Você está na página 1de 36

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS – UnilesteMG

Curso de Graduação em Comunicação Social – Jornalismo

LUCIANO FELLIPE SOARES ALVIM

WEBJORNALISMO AUDIOVISUAL: Um suporte


para o Webjornalismo de Terceira Fase

Coronel Fabriciano
2010
Luciano Fellipe Soares Alvim Webjornalismo Audiovisual: Um suporte
para o Webjornalismo de Terceira Fase
LUCIANO FELLIPE SOARES ALVIM

WEBJORNALISMO AUDIOVISUAL:
Um suporte para o Webjornalismo de Terceira Fase

Ensaio apresentado à banca examinadora do Curso


de Comunicação Social com habilitação em
Jornalismo do Centro Universitário do Leste de Minas
Gerais, como requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel em Comunicação Social.

Orientadora: Ana Cláudia Resende de Freitas

Coronel Fabriciano
2010
LUCIANO FELLIPE SOARES ALVIM

WEBJORNALISMO AUDIOVISUAL: UM SUPORTE PARA O WEBJORNALISMO DE


TERCEIRA FASE

Ensaio submetido à banca examinadora designada pelo conselho de Curso do


Curso de Comunicação Social – Jornalismo, Bacharelado em Comunicação Social,
do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social.

Aprovado em 30 de Junho de 2010


Por:
_____________________________
Patrícia Coelho de Oliveira
Profa. CCJ/Unileste-MG.
________________________________
Rodrigo Cristiano Alves
Prof. CPP/Unileste-MG.
_______________________________
Ana Cláudia Resende de Freitas
Profa. CCJ/Unileste-MG – Orientadora.
À memória de meu avô José
Flaurêncio Alvim – e do tiro que
ele deu na minha perna direita
no dia de meu aniversário*.
Jamais o esquecerei.

________________________
*
Não se preocupe, era revólver de brinquedo,
daqueles carregados com bolinhas de plástico.
... Claro que doeu!
AGRADECIMENTOS

Inicialmente, aos meus orientadores ao longo desses seis anos: a orientadora “atual”, Ana
Cláudia Resende, por ter topado o desafio quase impossível de se realizar – e, no entanto, aqui
estamos! Aos “ex-orientadores”: Flavio Barbosa, orientador no PIC, desligou-se do Unileste
durante o projeto, que ficou inacabado (mas por meio dele conheci Zygmunt Bauman e Georg
Simmel – um dia ainda terminamos o projeto, quem sabe?); Sávio Tarso, orientador no TCC I
e parte do II, também se desligou do Unileste durante o projeto – suas contribuições foram
imprescindíveis; e Rodrigo Vieira Ribeiro, de quem fui considerado “orientando honorário”
pelo tempo de orientação solidária não usufruído por mim durante o ano de 2009.
À minha família, que continuou acreditando mesmo após dois anos de TCC II. Pai e mãe,
obrigado e me desculpem pela demora. Carol, obrigado pela chance, agora é hora da ação!
Nanda, não siga meu exemplo (quero dizer, se forme, mas produza mais na faculdade).
À minha Luiza, que me apoiou e mostrou que devemos fazer o que deve ser feito, sem perder
os sonhos de vista. Agora é sua vez!
Aos professores da primeira etapa (2004-2007): Fernando Resende, Tatiana Carvalho,
Reinaldo Maximiano, Alemar Rena, Taílze Melo, Tia Rê, Juliana Franco, Adriana Camargo,
Dunya Oliveira, Marta Fenelon, Márcia de Lemos, Oswaldo Teixeira, Breno Inácio, Landéia
Ávila, Miguel, Marco Aurélio, Fábio Mussi e in memoriam Márcio Duarte.
Aos professores da segunda etapa (2007-2010): Ana Magalhães, Roberto Bertozi, Elaine
Emerick, Rodrigo Cristiano, Rogério de Souza e Silva e @patyfessora pelas ligações (“Olha,
você está na lista de possíveis formandos”, quatro semestres seguidos!).
Staff da TVUNI de Coronel Fabriciano pela contribuição (Valeu Alex!).
Ao Doutor Bruno Spacek Godoy, cuja prolífica vida acadêmica é um grande exemplo e
incentivo para continuar trilhando este caminho após a graduação.
Aos irmãos da Blind Device, pelo tempo de licença que me foi cedido para realizar este
projeto. LET ME TELL YOU THE STORY!
Aos amigos que sempre estiveram do meu lado.

Obrigado a todos que participaram indiretamente (ou diretamente, no caso de algumas


citações) deste trabalho, sem vocês isto não seria possível.
“Se vi mais longe
foi por estar de pé
sobre ombros de gigantes”
(Isaac Newton)
RESUMO

A internet banda-larga democratizou a distribuição do audiovisual pelo mundo, através de


sites como Youtube, Dailymotion e Vimeo. As empresas jornalísticas, percebendo o potencial
deste meio, começaram a explorar o audiovisual na rede, mas oferecendo conteúdo já
veiculado na TV, rádio e no impresso, não adaptando a informação para o novo meio, que se
tornou um mero reprodutor de outras mídias. É nesse contexto que se faz necessária uma
conceituação de uma interface que sirva de ambiente propício à realização de um
Webjornalismo Audiovisual de Terceira Fase. Pesquisadores propõem três fases de
desenvolvimento para o Jornalismo na Web; no entanto, esta pesquisa constatou que a terceira
fase ainda não foi realizada em sua totalidade. Por isso, esta pesquisa propõe a criação de um
Ambiente Interativo de Videolinks (ANVIL), como alternativa de aplicação prática das
características do Webjornalismo, de modo a situar o Webjornalismo Audiovisual na chamada
terceira fase – a fase em que a convergência entre internet e TV é realizada em sua plenitude.
Foi apresentada uma prova-de-conceito desse ambiente, que poderá se tornar – ao utilizar o
novo conceito de videolinks e as rupturas e potencializações defendidas ao longo da pesquisa
– um novo paradigma no que diz respeito à maneira de se realizar Webjornalismo
Audiovisual.

Palavras chave: Webjornalismo, Audiovisual, Internet, Interatividade.


ABSTRACT

The broadband internet has democratized audiovisual distribution throughout the world,
through sites such as Youtube, Dailymotion and Vimeo. Media companies, perceiving the raw
potential of this medium, started exploring audiovisual content in the web, but offering
content already broadcast in TV, radio or press, not adapting the information to the new
medium, which became a mere medium display. In this context it is deemed necessary to
create the concept of an interface that can be an adequate environment to the producing of a
third phase online audiovisual journalism. Researchers have pinpointed three development
phases for online journalism; however, this research has found that the third phase has not
been fully developed. Thus, this research proposes the creation of an Interactive Videolinks
Environment (the ANVIL), as an alternative for the practical feasibility of the online
journalism particularities, in a manner that could effectively place the Audiovisual Online
Journalism in the historical moment which is to be called third phase – the time in which
convergence of internet and TV is completely fulfilled. It has been presented a proof-of-
concept of this environment, which could become – when using the new concept of videolinks
along the ruptures and enhancements defended throughout this research – a new paradigm on
producing Audiovisual Online Journalism.

