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Nascdo em Omaha, Nebraska, Malcolm Lite (1925-1965) teve uma infrcia marcada pela discriminagsoracal © pai, um pastor freelancer ‘2depto do movimento de Marcus Garvey palo retomo dos negtos & Aca, fo assasinade pla Black Legion, uma varante da Kulu Xlan, ‘quando Malolm tina 6 anos. Pouco depois, a fama Little se dispersou ‘quando a guarda dos fos fol retrada da mae, acusada de insanidade, ‘Malcom fi ent’ morar com uma meiarm no bairo negro de Roxbury, Boston, tendo, mais tarde, se mudado parao Harem, em Nove Torque. Ali, Malcolm erwolveu-se com o crime, endo preso por roubos de residéncia. Na pris, converau-e 8 Nagio do (Nation of lam “NO, uma vertente mugulmana que apregoava a superordade negra ‘ea malgnidade inerente dos brancos, dered por Eljah Mubemmad. enomeado Malcalm x, orecém-conversotomouse o principal porta waz ‘82 NOI e ganhou celaridade como ardoroso defensor do separatismo negro @ da resetncia 3 voléncia racial "por todos os mei neceséros” Mas tarde, aps romper com Muhammad Eljah e fazer uma peregtinacio ‘Sidade sagrada de Meca, em 1986, Malcolm tomnouse mais aberto | ideia da convivanc pactica entre pessoas de aca diferentes. Mas ‘eve pouco tempo para elaborar as novas posi, Em 21 de setembro ‘de 1965, fot aecassinado durante uma paesra erm Nova lorque. Ts membros da NO! foram condenades peo crime, mas apenas um confestou.Ainda hd dividas quanto real relaéo do Fl (poli federal ‘americana ou do Departamento de Pola de Nova lorque com o cme. © discurso a seguir foi proferido om 3 de abril de 1964 na cidade de ‘Cleveland, Ohio, pouco depois do rompimento de Malcolm com 3 NOL, Malcolm denuncia a negacio néo s6 dos direitos de cdadaria, mas também dos proprios dretos humanos dos negros na sociedade estadlunidense; e traca um paralelo entre a stuacéo deles ea dos siversos povos do Terceiro Mund, propondo a intervencio da ONU para por fim a situacao de injustica. (RF) Senhor Moderador, itmao Lomax, irmics e irmis, amigos e inimigos: eu no posso acreditar que todo mun- do aqui é um amigo e nio quero deixar ninguém de fora. A questio desta noite, como eu a entendo, & “A revolta negra e para onde vamos" ou “Qual o préximo passo?”. Na minha modesta forma de entender, ela aponta para o voto ou para a bala. ‘Antes de explicar © que queremos dizer com 0 voto ou a bala, gostaria de esclarecer algo a meu respeito. ‘Ainda sou mugulmano; a minha religido ainda é o Ist. E a minha crenca pessoal. Assim como Adam Clayton Powell é o pastor cristio que coordena a Igreja Batista Abissinia de Nova lorque, mas ao mesmo tempo toma parte nas lutas politicas para tentar ganhar direitos para os negros deste pafs; € 0 dt. Martin Luther King é um pastor cristio li em Atlanta, Geérgia, mas lidera outra organizagdo que luta pelos direitos civis dos negros neste pais; € 0 reverendo Galamison — eu acho que vocés jf ouviram falar dele — € outro pastor cristio em Nova lorque que esteve profundamente envolvido nos boicotes para acabar com a segregagio nas escolas. Bem, cu também sou um pastor, mas nio um pastor cristio ¢ sim um pastor mugulmano, ¢ acredito na a¢io em todas as frentes por todos of meios necessirios [Apesar de ainda ser um mugulmano, nio estou aqui hoje para discutir minha religiZo. E nio estou aqui para tentar mudar a sua religido. Nio estou aqui para argumentar ou diseutir sobre nossas discordncias, pois € hora de colocarmos nossas diferengas de lado e percebermos o que € melhor para nés; antes de tudo, entender que temos o mesmo problema, comum a todos, um problema que fari voce ir para o inferno, nio importando se & um batista, um metodista, um mugulmano ou um nacionalista. Seja voct instruido ow analfabeto, resida na avenida ou na sarjeta, iri da mesma forma para o inferno, como eu, Nés estamos no mesmo barco e estamos indo para 0 inferno por causa do mesmo homem. Por acaso ele é um homem branco. Todos nés jé sofremos ‘No original, The Ballo the bul aqui, neste pas, a opresio politica pels mos do homem branco, a exploracio econbmica pelas mos do ho- ‘mem branco ¢ a degradagio social pelas mos do homem branco. "Agora, falando asim, nie quero dizer que nés somos antbrancos, mas sim que somos antiexploragio, t= degradagio ¢ antiopresio. Esc © homem branco nfo quiser que sejamos antiele, que pare de nos oprimit de hot explorar¢ de nos degradar. Mesmo se n6sformos cists, ou mugulmanos, ou nacionalisas, ou 28nd cos, ou ateus, devemos primeiro aprender a esquecer nosis diferencas. Se tivermos difereneas, ue discorde= nos em privado, para que em piblico nio discutamos nada a terminarmas a conversa com o homem. Se © falecido presidente Kennedy podia s© reunir com Khruschey ¢ tocar com ele um pouco de trigo, nds com certeza temos mais em comum uns com os outros do que Kennedy tina com Khrushchev. ‘se nio fizermos algo logo, eu acho que voeés terdo que concordar que sereios obrigados a usar o voto on abala, E um ou outro em 1964. Ndo é que o tempo esteja acabando — ele jé acabout! °O ano de 1964 ameaca ser 0 mais explosive que a América jé viveu. © ano mais explosivo, Por qué? Porque é canbe um ano eleitoral, & 0 ano em que todos 0s politicos brancos estario de volta & assim chamada co~ tmunidade negra enganando vocé e eu em troca de alguns votos. © ano em que todos os canalhas politicos ‘brancos estario de volta & sua e 4 minha comunidade com as promessas falsas deles, inflando nossas esperansas para depois nos decepcionar, com os seus truques €traigSes, com as false promessas que nlo pretendenn unn> pri. Eo fito de cles alimentarem esas insatsfagdes 36 pode levar a uma coisa: uma explosio. E agora tems en cena, na América de hoje, um tipo de homem negro — desculpe, irmiio Lomax — que simplesmente 130 tem intengio de oferecer a outra face por mais tempo. ‘Nao deixe ninguém Ihe dizer das dificuldades que estio no seu caminko, Se alistarem voce, cles o manda- io para a Coreia para enffentar 800 milhdes de chineses. Se vocé pode ser corajoso ld, pode ser corajos® aa! emabém, As condigdes daqui nko slo tio adversas quanto as de l. E se voce lutar aqui, voe® saberi pelo que staré Iutando. ‘Eu nfo sou um politico, nem uum estudante de politica; na verdade, no sou um estudante de muita cols, io sou democrata. Nio sou republicano ¢ também nem me considero americano. Se eu ¢ vocé fOssemos ‘americanos, nio haveria problema algum. Esses branquelos que acabam de sair do barco jf slo americanos; os polacos sfo americans; ot refugiados italianos sto americanos. Tudo o que venha da Europa, qualaver co's ve othos azuis é imediatamente americana, é eu ¢ voce, com todo o tempo em que estamos aqui, ainda no somos americanos, ‘Bem, eu nio sou dos que gostam de se iludir. Eu ndo irei me sentar sua mesa ¢ assistir 3 sua refeiglo, com nada ng meu prato, ¢ me chamar de comensal, Sentar 3 mesa nfo faz de voce comensail, a nlo ser que voce oma algo no prato. Estar aqui na América no nos faz americanes, Ter nascido na América no nos fz ame Tcanos, Ora, se o nascimento fizesse de voc? um americano, nio haveria necessidade de nenhuma legisagio. Vocé nio precisaria de emendas na Constituicio. Vocé no estaria enfrentando embromadores de direitos civis em Washington, D.C., neste exato momento. Eles no tei de aprovar les de direitos civis para transformar os ppolacos em americanos. 