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Língua Goela Abaixo!

Categoria Roteiro

Por
Ronaldo Rodrigues de Paula e
Marcelo Albinati dos Reis Carvalho

Cena 01
Narrador: A língua é um dos bens mais notáveis da raça humana. Há quem
diga que é a característica que a distingue dos outros animais. Mas também é
um dos assuntos mais controversos e polêmicos de que já se ouviu falar.
Veremos aqui como uma visão mais ortodoxa desse tema pode causar uma
confusão daquelas. Este aí sentado assistindo TV é o professor doutor Aurélio
Cegalla. Propenso e incansável crítico das formas coloquiais da língua.
Ortodoxo por excelência, acredita na língua pura, livre de influências e de
desvios de qualquer espécie.

Aurélio: É impressionante como eles são indulgentes no que concerne à


linguagem nesses programas esportivos. É de uma inescrupulosidade tamanha
que chega ao barbarismo!

Narrador: Aff! Bom, vocês já percebem a psique deste nosso ilustre


personagem, mas nem tudo é perfeito. No melhor estilo “ovelha negra” da
família, este é Acelino Verbácio, que com um nome desses dá pra se entender
de quem é filho.

Acelino: Happy birthday to you, this is the metal glu glu. Huhuhhh… violento
demais mano!!!

Narrador: Oh yeah! E também temos a Dorotéia a nova empregada da


família...

Dorotildes: É Dorotildes...

Narrador: Ops... É (pigarro) Isso mesmo. Ela é uma empregada de exímias


qualidades. Boa cozinheira, com ótimo requinte de limpeza e organização, mas
tem um pequeno probleminha: é do interior de Minas.

Dorotildes: Mas o quê que isso tem de mais uai? Prestenção nu que cê ta
falano sô.

Narrador: Bom, com essa pequena torre de babel formada, vejamos como a
historia prossegue...
(Acelino abre a porta do quarto e o som está alto, atrapalhando Aurélio assistir
TV.)

Aurélio: Deixa-me exacerbado com essa atrocidade sonora. Desligue já esse


infortúnio.

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Acelino: Ah! Cê quer dizer que a caxa de abeia ta muito baruienta. Relaxa
veio, já vou abaxa lá o som.

Aurélio: Seu deturpador vernaculista!!! Quando é que vai aprender a se


expressar como gente?!

Acelino: Cê quer dizer esse jeitão todo esquisitão de falar? Fala sério! Deus
me livre!

(Acelino sai e fecha a porta)

Aurélio: Ai meu Deus do céu! Minha vontade é de debandar para o mais


longínquo recanto do planeta terra. Quatro gerações dos mais inócuos
gramáticos, invulneráveis defensores da língua, sendo denegridas por essa
peste depredadora vernaculista. Mais hei de lapidar sua linguagem assim como
a de todos os deturpadores.
(Nisso chega Dorotildes)

Dorotildes: Ta na hora do armoço.


(para enfatizar o q disse, ela faz um gesto de comer.)
Aurélio: ah sim Dorotildes, provavelmente é sua pretensão me deixar ciente
que o almoço está servido, não me delongarei por demais, mas percebes?
Mesmo depois de meu empenho homérico em prol da educação deste menino,
ele ainda me entorpece de desgostos.

Dorotildes: ah sinhor, eu num acho que ele é tudo isso ai coce falou naum...

Aurélio: ah... tudo bem, você é um caso perdoável Dorotildes, seu grau de
educação não permite entender a plenitude da amargura que esta peste me faz
passar. Mas eu mesmo no futuro propiciarei para que este impasse seja
resolvido. Por favor, anuncie para aquele infeliz que a refeição já está servida.

Cena 02
Narrador: Apesar dos evidentes problemas de comunicação esta família se
dava bem, Acelino se divertia muito com o jeitão caipira da empregada e ela
por sua vez também se divertia com o jeitão despreocupado, malombeiro de
Acelino.

Acelino: Fala aí tia dorô! Fechou o trampo por hoje?

Dorotildes: - ah para com isso de tia sô, eu nem sô assim tão mais veia que
ocê. Já sim, já tô ino.

Acelino: - Pode crê. - Ta gostando da cidade grande tia? Já vai até curtir a
noite.

Dorotildes:- Pára com isso de tia!. Ah, aqui é bão demais. Achei até lugar pra
dança um forrôzinho ajeitado demais da conta.

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Acelino: - Manero, eu não sou muito chegado nessas parada de dança não,
mas deve ser da hora, tia.

Dorotildes:- Ah minino, cê não tem jeito mesmo. Ah seu pai tava nervoso coce
mais cedo.

Acelino: - esquenta naum, isso é normal, aquele velho é meio desmiolado.

Dorotildes:- ces são a família mais estranha que eu já trabaiei.faz favor...

(Dorotildes pega sua câmera da bolsa.)

Acelino: - não to entendendo nada tia.

Dorotildes:- só continua falano.

Acelino: - pode crê, não sei o que cê ta pensando, mas manda vê.

Dorotildes:- Eu gosto de fazer vídeos nas família que eu trabaio.

Acelino: - Da hora, já trabalhou em muitas bocas diferentes?

Dorotildes:- Que isso minino!, cê me respeita hein.

Acelino: - relaxa tia, esse povo que num entende nada que a gente fala, num é
isso.. queria saber em que bandas você já trampou.

Dorotildes:- ah, meu negócio é dançar, até canto um pouquinho, mas nunca
trabaiei em banda nenhuma. Ce ta perguntando como dançarina?

Acelino: - Cê é o maior barato tia.

Dorotildes:- ah minino, brigada, acho ta bão de vídeo, depois vou filma seu
pai. Depois eu te mostro ta bão.

Acelino: - falou tia, tem muito vídeo nessa câmera?

Dorotildes:- tem de um monte de lugar que eu passei, nordeste, sul o Brasil


interin... tem um monte de gente. Cada povinho isquisito.

Acelino: - só. Vou querer ver tia.

Dorotildes:- depois eu te mostro. Tchau procê.

Acelino: - só vai pela sombra.

Cena 03

(Som da campainha.)

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(Aurélio atente a porta, é o casal de evangélicos, vizinhos do gramático,
fazendo mais uma visita de evangelização.)

Bartholomeu:- Tudo bem, meu bom vizinho! Como tem passado, o senhor
teria um tempo livre para nos ouvir? Não vamos demorar muito.

Aurélio: - Acredito ser pertinente advertir-lhes que gerencio meu tempo com
proficuidade e afortunadamente poderia ser capaz de me abster de minhas
incumbências neste momento para ouvi-los.

Dalila:- Tudo bem nós entendemos.


(O casal fez menção de ir embora.)

Aurélio: - Mas o que estão fazendo? Entrem, por obséquio. Ademais aprecio
vosso modo de expressar vossa convicção. Apesar de que ocasionalmente
exacerbam-se em suas increpações, mas não é nada que eu não possa sair
indene, por isso anseio por ouvi-los com um furor gramatical inapelável, pois
vossa oratória é permeada de figuras de linguagens das mais diversificadas.
Fiquem a vontade. Dorotildes por obséquio, sirva-nos alguma coisa.

Dorotildes : - sim sinhor!

(O casal aparentemente meio confuso se acomoda a sala.)

Aurélio: - Bem, estou pronto para ouvi-los!

Dalila:- Bem, Irmão, nós hoje gostaríamos de falar sobre a missão que Deus
dá a todos nós enquanto estamos aqui na Terra. Então....

Bartholomeu: (recita passagem bíblica)

Aurélio: - Sim, evidentemente, a minha missão indubitavelmente é fazer o


máximo para acabar com todos os tipos de profanações vernaculistas. Mas
prossiga...

