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NOB) h Tex Cr 04 | 2 4 f Sito KARL MARX CONTRIBUIGAO A CRITICA DA ECONOMIA POLITICA era de lorestan Fernandes >) 2*ediséo | EDITORA EXPRESSAO POPULAR ‘0 Paulo - 2008 Copyright © 2008, by Editora Expressio Popular espanol por io da tradugio: Reinaldo A. Carcanhlo eraldo Martins de Azevedo Filho € Haroldo Cevarolo Projeto grifico, diagramagio ¢ capa: ZAP Design Impressio ¢ acabamento: Cromoscle ‘Arte da capa: A Forja, Diego Rivera, 1908. ‘Dados internacionals de Catslogactoxna-Publicagio (CIP) ‘Manx, Karl, 1818-1883 ae2e Gontribulgdo a critica da economia tradugae e introdugao de Florestan Fernandes.-—2.ed— Paulo: Expresso Popular, 2008 288. Indexado em GeoDades - hitp:/Awww.geodados. ISBN 078-85-7743-048-2 1. Eoonomia, 2. Economia polltica. 3. Econor 4, Capital (Ceonomia), Fernandes, Flerestan, trad. I, TH cpp 336. z eDU33, Baa, Blane WS. Jevanoveh CRB OTEET “Todos 08 direitos reservados, ‘Nenhuma parte desse livro pode (ou reproduzida sem 2 autorizagii Edigio revista e acualizada conforme nova ortografia, 14 reimpressio: margo de 2009 EDITORA EXPRESSAO POPULAR 10, 197 - Bela Vista 10 — So Paulo-SP. 3112-0941 ou 3105-9500 \das@expressaopopular.com.br sexpressaopopular.com-br SUMARIO APRESENTAGAO.crseene iad dtesudtrrnnented INTRODUGAO were CAPITULO I ~ A MERCADORIA one eseer cnbkeolecirioci 31 ica da anslise da mereadovia...an 81 ©) A moeda ow as espécies. O sinal de val ©) dinheiro universal 4— Os metais preciosos. C —~Teoria sobre os m lagéo e sobre o dinh INTRODUGAO A CONTRIBUICAO | A CRITICA DA ECONOMIA POLITICA” 1. A produgao em geral Nosso tema é, em primeiro lugar egundaedigdo ala aparecida em 1907 lugio que Marx faz alusio no seu prefécio, ‘obra, Karl Kauesky diz a respeito da parte Em seu preficio A segunda que Mar pretendess su a introdusio; nio obstante Marx e Engels cerem depois disso exposto detalhadamente ¢ consid sa fsa bem como aun concep da hse do modo de producto dda forma mai Sao robinsonadas que nao expressam, de nenhum modo, como se afigura aos historiadores da civilizaco, uma simples reagéo contra um refinamento excessivo ¢ o retgrno-a.uma vida ja primitiva mal compreendida, Do mesmo mod ld¢Rousseai que relaciona e liga individuos independentes por naturéza;tam= pouco repousa sobre semelhante naturalismo, Essa é a aparéncia, ¢ a aparéncia estética somente, das pequenas e grandes robinso- nadas. Essas antecipam, ao contrario, a “sociedade burguesa” que se preparava desde d,século 16,e que no século 18 marchava a passos de gigante para sua maturidade, Nessa sociedade de livre concorréncia, 0 individuo aparece como que desprendido dos lagos da natureza, que em épocas anteriores da histéria fazem dele uma parte integrante de um conglomerado humano determinado, delimitado. Para os profetas do século 18, que levam nos ombros Smith’€ Ricardo, esse individuo do século 18 — de um lado, pro- duto da dissolugao das formas das sociedades feudais; doutto lado, resultado das forcas produtivas novamente desenvolyidas a partir do século 16 — aparece como um ideal cuja existéncia pertence a0 O contrato social passado. Nao como um resultado histérico, mas como um ponto de partida da histéria. Como esse individuo parecia conforme a natureza ¢ [respon- dia} & sua concepgéo da natureza humana, [nao se apresentava] como produto histérico, mas como resultado da natureza. Toda época nova compartilhou até agora dessa ilusao. Steuart, que se coloca, por causa da sua qualidade de aristocrata, em certos extre- mos ¢ em oposicao ao século 18, sobre um terreno mais histérico, escapou a essa simplificac4o. Quanto mais remontamos na histéria, melhor aparece o individuo, é, portanto, também o individuo pro- rte de um todo mais amplo; de uma forma ainda muito natural, de uma wmilia desenvolvida; depois, de em primeiro lugar, familia e de uma tribo, que é a fai 1 “As palavras entre colchetes foram acrescentadas por Kautsly. N."T 238 Kann Ma uma comunidade sob suas diferentes formas, resultado do antago nismo eda Risto da 7 E'somenie ao chegar ao século 18 € na_ n simples meio para seus 0 do individuo isolado, prodiuz esse ponto de vista, aque alcangaram o mais alto grau de desenvolvimento, © homem, no sentido m: é um zoon politikon (ani- sas mal politico — grego — N.E|], nao somente um animal socivel, Oye” mas também um animal que néo se pode isolar senao dentro da We sociedad, A producia par individuos isoladas, fora da sociedade eo — faco rato que pode ocorrer muito bem quando um civilizado, gah84% G4e possul dinamicamente em si mesmo as forgas da sociedade, se extravia acidentalmente num meio selvagem— é algo tao insensato como o desenvolvimento da linguagem na auséncia dos individuos — que vivem e falam juntos, intitil deter-se mais tempo sobie isso, — Nem sequer seria necessdrio tocar nesse ponto, se essa insipidez, que teve um sentido € uma razdo nos omens do século 18, nao fosse seriamente reintroduzida em plena Economia Politica por Batiae€Carcy, Proudhon)etc. Para Proudhon e alguns outros pa- rece naturalmente agraddvel recorrer 4 mitologia, com o pretexto de dar explicagoes histérico-filoséficas de uma relagdo econdmica cuja génese histérica ignoram, Foi Adio ou Prometeu que teve repentinamente a ideia, e entéo foi introduzida etc. Nada mais fastidioso que 0 locus communis {lugar-comum ~ latim ~ N.E.], que se torna fantasia. Quando se trata, pois, de producso, tata-se da producio em um _grau determinado.do desenvolvimento social, da produgao de individuos sociais. Por isso, poderia parecer que, ao falar d produsao, seria preciso ou seguir o processo de desenvolvimento em suas diferentes ses, ou declarar desde o primeiro mome: que se trata de uma determinada época hist6rica, da produgao burguesa moderna, por exemplo, que na realidade é 0 nosso proprio tema, Todavia, todas as épocas da produgao possuem certos tragos caracteristicos em comum, detétiiinagées comuns, x 4 K produgao em geral @uma abstragio, mas uma abstraco razod- vel, pelo fato de que pée realmente em relevo e fixa o carter comum, poupando-nos, portanto, as repeticdes. Esse cardter ‘lemento comu comparagao, esté organizad6 dew complexa ¢ diverge _geral, entretanto, ou esse elemento comum, discriminado pela (A a em diversas determinagées. Alguns desses elementos pertencem a todas as época: outros sto comuns a algumas delas. Certas 1 rach mais ane minagdes serao comuns & época mais tigay Sent elas nao se podria conceber nenhuma producio, pois s€0s idiomas mais perfeitos tém Icis ¢ caracteres determinados gue séo comuns aos menos desenvolvidos, 0 que constitui seu gomuns. As determinagaes que v devem ser precisamente separadas, a fim de que nao se perca d jsta a diferenga essencial por causa da unidade, a qual decorte jé do faro de que sujeito ~ a humanidade ~ ¢ 0 objeto ~ a nature za — so os mesmo! i Nese esquecimento reside toda a sabedoria ade ¢ a dos modernes econo! tas, que demonst ma eternil harmonia das condigbes sociais existentesi que expoem, por exem plo, que nenhuma producao € possivel sem um instrumento de produgao, embora ésse instrumento nao fosse seno a mao; sem trabalho passado, acumulado, embora esse trabalho fosse somente a destreza que 0 exercicio repetido desenvolvera ¢ concentrara na mio da selvagem. O capital, entre outras coisas(©jambém um instrumento de trabalho, é trabalho passado, objetivado. Logo, © capital é uma relagao natural, geral, pois separa precisamente © que € espectfico ¢ o que do “instrumento de producao”, do “trabalho acumulado”, se torna capital. Assim, toda a histéria das relagdes de producao de Carey, por exemplo, surge como uma falsificagéo feita por instigacio malévola dos governos, 200 yw Wed gv Soi ee Kane M Se nio existe produgéo em geral, tampouco hé produgio geral. A produgio é sempre um ramo particular da produgio, ow entao €uma totalidade; por exemplo, a agricultura, a criagao do gad, £, a manufatura etc. Mas a Economia Politica nao ¢ tecnologia. A relagéo das determinagbes gerais da produgio, em um grau social dado, com as formas particulares de produgao, deve desenvolver- se em outro lugar. Finalmente, a producao tampouco é somente particular, sempre, a0 contrério, um corpo social dado, um sujeito social, que cexerce sua atividade em am agregado mais ou menos considerdvel dle ramos da produgao, Ngo ¢ este o lugar adequado para examinar arelacao que existe entre a representacao cientifica ¢ o movimento real. [Temos, pois, que Tistinguir] entre a producio em geral, os mos de producao particulares ¢ a totalidade da produgao. Esta moda entre os economistas comegar por uma parte geral, que é precisamente a que figura sob o titulo de Produgéo (veja-se, por exemplo, J. Stuart Mill), e que trata das condigées gerais de toda produgao. Essa parte expde ou deve expor: 1° — As condigées sem as quais nao é posstvel a produgao, 0 que em realidade se reduz somente & indicagio dos momentos mais essenciais de toda produgao. Lir a-se, com efeito, como veremos, a certo niimero de singelas determinagbes que se diluem em vulgares tautologias. 2°— As condigoes que dio maior ou menor intensidade & pro- dugio, como, por exemplo, os desenvolvimentos de Adam Smith sobre o estado progressivo ou estagnado da sociedade. Para dar a isso um cardter cientifico, que nele tem seu valor como célculo, tetia que fazer um estudo sobre os graus da pro- dutividade em diferentes periodos, no desenvolvimento de certos povos, estudo que excederia os limites préprios de nosso tema, mas que, na medida em que se torna indispensével, deveré ser feito quando se desenyolverem a concorréncia, a acumulacio ete, 2a ém maior proporgio. Efetivamente, um povo se enco! apogeu industrial enquanto 0 pal para ele nao scja o ganho, mas 0 processo de ganhar. Nesse sentido, os ianques superam os iingleses. Mas nao é absolutamente isso que preocupa, de fato, os economistas nessa parte geral. Trata-se, antes, de representar a Produsio ~ veja-se Mill, por exemplo ~ diferentemente da di buigdo, como regida por leis natu a vista, que por diversificada que possa estar a distribuic40_ nos diferentes graus da sociedade, deve ser histéricas em leis humanas ger assalariado, por exemplo, recebem todos [um quantum] de ali- mentos gue lhes permite existirem como escravo, como servo, como operitio assalariado, Enquanto vivam, 0 conquistador do tributo, o funciondrio encarregado dos impostos, 0 propriecétio fundidtio da renda, tanto quanto o frade esmoler ¢ 0 levita dos 2 tar dai a uma forma deter- roptiedade, a propriedade privada, por exemplo, (0 que, ressup6e uma forma anta a nao-propriedade, como pi is a istoria nos mostra, a0 contrario, a propriedade comum ios, 0s cslavos, os antigos celtas etc., por exemplo), como 1a primitiva, forma que, todavia, desempenhou durante mui tempo um importante papel, sob 0 aspecto da propriedade comunal. A pergunta de que se a riqueza se desenvolve melhor sob essa forma de propriedade ou sob a outra nao seria feita adequadamente aqui: Dizer, porém, que nao se pode falar de producao, nem, portanto, de sociedade, onde nao exista propriedade, é uma tautologia. Uma apropriacéo qui nao se apropria em nada é uma coneradictio in subjecto {contradigao nos termos ~ latim — ~Salvaguarda da propriedade etc, Quando se reduzem es idades a seu contetido real, elas expressam mais do que sa- bem seus es, isto & que cada forma de producéo cria suas relagdes de direito, suas formas de governo prdprias, A grosseria ¢ \compreensio consistem precisamente em nao relacionat senao fortuitamente umas as outras, em ar, senao no dor reflexio, elementos qué se acham unidos organicamente. A nogio _~ que flutua no espitito dos economistas burgueses é que a policia é mais favordvel A prod: ito do mais forte, Esquecem unicamente que.0 dizeico do mais forte ¢ também um direito — queo dir la sob outras formas em_ Quando as condigées sociais que correspondem a n gra determinado da produgao se encontram em vias de formagio ou quando estao em vias de desaparecer, manifestam-se naturalmen- te perturbagées na produgéo, embora em graus distintos ¢ com efeitos diferentes. Em resumo: todos os graus de produgio possuem em com certas determinagées que o pensamento generaliza; mas as chama das condigées gerais de toda produgio nio sao outra coisa senéo esses momentos abstratos, os quais néo explicam nenhum grau ist6rico real da produgao. 