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e Meio Ambiente:
Analisando Uma Área de Proteção Ambiental
Organizadoras
Nadjacleia Vilar Almeida
Milena Dutra da Silva
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Copyright © Nadjacleia Vilar Almeida e Milena Dutra da Silva, 2016.
Todos os direitos reservados.
Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor no Brasil desde 2009.
É vedada a reprodução de qualquer parte deste livro sem a autorização da editora.
Organizadoras
Nadjacleia Vilar Almeida
Milena Dutra da Silva
Editora
FeF Gráfica e Editora
1ª Edição
João Pessoa - PB
2016
Sumário
Apresentação 7
2 Este texto compreende trechos originalmente expostos nos capitulos 1, 2, 6 e 8, e foram aqui reunidos por se
tratar de informações basilares comuns a todos os capítulos deste livro.
10
Figura 1. Localização da APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.
Referências
ASSIS, Hugo Yuri Elias Gomes de. Análise das classes de paisagem da
APA da Barra do Rio Mamanguape - PB. Monografia (Graduação) –
UFPB/ CCAE, Rio Tinto: 2014.
BRASIL. Decreto n.º 924, de 10 de setembro de 1993. Cria a Área
de Proteção Ambiental da Barra do Rio Maman guape no Estado da
Paraíba e dá outras providências. Diário Oficial [da República
Federativa do Brasil], Brasília, Seção 1 - 13/9/1993, Página 13555
(Publicação Original)
CARVALHO, Maria Gelza R. F. de. Estado da Paraíba: classificação
geomorfológica. João Pessoa: Editora Universitária, UFPB/FUNAPE,
1982. 72 p.
GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA. Relatório da qualidade do
meio ambiente. João Pessoa: Secretaria das Minas, Energia e Meio
Ambiente, v. 1, 1985. 203 p.
GREENTEC - Consultoria e Planejamento Agroflorestal e do Meio
Ambiente LTDA. Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental
da Barra do rio Mamanguape. Área de relevante interesse
ecológico de manguezais da foz do rio Mamanguape. Brasília:
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
2014. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/
docs-planos-de-manejo/apa_arie_manguezais_mamanguape2014.pdf>
MARCON NEVES, Mary Carla. Plano de Gestão Estratégica para
a implantação da APA da Barra do Rio Mamanguape. Brasília:
IBAMA/PB: MMA, 2003.
12
NIMER, E.; PINHEIRO FILHO, A. A.; AMADOR, E. S. ARAÚJO NETO,
M. D. Climatologia da região Nordeste. In: NIMER, E. Climatologia
do Brasil. 2ª Edição, Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de Recursos
Naturais e Estudos Ambientais, 1989, 422 p.
RODRIGUES, Geraldo Stachetti; ANTUNES, Luciana Rocha.
Avaliação de impactos ambientais para gestão da APA da Barra do Rio
Mamanguape (PB). In: RODRIGUES, G. S.; BUSCHINELLI, C. C. de
A.; RODRIGUES, I. A.; NEVES, M. C. M. Avaliação de impactos
ambientais para gestão da APA da Barra do Rio Mamanguape-
PB. Jaguariúna, SP: Embrapa Meio Ambiente, 2005. p. 1-10.
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Introdução
14
de tecnologias para coleta, processamento, análise e oferta de
informação com referência geográfica, sendo compostas por soluções
em hardware, software e peopleware que juntas constituem poderosas
ferramentas para tomada de decisão”.
Dentre as teorias e conceitos utilizados como embasamento
para a análise integrada dos fatores físicos da paisagem tem-se a
Teoria do Geossistema, esquematizada na Figura 1, a qual resulta da
dinâmica entre o potencial ecológico (clima, hidrologia, geomorfologia),
a exploração biológica (vegetação, solo e fauna) e a ação antrópica.
Almeida (2012, p. 37), baseando-se em Bertrand (2004), explica
que é na escala do geossistema que ocorre a maioria dos fenômenos
com interferência nos elementos da paisagem (físicos, biológicos e
antrópicos).
Diante da importância do meio físico para manutenção do
equilíbrio dinâmico da paisagem, o objetivo deste capítulo foi realizar
uma caracterização dos componentes abióticos, da geologia, da
geomorfologia, hidrografia (potencial ecológico) e do solo (exploração
biológica) da Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio
Mamanguape.
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Procedimentos Metodológicos
6 http://geobank.cprm.gov.br/
7 http://www.dsr.inpe.br/topodata/
16
A elaboração do mapa do relevo sombreado foi realizada
automaticamente no software Global Mapper versão 17.0 (versão
temporária). Para melhor visualização e interpretação dos dados foram
criados dois transectos (ab) e (a’b’), sendo o primeiro correspondente
ao trecho do extremo oeste do limite da APA à foz do rio Mamanguape
(ao longo do curso do rio Mamanguape) e o segundo demonstrando
o comportamento do leito do rio e das vertentes esquerda e direita;
os transectos foram desenhados com auxílio da ferramenta 3D Path
Profile/Lineofsigth, gerando perfis topográficos do relevo.
Utilizando como base a imagem SRTM foram extraídas
automaticamente as curvas de nível com equidistância de 5 metros, as
quais, associadas ao Modelo Digital de Elevação (MDE), permitiram a
geração do mapa hipsométrico.
A declividade foi estabelecida através da ferramenta slope
sendo expressa em valores percentuais de acordo com a classificação
de Pereira e Lombardi Neto (2004).
A hidrografia foi gerada com base nas cartas topográficas da
SUDENE, datadas de 1974, que recobriam a APA, e duas imagens
ortorretificadas do satélite RapidEye, com resolução espacial de
5x5m. A primeira imagem capturada pelo satélite em 11/07/2012 e a
segunda em 20/10/2013, ambas foram adquiridas no Geocatálogo do
Ministério do Meio Ambiente (MMA).
A densidade da drenagem é a relação do comprimento
total dos canais de escoamento com a área da bacia hidrográfica
(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 115) e foi gerada com base na rede
de drenagem extraída da imagem SRTM, possibilitando capturar
a densidade, tanto do rio principal, quanto de seus afluentes e
tributários. Foi calculada de forma automática usando a equação 1.
Lt
𝐷𝐷 𝑑𝑑 = 𝐴𝐴
(1) Equação 1
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Geologia
A Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape situa-
se no compartimento geológico-geomorfológico dos Baixos Planaltos
Costeiros, formados por rochas sedimentares. A APA, geologicamente,
é representada por três unidades litoestratigráficas da era Cenozóica
(Figura 2), descritas a seguir, segundo Santos et al (2004):
18
Figura 2. Geologia da APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.
19
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Geomorfologia
Segundo o mapa geomorfológico da Paraíba (2006), a APA possui
cinco compartimentos:
Figura 3. APA da Barra do Rio Mamanguape Paraíba, Brasil. 3A. Relevo sombreado e
perfil topográfico; 3B. Perfil topográfico longitudinal, correspondente ao transecto ab;
3C. Perfil topográfico transversal, correspondente ao transecto a’b’. Fonte: Informações
extraídas da imagem SRTM com resolução espacial de 30x30m.
21
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
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A densidade de drenagem foi utilizada para compreender o grau
de desenvolvimento do sistema de drenagem, pois fornece uma indicação
da eficiência da drenagem da bacia, diretamente correlacionada com a
intensidade de dissecação do relevo pela drenagem. Christofoletti, (1981
apud SILVA et al. 2009) destaca duas funções distintas da densidade
de drenagem: é uma resposta aos controles exercidos pelo clima, pela
vegetação, litologia e outras características da área drenada; e, é fator
que influencia o escoamento e o transporte sedimentar na bacia de
drenagem.
Todos os produtos geomorfológicos, anteriormente descritos,
demonstram que o comportamento do relevo da APA é típico de regiões
litorâneas, onde a menor declividade e os menores valores de altitude
correspondem aos leitos dos rios que escoam para a região central da
APA. Com isso constatamos que esses aspectos são indissociáveis e
interdependentes, influenciando diretamente um sobre o outro.
Pedologia
De acordo com os estudos feitos acerca da pedologia da APA,
foram detectados quatro tipos de solos (Figura 7).
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Considerações Finais
Agradecimentos
Referências
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Lincoln Eloi de Araújo8, Fabrício Daniel dos Santos Silva9, Haymée Nascimento
de Alencar10, Elydeise Cristina Andrade dos Santos11 e Klefferson Alves dos Santos12
Introdução
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em áreas consideradas de extrema importância para a conservação da
fauna e flora e dos atributos abióticos, estéticos e culturais, como é o
caso das Áreas de Proteção Ambiental (APA), essenciais à manutenção
da qualidade de vida.
É importante salientar que, dentre outros fatores, o climático é
de extrema importância para determinar a formação da cobertura do
solo nessas áreas (GREENTEC, 2014), sendo esta cobertura essencial
para a manutenção dos ecossistemas. Além disso, a investigação
climática em áreas como esta se torna indispensável a sua conservação,
visto que, através dos resultados, é possível demonstrar sua eficiência
como importante dispositivo de amenização climática das áreas
urbanizadas que, vêm sofrendo com problemas de desconforto térmico e,
consequentemente, diminuição da qualidade de vida de seus habitantes.
Além disso, o desenvolvimento de investigações de cunho climático
corrobora com estudos que correlacionam a sazonalidade climática
e os padrões de comportamento das espécies, bem como os estudos
direcionados à identificação da influência do clima sobre o padrão de
floração e frutificação das espécies vegetais como o estudo de Morellato
(2000) que afirma que o comprimento do dia e a temperatura influenciam
neste padrão.
A APA da Barra do Rio Mamanguape engloba partes de quatro
municípios paraibanos: Rio Tinto, Marcação, Lucena e Baía da Traição,
sendo que o Município de Rio Tinto corresponde a 65% do território da
APA, Marcação representa 17,3%, Lucena e Baía da Traição correspondem
a uma pequena área, 1,1% e 0,4% respectivamente (GREENTEC, 2014).
Há ainda uma parte da APA que está inserida no mar, o que equivale a
16,2% da área da Unidade de Conservação (GREENTEC, 2014).Desses,
apenas área urbana de Rio Tinto encontra-se inserida na APA (ASSIS,
2014).
Nesse contexto, o objetivo deste capítulo é analisar a variabilidade
climática na Área de Proteção Ambiental. Especificamente, investigar,
através do Índice de Anomalia de Chuva, a variabilidade das chuvas no
tempo e no espaço, bem como avaliar a variabilidade espaço-temporal da
temperatura.
Procedimentos Metodológicos
34
IAC = 3
(
N−N )
; para anomalias positivas (1)
(
M −N )
IAC = −3
(
N−N )
; para anomalias negativas (2)
(
X −N )
Sendo:
N - precipitação mensal atual (mm);
N - precipitação média mensal da série histórica (mm);
M - média das dez maiores precipitações mensais da série histórica (mm);
X - média das dez menores precipitações mensais da série histórica (mm).
Resultados e Discussão
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
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Figura 3. IAC para a série histórica de precipitação da APA da Barra do Rio Mamanguape,
Paraíba, Brasil.
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Considerações Finais
Referências
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Introdução
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pode reduzir drasticamente os teores de matéria orgânica do solo,
desencadeando o processo de degradação, promovendo a desorganização
do sistema, resultando em menor produção de biomassa, perdas de
nutrientes e água (ROSCOE et al., 2006) e elevação nas perdas das
camadas superficiais do solo por erosão (BAYER & MIELNICZUK,
2008).
A ação antrópica negativa, em especial o desmatamento e a
crescente substituição da vegetação nativa por atividades agropecuárias,
contribui significativamente para a introdução de elementos químicos
nos sistemas aquáticos e nos solos. Alguns elementos químicos são
extremamente danosos ao ambiente aquático por reduzir a capacidade
autodepurativa (resiliência), ocorrendo isso através da sua ação tóxica
sobre os microorganismos responsáveis pela recuperação das águas,
sendo esses os decompositores de matéria orgânica presentes no meio
(AGUIAR et al., 2002). Os impactos ambientais proporcionados pelas
alterações no uso dos solos podem ser observados pelas modificações
nas propriedades químicas, físicas e biológicas, alterando diretamente
sua estrutura e atividade biológica, consequentemente, sua fertilidade,
com efeitos negativos na produção vegetal e na qualidade dos solos
(PORTUGAL et al., 2010).
A análise das variáveis físico-químicas e microbiológicas em
águas superficiais vem demonstrando relevância em alguns estudos
ambientais. Dessa forma, torna-se necessária a aplicação de técnicas
de análises que possam fornecer os dados essenciais tanto para a
avaliação da qualidade de um determinado corpo d’água, como para o
reconhecimento de suas fontes poluidoras, formulando assim técnicas
de controle de poluição. A análise, classificação e destinação da água
tornam-se indispensáveis e devem ser conhecidas pelas populações
que vivem em seu entorno e utilizam desse recurso natural. Já a
caracterização do grau de fertilidade em ecossistemas é importante para
o conhecimento da sua estrutura e funcionamento. Essas informações
são necessárias para a manutenção do próprio ecossistema, para
a implantação de sistemas agrícolas e, também, para a recuperação
de áreas degradadas, com a finalidade de manter e preservar a
sustentabilidade dos ecossistemas.
Devido a grande importância da conservação da água e do solo
para a manutenção e qualidade dos ecossistemas, o presente capítulo
tem como objetivo analisar as variáveis físico-químicas e microbiológica
das águas dos rios Mamanguape e Miriri a fim de verificar a qualidade
das mesmas e também avaliar o impacto da substituição da mata nativa
por atividades agrícolas na qualidade e na fertilidade dos solos da APA
da Barra do rio Mamanguape - PB.
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Procedimentos Metodológicos
Amostragem de solos
As amostras de solos foram coletadas a uma profundidade de
20 cm em quatro pontos distintos dentro da APA (Figura 1), em área
de mata ciliar (A1); área adjacente à mata ciliar, com policultivo de
feijão, milho e mandioca (A2); área com monocultivo de cana-de-açúcar
(A3) e área com policultivo de feijão, milho e mandioca (A4), cujas
características são descritas no Quadro 1.
Após a coleta, as amostras foram secas ao ar, destorroadas
e passadas em peneiras de 2mm. As amostras foram caracterizadas
quimicamente no Laboratório de Matéria Orgânica do Departamento de
Solos e Engenharia Rural da UFPB, Campus II, em Areia, quanto aos
valores de: pH em água, complexo sortivo (P, K, Ca, Mg, Na, H+Al, Al),
segundo Donagema et al., (2011); a partir desses foram calculados os
valores de soma de bases (SB), capacidade de troca de cátions potencial
(CTC a pH 7,0), saturação por base (V) e saturação por alumínio (m).
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Figura 1. Localização dos pontos de coleta das amostras de água e do solo na APA da
Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Resultados e Discussão
Temperatura
Comparando os valores de temperatura medidos nos períodos de
monitoramento, não houve variação expressiva desse parâmetro, sendo
a mínima medida de 25ºC e a máxima de 30ºC, no período de 2010 a
2015 (Tabela 1).
50
Não consta na legislação valores máximos ou mínimos estipulados
para essa variável, entretanto, os resultados obtidos estão dentro do
esperado para a condição climática da região, cujo clima é denominado
de Am (tropical e chuvoso), de acordo com a classificação de Köppen,
com temperaturas médias que oscilam entre 24 ºC e 27 ºC e variações
pluviométricas entre 1.800 e 2.000mm/ano. A área monitorada
apresenta sazonalidade bem definida, com verão entre os meses de
novembro a abril, e período chuvoso de maio a outubro.
De acordo com a CETESB (2005), alguns fatores como latitude,
altitude, estação do ano, período do dia, taxa de fluxo e profundidade
influenciam a temperatura da água superficial.
