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| MBENuts de Mariz Maia Economia Internacional e Comercio Exterior 13? [elfe=re} Destacamos, entre as principais politicas econémicas, o liberalismo, o prote- ionismo e o liberalismo moderno. Liberalismo “A liberacao financeira é algo como o fogo. E bom ter, mas vocé pode queimar toda a sua casa.” Jagdish Bhagwati (ex-diretor do GATT) Neste capitulo, iremos apresentar o que é 0 liberalismo e também os argu- mentos a favor e contra esse regime econémico. Eis as principais caracteristicas ‘desse regime: * \mercado livre, em que o Estado n&o intervém de nenhuma forma, in- _ _ clusive tabelando os precos ou criando barreiras alfandegarias; livre concorréncia, em que os pregos se formam em funcao do prdprio *, Mercado; consequentemente, subsistem somente as empresas eficientes; *, inigiativa individual, em que qualquer individuo pode exercer a fun- 's go que quiser, o que ndo ocorre no regime corporativista; « desregulamentagdo, em que o Estado deve remover todos os obstacu- + los legais que cerceiam a atividade econémica; * divisdo internacional da producdo, isto é, os paises devem produzir somente o que for economicamente mais conveniente e, por meio do comércio internacional, trocarao seus excedentes. Com isso, haverd di- minui¢do de custos e maior bem-estar social. 202 kconomia Internacional e Coméreio Exterior + Maia Portanto, é um regime totalmente contra a intervenco do Estado na econo- mia. O equilibrio’ econémico nasce espontaneamente por meio da livre concor- réncia e das oportunidades dadas a todos. O Estado deverd preocupar-se somente com: * preservacdo da justica; * defesa nacional; + complementagdo da iniciativa privada, isto é, realizacdo de empreen- dimentos para os quais haverd desinteresse da iniciativa particular. * O objetivo primordial do agente econémico (comerciante, industrial ou agri- “4 cultor) é o lucro. Diante disso, o liberalismo sé pode existir nas democracias, em que ha mais ampla liberdade individual. O liberalismo também é conhecido como a doutrina do laissez-faire (o Esta- do deixa de fazer); no comércio exterior, é também denominado livre-cambismo. Foram grandes defensores do liberalismo os economistas John Stuart Mill, David Ricardo, Jean Baptiste Say, sendo Adam Smith seu maior expoente. 2 Adam $mith O liberalismo teve sua forca maxima em Adam Smith, considerado 0 funda- ‘4 dor da moderna economia. Suas ideias foram publicadas no livro Riqueza das na- g6es.' Para ele, o homem, movido pelo desejo de lucro, passava a produzir mais, 0 que também trazia beneficios para a comunidade. 3 Dizia Adam Smith: ‘Ao procurar o seu préprio interesse, o individuo promove o interesse da sociedade mais do que se realmente procurasse promové-lo.” Dentro desse conceito, ele dizia: “o que faz o padeiro levantar as 4 horas da manhi para fazer pao nao é o amor a coletividade, mas o lucro. Entretanto, a comunidade se beneficia dessa atitude”. * Qutro conceito muito conhecido'de Adam Smith ¢ 0 da mio invistvel, ou seja;'os individuos que competem por ganhos privados atuam como se conduzi- dos'pot;mAo invisivel, que também promove o bem ptblico. 2 * Robert J. Samuelson, analisando as-ideias de Adam Smith, acha que o inte- resse pessoal ndo é somente cobica ou narcisismo. Se ele ficar sujeito a controles 3 adequados, é uma forca imensa a favor do bem social e boa parte do progresso © humang deve-se aos esforcos independentes de individuos e empresas. q ‘Adam Smith considerava que nao se devia proteger a produc&o, porque essa medida direcionaria o capital de forma diferente da que ocorreria sob con- ' digdes de livre comércio. + O nome original desse livro era An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations. Principais Politicas Econémicas 203 Exemplificando, o agricultor brasileiro, devido 4 protecdo, aplica seus re- cursos plantando produtos de baixa produtividade no territério brasileiro. Se éle plantasse somente produtos de alta produtividade no territério brasileiro, - haveria os seguintes beneficios: * para o agricultor: teria uma producao