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Jorge Luiz Souto Maior Regina Stela Corréa Vieira Organizadores MULHERES EM LUTA: A ouTRA METADE DA HisTOrRIA DO DiRrEITO DO TRABALHO XII. TRANsITO DE GENERO E PRECARIEDADE NO MERCADO DE TRABALHO: MUITO ALEM DA QUALIFICAGAO PROFISSIONAL O intuito deste livro, como seu titulo indica, € de apresentar o que chamou de “outra metade da historia”, vez que de fato a historiografia tradicional manteve-se com frequéncia cega ao género ¢ ignorou as vivencias das mulheres, quando nao as apagou das narrativas historicas ou reduziu seu papel. Por exemplo, nos cut riculos escolares, quando o objeto de estudo ¢ a Revo- lugao Francesa, nada se fala de Olympe de Gouges, re- volucionatia que criticou com veeméncia a Declaracao Universal dos Direitos do Homem e do Cidadao por se autoproclamar universal, mas falar apenas para os ‘homens livres, excluindo as mulheres.” Agora, se para as mulheres que Se enquadram aos padroes sociais do feminino a invisibilizacao de sua presenca na Historia é uma realidade, a exclusdo é uma realidade ainda mais dura para mulheres que na vida social ou nas politicas publicas nem mesmo tem garan- tido seu (re)conhecimento enquanto mulheres, como 0 caso de pessoas que se identificam como travestis € mulheres transexuais, Para quem esta fora das cate- gorias de genero socialmente impostas, nao apenas a Anna Paula Vencato™ Regina Stela Corréa Vieira” Historia as fez invistveis, como nosso cotidiano as com- prime para que sua existéncia se delimite a poucos e demarcados espacos a margem da sociedade. Reflita brevemente: quantas colegas de trabalho travestis voce Jd teve na vida? Quantas professoras trans voce ja teve? Em que categorias profissionais voce costuma encon- trar pessoas trans? objetivo deste texto € discutir, a partir da ex- periéncia de transexuais, travestis, drag queens e cros- sdressers a intersecc4o entre o que chamaremos, in- satisfatoriamente, de transito de genero e sua relacao ‘com 0 acesso precirio ao mercado de trabalho. A idei do texto € trabalhar sempre a partir da experiencia de vivencias femininas. Para tanto, utilizaremos narrati- vas encontradas ao longo de trabalhos de pesquisa de mestrado e doutorado de Anna Paula Vencato." ® No primeiro, analisou-se a performance e corporalidade de drag queens em espacos de sociabilidade dirigidos ao que se chamava “boates GLS"® em final dos anos 1990 € inicio dos 2000. No segundo, buscou-se compreen- der como “homens que se vestem de mulher” negociam (Q)__ Professora Adjunta do DECAE/FaE/UFMG. Doutora em Antropologia pelo IFCS/UFRJ, mestre em Antropologia Social pela UFSC ¢ Ticenciadaem Pedagogia pela UDESC. Pesquisadora Associada do “Quereres Nuicleo de Pesquisa em Diferencas, Genero eSexsalidade” dda UFSCAR e do “Transgress0es- Genero, Sexualidades, Corpos ¢ Midias contemporaneas” da UNESP. 2) _Doutoranda e mestre em Direito do Trabalho ¢ da Seguridade Social pela Universidade de Sao Paulo. Membro do Grupo de Pesquisa ‘Trabalho e Capital da USP Q)_VENCATO, Anna Paula, VIEIRA, Regina Stela Correa, Divisto sexual do trabalho, Historia do movimento feminista, In: MOTTA, Flavia de Matis (org). Cotidiano escolar: telagdes de generoe profissio docente livro didatico). Palhoga: UnisulVirtual, 2014. p. 25-48. p. 36 (A) VENCATO, Anna Paula. Fervendo com as drags: corporalidades e performances de drag queens em terrtorios gays da ilha de Santa Catarina, 2002. Dissertagdo (Mestrado em Antropologia Social) - Universidade Federal de Santa Catarina, (3) VENCATO, Anna Paula. Sapose princesas: prazere segredo entre praticantes de crossdressing no Brasil. Sdo Paulo: Annablume, 2013. (6) _Sigla para Gays, Lésbicase SimpatizatesBastante utiliza nos anos 1990 para se referir a estabelecimentos comercias, sobretudo de entretenimento, dirigidos a, ao pablico nao heterossexual e que implicava em dizer que “amigos heterossexuais” eram bem-vindos. ()_ YENCATO, Anna Paula, Fervendo com as drags: corporalidades e performances de drag queens em territorios