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Resumo
Neste trabalho apresenta-se uma combinação de formulações numéricas para a análise
da interação estaca-solo com ou sem blocos de capeamento rígido, sujeita à carga
horizontal e vertical. Nestas formulações as estacas são representadas pelo método das
diferenças finitas (MDF) ou pelo método dos elementos finitos (MEF) e o solo é
representado pelo método dos elementos de contorno (MEC). Na utilização do MEF,
para a análise das estacas, os deslocamentos e as forças de interação foram
representados por várias funções polinomiais chegando-se a um elemento finito final
considerado eficiente e constituído por quatro pontos nodais, 14 parâmetros nodais,
sendo quatro para deslocamentos lineares em cada uma das direções (X1, X2 e X3) e
mais dois parâmetros referentes as rotações do topo da estaca em torno dos eixos X1 e
X2. Os deslocamentos transversais ao longo da estaca foram representados por uma
função polinomial do 4o grau e os deslocamentos axiais foram representados por uma
função cúbica. Para as forças da interface nas direções X1 e X2 são utilizados funções
polinomiais cúbicas. As forças de superfície cisalhantes que ocorrem ao longo do fuste
da estaca são representadas por um polinômio quadrático e a tensão normal à seção da
extremidade inferior da estaca é suposta constante. O maciço de solos é modelado pelo
MEC como um meio contínuo, elástico-linear, semi-infinito, isótropo e homogêneo.
Combinando-se estes métodos de análise, obtém-se um sistema de equações lineares
representando o problema de interação estaca-solo. Após a resolução deste sistema,
são obtidos os deslocamentos e rotações nos nós do elemento e as tensões de contato
estaca-solo. Vários exemplos envolvendo as formulações propostas são analisados e os
resultados obtidos são concordantes com os de outros autores.
1
Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP
2
Professor Associado do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, paiva@sc.usp.br
1 INTRODUÇÃO
Onde:
u *ij (p,s) é a solução fundamental de deslocamentos devido a uma carga unitária
aplicada no ponto “p” na direção “i” e com resposta no ponto “s” na direção “j”;
p j é a força de interação na direção “j”.
Implementando-se a discretização da Eq. (1), obtém-se:
Ne
u i = ∑ ∫ u *ij (p,s)p j (s)dΓ (s) , (i,j = 1,2,3) (2)
Γe
1
Onde:
Γe é o contorno do elemento de contorno;
Ne é o número de linhas de carga (estacas) imersas no meio contínuo.
As funções aproximadoras para as forças de interação são cúbicas para as
direções X1 e X2, quadráticas ao longo do fuste e uniformemente distribuídas na base da
estaca para a direção X3. Sendo assim as funções de forma (cúbicas e quadráticas)
podem ser escritas como:
⎧φ1 ⎫ ⎧− 4.5ξ 3 + 9ξ 2 − 55 . ξ + 1⎫
⎪φ ⎪ ⎪ ⎪
⎪ 2 ⎪ ⎪ 135 . ξ − 22.5ξ + 9ξ ⎪
3 2
⎧1 ⎫
⎧ϕ p1 ⎫ ⎪ ( 9ξ 2 − 9ξ + 2) ⎪
⎪ ⎪ 2
{ϕ} = ⎨ϕ p2 ⎬ = ⎪⎨ − 9ξ 2 + 6ξ ⎪⎬ (funções de forma quadráticas) (4)
⎪ϕ ⎪ ⎪ 1 ⎪
⎩ p3 ⎭ ⎪
⎩ 2
( 9ξ 2 − 3ξ ) ⎪
⎭
Sabendo-se que:
z
ξ= (5)
L
Onde:
ξ é a cota adimensional;
“z” é a cota do ponto em questão;
“L” o comprimento total da estaca.
Após efetuar o cálculo das integrais indicadas na Eq. (2) para todos os elementos,
obtém-se a representação algébrica do maciço de solos, também chamada de equação geral de
deslocamentos do solo, dada por:
{u } = [ G]{P }
s s (6)
Onde:
{u } é o vetor que contêm todos os deslocamentos que ocorrem no solo;
s
wi P5
V vi
F2 ui P1
F1 X1 i τp1
v’i u’i
X2 M2 P6
M1 j wj vj P2
uj τp2
wk vk P7
k P3
uk τp3
wl vl P8
l ul P4
(a) (b) (c) (d) (e)
X3
e
Px (z) = A 2 z 3 + B 2 z 2 + C 2 z + D 2 (8)
1
Para a direção X2:
v ap (z) = A 3 z 4 + B 3 z 3 + C 3 z 2 + D 3 z + E 3 (9)
e
Px (z) = A 4 z 3 + B 4 z 2 + C 4 z + D 4 (10)
2
E para a direção X3:
w ap (z) = A 5 z 3 + B5 z 2 + C 5 z + D 5 , (11)
τ p (z) = A 6 z 2 + B 6 z + C 6 (12)
e
σb = 1
(13)
Sabendo-se que:
Π = U+Π (14)
Tem-se que:
(15)
Onde:
Ep é o módulo de elasticidade longitudinal da estaca;
Ip é o momento de inércia da estaca;
Ap é a área da seção transversal da estaca.