'Nio, eu no sou americano. Sou um dos 22 milhdes de negros que slo vitimas do americanismo. Um dos 22 milhdes de negros que sio vitimas da democracia, que nio passa de hipocrisia disfarcada Entlo, nio estou aqui falando como um americano, ou um patriota, ou como alguém que saida ou agitaa bandeira — mio, Gu ino, Estou filando como uma vitima desse sistema americano. E vejo a América pelos olhos da vitima. Nio vyejo nenhum sonho americano; vejo um pesadelo americano, ‘Esses 22 milhes de vitimas estio acordando. Seus olhos estio se abrindo. Esto comesando a realmente ver © que antes apenas olhavam. Estio se tornando politicamente maduros. Entendem que existem novasfendén= cias polticas de um extremo a outro deste pais. Ao avistar essas novas tendéncias,¢ possvel que cles vejam que fm toda eeigdo hi uma corvida tio acirrada a ponto de ser preciso fazer a recontagem dos votos. Tiveram que fiver isso em Massachusetts para descobrir quem era 0 novo governador, de tio apertada que foi a voragao. O mesmo ocorreu em Rhode Island, em Minnesota ¢ em muitas outras partes do pais. Foi a mesma coisa com Kennedy e Nixon naquela eleiio presidencil. Foi tio acirrada que tiveram que contar tudo de novo. Bem, 0 aque iso quer dizer? Quer dizer que quando os brancos estio divididos de forma equilibrada ¢ os negros for mam um bloco proprio de votos, eles acabam por determinar quem i assumira Casa Branca © quem iri para a casa do cachorro. Foi 0 voto do homem negro que colocou a administracio atual em Washington, D.C. O seu voto, 0 seu voto idiota, o seu voto ignorante, 0 seu voto desperdigado dado 2 uma administragio em Washington que achou por bem aprovar todo tipo de legislagio imaginavel, deixando vocé por tiltimo ¢ ainda por cima enga~ nando voc’. E 0s seus ¢ os meus lideres tiveram a audécia de andar por af aplaudindo e falando que ha muito progress sendo realizado. E que presidente bom nés temos. Se ele nio foi bom no Texas, ele com certeza no sexi bom em Washington, D.C. Porque o Texas é um estado que lincha. E é assim também no Missisipis 6 que eles lincham vocé no Texas com o sotaque do Texas ¢ lincham vocé no Misssipi com o sotaque do Mis- sisi. E estes Tideres negros tiveram a audécia de ir tomar café na Casa Branca com um texano, um brangue= to sulista —e isso € tudo o que ele é —e depois sairam e disseram para mim e para voce que ele seri melhor para nés, pois ele & do sul e portanto sabe lidar com os sulistas. Que tipo de logica € essa? Deinemos Eastland ser presidente, ele € do sul também. Ele deve saber lidar melhor com eles do que o Johnson. [Na atual administcagdo, eles tm na Camara de Representantes 257 democratas para apenas 177 republica~ ‘nos. Controlam dois tergos dos votos da Cimara. Por que eles no podem aprovar algo que iré ajudar a voce « di mim? No Senado hi 67 senadores do Partido Democrata. S6 33 sio republicanos. Ora, os democratas tém fesse governo na mio e foi vocé que o pos na mio deles. E 0 que eles Ihe deram? Quatro anos de mandato ¢ 86 agora se esti chegando a alguma legislagio de direitos cvs. S6 agora, depois que tudo mais acabou, € mio hi mais nada no horizonte, é que eles vio se sentar para brincar com vocé por todo o vero — a mesma velha grande vigarice que eles chamam de ebstrugio parlamentar. Todos eles ciimplices. Nem se atreva a pensir que les nfo sfo ctimplices, pois © homem que ests liderando a obstrugio parlamentar dos direitos civis € wm na tivo da Geérgia chamado Richard Russell. Quando Johnson se tornou presidente, o primeiro homem que cle pedi que viesse para Washington, D.C. foi “Dicky” — esse é 0 grau de intimidade dos dois, Esse € sew garo~ to, seu amigo, seu parceiro. Mas cles continuam jogando o mesmo velho jogo de vigarices. Um deles finge que extd do seu lado e deixa as coisas parecerem assim, enquanto o outro fica de tal maneira contra, que © primei- ro nunca pode manter suas promessas Entio, em 1964, esti na hora de acordar. E quando vocé os vir tramando esse tipo de armagio, deixe que eles saibam que os seus olhos esto abertos. E deixe que cles conheram voce, Outra coisa que deve estar tam- ‘bem muito clara: tem que ser no voto ou na bala. O voto ou a bala, Se voc? tem receio de usar uma expressio como essa, voc’ deve sair deste pats; vocé deve voltar para os campos de algodio; vocé deve voltar para o beco. Eles tém todos os votos negros, e depois que os conseguem, 0 negro no tem nada em troca. Tudo 0 que eles fizeram a0 chegar a Washington foi conceder empregos importantes a um punhadlo de negros importantes, ‘Mas esses negros importantes no precisavam de empregos importantes, cles jé tinkam empregos. sso & camu~ flagem, é trapaga, € traigio, & um enfeite, Nao estou tentanclo por para fora os democratas para ajudar os repa= blieanes. Nés Eilaremos deles em um minuto. Mas & verdade: vocé pe os democratas em primeiro lugar ¢ os democratas deixam vocé em éiltimo. ‘Olhe como as coisas si0. Quais dlibis eles usam, desde que controlam 0 Congresso ¢ 0 Senado? Qual alibi cles usam quando voc’ ¢ eu perguntamos: “Bem, quando voctsirio cumprir sua promessa?” Ele culpam os disxiecratas! © que & um dixicrate? Um democrata, Um dixieaata no é nada send um democrata disfargado, © principal lider dos democratas também € 0 lider dos disieeatas, porque os disieatas também sio parte do Partido Democrata. Os democratas nunca expulsaram os dixieeratas do partido, Os dixiecatas deram 0 fora uma ‘ver, mas os democtatas nlo 0s puseram para fora. Imagine esses segregacionistassulistas de baixo escallo hu- Jnilhando os democratas nortistas. Mas os democratas nortistas nunca husnilharam os disieerates. Nao, ole como a coisa é, Eles usam de mé-fé, uma mé-fé politica, e cue vocé estamos no meio dela. Esti na hora de ew Dicer € o opie dado sor democrats ds estas do Ss, conhecidoscoetivamente como Disie, Os seus eram nubrios adeptos dda defan intrannigente da segregapio racial que predominava nesa regio do pais (N do T) ¢ voe# acordarmos ¢ comecarmos a vé-la como ela é,¢ tentar entender a forma com que se apresenta, ¢ assim poderemos lidar com ela tal como € ‘Os diiecatas em Washington, D.C. controlam os principais comités que dirigem 0 governo. A Ginica razio pela qual os dxieaaas controlam eses comités ¢ porque tém a senioridade? A ‘nica razio de trem senionida~ te & porque cles advem de estados onde os negros nio podem votar. Este nfo € nem mesmo um govern ba seado na democracia, Esse nio & um governo feito por representantes do povo. Metade das pessoas no sul no pode votar. Eastland nio deveria sequer estar em Washington. Metade dos senadores ¢ congressstas que oct~ pam posigdes-chave em Washington, D.C. estio Is de forma ilegal, estio Is inconstitucionalmente. iu estava em Washington, D.C. hé uma semana, quando eles debateram se deveriam ou nlo deixar a lei ser Jevada a plenirio, E, nos fandos do salZo onde o Senado se reine, ha um mapa enorme dos Estados Unidos, que mostra a dstribuigio dos negros pelo pais todo, E mostra que na seqio sul do pais, os estados que tém haior concentragdo de negros so aqueles que tém senadores e congressstas empenhados em obstruir a discus- So da legislagio e arquitetando todo tipo de trapaca para impedir 0 negro de votar. Isso ¢lamentivel. Mas no ¢ mais lamentivel para nés; na verdade, é lamentivel para 0 homem branco, pois em breve, quando © negro acordar um pouco mais e enxergar a armadilha em que esté preso, o buraco em que esti, enxergar 0 verdadci- ro jogo em que esti, 0 negro ira desenvolver uma nova titica Na verdade, esses senadores e congressistas violam as emendas constitucionais que garantem o dircito de voto do povo deste estado ou condado particular. E a prépria Constituigio contém mecanismos para expulsir “qualquer representante de um estado onde os direitos de voto do povo sio violades. Nem se precisa de uma nova legislagio para iso. Agora mesmo, qualquer pessoa no Congresso que sta oriunda de um estado ou dis- trito onde os dircitos de voto do povo sio violados, essa pessoa expecifica deve ser expulsa do Congresso. E quando a expulsarem, tr sido removido um dos obsticls que impedem a cragio de wa legislacio verda~ deizamente significativa para este pais. Na verdade, quando voc 0 expulsar, nlo seri necessiria uma nova Tegislaglo, porque cles serio substiuidos por representantes negros nos condados¢ distritos onde o homem negro é maioria, ¢ no minoria. Se o negro nesses estados suistastivesse seu pleno direto 20 voto, 0s principals dxieamtas em Washington, que so os principais democratas em