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Aula 02
Aula 02
1 Eletrostática
1.1 Carga elétrica
Dá-se o nome de Carga elétrica a uma propriedade da matéria introduzida para entendermos qualitativa e quantitativamente
um tipo de interação observada na natureza que, por razões históricas foi denominada interação elétrica ou eletrostática. Desse
modo, assim como a noção de massa gravitacional permite o estudo da interação ou força gravitacional, a carga nos permite
descrever as forças elétricas entres corpos materiais. Entretanto, ao contrário da força gravitacional, que é sempre atrativa,
observou-se que a força elétrica pode ser de atração ou repulsão. Assim, torna-se necessário admitir que existem duas espécies
distintas de carga elétrica, que convencionamos chamar de carga elétrica positiva e carga elétrica negativa.
A carga elétrica é uma propriedade fundamental das partı́culas elementares que constituem a matéria. De fato, a matéria
é um aglomerado de átomos ou moléculas, e átomos são constituı́dos por prótons, neutrons e elétrons; duas dessa partı́culas
apresentam carga elétrica (o próton possui carga elétrica positiva, enquanto a carga do elétron é negativa). Entretanto, em escala
macroscópica, os efeitos da carga elétrica tendem a ser mascarados pelo fato que, na média, há iguais quantidades de carga de
ambas as espécies num corpo macroscópico. Dizemos que o corpo, nestas condições, encontra-se eletricamente neutro. Se, por
outro lado, há um excesso de prótons ou um excesso de elétrons, ele se encontrará num estado que denominamos (eletricamente)
carregado.
A carga é quantizada A carga elétrica só é encontrada na natureza em múltiplos inteiros de uma carga fundamental (o
quantum de carga). A menor carga livre encontrada na natureza é, em valor absoluto, a do próton:
(1) e = 1,602.10−19 C,
que contem as duas partı́culas, é diretamente proporcinal ao produto das carga e inversamente proporcional ao quadrado da
distância que as separa. Matematicamente,
q 1 q2 q1 q2
(3) F12 = k 2 R̂12 = k 3 R12 ,
R21 R12
r
R12 -r
q1 7 q2
-
F12
r1 r2
O
é a força que q1 exerce sobre q2 , onde R12 = r2 − r1 é o vetor com origem na carga q1 e extremidade na carga q2 . A constante k
é frequentemente escrita em termos da permissividade do vácuo, ε0 :
1 10−9
(4) k= = 8,9874.109 N.m2 /C2 , ε0 = F/m = 8,85.10−12 F/m
4πε0 36π
Para um sistema de muitas partı́culas, a força total sobre a i-ésima carga é obtida pelo princı́pio da superposição, somando-se
todas as forças devido a cada uma das outras partı́culas como se as demais não Existissem:
N N
1 X qi X qj
(5) Fi = Fji = 2
R̂ji
4πε0 j6=i 4πε0 j6=i Rji
onde R é o vetor do elemento de carga em questão até a carga q0 , e Rj a partir da j-ésima carga pontual.
O limite é necessário para garantir que a influência da carga teste sobre a distribuição original de cargas cujo campo queremos
definir seja a menor possı́vel. Assim, para uma distribuição genérica de cargas (pontuais, volumétrica, superficial e linear), temos
N 0 0 0
1 qj Z
ρ(r ) Z
σ(r ) Z
λ(r )
R̂ dv 0 + R̂ ds0 + R̂ dl0 ,
X
(11) E(r) = R̂j +
4πε0 j=1 Rj2 V 0 R 2 S0 R 2 l0 R 2
onde R é o vetor do elemento de carga em questão até a r, e Rj é o vetor a partir da j-ésima carga pontual até r.
Pode-se mostrar que uma carga pontual q num ponto r0 pode ser expressa por uma densidade de cargas ρ(r) = qδ(r − r0 ).
