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Escola Profissional Vasconcellos Lebre - Mealhada

“Uma Abelha na Chuva”


De Carlos de Oliveira.

Disciplina: Português
Módulo 12 – Texto Narrativo
 Neo-realismo
 “Uma Abelha na Chuva” de Carlos de
Oliveira
Professora: Sónia Taira

Trabalho executado por:


Elisabete Sofia Melo Dias, N.º 1017

Mealhada, 12 de Maio de 2010


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Índice
Introdução......................................................................................................................................................3
Perfil biográfico – Carlos de Oliveira..............................................................................................................4
História Literária........................................................................................................................................5
Contextualização da corrente literária do Neo-Realismo.............................................................................6
Análise da obra – Acção.................................................................................................................................7
Personagens...................................................................................................................................................8
Casal da acção principal:...........................................................................................................................8
Álvaro Silvestre:....................................................................................................................................8
Maria dos Prazeres Pessoa de Alva Sancho… Silvestre:.......................................................................8
Casal da acção secundária:........................................................................................................................8
O tempo.........................................................................................................................................................9
Tempo da História:....................................................................................................................................9
Tempo Psicológico:....................................................................................................................................9
O Espaço......................................................................................................................................................10
Espaço Físico – Exterior:..........................................................................................................................10
Espaço Físico – Interior:...........................................................................................................................11
Espaço Social:..........................................................................................................................................12
Espaço Psicológico:..................................................................................................................................12
Título da Obra..............................................................................................................................................13
Símbolos e ideologia:..............................................................................................................................14
Água:...................................................................................................................................................14
Fonte:..................................................................................................................................................14
Chuva:.................................................................................................................................................14
Poço:...................................................................................................................................................14
Abelha:................................................................................................................................................14
Mel:.....................................................................................................................................................14
Estábulo:.............................................................................................................................................14
Importância da água na obra.......................................................................................................................15
Relação de Álvaro Silvestre com a água......................................................................................................16
Citações........................................................................................................................................................17
Conclusão.....................................................................................................................................................18
Web grafia....................................................................................................................................................19

Mealhada, 12 de Maio de 2010


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Introdução

No âmbito do módulo 12 de português, temos de realizar um trabalho, uma


análise da obra “Uma Abelha na Chuva” de Carlos de Oliveira.
Essa obra relata-nos uma história de uma sociedade antiga e gananciosa.
Álvaro Silvestre comerciante e lavrador em Montouro (concelho de Corgos),
casou-se com Maria Dos Prazeres.
Maria Dos Prazeres era filha de um fidalgo, descendente de um coudel-mor, de
um guerreiro das Linhas de Elvas e primo do Bispo missionário de Cochim. Seu pai
negociou o seu casamento com a família Silvestres quando ela completou dezoito anos
devido a miséria e a desgraça em que viviam.
Álvaro Silvestre possuía terras deixadas pelo seu pai, agora com cinquenta anos
decide assumir todos os seus erros perante a sociedade. Álvaro dirige se ao comonarca
(jornal de Corgos), onde faz as suas declarações e pede para que estas saiam na
primeira página em letras bem grandes e visíveis, mas a sua esposa impedi-o de tal
loucura afirmando que ele sofre de distúrbios.
Maria dos Prazeres odeia o seu marido, não sente qualquer amor ou carinho
por ele. Leopoldino irmão de Álvaro, vivia em África esse sim era o grande amor de
Maria.
Maria durante a noite sonhava com Leopoldino e com o seu cocheiro o ruivo.
Numa noite como era habitual Álvaro bebera muito ate cair para o lado. Ofendera sua
esposa e esta pusera-o a dormir no escritório.
Álvaro levanta se de madrugada cheio de dores no corpo e decide ir passear
pelos campos. Ia seguir diante quando ouviu num palheiro o riso de uma mulher, leve e
cauteloso. Parou.
Aproximou se do palheiro, sentou-se na areia e pôs se á escuta. No palheiro
encontrava se o seu cocheiro o ruivo e Clara filha de um comerciante e lavrador. Os
dois jovens faziam planos para o futuro, a rapariga encontrava-se grávida mas seu pai
não permitia tal namoro ou tal gravidez, seu pai queria que ela casasse com um
fidalgo. O ruivo comentava também a maneira como a patroa (Maria dos Prazeres) o
olhava parecia que o queria comer.
Álvaro ao ouvir tudo isto só conseguia pensar numa maneira de se vingar do
cocheiro, então decidira contar tudo o que ouvira ao pai da rapariga.
Dirigiu-se á loja do pai da rapariga e conta-lhe sobre a gravidez da sua filha
com o seu cocheiro. O pai da rapariga sem pensar duas vezes decide matar o cocheiro
e assim o fez. Clara quando se apercebe do crime que o pai cometeu entrega-o á
policia, mas o desgosto da podre rapariga era tanto que ela acabou por se suicidar
atirando-se para dentro do poço.