Washington, perderiam suas caderas. O proprio Partido Democrats per- dria seu poder. Ele deixaria de ser t30 poderoso como partido, Quando vocé vé quanto poder o Partido Democrata perdetia se le perdesse a sua sesio, ou ala, ou clemento disieaata, vocé pode ver também que € contra os interesses dos demoeratas conceder 0s direitos de voto aos negros, em estados nos quais os democra- tas tém mantido poder e autoridade absolutos desde a Guerra Civil. Vocé simplestnente no pode pertencer a ‘esse partido sem analisar esse aspecto. igo mais uma vez, nfo sou antidemocrata, no sou antrrepublicano, nio sou antinada. Estou apenas vet tionando a inceridade deles ¢ algumas das estratégias que tém usado com 0 nosso povo a0 prometer coisas que no pretendem cumprir. Quando voc’ mantém um democrata no poder, vocé também mantém os dxieaatas no poder, Duvido que 0 meu bom iemlo Lomax negue isso. © voro para um democrata € um voto para ui sie cta, & por isso que, em 1964, chegou a hora de vocé e eu nos tornarmos mais maduros politicamente ¢ perce- bermos para o que serve © Voto; € 0 que nés temos a ganhar quando depositamos o voto na urna; ¢ também que, se nés nfo usarmos 0 voto, acabaremos mutha situago em que feremos que usar a bala. £ o voto ou a bala No norte, eles agem de forma diferente. Eles tém um sistema que & conhecido como gerrymandering, seja 0 que isto queita dizer. Significa dizer que quando os negros estio muito concentrados em unta area ¢ come gam a ganhar muito poder politico, o homem branco aparece ¢ muda as Tinhas divisbrias dos distritos. Voce pode dizer: “Por que vocé fica falando do homem branco2” Porque & o homem branco quem faz isso. Bu vrynea vi nenhum negro mudando qualquer linha que sea. Eles nfo deixam que ele se aproxime da Kina, Fo + Grinds mas norma do Cngreno american, significa que quanto mais cempo os conresitas tm ma insiigo, mais ako sobem na accu iifeences conte subcomits lgatios. ester benefice partislarment os dnt, qe, com a excusio do voto mae lunpments ratcada no Su» dfs do state uo racial perpetsavam emt uns cadcras ns Cara ene Senado (N: do“) hhomem branco quem fiz isto. E, geralmente, 0 homem branco quem mais sori para voce, ¢ dé wm tapinha ‘nas suas costas, ¢ parece ser sett amigo. Fle pode ser amigivel, mas nfo é seu amigo. Envso, esencialmente, 0 que estou tentando dizer para voc’ ¢ 0 seguinte: voc® eu, na América, nlo esta- amos tendo com uma (rama segregacionista, mas sim com uma trama governamental Todos os que esto “pstruindo a legslacio slo senadores — ou sea, € 0 governo. Todos os que esto trapaceando em Washington tio congresistas — ou 4, € 0 governo, Voct nfo tem ninguém pondo obsticulos no seu caminho, a néo ser Dessous que io parte do governo, © mesmo governo pelo qual voct Intae morre em terriseStangeiis 0 ggoverno que tramia para privi-lo do direto 20 voto, privi-lo de oportunidades econOmicas privi-lo de uma areas decente, privico de uma educagio decente, Voct rio pressa enfrentarsomente © seu empregason & 6 proprio governo, o governo da América, que responsivel pela opresio,explorasio ¢ degradaio do povo : vocé deve jogar isso no colo deles. © governo falhou com o negro. A assim chamada de- rrecracia filhou com o negro. E todos estes liberais brancos, definitivamente, falharam com o negro. negro neste pai Tntio, para onde vamos? Primero, preisamos de alguns amigos, Precsannos de alguns novos alia, "Feds ala pelos direitos eivis necesita de uma nova interpreta, uma interpretacao mais ampla. Nos precsaios a thar ewa coisa dos dircitoscivis por outro Angulo — tanto do Angulo interno quando do ingulo externo, Para Saqueles de nés que segmem a filsofia do nacionalismo negro, a Gnica forma de se envolver ns ne, pelos direi- iar civisé ter uma nova interpretagio do fendmeno. A antiga interpretacio nos excluiu. Debxou-nos de fora. nado, estamos dando uma nova interpretagSo 3 uta por direitos civis, uma interpretaclo que iré nos ajudas a catasy nel a tomar parte nels. E todos os bonzinhos que vém adiando, enrolando ¢ fazendo concessbes — ns no queremos deixi-los adiar, enrolar e conceder mais. ‘Camo vocé pode agradecer a um homem por Ihe dar algo que jé € seu? Como voc® agradece a cle por Ihe dar apenas parte do que jf & seu? Voc8 nio fer nenhum progresso se voce jé deveria ter o que estfo The dando, Ins nfo € progresso, Eu gosto do meu irmio Lomax, da forma como ele destacow que voltamos para onde cacivamos em 1954. E nem sequer estamos no mesmo ponto que em 1954, Nos estamos ats de 1954. Hi mais segregagio hoje do que em 1954, Existe mais animosidade racial, ma 1964 do que em 1954. Onde esté 0 progresso? FE agora voct enfienta uma stuagio em que os jovens negros estio comevando a apareces: Fles nfo quersm dio racial, mais violencia racial em ouvir aguela istria de “dara outra face", ndo. Em Jacksonville, eram adolescents, ¢ estavam jogando cogs tis Molotov. Negros nunca tinham feito isso antes. Mas é o que mostra que hi algo nove surgindo, Ha um pensamento novo surgindo, Hi uma nova csraégia, Serio coquetéis Molotov neste més, granacas no proxi io e outa coisa no més seguinte. Serio votos ou serio balas. A Gnica diferenca sobre esse tipo de morte — tigora ease reciproca. Voce sabe 0 que quer dizer “reciproco”? Essa €unta das palavras do irmo Lomax. Fu oubei dele. Eu geralmente nio lido com grandes palavras porque geralmente ao Tido com pessoas grandss iu Ido com pessoas comuns. Eu descobri que voc# pode juntar uma multidéo de pessoas comuns ¢ ar uma surra num bando de pessoas grandes, Eles nfo tm nada a perder ¢ tém tudo a ganhar. F eles te dirio num minuto: “E preciso duas pessoas para dangar um tango; quando eu comego, voc# comes: ‘Os nacionalistas negros, agueles cujafilosofia € o nacionalismo negro, 30 trazerem esta nova interpretagio sobre o significado dos dieeitos civis como um todo, considcram gue se trata, como @ iemio Lomax apontou, dha igualdade de oportunidades. Bem, n6s estamos certos 3 buscar os direitos civs, se iso quer dizer igualda= de de oportuniades, porque 0 que estamos fazendo aqui é tentar reclher 0 nosso investimento. Nossos pls sc mies investiram suor € sangue. Por 310 anos trabalhamos nesta terra sem um centavo de retorno — eu fale em um centavo de retorno. Deixa-se o homem branco andar por af filando sobre o quanto este pats ¢ rico, sas nunca paramos para pensar em como ele se toro rico to ripido. Tornou-se rico porque voc fez ser tio rico. “Femos como exemplo as pessoas que estio nessa plateia agora. Elas io pobres. Individualmente nos somos pobres, Nosso salrio semanal individual no dé para quase nada. Masse voc® pegar os salérios de eodos agi esecheamente; so encherd muieas cestas.£ muita tiqueza. Se conseguir reunir apenas os ganhos das pessons {que estio aqui por um ano, voce se tornaré rico — mais rico do que rico. Quando voc’ olhar paraiso dese ngulo, pense no quanto 0 Tio Sam se tornou rico, nfo apenas com essa mela dizi, mas com miles de pesioas negras. Seu pai e sua mie, ¢ 0s meus, que nfo tabalhavam por um expediente de cite horas, mas ta palhavam do “escuro” da manha até o “escuro” da noite, ¢ trabalhavam por nada, tornaram o homem branco rico, tornaram o Tio Sam rico. Esse € 0 nosso investimento. Essa é nossa contribuisio: © nosso sangue. No apenas cedemos nossa forga de trabalho gratuita, ns demos o nosso sangue. Toda vez que o homem branco fizia uma chamada ’s armas, nés éramos 0s primeiros a vestir 0 uniforme, Nos morremos em todos os campos de batalha que o homem branco arranjou. Nés demos uma contribuicfo maior do que qualquer um tna América de hoje. Nés fizemos uma contribuicio maior e reecbemos menos. Os direitos civis, para aqueles de nds que sio adeptos dafilosofia do nacionalismo negro, querem dizer: ‘Dé para nbs, agora. Nao espere até ‘ano que vem. Dé para nés ontem, ¢ isso ainda nio é rapido 0 suficiente™ Eu posso fazer uma pausa aqui para chamar a atengio para uma coisa. Quando vocé busca algo