menos dependente. Isso porque, se 0 governo acabar com a protecao aos produtos de baixa produtivida- de, ele nao tera nenhum prejuizo; * para o pais: outras nacées, por reciprocidade, poderiam adotar siste- mas protecionistas contra produtos brasileiros de alta produtividade, o que prejudicaria o produtor nacional; * para o povo: o énus da protecao seria pago pelo povo, por meio de sub- vengao, mantida pelos impostos. Diante disso, vemos que Adam Smith se batia pela divisao do trabalho, o que leva 4 especializacao, ao aumento da producdo e a reducio de custos. Curiosamente, o mundo, na década de 1980, estava dividido em dois blocos: * Livre: que seguia, em princfpio, as normas ditadas por Adam Smith. * Cortina de Ferro: que seguia, em principio, as ideias de Marx. - Adécada de 1990 mostrou que Adam Smith venceu Marx. Criticas ao liberalismo Nosso propésito é mostrar as ideias a favor e as contra o liberalismo. Arguntentos a favor do liberalismo \ “86 hd trés saidas para o Pais: Galedo, Cumbica ou liberalismo.” Roberto Campos 4o internacional da producéo Oiliberalismo prega a divisaio internacional da produgao. Em outras pala- , ‘pais A produz trigo mais barato que o B; o pafs B produz café mais ba- que o A. Diante disso, o pais A planta trigo e nao planta café; o pais B faz 0 so. Por meio do comércio internacional, trocam café por trigo. ‘As populacées dos dois paises beneficiam-se, porque passam a pagar menos café e pelo trigo. 204 Economia Internacional e Comércio Exterior + Maia Melhor utilizagaéo dos recursos naturais Os recursos naturais pesam bastante na formacdo do custo. Ocorre que a natureza nao é igual para todos os paises. A diversidade de clima, de solo e de subsolo sdo fatores que determinam producées diferentes. O liberalismo permi- « te o uso mais eficiente desses fatores de producdo. Economia em escala Os dois argumentos apresentados (divisdo internacional da producio e me- ihor uso dos recursos naturais) permitem a producdo em escala. Todos esses fatores expostos proporcionam redug&o de custos, o que, por sua vez, cria uma cadeia de consequéncias, tais como: * reducio de custos gera aumento de consumo; * aumento de consumo gera aumento de producao; . * aumento de producao gera aumento de empregos; * aumento de empregos e custos menores geram bem-estar para 0 povo. Seus defensores dizem que o liberalismo gera também maior solidarieda- de. A interdependéncia dos paises levaria a uma maior confraternizacao inter- nacional. Isto realmente esta ocorrendo na Europa; no passado, as guerraseram 4 frequentes. Com a formagao da Unido Europeia, que ampliou o liberalismo entre os paises associados, a paz ficou mais sélida. Diga-se, de passagem, os Blocos 4 Econémicos formam um verdadeiro arquipélago de liberalismo. a O liberalismo permitiu a Revolucdo Industrial do século XVIII, o que néo se- “4 ria facil no regime anterior, caracterizado pelos monopélios e pela tutela do Es- 4 tado. Era o Mercantilismo. 4 3.2 Argumentos contra o liberalismo _Alguns economistas argumentam que a liberdade sem controle do Estado, j 7 fa \veidade, escraviza. Em outras palavras, a liberdade sem controle do Estado | perntite a formacao de trustes, cartéis, oligopélios e dumpings. "'+\ Por isso, paises liberais, como os Estados Unidos, passaram, por meio de leis, _ a intérvir no mercado para evitar a formacdo dos trustes, cartéis e oligopdlios, 4 bem como o uso do dumping. Também falamos sobre esses organismos no Capi- tulo 20, Barreiras ao Comércio Internacional. 