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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 20

OITAVA CÂMARA CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0067584-31.2013.8.19.0000


6ª VARA CÍVEL DA REGIONAL DE MADUREIRA - COMARCA DA CAPITAL
AGRAVANTE: JANETE DE SOUZA SANTOS
RELATOR: DES. CEZAR AUGUSTO RODRIGUES COSTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO. LAUDO DE


AVALIAÇÃO DO BEM ELABORADO POR AVALIADOR OFICIAL.
IMPUGNAÇÃO PELO ORA AGRAVANTE. CONTROVÉRSIA ACERCA
DO VALOR DO IMÓVEL OBJETO DE INVENTÁRIO. DECISÃO
PELA REJEIÇÃO. MANUTENÇÃO.
1. Irresignação recursal em face da decisão interlocutória que
indeferiu o pleito contido na impugnação ao valor do imóvel objeto de
inventário.
2. Alegação da recorrente que o valor arbitrado pelo avaliador do
juízo no laudo de avaliação encontra-se acima do valor de mercado, com
fundamento em avaliações obtidas de sites de imobiliárias acerca de
imóveis análogos.
3. A agravante não comprovou que o critério utilizado na avaliação
do imóvel fixada pelo avaliador do juízo é equivocado, sendo certo que
a mera indicação de valor fornecido pela agravante com base em
avaliações de imóveis semelhantes não infirma o laudo oficial, tendo em
vista que neste foram levadas em conta a localização e as condições de
conservação do bem.
4. Somente se admite um novo trabalho avaliatório nos casos
expressamente previstos nos três incisos do artigo 683 do Código de
Processo Civil. Verifica-se dos autos que o laudo de avaliação
formulado pelo Sr. Avaliador Judicial foi detalhado e analisou as
especificidades do bem.
5. Recurso o qual SE CONHECE E SE NEGA PROVIMENTO com
base no artigo 557 do Código de Processo Civil.

DECISÃO MONOCRÁTICA

Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo,


atacando decisão (item n.º 6 do anexo 1) proferida em inventário, processo nº.
0019079-53.2011.8.19.0202. A autora agravante requereu a abertura de inventário
dos bens deixados por RUBENS DOS SANTOS. Nas primeiras declarações (item nº
9 do anexo 1) alegou que o autor da herança deixou direito e ação do imóvel situado

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AP – 8ª C.C.

CEZAR AUGUSTO RODRIGUES COSTA:000016606 Assinado em 08/05/2014 13:00:39


Local: GAB. DES CEZAR AUGUSTO RODRIGUES COSTA
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na Rua Monte Carmelo, n.º 267, fundos, Bento Ribeiro. Entretanto, não concorda
com o valor de avaliação do imóvel, aferido pelo avaliador judicial, razão pela qual
apresentou impugnação, pleito este que foi indeferido pelo juízo a quo nos seguintes
termos:

“Fixo o valor da avaliação em R$ 350.000,00, como arbitrado pelo avaliador do Juízo, e


levando em consideração suas justificativas com relação a impugnação da requerente,
vale lembrar que o preço dos imóveis variam diante de suas características, pelo que
rejeito a impugnação. Preclusa essa, remetam-se os autos ao contador judicial.”

Nas razões de agravo, alega o recorrente, em síntese, que a) acostou aos


autos avaliação realizada por duas imobiliárias da região, sendo que uma considerou
que o valor de mercado do imóvel é de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) e outra,
estimou o valor de R$ 210.000,00 (duzentos e dez mil reais), ressaltando que tais
quantias apresentam disparidade com o valor arbitrado pelo avaliador judicial (R$
350.000,00); b) o autor da herança deixou direito e ação sobre o imóvel, e não a
sua propriedade, o que influi no valor de avaliação da venda, mas tal circunstância
não teria sido levada em conta na avaliação judicial; c) o valor da avaliação refletirá
no cálculo do Imposto de Transmissão Causa Mortis, de modo que a recorrente será
compelida a pagar valor superior ao realmente devido a título de imposto. Requer o
provimento do recurso para que seja retificado o valor de avaliação do imóvel.

Indeferimento do efeito suspensivo (item nº 00012). Ressalta-se, item nº


00017, a manifestação do juízo a quo atestando o estrito cumprimento, pelo
agravante, da regra prevista no artigo 526 do Código de Processo Civil e a
manutenção da decisão agravada.

Eis o relatório. Decido.

O recurso interposto é tempestivo e ostenta os demais requisitos de


admissibilidade, razão porque o conheço.

