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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LRIAB
Nº 70029358579
2009/CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO


NÃO ESPECIFICADO. EXCEÇÃO DE PRÉ-
EXECUTIVIDADE.
- Não há irregularidade na inclusão de Ângela
Ramos Souto no polo passivo da demanda.
- Não cabe exceção de pré-executividade, estando
correta a decisão agravada, restando prejudicado
o pedido de suspensão da execução.
- A Cédula de Produto Rural Financeira é título
executivo extrajudicial, conforme previsto no art.
585, VIII do CPC. Não há falar em ausência dos
requisitos de liquidez, certeza e exigibilidade.
- As alegações de que o art. 2º da Lei nº 8.929/94
estabelece que a única pessoa física autorizada a
emitir Cédula de Produto Rural é o produtor rural;
a inadimplência da CPR não decorre de pleno
direito no seu vencimento; e o pedido de
antecipação de tutela para que sejam retirados os
seus nomes do cadastro de inadimplentes, não
podem ser conhecidos, pois não existem na
petição de exceção de pré-executividade sendo
inovação recursal indevida.
- Não há irregularidade com relação à penhora on-
line, pois o juiz de 1º grau conheceu dos embargos
de declaração e julgou-os improcedentes.
AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL

Nº 70029358579 COMARCA DE CAÇAPAVA DO SUL

ALTER PICADA SOUTO AGRAVANTE

ANGELA RAMOS SOUTO AGRAVANTE

COTRISUL - COOPERATIVA AGRAVADO


TRITICOLA CACAPAVANA LTDA

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.

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Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Primeira


Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar
provimento ao agravo de instrumento.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DES. VOLTAIRE DE LIMA MORAES (PRESIDENTE) E DES.
ANTÔNIO MARIA RODRIGUES DE FREITAS ISERHARD.
Porto Alegre, 20 de maio de 2009.

DES. LUIZ ROBERTO IMPERATORE DE ASSIS BRASIL,


Relator.

R E L AT Ó R I O
DES. LUIZ ROBERTO IMPERATORE DE ASSIS BRASIL (RELATOR)
Trata-se de agravo de instrumento interposto por ALTER
PICADA SOUTO e ANGELA RAMOS SOUTO em face da decisão que
rejeitou a exceção de pré-executividade apresentada nos autos da ação de
execução por quantia certa contra devedor solvente proposta pela ora
agravada.
Inicialmente, a parte agravante requer a concessão do
benefício de assistência judiciária gratuita. Requer, também, a reforma da
decisão agravada, alegando em suma, que: 1) a inclusão de Ângela Ramos
Souto no polo passivo da demanda se deu de forma irregular, tendo em vista
que a Cotrisul outorgou poderes ao seu advogado para ajuizar a execução
somente contra Álter Picada Souto; 2) a agravante Ângela teve seu nome
grafado erroneamente na sentença recorrida, devendo ser excluída da lide;
3) o juiz de 1º grau deixou de incluir o nome de Álter na sentença recorrida,
o que constitui requisito essencial de sua validade e eficácia; 4) o art. 2º da

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Lei nº 8.929/94 estabelece que a única pessoa física autorizada a emitir


Cédula de Produto Rural é o produtor rural; 5) a inadimplência da CPR não
decorre de pleno direito, no seu vencimento, pois depende de prévia
notificação ao devedor, com aviso de recebimento; 6) o exequente requereu
a penhora on-line dentro do curso do prazo destinado ao oferecimento de
embargos declaratórios, que produz o efeito de suspender automaticamente
o andamento do processo, praticando inequívoco abuso de direito; 7) que o
juiz, desconsiderando a existência dos embargos declaratórios, emitiu
despacho favorável ao pedido do credor; 8) é cabível a exceção de pré-
executividade, sendo descabido limitar aos embargos à execução como a
única via para o exercício de defesa contra o processo executivo; 9) a falta
de assinatura de duas testemunhas destitui o título executivo dos requisitos
de liquidez, certeza e exigibilidade, tornando-os inservíveis para tal fim. Por
fim, requer que seja deferida a antecipação de tutela, para fins de suspensão
do processo executivo, bem como que sejam retirados os seus nomes do
cadastro de inadimplentes.
Deferida a JG tão somente para fins de processamento
recursal e indeferido o efeito suspensivo requerido, a parte agravada
apresentou contra-razões.
É o relatório.