4 A propésito, Gilberto Dupas fala que os argumentos tedricos do liberalismo + s&o vdlidos, mas contém algumas ingenuidades. Também argumenta que os be- | neficios gerados nem sempre sao distribuidos de forma razoavelmente igualitaria. | Principais Politicas Econdmicas 205 Ha também os que exigem o liberalismo dos outros paises, cobrando aber- tira dos mercados. Entretanto, aplicam o protecionismo no seu pais. Antonio ‘Carlos de Lacerda os denomina Prote-cinismo. Eocasoda Argentina. Reclamou : quando o Brasil suspendeu a emissao de licencas automdaticas de importacdes ‘fexigia liberalismo do Brasil), mas tem promovido restricées as importagées de “produtos brasileiros (prote-cinismo?). nflitos de interesses Os interesses do Estado e das empresas muitas vezes se tornam conflitantes. ‘Esse fato se tornou maior A medida que cresceram as multinacionais. O Estado ocupa-se com a defesa do emprego, qualidade ambiental e Balanco de Paga- lentos. As empresas (particularmente as multinacionais) nem sempre tém sua sede 10 pais; portanto, ndo se preocupam com esses problemas. O lucro é sua meta. «Dal a intervencdo do Estado, como ocorre em paises bastante livres, por exem- 10, os Estados Unidos. elonialismo * Oliberalismo provocou o crescimento industrial dos pafses europeus, particu- ente o.da Inglaterra. Esta precisava de matéria-prima, que tinha em quanti- E dade insuficiente. Por isso, pressionava os demais paises a nao se industrializarem ‘continuarem apenas como fornecedores de matéria-prima. ‘O caso mais gritante foi o Tratado de Methuen, assinado em 1703. Por ele, ortugal passava a comprar “eternamente” as manufaturas téxteis inglesas; em vca, a Inglaterra passava a comprar vinhos portugueses. Esse tratado provocou ruina da industria téxtil portuguesa. Ele foi revogado em 1842. Protecionismo oO plotecionismo, como o préprio nome diz, é uma politica econémica em o Estado é bastante intervencionista. Enquanto no liberalismo as decisbes condnticas’ ‘sao produtos do mercado, no protecionismo essas decisées s4o da- a pelos burocratas estatais. O governo dita a politica comercial, externa e in- as controla as importacées e exportacées. Com o propésito de proteger a economia do pais, os governos criam as se- ites barreiras: eiras alfandegdrias 0 governo aumenta os impostos alfandegarios. Nao ha proibicdo da importa- elas torham o produto estrangeiro proibitivo devido 4 elevacdo dos pregos. 206 Economia Internacional e Comércio Exterior + Maia Quotas de importagéo Sao implantadas quando a indistria nacional produz em quantidade insu- ficiente para atender ao consumo interno. Diante disso, o governo permite im- portar somente o necessdrio para compensar a falta do produto, sem, portanto, prejudicar a produco nacional. No Capitulo 20, Barreiras ao Comércio Internacional, deste livro, tratamos minuciosamente de barreiras alfandegarias e quotas de importaco. Taxa de cambio Quando o governo mantém o controle do cambio (monopélio cambial), eleva a taxa cambial para encarecer a mercadoria importada, tornando-a proi- bitiva. Tem muita semelhanga com a barreira alfandegaria. No Capitulo 14, ‘Taxa de Cambio, deste livro, tratamos minuciosamente de taxas de cambio. O protecionismo pode ser: * agressivo: quando se assemelha a uma verdadeira guerra comercial; * defensivo: para proteger a producdo nacional de dumping; * moderado: quando utilizado de forma mais equilibrada (Bruno Ratti * em Comércio internacional e cémbio). 5 Criticas ao protecionismo Nosso propésito é apresentar as ideias a favor e as contra 0 protecionismo. 5.1 Fasinentoe a favor do protecionismo ‘Entre as criticas positivas, destacamos: . Perigos decorrentes da divisio da producao __:. Adiviséo da produgao faz com que 0 pais no produza tudo o que necessita. Em caso de guerra no exterior, poderiam faltar mercadorias essenciais, porque os fornecedores nao estariam em condigées de exportd-las. ' Os partiddrios do protecionismo argumentam que o Brasil sofreu bastan- : te com a Crise de 1929, porque toda a economia brasileira era sustentada pela monocultura do café. Mas o que tornou o problema maior foi que, na época, 0.4 gfande comprador eram os Estados Unidos (pais da crise); e café é produto de 4 sobremesa, portanto, o primeiro a ser cortado. Principais Politicas Econémicas 207 Dumping O pais, no liberalismo, fica vulnerdvel ao dumping, o que ndo ocorre no Pro- tecionismo. No item 5 do Capitulo 20, Barreiras ao Comércio Internacional, deste livro, tratamos minuciosamente de dumping. indistria nacional e economia em escala As multinacionais trabalham com base na economia em escala. Com isso, ‘conseguem reduzir custos, o que sufoca a industria nacional. A ideia de que esse ito beneficie 0 consumidor é discutivel, porque, com as dificuldades da indtis- nacional, surge um problema maior, o desemprego. Dizem os defensores do protecionismo: com saldrio, 0 povo pode ad- uirir bens, mesmo custando caro. Sem saldrio, o povo nao pode adqui- tir bens, mesmo custando barato.Também devemos levar em consideracao que o protecionismo inibe a formacdo de trustes, cartéis e oligopélios por ipresas éstrangeiras. 