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FIS641 - Eletromagnetismo I Aula 02

1 Eletrostática
1.1 Carga elétrica
Dá-se o nome de Carga elétrica a uma propriedade da matéria introduzida para entendermos qualitativa e quantitativamente
um tipo de interação observada na natureza que, por razões históricas foi denominada interação elétrica ou eletrostática. Desse
modo, assim como a noção de massa gravitacional permite o estudo da interação ou força gravitacional, a carga nos permite
descrever as forças elétricas entres corpos materiais. Entretanto, ao contrário da força gravitacional, que é sempre atrativa,
observou-se que a força elétrica pode ser de atração ou repulsão. Assim, torna-se necessário admitir que existem duas espécies
distintas de carga elétrica, que convencionamos chamar de carga elétrica positiva e carga elétrica negativa.
A carga elétrica é uma propriedade fundamental das partı́culas elementares que constituem a matéria. De fato, a matéria
é um aglomerado de átomos ou moléculas, e átomos são constituı́dos por prótons, neutrons e elétrons; duas dessa partı́culas
apresentam carga elétrica (o próton possui carga elétrica positiva, enquanto a carga do elétron é negativa). Entretanto, em escala
macroscópica, os efeitos da carga elétrica tendem a ser mascarados pelo fato que, na média, há iguais quantidades de carga de
ambas as espécies num corpo macroscópico. Dizemos que o corpo, nestas condições, encontra-se eletricamente neutro. Se, por
outro lado, há um excesso de prótons ou um excesso de elétrons, ele se encontrará num estado que denominamos (eletricamente)
carregado.

1.2 Fatos experimentais importantes acerca da carga elétrica


Conservação da carga A carga elétrica total de um sistema isolado é constante (a carga não pode ser criada nem destruı́da).

A carga é quantizada A carga elétrica só é encontrada na natureza em múltiplos inteiros de uma carga fundamental (o
quantum de carga). A menor carga livre encontrada na natureza é, em valor absoluto, a do próton:

(1) e = 1,602.10−19 C,

de modo que, para um corpo macroscópico qualquer, teremos

(2) q = ±ne, n∈N

1.3 Lei de Coulomb


Lei experimental obtida por Charles Augustin de Coulomb em 1785, que descreve quantitativamente a interação eletrostática,
isto é, a força entre duas cargas elétricas em repouso relativo. Essencialmente, ela estabelece que esta força atua sobre a reta

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que contem as duas partı́culas, é diretamente proporcinal ao produto das carga e inversamente proporcional ao quadrado da
distância que as separa. Matematicamente,
q 1 q2 q1 q2
(3) F12 = k 2 R̂12 = k 3 R12 ,
R21 R12

r
R12 -r
q1  7 q2

-
F12
 
 
 
r1   r2
 
 

O


é a força que q1 exerce sobre q2 , onde R12 = r2 − r1 é o vetor com origem na carga q1 e extremidade na carga q2 . A constante k
é frequentemente escrita em termos da permissividade do vácuo, ε0 :
1 10−9
(4) k= = 8,9874.109 N.m2 /C2 , ε0 = F/m = 8,85.10−12 F/m
4πε0 36π
Para um sistema de muitas partı́culas, a força total sobre a i-ésima carga é obtida pelo princı́pio da superposição, somando-se
todas as forças devido a cada uma das outras partı́culas como se as demais não Existissem:
N N
1 X qi X qj
(5) Fi = Fji = 2
R̂ji
4πε0 j6=i 4πε0 j6=i Rji

1.4 Distribuições contı́nuas de cargas


No mundo real encontramos a propriedade carga elétrica presente nas partı́culas elementares, tais como o elétron e o próton.
Átomos e moléculas são, em seu estado natural, eletricamente neutros. Corpos macroscópicos apresentam algum excesso de
carga quando, por algum processo, ocorre uma transferência de carga de um corpo para outro (usualmente na forma de elétrons).
Geralmente o número de cargas elementares em excesso é muito grande e, associado ao fato que as dimensões moleculares são
muito pequenas, constitui em geral uma aproximação excelente ignorar a natureza discreta da carga elétrica quando analisamos
uma situação envolvendo corpos macroscópicos. Trabalhamos então com o conceito de distribuição contı́nua de cargas, isto é,
com a hipótese que a carga elétrica se distribui continuamente sobres volumes ou superfı́cies. Definimos então as densidades de
cargas:

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Densidade volumétrica de cargas


