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CAPÍTULO 2
Sujeitos da Administração Pública
por isso, titulares de poderes que exercem e de deveres que assumem em nome próprio.
Trata-se, porém, de pessoas coletivas, quer dizer, de “organizações” – de estruturas ou
unidades organizadas para a realização de certas finalidades –, que, nessa condição,
conhecem apenas uma existência jurídica ou institucional, sem uma correspondência
real, física ou material. Por outro lado, como sujeitos de direito, distinguem-se pelo
facto de deterem uma personalidade jurídica pública (de direito público).
Observe-se que não existe entre nós, casos de personalidade jurídica pública
apenas formal (como na Alemanha sucede com as associações religiosas),consistente
em atribuir a personalidade de direito público a entidades que não se dedicam à
execução de tarefas públicas. Assim, no direito português, a criação de uma entidade
com personalidade de direito público é um sinal inequívoco do carácter público
(apropriação pública) das tarefas ou missões que lhe são confiadas.
Mais: não existem em Portugal pessoas coletivas de direito público que não se
ocupem da execução da função administrativa. De resto, tais entidades dedicam-se, em
regra, exclusivamente à função administrativa. Isto só não sucede com o Estado e as
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Compreende-se, por isso, que se revele decisiva a indicação legal sobre se uma
certa organização (organismo) constitui uma pessoa jurídica, quer dizer, um sujeito de
direito: assim, por exemplo, a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Autoridade de
Segurança Alimentar e Económica (ASAE) ou a Autoridade Nacional de Segurança
Rodoviária não se apresentam como sujeitos de direito porque as leis que instituem tais
organismos não lhes conferem personalidade jurídica: a CNE é um órgão
(independente) e as outras duas organizações surgem como serviços da administração
direta do Estado. Diferentemente, o Conselho das Finanças Públicas já aparece, nos
termos da lei, como uma pessoa coletiva de direito público, com a natureza de entidade
administrativa independente.
Em certos casos, a lei adota fórmulas equívocas: assim sucede, entre outros exemplos, com
a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, que, embora qualificada como
entidade administrativa independente, surge desprovida de órgãos (a lei refere-se aos
“membros da Comissão”) e sem personalidade jurídica; outro tanto se passa com a
Comissão Nacional de Proteção de Dados, que, porém, nos termos da lei, se pode obrigar
através de contratos e outros negócios jurídicos; estas duas “entidades”, bem como a
Comissão Nacional de Eleições, integram a categoria dos “órgãos independentes que
funcionam junto da Assembleia da República” (Lei n.º 59/90, de 21 de novembro). Trata- 76
se, pois, de órgãos (do Estado) e não de entidades, ainda que se devam considerar, aliás
em decorrência do seu estatuto de independência, órgãos independentes.
Já fora do contexto parlamentar, mas igualmente sem personalidade jurídica e com
estatuto de independência, temos, por exemplo, a Comissão Reguladora para a Segurança
das Instalações Nucleares (órgão com “a natureza de entidade independente”, que tem a
missão de assegurar a preservação e a promoção da segurança das instalações nucleares
no território nacional) ou a Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração
Pública (órgão com a natureza de entidade independente, que funciona junto do membro
do Governo responsável pela área da Administração Pública, com a missão de proceder ao
recrutamento e seleção de candidatos para cargos de direção superior na Administração
Pública).
Num outro âmbito, refira-se a Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do
Setor Público Empresarial, um órgão que, nos termos do diploma instituidor, é “uma
entidade administrativa de consulta e apoio à tomada de decisão”.
direito privado, mas precisamente pelo Direito Administrativo. É ao abrigo de uma lei
especial ou de um ato jurídico de natureza administrativa que se processa a criação e a
definição do modelo de organização interna de pessoas coletivas de direito público. Por
outro lado, os órgãos destas entidades constituem órgãos administrativos, cabendo de
novo ao Direito Administrativo definir as condições do respetivo funcionamento e as
competências de que os mesmos dispõem.
