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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE ODONTOLOGIA

JHOWCY MARIELLEN PEREIRA RODRIGUES

DISCIPLINA DE IMPLANTODONTIA

ASPECTOS SISTÊMICOS DE INTERESSE CIRÚRGICO NA IMPLANTODONTIA

São Luís

2016
INTRODUÇÃO

Algo que transformou a Odontologia e trouxe benefícios em relação aos tratamentos


convencionais foi a técnica de osseointegração, com a preservação dos dentes remanescentes,
melhor retenção e estabilidades às reabilitações, com resultados previsíveis e estáveis ao longo
do tempo. Algumas falhas poderão ocorrer, mesmo havendo altos índices de sucesso, acima
dos 90%, e averiguou-se que o hábito de fumar, doença periodontal, irradiação, osteoporose,
diabetes, idade e qualidade óssea inadequada foram os principais fatores relacionados aos
pacientes, que podem afetar a osseointegração. Essas condições podem contribuir para o
sucesso ou o fracasso da reabilitação oral com implantes, há risco de problemas cirúrgicos na
instalação de implantes dentários e/ou de enxertos (mal-estar, sangramentos e risco de morte)
e risco de perda do implante influenciada por doenças sistêmicas e por hábitos do paciente.
Para a escolha dos pacientes de implantodontia a análise criteriosa tem sido recomendada.
História médica e familiar e condição oral e perioral devem ser sondadas; e uma avaliação
clínica minuciosa, associada a exames complementares, como diagnóstico por imagem e
exames laboratoriais (sangue e urina), é recomendada. Informações de hábitos, como o
tabagismo, o consumo de bebidas alcoólicas, o bruxismo e a dieta devem ser interpretadas e
registradas. O tratamento interdisciplinar, com a avaliação do médico responsável pela saúde
ou pelo tratamento da condição sistêmica que o paciente apresenta, deve ser observado. Deve-
se levantar todos os possíveis tratamentos que o paciente necessita, juntamente à terapia com
implantes. Esses cuidados devem estar presentes antes de iniciar qualquer tratamento.
O treinamento permanente, a percepção do operador e a atualização permanente
permitem a indicação correta e o sucesso no tratamento com implantes dentários. Estudos
mostram um aumento na qualidade de vida (fala, estética e autoimagem) após o
tratamento com implantes dentários. É necessário, contudo, identificar expectativas irreais que
os pacientes possam ter a respeito dos implantes e das próteses sobre implantes, pois as
complicações e o fracasso de tais tratamentos não se restringem ao risco médico e à perda, mas,
principalmente, relacionam-se à satisfação final do paciente com o seu resultado.