2. A relagao geral da produgao com a distribuicao, a troca € 0 consumo Antes de aprofundar a andlise da produgao, € necessario consi- derar as diferentes rubricas que os economistas pcm a seu lado. A ideia que se apresenta por si mesma é esta: na produgio, os mem- bros da sociedade apropriam-se dos produtos da natureza para as necessidaeles humanas; a distribuigéo determina a proporao em que o individuo participa dessa produgao; a troca fornece-lhe os produtos particulares nos quais quer converter 0 quanti que lhe correspondera pela distribuicos finalmente, no consumo, os pro- dutos convertem-se em objetos de gozo, de apropriagio individual. A producio dé os objetos que correspondem as necessidad tribuigao, os reparte de acordo com as leis sociais; a troca reparte de novo 0 que jé esta distribuido segundo a necessidade individual; ¢, finalmente, no consumo, o produto desaparece do movimento social, convertendo-se diretamente em objeto ¢ servidor da necessidade individual e satisfazendo-a com o desfrute. A produgio aparece assim como 0 ponto inicial; 0 consumo, como ponto final; a distribuigao © a troca aparecem como © centro, que por isso mesmo é duiplice, jé que a distribuigdo é determinada como momento que emana da sociedade, ¢ a troca como momento que emana dos individuos. Na produgio, 0 sujeito abjetiva-se; no (consumo), 0 objeto subjetiva- 248 Kane Manx se; na distribuigio, sociedade, sob a forma de disposigses gerais decisivas, encartega-se da mediaco entre a produgio e o consumo; ha troca, essa mediagio realiza-se pelo individuo determinado for- tuitamente. A disttibuigéo devermina a proporgao em que correspondem 0s produtos ao individuo; a troca determina os produtos nos quais ividuo reclama a parte que a distribuigao Ihe atribui. Produgio, distribuicao, troca, consumo formam assim um. silogismo segundo as regras: produgao, a generalidade; distribuigao e roca, a particularidade; consumo, a individualidade que expressa a conclusio, Hé nele, sem divida, um encadeamento, mas é su- perficial. A produgao (segundo os economistas) é determinada por leis naturais gerais; a distribuigao, pela contingéncia social; pode, pois, influir mais ou menos favoravelmente sobre a produgao; 2 troca acha-se situada entre ambas como movimento social formal (2)," € 0 ato final do consumo, que é concebido, nao somente como objeto, mas também como fim, se encontra propriamente fora da economia, salvo quando reage sobre o ponto inicial e faz com que todo 0 processo recomece. Os adversérios dos economistas politicos ~ embora sejam entendidos ou profanos na matéria ~ que Ihes reprovam a deslo- cagio, de um modo barbaro, do que organicamente se encontra unido, ou se colocam no mesmo terreno que aqueles ou ficam mais abaixo ainda. Nao hé nada mais vulgar que a critica feita 40s economistas mesmo que cles encaram a produgéo de modo demasiado exclusivista, como um fim em si. A distribuicao teria mesma importancia. Essa reprovagao se baseia precisamente na concepsao econdmica de que a distribuicéo é uma esfera indepen- dente, auténoma, que existe ao lado da producao. Também [se lhes censura] ndo conceberem os diferentes momentos em sua unidade. * Os sinals de intertogagso foram utilizados por Kautsky para indicar as palavras euja decifiagio Ihe parecia duvide. 24s cont vigho Aon rourricn Como se essa dissociacéo nao tivesse pasado da realidade aos tra tados, mas ao contriio, de ter saido dos tratados para a realidade, © como se aqui se tratasse do vaivém dial: da percepgao das relacées reais. ico dos conceitos ¢ nao a) A produgao é também imediatamente consumo Um consumo duplo, subjetivo e objetivo. O individuo que a0 produzir desenvolve suas faculdades, as gasta também, as consome no préprio ato da produsao, exatamente como a reproducao natu- ral é uma espécie de consumo das forgas vitais, Em segundo lugar, produzir é consumir os meios de produgao que se tenham utilizado e que se desgastam, e parte dos quais (na calefacao, por exemplo), dissolvem-se de novo nos elementos do universo, Também se consome a matéria-prima, a qual no conserva a sua forma e cons. tituigéo naturais, € que por isso mesmo é consumida. O proprio ato de produgio é, pois, em todos os seus momentos, também um ato de consumo. A esse respeito, os economistas esto de acordo. A produgio, enquanto é imediatamente idéntic. consumo, 0 consumo, enquanto coincide imediatamente com a producio, eles o chamam consumo produtivo. Essa identidade de producio © consumo nos leva & proposigao de Spinoza: dererminatio est ne~ gatio {toda determinacéo & negagao — latim — N.E.]. Porém, essa determinagéo do consumo produtivo sé se estabelece para separar © consumo que é idéntico 4 produsio do consumo propriamente dito, que foi imaginado, ao contrario, como sua antitese destrutora. Consideremos, pois, o consumo propriamente dito. © consumo é também imediatamente produgio, do mesmo modo que na natureza o consumo dos elementos e das substin- clas quimicas produgao da planta. Parece bastante claro que na alimentagéo, por exemplo, que é uma forma de consumo, 0 homem produz o seu préprio corpo; mas isso é igualmente certo em qualquer outro género de consumo que, de um modo ou de outro, o homem produza. [Essa é] a produgio consumidora. So- 246 Kane Maus mento do produto da nda, odugio consumidora a unidade imediaca da produgao ¢ do mente da produ coincide a produgio com 0 consu- subsistir sua dualidade se objetos na se consumo ~ dif o proptiamente dita. mo € 6 consumo cos imediata A produgao poi 0; 0 cons: nediatamente, produgio. tamente © seu contrario. Ao mesmo tempo, opera-se dor entre ambos. A produ jovimento media- ) consum cujos . Mas 0 consumo ycura para os proc roduto recebe 6 via férrea sobre a qual nao se viaja e que, por conseguinte, nao se gasta, nao consome, nao é mais que uma via férrea dynamei [em potencial ~ gtego — N.E.], endo real. Sem producdo nao h4 consumo, mas sem consumo tampouco hé produgao. O consumo dé lugar A produgao de dupla maneira, Primeitamente, porque o produto a realmente , um vestido converte-se ado; u 1 tealidade uma verdadeira casa; por isso mesmo, 6 produ to, diversamente do simples objeto natural, nao se confirma como produto, ndo se torna produto, senao no consumo. Ao resolver produto, o consumo lhe dé seu acabamento, pois o produto € 0 [resultado] da produgao nao somente como atividade objetivada, mas também enquanto é objeto para 0 sujeito ativo. Em segundo lugar, o consumo produz a producio porque ctia a idade de uma nova producio, ou soja, 6 mével ide produto senio no coisiunios por exeny verdadeltamente em vestido quando é nao é na casa desabitada interno 287 mével da producao; cria também o objeto que, como fir acua na producéo de um modo determinante. Se ¢ evidence que a produgao fornece o objeto exterior do consumo, nao é menos claro que 0 consumo coloca 0 objeto da produgio idealmente, como imagem interior, como necessidade, como impulso, como fim Cria 0 objeto da produsao sob uma forma que é, ainda, subjet Sem necessidades nfo existe produsao. Mas 0 consumo reproduz a necessidade. Do lado da produgio pode-se dizer: 1° — que ela fornece ao consumo os materiais, 0 objeto. Um, consumo sem objeto nao é consumo. Assim, pois, a produgao al lugar ao consumo, nesse sentido. \ 2° — Mas nfo é somente o objeto que a produgao fornece ao consumo. Imprime-he seu caréter determinado, seu acabamento. Em primeiro lugas, o objeto nao é um objeto em geral, mas um objeto determinado, que foi consumido de uma certa maneira por mediagao, mais uma ver, da propria producéo. A fome ¢ fo: a fome que se satisfaz com carne cozida, que se come por meio de mas uma faca ou de um garfo, é uma fome muito distinta da que devora cane crua com ajuda das maos, unhas e dentes. A produgio nao produz, pois, unicamente 0 objeto do consumo, mas também o modo de consume, ou seja, produz objetiva e subjetivamente. A producao cria, pois, os consumidores, 3° — A produgio nao somente prové de materiais a necessidade; prové também de uma necessidade os materiais. Quando o consumo sai de sua rusticidade primitiva ~ ¢ o fato de atrasar sua saida dela seria em si mesmo o resultado de uma produgio fundida ainda na ptimitiva rusticidade—é solicitada pelo Sbjeto como causa cxcitado- ta. A necessidade do objeto que experimente 6 consumo foi criada pela percepgio do objeto. O objeto de arte, e analogamente qualquer outro produto, cr puiblico sensfvel & arte e apto para gozar da beleza. De modo que a producao nao somente produz um objeto que a p: P i para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto. A produsao engendra, portanto, o consumo: 1° —fornecendo- Ihe os materiais; 2° ~ deverminando seu modo de consumo; 3° ~ excitando no consumidor a necessidade dos produtos que a produgio estabeleceu como objeto. Produz, pois, 0 objeto do consumo, o instinto do consumo. O consumo (produz) também a disposicao do produtor, colocando-o como finalidade e solicitan- do sua necessidade. A identidade entre 0 consumo ¢ a produgio aparece, pois, de um modo triplo. \19— Identidade imediata: a produgao € consumo, o consumo € produgio. Produgao consumidora. Consumo produtivo. Os economistas chamam a ambos consumo produtivo, mas estabele- cem ainda uma diferenca: a primeira, figura como reprodugio; o segundo, surge como consumo produtivo. Todas as investigacées sobre a primeira se referem ao trabalho produtivo ou improdutivos sobte 0 segundo, ao consumo prod ivo ¢ néo-produtivo, 2°|- Ambos aparecem como meio ¢ existem por mediagao do outto, o que se exprime dizendo que sua interdependéneia & um movimento pelo qual se relacionam entre sie se apresentam como reciprocamente indispensdveis; mas permanccem, entretanto, externos entre A produgao cria os materiais para 0 consumo como objeto exteriors 0 consumo criaa necessidade como objeto interno, como finalidade da producao. Sem produgao nao ha consumo; sem consumo nao existe produgao; essa proposi¢io figura na