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PARAFUSOS E LIGAGOES APARAFUSADAS LA introdugio LigagBes so dispositivos utilizados para transmitir forcas entre elementos estruturais. Embora em estruturas metdlicas se possam usar ligagdes soldadas e ligacées aparafusadas, as ligagies aparafusadas esto mais vulgarizadas pela sua facilidade de fabrico e montagem em obra. As diferentes tipologias de ligagées aparafusadas inciuem placas cobrejuntas, places de extremidade e cantoneiras, entre outas. Para ligar estes elementos aos perfis estruturais utlizam-se parafusos. Neste capitulo apresentam-se questies directamente relacionadas com o comportamento dos parafusos € tipologias de ligagdes muito simples, em que os parafusos normalmente garantem a transmissao de forgas entre dois elementos com pequenas excentricidades. Genericamente, e de forma tradicional, pode-se dizer que 2s ligacSes aparafusadas so dimensionadas através de processos semi-empiricos, baseados em resultados de ensaios, experiéncia e prética de boa execucio. Como regra semiempirica tem-se, por exemplo, a descrita na cldusula 3,.6.1(3) da EN 1993-1-8 [prEN 1993-1-8: 2003], segundo a qual a resisténcia ao corte de parafusos M12 e M14 deve ser calculada multiplicando a expressiio de célculo da resisténcia ao corte de parafusos de maior dimetro por um factor igual a 0,85. 2.2 Caracteristicas Mecanicas dos Parafusos No Quadro 2.1 apresentam-se as classes de parafusos mais utilizadas em ligagdes metalicas (classes 4.6, 56, 6.8, 88 ¢ 10.9). De um modo geral, nas ligagies sujeitas a forgas e momentas estaticos, podem sor utlizadas todas as classes de parafusos. Nas ligagBes sujeitas a forcas ciclicas susceptiveis de induzir fenémenos de fadiga, devem utilzar-se parafusos com elevada resisténcia & fadiga deformabilidade reduzida, nomeadamente os parafusos de classes 8.8 e 10.9 ou superiores, Quadro 2.1: Caracteristicas mecénicas dos parafusos. Classe do parafuso] 4.6 5.6 6.8 88 10.9 fo (MPa) 240 300) 480) 640 300. fv (MPa) 400 500 600 800 7000 baixa ou média percentagem de Liga de aco com uma percentagem media Material e tratamento| cerbono, total ou _parcialmente| de carbono, temperado ~ parafusos de recozido. alta resisténcia, A zona mais fraca de um parafuso € a parte roscada (Figura 2.1). A resisténcia de um parafuso é normaimente avaliada utilizando a “secco resistente a tracco” (também denominada por “seccdo resistente”), definida pela média entre o diémetro do nticleo da espiga d, € 0 diametro “médio” dt QA) tamanho de um parafuso é definido em funcao do seu didmetro nominal, do comprimento abalxo da cabeca e do comprimento da parte roscada, Rosca Figura 2.1: Seccdo transversal e "secgio resistente” de um parafuso [Ballio, Mazzolari, 1983]. | 2.3 Comportamento de um Parafuse numa Ligacgdo Avresisténcia ditima de uma ligacdo aparafusade é avaliada assumindo simplificacées na redistribuicgo ddas forcas internas, comprovadas experimentalmente. Para as diversas distribuigdes de forces possiveis 20 longo de uma ligago, os parafusos podem ser solicitados como: * Parafusos ao corte ~ Neste caso 0 movimento das placas de ligagio ¢ restringido essencialmente pelo niicleo do parafuso; + Parafusos de alta resisténcia em ligagées pré-esforgadas resistentes ao escorregamento ~ Neste caso as placas so comprimidas entre si devido as forgas de aperto dos parafusos, resistindo por atrito; + Parafusos traccionados. forga no parafuso forga na placa forca no parafuso ccmogpnero Lb Z 4 ahi pongo : eeoeee oto = eoarene EF ace EE frome] gs. ag P (Dgromagament + attite, = a : oe a Teco ' 3) iol Hie oh a) igagbesresisentes a0 | b)igagtes préestocadas | c) igagbes resstenes & cote : waco Figura 2.2: DistribuigSo de forcas em ligagbes aparafusadas sujeitas ao corte e em ligagdo aparafusadas pré- esforgadas (Trahair et al, 2001), ‘As forgas internas (corte, esmagamento