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CHILE
chamar de um “ciclo progressista”.
Iniciado com a vitória da candidatura
de Hugo Chávez nas eleições de 1998
na Venezuela, esse ciclo tomou impulso
com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva
no Brasil, em 2002. Quinze anos depois,
podemos dizer que avançamos muito.
CHILE
CHILE
2016
FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO
Instituída pelo Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores em maio de
1996.
DIRETORIA
Presidente: Marcio Pochmann
Vice-presidenta: Iole Ilíada
Diretoras: Fátima Cleide e Luciana Mandelli
Diretores: Kjeld Jakobsen e Joaquim Soriano
CDU 32(83)(091)
CDD 320.983
Chile
5
7 APRESENTAÇÃO
13 INTRODUÇÃO
PARTE I
CAPÍTULO 1
25 DE LAUTARO A SALVADOR ALLENDE
CAPÍTULO 2
45 A VIA CHILENA AO SOCIALISMO
CAPÍTULO 3
63 CONSTRUINDO O PODER POPULAR
PARTE II
CAPÍTULO 4
85 GOLPE DE ESTADO E REVOLUÇÃO CAPITALISTA
CAPÍTULO 5
101 NEOLIBERALISMO, DEMOCRACIA PROTEGIDA E RESISTÊNCIA POPULAR
CAPÍTULO 6
121 TEORIA (E PRÁTICA) DA CONCILIAÇÃO
PARTE III
CAPÍTULO 7
143 A CONCERTACIÓN DE PARTIDOS PELA DEMOCRACIA
CAPÍTULO 8
169 O INTERREGNO PIÑERA E O RETORNO DE BACHELET
211 BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
221 ENSAIO HISTÓRICO SOBRE A NOÇÃO DE ESTADO NO CHILE NOS SÉCULOS XIX E XX
257 A “VIA CHILENA PARA O SOCIALISMO”
277 CONVERSA INTERROMPIDA COM ALLENDE
311 ANATOMIA DE UM MITO
371 SEGREDOS DA CONCERTAÇÃO
429 NEOLIBERALISMO CORRIGIDO E PROGRESSISMO LIMITADO
Apresentação
CAPITAL: Santiago
TERRITÓRIO
A República do Chile tem 756.096 km²
POPULAÇÃO
18.089.000 habitantes (2015)
11
TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL DA POPULAÇÃO
(POR 100 HABITANTES, 2005-2010): 1,12 [ALC: 1,16 ]
Fontes:
Banco Mundial. Disponível em http://datos.bancomundial.org.br/
indicador/AG.SRF.TOLT.K2
Introdução
13
25
INTRODUÇÃO
INDEPENDÊNCIA
28 ESTADO NACIONAL
DIEGO PORTALES
BALMACEDA
30
A concentração do poder de Estado nas mãos da oli-
garquia do Vale Central, que comandava o país a partir de
Santiago, conformou um sistema político autoritário, so-
cialmente excludente e economicamente subordinado aos
interesses externos, causando dissensos e fissuras nos seios
das próprias oligarquias, que tampouco constituíam um
segmento homogêneo. Desde a colonização foram se con-
figurando regiões bem definidas no país, cada uma com
características próprias. Ao Norte, tendo por sede política
e administrativa a cidade de La Serena, se concentrava a
produção do salitre. No Vale Central, em torno a San-
tiago, se desenvolviam a agricultura e a pecuária. Ao Sul,
estava a fronteira de guerra, com cidades isoladas que ti-
nham funções administrativas e militares, como Concep-
ción, Valdivia e a Ilha de Chiloé. Quanto mais se ia para o
extremo Sul, em direção ao Estreito de Magalhães, tanto
mais pobre e atrasado se tornava o país.
Em 1891, os antagonismos acumulados na sociedade
desaguaram em uma sangrenta guerra civil, deixando milha-
res de chilenos mortos e um presidente deposto, que acabou
levado ao suicídio. A crise que resultou na morte do presi-
dente José Manuel Balmaceda foi a expressão do confronto
DE LAUTARO A SALVADOR ALLENDE
GUERRA CIVIL
LUTA DE CLASSES
CRISE DE 29
FRENTE POPULAR
SALVADOR ALLENDE
E finalmente concluiu:
“Dos trabalhadores é a vitória”.
