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Revista

Científica
Fagoc
A EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA:
o “juridiquês” na internacionalização da
linguagem corporativa dos contratos e o Jurídica ISSN: 2525-4995

acesso à justiça

CARNEIRO, Sandro Samôr 1


MURRER, Carlos Augusto Motta 2

Palavras-chave: Linguagem jurídica. Juridiquês.


RESUMO Comunicação jurídica. Termos jurídicos.
O presente trabalho tem o objetivo de apresentar Internacionalização dos negócios.
a relação existente entre a comunicação e o
Direito, bem como analisar o poder da linguagem
no mundo jurídico. São apresentados conceitos
básicos da linguagem jurídica e uma análise INTRODUÇÃO
da influência do “juridiquês” na celeridade
processual, na resolução das lides e na imagem A linguagem jurídica é o principal
do Poder Judiciário. O estudo demonstra instrumento de trabalho do advogado, uma vez
algumas iniciativas que buscam sensibilizar os que é por esse meio, principalmente a escrita,
que a doutrina, a jurisprudência e a legislação
profissionais do Direito em relação à importância
não somente são compartilhadas, como tornam-
da simplificação da linguagem jurídica para
se legítimas. Surge, portanto, a discussão
aproximação da sociedade à justiça brasileira,
sobre o tão conhecido “juridiquês”, que é um
além de discorrer sobre a construção e a conjunto de expressões, gírias, jargões e termos
linguagem dos negócios empresariais. Para isso, internacionalizados, utilizados entre operadores
foram abordadas, de uma forma geral, questões do direito e associados ao discurso burocrático,
relativas ao atual cenário dos grandes negócios enquadrando a linguagem jurídica como uma
corporativos, bem como aos desafios enfrentados linguagem especializada.
pelo profissional do Direito neste ramo dinâmico. O uso de termos técnicos é uma
Foi realizada pesquisa bibliográfica em artigos, necessidade dos profissionais do âmbito jurídico,
livros e monografias. porém deve-se buscar recursos para esclarecer
tal linguagem técnica. O uso de um vernáculo
mais elitizado nem sempre vai demonstrar
cultura, como exemplifica Andrade (s.d.), citando
1 Bacharel em Direito - FAGOC. E-mail: sandrosamor@ 23 ocorrências para designar “petição inicial”
gmail.com (peça com que se inicia uma ação – petição é
2 Advogado. Professor do Ensino Superior. Pesquisador na pedir), como é previsto pelo art. 319 do Código
temática de Direito, Economia e Ambiente. Bacharel em de Processo Civil: peça atrial, peça autoral, peça
Direito pela UFV. Pós-graduado em Direito Ambiental pela
de arranque, peça de ingresso, peça de introito,
PUC/MG. Pós-graduado em Advocacia Empresarial pela
PUC/MG. Professor de Direito ambiental e empresarial da peça dilucular, peça exordial, peça gênese, peça
FAGOC. E-mail: carlos.murrer@hotmail.com inaugural, peça incoativa, peça introdutória,
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peça ovo, peça preambular, peça prefacial, falha na exposição objetiva dos textos jurídicos,
peça preludial, peça primeva, peça primígena, contrariando sua essência romana de interpretar/
peça prodrômica, peça proemial, peça prologal, repassar as normas escritas aos cidadãos comuns
peça pórtico, peça umbilical, peça vestibular (FRÖHLICH, s.d.).
(SUCUPIRA, 2015). Questiona-se ainda: trata-se de uma
A simplificação da linguagem jurídica evolução do “juridiquês” a absorção de termos
não é só útil, como aconselhável, e o principal jurídicos na linguagem corporativa dos contratos?
foco da questão é ter conhecimento do ponto Quais são as origens desses termos?
de equilíbrio entre simplicidade e precisão. Os Atualmente, a formação dos negócios
termos técnicos têm de ser mantidos, pois têm no mercado corporativo mundial é influenciada
significados próprios, mas a técnica de como diretamente pelo sistema jurídico anglo-saxão,
serão usados deve ser corretamente utilizada, liderado pelos Estados Unidos e pela Inglaterra,
para melhor entendimento do texto ou da fala. e tal influência vem trazendo uma série de
Citando o ministro Edson Vidigal, do problemas de interpretação nos contratos
Superior Tribunal de Justiça: empresariais de países que, como o Brasil, adotam
uma formação acadêmica romano-germânica.
