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UMA EPIDEMIA
Pílulas Mágicas, Drogas Psiquiátricas eo
Aumento Assombrosoda Doença Mental
FUNDAÇÃOOSWALDOCRUZ
Presidente
Nísia Trindade Lama
Editora Fiocruz
(Gestão 2017-2020)
Diretor
Manoel BarramNetto
Editor Executivo
Jogo Clarlos Canossa Mandes
Editores Científicos
Cardos Machado de Frestas
Gilberto Hochman
Conselho Editorial
Denise Valle
José Roberto Lapa e Salva
Kenneth Rochel de Camarão.Jr.
Líbia Mana Vieira da Silva
Marcos Gueto
Mlaria Cecília de Souza Minayo
Marina Santini de Oliveira
MloisésGoldbaum
Rafael Linden
Ricardo Ventura Santos
ANJ\TOMIA DE
UMA EPIDEMIA
Pílulas Mágicas, Drogas Psiquiátricas eo
Aumento Assombrosoda Doença Mental
Robert Whitaker
TrnHiirân
Mera ]iibeiro
(psicanalista)
Revisão técnica
Paulo Amarante
Ferrando Freiras
I' reimpressão
Et)llc..>lR.ai.
FIOCRUZ
Copyright © 2017 do autor
Originalmente publicado em inglês sob o título
AnatomW agan EPi&mü: mago buttets, bsDchiatüc drugs, and the mtonishing
rüe afmezzfa/ í///zeff ízzÁmedca(Broadway Paperbacks, 20 10)
Revisão
lvene Ernest Di,as
Índice
Cta:risseBlapo
Capa
A partir da capa da edição original, criada por Lavra Dujh sobre ilustração de © l)ietvich MadsenIGett) Imagem
Produção gráâco-editorial
Pheiipe G$sigtia
Catalogação na fonte
Fundação Oswaldo Cruz
Instituto de Comunicaçãoe Informação Científica e 'tecnológica em Saúde
Biblioteca de Saúde Pública
ISBN: 978-85-7541-492-7
2017
EDITOliAFIOCRUZ Editora filiada
Av. Brasil, 4.036,térreo, sala 112 Manguinhos
21040-361 -- Rio deJaneiro, RJ
reis: (21) 3882-9039 e 3882-9041 l Telef'ax; (21) 3882-9006
E-mail: editora@fiocruz.br l www.âocruz.br/editora
Para Lindsay
Ç2ue você possa novamente cantar
"Seasons of lave" e se encher de alegria
Sumário
9
Prefácio à edição brasileira.
15
Apresentação.............
PARTE 1 - A EPIDEMIA
2]
1. Uma Praga Moderna .....
31
2. Reflexões Experienciais
63
4. As Pílulas Mágicas da Psiquiatria ..
81
5. A Caçada aos Desequilíbrios Químicos .......
PAR.mIII -- RESUI;l:IDOS
101
6. Revelação de um Paradoxo ........-'......-..'.
137
7. A Armadilha das Benzodiazepinas ..............-
159
8. Uma Doença Episódica Torna-se Clrânica ..........
183
9. O Crescimento Explosivodo Transtorno Bipolar
215
10. Explicação de uma Epidemia..........-
225
11. A Epidemia Disseminadaentre as Clrianças.
255
12.Quando osJovens Sofrem ..............
PARI'E IV -- EXPnCAÇÃO DE UNHAII.USÃO
PARIR V SOLUÇÕES
Nota.s......+B-e++B+. 369
Agradecimentos 401
9
enigma: está havendo um crescimento vertiginoso de pessoasdiagnosticadas com
algum transtorno mental, com parte considerávelda populaçãoentrando em
tratamento psiquiátrico e não se curandocom as abordagenspsicofarmacológicas;
muito pelo contrário, ficam mais doentes e dependentes da psiquiatria. Ora, essa
realidade contraria o pensamentodominante segundo o qual a psiquiatria tem
tido enorme progresso científico nos últimos cinquenta anos.
10
é-nos apresentado um determinado diagnóstico, quase sempre acompanhado
por uma droga psiquiátrica. O enigma é: por que continuamosa sofrer física,
fisiológica e/ou psicologicamente?Por que o sofrimento parece ficar ainda mais
acentuado com as formas de tratamento hegemónicas?
1}
etapa revolucionária. Com "transtornos mentais" bem definidos e medicamentos
adequados para atingir o "alvo", eis que nós, contemporâneos, podemos, cada vez
mais, nos ver livres do "sofrimento psíquico" é o que nos fazem pensar! Ora,
quando se faz um tratamento para determinada doença, o que se espera é que esta
desapareça ou pelo menos seja submetida a controle. No entanto, cada vez mais há
mais pessoas"doentesmentais" e em tratamento por médio e longo prazos.
12
psiquiátricos está tão generalizado entre nós, no cotidiano da nossa população,
mesmo nos serviços e dispositivos clínicos construídos no bojo do processo de
reforma psiquiátricas
Assim como tem sido trabalhoso para nós superar o modelo asilar de
assistência, certamente não será menos difícil conseguirmos mudar o paradigma
da psiquiatria biológica que domina a nossaassistência.Como tratar as pessoas?
Relativizando não apenas os diagnósticos, mas sobretudo o papel hegemónico
que a medicaçãopsiquiátrica exerce no cotidiano? É possívelobter os resultados
esperados com as diversas abordagens de natureza psicossocial se os pacientes
estão sendo submetidos a tratamentos psicofarmacológicos? Como livrar o grande
número de pacientes das drogas psiquiátricas após meses ou anos de uso?
15
ANATOÀ41ADE UMA EPIDEMH
Nosso raciocínio era fácil de compreender. Diziam que essas drogas eram "como
a insulina para o diabetes". Fazia algum tempo que eu sabia que isso era "verdade",
desdea ocasiãoem que fizera a cobertura do campo da medicina no .4/óanU71mei
U?zlo/z.
Claramente, portanto, era um abusoos pesquisadorespsiquiátricos fazerem
dezenas de estudos sobre a suspensão dos medicamentos, nos quais calculavam
cuidadosamente a percentagem de pacientes esquizoh'ênicos que tornavam a
adoecere tinham que ser reinternados. Por acaso alguém conduziria um estudo
que envolvesseretirar a insulina de diabéticos,para ver com que rapidez eles
tornavam a adoecer?
16
Apresentação
Confesso tudo isto por uma razão simples. Uma vez que a psiquiatria é um tema
tão controvertido, considero importante os leitores compreenderem que iniciei
esta longajornada intelectual como alguém que acreditava no saber convencional.
Eu acreditava que os pesquisadores psiquiátricos estavam descobrindo as causas
biológicas das doençasmentais e que esseconhecimento levara ao desenvolvimento
de uma nova geração de drogas psiquiátricas que ajudavam a "equilibrar" a
química cerebra[. Essesmedicamentoseram como "insu]ina para o diabetes". Eu
acreditava que isso era verdade, porque era o que me diziam os psiquiatras na
épocaem que eu escreviaparajornais. Depois, no entanto, tropecei no estudo de
Harvard e nasdescobertasda OMS, e issolevou a que eu me lançassenuma busca
intelectual que acabou por se transformar neste livro, .4zzafoma deumaE»{demÍa.
17
PARTEI
A EPIDEMIA
l
Uma PragaModerna
'Esta é a essênciada ciê ia:faça uma pergunta impertinente
e vocêestará a caminho de uma respostapertinente."
--Jacob Bronowski, 1973:
21
ANATOMH DE UMA EPIDEhaA
enfermos". Mas então foi introduzido o Thorazine.: Essa foi a primeira droga a
constituir um antídoto específicopara um distúrbio mental -- era um medicamento
a?z/iPs2cóf
ca-- e ela deu o pontapé inicial numa revolução psicofarmacológica. Logo
em seguida, foram descobertos agentes a/zfiaã@zzsiÍz'oi
eazziáa/íf2coi,
e, como resultado,
hoje desfrutamos de "uma variedade de tratamentos, de eâcácia bem documentada,
para o conjunto de transtornos mentais e comportamentais claramente definidos
que ocorrem ao longo da vida", escreveuSatcher. A introdução do Prozac e de
outros medicamentos psiquiátricos de "segunda geração", acrescentou o diretor
nacional de Saúde, foi "instigada por avanços das neurociências e da biologia
molecular" e representou mais urn avançono tratamento das doençasmentais.:
Os estudantes de medicina que fazem formação em psiquiatria leem sobre essa
história em seuslivros didáticos, e o público lê sobre ela nas matérias populares
a respeito desse campo A torazina, escreveu Edward Shorter catedrático da
Universidade de Toronto, em seu livro Z:/ma-lÊs/óüada P3 guíafda, de 1997,"iniciou
na psiquiatria uma revolução comparável à introdução da penicilina na medicina
geral".' Esse foi o começo da "era psicofarmacológica", e agora podíamos ter
certeza de que a ciência havia provado que as drogas do armário de medicamentos
da psiquiatria eram benéâcas. "Dispomos de tratamentos muita eficazes e seguros
para uma ampla gama de distúrbios psiquiátricos", informou Richard Friedman,
diretor da clínica de psicofarmacologia da Faculdade de Medicina Weill Cornell,
aos leitores do iVew yort 72mei,em 19 de junho de 2007.' Três dias depois, num
editorial intitulado "Ç2uando as crianças precisam de remédios", o -Bos/a z GJoóe
22
Uma Praga Moderna
Os dados sobre invalidez, por seu turno, levam a uma pergunta muito mais
ampla. Por que tantos norte-americanos, na atualidade, ainda que não se hajam
tornado inválidos por doençasmentais, sãoatormentados por problemas mentais
crónicos -- por depressões recorrentes, sintomas bipolares e uma ansiedade
incapacitante? Se dispomos de tratamentos que lidam de maneira eficaz com esses
distúrbios, por que a doençamental tem se tornado um problema de saúdecada
vez maior nos Estados Unidos?
lv
O termo diraó/edpode ser traduzido para o português como inválido, deficiente, incapacitado.
No Brasil, tal terminologia não é empregada no campo da saúdemental, por ser considerada
politicamente incorreta. NosEstadosIJnidos, o governofederal, por intermédio da Administração
do SeguroSocial (SocialSecurity Administration), tem dois programas para pes?oasque se
tornam inválidos(dísaóled) e incapazes para trabalhar. Os doentes mentais considerados inválidos
mencionados no texto de Whitaker são aquelas pessoasque se encontram entre os considerados
com alguma incapacidade (deficiência, invalidez) devida a doença. Whitaker utiliza o termo com
o sentido muito específicoempregado nos EstadosUnidos: o número de pessoasque recebem
o pagamento do governo por invalidez, porque podem ser declaradas incapacitadaspor doença
mental. Anualmente, os pesquisadoresque buscamrastrear o número de inválidos por doença
mental na era moderna comparam-nocom o número de pessoasem hospitais psiquiátricos
antes da desinstitucionalízação,na medida em que eram vistos como uma populaçãoincapaz de
cuidar de si própria. Algo, portanto, muito importante: Whitaker não faz uso de "inválidos por
doença mental" com algum tipo de sentido genérico para descrever o doente mental. Mas usa tal
expressãopara definir um número de pessoasque recebemdo governo federal pagamentospor
incapacidade, porque são considerados incapacitados para trabalhar devido à sua doença mental.
(N.R.T)
23
ANATOMIA DE UMA EPIDEMIA
A Epidemia
Bem,juro que este não será apenas um livro de estatísticas. Estamos tentando
solucionar um mistério neste livro, e isto nos levará a uma exploração da ciência
e da história e, em última análise, a uma narrativa com muitas reviravoltas
surpreendentes. Mas essemistério brota de uma análise profunda das estatísticas
do governo e, portanto, como primeiro passo,precisamos levantar os números da
invalidez nos últimos cinquenta anos, para ter certeza de que a epidemia é real.
V
VI
A sigla da denominação original, Supplemental Security Income, foi mantida nesta tradução.(N.T)
A sigla da denominaçãooriginal, Social SecurityDisability Insurance,foi mantida nesta tradução
(N.T)
24
Uma Praga Moderna
25
AIqATOAdHDE UMA EPIDEMM
Benaüiciáfiosda SSI
BeneficiáíiosdoSSD
Um em cada seis beneâciários do SSDI também recebe pagamentos da SSI, de modo que o número total
de bene6ciários é inferior à soma dos números da SSI e do SSDI. Fonte: relatórios da Administração
de Segurídade Social,1987-2007.
26
Uma Praga Moderna
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ANATOÀaA DE UMA EPIDEMIA
de 20 anos que entra nas listas da SSI ou do SSDI receberá mais de um milhão de
dólares em benefícios nos próximos quarenta anos, aproximadamente, e esseé
um custo -- casoa epidemia continue aumentando -- que nossasociedadenão terá
como bancar.
Portanto, eis o que está em jogo nesta investigação: sefor verdadeira a história
convencional, e se a psiquiatria de fato houver obtido grandes progressosna
identificação das causasbiológicas dos distúrbios mentais e no desenvolvimento
de tratamentos eficazespara essasdoenças,poderemosconcluir que tem sido
benéficaa remoldagemde nossasociedadepela psiquiatria. Por pior que possa
ser a epidemia de doençasmentais incapacitantes, será razoávelsupormos que,
sem essesavançosda psiquiatria, ela seria muito pior. A literatura científica
28
Uma Praga Moderna
29
2
Refllexões Experienciais
"Se ualoTicamos a busca do conhecimento, devemoster a liberdade
de l)rosseguiT nessa busca aonde quer que eLa nos leve."
-- Adlai Stevenson, 1952:
e hÜ e a organização conta com quase mil desses grupos de apoio em todo o território
nacional. Existem sete deles somente na área da Grande Boston, e a maioria --
como o grupo que se reúne no McLean -- oferece às pessoasa oportunidade de se
reunirem e conversarem várias vezes por semana. A DBSA cresceuPaü paiizz com
a epidemia.
32
Reflexões Experienciais
de cuidar do pai doente, a tensão do trabalho e anos de convívio com "um marido
agressivo
33
AIMTOhHA DE UMA EPIDEMIA
Mais cedo, Steve me dissera que cerca de metade dos membros da DBSA
recebia pensão da Renda Complementar da Previdência (SSI) ou do Seguro
da Previdência Social por Invalidez (SSDI) porque, aos olhos do governo, essas
pessoas estavam incapacitadas por suas doenças mentais. E esse o tipo de paciente
que vem inchando as listas da SSI e do SSDI nos últimos 15 anos, enquanto a
DBSA tornou-se a maior organização de pacientes com doenças mentais do país
durante esseperíodo. Agora a psiquiatria tem três classesde medicamentosque
usa para tratar os distúrbios afetivos -- antidepressivos, estabilizadores do humor
e antipsicóticos atípicos --, mas, seja por que for, um número cada vez maior de
pessoasaparece nas reuniões da DBSA em todo o país, para falar de sua luta
persistente e duradoura com a depressão, a mania, ou ambas.
Quatro Histórias
Na medicina, as histórias pessoaisdos pacientesdiagnosticadoscom uma
doença são conhecidas como "estudos de caso", e há um entendimento de que,
embora essesrelatos experienciais possam trazer a compreensão profunda de uma
doençae de seustratamentos, não têm como provar se determinado tratamento
funciona. Somente os estudos científicos que examinam os efeitos do conjunto
podem fazê-lo e, mesmo assim, é comum ser nebuloso o quadro que emerge.
A razão de os relatos experienciais não poderem fornecer essa comprovaçãoé
que as pessoaspodem ter reações sumamente variáveis aos tratamentos médicos.
o que é particularmente verdadeiro na psiquiatria. Podemosencontrar pessoas
que nos falam de como os remédios psiquiátricos lhes trouxeram imensa ajuda;
podemosencontrar pessoasque nos dirão como os remédios arruinaram sua
vida; e podemos encontrar pessoas-- e estas parecem ser a maioria, na minha
experiência -- que não sabem o que pensar. Não conseguem propriamente decidir
se os medicamentos as ajudaram ou não. Ainda assim, ao nos propormos resolver
o enigma da epidemia moderna de doençasmentais incapacitantes nos Estados
Unidos, os relatos experienciais podem ajudar-nos a identificar perguntas que será
conveniente vermos respondidas em nossa investigação da literatura científica.
34
ReHexões Experienciais
CathDLeuin
Conheci Cathy Levin em 2004, não muito depoisde publicar meu primeiro
livro sobrepsiquiatria, Z,ouros
/zoiExfadoii./nidoi.Tornei-me um admirador imediato
do seu espírito de luta. A última parte deste meu primeiro livro indagavase os
medicamentosantipsicóticos estariam piorando o curso da esquizofrenia a longo
prazo (tema explorado no Capítulo 6 do presente livro), e Cathy objetou a essa
ideia, de certa maneira. Apesar de ter sido inicialmente diagnosticada com um
transtorno bipolar (em 1978), seu diagnóstico fora posteriormente substituído
por um distúrbio "esquizoafetivo" e, na sua própria avaliação,ela fora salva por
um antipsicótico atípico, o Risperdal. Em certo sentido, a história que eu havia
relatado em Z,ozzcoilzoiExfadoi t/n dasameaçavaa experiência pessoalde Cathy,
que me telefonou várias vezespara me dizer o quanto essadroga Ihe fora útil.
35
ANATOMÜ DE UMA EPIDEMIA
evoluíram aos poucos para uma fantasia com o comediante Steve Martin. Sem
conseguir dormir a noite inteira, ela acordava às 4 horas da manhã e saía para
caminhar, e às vezes, era como se Steve Martin estivesse no ca/nPuia espreita-la.
"Eu achava que ele estava apaixonado por mim e correndo pelos arbustos, sem se
deixar ver", disse. "Estava me procurando."
36
Reflexões Experienciais
37
ANATOMIA DE UMA EPIDEMIA
Esta última era uma questão em que Cathy, dada a sua experiência com o
Risperdal, não havia pensado muito, antes de nossasconversas.Mas, depois que a
levantei, pareceu obcecadacom essapossibilidade, a qual trouxe à baila repetidas
vezes em nossos encontros. "Eu teria sido mais produtiva sem os remédios", disse,
na primeira vez. "Eu ficaria desolada" se pensassenisso, afirmou posteriormente.
Em outra ocasião,lamentou que, passandoa vida com antipsicóticos,"a gente
perca a alma e nunca mais a recupere. Fiquei empacada no sistema e na luta para
tomar remédios". Por fim, ela me disse isto: "0 que eu lembro, quando olho para
trás, é que, no começo,eu não estava realmente tão doente assim. Na verdade.
só estava confusa. Eu tinha todas aquelas questões, mas ninguém conversava
comigo sobre isso. Ainda hoje, cu gostaria de poder largar os remédios, mas não
há ninguém para me ajudar nisto. Não sei nem começar um diálogo".
Não há como saber é claro, o que teria sido uma vida sem remédios para Cathy
Levin. Entretanto, mais adiante neste livro, veremoso que a ciência tem a revelar
sobre o possível curso que sua doença teria tomado se, naquele momento fatídico
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Reíiexões Experienciais
de 1978, depois do episódio psicótico inicial, ela não tivesse sido medicada nem
informada de que teria de tomar remédios pelo resto da vida. A ciência deveria
poder dizer-nos se os psiquiatras têm razões para acreditar que seu paradigma
de tratamento medicamentoso altere para melhor ou para pior os efeitos a longo
prazo Mas Cathy acredita que essaé uma questãoque os psiquiatras nunca
consideram:"Eles não fazem a menor ideia de como essasdrogasnos afetam
a longo prazo. SÓtentam estabilizara pessoanaquelemomento,e procuram
controla-la de semanaem semana,de um mês para outro. É só nisso que eles
pensam"
Georpe Badà,l,l,o
Atualmente, George Badillo mora em Sound Beach, em Lona lsland, e sua casa
caprichosamente arrumada fica a uma pequena distância da praia. Aos quase 50
anos, ele está em boa forma, penteia o cabelo ligeiramente grisalho para trás e tem
um sorriso fácil e caloroso. Seu filho de 13 anos, Brandon, mora com ele -- "Está no
time de futebol americano, na equipe de luta romana e no time de básquete, e está
no quadro de honra", disse-me George, com compreensível orgulho --, e a filha de
20 anos, Madelyne, que é aluna da Faculdade de Staten lsland, estava Ihe fazendo
uma visita no dia em que estive com ele. Mesmo à primeira vista, era patente que
os dois estavam felizes por passarem essetempo juntos.
Como muitas pessoasdiagnosticadas com esquizofrenia, George se lembra de
ter sido "diferente" na infância. Quando menino, crescendo no Brooklyn, sentia-
se isolado das outras crianças, em parte porque seus pais porto-riquenhos só
falavam espanhol: "Eu me lembro de todos os outros garotos conversando e sendo
camaradas e extrovertidos, convivendo uns com os outros, mas eu não sabia fazer
isso. Sentia vontade de falar com eles, mas sempre ficava apreensivo", recordou.
George também tinha um pai alcoólatra que sempre batia nele, e por isso começou
a achar que "as pessoasviviam tramando coisase querendo me machucar:
Ainda assim, ele se saiu bem na escola, e só no íim da adolescência, quando era
aluno do Baruch College, foi que sua vida começou a dar errado: "Entrei numa
vida de discotecas",explicou. "Comecei a usar anfetaminas, maconha e cocaína,
e gostei. As drogas me relaxavam. SÓque a coisa fugiu do controle e a cocaína
começoua me fazer pensar numa porção de maluquices.Fiquei paranoicode
verdade. Achava que havia conspirações e tudo o mais. As pessoas me perseguiam,
e o governo estava envolvido nisso". George acabou fugindo para Chicago, onde
foi morar com uma tia e se retirou do mundo que julgava persegui-lo. Assustada, a
39
AN/WOÀaA DE UMA EPIDEhm\
George passou oito meses nessa ala de doentes mentais incuráveis, perdido
numa névoade drogas.Entretanto, foi finalmente transferido para uma unidade
em que podia sair dos recintos fechados e, de repente, lá estavam o céu azul para
ver e o ar puro para respirar.Ele começoua reter a medicaçãoantipsicóticana
língua e a cuspi-la quando o pessoal hospitalar não estava olhando. "Voltei a poder
pensar", contou. "As drogas antipsicóticas não me deixavam pensar.Eu parecia
um vegetal e não conseguia fazer nada. Não tinha emoções.Ficava lá sentado,
40
Reíiexões Experienciais
vendo televisão. Mas, nessa ocasião, eu me senti com um controle maior. E fbi
ótimo voltar a me sentir vivo.
Por sorte, George não sofreu um retorno dos sintomas psicóticos e, não mais
tendo o corpo amolecido pelos remédios, começou a fazerjoggÍng e levantamento
de peso. Enamorou-sede mais uma paciente do hospital, Tara McBride, e, em
1995,depois que os dois receberam alta e se transferiram para uma residência
comunitária próxima, Tara deu à luz Brandon. George,que nunca havia perdido
inteiramente o contato com a filha, Madelyne, passoua ter um novo objetivo na
vida: "Percebi que eu tinha uma segundachance.Eu queria ser um bom pai"
No começo, as coisasnão correram bem. Tal como Madelyne, Brandon nasceu
com problemas de saúde-- tinha uma anomalia intestinal que precisou de cirurgia --,
e Tara entrou em crise, em função do estresse, e tornou a ser hospitalizada. Como
George continuava morando numa residência para doentes mentais, o Estado
.julgou que cle não tinha condiçõespara cuidar de Brandon, que foi entregue à irmã
de Tara para ser criado. Em 1998, porém, George começou a trabalhar em regime
de meio expediente como íacilitador entre pares no Serviço de Saúde Mental do
Estado de Nova York, orientando pacientes internados sobre seus direitos, e, três
anos depois, pede apresentar-se ao tribunal como alguém capaz de ser um bom
pai para Brandos. "Minha irmã Madeline e eu obtivemos a custódia", contou. "Foi
a melhor sensaçãopossível. Simplesmente dei pulos de alegria. Parece ter sido a
primeira vez que alguém no sistema obteve a custódia dos filhos."
41
ANATOMIA DE UMA EPIDEAaA
Mono,ca Bri,pps
Monica Brigas é uma mulher alta, marcante e, como tantas pessoasque atuam
no movimento de "recuperação dos pares", imensamente agradável. No dia em
que almocei com ela, num restaurante do bairro de South Bostan, Monica chegou
à mesa mancando, apoiada numa bengala, por ter se machucado em data recente,
e, quando Ihe perguntei como tinha ido até lá, ela sorriu, discretamente satisfeita
consigo mesma: "Vim de bicicleta", disse.
42
Reíiexões Experienciais
Foi nesse ano que ela entrou no SSDI. Dezessete anãs depois de seu episódio
maníaco inicial, ela se tornou oâcialmente inválida, em decorrência de transtorno
bipolar. "Detestei isso", afirmou. "Eu era uma moça de Wellesley dependendo
43
ANATOMIA DE UMA EPIDEMIA
Foi esse o arco longo da sua doença. Como estudo clínico, sua história
simplesmente parece falar dos benefícios do lítio. Ao que parece, essa droga
tcm mantido sua mania sob controle há décadase, como monoterapia, tem
contribuído para mantê-la estável desde 2006. Apesar disso, após anos de
tratamento medicamentoso, Monica acabou no rol do SSDI e, nessas condições,
sua história ilustra um dos mistérios centrais da epidemia de invalidez. Como é
que uma pessoa tão inteligente e preparada acabou nesse programa de governo?
E, se retrocedcrmoso relógio para a primaveradc 1986,veremossurgir uma
pergunta intrigante: ela sofreu seu primeiro episódio maníaco por ser "bipolar",
ou o antidepressivo induziu a mania? Será possível que a droga a tenha fra?z{/armado
dc alguém que sofreu um episódio depressivonuma paciente bipolar e com isso
a tenha colocadono caminho da doençacrónica?E será que o uso posterior de
antidepressivos alterou para pior o curso de sua "doença bipolar", por uma razão
ou poroutra?
44
Reflexões Experienciais
Se houvera alguma coisa fora de esquadro na sua vida de menina, tinha sido o
fato de ela ser sumamente emotiva, propensa a "explosões de raiva" e a "crises de
choro". "Encantadora, mas esquisita" -- foi assim que resumiu a descriçãodo que
era aos7 anos.
45
ANATOMIA DE UMA EPIDEhaA
decadente da cidade de Denver --, temia que, por causa das convicçõesreligiosas,
eles não aceitassem sua homossexualidade.Terminado o primeiro ano de seu
curso no Instituto Peabody,um prestigiado conservatório de música em Baltimore,
Dorea respirou fundo e revelou seu segredo aos pais. "Foi basicamente tão terrível
quanto se poderia esperar", contou. "Houve lágrimas e ranger de dentes.Aquilo
estava desesperadamente arraigado nas convicções religiosas deles."
Dorea mal falou com os pais nos dois anos seguintes.Saiu do Peabodye
passoua se dar com uma turmapuzzÁque morava no centro de Denver.A antiga
aspirante a trompetista passoua circular pela cidade com a cabeçaraspada
e usando botas de combate . Depois de um ano de trabalho numa lqa de restauração
de tapetes,matriculou-sena FaculdadeEstadualMetropolitana de Denver uma
instituição em que a maioria dos alunos não morava no caznPzzi.
Ali, travou
uma luta constante com suas emoções,chorando com frequência em público, e
logo começou a consultar um terapeuta, quc a diagnosticou como deprimida.
A terapia da fala não trouxe grande alívio e, na semana das provas anais, na
primavera de 1998,Dorea descobriu que não conseguia dormir. Quando apareceu
agitada e meio maníaca no consultório do terapeuta, ele teve uma nova explicação
para tudo que a infernizava: transtorno bipolar. "Fui informada de que aquilo era
uma doença crónica e de que a frequência dos meus episódios aumentaria, e de
que eu precisaria tomar remédios pelo resto da vida", recordou.
46
Reflexões Experienciais
"Sabe de uma coisa?", disse ela, admirada com o que estava prestes a confessar,
"Eu adorava aquele troco. Era como se finalmente eu houvesseencontrado a
resposta. Porque, imagine só, eu não tinha emoções. Era ótimo. Eu não chorava
mais'
"Até então, eu sempre havia pensado ser um daqueles casosem que a doença é
claramente biológica", disse ela. "Não podia ser situacional. Não havia acontecido
47
ANATOMIA DE UMA EPIDEMIA
nada de terrível na minha vida. Mas então, pensei: bem, eu assumi que era lésbica
e não tive nenhum apoio familiar. Ora, era o óbvio. Isso podia ter sido meio
estressante."
48
Reflexões Experienciais
essasduas famílias foi que elas chegaram a conclusões opostas sobre o que era
melhor para seusfilhos, e senti curiosidadede saber de que informaçõeseles
haviam disposto ao tomarem suas decisões.
"Começamos a nos preocupar com o Nathan quando ele tinha 3 anos", disse a
mãe. "Notamos que eJc era hiperativo. Não conseguia ficar sentado até o íim de
uma refeição, não conseguia nem mesmo se sentar. A hora das refeições consistia
em ele correr em volta da mesa. Era a mesma coisa no maternal: ele não conseguia
parar quieto. E também não dormia. Íamos até as 9 ou 10 horas da noite para
fazê-lo adormecer. Ele dava chutes e gritos. Não eram acessosde pirraça normais."
Primeiro eles levaram Nathan à sua pediatra. Mas ela relutou em diagnosticá-
lo, e assim, os pais o levaram a um psiquiatra, que concluiu rapidamente que o
menino soh'ia de "transtorno do déficit de atenção com hiperatividade [TDAH] "
Seuproblema, explicou o psiquiatra, era de natureza "química". Apesar de ficarem
nervososcom a ideia de dar Ritalina ao filho -- "Estávamospassandopor tudo
aquilo sozinhos, e não sabíamos nada sobre TI)AH", disse a mãe --, aproximava-
se a hora do jardim de infância e eles ponderaram que isso seria o melhor para
Nathan. "A hiperatividade o estavaimpedindo de aprender", dissea mãe. '!A escola
nem queria que o puséssemosnojardim de infância, mas nós dissemos: 'Não, nós
vamos manda-lo'. Tomamos a decisão de fazer com que ele seguisseem frente."
49
ANATOÀ41ADE UMA EPIDEMH
ele quase pareceu enrubescer. Ficou quieto durante a maior parte do tempo em
que estive em sua casa, sendo até meio reservado, mas trocamos um aperto de mão
quando eu me preparava para sair e, naquele momento específico, ele pareceu um
menino muito meigo e gentil.
50
Reíiexões Experienciais
Ele e a mulher saíram da consulta sem saber o que fazer. Kelley trabalha na
agência de assistência à família do condado de Oswego, e conhecia muitas crianças
problemáticas que tinham sido tratadas com medicamentos psiquiátricos. Naquele
contexto, o município esperavaque os pais seguissema orientação médica.
"Havia uma parte de mim que pensava: talvez aJessica seja bipolar, então, é isso",
disse Kelley. Ademais, o Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual
de Nova York disse aos Smith que não tornaria a examinarJessicase ela não
fosse medicada. Tudo isso apontava para que se seguissea sua orientação. "Os
especialistas estavam dizendo que era preciso fazer aquilo, e que o problema era
biológica", disseJason; mas ele havia trabalhado como técnico em farmácia e sabia
que os remédios podiam ter efeitos colaterais potentes. "Fiquei morto de medo."
51
ANATOMIA DE UMA EPIDEMIA
talentosa", disse Kelley. "E ela havia progredido muito desdeos 2 anos. Não
conseguimos pensar cm Ihe dar aqueles remédios.
Os pais tomaram essa decisão em 2005 e, três anos depois, segundo dizem,
Jessica está passando bem. Quase só tira notas 10 na escola, e agora seus professores
achamque o diagnóstico anterior de transtorno bipolar era "maluquice". Embora
ela brigue com outras crianças, de vcz em quando, e dê respostas malcriadas
quando outra criança a provoca, ela sabe que não pode bater em ninguém. Em
casa, ainda tem pitis ocasionais, mas suas explosões afetivas não são extremadas
como antes.Jessica tem até uma recomendação pessoalsobre como os pais devem
[idar com esses chi]iques: "E]es devem dizer]à criança] 'vem cá', e fazer massagem
nas costas dela, pra ela se sentir melhor e não poder ter um pib, e aí, quando ela
para de ter o pib, é disso que ela se lembra"
52
PARTEII
Nascido na Prússia Oriental em 1854, Ehrlich passou seus primeiros anos como
cientista pesquisando o uso de corantes à base de anilha como corantes biológicos.
Ele e outros pesquisadoresdescobriramque os corantes,que eram usadosna
indústria têxtil para colorir tecidos,tinham uma afinidadeseletiva na coloração
das células de diferentes órgãose tecidos.O azul de mutila corava um tipo de
célula, ao passo que o vermelho de mutila corava um tipo diferente. No esforço de
explicar essaespecificidade,Ehrlich formulou a hipótesede que as células tinham
moléculasque se proHetavamno meio circundante e de que determinado corante
químico se encaixava nessasestruturas, que ele chamou de receptores, do mesmo
modo que uma chave encaixa numa fechadura. Cada tipo de célula teria uma
fechadura diferente, e era por issoque o azul de metila marcava um tipo celular,
ao passo que o vermelho de metila marcava outro -- eram chaves específicas para
essas fechaduras diferentes.
55
AjqATOMIA DE UMA EPIDEMIA
segundoa conclusãoda maioria dos cientistas da época, era que aquilo que era
tóxico para o micróbio certamente envenenada o hospedeiro. 'eA desinfecção
interna é impossível", declararam cientistas presentes num Congressode
Medicina Interna na Alemanha, em 1882.Mas os estudosde Ehrlich com corantes
de anilha o levaram a uma conclusãodiferente. Um corante podia colorir um
único tecido do corpo e deixar todos os demais incolores. E se ele conseguisse
achar uma substância química tóxica que interagisse com o micróbio invasor, mas
não com os tecidos do paciente? Se assim fosse, ele mataria o germe sem causar
qualquerdano ao paciente.
Escreveu Ehrlich
56
As Raízes de uma Epidemia
"A era das curas milagrosas finalmente chegou", escreveu Louis Sutherland em
seu livro ]Maglc-Bzz//efs
[Pílulas mágicas] , e de fato, encerrada a guerra, a medicina
deu continuidade a seu grande salto à frente.' As companhiasfarmacêuticas
descobriram outros antibióticos de amplo espectro -- estreptomicina, cloromicetina
[cloranfenicol] e aureomicina, para citar alguns -- e, de repente, os médicos
passaram a dispor de remédios capazesde curar pneumonia, escarlatina, difteria,
tuberculose e uma extensa lista de outras doenças infecciosas. Essas doenças
tinham sido o flagelo da humanidadedurante séculos,e tanto líderes políticos
quanto médicosfalaram no grande dia que se aproximava.Em 1948,George
Marshall, secretário de Estado norte-americano, fez a previsão confiante de que
as doençasinfecciosas não tardariam a ser varridas da face da Terra. Alguns anos
depois,o presidente Dwight D. Eisenhowerreivindicou a "rendição incondicional"
de todos os micróbios.s
57
ANATOMIA DE UMA EPIDEMIA
para reposição não houvesse alcançado o nível de uma cura milagrosa da doença,
chegara perto disso, por fornecer uma correção biológica de algo que faltava no
corpo. Em 1950, o cientista britânico sir ]:lenry Dali, numa carta ao periódico
.BdfísÀ]Medica/Jaur/za/,
resumiu essemomento extraordinário da longa história
da medicina: "Nós que tivemos a possibilidade de assistir aos primórdios desse
grande movimento podemos sentir alegria e orgulho por ter vivido esta época,
e confiar em que um avanço ainda maior e mais majestososerá visto pelos que
viverem os cinquenta anos que agora se iniciam".'
58
As Raízes de uma Epidemia
59
ANATOMIA DE LMA EPIDEMIA
60
As Raízes de uma Epidemia
de ser oferecidos a mais pacientes, e então poderiam surgir soluçõesa longo prazo,
advindas do mesmo processoque havia produzido o assombrosoprogresso da luta
contra as doenças infecciosas. As pesquisas sobre as causas biológicas das doenças
mentais levariam a tratamentos melhores, tanto para os gravemente enfermos
quanto para os que tinham apenas transtornos moderados."Possovislumbar
a chegada de um tempo em quc nós, do campo da psiquiatria, abandonaremos
inteiramente nossosancestrais, esqueceremoster tido nossosprimórdios no asilo
para pobres, na casade correção e no presídio", disse Gharles Burlingame, diretor
do Instituto dos Vivos, em Hartford, estado de Connecticut. "Posso vislumbar um
tempo em que seremosmédicos,pensaremoscomo médicos e dirigiremos nossas
instituições psiquiátricas exatamente do mesmomodo e com as mesmasrelações
que prevalecem nas melhores instituições de medicina e cirurgia."''
