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Métodos de medida do tempo geológico Geoquímica

ÍNDICE

I-INTRODUÇÃO .........................................................................................................................................................1
1.1-Objectivos...........................................................................................................................................................1
II-ISÓTOPOS ...............................................................................................................................................................2
2.1-TIPOS DE ISÓTOPOS ......................................................................................................................................2
2.1.1 Isótopos Radioactivos ..................................................................................................................................2
2.1.2 Isótopos Estáveis .........................................................................................................................................3
2.1.2.1 Fraccionamento Entre Duas Substâncias ..............................................................................................4
III-DATAÇÃO GEOLÓGICA .....................................................................................................................................5
3.1 Sistemas De Isótopos Para Datação Geológica ..............................................................................................5
3.1.1 K-Ar .............................................................................................................................................................5
3.1.2 Rb-Sr ............................................................................................................................................................6
3.1.2.1 Datação De Rochas Totais Usando Rb-Sr ............................................................................................6
3.1.2.2 Datação De Minerais Usando Rb-Sr.....................................................................................................8
3.1.3 U-Pb e Th-Pb ...............................................................................................................................................8
3.1.4 Sm-Nd ..........................................................................................................................................................9

Índice de Figuras

Figura 1-demonstração de uma isócrona ......................................................................................................................7


Figura 2-ilustração gráfica da evolução de um diagrama de isócrona ..........................................................................7

Fernando, Edson Brás Catarino i


Métodos de medida do tempo geológico Geoquímica

I-INTRODUÇÃO
Muitos elementos ocorrem como uma mistura de mais de um isótopo. O cloro tem um peso atómico de
35,5 e é uma mistura de dois isótopos estáveis: 35Cl (76%) e 37Cl (24%). Apesar de diferentes isótopos de
um elemento possuirem estruturas electrónicas idênticas, eles comportam-se diferentemente devido a
diferenças nas massas. [1]

Se dois isótopos de um elemento são distribuídos entre duas fases, a composição dos isótopos nas duas
fases será diferente. Este efeito é conhecido como equilíbrio de fraccionamento de isótopos. Desta teoria
segue-se que:

 O isótopo mais pesado é concentrado na fase em que esta mais fortemente ligado;
 O fraccionamento é relativamente maior a baixas temperaturas e diminui com o aumento da
temperatura;
 Os processos de oxidação e redução estão associados a um largo fraccionamento.

1.1-Objectivos
O presente trabalho tem como objectivos:

 Estudo dos isótopos estáveis e instáveis;


 Estudo da radioactividade e geocronologia: isótopos radiogénicos;
 Estudo dos métodos de datação isotópica.

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II-ISÓTOPOS
Isótopos são átomos que possuem a mesma carga do núcleo (mesmas propriedades químicas) e um
número diferente de neutrões. Assim, o cloro natural é composto por dois isótopos com os números de
massa iguais a 35 e 37, o magnésio composto por três isótopos com números de massa iguais a 24, 25 e
26.
Os isótopos são representados pelos símbolos normais dos elementos correspondentes adicionando a eles
em cima à esquerda o índice do número de massa do isótopo. Deste modo temos como exemplo: isótopos
35 37 24 25 26 84 86 87
de cloro Cl e Cl; isótopos de magnésio Mg, Mg e Mg; isótopos de estrôncio Sr, Sr, Sr,
88
Sr.[2]
Os isótopos de hidrogénio têm seus próprios símbolos: 1H = H (prótio), 2H = D (deutério), 3H = T (trítio).

2.1-TIPOS DE ISÓTOPOS
Os isótopos podem ser estáveis ou instáveis também designados radioactivos. Um isótopo radioactivo é
instável e pode decair com o tempo, produzindo certos isótopos dum outro elemento. Este novo isótopo é
chamado radiogénico.

Os isótopos radioactivos são os mais importantes em geoquímica porque são usados para a medida do
tempo geológico.