45
INTRODUÇÃO
A UNIDADE POPULAR
SALVADOR ALLENDE
63
INTRODUÇÃO
ACAMPAMENTOS
UNIVERSO POBLACIONAL
CORDÕES INDUSTRIAIS
A CONTRADIÇÃO EM PROCESSO
COMPANHEIRO ALLENDE
85
INTRODUÇÃO
ESTADO DE GUERRA
TERROR DE ESTADO
AS AÇÕES ENCOBERTAS
A PARTICIPAÇÃO DO ITAMARATY
O GOLPE DE ESTADO
DE 11 DE SETEMBRO DE 1973
“Temos que ser claros: foi um golpe mortal, porque não foi
somente um golpe militar, mas também um golpe psicológi-
co, sociologico e afetivo, que não somente golpeou o Estado
e suas adjacências mas também dentro de nós mesmos. Mu-
98 dou não somente a vida política, mas também a vida cotidia-
na, a vida privada, a identidade de cada um de nós. Ninguém
estava preparado para um golpe de Estado que tivesse esse
tipo de impacto, que transtornara até a psique, até os pensa-
mentos mais intimos. E isso que foi como poderia ter dito Ga-
briel García Marquez, a “crônica de um golpe anunciado”. Mui-
tos sabíamos que viria, mas não assim, nessas proporções e
com esse alcande mortal. Pra mim, pelo menos, era evidente
que viria, que explodiria o que poderia ser o “enfrentamento”,
e foi o que eu disse em várias de minhas intervenções públi-
cas. Radomiro Tomic, nesse sentido, me fez uma observação
crítica, de que com isso de anunciar o golpe, eu estava in-
correndo na lenda grega da “profecia auto-realizada” … Mas
pra mim não era um simples anúncio, já que todo o com-
portamento da direita, desde que Allende ganhou nas urnas,
indicava que terminaria por desencadear um golpe militar ou
de outro tipo. Eles começaram assassinando nada mais nada
menos que o comandante em chefe do exército! … Eu pen-
sava que ia ser um “enfrentamento”, uma confrontação entre
duas forças, mas não pensava que não haveria enfrentamen-
to algum, mas o que aconteceu finalmente foi um massacre
unilateral. Estava claro que a direita não iria aceitar de jeito
nenhum que fossem expropriados seus fundos, seus bancos,
suas riquezas, para “distribuir melhor a renda nacional”... Ja-
mais! Mas não todos temiam o que eu estava temendo. Entre
nós tinham vários dirigentes e camaradas que negavam essa
“possibilidade”, entre eles, meu amigo e chefe Salvador Allen-
de. Na verdade, minhas únicas divergências importantes com
GOLPE DE ESTADO E REVOLUÇÃO CAPITALISTA
Carlos Altamirano
CAPITULO 5
Neoliberalismo, democracia
protegida e resistência popular
101
INTRODUÇÃO
O NEOLIBERALISMO CHILENO
DA CONSTITUIÇÃO AUTORITÁRIA...
106
As iniciativas da ditadura chilena no campo institu-
cional foram decisivas para a perpetuação do neoliberalis-
mo. Pela primeira vez um governo militar recorreu a prin-
cípios jurídicos para prolongar a ordem autoritária. Desde
sempre os militares lançaram mão de artifícios legais na
busca de soluções de curto prazo. Em algumas experiên-
cias, como no caso brasileiro, os instrumentos jurídicos,
revestidos de um caráter de exceção, assumiram a forma
de Atos Institucionais. Jamais se conseguiu, por meio des-
sa legislação casuística, conferir legitimidade para regimes
implantados por golpes de estado. No Chile foi diferente.
A Constituição de 1980 deu início a uma experiência
institucional sem precedentes na América Latina. Aprova-
da em plebiscito realizado sem a supervisão de tribunais
independentes, a Constituição representou a instituciona-
lização do regime autoritário. Segundo resultados oficiais,
67% dos chilenos foram “a favor” da nova Constituição,
conferindo legitimidade para o governo prosseguir o seu
projeto de reestruturação da sociedade chilena. Salvaguar-
das constitucionais, introduzidas no texto sob a forma de
“disposições transitórias”, atribuíam poderes autocráticos
ao presidente, que passou a contar com a possibilidade
NEOLIBERALISMO, DEMOCRACIA PROTEGIDA E RESISTÊNCIA POPULAR
PROTESTAS SOCIAIS
MORTE PROBABILÍSTICA
PARTIDOS POLÍTICOS
113
Esses anos de mobilização social também foram anos
de rearticulação dos partidos políticos. Grosso modo po-
dem-se distinguir três blocos ou coalizões no interior das
oposições democráticas, constituídas pela Alianza Demo-
crática (AD), o Movimiento Democrático Popular (MDP)
e, posteriormente, o Bloco Socialista.
A Alianza Democrática, de centro, foi uma coalizão
hegemonizada pelo Partido Democrata Cristão que assu-
miu um papel de destaque entre as forças de oposição mo-
derada ao governo. A constituição da AD foi uma primeira
tentativa de alcançar a Concertación política entre setores
das oposições moderadas. Além do PDC e da Social De-
mocracia, encontravam-se na AD partidos de direita que
se opunham ao governo e alguns grupos do socialismo de-
mocrático. Sua estratégia consistia na articulação de um
amplo leque oposicionista capaz de conjugar a mobiliza-
ção social com a possibilidade de diálogo com o governo
e, por meio de uma via pacífica, promover a reinstitucio-
nalização do país.