[…] compara o “juridiquês” ao latim em Sendo assim, uma das possíveis hipóteses é a
missa, acobertando um mistério que amplia herança natural de termos pela homogeneização
a distância entre a fé e o religioso; do mesmo da globalização.
modo, entre o cidadão e a lei. Ou seja, o uso Uma vez que as diretrizes na formação de
da linguagem rebuscada, incompreensível negócios no sistema romano-germânico baseia-
para a maioria, seria também uma maneira se na construção jurídica da formalização, com
de demonstração de poder e de manutenção códigos previamente determinados, no sistema
do monopólio do conhecimento. (PEREIRA, anglo-saxão essa construção se dá principalmente
2005). encima das jurisprudências, e é neste sistema
jurídico contemporâneo que a formação dos
Partindo da necessidade de reflexão sobre contratos dos negócios das grandes corporações
o poder da linguagem e análise dos excessos vem se mostrando mais dinâmico, trazendo maior
de formalidade, de arcaísmos, de termos segurança jurídica para as partes envolvidas, já
latinos, dentre outros que possam impedir uma que possibilita a inclusão de uma “Demonstração
compreensão clara e rápida do texto jurídico, do Negócio” nos contratos.
tanto das partes interessadas como também O comércio internacional possui
dos próprios operadores do direito, a presente uma linguagem própria, chamada Incoterms
pesquisa traz elementos que devem ser analisados (International Commercial Terms), criada em 1936
de forma concreta, tornando-se assim possível e utilizada basicamente no mercado internacional
responder ao problema da pesquisa: a linguagem de transportes e algumas terminologias são
inacessível viola o princípio constitucional do utilizadas no dia a dia das empresas nacionais
acesso à justiça? A democratização da linguagem para definir o tipo de frete a ser utilizado, como
afetaria o respeito da população ao poder CIF (Cost, Insurance and Freight) ou FOB (Free
judiciário? on Board). Já a linguagem corporativa utiliza
Com o uso do “juridiquês”, forma-se o termo definido como fusões e aquisições:
um abismo linguístico, em que, de um lado, M&A (Merges and Acquisitions), o qual atinge
encontram-se os profissionais do direito e, todos os segmentos profissionais, como Direito,
do outro, a população em geral. A linguagem Contabilidade, Administração e Economia.
permanece no centro, obscura e imperfeita aos O presente trabalho tem como objetivo
olhos da concisão, e põe-se em xeque o ofício traçar uma reflexão sobre o poder da linguagem,
do operador do Direito, na medida em que esta principalmente no âmbito jurídico, e também
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analisar os excessos de formalidades, de O Estado, como garantidor da paz social,
arcaísmos, de termos latinos, que possam impedir avocou para si a solução monopolizada dos
uma compreensão clara e rápida dos textos nos conflitos intersubjetivos pela transgressão
autos, bem como estudar a absorção de termos à ordem jurídica, limitando o âmbito da
internacionalizados no Direito Empresarial. autotutela. Em consequência, dotou um de
Metodologicamente, utilizou-se como seus Poderes, o Judiciário, da atribuição de
instrumentos para o presente artigo a pesquisa solucionar os referidos conflitos mediante a
bibliográfica, artigos da internet e legislações aplicação do direito objetivo, abstratamente
pertinentes ao tema, versando sobre um caráter concebido, ao caso concreto. [...]. (HASSE,
qualitativo acerca da função da linguagem jurídica s.d.).
para os operadores do Direito e a influência
da normatização do sistema anglo-saxão na Portanto, passa a ser responsabilidade
construção dos negócios empresariais. exclusiva do Estado proporcionar à população
o acesso à justiça, bem como aplicar o poder-
dever de dizer e aplicar o direito àqueles que o
ACESSO À JUSTIÇA invocarem.
Nas palavras do jurista brasileiro Luiz
Um longo caminho foi trilhado até que a Rodrigues Wambier:
garantia constitucional de acesso à justiça fosse
reconhecida no Brasil, pois durante muito tempo Se, por um lado, o Estado avoca para si a
o poder de dizer o direito era exercido pelas função tutelar jurisdicional, por outro lado,
partes conflitantes e não pelo Estado. Desse em matéria de direitos subjetivos civis, faculta
modo, os conflitos de interesses que porventura ao interessado (em sentido amplo) a tarefa de
ocorressem eram resolvidos pelas próprias provocar (ou invocar) a atividade estatal que,
partes através da autotutela, pois não se exercia via de regra, remanesce inerte, inativa, até
o poder estatal, evoluindo até o momento em que aquele que tem a necessidade da tutela
que uma terceira pessoa, de forma imparcial e estatal quanto a isso se manifeste, pedindo
desinteressada, era eleita pelos antagonistas expressamente uma decisão a respeito de
para solucionar o litígio. Muitos doutrinadores sua pretensão. (HASSE, s.d.).
acreditam que é nessa fase que se dá início à
distribuição de justiça como a que vivenciamos Como o Estado tem a obrigação
hoje nos povos civilizados (CAETANO, s.d.). de disponibilizar a tutela jurisdicional, são
No século XVII, após os efeitos surtidos implantados vários mecanismos para garantir
sobre a teoria da repartição dos poderes em o acesso à justiça, resultando no surgimento do
Legislativo, Executivo e Judiciário, o Estado direito de ação, ou seja, faculdade de conferida
passa a ser o detentor do Direito, regulando as ao interessado de buscar no Estado a proteção
relações sociais e monopolizando a jurisdição do seu direito que foi violado ou está sendo
através de uma organização jurídica que ameaçado de violação.
permitisse a aplicação da ordem, da paz social, do
desenvolvimento e da segurança da população Garantia constitucional do acesso à justiça
(CAETANO, s.d.).