Próximas das pessoas públicas de população e território são as pessoas públicas (de
âmbito territorial) que congregam pessoas públicas de população e território: eis o que
sucede com as entidades intermunicipais (áreas metropolitanas e comunidades
intermunicipais) e com as associações de freguesias e de municípios de fins específicos
(artigos 63.º e segs. e 108.º e segs. do RAL). Porém, estas não são, no sentido específico
acima assinalado, pessoas de “população e território”, porquanto o substrato pessoal das
mesmas não é diretamente a população, mas os municípios que se associam para as
constituir. Trata-se de entidades associativas e não de entidades de população.
Importa não confundir a categoria dos fins gerais com o facto de uma entidade
prosseguir vários fins previstos na lei: assim, por exemplo, as entidades intermunicipais
prosseguem vários fins, mas não são pessoas coletivas de fins gerais, pois que, em
qualquer caso, só se ocupam dos fins especificamente previstos em lei e não, como as
autarquias locais, de “quaisquer assuntos” de interesse local.
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público da concorrência (artigo 7.º, n.º 1, da Lei n.º 19/2012, de 8 de maio); esta é a
atribuição pública do referido instituto público.
Existe, assim, um princípio de correspondência (ainda que não exclusiva) entre
os conceitos de pessoa de direito público e de atribuição – cf., nesse sentido, artigos 51.º
e 161.º, n.º 2, alínea b), do CPA. Compreende-se uma tal correspondência, pois cada
pessoa de direito público é criada para a realização de uma ou de várias finalidades de
interesse público. Em suma, cada pessoa de direito público tem a sua ou as suas
atribuições, consoante se trata de uma pessoa coletiva de fim específico ou de fins
múltiplos.
Todavia, a correspondência entre pessoa coletiva pública e atribuições não se
revela absoluta.
Com efeito, nos casos das pessoas coletivas Estado e regiões autónomas, por
causa da pluralidade dos interesses e finalidades que prosseguem, as atribuições
encontram-se funcionalmente “separadas” pelos vários departamentos governamentais –
no caso do Estado, os ministérios e, no caso das regiões autónomas, as secretarias
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ação” de um órgão.
enumerados que a lei confere aos respetivos órgãos (princípio da enumeração das
competências públicas).
Sucede, porém, que os órgãos das pessoas coletivas também não existem no
mundo físico. Como as pessoas coletivas, os também órgãos têm uma existência apenas
jurídica, com um recorte abstrato e não real ou física.
Na verdade, os órgãos administrativos constituem, também eles, “centros de
imputação jurídica” – são investidos de poderes e de deveres (“competências”) e
suportam, no plano jurídico, a imputação da atividade que os respetivos titulares
desenvolvem no exercício daqueles poderes e deveres
Contudo, por falta de personalidade jurídica, não se apresentam como centros de
“imputação jurídica final ou definitiva”: a imputação final da sua atuação efetiva-se na
pessoa coletiva a que pertencem. Como se perceberá melhor quando se analisar a figura
dos titulares dos órgãos, a ação externa da Administração Pública pressupõe uma “dupla
imputação”: a ação (humana) dos titulares dos órgãos é imputada aos órgãos (imputação
transitória) e à pessoa coletiva (imputação final).
dessa pessoa de direito público. Entre a pessoa de direito público e os seus órgãos
intercede, pois, um vínculo de organicidade.
O órgão não é um representante. Este, apesar de atuar em nome do representado e de os
efeitos dos atos que pratica se produzirem na esfera daquele (cf. artigo 258.º do Código
Civil), atua juridicamente como um sujeito distinto do representado; ora, o órgão não é
um sujeito distinto da pessoa coletiva, pelo que o seu comportamento é diretamente, por
imputação, um comportamento da pessoa coletiva.
Em sentido diferente, cf. artigo 106.º, n.º 1, do CCP, sobre a representação na outorga de
contratos públicos; ali se estabelece que a representação das entidades adjudicantes
(pessoas coletivas de direito público) cabe ao órgão competente para a decisão de
contratar; na mesma linha, cf. artigo 36.º, n.º 2, alínea f), do RAL que atribui ao
presidente da câmara municipal competência para outorgar contratos “em representação
do município”. Nestes casos, não há, em rigor, representação, mas imputação.