Cor
O valor máximo de cor registrado foi de 262 uH, no ano de
2014, no Rio Miriri; o menor valor foi de 0 uH, no ano de 2011, para
os três pontos de amostragem. Os valores da média da cor durante
o período monitorado mostrou a menor média de 11 uH, no ano de
2012, no Rio Mamanguape (MM03) e a maior de 143 no Rio Miriri,
no ano de 2014 (Tabela 2). Segundo Esteves (1988), o material em
suspensão é responsável pela cor aparente e os compostos dissolvidos
pela cor verdadeira da água. De acordo com a resolução nº 357/05 do
CONAMA (BRASIL, 2005), o máximo permitido para cor é de 75 uH
para água doce de classe 3, porém alguns valores máximos observados
no monitoramento do ponto MM02 estão acima do limite permitido por
esta legislação. Entretanto, para os pontos MM03 e MR02 não constam
valores estipulados desta variável para água salgada. É necessária
a continuação do monitoramento dos valores de cor desses rios, pois
maiores valores do que os observados, daqui a algum tempo, tornarão
as águas inadequadas para o consumo da população ribeirinha.
Vasconcelos & Souza (2011), avaliando os parâmetros de
qualidade da água do manancial Utinga em Belém do Pará, observou
que a presença de partículas insolúveis do solo, matéria orgânica,
micro-organismos e outros materiais diversos provocam a dispersão e a
absorção da luz, dando à água uma aparência nebulosa, esteticamente
indesejável.
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Turbidez
De acordo com a Tabela 3, os valores máximo e mínimo de turbidez
foram registrados no Rio Mamanguape. O valor máximo de 114 NTU, em
2012, no ponto MM02 e o mínimo de 0 NTU, em 2012 e 2014, no ponto
MM03. A menor média de turbidez durante o período monitorado foi de 4
NTU no ponto MR02, em 2015 e a maior de 73 NTU no ponto MM03, em
2012. O limite de turbidez estabelecido pela Resolução CONAMA 357/05
para rios de Classe III é de até 100 NTUs, o qual foi excedido apenas em
uma das amostras efetuadas neste levantamento.
Segundo Oliveira-Filho et al. (1994), a devastação das matas
ciliares, o assoreamento, o desequilíbrio do regime das cheias, a erosão
das margens de grande número de cursos d’água tem contribuído para
o aumento da turbidez das águas e para o comprometimento da fauna
silvestre.
52
Tabela 3. Valores médio, máximo e mínimo de turbidez (NTU) da água superficial.
pH
O menor valor do pH foi 6,79 e o maior 8,57, em 2010, para os
rios Miriri e Mamanguape (MM02), respectivamente. Os valores de pH
apresentam uma pequena variação, observando a distribuição da média
de monitoramento. A menor média foi de 7,3, nos anos de 2013 e 2015,
para o rio Mamanguape (MM02) e a maior, 8,2, no ano de 2010, para o
mesmo rio no ponto de amostragem MM03 (Tabela 4). A resolução Nº
357 do CONAMA (BRASIL, 2005) define para rios de água doce e salina
uma faixa de pH variando de 6 a 9 e de 6,5 a 8,5, respectivamente.
O potencial hidrogeniônico (pH) expressa a intensidade da
condição ácida ou alcalina devido a presença dos íons (H+) e (OH-) de
uma solução, onde o pH inferior a 7 é ácido, o pH igual a 7 é neutro
(equilíbrio entre íons) e o maior do que 7 é alcalino (MOTA, 2008).
O pH da grande maioria dos corpos d’água varia entre 6 e 8.
Ecossistemas que apresentam valores baixos de pH têm elevadas
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Condutividade
Os valores mínimo e máximo de condutividade variam de 32
a 54800 μS/cm nos anos de 2010 a 2015 (Tabela 5). Quanto maior a
condutividade, maiores serão os sólidos dissolvidos presentes na água.
A resolução nº 357/05 do CONAMA não preconiza limites aceitáveis de
condutividade.
A condutividade da água aumenta à medida que mais sólidos
dissolvidos são adicionados. Altos valores podem indicar características
54
corrosivas da água (CETESB, 2009). Em geral, níveis superiores a
100 μS/cm indicam ambientes impactados segundo os parâmetros
estabelecidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
– CETESB. Dessa forma, pode-se inferir que o rio Mamanguape, no
ponto MM02 (próximo à cidade de Rio Tinto), em todo o período de
monitoramento, estava contaminado em relação à presença de íons
dissolvidos. Entretanto, os pontos MM03 (Rio Mamanguape) e o MR02
(Rio Miriri) estão sujeitos à intrusão de água do mar pela variação das
marés. De maneira que a alta concentração de íons dissolvidos faz parte
da dinâmica desses ambientes que são áreas estuarinas.
Salinidade
O valor máximo de salinidade registrado foi de 36,3‰ no ano
de 2010 e o menor valor foi de 0‰, nos anos de 2010 e 2011, no Rio
Mamanguape nos pontos MM03 e MM02, respectivamente. A menor
média de salinidade durante o período monitorado foi de 0,1‰, no ano
55
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
56
(Rio Miriri) são típicos de ambiente salino.
A salinidade pode reduzir a disponibilidade da água para as
plantas, ocasionando toxicidade por presença de alguns íons específicos
(sódio, cloreto e boro) contidos no solo ou na água, que se acumulam
nas plantas em concentrações suficientemente altas para causar
danos e reduzir os rendimentos das culturas sensíveis (AYERS e
WESTCOT,1991; NUNES FILHO et al., 2000).
57
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Tabela 7. cont.
58
Tabela 8. cont.
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
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de 1000 a 4000 por Nº/100 mL, de acordo com a utilidade da água. Para
água salgada, o limite de coliformes não deverá exceder a 2500 Nº/100
mL.
Tabela 10. Valores médio, máximo e mínimo de CF (Nº/100 mL) da água superficial.
61
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Tabela 11. Caracterização química dos solos coletados na área da APA da Barra do rio
Mamanguape - PB.
Área
pH H +
de MOS P K Ca Mg Na SB T Al V m
(H2O) Al
coleta
g.dm-3 mg.dm-3 ----------------------------cmol dm-3 -------------------------- -----% ----
5,45 7,8 0,04 0,25 0,05 0,11 13,44 0,20 4,39 24,74
A1 1,39 MB 0,45 13,85
M B B MB MB A MA MB MB B
4,39 5,8 0,03 0,30 0,05 0,09 13,44 0,2 4,89 22,67
A2 1,26 MB 0,47 13,92
MA B MB MB MB M MA MB MB B
4,09 14,4 0,06 0,50 0,15 0,35 49,25 1,30 4,71 35,39
A3 0,32 MB 1,06 50,36
MA B B B MB MA MA A MB M
3,75 17,7 0,16 0,50 0,25 0,26 82,25 1,50 3,21 35,88
A4 4,16 MB 1,17 83,43
MA B M B B MA MA A MB M
Ca, Mg e Al: extrator KCl 1 mol L-1; H + Al: extrator acetato de cálcio 0,5 mol L-1 a pH
7,0; SB: soma de bases; CTC (T): capacidade de troca catiônica a pH 7,0; V: índice de
saturação de bases; m: índice de saturação de Al. M = Médio; MA = Muito Alta; B = Baixo,
MB = Muito Baixo; A = Alto.
62
Matéria orgânica do Solo (MOS)
Os teores de MOS variaram entre 5,8 e 17,7 g dm-3 de solo
nas áreas da APA da Barra do Rio Mamanguape (Tabela 11), sendo
todos classificados como valores baixos a médios. A área A2 foi a
que apresentou os menores teores de matéria orgânica (5,8 g dm-3),
provavelmente em função do menor aporte de resíduos orgânicos na
área, enquanto que as áreas A3 e A4 tiverem incrementos nos teores de
MO muito superiores aos encontrados na área A2.
Entretanto, apesar desses aumentos nos teores de MOS para
as amostras coletadas nas áreas 3 e 4, por se tratar de uma APA, os
valores encontrados para essa variável são baixos, quando comparados
a outras áreas com ocorrência de matas nativas. A explicação para
isso pode estar relacionada ao reduzido aporte de material orgânico ao
solo, em função das espécies vegetais que estão sendo cultivadas nas
áreas analisadas (cana-de-açúcar, milho, feijão e mandioca), quando
comparadas ao aporte de uma área com cobertura vegetal nativa (mata
atlântica). Além desse reduzido aporte de resíduos orgânicos, a textura
arenosa dos solos da APA e a alta temperatura podem estar estimulando
a ação dos microrganismos decompositores (MCCLAUGHERTY E
LINKINS, 1990), favorecendo a mineralização da matéria orgânica em
detrimento da sua preservação e manutenção no solo.
A matéria orgânica tem efeitos diretos sobre a fertilidade dos
solos, atuando como fonte de N e P; além de estimular a quantidade e
diversidade da biota do solo e atuar nos parâmetros físicos de retenção
de água e agregação (SILVA e MENDONÇA, 2007), sendo o seu manejo
essencial para a manutenção da produtividade do solo.
Fósforo disponível
Nas áreas estudadas, os teores de P disponível estiveram muito
abaixo de 20 mg dm-3 de solo, valores considerados inadequados para a
nutrição da maioria das culturas.
De maneira geral, os solos de regiões tropicais apresentam uma
deficiência nos teores de P, em função do material de origem e da
interação do íon fosfato com o solo (CORRÊA et al., 2004), o que pode
explicar os baixos teores encontrados nas amostras analisadas, cujo os
valores variaram de 0,32 mg dm-3 para a amostra coletada na área A3 e
4,16 mg dm-3 para as amostras na área A4.
Os maiores valores de P encontrados na área A4 podem estar
associados aos maiores teores de matéria orgânica, pois ela pode
63
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Potássio
Os níveis de K encontrados nas áreas estão abaixo do adequado
para a maioria das culturas, indicando uma deficiência desse nutriente
no solo, com valores variando de muito baixo a médios, ficando entre
0,03 e 0,16 cmolc dm-3.
Esses teores de K extremamente reduzidos podem ter sido em
função da baixa disponibilidade do elemento no material de origem do
solo e pelo processo de lixiviação, favorecido pela textura arenosa dos
solos estudados.
Cálcio e Magnésio
Para todas as áreas amostradas os teores de Ca e Mg apresentaram
valores variando entre muito baixos e baixos, o que caracteriza um
solo com poucas bases trocáveis, limitando o crescimento das espécies
vegetais.
Por ser um solo arenoso e com baixa predominância de cargas
eletronegativas, em função do material de origem e do baixo teor de
matéria orgânica, esses nutrientes estão mais susceptíveis a serem
lixiviados do solo, pois são poucos adsorvidos pelas frações minerais e
orgânicas dos solos das áreas estudadas.
Sódio
Por ser uma APA no litoral, nas proximidades dos sedimentos
marinhos, os teores de Na nos solos estudados variaram entre alto e
muito alto, sendo os maiores valores encontrados na área A3. Esses
elevados teores de Na são provavelmente em função do material de
origem e do ambiente de formação desses solos, o que limita ainda
mais o uso agrícola nessas áreas, pois, além de não ser considerado
um nutriente para a maioria das culturas, o Na também pode causar
problemas de salinidade ao ambiente.
64
Essa maior concentração de Na nas áreas amostradas pode
contribuir com uma menor absorção de potássio, cálcio e magnésio
pelas plantas, por haver uma maior competição entre esses cátions do
solo (FREIRE e FREIRE, 2007).
Soma de bases
Em função da baixa disponibilidade das bases do solo houve uma
baixa soma de bases no solo.
Alumínio
O alumínio constitui importante componente da acidez do solo.
Na Tabela 11 observa-se que as áreas apresentam teores desse elemento
variando entre 0,15 cmolc dm-3 nas áreas de coleta com mata ciliar (A1)
e na área de policultivo próximo a vegetação nativa (A2) e 1,45 cmolc
dm-3 na área de mangue degradado e com policultivo (A4).
A atividade do alumínio é reduzida em valores de pH próximos
a 5,5 (MATSUMOTO & MOTODA, 2012), o que pode ser observado na
amostra de solo coletada na área de mata ciliar (pH 5,45), entretanto,
quanto maior a acidez do solo, mais elevada é a atividade desse elemento,
por isso os maiores teores foram encontrados na amostra coletada
na área A4 que apresentou valores de pH 3,7 e teores de alumínio de
1,45 cmolc dm-3.
As áreas de monocultura (cana-de-açúcar - A3) e mangue
degradado (policultivos - A4) apresentaram teores altos de alumínio,
que além de estarem associados com os baixos valores de pH, estão
relacionados aos maiores teores de MO em comparação com as demais
áreas. Essa presença do alumínio trocável pode causar problemas de
fitotoxidez, pois ele causa injúrias no sistema radicular das plantas, como
65
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
66
Considerações Finais
Mediante os resultados das amostras de água, pequenas variações
apenas no ponto MM02 de alguns parâmetros (cor, condutividade,
salinidade, sólidos dissolvidos totais, oxigênio dissolvido e coliformes)
revelam que há alterações na quantidade de materiais dissolvidos,
tanto de origem orgânica como inorgânica, que podem ser provocadas,
tanto pelo despejo de esgotos e sedimentos, como pelo baixo nível de
água que se encontra no corpo hídrico.
De acordo com os parâmetros avaliados dos solos, foi possível
verificar que todas as áreas apresentam baixa fertilidade, e, de maneira
geral, uma elevada acidez e uma baixa disponibilidade de nutrientes.
Agradecimentos
À chefia da Unidade de Conservação da Área de Proteção
Ambiental da Barra do Rio Mamanguape e ao Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA) por todo apoio dado
a pesquisa.
Ao Centro Ciências Aplicadas e de Educação (CCAE/UFPB) pela
conseção de transporte para realização das coletas em campo.
Referências
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metais pesados de efluentes industriais por aluminossilicatos. Química
Nova, v.25, n.6B, p. 1145-1154, mai.2002.
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In: SANTOS, G. de A.; SILVA, L. S. da; CANELLAS, L. P.; CAMARGO, F.
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tropicais e subtropicais. Porto Alegre: Metrópole, cap.2, 2008. p.7-18.
BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria. Secretaria de Políticas de
Saúde. Anexo: Norma de qualidade da água para consumo humano.
Cap.2, Art. 4°, I. Portaria n.º 1469, de 29 de dez. de 2000.
BRASIL. Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005.
67
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
68
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69
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
70
71
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Introdução
18 Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de bacharelado em Ecologia do primeiro autor. Publicado parcialmen-
te em PESSOA et al. (2015)
19 Graduanda do curso de Bacharelado em Ecologia _ UFPB (angel-fernandes12@hotmail.com)
20 Professora do curso de Lic. em Ciências Biológicas_UFAL (milena.silva@penedo.ufal.br)
21 Professora do curso de Bacharelado em Ecologia _UFPB (nadjacleia@ccae.ufpb.br)
72
de água, proteção de animais contra a caça e por abrigar uma grande
variedade de recursos naturais (MMA, 2007).
Dessa forma, visando a proteção das áreas naturais remanescentes
foi instituído pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza – SNUC, critérios e normas para a criação, implantação e
gestão das Unidades de Conservação (BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de
Julho de 2000).
As Unidades de Conservação são de grande relevância, pois
protegem a diversidade biológica e os recursos genéticos a ele associados,
protegem os elementos do meio físico, além dos vários benefícios que
proporcionam para os seres humanos, tais como: equilíbrio climático e
manutenção da qualidade do ar, base para produção de medicamentos
para doenças atuais e futuras, áreas verdes para lazer, educação,
cultura e religião, entre outros benefícios (WWF, 2008).