A partir daí, com a proibição da autotutela, No Brasil, como Estado democrático
o Estado passa a garantir o direito, a ordem e o de Direito, o direito de ação foi ampliado pela
equilíbrio da sociedade. Constituição de 1988, abrangendo a ameaça na
Sobre essa evolução, menciona o ministro redação do artigo XXXV do art. 5° que diz:
do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux:

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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem Efetividade da tutela jurisdicional
distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros O direito de ação, como garantia
residentes no País a inviolabilidade do direito constitucional, não poderá caminhar sozinho na
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e busca pela satisfação do indivíduo que acessa
à propriedade, nos termos seguintes: a justiça pedindo ao Estado seu direito ou que
[...] proteja um direito ameaçado. Deve-se prestar
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do a tutela jurisdicional de forma efetiva e eficaz,
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; pois não haverá satisfação e produção dos efeitos
práticos se o reconhecimento da existência de um
Estando no plano constitucional, pode-se direito não for concluído em prazo razoável.
afirmar que a garantia do acesso à justiça deverá Citando novamente o jurista brasileiro
ser observada em todo o sistema jurídico e que Luiz Rodrigues Wambier:
nenhum posicionamento do Estado brasileiro,
seja no âmbito do judiciário, do executivo ou do [...] não se trata de apenas assegurar o acesso,
legislativo, poderá prejudicar ou impedir que o o ingresso, no Judiciário. Os mecanismos
cidadão exerça o direito de acesso à justiça; indo processuais (i. E., os procedimentos, os
além, tal garantia constitucional obriga ao Estado meios instrutórios, as eficácias das decisões,
a tomar atitudes que proporcionem o acesso os meios executivos) devem ser aptos a
amplo à justiça. propiciar decisões justas, tempestivas e
A Convenção Interamericana sobre úteis aos jurisdicionados – assegurando-se
Direitos Humanos de São José da Costa Rica, concretamente os bens jurídicos devidos
ratificada pelo Brasil, a qual foi integrada ao àquele que tem razão. (HASSE, s.d.).
nosso ordenamento jurídico pelo Dec. n. 678,
de 06 de novembro de 1992, em seu artigo 8°, O Estado, responsável pela distribuição
complementa e especifica ainda mais as regras de e acesso à justiça aos seus jurisdicionados, deve
acesso à justiça: dar maior importância à efetividade da tutela
jurisdicional, pois as decisões judiciais precisam
Art. 8º. Toda pessoa tem direito de ser ser capazes de modificar as relações sociais,
ouvida, com as garantias e dentro de um e assim terem efeitos objetivos nas vidas das
prazo razoável, por um juiz ou tribunal pessoas.
competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na
apuração de qualquer acusação penal contra LINGUAGEM
ela, ou para que se determinem seus direitos
ou obrigações de natureza civil, trabalhista, A linguagem é definida como a
fiscal ou de qualquer natureza. capacidade que possuímos para expressar nossos
pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos.
Portanto, não basta que se observe Essa comunicação pode ser feita através da fala,
somente a garantia de acesso à justiça; deve- da escrita ou de outros signos convencionais como
se avançar com a satisfação do direito buscado sons, sinais, símbolos e gestos. Nesse sentido, a
e, daí, partir para efetivar a prestação da tutela linguagem é classificada como qualquer sistema
jurisdicional pelo Estado. de sinais de que dispõem os indivíduos para
comunicar-se (SEMÂNTICA, 2018).
Dentro da linguagem do dia a dia,
utilizamos a comunicação da linguagem verbal,

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através da fala e da escrita, e a não verbal, que é excessivo de termos técnicos de Direito; um
representada por outros recursos como imagens, desvio no linguajar jurídico que prejudica o
músicas, gestos, símbolos entre outros. entendimento dos textos apresentados nos autos
Tratando-se de linguagem verbal, esta se do processo, com a utilização de expressões,
divide entre linguagem oral e linguagem escrita. termos, gírias, jargões entre os operadores do
A linguagem oral é aquela que se dá através da direito.
fala, ou seja, quando, por exemplo, estamos O Direito, como qualquer outra ciência,
em uma conversa. Já a linguagem escrita é possui uma linguagem própria, como a economia
utilizada geralmente quando o interlocutor está possui também o seu “economês”. Portanto, o
ausente, daí surge a necessidade do uso de uma problema do “juridiquês” não se refere ao uso
linguagem mais clara e objetiva, conceituando comedido e necessário dos termos técnicos,
os termos utilizados, buscando assim um melhor mas ao excesso de formalismo na área jurídica
entendimento (SEMÂNTICA, 2018). (MANDEL, s.d.).