Key Words: Online Journalism, Audiovisual, Internet, Interactivity.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................11
2 WEBJORNALISMO AUDIOVISUAL: UM SUPORTE PARA A TERCEIRA FASE .............13
2.1 O Desenvolvimento do Webjornalismo .................................................................................... 13
2.1.1 A Internet como nova mídia .................................................................................................... 13
2.1.2 O Webjornalismo e suas Fases ................................................................................................14
2.1.3 As características do Webjornalismo: continuidades e potencializações.................................. 17
2.2 Rompendo os laços com a TV: O Webjornalismo Audiovisual ............................................... 19
2.2.1 Alguns Conceitos e Práticas do Método Telejornalístico ......................................................... 20
2.2.2 Rupturas Possíveis entre o Webjornalismo Audiovisual e o Telejornalismo ............................ 23
2.2.3 Audiovisual na Internet X HDTV: lógicas de demanda X lógicas de oferta ............................25
2.3 O ANVIL – Ambiente iNterativo de VIdeo-Links.................................................................... 28
3 CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 31
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................35
1 INTRODUÇÃO

Em primeiro lugar, este projeto se sustentou no trabalho de diversos teóricos e


pensadores brasileiros, portugueses, norte-americanos e franceses; independentemente da
nacionalidade, pesquisadores que olharam para o Jornalismo na Internet e o examinaram
minuciosamente. Após anos de pesquisa, eles conseguiram categorizar o Webjornalismo em
três fases e atribuir-lhe características.
Só que havia um empecilho: o jornalismo audiovisual veiculado na internet não
dispunha de todas estas características; e ainda assim, os veículos de comunicação que o
publicavam pareciam pertencer ao que se convencionou chamar de Webjornalismo de terceira
fase – a mais avançada em termos de integração entre jornalismo e internet.
Partiu-se aqui da hipótese que o Webjornalismo Audiovisual de terceira fase ainda não
existe, na maneira que deveria ser realizado. Dessa hipótese gerou-se o problema de pesquisa:
como realizar a convergência entre TV e internet aplicando a terceira fase do Webjornalismo?
A discussão do Webjornalismo Audiovisual num contexto acadêmico já está bem
avançada em termos de questões teóricas; contudo, existe a necessidade de se avançar em
termos práticos. Alguns objetivos deste projeto se ancoram na noção de que a teoria e a
prática devem avançar juntas, e que a forma (do suporte) e o conteúdo devem ser enxergados
não como partes diferentes, mas complementares. É compreensível que outros pesquisadores
delimitem o foco de suas pesquisas à teoria, e obviamente isto não é repreensível; mas os
avanços teóricos devem ser acompanhados pelos avanços práticos.
Esta pesquisa acredita que é possível criar uma interface que permita ao
Webjornalismo Audiovisual se distanciar e diferenciar do Telejornalismo. Para isso, foram
traçados os seguintes objetivos: estudar a estrutura do Telejornalismo, e a partir deste estudo
propor rupturas de sua contraparte da internet; e estudar as características do próprio
Webjornalismo Audiovisual, para que assim possam ser propostas maneiras deste se dissociar
da estrutura do Telejornalismo, de modo que se insira na Terceira Fase do Webjornalismo.
Para comprovar isso foi criado o Ambiente Interativo de Videolinks (ANVIL), que é
apresentado por meio de um clipe de vídeo, em caráter de prova-de-conceito, que segue como
anexo deste trabalho em um disco de DVD.
Pode-se dividir este projeto em três momentos distintos. No primeiro, se discutirá O
Desenvolvimento do Webjornalismo (2.1), ao abordar A Internet como nova mídia (2.1.1), O
Webjornalismo e suas Fases (2.1.2) e As Características do Webjornalismo: Continuidades e
11
Potencializações (2.1.3). É o momento em que se contextualizarão a internet, o
Webjornalismo e suas fases e características, para embasar a discussão posterior.
Num segundo momento, o Webjornalismo Audiovisual será colocado em questão,
uma vez que este é visto como um subproduto do Telejornalismo. Em Rompendo os Laços
com a TV: O Webjornalismo Audiovisual (2.2), esta relação deverá ser desfeita, de modo que
o Webjornalismo Audiovisual seja entendido como um fenômeno diferenciado da TV. Para
que isso ocorra, deverão ser estudados Alguns Conceitos e Práticas do Método
Telejornalístico (2.2.1), justamente para que o Webjornalismo Audiovisual se diferencie
deste, e possam ser propostas Rupturas possíveis entre o Webjornalismo Audiovisual e o
Telejornalismo (2.2.2). Em Audiovisual na Internet X HDTV: Lógica de Demanda X Lógica
de Oferta (2.2.3) será discutida a dicotomia entre Internet e HDTV, e as diferenças entre esses
formatos no que concerne à Terceira Fase do Webjornalismo.
No terceiro momento, será apresentado O ANVIL – Ambiente iNterativo de VIdeoLinks
(2.3), que é o conceito da plataforma idealizada por este projeto, suas principais
características e possibilidades.
O desenvolvimento dessa plataforma não foi realizado em toda sua extensão, uma vez
que são necessários conhecimentos específicos em linguagem de programação de
computadores que fogem do escopo deste trabalho. Foi realizada uma prova-de-conceito, uma
versão do trabalho que visa apenas demostrar o conceito em ação. É diferente de
demonstração ou versão beta, que são estágios mais avançados do desenvolvimento de um
produto. A prova-de-conceito traz todas as características abordadas neste trabalho, de forma
a se vislumbrar as necessidades de programação informática e as mudanças a serem
trabalhadas no conteúdo jornalístico. Porém, o fato de não ser apresentada uma versão
funcional do programa não impede a visualização das ideias apresentadas adiante.
A proposta é conceitual, pois se sabe de antemão que um desenvolvimento
interdisciplinar, com equipes de várias áreas do conhecimento, deverá ser realizado para que
esta tecnologia se torne uma realidade. Este projeto é apenas uma primeira tentativa de se
demonstrar que essa tecnologia é possível; este é o objetivo principal. A realização de uma
versão final dependerá de diversos fatores, como financiamento de pesquisa, contratação de
programadores, jornalistas, designers, produtores e desenvolvedores; espera-se, portanto, um
prosseguimento a esta pesquisa, que empurre a realização do Webjornalismo Audiovisual a
outro nível, que ainda não se consegue alcançar com a tecnologia vigente.

12
2 WEBJORNALISMO AUDIOVISUAL: UM SUPORTE PARA A TERCEIRA FASE

2.1 O Desenvolvimento do Webjornalismo

2.1.1 A Internet como nova mídia

Para alguns, a internet é um ambiente de trabalho. Para outros, um local direcionado


primariamente ao entretenimento. Outros ainda a utilizam unicamente para a comunicação.
Espaço de propaganda, notícias, conhecimento. A rede mundial de computadores contém
todas essas possibilidades. Contudo, um questionamento é recorrente na literatura sobre o
tema: o que exatamente é a internet?
Marcos Palacios (2003) afirma que a internet tem características de ambiente e sistema
ao mesmo tempo; com efeito, a internet é um imenso ambiente que está em constante
recaracterização de acordo com o uso que é feito dela pelos sistemas que nela operam.

“Enquanto ambiente de informação, comunicação e ação múltiplo e heterogêneo, e


em função dessa multiplicidade e heterogeneidade, a internet possibilita a co-
existência, lado a lado, de ambientes informacionais stricto senso (bancos de dados
dos mais variados tipos), jornalísticos (jornais online, rádios online, agencias [sic] de
notícias, etc.), educacionais (cursos à distância, listas de discussão especializadas,
simulações educativas, bibliotecas), de interação e comunicação (chats, fóruns,
correio eletrônico), de lazer e cultura (jogos online, museus), de serviços (bancos,
sites para declaração de impostos online), comerciais, de trabalho, etc, etc.
(PALACIOS, 2003, p.8)

Por mais que alguns autores sugiram que definir a internet apenas como uma mídia é
um ato “insuficiente e parcial1”, e outros sugiram que a internet não é uma mídia, mas uma
“incubadora de medias, um espaço de gestação e experimentação mediática2”, é fato que a
internet é por si mesma um suporte. Assim como a televisão antes dela, e o rádio antes desta,
e a imprensa escrita antes do rádio. E assim como cada um desses suportes, a internet tem
suas características próprias e impõe suas mudanças na maneira dos seres humanos
interagirem entre si, com a rede comunicacional e com as máquinas.