O Movimiento Democrático Popular, da esquerda con-
frontacionista, agrupava o Partido Comunista, o Movi-
miento de Izquierda Revolucionário, MIR, e o setor ortodo-
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ASSEMBLEIA CONSTITUINTE
121
INTRODUÇÃO
A INCERTEZA DEMOCRÁTICA
PACTO SOCIAL
LEGISLAÇÃO DE AMARRE
125
Mesmo derrotado no plebiscito sucessório de 1988,
Pinochet prosseguiu impondo a agenda política. Nem o
calendário, nem as regras, nem o itinerário da transição
consentida seriam alterados. Após o pleito, o ditador rea-
firmou que não aceitaria nenhuma mudança na Constitui-
ção de 1980 e, por meio de legislação ordinária, promo-
veu-se a regulamentação de vários de seus aspectos com o
objetivo de resguardar prerrogativas das Forças Armadas e
preservar o modelo econômico neoliberal. As únicas refor-
mas constitucionais negociadas com a oposição foram as
que aboliram a proscrição dos partidos marxistas, permi-
tiram o aumento do número de senadores eleitos de 26 a
38 e estabeleceram a redução do mandado do presidente
eleito em 1989 de oito para quatro anos. Essas reformas
seriam aprovadas em um referendum realizado em 30 de
julho de 1989, o que conferiu uma legitimidade ainda
maior à Constituição de 1980.
Entre as mudanças legislativas de urgência impostas
após o plebiscito destacam-se um conjunto de leis e me-
didas administrativas garantindo a autonomia do Banco
Central, a independência do Conselho Nacional de Televi-
são em relação ao poder Executivo, a proibição de investi-
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QUAL SOCIALISMO?
127
A Concertación foi um experimento único do pro-
gressismo chileno. Esta coalizão de centro-esquerda, in-
tegrada pela DC, o PS, o PPD e outros partidos menores,
surgiu originalmente como uma frente de oposição para
disputar o plebiscito sucessório de 1988. A decisão de en-
frentar a ditadura nas urnas não foi uma escolha simples.
Não existiam exemplos de ditadores derrotados em plebis-
citos realizados sob a vigência de um estado de exceção. As
incertezas eram inúmeras e reduzidas eram as chances de
vitória. A estratégia institucional somente prevaleceu após
fracassadas tentativas de derrubar o governo pela via in-
surrecional, com o apoio de greves massivas, mobilizações
sociais e atentados à bomba. Esta escolha implicou uma
revisão dos postulados tradicionais das esquerdas.
Quando a alternativa institucional finalmente preva-
leceu, unindo as oposições na campanha de massas contra
a continuidade de Pinochet, poucos podiam imaginar que
a coalizão de centro-esquerda que disputou e venceu as
eleições de 1989 permaneceria por vinte anos no poder.
Sua permanência e longevidade desafiam analistas da cena
chilena até hoje. Foram quatro presidentes durante esse
longo ciclo de governos de centro-esquerda. Dois da DC:
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SOCIAL-LIBERALISMO
A RENOVAÇÃO SOCIALISTA
A RENOVAÇÃO SOCIALISTA
“Eu penso que o movimento de esquerda, não pode nem
deve morrer. A esquerda é a forma social e humanista
de fazer história, de olhar o mundo, de se orientar para o
futuro. Frente à realidade, qualquer que seja, a esquerda
deve saber encontrar essa “forma” de olhar o mundo. Se a
realidade muda, dentro ou fora de nosso controle, nós que
reinvindicamos a esquerda, temos de saber levantar novas
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143
INTRODUÇÃO
QUAL PROGRESSISMO?
FALSO DILEMA
VISÃO DE CONJUNTO
O CÓDIGO LABORAL
A PLATAFORMA SINDICAL
SINDICALISMO SÓCIO-POLÍTICO
A CONCERTACIÓN
“Sem margem a dúvidas, a Concertación, no Chile, não foi
até hoje uma força sociocultural transformadora. A con-
trário: tem sido uma força conservadora, no sentido de
que preservou e estilizou o modelo neoliberal de Pino-
chet (tanto que, num eventual governo de direita, esta se
esforce para continuar a mesma linha). Pior ainda: esten- 167
deu a infecção capitalista e direitista ao extremo de redu-
zir sua própria base eleitoral, em benefício da direita. Nes-
te plano, o Partido Socialista se somou com entusiasmo a
este conservadorismo e se bateu por ele, abdicando da
sua clássica condição de vanguarda ideológica, popular,
política. Está amarrado ao modelo de corpo e alma. E Emi-
lio Escalona (secretário-geral do PS), tratou de sustentar
sobre suas costas, com a fé de um carbonário, o modelo
neoliberal e a globalização completa... em uma atitude de
servilismo verdadeiramente titânico... Meu amigo Jorge
Arrate, em troca, está tratando de fazer algo, por dentro
e por fora, mas com poucas possibilidades de mudar essa
obsessão... Sem esquerda verdadeira (e inclusive, sem
uma verdadeira centro-esquerda), o campo político fica
propício para a triunfal aterrissagem de vivarachos e pil-
lastrines (...) Hoje, tudo está revolto, tudo. Há correligioná-
rios que dirigem transnacionais, como se não fosse nada.