Em 1946,o Congresso
aprovouuma Lei Nacionalde SaúdeMentalque
pâs o poder económico do governo federal na base dessa reforma. O governo
patrocinada pesquisas sobre prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças
mentais, e concederia verbas a estados e cidades para ajuda-los a criarem clínicas
e centros de tratamento. Três anosdepois, o Congressocriou o Instituto Nacional
de Saúde Mental (NIMH) para supervisionar essareforma.
"Devemos reconhecer quc os problemas mentais são tão reais quanto as doenças
físicas, e que a angústia e a depressãoexigem uma terapia tão atavaquanto a
da apendicite ou da pneumonia", escreveuo Dr. Howard Rusk, um professor da
Universidade de Nova Vork que redimia uma coluna semanal para o BreuyorÉ7}mei.
"Todos eles sãoproblemas médicosque exigem atendimento médico."':
61
4
As Pílulas Mágicas da Psiquiatria
"Foi a pümeira cava medicamentosa
em toda a hist6 ia a psiquiatria."
Nathan Kline, diretor de pesquisasdo Hospital
Estadual Rockland, em Nova York, 1974:
63
ANATOMH DE UMAEPIDEÀaA
64
As Pílulas Mágicas da Psiquiatria
65
ANATOMH DE UMA EPIDEMIA
Berger havia tropeçado num poderoso relaxante muscular. Isso .já era bem
curioso, porém ainda mais surpreendente foi que os ratos paralisados pela droga
66
As Pílulas Mágicas da Psiquiatria
não davam qualquer sinal de estarem estressadoscom sua nova situação. Berger
deitava os animais de costas e eles não conseguiam se endireitar, mas seu "ritmo
cardíaco era regular e não havia sinais sugestivos de envolvimento do sistema
nervoso autónomo". Os ratos permaneciam parados e tranquilos, e o cientista
constatou que, mesmo quando lhes administrava doses baixas desse admirável
novo composto -- doses pequenas demais para causar paralisia muscular --, os
animais exibiam essa curiosa tranquilidade.
67
ANATOÀaA DE UMA EPIDEMIA
Por razões óbvias, o público recebeu poucas informações sobre os testes com
animais que tinham dado origem aos tranquilizantes leves. Todavia, um artigo
publicado na arie/zce
premil,e//er foi a exceçãoà regra, e o repórter que o escreveu
situou os experimentos com animais num quadro de referência humano. Sevocê
tomasse um tranquilizante leve, explicou, "isto significa que ainda poderia sentir
medo ao ver um carro acelerar na sua direção, mas o medo não o/a faria correr".' '
68
As Pílulas Mágicas da Psiquiatria
69
ANATOMIA DE UMA EPIDEMIA
70
As Pílulas Mágicas da Psiquiatria
Mas não se tratou apenasde que a AMA abrissemão de seu papel de cão
de guarda. Ela e os médicostambémpassarama trabalhar com a indústria
farmacêutica para promover novas drogas. Em 1951, ano em que foi aprovada a
Lei de Durham-Hlumphrey,
a companhiaSmith Kline, a Sociedade
Francesade
Em 1914. a Lei Harrison sobre Narcóticos havia exigido receitas médicas para o uso de opiáceos
e cocaína. A Lei de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos de 1938 estendeu essaexigência de
venda exclusiva com receita médica a um número maior de medicamentos.
7]
AN/COMIA DE UMA EPIDEMIA
Pílulas Milagrosas
A Smith Kline and French, que obteve uma licença da Rhâne-Poulencpara
vender a clorpromazina nos Estados Unidos, obteve aprovação da }'DA para o
Thorazine em 26 de março de 1954.Dias depois,a companhiausou seu programa
.4 MaxrÀada .A/edicizza
para lançar o produto. Embora a Smith Kline and French
72
As Pílulas Mágicas da Psiquiatria
73
ANATOAaA DE UMA EPIDEAaA
a Ca/zizzme2'
-Repor/í,"não amortecenem embota os sentidos,além de não criar
hábito. Relaxa os músculos, acalma a mente e dá às pessoas uma nova capacidade
de aproveitar a vida".27
Contudo, em curtíssimo prazo, até esse toque de cautela foi posto de lado.
Em 1957, o .NemYór#71mei noticiou que agora os pesquisadores acreditavam que
74
As Pílulas Mágicas da Psiquiatria
75
ANATOMH DE UMA EPIDEhaA
Mas essaera uma descoberta que falava sobre drogas que "desligavam" certas
regiõescerebrais. Não normalizavam o funcionamento do cérebro; criavam uma
patologia profunda. Ao mesmo tempo, entretanto, os pesquisadoresinformaram
que as anfetaminas -- drogas que sabidamente desencadeavamalucinações e
delírios paranoicos -- elevavam a atividade dopaminérgica no cérebro. Assim,
deu-se a impressão de que a psicose seria causada pelo excesso de atividade
dopaminérgica, a qual os neurolépticos cerceariam (com isso reequilibrando
essaatividade). Se assim fosse,seria possíveldizer que essasdrogas eram de
natureza antipsicótica,e, em 1967,o cientista holandêsJacquesVan Rossum
formulou explicitamente a hipótese dopaminérgica da esquizofrenia. "Ç2uando
a hipótese do bloqueio dopaminérgico por agentes neurolépticos puder ser mais
consubstanciada,talvez tenha enormes consequênciaspara a patoflsiologia da
esquizofrenia. A hiperestimulação dos receptores dopaminérgicos poderia então
fazer parte da etiologia" da doença.':
A RealizaçãodasExpectativas
A revolução na assistência em saúde mental que o Congresso havia esperado ao
criar o Instituto Nacional de Saúde Mental, vinte anos antes, estava -- ou parecia
estar -- conc]uída. ]Hlaviamsido desenvolvidas drogas psiquiátricas que eram
antídotos para transtornos biológicos, e os pesquisadoresacreditavam que estas
funcionavam corrigindo desequilíbrios químicos no cérebro. Os terríveis hospitais
psiquiátricos que tanto haviam envergonhado a nação, no fim da Segunda Guerra
Mundial, poderiam agora ser fechados, já que os esquizofrênicos, graças às novas
drogas, poderiam ser tratados em suas comunidades. Os que sofriam de distúrbios
mais brandos, como depressãoou ansiedade,simplesmente precisariam buscar
alívio em seus armários de remédios. Em 1967, um em cada três adultos norte-
americanos recebeu uma receita de um medicamento "psicoativo", e o total de
vendas dessasdrogas atingiu 692 milhões de dólares.42
78
As Pílulas Mágicas da Psiquiatria
79
ANATOMMDE UMAEPIDEMIA
80
5
A Claçada aos Desequilíbrios Químicos
"Eis a grande tragédia da ciência -- o assassinato
de uma bela hil)ótesepor umlato abominável."
-- Thomas Huxley, 1870'
81
AIqATOMIA DE UMA EPIDEMIA
Córtexcenbral
Gânglios W
s. Núcleosderaphe
basals
g se
Lobo
Hipotálamo
Glândula
pituitária
Para a medula
82
A Caçada aos Desequilíbrios Químicos
límbico, o córtex cerebral e os lobos frontais. Essa via está envolvida na memória,
na aprendizagem,no sono, no apetite e na regulaçãodos estadosde humor e
dos comportamentos.Como assinalouEfrain Azmitia, professorde biologia
na Universidade de Nova York, "o sistema serotoninérgico do cérebro é o maior
sistema cerebral conhecido e pode ser caracterizado como um sistema neuronal
'gigantesco"'.*
83
ANATOMIA DE UMA EPIDEMIA
84
A Caçada aos Desequilíbrios Químicos
85
ANArOMH DE UMA EPIDEMIA
Isso era prova, no dizer dos pesquisadores suecos,de que haveria "um subgrupo
bioquímico de transtorno depressivocaracterizadopeia perturbação da circulação
serotoninérgica".'
Em seu estudo, Asberg relatou que 25% de seu grupo "normal" tinham níveis
cefalorraquidianos de 5-HIAA abaixo de 15 nanogramaspor mililitro. Cinquenta
por cento tinham de 15 a 25 nanogramasde 5-HIAA por mililitro, e os 25%
restantes tinham níveis acima de 25 nanogramas.A curva em forma de sino de
seussujeitos "normais" mostrou que os níveis de 5-1:11AAeram bastante variáveis.
Mas o que Asberg não observouem sua discussãofoi que a curva de distribuição
normal dos 68 pacientes deprimidos de seu estudo era quase exatamente idêntica.
Vinte e nove por cento (20 dos 68) tinham contagensde 5-HIAA abaixode 15
nanogramas, 47% tinham níveis entre 15 e 25 nanogramas, e 24% tinham níveis
acima de 25 nanogramas. Vinte e nove por cento dos pacientes deprimidos podiam
ter níveis "baixos" de metabólitos de serotonina no líquido cefalorraquidiano
(esseera o "subgrupo biológico" da investigadora), mas, por outro lado, o mesmo
acontecia com 25% das pessoas "normais". O nível médio dos normais era de 20
nanogramas e, como se constatou, mais de metade dos pacientes deprimidos 37
em 68 -- tinham níveisiaPeHozei
a essevalor.
Visto dessa maneira, o estudo de Asberg não tinha fornecido nenhuma nova
razão para se confiar na teoria serotoninérgica da depressão. Investigadores
japoneseslogo revelaram, invo]untariamente, a lógica equivocadaque estava em
ação. Relataram que alguns antidepressivos (usados no Japão) bloqueavam os
receptores de serotonina, inibindo o disparo dessasvias, e assim, raciocinaram
que a depressãoseria causadapor um "excessode serotoninalivre na fenda
sináptica".9 Eles empregaram o mesmo raciocínio retroativo que dera origem à
teoria da depressãoexplicada pela baixa serotonina e, se o tivessemdesejado,os
cientistas japoneses poderiam ter apontado o estudo de Asberg para corroborar
sua teoria, uma vez que os suecoshaviam constatadoque 24% dos pacientes
deprimidos tinham níveis "altos" de serotonina.
86
A Caçadaaos Desequilíbrios Químicos
l
Os pesquisadores do NIMH também examinaram algumas outras associações possíveis entre
níveis variáveis de neurotransmissores e a resposta a um antidepressivo. Mediram metabólicos
da norepinefrina e metabólitos da dopamina; dividiram seus pacientes deprimidos em grupos
de bipolares e unipalares; e avaliaram a resposta deles a dais antidepressivos a imipramina
e a amitripúlina. Encontraram associaçõesdiscretas entre vários dessessubgrupos e sua respo:ta
a uma ou outra das drogas; no texto acima eu me concentrei nas suas constatações quanto a (a) a
depressão dever-se a níveis baixos de serotonina e (b) o subgrupo de pacientes com níveis baixos
de serotonina responder melhor a uma droga que bloqueia seletivamente a recaptação desse
neurotransmissor.
87
ANATOMIA DE UMA EPIDEMIA
O .D©à-Huda Dopamina
Ao formular sua hipótese dopaminérgica da esquizofrenia, Van Rossum
assinalou que a primeira coisa que os investigadores precisavam fazer era
"consubstanciarmelhor" o fato de que as drogas antipsicóticasrealmente
reduziam a transmissão da dopamina no cérebro. Isso levou algum tempo, mas,
em 1975,SolomonSnyderlda Faculdadedc Medicina Johns Hopkins, e Philip
Seeman,da Universidade de Toronto, explicaram como as drogas surtíam esse
eleito. Primeiro, Snyder identificou dois tipos distintos de receptoresde dopamina,
conhecidos como D: e D,. Em seguida, os dois pesquisadoresdescobriram que os
antipsicóticos bloqueavam de 70% a 90% dos receptores D,.'' Os jornais passaram
então a falar de como essasdrogas poderiam corrigir o desequilíbrio químico no
cérebro.
88
A Caçadaaos DesequilíbriosQuímicos
89
ANATOMH DE UMA EPIDEMIA
mais uma vez aos leitores a verdade. "Não há provas convincentes de que uma lesão
no sistema dopaminérgico seja uma causa primária da esquizofrenia", escreveu.2a
90
A Caçada aos Desequilíbrios Químicos
iUedíc;i/ze,
escreveuum epitáfio admiravelmentesucinto para toda essahistória:
"Saímos à caça de grandes e simples explicações neuroquímicas dos transtornos
psiquiátricos e não as encontramos"."
91
AIqATOAaA DE UMA EPIDEMIA
Isso nos leva à nossa próxima grande indagação: se as drogas psiquiátricas não
regulam uma química cerebral anormal, o que elasfazem?
Prozac na Cabeça
Durante as décadas de 1970 e 1980, os investigadores montaram descrições
detalhadas de como as várias classes de drogas psiquiátricas amuamno cérebro
e de como o cérebro, por sua vez, reage a elas. Poderíamos relatar a história dos
antidepressivos, dos neurolépticos, das benzodiazepinas ou dos estimulantes,
e todas as narrativas f'dariam de um processomais ou menos comum em ação.
Entretanto, visto que a história dos desequilíbriosquímicos, na mentalidade
popular, realmente deslanchoudepois que a Eli Lilly introduziu no mercado o
Prozac (fluoxetina), parece apropriado revermos o que os cientistas da Eli Lilly
e outros investigadores, em relatórios divulgados em publicações científicas,
tiveram a dizer sobre como funciona de fato esse"inibidor seletivo de recaptação
deserotonina"
92
A Caçadaaos Desequilíbrios Químicos
H
A longo prazo, parece que a liberação de serotonina cai a um nível anormalmente baixo, pelo
menos em algumas regiões do cérebro.
93
ANATOMH DE UMA EPIDEMH
Os cientistas da Eli Lilly estavam bem cônscios disso. Em 1977, Ray Fuller e
David Wong observaram que, por perturbar as vias serotoninérgicas, a ftuoxetina
poderia ser usada para estudar "o papel dos neurónios serotoninérgicos em várias
funções cerebrais -- comportamento, sono, regulação da liberação de hormânio
pituitário, termorregulação, reação à dor e assim por diante". Para conduzir tais
experlmentos, os pesquisadorespoderiam administrar nuoxetina a animais e
observarquais funções ficavam comprometidas. Eles buscariam o surgimento de
pala/ogías.Na verdade, esse tipo de pesquisajá vinha sendo feito: em 1977, Fuller e
Wong relataram que a droga provocava "hiperatividade estereotipada" em ratos e
"eliminava o sono ]iEM" em ratos e gatos.43
/t
Em 1 991, num artigo publicado nolozzr7za/ af C;/ ?zic;a/ c;éíafp, BarryJacobs,
neurocientista de Princeton, frisou exatamente issoa respeito dos ISRS,escrevendo
que essasdrogas
94
A Caçada aos Desequilíbrios Çjluímicos
95
ANAL'Oh4HDE UMAEPIDEMH
De Volta ao Começo
Ainda que o artigo do dr. Hlymanpossaparecer espantoso,ele servede coda
para uma narrativa científicaque, na verdade,é coerentedo começoao fim.
A conclusão dele foi algo que se deva ver não como inesperado, mas como previsível
no capítulo inicial da psicof'armacologia.
96
A Caçadaaos Desequilíbrios Químicos
97
PARTEIII
RESUI;].ANOS
6
Revelação de um Paradoxo
"Se quiseTmoslundamentara bsiquiatTiü na medicina baseada
em evidências, covTeremoso uevdadeiro risco de examinar mais
le perto o quehâ muito secomidera uma realidade."
-- Emmanuel Stop, psiquiatra europeu, 2002'
10]
ANXFOMH DE UMA EPIDEMH
doença e esperar que ela conte uma história consistente e coerente. Será que os
tratamentos medicamentososalteram para melhor o curso a /pago,pra,zode uma
doença mental -- na população geral dos pacientes --, ou será que o alteram para
pior
Uma vez que a clorpromazina (Thorazine) foi a droga que lançou a revolução
psicofarmacológica,parece apropriado investigarmos primeiro os resultados da
esquizofrenia.
102
Revelação de um Paradoxo
Agora, portanto, temos que perguntar: qual é o espectro natural dos resultados
desse
grupo de pacientes psicóticas?Aqui, infelizmente, esbarramos num segundo
prob[ema. De ] 900 até o fim da SegundaGuerra Mundia], as atitudes eugênicas
em relação aos doentesmentais eram muito popularesnos EstadosUnidos, e
essafilosofia social afetou drasticamente os resultados. Os eugenistas afirmavam
que os doentes mentais precisavam ser isolados em hospitais, a fim de serem
impedidos de ter filhos e de espalhar seus "genes ruins". O objetivo era mantê-los
confinadosem manicómios,e em 1923um editorial doloama/ of.IZexediO
concluiu,
com ar de satisfação, que "a segregação dos loucos está praticamente concluída".s
Em consequência disso, muitas pessoasdiagnosticadas como esquizofrênicas, na
primeira metadedo séculoXX, foram internadase nunca mais tiveram alta, e
essapolítica sacia! foi então erroneamente percebida como um dado sobre os
resultados. O fato de os esquizofrênicos nunca deixarem os hospitais foi visto
como prova de que a doença era crónica e irremediável.
l
Durante esseperíodo, a esquizofrenia era um diagnóstico largamente aplicada aos indivíduos
hospitalizados.Hoje, muitos dessespacientes seriam diagnosticadoscomo portadores de
transtorno bipolar ou de transtorno esquizoafetivo. Não obstante, esseera o diagnóstico das
pessoas mais "gravemente perturbadas" na sociedade norte-americana daquela época.
103
ANATOMH DE UMA EPIDEMH
1o4
Revelação de um Paradoxo
105
ANATOMIA DE UMA EPIDEMIA
Justiça seja feita, o NIMH organizou uma conferência, em setembro de 1956, para
"examinar cuidadosamente toda a questão dos psicotrópicos", e as conversas dessa
conferência acabaram por se concentrar numa questão muito específica: de que
modo poderia a psiquiatria adaptar para seu uso uma ferramenta científica que
recentemente provara seu valor na medicina das doenças infecciosas -- os testes
clínicos aleatórios, duplos-cegos e controlados por placebos?''
106
Revelação de um Paradoxo
Foi nesse momento que a medicina das pílulas mágicas moldou o futuro da
psiquiatria. O uso do teste clínico levaria os psiquiatras a verem suas terapias
por um prisma muito particular, e, já na conferência de 1956,Joseph Zubin,
pesquisador do Instituto Estadual de Psiquiatria de Nova brk, alertou para o fato
de que, quando se tratava de avaliar uma terapia para um transtorno psiquiátrico,
um estudode seissemanasinduziaa uma espéciede miopia científica."Seria
temerário reivindicar uma vantagem definitiva para determinada terapia sem um
acompanhamento de dois a cinco anos", disse ele. "Um acompanhamento de dois
anos seria o mínimo para avaliar os efeitos a longo prazo.""
107
ANATOMH DE UMA EPIDEMIA
A DefesadosNeurolépticos
O Centro de Serviçosde Psicofarmacologia
lançou seu teste sobre os
neurolépticos em nove hospitais, em 1961,e foi esseestudo que marcou o início do
registro científico que hoje serve de "base de comprovação" dessasdrogas. No ensaio
feito em seis semanas,270 pacientesforam medicadoscom Thorazine ou outros
neurolépticos (que também eram conhecidos como "fenotiazinas") , enquanto outros
74 receberamum placebo. Os neurolépticos ajudaram, de fato, a reduzir alguns
sintomas-alvo ideias irrealistas, ansiedade, desconfiança, alucinações auditivas
etc. -- melhor do que o placebo, e, portanto, de acordo com o escore cumulativo das
escalas de avaliação, eram eficazes. Além disso, os psiquiatras do estudo julgaram
que 75% dos pacientes medicados haviam "melhorado bastante" ou "melhorado
muito", em contraste com 23% dos pacientes que receberam o placebo.
108
Revelação dc um Par:\doxo
l\' 1-=1á
liina fallla t:videnteila meta-ailáliscdc Gill)trrt.Ela irãodc'tciillinoti sca vc:locidadc
da retira(la
das drogas alctou o ín(vicede i'ccaídas. Depois da pu])]icação de scu esttt(]o, A(lcle Viguera, da
Faculdadede Medicina de l larvar(l, rc:titalisou os iilcsiilos (i6)c'stu(losc (lcteiiiiinoti (luq (luaitdo
s cli'ocas cl'aili i'ctii'a(líts aos l)éticos, o iil(licc (le t'c(.at(lít cllegava a apeitíts uin tet'ço (lo coilstíitaclo
nos cstti(los sobre rctira(l;t abitll)ta. O inodc]o de i'ctiril(]a abril)ta (la nlaioriii dos estudos sobre
recíií(la atiillcntava diítsticamcilte o risco dc (luc os pítcientes cs(luizofi'eólicostoiilasscnl a adoccei:
C;omefeito, o índice(lc rccaídítdos pítciciltcs entre os(leais a (drogafoi giaclualmc:ircrctii'a(la
lsscincllioti-se ao observado entre os pacientes (lttc tiveram a medicação menti(la
l oç)
ANATONIIA DE UN;L\ EPII)ICh,IIA
Surge um Enigma
Embora os comentários de Dixon c Stip sugiram que não há dados de longo
prazoa reexaminarna verdadeé possívelconstruira históriade comoos
antipsicóticosalteraram o cursoda esquizofrenia,e essahistória tem início, muito
apropriadamente, com o estudo de acompanhamento feito pelo NIMH com os 344
pacientes de scu teste inicial em nove hospitais. Em alguns aspectos, os pacientes
- independentemente do tratamento que haviam recebido no hospital não
estavam muito mal. Ao cabo de um ano, 254 viviam na comunidade, e 58% dos que
seria espeiávelque estivessemtrabalhando, de acordo com sua faixa etária e seu
sexo, de fato estavam empregados. Dois terços das "donas dc casa" funcionavam
l)em nessepapel doméstico.Embora os pesquisaclorcsnão tenham informado
sobre o uso de medicamentos pelos pacientes no acompanhamento feito após
un] ano, eles 6lcaiam chocados ao descobrir que "os pacientes (lue recel)eram o
tratamento com o placebo [no teste de seis scmanas] tinham //?e/zai
probabilidade
cle voltar a ser hospitalizados do que aqueles que receberam qualquer das três
fenotiazinas ativas".20
110
Rcvclação dc una I'aradoxo
eram comlms, e os pcsquisíldorcs obscrvaram que "a recaída tem maior gravidade
durítnte a administntçãodc drogas do quc quando não é fornecida nenhuma
mcdicitção".a2Ao incsmo tenipq quando os pacientes sofriam recaídas depois dc
abandonar os mcdicamciitos, Cole notou que seus sintomas psicóticos tendiam a
"pcisistir e sc intensihcttr" e, pelo llienos por algum tempo, eles sofriam tambéti] de
llilla ]llultiplicidade dc novos sintonias: náusea, vâmiLos, diarreia, agitação, insónia,
dores dc cítbcça e tiques illotorcs cstrtuihos.23A exposição inicial a um nctiroléptico
parecia preparar os pacientes para unl futuro de cl)isódios psicóticos graves, c isso
ocorria indepcndeiitemcnte dc eles continuarem ou não com os rcméclios.
previdência c clc outras formas dt: apoio. "Dc modo biLstanteint'spc';'do, esses
dados sugerem quc as drogas psicotrópicas talvez não sejtun indispensáveis",
cscrevcran] Bockovcii c Solomon. "Sctt uso coiitíntlo nos cuidados pós-internação
pode prolongar a dependêitcia social de nlllitos l)acientes que receberatlt ilha."z'
Com o crcscimciito do debate sobre os illéritos dos ncuiolépticos, o NIMIH
íiitanciou três estudos, durante a década dc 1970, para recxaminar sc os pacientes
csquizofrênicos
-- e, em particlilar, os que sofriam lim primeiro episódiodc
esquizofrenia podiaili scr tratados caiu sucessosem mcdicainc nãos.No primeiro
estudo, que foi conduzido por Williitm Carpcnter e Thotllas NlcGlashan ila
tii)idadedr' pesquisasclínicasdo NINll-l, em Bethcsda,no estadade Nlaryland,
os pacientes trlltaclos senoremédios i'ccebeiam ÍLlt;l //lrríscí'daque us tratados com
l ll
AN,\TOXINA DI; UX[A EPII)I=NIIA
112
Revelação dc una Paradoxo
Placcbo/sc
111
medicação 24 1,7 }i%
O terceiro estudo foi cotlcluzido por Loreit Moshcr, que chegava as l)csquisas
sobre esquizofrenia no NIN'IH. Embora l)udesseser o principal médico do país
nessa matéria, na época, sua visão da esquizofrciiia discos'davada(lucla de muitos
de seus p:trem que haviam passadozl }tchar quc os csquizufrênicos sofriam dc llm
'cérebro avariado". Mosher acreditada (luc a psicosc podia surgir em resposta a
tríttimas al'etivose intcrnus, c que, à sua maneira, podia scr um mecanismo de
enfrcntiunt'nto. Assim, acreditava haver a possibiliclacledc as pessoaslide\rcm
com suas alucinaçõese delírios, lutarci]] para atravessar surtos esquizofrénicos
r' rccuperarcnl a sanidade. E, se assim ei'a, ele ponderou que, se pioporcionassc
aos píLcientes com psicoses recentes uma tnorada segura, onde os profissionais
tivessem uillít evidente empatia com outras pessoasc não sc ítssustasscmcom
comportamentos cstraiihos, inliitos íicariitm bons, mesmo não scitdu tratadas covil
antipsicoticos."Eu ;achavaqtic o cnvolvinlcnto hutnano sincero (' a conipreelisão
eram cruciais para as intcraçõcs cunltivas", disse. "A iclcia era tratztr as pessoas
como pessoas,como seres humanos, com dignidade e respeito.
\'
o termo vcm (lo git:go ió/ê4 -êzos, ''protetor salvador", c (lc .fó/êdo/z, "salvítção"; o nlcsmo ra(local
oi'iginou sotérias, antigas festas dc ação dt' graças para agiadcct i' aos deuseso al'astamento dr um
l)t'rico grave, c também sotcriologia, a l)iLrtc da teologia quc trata da salvação do Homem.(N.T)
1 13
ANATOXIIA 1)1;UNIA EPII)I{XII/\
todo, o Projeto Soteria funcionou durante 12 anos, com 82 pacientes tratados nas
duas casas.Já em 1974, Moshcr começou a relatam que seus pacientes da Soteria
passavammclhor do que uma coorte equiparável de pacientesque vinham sendo
convencionalmentetratados com nledicamcntos num hospital, e, cm 1979,cle
anunciou seus resultados após dois anos. Ao cabo dc seis scmanas, os sintomas
psicóticashaviam se atenuado tanto cn] seus pacientes da Soteria quanto
nos pacienteshospitalizados,e, ao cabo de dois anos, os pacielltesda Soteria
tinham "escoras psicopatológicosmais baixos, menor número de rcinternações
[hospitalares] e melhor adaptação glol)al"." Nlais tarde, ele eJohn Bola, um professor
assistenteda Universidadeda ClaliíbrniaMeridional, apresentaramum relatório
sobre scu uso de medicamentos: 42% dos pacientes da Casa Soteria nunca tinham
sido expostos a t'emédios,39% haviam-nos usado temporariamente, e apenas 19%
haviam ncccssitado deles durante todo o período de dois anos dc acompanhamento.
No conlcço (la década dc 1960, Philip }.'lay conduziu um estudo (luc coillparou cinco formas de
\J
114
Revelaçãodc um Paradoxo
115
ANA'rOhlIA DI.; UÀI/\ EPmI: [I/\
haviam demonstrado que pelo mcnos 50% de todos os esquizofrênicos podiam sair-
se bem sem medicamcntos.Havia apenasuma atitude moralmente correra que
a psiquiatria podia tomar: "Todo paciente esquizofrênico ambulatoi'ial mantido
com medicação antipsicótica deve ter o benefício de uma experiência adequada
sem drogas". Isso, cxplicou ele, salvaria muitos "dos perigos da discinesia tardia,
bem como dos ânus financeiros e sociais da terapia medicamentosa prolongada".3'
116
Revelação dc una Paradoxo
estado hipc:rativo e, em pouco tempo, a Iníqua clo l)ilciente passavita cittrar c sair
i'itnlicilmeilte cl{ slil bocít (discint'sia tardia) {' os sintomas psicóticas sc agiavavitili
(psicosetardia). Assim, os médicos prccisaviiiil reco'içardosesmítis altas clc
aiitipsicóticos, a hin clc atenuar c'ssc's
sintomas tardios. "0 trzttatncnto itiais clicaz
é o próprio agente causal: o iicuroléptico", ;lHlnilaramChouinilrtl cJoncs.
1 17
ANATON[IA DE UNIA EPIDENIIA
118
Rc:vt:lapãode um I'aradoxo
1 19
ANA'l'OÀII/\ I)E UMA EPIDER{IA
120
R(.vclação clc um Píu'acloxo
blue os dos pacientes dos Estados IJnidos c de outros cinco "países desenvolvidos"
Os priitleiros tinham lama probabilidade muito ntaior de estarem assintomáticos
durante o períodode acompanhamento
e, o que era ainda i)leis importante,
desfrutavam de "uin rcsliltado social excepcioilalnlcntc bom"
121
ANATONIIA 1)1:UX,[AEPII)I.:N]IA
122
Revelação clc lml Pai'adoxo
Sceman pondcrou quc cia por isso que os antipsicóticos funcionavam: pelo
bloqueio dos receptores D,. Em sua pesquisa, entrctanto, também constatou
que essesmedicamcntos,inclusive os rllais novos,como o Zyprexa e o Rispci'clal,
duplicavam a densidade dos receptores D: dc "alta agilidade". Eles induziam
a mesma anos'validade induzida pelo pó de anjo, dc modo qtic essa pesquisa
123
ANATOX.[I/\ DE UMA EPID]=NIIA
O estudo l,ongitudâ,nal.deNanc?Andreasen
usando a ressoa,â,n,cia
tnagnética
Em 1989, Nancy Anda'easen, uma professora de psiquiatria da Univcrsidade
de lowa, que viria a ser editora-chefe do 4//zedfa/zoar/r/za/
of.l)gcÀia/p de 1993a
2005,deu início a um estudo a longo prazo com mais dc quinhentos pacientes
csquizofrênicos. Em 2003, informou que, na época do diagnóstico inicial, os
pacientes tinham lobos frontais ligeiramente menores do que o tamanho normal,
e que, nos três anos seguintes, seus lobos frontais continuaram a encolher.
Além disso, essa"redução progressiva do volume de substância branca dos lobos
frolltais" foi associadaa um agravamentodos sintomas negativose dos prejuízos
funcionais, c assim Andreasen concluiu que esseencolhimento cra prova de que
a esquizofrenia eia um "transtorno progressivo do desenvolvimento neurológico",
o qual, infelizmente, os antipsicóticos não conseguiamdeter. "Os medicamentos
attialmente usados não conseguem modificam'um processo lesivo que ocorre nn
cérebro c quc é a base subjacente aos sintomas.""
124
Revelação clc un] Para(luxo
A Ilusão do Clínico
Comparcci ao coilgrcsso dt' 20o8 dtt SociedadeNorte-Anicricana dc Psiqtliatria
(APA)poi' diva'sasrazões,masa pessoaquc cu mais qticria ouvir cra Martiil
Hairow, u]]] psicólogo da Faculdade dc Nledicina da Universidade de lllinois. De
1975 a 1983, elc incluiu 64 jovens esqttizofrêilicos nuill estudo dc longo prazo
íiiiaticiado pelo NIMH, recrutando os píLcientesdc dois hospittlis de Chicttgo.
Unl deles era particlilar o outro, público, pois isso gaialltia quc o grupo fosse
cconomicaincntc diversificado. l)esdc então, Hlarrow avztlia pcriodicanlente o
estado desses pacientes. Eles estão síiltonláticos? Em recuperação? Empregados?
Tomam medicamentos ítntipsicóticos? Os resultados dc Hanow proporcioilanl lim
quadro iltualizado dc como têm se saídoos pacientesesquizofrénicosnosEstados
Unidos, dc modo qttc seu estudo pode levei nossa invcstigação da lutei'atura
científica a um clímax apropriado. A acreditarmos ilo saber convencional, os
pacientes que continuassem tl tomar tultipsicóticos deveriam ter os melhoics
rcsliltados. A acredit;limos na literatuni científica quc acab2tmosdc examinar, o
resultado deveria scr o inverso.
125
ANATOX[I/\ DE UNIA EPI])ENFIA
50%
45%
Sem
40%
antipsicóticos
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
o%
Acompanhamento Acompanhamento Acompanhamento Acompanhamento Acompanhamento
do2anos de4.canos do7anos de10anos de15anos
Fonte: M. Harrow) "Factors involvcd in otitcomc anel rccovery in scllizopllrcnia paticnts not on
antil)sy'chotic mcclication", 7Zflazír/ra/ afNenazn andzt4elz/a/
J)üeasf, 195 (2007): 406-414.
126
Revelação dc um Paradoxo
Nít vcrdacle, não se tratou apenas de haver anais recuperações nu grupo não
ilicdicado. llouvc tanlbéili nleiius desfechosruins nessegrupo. Observou-scnula
muclançttcin todo o esPec/ra dos resultados. Dez dos 25 pacientesque paraiatn de
tomar ailtipsicóticos sc rccul)cl'eram, ll tiver'am rcsttltados razoáveisc apenas
quatro (16%) tivcranl uil] "resultado llniformenlente ruim". Em contraste,
itpcnas dois dos 39 pacientes qttc continuai'am cona a tnedicação antipsicótica
sc rccul)cl'arara, 18 tiveram resultaclusrazoáveise 19 (49%) incluíram-sc na
categoria dos rcsliltados "ttniforilicmcnte ruins". Os pacientes ineclicados tiveram
1/8 da taxztdc recuperaçãodos não medicadosc um índice três vezesmaior dc
pessimos resultados a longo prazo.
Rosutbdos razoáveis
Espectro (los resultados dc l)acientcs nlcdicados c não mc(picados.Os quc toiilaranl antipsicóticos
tivcranl um índice illtiito menor (]c rcctipcração c uma tcndência muito maior a chegar a resultados
unia'ormcnlcnteruins". Fonte: NI. }-larrow "Factors involvcd in otitcomc:and rccovcryin scllizopllrcnia
patients not on antipsJchotic mt:dication", Tire./aur/ia/efWert-ous
a/idÀ/e/lfa/l)ísraie, 11)5(2007): 406-414.
Foi esseo (luadru dc resultados rcvclado lio estudo financiado pelo NIMH, o
mais atualizado dc que dispomoslio nloii)unto. Ele também lias pt:rmitc discernir
gr/rz/z/íi
/e//zPr/
deilaorít l)ai'a quc sc tornem aparcntcs os resultados mclhures dos
pacientes não medicados. Embora essa diferença tenha começado a se mostrei'
10 filial dc dois anos, só na marca tios 4,5 ;anosé quc se tomou evidente que o
grua)o não medicado, como lim todo, vinh;t sc saindo muito melhor. Além disso,
por meio dc self rastrcamento rigoroso dos pacientes,H:\rrow descobriu por que
os psiquiatras continuam ccgos para cssc fato. Os clocntes quc largam os remédios
antipsicóticossaem do sistema, disse ele. Param de fre(lucntar programas
anibulatoriais, partamdc coilsultt\r terapeutas, panelade dizer às pessoasque já
foi'21mdiagnostica(los com esquizofrenia e desaparecem na sociedade. Algumas
das pessoas não medicados do estudo de Harrow chegarzun até a ter "empregos
de alto nível" - uma se tornou professorauniversitária, outra virou advogada--
127
ANATOhIIA 1)1;UNIA EPII)I;NII/\
Mais talcle, perguntei ao dr. Harrow por que cle achavaque os pacientes não
medicados se saíam muito melhor. Ele não atribuiu esseresultado ao fato de eles
não tomarcm antipsicóticos e disse,antes,que oscomponentes dcsscgrupo "tinham
um senso interno de identidade que era mais forte" e, depois dc inicialmente
cstabilizados com os medicamentos, esse "melhor senso dc identidade" lhes deu
confiançapara abatldotlai a medicttção "Não é quc os que hcarttm sem remédios
tenham se sttído melhor, e sim quc acluelesquc sc saíram melhor [inicialmente]
deixaram a medicação,mais tarde." Q.uandoinsisti em indagar se os resulta\dos
dele corroboravam uma interpretação diferente -- a de que os remédios piorav:tm
os i'esultadosa longo prazo --, o dr. Harrow focoumoo irritado: "Essaé uma
possibilidade, mas não a estou clefeildendo", disse. '!As pcssoasreconhecem que
pode haver efeitos colaterais. (...) Não estou simplesmente tentando evitar a
pergunta. Sou uma clãs poucas pessoas (leste campo que não recebem dinheiro das
empresas f'arlnacêuticas.