gays da ilha de Santa Catarina, 2002. Dissertacao (Mestrado em Antropologia Socal) — Universidade Federal de Santa Catarina, 1.86 | Mutheres em Luta: A outra Metade da Histria do Diteto do Trabalho esta pratica em suas vidas cotidianas.") Ainda, visamos dialogar com o dado divulgado pela ANTRA® (Asso- ‘ciacao Nacional de Travestis e Transexuais), de meados de 2013, de que 90% das pessoas que se identificam como travestis € transexuais, no Brasil, encontram-se trabalhando no mercado do sexo"? Compreendemos que transexuais e travestis, em geral, nao transitam dentro da logica de genero como fazem drags ou crossdressers. De qualquer modo, é ne- cessario reconhecer um transito que fazem do momen- to em que ainda nao circulam tendo tornado publicas suas identificacdes de genero até o momento em que passam a adequar seus corpos a suas identidades de ge- nero. Nao estabeleceremos aqui um limite entre o que é ser drag, crossdresser, travesti ou transexual. Para fins formais, separaremos drags e crossdressers de travestis ¢ transexuais pela ideia de que, as primeiras, passam em geral pelo processo de montagem'"? e desmontagem as duas outras pela ideia de adequacao corporal. ‘Ao partir de tal ponto de andlise, assumimos 0 ris- co de fixar praticas e modos de apresentar-se no cotidia- rho que extrapolam os limites de qualquer classificagao mais rigida, uma vez que drags e crossdressers podem buscar por métodos distintos de adequacao corporal a0 ‘genero que desejam manifestas e, ao mesmo tempo, ha travestis e transexuais que afirmam que suas identida- des nao passam pela adequagao de seus corpos. Usare- mos, doravante, “pessoas trans” para fazer referéncia a todas essas experiéncias, a partir da ideia de transge- nero como um termo guarda-chuva para agrupar dife- rentes experiéncias, e quando precisarmos falar de uma identificacao especificamente, recorreremos a0 termo que for mais adequado, Utilizamos a definicao de transgenero dada por Ju- liana Gonzaga Jayme. De acordo com a autora, quan- do inicion sua pesquisa no final da década de 1990 0 termo transgender era utilizado em textos internacio- nais para definir, de modo geral, travestis, transexuais, transformistas, drags ¢ androginos, levando em conta que ha particularidades entre esses sujeitos. A autora usa, em seu trabalho, a definicao que Ihe foi dada por Jo Bernardo, uma das informantes da pesquisa, que atuava na Associacao ILGA-Portugal'™: (... transgender € uma palavra que quer englobar 05 varios “transgéneros,, que sto travestis, transfor- mistas, transgenderistas, drag-queens, cross-dressers, transexuais também e mais nada, e que engloba todos, todos esses grupos. Qualquer desses grupos pode ser homossexual, como heterossexual, como bissexual, por isso nao engloba homossexuais, mas desde o momento que sejam transgender (_..)."" Vale dizer que, com o passar dos anos, alguns su- Jeitos passaram a se identificar a partir desta categoria, Falar sobre a nao rigidez na autoclassificacao de pessoas trans pode parecer algo deslocado quando a ideia é englobi-las na categoria das “mulheres traba- Ihadoras", mas ¢ algo importante a este debate. Por isso iremos trazer ao texto algumas narrativas selecionadas que falam de algumas experiencias de trabalho dessas pessoas. Esclarecemos que ndo temos a pretensao abor- dar todas as experiéncias de trabalho de transgeneros, tampouco afirmar que as narrativas aqui contadas di- zem respeito as vidas de todas as pessoas trans, vez que ‘compreendemos a diversidade de experiencias ¢ reali- dades experimentadas por cada individuo e em diferen- tes contextos. As narrativas limitam-se a experiencias \VENCATO, Anna Paula, Sapos eprincesas:prazere segredo entre praticantes de crossdressing no Brasil, Sdo Paulo: Annablume, 2013, (9) _ Entidade que congrega, em 2016, cercade 180 ONGS (organizagoes nao governamentais) de travests transexuals no Brasil. AANTRA foi undada oficialmente em 2000, embora em atividade desde 1993, CAZARRE, Marieta. Preconceitoalasta tansexuais do ambiente