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IMPACTO DO AQUECIMENTO GLOBAL EM SISTEMAS DE

CONDICIONAMENTO DE AR

JOSÉ RUI CAMARGO


MARCOS PAULO DE FARIA
Departamento de Engenharia Mecânica
Universidade de Taubaté

RESUMO

O aquecimento global refere-se a um aumento da temperatura superficial de todo o globo terrestre, incluindo a terra
e a água, que vem ocorrendo nas últimas décadas. Este aumento de temperatura deve-se, principalmente, à emissão
de CO2 e também de outros gases. Seus principais efeitos são: aumento na nebulosidade, no índice pluviométrico,
na condensação de núcleos de partículas contaminantes e na temperatura. O aumento na temperatura influi de forma
definitiva na sensação de conforto térmico humano e isto provocará, certamente, um aumento na potência frigorifica
instalada para condicionamento de ar para conforto. Neste trabalho apresenta-se, inicialmente, uma avaliação de
dois índices utilizados para avaliar o conforto térmico humano em ambientes condicionados, quais sejam, a
temperatura efetiva e o índice de tensão fisiológica relativa. A seguir são feitas simulações bioclimáticas produzidas
pela mudança de clima devido ao aquecimento global para cenários futuros, para seis cidades brasileiras. As
simulações utilizam condições climáticas projetadas baseadas em modelos matemáticos já existentes e avaliam o
impacto do aquecimento global na sensação de conforto térmico e no consumo energético de sistemas de
condicionamento de ar.

Palavras–Chave: Aquecimento Global, Condicionamento de Ar, Conforto Térmico.

matemáticos já existentes. O objetivo principal é


INTRODUÇÃO
analisar o impacto do aquecimento global na
Neste trabalho apresenta-se, inicialmente,
sensação de conforto térmico e no consumo
dois parâmetros utilizados para avaliar o conforto
energético de sistemas de condicionamento de ar.
térmico humano em ambientes condicionados. A
A maior parte dos gases existentes, além
seguir são feitas simulações bioclimáticas com o
de deixar passar a luz que vem do sol, é também
objetivo de avaliar as alterações produzidas pela
transparente às radiações emitidas pela superfície
mudança do clima devido ao aquecimento global
da Terra e pela própria atmosfera. No entanto
para cenários futuros. As simulações são feitas
alguns gases, entre os quais destaca-se o gás
para seis cidades brasileiras escolhidas
carbônico, o metano, o oxido nitroso e o vapor
aleatoriamente, e se baseiam em modelos

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d’água, também são transparentes à radiação MDL” que criou uma flexibilização para
proveniente do sol, também conhecida como compensação das emissões. Pelo MDL os países
radiação infravermelha. Estes gases, que industrializados poderão financiar, nos países em
absorvem a radiação infravermelha, são desenvolvimento, projetos que levem a uma
conhecidos como gases de efeito estufa e são os redução da emissão dos gases de efeito estufa e
responsáveis pelo aquecimento global (Fig.1). descontar, de seu balanço próprio de emissões,
O efeito do aquecimento global vem essa redução obtida em outro país. As discussões
sendo percebido desde o final da década de 70 para a implementação deste mecanismo tiveram
com o aumento das emissões dos gases de estufa, continuidade durante a reunião do IPCC – Painel
produzidos principalmente pela queima de Intergovernamental sobre Mudança Climática –
combustíveis fósseis (CO2, NO2, NH4, entre que aconteceu em Haia, na Holanda, em
outros em menor quantidade), dando início aos novembro de 2000. O IPCC, vinculado ao
primeiros problemas de aquecimento global do Programa das Nações Unidas para o Meio
(1)
planeta . Ambiente, divulgou um documento com novos
Uma convenção destinada a discutir os dados, apresentando um balanço do clima global.
problemas provocados pelo aquecimento global Uma das descobertas mais preocupantes foi que o
foi realizada, em 1997, em Kyoto, no Japão e, a limite superior do aquecimento global nos
partir das discussões, foi emitido um documento próximos 100 anos pode ser bem maior do que o
conhecido como “Protocolo de Kyoto” – um estimado preliminarmente, em 1995, pelo próprio
complemento da Convenção sobre Mudanças IPCC. Naquele cenário concluiu-se que, no pior
Climáticas, assinada no Rio de Janeiro, em 1992 caso, as temperaturas médias se elevariam 3 oC.
- onde ficou estabelecida uma redução de 5% do Neste novo balanço a temperatura média global
CO2 emitido entre 2008 e 2012, tendo 1990 como pode ficar 6 oC acima da média de 1990.
ano base. O tratado foi assinado por mais de 150
países, mas nenhuma nação desenvolvida o RADIAÇÃO SOLAR

ratificou até agora. Nessa mesma convenção


H2O,CO2,CH4 E N2O
também ficou claro que os Estados Unidos e a
Europa não conseguiriam cumprir o estabelecido
TERRA
e foi criado um mecanismo, denominado
Figura 1: Representação esquemática do efeito
"Mecanismo de Desenvolvimento Limpo –
do aquecimento global

