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Geotecnologias

e Meio Ambiente:
Analisando Uma Área de Proteção Ambiental

Organizadoras
Nadjacleia Vilar Almeida
Milena Dutra da Silva
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Copyright © Nadjacleia Vilar Almeida e Milena Dutra da Silva, 2016.
Todos os direitos reservados.
Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor no Brasil desde 2009.
É vedada a reprodução de qualquer parte deste livro sem a autorização da editora.

Organização: Nadjacleia Vilar Almeida e Milena Dutra da Silva


Capa: Gisele de Albuquerque Gomes
Revisão Ortográfica: Carolina Cavalcanti
Revisão: Nadjacleia Vilar Almeida e Milena Dutra da Silva
Diagramação: Gisele de Albuquerque Gomes

Ficha catalográfica elaborada na Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G352 Geotecnologias e meio ambiente: analisando uma área de proteção


ambiental / Nadjacleia Vilar Almeida, Milena Dutra da Silva,
organizadoras.- João Pessoa: F e F Gráfica e Editora, 2016.
238p. : il.
e-Book ISBN: 978-85-68199-08-4
1. Proteção ambiental. 2. Geotecnologia e meio ambiente.
3. APA - Barra do Rio Mamanguape. I. Almeida, Nadjacleia Vilar. II.
Silva, Milena Dutra da.
CDU: 502.62

Gráfica e Editora F&F


Rua 03 - Chác. 29 - Lt 18 - Loja 01- Vicente Pires - Taguatinga-DF
Tel: 61 3397-1042
grafica@fefgrafica.com.br | www. fefgrafica.com.br
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Organizadoras
Nadjacleia Vilar Almeida
Milena Dutra da Silva

Universidade Federal da Paraíba


Conselho Editorial/Cientifico
Eduardo Rodrigues Viana de Lima
Elaine Bernini
Roberto Sassi
Zelma Glebya Maciel Quirino

Editora
FeF Gráfica e Editora

1ª Edição
João Pessoa - PB
2016
Sumário

Apresentação 7

A APA da Barra do Rio Mamanguape 9

Caracterização fisíca da APA da Barra do Rio


Mamanguape-PB 13
Iara dos Santos Medeiros, Juliane Monteiro e Nadjacleia Vilar Almeida

Variabilidade climática da APA da Barra do Rio


Mamanguape - Paraíba 31
Lincoln Eloi de Araújo, Fabrício Daniel dos Santos Silva, Haymée
Nascimento de Alencar, Elydeise Cristina Andrade dos Santos e
Klefferson Alves dos Santos

Análise físico-química das amostras de água e solos


da Área de Proteção Ambiental da Barra Do Rio
Mamanguape – PB 45
Évio Eduardo Chaves de Melo, Bruno de Oliveira Dias, Mateus Costa
Batista, Hugo Yuri Elias Gomes de Assis e Nadjacleia Vilar Almeida

Sensoriamento remoto aplicado ao estudo da dinâmica


espaço-temporal da cobertura vegetal da APA da Barra
do Rio Mamanguape/PB 71
Angélica Fernandes Pessoa, Milena Dutra da Silva e Nadjacleia Vilar
Almeida

Classificação da paisagem da APA da Barra do Rio


Mamanguape com o uso de SIG 95
Hugo Yuri Elias Gomes de Assis, Milena Dutra da Silva e
Nadjacleia Vilar Almeida
Processamento de imagens aéreas obtidas por uma
aeronave remotamente pilotada: aplicações na
APA da
Barra do Rio Mamanguape-PB 131
Jonas Fernandes da Silva e Alisson Vasconcelos de Brito

Fenofases reprodutivas ao longo da estação seca e


chuvosa na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra
do Rio Mamanguape: caracterização de suas principais
síndromes de polinização e frutificação 163
Fernanda Carla Ferreira de Pontes, Dayse Teixeira e Evelise Locatelli

Mudanças na paisagem e impactos da área urbana no


comportamento da preguiça-comum (Bradypus variegatus
Schinz, 1825) na APA da Barra do Rio Mamanguape,
Paráiba, Brasil. 195
Elaine Pessoa Pedrosa, Rafaela Cândido de França e Carla Soraia Soares
de Castro

Avaliação do campo térmico e projeções microclimáticas:


estudo de caso em ambiente urbano inserido na APA da
Barra do Rio Mamanguape/PB 219
Joel Silva dos Santos, Anne Falcão de Freitas, Beatriz Barbalho de Melo,
Haymée Nascimento de Alencar, Nadjacleia Vilar Almeida
Apresentação

Os trabalhos aqui dispostos apresentam diferentes possibilidades


de uso das geotecnologias aplicadas às análises geoambientais, e tem
como objeto de estudo a Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra
do Rio Mamanguape, localizada no litoral norte do Estado da Paraíba.
Destaca-se que a maioria dos trabalhos tem colaboração direta
ou indireta do Laboratório de Cartografia e Geoprocessamento (LCG),
vinculado ao Departamento de Engenharia e Meio Ambiente (DEMA/
CCAE/UFPB), e corresponde à parte de pesquisas realizadas no âmbito
da graduação e/ou da pós-graduação.
A interdisciplinaridade é característica marcante dos textos; os
autores possuem diferentes formações (geógrafos, biólogos, ecólogos,
agrônomos, tecnólogo em telecomunicações, entre outras), fazem
parte da rede de pesquisadores e colaboradores vinculados ao Grupo
de Pesquisa Estudos Geoambientais, cadastrado no CNPq em 2012, e
dedicam-se ao desenvolvimento de estudos referentes à APA da Barra
do Rio Mamanguape.
Por se tratar de uma unidade de conservação de uso sustentável,
cujo objetivo é compatibilizar a conservação da natureza com o uso
sustentável de parcela dos seus recursos naturais (SNUC, 2000)1, são
permitidos o desenvolvimento de atividades humanas e a exploração dos
recursos naturais. No entanto, a pressão das atividades socioeconômicas
desenvolvidas no interior e no entorno da APA da Barra do Rio
Mamanguape podem causar impactos negativos, comprometendo a
manutenção dos ecossistemas presentes na APA.
Diante do eminente desafio de monitorar a APA da Barra do Rio
Mamanguape, surgem, como suporte metodológico, as geotecnologias
com vistas à análise da paisagem de forma integrada e sistêmica.
Compreendem-se, aqui, as geotecnologias como um conjunto
de tecnologias facilitadoras e fundamentais na análise integrada
1  BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constitui-
ção Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário
Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, Seção 1 - 19/7/2000, Pg.1
da paisagem utilizada para a coleta, o processamento, a análise e
as visualizações de dados e informações com referência espacial.
Possibilitam, assim, espacializar, realizar interações entre os
diferentes parâmetros ambientais, realizar a avaliação integrada e o
gerenciamento de banco de dados espaciais cada vez mais robustos.
Integram o Sensoriamento Remoto, especificamente as técnicas de
Tratamento Digital de Imagens, o Geoprocessamento, o Sistema de
Informações Geográficas (SIG), o Sistema de Posicionamento Global-
GPS, a Fotointerpretação e a Cartografia Digital.
Ressaltamos que os trabalhos dispostos ao longo deste livro
configuram exemplificações do uso de uma ou mais geotecnologias
conjugadas, com fins de subsidiar estudos geoambientais na APA.
Assim, os capítulos são expostos seguindo uma sequência temática
e a escala de análise (zoom out e zoom in), iniciando por aqueles que
abrangem recorte espacial correspondente a todo o território da APA
da Barra do Rio Mamanguape (capítulos 1 a 7), contemplando aspectos
abióticos (geologia, geomorfologia, pedologia, clima e diagnóstico físico
químico), bióticos (cobertura vegetal) e socioeconômico (uso da terra).
Na perspectiva de menor escala de análise, e maior detalhamento,
seguem os capítulos de abordagem pontual (capítulos 8 a 10), versando
sobre aspectos bióticos (flora e fauna) e socieconômico e ambiental
(microclima urbano).

Nadjacleia Vilar Almeida


Milena Dutra da Silva
Novembro de 2016
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

A APA da Barra do Rio Mamanguape2

A APA da Barra do Rio Mamanguape possui área de 14.460 ha; é


gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) em articulação com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Foi criada pelo Decreto
Federal nº 924 de 10 de setembro de 1993, com o objetivo de disciplinar
o processo de ocupação do território, proteger a diversidade biológica
e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais, além dos
objetivos específicos:

I-garantir a conservação do habitat do Peixe-Boi Marinho


(Trichechus manatus); II - garantir a conservação
de expressivos remanescentes de manguezal, mata
atlântica e dos recursos hídricos ali existentes; III -
proteger o Peixe-Boi Marinho (Trichechus manatus)
e outras espécies ameaçadas de extinção no âmbito
regional; IV - melhorar a qualidade de vida das
populações residentes mediante orientação e disciplina
das atividades econômicas locais; V - fomentar o turismo
ecológico e a educação ambiental (BRASIL, 1993).

Situada entre as coordenadas métricas 269000mE e 292000mE e


9238000mN e 9259000mN, a APA da Barra do Rio Mamanguape está
inserida na mesorregião da Mata Paraibana, abrangendo os municípios
de Rio Tinto, Lucena, Marcação e Baía da Traição (Figura 1).

2  Este texto compreende trechos originalmente expostos nos capitulos 1, 2, 6 e 8, e foram aqui reunidos por se
tratar de informações basilares comuns a todos os capítulos deste livro.

10
Figura 1. Localização da APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

APA da Barra do Rio Mamanguape engloba/abrange os


estuários dos rios Mamanguape, Miriri e Estivas. A região compõe-
se de remanescentes de mata atlântica, restinga, uma vasta extensão
de mangues com cerca de 6.000 ha, sendo a maior área conservada
de manguezal do Estado da Paraíba, no início da década de 2000
(RODRIGUES & ANTUNES, 2005). Possui ilhas e, na foz do Rio
Mamanguape, uma barreira de recifes de arenito (ASSIS, 2014) que
formam um paredão perpendicular à foz. A APA apresenta, ainda,
outros ecossistemas como lagoas, dunas e praias.
Na APA da Barra do Rio Mamanguape, e no seu entorno,
encontram-se 18 comunidades tradicionais e aldeias indígenas
(GREENTEC, 2014, p.169-170). No interior da APA “estão inseridas
as aldeias Akajutibiró, Caieira, Val, Camurupim, Tramataia, Brejinho,
Três Rios, Jaraguá e Monte Mor, sendo que as seis primeiras pertencem
a Terra Indígena Potiguara e as três últimas compõem a Terra Indígena
Monte-Mor” (GREENTEC, 2014, p.193).
O clima da região é tropical chuvoso com temperatura média
anual que varia entre 24° e 27°C, e pluviosidade média que fica em
torno de 1.500mm anuais (NIMER et al. 1989). A APA da Barra do
Rio Mamanguape está inserida no setor quente, oriental, úmido e
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

subúmido do Estado da Paraíba (CARVALHO, 1982). (CARVALHO,


1982). A estação seca tem início em setembro, estendo-se até fevereiro,
sendo outubro e novembro os meses mais secos com temperatura
em torno de 26°C. Temperaturas altas são verificadas no período de
dezembro a fevereiro atingindo cerca de 28°C. A estação chuvosa tem
início em março e vai até agosto, retornando às condições de seca a
partir de setembro. A média das temperaturas mínimas fica em torno
de 23°C e distribuem-se entre os meses de julho e agosto. (GOVERNO
DO ESTADO DA PARAÍBA, 1985).
Outras características físicas e ambientais, e/ou, o
aprofundamento das descrições aqui expostas, são apresentadas
ao longo deste livro, nos capítulos a seguir.

Referências
ASSIS, Hugo Yuri Elias Gomes de. Análise das classes de paisagem da
APA da Barra do Rio Mamanguape - PB. Monografia (Graduação) –
UFPB/ CCAE, Rio Tinto: 2014.
BRASIL. Decreto n.º 924, de 10 de setembro de 1993. Cria a Área
de Proteção Ambiental da Barra do Rio Maman guape no Estado da
Paraíba e dá outras providências. Diário Oficial [da República
Federativa do Brasil], Brasília, Seção 1 - 13/9/1993, Página 13555
(Publicação Original)
CARVALHO, Maria Gelza R. F. de. Estado da Paraíba: classificação
geomorfológica. João Pessoa: Editora Universitária, UFPB/FUNAPE,
1982. 72 p.
GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA. Relatório da qualidade do
meio ambiente. João Pessoa: Secretaria das Minas, Energia e Meio
Ambiente, v. 1, 1985. 203 p.
GREENTEC - Consultoria e Planejamento Agroflorestal e do Meio
Ambiente LTDA. Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental
da Barra do rio Mamanguape. Área de relevante interesse
ecológico de manguezais da foz do rio Mamanguape. Brasília:
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
2014. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/
docs-planos-de-manejo/apa_arie_manguezais_mamanguape2014.pdf>
MARCON NEVES, Mary Carla. Plano de Gestão Estratégica para
a implantação da APA da Barra do Rio Mamanguape. Brasília:
IBAMA/PB: MMA, 2003.

12
NIMER, E.; PINHEIRO FILHO, A. A.; AMADOR, E. S. ARAÚJO NETO,
M. D. Climatologia da região Nordeste. In: NIMER, E. Climatologia
do Brasil. 2ª Edição, Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de Recursos
Naturais e Estudos Ambientais, 1989, 422 p.
RODRIGUES, Geraldo Stachetti; ANTUNES, Luciana Rocha.
Avaliação de impactos ambientais para gestão da APA da Barra do Rio
Mamanguape (PB). In: RODRIGUES, G. S.; BUSCHINELLI, C. C. de
A.; RODRIGUES, I. A.; NEVES, M. C. M. Avaliação de impactos
ambientais para gestão da APA da Barra do Rio Mamanguape-
PB. Jaguariúna, SP: Embrapa Meio Ambiente, 2005. p. 1-10. 

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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Caracterização fisíca da APA da Barra do


Rio Mamanguape-PB
Iara dos Santos Medeiros3, Juliane Monteiro4 e Nadjacleia Vilar Almeida5

Introdução

A interação dos elementos abióticos, segundo Martins et al. (2004),


proporciona a identificação de geoambientes onde suas características
se inter-relacionam harmonicamente. A interação dos componentes
abióticos juntamente com outros elementos constitui a paisagem.
Bertrand (2004, p. 141) conceitua a paisagem sob o ponto de vista de
uma Geografia Global, quando a define como “o resultado da combinação
dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos
que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem
um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução”. Sob outra
perspectiva, Crepani et al. (2001, p. 23) trata a paisagem como sendo o
resultado da ação da atmosfera sobre as rochas da superfície terrestre e
da força da água em movimento sob a ação da energia solar, ou seja, é o
resultado da interação entre a Dinâmica Interna e a Dinâmica Externa
da Terra.
Os conceitos de Crepani et al. (2001) e Bertrand (2004)
possibilitam uma melhor compreensão sobre o referido assunto, dando
suporte para trabalhá-lo de forma integrada, tendo como eixo norteador
os estudos disciplinares, na perspectiva de analisar a interdependência
dos elementos constituintes da paisagem, pois, em reforço ao explicitado
anteriormente, os aspectos da paisagem interagem entre si e estão em
constante dinâmica.
Para o estudo integrado da paisagem da APA da Barra do rio
Mamanguape, a partir das análises sintéticas, foram utilizadas as
geotecnologias, definidas por Rosa (2005, p.81), como sendo “o conjunto
3  Graduanda do curso de Bacharelado em Ecologia-UFPB (iara.s.medeiros@hotmail.com)
4  Graduanda do curso de Bacharelado em Ecologia-UFPB (julianemonteiro89@gmail.com)
5  Professora do curso de Bacharelado em Ecologia – DEMA/CCAE/UFPB (nadjacleia@ccae.ufpb.br)

14
de tecnologias para coleta, processamento, análise e oferta de
informação com referência geográfica, sendo compostas por soluções
em hardware, software e peopleware que juntas constituem poderosas
ferramentas para tomada de decisão”.
Dentre as teorias e conceitos utilizados como embasamento
para a análise integrada dos fatores físicos da paisagem tem-se a
Teoria do Geossistema, esquematizada na Figura 1, a qual resulta da
dinâmica entre o potencial ecológico (clima, hidrologia, geomorfologia),
a exploração biológica (vegetação, solo e fauna) e a ação antrópica.
Almeida (2012, p. 37), baseando-se em Bertrand (2004), explica
que é na escala do geossistema que ocorre a maioria dos fenômenos
com interferência nos elementos da paisagem (físicos, biológicos e
antrópicos).
Diante da importância do meio físico para manutenção do
equilíbrio dinâmico da paisagem, o objetivo deste capítulo foi realizar
uma caracterização dos componentes abióticos, da geologia, da
geomorfologia, hidrografia (potencial ecológico) e do solo (exploração
biológica) da Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio
Mamanguape.

Figura 1. Esboço de uma definição teórica de geossistema.


Fonte: Bertrand (2004, p. 146).

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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

A Área de Proteção Ambiental-APA é uma unidade de conservação


de uso sustentável que visa conciliar a conservação da natureza com o
uso dos recursos naturais, permitindo atividades que envolvem coleta
e uso desses recursos, praticadas de forma que sua perenidade e os
processos ecológicos estejam assegurados (MMA, 2015).
A APA da Barra do Rio Mamanguape está representada por
manguezais e várzeas, arrecifes costeiros, mata atlântica, mata de
restinga, dunas e falésias. Foi criada com o objetivo de disciplinar o
processo de ocupação do território, proteger a diversidade biológica e
assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
Assim, este estudo pode auxiliar na proteção das áreas naturais,
como também dos fatores bióticos e abióticos, contribuindo para a
preservação dos recursos naturais existentes na Área de Proteção
Ambiental.

Procedimentos Metodológicos

A pesquisa utilizou fundamentos do método geossistêmico,


observando as interligações dos parâmetros físicos (geologia,
geomorfologia, hidrografia e pedologia), sendo necessária a aplicação
dos procedimentos descritos a seguir:
Primeiramente obteve-se um arquivo vetorial contendo
informações da geologia com escala de 1:1.000.000 do ano de 2004,
disponibilizadas pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) através do
site do GEOBANK6. Posteriormente, através do software Quantum
GIS versão 2.8.2, realizou-se o recorte da área de interesse de acordo
com os limites da APA da Barra do Rio Mamanguape, gerando assim
um mapa temático das unidades geológicas presentes na APA.
As características geomorfológicas foram analisadas através de
quatro produtos cartográficos: relevo sombreado com perfil topográfico,
hipsometria, declividade e densidade da drenagem gerados com
base em imagem de radar (SRTM – Shuttle Radar Topography
Mission) com resolução espacial de 30 metros, referente à folha SB-
25-Y-A disponibilizada pelo site TOPODATA7 que contém os dados
morfométricos do Brasil.

6  http://geobank.cprm.gov.br/
7  http://www.dsr.inpe.br/topodata/

16
A elaboração do mapa do relevo sombreado foi realizada
automaticamente no software Global Mapper versão 17.0 (versão
temporária). Para melhor visualização e interpretação dos dados foram
criados dois transectos (ab) e (a’b’), sendo o primeiro correspondente
ao trecho do extremo oeste do limite da APA à foz do rio Mamanguape
(ao longo do curso do rio Mamanguape) e o segundo demonstrando
o comportamento do leito do rio e das vertentes esquerda e direita;
os transectos foram desenhados com auxílio da ferramenta 3D Path
Profile/Lineofsigth, gerando perfis topográficos do relevo.
Utilizando como base a imagem SRTM foram extraídas
automaticamente as curvas de nível com equidistância de 5 metros, as
quais, associadas ao Modelo Digital de Elevação (MDE), permitiram a
geração do mapa hipsométrico.
A declividade foi estabelecida através da ferramenta slope
sendo expressa em valores percentuais de acordo com a classificação
de Pereira e Lombardi Neto (2004).
A hidrografia foi gerada com base nas cartas topográficas da
SUDENE, datadas de 1974, que recobriam a APA, e duas imagens
ortorretificadas do satélite RapidEye, com resolução espacial de
5x5m. A primeira imagem capturada pelo satélite em 11/07/2012 e a
segunda em 20/10/2013, ambas foram adquiridas no Geocatálogo do
Ministério do Meio Ambiente (MMA).
A densidade da drenagem é a relação do comprimento
total dos canais de escoamento com a área da bacia hidrográfica
(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 115) e foi gerada com base na rede
de drenagem extraída da imagem SRTM, possibilitando capturar
a densidade, tanto do rio principal, quanto de seus afluentes e
tributários. Foi calculada de forma automática usando a equação 1.

Lt
𝐷𝐷 𝑑𝑑 = 𝐴𝐴
(1) Equação 1

Na qual “Dd” significa a densidade da drenagem; “L” é o


comprimento total dos canais e “A” é a área da Bacia. Assim, obtêm-se
como resultado final os valores de densidade, representados no mapa
através de uma rampa de cores em tons de azul.
Seguindo o modelo de classificação proposto por Villela e Mattos,
(1975), a densidade de drenagem da APA foi agrupada em cinco classes

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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

de densidade de drenagem: muito baixa (0 - 0,81km/km²), baixa (0,82 -


1,6km/km²), média (1,61 - 2,4km/km²), alta (2,41 - 3,2km/km²) e muito
alta (> 4km/km²). Esse índice pode variar de 0,5 km/km² em bacias
com drenagem pobre a 3,5 km/km², ou mais, em bacias bem drenadas
e apresenta relação inversa com o comprimento dos rios (VILLELA e
MATTOS, 1975; CHRISTOFOLETTI, 1980).
Para caracterização pedológica foram abordados apenas os
aspectos físicos e de formação dos solos. Foi utilizado como base
Cartográfica o mapa de solos do Estado da Paraíba datado de 1997
com escala de 1:1.200.000. Por meio do software Quantum GIS versão
2.8.2 fez-se o georreferenciamento e o recorte da imagem, segundo
os limites da APA, e fez-se a digitalização em tela, transformando a
imagem em arquivo vetorial. Posteriormente, utilizando como base
as faixas de altitude do terreno e as atividades de reconhecimento em
campo, os limites de algumas classes de solo foram ajustados obtendo
como resultado deste processo um mapa com os tipos de solo presentes
na área de estudo.

Caracterização física da APA da Barra do rio


Mamanguape

Geologia
A Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape situa-
se no compartimento geológico-geomorfológico dos Baixos Planaltos
Costeiros, formados por rochas sedimentares. A APA, geologicamente,
é representada por três unidades litoestratigráficas da era Cenozóica
(Figura 2), descritas a seguir, segundo Santos et al (2004):

18
Figura 2. Geologia da APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

• Grupo Barreiras – Pertencente ao paleógeno/neógeno, ocupa


uma faixa entre os Depósitos Flúvio-marinhos e os Depósitos
Colúvio-eluviais, com declividade mais acentuada e presença
de argissolo vermelho-amarelo. Essa unidade é formada por
arenito, arenito conglomerático, argilito, argilito arenoso,
conglomerado e siltito, predominando as camadas horizontais
de arenito conglomerático com matriz caolínica, contendo
lentes e lençóis de conglomerado e brecha, ricos em seixos e
grânulos de quartzo e/ou feldspato, e intercalações de argilito
caolínicosilto-arenoso e siltito.

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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

• Depósitos Flúvio-marinhos – Pertencente ao quaternário,


ocupa as áreas dos estuários dos rios e as faixas de praia.
Sua litologia composta por areia, argila e silte constitui os
depósitos indiscriminados de pântanos e mangues, flúvio-
lagunares e litorâneos indiscriminados.
• Depósito Colúvio-eluviais – Pertencente ao quaternário,
ocupa as áreas mais planas, coincidindo em algumas áreas
aos divisores de água. É composta pelos litotipos: areia,
argila, cascalho e laterita, apresentando sedimentos com
matriz arenosa, areno-argilosa e conglomerática, mal
trabalhados e mal classificados, constituídos por fragmentos
angulosos, grânulos, seixos, blocos e matacões de variados
tipos de rochas.

Para Furrier et al. (2006, p. 62), nas rochas sedimentares do Grupo


Paraíba da Bacia Sedimentar Pernambuco-Paraíba, encontram-se os
sedimentos areno-argilosos mal consolidados da Formação Barreiras,
sendo este grupo, no Estado da Paraíba, composto pelas rochas
cristalinas do Planalto da Borborema. O plano de manejo da APA da
Barra de Mamanguape, ICMBio (GREENTEC, 2014, p.53), destaca que:
os sedimentos quaternários são representados principalmente pelos
aluviões que ocorrem na faixa litorânea dos estuários e pelas dunas e
sedimentos de praia; estando presentes nos rios Mamanguape e Miriri.
Nesse caso, correspondendo aos depósitos colúvio-eluviais e flúvio-
marinhos.

Geomorfologia
Segundo o mapa geomorfológico da Paraíba (2006), a APA possui
cinco compartimentos:

 Tabuleiros costeiros com formas convexas;


 Tabuleiros costeiros com formas tabulares;
 Planície marinha;
 Planície flúvio-marinha;
 Planície fluvial.

A altitude da APA é de 0 a 105 metros sem variações bruscas (Figura


3A-C). O perfil topográfico longitudinal (Figura 3B, transecto ab) mostra o
comportamento do relevo do limite oeste da APA à foz do rio Mamanguape
(ao longo do curso do rio Mamanguape), e evidencia a altitude da planície
fluvial e flúvio marinha que em alguns pontos atinge 15m. Esse fato,
20
também é evidenciado no perfil transversal (Figura 3C, transecto a’b’),
que demonstra o comportamento do leito do rio e das vertentes. O vale
possui características de vales em forma de “U”, a vertente direita (a’)
é mais suave com altitude aproximada de 26m, enquanto a vertente
esquerda (b’) é mais íngreme com altitude de aproximadamente 70m.

Figura 3. APA da Barra do Rio Mamanguape Paraíba, Brasil. 3A. Relevo sombreado e
perfil topográfico; 3B. Perfil topográfico longitudinal, correspondente ao transecto ab;
3C. Perfil topográfico transversal, correspondente ao transecto a’b’. Fonte: Informações
extraídas da imagem SRTM com resolução espacial de 30x30m.

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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

De acordo com as informações geradas observa-se, claramente, que


se trata de uma grande planície com poucas variações no relevo. Dentro
dos limites da APA, as elevações variam de 0 a 105 metros, estando a
maior parte da área entre os valores de 1 a 13 metros de altitude, os
quais compõem a área central da unidade onde se encontram os rios
Mamanguape, Miriri e seus afluentes (Figura 4). Os maiores valores de
altitude, entre 21 e 105 metros, correspondendo às áreas de vertente.

Figura 4. Hipsometria da APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

A APA apresenta, predominantemente, baixa declividade e,


consequentemente, pouca variação topográfica, com valores entre 0 e 5,3%
22
(classe plana e suave ondulada). As maiores declividades com valores de
18 a 38% ocorrem nas áreas de vertente, no limite norte da unidade, sendo
estas classes de menor ocorrência em toda a APA (Figura 5).

Figura 5. Declividade da APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

Os principais rios e riachos que drenam a APA são: Rio


Mamanguape, Rio Miriri, Rio Açu, Rio Velho, Rio Caracabu, Rio da
Estiva e Rio Tinto, além dos seus tributários, todos com o regime
fortemente comprometido nas épocas de estiagem devido ao uso
descontrolado para irrigação (Figura 6).

23
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

A APA apresenta o valor médio de densidade de drenagem de


1,7km/km² apresentando valor mínimo 0 e valor máximo 4km/km².
Estes valores de mínimo e máximo podem ser explicados pelo fato
da APA possuir um rio maior localizado na parte central da unidade
de conservação e afluentes que vão das margens para o centro. Ou
seja, quanto maior o comprimento do rio, menor será a densidade, e o
inverso também se aplica. As classes média (1,61 - 2,4km/km²) e alta
(2,41 - 3,2km/km²) foram as mais representativas para a unidade como
demonstrado no mapa (Figura 6).

Figura 6. Densidade da drenagem da APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

24
A densidade de drenagem foi utilizada para compreender o grau
de desenvolvimento do sistema de drenagem, pois fornece uma indicação
da eficiência da drenagem da bacia, diretamente correlacionada com a
intensidade de dissecação do relevo pela drenagem. Christofoletti, (1981
apud SILVA et al. 2009) destaca duas funções distintas da densidade
de drenagem: é uma resposta aos controles exercidos pelo clima, pela
vegetação, litologia e outras características da área drenada; e, é fator
que influencia o escoamento e o transporte sedimentar na bacia de
drenagem.
Todos os produtos geomorfológicos, anteriormente descritos,
demonstram que o comportamento do relevo da APA é típico de regiões
litorâneas, onde a menor declividade e os menores valores de altitude
correspondem aos leitos dos rios que escoam para a região central da
APA. Com isso constatamos que esses aspectos são indissociáveis e
interdependentes, influenciando diretamente um sobre o outro.

Pedologia
De acordo com os estudos feitos acerca da pedologia da APA,
foram detectados quatro tipos de solos (Figura 7).

• Neossolos Quartzarênicos: “Os neossolos quartzarênicos,


muito expressivos no Brasil, são comuns na região litorânea
e em alguns estados do Nordeste” (IBGE, 2007, p.294).
Segundo a EMBRAPA (2006, p.184), são solos com presença
de lençol freático elevado durante grande parte do ano,
imperfeitamente ou mal drenados e apresentando um ou
mais dos seguintes requisitos:
 saturação com água permanente dentro de 50cm da
superfície do solo; e/ou.
 presença de lençol freático dentro de 150cm da superfície
do solo, durante a época seca e/ou.
 presença do lençol freático dentro de 50cm de
profundidade, durante algum tempo, na maioria dos
anos (ou artificialmente drenados).

25
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 7. Solos da APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

De acordo com Rogério (2004, p. 7), os neossolos quartzarênicos


são solos oriundos de sedimentos areno-quartzosos, não consolidados,
de origem marinha e por vezes estuarina.

• Argissolo Vermelho-Amarelo: Solo constituído por


material mineral de cores vermelha-amarelada e amarelo-
avermelhada (EMBRAPA, 2006, p.102). São solos muito
profundos, muito porosos, acentuadamente ou fortemente
drenados, friáveis ou muito friáveis e têm como importante
26
característica a ausência de cerosidade, devido à pequena
mobilidade da fração argila. Estes solos ocorrem na metade
sul da Zona Úmida Costeira, associados com outras unidades,
desenvolvidos sobre sedimentos do Grupo Barreiras
(SUDENE, 1972, p.104).
• Solos Indiscriminados de Mangue: Esta unidade compreende
solos predominantemente halomórficos, indiscriminados,
alagados, que ocorrem nas desembocaduras de rios,
margens de lagoas nas partes baixas da orla marítima sob
influência das marés e com vegetação denominada mangues
ou manguezal. Nesse solo, a diminuição da corrente de
água favorece a deposição de sedimentos finos de natureza
argilo-siltosa, argilosa, em mistura com detritos orgânicos,
ocorrendo também material mineral de natureza arenosa
(SUDENE, 1972, p.416).
• Neossolo Flúvico: “Boa parte dos Neossolos ocorre em
praticamente todas as regiões do País, embora sem constituir
representatividade espacial expressiva, ou seja, ocorrem de
forma dispersa em ambientes específicos, como é o caso das
planícies à margem de rios e córregos” (IBGE, 2007, p.294).
Possui argila de atividade alta, saturação com alumínio
praticamente inexistente e alta saturação de bases. São solos
de fertilidade natural alta, pouco profundos ou profundos,
moderadamente ácidos a moderadamente alcalinos nas
camadas inferiores, sem problemas de erosão, apresentando
drenagem moderada ou imperfeita. Estes solos ocorrem
em quase todas as regiões da Paraíba, como componentes
secundários ou como inclusões em áreas de outras unidades,
em estreitas faixas ao longo dos cursos d’água. Foram
mapeados isoladamente apenas nos vales dos baixos cursos
dos rios Paraíba e Maranguape, na faixa úmida costeira
(SUDENE, 1972, p.433).

De acordo com Neto (1982, p. 98), “os solos constituem elementos


minerais que representam a maior parcela da fração sólida, interagindo
entre si e sendo responsáveis pelos processos da dinâmica pedológica”.
Vale salientar que as inter-relações entre pedologia e meio ambiente
ocorrem no momento em que o material de origem do solo é afetado
pelos agentes atmosféricos, plantas e animais (GUERRA e CUNHA,
2011).

27
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Considerações Finais

De acordo com as características que foram apresentadas, pode-


se concluir que as unidades litoestratigráficas encontradas na APA
estão diretamente relacionadas com os tipos de solos encontrados.
As características da declividade da bacia indicam que a maior
parte da área possui baixa declividade e baixas altitudes (9,9m). A
densidade de drenagem da APA é mediana, podendo-se afirmar que
a área em estudo é razoavelmente drenada, tendo uma relação direta
com a baixa altitude e com os tipos de solo que a compõem.

Agradecimentos

A chefia da Unidade de Conservação da Área de Proteção


Ambiental da Barra do Rio Mamanguape e ao Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA) por todo apoio dado
a pesquisa.
Ao Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica
(CNPq), por incentivar a realização da pesquisa através da concessão
da bolsa durante o período de 2015-2016.
Ao Centro Ciências Aplicadas e de Educação (CCAE/UFPB) pela
conseção de transporte para realização das coletas em campo.

Referências

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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

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30
31
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Variabilidade climática da APA da Barra do


Rio Mamanguape - Paraíba

Lincoln Eloi de Araújo8, Fabrício Daniel dos Santos Silva9, Haymée Nascimento
de Alencar10, Elydeise Cristina Andrade dos Santos11 e Klefferson Alves dos Santos12

Introdução

O Nordeste brasileiro (NEB) se caracteriza por sua irregularidade


temporal e espacial na precipitação, devido as suas características
fisiográficas e influência de diversos sistemas atmosféricos (ARAÚJO
et al., 2008). De acordo com Da Silva et al. (2009), a precipitação
pluviométrica nessa região é resultado da atuação de vários sistemas
atmosféricos como, por exemplo, a Zona de Convergência Intertropical
(UVO, 1989), os Vórtices Ciclônicos de Ar Superior (KOUSKY & GAN,
1981), os Sistemas Frontais (KOUSKY, 1979) e os Distúrbios de Leste
(ESPINOZA, 1996); os quais podem ser modificados pela fisiografia do
terreno e por eventos atmosféricos anômalos de escala global. Nimer et
al. (1989) dizem que tais características fazem da região Nordeste do
Brasil, em termos climatológicos, “uma das mais complexas do mundo”.
Além da variabilidade das chuvas, destaca-se que o NEB recebe
intensa radiação solar, o que faz com que suas médias de temperatura
sejam demasiadamente altas (NIMER et al., 1989). Tais autores
afirmam que a temperatura do NEB também se caracteriza por grande
variação, contudo, a sua porção litorânea é favorecida pela atuação dos
ventos alísios de sudeste, o que torna a sua temperatura mais amena,
em torno dos 25ºC.
Diante dessa peculiaridade climática, é imprescindível a
realização de um monitoramento do clima nessa região, especialmente
8  UFPB. E-mail: lincolneloi@yahoo.com.br
9  INMET. E-mail: fabriciodaniel4@hotmail.com
10  Ecológa. E-mail: haymeedealencar@gmail.com
11  Ecológa. E-mail: elydeiseandrade@hotmail.com
12  Estudante de biologia. E-mail: kleffersonsantos@yahoo.com.br

32
em áreas consideradas de extrema importância para a conservação da
fauna e flora e dos atributos abióticos, estéticos e culturais, como é o
caso das Áreas de Proteção Ambiental (APA), essenciais à manutenção
da qualidade de vida.
É importante salientar que, dentre outros fatores, o climático é
de extrema importância para determinar a formação da cobertura do
solo nessas áreas (GREENTEC, 2014), sendo esta cobertura essencial
para a manutenção dos ecossistemas. Além disso, a investigação
climática em áreas como esta se torna indispensável a sua conservação,
visto que, através dos resultados, é possível demonstrar sua eficiência
como importante dispositivo de amenização climática das áreas
urbanizadas que, vêm sofrendo com problemas de desconforto térmico e,
consequentemente, diminuição da qualidade de vida de seus habitantes.
Além disso, o desenvolvimento de investigações de cunho climático
corrobora com estudos que correlacionam a sazonalidade climática
e os padrões de comportamento das espécies, bem como os estudos
direcionados à identificação da influência do clima sobre o padrão de
floração e frutificação das espécies vegetais como o estudo de Morellato
(2000) que afirma que o comprimento do dia e a temperatura influenciam
neste padrão.
A APA da Barra do Rio Mamanguape engloba partes de quatro
municípios paraibanos: Rio Tinto, Marcação, Lucena e Baía da Traição,
sendo que o Município de Rio Tinto corresponde a 65% do território da
APA, Marcação representa 17,3%, Lucena e Baía da Traição correspondem
a uma pequena área, 1,1% e 0,4% respectivamente (GREENTEC, 2014).
Há ainda uma parte da APA que está inserida no mar, o que equivale a
16,2% da área da Unidade de Conservação (GREENTEC, 2014).Desses,
apenas área urbana de Rio Tinto encontra-se inserida na APA (ASSIS,
2014).
Nesse contexto, o objetivo deste capítulo é analisar a variabilidade
climática na Área de Proteção Ambiental. Especificamente, investigar,
através do Índice de Anomalia de Chuva, a variabilidade das chuvas no
tempo e no espaço, bem como avaliar a variabilidade espaço-temporal da
temperatura.

Procedimentos Metodológicos

As séries climatológicas de precipitação e temperatura média para


os municípios da APA do Rio Mamanguape foram obtidas com auxílio
33
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

dos dados gradeados disponibilizados pela Universidade de Delaware


nos Estados Unidos. Trata-se de um grande projeto para construir
séries temporais mensais dessas variáveis em nível global, utilizando-
se diversas fontes de observações meteorológicas de superfície: Global
Historical Climatology Network (GHCN2), do Serviço Atmosférico
e Ambiental do Canadá; do Instituto Hidrometeorológico de São
Petersburgo, Rússia; dados GC-Net (STEFFEN et al., 1996); registros
de estações meteorológicas automáticas do Projeto Groenlândia, do
National Center of Atmospheric Research (NCAR), dados diários da
Índia; dados de precipitação do continente Africano (NICHOLSON,
2002); dados mensais de precipitação do continente sul-americano
(Webber e Willmott’s, 1998); e do Global Surface Summary of Day
(GSOD). A resolução espacial das séries é de 0,5° x 0,5°, e os nós da
grade são centrados em 0,25°. Para o Brasil, as maiores contribuições ao
projeto provem de observações do Instituto Nacional de Meteorologia, da
Agência Nacional de Águas, além dos registros das redes pluviométricas
regionais, em cada Estado da Federação, permitindo extrair 2.867 séries
de precipitação e temperaturas médias, com início em janeiro de 1900
até dezembro de 2014 espacialmente distribuídas em todo território
brasileiro (COSTA et al., 2012).
A partir desta malha gradeada de alta resolução espaço-
temporal, foram extraídas, via método de interpolação, as respectivas
séries de precipitação e temperaturas médias para a área da APA do
Rio Mamanguape, permitindo assim o estudo do comportamento da
mesma.
A série histórica utilizada compreende o período de 1900 a 2010
para definir o padrão da precipitação e temperatura mensal e anual,
sendo possível estabelecer, dessa forma, os períodos secos e chuvosos da
região. Além disso, foi possível analisar a precipitação e a temperatura
de forma espacial, definindo as áreas da APA com maior e menor
precipitação.
Dessa forma, foi utilizado o Índice de Anomalia de Chuva Chuva
(IAC) adaptado por Freitas (2005) e readaptado por Araújo et al. (2009),
o qual foi aplicado para melhor avaliar o grau de severidade dos eventos
e duração dos períodos secos e úmidos da série histórica de precipitação.
As Equações 1 e 2, dispostas a seguir, são utilizadas para o cálculo do
IAC:

34
IAC = 3
(
 N−N  )
 ; para anomalias positivas (1)
(
 M −N  )
IAC = −3
(
 N−N  )
 ; para anomalias negativas (2)
(
 X −N  )
Sendo:
N - precipitação mensal atual (mm);
N - precipitação média mensal da série histórica (mm);
M - média das dez maiores precipitações mensais da série histórica (mm);
X - média das dez menores precipitações mensais da série histórica (mm).

Os resultados foram classificados de acordo com a metodologia de


Freitas (2005) readaptada por Araújo et al. (2009) (Tabela 1).

Tabela 1. Classes de Intensidade do Índice de Anomalia de Chuva

Faixa do IAC Classe de Intensidade


De 4 acima Extremamente Úmido
2a4 Muito Úmido
Índice de Anomalia de 0a2 Úmido
Chuva (IAC) 0 a -2 Seco
-2 a -4 Muito Seco
De -4 abaixo Extremamente Seco
Fonte: Freitas (2005) readaptada por Araújo et al. (2009).

Por fim, foi confeccionado gráfico para melhor avaliar a


variabilidade da temperatura ao longo do ano. Além disso, tal variável
foi espacializada a fim de auxiliar a análise dos resultados.

Resultados e Discussão

A variabilidade temporal da precipitação da APA da Barra do


Rio Mamanguape é evidenciada na Figura 1, na qual se verifica que
o período com maior precipitação na região são os meses de março a
agosto, com média anual de 173mm, o que faz com que esses sejam
35
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

considerados os meses mais propícios ao aporte hídrico dos mananciais,


com ênfase para o mês de junho com 323,3mm de precipitação. Resultado
esse que corrobora com as afirmações de Molion & Bernardo (2002) que
afirmam que, no setor leste do NEB, o pico do período chuvoso se dá no
mês de junho.
Estes resultados também convergem, em parte, com os encontrados
pela GREENTEC (2014), a qual afirma que a região onde está inserida
a referida APA apresenta um clima quente e úmido, com os meses
chuvosos entre março e setembro e época de estiagem com duração de
dois meses. Porém, os dados obtidos neste trabalho evidenciam que a
estação seca vai de setembro a fevereiro com destaque para o mês de
novembro que não atingiu os 20mm. Para Molion & Bernardo (2002),
a estação seca dessa região é influenciada pelo Vórtice Ciclônico de
Altos Níveis (VCAN), que começa a atuar geralmente em novembro,
provocando falta de chuvas nas regiões sobre as quais se posiciona o
seu centro do Vórtice.