Reexaminando as Provas
Scguimos uma trilha de doclimcntos até um final surpreendente, e por isso creio
quc precisamosfazer uma última pcrgunta: scrá que todas as provasquc refutam
n saber comum se sustentam? Em outras palavras, a literatura sobre os resliltados
conta uma história coerente c sistemática? Precisamos reexaminar tudo, parti ter
certeza dc não deixar escapar alguma coisa, porque é sempre incomodo chegar a
uma conclusão que discos'dít do quc a sociedade "sabe" sci' verdade.
128
Revelação dc uin Paradoxo
Estamos tentando resolver uin ciiign)a neste livro saber por quc o número
dos doentes mentais inválidos teve lim aumento vertiginoso lias últimos cinquenta
anos --, e creio que agoi'a temos nas mãos o pi'imciro pedaço do (lttebra-cabeça.
Vimos que, na década anterior à introdução do Thorazine, ccrca clc 65% dos
pacientescomum primeiroepisódiodc esquizofrenia
recebiamalta ematé 12
meses,c a maioria dos qttc saíam não voltava a ser internada nos períodos cle
acompanhamento dc quatro e cinco alias. Também foi isto quc vimos no cstudo
dc Bockoven: 76% dos pacientes psicóticas tratados com uma forma progrcssista de
atendimento psicossocial,em 1947,viviam com sucessocn] sociedadccinco anos
depois. Nuas,como vimos ilo estudo d( Hairow apenas 5% dos esquizofrénicos cujít
129
AN,VI ObIIA DE UMA EPII)I;XII/\
13o
Revelação dc um Paradoxo
13
ANATOXIIA DE UNHA EPII)ENFIA
Em 2005, ela sc aproximou mais de un] velho amigo, vinte anos mais velho
c pertencente a uma comunidade religiosa fundamentalista. Katc comcçou
a frequentar as reuniões deles e, por sua vez, eles começaram a orienta-la a sc
132
Revelação cle um I'aradoxo
133
ANATONÍIA DE UNIA EPII)EMPA
onde (suei que aquilo me levasse, porque, se caísse da corda bamba, voltaria para
o hospital.
Foi nesse momento perigoso, (quando parecia [)rcstes a desabar que Kate
concordou em sc cnconti'ar com a mãe para jantar. "Achei que ela estava tendo
um surto", disse a mãe. "Ela se sentou toda certinha, com um ar disperso e
desorganizado. O corpo estava rígido. Vi muitos dos mesmos sintomas de antes.
Os olhos estavamdilatados e ela paiccia paranoide." Ao saírem do restaurante,
a mãe começou a conduzir o cano na direção do hospital, mas mudou de ideia no
último segundo.Katc "não estava tão maluca" que precisasseser internada. "Fui
para casa c chorei", recordou a mãe. "Não sabia o quc estava acontecendo.
Pelos cálculos da mãe, Kate levou seis meses para atravessar esse processo cle
desabituação.Nuasemergiu do outro lado /7alzlÉnrpzrzda.
"VI que o rosto dela estava
cheio de vida e que ela estava mais ligada ao corpo", contou a mãe. "Sentia-se à
vontade no próprio corpo c mais cm paz do quc nunca com ela mesma. Estava
fisicamente saudável.Eu não sabia que esse tipo de recuperação cra possível."
Em 2007,Katc casou-secom o homemmais velho quc a tinha incentivadoa
seguir essecaminho; também logrou êxito em seu ti'abalhn de gel'ente de uma
instituição para pcssoascom problemas psiquiátricos, e a cmprcsa reconheceu scu
desempenho "extraordinário" em 2008 -- reconhecimento que veio acompanhado
por um prêmio em dinheiro.
As vezes,Kate ainda luta. A instituição que ela dirige abriga vários homens
com desvios sexuais -- ':Já tive gente dizendo quc ia atear fogo em mim, ou quc ia
urinar na minha boca", disse --, e suas reações emocionais a essa tensãojá não são
embotadas pelos medicamentos. "Faz dois anos que não tomo remédios e, àsvezes,
é muito, muito difícil lidar com as minhas emoções.Tendo a ter uns acessosde
raiva. Sela que os remédios cobriram minha mente com uma nuvem tão grande,
me deixaram tão comatosa quc nunca desenvolvi habilidades pai'a lidar com
minhas emoções?Hoje eu me descubro ficando com mais raiva do quc nunca e mc
sentindo mais feliz do que nunca. O círculo dos meus abetos está aumcntanclo. E,
sim, é fácil lidamcom isso na hora em que a gente está feliz, mas como lidar com o
abetoquando a gente está furiosa? Tenho me empenhado em não me deixar ficar
defensiva demais e procurado levar as coisascom calma."
134
R(:vclação dt: um Paradoxo
135
7
A Armadilha das Benzodiazepinas
O queparecia nutilo bottt nas l)enaodia(epinm, (lüaltdo ett brittcaua
co»l elm, ela quereíilmeittepareáait\n\ dispor de urna droga quenão tinhti
iltnitos probLentas. Em reLrosbectiua, Pllrém, uê-se que ela co?ltopõr culta chave
de Brida dentro de unl relógio de bula c esperar que ela ttão cau\asseestragos.
-- AlccJcljller mé(fico britânico quc conduziu os primeiros
ensaios com ui la benzodiazepina no Reino Unido, 2003
Os fãs de J4ad.A4elz,
seriada d;t televisão a cabo quc fala d:t vida de Don Draper
c outros l)ublicitários da avcilid:t Àladisoil lio começoda décadítdc 1960,talvez
se recordem de uma ccna do último cpisó(lio da segunda temporada cm qut'
unia amiga da mtilhcr dc Draperl Betty,diz a cla: "\vocêquer um Nliltown? E a
únicít coisa qtic tem nle impedido dc i'oer as unhas até o sabugo". Foi um toqlic
interessante, historicamente corneto, e, se os criadores dc ã4ad .A4e/imantivercm
essaexatidão na reprodução de época, ila terccini temporada e lias scguintes, que
contarão a história dos hoincns claptiblicidadc e suas famílias nos anos turbulentos
dc tiieados tla década dc 19(iO,os telespectadorespoderão esperar que BeLty
Draper e suas amigas vasculham alias bolsas c façam referências dissimuladas
[o "a:judantczinho da mamãs'". A companhia fan1]21cê]itica Hoffn)ztnn-La Rocha
introduziu o Valiuni no nlci'cada em 1963,ítiiunciando-o pai'ticularnlente para as
mu[hercs, e, de ]968 a 1981, c]e foi o remédio mais vendido no mundo ocidental.
No ciitanto, cilquanto os noite-americanos devoravamcssccomprimido destinado
il mantê-los tranquilos, aconteceuuma coisa muito estranha: disparou o número
de pessoítsaclmitidzts cm hospícios,prontos-socorros psiquiátricos c clínicas paUL
pacientes cxtenlos com l)roblemas mentais.
137
ANATOhIIA 1)1;UX{A EPII)I:X[IA
138
A Armadilha clãs Benzocliazepinas
139
ANATOXIIA DE IJbIA EPIDEMIA
14o
A Armadilha das Bcnzodiazepinas
141
AN,\TOhI[A DI,; UNIA E],IDENIIA
Por isso, visto (lue as benzocliazepinas têm sido largamente usadas há cinquenta
anos,precisamosver o que a ciência tem a nosdizer sobre essasdrogas,e se o uso
delas estaria contribuindo de algum modo pala o aumento do número de inválidos
por doença mental nos Estados Unidos.
EÓ,cá.ci,a
a culto pTa
Como pode atestar qualquer um que tenha tomado uma benzodiazcpina,ela
age com rapidez e, se a pessoanão se houver habituado à droga, esta entorpccerá
seu sofrimento emocional. Desse modo, as benzodiaze])mastêm uma evidente
utilidade para aluclar pcssoasa atravessar ct'ises situacionais. A escritora Andrea
Tome,em seu livro ZZeHgeof 4zzxieZg
[A era c]a ansiedade],re]ata como uma
benzodiazepina Ihe pcrmitiu entrar num avião, depois dc ela ter desenvolvido um
142
A Armadilha das Bcnzodiazepinits
misterioso medo cle voar. Alas, cume revelantm os ensaios clínicos, essa eGlcácia
inlcdiata começaa diminuir depressac prtlticanicnte desttpareceao cabo dc
quatro a seissemanas.
143
ANATOÀ[IA DE UNÍ/\ EP]])ENFIA
Si,ndromes de abstâ,nênci,a
40
35
=
€
30
25
20 Retiradado
medicamento
15
10
' 'D
5
ã
UJ
0
0 7 14 28 42 56
Diasde tratamento
Nesse estudo de 1985, feito por invcstigadol'cs britânicos, os pacientes tratados com Valium não
sc saíram nlclhor quc os pacientes tratados com um placcbo clurantc as primeiras seis semanas.
A administração do Valiam foi então suspensanos pacientes club os recebiam, c seus sintomas dc
tnsic(lado dispai':ll'am l)ai'a um nível ijluito mais alto (luc o dos sintoiii;ls dos pacientes tnltados com
o placcl)o.l?onte:K. Powcr "Controlled studyofwitlldi'awal symptomsand icboun(lanxiety aftci' six
wcck couist: of cliazcpanlForgcncralist:d anxicty", BdZÜAã4cdicrz/Jarfr/za/
2ç)0( 1ç)85): 1.246-1.248.
144
A Armadilha dtts Bcnzocliazepinas
145
AN,\roxa.\ nl; UNIA Epmi;Niu
146
A Armadilha das Benzodiazepinas
Efei,tosa l,ongo
prado
Depois que pesquisadoresdos Estados Unidos e do Reino Unido determinaran]
que as benzodiazepinas iiãoproporcionavarmlenhuni alívioduradouro cla ansiedade,
surgiu uma indagaçãoóbvia: sela que essasdrogas, (quandocontinuamente
toma\das,piora/?z
o próprio sintoma que deveriam tratar? Em 1991,Karl Rickcls,
da Faculdadede Medicina da Universidadeda Pensilvânia,escreveusobre um
grupo de pacientes ansiosos que haviam tentado abandonar as benzodiazepinas,
três anos antes, e constatou quc as pessoasque tinham conseguidosuspen(ler o
uso tios medicamentos estavampassaitdo"significativamente" melhor do que os
pacientes quc nãu conseguiram fazê-lo.3ÕPassados poucos anos cle apicsentou um
novo estudo. Quttndo usuários de longa data descontinuitvam as beilzodiazepinas,
"ficavam mais atentos, mais relaxados e menos ansiosos,e essa mudança era
acompanhada por uma melhora nas funções psicomotoras".S7Os que mantinham
o uso clãs benzodiazepinas eram mais estressados em termos afetivos do que as
pessoas quc as abandonavam.
147
ANATOXIIADI; UNI/\EPI!)EXII/\
148
A Armadilha das Bcnzodiazepinas
Gcr:tldine Buins, uma mulher mztgra, clc cabelos ruivos escuros, aindít mora iia
casaeili quc foi criada. Sciitada comigo em sua cozinha, contou-mc:sua história,
t;ilquanto sua inãc idosa cnLntva e saía its prcssiLS.
Nascida enl 1955,Gcraldine foi uma ente'eseis falhose veio dc uma família
feliz. Scu pai ci'a irlandês, sua mãe, libanesa, c o l)airro c:in que moravam, em
Boston, cra conhecido colilo Pequeno Líbano -- um lugar' onda todos, com certeza,
sabiam o nome uns dos outros. Tias, tios c outros parentes n]oravan] por pt:rto.
Aos 18 }\nos,Geraldinc conlcçou ;l n:lnlorar uin r;tp2tz(luc inox'avamais adiante, iio
mesiiio quarteirão:Joc Burns. "Estou com cle dt'sdc então", disso-me,afirmando
que, por unl tempo, a vida dos dois dcsclobrou-sc dojeito quc ela havia cspcrado.
Gt'ralcline tinha um ciilprcqo dc quc gostava,iio selar clt' rcclirsos humanos dc
um centro dr reabilitação; o casal teve um filha) saudável (Garrett) c'm 1984 c
st' comprazia comisua vizinhailçit rmiito unida. ExtroverLidil e cheia dc energia,
Gcntldinc era liilla anfitriã constante'dc reuniõesdc fanliliarcs c amigos."l:ll
adoravaminha vida", contou-file. "Adoravatrabalhar fora, adoi'avaminhztfamília
c ;adoravaeste bairro. Fui eu qut' orgilnizei a rctinião dc rct:ncontro da turma da
!ninho c'scola pt'imária. Ainda tillha itmigos dos tempos clcjardim de inf'alicia. Eu
não poda'na scr minis boi'ltlal.
149
ANATOR[IA DE UNIA EPII)ENFIA
Nos oito anos seguintes, Geraldine passou por ciclos intermináveis de uma
combinação de medicamentos ansiolíticos e atiticlepressivos.A ansieda(lc c
o pânicopersistirame ela passoua sofrem
de um lequedc efeitoscolaterais--
erupçõescutâneas, disfunção sexual, aumento de peso, taquicardia (por causa
dos ataques dc pânico) e sangramento menstrual excessivo,este levando turma
histerectomia. "Todas as minhas conhecidas quc passaram muito tempo tomando
Ativan acabaram fazendo histerectomia, todas elas", disse Gcraldine, com
evidente amargura. Por fim, em outubro de 1996, ela consultou um novo médico,
que, depois cle considcrar sua anamnese, identificou um culpado provável. "Ele me
disse: você vem tomando um dos reinéclios mais viciantes de quc se tem notícia',
150
A Armadilha clãs Bt: nzocliazepinas
e cll pensei: 'Graças a Deus'. Caí cm prantos. Tinham sido os remédios, desde
sempre. Ett fora levadtt a adocct'r iatrogenicamente.
Três dias aittes do ciicontro que cu havia marcado com F=lalFlugnlan, quc
mora no sul da Florida, ele ille telefonou para dizer que sua ansiedadetiitha
torniLdu ;t sc dcscilcadcar e quc a ideia dc sair cle casa para uma entrevista
comigo el'a cstressímte dcinais. "Não tejiho pítssztdobem", disse-me. "Ando com
hipcrveiltilação c cuill uns problemas gastrintestinais terríveis. Acho que tenho
dc attiitcntar tltinha dose dc Klonopin.(...) E issoque está acontecendocuiiligo."
Hztl, que cu havia entrevistado por telefoiit: algtms meseslulLes, sciiLiu
iulsiedadcpela primcira vcz í os 13 anos.Baixo e acimado peso,cle não se dava
bem com os colegas do segundo grau. "Eu tinha acessosdc pânico c lim ligeiro
medo dc ficar perto das pessoas", recordou. Nos cinco anos seguintes, cle fez un]
aconsclhaillcnto l)sicológico, mas sem que Ihc reccitêlssemincdicaincntos. "Eu
t:sta\a convivendo com aquilo, lidando com aquilo", disse Hal; mas ciltão, uma
noite, nuili show dc líic#, o pânico o iltingiu caiu tanta força quc ele teve de ligar
para a família e pedir que alguém fosse busca-lo. Nu dia seguinte, um médico Ihe
dcu limo receita de Klonopin.
Eu nlc lembro dc ter perguntado ao médico: 'Vou ficar viciado c ter uma
dificuldade enorme para largar csst: tcmédio?' Também foquei preocupadocom
os efeitos colaterais. Nuaso médico dissc que cãespassariam em uiillt ou duas
scmailas, c será quc isso não enl melhor do que conviver com aqueles ataques de
pânico insllpnrtáveis? Eu respondi: 'Bom, é claro'. E, desde o primeiro compriltiido,
vi que aquilo solucionada o nlctl problema de ansiedade.Para mim, funcionou
perfeitiLmcnte. Eu me senti ótimo.
K
AN,VJ'ONIIA I)E UNIA EI,II)ENFIA
Desde então, a vida de Hal tem sido uma história de vício. Pouco depois de
começar a tomar o medicamento, ele se mudou para Satl Francisco,para levar
adiante sua carreira dc músico, e tudo correu bem l)or algum tempo ele chcgou
até a sc dar com CardosSantana,o grande guitarrista. Mas sua carteira musical
não decolou, c hcje ele acha quc parte da culpa foi do Klonopin, porque o renléclio
acabou com sua ambição c não contribuiu para a destreza dos seus dedos. Hal
acabouentrando numa depressãoprofunda -- "eu me sentia um zumbi", disse-- e,
aos 29 anos, regi'assou à Flórida para morar com os pais. Nessa ocasião, recebeu
um diagnósticocletranstornobipolar e o govci'noconcoi'douem quc a docnça
mental o deixara tão incapacitado que ele tinha direito a receber a Renda
Colnplenlentar da Previdência(SSI). Passaram-scos anos, sua mãe faleceu e,
em 2001,Hal começoua tomar dosesmaiores de Klonopin, casocontrário sua
depressão tomava-sc insuportável. O médico Ihe disse que ele estava abusando da
nlcdicação c o mandou para uma clínica dc dcsintoxicação, na qual, durante um
período dc dez dias, ele foi "dcsmamado" da bcnzodiazcpina quc vinha tomando
f.azia 16 anos.
"0 quc aconteceu em seguida foi a pior coisa qucjá vivi", disse ele. "Eu poderia
llic dai' unia lista dc sintomas,lhas ela não fai'ia justiça ao que eu atravessei
mentalmente. Mlês após mês, a coisa foi piorando cada vez mais. Eu não conseguia
clol'mir e os sintomas... o mais debilitante era a sensaçãode que eu estavamorto.
Eu sentia que o cérebro tinha sido arrancado da minha cabeça, como se eu ncm ao
menos fosse um ser vivo. Eti estava despci'sonalizado, tinha sensações esquisitas
na pele, mcu corpo pareciaestranho.Eu não qucria ]lcm mesmoentrar no
chuveiro. Até a água à tempcratura ambiente ei'a estranha na minha pele. Se cu
a anloi'fiasse ligciramcnte, tinha a sensaçãode quc ela estava me queimando até
os ossos. Eu não digeria direito a comida, passava semanas sem conseguir ir ao
banheiro, não conseguia urinar direito... Vivia num cstaclo constante de ataques
de pânico, e o médico me dizia que estava tudo na minha cabeça, que não ia me
dar receita nenhuma e que os sintomas da abstinência podiam durar no máximo
trinta dias. Eu estava afundando, focandomaluco."
Sc umil imagetn vale mais club mil palavras, as fotos que me f'eram man(li\cl:ts
por uma inulhcr dc Ohio, quc chanlitrei dt' Liz, contam suzlhistória de maiieirit
muito sucinta. Existe a foto do "antes", i]a qual ela sorri c olha para a comeracona
,lr conliíLnte, posando como unia inodclo nliin clegailte vestido l)roto. Uitaa das
mãos 2tpoia-scgnlciosaiiiciltc no quadril, o colar }tcrcsccntaum toque rcfiilado,
e o penteadodo cabelopreto revela uin l inulhcr que se apresentaao mundo
cuidadosanlciite. E há taillbéii} a foto do "clcpois", na qual os olhos itparccem
encovadosc inlctados, o rosto e tenso c coiltnlído, o cabelo ficou ralo -- cla parece
uma viciada cm iiletanfetaillina, meio enlouquecida, que tirasse uma foto depois
de ter sido detida pela polícia.
Falamos por telefbnc pela primeira vez cm julho clc 2008, três illcses depois de
cla Lomttr sua últinltl dose dc uma beiizodiazepina, nlcdicaillcilto quc havia usado
153
ANATON[I/\ DE UNIA E],I])EÀ[IA
dui'ante 13 anos. E foi assimquc Liz iniciou sua história: "Minha cabeçapai'cce
esmigalhada. É como se houvesse cavalos dando coices no meu ci'anjo"
Nos dez anos seguintes, Liz funcionou bem. Formou-secom máximo louvor
na Universidade do Estado de Ohio em 1996, fez mestrado em aconselhamento
psicológico e, após diversas aventuras, em 2002 começou a lecion:tr para a quarta
série pi'imária numa escolapública. Durante todo esseperíodo,entretanto,
a ansiedade retornou reiteradamcnte e, toda vcz que o fazia, o psiquiatra
aumentava a dose do Klonopin. E, à medida que a dose ia aumciltando, clcclinava
a capacidade de futtcionanlento de Liz. "Eu pensava: o que há de errado comigo?
Por (lue estou ficando tão i'atraída? Por (lue estou perdendo o interesse em tudo?
Fui adoecendo cada vez mais." E então, no fim de 2004, zl ansiedade, o pânico e
a depressãovoltaram num grau pior do quc nunca, além de aparecerem novos
sintomas -- obsessõese ideias suicidas. Liz foi informada cle que isso significava
que cra "bipolar", e Ihe receitarem um antipsicótico, o Abilify. "Foi aí que eu pira.
Minha ansiedade foi para os píncaros, como se mc injetassem estimulantes, e um
dia, eu estava leciotlanclo e desatei t\ chocar na sala de aula. Não aguentei mais e
fui hospitalizada num pavilhão psiquiátrico.
154
A Annadilha das Benzodiazcpinas
tratado como uma tigela de mistura", disse Liz. SÓque, quando ela perguntava aos
médicos se o coqlietel não a estaria fazendo adoecer "eles diziam: 'Tentamos os
remédios c eles não estão ajudando, de modo que o problema é você'". E de fato,
já que a medicação não funcionava, seuspsiquiatras Ihe aplicaram eletrochoques,
o que col)rou um preço de sua naemória.
No hin da entrevista, pedi-lhc para lembrar como era suavida antes dc Ihc
rcccitarem uma bcnzodiazcpina, e, mais uniít vcz, cla começou a chorar, "Naquela
época, minha allsiedadc cra como um caso bl'ando de asma, c hoje, é como sc eu
tivesse linfa doença pulmonar cm estágio terminal. Tenho pavor de não conseguir.
Sinto muito, muito medo."
155
ANATONIIA 1)1:UMA EPII)I;NIIA
"Agora tenho :alguns dias bons, e os dias ruins já não são tão ruins", disse cla.
"Acho clubpossover a luz no fim do túnel. Não há dúvida de quc vou mclhoiar.
Vou me mudar para outra cidadee, apesarde ter que começardo zcro, sei que
tudo correrá bem. Agora valorizo a vida muito mais do quc qualquer pcssoztque
eu conheça. Sinto prazer em poder andar de novo em linha rota, em poder voltar
a enxergar e até em ter umtl pula:tçãonormal. Meu cal)elo está recomeçandoa
nascer.Estou mclhorando, apenascspcrandoque o cimento saia completamcntc
do meu cérebro.
Os Números da Invalidez
Pelo menos até certo ponto, podemos fazer um levantamento do tributo cobrado
pelos medicamentos ansiolíticos nos últimos cinquenta anos. Como foi observado
no início deste capítulo, depois quc irrompeu a febre do l\'liltown, o númcro dc
pessoasque apareceram em hospitais psiquiáti'ices, centros para pacientes
ambulatoiiais e instituições residenciaispara doentes mcntais começoua ter um
aumento di'ástico. O Nlinistério da Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos
chama esse número de "episódios de atendimento a pacientes", c ele disparou de
1,66 milhão cm 1955 para 6,86 milhões em 1975, quando a "Valiumania" estava
chegando ao auge.'o Em termos dc cálculoPer c;aPfa, isso signihcou um aumento
de 1.028 episódios de atendimento a pacientes para cada ccm mil habitantes
para 3.182para cadacem mil, ou um salto que triplicou essenúmero cin vinte
anos. Embora muitos fatorcs possam haver contribuído para essa elevação (as
batalhasenlocioiiaisvivenciadaspor algumsveteranosda Gticrra do Vietnã são
uma possibilidade quc vem à lembrança, e outra é o consumo dc drogas ilícitas), a
Valiumailia foi claramente lim dos principais. No fim da décadadc 1970,o médico
cleBetty Ford,Joseph Pursch, concluiu que as bcnzodiazepinas eram "o problema
número um de saúde da ilação", isto porque sabia que elas estavamlevando as
pessoasa centros de desintoxicação, prontos-socorros c clínicas psiquiátricas.
156
A Armadilha das Benzodiazcpinas
Enlburit faça trinta ítil{)s quc painéis governamentais cle avaliação dos Estados
Uiliclos c do Reino Unido concluíram quc as bcnzodiazcpinas nãu deviam scr
receitadas ptua uso por pcríodus prolongados, painéis estes ztcoitipanhttclospor
dezenasde estudospostciiort's quc coiifirm;liam a pnidência dessaorientação,
l l)rcsciição dc betlzodiazcpinaspara uso contínuo ainda prossegue.De f'ato, lim
estudo conduzido cm 2o05 sobre pilcientes ;ansiosos,na legião da Nova Inglaterra,
constatou que ligais dc metade deles tolllava rcgulariilcllte tina benzodiazcpina,
c hoje cm dia muitos pacientes bipolares tomam bcitzodiazcpínicos como parte dc
um coquctel de tnc:dicamcntos.S2
As provascientíficas simpleslllente não pitrcccm
afetar os hábitos de mliitos iliédicos em matéria de prescrições. "Ou a lição nunca
foi aprendida, ou passotldespcrccbid;t par:\ as pcss02ts",afirmou Malcolm Ladcr.í'3
57
8
Uma Doença Episódica Torna-se Crónica
Collt o lerluede tralalttetttus dispor íueü pala
a depressão,Podentosindagar PoT(Juea invalide(
ielacio !ada co] t eta teltt {lttit\elttado."
- C:arolvn Dcwas Centro dc Saúclc htt:fetal c
l)cpendência dc Drogas, Ontário, Canadá,2001t
159
AN/IIOXIIA 1)1.;
UNIA EPII)I;NII/\
16o
Uma Doença Episódica Torna-sc Crónica
16
AN,\TOXII/\1)1;UNIAEPIDI:ALIA
162
Uma Doença Episódica Torna-se Crónica
163
ANATONII.\ 1)1;UMA EI,II)I;NII/\
muitos meses para acontecer mas era difícil algum tratamento sei' melhor do quc
o curso natural da depressãoa longo prazo.A maioria dos episódiosdepressivos,
explicou Schuyler, "segue self curso c termina com a recuperação praticamente
completa, sem nenhuma intervenção específica".i7
Tristeza Abreviada
A história dos ensaios sobre a e6lcáciados antidepressivos a curto pi'azo é
fascinante, porque revela muito sobre a capacidade dc uma sociedade c da classc
tllédica se apagarem à crença nos méritos mágicosde um comprimido, ainda que
os ensaiosclhlicos produzam, em sua maioria, resultados desanimadoras. Os dois
antidepressivosdesenvolvidosnzl décadade 1950,a iproniazida e a imipramina,
deram origem a dois tipos gerais de medicamento para a depressão,conhecidos
como inibidores de monoamina oxidase (IMAOs) c tricíclicos, c os cstudos do fim
da décadade 1950e do início da de 1960 consideraram qtic os dois tipos eram
maravilhosamente chcazes.Entretanto, os estudosforam de qualidade duvidosa,
e em 1965o Conselho Britânico de Medicina submeteu os dois tipos a um teste
mais rig( i'oso Embora o tricíclico (imipi'ítmina) tenha sc t'cvclado inodcstamcntc
superior a llm placcbo,o mesmonão se deu com o IMAO(fenelzina) . O tratamento
com essa sul)stância foi "singular'mente malsucedido".''
Quatro anos depois, o NIMH fez uma revisão de todos os estudos sobre
antidepressivos e constatou que, "quanto mais iigorosamcntc controlado o estudo,
menor o índice de melhora rcgistrado pala um dado medicamento". Ein estudos
bem controlados, 6 1%dos pacientes medicados tiveram mclhoi'a, em conta'este com
46% dos pacientesque ustlnlm um placebo,o quc significa lim benefício líquido
cle apenas 15%. "As diferenças entre a ehcácia dos medicamentos antidepressivos
e a do placebo não são marcantes", disse o estudo.i90 NIMHI conduziu então
seu próprio ensaio conaa inlipranaina, e foi somente nos pacientes com dcprcssão
psícó/{rí2
quc essetricíclicodcmonstroualgum benefíciosignificativoem relação
l uil] placebo.Apenas 40% dos pacientes medicados com tl droga concluíram o
estudo dc sete semanas, e a razão dc talitos o haverem abandonado foi qtic scu
estado "se deteriorou". Pala muitos pacientes deprimidos, concluiu o NIMH em
1970, "os medicamentos desempenham um papel dc iníluêtlcia insignificante no
''iir-n .-jÍnirn d« dnp«. n» 2{i
l(j4
Uma Doença Episódica Tot'na-se Crónica
165
AN,VI'ONIIA 1)1;UNL\ EPIDI.:XIIA
Tudo isso provocou alguns exames dc consciência por parte dos psiquiatras em
suas publicações especializadas. Ensaios clhlicos aleatórios, admitiu um editorial
clc 2009 no Bdfü/r Jaz/r/za/ogPTy/cAiafp,
haviam gerado "provas válidas limitadas
a favor do uso elosmedicttmentos.2Õ
Um gi'upo de psiqliiati'as eui'opeusafinado
à Organização Mundial da Saúde (OMS) conduziu seu pi'ópi'io exame dos dados
clínicos do Paxil e concluiu que, "entre os adultos com depressão moderada
a severa",esseISRSpopular "não era superiora um placcbo,em termos da
eficácia e aceitabílidaclc gerais do tratamento".27A coilíiança na eficácia desses
medicamentos,cscreveuo psiquiatra gregoJohn loannidis, que exerce um cargo
na Faculdadede Medicinada UniversidadeTufos,em Massachusetts,
era um
mito vivo". Um cxame dos dados clínicos sobre os ISRS tinha levado a um final
deprimente para a psiquiatria, e, como brincou loannidis, ele c seuscolegasnem
sequei'podiam recoi'i'er ao Pi'ozac e aos outros ISRS para obter alívio dessa notícia
desanimadora porque, infelizmente, "é pi'ovável que eles não funcionem".2n
l(j6
Uma Doença Episódica Torna-sc Crónica
167
ANATOXIIA1)1;UMA EPIDI,:NIIA
168
Unia Doença Episódica Torna-sc Crónica
Todos os Psicotrópicos
Funcionam dessa Maneira?
Entborit unl punhado clt: médicos europeus possa ter, iio fim dos anos 60 c
início dos 70, soado o dai'nle sobic o cuido modificado da depressão, só cm 1994 é
que llm psiquiatra italiano, Giovanni Fava,da Univcrsidtlde de Bulonha, atluticioti
de forma coiitundcnte quc cra hora de a psiquiatria enfrentar esseproblema.
Os ncurolépticos tinham sc rcvclaclo bastante l)robleinátict)s ít longo prazo }ls
bc:nzodiazcpinastambém, e ítgora, os antidepressivospareciam estar produzindo
um rc'multadosemelhante' a longo prazo. Num editorial de 1994, da revista
PsDchotheTapDQnd PsD'rho\ntltaLics, rara usei evc w.
Essapossibilidade
colocou-sc
então no centro c no primciro plano dt\
psiquiatria. "A pergLmta [dc Fava] c as várias questões comi'datas (...) não são
agradáveisde contemplar c talvez.parcçain paradoxais, mas agora cxigein uma
consideração clínica e de pesquisa qtic seja sécia c feita coil] a mente aberta",
disse Baldcssarini.}z Três nléclicos da Faculdade dc It4edicina da Universidade dc
Louisvillc fizeram cco a esscsentimento. "0 uso de antidepressivos a longo prazo
pode scr dcprcssogênico", csci'evcram eles numa cítrta dc 1998 à revistalaz/7/1a/
of C/ /lira/ P3gcÁlaf7."E possível quc os agentes antidepressivos modifiquem a
estruturação das sinapses neui'oilais,[o que] não apenas torna os antidepressivos
inchcazcscolho também induz zl um estadodepi'cssivorcsidcnte e i'cfratário."'s
1 7o
Uma Doença Episódica Torna-se Crónica
17 1
AN,\TOÀfIA DE IJÀ{AEPIDEbII/\
172
Umzt Doença Episódica Torna-sc Ci'única
Esse (lttitdru dcsolaclor tios resultados nil vicia real logo foi cotihrtJlad(} por lim
gntndc estudo do NIMH, conhecidocomo ensaioSTAR$D,quc ltush ajudoll a
dirigir. Quase todos os 4.041 pacientes ambulatoriais da vida real inscritos nesse
c'nsaio cstavant apcilas modcradanlentc ciifeinios; mesmo assim, iilcnos dc
20% tivenun remissão e permancccntm bt'm durzlnte uni ano. "A mítioria dos
indivíduos com grandes transtornos depressivos tem um clirso crónico, iuliiúde com
sintomatologia considerável e com incapiLcitação :tté mesmo cntrc os t:pisódios
concluíratit os investigadores.ss
1 7:3
AN,\TOXII/\ r)ICUNIA EPIDENIIA
a longo prazo pata as pessoasquc ela atinge é sombrio. "Um episódio grave de
depressãopode ocorrer apenas unia vez na vicia de uma pessoa,porém, com mais
frequência, ele se repete durante toda a sua vida", adverte o NIMH.S4
A ressalva a scr fcita sobre os estudos naturalistas é quc o grupo não me(ficado, no momento do
diagnóstico inicial, pode não estar tão deprime(lo quanto os indiví(duos quc us:tm medicamentos
Além disso, a(lucles (luc evitam a incdicação também podem tcr uma "rcsiliência interna" maior\
Xlcsmo feitas essas rcssalvas, deve scr possível obtermos uma ideia do cui'se da clcprcssão não
mcdicada com l)asc nos estudos naturalistas, para vcr como cla se compara com o curso cla
clcpressão tratada caiu anta(lcprcssivos.
174
Uma ])otlnça lCpisódica Torna-sc Crónica
175
An,vioxiLX 1)1;UM/\ Epini;x;ii.\
[] Diagnosticados/
Antidepressivos
[] Diagnosticados/
Sedativos
Diagnosticados/
Sem medicação
Não diagnosticados/
Sem medicação
Bem Depressão contínua
Os investigadoresda OMS informaram quc uma pcrccnt:tgcmmais alta (lo glul)o não medicadosc
rccupciou) c quc a "depressão contínua" sc mostrou mais elevada entre ostrata(los com antidcl)rcsslvos
Fonte: D. Goldl)crg, ''Thc cffccts of dctection and trcatment of major depression in primary caro:
/?díisAJaz/r/za/ adc'/irra/ praz/ic.: 4í}( 1 91)8): 1 .840-1 .844
lii Esse cstu(lo e uma po(lcrosa ilustração de por quc) colmosociedade,podeillos scr iludidos a regi)eito
dos méi'itos dos anta(lcpicssivos. Dos (luc tomaram um antidcprcssivo, 73% icgrcssaram ao
tnlbalho(outros 8% pccliram clcmissãoou sc ílposcntai'am), c não há dúvida dc quc ilulitos desse
gi'upo dirtanl quc o trataincnto medicamentoso os ajudou. Eles sc tornariam vozes da sociedade
(!uc atcstanl os benefícios desse l)aracltgnla (lc atendimento e, sem uin cstu(lo como o aqui
al)rcscntado, não llavcria como sabei (it.ie, na vcr(lacre,os mcdicamciltos cstaxanl aumcntanclo o
risco (la invalidez a longo piano.