0 aos recursos naturais No liberalismo, a exploracdo dos recursos naturais é livre. Ocorre que muitos es recursos (petréleo, ferro etc.) so finitos. Uma exploragao nao supervisio- pelo Estado compromete o futuro. cdo de natureza estratégica Certos segmentos produtivos séio considerados de natureza estratégica, por- nto de interesse vital para a seguranca do pais. Por isso, o pafs deve produzir ns bens (extrac4o mineral, refino de petréleo etc.) e alguns servigos (teleco- pmunicacdes}, mesmo em condigées desfavordveis, para ndo ficar dependente e . é vulnerdvel, em caso de guerra. Argurhentos contrdrios ao protecionismo ; Entre as criticas negativas ao protecionismo, destacamos: i da producgdo Falamos, entre os argumentos a favor do protecionismo, que a diviso da lucdo torna-se perigosa quando o exportador estrangeiro fica impossibilitado tender as solicitagées do importador nacional. Esse fato geralmente acontece quando ocorre uma guerra de grandes or¢des, como foram as Guerras Mundiais de 1914 e de 1939. Esse argu- 208 Economia Internacional e Comércio Exterior + Maia mento ficou bastante prejudicado com a possibilidade de nao haver uma nova guerra mundial, Acomodagao da indtistria nacional A indistria nacional fica acomodada com o protecionismo. Como nao ha concorréncia e também como possui um mercado cativo, nao precisa melhorar a 4 qualidade do produto. Esse fato aconteceu com a industria brasileira, que ficou com muita dificuldade para, nos anos 90, enfrentar a concorréncia externa. Lem- bramos que nos anos 90 houve uma grande abertura das importagGes. O caso tipico foi o da indtstria automobilistica. Como um diretor de uma montadora estrangeira aqui estabelecida ficaria perante a matriz se pedisse in- % vestimentos para melhorar o carro brasileiro? Para que investir se 0 produto es- tava sendo vendido com facilidade? Reservas de mercado e monopélios O protecionismo permite a formaco de monopélios. Roberto Campos, em % seu livro Antologia do bom-senso, dé a seguinte defini “O monopélio é uma cassagdo de direitos: o direito do produtor produzir eo direito do consumidor de escolher.” No caso brasileiro, tivemos 0 monopélio do °4 petroleo das telecomunicagées e da informatica, que mais prejudicaram do que | ajudaram a economia nacional. As reservas de mercado acomodam a industria nacional e sobre essa acomo- j dac&o falamos no item anterior. 3 Guerra comercial Em junho de 1930, o Governo Americano, tentando minimizar a Crise inicia- ] da em 1929, promulgou a lei Smoot-Hawley Tariff Act. Ela aumentava a tarifa 4 alfandegaria de cerca de 20.000 produtos com similares americanos. 4 “+Gomo reac&o a essa medida, outros paises também aumentaram as tarifas. 4 Asgim, ocorreu uma guerra comercial em que todos perderam e agravou a Crise 4 dé 1929. O prejuizo dos Estados Unidos pode ser avaliado pelos seguintes dado: +! Diminuicdo das importagées: em 1929, US$ 4,4 bilhdes; em 1933: US$ § 1,5 bilhdo. Ganho de US$ 2,9 bilhdes, em beneficio dos americanos. ‘| © Perdas nas exportacdes: em 1929, US$ 5,4 bilhdes; em 1933, US$ 2,1 a . bilhdes. Perdas de US$ 3,3 bilhdes. O ganho do protecionismo foi infe- rior 4 perda das exportagies. i " Portanto, em nosso exemplo, o protecionismo prejudicou em vez de benefi- 4 ciar os Estados Unidos. 