economia sob numerosas formas, 3°— A produgo nao s6 é imediatamente consumo, nem o consumo imediatamente produgio; além disso, a produgéo nao é senao meio para o consumo e esse, fim para a produgio; isto é, cada um fornece ao outro 0 seu objeto: a producéo, o objeto exterior do consumo; 0 consumo, 0 objeto representado da producto. Cada um desses atos é no somente 0 outro, néo somente me- diador do outro, pois cada um, ao realizar-se, cria 0 outro, realiza- se no outro, O consumo, em primeiro lugar, nao realiza 0 ato de 309 Contwimureho A cxitica D produgio senio acabando 0 produto como produto, resolvendo-o, consumindo sua forma objetiva, independent; fazendo evolt adestreza, pela necessidade da repetigao, a sposigéo desenvolvida no primeiro ato da produgio; o consumo nao é, pois, unicamente 0 ato final gragas ao qual o produto se faz produto, mas também 0 ato pelo qual o produtor se faz produtor. Doutro lado, a producio dé lugar ao consumo porque cria o modo especial de consumo © 0 estimulo para o consumo, a prépria capacidade de consumo sob a forma de necessidade. Essa tiltima identidade mencionada no pardgrafo 3° é muito discutida pela economia a propésito da relacio da oferta e da procura, dos objetos e das necessidades, das necessidades criadas pela sociedade e das necessidades naturais. Dito isso, nadia mais simples para um hegeliano que considerar como idénticos a produgio e o consumo. E isso é 0 que tém feito, iiko somicnte homens de letras socialistas, mas também e: mistas politicos; Say, por exemplo, o faz. da seguinte forma: se se considera um povo ¢ até a humanidade in abstracto [em abstrato, subjetivamente — latim — N.E.], sua produgao € scu consumo, Storch demonstrara o erro de Say, notando que um povo nao pno- consome seu produto liquide, mas também cria meios de produ- ¢40, capital fixo etc. Além disso, considerar a sociedade como um unico individuo é consideré-la falsamente, especulativamente. Em um individuo, produzir e consumir aparecem como momentos de um ato. O importante nessa questo é fazer ressaltar que, s consideram a producio ¢ consumo como atividades de um s6 individuo ou de individuos isolados, surgem em todo caso como momentos de um processo no qual a produgao é 0 verdadeiro ponto de partida e, portanto, também o fator que predomina, O consumo como necessidade € um momento interno da atividade produtiva, mas essa tiltima é 0 ponto de partida da realizagao ©, se portanto, seu momento preponderante, 0 ato em que se resolve de novo todo o proceso. O individuo produz um objeto, ¢ ao consumir seu produto, retorna a si mesmo, mas como individuo 250 produtor ¢ que se reproduz.a si mesmo. Desse modo, 0 consumo aparece como um momento da produgio, Mas, na sociedade, a relagio de produtor e produto, assim que este se encontre acabado, é puramente exterior € 0 retorno do pro- depende das relagées deste com os outros indi- viduos, Nao se apodera dele imediatamente. Desse modo também a apropriagéo imediata do produto nao é sua finalidade quando produz dentro da sociedade. Entre 0 produtor ¢ os produtos se coloca a distribuicéo, a qual, por meio de leis sociais, determina sua parte no mundo dos produtos ¢ interpée-se, portanto, encre a produgao ¢ © consumo. Assim sendo, existe a distribuigao como esfera independente ao lado e fora da produgao? b) Produgio ¢ distribuigao © que nos deve surpreender em primeiro lugar quando sio considerados os tratados correntes de economia politica, é que neles todas as categorias séo estabelecidas de dupla maneira; na distribuicio, por exemple, figuram a renda fundidria, o salir ‘0 juro © lucro, enquanto que, na producao, a terra, o trabalho, © capital, aparecem como agentes da produgao. No que concer ne ao capital, é evidente que, desde 0 primeiro momento, ele é estabelecido de uma dupla maneira: 1° como agente de produ- 40; 2° como fonte de rendas; 0 juro e o lucro [aparece] como facores determinantes ¢ formas determinadas da distribuigao; como tais, figuram ainda na producao enquanto sio formas nas quais aumenta o capital, isto é enquanto sio momentos de sua prépria produgao. O juro €o lucre, como formas de distribuicao, supdem o capital como agente de producao. Sao também modo. de reprodugao do capital. Analogamente, o salario é 0 trabalho assalariado considerado sob outro aspecto; 0 carter determinado que o trabalho possui aqui, como agente de producio, aparece ali como atributo da 251 como salario, tal como ocorre com a escravidao. Finalmente a renda territorial, considerando assim a forma mais desenvolvida da distribuigéo, em que a propriedade territorial participa dos produtos, pressupde a grande propriedade rural (a grande cul propriamente falando), como agente de produgao; nem a ter como tampouco o salirio, é simplesmente o trabalho. Por isso, as relagdes ¢ modos de distribuicéo surgem somente como o reverso dos agentes de produgto. Um individuo que participe da produgao sob a forma de trabalho assalariado participa, sob a forma de salé- io, dos produtos, dos resultados da produgao. A organizagio da distribuigéo acha-se completamente determinada pela organizagio da produgio. A propria distribuigao é um produto da produgao, no somente no que concerne ao objeto, pois unicamente os resultados da produgio podem ser distribuides, como no que se refere a forma particular da distribuicio, a forma segundo a qual se participa da distribuicéo. E completamente ilusério colocar a terra na produgao e a renda territorial na distribuigao. Os economistas como Ricardo, aos quais se reprova terem em conta apenas a produgao, estabeleceram, pois, que a distribuicao constitui 0 objeto exclusivo da economia, porque concebiam instintivamente as formas de distribuicio como a expresséo mais categérica em que repousam os agentes de producao em uma sociedade deverminada. Relativamente ao individuo isolado, a distribuigao aparece naturalmente como uma lei social que condiciona sua situagio na produgao, em cujo interior ele produz, € precede, portanto, & produgio. Originariamente, o individuo nao possui capital, nem propriedade territorial. Desde que nasce, se acha constrangido 20 trabalho assalariado pela distribuigao social. Mas essa obrigacao é,) em si mesma, o resultado de que o capital, a propriedade territorial, | existem como agentes independentes de produgao. 252 Kant Manx Se consideramos sociedades intei a distribuigao parece ainda, de outro ponto de vista, que precede e determina a pro- dusiios de certo modo, como um fato pré-econdmico. Um povo vencedor reparte o pafs entre os conquistadores e impée assim uma repartigio e uma forma determinadas de propricdade terri- torial; determina, por conseguinte, a produgo, ou seja, converte os homens conquistados em escravos e faz a produgéo repousar, assim, sobre o trabalho de escravos. Ou entéo um povo, por meio de uma revolugao, divide a grande propriedade territorial ¢ dé um cardter novo & produgio através dessa nova distribuicéo. Ou entio a legislagao perpetua a propriedade territorial nas grandes familias, isto é, reparte o trabalho como um privilégio hereditdrio, fixando-o, dese modo, em castas. Em todos esses casos, ¢ todos eles so histéticos, a distribuigo nao parece ser determinada pela produgio, mas, ao contrério, a produgéo parece ser organizada e determinada pela distribuigao. Imaginada da maneira mais superficial, a distribuigao apresen- ta-se como distribuig4o dos produtos e como se estivesse muito afastada da produgao ¢ quase independente em relacéo ala. Porém, antes de ser distribuigéo de produtos é: 1° ~a distribuigao dos instrumentos de produgao; 2° — 0 que é uma nova determinacio da mesma relagdo ~ a distribuiggo dos membros da sociedade nos diferentes géneros de produgio (subordinagio dos individuos sob relagoes determinadas de produgao). A distribuisao dos produtos émanifestamente um resultado dessa distribuicio que se encontra inclufda no prdprio processo de produgao e determina a orga- nizagéo da produgéo, Considerar a produgao deixando de lado essa distribuicéo que encerra é, evidentemente, abstragio vazia, enquanto que, ao contrario, a distribuicdo dos produtos deriva porsi mesmo daquela distribuigo que originariamente constituia um momento da produgao. Ricardo proclamaa distribuicio e nfo a produgio como o verdadeiro tema da economia moderna, pre- cisamente porque se empenha em conceber a produgio moderna 253 Ao A enttica Da pMIA POLITICN em sua organizagio social determinada, e porque é 0 economista par excellence {por exceléncia ~ francés ~ N.E. da produgio. Aqui ressurge novamente 0 absurdo dos economistas que consideram a produgéo como uma verdade eterna, enquanto encerram a historia no dominio da distribui ‘A questéo de saber qual é a relagio dessa distribuicao com a produgao que determina ¢ evidentemente do dominio da prépr producao. Se se dissesse, entao, pelo menos — pois a produgio de- pende de certa distribuigio dos instramentos de produgio— que a distribuicao nesse sentido precede A produgao, é pressuposta por ela, poder-se-ia dizer que na realidade a produsao tem condigoes ¢ pressuposigées que constituem os seus momentos. Pode parecer, em principio, que essas tém uma origem espontanea, Pelo préprio. processo de produgéo, convertem-se de fatores espontaneos em fatores histéricos e se, em relagéo a um perfodo, aparecem como pressuposicio natural da produgao, em relagéo a outro, em troca, tornam-se um resultado histérico. No interior da produgio sio constantemente transformadas. O emprego do maquinismo, por exemplo, modifica a distribuicéo dos instrumentos de produgio tanto quanto dos produtos, ¢ até a grande propriedade territorial moderna é 0 resultado do comércio ¢ da indiistria modes como da aplicacao da tltima & agricultura. Todas as questées tratadas se reduzem, pois, em tiltimo termo, a0 extremo de saber de que maneira as condig6es histéricas gerais, afetam a produgao ¢ qual ¢a conexao entre produgio e movimento histérico, A questéo evidentemente pertence & discussio € A andlise da prdpria produgao. Contudo, na forma trivial em que acabam de ser expostas, podem ser resolvidas facilmente. Todas as conquistas compor- tam trés possibilidades. O povo conquistador submete 0 povo conquistado a seu préprio modo de produgio (os ingleses, por ‘exemple, na Irlanda no século 19 ¢ em parte na {ndia), ou entao deixa subsistir 0 antigo modo e contenta-se com um tributo (os 254 Kanu M curcos e 0s romanos, por exemplo); ou entao estabelece-se uma ago reciproca que produz algo novo, uma sintese (isso ocorreu em parte nas conquistas germAnicas). Em todos os casos, o modo de produgao, seja o do povo conquistador, seja o do povo conquista- procede da fusio de ambos, é decisivo para a nova disttibuigdo que se estabelece. Embora esta surja como uma cond prévia para o novo periodo de produgao, ela propria é um produto da producéo, néo somente da produgao histérica em geral, mas também da produgio histérica determinada. Os mongéis, em suas devastagées na Raissia, por exemplo, agiam de conformidade com sua producao, que nao exigia senao o pasto, para o qual as grandes exteasdes dos paises despovoados constituem uma condi¢ao capital. Os germanos