Dalila:- Bem, todos os filhos de deus têm seu lugar no seu plano, no seu
designo..

(Nisso chega Acelino...)

Bartholomeu: - Boa Tarde irmão..

Acelino : - Opa, e aí como é que é, tudo em cima .... só espalhando a


mensagem daquele hippie... só. to ligado, ele é gente boa.... fica a vontade aí
mano.
(aos olhos estupefatos de todos Acelino sai novamente para seu quarto)

Aurélio: - Estão vendo isso! Foi absolutamente pertinente o assunto abordado,


missão.

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E para mim, não vejo outra que não seja a de exterminar do mundo
atrocidades como essas que acabaram de vivenciar!

Dalila: - Você tem razão irmão! Temos que expurgar da fase da Terra a
semente do mal.

Bartholomeu:- Sangue de Jesus tem poder!

Aurélio: - Vamos acabar com todas as deturpações vernaculistas!

Dalila:- Ta amarrado em nome de Jesus!

(Ouvindo essa gritaria chega Dorotildes com o café, mas fica com medo e faz o
sinal da cruz e volta...)

Cena 04
Narrador: E assim as coisas andavam tranquilamente na vida dessa
ilustríssima família, mas ainda surgiria mais uma protagonista nesta grandiosa
sopa de letrinhas, se tratava de Verbalina Régia, filha de Aurélio (redundante
mencionar!) que estuda no exterior e estava chegando de férias.

(No aeroporto)

Verbalina: Papa! Mano! Que saudade de vocês! Quanto tempo! Não via a
hora de chegar! Estava a contar os dias para revê-los.

Acelino: Pode crê maninha, como é que cê ta? Oh cheia das bolsa hein,,
aposto que trouxe um monte de baguio lá da Europa.. Lembrou do maninho
aqui né?

Aurélio: Oh Minha filha, você sim me faz sentir orgulho! Minha saudade era
avassaladora.

Aurélio: Mas então querida, que boas novas traz de Portugal?

Verbalina: Ah Papa, muitas coisas, eu estarei a falar tudo para vocês em casa,
agora estou faminta.

Aurélio: Poderemos degustar de alguma refeição portentosa em nosso


itinerário de volta para casa, como na Taberna do Luigi ou nos meus amigos
franceses do Chez L’ami Jean

Verbalina: Ah papa, estou com muita fome mas também estou louca para
chegar em casa. Vamos fazer um lanche rápido. Vamos ali no mac donalds.

Acelino: Já é! Demoro.

(dentro do mac donalds)


Acelino: Puxa mana, nunca comi nessa parada aqui não. Como é que
funciona?

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Verbalina: A gente paga o pedido primeiro, pega uma ficha e pronto. Faz o
seguinte: pega aquela bicha ali, logo atrás daquele puto com a camisola do
Corinthians.
Acelino: Mana, eu não gosto de citação não, mas “você obviamente está
duvidando da minha masculinidade” quis costume mais esquisito que vocês
tem lá na terrinha meu.

Aurélio: Chega! Vamos ao Chez L’ami Jean.

Acelino: Mana, isso também é feito junto lá na terrinha?

(Aurélio urra de raiva)

Narrador: Éééé... Pobre do nosso amigo gramático. Parece que mandar sua
filha para a terrinha não foi uma das melhores idéias afinal. Sabemos que um
homem tem seus limites por mais que ele tenha uma índole pacifica. Mas
quanto mais ele poderá suportar?

Cena 05
Cleo Casoy: Vivemos em um mundo em que a tecnologia vem se
desenvolvendo de forma assustadora, computadores de altíssimo
desempenho, celulares, aparelhos eletrônicos, todos eles vem trazendo
inúmeros benefícios, conforto e praticidade ao nosso dia a dia, diminuindo
distância e aproximando pessoas, mas a base dessa globalização está no
empenho e devoção de pessoas como o dr. Aristarco de Pompei, que está
sendo cogitado pela imprensa para o prêmio Nobel da física. Devido a sua
brilhante pesquisa sobre os efeitos de determinadas freqüências de ondas
especificas sobre a consciência humana. Doutor para começar eu gostaria que
contasse para os telespectadores mais sobre sua carreira e seu trabalho.

Aristarco de Pompei: Primeiramente eu gostaria de agradecer muito a


oportunidade de poder fazer esta divulgação cientifica, que é muito importante
para que no futuro, possam surgir novos Aristarcos, contribuindo assim de
forma concisa para o desenvolvimento da ciência. Bem eu comecei minha
magnífica trajetória pela Universidade Federal de são João Del rei, como
bacharel em física, acabei fazendo algumas extensões em universidades
menos famosas depois, como Harvard, Oxford, Cambridge, Princeton,
Sorbonne. Etc. minhas especializações são eletromecânica quântica, biofísica,
acústica, física molecular e nanotecnologia.

Cleo Casoy: Certo, mas a respeito da pesquisa que o senhor vem


desenvolvendo o que poder dizer aos telespectadores?

Aristarco de Pompei: Bem, existe uma vertente na comunidade cientifica que


vem se interessando cada vez mais pelos efeitos que a consciência humana,
Ou para colocar de forma mais clara, o pensamento humano e a intenção, tem
sobre a matéria. Principalmente se tratando de efeitos quânticos. Pensando
nisso eu e minha equipe, decidimos fazer inúmeros testes com pessoas
distintas, captando e interpretando as reações das mesmas em relação as mais

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diversas perturbações e freqüências de ondas especificas. E descobrimos que
certas freqüências determinadas podem condicionar efeitos desejados e
esperados nessas pessoas, como certas vontades, ou desejos inconscientes
venham à tona.

Cleo Casoy: Como a hipnose, não é isso?

Aristarco de Pompei: Exatamente, com a técnica que desenvolvemos


poderíamos, por exemplo, saber se determinado acusado de crime é culpado
ou não, entre outras possibilidades.

Cleo Casoy: Já existe algum artefato utilizando esta descoberta?

Aristarco de Pompei: Ainda não, mas minha equipe esta trabalhando para
desenvolver um artefato, que possa produzir a perturbação de onda na faixa e
comprimentos corretos.....

Cleo Casoy. Obrigada professor, pela disposição e tempo, Eu sou Cleo Casoy,
do Jornal casual!

Cena 06
(Aurélio está sentado no sofá, pensativo.)

Aurélio: -Que farei? Tenho que restaurar o padrão perdido da nossa língua.
Devo convencer a sociedade cientifica de que uma unificação lingüística é
necessária. Mas como fazê-lo?
(Ele fica pensativo. Enquanto isso dorotildes está se emocionando com a
usurpadora.)
Dorotildes: Não faça isso Carlos Daniel!!!
(Termina a telenovela, ela muda de canal e está começando o jornal causal)
Dorotildes: -Parece q vai começar o jornal que o patrão gosta de vê. Sinhor
vai começar o jornal!
( cena 05 entrevista da repórter Cleo Casoy ao cientista Aristarco de Pompei)
(Aurélio se interessa muito pela entrevista)
Aurélio:-Isso mesmo... Hipnose! Preciso encontrar esse cientista. Dorotildes,
muitíssimo obrigado.
(ele sai)
Dorotildes: Uai, de nada. Eta Povo mai doidinho sô.

Cena 07
Padre Dominico Sanctus faz o seu sermão ao ar livre.

Padre Sanctus: Queridos irmãos e irmãs! O que é a palavra? E qual é o peso


que ela tem sobre nós?
Ainda que eu falasse em todas as línguas dos homens, ainda mesmo que eu
falasse a língua dos anjos, mesmo assim me faltaria o mais alto grau do
conhecimento, da sabedoria. Porque para que haja o verdadeiro entendimento
e uma solidária união entre as pessoas, é fundamental que exista entre elas, o
amor. É o amor que faz o elo de comunicação entre pais e filhos, entre casais,
irmãos, amigos.É o amor que une o Criador às suas criaturas.