escolar edo mercado de trabalho. Agencia Brasil, 13.11.2015. Dispont. vel em: chttpsfnvww.ebe com, br/cidadania/2015/1 V/preconcelto-afasta-transextiais-do-ambiente-escolar-«-do-mercado-de-trabalho>. ‘Acesso em: 14 abr. 2016. LAPA, Nadia. O preconcs pital.com br/blogs/feminismo-pra-que/o-preconceito-contra-transexuais-no-mercado-de-trabalho-2070 hms. Acessoem: 14abr. 2016. ROSSI, Mariana, NOVAES, Marina, Os direitos bisicos aos quais transexuals travestis nao tem acesso. El pats, 31.08.2015. Disponivel em: chitp//brasilelpais.convrasil205/08/28/politica/1440778259-469516,html>. Acesso em: 14 abr. 2016 A expressio “se montar” é bastante utlizada pelas drag queens (ver Vencato, 2002). Pode-se dizer que uma drag queen nto se veste ou ‘maquia, elas “monta”,*Montar-se” € um termo que define oato ou processode travestr-se, (trans) vestr-s ou produzir-se. Dequalquer ‘modo, nao sio apenas as drags que podem se montare o uso do termo ¢ bastante comum dentre outras pessoas. tocontra transexuals no mercado de trabalho. Carta Capital, 31.10.2013. Disponivel em: chitp Avww.cartaca- ay (12) JAYME, Juliana Gonzaga. Montar-se: discutindo corpo e encorporacio entre os trangeneros. Trabalho apresentado no GT “Sentidos do Genero”, na IV Reunido de Antropologia do Mercosul, Curitiba, UFPR, novembro 2001. (mimeo) a3) as Disponivel em: chutp:/wwwilga-portugal pvilga/index:php>: Acesso em Ol fev 2016. JAYME, Juliana Gonzaga. Travestis,transformistas, drag-queens, transexuais: personagens e mascaras no cotidiano de Belo Horizonte e Lisboa. Tese de Doutorado. Campinas, Programa de P6s-Graduacao em Cigncias Socials/UNICAMP, 2001 XI Tnsito de Géneroe Precariedadé no Mercad de Trabalho: muito além da qualicagioprofissonal | 187 de pessoas que vivern em centros urbanos, especifica- ‘mente capitais de médio e grande porte no pais. 1. ALGUMAS HISTORIAS SOBRE TRANS NO MERCADO DE TRABALHO Tniciamos elencando casos que servirdo de base para a anilise proposta aqui. Os trés primeiros casos foram coletados e sistematizados a partir de observacao cetnografica. Os demais coletados de modo assistemati- co em conversas estabelecidas no cotidiano." Narrativa I: Uma mulher transexual''®,, antes da transicao, atuava como engenheiro e era especializado em uma area bastante especifica e de formacao “dili- cil de encontrar no mercado”. Quando decidiu “viver como mulher”? definitivamente julgou que nao seria aceita pela empresa em que trabalhava ~ cujo dono era “de igreja” ~e tentou atuar como cabeleireira. Al- gum tempo depois, tendo percebido que a nova pro- fissao nao lhe traria 0 mesmo retorno financeiro que a anterior, optou por “vestir-se dle homem” durante 0 expediente € “de mulher” o resto do tempo. Com 0 pasar do tempo, 0s tracos inevitaveis da transigao fo- tam transformando sua aparéncia, que se tornava cada vez mais ambigua. Certo dia o dono da empresa a cha- ‘ma para conversar e diz: “venha trabalhar vestida de mulher e se comporte de acordo: assim voce me causa ‘menos problemas” Narrativa 2: refere-se a uma queixa frequente co- letada durante a pesquisa de Vencato (2002) com drag queens. Era bastante comum a reclamacao de que, idea- lizadores de festas e eventos para o puiblico LGBT pa- ‘gavam pouco ou tentavam nao pagar pelo seu trabalho artistico. Ao longo da pesquisa foi comum encontrar a afirmacao de que eram “artistas da noite gay” e que 0 «que faziam era representar uma personagem, Contudo, foi comum também encontrar casos de organizadores de festas e eventos que tinham a percepgao de que nao precisavam contratar drags pois, como seriam parte do (15) VENCATO, 2002 VENCATO, 2013. publico de suas casas, “apareceriam” de uma forma ou de outra (0 que, na pratica, nao ocorria ¢ era percebido pelas drags como abusivo). Narrativa 3: uma mulher transexual, que era capi- {ao da marinha, foi “posta na reserva” ao assumir publi- camente sua identidade feminina. A justificativa insti- tucional foi de que seu cargo nao tinha “correspondente hierarquico” para mulheres Narrativa 4: refere-se a