Figura 1. Climatologia temporal da precipitação da APA de Mamanguape, Paraíba, Brasil.

Com o intuito de melhor evidenciar o comportamento da


variabilidade espacial da precipitação, foram confeccionadas figuras
referentes à análise espacial da precipitação da APA de Mamanguape
(Figura 2).
Dessa forma, o mês de janeiro (Figura 2a) apresentou
espacialização homogênea da precipitação, com uma variação apenas no
36
setor sul, em que o valor da precipitação foi menor, mas, de forma geral,
toda a área, em janeiro, não ultrapassou os 100mm. O mês de fevereiro
(Figura 2b) apresenta precipitação em torno de 150mm, no sentido
oeste, mas permanecendo similar ao mês de janeiro no sentido leste,
demonstrando a transição da estação seca para a estação chuvosa de
acordo com a figura 1. O mês de março (Figura 2c) caracteriza-se por sua
precipitação variando de 150mm a oeste e 200mm a leste, ultrapassando
o limite médio para a região, o que favorece a disponibilidade hídrica
para as comunidades, a fauna e a flora.
Os meses de abril (Figura 2d) e maio (Figura 2e) encontram-
se de maneira similar, com precipitação mínima de 150mm a oeste
e máxima de 250mm a leste. O mês de junho (Figura 2f) apresenta
maior precipitação a leste da APA, com máximas de 300mm e mínimas
que variam de 200mm a oeste e 250mm a nordeste. Essa é a maior
precipitação na região leste da APA da Barra do Rio Mamanguape
dentre todos os meses, possivelmente devido à influência existente
entre o continente e oceano; e a atuação dos sistemas ondulatórios de
leste, que atuam nesta região, nesta época, de acordo com Espinoza
(1996). Dessa forma, este comportamento na precipitação favorece, de
maneira geral, todas as comunidades que se encontram dentro ou no
entorno da APA.
No mês de julho (Figura 2g) ocorre uma redução na precipitação,
apresentando na região oeste 200mm e a leste 250mm. O comportamento
encontrado para este mês se assemelha ao encontrado nos meses de abril
e maio. Para o mês de agosto (Figura 2h) ocorre uma redução significativa
na precipitação em toda região, não ultrapassando os 150mm, o que torna
o mês de agosto mais homogêneo, caracterizando a transição da estação
chuvosa para estação seca, de acordo com a figura 1.
O início da estação seca em setembro (Figura 2i) apresenta
precipitação média de 150mm para toda região, comportamento
semelhante ao encontrado no mês de janeiro (Figura 2a). Já os meses
de outubro (Figura 2j), novembro (Figura 2l) e dezembro (Figura 2m)
são considerados os mais secos da APA da Barra do Rio Mamanguape,
com valores abaixo de 50mm, apresentando os menores valores de
precipitação em relação aos demais meses do ano.

37
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 2. Espacialização das chuvas da APA de Mamanguape, Paraíba, Brasil: a)


janeiro, b) fevereiro, c) março, d) abril, e) maio, f) junho, g) julho, h) agosto, i) setembro, j)
outubro, l) novembro e m) dezembro.

A fim de identificar a intensidade de precipitação e possíveis


ciclos secos e chuvosos na série histórica analisada, foi aplicado o Índice
de Anomalia de Chuva, conforme se observa na Figura 3.

38
Figura 3. IAC para a série histórica de precipitação da APA da Barra do Rio Mamanguape,
Paraíba, Brasil.

A partir da análise da Figura 3, foi possível observar três pontos


de inflexão, sendo o primeiro de 1900 a 1909, caracterizado por anos de
IAC negativos, com destaque para a seca de 1903 que, apesar de não
ter ganhado tanto destaque no cenário nacional como a seca de 1915 (a
qual não se encontra dentro do referido ponto de inflexão), apresentou
maior intensidade. Dentro desse período, Gerólamo & Kayano (2010)
destacaram os anos de 1900, 1902, 1903, 1904 e 1906 como anos de
ocorrência de El Niño. Ainda dentro deste ponto de inflexão, os mesmos
autores destacaram os anos de 1903, 1904, 1906, 1907 e 1908 como sendo
anos de ocorrência de La Niña.
O segundo ponto de inflexão ocorre de 1949 a 1958, também com
anos de IAC negativos, e com destaque para o ano de 1954. Nesse segundo
ponto de inflexão, foram anos de El Niño: 1951, 1952, 1953, 1954, 1957
e 1958; e os anos de 1951, 1954 e 1956 foram anos de ocorrência de La
Niña, conforme Gerólamo & Kayano (2010).
Por fim, o terceiro ponto de inflexão, de 1963 a 1974, foi um período
que fugiu do padrão dos pontos de inflexão anteriores, já que representou
um período de anos com IAC positivos, com destaque para os anos de
1964 e 1973, os quais se apresentaram como os anos mais intensos em
termos de precipitação. Dentro desse período, foram anos de El Niño:
1963, 1964, 1965, 1966, 1968, 1970, 1972 e 1973; e 1964, 1966, 1970,
1972 e 1973, foram anos de La Niña (GERÓLAMO & KAYANO, 2010).
39
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

A variabilidade temporal da temperatura é avaliada na Figura 4.

Figura 4. Temperatura média da APA de Mamanguape, Paraíba, Brasil.

Lima & Heckendorff (1985) afirmam que a temperatura média


anual dessa área é de 28°C. Porém, Nimer et al. (1989) afirmam que,
devido a atuação dos ventos alísios nessa região, a temperatura varia
dos 24 aos 26 ºC. Todavia, é possível observar que os cinco primeiros
meses do ano apresentam temperaturas médias acima dos 26 ºC,
chegando a atingir 27,1 ºC em janeiro e fevereiro. Destaca-se ainda que
a média estabelecida foi de 26,3 ºC. O mês de julho apresentou a menor
temperatura média, sendo esta de 25,3 ºC.
Tais informações merecem maior atenção por parte dos gestores
da APA no sentido de identificar possíveis intervenções na área que
podem estar causando anomalias na variável temperatura e, com isso,
gerar danos consideráveis à fauna e à flora da reserva.
Esses valores foram espacializados a fim de melhor avaliar as
máximas e mínimas de temperatura (Figura 5).
Observa-se que de janeiro a abril (Figuras 5a, 5b, 5c, 5d) a
temperatura aumenta gradativamente no extremo leste. O mês de
maio (Figura 5e) apresentou uma espacialização homogênea em toda
área da APA. O mês de junho (Figura 5f) apresenta pouca variação
na distribuição. Os meses de julho (Figura 5g), agosto (Figura 5h) e
setembro (Figura 5i) apresentaram pouca variação na intensidade da
40
temperatura, bem como na espacialização. De acordo com a Figura 4,
essa é a época do ano com temperaturas mais baixas na área de estudo.
Outubro (Figura 5j) e novembro (Figura 5l) também se apresentaram
semelhantes entre si no que se refere à espacialização das temperaturas.
Por fim, dezembro (Figura 5m), apesar de ter apresentado intensidade
de temperatura idêntica à do mês de maio, diferiu em sua espacialização
no setor sudeste.

Figura 5. Espacialização das temperaturas da APA de Mamanguape, Paraíba, Brasil: a)


janeiro, b) fevereiro, c) março, d) abril, e) maio, f) junho, g) julho, h) agosto, i) setembro, j)
outubro, l) novembro e m) dezembro.

41
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Considerações Finais

O período úmido na Área de Proteção Ambiental da Barra de


Mamanguape ocorre de março a agosto, com junho sendo o mês de
maior representação em termos de precipitação; em contrapartida, o
semestre seco ocorre de setembro a fevereiro, com novembro sendo o
mês mais seco do período.
A Área de Proteção Ambiental da Barra de Mamanguape é mais
favorecida em termos de precipitação no seu setor leste, evidenciando
a influência do contraste terra/oceano sobre os níveis de precipitação e
demais sistemas meteorológicos atuantes na área.
Em relação ao Índice de Anomalia de Chuva, evidenciaram-se três
pontos de inflexão que identificam mudanças severas no comportamento
climático da precipitação na área da APA do Rio Mamanguape.
O período de maiores temperaturas na Área de Proteção
Ambiental da Barra de Mamanguape ocorre de novembro a maio,
com janeiro e fevereiro sendo os meses de maior representação em
termos de temperatura; em contrapartida, o período de menores
temperaturas ocorre de junho a outubro, com julho sendo o mês com
menor temperatura.
Com relação à espacialização, de forma similar com a variável
precipitação, a temperatura tem seu comportamento mais evidente no
setor leste diminuindo no sentido oeste.
Por fim, ressalta-se a importância de avaliações de cunho
climatológico com vistas à geração de dados que subsidiem a preservação
de áreas de relevante valor ecológico e sociocultural como é o caso a
APA da Barra do Rio Mamanguape, uma vez que os dados gerados com
este estudo evidenciaram a necessidade de uma maior fiscalização, em
virtude de variações anômalas na área.

Referências

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44
45
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Análise físico-química das amostras de água


e solos daÁrea de Proteção Ambiental da
Barra Do Rio Mamanguape – PB

Évio Eduardo Chaves de Melo13, Bruno de Oliveira Dias14, Mateus Costa


Batista15, Hugo Yuri Elias Gomes de Assis16 e Nadjacleia Vilar Almeida17

Introdução

A água é o principal constituinte dos organismos vivos, e, entre os


seus diversos fins, destacam-se o abastecimento humano, a geração de
energia, a irrigação, a navegação, a aquicultura e a harmonia paisagística
(LIMA et al., 2008). Esse recurso natural ocupa aproximadamente 70%
da superfície terrestre e deste total, cerca de 97% está concentrada nos
oceanos, restando somente 0,3% de água doce (SPERLING, 1996). De
acordo com a Portaria n.º1469/2000, os rios são fontes essenciais de
água para a manutenção dos ecossistemas, e em alguns desses a água
apresenta parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos
que atendem ao padrão de potabilidade para o consumo humano, não
oferecendo riscos à saúde (BRASIL, 2000).
O solo recoberto com vegetação nativa atinge um determinado
equilíbrio ao longo do tempo. Entretanto, quando ocorrem mudanças
nas formas de uso para sistemas agrícolas, principalmente sob condições
tropicais, o processo de degradação dos solos encontra-se muito
relacionado com a dinâmica da matéria orgânica (FELLER & BEARE,
1997). A conversão de vegetação nativa em áreas de produção agrícola

13  Professor do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente (DEMA/CCAE/UFPB).


(evioeduardo@gmail.com)
14  Professor do Departamento de Solos e Engenharia Rural (DSER/CCA/UFPB). (brunodiascca@gmail.com)
15  Aluno do curso de Engenharia Agronômica (CCA/UFPB). (matheus1384@hotmail.com)
16  Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da UFRN.
(hugo.ecologia@gmail.com)
17  Professora do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente (DEMA/CCAE/UFPB).
(nadjacleia@ccae.ufpb.br)

46
pode reduzir drasticamente os teores de matéria orgânica do solo,
desencadeando o processo de degradação, promovendo a desorganização
do sistema, resultando em menor produção de biomassa, perdas de
nutrientes e água (ROSCOE et al., 2006) e elevação nas perdas das
camadas superficiais do solo por erosão (BAYER & MIELNICZUK,
2008).
A ação antrópica negativa, em especial o desmatamento e a
crescente substituição da vegetação nativa por atividades agropecuárias,
contribui significativamente para a introdução de elementos químicos
nos sistemas aquáticos e nos solos. Alguns elementos químicos são
extremamente danosos ao ambiente aquático por reduzir a capacidade
autodepurativa (resiliência), ocorrendo isso através da sua ação tóxica
sobre os microorganismos responsáveis pela recuperação das águas,
sendo esses os decompositores de matéria orgânica presentes no meio
(AGUIAR et al., 2002). Os impactos ambientais proporcionados pelas
alterações no uso dos solos podem ser observados pelas modificações
nas propriedades químicas, físicas e biológicas, alterando diretamente
sua estrutura e atividade biológica, consequentemente, sua fertilidade,
com efeitos negativos na produção vegetal e na qualidade dos solos
(PORTUGAL et al., 2010).
A análise das variáveis físico-químicas e microbiológicas em
águas superficiais vem demonstrando relevância em alguns estudos
ambientais. Dessa forma, torna-se necessária a aplicação de técnicas
de análises que possam fornecer os dados essenciais tanto para a
avaliação da qualidade de um determinado corpo d’água, como para o
reconhecimento de suas fontes poluidoras, formulando assim técnicas
de controle de poluição. A análise, classificação e destinação da água
tornam-se indispensáveis e devem ser conhecidas pelas populações
que vivem em seu entorno e utilizam desse recurso natural. Já a
caracterização do grau de fertilidade em ecossistemas é importante para
o conhecimento da sua estrutura e funcionamento. Essas informações
são necessárias para a manutenção do próprio ecossistema, para
a implantação de sistemas agrícolas e, também, para a recuperação
de áreas degradadas, com a finalidade de manter e preservar a
sustentabilidade dos ecossistemas.
Devido a grande importância da conservação da água e do solo
para a manutenção e qualidade dos ecossistemas, o presente capítulo
tem como objetivo analisar as variáveis físico-químicas e microbiológica
das águas dos rios Mamanguape e Miriri a fim de verificar a qualidade
das mesmas e também avaliar o impacto da substituição da mata nativa
por atividades agrícolas na qualidade e na fertilidade dos solos da APA
da Barra do rio Mamanguape - PB.
47
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Procedimentos Metodológicos

Amostragem de água superficial


Os aspectos físico-químicos e microbiológico foram verificados
através do Programa de Monitoramento de Corpos D’água realizado
pela Coordenadoria de Medição Ambiental da Superintendência de
Administração do Meio Ambiente (SUDEMA), no período de 2010 a
2015. Foram analisados os parâmetros: temperatura, cor, turbidez, pH,
condutividade elétrica, salinidade, sólidos dissolvidos totais, oxigênio
dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio e coliformes fecais. Foram
realizadas coletas em três pontos amostrais, localizados dentro do
perímetro da APA (Figura 1).
Os pontos foram caracterizados das seguintes formas:
• Rio Mamanguape (MM02) - coordenadas UTM 0271309 e
9245828 (próximo à cidade de Rio Tinto);
• Rio Mamanguape (MM03) - coordenadas UTM 0287291 e
9250678 (estuário);
• Rio Miriri (MR02) – coordenadas UTM 0289747 e 9240825
(estuário).

Amostragem de solos
As amostras de solos foram coletadas a uma profundidade de
20 cm em quatro pontos distintos dentro da APA (Figura 1), em área
de mata ciliar (A1); área adjacente à mata ciliar, com policultivo de
feijão, milho e mandioca (A2); área com monocultivo de cana-de-açúcar
(A3) e área com policultivo de feijão, milho e mandioca (A4), cujas
características são descritas no Quadro 1.
Após a coleta, as amostras foram secas ao ar, destorroadas
e passadas em peneiras de 2mm. As amostras foram caracterizadas
quimicamente no Laboratório de Matéria Orgânica do Departamento de
Solos e Engenharia Rural da UFPB, Campus II, em Areia, quanto aos
valores de: pH em água, complexo sortivo (P, K, Ca, Mg, Na, H+Al, Al),
segundo Donagema et al., (2011); a partir desses foram calculados os
valores de soma de bases (SB), capacidade de troca de cátions potencial
(CTC a pH 7,0), saturação por base (V) e saturação por alumínio (m).

48
Figura 1. Localização dos pontos de coleta das amostras de água e do solo na APA da
Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

Quadro 1. Caracterização das áreas selecionadas para o estudo

ÁREA LOCALIDADE DEGRADAÇÃO RELEVO USO ATUAL


Assoreamento/
A1 Mata Ciliar Leito do rio Mata Ciliar
Carreamento
Fim da Mata Assoreamento/ Policultura (Feijão,
A2 Leito do rio
Ciliar Carreamento Milho e Mandioca)
Carreamento/ Planície de Monocultura (Cana-
A3 Policultura
Alt. Solo e Rec Hidrico Inundação de-açúcar)
Área Mangue Assoreamento/ Planície de Policultura (Feijão,
A4
Morto Desmatamento Inundação Milho e Mandioca)

49
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

O carbono orgânico total foi determinado por oxidação quente


com dicromato de potássio (0,167 mol L-1) e titulação com sulfato ferroso
amoniacal (0,20 mol L-1) de acordo com Yeomans e Bremner (1988),
sendo o valor de matéria orgânica (MO) calculado pela multiplicação do
valor do carbono orgânico total pelo fator 1,724.

Resultados e Discussão

Análises físico-químicas e microbiológica da água

Temperatura
Comparando os valores de temperatura medidos nos períodos de
monitoramento, não houve variação expressiva desse parâmetro, sendo
a mínima medida de 25ºC e a máxima de 30ºC, no período de 2010 a
2015 (Tabela 1).

Tabela 1. Valores médio, máximo e mínimo de temperatura (ºC) da água superficial.

Ano do Monitoramento Valores MM02 MM03 MR02


Média 28 28 28
2010 Mínimo 25 26 26
Máximo 30 31 30
Média 26 27 28
2011 Mínimo 25 25 25
Máximo 28 28 30
Média 28 27 30
2012 Mínimo 26 26 30
Máximo 29 28 30
Média 28 28 28
2013 Mínimo 28 28 28
Máximo 29 29 29
Média 29 28 28
2014 Mínimo 27 28 27
Máximo 31 31 30
Média 29 28 29
2015 Mínimo 28 28 29
Máximo 30 29 29
MM – Rio Mamanguape MR – Rio Miriri

50
Não consta na legislação valores máximos ou mínimos estipulados
para essa variável, entretanto, os resultados obtidos estão dentro do
esperado para a condição climática da região, cujo clima é denominado
de Am (tropical e chuvoso), de acordo com a classificação de Köppen,
com temperaturas médias que oscilam entre 24 ºC e 27 ºC e variações
pluviométricas entre 1.800 e 2.000mm/ano. A área monitorada
apresenta sazonalidade bem definida, com verão entre os meses de
novembro a abril, e período chuvoso de maio a outubro.
De acordo com a CETESB (2005), alguns fatores como latitude,
altitude, estação do ano, período do dia, taxa de fluxo e profundidade
influenciam a temperatura da água superficial.

Cor
O valor máximo de cor registrado foi de 262 uH, no ano de
2014, no Rio Miriri; o menor valor foi de 0 uH, no ano de 2011, para
os três pontos de amostragem. Os valores da média da cor durante
o período monitorado mostrou a menor média de 11 uH, no ano de
2012, no Rio Mamanguape (MM03) e a maior de 143 no Rio Miriri,
no ano de 2014 (Tabela 2). Segundo Esteves (1988), o material em
suspensão é responsável pela cor aparente e os compostos dissolvidos
pela cor verdadeira da água. De acordo com a resolução nº 357/05 do
CONAMA (BRASIL, 2005), o máximo permitido para cor é de 75 uH
para água doce de classe 3, porém alguns valores máximos observados
no monitoramento do ponto MM02 estão acima do limite permitido por
esta legislação. Entretanto, para os pontos MM03 e MR02 não constam
valores estipulados desta variável para água salgada. É necessária
a continuação do monitoramento dos valores de cor desses rios, pois
maiores valores do que os observados, daqui a algum tempo, tornarão
as águas inadequadas para o consumo da população ribeirinha.
Vasconcelos & Souza (2011), avaliando os parâmetros de
qualidade da água do manancial Utinga em Belém do Pará, observou
que a presença de partículas insolúveis do solo, matéria orgânica,
micro-organismos e outros materiais diversos provocam a dispersão e a
absorção da luz, dando à água uma aparência nebulosa, esteticamente
indesejável.

51
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Tabela 2. Valores médio, máximo e mínimo da cor (uH) da água superficial.

Ano do Monitoramento Valores MM02 MM03 MR02


Média 34 20 36
2010 Mínimo 15 9 12
Máximo 50 30 80
Média 76 38 34
2011 Mínimo 0 0 0
Máximo 177 154 102
Média 67 11 12
2012 Mínimo 67 8 12
Máximo 68 14 12
Média 75 67 100
2013 Mínimo 45 57 77
Máximo 113 79 122
Média 37 14 143
2014 Mínimo 30 12 24
Máximo 43 16 262
Média 46 19 49
2015 Mínimo 35 18 49
Máximo 66 22 49
MM – Rio Mamanguape MR – Rio Miriri

Turbidez
De acordo com a Tabela 3, os valores máximo e mínimo de turbidez
foram registrados no Rio Mamanguape. O valor máximo de 114 NTU, em
2012, no ponto MM02 e o mínimo de 0 NTU, em 2012 e 2014, no ponto
MM03. A menor média de turbidez durante o período monitorado foi de 4
NTU no ponto MR02, em 2015 e a maior de 73 NTU no ponto MM03, em
2012. O limite de turbidez estabelecido pela Resolução CONAMA 357/05
para rios de Classe III é de até 100 NTUs, o qual foi excedido apenas em
uma das amostras efetuadas neste levantamento.
Segundo Oliveira-Filho et al. (1994), a devastação das matas
ciliares, o assoreamento, o desequilíbrio do regime das cheias, a erosão
das margens de grande número de cursos d’água tem contribuído para
o aumento da turbidez das águas e para o comprometimento da fauna
silvestre.

52
Tabela 3. Valores médio, máximo e mínimo de turbidez (NTU) da água superficial.

Ano do Monitoramento Valores MM02 MM03 MR02


Média 9 12 22
2010 Mínimo 3 5 13
Máximo 17 17 36
Média 34 21 16
2011 Mínimo 8.6 7 5
Máximo 98 80 42
Média 73 29 18
2012 Mínimo 33 0 18
Máximo 114 58 18
Média 14 15 20
2013 Mínimo 10 5 8
Máximo 26 29 45
Média 8 6 9
2014 Mínimo 6 0 4
Máximo 10 15 12
Média 7 5 4
2015 Mínimo 4 2 4
Máximo 10 6 4
MM – Rio Mamanguape MR – Rio Miriri

pH
O menor valor do pH foi 6,79 e o maior 8,57, em 2010, para os
rios Miriri e Mamanguape (MM02), respectivamente. Os valores de pH
apresentam uma pequena variação, observando a distribuição da média
de monitoramento. A menor média foi de 7,3, nos anos de 2013 e 2015,
para o rio Mamanguape (MM02) e a maior, 8,2, no ano de 2010, para o
mesmo rio no ponto de amostragem MM03 (Tabela 4). A resolução Nº
357 do CONAMA (BRASIL, 2005) define para rios de água doce e salina
uma faixa de pH variando de 6 a 9 e de 6,5 a 8,5, respectivamente.
O potencial hidrogeniônico (pH) expressa a intensidade da
condição ácida ou alcalina devido a presença dos íons (H+) e (OH-) de
uma solução, onde o pH inferior a 7 é ácido, o pH igual a 7 é neutro
(equilíbrio entre íons) e o maior do que 7 é alcalino (MOTA, 2008).
O pH da grande maioria dos corpos d’água varia entre 6 e 8.
Ecossistemas que apresentam valores baixos de pH têm elevadas

53
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

concentrações de ácidos orgânicos dissolvidos de origem alóctone e


autóctone. Nesses ecossistemas são encontradas altas concentrações
de ácido sulfúrico, nítrico, oxálico, acético, além de ácido carbônico
formado, principalmente, pela atividade metabólica dos micro-
organismos aquáticos (VASCONCELOS & SOUZA, 2011).

Tabela 4. Valores médio, máximo e mínimo de pH da água superficial.

Ano do Monitoramento Valores MM02 MM03 MR02


Média 7,88 8,2 7,88
2010 Mínimo 7,04 7,81 6,79
Máximo 8,57 8,53 8,43
Média 7,86 8 7,75
2011 Mínimo 7,59 7,3 7,32
Máximo 8,16 8,64 8,12
Média 7,36 7,67 8,26
2012 Mínimo 7,18 7,53 8,26
Máximo 7,53 7,81 8,26
Média 7,3 7,61 7,31
2013 Mínimo 7,08 7,22 7,16
Máximo 7,6 8 7,75
Média 7,87 7,96 8
2014 Mínimo 7,66 7,74 7,66
Máximo 8,04 8,12 8,18
Média 7,3 7,82 7,42
2015 Mínimo 7,27 7,81 7,42
Máximo 7,35 7,84 7,42
MM – Rio Mamanguape MR – Rio Miriri

Condutividade
Os valores mínimo e máximo de condutividade variam de 32
a 54800 μS/cm nos anos de 2010 a 2015 (Tabela 5). Quanto maior a
condutividade, maiores serão os sólidos dissolvidos presentes na água.
A resolução nº 357/05 do CONAMA não preconiza limites aceitáveis de
condutividade.
A condutividade da água aumenta à medida que mais sólidos
dissolvidos são adicionados. Altos valores podem indicar características

54
corrosivas da água (CETESB, 2009). Em geral, níveis superiores a
100 μS/cm indicam ambientes impactados segundo os parâmetros
estabelecidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
– CETESB. Dessa forma, pode-se inferir que o rio Mamanguape, no
ponto MM02 (próximo à cidade de Rio Tinto), em todo o período de
monitoramento, estava contaminado em relação à presença de íons
dissolvidos. Entretanto, os pontos MM03 (Rio Mamanguape) e o MR02
(Rio Miriri) estão sujeitos à intrusão de água do mar pela variação das
marés. De maneira que a alta concentração de íons dissolvidos faz parte
da dinâmica desses ambientes que são áreas estuarinas.

Tabela 5. Valores médio, máximo e mínimo de condutividade (μS/cm) da água superficial.

Ano do Monitoramento Valores MM02 MM03 MR02


Média 840 49610 36982
2010 Mínimo 552 38200 6030
Máximo 1996 54800 52600
Média 643 38463 25485
2011 Mínimo 526 7970 2350
Máximo 725 54200 49900
Média 1456 52250 54400
2012 Mínimo 802 50000 54400
Máximo 2110 54500 54400
Média 5671 46425 26623
2013 Mínimo 734 32700 5370
Máximo 12750 53400 55300
Média 1760 46525 33360
2014 Mínimo 715 36000 12540
Máximo 4820 53800 53300
Média 2000 17028 20800
2015 Mínimo 710 32 20800
Máximo 3290 51000 20800
MM – Rio Mamanguape MR – Rio Miriri

Salinidade
O valor máximo de salinidade registrado foi de 36,3‰ no ano
de 2010 e o menor valor foi de 0‰, nos anos de 2010 e 2011, no Rio
Mamanguape nos pontos MM03 e MM02, respectivamente. A menor
média de salinidade durante o período monitorado foi de 0,1‰, no ano
55
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

de 2011, no Rio Mamanguape (MM02) e a maior de 35,9, no Rio Miriri


(MR02), no ano de 2012 (Tabela 6).

Tabela 6. Valores médio, máximo e mínimo de salinidade (‰) da água superficial.

Ano do Monitoramento Valores MM02 MM03 MR02


Média 0,19 32,54 23,79
2010 Mínimo 0,0 24,3 3,3
Máximo 0,9 36,3 34,7
Média 0,1 24,86 16,05
2011 Mínimo 0,0 4,4 1,1
Máximo 0,1 35,9 32,6
Média 0,55 34,25 35,9
2012 Mínimo 0,2 32,5 35,9
Máximo 0,9 35,8 35,9
Média 3,08 30,3 17
2013 Mínimo 0,1 20,4 2,9
Máximo 7,4 35,7 37
Média 0,7 30,18 21,5
2014 Mínimo 0,1 22,7 9
Máximo 2,5 35,4 34,9
Média 2,13 33,37 12,5
2015 Mínimo 0,1 31,8 12,5
Máximo 4,7 34,7 12,5
MM – Rio Mamanguape MR – Rio Miriri

De acordo com a Resolução CONAMA Nº 357, de 17 de março de


2005, que destina o uso correto da água através da qualidade exigida
para diferentes fins, são adotadas definições de “águas” que podem ser
doces (águas com salinidade igual ou inferior a 0,5‰), salobras (águas
com salinidade superior a 0,5‰ inferior a 30‰) e salinas (águas com
salinidade igual ou superior a 30‰). Considerando a referida resolução,
vale salientar que no ponto MM02 (Rio Mamanguape), em algumas
amostras, foram registrados valores bastante superiores aos padrões
definidos para água doce (classe III classificada pela SUDEMA). Esses
valores altos de salinidade em alguns pontos amostrais devem-se
aos impactos relacionados às alterações antropogênicas impostas aos
recursos hídricos. De acordo com os valores de salinidade e com base na
resolução nº357, os pontos amostrais MM03 (Rio Mamanguape) e MR02

56
(Rio Miriri) são típicos de ambiente salino.
A salinidade pode reduzir a disponibilidade da água para as
plantas, ocasionando toxicidade por presença de alguns íons específicos
(sódio, cloreto e boro) contidos no solo ou na água, que se acumulam
nas plantas em concentrações suficientemente altas para causar
danos e reduzir os rendimentos das culturas sensíveis (AYERS e
WESTCOT,1991; NUNES FILHO et al., 2000).

Sólidos dissolvidos totais (SDT)


O parâmetro sólidos dissolvidos totais está diretamente
relacionado com a condutividade e variou entre 0 e 44936 (mg/L).
O maior resultado do período de monitoramento para SDT (Tabela 7)
foi diretamente proporcional ao resultado da condutividade no ano de
2010 no ponto MM03 (Tabela 5). A resolução nº 357/05 do CONAMA
preconiza limites aceitáveis de SDT, em água doce, com valor máximo
de 500 mg/L. Não existe limite estabelecido para águas salobras e
salinas.

Tabela 7. Valores médio, máximo e mínimo de SDT (mg/L) da água superficial.

Ano do Monitoramento Valores MM02 MM03 MR02


Média 592 35787 30961
2010 Mínimo 375 4444 4945
Máximo 1497 44936 43132
Média 403 31588 20793
2011 Mínimo 0 6535 1738
Máximo 536 44034 40918
Média 1077 42845 44608
2012 Mínimo 594 41000 44608
Máximo 1559 44690 44608
Média 4593 37820 21743
2013 Mínimo 564 26814 4511
Máximo 10327 43788 45346
Média 1398 37839 26692
2014 Mínimo 529 28800 9000
Máximo 3950 44120 42640

57
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Tabela 7. cont.

Média 2670 29067 16848


2015 Mínimo 540 5111 16848
Máximo 4779 42400 16848
MM – Rio Mamanguape MR – Rio Miriri

O ponto MM02 (água doce) registrou valores de sólidos dissolvidos


totais acima do máximo estabelecido pela legislação vigente em quase
todos os anos analisados. De acordo com Nogueira et al.(2012), os
valores de SDT podem ser influenciados pela decomposição de matéria
orgânica no rio, resíduos industriais ou esgoto, mas também pode ser
originado do processo de intemperização e decomposição das rochas
ou partículas dos solos. Portanto, sugere-se que isso ocorreu devido
ao grau de degradação das margens desses rios, o que ocasionou o
carreamento de sedimentos para o corpo hídrico ou a proximidade
desses pontos com o oceano.

Oxigênio dissolvido (OD)


O maior valor de oxigênio dissolvido registrado foi 7,8 mg/L, no
ano de 2013, no Rio Mamanguape (MM03) e o menor foi 0,0 mg/L, em
2011, para os três pontos de amostragem. A menor média foi de 4,3
mg/L no ano de 2011, e a maior de 7,0 mg/L, no ano de 2015, no Rio
Mamanguape, nos pontos (MM02) e (MM03), respectivamente (Tabela
8). Foram registrados alguns valores de oxigênio dissolvido abaixo
do estabelecido pela Resolução CONAMA Nº 357/05, em qualquer
amostra de água doce e salgada, não inferior a 4,0 e 5,0 mg/L de
oxigênio (O2), respectivamente.

Tabela 8. Valores médio, máximo e mínimo de OD (mg/L) da água superficial.

Ano do Monitoramento Valores MM02 MM03 MR02


Média 4,6 6,7 5,8
2010 Mínimo 2,4 5,0 3,4
Máximo 7,1 7,6 7,0
Média 4,3 5,0 4,5
2011 Mínimo 0,0 0,0 0,0
Máximo 6,8 7,0 6,2

58
Tabela 8. cont.

Média 5,4 6,5 6,4


2012 Mínimo 5,0 6 6,4
Máximo 5,8 7,0 6,4
Média 4,6 6,1 5,5
2013 Mínimo 2,6 4,6 4,8
Máximo 6,0 7,8 6,0
Média 5,7 5,9 5,7
2014 Mínimo 4,1 5,2 5,3
Máximo 7,0 7,1 6,6
Média 5,5 7,0 5,2
2015 Mínimo 3,8 6,6 5,2
Máximo 7,2 7,5 5,2
MM – Rio Mamanguape MR – Rio Miriri

Segundo Vasconcelos & Souza (2011), águas com baixos teores


de oxigênio dissolvido indicam presença de matéria orgânica, pois a
decomposição desse material pelas bactérias aeróbias é acompanhada pelo
consumo do oxigênio dissolvido da água e, dependendo da capacidade de
autodepuração do manancial, o teor de oxigênio dissolvido pode alcançar
valores baixos, ou mesmo zero, extinguindo-se os organismos aquáticos
aeróbios. Esse parâmetro é o maior indicador da poluição gerada pela
atividade antrópica e resulta do lançamento de águas residuais, que gera
constituintes orgânicos e contribui para a diminuição do oxigênio na água.

Demanda bioquímica de oxigênio (DBO)


Com relação à DBO, verificou-se uma média de 0,6 a 2,9 mg/L para
os três pontos de monitoramento dos rios Mamanguape e Miriri (Tabela
9). O valor máximo foi de 9,6 mg/L, no ano de 2013, no Rio Mamanguape
(MM02) e o menor de 0,0 mg/L, no ano de 2011, nos três pontos (MM02,
MM03 e MR02). Portanto, as amostras do ponto MM02 ficaram com
níveis dentro do estabelecido pelas exigências da resolução CONAMA Nº
357/05, que preconiza um valor de até 10 mg/L para os corpos hídricos
de água doce, classe III. A resolução não estabelece valores para águas
salobras e salinas.

59
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Tabela 9. Valores médio, máximo e mínimo de DBO (mg/L) da água superficial.

Ano do Monitoramento Valores MM02 MM03 MR02


Média 1,2 2,9 2,7
2010 Mínimo 0 0,2 0,4
Máximo 3,8 6,6 5,6
Média 1,6 1,7 0,7
2011 Mínimo 0 0 0
Máximo 6 6,2 1,7
Média 3,3 1,5 1,8
2012 Mínimo 1,4 1,4 1,8
Máximo 5,2 1,6 1,8
Média 4,5 1,9 1,85
2013 Mínimo 1,2 0,4 0,4
Máximo 9,6 2,8 4
Média 1,1 1,3 1,9
2014 Mínimo 0,6 0,7 0,9
Máximo 1,4 2 2,9
Média 0,733 1,3 0,6
2015 Mínimo 0,4 0,6 0,6
Máximo 1 2,1 0,6
MM – Rio Mamanguape MR – Rio Miriri

A poluição da água pode causar alterações nas características


físicas (turbidez, cor, número e tamanho de partículas, temperatura,
condutividade, viscosidade, tensão superficial etc), químicas (DBO,
DQO, pH, toxicidade etc) ou biológicas (espécies de fitoplâncton e do
zooplâncton) (DI BERNARDO et al. , 2002; VASCONCELOS e SOUZA,
2011).

Coliformes fecais (CF)


O valor máximo de coliformes fecais encontrado foi de 33000
Nº/100 mL, no ano de 2013, nas águas do Rio Mamanguape (MM02).
O mínimo foi de 0,0 Nº/100 mL, no ano de 2011, para os três pontos
de amostragem (MM02, MM03 e MR02). A menor média de coliformes
fecais registrada durante o período de monitoramento foi de 3,33
Nº/100 mL, no ano 2010, no ponto MM03 e a maior de 9722,5 Nº/100
mL, no ano 2013, nas águas do Rio Mamanguape (Tabela 10). Conforme
a Resolução CONAMA 357/05, o número de coliformes termotolerantes
para água doce, classe III, não deverá ser excedido um limite que varia

60
de 1000 a 4000 por Nº/100 mL, de acordo com a utilidade da água. Para
água salgada, o limite de coliformes não deverá exceder a 2500 Nº/100
mL.

Tabela 10. Valores médio, máximo e mínimo de CF (Nº/100 mL) da água superficial.

Ano do Monitoramento Valores MM02 MM03 MR02


Média 309 3,33 16,66
2010 Mínimo 0 0 0
Máximo 1230 20 120
Média 866,86 180,5 113,33
2011 Mínimo 0 0 0
Máximo 3750 890 430
Média 645 230 500
2012 Mínimo 550 160 500
Máximo 740 300 500
Média 9722,5 907,5 538
2013 Mínimo 1040 10 40
Máximo 33000 2200 990
Média 1240 72,5 3170
2014 Mínimo 200 20 0
Máximo 2320 130 12500
Média 247 223,33 20
2015 Mínimo 10 0 20
Máximo 520 650 20
MM – Rio Mamanguape MR – Rio Miriri

Com alguns valores acima do limite máximo da legislação


brasileira, podemos inferir a existência de alguns focos de contaminação
na água dos rios monitorados, do local de amostragem com comunidades
ribeirinhas, a época das chuvas e do fluxo de marés que provoca
oscilação dos níveis de poluentes na água. Parte do esgoto produzido
nas cidades circunvizinhas deve ser lançada nos córregos e rios que,
ainda sem tratamento, é levado para os rios Mamanguape e Miriri.

Análises químicas do solo


Na Tabela 11 são apresentados os atributos químicos das áreas
estudadas, sendo as suas características descritas e discutidas a seguir.

61
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Tabela 11. Caracterização química dos solos coletados na área da APA da Barra do rio
Mamanguape - PB.

Área
pH H +
de MOS P K Ca Mg Na SB T Al V m
(H2O) Al
coleta
g.dm-3 mg.dm-3 ----------------------------cmol dm-3 -------------------------- -----% ----
5,45 7,8 0,04 0,25 0,05 0,11 13,44 0,20 4,39 24,74
A1 1,39 MB 0,45 13,85
M B B MB MB A MA MB MB B
4,39 5,8 0,03 0,30 0,05 0,09 13,44 0,2 4,89 22,67
A2 1,26 MB 0,47 13,92
MA B MB MB MB M MA MB MB B
4,09 14,4 0,06 0,50 0,15 0,35 49,25 1,30 4,71 35,39
A3 0,32 MB 1,06 50,36
MA B B B MB MA MA A MB M
3,75 17,7 0,16 0,50 0,25 0,26 82,25 1,50 3,21 35,88
A4 4,16 MB 1,17 83,43
MA B M B B MA MA A MB M

pH em água; MOS: matéria orgânica do solo = C.org x 1,724; P e K: extrator Mehlich-1;


(1)

Ca, Mg e Al: extrator KCl 1 mol L-1; H + Al: extrator acetato de cálcio 0,5 mol L-1 a pH
7,0; SB: soma de bases; CTC (T): capacidade de troca catiônica a pH 7,0; V: índice de
saturação de bases; m: índice de saturação de Al. M = Médio; MA = Muito Alta; B = Baixo,
MB = Muito Baixo; A = Alto.

Acidez ativa (pH)


Os valores obtidos para os valores de pH em água variaram
entre 3,75 na área A4 e 5,45 para a amostra coletada na área A1.
Esses valores indicam que as áreas amostradas apresentam uma faixa
de acidez ativa variando de muito alta a média. Esses valores de pH
podem provocar limitações ao crescimento das plantas em função da
baixa disponibilidade de nutrientes, a exemplo do N, P, K, Mg, S e Mo
(MEURER, 2007), deficiência de Ca, impedindo o crescimento do sistema
radicular das plantas (MARSCHNER 2012), a presença de Al trocável
em níveis potencialmente tóxicos para as plantas (MATSUMOTO E
MOTODA, 2012) e a toxidez por excesso de Mn e Fe, além de limitar a
atividade microbiana nos solos (CARVALHO, MOREIRA & CARDOSO,
2012).
De uma maneira geral, a variação do pH do solo na faixa entre
5,0 a 6,5 é favorável ao crescimento da maioria das plantas, pois há
um maior equilíbrio e disponibilidade dos nutrientes na solução do solo
(MEURER, 2007). De acordo com os resultados obtidos nas análises, as
amostras de solo coletadas na área A1 são as que apresentam valores
de pH mais próximos do adequado para a fertilidade do solo, apesar de
estarem abaixo do ideal, entretanto, para os demais pontos de coleta,
com destaque para a área A4, na qual o valor do pH é um grande
limitador do crescimento e desenvolvimento das plantas, em função da
baixa disponibilidade dos elementos essenciais.

62
Matéria orgânica do Solo (MOS)
Os teores de MOS variaram entre 5,8 e 17,7 g dm-3 de solo
nas áreas da APA da Barra do Rio Mamanguape (Tabela 11), sendo
todos classificados como valores baixos a médios. A área A2 foi a
que apresentou os menores teores de matéria orgânica (5,8 g dm-3),
provavelmente em função do menor aporte de resíduos orgânicos na
área, enquanto que as áreas A3 e A4 tiverem incrementos nos teores de
MO muito superiores aos encontrados na área A2.
Entretanto, apesar desses aumentos nos teores de MOS para
as amostras coletadas nas áreas 3 e 4, por se tratar de uma APA, os
valores encontrados para essa variável são baixos, quando comparados
a outras áreas com ocorrência de matas nativas. A explicação para
isso pode estar relacionada ao reduzido aporte de material orgânico ao
solo, em função das espécies vegetais que estão sendo cultivadas nas
áreas analisadas (cana-de-açúcar, milho, feijão e mandioca), quando
comparadas ao aporte de uma área com cobertura vegetal nativa (mata
atlântica). Além desse reduzido aporte de resíduos orgânicos, a textura
arenosa dos solos da APA e a alta temperatura podem estar estimulando
a ação dos microrganismos decompositores (MCCLAUGHERTY E
LINKINS, 1990), favorecendo a mineralização da matéria orgânica em
detrimento da sua preservação e manutenção no solo.
A matéria orgânica tem efeitos diretos sobre a fertilidade dos
solos, atuando como fonte de N e P; além de estimular a quantidade e
diversidade da biota do solo e atuar nos parâmetros físicos de retenção
de água e agregação (SILVA e MENDONÇA, 2007), sendo o seu manejo
essencial para a manutenção da produtividade do solo.

