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j SPAGO DA LEITURA E D. ESCRITA NA EDUCAGAO PRE-ESCOLAR* As discussées a respeita do momento. om que deve comegar o ensino da leitura e da escrita parecem ‘etemas. A pergunta “dev ou nao ensinar a ler e a escrever na pré-escola’ é pergunta reiterada e insistente. Tenho sustentado, e continuo sustentando, que essa @ uma pergunta mal colocada, que no pode ser respondida afirmativa ou negativamente an- tes de serem discutidos os pressupostos nos quais se baseia. Esta pergunta, assim_proposta, tem como base um pressuposto: 40 os adultos aqueles que decidem quando e como vai ser iniciado esse aprendizado. Quando a resposta a essa pergunta ¢ nega- tiva, e dessa forma decide-se que so no primario ~ deve-se ensinar a ler ea escrever, vemos as salas da pré-escola sofrerem um meticuloso processo de limpeza, até que delas desaparegam fa Lectura y la Escitura én la Educacion Proosco ‘Manco, Seerelaria de Equeacion Publica, ma. Contra scones de Lect 24, Traducso ce Fig Ls quaisquer tracos de lingua ta. O destinados a cada erianga sao" identificado vés de desenhos, para nao deix ver neles escrito’ seu nome. ©: usados sé para desenhar, mas -nune escrever. Pode ser que, por descuido lendatio fique suspenso na parede e qi bem por descuido, a professora eset felatérios na frente das. criangas em fazé-lo durante 0 recreio, quase as escondi As vezes, a professora conta histérias, nunca 16 om voz alta, E proibido ler. E proibido escrever. A. escrita que tem o seu lugar mundo urbano circundante, deixa de télo Sala de aula, Os adultos alfabetizados (inclui as professoras) abstém-se cuidadosamente de. mostrar as crangas que sabem ler © escrever. Stuagdo bem esquisita: as criangas imaginam que a sua professora sabe ler © escrever, mas unca a viram fazer isso na sala de aula, Ao contrério, quando a resposia a essa per- guna € afirmativa, e assim decide-se iniciar aprendizado da leitura eda eserita antes do primario, vemos a sala de aula da pré-escola, assemelhar-se notavelmente @ do primero ano primar, ea pratica docente passa a seguir Modelo das mais tradicionais praticas do prim fio: exercicio de controle motriz e discriminagao perceptiva. reconhecimento © copia delet Silabas ou palavras, repetigoes em coro, enhum uso’ funcional da lingua escrita ‘A pergunta “deve-se ou nao ensinar a le a estrever na pré-escola?” esté mé porque tanto a resposta negativa como a p jute: supde-se que o acesso & se sustentando porque as criangas aprendem tanto a fazer de conta que nada sabem (embora saibam), como a mostrar diligentemente que aprendem através do«método escolhido. Porém, além disso, ha outro ‘pressuposto atras dessa pergunta: as criangas 6 aprendem quando thes 6 ensinado (segundo a forma mais escolar de *ensinar’). Ambos pressupostos sao falsos. As criangas iniciam o seu aprendizado de nodes matemiticas antes da escola, quando se dedicam a ordenar os objetos mais’ variados (classificando-os ou colocando-os em série). clam 0 aprendizado do uso social dos numeros participando de diversas situagdes de contagem fe das atividades sociais relacionadas aos alos de comprar e vender. Da mesma forma, iniciam 0 seu aprendizado do sistema_de-escrita_nos-mais variados-con- textos, porque a escrita faz parte da paisagem urbana, e a vida urbana requer continuamente © uso da leitura. As criangas ‘urbanas de 5 anos geralmente ja saber distinguir entre es- crever e desenhar; expostas ao complex con- junto de represeniagdes graticas presentes no Seu meio, s4o capazes de distinguir 0 que & desenho € 0 que é “outra coisa”. Que chamem “Ge “letras” ou “nimeros” a esse conjunto de formas graficas que possuem em comum 0 fato f@ nao serem desenho, nao é 0 crucial nessa de, Mais importante é saber que essas formas para uma atividade especifica que ¢ 0 ato de ler, e que resultam de uma outra ati também especifica que € 0 ato de escre ‘A indagagao sobre a natureza e fungao des formas comega em contextos reais, nos qua se recebe a mais variada informacao (pert @ pouco pertinente; facil de compreender © impossivel de assimilar). As criangas trabalham cognitivamente (quer dizer, tentam compreendet) Gesde muito cedo informacoes das mais variadas procedéncias a) a intormagao que recebum dos proprios tex: tos, nos contexios em que aparecem (livros © jornais, mas também cartazes da rua, émbalagens ce brinquedos ou alimentos, rou- pas, TV etc) b) informagao eszecitica destinada a elas mes- mas, como quando alguém thes 18 uma his feria, ou thes diz que tal ou qual forma é uma’ letra cu um nlimero, ou ihes escreve seu nome cu responds a5 suas perguntas; ©) informagao cttida quando -participa-de~atos- socials que ervolvam 0 ato de ler ou de escrever. Esiz ultimo tipo de informagao é © mais pertinente para compreender as fun= goes socials da escrita, Vejamos alguns: exemplos 1 alguém consuita o jornal para saber a hora @ 0 local de zigum espetaculo; indiretamente, © sem pretender fazé-lo, esta informando Grianga a respeito de uma das fungoes mordiais da escrta no mundo contemporaneo