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APARIÇÃO

Contexto sócio-político

(...) A partir de 1945, a existência de uma oposição tornou-se inegável. Exprimiu-se de


variantes maneiras, geralmente pouco eficientes, no plano prático, mas passou a constituir um
pesadelo constante para o regime. Em Outubro de 1946, eclodiu uma revolta militar no Norte
(com uma marcha do Porto à Mealhada), a primeira em dez anos. Embora fosse fácil ao
Governo sufocá-la, ela abriu nova era de conspirações e tentativas de revolta, todas, aliás,
fracassadas. Em Abril de 1947, uma das mais importantes dentre estas revelou a existência de
uma vasta comparticipação militar, com o possível apoio do próprio Carmona, cansado, ele
também, da ditadura opressiva de Salazar. (...)
(...) A vitória aliada na Europa (Maio de 1945) foi pretexto para manifestações pró-
democráticas e pró-socialistas em todo o País. Para muita gente, e em especial para os
opositores ao regime, o triunfo das democracias teria como resultado drásticas mudanças
adentro do "Estado Novo", senão mesmo o retorno, puro e simples, às antigas instituições
parlamentares. Esta convicção arreigou-se nas principais cidades, gerando uma vasta corrente
de opinião pública que punha em xeque as realizações de Salazar e a sua permanência no poder.
Tanto a Grã-Bretanha como os Estados Unidos veriam com agrado alterações, quer no sistema
político de Portugal quer da Espanha. Assim, em Setembro de 1945, a Assembleia Nacional era
dissolvida, anunciando o Governo eleições livres para Novembro, com a possibilidade de
participação de outros grupos políticos. Este facto suscitou grande agitação, dentro e fora das
fileiras do regime. Dezenas de milhares de pessoas aderiram ao recém-criado U.D. (Movimento
de Unidade Democrática), espécie de frente Popular contra o "Estado Novo". Durante a
campanha eleitoral, a censura à imprensa foi grandemente aliviada, o que revelou
descontentamento generalizado a várias camadas da população e um desejo de modificações
revolucionárias nas estruturas. (...)
1949 quis dizer o ponto máximo numa frente unida contra o "Estado Novo". Não tardou que os
seus componentes, comunistas, socialistas, moderados, velhos democráticos, levassem as
disputas internas ao ponto da cisão no combate pela preeminência, estratégia a adoptar e
objectivos a atingir. A lembrança da 1ª. República e o facto de que as únicas personalidades
com prestígio e ainda algum eco popular eram os velhos políticos de vinte e cinco anos atrás
envenenavam a oposição portuguesa com questiúnculas pessoais e partidárias, rivalidades e
ideais obsoletos, impedindo-a de se adaptar aos tempos modernos e de propor à Nação qualquer
coisa de definido, claro e atraente. Para muitos, derrubar o regime significaria apenas riscar, de
um traço, toda a legislação, posterior a 1926. Mas, para muitos outros, toda a sorte de interesses
havia resultado dessa legislação e das suas efectivações reais. Destas confusões beneficiava o
Partido Comunista, único organizado e disciplinado, propenso a registar adesões das camadas
jovens e a falar uma linguagem ajustada à época em que se vivia. Em cada acto eleitoral, o
Partido Comunista tendia a marcar a sua posição, comandando nos bastidores e actuando
isoladamente em função do que julgava serem os seus interesses e os do País. Este facto
contribuiu ainda mais para fraccionar a Oposição e para alimentar a propaganda governamental
com pasto abundante e eficiente.
Quando Carmona morreu, em Abril de 1951, foi reaberta, entre os adeptos do regime, a questão
monárquica. Figuras como Mário de Figueiredo, Lumbrales e Cancela de Abreu defenderam a
restauração da Monarquia, ao passo que outras, como Marcelo Caetano e Albino dos Reis a
contrariavam. Salazar deu razão a estes últimos. As eleições que se seguiram apresentaram
pouco perigo para a Situação. Os moderados oposicionistas propuseram o almirante Quintão
Meireles, antigo ministro da Ditadura no ministério Vicente de Freitas (1928-1929) um dos
muitos que entendiam haverem Salazar e a sua gente traído a revolução. A Esquerda apresentou
Rui Luís Gomes, matemático e professor universitário de nome. O Supremo Tribunal de
Justiça, contudo, negou-lhe a sua candidatura, acusando-o de comunista.
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Os acontecimentos
"Vive o nosso País, há um quarto de século, em regime antidemocrático. É preocupação
absorvente do grupo responsável pela governação pública, é da essência do regime, actuar de
modo que seja nula a intervenção do povo no desenrolar da vida nacional.
Mas o Povo reagindo a este propósito do Estado Novo, nunca abdicou dos seus direitos, nunca
enjeitou as suas responsabilidades para com a Pátria e a República - indicou sempre aos
Democratas a luta contra a minoria dominante como o único caminho para a conquista das
Liberdades Fundamentais.
Correspondendo a este imperativo das massas populares, e na continuidade de acção
desenvolvida pelo M.U.D. e pela candidatura do general Norton de Matos, entendeu a
Comissão do Movimento Nacional Democrático que se devia apresentar uma candidatura à
Presidência da República.
A Assembleia de Delegados do Movimento Nacional Democrático apoiando e concretizando a
proposta da Comissão Central resolveu promover a apresentação da minha- candidatura.
Convencido de que o Movimento Nacional Democrático, em que tenho participado desde o
início, representa os interesses do Povo Português, aceitei essa responsabilidade, nos termos
precisos em que aquela Assembleia se pronunciará. E ao aceitá-la não ignoro as enormes
dificuldades que, do lado governamental, me estão levantando e levantarão.
(...) Esta candidatura situa-se no conjunto das reivindicações do Movimento Nacional
Democrático, reivindicações que convergem para três objectivos fundamentais: República e
Liberdade; Pão e Trabalho; Independência Nacional e Paz
(...) No plano das Liberdades Fundamentais, proponho-me lutar pelas seguintes reivindicações:
Amnistia a todos os presos políticos; Reintegração de todos os funcionários públicos afastados
dos seus lugares por serem desafectos ao Estado Novo; Readmissão de todos os trabalhadores
despedidos por motivos políticos; Abolição da Censura; Supressão da P.I.D.E.; Extinção do
Tarrafal; Revogação do Decreto das Medidas de Segurança; Extinção dos Tribunais Plenários
de Lisboa e Porto; Liberdade de Formação e Actuação de Partidos Políticos.
Além disso, a Assembleia Nacional não foi eleita livremente e o último projecto de revisão
constitucional visava a impedir que o Povo apresentasse um candidato à Presidência da
República, reivindico também: Dissolução da Assembleia Nacional e realização de eleições
para deputados em: condições de permitirem a participação dos democratas; Nulidade das
alterações à Constituição votadas por essa Assembleia.
(...) Neste sentido, dou o meu apoio às classes trabalhadoras: Na luta por melhores salários; Na
luta contra o desemprego; Na luta por salário igual para trabalho igual; Na luta pelas liberdades
sindicais.
À pequena e média burguesia: Na luta pelo barateamento do crédito e por outras medidas de
encorajamento à pequena e média indústria, pequeno e médio comércio, pequena e média
lavoura. (...)
PREPARA-SE A PAZ:
Desenvolvendo a colaboração com todas as potências; Repudiando o uso das armas atómicas,
lutando por uma redução geral de armamentos; Condenando a propaganda de guerra; Lutando
por um pacto de paz entre as cinco grandes potências.
O Povo Português reclama mais pão e menos canhões. Por isso pugnarei por uma política de
defesa intransigente da Independência Nacional e da cooperação com todas as potências para a
conquista da paz mundial. (...)

