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1.

Introdução
A exaltação do Tratado da União Europeia trouxe uma verdadeira evolução em relação
ao processo de integração europeu. Com isto, a Europa deu um passo enorme para a sua união
não só econômica, mas também política. A União Europeia apesar de não possuir uma
constituição de caráter formal possui valores a serem considerados e que são intrínsecos aos
princípios constitucionais da União, que compõem a verdadeira identidade constitucional da
União Europeia.

2.O Tratado da União Europeia


Em 18 de abril de 1951 foi firmado o Tratado de Paris entre Itália, França, Alemanha e
Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) criando a Comunidade Europeia do Carvão e Aço
(CECA). Este tratado entrou em vigor em 23 de julho de 1952 e tinha como objetivo
estabelecer uma paz mais duradoura na Europa, limitando a divisão de poderes entre Estados.

Em 25 de março de 1957, na cidade de Roma, foi assinado o Tratado da Comunidade


Econômica Europeia (CEE) conhecida por Tratado de Roma, com o objetivo de criar uma
política econômica comum e uma estabilidade crescente, tendo como participantes os
mesmos países da CECA. E foi criado também o Tratado da Comunidade Europeia de Energia
Atômica (Euratom) com os mesmos integrantes, com o objetivo de promover a utilização de
energia atômica para a paz.

Em 1986 em Luxemburgo, ocorre o Ato Único Europeu, uma revisão do Tratado de


Roma, que entrou em vigor em 1º de julho de 1987 visando a uma complementação dos três
tratados já existentes (CECA, CEE e Euratom), objetivando a formação de um mercado comum
tendo como fim a implantação de um mercado interno, também aderiram mais tarde a Grã-
Bretanha, Dinamarca, Portugal, Grécia e Espanha.

O Tratado da União Europeia, veio como resposta ao Ato Único Europeu, assinado em
7 de fevereiro de 1992, na cidade holandesa de Maastricht, tendo como integrantes os
mesmos países e como objetivos uma unificação monetária e a construção de uma política
comum de segurança e política externa. Logo se uniram a Finlândia, Suécia e Áustria, em
Amsterdã, em 1º de janeiro de 1995.

O Tratado de Maastricht representou, basicamente, o seguinte: a) uma moeda única


em vigor, o mais tardar, em 1999; b) novos direitos para os cidadãos europeus, que passarão a
contar com uma verdadeira cidadania europeia; c) introdução de uma política externa comum;
d) alargamento das responsabilidades da EU, haja vista que novos domínios foram alcançados,
tais como: política industrial, política social, educação, cultura, infra-estrutura dos transportes,
entre outros; e) mais poderes para o Parlamento Europeu.[1]

Assim assevera Fernando de Magalhães Furlan a respeito do Tratado de Maastricht:

“A estrutura projetada pelo Tratado de Maastricht nunca antes havia sido implementada. O
contexto a que se aplicaria era, do mesmo modo, inusitado; não se havia experimentado tal
nível da aproximação entre tantos Estados. A conformação dos três pilares procurava, assim,
acomodar os interesses e amainar as preocupações de todos os protagonistas da nova
experiência.”
As principais ocorrências do tratado foi a solidificação de uma moeda comum a todos
os países integrantes, o Euro, através de uma união monetária, entrando em circulação em
2002 e a introdução da cidadania da União Europeia.

3. Princípio da Integração
Previsto no art. 1º do Tratado da União Europeia: “as Partes Contratantes instituem
entre si uma União Europeia, à qual os Estados-membros atribuem competências para
atingirem os seus objetivos comuns.”

Como expõe Fausto Quadros:

“De facto, enquanto que o Direito Internacional clássico visa apenas coordenar
horizontalmente as soberanias dos Estados como expressão que elas são do individualismo
internacional em que aquele Direito ainda em grande parte se funda e que faz dele um Direito
fragmentário, a União Europeia e a sua Ordem Jurídica têm por objetivo primordial fomentar a
criação de interesses comuns entre os Estados e, depois, valorizá-los e ampliá-los. Por isso, à
uma concepção comunitária das relações entre os Estados e entre eles e os indivíduos, isto é,
ela visa criar entre estes uma margem tão ampla quanto possível de solidariedade, que impõe
a criação de um poder integrado, de relações verticais de subordinação entre esse poder, por
um lado, e os Estados e os seus sujeitos internos, por outro, e de um Direito comum.”

4. Princípio da Solidariedade
Está descrito no art. 4º, n.3 do Tratado da União Europeia: “Em virtude do princípio da
cooperação leal, a União, e os Estados-membros respeitam-se e assistem-se mutuamente no
cumprimento das missões decorrentes dos Tratados.

Os Estados-membros tomam todas as medidas gerais ou específicas adequadas para


garantir a execução das obrigações decorrentes dos Tratados ou resultantes de atos das
Instituições da União.