Que a escrita serve para transmiir informag © alguém consuita uma agenda para por telefone uma outra pessoa: indiret @ crianga inteira-se de outra das fungdes essenciais da escrita: que a escrita serve Para expandir a memoria, e que a leitura Permite recuperar uma informagao esquecida; 1 recebe-se uma carta de um familiar, 1-se € comenta-se; indiretamente, e sem’ que se pretenda, informa-ge 2 crianga que a escrita permite a comunicagao a distancia. Em todas estas situagdes que exemplificamos, ‘© propésito dos adultos n4o é 0 de informar a crianga. Mas a crianga recebe Informacao sobre a funcdo social da escrita participando desses atos (inclusive se se limita a observar, pois sua observagao pode envolver uma importante ati- vidade cognitiva). E provavelmente através de uma ampla e continua participagao nesse tipo de situagées sociais que a crianga acaba con- Seguindo compreender por que a escrita 6 to importante na sociedade. Esse 6 0 tipo de informagéo que nao é transmitido no comego da_instrugao_ escolar. Esse € 0 tipo de informacao que, de alguma forma, as criangas de 6 anos que tiveram ladultos alfabetizados ao seu redor j4 possuem. Gom base nas investigagies realizadas po- demos afirmar que nenhuma crianga urbana de 6 ou 7 anos de idade comega 0 primario com {otal ignorancia da lingua escrita. A informagao recebida (de algumas das fontes mencionadas) _ Govera ter sido necessariamente elaborada (quer Gizer, assimilada) pelas criangas para poder ter ido compreendida. O que elas sabem ndo é (mais idéntico aquilo que se thes > ue viram, Somente € possivel atribuir Pensamos que o “saber" sobre a lingué imita-se a0 conhecimento das letras. A criangas rurais esto em desvantager relagao 25 urbanas porque no meio rural cional, onde os camponeses trabalham rudimentares instrumentos de lavoura, terras em pobrecidas, a escrita nao € 140 presente cor no meio urbano. E precisamente no meio rur onde 0 ensino pré-escolar € mais importante: uma pré-escola que deixe entrar a escrita, nao que & proba. ‘A 180 comentada “prontidao para a lecto- criture’” depende muito mais das ocasides so- Ciais 2 estar em contato com a lingua eserita do que de qualquer outro fator que seja invocado. Nao tem sentido deixar a crianga & margem da lingua escrita, “esperando que amadureca’. Por ouiro lado, 08 tradicionais “exercicios de prepa- recéo" no ultrapassam o nivel do exercicio: motriz © perceptive, quando 0 nivel cognitiva aquole que esta envolvido (e de forma crucial), assim como complexos processos de reconstru- 40 2 linguagem oral, convertida em objeto de retiexdo. A pré-escola deveria cumprir a fungao pri mordial de permitir as criangas que néo tiverat convivércia com adultos alfabetizados — que perencem a meios rurais isolados — obts essa’ informago basica sobre a qual o ensit cobra um sentido social (e nao merament escolar): 2 informagao que tesulta da par ura em easehan Ieiwa-eescrta (M- 108 Sociais onde 0 ato de ler e 0 de ts Numa sala de pré-escola de r tem propésitos explicitos. para ler. Um ato de leitura é ré-escola_deveria permitir a todas as Alguém pode rir ou chorar_enqua ingas a |i jentar os sinais silencio, e n&o estd louco. Alguéi critos, num ambiente rico em escritas diversas, esquisitas na pagina, e de sua boc: ja: escutar alguém lendo em voz alta ¢ 1 guagem”: uma linguagem que nao € a de todo 0s adultos escrevendo; tentar escrever (sem 0s dias, uma linguagem que tem oulras p star necessariamenté copiando um modelo!);, fe que Se organiza de uma outra form ando dados contextuais?, assim como reconhecendo semelhangas e diferencas Ras séries de letras; brincar com a linguagem tampouco trata-se de ensinar-Ihes 0 moc para descobrir cemeihangas © diferengas sono: jorizar ac letras, nem de introduzir os ras. cicios de escrita mecanica e a repeticao « coro na sala da pré-escola, Em vez de nos perguntarmos se “devemoi ‘ou nao devemos ensinar" temos de nos 2720 | Acta @apenes um dos procedmenios usados pata aoa 2 i a otc, as aio 4 once (nom soqnr 60 a fpr) Cupar em DAR AS GRIANGAS OCASIOES DE Aptendese mais imetiando tomas e comings 60 que copands: ben. A lingua escrita é muito mais que um 2prende so maletrtando produ junto as ous Ua represmibro Conjunto de formas graficas. & um mons == Sdequede pa maou vain palavas do que faendo coxa, exercocs | de copa sl do palovtas ou las. r °2) Pot “63008 Conlextuais” entendemos o seguinte: os simbolos eertos que esto ro\mundo steundaria no esi re va2o" mem foro tps ce sipeices (une embalagom co alms, tm joa, Um fre, un conc, um eatndavo, um cagemo ec). Saber unde est @ Ironsager cota nun» antepa 0 eum pe el o ost tt Por crams, se soberos que 0 que lemes nas mos 6 um ho de tomes ‘besarte expenincla com ela, pocenoe me comeyard ca ta un wer, Memo’ cu xprssiessimiaes, Ao cor, se satus G8 orcs as: mos € uma, cat, saberos tarblm gue nda vat fro wt the cover oe ave nagar memo gun faz um alo doce eatangoan eno caece 21a cia prva supe que 0 io 0 an pares eas eoqunae “zon 0 none ‘assim por dante

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