e traccéo) podem ser transferidas por corte/esmagamento em ligagées aperafusadas correntes e por atrito entre as placas em ligacées pré-esforcadas. Essas forgas sao descritas nas Figuras 2.2 e 2.3 para ligagdes correntes ligacdes oré-esforcadas. Além destas, existem muitos outros tipos de ligacdes onde os parafusos slo solicitados por uma combinagio de corte com tracedo. Gs garafusos predominantemente solicitados por cargas estaticas podem ser apertados manualmente, ‘om uma chave ("snug-tight” ou "spanner-tight”). Este aperto é suficiente para garantir forca de atrito entre as placas ligadas e transferir uma pequena forga sem que se verifique escorregamento. Para forcas superiores & forca de atrito ocorre um deslizamento permanente devido & folga entre o parafuso € 0 furo. Este deslizamento termina quando 0 niéicleo do parafuso entra em contacto com a placa. Se aplicarmos forcas superiores, verifica-se uma resposta eldstica até que 0 niicleo do parafuso ou a placa de ligac3o entrem em fase pléstica, A deformacéo pidstica pode iniciar-se no parafuso e na place de ligago em simulténeo. A rotura da ligago podera ocorrer segundo um dos seguintes modos: «Corte no parafuso; + Esmagamento da placa de ligacdo; + Rotura em bloco, Os valores de dimensionamento da resisténcia ao corte e ao esmagamento sao obtides com base no quadro 3.4 da EN 1993-1-8, enquanto que o método para avaliacéo da rotura em bloco é descrito na dausula 3.10.2 do mesmo Documento. A resisténcia relativa a rotura em bloco é baseada em dois rmecanismos de rotura possiveis: cedéncia por corte combinada com rotura por traccéo ou rotura por corte combinada com cedéncia por traccio [Aalberg, Larsen, 2000]. 0 modo de roture depende das dimensdes da ligacdo e da resisténcia relative entre o material dos parafusos e o material das partes ligadas. 3 Ligagdes Resistentes ao Escorregamento Em ligagdes pré-esforcadas resistentes ao escorregamento, os parafusos de alta resisténcia devem ser apertados, no minimo, com 70% da sua tensio ultima. Nestas ligagdes, os parafusos n&o séo solicitados ao corte e as forcas so transmitidas por atrito entre as placas ligadas. Na cldusula 3.4.1 da EN 1993-1-8 s8o definidas trés categorias de ligacdes resistentes ao escorregamento, denominadas por B, Ce . A resisténcia de uma ligagdo deste tipo é funco do coeficiente de atrito das superficies em contacto py, e da forga de aperto Fs (Figura 2.3) introduzida pelos parafusos de alta resisténcia, No quadro 3.7 da EN 1993-1-8 slo definidas vérias classes de tratamento das superficies para as quais 1 varia entre @.2e 0,5. No caso de outras condigdes de tratamento das superficies, o valor do coeficiente de atrito deve ser determinado com base em testes O.. f foe O10 A eee a 7 Fos fi Figura 2.3: Parafusos de alta resisténcia numa ligagao pré-esforgade [Kuzmanovic, Willems, 1983]. Dated oes ont! Neste tipo de ligagdes, e de acordo com a clausula 8.5(4) da EN 1090-1 [EN 1090-1: 1996], deve-se utilizar: ‘em parafusos de classe 8.8: uma anilha mais dura por baixo do elemento que roda durante © aperto (cabeca ou porca), ‘+ em parafusos de classe 10.9: uma anitha mais dura por baixo da cabeca e da porca, A forca de traccéo instalada num parafuso de alta resisténcia pode ser controlada por um dos seguintes métodos: ‘+ Momento torsor, aplicado com uma chave dinamémetro; + Método “Tur-of-the-nut”, que consiste na aplicacSo de um determinado angulo de rotago apés se ter atingido a condicgo de “snug-tight” (0 valor da Totagiio depende da espessura total das placas e anilhas); ‘+ Dispositivos indicadores de carga; * Combinacdo das dois primeiros métodos. jo 2.1: Perda de Pré fu ‘Testes realizados em Franga mostraram que em ligagdes entre elementos de ago protegides com pinturas correntes, podia ocorrer uma reducéo da forga de pré-esforco entre 25% e 45% num ptazo de 2. 