2.1.1 Isótopos Radioactivos


A radioactividade é uma transformação espontânea dum isótopo instável dum elemento químico no
isótopo de outro elemento acompanhada pela emissão de partículas elementares ou núcleos. [2]

Decaimento De Isótopos Radioactivos

Os mecanismos de decaimento mais importantes são:

Decaimento β (n → p)

Captura K (p+e → n)

Actividade α (n, p → n-2, p-2)

A razão do decaimento é proporcional ao nº de átomos

dN (1)
 N

dt
Integrando a equação anterior para t variando de 0 a t e N de N0 a N obtêm-se a equação básica para o
decaimento radioactivo
N  N 0 e t(2)

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N0 – nº de isótopos radioactivos no princípio

N – nº de isótopos radioactivos no momento

t – é o tempo (não é idade)

λ – Constante de decaimento

e = 2.718…

Tempo de Meia vida

Meia vida é o tempo durante o qual o nº de isótopos radioactivos decresce até a metade. Pode ser
calculado a partir da equação básica pela substituição de N = 0.5xN0

t1/2 = (ln2) / λ = 0.693/ λ(3)

Decaimento de 14C

t (anos) Actividade
0 100
5730 50
11460 25
17190 12,5
22920 6,25
28650 3,12
34380 1,56
40110 0,781
45840 0,390

2.1.2 Isótopos Estáveis


Boa parte dos elementos existentes na terra é composta por mais do que um isótopo. Os compostos que
são mais usados na datação são os isótopos estáveis leves como carbono (C), nitrogénio (N), oxigénio (O)
e enxofre (S).

Apesar de diferentes isótopos de um elemento possuirem estruturas electrónicas idênticas, eles


comportam-se diferentemente devido a diferenças nas massas. [1]

Se dois isótopos de um elemento são distribuídos entre duas fases, a composição dos isótopos nas duas
fases será diferente. Este efeito é conhecido como equilíbrio de fraccionamento de isótopos.

A teoria do equilibrio de distribuição de isotopos postula que: O isótopo mais pesado é concentrado na
fase em que está mais fortemente ligado; O fraccionamento é relativamente maior a baixas temperaturas e
diminui com o aumento da temperatura; Os processos de oxidação e redução estão associados a um largo
fraccionamento.
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As razões isotopicas de um elemento podem ser obtidas comprecisam usando um espectrometro de


massa.

As abundâncias dos isótopos são medidas e dadas como razões isotópicas D/H, 13C/12C, 15N/14N, 18O/16O,
34
S/32S. Sendo que as razoes são sempre dadas na ordem: Isótopo pesado/Isótopo leve.

2.1.2.1 Fraccionamento Entre Duas Substâncias


O factor de fraccionamento entre duas substancias é dado como razão absoluta dos isotopos (α) ou
desvios relativos desses valores.

Se as razões isotópicas de duas substâncias A e B forem RA e RB o factor de fraccionacão α entre elas


será:

(4)

Devido à dificuldade em se medir as razões isotópicas absolutas, o factor de fraccionacão pode ser
expresso usando valores de desvios relativos-δ:

( )(5)

Esta equação é obtida calculando os valores de RA e RB (equação 7), a partir da definicão de valores-δ e
substituindo na equação 4.

( ) (6)

Onde δ = δD, δ13C, δ15N, δ18O ou δ34S (dada em ‰)

Rx = razão isotópica da amostra

Rstd = razão isotópica do padrão

( ) ( ) (7)

Os valores positivos de δ indicam que o isotopo traco esta enriqecido na amostra, isto é, a amostra é mais
pesada que o padrão. Os valores negativos de δ indicam que o isotopo traço está empobrecido na amostra,
ou seja, a amostra é mais leve que o padrão.

Os valores da composição isotópica de duas fases A e B pode também ser expresso por valores Δ que
correspondem a diferenca entre os valores-δ.

ΔA-B = δA – δB(8)
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O fraccionamento dos elementos leves nos diversos reservatorios permite fazer o estudo dos ciclos
biogeoquimicos.

III-DATAÇÃO GEOLÓGICA
É um conjunto de processos usados para determinar o tempo geológico de eventos. São usados para estes
objectivos diversos métodos e materiais, os que interessam estudar neste trabalho são os métodos de
datação isotópica.

Existem vários tipos de eventos que podem ser datados, por exemplo:

1. O tempo de geração ou cristalização do magma, por exemplo: geração de granitos, gabros, basaltos.
2. O tempo de recristalização de rochas pré-existentes levando a formação de rochas metamórficas,
normalmente com a formação de um novo mineral. Ex. Formação de gnaisses a partir de granitos,
amfibolito de basaltos.
3. Tempo de elevação, arrefecimento e erosão de cinturões orogénicos ou de parte da crosta.
4. O tempo de deposição de rochas sedimentares. [1]

3.1 Sistemas De Isótopos Para Datação Geológica

Decaimento Mecanismo λ t (1/2)


