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ESTRATIGRAFIA, PETROGRAFIA E QUÍMICA DA FORMAÇÃO ARARAS NA PARTE SUL DO MUNICÍPIO DE

ROSÁRIO OESTE
Débora Almeida Faria1, Gerson Souza Saes2,Leandro da Silva Sousa1,Josemar Clemente da Silva 3
1
Programa de Pós-Graduação em Geociências ICET-UFMT - Brasil. E-mail:defaal@hotmail.com, leogeologo@gmail.com
2
Departamento de Geologia Geral, ICET-UFMT- Brasil. E-mail: gssaes@gmail.com
3
Curso de Graduação em Geologia ICET-UFMT- Brasil. Email: Josemar_clemente@yahoo.com.br
INTRODUCÃO (composto por calcários calcíticos) e membro superior
(composto por calcários dolomíticos), apresenta contato
A área de estudos localiza-se a cerca de 100 km de Cuiabá, superior gradacional, transicional com a Formação Raizama
capital do Estado de Mato Grosso, Folha SD. 21 Cuiabá, e inferior brusco com a Formação Puga.
junto à localidade de Bauxi, distrito de Rosário Oeste.
A Formação Araras é composta essencialmente por calcários
A parte Sul do município de Rosário Oeste no Estado de calcíticos e calcários dolomíticos e, devido a essa diferença
Mato Grosso é caracterizada pela presença de rochas litológica, foi subdividida em dois membros sendo um
carbonáticas pertencentes à Formação Araras que se membro inferior e um membro superior. Luz et al (1978)
encontra inserida dentro da Faixa Paraguai, definida caracteriza a porção inferior como sendo constituída por
originalmente por Almeida (1965) como sendo um cinturão margas conglomeráticas, calcários margosos, calcíferos e
de dobramentos bordejando o leste-sudeste do Cráton calcários dolomíticos, com intercalações de siltitos e argilitos,
Amazônico. já a porção superior os dolomitos com intercalações de
A Faixa Paraguai é constituída de metassedimentos arenitos e argilitos calcíferos, sendo comum para o topo a
deformados em dobras isoclinais fechadas no interior da ocorrência de níveis silicificados e níveis de silexito (cherts).
faixa compressional, passando progressivamente em direção
• Membro Inferior:
ao Cráton às coberturas em parte contemporâneas,
estruturalmente onduladas e falhadas, mas não Constituído de calcários calcíticos, que variam de maciços a
metamorfizadas (Alvarenga 1990; Alvarenga & Trompette finamente laminados com coloração igualmente variando de
1993), dentro deste vasto contexto geológico a Formação cinza escuro a coloração mais esbranquiçada. Exibem
Araras foi escolhida como objeto deste trabalho que consta intercalação entre níveis laminados e níveis maciços,
de mapeamento, estratigrafia, petrográfia, química e evidencias de deposição desses calcários em ambiente
potencialidade econômica, juntamente com alguns aspectos marinho raso com presença de ondas, bem como
preliminares de rochas que ocorrem as suas adjacências. estratificação plano paralela.
Estratigraficamente apresenta-se compreendida Apresentam ainda fraturas preenchidas por carbonatos,
litologicamente na base pelo Grupo Cuiabá até o topo dobras aparentemente intraformacionais e nódulos de sílica
constituído pela Formação Diamantino. O enfoque deste nas porções laminadas, suas camadas são da ordem de
trabalho é a Formação Araras exposta em estrutura 100m aproximadamente. Mostra uma direção de mergulho
homoclinal na margem sul – sudoeste do cráton Amazônico dessas camadas variando de acordo com a localização do
e principalmente na zona de cavalgamento e dobramentos afloramento na área podendo mergulhar em alto ou baixo
da parte norte da Faixa Paraguai, no contexto da parte sul da ângulo, desta forma, tanto para SE como para SW
Província Tapajós e oeste e noroeste da Província Tocantins (afloramentos da região da Faz. Aliança). Os afloramentos
(Almeida 1984). ocorrem em forma de blocos e morrotes.
GEOLOGIA LOCAL • Membro Superior:
A área estudada constitui-se por quatro unidades O membro superior da Formação Araras é composto por
estratigráficas sendo, da base para o topo: Formação Bauxi, calcários dolomíticos maciços, de coloração que varia de
Formação Puga, Formação Araras e Formação Raizama, cinza à rosa claro devido à presença de ferro em sua
onde é possível observação esquemática desse composição. Exibe, muitas vezes, um aspecto brechado e
empilhamento estratigráfico. Estes estudos possibilitaram a uma estratificação planoparalela e laminação pouco
elaboração do mapa geológico da área. marcada.