REVISÃO DE LITERATURA

DOENÇAS SISTÊMICAS E SEU RISCO CIRÚRGICO


Diabetes Meliitus
Classificação: Baseada na etiologia, e não no tipo de tratamento. De acordo com a American
Diabetes Association (ADA), existem quatro tipos de DM. O DM tipo I é a forma presente em
5-10% dos casos, e é resultante da destruição de células betapancreáticas, com consequente
deficiência de insulina. Dentro dessa classificação, podem, ainda, ser divididos em autoimune
e idiopático. O DM tipo II é caracterizado por defeitos na ação e na secreção da insulina, sendo
a forma presente em 90-95% dos casos. Podem ocorrer em pacientes que apresentam sobrepeso
ou obesidade. O diabete gestacional, similar ao DM tipo II, está associado tanto à resistência da
insulina quanto à diminuição da função das células beta.
Complicações: Resposta do hospedeiro, afeta a microbiota regional e pode ter também
alterações fisiológicas, clínicas e imunológicas. Os pacientes diabéticos têm uma maior
probabilidade a infecções e à deficiência de cicatrização. Na cavidade oral, é comum ocorrer
xerostomia, cárie e periodontite.
Diagnóstico: Sintomas de diabetes e concentração casual de glicose plasmática ≥ 200mg/dL,
em qualquer momento do dia, sem relação com o tempo desde a última refeição; glicose
plasmática em jejum ≥ 126mg/dL; glicose plasmática de duas horas ≥200mg/dL, durante o teste
oral de tolerância à glicose.
Relatos: A perda óssea em longo prazo é mais grave entre os pacientes com diabetes tipo I do
que entre os com diabetes tipo II, e que a densidade mineral óssea em pacientes com diabete
tipo I é pelo menos 10% menor entre os sexos, e por idade, do que em pessoas saudáveis.
Estudos concluíram que os pacientes diabéticos podem receber tratamento com implantes em
todos os casos de reabilitação, inclusive em áreas enxertadas, não apresentando grau de
insucesso superior ao da população normal, desde que o nível de glicose no plasma esteja
normal ou próximo do padrão, em relatos comprovados por exames complementares.
Interesse Cirúrgico: A maioria dos estudos clínicos indica que a diabetes não é uma
contraindicação para instalação de implantes, e sim uma condição que requer controle
metabólico. Torna-se necessário o estudo e estabelecimento de parâmetros que permitam
objetivar este controle. Nos pacientes com DM detectado, o importante é definir a extensão da
cirurgia e o tipo de diabetes. Nos casos que envolvem pacientes diabéticos controlados apenas
por dieta, não devem ser tomadas precauções especiais, exceto se o controle do diabetes for
significativamente perturbado pelo procedimento. Em pacientes diabéticos que utilizam
insulina, as cirurgias exigem cuidados específicos, sendo necessária uma avaliação mais
criteriosa nos resultados clínicos/laboratoriais prévios à cirurgia, o que requer acompanhamento
médico. Uma sugestão constante é a cobertura com antibióticos para cirurgias em pacientes
diabéticos não controlados, pois estes apresentam redução na atividade imunitária e cicatrização
mais lenta, com consequente maior risco de desenvolver infecção pós-operatória, porém
existem estudos que contraindicam a instalação de implantes nesses pacientes.

Cardiopatias
Os problemas cardiovasculares estão diretamente relacionados aos procedimentos
odontológicos, especialmente os mais invasivos, como é o caso da implantodontia. Deve-se ter
em mente que todos os pacientes, independentemente da idade, são possíveis portadores de
cardiopatias. Um exemplo de cardiopatia são as doenças cardíacas congênitas, que podem afetar
inclusive as crianças. A grande dificuldade é que nem sempre as patologias cardíacas são
diagnosticadas e, consequentemente, não são do conhecimento do paciente.
Diagnóstico: Uma boa anamnese e um exame físico limitado (ausculta cardíaca e pulmonar,
avaliação da pressão arterial (PA), pulso, frequência respiratória e temperatura) são
fundamentais para todos os pacientes. Se houver suspeita (após avaliação clínica inicial,
incluindo avaliação dos sinais vitais) de que o paciente é portador de doença cardiovascular, a
melhor solução é suspender o procedimento e pedir o parecer (por escrito) de um cardiologista.
Este fará um exame minucioso, além de eletrocardiograma, ecocardiograma, teste de esforço
físico e, se necessário, tomografia computadorizada das artérias coronárias.

Hipertensão Arterial
Fatores: Dieta, sedentarismo, estresse, fumo, álcool e doenças sistêmicas crônicas (diabete,
doença renal crônica e hipertireodismo) podem contribuir para o aparecimento da hipertensão
arterial.
Diagnóstico: Os valores da pressão podem estar: Normal (120/80 mmHg); Normal-alta (130/90
mmHg); Moderada (150/100 mmHg); Alta (>160/110 mmHg).
Durante o tratamento cirúrgico odontológico, o sinal mais evidente de PA elevada é o aumento
do sangramento e queixas, como tonturas e mal-estar. Dentre os fatores que levam ao aumento
da PA durante o tratamento odontológico, destaca-se a ansiedade, um dos mais comuns na
clínica diária. Uma de suas características é o aumento maior da PA sistólica, enquanto a
diastólica se mantém ou sobe em menor proporção. A dor também desencadeia um aumento da
PA e, normalmente, está correlacionada à ansiedade.

Interesse cirúrgico: Tomar cuidado com detalhes, como, por exemplo, colocar o paciente em
uma posição confortável e evitar a injeção acidental de anestésico com vasoconstritor
diretamente no vaso sanguíneo, bem como o uso de seringas que permitam a aspiração antes de
injetar lentamente o conteúdo. Mesmo que o paciente seja hipertenso (controlado), pode-se
utilizar anestésicos com vasoconstritor, de preferência do tipo felipressina. A epinefrina
também pode ser utilizada, desde que em uma concentração de 1:100.000 ou 1:200.000 e, no
máximo, três tubetes. O atendimento ao hipertenso deve ser feito com base na informação de
que o paciente está ou não compensado. É possível atender normalmente os pacientes
compensados que fazem uso de medicações e com PA de, no máximo, 150/90mmHg, de
preferência em sessões curtas, para evitar estímulos dolorosos, e no período vespertino.
Também é recomendado o uso de ansiolíticos, o que evita o aumento da PA.