1
WOLTON, Dominique. Internet et après: une theorie critique dês noveaux médies, Paris: Flammarion,
1999, p. 85 apud Palacios, 2003, p.5.
2
LEMOS, André. Anjos interativos e retribalização do mundo: Sobre interatividade e interfaces
digitais, 1999, apud Palacios, 2003, p.5.
13
“O conteúdo da escrita é a fala, assim como a palavra escrita é o conteúdo da
imprensa, e a palavra impressa é o conteúdo do telégrafo. (...) a „mensagem‟ de
qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, cadência ou padrão que esse
meio ou tecnologia introduz nas coisas humanas.” (MCLUHAN, 2003, p.22)

O surgimento de novas mídias está sempre atrelado ao desenvolvimento tecnológico.


Uma nova mídia é como um container, e nele está a mídia anterior. Assim como a TV
continha o rádio no áudio-visual, a internet, com sua capacidade multimidiática, contém
diversas mídias. Esta capacidade é precisamente a mensagem da internet; ela reintegra os
sentidos do ser humano, de modo que não precise de diversos suportes para o mesmo fim, que
é receber informação, ou entretenimento.
A internet popularizou a linguagem hipertextual através do Hyper Text Markup
Language (HTML), que é a linguagem de programação utilizada para formatar suas páginas
desde o início da rede. Este suporte descentralizado opera como a mente humana, fazendo jus
à proposta de McLuhan de que em cada nova mídia há uma mudança de escala introduzida na
vida do ser humano. Na verdade, ao trazer à mente humana a navegação das páginas da web,
de acordo com as ideias de Pierre Lévy, a internet “incorreu numa transformação ao ser
humano” (LÉVY, 2002), que pela primeira vez obteve uma interatividade instantânea com o
saber, nos dias atuais quase na velocidade do pensamento.
McLuhan estava atento às mudanças que os meios de comunicação traziam ao
convívio humano, pois os trata como extensões do homem. E assim como o telefone é a
extensão da voz, a televisão é a extensão da visão, pode-se adicionar o hipertexto como a
extensão da mente humana; através das associações dos links e sua organização
descentralizada, ele possibilitou o advento da internet como o meio mais propício para a
descrição multimidiática do mundo.
A descrição do mundo é a missão do Jornalismo. A internet surge como ambiente,
sistema e suporte; claro está, portanto, que o jornalismo deve se valer desta jovem maravilha
tecnológica para ajudar a explicar o mundo.

2.1.2 O Webjornalismo e suas fases

A partir da popularização da internet numa escala global, no início dos anos 90,
começou-se a estudar suas possibilidades. No início, existia o e-mail, a web e diversos outros
protocolos, mais complexos ao usuário comum. A internet era um meio bastante restrito, com

14
velocidades muito baixas. Para efeito de comparação, um modem de 9.600 bauds por
segundo, muito comum em 1995, atingia uma trigésima parte da velocidade mais baixa
oferecida por provedores de internet banda larga no Brasil em 2010 (300 kbps3).
Não era possível realizar muita coisa em termos de tecnologia, quando o aparato
tecnológico estava apenas começando a se desenvolver. A capacidade multimidiática da
internet não podia ser explorada num contexto de banda estreita. A visualização de fotos e
animações pecava pela baixa qualidade de imagem e demora no download. É neste momento
histórico que o Jornalismo começa a fazer suas incursões pela nova mídia.
Como deveria se chamar essa nova modalidade de Jornalismo? Essa é uma discussão
inerente à pesquisa sobre Jornalismo na internet. Murad define de forma simples, mas
eficiente, que “de certa forma, o conceito de jornalismo encontra-se relacionado ao suporte
técnico e ao meio que permite a difusão das notícias. Daí derivam conceitos como jornalismo
impresso, telejornalismo e radiojornalismo” (MURAD, 1999).
O Webjornalismo, portanto, seria o nome mais apropriado para o Jornalismo
desenvolvido na internet, desde que trabalhe de acordo com as particularidades desse suporte.
Toda mídia tem suas características, que são desenvolvidas e consolidadas após muitos
anos de experimento técnico e conceitual. Convencionou-se, como pode ser lido em vários
artigos de Beatriz Becker (2008), Edson Dalmonte (2005), Luciana Mielniczuk (2001, 2003,
2004), Leila Nogueira (2004) e Marcos Palacios (2002a), em subdividir o Webjornalismo em
três fases distintas, definidas de acordo com a utilização das características da web.
Silva Jr. (2002) definiu termos para identificar os três estágios4 (nomenclatura
utilizada por ele para designar as fases). Nas palavras do autor:

“- O transpositivo, como modelo eminentemente presente nos primeiros jornais


online onde a formatação e organização seguia diretamente o modelo do impresso.
Trata-se de um uso mais hermético e fiel da idéia da metáfora, seguindo muito de
perto o referente pré-existente como forma de manancial simbólico disponível.
- O perceptivo. Num segundo nível de desenvolvimento, há uma maior agregação de
recursos possibilitados pelas tecnologias da rede em relação ao jornalismo online.
Nesse estágio, permanece o caráter transpositivo, posto que, por rotinas de
automação da produção interna do conteúdo do jornal, há uma potencialização em
relação aos textos produzidos para o impresso. Gerando o reaproveitamento para a
versão online. (...)

3
São oferecidas também conexões de 60 kbps, o que pode não ser considerado banda larga.
4
Existem diversas terminologias para as três fases, como por exemplo, “Contemplativa, participativa e
laborativa”, cunhada por Leila Nogueira (2004), entre outras. A definição de Silva Jr. foi escolhida por ter uma
relação com o conteúdo, enquanto outras buscam sistematizar a relação entre o internauta e o veículo de
comunicação. Essa terminologia será importante à definição do Webjornalismo Audiovisual, mais à frente.
15
- O hipermidiático. Mais recentemente, podemos constatar que há demonstrações de
uso hipermidiático por alguns veículos online, ou seja: o uso de recursos mais
intensificado hipertextuais, a convergência entre suportes diferentes
(multimodalidade) e a disseminação de um mesmo produto em várias plataformas
e/ou serviços informativos.” (SILVA JÚNIOR, 2002, p.3)

As fases descritas por Silva Jr. estão intrinsecamente ligadas às condições tecnológicas
do suporte online. Num primeiro momento, a internet era apenas uma vitrine para o
jornalismo impresso. As versões online dos jornais eram a mera reprodução das suas versões
impressas. Mesmo com as características da web ainda por ser desenvolvidas, já se
rascunhavam apocalipticamente as previsões do fim do jornal impresso; afinal, podia-se ler na
tela do computador o mesmo conteúdo veiculado na versão impressa 5. Mas seria essa a única
particularidade do jornalismo na internet, a de imitar o jornalismo impresso?
Eis que o desenvolvimento tecnológico permite à internet tanto a transmissão de áudio
quanto o download de vídeos, claro que inicialmente em baixíssima qualidade. O áudio era
transmitido no formato RealPlayer (.ra ou .ram), e o formato Vivo TV (.viv, já
descontinuado), de baixa resolução, foi o precursor do streaming de vídeo. O Jornalismo
online contava então com transmissão de áudio e vídeo, iniciando o percurso rumo à
multimidialidade, que seria uma das particularidades da internet.
Anos de integração da internet à sociedade transformaram um sistema lento e pouco
funcional na rede mundial de computadores como é conhecida nos dias atuais. Várias
pequenas revoluções práticas e tecnológicas aproximaram as pessoas da rede, que desenvolvia
suas próprias características, se distanciando das mídias que a precederam e ao mesmo tempo
contendo-as, numa perspectiva mcluhaniana de apropriação midiática. A internet, depois de
uma década de desenvolvimento, finalmente definiu suas próprias particularidades e
características que a diferenciassem do suporte impresso, radiofônico e televisivo, se firmando
como um suporte independente.
O Jornalismo, por sua vez, fez uso dessas características para redefinir suas práticas
neste suporte. Surge o Webjornalismo como o Jornalismo feito especificamente para o suporte
online. Quais seriam as especificidades que caracterizariam essa nova forma de fazer
Jornalismo?