Além disso, as contribuições dos diversos tipos de densidades de cargas são estruturalmente idênticas, de modo que não há perda
de generalidade se escrevermos o campo elétrico genericamente como
1 Z ρ(r0 ) 0 1 Z ρ(r0 )(r − r0 ) 0
(12) E(r) = R̂ dv = dv .
4πε0 V 0 R2 4πε0 V 0 |r − r0 |3
1 q
(15) V (r) = .
4πε0 |r − r0 |
Se, por outro lado, considerarmos uma superfı́cie aberta arbitrária, podemos escrever a partir de (??) (n̂ é um versor perpendicular
à superfı́cie S em cada ponto desta):
Z
∇×E· n̂ ds = 0,
S
onde l é o perı́metro de S. Considerando uma carga q sendo transportada ao longo deste percurso fechado, o trabalho realizado
pelo campo elétrico sobre ela é nulo (o campo eletrostático é conservativo).
Podemos associar ao campo eletrostático uma energia potencial U (r). Como a energia potencial é o trabalho realizado contra
o campo, a relação entre potencial e energia potencial eletrostática claramente é
(20) U = qV
Potencial e campo produzidos por um dipolo em pontos distantes Seja um dipolo de cargas ±q e a o vetor posição
da carga positiva relativamente à carga negativa. Para calcularmos o potencial em pontos muito distantes do dipolo (distâncias
>> a), adotemos a origem do sistema de coordenadas no centro do dipolo, de modo que as posições das cargas positiva e negativa
do dipolo sejam indicadas pelos vetores 12 a e − 21 a, respectivamente. O potencial num ponto P qualuqer do espaço será
!
q (−q) q 1 1
V (r) = + = −
4πε0 |r − a/2| 4πε0 |r + a/2| 4πε0 |r − a/2| |r + a/2|
É claro que, para o caso geral de um dipolo fora da origem, basta trocar r por r − r0 nas equações acima, onde r0 é o vetor
posição do centro do dipolo:
q p·(r − r0 )
(22) V (r) = ,
4πε0 |r − r0 |3
1 3[p·(r − r0 )](r − r0 ) − |r − r0 |2 p
(23) E(r) = .
4πε0 |r − r0 |5
Ora, pelo princı́pio da superposição, segue imediatamente que, para uma distribuição arbitrária de cargas, o fluxo elétrico total
através de qualquer superfı́cie fechada S será proporcional à carga total contida na superfı́cie. Isto é exatamente a forma integral
da lei de Gauss: I
Qint 1 Z
(24) E·n̂ dS = = ρ dv,
S ε0 ε0 V
onde é o V o volume e Qint a carga total (soma algébrica), delimitados por S. Usando o terrema do divergente (Gauss), obtemos
sucessivamente
1 Z Z
ρ
I Z
E·n̂ dS = ∇·E dv = ρ dv =⇒ ∇·E − dv = 0.
S V ε0 V V ε0
(27) ∇2 V = 0,
Estas equações aparecem em várias outras áreas da Fı́sica, e existe um grande número de técnicas de solução diferentes, cada
qual mais adequada a certa situação especı́fica. No estudo destas técnicas, dois teoremas se fazem importantes, um deles óbvio
mas necessário, e o outro não tão trivial. Antes de os enunciarmos, entretanto, vejamos uma definição acerca das condições de
contorno normalmente encontradas nos problemas tipicamente endereçados via equação de Poisson ou Laplace.
[Condições de Contorno de Dirichlet] Quando o valor da função (ou seja, do potencial) é especificado em uma ou mais
superfı́cies fechadas no espaço.
[Condições de Contorno de Neumann] Quando o valor da derivada normal da função (ou seja, do gradiente, o que essencial-
mente equivale ao campo elétrico ou à densidade superficial de cargas) é especificado em uma ou mais superfı́cies fechadas no
espaço.