O processo de colonização do território paraibano teve como base
a exploração intensa dos recursos naturais, caracterizando um padrão
dilapidador dos recursos naturais e extensivo do espaço. Dessa forma,
o espaço reflete os resultados dos processos naturais e sociais que por
sua vez, coexistem até o tempo presente (BERNADES & FERREIRA,
2008).
A extensa ocupação da zona da mata paraibana pelos canaviais
e a expansão das zonas urbanas, acarretou a supressão de áreas de
florestas nativas, o aumento da fragmentação e o comprometimento
da conservação dos recursos naturais (LONGUI, 1999 apud MELLO,
2015).
Nesse contexto, as técnicas de sensoriamento remoto têm sido
fundamentais, pois permitem o monitoramento dos recursos naturais,
além de possibilitar a identificação do uso e cobertura do solo, e sua
variação ao longo do tempo com as transformações ocorridas na
paisagem (MORAIS et al., 2011).
O sensoriamento remoto pode ser definido como:
73
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Procedimentos Metodológicos
Intervalo do
Data da
Satélite Sensor Bandas comprimento
imagem
de onda
05/02/1985 Landsat5 TM
20/10/2013 RapidEye
Multiespectral B3(vermelho) 630 – 685 µm
31/12/2012 RapidEye
(pushbroom imager) B5(infravermelho próximo) 760 – 850 µm
25/10/2012 RapidEye
75
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
76
monocromática e reflectância aparente. A radiância por sua vez,
é medida pelo sensor e estima a intensidade de energia que deixa a
superfície terrestre (COSTA & RAMOS, 2013).
Para o cálculo da radiância utilizou-se a equação proposta por
Markhan & Baker (1987 apud MORAIS et al., 2011):
bi-ai
Lλi=ai+ x ND Equação 1
255
Onde:
aі e bi correspondem às radiâncias espectrais mínima e máxima,
respectivamente
ND: é a intensidade do pixel (número inteiro de 0 a 255)
і: corresponde às bandas 1,2,....,7, do Landsat 5 e 7
π.Lλi
pλi = Equação 2
Kλi.cosZ.dr
π*sunDist²
REF (і)=RAD (і) Equação 4
EAI(і)*cos (SolarZenith)
77
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Onde:
і: Número de bandas espectrais
REF: valor de reflectância
RAD: valor de radiância
SunDist: Distância entre a Terra e o Sol no dia da aquisição da imagem
em unidades astronômicas
EAI: Irradiância solar na exoatmosfera
SolarZenith: Ângulo zenital solar (90° - elevação solar)
Resultados e Discussões
79
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
80
81
Figura 2. Cobertura da Terra nos anos de 1985, 2001 e 2012/2013, na Área de Proteção Ambiental de Barra de Mamanguape,
Paraíba, Brasil.
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
APA
1985 2001 2012/2013
CLASSES Área (Km²) (%) Área (Km²) (%) Área (Km²) (%)
Água 37,31 25,00 39,68 26,52 42,25 28,31
Solo Exposto 9,6 6,43 10,07 6,73 6,58 4,41
Vegetação Rala 20,25 13,57 17,59 11,76 16,8 11,26
Vegetação de Transição 28,8 19,30 29,66 19,83 28,39 19,02
Vegetação Densa 53,26 35,70 52,61 35,16 57,23 37,00
TOTAL 149,22 100 149,61 100 149,25 100
ENTORNO
1985 2001 2012/2013
CLASSES Área (Km²) (%) Área (Km²) (%) Área (Km²) (%)
82
No mapeamento de 2001 (Figura 2), foi observada uma redução
das áreas classificadas como vegetação rala, apresentando uma área
de 17,59km² (11,76%) na APA (Tabela 2) e de 13,26km² (16,06%) no
entorno (Tabela 3) e, consequente, aumento de vegetação de transição
tanto na APA (19,83%), quanto no entorno (25,56%). A área da classe
de solo exposto aumentou na APA, representando 10,07km² (6,73%) e
diminuiu no entorno, com 5,59km² (6,78%). Foi observada, também,
uma diminuição da classe vegetação densa, apresentando uma área de
52,61km² (35,16%) na APA e de 20,76km² (25,14%) no entorno. Houve,
também, aumento da área da classe água, o que pode estar relacionado
a quantidade de chuva registrada nos meses anteriores a captura
da imagem (junho e julho), e no mês de captura da imagem (agosto).
Observa-se na figura 3, que nos referidos meses foram registrados
totais pluviométricos superiores a média do ano de 2001, portanto,
considerados meses chuvosos.
84
85
Figura 5. Dinãmica espaço-temporal da cobertura vegetal para os anos de 1985 a 2001 e de 2001 a 2012/2013, na Área de Proteção Ambiental
de Barra de Mamanguape, Paraíba, Brasil.
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
APA ENTORNO
2001- 2001-
1985-2001 1985-2001
2012/2013 2012/2013
Área Área Área Área
CLASSES (%) (%) (%) (%)
(Km²) (Km²) (Km²) (Km²)
Perda de Vegetação 29,4 19,73 24,9 16,70 14,87 18,11 27,56 33,50
Preservada/Conservada 56,09 37,64 51,62 34,63 22,26 27,10 19,79 24,05
Regenerada /
23,85 16,01 30,32 20,34 23,17 28,21 11,91 14,47
Regeneração
Água 39,67 26,62 42,24 28,33 21,83 26,58 23,02 27,98
TOTAL 149,01 100 149,08 100 82,13 100 82,28 100
86
Os resultados encontrados nesta pesquisa, apontam que houve
diminuição da classe de vegetação densa de 1974, para 2001, no entanto,
quando se analisa a evolução temporal de 2001 para 2012/2013, a classe
de cobertura vegetal densa aumentou a área.
Dessa forma, o NDVI foi útil para detectar as variações da
vegetação e o aumento da classe de cobertura densa na APA da Barra
do Rio Mamanguape. Resultados são semelhantes aos de Júnior et al.
(2015), que em estudo na Área de Proteção Ambiental do Pratigi na
Bahia, avaliaram imagens NDVI para o monitoramento da dinâmica
da cobertura vegetal entre os anos de 2000, 2001, 2003 e 2006. E
como resultado, as imagens resultantes do NDVI foram sensíveis às
mudanças da cobertura vegetal e evidenciaram que houve aumento da
área com vegetação densa.
Com base nos trabalhos de campo, as mudanças identificadas no
entorno podem ser atribuídas à expansão da atividade canavieira, como
pode ser observado na figura 6. Na APA, a perda da vegetação está
relacionada ao cultivo, como mostra a figura 7 (A). Na figura 7 (B),
observa-se o desmatamento, também, para o cultivo.
87
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Figura 7. (A) Cultivo de Macaxeira na APA, (B) Desmatamento para cultivo na APA da
Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.
88
As causas da mortandade do mangue podem estar relacionadas
com a retirada da mata ciliar. Com a retirada da cobertura vegetal os
rios ficam susceptíveis ao assoreamento, o que poderá refletir na vazão,
e consequentemente irá diminuir a quantidade de água doce que chega
ao estuário em virtude do acúmulo de sedimentos.
Outro fator que pode ter contribuído com a mortandade do
mangue, é a entrada de agrotóxicos no estuário, devido a UC estar
circundada de cana-de-açúcar. Os agrotóxicos são lixiviados através do
solo e resulta na contaminação por substâncias químicas.
Observou-se, também, que nas áreas classificadas como
preservadas na APA houve uma diminuição de 7,97% passando a
representar área de 51,62km² em 2012/2013. No entorno, houve redução
de 11,10% das áreas classificadas como preservadas.
Figura 8. APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil. (A) Área de manguezal
com fortes indícios de degradação, (B) Rio sem mata ciliar e área de policultura na APA.
Foto: Hugo Yuri – Data: 20/04/2015
89
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Considerações Finais
Agradecimentos
Referências
AESA - Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba.
Disponível em: <http://www.aesa.pb.gov.br/> Acesso em: 30 Mar. 2016.
ASSIS, H. Y. E. G. de.; ALMEIDA, N. V.; SANTOS, A. A. dos.
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da Barra do rio Mamanguape PB. In: Anais do XXVI Congresso
Brasileiro de Cartografia V Congresso Brasileiro de Geoprocessamento
XXV Exposicarta, 2014, Gramado. Mapas conectando o Brasil e a
América do Sul, 2014.
BATISTA, G. M. M.; MUNHOZ, C. B. R. Comportamento do sequestro
florestal de carbono, do conteúdo de CO2 atmosférico e do conteúdo
de umidade da vegetação no Pantanal de Nhecolândia, MS, por meio
de sensoriamento remoto hiperespectral. In: Simpósio Brasileiro de
Sensoriamento Remoto. Anais XIV, Natal, Brasil, 25-30 abr. 2009, p.
1071 – 1078.
BRASIL. Decreto nº 924, de 10 de setembro de 1993. Cria a Área de
Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, no Estado
91
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
93
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
94
95
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Introdução
25 Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de bacharelado em Ecologia do Autor Hugo Yuri Elias Gomes de
Assis. Publicado parcialmente em ASSIS et al. (2014).
26 Ecólogo. Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da
UFRN. (hugo.ecologia@gmail.com)
27 Professora Adjunta da Universidade Federal de Alagoas/U.E. Penedo/Curso de Ciências Biológicas. (milena.
silva@penedo.ufal.br)
28 Professora Adjunta da Universidade Federal da Paraíba/CCAE/Curso de Bacharelado em Ecologia.
(nadjacleia@ccae.ufpb.br)
96
de Estrutura da Paisagem. Segundo Lang (2009, p. 237), “a análise da
estrutura da paisagem com ajuda de medidas de estrutura ocorre em
três níveis: (1º) o nível de mancha; (2º) o nível de classe; e (3º) o nível
de toda a paisagem”. As manchas consistem nos menores elementos
individuais, os quais estão inseridos numa determinada região em uma
determinada escala de observação e detecção (ZONNEVELD, 1989). São
definidas por Forman e Godron (1986) como uma forma da superfície
passível de espacialização, e sua conformação é distinta em relação à
vizinha. São consideradas como a mais importante unidade espacial
da paisagem e podem ser diferenciadas em cinco tipos. Entende-se
como classe as categoriais da paisagem; um aglomerado de manchas
de mesma característica; e, por fim, o nível de toda a paisagem seria
o conjunto de diferentes classes numa determinada área de estudos
definida previamente (LANG, 2009).
A Ecologia da Paisagem aliada às geotecnologias contribuem para
o planejamento e gestão ambiental e para geração de dados, os quais
podem servir para diferentes aplicações. Diante da complexidade dos
processos atuantes na paisagem, uma das principais contribuições da
Ecologia de Paisagem é a abordagem de diferentes questões ecológicas
em diferentes escalas, considerando fatores físicos (ver capítulos 1 e 2),
químicos (ver capítulo 3) e biológicos (ver capítulos 4, 6 e 7) (FU, 2011).
Através da utilização dos SIGs é possível automatizar tarefas
realizadas manualmente e, através da integração de dados de diferentes
fontes e criação de um banco de dados geocodificados, realizar análises
mais complexas sobre determinado estudo (ENGESPAÇO, 1990). Podem
fornecer grandes contribuições no que diz respeito ao planejamento
ambiental, executando diferentes análises, das mais simples às mais
complexas (LANG, 2009).
Assim, este trabalho teve como objetivo identificar e analisar
as diferentes classes de paisagem inseridas na APA da Barra do Rio
Mamanguape onde, também, está inserida a ARIE (Área de Relevante
Interesse Ecológico) de Manguezais da Foz do Rio Mamanguape (Decreto
Nº 91.890, de 05 de novembro de 1985), a qual faz parte da zona núcleo
da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica – Fase VI (ICMBio, 2014).
Buscou-se analisar cada mancha e sua qualidade ambiental através da
análise de métricas de paisagem, gerando assim, uma base de dados e
informações que podem servir aos tomadores de decisão e pesquisadores
das mais diversas áreas de pesquisa.
97
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Materiais e Método
Procedimentos
Para identificação das Classes da APA da Barra do Rio
Mamanguape, foi realizada uma adaptação do trabalho publicado por
Refosco (1996), considerando as seguintes variáveis das unidades de
paisagem: uso e cobertura da terra e tipo de vegetação.
Através da análise das imagens de satélite em ambiente SIG e de
verificações em campo, foi possível espacializar e identificar as classes
inseridas nas unidades de paisagem.
Para obter os dados quantitativos, fez-se o uso de diferentes
métricas da paisagem que possibilitaram o entendimento e a
98
caracterização da paisagem respondendo perguntas importantes
relacionadas à área e ao tamanho de borda das classes e/ou manchas.
A ecologia da paisagem trabalha com a relação entre padrões espaciais
e processos ecológicos onde se faz necessária a quantificação precisa
desses padrões, sendo possível quantificá-los através de diferentes
parâmetros. As métricas, ou índices, da paisagem são agrupados em
duas categorias: as de composição e as de disposição (METZGER, 2012),
sendo utilizadas neste trabalho algumas das métricas relacionadas
à composição da paisagem, sendo que as métricas de composição,
segundo Metzger (2012, p. 423), “dão uma ideia de quais unidades estão
presentes na paisagem, da riqueza dessas unidades e da área ocupada
por elas”.
As imagens e dados obtidos em campo foram analisados utilizando
o software ArcMap (ESRI)29. Após a delimitação das classes, os vetores
(polígonos) criados foram analisados através de técnicas de métricas
de paisagem usando a extensão gratuita V-LATE 1.1 disponível no site
<http://arcscripts.esri.com>.
As métricas utilizadas neste trabalho foram escolhidas por gerar
dados quantitativos, os quais servem de parâmetros para análise
da qualidade ambiental. As métricas analisadas foram: dimensão
fractal, área, índice de forma, análise de áreas núcleo, referente à
borda e às medidas de diversidade (riqueza, diversidade, dominância
e uniformidade).
●Dimensão Fractal
A dimensão fractal (Df) informa o grau de modificação das
dimensões das formas geométricas características de cada classe de
acordo com a escala de observação. Neste caso, quanto mais elevada
for a dimensão fractal, mais forte será o efeito de uma mudança de
escala nas formas geométricas (LANG, 2009). Para calcular a dimensão
fractal utilizou-se a seguinte equação:
Equação 1
Onde: ln–logarítimo natural; L – relação de comprimento; M – fator de
escala.
99
Equação 3
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
●Área Equação 1
A área total de uma classe consiste no total da soma de todas
as manchas desta classe numa paisagem com papel de destaque na
ecologia (LANG, 2009).
Equação
Onde: x e y – coordenadas do i-ésimo ponto de apoio 1
do polígono.
Equação 3
●Índice de forma
O índice de forma baseia-se na combinação de área e perímetro
introduzida por Forman e Godron (1986), como medida de feição
= 0,5. ∑
padronizada, caracterizando ( +1 − da
o desvio 1)( forma Equação
+1 + 1)atual da mancha2 em
forma otimizada de um círculo onde o índice de forma de uma forma
circular tem valor 1. Equação 4
Equação 3
Equação 4
= 0,5. ∑ ( +1 − 1)( +1 + 1) Equação 2
Onde: CY - Cority; NCAI=0 – número de manchas sem área-núcleo.
●Referente à borda
EquaçãoEquação
3 5
Os efeitos de borda são caracterizados por modificações nos
parâmetros físicos, químicos e biológicos observados na região mais
externa da mancha de vegetação com a matriz circundante (LIMA-
RIBEIRO, 2008). A área do efeito de borda adotada neste trabalho
para Unidades de Vegetação com esta característica foi de 50m. Esta
decisão foi tomada de acordo com a revisão bibliográfica (PACIENCIA
Equação 4 e
PRADO, 2004; VIDOLIN et al. 2011; RIGUEIRA et al. 2012) adotando-
se uma maior distância no intuito de assegurar o menor efeito oriundo
da borda. Equação 6
Equação 5
●Diversidade
As medidas de Diversidade são compostas fundamentalmente
pelas medidas de Riqueza, Diversidade, Dominância e Uniformidade.