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Perfil biográfico – Carlos de Oliveira

Carlos de Oliveira nasceu em Belém do Pará, Brasil a 10 de Agosto de 1921, e


morreu em Lisboa, a 1 de Julho de 1981. Licenciou-se em Ciências Históricas -
Filosóficas na Faculdade de Letras de Coimbra, colaborou nas revistas Altitude, Seara
Nova e Vértice, de que foi director. A sua estreia literária deu-se com o livro de
poemas Turismo (1942) e o romance Casa na Duna (1943). A obra poética está
concentrada em Trabalho Poético (1977-1978). Para além dos romances publicados –
Alcateia (1944), Uma abelha na chuva (1953) e Finisterra (1958) – publicou o livro de
crónicas O Aprendiz de Feiticeiro (1971).

     Carlos de Oliveira foi um dos iniciadores do movimento neo-realista. Tal como
Fernando Namora e Manuel da Fonseca, por exemplo, iniciou-se no programa estético
e na prática literária do neo-realismo através da poesia, com inclusão de poemas no
Novo Cancioneiro, colecção poética nascida em Coimbra, em 1941. O discurso poético
preferencial era de feição social e privilegiava temas ligados á estética neo-realista,
como é o caso do tema da terra como espaço de projecção de conflitos. Dentro desta
temática encontramos livros como Terra, de Fernando Namora, Planície, de Manuel da
Fonseca, e Turismo, de Carlos de Oliveira. Com este livro, Carlos de Oliveira põe em
prática os princípios neo-realistas. A evocação de espaços como a Amazónia e
Gândara, que servem de cenário à ficção, conduzem-nos directamente a nessa
preferência pela temática da terra, já utilizada no Novo Cancioneiro. No entanto outras
temáticas vão surgindo e vão dando conta da evolução do escritor, cada vez mais
preocupado com a elaboração formal característica da sua poesia mais recente. Da
importância dos conflitos sociais evidenciados na primeira fase, passa-se a um
processo de analise mais complexo através da inclusão de métodos técnico -
narrativos alheios ao programa neo-realista, de confronto entre níveis temporais
distintos, da subjectividade difundida pela corrente de consciência das personagens da
representação simbólica, tal como a encontramos em Uma Abelha na Chuva.

    

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Pode dizer-se que Carlos de Oliveira tem do neo-realismo uma visão esclarecida
colocada como personagens das suas obras indivíduos condicionados pela história, o
que explica os representantes de todas as classes sociais (e não apenas o povo) que
surge no conjunto da sua obra. Embora o povo esteja sempre presente nos seus
romances, a sua atenção detém-se também, nos pequenos - burgueses, comerciantes,
proprietários, funcionários do estado, industriais. Mas a vida destas personagens não
está apenas dependente dos jogos de forca e de luta face ao poder económico e
político. O romancista confere importância à vida interior das personagens, aos
problemas psicológicos que as destroem, aos conflitos de gerações, a condição
feminina, aspectos da realidade humana que escaparam muitas vezes a explicação
pela luta de classes e pela economia.

     Assim sendo, as personagens de Carlos de Oliveira são indivíduos com vida interior e
problemática próprias, embora se identifiquem com as circunstâncias sociais,
históricas e conhecidas, constituindo-se como personagens - tipo. Embora
evidenciando os destinos individuais, as personagens integram-se num todo familiar
e/ou social, tendo como objectivo a busca de uma burguesia inconsciente e explorada.

