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Nas pinturas e papis, desta mais recente srie, os cruzados e demais protagonistas que venham
ainda a surgir, servem propostas de desfaatez, ousadia e respeito pelos dogmas a propagar.
Desenham intenes, crime e volpia, numa fluidez de trao contido, fruto do desejo de evaso
de um clrigo em clausura. So mapas em que se reflectem as deambulaes de uns e os
percursos de outros. So mapas que concentram vinganas, redenes e espritos domadores, em
cujas linhas no se anunciam stios ou praas tomadas.
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o mundo que me ofereciam era um reflexo deles prprios. ()
Ao registar as suas experincias, estava a traduzir o que para eles fora
indecifrvel. ()
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O meu mapa transformara-se numa espcie de catecismo.
So sombras errantes, j no mais em prol do clice, mas sedentos de vinho. O vinho que
simboliza a beberagem capaz de transfigurar o ser, de o converter em mistrio e superao
cifrada. O vinho o esprito, sede e saturao; a transformao exerce-se quando a fome da
vida, do sangue e da luz se combinam, numa reaco qumica de inesperadas consequncias.
Ento, o esprito ganha o seu trofu: a luz.
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No se sabe bem porqu, algumas das pinturas de Sobral Centeno parecem vises; essa espcie
de imagens no convocadas deliberadamente pelo prprio (ou talvez), semelhana do que
ocorria com os msticos: naquilo que as imagens do pintor recebem enredos quase inexplicveis,
pelo menos, pelo dom de uma razo enxuta; naquilo que se aproxima de visionamentos excelsos
de cores e luz que irrompe sobre as coisas e os animais e os homens plasmados; naquilo que
desvela a irrupo das formas, sua pujana e inesperado.
Ftima Lambert
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James Cowan, O sonho do cartgrafo meditaes de Fra Mauro na Corte de Veneza do sc. XVI,
Lisboa, Rocco, 2000, pp.78-79