40
K → 40Ar K – captura 1.25Ga
(Z:19 → 18)
87
Rb → 87Sr β – decaimento 1.42x10-11a-1 48.8Ga
(Z:37 → 38)
147
Sm → 143Nd α – decaimento 6.54x10-12a-1 106Ga
(Z:62 → 60)
238
U → 206Pb Cadeia: 8α+6β- 1.55125x10-10a-1 4.47Ga
235
U → 207Pb Cadeia: 7α+4β- 9.8485x10-10a-1 0.704Ga
232
Th → 208Pb Cadeia: 6α+4β- 4.9475x10-11a-1 14.010Ga

3.1.1 K-Ar
O potássio é o elemento maior mais comum em muitas rochas e minerais. O potássio natural é constituído
por três isótopos: 39K, 40K e 41K dos quais somente o 40K é radioactivo. O processo de decaimento deste
núcleo é complexo e ocorre em dois processos distintos.
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β-
40
λβ=4.962 * 10-10
89,5% Ca

40
K
Captura electrónica

10,5% 40 λce=0.581 * 10-10


Ar

O método K-Ca é raramente usado para datação devido ao facto de grande parte das rochas conter grande
quantidade de cálcio. O que reduz a precisão na determinação devido ao interferência de fundo.

O método de K-Ar pode ser aplicado para a datação da era geológica de Pré-câmbrico a Plestoceno. As
rochas vulcânicas podem ser datadas por sanidinas, anortoclases, plagioclase, leucite, biotites, etc. As
rochas plutónicas podem ser datadas por biotites, muscovites. [1]

3.1.2 Rb-Sr
O rubídio é um metal alcalino, ele não forma minerais porque o raio iónico deste elemento traço é muito
próximo do raio de potássio. Assim ele substitui o potássio em todos os seus minerais. O rubídio ocorre
em micas, k-feldspatos e minerais argilosos. Ele tem dois isótopos 85Rb e 87Rb com abundâncias
isotópicas 72.17 e 27.83 respectivamente. O 87Rb é radioactivo e decai para o 87Sr estável.
87 87
Rb Sr

O estrôncio é um metal alcalino terroso ele ocorre em minerais como apatite, carbonato de cálcio,
plagioclase. Existem 4 isótopos de estrôncio: 88Sr, 87Sr, 86Sr e 84Sr, todos eles estáveis.

3.1.2.1 Datação De Rochas Totais Usando Rb-Sr


A razão Rb∕Sr de rochas ígneas normalmente encontra-se em limites bem definidos desde 0,05 em rochas
básicas a 1,7 ou mais em rochas graníticas com baixo teor de Ca. Durante o processo de cristalização
fraccionada do magma, o estrôncio tende a tornar-se mais concentrado na plagioclase cálcica
recentemente formada, enquanto o rubídio mantêm-se na fase líquida. A razão Rb∕Sr aumenta
gradualmente no decurso da cristalização.
87 87
A quantidade de Sr presente em uma rocha é o resultado do decaimento do Rb ao longo da história
87
dessa rocha somada ao Sr que já existia no momento de sua cristalização (87Sri). Isto é expresso pela
equação fundamental da geocronologia:

Sr → 87Sri + 87Rb x (eλt - 1)


87

Onde: λ é a constante de decaimento, igual a 1.42 x10-11 a-1.

( ) ( ) ( ) ( )

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Esta é a equação de uma recta com a forma y=mx +b onde y = (87Sr/86Sr), m = (eλt - 1), x = (87Rb/86Sr) e
b= (87Sr/86Sr)i

A idade da rocha pode ser determinada através da inclinação da recta.

Um conjunto de rochas totais comagmaticas dá uma linha recta no gráfico 87Sr/86Sr versus 87Rb/86Sr.
Quando se faz a análise de um conjunto de minerais de uma rocha, a recta obtida é designada de isócrona
(figura 1).[1]

Esta recta dá a idade da rocha e a razão inicial ( ) do magma.

Figura 1-demonstração de uma isócrona


87
Em t = 0 (tempo de cristalização), todos os pontos tem o mesmo valor de razão Sr/86Sr e diferentes
valores de 87Rb/86Sr. O declive da recta é zero e depois do arrefecimento a temperaturas nas quais o Rb e
87
o Sr se encontram próximos a razão Sr/86Sr aumenta como resultado do decaimento de rubídio a
87
estrôncio acompanhado pela diminuição da razão Rb/86Sr. E assumindo a equação como função do
tempo o declive da recta aumenta mas a razão inicial mantêm-se a mesma e disto pode-se tirar a razão
inicial na rocha.