176
Uma l)t)c nça I';pisódica lbrna-sc C t'única
[]
Voltaram
aotrabalho
Invalidez por
longo prazo
Pediramdemissão/
Aposentaram-se/
o% 20% 40% 60% 80% 100% Foramdemitidos
lCsscfoi um estudo de 1.281 emprega(los canadenscs(lue estavíttll cm licença temporária por invalidez,
cill (lccorrêilcia da (lcpicssão.Os (luc tomai'anl um anta(lcprcssivotivcrain mais (luc o dobro (la
prol)abolida(lc dc passai l)aia a con(lição dc licttncia(los pcrnlancntcs por tnvaliclcz. Fonte: C,. Dcwa
Pattci'n of antidcprl:ssant us{ aneldunltioi} of dt l)rcssion-rclatcd abscnct:from w.ork",/3ririí/!Jaur/irz/
a#/yc/iía/7 183 (20(J3):507-513.
177
AN,VI'OX[I/\D].:UNIAE].I])ENFIA
Nãotratada
178
Uma Doença Episódica Torna-se Crónica
179
ANATONII/\ 1)1.}UMA EPIDI;NII/\
18o
Unia Doença Episódica Torna-sc Crónica
Melissa
Entrcvistei divctsas pcssoasquc reccbianl pensõesda Renda Complementar
da Previdência(SSI) ou du Scquro da Prcvidêlicia Social por Invalidez(SSDI) cm
clccorrênciada depressão,c nlllitas coiltantill histórias semelhantesà dc Níelisstt
dances. Tomaram lim aiitidcpressivo pela primeira vez quando estavam ila
adolescência, ou no começo da ctlsa dos 20 }tnos, c o nlcdicamcnto fuitcionou poi'
algutn tempo. Dcpois, no entanto, a depressãovoltou e, desde ciitão, clãs passeiam
a lutam'com episódios dcprcssivos. Suas histórias coilabinain de naaneira notável
com a croilicidadc t\ longo pritzo detalhada na literatllra científica. Tanlbéname
rcc:ilcoiltrei com Mclissa pela scguitclavcz, iiovc iilt:ses depois dc nossaprimeira
eiitrc vista, e suaslutas coi)tinuavam praticainentc' igtutis. No outono dc 2008, ela
come'çou
a tom;tr ulliít dosealta dc um inibidor de motlolmtinauxidítse,o quc
proporcionou algtinlas seiníulas dc alívio, depois das qultis a depressão voltou
ainda pior. Em nossa segunda eiltrtvista, cla estava considerando a terapia de
tletrochoqlic e, quandoalmoçávamosiiuni restatirantc tailandês,falou, com ar
tristonho, dc como gostam'iaquc scu tri\tameitto ptldcssc tet' sido difercnte
181
9
O Crescimento Explosivo
do Transtorno Bipolar
Eu gostara de a\sinaLar que há )iu história da ttledicitta tttuitos exetttptos
de situações enl que a ua\ta tt\ataria dos tllédicosjaC cttgun\a coisa blue
dá cilada. O n\elhnrexen\plodbso é a snngna, qtleloi a brâtica
tltédica fetais cotltun{ desde o séctlto l d. C. até o sécttto XIX."
- Nassir Ghaemi. Centro N,léclicoTufts. Conferência da
Sociedade
Norte:-Amt:ricanadc I'siquiatria (APA), 2008
Rztbisquei essas três citações iio Incll cada:rno dc notas, apesar dc não nlc
l)areccr quc Á/?a/a//lía de ?l///r/ EPidepzia viesse propiiamcnte a sc enquadrar no
modelo dc parceria pretendido Fria APA, c depois, dia a})ósdia, passeia dai' umíl
volta pelo gntildc salãodc exposições,o quc sempre me agradou.As companhias
farmacêuticas Eli Lilly, Pfizcr Bristol-Myers Squibb c todos os outros principais
vciidcdorcs dc medicamentospsiquiátricos tinham cnonlles centros dc recepção
nos quitis, sc você fosse médico(a), poderia retirar várias bugig;rogase l)rin(les.
O dtt Pfizer parecia scr o anais popular já quc os psiquiatras podiam receber um
novo brinde personalizado a cada dia -- scu nome gravado nllma nliniltLntcnia, num
ANATOXíi/X 1)1;UNIA Epioi;XiiA
dia, c num cai'regador dc telefone celular iio outro. Eles também podiaill ganhar
brindes jogtLndo uln oídeoga#zechamado "Desato da corrida dos médicos", no qual
o ritmo do seu eu virtlial corria para a linha dc chcgada,regido pela qualidade
dc suas respostas a pergLmtas sobre as marztvilhas do Gcoclon colho tratar)unto
do transtorno bipolar. Depois dc jogar csscga/?re,mllitos faziam fila p:ua tirar sull
foto e estampa-la num bóton publicitário que dizia "0 Mclhor Médico do Mundo:
18'1
C) Crescimt'nto l:xplosi\o cloTranstorno Bipolar
Patty Duke apresentou aos participantes da rcullião de 2008da APA sua história
clínicit dc celebridade.O conglomeradofarmacêutico AstniZcncca p:ttrocinou suíl
p;llestra, c o porta-voz da empresa que a ;apresentou,apílrcntemc nte tenlcroso
dc que, por algttmzlrazão, a plateia não compreeiidcsseo qtttt cla viera dizer,
informoua todosquc "a ltlt'nsagetlla ser levadadaqui é qut' a docnçaincntal
é diagnosticável c rtconhccívt 1, e o tratamcllLo funciona". Depois disso, il iltriz
ganhadora do Oscar, ttsaitdo ulli vc:sticlocor dc abóbora, custou o quanto havia
sofrido, dlirailte vinte ttiios, com limo doença bipolar não diagnosticada, bcbendo
cm excessoc sendo scxuillmente promíscua ao longo desscperíodo. O diagnóstico
e a medicação"mc traiisforlllarilm cm um bonél)artido", disse cla, c contou que,
sciitprc que fala ct)il] gruposde p;lcieiites por todo o l)zús,martela essepalito.
;Eu digo a eles: tomem scils rcmécliosl", afirmou. Os medicanlcjitos resolveu a
clocnça)"com pouquíssimos:Lspt'caos
ncgativosl". A plateia cxl)lodiu em aplausos
cliailte disso e, cm seguida, a prima idêntica favoritzl dos Estados Unidosi ofereceu
los psiquiatrasuma última bênção:"Soldosmais do qut' ab( nçoaclospor contar
com pessoascomovocês,qttc optalalil por cttldar dc nós t' por nos coticluzira unia
vicl:t ('qtlilibntda. (...) Extraía minh:is informitçõc's dc vocês . da NAÀ,fl [Aliaitça
Nacioi[al Coi[tr:[ a Dot nça l\'leittal],'' e, st: e]] rc'sistisse a essas informações,
mcrcct'ria quejogasscm uma rt'dc ein cima dc mim. As vezes, quando ouço alguém
dize r, iiuiiia dt' minhtts palestras, 'Eu não preciso de medicação, não a tomo', eu
Ihc digo: 'st'lhe-se, você está fazendo papel clr bobo
Isso levou a unia ovaçãode pé, e assim,qti:tiido guardei illcu caderno, pareceu
certo quc ;tqut'la enl uma rt'união cuja itlcnsagcnl filial, não in)Fartava aonde sc
fosse, seria mllito bcm controlada. Ç)uasctudo font prt:parado c' organizado dc lim
modo(lttt' dizia d( uilla pr{)missão
muito cotlfiatlte cm su:l tcnlpêutica e, mesnl{)
sztbciido quc Nlartin Harrow faria unia palestra sobra seu cstuclo ;l longo l)rezo dos
resultados da csqtiizofrciiia, vi quc Ihc tinhlttll coitccdido apt'bits vinte illinlitos c
qtit' sua ilprcscntação havia sitio ntitrcadit pitnt unia das lilt'HOFcssalas do centro
clc cotivt'lições.Sua c'aposiçãoseria :l única cxceçãoà regra, dc illodo que cu não
Rcfcrên(ia às (luas a(lolcsccntcs rcprcscntadíts l)or Patty Dtikc cm scu programa (lc televisão, 7»f
na/9 Z)file S/zait (11)63-1ç)(i6),PiLtty t: Cathy, cujos pais, hlal'tii} c Kennrth, são gémeos idênticos:
don(lc n dctiominação (It' "primas idêntirits" dzts bit'minas.(N.T)
11
185
ANA'I OXIH 1)1:UXÜ EI'II)I:X[IA
Essa foi a salva inicial do que se transformou numa confissão de uma hora.
Embota nem todos os palestrantes coiicordassem cm que os antidepressivos
haviam sido desastrosospara os pacientes bipolares, foi essaa temática geral, c
ninguém qliestionou o resumo final de Gt)oclwin de quc os resultados, na docnça
bipolar tinham pior'adovisivelmente nosvinte ztnosanteriores. Osantidepressivos,
afirmou Nassir Ghaemim, do Centro Médico Ihfts, po(lcm cttusar guinadas
maníacose transfoi'mar os pacientes em "poitadoi'es dc ciclos rápidos", além de
aumentar a duração dos cpisódiosdepressivos.A ciclicidadc rápida, acrescentou
Post, levava a um desfecho muito ruim.
186
O Ci cscilncnto Explosivo do Transtorno Bipolar
Tudo isso foi muito parccido cona o momento, cin O /tíág ca de Oz, em que
a cortina é aberta e o podciosomago é reveladocolho uin velho frágil. Para
qualquer uill na plateia quc houvcssepassadoa manhã no centro de acolhimcnto
da Phzer, i'espondendo a perguntas dc uidea.ga/?lesobre as maravilhas clo Geodon
nu transtorno bipolar (lcvc ter sido arrasador. Trinta anos antes, Guy Clhouinard c
BarryJoncs haviam desconcertado essaclasse profissional com self discurso sobic
a "psicose por hipcl'scnsibilidadc", c agora os psiquiatras eram instados a encarar
o fato de que os insultados dt) transtorno bipt)lai eram piores, hoje, dtl que ti]ihai]]
sido trinta anos antes, e de blue os antidepressivos eram os prováveis culpados.
Os estinlulantcs, ao (ltic parecia, também podiam piorar o estado dos pacientes
bipolares e, por último, Ghacmi disseà plateia que a psiquiatria prccisavttadotar
187
AA'.\TOÀIIA I)E UAI/\ EPII)I;NÍI/\
188
O Crescimci iLo l:xplosivo doTransLoino Bipolar
Entrada na Bipolaridade
Atualmcnte, de acordo com o Instituto Nacional de SaúdeNlental (NIMH),
o transtorno bipolar afeta um em cada qual'ente adultos nos EstadosUnidos, de
modo que, antes de examinarmos o quc dizem os i'egistros sobre resultados acerca
dessc distúrbio, pl'ecisamos tentar compreender esse aumento assombroso cm
alia prevalência.9Embol'a a explicação simplista seja que a psiquiatria ampliou
enonnenlentc as fronteiras do diagnóstico, isso é al)Chásparte clzthistória. As
drogas psicotrópicas -- legais e ilegais -- ajudaram a alimentar o crescimento
explosivo da bipolaridade.
19o
O Grcscii l it'isto l:xplosivo do Tnulstorno Bipolar
191
AN,V]'OX]].\ ])],; UNIA EPIDI;MIA
192
O Crcsciincnto Explosivodo Tnlnstorno Bipolar
Os Anos do Lítio
Com a revolução psicofartltacológic;t correndo a pleno vapor ila década clc
lç)íi0, cria coillo sc todos os gi:tildcs distúrl)ios psiquiátricos dcv( sscm ter sua
própria pílula mágica, e quando o transtorno bipolar foi scpltrado da psicose
maníaco-dt-l)rt:seiva, a psiquiatria eiicilntrou no lítio um candidato adcquaclo.
Fazia mais dt: 150 alias quc' itlguils sais desse nictal alcalino i'ondavztm as bordas
d;t int:dicina, e então, dt' repente, no início dos anos 1970,o lítio foi alardcado
cí)mo lida cspécie de cur:l para t'ssa dot nça rccéin-identilicítda. "Não etlcotttrt i
iia psiquiatria iicnhttm outra)trittameiito clttc fuitciotlc com tanta rapidez,dc
modo tão cspccífict) c' c'n] cítrátcr tão pci'manente químdo o lítio, nos estados
dc hiimoi' nlailíacos dt'prcssivostttcorrentc's", disse Roiiald F'leve,psiquiaLnl dí
Universidade Clo[umbia, cill scu ]ivro de 1975, À/aodfroí/z.g
[Osc'i]ttção de humor].2s
No cômputo geral, essa não foi unia prova particularmclite robusta dc que o
lítio beneficiasse os pacientes, e, durante a década de 1980,vários investigadores
começaram a externar pi'cocupaçõessobre seusefeitos a longo prazo. Obscrvaiam
que as taxas de rcinterilação por mania, tanto nos Estados Unidos quanto no
Reino Unido, haviam subido desde a introdução do lítio, e aca})[lu por ficar clara
a rz\zãode os pacientesbipolares estarem aparecendocom tanta frequência nos
prontos-socorros dos hospitais.
194
O Ci'escimento Explosivodo Transtorno Bipolar
Isso significa que os pacientesbipolares que ei'am tratados com lítio c depois
paravam de tomar o niedicainento acabavam "pior do que se nunca houvessem
feito ilenhuin tratamento nlcdicamcntoso", escreveua psiquiatra britâniciLJoaniia
NloncrieH'.3zUm psiquiatra escocês,Guy Goodwin, concluiu cm 1993que quando
os pacientes eram expostos ao lítio e paravam de toma-lo lias primeiros duasalias,
o risco de recaída era tão grande que talvez o remédio fosse "prejudicial para
pacientes bipolares". Os índices mais altos de reinternação hospitalar de pacientes
bipolares, desdea introdução do lítio, "podia ser inteiramente cxplicado" por esse
agravamento induzido pelo fármaco, disse ele."
195
AN,\TOXINA DI.;UNIA EPII)I;NII/\
Embora ainda seja usado hoje em dia, o lítio perdeu seu lugar de terapia de
ponta depois que se introduziram "estabilizadores de humor" no ilaercado, no fim
da década de 1990. Como escreveu MonciiefF cnl 1997, resumindo o histórico de
eficácia do lítio, "Há indicações de que ele é ineficaz no panorama a longo prazo dos
transtornos bipolares, e é sabido que se associa a diversas formas de malefício".a7
Permanentemente Bipolar
Na verdade, há duas narrativas a extrair da literatura científica, no tocante ao
tratamento do transtorno bipolar com medicamentospsiquiátricos.A primeira
fala da ascensãoe qucda do lítio como pílula mágical)aia tratar essedistúrbio.
A segunda diz quc os i'esultaclos dos pacientes bipolares sofrcrain uma pior'a
drásticíl durante a era da psicofarmacologia, com especialistas do campo
doclimentando essa constatação a todo momcnto.
196
O Crescimento Explosivo do Trttnstorno Bilmlar
197
ANATONfI/\ DE UMA EPIr)I,=NII/\
IÇ)8
O Crttsculltlnto Explosão doTnu stoino Bipolar
O Dano Causado
Num alugo publicadona revista /:kgcAía/dc
Q?zrzrfer#
t:m 2000,lim psiqliiatra da
Faculdadedc Medicina dí\ UnivcrsidaclcHarvard, Carlos Zarate, c lml psiquiatra
quc tntb2tlhavana empresafarmacêuticaEli Lilly, Nlattiicio Tohcn,abriram uma
[lova linha dc preocupações: os pacientes bipolares de hoje não apcnas são milita
anaissintomáticos do qut' ilo passado,mas tambtlin não funcionam igttalmcntc
bcm."Na cra Interior à farmacoterapia,
o desfechoiicgzltivuda maniacra
cotlsidcntdo uma ocorrência rclativ;lincnLc lí nl", escrcvcnlm Zaratc c Tohcn.
"EntrctanLo} os estudos titodenios sobre os rcsllltíldos cotlstaLitratit qut' a maioria
dos pacientesbipolares cvidcncia altos níveis dc clcterioração funcional." O quc
poderia, indag;trem eles, explicam' "essas dif'ereiiças"?'s
IÇ)9
ANATObÍIA 1)!; UNIA EI)IDI;N;II/\
remontando a Kraepelin, era que, uma vcz recupcradas dc seus surtos de mania
e depressão, as pessoastinhitm a mesma inteligência dc zultcs dc adocccrcm.
Como observaramZarate e Tohcn em seu artigo dc 2000,"os estudosconduzidos
:antesde 1975 não revelaram dados consistentes sobre déíicits cognitivos cm
pacientesbipolares". h'las ertt sabido quc o lítio tornava o pcnsamcilto mais lento
e, dc rcpcnte, os pcsquisadorescomcçaram a reavaliar essacrença. Em 1993,
investigadores do NIMH compararam a função cognitiva em pacientes bipolares
c csquizofrêilicos e concluíram que, embora os bipolares mostrassem sinais dc
deterioração, os déGlcitscram "mais gi'aves e extensos iia esquizofrenia".'"
Essa foi uma descobertaclo tipo copo moo cheio ou meio vazio. Podia-
sc intcrpretá-la no sentido dc quc o prejuízo cognitivo não cra tão grave nos
pacientes bipolares, ou, caso sc tivesse lembranç;t dos dias pi'é-lítio, scria possível
pcrguiitai' poi' que, de repente, essespacientes davam mostríts dc declínio mental.
Entretanto, essafoi apenasa salva inicial dc uma llistória trágica. Depois quc a
monoterapiit com lítio caiu em desgraça,os psiquiatras começaram il sc voltar
par:t "coquetéis dc mcdicí\mcntos" pala tratar seuspacientes, c os investigadores
não tardaram a ter isto pítrít rclattLr: "Os prejuízos cognitivos [que] existem
ntt esquizofrenia e nos distúrbios afctivus (-.) não podem ser qualitativanlcntc
distinguidos com suficiente cotiflabilidade".S90 grttu dc deter'ioraçãonessasduas
doenças comcçoll a convcrgir de repente e, cm 2001, Faith Dickcrson, do Sistema
dc Saúde Shel)parti Pratt, em Baltimore, forneccu um quadro mais dctalhado dessa
convergência. Ela sllbmetcu 74 pacientes csquizofrêiiicos mcdicaclos e 26 pacieiitcs
l)ipolares nlcdicados a uma série dc testes, quc avaliavam 41 variáveis cognitivas
c dc funcional)lento social, c constatou quc os piLciciitcs bipolares cstavanl tão
comprometidos(luanto os esquizofrênicosem 36 clãs 41 medidas. Havia "um
padrão similar de funcionamento cognitivo nos pacientes com transtorno bipolar,
cot)aparados aos portadoresdc csquizofrcilia", cscicvcu cla. "Na maioria clãs
medidasde funcionamentosocial, nossospacientescom transtonlo bipolar não
diferintm significativamente club quc estavam no grupo cla esquizofrenia."'"
Depois disso, relatos dc um declínio cognitivo inlportantc lias pacientes
bipolares pareceriam brotar profusamente dc pcsquisaclorcspsiquiátricos
(lo mundo inteiro -- investigadores ingleses, succos, alemãcs, ZLustralianos c
espanhóis, todos falaram disso. Em 2007, os alistríLlianos informaram que, mesmo
quando os pacientes bipolarcs apresentavam apenas uma sintomatologia leve,
Linhan] "cicatrizes ncuropsicológicas" -- ficavatli prejudicadas cm suas habilidades
decisórias, sutafluência verbal e sua cal)acidadc clc recordar coisas.61Eiiquaiito isso,
2oo
o Crt:scmlt:nto Explosivodo Transtorno Bipolar
V
Nesse cstu(lo, os investigadores informaram (luc os l)rcltiízos cognitivos, (lo illais leve ao mais
grzlve, foraitl rcgistrados ila scgttinte sequência clc tratar)altos rcct:bi(los: nloiloterapia à l)asc de
lítio, scn] tratanlcnto illcdicanlciltoso, nlonotcral)la à l)ast' dt' ncurolépticos c terapia comiui la
canil)mação de lllctdicanlcntos. Eiitrctanto, não foraill fol'ncci(losdctalllcs sobre o giul)o ''scin
tratamcilto iilcdicaincntoso" ncm sc informou sc clc llavia sido picviamcntc cxl)osso a (tragas
psiquiátricas
201
ANATOlçlt/\ l)l.= IJNI/\ Epal)i,;xii/\
Hoje, a doença bipolar está milita distante clo que foi lim dia. Antes da cra
farmacológica,cla cra un] distúrbio i'aro, que afetava talvez uma em cadadez
mil pessoas.Agora, afeta uma cm cadL (luarenta (ou, de }tcol'docom algumas
coiitagcns, unia cm cada vinte). E, cnlbora a maioria dos pacientes atuais, no
diagnósticoinicial, não cstda item dc longe tão doente quanto os pacientes
hospitalizados dc íuitigamente, sua evolução e desfecho a longo prazo são quase
inconlprcensivclmente piores. Enl sua resenha dc 2007, Baldessarini chegou
;l dctalharJ passo a passo,essanotável dcterioração dos resultíLdos.Na era pré-
drogas, havia uma "recuperação da ctitimia [com 2tusência dc sintomas] c uma
lldaptação funcional favorável entre os episódios". Agora, há uma "recuperação
w Os l)acieiltes esquizofrêilicos quc sc deterioiavam rotineintmcnte, até chcgai à demência,
cnun os pacientes de dep?ze/zfírz
praeca.x
dc Kracpclin. Esse grupo sc ÍLpt'cst:fitavacom sintomas dc
natui'cza muito (lifercnte (la(lucla (los observa(losnos pacientes cs(luizofrêilicos atuais e, como
vimos no estudo dc 15 anos dc (lui'ação conduzido por N'íartin l-larrow) muitos esquizofrénicos
não nlc(lacadossc rccupcranl. (lourtcnay Harding relatou ztnlcsma coisít cm scu csttido clc longo
prazo -- muitos l)íicleiltcs llao incclica(lostivci'ítiii rcctil)ci'ítçao coillplcta. Poltítilto, nao bicaclaro
qual percentagem (lc pessoashoje diagnosticadascom cs(luizofrcnia, sc não fossecoiitinuamcntc
nlcdica(la, so6'cria limo (l('terioração cognitiva ao longo clotempo.
202
O Crescimento Explosivo doltanstorno Bipolar
BoEKi=sultados
funcionais zo
a longo prz\zo 75o%a90% 33%
Estasinformações foram extraídas de iliúltiplas fontes. Ver cm particular N. Huxley 'Disability an(l
203
ANATONtIA DE UMA EPII)I:NIIA
2o4
O Crescimento Explosivodo Transtorno Bipolar
Piores
esultados
6 Esquizofrénicos
0 medicados
0
\ Maníaco.
0 depressivos
medicados
&
Q
m
ê
0
Maníaco-
Q depressivos
8 não medicados
UJ
l
0
Acompanhamer Acompanh: ito Acompanhamento Acompanhamento Acompanhamento
após 2 anos aPÓs 4.5 pós7.Sonos após10anos após15anos
205
ANATOMIA DE IJbIA EPIDENIIA
Narrativas sobreBipolaridade
Entrcvistei mais cle sessentapessoascom diagnósticos psiquiátricos para este
livro, e, em algum ponto, aproximadamente metade delas fora diagnosticada como
bipolar. No entanto, das cerca de trinta que haviam recebido essediagnóstico,
apenasquatro sofriam do que se poderia chamar de doença bipolar "orgânica",
o que significa que foram internadas por um episódio maníaco e não haviam sido
previamente expostas a drogas ilícitas nem a antidepressivos. Agora que sabemos
o que a ciênciatem a nos dizer sobrea modernaexplosãoclecrescimentoda
bipolaridade, podemos revisitar as histórias de três pessoasque conhecemosno
Cal)ítulo 2, e ver como essasnarrativas se enquadram nessa história da ciência.
Depois poderemos ouvir duas pessoasdiagnosticadas com transtorno bipolar que,
se tivessem participado do estudo de 15 anos dc Harrow, teriam sido incluídas em
seu grupo de "não medicados"
Dotei Viertl,np-GLaassen
Se olharmos agora para a história de Dores Vierling-Claasscn, veremos que
cla tem boasrazõespara dei que nlmca deveria ter sido diagnosticadacomo
portador'adc doençabipolar. Ela foi consultar um terapeuta em Denvcr porque
choi'avadenaais.Não tinha história de mania. Mas então, durante a semanaclãs
provas anais na faculdade, teve dificuldade para dormir c ficou agitada, e logo
recebeu um diagnóstico dc bipolar e uma receita dc um coquctel de drogas, que
incluía um antipsicótico. Uma adolescentebrilhante foi transformada em doente
mental, e teria continuado assim pelo resto da vida, se ela mesma não tivesse feito
o "clesmame" da medicação. Na última vcz qtic nos falamos, na primavera de 2009,
ela estava reluzindo com o brilho da maternidade, pois acabarade dar à luz um
filho, Reubcn. Ela c Angela cuidavamativamcnte da criação dos filhos, enquanto
Dorna planqjava retomar em breve sua pesquisapós-doutoral no }lospital Gcial
de Massachusetts, e a lembrança de seus dias de "bipolar" ia recuando para um
passadomais e mais distante.
206
O Crescímt:nto l(xplosivo do TrHHstoino Bipoku
Movi,caBrigas
DuriLntc o l)críodo cm qtic trítbalhei tlestc livi'o, hlonica Briggs foi a única\
l)essa;tque, após lin a entrevista inicial, saiu do Scgtiro da Pi'cvidêtlcia Social por
Itlvalidt'z (SSDI) oil da Renda Clomplemciltar da Previdência (SSI). Obteve lim
cntprcgo dt' horário integra] iio Transfortlllttion (]entcr, limo organização clc pares
cin Bostoll cujo foco é ajudar as pcssoitsa se "rccupcr:trt'm" da doc'nçitnieiital, e,
sc csmiuçariilos sua história clínica, será fácil vermos que seu retorno ;to trabalho
sc rclaciollou com uma mudança c:m sua nlcdicitção.
SteueLal)pen
Stevc Lappcn, quc é ulli dos líderes cla Aliaiiçit dc Apoio a Dcprt'ssivos tr
Bipolarcs (DBSA)v'icm Boston,foi diagnosticadocom psicosemaníaco-dcprt:ssivit
cm 19(i9, (luaildo tinhit 19 anos. Foi unia das quatro pessoas qut' c'ntrcvistei cuja
docnç;t in;tníaco-dc:pressiva era dt' ilaLurez;t "orgânica" e, no primeiro (]ia t'm
quc nos encontramos, ítchava-sc num;t t'spécie de cstaclo hipcrativo, falando tão
clel)resma
quc deixei prontamentede lado a canata c liguei llm gravador."Tudo)
bcna", Lli Ihc disse, "I)odc' disparar."
\'ll
2o7
An,\TOXíiA 1)1;UNIA Epii)i=xli/t
Durante seu primeiro ano na Universidadc de Boston, ele foi tomado por
uma depressão aguda. Era um caso clássico de psicose maníaco-depressiva, c
Kracpeliil teria reconhecido o curso seguido pela docnça nos cinco anos seguintes.
"Eu não tomava nenhum i'emédio", explicou Steve, e, apesar dc sofrer com vários
episódios de depressão, sclitia-se bem catre eles, soba'etudo quando sc achava em
estado ligeiranlcnte hipomaníaco. "Q.uando me sentia bcin, eu lia mais c escrevia
trabalhos que só teriam dc ser entrcgucs dali a dois ou três meses. Q.uando a gente
Está cui hipumíuiia, a prucluçãoé incrível." Ele se liachttrclou em 6llosoliac em
inglês, praticamente conamédia lO.
208
o Crescilnt nto l:xplosivo do Transtorno Bipolar
Dt'sdt: então, cle rccel)L: tttxílio do SSDI. A boa notícia é que não foi intenladt)
desde 2000 e, como ttssinala cotretanlcnte, leva uma vida produtiva itpesar de sua
batalha cutistante colei os sintomas bipolares. Agortt casacl{)cii st:gtindas núpcias,
Lr:tbalh;i como "leitor" voluntário parzt pessoas com deGlciênciasfísicas, faz
ptllestras sobreo tntnstorno l)ipolat parztgrupos comunitários c é um dos líderes
da DBSA em Boston. Também publicou ensaios c poesia cm valias pequenas
publicztções.Na última vez que nos falamos, potéin, ila primavera de 2009, cle
vinha passandopor itlúltiplas oscilaçõcsdc htinlor todos os dias e, ao que p2trece,
seus sintonias continuan] a piorar.
Eu diria que, dc modo .geral, fico pior quando tomo os remédios. A nlediczlçãt)
qttc estou tom:Indo ;tgorzté neutra, iia mclhoi clãshipóteses. Eu gostaria dc poclcr
nlc clonar. Assim poderia scr meu próprio grupo dt' controle nuill teste. Gostam'ia
dt' sabe'r sc hcaria nlclhor, na nlcsina ou pior Heinos remédios.
Braltdon Ban,ks
Brandos Banks sabe idcntiíicar o momento Chato em que se tornou
bipolar" e, cnlborit isso tenha envolvido uni antidcprcssivo, houve tina série clc
:icoiitecimentoscm suavidít quc o lev;tntma essepulito. Ele cresceupobre:na
cid;tdc dt Elizabcthtown, iio Kentllcky, sem a prcsr'nça patcnl l c'm casa, c' tem
lembríulças doloros is dc al)usos scxtiais, dc maus-tratos físicos e de um terrível
dcsastrc dc automóvel, qtic matou sua tia, seu tio e llm outro pare'nte.N;t escola,
r'r;l comlinl as outras criançasimplicitrcm com ele por cllusa de uma ini rca dc
llasccnça facial quc o tralinlatizava a tal ponto que, para cobri-la, t'le comcçoli a
usar uni chapéu eilterr:ldo ilil cabeça. Após a formatura iio cuido médio, cin 2000,
tlludou-scmitraLouisville, onde ficou frcqucntatldo a faculdade cln indo horário c
traba[haiidoà noite lia Unitcd Parce]Scrvicc]UPS].Não tardou a ilotitr qtic "não
se sentia l)cm") e, quando voltoli pata casa,o médico dit família diagnosticou uillil
dt:pressãomoderada" e Iht rccc'ito]i un] ítntidcprcssivo."Fiquei iilaiiíact) cm três
dias", disse Brandon. "Foi iápiclo.
2o9
ANATOhIIA I)E UNt.\ EPII)ENÍI/\
Scu médico Ihe explicou que, por ele ter tido essarcação ao remédio, devia
scr bipolar e não apenasdeprimido. O remédio havia "desmascarado"a doença,
o quc Biítndon encarou como um dado positivo. "Fiquei pensando: não é tão mail
assim; eu poclcria ter l)assado muito tempo no sistema sem ter uma confirmação
imcdiata de quc sou bipolar." Foi mcdicadocom um coquctelcompostopor um
estabilizador de humor un] antidcprcssivo e lml antipsicótico, c então entendeu:
"Foi um tremendo empurrão para zl seriedade"
Nos quatro anos seguintes, seus psiquiatras mudaram constantemente suas
receitas. "Os coquctéis parcciam aque]a dança das cadeiras. [Os nlédicos]
me diziam: 'Vamos tira\r tal remédio e introduziu tal outro'." Branclon tomou
Depakote, Ncurontin, Rispcrdal, Zyprexa, Seroquel, Haldol, Thorazine, lítio c
uma sucessãointerminável dc antidepressivos,e, com o correr do tempo, passou
l ter ciclos rápidos e il sofrer caiu estados mistos. Seus registros médicos também
documental'am o desenvolvimento de novos sintomas psiquiátricos: piora da
?ansiedade, attLques dc pânico, comportamentos obsessivo-compulsivos, vozes e
alucinações.Elc foi internado várias vczes e, numa ocasião,subiu tto topo cteum
edifício-garagem e ailleaçoujogar-sc dc lá. Sua capacidade dc cnnccntração sofreu
um declínio tãn accntuado que o estado de Kcntucky confiscou sua carteira dc
motorista. "N'linha vida passoua consistir cm ficar cm castao dia inteiro, levantar
dc manhã, pâr mclis comprimidos ntt bancada da cozinha, toma-los e voltar para
Lcama, porquc não conseguiria mesmo 6lcar acordado, ilcm sc eu tentttsse. À'fttis
tt\rde, cu me levantava,jogava uns z;idem
ga//ze.f
c ficava com a família."
Aos 24 anos, ele sc sentia um completo fracasso e, um dia, após uma briga
com a mãe, s:\iu dc casa e parou dc tomar os remédios. "Detcriorei muito",
rccorda. "Não toldava banho ncm comia." No cntanto, à medida quc as scmaiitls
sc transformaram em mcscs, seus sintomas bipolares sc atciluaram e "comccci
a achar que levava mais jeito dc cu só estar meio parado", disse-me. Essa ideia
Ihc dcu esperança,porque passoua havcr unia possibilidadedc mudar, e cle saiu
viajando pelo sul. "Eu bem que podia ser uin sem-teta", disse a si mesmo, e essa
viagemacabousc torllando unia cxpcliência de transformação.Q.uandovoltou
para casa,cle haviajurado não comer mais carne vcrmclha ncm tomar bcbidas
alcoólicas, c estava cm vias de se tornar um "fanático pela saúde" e praticante dc
ioga. "Voltei daquela viagem e, cara, estasa ótimo. Eu mc sentia o máximo, c todo
mtmdo na minha família primos, outros pai'entes, tias e tios -- dissc que não nlc
via com aquele brilho desdeqtic cu crêspequcno."
210
O Crescimento Explosivo do TransLomoBipolar
Desde então, Brandos focoulonge dos remédios psiquiátricos. Mas não foi
fácil, e a dinâmica de altos e baixosda sua vida ficou em nítido relevo em seuano
lesivo dc 2008-2009, na Faculdade Comunitária e Técnica de Elizabethtow n. Ele se
matriculou nessa instituição emjaneiro de 2008, com sonhos dc se tornarjornalista
e escritor, e, no outono, tornou-sc editor-chefe do jornal da faculdade. Sob a sua
clircção, ojornal ganhou 24 prémios dz\ Associação de Imprensa Intcruniversitária
do Kentucky, e Brandon recebeu, pessoalmente, dez dcssas honi'árias por artigos
de sua autor'ia,inclusive o primeiro lugar num concursode redaçãocom prazo
marcado.Durante aquelesnove meses,de maneira incrível, tambémobteve
outros sucessos.Um de seus contos tirou o segundo lugar num concurso e foi
publicado num semanário de Louisville; lmla de suasíotoglafias foi escolhida como
ilustração de capa de uma rcvista lidei'ária; uin curta Gllmadopor cle foi indicado
para o prêinio de melhor documentário num festival local dc cinema. Em maio dc
2009, a faculdade o honacnageoucom seu prémio ao "calouro mais destacado". No
entanto, mesmo durante essa temponlda cle iealizaçõcs notáveis, Brandos sofreu
com vários episódios hipomaníacose depressivos,que o deixaram com intensas
inclinações suicidas. "Eu passava semanas lendo autores depressivos, com uma
arma na mão", contou. "Minhas realizações, nessesmomentos, só padeciam piorar
tudo. Nunca pareciam bastam."
2 11
AN,vroxu/\ nl: UNIA Epioi xuA
212
O(h cscmlt:nto Explosivodo Transtorno Bipolar
213
10
Explicação de uma Epidemia
Cota os )ttedicantetltospsi quiátücas, soluciona-se lun ptobtenla
durar\te lnlt ppvíodo, lttm, quattdo lixe)to\ se esl)erü, arriba-se cotlt dois.
O traLantettto Irai:lfoitna tnlt período de crise etit ultla doença tnental crónica.
Anly Uphimt,2009'
Há uma famosa ilusão de óptica chama(la "a moçtt c il vclha", pois, dependendo
de como olhemos pai'a a imagem, vemos uma bela jovcnl Oli timil l)ruxit velha.
O dcscnlio ilustra como a percepção dc' lim objcto podc altenii-sc slibitamente
e, c'ili ccrto scnticlo,as histói'ias conílitantes a (luc demos corpo iicste livro têm o
mesmocarátei curioso. Existe a imagcln "belajovcm" da era psicofarmacológica
cm quc'a maior parte da sociedadenorte-an]cricanaacredita,quc fala dc ui]]
avançorevolucionáriono tratamento dosdistúrbios mcntais, c cxiste a imagem
bruxa\velha" que csboç;\mosilestc texto, quc fala dc uma forma dc tratamento
quc levou a limo epidemia de doenç;ts mcntt\is incttpacitantcs.
