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Substituições

Sabemos que o testador possui a mais ampla liberdade de testar da


forma que desejar, desde que respeite a legítima dos herdeiros necessários. A
legislação civil permite que ele institua qualquer pessoa como seu herdeiro
testamentário em primeiro grau. Da mesma forma, é conferido ao testador a
opção de indicar um herdeiro substituto, caso se apresentem determinadas
circunstâncias.
Então, define-se dessa forma a Substituição Hereditária – o ato ou efeito
de um herdeiro ser substituído por outro, através de disposições
testamentárias.
O Código Civil do artigo 1.947 ao 1.960, regula a parte das Substituições
hereditárias.
Substituição Vulgar ou Ordinária
A substituição vulgar (também chamada de ordinária) verifica-se quando
o testador designa, no próprio ato de disposição de última vontade, que uma
pessoa substitua o herdeiro, caso o herdeiro em primeiro grau não queira ou
não possa aceitar a herança, devendo o substituto suceder em seu lugar. Tal
substituição encontra amparo legislativo no art. 1.947 do Código Civil Brasileiro,
verbis:
"O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao legatário
nomeado, para o caso de um ou outro não querer ou não poder aceitar a
herança ou o legado, presumindo-se que a substituição foi determinada para
as duas alternativas, ainda que o testador só a uma se refira."
Presume-se portanto abrangidas as hipóteses de não aceitação ou
impossibilidade do herdeiro aceitar a herança, por mais que o testador somente
a uma delas se refira.
Tal substituição também possui um amplitude bastante grande, na
medida em que podem ser substitutos quaisquer pessoas – um estranho, um
herdeiro, um parente distante, enfim, qualquer um.
Entende-se que o substituto vulgar não é herdeiro, enquanto não se
realizar a condição a qual seu direito é subordinado, qual seja, a não aceitação
ou a impossibilidade do herdeiro em primeiro grau receber a herança.
A liberdade em substituir é tão ampla que o testador poderá substituir
muitas pessoas por uma só, ou vice-versa, conforme o disposto no art. 1.948,
verbis:
"Também é lícito ao testador substituir muitas pessoas por uma só, ou
vice-versa, e ainda substituir com reciprocidade ou sem ela."
De qualquer maneira, havendo substituição, o substituto perceberá a
herança, ou legado da mesma forma que o herdeiro em primeiro grau
receberia, com todas as suas vantagens e seu encargos.
A substituição vulgar não gerará qualquer efeito se houver aceitação da
herança pelo herdeiro primeiramente instituído; se o substituto vier a falecer
antes do substituído; em caso de renúncia do substituto; ou em caso de
premoriência do herdeiro primeiramente instituído, e caso em que seus
sucessores aceitem a herança.
Substituição Recíproca
Ocorre a substituição recíproca quando o testador, no momento em que
institui muitos herdeiros em seu testamento, os declara substitutos uns dos
outros, tal modalidade de substituição encontra fulcro legislativo no artigo
1.948, quando este diz: "e ainda substituir com reciprocidade ou sem ela".
Eleita, pelo testador, essa modalidade de substituição, os herdeiros
testamentários substituirão os que não possam ou não queiram aceitar a
herança, de modo semelhante ao "direito de acrescer" entre os herdeiros
legítimos.
Verbi gratia, se um testador nomeia três herdeiros testamentários –
chamados "A", "B" e "C" – sendo que, caso qualquer dos três não possa ou
não queira aceitar a herança, terão como substitutos os mesmos "A", "B" e "C".
Vale lembrar que a cada um dos herdeiros caberá exatos 1/3 da herança.
Ou seja, caso "A" não aceite a herança, "B" e "C" ficarão, cada um com
seu 1/3 somados à metade do 1/3 (ou seja, 1/6) que caberia à "A".
Substituição Fideicomissária.
A Substituição Fideicomissária, ou simplesmente Fideicomisso, é
regulada no Código Civil do art. 1.951 ao 1.960, e pressupõe a existência de
três partes – o fideicomitente, o fiduciário e o fideicomissário. O Primeiro é
o próprio testador, aquele, através da manifestação de sua vontade, institui o
fideicomisso; o Segundo é a pessoa que ficará na guarda e propriedade