A Formação Bauxi é composta por siltito, arenitos e Aflora sob a forma de blocos e quando apresentam
conglomerados oligomíticos, os siltitos são observados na concreções e níveis de sílex (Fig 16) se tornam mais
base da formação, os arenitos na porção intermediária e os resistentes ao intemperismo formando pequenos morros e
conglomerados no topo. A Formação Bauxi faz contato morrotes.
inferior tectônico com o Grupo Cuiabá através da Falha
Inversa de Rosário Oeste, e superior com a Formação Puga, Apresenta, ainda localmente, oólitos e estromatólitos, suas
nesse caso fazendo um contato concordante, abrupto com a camadas mostram um mergulho que varia ora para SE ora
mesma. para SW. No topo da Formação se encontra uma zona de
transição para a Formação Raizama onde pode ser
A Formação Puga é constituída essencialmente por encontrado arenito calcífero de cor branca e granulação
diamictitos fazendo contato brusco inferior com a Formação média. O membro superior da formação Araras pode atingir
Bauxi e Superior Com a Formação Araras. A Formação espessuras superiores a 150m aproximadamente.
Araras, subdividida em dois membros por Luz et al (1978),
devido às diferenças litológicas e estratigráficas encontradas, A calcita espática se apresenta em níveis, preenchendo
desta feita passou a ser dividida em membro inferior fraturas e até mesmo na cimentação tanto de alguns grãos
maiores quanto dos pellets, estes apresentam granulometria 30%, o que e natural em se tratando de rochas carbonáticas.
de aproximadamente 0,25mm em alguns casos o Na maioria das amostras a sílica é pouco representativa
preenchimento de fraturas de dá por meio de estilólitos, sempre abaixo de 10 % chegando a níveis inferiores a 1 (um)
podendo haver ocorrência de sua recristalização em torno de por cento; os teores de MgO encontrados nas amostras gira
mega-poros. em torno dos 20% com exceção de uma amostra (BP-1a)
onde os teores foram tão baixos que não foi possível captar
Os calcários inequigranulares apresentam níveis onde é com o método.
possível a verificação de uma textura microcristalina e em
alguns casos é alternada a níveis onde a calcita possui A alumina (Al2O3) presente nas amostras, de acordo com o
cristais maiores exibindo uma discreta orientação desses gráfico e a tabela acima citados se mantém sempre na faixa
carbonatos, havendo também calcários intraclastos, peloidais dos 2% exceto na amostra FAL-4a, onde esse valor salta
e maciços. para 9.7 por cento, o que pode ser justificado pela presença
de uma intercalação de um material terrígeno com o calcário
Em alguns casos os cristais maiores de calcita estão na amostra, podendo, então essa lama ser o agente
cimentados por uma massa microcristalina, a lâmina causador desta elevação no teor de alumina para esta
referente à amostra BP 32c apresenta um acamamento e amostra.
uma dobra que é ilustrada pelos níveis de calcita mais
exibindo uma intercalação entre esses níveis mais Os valores de K2O, e de Fe2O3 se comportam de maneira
desenvolvidos e a massa microcristalina. semelhante ambos não ultrapassam 1 por cento, contudo na
amostra FAL-4a e provavelmente devido às intercalações de
O Calcário oolítico apresenta cimentado por calcita espática lama terrígena os teores de K2O e Fe2O3 saltam para,
e radial no núcleo dos oolitos bem como suas bordas e respectivamente para 4,8 e 4,7, nas demais amostras os
fraturas, os oolitos em média possuem granulometria de teores de K2O seguem inferiores a um por cento e em
0,41mm aproximadamente. alguns casos nem consegue ser captado pelo método, já o
O calcário brechado microcristalino intensamente fraturado é oxido de ferro é registrado em todas as amostras, porém
preenchido e cimentado por calcita espática, exibindo um com teores que não ultrapassam 2%.
fenômeno de dolomitização. Vale ainda ressaltar que algumas amostras apresentaram
ANÁLISES QUÍMICAS DAS ROCHAS CARBONÁTICAS traços de ZrO2, e em todas elas os valores nunca
DA FORMAÇÃO ARARAS ultrapassam 0,02%. Os demais elementos analisados não
possuem valores significativos para a análise e interpretação
É possível observar que há concentração em determinados dos resultados obtidos.
elementos nas diferentes amostras (Fig. 1), contudo nota-se
que todas as amostras, exceto a BP-13a, analisadas
mostram um enriquecimento em CaO ficando todas acima de

