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MÉTODOS E TIPOS DOGMÁTICOS

DE INTERPRETAÇÃO
setembro 9, 2008 por direitoclodovil

Interpretação

“Os chamados métodos de interpretação são, na verdade, regras técnicas que visam á
obtenção de um resultado. Com elas procuram-se orientações para os problemas de
decibilidade dos conflitos.”
(*Tércio Sampaio Ferraz)

MÉTODOS E TIPOS DOGMÁTICOS DE INTERPRETAÇÃO

CRITÉRIOS BÁSICOS:

A) COERÊNCIA (BUSCA DO SENTIDO CORRETO):

► Sistema hierárquico de normas;


► Conteúdos normativos.

B) CONSENSO (BUSCA DO SENTIDO FUNCIONAL):

► Respaldo social.

C) JUSTIÇA (BUSCA DO SENTIDO JUSTO):

► Objetivos axiológicos do direito.

“EM FUNÇÃO DELES, PODEMOS FALAR EM MÉTODOS LÓGICO-


SISTEMÁTICO, SOCIOLÓGICO E HISTÓRICO E TELEOLÓGICO-
AXIOLÓGICO”.
(Tércio Sampaio Ferraz)
INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL, LÓGICA E SISTEMÁTICA.

● PROBLEMAS SINTÁTICOS

I - Questões léxicas: questões de conexão da palavras nas sentenças. (Interpretação


Gramatical)
v.g. “ a investigação de um delito que ocorreu num país estrangeiro não deve levar-se
em consideração pelo juiz brasileiro”.[A análise léxica é apenas um instrumento há
mostrar e demonstrar o problema, não a solução]

II – Questões lógicas: questões de conexão de uma expressão com outras expressões


dentro de um contexto. (Interpretação Lógica) v.g. Tributo: Art. 155,§3º/ Art. 150, I.
[Também é um instrumento técnico a serviço da identificação de inconsistências]

III – Questões sistemáticas: questões de conexão das sentenças num todo orgânico,
estrutural, pressupondo a unidade do sistema jurídico. (Interpretação Sistemática)

● COMO RESOLVER AS INCOMPATIBILIDADES LÓGICAS?

MEDIANTE TRÊS PROCEDIMENTO:

A) ATITUDE FORMAL: BUSCA AS CONDIÇÕES DE DECIDIBILIDADE PELO


ESTABELECIMENTO DE RECOMENDAÇÕES GERAIS PRÉVIAS Á
OCORRÊNCIA DE CONFLITOS – Princípio da prevalência do especial sobre o geral,
o princípio de que a lei não tem expressões supérfluas, o princípio de que , se o
legislador não distinguir, não cabe ao interprete fazê-lo.

B) ATITUDE PRÁTICA: CORRESPONDE A RECOMENDAÇÕES QUE EMERGEM


DAS SITUAÇÕES CONFLITIVAS, POR SUA CONSIDERAÇÃO MATERIAL,
COMO O PROCEDIMENTO DAS CLASSIFICAÇÕES E RECLASSIFICAÇÕES,
DEFINIÇÕES E REDEFINIÇÕES QUE ORA SEPARAM OS TERMOS NA FORMA
DE OPOSIÇÕES SIMÉTRICAS OU DE CONJUGAÇÃO.

C) ATITUDE DIPLOMÁTICA: EXIGE UMA CERTA DOSE DE INVENTIVIDADE


DO INTÉRPRETE, COMO É A PROPOSTA DA BOA-FÉ.

INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA, SOCIOLÓGICA E EVOLUTIVA.

● PROBLEMAS SEMÂNTICOS: referem-se aos significados das palavras ou de


sentenças prescritivas. (ambiguidade e vagueza)

A) Conceitos indeterminados: aqueles que possuem uma extensão imprecisa de seu


campo de referência objetiva, de antemão não é possível precisar o objeto. Vg. Repouso
noturno, perigo iminente…

B) Conceitos valorativos: aqueles que possuem uma imprecisão quanto aos atributos
que o definem, cuja intenção não fica clara sendo necessário a referência ao contexto
social em que são utilizados. Vg. Mulher honesta, libidinagem, decoro parlamentar…
C) Conceitos discricionários: cuja imprecisão existe até que o interprete atribua uma
relação de meio/fim, pois são expressos por predicados correlacionais: grande/pequeno,
risco grave/leve, preponderante/secundário…

3.2. INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA, SOCIOLÓGICA E EVOLUTIVA.

“È preciso ver as condições específicas do tempo em que a norma incide, mas não
podemos desconhecer as condições em que ocorreu a sua gênese.” (TSFJr.)