3 meses. Como é que este efeito é incorporado no métado de dimensionamento de tigagées preé-esforgadas? Os elementos de ligagées resistentes ao escorregamento no devem ser protegidos com pinturas Correntes. As pinturas correntes reduzem 0 coeficiente de atrito nas superficies em contacto e consequentemente a capacidade resistente da liga¢o. No entanto, podem ser usadas pinturas especificas que no reduzam o atrito. Porque € que as ligagées resistentes ao escorregamento da Categoria C so verificadas ao esmagamento para cargas correspondenites aos Estados Limites Ulkimos, de acordo com a cldusula 3.4.[(1¢) da EN 1993-1-8, quando 0 escorregamento no € permitido para Estados Limitas Ultimos? Neste tipo de ligacées existe sempre a possibilidade do parafuso nao ficar centrado no furo e entrar €m contacto com as placas. Para se obter um nivel de seguranca adequado, deve ser verificada a resisténcia a0 esmagamento, Questa sisténcia ao Corte de Parafusos Pré-esforcados Solicitados Tambem_a Traccio De acorn cama a ¢ 8 3.9.2 Ua EN 1993-1-8, a forca de pré-esforgo Fy.s no 6 reduaida da a ac F; aplicacia, quande as forcas de @ de corte S30 combinadas Quando se aplica uma forga de pré-esforco num parafuso, verifica-se uma deformagio do conjunto Constituido pelas placas de ligacdo e pelo parafuso, cuja andlise simplificada pode ser efectuada de acordo com a Figura 2.4. A deformac3o do parafuso «, & compativel com a forca de pré-esforgo Fe com a diminuigSo de espessura da placa 4. Se aplicarmos uma forca exterior de tracgio Fi, a forca total no parafuso sera Fi € a deformacao &, 2. A forga de tracgo exterior seré parciaimente transformada numa forga adicional no parafuso AF, sendo a restante equivalente a uma reduc da forca que as placas de ligacéo inicialmente (apds o pré-esforgo do parafuso) exerciam sobre 0 parafuso AF). aumento da forca no parafuso é dado por \F, € a diminulgo da forca de aperto entre as placas é de aF,, sendo a deformacio da ligago dada por doe. A linha 2 traco interrompido mostra a influéncia da flexibilidade das placas a fiexo devido as forcas de alavanca, Ao aplicarmos a forga de tracedo 8 ligacdo, uma parte da forca de pré-esforgo ‘no parafuso mantém-se constante, devido & deformacdo das placas, Devido & relacio entre a rigidez do parafuso & traccdo e das placas & compressdo (com valores entre 1 e 4), a forca de contacto entre as placas toma um valor, no minimo igual a: 5 O8-F, (2.2) A validade do factor 0,8 baseia-se num cilindro de compressio com érea fixa. Estudos por elementos finitos indicam que esse factor deveria depender da espessura, classe de parafuso, classe de aco e rlimero de placas ligadas, Forga externa no paratuso (F) Forge total no parafuso (F,) Figura 2.4: Diagrama de forcas intemas numa ligago pré-esforcada solictada a traccBo [Bickford, 1995]. Parafusos as Extremidades das :_Distancias Maximas entre Pi esto 2 lacas 0s critérios em que se baseiamn 08 valores de 24 tou 200 mn para as disténcias maximas entre 08, de ACordo com o quadro 3.3 dd BN 1993.1-87 Os valores limites para p, e pz S80 independentes das condigées atmosféricas ou outros factores que influenclem a corrosio dos elementos da ligagHo. Estes limites s80 definidos de forma a garantir um bom comportamento da ligagio, tendo em conta fenémenos como a Instabilidade local das placas e os associados a juntas longes. A instabilidade local das placas entre parafusos deve ser verificada de acordo com a EN 1993-1-8, segundo os crtérios definidos no quadro 3.3, nota 2, Em juntas muito longas, devido a deformagdes no material de base, os parafusos ficam submetidos @ forcas desiguais (se @ junta for muito longa, as deformacdes nas placas ligedas conduzem a uma distribuigio néo. niforme das forcas pelos parafusos). Este efeito é considerado nas regras definidas na cléusula 3.8, Paiute a ener ere

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