historia de uma médica que € transexual e que € contada por seus colegas de traba- tho, De acordo com estes, la se nega a falar em eventos sobre o fato de ser transexual ou acerca da tematica da transexualidade. Quando a historia era contada, revela- va-se um incomodo expresso por seus colegas de traba- Iho pelo fato de ela querer falar publicamente apenas a partir de sua especialidade médica. Narrativa 5: relato que nao se estrutura como uma narrativa organizada sobre uma vida, embora seja co- letada com frequencia dentre pessoas trans sobre suas experiéncias no mercado de trabalho fora da prostitui- cao. Em geral, espera-se delas que sigam carreiras fe- mininas, adequadas ao genero que manifestam, como bordadeiras, cabeleireiras, costureiras etc. Ou, ainda, se nao ha esta demanda de uma profissao associada a0 género, sao colocadas em lugares em que nao pre- cisam “mostrar-se”, como € 0 caso do trabalho como operadora de telemarketing ou estoquista em lojas ou ‘supermercados. ‘A leitura dessas narrativas permite antecipar a per- cepeio da dificuldade posta para pessoas trans - em. todas as suas apresentacdes de si de insercao profis- sional a partir do transito de um genero a outro. Além disso, & notavel que o mercado reserva a elas, em sua grande maioria, vagas que refletem a marginalizacao de seus corpos, ou seja, destinam-se postos de trabalho precarios para vidas em condico precaria”), Falare- ‘mos mais acerca deste t6pico a seguir. (16) De acordo com Vencato (2013), est historia fol fequentemente ouvida ao longo de sua pesquisa de doutorado em rodas de conversa « tratava de uma antiga ¢ ex-associada do clube de/para crossdressers que pesquisou. Fsta, primeiro identificava-se como crossdresser , mals tarde, passou ase identificar como transexval (17) Huma fala compartithada de que antes de assumir-se cotiianamente como mulher, viver como muller no dia a dia, vive-se “uma ‘mentira” que lhes produz bastante sorimento. Assim, vestise e precisa se portar como um homem em sendo uma mulher ¢ rlatado ‘como uma das facetas da violencia pela qual passam em seus cottdianos. Sigla para Lésbicas, Gays, Bisexuals, Travestise Transexuals, Emboraseja possivel encontrar esta sila grafada de outras maneiras — GLBT, LGBTTT, ete. ~ no Brasil, convencionou-se a partir de plendtiarealizada na Conferéncia Nacional GLBT (Brastlia, junho de 2008) que.a grafia a ser utilizada em documentos ofciais e da miltancia seria LGBT, Tomamos aqui oconceito de *condicao precaria" formulada por Butler (2015, p.46-47):“Vidas sto, por definigto, precdrias: podem ser eliminadas de maneira proposital ou acidental; sua persistencia nao esta, de modo algum, garantida.(..) A condiclo prectria designa as) as) 188 | Mutheresem uta: outra Metade da Histria do Direito do Trabalho 2. © GENERO QUE SE EXPRESSA E O GENERO QUE SE VE A realidade das pessoas trans no Brasil € permeada pela invisibilidade e pela violencia, Invisibilidade por estarem nas margens da sociedade, uma vez que pes- soas trans sio continuamente enquadradas nos mais baixos niveis da “hierarquia sexual”, como chamado por Gayle Rubin,® a qual atua reiteradamente crian- do uma linha imaginaria que divide o “bom sexo” do “mau sexo”, linha esta que determina o privilégio das pessoas que se enquadram na sexualidade socialmente aceita (heterossexual, reprodutiva, monogamica, den- tro dos padroes de género) e que rotula tudo que desvia do padrao como aberracao. Violéncia por suas relacdes sociais apoiarem-se na exclusio e na discriminagao, 0 que por si s6 é uma grande violencia, mas que chega aos extremos dos crimes de dio e do transfeminicidio.