Um caso de representação parece existir já no n.º 3 do citado artigo 106.º do CCP, quando
se refere à representação do órgão colegial (na outorga de contratos) pelo presidente do
órgão. Aqui sim, o presidente do órgão colegial representa o órgão (e a pessoa coletiva
pública a que o órgão pertence).
Por vezes, o legislador surpreende: eis o que sucede o Decreto-Lei n.º 76/2012, de 26 de
março, cujo artigo 1.º, com a epígrafe “natureza”, estabelece o seguinte: “a Comissão
para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (…) é um órgão colegial tripartido, dotado de
autonomia administrativa e personalidade jurídica”. Temos, portanto, neste caso, a figura
86
surpreendente de um “órgão com personalidade jurídica”.
compostos por dois ou mais titulares constituem os órgãos colegiais (câmara municipal,
conselho diretivo; júris de exames).
Esta distinção, a que alude o artigo 20.º, n.º 2, do CPA, reveste-se de uma
importância fundamental pois, nos primeiros, a lei entrega a responsabilidade pelo
funcionamento do órgão (e pela imputação final de efeitos ao sujeito público) a uma
única pessoa física: nesta hipótese, o processo de funcionamento e de decisão do órgão
confunde-se com o processo psicológico que comanda a ação do respetivo titular. Nos
órgãos colegiais, torna-se necessário regular o processo do respetivo funcionamento,
pois a imputação de uma determinada atuação ao órgão depende de uma intervenção
conjunta dos membros (pessoas físicas) que o integram; essa intervenção conjunta
efetiva-se mediante a “reunião” dos membros do órgão.
No interior dos órgãos colegiais, é ainda possível destrinçar entre colegialidade
perfeita e colegialidade imperfeita. Órgãos colegiais perfeitos são os que apenas podem
funcionar com a presença de todos os seus membros (que podem ser substituídos por
suplentes), devendo todos eles participar na discussão, e sendo as respetivas
deliberações tomadas por consenso (mediante a obtenção dos votos favoráveis de todos
eles). Os órgãos colegiais imperfeitos são os que podem funcionar sem a presença de 88
todos os membros e em que as respetivas deliberações podem ser adotadas por uma
parte dos membros presentes (em regra, a maioria absoluta dos votos dos membros).
A regra do direito português é da colegialidade imperfeita: cf. os artigos 29.º do
CPA, sobre o designado quórum de funcionamento (exigência da “maioria do número
legal” dos membros do órgão), e 32.º, sobre o designado quórum de deliberação (a
exigência de que as deliberações sejam tomadas “por maioria absoluta de votos dos
membros presentes à reunião”).
Uma exceção a essa regra encontra-se prevista no previsto nos n.os 2 e 3 do artigo 68.º do
Código dos Contratos Públicos, sobre o funcionamento do júri do procedimento; trata-se
de um órgão colegial que “só pode funcionar quando o número de membros presentes na
reunião corresponda ao número de membros efetivos”, mas as suas deliberações são
tomadas por maioria de votos (não está aqui presente um exemplo de colegialidade
perfeita).
estes membros são, em regra, designados pelos titulares dos interesses particulares em
causa (v.g., designação, pelas associações de consumidores, de representantes para o
Conselho Nacional do Consumo: Decreto-Lei n.º 5/2013, de 16 de janeiro; designação
de representantes para o conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e
Porto: Decreto-Lei n.º 97/2012, de 23 de abril).
lhes as suas competências próprias, assim como pode subdelegar as competências que
lhe tenham sido delegadas pela câmara municipal (cf. artigo 36.º do RAL).
Aparentemente estranha, a criação legal de órgãos “sem competências próprias”
explica-se pelo facto de a lei pretender atribuir a um outro órgão a faculdade de definir,
em concreto, as competências a exercer pelo órgão secundário; no caso dos vereadores,
a isto acresce ainda o facto de a lei atribuir ao presidente da câmara a faculdade de
escolher os vereadores em quem vai delegar competências.
