Você está na página 1de 8
© cios autores 1 edigée: 2002 Diteitos reservados desta edigso: Universidade Federal do Rio Grande do Sul Capa e projoto grtico Eaitora ao UFRGS, 2 parlt da coneopedo oxginal de Angela 8. Fayet e Janice Alves Revisio: Lucians Leipnit Edioraca0 alerrdaica Claudia Bittencourt Sinia Aling Othavan Nunes Eee eee EEE EPEC EEE ee PEPE ‘514 © meio come ponta zero: metsdoloia da pesquisa em artes pldstcas! organizado por Blancs Bites @ Lida Tessier. ~ Porto Alegre “ca, Universidade/UFRGS, 2002. (Colegae Vieunldade, 4) J. Aes Plisticas ~ Aros Visusis - Metodologia. I. Bites, Blanca “Teosor, Ele Titulo DU Tov.ce001.8 lento on pub: Mina Bao Gano ISBN 85-7025.624-8 satiric ia! OLHO MAGICO Helio Fervenza tema deste coléquio & a metadologia de pesquisa em artes plésticas, Como artista visual e pesquisador em artes, minhas perguntas iniciais s40: qual camino oseo ther para abordar este assunto? Quel via seguir para che {901 8 exposigéo dos varios problamas com os quai sou Confrontado diariamente © os métodos ai utlizadas? Logo om seguida per- ‘Sebo que um dos significados de meétodo, talvez 0 mais importante, é o de caminho:“caminho pelo quel se atinge um objetivo", nos diz 9 dicionavio, Ponsando e caminhando, lenbreime do artista norte-americano Allan Kaprow, quando ele nos fala dos happenings e ambiontes de tintae cinco, uarenta anos atrés, e da mudanga do contoxto e comportamento hoje ein dia ante e508 experitncias, Entretanto, nos diz Keprow (1992, p 24), "nbs ‘somes confrontados 8s mesmas questées fundamentais, O que signilics Sr um artista? O que é arte? Que pode ola fazer? E para quern? Responder simnplesmente e sem retérica,¢ muito, muito diel, Cada um de née tack ° lettior que puder." Os caminhos sao muitos @, Spesar de darmos indicagdes para Parcorté-los, sdo também muito ditlcels, Sdo inevitsveis as biturcacbes, 03 esvios, a9 pontes, as derivas do andar. Muitas vezes jogamos paciras no cura, para que estas nos indiquem a presenga ou e auséncia dos abis ‘Mes. O caminho est indissoluvelinente figado ao caminhanto @ a sov ‘andar. Resumindo: os caminhos em questo se tazem & medide que cami ‘nhamos, Doi dificuldade de tragabos inteiramete a prior som que'esse {rajeto inicigl ndo soje.revisto, alterado. modificado a todo instante. Osi {olvez sua impossibilidade mesmo. Assim, minhes escolhas foram pouco a pouco direcionando-se para ©caminho que percorro atvalmente. A abordagem do temnd se dard atiaves de alguns aspectos de minha pesquisa em andamento, os quais apontarn, indicarn, para quest6es que'me parecem relevantes em toda pescuisa nas artes visuais. Gostaria ainda de perguntar: para onde olhs nosso trabetho? O que ela olha? Como alhar para 0 assunto que tomos a dasenvolver? De onde OLHO MAGICO Mall Fevers ° lho? Como olhar para nossas referéncias, para as informagies que pos- sam nos auxilia @ situar nosso percurso? Comecarei, ent6o,.falando de uma mostia intitulada Otho meigico, ‘ealizada por mim em junho de 1997, na Galeri do Centro Integiado de Cultura em Fieriandpolis, durante o Festival de invemno da UDESC.! Oho magico apresentava cferentes obras constituides por imagens @¢ "matoriais colocados sobre paingis de exposigso presentes no local. Algumnas elas foram realizadas nequele momento e outras datavam de épocas e pert codas bem diferentes. Era como se repentinamente elas comerassem a dil ar, @ otharse, a relacionar-se. Como se.um encontro que preci imprvisto estivesse sendo, na verdede, ¢ hd muito tempo, subterraneamento preparado, ‘Tomos entéo ume série de objetos deftominados de olhos magicos, ‘05 quais emprestam seu nome a exposicio; ¢ que foram inctustacos dire tamente messes paingis. Temos também algumas fotos; dois trabsthos ‘ealzados com papel celofane verde e vermelho, fixades corn a ajuda de aifinetes de mapa nas mesmas cores, e um trabalho realizado com colofa- 19,22u1 ¢ alfnstes do mapa na cor antarela, Esses