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Francisco de S de Miranda

(Coimbra, 28/8/1481-Amares, 15/3/1558)


Comigo me desavim
Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo
No posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
Com dor da gente fugia
Antes que esta assi crecesse;
Agora j fugiria
De mim se de mim pudesse.
Que meo espero ou que fim
Do vo trabalho que sigo?
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?
Esparsa aos tempos
No vejo o rosto a ningum
cuidais que so, e no so
homens que no vo, nem vm,
parece que avante vo
entre o doente e o so
mente cadhora a espia
no meio do claro dia,
andais entre lobo e co.
Soneto
Amor que no far? Fez-me enjeitar
To levemente a mim por quem me enjeita,
Castelos de esperanas e suspeita
Faz, e no sei que faz, tudo no ar.
Fez-me pedras colher, fez-mas lanar,
Aperta-se a alma triste em si encolheita,
fora, que far? E lei estreita?
Queira ou no queira, enfim h-de passar.
To cego e tanto era eu, que da vontade
Tudo fiei? Que tudo travs guia,
To grande imiga minha e da verdade?
Que al podia esperar de uma tal guia?
Ca onde hora jao, crueldade!
No sei quando de noite, ou quando de dia.

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