13.7 – Competência
Vimos acima que o órgão é a figura subjetiva central do Direito Administrativo;
à mesma associada, e com idêntica importância no estudo da nossa disciplina, surge
agora o conceito de competência.
i) Competência e órgão
Competência e órgão administrativo são conceitos interrelacionados; segundo a 92
ali, o ato resulta de duas (ou mais) pronúncias – trata-se de um “ato complexo”; no
segundo caso, o ato resulta de uma pronúncia única (do colégio).
No caso dos procedimentos de iniciativa oficiosa (instaurados pelo órgão que vai
tomar a decisão de conclusão do procedimento), a competência fixa-se no momento em
que o órgão pratica o primeiro ato com relevância jurídica externa (v.g., comunicação
oficiosa do início do procedimento, nos termos do artigo 110.º do CPA).
De acordo com esse critério temporal, antes de tomar qualquer decisão, o órgão
deve certificar-se de que é competente para conhecer da questão a que se refere o
procedimento: artigo 40.º, n.º 1, do CPA.
Nos termos do artigo 109.º, n.º 1, alínea a), do CPA, a incompetência do órgão constitui
uma questão que prejudica o desenvolvimento normal do procedimento. Sendo
incompetente, o órgão deve abster-se de atuar e não iniciar o procedimento. A situação
revela outros contornos no caso de procedimentos de iniciativa particular, por força do
disposto no artigo 41.º do CPA. Nos termos deste preceito, quando é apresentado
requerimento, petição, reclamação ou recurso a órgão incompetente, este deve proceder
ao envio do documento recebido ao órgão titular da competência, disso se notificando o
particular (a data da apresentação inicial do requerimento é a que vale para efeitos de
verificação da sua tempestividade).
13.9 – Legitimação
A competência é conferida pelo legislador e representa a medida de capacidade 96
de intervenção do órgão administrativo. Portanto, o órgão ou tem ou não tem uma certa
competência (v.g., competência para ordenar a remoção de um objeto).
Uma categoria diferente é a da legitimação do órgão. Do que se trata não é já de
saber se o órgão dispõe de um certa competência, mas antes em saber se o mesmo está
em posição de exercer em concreto a competência de que dispõe.
Pode, na verdade, suceder que o órgão detenha poderes, mas por razões de vária
ordem, não se encontre em condições de os exercer validamente: v.g., porque carece de
uma autorização prévia de outro órgão (por exemplo, a câmara municipal é competente
para proceder à concessão da exploração de obras e serviços públicos, mas carece de
autorização prévia da assembleia municipal); porque o seu titular se encontra impedido
(cf. artigo 69.º do CPA); ou porque a exigência legal de quórum (de um órgão colegial)
não se encontra satisfeita. Em casos como estes, a eventual atuação do órgão em
infração à lei não representa um caso de incompetência, mas sim de falta de
legitimação.
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1
Sobre esta matéria, cf. o nosso artigo: “A justiciabilidade dos litígios entre órgãos da mesma
pessoa colectiva pública”, CJA, n.º 35, 2002, pp. 9 e ss..
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tensão entre órgãos, por exemplo, quando sujeita um órgão ao controlo de outro ou
quando incumbe um órgão de proteger interesses conflituantes com interesses
prosseguidos por outro órgão da mesma entidade. Os órgãos administrativos podem
estar assim colocados uns perante os outros em posições de antagonismo e de contraste.
Este resultado é particularmente acentuado nos casos em que os órgãos assumem um
carácter representativo e surgem, portanto, como câmaras de representação de interesses
específicos (pense-se no conselho distrital de uma ordem profissional em face do
respetivo bastonário). Por outro lado, entre os órgãos de uma pessoa de direito público
desenrolam-se relações de recorte muito variado: relações de hierarquia, de controlo, de
supremacia funcional, de cooperação, etc.. Estas relações – interorgânicas – têm uma
natureza jurídica.