4 Principais Politicas Econémicas 209 A Crise Internacional (crise do Sub-Prime) promoveu desemprego, queda as receitas cambiais e outras consequéncias negativas no mundo todo. Diante 80, Inuitos paises comecaram a tomar medidas protecionistas. A propésito, Pascal Lamy (diretor da OMC) disse o seguinte: “Se um governo e restringir a entrada de um produto de um vizinho, pode depois perder, ao ter préprios produtos barrados.” Em fevereiro de 2009, o governo americano aprovou um crédito de US$ 819 Ses para ajudar o setor produtivo americano, particularmente a industria si- ‘gica. Assim, todos os beneficiados desse pacote teriam de usar ferro, ago e odutos manufaturados de origem americana. Essa medida ficou conhecida por “buy american”. Ela salvaria os empregos trabalhadores em siderurgias, mas acarretaria uma guerra comercial, que taria todo o parque industrial americano. O presidente da Franca, Nicolas Sarkozy, também em fevereiro de 2009, ten- io proteger a industria automobilistica francesa, criou um pacote biliondrio Socorro a esse setor industrial. Entretanto, as montadoras teriam de usar os sneficios somente em territério francés. A reagao internacional a essa medida foi muito grande. Essa nova onda protecionista atingiu outras nag6es, particularmente Equa- re Argentina. A reacdo mundial as medidas citadas fez com que elas fossem adas. liberalismo moderno “O livre comércio, como 0 ulsque, recomendado para a boa circulagio; mas no se deve abusar de nenhum dos dois.” 7 (Editorial de O Estado de S. Paulo) leias basicas do liberalismo prevaleceram no século XVII. Entretanto, alismo dos dias atuais admite algumas intervencdes estatais, para evitar jémaspara 0 povo. Assim, o governo deve assumir alguns gastos sociais iro-desemprego, aposentadorias, assisténcia médica, educaco) e também barreiras alfandegarias para evitar que produtos estrangeiros, apoiados em prejudiquem a economia do pais. 0 liberalismo moderno, é fundamental o respeito aos contratos,.0 qui a a captacao de investimentos. Para isso, é necessdrio um Poder Judi teja o direito de propriedade e que, perante a lei, todos (pessoas, empre- € governo) sejam iguais. “Atualmente, fala-se em governo maximo (intervencionismo), governo mi{- iberalismo) e governo Gtimo (liberalismo moderno). O FMI apresentou 210 Economia Internacional e Comércio Exterior + Maia um ensaio de autoria dos economistas Vito Tanzi e Ludger Schuknecht em que o governo timo, para os paises desenvolvidos, seria aquele em que os gastos pi- blicos seriam de 30% do PIB. Para que o liberalismo pudesse funcionar a contento, apés a Segunda Guerra foi firmado, entre as nacGes aliadas, acordo para regulamentar o comércio inter- nacional, denominado de GATT. Posteriormente, o GATT foi ampliado e transfor- mou-se na OMC (Organizacao Mundial de Comércio). Esse organismo (OMC) visa: * aumentar o comércio internacional por meio de uma liberacdo sistemé- tica das medidas restritivas; * © evitar procedimentos desleais dos paises para conquistar mercados (barreiras desnecessdrias, dumpings etc.). No Capitulo 22, Cooperacdo Internacional para o Desenvolvimento, deste li- vro, tratamos detalhadamente do GATT e da OMC. Com o liberalismo moderno, os efeitos negativos do liberalismo e do prote- cionismo ficam atenuados. i De acordo com Joao Mellao Neto, o liberalismo moderno nao defende um ‘4 Estado passivo e inoperante. Ele é sé possivel nas sociedades onde existe um Es- ' * tado forte, 4gil e atuante, que estabelece normas de modo firme e Sransparenie (O Estado de S. Paulo, de 6-1-2006). j Em 2008, a Heritage Foundation e The Wall Street Journal elaboraram | um trabalho em que analisaram 162 paises de acordo com o grau de liberda- » de econémica. Os paises foram classificados mediante 0 estudo de dez itens. } (corrupedo, respeito aos direitos, carga tributdria etc.). A Tabela 1 mostra - resultado do trabalho. 4 Tabela 1 Lideres da liberdade econémica. ‘1? Hong Kong 7° Canada 2° Cingapura 8° Chile ‘3? Irlanda 9° Suica 4° Australia 10° Reino Unido . |5® Estados Unidos 101° Brasil ‘6° Nova Zelandia CO Brasil, na 101* posic¢ao, foi classificado como “relativamente ndo livre”. 