barbaros, para os quais a agricultura praticada pelos servos cra a producio tradicional e que estavam acostumados & vida solitiria no campo, podiam, com muito maior facilidade, submeter as provincias romanas a essas condi¢6es, pois a concentragio da propriedade da terra, que nelas havia se operado, transformara jé por completo os antigos sistemas de agricultura. E uma nogio t na, que se tem visto em certos periodos unicamente de pilhagem. Mas, para poder saquear, € necessario que exista algo que saquear, 9 €, producio. E o proprio género de pilhagem é determinado pelo género da produgao. Nao se pode saquear uma stock jobbing nation {nacéo de especuladores de Bolsa ~ inglés ~ N. E.] da mesma maneira que uma nago de vaqueiros. Quando se rouba 0 escravo, rouba- diretamente o instrumen- to de produgao. Mas também € preciso que a produgio do pais para o qual tenha sido roubado se encontre organizada de maneira que admita o trabalho de escravos ous ainda (como na América odo de produ do Sul etc.), € necessdrio que se crie um corresponda & escravidao. ‘As leis podem perpetuar um instrumento de producao, a terra, por exemplo, em certas familias. Essas leis adquirem uma importancia cconémica unicamente onde a grande propriedade que orial se encontra em harmonia com a produgio social, como na Inglaterra. Na Franga, a pequena cultura praticava-se a despeito da grande propriedade; por isso, essa tiltima foi dilacerada pela revolugéo. Mas ¢ se as leis perpetuam o pareelamento? Apesar dessas leis, a propriedade concentra-se de novo. A influéncia das } leis para fixaras relagées de distribuicéo e, portanto, sua ago sobre | a producao, devem ser determinadas separadamence. ©) Troca € circulagio A propria circulacdo € apenas um momento determinado da| roca, ou, ainda, é troca considerada em sua totalidade, enquanto a troca é um momento mediador entre a produgao e a distribui- | ao que aquela determina, por um lado, ¢ 0 consumo, por outro; | entretanto, enquanto esse tiltimo aparece como um momento da | produgao, a troca é também claramente compreendida como um momento na produgio. Em primeiro lugar, parece claro que a troca de atividades ¢ capacidades que se efctua na prépria produgdo pertence-lhe di- retamente ca constitui essencialmente. Em segundo lugar, isso & certo em relagao troca de produtos, na medida em que € 0 instrumento que serve para fornecer 0 produto acabado, destina- do ao consumo imediato. Dentro desses limites, a prépria troca € um ato compreendido na produgao. Em terceiro lugar, a troca entre produtores-permutadores é, segundo sua organizagio, tio completamente determinada pela produgao que ela mesma é uma atividade produtiva. A troca aparece como independente ao lado da produgéo, ¢ indiferente em relacéo a ela, no tiltimo grau em que © produto é trocado, imediatamente, par o consumo. Mas, nfo existe troca sem divisio de uabalho, seja natural, ou seja como consequéncia histérica; segundo, a troca privada supée a producao privada; terceiro, a intensidade da troca, do mesmo modo que sua extensio e género sao determinados pelo desenvolvimento ¢ organizagio da produgao; por exemplo: a troca entre a cidade e 0 256 Kant M ‘campo, a troca no campo, na cidade etc. A troca parece, assim, em todos os seus momentos, ditetamente compreendida na produgio ou por ela determinada, O resultado a que chegamos nao é que a produsao, a distri- buicao, a troca, 0 consumo, séo idénticos, mas que todos eles sdo membros de uma totalidade, diferencas em uma unidade. A producio excede-se tanto asi mesma, na determinagao antitética da produsao, que ultrapassa os demais momentos. O proceso comega sempre de novo a partir dela. Compreende-se que a troca € 0 consumo nao possam ser o elemento predominante, O mesmo acontece com a distribuigio como distribuicao dos produtos. Porém, como distribuigéo dos agentes de produséo, constitui um momento da produgao, Uma [forma] determinada da producao determina, pois, [formas] determinadas do consu- mo, da distribuicdo, da troca, assim como relagées reciprocas determinadas desses diferentes fatores. A produgao, sem divi- da, em sua forma unilateral, é também determinada por outros momentos; por exemplo, quando © mercado, isto 6, a esfera das trocas, se estende, a produgao ganha em extensao ¢ mais profundamente, ivide-se Se a distribuicao sofre uma modificagéo, também varia a pro- duo; por exemplo, com a concentracao do capital, com uma distribuigao diferente da populagéo na cidade no campo etc. Enfim, a necessidade de consumo determina a produgao, Uma agdo reciproca ocorre entre os diferentes momentos. Esse é 0 caso para cada todo organico. 3. O método da Economia Politica Quando estudamos um pafs determinado do ponto de vista da Economia Politica, comecamos por sua populacio, a divisio desea em classes, seu estabelecimento nas cidades, nos campos, na orla maritima; os diferentes ramos da producéo, a exportacéo ea importacio, a produsao ¢ o consumo anuais, os presos das mer- 231 cadorias etc. Parece mais correto comesar pelo que hd de conereto e real nos dados; assim, pois, na economia, pela populagio, que é a base e sujeito de todo o ato social da produgéo, Todavia, bem analisado, esse método seria falso. ‘A populacio é io se deixo de lado as classes que a compéem. Essas classes so, por sua vez, uma palavra sem sentido se ignoro os clementos sobre os quais repousam, por exemplo: 0 trabalho assalatiado, o capital etc. Esses supéem a troca, a divisto do trabalho, os pregos etc. O capital, por exemplo, nao é nada sem trabalho assalariado, sem valor, dinheiro, pregos etc. Se comesasse, portanto, pela populacio, elaboraria uma representagao castica do todo e, por meio de uma determinagéo mais estrita, chegatia analiticamente, cada vez mais, a conceitos mais simples; do con- creto representado chegaria a abstrac6es cada vez mais ténues, até alcangar as determinagdes mais simples. Chegado a esse ponco, teria que voltar a fazer a viagem de modo inverso, até dar de novo com a populagio, mas dessa vez nfo como uma representagio cabtica de um todo, porém como uma rica totalidade de determinagées ¢ relagées diversas, O primeizo constitui o caminho que foi histori- camente seguido pela nascente Economia Politica, Os economistas do século 17, por exemplo, comegam sempre pelo todo vivo: a populacio, a nagio, o Estado, varios Estados ete.; mas, terminam, sempre por descobrir por meio da andlise certo naimero de relagdes getais abstratas que sio determinantes, tais como a divisio do trabalho, 0 dinheiro, o valor etc. Esses elementos isolados, uma vez que sio mais ou menos fixados ¢ abstraidos, dao origem aos sistemas econdmicos, que se elevam do simples, tal como trabalho, divisto do trabalho, necessidade, valor de troca, até o Estado, a troca entre as nagées e o mercado universal. © iiltimo método é manifestamente 0 método cientificamente exato. O concreto é con- creto, porque éa sintese de muitas determinagées, isto é, unidade do diverso. Por isso, o concreto aparece no pensamento como 0 processo da sintese, como resultado, nao como ponto de partida, 258 embora seja 0 verdadciro ponto de partida e, portanto, o ponto de partida também da intuigo e da repres acto. No primeiro mé- todo, a representagio plena volatiliza-se na determinacao abstrata; no segundo, as determinagées abstratas conduzem & reprodugao do concreto por meio do pensamento. Assim é que Hegel chegou a luséo de conceber o real como resultado do pensamento que sé absorve em si, procede de si, move-se por si que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto nao ¢ senao a maneira de proceder do pensamento para se apropriar do concreto, para reproduzi-lo mentalmente como coisa concreta. Porém, isso nao é, de nenhum modo, 0 processo da génese do préprio concreto nquanto o método A mais simples categoria cconémica, suponhamos, por exemplo, 0 valor de troca, pressupée a populagao, uma populacéo que produz em detcrminadas condigées também certo tipo de familias, de * comunidades ou Estados. Tal valor nunca poderia existir de outro modo senao como relacao unilateral-abstrata de um todo concreto ¢ vivo jé determinado. Como categoria, a0 contrario, 0 valor de troca leva consigo uma existéncia antediluviana. Para a consciéncia — e a consciéncia filoséfica é determinada de tal modo que para ela o pensamento que concebe é 0 homem real, eo mundo concebido é, como tal, o tinico mundo real — para a consciéncia, pois, o movimento das categorias aparece como 0 verdadeiro ato de produgao — que apenas recebe um impulso do exterior — cujo resultado é 0 mundo, ¢ isso é exato porque (aqui temos de novo uma tautologia) a totalidade concreta, como tota- lidade de pensamento, como uma concregao de pensamento, é, na realidade, um produto do pensar, do conceber; nao é de nenhum, modo 0 produto do conceito que se engendra a si mesmo e que concebe separadamente ¢ acima da intuigao ¢ da representacao, mas é claboragéo da intuicao e da representag4o em conceitos. O todo, tal como aparece no cérebro, como um todo mental, é um produto do cérebro pensante, que se apropria do mundo da Ginica maneira em que o pode fazer, mancira que difere do modo 259, permanece em pé antes depois, em sua independéncia e fora do cérebro ao mesmo tempo, isto &, o cérebro nao se comporta senio especulativamente, teoricamente. No método também tebrico [da Economia Politica} objeto — a sociedade ~ deve, pois, achar-se sempre presente ao espirito, como pressuposicao. Porém, essas categorias simples nao rém também uma existén- cia independente, histérica ou natural, anterior As categorias mais coneretas? Gia depend (depende ~ francés ~ N.E.] Hegel, por exemplo, comeca corretamente sia Rechesphilosophie [Filosofia do Direito— NE.) pela posse, como a mais simples relagio uridica do sujeito. Todayia, no existe posse anterior & familia e as relag6es entre senhores € escravos, que sao relagdes muito mais concretas ai ‘Como compensagio, seria justo dizer que existem familias, cribos, que se limitam a possuis, mas nao tém propriedade. ia mais simples aparece, pois, como relagéo de comunidades bos com a propriedade. Na sociedade prin aparece como a relacio mais simples de um organismo desenvolvido, mas subentende-se sempre © substrato mais concreto, cuja relagio 6a posse. Pode-se imaginar um selvagem isolado que posta coisas, ‘mas nesse caso a posse nao é uma relacéo juridica. Nao é exato que a posse evolua historicamente até a familia. A posse sempre pressupée essa “categoria juridica mais concreta’. Entretanto, restaria sempre o seguinte: as categorias simples sio a expresso de relagées nas quais o concreto menos desenvolvido tem podido se realizar sem haver estabelecido ainda a relagio mais complexa, que se acha expressa mentalmente na categoria conereta, enquanto 0 concreto mais desenvolvido conserva a mésma categoria como uma relacio subordinada. O dinheiro pode existir, ¢ existiu historicamente, antes que existisse 0 cap antes que existissem os bancos, antes que existisse © wabalho assalariado. Desse ponto de vista, pode-se dizer que a categoria simples pode exprimir relagGes dominantes de um todo 200 pouco desenvolvido ainda, relagdes