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A mudança climática, como conseqüência Temperatura Efetiva é definido como a


das emissões de CO2 , há muito tempo é encarada temperatura de ar saturado que dá a mesma
como uma das preocupações do ser humano. sensação térmica com as condições ambientes.
Estima-se que todo o setor industrial do planeta Este índice tenta integrar os efeitos térmicos e de
emita 7 bilhões de toneladas de CO2 por ano na umidade do meio ambiente e tem sido usado para
atmosfera(2) . Como o metabolismo das florestas avaliar o conforto térmico em bioclimas
e dos oceanos é capaz de absorver apenas 3,7 equatoriais e tropicais.
(3) (4)
bilhões desse total o restante, ou seja, 3,3 bilhões Hentschel e Taesler concluíram que
de toneladas por ano, permanece na atmosfera, a temperatura efetiva, por causa de sua
agravando o efeito estufa. Como o tempo de simplicidade de aplicação para amplas faixas de
residência desses gases na atmosfera varia de 50 bioclimas, é o melhor índice disponível para
a 200 anos, se levado em conta apenas o período avaliar as condições bioclimaticas humanas.
de 1860 a 1999, tem-se como conseqüência um Neste trabalho utilizou-se esse índice, em
o
aumento de 0,7 C na temperatura da atmosfera e associação com o Índice de Tensão Fisiológica
0,31 oC na temperatura dos oceanos. Relativa (RSI).
(5)
Uma forma de amenizar os problemas O trabalho de McGregor simula a
causados pelo aquecimento global é a variação de bioclimas no futuro, com o aumento
conscientização da população do planeta para de 2°C na temperatura efetiva e 7% e 14% na
diminuir a emissão de poluentes na atmosfera e, umidade relativa. Foram avaliados os bioclimas
para isso, vem sendo realizados estudos em do Pacifico Sul e foram usados os conceitos de
diversas regiões do mundo analisando o impacto temperatura efetiva e umidade relativa para
do aquecimento global em bioclimas e recintos avaliar as mudanças prováveis no conforto
acondicionados e suas influências no conforto humano, como conseqüência do aquecimento
térmico humano. global. O autor verifica que o aquecimento global
Para avaliar o impacto fisiológico do resultará em mudanças nas freqüências, duração
aquecimento global pode-se utilizar inúmeros e intensidade das condições fisioclimáticas e
índices biometeorológicos. Entre esses índices conclui que, para as Ilhas do Pacifico Sul, em
biometereologicos empíricos, talvez a mais termos de conforto térmico humano e
freqüente relação aplicada é a Temperatura principalmente bioclimaticamente, o impacto
Efetiva de Houghten e Yaglou. O fator da negativo das alterações bioclimáticas resultantes

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do aquecimento global será sentido mais O resultado dos testes foi a elaboração da
drasticamente. Carta de Conforto ASHRAE (Fig. 2). Apesar de
ter sido feita em Pittsburgh, com trabalhadores
INDICES BIOCLIMÁTICOS
homens usando roupas para residência ou
Temperatura Efetiva
escritório, ela resultou no mais conhecido índice
Uma vez que a temperatura, a umidade e para condições internas desejáveis, e é utilizada
a movimentação do ar interagem de forma por toda a indústria de condicionamento de ar.
independente, é necessário considerá-las juntas Devido à sua simplicidade de aplicação, é o
pois todos esses fatores contribuem para melhor índice disponível para avaliar as
determinar a sensação de frio ou calor sentida condições bioclimáticas humanas.
pela corpo humano. A Temperatura Efetiva é Na parte superior das linhas de
uma composição desses fatores. Ela busca avaliar velocidades (linhas internas, entre as escalas de
a temperatura na qual “a maioria das pessoas se temperatura de bulbo seco e temperatura de
sente bem”, levando em conta o tempo de bulbo úmido) é mostrada uma zona de conforto e
exposição e os efeitos da umidade e da a pequena escala a direita dessa zona representa o
movimentação do ar e resultou de testes percentual de pessoas que se sentem confortáveis
realizados por Yaglou, em 1923, na cidade de naquela respectiva temperatura efetiva.
Pittsburgh, EUA. Para esses testes foram O limite da região de conforto, a partir do
utilizadas duas salas interligadas. Na primeira qual 100% das pessoas se sentem
não havia movimentação do ar e a umidade desconfortáveis, é 26,1 C. o

relativa era de 100%. Yaglou determinou a 40

combinação de temperaturas, umidades e 35


35
0%
10

velocidades do ar estabelecidas na segunda sala


80
60
40
20

30

que proporcionavam a mesma sensação de


TEMPERATURA DE BULBO SECO (ºC).

30
OR E
TO
NF A D

TEMPERATURA DE BULBO ÚMIDO (ºC).