0 ; que pesou mais negativamente foi o item corrupgao. O item em que o Brasil teve 4 a melhor classificacao foi liberdade monetdria, que avalia o controle da inflacio pelo Governo. Principais Polfticas Eondmicas 211 7. Conclusao “Quando eu era jovem, 0 liberalismo era uma ideia velha. Agora que sou velho, 0 liberalismo se tornou uma ideia nova.” Frederich Hayek *-: Para finalizar, caberia a pergunta: qual o regime mais conveniente? A respos- tanao é facil, motivo por que um mesmo pais, em determinado momento, é libe- valista e, posteriormente, protecionista, voltando com o tempo a ser liberalista. £0 caso tipico dos Estados Unidos. Apés a independéncia, foram protecio- is, © que permitiu o surgimento das grandes indtstrias norte-americanas. steriormente, tornaram-se liberalistas. Em 3-1-1975, foi publicado o Trade Act 1974, considerado como protecionista. No Capitulo 22, Cooperagdo Internacional para o Desenvolvimento, falamos ie, inicialmente, os Estados Unidos opunham- se a criacéo da Organizaco In- -ternacional do Comércio (OIC). Quando apresentamos o problema do latiftindio (ver Capitulo 18, Fatos que fudaram a Economia Internacional), dissemos que ele (latifiindio) surgiu por- jue o trigo egipcio era, em Roma, mais barato que o romano. Isso causou desem- 0. Portanto, a liberdade deve ser feita de forma cautelosa. Por sua vez, 0 protecionismo impede o progresso tecnoldgico das indtistrias. 0 0 problema da liberacdio inadequada como o da protecao também inade- la,criaram problemas para a economia brasileira na década de 90. A protecao inadequada gerou industrias, no Brasil, ineficientes, produzindo cadorias mais caras e piores que as importadas. Em 1990, tivemos uma aber- alfandegdria muito répida, sem uma negociacéo adequada, o que causou amento de empresas e desemprego. As duas medidas (protecao inadequada bertura inadequada) causaram prejuizos ao povo brasileiro. Os que defendem a abertura enumeram os seguintes beneficios: *, ynodernidade: a concorréncia do produto importado forcou a indtistria brasileira a buscar qualidade e produtividade; » queda da inflacéo: a luta contra a inflacdo teve grande apoio na Ancora cambial;? mudancas de conceito: no tempo do protecionismo, o prego era for- ‘; mado em funcdo do custo; com a abertura, o custo passou a ser ; | formado em fungio do prego. Por exemplo, determinado produto sé * pode ser comercializado pelo prego X (preco dos concorrentes). Cabe & produtora racionalizar a producdo para que essa mercadoria custe menos de X. Isso beneficia 0 consumidor. jo item 5 do Capitulo 11, Mercado Cambial Brasileiro, falamos minuciosamente sobre ancora cambial. 212 Economia Intemacional e Comércio Exterior * Maia Somos partidérios do liberalismo moderno, admitindo que as barreiras al- ” fandegdrias devam ser eliminadas de forma criteriosa. Também quando fala- mos a respeito de latiftindio expusemos essa ideia, que, para facilidade do lei- tor, reproduzimos: “Quando houve a abertura das exportagées o carro importado, segundo - alguns, era melhor e mais barato. Se a importagdo fosse feita em larga esca- ” la, tertamos fabricas fechadas e, ao lado delas, operdrios desempregados. Em face disso, devemos sacrificar toda a coletividade, obrigando-a a usar um carro | ineficiente e caro, sé para manter empregos? A:solugdo, a nosso ver, seria importarmos fdbricas e ndo carros. Assim, através da concorréncia, teriamos automdveis bons e baratos (foi o que ocorreu no Brasil). Outra medida seria permitir a importagao, mantendo tarifas protecionistas. Estas, entretanto, seriam periodicamente diminuidas. Por exemplo, hoje seriam 70%; no préximo ano, 60%; no seguinte, 50%, e assim por diante, até chegar a zero. Evidentemente, esses niimeros deveriam * — obedecer a um estudo amplo, com a participagao da prépria indistria au- 4 tomobilistica. Assim, dariamos condigées para que ela pudesse melhorare & tornar-se competitiva, aqui e no exterior.” 4 O acordo firmado em 1996 entre o governo brasileiro e as indtistrias pro- “4 dutoras de brinquedos muito se assemelha com nossa ideia. Em 1996, esse seg-. 