Figura 1- Perfil litológico da Fm. Araras na área de estudo, mostrando a variação de compostos químicos por amostras.
A Formação Raizama e constituída, essencialmente Formação Araras e superior com a Formação
por arenitos estratificados que não apresentam uma Diamantino. Toda essa estratigrafia pode ser
variação granulométrica significativa ao longo de todo observada no mapa da figura 2 que mostra o contexto
o pacote, faz contato inferior, transicional com a geológico da região

Figura 2 Coluna Estratigráfica mostrando o empilhamento desde a Formação Bauxi na base até a Formação Raizama no topo

CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES fosseis. Alguns dos elementos analisados nas amostras, tais
como Al2O3, Fe2O3, K2O, MnO, P2O5 entre outros,
Com base nos diferentes dados obtidos é possível a apresentaram valores pouco expressivos havendo uma
exploração do Calcário para os seguintes insumos: necessidade de análises mais detalhadas proporcionar uma
- Concreto Hidráulico, duas amostras apresentaram teores identificação destes no uso industrial dentro das
de MgO > 12% . classificações padrões.

- Corretivo de Solo as amostras apresentaram teores Permitindo uma maior contribuição aos estudos relacionados
propícios a esta finalidade. a geologia da região bem como a caracterização das rochas
carbonáticas, caracterizadas neste trabalho como Formação
- Sua utilização na Construção civil. Araras pela insuficiência de dados que possibilitassem a
- Três amostras apresentaram teores de magnésios identificação dos parâmetros necessários para denomina-lá
suficientes para que possam ser utilizados na fabricação de como Grupo.
cimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Os dados petrográficos permitiram a identificação de ALMEIDA, F. F. M. 1965 - Geossinclíneo Paraguai. In:
estruturas microcristalinas, o preenchimento de calcita Semana de Debates Geológicos, 1 , Porto Alegre, 1965.
espática, a presença de oolítos e até mesmo a presença do Centro Acad. Est. Geol. Univ. Fed. Rio Grande do Sul, p. 87-
que definimos pela sua forma como sendo “esqueleto de 101.
algas”, necessitando de estudos mais aprimorados para sua
confirmação o que permitiria a identificação ou não de
ALMEIDA, F.F.M. 1984 – Província Tocantins -setor
sudoeste. In: ALMEIDA, F.F.M. & HASUI, Y. (eds.) O Pré-
Cambriano do Brasil. Ed. Edgard Blucher, São Paulo, p.265-
281.
ALVARENGA, C.J.S. 1990 – Phénomenes sedimentaires,
structuraux et circulation de fluides à la transition Chaine-
Craton: Example de la cote Paraguai dáge Proterozoique
Supérieur, Mato Grosso, Brézil. These Doc. Sci. Univ.
Marseille, 177p.
ALVARENGA, C. J. S.; TROMPETTE, R. Evolução Tectônica
da Faixa Paraguai: A Estruturação da Região de Cuiabá.
Revista Brasileira de Geociências. 23, p. 18-30.1993.§
LUZ, J.S. & ABREU FILHO, W. 1978 – Aspectos geológico-
econômicos da Formação Araras do Grupo Alto Paraguai-
MT. Anais do 30º Congresso Brasileiro de Geologia, Recife,
V. 4, p 1816-1826

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