CO ON
Z

conforto térmico que a primeira sala, de acordo 25


IVA
E F 25
ET
A
UR

com a avaliação de várias pessoas que passavam


AT
ER

20
3,5
MP
TE 0
2

2,5
1,5

rapidamente através delas. À temperatura 1, 0


0,5
15
0,1
15

correspondente na primeira sala denomina-se


10

“temperatura efetiva”.
Figura 2 - Carta de conforto ASHRAE

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A temperatura efetiva é sempre menor do ar e a pressão de vapor, sendo expresso pela


que a lida no termômetro de bulbo seco; sendo seguinte equação:
iguais somente para a umidade relativa de 100%
10,7 + 0,74 (Ta − 35 )
(ar saturado). As preferências de conforto variam RSI = (1)
(
44 − PH 2O )
com o sexo, a idade, a localização geográfica e a
duração da exposição. Assim, as mulheres onde Ta é a temperatura de bulbo seco (oC) e
preferem temperaturas aproximadamente 0,6 oC PH2O é a pressão de vapor (mmHg). A Tab. I
mais quentes que os homens. Pessoas expostas mostra a classificação atribuída pelo RSI (7).
continuamente a um ambiente condicionado
preferem uma temperatura 0,6 oC mais fria que Tabela I - Classificação pelo Índice de

aquelas expostas por 30 minutos ou menos. Tensão Fisiológica Relativa (RSI)

Habitantes de áreas desérticas, tropicais e sub- RSI Percentual de pessoas


tropicais preferem temperaturas relativamente 0,10 100% desestressadas
quentes e moradores de áreas montanhosas 0,20 75% desestressadas
preferem temperaturas mais frias (6). 0,30 0% estressadas
0,40 75% estressadas
Índice de Tensão Fisiológica Relativa (RSI)
0,50 100% estressadas
Com o objetivo de levar em conta os
Este índice foi convencionado para uma
efeitos da vestimenta e da radiação térmica
temperatura média da pele igual a 35 oC e um
desenvolveu-se o RSI – Relative Strain Index ou
limite superior de evaporação de suor máxima
Índice de Tensão Fisiológica Relativa. Este
possível equivalente a 390 W/m2.
índice leva em conta o estado de conforto térmico
Assim, o Índice de Tensão Fisiológica
de um indivíduo padrão em atividade sedentária,
Relativa é uma expressão da razão da evaporação
vestido com roupa normal de trabalho (saudável,
de suor necessário ao conforto para uma
25 anos de idade e não aclimatado ao calor). Para
evaporação possível devido as condições do
as condições especificadas (produção interna de
ambiente. Esse índice tenta relacionar a tensão
calor de 100 W/m2; movimento do ar de 1 m/s;
térmica para um indivíduo empenhado em uma
sem radiação solar direta) este índice engloba
atividade física moderada equivalente a 3 vezes o
simultaneamente a temperatura de bulbo seco do
(5)
fator de metabolismo durante o descanso . Ele

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analisa a contribuição relativa dos vários fatores para o cálculo da Temperatura Efetiva e do
ambientais ao “stress” térmico de indivíduos Índice de Tensão Fisiológica Relativa. Foram
sedentários sobre diversas condições de tomados valores para um dia mensal típico, para
vestimenta (4). o mês mais quente do ano, nível de 1%.

Para indivíduos com problemas Para a Temperatura Efetiva utilizou-se a

cardiovasculares, a situação de desconforto tem equação de Missenard. Como simulação de

sido considerada para os valores de RSI na faixa de bioclimas futuros um valor de +2 °C foi

0,18 a 0,25. Com valores de RSI acima de 0,3 adicionado para a temperatura de bulbo seco

todas as pessoas experimentam algum desconforto atual (TE2) e foram feitos acréscimos de 7%

individual. (TE07) e 14% (TE14) na umidade relativa,


seguindo metodologia utilizada por McGregor (5).
METODOLOGIA
A equação da Temperatura Efetiva de
Neste trabalho analisa-se tanto o impacto Missenard é expressa como:
fisiológico quanto o impacto energético e ET = Ta - 0,4 (Ta-10) (1 - rh / 100) (2)
econômico do aquecimento global. Para isso foi onde Ta é a temperatura de bulbo seco (oC) e rh a
utilizada a seguinte metodologia: umidade relativa (%). Valores da Temperatura

a) Para a análise do impacto fisiológico Efetiva nos níveis atuais são representados por

foram utilizados dois índices que buscam medir e ET e quando sujeitos a um acréscimo de 2oC são

traduzir o nível de desconforto térmico humano, representados por ET2.

quais sejam: a Temperatura Efetiva (TE) e o Índice Para a avaliação do bioclima futuro

de Tensão Fisiológica Relativa (RSI). utilizando o Índice de Tensão Fisiológica

b) Para a análise do impacto energético e Relativa (RSI) foram utilizados valores de

econômico foram simulados processos temperatura atuais acrescidas de +2 °C (RSI2) e


psicrométricos com condições de temperatura e também uma mudança de pressão de vapor de
umidade relativa projetadas para condições 7% e 14%.
futuras. O Índice de Tensão Fisiológica Relativa
Deste modo, para a análise dos bioclimas com um aumento de temperatura de 2 oC e 7% e
futuros, valores de temperatura e umidade, de 14% de aumento na pressão de vapor se
provenientes de Goulart et al (8)
foram utilizados referem aos Índices de Tensão Fisiológica

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Relativa RSI207 e RSI214, respectivamente. O temperatura de condensação e o aumento da


