de segurança é submetida a sofrimento físico ou
A Lei nº 9.455, publicada em 7 de abril de 1997, define mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei
os crimes de tortura e dá outras providências. A lei entrou ou não resultante de medida legal, não é exigido, para seu
em vigor na data da sua publicação (art. 3º) e revogou o aperfeiçoamento, especial fim de agir por parte do agente,
art. 233 da Lei nº 8.069/1990 do Estatuto da Criança e do bastando, portanto, para a configuração do crime, o dolo
Adolescente. de praticar a conduta descrita no tipo objetivo192.
A Constituição Federal tem como cláusula pétrea a ga- Ademais, a denominada tortura para a prática de crime
rantia de que ninguém será submetido a tortura nem a ocorre quando o agente usa de violência ou grave ameaça
tratamento desumano ou degradante183. Isto está previsto para obrigar a vítima a realizar ação ou omissão de natu-
no art. 5º, III, CF. Além disso, o crime de tortura é crime reza criminosa. Assim, essa forma de tortura não abrange
contra o Direito Internacional e interno, tendo em vista a a provocação de ação contravencional193.
Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Em regra, o crime de tortura é considerado crime co-
Cruéis, Desumanos ou Degradantes e a Lei nº 9.455/1997, mum, uma vez que não se exige qualidade ou condição
que define e pune crime de tortura, por ele respondendo especial do agente que o pratica, ou seja, qualquer pessoa
os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-lo, se pode ser considerada sujeito ativo desse crime194. Assim, o
omitirem184 (art. 5º, XLIII). art. 1.º da Lei nº 9.455/1997, ao tipificar o crime de tortura
como crime comum, não ofendeu o que já determinava
o art. 1º da Convenção da ONU Contra a Tortura e Ou-
Das Condutas Consideradas Crimes tros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degra-
dantes, de 1984, em face da própria ressalva contida no
Tortura
texto ratificado pelo Brasil195 (Jurisprudência do STJ – REsp
1299787/PR, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado
Esta lei prevê que constitui crime de tortura constran-
em 10/12/2013, DJe 3/2/2014).
ger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental185 com o fim de Tortura por omissão
obter informação, declaração ou confissão da vítima ou
de terceira pessoa186; para provocar ação ou omissão de Registra-se que, aquele que se omite em face dessas
natureza criminosa187; em razão de discriminação racial ou condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las196,
religiosa188 (art. 1º, inciso I, a, b, c). Observa-se que cons- incorre na pena de detenção de (1) um a 4 (quatro) anos197
tranger alguém com emprego de violência ou grave ame- (art. 1º, § 2º). A figura típica prevista no § 2º do art. 1º
aça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, em razão da Lei de Tortura constitui-se em crime próprio, porquanto
de discriminação sexual não constitui crime de tortura189. exige condição especial do sujeito. Ou seja, é um delito que
Isto porque a discriminação sexual como tortura não está somente pode ser praticado por pessoa que, ao presen-
prevista na Lei nº 9.455/1997. ciar tortura, omite-se, a despeito do “dever de evitá-las ou
Também é crime de tortura submeter alguém, sob sua apurá-las” 198 (Jurisprudência do STJ – HC nº 131.828/RJ, Rel.
guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 19/11/2013,
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, DJe 2/12/2013)
como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter Assim, conclui-se que a tortura, conduta expressamente
preventivo, com previsão de pena de reclusão, de 2 (dois) proibida pela Constituição Federal e lei específica, pode ser
a 8 (oito) anos190 (art. 1º, II). praticada por meio de uma conduta comissiva (positiva,
Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa por via de uma ação) ou omissiva (negativa, por via de
ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou uma abstenção)199.
mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei
ou não resultante de medida legal191 (art. 1º, § 1º). Anote-se Tortura em que resulta lesão corporal ou morte
183
Vunesp/MPE/SP/Promotor de Justiça/2008.
(tortura qualificada)
184
FCC/SEAD/AP/Agente Penitenciário/2002.
185
Assunto cobrado nas seguintes provas: Instituto Cidades/DPE-GO/Defensor Se da tortura resulta lesão corporal de natureza grave
Público/2010; Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009;
Cespe/Polícia Federal/Agente da Polícia Federal/Regional/2004. ou gravíssima, a pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)
186
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ/CE/Analista Judiciário/Execu-
ção de Mandados/2014; IOBV/PM/SC/Soldado da Polícia Militar/2013; FGV/ 192
Cespe/PC/ES/Escrivão de Polícia/2011.
OAB/Exame de Ordem Unificado III/Primeira Fase/2011; Cespe/PM/DF/Aspi- 193
Cespe/TJ-RR/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006.
rante/Quadro de Praças Especiais/2010; PC/SP/Escrivão de Polícia Civil/2010; 194
Funiversa/PM/DF/Soldado da Polícia Militar/Combatente/2013; Upnet/Seres/
Cespe/PC/PB/Delegado de Polícia/2009. PE/Agente Penitenciário/2010; Cespe/TJ/RR/Analista Judiciário/Área Judiciá-
187
Assunto cobrado nas seguintes provas: IOBV/PM/SC/Soldado da Polícia Mili- ria/2006; FCC/DPE-SP/Defensor Público/2006.
tar/2013; Instituto Cidades/DPE/AM/Defensor Público/2011. 195
FCC/DPE/PB/Defensor Público/2014; FCC/MPE/PE/Promotor de Justiça/2014;
188
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/DPU/Defensor Público Fede- Cespe/TJ/CE/ Analista Judiciário/Execução de Mandados/2014; Cespe/MPE/
ral de Segunda Categoria/2015; FCC/DPE/PB/Defensor Público/2014; IOBV/ AC/2014.
Legislação Extravagante