5
Ainda que Murad (1999) tenha chamado a atenção para o fato de que, “segundo o Instituto Nielsen, ler
na Web é 25% mais difícil que no jornal” (MURAD, 1999), a leitura de jornais e revistas no computador ou em
dispositivos especialmente designados para tal está se mostrando mais presente na sociedade. A Folha de São
Paulo, por exemplo, veicula diariamente uma edição digital, e já tem pacotes de assinatura para essa versão do
jornal. Também existem os dispositivos digitais Kindle e iPad, que rivalizam com impressos.
16
2.1.3 As características do Webjornalismo: continuidades e potencializações

A definição de seis características básicas do Webjornalismo é um marco importante


no que diz respeito aos estudos da internet. A terminologia pode variar dependendo do autor.
As definições defendidas por Mielniczuk (2004) e Palacios (2002b), ampliando as quatro
características iniciais de Bardoel e Deuze (2001, p.95), são abrangentes e bem-
fundamentadas, e ajudam a levar adiante os estudos do Webjornalismo. São elas:
Interatividade, Personalização6, Memória, Atualização Contínua7, Multimidialidade8 e
Hipertextualidade.
A Interatividade é considerada uma das características mais aparentes do
Webjornalismo; afinal, a internet é – aparentemente9 – uma mídia de demanda (PALACIOS,
2003) consciente do internauta, em que ele toma as decisões, e é respondido pelo site.
Mielniczuk vai mais longe ao afirmar que

“não se pode falar simplesmente em interatividade e sim uma série de processos


interativos. Adota-se o termo multi-interativo para designar o conjunto de processos
que envolvem a situação do leitor de um jornal da Web. Diante de um computador
conectado à Internet e acessando um produto jornalístico, o usuário estabelece
relações: a) com a máquina; b) com a própria publicação, através do hipertexto; e c)
com outras pessoas – seja autor ou outros leitores – através da máquina.”
(MIELNICZUK, 2001, p. 3-4)

Tanto Mielniczuk (2004) quanto Palacios (2002a) defendem a idéia que as


características não são exatamente particulares do Webjornalismo, mas sim continuidades ou
potencializações das próprias, presentes em outras mídias. A Interatividade, por exemplo, já
figurava na TV em participações ao vivo por telefone, ou mesmo cartas à redação de um
jornal impresso. A internet só fez potencializar esta dimensão da interatividade, por meio do
chat e do e-mail.
A Personalização, como defende Palacios, já era realizada no jornalismo impresso por
meio de publicação de suplementos específicos, e na TV e rádio por meio da segmentação da
especialização das grades de programação. A internet também potencializa essa característica,
uma vez que os conteúdos voltam-se “para indivíduos e não para públicos segmentados”

6
Também engloba Customização do Conteúdo.
7
Também engloba Instantaneidade.
8
Também engloba Convergência.
9
Palacios conclui que a internet é um meio em que não há apenas oferta ou demanda. Ele a chama de
“rede híbrida”, em que há tanto a oferta quanto a demanda. O raciocínio completo pode ser lido em “Fazendo
Jornalismo em Redes Híbridas”, de 2003.
17
(PALACIOS, 2003, p.4). A grande diferença trazida pela internet é a Customização do
Conteúdo. O usuário de um site de notícias como Google News pode personalizar sua página
inicial (ou configurar um iGoogle, por exemplo) com notícias relativas ao seu gosto pessoal.
É um ponto impossível de se alcançar nas mídias anteriores; afinal, seria comercialmente
inviável a produção de revistas personalizadas ou programas de TV altamente segmentados
sem o devido subsídio econômico 10.
A Memória é uma característica também presente tanto na TV (retrospectivas,
reportagens históricas) quanto no jornalismo impresso (suplementos especiais, reedições),
mas é potencializada de tal maneira na internet que se tornou uma das características mais
fortes desta. Na internet pode-se assistir a um programa de TV obscuro da década de 70,
desde que alguém o tenha disponibilizado em algum site de vídeos. A reapresentação deste
programa na televisão, por sua vez, seria economicamente inviável. O mesmo se aplica a
músicas fora do contexto comercial e pronunciamentos históricos do rádio. No caso do
impresso, não há o desgaste físico das páginas, o que pode eternizar suplementos históricos e
fotocópias de arquivos. Com efeito, o arquivamento de vídeos, sons e documentos na internet
nunca esteve tão barato, favorecendo esta característica no Webjornalismo.
Atualização Contínua e Instantaneidade são características inerentes à prática do
Jornalismo. Com a diferença que nas outras mídias, existe a necessidade de esperar a próxima
edição, o próximo programa, a próxima intervenção de última hora. A internet potencializa
também essa característica, uma vez que a publicação de novo conteúdo não obedece a
amarras como grades de programação e horários pré-estabelecidos. Muitas vezes, a internet
acaba sendo fonte de outras mídias, quando veículos de comunicação tradicionais não podem
enviar representantes estrangeiros a acontecimentos de ordem global – recorrendo a agências
de notícias, que encontraram na internet uma maneira de vender suas reportagens a jornais em
todo o mundo, instantaneamente.
A Multimidialidade, como já foi descrito aqui, foi refém do desenvolvimento
tecnológico; à medida que houve uma melhora nas conexões de internet, a convergência de
mídias teve o seu lugar. A continuidade, de acordo com Palacios, ocorre “se considerarmos
que na TV já ocorre uma conjugação de formatos mediáticos (imagem, som e texto).”
(PALACIOS, 2002a). O interessante da Multimidialidade na internet é no que diz respeito à
possibilidade de escolher uma mídia por vez. A TV é sempre audiovisual; o rádio é sempre

10
Como acontece com TVs públicas ou revistas de baixa tiragem realizadas com apoio de leis de
incentivo à cultura.
18
áudio; o impresso é sempre visual. Na internet, é possível escolher entre a TV, o rádio e o
impresso, ou ainda qualquer combinação dos três, dentro de um mesmo produto midiático.
Palacios novamente aponta a pré-existência da Hipertextualidade, ao afirmar que ela
existe até mesmo “num objecto impresso tão antigo quanto uma enciclopédia” (PALACIOS,
2002a). Contudo, sua potencialização é tanta que Mielniczuk a trata como “específica da
natureza do jornalismo online” (MIELNICZUK, 2001). De fato, a hipertextualidade leva o
Webjornalismo a outra dimensão em relação às mídias tradicionais. A capacidade de
contextualização de uma página web não pode ser rivalizada pela Televisão, devido à grade de
programação e horários fixos, o que impossibilita o aprofundamento das reportagens11. Já o
jornalismo impresso pode contextualizar até certo ponto, limitado pelo espaço físico destinado
à matéria, que também fica destinada a se tornar datada sem a atualização das informações.
Idealmente, o Webjornalismo se sustenta nessas seis características, e pode estar
situado completamente ou parcialmente 12 em qualquer uma das três fases citadas neste
trabalho, que não necessariamente são seguidas em ordem cronológica. Vários veículos de
comunicação on-line estão se adequando à especificidade da web.
Contudo, existe uma modalidade de Webjornalismo que se encontra presa à sua
contraparte tradicional, e avança pouco nas rupturas necessárias para que se potencializem as
características desse novo meio: o Webjornalismo Audiovisual13.