*” De acordo com a ONG Transgender Europe, 0 Brasil € o pais que lidera o ranking de assassinato de pessoas trans no mundo, 0 mesmo em que é tam- ‘bém seja o pais em que mais se procura por pornografia “trans” na internet. Diferente da expectativa media de vida no Brasil que € de 75,2 anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) de 2014, a expectativa de vida de uma pessoa trans gira em torno dos 30 anos de idade,”” conforme dados do grupo carioca Transrevolugao.”” A interseccionalidade genero, raga e classe € ou- tro fator que atua de forma evidente na perspectiva de transgeneros, bem como o momento da transicao, vez {que as pessoas trans hoje inseridas no mercado em postos ‘acondigao poiticamenteinduzidana qual certaspopulacdessofrem com redessocia de forma diferenciada as violagoes,a violencia ea morte” 20) de trabalho valorizados e bem remunerados (médicas, advogadas, engenheiras) sao oriundas de classes mais altas, predominantemente brancas e que fizeram a tran- sicdo de género ja com suas profissoes estabelecidas ~ como € 0 caso das narrativas 1, 3 € 4 Ja para a maioria pobre e negra dessa populacao, esses marcadores interferem até mesmo na escolarida- de, vez que 82% das travestis € mulheres transexuais abandonam a escola entre os 14 € 18 anos, segundo es- tudo da RedeTrans (Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil).2” Alguns dos motivos para esta evasao bastante alta € a falta de apoio de pais, maes ¢ familiares, tradu- zida muitas vezes pelo abandono ou expulsio de casa; ‘9 nao reconhecimento institucional de seus nomes so- iais; 0 preconceito que sofrem de outros/as alunos/as, docentes ou funcionarios/as da instituicao. Entretanto, € preciso olhar para a dificuldade de insercao dessa popuilacio no mercado de trabalho ou sua insercdo em trabalhos precdrios a partir de outros elementos que extrapolem a questao da baixa escola- ridade. E inegavel que ela importa, sobretudo para se conseguir melhores postos ¢ salarios, mas, por outro lado, nao ¢ incomum encontrar falas de pessoas trans que contam que sto demitidas apés passarem a viver conforme suas identidades de genero ou da dificuldade de (re)ingresso em fungdes anteriormente exercidas, mesmo quando possuem formacao técnica, superior ou de pos-graduacao na drea em que pretendem atuar. ‘Também nao € incomum 0 relato acerca da negativa de trabalhos para os quais ja foram selecionadas a partir de justificativas como “a vaga ja foi preenchida” quando apresentam os documentos com o nome de registro ise econdmicas de apoio deficienteseficam expostas RUBIN, Gayle, Pensando 0 Sexo: Notas para uma Teoria Radical das Politicas da SexualidadeTrad. Felipe Bruno Martins Fernandes, Florianopolis: UFSC, 2012. Dispontvel em: . Acesso em: 17 ago.2016.p. 18-19. an 2) 2016 @) nice Bento (2014), “0 ransfeminicdi se caracteriza como tna politica disseminada,intencional esistematicadeeliminacto rs no Brasil, motivada pelo 6dio €nojo”, “(.,) uma expresso hiperbolica do lugar do feminino em nossa sociedade”, TRANSGENDER EUROPE. TDoR 2016 Press Release. Disponivel em: . Acesso em: 15 nov Brasil éo pals que mais procura por pornografia transno RedTube~O paistambém é0 que maismatatranse ravestis no mundo, Catraca Livre,19/02/2016, Disponivel em: . Acesso em: 19 fev. 2016. en Expectativa de vida dos brasileitos sobe para 75,2 anos, diz INGE. Portal G1, 01.12.2015, Dispontvel em: Acesso em: O1 dez, 2015, 25) QUEIROZ, jandira. 29 de janeiro: Um dia nacional de luta pela dignidade para pessoas trans. Anistia Internacional, 29.01.2014. Dispo- nivel em: . Acesso em: 29 jan. 2014. 29) en O enderego paraa pagina da internet da ONG ¢: , Acess0 et [Nome social ¢ maior conquista para transextas travestis, Portal Brasil, 27:04.2016, Dispontvel em: chutp://wwwrasilgovbricidada- 01 fex.2016. nia-justica/2016/04/20 lenome-social-e-maior-conquista-para-a-transexwsis-¢-travestis201 d-diz-lideranca-transexual>. Acess0 em: 27 abr, 2016, XL Trnsto de Genero e Precaredade no Mereado de Trabalho: muito além da qualicagéo peofisional | 189 Nesse contexto, € possivel afirmar que o género ‘manifesto, quando nao percebido como coerente com aquele que € assignado ao nascimento e registrado nos documentos de uma pessoa, tende a direcionar a e/ou tomar-se um empecilho a livre escolha profissional, uma vez que limita as possibilidades efetivas de con- tratagao, Mesmo no caso de quem transicionow apos estar estabelecida