215
AN,\ I ONTI/\DE UNIA EPII)I;NIL'\
216
I':xplicação dc uma }qpidcmia
Sãu essas as visões conflitantes dít nl clít psicofarmitculogia. Se você pensou nos
fármacos como agentes "ailticloellça" e sc collct:ntnlr nos resultados a curto piano,
11bclajovL'm aparccc'rá.St' pensar nelescomo "dcsc(luilibradores químicos" e sc
coHctatrai nos i'esultaclos a longo pi' \zq aparecerá zl bruxa velha. Você pode ver
nula imagcitl ou a outra, clepcitclcitdo dc p;\ra onde dirija o scu olhar.
Pois bcm, essa ducnça cfetivailicilte atingiu milhões clc crianças t' adultos
lloite-americtLnos. Acabamos dt' dc'scrcvcr os efeitos do aiitipsicótico mais vendido
pt'lo laboratório Eli Lilly, o Zyprt:xa.
217
AN.VI'ON[I/\ ])]= UNIA EPIDE\IIA
Um Mistério Resolvido
Começamos este livro fazendo uma pergunta: por que temos visto um ttuincnto
tão acentuado do número dc doentes mentais inválidos nos Estados Unidos, desde
:l "clcscol)ena" dos medicamentos psicotrópicos? No mínimo, crcio havermos
identificado uma causa fundamental. Em grande parte, essa epidemia é dc
naturez2t iatrogênica.
Oia, talvez haja vários fatores sociais contribuindo para a cpidcmia. làlvcz
nossasociedadcsc orgallize,hoje em dia, de um modo (luc leva a um grau
maior dc tensão e dc perturbaçãoemocional.Por exemplo, talvez nos faltem
bairros estreitamente unidos,daquelesque aju(lam as pcssoasa sc manterem
bem. Os iclacionamentos são a base da felicidade humana, ou assim parece, e,
como escreveuRobert Putnam no ano 2000, passamostempo demais ':jogando
sozinhos". Talvez também assistamos demais à televisão e façamos muito pouco
exercício, combinaçãoque sabidamente constitui uma receita para ;t depressão.
A comida quc ingcrinios -- mais alimciitos industrializados etc. -- tan]béi]] pode
catar desempenhandoum papel. E o uso corriqueiro dc drogas ilícitas -- macoiiha,
cocaínac alucinógenos-- contribuiu claramente para a epidemia. Por niin, depois
que uma pessoacomeça a receber uma pensãoou uma rcncla complementar cla
Previdência Social, há um enoi'me clesincentivo íi nancciro para o rctonio ao trabalho.
As pessoasque recebem algum auxílio-doençadão a isso o nome dc "armadilha
dosdireitos individuais". A menosquc obtenham um empregoquc pagueo seguro
dc saúde, clãs perdem essarede dc segurança sc voltarem ao trabalho, e, depois dc
começarem a trabalhar, talvez percam também seu subsídio para o aluguel.
218
l(xplicação de uma Epidemia
cerca de 70% das pessoasque sofriam um primeiro surto psicótico recebiam alta
hospitalar em até 18 meses,e a maioria não voltava ao hospital durante períodos
bem longos dc acompanhamento. Pesquisadotcs da cra pós.Thorazine relataram
resultados semelhantes em pacientes não mcdicaclos. Rappaport) Carpcntcr
c b4osherconstataram que talvez mctade dos pacientes com diagnóstico de
esquizofrenia sc sairia bastante bem sc não tomasse lama medicação contínua.
Mas essae a norma atual do tratamento, e, como tnostrott o estudo de Harrow,
apenas5% dos pacientes medicados se recuperam a longo prazo. Hoje en] dia,
estima-sc que haja dois milhões dc adultos incapacitados pela esquizofrenia nos
Estados Unidos, c talvez. esse número de inválidos puclessc scr reduzido à metade,
se adotásseiiioslim paradigma de tratamento quc empicgassc mcdicanlcntos
antipsicóticos cle maneira scletiva c cautelosa.
219
ANATOXlIA i)l; UNr/\ Elqi)i;XíiA
Aqui estão três histórias que atestam essesvários riscos a longo prazo.
220
Explicação (tc uma ICpidemia
Am?Upham
Aiiiy Uphaill mora iilin] pequenoitpartailicnto de (quartoc sala ein Buífalo
e, quando entrei iia sala, ttpoiltou par;t unl;l mesarepleta dc papéis."Esta
sou cu com os remédiospsiquiátricos",disse,c: mc entregou uma pilha de
clocunlentos médicos. Eles falam dc um edetiia cerebral induzido por fármacos,
de rins deficientes, edeiita de fígado e vesícula, problemas dit tireoide, gastrite e
nlormalid2tdcs cognitivas. Caiu pouco mais de 1,50 m de altura e cabelo castanho
avermelhado, arrepiado e crespo, Amy, que tem 30 anos, pesa 41 quilos. Apertou
limo dobra de pele solta perto do cotovelo, sob a qual os músculos nlinguaram:
"Isto é igual ao (luc }l gente vê em usuários clc heroína
221
AN,\TOXIIJ\ I)I: IJNL\ EPIDENII/\
que ela voltou ao Ativan. "AÍ, comecei a ter alucinações pela primeira vez na vida",
disse ela. "Andava dc um lado para outro, incontrolável, querendo sair da minha
própria pele." Seguiram-se outras complicações ligadas aos remédios e, cm 24 de
fevereiro cle2009,Ainy mudou-separa um abrigo no terreno do hospital,já então
com os pcnsamentos tão dispersos que uma enfermeira se perguntou "se o mal de
Alzheimer de instauração precoce era um problema da família"
Rachel, Ktein
222
Explicação ([c unia ]Cpidcnna
Desde ciltão, sua vida seguiu biltre altos e baixos. Ela sc cutlsola com scu
trabalho voluiitái'io no M-Power, uni gi'upo dc defcsêt dos direitos dc ustiários do
sistema dc saúde mental que tem sedeem Bostoil e é dirigido por seusmcitibros,
e, na primavera de 2008, trabalhava 16 horas por semana parít a Advocates,
Inc., quc presta serviços aos surdos. Rias também estava colnbatcndo uin câncci
ovariano, c é possível quc essadoença teilhil sc rclacionadu com os mcdicamcntos
psiquiátricos. FloÚeRachel acha quc essesrcmédios são úteis, sim, mas, quantia
rcl)ousa suavida, vê lim illodclo dc atcndimcnto quc falhou por completo com cla.
E um embuste, na verdade
Scott Sextos
Na primavcnt dc 20o5, Scott Scxton rcccl)cu seu diploma dc mestradoda
Univcrsidadc Rice. Naclucle iiioinento, tinha pela frente um futuro brilhante,
lilás rolnpt'u com a nlulhci com qtietil pretendia casar-se e foi hospitalizado
caiu dcprcssão. Era scu scgttndo surto dc dcpressão aguda (ele havia sofrido um
priinciro episódio cinco anos antes, quando seus pais sc divurciantin), e colho scu
pai haviasofrido dc tntnstorno bipolar Scott f'oidiagnosticadocoiii essildocnça.
Rcceitanun-lhe un] coquetel qut' incluiu o Zypi'cxa.
Naquele outono, cle ( omcçou a trabalhitr como consultor dlt Dcloitte, a gnliidc
elnl)rosa de auditoria e contabilidade. Emborit seusprinlciros mesesno cmpicgo
223
AN,Vi'OXit/\ l)i; UNIA Epii)Exija
224
11
A Epidemia Disseminada
entre as Crianças
Para llluitos Polisejanlíliu, a experiência[de ter
ultl .plÍlo diagnosticado com un\a doença lttetttal] pude
ser u itta desgraça;isto nós deuentosdize:
1;.Jíulc Costello, professor-a
dc psiquiatria
da Universidade Duke, 2006
Reconheço quc isso sitlia nessa investigação da medicação dos jovens num
quadro bastante frio c analítico, dada a assustadorapossibilidade que está cm
jogo itqtii. Sc os resliltados cm crianças c adolesccntcsfoi'em igu;\is aos dos
:adultos,receitar fármacos psiquiátricos para milhões dc jovens noi'te-americanos
estará causando clatlos numa escala quasc incomcnsttrávcl. Itfas essapossibilidadc
sc pi'cata a lln a rescnha emotiva da liten\tura médica, c é justamente por isso
qut' vamos coitduzir nossainvestigaçãoda maneira mais desapaixonadapossível.
E l)rcciso (lttc os fatos falem por si.
225
AN/[TOXIIA 1)1=UX[Aj:;PIDEh]IA
226
A Epidemia Disseminada entre as Crianças
Piavas cada vcz mais nllmelosas mostram quc alguns transtornos psiquiátricos
podem levar a uma deterioração) neurológica progressiva quando não são tratados.
(-.) Níveis tóxicos dc ncliioLrallsmissoic's, como os qlutamaLos,ou clc hormânios
do cstresse,colmoo cortisol, podem danificar o tecido nervosoou interferir nas
vias ní)finais de ncttrt)maturação. O tratamctito farmitcológico dessesdistúrbios
pode não só ter sucessoila ntclhora dos sintonias, mas também scr ncuioprotetoi'
(ein outras palavras, os tntLdmcnLosmedical aciitosos podem proteger dc lesões
ct'rcbrais Oli pionlovcr ;\ ncuromatunição norm;ll).3
A Ascensãodo TDAHI
En)l)ora o transtorno do déficit de atenção com hipcratividade não apai'ccesse
clo À/a/zl/a/ de Z) ag/zóí/ co e Ex/a/ú/ crzdaí l)ís/ú ó ai à4en/aü da psiqliiatria antes dc
1980, esse canlpu profissional gosta dc assinalar qtic tal distúrbio não surgiu
simplesnlcnte do nada. Trata-se dc um problema cujas raízes remontam a 1902.
Naquele ano, sir George Frederick Still, pediatra inglês, publicou uma série dc
palestras sobre vinte criançtts que tiilhan] a inteligência normal, mas "exibiam
explosõesviolcnLzLS,
peralticc dcscnfrcztda,clcstrutividadcc falta dc reaçãoaos
castigos".4Além disso, Still ponderou quc esse mau comportamento provinha de
uni ptoblenia biológico (e não da má qut\lidado da educaçãodáLIapelos pais).
Crianças com doençasconhecidas epilepsia, tumorcs ccrcbrais ou incningite
-- eiani aiiliúclc agressivaincntc dcsaíiaduras, c assim, Still calculou quc csstls
vinte crianças sofriam clc uma "disfunção ccrt'oral mínima", inesnlu não havendo
docnç;\ nem trauma ól)vãosquc a hotivcsscmcausildo.
Nos cinquenta anos seguintes, um punhado dc outi'os autores formulou a ideia
dc quc a hipei'atividade ertl um marcador de lesão cerebral. As crianças que se
rccupcraram da cnccfalitc letárgica, uma epidcnlia viral qtic varreu o planeta
cntie 1917 c 1928, exibiam com frequência comportamcntns antissociais c
osctlaçoesacentuadas de huinorl o (luc levou os pccliatras a concluir (lue a dociiça
havia cttusado uma lesão cerebral leve, ainda quc i\ natureza dessa lesão não
ptidcssc scr identificada. Eni 1947,Alfred Strauss, quc era diretor (le lama escola
paraj{)vens agitados em Racine, iio Wisconsin, chamou sclis alunos extremamente
hipcrativos dc "ci'ianças nonllais com lesão cc'rcbntl".S O priniciro /14a/zzza/ de
227
ANATONIIA I)E UNIA EPII)I=NIIA
Z)iag/zós/
coe Es/al&/icada psiquiatria, publicado em 1952,disse que tais crianças
sofriam de uma "síndrome cerebral orgânica"
228
A Epidemia Disseminada cntlc as Critulças
229
AN,VI ONII.\ 1)1:UNIA EPIDENIIA
Portanto, vemos nessahistória que não se descobriu nada novo dc quc revelasse
uma "doença mental" chamadaTDAH. Havia na medicina um longo histórico de
especulaçãode que as crianças extremamente hiperativas sofreriam de algum tipo
de disfunção cerebral, o que decerto era uma ideia razoável, mas a natureza dessa
disfunção nunca foi descoberta; e então, em 1980, a psiquiatria simplesmente
criou, com uma penada no Z)SÀ/-.IZ7,
uma definição drasticamente expandida da
"hiperatividade". O garoto irrequieto cle7 anos que em 1970poderia sci chamado
dc "moleque" tornou-se um indivíduo que sofria dc um distúrbio psiquiátrico.
Podemos agora voltar nossa atenção para os dados relativos aos resultados.
Sela que essetratamento ajuda os jovens com diagnósticode TDAH a longo
prazo? O que mostra a literatura cientíhca?
11
E pelo f'atodc tcr uma açãotão l)rcvc (luc a cocaínavicia mais do quc o mctilfeiliclato, l)oi$ assim
(luc cla deixa o céicl)tq o vicia(lo pode (lucrei toldar a cxpcrimciltai' o "barato'' quc vcm quando
asvias dopaminérgicas são levadas a um estado liipeiativo pela primeira vcz.
230
A Epidemia Disseminada cntic as Crianças
Passivos,Parados,Solitários
A Ritalitlac outrosremédios
paneo TDAll mudamo conlportanlento
da
criança, SL:mdúvida, e t'n] scli relatório dc 1937 Charles Bradley preparou o
tcrrt'iio pata a história dt eficáciaque acabariaemergindo:"Q.uinzcclãstrinta
crianças rcspolidentm à Benzcdrina, torElaildo-se nitidanlcntc dóceis cm suas
rc'açõcscinocioiiztis. Cllinicatiit'nte, iia totalidade dos casos, isso foi unia mclhora
clo ponto dt vista social".'sA Ritalina, quc a Adnlinistnlção Federal dc Alimciitos
L Mcdicameiltos (FDA) aprovou paul uso infantil em 1961, mostrou ter uin efeito
iiioderador scnlelhaiite. Num estudo duplo-cegocottdttzido em 1978,o psicólogo
Herbcrt Rie, claUniversidade do Estado dt' Ohio, estudou 2Hcriaitças "hiperativas
dunlnte três mes( s, havcnclo-st reco'itaclo nictilfeniclato l)ara metade delas. Eis o quc
CSCI'CV(: LI:
232
A Epidemia Disseminada entre as Crianças
aprender c dc controlar scu conlportailiento, mas nas 'minhas pílulas mágicas, quc
fazem dc mim um bom nlcitino'", disse o psicólogo Alaii Sroufe, da Universidade
dc Mimlcsota.2
233
ANAroiçliA i)l; UNIAEdil)l;xíí/\
234
A Epidemia Disscininada entre as Crianças
235
ANA rObíl/l l)E UNIAEi,il)i:xíí/t
Calculando o Prejuízo
Em relação a qualquer mcdicamento, há que se fazer umtl avttliaçãu (los riscos
e bcncfícios, e a expectativa é de que os benefícios compensamos riscos.Nesse
caso, porém, o NIMH constatou que, no longo prazo, não havia /zízdaa rcgistrar na
coluna dc bcncfícios do balanço. Isso deixava apenas o cálculo dos riscos a ser feito,
razão por que, neste ponto devemosexaminamtodas z\smaneiras pelas quais os
estimulantes podem prejudicar as crianças.
23(j
A Epidemia Disseminada entre as Cri:onças
Resultados Deprimentes
Aindztcm 1988,alia eni quc o Prozacchegouao mercado,apciias umtl ein cada
250 criançlts e adolescentesab2üxodc 19 anos, nos Estados Uttidos, toldava algum
antidepressivo.46
Isso se devia, em parte, à ct)llvicçãocultui'al de que osjovciis
cnlm ntLturalmcntc temperaillentais e se recuperavam depicssa dos t'pisódios
depressivos, c cm parte, ao fato de ]in] cstlido após outro haver demo)ilstntdo que
os triciclicos não í\lncionavana melhor do quc un] placcbo nessc grupo etário.
"Nãt) há como escitpar }io fato de qtit' os (-studos de pcsquisít cc'rtaii t:ntt' nã(i
2:37
AN,VI'ONIIA DE UNIA EPIDI.;NII.\
Entretanto, um retrato mais ou Hienas preciso dos méritos cla eficácia dessas
drogas nas ci'ianças emergiu por um pi'occssoindireto. No curso de açõesjudiciais
i'elacionadas com os ISRS, especialistas quc depuseram como peritos em favor'
dos queixosos-- em cspccia] Davic] Hea]y, na ]nglaterra, e Peter Breggin, nos
EstadosUnidos -- deram uma olhada em alguns dados de testes e observaram
que os medicamentosaumentavamo risco de suicídio. Eles falaram do que
haviam constatado e, com o número crescente cle pais angustiados contando
quc seusfilhas tinham se matado depois do começam'a tomai' um ISRS, a FDA foi
obrigada a conduzir un] inquérito sobre essei'isco em 2004. Por su:\ vez, isso levou
:l uma espantosaconhssãode ThomasLaughren, da FDA, sobre a eficáciados
medicamentos nas crianças. Doze dos 15 ensaios conduzidos com antidepressivos
pccliátricos haviam falhado. A FDA, de fato, havia rejeitado as solicitações de seis
fabricantes que buscavam aprovação pala vendcr seus antidepressivos a crianças
e adolescentes. "São resultados que dão muito quc pcnsal'", coiifessoti Laughicn.S"
A FDA aprovou o PI'ozac para uso infanta-juvenil, visto quc dois dos três estudos
positivos resenhados por Laughren tinhan] vindo de etlsttios desse medicamento.
Entretanto, como assinalaram muitos críticos, do ponto dc vista científico não há
razão pzua ci'er quc o Prozac sqa melhor do que os outros ISRS. A percentagem de
crianças quc rcspoitdeu bcm a essefármaco nos dois ensaios positivos asscmclhou-
sc ao índice de icsposta às droga\stios 12 ensaiosque falharam; a farmacêuticíl
Eli Lilly simplesmente foi mais hábil no uso de nlodclos tendenciosos de ensaios,
feitos para dar a íznPlriiãadc quc seu remédio funcionava. Por exemplo, num dos
dois ensaios do Prozac, todas as crianças receberam inicialmente lim placebo,
durante unia semana,c as quc illelhoraram durante esseperíodo foram excluídas
cloestudo.Isso ajudou a derrubar o índice dc respostaao placebo.Em seguida,as
crianças aleatoriamente escolhidaspara usar o Prozac foram avaliad&tsdurante
uma semana, c só as "que sc adaptaram bem" ao medicamento foram inscritas
no estudo. Isso ajudou a elevar o índice de resposta ao fánnaco. ':Antes mcsmo de
238
A Epidt?mia Disseminada entre as Crianças
/al/r/za/, e seu ai'Ligo foi avivado poi' desci'ições elas falc:ttruas praticiLdas polos
psiquiatras ]ioi'te-amcricailos p;tr:t fazer com quc os ISRS pari'cc'ssciil bcnéhcos,
para coillr'ço clc' conversa. Os autores dos estudos positivos, clissctam c'lcs,
haviam "cxitgcntdo os br'ncfícios, minimizado os prejuízos, Oli as duas coisas". Os
:uistralianos também rt:visaram os t:nsttios da farnlacêuticz\ Lilly com a fluoxctin:t
em criailçztsc'dt terminaram qttt' ";l comprovitçãoda eficácia leãoé conviilccntc
Assim st:ndo, coitc]uír;tm qut' "rt'comcildar [qualquc'r antidcprcssivo] comi)
opção)
de tnttamento, muito illt:nos COHlo primrir;t opçãodc tratanlcilto, seria
inadt'qtiado".s'
2:39
ANATOlçíb\ l)E UNIA EpiDI.iXiIA
240
A Epidc:mia Disseminada entre as Crianças
Essacspt'culação fazia todo sentido. Coiiio crt] possívelquc uma doci]ça n] :vital
grave houve'sscpassadodespercebida por tanto tempo, só agora vinda os ittédicos
a notar quc milhares dc criaitças estavam ficando dcscnfrt'ad ullc:ntc maníacos?
Mas,sc houvessealgo novo/lo /?Iriaí7//zóie///e
quc incitasscit essecomportatllento,
como suga'riu í 71//zea seus leitores, havt'ria uma explicação lógiczt paul a
e})idt mia. Os ítgt ntcs infecciosos provocam epidemias, c poiLanto, ao traçaritlos
l ascciisãodo transtonio bipolarjuvt'nil, isto é o qtic nosconvirádcscol)rir:é
possível idcjitificarmos "agentes externos" quc cstejiun cattsaitdo essa praga da
cra moda na?
241
An,vioNti/v 1)1;UNIAEpii)i,iÀíí/\
Rias ciitão, aos puticos, poi'ém dc forma segura, esses relatos clc caso
comcçaiam a aparecer. No fim dos anos 1960 c início elos 1970, os psiquiatnls
comcçai'amtt lcceitar Ritalin]t pzti'acrianças hipci'ativas e, dc i'cpciite, ej]] 1976,
Warrcn Weinbcrg, um neurologista pediátrico d;t Univcisidadc Washington,
escreveuno Á»?eHfíznla//}/za/
ag.Díierz.çes
a#C/zí/r//rr)od
quejá eia hniii dc a psiqliiatria
se aperceber dc quc as crianças podiam ficar maníactls: "A aceitação da ideia
de quc a mania ocorre em crianças é importante para qtic as crianças afetadíls
l)ossamscr identificadas, pari quc a história natural sqa dehnidit c l)ara club uin
ti'atanlciito apropriado sqa estabelecido c oferecido a clãs".õ'
242
A Epiclcmia Disscnlinada cntrc as Crianças
Antes mcsino (luc ll prescrição de Rítalina sc tornasse aceita, cra bem subido
que as ;liifetaminas eram capazesdc provocar surtos psicóticas e nittliíacos. Aliás
243
AN,VI'OXIDA
1)1.=
UNIAEPIt)ENIIA
Uinzt vez ocorrida cssíl psicose induzida por drogas, as crianças costumam ser
diagnosticadíLS como portadoras dc tntnstorllo bipolar. Além disso, essaprogressão
diagnóstica do TDAH mcclicítdoparti o tnulstorno bipolar é bcili rcconhecid;tpor
cspccialisttLS
da arca. Num estudo sobrc 195 criançase aclolesccittesbipolares,
Deiilitri Papoloscoitstatoll qut: 65% "tinham reaçõeshipomaníacas,nlaníacas
e agressivaselosmcdicaincntos estimulantes".24Ein 2001, N'lclissal)cIBello, do
Ct:ntro Médico d;t Ultivcrsidttdc cle Cinciniiati, relatou quc 21 dc 34 pacientes
lclolesccntesinternados por mania vinham usailclo estimulantes "aiitcs da
instalação clo surto afetivo". Esses rtlméclios, coilfessott cla, podiam "prccipitai'
l (lcprcssãoc/Oli l inilnia cn] crianças (lue, dt: outro modo, não clcsc:nvolvciianlo
transtoi'no bipolar'".7s
244
A Epidemia Disse:minada cntrt: as Crianças
Mas há lml problema ainda maior conaos cstinlulantes. Eles fazem as crianças
passarem ciclicamente por estados dc excitação e disporia lodosoxdíai. Q.uando uma
criança toma o remédio, os itívcis dc dopamina sc elevam ila sinapse e isso produz
um estado dc cxcitação. A criança podc exibir uma energia maior uma coitcentração
mais intensil e ficam hipcialerta. Pode tornar-se ansiosa, irritadiça, ítgrcssiva,
hostil c incapaz dc dormir. Os sintomas mais extremos da excitação incluem
comportamentos obsessivo-compulsivos c hipomaníacos. Rias, quando a (Iroga deixa
o cérebro, os níveis dopanlinérgicos lia sinapse sofrem uma queda acentuada, o que
pode levar a sintomas tão disMricos quanto fadiga, letargia, aptttia, retraimento
social e deprcssão.Os pais falam com regularidade desse"desmoronamento" diário.
Rias c aí está a chave essessintonias excitados e disfóricos sãojustamcnte os que
o NIMIJ identifica como c:tlactcrísticos da criarlça l)ipolar. Os sintoini\s dc mania
liíls crianças, diz o Nlh'IH, incluetn aunlcnto da ctlcrgia, intensificação dtt atividadc
orientada para o alvo, insónia, irritíLbilidade, agitação c explosões destrutivas. Os
sintomas dc dcl)rcssão nas crianç:\s incluetn l)fardade energia, isolamento social,
perda do intc:i'essepelas atividadcs (apatia) e tristeza.
\gitação,
lado Reduçãodacuriosidade
.....=.:..1..f..- :ra*'croscilaçãode
liuiin)i \ nlnl'uljicaç
lnsicditclt' Clo.islriçãodll afcto ''"''' iitiiilt'ntode riba
245
ANATON[I/\ ])].=UNIA EPID]:=NIIA
As taxas clc incidência citadas acima vêm de ensaios de curto prazo; o risco
aumenta cluando as crianças c adolescentes mantêm n uso de antidepressivos por
períodosextensos.Em 1995,psiquiatras de Harvard determinaram que 25% das
crianças c adolescentes diagnosticados coi)] depressão convertem-sc em doentes
bipolares no prazo de dois a quatro anos. "E bem possívelque o tratamento cona
antidepressivosinduza a uma passagempala a mania, a ciclos rápidos ou a uma
instabilidade afetiva nos jovens, como é quase certo que faça com os adultos",
explicaram.0i
Barb:ua Geller da UniversidadeWashington,estendeuo período
de acompanhamento pai'a dez anos e, em seio estudo, quase mctadc das crianças
246
A Epidemia Disseminada t'ntre as Crianças
v os iloillcs das duas orgailizaçoesl baseadas na internet, sc tracluzirianl l)or Fun(laçao (las C'rii.taças
\d{)lcsct i)tcs liipolarcs, c Pais dt' Crianças 13ipolarcs.(N.T)
247
ANATOXIIA 1)1;UÀt/\ EPII)I=XIIA
Além disso, há pelo menos mais três caminhos pala o diagnóstico dc transtorno
bipolar juvenil. Como constatam'amEl-b/lallakh, Papolos c Facdda, há crianças
e adolescentesassim diagnosticados quc não foram previamente expostos a
antidepressivos ou cstimulantcs, c é bcm I'ácil vcr de onde vem a maioria dcsscs
248
A Epidemia Disscminada catre as Crianças
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24Ç)
AN,\rOXiiA Di; UNIAEpii)t;xii/\
Portanto, esta não é apenas uma história de crianças club se toi'fiaram bipolarcs;
é a história de crianças afetadas por uma fora)a particlilanllente grave da doença.
Papolos vclificou que 87% dc seus 195 pacientes bipolares juvenis sofriam
clc "alterações cíclicas ulti'a, ultrarrápidas", o quc significava que oscilavam
constantemente entrc esta(los de humor maníacos e deprimidos.90SimilíLrmcnte,
Facdda constatou que 66%dos pacientes bipolarcsjuvcnis tratados na Clínica Lua
Bini de Tr2\nstonlosdo Humor tinham "ciclosurra, ultr:trrápidos", c outros 19%
sofriam com alterações cíclicas rápidas apenas uin pouco menos cxtremadas. "Ein
contraste com um culto bifásico, cpisóclicoe relativamente lento de ciclos, cm
alguns ítdultos com transtorno bipolarl as formas pccliáti'ices costumam envolver
cstados mistos dc humor c um curso suba'único, instável c constantc", cscrcveli
Facdda.0i
25o
A Epidemia Disseminada cnti'e as Crianças
251
AN,\I OXII/\ I)J{ UNI/\ EPIDENÍI/\
Os Números da Invalidez
Ainda não cxistem bons cstuclossobrea percentagem dos pacientesbipolares
"dc instauraçãoprecoce"(lue, ao atingir zl idade adulta, acabamnas listas
de inválidos da Renda Complementar da Previdência (SSI) c do Seguro dtt
Previdência Social por Invalidez (SSDI). No entanto, o salto espantoso ilo número
de crianças "doentes mentais graves" que rcccbem auxílio ou pciisão diz muito
sobre a devastação que vem seilclo caiada. Havia 16.200 jovens abiLixo de 18 anos
considerados incapacitados por problemas psiquiátricos ilo rol da SSI cm 1987,e
eles abrangiam menos dc 6% do número total de crianças inválidas. Vinte anos
depois, havia 561.569 ci'ianças c jovens inválidos por doença mental nas listas
da SSI, e eles correspondiam a 50% do total. Essa cpidemia vem atingindo até
crianças pré-escolares. A prescrição de psicotrópicos a crianças de 2 ou 3 alias
começou a se tornar mais comum há cerca de dez anos e, dito e feito, o númei'o dc
doentes mentais graves abaixo de 6 anos que recebem ttuxílio da SSI frí»/ coza
desde
então, subindo dc 22.453 em 2000 para 65.928 em 2007.9*
252
A Epidemia Disseminadaentre as Crianças
6-12anos
-< 13-17anos
A.ntesde 19ç)2,os relatórios governamentais sobre a SSI não sc:pitravaill os beneficiários infailtojtivenis
m subgrupos ('tários. ]bnte: relatórios da Administração (la Scguridadc Social, 1{)87-2007.
Além disso, os números (lztSSI mal começam a sugerir o alcance do estrago que
vcn] sendocausado.Há cn] todil parte indícios dc piont clasaúde mciltal clc crianças
e adolescentes. De 1995 a 1999, a procunl dos plantas-socorros psiquiátricos
por jovciis aumciitou 59%.99A deterionlção da saúde nlcntal das crianç;ls do
país,dt'clarou eiii 2001 o dirá'tor iiitcional dc Saúdedos EstadosUitidos, David
Szttchcrlconstituía "uma crisc sanitária".l"'i Enl seguida,as faculdaclcscoiileçarain
l se pcrguntar, de rc'pente, por qttc talitos ;tlutios seus estavam sofrendo suites
nlítníacosOli aprcscnt;uldo coinportaiiicntos perturbados; lml levantamento dc
2007 dt'scobtiu quc lim cm cada seis cstud:mtcs uiiivcrsitários havia se "cortado ou
queimado"dc propósito 110ano ililterior. l"i Tudo issolevou o Grite ral Accouittability
Office (GAO)v" a investigar o qtic estavaacontece'lido,c?cle relatou cm 200Hclub
ulll cm cada 15 adultos jovens, com 18 a 25 anos dc idade, sofre hoje dc tina
:doc]içaii]ental grave". llá 680.000indivídt]os dessegrupo etário conatnutstorno
bipolar (t outros oitocciltos mil ct)m depressãograve, c o GAO assinalou que, na
vcrclade, essa cnl uma contagem ;ll)eixo da rt'itlidade do problema, pois não incluía
l)s adultosjovcns scm teto, cncaict'rácios ou institucionalizados. Todos csscsjovcits
têm ltlgum grau dc "coillprometimcnto funcionitl", alinhou o GAO.i"z
É iicssc ))unto que nos eiicontnullos hoje, cume iutção.Vinte iuios atrás, nossa
sociedadecome'çoua receitar rcglilarincnte drog:is psiquiátricasa criançasc
253
ANATON[IA DE URf/\ EPIDENIIA
254
12
Quando osJovens Sofrem
O tenlPti todo u geltte sc pergunta:
vocêesta dudatldo ou prÜudicaltdo seu.olho?"
-- A nlãc dcJasinine, 200ç)
Perdida em Seattle
Estive COHa jovem que chaitiarei cleJasmins apenaspor um curto l)criado,
e nlcsmo essebrcvc' encontro a dcixoti visivclmcilte agitada.i Nascida em 198H,
Jasmins reside hoje nllma instituição residencial meio dilitpidada, clcstinada a
dociltes mentais graves, mim subúrbio clc Scattle, e,já ao nos aproximarmos cla
casa,a mãe dela c cu ptidcitlos vê-la por uma janela, aildi\ndo dc linl lado par;t
outro. Q.uaiidocntrztmos,Jasnlinc me {)Ihou dt relaiicc e se retraiu dcpressal
c'ncolhcndo-scjunto à parede, igualzinho il um animal selvagemassustado.Usava
ciLlçilslea/i.\ c umajaqucta }tzul-claro, e também maiitcve distância da mãc -- agora
(Joiut).Títstltint''ilao l)odc dilt' c{)i]sc]]tj]]](alto pítt'íl íl litlllZilçao (l(' st-ll llollle, SLiZI
lula('(' cli
t'damos ('ni manter sua idcnti(laclt' cnl sigilo. Tanlbcni não fot'nccl o nonlc dít mãe, pela
lll ('s lllíl I'itzílo.
255
AN,VI'ONIIA 1)1;UNIA EPII)ENFIA
Jasmins não deixa ninguém abraça-la. Fomos cm dois canos a uma lanchotlete
Dairy Quecn das imediações,poisJasminc não se disporia a ir se cu ficasseno
mesmo carro quc cla; ao chcgarmos lá, a moça permaneceu no banco dc trás, com
os olhos lixos num ponto adiante c balançandoparti frente c para trás. "Se algum
dia ela voltar a falar", disse sua mãe, cn] voz baixa, "terá uma história e tanto pura
contar.''
Tudo correu bem ila vida dcJasmine até o verão poster'ior an qliinto ano. Coinn
ainda urinava ocasioilalmcnte na cama, ela ficou nervosa com a ideia de ir para
uma culâilia dc férias, e por isso unl médico Ihc receitou umzt "pílula do xixi na
cama", cine vinha a ser um ailtidcprcssivo tricíclico. Em pouquíssimotempo,
Jasininc ficou agitada c hostil e, certa tarde, disse à mãe: "Estou com uma porção
clc ideias horríveis. Tenho a sensaçãode que vou matar alguém"
"Foi terrível", lembrou sua mãe. "Ela engordou mais dc 45 cluilos com o
Zyprexa, e é miúda, tcnl 1,60 m dc altura. A garotada quc a conhecia do curso
primário dizia: '0 quc aconteceucom você?'Os meninos começaram a chanlá-la dc
25(j
QuandoosJo\ens Sofrem
'a fera'. Ela acabou scm itenhunl amigo, e chorava scm parar, e pedia para t\lmoçar
ilil sala do diretor pala focarlonge da cantina." Enquanto isso, os acessosde raiva
de Jasmins continuaram a acontecer em casa, e u psiquiatra aumentou tanto a
dose do Zypicxtt quc os olhos da menina i'cviravain c ficavam presos nu alto. "Foi
como sc cla estivessesaldo tortlinida. Ela sc deitava na cama e grita\ a: 'Por quc
isso está }lcontecclldu cotnigo?
257
AN,Vi'ONliA Dl; UA{A EI,ii)i;xli/\
na mãe e, mais tarde, rasgou uma lata clc refrigcrtlnte e cortou o pulso. "Essa é
a pessolunais psicótico que já vimos na história deste pronto-socorro", clissc a
equipe do hospital à mãe deJasmine, depois de um dessessurtos.
"Os médicos nle disseram quc ela sempre seria esquizorrênica", disse-me a
mãe. "Mas nenhum méclicojamais perguntou por esta história, por como era ela
antes de Ihc datem remédios. E sabe o que é muito difícil de aceitar? Nós fomos
proctii'ar ajuda, naquele verão em que ela estava com 11 anos, por um problema
insignificante, que não tinha nada a ver com a psiquiatria. Na minha cttbeça, ainda
a escuto rindo, do jeito que ela cra naquela época.Mas a vicia dela foi roubada.
Nósa pcrdemos,apesar de seu corpo continuar aqui. A cada minuto que passo cu
vqo o que perdi."
Ambivalente em Syracuse
A última série do curso médio foi limo boa época pai'a Andrew Stevcns.
Diagnosticadocom transtorno do déficit de atenção conahipeiatividade (TDAH)
na primeira série c medicadodesdeentão, ele havia passadopor altos e baixos
na escola,até chegar ao último ano. Nuasaí, fizera um coiso de mecânicade
:\utomóvcis e, pimba, tinha se sobressaído como nunca até então. "Fiquei numa
boa", explicou cle. "Gosto disso.Nem parece escola.
258
Quando .sJo\ cns Soft'cm
ver, resutllia muito bem a faceta moral da medicação dejovens na nossa sociedade:
"0 Andrew tem sido uma cobaia para o campo da medicina".