elementos, diferentes entre'si, conforrnavern uma espécie de instalagao, devido as preocupagdes espaciais, Havia uma énfase na rela- 520.instaurada entre os elementos viguais ai presentes e; entre estes 0.0 deslocamento, o compartemanto do visitante. Gostaria de sublinhar rhais uma vez.2 palawre entre, presente no que venho dizer” ‘Q.qye cabe ressaltar & qua, mesmo constituinda obras.e objetos alfe- Tentes, sua contigtidado e seu.cidlago provocayam uma alteragio na consti- ‘tuigdo de seu sentido. Ecomo se eles, naquela disposi¢éo, instaurassem uma ‘reqlénca, enter esta no mesmo sentido com que falames da freqiiéncie das ondas do rédio, e que esta seria iterente se sta disposigao rhudasse. Da ‘masmamancira, se 0 espago fosse outro, a “freqiiéncia” também sera outra, ° Estagio e estatuto flutuante, entao, das obras em. questa na mostra, Vale destacar, também, a artiliciolidarle nda $6 do espago, mas dos ‘materiais-empregados e das imagens, sua origemn industrial 6 sua relagdo com a produgéo om série, * Abracloco' inquet Stolf © Heldar Martinovsky, que realzaram uma boa perte da documentagio fotogrfiea, “ (© MEI COMO PONTO ZERO Na entrada do espace da mostra, podiamos perceber nocanto pos ‘0, monteda em éngulo, ua obva tealzada com rothas de papel celotane vyermelho ¢ vorde, que eram esticadas @ presas nes painis coma ajuda de alfinetes de mapa O celofane, como sabemas, 6 uma folha delgada etrahsparente usa- s'para cmbalar presentes au cversos tipos de mercadorias. Eusado tam- bbém oémo adoma ou decoragao,de diversos tipas de festas. Possul na Constivigéo de seu nome a raiz grega phan, de phaino! e que quer dizer “fazer aperecer" Através das folhas de celofane vemos a superficie dos pains. Es- tes delimitam 0 espaga onde se dé a exposigéo e, de certa maneira, for ‘mam uma barreira visual Os affinetes de maps, com suas cabecas esté- ticas ¢ colorides, situam-se nos cantos das folhas: cantos 340 como Sng. los de abertura, Os alfinetes sio pontos indicadores de ur lugar, do lugar onde eles vvomninscréver-se, Quando interigados produzemm um desenho que énfatica e°dotimita 0 espaco de cada folha ‘Nosso alhar destiza sobre a supeticie do celotane tomnada intensa pla cor. Se o olfar atravessa a fina espessura, pods alojar no exiguo espago entré 0 celafane e cs pains, devido as dobras 0 a texbilidade do material A trangparBncia permite que as cores toinem-se:mais intonsa inente kiminosas quando colacodas sobre os paindis, Este fatoé mportan Poque é essa ielagéo da folha com seu fund que toma a intensidade Bossivel-o vermatho & 0 vordo como que “tingem” o suporte, No contato com este, a cor’se sobressai some plano, ¢ @ transparénia fed menos evidente, Masse olhamos através das folhas, vamos 0 espaco ea Imatetialidade'do espago que organiza a obra, @ configura ea vacebe 05 olhos magicas nao séo certamente o que num primeio momento $ visto @ percebido, devido ao seu tamanho ¢ 9 sua localizacéo iregulat © ent ziguezague no espace, ocupando diferentes alturas € posigies. "los 108 surpreendem", dizem alguns vsitantés, “Othos magicos” sho esses dispositives colacoidos nas portas dos apartamentos » que nos pecmitem vor através da porta sem sermos vis ‘os, niim &ngulo de visio ampliado (grande angular, para fins de soguran- 42: evitarserinvadido, Etes ajudam 2 controlar o acesso a certos espacos ONO MAGICO Heo Ferenea : 6 Quando estamos dentro de casa olhamos através do instrumento: Conti Uidade 8 extensdo entre o instrumento “otho magica” e o olho humano, ‘Mas, aqui, estamos do outto lado, do lado de fora, Aqui estamos na posi. 20 de quem ¢ visto e nao de quetn olha. Escondido atrés de um “lho magico” poderia haver um outro olho? Estranha reversdo esta. Vamos a uma exposigdo para olharmes, para vermos as obras, e, de ropente, essa Posigdo se inverte: somos “vistos”, ou temos essa improssia, Os olhos _magicos enfatizam os pains, como barreiras 8 nos indicam um outro