Movem-se ao largo desses fios semi-invisíveis que unem
o Estado e o mercado. Todos usam os mesmos fios para
passar de um lado a outro. Por isso é que, fora do semicír-
culo, são todos amigos. Os mais inteligentes vão por estes
fios, indo e vindo, tecendo e destecendo, como aranhas
virtuais. Até que de repente baixam por aí, e aparecem
como milionários, vestidos com trajes Armani, viajando
pelo mundo, almoçando em Borde Río, veraneando em
Cachagua...” Carlos Altamirano.
CAPÍTULO 8
O interregno Piñera
e o retorno de Bachelet
169
INTRODUÇÃO
CONTINUIDADE
A NOVA DIREITA
A VELHA DIREITA
Hayek não foi por amor, foi por conveniência. Por mais
que desprezasse a democracia e combatesse a servidão do
indivíduo à sociedade, Hayek não foi adepto do fascismo,
muito menos de sua política de massas e anulação do in-
divíduo. Pinochet, por sua vez, não tinha a menor da ideia
de economia, nem de seus fundamentos clássicos ou neo-
clássicos, liberais ou neoliberais, quando chegou ao poder. 175
O casamento entre os dois foi como esses matrimônios
arranjados, de circunstância. Jovens profissionais egressos
da Universidade Católica e da Universidade do Chile, em
sua maioria economistas, cientistas sociais e advogados,
com pós-graduação nas universidades de Harvard e Chi-
cago, tiveram um papel decisivo para a concretização desse
matrimônio. Está por ser contada de forma sistemática e
pormenorizada a contribuição dessas instituições, especial-
mente da PUC, ao pensamento direitista e conservador.
José Piñera e Jaime Guzmán são exemplos de jovens
egressos da Universidade Católica que se tornaram pró-
ximos colaboradores de Pinochet. Irmão mais velho de
Sebastián, José Piñera foi Ministro do Trabalho, autor do
Código Laboral e da Reforma Previdenciária, responsáveis
pela flexibilização da legislação trabalhista, dos contratos
de trabalho e dos direitos laborais, assim como pela pri-
vatização do sistema previdenciário, peças-chave das polí-
ticas neoliberais da ditadura. Jaime Guzmán, advogado e
senador da República, foi um dos autores da Constituição
de 1980. De família tradicional, católica e conservadora,
o antimarxista Guzmán foi um intelectual direitista. Inte-
grou o agrupamento fascista Pátria e Liberdade, responsá-
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BACHELET, O RETORNO
182
COMPLICAÇÕES ECONÔMICAS
184
2,1 2,1
1,8
1,6
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016* 2017*
Inflação (em %)
4,4 4,3
4,1
3,30
3 3
1,90
1,40
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016* 2017*
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016* 2017*
Fonte: FMI e Governo do Chile; *Projecões
O INTERREGNO PIÑERA E O RETORNO DE BACHELET
185
2010 2011 2012 2013 2014 2015
PROBLEMAS DE BACHELET
> Protestos contra a reforma educacional
> Denúncias de corrupção
> Falta de acordo para estabelecer a Constituinte (a atual Constituição é da época
do Pinochet e muito criticada)
> Não ter conseguido aprovar legalização do aborto
> Lentidão nos processos de direitos humanos
> Falta de alternativas para a queda das commodities com a queda do preço do cobre
Fonte: FMI e Governo do Chile
COMPLICAÇÕES POLÍTICAS
193
203
13 de agosto de 1977
211
217
221
3. William F. Sater, Arturo Prat, secular saint. The heroic image in Chile, University of
California Press, 1973.
ENSAIO HISTÓRICO SOBRE A NOÇÃO DE ESTADO NO CHILE NOS SÉCULOS XIX E XX
O “ESTADO PORTALIANO”
REVISÃO DE UM CONCEITO
9. Citado por Fanor elasco, La Revolución de 1891, Memorias, Santiago, 1914, 302-303.
ENSAIO HISTÓRICO SOBRE A NOÇÃO DE ESTADO NO CHILE NOS SÉCULOS XIX E XX
10. Isidoro Errázuriz, Juicio Político sobre don Diego Portales, em Ernesto de la Cruz,
Epistolario citado, II, 31 ss.
11. F.A. Encina, Historia de Chile, XI, 493-494.
12. Jaime Eyzaguirre, Fisonomía histórica de Chile, Santiago, 2ª ed., 1958, 110.
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13. Ernesto de la Cruz, ob. cit. I, 377 r 386.; II, 418-419, 270 ss.; III, 337 e 486.
ENSAIO HISTÓRICO SOBRE A NOÇÃO DE ESTADO NO CHILE NOS SÉCULOS XIX E XX
20. O discurso de Adolfo Ibáñez, citado literalmente, em parte, por Fanos Velasco, ob.
cit. 388.