PM/SC/Soldado da Polícia Militar/2013; Vunesp/Sejus/ES/Agente Penitenci- 196


Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE/RS/Defensor Público/2014;
ário/2013; Copese/UFT/DPE/TO/Analista em Gestão Especializado/ Ciências FCC/MPE/PE/Promotor de Justiça/2014; IBFC/MPE/SP/Analista de Promotoria
Jurídicas/2012; Fumarc/PM/MG/Oficial da Polícia Militar/2011; Ceperj/PC-RJ/ II/2013; Cespe/PC/DF/Escrivão de Polícia/2013; Cespe/PC/BA/Delegado de
Delegado de Polícia/2009; Cespe/DPF/Agente da Polícia Federal/2009; FCC/ Polícia/2013; Fumarc/PM/MG/Oficial da Polícia Militar/2011; Funcab/PM-GO/
DPE/SP/Defensor Público/2006. Soldado da Polícia Militar/2010; Funcab/PC/RO/Delegado de Polícia/2009; Ces-
189
TJ/SC/Juiz/2010. pe/PC/RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; FCC/DPE-SP/Defensor Público/2009;
190
Assunto cobrado nas seguintes provas: IOBV/PM/SC/Soldado da Polícia Mi- Cespe/MPE/RR/Promotor de Justiça/2008.
litar/2013; Vunesp/Sejus/ES/Agente Penitenciário/2013; Instituto Cidades/ 197
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ/CE/Analista Judiciário/Execu-
DPE-AM/Defensor Público/2011; Cespe/MPU/Técnico de Apoio Especializado/ ção de Mandados/2014; Instituto Cidades/DPE/AM/Defensor Público/2011;
Transporte/2010; Funiversa/PC/DF/Agente de Polícia/2009; Funrio/Depen/ Cespe/PC/PB/Delegado de Polícia/2009; Funrio/Depen/Agente Penitenciá-
Agente Penitenciário/2009; FGV/PCRJ/Oficial de Cartório/2008; Cespe/Polícia rio/2009.
Federal/Agente Federal da Polícia Federal/Nacional/2004. 198
FCC/DPE/PB/Defensor Público/2014; FCC/MPE/PE/Promotor de Justiça/2014;
191
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC/DF/Agente de Polícia/2013; FCC/DPE/SP/Defensor Público/2006.
Cespe/Depen/Agente Penitenciário/2013; Vunesp/Sejus/ES/ Agente Peniten- 199
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado
ciário/2013; Copese/UFT/DPE/TO/Analista em Gestão Especializado/Ciências III/2011; Cespe/PM/DF/Aspirante/Quadro de Praças Especiais/2010; Cespe/
Jurídicas/2012; FCC/DPE/SP/Defensor Público/2006. PC/PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009.

17
anos200. No caso de resultar morte, a reclusão é de 8 (oito) condenação de oficial da Polícia Militar pela prática do cri-
a 16 (dezesseis) anos201 (art. 1º, § 3º). me de tortura, a competência para decretar a perda do ofi-
Atente-se que as lesões leves suportadas pela vítima cialato, como efeito da condenação, é da Justiça Comum209.
serão absorvidas pelo crime de tortura202.
Das vedações e regime de cumprimento da pena
Causas de aumento da pena
O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça
Aumenta-se a pena de 1/6 (um sexto) até 1/3 (um terço) ou anistia210 (art. 1º, § 6º). Além disso, o condenado por cri-
se o crime é cometido por agente público203; se o crime é me de tortura, salvo no caso de tortura por omissão prevista
cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, no art. 1º, § 2º, desta lei, iniciará o cumprimento da pena
adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos204; se o crime em regime fechado211 (art. 1º, § 7º). Entretanto, isto foi de-
é cometido mediante sequestro205 (art. 1º, § 4º, incisos I, clarado inconstitucional pelo STF no julgamento do HC nº
II e III). 111.840212 (Julgamento do STF – HC nº 111840, Relator(a):
Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 27/6/2012,
Efeitos da condenação Processo Eletrônico DJe-249, divulg. 16/12/2013, public.
17/12/2013)
A condenação acarretará a perda do cargo, função ou
emprego público e a interdição para seu exercício pelo do- Da progressão do regime prisional e do livramento
bro do prazo da pena aplicada206 (art. 1º, § 5º). Ressalta-se condicional
que esses efeitos da condenação são automáticos207 (Juris-
prudência noticiada no Informativo nº 419 do STJ – HC nº Registre-se que não há óbice à progressão de regime
47.846/MG, Rel. Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, julga- prisional ao condenado por crime de tortura213. Sobre o
do em 11/12/2009, DJe 22/2/2010). Assim, prescindem de assunto, tem-se a Súmula nº 471 do Superior Tribunal de
motivação208 (Jurisprudência do STJ – AgRg no Ag 1388953/ Justiça que prevê que os condenados por crimes hedion-
SP, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, dos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei nº
julgado em 20/6/2013, DJe 28/6/2013) 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei nº
Tem-se, ainda, que para fins da Lei nº 9.455/1997, a 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de
perda do cargo público, função ou emprego público é efeito regime prisional. Ou seja, se sujeitarão ao cumprimento de
extrapenal da sentença condenatória; e em se tratando de 1/6 (um sexto) da pena.
O condenado pela prática de crime de tortura, por ex-
200
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ/DF/Juiz de Direito Substitu- pressa previsão legal, não poderá ser beneficiado por livra-
to/2014; IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança Socioeducativo/2014; Funcab/ mento condicional, se for reincidente específico em crimes
PC/MT/Investigador/Escrivão de Polícia/2014; Cespe/TJ/AC/Técnico Judiciário/
Área Judiciária/2012; TJ/SC/Juiz/2010; PC/SP/Escrivão de Polícia Civil/2010; dessa natureza214. Isto está previsto no Código Penal, art. 83,
Funrio/Depen/Agente Penitenciário/2009. V, que versa que o juiz poderá conceder livramento condi-
201
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança cional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou
Socioeducativo/2014; Funcab/PM/GO/Soldado da Polícia Militar/2010; Cespe/
PC/PB/Delegado de Polícia/2009. superior a 2 (dois) anos, desde que cumprido mais de 2/3
202
Vunesp/PC/CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe/2015; Funrio/Depen/ (dois terços) da pena, nos casos de condenação por crime
Agente Penitenciário/2009; Cespe/TJ/RR/Analista Judiciário/Área Judiciá- hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes
ria/2006; Cespe/Polícia Federal/Agente Federal da Polícia Federal/2000.
203
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/SEDS/MG/ Agente de Segurança e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente
Penitenciária/2014; Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Civil/2014; Vunesp/ específico em crimes dessa natureza.
SejusES/Agente Penitenciário/2013; Copese/UFT//DPE/TO/Analista Jurídico
de Defensoria Pública/2012; Vunesp/TJ/MG/Juiz/2012; FGV/OAB/Exame de
Ordem Unificado III/Primeira Fase/2011; FCC/SJCDH/BA/Agente Penitenciá- Do crime de tortura equiparado aos crimes hediondos
rio/2010; Funcab/PM/GO/Soldado da Polícia Militar/2010; Vunesp/Fundação
Casa/Analista Administrativo/Direito/2010; Cespe/PC/RN/ Escrivão de Polícia Importante ressaltar que o crime de tortura não é cri-
Civil/2009; Cespe/PC/PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009;
PC/RJ/ PC/RJ/Inspetor de Polícia/2008. me hediondo. Na verdade, é crime equiparado aos crimes
204
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE/RS/Defensor Público/2014;
IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança Penitenciária/2014; Aroeira/PC/TO/Es- 209
MPE/SC/Promotor de Justiça/2013.
crivão de Polícia Civil/2014; Vunesp/PC/SP/ Escrivão de Polícia/2014; IBFC/ 210
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE/PB/Defensor Público/2014;
MPE/SP/Analista de Promotoria II/2013; Copese/UFT/DPE/TO/Analista Jurídico Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Civil/2014; Cespe/TJ-CE/Analista Judiciá-
de Defensoria Pública/2012; FEC/PC/RJ/Inspetor de Polícia/6ª Classe/2012; rio/Execução de Mandados/2014; IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança So-
FCC/SJCDH/BA/Agente Penitenciário/2010; Vunesp/Fundação Casa/Analista cioeducativo/2014; Vunesp/ PC/SP/Escrivão de Polícia/2014; IBFC/MPE/SP/
Administrativo/Direito/2010; Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; Analista de Promotoria II/2013; Funiversa/PM-DF/Soldado da Polícia Militar/
Funiversa/PC/DF/Agente de Polícia/2009. Combatente/2013; Vunesp/Sejus-ES/Agente Penitenciário/2013; Vunesp/PC/
205
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança SP/Investigador de Polícia/2013; Copese/UFT/DPE/TO/Analista em Gestão
Penitenciária/2014; Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Civil/2014; Fumarc/PM/ Especializado/Ciências Jurídicas/2012; Instituto Cidades/DPE/AM/Defensor
MG/Oficial da Polícia Militar/2011; FCC/SJCDH/BA/Agente Penitenciário/2010; Público/2011; FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado III/Primeira Fase/2011;
Vunesp/Fundação Casa/Analista Administrativo /Direito/2010; Ceperj/PC-RJ/ Cespe/MPU/Técnico de Apoio Especializado/Segurança/2010; Cespe/MPU/
Delegado de Polícia2009; Cespe/PC/RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; MPE/ Técnico de Apoio Especializado/Transporte/2010; TJ-SC/ Técnico Judiciário/
SP/Promotor de Justiça/2006. Auxiliar/2010; Fundep/TJ/MG/Assistente Social/2010; Funcab/PM-GO/Solda-
206
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-PE/Promotor de Justi- do da Polícia Militar/2010; Funiversa/PC/DF/Agente de Polícia/2009; Funrio/
Legislação Extravagante