Estes índices utilizados referem-se ao nível de paisagemEquação
e representam
6
características adimensionais, considerando toda a paisagem como um
grupo único de elementos individuais. Sua estrutura é o percentual
em área, ou seja, proporção da cobertura de uma classe na área
total. A diversidade de Shannon, aqui adotada, gera respostas aos
questionamentos relativos à ocorrência e distribuição de classes com
base na respectiva proporção de área (LANG, 2009).
101
Equação 5
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Equação 6
Resultados e Discussão
102
Figura 1. Carta temática das classes de paisagem da Área de Proteção Ambiental da
Barra do rio Mamanguape, Paraíba,Brasil
104
Classes não-hemeróbicas
As classes consideradas não-hemeróbicas, devido a inexistência
de influência cultural com características originais da vegetação de
influência acentuadamente natural (BLUME e SUKOPP, 1976 apud
LANG, 2009) foram consideradas: ilhas fluviais e apicum. Desempenham
papel fundamental por possuírem características de ecótono, abrigando
diferentes espécies, seja permanentemente ou periodicamente, como no
caso de utilização da área apenas para reprodução; nos casos das aves,
por exemplo, para nidificação e forrageamento.
Ilhas Fluviais
Devido às características ambientais das margens do Rio
Mamanguape, as quais apresentam suas matas ciliares bastante
degradadas ou inexistentes, o aumento da quantidade de sedimentos
no leito do rio é inevitável. Com diferentes tamanhos de sedimentos e
variados processos de transporte, esses podem ficar em suspensão no
corpo d’água deixando a água mais turva, comprometendo a incidência
de luz e os processos fotossintéticos das algas e micro-organismos
fotossintetizantes que habitam esse ecossistema, ou podem se depositar
no leito do rio assoreando-o e/ou formando as ilhas fluviais (CARVALHO,
1994; CARVALHO et al., 2005). Assim, as ilhas fluviais, possivelmente,
foram formadas pelo acúmulo de sedimento (sua presença é mais
considerável na porção oeste, ou seja, mais distante da desembocadura
do rio), alterando o ambiente e o fluxo de água e sedimentos, interferindo
diretamente na qualidade ambiental, em especial na manutenção da
área de vida do peixe-boi marinho (Trichechus manatus, Linnaeus,
1758) e na classe mangue, a qual depende diretamente do regime
hídrico equilibrado de água salgada e doce.
As ilhas fluviais ocupam 156m², correspondendo a 0,10% da APA,
e se localizam no leito do Rio Mamanguape possuindo características de
flora com espécies características de mangue, porém, sua morfogênese
se diferencia da formação das demais classes. Foram formadas pelo
carreamento e deposição recente de sedimentos no leito do rio. As
ilhas fluviais servem como substrato para a biota característica de
mangue, caracterizando-se por 2 manchas de recursos30, sendo a mais
representativa a Mancha 1 (mancha de recursos) com área de 93m².
30 Adota-se para definição o conceito proposto por Lang 2009, p. 117 quando aceita certa influência antrópica no
ambiente, porém mantém as características originais e estado-clímax do ecossistema, com as funções ecológicas de
homeostasia presentes.
105
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
106
Forman & Godron (1986)) e Dimensão Fractal Média (DFM) de 1,263
se aproximando do valor ideal 1 (onde o valor 1 representa uma reta,
ou seja, não altera seu formato quando muda a escala de observação)
comprovando bons índices de forma para a mancha segundo a literatura.
Não foram realizados cálculos referentes à Densidade de Borda
(DB) e Área - núcleo (An), pois considera-se neste trabalho a fraca
influência dos efeitos de borda no manguezal quando comparado aos
efeitos ocasionados nos fragmentos de mata devido ao aumento do
número de espécies pioneiras e competidoras na região de borda.
O índice de Uniformidade de Shannon (US) para essa classe é de
97,3%, ou seja, possui alta similaridade das proporções da área (LANG,
2009). O valor encontrado de Dominância (DMN) foi de 0,018 devido ao
valor de riqueza da mancha ser baixo (2 manchas) frente à riqueza de toda
a paisagem (16 classes). Segundo Lang (2009), “o valor da diversidade
aumenta conforme seja condicionado por uma riqueza maior (número de
manchas) ou pelo aumento da uniformidade”. Apesar de possuir maior
área, a mancha 1 possui menor Perímetro / Comprimento de Borda (P/
CB) - 1.381 metros - e Razão Média Perímetro Área (RMPA) de 0,015m/
m². Isso ocorre devido ao seu formato, possuindo menor contato com a
mancha da classe vizinha. A classe que a circunda é representada pela
mancha do Rio Mamanguape (mancha 4) da classe Corpos D´agua.
Ecologicamente isso interfere na menor possibilidade de utilização
da biota do mangue (a exemplo do guaiamum (Cardisoma guanhumi,
Latreille, 1825), do caranguejo-uçá (Ucides cordatus, Linnaeus, 1763)
e da ostra (Crassostrea rhizophorae, Guilding, 1828) na mancha para
reprodução, habitat e forrageamento, visto que quanto maior a zona de
contato, maior a interferência na dinâmica da mancha em estudo pela
mancha vizinha em contato. Por outro lado, diminui a possibilidade
de predadores habitarem a mancha devido a barreira biogeográfica
imposta pelo Rio Mamanguape e pelo reduzido limite de contato.
Apicum
Os apicuns são ambientes frágeis e estão sempre associados
aos manguezais (HADLICH; UCHA, 2009), além de também serem
protegidos pela legislação ambiental brasileira através da Lei 12.651
de 25 de maio de 2012, onde no Capítulo 3-A, Art. 11-A dispõe das
condições de utilização para fins socioeconômicos. Os apicuns são
caracterizados por estarem situados em áreas planas de salinidade
ou acidez elevada, em região de supramaré com pouca ou nenhuma
vegetação (HADILICH; UCHA 2009).
107
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Classe meso-hemeróbica
Na classe considerada meso-hemeróbica, com influência cultural
fraca ou periódica, com categoria de influência acentuadamente cultural
(BLUME e SUKOPP, 1976 apud LANG, 2009) foram consideradas:
tabuleiros costeiros, restinga, fragmentos de mata, mangue e áreas
úmidas, as quais estão intimamente relacionadas, devido à proximidade
e grau de contato entre elas na principal mancha de fragmentos de
mata (mancha 15 referente à Mata do Oiteiro), e principal mancha de
tabuleiros costeiros (mancha 2, localizada na parte superior das falésias
na Praia do Oiteiro).
108
Tabuleiros Costeiros
Os tabuleiros costeiros estão presentes de forma mais
representativa na porção sul da linha de costa da APA (Figura 2) com
1.072m² representando 0,72% da APA, composta por 2 manchas de
recursos, sendo a mancha 2 a de melhor qualidade métrica. Ressalta-
se que esse é um fragmento de vegetação secundária, em processo de
sucessão ecológica, onde antes, na região, havia um ecossistema de
mata atlântica, que foi desmatada para dar espaço para plantio da
cana-de-açúcar e a criação de gado bovino.
Estão localizados na Praia do Oiteiro (Figura 3), próximo à
comunidade de Lagoa de Praia. A mancha 2 possui área de 591m² com P/
CB de 4.987m, valor bem menor do que a mancha 1 que possui 8.092m,
devido a forma diferenciada que os fragmentos possuem, evidenciado
pelos resultados referentes à forma dos fragmentos 1 e 2, que possuem
IMF de 3,289 e 1,833 e DFM de 1,375 e 1,282, respectivamente.
Caracteriza-se por Floresta Estacional Semidecidual das Terras
baixas (IBGE, 2012). Por se tratar de uma zona de transição (ecótono)
entre o ambiente de praia e floresta atlântica, possui importante papel
ecológico na manutenção das espécies de fauna e flora, principalmente
no que diz respeito à colonização por diferentes espécies da flora, as
quais dão suporte à fauna através da disponibilização de alimento,
locais para nidificação e área para deslocamento da fauna. Os tabuleiros
também são protegidos pela Lei 12.651 de 25 de maio de 2012, como
sendo Área de Proteção Permanente. O Art. 4º inciso VIII dispõe que
“as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo,
em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais
devem ser protegidas”.
Devido à relação da área e perímetro, a densidade de borda da
mancha 1 é muito superior a da mancha 2, com 167,98m/ha e 49,95m/
ha, respectivamente. Com maior densidade de borda, a influência do
efeito na mancha 1 é maior, porém, nessa situação em particular, a
mancha 1 apresenta-se em melhores condições quando se refere às
relações ecológicas com as manchas de classes vizinhas, visto que faz
fronteira ao sul com a restinga da margem norte do Rio Miriri, a oeste
com o fragmento Mata do Oiteiro, e a norte faz fronteira com a restinga
da Praia do Oiteiro.
A mancha 2 possui ação antrópica mais evidente devido a criação
de gado bovino em suas fronteiras, além da movimentação de pessoas
no interior do fragmento à procura de frutas e/ou de animais domésticos
que entram no fragmento para se alimentar. Esse fragmento apresenta-
109
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Figura 3. Tabuleiros costeiros na Praia do Oiteiro, Paraíba, Brasil. Foto: Hugo Yuri.
Data: 22/04/2015
Restinga
A restinga31 é caracterizada por ser um depósito arenoso paralelo
à linha de costa, e está presente em quase toda a extensão da faixa
litorânea (Figura 2), com área total de 5.235 m² ocupando 3,5% da APA,
composta por 7 manchas de recursos. É uma das classes de paisagem
com maior risco referente à especulação imobiliária e atividades
recreativas por parte dos moradores e turistas se não houver o devido
planejamento e fiscalização, pois já se constata a supressão e alteração
desse ecossistema na Praia de Campina devido à construção de casas
de veraneio com a implantação do loteamento Minhoto III no final dos
anos 1990.
31 Definida e considerada como Área de Proteção Permanente (APP) pela Lei 12.651 de 15 de maio de 2012.
110
A mancha mais representativa em termos de métricas de
paisagem e qualidade ambiental é a 7. Com área de 2.433m² e P/CB de
13.757m, possui a maior AN com 1.757m² e IAN de 72,2%. Apresenta
um dos menores valores de DB com 56,53m/ha, reforçando a qualidade
ambiental da mancha. A pressão que sofre é oriunda basicamente do
pisoteio, retirada de madeira e trânsito de veículos automotores. A
classe possui US de 73,1%, DS de 1,423 e DMN 0,523.
A restinga geralmente está associada às dunas, possuindo
importante papel na fixação dessas, servindo também como zona
tampão formando uma barreira natural contra ressacas. Também
servem de berçário para diferentes espécies da fauna e da flora, tanto as
espécies perenes quanto as migratórias (CAMPOS et al., 2010). Como
exemplo de espécie da fauna, há a presença de tartarugas marinhas
com registros das espécies Verde (Chelonia mydas, Linnaeus 1758) e
de Pente (Eretmochelys imbricata, Linnaeus 1766), que utiliza desse
ecossistema para desova.
Esse ecossistema ocorre próximo à região de praia, ocupando o
estreito terraço arenoso formado sobre os afloramentos da formação
barreiras, dividida em restinga herbácea e restinga arbustiva. Com
poucas espécies, a restinga herbácea possui a vegetação rasteira como
predominante, tendo como exemplo a salsa-da-praia (Ipomoea pes-
caprae, Linneaus (L.) R. Br., dentre outras. Já a restinga arbustiva
ocupa a porção da encosta da duna fronteiriça com o mar, com espécies
de arbustos baixos em moitas densas e intricadas. Como exemplo de
espécie arbustiva, temos o cajueiro (Anacardium occidentale, L.) com
forte presença na área (ICMBio, 2014).
Também é nas áreas de restinga que se encontram a maior
parte das casas construídas para veraneio, alterando suas feições
(alteração permanente da paisagem em alguns pontos) e impactando
negativamente o ambiente. Em alguns locais, a restinga está bem
conservada devido ao esforço, tanto de uma parcela da população local,
quanto do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) através da administração da APA (Figura 4). Mesmo com
esses esforços, algumas atividades degradantes ainda ocorrem de
forma relativamente intensa como extração de madeira e o já citado
trânsito ilegal de veículos. O uso de madeira retirada pelos moradores
da restinga na década de 1990 era basicamente destinado à lenha e
carvão variando de 54% entre os moradores de Barra de Mamanguape
e 100% nos da Ilha de Arintingui (PALUDO & KLONOWSKI, 1999).
111
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Figura 4. Imagens aéreas das áreas de restinga mais conservadas na APA da Barra
do Rio Mamanguape. A área “A” localiza-se à margem norte do Rio Miriri (foz no canto
superior da imagem). Posição norte-sul. A “B” localiza-se próxima à comunidade de Lagoa
de Praia (Rio Mamanguape ao fundo). Posição sul-norte. Foto: Hugo Yuri. Data: 22 de
fevereiro de 2013.
Fragmentos de Mata
A classe fragmentos de mata (Floresta Atlântica) possui muita
importância por abrigar grande número de espécies de fauna e flora.
Caracterizada pelo Manual Técnico da Vegetação Brasileira (2ª edição)
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012 como
sendo Floresta Ombrófila Densa, essa classe possui papel fundamental
na manutenção da biota e nos processos físico-químicos.
Ao analisar uma Unidade de Conservação (UC), a qualidade do
ambiente natural necessita de uma atenção especial em relação aos
112
demais ambientes, pois os habitats, quando fragmentados, representam
ameaça à biodiversidade (TABARELLI & GASCOS, 2005), acarretando
em consequências catastróficas, as quais afetam direta e indiretamente
as diferentes populações da biota que habitam determinada região.
A fragmentação acarreta: perda de habitat, efeito de separação
e barreira, subdivisão e mortalidade (LANG, 2009), além de serem
afetados por problemas direta e indiretamente relacionados à
fragmentação, aumentando a distância entre os fragmentos, alterando
o tamanho e a forma, o tipo de matriz circundante e intensificação do
efeito de borda (ICMBio, 2014). Outras consequências oriundas da
fragmentação e do isolamento de matrizes de vegetação são: alteração
do fluxo gênico, simplificação dos sistemas ecológicos, intensificação da
competição por recursos, perda dos serviços florestais (importantes nas
questões sociais, econômicas e ambientais) e modificação da qualidade
de habitats aumentando em larga escala os habitats ruins ou negativos
para diferentes espécies, contribuindo, por exemplo, para os processos de
extinção e nos processos metapopulacionais (CAMPOS e AGOSTINHO,
1997; METZEGUER, 1998; BIERREGAARD et al., 1992; PRIMACK e
RODRIGUES, 2001, MMA, 2003).
Quanto menor o tamanho total do fragmento, maior será a
influência do efeito de borda sobre a biota, assim como sua forma.
Os fragmentos de forma irregular estão mais propícios a apresentar
maior efeito de borda em virtude da sua maior interação com a matriz
(VIDOLIN et al., 2011).
O maior número de fragmentos de Floresta Atlântica localiza-se
no extremo oeste e sudeste da APA (Figura 2), inexistindo corredores
ou stepstones entre esses e entre o fragmento da Mata do Oiteiro,
comprometendo gravemente o fluxo gênico das espécies.
A classe possui área total de 6.443m² ocupando 4,31% da área
total da APA, composta por 15 manchas, DS 0,91, US 0,336 e DMN
1,798, sendo uma das classes mais representativas da APA. Estes
fragmentos encontram-se isolados uns dos outros, sem corredores
ecológicos, afetando diretamente o equilíbrio genético das espécies de
fauna e flora que habitam estas áreas.