Desde muito cedo, cla c o marido haviam reconhecido que Andiew era diferente
de seus outros dais filhos. Tinha dificuldades de fala, seu comportamento pztrecia
excêntrico e ele al)rescntava "problemas dc raiva". No primeiro ano d:t escola,
ficava tão tenso quc comuinente precisava ir para o corredor c pular numa pc(luCRa
cairia elástica, para rectipetar o foco. "Eu ine lembro de ter chocadoquando o
diagnosticaramcom TDAHI, e não foi por estai'em rotulando meu filho", contou a
mãe. "Foi tipo 'Gi'aços a Deus, sal)amos quc há uma coisa real zlconteccndo com
cle, e eles sabemcoiiio ajuda-lo. Nãu é imaginação nossa:
259
ANATObIIA DI,; Uh;IA EPIDENII/\
E eu acho, sim, que, se nunca o tivéssemos medicado, ele teria aprcndido muito
mais mecanismos dc enfrentamento, porque teria tido que aprender. E nós
deveríamos poder ajudar crianças como o Anclrcw sem fazer com que elas se sintam
tão diferentes, sem tirar o seu apetite e sem tei' medo dos efeitos dos remédios a
longo prazo todas essascoisascom que eu hco aqui me l)rcocupando."
Dui'ante várias horas, ficamos sentados na sua varanda da frente, que dá para
uma iua movimentada, numa área bem barra-pesada de Boston, c quase todo
mundo que passavadava um adeusinho c gritava um alâ afetuoso, fosse qual fossc
sua etnia. Theiesa Gately é uma mulher magra, de cabelo louro cor de palha, e
teve sua própi'ia história de menor de lares aditivos. N:tecidaem 1964,sofreu
abusos sexuais clo padl'acto e, na adolescência, tornou-sc tão rebelde que acabou
num hospital psiquiátrico dc Maryland. Ali a medicaiam com Thorazine c outros
neurolépticos e, em suas palavras, só quando começou a "dar unia linguada:
nos remédios -- fingir (ltie os tomava, quando as enfen)leiras estavam olhando,
260
QuandoosJovcns Soh'em
e depois cuspi-los -- foi que sua cabeça começou a desanuviar. Mesmo assim, ela
não tem nada de "antimedicamentos"e, durante lmla fase difícil, alguns anos
atrás, constatou que um antidcpressivo c lim estttbilizadoi' do humor foi'am
extremamente úteis, e continua a usar essesremédios.
Como mãe de criação, Gatcly tinha quc seguir a "orientação médica" e dar
os mcdicailleiltos psiquiátricos aos menores quc chcgttvain com eles. A maioria
tomava coquetéis de drogas e, pala Theresa, parecia que estes eram usados
principalmcnte para toi'alar as crianças mais calmas c mais fáceis de manejar.
Uma Incnina, a Liz, tomava uma medicaçãotão pesadaque nem conseguia
raciocinar", recordou. "A gente perguntava sc ela queria lmla costeletadc porco
e cla não rcspoitdia."Outnl cra "quaseliluda, quandochegou.A última coisa
quc a gente precisa dar a uma pessoaque já não fala é mais remédio". Theresa
desfiou as histórias dc vários outros menores que estiveram sob a sua tutela, e
concluiu quc "talvez lms novc a oiize]dos 96 mcnoi'es] precisassem tomar a(lueles
remédios e estivessem sendo ajlidados
26
ANATONIIA DI; UÀ[A EPII)EN[I.\
Tal como Thci'esa Gately, Sam Clayborn, que é assistente social em New
Rochclle, no estado de Nova lzork, sabe por experiência própria o que é ser um
garoto de lar adotivo temporário nos Estados Unidos. Quando nasceu,em 1965, no
Hadem, sua mãe não nade cuidar dele e, aos 6 anos, ele foi morar numa pequena
instituição residencial. Nós nos encontramos em scu apartamento, em Croton-on-
Hudson, e ele situou as coisasmuito depressanum contexto histórico. "Eles não
eram tão ligados em diagnósticospsiquiátricos naquela época") cxplicou. "Eram
mais chegadosa Ihe dai' uma supra, contei você e apenasjoga-lo numa porra de
um qual'to vazio. Fico feliz por ter crescido quando cra assim, e não como é agora,
[)orque, se fosse citado hoje, iam me encher dessas porcarias cle remédios. Eu ia
ficar dopado, apagado.
Nas últimas duas décadas,ele e sua parceira, Eva Dech, têm trabalhado em
defesa de menores dc lares adotivos e jovens pobres clo condado dc Westchcster.
Eva também teve uma infânciadifícil, que incluiu um período num nlanicâmio onde
cla foi mcdicada à força, e os dois veem uma dimensão racial nessa medicação dos
menores mantidos cm lares adotivos temporários. A partir do ano 2000, os índices
elosjovens negros diagnosticadoscom transtorno bipolar dispararam e, com base
nas altas hospitalares, agora eles são tidos como portadores dcssc transtoi'no em
grau maior do (lue os brancos.tEssediagnósticofornece a i'azãológica para a
medicaçãodos adolescentes,o que, por sua vez, coloca mais uin fardo em cima
deles, na opinião cle Cllayboin.
262
QuandoosJovcns Soíl'cm
2(j3
ANATObIIA DI; [JbIf\ EI II)ENFIA
De volta a Syracuse
Numa última parada, toi'nei a visitam'as (luas famílias dc Syracusc-- Jason
e Kelley Smith e Sean e Gwcn Oates -- que havia conhecido na primavera dc
2008. Pai'entes, ttmigos, teritpeutas c médicos tinham dado a essasduas famílias
11
CaIJoncs é um pscuclâniino.A c(luipcjiospitalar pccliu quc cu não rcvclassc os nonlcs dc p:tcientes
l iltci'ilít(los .
264
(2u21i)cloosJoveils Soheila
lesstca
])or uma conve rsa telefónica anterior, eu sabia queJessica Smith vinha passando
bcm e, quando choquei à sua casa,cla voo saltitando file i'eccbcr à porta, comia
havia feito un] ano antes. Quando ela fora diagnosticada com transtorno bipolar
los 4 anosdc idade, os pais tinham i'ejeitado as rcconlcndaçõesda equipe do
Cleiltro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Nova York de que ela
passassea tomar uni coqlietel dc três medicamcntos, que incluía u m antipsicótico.
Floje, eles têm uma menina dc 8 alias que faz lembrar o encantador personagem
da peça teatral -Rer7//g
Roiíe, dc lç'laurice Seildak. Jcssica, quc é a típica mcnina
extrovertida, estrelou rcccnteiiientc um musical na escola. "Ela adortl isso", disse o
pai, e apontou o comporttlinento da filha ila noite de estreia como prova do quanto
ela mclhorou, em termos do controle dc sitas emoções."Ela fazia o papel de um
personztgemque era um crânio, c uma outra n enina da peça pegou a cadeira dela,
o qtic não cia para ter feito. Vimos que aJessica liceu aborrecida. Míls deixou parêt
lá. Isso ntostrou que ela está melhuratido ein matéiiadc distensionai assituaçõcs.
O pai acrescentou: "Ela tem uma personalidade forte, mas isso é parecido com
outras pessoasda minha família. Eu era igualzinho.Era muito barulhcnto. Não
conseguia p;trai' quieto. Mas virei lin a boa pessoa.'
Nathan
Nathan Oatcs tinha passadol)oi' 12 nlcscs mais atrapalhados.Eu haviit
tclefonado para sua mãc várias vczcs durante o lula e, no verão dc 2008, Nathan
quc I'cccbei'a o diagnóstico de TDAH aos 4 anos e, posteriorliiclite, o dc portador'
dc transtorno bipolar -- estavaindo bens.Tonlaxa Goncei'tapai'a o TDAH c
Risperdal paul o transtorno bipolar e, nesseverão, havia descobertoque "adorava
pistas de atletismo", segundo nic contara sua mãe. '%.gorzlestão ensinando o
Nathaii a saltei obstáclilos c a fazer salto cn] distância." Ainda mais iml)ortante,
265
ANATOhIIJ\ I)E UX[A EPII)I;N[I/\
turma que não implicava com ele) e, em seguida,nle ensinou a dobrar um papel
para fazer um avião, quc soltou voando pela sala. "Gosto de fazer filmes" com um
gravador de vídeo, contou-me, e acabei Ihe fazendo algumas pergLmtas sobre uns
dois assuntosque ele adora. "0 liga/?íc afundou em 1912", Nathan mc informou, e,
em seguida, identihcou orgulhosamente vái'ios ossosdo corpo huiTlaiio -- sente-se
fascinado por desenhos de esqueletos. "Todos os professores o adoram", disse sua
mãe, e, naquele momento, foi muito fácil entender por quê.
267
PARTE IV
EXPI,ILAÇÃO DEUMAII,USÃO
13
A Ascensãode uma Ideologia
;Nãojoi suíPlesa que us esludalttes de ttedicina acettassent
acviticunteltte o dogma do rcducimtisnto l)iolttédicn tla l)si quiatria;
elesnão Linhalll tempopara ler e anulisrtr a Literntuia original.
O que nie let ou algtut\ tempo pala contPree tder à tuedida que
auattcci pnr minha residência,Joi Por qut' os l)si(luialras Lnitibém
ralaitietttelazjani essa teitui a critica.
-- Colin Rosé, prt)fessor adjunto clínico dc' l)siquiatlia do
Centro Nlédicodo Sudoeste,c:m l)alias, Taxas, 1995i
271
ANATONÍIA I)E UX[A EI,I])ER{]/\
272
AAsccnsão dc uma Ideologia
273
AN.\'] OX]IA ])E UNIA EPII)I;NIIA
/
Evitando o Obvio
Eia essaa autoavaliação da psiquiatria nos anos 1970.Ela se olhou no espelho
e viu self campoprofissionalatacadopor um movimentode "aiitipsiquiatria",
economicamenteameaçadopoi ttjrapeutas sem formação médica c cindido
por discordânciasinternas. Na verdade, porém, estava fechando os olhos para o
problema fundamental, que era o fato dc seus medictullcntos virem falhando no
mercado.Era issoquc havia pcimitidu quc a crise sc fiimassc e se alastrasse.
Se a primeira geração de psicotrópicos houvessc realmente funcioitaclo, o público
estaria batendo às portas dos psiquiatras em busca de receitas dcsscs remédios.
A tese de Szasz de club a doença mental cia um "mito" poderia ser vista por algtms
como intelectualmente intercssantc, digna dc dcbate nos círculos académicos, mas
não restringirizt o apetite du pública por medicamentos qttc o fizessem sentir-sc c
fuilcioiiar melhor. Do mesmo modo, a psiquiatria poderia descartar' íl concoi rência
dc psicólogos c oiientadorcs como um incomodo inofensivo. Pessoasdeprimidas
e ansiosas
poderiatllentregar-se
a tei'apiasdo grito c a banhosde lama,e
buscar a terapia da fala com psicólogos, mas os vidrinhos receitados por médicos
permaneceriam em selimarmários de remédios. E as divisões internas também não
persistiriam. Se os comprimidos tivessem provado proporcionar alívio a longo prazo)
toda a psiquiatria teria ítbraçado o modelo médico, porque as outras formas dc
tratamcnto oferecidas a psiczulálise c os ambientes de apoio seriam percebidas
como ex:tgeradamente trabalhosas c desnecessárias.A psiquiatria entrou em crise ila
décadade 1970porquc a alli'a de "pílula milagrosa" cm toi'no dc seusinedicameiltos
havia desapaiccido.
11
274
AAscensão de uma Ideologia
i./m Es/ra/z/la /zo.Nirz/!o ajudou a legitimar esse protesto entre o público, e o filme
foi lançado poucodepois qu e a psiquiatria sofreu o constrangimento de reportagens
que noticiavam que a União Soviética vinha usando neurolépticos pz\ratorturar
dissidentes políticos. Aparentemente, essasdrogas infligiam tamanha dor física
que pessoasperfeitamente sãs preferiam desdizer suas críticas ao governo
comLmistaa suportar dosesrepetidas de Haldol. Os textos dos dissidentes falavam
de drogas psiqliiátricas que transformavam pessoas em "vegetais", e o New UorÉ
71//zex
concluiu que tal prática !)adia ser vista como llm "assassinatoda alma".io
Dcpois, eill 1975,cluando o senador Birch Bayh, do estado dc Indiana, abriu um
inquérito parlamentar sobrc o usode neurolépticosem instituiçõesjuvenis, ex-
pacieiltes psiquiátricos invadiram a audiência pública pal'a depor a6lrmando que
os remédios causavam "dores lancinantes" e os haviam transformado em "zumbia"
emocionais. Os antipsicóticos, disse um ex-paciente, "são usados não pala curar
ou aludarj mas para torturam e controlar. E simples assim".il
Essecra uin asstmtodc (luc a psiquiatria não gostavade falar e quc não
gostava de reconhecer. Ao mesmo tempo, ilo entanto, todos entendiam o que dava
los psiquiatras uma vantagem competitiva no mercado terapêutico. Arthur Platt,
A Lei dc' Substâncias C'ontroladas, aprovada pelo Congresso norte-anlcricano cln 1970, tcm cinco
categorias ou classesdc drogas lícitas c ilícitas, separadas conforme suas diversas características
quín)ices c scu potcncial gerador dc vício. Dois órgãos federais, o Dcpartamcilto de Rcprcssão às
Drogas (DEA) c a Aciministntção Fedci'al dc Alimcntos c itÍcdicamcntos (FDA), determinam a
inclusão c/ou exclusão das substâncias nessas categorias. Ocasionalmente, cla também poclc scr
feitzi pelo Cone!'essa. (N.T)
275
ANATOhIH I)E UNIAEPIDEAIIA
276
AAscensão dc umaldeologia
Mas, coiiio obstrvtlr;un us críticos cla época, cnl difícil entender por quc sc
deveria consiclt:ntt esse maiittal uiiiíl gi'atlclt rt'alização cíc/l/{/íca.Nenhuma
descoberta científica tinha levado a essa rt'coilhguração tios diagnósticos
psiquiátricos. A biologia dos distúrbios nlcntais coiltiiluava clc:scoiihccicla,
c até
277
AN,\ rONIIA DE UbL\ EPIDENÍIA
278
AAsccnsão de unte Ideologia
Os Loucosda Psiquiatria
Uma vcz l)ttblicado o l)Sil/-J17, ;t APA tratou dc vender sc'u "tnodclo médico:
;lo público. Embont as organizações médicas profissionais sctnprt: hotlvesscm
l)rocurado promover os interesses ccollânlicos dc seusrncmbros, casafoi a pnmeinl
vcz (ltie unia orgaiiizztçãoprofissional anotou tão completanlcntc as práticas dt-
mercado colthecidas por (lualquei' associação conlcrcial. Edil 1981, aAPAcrioti uiiii
divisão dc publicaçõesc //zr/rte/íng")para "aprofundar a ideiltificttção médica tios
psiquiatras", e, c'nl l)ouqttíssinlo tenlpq transfonllou-sc illlnia maquina comercial
muito cíicientc'.33
"Ê tarefa da APA pi'otcger o poda:rde rc'lida dospsiquiatras",
disse' o vice-presidente da Sociedade, Paul Fink, cn] 1986.3'
Como primeiro passo a APA criou su;t prós)ria editora, em 198 1,níl expectativa
dc quc cla levasse "os melhores talentos c os conhccimclltos atuais dz\ psiquiatria
279
AK,\l ObíIA Dlü Uxí/\ EpiDKNíi/X
ao público leitor'".SSA editora logo passoua publicar mais de trinta livros por ano,
c Sabshin teve o prazer de assinalar, cm 1983,que os livros "propor'cionarão muita
educaçãopopular positiva sobre a profissão".SÕ
A APA também criou comissões
para examinar os manuais que publicava, decidida a secertificam'cleque os ttutores
permallecesscm ligados à mensagem. Aliás, cm 1986, ao prcpztiar a publicação
de Hra/a/lze/z/a
de Za zifar/zos
Psígz/íáfdcos,
Rogar Pede, uma das autoridades deitas
da organização, voltou a se preocupar com essa questão. "Como organizar 32.000
membros em defesa de seus direitos?", indagou. "Ç2ucm deve ser autorizado a sc
pronunciar sobre a questão do tratamento das doençaspsiquiátricas: soincnte os
pesquisadores?Somente a elite acadêmica? (...) Apenas os membros indicados por
pi'esidentcs da APA?"37
Des(lc muito cedo, a APA percebeu quc seria valioso desenvolver um rol
nacional de "especialistas" capazes dc promover a história do modelo médico
junto aos meiosde comunicação.Criou um "instituto dc relaçõespúblicas" para
supervisionar esseesforço, quc envolvia o treinamcilto dos membros "em técnicas
para lidar com o i'adio c a televisão". Apenas em 1985,a APA conduziu qllatro
seminários sobre "Como sobreviver a uma entrevista na televisão".S8Entreillentes,
cada Hllial distrital do país identificou "representantes dc assuntos públicas" iLptos
a serem chamadosa se pi'anunciar diante da imprensa. "Temos agora uma rcclc
experientc de líderes treinados, aptos a lidar dc modo cficicnte com todos os tipos
dc mídia", afirmou Sabshin.3"
280
AAsccnsão de uma Ideologia
Esforço estava gerando. Enl 1983, ele observou quq "com a ajuda e o incentivo
dtt Divisam dc Assuntos Públicos, a U.S. .Newi a/zd Hor/dRePorf publicou uma
granclc matéria de capa sobre a depressão, a qual incluiu citações substanciais de
psiquiatras ilustres".4ZDois anos depois, Sabshin anunciou quc "porta-vozes da APA
foram colocadosno programít de Phil Donahue, noJVlgÀf//zec cm outros programas
um rede nacional". Nesse mesmo ano, cla "ajudou a elaborar um cal)ítulo de um
livro da Rerzdert Z){gei/ sobre saúda: mental". ':'
281
AnATohiiA Dl; UNÍ/\Epíi)i;xíi/\
O Céleó?a
4uízdado:
o livro recebeuessetítulo brilhante, clubtransmitiu uiiltl
mensagem pragtnática, passível de ser apreendida c recordada com facilidade pelo
público. Entretanto, o que a maioria dos leitores não notou foi que Andrcasen,
em vários pontos de self livro, confessouque os pcsquisadorcsainda não haviam
propriamcntc co/zx/alada
quc aspessoasdiagnosticadascompi'oblemaspsiquiátricos
tinham o cércbro avariado. Os pescluisadoi'csdispunham de novos insti'umcntos
para investigar a função cerebral c tinham esperançade que csscconhecimento
chegam'ia."No entanto, o ci»íd/o da revolução -- a intuição de que modificareinos
drasticamente as coisas, Incsmo que este proccsso exija alguns anos -- está muito
presente", cxplicou a autora.4n
282
AAsccnsão de uma Ideologia
2H3
ANATObIIA DE UNIA EPIDEMI/\
Estava aberta a poi'ta para uma "parceria" completa, uma parceria que
venderia ao público o modelo médico e os benefícios dos medicamentos
psiquiátricos, e a APA começou então a contar regularmente com o dinheiro da
indústria farmacêutica para financiar muitas de suas atividades. As companhias
farmacêuticas passaram a "subvencionar" programas de cclucaçãocontínua e
conferências psiquiátricas cm hospitais, e, como observou um psiquiatra, as
etnpiesas "tinham prazer' ern complementa-lascom comida e bebida de graça,
para adoçar o prazer da aprendizagem".'' Çjluancloa APA lançou um comitê clc ação
política, em 1982,para fazerpressão por seusinteresses no Congresso, esseesforço
íbi hnztnciadopela indústria farmacêutica. Esta ajudou a custear os seminários da
APA que ofereciam treinamento para lidam'com os meioscle comunicação.Em
1985,Fred Gottlieb, secretário da APA, observou quc agora a organização vinha
recebendo, todo ano, "milhões de dólares das fábricas de medicamentos".SZDois
anosdepois, uma edição do boletim informativo da APA,P3g'cAa/dc.Nbmi,estampou
uma foto da Smith, Kline and French entregando um che(ltie ao presidente da
Sociedade, Robert Pasnau, o que levou um leitor a fazer uma pilhéria, dizcnclo que
a APA tinha se tornado a "AssociaçãoPsicofarmacêuticaNorte-Americana".s3Já
então, a organizaçãovinha prosperandoem termos nlnanceiros,com um salto cm
sua receita de l0,5 milhões de dólares em 1980 para 21,4 milhões cle dólares em
1987,e se instalou num prédio novo e soGlsticadoem Washington, D.C. E falava
abertamente em "nossosparceiros na indústria".s'
Para as empresas farmacêuticas, a melhor parte dessanova parceria era que ela
lhes facultava transformar psiquiatras das melhores faculdadesde medicina cm
porta-vozes", mesmo quando essesmédicos se consideravam "independentes
Os simpósios remunerados nas reuniões anuais aceitavam essa nova relação. Dizia-
se cluc os simpósios eram apresentações "educativas" nas quais os fabricantes clc
remédios promctiain não "controlar" o que diziam os cspecialistas. No entanto,
essas apresentações coam e/i.Falada, c todo palestrante sabia que, se sztísse da
284
AAscentão de uma Ideologia
285
ANAToX{H 1)1,= UNÜ EI,II)I:NIIA
286
AAsccnsão dc uma Ideologia
pularam em cima dessaideia. Eill 1983,a APA "fez um acordo com a NAMl"
pala escrever um paiiíleto sobre drogas neurolépticas e, pouco depois, passou a
incei)tivar suasGlliaisem todo o país"a fomentar :l colaboraçãocom divisõeslocais
claAliança Nacional para os Doentes Mentais".'' A APA c a NAMI se uniram pal'a
pressionar o Congresso a alimentar o íiilanciamcnto cle pesquisas biomédicas, c o
bencficiáriu desse esforço - o NIMH, que viu scu orçamcnto de pesquisa aumentar
B4%ao longo da décadaclc 1980-- ILgiadcccuaospais por isso. "Num sentido
muito significativo, o NIR'IH é ilin instituto da NAMl", disseJudd a Laurie Flynn,
(lttc presidia a NAÀll, mima cai'ta dc 19ç)o.02Àquela altura, a NAMI tinha maisdc
125.0o0 membros, l illítioria deles de classemédia, e buscavaativameiite "educar
os meios dc comunicação, }ls alltoriclades públicas, os prestadores de serviços dc
saúclc,a comuilidadc empresarial L o público em geral sobre a verdadeira natureza
dos trilitstornos cerebrais", nas l)alavras de um de seusdirigentes.":'A NAMI
trouxc uma poderosa alitoridiLdc modal à narração da história do cérebro avariada
e, naturalmente, as t n presasfai'macêuticas íicariun ansiosaspor hnaiiciai' selim
l)roql'dirás edticítcioii:tis, havctldo 18 Girinosdoado 11,72 ntilhõcs de dólares à
entidadeentre 1996 e 1999.m
287
AN,\TOXINA I)E IJht/\ EPIDI;N[I/\
288
AAsccnsão dc uma Ideologia
28Ç)
14
A História que Foi. e Não Foi Contada
Em ltlatéTia de cadáveresnos ensaios anuais com psicotvóPicos,
n núnleio delesé ntaior nos grupos de tratar\ente {itiuo do que nos grupos
tratados com u?ll pLacebo. Isso é tl\uivo dtfeleitte do que acontece nos cttsaios
com a pentctltna ou tios cnsntos co»t renlédtos(laterealmet\telunciol\am.
- Dava(l Hcalys professor de psiquiatria da
Universidade dc CardiíT, I'aís de Goles, 2008'
291
ANATOhlr/\ 1)1,=UhÍ/\ EPIDEÀ41A
Lorotas, Mentiras e um
Remédio Campeão de Vendas
Hoje, a natureza fraudulenta da história contada pela companhia farmacêutica
Eli Lilly c pela psiquiatria a respeito do Prozac, quando este chegou ao mercado, é
bastante conhecida, pois foi doclimentacla por Peter Breggin, David Healy eJoscph
Glenmullen, entre outros. Bieggin c Healy escreveramseus relatos depois dc
obter'em acesso aos ai'(ruivos da Eli Lilly, quando prestaran] depoimento em ações
civis como peritos, o club lhes permitiu examinar dados e memorandos internos
quc desmentiam o quc fora informado ao público a respeito clo medicamento. Com
o risco de entrar num tenenojá conhecido, precisaillos revisitar brevemente essa
história, pois ela nos ajudará a ver, com considerável clareza, como se foimaiam
nossas ilusões sociais sobre os méritos das drogas psiquiátricas "de segunda
geração". A conaercialização (lo Prozac pela Eli Lilly revelou-se um modelo quc
outras companhiasseguiram, à medida quc foi':tm introduzindo suas drogas no
mercado,e envolveua nai'raçãode uma história falsa nz\literatura científica.
a supervalorização
publicitária ainda maior' dessahistória pala a mídia c a
292
A História quc l;oi-. c Não l;oi Contada
A cà,êncã,a
da.#uoxetina
O clcscnvolvinicnto de [ái'mztcos coiiicça no ]abonltório, com a investigação
do "mccanisi)lo dc ação" dc uiiltl substância, e, como vimos al)tes, os cientistas
da Eli Lilly dcterminantm, cm iileadusda décadítde 1970,quc íl íluoxetina fazia
a scrotonina "acumular-se" ntt sinapse o que) por sua vez, dcset)cadcavauilla
série dc alterações fisiológicas no cérebro. Em seguida, em estudos com animais,
constatou-scquc it droga citusavaatividades estcreotipt\dasem ratos (fuiig2\i Oli
laiilbcr de forma rcl)ctitiva ctc.) e conlportamcntosagressivoscm cãese gatos.'
Em 1977,a Eli Lilly conduziu seu primeiro pequeno ensaio com seres humanos,
mas "nenhum dos oito pacientes que concluíram o tratamento de quatro semanas
exibiu villa clara tnelhora induzida l)elo medicamento", como disse Ray Fullci a
seuscolegasda enapresafarmacêuticit em 1978.O remédio também havia causado
;'um númcio bastante grande dc relatos de reaçõesadversas". Um paciente tivera
um surto psicótico ao tom:ti a medicação, e outros haviam sofrido de "acatisia e
inqliietação", disseFuller.'
Os ensaioscom a íluoxetina analhaviam conteçadoc já estava claro quc a Eli
Lilly tinha um gi'ande pi'oblema. A íluoxetiila não parecia inclhorar a depressão c
causavalim efeito colateral -- a }tcatisia -- quc aunit'fitava sítbidamenteo risco de
suicídio c violência. Depois dc receber tiiais relatos dessetipo, a Eli Lilly corrigiu
seus protocolos de ensítio. "Nos estudos futuros, o liso de benzodiazcpinas para
controlar ;\ agitação será permitido", escreveuFuller cm 23 dc julho de 1979.sAs
benzodiazepinasajudariam a eliminar os relatos de acatisia c devcriain melhorar
os resultados da r'acácia, uma vez que divcrsos testes com bcnzodiazepinas
l)ara a depressão haviam deillonsti'ado quc elas craili cíicazes como tricíclicos.
E claro que, coilat)depoiscoiifessotino tribunal Dorothy Dobbs,da Eli Lilly, o
uso de beitzodiazcpinas ert\ "cientihcameilte ruim", uma vcz que "confundiria os
rcsult:.dos" e "interferiria ila análise da segurança e da eficácia", mas permitiu
que a comi)ttnhia levasse adiante o desenvolvimento da fllioxetina.Õ
293
AN,\TOÀIIA I)E IJXI/\ EPII)ENfI/\
No fim dc 1989, a Eli Lilly obteve al)iovação para coma'cializar a íluoxctina na Alcillanha. Rias
com um rótulo (luc deitava para o alto risco dc suicídio.
294
A História club l;oi.- c Não l;oi Contada
295
ANATONíí/\ DE UlvIA Epll)i;híIA
296
A [listória quc l;oi-. c Não Foi Contada
A hà,stóú,acontada ao l)úbl,ico
Ei'a certo qttc a história contada lias publicações psiquiátricas teria repercussão
biltre o público.Aquela altura, porém, o mercadodc antidepressivosainda tinha uill
t:unanho nlodc nado.Quando o Prozac foi aprovado,}Lnalistasde Wall Street previram
quc cle poderia gerar dc 135 a 400 itlilhões dc dólaresdc vendasanuais para a Eli
Lilly. Mtts as cinpresas farmacêuticas, a SociedadcNorte-Americana de Psiquiatria
(APA) e os dirigcntes do Instituto Nacional de Sttúdc N'lcntal (NIR'IH) Cazianl
2Ç)7
AN,\TOXIIA 1)1.:UNIA EPIDEXII/\
298
A História quc lbi«. c Não Foi Contada
Em 1990, tantas pcssol\s haviam sofrido com rcações ruins à fluoxctiiiit qttc:
sc fortnarlt em âmbito nacional uin Grupo dc Apoio ;l Sobreviventes do Prozztc.
Nluitos dos prejudicados pc'lo remédio haviam levado suasqueixas a advogados,
e duas açõesjudiciais, clip particular cíLptarania ateitção do público. Primeiro,
iio dia 18 dc julho, algtmsjornais iníoi'matam quc tina mulher dc Long lsland,
Rhoda Hala, estava processando a Eli Lilly porque) depois dt' se talhar usuária
do Prontc, havia cortado os pulsos L "outnts partes do corpo centenas dc vczc:s".3'
Duas semanas depois, osjornais falaram dc uma açãojudicial relacionada com unl
assassinatocm massa, cometido por utn holnctla eillotiquccido do Kelltucky Cinco
semanas depois de começar a usar o icnlédio, Joseph Wesbecker tinha entrado
numa gráhca de Louisville em (lue havia trabalhado e abrira fogo com uin fuzil
de assalto AK.-47, matando oito pessoas c ferindo 12. A Cloiilissãu dos Cidaclãus
299
AN,VrObIIA 1)1;UMA EPn)I:bIcA
Era o começo da campanha da Eli Lilly para salvar seu remédio campeão dc
vendas. ':A Lilly pode entrar pelo cano, se perdermos o Prozac", escreveu o diretoi
médico Leigh Thompson, num inemorttndo aflito cle 1990.SS
A companhia butilou
prontamente uma mensagem em quatro pontos para os meios de comunicação:
tratava-se de um problema que vinha sendo levantado pelos cientologistas; extensos
ensaiosclínicos haviam mostrado (lue o Piozac cra um medicamento seguro; os
eventos suicidas e homicidas estavam "na doença, não no remédio"; e "pessoas
quc poderiam sel ajudadasvêm sendoafastadasdo tratamento pelo medo,c essa
é a verdadeira ameaça pública".S6A empresaorganizou sessõesdc treinamciito
midiático para ospsiquiatras acadêmicosque contratou como consulturcs, fazendo-
os praticar a transmissão dessamensagem. "Francamente,não mc impressionei
com o desempenhodos nossosl)rofissioiiais externos", queixou-sc com Thompson o
vice-presidente da companhia, Nlitch l)aniels, depois de uma dessasaulas pi éticas,
cn] abril dc 1991. A emprcsa devem'ia "exigir" que os psiquiatras acadêinicos
inelhorassem seu descmpenho "em suas futuras sessõesde treinamcnto", disse ele.a7
3oo
A História quc Foi«.c Não Foi Contada
Naquele lilomeilto, a Eli Lilly c toda a psiquiatria obtiveraill tina vitória dt'
importância cltiradoura nasrelaçõespúblicas.A aura dc'pílula milagrosa cm torno
do Pi'ozac foi restaurada, c o público t' íl tilídia fonuii cundicionaclos il associar as
críticas at)s mcclicameiltos psiquiátrica)s à cieiitologia. O debate sobra'os méi idos
classesfármacospareci'uciltão exibir de um lado, os principais cientistzLS
e
médicos do país, e dc outro, religiosos parados; e, se cra assim, o púl)loco podia ter
ct rtt za clo lado t'M qtic estav;t il v(:rdaclt'. Olltros inibidores s(:letivos dc rt:captação
dit sc'rotoniníl (ISRS) t'tltrautN no nlcrc:tdo, }ls vendas clt) Prozztcbllteram ila
marca dt llm bilhão de clólaies t'm 1992, t' t'ntão, ( lii 19ç)3,o psiqtliatnt I'c'ter
301
AN,VI'ONIIADEUNIAEPIDENIIA
O neuropsiquiatra Richard Restak foi efusivo: "Pela primeira vcz iia história
humana, estaremos cm condição de projetar nossoscérebros".+2
A América Enganada
Ellquanto a história do Prozac sc desenrolava nos meios dc cotnunicação, com
certeza o fantasma cleJohn Brinkley devia estar sorrindo em algum lugar. Ele havia
hipnotizado os Olivintcs do seu programa de rádio com histói'ias sol)rezlsmaravilhas
clãsgânadas transplantadas dc bodes, c agora ali estava um processo de narração
dc histórias que havia transformado um remédio "totalmente inadequttdo"
para tratar a (lepressãoilun] íái'macomilagroso,cm meio a psiquiatrasquc
torciam as mãos em público por ecus novos podcrcs divinos de moldar a mente
humtula. Deviam eles preocupar-secm deixar as pessoas"melhor do que bcin"?
Nossa sociedade perdcria algo precioso sc todos vivcsscm felizes o tempo todo?
Estava cm andamento a medicaçãogeneralizada da mente norte-americana, e
-- como revelará um exame muito i'ápido -- foi essc mesmo ])roccsso de histórias
da carochinha(lue respaldouo lançamentodo X.anal como um remédio para a
síndroilacdo pânico e um ailti])sicótico atípico para a esquizofrenia. Depois que
essasdrogas "de segtmda geração" sc toi'liaranl campeãs de vendas, as companhias
farmacêuticas e os psiquiatras acadêmicoscomeçarama promover toda sorte de
drogas psiquiátricas para uso infantil, e essanarração dc histórias varreu milhões
de jovens norte-americanos para a lata de lixo da "doença mental"
302
A História quc Foi«. e Não Foi Contada
Xanax
O Xlaiiax (alptttz{)lam) foi ;aprovadopela FDA como agente ansiolítico cin
1981 e, edil seguida, a empresa farmacêutic;t Upjohn tratou de aprova-lo para
a sínclroiilc do pânico, rc'céiii-idciltihcada como doençit distinta, pela primeira
vez, ilo DSzt/-J17(1980). Como primeiro passo,o labor'atórioconta\tou Gcrald
Klcnlian, cx-diretor do NIMHI, pane coprcsidir suzt"comissão dirctiva" do pl'occ'sso
clc testagclil c pagou a Daniel Frccdnl;tn, c'ditar dos Á?c/zízlel
ofGe/rí,ra//?pr/!ia/p,
para ser assistentede sua "divisão dt assuntosmédicos".'SIsso foi apenasl);\rte
dos esforçosclacomi)ailhia paul cooptar a psiquiatria zltadêmica. "Os psiquiatnls
mais tarimbadus do mundo foram bonlbardcados cona ofertas dc consultoria"
provenientesda Upjohn, dissc lsaac Marks, esl)ccialistacn] transtornosda
ulsiecladcno Instituto dc Psiquiatria de Londrcs.u
Klcrmait e ;l Upyohn concebcrltm o Estudo Colaborativo Transnacional sol)rt-
o Pânico, da t'ml)rosa farmacêutica Upjohn, de um modo quc tornasse espcrável
l produção dc: linfa resposta precária :lo placa'bo. Pacientes que haviam sido
tratados com l)cnzodiazc'pinosforaill admitidos ilo estudo, o quc significou quc
ltluitos integrantes do grupo clo placeboestariam, na verdade,passíuldopelos
horrores da abstinência da bcnzodiazepina, sendo portanto cspcrável quc ficasscin
c'xtrcmamcnteansiososnasprimeiras semanzls
do ctlsaio. Çlluascum quarto dos
pacientes tnttados com o placcbo tinham vestígios de bt'ilzodiazepinas no saitgttc
10 sc inicial' o período dc tratamento.+s
:303
ANA'I'OMÜ 1)1.;UXH EI,IDENIIA
mais duas semanas. Os resultados foram previsíveis: 39% dos quc suspenderam o
uso do alprazolam tiveram uma "deterioração significativa", e seu pânico c
ansiecladcdispararam a tal ponto que eles tiveram de reiniciar a medicação;35%
dos pacientcs tratados com alprazolam tiveram sintomas de pânico e ansiedade"de
rebote", mais severosdo que quando sc inicial'a o estudo, e uma percentagem igual
sofreu com uma multiplicidade de novossintomas debilitantcs, entre eles confusão,
acentuação das percepções sensoriais, depi'estão, sensação de insetos iastdando na
pele, cãibras musculares, vista embotada, diarreia, redução do apetite e perda de
S
l)cso.+7
Os investigadores
da Upjohn publicaramtrês artigos na revista 4rcAizieí
af
Ge/ze/a/PTgcAia/7 em maio dc 1988, c qualqucr pessoa quc examinasse os dados
com cuidadopoderia ver os danos causadospelo alpi'azolam.Mas, para quc o
X.anax fosse comercializado com êxito, a Upüohn precisava quc seus investigadores
cxtraísscm um tipo dc conclusão diferente, e foi o quc eles hzeram, ptu'ticularmentc
nos resumos dos três antigos. Primeiro, concentraram a }ttenção nos rcsultados das
quati'o primeiras semanas (e não tios de oito semanas, ao término do período dc
tratamento), anunciando que "o alprazolam revelou-seehcaz e bcm tolerado".+*
Segundo,assinalaram que 84% dos usuários do alprazolam haviam concluído o
estudo de oito semanas,o quc era prova de quc "foi alta a aceittLçãodo alprazolam
pelos pacientes". Embora seus pacientes de alprazolam exibissem regularmente
problemas colho "fala arrastada, amnésia" e outros sinais dc "mentação
pi'ejudicada", clãs ainda concluíram que o medicamento tinha "poucos efeitos
colaterais c [era] bem tolerado".+0Por ú]timo, embora reconhcccssem que alguns
304
À História (luc Foi-. e Não lbi Contada
O cstuclosobreo Xanax
8
C
0
'D
Q
0
'D
g
E
3
Z
Tratamento atino . Redução da droga . Sem medicação
0
Linha Semana Semana Semana Semana Semana Semana Semana
basal 1 4 8 9 12 13 14
No c:studo(lo Xanax feito pela UpUollb os piicientes foram tratados com o niedicaillcilto ou conaum
placcbo durante oito scm;umas.Enl scgtiicla, o tratamento fni lentamt nte susp('nso(semanas ç)it 12) e,
llíls (]ti;ts ú]tinlas s('manas,os pa('ieiltes não i'o('cb('r:inl inc(]ic:tçãoa]gtinaa.os pa('ietltestrata(]os comi
Xatlax saíram-sc melhor nas primeiras (lustro seRIaDas,c foi nesse resulta(lo quc os investigadores da
Uljolln sc concciltr:tranl cnl seus altivos para revistas csl)c(balizadas. Todavia, (quando os l)aclentes
com Xztnax começaram a sc abster da droga, sofreram tim ilúmcio muito maior dc ata(luas dc pânico
(]o (luc os pacieiltcs tratados comio l)laccl)o) e, ilo térmico (lo estudo, cstavain muito mais sintomáticos.