Arritmia Cardíaca
Definição: Alterações no ritmo ou na frequência cardíaca. A frequência cardíaca, considerada
normal, fica entre 70 e 80 batimentos por minuto, e pode ser medida por meio de tomada do
pulso de artérias superficiais (artéria radial ou artéria carótida).
Causas: A bradicardia sinusal, com um ritmo muito regular, pode significar um bom preparo
físico; outras causas podem ser hipotireoidismo, hipotermia, infarto agudo do miocárdio ou uso
de medicações, tipo propanolol. Pode-se reverter a bradicardia com o uso endovenoso de
atropina, porém, esse procedimento deve ser feito e controlado pela equipe médica. Até a
chegada do socorro especializado, deve-se monitorar os sinais vitais e manter contato verbal
com o paciente.
Já na taquicardia sinusal, as principais causas para a o aumento dos batimentos são os exercícios
físicos, a ansiedade, febre, hipertireoidismo e sangramentos. Outros tipos de arritmia são as
taquicardias supraventricular e ventricular, sendo que a última pode levar o paciente ao óbito
rapidamente. Se o ritmo da taquicardia for constante, pode-se utilizar manobras vasovagais,
como pressão suave sobre os olhos, ou estimular o vômito por meio de manipulação na
orofaringe; ambos os procedimentos promovem estimulação vagal, diminuindo, assim os
batimentos cardíacos.

Angina de Peito
A angina de peito está entre os problemas cardiovasculares mais comuns encontrados nos
pacientes que procuram tratamento odontológico com implantes. Ocorre, principalmente, em
pacientes acima dos 40 anos de idade, sexo masculino, podendo igualmente afetar o sexo
feminino.35 Levando-se em conta que a maioria dos candidatos a implante dentário está acima
dessa faixa etária, conclui-se que esse é um problema do aparelho cardiovascular a ser
investigado com atenção durante a anamnese.
Definição: Diminuição ou obstrução no suprimento arterial para a musculatura cardíaca.
Basicamente, trata-se de um espasmo progressivo, além de um estreitamento das artérias
coronárias que diminui a oferta de oxigênio para o miocárdio, causando uma isquemia cardíaca.
Complicações: A isquemia provoca uma forte dor no peito ou dor subesternal, podendo irradiar
para o ombro e braço esquerdos, além da região mandibular. Outra característica marcante da
angina de peito é a sudorese excessiva. Dor nessa região pode ser proveniente de úlcera péptica,
esofagite, hérnia de hiato e problemas musculoesqueléticos.

Fatores: Exercícios físicos, a ansiedade e a digestão de grandes refeições. Tais fatores


promovem um aumento da atividade cardíaca, requerendo mais sangue oxigenado para o
miocárdio; com a dificuldade já instalada de irrigar as artérias coronárias, há um desequilíbrio
entre a oferta e o consumo de oxigênio para a musculatura cardíaca, que entra em isquemia,
geralmente transitória e com duração inferior a cinco minutos.
Interesse Cirúrgico: O cirurgião-dentista tem por obrigação saber fazer o diagnóstico de angina
de peito e prestar os primeiros-socorros ao paciente, como: colocar o paciente em uma posição
confortável, de preferência recostado e não totalmente deitado; oferecer oxigênio puro de 3 a
5L/min, por meio de cânula nasal; fazer uso de um vasodilatador coronário. Recomenda-se o
dinitrato de isossorbida (Isordil 5mg) sublingual. O uso de ansiolíticos e analgésicos também é
recomendado.

Infarto Agudo do Miocárdio


Sintomas: Parecidos com os da angina: dor no peito ou dor subesternal, que pode irradiar para
o ombro e braço esquerdos e para o dedo mínimo da mão esquerda, assim como para a
mandíbula, porém com maior intensidade do que na angina, além da sudorese intensa.