profissionalmente, como no caso da narvativa 4, a experiencia da transexualidade ou do tra- vestimento interfere na percepeao de colegas acerca do trabalho desta pessoa, tanto em termos de rendimento quanto em termos de conduta profissional esperada - 0 que dialoga também com a narvativa 1. Nao é incomum encontrar relatos de que pessoas representantes de minorias sociais sejam mais convida- das para falar acerca de suas vidas e experiencias relati- vvas a este pertencimento do que de seus conhecimentos em determinada area de atuacao profissional ou artis- tica, mesmo quando a tematica proposta ¢ esta. Assim, «em que se pese a importancia da abertura de espacos de fala para individuos trans acerca de suas vivencias, ha uma dificuldade em reconhecer, para além disso, que seus discursos podem contribuir tambem com a produ- ‘cao do conhecimento tesrico e/ou tecnico de determi- nado campo. Ainda, ha de se considerar, a partir das narrativas, que mesmo quando o género manifesto nao opera co- ‘mo um limitador do acesso ao trabalho em si, faz isto ao colocar o individuo em situagoes em que deve portar- -se ou enquadrar-se de acordo com os esterestipos de género. Com as travestis e mulheres trans isso ocorre em geral, a partir da realizacao de trabalhos socialmente atributdos as mulheres ou da expectativa de compor- tamentos que, de modo estereotipado, sto atribuidos as feminilidades: docilidade, cuidado, paciéncia, entre outros atributos. Outro lado desta adesao & categoria ‘mulher* traduz-se por servicos com remuneracoes menores do que receberiam caso fossem homens, Fala- temos mais da questao das experiéncias de trabalho no proximo t6pico. 3. TRABALHOS FEMININOS E NAO TRABALHOS Falar sobre as drags nao serem reconhecidas como ssionais, conforme exemplificade na Narrativa 2, remete a um nao reconhecimento do exercicio de um trabalho associado a esteredtipos de genero e assuncoes acerca de suas sexualidades. A ideia de que as drags per- tencem ao espaco da festa dirigida ao publico LGBT por estarem associadas a ele ou fazerem parte dele aparece aqui como 0 fundamento desta forma de olhar para 0 outro. Nesse sentido, podemos fazer uma analogia com a identificacao de pessoas trans com trabalhos tidos co- mo “femnininos” pela sociedade, o que as permite exer- cera profiss4o com maior tranquilidade e aceitacao, co- mo € 0 caso do trabalho em saloes de beleza ou outros trabalhos no campo dos cuidados ~ ver Narrativas 1 ¢ 5. Alis, nao foi incomum encontrar, ao longo de nossa trajetoria de pesquisa, pessoas trans que atuam como cuidadoras (de idosos, de doentes ou de criancas) tanto para dentro de suas familias quanto para fora. Ainda, considerando que o trabalho doméstico em geral € desvalorizado em nossa sociedade a ponto de ‘nao ser nem mesmo reconhecido como trabalho ~ em especial o trabalho doméstico nao remunerado exercido pelas mulheres ~, essa desvalorizacto aparece como um viés que informa as praticas que observamos sobre a in- sercao profissional de grande parte da populacdo trans. Em outras palavras, as trans esto destinados os traba- Ihos que estao destinados as mulheres, que em geral sao 05 de menor remuneracao e mais precarizados.’®” Deste modo, torna-se fundamental a reflexao sobre o trabalho de pessoas trans no telemarketing, uum dos setores do mercado que mais empregam tra- vestis ¢ transexuais. Vale dizer nas centrais de telea- tiyidade ou call centers predominam funcoes pouco reconhecidas, de baixos salarios, alta rotatividade alto nivel de estresse ~ concentrando 0 que Ricar- do Antunes e Ruy Braga convencionaram chamar de infoproletarios. Auribuem-se a essas fungdes a desvalorizagao do trabalho feminino, pois sao tarefas relacionadas a ca- racteristicas tidas como naturalmente femininas — logo, que supostamente nao demandam profissionalizagao — ‘como paciencia, capacidade de ouvir, delicadeza no tra- to com clientes. Assim, tem-se uma desvalorizacao sexista dessas ocupacdes, baseada na divisio sexual do trabalho, que divide e classifica o trabalho das mulheres (28) GUIMARAES, Nadya Araujo; HIRATA, Helena; SUGITA, Kurumi (org). Trabalho flexivel, empregos precirios? Sao Paulo: EDUSP 2009, (29) ANTUNES, Ricardo; BRAGA, Ruy: Injoproletarios:degradacao real do trabalho virtual (org). S40 Paulo: Boitempo, 2009, (30). VENCO, Selma. Centrais de teleatividades:o surgimento dos colarinhos furta-cores? In: ANTUNES, Ricardo; BRAGA, Ruy. Infoprole- trios : degradacao real do trabalho virtual (org.). Sao Paulo: Boitempo, 2009, p, 153-172. p. 161. 