Minimizando o funcional de energia potencial total, ou seja, derivando-se a Eq.
(15) em função dos parâmetros nodais e igualando-se a zero, obtém-se, matricialmente,
o seguinte sistema de equações:
[ K ]{u } = { F} − [Q]{P }
c p p (16)
Onde:
[ ]
K c é a matriz de rigidez da estaca;
{u } é o vetor de deslocamentos da estaca contendo tanto os provenientes da
p
4 ACOPLAMENTO MEC/MEF
Com base nas deduções anteriores, pode ser feita agora a interação MEC/MEF.
Para que haja compatibilidade entre as matrizes e vetores dos dois métodos é
necessário que seja feita a expansão dos que possuírem menor ordem. Este
procedimento será descrito a seguir.
Da equação geral de deslocamentos do MEC, Eq. (6), tem-se que a equação do
solo é:
{u } = [ G]{P }
s s (17)
[ K ]{u } = { F} − [Q]{P }
c p p (18)
{u } = {u }
s p (20)
e
{P } + {P } = 0
s p (21)
Onde:
[Q][ G ] −1
= [ M] (23)
{u } = {u
s i vi wi u ′i v ′i u j vj wj uk vk wk ul vl wl } (24)
{u } = {u } = {U}
s p (25)
Portanto:
[[ K ] + [M]]{U} = { F}
c (26)
Finalizando:
[ K]{U} = { F} (27)
Sendo que:
[ K] é a matriz final do sistema de interação (MEC/MEF);
{U} é o vetor que engloba todos os deslocamentos considerados no sistema,
inclusive as rotações;
{ F} : o vetor de cargas externas aplicadas no topo da estaca (forças horizontais e
Momentos fletores).
⎡ k 11 k 12 k 13 k 14 k 15 ⎤ ⎧ u i ⎫ ⎡1 0 0 0 0⎤ ⎧ F1 ⎫
⎢k k 22 k 23 k 24 k 25 ⎥ ⎪ u ′i ⎪ ⎢0 1 0 0 0⎥ ⎪M 2 ⎪
⎢ 21 ⎥ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎢ ⎥ ⎪⎪ ⎪⎪
⎢ k 31 k 32 k 33 k 34 k 35 ⎥ ⎨ u j ⎬ = ⎢0 0 1 0 0⎥ ⎨ 0 ⎬ (28)
⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ k 41 k 42 k 43 k 44 k 45 ⎥ ⎪u k ⎪ ⎢0 0 0 1 0⎥ ⎪ 0 ⎪
⎪ ⎪ ⎪ ⎪
⎢⎣ k 51 k 52 k 53 k 54 k 55 ⎥⎦ ⎪⎩ u l ⎪⎭ ⎢⎣0 0 0 0 1⎥⎦ ⎩⎪ 0 ⎪⎭
⎡− 1 0 k 13 k 14 k 15 ⎤ ⎧ F1 ⎫ ⎡ − k 11 − k 12 0 0 0⎤ ⎧u i ⎫
⎢ 0 −1 k k 24 k 25 ⎥ ⎪M 2 ⎪ ⎢− k − k 22 0 0 0⎥ ⎪u ′i ⎪
⎢ 23 ⎥ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎢ 21 ⎥ ⎪⎪ ⎪⎪
⎢0 0 k 33 k 34 k 35 ⎥ ⎨ u j ⎬ = ⎢− k 31 − k 32 1 0 0⎥ ⎨ 0 ⎬
⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎪ ⎪
⎢0 0 k 43 k 44 k 45 ⎥ ⎪ u k ⎪ ⎢− k 41 − k 42 0 1 0⎥ ⎪ 0 ⎪
⎪ ⎪
⎢⎣ 0 0 k 53 k 54 k 55 ⎥⎦ ⎪⎩ u l ⎪⎭ ⎢⎣ − k 51 − k 52 0 0 1⎥⎦ ⎪⎩ 0 ⎪⎭
14444 4244444 3 123 14444244443 {
[ K ′] {U ′} [ I ′] {F′}
(29)
Onde todos os coeficientes do segundo termo da Eq. (29) são conhecidos, visto
que:
[ K ′] e [ I ′] são matrizes que possuem coeficientes de rigidez e coeficientes
oriundos a matriz identidade, respectivamente, sendo todos conhecidos;
{ U ′} é o vetor de forças e deslocamentos incógnitos;
{ F′} é o vetor de forças e deslocamentos prescritos.