que ja existiam antes que 0 todo tivesse se des wolvido na diregao que é expressa em uma categoria mais completa. Nesse sentido, as leis do pensamento abstrato que se eleva do mais simples ao complexo correspondem, a0 proceso histérico real. Doutro lado, pode-se dizer que ha formas de sociedade muito desenvolvidas, embora historicamente nao tenham atingido ainda sua maturidade, nas quais se encontram as formas mais clevadas da , tais como a cooperagio, uma divisio do trabalho desen- volvida, sem que exista nelas 0 dinheiro; o Peru, por exemplo. econon ‘Também nas comunidades eslavas, 0 dinheiro € a troca que © condi jona desempenham um papel insignificante ou nulo, mas aparecem em suas fronteiras, nas suas relagées com as outras comunidades. Além disso, é um erro situar a troca no interior das comunidades como elemento que as constitui originariamente. Em principio, surge antes nas relagdes rec{procas entre as distintas comunidades do que nas relagées entre os membros de uma mesma ¢ tinica comunidade. ‘Além disso, embora o dinheiro tenha desempenhado oportuna- mente, ¢ por toda parte, desde os antigos, um papel como elemento dominante, nao aparece na Antiguidade senso em nagées desenvolvi- das unilateralmente em determinado sentido, e ainda na Antiguidade ais culta, entre os gregos € os romanos, nao atinge seu completo desenvolvimento, supondo completo o da moderna sociedade bur- guesa, sendo no periodo de dissolugio. Essa simplissima categoria aleanga historicamente, porcanto, seu ponto culminante somente nas condig6es mais desenvolvidas da sociedade. E 0 dinheiro nao entrava de nenhum modo em todas as relagées econdmicas; assim, no Império Romano, na época de seu perfeito desenvolvimento, permaneceram como fundamentais 0 imposto e 0 empréstimo em frutos naturais. O sistema do dinheiro, propriamente falando, encontrava-se ali completamente desenvolvido unicamente no exér cito, ¢ nao tinha participagao na totalidade do trabalho. De modo que, embora a categoria mais simples tenh: existir historicamente antes que a mais concreta, nao pode precisa- mente pertencer em seu pleno desenvolvi nto, interno € externo, nto que a categoria mente desenvolvida em uma forma sendo a formagées sociais complexas, enq mais concreta se achava ple de sociedade menos avangada © trabalho & uma categoria inteiramente simples. E também a concepgdo do trabalho nesse sentido geral—como trabalho em geral —€ muito antiga. Entretanto, concebido economicamente sob essa_) plicidade, 0 trabalho é uma categoria tao moderna como o sio as condicées que engendram essa abstragao. Por exemplo, o sistema monetirio coloca a riqueza sem excegao, de modo objetivo ainda no dinheiro, como algo externo. Desse ponto de vista, houve um grande progresso quando o sistema manufatureiro ou comercial colocou 0 mainaiiéial da riqueza nao no objeto, mas na atividade subjetiva—o trabalho comercial e manufatureiro. Contudo, concebia-a ainda no sentido restrito de uma atividade produtora de dinheiro, Em relagio a esse sistema, o dos fisiocratas (uum novo progresso) é assim: esta- belece uma forma determinada de trabalho — a agricultura — como. criadora de riqueza, ¢ 0 préprio objeto nao aparece jé sob o disfarce do dinheiro, mas como produto em geral, como resultado geral do trabalho. Mas esse produto, de acordo com as limitacées da ativida- de, é sempre um produto da natureza, um produto da agricultura, um produto da terra par excellence (por exceléncia]. Progrediu-se imensamente quando Adam Smith repeliu todo caréter determinado da atividade que cria a riqueza, quando [estabeleceu] 0 trabalho simplesmente; nao o trabalho manufatureiro, néo o comercial, nao © agricola, mas tanto uns quanto os outros. Com a generalidade abstrara da atividade que cria a riqueza, temos agora a generalidade do objeto determinado como riqueza, o produto em geral ou, uma ‘vex mais, o trabalho em geral, mas como trabalho passado, realiza- do, A dificuldade e importincia dessa transigao prova-o 0 fato de que 0 préprio Adam Smith torna a cair de quando em quando no 262. sistema fisiocrético. Poderia parecer agora que dese modo se teria encontrado unicamente a expresso abstrata da relagao mais simples e mais antiga em que entram os homens — em qualquer forma de ro em um sentido. sso & sociedade ~ enquanto sao produtores. M: > em outro, A indiferenga em telagio a um género determinado de trabalho pressupde uma totalidade muito desenvolvida de géneros de tra- balhos reais, nenhum dos quais domina os demais. Tampouco se produzem as abstragbes mais gerais senao onde existe o desenvolvi- mento co eto mais rico, onde uma coisa aparece como comum a muitos individuos, comum a todos. Entéo ja nao pode ser imaginada somente sob uma forma particular. Doutro lado, essa abstracio do trabalho em geral nao é mais que o resultado de uma totalidade con- creta de trabalhos. A indiferenca em relagao ao trabalho determinado corresponde a uma forma de sociedade na qual os individuos podem passar com facilidade de um trabalho a outro e na qual o géncto determinado de trabalho ¢ fortuito, ¢, portanto, lhes é indiference. Nesse caso, o trabalhio se tem convertido, nao sé categoricamente, mas também realmente em um meio de produzir riqueza em ge- deixando de se confundir com 0 individuo como um objetivo especial. Esse estado de coisas é 0 mais desenvolvido na forma de existéncia mais moderna da sociedade burguesa — nos Estados unidos. Assim, pois, nesse caso, a abstragio da categoria “trabalho”, “trabalho em geral”, trabalho sans phrase [sem rodeios ~ francés —N E.], ponto de partida da economia moderna, torna-se, pela primeira vez, praticamente certa, De modo que a abstragao mais simples, que coloca em primeiro lugar a economia moderna € que expressa uma relagéo antiga ¢ valida para todas as formas de sociedade, néo aparece, entretanto, como praticamente certa nessa abstragao senao como categoria da mais moderna sociedade. Poder-se-ia dizer que fido 6 que surge nos Estados Unidos como um produto histstico ocorte entre os russos, por exemplo — trata-se dessa indiferenga em relag4o 20 trabalho determinado — como uma disposicéo natural. 2a aptos para serem empregados em qualquer coisa e civilizados que se dedicam eles préprios a tudo. E, além disso, praticamente, a essa indiferenga em relagéo ao trabalho determinado corresponde, nos russos, 0 fato de que se ¢ um trabalho bem determinado, clo qual s6 as influenc podem arrancé-los Esse exemplo mostra de uma maneita cl rias mais abstratas, apesar de sua vali de sua navureza abstra quehé de deter io, lo mesmo modo 0 produto de condigées histéricas, e nao possuem plena validez sendo para esas condigées ¢ dentro dos limites dessas mesmas condig6es. A sociedade burguesa é a organizacao histérica da produsao inais desenvolvida, mais diferenciada. As categorias que exprimem suas condigées, a compreensio de sua prépria organizacao a tornam cat a organizagao e as relagbes de produgio de todas a. como até as cat go~ le~ precisamente por causa — para tor inado nessa abstt as épocas, so, contudo, no reendida sentio quanto se conhece fuera fo nee a chave i economia antiga etc. Porém, néo que fazem desaparecer todas us diferengas historicas ¢ veem a forma burguesa em m todas as formas A econo- antag6nica do desenvolvimento, certas relacoes pertencentes a formas anteriores nela s6 poderao ser novamente - encontradas completamente esmaecidas, ou mesmo disfarcadas; 264 Kane Man por exemplo, a propriedade comunal. Se certo, portanto, que as categorias da economia burguesa ocorrem em todas as demais formas de sociedade nao se deve tomar isso senao cure grano salis m uma pedrinha de sal ~ latim —_N.E.]. Podem ser contidas, , esmaecidas, caricaturadas, mas sempre essencial- . A chamada evolugao histérica descansa em geral no fato de que a tiltima forma considera as formas ultrapassadas como graus que conduzem a ela, sendo capaz de criticara si mesma alguma vez, ¢ somente em condigdes muito determinadas — aqui nio se trata, € 6bvio, desses periodos histéricos que se descobrem. a si préprios — inclusive como tempos de decadéncia. A religiso crist ndo péde ajudar a tornar compreensivel, de uma maneira objetiva, as mitologias anteriores sendo quando sua critica de si reemoty mente distinta mesma esteve, até certo ponto, dynamei [em potencial ~ grego —N.E]}, isto 6, acabada, Desse modo, a economia burguesa sé chegou a compreender a sociedade feudal, antiga, oriental, quando a sociedade burguesa comecou a criticar a si mesma, Precisamente porque a economia burguesa nao prestou atengio 4 mitologia e no se identificou simplesmente com o pasado, sua critica da [so- ciedade] anterior, especialmente da feudal, com a qual ainda tinha que lutar diretamente, se assemelhou & erftica que o cristianismo fez. do paganismo, ou o protestantismo do catolicismo. Quando se estuda a marcha das categorias econémicas e em geral qualquer ciéncia social histérica, sempre convém recordar que 0 sujeito —a sociedade burguesa moderna, nesse caso —se encontra decerminado na mentalidade tanto quanto na realidade, e que as categorias, portanto, exprimem formas de vida, dererminagées de existéncia, e amitide somente aspectos isolados dessa sociedade deverminada, desse sujeito, e que, por isso, a [Economia Political no aparece também como ciéncia senfo unicamente a partir do. momento em que trata dela como tal. Deve-se recordar esse fato, porque dé imediatamente uma dire¢io decisiva para a diviséo que se precisa fazer. 