2.2 Rompendo os laços com a TV: o Webjornalismo Audiovisual

O Webjornalismo, a despeito de sua característica multimidiática, não engloba o


“Webjornalismo Audiovisual”, termo utilizado por esta pesquisa para definir o conteúdo
audiovisual produzido especificamente para a web, com suas próprias características e
práticas. Sabe-se que o jornalismo praticado na internet deriva do jornalismo praticado nas

11
Exceto em programas de grandes reportagens, que são minoria na grade de programação da TV
aberta.
12
Becker explica que “as fases do webjornalismo não são rígidas, nem excludentes. Em um mesmo
período cronológico, é possível observar no mesmo site a existência de publicações jornalísticas de diferentes
estágios ou gerações” (BECKER, 2008b, p.111).
13
Leila Nogueira (2004) utiliza a terminologia Jornalismo Audiovisual On-Line para designar o
Webjornalismo Audiovisual. Contudo, este trabalho ancora-se na noção de que o Jornalismo produzido para a
Web e de acordo com as características da Web deva ser chamado de Webjornalismo, uma vez que Jornalismo
Online “é desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo real”, enquanto
Webjornalismo “diz respeito à utilização de uma parte específica da Internet, que é a web”, sempre nas palavras
de Mielniczuk (2003, p.4). Ou seja, Jornalismo Online é sempre um conceito mais amplo do que o
Webjornalismo – este diz respeito à utilização da web como mídia, e não como plataforma tecnológica.
19
mídias tradicionais; os sites noticiosos se valem de textos e fotografias espelhados nos jornais,
os podcasts contam com a infraestrutura do rádio aliada à distribuição RSS, enquanto o
webjornalismo audiovisual transpõe o conteúdo telejornalístico ao disponibilizar vídeos
originalmente transmitidos pela TV no ciberespaço. Chama-se de Webjornalismo aquele
praticado na Internet, que leva em conta as características do meio.
Fica claro, após uma análise a WebTVs e sites noticiosos que disponibilizam vídeos 14
online, que a maioria dos vídeos segue uma lógica de produção televisiva, não podendo assim
ser considerados parte do Webjornalismo Audiovisual de Terceira Fase.
Becker fez um trabalho minucioso de análise de quatro portais, analisando-os quanto à
“fase do web jornalismo que os sites se encontram” (BECKER, 2008a, p.86). Porém, aferir a
fase do Webjornalismo que os sites se encontram não é a mesma coisa que aferir a fase em
que os vídeos se encontram. É neste ponto que este trabalho propõe uma nova aproximação à
problemática do Webjornalismo Audiovisual: mudando o foco da forma e para o conteúdo.
É consenso entre pesquisadores que o Webjornalismo Audiovisual precisa descobrir
suas particularidades15. Isso não significa se distanciar da estrutura da Televisão –
principalmente quando uma separação dessa estrutura signifique não fazer uso da infra-
estrutura dos grandes estúdios de TV – e sim modificar as rotinas produtivas da TV para que
o conteúdo produzido seja inerente ao suporte web, impossível de se dissociar dele. Ou seja,
impossível de se transmitir pela TV.
Inicialmente, é necessário que se saiba como e o que se faz no Telejornalismo, para
depois responder à pergunta: “o que podemos fazer na web e que não podemos fazer no
impresso, nem no rádio ou na televisão?16”

2.2.1 Alguns conceitos e práticas do método telejornalístico

A estrutura do Telejornalismo se ampara em sete características: Informação Visual,


Imediatismo, Alcance, Índice de Audiência, Envolvimento, Instantaneidade e
Superficialidade. Na descrição de Vera Iris Paternostro:

14
Becker fez uma análise de quatro sites no artigo “Webjornalismo Audiovisual: uma análise do
jornalismo como forma de conhecimento na contemporaneidade” (2008a), cujo resultado reforça ainda mais a
necessidade de enxergar o Webjornalismo Audiovisual como um meio próprio, com suas próprias
especificidades, ao invés de enxergar a Terceira Fase na mera distribuição de conteúdo televisivo na internet.
15
BECKER, 2008a, p. 89 – ______, 2008b, p.111 – MIELNICZUK, 2004, p. 14 – BASTOS, 2005 –
DALMONTE, 2005.
16
ALVES, Rosental Calmon. Reinventando o Jornal da Internet, 2001, apud MIELNICZUK, 2004.
20
- Informação Visual: transmite mensagens através de uma linguagem que independe
do conhecimento de um idioma ou da escrita por parte do receptor. A TV mostra e o
telespectador vê: ele se informa, está recebendo a notícia e ampliando seu
conhecimento.
- Imediatismo: transmite informação contemporânea quando mostra o fato no
momento exato em que ele ocorre através da imagem – o signo mais acessível à
compreensão humana. A TV tem hoje uma agilidade muito grande, porque o aparato
técnico para uma transmissão está muito simplificado. Pequenas emissoras já
possuem unidades móveis de jornalismo para reportagens „ao vivo‟ que são
instaladas com rapidez e velocidade. Os satélites mostram fatos do outro lado do
mundo.
- Alcance: a TV é um veículo abrangente e de grande alcance. Ela não distingue
classe social ou econômica, atinge a todos. O jornalismo na TV tem, portanto, que
considerar como vai tratar uma notícia, já que ela pode ser „vista‟ e „ouvida‟ de
várias maneiras diferentes.
- Índice de Audiência: a medição do interesse do espectador orienta a programação e
cria condições de sustentação comercial. O índice de audiência interfere de modo
direto, a ponto de a emissora se posicionar dentro de padrões (trilhos) que são os
resultados de aceitação por parte do público-telespectador.
- Envolvimento: a TV exerce fascínio sobre o telespectador, pois consegue
transportá-lo para „dentro‟ de suas histórias. Não existe um padrão de linguagem
televisiva, mas há no telejornalismo a forma pessoal de „contar‟ notícia e a
familiaridade com repórteres e apresentadores, que seduzem e atraem os
espectadores.
- Instantaneidade: a informação da TV requer „hora certa‟ para ser vista e ouvida – a
mensagem é momentânea, instantânea. Ela é „captada‟ de uma só vez, no exato
momento em que é emitida. Não tem como „voltar atrás e ver de novo‟, ao contrário
de jornal ou revista.
- Superficialidade: o timing, o ritmo da TV proporciona uma natureza superficial às
suas mensagens. Os custos das transmissões, os compromissos comerciais e a briga
pela audiência impedem o aprofundamento e a análise da notícia no telejornal diário.
Há programas específicos de maior densidade jornalística” (PATERNOSTRO, 1999,
p. 64-65).