es- ago, diferente daquele no qual estamos. Esses pequenos objetos incorpo- Fam, redimensionam ¢ relativizara completamente o espaco da exposicéo seus components. Sobre ¢ raversibilidade do olhar ou'a reversdo da fungao do olhar, ‘varios autores e artistas consagraram reflex6es.e bras, como Bataille, ou Lacan, Giacometti, ¢ quem Jean Clair dedicerd o attigo inttuledo corn 0 mesmo nome de sua escultura La pointe 3 oeil. Metteau-Ponty descreve, em O vistvel eo invisivel a estrutura do olhar como uma estruture em dedo de luva, que pode ser invertida, ou ainda dg que ele se "sente olhado pelas coisas” € cita, em Otho @ 0 esphito, a seguinto decaragéo de um artista: "Numa floreste, sénti em varios momentos que néo era eu que olhava a floresto. Eu sent, cettos dias, que eram as drvores'que me ofhavain.." @, mais adiante, “Eu ereio que 0 pintor deve ser teascassado pelo universo, © no querer trenspassé-lo", Olhat: relagdo-inversao dos popsis entra vor e 501 visto, intercdmbio de polos entre aquele que v8 e o visivel Nos olhos magicos essa reversio certamente se coloca, rhas ela 6 trabslhads por uma tensio que # aquela de nao se saber reaimonte quem 19s olha, ou se hé olhar. Bem como a reverberagao dos significados acio- nados pelo seu uso cotidiano em nosso contexto social : Outra dimensio do problema 6 dada polo fato de que oles ostao de tal forma imbricades na confrontagéo com as outras imagens e obras, que 2 rolagéo inicial deles com o visitante & dlestocada, Trata-se realmente, ou to-somente, da existéncia ou no do obhar? E ate tipo de olhar? Continuemos. & partir de 1994, ccinacei a colecionar revistas de ‘onde circulegéo que encontrava nas bancas,’tais como Newsweekou Isto, e que apresentavam em suas capas fotos de pessoas vestindo | ‘mascaras, Por diversos mativos viamos ali estampadas as faces cobertés 70 (© MIO COMO PONTO ZERO. de guertitheiros, ponitentes religiosos, polcias, narcotraficantes, etc, dos «quais percebiamos somente os olhos atavés dos offcies abertos no tec do, e que nos “olhavem", sem que vissemos seus rostos. © que num primoiro momento charnourme a atengio era o fato de ‘que esses rostos encobertos oncontravarn-se na capa, o ugar mais imed- stemente visivel desses publicagses, que se propéem justarmente a mos- ‘tat, informer ou oriarinformagdes, assim coro todos os metos de cornu nicago de masse. Quer dizer, oles "faze aparecer” informagées e infor mam sobre 0 visivel, Eles séo, usados, ¢ seguidamente a publicicade & ‘e889, como meios pera atingir uma transparéncia das atividades humanas ‘nas suas 6rbites socieis, econdmicas, culturas, polticas, administrativas, @ assim por diante, Baudilard (1983, p.2), por exemplo, 20 referir-se 4 -obsceniade contempordnea, diré que ela ndo € rnafs palpavel, mes que ola é “transparente, @ recobre toda @ extenséo de nosso mundo comunicacional,." ~.... Porconseniicia, interessou-me essa relagéo, paretloxal, se assim guisermos, ontre’o “esconder” que a mascara integra @0 “mostrar” que a {ovista Velcula,A parti dal o.com o passer do tempo, decid ceonquadar.e Jefotogratar esas imagens de forma a deixar apenas um alfo exposto, Cade, um desses olhos & como umsponto, Eles pontuam; poderia- ‘mos dizer assim como os "olhos mAgicos” pontuath 0 pereurso p 0 6s 0 da exposigio. Alguém parece olhar-nos através da mascara, © n6s vo: ‘mos seu otho através de foto. Vernos também os pontos que formam a ‘etfcvia. 