28 Parece muito natural, por exemplo, que se comece pela renda territorial, a propriedade rural, porque se encontra ligada & terra, fonte de toda produgio e vida, e A agricultura, primeira forma de produgio em todas as sociedades, por pouco solidificadas que mais falso do que isso. Em todas as formas de sociedade se encontra uma produgéo determinada, su- perior a todas as demais, e cuja situagio aponta sua posigo e sua influéncia sobre as outras. se achem. E, contudo, ni £ uma iluminagao universal em que atuam todas as cores, € as quais modifica em sua par ularidade. E um éter especial, que determina © peso especifico de todas as coisas As quais poe em relevo. Consideremos, por exemplo, os povos pastores (os simples povos cagadores ou pescadores nao chegaram ao ponto em que comega o verdadeiro desenvolvimento). Neles existe certa forma espordilica’de agricultura. A’propriedade rural encontra-se deter minada por ela. Essa propriedade é comum, ¢ conserva mais ou menos essa forma, conforme aqueles povos se aferrem mais ou menos As suas tradigdes; por exemplo, a propriedade rural entre 08 eslavos. Onde predomina a agricultura, praticada por povos estabelecidos ~ e esse estabelecimento j4 consticui um grande Progresso — como na sociedade antiga e feudal, a indiistria, com sua organizagao e as formas de propriedade que lhe correspon- dem, mantém também maiores ou menores tracos caracteristicos da propriedade rural; a [sociedade] ou depende inteiramente da agricultura, como entre os antigos romanos, ou imita, como na Idade Média, a organizagao do campo nas relacées da cidade. O proprio capital — enquanto ndo seja simples capital dinheiro ~ possui na Idade Média, como utensilio tradicional dos artesios, esse carater de propriedade rural. Na sociedade burguesa acontece o contrério. A agricultura transforma-se mais e mais em simples ramo da indtistria e é dominada completamente pelo capital. A mesma coisa ocorre 266 Kaee Ma com a renda territorial. Em todas as formas em que domina a propriedade rural, a relacéo com a natureza é preponderante. Naquelas em que reina o capital, 0 que prevalece é 0 elemento amente. Nao se compreende a ren social produzido histo al; entretanto, compreende-se o capital econdmica da socieda- sem arenda i de burgue € 0 ponco final ¢ set desenvolvido antes da propriedade rural Depi © outro, deve-se al, O capital éa poténc que domina tudo. Deve constituir 9 ponto inicial s de ter considerado separadamente u npraticavel e et lar sua relagao reciproca. Seria, pois, colocar as categorias econdmicas na ordem segundo a qual tive- amente uma ago determinante. A ordem em que ram hist se sucedem se acha determinada, ao contrario, pela relacao que tém umas com as outras na sociedade burguesa moderna, € que 10 do que parece ser uma relagao natural é precisamente o iny ssponde & série da evolucao histérica. Nao se trata ou do que co do lugar que as relagées econdmicas ocupem historicamente na sucessio das diferentes formas da sociedade. Menos ainda de sua série “na ideia” (Proudhon), que nao passa de uma representagio falaciosa do movimento histérico. Trata-se de sua conexio orga nica no interior da sociedade burguesa moderna. ‘A nitidex. (cardter determinado abstrato) com que os povos comerciantes — fenicios, cartagineses ~ apareceram no mundo antigo provém, precisamente, da prépria supremacia dos povos agricultores. O capital, como capital comercial ow capital dinheiro, aparece nessa abstracio justamente onde o capital nao é ainda um elemento preponderante das sociedades. Os lombardos, os judeus, ocupam a mesma posicao em relacio as sociedades medievais que praticam a agricultura, Ainda pode servir de exemplo do papel distinto que as mes- mas categorias desempenham em diferentes graus da sociedade fo seguinte: as sociedades por agGes, uma das diltimas formas da sociedade burguesa, aparecem também em seus comegos, nas 267 grandes npanh comerciais privilegiadas, d s dos monopilios. O conceito da riqueza nacional em si insinu se no espirito dos economistas do século 17 sob a forma — e essa representacao persist em parte nos do século 18 — de que a riqueza nao se cria sendo para o Estado, e que a poténcia do Estado € proporcional a essa riqueza, Também essa era uma forma inconscientemente péctita sob a qual a riqueza e a produgao da mesma se expressavam como finalidade dos Estados modernos, ¢ ndo se Ihes considerava sendo como meios para chegar a esse A divisio deve, do comego, ser feita de maneira que [se de-—\ senvolvam] Je —as determinagdes gerais abstratas, que pertencem mais ‘ou menos a todas as formas de sociedade, mas no sentido exposto anteriormente: 2° "as categorias que constituem a organizacao interior da sociedade burguesa, sobre as quais repousam as classes fundamen- tais. Capital. Trabalho assalariado, propriedade rural. Suas relagées reciprocas. Cidade e campo. As trés grandes classes sociais)A troca entre estas, circulacio. Crédito (privado); 3° —a sociedade burguesa compreendida sob a forma de Estado. O Estado em si. As classes improdutivas, Impostos. Di. vidas do Estado. O crédito pablico. A populacao. As coldni: Emigraga 4° ~ relagbes internacionais da producdo, Divisao internacional do trabalho. Tioca internacional. Exportagio ¢ Importagio. Curso do cambio; 5° —o mercado mundial ¢ as crises. 4, Produgio. Meios de producao ¢ relagdes de produsio. Relagoes de produgao € de distribuicio. Formas do Estado e da propriedade em sua relagio com a produsio ¢ a distribuicao. Relagdes juridicas. Relagdes familiares. Nota Bene~ relacao dos pontos que precisam ser mencionados aqui ¢ que nao cleyem ser esquecidos: 1. a guerra é desenvolvida antes que a paz. [Deveria expor] como, pela guerra € nos exércitos etc., certos fenémenos econd- micos, tais como o trabalho assalariado, 0 maquinismo etc., so desenvolvidos antes que no interior da sociedade burguesa. No Exército € especialmente visivel a relagio da forca produtiva e dos meigs de comunicacao; 2, elagéo do método idealista de escrever a histéria tal como se tém feito até agora, e 0 método realista. Particularmente a chamada historia da dos Estados. ‘Acssa altura, poder-se-4 dizer alguma coisa sobre as diferentes maneiras de se escrever a histéria até agora. O modo chamado objetivo. O subjetivo (moral é outros). O modo filoséficos 3, fatos secundétios ¢ tercidrios. Em geral relagbes de produséo, derivadas, transmitidas, nao originais. Aqui entram em jogo as relagGes internacionais; ilizagao, que é a histéria da religiao € 4, sobre o marerialismo dessa concepgao. Relagio com o ma- terialismo naturalistas 5, dialética dos conceitos, forga produtiva (meios de produgao) ¢ relagdes de producio, dialética, cujos limites se deve determinar € que nfo elimina a diferenga real; 6. a relacdo desigual entre o desenvolvimento da produgo material e a produgao antiga, por exemplo. Em geral, 0 pro- gresso nao deve ser concebido da maneira abstrata habitual. Em relacdo a arte, essa desproporgao nao é ainda téo importante nem tio dificil de apreender como nas relacées pratico-sociais; por exemplo, a relagao da cultura dos Estados Unidos com ada Europa. © ponto realmente dificil que precisa ser discutido é 0 de saber como evoluirio de uma maneira desigual as relagdes de produsao, na sua condigao de relagées juridicas, Assim, por exemplo, a relacao entre o direito privado romano (quanto ao 269 direito crimi! al ¢ pblico nao parece tio certo) e a produgio moderna; 7. essa concep¢ao aparece como a de uma evolugao necessiria. Mas justificacao do acaso. Vatia."** (A liberdade, ¢ também outras coisas). (Influéncia dos meios de comunicagio). Falando com propriedade, a histéria universal nem sempre aparece na histéria como resultado da histéria universal; 8. as determinagées naturais subjetivas e objetivas, tribos, racas etc. devem constituir, como & justo, o ponto de partida. Quanto & arte, ja se sabe que os perfodos de florescimento determinados nao estao, absolutamente, em relagéo com o desen- volvimento geral da sociedade, nem, portanto, com a base material, 0 esqueleto, de certo modo, de sua organizaso. Por exemplo, os gtegos, comparados com os modernos, ou ainda Shakespeare. Em relagdo a certos géneros de arte, a epopeia, por exemplo, admite- se que jamais podem produzir-se em sua forma classica, fazendo época no mundo, desde 0 momento em que a producéo artistica aparece como tal; isto é, no interior do dominio da prépria arte, algumas manifestag6es importantes nao séo posstveis sendo em um grau inferior da evolugao da arte. Se isso é certo, referindo-se A relagéo dos diferentes géncros de arte no interior do dominio da propria arte, nao se pode estranhar que também o seja a respeito da relagio do dominio todo da arte com o desenvolvimento ge- ral da sociedade. A dificuldade consiste somente na formulacao geral dessas contradigées. Assim que se especificam, explicam-se. Consideremos, por exemplo, a relacdo da arte grega e depois a de Shakespeare com os tempos atuais. A mitologia grega, como se sabe, nfio somente era o arsenal da arte grega, mas sua terra alimentadora também. A concepgao da natureza e das relacées sociais, que se acham no fundo da imaginagio grega, ¢ portanto da arte grega, é por acaso compativel com as méquinas automiticas, as estradas de Assim esti eserito no original. a2 ferro, as locomotivas ¢ 0 telégrafo elétrico? Que representa Vuleano a0 lado de Roberts & Cia., Jupiter dos pararraios ¢ Hermes do crédito mobilidrio? Toda a mitologia submete, domina e modela as forcas da natureza na imaginagio e para a imaginagao ¢ desa- parece, portanto, quando se chega a dominé-las realmente. Que representa a Fama em selagao a Printing House Square.'** A arte grega pressupée a mitologia grega, sociedade modelada ja de uma maneira inconscientemente artistica pela fantasia popular. Esses séo scus maceriais. Nao uma mitologia qualquer, nao qualquer transformagio inconscientemente artistica da natureza (compreendendo essa iiltima tudo que é objeto, logo, ‘0 é, a natureza ea propria também, a sociedade). A mitologia cgipcia jamais péde ceder 0 solo ou o seio materno para criar a arte grega. Mas, em todo caso, era necesséria uma mitologia. A arte grega nao podia surgit, em nenhum caso, em uma sociedade que exclui toda relagéo micolégica naginacao que nao se com a natureza, que exige do artista uma apoie na mitologia. De outro ponto de vista, € possivel a existéncia de Aquiles a0 aparecer a pélvora e 0 chumbo? A //fada intcita € compativel ‘com a maquina impressora? Nao desaparecem necessariamente os cantos, as lendas ¢ a musa diante da regreta do tipégrafo? Nao se desvanecem as condigées necessdrias da poesia épica? O dificil néo é compreender que a arte grega ¢ a epopeia se achem ligadas a certas formas do desenvolvimento social, mas que ainda possam propotcionar gozos estéticos ¢ sejam consideradas fem certos casos como norma e modelo inacessiveis. Um homem néo pode voltar a ser crianga sem retornar 3 infan- cia, Mas ndo se satisfaz com a ingenuidade da criangi e nao deve aspirar a reproduzit, em um nivel mais elevado, a sinceridade da crianca? No revive na natureza infantil o caréter proprio de cada época em sua verdade natural? Por que a infancia social da huma- nidade, no mais belo de seu flore: uma eterna atracao, como uma menines mal-educados € tigas pertencem a essa O encanto que encontramos em sua arte nao est em contradicao | vo da sociedade em que essa arte se desen- volveu. E, ao contrério, sua produgao; poder-se-ia dizer melhor que se acha indissoluvelmente ligada ao fato de que as condigées sociais imperfeitas em que nasceu € nas quais forgosamente que nascer nao poderiam retornar nunca mais. on COMENTARIOS SOBRE A CONTRIBUICAO A CRITICA DA ECONOMIA POLITICA, DE KARL MARX* E ENGELS. 1 Em todos os campos da ciéncia, os alemées tem demonstra- do h4 muito tempo que valem tanto — as vezes até mais — que o restante das nagbes civilizadas. Havia somente uma ciéncia que nao contava com o talento alemao: a Economia Politica. A razéo disso é facilmente conhecida. A Economia Politica é a an tedrica da moderna sociedade burguesa e pressupée, portanto, condigées burguesas desenvolvidas, condig6es que, apés as guerras da Reforma ¢ as guerras camponesas e, sobretudo, da guerra dos ‘Trinta Anos, ndo poderiam se estabelecer na Alemanha antes de “Traduzido por Geraldo Martins de Azevedo Filho de MARX, Catlos. Consribu critica de a Economia Politica. 