Fósforo disponível
Nas áreas estudadas, os teores de P disponível estiveram muito
abaixo de 20 mg dm-3 de solo, valores considerados inadequados para a
nutrição da maioria das culturas.
De maneira geral, os solos de regiões tropicais apresentam uma
deficiência nos teores de P, em função do material de origem e da
interação do íon fosfato com o solo (CORRÊA et al., 2004), o que pode
explicar os baixos teores encontrados nas amostras analisadas, cujo os
valores variaram de 0,32 mg dm-3 para a amostra coletada na área A3 e
4,16 mg dm-3 para as amostras na área A4.
Os maiores valores de P encontrados na área A4 podem estar
associados aos maiores teores de matéria orgânica, pois ela pode

63
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

contribuir com o aumento da disponibilidade do aumento de P no solo,


por exercer influências sobre o solo, como a solubilização de minerais
contendo o elemento P por ação dos ácidos orgânicos; pela interação
organo-mineral, através da formação de camada de húmus ao redor
dos óxidos de Fe e Al, diminuindo o poder de adsorção desses óxidos;
formação de complexos com ácidos orgânicos de baixa massa molecular,
fazendo com que o P seja absorvido pelas culturas (SOUZA et al., 2014).

Potássio
Os níveis de K encontrados nas áreas estão abaixo do adequado
para a maioria das culturas, indicando uma deficiência desse nutriente
no solo, com valores variando de muito baixo a médios, ficando entre
0,03 e 0,16 cmolc dm-3.
Esses teores de K extremamente reduzidos podem ter sido em
função da baixa disponibilidade do elemento no material de origem do
solo e pelo processo de lixiviação, favorecido pela textura arenosa dos
solos estudados.

Cálcio e Magnésio
Para todas as áreas amostradas os teores de Ca e Mg apresentaram
valores variando entre muito baixos e baixos, o que caracteriza um
solo com poucas bases trocáveis, limitando o crescimento das espécies
vegetais.
Por ser um solo arenoso e com baixa predominância de cargas
eletronegativas, em função do material de origem e do baixo teor de
matéria orgânica, esses nutrientes estão mais susceptíveis a serem
lixiviados do solo, pois são poucos adsorvidos pelas frações minerais e
orgânicas dos solos das áreas estudadas.

Sódio
Por ser uma APA no litoral, nas proximidades dos sedimentos
marinhos, os teores de Na nos solos estudados variaram entre alto e
muito alto, sendo os maiores valores encontrados na área A3. Esses
elevados teores de Na são provavelmente em função do material de
origem e do ambiente de formação desses solos, o que limita ainda
mais o uso agrícola nessas áreas, pois, além de não ser considerado
um nutriente para a maioria das culturas, o Na também pode causar
problemas de salinidade ao ambiente.

64
Essa maior concentração de Na nas áreas amostradas pode
contribuir com uma menor absorção de potássio, cálcio e magnésio
pelas plantas, por haver uma maior competição entre esses cátions do
solo (FREIRE e FREIRE, 2007).

Soma de bases
Em função da baixa disponibilidade das bases do solo houve uma
baixa soma de bases no solo.

Acidez potencial (H+Al)


Os maiores valores da acidez potencial foram encontrados na área
A4 (de mangue degradado), que está ocupada atualmente com cultivos
de mandioca, feijão e milho, apresentando teores de H+Al na ordem de
82,2 cmolc dm-3 e os menores valores foram encontrados nas áreas A1
e A2. Esses valores são indicativos que a substituição da mata nativa
na APA da Barra do Rio Mamanguape por práticas agrícolas aceleram
a acidez potencial do solo, contribuindo para a degradação das áreas.

Alumínio
O alumínio constitui importante componente da acidez do solo.
Na Tabela 11 observa-se que as áreas apresentam teores desse elemento
variando entre 0,15 cmolc dm-3 nas áreas de coleta com mata ciliar (A1)
e na área de policultivo próximo a vegetação nativa (A2) e 1,45 cmolc
dm-3 na área de mangue degradado e com policultivo (A4).
A atividade do alumínio é reduzida em valores de pH próximos
a 5,5 (MATSUMOTO & MOTODA, 2012), o que pode ser observado na
amostra de solo coletada na área de mata ciliar (pH 5,45), entretanto,
quanto maior a acidez do solo, mais elevada é a atividade desse elemento,
por isso os maiores teores foram encontrados na amostra coletada
na área A4 que apresentou valores de pH 3,7 e teores de alumínio de
1,45 cmolc dm-3.
As áreas de monocultura (cana-de-açúcar - A3) e mangue
degradado (policultivos - A4) apresentaram teores altos de alumínio,
que além de estarem associados com os baixos valores de pH, estão
relacionados aos maiores teores de MO em comparação com as demais
áreas. Essa presença do alumínio trocável pode causar problemas de
fitotoxidez, pois ele causa injúrias no sistema radicular das plantas, como

65
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

inibição do crescimento, engrossamento das raízes laterais e pequena


formação de pêlos radiculares, aumenta a viscosidade do citoplasma
das células das raízes provocando decréscimo da permeabilidade da
água e dos sais; além de causar a inibição da absorção de Ca pela planta
e a lixiviação desse nutriente e do K e Mg, por competir pelos mesmos
sítios de adsorção no complexo de troca (SOUSA et al., 2007).

Capacidade de Troca de Cátions a pH 7,0 (CTC a pH 7,0)


Corresponde ao total de cargas negativas que o solo apresenta
e que podem ser ocupadas pelos cátions do solo, principalmente os
nutrientes K+, Ca2+ e Mg2+.
Em solos arenosos, como é o caso das áreas em estudo, a matéria
orgânica tem uma maior contribuição para a CTC dos solos, pois a fração
argila é dominada por minerais que possuem uma baixa densidade
de cargas (SILVA e MENDONÇA et al., 2007), por isso as áreas de
monocultivo de cana-de-açúcar (A3) e policultivo em solo de mangue
degradado (A4) foram as que apresentaram maiores teores de CTC a
pH 7, com valores variando de 50,3 a 83,4 cmolc dm-3 respectivamente,
quando comparada com áreas de mata ciliar (A1).

Saturação por bases (V)


Esse parâmetro fornece uma ideia do total de cargas negativas
do solo que estão realmente ocupadas pelos cátions K+, Ca2+ e Mg2+ no
solo, sendo um indicativo geral da fertilidade. De acordo com os valores
obtidos nas amostras, os valores da V estão muito baixos, sendo que
as áreas A1, A2 e A3 tiveram valores muito próximos. Entretanto, os
menores valores foram encontrados nos solos sob policultivo em área
de mangue degradado (A4), sendo provocado possivelmente pela baixa
ciclagem de nutrientes via resíduos orgânicos e pela exportação dos
nutrientes, principalmente K, Ca e Mg pela extração das culturas.
Saturação por alumínio (m)
Os maiores teores de alumínio ocupando o complexo de troca da
CTC do solo foram encontrados na área A2, com monocultivo de cana-de-
açúcar e na área A4, com policultivo, cujos valores foram classificados
como médios. Esses dados são reflexos dos maiores valores da CTC
gerados pela matéria orgânica e pela presença de maiores teores de
alumínio trocável em comparação com as demais áreas de estudo.

66
Considerações Finais
Mediante os resultados das amostras de água, pequenas variações
apenas no ponto MM02 de alguns parâmetros (cor, condutividade,
salinidade, sólidos dissolvidos totais, oxigênio dissolvido e coliformes)
revelam que há alterações na quantidade de materiais dissolvidos,
tanto de origem orgânica como inorgânica, que podem ser provocadas,
tanto pelo despejo de esgotos e sedimentos, como pelo baixo nível de
água que se encontra no corpo hídrico.
De acordo com os parâmetros avaliados dos solos, foi possível
verificar que todas as áreas apresentam baixa fertilidade, e, de maneira
geral, uma elevada acidez e uma baixa disponibilidade de nutrientes.

Agradecimentos
À chefia da Unidade de Conservação da Área de Proteção
Ambiental da Barra do Rio Mamanguape e ao Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA) por todo apoio dado
a pesquisa.
Ao Centro Ciências Aplicadas e de Educação (CCAE/UFPB) pela
conseção de transporte para realização das coletas em campo.

Referências
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metais pesados de efluentes industriais por aluminossilicatos. Química
Nova, v.25, n.6B, p. 1145-1154, mai.2002.
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Campina Grande: UFPB. 1991, 218p. (Estudos FAO Irrigação e
Drenagem, 29 revisado 1).
BAYER, C; MIELNICZUK, J. Dinâmica e função da matéria orgânica.
In: SANTOS, G. de A.; SILVA, L. S. da; CANELLAS, L. P.; CAMARGO, F.
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Cap.2, Art. 4°, I. Portaria n.º 1469, de 29 de dez. de 2000.
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67
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

CARVALHO, F.; MOREIRA, F. M. S.; CARDOSO, E. J. B. N. Chemical


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COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO – CETESB.
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70
71
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

S ensoriamento remoto aplicado ao


estudo da dinâmica espaço - temporal da
cobertura vegetal da APA da B arra do
R io M amanguape /PB 18

Angélica Fernandes Pessoa19, Milena Dutra da Silva20 e Nadjacleia Vilar Almeida21

Introdução

O crescente aumento populacional e avanço das atividades


humanas produziram, ao longo do processo histórico, a supressão de
áreas naturais, ocasionando, assim, a diminuição da fauna e da flora,
levando ao risco de extinção de muitas espécies.
Um dos elementos da paisagem alvo de supressão, quando diante
da demanda por solo desnudo, a cobertura vegetal, se caracteriza
por ser um elemento de extrema importância, pois, além de atuar na
manutenção dos recursos naturais, exerce um papel determinante na
manutenção dos ecossistemas garantindo, assim, o seu funcionamento.
Para analisar a dinâmica das comunidades vegetais é necessário
a utilização de métodos capazes de produzir diagnósticos a respeito da
cobertura vegetal, para assim, subsidiar planos de conservação. Para
isso, torna-se importante entender a dinâmica espaço-temporal da
cobertura vegetal para detectar as mudanças ocorridas.
Diante da fragilidade ambiental emergente (ROSS, 2007),
percebe-se a necessidade de preservar áreas naturais com características
relevantes, por diversos motivos, entre eles, para a proteção de fontes

18  Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de bacharelado em Ecologia do primeiro autor. Publicado parcialmen-
te em PESSOA et al. (2015)
19  Graduanda do curso de Bacharelado em Ecologia _ UFPB (angel-fernandes12@hotmail.com)
20  Professora do curso de Lic. em Ciências Biológicas_UFAL (milena.silva@penedo.ufal.br)
21  Professora do curso de Bacharelado em Ecologia _UFPB (nadjacleia@ccae.ufpb.br)

72
de água, proteção de animais contra a caça e por abrigar uma grande
variedade de recursos naturais (MMA, 2007).
Dessa forma, visando a proteção das áreas naturais remanescentes
foi instituído pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza – SNUC, critérios e normas para a criação, implantação e
gestão das Unidades de Conservação (BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de
Julho de 2000).
As Unidades de Conservação são de grande relevância, pois
protegem a diversidade biológica e os recursos genéticos a ele associados,
protegem os elementos do meio físico, além dos vários benefícios que
proporcionam para os seres humanos, tais como: equilíbrio climático e
manutenção da qualidade do ar, base para produção de medicamentos
para doenças atuais e futuras, áreas verdes para lazer, educação,
cultura e religião, entre outros benefícios (WWF, 2008).
O processo de colonização do território paraibano teve como base
a exploração intensa dos recursos naturais, caracterizando um padrão
dilapidador dos recursos naturais e extensivo do espaço. Dessa forma,
o espaço reflete os resultados dos processos naturais e sociais que por
sua vez, coexistem até o tempo presente (BERNADES & FERREIRA,
2008).
A extensa ocupação da zona da mata paraibana pelos canaviais
e a expansão das zonas urbanas, acarretou a supressão de áreas de
florestas nativas, o aumento da fragmentação e o comprometimento
da conservação dos recursos naturais (LONGUI, 1999 apud MELLO,
2015).
Nesse contexto, as técnicas de sensoriamento remoto têm sido
fundamentais, pois permitem o monitoramento dos recursos naturais,
além de possibilitar a identificação do uso e cobertura do solo, e sua
variação ao longo do tempo com as transformações ocorridas na
paisagem (MORAIS et al., 2011).
O sensoriamento remoto pode ser definido como:

a utilização conjunta de sensores, equipamentos


para processamento e transmissão de dados
colocados a bordo de aeronaves, espaçonaves, ou
outras plataformas, com o objetivo de estudar
eventos, fenômenos e processos que ocorrem na
superfície do planeta Terra a partir do registro
e da análise das interações entre a radiação

73
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

eletromagnética - REM e as substâncias que o


compõem em suas mais diversas manifestações
(NOVO, 2010, p. 28).

Para a obtenção de dados por sensoriamento remoto passivo é


necessário o uso de energia. Dessa forma, a energia utilizada nesse
processo é a radiação eletromagnética. Segundo Florenzano (2011, p.
11) a radiação eletromagnética se propaga em forma de ondas com a
velocidade da luz e é medida em frequência e comprimento de onda.
Com relação à interação dessa energia com os objetos da superfície
terrestre, cada tipo de elemento componente da paisagem reage de uma
forma diferente. Esta interação varia de acordo com o comprimento de
onda e com as características biofísicas e químicas dos objetos (vegetação,
água e solo) (FLORENZANO, 2011, p. 12). Segundo Oliveira (2013, p.
28), o termo comportamento espectral da vegetação é frequentemente
utilizado para representar as características de reflectância da
REM (Radiação Eletromagnética) pelas folhas, plantas individuais e
conjuntos de plantas. Quando se trata de estudos em vegetação com
aplicações de técnicas de sensoriamento remoto, o comportamento
espectral é fundamentado na compreensão da aparência que uma dada
cobertura vegetal assume, sendo fruto de um processo complexo que
envolve muitos parâmetros e fatores ambientais (PONZONI, 2002).
Com o objetivo de auxiliar o estudo e o monitoramento da
vegetação foram criados os índices de vegetação. Esses índices por
sua vez, têm como objetivo explorar as propriedades espectrais da
vegetação, especialmente nas regiões do visível e do infravermelho
próximo (PONZONI e SHIMABUKURO, 2009 apud OLIVEIRA, 2013).
Dessa forma, a fundamentação dos índices de vegetação consiste na
reflectância da vegetação nessas duas faixas espectrais mencionadas
(visível e infravermelho próximo). Assim, quanto maior a densidade de
cobertura vegetal, menor será a reflectância na região do visível, por
outro lado, maior será a reflexão na região do infravermelho próximo
(PONZONI et al. 2012, p. 86 - 87).
Na literatura são encontrados mais de cinquenta índices de
vegetação (MOREIRA e SHIMABUKURO, 2004), entre os quais, um
dos mais utilizados é o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada
(NDVI), proposto por Rouse et al (1974 apud Jensen 2009). O NDVI é
um método de determinação do vigor da vegetação por meio de diferença
normalizada entre o pico de reflectância no infravermelho próximo e
a feição de absorção na região do vermelho utilizada na fotossíntese
(BAPTISTA e MUNHOZ, 2009).
74
Considerando que o monitoramento da cobertura vegetal é essencial
para se determinar os níveis de alteração da paisagem, o objetivo desse
capítulo foi analisar a dinâmica espaço-temporal da cobertura vegetal
no interior e entorno da APA da Barra do Rio Mamanguape. Assim, o
problema que norteou a pesquisa foi: a criação da APA proporcionou a
preservação ou regeneração dos remanescentes florestais? A hipótese que
definimos foi que apesar da criação da APA os remanescentes florestais
não foram preservados e houve uma perda da cobertura vegetal.
Dessa forma, a presente pesquisa trará grande contribuição para
gestão e planejamento da APA da Barra do Rio Mamanguape tendo como
principal resultado a caracterização da dinâmica da cobertura vegetal no
interior e no entorno da APA.

Procedimentos Metodológicos

Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizadas cartas


topográficas do ano de 1974, Barra do Rio Mamanguape (Folha: SB-
25-Y-A-VI-3-NO), Rio Tinto (SB-25-Y-A-VI-4NE), Baía da Traição
(SB-25-Y-A-VI-1-SO) e Rio Soé (SB-25-Y-A-VI-3-SO) elaboradas pela
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) na
escala de 1:25.000. As cartas topográficas foram vetorizadas e foram
criados polígonos representando áreas de diferentes tipos de uso e
cobertura da terra.
Também foram utilizadas imagens dos satélites Landsat 5 e 7,
da órbita/ponto 214/65 e do satélite RapidEye, cujas características se
encontram no tabela 1.

Tabela 1. Características das Imagens Utilizadas

Intervalo do
Data da
Satélite Sensor Bandas comprimento
imagem
de onda
05/02/1985 Landsat5 TM

B3 (vermelho) 0,63 – 0,69 µm


04/08/2001 Landsat7 ETM
B4(infravermelho próximo) 0,76 – 0,90 µm

20/10/2013 RapidEye
Multiespectral B3(vermelho) 630 – 685 µm
31/12/2012 RapidEye
(pushbroom imager) B5(infravermelho próximo) 760 – 850 µm
25/10/2012 RapidEye

Fonte: Felix et al. (2009); DGI/INPE

75
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

As imagens de Satélites RapidEye e Landsat 5 foram adquiridas


no GeoCatálogo22 do Ministério do Meio Ambiente e Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE23), respectivamente. E a imagem do
Landsat 7, foi adquirida no Earth Science Data Interface24. A escolha
das imagens seguiu dois critérios: 1) as imagens deveriam corresponder
a datas anteriores e posteriores a criação da unidade de conservação;
e 2) as imagens deveriam apresentar ausência ou baixo percentual de
cobertura de nuvens (≤10%).
Os procedimentos utilizados foram divididos nas seguintes
etapas:
• Pré-processamento, processamento e pós-processamento das
imagens;
• Elaboração de mapas temáticos com base nas imagens dos
satélites para identificar a cobertura vegetal existente na
época em que as imagens foram obtidas;
• Análise comparativa dos mapas temáticos.

Pré-processamento, processamento e pós-processamento das


imagens
O pré-processamento consiste no tratamento preliminar dos
dados brutos (FLORENZANO, 2011, p.71). Inicialmente as imagens
foram empilhadas e registradas (georreferenciamento). O registro das
imagens Landsat foi realizado com base em uma imagem já registrada,
adquiridas no Earth Science Data Interface.
Para as imagens RapidEye não foi necessário o registro, pois as
mesmas já são ortorretificadas. Posteriormente, foi realizado o recorte
para a área de estudo. Para analisar o entorno foi definida uma área de
1000 m, através da ferramenta Buffer, onde criou-se um novo polígono
ao redor do limite da APA. Este buffer de 1000 m foi definido levando
em consideração a área que tem influência direta com os limites da
APA, visando uma melhor visualização da dinâmica espacial ocorrida
no local, em virtude que as transformações que ocorrem no entorno
acabam influenciando diretamente no seu interior.

Calibração Radiométrica das imagens Landsat


A calibração radiométrica consiste no processo de conversão do
Número Digital – ND de cada pixel da imagem, em radiância espectral
22  http://geocatalogo.mma.gov.br/index.jsp
23  http://www.dgi.inpe.br/CDSR/
24  http://earthexplorer.usgs.gov/

76
monocromática e reflectância aparente. A radiância por sua vez,
é medida pelo sensor e estima a intensidade de energia que deixa a
superfície terrestre (COSTA & RAMOS, 2013).
Para o cálculo da radiância utilizou-se a equação proposta por
Markhan & Baker (1987 apud MORAIS et al., 2011):

bi-ai
Lλi=ai+ x ND Equação 1
255
Onde:
aі e bi correspondem às radiâncias espectrais mínima e máxima,
respectivamente
ND: é a intensidade do pixel (número inteiro de 0 a 255)
і: corresponde às bandas 1,2,....,7, do Landsat 5 e 7

Segundo Luiz et al. (2003), quando se pretende comparar imagens


obtidas por diferentes sensores ou em variadas datas ou épocas do ano,
é necessário a obtenção dos valores de reflectância dos alvos presentes
em uma cena. Dessa forma, a partir da radiância espectral, calcula-se
a reflectância aparente, por meio da equação proposta por Allen et al.
(2002 apud MORAIS et al., 2011):

π.Lλi
pλi = Equação 2
Kλi.cosZ.dr

Calibração Radiométrica das imagens RapidEye


Para a conversão do número digital (DN) para radiância foi
utilizada a equação (BLACKBRIDGE, 2015):

RAD(і)= DN (і)* radiomectricScaleFactor(і) Equação 3

Onde: radiometricScaleFactor(i) = 0.01

A partir dos valores de radiância, foi calculada a reflectância:

π*sunDist²
REF (і)=RAD (і) Equação 4
EAI(і)*cos (SolarZenith)

77
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Onde:
і: Número de bandas espectrais
REF: valor de reflectância
RAD: valor de radiância
SunDist: Distância entre a Terra e o Sol no dia da aquisição da imagem
em unidades astronômicas
EAI: Irradiância solar na exoatmosfera
SolarZenith: Ângulo zenital solar (90° - elevação solar)

Cálculo do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada


(NDVI)
Após a conversão dos valores brutos das imagens de satélites em
valores físicos, procedeu-se com o cálculo do NDVI. Este por sua vez,
é um indicador sensível da quantidade e das condições da vegetação
(NETO et al., 2008). O NDVI é obtido por meio da equação:
NDVI=(NIR-R)/(NIR+R) Equação 5
Onde:
NDVI: Índice de Vegetação por Diferença Normalizada
NIR: reflectância espectral da banda do sensor na faixa do infravermelho
próximo e
R: reflectância espectral da banda do sensor na faixa do vermelho.

Para os satélites Landsat 5 e 7 foram utilizadas as bandas 3 e


4 e para o RapidEye as bandas 3 e 5, que correspondem ao vermelho
e infravermelho próximo respectivamente. Segundo Oliveira (2013,
p. 34), “os valores do NDVI variam de -1 a +1, onde normalmente
superfícies com alguma vegetação apresentará um valor de NDVI que
irá variar de 0 a 1, já para superfícies como água e nuvens o valor irá
ser menor que zero”.
Com o intuito de facilitar a interpretação dos índices gerados para
cada um dos anos selecionados, procedeu-se com o seu agrupamento em
classes.
Dessa forma, foram definidas 5 classes: Água, Solo Exposto (área
urbana e solo desnudo), Vegetação Rala, Vegetação de Transição e
Vegetação Densa.
78
Com base na metodologia de Silva et al. (2013), os mapas temáticos
de 1985, 2001 e 2012/2013 resultantes da classificação foram convertidos
do formato raster para o vetorial, posteriormente, foi realizado o
cruzamento das camadas vetoriais, mantendo as informações de ambas
no arquivo resultante da operação. Este procedimento foi utilizado para
analisar o quanto de vegetação foi preservada/conservada e o quanto foi
perdido ao longo do período de estudo.
A partir do resultado criou-se um novo campo na tabela de
atributos do arquivo vetorial resultante do cruzamento, que foi
denominado SIT (Situação).
Dessa forma, as áreas de vegetação que se mantiveram foram
classificadas como PRESERVADA/CONSERVADA; as áreas que foram
substituídas por solo exposto e as áreas que diminuíram a densidade da
cobertura vegetal foram classificadas como PERDA DE VEGETAÇÃO;
para as áreas nas quais houve um aumento da densidade de vegetação
foram classificadas como REGENERADA/REGENERAÇÃO; e, onde
era água e permaneceu dessa forma, foi classificada como ÁGUA.

Resultados e Discussões

Com a digitalização das cartas topográficas obteve-se a


espacialização dos diferentes usos e coberturas da terra para o ano de
1974 (Figura 1). Na paisagem, percebe-se uma maior representatividade
da classe cobertura vegetal, composta por vegetação de mangue,
no interior da APA, e por fragmentos de Mata Atlântica e Tabuleiro
(chamado na legenda da carta topográfica de cerrado), no entorno.
Essas classes correspondem a 66,30km² da cobertura vegetal na APA
e 38,47km² no entorno. O restante da cobertura existente em 1974
era caracterizada por culturas (provavelmente cana de açúcar), solo
exposto, zona urbana e já existiam atividades de carcinocultura na
região.
Os mapas de cobertura da terra dos anos de 1985, 2001 e
2012/2013 demonstraram as alterações ocorridas ao longo dos anos a
partir da análise do NDVI (Figura 2). De acordo com Jensen (2009),
o NDVI é importante porque permite o monitoramento de mudanças
sazonais e interanuais no desenvolvimento e na atividade da vegetação.
Assim, possibilita quantificar as áreas com cobertura vegetal para
analisar a sua dinâmica.

79
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 1. Uso e Cobertura da Terra, em 1974, na Área de Proteção Ambiental de Barra


de Mamanguape, Paraíba, Brasil.
Fonte: SUDENE (1974) e Adaptado de Assis (2014).

O mapa de uso e cobertura de 1974 fornece um panorama histórico


dos usos na região e, quando comparado com o mapa de 1985 (Figura 2),
demonstra o acelerado processo de supressão da cobertura vegetal e do
uso indiscriminados dos recursos naturais.
Comparando os resultados obtidos no mapeamento de 1974 e de
1985, percebe-se que houve redução da classe vegetação densa tanto
na APA, quanto no entorno. Em 1974, manchas de vegetação densa
correspondiam a 66,3km² da APA, com manchas representativas e
contínuas, e, em 1985, já se encontravam fragmentadas, ocupando
53,26km², apresentando uma redução de 19,69%.

80
81
Figura 2. Cobertura da Terra nos anos de 1985, 2001 e 2012/2013, na Área de Proteção Ambiental de Barra de Mamanguape,
Paraíba, Brasil.
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

No entorno, as áreas de vegetação foram reduzidas em 43,61%,


considerando que em 1974, correspondia a uma área de 38,47km²,
passando a apresentar em 1985, área de 21,69km².
Observa-se, também, que as classes de solo exposto aumentaram,
haja vista que, em 1974, correspondiam a 3,70km², passando a
apresentar 9,6km², representando um aumento de 159,45% na APA.
No entorno, houve um acréscimo das áreas de solo exposto em 241,55%.
Mesmo com a redução da cobertura vegetal registrada entre 1974
e 1985, o mapeamento de 1985 (anterior à criação da APA) demonstra a
predominância da classe de vegetação densa (Figura 2), apresentando
uma área de 53,26km² (35,70%) na APA (Tabela 2) e 21,69km² (26,27%)
no entorno (Tabela 3). Nota-se também a distribuição de vegetação
de transição em toda a área de estudo, com 19,30% na APA e 16,82%
no entorno. Outra parte da cobertura existente é caracterizada por
vegetação rala (13,57%), que por sua vez se encontra mais concentrada
no entorno da APA (21,25%).

Tabela 2. Quantificação das classes de cobertura da terra na APA da Barra do Rio


Mamanguape, Paraíba, Brasil.

APA
1985 2001 2012/2013
CLASSES Área (Km²) (%) Área (Km²) (%) Área (Km²) (%)
Água 37,31 25,00 39,68 26,52 42,25 28,31
Solo Exposto 9,6 6,43 10,07 6,73 6,58 4,41
Vegetação Rala 20,25 13,57 17,59 11,76 16,8 11,26
Vegetação de Transição 28,8 19,30 29,66 19,83 28,39 19,02
Vegetação Densa 53,26 35,70 52,61 35,16 57,23 37,00
TOTAL 149,22 100 149,61 100 149,25 100

Tabela 3. Quantificação das classes da cobertura da terra no entorno da APA da Barra


do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

ENTORNO
1985 2001 2012/2013

CLASSES Área (Km²) (%) Área (Km²) (%) Área (Km²) (%)

Água 21,55 26,10 21,85 26,46 23,03 27,87


Solo Exposto 7,89 9,56 5,59 6,78 9,03 10,93
Vegetação Rala 17,55 21,25 13,26 16,06 21,3 25,78
Vegetação de Transição 13,88 16,82 21,1 25,56 18,18 22,00
Vegetação Densa 21,69 26,27 20,76 25,14 11,08 13,41
TOTAL 82,56 100 82,56 100 82,62 100

82
No mapeamento de 2001 (Figura 2), foi observada uma redução
das áreas classificadas como vegetação rala, apresentando uma área
de 17,59km² (11,76%) na APA (Tabela 2) e de 13,26km² (16,06%) no
entorno (Tabela 3) e, consequente, aumento de vegetação de transição
tanto na APA (19,83%), quanto no entorno (25,56%). A área da classe
de solo exposto aumentou na APA, representando 10,07km² (6,73%) e
diminuiu no entorno, com 5,59km² (6,78%). Foi observada, também,
uma diminuição da classe vegetação densa, apresentando uma área de
52,61km² (35,16%) na APA e de 20,76km² (25,14%) no entorno. Houve,
também, aumento da área da classe água, o que pode estar relacionado
a quantidade de chuva registrada nos meses anteriores a captura
da imagem (junho e julho), e no mês de captura da imagem (agosto).
Observa-se na figura 3, que nos referidos meses foram registrados
totais pluviométricos superiores a média do ano de 2001, portanto,
considerados meses chuvosos.

Figura 3. Chuvas acumuladas nos Municípios que compõem a Área de Proteção


Ambiental de Barra de Mamanguape, Paraíba, Brasil, no ano de 2001
Fonte: AESA, 2016

Analisando o mapeamento de 2012/2013 (Figura 2) é possível


perceber maior representatividade da classe vegetação densa na APA,
com área de 55,23km² (37,0%), e no entorno houve uma redução de
11,73%. As classes de solo exposto e de vegetação rala ocupam 9,03km²
e 21,3km² respectivamente, aumentando em 13,87%. Esse aumento,
pode estar relacionado com o avanço do cultivo da cana-de-açúcar. Além
83
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

disso, supõe-se que na classe vegetação rala, a cana estava em estágio


inicial. Os dados pluviométricos evidenciam que a estação chuvosa
ocorreu entre os meses de maio a julho (Figura 4), e o período de menor
precipitação ocorreu de agosto a dezembro. Sendo a imagem do mês de
outubro, quando a precipitação ocorreu em menor quantidade, supõe-se
que a precipitação não tenha influenciando no resultado do NDVI.

Figura 4. Chuvas acumuladas nos Municípios que compõem a Área de Proteção


Ambiental de Barra de Mamanguape, Paraíba, Brasil, no ano de 2012
Fonte: AESA, 2016

Com o intuito de verificar a dinâmica espaço-temporal nos anos


analisados, foram elaborados os mapas de dinâmica da cobertura vegetal
para os anos de 2001 e 2012/2013 (Figura 5 e Tabela 4). Analisando o
mapa da situação de 2001 (Figura 5A) verifica-se que houve perda da
vegetação a oeste (cidade de Rio Tinto), a nordeste (comunidades de
Coqueirinho e Tramataia), além de perdas no entorno da APA.

84
85
Figura 5. Dinãmica espaço-temporal da cobertura vegetal para os anos de 1985 a 2001 e de 2001 a 2012/2013, na Área de Proteção Ambiental
de Barra de Mamanguape, Paraíba, Brasil.
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

As áreas com maior extensão, representada pela vegetação


classificada como regenerada, se encontram no entorno da APA,
correspondendo a 23,17km² (28,21%). Porém, vale ressaltar que essas
áreas regeneradas estão relacionadas com a fisiografia da estrutura
da paisagem e não com a regeneração natural, uma vez que as áreas
classificadas correspondem a plantio (cultivo), que estava com porte
alto no ano de 2001, fazendo com que as áreas do entorno fossem
equivocadamente classificadas como regeneradas, devido à dinâmica
(estádios de crescimento) do plantio. O mesmo aplica-se para a classe
solo exposto que, no entorno, em 1985, representavam uma área de
7,89km² (9,56%) e, no ano de 2001 houve um decréscimo, passando
a representar 5,59km² (6,78%). Já as áreas mais representativas,
classificadas como preservadas, estavam inseridas dentro do limite da
Unidade de Conservação apresentando uma área de 56,09km² (37,64%).
Com relação às classes nas quais houve perda de vegetação,
observa-se uma redução significativa no entorno, em 2001,
representavam uma área de 14,87km²(18,11%), passando a apresentar
uma área de 27,56km²(33,50%) em 2012/2013 (Figura 5B).

Tabela 4. Quantificação das áreas em km² da cobertura da terra na Área de Proteção


Ambiental de Barra de Mamanguape e no entorno.

APA ENTORNO
2001- 2001-
1985-2001 1985-2001
2012/2013 2012/2013
Área Área Área Área
CLASSES (%) (%) (%) (%)
(Km²) (Km²) (Km²) (Km²)
Perda de Vegetação 29,4 19,73 24,9 16,70 14,87 18,11 27,56 33,50
Preservada/Conservada 56,09 37,64 51,62 34,63 22,26 27,10 19,79 24,05
Regenerada /
23,85 16,01 30,32 20,34 23,17 28,21 11,91 14,47
Regeneração
Água 39,67 26,62 42,24 28,33 21,83 26,58 23,02 27,98
TOTAL 149,01 100 149,08 100 82,13 100 82,28 100

Com o resultado do cruzamento dos mapas temáticos da dinâmica


da cobertura vegetal de 1985-2001 e 2001-2012/2013, observou-se que
as áreas onde houve maior perda de vegetação corresponderam ao
entorno, com 85,34%. No mapa de dinâmica da cobertura vegetal de
1985-2001 apresentou área de 29,43km², passando a apresentar uma
área de 27,56km² (Figura 5 e Tabela 4).

86
Os resultados encontrados nesta pesquisa, apontam que houve
diminuição da classe de vegetação densa de 1974, para 2001, no entanto,
quando se analisa a evolução temporal de 2001 para 2012/2013, a classe
de cobertura vegetal densa aumentou a área.
Dessa forma, o NDVI foi útil para detectar as variações da
vegetação e o aumento da classe de cobertura densa na APA da Barra
do Rio Mamanguape. Resultados são semelhantes aos de Júnior et al.
(2015), que em estudo na Área de Proteção Ambiental do Pratigi na
Bahia, avaliaram imagens NDVI para o monitoramento da dinâmica
da cobertura vegetal entre os anos de 2000, 2001, 2003 e 2006. E
como resultado, as imagens resultantes do NDVI foram sensíveis às
mudanças da cobertura vegetal e evidenciaram que houve aumento da
área com vegetação densa.
Com base nos trabalhos de campo, as mudanças identificadas no
entorno podem ser atribuídas à expansão da atividade canavieira, como
pode ser observado na figura 6. Na APA, a perda da vegetação está
relacionada ao cultivo, como mostra a figura 7 (A). Na figura 7 (B),
observa-se o desmatamento, também, para o cultivo.

Figura 6. Cana de açúcar no entorno da Área de Proteção Ambiental de Barra de


Mamanguape, Paraíba, Brasil. Data:18-08-2015 - Foto: Marcelo Melo

87
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 7. (A) Cultivo de Macaxeira na APA, (B) Desmatamento para cultivo na APA da
Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

Foi identificada uma área na comunidade Tanques, onde


apresentava mortandade de mangue (Figura 8A), esta área por sua vez,
se encontra dentro da Unidade de Conservação. Próxima a essa área
degradada, a paisagem se encontrou bastante alterada, onde os rios
se encontravam assoreados devido à retirada da mata ciliar, além de
apresentar áreas de policultura (Figura 8B).

88
As causas da mortandade do mangue podem estar relacionadas
com a retirada da mata ciliar. Com a retirada da cobertura vegetal os
rios ficam susceptíveis ao assoreamento, o que poderá refletir na vazão,
e consequentemente irá diminuir a quantidade de água doce que chega
ao estuário em virtude do acúmulo de sedimentos.
Outro fator que pode ter contribuído com a mortandade do
mangue, é a entrada de agrotóxicos no estuário, devido a UC estar
circundada de cana-de-açúcar. Os agrotóxicos são lixiviados através do
solo e resulta na contaminação por substâncias químicas.
Observou-se, também, que nas áreas classificadas como
preservadas na APA houve uma diminuição de 7,97% passando a
representar área de 51,62km² em 2012/2013. No entorno, houve redução
de 11,10% das áreas classificadas como preservadas.

Figura 8. APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil. (A) Área de manguezal
com fortes indícios de degradação, (B) Rio sem mata ciliar e área de policultura na APA.
Foto: Hugo Yuri – Data: 20/04/2015

89
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

No que se refere à metodologia, vale ressaltar que o uso de


imagens NDVI por si só, não pode ser o único fator determinístico
e muito menos o único parâmetro a ser utilizado para estudar as
alterações ocorridas em áreas de cobertura vegetal, conforme esclarece
Silva (2001 apud LOBATO et al, 2010). O NDVI pode ser utilizado
como parâmetro indicador de tais mudanças, porém, devem ser
feitos estudos mais detalhados levando em consideração, trabalhos
de campo, bem como imagens de satélites de alta resolução espacial
(LOBATO et al, 2010).

Considerações Finais

O índice de Vegetação utilizado (NDVI) serviu para avaliar a


perda da cobertura vegetal tanto na APA da Barra do Rio Mamanguape
quanto em seu entorno. Dessa forma, com essa análise foi possível
conhecer as classes de cobertura que compõem a área de estudo.
Os resultados obtidos na pesquisa demonstraram a dinâmica
da cobertura vegetal nos anos estudados. Com relação à cobertura da
terra em 1974, conclui-se que muitas áreas que eram representadas
por vegetação nativa, ao longo dos anos, foi dando lugar ao cultivo, com
destaque para a cana-de-açúcar, que circunda toda a APA da Barra do
Rio Mamanguape.
O fato das áreas classificadas como vegetação rala e solo exposto
terem diminuído de 1985 para 2001, não significa que houve uma
mudança positiva, pois as mesmas representavam cultivo, dessa forma,
não houve regeneração das áreas, e sim uma mudança nos estádios de
desenvolvimento das plantas cultivadas.
O mapeamento de 2012/2013 mostrou-se eficaz, devido à qualidade
visual das imagens e a resolução espacial do Sensor, o que permitiu uma
melhor caracterização das classes estudadas. Os resultados mostraram
que houve redução da classe de vegetação densa tanto na APA, como
no entorno. E o entorno foi o que mais sofreu impactos negativos, onde
a vegetação densa foi reduzida ao longo dos anos devido à expansão do
cultivo da cana-de-açúcar.
As interferências antrópicas no entorno se intensificaram ao
longo dos anos, sobretudo pelo aumento da atividade canavieira. Dessa
forma, mesmo com a criação da Unidade de Conservação, em algumas
áreas não houve a preservação dos remanescentes florestais, pois
a vegetação nativa passou a dar lugar ao cultivo, provocando assim
90
impactos negativos, como alterações dos habitats naturais, redução da
diversidade biológica, e impactos sobre espécies de fauna e flora.
Ressalta-se que os resultados desta pesquisa, além de fornecerem
dados para o monitoramento da APA, podem, ainda, servir de suporte
para os tomadores de decisões, principalmente no que diz respeito ao
planejamento e a gestão da Unidade de Conservação.

Agradecimentos

À chefia da Unidade de Conservação da Área de Proteção


Ambiental da Barra do Rio Mamanguape e ao Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA) por todo apoio dado
a pesquisa.
Ao Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica
(CNPq), por incentivar a realização da pesquisa através da concessão
da bolsa durante o período de 2014-2015.
Ao Centro Ciências Aplicadas e de Educação (CCAE/UFPB) pela
conseção de transporte para realização das coletas em campo.

Referências
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94
95
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

C lassificação da paisagem da APA da


B arra do R io M amanguape com o uso de
SIG 25

Hugo Yuri Elias Gomes de Assis26, Milena Dutra da Silva27 e


Nadjacleia Vilar Almeida28

Introdução

Para nortear esta pesquisa, considera-se a paisagem como “um


mosaico heterogêneo formado por unidades interativas, sendo esta
heterogeneidade existente para pelo menos um fator, segundo um
observador e numa determinada escala de observação” (METZGER,
2001, p. 04).
Estudos em diferentes ramos de pesquisa podem ser fortalecidos
pelos dados gerados pela pesquisa em Ecologia de Paisagem, por ser
esta uma ciência multidisciplinar (RISSER et. al., 1984). A Ecologia
da Paisagem (EP) é vista na Europa como base científica para o
planejamento, manejo, conservação, desenvolvimento e melhoria da
paisagem (NUCCI, 2007), quebrando a tradição imposta pela biologia
clássica de estudos estritamente naturais, excluindo o ser humano do
contexto ambiental (LANG, 2009).
Segundo Forman e Godron (1986), o estudo da Ecologia de
Paisagem pode ser dividido em três aspectos: Estrutura, Função e
Desenvolvimento e Mudança. Neste trabalho será estudado o aspecto

25  Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de bacharelado em Ecologia do Autor Hugo Yuri Elias Gomes de
Assis. Publicado parcialmente em ASSIS et al. (2014).
26  Ecólogo. Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da
UFRN. (hugo.ecologia@gmail.com)
27  Professora Adjunta da Universidade Federal de Alagoas/U.E. Penedo/Curso de Ciências Biológicas. (milena.
silva@penedo.ufal.br)
28  Professora Adjunta da Universidade Federal da Paraíba/CCAE/Curso de Bacharelado em Ecologia.
(nadjacleia@ccae.ufpb.br)

96
de Estrutura da Paisagem. Segundo Lang (2009, p. 237), “a análise da
estrutura da paisagem com ajuda de medidas de estrutura ocorre em
três níveis: (1º) o nível de mancha; (2º) o nível de classe; e (3º) o nível
de toda a paisagem”. As manchas consistem nos menores elementos
individuais, os quais estão inseridos numa determinada região em uma
determinada escala de observação e detecção (ZONNEVELD, 1989). São
definidas por Forman e Godron (1986) como uma forma da superfície
passível de espacialização, e sua conformação é distinta em relação à
vizinha. São consideradas como a mais importante unidade espacial
da paisagem e podem ser diferenciadas em cinco tipos. Entende-se
como classe as categoriais da paisagem; um aglomerado de manchas
de mesma característica; e, por fim, o nível de toda a paisagem seria
o conjunto de diferentes classes numa determinada área de estudos
definida previamente (LANG, 2009).
A Ecologia da Paisagem aliada às geotecnologias contribuem para
o planejamento e gestão ambiental e para geração de dados, os quais
podem servir para diferentes aplicações. Diante da complexidade dos
processos atuantes na paisagem, uma das principais contribuições da
Ecologia de Paisagem é a abordagem de diferentes questões ecológicas
em diferentes escalas, considerando fatores físicos (ver capítulos 1 e 2),
químicos (ver capítulo 3) e biológicos (ver capítulos 4, 6 e 7) (FU, 2011).
Através da utilização dos SIGs é possível automatizar tarefas
realizadas manualmente e, através da integração de dados de diferentes
fontes e criação de um banco de dados geocodificados, realizar análises
mais complexas sobre determinado estudo (ENGESPAÇO, 1990). Podem
fornecer grandes contribuições no que diz respeito ao planejamento
ambiental, executando diferentes análises, das mais simples às mais
complexas (LANG, 2009).
Assim, este trabalho teve como objetivo identificar e analisar
as diferentes classes de paisagem inseridas na APA da Barra do Rio
Mamanguape onde, também, está inserida a ARIE (Área de Relevante
Interesse Ecológico) de Manguezais da Foz do Rio Mamanguape (Decreto
Nº 91.890, de 05 de novembro de 1985), a qual faz parte da zona núcleo
da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica – Fase VI (ICMBio, 2014).
Buscou-se analisar cada mancha e sua qualidade ambiental através da
análise de métricas de paisagem, gerando assim, uma base de dados e
informações que podem servir aos tomadores de decisão e pesquisadores
das mais diversas áreas de pesquisa.