∆q dq
(6) ρ(r0 ) = lim 0
= 0
0 ∆v →0 ∆v dv

Densidade superficial de cargas


∆q dq
(7) σ(r0 ) = lim =
0 ∆s →0 ∆s0 ds0

Densidade linear de cargas


∆q dq
(8) λ(r0 ) = lim
0
= 0
∆l →0 ∆l 0
dl
Do ponto de vista macroscópico, mesmo um volume tendendo a ”zero” conterá um número muito grande de átomos ou moléculas,
o que nos garante uma aproximação boa procedendo dessa forma. Tratamos então um elemento de carga como uma carga pontual,
de modo que a força sobre uma carga pontual q0 devido a uma distribuição arbitrária de cargas seria
 
N
q0  X qj Z
ρ(r0 ) 0
Z
σ(r0 ) 0
Z
λ(r0 )
(9) F0 = R̂ j + R̂ dv + R̂ ds + R̂ dl0 , 
4πε0 j=1 Rj2 V 0 R2 S 0 R2 l0 R2

onde R é o vetor do elemento de carga em questão até a carga q0 , e Rj a partir da j-ésima carga pontual.

1.5 Campo elétrico


Para definirmos o campo elétrico num ponto do espaço, adotamos o seguinte procedimento: colocamos neste ponto uma carga
teste q e determinamos a força elétrica F que atua sobre ela. O campo elétrico é a razão F/q no limite de q tendendo a zero:
F
(10) E = lim .
q→0 q

O limite é necessário para garantir que a influência da carga teste sobre a distribuição original de cargas cujo campo queremos
definir seja a menor possı́vel. Assim, para uma distribuição genérica de cargas (pontuais, volumétrica, superficial e linear), temos
 
N 0 0 0
1  qj Z
ρ(r ) Z
σ(r ) Z
λ(r )
R̂ dv 0 + R̂ ds0 + R̂ dl0 , 
X
(11) E(r) = R̂j +
4πε0 j=1 Rj2 V 0 R 2 S0 R 2 l0 R 2

onde R é o vetor do elemento de carga em questão até a r, e Rj é o vetor a partir da j-ésima carga pontual até r.

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Pode-se mostrar que uma carga pontual q num ponto r0 pode ser expressa por uma densidade de cargas ρ(r) = qδ(r − r0 ).
Além disso, as contribuições dos diversos tipos de densidades de cargas são estruturalmente idênticas, de modo que não há perda
de generalidade se escrevermos o campo elétrico genericamente como
1 Z ρ(r0 ) 0 1 Z ρ(r0 )(r − r0 ) 0
(12) E(r) = R̂ dv = dv .
4πε0 V 0 R2 4πε0 V 0 |r − r0 |3

1.6 Potencial eletrostático


Pode-se mostrar facilmente que o campo elétrico, tal como definido acima, é irrotacional:
1 Z
ρ(r0 )(r − r0 ) 0 1 Z 0 (r − r0 ) 0
∇×E = ∇× dv = ρ(r )∇× dv
4πε0 V0 |r − r0 |3 4πε0 V 0 |r − r0 |3
Usando a identidade vetorial ∇×(f A) = ∇f ×A + f ∇×A, tem-se
r − r0 1 0 1
∇× 0 3 = ∇ 0 3 ×(r − r ) + 0 3 ∇×(r − r0 )
|r − r | |r − r | |r − r | | {z }
=0

O primeiro termo do segundo membro também é nulo porque


1 r − r0
∇ = −3
|r − r0 |3 |r − r0 |5
1 0 3 0 0
=⇒ ∇ 0 3 ×(r − r ) = − 0 5 (r − r )×(r − r ) = 0,
|r − r | |r − r |
logo
r − r0
∇× = 0,
|r − r0 |3
o que implica
(13) ∇×E = 0.
Como, para qualquer função escalar ϕ(r) com segundas derivadas, ∇×∇ϕ(r) = 0, o resultado acima indica que sempre
existirá alguma funçaõ escalar para a qual se possa escrever

(14) E(r) = −∇V (r).

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A função V (r) é denominada potencial eletrostático.