RSI foi calculado pela equação (1). carga térmica.
Para a análise energética e econômica, no
Apresenta-se, também, a Estatística Anual
caso da carga térmica, utilizou-se o seguinte
de Vendas de Aparelhos Condicionadores de Ar
procedimento. Como condições iniciais internas e
tipos self-contained e chiller. Baseado no
externas foram tomados valores de acordo com a
aumento da carga térmica devido ao aumento da
NBR-6401. Para a determinação das entalpias
temperatura externa procura-se fazer uma
considerou-se 4 cenários:
projeção de vendas futuras.
a) NORMAL: considera a temperatura como na
condição externa atual, RESULTADOS
b) T+2C: considera um aumento de 2 oC na Nesta seção apresenta-se o resultado das
temperatura de bulbo seco externa; mantendo análises do impacto fisiológico e energético
constante a umidade absoluta, devido ao aquecimento global.
o
c) T+2C7%: considera um aumento de 2 C na
Análise do impacto fisiológico
temperatura de bulbo seco externa e um
Escolheu-se, aleatoriamente, 06 (seis)
acréscimo de 7% na umidade relativa,
cidades brasileiras para a análise do impacto do
d) T+2C14%: considera um aumento de 2 oC na
aquecimento global e aplicou-se a metodologia
temperatura de bulbo seco externa e um
descrita anteriormente. As cidades escolhidas
acréscimo de 14% na umidade relativa.
foram: Belém, Brasília, Porto Alegre, Recife, São
A seguir fez-se uma análise da influência
Luiz e São Paulo. Para um país de dimensões
da elevação da temperatura de condensação em
continentais como o Brasil, as diferenças entre as
virtude do aumento de 2 oC na temperatura de
estações não são muito pronunciadas e os meses
bulbo seco externa para um sistema frigorífico
de dezembro a março, definidos como verão, não
por compressão de vapor utilizando R-12
correspondem necessariamente ao período mais
(diclorodifluorometano). Considera-se,
quente do ano e, assim, foi feito um estudo
inicialmente, apenas a elevação da temperatura
climático para cada caso particular. Quando
de condensação, sem o efeito do aumento da
analisa-se as variações sazonais da temperatura
carga térmica. Em seguida, procura-se aglutinar
pode-se notar que essas variações aumentam com
os dois efeitos, quais sejam, o aumento da
a latitude. As condições para Belém e São Luiz

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são típicas da zona equatorial (pequena amplitude limite na Temperatura Efetiva, acima do qual
térmica). Neste caso, o conforto humano é 100% das pessoas se sentem desconfortáveis é
o (10)
determinado mais pela umidade que pela 26,1 C .O valor no Índice de Tensão
temperatura. Com o aumento da latitude existem Fisiológica Relativa para o qual todas as pessoas
(7)
variações anuais mais amplas de temperatura. Na se sentem confortáveis é de 0,3 . Acima e
região Sul (Porto Alegre) pode-se notar a abaixo, a partir desse valor tem início o
transição para o clima temperado, com uma desconforto para algumas pessoas, sendo o valor
amplitude térmica anual mais significativa. Uma de RSI 0,5 o limite acima do qual todos se
outra característica de climas equatoriais- sentem desconfortáveis. Esses valores de TE
tropicais é a maior variação diurna de maior que 24 oC e RSI maior que 0,3 indicam os
temperatura comparada com a variação anual, ou períodos do dia em que algum tipo de
seja, as variações diurnas podem igualar ou condicionamento de ar deve ser utilizado para
superar as variações anuais (5). propiciar conforto térmico
Para a análise do desconforto térmico a As Figs. 3 a 10 mostram os resultados da
partir da Temperatura Efetiva considerou-se o aplicação desses índices biometeorológicos para
valor de 24 oC como a TE na qual todos se as seis cidades brasileiras escolhidas.
sentem confortáveis e, acima desse valor tem
início o desconforto para alguns indivíduos. O

ÍNDICE DE TENSÃO FISIOLÓGICA RELATIVA


0,50
0,45
0,40
0,35
0,30
0,25
RSI

0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
-0,05 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
-0,10

HORAS DO DIA
PORTO ALEGRE RECIFE SÃO LUIZ
BRASILIA SÃO PAULO BELEM

Figura 3 - Índices de Tensão Fisiológica Relativa com temperaturas normais

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35 TEMPERATURA EFETIVA

30
TEMPERATURA ºC

25

20

15

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

HORAS DO DIA
PORTO ALEGRE RECIFE SÃO LUIZ
BRASILIA SÃO PAULO BELEM

Figura 4 - Temperatura Efetiva normal.

