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Dogmatismo e Marxismo:algumas considerações

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/ Batalha de ideias / Fonte: Analise Vermelha

Dogmatismo e Marxismo:algumas considerações

Foto de rdesign812 (CC by/2.0/)

Qualquer teoria politica deve ser adaptada às condições concretas


dos lugares para os quais ela será utilizada. A transposição mecânica,
dogmática e não criativa apenas afeta a sua aceitabilidade e
expansão no seio do povo. Isso não significa que se deve altera-la nos
seus princípios e forma, muito pelo contrário, mas sim usar seus
fundamentos como ponto de partida e apoio com o objetivo de
aprofundar sua inserção no cotidiano da classe trabalhadora,
camponesa.

Qualquer teoria politica deve ser adaptada às condições concretas


dos lugares para os quais ela será utilizada. A transposição mecânica,
dogmática e não criativa apenas afeta a sua aceitabilidade e
expansão no seio do povo. Isso não significa que se deve altera-la nos
seus princípios e forma, muito pelo contrário, mas sim usar seus
fundamentos como ponto de partida e apoio com o objetivo de
aprofundar sua inserção no cotidiano da classe trabalhadora,
camponesa.

Kim Il Sung explica essa questão de forma simples e direta quando


escreve que o''Marxismo-leninismo não é um dogma, é um guia para
a ação e teoria criativa. Assim, o marxismo-leninismo pode exibir a
sua vitalidade indestrutível somente quando aplicado de forma
criativa para se adequar às condições específicas de cada país’’. Ou
seja, uma teoria para ser revolucionária é dinâmica, a dialética
permite seus saltos qualitativos e consequentemente práticos para a
ação.

Outro marxista-leninista, Stálin, afirma''enriquecimento das velhas


fórmulas, à base da análise da nova experiência, mantendo-se o
ponto de vista do marxismo (...)”.

Ainda acrescentando sobre o problema do dogmatismo é necessário


colocar os seguintes fatos''O dogmatismo se caracteriza pela
separação entre a teoria e a prática, a fuga para o campo da
teorização escolástica. O dogmático, o talmudista, o escolástico, parte
unicamente de citações e não da experiência viva da prática, da
realidade. Sem penetrar na essência da questão, o dogmático, o
escolástico, o talmudista, estende mecanicamente os
pronunciamentos dos clássicos do marxismo-leninismo, que se
referem a condições históricas determinadas e concretas, há todos os
tempos e a todas as épocas. O dogmático é inimigo da dialética
marxista. A falta de compreensão e a negação das ideias do
desenvolvimento, a falta de historicidade no tratamento das
questões, são traços típicos do dogmatismo. Ao mesmo tempo, o
dogmatismo associa-se ao idealismo. Ao invés de partir dos
fenômenos da realidade objetiva, o dogmático parte de esquemas
mortos, os quais tenta impor à realidade viva’’.

Colocar a teoria revolucionária em favor dos explorados, de acordo


com suas condições reais, históricas, respeitando as características
populares, nacionais do povo. Kim Il Sung sintetiza esse problema
quando diz''Se aplicarmos mecanicamente experiências estrangeiras,
desconsiderando a história do nosso país e as tradições do nosso
povo e sem ter em conta as nossas próprias realidades e o grau de
preparação do nosso povo, os erros dogmáticos resultarão em muito
dano à causa revolucionária. Fazer isso não representa fidelidade ao
marxismo-leninismo, nem ao internacionalismo; é contrariar a eles''.

O sujeito dogmático não entende os problemas advindos de seu


posicionamento estático, repetitivo e sem base na realidade, a
principal consequência desses erros é a ampliação da distância entre
a teoria para qual diz estar militando e a classe trabalhadora,
camponesa, popular de um modo geral, as quais são as bases
primordiais para a revolução. Por isso,"o conflito existe não entre o
conteúdo e a forma em geral, mas entre a velha forma e o novo
conteúdo(...)” (Stálin).