0 olho como ponto. O othar come ponto de passagern:situagéo limite em que algo acaba, nossa visiblidede, e comega algo invisivel, uma visibilidade outra Gostaria agora de falar de uma foto feita em 1992, em tomo de uma imagem realizada por Ricardo Campos, o qual, junto comigo e com o artis: {a plstico gaticho Otactlio Camilo (morto precocemente no fim dos anos £80), propés ¢ organizou,erri1985, em Porto Alegre, «abso intitlada Terre. no de circo, Reunram-se a és varias criangas que morevam proxirnas a0 'o¢al escolhido: um terrerio dostinado as atividades circenses. Na foto em questdo (medindo 46,5 x 31,5 cm) podemos ver duas mos que mostram uma outra imagem, sequrande-a pelos cantos superio« ‘esa altura do peito, a qual é destacada e contornada pelo fundo vermetho ‘OLHO MAGICO Helo Fervenza n Quando estamos dentro de casa olhamos através do instrumento, Conti- guidade ¢ extensdo entre o instrumento “olho mAgico” e o olho humano, Mes, aqui, estamos do outro lado, do lado de fora, Aqui estamos na po: $80 de quem é visto e néo de quem otha, Escondido atrés de um “olho mégico” poderia haver uni outro olho? Estranha reverséo esta, Vamos 0 uma exposigdo para olharmos, para vertnos as obras, ¢, de repento, osso osigdo se inverte: soras "vistos", ott temos essa impressio, Os olhos ‘mégicos enfatizam os painéis,como bartoies e nos indicarn um outro es- 1pago, diferente daquele no qual estamos, Esses pequenos objetos incorpo ram, recimensionam ¢ relativizarn completamente 0 espaco da exposigaa © seus componentes. Sobre a reversibilidade do olhar ou'a reverséo da fungao do olhar, varios autores @ artistas consagraram reflexdes.6 obras, como Bataille, ou Lean, Giacomett, @ quem Jean Clair dodicaré o artigo intitulade corn o mesmo nome de sua escultura La pointe Ioeil. Merleau-Ponty deserove, em O visivel @o invisfvela estrutura ds othar como uma estruture om dedo deluva. que pode ser invertids, ou aind’ de que ele se "sento olhado pelas coisas" e cita, em Otho & 0 espirito, a seguinte daciaragao de um artista: “Numa flovesta, senti em varios momentos que néo era eu que olhava 8 Floresta, Eu senti, cettos dias, que eram as érvores que me olhavam..." mais adiante, “Eu cieio que o pintor dave ser transpassadio pelo universo, © nde quorer transpassé-lo”, Olhar: relagao-inverséa dos papeis entre ver & Ser visto, intercdmbio de pélos entre aquele que vé eo visivel Nos oltias magieos essa reversao certamente se coloca, mas ela 6 \vabathada por uma tensio que € aquela de ndo se saber realmente quem "08 olha, ou se hd olhar. Bem como a revesberacso des significados acio- adios polo seu uso cotidiano em nosso cantexto social Outra dimensdo do problema é dada pelo fato de que eles estéo de {al forma imbricados na confrontacao com as outras imagens e obras, que 2 relacG0 inicial deles com o visitante & deslocada, Tiata-se realmente, ou tao-somente, da existéncia ou néo do ofhar? E quis tipo de clhar? Continuernos. A partir de 1994, comecel a colecionar revistas, de ‘grande circulagao que encontrava nas bancas, tais como Nowsweek ou Isto, @ que apresentavam em suas capas fotos de pessoas vestinda ‘mascaras. Por diversos motivos viamos ali estampadas as faces cobertas 0 (© MBO COMO PONTO ZERO. de guerriheiros, penitentes religiosos, policiais; narcotraticantes, et. dos qusis percebiamos somente os olhos através dos offcios abertos no tec do, 6.que nos “olhavarn”, sem que vissemos seus rostos, © que num primeiro momento chemou-me a atsngho era 0 fato de {que esses rostos encobertos ancontravam-se na capa, olugar mais imed- atamente visivel dessas publicagSas, que se propdam justamente amos- {tar infésmar ou era informagSes, assim como todos os meios de comu- nicagdo'de massa, Quer dizer, eles "fazem aparecer” informagées 0 infor- ‘mam sobre o visivel Eles sAo,usados, e seguidamente a publicidade & f8ssa, como moios para atingir uma transparéncia das atividades humanas nas suas érbitas seciais, econdmicas, cultura, polticas, administrtivs, @ assim por diante. Bauetilard (1983, p.2), por exemplo, do ceferi-se 8 ‘obscenidade contemporanea, diré que ola ndo 6 mals palpével, mas que ela 6 “transparento, @ rocobre toda a extenséo de nosso mundo ccotnunicacional..”