ÍNDICE DE TENSÃO FISIOLÓGICA RELATIVA


0,50
0,45
0,40
0,35
0,30
0,25
RSI

0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
-0,05 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
-0,10

HORAS DO DIA
PORTO ALEGRE RECIFE SÃO LUIZ
BRASILIA SÃO PAULO BELEM

Figura 5 - Índice de tensão fisiológica relativa com temperatura com acréscimo de 2 ºC

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TEMPERATURA EFETIVA
35

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TEMPERATURA ºC

25

20

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0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

HORAS DO DIA
PORTO ALEGRE RECIFE SÃO LUIZ
BRASILIA SÃO PAULO BELEM

Figura 6 - Temperatura efetiva com o acréscimo em 2ºC

ÍNDICE DE TENSÃO FISIOLÓGICA RELATIVA

0,60

0,50

0,40

0,30
RSI

0,20

0,10

0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
-0,10

HORAS DO DIA
PORTO ALEGRE RECIFE SÃO LUIZ
BRASILIA SÃO PAULO BELEM

Figura 7 - Índice de tensão fisiológica relativa com acréscimo de 2º C e 7% na umidade relativa

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TEMPERATURA EFETIVA
35

30
TEMPERATURA ºC

25

20

15

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

HORAS DO DIA
PORTO ALEGRE RECIFE SÃO LUIZ
BRASILIA SÃO PAULO BELEM

Figura 8 -Temperatura efetiva com 2º C e 7% de umidade relativa

ÍNDICE DE TENSÃO FISIOLÓGICA RELATIVA


0,60

0,50

0,40

0,30
RSI

0,20

0,10

0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
-0,10

HORAS DO DIA
PORTO ALEGRE RECIFE SÃO LUIZ
BRASILIA SÃO PAULO BELEM

Figura 9 - Índice de tensão fisiológica relativa com 2º C e 14 % de umidade relativa

Rev. Ciênc. Exatas, Taubaté, v. 5-8, p. 107-127, 1999-2002


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TEMPERATURA EFETIVA
35

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TEMPERATURA ºC

25

20

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0
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HORAS DO DIA
PORTO ALEGRE RECIFE SÃO LUIZ
BRASILIA SÃO PAULO BELEM

Figura 10 -Temperatura efetiva com 2º C e 14% de umidade relativa

Análise da variação da carga térmica

A Fig. 11 mostra, esquematicamente, o


diagrama psicrométrico com as condições do ar
externo e do ar interno.
EXT
A quantidade de calor, por unidade de
massa qAR, a ser retirada do ar é dada por:
INT

q AR = ( hINT − hEXT ) (3)


Fig. 11 - Diagrama Psicrométrico/Condições do ar
onde hINT é a entalpia específica do ar interno e
externo e interno
hEXT é a entalpia específica do ar externo.

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A ABNT – Associação Brasileira de d) T+2C14%: considera um aumento de 2 oC na


Normas Técnicas – apresenta, na NBR-6401(9) temperatura de bulbo seco externa e um
(Instalações Centrais de Ar Condicionado para acréscimo de 14% na umidade relativa, ou
Conforto – Parâmetros Básicos de Projeto), em seja, um acréscimo de calor sensível e de
sua Tabela 1 (Condições internas para o verão), a calor latente.
temperatura de bulbo seco e a umidade relativa a A Tab. II apresenta a quantidade de calor
serem utilizadas para projeto. Para instalações a ser retirado do ar externo para atingir a
com a finalidade de conforto em residências, condição interna de acordo com NBR-6401, qAR
hotéis, escritórios e escolas esses valores são, conforme Eq. (3), e a variação percentual q%
respectivamente, 23oC a 25oC e 40% a 60%. nesta carga térmica para os três cenários futuros:
Adota-se, neste trabalho, como condições T+2C; T+2C7% e T+2C14%.
internas uma temperatura de bulbo seco de 24oC A elevação da temperatura e da umidade
e umidade relativa de 50% (valores médios). Para relativa do ar externo devido ao aquecimento
essa condição, a entalpia específica e a umidade global acarreta, além do aumento na potência
absoluta do ar são, respectivamente, h = 47,838 frigorífica e, conseqüentemente, um aumento na
kJ/kg de ar seco e w = 0,009318 kg de H2O/kg de potência do compressor para os sistemas que
ar seco. operam através de compressão de vapor, dois
Foram utilizados valores da entalpia novos e indesejáveis efeitos:
específica do ar externo considerando quatro - Aumento do calor a ser retirado no
cenários: condensador, ou seja, necessita-se de maior
a) NORMAL: condição externa normal; vazão para o fluido resfriador do condensador ou
b) T+2C: considera um aumento de 2 oC na maior área de troca de calor e,
temperatura de bulbo seco externa; mantendo - Elevação da temperatura de
constante a umidade absoluta, ou seja, apenas condensação, o que leva a um aumento adicional
aquecimento sensível; na potência do compressor.
c) T+2C7%: considera um aumento de 2 oC na Para analisar a influência do aumento da
temperatura de bulbo seco externa e um temperatura de condensação na potência do
acréscimo de 7% na umidade relativa, ou compressor e no calor a ser retirado no
seja, um acréscimo de calor sensível e de condensador adota-se um ciclo operando com R-
calor latente; 22 sujeito às seguintes condições:

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Temperatura de vaporização = 0 oC sistema frigorífico e esse aumento no fluxo deve

Temperatura de condensação = 40 oC ser de 1,60% para manter a potência frigorífica.