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A palavra pode unir ou separar pessoas. O amor só faz unir, porque ele é a
palavra que vem do coração. Por isso, falem, falem muito, falem alto, mas, seja
em qualquer estilo que disserem , seja em qualquer língua que proclamarem,
procurem sempre unir-se uns aos outros, falem sempre a Linguagem do Amor.

Ao terminar o sermão, Dorotildes espera por ele para conversar consigo


reservadamente.

Dorotildes: ah padre eu ando tão jururu! Me sentino tão vazia aqui dentro.

Padre: Deve ser fome, minha irmã.

Dorotildes: isso mesmo padre é homi. Só encontro cabra safado nessa minha
vida sô. O quê é que eu faço.

Padre: ah minha irmã, devote sua vida para deus, nenhum homem te ama
mais que Jesus cristo!

Dorotildes: Ah sinhor padre, eu não tenho vocação não, não é desse tipo de
amor que to falano...

Padre: irmã, um dia descobrirá que o amor de Deus é muito mais enobrecedor
que o amor dos homens.

Dorotildes: mas eu queria um amor de homi memo. Como que eu faço padre?

Padre: Irmã confia em deus, leva sua vida com louvor e lute para conseguir
seus objetivos e com certeza este amor um dia aparecerá.

Dorotildes: eu queria um homi bacana, carinhoso, que mi falasse coisas


bunita, de boa família, assim diferente do povo da minha família, que ta cheia
de pobrema.

Padre: Sim irmã, eu entendo irmã...

Dorotildes; Oh deixa eu te conta tudo, minha família é tão compricada, tem a


minha tia Gertrudes que tira todo o dinheiro do marido, que corneia ela, mas
ela nem liga, tem minha prima Genoveva que é uma boa que só, mas se
envolveu com um marginarzinho, coitada. Tem o meu tio Zebedeu que bebeu
tanto mas tanto que já está até com cirrosa, nossa e ainda tem a minha tia
Berenice que...

Padre: Irmã, reza o rosário de uma vez e 10 atos de contrição e de preferência


em horários alternados ao longo do dia.

Cena 08
( casa de Aurélio, a campainha toca.)

Cleo Casoy: Oi, Boa noite dr. Aurélio, tudo bem? Como tem passado? Fiquei
sabendo que sua filha chegou de viagem. Ela está em casa?

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Aurélio: Boa Noite Cleo, sim, ela se encontra em casa. Pode entrar, fique a
vontade, ela está no banho, ah por obséquio, existe um assunto que gostaria
de deliberar contigo, teria um minuto?

Cleo Casoy: Mas claro que sim, além do mais eu gostaria de lhe pedir um
favor também. Estou preparando uma série de reportagens com o público em
geral e seria interessante ter sua opinião.

Aurélio: hum, interessante, procurou a pessoa certa, certamente poderei


despender lhe de todo auxilio necessário. Mas o assunto que gostaria de dizer-
lhe trata-se precisamente de um cientista que foi alvo de reportagem sua.

Cleo Casoy: Aristarco de Pompei... excêntrico né. Uma figura.

Aurélio: exatamente, me apreciaria muito se conseguisse falar com ele.

Cleo Casoy: Bem, quando estava agendando a entrevista, tive que pegar o
telefone endereço etc., posso conseguir para você, ou melhor posso entrar em
contato com ele e marcar um encontro.

Aurélio: Ótimo, seria estupendo. Tal atitude me deixaria muito grato!

Cleo Casoy: Ah não por isso... apenas troca de favores.

( Verbalina Régia chega na sala, e abraça sua amiga )

Verbalina Régia: Amiga, como tens passado? Ouvi dizer que estas a
trabalhare num jornal de grande repercussão ora pois. E estas a fazer muito
sucesso, com suas reportagens!

Cleo Casoy: Ah que nada a gente vai trabalhando, e aos pouquinhos vou
conseguindo espaço, bem parece que já se adaptou bem aos portugueses só
pelo jeitinho de falar, o que você me conta de novo?

(as duas saem da sala conversando)

Cena 09
Narrador: Aurélio estava com sorte, dias depois Cleo conseguiu arranjar um
encontro com o famosíssimo Aristarco de Pompei, em um restaurante durante
seu horário de almoço. Mas enquanto esperava pelo cientista, eis que surge o
parlamentar Valério Mensales um dos responsáveis pela nova reforma
ortográfica.

Valério: Mas olha quem vejo, se não é o professor Aurélio! Muitíssimo prazer,
sou assíduo leitor de sua coluna no jornal popular. Sou grande apoiador de
suas idéias na câmara!

Aurélio: Meus parabéns meu jovem. É fato que a política está precisando
mesmo de pessoas com uma visão mais abrangente!

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Valério: Mas o que me diz da nova reforma ortográfica? Eu acho que ela vai
trazer inúmeros benefícios para a população dos paises da língua portuguesa,
principalmente o Brasil, acarretando um forte ganho para a cultura.
Eu particularmente como um dos mentores do projeto acredito que vai ser mais
um importante passo para a unificação da língua nestes países, diminuindo as
fronteiras, promovendo a interação cultural, social, política, econômica,
artística, intelectual, tecnológica nestes paises, buscando atender as demandas
dos excluídos.

Aurélio: Temos que nos apropinquar da realidade, meu jovem, nosso idioma
até então legado a nós, tem se enlanguescido muito com essas reformas, que
não tem uma funcionalidade como a práxis de Marx necessária para mudar as
coisas no âmbito de nossa comunicação social. A reforma ideal seria uma que
atingisse de forma congruente a fala dos indivíduos.

Valério: Está absolutamente certíssimo, meu caro professor! Mas infelizmente


você sabe como são as coisas na câmara, eu bem que tentei, mas não pude
me esquivar das intrigas da oposição, vetaram todas as minhas emendas, hoje
em dia é raro voltar os olhos para os interesse do povo, no lugar das ambições
pessoais bem como colocar os princípios a frente das personalidades, de modo
que fui obrigado a aceitar estas proposições neste projeto que realmente,
olhando de forma mais abrangente, é falho. Mas nada está perdido, acredito
que com o apoio popular, com uma campanha maciça, utilizando os meios
públicos de comunicação, Conseguiremos conscientizar o povo da
necessidade dessa empreitada.

Aurélio: Perfeitamente, mas existe uma forma vossa excelência dar uma
contribuição mais efetiva, pretendo fazer uma proposta neste sentido a alguém
que tem a tecnologia para fazê-lo, talvez não tenha ainda o capital necessário.
Mas uma vez o aparato desenvolvido, não será apenas de serventia para os
meus propósitos, pode ser que ela venha ao encontro dos seus.

Valério: Hum... de quanto estamos falando? E o mais importante quantos


dígitos isso vai me render?

Aurélio: Porque não se senta e acompanha minha conversação, talvez


entenda perfeitamente, o que pode estar em jogo.

( Valério liga para algum assessor)


Valério: Por favor cancele meus compromissos para esta tarde. Diga que eu
estou em reunião com os ambientalistas.

Valério: Espero que valha a pena doutor, sabe como são as coisas, tempo é
dinheiro.

Aurélio: Sei como funcionam os tramites políticos meu caro, e conheço bem
quem tem uma boa visão de empreendimento.

Cena 10

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( Nisso chega Aristarco de Pompei. Eles se cumprimentam e se apresentam.)

Aristarco: Muito bem, doutor Aurélio, parece que o senhor está interessado na
tecnologia que venho pesquisando, me pergunto por que um estudioso da
língua estaria interessado em meu campo.