Essas características já permitem aprender um pouco sobre a realidade do


Telejornalismo 17; contudo, ainda é necessária uma breve contextualização sobre algumas
práticas e funções telejornalísticas 18.
Antes de se começar o trabalho da reportagem jornalística, o pauteiro (responsável
pela pauta) deve apurar o que vai acontecer na região por meio da leitura de jornais, e-mails,
mala direta, ou contato direto com possíveis fontes.
Depois de apurados os possíveis acontecimentos dignos de notícia 19, é realizada uma
reunião de pauta, em que os jornalistas responsáveis pelo telejornal discutem as possíveis

17
No capítulo 2.2.2 entraremos na discussão dessas características sob a perspectiva das rupturas que a
Internet pode proporcionar ao modelo tradicional.
18
Não se tenta aqui, contudo, explicar o Telejornalismo em todas as suas dimensões; é apenas um breve
resumo de como os telejornais são realizados, para contextualização.
21
matérias do dia. Algumas matérias são selecionadas para serem gavetas, ou seja, ficarem
guardadas para um dia em que falte material. Normalmente as reportagens de gaveta abordam
temas gerais, que não correm o risco de se tornarem datados.
Após a reunião, cria-se a pauta de cada reportagem, que é uma “previsão dos assuntos
de interesse jornalístico (...), o roteiro dos temas que vão ser cobertos pela reportagem”
(PATERNOSTRO, p. 147). Cada equipe de reportagem (normalmente compostos por um
repórter e um cinegrafista) segue então para a realização da matéria, que normalmente
envolve a visita aos locais relacionados ao assunto e entrevistas com as fontes da informação.
Após o fim das gravações, a equipe volta ao estúdio, onde a edição do material ocorre.
Os editores de vídeo (ou montadores20), em posse do material gravado, começa a
edição baseado no roteiro do repórter. A edição deve resumir ao máximo a matéria gravada,
devido à agilidade necessária para um programa de televisão 21. Uma reportagem de TV não
ultrapassa dois minutos de duração. A edição também é o momento de adequar a reportagem
ao estilo da emissora, com letterings formatados de acordo com o padrão, e também editar
entrevistas para que não se choquem com a linha editorial do veículo de comunicação.
Uma vez que todas as matérias estejam prontas, são retiradas da ilha de edição e
levadas ao estúdio onde o programa será gravado. O apresentador deverá ter seu roteiro, com
o texto das cabeças das matérias22 já pronto antes do jornal entrar no ar. O texto será inserido
ao tele-prompter, e então a transmissão se inicia. Ao começo do programa, há uma escalada23
das matérias, antes do break comercial. Após os comerciais, o apresentador pode tanto ler a
cabeça da matéria, que antecede a transmissão de matérias pré-gravadas, ou chamar um
repórter para uma participação ao vivo. Ao fim de uma matéria, o apresentador pode fazer
uma nota-pé, que é “uma nota ao vivo, lida no final de uma matéria trazendo informação
complementar ou que faltou à reportagem” (PATERNOSTRO, 1999, p. 146).

19
Os critérios de noticiabilidade não serão abordados neste trabalho. Mais informações sobre
newsmaking e critérios de importância e noticiabilidade, consultar WOLF, M. “Teorias da Comunicação”
Lisboa: Presença, 1987, Capítulo 3.3, p. 188.
20
A discussão sobre essa terminologia é ampla e não cabe ser revista aqui.
21
Contudo, deve-se evitar a “Editite”, que, como citada pelo Manual de Redação da Rede Globo, é o
“excesso de edição das matérias, seu picotamento em nome da agilidade, [que] com freqüência segmenta a
narrativa a um ponto que a exclui da capacidade de compreensão do espectador” (MANUAL DE REDAÇÃO
DA REDE GLOBO, 2001, p.9)
22
Cabeça da matéria é “o nome que se dá à fala do apresentador antes da matéria ser apresentada. É
normalmente o lead da matéria” (PATERNOSTRO, 1999, p.138).
23
Escalada é o momento no início do jornal em que o apresentador anuncia todas as matérias do
programa. Também pode ser realizada por dois apresentadores alternados.
22
Quando todas as matérias já foram exibidas, o jornal termina. O apresentador anuncia
o horário do próximo telejornal, e se despede do telespectador. No dia seguinte, o mesmo
processo toma conta. Esse processo é chamado de rotina produtiva. A televisão trabalhou essa
rotina por anos, até desenvolver manuais de redação e práticas próprias para que essas rotinas
pudessem ser incorporadas ao cotidiano dos jornalistas. Atualmente, essa rotina é seguida por
praticamente todos os telejornalistas, em algum grau.
Obviamente, houve um tempo em que essa rotina não existia, ou não estava
suficientemente estabelecida como uma gramática própria do Telejornalismo; é provável que
funções altamente especializadas como a do pauteiro e do editor de vídeo fossem aparecer
como tal somente depois de anos do estabelecimento da televisão. E os jornalistas se
adequaram à rotina. Não há dúvida, portanto, que esta lógica possa ser estabelecida na Web.

2.2.2 Rupturas possíveis entre o Webjornalismo Audiovisual e o Telejornalismo

Mielniczuk defende que as “rupturas não se resumem em apenas apresentar


possibilidades até então inexistentes em outros suportes; é necessário que o webjornal
modifique funções já existentes ou desenvolva novas funções diante das modalidades de
jornalismo já conhecidas”.24 Como já foi dito anteriormente, a internet pode tanto dar
continuidade a características de outros meios como pode potencializá-las. Essa modificação
das funções telejornalísticas ainda não ocorreu; o Webjornalismo Audiovisual trabalha com a
estrutura do Telejornalismo, transposta para o meio online.
Há que se pensar, portanto, em maneiras de se trabalhar o Webjornalismo
Audiovisual, explorando suas forças e compensando as fraquezas do meio anterior, a
Televisão. As sete características da televisão já foram demonstradas neste trabalho. Agora é
o momento de tentar ir além.
A primeira característica, Informação Visual, é compartilhada pelo Webjornalismo por
meio da Multimidialidade. Houve um tempo em que a informação visual na internet era de
baixa qualidade, incorrendo muitas vezes em perda de informação, dependendo da
compressão utilizada nas imagens e do tamanho da tela utilizada para assistir ao vídeo.

24
MIELNICZUK, 2004, p.14
23
Contudo, nos dias atuais a tecnologia de streaming de vídeos já não deve nada à TV analógica
– em alguns casos, pode ser até de qualidade superior25.
O Imediatismo, segunda característica aqui explicitada, também já não é exclusividade
da TV – tudo depende da qualidade da conexão à internet. Serviços de live streaming já
surgiram, e mesmo no Brasil já foram utilizadas conexões de internet para conectar um
enviado especial no exterior, sem perda gritante de qualidade no vídeo 26.
O Alcance da TV ainda é maior que o da Internet, por razões óbvias como o tempo de
exposição da sociedade à mídia. A internet é um meio jovem, mas sua popularização está
andando indiscutivelmente mais rápido do que a TV27.
Nas três características anteriores, houve uma paridade entre TV e Internet; contudo,
nas próximas duas, temos as verdadeiras possibilidades de potencializações, devido à maneira
que a Internet realmente possibilita funções que são impraticáveis na TV convencional28.
A medição do Índice de Audiência, uma característica que efetivamente define a
programação televisiva, na busca incessante do sucesso comercial, é algo difícil de realizar.
São necessários aparelhos especiais que monitorem uma parcela da população, que pode dar
resultados que nem sempre correspondam à realidade. Na internet, existem verdadeiros
marcos de análise da audiência, como o Google Analytics, que permitem ao dono do website
aferir a audiência em dados geográficos precisos, ou até mesmo medir o resultado da
publicidade – sabendo de qual site o internauta veio até o dele. Não há uma alternativa nem
parecida para a televisão.
O Envolvimento do espectador também vai além de qualquer possibilidade da TV; a
interatividade permite que o espectador da Web se envolva com a história de uma maneira
nunca imaginada na TV, e pouquíssima explorada em DVDs – só podendo ser rivalizada pela
interatividade de jogos eletrônicos.