História Literária

1921 A 10 de Agosto nasce Carlos de Oliveira


1939 Colaboração na revista Altitude, nº1
1942 Poesia: Turismo
1943 Romance: Casa na Duna (refundido em 1964)
1944 Romance: Alcateia. 2º Edição de Alcateia (não voltou a ser reeditado).
Colaboração na Seara Nova, nº925 e n.º 950. Colaboração na Vértice I, 4-7
e 12-16
1946 Colaboração na Seara Nova, n.º 1000-7 e Vértice III, 40-42. Tradução de
autores franceses.
1947 Colaboração na Vértice III, 44 e na Vértice IV, 52
1948 Poesia: Colheita Perdida

Romance: Pequenos Burgueses. Coloração na Seara Nova, n.º 1083


1949 Poesia: Descida aos infernos, Colaboração na Vértice VIII, 74
1950 Poesia: terra de Harmonia
1952 2º Edição de Pequenos Burgueses.
1953 Romance: Uma abelha na Chuva
1968 Sobre o Lado esquerdo e Micro paisagem
1971 Entre duas memórias
1978 Romance: Finisterra
1981 A 1 de Julho morre, com 59 anos, Carlos de Oliveira

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Contextualização da corrente literária do Neo-Realismo

O neo-realismo pretende descrever a realidade mas também transforma-la; por


isso, faz realçar a luta dos que são veículo dessa transformação; esse realce não se
prende a um indivíduo isolado mas a um grupo e aos valores que defendem:

 O neo-realismo não compreende o homem desligado da vida social, embora


deseje um maior aprofundamento do indivíduo, está interessado em reenquadrar
o homem no seu todo social, pois ele é um produto de um meio, produto esse, das
suas mãos. De igual modo o Eu individual ou singular é ultrapassado pela confissão
de identidade absoluta com a totalidade dos homens;

 O neo-realismo recusa qualquer visão ideológica do homem-trabalhador do campo


ou da cidade, revoltando-se contra a servidão humana e desenvolvendo o conceito
marxista de «A terra é de quem a trabalha».

 Esta noção de o camponês trabalhar numa terra alheira e a consciência do


isolamento em relação aos meios de produção surge nitidamente na obra de
Carlos de Oliveira, uma das figuras dominantes do movimento.

«...eu podia destruir esta civilização capitalista que inventou o domingo.


E esta era uma das coisas mais belas Que um homem podia fazer na vida...»

Estes veros demonstram a coragem do poeta ao proclamar o seu posicionamento


político: a civilização capitalista corrompe e é inimiga do homem.

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Análise da obra – Acção

A acção principal está intimamente ligada à acção secundária, sendo esta


emocional e evidentemente trágica.
A acção principal apresenta as relações impossíveis e altamente conflituosas de
D. Maria dos Prazeres e Álvaro Silvestre; a acção secundária é constituída pelo amor se
Jacinto e Clara, violentamente seccionado. Por esta razão, é na acção secundária
encontramos a intriga da história, com uma série de acontecimentos encadeados de
forma causal e com um desfecho sem retorno, podemos dizer que estamos perante
uma acção fechada.
Quanto á acção principal, é aberta, portanto só retrata retalhos de vida, não
nos dá soluções nenhumas para o futuro nem o presente das personagens.
Neste aspecto, “Uma Abelha na Chuva” integra-se perfeitamente na tradição
geral do romance neo-realista português, reflectindo cenários sociais e históricos que
não apresentam uma acção completa, mas «fatias» de vidas acidentadas.

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Personagens

Casal da acção principal:

Álvaro Silvestre: pelo facto de ser curto revela que não tem linhagem. Álvaro
vem de "alvo" que significa branco, puro, honesto e virtuoso. Silvestre significa que é
próprio da selva, que é selvagem, bravio, agreste e inculto.

Maria dos Prazeres Pessoa de Alva Sancho… Silvestre: o seu nome extenso
representa a sua linhagem, Prazeres só mentais.