Lenin demonstra através de sua grande experiência pratica, que o


movimentos''Vão se formando somente através de um trabalho
prolongado, de uma dura experiência; sua formação é facilitada por
uma acertada teoria revolucionária que, por sua vez, não é um dogma
e só se forma de modo definitivo em estreita ligação com a
experiência prática de um movimento verdadeiramente de massas e
verdadeiramente revolucionário.

É fundamental a compreensão dessas questões para que se possa


sempre estar em profunda conexão com a realidade nacional e seus
respectivos problemas. Só é possível o avanço na organização e
mobilização quando se coloca vida nas palavras, transformando assim
a teoria na materialidade ativa a qual precisamos para agir e intervir
nos problemas.
Em resumo’’O marxismo é inimigo do dogmatismo. O marxismo
surgiu, desenvolveu-se e temperou-se na luta contra todo
dogmatismo. Não é por acaso que, na época do imperialismo, os
inimigos do marxismo escolheram o dogmatismo, como arma
envenenada, em sua vil luta contra a doutrina marxista’’, portanto
''Transformar o marxismo em dogma é uma tendência a sufocar sua
alma revolucionária, a transformar os princípios combativos e
revolucionários do marxismo em dogmas mortos e secos, a castrar o
conteúdo vivo do marxismo''.

Referências

https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/materialismo/09.h
tm

https://www.marxists.org/portugues/kim_il_sung/1955/12/28.htm

https://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/esquerdismo/cap01.ht
m#II

https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/materialismo/05.h
tm
A diferença entre ortodoxia e dogmatismo

Por Jean Paulo Pereira de Menezes

O título do artigo desta semana apresenta uma tese central: ortodoxia


e dogmatismo são coisas distintas. Cotidianamente observamos uma
grande confusão. Muitas pessoas tratam estes dois conceitos como se
fossem sinônimos, queremos aqui colaborar para a compreensão
destas duas palavras (conceitos). Ser ortodoxo não é o mesmo de ser
dogmático. Esta confusão acaba contribuindo para um entendimento
errôneo, principalmente sobre ortodoxia em uma perspectiva
marxiana. Vejamos as diferenças.

A palavra ortodoxia tem sua origem grega em orthodoxos, que


significa de opinião correta, certa, verdadeira, reta. Já a palavra
dogmatismo, substantivo masculino, vem de dogma, em grego
dogmátikos, que significa fundamentos, princípios fundamentais. O
dogmatismo filosófico em Sócrates, Platão e Aristóteles possui
significado contestador, absolutamente diferente da atribuição
religiosa que se deu na Idade Média e mesmo até os dias de hoje,
quando dogmatismo trata de fundamentos inquestionáveis, absolutos
e eternos. Nesta breve apresentação etimológica a diferença já se faz
gritante. Observe que também chamei estas palavras de conceitos,
ou seja, significa que elas também são dotadas de significados
históricos e estão em constantes movimentos. Todavia, o movimento
histórico não autoriza a falsificação de seus significados! E isso
acontece tanto com o significado de ortodoxia ou dogmatismo.
Ser ortodoxo significa, por exemplo, defender uma tese fortemente,
com toda força, até que se prove e se convença de que determinada
tese está equivocada. Veja que o ortodoxo se permite a
transformação desde que tenha elementos sólidos de que sua tese é
um erro. Argumentar a partir do que acredita e defende não é ser
cego ou ignorante diante do processo histórico, mas ter firmeza em
garantir a sustentação de uma tese, justamente por ser construída
com fundamentos concretos, reais, sólidos e por esta tese encontrar
respaldo na sociabilidade.

Leia mais:

Sobre a vontade de mudar o mundo e o pessimismo do acomodado

Qual o problema chamar de "Diretas já" e não mais "greve geral"?