que The pertence, quem quer que impeca o seu direito de consegui-lo é um criminoto, Entenda iso, Quando voce busca algo gue & seu, voc’ esti dentro dos limites legais para reivindicar esse algo. E quando alguém se empe~ raha em tirar o que é seu, ele estéinftingindo a lei ¢ € um criminoso. E isso foi determinado pela decisio da Corte Suprema dos Estados Unidos. Ela determinou o carster ilegal da segregacio. Isso significa que a segregacio é ilegal, © que significa que um segregacionista esti infringindo a lel, Um segregacionista é um criminoso. Voce no pode rot segregacio, a lei esti do seu lado, A Corte Suprema esti do seu lado. ‘Agora, quem esti se opondo a que vocé cumpra a lei? Justamente a policia. Com cies policiais ¢easseetes ‘Toda vez que voe® protesta contra a segregagio, sja a educagio segreguda, a habitagio segregada ou qualquer outra coisa, a lef esté do seu lado, ¢ qualquer tum que esteja no seu caminho nao representa mais a lei, Eles ‘stfo inffingindo a lei; cles ndo representam a lei. Toda vez que vocé protesta contra a segregag#o ¢ alguém lo de outra forma. E quando vocé protesta contra a tem a audéicia de langat um cZo policial contra voc@, mate esse cio, mate, estou Ihe dizendo, mate esse ¢10. Eu digo, mesmo que me ponham na prio amanhi, mate esse cio. Assim voc® poder por um fim nisso tudo. ‘Agora, se esses brancos aqui no querem ver esse tipo de acio, entio, mexam-se e digam 20 prefito para or- dlenar que a policia prenda seus cachorros. E tudo o que voeés deve fazer, Se vocts nfo fizerem isso, outra pesioa far’. Se voe’ nfo se mobilizar, suas criangas crescetio ¢ olhario para vocé, pensando: “que vergonha”. Vocé deve tomar uma posigio firme, e et no quero incitar voc’ a sir cometendo atos violentos, mas, a0 mesmo tempo, voc nunca deve ser no violento a no ser que encontre a nao violéncia pela frente. Eu nio sou violento com aqucles que nio sio viotentos comigo. Mas quando alguém usa a violéncia contra mim, entio eu fico danado earzo son responsive pelos meus aos. £ assim que todo negro deve agis. Toda vez que souber que ests dentro dda lei, dentro dos seus direitos legais, dentro dos scus direitos morais, de acordo com a justiga, entio morra pelo que acrediea, Mas nfo morra sorinho. Deixe que a sua morte sj reiproca isso 0 que igualdadesigni- fica. © que é bom para a pata é bom para o pate {Quando comecamos a entrar nessa rea, precisamos de novos amigos, de novos aliados. Precisamos expandir ‘Tata dos direitos eivis para um nivel mais alto — para o nivel dos direitos humanos. Sempre que vocé luta pelos direitos civis, quer saiba disso ou nio, esté se limitando & jurisdisio do Tio Sam. Ninguém do mundo exterior pode falar em seu favor esa Ita € por direitos civis. Os direitos civissituam-se nos assuntositernos deste pas ‘Todos os nos0s irmios africanos, aséticos ¢ latino-americanos no podem abrir a boca e interferir nos assuntos internos dos Estados Unidos. Enquanto se tratar de dircitos civis, tudo fica na jurisdigdo do Tio Sam. Mas as Nagdes Unidas tém o que chamam de declaragio dos direitos humanos; ¢ tém wm comité que lida com os direitos humanos. Vocé pode se perguntar por que todas as atrocidades cometidas na Africa, na Hun- sia, na Asia e na América Latina sio levadas as Nags Unidas, ¢ 0 problema do negro, nio. Isso € parte da trama, Esse velho liberal trapaceiro de olhos azuis que deveria ser nosso amigo, ¢ que deveria estar do nosso lado, que deveria subsidiar nossa Tuta, ¢ que deveria atuar como um conselheiro, nunca Ihe diz nada sobre os direitos humanos. Eles confinam voce aos direitos civis. E voc? passa muito tempo lutando pelos direitos civis sem saber que existem 0s direitos humanos no mesmo nivel. Quando voc# expande a luta dos direitos civis para o nivel dos direitos humanos, ent30 voré pods levar © problema do homem negro 3s nagies que formam a ONU. Voe® pode levi-lo& assembleia geral. Voce pode Jevar o Tio Sam a um tribunal mundial. Mas dnico nfvel em que voc’ pode fazer isso € 0 dos direitos hu- ‘manos. Os dircitos civis confinam voc’ dentro das restrigdes dele, na jurisdicio dele. Os direitos eivis poem ‘voce no bolso defe. Os direitos civis significam que vocé esti pedindo a0 Tio Sam que 0 trate direito, Os di- reitos humanos so algo que nasce com voc8. Os direitos humanos sio dircitos dados por Deus. Os direitos hhumanos so direitos reconhecidos por todas as nacdes deste mundo. E toda vez que alguém viola seus direitos thumanos, vocé pode levi-lo ao tribunal mundial. ‘As mfos do Tio Sam estio pingando sangue, pingando com o sangue do homem negro deste pafs. Ele € 0 hipécrita nlimero um da terra. Ele tem a audicia — sim, ele tem — de posar de lider do mundo livre. Do mundo livre! E voc’ ai cantando Ie shall overcome. Expanda a luta dos direitos civis para o nivel dos direitos yrumanos. Leve isso para as Nagdes Unidas, onde nossos irmios afficanos podem jogar 0 seu peso do nosso lado, onde nossos iemos asiiticos podem jogar 0 seu peso do nosso lado, onde nossos irmios latino-america~ nos podem jogar o seu peso do nosso lado e onde 800 milhes de chineses esto apenas esperando para jogar ‘0 seu peso do nosso lado. Deixe que o mundo saiba como as mios dele esto manchadas de sangue. Deixe que o mundo saiba da hi- pocrsia que é praticada por aqui. Deixe que seja 0 voto ou a bala, Deine que ele saiba que deve sero voto ou abala, Quando voe8 leva 0 eu caso para Washington, esté apresentando-o ao criminoso responsivel; € como fugir 40 lobo para cair nas mis da raposa. Eles sio todos etimplices. Eles cometem uma trapaga politica ¢ fizem com que voce pareca um idiota aos olhos do mundo. Assim, voc® esti perambulando pela América, preparan ddo-se para seralistado e mandado pata fora do pais, coino um soldadinho de chumbo, ¢ quando chegar por li as pessoas perguntario por que woc® estéIutando, ¢ vocé teri que inventar uma resposta mentirosa, Nao, leve © Tio Sam para o tribunal, leve-o aos olhos do mundo todo, Por voto eu apenas quero dizer liberdade. Voc’ no sabe — e cu discordo de Lomax nesse asunto — que 6 voto € mais importante do que o délar? Seri que eu posso provar isso? Sim, Olhe para as Nagdes Unidas, -Existem nagdes pobres nas Nagées Unidas; mesmo assim, essas nages pobres podem se juntar com o seu poder de voto ¢ impedir que as nagSes ricas facam um determinado movimento. Lé cles tém uma na¢io.. um voto, todos tém um voto de igual valor. E quando esses irmios da Asia, da Africa ¢ das partes mais escuras deste ‘mundo se juntarem, 0 seu poder de voto serd suficiente para manter 6 Tio Sam emt xeque. Ou manter a Ris sia em xeque. Ou qualquer outra parte do mundo. Enfim, o voto é o mais importante, ‘Agora, neste pats, se et e vocé, 22 milhdes de afro-americanos — é isso que somos — africanos que estio na América. Vocé ndo é nada além de um afticano, Nada além de um afticano, Na verdade, vocé iria mais longe se chamando de africano do que de negro. Os africanos nio tém problemas. Vocé é @ nico com pro~ bblemas. Eles no tém que aprovar leis de direitos civis para os afticanos. Um africano pode ir a qualquer lugar onde quiira neste cxato momento. Tudo 0 que vocé tem de fazer € enfiixar sua cabesa. f isso mesmo, vé conde quiser. Deixe apenas de set um negro, Mude set nome para Hoogagagooba. [sso iré Ihe mostrar 0 quan= to.0s homens brancos s30 tolos. Voce esti lidando com um tolo. Eu tenho um amigo que € muito escuro. Pois bem, ele pds um turbante na cabesa e entrou em um restaurante cm Atlanta antes que eles se autonomeassem de dessegregados. Fle foi a um restaurante branco, se sentou, foi servido ¢ perguntou: “O que aconteceria se tum negro viesse aqui?”