É fácil mostrar que o potencial devido a uma carga pontual q localizada em r0 é

1 q
(15) V (r) = .
4πε0 |r − r0 |

Para uma distribuição genérica de cargas,


 
N
1 X qj Z
ρ(r0 ) 0
Z
σ(r0 ) 0
Z
λ(r0 )
(16) V (r) = + dv + ds + dl0 , 
4πε0 j=1 r − r0 j V 0 |r − r0 | S 0 |r − r0 | l0 |r − r0 |

Integrando ((??)), obtem-se


Z r Z r Z r
(17) E(r0 )· dr0 = − ∇V · dr0 = − dV,
r0 r0 r0

onde r0 é um ponto tomado como referência nula para o potencial. Assim


Z r
(18) V (r) = − E(r0 )· dr0
r0

Se, por outro lado, considerarmos uma superfı́cie aberta arbitrária, podemos escrever a partir de (??) (n̂ é um versor perpendicular
à superfı́cie S em cada ponto desta):
Z
∇×E· n̂ ds = 0,
S

o que, pelo teorema de Stokes acarreta


I
(19) E· dr = 0,
l

onde l é o perı́metro de S. Considerando uma carga q sendo transportada ao longo deste percurso fechado, o trabalho realizado
pelo campo elétrico sobre ela é nulo (o campo eletrostático é conservativo).
Podemos associar ao campo eletrostático uma energia potencial U (r). Como a energia potencial é o trabalho realizado contra
o campo, a relação entre potencial e energia potencial eletrostática claramente é

(20) U = qV

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1.7 O dipolo elétrico


Um dipolo elétrico é definido, na sua forma mais simples, como um sistema que compraz cargas elétricas pontuais iguais, porém
de naturezas opostas. Digamos que duas cargas pontuais, q e −q, encontrem-se separadas por uma distância a; define-se como
momento de dipolo elétrico desse sistema o vetor
(21) p = qa â,
onde â é o vetor unitário que jaz sobre a reta que contem as cargas, sentido da negativa para a positiva.

Potencial e campo produzidos por um dipolo em pontos distantes Seja um dipolo de cargas ±q e a o vetor posição
da carga positiva relativamente à carga negativa. Para calcularmos o potencial em pontos muito distantes do dipolo (distâncias
>> a), adotemos a origem do sistema de coordenadas no centro do dipolo, de modo que as posições das cargas positiva e negativa
do dipolo sejam indicadas pelos vetores 12 a e − 21 a, respectivamente. O potencial num ponto P qualuqer do espaço será
!
q (−q) q 1 1
V (r) = + = −
4πε0 |r − a/2| 4πε0 |r + a/2| 4πε0 |r − a/2| |r + a/2|

Como r >> a, podemos expandir os termos entre parêntesis (binômio ou MacLaurin),


!−1/2
1 a·r a2
= (r2 ± a.·r + a2 /4)−1/2 = r−1 1 ± 2 + 2 .
|r ± a/2| r 4r

Mantendo apenas os termos de primeira ordem em a/r, temos aproximadamente


1 1 1 a·r
≈ ∓ ,
|r ± a/2| r 2 r3
de modo que
q a·r
V (r) = ,
4πε0 r3
ou
1 p·r
V (r) = .
4πε0 r3
O campo elétrico é obtido através do gradiente do potencial. Um cálculo direto conduz a
1 3(p·r)r − r2 p
E(r) = .
4πε0 r5

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É claro que, para o caso geral de um dipolo fora da origem, basta trocar r por r − r0 nas equações acima, onde r0 é o vetor
posição do centro do dipolo:
q p·(r − r0 )
(22) V (r) = ,
4πε0 |r − r0 |3
1 3[p·(r − r0 )](r − r0 ) − |r − r0 |2 p
(23) E(r) = .
4πε0 |r − r0 |5

1.8 A lei de Gauss


Calculemos o fluxo elétrico produzido por uma carga isolada q através de uma superfı́cie fechada arbitrária que a contém,
I
ΦE = E·n̂ dS
S

Escolhendo a origem do sistema de coordenadas coincidindo com a carga q, teremos:


q I r̂ q I r·n̂ q I
ΦE = ·n̂ dS = dS = dΩ,
4πε0 S r2 4πε0 S r3 4πε0 S
H
onde dΩ é o ângulo sólido infinitesimal delimitado pela área dS, em relação à origem O. Como S dΩ representa o ângulo sólido
total em torno da origem (4π sf), segue que I
q
ΦE = E·n̂ dS = .
S ε0
Por outro lado, podemos mostrar facilmente que, para uma superfı́cie S que não engloba a carga q, obterı́amos
I
E·n̂ dS = 0.
S, q6⊂S

Ora, pelo princı́pio da superposição, segue imediatamente que, para uma distribuição arbitrária de cargas, o fluxo elétrico total
através de qualquer superfı́cie fechada S será proporcional à carga total contida na superfı́cie. Isto é exatamente a forma integral
da lei de Gauss: I
Qint 1 Z
(24) E·n̂ dS = = ρ dv,
S ε0 ε0 V
onde é o V o volume e Qint a carga total (soma algébrica), delimitados por S. Usando o terrema do divergente (Gauss), obtemos
sucessivamente
1 Z Z 
ρ
I Z 
E·n̂ dS = ∇·E dv = ρ dv =⇒ ∇·E − dv = 0.
S V ε0 V V ε0

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Como o volume de integração é arbitrário, necessariamente


ρ
(25) ∇·E = ,
ε0
que é a lei de Gauss na forma diferencial.