O que acaba de se expor já permite afirmar que os órgãos administrativos são
“sujeitos de direito”: sujeitos de direito no plano das relações internas, claro. Trata-se de
uma conclusão natural, que resulta da consideração de que o funcionamento interno de
uma pessoa de direito público não se processa fora do direito. Existe, pois, um direito
interno e é neste âmbito que os órgãos são sujeitos de direito.
Mas o facto de se ordenarem como sujeitos de direito não determina sem mais 98
iii) Designação por escolha livre de outros órgãos – v.g., designação dos
membros do júri de um procedimento de contratação pública.
vínculo é o contrato de trabalho, regulado no Código do Trabalho – cf. artigo 2.º, n.º 1,
da LTFP, e artigo 41.º da Lei das Associações Públicas Profissionais.
Importa notar que a LTFP emprega o conceito genérico de “trabalho em funções
públicas” para abranger todas as formas de prestação de trabalho ou de serviço em
benefício de um empregador público; daí que estabeleça que o trabalho em funções
públicas pode ser prestado mediante “vínculo de emprego público” ou “contrato de
prestação de serviço” (artigo 6.º, n.º 1). Todavia, em termos rigorosos, “trabalhadores”
em funções públicas ou, mais latamente, “trabalhadores” de pessoas de direito público
são apenas os particulares com um vínculo baseado num contrato de trabalho ou, nos
termos da LTFP, com um vínculo de emprego público, o qual pode ter por fonte o
contrato de trabalho em funções públicas, a nomeação ou a comissão de serviço (cf.
artigo 6.º da LTFP).
Nos termos da LTFP, o vínculo de emprego público constitui-se, em regra, por
contrato de trabalho em funções públicas (artigo 7.º). O vínculo constitui-se por
nomeação (ato administrativo) no caso de exercício de funções no âmbito das seguintes
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poderes do empregador público são exercidos pelo membro do Governo responsável (cf.
artigo 3.º do Estatuto do Pessoal Dirigente e artigo 176.º, n.º 2 da LTFP).
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Atualmente, com a Lei-Quadro das Fundações, as fundações privadas (de direito privado)
não podem assumir a condição de entidades administrativas privadas. Isto, porque a
participação de pessoas coletivas públicas em fundações privadas só é possível quando
não conduza à detenção de uma influência dominante; se a participação pública envolver
esta influência, então, a fundação passa a qualificar-se como fundação pública de direito
privado, a qual, nos termos da Lei-Quadro, possui a natureza de pessoa coletiva de
direito público – reconhecemos que se afiguram estranhos, até exóticos, os contornos da
situação, mas a verdade é que a opção do legislador foi mesmo a de criar uma figura
absolutamente única: a fundação pública de direito privado que é afinal uma pessoa
coletiva de direito público.
entidades privadas do setor público, pelo menos as que são integralmente detidas por
entidades públicas. Não existe, neste caso, a situação ostensiva de “confluência de
interesses opostos” presente no cenário em que uma entidade da esfera privada, que
prossegue interesses privados, assume a responsabilidade por exercer uma atividade de
realização de interesses públicos.
A delimitação do universo das entidades particulares com funções
administrativas, ou, se quisermos, a delimitação do instituto do “exercício de funções
administrativas por particulares”, reclama a verificação dos seguintes requisitos
cumulativos:
i) Entidade particular – entidade particular, entidade privada ou cidadão é
qualquer pessoa que não pertença à esfera pública, quer dizer, que não seja uma pessoa
coletiva de direito público, nem uma entidade administrativa privada, e, por outro lado,
que não seja trabalhador, funcionário ou titular de órgão da Administração Pública ou
órgão público;
ii) Responsável pelo exercício (de uma função administrativa) – a entidade
particular tem de assumir em nome próprio o exercício de uma função administrativa;
não basta que colabore com a Administração, mas reclama-se que exerça em nome 110
2
Para mais desenvolvimentos, cf. Entidades Privadas, cit., p. 467 e segs.
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aferida em função de um dos fatores a que se refere a alínea c)], haja ou não uma
participação destas, com ou sem influência dominante.