1978, Alberto Corazén, Editor (Comuniescibn 22. Madvid-20. Espasa, pp. 259-269, choke varios anos. A separagéo da Holanda do Império Alemao afastou a Alemanha do comércio mundial ¢ reduziu, de antemédo, seu de senvolvimento industrial a proporgées despreziveis. E, enquanto os alemaes m, ardua e lentamente, dos estragos reconstitul causados pelas guerr: civis, enquanto gastavam todas as suas energias civicas, que nunca foram muitas, em uma lura estéril contra os entraves aduanciros ¢ as ineptas normas comerciais que cada principe em miniatura e cada baro do Reich impunha aos seus stiditos; enquanto as cidades imperiais definhavam entre 0 dinheiro mitido dos grémios de artesios € o patriarcado ~ a Ho- landa, a Inglaterra e a Franca conquistavam os primeiros lugares no comércio mundial, estabeleciam coldnias atrés de colénias ¢ levavam a indiistria manufatureira 2 seu mdximo apogeu, até que, por.iiltimo, a Inglaterra, com a invengao do vapor, que va- Jorizou finalmente suas minas de carvéo suas reservas de ferro, cologoir-se na lideranga do moderno desenvolvimento burgués. Enquanto tivesse de lutar contra os resquicios tio ridiculamente antiquados da Idade Média, como os que, até 1830, obstr progresso material da burguesia alema, ndo se poderia pensar na existéncia de uma Economia Politica alema, Até a fundagio da Liga Aduaneira,! os alemaes nao se encontravam em condig6es de, no minimo, entender a economia politica. Assim, a partir de entao, comeca a importaciio da economia inglesa e francesa em proveito da burguesia alema. Os intelectuais e os buroctatas no tardaram a se apossar da disciplina importada, ornamentado-a de uma forma nada honrosa ao “espirito alemao”. Da multidéo cadtica dos senhores da indiistria, comerciantes, “sibios”, escritores mediocres, nasceu na Alemanha uma literatura sobre economia que, no que diz respeito a insipidez, superficiali- dade, vacuidade, prolixidade e pligio, que s6 pode ser comparada 7" ALiga Adwanciraalema (Zollverein) fot objeto de acordo em 1° de janeiro de 1854, enue a Pribsia c uma série de Estados alemscs, A Austria ficou de fora desea Lig, am com sua ficgao. Entre as pessoas de senso pratico, formou-se, em primeiro lugar, a escola dos industriais procecionistas, cuja autoridade primeira, List, continua sendo o melhor que a literatura econdmica burguesa alema produziu, mesmo que toda a sua gloriosa obra tenha sido copiada do francés Ferrier, pai da teoria do sistema continen- « Frente a essa cendéncia, surgiu, na década de 1840, a escola do liberalismo comercial dos comerciantes das provincias do Béltico, que repetiam gaguejando, com fé infantil, ainda que interessada, os argumentos dos fieetraders ingleses.’ Finalmente, entre 08 © os burocratas, que ficaram encarregados do aspecto teéri ciéncia, temos éridos colecionadores acriticos, como o senhor Rau, especuladores pseudoengenhosos, como o senhor Stein, dedicados a traduzir as teses dos estrangeiros & indigesta linguagem de Hegel, ou pseudoliteratos do campo da “histéria da culeura’, como o senhor Richl. De tudo isso, apareceram, por tiltimo, as ciéncias camerales,* uma sopa de ervas daninhas de todos os tipos, com um tempero eclético-economista que servia aos opositores para ingressar na folha de pagamento da administragio pub a. Enquanto, na Alemanha, a burguesia, os “sabios” ¢ os buro- cratas se esforcavam para decorar os dogmas intangiveis, e para entender um pouco os primeiros rudimentos da Economia Politica anglo-francesa, veio a pitblico o partido proletario alemao. Todo © conteiido tedrico desse partido tinha origem no estudo da Eco nomia Politica; ¢ o instante do seu surgimento coincide com o da Economia Politica alema, como ciéncia com existéncia propria. Essa economia politica alema se fundamenta substancialmente na concepgio materialista da historia, jos tragos fundamentais Sistema continental: apy pelo continente europeu, seguida por Napoleio I. O ‘em 1806 por um dectero de Napoledo, Esse a Espana, Népoles, Holanda e, mais earde, pela Peis rartdrioe do livre comércio Ciclo de cigncias administativas e econbmicas da edigio em espanhol) 275 ricas que brotam quando forem compreendidas as condig6es mat época em questio ¢ quando se conseguir explicar tudo aquilo por essas condigées 1 s erta que revo lucionou nao apenas a Economia, mas também todas as ‘Nao ia dos homens que determina 0 seu si ao contrario, é a seu ser social o que di E uma tese to simples que, forgo: con: ente, teria de ser a propria evidéncia para todos aqueles que nao se encontram atolados no ano das armadilhas ide: com as relagoes de propriedade no iam desenvolvido até entio. De formas evolutivas das das quais elas Forgas produtivas que exam, essas relagdes convertem-se em. entio, uma época de revolusao social, A transformagio que se produziu na base econdmica transforma mais ou menos lenta ou rapidamente toda a co- lossal super crutura... As relagdes de produgao burguesas sto 2 t antagénica do processo de produgéo social, antaggini antagonismo individual, mas de um antagonismo que nasce das con ‘existéncia sociais dos individuos; as Forgas produtivas que se descnvolvem no publicado em Londres entre malo e agosto de 1859. Mars participou ivamente ern sua tedago. Kant Manx para resolver esse a Portanto, se se; mente, que essa tese, de aparéncia tio simples — de que acons do homem é determinada por sua ncia éncia, e nfo ao contrario ralmente, jé em suas primeiras consequéncias, qual- ismo, mesmo 0 mais dissimulado. Com cla [a tese], so negadas todas as ideias tradicionais ¢ disseminadas sobre as quest6es histéricas, Todo modo tradicional da argumentacao politica cai por terra; a fidalguia patridtica se agita, indignada, contra essa falta de princfpios no modo de ver as coisas. Por isso, a nova concepgao teria de chocar-se forgosamente, nao somente com os representantes da bur mas também com a massa dos socialistas franceses, que pretendem transformar o mundo com sua formula de liberté, égalité, fraternité (liberdade, igualdade, fraternidade ~ francés}. Porém, foi entre os pregadores demo. provocou maior furor. Mas isso no foi obstéculo para que dessem uma predilegao especial em explorar, plagiando-as, as novas ideias, ‘mas com confusées extraordinarias. O descnvolvimento da concepeio materialista, ainda que fosse a publicagao de um tinico exemplo histérico, foi um trabalho cientifico que exigiu longos anos de estudo tranquilo, pois é evidente que, nada se resolve com simples frases, que s6 a existéncia de um conjunto de materiais histéricos, criticamente selecionados ¢ total- mente dominados, pode capacitar-nos para a solugio do problema. A revolugio de feverciro levou 0 nosso partido ao campo da politica, impedindo, com isso, de nos entregarmos & pesquisa essencialmente cientifica. Entretanto, ca, como um fio, todas as produg6es literdrias do partido. Em todas an elas demons --se, caS0 a Caso, como a agtio surge sempre de forcas is e nao das frases que a acompanham; longe diretamente mate: disso, as frases polfticas ¢ juridicas s4o outros tantos efeitos das forcas materials, assim como a ago politica e seus resultados. Depois da derrota da revolugio de 1848-1849, chegou um momento em que se tornou cada vex mais impossivel exercer qualquer influéncia na Alemanha de fora do pais e, entao, nosso partido abandonou aos democratas vulgares 0 campo dos conflitos entre os migrantes, a tinica atividade possivel naquele momento. Enquanto esses democratas vulgares davam livre transito aos seus conflitos, injuriando-se hoje para se abragarem amanha c, no dia seguinte, diante de todos, voltar a lavar sua roupa suja; enquanto percorriam toda a América humilhando-se para provocar, em seguida, um novo escindalo pela partilha de um punhado de mmoedas.{que eles haviam colerado], nosso, partido se alegrava de encontrar outra vez um pouco de paz para o estudo. Diante dos outros, tinha a grande vantagem de ter, por base tedrica, uma nova concepgio tedrica do mundo, cuja elaboracio dava-lhe muito a ser feito, razao suficiente para que nao descesse ao plano dos “grandes homens” da emigragao. O primeiro fruto desses estudos é 0 livro que temos em mios. at Um livro como este nao podia se limitar a criticar sem conse- quéncia alguns capitulos isolados da Economia, estudar isolada- mente este ou aquele problema econémico conflitante. Nao; este livro, desde o primeiro momento, encaminha-se para uma sintese sistemAtica de todo 0 conjunto da ciéncia econémica, para desen- volver coerentemente as leis da producio burguesa e do comércio burgués. E como os economistas nao séo mais que intérpretes € 20 mesmo tempo, fazer a apologistas dessas leis, desenvolvé-las critica de toda a literatura econémica. 278 Desde a morte de Hegel, nao houve quase nenhum tencaciva de se desenvolver um ramo da cigncia em sua prépria cocréncia Ac na ofi aprendido da dialética do mestre a manipulagéo dos artificios mais simples, que aplicava a inter atorto ca direito ¢, além disso, com uma indignidade nao poucas vezes cémica. Para eles, toda a heranga de Hegel se teduzia a um simples padrao, pelo qual podiam di temas possiveis, ¢ a um indice de palavras e rodeios que jé nao tinham mais que a misao de se colocar no momento oportuno para encol ir © construir codos os it com isso a inexisténcia de ideias e conhecimentos coneretos. Como dizia um professor de Bonn, esses hegelianos nao sabiam nada de nada, porém podiam escrever sobre tudo. E assim era, efetivamente. Sem divvida, m que pese a sua suficién- cia, esses senhores tinham tanta consciéncia de sua insignificancia que, sempre que fosse possivel, evitavam os grandes problemas; a velha cién ha suas posigées pela superiorida- nto concreto. Somente quando Feuerbach tompeu com o método especulativo é que o hegelianismo foi se definhando pouco a pouce; parecia que o reinado da velha metafisica, com suas categorias imutéveis, havia se reintroduzido na ciéncia, Oassunto tinha sua explicagao légica. O regime dos diddocos® hegelianos, que havia se perdido em frascologias, foi sucedido, na- turalmente, por uma época na qual 0 contetido positivo da ciéncia voltou a se sobrepor ao seu aspecto formal. Ao mesmo tempo, a Alemanha, coincidentemente com o formidével progresso burgues aleangado desde 1848, langava-se, com uma energia verdadeiga- mente extraordindria, as iéncias Naturais; e, ao colocar na moda esas ciéncias, nas quais a tendéncia especulativa nao havia chegado jamais a adquirir grande importancia, velha maneira metafi © Diseloces: sucessores de Alexandre da Macedé: ‘uma luca interna que provocou o desmoronamiento da impéi sentido irdnico aos representantes oficiais da es 3, depois de sua morte, Engele usa esa palavea nas niversdades ales 29 de se pensar também voltou a se generalizar, até cair na extr dade de um Wolff. Hegel havia sido esquecido e se des sta, que nao se distingue em na 18 e que, além de possuir mais dad. quimicos e fisiolégicos. A estreita ment: pré-kantianos v ridade, em Bi volveu o novo materialismo teoricamente, daquele do maioria dos caso a2 yantagem nenhuma sécu de palmente cia dos tempos asc apresentar, reproduzida & extrema vulga- ner ¢ Vogts ¢ até o proprio Moleschort, que jura imo, por Feuerbach, perde-se a cada momento, de modo divertidi entre as categi s mais simples. A prepoténcia grosseira do sentido comum burgués se detém perplexo diante do fosso que separa a esséncia das coisas de suas manifestagées; a causa, do efeitos ¢, se alguém vai cagar com cies égeis e velozes, em tertenos escabrosos do pensar abstrato, néo deve fazé-lo