O casal Silvestre não se dava nada bem, devido às suas desigualdades sociais e
devido a ser um casamento por conveniência. A família de Maria dos Prazeres ficou
pobre e ela teve de casar com Álvaro um lavrador endinheirado que possui-a algumas
terras. Maria dos Prazeres amava o irmão de Álvaro, Leopoldino, que estava em África
e que regressava em breve. Álvaro bebia para esquecer que sua esposa o desprezava e
que estava agora na falência pois tinha vendido tudo o que tinha de herança. Ele
amava Maria mas ela não queria nada com ele. Sentia desejo pelo cocheiro (ruivo).

Casal da acção secundária:

Clara, filha de mestre António, é uma jovem saudável, bonita, apaixonada por
Jacinto, o cocheiro dos Silvestre, aquele que D. Maria dos Prazeres vê como “uma
moeda de oiro, rebrilhando à luz do sol”.
É num do s encontros entre ambos que ficamos a saber que a jovem Clara está
grávida do namorado, que, no entanto, parece sinceramente apaixonado e quer casar
com ela. Esse casamento também não é fácil realizar-se uma vez que o pai da moça vê
na filha a sua única possibilidade de sair da miséria em que tem vivido, casando-a
(vendendo-a), a um lavrador abastado que a “compre” pela sua beleza.
No Cap. XV, ficamos a saber que o patrão Silvestre ouviu o diálogo entre os dois
namorados e que, subitamente, um raio fere de morte os seus ouvidos: o nome da sua
esposa é pronunciado por Jacinto, com ironia e resquícios de ciúme, refere o olhar
cobiçoso com que a patroa o olha, e Clara começa por ver a “outra” como potencial
inimiga.
Mas o jovem par, desconhecedor da presença do patrão continuou nas suas
promessas de amor, aprontando uma fuga que impeça as ameaças do pai de Clara ao
casamento dos dois, e ao mesmo tempo para revelar a força do amor e optimismo que
move tudo em quem o sente.

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Os dois jovens representam então, a coragem de lutar por aquilo em que


acreditam e a confiança total na sua capacidade de realização.

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O tempo

Tempo da História:

A cronologia da acção concentra-se em cerca de três dias. Este facto, porém,


não deve induzir-nos ao erro, já que, se materialmente o tempo da acção é reduzido,
em dois outros aspectos ele apresenta-se mais dilatado. Em termos históricos, na
medida em que a analepse projecta muitas vezes as acções do passado sobre as do
presente. Em termos psicológicos, porque a focalização interna sujeita os eventos às
vivências das personagens cuja óptica comanda a representação narrativa. Este tempo
revela-se, pois, muito mais extenso devido às inúmeras evocações do passado.

1º Período: entre as cinco horas de uma quinta-feira do mês de Outubro (Cap. I) e a manhã do dia
seguinte (Cap. XVI).
2° Período: duração de 24 horas do dia de sexta-feira (Cap. XVI - XXVI)
3° Período: o dia de sábado até o amanhecer de domingo (Cap. XXVII - XXXV)

A cena dialogada instaura um tempo discursivo isotrópico e surge quando se


apresentam acções ligadas aos momentos de confronto entre as personagens, às
reflexões que originam monólogos, aos serões e à preparação e consumação do
assassínio de Jacinto. A cena dialogada põe a nu, muitas vezes, a incomunicabilidade
entre as personagens.

Tempo Psicológico:

O tempo psicológico diz respeito ao modo como as personagens do romance


vivem o passar do tempo. As analepses traduzem uma vivência interior por parte das
personagens que refugiando-se no passado, fogem a um presente insuportável.