2 Soluções de problemas em eletrostática


Equações de Poisson e Laplace
É muito simples obter as equaçãoes de Poisson e Laplace. Como E = −∇V , da Lei de Gauss temos
ρ
(26) ∇2 V = − ,
ε0
que é a equação de Poisson. Nas regiões onde não há cargas, temos e equação de Laplace,

(27) ∇2 V = 0,

Estas equações aparecem em várias outras áreas da Fı́sica, e existe um grande número de técnicas de solução diferentes, cada
qual mais adequada a certa situação especı́fica. No estudo destas técnicas, dois teoremas se fazem importantes, um deles óbvio
mas necessário, e o outro não tão trivial. Antes de os enunciarmos, entretanto, vejamos uma definição acerca das condições de
contorno normalmente encontradas nos problemas tipicamente endereçados via equação de Poisson ou Laplace.
[Condições de Contorno de Dirichlet] Quando o valor da função (ou seja, do potencial) é especificado em uma ou mais
superfı́cies fechadas no espaço.
[Condições de Contorno de Neumann] Quando o valor da derivada normal da função (ou seja, do gradiente, o que essencial-
mente equivale ao campo elétrico ou à densidade superficial de cargas) é especificado em uma ou mais superfı́cies fechadas no
espaço.
Teorema 1 (Linearidade) Se V1 , V2 , . . . , Vn são soluções da equação de Laplace, então

V = α1 V1 + α2 V2 + · · · + αn Vn ,

onde os α são constantes, também o será.

A prova é trivial e será deixada como exercı́cio. Demonstre a proposição acima

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Teorema 2 (Unicidade) Duas soluções da equação de Poisson que satisfaçam às mesmas condições de contorno (tipo Dirichlet
ou Neumann), diferem no máximo por uma constante.
Suponha que uma determinada região do espaço de volume v0 seja delimitada por uma superı́cie S0 (que pode ser infinita). Dentro
desta região existem n corpos condutores de superfı́cies S1 , S2 , . . . , Sn , eletricamente carregados e mantidos a determinados
potenciais. Admitamos que, em v0 , existam duas soluções para a equação de Poisson, V1 e V2 :
ρ ρ
∇2 V 1 = − , ∇2 V 2 = − ,
ε0 ε0
ambas satisfazendo às mesmas condições de contorno em S1 , S2 , . . . , Sn . Seja φ = V1 − V2 . É claro que
∇2 φ = 0,
além do que, nas superfı́cies especificadas, φ = 0. Apliquemos o teorema da divergência ao vetor φ∇φ:
Z I
∇·(φ∇φ) dv = φ∇φ·n̂ dS.
v0 S

Por outro lado, como ∇·(φA) = φ∇·A + A·∇φ, decorre que


∇·(φ∇φ) = φ∇2 φ + |∇φ|2 = |∇φ|2 ,
consequentemente, I Z
φ∇φ·n̂ dS = |∇φ|2 dv,
S v0
onde S consiste de S0 e de S1 , S2 , . . . , Sn . Nessas últimas, φ = 0. Para integrar na superfı́cie S0 , extensa, que engloba todo o
sistema, podemos imaginar uma esfera de raio R muito grande, contendo S0 . No integrando, a grandes distâncias φ cai com 1/R,
∇φ cai com 1/R2 e dS cresce com R2 , de modo que no geral a integral cai com 1/R e portanto tende a zero quando R → ∞.
Isso implica então que Z
|∇φ|2 dv = 0.
v0
Ora, como o integrando é sempre não negativo, a integral só pode ser nula se
∇φ = 0
em todos os pontos de v0 , o que prova a unicidade das soluções (se ∇(V1 − V2 ) = 0 =⇒ V1 − V2 = cte. Como em S1 , etc., V1 = V2 ,
isso vale para todos os demais pontos).
É fácil ver que a mesma conclusão pode ser alcançada se admitirmos condições de contorno do tipo Neumann.

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2.1 Equações de Poisson e Laplace em uma dimensão


Analisemos rapidamente os casos especiais em que o potencial é função apenas de uma das coordenadas do sistema.