21. As Cartas Políticas são uma série de artigos, publicados alguns em La Unión de Valpa-
raíso e outros em La Libertad Electoral, ambas em 1886. Sobre sua autoria, Eduardo de la
Barra e outros, na Revista Chilena de Historia y Geografia, 120, 185-222
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22. F.A. Encina, Historia de Chile, XX, 451-456. Sobre o conflito “doutrinário” sob San-
ta María, ver também “Cuatro Cartas Políticas de Domingo Santa María”, publicadas por
A. Santa María, Revista Chilena de Historia y Geografía, 119; “Cartas de don Domingo
Santa María a don Domingo Gana”, publicadas por Jaime Eyzaguirre, Boletín de la Aca-
demia Chilena de Historia, 1950, I; “Correspondência recebida por dom Exequiel Bal-
maceda Fernández, Encarregado de Negócios do Chile ante a Santa Sede, entre julho de
1887 e fevereiro de 1889”, publicado por Adolfo Ibáñez S.M., Historia, 14, 1979; e em
fim a obra coletiva dirigida por Ricardo Krebs, Catolicismo y Laicismo, Santiago, 1981.
ENSAIO HISTÓRICO SOBRE A NOÇÃO DE ESTADO NO CHILE NOS SÉCULOS XIX E XX
26. O artigo de König, citado por Bañados Espinoza, ob. cit., II, 51.
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27. Joaquín Fernández Blanco, citado em Fanor Velasco, ob. cit., 302; Alfredo Ovalle
Vicuña citado por Julio Heise González, ob. cit., 117. As palavras do curso de Valentín
Letelier em Bañados Espinoza, ob. cit., II, 53.
28. La Patria, 6 de março de 1894, citado por Carmen Gloria Ochoa Moreno, La Revo-
lución de 1891. Un ideal de regeneración política (Memória inédita para receber o título
de Professor de Estado, dirigida por Javier González Echeñique).
ENSAIO HISTÓRICO SOBRE A NOÇÃO DE ESTADO NO CHILE NOS SÉCULOS XIX E XX
257
Concidadãos do Congresso:
Ao comparecer diante dos senhores para cumprir o
mandato constitucional, atribuo a esta Mensagem uma
dupla transcendência: ela é a primeira de um Governo que
acaba de assumir a direção do país, e é entregue ante exi-
gências únicas em nossa história política.
Por isso, quero conceder a ela um conteúdo especial,
concorde com o seu significado presente e seu alcance para
o futuro.
Durante 27 anos compareci a este recinto, quase sem-
pre como Parlamentar de oposição.
Hoje o faço como Chefe de Estado, pela vontade do
povo ratificada pelo Congresso.
Tenho muito presente que aqui se debateram e se fixa-
ram as leis que ordenavam a estrutura agrária latifundiária,
mas aqui também foram derrogadas instituições obsoletas
para constituir as bases legais da reforma agrária que esta-
| CHILE |
Concidadãos do Congresso:
O mandato que nos foi confiado compromete todos
os recursos materiais e espirituais do país. Chegamos a um
ponto em que o retrocesso ou o imobilismo significariam
uma catástrofe nacional irreparável. É minha obrigação, nes-
ta hora, como primeiro responsável pelo destino do Chile,
268 expor claramente o caminho pelo qual estamos avançando
e o perigo e a esperança que, simultaneamente, nos depara.
O Governo Popular sabe que a superação de um perío-
do histórico é determinada pelos fatores sociais e econômi-
cos que esse mesmo período conformou previamente. Eles
enquadram os agentes e modalidades da mudança histórica.
Desconhecer isso seria ir contra a natureza das coisas.
No processo “revolucionário” que vivemos, são cin-
co os pontos essenciais em que converge o nosso combate
político e social: a legalidade, a institucionalidade, as li-
berdades políticas, a violência e a socialização dos meios
de produção: questões que afetam o presente e o futuro de
cada concidadão.
O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL
AS LIBERDADES POLÍTICAS
A VIOLÊNCIA
Salvador Allende
Conversa Interrompida
com Allende
TOMÁS MOULIAN
277
CAPÍTULO V
O TEMPO DA FESTA E DA CONSPIRAÇÃO
1. A REVOLUÇÃO EM DESENVOLVIMENTO
2. O DESENFREIO
14. Nicolau Maquiavel, EL PRINCIPE, Editora Centro Gráfico, 1997, p.41. (N. da T.:
Tradução ao português nossa.)
CONVERSA INTERROMPIDA COM ALLENDE
18. A Unidade Popular obteve nessas eleições, somando os votos da União Socialista Po-
pular, que não participava do governo, 50,9%. A Democracia Cristã não conseguiu nem
minguar decisivamente os votos do Partido Nacional, nem se distanciar significativamen-
te do mesmo. Teve 26,2% dos votos, enquanto o Partido Nacional obtinha 18,5% e seu
aliado, a Democracia Radical, 3,9%. A distância diminuiu de 9,81 para 7,68.
19. Gonzalo Martner (Compilador), “SALVADOR ALLENDE...”, OP. CIT.
| CHILE |
21. É importante para estes temas a leitura das MEMORIAS DE CARLOS PRATS. Ver
Carlos Prats, MEMORIAS, TESTIMONIO DE UN SOLDADO, Editorial Pehuén, 1987.