. li estava ele, escuro como a noite, mas porque tinha enfaixado a eabega, a gargone te 0 olhou c disse: “Ora, nenhum crioulo teria coragem de entrar aqui”. “Entio, voc® est lidando com um homem cujos pr6prios vieses ¢ preconccitos 0 estio enlouguecendo, fazen- do-o perder sua inteligéncia, todos os dias. le estéaterrorizado, Ele olha em voltae vé o que esté acontecendo ‘no mundo, ¢ vé o péndulo do tempo balangando em diregao a voce. As pessoas escuras estio despertando, Esto + SN vamos veneer” Cangdo que se rornow um hino do movimento pelos direitos evs (N. do 7) perdendo © medo do homem branco. Em nenhum lugar onde o homem branco estéIstando agora, esti ven= endo, Em todos os lugares em que esta lutando, cle ests lutando com alguém com a nossa compleicio. B eles 0 ‘estio vencendo, Ele no pode mais vencer, Ele ja venceu a sua dltima batalha. Ele nio conseguiu veneer a Guer- ada Coreia. Ele nio péde vencé-la. Ele teve que assinar uma trégua. Isso é uma derrota oda vez que © Tio Sam, com toda a sua maquinaria de guerra, éIevado a um empate com uns comedores de arroz, perdeu uma batalha. Teve que assinar uma trégua. Nao se espera que a América assine tréguas, Es pera-se que ela seja malvada, Mas cla nao € mais tio malvada, Ela malvada se puder usar sua bomba de hi- Programa dos 10 Pontos do Partido dos Panteras Negras" © Partido Black Panther foi fundado em 1966 por Huey Newton © Bobby Seale, em Oakland, Califénia. OrganizacSo revolucionévia de cunho nacionalista, 0 partido comesou criando milicias de autodefesa _suantes em comunidades de minoriasracais, nas quais 2 intervencdo policial era usualmente marcada pelo preconceitoe pela brutalidade, Logo comecou 2 genhor notoriedade ease espalhar pelas principals ‘idades dos EU, tornando-se um alvo para as operacées de infitragboe viginela do FBI, De influéncia marxistalennist, © partido, embora comprometido com o chamado nacionalismo negro, ‘do propunha o separatism; seu objetivo maior era cooperar para "uma uniao entre os trabalhadores de todos os palsese racas rumo 8 revolucéo anticapitalisa. Porém, a perseguigSo das autoridades © confltosintemos levaram o grupo 20 declni, até a sua dissolucéo na ‘década de 1980. (RF) 41. Nés queremos a liberdade. Nés queremos o poder para determinar o destino da nossa comunidade negra. Nés acreditamos que os negros nao serio livres até que nés sejamos capazes de determinar 0 nosso destino. 2.INés queremos o pleno emprego para 0 nosso povo. [Nés acreditamos que o governo federal sejaresponsivel e obrigado a dar a cada homem um emprego ou uma renda garantida. Nés acreditamos que se os empresirios americanos brancos no derem o pleno emprego, os meios de produgio devem ser tomados dos empresitios ¢ colocados nas mios da comunidade, para que as pesso- as da comunidade possam organizar e empregar todos 0s seus cidadios e proporcionar um alto padrio de vida. 3. Nés queremos o fim do roubo da comunidade negra pelos capitalisas Nés acreditamos que este governo racista roubow a todos n6s, ¢ agora estamos exigindo a divida em retros- pecto pelos quarenta acres ¢ duas mula.’ Quarenta acres ¢ duas mulas foram prometidos 100 anos atrés como indenizagdo pelo trabalho escravo ¢ assassinato em massa do povo negro. Aceitaremos o pagamento em moe- da que sera distribuido para as nossas muitas comunidades. Os alemies esto agora ajudando Israel pelo geno- cidio do povo juden. Os alemies assassinaram 6 milhdes de judeus. © americano racista tomou parte no ‘massacre de mais de 50 milhées do povo negro; portanto, achamos que fazemos uma demanda modesta 4, Nés queremos habitagio decente para abrigar seres humanos. INés acreditamos que se os brancos senhores de terra nio derem moradia digna para a comunidade negra, centio a habitagio e a terra devem ser transformadas em cooperativas para que a nossa comunidade, com a aju= da do governo, posta construir e fazer moradias decentes para 0 seu povo. 5. Nés queremos uma educagio para 6 nosso povo que exponha a verdadeira natureza da decadéncia da socie~ dade americana. Nos queremos educagio gue nos ensine a nossa verdadeira hist6ria © nosso papel na sociedade atual N6s reivindicamos um s tema educacional que venha a dar a0 nosso povo um conhecimento sobre si. Se ‘um homem nio tem conhecimento de si e da sua posicao na sociedade ¢ no mundo, entio ele tem poucas chances de se relacionar com qualquer outra coisa 16, Nés queremos que todos os homens negros fiquem isentos do servigo militar. Nés acreditamos que 0 povo negro no deve ser obrigado a lutar no servico militar para defender um go- ‘verno racista que no o protege. Nés nio vamos lutar € matar outras pessoas de cor do mundo que, como 0 nosso povo, so vitimas do governo branco racista da América. Nés vamos nos proteger da forca ¢ da violencia racista da policia e dos militares racistas, por qualquer meio necessirio. nal, The Black Panther Party en Progam. Este € 0 progrs * Referéncia 20 programa “Quarenta acres ¢ uma mul", inicitiva do general W. Sherman depois da Guerra Civil com ointito de conce- era cada fia ngra emancipada om pequeno lote de terra canines para que pucessem iniia a vida ivr Ver, neste volume, o Seg so cexto (N. do T). bisico do parti, atibuide 1 Hcy Newton 7..Nés quetemos o fim imediato da brutalidade policial ¢ do assasinato do povo negro. Nés acreditamos que podemos terminar com a brutalidade policial na comunidade negra, organizando grupos de autodefesa negros, dedicados a defender a nossa comunidade da opressio ¢ da brutalidade da policia racista. A segunda emenda i Constituigdo dos Estados Unidos dé o direito ao povo de portar armas. Por isso, de agora em diante, acreditamos que todas as pessoas negras devam armar-se para a sua autodefesa. 8, Nés queremos a liberdade para todos os homens negros presos em prisdes ¢ cadeias federais, estaduais, dis- tritais ¢ urbanas. [Nés acteditamos que todos os negros devam ser liberados das muitas cadeias e prisSes porque eles nio rece~ beram um julgamento justo ¢ imparcial 9, Nés queremos que todas as pessoas negras, quando levadas a julgamento, sejam julgadas por um jiri de pares ou por pessoas das suas comunidades negras, conforme definido pela Constituigio dos Estados Unidos Nés acreditamos que os eribunais devam observar a Constituigo dos Estados Unidos para que as pessoas ne~ gas recebam julgamentos justos. A décima quarta emenda da Constituigo dos EUA dé a um homem o direi- to de ser julgado pelos seus pares. O par € uma pessoa proveniente de semelhante contexto econémico, social, religioso, geogréfico, ambiental, histérico ¢ racial, Para fazer iso, o tribunal seré obrigado a selecionar um jiii a partir da comunidade negra da qual o réu negro provém. Nés temos sido, e ainda estamos sendo, julgados por jiris totalmente brancos que nio tém nenhuma compreensio do “padrdo mediano do homem racional” da comunidade negra 10. Nés queremos terra, pio, habitacio, educagio, vestusrio, justia e paz. E como grande objetivo politico, ‘um plebiscito supervisionado pelas Nagdes Unidas a ser realizado em toda a colénia negra, em que apenas membros negros dessa comunidade sejam autorizados 2 participar, com o objetivo de determinar a vontade do povo negro no que se relaciona ao seu destino nacional, Quando, no curso dos acontecimentos histéricos, se faz necessirio para um povo dissolver os vinculos po- liticos que o tem ligado a outro, ¢ tomar, entre os Estados da Terra, a posigdo separada e igual & qual as leis da natureza e de Deus Ihe dio direito, um justo respeito & avaliacZo da humanidade exige que se declarem as ‘causas que 0 levam A separagio. Sustentamos como evidentes estas verdades: que todos os homens sio criados iguais; que sio dotados por sett Criador de certos dircitos inalieniveis; que, entre estes, estdo a vida, a liberdade ¢ a busca da felicidade. Que, para garantir estes dircitos, instituem-se governos entre os homens, derivando seus poderes legitimos do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se coloque contra essas finalida- des, 0 povo tem 0 direito de reformé-lo ou aboli-lo ¢ instituir um novo governo que se fandamente em tais prinefpios, e organize scus poderes de uma forma que Ihe parega a mais apropriada para sua seguranga ¢ feli- cidade. A prudéncia, na verdade, aconselhars que nio se mudem por motivos leves e temporirios governos de ha muito estabelecidos. Com efeito, toda experiéneia tem demonstrado que a humanidade est mais disposta a padecer, desde que os males sejam tolerdveis, do que a fazer justiga abolindo os desvios a que est acostuma~ da, Porém, quando uma grande série de abusos e usurpagées, dirigida invariavelmente ao mesmo objetivo, evidencia o designio de submeter 0 povo a um despotismo absoluto, é o seu direito, e € 0 seu dever, derrubar ste governo e estabelecer novas garantias para a sua Futura seguranca. Fonte | BIRNBAUM, Jonathan; TAYLOR, Clarence, Cit Righs sine 17870 reader on the Black rage, New York & London: New York ‘University Pros, 2000, © que é um hippie?” ‘Uma das mais conhecidas correntes de contestacso da década de 1960, © movimente hippie tornou'se um des simbolos da rebelio da juventude da epoca, Gatizados pela imprensa da cidade de ‘0 Francisco, onde tinham uma grande concentracso no bairro| de Haight-Ashbury, esses jovens jamais chegaram a constituir um movimento coeso, com liderancas e manfestos definidos.Porém, ra facil reconhecé-le, pos se destacavam de longe pels cabelos ‘comprides, barbas fechadlas e roupas coloridas. Porém, ser um hippie fa muito alm da aparéncia:significava a adesSo a um estilo, ‘de vida comunitiri, 20 amorlve, a pacifism, a preceupacdo com anatureza — dal a expressio Flower Power —e também uma inclinagto pronunciada por principio de religioes orienta, eso em lar no frequente uso das droges que se tornaram febre na époce, a maconha e, em menor escal, © LSD. Influenciados pelos beats dos ‘anos 1950, 05 hippies formularam uma rejecdo radical aos valores da sociedade de consumo ocidental, vista como materaita e quadrada Neste artigo de 1967. quando o movimento ja comecava seu decinio ‘os EUA, Guy Strait sintetiza a critica hippie aos valores da Sociedade ‘dominante. (RF) B estranho e preocupante assist raiva da comunidade conservadora, ¢, is vezes,& violenta reacio 20s hippies. Existem muitas razdes para isso. A principal delas é a aparéncia. Os hippies se vestem estranhamente. Eles se vvestem dessa forma porque jogaram pela janela um monte de nogdes de classe média, e com elas, © mais sen~ sivel dogma da classe média: a aparéncia neutra. © mundo conservador & uma selva de tabus, medos ¢ jogos de personalidade. As pessoas nessa selva destro- em as outras impiedosamente. Por conseguinte, para sobreviver em qualquer selva, requer-se uma boa prote~ go de cores: a camuflagem da aparéneia respeitivel. O anonimato da roupa de classe média € como uma bandeira de trégua. Significa (seja verdade ou nio): “Eu nao sou um dos predadores”. A natureza da camufla- gem é dar uma garantia de inocuidade. Incomuns ou brilhantes, roupas coloridas, entio, tornam-se um alar~ me, um sinal de perigo para a temerosa trégua armada com o resto da humanidade. Eles vem isso como um desafio, Ficam temerosos, inseguros de si mesmos, ¢ 0 medo, por fim, torna-se raiva. Mais um passo apenas, € comegam a pensar que a raiva é “boa”. A falicia mais antiga do mundo € que tudo © que te faz zangado deve © pecado dos hippies € que eles ndo jogam o jogo conservador da camuflagem. A sua nio participagao, com feito, os expe como outra tribo, cujo desrespeito aos tabus conservadores de vestir faz com que eles paregam capazes de tudo c, portanto, paregam um perigo. Esse perigo & claramente sentido, aliés, pela prefeitura, este santuirio do conservadorismo quadrado. Por que outro motivo, eu diria, o Departamento de Saiide desta ci- dade tem uma tal preocupacdo pelas condigdes de vida dos seres humanos no Haight quando eles ignoram as condigdes em Hunter’s Point, em Mission e em Fillmore? ‘Muitas pessoas no conscguem entender a rejeigio dos hippies a tudo o que normalmente esperado do individuo em relacZo a0 emprego e 20s objetivos de vida: smprego lucrativo ¢ estavel e, com o passar dos anos, a acumulagio de bens e dinheiro, construindo (sempre construindo) seguranga para o futuro. E justamente essa seguranga hipocondriaca, ssa veficaydo das contas bancéras ¢ nao dos pulios, esta preocupagio com orgamen= tos € nio com a satide, que impulsiona a juventude de hoje para fora, para outro lugar. E esta frenética preo- cupagio com o dinheiro que também impulsiona os jovens para o Haight-Ashbury. Eles viram os seus pais serem escravos por anos, desperdigando a vida para se certificar de que a casa foi paga, © que 0s filhos estio estudando para conseguir “bons” empregos, para que possam aderit, mais tarde, a frenética corrida. A recom- + No original, Whar «hippie? ppensa dos pais por essa luta € que eles acabam velhos ¢ cansados, alienados de seus filhos ¢, como acontece muitas vezes, um em relagio ao outro, Eles pensaram tanto tempo em termos de dinheiro ¢ posses que cles esqueceram de pensar em termos de pessoas. Assim, eles pensam a respeito do “meu filho”, ¢ da “minha filha’, ¢ falam com seus fillos de maneira tio distante como fariam em relagio a um talio de cheques. “Mas vocé tem que construir um futuro para si mesmo. Se vocé nio sustenta a si préprio, ninguém mais 0 faré!” © cansado e enrugado rosto briga com os jovens. “E um mundo duro”, E conte, por Deus, quem 0 torna dificil, participando na corrida pela “seguranga” material? Quem faz com que seja dificil, insistindo que todos devem participar da corrida ou sofrer a censura social? Escutem o tom de quem discorre sobre as “rea lidades econémicas” da vida. Eles estio apresentando fatos imparciais? Ou ser que parecem com expositores de doutrinas religiosas? A segunda hipétese. O tipo convencional de nossa sociedade, as asim chamadas pes- soas “normais", acreditam na cortida do rato. A competigio é sagrada. Nio ficar atras dos vizinhos € uma ‘ordem de Deus” A exigéncia de manter uma respeitivel aparéncia € o principal artigo da f. Ji foi repetidamente demonstrado, a0 longo da hist6ria, pelas melhores mentes, que muito pouco é neces- sirio para a felicidade. £ a luta pelo dinhciro, posses e prestigio que leva estas pessoas & exasperagdo, ¢ € iso 0 ‘que faz 0 mundo ser duro, Nés somos a nagio mais rica do mundo, com © mais alto padrio de vida. Por nos- sas préprias ilusbes sobre a prosperidade, nds também deverfamos ser 0s mais felizes. Somos? Suicidio, violén- cia racial e o éxodo dos jovens de suas casas confortiveis sugerem outra coisa. A terrivel verdade & que a nossa prosperidade é a causadora de miséria. Temos softido uma lavagem cerebral pela indéistria da publicidade que nos transformou nas pessoas mais insatisfeitas em todo o mundo. Dizem-nos que todos devemos ser simpiticos ou bonitos, sexualmente arrasadores ¢ proprictarios de uma espantosa quantidade de bugigangas, ou estaremos condenados & frustragio, O resultado € que a maioria de nés ests frustrada. £ exatamente isto que o hippie evita como veneno. Ele nao quer tomar parte na busca de objetivos autodestrutivos. £ muito provivel que o hippie vi passar fome e se expor ao sofrimento, ¢ talvez enlouqueca. Mas cle con- sidera que estas coisas sio muito menos perigosas do que o tipo de desumanizago que a sociedade tentou empurrar sobre ele antes de sua rebeliio, Ele fugit de uma cultura em que a méquina é deus, e os homens Julgam uns aos outros por principios mecdnicos de eficiéncia e utilidade. Ele vé loucura na luta constante para vender mais miquinas de lavar, catros, papel higiénico, fitas ¢ bugigangas do que os outros colegas. Ele est igualmente horrorizado com a sinistra crueldade dos homens que participam nessa luta Fonte | BLOOM, Alexander; BREINES, Win. Tiki’ it othe tat ssties reader. Oxf: Onford University Pres, 1995. 