O aumento do fluxo de massa provocará um
Superaquecimento = 5oC; Sub-resfriamento = 5 oC
Quando considera-se um aumento de 2 oC aumento no calor a ser retirado no condensador

na temperatura de condensação em virtude do de (1,60 – 0,68) = 0,92%. Do mesmo modo, a

aquecimento global de 2 oC tem-se as variações potência do compressor aumentará de 5,92%. Por

apresentadas na Tab. III. outro lado, a carga térmica também aumentará,

Essa tabela apresenta as variações que conforme Tab. IV, e esse efeito deve ser

ocorrem no calor trocado no condensador, na acrescentado à variação anterior, ou seja, a

potência do compressor e na potência frigorífica, potência do compressor sofrerá um aumento

comparando o ciclo normal e o ciclo com devido tanto ao efeito da elevação na temperatura

temperatura de condensação aumentada de 2oC. de condensação quanto ao aumento do fluxo de

O calor total retirado no evaporador massa para compensar o aumento na carga


(potência frigorífica) é: térmica.

QEV = m& ( h1 − h4 ) W (4)


Potência do compressor = m& ( h2' − h1 ) (5)

Como a potência frigorífica deve ser, no A Tab. IV apresenta os resultados finais em


mínimo, a mesma é necessário que haja um valores tomados pela média das 6 cidades.
aumento no fluxo de massa m& de R-22 dentro do

Tabela II - Carga Térmica

NORM T+2C T+2C7% T+2C14%


AL
LOCAL q(kJ/kg) q q% q q% q q%
(kJ/kg) (kJ/kg) (kJ/kg)
Belém 37,038 39,12 +5.62 49,663 +34.08 53,92 +45.58
Brasília 22,103 24,378 +10.29 31,835 +44.03 34,904 +57.91
Porto A. 32,477 34,538 +6.34 43,907 +35.19 47,649 +46.91
Recife 32,569 34,641 +6.36 44,516 +36.68 48,471 +48.82
São Luís 41,758 43,851 +5,01 55,396 +32,659 60,043 +43,78
S.Paulo 24,149 26,221 +8.58 34,567 +43.14 37,895 +56.92

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121

Tabela III – Resultados dos parâmetros calculados para o ciclo frigorífico,


por unidade de massa

Valores em (kJ/kg) Normal T+2 %

Calor no condensador 194,7 193,39 - 0,68


Potência do compressor 28,8 30,1 + 4,32
Potência Frigorífica 165,9 1163,29 - 1,60

Tabela IV: Variação média das potências frigorífica e do compressor

PARÂMETRO T+2oC T+2oC7% T+2oC14%


CARGA TÉRMICA. 7% 36,7% 50%
POT.COMPRESSOR 12,92% 42,62% 55,92%

ESTATÍSTICA ANUAL DE VENDA DE APARELHOS DE AR


CONDICIONADO
500.000
450.000
400.000
350.000
300.000
TR

250.000
200.000
150.000
100.000
50.000
0
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
PERÍODO

Figura 12 – Estatística Anual de Vendas


Fonte: ABRAVA

Toneladas de Refrigeração, de acordo com dados


Análise econômica
As vendas anuais de máquinas e fornecidos pelo Departamento de Economia e

equipamentos de ar condicionado central, Estatística da ABRAVA – Associação Brasileira

referentes ao período de 1982 a 2000, em

Rev. Ciênc. Exatas, Taubaté, v. 5-8, p. 107-127, 1999-2002


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de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e se sentem desconfortáveis. Casos críticos, com


Aquecimento – são apresentados na Fig. 12. Temperatura Efetiva acima de 26,1 oC, quando
Pode-se observar uma sensível mudança 100% das pessoas se sentem desconfortáveis
na taxa de variação da quantidade de aparelhos ocorre, para temperatura normal, das 9 às 18
vendidos na ultima década, com relação aos anos horas. Para TE2 das 9 às 20 horas; para TE207
80. das 8 às 20 horas e para TE214 das 8 às 22 horas.
Para Brasília, observa-se que em nenhum
Se for computado o efeito do aquecimento
dos casos o RSI ultrapassa o limite de 0,3.
global essa taxa deverá crescer ainda mais.
Analisando os dados de Temperatura Efetiva
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS nota-se que, com temperatura normal, o valor de
Uma análise dos gráficos apresentados na TE igual a 24 oC é ultrapassado das 11 às 18
seção anterior mostra que, para Belém, com horas. Para TE2 este valor é excedido das 10 às

temperatura normal (sem considerar as hipóteses 19 horas do dia. Para TE207 este valor é

utilizadas para a simulação dos efeitos do ultrapassado das 10 às 19 horas e para TE214

aquecimento global) observa-se que o RSI este período ocorre também das 10 às 19 horas.

ultrapassa o limite de 0,3 das 10 às 17 horas. Para Isso significa um aumento de 25% das horas, em

RSI2 este valor é ultrapassado das 9 às 18 horas, todos os casos simulados. Casos críticos, com
o
significando um acréscimo de 25% no tempo. Temperatura Efetiva acima de 26,1 C, não