CONVERSA INTERROMPIDA COM ALLENDE
311
CAPÍTULO SEGUNDO
PÁRAMO DO CIDADÃO
1. O BRANQUEAMENTO DO CHILE1
a. Esquecimento
Um elemento decisivo do Chile Atual é a compulsão
pelo esquecimento. O bloqueio da memória é uma situa-
ção repetida em sociedades que viveram experiências-limi-
te. Nelas, esta negação com relação ao passado gera a perda
do discurso, a dificuldade da fala. Existe uma carência de
palavras comuns para nomear o vivido. Trauma para uns,
vitória para outros. Uma impossibilidade de comunicar-se
sobre algo que se denomina de maneira antagônica: golpe,
pronunciamento; governo militar, ditadura; bem do Chi-
le, catástrofe do Chile.
1. BAUDRILLARD, Jean: La ilusión del fin o la huelga de los acontecimientos, Editora
Anagrama, Barcelona, 1993.
| CHILE |
2. Ainda que meu interesse seja interpretar o iceberg como metáfora e não dar conta da
discussão que suscitou, parece-me útil ver PINEDO, Javier: “Una metáfora de país: una
discusión en torno a la presencia de Chile en el Pabellón Sevilla 92”, em OSSANDON,
Carlos (compilador), Ensayismo y modernidad en América Latina. Homenaje a Mario
Berrios, LOM-ARCIS, Santiago, Chile, 1996.
| CHILE |
c. As razões de Estado
A principal fonte do esquecimento é o branqueamen-
to promovido a partir das alturas, uma pá de concreto
vinda de cima e que sepulta a memória vacilante. Nessa
operação confluíram diferentes razões de Estado, redes en-
tretecidas por atores diferentes, todos enlaçados pelo gran-
de objetivo de assegurar e orquestrar as núpcias exemplares
entre a neodemocracia e o neocapitalismo.
O branqueamento foi e é a grande empresa dessas
razões de Estado. Trata-se de um diversificado conjunto
de operações cujo objetivo foi impor a convicção e o sen-
timento de que para o Chile a convivência do passado e
do futuro são incompatíveis. Que é preciso renunciar ao
passado pelo futuro, a menos que se deseje cair na lógica
angustiante da repetição.
O CONSENSO
9.Digo que se trata de uma questão infausta porque pode se converter em uma “caça às
bruxas”, inversa, mas tão maniqueísta quanto a de McCarthy nos Estados Unidos. Por
outro lado, os intelectuais sempre mudam, já que se modificam os campos culturais ou
a história. Mudar é um direito. Mas está claro que as modificações de enfoque de inte-
lectuais-políticos tão importantes quanto Foxley, Ominami ou Tironi foram decisivas na
construção do discurso do consenso. Ver PETRAS, James e LEIVA, Fernando I.: DEMO-
CRACY AND POVERTY IN CHILE, Westview Press, Nova Iorque, Estados Unidos,
1994, especialmente o capítulo 4.
ANATOMIA DE UM MITO
10. TIRONI, Eugenio: “Sacarle punta al lápiz”. Em: revista Qué Pasa, 11 de maio de
1996, p. 27.
| CHILE |
18. Essa é a função da porcentagem fixa sobre os fundos da Codelco. No primeiro semes-
tre deste ano, alcançou a quantia de US$60 milhões.
| CHILE |
21. Como se sabe, este termo foi usado por GARRETÓN, Manuel A.: HACIA UNA
NUEVA ERA POLÍTICA: ESTUDIO DE LAS DEMOCRATIZACIONES. FCE, San-
tiago, 1995. Considero que a ideia de enclave é imperfeita, porque gera a impressão de
um subconjunto isolado sem efeitos de fundo, ou com efeitos delimitados.
| CHILE |
22. FUKUYAMA, Francis, THE END OF HISTORY AND THE LAST MAN. Free
Press, Nova Iorque, 1992.
ANATOMIA DE UM MITO
4. A CRISE DA POLÍTICA
23. GARRETÓN, Manuel A.: LA FAZ SUMERGIDA DEL ICEBERG. Estudios sobre
la transformación cultural, Edições Cesoc-Lom, Santiago, Chile, 1993.
ANATOMIA DE UM MITO
24. Não me refiro à vontade popular da democracia representativa que não é delibera-
tiva, porque as agendas são colocadas de cima para baixo e por outras razões que não
são possíveis indicar. Ver LACLAU, Ernesto e MOUFFE, Chantal: HEGEMONIA Y
ESTRATEGIA SOCIALISTA. Hacia una política democrática radical. Editora Siglo
XXI, Madri, Espanha, 1987; LACLAU, Ernesto: NUEVAS REFLEXIONES SOBRE
LA REVOLUCIÓN DE NUESTRO TIEMPO. Editora Nueva Visión, Buenos Aires,
Argentina, 1993.
| CHILE |
28. HOBSBAWN, Eric: HISTORIA DEL SIGLO XX. 1914, 1991: Editora Crítica-
-Mondadori, Barcelona, Espanha, 1995.
ANATOMIA DE UM MITO
b. Irrelevância, corrupção
Uma política que transforma os fins em rotina, tor-
na-se, necessariamente, irrelevante. O que sobra do sig-
nificado da política, depois desse sequestro do seu objeto
29. Com a paradoxal exceção do partido da “lealdade aos militares”, que é a UDI.
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30. Ver BUBER, Martin: CAMINOS DE UTOPIA, Editorial del Fondo de Cultura
Económica, 1955, p.30.