190 | Mutheres em Luta:A outra Metade da Histria do Direto doTabalho como inferior ao trabalho dos homens,” nas quais se concentram mulheres jovens e mulheres trans. Vale mencionar outra profissdo em que pessoas trans tem adentrado: a docencia nos varios niveis de ensino. A docéncia, ao longo dos anos, tornou-se uma profissao feminina, articulada em especial a ideia de cuidado explicitada anteriormente. Justamente com 0 aumento de mulheres na docéncia seu reconhecimento social e financeiro foi se tolhendo, fenomeno que pode- ‘mos perceber em diversas areas que foram, paulatina- ‘mente, se feminilizando.” Conforme relatos obtidos a partir das pesquisas de Vencato,®” outras profissoes que tem recebido traves- lis ¢ transexuais sto 0 mercado de servicos estéticos, na funcao de maquiadoras, depiladoras, manicures! pedicures ou cabeleireiras, Embora menos comum, ha relatos de travestis e transexuais que atuam no ramo do trabalho doméstico como faxineiras ou cuidadoras de criancas/doentes. Em ambos os casos, em geral, 0 servico é prestado para pessoas proximas ¢ nao encon- tramos relatos de pessoas trans que atuem em agéncias ou empresas especializadas do setor. Nao é raro encontrar pessoas trans atuando pro- fissionalmente em Organizagoes Nao Governamentais (ONG) ~ sobretudo LGBTs — mas, com frequencia, as ONG nao contam com recursos sulicientes para sus- tentar seu proprio funcionamento, o que inclui o paga- mento de pessoas que atuem nelas. Assim, 0 trabalho realizado em ONG, com alguma regularidade, torna-se algo voluntario, Sao poucas as travestis e transexuais que conseguem prestar servicos ou consultorias remu- neradas ao Estado, com especial destaque para atua- des no Ministério da Saude na area de prevencao ao on HIV/Aids e outras doencas sexualmente transmisstveis (DST), que demanda delas conhecimento ¢ atuagao na revencdo por pares. No caso dos municipios, algumas travestis atuam como agentes de prevencio, distribuin- do materiais como gel lubrificante e preservativos para profissionais do sexo ou em espacos de lazer destina- dos ao ptiblico LGBT, trabalho em geral remunerado a partir de bolsas de baixo valor e com duragao pouco extensa. Os trabalhos realizados em ONG ou trabalhos temporitios para o Estado sto precérios, em geral nao se traduzem em direitos trabalhistas e/ou. previdencia- rios, o que implica em compreender que, se por um lado permitem 0 acesso & alguma renda, por outro, nado ajudam a diminuir a precariedade dos vinculos ¢ futu- 10s destes individuos. 4. AGUISA DE FECHAMENTO... Um dos problemas que se coloca em versar sobre essas questdes, e que também dificulta a escrita de um texto mais aprofundado sobre o tema, decorre da ine- xisténcia de dados quantitativos que nos respaldem pa- ta fazer afirmagoes mais amplas sobre a situacao geral de travestis ¢ transexuais no mercado de trabalho. Mes- ‘mo quando pensamos em pesquisas de cunho qualita- tivo, temos uma ampla (e importante) produgao™ que versa sobre 0 mercado do sexo ou do entretenimento, mas com enfase em suas articulag6es com outras ques- tes, como performance, producao dos corpos ou satide (esta, sobretudo, articulada a questoes de prevencao € tratamento de HIV/Aids e outras DST, da hormoniza- ao cruzada/hormonioterapia®™ ou dos efeitos do uso de silicone industrial). Esta auséncia de dados mais amplificada, em si, diz muito sobre o processo de conti- Ver: HIRATA, Helena; KERGOAT, Danitle Divisio sexual do trabalho profisional e doméstico: Brasil, Franca, Japao. In: COSTA, Al. bertina