Interesse Cirúrgico: No caso de infarto do miocárdio, durante a cirurgia odontológica, deve-se


fazer uso de oxigênio puro de 3 a 5L/min, com máscara facial ou cânula nasal, para aumentar a
quantidade de O2 circulante; uso dos vasodilatadores coronarianos (dinitrato de isossorbida
5mg sublingual), que se encarregam de dilatar o calibre dos vasos para que as células cardíacas
possam receber sangue oxigenado. Não se pode esquecer dos analgésicos que aliviam a dor e,
consequentemente, diminuem a ansiedade. Se o quadro se agravar, e o paciente tiver uma
parada cardiorrespiratória, o cirurgião dentista deve iniciar as manobras de ressuscitação,
inicialmente com a ventilação do paciente e, em seguida, com massagem cardíaca em uma
frequência de duas ventilações para 30 massagens, enquanto aguarda o socorro médico.
Prevenção: Boa anamnese. Indagar o paciente sobre dores no peito e cansaço excessivo ao
andar ou subir escadas; Seguir regras básicas, como nunca operar pacientes com menos de seis
meses de ocorrência do infarto. Passado esse período, o paciente deverá retornar ao
cardiologista para novos exames, inclusive teste de esforço físico. Se for constatada
normalidade na avaliação, pode-se, então, dar continuidade ao tratamento.
Hipotireoidismo
Definição: Diminui o recrutamento, a maturação e atividade de células ósseas, levando à
diminuição da reabsorção e da formação óssea.
Relatos: Evidências experimentais sugerem que o hipotireoidismo pode inibir a cicatrização
óssea e prejudicar as propriedades mecânicas da calo cicatricial de fraturas, o que indica que o
hormônio tireoidiano é um fator crítico na cicatrização óssea. Estudos não mostraram diferenças
na taxa de sucesso de implantes em pacientes com hipotireoidismo que fazem terapia de
reposição hormonal.

Hipertireoidismo
Pacientes portadores de doença na tireoide bem controlados podem ser submetidos, com
segurança, à cirurgia oral menor ambulatorial. Entretanto, se houver presença de infecção oral,
o médico deve ser notificado caso o paciente manifeste sinais de hipertireoidismo.
Medicamentos à base de atropina e soluções com quantidades excessivas de adrenalina devem
ser evitados se o paciente não estiver controlado, pelo risco de desenvolvimento de arritmia
cardíaca grave, principalmente fibrilação atrial.

Osteoporose
Definição: Caracterizada por baixa massa óssea e densidade do tecido ósseo, que leva o osso à
fragilidade e à fratura.
Relatos: A osteoporose pode causar perda óssea oral, mas, aparentemente, não influencia na
sobrevivência dos implantes. As sobredentaduras são indicadas por auxiliarem na distribuição
das forças sobre o osso osteoporótico. A osteoporose não representa risco de fracasso para a
terapia com implantes osseointegrados.

Síndrome de Sjögren
Definição: Caracterizada, em parte, por boca (xerostomia) e olhos secos (xeroftalmia). A
xerostomia, frequentemente, resulta em mucosite, candidíase e redução da retenção de próteses.
Os implantes trazem grande conforto e funcionalidade para esses pacientes. Próteses
implantossuportadas são preferíveis em relação às próteses totais removíveis em pacientes com
xerostomia.

Esclerodermia
Definição: Doença que afeta vários sistemas do organismo, como o gastrintestinal, o trato
respiratório e renal, cardiovascular e genito-urinário. Os sintomas resultam em progressiva
fibrose do tecido e em oclusão da microvascularização devido à produção excessiva e a
deposição de colágenos do tipo I e II.
Interesse cirúrgico: O envolvimento oral com o escleroderma resulta em redução da área de
suporte da prótese e em mudança no selamento periférico. Implantes têm sido usados nesses
pacientes, melhorando as dificuldades; são pacientes com um acesso oral limitado, que dificulta
a higienização e o acesso cirúrgico.

Doença de Parkinson
Definição: Doença progressiva neurodegenerativa. Trata-se de uma desordem neurológica, que
afeta aproximadamente 1% dos indivíduos acima de 60 anos de idade.
Deve-se considerar uma prótese implantorretida, devido à dificuldade motora desses pacientes
em conseguir a higienização.