Os Estados-membros facilitam à União o cumprimento de usa missão e abstêm-se de


tomar qualquer medida suscetível de pôr em perigo a realização dos objetivos da União.”

De acordo com o descrito no artigo, os Estados assumem um dever para com a União
Europeia, ao ingressar, tendo assim seus direitos e suas obrigações perante o bloco.

A solidariedade na União (entenda-se: solidariedade entre os Estados e entre estes e a


União) quer dizer que existe um interesse comum, um interesse geral, um interesse
comunitário, cuja prossecução constitui o primeiro objetivo da União. Ou seja, esse interesse
comum, visto como interesse global da União, não se confunde com a soma dos interesses
particulares dos Estados-membros e deve prevalecer sobre esses interesses particulares. A
criação das Comunidades e, depois, da União significou, da parte dos Estados, a aceitação
desse “contrato social”, segundo o qual o interesse da União se sobrepõe aos interesses
específicos dos Estados, sendo os sacrifícios concretos, impostos a estes, compensados pelas
vantagens que daí advêm ao interesse de todos.[4]
5.Princípio da Subsidiariedade
Art. 5º, n.3:

“Em virtude do princípio da subsidiariedade, nos domínios que não sejam da sua competência
exclusiva, a União intervém apenas se e na medida em que os objetivos da ação considerada
não possam ser suficientemente alcançados pelos Estados-Membros, tanto ao nível central
como ao nível regional e local, podendo contudo, devido às dimensões ou aos efeitos da ação
considerada, ser mais bem alcançados ao nível da União.”

O princípio da subsidiariedade vem contribuir para o estabelecimento de uma relação


equilibrada entre o poder público e os cidadãos e, de um ponto de vista jurídico, indicar
parâmetros para uma distribuição subsidiária das competências e de poderes entre
autoridades de distintos níveis, públicos ou não, visando ao atendimento das demandas sociais
de modo o mais eficiente, observando sempre valores e vontades da sociedade.

O princípio da subsidiariedade é, pois, também ele, um princípio jurídico, embora possua um


grande alcance político. E por duas razões. A primeira é a de que aquele princípio adota uma
filosofia descentralizadora nas relações entre a União e os Estados, ampliando, em cada caso
concreto, a soberania dos Estados, em detrimento da ação da União, sempre que os Estados
revelem capacidade e suficiência para alcançar os fins dos Tratados. A segunda razão, que,
aliás, completa e desenvolve a anterior, é a de que o princípio da subsidiariedade relativiza o
âmbito da soberania que cada Estado-membro vai conservando no processo da integração
europeia. O Estado guardará, ou reterá para si, tanto maiores parcelas de soberania quanto
mais capaz se vier a revelar, em cada caso concreto, e em cada momento, de exercer, sozinho,
as atribuições concorrentes e, por conseguinte, puder evitar, e dispensar, nas respetivas
matérias, a intervenção da União.

6. Princípio do Respeito pela Identidade Nacional dos Estados-


membros
Está expresso no art. 4º, n.2, do Tratado da União Europeia.

Este princípio esclarece que apesar de se inserirem na União Europeia, os Estados-


membros não perdem a sua individualidade política, jurídica e cultural. Ou seja, não pode a EU
desrespeitar os modelos jurídicos e políticos de cada Estado, nem mesmo interferir no modelo
administrativo adotado por cada um para organizar o seu governo interno dentro de seu
território. Os Estados-membros, por sua vez, também têm a obrigação de respeitar o território
e as fronteiras com seus vizinhos, devendo observar aos orientações da EU para garantir a
segurança interna e externa do seu povo e território.

7. Princípio do Equilíbrio Institucional


O art. 13, n.2 do Tratado da União Europeia diz: “Cada instituição atual dentro dos
limites das atribuições que lhe são conferidas pelos Tratados, de acordo com os
procedimentos, condições e finalidades que estabelecem.”

O que o princípio do equilíbrio institucional pretende significar é que os Tratados


devem manter essa relação de “pesos e contra-pesos” e, por conseguinte, os órgãos devem
respeitar reciprocamente a sua competência e a relação que entre eles se estabelece por via
dos Tratados, inclusive no que toca ao peso relativo dos Estados, no processo de decisão na
União.

8. Princípio da Proporcionalidade
O Princípio da Proporcionalidade está descrito no art. 5º, §3º, do Tratado da
Comunidade Europeia. Busca equilibrar a atuação da União, que não deve cometer excessos
na tentativa de atingir os objetivos do tratado. É um princípio autônomo, porém complementa
o Princípio da Subsidiariedade, servindo para nortear o exercício das atribuições da União.

9. Conclusão
Os princípios constitucionais da União não devem ser vistos apenas como normas a
serem seguidas, mas sim, como verdadeiros valores, promovendo um sentido normativo
comunitário às ordens jurídicas da União.

O processo para a formação da União Europeia precisou de uma base sólida para a sua
evolução e foram os princípios esta base de sustentação e direcionamento para a comunidade
europeia.

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