Fonte: C. 13allcngeB 'hall)ntzolan} in l)anic disoi'dcr and agoi'apllobia", AlcAiDeS af Ge/lera/ .fiTpcÀíafp
45, 1988: 413-422; C. Pecknold, 'V\il)ntzolam in panic (lisordct' and agoi'aphobia", Arc/lidei auge/lera/
/)sgc/zia/p
45, 1988:429-436.
3o5
AN,\TObÍIA 1)1;UNIA EPII)I;NIIA
306
A História que Foi-. c Não Foi Contada
vendas" estavam começandoa scr muito bem praticados, quase todos empregaildo
o modelo de desenvolvimento dc fármacos do Prozac, e aJanssen, tal como a Eli
Lilly e a Upüohn, projetou testes tendenciosamcnte favoráveis a seu medicamento.
Em particular comparou doses múltiplas dc rispeiidona com uma alta dose de
haloperidol (Halclol), pois já então podia estar relativamente segura de (luc uma
das dosesdc risperidoila teria um bom peiíil dc scguiança, cm comparaçãocom
os antigos neurolépticos "paclronizaclos".Como observaram os examinadores
da FDA, esses estudos eram "incapazes" dc oferecer (lualqucr comparação
significativa(los dois fármacos.SO
Na carta de aprovaçãoenviadaàjansscn pela
FDA, Robcrt Temple,diretor do Serviçodc Avaliaçãode Fárm2tcos,deixoubem
clara essttideia:
3o7
ANATOÀÍU I)E UNIA EI,II)I,;NIIA
Foi cssíl zl história contada pelosdados dos cnsaios.A história quc a Eli Lilly
(luciia cluc aparcccssc nas revistas c jornais dc mcclicina cra qut: o Zyprcx2t ci'a
melhor qut: o Rispcrdal daJansscn, c assim foi essaa históritl quc contanun os
sclis especialistas dc alugticl. PsiquiatnLS dc factildadcs dc medicina anunciar:\tn
quc ;t olanzapin:t funcionava dc modo mais "zlbrlLngcntc" quc a rispcriclona ou
o halopcridol.Era um agentebcm tola:nlclo,que levavaa uma iticlhont global--
1]
Na vcl'(]a(]e, 84 pacientcs tnitados com rispci'ldotla ]t:tvianl soa.i(]o it]gttin ''cvcilto a(]vcrso giztvc
dc6lni(lo l)cla FI)A como uill evento (ltic aincaçítva a vi(la ou rc(lucra hospitalização.
3o}3
A }listória que Foi-. c Não R)i Contada
Agora, a úitica dúvida parecia scr se o Zyprexa era mesmo melhor que o
Rispcrdal, e depois que a companhia farmacêutica AstraZeneca introduziu no
mercado llm terceiro antipsicótico atípico, o Seroqucl, os meios de comunicação
optaram pela ideia de que, coletivamcnte, os novos atípicos erzlm um
aprimonlmento drástico ci)l relação às drogas mais antigas. Eram, como disse
a rcvista Pa/adea seus leitores, "muito mais seguros c eficítzcs no tratamento
dos sintomzLSiicgativos, como a dificuldade de raciocinar c falar de matlcira
organizada".Õ8
Os íál macas mais rccclltes, anunciou o CÃicago7hózrzze,
"são mais
scgtiios c mais eficazesdo qtic os antigos.Ajudam as pessoasa trabalhar".6'i
O l.o.ç Á/zge/eí77//rei cscrcveu: ':Antigamente, não se dava aos csquizofrênicos
iienhunla esperança cl(: melhora. Mas agora, gntças a novos mcdicamciitos e a
uin novo conlpronusso, eles estão regressando a sociedade como nunca havia
lcoiitecido".70 A Aliança Nacional Contra a Doença À'lcntal (NAR'll) também
dcu sua contribuição, publicando um livro intitulado BxeaitfA?ozzgi%s
í/z,4n/ipigci%o/íf
/14edÍía/ír//l.ç
[liiovações nos mcdicamelitos antipsicóticos], quc dcu a proveitosa
L:xplicação de que essesnovos rcmédios "são melhores iio trabalho dc equilibrar
todas as substâncias (lttímicas clo cérebro, inclusive a dopanlina c a scrotonina".7i
E assinaprosst'ruiu até que, l)or Glm,a dirctora cxcclltiva da NAÀll, Laurie Flyitn,
disse à imprciisa quc: linalincntc s(: havia cheg;ldo à terna prometida: "Esses novos
mt:dicainentos são mesmo uma inov:tção. Significam que Glnalmcntc:scrcnios
capazes clc initntcr as pessoas fora dos hospititis, ( significam que a incal)acitiLção
:l lo1lgo prazo causada pula c'squizofreilia poclc chcgar ao hnt".7z
3o9
AN,\TOXIIA DE UhfA EPIDENIIA
o Xanax como uma terapia segura e eficaz pala a síndrome do pânico, e, por
último, informaram ao público que os antipsicóticos atípicos fiam medicamentos
"inovadores" para a esquizofrenia. Com isso, rquvenesceram o mercado dos
remédios psiquiátricos, muito embora os estudos clínicos das novas drogas não
houvessem falado de nenhum avanço terapêutico.
Pelo mcnos nos círculos científicos, faz muito tempo que desapareceu a aura
de "remédio milagroso" cm torno dos psicotrópicos.Como vimos antes, relatou-
se em 2008 que os ISRS só proporcionavam um benefício clínico significativo a
pacientesgravcmente deprimidos. Hoje se sabc que o Xanax vicia muito mais do
que o %.bum, c vários pesquisadoresdeterminaram que dois terços clãspessoas
que o tomam por qualquer período têm dificuldade em deixar de usá-lo.7sÇjluanto
aos antipsicóticos atípicos mais vendidos, a supervalorização publicitária desses
medicamentosé hcje vista como um dos episódios mais embaraçososda história
da psiquiatria, dado que uma sucessãode estudos financiados pelo govcrno não
conseguiu constatar que eles fossem melhores que os ailtipsicóticos da primeira
gcração. Em 2005, o Ensaio CATIE do NIM.H determinou cine não havia "qualquer
di fe icnça significativa" cntre os atípicos e seuspredecessores, c, o que foi ainda mais
perturbador) nesse estudo não sc pede afirmar ncm quc os novos fármacos, nem
que os antigos lealmente funcionavam. Dos 1.432 pacientes, 74% não puderam
manter o usodos medicamentos,principalmente pot sua"inehcácia ou seusefeitos
colaterais intoleráveis".7+ Um estudo do Departamento de Assuntos dos Veteranos
dos Estados Unidos chegou a uma conclusão similar sobre os naéritos relativos dos
atípicos e dos antipsicóticos mais antigos, c então, cm 2007, psiquiatras britânicos
relataram que, pai'a dizer o mínimo, os pacientes csquizofrênicostinham uma
"qualidade de vida" melhor usando as drogas antigas do que usando as novas.7'
Tudo isso levou dois psiquiatras proeminentes a escreverem na Z,a/ice/(lue a
história dos ZLntipsicóticosatípicos como medicamentos inovadores podia agora
scr "considerada apenasuma invenção", uma história inventada "pela indústria
farmacêutica pai'a hns comerciais, e que só agora está sendo desmascarada
Todavia, eles se perguntaram: "como foi que, durante quase duas décadas, 'fomos
induzidos', no dizei' dc alguns, a pensar que eles eram supcrioi'es?".Z'i
A história, como podem atestar os leitores deste livro, revela a resposta a essa
pci'gunta. A semente da história encantada dos antipsicóticos atípicos foi plantada no
começo da década de 1980, quando dArÁ abraçou a "psiquiatria biológica" como uma
narrativa que poderia ser vendida ao público caiu sucesso.Tratava-setambém de
unia histói'ia em que a classeprofissionalcomo um todo queria desesperadamente
310
AI históriaclub I''oi-. c Não Foi Contada
Silenciando a Dissidência
Como vimos, a psiquiatria norte-american:t contou ao público uma história
falsa nos últimos trinta anos. O campo l)i'omovctt a ideia cle(lue seus nledicanleiltos
corrigitun dcscqttilíbrios químicos no cérebro, quando clãs não fazem nada disso,
c exagerou grossciniincntc os méritos dos psicotrópicos da scgtindtt geração. I'ara
manter dc pé ll história de progresso científica (e pttnt proteger sua própria crença
nessa história), a psiqlliatria prccisoti tt'l)rinlir o discurso subi'c os danos qttc os
incdicítmentos podiam causar.
O policiamento dc suaspróprias llleiras, na psiquiatria, coincçou pítra valer no
lim da dé(actade 1970,qttaticloLorcn Níosherfoi demitido do NIMH por ter feito
self experimento chamado Sotcria. O eminente psiquiatrít scguinLc il }tcabar iitl
lista itt:gnt da psiquiatria foi Pcter Bi'cggin. Entbora hoje sejít conhecido por sclis
textos clc "antipsiquiatria", taillbém ele estivera mima trajetória (le sucessorápido
ilo NIMH. l)cpois de concluir sua residência nlédiciult) hospital da Faculdade dc
N'ltdicitia da Uilivcrsidiidc Harvltrd, 13rcgginfoi para o NIMH, cm 19ç)6,p2tr;t
trabalhítr no dcscnvolvimt:lhodc centros comunitários dc saúclcmental. "Eu
ainda era ojovein intd tlhão", relembrou ele ilun zl entrevista. "Achavaquc seria
[) maisjovcm titular dc psiqttiati'iada história da Faculdade'
de Mt'dicina da
Uiiivcrsid:tde Harvard. Era nessa trajetória qtic cli estava."77Entretanto, cle viu
que o futuro potencia à psiqlliatria biológica, cm contraste com a psiquiatria
social quc o interessava,c dcixoti o NINIH para trai)olhai ]ia clínica pi'ivada.Logo
3] 1
ANATOÀIIA 1)1:UNIA EI,II)ENFIA
O revés cm sua cadeira sofrido pelo psiquiatra irlandês David Hcaly fez
lembrar, em ccltos aspectos, o episódio eln que Moshcr caiu cm desgraça. Dur2tnte
a década de 1990,Healy ganhou fama como um dos grandes histoi'iadorcs da
profissão,cujos cscritos sc concentravam iia era da farmacologia. Ele havia exercido
a função de secrctálio da Sociedade Britânica de Psicofarmacologia e, no início do
ano 2000, aceitou uma proposta do Centro dc SaúdeMental e Dependência de
Drogas da Univci'sidade dc Toronto para chefiar scu programa sobre o humor'
e a ansiedade.Até aquele lnomcilto, estavapcrfeitamcntc integrado na ordem
estabelecida da psiquiatria, colho acontccci'a com Mosher. No cntanto, fazia
muitos anos (lue seinteressava por saber sc os ISRS poderiam instigar o suicídio e,
em épocareccnte, havia concluído um estudo com "voluntários sadios". Dois dos
vinte voluntários tinham se tornado suicidasdepois dc serem cxpostosa um ISRS,
o que mostrara com clareza que o ineclicamento podia causar essasideias. Não
muito depois de aceitai' o cmprcgo em Toronto, Healy apl'isentou seus resliltados
numa t'cutlião claSociedadeBritânica clePsicofarmacologia.Ali, umtl das neuras
mais ilustres da psiquiatria norte-amcricana advertiu-o aconselhttndo-oa deixar
312
A Flistória (luc lbi-. c Não l?oiContada
aquilo (le lado. "Ele me disse cine minha carreira seria destruída, se eu continuasse
a mostrar iesultaclos como os quc acabara de exibir c que cli não tinha o direito dc
destacar aquele tipo dc risco dos comprimidos", disse Hlealy.7n
313
An,vioN11/41)1.=
UNIAEpii)i;xiiA
Hcaly disse: "A faceta de controle do pensamento quc se observa nas coisas da
psiquiatria anual é como o antigo estilo de controle social do Leste Europeu"
A í''\...Itnpãn
A x x../vux w:5- v Hp
uv Prnv8s
x Av v
1995 Num estudo de 547 pacientes deprimidos, com duração de seis anos, os
quc foram tratados pelo transtorno tiveram setevezesmais probabilidade de Glcar
incapacitadosdo que os não tratados, e três vezes mais probabilidade dc sofrer
uma "cessação"do scu "papel social principal". (NIMH)
314
A História quc Foi«. c Não lbi Contada
2005 -- Num cstlldo com du i'ação dc cinco anos com 9.50R pacientes deprimidos,
os quc tomavam antidepressivos Glcavaiilsintomáticos, eill iiiédia, 19 senlailas por
ano, en] contraste com as 11 semanas dos quc não tomavam ncnhuma medicação.
(Universidade de Clalgary).
315
AN,\I ONIIA 1)1;UNIA EI,IDI;N[IA
2007 -- Num estudo com dul'ação de 15 altos, 40% dos pacientes esquizofrénicos
scm antipsicóticos se recuperaram, em contraste com 5% dos pacientes medicados.
(Universidade de lllinois)
2007 -- Os usuários de benzodiazepinas a longo prazo acabam "marcantemcnte
enfermos a extremamente enfenllos", c sofrem habitualmente com sintomas de
depressão e ansiedade. (Cientistas franceses)
l\r
Nas críticasjornalísticas ao mcu livro Àdad{/zA//zeríca,
houvc quem mencionasseo estudo da
OÃ,'lSse))re os resultados mclltorcs para a cscluizofrenia nos paísespobres, nos quais os l)aclentcs
não eram rcgulal'mente medicados,c a partir daí, esta informação tomou-sc mais ou menos
conhecida. Além disso, mencionei o estudo dc Mártir Hlari'ow sobre a es(luizof'rcnia, com duração
dc 15 anos, numa l)destra (luc Glzno Holy CliossCollcgc cm fevereiro dc 2009, c cla levou a um
ilrtign datado cic 8 dc fevct'Girodc 2009 no IHürcfífer
7ê/e.gi-a//z
rzridGrrZe//e
(blassachusctts),quc
(discutiuo traballlo dc Harrowl Foi a l)rimcira vcz (luc apaicccram notícias sobrc esseestudocm
(lualqucrjornal noite-americano.
316
AI históriaclublbi... c Não Foi Contada
317
ANATOXIIA DE Ubt/\ EPIDI;NÍIA
318
A História (luc I'oi... c Não l.'oi Contada
llá tina história que a psiquiatria não se ;atrevea contarác que n)ostra quc
nossailusão social sobre os beilcfícios elosmedicamentospsiquiátricos nãt) é
inteinlincnte inocente. Pai'a veitdcr à nossa sociedttdc a solidez dessa forma dt:
tratamento, a psiquiatria teve dc exagerar grosseiramente o vt\lor de suas novas
drogas, silenciar os críticos c manter escondida a história dos resulta(los precários
n longo prazo. Esse é lim processodeliberado e consciente,c o próprio fato de a
psiquiatria ter tido que cmprcgar casesmétodosdc invençãodc histórias diz milita
sobre os méritos desse paradigma de atendimento, muito mais do que qualquer
estudo isolado conseguiria faze:r.
319
15
Contabilizando os Lucros
Receber cheqttcs de 750 dólares pata coltuersav cmn alguns ntédicos duraitte
nltl intervalo dealmoçoer« ultl diitlleiro tãoJrlcil quentedeixara con(o.
- Psiqliiatra Daniel Czulat, 2oo7'
1.ml)onIJi'nna tenh:l dito quc cu l)t)daria llsai' sl'u snbreiiomt', sua r»ãc e st il pa(Irasto, quc dctêEn
alia guarda legal, pccliram(luc ctl usasseapenaso prcnonle.
321
ANATOhII/\ 1)1;UNIA EPII)I.;XIIA
A primeint vez qucJcnna foi cxposta a uma droga psiquiátrica ocorreu (quando
cla estava na segunda série, c esse episódio sugeriu quc ela não respoitderia bem
a psicotrópicos. Até ttclucle momento, cla roía uma menina saudável, unia estrela
da equipe local cle natação; mas dcpois havia apresentado convulsõese, ao ser
medicaclacom llm agente anticonvulsivo, descnvolvcra graves problemas motores,
como nlc contou sua mãe nunlít entrevista telefónica. Mias as convulsões acabar2tna
desaparecendoe, quandoJeilii2L l)orou de tomar o ailticonvulsivante, os problemas
ntotores se faranl. A tnenina passou a praticar equitação e sc destacoil cm torneios
de hipismo. "Ela voltou a ser totalmente normal", lembrou sua mãe.
QuandoJenna cntroti ila nona série, a mãc e o padrzLstoresolveram maildá-
la para um colégiointerno dc elite nn Massachusetts,por não terem confiança
nas escolas públicas do Teiltiessce, c foi então (lue começaram os problemas
comportamentais e afetivos da menina. Ela foi expulsa dessa primeira escola e
mandada para uma segunda, destinada a adolescentes problemáticos, onde "sc
encantou com toda aquela tralha gótica" e começoli a "sc portar mal" scxualmente,
no dizer da mãe.Depois, uma noite, cm respostaa um desafio,cla furtou unia
embalagemdc prcservativosdc uma farmácia c "pirou" ao ser detida. Nesse
momcilto, foi mandada pioraum tei'coiro colégio interno e illedicaclacom Paxil.
"No minuto em que tomou aquele remédio, cla começou a trenlcr", contou a
mãe. "Eu disse ao médico: :AI, meti Deus, é do remédio'. E o médico disse: !Ah.
não, não é do rcnlédio'. Eu respondi: 'E, sim'. Fomos passaitdo de um médico para
outro, fazendo exame após cxalne, mas eles não conseguiam) encontrar nada, c por
isso a mantinham com a medicação,o que piorava tudo. Eles simplesmente não
me clavain ouvidos."
322
Contabilizando os Lucros
"Estão ganhando uma fortuna comigo", disse Jenna. "Mas esses remédios
estragaram a minha vida. Eles me deixam toda fe-fe-fe-ferrada."
324
Contabilizandoos Lucros
325
ANA'rOcHADJ:UMA EPIOENIL\
326
Contabilizandoos Lucl'os
AÁrvore do Dinheiro
Podemoscomeçar pela Eli Lilly, já que ela serve como um bom exemplo
--- ''L UHque vao para os acionistas e os executivosde uma fabricante're
EtititU
Em 1987,a divisão farmacêutica da Eli Lilly gerou uma receita de 2,3 bilhões
de dólares. A Companhia não tinha uma droga importante para o sistema nervoso
328
Contabilizando osLucros
central, visto que seustrês fármacos mais vendidos eram um antibiótico oral, um
remédio cardiovascular e um produto à base de insulina. A Eli Lilly começou a
vender o Prozac em 1988 e, quatro anos depois, ele se tornou o primeiro produto de
da empresa
Psiquiatras acadêmi,cos
As companhiasfarmacêuticasnão teriam conseguidoconstruir um mercado
de 40 bilhões de dólares para as drogas psiquiátricas sem a ajuda dc psiquiatras
de centros illédicos acadêmicos.O público recorre aos médicos pata sc informar
sobre as doenças e sobre a melhor maneira de trata-las, de modo que foram
os psiquiatríls acadêmicos-- pagospela indústria farmacêutica para servir de
lsscssorcsem diretorias consultivas, bem como de palestrantes -- que atuaram,
essencialmente, como vendedores dessa iniciativa comercial. As companhias
farmacêuticas, em seus memorandos internos, chamam essespsiquiatras, de uma
forma precisa, de "grandes líderes formadores de opinião", ou LFOs, para encurtar.
Graças a uma investigação promovida em 2008 pelo senador Charlcs
empresas
Grassley,o público teve um;\ ideia do montante de dinheiro pago pelas
e descobriu que eles não apenas ganhavam muito mais do que 10.000dólares por
ano, como também escondiam esse fato de suas universidades.
==;::=
===T.T=m:==='.:.:T====:=
::
estabilizadoresde humor para o transtorno bipolar (a GlaxoSmithKlinc
33o
Contabilizandoos Lucros
dólares.2n
331
AN'ATONIIA DE UNIA EJ)IDI;Alia
1; ãEh$:íl U:i:li$1i$ú
das companhias farmacêuticas, disse ao New Zo É 77mei,antes do relatório
332
Contabilizando os Lucros
Nesse trt:caio, ljic(lcrillan descreve íi evolução (línicit elas criallças diagilosticildas coM trílitstoiilo
biptllar c tiiedicit(bits;t'asascriitnças eretivami'rito tclidein n sl- tornar dt)t'citescrâiiicas, tal {'lnn(i
clc descreveu. Alias não há literatura nlédicit qtic mostre it existência(lc' uma do('itçit(ltic siga('ssc
clilso clip (I'laiiçíis ilha iii('(Itcit(las
333
An,VI'oxli/x DE uhí/\ EI,IDExlIA
O l)siquiatra da comunidade
As empresas farmacêuticas também oferecem brindes aos psiquiatras
da comunidade.Convidam-nospara jantares gratuitos em que os LFOs e os
especialistas locais fazem seus discursos, e seus representantes de vendas
frequentam com rcgularidadc os consultórios deles, levando pequenos
presentes. "Dei ao dr. Clhild um bombom de chocolate com creme de amendoim
do tamanho de um fzzPca#e",esci'cveu umzl representante dc vendas da Eli Lilly
num rclatói'io de 2002 pai'a scu chefe. "Ele ficou contentinho." Ou, como a moça
escreveu,depois de outra visita de vendas: "0 médico c a equipe adoraram a
caixa dc brindes que levei, cheia de coisasúteis para sua nova clínica".2ZTrata-se
de subornos muito pequenos, mas até um pl'esentinho ajuda a construir vínculos
sociais. Um grupo da Califórnia fez um levantamento das empresas farmacêuticas
c descobriuque estasestabelecemlimites, sim, para os brindes oferecidosaos
psiquiatras anualmente; o da GlaxoSmithKline era de 2.500 dólares por médico,
cn(luailto o cla Eli Lilly chegava a 3.000 dólar'es. Há mllitas empresas vcndendo
drogas psiquiátricas, de modo que qualquer psiquiatra que i'eceba representantes
de vendas pode desfrutar dc uma oferta regular de brindcs.
e todo o resto
Agora a Eli Lilly postana internet lamalista clãsdoações"educacionais"e
"filantrópicas" que faz, e isso nospi'oporciona uma ideia do dinheiro (lue vai parti
grupos cle defesa de pacientes e várias organizações educacionais. SÓno primeiro
trimestre de 2009, a Eli Lilly deu 551.000 dólares à NAMI e zl suas seçõeslocais,
334
Contabilizando osLucros
Do pulito de vista societário e iltoial, css - é um balanço filial que clama por
mudanças.
:3:35
PARTE V
qnr TTnórç
N./ \.r A.J \./ \4 \./ JLJbJ
16
Projetos de Reforma
facho que esta i\n baía de outra gteue dejaitle."
- Vinca Bochm, 2009
339
AN,\TOhIIA D].; UNHAE])IDEhI]/\
34o
PKljetos de Refbima
34
AN/tTOxiiA DE uhl/l EpinEhli/\
342
Projctos dt: lielbnnit
costumavam mclhoiar no correrde três mesesa un] :tno, e iam pailtcasa. Cinquenta
por cento recebiam alta coma "recuperados" e outros 30%, como "aliviados". Além
disso,a esmagadoramaioria dospacientesinternados por u'n primeira episódiodc
doença recebia alta e nunca illais voltava }l ser internada, c issosc aplicava até aos
pacientes psicóticas. Este último grupo teve, em média, apenas 1,23 hospitiLlização
num período dc dez anos (número que inclui ;\ internação inicial)-
343
ANATOXIIA DE UNI/\ EPIDI.;NIIA
344
Pnãctos dc RcEormzt
345
AN,\TOXINA I)I': UMA E],I])ENFIA
dois altos, 43% dos pacientes dos três centros "experimentais" nunca tinham sido
expostosa neurolépticos, c os resultados gci'ais das sedes experimentais foram
"um pouco naelhores"quc os dos centros cm que quase todos tinhatn sido expostos
aos medicamentos. Além disso, entre os pacientes das três sedes expcrinlentais,
os qtic nunca tinham sido expostos a neurolépticos alcançaram os melhores
resultados .i l
"Eu recomendada um uso [das drogas] específico pala cada caso", c]issc
Rãkkõlãinen. "Experimente scm os antipsicóticos. Você pode tratar melhor deles
scm medicação. Eles ficam mais interativos. Tornam-se eles mcsinos." Aaltonc.l
acrescentou: "Sc você puder adiar a mcdicação, isso é importante".
346
Piqetos de Rcbmaa
I'acientes (n=75)
Es(luizofr.'nia (n=30)
Outt'ostnulstoi'nos psicóticas(n=45)
Uso de antiDsicóticos
Nunca expostos a antiÍ)sicóticos (i7%
Uso ocasional durante cinco anos 1313%
l)c:scmprcgados7%
R(.ccbt'n(it) pensão poi' in\alidt z 20%
347
ANATON{IA 1)1:UNIA EPIDICN[IA
A concepçãode psicose que eles têm é clt: natui'eza bem distinta,já que não se
enquadra realmente nen] ila categoria biológica nem na psicológica. Eles aci'editam,
antes, que a psicose provém dc relações sociais gravenlentc csgai'çadas. 'EApsicose
não vive na cabeça. Vive no entrenleio dos membros da família e no entremeio
das pessoas",explicou Saio. "Está ntt iclação, e o psicótico dá visibilidade a essa
situação ruim. Ele 'veste os sintomas' e tem o ânus de cara'cgá-los."t+
348
Prqctos dc Rcforma
ser }nocurada -- por um dos pais, um paciente em busca cleqtida ou, talvez, um
administrador escolar -- é responsávelpor orgzulizar um cncotltro cm 24 horas,
cabendo à faittília c }lo paciente decidir onde sc realizará essa reunião. A casa
clo paciente é o local preferido. Deve haver pelo menosdois membros da equipe
presentes-- dc preferência, três e essase torna a "eqlijpc" que, idealmente,
pcl'maiiccerájuiita durante o tratamento do paciente.Todosvão a essaprimeira
reunião cientes dc: quc "não sabem nada", disse a enfernlcira afia Kurtti. Seu
trabalho é promover um "diálogo ILberto" cm quc as ideias clctodos possamtornar-
se conhecidas, sendo os familiares (e atiligos) vistos como colaborador'es. "Somos
especialistas em dizer que não saDIosespecialistas", comentou Birgitta Alakare.
349
ANJvroxn.xni; UNHA
EplonNn/t
Nos últimos 17 anos, a terapia do diálogo aberto transformou "a imagem cla
população psicótica" na Lapânia Ocidental. Desde o estudo de 1992-1993, nem lim
único paciente psicótico no primeiro surto terminou cronicamente hospitalizado. As
despesascom serviços psiquiátricos na região caíram 33% da década de 1980 para
a de 1990,e hoje a despesaPercaPfa do distrito com serviçosde saúde mental é a
mais baixa dc todos os distritos de saúdeda Finlândia. Os índices de rccuperação
se mantiveram altos: dc 2002 a 2006, Totnio participou de um estudo multinacional
dos países nórdicos soliie a psicose no primeiro surto e, ao cabo dc dois anos, 84%
dos pacientes haviam retalhado ao trabztlho ou à escola c apenas 20% tornavam
antipsicóticos. O mais notável de tudo é que a esquizofrenia vem desaparecendoda
região. As famílias da Lapânia Ocidental passaram a ficar tão à vontade com essa
forma gentil de atendimento que ligam para o hospital (Oli para uma das clínicas
clc pacientesambulatoriais) ao primeiro sinal dc psicosenum ente querido, e o
resultado é que, hoje em ([ia, tipicamente, ospacientes no primeiro sui'to apresentam
sintomas psicóticos por menos de um mês, e, iniciado o tratamento nessa etapa
precoce, pouquíssimos chegam a desenvolver a es(luizofrenia (o diagnóstico é feita
depois que o paciente está psicótico há mais de seis meses).Apenas dois ou três
novos casosde esquizofrenia aparecem a cada ano na Lapânia Ocidental, o que
representa uma queda de 90% desde os primeiros anos da década dc 1980.i:'
No meu trajeto de volta pai'a Helsinque, fui me intrigando com uma ideia: por
que as sessõesde grupo de Tordo são tão terapêuticas?Dada a literatura sobre
resultados iefeiente aos neuiolépticos, eu podia cntenclcr por quc o uso seletivo
dos nlcdicamentos tinha sc revelado tão proveitoso. Mas, por quc a terapia do
diálogo aberto ajudava os pacientcs psicóticos a se curar?
Riascssíl foi a síntescda coisa. Era tudo meio enigmático,c iien] ilacsmoo
pessoaldo Hospital K.eropudassoubenlllito bcm explicar por que essasconvcisas
c'i'am tão ten]pêuticas. "Os sinto]nas graves coincçai]] a passar", disse Saio, dando
cle ombros. "Não sabcnlus como acontece, nlils [a terílpia do diá]ogo abcrto] deve
t:star fazendo algutila coisa, porquê' funciona."
Um AntidepressivoNatural
No começa)
dosanos 1800,os ]toi'te-an]encanosscn]prerccorrian] a un] livro
escrito pelo médico escocêsWilliam Buchaii lii busca dc orieiltaçãu médica. Em
Z)o//rci/ic
zt/tc/icínc[blcdiciint citscira], Buchnii rccciLiLvacsLCrcnlédio sucinta piu'it
;l melancolia: "0 pacientedcvt' fazer tanto exercício ao ar livre qu;luto pttdci'
suportar.(...) Um plano desta natureza, caiu rigorosa att'tição à dieta, é um método
iliuito itlais nacionaldc cui'il do quc confinar o ptLcielitea llm recinto fechadoc
cunlulá-lo dc nlcdicamcntos
351
ANATOX[I/\ D]=UMA EPI])];N[IA
352
Piojctos dc Rc6orma
Nesse cstuclo conduzido por pes(luisadoresdit Uníversi(lide l)uke, l)acientes mais velhos com
dcl)rcssão foram tratados (durante 16 scillanas dc unia dc trás nlanciras, depois aconlpanlla(los por
tllais seis meses. Os pacientes tratados ap('nas com cxcicícios físicos tiveram os índices mais bi\ixos dc
tccai(la durante os seis incscs scgtiintcs e, como grua)o, tivcranl muito menos prol)al)ili(lado dc sofrct
:om sintomas dcprcssivos ao fim dc cl(,z m('scs. Fonte: M. Babyak, ''Excicisc trcatmcnt foi nialoi
(lcprcssioii", /;kgc/zo.\o//iíz/íc
il/edíc/le (i2, 2000: 633-638,100- 111
Como se poderia espetar os pacientes têm achado mliito útil o tratamento dos
"exercícios rcccitados". Disscranl à Fundação de Saúde hlcntal quc o exercício
físico Ihcs pernntiu "assumir o controle de alia rccupei'ação" e parar clc pensar
353
AN,VI'ONII/\ I)E UNIA EPIDENIIA
Visitei uma das duas instalações residenciais do Centro Sêneca para menores
no vei'ão dc 2009 e, cluandoentrei, foi isto que vi: uma garota afro-americana
cona fores de ouvido, cantando a música deJordin Spaiks que estava escutando;
uma segunda garota afro-americana, ligeiramente mais velha, sentada à mesa da
cozinha, folheando fotograhas dc sua recente viagem em grupo à Disneylâitclia;
c dois garotos abro-americanosjogando conversa fora à mesa, disputando quem
l
No sistcnaa nol'tc-anlcricano de tutela infantoluvcnil pelo Estado, são muitos os tipos clc abrigo
concedidos aos menores, desde os lares de criação temporários até valias instituições I'csidcnciais
coletivas, classificadas por níveis conforme as ncccssi(la(lcs dos menores c oferecendo diversos
graus dc assistência c supervisão.As do nível 14 são as instalações não prisionais reservadas
para a intclnação dos mcnoi'cs mais problemáticos, quc costumam icquci'ct assistência clínica c
supcrvisão intensa durante 24 horas por dia. (N.'l:)
354
Projetos de Relbi'ma
'A nleninada fica muito grata por sair da medicação",disse a terapeuta Kari
Sllndstrom. "A pcrsoiialidadc delesvolta. Eles toi'nam a ser gente."
355
ANATONIIA r)E U]UA EPII)]:ALIA
"E mai'avilhoso", disse Kim Wayne. "Na maioria dos casos,quando as ci'ianças
chegam, não conseguem manter a cal)eça em pé, são letárgicas, são só um vazio, e
seu cngajamento é mínimo. Não se consegue chegar até elas. Mas, quando pai'am
dc tomar os remédios, podemoscaptar a atenção delas e ver quem são.A gente
tem uma ideia da sua personalidade, do seu senso de humor c dos tipos (lc coisas
que elas gostam de fazer. Podemoster quc usar a contenção física por algum
tcnlpo} mas, para mim, vale a penit."
356
Projctos de lteíbrma
Elas têm cle pedir pcrillissão para usar o banheiro c para ciitrar tios quartos c,
cluatido não cumprem as iegr:ts, podem ter que "ir para o banco", interrompendo
suasatividíLdes,uu perdem um privilégio. Mas a equipe tenta concentrítr-se cm
reforçar os comportam)lentos positivos, elogiando e premiar)clo as crianças de várias
maneiras. Elas são solicitadas a manter seus qllartos arrumados e a fazer uma
tarefa doméstica diária, às vezesajlid:tnclo a preparar a refeição iioturna.
Eles chcgailt l)casando: 'Eu sou maluco(a), vocês vão mc detestar, vão se livrou
de mini, vou scr a pior criança quc vocêsjá viraitl'", disse a LerapcutaJlilic Kim.
N[lts depois, passam ii sc c]ispur a feri)lar víncti]os [afetivos], e isso é unia coisa
incrível. Vocêvê o poder que teill a relaçãu pane modificar unia criança, e até a
garotadtl que parece mais duiona ao entrar aqui, ztqucla (lue a princípio não faz
l)regresso algum, }\c2tbachcgtlndo lá."