Portanto, ao fazermos o uso da Nas palavras da professora de linguagem
linguagem, é necessária uma análise de vários jurídica Vadeciliana Andrade, que acredita que
fatores e o objetivo a ser atingido. Não há maior muitos profissionais ainda colocam o ofício em
complexidade da escrita em relação à fala; um pedestal, não enxergando que o advogado,
existem sim, situações em que o ambiente e o promotor ou juiz são agentes de aproximação
grau de formalidade irão exigir tanto um texto ou distanciamento entre a justiça e a sociedade:
formal ou uma fala mais simples. “Conhecer o Direito tem que ser uma faculdade
de qualquer cidadão. Historicamente, o discurso
Linguagem Técnica jurídico é o da pompa, da ciência, intocável. Isso
é um erro, pois o lugar do direito é onde o povo
A linguagem técnica é utilizada está”.
especificamente para alguma ocasião ou situação, Na verdade, tanto o advogado, como
e é escrita de forma a normatizar o texto para que também o legislador, que edita as leis, deve
todos os leitores da área tenham entendimento conferir aos textos uma linguagem acessível, ou
sobre o que está sendo exposto. Uma das seja, de fácil compreensão ao público. Caso essa
principais características de um texto técnico é linguagem seja mal empregada, poderá afastar o
a utilização de uma linguagem de especialidade, operador do direito do público que busca o Poder
ou seja, uma linguagem utilizada numa dada Judiciário (MANDEL, s.d.).
área, englobando tanto as terminologias como O acesso à justiça é um direito inerente a
também as expressões específicas dessa área. cada cidadão, pressuposto do Estado Democrático
A linguagem de especialidade utiliza tanto de Direito; partindo disso, não há que se criar
as terminologias com seus termos funcionais uma barreira na comunicação, tanto na escrita
que definem as operações e processos, como bem como na oral, com o uso desnecessário e
também convenções próprias de cada profissão. exagerado de termos técnicos, resultando em
Essa linguagem técnica e científica, se utilizada uma desvalorização social ao Judiciário.
com excesso de formalidade dentro de um
nível culto, transforma-se em uma linguagem A função da linguagem jurídica para os
burocrática, que na área do Direito é conhecida operadores de direito
como “juridiquês”.
A linguagem é um artifício de poder
Juridiquês na vida em sociedade, mais ainda no mundo
jurídico. O operador do direito se vale das
O juridiquês é o uso desnecessário e palavras, tanto oralmente como na forma escrita,
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na busca por seus objetivos nos autos. Portanto, Direito, com o uso de uma linguagem jurídica
para o advogado, a linguagem é seu principal mais simples, direta e objetiva. Com a criação
instrumento de trabalho (REOLON, s.d.). de concursos, a campanha premiou trabalhos de
É por meio da linguagem que o advogado alunos de Direito relacionados com a simplificação
irá realizar suas atividades nos autos do processo, da linguagem jurídica e prestigiou magistrados
como peticionar, contestar e provar. Sendo que desenvolvem formas de simplificar a
assim, seu objetivo processual depende do linguagem nas peças processuais, como sentenças
uso de vocábulos e da forma mais adequada e notificações. A campanha também lançou um
de se expressar em cada situação, buscando o livreto com o título “O Judiciário Ao Alcance de
entendimento pretendido (JARGÃO..., 2018). Todos: noções básicas de “juridiquês” (SANTANA,
É através da linguagem que o advogado s.d.).
irá traduzir, para o mundo jurídico, a pretensão Em artigo publicado, o juiz federal Marcio
de seu cliente. Para tanto, deverá expressar, Barbosa Maia (SANTANA, s.d.), exemplifica o uso
de forma clara e concisa, todas as suas ideias e prejudicial do “juridiquês”:
conhecimento jurídico.
A linguagem jurídica e os termos técnicos Um conhecido conto popular retrata que
podem e devem ser utilizados pelos advogados um ladrão foi surpreendido pelas palavras
como forma de enriquecer o texto e buscar de Rui Barbosa ao tentar roubar galinhas em
objetividade no seu conteúdo, porém trará um seu quintal: – Não o interpelo pelos bicos
prejuízo se na construção textual apresentar certo de bípedes palmípedes, nem pelo valor
preciosismo com o uso exacerbado de expressões intrínseco dos retrocitados galináceos, mas
latinas, de termos arcaicos, rebuscados e por ousares transpor os umbrais de minha
neologismos que dificultam a compreensão das residência. Se foi por mera ignorância,
peças processuais por pessoas leigas e também perdôo-te, mas se foi para abusar da
pelos operadores do direito (REOLON, s.d.). minha alma prosopopéia, juro pelos tacões
Uma linguagem livre do” juridiquês” tem matabólicos dos meus calçados que dar-te-ei
sido questionada até pelos magistrados, pois os tamanha bordoada no alto da tua sinagoga
profissionais da área e a população em geral têm que transformarei sua massa encefálica em
tido dificuldades no bom entendimento do que cinzas cadavéricas. O ladrão, todo sem graça,
está escrito nos autos dos processos. perguntou: – Mas como é, seu Rui, eu posso
Buscando contribuir para aproximar a levar o frango ou não?
população do entendimento da matéria jurídica
e maior celeridade dos processos judiciais, várias
iniciativas já estão sendo tomadas em todo o O JURIDIQUÊS VERSUS A LEGALIDADE
meio jurídico.