ça2014; Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Civil/2014; Cespe/PG/DF/Pro- Depen/Agente Penitenciário/2009; Cespe/Polícia Federal/Delegado de Polícia/
curador/2013; Cespe/Depen/Agente Penitenciário/2013; Vunesp/Sejus/ES/ Regional/2004.
Agente Penitenciário/2013; Vunesp/PC/SP/Investigador de Polícia/2013; Ins- 211
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE/RS/Defensor Público/2014;
tituto Cidades/DPE/AM/Defensor Público/2011; Funiversa/PC/DF/Agente de IBFC/MPE/SP/Analista de Promotoria II/2013; Vunesp/Sejus-ES/Agente Pe-
Polícia/2009; Cespe/PC/PB/Delegado de Polícia/2009; Funrio/Depen/Agente nitenciário/2013; Vunesp/PC/SP/Investigador de Polícia/2013; Copese/UFT/
Penitenciário/2009; FGV/PC/RJ/Oficial de Cartório/2008; Cespe/MPE/RR/ DPE/TO/Analista em Gestão Especializado/Ciências Jurídicas/2012; TJ-SC/
Promotor de Justiça/2008; Cespe/Polícia Federal/Escrivão da Polícia Federal/ Juiz/2010.
Regional/2004. 212
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE/PE/Promotor de Justiça/2014;
207
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/PC/CE/Delegado de Polícia Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Civil/2014; Vunesp/PC-SP/Escrivão de Po-
Civil de 1ª Classe/2015; Cespe/MPE/AC/2014; TJ/SC/Juiz/2013; Cespe/TJ/RO/ lícia/2014; Funiversa/PM-DF/Soldado da Polícia Militar/Combatente/2013;
Analista/Processual/2012; Funcab/PM/GO/Soldado da Polícia Militar/2010; Cespe/TJ-AC/Técnico Judiciário/Área Judiciária/2012; Cespe/PC-ES/Escrivão
Upnet/2010/Seres/PE/Agente Penitenciário; Vunesp/MPE/SP/Promotor de de Polícia/Específicos/2011; Upenet/ Seres/PE/Agente Penitenciário/2010;
Justiça/2008. Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009.
208
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PG/DF/Procurador/2013; Ces- 213
Assunto cobrado nas seguintes provas: Upnet/Seres/PE/ Agente Penitenciá-
pe/Polícia Federal/Agente da Polícia Federal/2012; Cespe/PC/PB/Agente de rio/2010; Cespe/DPU/Defensor Público/2007.
Investigação e Agente de Polícia/2009. 214
Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2008.