A maior mancha identificada nas análises métricas corresponde
à mancha 15, conhecida localmente por Mata do Oiteiro. Possui uma
área total de 5.210m² e P/CB 23.073m, com grande zona de contato
com outras classes como a monocultura. A DB apresenta o valor de
44,28m/ha, que segundo o Plano de Manejo da APA/ARIE é composta
por cobertura vegetal em estado de regeneração (ICMBio, 2014). É um
dos mais importantes fragmentos setentrionais costeiros da Floresta
113
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Mangue
A classe mangue é a maior classe inserida nos limites da APA da
Barra do Rio Mamanguape, totalizando 48.292m² e ocupando 32,23%
da APA. Está dividida em 3 manchas de remanescentes (Figura 2).
A mancha mais representativa refere-se a 2, a qual localiza-se na
margem sul do Rio Mamanguape com 2.348m² de área e P/CB 16.968m
caracterizando grande zona de contato com classes vizinhas, entre elas
a monocultura de cana-de-açúcar. O IMF é preocupante com o valor de
6,842, intensificando as relações de contato com as classes vizinhas.
114
Não foram consideradas as métricas de paisagem relacionadas
à borda e área núcleo nessa classe, devido possuir pouca zona de
transição nas linhas limítrofes, gerando dados irreais sobre a qualidade
ambiental natural da classe (Figura 5). Porém, nesse caso, as manchas
de mangue possuem contato com manchas de classes de paisagem (classe
monocultura, uso múltiplo, carcinicultura e zona urbana) que geram
impactos negativos significativos no ecossistema manguezal.
A classe mangue possui valores de DS 0,814, US 74,1% e DMN
0,285.
As atividades de agricultura, aquicultura, a construção de
instalações urbanas, industriais, de turismo e aterramento de manguezal
são exemplos de atividades que podem impactar negativamente os
manguezais, pois podem intensificar processos de erosão, sedimentação,
eutrofização, alteração nos regimes hidrológicos e processos ecológicos
(ICMBio, 2014)
Está presente em duas bacias hidrográficas: a do Rio Mamanguape
e a do Rio Miriri. Encontra-se morfologicamente associado a costas
protegidas; áreas estuarinas, lagunares, baías e enseadas, protegendo a
região necessária para o desenvolvimento do ecossistema (QUINÕNES,
2000). É uma das principais classes, pois além de sua dimensão, suas
riquezas naturais geram renda para população local através da pesca,
comercialização de crustáceos como o guaiamu (Cardisoma guanhumi,
Latreille, 1825), caranguejo- Uçá (Ucides cordatus, Linnaeus, 1763), ostra
(Crassostrea rhizophorae, Guilding, 1828) e marisco (Anomalocardia
brasiliana, Gmelin, 1791). A conservação dessa classe é primordial,
inclusive, por ter sido um dos principais objetivos de criação da APA
(Inciso II, Art. 1º, Decreto 924/93).
No manguezal inserido na APA foram identificadas diferentes
espécies como: Rhizophora mangle (L.) (mangue-vermelho), Avicennia
germinans (L.) (mangue-preto ou siriubeira), Avicennia schaueriana
(Stapf & Leechm. Ex Moldenke) (mangue-preto), Conocarpus erectus
(Stapf & Leechman) (mangue-de-botão) e Laguncularia racemosa (L.)
(mangue-branco) (ROSA & SASSI, 2002; OLIVEIRA, 2009). Também
são encontradas espécies como a Acrostichum aureum (samambaia do
mangue), Eleocharis obtusa e Spartina alterniflora (capins do mangue)
(PALUDO & KLONOWSKI 1999).
Apesar de ser um dos principais recursos naturais a ser conservado,
além de constituir uma Área de Proteção Permanente segundo o inciso VII
da Lei nº 12.651/2012, ainda ocorrem atividades ilegais e/ou degradantes
como extração de lenha do mangue com finalidades diversas.
115
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Figura 5. “A” corresponde a uma área de mangue na margem sul do Rio Mamanguape.
Posição sentido sudeste-nordeste. “B” corresponde a Mata do Oiteiro localizada entre
as manchas de cana-de-açúcar (parte superior) e tabuleiros costeiros (parte inferior).
Posição nordeste-sudeste. Foto: Hugo Yuri. Data: “A” 20/04/2015 | “B” 22/02/2013
Áreas úmidas
A classe áreas úmidas, ou áreas sujeitas a alagamento, localiza-
se geralmente às margens dos rios que cortam a região (Figura 2) com
área total de 13.413m², ocupando 8,97% da APA, e é composta por 19
116
manchas de remanescentes. Caracteriza-se por regiões de alagamento
fácil, principalmente em épocas de chuva.
A mancha 19 apresenta-se com melhor qualidade em relação aos
índices métricos. Com área total de 5.161m², P/CB de 33.787, possui DB
com menor valor para a classe com 65,46 m/ha. Ao mesmo tempo em
que a DB possui um valor de caráter positivo, o valor do IMF está entre
os maiores (4,195). A DFM também apresenta valor alto com 1,349,
deformando quando se altera a escala de observação. A An da mancha
possui área de 3.550m², CY de 0,125, com mais de uma área núcleo, e IAn
de 12,5%, demostrando grande área sob interferência do efeito de borda.
A classe possui valores de DS 1,913, US 65% e DMN 1,032.
Foi possível observar que essa classe de paisagem, quando
não inundada, serve principalmente de pasto para o gado bovino. É
necessário atenção para essa classe no que diz respeito à construção de
casas no período de estiagem devido ao iminente risco de alagamento
em épocas de chuva. A vegetação encontrada é basicamente formada
por gramíneas e arbustos. Na região próxima à zona urbana de Rio
Tinto encontra-se a maior concentração dessas áreas.
As áreas úmidas que ocorrem na Floresta Atlântica são cobertas
com tipologias florestais alagáveis muito ricas em espécies altamente
adaptadas a inundações prolongadas e de grande profundidade. Estes
ambientes também são protegidos pelo Código Florestal Brasileiro
(Lei Nº 12.651 de 25 de maio de 2012) e fazem parte dos ecossistemas
mundialmente afetados e ameaçados de destruição pelo homem (JUNK
et al. 2014).
Classes eu-hemeróbicas
As classes consideradas eu-hemeróbicas, tem forte influência
cultural, apresentam solos e água (regime hídrico) alterados pelo
homem, e fazem parte de uma categoria com influência acentuadamente
cultural (BLUME e SUKOPP, 1976 apud LANG, 2009). Na APA essa
classe foi representada por: zona urbana, uso múltiplo, carcinicultura
e matas ciliares.
Por se tratar de ambientes culturais, os índices de qualidade
ambiental não foram considerados. Apenas os índices de área total,
perímetro e dimensão fractal foram analisados, devido sua importância
no que se refere à área ocupada, principalmente quando se trata da
relação com as classes vizinhas.
117
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Zona urbana
A classe zona urbana constitui-se principalmente pela cidade
de Rio Tinto e as comunidades: Vila Regina, Camurupim, Praia
de Campina, Tavares, Coqueirinho do Norte, Tanques, Barra de
Mamanguape e Lagoa de Praia que se destacam pelo número de
habitantes e atividades econômicas desenvolvidas e por receberem
turistas de sol e praia. Possui área total de 4.082m², ocupando 2,73%
da APA, sendo composta por 14 manchas introduzidas.
Na zona urbana de Rio Tinto (Figura 6), a degradação ocorre
de forma mais expressiva devido ao pouco ou nenhum planejamento
ambiental das atividades econômicas. Os rios que cortam a cidade
encontram-se bastante degradados e praticamente não existem matas
ciliares. Em alguns pontos é possível observar o despejo de efluentes
domésticos nos rios e a alta concentração de resíduos sólidos como
sacolas plásticas, garrafas pet, latas de alumínio, entre outros.
Nessa Zona Urbana encontram-se a maior parte da estrutura
administrativa e dos problemas relacionados à falta de planejamento
ambiental.
Figura 6. Vista aérea da praça João Pessoa localizada na zona urbana de Rio Tinto,
Paraíba, Brasil. Foto: Hugo Yuri. Data: 10/12/2014
Usos múltiplos
A classe usos múltiplos encontra-se, geralmente, próxima às
áreas urbanas onde os moradores realizam suas atividades econômicas
e de subsistência, as quais estão ligadas diretamente aos recursos
naturais e ao uso da terra. Possui área total de 17.308m², ocupando
11,6% da área total da APA, composta por 22 manchas introduzidas.
Estes locais caracterizaram-se pelo pouco ou nenhum planejamento do
uso da terra, que geram problemas, tais como de erosão.
Carcinicultura
A carcinicultura está presente, com maior número de tanques,
na porção norte da APA, área de domínio indígena (potiguar), onde a
atividade se tornou uma importante fonte de renda local. Supõem-se
que a política de implantação dos tanques não levou em consideração a
promoção da sustentabilidade do manguezal, uma vez que os tanques
são abandonados num curto espaço de tempo e o replantio das espécies
da flora não é realizado.
Apesar do consumo de camarão ser tradição para os potiguaras,
somente nos anos 1990 foi implantada a carcinicultura na região da
APA, iniciando pela aldeia Camurupim, sendo atualmente a aldeia
de Tramataia a detentora do maior número de viveiros de camarão
(CARDOSO et al., 2012).
A classe ocupa 2.023m², correspondendo a 1,35% da APA,
composta por 15 manchas introduzidas. Há presença também na porção
mais ao sul, porém em menor número, totalizando duas fazendas.
Esta cultura traz alguns riscos para a biota local devido ao uso de
antibióticos e outros produtos químicos nocivos ao equilíbrio ambiental,
além da área de mangue que é suprimida para implantação dos tanques.
Tanto os potiguaras quanto empresas privadas geram impactos
negativos ao meio ambiente, como o desmatamento dos manguezais e
poluição dos recursos hídricos (ICMBio, 2014)
A fazenda de criação com maior extensão (mancha 2) está
localizada na porção sudeste da APA, próxima a uma área com
119
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Mata ciliar
A classe matas ciliares, identificada neste trabalho, está
drasticamente degradada e em alguns locais foi desmatada
completamente, principalmente na área próxima a zona urbana de
Rio Tinto, com 565m², ocupando 0,377% da APA, composta por 2
manchas.
A degradação desta classe acarreta inúmeros impactos ao
ambiente natural da região, que vai desde o desenvolvimento de feições
erosivas, ao assoreamento dos corpos d’água existentes, comprometendo
os corpos hídricos. Devido sua função ecológica foi considerada como
classe diferente da classe fragmentos de mata.
Classes poli-hemeróbicas
As classes consideradas poli-hemeróbicas, com influência cultural
demonstrada na aniquilação de locais em curto espaço de tempo e
permanentemente, estando em uma categoria de influência totalmente
alterada (BLUME e SUKOPP, 1976 apud LANG, 2009) ). Na APA foram
identificadas as seguintes classes: monocultura e cultura permanente.
Como se trata de um ambiente cultural, os índices de qualidade
ambiental não foram considerados. Apenas os índices de área total,
perímetro e dimensão fractal foram analisados, devido sua importância
no que se refere à área ocupada, principalmente quando se trata da
relação da classe com as classes vizinhas.
120
Monocultura
A monocultura está inserida na APA, é quase que exclusivamente,
representada pela cana-de-açúcar. Ocupa uma área de 6.778m² que
representa 4,53% da APA, composta por 13 manchas introduzidas,
visto que as manchas introduzidas são manchas planejadas e inseridas
pelo homem onde, sua forma, composição e disposição espacial é
determinada pelo homem (LANG, 2009).
Instalada na região há algumas décadas, esta cultura
gera impactos ambientais negativos através do desmatamento,
assoreamento, queima (em época de colheita) e uso de pesticidas. Teve
seu desenvolvimento impulsionado pelo programa do governo federal,
Proálcool, em 1975, expandindo-se por toda a região (ICMBio, 2014).
Geradora de empregos, a indústria da cana-de-açúcar se apresenta
com importância socioeconômica relevante, porém são perceptíveis
os danos ambientais. A qualidade do ar é comprometida em época de
colheita devido ainda ser realizada manualmente em boa parte da área
plantada, necessitando da queima, porém, em alguns locais já é possível
observar a colheita mecanizada.
Os conflitos relacionados a esta classe são inúmeros, sejam
eles ambientais ou sociais comprometendo a agricultura tradicional
familiar, pois ocupa a maior parte das terras da região, restando
aos agricultores grotas, regiões de pedras, entre outros que não são
atrativos aos produtores de cana (CARDOSO et al., 2012).
Para atingir melhores resultados na colheita, se pratica o uso
intensivo de agrotóxicos e os subprodutos oriundos do processamento
da cana-de-açúcar (vinhoto, por exemplo), que podem comprometer
a qualidade da água e dos habitats, afetando negativamente a biota,
atingindo também as populações ribeirinhas que dependem dos recursos
naturais para sua sobrevivência (CARDOSO et al., 2012).
Através dos resultados gerados pelas métricas, podemos observar
que mesmo as manchas com pequena área, possuem um perímetro
considerável, a exemplo da mancha 2, que possui apenas 37m² e
perímetro de 6.462m, havendo grande área de contato com outra ou
outras classes, entre elas a classe mangue (matriz).
Cultura permanente
A cultura permanente identificada na APA foi a do coco. Localizada
a oeste da APA, ocupa 126m², correspondente a apenas 0,08% da APA.
Está inserida na periferia da zona urbana de Rio Tinto na comunidade
da Vila Regina (território potiguar).
121
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Recifes de arenito
Os recifes de arenito, localizados a cerca de 300 metros da costa,
possuem importância na pesca e formação do banco de areia na margem
sul do Rio Mamanguape, que tem área de 432m², ocupando 0,29% da
APA, contendo 5 manchas de recursos, abrigando diferentes espécies,
da flora e fauna marinha. Residem também nos recifes de arenito as
macroalgas, como observou Araújo (2005), servindo de alimento para a
população da ictiofauna.
Os recifes também funcionam como “quebra-mar”, tornando
as águas menos agitadas, mais propícias à navegação e recreação.
Estes recifes são formados pela litificação das areias cimentadas por
carbonato de cálcio que correspondiam às linhas de praia (BRANNER,
1904; CARVALHO, 1983). É necessário atenção a esta classe no que
se refere aos impactos negativos gerados pelo pisoteio, principalmente
de turistas, comprometendo a biota e a qualidade do substrato onde se
localiza, caso a visitação não seja bem orientada.
Corpos d’água
A classe corpos d’água é formada pelos corpos d’água inseridos
nos limites geográficos da APA, consistindo em trechos de rios, riachos,
lagoas e lagunas, ocupando 12.586m², correspondente a 8,41% da APA,
composta por 4 manchas. São de suma importância para as atividades
122
realizadas pela comunidade e para o abastecimento residencial, além
da importância ecológica.
O Rio Mamanguape é o principal corpo d’água na APA (mancha
4 com área de 12.179m² e 179.060m de P/CB). Nasce a noroeste do
Município de Campina Grande na serra da Borborema a 500m de
altitude, com 170km de extensão (ANDRADE, 1997). Dividido em alto,
médio e baixo curso, é na sua parte mais baixa que se localiza a APA
onde o rio encontra-se com o mar (PALUDO & KLONOWSKI, 1999).
Esta classe merece uma atenção especial em seu manejo. Os
rios que cortam a zona urbana de Rio Tinto encontram-se em estado
elevado de degradação, com matas ciliares reduzidas ou inexistentes,
comprometendo a qualidade dos corpos hídricos localizados no interior
da APA, visto que fazem parte da mesma bacia hidrográfica.
A utilização dos recursos hídricos no baixo curso do rio
Mamanguape é bastante intensa, como observado in loco, sendo
destinada principalmente para irrigação, carcinicultura, uso industrial
e o abastecimento humano, comprometendo a qualidade do rio e
gerando diferentes tipos de conflitos relacionados ao uso da água, sendo
a monocultura da cana-de-açúcar a mais impactante (BARBOSA, 2006).