A Cartilha Legal criada por um grupo de Os direitos e garantias que emanam
juízes do Rio de Janeiro é um exemplo dessa da Constituição Federal deferem ao cidadão o
tentativa de aproximar o Direito da população. acesso à justiça, porém, além de concedê-los, é
Através da utilização de personagens de necessária uma simplificação das normas para
Monteiro Lobato, a cartilha, que busca traduzir o que haja, de fato, uma compreensão efetiva
“juridiquês”, vem se mostrando uma ferramenta desses direitos garantidos e consagrados.
útil em vários programas do judiciário. A lei com certeza tem uma preocupação
Em 2005, a Associação dos Magistrados nesse sentido. Vejamos o que diz a Constituição
do Brasil (AMB) lançou uma campanha pela Federal em seu artigo 59, parágrafo único: “Lei
simplificação do “juridiquês”, que busca reeducar complementar disporá sobre a elaboração,
a linguística nos tribunais e nas faculdades de redação, alteração e consolidação das leis”.
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A Lei Complementar de número 95, de 26 Percebe-se uma preocupação em relação
de fevereiro de 1998, em seu artigo 11, diz em à linguagem jurídica, no sentido de garantir que as
certos incisos e alíneas que: normas sejam escritas com clareza, somando-se a
isso a garantia de um ensino de qualidade, com a
Art. 11. As disposições normativas serão aprendizagem do estudo normativo e popular de
redigidas com clareza, precisão e ordem expressões orais e escritas da língua portuguesa.
lógica, observadas, para esse propósito, as
seguintes normas:
I - para a obtenção de clareza: O DIREITO EMPRESARIAL COMO RAMO
a) usar as palavras e as expressões em seu DINÂMICO
sentido comum, salvo quando a norma versar
sobre assunto técnico, hipótese em que se As transformações ocorridas nos últimos
empregará a nomenclatura própria da área anos no mercado corporativo, principalmente as
em que se esteja legislando; trazidas pela tecnologia, economia e sociedade,
b) usar frases curtas e concisas; contribuem para que já se discuta sobre a
c) construir as orações na ordem direta, possibilidade de estarmos presenciando uma
evitando preciosismo, neologismo e Quarta Revolução Industrial. O ritmo em que
adjetivações dispensáveis; novas regras são incorporadas nos negócios é
II - para a obtenção de precisão: acelerado e influencia as práticas empresariais.
a) articular a linguagem, técnica ou comum, Atualmente as empresas precisam lidar com
de modo a ensejar perfeita compreensão demandas antes impensáveis e até adversas,
do objetivo da lei e a permitir que seu texto como, por exemplo, a Robotização do Mercado
evidencie com clareza o conteúdo e o alcance de Trabalho, que proporciona alta performance
que o legislador pretende dar à norma; nas atividades e a Gestão Humanizada que busca
conciliar os objetivos dos colaboradores com as
Outro fato importante foi o Projeto de lei necessidades da empresa. Outro exemplo parte
nº 1676, de 1999, que dispõe sobre a promoção, de um projeto do governo federal, que, em
a proteção, a defesa e o uso da língua portuguesa 2018, iniciou a implantação do eSocial, buscando
e dá outras providências, trazendo importantes unificar a forma como as empresas prestam
definições, como nos diz o seu artigo 2°: suas obrigações trabalhistas e previdenciárias
(CUNHA, 2018).
Art. 2°. Ao Poder Público, com a colaboração Dessa forma, as empresas incorporam
da comunidade, no intuito de promover, novos desafios e responsabilidades na gestão
proteger e defender a língua portuguesa, de seus negócios, como maior responsabilidade
incumbe: ambiental nas suas operações e na busca por
I - melhorar as condições de ensino e de sustentabilidade social. A globalização vem
aprendizagem da língua portuguesa em todos influenciando as práticas empresariais, que
os graus, níveis e modalidades da educação se adaptam e alteram a todo momento, por
nacional; exemplo, a maior concorrência nos mercados,
II - incentivar o estudo e a pesquisa sobre os a internacionalização do mercado de capitais,
modos normativos e populares de expressão o ritmo acelerado da comunicação e das trocas
oral e escrita do povo brasileiro; culturais e a busca de boas práticas na governança
III - realizar campanhas e certames educativos corporativa. Essa mesma globalização que
sobre o uso da língua portuguesa, destinados promove mudanças nas relações sociais vem
a estudantes, professores e cidadãos em desenvolvendo uma nova linguagem corporativa
geral; na construção dos contratos empresariais.