Tabagismo
Estudos mostram que fumar interfere na osseointegração e acelera a reabsorção óssea ao
redor dos implantes. Habsha mostrou que pacientes com histórias de tabagismo, e que fumaram
durante a fase inicial de cicatrização, têm maior chance de insucesso nos implantes do que os
não fumantes. Fumar aumenta o risco de desenvolver peri implantite. O cigarro prejudica a
cicatrização das feridas dos tecidos moles e afeta o sistema circulatório e a função celular
normal.
Sham et al relataram que a doença periodontal, as falhas dos implantes endósseos e o
desenvolvimento do câncer bucal são entidades intimamente relacionadas com o uso do tabaco.
Em adição, a peri implantite com o uso corrente do tabaco, promovendo inflamação tecidual, a
formação de bolsas profundas e aumento da reabsorção óssea ao redor dos implantes.
Discorreram ainda que os protocolos de abandono do cigarro podem contribuir
consideravelmente com as taxas de sucesso da osseointegração.

Displasia Ectodérmica Hipo-hidrótica


Definição: Caracterizada por hipodontia, hipotricose e hipohidrose. O crescimento do osso
alveolar continua após a fixação de implantes em rebordos edentados de crianças com displasia
ectodérmica, o que sugere que o crescimento alveolar não é dependente da presença de dente
por si só.

A fixação de implantes e a reabilitação protética em crianças jovens com displasia ectodérmica


não restringem o crescimento sagital ou transversal do osso alveolar. Entretanto, o crescimento
vertical do osso alveolar resulta em implantes ocasionalmente submersos, que necessitam de
pilares protéticos mais longos.

Síndrome da Imunodeficiência Adquirida


Diagnóstico: Normalmente feito por meio do exame conhecido de ELISA, e este deve ser
confirmado com o exame de Western.
Interesse cirúrgico: Devem ser considerados a imunossupressão e o nível de trombocitopenia.
A profilaxia antibiótica pré-operatória é recomendada para procedimentos que propiciem riscos
de infecção ao paciente, uma vez que, além da imunossupressão, os medicamentos que o
paciente toma podem causar leucopenia e granulocitopenia. A reabilitação com implantes pode
ser indicada para melhorar sua qualidade de vida, é necessário o controle rigoroso de placa
bacteriana, candidíase oral, busca de lesões associadas à síndrome e detecção de xerostomia.

Terapia medicamentosa para cardiopatias e efeitos bucais


Pacientes tratados com antiarrítmicos, desde que adequadamente controlados, em geral não
apresentam problemas durante o tratamento odontológico. No entanto, é importante destacar
que alguns medicamentos antiarrítmicos diminuem a função cardiovascular, podendo predispor
o paciente à hipotensão ortostática e à síncope.
Em pacientes com diagnóstico de arritmia significativa, o uso de vasoconstritores,
especialmente a epinefrina, pode determinar alterações importantes. Anestésicos locais com
epinefrina, aplicados em pacientes que usam propanolol, predispõem reações hipertensivas e
bradicardia reflexa. O uso de vasoconstritores não está contraindicado em pacientes
hipertensos, caso estes estejam controlados, exceto nos usuários de betabloqueadores.
Bloqueadores dos canais de cálcio, como o diltiazem, estão associados à hiperplasia gengival,
inclusive ao redor de implantes dentários. A hiperplasia melhora com a interrupção do
medicamento, mas não responde somente à higiene bucal. Deve-se tomar cuidado com a
prescrição de anti-inflamatórios não esteroides (AINES) em pacientes que utilizam diuréticos
e inibidores da enzima conversora de angiotensina. O uso de AINES, nesta situação, pode
resultar em descontrole da PA; em tal caso, deve-se interromper a administração de AINES e
encaminhar o paciente ao cardiologista responsável. Com os medicamentos anti-hipertensivos,
bloqueadores de ação central (ex. clonidina), a administração concomitante de ansiolíticos
(benzodiazepínicos) pode resultar em depressão excessiva do sistema nervoso central (SNC).
Recomenda-se o uso de doses menores na pré-medicação dos pacientes sob tratamento com
anti-hipertensivos.

Quimioterapia Citotóxica
O efeito da terapia em pacientes, durante o tratamento de implantes osseointegrados, pode
depender da condição da imunidade e da microflora peri implantar de cada indivíduo.
Recomenda-se controlar a higiene e aguardar o momento de fixação dos implantes, caso o
paciente apresente valores normais de hemograma. Alguns autores contraindicam a fixação dos
implantes nos pacientes em tratamento com quimioterápicos.