VOTOS
DES. LUIZ ROBERTO IMPERATORE DE ASSIS BRASIL (RELATOR)
Inicialmente corrijo o erro material contido na decisão para que
conste como excipientes ANGELA RAMOS SOUTO e ALTER PICADA
SOUTO, conforme consta na petição da exceção (fl. 45 e ss).
Com relação à alegação de que a inclusão de Ângela Ramos
Souto no polo passivo da demanda se deu de forma irregular não prospera,
pois o fato de a Cotrisul ter outorgado poderes ao seu advogado para ajuizar
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a ação somente contra Álter Picada Souto (procuração de fl. 19) trata-se de
mera omissão material, uma vez que ambos excipientes são co-devedores
solidários pois emitentes das cédulas de produto rural financeira.
Por outro lado, não é controverso que a decisão é direcionada
para Ângela Ramos Souto, signatária das cédulas, não afetando a erronia no
cabeçalho da decisão, que referiu Ângela Picada Souto.
Também não há dúvida que a decisão abrange Álter Picada
Souto, pois além de signatário das cédulas é autor, junto com Ângela, da
exceção decidida.
Quanto ao cabimento da exceção de pré-executividade,
embora não esteja prevista expressamente em lei, esta pode ser
apresentada independentemente do oferecimento de embargos. Entretanto,
só tem cabimento quando os pressupostos processuais da execução são
detectados, prontamente, como inexistentes, ou, como diz Pontes de
Miranda, quando seja viável negar a executividade do título, para que o Juiz
“não cometa a arbitrariedade de penhorar bens de quem não estava exposto
à ação executiva” (Dez anos de pareceres, v. IV, p. 138), ou seja, o caso em
tela se enquadra na hipótese do não-cabimento.
Neste sentido:
RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO
FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.
CABIMENTO. DESNECESSIDADE DE DILAÇÃO
PROBATÓRIA.
SÚMULA 7/STJ. MASSA FALIDA. COBRANÇA DE
MULTA MORATÓRIA.
DESCABIMENTO. SÚMULAS 192 E 565/STJ. JUROS
MORATÓRIOS ANTERIORES À DECRETAÇÃO DA
FALÊNCIA. EXIGIBILIDADE. POSTERIORES
CONDICIONADOS À SUFICIÊNCIA DO ATIVO.
RECURSO DESPROVIDO.
1. É cabível, em sede de execução fiscal, exceção de
pré-executividade nos casos em que o
reconhecimento da nulidade do título puder ser
verificado de plano, bem assim quanto às questões de
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ordem pública, como aquelas pertinentes aos


pressupostos processuais e às condições da ação,
desde que não seja necessária dilação probatória.
2. Na hipótese dos autos, o Tribunal de Justiça
estadual entendeu que a exceção de pré-
executividade deveria ser regularmente processada,
na medida em que não era necessária dilação
probatória, para se aferir a inexigibilidade dos valores
insertos no título executivo. Assim, não cabe a esta
Corte Superior, em função da Súmula 7/STJ, reavaliar
o contexto fático-probatório, a fim de verificar se as
provas pré-constituídas são suficientes ou não para o
conhecimento da referida exceção de pré-
executividade.
3. Não é cabível a cobrança de multa moratória da
massa falida em execução fiscal, haja vista o seu
caráter administrativo. Deve-se evitar que a
penalidade em questão recaia sobre os credores
habilitados no processo falimentar, que figuram como
terceiros alheios à infração. Incidência das Súmulas
192 e 565/STF.
4. A exigibilidade dos juros moratórios anteriores à
decretação da falência independe da suficiência do
ativo. Após a quebra, serão devidos apenas se existir
ativo suficiente para pagamento do principal.
Precedentes.
5. Recurso especial desprovido.
(REsp 660.506/MG, Rel. Ministra DENISE ARRUDA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 26.06.2007, DJ
02.08.2007 p. 338)

PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE PRÉ-


EXECUTIVIDADE. NECESSIDADE DE DILAÇÃO
PROBATÓRIA. NÃO-CABIMENTO. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO.
ART. 535 DO CPC. OFENSA NÃO-CONFIGURADA.
1. O prequestionamento dos dispositivos legais tidos
como violados é requisito indispensável à
admissibilidade do recurso especial.
Incidência das Súmulas n. 282 e 356 do Supremo
Tribunal Federal.
2. Revela-se improcedente argüição de ofensa ao art.
535 do CPC quando o órgão colegiado, ainda que não
aprecie todos os argumentos expendidos em sede
recursal, pronuncia-se de forma adequada e suficiente

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sobre as questões relevantes que delimitam a


controvérsia.
3. Não se admite a exceção de pré-executividade em
sede de execução fiscal nos casos em que as
matérias de ordem pública discutidas não podem ser
verificadas de plano, sem a necessidade de
contraditório e de dilação probatória.
4. Recurso especial conhecido parcialmente e
improvido.
(REsp 504.082/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em
13.02.2007, DJ 05.03.2007 p. 266)

Assim, não cabe exceção de pré-executividade, estando


correta a decisão agravada, restando prejudicado o pedido de suspensão da
execução.
A alegação dos agravantes de que a falta de assinatura de
duas testemunhas destitui o título executivo dos requisitos de liquidez,
certeza e exigibilidade, tornando-os inservíveis para tal fim, também não
prospera.
A lei nº 8.929/94 dispõe acerca da Cédula de Produto Rural e,
no seu art. 4º, assim dispõe:
“Art. 4º A CPR é título líquido e certo, exigível pela
quantidade e qualidade de produto nela previsto.”

Assim, a Cédula de Produto Rural Financeira é título executivo


extrajudicial, conforme previsto no art. 585, VIII do CPC, pois trata-se de
título a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.
Ademais, tendo em vista que a CPR possui sistema legal
próprio, o art. 3º da referida lei dispõe sobre os requisitos que devem conter
a CPR:
“Art. 3º A CPR conterá os seguintes requisitos,
lançados em seu contexto:
I - denominação "Cédula de Produto Rural";
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II - data da entrega;
III - nome do credor e cláusula à ordem;
IV - promessa pura e simples de entregar o produto,
sua indicação e as especificações de qualidade e
quantidade;
V - local e condições da entrega;
VI - descrição dos bens cedularmente vinculados em
garantia;
VII - data e lugar da emissão;
VIII - assinatura do emitente.

E, o seu parágrafo 1º permite que a CPR contenha outras


cláusulas lançadas em seu contexto, entretanto, sem caráter de requisito
essencial.
Assim, tendo em vista que, como visto acima, não consta como
requisito a assinatura de duas testemunhas, não prospera a irresignação dos
agravantes.
Com relação às alegações de que o art. 2º da Lei nº 8.929/94
estabelece que a única pessoa física autorizada a emitir Cédula de Produto
Rural é o produtor rural; a inadimplência da CPR não decorre de pleno
direito no seu vencimento, pois depende de prévia notificação ao devedor,
com aviso de recebimento; e o pedido de antecipação de tutela para que
sejam retirados os seus nomes do cadastro de inadimplentes, não podem
ser conhecidos, pois não existem na petição de exceção de pré-
executividade (fls. 45/47) sendo inovação recursal indevida.
Por fim, com relação à penhora on-line, também não verifico
irregularidade no pedido do exequente, bem como no despacho proferido
pelo juiz de 1º grau, pois, apesar da falha na certidão emitida pelo cártório,
de que “decorreu in albis o prazo para a interposição de embargos” (fl. 61),
esta restou suprida pelo juiz de 1º grau, que conheceu dos embargos de
declaração, eis que tempestivos, e julgou-os improcedentes (fl. 26).

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Posto isso, voto pelo improvimento do agravo de instrumento.

DES. VOLTAIRE DE LIMA MORAES (PRESIDENTE) - De acordo.


DES. ANTÔNIO MARIA RODRIGUES DE FREITAS ISERHARD - De
acordo.

DES. VOLTAIRE DE LIMA MORAES - Presidente - Agravo de Instrumento


nº 70029358579, Comarca de Caçapava do Sul: "NEGARAM PROVIMENTO
AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: PAULO AFONSO ROBALOS CAETANO

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