Aurélio: Certamente, mas antes de tudo gostaria de expor-lhe uma situação


problema, o que acarretaria com a imagem da ciência se gradualmente ela
fosse deturpada pelos próprios cientistas, e que estes o fizessem por hábito?

Aristarco: Não imaginaria como um cenário destes poderia acontecer.

Aurélio: Bom, pois exatamente este é o meu infortúnio doutor, eu


constantemente vejo a língua ser esmagada, deturpada todos os dias pelos
próprios falantes! Como um estudioso, acredito que o senhor entende como me
sinto.

Aristarco: Hum, prossiga, acho que já começo a entender aonde quer


chegar...

Aurélio: Professor existe alguma forma de espalhar esta tal freqüência de onda
“hipnótica” por todo o país?

Aristarco: hipoteticamente sim, uma forma seria codificá-la junto as ondas


eletromagnéticas da TV por exemplo, mas para isso precisaríamos de um
grande emissor, uma grande antena e de um aparelho decodificador capaz de
enviar este sinal para a antena que por sua vez retransmita para os satélites...

Aurélio: Isso traria alguma seqüela para as pessoas que estiverem assistindo
a TV?

Aristarco: Não, ninguém perceberia o que está acontecendo, seria como uma
mensagem sublinhar que é comumente usada nos comerciais como estratégia
de Marketing. Mas qual seria o conteúdo dessa mensagem hipnótica?

Aurélio: Seria a gramática de uma língua pura. Trazendo grandes benefícios


para a comunicação inclusive facilitando os meios de divulgação cientifica. O
que me diz?

Aristarco: Interessante. Mas eu sinto informá-lo que para tal projeto seria
necessários fundos, que acredito excedam nossas possibilidades.

Valério: Talvez eu pudesse conseguir verba federal para tal. A língua é um


dom do ser humano que deve ser protegida a qualquer custo, nós
parlamentares nos preocupamos com a mesma, pois ela é a mais plena forma
de inclusão social.

Aristarco: Parece-me uma proposta interessante. Talvez o nosso trabalho


conjunto nos possa trazer frutos interessantes, como o premio Nobel, por
exemplo. Colocando minha pesquisa para um uso efetivo, as minhas chances

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aumentam muito. Bem eu estou de acordo com estes termos, voltaremos a
falar, foi um grande prazer Dr. Aurélio, Dr. Valério. Infelizmente eu tenho
alguns compromissos e tenho que ir. Até breve.
(Eles se despedem)

Valério: Interessante doutor, muito interessante eu vou conseguir o dinheiro


para tal empreendimento, por baixo dos panos, até porque algo assim não
deve vazar para a opinião pública, mas assim que tiver concluído seu
propósito, quero uso exclusivo deste equipamento.

Aurélio: E terá, este fica sendo o nosso acordo.

Valério: Ótimo
( Eles se despedem)

Cena 11
(Aurélio está fazendo pesquisas para a gramática perfeita no portal Lucrécio)

(Verbalina chega)

Verbalina: Papa, estava aqui a pensar, se não seria possível, você me arranjar
uns 100 euros para sair com minhas amigas hoje.

Aurélio: Ah minha menina, já esta na hora de você se readaptar aos costumes


brasileiros, pode pegar o meu cartão de crédito, e sabe mais? Eu estava aqui
com as minhas conjecturas, os portugueses também andam maltratando muito
a língua portuguesa. Mas logo em breve, isso não será mais um problema para
nós...

Verbalina: Ah Papa, você sempre me dizia que ir para lá seria melhor para
minha educação, para minha formação enfim. Mas têm acontecido muitos mal-
entendidos desde que voltei. Por exemplo, tentei explicar para o Acelino que lá
em Portugal, todos os filhos homens são putos, e agora ele está pensando que
todas as meninas portuguesas são putas. Ora pois, isto não está certo.

Aurélio: Filha, simplesmente não dê ouvidos a este energúmeno. Eu vou tratar


de fazer tudo voltar aos devidos eixos, aguarde e verá.

Verbalina: Ta certo Papa, você anda tão misterioso estes últimos tempos,
espero que não esteja a aprontar nada de errado. Eu tenho muito medo porque
mamãe não está mais aqui para te segurar. Bom eu vou então. Tchau Papa.

Aurélio: Tente chegar em casa antes da aurora.

Verbalina: Antes de quem?

Aurélio: Não tem importância, filha, não tem importância... Até a volta.

Aurélio: hum!?!? Quanto dinheiro mesmo essa menina disse que precisava???

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Cena 12
(Casa de Aurélio)

Aurélio: Meus cumprimentos, meu caro sócio, Como vão os preparativos para
o primeiro teste da maquina?

Aristarco: O Irradiador psiônico de ondas moduladas esta indo e vento em


popa, dentro de muito em breve devemos poder fazer o primeiro teste. E como
vãos as pesquisas para a gramática perfeita?

( Sem que o dois percebam Acelino ouve a conversa atrás da porta)

Aurélio: já está finalizada, e já está tudo gravado neste CD. Inclusive todas as
conjugações, formas de linguagem, fonética correta, vocabulário e semântica,
estruturas frasais, etc. etc. mal posso esperar para ouvir a verdadeira língua
sendo falada e difundida por todo o pais.

Aristarco: Excelente, meu caro, excelente. Posso levá-lo de uma vez?

Aurélio: Perfeitamente. Uma ultima pergunta professor, quanto tempo você


acha que leva para que comecemos a perceber as mudanças?

Aristarco: Um dia, no mais tardar dois.

Aurélio: Certo, mas necessito de uma resposta mais precisa sua, quando fará
o primeiro teste.

Aristarco: Tudo bem, tudo bem, queria manter isso em sigilo para que fosse
uma surpresa, mas depois de amanhã as 19:00 hr. farei o derradeiro
experimento. Ah, só mais uma coisa doutor, esta pílula corta o efeito das
ondas hipnóticas, eu acredito o senhor não precisará tomar uma vez que o
senhor conhece bem o conteúdo das mesmas, mas fica a seu critério. Eu não
vou tomar, pois quero provar o experimento em mim mesmo.

Aurélio: Certo, tudo bem eu fico com ela, como eu sou desconfiado, vou tomar
para o caso de algo sair errado. Mas caso contrário pode acreditar doutor o
premio Nobel o espera. Talvez, depois dos grandes benefícios sociais deste
empreendimento, eu mesmo ganhe o Nobel da Paz.

Aurélio: Que tal se comemorássemos com um brinde? Dorotildes traga-me a


garrafa do vinho Setúbal!

Dorotildes: Quem?!

Aurélio: A garrafa de vinho, Dorotildes, a mesma que Verbalina trouxe para


mim de Portugal!

Dorotildes: Ah sei, podexá sinhor.

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( Eles brindam)

Cena 13
(Acelino no seu quarto parece preocupado)

Acelino: Hum, então é isso que este velho maluco ta tramando, puxa vida essa
parada ta russa! Eu tenho que faze alguma coisa para impedir esse velho
caduco!

Mais tarde Acelino expõe o problema para Verbalina

Acelino: Então minha irmã, cê num sabe o que esse veio maluco ta
aprontando dessa vez, pode crer que a coisa vai lascar!

Verbalina: E chegaria a apostar que você deve ter feito alguma coisa para
irritá-lo.

Acelino: Num viaja mana, a treta dessa vez não vai ser só comigo, vai ser com
todo mundo.

Verbalina: Ora pois, então pare logo de fazer suspense e fala logo!

Acelino: Bom, ele quer fazer todo mundo falar enrolado igualzinho ele.

Verbalina: Ah, é isso que está a te preocupar? Essa conversa é mais antiga
que as caravelas de Cabral seu tolo. Não deverias perder o seu sono por causa
disso.

