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Resumo Abstract
A inflexão das políticas públicas para o cinema, a The inflection of public policies toward film production
partir da criação da Lei do Audiovisual (1993), susci- after the Audiovisual Act (1993) arouses
ta interrogações sobre as relações entre as verten- interrogations on the relationships between, on one
tes industrial e as culturais envolvidas na produção hand, the industrial and, on the other, the cultural
cinematográfica. O presente artigo irá avançar hipó- matrixes involved in film-making. This article will draw
teses sobre o impacto das tendências das políticas hypotheses on the impact of cinema-related public
públicas para o setor, na construção da história re- policies, on the recent history of Brazilian cinema,
cente do cinema brasileiro, e suas interfaces com a and its interfaces with symbolic production in the
produção simbólica na contemporaneidade. Para tan- contemporary world. It departs from a partial review
to, toma como referência uma revisão parcial da lite- of the literature and available information from both
ratura disponível e informações provenientes de fon- private and public sources on audiovisual production,
tes governamentais e empresas privadas, sobre a distribution and exhibition in Brazil. Such evidence
produção, distribuição e exibição do audiovisual no suggests a close relationship between governmental
Brasil. Tais evidências sugerem a íntima relação das policies and the development of the cinema-related
atuais políticas governamentais com o desenvolvi- productive chain as well as with the socio-cultural
mento da cadeia produtiva do cinema e com o papel role of cinema in the country today.
sociocultural do cinema no país hoje.
cadeia produtiva - distribuição e exibição - ficam restrito ao mercado interno e raras vezes chega
nas mãos de empresas estrangeiras. às televisões abertas e fechadas; estes são exibi-
dos, em sua maioria, em salas de arte. Quando se
consegue apoio de uma major e de emissora de
2 D ISTRIBUIÇÃO televisão, o filme pode vir a se tornar uma grande
produção nacional. O filme passa, então, a fazer
No que se refere à distribuição, o merca- parte de um circuito de exibição mais amplo, atin-
do brasileiro encontra-se dominado pela ação de gindo maior número de espectadores.
empresas norte-americanas que controlam a mai- Para Galvão (2003), o audiovisual “sofre
or fatia do mercado nacional. O produto nacional um desconto cultural”. É inerente ao produto
é, por conseqüência, obrigado a se ajustar a um audiovisual os valores culturais locais. A língua,
sistema de distribuição e exibição que teve todo o por exemplo, pode ser um impedimento para que
seu desenvolvimento baseado na lógica internaci- um filme brasileiro chegue aos Estados Unidos. A
onal. Essa participação estrangeira na distribuição questão do nacional e do global estará sempre pre-
de filmes nacionais foi um dos adventos do Artigo sente quando se discute um produto cultural.
3º da Lei do Audiovisual6. Nesse contexto, as co-produções sejam
A participação das majors na atividade ci- elas nacionais ou estrangeiras, surgem no setor
nematográfica brasileira, ao mesmo tempo em que como alternativa para o desenvolvimento e so-
se mostra relevante para o desenvolvimento do brevivência da indústria do audiovisual. As atuais
cinema nacional, gera concentração e distorção co-produções com distribuidoras, resultado das
no mercado cinematográfico. Estas empresas de leis nacionais de incentivo, e com a televisão aberta
distribuição investem em filmes com potencial de acabam por modificar a relação do produto com
público tendo como objetivo garantir retorno fi- mercado, além de sofrerem influência ideológica
nanceiro. e estética. Filmes realizados a partir de programas
Junto à concentração de público em fil- de televisão, como “Os Normais”, ou filmes apoi-
mes nacionais distribuídos por majors (e não de ados pela Globo Filmes, como “Olga”, favore-
variedade de títulos) ocorre uma defasagem entre cem a dominância da estética televisiva e alteram
os elos da cadeia produtiva no cinema nacional. a relação dessas produções com o mercado. Os
Muitos filmes nacionais chegam a ser finalizados, grandes sucessos nacionais estão vinculados à ma-
mas não são exibidos nas telas de cinema por fal- neira norte-americana de comercialização do ci-
ta de distribuidor. E, quando o produto brasileiro nema e à TV Globo. Muitos afirmam as medidas
chega ao cinema, ele não consegue seguir a ca- governamentais estão sendo distorcidas em favor
deia produtiva que se subdivide nas seguintes ja- das majors, dos grandes produtores nacionais ou
nelas: cinema; home-vídeo, televisão paga; televi- dos exibidores, gerando concentração e
são aberta e outras mídias. O filme brasileiro fica desigualdade no setor 7.