Coordenadas cartesianas Admitindo V = V (z) e ρ = ρ(z) (por que??), teremos

d2 V z0
" #
ρ 1 Zz Z
= − =⇒ V (z) = − ρ(z 00 ) dz 00 dz 0 + A1 z + A2 ,
dz 2 ε0 ε0

onde A1 e A2 são constantes de integração. Note que se não há cargas (Laplace), a solução é bem simples:

V (z) = A1 z + A2

Coordenadas cilı́ndricas Se ρv = ρv (ρ) e V = V (ρ),

ρ0
! " #
1 d dV ρv 1 Z ρ 1 Z 00 00 00
ρ = − =⇒ V (ρ) = − ρv (ρ )ρ dρ dρ0 + A1 ln ρ + A2
ρ dρ dρ ε0 ε0 ρ ρ00

Para ρv = 0 temos !
1 d dV ρ
ρ =− =⇒ V (ρ) = A1 ln ρ + A2
ρ dρ dρ ε0

Coordenadas esféricas Se ρ = ρ(r)e V = V (r),

r0
! " #
1 d 2 dV ρ 1 Zr 1 Z 00 002 00 A1
r = − =⇒ V (r) = − 2 ρ(r )r dr dr0 + + A2 .
r2 dr dr ε0 ε0 r r02 r2

Novamente, para ρ = 0, fica


A1
V (r) = + A2 .
r2
Determine para cada caso acima, o campo elétrico e a densidade superficial de cargas em uma (ou mais) superfı́cies onde
possam ser fornecidas condições de contorno adequadas para a completa determinação do potencial.

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2.2 O método das imagens


O teorema da unicidade das soluções das equações de Laplace ou Poisson permite-nos chegar a soluções da equação por qualquer
método e, se as condições de contorno forem satisfeitas, podemos garantir que ela é única. Muitas vezes a solução direta por
métodos matemáticos tradicionais é difı́cil mas, por mera inspeção ou até mesmo adivinhação/tentativa, podemos chegar a
uma solução completa do problema. O método das imagens permite-nos, em certa classe de problemas, chegar a soluções sem
efetivamente ter que resolver as equações diferenciais. Consiste basicamente em substituir as condições de contorno por carga
imagens que as reproduzam. Estas cargas imagens não existem na realidade (virtuais). Elas aparecem geralmente numa região
fora da validade da solução a ser encontrada (por exemplo, dentro de um condutor em cuja superfı́cie foi especificado o potencial).

Carga pontual próxima a campo infinito Considere um plano condutor infinito aterrado (potencial zero), próximo ao qual
(distância d) se encontra um carga pontual q. Adotemos o sistema de coordenadas de tal forma que o plano carregado coincida
com o plano xy e a carga esteja sobre o eixo z. Ao invés de resolvermos a equação de Laplace,

2 ∂ 2V ∂ 2V ∂ 2V
∇V = + + = 0,
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
válida exceto no ponto ocupado pela carga, tentaremos determinar uma configuração equivalente que satisfaça as seguintes
condições:

• V (x, y, 0) = 0, isto é, o potencial é nulo em todos os pontos do plano condutor.

• Em pontos muito próximos à carga, o potencial se aproxima daquele de uma carga pontual.

• Em pontos muito distantes da carga (x → ±∞, y → ±∞, z → ∞), o potencial se aproxima de zero.

• A função potencial é impar com respeito às coordenadas x e y, isto é

V (−x, y, z) = V (x, y, z), V (x, −y, z) = V (x, y, z)

É fácil perceber que a seguinte situação produz uma função potencial com as caracterı́sticas desejadas: uma carga igual e oposta
a q, colocada simetricamente com relação ao plano condutor na região z < 0. O potencial, então, pode ser escrito como
 
q  1 1
V (x, y, z) = q −q ,
4πε0 2 2
x + y + (z − d)2 2 2
x + y + (z + d)2

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válida apenas para a região z > 0. A partir desse resultado, podemos detrminar a densidade superficial de cargas induzida no
plano condutor:
qd
σ(x, y) = ε0 Ez |z=0 = −
2π(x2 + y 2 + d2 )3/2

Determine a força de atração exercida sobre a carga q por um plano infinito carregado dessa forma. Surpreso com o resultado?
Carga pontual próxima a uma esfera condutora aterrada Consideremos uma esfera de raio a, condutora e mantido a um
potencial fixo e originalmente neutra. A uma distância d de seu centro é colocada uma carga pontual q. Determine a distribuição
de cargas induzida na esfera.

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