Acelino: Ta certo, mas dessa vez ele conseguiu um aprendiz de Einstein mais
zureta que ele para ajudar. Parece que já construiu até uma máquina.

Verbalina: Hum, para falar a verdade, ele anda muito estranho ultimamente,
bem misterioso. E outro dia eu vi ele a conversar mesmo com um tipo bem
esquisito.

Acelino: Pois é com certeza deve ser o tal do professor pardal.

Verbalina: Olha Acelino, tente relaxar, não deixa que esta maluquice do papa,
perturbar a sua cabeça. Bom eu vou indo... Beijo.

Ela sai...

Pouco depois Dorotildes bate na porta)

Acelino: Quem é?

Dorotildes: Sou eu, pó intrar?

Acelino: entra aí tia.

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Dorotildes: Desculpa Acelino cadê a Verbalina,?

Acelino: hum ela acabou de vazar...

Dorotildes: eu naum queria incomodar sabe, mas é que eu queria fazer um


vídeo dela, aquele costume bobo que eu tenho, sabe...

Acelino: Caraca veio!!!!

Dorotildes: O quê que foi, cê ta passando mal, quer que eu faça um chá de
boldo?

Acelino: Tia, você vai salvar o dia! Tia é verdade que você já trabalho em
vários lugares diferentes não é?

Dorotildes: É verdade memo sô, eu sai lá de Nazareno nas Minas Gerais,


muito novinha sabe, Meu pai largo minha mãe e ela se acabava nas bebida,
então eu resorvi correr o mundo para tentar a sorte.

Acelino: só tia eu entendo seu sacrifício, mas e o quê que tem nessa câmera?

Dorotildes: Ah foi uma das primeira coisa que eu comprei, eu queria ser artista
de novela sabe, até mandei uns vídeo pra globo, mas eles nunca me
responderam, então eu comecei a gravar os lugar que eu passava, os meu
patrão é isso que tem nela.

Acelino: Ce pode me emprestar ela por um dia? Eu não vou apagar nada dela,
pode confiar.

Dorotildes: ah mais é que eu uso ela muito...

Acelino: A tia por favor vai, cê vai fazer um serviço a humanidade.

Dorotildes: Bão se ocê precisa assim tão urgente, então. Não tem pobrema
naum.

Acelino: Manero Tia, valeu! Te devolvo ela ligeiro.


( Acelino sai alvoroçado do quarto)

Dorotildes: Maluqueza deve ser mau de família. Só pode...

Cena 14
(Acelino está trabalhando exaustivamente a frente do computador, concentrado
até que finalmente ele tira do drive um CD e olha para ele bem confiante.)
Acelino: Beleza, aqui estão os áudios de todos os vídeos. haahahaaha
Acelino: Verbalina, eu preciso de um favor!

Verbalina: Diga.

15
Acelino: Consiga para mim o telefone e endereço do professor Dingo Dongue
com sua amiga repórter, rola?

Verbalina: Acho que não tem problema. Vou fazer o possível.

Acelino: Firmou então, valeu maninnha!

Cena 15
Acelino liga para seu amigo Armando
Acelino: e aí mermão, tudo em cima, como é que ta as parada aí meu veio?
Só, aqui vou precisar que cê faça uma coisinha para mim, firmou? Se der certo
vai dá para te escorregar uma grana depois, ta ligado?
....
Acelino: certo, certo, mas não grila não que a coisa é simples, vou precisar
que você vigie uma casa para mim hoje e me dá um grampo aqui assim que
não tiver mais ninguém lá...
...
Acelino: Sim, bom, o lugar é onde mora um tipinho estranho, o cara é cientista
ta ligado, ...então, beleza faz isso então meu. E outra coisa cê me dá um
grampo e me espera no local. Firmou? Anota aí o endereço da parada.

Mais tarde, Acelino recebe uma ligação de Armando...


Acelino: Beleza Armando, quer dizer então que já ta no local.. jóia... fica de
olho vivo.

Desliga o tel. e faz outra ligação mudando a voz:

Acelino: Alô? Gostaria de falar com o professor Aristarco..... Bem professor


aqui é do centro de pesquisas técnicas avançadas e nos estamos precisando
do senhor aqui... alguém invadiu o prédio e andou mexendo na sua sala, temos
medo que tenha acontecido alguma sabotagem.... exatamente... Está certo
esperamos o senhor aqui....

Na casa do cientista...

Acelino: só meu irmão, tem certeza que não tem ninguém né,

Armando: não, rapa, o cara deu linha aí tem pouco tempo, cara, e tava com
presa. Parece que não volta logo não meu.

Acelino: beleza meu brother serviço de chefia, então oh, eu vou entrar nessa
barraco aí, mas é o seguinte meu, fica ligado aí nas quebrada, se caso pintar
sujeira, me da um grampo aqui para eu vazar ta ligado,

Armando; pode deixa rapa, não vou largar um brother na sujeira não...

Acelino: Firmeza então...

( Acelino entra sorrateiramente na casa do cientista e troca os CDS na véspera


do dia D.)

16
Cena 16
Narrador: Então finalmente chega o dia, Aurélio está entusiasmado esperando
para finalmente poder ver seu sonho realizado, ainda não está ciente das
armações de seu filho, e mesmo Acelino não pode imaginar quais
conseqüências poderão resultar de sua manipulação...

Aurélio: Ah está consumado, Por essas horas, certamente já temos uma pais
novo, livre das escórias e dos excrementos lingüísticos. O Paraíso, A terra
Prometida, um novo jardim do Éden!

(Acelino aparece na sala)

Acelino: Olá papai, não consigo processar em minhas recatadas


reminiscências nenhuma ocasião ou evento em que te avistasse com um
semblante tão portentoso, revigorado e instigante, o que teria havido para lhe
proporcionar uma aura tão luminescente neste dia?

Aurélio: Ah, filho este estado de espírito que percebes, nada mais é do que
um reflexo de uma pessoa que sempre galgou os passos para atingir suas
metas pessoais e profissionais e que finalmente parece ter alcançado a
realização em sua plenitude.

Acelino: Certo, certo, mas é com grande estranheza que ouço essas
declarações, pois não percebo nada diferente nos arredores, poderia clarificar
a situação, relatando-me o que houve?

Aurélio: Ah Acelino, não se preocupe com as idiossincrasias de seu pai. É uma


história tão extensa que poderia enredar um longa metragem, mas a partir de
hoje você perceberá as diferenças na comunicação social, as atrocidades
neste contexto se tornou assunto do passado agora.

Acelino: Tudo bem, eu já desisti há muito de tentar captar ou decifrar os


fenômenos físicos estranhos que passam na sua massa encefálica, bom eu
creio que seja hora de meu desjejum. Dorotildes...

Aurélio: Decerto que seu modo de falar esta perfeito, mas sua mal criação
parece não ter se contagiado no processo... Paciência. De qualquer forma é
muito melhor do que eu poderia conjeturar em meus sonhos mais otimistas.

Narrador: Impressionante não acham? Realmente uma revolução, mas a vida


deste nosso querido gramático não é fácil... Não é mesmo.... A sabotagem feita
algumas noites atrás ainda mostraria para ele uma dura realidade...

Cena 17
Verbalina: E aí papai como é que é? Seguinte oh, vou dar um role com minha
amigas hoje outra vez, dá para descolar uma grana não?

17
Aurélio: ma... o quê que.... Não pode ser!!!

Verbalina: Ah meu velho, que isso vai, seja bonzinho, fazia tanto tempo que
não esbarrava com elas. Eu tenho que recuperar o tempo perdido né não?

Aurélio cara de paisagem...

