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Por fim exsurge a função de ressocialização que é uma preocupação recente no âmbito
do direito penal e que surge de uma compreensão multidisciplinar do delito através de
conhecimentos de sociologia, antropologia, psicologia dentre outras. O delinquente não
pode ser visto isoladamente. É um ser humano e como tal interage na sociedade. A
condição de delinquente não lhe suprime tal condição como outrora ocorria, e se
delinquiu, refugindo dos padrões sociais de conduta, deve-se buscar adaptá-lo, ou
readaptá-lo, à vida em sociedade pois certamente a sociedade tem interesse em ter cada
um de seus membros como um individuo ativo e produtivo. Assim sendo, na esteira das
teorias que viam no crime uma doença, tal como a doutrina lombrosiana, associada e
referida visão multidisciplinar, a ressocialização foi se tornando um objetivo declarado
da pena. Com efeito, quase sempre o crime tem como elemento causal ou como
elemento componente dos antecedentes causais, um desajuste comportamental e uma
rejeição a valores de convivência em sociedade e que constituem a pauta mínima que
ela impõe a seus membros. A expiação pura e simples devolve à sociedade um
indivíduo que presumivelmente continua com a mesma pauta de valores e que poderá
delinquir novamente se a oportunidade ou a circunstância surgir. É justamente para
impedir, ou melhor, tentar impedir que isto aconteça que surge a função
ressocializadora como uma tentativa de implantar e desenvolver os valores que a
sociedade reputa necessários naquele momento. Note-se bem, que a sociedade reputa
necessários equivale dizer em termos de Direito Penal ao que a lei reputa desejáveis e
como a lei nem sempre, ou quase nunca representa em verdade a vontade soberana do
povo senão de grupos que tem acesso ao processo legislativo e lá exercem influência, a
pauta de comportamento da lei é a pauta de comportamento que estes grupos desejam e
portanto a dita ressocialização nada mais é do que um mecanismo de dominação social,
como de resto todo o Direito. Não estamos aqui analisando o mérito ou o acerto ou
desacerto deste mecanismo e de fato não se pode simplesmente recolocar o indivíduo
delinquente na sociedade sem uma preparação que no mínimo o faça pensar duas vezes
antes de voltar a delinquir.
Isto posto, embutida nesta proposta ressocializadora encontramos uma puta de valores
dentre os quais a disciplina, o trabalho, a retomada do convívio familiar. Mas o que
jamais se poderá esquecer é que a pena quase sempre é um mecanismo emergencial e
traumático de controle e portanto sua eficácia enquanto tal está intimamente relacionada
com o potencial intimidatório que é capaz de produzir, mormente quando vemos
que, ao contrário do que pensam os leigos, quem está hoje cumprindo pena de prisão
não são os ladrões de galinha como usualmente se tem dito sem conhecimento de causa
e para fins demagógicos. Quem está atrás das grades, salvante raras exceções, são
criminosos renitentes e perigosos. Por isso a descarcerização e a descriminalização não
se podem dissociar da realidade e embarcar em ondas doutrinárias abolicionistas do
Direto Penal e da Pena como mecanismo de controle mínimo. Consideramos
precipitadas certas críticas apaixonadas que se fazem contra o movimento de
exacerbação penal que seria uma tendência paleorepressora. É preciso verificar o
ambiente social em que são aplicadas as sanções e o único modo de se produzir uma
obtenção rápida e eficaz da redução criminalidade é pelo aumento do potencial
intimidatório das penas. Ninguém nega que boa parte da criminalidade está relacionada
com questões econômico- sociais e à ausência do Estado ou de sua ineficiência em
prover um mínimo de justiça social. Porém, a solução destas questões não se faz em um
passe de mágica. É necessário muito tempo e investimento e comprometimento de toda
a sociedade, coisa certamente para longo prazo. Por ora, como forma de reduzir a
escalada do crime, outra saída não resta que não incrementar a intimidação penal.
Quanto à nova Lei parece estar no caminho certo, distinguindo a criminalidade de pouca
monta da criminalidade grave e estabelecendo medidas de descarcerização naqueles
casos em que realmente é a alternativa menos gravosa à sociedade.
Segundo o artigo 75, uma vez frustrada a tentativa de composição cível, abre-se ensejo
a que a vítima, ou aquele que assim se diz, ofereça, desde já a representação, sem que o
não exercício de tal direito lhe tolha a faculdade de fazê-lo nos seis meses de que dispõe
para tanto conforme lhe garante o CP como regra. Abre-se espaço, com tal condição ou
em sendo a ação penal pública, para a transação, novel instituto contemplado no artigo
76 da Lei 9.099/95. Convém ressaltar que embora se possa reconhecer alguma
semelhança com o "plea guilt" e o "plea barganing" em verdade deles se difere a
transação penal . No plea barganing o conteúdo da discricionaridade do Ministério
Público é bem maior em extensão, tanto no que diz respeito às questões passíveis de
transação, como na intensidade da disponibiliadade, o que não condiz com a
discricionaridade regrada. Quanto ao plea guilt, implica o instituto necessária assunção
de culpa com a mesma força com que seria reconhecida em sentença, o que não ocorre
nos casos previstos na lei dos juizados. Trata-se de novo instituto pelo qual,
obedecidas certas condições e requisitos, o Ministério Público, antes de oferecer
denúncia, propõe a aplicação imediata de penas restritivas de diretos ou multa, cujo
cumprimento implicará extinção da punibilidade. Fica de fora a ação privada embora se
cogite o contrário por analogia, o que reputamos de bom alvitre pois medidas com a
natureza que possuem das medidas que implanta a nova lei carecem de aplicação a mais
ampla possível. A decisão que aplica a medida é de natureza homologatória segundo o
entendimento dominante. Segundo César Roberto Bittencort podemos alinhar como
características da transação o ser: personalíssima, voluntária, formal e tecnicamente
assistida. Embora a lei fale em poderá, a doutrina a entende como um poder-dever cujo
não oferecimento implica aplicação do artigo 28 do CPP que determina a remessa ao
Procurador Geral de Justiça, repudiando-se a ação ex officio do magistrado na
concessão.
Tem como requisitos: a) Existência de uma infração de menor potencial ofensivo, ou
seja , cuja pena máxima abstratamente cominada, incluídas majorantes e minorantes,
seja igualou inferior a 1( um) ano. b) Ausência de condenações anteriores por crime à
pena de prisão. c) Não ter se beneficiado do instituto nos últimos 05 anos. d) Prognose
favorável da necessidade e suficiência, aferível segundo os critérios do art. 72, inc II do
CP, obviamente com exclusão da culpabilidade. Sendo a pena de multa a única, poderá
o juiz reduzí-la até metade. A aplicação da medida requer proposta clara e explícita , a
ser feita ao acusado devidamente orientado e assistido por defensor, cabendo-lhe aceitar
ou não. Dada a natureza da medida, entende-se cabível que o próprio acusado apresente
a proposta. A sentença que homologa o acordo, imprescindivelmente realizado ante o
juiz, e que é apelável, não implica reincidência (art. 76,§ 4 ), sendo registrada apenas
para fins de não concessão de benefício nos próximos cinco anos (Art. 76, § 4º) o que
faz com que não conste nos registros e consequentemente em certidões, nem mesmo
judiciais (Art. 76, § 6), não gerando título executivo judicial cível.