5% ego online . Aceso cs 11 ja, 2006, expresso orginal usa pelo autor fi huping ap with che Jost (N. dT), 1¢ 0 DC Entre.0s movimentos antsistémicos que marcaram os anos 1960, merece destaque o movimento feminista,Diferentemente dos rmovimentos anteriores, que revindicaram a insergBo igualitria no sistema politico estabelecido, como o movimento sufragista, as novat ‘organizacbes feministas produairam uma verdadeira mucanca de paradigma, A luta politica deixou de ser associada unicamente 20 ‘espaco publico, desafiando-se inclusive a tradicional separacso entre (0s universos publica e privado. A subordinagio da mulher e os papéis 2 ela atribulos na esfera doméstica passaram a se percebidos como instrumentais para o sistema capitalista, 0 que obrigava &reavaliacso das rlacées de poder e as identidedes politics. A oposicso entre capital etabalho debsava de ser vista como determinante, subordinando todas as demals contradigbes soca, Langado em 1968, 0 manifesto Redstockings(Meias Vermelhas) lexpressava a posigdo de uma vertente antriormenteligada & New York Radical Wornen (Mulheres Radiais de Nova lorque). No contesto dda emergéncia da New Left (Nova Esquerda), as organizactes ferinistas multiplicavanyse,langando novas demandes, através de Luma linguagem que pretendia dessfar os padroes de comportamento 1208 alcerces da ordem e da dominac30, qulificade come mazculina. (© movimento feminista ainda teria que esperar algum tempo para que © conceito de génera atibulsse um sentido mais complexo as tas sustentadas no apenas por mulheres, mas também por outros atores sodas. (GN.€CA) ‘Apés séculos de luta politica individual e preliminar, as mulheres estio unidas para alcangar a sua libertagio definitiva da supremacia masculina, As Meias Vermelhas dedicam-se a construgio desta unidade para ganhar a nossa liberdade. ‘As mulheres so uma classe oprimida. Nossa opressio 6 total, afetando cada faceta de nossas vidas. Somos exploradas como objetos sexuais, procriadoras, domésticas e como trabalho barato, Somos consideradas seres inferiores, cuja tinica finalidade é melhorar a vida dos homen A nossa humanidade & negada. O nosso com- portamento prescrito é garantido pela ameaca da violéncia fsica Porque temos vivido tio intimamente com os nossos opressores de forma isolada umas das outras, temos sido privadis de ver 0 nosso sofrimento pessoal como uma condigio politica. Isso cria a iluso de que 0 relacio~ namento entre mulher ¢ homem é um assunto exclusivo da interago entre duas personalidades, e que pode ser trabalhado individualmente, Na realidade, toda essa relagio é um relacionamento de classe € 08 conflitos individuais entre homens e mulheres sio conflitos politicos que s6 podem ser resolvidos coletivamente. IL, Nés identificamos os agentes de nossa opressio como homens. A supremacia masculina é a mais antiga e a mais basica forma de dominagio. Todas as outras formas de exploragio e opressio (racismo, capitalismo, im- perialismo etc.) sio extensdes da supremacia masculina: os homens dominam as mulheres, e poucos homens . Aces em 28 st 2009, ‘O que queremos, no que acreditamos* Escrito em 1971, este manifesto expressa a multiplicidade de temas ‘que haviam se tornado caraceristica do ativima de esquerda desde © fim da década anterior: uma critica radical 30 capitalism (de ‘otériainfluéncia mania, solidariedade com o: povos do Terceiro ‘Mundo (a Guerra do Vietna ainda estava na ordem do dia) e, por fim, mas ngo menos importante, 0 atague as convengbes que regiam vida pessoal: hegemonia masculina, familia nuclear patie, ‘casamento monogimico, heterossexuaidade compuls6ria ais valores foram postos na belinda & medida que o feminismo ganhave vsibilidade e comecava a contestar 0 conservadorisma privado Ge tantos revolucionéros, isto 6, aquees que pregavam uma nove ‘ordem politica, econémica, racial e social, mas reprodiziam = mesmo ‘defendiam 0s papdistradicionais de genera na vida privada, Esso questionamento iniciado pelas feministas nfo tardou a ganhar eco entre os homassexuais, que, desde 0 episddio de Stonewall em junho de 1963, deizaram de so manifestar apenas com as dscretas ‘associagdes homes, como a Mattachine Society, e, aderindo 80 ‘spirito da époce, aprenderam a ganhar também as russ na defesa de ‘seus direitos. (RF) 'Nossos honestos irmis ¢ irmios devem reconhecer e apoiar 0 fato de que nés, mulheres ¢ homens gays, somos iguais em todos os aspectos, nas fileiras revolucionsrias. Cada um de nés organiza sua gente em torno de diferentes questdes, mas nossa lutas sio as mesmas contra a opressio, © nés a derrotaremos juntos. Uma vez que compreendamos estas lutas, ¢ ganhemos o amor de nos~ 52s irmas ¢ irmios envolvicos nelas, precisamos aprender a melhor maneira de participar delas. As lutas dos povos do mundo so também nossas Iutas; suas vitérias sf0 nossas vitbrias © nossas vit6rias 0 vit6rias deles. Nossa liberdade s6 seri aleangada se eles também ganharem a sua liberdade, Juntos, no sozinhos, precisamos investigar como nos vemos a nés mesmos € analisar os pressupostos de nossa autoidentidade, Podemos entio comecar a derrubar as barreiras de nossas virias fraquezas, nossa passivi~ dade, © chauvinismo sexual — em esséncia, nossa incapacidade de nos amarmos uns 20s outros serenamente, de viver, lutar, ese for necessirio, morrer pelo povo da terra Quando comecarmos a compreender nosso lugar nesta revoluglo internacional, ¢ nos juntarmos a outros nesta compreensio, precisaremos desenvolver a sabedoria necessiria para destruir as forgas da repressio ¢ da exploragio, para que scja possivel para uma nova mulher e para um novo homem evolver numa sociedade bascada no amor comunitério. Enuanto compreendemos que nos Estados Unides nosso principal inimigo é o sistema sécio-politico- econdmico capitalista ¢ as pessoas que lucram 8 custa de nossos sofrimentos, lutas€ divis6es, também reconhe~ ‘cemos que precisamos lutar contra todos os governos ou maquinas governamentais totalitirias, autoritérias, controladoras do sexo, represtivas, irracionais, reacionétias ¢ fascstas, © QUE QUEREMOS, NO QUE ACREDITAMOS 1. Queremos 0 direito de autodeterminagio para o Terceiro Mundo ¢ para 0 povo gay, assim como o controle dos destinos de nossas comunidades. Acreditamos que 0 Terceiro Mundo ¢ © povo gay no podem ser livres enquanto nao formos capazes de determinar nossos préprios destinos. + No criginl, Thiel Wind Gay Literaton. Wat we want, aha we bel 2. Queremos 0 direito de autodeterminacio sobre o uso de nossos corpos: 0 direito de ser gay, em qualquer tempo e em qualquer lugar; o dircito 4 liberdade de mudanga fisiol6gica e de modificar como queiramos 0 sexo; 0 direito a liberdade de se vestir e de se embelezar. Acreditamos que estes sio direitos humanos que precisam ser defendidos com nossos proprios corpos. O sis tema que ora existe nega estes direitos humanos bisicos implementando a heterossexualidade compulsoria, 3. Queremos liberdade para todas as mulheres: queremos livre ¢ segura informago sobre a contracepgio e livre acesso aos dispositivos de controle. Queremos ereches gratuitas 24/24h, controladas por quem necessta delas usa-as. Queremos uma redefini¢io da educacio ¢ de incentivos (especialmente para as mulheres do Terceiro Mundo) com vistas a mais amplas oportunidades educacionais e sem limitagdes sexistas. Queremos ensino confiével sobre a histéria das mulheres. Queremos um fim para as priticas empregaticias que fazem das mu- theres e das minorias nacionais: 1) wma fonte pronta ¢ disponivel para trabalho barato; ¢ 2) confinadas a em ‘pregos intelectualmente podres e sob as piores condigdes Acreditamos que as lutas de todos os grupos oprimidos sob qualquer forma de governo que nio atenda 3s, demandas de seus povos resultario finalmente na derrubada desses governos. A luta pela libertagio da mu~ Iher & uma luta a ser travada por todos os povos. Precisamos lutar com nés mesmos ¢ no interior de nossos vrios movimentos para acabar com a mais antiga forma de opressio ¢ seu fandamento — o chauvinismo machista, Nio podemos desenvolver uma forma verdadeiramente libertadora de socialismo a menos que Jutemos contra tais tendéncias. 