(Do manifesto "Ao Povo" de Rui Luís Gomes, 1951)

Quintão Meireles, por sua vez, retirou-se da campanha nas vésperas do acto eleitoral, como de
costume e o candidato do Governo, general Craveiro Lopes, foi eleito sem oposição.
Por essa altura, o regime vencera indubitavelmente a sua primeira crise séria e fortalecera até a
sua posição. Receando um controle comunista da Península Ibérica e decididos a não correrem
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qualquer risco, os Aliados ocidentais passaram a apoiar o "Estado Novo". Portugal tornou-se
membro fundador da Organização do Tratado do Atlântico Norte (O.T.A.N.) desde 1949,
surgindo no tablado internacional como um dos defensores do mundo livre. Para se ir ao
encontro da opinião pública internacional e das crescentes críticas ao colonialismo, a
Constituição foi alterada, modificado o Acto Colonial de 1930 e introduzidas mudanças no
estatuto dos indígenas bem como na designação oficial das colónias, crismadas em "províncias
ultramarinas". Em 1955, a conjuntura internacional permitiu a entrada de Portugal nas Nações
Unidas por acordo entre a União Soviética e as potências ocidentais quanto ao número de
estados, comunistas e não comunistas, a admitir.
Portugal, não tendo participado na guerra, não foi um dos participantes na Conferência de s.
Francisco nem um dos signatários da Declaração das Nações Unidas (Junho, 1945). O seu
pedido de admissão à novel Organização teve, contudo, lugar, pouco tempo depois. Foi vetado
pela União Soviética. Um segundo pedido, em 1947, deparou com idêntico resultado. Só em
1955 se tornou possível, por acordo entre as grandes potências, a entrada de Portugal na O.N.U.
juntamente com quinze outros países. Destes novos dezasseis estados-membros, quatro
pertenciam ao bloco de Leste (Albânia, Bulgária, Hungria e Roménia), quatro ao de oeste
(Espanha, Irlanda, Itália e Portugal), ao passo que os restantes oito eram considerados neutrais
no confronto entre os dois grandes blocos: Áustria, Cambodja, Ceilão, Finlândia, Jordânia,
Laos, Líbia e Nepal. Desta forma foi possível não alterar o jogo de forças no seio da
Organização e evitar o veto das grandes potências.
No País, intensificou-se a política de obras públicas, fomentou-se a industrialização e elevaram-
se salários. A estabilidade ao nível governamental aumentou ainda. Vários chefes de 1 Estado e
ministros estrangeiros visitaram Portugal. Ao mesmo tempo, a repressão continuava ou
intensificava-se até. A torre de marfim em que Salazar estava encerrado endurecera, à medida
que o Presidente do Conselho ia envelhecendo e perdendo contacto com os níveis inferiores da
administração e o público em geral. Em 1940, Salazar abrira mão da pasta das Finanças
largando, depois, a da Guerra (1944) e a dos Negócios Estrangeiros (1947). Ficou apenas sendo
chefe do Governo. Nestes termos, tornou-se mais fácil para um grupo de favoritos e de
conselheiros hábeis rodearem-no estreitamente e influenciarem-no com predomínio. Parece
que, também, e como consequência natural, a corrupção no seio da administração pública terá
aumentado.
O coronel Fernando dos Santos Costa, ministro da Guerra desde 1944 e, durante muito tempo,
tido como o "homem forte" do regime, emergiu a pouco e pouco como um dos favoritos de
Salazar e seu possível sucessor. Alinhando na Extrema Direita, era monárquico, embora se
tivesse pronunciado contra a restauração da Monarquia em 1951. Outro "delfim" potencial era
Marcelo Caetano, professor da Faculdade de Direito e historiador, sem dúvida um dos mais
competentes e respeitados defensores do "Estado Novo". Fizera parte do Governo duas vezes, a
primeira em 1944-47 como ministro das Colónias, e a segunda, em 1955-58 como ministro da
Presidência.
Com o ano de 1958 teve início a segunda grande crise política do regime. A crescente
insensibilidade de Salazar e a sua incompreensão perante o mundo em que vivia começavam a
provocar reacção, não só nas fileiras oposicionistas mas também entre os neutros politicamente
e até os próprios adeptos da Situação. No seio da União Nacional, adquirira vulto uma ala mais
liberal, que pedia maior abertura do espectro político, de forma a poder englobar um número
alargado de aderentes ou simpatizantes. Essa ala pretendia modificações ou reformas nos
métodos administrativos, nas opções governativas (quer em relação ao País quer ao Ultramar e
ao estrangeiro) e na atitude face à Oposição. Amadurecera uma geração de técnicos e de
intelectuais, sem responsabilidades nem ligações com os primeiros tempos do regime de
Salazar. Essa geração estava disposta a colaborar com o Governo em tarefas e
responsabilidades mas pretendia as actualizações que julgavam indispensáveis aos tempos
correntes. Respeitadores e admiradores de Salazar e sua obra, desconheciam o passado