Verbalina: Valeu paizão, sabia que você não ia encrencar... brigadão.

Verbalina sai de casa...

Aurélio, ainda sem entender vai para a cozinha

Dorotildes: Percebes com a aurora resplandece está manhã Acelino? Espero


que seja um prenuncio de um dia cheio de realizações. Que esta
resplandecência seja a marca da metáfora da iluminação pessoal de todos nós.

Acelino: Um bom dia para você também cara dorotildes. O café estava
delicioso, apesar de ser redundante de minha parte dizer. Você também parece
estar com uma aura diferente esta manhã dorotildes.

Dorotildes: É que eu prevejo, eu respiro, eu sinto que o vento da mudança


está se aproximando pelas longínquas brumas do horizonte, parece que minha
jornada por todas as direções da rosa dos ventos finalmente encontrará seu
findo momento em um porto seguro na terra prometida. Onde ondas serenas e
a areia permeada pelas conchas e mariscos testemunharão uma história de
amor pleno e eterno.

Acelino: hum, muito interessante, parece que não anda me deixando muito a
par dos acontecimentos ultimamente minha cara, seria algum novo
pretendente?

Dorotildes. Não. É apenas o clima, a brisa da manhã, a luz resplandecente do


sol, todos eles parecem me sussurrar ao pé do ouvido, trazendo boas novas
que aquecem meu coração.

Acelino: Muito bem cara dorotildes, tomara que os ventos estejam certos, a
taciturnidade não é amiga de ninguém e também não a desejo para ti,
desafortunadamente meu lirismo não anda tão apurado assim para lhe dar um
parecer... Bem a mim parece que alguma coisa está estranha aqui... Tenho
uma sensação que algo está fora de lugar... Talvez alguns decibéis de algum
som de qualidade vão ajudar a ajustar minhas reflexões... Até mais ver.

Aurélio atônico presencia a cena...

Aurélio: Isso não pode ser... algo saiu errado...algo esta fora dos eixos.
( Aurélio liga a TV.)

Cena 18

18
Cleo Casoy: Boa Tarde, está é mais uma edição do Papo Reto, uma charla
aberta sobre a realidade do mundo em que vivemos. Estamos aqui com o
Padre Dominico Sanctus da paróquia de São Judas Tadeu. Um qüera devotado
aos valores divinos que não gasta pólvora em chimango que fará uma arranca-
rabo com a gente agora sobre a nova resolução do vaticano; os seis novos
pecados capitais e também expor sua opinião sobre qual a sua relação com o
nosso dia a dia neste mundo globalizado. Boa Tarde, Dominico, para começar
nossa entrevista, poderia dar um breve parecer sobre os novos pecados e
esclarecer para o telespectador qual a sua importância nos dias de hoje?

Padre Sanctus: Boa tarde Cleo, boa tarde telespectador do Brasil, gostaria de
agradecer ao canal global universal pela oportunidade de estar aqui hoje,
levando a comunhão com o senhor a todos os lares do Brasil. Bom,
primeiramente eu gostaria de enumerar os novos pecados explicando a sua
relevância para o mundo de hoje, eles são: Fazer modificação genética, Poluir
o meio ambiente, Causar injustiça social, Causar pobreza, Tornar-se
extremamente rico, Usar drogas. Eu acredito que os primeiros podem causar
mais estranheza do que os demais, que são mais justificáveis, mas estes
assuntos são muito importantes no nosso mundo hoje, sendo bastante
necessária uma visão mais reflexiva sobre estes temas.

Cleo Casoy: Bem caro Dominico, em sua opinião qual a diferença básica entre
estes três novos pecados: Causar injustiça social, causar pobreza e tornar
extremamente rico, eles não são um tanto acolherados? Ou para ser mais clara
não seriam diferentes maneiras de expressar um mesmo pecado?

Padre Sanctus: Bem na verdade eu não vejo dessa maneira, eles expressam
coisas distintas, que são ligadas sim, mas distintas, por exemplo, a injustiça
social não precisa exatamente ser caracterizada pela diferença financeira,
mesmo quando pessoas de diferentes etnias não têm acesso as mesmas
oportunidades então está havendo uma injustiça social. Causar pobreza não
necessariamente significa tornar-se extremamente rico, você pode causá-la
mesmo quando se recusa a ajudar o próximo.

Cleo Casoy: Bem padre, sendo agora um pecado capital causar injustiça social
e tornar-se extremamente rico, tu não acha que é a igreja não está sendo dura
de boca em ostentar escritórios tão pomposos e bens exorbitantes?

Padre Sanctus: Tudo depende de que ponto de vista se olha a questão,


realmente a igreja é detentora de um patrimônio considerável, mas grande
parte deste patrimônio é revestido em obras sociais, de forma que não
podemos e nem devemos ver a Igreja como acumuladora de riquezas, mas sim
uma promovedora de uma série de programas de apoio e ajuda aos mais
necessitados.

Cleo Casoy: Certo, como tu vê os crimes ambientais, meu cupincha? como o


senhor o concebe dentro do aspecto religioso?

Padre Sanctus: Exatamente como eu disse no princípio, temos que ter uma
visão mais ampla sobre a nossa realidade hoje, o planeta sofre as

19
conseqüências de várias décadas da exploração inadvertida do homem, o meio
ambiente precisa ser preservado até como uma forma de sobrevivência
humana, temos que respeitar a diversidade que Deus deu a este planeta, essa
diversidade é um dos grandes milagres que deus nos demonstra todos os dias.
Portanto não respeitar a natureza é não respeitar a própria obra de deus na
Terra.

Cleo Casoy: Bem, este talvez seja o assunto mais loco de especial que deve
causar mais querela nos dias atuais, a questão das pesquisas em células-
troncas e o avanço das descobertas sobre o DNA humano, o que tu pensa
sobre tudo isso, e qual a relação com o novo pecado capital, fazer modificação
genética?

Padre Sanctus: Bem eu sinceramente sou grande admirador da ciência, e eu


compreendo bem o quão importante ela é para nossa vida moderna, mas a
vida é um dom de deus, é um dom que apenas ele pode nos proporcionar ou
tirar, sendo muito importante sermos a favor da vida em qualquer situação.

Cleo Casoy: Mas mesmo quando a ciência quer salvar outras pessoas de
bater a canastra? Pois não seria essa a grande contenda da ciência com a
pesquisa nas células-troncas?

Padre Sanctus: Bom, isso é o mesmo que dizer que o fim justifica os meios, e
eu não acredito que esta máxima seja valida quando se tem em vista uma vida,
um dom de Deus, que só ele pode conceder ou tirar.

Cleo Casoy: Em relação ao novo pecado usar drogas, qual o âmbito se aplica
a este pecado, muita gente tem que usa-las em doses moderadas como
medicamento, além disso e quando o guera fica á meia guampa?As bebidas
alcoólicas, elas também devem ser consideradas?

Padre Sanctus: Bem em relação as drogas que são medicamentos, é uma


perspectiva diferente que deve ser considerada, neste caso elas são
estritamente necessárias para manutenção da vida, que sempre deve vir em
primeiro lugar em qualquer situação, a igreja condena o uso deliberado e
voluntário das drogas, que arruínam vidas, famílias e lares inteiros, neste
sentido é absolutamente pertinente que a classifiquemos como uma erva
daninha na sociedade. As bebidas alcoólicas também devem ser consideradas
sim, pois mesmo em menor grau elas também alteram a consciência.

Cena 19
Aurélio muda de canal e vê uma figura conhecida dar um pronunciamento.

