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RESUMO
Foi realizado um estudo sobre o processo extrativista de coleta de frutos e a cadeia de
comercialização e beneficiamento dos frutos de açaí na região de Rio Branco-Acre e áreas
adjacentes. O açaí é uma palmeira nativa cujos frutos são despolpados para o preparo de um suco,
conhecido localmente como ‘vinho de açaí’, ou para a produção de polpa congelada comercializada
localmente e extra-regionalmente. Os resultados do estudo indicam que a cadeia produtiva da
espécie está consolidada e o mercado local e extra-regional está em franca expansão, favorecendo a
intensificação do extrativismo dos frutos. A Entretanto, a extração dos frutos frutos aparenta ser
predatória porque é feita sem a observação de práticas de manejo sustentáveis e qualquer tipo de
controle legal por parte dos órgãos fiscalizadores.
1. INTRODUÇÃO
O açaí-solteiro (Euterpe precatoria Mart.) ocorre espontaneamente na região ocidental da Amazônia
brasileira e difere da espécie nativa da Amazônia oriental, o açaí-de-touceira (Euterpe oleraceae
Mart.), pelo seu estipe solitário e porte geralmente maior (Ferreira, 2005a). É típico de florestas
primárias e ocorre tanto nas áreas de terra-firme como ao longo das margens de rios e igarapés que
ficam temporariamente inundadas durante a estação das chuvas (Ferreira, 2005b). A polpa dos seus
frutos maduros é usada para a elaboração de um suco, popularmente conhecido na região como
“vinho de açaí” (Ferreira, 2005c), uma tradição local que remonta aos princípios da ocupação do
Acre, no final do século XIX, provavelmente introduzida por migrantes da Amazônia oriental. O
processo de produção do vinho do açaí-solteiro é similar ao do açaí-de-touceira e o advento de meios
mecânicos para a sua produção a partir de meados dos anos 80 melhorou consideravelmente a
qualidade do vinho comercializado no mercado de Rio Branco, capital do estado do Acre. A
mecanização também aumentou consideravelmente a oferta do produto, causando o incremento da
exploração dos frutos na floresta e a abertura de numerosos estabelecimentos beneficiadores na
zona urbana. Problemas relacionados com a higiene no preparo do vinho levaram a vigilância
sanitária local a proibir a comercialização do produto in natura em Rio Branco a partir de 2006. Este
fato não teve efeito negativo na comercialização do produto, que tem se mantido elevada em razão
do aumento da demanda local e da popularização do produto em outras regiões do país, para onde
tem sido vendido na forma congelada (Clement et al., 2005)
A existência de um mercado consumidor em franca expansão contribuiu para que o açaí-solteiro se
tornasse objeto de pesquisas visando a sua introdução em sistemas agroflorestais (Lunz e Franke,
1997) e o manejo para a extração dos frutos em populações naturais (Rocha e Viana, 2004; Rocha,
2004). Nesse contexto, a realização da presente pesquisa levou em consideração a efetiva
transformação do açaí em um produto de importância econômica regional, com uma cadeia produtiva
que envolve numerosos atores e elevado volume de recursos financeiros. Outros fatores que
apontam a necessidade da realização de estudos sobre a exploração e comercialização da espécie
são o grande potencial de exportação da polpa congelada para mercados extra-regionais e a
necessidade de se definir parâmetros técnicos para orientar o financiamento da cadeia produtiva,
hoje não disponível.
A pesquisa aqui apresentada objetivou o estudo da cadeia produtiva do açaí na região de Rio Branco,
capital do Estado do Acre, e municípios adjacentes. Durante a sua realização foram abordados os
principais aspectos do sistema de extração de frutos na floresta, transporte e comercialização dos
frutos no mercado urbano e o sistema de beneficiamento dos frutos para a elaboração e
comercialização do vinho e polpa congelada de açaí.
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Trabalho realizado com apoio financeiro do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA
2. METODOLOGIA
Os dados sobre a extração, armazenamento, transporte e comercialização dos frutos foram coletados
em duas áreas florestais pertencentes a extratores de açaí dos municípios de Porto Acre e Plácido de
Castro, distantes 25 e 75 km, respectivamente, da cidade de Rio Branco (10º02’11”S; 67º47’43”W).
As informações foram obtidas mediante a aplicação de formulários e o acompanhamento das
atividades de extração e transporte dos frutos no campo. Os dados sobre o beneficiamento dos frutos
e comercialização do vinho foram coletados junto a 25 estabelecimentos localizados no perímetro
urbano da cidade de Rio Branco. Foram aplicados formulários para a realização de entrevistas semi
estruturadas e o acompanhamento in loco das atividades relacionadas.
3. RESULTADOS E REFLEXÃO
5.4. Existe estoque de palmeiras inexploradas para suportar aumento na exploração de frutos
Embora durante o estudo não tenham sido realizados inventários específicos, a resposta dos atores
envolvidos na cadeia produtiva do açaí em Rio Branco é de que existem milhares de palmeiras a
serem exploradas, e que um aumento na demanda poderá ser suprido sem maiores problemas. O
único aumento de custo previsível é o da extração, que iria envolver excursões a áreas mais
distantes. Nos casos mais extremos, as máquinas de beneficiamento poderiam ser mobilizadas para
as proximidades dessas áreas.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Clement, C.R.; Lleras Pérez, E.; van Leeuwen, J. O potencial das palmeiras tropicais no Brasil:
acertos e fracassos das últimas décadas. Agrociencias 9 (1-2): 67-71. 2005
Ferreira, E. J. L. Açaí solteiro. In Shanley, P & Medina, G. Frutíferas e plantas úteis na vida
amazônica. Belém: CIFOR/Imazon. 2005a. p. 171-175.
Ferreira, E. J. L. Manual das palmeiras do Acre, Brasil. 2005a. Disponível em:
http://www.nybg.org/bsci/acre/www1/manual_palmeiras.html. Acesso em: 13 Abril de 2009.
Ferreira, E. J. L. Diversidade e importância econômica das palmeiras da Amazônia Brasileira. Anais
do 56° Congresso Nacional de Botânica, Curitiba, Paraná, 2005b.
Lunz, A. M. P. e Franke, I. L. Avaliação de um modelo de sistema agroflorestal com pupunha, açaí,
cupuaçu, café e castanha do Brasil, no estado do Acre. Boletim de Pesquisa da Embrapa Acre No.
101: 1-3, out 1997.
Rocha, E. e Viana, V. M. Manejo de Euterpe precatoria Mart. (Açaí) no seringal Caquetá, acre, Brasil.
Scientia Forestales, No. 65: 59-69. 2004.
Rocha, E. Potencial ecológico para o manejo de frutos de açaizeiro (Euterpe precatoria Mart.) em
áreas extrativistas no Acre, Brasil. Acta Amazonica, 34 (2): 237-250. 2004