É preciso reafirmar a esquerda revolucionária

Ser dogmático significa (longe da chave grega), por sua vez, defender
uma tese sem questionamentos, fixá-la no tempo e não permitir a
contestação, e ainda, refutar qualquer antítese que se apresente. O
dogmático ignora as contradições da sua tese e busca sustentá-la de
todas as formas, muitas vezes se isolando em pequenos grupos que
poderiam ser chamados seguramente de seitas. O dogma se
apresenta como a verdade em si, sendo suficiente, impenetrável e
surdo diante da crítica.
Estas breves palavras já dariam conta de responder o título do artigo
da semana, mas insistirei em colocar estes conceitos em uma
situação histórica determinada. Atualmente, é possível se deparar
com a seguinte afirmação contra o pensamento de Marx e o
marxismo (a tradição marxista não é de responsabilidade de Marx,
fiquemos aqui apenas com Marx): “Marx é muito ortodoxo, muito
fechado em si mesmo. É um pensamento dogmático de verdades
únicas”. Ou, ainda, como escreveu o economista da Universidade de
Viena Eugen von Böhm-Bawerk a cerca da teoria da mais-valia e da
exploração capitalista em Marx: “[…] Ele (Marx) acreditava na sua
tese como um fanático acredita em um dogma. […] Sem dúvida foi
dominado por ela […] E ele, certamente, jamais alimentou a menor
dúvida quanto à correção dessa tese”.

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O caro leitor já deve ter percebido o conjunto de barbaridades que as


afirmações acima apresentam. Nelas, ortodoxo se relaciona com
circuito fechado, dogmatizado, a fanatismo e monolitismo teórico.
Então vejamos (…).

O pensamento de Marx, ou seja, a sua práxis, não faz coro com


qualquer tipo de teoria fechada, absoluta, suficiente em si mesma.
Muito diferente disso, a crítica que Marx não trabalha com verdades
eternas, imutáveis. Marx não opera com dogmatismos no sentido de
sistemas fechados e absolutos. O motivo: a vida não é assim, as
pessoas não são assim, as formas de se relacionarem também não o
são. Querer que seja já é uma outra história.
Quando do ascenso revolucionário em 1848 é verdade que há em
Marx uma expectativa de vitória do proletariado europeu, mas diante
dos fatos o que Marx nos legou foi uma análise dura do próprio
movimento, como diríamos: um balanço negativo do período. Não há
espaços para autoengano na perspectiva marxiana. Em 1852, no 18
de Brumário de Luís Bonaparte, mais uma vez o que nos é colocado é
uma análise histórica de balanço das perspectivas dos revolucionários
diante da crise do movimento e o ascenso do bonapartismo como
fenômeno político. Se o pensamento de Marx operasse com dogmas,
o que teríamos era uma análise de autoengano, ignorando a realidade
dos fatos daquele tempo presente, diante de postulados absolutos e
inquestionáveis de que a vitória do socialismo sob o capitalismo
estava se concretizando. Na verdade o que se observa é de uma
honestidade intelectual admirável, não apenas moral, mas a
necessidade de trabalhar em uma perspectiva lógica/dialética. Nela,
não há espaços para qualquer tipo de dogmatismos. Pensar a crítica
de Marx em uma chave dogmática é a maior demonstração de que
não se conhece mais do que algumas passagem recortadas e
vulgarizadas. Isso não vale!

"(Entre) o pensamento marxiano e pensamento marxista pode possuir


um abismo tremendo. Diante de toda tradição marxista encontramos
o marxismo dogmático e este sim repleto de verdades absolutas,
eternas e inquestionáveis, o stalinismo é o maior exemplo deste tipo
de deformidade em relação ao pensamento marxiano"

Assim sendo, não acredito que seja possível sustentar esta


característica para o pensamento marxiano. Todavia, pensamento
marxiano e pensamento marxista pode possuir um abismo tremendo.
Diante de toda tradição marxista encontramos o marxismo dogmático
e este sim repleto de verdades absolutas, eternas e inquestionáveis, o
stalinismo é o maior exemplo deste tipo de deformidade em relação
ao pensamento marxiano.
Diante deste quadro, apresenta-se o marxismo ortodoxo. Do que se
trata? Aqui temos o palco das confusões mais lamentáveis.
Normalmente se confunde marxismo dogmático com marxismo
ortodoxo e, normalmente, colocando o segundo em pé de igualdade
com o primeiro, tratando ortodoxia como sinônimo de dogmatismo:
não o são.