97
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Materiais e Método

Inicialmente, foi realizado o levantamento bibliográfico sobre


Ecologia de Paisagem, o uso das métricas de paisagem e sobre
aspectos físicos e bióticos da APA. Concomitantemente, foi realizado o
levantamento cartográfico da APA.
Foram utilizadas imagens de satélite datadas de 2011, obtidas
do software Google Earth gratuito, e a imagem do satélite RapidEye,
com resolução de 5mx5m, de julho de 2011, cedida pela administração
da APA. Estas imagens foram analisadas em ambiente SIG, onde
foi possível identificar, espacializar e analisar as diferentes classes
de paisagem através da fotointerpretação. Por fim, gerou-se a carta
temática final contendo as classes de paisagem existentes no interior
da APA.
As classes e as manchas foram definidas e vetorizadas a partir
da imagem disponível no Google Earth. Posteriormente, as classes
foram ajustadas à imagem RapidEye gerando dados mais confiáveis,
considerando que a imagem do RapidEye possui melhor resolução
espacial e menos nebulosidade.
As imagens obtidas, principalmente do Google Earth, possuem
certa nebulosidade, fazendo com que as verificações em campo fossem
necessárias no intuito de validar o mapeamento da cobertura da terra.
Nestes locais foram realizados registros fotográficos, obtenção das
coordenadas métricas das classes e das manchas, além da descrição da
qualidade ambiental. Ainda para validar o mapeamento, utilizando um
Veículo Aéreo Não - Tripulado (VANT) modelo Phantom FC40 e uma
câmera digital GoPro modelo Hero 2 foram obtidas imagens aéreas dos
locais de difícil acesso terrestre.

Procedimentos
Para identificação das Classes da APA da Barra do Rio
Mamanguape, foi realizada uma adaptação do trabalho publicado por
Refosco (1996), considerando as seguintes variáveis das unidades de
paisagem: uso e cobertura da terra e tipo de vegetação.
Através da análise das imagens de satélite em ambiente SIG e de
verificações em campo, foi possível espacializar e identificar as classes
inseridas nas unidades de paisagem.
Para obter os dados quantitativos, fez-se o uso de diferentes
métricas da paisagem que possibilitaram o entendimento e a
98
caracterização da paisagem respondendo perguntas importantes
relacionadas à área e ao tamanho de borda das classes e/ou manchas.
A ecologia da paisagem trabalha com a relação entre padrões espaciais
e processos ecológicos onde se faz necessária a quantificação precisa
desses padrões, sendo possível quantificá-los através de diferentes
parâmetros. As métricas, ou índices, da paisagem são agrupados em
duas categorias: as de composição e as de disposição (METZGER, 2012),
sendo utilizadas neste trabalho algumas das métricas relacionadas
à composição da paisagem, sendo que as métricas de composição,
segundo Metzger (2012, p. 423), “dão uma ideia de quais unidades estão
presentes na paisagem, da riqueza dessas unidades e da área ocupada
por elas”.
As imagens e dados obtidos em campo foram analisados utilizando
o software ArcMap (ESRI)29. Após a delimitação das classes, os vetores
(polígonos) criados foram analisados através de técnicas de métricas
de paisagem usando a extensão gratuita V-LATE 1.1 disponível no site
<http://arcscripts.esri.com>.
As métricas utilizadas neste trabalho foram escolhidas por gerar
dados quantitativos, os quais servem de parâmetros para análise
da qualidade ambiental. As métricas analisadas foram: dimensão
fractal, área, índice de forma, análise de áreas núcleo, referente à
borda e às medidas de diversidade (riqueza, diversidade, dominância
e uniformidade).

●Dimensão Fractal
A dimensão fractal (Df) informa o grau de modificação das
dimensões das formas geométricas características de cada classe de
acordo com a escala de observação. Neste caso, quanto mais elevada
for a dimensão fractal, mais forte será o efeito de uma mudança de
escala nas formas geométricas (LANG, 2009). Para calcular a dimensão
fractal utilizou-se a seguinte equação:

Equação 1

Onde: ln–logarítimo natural; L – relação de comprimento; M – fator de
escala.

= 0,5. ∑ ( +1 − 1)( +1 + 1) Equação 2


29 Versão: student desktop advanced for home used 10.1, usuário final Esri: 480264, ArcGIS for Desktop
Advanced ESU384119115, Geostatistical Analyst ESU003745709, ArcGIS Data Interoperability ESU555344672,
Spatial Analyst ESU106436163, 3D Analyst ESU750363536

99
Equação 3
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

●Área Equação 1
A área total de uma classe consiste no total da soma de todas
as manchas desta classe numa paisagem com papel de destaque na
ecologia (LANG, 2009).

= 0,5. ∑ ( +1 − 1)( +1 + 1) Equação 2

Equação
Onde: x e y – coordenadas do i-ésimo ponto de apoio 1
do polígono.

Equação 3
●Índice de forma
O índice de forma baseia-se na combinação de área e perímetro
introduzida por Forman e Godron (1986), como medida de feição
= 0,5. ∑
padronizada, caracterizando ( +1 − da
o desvio 1)( forma Equação
+1 + 1)atual da mancha2 em
forma otimizada de um círculo onde o índice de forma de uma forma
circular tem valor 1. Equação 4

Equação 3

Onde: p – perímetro; a – área Equação 5

●Análise de áreas-núcleo (Área, Cority e CAI) Equação 4


A delimitação das áreas-núcleo é realizada através de um cálculo
de amortecimento (buffer) negativo (em direção ao interior da área)
em determinada unidade espacial, sendo sua área total dependente
da área de efeito de borda adotado na pesquisa a qual é condicionada
pelo tipo de análise que está sendo realizada. Após o cálculo da zona
Equação 56
Equação
de amortecimento e subtraído da área total da unidade espacial, é
calculado o valor da área restante (LANG, 2009).
O Cority serve como medida integradora para a descrição do efeito
de determinadas distâncias à áreas-núcleo. Possui valores adotados
entre 0 e 1, o qual exprime um tipo de suscetibilidade em relação a uma
certa distância do núcleo, onde o valor 1 indica que determinada mancha
possui exatamente uma área-núcleo (LANG, 2009). Por exemplo, se
um determinado fragmento possuir uma única área núcleo, ou seja,
se com a subtração da área referente ao efeito de borda no Equação 6
fragmento
em direção ao interior, dependendo do formato do fragmento, formar
uma única região de área núcleo, o Cority terá valor 1, porém, se com
100
= 0,5. ∑ ( +1 − 1)( +1 + 1) Equação 2
a subtração da área referente ao efeito de borda formarem duas áreas
núcleo no mesmo fragmento, o valor será 0,5.
Já o Índice de Área Núcleo (CAI – core area index) “relaciona
Equação 3a área
resultante com a área de saída e exprime oEquação
resultado
1 em porcentagem”
(LANG, 2009, p. 263), ou seja, qual é a porcentagem de área núcleo
que determinada mancha possui. Esse índice também depende da área
referente ao efeito de borda adotado.

Equação 4
= 0,5. ∑ ( +1 − 1)( +1 + 1) Equação 2
Onde: CY - Cority; NCAI=0 – número de manchas sem área-núcleo.

●Referente à borda
EquaçãoEquação
3 5
Os efeitos de borda são caracterizados por modificações nos
parâmetros físicos, químicos e biológicos observados na região mais
externa da mancha de vegetação com a matriz circundante (LIMA-
RIBEIRO, 2008). A área do efeito de borda adotada neste trabalho
para Unidades de Vegetação com esta característica foi de 50m. Esta
decisão foi tomada de acordo com a revisão bibliográfica (PACIENCIA
Equação 4 e
PRADO, 2004; VIDOLIN et al. 2011; RIGUEIRA et al. 2012) adotando-
se uma maior distância no intuito de assegurar o menor efeito oriundo
da borda. Equação 6

Equação 5

Onde: x e y – coordenadas do i-ésimo ponto de apoio do polígono

●Diversidade
As medidas de Diversidade são compostas fundamentalmente
pelas medidas de Riqueza, Diversidade, Dominância e Uniformidade.
Estes índices utilizados referem-se ao nível de paisagemEquação
e representam
6
características adimensionais, considerando toda a paisagem como um
grupo único de elementos individuais. Sua estrutura é o percentual
em área, ou seja, proporção da cobertura de uma classe na área
total. A diversidade de Shannon, aqui adotada, gera respostas aos
questionamentos relativos à ocorrência e distribuição de classes com
base na respectiva proporção de área (LANG, 2009).

101
Equação 5
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Equação 6

Onde: H – diversidade; DOM – dominância; EVEN – uniformidade; P –


grau de cobertura da classe i; m – número de classes.

Métricas de paisagem relacionadas às Análises de Vizinhança e


Retalhamento (LANG, 2009, Quadro 7.1, p. 252) não foram analisadas
neste estudo, porém serão abordadas futuramente na continuidade do
acompanhamento da paisagem da região em outras pesquisas realizadas
pelos autores e outros pesquisadores do Laboratório de Cartografia e
Geoprocessamento da Universidade Federal da Paraíba.
De posse dos dados métricos e das cartas temáticas de localização
das classes, além de informações sobre a região de estudo, os dados
foram analisados e finalmente foi feita uma análise ambiental de cada
classe.
Realizados os levantamentos necessários, os dados obtidos foram
tratados em ambiente SIG, onde foram gerados diferentes resultados
de métricas de paisagem e cartas temáticas.

Resultados e Discussão

Foram identificadas e delimitadas as seguintes classes de


paisagem na APA da Barra do Rio Mamanguape: mangue, ilhas
fluviais, restinga, tabuleiro, zona urbana, uso múltiplo, áreas úmidas,
monocultura, cultura permanente, fragmentos de mata, carcinicultura,
corpos d’água, recifes de arenito, oceano atlântico, mata ciliar e apicum
(Figura 1). Para identificação foi considerado o conceito de paisagem
de Metzger (2001) e as variáveis na paisagem utilizadas por Refosco
(1996), assim como definições da Lei nº 12.651/2012.

102
Figura 1. Carta temática das classes de paisagem da Área de Proteção Ambiental da
Barra do rio Mamanguape, Paraíba,Brasil

Existem, na área da APA, variados tipos de cobertura da


terra evidenciando a fragmentação das classes onde, nos casos das
fragmentações das classes de ambientes naturais, há alterações no fluxo
gênico e energético comprometendo a manutenção das comunidades que
habitam a região, havendo a possibilidade de diminuição e/ou extinção
103
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

de espécies (TURNER, GARDNER, O´ NEILL, 2001; UEZU; JUNIOR,


2012; RIBEIRO et al., 2012). Isso tornou impraticável a espacialização
e visualização de algumas classes devido à proximidade entre elas e
pelo mosaico diversificado dos tipos de cobertura e uso da terra frente
à escala adotada. Optou-se por considerar os mosaicos formados pelos
usos agropecuários, pequenas construções isoladas e até mesmo solo
exposto como uma única classe denominada de uso múltiplo.
De acordo com o proposto por Casimiro (2009, p. 88), a configuração
da paisagem neste estudo se dá por diferentes formações: a formação
Regular, onde se pode observar padrões ecossistêmicos e/ou uso da
terra regulares, sensivelmente equidistantes, estando envolta por uma
matriz ou rede; a configuração Agregada, pois percebem-se algumas
das manchas de origem semelhante como as manchas introduzidas,
por exemplo, com disposição agregada; e na linha de costa, em especial
na porção ao sul da APA, podemos perceber uma configuração Linear
visto que as manchas de diferentes classes estão dispostas linearmente
acompanhando a costa, como exemplo os tabuleiros costeiros e a
restinga. Ainda segundo o autor (p. 89), quando se refere à classificação
segundo o Gradiente de Modificação da Paisagem, a região da APA
possui todas as classificações de gradiente, havendo em seus limites
paisagens naturais, geridas, cultivadas e urbanas.
Quando analisamos as classes referentes aos ambientes naturais
relacionando-as com as do entorno, observamos alguns fatores
ambientais, os quais são importantes analisar visando a manutenção
do fluxo gênico e energético, que são exemplos de fatores ecológicos
fundamentais para a homeostase de cada classe com características
de ambientes naturais (FORMAN & GODRON, 1986, METZGER,
1998; TURNER et al. 2001; FU, 2011). A exemplo da análise das áreas-
núcleo em classes naturais, as quais representam a região interna de
determinada unidade espacial com menor interferência do efeito de
borda, possuindo condições diferentes das encontradas nas regiões
limítrofes, modificando os processos bióticos e abióticos, oferecendo
condições ambientais mais favoráveis às espécies mais sensíveis a este
efeito, principalmente, quando se trata de estudos referentes à ecologia
animal (LANG, 2009).
Assim, as classes foram agrupadas e apresentadas de acordo com
seu nível de hemerobia. Concomitantemente, foi realizada a análise das
principais manchas (Figura 2) que compõem as classes de paisagem
naturais com graus de hemerobia: não-hemeróbico (ilhas fluviais e
apicum) e meso-hemeróbico (tabuleiros costeiros, restinga, fragmentos
de mata, mangue e áreas úmidas).

104
Classes não-hemeróbicas
As classes consideradas não-hemeróbicas, devido a inexistência
de influência cultural com características originais da vegetação de
influência acentuadamente natural (BLUME e SUKOPP, 1976 apud
LANG, 2009) foram consideradas: ilhas fluviais e apicum. Desempenham
papel fundamental por possuírem características de ecótono, abrigando
diferentes espécies, seja permanentemente ou periodicamente, como no
caso de utilização da área apenas para reprodução; nos casos das aves,
por exemplo, para nidificação e forrageamento.

Ilhas Fluviais
Devido às características ambientais das margens do Rio
Mamanguape, as quais apresentam suas matas ciliares bastante
degradadas ou inexistentes, o aumento da quantidade de sedimentos
no leito do rio é inevitável. Com diferentes tamanhos de sedimentos e
variados processos de transporte, esses podem ficar em suspensão no
corpo d’água deixando a água mais turva, comprometendo a incidência
de luz e os processos fotossintéticos das algas e micro-organismos
fotossintetizantes que habitam esse ecossistema, ou podem se depositar
no leito do rio assoreando-o e/ou formando as ilhas fluviais (CARVALHO,
1994; CARVALHO et al., 2005). Assim, as ilhas fluviais, possivelmente,
foram formadas pelo acúmulo de sedimento (sua presença é mais
considerável na porção oeste, ou seja, mais distante da desembocadura
do rio), alterando o ambiente e o fluxo de água e sedimentos, interferindo
diretamente na qualidade ambiental, em especial na manutenção da
área de vida do peixe-boi marinho (Trichechus manatus, Linnaeus,
1758) e na classe mangue, a qual depende diretamente do regime
hídrico equilibrado de água salgada e doce.
As ilhas fluviais ocupam 156m², correspondendo a 0,10% da APA,
e se localizam no leito do Rio Mamanguape possuindo características de
flora com espécies características de mangue, porém, sua morfogênese
se diferencia da formação das demais classes. Foram formadas pelo
carreamento e deposição recente de sedimentos no leito do rio. As
ilhas fluviais servem como substrato para a biota característica de
mangue, caracterizando-se por 2 manchas de recursos30, sendo a mais
representativa a Mancha 1 (mancha de recursos) com área de 93m².

30  Adota-se para definição o conceito proposto por Lang 2009, p. 117 quando aceita certa influência antrópica no
ambiente, porém mantém as características originais e estado-clímax do ecossistema, com as funções ecológicas de
homeostasia presentes.

105
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 2. Localização das manchas naturais na Área de Proteção Ambiental da Barra de


Mamanguape, Paraíba, Brasil.

Com Índice Médio de Forma (IMF) no valor de 1,273 a forma


da mancha aproxima-se do valor ideal 1 (o valor é 1 quando a forma
é circular, ideal para manchas de ambientes naturais, segundo

106
Forman & Godron (1986)) e Dimensão Fractal Média (DFM) de 1,263
se aproximando do valor ideal 1 (onde o valor 1 representa uma reta,
ou seja, não altera seu formato quando muda a escala de observação)
comprovando bons índices de forma para a mancha segundo a literatura.
Não foram realizados cálculos referentes à Densidade de Borda
(DB) e Área - núcleo (An), pois considera-se neste trabalho a fraca
influência dos efeitos de borda no manguezal quando comparado aos
efeitos ocasionados nos fragmentos de mata devido ao aumento do
número de espécies pioneiras e competidoras na região de borda.
O índice de Uniformidade de Shannon (US) para essa classe é de
97,3%, ou seja, possui alta similaridade das proporções da área (LANG,
2009). O valor encontrado de Dominância (DMN) foi de 0,018 devido ao
valor de riqueza da mancha ser baixo (2 manchas) frente à riqueza de toda
a paisagem (16 classes). Segundo Lang (2009), “o valor da diversidade
aumenta conforme seja condicionado por uma riqueza maior (número de
manchas) ou pelo aumento da uniformidade”. Apesar de possuir maior
área, a mancha 1 possui menor Perímetro / Comprimento de Borda (P/
CB) - 1.381 metros - e Razão Média Perímetro Área (RMPA) de 0,015m/
m². Isso ocorre devido ao seu formato, possuindo menor contato com a
mancha da classe vizinha. A classe que a circunda é representada pela
mancha do Rio Mamanguape (mancha 4) da classe Corpos D´agua.
Ecologicamente isso interfere na menor possibilidade de utilização
da biota do mangue (a exemplo do guaiamum (Cardisoma guanhumi,
Latreille, 1825), do caranguejo-uçá (Ucides cordatus, Linnaeus, 1763)
e da ostra (Crassostrea rhizophorae, Guilding, 1828) na mancha para
reprodução, habitat e forrageamento, visto que quanto maior a zona de
contato, maior a interferência na dinâmica da mancha em estudo pela
mancha vizinha em contato. Por outro lado, diminui a possibilidade
de predadores habitarem a mancha devido a barreira biogeográfica
imposta pelo Rio Mamanguape e pelo reduzido limite de contato.

Apicum
Os apicuns são ambientes frágeis e estão sempre associados
aos manguezais (HADLICH; UCHA, 2009), além de também serem
protegidos pela legislação ambiental brasileira através da Lei 12.651
de 25 de maio de 2012, onde no Capítulo 3-A, Art. 11-A dispõe das
condições de utilização para fins socioeconômicos. Os apicuns são
caracterizados por estarem situados em áreas planas de salinidade
ou acidez elevada, em região de supramaré com pouca ou nenhuma
vegetação (HADILICH; UCHA 2009).
107
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

A classe apicum está localizada no interior da matriz mangue


com área de 17m² ocupando 0,01% da APA, composta por 3 manchas de
recursos. Possui duas manchas (1 e 3) com a mesma área, 7m², porém
a mancha 3 destaca-se por possuir menor perímetro, 319m, entre as
duas. Assim como as ilhas fluviais, os apicuns possuem características
semelhantes por estarem associados ao mesmo ecossistema: o mangue.
Com DFM no valor de 1,297 a mancha 3 possui melhor forma,
sofrendo menor deformação relacionada à alteração da escala de
observação. A US com valor de 98,6% mostra uma uniformidade alta
entre as manchas, demonstrando a semelhança no processo de formação
devido ao ambiente que se encontram ser o mesmo com DMN de 0,015.
Possui importância ecológica para a biota local tendo função de
ecótono, variando o ambiente, aumentando sua diversidade. Há outras
feições características de apicum no interior da APA que necessitam de
análises para sua descrição.
Observou-se em campo que as áreas identificadas como apicuns
(ambientes hipersalinos constatados pela análise de salinidade do
sedimento) possuem vegetação herbácea resistente à alta concentração
de sal com presença de pequenos crustáceos e aves, pois, por se tratar
de área com vegetação rasteira, é ideal para pouso e forrageamento de
algumas espécies de aves típicas desses ambientes, que se alimentam
de pequenos crustáceos, além de estarem conectados ao manguezal
através de fluxos de energia e nutrientes (SCHMIDT; BEMVENUTI;
DIELE, 2013).
Devido às características específicas da classe apicum, os índices
relativos à borda e área-núcleo foram desconsiderados. Esta classe
desenvolve-se de forma natural, podendo ser intensificada pelas
atividades antrópicas, a exemplo da alteração do fluxo hídrico na região,
contribuindo para o aumento da salinidade e/ou acidez do solo.

Classe meso-hemeróbica
Na classe considerada meso-hemeróbica, com influência cultural
fraca ou periódica, com categoria de influência acentuadamente cultural
(BLUME e SUKOPP, 1976 apud LANG, 2009) foram consideradas:
tabuleiros costeiros, restinga, fragmentos de mata, mangue e áreas
úmidas, as quais estão intimamente relacionadas, devido à proximidade
e grau de contato entre elas na principal mancha de fragmentos de
mata (mancha 15 referente à Mata do Oiteiro), e principal mancha de
tabuleiros costeiros (mancha 2, localizada na parte superior das falésias
na Praia do Oiteiro).
108
Tabuleiros Costeiros
Os tabuleiros costeiros estão presentes de forma mais
representativa na porção sul da linha de costa da APA (Figura 2) com
1.072m² representando 0,72% da APA, composta por 2 manchas de
recursos, sendo a mancha 2 a de melhor qualidade métrica. Ressalta-
se que esse é um fragmento de vegetação secundária, em processo de
sucessão ecológica, onde antes, na região, havia um ecossistema de
mata atlântica, que foi desmatada para dar espaço para plantio da
cana-de-açúcar e a criação de gado bovino.
Estão localizados na Praia do Oiteiro (Figura 3), próximo à
comunidade de Lagoa de Praia. A mancha 2 possui área de 591m² com P/
CB de 4.987m, valor bem menor do que a mancha 1 que possui 8.092m,
devido a forma diferenciada que os fragmentos possuem, evidenciado
pelos resultados referentes à forma dos fragmentos 1 e 2, que possuem
IMF de 3,289 e 1,833 e DFM de 1,375 e 1,282, respectivamente.
Caracteriza-se por Floresta Estacional Semidecidual das Terras
baixas (IBGE, 2012). Por se tratar de uma zona de transição (ecótono)
entre o ambiente de praia e floresta atlântica, possui importante papel
ecológico na manutenção das espécies de fauna e flora, principalmente
no que diz respeito à colonização por diferentes espécies da flora, as
quais dão suporte à fauna através da disponibilização de alimento,
locais para nidificação e área para deslocamento da fauna. Os tabuleiros
também são protegidos pela Lei 12.651 de 25 de maio de 2012, como
sendo Área de Proteção Permanente. O Art. 4º inciso VIII dispõe que
“as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo,
em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais
devem ser protegidas”.
Devido à relação da área e perímetro, a densidade de borda da
mancha 1 é muito superior a da mancha 2, com 167,98m/ha e 49,95m/
ha, respectivamente. Com maior densidade de borda, a influência do
efeito na mancha 1 é maior, porém, nessa situação em particular, a
mancha 1 apresenta-se em melhores condições quando se refere às
relações ecológicas com as manchas de classes vizinhas, visto que faz
fronteira ao sul com a restinga da margem norte do Rio Miriri, a oeste
com o fragmento Mata do Oiteiro, e a norte faz fronteira com a restinga
da Praia do Oiteiro.
A mancha 2 possui ação antrópica mais evidente devido a criação
de gado bovino em suas fronteiras, além da movimentação de pessoas
no interior do fragmento à procura de frutas e/ou de animais domésticos
que entram no fragmento para se alimentar. Esse fragmento apresenta-

109
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

se em estágio de sucessão ecológica onde já é possível observar algumas


espécies arbóreas da Floresta Atlântica. Possui maior Área- núcleo
(An) com 363m², Índice de Área - núcleo (IAn) de 61,42% e Cority (CY)
de valor 1 (a mancha 2 possui valor CY 0,167, com mais de uma área
núcleo, devido sua configuração linear), oferecendo melhores condições
ambientais para espécies de interior.
Em relação à diversidade, a classe Tabuleiros Costeiros possui o
maior resultado referente a US, com 99,2%, porém com pequeno índice
de dominância, com valor de 0,005, e DS de 0,688.

Figura 3. Tabuleiros costeiros na Praia do Oiteiro, Paraíba, Brasil. Foto: Hugo Yuri.
Data: 22/04/2015

Restinga
A restinga31 é caracterizada por ser um depósito arenoso paralelo
à linha de costa, e está presente em quase toda a extensão da faixa
litorânea (Figura 2), com área total de 5.235 m² ocupando 3,5% da APA,
composta por 7 manchas de recursos. É uma das classes de paisagem
com maior risco referente à especulação imobiliária e atividades
recreativas por parte dos moradores e turistas se não houver o devido
planejamento e fiscalização, pois já se constata a supressão e alteração
desse ecossistema na Praia de Campina devido à construção de casas
de veraneio com a implantação do loteamento Minhoto III no final dos
anos 1990.

31  Definida e considerada como Área de Proteção Permanente (APP) pela Lei 12.651 de 15 de maio de 2012.

110
A mancha mais representativa em termos de métricas de
paisagem e qualidade ambiental é a 7. Com área de 2.433m² e P/CB de
13.757m, possui a maior AN com 1.757m² e IAN de 72,2%. Apresenta
um dos menores valores de DB com 56,53m/ha, reforçando a qualidade
ambiental da mancha. A pressão que sofre é oriunda basicamente do
pisoteio, retirada de madeira e trânsito de veículos automotores. A
classe possui US de 73,1%, DS de 1,423 e DMN 0,523.
A restinga geralmente está associada às dunas, possuindo
importante papel na fixação dessas, servindo também como zona
tampão formando uma barreira natural contra ressacas. Também
servem de berçário para diferentes espécies da fauna e da flora, tanto as
espécies perenes quanto as migratórias (CAMPOS et al., 2010). Como
exemplo de espécie da fauna, há a presença de tartarugas marinhas
com registros das espécies Verde (Chelonia mydas, Linnaeus 1758) e
de Pente (Eretmochelys imbricata, Linnaeus 1766), que utiliza desse
ecossistema para desova.
Esse ecossistema ocorre próximo à região de praia, ocupando o
estreito terraço arenoso formado sobre os afloramentos da formação
barreiras, dividida em restinga herbácea e restinga arbustiva. Com
poucas espécies, a restinga herbácea possui a vegetação rasteira como
predominante, tendo como exemplo a salsa-da-praia (Ipomoea pes-
caprae, Linneaus (L.) R. Br., dentre outras. Já a restinga arbustiva
ocupa a porção da encosta da duna fronteiriça com o mar, com espécies
de arbustos baixos em moitas densas e intricadas. Como exemplo de
espécie arbustiva, temos o cajueiro (Anacardium occidentale, L.) com
forte presença na área (ICMBio, 2014).
Também é nas áreas de restinga que se encontram a maior
parte das casas construídas para veraneio, alterando suas feições
(alteração permanente da paisagem em alguns pontos) e impactando
negativamente o ambiente. Em alguns locais, a restinga está bem
conservada devido ao esforço, tanto de uma parcela da população local,
quanto do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) através da administração da APA (Figura 4). Mesmo com
esses esforços, algumas atividades degradantes ainda ocorrem de
forma relativamente intensa como extração de madeira e o já citado
trânsito ilegal de veículos. O uso de madeira retirada pelos moradores
da restinga na década de 1990 era basicamente destinado à lenha e
carvão variando de 54% entre os moradores de Barra de Mamanguape
e 100% nos da Ilha de Arintingui (PALUDO & KLONOWSKI, 1999).

111
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 4. Imagens aéreas das áreas de restinga mais conservadas na APA da Barra
do Rio Mamanguape. A área “A” localiza-se à margem norte do Rio Miriri (foz no canto
superior da imagem). Posição norte-sul. A “B” localiza-se próxima à comunidade de Lagoa
de Praia (Rio Mamanguape ao fundo). Posição sul-norte. Foto: Hugo Yuri. Data: 22 de
fevereiro de 2013.

Fragmentos de Mata
A classe fragmentos de mata (Floresta Atlântica) possui muita
importância por abrigar grande número de espécies de fauna e flora.
Caracterizada pelo Manual Técnico da Vegetação Brasileira (2ª edição)
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012 como
sendo Floresta Ombrófila Densa, essa classe possui papel fundamental
na manutenção da biota e nos processos físico-químicos.
Ao analisar uma Unidade de Conservação (UC), a qualidade do
ambiente natural necessita de uma atenção especial em relação aos
112
demais ambientes, pois os habitats, quando fragmentados, representam
ameaça à biodiversidade (TABARELLI & GASCOS, 2005), acarretando
em consequências catastróficas, as quais afetam direta e indiretamente
as diferentes populações da biota que habitam determinada região.
A fragmentação acarreta: perda de habitat, efeito de separação
e barreira, subdivisão e mortalidade (LANG, 2009), além de serem
afetados por problemas direta e indiretamente relacionados à
fragmentação, aumentando a distância entre os fragmentos, alterando
o tamanho e a forma, o tipo de matriz circundante e intensificação do
efeito de borda (ICMBio, 2014). Outras consequências oriundas da
fragmentação e do isolamento de matrizes de vegetação são: alteração
do fluxo gênico, simplificação dos sistemas ecológicos, intensificação da
competição por recursos, perda dos serviços florestais (importantes nas
questões sociais, econômicas e ambientais) e modificação da qualidade
de habitats aumentando em larga escala os habitats ruins ou negativos
para diferentes espécies, contribuindo, por exemplo, para os processos de
extinção e nos processos metapopulacionais (CAMPOS e AGOSTINHO,
1997; METZEGUER, 1998; BIERREGAARD et al., 1992; PRIMACK e
RODRIGUES, 2001, MMA, 2003).
Quanto menor o tamanho total do fragmento, maior será a
influência do efeito de borda sobre a biota, assim como sua forma.
Os fragmentos de forma irregular estão mais propícios a apresentar
maior efeito de borda em virtude da sua maior interação com a matriz
(VIDOLIN et al., 2011).
O maior número de fragmentos de Floresta Atlântica localiza-se
no extremo oeste e sudeste da APA (Figura 2), inexistindo corredores
ou stepstones entre esses e entre o fragmento da Mata do Oiteiro,
comprometendo gravemente o fluxo gênico das espécies.
A classe possui área total de 6.443m² ocupando 4,31% da área
total da APA, composta por 15 manchas, DS 0,91, US 0,336 e DMN
1,798, sendo uma das classes mais representativas da APA. Estes
fragmentos encontram-se isolados uns dos outros, sem corredores
ecológicos, afetando diretamente o equilíbrio genético das espécies de
fauna e flora que habitam estas áreas.
A maior mancha identificada nas análises métricas corresponde
à mancha 15, conhecida localmente por Mata do Oiteiro. Possui uma
área total de 5.210m² e P/CB 23.073m, com grande zona de contato
com outras classes como a monocultura. A DB apresenta o valor de
44,28m/ha, que segundo o Plano de Manejo da APA/ARIE é composta
por cobertura vegetal em estado de regeneração (ICMBio, 2014). É um
dos mais importantes fragmentos setentrionais costeiros da Floresta
113
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Atlântica e mesmo em estado de recuperação (caráter secundário),


apresenta variados graus de recuperação (ROSA & SASSI, 2002).
Esse fragmento possui, em seu interior, diferentes fitofisionomias
e abriga diferentes espécies. O levantamento da flora realizado por
Pereira e Alves (2006) registrou 111 espécies, distribuídas em 92
gêneros, integrantes de 44 famílias, sendo o maior fragmento com
maior de An 4.187m², IAn de 80,37, IMF com valor preocupante (2,851)
e o CY de 0,25. Tem mais de uma área núcleo, e possui contato direto
com a monocultura da cana-de-açúcar, e está sujeito às perturbações
relacionadas ao uso do fogo para colheita e uso de defensivos agrícolas.
Essa mancha também é utilizada pelas comunidades locais para
atividades de caça e extração de lenha, além de servir para atividades
recreativas como trilhas de tracking, ciclismo e motociclismo.
A classe possui ao todo 15 manchas, onde apenas 4
ultrapassam os 100m², sendo uma área bastante reduzida para
comportar satisfatoriamente mamíferos de médio porte, por exemplo,
comprometendo a manutenção da biota devido ao reduzido tamanho
total do fragmento e área núcleo, pois como observam Metzger (2001),
Lang (2009) e Turner et al. (2001), quanto menor o fragmento, menor
as condições ambientais para manutenção da biota, além dos contatos
da borda com classes oriundas de ações antrópicas como as zonas
urbanas, por exemplo, ou que são utilizadas pelas comunidades para
fins socioeconômicos e/ou recreativos que geram pressão negativa sobre
esses ambientes e suas comunidades.
A conservação desses fragmentos é primordial para manutenção
da biodiversidade, ainda existente, visto a alta fragilidade devido a
disposição espacial (isolamento) e tamanho das manchas, e das matrizes
que as separam (caracterizadas principalmente pela monocultura da
cana-de-açúcar).

Mangue
A classe mangue é a maior classe inserida nos limites da APA da
Barra do Rio Mamanguape, totalizando 48.292m² e ocupando 32,23%
da APA. Está dividida em 3 manchas de remanescentes (Figura 2).
A mancha mais representativa refere-se a 2, a qual localiza-se na
margem sul do Rio Mamanguape com 2.348m² de área e P/CB 16.968m
caracterizando grande zona de contato com classes vizinhas, entre elas
a monocultura de cana-de-açúcar. O IMF é preocupante com o valor de
6,842, intensificando as relações de contato com as classes vizinhas.

114
Não foram consideradas as métricas de paisagem relacionadas
à borda e área núcleo nessa classe, devido possuir pouca zona de
transição nas linhas limítrofes, gerando dados irreais sobre a qualidade
ambiental natural da classe (Figura 5). Porém, nesse caso, as manchas
de mangue possuem contato com manchas de classes de paisagem (classe
monocultura, uso múltiplo, carcinicultura e zona urbana) que geram
impactos negativos significativos no ecossistema manguezal.
A classe mangue possui valores de DS 0,814, US 74,1% e DMN
0,285.
As atividades de agricultura, aquicultura, a construção de
instalações urbanas, industriais, de turismo e aterramento de manguezal
são exemplos de atividades que podem impactar negativamente os
manguezais, pois podem intensificar processos de erosão, sedimentação,
eutrofização, alteração nos regimes hidrológicos e processos ecológicos
(ICMBio, 2014)
Está presente em duas bacias hidrográficas: a do Rio Mamanguape
e a do Rio Miriri. Encontra-se morfologicamente associado a costas
protegidas; áreas estuarinas, lagunares, baías e enseadas, protegendo a
região necessária para o desenvolvimento do ecossistema (QUINÕNES,
2000). É uma das principais classes, pois além de sua dimensão, suas
riquezas naturais geram renda para população local através da pesca,
comercialização de crustáceos como o guaiamu (Cardisoma guanhumi,
Latreille, 1825), caranguejo- Uçá (Ucides cordatus, Linnaeus, 1763), ostra
(Crassostrea rhizophorae, Guilding, 1828) e marisco (Anomalocardia
brasiliana, Gmelin, 1791). A conservação dessa classe é primordial,
inclusive, por ter sido um dos principais objetivos de criação da APA
(Inciso II, Art. 1º, Decreto 924/93).
No manguezal inserido na APA foram identificadas diferentes
espécies como: Rhizophora mangle (L.) (mangue-vermelho), Avicennia
germinans (L.) (mangue-preto ou siriubeira), Avicennia schaueriana
(Stapf & Leechm. Ex Moldenke) (mangue-preto), Conocarpus erectus
(Stapf & Leechman) (mangue-de-botão) e Laguncularia racemosa (L.)
(mangue-branco) (ROSA & SASSI, 2002; OLIVEIRA, 2009). Também
são encontradas espécies como a Acrostichum aureum (samambaia do
mangue), Eleocharis obtusa e Spartina alterniflora (capins do mangue)
(PALUDO & KLONOWSKI 1999).
Apesar de ser um dos principais recursos naturais a ser conservado,
além de constituir uma Área de Proteção Permanente segundo o inciso VII
da Lei nº 12.651/2012, ainda ocorrem atividades ilegais e/ou degradantes
como extração de lenha do mangue com finalidades diversas.

115
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

A criação de viveiros de camarão (especialmente na mancha 1)


também se torna uma ameaça constante. Na região norte (território
Potiguara), os viveiros estão em maior número, fragmentando o
manguezal, impactando-o negativamente, Além dos possíveis impactos
gerados pela utilização de agentes químicos para controle de pragas e
doenças (PAULA et al., 2006).

Figura 5. “A” corresponde a uma área de mangue na margem sul do Rio Mamanguape.
Posição sentido sudeste-nordeste. “B” corresponde a Mata do Oiteiro localizada entre
as manchas de cana-de-açúcar (parte superior) e tabuleiros costeiros (parte inferior).
Posição nordeste-sudeste. Foto: Hugo Yuri. Data: “A” 20/04/2015 | “B” 22/02/2013

Áreas úmidas
A classe áreas úmidas, ou áreas sujeitas a alagamento, localiza-
se geralmente às margens dos rios que cortam a região (Figura 2) com
área total de 13.413m², ocupando 8,97% da APA, e é composta por 19

116
manchas de remanescentes. Caracteriza-se por regiões de alagamento
fácil, principalmente em épocas de chuva.
A mancha 19 apresenta-se com melhor qualidade em relação aos
índices métricos. Com área total de 5.161m², P/CB de 33.787, possui DB
com menor valor para a classe com 65,46 m/ha. Ao mesmo tempo em
que a DB possui um valor de caráter positivo, o valor do IMF está entre
os maiores (4,195). A DFM também apresenta valor alto com 1,349,
deformando quando se altera a escala de observação. A An da mancha
possui área de 3.550m², CY de 0,125, com mais de uma área núcleo, e IAn
de 12,5%, demostrando grande área sob interferência do efeito de borda.
A classe possui valores de DS 1,913, US 65% e DMN 1,032.
Foi possível observar que essa classe de paisagem, quando
não inundada, serve principalmente de pasto para o gado bovino. É
necessário atenção para essa classe no que diz respeito à construção de
casas no período de estiagem devido ao iminente risco de alagamento
em épocas de chuva. A vegetação encontrada é basicamente formada
por gramíneas e arbustos. Na região próxima à zona urbana de Rio
Tinto encontra-se a maior concentração dessas áreas.
As áreas úmidas que ocorrem na Floresta Atlântica são cobertas
com tipologias florestais alagáveis muito ricas em espécies altamente
adaptadas a inundações prolongadas e de grande profundidade. Estes
ambientes também são protegidos pelo Código Florestal Brasileiro
(Lei Nº 12.651 de 25 de maio de 2012) e fazem parte dos ecossistemas
mundialmente afetados e ameaçados de destruição pelo homem (JUNK
et al. 2014).

Classes eu-hemeróbicas
As classes consideradas eu-hemeróbicas, tem forte influência
cultural, apresentam solos e água (regime hídrico) alterados pelo
homem, e fazem parte de uma categoria com influência acentuadamente
cultural (BLUME e SUKOPP, 1976 apud LANG, 2009). Na APA essa
classe foi representada por: zona urbana, uso múltiplo, carcinicultura
e matas ciliares.
Por se tratar de ambientes culturais, os índices de qualidade
ambiental não foram considerados. Apenas os índices de área total,
perímetro e dimensão fractal foram analisados, devido sua importância
no que se refere à área ocupada, principalmente quando se trata da
relação com as classes vizinhas.

117
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Zona urbana
A classe zona urbana constitui-se principalmente pela cidade
de Rio Tinto e as comunidades: Vila Regina, Camurupim, Praia
de Campina, Tavares, Coqueirinho do Norte, Tanques, Barra de
Mamanguape e Lagoa de Praia que se destacam pelo número de
habitantes e atividades econômicas desenvolvidas e por receberem
turistas de sol e praia. Possui área total de 4.082m², ocupando 2,73%
da APA, sendo composta por 14 manchas introduzidas.
Na zona urbana de Rio Tinto (Figura 6), a degradação ocorre
de forma mais expressiva devido ao pouco ou nenhum planejamento
ambiental das atividades econômicas. Os rios que cortam a cidade
encontram-se bastante degradados e praticamente não existem matas
ciliares. Em alguns pontos é possível observar o despejo de efluentes
domésticos nos rios e a alta concentração de resíduos sólidos como
sacolas plásticas, garrafas pet, latas de alumínio, entre outros.
Nessa Zona Urbana encontram-se a maior parte da estrutura
administrativa e dos problemas relacionados à falta de planejamento
ambiental.