4 mento industrial enfrentou enorme crise decorrente da entrada de brinquedos :§ do exterior a baixo custo. Houve fechamento de empresas e desemprego. Assim, : em julho de 1996, foi alterada a tarifa alfandegdria de 20% para 70%, dentro das seguintes condigGes: * redug&o anual dessas tarifas, até que, no ano 2000, cheguem novamen- te a 20%; 3 * ; compromisso de, durante o periodo de 1996 a 2000, reduzir precos; an criar nesse perfodo 12 mil empregos. ‘Os blocos econémicos déo-nos exemplo de transic&o programada do prote 4 ‘cignismo para o liberalismo, dentro da sua respectiva area. Esse assunto é abor- 4 dadé no Capitulo 25, Blocos Econémicos. 3 * Cojacluindo, dirfamos que no Liberalismo Moderno foram inclufdas vanta- 4 gens dq protecionismo e do liberalismo. 4 8 | -Polfticas cambiais: substituicéo das importagées ou modelo exportador Discute-se muito qual o modelo mais adequado para o desenvolvimento dos 4 paises. Alguns economistas recomendam o modelo Substitui¢éo das Importa- 4 gGes, outros, o Modelo Exportador. Vejamos: 3 Principais Politicas Econémicas 213 :8.1 Substituigdo das importacées Em principio, o pais deve produzir mercadorias que, no momento, sao im- @ portadas. Por exemplo, no campo industrial, produzir automéveis; na agricultu- ta, cultivar macs. Esse modelo tem aspectos positivos e negativos. __ Aspectos positivos: * produto j4 tem um mercado cativo, o do préprio pais. Assim, a produ- 40 jé tem colocago certa, 0 que é bom para o empresério. A produgao local gera empregos, o que é bom para o trabalhador. A nova producao aumenta a arrecadacio de impostos, o que ¢ bom para 0 governo; : * esse modelo forca os produtores estrangeiros (particularmente as mul- : tinacionais) a se instalarem no pais; * soluciona o déficit do Balango de Pagamentos, porque diminui as im- portagGes. Aspectos negativos: * a produgiio nacional precisa ficar protegida. Como nao ha concorréncia externa, 0 produtor acomoda-se, nao progride e, com 0 tempo, ela fica : ineficiente; f* a producdio nacional, voltada sé para o pais, é quantitativamente pe- quéna. Portanto, nao se beneficia da economia de escala e os custos s40 tais elevados que os produzidos no exterior; . * ainda em decorréncia do nivel pequeno de producdo, 0 empresdrio nao pode fazer gastos elevados com pesquisa. Isso 0 p6e em desvantagem com 0 concorrente externo, tornando a mercadoria nacional obsoleta. Dominick Salvatore, em seu livro International economics, diz 0 seguinte: décadas de 50, 60 e 70, fndia, Paquistao, Argentina e Nigéria criaram in- str jastineficientes que proporcionaram elevados precos para 0s consumidores. do thais, ndo criaram empregos suficientes, mas levaram trabalhadores do );para,as cidades.” ‘propésito, o Relatério do Banco Central relativo a 1990 faz a seguinte ob- “A politica de comércio exterior, adotada pelo Brasil durante anos, baseou-se no modelo de substituigao de importagées. Essa politica teve evidentes vanta- gens na medida em que propiciou o surgimento e crescimento de um parque industrial bastante diversificado e complexo. Contudo, as medidas protecio- nistas que vigoraram durante muito tempo impediram avangos fundamen- tais no caminho da modernidade, ao restringir o desenvolvimento mais efi- ciente da-indtistria nacional.” 214 Economia Internacional e Comércio Exterior + Maia Diante do exposto, vemos que o modelo “substituigéo das importacdes” é bor inicialmente (cria a industria nacional) e ruim com o tempo (acomodac4o). 8.2 Modelo exportador “O mercado de fato 6 0 mundo e quem for incapaz de perceber esse fato estaré condenado a sumir.” O Estado de S. Paulo, de 14-5-2000 O modelo exportador tem por objetivo desenvolver uma atividade produ- tora (industria, agricultura ou servico) em niveis técnicos, capaz de suprir 0 mercado interno e ser competitiva no exterior. Esse modelo tem aspectos posi- tivos e negativos. Aspectos positivos: * 0 crescimento da produc&o néo fica limitado ao mercado doméstico, que é pequeno (exemplificando: Coreia do Sul); * como o mercado internacional é muito amplo, a produgdo pode ser em larga escala, 0 que reduz custos; * no mercado externo, a mercadoria nacional nao est4 protegida por atos de seu governo. Isso obriga o produtor nacional a um constante desen- 7 volvimento técnico, o que é bom para o proprio consumidor nacional. A propésito, Dominick Salvatore, em seu livro International economics, diz 0 seguinte: 3 “Os paises que adotaram o modelo exportador (por exemplo, Hong Kong e Cingapura) progrediram mais que india, Paquistdo e Argentina, optantes do modelo substituigdo das importagées.” Aspectos negativos: j i a conquista dos mercados externos é dificil devido & concorréncia das nacées que jd tém tradigdo de mercado; 4 ‘s multinacionais dos paises desenvolvidos relutam em transferir para . 