histórico, aceitando o que lhes era afirmado pela propaganda oficiosa acerca do período
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parlamentar anterior ao "Estado Novo". Muitos julgavam aconselhável a saída de Salazar e sua
substituição por um homem mais novo, como Marcelo Caetano. Parece ter sido essa, também a
opinião de Craveiro Lopes.
As eleições presidenciais de 1958 revelaram, sem sombra de engano, as dissensões adentro do
regime. O Presidente Craveiro Lopes que não se mostrara dócil quanto se esperava, foi vetado
pela Comissão Central da União Nacional. Em vez dele, Salazar fez escolher o almirante
Américo Tomás, seu ministro da Marinha desde havia catorze anos. A oposição centro-esauerda
escolheu por pressão de António Sérgio, o general Humberto Delgado, oficial-aviador no activo
e ao tempo Director-Geral da Aeronáutica Civil. Delgado fora outrora um partidário acérrimo
da Ditadura e admirador de Salazar. A Extrema Esquerda indicou o nome do advogado Arlindo
Vicente.
Delgado mostrou ser o homem adequado às circunstâncias. Demagogo e exaltado, contactou
facilmente com as massas populacionais suscitando enorme entusiasmo em todo o País. A
Esquerda depressa se deu conta do carisma de Delgado, renunciando à sua candidatura à parte e
alinhando atrás dele. Tal como em 1949, o regime receou não sobreviver perante a autêntica
bola de neve que a acção de Delgado ia causando, e preparou uma possível acção militar em
caso de vitória ou de excessiva ameaça oposicionista. Embora sem garantias de liberdade de
voto e sem possibilidade de controle de todas as urnas, Humberto Delgado decidiu ir até ao fim.
Os números oficiais deram-lhe um quarto do total dos votos (ganhou aqui e além, mormente
numas quantas cidades de Moçambique), mas o general, sempre alegou ter triunfado nas
eleições e ser ele, portanto, o legítimo chefe dos Portugueses.
Findo o acto eleitoral, a repressão intensificou-se uma vez mais. Delgado foi demitido, não
tardando a ter de solicitar asilo político na Embaixada do Brasil. Mais tarde e ao fim de
complicadas diligências, seria autorizado a sair de Portugal, homiziando-se no Brasil e na
Argélia. Muitos dos seus partidários foram igualmente demitidos, presos ou julgados. O bispo
do Porto, que escrevera uma carta a Salazar insistindo sobre mudanças de método e política
governamentais, teve de deixar o País também. Uma modificação ministerial (Agosto de 1958),
se sacrificou Santos Costa - tornado incómodo em excesso, até para Salazar - excluiu,
igualmente, Marcelo Caetano. E este, descontente com a marcha da política, afastou-se também
do Conselho de Estado, de que era membro vitalício.
O período de agitação política prosseguiu durante algum tempo. Parte dos Católicos mais
progressistas passou a intervir activamente em questões políticas e a lutar contra um regime que
- segundo diziam - prejudicava a Igreja, alienando-lhe as simpatias de números cada vez
maiores de indivíduos e travando-lhe a marcha indicada pelos novos tempos. Em Março de
1959, uma rebelião esteve para eclodir em Lisboa, com a participação decisiva de grupos
católicos. Em Janeiro de 1961, a situação complicou-se com a captura do paquete "Santa
Maria" por exilados políticos luso-espanhóis, chefiados por Delgado e Henrique Galvão, outro
antigo militante situacionista que já se salientara como conselheiro do almirante Quintão
Meireles, dez anos atrás. A captura tinha ligações com uma revolta que eclodiu, de facto, em
Angola, em Fevereiro do mesmo ano. Em Abril de 1961, o próprio ministro da Defesa, general
Botelho Moniz, tentou um golpe-de-estado contra Salazar, que fracassou. (...)
in História de Portugal, Oliveira Marques, vol. III.

EXISTENCIALISMO - FILOS. A palavra começou a usar-se depois da 1ª. guerra mundial para
designar um movimento com representantes na Filosofia e na Literatura e com repercussões
noutros sectores culturais, sobretudo artísticos, religiosos e ético-sociais.

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Em Filosofia será preferível a expressão "filosofia da existência", por ser mais específica e
menos controvertida. A "existência" que aqui está implicada é o Homem, que se torna o centro
de atenção, encarado como ser concreto - nas suas circunstâncias, no seu viver, nas suas
aspirações totais. Centrado nos problemas do Homem, o Existencialismo penetra nos seus
sentimentos concretos, nas suas angústias e preocupações, nas suas emoções interiores, nas suas
ânsias e preocupações, nas suas emoções interiores, nas suas ânsias e satisfações - temas
particularmente aptos para um desenvolvimento literário. Por isso, esta corrente, embora
preponderantemente filosófica, tem já na sua origem autores célebres no campo da Literatura,
como Nietzsche e Kierkegaard, e, entre os seus representantes, pensadores que são também
literatos, como Sartre e Marcel Proust. (...)