Cuida-se de irresignação recursal em face da decisão interlocutória que


indeferiu o pleito contido na impugnação ao valor do imóvel objeto de inventário.
Argumentou o recorrente que o valor arbitrado pelo avaliador do juízo no laudo de
avaliação encontra-se acima do valor de mercado, com fundamento em avaliações
obtidas de sites de imobiliárias acerca de imóveis análogos.

Não assiste razão a recorrente.

O agravante não logrou comprovar as alegações acerca de suposto erro na


avaliação do imóvel, arbitrado pelo avaliador judicial, na quantia de R$ 350.000,00

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(trezentos e cinquenta mil reais), cingindo-se a alegar divergência entre o tal valor
e a avaliação realizada por imobiliárias em imóveis análogos.

Ainda que os imóveis indicados pela ora agravante tenham características


semelhantes ao imóvel objeto de inventário, tal avaliação não infirma o laudo
elaborado pelo avaliador judicial porque a avaliação é ato privativo do avaliador
oficial ou perito do juízo, que possui conhecimentos especializados para avaliar
bens.

Nesse sentido, é preciso ressaltar que a mera indicação de valor


fornecido pela agravante com base em avaliações de imóveis análogos não infirma o
laudo oficial, tendo em vista que neste foram levadas em conta a localização e as
condições de conservação do imóvel.

Portanto, a decisão que rejeitou a impugnação contra o valor atribuído


pelo laudo de avaliação judicial (item nº 00014) relativo ao imóvel, objeto de
procedimento de inventário merece ser mantida, porquanto somente se admite um
novo trabalho avaliatório nos casos expressamente previstos nos três incisos do
artigo 683 do Código de Processo Civil:

I - qualquer das partes argüir, fundamentadamente, a ocorrência de erro na avaliação ou


dolo do avaliador;

II - se verificar, posteriormente à avaliação, que houve majoração ou diminuição no valor


do bem; ou

III - houver fundada dúvida sobre o valor atribuído ao bem (art. 668, parágrafo único,
inciso V).

No recurso em análise não se verifica a incidência de qualquer das


hipóteses acima elencadas, de modo a justificar a realização de nova avaliação do
imóvel em tela.

Ao revés, constata-se dos autos que o laudo formulado pelo Sr. Avaliador
Judicial, item nº 00014, foi detalhado e avaliou as especificidades do bem,
destacando que se trata de:

“casa com dois pavimentos, de fundos, construção moderna, 2000, com área
edificada de 134 ms2, revestida externamente por argamassa com pintura, cobertura
em laje e telhas, janelas em esquadrias em alumínio, com porta de ferro, piso em
cerâmica, sem garagem. Divide-se em: No térreo, sala, dois quartos, banheiro,
cozinha e escada com piso de cerâmica que acessa o pavimento superior. Possui
também no térreo, um quanto, cozinha e banheiro, independentes, com basculante de
alumínio, porta de ferro e fachada com argamassa com pintura. No segundo
pavimento, varanda, sala, quarto, cozinha e banheiro, independentes, com basculante
de alumínio, porta de ferro e fachada com argamassa com pintura. No segundo

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pavimento, varada, sala, quarto, cozinha, banheiro, terraço coberto com telha de
amianto com churrasqueira e banheiro. O imóvel encontra-se em bom estado de
conservação.”

Portanto, não se faz necessária a aplicação do art. 683 do Código de Processo


Civil, de modo que se prescinde de realizar nova avaliação para apurar o valor do
imóvel objeto do inventário. No sentido exposto segue jurisprudência deste
Tribunal, representado pelos seguintes arestos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO. DIVERGÊNCIA ACERCA DO VALOR


DE IMÓVEL OBJETO DE PROCEDIMENTO DE INVENTÁRIO. RECURSO CONTRA
DECISÃO QUE MANTEVE O VALOR ATRIBUÍDO PELO PERITO DO JUÍZO.
MANUTENÇÃO DO DECISUM. DESNECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE NOVA
AVALIAÇÃO DO BEM IMÓVEL. PRECEDENTES DESTE E. TRIBUNAL. 1. Na
hipótese sob análise não se verifica a ocorrência de nenhuma das situações capazes
de ensejar a realização de nova avaliação do imóvel em questão. 2. Não se pode
utilizar um valor médio a partir de avaliações em imóveis análogos obtidas em sítio
eletrônico, desprezando os cálculos elaborados pelo perito do juízo. 3. A mera
indicação de valor fornecida pelas partes não pode ser considerada como avaliação,
devendo prevalecer o valor atribuído ao bem pelo perito judicial. RECURSO A QUE
SE NEGA SEGUIMENTO NA FORMA DO ART. 557, CAPUT, DO CPC. (0030608-
25.2013.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1ª Ementa. DES. MAURO
MARTINS - Julgamento: 18/06/2013 - SEXTA CAMARA CIVEL)

0063101-87.1992.8.19.0001 - APELACAO / REEXAME NECESSARIO. DES.


