NOTA CIENTÍFICA

Efeito da Radiação Gama Sobre o Desenvolvimento in vitro

de Vigna unguiculata
Luiz Rodrigo Saldanha Gazzaneo1, Waldeciro Colaço2, Éderson Akio Kido3,
Ana Maria Benko-Iseppon3 e Laureen Michelle Houllou-Kido4

Introdução
O Feijão-caupi é de grande importância no Brasil e em
outras áreas tropicais. Uma das características mais
importantes nessa leguminosa é sua rústicidade,
capacidade de crescer em condições diversas, como
semiárido e florestas úmidas, além de seu alto conteúdo
protéico, sendo consumido como sementes secas, frescas,
em conserva ou folhas (foragem animal). Caupi pertence
ao gênero Vigna, da família Phaseoleae, da qual também
faz parte o feijão comum (Phaseolus vulgaris) [1].
A indução e seleção de mutantes são formas rápidas,
simples, baratas e eficientes de obter genótipos desejados
e, quando aliados a técnicas de cultivo in vitro, podem
aumentar o potencial de programas de melhoramento
vegetal [2]. Técnicas de indução de mutação, como o uso
de radiações ionizantes, têm se mostrado eficiente na
produção de variabilidade genética e, por isso, utilizadas
em programas de melhoramento de plantas comerciais e
ornamentais [3,4,5].
A dose ideal para promover mutações sem que haja
grande perda no rendimento do indivíduo irradiado é
tecido-específica. Portanto, diferentes tecidos respondem
de forma própria, sendo necessário primeiramente a
realização de um teste de radiossensitividade para
determinar a dose ideal. Esse trabalho teve como
objetivo determinar as alterações na regeneração de
explantes obtidos a partir de sementes de Vigna
unguiculata expostas à radiação Gama no cultivo in
vitro.
Material e métodos
A. Material
Sementes maduras de Vigna unguiculata (feijão caupi)
cv IPA206, fornecidas pela Empresa Pernambucana de
Pesquisa Agropecuária, foram utilizadas como fonte de
explante para avaliar o efeito da radiação gama na sua
regeneração.
B. Irradiação das Sementes
Todas as sementes foram acondicionadas em sacos de
papel, contendo cada um cerca de 200 sementes. Foram
utilizadas um total de 1600 sementes (200/dose de
irradiação gama). Esse material irradiado no
Departamento de Energia Nuclear (DEN) da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). As doses
de radiação gama testadas foram 50Gy, 100Gy, 200Gy,
300Gy, 400Gy, 500Gy e 600Gy.
C. Desinfestação
Após a irradiação as sementes usadas no cultivo in
vitro foram submetidas a um processo de desinfestação,
que teve como objetivo reduzir a contaminação endógena
e exógena. Esse processo consistiu nas seguintes etapas:
etanol 70% por 5 minutos, hipoclorito comercial a 10%
por 20 minutos, seguido de três lavagens em água
destilada estéril.
Toda a manipulação do material foi realizada em
câmera de fluxo laminar. Para controlar a contaminação
por bactérias endógenas, as sementes foram deixadas
intumescendo em solução estéril de Cefalexina 2,5mg/ml
durante 12 horas.
D. Obtenção de Explantes para Cultivo in vitro
Após a desinfestação as sementes foram colocadas em
placas de Petri contendo papel filtro embebido em água
estéril e lacradas com parafilme. As placas foram
mantidas em local protegido de luz intensa por três dias.
Após a germinação das sementes, foram retirados seus
tegumentos, separados os cotilédones e eixos
embrionários. Eixos e cotilédones foram usados como
explantes e inoculados em meio de cultura para indução
de regeneração in vitro de feijão caupi contendo micro e
macronutrientes de MS [6], 2mg/ml de
benzilaminopurina (BAP), Tiamina 0,2mg/L, Piridoxina
1mg/L, Ácido Nicotínico 1mg/L, 3% sacarose e 0,6% de
agar. Cerca de 25ml de meio foi despejado em cada
frasco de vidro de 350ml. Os explantes foram mantidos
em sala de crescimento, com fotoperíodo de 16h e
temperatura controlada.
Após 30 dias foi avaliado efeito da radiação gama
sobre a regeneração in vitro, em ambos explantes
testados.
E. Análise Estatística
Foi utilizado o software ASSISTAT Versão 7.4 beta
(2006) [7] para a análise estatística, através do qual foi
realizado o Teste de Turkey para avaliar a significância
dos resultados encontrados em cada tratamento.
Resultados e Discussão
A. Intumescimento dos Explantes
Foi considerado como intumescimento o aumento do
volume do explante, às vezes, acompanhado por
alteração de cor para o verde (Fig. 4c).
Observou-se uma queda inicial do percentual de
explantes intumescidos na primeira dose, quando

_________________
1. Aluno do Programa de Pós-Graduação em Genética do Departamento de Genética, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de
Pernambuco-UFPE. E-mail: rodrigogazzaneo@gmail.com.
2. Professor Adjunto da Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Tecnologia, Departamento de Energia Nuclear. E-mail: wcolaco@ufpe.br
3. Professor(a) Adjunto(a) do Departamento de Genética, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco.
4. Pesquisadora da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária, Laboratório de Genômica e Cultura de Tecidos.

Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 27-29, jul. 2007


comparada com o grupo controle Porém, à medida que a
dose foi aumentada, uma elevação desse percentual foi
observada, tendo como valor máximo a dose de 300Gy,
tanto para cotilédone quanto para eixos embrionários
(Fig. 1). Mesmo nessa dose, o percentual de
intumescimento de cotilédones não ultrapassou o
observado no controle. A partir da dose de 400Gy foi
observado um declínio nesse percentual para cotilédones
e um aumento para eixos embrionários. No entanto,
testes estatisticos mostram que apenas houve diferença
significativa no intumescimento de cotilédones na dose
de 600Gy, já para eixos não foi abservada diferença
significativa entre tratamentos.
B. Freqüência de Organogênese Direta
Houve presença de organogênese direta para eixos em
todas as doses inferiores a 400Gy (Fig. 4b), dessa dose
em diante nào foi observada regeneração direta. Não foi
observada uma variação proporcional ao aumento da
dose, sendo a dose de 100Gy a de melhor resposta,
apesar de não ter sido encontrada diferença significativa
entre as doses (Fig. 4d e Fig. 5).
Cotilédones apresentaram uma resposta quatro vezes
maior na dose de 200Gy, três vezes maior na de 50Gy e
duas vezes maior no controle e nas dose de 300Gy,
quando comparado com os eixos (Fig. 2). As duas
últimas doses apresentaram resultados estatisticamnete
diferentes do controle.
C. Freqüência de Organogênese Indireta
Não houve formação de calos (organogênese
indireta) em nenhum dos cotilédones utilizados no
experimento (Fig. 3).
A radiação pareceu estimular a formação de calos em
eixos embrionários de Vigna unguiculata em doses
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iguais ou inferiores a 400Gy (Fig.4a), sendo a maior
resposta na dose de 200Gy, porém o Teste de Turkey não
mostrou diferença significativa entre os tratamentos.
Agradecimentos
A Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária –
IPA; ao Departamento de Energia Nuclear da UFPE, ao
RENORBIO, ao BNB, ao FINEP, a FACEPE, a CAPES
e ao CNPq.
Referências
[1] PEREIRA, R DE C.A., MARINHO, J.T. DE S., COSTA, J. G.
da. 1997. Caracterização botânica, morfológica e agronômica de
cultivares de caupi coletados no estado do Acre. EMBRAPA-
CPAF/AC 12 p. (Boletim de Pesquisa, 17).
[2] LEE, S.Y., CHEONG, J.I. & KIM, T.S. 2003. Production of
doubled haploids through anther culture of M1 rice plants derived
from mutagenized fertilized egg cells. Plant Cell Report, 22: 218-
223.
[3] CHEEMA, A.A. & MANZOOR, B. 2003. Radiosensitivity
studies in Basmati rice. Pakistan Journal of Botany, 35(2): 197-
207.
[4] ARUNYANART, S. & SOONTRONYATARA, S. 2002.
Mutation induction by γ and X-ray irradiation in tissue cultured
lotus. Plant Cell, Tissue and Organ Culture, 70: 119-122.
[5] JOSEPH, R., YEOH, H.H. & LOH, C.S. 2004. Induced mutations
in cassava using somatic embryos and the identification of mutant
plants with altered starch yield and composition. Plant Cell
Report, 23: 91–98.
[6] MURASHIGE, T. & SKOOG, F. 1967. A revised media for rapid
growth and bioassays with tobacco tissue culture. Physiologia
Plantarum, 15: 473-497.
[7] SILVA, F. de A. S. e. & Azevedo, C. A. V. de. A New Version of
The Assistat-Statistical Assistance Software. In: WORLD
CONGRESS ON COMPUTERS IN AGRICULTURE (2006),
Orlando-FL-USA. American Society of Agricultural Engineers, 4:
393-396.
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Figura 1. Efeito da Radiação no Intumescimento de

Cotilédones e Eixos Embrionários de Vigna unguiculata
Figura 4. a) eixo apresentando organogêse indireta, b) eixo
apresentando em cada extremidade organogênes direta e
indireta, c) cotilédone intumescido apresentando alteração
na cor e d) organogênese direta. A barra representa 1cm.

Figura 2. Efeito da Radiação na Organogênese Direta em

Vigna unguiculata.

Figura 5. Planta obtida por cultivo in vitro de

cotilédones de Vigna unguiculata.. A barra representa
1cm.

Figura 3. Efeito da Radiação na Organogênese Indireta em

Vigna unguiculata

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