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O Espaço

Espaço Físico – Exterior:

Geograficamente, a acção é localizada com alguma precisão. As localidades


referidas no romance, como Montouro, S. Caetano e Fonterrada localizam-se na região
de Cantanhede, na zona litoral do distrito de Coimbra: “grave assunto o trouxera
decerto, penando por atalhos gandareses, por aquele tempo desabrido.” (Cap. I)
“Nos pinhais cerrados, a névoa era mais branca do que a luz difícil. Pelos
barrancos.” (…) “Arrastou-se penosamente, gatinhando na areia. Ao fundo da ravina
ergueu-se. A névoa de Outono desprendia-se dos pinheiros, aquosa e fina,
desvendando (não muito) a paisagem nascente: a extensa massa de árvores e a aldeia
(uma geometria confusa de estábulos e casas).” (Cap. XV): trata-se de uma paisagem
árida e agreste que se coaduna com a relação conflituosa e agressiva dos protagonistas
da acção principal: Álvaro Silvestre e D. Maria dos Prazeres.
O vento e também a chuva, com todo o seu significado simbólico, acentuam o
dramatismo da obra, surgindo nos momentos de maior tensão e tornando a atmosfera
ainda mais sufocante.

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Espaço Físico – Interior:

O espaço interior é o quarto do casal Álvaro Silvestre / D. Maria dos Prazeres e


o palheiro onde se passam os amores de Jacinto e Clara: “O quarto era espaçoso,
carregava-o de móveis para lhe dar algum conforto, mas a mobília de castanho, o
lustre maciço de madeira, a mesa de pau-santo em frente da janela, as ramagens
densas do papel que forrava as paredes de alto a baixo, não tinha alcançado a
intimidade que sonhara. Tencionava agora mobilá-lo de coisas simples, claras.
Começara pelo tapete novo de cor de cinza.” (Cap. XIV)
O quarto de Álvaro/D. Maria caracteriza-se pelo desconforto, o frio e, apesar de
todos os móveis que o enchem, a ausência da «intimidade». “ Envolvia-os o calor do
gado: a vaca, o jumento, duas ou três galinhas. Afundados na palha, cingidos um ao
outro, mal sentiam o frio da madrugada que entrava pelas fendas do soalho. Da meia
obscuridade vinha o respirar sereno dos animais. A vaca tinha-se aquietado e não
tornara a mugir. (...) O ar pesava. Adensara-o a respiração nocturna, deles e dos
bichos. Na meia-luz fermentava um cheiro a estrume e madrugada. “ (Cap. XVI): - o
palheiro, apesar de ser um espaço destinado aos animais, é um lugar aconchegante,
cheio de calor, de sons e de cheiros. O frio do quarto em casa dos Silvestres representa
a falta de comunicação, a frustração amorosa, os conflitos que o casal vive; a descrição
sensorial do palheiro representa a comunicação, o amor, a fecundidade, a harmonia
que caracterizava a relação entre Clara e Jacinto.

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Espaço Social:

Influenciado pelo movimento neo-realista, Carlos de Oliveira coloca a questão


social na base dos conflitos.
Tanto o fracasso do casamento de Álvaro e D. Maria, como a impossibilidade do
casamento de Clara e Jacinto se justificam por razões de ordem social.
No primeiro caso, a aristocracia arruinada vê-se obrigada a aliar-se à burguesia
com dinheiro, e o pai de D. Maria não pode fugir a essa fatalidade: “(...) as casas de
fidalgos na penúria amparavam-se a lavradores boçais e ricos, a sólidos comerciantes,
retemperavam o brasão no suor da boa burguesia; (...)“ (Cap. IV)
No segundo caso, o que impediu que Clara e Jacinto se casassem foi o desejo
de ascensão social do pai da rapariga, o moleiro António: “Casar a filha com um
lavrador. Desde o nascimento de Clara que embalava o sonho de sair da pobreza pela
mão da rapariga: a pobreza, que é a maior cegueira. “ (Cap. XX)
O povo também está representado no romance: “Camponeses ásperos como o
areeiro que faziam desabrochar em milho e vinho, crianças sujas, pobres de pedir,
mulheres envelhecidas. “ (Cap. XXX) É esta a multidão que D. Maria expulsa da porta
de sua casa.

Espaço Psicológico:

O espaço psicológico manifesta-se através do monólogo interior de algumas


personagens, revelando-se, assim, os conflitos vividos pelos protagonistas na sua
consciência. Na representação do espaço psicológico das personagens o monólogo
interior assume uma importância muito grande. No entanto, há outras ocasiões em
que a corrente de consciência é representada sem o recurso a esse modo de
expressão.