Radioterapia
Estudos avaliaram que os tecidos irradiados estão associados a uma maior taxa de falhas dos
implantes do que tecidos não irradiados e o tratamento com oxigênio hiperbárico pode ser
utilizado para reduzir as falhas.

Pacientes que fazem uso de anticoagulantes


Ação: Os anticoagulantes agem no sistema de hemostasia e impedem ou reduzem a capacidade
do organismo de produzir coágulo de fibrina. A ativação da coagulação e sua consequente
produção de coágulo de fibrina devem estar restritas, exclusivamente, ao local da lesão do
endotélio vascular. O principal objetivo do sistema de hemostasia é o de evitar,
simultaneamente, a ocorrência de hemorragia e trombose.
A suspensão indiscriminada da administração do anticoagulante poderá aumentar de forma
inaceitável o risco de complicações trombóticas. O cirurgião-dentista nunca deve suspender o
anticoagulante, que sempre deverá ser interrompido (quando indicado) pelo médico que o
prescreveu.
Exame: Tempo de protrombina (TP) com a razão de normatização internacional (RNI). O RNI
é um método de calibração do tempo de protrombina. O nível adequado de RNI, para se obter
uma anticoagulação eficaz e segura para a maioria das indicações, está no intervalo de 2,0 a
3,0. Acredita-se que neste intervalo seja possível alcançar o mínimo de risco hemorrágico e
trombótico, simultaneamente.
Interesse Cirúrgico: Deve-se considerar o risco de trombose e suas consequências, quando da
suspensão do anticoagulante, assim como o risco de sangramento durante a cirurgia.
Recomenda-se que as cirurgias de pacientes anticoagulados sejam realizadas no início da
semana e pela manhã, permitindo mais tempo para a observação do paciente. Sítios infectados
apresentam maior sangramento e devem ser tratados com antimicrobianos, previamente à
cirurgia. Algumas medidas devem ser observadas para aumentar a segurança em cirurgias de
pacientes anticoagulados, tais como: Hemostasia adequada do campo com anestésico local com
vasoconstritor; uso de
agente antifibrinolítico aplicado localmente com gaze embebida (ácido tranexâmico);
Aplicação de esponja hemostática na ferida; Sutura hermética da ferida operatória.
Cuidados pós-operatórios: aplicação intermitente de gelo sobre a face na região operada,
cabeça elevada, a não prescrição, preferencialmente de ácido acetilsalicílico e de AINES, por
atuarem sinergicamente com os anticoagulantes e aumentarem o risco de sangramento. Em
pacientes anticoagulados, uma técnica cirúrgica precisa, o menor tempo cirúrgico possível e a
menor manipulação tecidual são desejáveis, portanto, a experiência clínica do cirurgião é
condição determinante na segurança do procedimento.