A) As características fundamentais podem reduzir-se a duas:

A 1ª. está na origem do movimento, que pretende uma valorização do Homem (o "Dasein" na
linguagem de Heidegger e a "Existenz", na de Jaspers). Não se aplica, porém, a Heidegger, de
um modo estrito; este, embora na "analítica do Dasein", elaborada em Ser e tempo (1927),
centre as suas preocupações no Homem, tem directamente em vista um desvelamento do ser.
Heidegger deveria colocar-se preferivelmente entre os fenomenólogos que pretenderam
restaurar o espírito metafísico, na linha de Husserl, N. Hartmann e M. Scheler. Continua a
inserir-se no Existencialismo, porque tanto o modo concreto como elaborou a sua "analítica do
Homem" como alguns temas focados (angústia, cuidado, solicitude, temporalidade...) estão de
acordo com a mentalidade existencialista, por ele profundamente influenciada.

A 2.a característica refere-se ao modo concreto de encarar o Homem. Não se pretende


sistematizar princípios que o Homem siga, como quem se orienta por normas estabelecidas; este
processo seria demasiado teórico. O Existencialismo insere-se antes, na linha platónica e
augustiniana; tendo em conta a realidade concreta da pessoa humana, nas suas ânsias e
exigências internas, chama a atenção para estas inquietações e para aquilo que poderá apaziguá-
las.

As outras características apresentam-se como consequência das anteriores, e podemos reduzi-


las também a duas:

. Uma consiste na importância atribuída à liberdade como potência especialmente valorizante.


Por ela, distingue-se o Homem do animal. Nela se radicam sentimentos muito explorados pelo
Existencialismo, como insegurança, temor, angústia, desespero, cuidado, fracasso, revolta,
náusea, esperança, fidelidade..., excitados principalmente na vivência de "situações críticas"
privilegiadas, como o sentimento da própria inanidade, a dor, a perspectiva da morte, a
comunicação com outros, a ânsia de Absoluto... Tais sentimentos, se, por um lado, nos fazem
temer diante da própria existência, que podemos perder, por outro, proporcionam uma
valorização pessoal e responsável, graças à qual a "existência" de algum modo cria, ou pelo
menos desenvolve a própria essência, através de uma abertura temporal para o Mundo. Esta
possível valorização julgam-na alguns possível nos moldes de um humanismo exclusivamente
terreno; temos, neste caso, um "Existencialismo fechado", típico de Sartre e também de
Merleau-Ponty. Outros defendem que só numa expansão para além do finito se consegue o
apaziguamento valorizador; temos então um "Existencialismo aberto" para o Infinito, típico de
Marcel e mesmo de Jaspers.

. A última característica liga-se mais directamente ao empenho concreto próprio do


Existencialismo, e refere-se ao método comummente seguido pelos seus representantes. Este
deverá permitir uma exposição penetrante que não se afaste do concreto, terá de ser, portanto,

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um método analítico-reflexivo ou fenomenológico que permita analisar reflexamente a
"existência" na modalidade de ser aberto para as coisas do Mundo e para os outros. (...)

O. Existencialismo, embora considerado por pensadores materialistas, como corrente que


concede ainda demasiado ao idealismo (sobretudo devido à mentalidade vincadamente
espiritualista de grande parte dos seus representantes), encerra de facto uma nítida tendência
realista. Teve o mérito de chamar a atenção para os problemas vitais do Homem, aproveitando
o método fenomenológico interpretado num sentido gnoseologicamente realista. Não é pelas
suas características que nele surgem antinomias graves, mas antes pela tonalidade concreta que
elas revestem nalguns dos seus representantes. Autores há que, coarctando a fenomenologia
apenas ao imediatamente verificável e permanecendo fiéis a este coarctamente, comprometeram
a perenidade pessoal do Homem e desligaram-no do Absoluto. (...) ]

in Enciclopédia Luso-Brasileira da Cultura.

Existencialismo
Corrente filosófica que se funda na situação do indivíduo vivendo num universo absurdo, ou
sem sentido, em que os homens são dotados de vontade própria. Os existencialistas sustentam
que as pessoas são responsáveis pelas suas próprias acções, e o seu único juiz, na medida em
que a sua existência afecta a dos outros. A origem do existencialismo é geralmente atribuída ao
filósofo dinamarquês Kierkegaard. Entre os seus outros proponentes destacam-se Martin
Heidegger, na Alemanha, e Jean-Paul Sartre, em França.Todos os indivíduos dotados de
autoconsciência podem compreender ou intuir a sua própria existência e liberdade, daí que não
devam deixar que as suas escolhas sejam limitadas por nada - nem pela razão, nem pela moral.
Esta liberdade para escolher conduz à noção de "não-ser", ou "nada", que pode provocar a
angústia ou o medo. O existencialismo possui muitas variantes. Kierkegaard salientou a
importância da escolha pura na ética e na crença cristã, Sartre procurou combinar o
existencialismo com o marxismo.
O pensamento filosófico dos autores existencialistas não se caracteriza nem por uma
sistematização racional sobre a vida nem por reflexão abstracta e logicizante acerca do ser
humano. O homem é o problema central do existencialismo, não enquanto ser abstracto, com
uma natureza definida, mas como um ser concreto, que sofre, que trabalha e ama.
Para os filósofos existencialistas contemporâneos, a existência humana é entendida como
algo demasiado fluído e rico e, por isso, escapa a todas as sistematizações abstractas. Assim,
para estes autores, acima de tudo a vida é para ser vivida. Faz parte inerente da existência
humana o devir, a inquietação, o desespero e a angústia. A existência é algo em aberto, sempre
em mudança, e não há nenhum tipo de determinismo ou fatalismo.
A negação de um destino faz da vida um jogo de possíveis entre possíveis. Cabe ao homem,
a cada instante, escolher, optar e, por isso mesmo, ele torna-se um ser responsável pela sua
vida. A escolha humana traz consigo inevitavelmente a angústia e muitas vezes o desespero.
Para os existencialistas, o indivíduo não pode ser diluído e apagado num todo, uma vez que
cada um é um ser concreto, único e de valor insubstituível. Por isso, nesta reflexão, o homem é
sempre entendido como um ser individual e concreto, na sua vida quotidiana, no seu contexto
particular, e nunca entendido como uma entidade metafísica e abstracta. Nesta medida, os
autores existencialistas são aqueles que colocam a existência do homem no plano central das
suas reflexões, como dirá Sartre, a existência precede a essência. O homem à partida não está
definido, ele é um projecto em construção, cada pessoa é aquilo em que se torna consoante
aquilo que faz.