Figura 6. Vista aérea da praça João Pessoa localizada na zona urbana de Rio Tinto,
Paraíba, Brasil. Foto: Hugo Yuri. Data: 10/12/2014

Praia de Campina, comunidade que recebe o maior número


de turistas de sol e praia, principalmente na época do carnaval, é
sem dúvida a comunidade que mais necessita de atenção a gestão e
educação ambiental. Essa comunidade está cercada pelas classes de
118
restinga, tabuleiros costeiros, áreas úmidas, mangue e usos múltiplos
e, por se tratar de uma comunidade pertencente ao Município de
Rio Tinto, encontra-se na dependência política desse município,
enfrentando problemas para controlar e fiscalizar as atividades
desenvolvidas na região.

Usos múltiplos
A classe usos múltiplos encontra-se, geralmente, próxima às
áreas urbanas onde os moradores realizam suas atividades econômicas
e de subsistência, as quais estão ligadas diretamente aos recursos
naturais e ao uso da terra. Possui área total de 17.308m², ocupando
11,6% da área total da APA, composta por 22 manchas introduzidas.
Estes locais caracterizaram-se pelo pouco ou nenhum planejamento do
uso da terra, que geram problemas, tais como de erosão.

Carcinicultura
A carcinicultura está presente, com maior número de tanques,
na porção norte da APA, área de domínio indígena (potiguar), onde a
atividade se tornou uma importante fonte de renda local. Supõem-se
que a política de implantação dos tanques não levou em consideração a
promoção da sustentabilidade do manguezal, uma vez que os tanques
são abandonados num curto espaço de tempo e o replantio das espécies
da flora não é realizado.
Apesar do consumo de camarão ser tradição para os potiguaras,
somente nos anos 1990 foi implantada a carcinicultura na região da
APA, iniciando pela aldeia Camurupim, sendo atualmente a aldeia
de Tramataia a detentora do maior número de viveiros de camarão
(CARDOSO et al., 2012).
A classe ocupa 2.023m², correspondendo a 1,35% da APA,
composta por 15 manchas introduzidas. Há presença também na porção
mais ao sul, porém em menor número, totalizando duas fazendas.
Esta cultura traz alguns riscos para a biota local devido ao uso de
antibióticos e outros produtos químicos nocivos ao equilíbrio ambiental,
além da área de mangue que é suprimida para implantação dos tanques.
Tanto os potiguaras quanto empresas privadas geram impactos
negativos ao meio ambiente, como o desmatamento dos manguezais e
poluição dos recursos hídricos (ICMBio, 2014)
A fazenda de criação com maior extensão (mancha 2) está
localizada na porção sudeste da APA, próxima a uma área com
119
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

características físico-químicas alteradas (Capítulo 3), onde se encontra


uma área de mangue morto. É necessário muito cuidado na implantação
e execução desse tipo de empreendimento devido ao alto grau de risco
que oferece ao ambiente natural.
Segundo consta no Plano de Manejo (ICMBio, 2014), 37% dos
tanques estão desativados devido à descapitalização dos proprietários
dos tanques, mostrando que a rentabilidade da atividade não está
sendo suficiente aos produtores. Atualmente, dos tanques em atividade,
29 pertencem a um único proprietário, 41 são explorados por mais de
um grupo familiar e apenas 6 são comunitários, concentrando-se a
atividade nas mãos de poucas famílias (ICMBio, 2014).

Mata ciliar
A classe matas ciliares, identificada neste trabalho, está
drasticamente degradada e em alguns locais foi desmatada
completamente, principalmente na área próxima a zona urbana de
Rio Tinto, com 565m², ocupando 0,377% da APA, composta por 2
manchas.
A degradação desta classe acarreta inúmeros impactos ao
ambiente natural da região, que vai desde o desenvolvimento de feições
erosivas, ao assoreamento dos corpos d’água existentes, comprometendo
os corpos hídricos. Devido sua função ecológica foi considerada como
classe diferente da classe fragmentos de mata.

Classes poli-hemeróbicas
As classes consideradas poli-hemeróbicas, com influência cultural
demonstrada na aniquilação de locais em curto espaço de tempo e
permanentemente, estando em uma categoria de influência totalmente
alterada (BLUME e SUKOPP, 1976 apud LANG, 2009) ). Na APA foram
identificadas as seguintes classes: monocultura e cultura permanente.
Como se trata de um ambiente cultural, os índices de qualidade
ambiental não foram considerados. Apenas os índices de área total,
perímetro e dimensão fractal foram analisados, devido sua importância
no que se refere à área ocupada, principalmente quando se trata da
relação da classe com as classes vizinhas.

120
Monocultura
A monocultura está inserida na APA, é quase que exclusivamente,
representada pela cana-de-açúcar. Ocupa uma área de 6.778m² que
representa 4,53% da APA, composta por 13 manchas introduzidas,
visto que as manchas introduzidas são manchas planejadas e inseridas
pelo homem onde, sua forma, composição e disposição espacial é
determinada pelo homem (LANG, 2009).
Instalada na região há algumas décadas, esta cultura
gera impactos ambientais negativos através do desmatamento,
assoreamento, queima (em época de colheita) e uso de pesticidas. Teve
seu desenvolvimento impulsionado pelo programa do governo federal,
Proálcool, em 1975, expandindo-se por toda a região (ICMBio, 2014).
Geradora de empregos, a indústria da cana-de-açúcar se apresenta
com importância socioeconômica relevante, porém são perceptíveis
os danos ambientais. A qualidade do ar é comprometida em época de
colheita devido ainda ser realizada manualmente em boa parte da área
plantada, necessitando da queima, porém, em alguns locais já é possível
observar a colheita mecanizada.
Os conflitos relacionados a esta classe são inúmeros, sejam
eles ambientais ou sociais comprometendo a agricultura tradicional
familiar, pois ocupa a maior parte das terras da região, restando
aos agricultores grotas, regiões de pedras, entre outros que não são
atrativos aos produtores de cana (CARDOSO et al., 2012).
Para atingir melhores resultados na colheita, se pratica o uso
intensivo de agrotóxicos e os subprodutos oriundos do processamento
da cana-de-açúcar (vinhoto, por exemplo), que podem comprometer
a qualidade da água e dos habitats, afetando negativamente a biota,
atingindo também as populações ribeirinhas que dependem dos recursos
naturais para sua sobrevivência (CARDOSO et al., 2012).
Através dos resultados gerados pelas métricas, podemos observar
que mesmo as manchas com pequena área, possuem um perímetro
considerável, a exemplo da mancha 2, que possui apenas 37m² e
perímetro de 6.462m, havendo grande área de contato com outra ou
outras classes, entre elas a classe mangue (matriz).

Cultura permanente
A cultura permanente identificada na APA foi a do coco. Localizada
a oeste da APA, ocupa 126m², correspondente a apenas 0,08% da APA.
Está inserida na periferia da zona urbana de Rio Tinto na comunidade
da Vila Regina (território potiguar).
121
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Foi possível observar que entre os coqueiros há criação de


bovinos, caprinos e equinos, que pertencem à população local. Esta
classe, mesmo sendo cultural, serve de local para nidificação e abrigo
para espécies da avifauna.
Nos limites da APA, foi identificada apenas uma única mancha de
cultura permanente, a qual influencia um fragmento de mata próximo.
Não é uma área espacialmente grande quando comparada a área total
da APA, porém, uma prática mal planejada pode acarretar em impactos
negativos sobre a biota do fragmento de mata próximo, sobre os solos e
os corpos hídricos, inclusive o lençol freático.
As classes recifes de arenito, corpos d’água e oceano atlântico
não foram considerados na análise de hemerobia devido às definições
das categorias hemeróbicas citados por Blume e Sukopp, (1976 apud
LANG, 2009) que consideram as coberturas vegetais como parâmetro
para definição da categoria.

Recifes de arenito
Os recifes de arenito, localizados a cerca de 300 metros da costa,
possuem importância na pesca e formação do banco de areia na margem
sul do Rio Mamanguape, que tem área de 432m², ocupando 0,29% da
APA, contendo 5 manchas de recursos, abrigando diferentes espécies,
da flora e fauna marinha. Residem também nos recifes de arenito as
macroalgas, como observou Araújo (2005), servindo de alimento para a
população da ictiofauna.
Os recifes também funcionam como “quebra-mar”, tornando
as águas menos agitadas, mais propícias à navegação e recreação.
Estes recifes são formados pela litificação das areias cimentadas por
carbonato de cálcio que correspondiam às linhas de praia (BRANNER,
1904; CARVALHO, 1983). É necessário atenção a esta classe no que
se refere aos impactos negativos gerados pelo pisoteio, principalmente
de turistas, comprometendo a biota e a qualidade do substrato onde se
localiza, caso a visitação não seja bem orientada.

Corpos d’água
A classe corpos d’água é formada pelos corpos d’água inseridos
nos limites geográficos da APA, consistindo em trechos de rios, riachos,
lagoas e lagunas, ocupando 12.586m², correspondente a 8,41% da APA,
composta por 4 manchas. São de suma importância para as atividades

122
realizadas pela comunidade e para o abastecimento residencial, além
da importância ecológica.
O Rio Mamanguape é o principal corpo d’água na APA (mancha
4 com área de 12.179m² e 179.060m de P/CB). Nasce a noroeste do
Município de Campina Grande na serra da Borborema a 500m de
altitude, com 170km de extensão (ANDRADE, 1997). Dividido em alto,
médio e baixo curso, é na sua parte mais baixa que se localiza a APA
onde o rio encontra-se com o mar (PALUDO & KLONOWSKI, 1999).
Esta classe merece uma atenção especial em seu manejo. Os
rios que cortam a zona urbana de Rio Tinto encontram-se em estado
elevado de degradação, com matas ciliares reduzidas ou inexistentes,
comprometendo a qualidade dos corpos hídricos localizados no interior
da APA, visto que fazem parte da mesma bacia hidrográfica.
A utilização dos recursos hídricos no baixo curso do rio
Mamanguape é bastante intensa, como observado in loco, sendo
destinada principalmente para irrigação, carcinicultura, uso industrial
e o abastecimento humano, comprometendo a qualidade do rio e
gerando diferentes tipos de conflitos relacionados ao uso da água, sendo
a monocultura da cana-de-açúcar a mais impactante (BARBOSA, 2006).

Oceano atlântico
A classe oceano atlântico, principal atrativo turístico da região,
também gera renda através da pesca. Possui 31.043m², representando
20,76% da APA. A região possui uma água turva devido à proximidade
das barras dos rios Mamanguape e Miriri e à movimentação pelas ondas,
aumentando a quantidade de partículas em suspensão. É propícia à
prática de esportes como surf e pesca esportiva.

123
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Conclusões

Vistas as diferenças entre as 16 (dezesseis) classes de paisagem


e suas características, podemos observar que cada classe precisa de
atenção e cuidados específicos, assim como um plano de manejo e gestão
ambiental eficientes. Algumas dessas classes possuem interferência direta
e/ou indireta de uma classe próxima, sendo necessário o planejamento
ecológico levando em consideração cada atividade desenvolvida pela
comunidade, assim como o funcionamento de determinada classe.
As classes naturais apresentam métricas preocupantes quando
observamos o perímetro e o IMF. As principais manchas de ambientes
naturais que podem abrigar espécies de fauna e flora possuem em seus
limites contatos com classes de caráter antrópico, com forte pressão
negativa sobre as manchas, necessitando de manejo e fiscalização mais
eficientes.
A mancha natural com melhor índice de área núcleo (que possui
melhores condições de vida para espécies de interior) é representada pela
mancha 19 da classe áreas úmidas, com 3.550m². A mancha 15 da classe
fragmentos de mata se apresenta como a mais importante dentre os
fragmentos florestais identificados no interior da APA, devido à riqueza
de espécies e área ocupada, servindo de banco genético para diferentes
espécies e de fonte para as relações fonte-poço das populações de fauna
e flora. As manchas com maior área apresentam-se com melhores
índices quantitativos de qualidade ambiental, devendo ser preservadas
e conservadas as interações ecológicas de cada mancha. Ressalta-se a
necessidade do manejo adequado de uma mancha com sua(s) mancha(s)
vizinha(s).
Para que possamos usufruir dos serviços e produtos naturais,
precisamos conservá-los e, para isso, há a necessidade de se respeitar
as características e necessidades dos diferentes ambientes naturais,
respeitando a manutenção das matas ciliares, tendo maior cuidado na
aplicação de defensivos agrícolas, tanto por parte dos usineiros como
por parte dos agricultores familiares, maior controle na aplicação do
fogo, maior diálogo entre os atores envolvidos, maior disposição dos
usineiros (visto que por possuirem maior área de terras cultivadas
geram, consequentemente, maiores impactos negativos) para conservar
e recuperar as matas ciliares e corpos d’água, maior divulgação dos
resultados obtidos pelos estudos junto às comunidades locais e órgãos
competentes como a administração da APA, por exemplo, além de ações
contínuas de educação ambiental.
124
Entendendo as características de cada classe identificada, seus
índices de qualidade ambiental, como funcionam idividualmente, e como
interagem com a classe vizinha, é possível elaborar um planejamento
com práticas adequadas, onde a paisagem natural não sofra tanta
perturbação, preservando sua dinâmica, gerando melhor qualidade de
vida para a comunidade e manutenção da biota regional.

Agradecimentos

À chefia da Unidade de Conservação da Área de Proteção


Ambiental da Barra do Rio Mamanguape e ao Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA) por todo apoio dado
a pesquisa.
Ao Centro Ciências Aplicadas e de Educação (CCAE/UFPB) pela
conseção de transporte para realização das coletas em campo.

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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

P rocessamento de imagens aéreas obtidas


por uma aeronave remotamente pilotada :
aplicações APA na da B arra D o R io
M amanguape -PB 32

Jonas Fernandes da Silva33, Alisson Vasconcelos de Brito34

Introdução

A popularização das Aeronaves Remotamente Pilotadas


(Remotely-Piloted Aircraft – RPA), conhecidas como Veículos Aéreos não
Tripulados (VANT) ou, genericamente, conhecidos como drones, está
presente em diversas tarefas do cotidiano. Abordagens que envolvem
inovações tecnológicas no setor agrícola e ambiental visam aumentar
cada vez mais a eficiência da agricultura, melhorar a rentabilidade
e reduzir impactos ambientais (HERWITZ et al., 2004) como, por
exemplo, o uso de veículos aéreos não tripulados para o monitoramento
de áreas de vegetação. Inicialmente, os VANT foram desenvolvidos
apenas para uso militar quando, desde o final da primeira guerra
mundial, foram realizados experimentos com aviões não tripulados e,
até hoje, são considerados como parte integrante e indispensável das
forças armadas modernas, cuja evolução ao longo do tempo permitiu
um número crescente de utilização em aplicações no âmbito civil.
Segundo a International Civil Aviation Organization (ICAO),
um veículo aéreo não tripulado (VANT) é uma aeronave que voa
sem piloto em comando a bordo, podendo ser também remota e
completamente controlada de outro lugar (solo, outra aeronave, do
espaço) ou programada com total autonomia (ICAO, 2005). No Brasil,
32  Resultados parciais deste trabalho publicados em: Silva, J. F., Brito, A. V., Moura, H. N., & Lima, J. A. G.
Identificação de má formação em plantios através do processamento de imagens aéreas obtidas por VANT. Anais
eletrônicos do X Congresso Brasileiro de Agroinformática (SBIAGRO 2015). Ponta Grossa, PR.
33  Tecnólogo em Telecomunicações (IFPB). Mestre em Informática (PPGI/UFPB). (jonas@ccae.ufpb.br).
34  Professor do Centro de Informática (CI/UFPB). (alisson@ci.ufpb.br)

132
a regulamentação desses equipamentos prevê algumas nomenclaturas,
divididas em subcategorias, de acordo com a finalidade a qual se
destinam. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC),
por meio da Instrução Suplementar IS - Nº 21-002, publicada em outubro
de 2012, caracterizam-se como VANT todas as aeronaves projetadas
para operar sem piloto a bordo, que possuam carga útil acoplada e que
não sejam de caráter recreativo (ANAC, 2012). Desta forma, excluem-
se as aeronaves utilizadas com finalidade esportiva ou hobby que, por
definição legal, são denominadas aeromodelos. Em relação aos VANT,
são criadas duas subcategorias. A primeira, mais conhecida, é composta
pelas Aeronaves Remotamente Pilotadas (Remotely-Piloted Aircraft
– RPA) que, na mesma condição, não há piloto a bordo da aeronave,
mas esta é controlada remotamente através de uma interface como,
por exemplo, um computador, controle remoto, dispositivo digital, entre
outros. A segunda categoria trata-se da Aeronave Autônoma, que não
permite a intervenção externa durante a realização do voo, possuindo
a capacidade de realizar voos autonomamente com base em planos
de voos pré-programados auxiliados por Sistemas de Posicionamento
Global (Global Positioning System - GPS). Porém, o uso de aeronave
totalmente autônoma ainda é proibido no Brasil. Considerando que o
termo VANT é corretamente utilizado quando se tratar de um grupo
maior desses tipos de equipamentos, utilizaremos a terminologia RPA
neste capítulo, tendo em vista que estamos tratando especificamente de
um modelo de aeronave remotamente pilotada de caráter não recreativo
para aquisição de imagens aéreas.
De acordo com a ANAC, as RPA são divididas em 3 classes: a
classe 1 compreende RPA com peso máximo de decolagem maior que
150 Kg; a classe 2 compreende RPA com peso maior que 25kg e menor
ou igual 150 Kg; e a classe 3 possui peso máximo de decolagem de
25 Kg, utilizado em operações mais simples de monitoramento e são
operados até 120m de altura acima do nível do solo e em linha de visada,
dispensando licenças e habilitação para uso. Atualmente, diversos tipos
de RPA são comercializados no mercado, e sua popularização deve-se,
principalmente, ao seu baixo custo de aquisição e grande variedade de
aplicações. Entre elas, destacam-se as aplicações ambientais, nas quais
o uso de RPA permite a captação de imagens aéreas e auxilia tarefas de
mapeamento e análise do uso e cobertura da terra.
Em grandes áreas de plantações, as RPA aperfeiçoam a produção
dos agricultores, e auxiliam na tarefa de monitoramento agrícola
e ambiental por meio da captura de imagens aéreas. O uso dessas
aeronaves é cada vez mais frequente devido à economia gerada por
esses equipamentos, que eliminam gastos com deslocamento terrestre
133
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

de especialistas e reduz o tempo de resposta para a identificação do


problema, tornando mais eficiente a tomada de decisão e melhorando
a precisão no gerenciamento de lavouras e na gestão ambiental. Além
disso, esses equipamentos são uma excelente alternativa para aplicação
na área de segurança, podendo ser utilizado para o monitoramento
de ilícitos ambientais, principalmente em regiões onde a intervenção
humana é difícil ou perigosa. Segundo Moreira (2003), as fotografias
aéreas na agricultura podem ser utilizadas no mapeamento de culturas,
avaliação de áreas cultivadas, detecção de áreas afetadas, cadastros
rurais e no mapeamento do solo. A principal vantagem do uso de RPA
para a captação de imagens aéreas é a capacidade de percorrer uma
distância considerável com segurança, tempo reduzido e menor custo,
comparado, por exemplo, com o uso convencional de uma aeronave
tripulada ou a aquisição de imagens de satélite.
O mapeamento de unidades de paisagem para a verificação do
uso da terra, normalmente, envolve a utilização de imagens de satélite,
que são georeferenciadas e analisadas por meio de softwares específicos
e faz uso de técnicas de processamento de imagens a partir de Sistemas
de Informação Geográfica (SIG), visando ressaltar regiões de interesse.
Algumas características inerentes às imagens de satélite dificultam o seu
uso de forma eficiente, dentre elas, podem-se citar a baixa resolução de
imagens que impossibilita a identificação de pequenas áreas de plantio,
como ocorre no monitoramento de cana-de-açúcar (MENDONÇA et al.,
2011), dificultando o correto mapeamento nas áreas do imageamento.
Em vários casos, o imageamento por imagens de satélite necessita de
visitas a campo para registros fotográficos manuais visando posterior
avaliação de possíveis mudanças na cobertura vegetal e identificação de
áreas de degradação (FRANCO & LIRA, 2007). Da mesma forma ocorre
em Nascimento et al. (2006), que para realizar o mapeamento a partir
de imagens de satélite precisam cumprir etapas de validação por vias
terrestres para a identificação das classes de uso da terra e cobertura
vegetal.
A fotogrametria é uma alternativa para tarefas de monitoramento
agrícola ou ambiental e consiste, de maneira geral, em obter informação
confiável através de imagens adquiridas por sensores (BRITO &
COELHO, 2002), sendo a fotogrametria aérea muito eficiente para
mapeamento de grandes áreas. Normalmente, utilizam câmeras métricas
para a aquisição de imagens aéreas a partir de um avião tripulado, de
modo que sejam posteriormente processadas para a finalidade desejada.
Câmeras métricas são desenvolvidas com lentes especiais para
garantir alto nível de estabilidade geométrica e qualidade de projeção,
ideais para uso em fotogrametria, pois evitam distorções e garantem
134
conformidade na projeção. Porém, câmeras métricas apresentam alto
custo de aquisição. Ao contrário, as câmeras não métricas, comumente
utilizadas nos dias de hoje, não garantem estabilidade geométrica, mas
o seu baixo custo de aquisição as torna acessíveis para diversas tarefas e
apresentam potencial uso em fotogrametria (JR. SANTOS et al., 2004),
tendo em vista que as instabilidades de alguns parâmetros não afetam
significativamente o resultado da imagem e por isso são utilizadas
para essa e outras finalidades. O uso convencional da fotogrametria
para tarefas em médias e pequenas áreas é economicamente custoso,
pois envolve altos gastos com a necessidade de aeronaves tripuladas,
oferece maiores riscos e requer um grande planejamento para realizar
cada sobrevoo. Os avanços do campo da visão computacional fomentam
diversos estudos com uso de RPA para a realização de múltiplas tarefas,
inclusive em fotogrametria, conforme relatos dos estudos descritos em
JÚNIOR et al. (2014) e JÚNIOR, et al. (2015a), nos quais foi validada
a utilização de câmera não métrica acoplada a estes equipamentos
para a geração de mosaicos e ortomosaicos. Devido à alta flexibilidade
de uso de RPA, várias outras áreas são beneficiadas com o uso desses
equipamentos como, por exemplo, aplicações em segurança, na qual um
RPA é utilizado para vigilância em áreas urbanas visando a detecção de
alterações não autorizadas na terra como, por exemplo, desmatamento
para construções de casas ou estradas (MOTA et al., 2013a; MOTA et
al., 2013b).
Algumas vantagens e limitações podem ser destacadas em
relação às principais formas de mapeamento e monitoramento do uso
da terra. Considerando as imagens de satélite, estas possuem baixa
resolução espacial e um alto custo de aquisição, além de baixa taxa
de atualização, inviabilizando o seu uso em situações que requerem
atualização em curto intervalo de tempo e são dependentes do clima,
não sendo possível a aquisição de boas imagens da superfície em dias
nublados. Muitas vezes necessitam da perspectiva humana para
complementação da informação obtida, tendo em vista obstáculos
encontrados na imagem, ficando suscetíveis a informações incompletas e
demandando alto consumo de tempo. Alternativas como a fotogrametria
aérea, por exemplo, envolvem elevados custos e difícil logística devido à
necessidade de utilizar aviões tripulados, que requerem planejamento
prévio para autorização de voos, demandando maior tempo para o
monitoramento e, consequentemente, a tomada de decisão. O uso
de RPA é uma boa opção para o imageamento aéreo, apresenta alta
resolução espacial comparado as imagens de satélite, baixo custo
e é de fácil operação. Porém, na maioria dos casos, o processamento
das imagens ocorre posteriormente em uma estação terrestre ou em
laboratório, e, em outros, as imagens são disponibilizadas pelo RPA
135
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

somente depois de algumas horas, retardando o tempo de resposta na


tomada de decisão para a solução do problema identificado.
Estudos ambientais realizados na Área de Proteção Ambiental
(APA) do Rio Mamanguape fazem uso de imagens de satélite, como por
exemplo, o mapeamento das unidades de paisagem (ASSIS et al., 2014),
utilizando imagens do satélite RapidEye, posteriormente processadas
por meio de software em um ambiente SIG visando a identificação do
uso e cobertura da terra. Porém, a baixa resolução espacial e a presença
de nuvens nas imagens obtidas por meio de satélites não dispensaram
a necessidade de visitas in loco, que demandou grande esforço de
caminhada nos levantamentos de campo para contornar possíveis
erros no processo de classificação provenientes de tais fatores que
impossibilitam a visualização da área de interesse.
Aeronaves remotamente pilotadas são amplamente utilizadas no
setor agrícola, especialmente no auxílio às tarefas de monitoramento.
Esses equipamentos podem identificar áreas de solo exposto presentes
em lavouras, que sinalizam a presença de pragas, problemas no
solo ou na irrigação. Ampliando o contexto agrícola, podem fornecer
informações sobre delimitação de áreas de vegetação e auxiliar a
análise do uso e cobertura da terra provendo, inclusive, estimativas
de áreas danificadas e outras funcionalidades. Outras aplicações
ambientais também podem ser desenvolvidas com o uso de RPA, como
a contagem de espécies de plantas e a identificação de queimadas em
florestas. Em tais aplicações, o processamento em tempo real contribui
significativamente para a redução do tempo de resposta para solução
do problema. Essa característica é fundamental principalmente nas
ocasiões que oferecem perigo à vida e ao meio ambiente, de modo a
evitar prejuízos, auxiliar na produção ou evitar desastres de grandes
proporções.
A configuração para a realização de tarefas específicas agrega novas
funcionalidades às RPA, de forma a realizar tarefas automaticamente
que antes demandavam maior tempo de execução, esforço humano e alto
custo operacional. Para tal, o uso de sistemas flexíveis se faz necessário
para adaptabilidade às mais variadas tarefas. A evolução dos sistemas
embarcados, que a cada dia tem seu tamanho reduzido e sua capacidade
de processamento ampliada, contribui para expansão de capacidades
em diversos equipamentos e permite a realização de novas tarefas.
Sistemas embarcados fazem parte de diversas atividades do cotidiano
e, praticamente, estão presentes em todos os dispositivos eletrônicos
como, por exemplo, câmeras fotográficas, roteadores sem fio, GPS
automotivo, injeção eletrônica, celulares, televisores, controle remoto
e uma série de outros dispositivos. Um sistema embarcado é definido
136
como sendo a combinação de hardware e software de computador e,
talvez, partes mecânicas e outras, projetadas para realizar uma função
dedicada (STALLINGS, 2010). O sistema embarcado utilizado neste
estudo será apresentado mais adiante.
Este capítulo trata sobre aspectos de utilização de uma RPA de
pequeno porte para a validação do mapeamento das tipologias de uso
e cobertura da terra realizado com imagens aéreas da APA da Barra
de Mamanguape. Além disso, tem por objetivo apresentar um sistema
de processamento de imagens capaz de identificar automaticamente
duas classes de paisagens representadas por áreas de solo exposto e
vegetação. A ideia é desenvolver uma solução de baixo custo que seja
capaz de auxiliar as análises ambientais, principalmente em regiões
de difícil acesso, que possa identificar e estimar um percentual de solo
exposto de forma rápida a partir das imagens obtidas. A solução será
embarcada em uma RPA de forma que o processamento possa ocorrer
durante o voo, eliminando a necessidade de pousar para descarregar
as imagens e realizar o processamento através de softwares. Para isso,
o sistema deverá ser implantado em computadores de pequeno porte e
baixo consumo de energia, de forma que não prejudique o desempenho
e a autonomia de voo das aeronaves. A partir da identificação de áreas
de solo exposto, podem-se inferir diversos fatores, como a presença
de pragas na plantação, problemas no solo ou na irrigação e também
podem ser usados na tarefa de delimitação de plantios.

Obtenção e processamento de imagens aéreas

Em abordagens tradicionais sobre as técnicas de monitoramento


ambiental, o uso de RPA, por muitas vezes, se torna restrito à captação
das imagens, que normalmente são processadas em softwares específicos
posteriormente.
Diversos registros de uso de VANT com aplicações ambientais
são encontrados na literatura, especialmente aplicados à agricultura
de precisão, cujas imagens podem ser obtidas para o monitoramento
de lavouras, estimativas de volume de produção e índice de doenças e
pragas. A maioria dos registros utiliza equipamentos classificados pela
legislação brasileira como uma RPA. O trabalho descrito em Jorge et al.
(2014), por exemplo, apresenta um VANT com sensores hiperespectrais
acoplados para detecção de infestação de Huanglongbing (HLB), uma
doença destrutiva encontrada na agricultura de citros no Brasil, e
mostrou que é possível a detecção com alta precisão de doenças em
137
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

culturas através de imagens obtidas por estes equipamentos. Em


Urbahs & Jonaite (2013) é citada a construção de um RPA com sensores
especiais para obtenção de ortophotos de alta resolução e fotografias
multiespectrais, que permitem a identificação de doenças e dos efeitos
adversos de inseticidas utilizados na plantação. Em Herwitz et al.
(2004) é apresentado um VANT movido à energia solar com capacidade
de coletar imagens por várias horas com o objetivo de monitorar uma
plantação em busca de identificar focos de ervas daninhas invasoras,
bem como encontrar anormalidades na irrigação ou fertilização. A
missão consistia em sobrevoar o espaço aéreo dos Estados Unidos
com equipamentos para monitorar, por um prolongado período de
tempo, uma região agrícola de cultivo de café localizada no Hawaii
utilizando o modelo de VANT Pathfinder Plus desenvolvido pela
National Aeronautics and Space Administration (NASA). Em Kontitsis
et al. (2004), é apresentado um sistema de visão computacional capaz
de interpretar e processar dados adquiridos por um VANT através
de câmeras infravermelhas acopladas para a detecção de incêndios
em florestas. Os componentes do sistema incluem redução de ruído,
extração de características, classificação e tomada de decisão. Este
último componente aciona um alarme em caso de detecção de fogo.
Câmeras não métricas de baixo custo são comumente utilizadas
e também podem ser acopladas às RPA para o imageamento aéreo em
várias aplicações. Em Felizardo et al. (2013), por exemplo, é apresentado
um sistema capaz de coletar e analisar imagens aéreas do solo em áreas
urbanas por meio de uma câmera acoplada a uma RPA com o objetivo
de detectar alterações não autorizadas na terra, por exemplo, áreas de
desmatamento. O trabalho descrito em Mitishita et al. (2014) utiliza
câmeras não métricas para realização de levantamento fotogramétrico
com uso de VANT em uma pequena região rural, cujas imagens foram
capturadas pelo modelo de câmera DSC-300 fabricado pela empresa
Sony Corporation. Em Ahmad et al. (2013) é apresentada uma solução
de baixo custo para a obtenção de imagens aéreas digitais, utilizadas
em tarefas como o mapeamento temático e topográfico. Utilizou-se o
modelo de VANT CropCam produzido no Canadá, auto-guiado por
GPS e que cria as imagens digitais a partir de uma câmera de alta
resolução, acessíveis dentro de poucas horas para análise. O sistema
mostrou-se adequado para cobertura de áreas pequenas, sendo possível
realizar o mapeamento de algumas situações como o deslizamento de
terras, erosão costeira, desmatamento ou mesmo para a geração de
imagens para processamento por meio de Sistemas de Informações
Geográficas (SIG). O sistema apenas faz a captação das imagens e não
realiza qualquer tipo de processamento. Diversos estudos comprovam a

138
eficiência do uso de câmeras não métricas para a obtenção de imagens
aéreas. Os estudos abordados em Júnior et al. (2014) e Júnior, et al.
(2015b), por exemplo, validam o uso dessas câmeras para a obtenção
de imagens aéreas visando a execução de tarefas relacionadas ao
mapeamento da cobertura da terra a partir de um RPA de pequeno
porte. Os trabalhos mostram que houve cobertura total e suficiente
para geração de ortomosaicos, desde que utilizados pontos de apoio
durante o imageamento utilizando câmeras fotográficas convencionais.
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) utiliza um
RPA de pequeno porte para obtenção de dados florestais na Amazônia,
especificamente na coleta de dados de sensoriamento remoto para
estimar o nível de carbono na floresta através de câmeras e sensores
acoplados (LEONEL, 2014).
A partir dos trabalhos apresentados, é possível perceber que
não existe uma solução ideal para todas as tarefas de monitoramento
ambiental e/ou agrícola. Alguns trabalhos, como os apresentados
em Jorge et al.(2014) e Urbahs & Jonaite, (2013), visam a detecção
de doenças na lavoura, porém a solução utiliza sensores espectrais
acoplados à RPA, o que aumenta os custos do projeto. Em Herwitz et
al. (2004) o objetivo principal é a coleta de imagens por um período
prolongado em plantações de grandes proporções e com apoio de uma
grande organização como a NASA não está preocupado com os custos
envolvidos, pois as vantagens alcançadas com uso do sistema são
superiores aos grandes prejuízos causados pela falta dele, mesmo assim
demandam altíssimo investimento para aplicações de médio e pequeno
porte.
Um grande avanço para redução de custos em projetos com uso
de VANT ocorreu a partir da popularização de câmeras não métricas,
que podem ser utilizadas até mesmo em trabalhos que requerem um
nível de precisão considerável como a fotogrametria, por exemplo.
Isso denota a possibilidade de uso dessas câmeras em atividades mais
simples como o monitoramento agrícola ou ambiental, principalmente
em casos nos quais a fotointerpretação atende de forma suficiente os
critérios qualitativos das análises. Os trabalhos de validação descritos
em Júnior et al. (2014) sinalizam para a grande utilização de câmeras
não métricas, pois colaboram com a redução de custos em projetos com
uso de RPA e, além disso, são facilmente encontradas no mercado.

139
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Formação e Processamento Digital de Imagens

A formação de imagens tem como base uma fonte visual de luz,


que corresponde a uma estreita faixa do espectro eletromagnético.
Porém, existem sensores capazes de detectar energia em outras
faixas do espectro eletromagnético, a exemplo dos raios gama, raios-X
e ultravioleta, que possuem comprimentos de ondas menores do que
os da faixa do visível. Por outro lado, imagens formadas a partir de
luz infravermelho, micro-ondas e ondas de rádio, correspondem a
comprimentos de onda superiores ao espectro visível. Uma combinação
de luz visível com outras fontes do espectro pode resultar em imagens
para fins específicos. Por exemplo, a luz visível combinada com
infravermelho e dados de raios-X pode ser obtida por telescópios em
órbita. Outras categorias de formação de imagens envolvem a acústica
(ultrassonografia, por exemplo) e ainda a microscopia eletrônica.
Conforme Gonzalez & Woods (2007), uma imagem pode ser
definida como sendo uma representação de um objeto, podendo ser
matematicamente compreendida como uma função bidimensional,
f(x,y), na qual x e y são coordenadas espaciais, e a amplitude f
corresponde ao nível de cinza, chamada intensidade, no ponto da
coordenada x e y (GONZALEZ; WOODS, 2007). Uma imagem digital
é definida, segundo Alkoffash et al. (2014), como a representação de
uma imagem bidimensional de modo que possa ser processada por
meios eletrônicos. É obtida a partir do processo de conversão de dados
contínuos, capturados através de sensores, para uma representação
discreta. Os valores discretos extraídos são representados por um
elemento básico da imagem digital conhecido como pixel.
As imagens utilizadas neste trabalho têm como princípio de
formação o espectro de luz visível. As outras formas de obtenção de
imagens não serão exploradas porque este trabalho busca utilizar
exclusivamente câmeras não métricas visando a redução de custos,
embora outros meios de imageamento proporcionem qualidade superior
para o processamento de imagens como, por exemplo, o imageamento
a partir do espectro de luz visível associado aos canais na faixa de
infravermelho, que garante excelentes resultados para aplicações na
área de sensoriamento remoto, por exemplo. Considerando a obtenção
de imagens por meio de uma fonte do espectro de luz visível, a função
f(x,y), que representa uma imagem, é influenciada por uma quantidade
de iluminação que incide no objeto (iluminação), expresso por i(x,y) e
por uma quantidade de iluminação refletida (refletância) expresso por

140
r(x,y). A combinação das componentes i e r representam uma imagem
digital e pode ser expressa pela Equação 1.

𝑓𝑓(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) = 𝑖𝑖(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) ⋅ 𝑟𝑟(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) (1)

A função f(x,y) expressa na Equação 1, representa a intensidade


de luz no ponto (x,y), resultado do produto da quantidade de luz existente
𝐶𝐶(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) = 𝑅𝑅 ⋅ 0,2999 + 𝐺𝐺 ⋅ 0,587 + 𝐵𝐵 ⋅ 0,114 (2)
na cena onde o objeto foi capturado, representado por i, com a reflexão
da luz por esse objeto, representado por r, ambos na mesma coordenada
(x,y) da imagem. A representação de uma imagem digital f(x,y) pode
ser organizada em uma matriz, na qual o pixel é o ponto de intersecção
entre uma linha e uma coluna, que armazena o valor de intensidade de
luz ou nível de cinza da respectiva coordenada.
(3)
A área de processamento de imagens vem crescendo rapidamente,
e suas técnicas são utilizadas em uma ampla variedade de aplicações em
𝐴𝐴 ⊕ 𝐵𝐵 = { 𝑧𝑧 |(𝐵𝐵̂𝑧𝑧) ∩ 𝐴𝐴 ≠ ∅ (4)
diversas áreas do conhecimento como na medicina, astronomia, biologia,
automação industrial, sensoriamento remoto, microscopia, área militar
e segurança pública, não existindo mais, praticamente, nenhuma área
que não seja impactada de uma forma ou de outra pelo processamento
Áreas com falhas identificadas
digital de imagens (GONZALEZ & WOODS, 2007). Segundo Pedrini &
Ponto Central Área 1 Área 2 Área 2 Área 1
Schwartz (2007), o processamento digital de imagens consiste em um
conjunto de técnicas
P(x, y) para capturar,
P(239, 702) representar
P( 422, 643)e transformar imagensP(665, 609)
P(66, 652)
com o auxílio do computador. A entrada e a saída de um sistema de
processamento de imagens digitais, são imagens digitais (PITAS,
2000), cujo objetivo principal na tarefa do processamento é encontrar as
características da imagem, reconhecer um objeto ou pontos de interesse.
A imagem digitalizada é constituída por uma matriz numérica de dados,
a qual será processada pelo computador para extrair as informações da
imagem, de modo que tudo que o computador interpreta é uma matriz
de números (BRADSKI & KAEBLER, 2008). A Figura 1a apresenta
a ampliação de parte de uma imagem digital até que seja possível a
visualização dos pixels correspondentes à área de uma matriz de 3x3.
A Figura 1b apresenta a mesma área em tons de cinza no formato
de uma matriz bidimensional, cuja matriz numérica correspondente
é mostrada na Figura 1c, que representa os respectivos valores da
intensidade de nível cinza encontrados nos pixels representados na
imagem em tons de cinza. Considerando uma imagem de 8 bits, por
exemplo, é possível encontrar 28, ou 256 possibilidades de valores de
intensidade de pixel, compreendendo o intervalo 0-255. O valor 0 (zero)
está relacionado ao nível de cinza mais escuro (preto), enquanto que o
141
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

valor 255 está relacionado ao nível de cinza mais claro (branco), e os


valores intermediários representam variados níveis de cinza.

Figura 1. Representação detalhada de uma imagem digital.


Fonte: Próprio autor.

Pré-processamento

A etapa de pré-processamento tem por objetivo melhorar


a imagem e buscar aumentar as chances de sucesso das etapas
seguintes, sendo de grande importância por preparar a imagem para
efeitos de interpretação humana ou tratá-la para que o processamento,
armazenamento, representação ou transmissão, ocorram
satisfatoriamente (ALKOFFASH et al., 2014). Em algumas técnicas
de processamento, por exemplo, é necessário reduzir a quantidade de
canais, facilitando as etapas futuras e reduzindo o custo computacional.
Uma das técnicas utilizadas neste trabalho é a conversão da imagem
em tons de cinza, que consiste na transformação dos canais originais
da imagem em apenas um único canal. Considerando uma imagem
baseada nos canais vermelho, verde e azul, conhecido como o padrão
Red, Green e Blue (RGB), o valor de cada pixel pode ser convertido em
tons de=cinza
𝑓𝑓(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) 𝑖𝑖(𝑥𝑥, 𝑦𝑦)a⋅ 𝑟𝑟(𝑥𝑥,
partir𝑦𝑦) da média ponderada
(1) das componentes RGB, de
acordo com a Equação 2. A imagem é finalmente convertida em escala
de cinza quando o valor C(x,y) é atribuído para as componentes RGB de
cada ponto f(x,y) da imagem original.

𝐶𝐶(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) = 𝑅𝑅 ⋅ 0,2999 + 𝐺𝐺 ⋅ 0,587 + 𝐵𝐵 ⋅ 0,114 (2)

142
Segmentação de imagens por limiarização

A etapa de segmentação de imagens consiste no agrupamento de


um conjunto de elementos com as mesmas características, subdividindo
a imagem em regiões ou objetos de interesse (BALA, 2012). É considerada
de grande importância nas tarefas de análise de imagem, pois contribui
para o bom desempenho das etapas seguintes como, por exemplo, o
reconhecimento e a classificação de imagens. Em geral, quanto mais
precisa a segmentação, maiores as chances de sucesso na identificação
de regiões de interesse da imagem (GONZALEZ & WOODS, 2007).
De acordo com o autor, os algoritmos de segmentação são divididos de
acordo com duas propriedades básicas: descontinuidade e similaridade.
A primeira abordagem baseia-se na segmentação por mudanças
abruptas de intensidade como a detecção de bordas, por exemplo. A
segunda abordagem é baseada na divisão da imagem em regiões de
acordo com a similaridade pré-definida por um conjunto de critérios.
A técnica de limiarização é bastante empregada em aplicações
de segmentação de imagens devido às suas propriedades intuitivas e
simplicidade de implementação, culminando em um processo com baixo
esforço computacional. Consiste em agrupar os níveis de cinza, de modo
que a imagem formada é composta por objetos claros sobre um fundo
escuro de tal forma que os pixels do objeto e do fundo tenham valores
de intensidade representados em dois grupos dominantes. Conforme
explicam Lim & Lee (1990), o objetivo da limiarização aplicada em
imagens monocromáticas é separar objetos individuais em uma imagem.
Uma maneira simples de extrair os objetos de interesse em uma imagem
é 𝑓𝑓(𝑥𝑥,
selecionar
𝑦𝑦) = 𝑖𝑖(𝑥𝑥,um
𝑦𝑦) ⋅ limiar
𝑟𝑟(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) T, que separa a imagem
(1) em dois grupos, então,
qualquer ponto (x,y) na imagem em que f(x,y) > T é chamado ponto do
objeto; caso contrário é chamado de ponto de fundo; assim é possível
realçar objetos ou regiões de interesse em uma imagem. A separação da
imagem em duas regiões consiste em determinar um valor de limiar T
de modo que pixels com níveis de cinza inferiores ao limiar estabelecido
𝐶𝐶(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) = 𝑅𝑅 ⋅ 0,2999 + 𝐺𝐺 ⋅ 0,587 + 𝐵𝐵 ⋅ 0,114 (2)
serão transformados no valor R1, enquanto que pixels com valores
superiores ao limiar T serão modificados para o valor R2, definido de
acordo com a Equação 3 (GONZALEZ & WOODS, 2007).