Profilaxia da Endocardite Infecciosa


Definição: Doença rara que acomete as valvas cardíacas, e pode ser acompanhada de
complicações e mortalidade altas. A patogênese da EI depende da ocorrência de bacteremia,
que tem possibilidade de aparecer espontaneamente ou de ser resultado de uma infecção local
(por exemplo, tratamento dentário invasivo). Os microrganismos podem alojar-se nas valvas
cardíacas normais, ou danificadas, no endocárdio ou no endotélio, próximas aos defeitos
anatômicos, e causar a EI.
Indicações: De acordo com as diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia-Grupo de Alto
Risco: Cirurgia de instalação de implantes dentários e de segunda fase cirúrgica de implantes;
Cirurgias de enxertos ósseos e de tecidos moles; Exodontias; Procedimentos periodontais,
inclusive cirurgias, raspagem, sondagem e manutenção; Profilaxia dental ou de implantes, em
que o sangramento gengival é previsível; Anestesias intraligamentares.
Regime de Profilaxia: 1ª opção: Amoxicilina, 2g via oral, 1 hora antes da cirurgia / Alérgicos à
Penicilina: Clindamicina, 600 mg, via oral, 1 hora antes da cirurgia.
Avaliação Clínica
Anamnese: Conhecimento da história médica e odontológica do paciente, e quando se obtém
uma primeira impressão quanto ao seu perfil.
Avaliação dos sinais vitais: servem como uma referência para as próximas consultas, assim, o
cirurgião-dentista fica sabendo se um eventual aumento da PA pode ser de origem emocional,
por exemplo.
Avaliação da frequência e ritmo cardíaco: Todas as consultas em pacientes que apresentem
algum risco cardiológico. Podem ser avaliados em qualquer artéria acessível, com as polpas dos
dedos indicador e médio fazendo uma leve pressão sobre a região da área da artéria em
avaliação, fazendo a contagem de quantos batimentos por minuto estão sendo detectados. Se o
paciente apresentar frequência cardíaca menor do que 60 ou maior do que 110 batimentos por
minuto, ele deve ser encaminhado para avaliação médica prévia ao tratamento odontológico.
Frequência respiratória: Deve-se aferir a frequência respiratória sem indicar para o paciente
que esse procedimento está sendo feito. O valor de referência para paciente adulto é de 14 a 18
respirações por minuto, A primeira é o aumento do ritmo respiratório, a segunda é o aumento
do volume do ar inspirado, normalmente causado por ansiedade. Pacientes avaliados que
apresentaram valores abaixo dos referidos estão com bradipneia, o que pode ser indicativo de
uso de medicamentos opioides. Quando a frequência respiratória apresenta-se elevada,
denomina-se taquipneia, que pode ser um indicativo de febre ou alcalose.
Temperatura: A temperatura média considerada como normal, se o local de avaliação for a
axila, é de 36 a 36,50C. A reação descrita como elevação da temperatura até 37,50C é chamada
de estado febril e, se a temperatura ultrapassar esse nível, é chamada de febre.
Exames Laboratoriais: Deve-se solicitar exames laboratoriais sempre que, durante a anamnese,
seja observada uma doença de base, ou caso o paciente nunca tenha realizado esses exames
antes.
Hemograma: Avaliação de anemias, policitemias, infecções bacterianas e virais, processos
inflamatórios, leucemias, plaquetopenias, etc. Avalia as séries vermelha (eritrograma) e branca
(leucograma).
Coagulograma: O paciente deve informar todos os medicamentos que tomou nos últimos 14
dias, com atenção especial para aspirina, compostos contendo aspirina, anticoagulantes orais,
heparina, antiagregantes plaquetários, anti-inflamatórios, antidepressivos, antialergênicos,
diuréticos e betabloqueadores. está indicado para avaliação laboratorial inicial de pacientes com
distúrbios hemorrágicos e como teste na avaliação hemostática pré-operatória.
Glicemia: Seus valores de referência variam de 75 a 110mg/dL. Esse teste é útil no diagnóstico
da hiperglicemia e da hipoglicemia. Considera-se glicemia de jejum inapropriada um valor
entre 110 e 125mg/dL. Para o diabete melito, é considerado o valor superior a 126mg/dL em
pelo menos duas ocasiões.
Creatinina: Exame útil na avaliação da função renal. Aumenta à medida que diminui o ritmo
de filtração glomerular. A dosagem de creatinina sofre menos influência da dieta do que a ureia,
portanto, ela é mais fiel na avaliação da função renal.
CONCLUSÃO

O nível de evidências de contraindicações definitivas e relativas para o tratamento com


implantes dentários, devido a doenças sistêmicas, são baixas. Muitas condições sistêmicas são
listadas na literatura a esse respeito, como sendo potencialmente críticas para a implantodontia,
porém, estudos controlados, com a comparação entre pacientes com e sem doenças sistêmicas,
e sobre a influência dessas doenças nos resultados da terapia com implantes, são escassos.
O sucesso do tratamento será previsível quando o planejamento for elaborado com base
na análise ponderada de três entidades: paciente, sistema de implantes e equipe multidisciplinar.
O paciente deverá ser avaliado com relação aos seus fatores de risco, assim como as condições
sistêmicas e locais, aspectos psico-emocionais, socioeconômicos e nível intelectual de
compreensão. Assim, uma vez estabelecida a queixa principal do paciente, analisadas suas
expectativas reais, a compreensão do limite do seu caso, o custo-benefício financeiro e
biológico, as possibilidades de complicações e mesmo de fracasso, o paciente estará
selecionado adequadamente.

REFERÊNCIAS

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Médicas, 2002. p.163.
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