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O Existencialismo segundo Kierkegaard
"O existencialismo nunca poderá ser uma teoria como outra qualquer, porque a existência
não é, em si, susceptível de teoria. O existencialismo, para Kierkegaard, é apenas a expressão
da sua própria vida e a única coisa de geral ou de universal que contém é a exortação que a
todos nos dirige para que nos tornemos cristãos. A natureza deste existencialismo só poderá,
portanto, ser definida em função das condições que são requeridas por um existir autêntico -
existir que se deverá iniciar e intensificar seguidamente, por meio de uma reflexão capaz de
fazer, de uma existência vivida, uma existência desejada e pensada. Essas condições podem
reduzir-se a três: a necessidade do compromisso e do risco, o primado da subjectividade e a
prova da angústia e do desespero."
R.Jolivet, As Doutrinas Existencialistas
O Existencialismo segundo Karl Marx
"O que Marx mais critica é a questão de como compreender o que é o homem. Não é o ter
consciência (ser racional), nem tampouco ser um animal político, que confere ao homem sua
singularidade, mas ser capaz de produzir suas condições de existência, tanto material quanto
ideal, que diferencia o homem."
A essência do homem é não ter essência, a essência do homem é algo que ele próprio
constrói, ou seja, a História. "A existência precede a essência"; nenhum ser humano nasce
pronto, mas o homem é, em sua essência, produto do meio em que vive, que é construído a
partir de suas relações sociais em que cada pessoa se encontra. Assim como o homem produz o
seu próprio ambiente, por outro lado, esta produção da condição de existência não é livremente
escolhida, mas sim, previamente determinada. O homem pode fazer a sua História mas não
pode fazer nas condições por ele escolhidas. O homem é historicamente determinado pelas
condições, logo é responsável por todos os seus actos, pois ele é livre para escolher. Logo todas
as teorias de Marx estão fundamentadas naquilo que é o homem, ou seja, o que é a sua
existência. O Homem é condenado a ser livre.
As relações sociais do homem são tidas pelas relações que o homem mantém com a
natureza, onde desenvolve suas práticas, ou seja, o homem se constitui a partir de seu próprio
trabalho, e sua sociedade se constitui a partir de suas condições materiais de produção, que
dependem de factores naturais (clima, biologia, geografia...) ou seja, relação homem-Natureza,
assim como da divisão social do trabalho, sua cultura. Logo, também há a relação homem-
Natureza-Cultura.
O Existencialismo segundo Jean Paule Sartre
A distinção entre essência e existência corresponde a distinção entre conhecimento
intelectual e conhecimento sensível. Os sentidos põem em contacto com os seres particulares e
contingentes, únicos que realmente existem, ao passo que a inteligência permite aprender as
ideias ou essências, géneros e espécies universais, meras possibilidades de ser, em si mesmas
inexistentes. Sabe-se, no entanto, desde Sócrates, que o objecto da ciência é o universal e não o
particular, quer dizer a essência e não a existência. Platão tenta resolver essa contradição
hipostasiando as ideias, atribuindo-lhes a realidade, no mundo supra-sensível ou topos ouranoú
(lugar do céu). Poder-se-ia dizer que é em nome da existência que Aristóteles critica a teoria
platónica das ideias, sustentando que as ideias, ou essências, não estão fora mas dentro das
próprias coisas, as quais, feitas de matéria e de forma, contem, em si mesmas, o universal e o
particular, a essência e a existência.
Em oposição as filosofias que se poderia chamar 'essencialistas', as filosofias
existencialistas partem do pressuposto de que a existência e anterior a essência, tanto ontológica
quanto epistemologicamente ,quer dizer tanto em relação ao ser, ou à realidade, quanto em
relação ao conhecimento. Na perspectiva do existencialismo, as ideias, ou as essências, não são
anteriores às coisas, pois não se acham previamente contidas nem na inteligência de Deus nem
na inteligência do homem. As ideias, ou essências, são contemporâneas das coisas, são as
próprias coisas consideradas de determinado ponto de vista, em sua universalidade e não em
sua particularidade. Síntese do universal e do particular, o indivíduo existente é redutível ao
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pensamento, ou inteligível, na medida em que contem o universal, a essência humana, por
exemplo, nesse homem determinado, e irredutível, enquanto particular, esse homem com
características que o distinguem de todos os demais e o tornam único e insubstituível.
A afirmação da anterioridade ou do primado da existência em relação a essência, entendida
aqui como existência humana, implica uma série de teses que distinguem o existencialismo das
filosofias essencialistas. O primado da liberdade em relação ao ser, subjectividade, em relação a
objectividade, o dualismo, o voluntarismo, o aticismo, o personalismo, o antropologismo,
seriam algumas das características desse tipo ou modalidade de filosofia. O existencialismo não
é nem uma teologia, ou filosofia de Deus, nem uma cosmologia, ou filosofia do mundo, da
natureza. O existencialismo é, fundamentalmente, uma antropologia, quer dizer, uma reflexão
filosófica sobre o homem, ou melhor, sobre o ser do homem enquanto existente.
Na perspectiva antropológica, surgem os temas ou problemas característicos do pensamento
existencial. A finitude, a contingência e a fragilidade da existência humana; a alienação, a
solidão e a comunicação, o segredo, o nada, o tédio, a náusea, a angústia e o desespero; a
preocupação e o projecto, o engajamento e o risco, são alguns dos temas principais de que se
tem ocupado os representantes do existencialismo. Para essa filosofia, a angústia e o desespero,
por exemplo, deixam de ser sintomas mórbidos, objectos da psicopatologia, para se tornarem
categorias ontológicas que propiciam acesso á essência da condição humana e do próprio ser.
A ideia de existência, como já se observou, não é nova. Com a mesma palavra, ousía ,
Platão designa a essência e a existência, e a crítica de Aristóteles ao idealismo platónico
pressupõe o hilomorfismo, ou teoria do ser entendido como existente, feito de matéria e de
forma. Platão, sem dúvida, é idealista, mas é uma experiência existencial, a vida e a morte de
Sócrates, que o leva a filosofar.