(3)

R1 e R2 são valores
𝐴𝐴 ⊕ 𝐵𝐵 = { 𝑧𝑧 pré-estabelecidos
|(𝐵𝐵̂𝑧𝑧) ∩ 𝐴𝐴 ≠ ∅ para o nível(4)de cinza
desejado na imagem de saída, normalmente são utilizados os valores 0
(preto) e 255 (branco).
143
Áreas com falhas identificadas
Ponto Central Área 1 Área 2 Área 2 Área 1
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

O processo descrito na Equação 3 é chamado de limiarização


global, pois os valores de limiar T são definidos pela função para uma
imagem inteira. A imagem apresentada na Figura 2, por exemplo,
ilustra uma imagem com pixels em diferentes níveis de intensidade
de cinza conforme sua matriz numérica correspondente. Aplicando ao
exemplo um limiar T = 200, os pixels cujos valores são inferiores ao limiar
T estabelecido são transformados para o valor 0 (zero) representado
pela cor preta, enquanto que pixels com valores superiores ao limiar T
estabelecido são transformados para o valor 255, representados pela
cor branca, resultando no processo demonstrado na Figura 2.

Figura 2. Processo de limiarização em imagem com valor T = 200.


Fonte: Próprio autor.

Segmentação baseada em watershed


A transformada watershed é uma ferramenta baseada
em morfologia matemática para segmentação de imagens. Foi
inicialmente proposta por Digabel e Lantuejoul em 1977 (BEUCHER
& LANTUEJOUL, 1979) e melhorada por Li et. al em 2003 (BALA,
2012). Baseia-se na visualização de uma imagem em três dimensões,
similar a uma superfície topográfica, onde as duas coordenadas
espaciais (x,y) de uma imagem são observadas e a altura representa
o nível de cinza do pixel correspondente (BIENIEK & MOGA, 2000).
A partir dessa interpretação “topográfica” são considerados três tipos
144
de pontos: pontos que representam a região mínima (a), pontos em
que se um volume de água for colocado cairia com segurança nestes
mínimos locais (b) e pontos propensos a cair em mais de um mínimo
local considerado. Imaginando uma bacia hidrográfica, onde, manchas
claras e escuras representam colinas e depressões em uma paisagem,
e o volume de água inserido causa a inundação dos mínimos locais da
paisagem, quando o nível da água atingir o pico mais alto, o processo
é interrompido, resultando em uma paisagem dividida em regiões
ou bacias separadas por barragens, chamadas linhas de divisão das
watershed, que estão representando fronteiras extraídas pelo algoritmo
de segmentação. A Figura 3 apresenta uma demonstração do processo
de imersão da transformada watershed.

Figura 3. Ilustração do processo de imersão da transformada watershed.


Fonte: Adaptado de (BALA, 2012).

O algoritmo watershed geralmente é utilizado em imagens de


gradiente para detectar as bacias hidrográficas e todos os mínimos
locais da imagem. Para isso, em alguns problemas, outros passos são
necessários para realizar a segmentação, por exemplo, transformação
em escala de cinza e limiarização são possíveis métodos que podem
anteceder a segmentação baseada em watershed. Além disso, a
presença de técnicas de dilatação de pixel e métodos iterativos pode
surgir associada à abordagem baseada em watershed como citado em
Bieniecki (2004), que faz uso dessa abordagem.
O processo de dilatação é uma das técnicas básicas da morfologia
matemática onde a operação está relacionada com pixels vizinhos
145
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

e𝑓𝑓(𝑥𝑥,
tem 𝑦𝑦) =o𝑖𝑖(𝑥𝑥,
objetivo
𝑦𝑦) ⋅ 𝑟𝑟(𝑥𝑥, de
𝑦𝑦) alargar regiões (1) mais claras e reduzir regiões
escuras na imagem. A definição formal da etapa de dilatação é dada
através da Equação 4. A dilatação de A por B é o conjunto de todos os
^
deslocamentos z de forma que B e A se sobreponham pelo menos por
um elemento (GONZALEZ & WOODS, 2007). O elemento estruturante
é entendido𝐶𝐶(𝑥𝑥, como 𝑦𝑦) =o 𝑅𝑅
conjunto
⋅ 0,2999 +bem definido
𝐺𝐺 ⋅ 0,587 + 𝐵𝐵 ⋅e0,114
conhecido, capaz
(2) de gerar
informações através da transformação a um conjunto desconhecido
(WANGENHEIM et al., 1998). As imagens utilizadas nessa etapa
devem ser imagens binárias ou em tons de cinza (MEDEIROS, 2003). Os
resultados alcançados com o operador de dilatação permitem preencher
espaços vazios, conectar objetos próximos na imagem e, dependendo da
aplicação, podem amenizar ruídos presentes na imagem. (3)

𝐴𝐴 ⊕ 𝐵𝐵 = { 𝑧𝑧 |(𝐵𝐵̂𝑧𝑧) ∩ 𝐴𝐴 ≠ ∅ (4)

A ⊕ B representa a dilatação de A por B.


As imagens em gradiente podem
Áreas com falhas ser geradas pela técnica de
identificadas
transformada
Ponto Central de 1distância,Área
Área que2converte uma Área 2imagem binária
Área 1 em uma
imagem com
P(x, y)
vários níveisP(de
P(239, 702)
cinza, de modo
422, 643)
que todos os
P(66, 652)
pixels possuam
P(665, 609)
um valor correspondente à característica do pixel vizinho.
Considerando que o objetivo deste trabalho é a identificação de
áreas de solo exposto, a marcação da base das bacias hidrográficas é
suficiente para iniciar o processo de identificação das falhas. Nesse
cenário não é necessária a divisão das barragens com as linhas de
watershed, mas a segmentação das bases que correspondem às áreas de
degradação. Nesse contexto, a implementação do algoritmo original de
watershed é interrompido na etapa que ocorre a formação das bases das
barragens, possibilitando a identificação de solo exposto. As técnicas de
transformação de distância, dilatação e limiarização são empregadas
em etapas seguintes e visam melhorar a qualidade da segmentação.

Sistemas embarcados
Em geral, computadores embarcados possuem a mesma
estrutura dos computadores pessoais, inclusive com a presença comum
de alguns componentes para a realização das etapas de processamento,
armazenamento e comunicação de dados. Estes componentes se
referem à unidade central de processamento (CPU), memória principal
e interface Entrada/Saída (E/S). A conexão desses três elementos é
realizada a partir de um mecanismo de interconexão denominado

146
barramento do sistema. A diferença primária entre um computador
embarcado e um computador pessoal ocorre no propósito da aplicação
para o qual foram projetados. O primeiro é dedicado a realizar tarefas
específicas por meio de hardware e software com funções fixas, enquanto
que o segundo é capaz de realizar uma grande variedade de tarefas e
aplicações. Outras especificidades em relação ao computador embarcado
são citadas em Koopman (1996) como a interface humana que pode ser
uma simples luz piscando ou complexa como a visão robótica em tempo
real, a capacidade de realizar diagnósticos do sistema que está sendo
controlado, ou ainda podem possuir um hardware programável para
uma aplicação específica.
Computadores pessoais demandam grande poder computacional,
e por isso requerem processadores rápidos e eficientes, além de elevada
quantidade de memória principal para executar e gerenciar uma grande
variedade de tarefas simultaneamente. Tal demanda é justificada
em Catsoulis (2005), que cita a necessidade de armazenar o sistema
operacional, gerenciar diversos aplicativos, controlar a interface para
dispositivos de armazenamento em massa, e monitorar temperatura
e níveis de tensão dos componentes por meio de sensores. Além disso,
os computadores pessoais são dotados de muitos dispositivos de
controle E/S para manipulação do usuário como, por exemplo, teclado,
mouse, interface de áudio, monitor e conectividade (interface de rede
e periféricos). Considerando a organização do hardware, os sistemas
embarcados de alto desempenho não são diferentes de um computador
convencional. Os sistemas embarcados de menor porte executam funções
similares a um processador, incorporando algumas funcionalidades
através de um único chip, a exemplo dos microcontroladores. Estes
possuem internamente uma Unidade Central de Processamento (CPU)
e uma pequena quantidade de memória interna para executar suas
tarefas, cuja função primordial é o controle dos módulos de Entrada/
Saída (E/S), que são normalmente de propósito geral, conhecidos como
General-purpose input/output (GPIO). O acionamento de recursos
usando a porta GPIO é efetuado em ocasiões que necessitem do
acionamento de algum dispositivo ou para interpretação de dados
externos recebidos por essas portas.
A logística para iniciar o processamento de imagens aéreas
obtidas por RPA, por muitas vezes, demanda alto tempo. Considerando
o contexto ambiental, isso pode culminar em elevado tempo de resposta
e ocasionar prejuízos. A partir de alguns trabalhos, percebe-se a
necessidade de melhorias que possam garantir maior eficiência em
relação ao tempo de resposta para a solução de problemas. A partir da
maior parte dos trabalhos encontrados na literatura sobre o uso de RPA,

147
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

alguns foram apresentados neste Capítulo, percebe-se que as imagens


capturadas durante o voo não são processadas automaticamente pela
própria aeronave. Em muitos casos são encaminhadas para uma estação
base através de um enlace de dados, em outros o processamento ocorre
somente quando as imagens são descarregadas em um computador,
necessitando pousar o RPA para iniciar as etapas de processamento.
Nesses casos, as soluções apresentadas não realizam tarefas autônomas
e, consequentemente, o processamento não ocorre em tempo real.
O uso de sistemas embarcados em RPA pode proporcionar a
realização de determinadas tarefas autônomas. Este trabalho propõe o
uso de um sistema embarcado de modo que seja possível o processamento
de imagens durante o voo, visando ressaltar áreas de interesse a
partir das imagens de entrada, no caso, com o objetivo de permitir a
identificação de solo exposto. Considerando o contexto agrícola, essas
áreas representam falhas no plantio que, se identificadas rapidamente,
evitam grandes prejuízos financeiros aos produtores. Aplicado ao
contexto ambiental, a solução proposta pode auxiliar os especialistas
no processo de mapeamento, monitoramento e análise do uso da
terra por meio de demarcações e estimativas de áreas de degradação
ambiental. O uso de sistemas embarcados contribui para resultados
mais rápidos, evitando a necessidade de realizar o processamento de
imagens posteriormente e aumento do prejuízo decorrente das falhas
encontradas no plantio.

Características do sistema embarcado

Algumas métricas são importantes na avaliação de um projeto


com uso de sistemas embarcados. Características como flexibilidade,
facilidade de configuração, baixo custo, bom desempenho e baixo consumo
de energia, por exemplo, foram os principais fatores que subsidiaram a
escolha entre os diversos sistemas embarcados disponíveis no mercado
para a implantação do algoritmo proposto. Os trabalhos abordados em
Silva et al. (2015b) e Silva (2016) apresentam uma comparação entre
algumas plataformas disponíveis no mercado em relação às principais
métricas e características. Considerando tais características e sua
vantagem em relação ao processamento de imagens para análises
ambientais, optou-se pelo uso do computador embarcado Raspberry Pi
2. A influência de vários fatores interfere na escolha da plataforma a
ser utilizada em um projeto, dentre estes, podemos citar características
como peso e tamanho, que estão diretamente relacionadas com a
autonomia do voo, uma vez que o hardware deverá ser acoplado ao RPA
148
e, consequentemente, plataformas leves garantem maior tempo de voo,
possibilitando a aquisição de uma quantidade maior de imagens.
A plataforma Raspberry Pi desenvolvida pela fundação Raspberry
pi35 surgiu em 2006, fruto de ideias do pesquisador Eben Upton e
outros pesquisadores do laboratório de computação da Universidade de
Cambridge, que desenvolveram um projeto em que todo o hardware foi
inserido em uma única placa. A ideia consistiu em criar um computador
pequeno e acessível para crianças com a finalidade de estimular o ensino
de computação nas escolas, provocando mudanças na maneira de como
crianças interagiam com o computador. A plataforma Raspberry Pi 2
modelo B foi lançada em fevereiro de 2015. Possui tamanho reduzido
com dimensões de 85x56mm e peso de 45g, permitindo sua utilização
em diversas aplicações do cotidiano. O modelo Raspberry Pi 2 é
uma segunda geração da Raspberry Pi, que já era considerada uma
máquina completa, com poder de processamento razoável (UPTON &
HALFACREE, 2013). Baseado em um processador ARMv7 Quad Core
900 MHz de arquitetura ARM, pode executar uma grande variedade
de distribuições ARM GNU/Linux. Possui memória principal de 1 GB,
e suporte para armazenamento de dados através de um slot micro SD.
No caso, utilizou-se um cartão micro SD classe 4 com capacidade de
armazenamento de 8 GB. A Figura 4 apresenta a plataforma Raspberry
Pi 2 utilizada.
A plataforma Raspberry Pi 2 contempla as interfaces de
comunicação USB, HDMI e Ethernet, além de conexões para
acoplamentos de câmera e display. Possui também a porta General
Purpose Input/Output (GPIO), responsável por fazer a comunicação
de entrada e saída de sinais digitais através de um conjunto composto
por 40 pinos, permitindo o interfaceamento com outros dispositivos
e periféricos de acordo com a necessidade do projeto. O sistema
operacional instalado foi o Mate versão 1.10, baseado em Linux e com
interface gráfica, tendo em vista que a plataforma possui conexão de
vídeo HDMI. A compatibilidade com diversos sistemas operacionais de
interface gráfica facilita a instalação e configuração do sistema, que é
realizado diretamente na plataforma. O uso da plataforma Raspberry
Pi 2 é justificada pelo fato de ser uma plataforma leve e possuir
tamanho reduzido.

35  https://www.raspberrypi.org/ [Acesso em 02/03/2016].

149
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 4. Computador embarcado Raspberry Pi 2.


Fonte: Próprio autor.

Materiais e Métodos

As imagens utilizadas neste trabalho foram obtidas por


câmeras não métricas, pois são facilmente encontradas no mercado
e reduzem substancialmente os custos envolvidos em projetos de
imageamento aéreo. As imagens são formadas pelos canais Red (R),
Gree (G) e Blue (B). O grupo composto por imagens aéreas da Área de
Preservação Ambiental da Barra do Rio Mamanguape (APA) apresenta
caracterização diversificada, com presença de mata atlântica e
policulturas. As imagens foram obtidas por meio de trabalho de campo
com sobrevoos na região. A captura das imagens foi realizada por um
RPA de pequeno porte, tipo quadricóptero, modelo DJIPhatom FC-40
(Figura 5), controlado remotamente nas mediações da APA da Barra
do Rio Mamanguape, situada no Município de Rio Tinto, no Estado da
Paraíba. O modelo é fabricado pela empresa DJI Inovations, possui
800g de peso e capacidade de carga de até 1.200g, segundo o fabricante.
O RPA é controlado remotamente através de um enlace de rádio na
frequência de 2,4 GHz com alcance de até 100m de distância. Possui
uma câmera acoplada, que através de um link de dados transmite em
tempo real as imagens para um smartphone do operador em solo ou
pode ser programado para armazenar automaticamente as imagens a
cada período de tempo determinado. As imagens foram capturadas com
resolução de 1280 x 720 pixels.
150
A área imageada apresenta diferentes níveis de degradação
ambiental, visível pela presença de áreas de solo exposto. Uma das
aplicações ambientais com uso de RPA é o seu uso como ferramenta
auxiliar durante a validação do mapeamento de uso e cobertura da
terra, conforme apresentado em SILVA et al. (2015a). As imagens
obtidas permitiram a análise com elevada precisão, principalmente
em locais de difícil acesso. Além disso, as técnicas de processamento
aplicadas contribuem para a análise rápida de imagens com maior
eficiência, permitindo complementar diagnósticos com precisão em um
curto período de tempo.

Figura 5. Modelo de RPA FC-40 utilizado para a captura das imagens.


Fonte: Próprio autor.

Todas as imagens utilizadas neste trabalho foram capturadas por


uma aeronave remotamente pilotada e, posteriormente em laboratório,
foram inseridas nos sistemas embarcados para avaliação e realização
de testes. O processamento das imagens foi realizado com o algoritmo
baseado em watershed. O sistema de processamento de imagens
foi desenvolvido com uso da biblioteca de software livre de visão
computacional OpenCV, cuja linguagem de programação empregada
foi C++ em um ambiente Linux.

Processamento baseado em watershed

A técnica baseada em watershed, implementada neste trabalho,


é dividida em seis etapas: aquisição da imagem, conversão em escala
de cinza, limiarização, dilatação da imagem, transformada de distância
151
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

e uma segunda etapa de limiarização. O diagrama em blocos, disposto


na Figura 6, apresenta as etapas de processamento realizadas pelo
algoritmo.

Figura 6. Diagrama em blocos das etapas de processamento de imagens baseado em


Watershed.
Fonte: Próprio autor.

A partir da aquisição da imagem aérea, seja recebida diretamente


através da câmera ou a partir de um banco de imagens, a segunda
etapa é a conversão da imagem original (Figura 7a) em escala de
cinza (Figura 7b) através da função cvtColor disponível na biblioteca
OpenCV, facilitando a etapa de limiarização.

Figura 7. Imagem original (a) e imagem transformada em tons de cinza (b).


Fonte: Próprio autor.

152
Após a imagem ser convertida em escala de cinza, a primeira
técnica de limiarização (T1) global é aplicada. Devido a sua simplicidade,
essa etapa não requer alto poder de processamento computacional.
Para a imagem apresentada na Figura 8a, por exemplo, foi utilizado o
limiar T1=200, configurado através da função threshold disponível no
OpenCV. Isso significa que pixels com valor de nível de cinza inferior
a 200 foram definidos com valor igual a zero; caso contrário, foram
definidos com valores iguais a 255. A escolha do valor de limiar T1
ocorre de forma visual, de maneira que valores são testados inicialmente
até que a segmentação corresponda a níveis aceitáveis de semelhança
com as imagens originais, representando satisfatoriamente as áreas
de interesse. Devido à grande variedade de vegetação encontrada nas
imagens obtidas pelo RPA, os valores de limiar T1 sofreram adaptações
para se adequar a cada subgrupo analisado, pois as imagens foram
obtidas em diferentes horários do dia e sob diversas condições de
luminosidade, necessitando ajustar os valores de limiar para o correto
processamento das imagens. O resultado da imagem após a técnica de
limiarização pode ser comparado com a imagem em escala de cinza na
Figura 8b.

Figura 8. Comparação entre imagem da região da APA da Barra de Mamanguape em


escala de cinza (a) e primeira etapa de limiarização (b).
Fonte: Próprio autor.

Após a etapa de limiarização, verifica-se um grande volume de


ruído na imagem, tendo em vista que o processamento ocorre no nível
do pixel. A etapa seguinte tem por objetivo unir pixels desconexos de
mesma intensidade (0 ou 255) em áreas próximas. Isso ocorre através
da função Dilate disponível no OpenCV. A função utiliza parâmetro
igual a três iterações que representa a quantidade de vezes que a
dilatação é aplicada. O uso de três iterações foi escolhido por oferecer
um melhor resultado durante as etapas seguintes. O resultado da
dilatação contribui com as etapas seguintes para o tratamento do ruído
residual gerado na etapa de limiarização. O resultado após etapa de

153
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

dilatação do pixels sobre a imagem que sofreu a primeira limiarização


pode ser observado nas Figuras 9a e 9b.

Figura 9. Comparação de imagem com limiarização (a) e após a etapa de dilatação (b).
Fonte: Próprio autor.

A quarta etapa utiliza a função transformDistance na imagem


gerada após o processo anterior, que permite, a partir de uma matriz
3x3, a distribuição de diversos pontos da imagem de acordo com o cálculo
da distância do centro da matriz até a sua borda, modificando a imagem
de acordo com a matriz calculada. Esse processo resulta na imagem
em gradiente, apresentada na Figura 10a. Após essa etapa os valores
da matriz são normalizados e devem ser considerados pertencentes
ao intervalo [0-1]. A nova imagem é então submetida a uma segunda
etapa de limiarização com o objetivo de filtrar os gradientes gerados
na etapa anterior, ressaltando somente a região de interesse, conforme
mostrado na Figura10b. Considerando que o objetivo é a identificação
de solo exposto, e a limiarização tem como resultado a separação de
dois objetos em uma imagem, optou-se pela inversão das cores, de modo
que a cor preta represente solo exposto, e a cor branca represente a
vegetação.

Figura 10. Resultados do processamento das imagens após as etapas de transformada de


distância (a) e segunda limiarização (b).)
Fonte: Próprio autor.

154
Considerando o exemplo da Figura 10, foi definido na segunda
etapa de limiarização o valor de limiar T = 0,35, escolhido visualmente,
de forma que a imagem final processada corresponda às áreas de solo
exposto. Ao final dessa etapa, a tarefa de segmentação se completa e
proporciona subsídios para interpretação humana ou aplicação de
outros métodos computacionais. Os parâmetros de limiar T1 e T2
devem ser configurados para a análise de cada tipo de região devido às
características intrínsecas pertencentes a cada grupo de imagens, além
de outros fatores como a luminosidade do ambiente.
O algoritmo watershed resulta tradicionalmente em uma imagem
em gradiente, conforme a Figura 10a, acrescida de linhas conhecidas
como barreiras de watershed. Como o objetivo deste trabalho é a
identificação de solo exposto, ao invés da obtenção dessas barreiras,
optou-se por buscar os limites de contorno que, considerando uma
interpretação topográfica, representam a base das barragens obtidas
pelo algoritmo de segmentação, que pode ser vista na Figura 10b.
Considerando o uso do algoritmo em aplicações ambientais,
podem ser criadas duas novas funcionalidades. A primeira tem por
objetivo realizar uma estimativa do total de áreas degradadas, ou seja,
áreas que representam solo exposto na vegetação. Essas informações
são úteis para identificar e gerar dados de percentagem sobre os
níveis de degradação ambiental e auxiliam o monitoramento de áreas
de vegetação natural e/ou monocultura e policultura. A segunda
funcionalidade se encarrega de estimar a quantidade e o ponto central
das falhas. Esta última pode ser útil, por exemplo, para analisar a
melhor trajetória entre os pontos que podem ser visitados por um RPA
em altitudes mais baixas, visando a aquisição de novas imagens com
melhor resolução espacial. A estimativa de áreas de solo exposto e ponto
central de cada falha é realizada após todas as etapas de segmentação
das imagens.
O cálculo total de áreas degradadas em uma imagem segmentada
é feito a partir da contagem de pixels que representam solo e vegetação na
imagem. O algoritmo analisa cada coordenada (x,y) da imagem e verifica
qual valor binário (0 ou 255) de nível de cinza pertence à respectiva
coordenada ou pixel. A partir da contagem e frequência de ocorrência
desses valores é possível, a partir de uma relação simples, calcular os
percentuais que representam solo e vegetação, que são representados nas
imagens através das cores preta e branca, respectivamente. A imagem
segmentada mostrada na Figura 11a, por exemplo, é interpretada pelo
sistema como uma matriz composta por 921.600 pixels (considerando
a imagem de resolução 1280x720), dos quais 53.062 referem-se ao

155
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

valor 255, permitindo inferir que aproximadamente 5,83% da imagem


representam áreas de solo exposto. Aproveitando o exemplo, a Figura
11b mostra uma representação das áreas de solo exposto encontradas
(A1, A2, A3, e A4), como também a simulação do posicionamento dessas
áreas na imagem. As coordenadas que representam o ponto central das
quatro áreas de solo exposto encontradas podem ser vistas na Tabela 1.

Figura 11. Imagem segmentada (a) e representação de áreas de solo exposto encontradas (b).
Fonte: Próprio autor.

Tabela 1. Coordenadas centrais P(x,y) estimadas para áreas de falhas.

Áreas com falhas identificadas


Ponto Central Área 1 Área 2 Área 2 Área 1
P(x, y) P(239, 702) P( 422, 643) P(66, 652) P(665, 609)

A estimativa do ponto central das falhas encontradas pelo


algoritmo utiliza informações do contorno da imagem segmentada
extraída a partir da função findcontourns, disponível no OpenCV, que
fornece todas as coordenadas de pixels da região de contorno da imagem.
Diante dessas informações, calcula-se a média das coordenadas x e y
a fim de estimar a posição central de áreas, viabilizando também a
contagem de falhas encontradas pelo algoritmo.

Resultados

Conforme esperado, as imagens processadas por meio do


algoritmo baseado em watershed utilizaram valores de limiar específicos
devido à variação de luminosidade presente em cada grupo de imagens,
decorrente da captura de imagens em diferentes horários do dia. Três
níveis do limiar T1 são configurados para o grupo de imagens analisado,
156
com maior predominância de valores de limiar T1 no intervalo
[175-185] em 55% dos casos, e a maioria dos casos observados utilizou
o valor T1 = 175 na primeira etapa de limiarização. Os níveis de limiar
definidos na segunda etapa de limiarização (T2) se concentram no
intervalo [0,075-0,125] em 60% dos casos, sendo o valor 0,10 o mais
frequente entre os valores utilizados. Alguns resultados da segmentação
utilizando o algoritmo baseado em watershed e seus respectivos valores
de limiar T1 e T2 utilizados, respectivamente, na primeira e segunda
etapa de limiarização, são exibidos na Figura 12.

Figura 12. Resultados de processamento de imagens da APA da Barra de Mamanguape


e respectivos limiares utilizados.
Fonte: Próprio autor.

157
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

As etapas de pré-processamento realizadas neste trabalho foram


implantadas para serem realizadas pelo próprio algoritmo, dispensando
qualquer tipo de pré-processamento manual, ao contrário do que ocorre
em algumas abordagens como, por exemplo, os trabalhos realizados em
FELIZARDO et al. (2013). Dessa forma, a imagem original é recebida
diretamente pelo sistema, dispensando qualquer interferência humana
para o seu tratamento.
A expansão do algoritmo para a estimativa por meio do cálculo de
áreas de degradação em imagens ambientais resultou nos percentuais
de solo exposto apresentados na Tabela 2, considerando as imagens
utilizadas na Figura 12. O desenvolvimento de novas funcionalidades
agregadas ao algoritmo proposto apresenta elevado potencial de uso
em estudos de conservação de ambientes naturais que, segundo os
especialistas, permitem auxiliar nas tarefas de acompanhamento
temporal da evolução de determinado fenômeno como, por exemplo, a
inspeção de mortalidade ou revitalização da vegetação.

Tabela 2. Percentual estimado de solo exposto presente em imagens ambientais da APA


da Barra de Mamanguape.

Imagem Solo exposto (%)


APA 1 8,3
APA 2 3,6
APA 3 5,8
APA 4 28,8
APA 5 35,4
APA 6 22,16

O tempo de processamento é um fator decisivo para escolha


da plataforma a ser acoplada a uma RPA, pois está diretamente
relacionado à autonomia e à capacidade de capturar e processar uma
maior quantidade de imagens durante o voo. Considerando o sistema
embarcado Raspberry Pi 2, o tempo de processamento mostrou-se
satisfatório, demandando em torno de 2,3 segundos para processar
cada imagem capturada.

158
Conclusões

O uso de RPA para análises ambientais possibilita a identificação


de áreas com maior precisão em comparação com imagens de satélite,
oferecendo diversas vantagens e permitindo a melhora significativa da
compreensão sobre o uso da terra, com custos relativamente baixos.
Aplicado à APA do Rio Mamanguape, torna-se uma ferramenta essencial
para o monitoramento das áreas e facilita a tarefa do mapeamento de
classes de paisagens, uma vez que permite, com rapidez, a obtenção de
imagens para a validação de dados em locais que apresentam alto grau
de inacessibilidade.
O emprego de técnicas computacionalmente simples permite
a execução do algoritmo baseado em watershed com baixo esforço
computacional, tornando mais rápidas as etapas de processamento.
O algoritmo de processamento de imagens implantado no sistema
embarcado Raspberry Pi 2 permite que a solução seja acoplada à
aeronave e realize o processamento durante o voo, contribuindo para
diagnósticos automáticos pela própria RPA. A plataforma embarcada
utilizada associada ao uso de câmeras não métricas garante uma solução
de baixo custo e eficiente para o processamento de imagens aéreas
aplicada ao contexto agrícola ou ambiental. O sistema de identificação
de solo exposto contribui com a análise rápida das imagens e provê
suporte para complementação de um diagnóstico em um reduzido
intervalo de tempo, tornando ágil a tomada de decisão, podendo evitar
prejuízos ambientais.

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163
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Fenofases reprodutivas ao longo da


estação seca e chuvosa na Área de
Proteção Ambiental (APA) da Barra do
Rio Mamanguape: caracterização de suas
principais síndromes de polinização e
frutificação

Fernanda Carla Ferreira de Pontes36, Dayse Teixeira³¹ e Evelise Locatelli37

Introdução

A Floresta Atlântica é considerada uma das grandes prioridades


para a conservação da biodiversidade. É considerada um dos 25 hotspots
de biodiversidade devido à alta diversidade de espécies e aos altos níveis
de endemismo (FONSECA 1985; MYERS et al. 2000). Distribuído por
mais de 17 estados brasileiros, este bioma é composto de uma série
de fitofisionomias bastante diversificadas (SOS Mata Atlântica 2006)
e inclui as zonas litorâneas de vegetação pioneira que ocorrem em
restingas.
A costa brasileira é recoberta, cerca de 79%, por restingas
(ARAÚJO & LACERDA 1987), onde se estendem desde estreitas
até extensas faixas de areia (COGLIATTI-CARVALHO et al. 2001).
De acordo com Suguio & Tessler (1984), a denominação “restinga” é
empregada na literatura brasileira com diferentes acepções, podendo ser
usada tanto para designar vários tipos de depósitos litorâneos quanto
para outras feições costeiras, e até mesmo a vegetação. Ecologicamente
podemos referir a restinga como um mosaico de formações vegetais
(herbáceas, arbustivas, arbóreas) encontradas na planície litorânea
arenosa de idade quaternária (SCARANO, 2002).
36  Graduada em Ecologia. Universidade Federal da Paraíba/UFPB. Centro de Ciências Aplicadas e Educação/
CCAE, Departamento de Engenharia e Meio Ambiente/DEMA, Laboratório de Ecologia Vegetal (LABEV), Rio
Tinto -PB, 58297-00, Brasil.
37  Universidade Federal da Paraíba/UFPB. Centro de Ciências Aplicadas e Educação/CCAE, Departamento de
Engenharia e Meio Ambiente/DEMA, Laboratório de Ecologia Vegetal (LABEV), Rio Tinto - PB, 58297-00, Brasil.
(email: eveliselocatelli@yahoo.com.br) *autor para correspondência

164
Estudos nas mais diferentes áreas da Botânica tem incorporado,
em escala ascendente, a utilização de tecnologias que propiciem a coleta
de dados com referência geográfica, bem como o seu armazenamento e
o seu processamento, viabilizando, também, a análise espacial desses
dados. Assistimos, assim, a apropriação de geotecnologias, a exemplo
de equipamento de GPS (Global Positioning System), sensoriamento
remoto, Sistemas de Informação Geográfica (SIG), entre outros,
tornarem-se valiosas ferramentas auxiliares à execução de trabalhos
de campo, ao monitoramento e ao diagnóstico de comunidades vegetais
(SILVA, 2015). Entretanto, é de fundamental importância que todos
esses estudos necessitem, obrigatoriamente, ser conferidos com trabalho
de campo. As metodologias de utilização de dados de sensoriamento
remoto no campo da Botânica devem ser desenvolvidas com base
nas características espectrais, temporais e espaciais das espécies em
estudo. Portanto, deve-se observar conjuntamente os alvos de interesse
e as características dos sistemas de coleta de dados (SÁ, 2004).
A fragmentação dos habitats naturais leva ao desaparecimento de
inúmeras plantas e animais, além de propiciar a introdução de espécies
exóticas, causando uma série de distúrbios ecológicos, tendo como
consequência a perda de diversidade biológica (MACHADO & LOPES,
1998). Diferentes etapas do processo de reprodução dos vegetais, como a
polinização e a dispersão, são extremamente sensíveis à diminuição dos
ambientes naturais, uma vez que a fragmentação atua diretamente nas
plantas e animais polinizadores e dispersores (RATHCKE & JULES,
1993).
As interações ecológicas mutualísticas entre os organismos e
seu ambiente se dão principalmente através de processos tróficos,
que envolvem algum recurso ou energia capaz de produzir um dado
efeito específico no metabolismo do receptor e ainda através de
processos informativos, nos quais algum tipo de sinal é transmitido
(DUSENBERY, 1992). Inúmeras espécies animais visitam flores
em busca de recursos ou recompensas florais que são quaisquer
componentes de uma flor ou de uma inflorescência. As recompensas
florais podem ser consideradas como nutritivas (pólen, néctar e óleo) ou
não-nutritivas (resina, perfumes, gomas) (MACHADO & LOPES, 1998;
AGOSTINI et al. 2014).
As angiospermas apresentam vários tipos de interações com
animais incluindo interações mutualísticas associadas à polinização. A
polinização, propriamente dita, é o processo pelo qual os grãos de pólen
das anteras são depositados sobre o estigma ocorrendo posteriormente
a fertilização, dando origem a frutos e sementes, assegurando assim
a perpetuação das espécies (ENDRESS, 1994). Essa pode ocorrer,
165
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

direta ou indiretamente, através de agentes abióticos e bióticos. Os


agentes abióticos como o vento (anemofilia) e a água (hidrofilia) são
fundamentais para a polinização de várias espécies. Entretanto, cerca
de 80% das espécies de angiospermas são polinizadas por agentes
bióticos, os seres vivos (zoofilia), destacando as diferentes síndromes
de polinização, que podem ser de vários tipos, como: entomofilia
(insetos), melitofilia (abelhas), esfingofilia (mariposas), quiropterofilia
(morcegos), ornitofilia (pássaros, em especial beija- flores), saprofilia ou
miofilia (moscas) (FAEGRI e VAN DER PIJL 1979).
Para que a polinização ocorra, as plantas desenvolveram flores
adaptadas morfologicamente de modo a atrair diferentes tipos de
vetores. Diversos caracteres florais tais como forma, cor, tamanho,
odor e recursos florais são adaptados para grupos de agentes
polinizadores taxonomicamente relacionados (PIJL 1982). Dessa
forma, as angiospermas desenvolveram um conjunto de características
que atraem uma grande variedade de animais polinizadores —
principalmente insetos — que asseguram um alto grau de polinizações
cruzadas e desenvolvimento evolutivo (RAVEN et al. 2001).
Para as plantas, a polinização interfere diretamente no sucesso
reprodutivo a partir da transferência de pólen (fluxo gênico) e consequente
produção de frutos e sementes (RENNER, 1998). Entre os animais
visitantes pode ocorrer um ajustamento de seus ciclos reprodutivos à
disponibilidade do recurso floral explorado (BARTHLOTT et al. 1993).
Em ambos os casos, são marcantes as consequências para a biologia
dos organismos envolvidos, que podem apresentar variados graus de
dependência e especialização recíprocas numa interação, ligados a sua
sobrevivência e reprodução (ABRAHAMSON, 1989).
As interações contemporâneas entre as plantas com flores e seus
polinizadores são interpretadas como sendo o resultado de uma longa e
íntima relação coevolucionária (BAKER & HURD, 1968; PRICE, 1975;
CREPET, 1983). Essas interações são um dos aspectos significativos
das regiões tropicais, devido à grande diversidade de sua flora e fauna,
possuindo o mais completo conjunto de biótipos especializados (BAKER
& HURD, 1968). Espécies que apresentam flores zoófilas eufílicas têm
se diversificado em correspondência com os seis principais grupos de
animais transportadores de pólen, caracterizando síndromes florais
definidas: melitofilia (abelhas), miofilia (moscas), psicofilia (borboletas),
esfingofilia (mariposas), ornitofilia (aves) e quiropterofilia (morcegos)
(VOGEL, 1990; RECH et al. 2014).
Da mesma maneira, frutos maduros apresentam diferentes
características como cor, presença de alas, deiscência de cápsula e
166
apresentação de semente com arilo, que indicam adaptação para a
dispersão por diferentes vetores (MORELLATO & LEITÃO-FILHO,
1992). Dispersão refere-se à retirada ou liberação dos diásporos da
planta-mãe, (HOWE & SMALLWOOD, 1982), e as síndromes de
dispersão são conjuntos de características dos diásporos associados a
um dispersor (PIJL 1982). Segundo PIJL (1982) a dispersão pode ocorrer
pela ação do vento (anemocoria), de animais (zoocoria) e de mecanismos
próprios (autocoria). Nos trópicos, encontramos uma maior atuação de
dispersores bióticos comumente representados por aves, mamíferos,
répteis, formigas e peixes (zoocoria) (FLEMING, 1979; PIJL, 1982).
Dessa maneira, os trabalhos de dispersão de frutos e sementes são de
fundamental importância para o entendimento da coevolução entre
plantas e animais.
Os estudos de polinização e de dispersão de uma comunidade
vegetal podem fornecer dados para responder a várias questões
relacionadas à manutenção do fluxo gênico intraespecífico, sucesso
reprodutivo, partilha e competição por polinizadores, dinâmica e
renovação dos ecossistemas e também sobre conservação de habitats
naturais afetados por processos de fragmentação (FAEGRI & VAN
DER PIJL, 1979; PROCTOR & YEO, 1996; CORLETT & TURNER,
1997; WUNDERLEE, 1997; MACHADO & LOPES, 2002; MACHADO
& LOPES, 2004).
A pequena quantidade de informações sobre a ecologia de
interações mutualísticas em remanescentes de mata atlântica, restinga
e mangue no Nordeste brasileiro e o avançado processo de degradação
desses biomas na Paraíba levou-nos a propor esta pesquisa, que teve
como objetivos conhecer as interações entre plantas/polinizadores/
dispersores de espécies vegetais ocorrentes em uma área de restinga na
APA da Barra do Rio Mamanguape e realizar uma análise comparativa
com outros estudos já realizados em ecossistemas semelhantes,
permitindo assim uma visão mais integrada da dinâmica dos biomas
estudados.

Procedimentos metodológicos

Atividade de campo - Os dados obtidos foram coletados no período


de outubro de 2009 a junho de 2011, durante excursões mensais na
área de estudo. As coletas foram realizadas em trilha pré-existente
em um transecto linear de 2.500m de extensão (início: S 06˚ 46’ 18”de
latitude sul, W 034˚ 55’ 11.1” de longitude oeste; final: S 06˚ 47’ 29.5”de
167
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

latitude sul, W 034˚ 54’ 59.3” e de longitude oeste) (Figura 1), sendo
coletadas amostras de espécies herbáceas, arbóreas e arbustivas que se
encontravam em floração e frutificação há um metro e meio para cada
lado do transecto.
Dados sobre o hábito das espécies, morfologia e cor das flores
e frutos foram registrados em planilha de campo. Foram coletados
exemplares do material para posterior análise no Laboratório de
Ecologia Vegetal (LABEV) da Universidade Federal da Paraíba, onde
o material coletado foi conservado em álcool 70%. Fez-se também o
registro fotográfico de algumas espécies.
O material foi identificado com o auxílio de bibliografia
especializada, e os exemplares não identificados foram enviados para
especialistas. A nomenclatura botânica utilizada foi a proposta pelo
Angiosperm Phylogeny Group 2009. Para cada espécie coletada foi
confeccionada exsicata e todo o material encontra-se depositado no
LABEV.

Figura 1. Localização da área de estudo, na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra


do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil. Transecto de 2.500m de extensão (início: S 06˚ 46’
18”de latitude sul, W 034˚ 55’ 11.1” de longitude oeste; final: S 06˚ 47’ 29.5”de latitude sul,
W 034˚ 54’ 59.3” e de longitude oeste).

168
Ocorrências de espécies – Para verificar se as espécies da
restinga da APA ocorriam em outras restingas do Nordeste
foram consultados os seguintes levantamentos florísticos:
Leite & Andrade (2004) (47 espécies), Sacramento et al.
(2007) (124 espécies), Almeida et al. (2009) (187 espécies) e
Silva et al. (2008) (104 espécies) para Pernambuco; Meira
Neto et al. (2005) (67 espécies) para a Bahia; Matias &
Nunes (2001) (87 espécies) para o Ceará; Oliveira Filho
& Carvalho (1993) (263 espécies) e Pereira e Alves (2007)
(111 espécies) para a Paraíba; Cabral-Freire & Monteiro
(1993) (260 espécies) para o Maranhão e Freire (1990) (264
espécies) para o Rio Grande do Norte.

Atividade de laboratório – As síndromes de polinização
foram consideradas com base nos critérios propostos por
Faegri & Pijl (1979) e as síndromes de dispersão foram
consideradas com base nos critérios propostos por Pijl
(1982). Para a tipologia de frutos, seguiu-se os critérios de
Barroso et al. (1999) e Vidal & Vidal (2003). Para algumas
espécies, a caracterização das síndromes foi complementada
com observações diretas do agente polinizador/dispersor e
fotografias das flores e dos frutos.
Os valores de precipitação mensal de novembro de 2009 a
junho de 2011 foram obtidos pelo banco de dados da Agência
Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (AESA).
Os dados referentes à precipitação, floração e frutificação
foram submetidos ao teste de Correlação de Spearman
utilizando o software Bioestatistic 5.0.