Teorema 1 (Linearidade) Se V1 , V2 , . . . , Vn são soluções da equação de Laplace, então
V = α1 V1 + α2 V2 + · · · + αn Vn ,
Teorema 2 (Unicidade) Duas soluções da equação de Poisson que satisfaçam às mesmas condições de contorno (tipo Dirichlet
ou Neumann), diferem no máximo por uma constante.
Suponha que uma determinada região do espaço de volume v0 seja delimitada por uma superı́cie S0 (que pode ser infinita). Dentro
desta região existem n corpos condutores de superfı́cies S1 , S2 , . . . , Sn , eletricamente carregados e mantidos a determinados
potenciais. Admitamos que, em v0 , existam duas soluções para a equação de Poisson, V1 e V2 :
ρ ρ
∇2 V 1 = − , ∇2 V 2 = − ,
ε0 ε0
ambas satisfazendo às mesmas condições de contorno em S1 , S2 , . . . , Sn . Seja φ = V1 − V2 . É claro que
∇2 φ = 0,
além do que, nas superfı́cies especificadas, φ = 0. Apliquemos o teorema da divergência ao vetor φ∇φ:
Z I
∇·(φ∇φ) dv = φ∇φ·n̂ dS.
v0 S
d2 V z0
" #
ρ 1 Zz Z
= − =⇒ V (z) = − ρ(z 00 ) dz 00 dz 0 + A1 z + A2 ,
dz 2 ε0 ε0
onde A1 e A2 são constantes de integração. Note que se não há cargas (Laplace), a solução é bem simples:
V (z) = A1 z + A2
ρ0
! " #
1 d dV ρv 1 Z ρ 1 Z 00 00 00
ρ = − =⇒ V (ρ) = − ρv (ρ )ρ dρ dρ0 + A1 ln ρ + A2
ρ dρ dρ ε0 ε0 ρ ρ00
Para ρv = 0 temos !
1 d dV ρ
ρ =− =⇒ V (ρ) = A1 ln ρ + A2
ρ dρ dρ ε0
r0
! " #
1 d 2 dV ρ 1 Zr 1 Z 00 002 00 A1
r = − =⇒ V (r) = − 2 ρ(r )r dr dr0 + + A2 .
r2 dr dr ε0 ε0 r r02 r2
Carga pontual próxima a campo infinito Considere um plano condutor infinito aterrado (potencial zero), próximo ao qual
(distância d) se encontra um carga pontual q. Adotemos o sistema de coordenadas de tal forma que o plano carregado coincida
com o plano xy e a carga esteja sobre o eixo z. Ao invés de resolvermos a equação de Laplace,
2 ∂ 2V ∂ 2V ∂ 2V
∇V = + + = 0,
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
válida exceto no ponto ocupado pela carga, tentaremos determinar uma configuração equivalente que satisfaça as seguintes
condições:
• Em pontos muito próximos à carga, o potencial se aproxima daquele de uma carga pontual.
• Em pontos muito distantes da carga (x → ±∞, y → ±∞, z → ∞), o potencial se aproxima de zero.
É fácil perceber que a seguinte situação produz uma função potencial com as caracterı́sticas desejadas: uma carga igual e oposta
a q, colocada simetricamente com relação ao plano condutor na região z < 0. O potencial, então, pode ser escrito como
q 1 1
V (x, y, z) = q −q ,
4πε0 2 2
x + y + (z − d)2 2 2
x + y + (z + d)2
válida apenas para a região z > 0. A partir desse resultado, podemos detrminar a densidade superficial de cargas induzida no
plano condutor:
qd
σ(x, y) = ε0 Ez |z=0 = −
2π(x2 + y 2 + d2 )3/2
Determine a força de atração exercida sobre a carga q por um plano infinito carregado dessa forma. Surpreso com o resultado?
Carga pontual próxima a uma esfera condutora aterrada Consideremos uma esfera de raio a, condutora e mantido a um
potencial fixo e originalmente neutra. A uma distância d de seu centro é colocada uma carga pontual q. Determine a distribuição
de cargas induzida na esfera.