. ._ Por eonseqiidncia, interessourmo essa rolagéo, paradox, se assim quisermos, entre’ “escondor” quo a méscara integra e 0 "mestra‘” que a {evista veioule,A pair daf e com 0 pessar do tempo, decidl reenquadrar & Fefotografar essas imagens de forma a deixar apenas um olha exposto Cada,um desses olhos é como um ponto. Eles pontuam, podetto mos dizer, assim como os “alhos magicos” pontuarho,poreurso ¢ 0 espe {60 da exposicdo. Alguém.patecs olhar-nos através da mascara, e nés ve ‘mos seu otha através da'foto. Vemnos também os pontos que fotmam 3 Feticula. 0 ofho como ponto. O othar como panto de passage: situagao limite em que algo acaba, nossa visibilidade, © eomega algo invisivel, uma Vistbilidade dutra Gostaria agora de falar de uma foto feita em 1992, em torn de ume imagem realizada por Ricarda Campos, o qual, junto comige @ carn o artis- {a pldstico gaticho Otaclio Camilo (morto precocemente no fim dos anos £80). ponds @ organizou, em-1985, em Porto Alegre, a agi intitulada Terre- ‘no de circa. Reunitarse a fs varias eriangas que moravam pidximas a0 local escolhido: um terreno destinado as atividades circenses. Na foto em questao (medindo 46,5 x 31,5 cm) podemos ver duas "mos que mostrar uma outra imagem, segurando-a pelos cantos superio: res na altura do peito, a qual é destacada e contorhada pelo funda vermetho ‘OLHO MAGICO Hallo Ferverza n n Helio Fervenza, 1997, vista parcial de urn eonjunto de quatro fotos. ‘© MEIC COMO PONTO ZERO Helio Fervenza, foto plasiticada, 46,5 x 31,6 em. do ura camiseta, A foto relative # ag do Terreno do crco © astra 4uma crionga. Seu rosto & encoberto por um sace pléstico tansperent, ‘sobre.0 qual encontramos una grande mancha vermalhs, mais ou menos arredondade, ¢ que escande os tragos di face situade pordetrds, tal como Uma’ iméscara sem aberturas. Na sua mao diteita, 0 morino sequca um tubo de spray, com os bragos abortos na diragdo da objetiva, mostrando 80u rosto encoberto, segundos depois de pulverizaro pléstico com a tinta vorrei. € como se de um golpe, ante o instanténeo da foto, e esconden- do sou rosto, ele se mosirasse. Para nds que participamos da ago, esse gesto 0 sua imagem sacu Girar-nos. Estes continuam ainda sendo mute importantes para mim. 0 gosto foi revelador em muitos semtidos, Gostaria de deter sobre tum dessos sentidos. A medida que o menino recobre o rosto com tint, ele else OLE MAGICO Hello Fervenza a rndo esié mais vendo o que faz. Ao fazer ele néo ve. A violéncia da cana que ‘805 chocau iniciamente, emibora 0 menino nada tenha softido, trazia algo de aradoxal e de revelador através da opscidade: ao esconder seu olhara pin ‘ura surgia, ¢ ela surgia @ medida que ele ndo vie, € néo a via. Pintura e face coincidem, Para revelar a face da pintura, ole teve que escontler sua face ‘A-ampliagéo fotogrética mostrada na exposigéo foi plastificada dos dais lados, como um documento, coma uma carteira de identidade, Gostaria, ainda, de deter-me em outra fotografia, na qual, no espaco reduzido delimitado pela objetiva da camera, duas maos espalmadas nos {zen face @ nos impedem de ver um roste situado por detras, fazendo uma barteita 20 rosso olhar. As méos ao mesma tempo comprimem-se contra um vite, situado ent elas @ a cimera, e de ulna certa maneita 0 "reve- ‘ony”, intarrompendo sua transparéncia, Claude Gandelman (1989, p.114), ‘om seu artigo “Representer 0 vidio", traznas ume coniribuigdo esclarocodora: ‘Ao designar sua translucidez, 0 vidio tamna-se opaco. Com efeifo, 'n65 nda podemos mostrar a transparéncia que através de um circu. {0 de falhos precisamente a anulem como transparéncia. Assim, 0: signos da trensparéncia sdo as upturas dessa transparéncia, Esse estado de coisas parece atravessar tode a montagem ce Olho ‘mégico, relacionando transparéncias 0 barreiras, Ao térmnino dessas observagées sobre as obras airesentadas e so- bre @ exposicaa como um todo, gostarid de-enfocar a seguinte situacio. As andlises realizadas sto evidentemonte parcials ¢ néo-conciusivas.tevido a0 tempo disponivel @ ao assunto do colSquio. Outras abordagens & anrofundamentos seriem possiveis. Entretanto, nossas escolhas recalram, sobre