18
hediondos215. Isto significa que deve receber o mesmo tra- Busca Informatizada Vestcon
tamento que os crimes hediondos, mas com eles não se
confunde. Estatuto da Criança e do
Da extraterritorialidade da aplicação da lei de tortura Adolescente
Pela lei que define os crimes de tortura, o legislador Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990
incluiu, no ordenamento jurídico brasileiro, mais uma hi-
pótese de extraterritorialidade da lei penal brasileira, qual Dispõe sobre o Estatuto da
seja, a de o delito não ter sido praticado no território e a Criança e do Adolescente e dá
vítima ser brasileira, ou encontrar-se o agente em local sob outras providências.
a jurisdição nacional216 (art. 2º).
Em regra, a competência de julgamento é da Justiça Co-
mum Estadual. O STJ já se posicionou no sentido de que o O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congres-
fato de o crime de tortura, praticado contra brasileiros, ter so Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
ocorrido no exterior não torna, por si só, a Justiça Federal TÍTULO I
competente para processar e julgar os agentes estrangeiros. Das Disposições Preliminares
(Jurisprudência noticiada no Informativo nº 549 do STJ – CC
107.397/DF, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Terceira Seção, jul- Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança
gado em 24/9/2014, DJe 1/10/2014). e ao adolescente.
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
Da competência para processo e julgamento pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
aquela entre doze e dezoito anos de idade.
O crime de tortura, tipificado na Lei nº 9.455/1997, não
se qualifica como delito de natureza castrense, achando-se Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
incluído, por isso mesmo, na esfera de competência penal excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
da Justiça comum (federal ou local, conforme o caso), ain- vinte e um anos de idade.
da que praticado por membro das Forças Armadas ou por Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direi-
integrante da Polícia Militar217 (Jurisprudência do STF – AI tos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
769637 AgR-ED-ED, Relator(a): Min. Celso de Mello, Segunda da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-
Turma, julgado em 25/6/2013, Acórdão Eletrônico DJe-205, -lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
divulg. 15/10/2013, public. 16/10/2013). Isto porque não há facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
crime de tortura previsto no Código Penal Militar, razão pela mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade
qual a conduta típica de tortura por policial militar enseja e de dignidade.
a aplicação da Lei nº 9.455/1997218. Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei apli-
Ademais, para que um cidadão seja processado e julga-
cam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimi-
do por crime de tortura, é prescindível que esse crime deixe
vestígios de ordem física219. nação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça,
etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal
Da ação penal pública incondicionada de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição
A ação penal para o crime de tortura é de ação penal que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em
pública incondicionada220. Logo, o defensor público, ao to- que vivem. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
mar conhecimento de que o réu, preso pelo processo, sofreu Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade
tortura nos termos da Lei nº 9.455/1997, por agente público, em geral e do poder público assegurar, com absoluta prio-
deverá representar ao órgão do Ministério Público que tiver ridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde,
competência para iniciar processo crime contra a autorida- à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissio-
de culpada221. Isto porque o MP é que detém a legitimidade
nalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
de promover privativamente a ação penal pública.
à convivência familiar e comunitária.
Concurso material de crimes Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
Há concurso de crimes de abuso de autoridade e de tortura circunstâncias;
se, em um mesmo contexto, mas com desígnios autônomos, b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou
dois agentes torturam preso para que ele confesse a autoria de relevância pública;
de delito e, em seguida, o exibem, sem autorização, para as c) preferência na formulação e na execução das políticas
redes de televisão como suposto autor confesso do crime222. sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
Legislação Extravagante

215
Assunto cobrado na prova: Cespe/Sejus/ES/Agente Penitenciário/2009.
216
Cespe/DPE/BA/Defensor Público/2010; FCC/DPE/PB/Defensor Público/2014; relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
FCC/MPE/PE/Promotor de Justiça/2014; Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
Civil/2014; IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança Socioeducativo/2014; IBFC/
MPE/SP/Analista de Promotoria II/2013; Funiversa/PM/DF/Soldado da Polícia
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
Militar/Combatente/2013; Vunesp/PC-SP/Investigador de Polícia/2013; FGV/ violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
PC-RJ/Oficial de Cartório/2008; Vunesp/MPE-SP/ Promotor de Justiça/2008. qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
217
Vunesp/PC/CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe/2015; Cespe/PG-DF/Pro-
curador/2013; Cespe/PC/ES/Delegado de Polícia/Específicos/2011; Cespe/PC/ fundamentais.
PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009. Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em con-
218
Assunto cobrado na prova: TJ/SC/Juiz/2010.
219
Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013; Cespe/PC-BA/Delegado de Po- ta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem
lícia/2013. comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
220
Assunto cobrado na prova: MPE-SP/Promotor de Justiça/2006. condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas
221
FCC/DPE-SP/Defensor Público/2006.
222
Cespe/PC/AL/Escrivão de Polícia/2012; Cespe/MPU/Analista/Processual/2010. em desenvolvimento.

19
TÍTULO II Art. 9º O poder público, as instituições e os emprega-
Dos Direitos Fundamentais dores propiciarão condições adequadas ao aleitamento
materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida
CAPÍTULO I privativa de liberdade.
Do Direito à Vida e à Saúde § 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas,
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção visando ao planejamento, à implementação e à avaliação
à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento materno e à alimentação complementar saudável, de forma
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. contínua. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neona-
programas e às políticas de saúde da mulher e de plane- tal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de
jamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, coleta de leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são
âmbito do Sistema Único de Saúde. (Redação dada pela Lei obrigados a:
nº 13.257, de 2016) I – manter registro das atividades desenvolvidas, através
de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por pro-
II – identificar o recém-nascido mediante o registro de
fissionais da atenção primária. (Redação dada pela Lei nº
sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe,
13.257, de 2016)
sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestante administrativa competente;
garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, III – proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêu-
ao estabelecimento em que será realizado o parto, garanti- tica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido,
do o direito de opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº bem como prestar orientação aos pais;
13.257, de 2016) IV – fornecer declaração de nascimento onde constem
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado necessariamente as intercorrências do parto e do desenvol-
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos vimento do neonato;
alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção V – manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
primária, bem como o acesso a outros serviços e a grupos nato a permanência junto à mãe.
de apoio à amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado
de 2016) voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade
psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, in- no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e recu-
clusive como forma de prevenir ou minorar as consequências peração da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
do estado puerperal. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 1º A criança e o adolescente com deficiência serão
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas ne-
ser prestada também a gestantes e mães que manifestem cessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a reabilitação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
gestantes e mães que se encontrem em situação de privação § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente,
de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próte-
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acom- ses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento,
panhante de sua preferência durante o período do pré-natal, habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de
do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído pela acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessida-
Lei nº 13.257, de 2016) des específicas. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre alei- § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
tamento materno, alimentação complementar saudável e frequente de crianças na primeira infância receberão for-
crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre mação específica e permanente para a detecção de sinais
formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de esti- de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para
mular o desenvolvimento integral da criança. (Incluído pela o acompanhamento que se fizer necessário. (Incluído pela
Lei nº 13.257, de 2016) Lei nº 13.257, de 2016)
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento saudá- Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
vel durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras inter- cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
para a permanência em tempo integral de um dos pais ou
venções cirúrgicas por motivos médicos. (Incluído pela Lei
responsável, nos casos de internação de criança ou adoles-
nº 13.257, de 2016)
cente. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
Legislação Extravagante