Elaboração dos mapas –Para elaboração dos mapas de


localização da APA da Barra do Rio Mamanguape e da trilha
na presente área, foi utilizado um Sistema de Informação
Geográfica para o processamento dos dados espaciais. Foram
inseridos arquivos vetoriais do limite da APA da Barra do Rio
Mamanguape disponibilizado no site do ICMbio (Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), como
também, os vetores dos municípios que estão parcialmente
inseridos na APA e o vetor do Estado da Paraíba, adquiridos
no GeoPortal AESA. Foi também utilizado o software Google
Earth, versão profissional para a obtenção de imagem de
169
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

alta resolução espacial da trilha na APA da Barra do Rio


Mamanguape. Além disso, utilizou-se o GPS da empresa
Garmin® para adquirir as coordenadas geográficas para
registro dos pontos de controle da trilha.

Resultados e Discussão

Foram analisadas 68 espécies, subordinadas a 60 gêneros,


pertencentes a 38 famílias de angiospermas (Quadro 1). Dados
semelhantes ao encontrado por Meira Neto et al. (2005) em relação ao
número de espécies.
A área de estudo, encontra-se acima da praia (400 a 500m) (Figura
2), atrás de encostas inclinadas de dunas de 50 a 60m. Segundo Azevedo
(2005), a adaptabilidade das espécies encontradas em ecossistemas
litorâneos demonstra a importância destas para a manutenção do
relevo das dunas que sofrem modificações constantes influenciadas
principalmente pelo vento. Araújo & Lacerda (1987) ressaltam que as
dunas se diferenciam, ao longo da costa, devido ao fato dos depósitos
arenosos serem cobertos por comunidades vegetais características e, ao
mesmo tempo, diferenciadas.
Encontramos três tipos de fisionomia de vegetação de restinga
de acordo com os critérios propostos por Veloso et al. (1991) e Oliveira
Filho & Carvalho (1993): restinga herbácea ou restinga praiana;
restinga arbustiva e restinga arbórea. As espécies mais comuns na
restinga herbácea foram: Ipomoea pes-caprae, I. imperati, Cereus
fernambucensis e Richardia grandiflora. Na restinga arbustiva,
as espécies mais comuns foram: Chrysobalanus icaco, Byrsonima
gardneriana e Guettarda platypoda. Na restinga arbórea, as espécies
mais comuns foram: Anacardium occidentale, Laguncularia racemosa
e Tocoyena formosa. A comunidade vegetal de restinga sofre influência
direta do oceano atlântico e das condições edáficas e, dessa maneira,
apresenta predomínio de vegetação herbáceo-arbustiva (WAECHTER
1985; TEIXEIRA et al. 1986).

170
Quadro 1. Características relacionadas às síndromes de polinização e dispersão das
espécies vegetais estudadas na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio
Mamanguape, Paraíba, Brasil.

171
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

172
Na restinga analisada, não foi encontrada nenhuma espécie
endêmica, e 93% das espécies possuem registro em outras restingas
do Nordeste de acordo com os levantamentos florísticos utilizados para
comparação citados na metodologia para a distribuição das espécies.
As espécies abaixo são citadas pela primeira vez para as restingas
da Paraíba: Alternanthera brasiliana (Amaranthaceae), Hohenbergia
ramageana (Bromeliaceae), Tephrosia purpuria (Fabaceae), Caesalpinia
bonduc e Chamaecrista desvauxii (Caesalpiniaceae), Phoradendron
serotinum (Loranthaceae) e Ouratea lucens (Ochnaceae).
As famílias botânicas que mais se destacaram em número
de espécies na área de estudo foram Fabaceae (15) e Rubiaceae (6).
Esses dados foram semelhantes ao encontrado por Almeida et al.
(2009), Sacramento et al. (2007) e, Silva et al. (2008) em restingas de
Pernambuco; Matias & Nunes (2001), em restinga do Ceará e Pereira
& Alves (2007) em restinga da Paraíba.
Ocorreu um aumento no número de espécies com flores a
partir de julho/2010, quando foram observados os menores índices de
precipitação, diminuindo a floração em abril/2011, mês com o maior
índice de precipitação. Observou-se que as espécies estudadas na APA
da Barra de Mamanguape floresceram durante o ano todo, tanto nos
meses de menor precipitação quanto nos meses de maior precipitação
(Figura 3).
Foi realizado o teste de normalidade entre as variavéis, floração
(p=0,3881) e precipitação (p=0,0723), posteriomente realizou-se teste
de correlação de spearman, tendo como resultado uma correlação
não significativa entre floração e precipitação (rs=0,3449; t=1,6014 e
p=0,1257).

173
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 2. Localização geográfica da área de estudo, na Área de Proteção Ambiental


(APA) da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil. Em detalhe, na cor verde destaque
à transecção utilizada para a amostragem (Coordenadas: início: S 06˚ 46’ 18”de latitude
sul, W 034˚ 55’ 11.1” de longitude oeste; final: S 06˚ 47’ 29.5”de latitude sul, W 034˚ 54’
59.3” e de longitude oeste).

174
Figura 3. Total de espécies herbáceas, arbóreas, arbustivas e trepadeiras em flor
durante meses/anos e precipitação, na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do
Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

Com relação ao hábito das espécies foi observado o predomínio


de herbáceas (46%), arbustos (35%), árvores (10%) e trepadeiras (9%).
A cobertura vegetal da restinga estudada da restinga estudada está
representada por agrupamentos herbáceo-arbustivos determinados
pelas condições ambientais como salinidade, ventos intensos, baixa
capacidade de retenção de água, baixa fertilidade e ação antrópica.
Foram identificadas síndromes de melitofilia (84%), esfingofilia
(6%), entomofilia (5%), ornitofilia (3%), e quiropterofilia (2%), sendo,
portanto, melitofilia a síndrome mais frequente nas espécies da APA
da Barra do Rio Mamanguape (Figura 4 e 5). Vários autores também
têm encontrado o predomínio de flores polinizadas por abelhas, uma
vez que foram relatadas como os mais diversos e abundante grupo
de visitantes florais, bem como os principais polinizadores em várias
comunidades vegetais (MACHADO & LOPES 2004); Quirino (2006) em
florestas tropicais secas, Yamamoto et al. (2007); Kinoshita et al. (2006)
em floresta estacional semidecídua no Estado de São Paulo, Araújo et
al. (2009); Freitas & Sazima (2006) e Cara (2006) em áreas de mata
atlântica.

175
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 4. Porcentagem das síndromes de polinização das espécies da APA da Barra do


Rio Mamanguape.

A melitofilia também predominou entre Fabaceae, a qual foi


a família com o maior número de espécies, havendo correlação com
o resultado encontrado por Dutra et al. (2009) em campos rupestres.
Gottsberger et al. (1988) em trabalho realizado nas dunas litorâneas
de São Luís, Maranhão, constataram que 80% a 90% das plantas desse
ecossistema são melitófilas.
Nas regiões tropicais sazonais, os insetos, principalmente as
abelhas, mantêm-se ativos ao longo do ano, entretanto estão sujeitos
às variações em suas atividades (HEITHAUS 1979). A diversidade de
insetos visitantes pode não só estar relacionada com o número de espécies
vegetais floridas que oferecem recursos alimentares aos visitantes,
como provavelmente pode estar relacionada à abundância do número de
indivíduos floridos para cada espécie, aumentando consideravelmente
os recursos alimentares (MANTOVANI & MARTINS 1988; LOPES
et al. 2010) entretanto há algumas espécies vegetais que apresentam
menor quantidade de indivíduos, podendo se tornar mais atraentes
aos polinizadores, uma vez que possuam maior quantidade de recursos
tróficos.
De acordo com Bawa (1990), as abelhas são um grupo bastante
diversificado e responsável pela polinização em diversos ecossistemas.
As espécies melitófilas apresentaram morfologia floral e coloração
muito variável, podendo estar relacionado à grande diversidade de
176
abelhas visitadas, com diferentes tamanhos, comportamento de visita e
a busca dos mais variados recursos florais (néctar, pólen, óleo, resinas).
No presente estudo, a segunda maior síndrome encontrada
foi a esfingofilia com 6% das espécies. Plantas esfingófilas possuem
características morfo-fisiológicas que são importantes para atração
dos visitantes (BAKER 1961), essas espécies geralmente apresentam
antese noturna, de cores claras e tubos longos (FAEGRI & PIJL
1979). Amorim (2008), em área de cerrado, observou que as espécies
polinizadas por esfingídios apresentou flor tipo tubo, porém flores com
morfologia tipo pincel também foram frequentes entre as espécies
esfingófilas, resultado semelhante ao encontrados neste estudo, como
Capparis flexuosa L. (Brassicaceae) que apresenta flores do tipo pincel.
As características florais de algumas angiospermas como cores
vivas, principalmente vermelho e laranja, abundância de néctar,
ausência de odor e corolas tubulosas (FAEGRI & PIJL 1979; ENDRESS
1994), estão relacionadas a visitas por aves (ornitofilia), em especial
beija-flores. Na área de estudo, só duas espécies possuíam essas
características, Psittacanthus dichrous (Mart.) Mart. (Lorantaceae) e
Lundia cordata (Vell.) A. DC. (Bignoniaceae).
Na APA da Barra de Mamanguape, foi pequena a proporção
de espécies polinizadas por morcegos, somente uma espécie, Inga sp.
(Fabaceae-Mimosaceae), cuja flor é branca do tipo pincel, apresentou
a síndrome de quiropterofilia. Semelhante ao encontrado por Bawa et
al. (1985) em floresta úmida da Costa Rica em apenas 3% das espécies.
As plantas polinizadas por morcegos geralmente são árvores com flores
grandes e robustas, sendo mais raros os casos de sistema de polinização
em plantas herbáceas (MACHADO & LOPES 1998), o que explica o
baixo percentual de quiropterofilia neste estudo, uma vez que a maioria
das espécies foram herbáceas e arbustivas.
As cores foram divididas entre vistosas (51%) e claras (49%).
As cores que predominaram entre as espécies vegetais foram lilás e
amarelo (24%), branco (21%) e creme (19%). Rosa (2%), verde (9%) e
laranja (1%) foram as cores que tiveram o menor percentual, menos de
10%, resultado semelhante ao encontrado por Machado & Lopes (2004)
em floresta seca. Diferente do encontrado por Cara (2006) em floresta
atlântica alagoana e Martins & Batalha (2006) no Planalto Central
brasileiro, onde observaram uma maior proporção de flores claras.
A cor está relacionada à captação do comprimento de onda da
luz dos diferentes grupos de visitantes florais como, por exemplo, as
abelhas que visitam flores com coloração amarela, violeta e azul, uma

177
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

vez que visualizam o ultravioleta, enquanto que as flores com coloração


vistosa, vermelha e laranja, atraem preferencialmente as aves (VOGEL
1990; MACHADO & LOPES 1998; FREITAS & SAZIMA 2006).

Figura 5. Síndromes de polinização em espécies vegetais da APA da Barra do Rio


Mamanguape. A. Commelina erecta L. (Commelinaceae) – melitofilia; B. Hohenbergia
ramageana Mehz (Bromeliaceae) – melitofilia; C. Capparis flexuosa L. (Brassicaceae) –
esfingofilia; D. Lundia cordata (Vell.) A. DC. (Bignoniaceae) – ornitofilia; E. Chrysobalanus
icaco L. (Chrysobalanaceae) – entomofilia; F. Clitoria sp. (Fabaceae) – melitofilia.
Fotos: E. Locatelli.

178
Os resultados mostram que na maioria das espécies visitadas
por esfingídeos e morcegos, ocorreu o predomínio de flores brancas,
enquanto que as espécies visitadas por aves foram de coloração vistosas.
As abelhas visitaram flores de diversas cores, sendo o amarelo e creme
as cores predominantes entre as espécies visitadas. Essas cores, bem
como o doce e agradável odor emitido pelas flores durante a antese, são
atributos relacionados à atração de abelhas, uma vez que são sensíveis
a estímulos olfativos e visuais (FAEGRI & PIJL 1979; KEVAN &
BAKER 1983).
Entre os tipos florais considerados, o tipo aberta (56%) foi o que
mais predominou, seguido pelo tipo tubular (24%), papilionácea (14%)
e pincel (6%). A predominância de flores do tipo aberta e tubo também
foram encontradas por Machado & Lopes (2003) e Martins & Batalha
(2006). Alta frequência de flores do tipo tubo contribui fortemente para
uma alta frequência de flores em que o recurso floral não é exposto
ao visitante (MACHADO & LOPES 2003), correspondendo a 24% das
espécies estudadas. A diversidade dos tipos florais encontrados na
região neotropical demonstra a grande variedade de angiospermas
nessa região, o que leva a uma grande diversidade de visitantes florais
utilizando os recursos dessas plantas (ENDRESS 1994).
Quanto à simetria, o tipo predominante foi actinomorfa com 71%,
seguido de zigomorfa com 29%. Provavelmente, flores actinomorfas
foram encontradas na maioria das espécies, principalmente devido
às formas das flores aberta e tubo, as espécies zigomorfas foram
representadas principalmente pela forma papilionácea e pincel. Estudos
revelam uma alta existência de flores actinomorfas (ARAÚJO ET AL.
2009; FREITAS & SAZIMA 2006; MACHADO & LOPES 2003,2004;
QUIRINO 2006).
O sistema sexual do tipo hermafrodita foi o mais representativo
entre as espécies, com 84%, seguido pelo sistema unissexual masculino
11% e unissexual feminino com apenas 5%. Percentual semelhante tem
sido registrado em outros ecossistemas (ARAÚJO et al. 2009; BARBOSA
1997; BAWA et al. 1985; CARA 2006; FREITAS & SAZIMA 2006;
MACHADO & LOPES 2003, 2004, 2006; QUIRINO 2006; RAMIREZ
1993). As espécies hermafroditas foram mais bem representadas dentro
da família Fabaceae e Rubiaceae.
Foram encontradas mais espécies com tamanho de flores grandes,
41%, em relação aos de tamanho médio 33% e pequeno 26%. Anthurium
affine Schott. (Araceae), Cereus fernambucensis Lem. (Cactaceae) e
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K. Schum. (Rubiaceae) foram
as espécies com o maior tamanho de flores, enquanto que Maytenus
179
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

erythroxyla Reissek (Celastraceae), Borreria verticillata (L.) G. Mey.


(Rubiaceae) e Laguncularia racemosa (L.) C. F. Gaertn. (Combretaceae)
obtiveram o menor tamanho de flores.
As flores observadas apresentaram variação no tamanho floral.
De acordo com Opler (1980), o tamanho da flor está relacionado ao
tamanho do polinizador como, por exemplo, o tamanho da probóscide
ou o bico dos beija-flores.
Em relação ao recurso oferecido pela planta, o pólen foi o mais
representativo com 49%, seguido pelo recurso pólen/néctar (36%), néctar
(11%), óleo e resina ambos com 2%, assemelhando-se ao encontrado por
Martins & Batalha (2006) e diferenciando-se dos resultados de Machado
& Lopes (2004) e Cara (2006), néctar e néctar/pólen, respectivamente.
O pólen é um recurso alimentar para muitos insetos, os quais podem
atuar como agentes polinizadores (FAEGRI & VAN DER PIJL 1979).
A intensa produção desses grãos serve para assegurar a reprodução e
alimentar os polinizadores, além de ser um elemento de atração para
muitos insetos, principalmente abelhas, sendo utilizado como alimento
por conter proteínas, gorduras, amido e muitas vitaminas (MACHADO
& LOPES 1998).
A recompensa floral é oferecida, principalmente, por espécies
com anteras poricidas, polinizadas por abelhas que vibram durante as
visitas (MACHADO & LOPES 2004). Neste estudo pode ser citada a
espécie Solanum paniculatum L. (Solanaceae) onde as abelhas agarram
as anteras e vibram seus tórax, agitando as anteras e liberando o pólen
(SILVA et al. 2009).
O néctar foi o recurso floral encontrado em poucas espécies,
entretanto é um recurso utilizado por uma grande variedade de
visitantes florais (SIMPSON & NEFF 1981; ENDRESS 1994). Formado
por água, açucares e outros componentes (aminoácidos, proteínas,
vitaminas e vitaminas) (MACHADO & LOPES 1998), o néctar é
excretado por células glandulares ativas, que formam os nectaríferos
(FAEGRI & PIJL 1979; ENDRESS 1994).
Considerando que a produção de néctar pode comprometer recursos
para a produção de sementes (PYKE 1991), a ocorrência de flores com
quantidades diminutas de néctar poderia representar uma estratégia
para economizar recursos do indivíduo, além de influenciar as decisões
dos visitantes florais quanto às escolhas das flores ou de agrupamentos
florais (RATHCKE 1992, LEISS & KLINKHAMER 2005).
O óleo foi oferecido por apenas uma espécie, Byrsonima
gardneriana Juss. (Malpighiaceae), característica da família
180
Malpighiaceae (TEIXEIRA & MACHADO 2000; BEZERRA et al.
2009). O óleo é utilizado no alimento larval como substituto do
néctar devido ao seu valor energético superior, é cerca de oito vezes
mais rico em calorias do que o néctar (VOGEL 1974; 1989). Cerca de
oito famílias de angiospermas oferecem óleo floral: Curcubitaceae,
Iridaceae, Krameriaceae, Malpighiaceae, Orchidaceae, Primulaceae,
Plantaginaceae, Solanaceae e Calceolariaceae (VOGEL 1986;
BUCHMANN 1987; STEINER & WHITEHEAD 1988; MACHADO
2002; 2004). Sendo a família Malpighiaceae a mais importante em
número de espécies, 47 gêneros neotropicais, e somente essas espécies
possuem glândulas de óleos funcionais (ANDERSON 1990; Vogel 1990).
Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand (Burceraceae) foi a
única espécie que oferece a resina como recurso floral. Conhecida
popularmente como “almécega”, essa espécie exsuda uma resina oleosa
e amorfa, cujas aplicações gerais vão desde a fabricação de vernizes e
tintas, ao uso em cosméticos e repelentes de insetos, e também apresenta
algumas indicações terapêuticas como cicatrizante e expectorante
(VIEIRA JÚNIOR et al. 2005).
Com base na tipologia de frutos, foi possível estimar as síndromes
de dispersão de cada espécie amostrada, sendo a zoocoria a dispersão
predominante com 35 espécies (52%), posteriormente anemocoria com
17 espécies (25%) e a autocoria com 15 espécies (23%) (Figuras 6 e 7).
Resultados semelhantes foram encontrados por Sales et al. (2007) em
área de mata atlântica no Estado de Sergipe.

Figura 6. Porcentagem das síndromes de dispersão encontradas nas espécies da APA da


Barra do Rio Mamanguape.

181
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Na zoocoria, as espécies em destaque foram Byrsonima


gardneriana (Malpighiaceae), Cocoloba laevis (Polygonaceae),
Guetarda platypoda (Rubiaceae), Maytenus erythroxyla (Celastraceae)
e Phoradendron serotinum (Loranthaceae), com maior número de
indivíduos na região que frutificaram ao longo do ano. Para a autocoria,
as espécies com maior abundância foram Abrus precatorius e Clitoria
sp., ambas da família Fabaceae.
A zoocoria, síndrome de dispersão mais representativa
(MORELLATO & LEITÃO-FILHO 1992; GRIZ & MACHADO 2001)
realizada por vetores bióticos, ocorre com maior frequência em
vegetação tropical úmida, como mata atlântica (SPINA et al. 2001;
YAMAMOTO et al. 2007), incluindo ecossistemas associados como no
caso do estudo, a restinga. O mesmo resultado foi encontrado em outros
biomas e ecossistemas brasileiros: caatinga (GRIZ & MACHADO
2001; QUIRINO et al. 2007; SILVA & RODAL 2009); campo rupestre
(FARIA JÚNIOR & SANTOS, 2006); cerrado (VIEIRA JÚNIOR et al.
2005; Jardim & Batalha 2009; Stefanello et al. 2009), assim como foi
encontrado em biomas e ecossistemas de outros países da América do
Sul: Argentina (Noir et al. 2002; AMICO & AIZEN 2005); Colômbia
(LINK & STEVENSON 2004) e Venezuela (LOPEZ & RAMÍREZ 1998).
A autocoria é a forma de dispersão em locais onde as plantas estão
sujeitas à insolação direta e aos borrifos e ventos fortes vindos do mar
(MARQUES 2002). As espécies da família Fabaceae, que predominou a
autocoria, foram encontradas onde não havia outras espécies fazendo o
sombreamento.
O tipo de fruto com maior representatividade foi drupa (31%),
seguido por cápsula (27%), legume (21%), baga (15%), aquênio (4%) e
síliqua (2%) (Figura 8). Os frutos do tipo baga e drupa (carnosos), juntos,
apresentaram 46% do total da tipologia de frutos, esses são dispersos
por animais. Foi observado in loco que o principal agente dispersor
foram as aves (Elaenia sp. e Tyrannus melancholichus) (Figura 7F).
Entre os organismos mais importantes na dispersão de sementes,
as aves compõem uma parcela significativa da biomassa de vertebrados
(TERBORGH 1986) e são os principais agentes dispersores de sementes
(AMICO & AIZEN 2005), além de apresentarem vantagens sobre outros
grupos dispersores no que diz respeito a sua mobilidade e à grande
diversidade de espécies (SCHERER et al. 2007).
Em Fabaceae, o fruto do tipo legume é predominante. Esse
fruto se correlaciona com a temperatura e necessita da desidratação
do pericarpo para a liberação das sementes (DUTRA et al. 2009),

182
ocasionando a síndrome de dispersão autocórica. Nessas sementes pode
ocorrer outra dispersão, secundária, podendo ser realizada por formigas
que promovem a retirada da estrutura que recobre as sementes (polpa)
para, em seguida, devolvê-la à superfície do solo (TEIXEIRA 2007;
SILVA et al. 2008). As espécies com dispersão autocórica apresentam
frutos secos (SILVA & RODAL 2009).

Figura 7. Síndromes de dispersão em espécies vegetais da APA da Barra do Rio


Mamanguape. A. Coccoloba laevis Casar. (Polygonaceae) – zoocoria; B. Maytenus
erythroxylon Reissek (Celastraceae) – zoocoria; C. Guettarda platypoda DC. (Rubiaceae)
– zoocoria; D. Ouratea lucens (kunth) Engl. (Ochaceae) – zoocoria; E. Myrcia sylvatica
(Mey.) DC. (Myrtaceae) – zoocoria; F. Elaenia sp. com fruto de Guettarda platypoda.
Fotos: E. Locatelli

183
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

A consistência do fruto foi caracterizada em seco e carnoso, com


54% e 46% respectivamente. Todas as espécies zoocóricas apresentaram
frutos carnosos; as autocóricas, frutos secos.
Todas as espécies da família Myrtaceae apresentam frutos
carnosos. Quando maduros, as cores são igualmente variadas incluindo
preto, vermelho, amarelo, laranja, cinza e verde, com predomínio da
primeira (GRESSLER et al. 2006), despertando atenção de agentes
dispersores bióticos. A família Rubiaceae também apresentou frutos
carnosos e de cores vistosas que despertaram a atenção do agente
dispersor que, nesse caso, foi a ave, dados semelhantes foram obtidos
por Melo et al. (2003).
As espécies Byrsonima gardneriana, Coccoloba laevis, Guettarda
sericea, Maytenus erythroxylon e Phoradendron serotinum são
exemplos de frutos carnosos e adocicados presentes na área. Segundo
Pires (1997), esses recursos nutritivos são muito importantes para as
espécies frugívoras, que acabam por beneficiar a planta por meio da
dispersão, refletindo um benefício mútuo no processo de dispersão.
Em relação aos frutos, houve variação de tamanhos em relação
à largura, ao comprimento e à espessura, onde a largura variou de
3,34mm a 44,56mm, o comprimento de 4,20mm a 95,80mm e espessura
de 1,27mm a 46,22mm. No geral, em relação às três dimensões, o maior
fruto encontrado na área foi Tocoyena formosa K. Schum (Rubiaceae) e o
menor foi Phoradendron serotinum (Raf.) M. C. Johnst. (Loranthaceae),
ambas zoocóricas.
Os picos de frutificação ocorreram de agosto a dezembro de
2011 e outro em fevereiro do mesmo ano, com predomínio de dispersão
zoocórica, a exemplo de Myrcia sp. (Myrtaceae) com pico no mês
de fevereiro de 2011, com grande número de indivíduos com frutos
maduros. As demais espécies apresentavam frutos verdes e maduros
no mesmo período (Figura 9). No mês de março de 2011 a espécie Abrus
precatorius L. (Fabaceae) apresentou pico de frutificação. Através
aplicação do teste do Coeficiente de Correlação de Spearman entre
frutificação e precipitação, obteve-se como resultado (p = 0,7048 e
t=0,3849), resultado significativo entre precipitação e frutificação das
espécies.
Estudos realizados por Silva & Rodal (2009) mostraram que nas
áreas com precipitação baixa houve predomínio de vetores abióticos,
enquanto as áreas que apresentavam precipitação mais elevada
apresentaram vetores bióticos. Quirino et al. (2007), mostraram que
o período de frutificação das espécies estudadas foi influenciado pela

184
precipitação. O primeiro estudo mencionado acima foi realizado em
duas áreas com vegetação de caatinga e em remanescente de mata
atlântica, já o segundo foi desenvolvido apenas na caatinga.
O ecossistema na área de restinga da APA do Rio Mamanguape
apresentou uma grande frequência de espécies zoocóricas com
frutificação contínua ao longo do ano, fator importante para a
manutenção das espécies dependentes dos frutos como recursos tróficos.
Abelhas, insetos e aves foram considerados como principais
agentes polinizadores e dispersores, o que os tornam importantes
para a manutenção das espécies de plantas dessa área. Além disso, a
dispersão e a polinização são meios eficazes para controlar e manter a
diversidade biológica, podendo assim ser consideradas como um pré-
requisito para a regeneração dos ecossistemas.
O ecossistema na área de restinga da APA do Rio Mamanguape
apresentou uma grande diversidade de espécies vegetais que oferecem
recursos tróficos ao longo do ano para a biota local, fator de relevância
devido a este ambiente sofrer constantes mudanças físicas como
temperatura, salinização, disponibilidade de água e solo pobre em
nutrientes. Além disso, a polinização e a dispersão é um meio eficaz
para controlar e manter a diversidade biológica podendo assim ser
considerada com um pré-requisito para a continuidade dos ecossistemas.
Dessa maneira, podemos considerar a APA como uma área com extrema
relevância com quadros de alta riqueza ecológica que à qualifica como
importante ecossistema para conservação.

Figura 8. Tipologia de frutos em espécies da APA da Barra do Rio Mamanguape.

185
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 9. Frutificação das espécies em relação à precipitação na APA da Barra do Rio


Mamanguape.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNPq) pelas bolsas de Iniciação Científica e Produtividade em
Pesquisa; ao Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade
(ICMBIO) pelo apoio logístico e a Pedro Gadelha (Jardim Botânico de
João Pessoa) pela identificação do material botânico.

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195
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

M udanças na paisagem e impactos da área


urbana no comportamento da preguiça -
comum (B radypus variegatus S chinz , 1825)
na APA da B arra do R io M amanguape ,
P araíba , B rasil . 38

Elaine Pessoa Pedrosa39 , Rafaela Cândido de França40


e Carla Soraia Soares de Castro 41

Introdução

A fragmentação dos ambientes naturais vem se intensificando nas


últimas décadas, embora não seja um fenômeno ocasionado apenas por
ação humana, podendo ocorrer naturalmente no ambiente. O homem,
por suas ações diretas e indiretas, é colocado como agente modificador
da paisagem, sendo o principal responsável pelos processos de extinção
na atualidade (CUARÓN, 2000; JENKINS, 2003; PINHEIRO, 2008).
O processo de fragmentação tem como consequências a redução de
habitat, decréscimo na área dos fragmentos e aumento de áreas isoladas
(FAHRING, 2003).
A matriz que contorna essas áreas pode se tornar uma barreira ou
uma opção de rota migratória para os indivíduos, influenciando no fluxo
gênico e na distribuição das espécies. A matriz, a qualidade do habitat
e a distância entre os fragmentos exercem influência no tamanho e na
dinâmica das populações, no entanto, tais fatores podem ter uma maior
relevância para algumas espécies, dependendo das características
38  Parte dos dados foi publicada na forma de artigo científico. PEDROSA, E. P., CASTRO, C. S. S. Behavior
patterns of the common sloth (Bradypus variegatus Schinz, 1825) in urban and natural environments in Rio Tinto,
Paraíba state, Brazil. Brazilian Journal Ecology. São Paulo, pp.114 -122. 2014
39  Pós Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental,CCAE/UFPB Campus IV, Rio Tinto,PB
40  Pós Graduação em Zoologia, CCNE/UFPB, Campus I, João Pessoa,PB
41  Pós Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental, CCAE/UFPB, Campus IV, Rio Tinto, PB.
Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, CCAE/UFPB, Campus IV Rio Tinto,PB. Licença SISBIO/
IBAMA:32731

196
físicas e da capacidade de dispersão de cada espécie-alvo (LAURENCE
& VASCONCELOS, 2004; METZGER, 1999; RICKETTS, 2001).
Tomando como exemplo a preguiça-comum (Bradypus variegatus), os
fragmentos isolados por matrizes não florestais tornaram-se obstáculos
para o deslocamento dos indivíduos entre estas áreas, pois seus
membros pélvicos e torácicos são adaptados para locomoção em troncos
e galhos das árvores, se locomovendo no solo com grande dificuldade
(CUARÓN, 2000; KOWALSKI, 1981).
Indivíduos de preguiça-comum são encontrados em fragmentos
naturais e em pequenos habitats isolados nas áreas urbanas no
Município de Rio Tinto, na Paraíba. O município tem 8.903 ha de seu
território inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra
do Rio Mamanguape, abrangendo praticamente toda área urbana
conforme informa o Plano de Manejo:

A população residente na área da APA inclui


praticamente toda a zona urbana da sede municipal de
Rio Tinto/PB (incluindo a Vila Regina, situada em Terra
Indígena) e mais oito comunidades situadas na área
rural (Ilha do Aritingui, Tavares, Tanques, Saco, Praia
de Campina, Minhoto 3, Lagoa de Praia e Barra de
Mamanguape). (Plano de Manejo, página 17. BRASIL,
2013).

Sabe-se que o local onde está situada a cidade de Rio Tinto,


antes do seu processo de urbanização, era totalmente ocupada por
vegetação do Bioma Mata Atlântica que inclui os manguezais. As
modificações na paisagem começaram a ocorrer por volta de 1918, após
a chegada da família Lundgren, com a construção da cidade, ocorrendo
simultaneamente com a instalação da fábrica de tecidos (Companhia
de Tecidos Rio Tinto - CTRT), sendo este um processo acompanhado
por desmatamentos, drenagens, aterros em áreas de manguezais e
plantações de eucaliptos (PANET, 2002).
Antigos moradores relatam que indivíduos de preguiça-comum
habitam grupos de árvores no centro da cidade há mais de 50 anos,
porém não se sabe ao certo como eles chegaram até esses locais. As
hipóteses são que os indivíduos foram ficando isolados em tais ambientes
conforme as construções se expandiam ou que foram introduzidos,
pelo homem nessas áreas isoladas, impossibilitando o deslocamento
dos indivíduos até os fragmentos naturais (PEDROSA & CASTRO,
2014). Nesse sentido, o uso do geoprocessamento torna-se essencial
197
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

para identificar as mudanças ocorridas no ambiente, sejam de caráter


natural ou antrópico (MOTA, 2003). O geoprocessamento procura
mostrar o ambiente através de modelos computacionais, com bases
cartográficas apropriadas e de um sistema de referência correto com um
conjunto de ferramentas, estando entre elas o Mapeamento e Sistema de
Informação Geográfico (SIG) (ALVES, 2007). Com esse procedimento é
possível identificar os principais obstáculos responsáveis por tornar as
preguiças isoladas no centro da cidade de Rio Tinto, podendo também
dar suporte para uma melhor compreensão das possíveis respostas
dessa espécie quando restrita ao ambiente urbano.

Características da preguiça-comum (Bradypus variegatus)

Conhecida popularmente como preguiça-comum ou preguiça-


de-três-dedos, por apresentar três garras nos membros posteriores e
inferiores (NOWAK, 1999), a espécie Bradypus variegatus (SCHINZ,
1825) pertence à superordem Xenarthra, estando inclusa na ordem
Pilosa, constituída por tamanduás e preguiças. Todas as espécies atuais
encontram-se divididas entre os gêneros Bradypus e Choloepus. O
gênero Bradypus compõe a família Bradipodiae, estando representada
pelas espécies Bradypus variegatus Schinz, 1985, Bradypus tridactylus
Linnaeus, 1758, Bradypus torquatus Illiger, 1811, Bradypus pigmeaus
Anderson & Handley, 2001. Já o gênero Choloepus, compõe a família
Megalonichidade, formada apenas por duas espécies, Choloepus
hoffmanni Peters, 1858, Choloepus didactylus Linnaeus, 1758.
A preguiça-comum apresenta a maior distribuição na região
neotropical entre as demais espécies, ocorrendo desde a região Sudeste
do Brasil até o norte de Honduras (MORAES-BARROS et al., 2010).
No Brasil, ocorre em áreas florestadas da Amazônia e mata atlântica,
estando ausente no bioma caatinga e no Estado de Santa Catarina
(FONSECA et al. 1996; PAGLIA et al. 2012). Seu status de conservação
pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) é pouco
preocupante, não estando ameaçada de extinção, porém a degradação
do habitat, a comercialização para turistas e em mercados públicos para
uso alimentício e medicinal, são ameaças ao seu estado de conservação
(MORENO & PLESE, 2006; SUPERINA et al., 2010).
O hábito folívoro da preguiça-comum requer adaptações
morfológicas especiais como, por exemplo, dentição adaptada para a
trituração de folhas, apresentando apenas a presença de molares, e um
estômago grande, dividido em quatro câmaras, ocorrendo fermentação
198
nas três primeiras e, na quarta, a ação de ácidos e de enzimas (CORK &
FOLEY, 1991). A alimentação folívora é energeticamente desfavorável
(MACNAB, 1985), implicando em metabolismo lento, cuja regulação
metabólica é favorecida por meio da variação na temperatura corporal,
em vez da taxa metabólica (MACNAB,1978).
Além disso, é um endotérmico imperfeito, realizando a
termorregulação através da exposição à luz solar, alterando
substancialmente a temperatura do corpo (MONTGOMERY &
SUNQUIST, 1975). É recicladora de nutrientes (MORENO et al., 2008)
e tem o hábito de defecar e urinar na base das árvores, devolvendo ao
sistema solo-planta uma parcela dos nutrientes que foram retirados
(MONTGOMERY, 1983). A sua pelagem é formada por pelos longos
e grossos, adquirindo coloração esverdeada em períodos chuvosos
devido à presença de algas verdes da espécie Trichophilus welckeri
(SUUTARI et al., 2010). Tais algas auxiliam na camuflagem da espécie
e também servem como alimento para mariposas e outros artrópodes
que podem ser encontrados na pelagem dos indivíduos (AIELLO, 1985).
Os machos distinguem-se das fêmeas por apresentarem no dorso uma
estrutura composta de pelos curtos, negros, com as bordas alaranjadas,
denominada de especulum (WETZEL & AVILLA-PIRES, 1980). Os
indivíduos dessa espécie possuem 8 ou 9 vértebras cervicais, diferente
de outros mamíferos que possuem apenas 7, possibilitando movimentar
a cabeça em até 270° (NOWAK, 1999).

A presença da preguiça-comum nos ambientes urbanos

As interações ecológicas dos indivíduos com o seu ambiente


podem ser influenciadas pelo espaço físico, sendo esse considerado um
dos principais fatores para dimensão do nicho de uma espécie (PIANKA,
1999; SCHOENER, 1974) que pode estar condicionado à qualidade do
habitat dentro da sua área de vida. Para a preguiça-comum, essas áreas
precisam ser arborizadas com copas conectadas, uma vez que esses são
uns dos elementos base para composição do seu habitat.
A matriz no entorno e a distância entre os fragmentos exercem
influência no tamanho e na dinâmica das populações naturais
(LAURENCE & VASCONCELOS, 2004; METZGER,1999), podendo
limitar o tamanho da área de vida e o uso do espaço pelas preguiças. A
área de vida representa o espaço percorrido pelo indivíduo em busca de
alimento, acasalamento e cuidado com os filhotes (BURT, 1943). Para a

199
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

preguiça-comum, essa área pode ser caracterizada como o conjunto de


copas de árvores (MONTGOMERY & SUNQUIST, 1975).
Relatos de indivíduos de preguiça-comum em fragmentos
florestais isolados (MORAES-BARROS et al., 2010, PEDROSA, 2013)
e sua presença em ambientes urbanos (MANCHEST & JORGE,
2003; PEDROSA & CASTRO, 2014) têm chamado a atenção dos
pesquisadores. A presença da preguiça-comum em áreas urbanas é
uma das consequências do avanço da urbanização, bem como na sua
introdução nesse tipo de ambiente são algumas das interferências
antrópicas impactantes sobre a espécie (SUPERINA et al., 2010;
PEDROSA & CASTRO, 2014, PEREIRA, 2015). Os indivíduos que
habitam os fragmentos cortados pelas estradas e rodovias correm
o risco de serem atingidos por automóveis ao tentar atravessar as
rodovias em direção à outra porção do fragmento, fazendo com que essa
espécie esteja nos registros da fauna atropelada (REYNIER et al., 2012,
OLIVEIRA & LATINI, 2013).
Ademais, a paisagem natural, entrecortada pelo tecido urbano,
pode impedir os indivíduos de deslocarem-se até os fragmentos devido à
matriz urbanizada. Outro problema é a concepção de animais silvestres
em áreas urbanas devido ao valor estético (DITCHKOFF et al., 2006),
sendo um dos motivos pelos quais o homem introduz os animais
silvestres em praças e em outros espaços públicos há algumas décadas
(CONSENTINO, 2004). Apesar de a presença da preguiça-comum em
praças atrair a atenção das pessoas, relatos de captura para o tráfico
de animais silvestres, quedas de indivíduos, interações agonísticas,
abandono precoce de filhotes pelas mães e choques elétricos são
registrados em ambientes urbanos (XAVIER, et al., 2010, PEDROSA &
CASTRO, 2014, PEREIRA, 2015; SILVA & CASTRO, 2015).
O presente estudo tem o objetivo de entender como as
mudanças na paisagem e os impactos do ambiente urbano influenciam
no comportamento da preguiça-comum (Bradypus variegatus).
Especificamente, estimar o tamanho da área de vida, descrever o
padrão comportamental, a variação no número de indivíduos com base
em mudanças na paisagem e nas interferências dos elementos urbanos
e das atividades antrópicas.

200
Material e Métodos

Área de estudo
O estudo foi realizado na Praça João Pessoa, na cidade de Rio
Tinto, localizada a 53km da cidade de João Pessoa (0,6º4’23.29”S),
capital do Estado da Paraíba. Na cidade de Rio Tinto são encontrados
fragmentos de floresta, sendo um deles parte da Reserva Biológica
Guaribas (SEMA III), rios, estradas, construções urbanas e o Campus
IV da UFPB (Figura 1a). A Praça caracteriza-se pela presença de casas,
bares e restaurantes. Nesse local, há nove figueiras (Ficus microcarpa
L.) do lado esquerdo da Praça, mas os indivíduos de preguiça-comum
concentram-se em apenas oito figueiras, estando todas conectadas
através de suas copas, o que possibilita a locomoção dos mesmos (Figura
1b). O Município de Rio Tinto tem 8.903 ha de seu território inserido
na Área de Proteção Ambiental (APA) Barra do Rio Mamanguape, de
forma que a Praça João Pessoa está na área de abrangência da APA
(Figura 1c).

Figura 1. Localização da cidade de Rio Tinto e os principais elementos da paisagem (a).


Elementos urbanos (casas, bares e restaurantes) que caracterizam a Praça João Pessoa,
Rio Tinto, PB (b). Limite da APA Barra do Rio Mamanguape e localização da Praça na
área de abrangência da APA (c).
Fontes: (a) mapa elaborado por Rafaela França em 2015; (b) Foto de Elaine Pedrosa em
2014 e (c) imagem do Google Earth (obtida em 07/2012) presente no Plano de Manejo da
APA Barra do Rio Mamanguape.

201
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Coleta de dados
A coleta de dados comportamentais dos indivíduos que habitam
as figueiras na Praça João Pessoa abrangeu o período de abril de 2011
a dezembro de 2012. A distribuição angular e organizada das figueiras
proporcionou um melhor campo de visualização do observador para os
indivíduos, sendo possível realizar observações também de interações
agonísticas. Para as observações do padrão comportamental e da
área de vida, foi utilizado o método de “varredura instantânea”
(ALTMANN, 1974) com registros a cada 5 minutos, que consiste no
registro instantâneo dos comportamentos exibidos pelos indivíduos
que estão no campo de visão do observador. Para as interações
agonísticas, os dados foram registrados pelo método de “todas as
ocorrências” (ALTMANN, 1974), em que os comportamentos foram
registrados à medida que foram exibidos, bem como o sexo e a classe
etária dos indivíduos envolvidos nas interações agonísticas.
Foram considerados para fins de registros os comportamentos:
1) parado (P), no qual a preguiça não exibe movimentos na cabeça e
nos membros do corpo, podendo estar sentada, deitada, pendurada
ou com os seus membros anteriores e posteriores abertos apoiados
no substrato; 2) dormindo (DR), quando a preguiça está com a cabeça
baixa e seus membros agarrados ou apoiados ao substrato e sem
apresentar movimentos, com o corpo curvado e, em algumas ocasiões,
assumindo um formato arredondado; 3) deslocando (DE), quando a
preguiça executa qualquer deslocamento realizado com movimentos
alternados dos seus membros pélvicos e torácicos apoiados no
substrato. O movimento pode apresentar uma combinação alternada
dos membros torácicos direito e pélvico esquerdo, torácico esquerdo e
pélvico direito. Os deslocamentos também podem ser feitos através
de movimentos acrobáticos do corpo entre os galhos; 4) comendo
(C), a preguiça, com o auxílio de um dos membros ou esticando o
pescoço, leva à boca o alimento (folhas) e o mastiga; 5) catando (CT),
a preguiça sentada, deitada, pendurada ou de cabeça para baixo, com
o auxílio das garras exibe movimentos rápidos e repetitivos com uma
das garras ou alternando tais movimentos com as duas garras sobre
o pelo; 6) atividades fisiológicas (AF), a preguiça desce da copa em
direção à base da figueira junto ao solo e defeca e/ou urina. Nas áreas
urbanas, a preguiça também defeca e urina pendurada nos galhos
das extremidades das figueiras, estando suspensa apenas pelos seus
membros torácicos.