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A internacionalização dos termos e sua absorção decisões reiteradas dos tribunais, quando existir a
pelo direito empresarial necessidade de um julgador ou parte interessada
interpretar o contrato, ele precisa entender como
A construção dos negócios está este foi construído ou o que levou as partes a
intimamente ligada à formação do direito no construírem o contrato daquela forma (SALLES;
mundo, onde o sistema jurídico contemporâneo PASSOS, s.d.).
se debruça em quatro correntes: Sistema Islâmico
(aplica-se somente aos mulçumanos), Sistema A construção e a linguagem dos contratos
Romano-Germânico (Civil Law), Sistema Anglo empresariais
Saxão (Common Law) e Sistema Socialista (países
socialistas). Porém, como o Islâmico é um apêndice Trata-se, portanto, de um grande desafio
da religião, e só se aplica aos povos muçulmanos, para o operador de direito se adaptar a essa
e o Socialista praticamente desapareceu após a diversidade, em que a formação acadêmica adota
extinção da União Soviética, as diretrizes para o o sistema romano-germânico e a construção
mercado empresarial no mundo englobam, em da parte dos negócios busca, cada vez mais, as
sua maioria, os sistemas Romano-Germânico e diretrizes do sistema anglo-saxão nos contratos
Anglo-Saxão (BRANCALHONI, s.d.). empresariais. Atualmente, nos contratos das
No Brasil, a construção jurídica é baseada grandes corporações, já não se detectam
no Sistema Romano-Germânico, moldado sob cláusulas, artigos, incisos, parágrafos, etc... é
a codificação e a formalização, em que todo o mais comum encontrar “considerandos” (1,
direito é baseado numa legislação em códigos 1.1, 1.2.1, etc..), uma normatização do sistema
já previamente determinados; já o Anglo-Saxão, anglo-saxão. Trata-se de uma metodologia de
que é o sistema americano e inglês, não possuiu influência principalmente americana, que os
essa construção codificada, é baseado nas grandes escritórios vêm implantando no ramo
jurisprudências, decisões reiteradas dos tribunais. de negócios, até mesmo empresas nacionais já
Porém, os negócios hoje no mundo adotam essa estrutura, com características do
estão funcionando, ainda que em países com Common Law (CUNHA, 2018).
formação romano-germânica, como o Brasil, E como esses contratos são construídos?
com a adoção das diretrizes do sistema anglo- Quais são as características da linguagem
saxão, trazendo uma série de problemas de corporativa? Quais as terminologias que se
interpretação dos contratos empresariais. São adotam dentro desse mercado? Hoje, nos
insuficientes os requisitos vistos na graduação grandes centros, como Rio de Janeiro e São
do curso de direito; o código diz que, para um Paulo, os interlocutores de negócios já adotam
contrato de compra e venda, é necessário objeto essa linguagem sem explicarem o que são
lícito, partes capazes e forma prescrita em lei. esses termos, somente solicitam que seja
O sistema anglo-saxão parte da necessidade de providenciada certa demanda, por exemplo:
uma demonstração “do negócio”, onde inicia-se “Vamos fazer uma holdback? ou “Quanto você
o contrato com uma série de “considerandos” tem de “equity”? – como se houvesse uma “tribo
(exemplos: considerando que a empresa xxx atua própria” nesse segmento. Não se pode confundir,
no mercado de xxx; considerando que a empresa portanto, comércio internacional com linguagem
possui uma produção de xxx; considerando que corporativa, já que o primeiro possui linguagem
o sócio xxx é detentor de xxx). Funciona como e terminologia próprias e criou os “Incoterms”
uma introdução de considerações buscando em 1936 e vem sendo atualizado desde então.
a conclusão do contrato, pois como o sistema Tratam-se de alguns termos e siglas utilizados
anglo-saxão não possui uma codificação pré- no mercado internacional de transportes, como
determinada, já que parte das premissas das frete CIF (Cost, Insurance and Freight) e FOB (Free
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On Board), para especificar quem suportará os A capacidade de conhecimento e
custos e riscos do transporte, no caso comprador aprofundamento das terminologias estrangeiras
ou fornecedor. Esses termos geralmente são dos contratos empresariais é um grande desafio
utilizados nas transações de exportação e para o profissional que busca atuar nessa área
importação e não no ramo dos negócios (CUNHA, dinâmica do direito.
2018). Para outros exemplos da evolução desses
A linguagem corporativa atual é termos, rotineiramente utilizados nos contratos
denominada M&A (Merges and Acquisitions), empresariais, podemos citar o “Adviser” (Legal
que traduzindo seria “fusões e aquisições”, e Adviser, Financial Adviser, Accounting Adviser),
atinge os segmentos profissionais da economia, que especifica o consultor que irá trabalhar na
do direito, da administração e da contabilidade. corporação com o projeto de aquisição e o LOI
Assim, o profissional de M&A dessa área precisa (Letter of Intent ou Carta de Intenções), que
ter conhecimento de todos esses segmentos. Não representa o início da negociação, uma espécie
se trata mais do profissional que anteriormente de pré-contrato com termos e condições do
obtinha o cargo de “Diretor de Novos Negócios”; contrato NASCIMENTO, s.d.).
a terminologia utilizada hoje no mercado é o Outros termos vêm causando ruídos no
M&A da empresa (CUNHA, 2018). ordenamento jurídico brasileiro, como quando
Esse tipo de negócios, ou seja, fusões e se trata do uso da expressão “Goodwill” (ágio
aquisições, vem avançando com muita velocidade por rentabilidade futura), que vai dispor sobre a
e chegando às cidades de porte médio, pois as capacidade de gerar lucro do negócio. Trata-se
grandes operações internacionais de compra de um bem intangível composto por elementos
de empresas nacionais estão dando lugar a um subjetivos, como as qualidades dos profissionais
movimento em que a empresa estrangeira aporta que atuam no negócio, sua clientela e sua
no Brasil para comprar um segmento de negócio; organização, bem como objetivos, quando se
para isso, essa empresa organiza sua estrutura no falar de algum fator que transmita “mais valia” ao
país, criando um departamento ou diretoria de seu estabelecimento (NASCIMENTO, s.d.).