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo


gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos
pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comu-
consultas pós-parto. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) nicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à prejuízo de outras providências legais. (Redação dada pela
mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob Lei nº 13.010, de 2014)
custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência § 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse
que atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente
Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e
com o sistema de ensino competente, visando ao desen- da Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
volvimento integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, § 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de
de 2016) entrada, os serviços de assistência social em seu componen-

20
l.
te especializado, o Centro de Referência Especializado de I – castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva
Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adoles-
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão cente que resulte em: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na a) sofrimento físico; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de
faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirma- 2014)
ção de violência de qualquer natureza, formulando projeto b) lesão; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se II – tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma
necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente
nº 13.257, de 2016) que: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- a) humilhe; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
mas de assistência médica e odontológica para a prevenção b) ameace gravemente; ou (Incluído pela Lei nº 13.010,
das enfermidades que ordinariamente afetam a população de 2014)
infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, edu- c) ridicularize. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
cadores e alunos. Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada,
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos os responsáveis, os agentes públicos executores de medidas
recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar
do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016) de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou pro-
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à tegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou
saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma trans- degradante como formas de correção, disciplina, educação
versal, integral e intersetorial com as demais linhas de cui- ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo
dado direcionadas à mulher e à criança. (Incluído pela Lei de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão
nº 13.257, de 2016) aplicadas de acordo com a gravidade do caso: (Incluído pela
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função educati- Lei nº 13.010, de 2014)
va protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nas- I – encaminhamento a programa oficial ou comunitário
cer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, de proteção à família; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
no sexto e no décimo segundo anos de vida, com orientações II – encaminhamento a tratamento psicológico ou psiqui-
sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) átrico; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontoló- III – encaminhamento a cursos ou programas de orien-
gicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. tação; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) IV  – obrigação de encaminhar a criança a tratamento
especializado; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
CAPÍTULO II V – advertência. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo se-
rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberda- providências legais. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
de, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos CAPÍTULO III
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
aspectos: Seção I
I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços co- Disposições Gerais
munitários, ressalvadas as restrições legais;
II – opinião e expressão; Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado
III – crença e culto religioso; e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em
IV – brincar, praticar esportes e divertir-se; família substituta, assegurada a convivência familiar e co-
V – participar da vida familiar e comunitária, sem dis- munitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento
criminação; integral. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
VI – participar da vida política, na forma da lei; § 1º Toda criança ou adolescente que estiver inserido
VII – buscar refúgio, auxílio e orientação. em programa de acolhimento familiar ou institucional terá
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses,
da integridade física, psíquica e moral da criança e do adoles- devendo a autoridade judiciária competente, com base em
cente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidis-
da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e ciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade
objetos pessoais. de reintegração familiar ou colocação em família substituta,
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento de- (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
sumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. § 2º A permanência da criança e do adolescente em pro-
Legislação Extravagante

Art.  18-A. A criança e o adolescente têm o direito de grama de acolhimento institucional não se prolongará por mais
ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda
tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela
disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, § 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou ado-
pelos agentes públicos executores de medidas socioeduca- lescente à sua família terá preferência em relação a qualquer
tivas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, outra providência, caso em que será esta incluída em serviços
tratá-los, educá-los ou protegê-los. (Incluído pela Lei nº e programas de proteção, apoio e promoção, nos termos do
13.010, de 2014) § 1º do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: (In- incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Redação dada
cluído pela Lei nº 13.010, de 2014) pela Lei nº 13.257, de 2016)