O Existencialismo segundo Vergílio Ferreira


"O existencialismo ergue o seu protesto, afirmando que o Homem é pessoalmente,
individualmente, um valor; que a sua liberdade (em todas as suas dimensões e não apenas em
algumas) é uma riqueza, uma necessidade estrutural de que não deve perder-se entre a
trituração do dia-a-dia; e finalmente que, fixando o homem nos seus estritos limites, só por
distracção ou imbecilidade ou por crime se não vê ou não deixa ver que ao mesmo homem
impende a tarefa ingente e grandiosa de se restabelecer em harmonia no mundo, para que em
harmonia a sua vida lucidamente se realize desde o nascer ao morrer.
Possivelmente gostaríeis ou teríeis curiosidade de me ouvir falar de mim, já que vou sendo
insensivelmente investido na qualidade de uma espécie de delegado nacional ou regional do
Existencialismo. Mas eu jamais me disse "existencialista", embora muito deva à temática
existencial e pelo Existencialismo tenha manifestado publicamente o maior interesse. É que
aceitarmos um rótulo automaticamente obriga a aceitar-lhe todas as consequências, entre as
quais a de nos responsabilizarmos por tudo quanto sob este rótulo se disser ou fizer.
Por mim, preferia definir o Existencialismo como a corrente de pensamento que, regressada
ao existente humano, a ele privilegia e dele parte para todo o ulterior questionar. Ou então - e
paralelamente ou implicitamente a essa definição - preferiria dizer, continuando Sartre, aliás,
que o Existencialismo é uma corrente do pensamento que reabsorve no próprio "eu" de cada um
toda e qualquer problemática e a revê através do seu raciocinar pessoal ou preferentemente da
sua profunda vivência. Aí se implica portanto que nenhum questionar se estabelece em
abstracto, de fora para dentro, mas antes se retoma a partir da nossa dimensão original, ou seja,
verdadeiramente, de dentro para fora."

F. Vergílio, Espaço Invisível II

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O existencialismo é uma corrente filosófica com alguns pontos de ancoragem na ideologia de
Kierkegaard. Os existencialistas não têm um pensamento unificado, dividem-se por várias
escolas, nomeadamente, as de Jaspers, Gabriel Marcel, Sartre.

A grande separação entre a filosofia existencial e a clássica é a «oposição entre o concreto e o


abstracto». Nesta corrente filosófica, as concepções não se formam como consequência de um
raciocínio mas como uma escolha antecipada. «É impossível lutar com o que a alma escolheu -
Zeromski».

O método fenomenológico de Husserl surgiu como instrumento metodológico comum a alguns


existencialistas na medida em que afasta o pensamento de um mundo concebido
antecipadamente.

Foi Heidegger que conduziu a fenomenologia ao primeiro sistema existencialista por este ser
uma redução do pensamento de Descartes, Feuerbach e outros. Segundo a fenomenologia, a
consciência está evidentemente só. A vida não é mais que um dado desta, do mesmo modo, a
lógica, a história, o futuro não são mais do que dados de uma consciência a que nem sequer
podemos apelidar de «nossa» uma vez que não passa de um dado da consciência definitiva à
qual não resta senão julga-se a si própria .

Esta teoria, vem fundamentar a concepção que Sartre tem do homem :o homem não é um ser
em si mas um ser para si.

Em suma, a fenomenologia é uma análise da noção mais profunda, a última, do fenómeno.


Assim, o existencialismo é a descrição mais profunda e definitiva dos nossos dados relativos à
existência.

Assim sendo, a filosofia, deixa de ter no centro as coisas passando à filosofia do ser, fazendo
surgir três diferentes tipos de ser:

1. O Ser em si (ser das coisas).

2. O Ser para si (ser da consciência morta).

3. Seres vivos e Seres existentes.


Dentro desta ideologia, os homens que vivem de um modo inconsciente não têm existência. O
homem não é nada além do que se vê.
Segundo Sartre,«Sou livre, sinto-me livre. Logo, tenho sempre a possibilidade de escolher. Esta
escolha é limitada porque o homem encontra-se sempre numa situação e só pode escolher
dentro dessa situação. Exemplo: posso ficar na cama ou caminhar, mas não posso escolher voar
porque não tenho asas. Há uma livre escolha pela qual o homem é responsável. Se me recusar a
escolher entre duas possibilidades, isso é também uma maneira de escolher uma terceira atitude.
Se não quisermos escolher entre o comunismo e o anticomunismo, há a neutralidade.»
Em suma, o existencialismo é a consequência de um facto fundamental da ruptura interior da
consciência que se manifesta não apenas nas qualidades essênciais do homem mas na física,
onde temos dois meios de conceber a realidade.
Qualquer escolha pode ser autêntica aproximando o indivíduo da origem porque para se
escolher tem de se ter liberdade para o fazer. E, embora o indivíduo seja livre, essa liberdade
tem de ser encarada como limitada e finita, associada a uma óbvia negatividade porque o
homem não é livre de ser livre de não escolher.
Segundo a ideologia deste pensador, o homem está condenado a ser livre e essa será a sua maior
condenação.
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Análise da obra

Preâmbulo da obra

Espaço: casa enorme e deserta, sala, uma jarra de flores sobre uma mesa, cinzeiro,
de vidro, cadeira, varanda.