ELISABETE FILIZZOLA - Julgamento: 03/10/2012 - SEGUNDA CAMARA CIVEL.
DESAPROPRIAÇÃO POR UTILIDADE PÚBLICA. VALOR DA JUSTA
INDENIZAÇÃO. PARÂMETRO ADOTADO PELO LAUDO PERICIAL.
INCONFORMISMO QUE NÃO É APTO A INFIRMAR O TRABALHO DO PERITO DO
JUÍZO. Pretende o Apelante a redução do valor indenizatório, com sua limitação ao
valor apurado no laudo dos assistentes técnicos do Município, ao argumento de que o
laudo do perito oficial apresenta falhas que implicaram na sobrevalorização dos
imóveis expropriados. O que sobeja no apelo é um inconformismo do Município em
relação a parâmetro de avaliação fixado pelo Perito do Juízo, em laudo
suficientemente fundamentado e esclarecido em regular contraditório, sem que a
Edilidade comprove que tal critério é equivocado, não produzindo qualquer prova apta
a desqualificar o trabalho do perito, ônus que lhe competia. Como destinatário das
provas, o juiz as aprecia segundo o seu livre convencimento, considerando a
necessidade ou não de nova perícia. Não é possível invalidar o valor indenizatório
apurado pelo perito oficial, limitando-o ao valor apresentado pelo assistente técnico
do Município somente porque critério utilizado pelo laudo não lhe atende. Só ao juiz
cabe avaliar a necessidade de nova perícia, na forma do artigo 437 do Código de
Processo Civil, sendo certo que, no caso em exame, o próprio recorrente afirmou
inexistir interesse municipal em nova avaliação. RECURSO DESPROVIDO.

0031873-96.2012.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO. DES. NAGIB SLAIBI -


Julgamento: 26/09/2012 - SEXTA CAMARA CIVEL. Direito do Inquilinato. Locação
residencial. Débito de aluguéis. Ação de execução por título extrajudicial. Pagamento
não realizado. Penhora de bem imóvel. Avaliação indireta do bem. Impugnação pelo
executado. Decisão pela rejeição. Recurso. Impropriedade do tipo de avaliação. Valor
da avaliação do bem abaixo do valor de mercado. Desacolhimento. Não há prova nos
autos de que a avaliação do imóvel foi ínfima, até porque possui o bem débitos fiscais

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que comprometem seu valor de mercado. Dispõe o art. 51 da Resolução nº 5 de 24


de março de 1977 que ao avaliadores judiciais incumbe, como peritos oficiais da
justiça, avaliar bens imóveis, semoventes e móveis, rendimento, direitos e ações,
descrevendo-os com a precisa individuação e dando-lhes, separadamente, o valor,
com observância, quanto aos imóveis, das disposições aplicáveis da legislação
relativa aos registros públicos. A avaliação do bem foi feita com base em critérios
objetivos, tendo a avaliadora efetuado e descrição do imóvel, com suas
características e localização. Cabia aos agravantes demonstrarem de forma
inequívoca que o valor encontrado pelo avaliador está abaixo do real valor de
mercado do bem, não servindo para tal fim o documento de fls. 31, tendo em vista
que o mesmo não descreve as características do imóvel paradigma, já que o contador
judicial tem fé pública. Precedentes do TJERJ. Recurso manifestamente
improcedente. Seguimento negado (Agravo de Instrumento nº 0001343-
80.2010.8.19.0000, Décima Sexta Câmara Cível, rel. Des. Lindolpho Morais Marinho,
julgamento: 19/01/2010). Desprovimento do recurso.

Diante do exposto, CONHEÇO e NEGO PROVIMENTO ao presente recurso


com fulcro no artigo 557 do Código de Processo Civil, com a manutenção integral da
decisão recorrida.

Rio de Janeiro, 8 de maio de 2014.

Cezar Augusto Rodrigues Costa


Desembargador Relator

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