Para RSI207 o valor limite é superado das 9 às 19 existem, neste caso. Para TE2, o valor é excedido

horas e para RSI214 das 9 às 19 horas, com somente às 14 horas; para TE207 das 14 às 17

aumentos de 37,5% em ambos os casos. Um caso horas e para TE214 das 13 às 17 horas.

crítico, com RSI maior que 0,5, ocorre para Um exame dos gráficos mostra que, para

RSI214 às 15 horas. Analisando os dados de Porto Alegre, com temperatura normal (sem

Temperatura Efetiva percebe-se que, com considerar as hipóteses utilizadas para a

temperatura normal, o valor de TE igual a 24 oC simulação dos efeitos do aquecimento global) o


é ultrapassado das 8 às 24 horas. Para TE2 este RSI ultrapassa o limite de 0,3 das 10 às 19 horas.
valor é ultrapassado durante as 24 horas do dia, Para RSI2 este valor é ultrapassado das 9 às 19
com acréscimo de 41% no tempo de desconforto. horas, significando um acréscimo de 10% no
Para TE207 e TE214 ocorre o mesmo, ou seja, tempo. Para RSI207 o valor limite é superado das
durante todo o dia pelo menos algumas pessoas 9 às 20 horas, significando um acréscimo de 20%

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e para RSI214 das 9 às 19 horas, com aumentos temperatura normal, o valor de TE igual a 24 oC
de 10 % em ambos os casos. Um caso crítico, é este valor é ultrapassado durante as 24 horas do
com RSI maior que 0,5, ocorre para RSI207 das dia. Para TE, TE2, TE207 e TE214 ocorre o
15 às 16 horas. Verificando os dados de mesmo, ou seja, durante todo o dia pelo menos
Temperatura Efetiva percebe-se que, com algumas pessoas se sentem desconfortáveis.
temperatura normal, o valor de TE igual a 24 oC Casos críticos, com Temperatura Efetiva acima
é ultrapassado das 8 às 24 horas. Para TE2 este de 26,1 oC, quando 100% das pessoas se sentem
valor é ultrapassado durante as 24 horas do dia. desconfortáveis ocorre, para temperatura normal,
Para TE207 e TE214 ocorre o mesmo, ou seja, das 8 às 23 horas. Para TE2 das 2 às 24 horas;
durante todo o dia pelo menos algumas pessoas para TE207 das 1 às 24 horas e para TE214 das 1
se sentem desconfortáveis. Isto significa um às 24 horas.
acréscimo de 33% em todos os casos. Casos Para São Luís em condições normais
críticos, com Temperatura Efetiva acima de 26,1 observa-se que o RSI excede o limite de 0,3 das
o
C, quando 100% das pessoas se sentem 11 às 17 horas. Para RSI2 este valor é
desconfortáveis ocorrem, para temperatura ultrapassado das 10 às 18 horas, significando um
normal, das 9 às 20 horas. Para TE2 das 8 às 22 acréscimo de 28.6% no tempo. Para RSI207 o
horas; para TE207 das 8 às 22 horas e para valor limite é superado das 8 às 17 horas,
TE214 das 8 às 23 horas. significando um acréscimo de 42.9% e para
Para Recife, observando os gráficos, RSI214 das 8 às 18 horas, com aumentos de
percebe-se que, com temperatura normal, o RSI 57,5%. O caso crítico, com RSI maior que 0,5,
ultrapassa o limite de 0,3 das 9 às 16 horas. Para não ocorre para esta cidade. Verificando os dados
RSI2 este valor é ultrapassado das 8 às 22 horas, de Temperatura Efetiva percebe-se que, com
significando um acréscimo de 87.5% no tempo. temperatura normal, o valor de TE igual a 24 oC
Para RSI207 o valor limite é superado das 7 às 24 somente não é ultrapassado das 3 às 5 horas. Para
horas, que significa u acréscimo de 125% no TE2 este valor é ultrapassado durante as 24 horas
tempo e para RSI214 da 1 às 2 e das 7 as 24 do dia. Para TE207 e TE214 ocorre o mesmo, ou
horas, com aumentos de 125% em ambos os seja, durante todo o dia pelo menos algumas
casos. valores, com RSI maior que 0,5, não pessoas se sentem desconfortáveis. Casos
ocorrem neste caso. Analisando os dados de críticos, com Temperatura Efetiva acima de 26,1
o
Temperatura Efetiva percebe-se que, com C, quando 100% das pessoas se sentem