M&A para administrar essa carteira de aquisições. Ocorre que, em vários episódios de
Portanto, quando se dá início a essa operação, dissolução parcial de sociedade, as partes vêm
não acontece uma grande fusão e sim vários buscando incluir esse “sobrevalor” trazido pelo
negócios de pequeno e médio porte. Vamos “Goodwill” na avaliação de haveres do sócio em
utilizar o segmento de saúde como exemplo: uma retirada.
empresa estrangeira chega ao Brasil para adquirir Em recente seminário promovido pela
o segmento de clínicas de radiologia, e dispõe Universidade Federal de Juiz de Fora sobre o tema,
de US$ 20.000.000,00 (vinte milhões de dólares) o palestrante Dr. Ivo Roberto Barros da Cunha
para as aquisições. Primeiramente, a empresa elucida sobre a dinâmica utilizada atualmente
identifica as cidades onde existem clínicas com na formação dos contratos empresariais de
potencial e aporta várias operações de valores aquisições: o processo inicia-se com um LOI (Letter
distintos nessas cidades. Essas aquisições serão of Intent), uma Carta de Intenções que é o início
realizadas utilizando toda a metodologia de da negociação, na qual as empresas já discutem
negócios internacionais (MENDONÇA, 2018). sobre os termos e condições do contrato. O LOI
Portanto, o profissional capacitado para poderá ser vinculante (quando assinado, terá
realizar esse tipo de negociação, ou seja, que validade de contrato) ou não vinculante; logo
tenha conhecimento sobre o M&A, poderá após se dá a DUE DILIGENCE (DILIGÊNCIA DE
captar essas oportunidades, evitando que tanto AUDITORIA PRÉVIA), um dos elementos do LOI
a empresa estrangeira como a empresa local que vai autorizar a contratação de auditoria
busquem essa assessoria nos grandes centros. especializada que, junto ao Accounting Adviser,
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fará uma avaliação contábil e operacional daquela aos sócios da empresa cuja a participação fora
empresa que será objeto de aquisição total ou adquirida. Já o NON-COMPETE AGREEMENT
parcial; e incluirá condições expressas da forma (ACORDO DE NÃO CONCORRÊNCIA) dá referência
que será executada, especificando também o à cláusula que impede o vendedor de abrir nova
profissional responsável pela execução (ÁGIO..., empresa de segmento similar; com multas e
2017). sanções judiciais de bloqueio da nova empresa.
Porém, anteriormente ao LOI, poderá Em algumas operações exige-se que o gestor da
ser proposto um NDA (NON-DISCLOSURE empresa adquirida permaneça no negócio por
AGREEMENT), ou termo de confidencialidade um determinado espaço de tempo, usando sua
– acordo de não divulgação. Na maioria dos expertise (CAMARGO, 2018).
contratos são utilizados os NDAs: o profissional Também poderá ser estabelecido um
que irá atuar na negociação assina um termo HOLDBACK and SCROW ACCOUNT (RETENÇÔES),
comprometendo-se a não divulgar qualquer em que é analisado o potencial do passivo de
informação sobre aquela operação, como nome risco que não está materializado no negócio, mas
dos envolvidos, valores, etc..., sujeito a multa poderá acontecer no futuro. Após essa análise, é
não substitutiva de perdas e danos. Geralmente, possível propor uma retenção de parte do valor
após o a DUE DILIGENCE, é realizada uma aportado na empresa, que ficará depositado em
VALUATION AND EQUITY VALUE (AVALIAÇÃO E uma conta de garantia. É utilizado em casos em
VALOR PATRIMONIAL), para se chegar ao valor que a empresa adquirida é parte em ação judicial
patrimonial da sociedade (ÁGIO..., 2017). (CAMARGO, 2018).