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c. A impunidade
No Chile Atual, a linguagem da política não é uma fala
354 comum, e sim um código cifrado, trucado, é um metadis-
curso. Como as bonecas russas, o discurso parece esconder
outro discurso e este, por sua vez, esconde outro. Se fôssemos
desfolhando esses discursos, chegaríamos ao Inominável, a
aquela força transcendental e temida que exige que nossa po-
lítica esteja fundada sobre o eufemismo. Por que esta política
está presa no silêncio, nas meias palavras, na hipocrisia?
Porque não houve uma purificação do carma de dezes-
sete anos de terror. O Chile Atual está baseado na impu-
nidade, no caráter simbólico dos castigos, na ausência da
verdade, em uma responsabilidade histórica não assumida
pelas Forças Armadas e pelos empresários, estes últimos os
beneficiários diretos da “revolução capitalista”.
No começo de seu governo inaugural, Aylwin criou a
Comissão Verdade e Reconciliação para abordar o proble-
ma das vítimas do terrorismo de Estado. Com esse gesto,
que delatava um método, o governo de Aylwin transfor-
mou o assunto em um rito. Tratava-se de construir, através
de uma comissão de “homens justos”, uma “grande verda-
de”, uma verdade cuja legitimidade ultrapassasse as críticas
comprometidas das Forças Armadas e da direita “leal”.
O trabalho da Comissão permitiu constituir o “mar-
tirológio oficial”. Permitiu construir essa grande parede no
ANATOMIA DE UM MITO
5. O SISTEMA DE PARTIDOS
6. QUAIS ALTERNATIVAS?
36. Essa é a perspectiva que Gabriel Salazar desenvolveu em alguns de seus trabalhos. Ver
especialmente SALAZAR, Gabriel: “ Município popular y construcción del Estado: El
pesamiento de L.E. Recabarren”. Em “Revista de Sociología, Santiago, Chile, Nº 6, 1995.
Também “Tendencias transliberales del movimiento ciudadano en Chile (1973-1996).
(Apuntes para una teoría del cambio histórico), Mimeo, Santiago, Chile, 1996.
Segredos da Concertação
RECORDAÇÕES PARA O FUTURO
CARLOS OMINAMI
371
RECONHECIMENTO ESPECIAL
3. Bernardo Leighton, José Ignacio Palma, Renán Fuentealba, Fernando Sanhueza, Sergio
Saavedra, Claudio Huepe, André Aylwin, Mariano Ruiz-Esquide, Jorge Cash, Jorge Do-
noso, Belisario Velasco, Ignacio Balbontín e Florecio Ceballos.
SEGREDOS DA CONCERTAÇÃO
falei de mim, mas do meu pai, que era, como ele, um ho-
mem de armas. Contei das torturas que seus próprios com-
panheiros lhe haviam infligido e refutei seu principal argu-
mento sobre que no Chile viveu-se uma guerra e que nelas
sempre se cometem excessos. Citando o meu pai, disse-lhe
que no Chile não tinha havido nenhuma guerra e que, além
378 disso, ele sabia que a guerra também tinha suas regras e que
no Chile nenhuma delas fora respeitada. Enquanto fala-
va, sentia que ele me olhava com estranheza, como que se
perguntando de onde teria saído este espécime raro que se
atrevia a encará-lo. Terminei de falar e quase imediatamen-
te levantou-se a sessão. Lembro de que o general Matthei,
comandante em chefe da FACH (Força Aérea do Chile),
me deu um aperto de mão ou eu o senti assim. Não tenho
lembrança de que algum dos ministros tenha se aproximado
para me dizer qualquer coisa. Estavam todos pálidos.
Logo depois de terminada a reunião, tocou meu tele-
fone. Era o presidente Aylwin ligando para agradecer por
eu ter sido a sua voz em um momento em que a sua estava
silenciada. Convidou-me para tomar chá em La Moneda.
Compartilhamos muitas lembranças e juntos derramamos
algumas lágrimas de emoção que nos permitiram aliviar as
tensões vividas durante a jornada.
Com razão, são reconhecidos muitos dos méritos de
Aylwin. Foi um presidente que encarnou bem a necessi-
dade de reconciliar os chilenos ou, pelo menos, superar as
divisões mais odiosas do passado. Sua tese de que a anistia
só podia ser aplicada uma vez investigados os fatos e que
o desaparecimento de pessoas constitui um delito de exe-
cução permanente e, portanto, não é anistiável, criou um
SEGREDOS DA CONCERTAÇÃO
5. Círculo que também se denominou “a troika”. Ver Drake, Paul; Jaksic, Iván (comps.).
El modelo chileno: Democracia y desarrollo en los noventa. Santiago: Lom Ediciones,
1999.
SEGREDOS DA CONCERTAÇÃO
11. O horário eleitoral era dirigido por Manuela Gumucio. Também faziam parte do
comitê editorial, junto comigo e Carlos Figueroa, Marcelo Rojas e Eugenio Tironi.