21
§ 4º Será garantida a convivência da criança e do ado- Seção III
lescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio Da Família Substituta
de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas
hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade res- Subseção I
ponsável, independentemente de autorização judicial. (In- Disposições Gerais
cluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamen- Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á me-
to, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, diante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situ-
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas ação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
à filiação. § 1º Sempre que possível, a criança ou o adolescente será
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de
previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado
condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a
seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão so-
legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em
caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária com- bre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamen-
petente para a solução da divergência. (Expressão alterada te considerada. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
pela Lei nº 12.010, de 2009) § 2º Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade,
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda será necessário seu consentimento, colhido em audiência.
e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no in- (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
teresse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as § 3º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau
determinações judiciais. de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da
direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilha- medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
dos no cuidado e na educação da criança, devendo ser res- § 4º Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção,
guardado o direito de transmissão familiar de suas crenças tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a
e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos comprovada existência de risco de abuso ou outra situação
nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) que justifique plenamente a excepcionalidade de solução
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompi-
constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do mento definitivo dos vínculos fraternais. (Incluído pela Lei
poder familiar. (Expressão alterada pela Lei nº 12.010, de 2009) nº 12.010, de 2009)
§ 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a § 5º A colocação da criança ou adolescente em famí-
decretação da medida, a criança ou o adolescente será manti- lia substituta será precedida de sua preparação gradativa e
do em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter-
ser incluída em programas oficiais de auxílio. (Incluído pela profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
Lei nº 12.962, de 2014)
preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis
§ 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará
pela execução da política municipal de garantia do direito à
a destituição do poder familiar, exceto na hipótese de conde-
nação por crime doloso, sujeito à pena de reclusão, contra o convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
próprio filho ou filha. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) § 6º Em se tratando de criança ou adolescente indígena
Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão de- ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo,
cretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos é ainda obrigatório: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de I – que sejam consideradas e respeitadas sua identidade
descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como
alude o art. 22. (Expressão alterada pela Lei nº 12.010, de 2009) suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com
os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela
Seção II Constituição Federal; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Da Família Natural II – que a colocação familiar ocorra prioritariamente no
seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma
Art.  25. Entende-se por família natural a comunidade etnia; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. III – a intervenção e oitiva de representantes do órgão
(Vide Lei nº 12.010, de 2009) federal responsável pela política indigenista, no caso de crian-
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou am- ças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a
pliada aquela que se estende para além da unidade pais e equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá acompa-
filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos nhar o caso. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
com os quais a criança ou adolescente convive e mantém Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta
vínculos de afinidade e afetividade. (Incluído pela Lei nº a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade
12.010, de 2009)
com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão
Legislação Extravagante

adequado.
ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente,
no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante Art. 30. A colocação em família substituta não admiti-
escritura ou outro documento público, qualquer que seja a rá transferência da criança ou adolescente a terceiros ou
origem da filiação. a entidades governamentais ou não-governamentais, sem
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nas- autorização judicial.
cimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira
descendentes. constitui medida excepcional, somente admissível na mo-
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito dalidade de adoção.
personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável
exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o
restrição, observado o segredo de Justiça. encargo, mediante termo nos autos.

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Subseção II Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer do-
Da Guarda cumento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do
art. 1.729 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência mate- Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da
rial, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo sucessão, ingressar com pedido destinado ao controle judicial
a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos do ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165 a
pais. (Vide Lei nº 12.010, de 2009) 170 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão obser-
podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos pro- vados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei,
cedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na dispo-
estrangeiros. sição de última vontade, se restar comprovado que a medida
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em
casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares melhores condições de assumi-la. (Redação dada pela Lei
ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo nº 12.010, de 2009)
ser deferido o direito de representação para a prática de Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no
atos determinados. art. 24.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condi-
ção de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, Subseção IV
inclusive previdenciários. Da Adoção
§ 4º Salvo expressa e fundamentada determinação em
contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á
a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferi- segundo o disposto nesta Lei.
mento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não § 1º A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual
impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de
como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou
regulamentação específica, a pedido do interessado ou do extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.
Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assis- § 2º É vedada a adoção por procuração. (Incluído pela
tência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, Lei nº 12.010, de 2009)
sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado do Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito
convívio familiar. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou
§ 1º A inclusão da criança ou adolescente em programas tutela dos adotantes.
de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado,
institucional, observado, em qualquer caso, o caráter tempo- com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios,
rário e excepcional da medida, nos termos desta Lei. (Incluído desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo
pela Lei nº 12.010, de 2009) os impedimentos matrimoniais.
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo a pessoa ou casal § 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do
cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá re- outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o
ceber a criança ou adolescente mediante guarda, observado cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes.
o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei. (Incluído pela Lei nº § 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus
12.010, de 2009) descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes
§ 3º A União apoiará a implementação de serviços de e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação
acolhimento em família acolhedora como política pública, os hereditária.
quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos,
temporário de crianças e de adolescentes em residências independentemente do estado civil. (Redação dada pela Lei
de famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que nº 12.010, de 2009)
não estejam no cadastro de adoção. (Incluído pela Lei nº § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
13.257, de 2016) adotando.
§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, § 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os ado-
distritais e municipais para a manutenção dos serviços de tantes sejam casados civilmente ou mantenham união es-
acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse tável, comprovada a estabilidade da família. (Redação dada
de recursos para a própria família acolhedora. (Incluído pela pela Lei nº 12.010, de 2009)
Lei nº 13.257, de 2016) § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mais velho do que o adotando.
mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério § 4º Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-
Público. -companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que
Legislação Extravagante

acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que


Subseção III o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância
Da Tutela do período de convivência e que seja comprovada a existên-
cia de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da
pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. (Redação dada concessão. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
pela Lei nº 12.010, de 2009) § 5º Nos casos do § 4º deste artigo, desde que demonstra-
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a do efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda
prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei nº
e implica necessariamente o dever de guarda. (Expressão 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. (Redação
alterada pela Lei nº 12.010, de 2009) dada pela Lei nº 12.010, de 2009)