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Título da Obra

Existem títulos que instituem e criam a dúvida, deixando-nos na dúvida do seu


misterioso significado, não nos fornecendo qualquer pista de orientação.
O título “Uma Abelha na Chuva”, não nos fornece qualquer pista para o rumo
que a história poderá ter.
Podemos considerar que a sociedade é o enxame de abelhas e que o casal de
namorados é a abelha apanhada pela chuva. Mas só no final nos apercebemos disso.

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Símbolos e ideologia:

Água: Esta relembra o sentido da agressividade e opressão. Agressividade, porque


com a sua presença gera o desconforto das personagens e acentua os seus conflitos.

Fonte: Quando a água brota e corre da terra simboliza a lembrança de memórias do


passado: quando Álvaro Silvestre recorda a sua infância como refugio; um tempo de bem-estar
por oposição ao desconforto do presente. Para Maria dos Prazeres a fonte é também a
imagem do passado, mas depois torna-se num rio.

Chuva: É o sinónimo de agressividade no ambiente social e está presente nos conflitos


pessoais e nos momentos mais importantes da acção. Nos momentos de grande desconforto,
de grande tensão, a chuva está perceptível, aumenta a sua densidade consoante e conflito
está acentuado.

Poço: Do poço se recolhe a água, sendo por isso um espaço de origem da vida. No
entanto, Clara atira-se ao poço, acabando por provocar-lhe a morte, como se fosse castigada
pela ousadia de projectar uma outra vida sem o apoio do pai.

Abelha: Portanto o símbolo da abelha serve, numa primeira utilização, para vincar,
pela negativa, o que, de degradado e imperfeito existe num determinado nível social. Clara
que juntamente com Jacinto forma um casal equilibrado onde reina a harmonia, tal como na
colmeia. O Jacinto tem nome de flor da qual Clara se alimenta para produzir mel, o filho. O
zangão é o Jacinto que após a cópula com a abelha morre. No último capítulo, a referência é a
de que a abelha foi apanhada por uma chuva forte, da qual não consegue sair ou abrigar-se
pelo que tentou debater-se, mas acabou por morrer. Tudo estava contra ela, pelo que não se
conseguiu defender, era uma luta injusta. Dr. Neto também tem todas as qualidades da
abelha, para além de ser ele próprio apicultor.

Mel: Relembra a ideia de perfeição e de doçura e também o da transformação. Ao


nível de Álvaro e D. Maria, dos Prazeres "todos eles fabricam azedume", é junto do par
Jacinto/Clara que o mel é capaz de ser encontrado: tanto a gravidez de Clara como os
projectos de ambos e até o envolvimento espacial em que estes últimos são considerados (c.
XVI) apontam para um futuro de optimismo (ou seja, de doçura idêntica à do mel) que o
decorrer do tempo social e histórico proporcionará.

Estábulo: A comunicação, o amor, a fecundidade, a harmonia que caracterizava a


relação entre Clara e Jacinto.

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Importância da água na obra

É de realçar, que embora o título da obra seja “Uma Abelha na chuva “, as


abelhas sejam pouco mencionadas. A presença da água no romance, é como que uma
personagem, confidente e/ou ameaçadora. Exemplo de confidente, é quando Álvaro
Silvestre se encontra nas suas digressões, cheias de remorso ou vingança, e a chuva no
exterior, favorece o estado psicológico da personagem. Exemplo de ameaça, é quando
Jacinto, debaixo de uma verdadeira tempestade, é assassinado por causa do seu
envolvimento com Clara, e o seu corpo é jogado ao mar, numa tentativa do crime ser
ocultado.
Como se pode ver, a água é parte integrante do romance, acompanhando o
desenrolar da acção das principais personagens, sendo por isso que o autor, ao atribuir
muita importância a esse elemento, inseriu-o no título.