SEGREDOS DA CONCERTAÇÃO
13. Infelizmente, com a mudança de governo no Chile, as relações com a Bolívia voltaram
a se deteriorar. O presidente Piñera deixou passar a oportunidade de resolver a histórica
demanda da Bolívia.
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14. O Fundo de Reserva de Pensões (FRP) totalizou US$ 4,444,31 bilhões no final de ju-
nho de 2011. Por sua vez, o Fundo de Estabilização Econômica e Social (FEES) alcançou
US$ 13,271,17 bilhões à mesma data.
SEGREDOS DA CONCERTAÇÃO
UM BALANÇO COMPARATIVO
15. Na atualidade é a Colômbia, que deslocou a Argentina para o quarto lugar por tama-
nho de população.
SEGREDOS DA CONCERTAÇÃO
429
1. Noção que, na opinião do economista Óscar Muñoz, é dada a ter várias conotações e a
suscitar equívocos. Nesse sentido, o autor mostra como o olhar de sucesso dos governos
da Concertação levou a se instalar, em diferentes âmbitos, a noção de um “modelo econô-
mico chileno”. Em vez disso, mostra-nos que é melhor falar de “um desenho estratégico”
que ele considera “harmônico e coerente (Muñoz, 2007:22).
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3. Ver, entre outras, a análise dos dados do Censo de 2002 que reúne as mudanças ocor-
ridas na sociedade chilena nos últimos dez anos (1991-2002) em Comissão Bicentenário
(2005).
NEOLIBERALISMO CORRIGIDO E PROGRESSISMO LIMITADO
4. Por exemplo, no ano 2000, a renda média mensal dos lares do primeiro decil aumentou
em 31% devido a estes subsídios. Ao agregar os subsídios monetários à renda autônoma,
obteve-se, para o ano 2000, o aumento de 3,7% para 4,3% da participação dos dois pri-
meiros decis, e a participação correspondente ao decil mais rico diminuiu de 42,3% para
41,7% (Ottone e Pizarro, 2003: 165).
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6. Por exemplo Fazio (1996, 2004, 2007) e Riesco (2207). Os centros em questão são o
CENDA e o ICAL.
NEOLIBERALISMO CORRIGIDO E PROGRESSISMO LIMITADO
O ENCLAVE AUTORITÁRIO:
INSTITUCIONALIDADE POLÍTICA
E DEMOCRACIA INCOMPLETA
457
A transição da ditadura de Pinochet, desencadeada
com o plebiscito de 1988, deu como resultado uma de-
mocracia incompleta15, pois sua institucionalidade foi em
grande parte imposta pela ditadura, motivo pelo qual es-
taríamos diante de governos eleitos de maneira legítima e
vigência de liberdades públicas, mas dificilmente o regime
institucional poderia ser qualificado como democrático.
Assim, encontramo-nos perante enclaves autoritários her-
dados da ditadura e de amarras e acordos de transição que
limitam o caráter democrático, isto é, a plena expressão
da soberania popular, tanto no plano institucional quanto
dos poderes fáticos16.
É verdade que o afirmado contradiz a visão otimista
sobre a democracia chilena expressa nos diversos rankings
internacionais e qualificada, por muitos, como transição
exemplar. Isso se deve a que estamos diante de uma con-
tradição entre esta democracia incompleta e o bom de-
sempenho dos governos democráticos da Concertação
15. Baseamo-nos nesta seção em Garretón e Garretón (2010). Ver também Garretón
(2003b). Para uma análise contextual da Constituição de 1980, Ruiz-Tagle e Cristi
(2006).
16. Sobre os enclaves autoritários, conceito e análise para o Chile, ver Garretón (1995,
2000).
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18. Apenas na eleição parlamentar de dezembro de 2009, um setor alheio a uma das duas
listas principais obteve algumas cadeiras, enquanto o partido Comunista teve que fazer
um pacto com a lista da Concertação para eleger parlamentares como parte dessa lista.
NEOLIBERALISMO CORRIGIDO E PROGRESSISMO LIMITADO
19. O termo pós-pinochetista alude, por um lado, a que já não se está nem na ditadura
de Pinochet nem na mesma ordem socioeconômica que regia essa ditadura, mas que tam-
bém não se alcançou uma democracia plena pela vigência de uma institucionalidade que
garante a intangibilidade de traços fundamentais do modelo socioeconômico herdado
(Garretón, 2007).
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20. Em relação a campos como a saúde e a previdência, mostramos que houve reformas
importantes, mas manteve-se a estrutura do sistema implantado pela ditadura no qual
o princípio de mercado e os grandes interesses privados são hegemônicos. No caso da
educação, a substituição da Lei Orgânica Constitucional de Ensino pela Lei Geral de
Educação no governo de Bachelet, deixou intactos os princípios de concorrência e lucro e
NEOLIBERALISMO CORRIGIDO E PROGRESSISMO LIMITADO
22. Ver, neste sentido, a importante contribuição do ex-presidente Ricardo Lagos nesta
matéria (Lagos 2008, 2010); Lagos e Landerretche eds. (2011). Ver também: Hardy, ed.
(2010).
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