23
§ 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso adoção em que o adotando for criança ou adolescente com
do procedimento, antes de prolatada a sentença.(Incluído deficiência ou com doença crônica. (Incluído pela Lei nº
pela Lei nº 12.010, de 2009) 12.955, de 2014)
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem
vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes,
saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar após completar 18 (dezoito) anos. (Redação dada pela Lei
o pupilo ou o curatelado. nº 12.010, de 2009)
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá
ou do representante legal do adotando. ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos,
§ 1º O consentimento será dispensado em relação à crian- a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e
ça ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham psicológica. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
sido destituídos do poder familiar. (Expressão alterada pela Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder
Lei nº 12.010, de 2009) familiar dos pais naturais. (Expressão alterada pela Lei nº
§ 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos de
12.010, de 2009)
idade, será também necessário o seu consentimento.
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comar-
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivên-
ca ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes
cia com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autori-
dade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso. em condições de serem adotados e outro de pessoas inte-
§ 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o ressadas na adoção. (Vide Lei nº 12.010, de 2009)
adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante § 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia
durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministé-
conveniência da constituição do vínculo. (Redação dada pela rio Público.
Lei nº 12.010, de 2009) § 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não
§ 2º A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das hi-
dispensa da realização do estágio de convivência. (Redação póteses previstas no art. 29.
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) § 3º A inscrição de postulantes à adoção será precedida
§ 3º Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou de um período de preparação psicossocial e jurídica, orien-
domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido tado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventu-
no território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta) dias. de, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) pela execução da política municipal de garantia do direito à
§ 4º O estágio de convivência será acompanhado pela convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da § 4º Sempre que possível e recomendável, a preparação
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res- referida no § 3º deste artigo incluirá o contato com crianças
ponsáveis pela execução da política de garantia do direito à e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em
convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso condições de serem adotados, a ser realizado sob a orienta-
acerca da conveniência do deferimento da medida. (Incluído ção, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da
pela Lei nº 12.010, de 2009) Infância e da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença pelo programa de acolhimento e pela execução da política
judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado municipal de garantia do direito à convivência familiar. (In-
do qual não se fornecerá certidão. cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como § 5º Serão criados e implementados cadastros estaduais
pais, bem como o nome de seus ascendentes. e nacional de crianças e adolescentes em condições de se-
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará rem adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção.
o registro original do adotado. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 3º A pedido do adotante, o novo registro poderá ser § 6º Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua residentes fora do País, que somente serão consultados na
residência. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadas-
§ 4º Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá
tros mencionados no § 5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº
constar nas certidões do registro. (Redação dada pela Lei nº
12.010, de 2009)
12.010, de 2009)
§ 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante § 7º As autoridades estaduais e federais em matéria de
e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modifica- adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes
ção do prenome. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) a troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria
§ 6º Caso a modificação de prenome seja requerida pelo do sistema. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o § 8º A autoridade judiciária providenciará, no prazo de
Legislação Extravagante

disposto nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei. (Redação dada 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e ado-
pela Lei nº 12.010, de 2009) lescentes em condições de serem adotados que não tiveram
§ 7º A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em colocação familiar na comarca de origem, e das pessoas ou
julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista casais que tiveram deferida sua habilitação à adoção nos
no § 6º do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa cadastros estadual e nacional referidos no § 5º deste artigo,
à data do óbito. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) sob pena de responsabilidade. (Incluído pela Lei nº 12.010,
§ 8º O processo relativo à adoção assim como outros a de 2009)
ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se § 9º Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela
seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, manutenção e correta alimentação dos cadastros, com pos-
garantida a sua conservação para consulta a qualquer tempo. terior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira.
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

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§ 10. A adoção internacional somente será deferida se, I – a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar
após consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido
à adoção, mantido pela Justiça da Infância e da Juventude de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em
na comarca, bem como aos cadastros estadual e nacional matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim
referidos no § 5º deste artigo, não for encontrado interessado entendido aquele onde está situada sua residência habitual;
com residência permanente no Brasil. (Incluído pela Lei nº (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
12.010, de 2009) II – se a Autoridade Central do país de acolhida conside-
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessa- rar que os solicitantes estão habilitados e aptos para ado-
do em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que tar, emitirá um relatório que contenha informações sobre
possível e recomendável, será colocado sob guarda de família a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solici-
cadastrada em programa de acolhimento familiar. (Incluído tantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica,
pela Lei nº 12.010, de 2009) seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa para assumir uma adoção internacional; (Incluído pela Lei
dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério nº 12.010, de 2009)
Público. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) III – a Autoridade Central do país de acolhida enviará o
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a
candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente Autoridade Central Federal Brasileira; (Incluído pela Lei nº
nos termos desta Lei quando: (Incluído pela Lei nº 12.010, 12.010, de 2009)
de 2009) IV – o relatório será instruído com toda a documenta-
I – se tratar de pedido de adoção unilateral; (Incluído pela ção necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por
Lei nº 12.010, de 2009) equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da
II – for formulada por parente com o qual a criança ou legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de
adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; ; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) V – os documentos em língua estrangeira serão devida-
III – oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda mente autenticados pela autoridade consular, observados
legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde os tratados e convenções internacionais, e acompanhados
que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de da respectiva tradução, por tradutor público juramentado;
laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocor- (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
rência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos arts. VI – a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigên-
237 ou 238 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) cias e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial
§ 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o can- do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de
didato deverá comprovar, no curso do procedimento, que acolhida; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
preenche os requisitos necessários à adoção, conforme pre- VII – verificada, após estudo realizado pela Autoridade
visto nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangei-
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual ra com a nacional, além do preenchimento por parte dos
a pessoa ou casal postulante é residente ou domiciliado fora postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos
do Brasil, conforme previsto no Artigo 2 da Convenção de necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe
Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crian- esta Lei como da legislação do país de acolhida, será expe-
ças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, dido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá
aprovada pelo Decreto Legislativo nº 1, de 14 de janeiro de validade por, no máximo, 1 (um) ano; (Incluído pela Lei nº
1999, e promulgada pelo Decreto nº 3.087, de 21 de junho 12.010, de 2009)
de 1999. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) VIII – de posse do laudo de habilitação, o interessado será
§ 1º A adoção internacional de criança ou adolescente autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da
brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança
restar comprovado: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autori-
2009) dade Central Estadual. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
I – que a colocação em família substituta é a solução ade- § 1º Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar,
quada ao caso concreto; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) admite-se que os pedidos de habilitação à adoção interna-
II – que foram esgotadas todas as possibilidades de colo- cional sejam intermediados por organismos credenciados.
cação da criança ou adolescente em família substituta bra- (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
sileira, após consulta aos cadastros mencionados no art. 50 § 2º Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o
desta Lei; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros en-
III – que, em se tratando de adoção de adolescente, este carregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção
foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de de- internacional, com posterior comunicação às Autoridades
senvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de im-
mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, prensa e em sítio próprio da internet. (Incluído pela Lei nº
observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei. 12.010, de 2009)
Legislação Extravagante