Antes de se chegar a um esboço do Em casos bem específicos, poderá
contrato, dependendo do ramo de atividade, haver um FORCE MAJEURE AND HARDSHIP
outras análises poderão ser realizadas, como (EXCLUDENTE E READAPTAÇÃO), uma excludente
o EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, de responsabilidade, utilizada em operações que
Depreciation and Amortization), para avaliar a possam ser prejudicadas por acontecimentos
capacidade efetiva da empresa de gerar lucro, relacionados a fatores externos como conflitos
amortizando o investimento; o ROI (Return On bélicos, invasões, etc... HARDSHIP é um
Investment), que calcula o retorno (em tempo) endurecimento de condições para ambas as partes
do investimento aportado; o MARKET-SHARE da negociação. Surge, portanto, a necessidade de
OU SHARE (PARTICIPAÇÃO NO MERCADO), para uma readequação financeira do contrato. Trata-se
indicar a participação da empresa ou do produto do único termo francês absorvido pelo mercado
no mercado. É necessário, pois, dependendo do corporativo (CAMARGO, 2018).
percentual de participação, que a aquisição seja O M&A, através de fusões e aquisições,
submetida ao Cade (Conselho Administrativo de pode ser utilizado para o planejamento de
Defesa Econômica) para análise do chamado Ato empresas que buscam o mercado de capital;
de Concentração, que avalia o impedimento da através do IPO (INITIAL PUBLIC OFFERING), a
concorrência e o risco à economia (ÁGIO..., 2017). empresa faz a oferta inicial de ações na bolsa de
Outras cláusulas poderão ser incorporadas valores – é a abertura de capital ou lançamento
ao contrato conforme a vontade das partes das ações. As Startups se valem do VESTING
envolvidas na operação, utilizando também vários SCHEDULE AND STOCK OPTION (PROGRAMA DE
outros termos internacionalizados, como CASH IN AQUISIÇÃO E OPÇÃO DE AÇÕES), que estipula em
AND CASH OUT (APORTE e AQUISIÇÃO), utilizados contrato a participação de cada cofundador no
nas aquisições parciais. O Cash IN é o valor que capital social da empresa; assim, se os objetivos
o investimento irá aportar na empresa pelo da empresa forem alcançados, no momento em
percentual de aquisição; o CASH out corresponde que for adquirida, esse percentual de participação
ao valor que o investidor pagará diretamente no capital será utilizado na distribuição de lucros
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resultante da operação (CAMARGO, 2018). Direito deve se valer do uso de sua própria
Após apurado o valor patrimonial da linguagem técnica, porém sem o exagero dos
sociedade, avalia-se a capacidade de gerar jargões, neologismos, latinismos e palavras
resultado, ou seja, o ágio por rentabilidade futura rebuscadas, facilitando assim a comunicação com
ou o GOODWILL da empresa, qual a perspectiva a sociedade, base de todo o Direito.
que a sociedade vale mais que seu valor O “juridiquês” também se faz presente
patrimonial. Daí se chega ao MOU (Memorandum na linguagem corporativa dos contratos, porém,
of Understanding), que é peça fundamental na dentro do Direito Empresarial, esses termos
operação de aquisição, já que representa um pré- técnicos ganham maior potencial de absorção
contrato com toda a estrutura do negócio, o qual, por se tratar de uma área bastante dinâmica e
em muitos casos, passa a ser o contrato definitivo voltada à globalização.
da operação (CAMARGO, 2018). Os contratos empresariais, principalmente
aqueles voltados a fusões e aquisições de
empresas ou ramos de atividade, vêm sendo
CONCLUSÃO influenciados pela constante inovação de
expressões estrangeiras incorporadas pelo
A linguagem jurídica é o principal ordenamento jurídico brasileiro.
instrumento de trabalho para os operadores Nesse ramo, a construção e a linguagem
do Direito, mas também representa o meio de dos contratos empresariais adotam diretrizes
comunicação entre o Direito e a sociedade. É jurídicas do sistema anglo-saxão (Common Law),
através dela que se deve facilitar o acesso da liderados por Estados Unidos e Inglaterra, o que
população à justiça. Portanto, o uso excessivo de vem causando problemas de interpretação dos
termos técnicos, pejorativamente chamado de contratos no Brasil, onde a construção jurídica
“juridiquês”, pode levar a erros de compreensão é baseada no sistema romano-germânico (Civil
de quem recebe esses dados, distanciando o Law).
cidadão comum do poder judiciário. Conclui-se, por fim, que cabe ao
A linguagem jurídica se mostra como profissional de Direito, com o uso de uma
um mecanismo capaz de efetivar o acesso da linguagem jurídica apropriada, contribuir para
população ao judiciário; para isso, deve-se buscar que a sociedade exerça sua efetiva cidadania,
a democratização do discurso jurídico, com o uso com acesso e conhecimento dos seus direitos e
de uma linguagem adequada, bem como se juntar deveres. Já na advocacia empresarial, os desafios
a outros mecanismos, como o direito a um ensino e as oportunidades se equivalem; os especialistas
de qualidade a todos. dessa área devem buscar o amplo conhecimento
Vale ressaltar a preocupação de nossa de todos os aspectos da vida empresarial, que
legislação na busca para garantir uma adequação atingem não só o Direito, como também outras
da linguagem jurídica, tornando-a mais clara e ciências como a administração, a contabilidade e
objetiva; junta-se a isso a garantia de um ensino a economia.
de qualidade com um melhor aprendizado da
língua portuguesa.
Essa “simplificação da linguagem” vem REFERÊNCIAS
sendo o objetivo principal de várias campanhas
no meio jurídico, que buscam uma linguagem ÁGIO, deságio, goodwill: conceito e contabilização.
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