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Entre a expectativa e a desilusão: balanço do governo Ana Júlia.

Parte
I.
Ao se tratar de política, podemos criar sentimentos e emoções antagônicas. Para uns,
um novo governo desencadeia amplo sentimento de esperança e expectativa. Para
outros, pode ser produto de desilusão e falsa esperança. Dessa forma não foi diferente
com a chegada da petista Ana Júlia ao governo do Estado do Pará em janeiro de 2007,
até então o primeiro governo de esquerda na história do Pará.

A expectativa sobre o novo governo ocorreu por seu direcionamento ideológico e pela
ampla demanda na área social no estado, que foi abandonada pelos governos anteriores.
Na campanha para governo, o PT produziu leque de ações, de políticas públicas para
implementá-las ao assumir o poder. A prioridade seria o social. O discurso, todo ele
pautado no programa “Pará, terra de direitos”, que englobaria diversos programas do
governo.

Na montagem da equipe de governo, depois das eleições de 2006, sinalizava sentimento


de realizações que estavam por vir. Nos primeiros meses da gestão, começou as crises
de relacionamento com os partidos da base, principalmente o PMDB, que até aquele
momento detinha algumas secretarias de governo e certa influência política na
administração, esta sempre “controlada” pelos dirigentes palacianos.

Ao assumir o governo, o PT se deparou com um cenário tenebroso no Pará. A educação


estava em frangalhos. A saúde, um caso de polícia (apesar de ser tão propagada
positivamente pelos tucanos). O setor de transportes deteriorado, sem as mínimas
condições na maioria das rodovias estaduais. E no meu entender o maior desafio:
diminuir as desigualdades regionais, que foram aprofundadas pelos governos tucanos no
Pará.

Para essa questão, o Partido dos Trabalhadores em seu projeto de governo, trouxe à tona
duas ações em conjunto: O PTP - Planejamento Territorial Participativo e a Seir -
Secretaria de Integração Regional. O primeiro seria uma forma descentralizada de
gestão das políticas públicas que, seriam produzidas em comum acordo com os anseios
da sociedade, algo parecido com o Orçamento Participativo implementada pelo PT na
gestão do ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues.

A Seir tinha como maior objetivo um novo arranjo institucional entre o governo e
prefeitos, firmando convênios entre as partes interessadas. A nova secretaria trazia
também, nova proposta de regionalização do território paraense, que seria gerida por 12
regiões, as chamadas Regiões de Integração, levando em consideração novos critérios
para as respectivas delimitações regionais.

Seguindo a mesma lógica de atuação do governo Ana Júlia, na campanha prometeu


criar sub-governadorias, em Santarém e outra em Marabá, que ficaram esquecidas,
configurando-se como mera promessa de campanha do atual governo.

Tanto o PTP como a própria atuação da Seir, não renderam os frutos esperados. O
primeiro que começou bem sob a administração da professora Edilza Fontes, com a sua
saída desandou e nem se ouve falar sobre o programa. A Seir sob a tutela de André
Farias, perdeu fôlego e ganhou diversas cobranças nos últimos meses, sendo criticado,
inclusive, por atuar conforme bandeira política em alguns municípios.

Com a chegada do PT ao poder no Pará em 2007, o debate que vinha se travando a nível
federal com o próprio partido: a separação entre partido e governo no caso de um
partido de esquerda. Muitos acusam que o PT não consegue manter distante o partido
das ações governamentais e vice e versa. Por conta disso, muitos observadores políticos
afirmam existir um “núcleo duro”, grupo que dirige o governo e que centraliza as ações
governamentais na tendência da governadora, até então a minúscula DS (Democracia
Socialista) que engoliu outras tendências petistas e centralizou o poder em nas mãos dos
dirigentes da tendência, produzindo crise dentro do governo e do próprio PT.

Concomitantemente as crises internas, o governo Ana Júlia foi acometido por uma
grave econômica mundial, atingindo fortemente o Pará, por sua vocação exportadora. O
governo tomou medidas de contenção de despesas, principalmente o de custeio da
máquina, deixando o governo funcionando metade do tempo.

A principal proposta do atual governo era a de mudar o modelo de desenvolvimento


instaurado no Pará há décadas, o principal responsável pelos péssimos índices sociais
existentes no Pará. A mudança de modelo econômico não se faz em pouco tempo, em
apenas um governo. Os avanços foram tímidos, mas consistentes. Primeiro pela
cobrança junto a Vale para a implementação da Alpa, em Marabá, siderúrgica que irá
transformar o minério de ferro em aço e similares.
A questão da verticalização dos principais produtos da pauta de exportação do Pará é
um caminho irrevogável, sem a possibilidade de volta, o que representaria um
retrocesso e continuaria a penalizar a grande parcela da população paraense.

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