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Relação de Álvaro Silvestre com a água

Álvaro Silvestre tem uma relação simbólica com a chuva (água). Interioriza-a,
como se nela quisesse auto dissolver-se. Sente por ela uma atracção íntima, um
hidrotropismo. Mas para Álvaro Silvestre, o símbolo da água não sublinha mais que a
situação psicológica: estas mantêm-se no impasse, igual a si mesma, numa espécie de
estagnação total, embora transformando os outros em inocentes íntimos, em «abelhas
na chuva».
Não é contudo, sob a forma de tempestade, que o símbolo melhor se adapta à
fragilidade psíquica de Álvaro Silvestre, personagem viscosa, em decomposição, em
ruína; mas antes sob a forma de «morrinha» (pág. 31), de «orvalho» (pág. 67 e 86), de
«moinha» (Ibid.), de «poeira húmida» (pág. 68), de «névoa, aquosa e fina» (pág. 89).
Combinada com a terra, aparece metonimicamente grudada à personagem de Álvaro
Silvestre, como ao barro do oleiro, ou como à terra seca, para formar lama. E não é por
acaso, que o marido de D. Maria dos Prazeres surge do início ao termo da narrativa,
física e moralmente enlameado: “ As tuas botas, homem!
– Repreende-o a mulher, que lhe resume a viagem a Corgos, em termos de «duas
léguas de lama, a corta-mato, na iminência do temporal» ” (pp.16 e 17)
Enfim, um atoleiro, um «lamaçal» (pág. 30), em que se enterram cada vez mais as
botas e a vida da personagem: “... Botas enlameadas... “ (pp. 15 e 16), “... Chapadas de
água enlameada... “ (pág. 20), “... Campos molhados... “ (pág. 85), “... Coberto de
lama... “ (pág. 101).

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Citações

“ Ameaçava chover. O vento ia descoalhando as nuvens e abria caminho à grossa


chuvada que a tarde esperava.” (Cap. I)
“ Antes da chuvada estalar no pavimento, entrou pela vila a toda a brida uma
charrete...“ (Cap. III)
“... A chuva caía, caía com certeza, no passado e agora.” (Cap. IV)
“... O orvalho da noite poisava-lhe na nuca...“ (Cap. XII)
“ A boca seca, amarga. Levantar-se e abrir a janela. Uma golada de água, a pureza fria
de madrugada…” (Cap. XV)
“ Escorria da bica uma água murmura, coada pelo berço do areal. Bebiam todos dela,
chapinhavam num daqueles regatos breves que as chuvadas de inverno faziam
transbordar do tanque carcomida. “ (Cap. XVII)
“ No silêncio deserto, a voz obsidiante persistia: quando quiseres matar a sede, lavar o
sarro desta noite, das conversas tidas, das palavras ouvidas, a água secará de vez. “
(Cap. XVII)
“ Ali iam agora, com a chuva a fustigá-los. “ (Cap. XXII)
“ Pela tempestade dentro. “ (Cap. XXII)
“ Um sono agitado, com laivos de pesadelo; sufocava na água densa, irrespirável... “
(Cap. XXVIII)
“ O céu toldara-se de novo, caía uma chuva leve, farinhenta, mas no pátio a multidão
continuava firme.” (Cap. XXX)
“ De regresso a casa, ao entrar no quintal, começou a chover. (...) A chuva luminosa
parecia deslizar numa superfície de cinza. “ (Cap. XXXV)
“ A abelha foi apanhada pela chuva... “ (Cap. XXXV)

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Conclusão

Desta obra, podemos tirar uma conclusão, que embora o homem tenha os seus
defeitos ou todos os seus quês, temos ao viver em sociedade, e aprender a conviver
com todos os outros seres, tendo eles ou não os mesmos ideais, classes ou raças, e
acima de tudo, temos que nos compreender a nós próprios, enfrentar os nossos
problemas pessoais, para assim melhorarmos a vivência e a convivência neste
“enxame” global.

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Web grafia

 http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/u/uma_abel
ha_na_chuva
 http://www.pgletras.uerj.br/palimpsesto/num6/estudos/AndrezzaNora-Entre%20o
%20mel%20e%20o%20fel.pdf
 http://portuguesnanet.com.sapo.pt/abelha.htm
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Mealhada, 12 de Maio de 2010

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