Tempo: Noite de Verão - lua quente de Verão, aragem quente.

Solidão e lembrança: "Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro" - o "eu" vai
retroceder no tempo, procurado para isso a solidão.

Angústia: "escuto o indício de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memória de


origens... sinto nas vísceras a aparição fantástica das coisas, das ideias, de
mim...alarme de vísceras..."

Questiona o absurdo da vida e da morte: "absurdo da morte... só há um problema


para a vida, que é de saber, saber a minha condição... ter a evidência ácida do
milagre que sou, de como infinitamente é necessário que eu esteja vivo, e ver depois,
em fulgor, que tenho de morrer...

Comunhão na angústia: "... e o vulto da minha mulher... Senta-se ao meu lado...ao fim
de muitos anos aprendemos a verdade, na aparição da graça, num limiar de
presença, antes que sobre a Terra fosse pronunciada a primeira palavra. Tomo as
suas mãos nas minhas e no deslumbramento da noite abre-se, angustiada, a flor da
comunhão..."

A acção

Acção principal: ÉVORA - Alberto e a família Moura:

. Alberto chega a Évora (cap. I)

. Alberto encontra o Dr. Moura e a sua família (cap. III)

. Alberto dá lições de Latim a Sofia (cap. IV)

. Encontro com Carolino (cap. VI)

. Relação amorosa com Sofia (cap. Vll)

. Jantar com Ana e Alfredo (cap. IX)

. Alberto volta a encontrar-se com Carolino (cap. X)

. Alberto regressa a Évora (cap. XIV)

. O Reitor descobre a ligação de Alberto com Sofia (cap. XV)

. Alberto muda-se para a casa do Alto (cap. XVII)

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. Morte de Cristina (cap. XVIII)

. Carolino tenta assassinar o Dr. Alberto (cap. XIX)

. Partida para férias (cap. XXII)

. Regresso a Évora e encontro com Sofia (cap. XXIII)

Acção secundária - BEIRA - Alberto e a família Soares:

. Recordações da sua aldeia e da família (cap. I)

. Morte do pai (cap. III)

. Lembranças da infância (Tia Dulce) (cap. IV e VI)

. Férias na aldeia (cap. XI, XII e XIII)

Caracterização de personagens

Sofia
Personagem secundária, modelada
Caract. Física: jovem, linda voz, bela, "olhos vivos", "mãos brancas e frágeis", "corpo
intenso", "seios agressivos"
Caract. Psicológica: personalidade difícil, "demoníaca", desafiadora, caprichosa

Carolino
Personagem secundária, modelada
Caract. Física: olhos azuis, borbulhas no rosto, jovem
Caract. Psicológica: atraído pela morte, "louco", "perverso"

Ana
Personagem secundária, modelada
Caract. Física: cabelos compridos, olhar vivo, "dente imperfeito", seios volumosos
Caract. Psicológica: descrente, frustrada, resignada

Cristina
Personagem secundária, modelada
Caract. Física: loura
Caract. Psicológica: "arzinho grave", inocente, "sobredotada"

Alberto
Personagem principal, modelada
Caract. Física: magro
Caract. Psicológica: instável, sujeito a crises existência, ateu, angustiado, ânsia de
atingir o absoluto
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Álvaro
Personagem secundária, plana
Caract. Psicológica: sábio, sensato, respeitador, compreensivo, ateu

Susana
Personagem secundária, plana
Caract. Física: olhar expressivo
Caract. Psicológica: calma, discreta, submissa, resignada, solitária, sábia, beata
Tia Dulce
Personagem secundária, plana
Caract. Física: magra, sisuda
Caract. Psicológica: compreensiva, beata, gananciosa, afectuosa
Tomás
Personagem secundária, plana
Caract. Física: "belo patriarca"
Caract. Psicológica: sensato, simpático, resignado, alegre, espalhafatoso, tranquilo

Evaristo
Personagem secundária, plana
Caract. Física: extrovertido, atrevido, materialista, contraditório, ateu, animado,
incoerente, irrequieto

Identificação com os momentos da tragédia clássica

A HYBRIS- Consiste num desafio que o protagonista realiza, após um momento de


crise (krisis = momento de decisão). Tal desafio pode ser contra a lei dos deuses, as
leis da cidade, as leis e os direitos da família ou, finalmente, contra as leis da
natureza.

O PATHOS - A sua decisão, o seu desafio, a sua revolta, têm como consequência o
seu sofrimento (pathos), que ele aceita e que lhe é imposto pelo Destino e executado
pelas Parcas. Tal sofrimento será progressivo.

O AGON -É o combate ou luta que nasce do desafio e se desenrola na oposição de


homens contra deuses, de homens contra homens ou de homens contra ideias. Pode
ser físico, psicológico, individual ou colectivo. O conflito (agon) é a alma da tragédia.

A ANANKÊ - É o Destino, sombria potestade a que nem aos deuses é permitido


desobedecer. É pois, cruel, implacável e inexorável.

A KATASTROPHÉ - Desenlace fatal onde se consuma a destruição das personagens.


A catástrofe deve vir indiciada desde o início, dado que ela é a conclusão lógica da
luta entre a Hybris e a Anankê, luta que é crescente (clímax) e atinge o ponto
culminante (acmê) na anagnórise.

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Relacionamento com a obra

Hybris: Alberto desafia Deus. Sofia desafia a sociedade em que se insere (a vida e a
própria morte). Carolino desafia Deus.