no lombo de um pangaré, Aqui se estabelecia, portanto, outro problema que, em si, nao tinha nadaa ver com a Economia Politica. Com que método devia se tratar da ciéncia? De um Jado, estava a dialética hegeliana sob a forma abstrat como a deixara Hegel. De outro lado, o método vulgar, que voltava a ser usado, o método, em sua esséncia, metafisico, wolffiano, do qual os economistas burgueses também se serviam para escrever seus volumosos ¢ incoerentes livros. Este iltimo método havia sido cio destruido teoricamente por Kante, sobretudo, por Hegel, que somente a inércia ea auséncia de outro método sim- spec ples podiam explicar que ele ainda perdurasse na pratica, Por outro lado, © método hegeliano era completamente imitil nav sua forma atual. Era um método essencialmenté idealista ¢ aqui se watava de desenvolver uma concepgio do mundo mais materialista que todas as anteriores. Aquele método partia do pensamento abstrato ¢ aqui devia se partir de fatos mais sdlides. Um método que, segundo seu préprio reconhecimento, “partia do nada pra chegar a nada por meio do nada’, era de todos os modos impréprio sob essa forma. E, no obstante, esse método era, entre todo o material légico existente, © 260 Kant Manx ico que podia ser utilizado. Nao havia sido criticado, néo havia Jo superado por ninguém; nenhum dos adversérios do grande ador dialético conseguiu abrir uma brecha no seu imponente edificio; havia caido no esquecimento porque a escola hegeliana néo sabia 0 que fazer com ele. O primeiro passo, portanto, seria submeter © método hegeliano a uma critica em profundidade. © que colocava o método discursive de Hegel acima do [méto- do] de todos os demais filésofos era o formidavel sentido hist6rico que o estimulava. Por mais abstrata c idealista que fosse sua forma, © desenvolvimento de suas ideias seguia sempre paralelamente ao desenvolvimento da histéria universal, que era, na realidade, apenas o meio para o primeiro. E, ainda que, com isso, se pusesse de ponta- cabega a verdadeira relagao, a Filosofia se nutria, totalmente, nao obstante, do contetido real; principalmente por Hegel se diferenciar de seus discipulos pelo fato de nao se vangloriar, como eles o faziam, ‘mas, sim, por ser uma das cabecas mais eruditas de todos os tempos. Hegel foi o primeiro a tentar destacar na histéria um proceso de desenvolvimento, uma conexio interna; e, por mais estranhas que nos paregam hoje muitas coisas de sua filosofia da histéria, a grandeza da sua concep¢ao fundamental continua sendo, entretanto, algo admirdvel, tanto se 0 compararmos com seus antecessores, quan- to se nos fixarmos naqueles que, depois dele, se permitiram fazer consideragbes generalizadas sobre a histéria. Em Fenomenologia (do espirito), em [Cursos dé] estética, em Untrodugao dl historia da Filosofia {obras de sua autoria], em todos os momentos vemos o reflexo dessa concepsao grandiosa da histéria ¢ encontramos a matéria tratada historicamente, em uma determinada conexao com a historia, ainda que essa conexao apareca derurpada, de forma abstrata. Essa concepsao da histéria, que marcou uma época, foi a pre- missa te6rica direta da nova concep¢io materialista, ¢ isso também oferecia um ponto de uniéo com 0 método légico, Se, do ponto de vista do “pensamento puro”, essa dialética esquecida havia con- duzido a tais resultados; ¢ se, além disso, havia superado a toda a Conraimuigho ae ldgica ¢ a metafisica anteriores a ela, devia, sem dtivida, haver nel algo mais que uma suileza enganosa e pedante. Porém, 0 procede esse método & critica, projeto que tornou e de toda a filosofia oficial, nao foi nenhuma insignificdncia. Marx foi e €0 tinico que podia se entregar ao trabalho de retirar da légica hegeliana o cerne que contém os verdadeiros descobri- mentos de Hegel nesse campo, e de reconstituir 0 método dialético despojado de sua forma idealista, na simples transparéncia como a tinica forma exata do desenvolvimento do pensamento. O fato de Marx haver elaborado 0 método da critica da Economia Politica a nosso ver, algo que tem quase tanta importancia quanto a concep¢io materialista fundamental. ‘Mesmo apés o descobrimento do método, e de acordo com ele, podia se fazer a critica da Economia Politica de duas manei- ras: a histérica e a Iégica, Como navhistéria e em seu reflexo na literatura, as coisas também se descnyolvem, grosso modo, do mais simples 20 mais complexo, o desenvolvimento histérico da literatura sobre Economia Politica oferecia um elo nacural de liga- 40 com a critica, pois, em termos gerais, as categorias econdmicas apareciam aqui na mesma ordem que em seu desenvolvimento ldgico. Essa forma apresenta, aparentemente, a vantagem de uma maior clareza, pois nela se segue o desenvolvimento real das coisas; entretanto, na pratica, no melhor dos casos, a tinica coisa que se conseguiria seria populariz4-la. A histéria se desenvolve, frequentemente, em saltos ¢ em ziguezagues, ¢ assim ela deveria ser seguida em toda a sua trajetéria, na qual nao sé se recolheriam muitos materiais de pouca importancia, mas também sua ligagao légica deveria ser, muitas vezes, rompida. Além disso, a histéria da Economia Politica nao poderia ser escrita sem a histéria da sociedade burguesa, pois a tarefa seria interminavel, pois faltam todos os estudos preliminares. Portanto, 0 tinico método indicado era o légico. Porém, este nao é, na realidade, senao 0 método histérico despojado unicamente de sua forma histérica e das 282 © o desenvolvimento comegar também 0 proceso de refl posterior desse processe nfo seré mais que a imagem refletida, rente, da trajetdr uma. ida de acordo com leis da propria trajet6rie histérica; ¢, assim, cada fator pode ser estudado no ponto de desenvolvimento de sua plena maturidade, em sua forma classica. Com este método, partimos sempre da relacao primeira ¢ mais simples que existe historicamente, de facos portanto, a primeira relagio econémica com a qual nos encontramos. Depo procedemos & sua anilise, Pelo préprio fato de se tratar de uma relacao, est implicito que hé dois lados que se relacionam entre si, Cada um desses dois lados ¢ estudado separadamente, a partir do que se depreende sua relagao recfproca e sua interacéo, Encon- tramo-nos com contradigées que exigem uma solusao. Porém, como aqui nao seguimos um proceso de refiexio abstrato, que se desenvolve excl ‘ivamente em nossas cabegas, mas uma sucesséo teal de fatos, ocorridos real e efetivamente em algum tempo ou que continuam ocorrendo, essas contradigdes também estarao determi- nadas na prética, onde, provavelmente, também serd encontrada sua solugao. E, se estudarmos 0 carter dessa solugao, veremos que se consegue ctiando uma nova telacéo, cujos dois lados opostos teremos agora que desenvolyer, ¢ assim sucessivamente. A Economia Politica se inicia pela mercadoria, no momento em que se trocam alguns produtos por outros, seja por obra de indivi- duos isolados ou de comunidades primitivas. O produto que entra no intercimbio é uma mercadoria. Porém, o que o transforma em mercadotia é pura e simplesmente o fato de que & coisa, ao produto estéligada uma relagio er:tre dusas pessoas ou comunidades, a relagéo entre o produtor eo consumidor, que aqui nao mais se confundem. na mesma pessoa. Temos aqui um exemplo de um fato particular que percorre toda a Economia Politica ¢ tem produzido lamentaveis discuss6es nas cabegas dos economistas burgueses. A Economia nao trata de coisas, mas de relagdes entre pessoas e, eni iltima instanc entre classes, apesar de essas relagoes estarem sempre unidas a coisas e aparecerem sempre como coisas. Ainda que um ou outro economista tenha vislumbrado, em casos isolados, essa conexio, foi Marx quem a descobriu na sua relevancia para toda a Economia, simplificando e esclarecendo com isso até os problemas mais dificeis que, hoje, até 05 proprios economistas burgueses podem compreender, Se tomarmos a mercadoria em seus diversos aspectos ~ porém a mercadoria que jé atingiu seu pleno desenvolvimento, io aquela que comega a se desenvolver arduamente nos atos primitivos de troca entre duas comunidades primitivas ~ ela nos é apresentada sob os dois pontos de vista, de valor de uso e de valor de troca, com o que entramos imediatamente no terreno do debate econd- mico. Quem quiser um exemplo claro de como 0 método dialético alemao, em sua fase atual de desenvolvimento, esté téo acima do velho método metafisico, vulgar ¢ impostor (como sio as ferrovias se compatadas aos meios de transporte da Idade Média), deve observar que, ao ler Adam Smith ou qualquer outro economista famoso, quanto sofrimento o valor de uso e 0 valor de troca cau- saram a esses senhores, quanta dificuldade tiveram para distingu Jos e compreendé-los cada um deles em sua prépria e particular preciso, ¢ comparar tudo isso, em seguida, com a clara e simples exposigio de Marx. Depois de se compreender o valor de uso e 0 valor de troca, estuda-se a mercadoria como unidade direta de ambos, tal como, entra no proceso de troca. A quais contradig6es isso da lugar pode se ver nas paginas 20 21.7 Advertimos que essas contradig6es nao tém tao-somente um interesse tedrico abstrato, mas refletem ao mesmo tempo as dificuldades que surgem da natureza da relagao de troca direta, do simples ato da troca, ¢ as impossibilidades nas 7 Engels eelerese aqui pri Kant Manx quais essa primeira forma rudimentar de troca necessariamente tropega. A solugo para essas impossibilidades é alcangada trans- ferindo a uma mereadoria especial — 0 dinheiro — a qualidade de representar 0 valor de troca de todas as demais mercadorias. Depois disso, estuda-se, no segundo capitulo, o dinheiro ou a circulagao simples, como segue: 1. 0 dinheito como medida do valor, determinando-se 0 valor medido em dinheiro na forma mais concreta, o prego; 2. como meio de circulacdo ¢ 3. como unidade de ambos 0s conceitos como dinheiro real, como representacao de voda a riqueza burguesa material. Com isso, terminam os estudos do primeiro fasciculo, reservando-se, para o segundo, a transfor magio do dinheiro em capital. ‘Vemos, portanto, com esse método, como o desenvolvimento logico nao se vé obrigado a se movimentar no reino do puramente abstrato, Ao contririo, precisa apoiar-se em exemplos histéricos, manter-se em constante contato com a realidade. Por isso, esses exemplos apresentam uma grande variedade de argumentos ¢ con- sistem tanto em referéncias & trajetdria histérica real nas diversas ctapas do desenvolvimento da sociedade, quanto em referéncias & literatura econdmica, Aquelas que acompanham, desde o inicio, a elaboragao de conceitos claros das relagdes econdmicas, A critica das diferentes definigbes, mais ou menos unilaterais ou confusas, estd contida, no fundamental, no desenvolvimento légico e pode ser resumida brevemente, Em um terceiro artigo, nos deteremos no exame do conteiido econémico da obra.* Escrito por F. Engels na primeira quinzena de agosto de 1859. Publicado, sem autoria, no Das Volk, nos néimeros 6 ¢ 20, de agosto de 1859. * Esse cerceiro artigo nunca foi publicado, nem foi encontrado entre os manuscritos de Engels. 285

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