● PRECEDENTES NORMATIVOS;
● TRABALHOS PREPARATÓRIOS;
● OCASIO LEGIS

“A maior parte da doutrina minimiza o papel do projeto de lei, das discussões nas
comissões, relatórios, debates em plenário.” (Luís Roberto Barroso)

● “O STF já utilizou em acórdão a interpretação histórica para suspender a lei estadual


que prévia a instituição de contribuição previdenciária sobre proventos de inatividade e
pensões de servidores.”

Barroso, ainda, lembra que a Suprema Corte americana considerou que a interceptação
telefônica não feria a 4ª emenda, pois não existia telefone á época da redação.

● COM BASE NESSES LEVANTAMENTOS DA CONDIÇÕES HISTÓRICAS E


SOCIOLÓGICAS, A INTERPRETAÇÃO ASSUME DUAS FORMAS:

A) Controle de ambigüidade por interpretação conotativa: pode ser feita de modo que o
significado da palavra ou da sentença prescritiva seja mais claramente definido por meio
de uma descrição formulada em outros termos. Vg. Mulher honesta.

B) Controle de vaguidade por interpretação denotativa: Diante de um conjunto de fatos


experimentados e delimitados por sua função, seja possível decidir com um sim ou não,
ou talvez, se o conjunto de fatos constitui ou não uma referência que corresponde á
palavra ou á sentença. Vg. depósito

INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA E AXIOLÓGICA

“As normas devem ser aplicadas atendendo, fundamentalmente, ao seu espírito e á sua
finalidade.(…) procura revelar o fim da norma, o valor ou bem jurídico visado pelo
ordenamento com a edição de dado preceito.”

( Luís Roberto Barroso)

“No direito brasileiro, a própria Lei de Introdução ao Código Civil, em seu Art. 5º,
contém uma exigência teleológica: ‘Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais
a que ela se dirige e as exigências do bem comum.’ ” (TSF Jr.)

TIPOS DE INTERPRETAÇÃO
A interpretação pode ser classificada quanto a sua extensão, levando-se em conta se as
decodificações utilizaram um código forte, reforçando o rigor da denotação e da
conotação dos símbolos, ou conforme um código fraco, deixando espaço para
ambigüidade e para a vaguidade, nesta escala, temos, então, a interpretação
especificador, restritiva e extensiva.

I- INTERPRETAÇÃO ESPECIFICADORA

► Também chamada de declarativa.


► É aquela em que o intérprete se limita a declarar o sentido da norma jurídica
interpretada, sem amplia-la nem restringi-la. Parte do pressuposto de que o sentido da
norma cabe na letra de seu enunciado.
► Ex. Art. 930 do C.C., a expressão “Culpa de terceiro”

II. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA

► É a que restringe o sentido e o alcance apresentado pela expressão literal da norma


jurídica.Toda vez que o sentido da norma é limitado pelo interprete, não obstante a
amplitude da sua expressão literal.
► Ex. Normas que reduzem os direitos e garantias fundamentais, Leis fiscais e normas
de exceção.

III. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA

►Amplia o sentido e o alcance apresentado pelo que dispõe literalmente o texto da


norma jurídica.
A NORMA DISSE MENOS DO QUE QUERIA.
► Ex. Estender os direitos do Art. 5º. As pessoas jurídicas.

INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DO DIREITO

“… a grande diferença entre interpretação e integração, portanto, está em que, na


primeira, o intérprete visa a estabelecer as premissas para o processo de aplicação
através do recurso à argumentação retórica, aos dados históricos e às valorizações
éticas e políticas, tudo dentro do sentido possível do texto; já na integração o aplicador
se vale dos argumentos de ordem lógica, como a analogia e o argumento a contrario,
operando fora da possibilidade expressiva do texto da norma.” (Ricardo Lobo Torres)

A QUESTÃO DOS MODOS DE INTEGRAÇÃO DIZ RESPEITO AOS


INSTRUMENTOS TÉCNICOS Á DISPOSIÇÃO DO INTÉRPRETE PARA
EFETUAR O PREENCHIMENTO ( OU COLMATAÇÃO) E A CONSTATAÇÃO DA
LACUNA.