Figura 2-ilustração gráfica da evolução de um diagrama de isócrona

Assunções no diagrama de isócronos

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• Os minerais foram formados ao mesmo tempo

• Os minerais tem a mesma razão inicial (87Sr/86Sr)i

• Os minerais permaneceram fechados relativamente aos isótopos estudados

Estas assunções podem ser cumpridas, se os minerais representam o mesmo corpo magmático ou
metamórfico.

3.1.2.2 Datação De Minerais Usando Rb-Sr


O método de Rb-Sr pode ser usado para datar minerais ígneos e metamórficas tais como biotite,
muscovite, e feldspatos potássicos. E tambem pode ser usado para datar glauconite que é um mineral
sedimentar.[1]

Assume-se que todos os minerais numa rocha devem apresentar a mesma idade, porem os minerais são
abertos a Rb e Sr a temperaturas elevadas o que viola uma das assunções do diagrama de isócronos.
Quando a temperatura baixa o sistema Rb-Sr torna-se fechado e a contagem é iniciada. É este factor que
faz com que apareçam idades discordantes em rochas ígneas e rochas metamórficas que arrefecem
gradualmente ou que foram reaquecidas durante processos de metamorfismo. Nestes casos faz-se a
datação do tempo de arrefecimento após a recristalização. [1]

Quando se aplica este método de datação somente a minerais não é possivel obter um valor correcto da
razão inicial (87Sr/86Sr)i , para minerais ricos em rubídio a correção do valor da razão inicial não é muito
significativo para o calculo da idade das rochas e assumindo o valor 0,710 para a razão (87Sr/86Sr)i obtem-
se valores verdadeiros da idade das rochas. Mas tal não acontece para minerais pobres em ricos em
estrôncio, onde é necessária a avaliação de toda a rocha e seus minerais constituintes para determinação
da idade da rocha usando um diagrama de isócrona. [1]

3.1.3 U-Pb e Th-Pb


O uranio e o torio são elementos traço muito encontrados na litosfera, os minerais ricos e tório e urânio
são pouco susceptíveis a datação isotópica. Isto ocorre devido a sua forte radioactividade que destrói a
estrutura cristalina dos minerais.

O urânio consiste em dois isótopos radioactivos: 238U e 235U. o tório tem apenas um isótopo natural 232Th.
Os esquemas de decaimento de tório e urânio são os seguintes:

238
U → 206Pb Cadeia: 8α+6β- 1.55125x10-10a-1
235
U → 207Pb Cadeia: 7α+4β- 9.8485x10-10a-1
232
Th → 208Pb Cadeia: 6α+4β- 4.9475x10-11a-1
O chumbo consiste em quatro isótopos 204Pb, 206Pb, 207Pb e 208Pb. Apenas o 204Pb não é radiogenico,
assim ele é usado para corrigir a composição de chumbo que é igual ao chumbo inicial + o chumbo
incrustado. A composição de chumbo é dada pela razão 207Pb/204Pb e 206Pb/204Pb. Para determinar a

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composição isotópica de Pb comum incorporado na rocha no processo de cristalização analisa-se um


mineral de chumbo livre de urânio tal como a galema.

Os minerais mais importantes para datação U-Pb e Th-Pb são zircónio e esfena, podem tambem ser
usados para datação a alanite, uraninite e torite.

Estes dois métodos são pouco usados porque dão idades anómalas que são difíceis de interpretar.

3.1.4 Sm-Nd
O samário e o niodímio são ambos lantanideos. Durante a geração de magma no manto superior eles são
selectivamente removidos do manto. Devido ao facto de ter raio iónico maior que o samário o niodímio é
enriquecido com samário.

O 147Sm é radioactivo e decai para o estável 143Nd: 147


Sm→143Nd λ=6.54x10-12a-1
O método Sm-Nd é semelhante ao método Rb-Sr.

143Nd  143Nd  147 Sm t


   (e  1)
144 Nd  144 Nd i 144 Nd

A vantagem deste método é que o sistema Sm-Nd é menos perturbado por efeito de metamorfismo, etc.
pode ser usado para datar rochas maficas e ultramaficas que é muito complicado usando outros métodos.
147
Porem o elevado tempo de meia-vida de Sm limita a aplicação deste método. As rochas mais novas
datadas por este método são de cerca de 300 milhões de anos de idade. [1]

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. SCHUILLING, R. D. et all. (1988) Introduction To Geochemistry. 5th edition. Department of


Geochemistry.

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