Valério Mensales: Na Política a penalidade máxima é a corrupção, devemos


fazer uma marcação cerrada, homem a homem, para que este mal não entre
de sola nas nossas vidas, a meta do PREM: partido da restituição ética e moral
é entrar em campo suando a camisa, entrar rasgando contra a incompetência,
a desonestidade e a improbidade pública, Não vamos desistir de nossa meta
enquanto o juiz não der o apito final. Mesmo quando muitas vezes a
desesperança surge e nos abate nos fazendo jogar na retranca e mesmo

20
quando nós batemos-roupa, devemos confiar nos nossos companheiros, no
nosso trabalho e no nosso elenco. Portanto pense nisso e saiba que com o
nosso partido atuante, não tem bola perdida, vai ser pressão total, e vamos
buscar o placar dentro e fora das quatro linhas. Assim eu tenho certeza eleitor
que com a sua torcida e sua manifestação de apoio o bicho já vai estar
garantido, seja o nosso 12º jogador!
Muito Obrigado a todos.

Aurélio, faz uma cara de espanto desliga a TV e sai de casa.

Cena 20
Ao sair de casa Aurélio encontra com seus vizinhos eufóricos

Bartholomeu: Mano veio, toca aqui, vamos juntos bajular o senhor, ele é muito
sangue bão.

Dalila: Pode crê...


ele é o senhor, ele é que comanda o baguio. E se liga aí que ele ta voltando

Bartholomeu: isso mesmo vamos lá, só com ele agente vai miorar a boca
aqui. Com Jesus vai manda nóis.

Aurélio: Não, não... Isso não pode estar acontecendo....

Dalila: Está sim, ele ta voltando mesmo, ele está em todas as bocas.

Aurélio: Perdão, mas eu preciso ir, conversemos depois.

Bartholomeu: Só, Pode crê maluco, agente se embarra lá na sua casa,


morou... Jesus sangue bão no coração...

Cena 21
Aurélio Cegala vê Padre Sanctus caminhando aparentemente alcoolizado.
Padre Sanctus: -Porcaria de bebida! Fraca, muito fraca! Eu bebo mesmo (ele
se vira para a câmera). Eu bebo mesmo.
-Essa sociedade de merda que me fez ficar assim. Ele caminha com o copo na
mão. Defronta-se com um rapaz com um cartaz e pergunta: E aí meu
companheiro de gole, quanto que é a dose? Ah! Ah! (ele sorri). E continua
caminhando.
-Vejam só no que me transformei! Ninguém me ouviu, ninguém falou comigo! E
eu me transformei nesse monte de lixo. (E grita: Eu tenho orgulho de ser lixo).
Sociedade burra!
-(Ele abraça uma árvore): Ah, é você, meu amor? Marilza, é você Marilza? Até
tu me abandonaste, Marilza; até tu me abandonaste, nessa vida. (Ele
arremessa e quebra o copo: merda de vida).
-Eu quero beber, eu quero beber, eu quero beber.

Narrador: E a coisa não para por aí, essa calamidade lingüística se estendeu
livremente por todo território nacional....

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Cena 22

Perto de um carro quatro funkeiros estão conversando

Armando: Amizade, estou achando que vai cair a maior precipitação


atmosférica.

Sandra: É verdade, eu acho que o índice de umidade relativa do ar está


bastante elevado.

Débora: Mas isso seria uma boa notícia, para diminuir um pouco o estado de
agitação das moléculas do ar...

Armando: E então, vocês vão refutar a minha convocação para a reunião


dançante que se sucederá essa noite?

Débora: Claro que não, naturalmente, você já nos persuadiu a todos para tal
evento.

Sandra: Certo, mas como infelizmente não pertenço a aristocracia, tenho que ir
habitualmente para o meu expediente amanhã, como sofre a classe burguesa!

Débora: Ah Sandra, não há motivo para se consternar, estou convicta que


você é capaz de se recuperar fisiologicamente do sono perdido depois.

Jorge: E se a questão for de âmbito monetário, seria plausível que nós a


emprestemos dinheiro.

Armando: Exatamente e nós a retornaremos em segurança a sua casa no


automóvel.

Sandra: Tudo bem, então eu participarei sim, eu aprecio muito os vínculos de


amizade que têm por mim.

Jorge: Perfeito então, Gente, o que acham de ouvir o novo hit do mc Rolando
antes da perturbação pluviométrica nos atinja?

Débora: ah, eu não gosto muito de estilo dele, pois sua música não é
permeada de muitos impropérios...

Armando: É mesmo! Eu aprecio o cara, acho que ele tem carisma, persuasão,
que não se pode preterir e gosto muito de sua retórica musical também.

Sandra: Eu concordo, liga o som, e aumente os decibéis...

Cena 23

Em um tribunal em algum lugar do Brasil...

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Advogada de acusação: Caros senhores, eu tenho evidências que o acusado,
não era arroz e teve intenção deliberada de invadir o local, e nem tava na mão
de palhaço. Vocês vão ver que essa desculpa da defesa que o cara era cabaço
não cola, ele no mínimo colaborou de forma efetiva para que seus comparsas
conseguissem fugir talvez se pressionar ele deixa de ser pela - saco e vira fura-
olho com os comparsa. Ele foi pego pela câmara de vigilância do shopping...
vejam vocês mesmos, a imagem não deixa mentir...

Então é exibido um vídeo onde o réu aparece se exibindo e fazendo caretas


para a câmera de vigilância.

Advogada de acusação: Sem mais Meritíssima

Juíza: Com a palavra a defesa

Advogada de defesa: ói sua juíza, o réu é inocente, ele não robô nada
naum...ele nem sabia o que tava fazendo... ele tem um tique nervoso quando
fica perto de câmeras. Além disso ele é réu do primário. Num sabe nem lê nem
escrevê.... Aconteceu que naquele dia ele tinha combinado ca muie dele di i no
cinema, mas ele levou bolo, então ele ficou muito jururu o que aumentou a
maluqueza dele e ele começou a faze paiaçada na frente da câmera. foi isso...
Aqui está a prova! Este é o remédio ele toma é o gardernar...
Sem mais meritrissima

Deliberação do júri....

Juíza: Vou proferir a sentença:


Pela deliberação do júri, Recurso de cacoete negado, mas o maluco ali
também deve foi deferido. Chegou-se a conclusão que se trata de um claro
caso de passarinho que acompanha morcego dá de cara com o muro.
o réu fica condenado a restituir pelo principio "só tem tu, vai tu mesmo" a vitima
e a ficar 6 meses vendo o sol nascer quadrado... Perdeu Playboy perdeu!!!... a
casa caiu!!!
E bate o martelo

Cena 24
Em um hospital em algum lugar do Brasil...
Dra. Ângela: Hum, o problema é serio, daqui a pouco o sistema de pistões vai
parar de funcionar... me passe o bisturi.

Dra. Pauline: já descobriu onde está o defeito doutora?

Dra. Ângela: a mistura não está chegando bem ao tanque, deve ser algo na
injeção eletrônica.

Dra. Pauline: Já verificou o radiador

23
Dra. Ângela: sim o nível do reservatório está correto, 2/3 de água e 1/3 de
aditivo. Mas mesmo assim acho que vou substituir todo o líquido de
refrigeração e limpar o sistema

Dra. Pauline: e as placas de chumbo da bateria?

Dra. Ângela: Completamente cobertas com água destilada, e pólos limpos...

Dra. Pauline: Algum problema com os rolamentos ou discos de embreagem?

Dra. Ângela: não, são novos e estão em bom estado.

Dra. Pauline: Talvez já seja a hora de trocar a correia dentada do alternador?

Dra. Ângela: É possível.

Dra. Ângela: Deixa-me dar uma olhada nas juntas homo cinéticas...

Nisso o osciloscópio mostra que está havendo uma parada cardíaca...

Dra. Pauline: acho que o sistema de pistões está com problema...

