Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE FILOSOFIA & CIÊNCIAS HUMANAS


HG 303-A – ÉTICA I
Profa. Responsável: Yara Adario Frateschi
1o. Semestre de 2005

I. PROGRAMA

O ponto central do curso é a elucidação da crítica de Hobbes à noção de natureza política do


homem, sustentada pela tradição aristotélica. Pretende-se mostrar de que modo a construção
da teoria política hobbesiana se faz a partir da recusa do princípio do animal político e tem
como base uma concepção da natureza humana segundo a qual o homem tende
naturalmente não para a vida em comunidade, mas para a conservação de si mesmo e para a
obtenção de benefícios próprios. Em contraposição à teoria da sociabilidade natural, que
identifica e faz coincidir o bem do homem com a vida política porque entende que a vida
política é a própria realização da natureza humana, Hobbes identifica o impulso natural à
obtenção de benefícios próprios, sem fazer coincidir por necessidade natural o bem próprio
com o bem comum ou com a vida na comunidade política. Para ele a natureza não associa,
mas desassocia os homens e a condição natural é de guerra generalizada.

A crítica ao princípio do animal político é acompanhada da negação da concepção


teleológica de natureza, sustentada pela tradição aristotélica, e está enraizada na assimilação
de uma nova cosmologia, que é mecânica e nega a existência de causas finais. Desse modo,
procuraremos analisar a relação que se estabelece em Hobbes entre a filosofia da natureza e
a filosofia moral e política. Não se quer com isso dizer que estas últimas só podem ser
conhecidas a partir da filosofia natural: esse conhecimento pode se dar tanto pela via
sintética (partindo da geometria para a física, desta para a moral e chegando à política)
quanto pela via analítica, isto é, por meio da experiência de como os homens se comportam.
Tampouco se pretende que a filosofia política seja estritamente deduzida da filosofia da
natureza. No entanto, pretende-se mostrar que a concepção da natureza humana (central nas
teorias moral e política) é apresentada por Hobbes como uma aplicação particular de uma
nova concepção da natureza em geral, mecanicista e fundada na lei da inércia.

As aulas serão divididas em aula expositiva (primeira parte) e seminário feito pelos alunos
(segunda parte).

BIBLIOGRAFIA

THOMAS HOBBES

Human Nature and De Corpore Politico. Edited by J. C. A. Gaskin. Oxford, University


Press, 1994.
Leviathan. Edited by R. Tuck. Cambridge, University Press, 1991.

On The Citizen. Edited and. transl. by R. Tuck and M. Silverthone. Cambridge, University
Press, 1998.

TRADUÇÕES

A Natureza Humana. Tradução de João Aloísio Lopes. Lisboa, Imprensa Nacional – Casa
da Moeda, 1987.

Do Cidadão. Tradução de Renato Janine Ribeiro. São Paulo, Martins Fontes, 1992.

Leviatã. Tradução de João Paulo Monteiro. Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural,
1983.

BIBLIOGRAFIA DE APOIO:

BRANDT, F., Thomas Hobbes’s Mechanical Conception of Nature. Copenhagen, Levin &
Munsgaard, 1928.

MacPHERSON, C. B., A Teoria Política do Individualismo Possessivo. Rio de Janeiro, Paz


e Terra, 1979.

SPRAGENS Jr., Th. A., The Politics of Motion. The World of Thomas Hobbes. Kentucky,
University Press, 1973.

STRAUSS, L., The Political Philosophy of Hobbes. Its Basis and its Genesis. Chicago,
University Press, 1963.

TAYLOR, A. E. “The Ethical Doctrine of Hobbes” in BROWN, K. C., ed., Hobbes Studies.
Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1965, pp. 35-55.

TUCK, R., “Hobbes’s Moral Philosophy” in The Cambridge Companion to Hobbes.


Cambridge, University Press, 1996; pp. 175-207.

TUCK, R., Hobbes. São Paulo, Edições Loyola, 2001.

VAZ, H. C. L., Escritos de Filosofia IV: Introdução à Ética Filosófica 1. São Paulo,
Loyola, 1999.
WOLFF, F., Aristóteles e a Política. Trad. T. C. F. Stummer e L. A. Watanabe. São Paulo,
Discurso, 1999.

Você também pode gostar