Pode-se multiplicar a matriz [ I ′] pelo vetor { F′} chegando-se agora ao seguinte
sistema:
[ K ′]{ U ′} = { W} (30)
Onde:
6 ESTACAS INCLINADAS
x2
p = ( x1p , x 2p )
λ
x1
s = (x , x
s
1
s
2 )
{x p } = {x s } + { M} rf (33)
⎧cos λ ⎫
⎪ ⎪
{ M} = ⎨sen λ ⎬ (34)
⎪ 0 ⎪
⎩ ⎭
{x p } = [ R ] T { x p } (35)
Onde:
{x p } : coordenadas no ponto “p” no sistema global;
{ x } = [ R ] ({ x } + [ M ] r )
p T s
f (37)
{x } = [ R] ([ R]{x } + { M} r )
p
T
s f (38)
e finalizando:
{x } = ({x } + { N} r )
p s
f (39)
Onde:
[ K ] = [ R][ K ][ R]
g
c c
T
(41)
{u } = [ G]{P }
s s (42)
Desta forma o sistema final para estacas inclinadas será:
[[ R][ K ][ R]
c
T
]
+ [ M ] {U} = { F} (43)
7 AVALIAÇÃO NUMÉRICA
Exemplo 1
Kérisel & Adam (1967), realizaram um ensaio numa estaca isolada cravada em
solo argiloso, com comprimento de 4,65 m e diâmetro equivalente de 0,3573 m,
submetida a uma carga horizontal F1 = 60 kN e a um momento M2 = -69 kN.m. O
módulo de elasticidade longitudinal da estaca é igual a 2,0e+7 kN/m², o do solo
(determinado experimentalmente, com base na média dos três primeiros metros) é igual
a 9233 kN/m² e o coeficiente de Poisson do solo é igual a 0,3.
A Fig. 3 apresenta os deslocamentos laterais ao longo da estaca constatando-se
uma concordância entre os valores medidos e os calculados.
0
-2 -0.5 0 2 4 6 8 10 12
Profundidade da Estaca - Cotas (m)
-1
-1.5
-2
-2.5
-3 KÉRISEL & ADAM (1967)
-3.5
FERRO (1993)
-4
ESTE TRABALHO
-4.5
-5
Deslocamento Lateral (mm)
Figura 3 - Deslocamento horizontal na direção X1 ao longo da estaca.
Exemplo 2
Exemplo 3
V = 726,40 kN
X1
X2
X3
6,096 m
0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
-1 FERRO (1993)
VALLABHAN & SIVAKUMAR (1986)
-3
-4
-5
-6
-7
Deslocamento Vertical (mm)
Exemplo 4
0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3
-2
-4
Profundidade da Estaca (m)
-6
FERRO (1993)
-8 ESTE TRABALHO
-10
-12
-14
Deslocamento Vertical (mm)
Exemplo 5
1 2 1
1,5 m
L = 15 m
d = 0,35 m
Ep = 107 kN/m² 3 4 3
1,5 m
Es = 103 kN/m²
νs = 0,2 1 2 1
1,5 m 1,5 m
Podendo-se concluir com este exemplo que as estacas mais distantes do centro
geométrico têm os menores deslocamentos no topo, enquanto que os maiores
deslocamentos ficam por conta das mais próximas, como mostra a Fig. 8:
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
-2
Profundidade da Estaca - Cotas (m)
-4
-6
-8
-16
Deslocamento Lateral (mm)
Figura 8 - Deslocamentos laterais ao longo das estacas e seus respectivos
subgrupos.
Exemplo 6
H H
7 H H
Ep = 2,1.10 kN/m²
νs = 0,5
Es = 21000 kN/m²
s
D = 0,40 m
H = 150 kN H H
V = 200 kN
Lp = 15 m H H
s = 1,0 m
s
Figura 9 - Grupo de estacas submetidas à cargas horizontais e verticais
simultaneamente.
Exemplo 7
1 2 3 0,9144 m
HG
4 5 6
0,9144 m 0,9144 m
Es = 3447,21 kN/m²
7,62 m
Exemplo 8
1 2 3
1,524 m
4 5 6
1,524 m 1,524 m
V = 1334,4 kN
Argila
Média 7,62 m
E como:
K1 = 6,0914 (kN/mm)
K2 = 4,0603 (kN/mm)
e
Vn = Kn.wn (48)
V1 = 1,5002V2
(49)
8 CONCLUSÕES
9 REFERÊNCIAS
CHAKRAVORTY, A. K.; GHOSH, A. (1975). Finite difference solution for circular plates
on elastic foundations. International Journal for Numerical Methods in
Engineering, v. 9.
KÉRISEL, J.; ADAM, M. (1967). Calcul des forces horizontales applicables aux
fondations profondes dans les argiles el limons. Annales I.T.B.T.P., n.239, p.1653.
POULOS, H. G.; DAVIS, E. H. (1980). Pile foundation analysis and design. New
York: John Wiley & Sons.
ZAMAN, M. M.; ISSA, A.; KUKRETI, A. R. (1988). Analysis of circular plate-elastic half-
space interaction using an energy approach. Applied Math. Modeling, v.18, June.