A QUESTÃO DA LACUNA E DA CONSEQUENTE INTEGRAÇÃO APARECE EM


RAZÃO DE :
Desde que se postule uma distinção entre atividade legislativa, executiva e judiciária;

b) O intérprete encara o direito como norma posta indispensável;


c) As necessidades sociais de uma sociedade em mudança exigem rompimento da
atitude acrítica;
( Tércio Sampaio Ferraz)

MODOS DE INTEGRAÇÃO DO DIREITO

A – INSTRUMENTOS QUASE-LÓGICOS:

São aqueles que exigem alguma forma de procedimento analítico.

“quase porque não obedecem estritamente ao rigor da lógica formal”

ANALOGIA

INDUÇÃO AMPLIADORA

INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA

B – INSTRUMENTOS INSTITUCIONAIS

São aqueles que buscam apoio na concepção de instituição.

Emanam da concepção de certa instituição: normas consuetudinárias, justiça e


ordenamento jurídico

COSTUMES

EQUIDADE

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

INSTRUMENTOS QUASE-LÓGICOS:

I – ANALOGIA: quando uma norma, estabelecida com e para determinada facti species,
é aplicável a conduta para a qual não há norma, havendo entre ambos os supostos
fáticos uma semelhança.

Fases: 1 – Constatação de que o caso em exame não tenha sido de nenhum modo
previsto pela lei e nem tenha pretendido regular negativamente o caso.
2 – Deve-se verificar se entre a situação prevista em lei e a ser regulamentada há
relações essenciais ou de semelhança entre os supostos fáticos.

Espelha-se nos brocados Romanos: “Ubi eadem ratio ibi idem jus” e “ Ubi eadem legis
ratio ibi eadem dispositio”

Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito. (LICC)
Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou
obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as
havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito.

LEMBRE-SE: Indução amplificadora e Interpretação Extensiva não se confundem.

II – INDUÇÃO AMPLIFICADORA: sugere um processo mais amplo, porque não


encontrando regra jurídica que regulamente caso semelhante, ao julgador se permite
extrair filosoficamente (por dedução ou indução) o axioma predominantemente de um
conjunto de regras ou de um instituto, ou disciplinadoras de um instituto semelhante.
V.g. Estatutos sociais – Princípio da maioria.

III – INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: partimos de uma norma e a estendemos a casos


que estão compreendidos implicitamente em sua letra ou explicitamente em seu espírito.
Entre as três modalidades é a que possuiu a decodificação mais presa a codificação que
acompanha a norma.

COSTUMES : É a reiteração sistemática, intensa e regular, de um modo de ser ou


conduta social, aceita e posteriormente, de forma gradual, incorporada pelo Direito
positivo, com força de obrigatoriedade, tornando-se um modo pelo qual o direito se
expressa. ( Maria Helena Diniz)

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO: São pressupostos que articulam, ampla e


genericamente, a ciência do Direito e o ordenamento jurídico, e que servem para
orientar racionalmente a compreensão do ordenamento, fundamentando o aparecimento
de novas normas e a validade de outras já existentes. (Fábio Silva Costa)

EQUIDADE : É o elemento de integração que se caracteriza como um julgamento


racional sobre o caso posto em questão individualmente, atentando-se para a lógica do
bom senso, da ponderação, da razoabilidade, em harmonia com as circunstâncias da
dinâmica do caso concreto.

“ Interpretar uma expressão de Direito não é simplesmente tornar claro o respectivo


dizer, abstratamente falando; é, sobretudo, revelar o sentido apropriado para a vida real,
e conduzente a uma decisão reta.”

Bibliografia

BOBBIO, Norberto, A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho – Rio de
Janeiro: Campus, 1992.

BARROSO, Luís Roberto, Interpretação e Aplicação da Constituição, 4ªed., São


Paulo:Saraiva, 2002.

COSTA, Fábio Silva Costa, Hermenêutica Jurídica e Direito Contemporâneo. São


Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.

DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução ao Estudo do Direito. São Paulo:


Saraiva, 1997.
FERRAZ Jr., Tércio Sampaio, Introdução ao Estudo do Direito – Técnica, Decisão e
Dominação. São Paulo: Editora Atlas, 2007.

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