10s paises pobres tecnologia de ponta, o que faz com que o produto na- * - sional fique em desvantagem no mercado internacional. ‘© modelo exportador exige um tramite bastante rapido para as exportacdes. No caso brasileiro, reproduzimos as conclusdes de um estudo feito pela Funda- cao Getulio Vargas e pela Camara Americana de Comércio, com base em entre- 4 vistas com 177 empresdrios: a «No Brasil, da produgao até a entrega do produto ao cliente sio necessérios: 124 dias. Se conseguissemos reduzir esse prazo para 61 dias (praticamente a me‘ tade), haveria os seguintes beneficios: Principais Politicas Econémicas 215 * reduc&o dos custos financeiros; levando-se em consideracdo as altas ta- xas de juros existentes no Brasil, esse fato é muito importante; * areducao do tempo para 61 dias aumentaria a competitividade de nos- sas exportac6es. Hoje em dia, os compradores lutam para manter esto- ques baixos, porque isso representa um ganho financeiro. A reducao do tempo auxilia a manutengao de estoques mais baixos. (O Estado de S. Paulo, de 15-4-2000). 3 Modelo ideal Consideremos dois paises, um com mercado interno grande e outro com ‘mercado interno pequeno. Pais com mercado interno grande Eo caso do Brasil. Na realidade, o ideal seria o pais iniciar 0 processo produ- pelo método de Substituicdo das Importacées, com tarifas alfandegarias pro- cionistas. Entretanto, essas tarifas deveriam ser, com 0 tempo, decrescentes. Assim, 0 pais passaria automaticamente para o Modelo Exportador. Eviden- ente, nem todos os produtos encontrariam condicdes competitivas no merca- internacional; essa producao deveria ser substituida. Dessa forma, seriam preservados os empregos e 0 consumidor teria um pro- melhor e mais barato. Sobre o assunto, recomendamos ler, no Capitulo 18 livro, Fatos que Mudaram a Economia Internacional, a seco “Latifiindio”. com mercado interno pequeno Era o caso da Coreia do Sul, quando ela comecou a implantar a politica de odeloexportador. Para que 0 modelo exportador tenha sucesso, haverd neces- de es Seguintes medidas: 0 tributar a exportag4o: infelizmente, isso n4o ocorria no Brasil, até 2007, quando nossa exportac4o era onerada com CPME Até hoje, os-Estados brigam contra a Lei Kandir, que desonerou a exportacaio de 1 cettos produtos de ICMS; erédito 4 exportagdo: os banqueiros do exterior oferecem 0 pre-ex- : port aos bancos brasileiros, que o repassam aos exportadores a taxa de 1 juros abaixo da do mercado nacional. Devido as politicas cambiais ina- * dequadas, implantadas pelo governo brasileiro, varias vezes ele (pre- export) foi cortado pelos banqueiros estrangeiros, 0 que prejudicou muito nossas exportacées; incentivar a exportagao de produtos em que o pais é mais com- petitivo: esse incentivo poderd ser através de érga4os governamentais, 216 Economia Internacional ¢ Comércio Exterior + Maia . dando assessoria aos exportadores. No caso brasileiro, seriam os bancos oficiais e os Ministérios ligados 4 area econdmica; + subsidio 4 exportagio: os subsidios hoje sao condenados. Se eventual- mente forem institufdos, deverdo ficar sujeitos 4 reducao gradual. Com isso, haveria tempo para os exportadores reduzirem custos e melhora- rem a qualidade. O subs{dio dado sem essas condig6es criara uma pro- -3 ® ducio artificial que sera mantida a custa de receitas de impostos, com énus para a populagao; * taxa de cambio: as taxas irreais tornam a exportagao gravosa, prejudi- cando o trabalhador (desemprego) e o Balanco de Pagamentos do pais (escassez de divisas). Intimeras vezes, no Brasil, a manuteng&o de taxas baixas levou-nos a moratérias e a quedas das exportacGes.

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