Coro: A memória, as reflexões.

Pathos: Alberto, Sofia, Carolino

Agon: Traduzido no conflito interior de Alberto, Carolino e Sofia.

Ananke: Alberto: as suas angústias, o seu conflito interior; torna-se vítima de si


mesmo e das

suas convicções.

Katastrophé: fim trágico de Sofia, Carolino e Cristina.

O Espaço

Espaço físico ou geográfico:

Interior: casa do Dr. Moura, casa do Alto, casa dos pais de Alberto.

Exterior: Évora, a planície, a aldeia/a montanha.

Espaço social:

Grupos sociais: a cidade - as mulheres; o campo - os trabalhadores rurais (ceifeiros).

Ambientes: café, comité de salvação, a feira, o carnaval.

Espaço psicológico:espaço da memória, das inquietações e das reflexões do "eu"


narrador/personagem.

Estatuto do Narrador na obra

Presença: Narrador participante na acção de que é personagem principal: narrador


autodiegético

Ciência: Omnisciente

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Símbolos

Noite:

Para os Gregos, a noite (nyx) era a filha de Chaos e a mãe do Céu (Ouranos) e da
Terra (Gaia). Gerou também o sono e a morte, os sonhos e as angústias, a ternura e
a falsidade. As noites eram, muitas vezes, prolongadas de acordo com a vontade dos
deuses, que faziam parar o sol e a lua para melhor realizarem as suas proezas. A
noite percorre o céu, envolvida num véu escuro, num carro puxado por quatro cavalos
pretos e acompanham-na, em cortejo, as suas filhas - Fúrias e Parcas. Na concepção
celta do tempo, a noite é o começo do dia tal como o Inverno é o início do ano. Na
Irlanda, a duração legal de uma noite e de um dia corresponde a vinte e quatro horas
e, simbolicamente, à eternidade. A noite simboliza o tempo da gestação, da
germinação, das conspirações que vão eclodir, à luz do dia. sob forma de vida. Possui
a riqueza de todas as virtualidades da existência. Mas penetrar na noite significa
regressar ao indefinido onde se misturam pesadelos e monstros, ou seja, "as ideias
negras". A noite é a imagem do inconsciente e, no sono da noite, o inconsciente
liberta-se. Como qualquer símbolo, a noite encerra um duplo aspecto: o das trevas
onde ferrnenta o devir e o da preparação do dia de onde nascerá a luz da vida. Ligada
a outras palavras, como "obscuridade", noite significa purificação do intelecto. As
palavras "vazio" e "despojo" referem-se à purificação da memória e "aridez" e "secura"
relacionam-se com a punficação dos desejos e afectos sensíveis, chegando, mesmo,
até às mais elevadas aspirações.

Montanha

O simbolismo da montanha é múltiplo: advém da altura e do centro. Se é alta, vertical,


se se aproxima do céu, simboliza a transcendência; enquanto centro de numerosas
teofanias simboliza a manifestação. Assim, ela é encontro do céu e da terra, morada
dos deuses e símbolo da ascenção humana. (...) A montanha exprime também as
noções de estabilidade, de imutabilidade, de pureza. Por outro lado, as montanhas
são vistas como o símbolo da grandeza e da pretensão dos homens que não podem,
no entanto, escapar ao poder de Deus.

Planície

Simboliza o espaço, a terra ilimitada, a imensidão infinita na qual os deuses Uranianos


circulam e arrastam as almas para a morte.

Sol

O sol é, para muitos povos, uma manifestação da divindade. É o símbolo da


fecundidade mas pode gualmente queimar e matar. (...) O sol é fonte de luz, calor e
vida. (...)

Lua

Símbolo dos ritmos biológicos, do tempo que pass a, da passagem da vida para a
morte. Simboliza também o conhecimento indirecto, discursivo, progressivo, frio. A
Lua, astro das noites, evoca metaforicamente a beleza e a luz, na imensidão
tenebrosa. Mas sendo esta luz apenas o reflexo do sol, a Lua é apenas o símbolo do
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conhecimento "reflectido", isto é, o reconhecimento teórico, conceptual, racional. (...) A
Lua gera a chuva e, por isso, é o símbolo da fecundidade.

Música

Entre os Gregos atribui-se geralmente a invenção da música a Apolo, a Cadmo, a


Orfeu, a Anfion; entre os Egipcios a Thot ou a Osíris, entre os Hindus a Brama; entre
os Judeus a Jubal, etc. Os historiadores da ciência musical louvam Pitágoras, quc
inventou um monocórdio para determinar matematicamente as relações dos sons;
eles louvam igualmente Lassus, o mestre de Píndaro, que, por volta do ano 540 a. C.,
foi o primeiro a escrever sobre a teoria da musica. Dois mil anos antes destes grandes
mestres, os Chineses conheciam uma música, levada a um verdadeiro ponto de
perfeição. Com efeito, ela é a ordem do cosmos, a ordem humana, a ordem mental.
Ela é a arte de atingir a perfeição.

Epílogo

Espaço: casa enorme e deserta, sala, cadeira, varanda.

Tempo: Noite de fim Verão - lua quente de fim de Verão, céu húmido e fresco, ar
saturado do aroma da chuva sobre a poeira do Estio.

Solidão e lembrança: "Sento-me


aqui nesta sala vazia e
relembro" - o "eu" volta a
retroceder no tempo, procurando
para isso a solidão.

Calma, apaziguamento: "sei e


não temo... o tempo não existe
no instante em que estou, senão
o que posso ver nele do que me
sinto..."

Rendição à evidência da
condição humana: "evidência da
minha condição..."

Comunhão no apaziguamento,
na calma: "... alguém numa porta
que se abre, e que me procura e
me toma as mãos e as molda...
na flor breve e miraculosa de
uma profunda comunhão".

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