resolúvel dos bens fideicometidos até que ocorra a condição mencionada pelo
testador fideicomitente; e o Terceiro, que é a pessoa que, por último, receberá
os bens fideicometidos, o seu último destinatário.
Ocorre da seguinte maneira: O fideicomitente, institui que algum, ou
alguns dos seus bens ficarão com uma pessoa (o fiduciário), até que ocorra
alguma condição, expressamente mencionada pelo mesmo, caso em que, o
fiduciário passará a propriedade dos referidos bens ao fideicomissário. O
procedimento pode ser observado com clareza peculiar no artigo 1.951 do
diploma civil, verbis:
"Pode o testador instituir herdeiros ou legatários, estabelecendo que, por
ocasião de sua morte, a herança ou o legado se transmita ao fiduciário,
resolvendo-se o direito deste, por sua morte, a certo tempo ou sob certa
condição, em favor de outrem, que se qualifica de fiduciário."
Diante da leitura do dispositivo, denota-se que podem haver, quanto a
transmissão dos bens do fiduciário ao fideicomissário, três modalidades de
fideicomisso – mortis causa, temporal ou condicional.
Dá-se o fideicomisso mortis causa quando o fiduciário ficará na
propriedade resolúvel dos bens fideicometidos até sua morte, quando então
será transferida ao fiduciário. Como se pode ver, bastante semelhante ao
Usufruto vitalício.
O fideicomisso temporal ocorre quando o fideicomitente impõe um
período de tempo no qual o fiduciário ficará na propriedade resolúvel dos bens.
Ao termo final desse prazo, deverá o fiduciário transmitir ao fideicomissário os
bens.
Finalmente, o fideicomisso condicional se dá quando é aposta à
transmissão dos bens uma condição qualquer, desde que a mesma não infrinja
dispositivo legal.
Em qualquer dos casos, o fiduciário ficará na propriedade resolúvel [43]
dos bens, ou seja, não poderá vende-la, ou de qualquer outro modo aliena-la,
guardar para que não se deteriore ou se perca, entre outras coisas. Da mesma
forma, quando do tempo de transferir os bens ao fideicomissário, está ele
obrigado a proceder ao inventário dos bens gravados e, caso o fideicomissário
exija, prestar caução dos bens, na conformidade do artigo 1.953, do Código
Civil, verbis:
"O fiduciário tem a propriedade da herança ou legado, mas é restrita e
resolúvel.
Parágrafo único. O fiduciário é obrigado a proceder ao inventários dos
bens gravados, e aprestar caução de restituí-los, se o exigir o fideicomissário."
Há um requisito subjetivo que deve ser observado quanto a instituição
do fideicomisso. Consiste ele no fato de somente poder ser instituído
fideicomissário uma pessoa ainda não concebida ao tempo da morte do
testador fideicomitente, segundo o que reza o artigo 1.652 do diploma civil,
verbis:
"A substituição fideicomissária somente se permite em favor dos não
concebidos ao tempo da morte do testador.
Parágrafo único. Se, ao tempo da morte do testador, já houver nascido o
fideicomissário, adquirirá este a propriedade dos bens fideicometidos,
convertendo-se em usufruto o direito do fiduciário."
Diante disso, na ocasião do fideicomissário vier a ser concebido e
nascer antes da morte do testador fideicomitente, o a propriedade resolúvel do
fiduciário será convertida em usufruto, ipso facto.
Finalmente ocorre a caducidade do fideicomisso em duas ocasiões –
renúncia ou pré-morte do fideicomissário. A primeira, quando, de maneira
obrigatoriamente expressa, o fideicomissário renuncia ao seu direito, conforme
o disposto no artigo 1.955 do Código Civil, verbis:
"O fideicomissário pode renunciar a herança ou o legado, e, neste caso,
o fideicomisso caduca, deixando de ser resolúvel a propriedade do fiduciário,
se não houver disposição contrária do testador."
A segunda hipótese, no caso de pré-morte do fideicomissário, pode ser
encontrada no bojo do art. 1.958 do Código Civil, verbis:
"Caduca o fideicomisso se o fideicomissário morrer antes do ficudiário,
ou antes de realizar-se a condição resolutória do direito deste último; nesse
caso, a propriedade consolida-se no fiuciário, nos termos do art. 1.955."

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