Oceano atlântico
A classe oceano atlântico, principal atrativo turístico da região,
também gera renda através da pesca. Possui 31.043m², representando
20,76% da APA. A região possui uma água turva devido à proximidade
das barras dos rios Mamanguape e Miriri e à movimentação pelas ondas,
aumentando a quantidade de partículas em suspensão. É propícia à
prática de esportes como surf e pesca esportiva.
123
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Conclusões
Agradecimentos
Referências
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APA da Barra do Rio Mamanguape – PB. Monografia (Graduação)
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Proteção Ambiental da Barra do rio Mamanguape, no estado
da Paraíba e dá outras providências. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF. 1993. Disponível
125
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
127
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
129
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
130
131
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Introdução
132
a regulamentação desses equipamentos prevê algumas nomenclaturas,
divididas em subcategorias, de acordo com a finalidade a qual se
destinam. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC),
por meio da Instrução Suplementar IS - Nº 21-002, publicada em outubro
de 2012, caracterizam-se como VANT todas as aeronaves projetadas
para operar sem piloto a bordo, que possuam carga útil acoplada e que
não sejam de caráter recreativo (ANAC, 2012). Desta forma, excluem-
se as aeronaves utilizadas com finalidade esportiva ou hobby que, por
definição legal, são denominadas aeromodelos. Em relação aos VANT,
são criadas duas subcategorias. A primeira, mais conhecida, é composta
pelas Aeronaves Remotamente Pilotadas (Remotely-Piloted Aircraft
– RPA) que, na mesma condição, não há piloto a bordo da aeronave,
mas esta é controlada remotamente através de uma interface como,
por exemplo, um computador, controle remoto, dispositivo digital, entre
outros. A segunda categoria trata-se da Aeronave Autônoma, que não
permite a intervenção externa durante a realização do voo, possuindo
a capacidade de realizar voos autonomamente com base em planos
de voos pré-programados auxiliados por Sistemas de Posicionamento
Global (Global Positioning System - GPS). Porém, o uso de aeronave
totalmente autônoma ainda é proibido no Brasil. Considerando que o
termo VANT é corretamente utilizado quando se tratar de um grupo
maior desses tipos de equipamentos, utilizaremos a terminologia RPA
neste capítulo, tendo em vista que estamos tratando especificamente de
um modelo de aeronave remotamente pilotada de caráter não recreativo
para aquisição de imagens aéreas.
De acordo com a ANAC, as RPA são divididas em 3 classes: a
classe 1 compreende RPA com peso máximo de decolagem maior que
150 Kg; a classe 2 compreende RPA com peso maior que 25kg e menor
ou igual 150 Kg; e a classe 3 possui peso máximo de decolagem de
25 Kg, utilizado em operações mais simples de monitoramento e são
operados até 120m de altura acima do nível do solo e em linha de visada,
dispensando licenças e habilitação para uso. Atualmente, diversos tipos
de RPA são comercializados no mercado, e sua popularização deve-se,
principalmente, ao seu baixo custo de aquisição e grande variedade de
aplicações. Entre elas, destacam-se as aplicações ambientais, nas quais
o uso de RPA permite a captação de imagens aéreas e auxilia tarefas de
mapeamento e análise do uso e cobertura da terra.
Em grandes áreas de plantações, as RPA aperfeiçoam a produção
dos agricultores, e auxiliam na tarefa de monitoramento agrícola
e ambiental por meio da captura de imagens aéreas. O uso dessas
aeronaves é cada vez mais frequente devido à economia gerada por
esses equipamentos, que eliminam gastos com deslocamento terrestre
133
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
138
eficiência do uso de câmeras não métricas para a obtenção de imagens
aéreas. Os estudos abordados em Júnior et al. (2014) e Júnior, et al.
(2015b), por exemplo, validam o uso dessas câmeras para a obtenção
de imagens aéreas visando a execução de tarefas relacionadas ao
mapeamento da cobertura da terra a partir de um RPA de pequeno
porte. Os trabalhos mostram que houve cobertura total e suficiente
para geração de ortomosaicos, desde que utilizados pontos de apoio
durante o imageamento utilizando câmeras fotográficas convencionais.
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) utiliza um
RPA de pequeno porte para obtenção de dados florestais na Amazônia,
especificamente na coleta de dados de sensoriamento remoto para
estimar o nível de carbono na floresta através de câmeras e sensores
acoplados (LEONEL, 2014).
A partir dos trabalhos apresentados, é possível perceber que
não existe uma solução ideal para todas as tarefas de monitoramento
ambiental e/ou agrícola. Alguns trabalhos, como os apresentados
em Jorge et al.(2014) e Urbahs & Jonaite, (2013), visam a detecção
de doenças na lavoura, porém a solução utiliza sensores espectrais
acoplados à RPA, o que aumenta os custos do projeto. Em Herwitz et
al. (2004) o objetivo principal é a coleta de imagens por um período
prolongado em plantações de grandes proporções e com apoio de uma
grande organização como a NASA não está preocupado com os custos
envolvidos, pois as vantagens alcançadas com uso do sistema são
superiores aos grandes prejuízos causados pela falta dele, mesmo assim
demandam altíssimo investimento para aplicações de médio e pequeno
porte.
Um grande avanço para redução de custos em projetos com uso
de VANT ocorreu a partir da popularização de câmeras não métricas,
que podem ser utilizadas até mesmo em trabalhos que requerem um
nível de precisão considerável como a fotogrametria, por exemplo.
Isso denota a possibilidade de uso dessas câmeras em atividades mais
simples como o monitoramento agrícola ou ambiental, principalmente
em casos nos quais a fotointerpretação atende de forma suficiente os
critérios qualitativos das análises. Os trabalhos de validação descritos
em Júnior et al. (2014) sinalizam para a grande utilização de câmeras
não métricas, pois colaboram com a redução de custos em projetos com
uso de RPA e, além disso, são facilmente encontradas no mercado.
139
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
140
r(x,y). A combinação das componentes i e r representam uma imagem
digital e pode ser expressa pela Equação 1.
Pré-processamento
142
Segmentação de imagens por limiarização
(3)
R1 e R2 são valores
𝐴𝐴 ⊕ 𝐵𝐵 = { 𝑧𝑧 pré-estabelecidos
|(𝐵𝐵̂𝑧𝑧) ∩ 𝐴𝐴 ≠ ∅ para o nível(4)de cinza
desejado na imagem de saída, normalmente são utilizados os valores 0
(preto) e 255 (branco).
143
Áreas com falhas identificadas
Ponto Central Área 1 Área 2 Área 2 Área 1
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
e𝑓𝑓(𝑥𝑥,
tem 𝑦𝑦) =o𝑖𝑖(𝑥𝑥,
objetivo
𝑦𝑦) ⋅ 𝑟𝑟(𝑥𝑥, de
𝑦𝑦) alargar regiões (1) mais claras e reduzir regiões
escuras na imagem. A definição formal da etapa de dilatação é dada
através da Equação 4. A dilatação de A por B é o conjunto de todos os
^
deslocamentos z de forma que B e A se sobreponham pelo menos por
um elemento (GONZALEZ & WOODS, 2007). O elemento estruturante
é entendido𝐶𝐶(𝑥𝑥, como 𝑦𝑦) =o 𝑅𝑅
conjunto
⋅ 0,2999 +bem definido
𝐺𝐺 ⋅ 0,587 + 𝐵𝐵 ⋅e0,114
conhecido, capaz
(2) de gerar
informações através da transformação a um conjunto desconhecido
(WANGENHEIM et al., 1998). As imagens utilizadas nessa etapa
devem ser imagens binárias ou em tons de cinza (MEDEIROS, 2003). Os
resultados alcançados com o operador de dilatação permitem preencher
espaços vazios, conectar objetos próximos na imagem e, dependendo da
aplicação, podem amenizar ruídos presentes na imagem. (3)
𝐴𝐴 ⊕ 𝐵𝐵 = { 𝑧𝑧 |(𝐵𝐵̂𝑧𝑧) ∩ 𝐴𝐴 ≠ ∅ (4)
Sistemas embarcados
Em geral, computadores embarcados possuem a mesma
estrutura dos computadores pessoais, inclusive com a presença comum
de alguns componentes para a realização das etapas de processamento,
armazenamento e comunicação de dados. Estes componentes se
referem à unidade central de processamento (CPU), memória principal
e interface Entrada/Saída (E/S). A conexão desses três elementos é
realizada a partir de um mecanismo de interconexão denominado
146
barramento do sistema. A diferença primária entre um computador
embarcado e um computador pessoal ocorre no propósito da aplicação
para o qual foram projetados. O primeiro é dedicado a realizar tarefas
específicas por meio de hardware e software com funções fixas, enquanto
que o segundo é capaz de realizar uma grande variedade de tarefas e
aplicações. Outras especificidades em relação ao computador embarcado
são citadas em Koopman (1996) como a interface humana que pode ser
uma simples luz piscando ou complexa como a visão robótica em tempo
real, a capacidade de realizar diagnósticos do sistema que está sendo
controlado, ou ainda podem possuir um hardware programável para
uma aplicação específica.
Computadores pessoais demandam grande poder computacional,
e por isso requerem processadores rápidos e eficientes, além de elevada
quantidade de memória principal para executar e gerenciar uma grande
variedade de tarefas simultaneamente. Tal demanda é justificada
em Catsoulis (2005), que cita a necessidade de armazenar o sistema
operacional, gerenciar diversos aplicativos, controlar a interface para
dispositivos de armazenamento em massa, e monitorar temperatura
e níveis de tensão dos componentes por meio de sensores. Além disso,
os computadores pessoais são dotados de muitos dispositivos de
controle E/S para manipulação do usuário como, por exemplo, teclado,
mouse, interface de áudio, monitor e conectividade (interface de rede
e periféricos). Considerando a organização do hardware, os sistemas
embarcados de alto desempenho não são diferentes de um computador
convencional. Os sistemas embarcados de menor porte executam funções
similares a um processador, incorporando algumas funcionalidades
através de um único chip, a exemplo dos microcontroladores. Estes
possuem internamente uma Unidade Central de Processamento (CPU)
e uma pequena quantidade de memória interna para executar suas
tarefas, cuja função primordial é o controle dos módulos de Entrada/
Saída (E/S), que são normalmente de propósito geral, conhecidos como
General-purpose input/output (GPIO). O acionamento de recursos
usando a porta GPIO é efetuado em ocasiões que necessitem do
acionamento de algum dispositivo ou para interpretação de dados
externos recebidos por essas portas.
A logística para iniciar o processamento de imagens aéreas
obtidas por RPA, por muitas vezes, demanda alto tempo. Considerando
o contexto ambiental, isso pode culminar em elevado tempo de resposta
e ocasionar prejuízos. A partir de alguns trabalhos, percebe-se a
necessidade de melhorias que possam garantir maior eficiência em
relação ao tempo de resposta para a solução de problemas. A partir da
maior parte dos trabalhos encontrados na literatura sobre o uso de RPA,
147
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
149
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Materiais e Métodos
152
Após a imagem ser convertida em escala de cinza, a primeira
técnica de limiarização (T1) global é aplicada. Devido a sua simplicidade,
essa etapa não requer alto poder de processamento computacional.
Para a imagem apresentada na Figura 8a, por exemplo, foi utilizado o
limiar T1=200, configurado através da função threshold disponível no
OpenCV. Isso significa que pixels com valor de nível de cinza inferior
a 200 foram definidos com valor igual a zero; caso contrário, foram
definidos com valores iguais a 255. A escolha do valor de limiar T1
ocorre de forma visual, de maneira que valores são testados inicialmente
até que a segmentação corresponda a níveis aceitáveis de semelhança
com as imagens originais, representando satisfatoriamente as áreas
de interesse. Devido à grande variedade de vegetação encontrada nas
imagens obtidas pelo RPA, os valores de limiar T1 sofreram adaptações
para se adequar a cada subgrupo analisado, pois as imagens foram
obtidas em diferentes horários do dia e sob diversas condições de
luminosidade, necessitando ajustar os valores de limiar para o correto
processamento das imagens. O resultado da imagem após a técnica de
limiarização pode ser comparado com a imagem em escala de cinza na
Figura 8b.
153
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Figura 9. Comparação de imagem com limiarização (a) e após a etapa de dilatação (b).
Fonte: Próprio autor.
154
Considerando o exemplo da Figura 10, foi definido na segunda
etapa de limiarização o valor de limiar T = 0,35, escolhido visualmente,
de forma que a imagem final processada corresponda às áreas de solo
exposto. Ao final dessa etapa, a tarefa de segmentação se completa e
proporciona subsídios para interpretação humana ou aplicação de
outros métodos computacionais. Os parâmetros de limiar T1 e T2
devem ser configurados para a análise de cada tipo de região devido às
características intrínsecas pertencentes a cada grupo de imagens, além
de outros fatores como a luminosidade do ambiente.
O algoritmo watershed resulta tradicionalmente em uma imagem
em gradiente, conforme a Figura 10a, acrescida de linhas conhecidas
como barreiras de watershed. Como o objetivo deste trabalho é a
identificação de solo exposto, ao invés da obtenção dessas barreiras,
optou-se por buscar os limites de contorno que, considerando uma
interpretação topográfica, representam a base das barragens obtidas
pelo algoritmo de segmentação, que pode ser vista na Figura 10b.
Considerando o uso do algoritmo em aplicações ambientais,
podem ser criadas duas novas funcionalidades. A primeira tem por
objetivo realizar uma estimativa do total de áreas degradadas, ou seja,
áreas que representam solo exposto na vegetação. Essas informações
são úteis para identificar e gerar dados de percentagem sobre os
níveis de degradação ambiental e auxiliam o monitoramento de áreas
de vegetação natural e/ou monocultura e policultura. A segunda
funcionalidade se encarrega de estimar a quantidade e o ponto central
das falhas. Esta última pode ser útil, por exemplo, para analisar a
melhor trajetória entre os pontos que podem ser visitados por um RPA
em altitudes mais baixas, visando a aquisição de novas imagens com
melhor resolução espacial. A estimativa de áreas de solo exposto e ponto
central de cada falha é realizada após todas as etapas de segmentação
das imagens.
O cálculo total de áreas degradadas em uma imagem segmentada
é feito a partir da contagem de pixels que representam solo e vegetação na
imagem. O algoritmo analisa cada coordenada (x,y) da imagem e verifica
qual valor binário (0 ou 255) de nível de cinza pertence à respectiva
coordenada ou pixel. A partir da contagem e frequência de ocorrência
desses valores é possível, a partir de uma relação simples, calcular os
percentuais que representam solo e vegetação, que são representados nas
imagens através das cores preta e branca, respectivamente. A imagem
segmentada mostrada na Figura 11a, por exemplo, é interpretada pelo
sistema como uma matriz composta por 921.600 pixels (considerando
a imagem de resolução 1280x720), dos quais 53.062 referem-se ao
155
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Figura 11. Imagem segmentada (a) e representação de áreas de solo exposto encontradas (b).
Fonte: Próprio autor.