Para esclarecer ainda mais, tomemos o exemplo de um marxista


ortodoxo: Lênin.

Wladimir Ilych Ulianov, conhecido por Lênin, foi um marxista


ortodoxo. E o que isso significa?

Comecemos por aquilo que não significa. O marxismo ortodoxo não


aplica receitas e regras fixas; não trabalha com verdades eternas e
absolutas e também não se ocupa de repetir aquilo que Marx disse ou
fez como militante revolucionário. Lênin, ao ser ortodoxo, está
buscando na fonte a crítica da economia política desenvolvida por
Marx; busca lições do movimento revolucionário mundial; aprende
com as formas de organizações de Marx; estuda Marx, estuda a
Comuna de Paris de 1871 e a Primavera dos Povos de 1848,
questiona, reflete, concorda e discorda. Trata-se de um "marxismo
vivo". Não se trata de uma simples adaptação ou moldagem da crítica
marxiana, mas a apreensão do método e das análises para entender
a realidade russa da qual estava inserido. Nunca houve receitas. Era
necessário trabalhar com o que existia de concreto, assim como
propõe o pensamento marxiano. O uso das categorias marxianas são
os fundamentos para entender determinadas realidades onde se
instala o modo capitalista de viver, porém, a leitura do capitalismo na
Rússia era tarefa dos revolucionários russos daquele período.
Considerando a vulgarização absurda do pensamento de Marx por
parte da Social Democracia Alemã, adaptando o caráter
revolucionário ao reformismo pacifista de Eduard Berstein e Karl
Kautsky, mesmo com a resistência de Rosa de Luxemburgo, ser
ortodoxo neste momento era retomar as fontes, retornar a Marx era
uma necessidade imperiosa do movimento revolucionário que tinha
no partido alemão o maior exemplo de degeneração e desvio do
pensamento marxiano. O marxismo reformista do Partido Social
Democrata Alemão não era exemplo para nenhum tipo de mudança
radical das estruturas sociais, sou seja, para a revolução. Desta
forma, quando Lênin se organiza a partir do pensamento marxiano,
está reafirmando a crítica de Marx nos seus termos, sem fantasiar as
categorias, detendo-se naquilo que Marx fez, não naquilo que
determinado dirigente acha que tenha feito. No marxismo ortodoxo
não deve haver espaços para invenções de moda ou mesmo colocar
na lavra de Marx o que nunca foi dele, por exemplo, o dogmatismo no
sentido feudal que já apresentamos.

Ser ortodoxo não é ser dogmático, ao contrário, trata-se de combater


os dogmatismos, trata-se de atacar até a sua raiz o marxismo
dogmático/vulgar. A ortodoxia, ou ainda, o marxismo ortodoxo é vivo,
aberto, e defende Marx como ele é, sem adaptações e
abrandamentos do pensamento revolucionário. Neste sentido ser
ortodoxo é combater qualquer tipo de dogmatismo e trabalhar com
seriedade a partir de uma perspectiva (marxiana) considerando a
síntese de múltiplas determinações que cada momento histórico nos
apresenta.

Finalizando: ortodoxia marxiana é algo necessário se desejamos


entender o modo de produção capitalista em crise para superá-lo, não
é um conjunto de dogmatismos que contribuirá para uma revolução
social. Neste campo político, não há mais espaço para conciliação de
classe. Nossas necessidades nunca couberam nas urnas. Nenhuma
esperança em avatar, mas na classe trabalhadora internacional.

♦ Jean Paulo Pereira de Menezes é graduado em História, mestre em


História e doutor em Ciências Sociais

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