de Oliveira da et.al (org). Mercado de Trabalho e Genero: comparacdes internacionais Rio de Janeiro: FGV, 2008. p, 266, 2) (33) VENCATO, 2002 e VENCATO, 2013, LOURO, Guacira Lopes. Genero, seaualidade e educagao: uma perspectiva pos-estruturalista, 3, ed, Petropolis: Vozes, 1997 G4) Alguns estudos qualitativos sobre travesti transexuais no Brasil so os de BENEDETTI (2005), BENTO (2006), DUQUE 2011), KU- LICK (2008), LEITEJR (2011), PELUCIO (2008), SILVA (1993), TELXEIRA (2013), Esta lista poderia ser bastante ampliada a partir de "um levantamento bibliografico de folego de tesese dissertacdes produzidas no pais. Decidimo-nos por apenas elencar aqul alguns dos trabalhos publicados em livro a que consultamos, frutos de teses de dontorad ou dissertagao de mestrado na area das cinciassociais. (35), A hormonizagto cruzada ou hormonioterapia consiste em um tratamento hormonal que ¢ uilizado para auxiliara pessoa trans a ade- «quar seu corpo ao genero. Nao ¢ incomum pessoas trans fazerem estes tratamentos sem o acompanhamento de profissionals da area ‘medica, Mesmo que o servico ji estejadisponivel na rede publica e privada ainda ¢ bastante rstrtoe, no caso da rede privada de satide, dispendioso, Hormonizacio cruzada seria, grosso modo, alguém cujo corpo produz majoritariamente hormOnios masculinos ingerit femininos ou vice-versa (36) Ousodosilicone liquide industrial, apesar de aplicacao em seres humanosser desaconselhada e legal, devido aos graves iscosa saude, ainda ¢ bastante recorrente entre pessoas tans e sua retirada, mesmo que nem sempre possivel,¢ uma das mais constantes demandas aos servigos publicos de sauce desta populacdo. Vale dizer que prescrever, ministrar ou aplicar habitualmente qualquer substincia € Prati tpificada no Codigo Penal Brasileiro como crime, segundo seu art. 284, com pena de seis meses a dois anos de reclusto. Para profundamentosobrea questao, ver: BRASIL. Transexualidade etravestilidade nassaide. Brasilia: Ministerio da Saude, 2015.Disponivel em: chtp/Movsms saude govbr/bvs/publicacoestransexualidade.travestilidade_saude.pdl> MiLTednsito de Géneroe Precariedade no Mercado de Trabalho: muito além da qualificagio pofsional | 191 mus exclusto desses sujeitos dos meios e modos de vida rodutivos da sociedade brasileira contemporanea Este texto visou trazer alguns relatos ou situa- ‘90es recorrentes em falas de pessoas trans com que convivemos ao longo de nossas trajetorias de pesqui- sa ou de trabalho” pensa-los a partir da intersecdo entre género, preconceito, estigma, acesso/perma- néncia limitados ao mercado de trabalho. Apesar da Jf citada auséncia de mais dados quantitativos sobre 2 vida profissional de travestis e transexuais, a partir dos dados qualitativos ¢ possivel inferir que a escolha or viver de acordo com suas identidades de genero € torna-las publicas sdo fatores que, se nao impedem, dificultam muito o desenvolvimento de suas vidas profissionais. A auséncia de politicas publicas especificas que vi sem corrigir estas desigualdades tambem ¢ sintomitica no contexto observado. Partindo de uma compreensio de que o trabalho € um direito humano e fundamental, podemos afirmar que pessoas trans sao constantemente alijadas da possibilidade de acesso aos mais diversos bens de cidadania, e dentre estes a possibilidade mesma de exercicio da atividade profissional que desejarem. Assim, coadunamos 0 argumento de Sergio Gardengui Suiama quando afirma que “o Brasil foi o ultimo pats do continente a abolir a escravidao negra. Poderia muito bem ser um dos primeiros a reconhecer que o trabalho € um direito pertencente a todos os hermanos da familia humana, sem discriminacdes”.* 5. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ANTUNES, Ricardo; BRAGA, Ruy. Infoproletarios: degradacao real do trabalho virtual (org.). Sao Paulo: Boitempo, 2009. BENEDETTI, Marcos. Toda feita: 0 corpo e 0 género das tra- vestis. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. BENTO, Berenice. 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