as trechos de um caminho que nos conduzii a elgumas constatagdes c-aue dizem respeito sobretudo as questées iniciais, Em inlagio a essas constatagées, ha uma que & bastante escla 'ecedora, Trato-se da dilago Tevado cabo com um visitante,? durante & abertura da exposigia Otho migico, dislogo que tratarei de transcrever © ‘melhor possivel, 20 mesmo tempo em que desenvolvo as dias levantadas, 2.0 visitante era o artista plstico Antonio Varges, @ quern agradego suas precié- sas observagses, - (© MEI COMO PONTO ZERO Diziame o visitante quo, quando de sua entiada na saa, 20 observa algunas das imagons e objetos presentes, e avez por ester surpreso canto de situagbes encontradas, eve subitamente de ser da sala, para posterior ‘mente entar de novo, Segundo que me contou, ele ndoestava vendoo ave all ocotria, Era como se ele tivesse entrado com uma expectativa, Cortespondendo & um certo tipo de informagio, comportamento ou cuture visual, que isso fore, de alguma manera, desestabiizado momentancamen- '©. 0 que; segundo ele, secolocavaa descoberto ara o que considero corn. Pereepeo da dnfose no aspectarelaconat entre os diferentes objetos, mais fo que no isolamento destes, provocando a itupgo dos sentidos. Era torn }bém o fato de que a posigo eo tamanho de alguns dosses cbjeios deixavany indeterminados seus imites. Alguns olhos magicos se “escomviamn", por as sim dizer devidoa sua pequener, “aparecendo” repentinemente, Dal as ques- {es que podemos enunciar: onde estao os mites da obra? Ito faz parte ou nfo faz parte? O que por extenséo podoriamos dedi ito & ou no 8 arte? © desvio propiciado pelo aislogo direcionou-se’ para ua passa ‘d9m fundamental... ratorno do vistante pare a expasigao fora impolst Sado pele seguinta questéo: como olhar para isso que se aprosentava dianto dele? 0 gue estava ali em jogo nao era tanto 0 olhar, embora para isso hhouvesse elementos indicadores, mas camo aha. Eisso era algo intrinse. 0 as obs e & situagao como um todo, Curiesoments,otho rico foi uma masta em que, dele sua prepare (80, escatha das obras a montagem, me veio mais intensornanta a conscién- Cia sonsagio de que eunio estova exprimindo ou exoressandosigo, nas de {ue algo ce dlineava a port dos objetos e dasimsigens, e de suarelagsd, Fra um experimenter a partir desses elements e de suas conotagées, Ere camo $e parasse no ara seguinte pergunta:o que acontece se..? Como os diforom. {6s trabalhos reagem ou se relacionam quando confrontados uns aos butios? Quais so seus atibutes comuns? Como funcionarn os atibutes daquilo que ‘sperece, ou através dos quel aparece? O processo podia sor dase nos ‘sequintes termes: tratava-se ndo de algo que fosse como um olhar meu, mas 212 como Sea prépra obra estivesse se fzendo para que eu posse ofha, Interseegio entéo, co-incidancia entre a pergunta inicial relative d metodotogia, isto é, “come alhar?™, e a pergunta indudids pelo propria OLHO MAGICO Netto Fervensa 6 i mostra, "como olhar?". Proposigéo colocadda pelas obras e circunstinci- as af presentes. Finalmente, s0 no caso especitico da exposigdo, a questéc que so ‘apresentou era néo tanto o acontecimento dd olhar; mas de come olhar, orm termos metodol6gicos a0 nos depareimos numa pesquise om artes visu- ais com esta pergunta, a de como olhar para assiinto que temos a desen- valves, como olhar para nosses referéncias, para as informagées que pos- sam nos suxllar a situar nosso. percurso, potleremos talvez contibuir di zende: come olhar? Ora, olhar.. através da obra REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BAUDRILLARD, Jean, What are you doing after the orgy? Traverses, Paris? CClCentre Georges Pompidou, n.29, out. 1983, 7 KAPROW, Allan. Qublions l'art, Kanal Europe, Paris, 2° semestre 1992, GANDELMAN, Claude. Représenter le verre! Traverses, Paris: ClC/Centre Georges Pompidou, n.46, mar. 1989. : %6 (© MEIO COMO PONTO ZERO \ 5S RS Bloz/q5

Você também pode gostar