202
Os comportamentos agonísticos (AG) podem ser exibidos sem
contato físico, nos quais o indivíduo ergue um dos membros torácicos,
exibindo suas garras para o oponente, mantendo os outros membros
agarrados ao substrato. Nessa categoria também estão incluídas
agressões com contato físico, onde um dos indivíduos se mantém preso
ao substrato pelos seus membros pélvicos e um torácico, levantando
o outro membro, podendo bater ou puxar e/ou apertar com força sua
garra em qualquer parte do corpo do seu oponente. Também são
descritas para o comportamento agonístico vocalizações emitidas pelo
oponente durante o conflito.
As mudanças na paisagem da Praça João Pessoa e os impactos
dos elementos urbanos foram registrados de janeiro de 2013 a julho
de 2015. Para isso, foram gerados mapas por geoprocessamento em
ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG) para caracterizar
o ambiente urbano e suas mudanças na Praça João Pessoa. Para
estimar o número de indivíduos nas figueiras, todas as copas das
figueiras foram observadas e, conforme os indivíduos foram avistados,
o registro foi inserido para a contagem.
Os indivíduos foram diferenciados por características físicas, cor
ou manchas na pelagem. Para estimar a idade foram considerados: 1)
filhote - quando o indivíduo estiver sob o cuidado parental da mãe ou
quando o mesmo é encontrado sozinho e apresenta um pequeno porte
(Figura 2); 2) subadulto - indivíduos com tamanhos maiores que os
filhotes e menores que os adultos; 3) adulto - indivíduos de tamanho
superior ao de subadulto. Os machos foram diferenciados das fêmeas
através da presença do especulum, caracterizado por uma mancha
preta nos pelos na região dorsal das preguiças machos, facilitando a
identificação dos sexos (Figura 3).
Por meio de caminhadas em torno da distribuição das figueiras,
de forma que todas as árvores em que havia preguiças foram marcadas
com fitas e, posteriormente, tiveram os pontos georreferenciados
com o auxílio do aparelho GPS (Global Positional System) Etrex®10
Garmin, com os pontos representados em UTM (Universal Transversa
de Mercator). Também foi calculado o tamanho da área de vida
utilizando a função (calculo da área) desse instrumento.

203
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 2. Filhote de preguiça-comum (Bradypus variegatus). Foto: Elaine Pedrosa

Figura 3. Macho adulto de preguiça-comum com especulum na região dorsal. Foto:


Elaine Pedrosa

Análise estatística
Todas as categorias comportamentais registradas foram
submetidas ao teste de normalidade Shapiro–Wilk (p= 0,05), onde foi
obtida uma distribuição não paramétrica dos dados (p<0,05). Devido

204
à natureza das amostras, foi aplicado aos dados o teste de Kruskal-
Wallis, seguido do teste de Dunn, para comparação múltipla entre os
postos. Foi considerado o nível de significância de 5%. Esses testes
foram utilizados para verificar se há diferenças significativas entre
os comportamentos exibidos. Todas as análises estatísticas foram
realizadas no programa BioEstat 5.3.

Resultados
A proporção de comportamentos exibidos mostrou que o
comportamento parado (P) teve maior predominância, representando
32,36% dos registros. Já o comportamento deslocando (DE) apresentou
o percentual de 22,39%, o dormindo (DR) 18,14%, o comendo (C) 12,65%
e o catando (CT) 13,51%. Os comportamentos agonísticos (AG: 0,73%) e
as atividades fisiológicas, urinar e defecar (AF: 0,22%), apresentaram
os menores percentuais (Figura 4).

Figura 4. Percentual de comportamentos exibidos por indivíduos de preguiça-comum


(Bradypus variegatus) na Praça João Pessoa, Rio Tinto, PB.

Alguns indivíduos foram observados defecando na base das


figueiras (Figura 5), conforme fazem em ambiente natural, e outros
dependurados nos galhos das figueiras (Figura 6). Nas interações
agonísticas foi observada a exibição de uma das garras anteriores,
representando uma postura de ameaça (Figura 7a). Em tais interações
ocorreram também tapas e puxões com o uso das garras anteriores no
corpo ou nos membros do outro indivíduo, provocando o seu desequilíbrio

205
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

e muitas vezes resultando na sua queda (Figura 7b). Tais interações


foram acompanhadas por vocalizações agudas, com durações muito
curtas.

Figura 5. Indivíduo adulto de preguiça-comum (Bradypus variegatus) defecando na base


de uma figueira na Praça João Pessoa, Rio Tinto, PB. Foto: Carla Castro

Figura 6. Indivíduo adulto de preguiça-comum (Bradypus variegatus) defecando


pendurado nos galhos de uma figueira na Praça João Pessoa, Rio Tinto, PB. Foto: Cássia
Pereira da Silva.

206
Figura 7. Exibição de garras nas interações agonísticas entre indivíduos adultos de
preguiça-comum (a). Indivíduo adulto de preguiça-comum puxando o membro posterior
de outro indivíduo nas interações agonísticas (b). Desenhos: Elaine Pedrosa.

Diferenças significativas foram encontradas pelo teste de kruskal


Wallis (H= 12,125 p =0,0164) para os comportamentos exibidos na
Praça, havendo diferenças entre as categorias parado (P) e comendo
(C), parado (P) e catando (CT), deslocando (DE) e comendo (C) (Figura
8).

Figura 8. Diferenças entre as médias dos postos apresentadas pelo teste de Kruskal
Wallis, seguida do teste de Dunn para os comportamentos exibidos por indivíduos de
preguiça-comum (Bradypus variegatus) na Praça João Pessoa. Os valores de p são
mostrados em cima de cada barra.

207
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

O número de indivíduos e as classes sexo-etárias variaram em


função dos nascimentos, óbitos e introduções, pelos moradores da
microrregião do litoral norte, de novos indivíduos de preguiça-comum.
No início do estudo, havia 9 machos adultos, 2 fêmeas adultas, 1 filhote
e 1 subadulto, totalizando 13 indivíduos nas figueiras da Praça João
Pessoa. Ao longo do ano de 2011 ocorreram 2 introduções de fêmeas,
2 introduções de macho, 1 óbito de fêmea adulta, 1 óbito de macho
adulto, 4 nascimentos e 5 quedas de filhotes, sendo que 4 filhotes
foram a óbito e 1 foi encaminhado para o CETAS (Centro de Triagem
de Animais Silvestres), totalizando 14 preguiças nesse ano (Tabela
1). Em 2012, 5 preguiças foram introduzidas. Foi possível identificar,
dentre os novos indivíduos, 1 fêmea e 2 machos adultos. Ocorreram
também 3 nascimentos, desses 1 filhote foi a óbito e 2 filhotes foram
encaminhados para o CETAS, chegando ao final de 2012 com 18
indivíduos (Tabela 1).

Tabela 1. Variações no número de indivíduos de preguiça-comum (Bradypus variegatus)


na Praça João Pessoa, Rio Tinto, PB em 2011e 2012.
Meses Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
(2011)
13 11 12 12 - 12 12 13 14
Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
(2012)
14 - 14 14 14 17 17 - - 16 16 18

Dos indivíduos que morreram adultos, 2 foram encontrados em


cima das copas das figueiras, já os filhotes foram encontrados caídos
no chão da Praça João Pessoa. Entre as preguiças que foram a óbito,
foi possível fazer medições biométricas em três indivíduos, obtendo:
50cm do comprimento do corpo, 5,5cm do comprimento da cauda e
2,3kg para o macho adulto encontrado morto em cima do tronco da
figueira; 57cm do comprimento do corpo, 4,2cm do comprimento da
cauda e 4,12 kg para a fêmea adulta encontrada no solo (Figura 9);
18,5cm do comprimento do corpo, 3cm do comprimento da cauda e
0,16g para um filhote encontrado no solo (Figura 10). Nos anos de
2011 e 2012, os nascimentos ocorreram nos meses de abril, maio,
junho, julho e dezembro.

208
Figura 9. Fêmea adulta de preguiça-comum (Bradypus variegatus) encontrada morta
no solo da Praça João Pessoa. Foto: acervo do projeto “Preguiças urbanas, Rio Tinto, PB”
(UFPB).

Figura 10. Filhote de preguiça-comum (Bradypus variegatus) encontrado morto no solo


da Praça João Pessoa. Foto: Elaine Pedrosa

209
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

A densidade de indivíduos nas figueiras da Praça João Pessoa


foi de 68 ind/ha numa proporção de aproximadamente 4 machos para
cada 1 fêmea. O tamanho da área de vida, que corresponde a área das
copas das 8 figueiras, foi de 2600m² (Figura 11). Mas, em maio de 2015
uma figueira caiu, aparentemente infestada por agentes patogênicos,
não suportando a pressão de ventos mais fortes (Figura 12).

Figura 11. Área de vida dos indivíduos de preguiça-comum (Bradypus variegatus),


correspondente às copas das 8 figueiras na Praça João Pessoa.
Mapa: Rafaela França.

210
Figura 12. Figueira caída na Praça João Pessoa, Rio Tinto, PB. Foto: Gerlane Bezerra.

Discussão

O comportamento parado (P) foi o mais exibido pelos indivíduos


de preguiça-comum. Em estudos realizados por Gilmore et al. (2001) e
Foley et al. (1995), as preguiças permaneceram a maior parte do tempo
em repouso, porém, nestes estudos, o comportamento parado (P), assim
como o comportamento dormindo (DR), foram incluídos na categoria
repouso, uma vez que os indivíduos não exibem movimentos em
ambas situações. Além disso, esses autores não fizeram o estudo geral
do comportamento do grupo de indivíduos, mas dos comportamentos
individuais, apresentando diferenças entre alguns indivíduos nos
padrões de atividades.
No nosso estudo, foi possível diferenciar os comportamentos
parado (P) e dormindo (DR) devido à facilidade de visualização na
Praça João Pessoa. Foi verificado quando o indivíduo está parado,
exibe pequenos movimentos nos membros sem haver deslocamento e
quando o mesmo está dormindo, assume uma postura curvada com
a cabeça baixa, chegando algumas vezes até assumir um formato
arredondado do corpo, mantendo essa postura durante várias horas.
Passar uma proporção maior do tempo sem deslocar (parado ou em
descanso) é comum para essa espécie, já que a alimentação folívora
é energeticamente desfavorável, resultando no baixo metabolismo
(MCCARTHY et al., 1999).

211
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

O comportamento deslocando (DE) pode estar associado às


introduções de indivíduos na Praça oriundos de outros locais, uma vez
que durante o monitoramento de indivíduos translocados, da espécie
Bradypus torquatus, foi registrado, nos seis primeiros meses, maior
frequência de deslocamentos de uma árvore para a outra (CHIARELLO
et al., 2004). Essa é uma implicação da dispersão dos indivíduos na
nova área de vida (CASSANO, 2006). O comportamento de catação (CT)
envolve a autolimpeza do corpo (CHIARELLO, 1998), sendo comum
para a espécie, porém, para QUEIROZ (1995), a catação estaria mais
relacionada com os processos de produção de calor. Essa poderá ser
uma estratégia para compensar os processos metabólicos da digestão
(MONTGOMERY & SUNQUIST, 1978).
Os comportamentos de urinar e de defecar pendurado nos galhos
das figueiras são específicos do ambiente urbano. Em ambiente natural,
os indivíduos defecam e urinam na base das árvores, devolvendo
parte dos nutrientes que foram retirados durante sua alimentação
(MONTGOMERY, 1983). Na Praça João Pessoa, tal comportamento
foi modificado por alguns indivíduos de preguiça-comum. Pedrosa &
Castro (2014) observaram que pessoas tocavam nas preguiças ou
ficavam muito próximas, quando estas desciam das copas até a base
das figueiras para defecar e/ou urinar. Ademais, Silva & Castro (2015)
registraram a dificuldade de alguns indivíduos em descer devido
ao acúmulo de lixo e entulhos na base das figueiras. Isso reflete os
impactos da paisagem urbana e de ações antrópicas no comportamento
dos indivíduos de preguiça-comum.
Contudo, as interferências da paisagem sobre os indivíduos
de preguiça-comum também se apresentam nos elementos urbanos
que os isolam e os impossibilitam de deslocar-se para fragmentos
florestais. Esse problema é crítico principalmente para as fêmeas e
para os filhotes de preguiça-comum. Apesar de haver registros de
reprodução entre os indivíduos que habitam as figueiras na Praça
João Pessoa, todos os filhotes morrem antes do período de desmame
ou logo após o nascimento (PEDROSA & CASTRO, 2014). Isso ocorre
porque, em ambiente florestal, quando os filhotes atingem a fase de
desmame, as mães mudam a área de vida, migrando para outros locais
para evitar competição por recursos (espaço e folhas) com sua prole
(MONTGOMERY & SUNQUIST, 1978). Porém, no ambiente urbano
as mães não conseguem realizar tal migração, resultando no abandono
precoce dos seus filhotes (PEDROSA & CASTRO, 2014). Outro fator
que agrava o problema é a introdução de novos indivíduos de preguiça-
comum nas figueiras da Praça João Pessoa. Isso contribui para a

212
elevada densidade de indivíduos nas figueiras, aumentando também a
competição entre fêmeas.
A competição pode ser uma das causas dos comportamentos
agonísticos entre indivíduos. Assim como as fêmeas, os machos
competem por recursos alimentares e também por fêmeas em períodos
de reprodução já que há uma desproporção sexual em relação ao
número de machos e o número de fêmeas. Tal competição se expressa
nos comportamentos agonísticos entre indivíduos, sendo esse tipo
de interação (agonística) pouco observada em ambientes florestais
(BEEBE, 1926; GREENE, 1989). A queda de uma das figueiras, que
compõe a área de vida dos indivíduos na Praça João Pessoa, modificou
a paisagem. Tal mudança reduziu o tamanho da área de vida de forma
a influenciar nos comportamentos dos indivíduos, já que parte dos
recursos alimentares (folhas jovens das figueiras) se perdeu. O fato dos
indivíduos estarem isolados na Praça João Pessoa e não terem como se
deslocar para os fragmentos florestais presentes na cidade de Rio Tinto
poderá aumentar a frequência de interações agonísticas.

Conclusões

O estudo mostra que os indivíduos de preguiça-comum são


sensíveis à paisagem urbana, modificando os comportamentos de
urinar e de defecar, apresentando também o abandono precoce dos
filhotes pelas mães e interações agonísticas entre indivíduos adultos
do mesmo sexo. As mudanças na paisagem (queda da figueira) tiveram
impacto no tamanho da área de vida. Os elementos que compõem a
paisagem urbana impossibilitam o deslocamento dos indivíduos até
os fragmentos florestais. Com isso, os indivíduos são obrigados a viver
em um ambiente com recursos limitados (espaço). A paisagem urbana
influencia na manutenção dessa população de preguiça-comum.
A translocação destes indivíduos para ambientes florestais requer
uma avaliação de quais fragmentos apresentam capacidade de suporte
para recebê-los. Um estudo sanitário detalhado é essencial para avaliar
a saúde dos indivíduos, de forma que não levem consigo patógenos para
os ambientes florestais e os transmitam aos indivíduos da espécie e
de outras espécies que lá habitam. Ademais, não há a garantia de que
todos os indivíduos sobreviverão em ambientes florestais, considerando
que muitos deles estão submetidos, há anos, a uma dieta restrita às
folhas de Ficus microcarpa L.

213
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Neste cenário é essencial a implantação de um Programa


de Educação Ambiental que não se limite a abordar a problemática,
da presença de indivíduos de preguiça-comum em área urbana,
pontualmente e/ou em datas comemorativas, mas que abranja e envolva
todos os segmentos presentes na Praça João Pessoa (moradores,
comerciantes e frequentadores de bares e de restaurantes). Faz-se
necessário um monitoramento permanente e contínuo por parte dos
órgãos ambientais para inibir as introduções de indivíduos, vindos de
outros locais, nas figueiras da Praça João Pessoa. Da mesma forma
a implantação de pontes suspensas, adequadas ao deslocamento dos
indivíduos de preguiça-comum, como forma de ampliar a área de vida,
além de um projeto de arborização da praça que proporcione um aporte
diversificado de espécies vegetais utilizadas para alimentação, em
ambientes florestais, por indivíduos de preguiça-comum, bem como
avaliação das figueiras que são antigas e apresentam elevado nível de
infestação por agentes patogênicos comprometendo suas estruturas.
Parte do município de Rio Tinto (8.903 hectares), incluindo a
Praça João Pessoa, está inserida na área de abrangência da APA da
Barra do Rio Mamanguape. Considerando o importante papel da APA
na preservação da fauna local, é primordial que a gestão desta Unidade
de Conservação, em parceria com a gestão municipal, contribuam com
as medidas aqui propostas, adotando como base e suporte, para tais
medidas, as informações científicas obtidas pelas pesquisas de longo
prazo desenvolvidas pela UFPB, Campus IV, com a espécie Bradypus
variegatus, na Praça João Pessoa.

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219
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Avaliação do campo térmico e projeções


microclimáticas: estudo de caso em ambiente
urbano inserido na APA da B arra do R io
M amanguape /PB 42

Joel Silva dos Santos 43, Anne Falcão de Freitas 44, Beatriz Barbalho de Melo 45,
Haymée Nascimento de Alencar 46, Nadjacleia Vilar Almeida 47

Introdução

No século XVIII, com a Revolução Científico-Tecnológica,


ocorreu uma grande transformação na capacidade produtiva humana
e de intervenção na natureza, gerando um crescimento econômico
desordenado, acompanhado da grande utilização de energia e
intensificação da exploração dos recursos naturais. A partir desse
mesmo período, também se verificaram o desencadeamento da
urbanização acelerada e o crescimento desordenados das áreas
urbanas (DIAS 2011). Vale destacar que, atualmente, mais de 50% da
população do mundo residem em áreas urbanas, com forte tendência
ao crescimento desordenado e à degradação dos recursos naturais
(GAITANI et al., 2011).
Com o crescimento desordenado das cidades, vários impactos
ambientais foram gerados nos mais diversos sistemas ambientais. O
crescimento da população associado ao consumismo desenfreado, vem

42  Parte do texto foi publicada na Revista Caminhos da Geografia. v. 15, n. 50, p. 89–99, 2014.
43  Bacharel e Licenciado em Geografia\UFPB; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente\PRODEMA-U-
FPB; Doutor em Recursos Naturais\UFCG. Professor do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente. Professor
do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
44  Bacharel em Ecologia e Licenciada em Biologia\ UFPB; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente\
PRODEMA-UFPB; Doutoranda no PRODEMA\UFPB
45  Bacharel em Ecologia\UFPB; Mestre em Engenharia Civil e Ambiental\ PPGECAM–UFPB.
46  Bacharel em Ecologia\UFPB
47  Bacharel e Licenciada em Geografia\UFPB; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente\PRODEMA\
UFPB; Doutora em Geografia\UFF. Professora do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente

220
cada vez mais comprometendo a qualidade de vida das populações
residentes nessas áreas, bem como, a sustentabilidade dos sistemas
ambientais. Dentre os sistemas ambientais afetados pela a ação
antrópica, pode-se verificar que o sistema atmosférico é um dos mais
comprometidos. A formação de ilhas de calor, a intensificação do
efeito estufa e o desconforto térmico são exemplos claros de alterações
climáticas em ambientes urbanos.
Segundo projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) (2007), o planeta passará por um aumento médio da
temperatura entre 1,8ºC a 4ºC até 2100. Embora ainda não seja consenso
entre os cientistas, o aquecimento global acarretará em impactos
ambientais significativos com perdas econômicas sociais e ambientais,
principalmente entre as populações residentes em áreas urbanas.
Nesses ambientes, vários estudos demonstram que mudanças
significativas na atmosfera urbana são provocadas principalmente pelas
diversas formas de uso e ocupação do solo, geometria das construções e
a constituição de seus materiais de revestimento, pois as trocas de calor
por convecção entre o solo e os edifícios aumentam o desconforto térmico
no espaço intraurbano (BOURBIA e BOUCHERIBA 2010; STERWART
e OKE 2010; ANDREOU e AXARLI 2012). Esse desequilíbrio térmico,
afeta a qualidade de vida das populações residentes em áreas urbanas
(MARTINI et al., 2013). Tal problemática também pode afetar
diretamente a saúde da população e, consequentemente, seu bem-estar
com o desconforto térmico e a formação das ilhas de calor (ÉGERHÁZI
et al., 2013).
Como pôde ser discutido, o crescimento desordenado das cidades
e a falta de planejamento ambiental adequado para cada região,
podem afetar as condições climáticas de uma determinada localidade,
o que pode trazer profundas influências sobre a qualidade de vida das
populações. Melo et al., (2010, p.2050), afirmam:

Mudanças na superfície da terra, através das


diversas formas de uso e ocupação do solo, têm gerado
transformações significativas nos sistemas climáticos de
áreas urbanas. A formação de ilhas de calor, inversão
térmica, poluição atmosférica, dentre outros processos
ocasionados pela ação antrópica, tem comprometido
cada vez mais a qualidade de vida das populações
residentes em centros urbanos e tem aberto um leque de
discussões a respeito da qualidade do ar desses centros,
associados diretamente ao planejamento ambiental de
áreas urbanas.
221
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Dessa forma, o estudo multifacetado e interdisciplinar que envolva


os mais diversos interesses e exigências que estão presentes nas cidades
faz-se necessário e imprescindível, visto que o ambiente urbano é
extremamente complexo. Mendonça, (2001, p.80) argumenta que:

Estudar a cidade, o fato urbano, a metropolização não é


atributo de nenhuma ciência em particular, isto porque
a cidade se constitui numa verdadeira encruzilhada,
onde se encontram diferentes realidades, dinâmicas,
interesses e saberes. Ela constitui por si só, um paradoxo
à realidade positivista moderna, seja porque explicita
diferenças ao concentrar homens e atividades num só
lugar, seja porque evidencia contradições básicas do
modo de produção moderno – ao impor, por exemplo,
a coexistência da miséria e da riqueza numa mesma
dimensão espaço temporal.

Por ser complexo em demasia, o estudo acerca do campo térmico


urbano aliado às consequências advindas do progresso das cidades
modernas, deve ser abordado de maneira ampla e urgente, pois diversos
estudiosos afirmam que a substituição das áreas verdes em detrimento
de espaços urbanos traz consequências que devem ser levadas em
consideração. Loboda e De Angelis (2005, p.131) preconizam:

No decorrer do processo de expansão dos ambientes


construídos pela sociedade, não se tem dado a devida
atenção à qualidade, sendo as questões ambientais e
sociais relegadas ao esquecimento. A qualidade de vida
urbana está diretamente atrelada a vários fatores que
estão reunidos na infraestrutura, no desenvolvimento
econômico social e àqueles ligados à questão ambiental.
No caso do ambiente, as áreas verdes públicas
constituem-se elementos imprescindíveis para o bem
estar da população, pois influencia diretamente a saúde
física e mental da população e no seu clima urbano.

Dessa forma, os estudos microclimáticos são de grande


importância, pois demonstram as dimensões da intervenção antrópica
no ambiente urbano. Com base nesses estudos, podem-se estabelecer
projeções, possibilitando a realização de um planejamento ligado à
mitigação dos impactos das alterações climáticas nesses ambientes.

222
É diante desse contexto que este estudo se apresenta,
considerando a importância do conhecimento da climatologia urbana
para o planejamento ambiental. O objetivo principal da pesquisa
é avaliar as condições do campo térmico urbano do Campus IV da
Universidade Federal da Paraíba. O trabalho também se propõe a
elaborar cenários futuros, considerando-se as projeções de aumento de
temperatura do quarto relatório de avaliação do IPCC (2007). Dessa
forma, esta pesquisa visa contribuir para o planejamento de políticas
públicas e a gestão sustentável do Campus IV da UFPB.

Material e Métodos

Área de estudo
A pesquisa foi realizada no Campus IV da Universidade Federal
da Paraíba – UFPB, localizado no município de Rio Tinto/PB, situado
na microrregião do Litoral Norte e na mesorregião da mata paraibana
no Estado da Paraíba. Vale salientar que o Campus IV encontra-se
dentro dos limites territoriais da Área de Proteção Ambiental (APA) da
Barra do Rio Mamanguape, como também, os municípios de Rio Tinto,
Marcação, Lucena e Baia da Traição (Figura 1).
A área de estudo está sob a influência dos ventos alísios de
sudeste durante todo o ano. O clima predominante se enquadra em
tropical chuvoso, de acordo com classificação Am, segundo Köeppen. A
área de estudo é caracterizada por duas estações bem definidas (seca
e chuvosa), predominantemente quente e úmida durante todo ano
(SANTOS, 2011).

223
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Figura 1. Localização geográfica do Campus IV-Litoral Norte/Universidade Federal


da Paraíba, no município de Rio Tinto, dentro dos limites da APA da Barra do Rio
Mamanguape, Paraíba, Brasil.

Campo de análise do sistema clima urbano


A análise do clima urbano através de descrições físicas do
espaço ocupado foi realizada com base na metodologia apresentada
por Monteiro (1976); Katzschner et al. (2002) e Costa (2007). O método
consiste em medições in loco e na análise das variáveis climáticas de
temperatura e umidade relativa do ar. A partir disso, foram realizadas
observações in loco para a caracterização da área de estudo e, de
acordo com as diferentes configurações da cobertura do solo, foram
selecionados cinco pontos (Figura 2) para o levantamento das variáveis,
temperatura e umidade relativa do ar. Para a coleta dos dados, foram
instalados Data Loggers Hobo® U10-003 (Resolução: Temperatura:
0,1°C em 25,0°C e RH: 0,07% em 25,0°C), programados para realizar
medições em intervalos horários, os quais foram acondicionados em
abrigos meteorológicos apoiados em tripé a uma altura aproximada de
1,5 metros do solo, em cada ponto. Posteriormente, cada ponto de coleta
foi georreferenciado (Tabela 1).
As medições foram realizadas durante os meses representativos
dos períodos distintos que ocorrem na área de estudo: período seco

224
(dezembro/2012, janeiro e fevereiro/2013) e período chuvoso (maio,
junho e julho/2013).

Figura 2. Campus IV-Litoral Norte/Universidade Federal da Paraíba, com a localização


dos pontos de medição.
Fonte: Freitas et. al., (2014).

A localização geográfica dos pontos monitorados apresentada na


Figura 2 está disposta na Tabela 1.

Tabela 1. Localização geográfica, em UTM, das amostras experimentais no Campus IV-


Litoral Norte/Universidade Federal da Paraíba, no município de Rio Tinto, dentro dos
limites da APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.

Coordenadas Coordenadas
Pontos Local
UTM (X) UTM (Y)
P1 Praça 1 270779 9247194
P2 Resquício de mata atlântica 270640 9247202
P3 Praça 2 270681 9247164
P4 Biblioteca 270706 9247283
P5 Salas 270665 9247134

225
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Mapeamento do uso e cobertura do solo


O mapa de localização da APA da Barra do Rio Mamanguape foi
elaborado utilizando o Sistema de Informações Geográficas (SIG), no
qual foram inseridos arquivos no formato shapefile do limite da APA da
Barra do Rio Mamanguape, disponibilizado no site do ICMBio (Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Os arquivos shapefile
dos limites territoriais dos municípios e do Estado da Paraíba foram
adquiridos no GeoPortal AESA.
Para o mapeamento do uso e cobertura do solo, foi utilizada a
técnica de fotointerpretação em uma imagem georreferenciada com
resolução espacial de 1m do satélite Quick Bird (Digital Globe, 2014).
O índice de cobertura do solo foi obtido pela contribuição percentual
das seguintes classes de cobertura do solo: (a) cobertura cerâmica, (b)
cobertura concreto, (c) gramínea, (d) solo exposto, (e) vegetação arbórea
e (f) vegetação arbustiva para a caracterização da área total de cada
ponto experimental. O mapeamento e o índice de cobertura do solo
foram obtidos no SIG.
A utilização das técnicas de geoprocessamento é imprescindível
para integrar e gerenciar informações diversas no que tange ao
ordenamento territorial e à tomada de decisões.

Nível de conforto térmico


Para medir o conforto térmico ambiental, os dados foram
submetidos à equação que permite o cálculo do Índice de Desconforto
Térmico de Thom (1959). Embora classificado como subjetivo, esse
índice é um dos mais utilizados em estudos de clima urbano (SANTOS,
2011; SANTOS et al., 2012). Esse índice estabelece uma relação entre
a temperatura média e a umidade relativa do ar, com a finalidade de
se obter resultados quanto ao conforto ou estresse experimentados em
ambiente físico modificado. O índice pode ser obtido pela equação:

IDT = T – (0,55-0,0055 UR)(T -14,5)

Onde T é a temperatura do ar (ºC) e UR é a umidade relativa do


ar (%).

Na caracterização do nível de desconforto térmico, foi utilizada


a classificação de Santos (2011), apresentada na Tabela 2. Nessa
226
classificação a faixa de variação dos níveis de conforto térmico expresso
por esse índice foi ajustada às condições climáticas das regiões tropicais,
a partir de um estudo na cidade de João Pessoa por Santos (2011).

Tabela 2. Faixa de classificação do índice de desconforto de Thom (IDT) ajustado às


condições climáticas da cidade de João Pessoa.

Faixas IDT (ºC) Nível de desconforto térmico

1 IDT < 24,0 Confortável

2 24 ≤ IDT ≤ 26,0 Parcialmente confortável

3 26 < IDT < 28,0 Desconfortável

4 IDT ≥ 28,0 Muito desconfortável

Fonte: Santos (2011).

Cenários do índice de conforto térmico


A partir das condições do Índice de Desconforto Térmico (IDT),
foram elaborados cenários dos níveis de conforto térmico para os anos
de 2020, 2030 e 2040 na área de estudo, em função das projeções do
IPCC e de sua previsão para o aumento médio das temperaturas
globais (0,5 °C) , através do SIG.O Sistema de Informações Geográficas
(SIG) é imprescindível para a elaboração de cenários climáticos, pois
a sua capacidade de integrar e interagir com diferentes informações
possibilita uma visão insterdisciplinar do problema a ser investigado
e se constitui em ferramenta imprescindível para o planejamento
ambiental.

Resultado e Discussão

Descrição do uso e da cobertura do solo


Os resultados da classificação da cobertura do solo são
apresentados por amostras a seguir e podem ser visualizados na
Figura 3.
Praça 1 (P1): apresenta material de cobertura do solo
predominantemente do tipo concreto e em menor quantidade de
cerâmica e solo com gramíneas. Com isso, pode-se perceber que a
maior parte do material de revestimento é impermeável e apresenta
227
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

propriedades térmicas de retenção e manutenção de calor. Além disso,


o seu entorno é caracterizado por edificações de um a dois pavimentos,
impedindo a circulação do vento predominante (sudeste) para a
dissipação do calor.
Remanescente de Mata Atlântica (P2): este ponto foi
inserido contíguo à Área de Preservação Permanente (APP), que é
um remanescente de mata atlântica localizado em um dos limites do
espaço intraurbano do Campus IV, assim como próximo a uma mancha
de vegetação arbustiva e edificação com um pavimento, sendo a maior
parte da área permeável.

Figura 3. Mapa de cobertura do solo do solo no Campus IV-Litoral Norte/Universidade


Federal da Paraíba.
Fonte: Freitas et. al., (2014).

Praça 2 (P3): esse ponto de medição está localizado em uma área


totalmente impermeabilizada, com material de revestimento do tipo
concreto. Não apresenta cobertura vegetal e é cercada por edificações de
um a dois pavimentos, atuando como barreira para a passagem do vento
predominante (sudeste).
Biblioteca (P4): apresenta material de cobertura do solo
predominantemente do tipo concreto e em menor quantidade cerâmica

228
e solo exposto, sem cobertura vegetal. Com isso, pode-se perceber que
a maior parte do material de revestimento é impermeável, responsável
pela retenção de calor e diminuição do albedo. O entorno desse ponto
é caracterizado por edificações de um a dois pavimentos, impedindo a
circulação do vento predominante.
Salas (P5): esse ponto encontra-se situado em uma área com
predominância do solo exposto e permeável, seguido do revestimento do
tipo cerâmico. Apresentando uma edificação com dois pavimentos no seu
entorno.

Comportamento das condições do campo térmico do Campus IV


A análise do campo térmico do espaço do Campus IV e sua relação
com a descrição física do uso e da cobertura do solo evidenciaram
a presença de setores com cobertura constituídos por materiais
impermeáveis (cerâmica e concreto) e permeáveis (com solo exposto,
gramíneas, vegetação arbórea e arbustiva).
Os dados coletados pelos termohigrômetros instalados nos
diferentes pontos revelam que a variação térmica média foi de 0,5 ºC no
período chuvoso e 0,3 ºC no período seco. A variação média da umidade
relativa do ar foi de 2% no período chuvoso e 2,4% no período seco.
Durante o período chuvoso e o período seco, pôde-se observar
que os pontos com as maiores médias de temperatura e as menores
taxas médias de umidade relativa do ar (Pontos P1, P3, P4 e P5) estão
localizados em áreas que se caracterizam pela ausência de cobertura
vegetal e por forte concentração de edificações que bloqueiam a ventilação
local. O ponto P2 apresentou os maiores índices de umidade relativa do
ar e menores média de temperatura do ar, fato atribuído à presença de
vegetação arbórea e arbustiva (Tabela 3). Áreas vegetadas diminuem a
temperatura e aumentam a umidade relativa do ar, por absorverem os
raios solares, proporcionando o sombreamento da área e o processo de
evapotranspiração (GOMES e LAMBERTS 2009).
Esses resultados repercutem nas condições de conforto térmico,
podendo ser verificado que o P2 foi classificado como parcialmente
confortável e os demais pontos (P1, P3, P4 e P5) estavam desconfortáveis
durante o inverno (Figura 4A). Já no período seco, o IDT foi classificado
como desconfortável para todos os pontos (Figura 4B). A média do
índice de Thom na área de estudo foi de 26,4 ºC no período chuvoso e
27,9 ºC no período seco, segundo a classificação de Santos (2011). O
índice se enquadra dentro da faixa 3, indicando que as pessoas sentem-

229
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

se desconfortáveis nesses pontos (Tabela 3). Logo, pode-se inferir que


ocorrem diferentes condições térmicas devido às diferenças no uso e na
ocupação do solo, nas quais as áreas pavimentadas sem sombreamento
apresentaram maiores temperaturas e menores umidades, sendo
consideradas desconfortáveis, principalmente no período seco, enquanto
áreas permeáveis e sombreadas por árvores são mais confortáveis pela
baixa temperatura e alta umidade (HWANG et al., 2010).

Tabela 3. Temperatura, umidade relativa do ar e Índice de Thom (IDT) das amostras no


Campus IV-Litoral Norte/Universidade Federal da Paraíba, no município de Rio Tinto.

Pontos Temperatura Umidade IDT


Chuvoso Seco Chuvoso Seco Chuvoso Seco
P1 25,9 27,2 85,3 78,1 26,5 27,9
P2 25,5 27,0 86,4 78,9 25,9 27,7
P3 25,8 27,2 84,4 77,9 26,4 27,9
P4 26,0 27,3 86,3 78,2 26,6 28,0
P5 25,9 27,2 86,0 76,5 26,4 27,9
Média 25,8 27,2 85,7 77,9 26,4 27,9

Figura 4. Representação do Índice de Conforto Térmico nos pontos experimentais,


durante o período chuvoso (A) e o período seco (B) no Campus IV-Litoral Norte/
Universidade Federal da Paraíba, no município de Rio Tinto.

230
Pode-se constatar também que os distintos tipos de materiais de
revestimento das amostras experimentais apresentam propriedades
térmicas diferenciadas, o que implica em alterações no campo térmico
e formação de microclimas variados, determinando diferentes valores
no que se refere à temperatura (Figura 5) e umidade relativa do ar
(Figura 6) dos diferentes pontos de monitoramento. A área constituída
por vegetação atuou como regulador térmico da área de estudo. Tais
resultados são corroborados por Stewart e Oke (2009; 2010), Shashua-
Bar et al. (2011), Alves e Biudes (2012) e Balogun et al. (2012).

Figura 5. Média da temperatura do ar dos pontos experimentais durante o período


chuvoso e o período seco no Campus IV-Litoral Norte/Universidade Federal da Paraíba,
no município de Rio Tinto.

Figura 6. Média da umidade relativa do ar dos pontos experimentais durante o período


chuvoso e o período seco no Campus IV-Litoral Norte/Universidade Federal da Paraíba,
no município de Rio Tinto.

231
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

Cenários
No que diz respeito às projeções para o ano de 2020, apenas o ponto
P2 apresenta-se desconfortáveis no inverno (Figura 7A). Já durante
o período seco todos os pontos apresentam-se muito desconfortáveis
(Figura 7B).
Nos anos 2030 e 2040, nos períodos climáticos que caracterizam a
região, todos os pontos entram na classificação do Índice de Thom como
muito desconfortáveis (Figura 8).

Figura 7. Cenário de IDT em 2020 dos pontos experimentais durante o período


chuvoso (A) e período seco (B) no Campus IV-Litoral Norte/Universidade Federal da
Paraíba, no município de Rio Tinto.

232
Figura 8. Cenário de IDT em 2030 e 2040 dos pontos experimentais durante o período
chuvoso (A) e período seco (B) no Campus IV-Litoral Norte/Universidade Federal da
Paraíba, no município de Rio Tinto.

Os valores do Índice de Desconforto Térmico dos pontos, em


função das projeções do IPCC e de sua previsão para o aumento médio
das temperaturas globais (0,5ºC/ano), nos anos de 2020, 2030 e 2040,
estão dispostos na Tabela 4, abaixo:

Tabela 4. Índice de Desconforto Térmico das amostras em função das projeções do IPCC
no Campus IV-Litoral Norte/Universidade Federal da Paraíba, no município de Rio Tinto.

Pontos Inverno Verão


2020 2030 2040 2020 2030 2040
P1 28,2 32,8 37,4 28,7 33,1 38,8
P2 27,9 32,6 37,2 28,7 33,1 37,5
P3 28,1 32,6 37,2 28,8 33,2 38,5
P4 28,3 33,0 37,6 28,9 33,3 38,7

233
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental

P5 28,2 32,8 37,4 28,6 32,9 38,3


Média 25,8 27,2 85,7 77,9 26,4 27,9

De forma geral, os resultados das projeções demonstram


um aumento no índice de desconforto térmico para as pessoas que
frequentarão o Campus IV, nas décadas de 2020, 2030 e 2040,
apresentando-se mais proeminentes no período seco, quando ocorre
maior incidência dos raios solares, e as áreas construídas tendem
a absorver e manter o calor no ambiente urbano. Tal calor além de
ter reflexo direto no conforto térmico da população, pode ocasionar
uma série de efeitos nocivos à saúde. Segundo Coelho et al. (2010), os
principais efeitos são: fadiga, estresse e dor de cabeça.

Conclusão

Os resultados indicam que o uso e a ocupação desordenada do


solo associado com a supressão das áreas arborizadas, para dar lugar a
novas construções no Campus IV da UFPB, se refletem em alterações
no campo térmico da área de estudo.
Como demonstrado nesta pesquisa, o ponto P2, que possui a
presença de vegetação, apresentou as menores temperaturas e uma
maior taxa de umidade relativa do ar, quando comparado com os
demais pontos (P1, P3, P4 e P5), os quais apresentam materiais de
recobrimento impermeáveis e maiores temperaturas.
O cálculo do IDT, demonstrado pelas análises efetuadas no
trabalho, apontam índices que vão de parcialmente confortável no ponto
P2 a desconfortável nos pontos P1, P3, P4 e P5 durante o período chuvoso,
e desconfortável em todos os pontos (P1, P2, P3, P4 e P5) no período
seco. O P2 foi a amostra que obteve menores índices de desconforto,
demonstrando a importância da vegetação para amenização do IDT e
contribuição para a qualidade ambiental.
Os cenários de IDT, para os anos de 2020, 2030 e 2040,
demonstraram uma tendência de aumento do desconforto, passando
de parcialmente confortável para muito desconfortável, o que poderá
repercutir no bem-estar e na saúde da população.
234
As previsões das alterações microclimáticas e suas consequências
são de extrema importância para o planejamento ambiental e o
ordenamento territorial na área de estudo.

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237
Sobre esta publicação

Em 2016 o Campus IV e o Centro de Ciências Aplicadas e Educação (CCAE) comemoram 10 Anos de


História, e neste momento este livro se apresenta como fruto da trajetória de docentes, discentes
e técnicos comprometidos com a consolidação do ensino, a pesquisa e a extensão universitária no
Campus IV.
Maria Angeluce Soares Perônico Barbotin
Diretora do CCAE
Alexandre Scaico
Vice-diretor do CCAE

A lotação do curso de Bacharelado em Ecologia/Campus IV/UFPB, não poderia ser mais adequada,
entre duas Unidades de Conservação: Reserva Biológica Guaribas e APA da Barra do Rio Mamanguape.
Brotando dessa simbiose a utilização de ambas como laboratórios naturais para atividades didáticas,
de pesquisa e extensão.
O que se poderia esperar de um Curso de Ecologia com recursos naturais, tão bem selecionados, o
qual contou ainda, com uma temporariedade poética, iniciando as primeiras turmas na primavera
de 2006? Bons frutos, claro! Como exemplo, destes, ao longo dos 10 anos do curso, temos aqui esta
obra, divulgando pesquisas realizadas sobre a APA da Barra do Rio Mamanguape, com a participação
de vários docentes, discentes e técnicos do Curso de Bacharelado em Ecologia.

Zelma Glebya Maciel Quirino


Chefe do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente (DEMA)

ISBN: 978-85-68199-05-3

9 788568 199053

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