4. Queremos integral protegio da lei e sangio social para todas as autoexpressbes sexuais e prazerosas do ser hhumano que se realizem entre pessoas que 0 consintam, inclusive jovens. Acreditamos que as leis atuais io ‘opressivas para 0s povos do Terceiro Mundo, para 0 povo gay e para as massas. Tas leis expdem as desigual- dades do capitalismo, que s6 podem existir num estado no qual existam grupos ou pessoas oprimidos. Iso precisa acabar. 5. Queremos a aboligZo da instituiglo da familia nuclear burguesa. ‘Acreditamos que a familia nuclear burguesa perpetue as falsas categorias de homossexualidade e heterosse~ xualidade, por meio da criagio de papéis sexuais, definigdes sexuais ¢ exploragio sexual. A familia nuclear burguesa, como unidade bisica do capitalismo, cria papéis opressivos de homossexualidade e heterossexu- alidade, Todas as opressdes originam-se na estrutura nuclear familiar. A homossexualidade ¢ uma ameaga para esta estrutura e, portanto, para o capitalismo. A mae é um instrumento de reproducio ¢ ensina, desde a infincia, os valores necessirios 4 sociedade capitalista, isto &, racismo, sexismo etc... O pai fisicamente obriga (as mies e os filhos) a terem um comportamento que é necessirio para o sistema capitalista: 0s me~ nninos tém de ter inteligéncia e competitividade e as meninas tém de ter passividade. Além disso, é direito de toda crianga desenvolver-se numa atmosfera no sexista, nlo racista, nfo possessiva, cuja criagSo seja de responsabilidade de todo o povo, incluindo os gays. 6. Queremos um sistema educacional live e nfo compulsério, que nos ensine nossa verdadeira identidade e histria, ¢ apresente todas as nuangas da sexvalidade humana sem advogar nenhuma forma ou estilo; que os papeis sexuais a determinacio dos saberes de acordo com o sexo sejam eliminados do sistema escolar; que a linguagem seja ‘modlfcada sem prioridades de género; e que 0 povo gay poss compartilhar responsibilidades na educacio. Acreditamos que aprendemos a competir desde cedo pelo poder, ¢ é da atitude competitiva que brotam 0 sexismo, o racismo, © machismo, o chauvinismo nacional ¢ a desconfianga em relagio a nossas irmas ¢ nossos irmios. Quando comegarmos a ver tas coisas no interior de nés mesmos, tentaremos nos libertar dclas e mudarmos no sentido de uma consciéncia revolucionstia, 7. Queremos integral garantia de trabalho igual para os povos do Terceiro Mundo ¢ para 6 povo gay em todos os niveis da producio, Acreditamos que todo 0 sistema de governo é responsivel por ofrecer a todas as mulheres € a todos os homens uma renda garantida ou um emprego, independentemente do sexo ou da preferéncia sexual. Ten- do apenas interesse em lucros, o capitalismo nio pode atender as necessidades do povo. 8. Queremos moradia decente, gratuita ¢ adequada para todas as pessoas. Acreditamos que a moradia gratuita é tama necessidade basica ¢ um direito que nio pode ser negado sob nenhum pretexto a nenhum ser humane, Proprietirios de iméveis so capitalistas e, como todos os capitalists, sio motivados apenas pela acumulagio de lucros, 0 que ¢ oposto ao bem-estar do povo. 9. Queremos abolir o atual sistema juridico. Queremos que os povos do Terceiro Mundo ¢ © povo gay, quando levados a julgamento, sejam julgados por jaris constituidos por scus pares. Um par é uma pessoa de semelhan- tes caracteristicas em termos sociais, econdmicos, geogrificos, raciais, historicos, ambientais © sexuais. Nés acreditamos que a fangio do sistema judicial sob 0 capitalismo seja garantir a dominagio de classe ¢ manter sob controle as massas, 10, Queremos reparagdes € que sejam liberadas das cadeias ¢ dos hospicios todas as pessoas do Terceiro Mundo do povo gay e todos os prisioneitos politicos. Acreditamos que estas pessoas devam ser libertadas porque nio tiveram julgamentos justos ¢ imparciais. 11, Quetemos 2 aboligo da pena capital, de todas as formas de punigdo institucional e do sistema penal Queremos o estabelecimento de instituigdes psiquidtricas para o tratamento humano e a reabilitago das pessoas criminosas conforme decidido pelos tribunais do povo. Queremos o estabelecimento de um néime~ ro suficiente de clinicas gratuitas ¢ nio compulsorias para o tratamento de distirbios sexuais, conforme assim seja definido individualmente pelas pessoas. 12, Queremos um imediato fim da forga policial fascista, Acreditamos que o tinico meio de alcangar este objetivo 6 colocar a defesa do povo nas mios do povo. 13.Queremos que todos os homens do Terceiro Mundo e do povo gay sejam isentos do servigo militar compul- sério no exército imperialists. Queremos o fim da opressio militar no pais e no mundo, Acreditamos que o tinico verdadeiro exército dos povos oprimidos € o exército do povo, ¢ os povos do Ter- ceiro Mundo, o povo gay ¢ as mulheres deveriam participar integralmente no exército revolucionario do povo. 14.Queremas o fim de todas as religides institucionais, porque clas contribuem para © genocidio, ensinando superstigdes ¢ 0 édio aos povos do Terceiro Mundo, aos homossexuais ¢ as mulheres. Queremos a garantia de livre expressio da espiritualidade natural Acreditamos que as religides institucionais sejam instrumentos do capitalismo, portanto, inimigas do povo. 15.Reivindicamos imediato ingresso, participagio livre ¢ no discriminagio para os homossexuais radicais em todos os grupos e organizagdes da esquenda revolucionaria, com direito de formar tendéncias. Acreditamos que os assim chamados camaradas gue se autodenominam “revolucionérios” fracassaram em li- dar com suas atitudes sexistas. Em lugar de fazé-lo, agarraram-se a supremacia machista ¢, portanto, aos papéis condicionados de opressores. Homens ainda lutam para alcancar as posigdes privilegiadas de homem-lider. ‘Mutheres rapidamente adotam uma postura “atris de seu homem”, Em sua luta contrarrevolucionéria para manter ¢ forgar a heterossexualidade c a familia nuclear, eles perpetuam os vestigios decadentes do capitalis- ‘mo. Para afirmar sua posigio anti-homossexual, empregaram as armas do opressor, ¢, nesta medida, torna- ram-se agentes do opressor. ‘Compete aos homens definir realisticamente a masculinidade, porque foram eles que, a0 longo de suas vidas, lutaram para afirmar seus papéis ierealistas de “homens”. Homens sempre tentaram aleangar esta posi¢io precaria, subindo nas costas das mulheres e dos homossexuais. A “masculinidade” tem sido defini- da pela sociedade capitalista como 0 conjunto de posses (inclsindo mulheres), que um homem acumula, € ‘© conjunto de poder fisico ganho em relacio a outros homens. Aos homens do Terceiro Mundo até mesmo estes falsos padres de “mascutinidade” tém sido recusados. A anti-homossexualidade fortalece as repres- ses sexuais, a supremacia machista, enfraquece o impulso revoluciondrio ¢ tem como resultado uma pers pectiva politica incorreta ¢ nao objetiva. Portanto, acreditamos que todas as organizagdes e grupos revolu- ionérios devam imediatamente estabelecer politicas abertas e nio discriminatérias de ingresso e de parti- cipacio. 16.Queremos uma nova sociedade — uma sociedade socialista revolucionéria. Queremos a liberta¢io da huma- nidade, comida gratuita, teto gratuito, vestuério gratuito, transporte gratuito, satide gratuita, abastecimento gratuito, educagio gratuita, arte gratuita para todos. Queremos tuma sociedade na qual as necessidades do povo venham em primeiro lugat. ‘Acreditamos que todo 0 povo deva compartilhar o trabalho ¢ os produtos da sociedade, de acordo com as necessidades e as capacidades de cada um, independentemente de raga, sexo, idade ou preferéncia sexual. Acreditamos que a terra, a tecnologia e os meios de produgo pertengam 20 povo, e devam ser comparti- Ihados coletivamente pelo povo para a libertagio de todos. Fonte | BLOOM, Alexander; BREINES, Wini. Takin itt theses snties ead, Oxford: Oxford University Pres, 1995, 5 digo online Aisponive em Aceso em 11 Jan, 2006,

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