357
AN,VI'OXIIA 1)1=URNAEPII)I=NIIA
\Zou chamar as duas meninas afro-americanas que conheci na casa Los Reycs
de Layla (a cantora a capo//a)e Takccsha. Seus "gráficos de vida" falavam dc um
passadode pcsadclo, o quc se aplicava particularmente a Takecsha.Ao chegar ao
Centro Sêncca,em 2006, com 7 anos dc idade, ela fora descrita como delirante,
reservada, desconfiada, pouca coopcrativa e muito vedada. Depois de passarmos
uns trinta minutos à mesada cozinha, falando deÁ//?eócrz/?
Ido/ c da cxcui'sãoque
clãs haviam feito à Disneylândia, Takeeshttperguntou se podcríainos brincar de
:arremessos com uma bola dc futebol, do lado dc fora. Assim fizemos por ttlgum
tcnlpo, e então ela obteve permissão para andar cm sua bicicleta na rua, mas só
se prometesse percorrer apenas a distância dc :algumascasas,para um lado c
ii A formulação coloquial cm inglês seria "coo/, x?a/ coo/" -- "legal, muito legal" --, mas Stcvc (liz "co/d.
rpa/ co/d", misturando as acepções dos dois ztdjctivos a partir (lc sua i'ilação s('nlântica com a i(leia
dc frio. (N.l:)
358
Pmjctos dc lieíbtma
para o outro. De repente, ela deu uma frcada ruidosa na calçada: "Vou ao Burger
King. O que você quer?", anunciou. Scgtmdos depois, voltou orgulhosa, segurando
um saquinho imaginário com um Whopper,batatas fritas e uma Coca-Cola,pelos
duais paguei com uma nota igualmente imaginária de cinco dólares, peclindo-
Ihc para me dar o troco. Na hora dc nos despedirmos,Layla pediu um abraço, e
então, Takeesha que bilha corrido para buscar alguma coisa em seu quarto -- me
ofeicccu o que pai'ecia ser unia cmbalagein de chiclete, exceto pelo fato dc que Q
pedaçocom a pojlta pala forit cra clantillciite dc natureza iilctálica.
Nt) dia seguinte, assisti à aula delas. Falei rapidamcnte com a professora c
diversos ajlidantes, c todos disseram a mesma coisa. "Essa garotada é incrívell
Poderíamosdrogttr essaturma para dcixá-la submissa,mas pura quê? Eu adoro
isto aquil" Eu tinha ido lá com Tony Stanton, c após algum tempo ficou patente que
nossa presença estava causando um dilema ptti'a Layla e Takeesha. Elas deveriam
estar prestando atenção à professora c sabiam que se não o hzesscm saiam
mandadas para o banco (havia uma marcha contínua de crianças para o cttnto do
castigo), mas as duas estavaill claramente decididas a manter contado conosco.
Estávamossentadosperto da pia e, iio fim, as duas rcsolveranl quc l{/z/zíz/?i
dc lavar
as tnãos.Quando Layla voltou piorasua carteira, não rcsistiu a noscumprimentar
com um tal)a na mão espalmada,cnlbora isso fosseuma quebra do })iotocolo
da aula. Enquanto isso, ao passar por minha cadeira, Takeesha cochichou: "Bob
Marleys o que você está fazendo aquii)"
No Quadro-Negro
A psiqlliatriae o restanteda medicinacostumamproclantarque os
tratamc:fetos devem "basear-sc: nas Lvidências". Todas as soluções (lue examinámos
nestecapítulo obedcccma essepadrão.A convicçãode David Healy de que os
nacdicameiitos psiquiátricos devem scr usados com calitela, o progi'ama dc diálogo
aberto cm Tontio, a rcccita de exercícios cnnlu tratamento dc primeira linha
pura a depressão leve a moderada, todos se cni'aízam numa sólida b:tse científica.
O mesmose pode dizer da política de suspensão
dc medicamentosde lbny
Stanton. Ntinl ponto anterior deste livro, vimos que as crianças medicadascom
estilllulantes, antidepressivose antipsicóticos coinuincntc pioniin :t longo prazo
:359
ANATOXIIA [)E UN[/\ E])I])ENFIA
360
Prqetos de Reforma
Ess;t iniciativa, dissc Gnrdon, vcm sendo movida, em parte, pelo fato dc
qttc t\gorit os doentes mentais estão tnorrendo 25 anos antes dos seus pares, e
dc que está claro que os antipsicóticos atípicos, quc costumam causar disfunção
metabólica, estão contribuindo para esse problema da morte prematura.
"Vemos isso o tempo todo. Poderíamos fornecer limo lista terrível de gente que
conhecíamospessoalmentee com quem nos importávamos, e que morrcll jovem
demais", acrescentou.:s
O Prometodo Alasca
Sc cu tivesse (lue identificar uma pessoanos EstadosUnidos como quem
mais tem feito para "modificar o sistema", escolheria o advogadoJim Gottstein,
do Alasca.Fornaadoem 1978na Faculdadede Direito da UniversidadeHarvard,
Gottstein foi internado duas vezes, na décttda dc 1980, poi causa de surtos
maníacos,e essacxperiêilcia pessoalinspirou tina vida de luta pata mclhorar a
situação aflitiva dos doentes mentais na nossa sociedade.
362
Prqctos dc lte6omxt
Em 2004, GoLtstcin laiiçoti ilin esforço para fazer o Fuitdo Fidttciário da Sitúdc
Nlcntal Gtniulciaruma residência do tipo Sotcl'ia cnl Anchontge, o que uferecciia
los pacieiitcs psicóticas o tipo cle ;ltelldiiilento forno'ciclo pclo ProUcto Soteria,
dc Lorrn Nloshcr, na década dc 1970. Mais uma vc'z, cle se :tpoioti nos poda'rcs de
pr'rsuasão da litciatura científica parir respaldar sua argumentação, e iio verão
dc 2009 foi inattquntda u ina casa Sou:ria COHscte cluartos, alguns quilómetros ao
sul do centro d;i cid;tule.A flirt torci do prqeto, Susan Muszlnte, chchata antes um
programa dc i'habilitaçãopsíqttiátrica ilo Centro de SaúdeMental da Uiiivcrsidadc
do Novo México; o psiqliiatrtl assistente, Aros Wolf, é lamafigura muito respeitada
na psiquiatria alasquiana.
3(j3
AN,\ rONÍIA DE URI/\ EPIDI.;NIIA
quc não era, c isso realmente modificou a opinião pública. Hoje em dia, não se
consegueencontrar ninguém que diga que a scgi'egaçãoé certa. E é assinaque
visualizo todo este esfoi'ço.
Nós, o Povo
Cromo sociedade, depositamos nossa confiança na classe médica, para quc
ela dcsenvolvao mclhoi' atendimento clínico possívelpara toda sorte dc docnças
e indisposições. Espcramos que os profissionais sejam francos conosco no
cumprimento dessatarefa. No entanto, ao l)uscarmos maneiras de deter a cpidcmia
de doenças mentais incapacitantes cine irrompeu neste país, não podemos conllar
em que a psiquiatria, como classeprohssional, cumpra essa responsabilidade.
364
Pn2jetosdc lteloinul
365
Epílogo
Este livra conta uma história da ciência (luc leva os leitores a um lugar
socialnlcnte incomodo. Nossasociedadeacreditaquc osinedicamcntos psiquiátricos
levaram a unl avanço "revolucionário" no tratamento dos transtornos mentais,
iilzls estaspáginasfalam dc uma cpidemia de doençasmentais incapacitantes
induzida pelosfármacos.A sociedadevê a moça bonita, e este livro orienta o olhar
dos leitores para a bruxa velha. Nunca é fácil ahriilar uma convicção que está
fora de sincronia conaaquilo cm que o resto da sociedadcacredita e, neste caso,
isto é particularmente difícil })oi(lue a história de progressoé contada por figuras
de autoridade científica: a SociedtLdcNorte-Americitila dc Psiquiatria (APA), o
Instituto Nítcional dc SaúdeMental (NIMHI) e psiquiatnls de univ(rsidadts dt'
prestígio, como a Faculcladc dc N'lcdicina dc Harvard. Discordar do saber comum
sobre este tema faz parecer que o sujeito é membro dc carteirinhit da sociedade
da Terra plana.
Mt\s, para os leitores quc ainda se intrigam com a história aqui narrada,
ofei'eço lim último relato. Você pode lê-lo e clccidir por si sc agortt sc coloca,
mctaforicamcnte falando, ilo campo da Tem\ plana.
367
ANA'I'oNIIA DE UNIA EI,IDI;RAIA
cm doentes crónicos era algo em que eles não havianapensadomuito até então,
e, ao término da minha fala, um dos metnbros do nossocírculo perguntou se isso
também poderia se aplicar aos antidcpressivos.Ele e outras virlham pesquisando
os resultadosa longo prazo de pacientesdeprimidos na Finlândia e também
mapeando se eles haviam usado essesmedicamentos, e estavam assustadoscom
suas descobertas.
Então, caros leitores, formulem-se esta pergunta: o que acham que eles
descobriram? E vocês estão surpresos?
Notas
Para ler muitas das fontes documentais aqui listadas, consulte //zadi/zapzedca.comi
ou
rn bertwhita ker.org
369
ANATOhIb\
DI;Uh,IA
EI II)EMIA
370
Notas
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Notas
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ANATOÀll.\ 1)1;UNIA Edil)i=XiiA
394
Notas
395
AN,\ro II/\ I)E IJXIA EPn)I;NIIA
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Notas
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13 S. Giled, "Bcttcr but not bcst", .liga///r Hl8airT 28 (2009): 637-648.
14. Essescálculos sc baseiam nos l clatórios anuais apresentados no Formulário IOK
pela Eli Lilly à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) dc 1987
l 2000. As cifras dc 1987 t: 2000 baseiam-sc nos preços vigentes no quarto trimestre
(l(: ctlclzi ano.
15. J. I'crcira, "l;nlory professor steps down", lixa// Sfleel/aií/ní2/, 23 dcz. 2008.
16 C. Schncicler, "Emory psychiatrist rcprimandcd over outsidc u,ork", .4f/a?zfaloizr/za/-
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18. Nlcmonindo inteiro cllt GlaxoSnlithKline, "Seroxat/I'axil itdolesccnt dcpression
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397
AN,\TONAL\ DE UNHAEPIDENII/\
398
Notas
Epílogo
1. E. Whipple, Córzrar/er
andC/lízrrzc/e/üfírÂ4e/l
(Boston: Tickiior & Fields, 1866): 1
399
Agradecimentos
Quando iniciei zlspcsqtiisas para este livro, procurei líderes de vários grupos
dc "consutllidotes",eni buscadc ajllda para localizar "pacientes" a entrevistar.
Q.ucria ciicontrlti pessoascom diagnósticos diferentes e idadcs vai'iáveis, e não
tardei }i dispor dc limo lista de mais de ccm indivíduos dispostos a nlc rclatai'
suas histórias. Sou profuiidalllentc grato a todos quc nlc ajudaram a encontrar
pacicntes para entrevistar e a todos que conversaian] comigo sobre sita vida. Além
dos nominalnlcntc citados no livro, quero agradcccr às scguintcs pcssoas:Camille
Santoro,Jim ltye, Sara Sternbcrg, Monica Cassaili, Brcnda Davis, Laurcn Tellilcy,
Chcryl Stevcns, Elles Liversidge, Howard Trachtman, Jcnnifer Kinzie, Kathryn
Cascio, Shauiia Rcynolds,Maggie NlcClure, Renée LaPlume, Chaya Grossbcrg,
Lyle l\lurphyl Oryx Cohen, Will Hall, Evclyn Kaufman, Dianne Dragon, Melissa
Parkcr, Amando Grccn, Nicki Glasser,otan Cavcrs, Cindy Votto, Eva l)ech,
Dcnnis Whetsel, Diana Petrakos, Bcrt Coffman, Janice Sorcnsen,Joe Caison,
Rich Winkel, Pat Risser, Susail Hoffinan, Lcs book, Amy I'hino, Benjainin Bassett,
Anui Sepl)zela,Chris LaBrusciatio, l<ctmit Cole, David Oaks, Darby Pcnncy c'
Nlichael Gilbert
+01
AN,VI'OXÍI/\ 1)1(UX[A EI,ID]:X[J.\
minha viagem até lá, c a Tapio Saio e sua família poi uma noite maravilhosa dc
conversasem Tordo.
Este é mcu quarto livro, c hoje estou mttis convencido que nunca dc quc escrever
um livro -- desdeo momento em quc ele é originalmente concebido até o dia da
publicação -- tem na definição de empreitada coletiva a sua melhor descrição.
Minha agente, Theresa Pack, ajudou-ilac a estruturar a proposta e ine forneceu
liina orientação inestimável enquanto cu trabalhava no prometo.Nleu editor, Sean
Dcsmoiid, pi'essionou-mepara ampliam'o alcaiicc c o arco narrativo do livro e, na
hora de fazer a revisão do manuscrito, aprimoi'ou-o de inúmeras maneiras. lodo
escritor devem'iater a sorte dc contar com um agente incentivados'como Thcl'csa
Park c com um cditoi' talentoso como Scan Desinond. Agradeço também a Rick
Willctt por sua habilidosa revisão cletexto; a Lavra Duffy por sua capa chamativa;
a SongHee Kim por sua maravilhosa diagramação; a Stephttnie Chail por sua
1(1ministração diligente do projeto; e aos muitos outros funcionáriosda Crown
quc contribliíram para este livro com self talento. E, por hm, sou profundamente
grato a Tina Constable por acicditar que a história narrada em .4/Irzlo/llíü de z//lza
+o2
/
Índice
A
Aaltonen,Jukka 344
Abbott Laboratories 325
AbiliFy(aripiprazo1) 154,221, 328
lcatisia 240, 256, 293, 308
lcetilcolina 76
Adclerall (anfetamina) 259
Administração Federal de Alimentos e Medicamentos [Food and Drug
Administration (FDA)] 70, 105
:aprovaçãodo Paxil para o "transtoi'no de ansiedade social" 325
ausência sobre o Prozac 301
ciisaios c]ínicos sobre o ]tisperdal 307
obtenção clc medicamentos somente com i'aceita médica 70-71
queixas da MedWatch sot)rc o Prozac 295
relatório da MedWatch sobre os riscos claRitalina 244
Advocates,
Inc. 223,360
agentes }lnsiolíticos 22
efeitos a longo prazo 147-148
efeitoscolaterais 47, 150,303,304
númei'os da invalidez 156-157
síndrome dc abstinência ini suspensão dos 140-141, 144. Co/ziz///e
fa//?óém
benzodiazcpinas; marcas rcgistradas específicas
tritnstornn bipolar 152,154
4ge af 4/zãelU. Zhe [A era da ansieclade] (Tona) 142
Alakai'e, Birgitta 348
Alanen, Yrjõ 344-345,346
Aliança de Apoio a Depressivose Bipolares [Depressiveand Bipolar Suppurt
Alliance (DBSA)] 31, 44, 47, 207
Aliança Nacional Contra a Doença MentalINational Alliance on Nlental lllncss
403
AN,\TObIIA Dl: UhÍA EPIDEN{IA
+o4
Inclice
AstraZeneca 185,309,332
Ativan (lorazepam) 36, 149-151, 221-222
ttumeiito de peso e terapia medicamentosa 32, 47, 132, 150, 201, 212, 217, 224,
252, 256-257,308
AydJr.,Frank 79,162
B
Badillo, Gcoi'ge 39-42, 130-131
Baldessarini, Ross 108, 169-170, 195, 199, 201-203
Banks,Brandon 209-211
Barrow,Jonathan 262
Bayer 56
Bayh, Birch 275
Beard, Gcorgc 138
bcnzedrina 228
benzodiazcpina 47, 137, 142-148, 150, 152-153, 155, 157, 188, 212, 222, 275
caindocn] desgraça 139-141,273,275
efeitosa longo prazo 147-148,169
efeitos colaterais 222
eficácia a curto prazo 142-143
estudos de casos 149-153
invalidezc 141,148
lesão cerebral 147
ocultação de provas 315, 318
síndrome dc ztbstinência 140, 144-146.Copa.ç?///e
/a/??&é?/l
Klonopin; Miltown
vício 140,150
Berger Frank 66, 67, 79, 139
Berrick, Ken 355
Biedernlan,Joseph 184, 240, 246, 250, 326-327, 332-333
Z?íPn/ar C/[i/d,TZe[A criançabipo]ar] (Papo]os)241,327
B/a//ií/z.g
f/icB)ai/z [Cu]paitdo o cércbro] (Valenstein) 76, 91
Blau. Thcodort: 27R
Blettler, Ettgrn 102
Bockovt:l],J. Sitilbouriit' 1 1 1, 121)
Bola,John 114
Bt)stic,Jcífrey 331-332
Bowcrs,Malcolm 85, HR
131)yt'r, l?ntncis 72-73
13radlev, Charlrs 228, 231-232, 241
Brt'ggin,Pt'tei 238, 292,2ç)4,311-312
Brigas,Nlonica 42-44,2(16
Brinkley,Johii R. 291-21)2,
302
Bristol-MyersSqttibb 183,32H
+05
AN,\'II)ALIA DE UNIA EPIDEbIIA
Brodie, Bernard 76
.Brote/z .Braífz, ZZe [0 cérebro avariado] (Andreasen) 282
Bronowski,Jacob 21
Buchan,William 351
Burke, Tomie 247
Burns,Geraldine 149,152
C
Carlat, Daniel 321
Carlson, Gabriclle 242-243
Carpenter Wi[[iam 111-112, 115, 129, 2]9
Carter Products 74
catecolaminas 76-77
Celexa (citalopram) 331
Centro de Saúde Mental e Dependência dc Drogas da Universidade dc
Toronto 312
Centro Sêneca354-358,360
cérebro 74-84, 86, 88-89, 91-97, 113, 116-118
benzodiazepinas
e inibição do GABA 146,149
malefícios das drogas psicotrópicas 1 15-117, 122-124, 147, 170, 180,
199-2o0, 202
receptores DI e D2 88, 95, 116-118, 124, 315
Ritalina e 230
teoria clodesequilíl)rio químico e 28, 36,5 1, 76-77, 78, 83-86,88-89,91-97
Cha,Jang-Ho 81, 402
C4{/da/zd4do/eicenf
P3gcÀaPAamzafo/aW
.Abade
SimP/e[Psicofarmacologia simp]ificada
da infância e da adolescência] (O'Ncal) 226
Chilclren and adulta with attention deficit hypcractivity disordel (CHADD)
[Crianças e adu]tos com transtorno do c]éíicit de atenção com
hiperatividade] 228-229,335
Chouinard,Guy 116-119,129,187
Giba-Gcigy 228
Cientologia 288,299
Clayboin, Sam 262-263
Clemens,Jades 92
clonidina 259-260
Clozari] (clozapina) 258
Clochrane Collaboration 108
Cogentin (benzotropina) 36
Cole,Jonathan 107, 111, 115, 129, 163
Comissão dos Cidadãos para os Direitos Humanos [C!/ zeni Co//zmüsia/z af.171zz?za/z
.Rega/J]288,299-300
Concerto(metilfenidato) 49, 259, 265
406
Índice
coquetéis mcdicamciltosos 36
dttdos zt crianças 49-50, 184, 251, 256, 261, 265, 322-323, 327, 356, 364
doença\iatrogênica
c 202,359
efeitos colaterais 220-224
paul o tntnstonio bipolar 46, 188,200,202,206,209, 210-211
Costello, E.Jztilc 225
Crztne, Gcorge 191
Clrafío/? af.f'3WcAaP/zar//zero/ap,TZe [A criação c]ít psicofarnlaco]ogia] (Hcaly) 91
crianças c:adolescentes
tcadêmicos paRTospor cmprcsas farillacêliticas 330-333
lçõcs judiciais movidas a favor dc 3(i3
como mci'cada paul cotiipaiihias fannacêutic;ts 326
coquetéis medicamentosos c 50-51, 184, 252, 256, 261, 2(i5, 321-323, 327, 355,
359,365
ciiançzts dc lajes de criação, nlcdicação das 2(i0-264, 354, 363, 365
dclinquêilcia, crinlc c doença Incntal 235, 2(i4
depressão cm 28, 226, 238-240, 326
diagnóstico dc tríulstol'nos mentais 28, 225-227
ct)ideiilia dt' docitças mciltais cin 26, 246-248, 250-254
estudosdc casos48-52,255-267,321-323
número dosque rcccbciit auxílio da SSI por doençailiciltal 21, 26, 248-249,
253-254,364
números da GAO sobre: 253
progressãodo TDAH l)itnt o tnulstottio l)ipolar 244
ralidadc da mania p''diátrica antes das tenlpias medicam('ntosas 241
síndronlc dc apatia 240
I'DAHcm 28,49-52,227
terapia nicdicameiitosa 49-52, 171, 226, 228-229, 239-240, 246-248,
250, 325
terapia mcclicamelltosa, efeitos colaterais 51, 231-239, 252, 255-258,
26o-267
terapia mcdicanleiltosa, resultadosa longo prazo 51-52, 231-237,25 1-252
tnlnstorno bipolarjuvcnil 28, 50-51, 184, 240-248, 250-253, 263, 326, 332,
359.364
tratamento alternativo 353-358
:l-n-,... ra..,,./P,
LUI(l lllllcl:5l\JDcln ....'lBnln.. rla ttnll..In
vt/ll.}ltL&ü lllL\xzbAAEtt u 1/ üx nlálnr'n"
üaane)AVES
D
DBSA. Co/i.ví/feAliatiçt\ de Apoio ;t Depressivos c Bipolares
Décadtt do Cérebro 324
DeIBcllo,Nlclissa 244,251,332
Dcnikcr Pierrc 65-66,89-90,11(i
Dcpakote(divalproilto dc sódio) 51, 210, 212, 257, 2(j3, 322
4o7
ANA'I ONÍIAr)I.; UAI/\ EPII)I:N{I/\
!08
Índice
4o9
ANATOXIIA I)E UXt/\ EPIDI;XII/\
Zyprcxa c 217,308-309,327
Emenda Durham-Humphrey 71
encefaliteletárgica 66, 102,227
EPide//záo/aW
ofZ)ePxeisíolz,
The [A cpidemio]ogia da depressão] (Silverman) 162
erva-de-são-jogo 166-167
esquizofrenia 77, 82, 101-102, 120-121, 184, 202
antipsicóticos atípicos e 302
comercialização do Rispcrdal 307-309
como os antipsicóticos alteram o curso da 110-113
clcterioração na 200-201
discinesia tardia c 122
ensaios de fármacos no NIMH 106-109, 128
estudo a longo prazo dc Halrow 125-128, 185-186, 202-205, 2 18-219, 235,
316-318
estudos 39-42,130
estudospor i'essonância
magnética 122-124,129
estudos sobre reincidência 109-110, 115
etiologia dcsconhecida 282
hipótese da dopamina 77, 82, 84, 88-90, 244
história natural dztdocnçít 102-104,105
itlvitlidcz c cmprcgo 104-105, 110-111, 119-121, 126, 129-130
[lcultação dc provas 314-319
perfil dc riscos c benefícios dos nelirolépticos 115-116
PrometoSoteria 113-114, 273, 278-279, 285, 311, 362-363
psicosepor hipersensibilidade116-118, 120,187
resultados a longo prazo do tratamento medicamcntoso vs não
medicamentoso IO1-102, 104-105, 110-117, 119-130, 218, 318, 342
silenciamento da dissidência 3 11-314
"síndrome da porta giratória" l lO, 114
sucesso das drogas a curto prazo 106-110
taxa de altas hospitalares 105, 1 1 1, 1 14
teoria de Moshcr sobrea causada 113
Thorazine c 104-105
tratamento medicamentosocomo indutor dc psicose 118-124,202
tiatamcnto não medicamentoso na Lapânia 344-350
Eiíe/zela/ P3g'cAoP#ar/?zízco/a©,[Fundamentos de psicofarmacologia] 87
estinaulantes187,191,228
progicssãodo TDA:H para o transtorno bipolar. Ca/riz//fe
fa/?zóém
Ritalintt
Estudo Colaborativo Transnacional sobrc o Pânico 303
Evarts, Edward 106
expectativa de vida 186
+ lo
Índice
G
GABA(ácido gama-aminobutírico) 146
Gatcly, Thci'csa 260-261
Geodon(ziprasidona) 184,187,212, 223
Ghacini, Nassir 183,186-187,197-198
GlaxoSmithKline
académicos pagos pela 330
brindes pai'a psiquiatras 334
fraude c 331
Paxil e 325,330-331
Glennlullen,Joscph91, 292,313-314
Gold, Mark 281-282
GaadAre i Áóozz/Z)ePrrsiiolz, T»e [A boa notícia sobre a dcpressão](Gold) 28 1
Goodwin,Frederick 186-187,192,195, 197,330
Gorclon, Chris 360
Gottstein,Jim 361-363
Giassley, Charles 329
Gressitt, Stevan 148
Grupo de Apoio a Sobreviventesdo Prozac [ProzacSurvivors Group] 299
411
ANAL'ORIIA DE UN,M EPII)I.;NIm
Grupo do Maine para Estudo das Benzodiazcpinas [Maine Benzo Study Group]
148
H
Haarakangas, Kauko 348
Hagler Dennis 33
Hala. Rhoda 299
Halcion (triazolam) 36
Haldol (haloperido1) 36, 38, 40, 210, 275, 307
Harding, Courtenay 120,129, 131,202
Harrow, Martin 125-131, 185, 195, 202-206, 219, 235, 316-318
Hayes Inc. 252
Healy, David 87, 91, 238, 291-292, 3 12-314, 342-344, 359
Hellander Manha 247
.liiü/op a#/\7chíafOi,.'l [História da Psiquiatria: da era do manicómio à idadc do
Prozac, Uma] (Shorter) 22
Hofrmann-LaRocha 67-68,74-75,137, 140,148
Hospital Keropudas, Uornio, Finlândia 346, 348, 351, 367
Houtsmuller, Elisabeth 252
,Hoü fa .Beco//ze .z Schí.zaPÀrerz c [Como ficar csquizofrênico] (Modrow) 341
F[ubbard, L. Tton 28É]
412
Índice
J
Jackst)n, Gntcc 3(i2
Jamist)n, Kay 4(;
Jíiiisscn,companhiafat'inacõtttica 130,1{0(i-308,
326,3ii2
Jt'nner, Alce 137
413
ANA'I'OÀIH DE UÀm EI,IDENIIA
K
Kefauver Estes 71
Kendler Kenneth 91
Kennccly,Edward 141,275
Kessler Ronald 226
Kim,Julie 357
Klein, Rachel 222
Klerman, Geram 271, 277, 303, 306, 311
Kline,Nathan 63,68,79,163
Klonopin(clonazepam) 47, 151-155,221,322
Kraepelin, Emir 102-103, 161-162, 179, 186, 189, 196, 200, 202, 204, 208
Kramer Peter 301-302
Kuhar, Michael 283
Kuhn, Roland 79
Kurtti, Mia 349
L
Lader, Malcolm 143-145, 148, 157, 378, 379
Lamictal(lamotrigina) 154, 330
Lappen,Steve 32-33,207
Laughren, Thomas 238
LeFever Gretchen 314
Lei Nacional de Saúde Mental 61
Leonhard, Kart 189
Levin, Cathy 35, 39-40,130
Lexapro (escitalopram) 154, 331
Librium (clordiazepóxido) 67, 75, 139, 140, 144, 147, 155
Z,ís/e/?zzg/a Prozac [Ouvindo o Piozac] (Kramcr) 302
lítio 36, 38, 43-44, 51, 154, 186, 193-]96, 199-201, 203, 207-208, 210, 215, 221
lobotomia 59-60,65, 96, 288
Loid, Nancy 294
Luvox (fluvoxamina) 246, 256
M
Â4ad ílz Á?lzerica [Loucos nos Estados Unidos] (Whitaker) 15, 35, 3 16
.14agif .Bzz//e/s [Pílulas mágicas] (Sutherland) 57
.4/a/zíc.Depxrisíz,e
l!//zeii [Doença maníaco-dcpressiva] (Winokur) 189
/a/tic-.DePr?iilue ////zesi [Doença Maníaco-Depressiva: transtorno bipolar e
414
Índice
depressão
recorrente](Goodwin)186,330
Man ual Diagl\estico eEstatbtico dosDistúrbios hlft\tais \Diagttosticnltd Statisticnl
.Wa/l!/a/q/'.ve///a/.Dísorürx(Z)S714)]
28
ll (DSzWID 277
lll (DSM-J74 227-228,277-279,3o3
111Revisto(Z)S/V..l:r7Reu.) 228
lv (/)SM-/q 324
Marraof Vfd cílze,TZe[A marcha da medicina] (programa dc entrevistas na
televisão) 71, 72
Marks, lsaac 303,305
Nlaisilid (iproiliazida) 68, 96
blcCulloch,Andrcw 351,354
N.{cGlashan, Thomíts 111, 112, 115, 124-125
NlcWade, Mathew 263
111cdicinada "pílula mágica" 55-58, 63, 66, 69-75, 79, 91, 96, 165, 217, 271
mefenesina (i6-67
Mcildels,Joseph H5,90
&4e/lfa/Hea/f#[Saúdc mcntal] (Satcher) 21, 27, 91
NlcntalMTA Studv,EstudoMTA 317
mcprobamato. Calziz///eNI iltown
Mcrck 57. 70. 75
N.liltowil (mcl)robaiilato) 67, 73-74, 79, 96, 137, 139-140, 156
MindFrccdomIntcrnational 339-341,364-365
N,[odrow,John 341
Moniz, Egos 65
Montigny, Clatide dc ç)3
Monde i/zg [Oscilação dc hunlor] (Fieve) 193
Nloshcr, Lorcn 113-114, 118, 129, 219, 273, 278-279, 2R5, 311-1312,339, 362-363
inovimcnto de "rccul)oração dos paios" 42
M-Powcr 37, 159,223
Mutante, Susan 363
Mycrs, Faith 362
Myei's u.fInstituto de Psiquiatria do Alttsclt 362
N
NAXll. Ca/zil///eAliança Nacional Contnl a Doença h'lcntal; Aliança Nacional
paul os Doentes Mentais
Ni\sh,Johil 213
Ncmcroff. Charles 330
ncllrolépticos 75, 77-78, H8-91, ç)4, 105-106, 108-109, 111, 115-119, 130, 149, 169,
179. 194
ultipsicóticos atípicos 32-37, 130, 252, 3n2, 308-3 10, 326-327, 332
bloqueiode rcccptorcsD2 8H-89,94, 123,125
415
AN,VI'ONÍIA DI.:UMA EPII)I;NÍI/\
0
Oatcs, Gwen 264
Oates,Sean 49, 264
O'Neal,John 226
Organização Nlundial cla Saúde (OMS)
ensaios do Paxil 166
estudos sobre a dcprcssão 175-176
estudos sobre a es(luizofrenia 120-121, 129, 314, 316-317
Orr Louis M. 55
O>!fovdTextbookoÚCLitlical Ps#choPharlllacoLogy
aitd Drug TheraPy \M.axÀwa\de
psicofarmacologia e terapia mediczunentosade Oxford] 23 1
P
Papolos, Dcnlitri 241, 244, 247, 250-25 1
Pai'cntsof Bipolar Clhildren [Pais de ClriançasBipolarcs] 247
Pasnau, Robcrt 306
416
Índice
417
An,\rONíiA 1)1:UÀÍ/\ Epii)i=Nii/\
R
Rãkkólãincn,Vilão 344-346,398
Rappaport,Maurice 112-113,118, 129,219
J?ec;aE/zld/zg
/Ae-DeP?esses
Pn/ie/zf[Rcconheccndoo pacientecleprimido] (Ayd) 162
Renda Clomplementar da Previdêiicia]Supplemental Security Income(SSI)]
ou Seguro da Previdência Social por Invalidez [Social Sccurity Disability
Instirance (SSDI)] 24, 37
"armadilhatiosdireitosinclividuttis"218
custos dos 27
depressão159,219, 220
número de pensionistas por doença mental 21, 25, 220, 249, 253-254, 364
ti'aiistonlo l)apolar 152,206, 209,263
transtornos da ansiedade 25, 150, 156,219
rezei'pino 76-77,85
Rhâne-Poulenc63-64,66, 72
418
Índice
+19
ANA'I ONII/\ DE UMA EPIDI;IVIIA
+20
Índice
Thol'azine
aumento nosdoentes mentais incapacitados 130
Thorazinc (clorpronlazina) 22, 65, 72-75,77-78,94, 96, 102-106,108, 115-116,
129-130, 194, 210, 2]5-216, 218-219, 226, 260, 273-274
desenvolvimento do tratamento 65-66
cfeitos colaterais 65, 77, 115, 1 18
ei\saios do NllvIH 75, 108-10g
mcdicinada "pílula trágica" 72-73,216
psicosepor hiperscilsibilidadc 115-118
Tocados pelo Fogo (Jamison) 46
Tohcn, Mauricio 199-201
cone, Andrea 142
tntnstorno bipolar 32, 183-213
acadênlicos pagos por empresas farmacêuticas 330
agentesansiolíticose 152,154
Aliança de Apoio a Depressivose Bipolares (DBSA) c 31
alterações cíclicas urra, ultrarrápidas 251
antidepressivos 186-188, 191-192
ciclos rápidos 186, 197, 208, 244-246, 25 1
comouma epidemia 190, 191,243
coquetéis dc medicamentos 200-202, 209-21 1
efeitos colaterais dos remédios 32, 44, 192, 199-201
estudo a longo prazo dc Harrow 203-205
estudos dc casos 35-38, 44-48, 206-2 13, 255-267
etiologia desconhecida 282
frontcinls diagiiósticase 250,325
invalidez 24, 26 27, 34, 189-190, 198, 205-206, 220
lítio e 186, 193-196, 199-200, 208, 210
r?irzrÉefí/zgdo 324
número de casos 189, 192, 203, 205, 220
ocultzLção
de provits 314-319
Patty Dukc c 185
resultados a longo prztzo, com ineclicilçãoui sciil medicação 188-190, 196-205
transtorno bipolar 43
transtorito bipolarjuveilil 28, 50-51, 184, 226, 240-253, 262-263, 326, 332, 364
trataiiieilto iiicdicamcntoso c piora do 188, 194-197
tnutstorno do déhcit de atençãocom hipcrativid;tdc: (TDAH) 28, 225-237,
333
estudos dc casos 258-260, 2(55-267
etiologia dcscoiihccida 229
ocultação dc provas 316
progrc:suão do TI)AH paul o transtorno bipolar 245-246
silcnciamcnto da dissidência 3 14.Co/?.fzl/&e
/a/?zóém
Ritttlina
421
ANATOhIIA DE UNHAEPIDICNÍ[A
U
[/mEi/ra/zÁo
/ioÀq?z/!o
(fi]me)272,275
Upham,Amy 215,221
UÚohn
comercialização do Xanax 303-306
Estudo Colaborativo Transnacionalsobreo Pânico 303
parceriacom a APA 324
psiquiatras pagospela 303,306
V
Valenstein,Elliot 76, 91
Valium (diazcpam) 137, 141-144, 147-148, 155, 160, 299, 310
Van Rossum,Jacques 78, 84, 88
Vierling-Cllaassen,
Dorna 45, 206
Viguet'a, Apele 109
W
Wagner Karen 331
WallaceLaboratories 67, 74
Wayne, Kim 354
Weinberg,Jack 277
Weinstein, Haskel1 72
Wellbutrin(bupropiona) 154, 330
Whipple, Eclwin Percy 367
Winokur George 163,189-190,194, 199
X
Xanax (alpi'azolam) 142,222,302-306,309-310
comercialização do 302-306,309
Z
Zajccka,John 306,309
Zarate, Carlos 199,318
Zoloft (scrtralina) 160, 167, 181, 256-257, 352, 353
Zubin,Joseph 107,109,179
422
Índice
Zyprcxa(olaiizapina) 32, 45-47, 123, 210, 217, 223-224, 256-257, 308-309, 322,
327, 329
alimento dc peso 47, 224, 256-257, 308
comercialização 3(1ç)
+23
Formato:16x 23 cm
Tipologia: Baskervillc2 BT
Papcl: Pólen Soft 70g/m2 (miolo) c Cartão Supremo 250g/m2 (cap21)
CTlt impressão e acal)amcnto: Imãs Gráfica c Editora Lida.
Rio cicJanciro,novembroclc 2017