Resultados
157
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
158
Conclusões
Referências
159
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
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Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
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163
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Introdução
164
Estudos nas mais diferentes áreas da Botânica tem incorporado,
em escala ascendente, a utilização de tecnologias que propiciem a coleta
de dados com referência geográfica, bem como o seu armazenamento e
o seu processamento, viabilizando, também, a análise espacial desses
dados. Assistimos, assim, a apropriação de geotecnologias, a exemplo
de equipamento de GPS (Global Positioning System), sensoriamento
remoto, Sistemas de Informação Geográfica (SIG), entre outros,
tornarem-se valiosas ferramentas auxiliares à execução de trabalhos
de campo, ao monitoramento e ao diagnóstico de comunidades vegetais
(SILVA, 2015). Entretanto, é de fundamental importância que todos
esses estudos necessitem, obrigatoriamente, ser conferidos com trabalho
de campo. As metodologias de utilização de dados de sensoriamento
remoto no campo da Botânica devem ser desenvolvidas com base
nas características espectrais, temporais e espaciais das espécies em
estudo. Portanto, deve-se observar conjuntamente os alvos de interesse
e as características dos sistemas de coleta de dados (SÁ, 2004).
A fragmentação dos habitats naturais leva ao desaparecimento de
inúmeras plantas e animais, além de propiciar a introdução de espécies
exóticas, causando uma série de distúrbios ecológicos, tendo como
consequência a perda de diversidade biológica (MACHADO & LOPES,
1998). Diferentes etapas do processo de reprodução dos vegetais, como a
polinização e a dispersão, são extremamente sensíveis à diminuição dos
ambientes naturais, uma vez que a fragmentação atua diretamente nas
plantas e animais polinizadores e dispersores (RATHCKE & JULES,
1993).
As interações ecológicas mutualísticas entre os organismos e
seu ambiente se dão principalmente através de processos tróficos,
que envolvem algum recurso ou energia capaz de produzir um dado
efeito específico no metabolismo do receptor e ainda através de
processos informativos, nos quais algum tipo de sinal é transmitido
(DUSENBERY, 1992). Inúmeras espécies animais visitam flores
em busca de recursos ou recompensas florais que são quaisquer
componentes de uma flor ou de uma inflorescência. As recompensas
florais podem ser consideradas como nutritivas (pólen, néctar e óleo) ou
não-nutritivas (resina, perfumes, gomas) (MACHADO & LOPES, 1998;
AGOSTINI et al. 2014).
As angiospermas apresentam vários tipos de interações com
animais incluindo interações mutualísticas associadas à polinização. A
polinização, propriamente dita, é o processo pelo qual os grãos de pólen
das anteras são depositados sobre o estigma ocorrendo posteriormente
a fertilização, dando origem a frutos e sementes, assegurando assim
a perpetuação das espécies (ENDRESS, 1994). Essa pode ocorrer,
165
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Procedimentos metodológicos
latitude sul, W 034˚ 54’ 59.3” e de longitude oeste) (Figura 1), sendo
coletadas amostras de espécies herbáceas, arbóreas e arbustivas que se
encontravam em floração e frutificação há um metro e meio para cada
lado do transecto.
Dados sobre o hábito das espécies, morfologia e cor das flores
e frutos foram registrados em planilha de campo. Foram coletados
exemplares do material para posterior análise no Laboratório de
Ecologia Vegetal (LABEV) da Universidade Federal da Paraíba, onde
o material coletado foi conservado em álcool 70%. Fez-se também o
registro fotográfico de algumas espécies.
O material foi identificado com o auxílio de bibliografia
especializada, e os exemplares não identificados foram enviados para
especialistas. A nomenclatura botânica utilizada foi a proposta pelo
Angiosperm Phylogeny Group 2009. Para cada espécie coletada foi
confeccionada exsicata e todo o material encontra-se depositado no
LABEV.
168
Ocorrências de espécies – Para verificar se as espécies da
restinga da APA ocorriam em outras restingas do Nordeste
foram consultados os seguintes levantamentos florísticos:
Leite & Andrade (2004) (47 espécies), Sacramento et al.
(2007) (124 espécies), Almeida et al. (2009) (187 espécies) e
Silva et al. (2008) (104 espécies) para Pernambuco; Meira
Neto et al. (2005) (67 espécies) para a Bahia; Matias &
Nunes (2001) (87 espécies) para o Ceará; Oliveira Filho
& Carvalho (1993) (263 espécies) e Pereira e Alves (2007)
(111 espécies) para a Paraíba; Cabral-Freire & Monteiro
(1993) (260 espécies) para o Maranhão e Freire (1990) (264
espécies) para o Rio Grande do Norte.
Atividade de laboratório – As síndromes de polinização
foram consideradas com base nos critérios propostos por
Faegri & Pijl (1979) e as síndromes de dispersão foram
consideradas com base nos critérios propostos por Pijl
(1982). Para a tipologia de frutos, seguiu-se os critérios de
Barroso et al. (1999) e Vidal & Vidal (2003). Para algumas
espécies, a caracterização das síndromes foi complementada
com observações diretas do agente polinizador/dispersor e
fotografias das flores e dos frutos.
Os valores de precipitação mensal de novembro de 2009 a
junho de 2011 foram obtidos pelo banco de dados da Agência
Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (AESA).
Os dados referentes à precipitação, floração e frutificação
foram submetidos ao teste de Correlação de Spearman
utilizando o software Bioestatistic 5.0.
Resultados e Discussão
170
Quadro 1. Características relacionadas às síndromes de polinização e dispersão das
espécies vegetais estudadas na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio
Mamanguape, Paraíba, Brasil.
171
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
172
Na restinga analisada, não foi encontrada nenhuma espécie
endêmica, e 93% das espécies possuem registro em outras restingas
do Nordeste de acordo com os levantamentos florísticos utilizados para
comparação citados na metodologia para a distribuição das espécies.
As espécies abaixo são citadas pela primeira vez para as restingas
da Paraíba: Alternanthera brasiliana (Amaranthaceae), Hohenbergia
ramageana (Bromeliaceae), Tephrosia purpuria (Fabaceae), Caesalpinia
bonduc e Chamaecrista desvauxii (Caesalpiniaceae), Phoradendron
serotinum (Loranthaceae) e Ouratea lucens (Ochnaceae).
As famílias botânicas que mais se destacaram em número
de espécies na área de estudo foram Fabaceae (15) e Rubiaceae (6).
Esses dados foram semelhantes ao encontrado por Almeida et al.
(2009), Sacramento et al. (2007) e, Silva et al. (2008) em restingas de
Pernambuco; Matias & Nunes (2001), em restinga do Ceará e Pereira
& Alves (2007) em restinga da Paraíba.
Ocorreu um aumento no número de espécies com flores a
partir de julho/2010, quando foram observados os menores índices de
precipitação, diminuindo a floração em abril/2011, mês com o maior
índice de precipitação. Observou-se que as espécies estudadas na APA
da Barra de Mamanguape floresceram durante o ano todo, tanto nos
meses de menor precipitação quanto nos meses de maior precipitação
(Figura 3).
Foi realizado o teste de normalidade entre as variavéis, floração
(p=0,3881) e precipitação (p=0,0723), posteriomente realizou-se teste
de correlação de spearman, tendo como resultado uma correlação
não significativa entre floração e precipitação (rs=0,3449; t=1,6014 e
p=0,1257).
173
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
174
Figura 3. Total de espécies herbáceas, arbóreas, arbustivas e trepadeiras em flor
durante meses/anos e precipitação, na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do
Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.
175
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
177
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
178
Os resultados mostram que na maioria das espécies visitadas
por esfingídeos e morcegos, ocorreu o predomínio de flores brancas,
enquanto que as espécies visitadas por aves foram de coloração vistosas.
As abelhas visitaram flores de diversas cores, sendo o amarelo e creme
as cores predominantes entre as espécies visitadas. Essas cores, bem
como o doce e agradável odor emitido pelas flores durante a antese, são
atributos relacionados à atração de abelhas, uma vez que são sensíveis
a estímulos olfativos e visuais (FAEGRI & PIJL 1979; KEVAN &
BAKER 1983).
Entre os tipos florais considerados, o tipo aberta (56%) foi o que
mais predominou, seguido pelo tipo tubular (24%), papilionácea (14%)
e pincel (6%). A predominância de flores do tipo aberta e tubo também
foram encontradas por Machado & Lopes (2003) e Martins & Batalha
(2006). Alta frequência de flores do tipo tubo contribui fortemente para
uma alta frequência de flores em que o recurso floral não é exposto
ao visitante (MACHADO & LOPES 2003), correspondendo a 24% das
espécies estudadas. A diversidade dos tipos florais encontrados na
região neotropical demonstra a grande variedade de angiospermas
nessa região, o que leva a uma grande diversidade de visitantes florais
utilizando os recursos dessas plantas (ENDRESS 1994).
Quanto à simetria, o tipo predominante foi actinomorfa com 71%,
seguido de zigomorfa com 29%. Provavelmente, flores actinomorfas
foram encontradas na maioria das espécies, principalmente devido
às formas das flores aberta e tubo, as espécies zigomorfas foram
representadas principalmente pela forma papilionácea e pincel. Estudos
revelam uma alta existência de flores actinomorfas (ARAÚJO ET AL.
2009; FREITAS & SAZIMA 2006; MACHADO & LOPES 2003,2004;
QUIRINO 2006).
O sistema sexual do tipo hermafrodita foi o mais representativo
entre as espécies, com 84%, seguido pelo sistema unissexual masculino
11% e unissexual feminino com apenas 5%. Percentual semelhante tem
sido registrado em outros ecossistemas (ARAÚJO et al. 2009; BARBOSA
1997; BAWA et al. 1985; CARA 2006; FREITAS & SAZIMA 2006;
MACHADO & LOPES 2003, 2004, 2006; QUIRINO 2006; RAMIREZ
1993). As espécies hermafroditas foram mais bem representadas dentro
da família Fabaceae e Rubiaceae.
Foram encontradas mais espécies com tamanho de flores grandes,
41%, em relação aos de tamanho médio 33% e pequeno 26%. Anthurium
affine Schott. (Araceae), Cereus fernambucensis Lem. (Cactaceae) e
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K. Schum. (Rubiaceae) foram
as espécies com o maior tamanho de flores, enquanto que Maytenus
179
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
181
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
182
ocasionando a síndrome de dispersão autocórica. Nessas sementes pode
ocorrer outra dispersão, secundária, podendo ser realizada por formigas
que promovem a retirada da estrutura que recobre as sementes (polpa)
para, em seguida, devolvê-la à superfície do solo (TEIXEIRA 2007;
SILVA et al. 2008). As espécies com dispersão autocórica apresentam
frutos secos (SILVA & RODAL 2009).
183
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
184
precipitação. O primeiro estudo mencionado acima foi realizado em
duas áreas com vegetação de caatinga e em remanescente de mata
atlântica, já o segundo foi desenvolvido apenas na caatinga.
O ecossistema na área de restinga da APA do Rio Mamanguape
apresentou uma grande frequência de espécies zoocóricas com
frutificação contínua ao longo do ano, fator importante para a
manutenção das espécies dependentes dos frutos como recursos tróficos.
Abelhas, insetos e aves foram considerados como principais
agentes polinizadores e dispersores, o que os tornam importantes
para a manutenção das espécies de plantas dessa área. Além disso, a
dispersão e a polinização são meios eficazes para controlar e manter a
diversidade biológica, podendo assim ser consideradas como um pré-
requisito para a regeneração dos ecossistemas.
O ecossistema na área de restinga da APA do Rio Mamanguape
apresentou uma grande diversidade de espécies vegetais que oferecem
recursos tróficos ao longo do ano para a biota local, fator de relevância
devido a este ambiente sofrer constantes mudanças físicas como
temperatura, salinização, disponibilidade de água e solo pobre em
nutrientes. Além disso, a polinização e a dispersão é um meio eficaz
para controlar e manter a diversidade biológica podendo assim ser
considerada com um pré-requisito para a continuidade dos ecossistemas.
Dessa maneira, podemos considerar a APA como uma área com extrema
relevância com quadros de alta riqueza ecológica que à qualifica como
importante ecossistema para conservação.
185
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Agradecimentos
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195
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Introdução
196
físicas e da capacidade de dispersão de cada espécie-alvo (LAURENCE
& VASCONCELOS, 2004; METZGER, 1999; RICKETTS, 2001).
Tomando como exemplo a preguiça-comum (Bradypus variegatus), os
fragmentos isolados por matrizes não florestais tornaram-se obstáculos
para o deslocamento dos indivíduos entre estas áreas, pois seus
membros pélvicos e torácicos são adaptados para locomoção em troncos
e galhos das árvores, se locomovendo no solo com grande dificuldade
(CUARÓN, 2000; KOWALSKI, 1981).
Indivíduos de preguiça-comum são encontrados em fragmentos
naturais e em pequenos habitats isolados nas áreas urbanas no
Município de Rio Tinto, na Paraíba. O município tem 8.903 ha de seu
território inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra
do Rio Mamanguape, abrangendo praticamente toda área urbana
conforme informa o Plano de Manejo:
199
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
200
Material e Métodos
Área de estudo
O estudo foi realizado na Praça João Pessoa, na cidade de Rio
Tinto, localizada a 53km da cidade de João Pessoa (0,6º4’23.29”S),
capital do Estado da Paraíba. Na cidade de Rio Tinto são encontrados
fragmentos de floresta, sendo um deles parte da Reserva Biológica
Guaribas (SEMA III), rios, estradas, construções urbanas e o Campus
IV da UFPB (Figura 1a). A Praça caracteriza-se pela presença de casas,
bares e restaurantes. Nesse local, há nove figueiras (Ficus microcarpa
L.) do lado esquerdo da Praça, mas os indivíduos de preguiça-comum
concentram-se em apenas oito figueiras, estando todas conectadas
através de suas copas, o que possibilita a locomoção dos mesmos (Figura
1b). O Município de Rio Tinto tem 8.903 ha de seu território inserido
na Área de Proteção Ambiental (APA) Barra do Rio Mamanguape, de
forma que a Praça João Pessoa está na área de abrangência da APA
(Figura 1c).
201
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Coleta de dados
A coleta de dados comportamentais dos indivíduos que habitam
as figueiras na Praça João Pessoa abrangeu o período de abril de 2011
a dezembro de 2012. A distribuição angular e organizada das figueiras
proporcionou um melhor campo de visualização do observador para os
indivíduos, sendo possível realizar observações também de interações
agonísticas. Para as observações do padrão comportamental e da
área de vida, foi utilizado o método de “varredura instantânea”
(ALTMANN, 1974) com registros a cada 5 minutos, que consiste no
registro instantâneo dos comportamentos exibidos pelos indivíduos
que estão no campo de visão do observador. Para as interações
agonísticas, os dados foram registrados pelo método de “todas as
ocorrências” (ALTMANN, 1974), em que os comportamentos foram
registrados à medida que foram exibidos, bem como o sexo e a classe
etária dos indivíduos envolvidos nas interações agonísticas.
Foram considerados para fins de registros os comportamentos:
1) parado (P), no qual a preguiça não exibe movimentos na cabeça e
nos membros do corpo, podendo estar sentada, deitada, pendurada
ou com os seus membros anteriores e posteriores abertos apoiados
no substrato; 2) dormindo (DR), quando a preguiça está com a cabeça
baixa e seus membros agarrados ou apoiados ao substrato e sem
apresentar movimentos, com o corpo curvado e, em algumas ocasiões,
assumindo um formato arredondado; 3) deslocando (DE), quando a
preguiça executa qualquer deslocamento realizado com movimentos
alternados dos seus membros pélvicos e torácicos apoiados no
substrato. O movimento pode apresentar uma combinação alternada
dos membros torácicos direito e pélvico esquerdo, torácico esquerdo e
pélvico direito. Os deslocamentos também podem ser feitos através
de movimentos acrobáticos do corpo entre os galhos; 4) comendo
(C), a preguiça, com o auxílio de um dos membros ou esticando o
pescoço, leva à boca o alimento (folhas) e o mastiga; 5) catando (CT),
a preguiça sentada, deitada, pendurada ou de cabeça para baixo, com
o auxílio das garras exibe movimentos rápidos e repetitivos com uma
das garras ou alternando tais movimentos com as duas garras sobre
o pelo; 6) atividades fisiológicas (AF), a preguiça desce da copa em
direção à base da figueira junto ao solo e defeca e/ou urina. Nas áreas
urbanas, a preguiça também defeca e urina pendurada nos galhos
das extremidades das figueiras, estando suspensa apenas pelos seus
membros torácicos.