(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 3º Somente será admissível o credenciamento de orga-
§ 2º Os brasileiros residentes no exterior terão preferên- nismos que: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
cia aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de I – sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção
criança ou adolescente brasileiro. (Redação dada pela Lei de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autori-
nº 12.010, de 2009) dade Central do país onde estiverem sediados e no país de
§ 3º A adoção internacional pressupõe a intervenção das acolhida do adotando para atuar em adoção internacional
Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de ado- no Brasil; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
ção internacional. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) II  – satisfizerem as condições de integridade moral,
Art. 52. A adoção internacional observará o procedimen- competência profissional, experiência e responsabilidade
to previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central
adaptações: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Federal Brasileira; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

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III  – forem qualificados por seus padrões éticos e sua com cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em
formação e experiência para atuar na área de adoção inter- julgado. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
nacional; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a
IV – cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento qualquer momento, solicitar informações sobre a situação
jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autori- das crianças e adolescentes adotados. (Incluído pela Lei nº
dade Central Federal Brasileira. (Incluído pela Lei nº 12.010, 12.010, de 2009)
de 2009) § 11. A cobrança de valores por parte dos organismos cre-
§ 4º Os organismos credenciados deverão ainda: (Incluído denciados, que sejam considerados abusivos pela Autoridade
pela Lei nº 12.010, de 2009) Central Federal Brasileira e que não estejam devidamente
I – perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condi- comprovados, é causa de seu descredenciamento. (Incluído
ções e dentro dos limites fixados pelas autoridades compe- pela Lei nº 12.010, de 2009)
tentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida § 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser
e pela Autoridade Central Federal Brasileira; (Incluído pela representados por mais de uma entidade credenciada para
Lei nº 12.010, de 2009) atuar na cooperação em adoção internacional. (Incluído pela
II – ser dirigidos e administrados por pessoas qualifica- Lei nº 12.010, de 2009)
das e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada § 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domi-
formação ou experiência para atuar na área de adoção inter- ciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano,
nacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Federal podendo ser renovada. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, me- § 14. É vedado o contato direto de representantes de
diante publicação de portaria do órgão federal competente; organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com diri-
(Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) gentes de programas de acolhimento institucional ou familiar,
III  – estar submetidos à supervisão das autoridades assim como com crianças e adolescentes em condições de
competentes do país onde estiverem sediados e no país de serem adotados, sem a devida autorização judicial. (Incluído
acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento pela Lei nº 12.010, de 2009)
e situação financeira; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá li-
IV – apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a mitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos
cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo
como relatório de acompanhamento das adoções interna- fundamentado. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
cionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminhada Art.  52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e
ao Departamento de Polícia Federal; (Incluído pela Lei nº descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de
12.010, de 2009) organismos estrangeiros encarregados de intermediar pe-
V – enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autori- didos de adoção internacional a organismos nacionais ou a
dade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central pessoas físicas. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser
O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente
autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho
país de acolhida para o adotado; (Incluído pela Lei nº 12.010, de Direitos da Criança e do Adolescente. (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009)
de 2009)
Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior
VI – tomar as medidas necessárias para garantir que os
em país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de
adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasi-
adoção tenha sido processado em conformidade com a legis-
leira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira
lação vigente no país de residência e atendido o disposto na
e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam conce-
Alínea c do Artigo 17 da referida Convenção, será automati-
didos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
camente recepcionada com o reingresso no Brasil. (Incluído
§ 5º A não apresentação dos relatórios referidos no § 4º
pela Lei nº 12.010, de 2009)
deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar § 1º Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea
a suspensão de seu credenciamento. (Incluído pela Lei nº c do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser
12.010, de 2009) homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela
§ 6º O credenciamento de organismo nacional ou es- Lei nº 12.010, de 2009)
trangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção § 2º O pretendente brasileiro residente no exterior em
internacional terá validade de 2 (dois) anos. (Incluído pela país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingres-
Lei nº 12.010, de 2009) sado no Brasil, deverá requerer a homologação da sentença
§ 7º A renovação do credenciamento poderá ser con- estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela
cedida mediante requerimento protocolado na Autoridade Lei nº 12.010, de 2009)
Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil
ao término do respectivo prazo de validade. (Incluído pela for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente
Lei nº 12.010, de 2009) do país de origem da criança ou do adolescente será conhe-
Legislação Extravagante

§ 8º Antes de transitada em julgado a decisão que con- cida pela Autoridade Central Estadual que tiver processado
cedeu a adoção internacional, não será permitida a saída do o pedido de habilitação dos pais adotivos, que comunicará o
adotando do território nacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, fato à Autoridade Central Federal e determinará as providên-
de 2009) cias necessárias à expedição do Certificado de Naturalização
§ 9º Transitada em julgado a decisão, a autoridade judi- Provisório. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
ciária determinará a expedição de alvará com autorização de § 1º A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério
viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando, Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela
obrigatoriamente, as características da criança ou adolescen- decisão se restar demonstrado que a adoção é manifesta-
te adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços mente contrária à ordem pública ou não atende ao interesse
peculiares, assim como foto recente e a aposição da impres- superior da criança ou do adolescente. (Incluído pela Lei nº
são digital do seu polegar direito, instruindo o documento 12.010, de 2009)

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§ 2º Na hipótese de não reconhecimento da adoção, I – maus-tratos envolvendo seus alunos;
prevista no § 1º deste artigo, o Ministério Público deverá II – reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar,
imediatamente requerer o que for de direito para resguardar esgotados os recursos escolares;
os interesses da criança ou do adolescente, comunicando- III – elevados níveis de repetência.
-se as providências à Autoridade Central Estadual, que fará Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experi-
a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira e à ências e novas propostas relativas a calendário, seriação,
Autoridade Central do país de origem. (Incluído pela Lei nº currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à
12.010, de 2009) inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino
Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil fundamental obrigatório.
for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va-
país de origem porque a sua legislação a delega ao país de lores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto
acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a
criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.
aderido à Convenção referida, o processo de adoção seguirá Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União,
as regras da adoção nacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços
de 2009) para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas
para a infância e a juventude.
CAPÍTULO IV
Do Direito à Educação, à Cultura, CAPÍTULO V
ao Esporte e ao Lazer Do Direito à Profissionalização
e à Proteção no Trabalho
Art. 

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