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desconfortáveis ocorre, para temperatura normal, índices apenas fornecem uma indicação de
das 8 às 17 horas. Para TE2 das 8 às 19 horas; conforto para a média da população.
para TE207 das 7 às 20 horas e para TE214 das 7 Os limiares utilizados nesta análise
às 21 horas. também podem variar. Chowdhury e Ganesan (12)
Para São Paulo, com temperatura normal têm indicado que níveis de limiar para
(sem considerar as hipóteses utilizadas para a classificações tropicais bioclimáticas devem ser
simulação dos efeitos do aquecimento global) maiores que aqueles para localizações
observa-se que o limite de 0,3 para o RSI não é temperadas. Eles consideram uma ET de 25ºC, ao
superado em nenhum momento. Para RSI2 este contrário de 24ºC, um limiar de
valor é ultrapassado das 13 às 16 e as 20 horas. conforto/desconforto mais apropriado para
Para RSI207 o valor limite é superado as 10 e das cidades indianas. De Dear et al. (13)
em estudo
12 às 16 e as 20 horas e para RSI214 das 13 às 15 para Singapura (equatorial), têm claramente
horas. Um caso crítico, com RSI maior que 0,5, declarado uma aclimação de 2ºC para
não ocorre para esta cidade. Para a Temperatura singapureanos nativos. Assim, pode-se esperar
Efetiva nota-se que, com temperatura normal, o uma aclimação de 1ºC, senão 2ºC, para
valor de TE igual a 24 oC é ultrapassado das 10 populações nativas. Camargo et al. (11)
propõem
às 18 horas. Para TE2 este valor de temperatura um limite de Temperatura Efetiva em função da
não é superado em nenhum horário. Para TE207 latitude do local, ou seja, um aumento gradual de
o
este valor é ultrapassado das 10 às 17 e para aproximadamente 0,5 C deve ser feito na
TE214 das 9 às 20 horas. Casos críticos, com temperatura efetiva para cada 5o de redução na
Temperatura Efetiva acima de 26,1 oC, quando latitude, a partir de latitude de 41o , ou seja, a
100% das pessoas se sentem desconfortáveis não zona de conforto apresentada na Fig. 2 deve se
ocorrem para TE normal, para TE2 e para TE207. mover para a direita de aproximadamente 0,5 oC
Para TE214 ocorre das 11 às 15 horas. a cada redução de 5o na latitude.
Ambos os índices biometeorológicos A seguir faz-se uma análise com relação
usados nesta análise produzem classificações ao aumento no consumo de energia e nas vendas
espaciais e temporais de conforto térmico. de aparelhos condicionadores de ar. Com relação
Obviamente, a sensação de conforto térmico à potência frigorífica observa-se, pela Tab. IV,
pode variar de indivíduo para indivíduo e esses um aumento médio de 7 % para um aumento de 2
o
C na temperatura externa, um aumento médio de

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36,7% para T+2oC com 7% e um aumento médio freqüência, duração ou intensidade dos períodos
o
de 50% para T+2 C com 14%. A Tab. IV mostra nos quais condições fisioclimáticas estressantes
também os resultados finais com relação ao ocorrem podem ser esperados. Para todo o País,
aumento na potência do compressor, o que leva, bioclimas sazonais quentes irão se tornar mais
diretamente a uma elevação no consumo de estressantes, implicando em alterações no
energia dos sistemas de condicionamento de ar. conforto térmico humano e na saúde na região
Observa-se que, para T+2oC, o consumo equatorial/tropical. Possíveis efeitos na saúde
energético aumentará 12,92%. Para os cenários incluem incidências maiores de exaustão devido
de T+2oC7% e T+2oC14% esse aumento será de ao calor, desidratação e outras doenças.
42,62% e 55,92%, respectivamente. Os trabalhadores ao ar livre podem estar

Com base na projeção dos dados sujeitos a maior estresse térmico, necessitando,

apresentados na Fig. 12 e no aumento esperado assim, de uma alteração no horário de trabalho

da temperatura externa devido ao aquecimento para horários termicamente menos estressantes

global pode-se presumir que haverá um aumento do dia. Ambientes de trabalho fechados terão que

no nível de vendas de máquinas e equipamentos ser mantidos em níveis eqüitativos de conforto

de condicionamento de ar para o futuro. térmico, o que acarretará maior potência


frigorífica e, conseqüentemente, maior gasto com
CONCLUSÕES a energia consumida. Por isso uma maior atenção
A análise apresentada demonstra precisa ser dada para um gerenciamento mais
claramente que as mudanças na temperatura e na efetivo dos sistemas de condicionamento de ar
umidade relativa em virtude do aquecimento existentes ou o desenvolvimento de estilos
global influem decisivamente no estresse térmico arquitetônicos que possam aproveitar as
e no dispêndio de energia com sistemas vantagens dos fluxos naturais de ar.
condicionadores de ar. Com um clima mais quente, a construção
O aquecimento global resultará em de prédios inteligentes pode tornar-se uma opção
mudanças significativas nas características dos importante para um efetivo gerenciamento
bioclimas. Apesar de algumas aclimações energético.
naturais serem esperadas, cargas higrotérmicas Finalmente, uma forma de amenizar os
maiores aumentarão os níveis de desconforto problemas causados pelo aquecimento global é a
muito acima dos níveis atuais. Mudanças na conscientização da população do planeta para

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126

diminuir a emissão de poluentes na atmosfera. Programme nº 1. Proceedings of the


Além disso, maior atenção precisa ser dada aos Symposium in Leningrad, september
trópicos úmidos que, em termos de conforto 1986, WMO, Genebra.
térmico humano, são ambientes críticos. São em (5) McGREGOR, G.R.,1995. The human
tais áreas bioclimáticas críticas que os impactos bioclimates of Western and South Pacific
negativos de uma mudança climática provocada islands and climate change. Int. J.
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