202
Os comportamentos agonísticos (AG) podem ser exibidos sem
contato físico, nos quais o indivíduo ergue um dos membros torácicos,
exibindo suas garras para o oponente, mantendo os outros membros
agarrados ao substrato. Nessa categoria também estão incluídas
agressões com contato físico, onde um dos indivíduos se mantém preso
ao substrato pelos seus membros pélvicos e um torácico, levantando
o outro membro, podendo bater ou puxar e/ou apertar com força sua
garra em qualquer parte do corpo do seu oponente. Também são
descritas para o comportamento agonístico vocalizações emitidas pelo
oponente durante o conflito.
As mudanças na paisagem da Praça João Pessoa e os impactos
dos elementos urbanos foram registrados de janeiro de 2013 a julho
de 2015. Para isso, foram gerados mapas por geoprocessamento em
ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG) para caracterizar
o ambiente urbano e suas mudanças na Praça João Pessoa. Para
estimar o número de indivíduos nas figueiras, todas as copas das
figueiras foram observadas e, conforme os indivíduos foram avistados,
o registro foi inserido para a contagem.
Os indivíduos foram diferenciados por características físicas, cor
ou manchas na pelagem. Para estimar a idade foram considerados: 1)
filhote - quando o indivíduo estiver sob o cuidado parental da mãe ou
quando o mesmo é encontrado sozinho e apresenta um pequeno porte
(Figura 2); 2) subadulto - indivíduos com tamanhos maiores que os
filhotes e menores que os adultos; 3) adulto - indivíduos de tamanho
superior ao de subadulto. Os machos foram diferenciados das fêmeas
através da presença do especulum, caracterizado por uma mancha
preta nos pelos na região dorsal das preguiças machos, facilitando a
identificação dos sexos (Figura 3).
Por meio de caminhadas em torno da distribuição das figueiras,
de forma que todas as árvores em que havia preguiças foram marcadas
com fitas e, posteriormente, tiveram os pontos georreferenciados
com o auxílio do aparelho GPS (Global Positional System) Etrex®10
Garmin, com os pontos representados em UTM (Universal Transversa
de Mercator). Também foi calculado o tamanho da área de vida
utilizando a função (calculo da área) desse instrumento.
203
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Análise estatística
Todas as categorias comportamentais registradas foram
submetidas ao teste de normalidade Shapiro–Wilk (p= 0,05), onde foi
obtida uma distribuição não paramétrica dos dados (p<0,05). Devido
204
à natureza das amostras, foi aplicado aos dados o teste de Kruskal-
Wallis, seguido do teste de Dunn, para comparação múltipla entre os
postos. Foi considerado o nível de significância de 5%. Esses testes
foram utilizados para verificar se há diferenças significativas entre
os comportamentos exibidos. Todas as análises estatísticas foram
realizadas no programa BioEstat 5.3.
Resultados
A proporção de comportamentos exibidos mostrou que o
comportamento parado (P) teve maior predominância, representando
32,36% dos registros. Já o comportamento deslocando (DE) apresentou
o percentual de 22,39%, o dormindo (DR) 18,14%, o comendo (C) 12,65%
e o catando (CT) 13,51%. Os comportamentos agonísticos (AG: 0,73%) e
as atividades fisiológicas, urinar e defecar (AF: 0,22%), apresentaram
os menores percentuais (Figura 4).
205
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
206
Figura 7. Exibição de garras nas interações agonísticas entre indivíduos adultos de
preguiça-comum (a). Indivíduo adulto de preguiça-comum puxando o membro posterior
de outro indivíduo nas interações agonísticas (b). Desenhos: Elaine Pedrosa.
Figura 8. Diferenças entre as médias dos postos apresentadas pelo teste de Kruskal
Wallis, seguida do teste de Dunn para os comportamentos exibidos por indivíduos de
preguiça-comum (Bradypus variegatus) na Praça João Pessoa. Os valores de p são
mostrados em cima de cada barra.
207
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
208
Figura 9. Fêmea adulta de preguiça-comum (Bradypus variegatus) encontrada morta
no solo da Praça João Pessoa. Foto: acervo do projeto “Preguiças urbanas, Rio Tinto, PB”
(UFPB).
209
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
210
Figura 12. Figueira caída na Praça João Pessoa, Rio Tinto, PB. Foto: Gerlane Bezerra.
Discussão
211
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
212
elevada densidade de indivíduos nas figueiras, aumentando também a
competição entre fêmeas.
A competição pode ser uma das causas dos comportamentos
agonísticos entre indivíduos. Assim como as fêmeas, os machos
competem por recursos alimentares e também por fêmeas em períodos
de reprodução já que há uma desproporção sexual em relação ao
número de machos e o número de fêmeas. Tal competição se expressa
nos comportamentos agonísticos entre indivíduos, sendo esse tipo
de interação (agonística) pouco observada em ambientes florestais
(BEEBE, 1926; GREENE, 1989). A queda de uma das figueiras, que
compõe a área de vida dos indivíduos na Praça João Pessoa, modificou
a paisagem. Tal mudança reduziu o tamanho da área de vida de forma
a influenciar nos comportamentos dos indivíduos, já que parte dos
recursos alimentares (folhas jovens das figueiras) se perdeu. O fato dos
indivíduos estarem isolados na Praça João Pessoa e não terem como se
deslocar para os fragmentos florestais presentes na cidade de Rio Tinto
poderá aumentar a frequência de interações agonísticas.
Conclusões
213
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Referências
214
BEEBE, Willian. The three-toed sloth. Zoologica, New York, v.7, n.1,
p.1–67, 1926.
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gov.br/planodemanejo/APA/PB/> Acesso em: 14 de março de 2016.
CASSANO, Camila. Ecologia e conservação da preguiça-de-
coleira (Bradypus torquatus Illiger, 1811) no sul da Bahia. 2006. 106
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Federal de Santa Crus, Ilhéus. Bahia, 2006.
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the Atlantic forest maned sloth Bradypus torquatus (Xenarthra:
Bradypodidae). Journal of Zoology, London, v.246, p.1- 10, sep. 1998.
CHIARELLO, Adriano; CHIVERS, David; BASSI, Clarisse; MACIEL,
Maria; MOREIRA, Leandro; BAZZALO, Mariel. A translocation
experiment for the conservation of maned sloths, Bradypus torquatus
(Xenarthra, Bradypodidae). Biological Conservation. Elsevier,
v.118, p.421-430, mach. 2004.
CONSENTINO, Luciana Nogueira. Aspectos do comportamento
da preguiça-comum, Bradypus variegatus (Xenarthra,
Bradypodidae) em uma área de semi-cativeiro no município
de Valença – Rio de Janeiro. 2004. Dissertação (Programa de Pós
– Graduação em Biologia Animal) Universidade Federal Rural Rio de
Janeiro, Seropédica, 2004.
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temperate and tropical forests. In: PALO, Thomas.; ROBBINS, Charles.
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stress. Urban Ecosystms, Auburn, v.9, n.1, p. 5–12, dec. 2006.
FAHRIG, Lenore. Effects of fragmentation on biodiversity. Annual
Review of Ecology, Evolution and Systematics. v.34, p. 487-515,
aug.2003.
215
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
217
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
219
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Joel Silva dos Santos 43, Anne Falcão de Freitas 44, Beatriz Barbalho de Melo 45,
Haymée Nascimento de Alencar 46, Nadjacleia Vilar Almeida 47
Introdução
42 Parte do texto foi publicada na Revista Caminhos da Geografia. v. 15, n. 50, p. 89–99, 2014.
43 Bacharel e Licenciado em Geografia\UFPB; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente\PRODEMA-U-
FPB; Doutor em Recursos Naturais\UFCG. Professor do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente. Professor
do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
44 Bacharel em Ecologia e Licenciada em Biologia\ UFPB; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente\
PRODEMA-UFPB; Doutoranda no PRODEMA\UFPB
45 Bacharel em Ecologia\UFPB; Mestre em Engenharia Civil e Ambiental\ PPGECAM–UFPB.
46 Bacharel em Ecologia\UFPB
47 Bacharel e Licenciada em Geografia\UFPB; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente\PRODEMA\
UFPB; Doutora em Geografia\UFF. Professora do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente
220
cada vez mais comprometendo a qualidade de vida das populações
residentes nessas áreas, bem como, a sustentabilidade dos sistemas
ambientais. Dentre os sistemas ambientais afetados pela a ação
antrópica, pode-se verificar que o sistema atmosférico é um dos mais
comprometidos. A formação de ilhas de calor, a intensificação do
efeito estufa e o desconforto térmico são exemplos claros de alterações
climáticas em ambientes urbanos.
Segundo projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) (2007), o planeta passará por um aumento médio da
temperatura entre 1,8ºC a 4ºC até 2100. Embora ainda não seja consenso
entre os cientistas, o aquecimento global acarretará em impactos
ambientais significativos com perdas econômicas sociais e ambientais,
principalmente entre as populações residentes em áreas urbanas.
Nesses ambientes, vários estudos demonstram que mudanças
significativas na atmosfera urbana são provocadas principalmente pelas
diversas formas de uso e ocupação do solo, geometria das construções e
a constituição de seus materiais de revestimento, pois as trocas de calor
por convecção entre o solo e os edifícios aumentam o desconforto térmico
no espaço intraurbano (BOURBIA e BOUCHERIBA 2010; STERWART
e OKE 2010; ANDREOU e AXARLI 2012). Esse desequilíbrio térmico,
afeta a qualidade de vida das populações residentes em áreas urbanas
(MARTINI et al., 2013). Tal problemática também pode afetar
diretamente a saúde da população e, consequentemente, seu bem-estar
com o desconforto térmico e a formação das ilhas de calor (ÉGERHÁZI
et al., 2013).
Como pôde ser discutido, o crescimento desordenado das cidades
e a falta de planejamento ambiental adequado para cada região,
podem afetar as condições climáticas de uma determinada localidade,
o que pode trazer profundas influências sobre a qualidade de vida das
populações. Melo et al., (2010, p.2050), afirmam:
222
É diante desse contexto que este estudo se apresenta,
considerando a importância do conhecimento da climatologia urbana
para o planejamento ambiental. O objetivo principal da pesquisa
é avaliar as condições do campo térmico urbano do Campus IV da
Universidade Federal da Paraíba. O trabalho também se propõe a
elaborar cenários futuros, considerando-se as projeções de aumento de
temperatura do quarto relatório de avaliação do IPCC (2007). Dessa
forma, esta pesquisa visa contribuir para o planejamento de políticas
públicas e a gestão sustentável do Campus IV da UFPB.
Material e Métodos
Área de estudo
A pesquisa foi realizada no Campus IV da Universidade Federal
da Paraíba – UFPB, localizado no município de Rio Tinto/PB, situado
na microrregião do Litoral Norte e na mesorregião da mata paraibana
no Estado da Paraíba. Vale salientar que o Campus IV encontra-se
dentro dos limites territoriais da Área de Proteção Ambiental (APA) da
Barra do Rio Mamanguape, como também, os municípios de Rio Tinto,
Marcação, Lucena e Baia da Traição (Figura 1).
A área de estudo está sob a influência dos ventos alísios de
sudeste durante todo o ano. O clima predominante se enquadra em
tropical chuvoso, de acordo com classificação Am, segundo Köeppen. A
área de estudo é caracterizada por duas estações bem definidas (seca
e chuvosa), predominantemente quente e úmida durante todo ano
(SANTOS, 2011).
223
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
224
(dezembro/2012, janeiro e fevereiro/2013) e período chuvoso (maio,
junho e julho/2013).
Coordenadas Coordenadas
Pontos Local
UTM (X) UTM (Y)
P1 Praça 1 270779 9247194
P2 Resquício de mata atlântica 270640 9247202
P3 Praça 2 270681 9247164
P4 Biblioteca 270706 9247283
P5 Salas 270665 9247134
225
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Resultado e Discussão
228
e solo exposto, sem cobertura vegetal. Com isso, pode-se perceber que
a maior parte do material de revestimento é impermeável, responsável
pela retenção de calor e diminuição do albedo. O entorno desse ponto
é caracterizado por edificações de um a dois pavimentos, impedindo a
circulação do vento predominante.
Salas (P5): esse ponto encontra-se situado em uma área com
predominância do solo exposto e permeável, seguido do revestimento do
tipo cerâmico. Apresentando uma edificação com dois pavimentos no seu
entorno.
229
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
230
Pode-se constatar também que os distintos tipos de materiais de
revestimento das amostras experimentais apresentam propriedades
térmicas diferenciadas, o que implica em alterações no campo térmico
e formação de microclimas variados, determinando diferentes valores
no que se refere à temperatura (Figura 5) e umidade relativa do ar
(Figura 6) dos diferentes pontos de monitoramento. A área constituída
por vegetação atuou como regulador térmico da área de estudo. Tais
resultados são corroborados por Stewart e Oke (2009; 2010), Shashua-
Bar et al. (2011), Alves e Biudes (2012) e Balogun et al. (2012).
231
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Cenários
No que diz respeito às projeções para o ano de 2020, apenas o ponto
P2 apresenta-se desconfortáveis no inverno (Figura 7A). Já durante
o período seco todos os pontos apresentam-se muito desconfortáveis
(Figura 7B).
Nos anos 2030 e 2040, nos períodos climáticos que caracterizam a
região, todos os pontos entram na classificação do Índice de Thom como
muito desconfortáveis (Figura 8).
232
Figura 8. Cenário de IDT em 2030 e 2040 dos pontos experimentais durante o período
chuvoso (A) e período seco (B) no Campus IV-Litoral Norte/Universidade Federal da
Paraíba, no município de Rio Tinto.
Tabela 4. Índice de Desconforto Térmico das amostras em função das projeções do IPCC
no Campus IV-Litoral Norte/Universidade Federal da Paraíba, no município de Rio Tinto.
233
Geotecnologias e Meio Ambiente:
Analisando uma Área de Proteção Ambiental
Conclusão
Referências
236
SHASHUA-BAR, L.; PEARLMUTTER, D.; ERELL, E. The influence of
trees and grass on outdoor thermal comfort in a hot-arid environment.
International Journal of Climatology. v. 31, p. 1498-1506, 2011.
STEWART, I.; OKE, T. Classifying urban climate field sites by “local
climate zones”: the case of Nagano, Japan. The seventh International
Conference on Urban Climate. 2009.
STEWART, I.; OKE, T. Thermal differentiation of local climate zones
using temperature observations from urban and rural field sites. 2010.
THOM, E. The discomfort index. Weatherwise, v. 12, p. 57–60, 1959.
237
Sobre esta publicação
A lotação do curso de Bacharelado em Ecologia/Campus IV/UFPB, não poderia ser mais adequada,
entre duas Unidades de Conservação: Reserva Biológica Guaribas e APA da Barra do Rio Mamanguape.
Brotando dessa simbiose a utilização de ambas como laboratórios naturais para atividades didáticas,
de pesquisa e extensão.
O que se poderia esperar de um Curso de Ecologia com recursos naturais, tão bem selecionados, o
qual contou ainda, com uma temporariedade poética, iniciando as primeiras turmas na primavera
de 2006? Bons frutos, claro! Como exemplo, destes, ao longo dos 10 anos do curso, temos aqui esta
obra, divulgando pesquisas realizadas sobre a APA da Barra do Rio Mamanguape, com a participação
de vários docentes, discentes e técnicos do Curso de Bacharelado em Ecologia.
ISBN: 978-85-68199-05-3
9 788568 199053