Dra. Ângela: Droga! Vamos tentar fazer pegar no tranco....

Dra. Ângela faz a massagem cardiovascular mas não dá resultado!

Dra. Ângela: não está dando resultado.

Dra. Pauline busca o desfibrilador:

Dra. Pauline: Vamos fazer uma chupeta...

Dra. Pauline usa o desfibrilador.

De repente o Osciloscópio mostra que o coração do paciente voltou a bater e


elas escutam a pulsação.... hruuummmmmmmmmm ( ronco do motor)!!!!

Cena 25
Narrador: Aurélio percebendo que algo não estava certo se dirigiu a casa do
cientista.

Aurélio: Meu Deus! Que confusão hedionda você causou doutor, essa
máquina é uma fraude!

Aristarco: O quê que cê ta xuetano aí meu rei, se avexe não bichinho. Essa
máquina é arretada. Funcionou direitinho viu.

Aurélio: Doutor eu creio que não é hora para brincadeiras, as bruxas estão a
solta lá fora e você zombando com da minha cara.

24
Aristarco: Vixi, pare com essa nigrinhagem dotô, minha máquina né fuleira
não, e nem ta estrompada, cê fica ai cumeno água e me vem com esse um
monte de culhada, ô mais ta! Tem que sê muito dessassuntado mesmo para
faze isso na porta de minha casa. Vice, agora cença aí que eu não to de prega
naum, inté.

(Fecha a porta )

Cena 26
Finalmente Aurélio chega a casa bem desolado...

Aurélio: Mas que injúria de destino, na certa aquele doutorzinho fajuto não
tomou a pílula, o que vou fazer agora?

A campainha toca:

Cleo Casoy: barbaridade, meu cupincha, pareces que estás embretado, o que
se as sucedeu com tu?

Aurélio: Por favor, eu não gostaria de falar sobre isso, eu presumo que queiras
falar com Verbalina, ela está lá dentro.

Cleo Casoy: Mas é claro que eu não vou deixar meu cupincha a lá cria, na
certa caiu na arapuca de alguma chinoca anta que arrastou asa para tu, não é
verdade?

Aurélio: Por favor, me deixe sozinho...

Cleo Casoy: desculpa, não queria te deixar azucrinado... deixa eu ir lá


conversar com a Verbalina...

Aurélio: Desculpe-me... o problema não é contigo.

Cleo sai da sala...

(campainha...)

Armando: Dr. Aurélio, tudo bem, Acelino se encontra em casa?

Aurélio: Sim, está no quarto dele pode entrar...

Armando: Tudo bem, Não é minha pretensão me delongar muito..

Aurélio: Fica a vontade.

(campainha)

Sanctus: Por favor eu procuro por Dorotildes, ela está? Eu preciso falar com
ela... é muito importante...

25
Aurélio: Sim, Dorotildes por obséquio é para você, não gostaria de entrar?

Sanctus: Não, muito obrigado, eu não quero ser inconveniente...

Aurélio: Não está sendo de forma alguma.

Sanctus: Eu prefiro esperar aqui mesmo.

Aurélio: Tudo bem!

Dorotildes chega.

Sanctus: Dorotildes! Perdoe a minha ousadia, eu não sou mais padre, perdi a
cabeça com as bebidas, mas eu quero colocar minha vida de volta nos eixos, e
percebi que você está constantemente em meu pensamento!

Dorotildes: Dominico, eu não sei o que dizer! Me faltam metáforas para


externar a alegria que eu sinto neste momento...

Sanctus: Por favor aceite este presente...

Dorotildes: Aurélio: eu poderia chamá-lo para entrar? E oferecer-lhe algo?

Aurélio: Sim, Dorotildes, perfeitamente, e fique a vontade se quiser tirar o resto


do dia de folga..

Dorotildes: obrigada, doutor! Entre...

Os dois vão para a cozinha.

(campainha)

Bartholomeu: Mano veio! Que bom que a gente conseguiu se esbarrar! Jesus
sangue bão no coração ama seus irmãos!

Aurélio: ah sim... por favor, eu estou um pouco indisposto hoje, será que não
poderiam voltar em uma outra oportunidade?

Bartholomeu: Ah que isso mano veio? Agente não abandona um


companheiro! Libertes suas magoas e deixe que Jesus resolva todas as suas
querelas!

Aurélio: Está certo entrem: eu já vou atendê-los, a minha família está toda aqui
hoje e também alguns amigos, vocês podem ir dialogar com eles enquanto
isso...

Dalila: O mano está um pouco indisposto, vamos baruiar com os outros


enquanto isso.

Batholomeu: Está na boa, vamos lá.

26
Eles saem da sala e vão para a cozinha..

(campainha) chegam juntos Aristarco de Pompei e Valério Mensales

Valério: E então Doutor, eu tenho que usar a máquina, tem que ter palavra,
pois bola na trave não altera o placar, se me vier me dizer que a culpa é do juiz
do jogo, eu vou fazer marcação cerrada em você...

Aristarco: Oh douto, cê me desculpe, eu fui muito agreste com o sinhor, por


mais que o sinhor foi atirado comigo, não tinha direito de abrir o gás com o
senhor, eu acabei falando mais que a nega do leite...

Aurélio: Por favor entrem...

Ele os acompanha até a cozinha...

Na cozinha todos estão falando ao mesmo tempo... isso deixa Aurélio maluco...

Aurélio: Aí meu deus do céu!!!!


E sai correndo

Cena 27
Aurélio se dirige ao centro de pesquisas técnicas avançadas invade o local e
com uma mochila de explosivos destrói a máquina.

Cena 28
Aurélio chega a casa, todos os personagens estão em silencio e cria-se aquela
expectativa...

Aurélio: Por favor, o que está havendo? Alguém fale alguma coisa.. filho....

Acelino: pô meu veio, qual que é a bronca agora? Que veio caduco meu...

Aurélio: Meu filho, você voltou ao normal!

Aurélio abraça o filho que o olha bem desconfiado

Acelino: Veio, cê ta com uns modernismo muito estranho aí...

Acelino: ah gente, já que ta todo mundo aqui vamos faze uma festa!

Aurélio: De acordo! Pode crê!

Todos comemoram e celebram....


E cada um recita um pedaço da música... Sintaxe a vontade – Teatro mágico.

Aurélio:
Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão

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Aristarco:
a partir de sempre
toda cura pertence a nós

Verbalina:
toda resposta e dúvida
todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser

Cleo Casoy:
todo verbo é livre para ser direto e indireto
nenhum predicado será prejudicado

Narrador:
nem tampouco a vírgula, nem a crase nem a frase e ponto final!

Dorotildes
afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas
e estar entre vírgulas pode ser aposto

Acelino:
e eu aposto o oposto que vou cativar a todos
sendo apenas um sujeito simples

Dominico Sanctus
um sujeito e sua oração
sua pressa e sua verdade,sua fé
que a regência da paz sirva a todos nós...

Bartholomeu:
cegos ou não que enxerguemos o fato
de termos acessórios para nossa oração

Armando:
separados ou adjuntos, nominais ou não
façamos parte do contexto da crônica
e de todas as capas de edição especial

Valério:
sejamos também o anúncio da contracapa
mas ser a capa e ser contra-capa
é a beleza da contradição
é negar a si mesmo

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Dalila:
e negar a si mesmo pode ser também encontrar-se com Deus
com o teu Deus

Aurélio:
Sem horas e sem dores
Que nesse encontro que acontece agora
cada um possa se encontrar no outro
até porque...

(Todos juntos inclusive os que participaram das outras cenas)

Tem horas que a gente se pergunta...


Por que é que não se junta
tudo numa coisa só?

Letra da música do teatro mágico, sintaxe à vontade.

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