25
Tanto o site Vimeo quanto o Youtube já contam com a opção de assistir vídeos em Full HD, resolução
alardeada como a revolução da TV analógica – a HDTV.
26
Um repórter da Rede Globo entrou ao vivo a partir de uma Lan House (ou cibercafé) da África do
Sul, filmado por webcam. Houve uma ligeira assincronia entre áudio e vídeo, provavelmente devido ao fato do
vídeo do repórter ter aparecido na tela de plasma atrás dos apresentadores, gerando o atraso em relação ao áudio,
que era reproduzido diretamente. O programa em questão era o Jornal Hoje.
27
Claro que se pode argumentar que o mundo hoje é mais rápido e globalizado do que na época do
surgimento da televisão. Mas isso não muda o fato de que iniciativas governamentais de apoio à internet (como a
Telebrás, que ressurge como uma estatal para assegurar o Plano Nacional de Banda Larga – link em:
http://bit.ly/LFSATCCLINK1) e também a inclusão digital podem em um curto período de tempo tornar a
internet uma mídia tão usada quanto – ou até mais que – a televisão.
28
A partir daqui, pode-se finalmente responder à pergunta de Alves: “o que podemos fazer na web e que
não podemos fazer no impresso, nem no rádio ou na televisão?” (ALVES, R. C. Reinventando o Jornal na
Internet, apud MIELNICZUK, 2004, p. 14).
24
As rupturas tomam o lugar nas duas últimas características. Podem ser consideradas,
efetivamente, as fraquezas do suporte televisivo; e é precisamente nessas características que o
Webjornalismo Audiovisual deve se amparar para finalmente se distanciar da televisão.
A Instantaneidade da TV é diferente da Instantaneidade do Webjornalismo; como
afirma Paternostro, na TV “não tem como „voltar atrás e ver de novo‟, ao contrário de jornal e
revista” (PATERNOSTRO, 1999, p. 46). A internet não tem hora certa para ser vista e
ouvida, ao contrário da TV. E também possibilita a revisão de conteúdos, atualização dos
mesmos, substituição, correção. A TV, por precisar entregar a informação imediatamente,
muitas vezes falha por repetir ao invés de informar, quando não há nova informação sobre um
fato.
Por último, a Superficialidade. Por mais que a TV se apoie em modelos como a TV
por assinatura para oferecer informação mais aprofundada, ela não consegue aprofundar tudo;
com efeito, quando um evento de grandes proporções acontece, a TV precisa fazer uma
escolha: aprofundar o evento em detrimento de outras informações, ou ignorar o evento para
que o restante das informações não seja ignorado? Na internet, podem-se aprofundar os
assuntos desejados pelo público, pois o público poderá efetivamente escolher o seu destino.

2.2.3 Audiovisual na Internet X HDTV: lógicas de demanda X lógicas de oferta

“Tem mais, e talvez o mais surpreendente: a HDTV vai mexer com a forma de se fazer
televisão. Aí sim, começa também uma revolução pra nós, jornalistas – e todos que trabalham
em televisão” (PATERNOSTRO, 1999, p.53-54); assim Vera Iris Paternostro externa sua
esperança com relação à TV de Alta Definição (HDTV). O questionamento que este trabalho
traz é: por que motivo deve-se esperar a HDTV, se a internet já superou as expectativas do
final do século passado?
Contava-se com a HDTV num tempo em que a internet ainda dava seus primeiros
passos. Por mais que o barateamento da tecnologia seja uma constante ao longo dos anos, não
se previa (ou não se acreditava) que o audiovisual na internet pudesse prosperar tão
rapidamente. De fato, nada do que aconteceu na internet durante os anos 2000 podia ser
previsto; o surgimento do Google como líder de audiência e faturamento com publicidade na
web, a vertiginosa escalada da velocidade de conexão, nem mesmo a invenção de uma
plataforma que popularizou o audiovisual sob demanda para o mundo: o Youtube.

25
Paternostro arrisca ainda um palpite sobre a colaboração entre HDTV e Internet, ao
afirmar que “quando a HDTV estiver linkada à internet, aí então... tudo pode acontecer”
(PATERNOSTRO, 1999, p.54).

“O telespectador vai escolher o que quer ver da programação de cada emissora, vai
criar sua própria programação, arquivar os programas que quiser. Utilizando
programas específicos, softwares, poderá, por exemplo escolher qual o lance do jogo
de futebol que quer ver no esquema do tira-teima. Pois é, não será mais a produção
da emissora que escolherá o lance duvidoso para ver de novo, será o telespectador.
Simples, rápido, como se faz atualmente o download de um site, você estará atuando
também como programador de TV. (PATERNOSTRO, 1999, p. 54-55)

Não tão rápido: os programadores de TV ainda vão existir, e os telespectadores terão a


liberdade única de escolher o que está sendo disponibilizado pela emissora de TV. Alguns
podem alegar que se trata de um exemplo exagerado, mas não é um caso isolado. Outros
pesquisadores, como Pierre Lévy, realmente defendem que a função do mediador irá
desaparecer, por virtude da interatividade da web29. Contudo, este trabalho concorda com a
noção estabelecida por Wolton que é necessária a intervenção de algum gatekeeper no que diz
respeito à divulgação de conteúdo jornalístico:

“Comunicação direta, sem mediações, como uma mera performance técnica. Isso
apela para sonhos de liberdade individual, mas é ilusório. A Rede pode dar acesso a
uma massa de informações, mas ninguém é um cidadão do mundo, querendo saber
tudo, sobre tudo, no mundo inteiro. Quanto mais informação há, maior é a
necessidade de intermediários – jornalistas, arquivistas, editores, etc. – que filtrem,
organizem, priorizem. Ninguém quer assumir o papel de editor-chefe a cada manhã.
A igualdade de acesso à informação não cria igualdade de uso da informação.
Confundir uma coisa com a outra é tecno-ideologia.” (WOLTON, Dominique.
Entrevista a Catherine Mallaval, Liberation, 20/21 March 1999, apud PALACIOS,
2003, p. 3)

Esse é o principal descompasso entre Internet e HDTV; por definição, os dois meios
estão separados por uma diferença crucial, que é a oferta de conteúdo que norteia a
programação e lógica televisivas, e a demanda de conteúdo, que é característica da internet
como um todo, como disposto por Palacios:

29
No que é prontamente refutado por Marcos Palacios, em seu texto “Fazendo Jornalismo em Redes
Híbridas”: “A ideia sugerida por Pierre Levy (1999:188) de um possível desaparecimento do Jornalismo (ou pelo
menos dos Jornalistas enquanto intermediários), em função do desenvolvimento da Internet soa, cada vez mais,
como uma simplificação descabida (...).” (PALACIOS, 2003, p.3).
26
Outro referencial útil como ponto de partida é a distinção estabelecida por
Dominique Wolton (WOLTON, 1999a:85) entre uma lógica de oferta que
caracteriza os meios tradicionais (rádio, TV, imprensa), que funcionam por emissão
de mensagens (o chamado modelo Um  Todos) e uma lógica de demanda, que
caracteriza as Novas Tecnologias da Comunicação (NTC), que funcionam por
disponibilização e acesso (o chamado modelo Todos  Todos). (PALACIOS,
2003, p.2)

Em tempo, não se deve confundir a tecnologia HDTV com a internet acessada pelo
aparelho de televisão30.
Como se pode notar através do trecho extraído do livro de Vera Iris Paternostro, a
tecnologia HDTV era aguardada com bastante expectativa por estudiosos de TV, devido a sua
alardeada possibilidade de interatividade. Infelizmente para os usuários e pesquisadores
brasileiros, “O Brasil optou pelo modelo japonês, (...) valorizando mais a portabilidade e a
mobilidade, do que a interatividade e a multiprogramação” (BECKER, 2008a, p.90). A
escolha deste modelo sepultou – ao menos para o momento – a intenção de a TV oferecer uma
Interatividade e capacidade maior de escolha ao telespectador; resta potencializar essas
possibilidades e continuar com as pesquisas de Webjornalismo Audiovisual, de modo a suprir
essa deficiência que haverá por conta da HDTV japonesa, e desenvolver uma plataforma que
posteriormente (possivelmente) poderá ser utilizada pela HDTV americana, que vai
justamente pelo caminho oposto, o da interatividade.
A demanda pode ser a palavra-chave que vai diferenciar a Internet de qualquer
modalidade de HDTV. O RSS, ferramenta muito utilizada de distribuição de conteúdo on-
demand, pode ser utilizado como uma subscrição a um determinado programa, em que o
internauta recebe as atualizações do conteúdo em seu e-mail ou leitor de feeds31. Este projeto
também abraça a seguinte sugestão de Luciana Mielniczuk:

“Uma possibilidade de ruptura estaria na atualização contínua com a


disponibilização de informações extensas sobre vários acontecimentos e não apenas
em situações de proporções excepcionais. Um webjornal de um grande aglomerado
urbano, por exemplo, que, valorizando o local, disponibilizasse a cobertura
constante – utilizando as características do jornalismo na web – e ampla dos
acontecimentos, no centro da cidade, se constituiria numa potencialização a um grau
tão elevado, que romperia com os padrões existentes até então”. (MIELNICZUK,
2004, p.13)

30
Apesar de alguns aparelhos de TV já contarem com acesso à Internet, não se está fazendo uma
remediação da internet, mas sim uma modificação no uso do aparelho de TV, uma nova função na máquina. Isso
pode ser considerado uma concessão por parte dos fabricantes de TV, algo como se não podemos vencê-la...
31
Como os programas Google Reader (baseado na web), Bloglines, Rojo e Newsgator.
27
Os feeds podem ser o caminho para a personalização final dos conteúdos: os leitores
poderão se subscrever à cobertura constante de seus bairros, cidades, regiões, estados etc.
Seria um jornalismo efetivamente descentralizado, sem os problemas com custos de
distribuição de conteúdo regional; a internet já possui a tecnologia para transformar a teoria
em realidade.

2.3 O ANVIL – Ambiente iNterativo de VIdeo-Links.

“O maior desafio do webjornalismo audiovisual é a possibilidade de compilar todas


as informações em um sistema comum, de modo criativo, processando-as em
velocidade e capacidades cada vez maiores e com custo cada vez mais reduzido,
promovendo novas abordagens dos fatos sociais, durante o processo de
transformação dos mesmos em notícias ou acontecimentos, e ampliando a
participação e o interesse dos usuários neste processo”. (BECKER, 2008a, p.89)

“Só com o decorrer do tempo e com o desenvolvimento de pesquisas que


contemplem questões tanto teóricas quanto práticas, além de experimentações de
naturezas das mais variadas, é que vamos descobrir o que virá a ser, de fato, o
webjornalismo” (MIELNICZUK, 2004, p.14)

Atendendo aos anseios das pesquisadoras citadas e também de diversos outros


pesquisadores não estudados aqui, este trabalho se propõe a lançar um novo e instigante
elemento à prática do Webjornalismo Audiovisual. Esta poderá ser considerada a interface
que trará o internauta para dentro do vídeo, contemplando as continuidades, potencializações
e rupturas estudadas até o momento.
Chega então a hora de se tentar uma nova aproximação no audiovisual online. Propõe-
se a criação de um ambiente que simule a internet, mas com ênfase no vídeo. Um ambiente
que possa gerenciar links dentro dos próprios vídeos com ícones em tempo real na tela, que
gerencie múltiplas janelas de conteúdo audiovisual, que permita ao webjornalista fazer todas
as conexões hipertextuais que desejar, tornando o conteúdo mais profundo para o internauta,
mais personalizável, e principalmente mais interativo.
Este trabalho propõe a criação de um Ambiente Interativo de Vídeo-Links cuja sigla
será ANVIL – bigorna, em inglês, nome escolhido devido à personalização e interatividade do
usuário com o conteúdo; com efeito, cada usuário criará seu próprio objeto audiovisual, assim
como um ferreiro usa a bigorna para criar os seus artefatos.
O desenvolvimento tecnológico criou plataformas como Ajax, Java e Flash, que
podem ser utilizadas para criar este ambiente de forma que seja ao mesmo tempo

28
compreensível aos criadores de conteúdo e intuitivo para os internautas. É óbvio que uma
rotina produtiva para este novo formato deverá ser criada, mas não foi assim com todas as
novas mídias?
O ANVIL será uma plataforma multimídia focada em material audiovisual, que
permitirá ao usuário realizar tudo aquilo que foi dito neste trabalho: ele poderá personalizar
um programa jornalístico, ao adicionar as matérias de seu interesse a uma playlist; poderá
responder a perguntas em tempo real, personalizando assim sua experiência frente ao vídeo,
ao interagir com as escolhas oferecidas, escolhendo o caminho que deseja seguir; poderá
compartilhar sua experiência, salvando suas decisões para que outros usuários possam
conhecer suas preferências; poderá se aprofundar nas reportagens, ao visitar outros vídeos
sobre o mesmo assunto, através de links em vídeo oferecidos a qualquer momento; poderá
assistir entrevistas completas ou minimamente editadas, de forma a ouvir tudo que um
entrevistado quis dizer, e não somente o enfoque dado pela edição do programa; poderá saber
mais sobre qualquer pessoa pública que aparecer nos programas, conhecer a trajetória e
história de cada um deles; poderá salvar matérias como favoritas, e compartilhar com os
amigos; mas poderá, principalmente, exercer seu poder de demanda, ao requisitar extensão de
conteúdos e participar ativamente de uma comunidade, em que poderá se comunicar com
outros usuários, ou com os jornalistas responsáveis pelo próprio veículo de comunicação.
O ambiente ANVIL será uma metáfora do ambiente da internet, com o foco inicial na
informação; contudo, tem potencial para diversos outros usos, entre eles a educação à
distância, treinamentos, tutoriais, interações de chat, compartilhamento de vídeos,
atendimento ao consumidor, entre várias possibilidades, impossíveis com a atual tecnologia.
Caso o ANVIL seja utilizado por uma grande empresa de mídia – que ao menos
possua conteúdo e boa infra-estrutura de produção – há uma possibilidade que este suporte
ajude a sustentar as atividades jornalísticas e por que não, audiovisuais, desta empresa na
internet, e poderá quem sabe se configurar no grande diferencial na difícil missão de cativar o
público neste início de milênio.
As limitações tecnológicas são superadas através de novas iniciativas, e o ANVIL é
apenas uma tentativa de criar um ambiente baseado em vídeo na internet; o momento
histórico em que o mundo se encontra é o ideal para tanto, uma vez que há o barateamento do
espaço virtual e vontade empresarial de se descobrir o próximo Youtube – ou ao menos sua

29
versão final32 – ou, quem sabe, a próxima “mudança de cadência ou padrão na vida humana”,
como diria McLuhan.

32
Desde 2008 o site Youtube já mantém um sistema de annotations (anotações), que permite ao criador
do vídeo inserir comentários no vídeo, que podem funcionar como hiperligações (links), assim como os
videolinks que serão definidos na conclusão. A diferença, contudo, está em como essa hiperligação é utilizada; os
usuários do Youtube não parecem possuir o conhecimento teórico relativo ao hipertexto e suas possibilidades, o
que faz com que usem o sistema de anotações para criar jogos interativos ou fazer propaganda de seus
respectivos canais (“inscreva-se no meu canal clicando aqui” etc.) ao invés de usar as anotações como uma
ferramenta de re-contextualização e intertextualidade, o que poderia efetivamente criar uma plataforma
audiovisual mais independente do formato de texto e imagens estáticas dos websites.
30
3 CONCLUSÃO

Visto que a principal força do Webjornalismo Audiovisual frente ao Telejornalismo é


a sua capacidade de aprofundar os conteúdos de modo a contextualizar o espectador, devem
ser pensadas rupturas também nas rotinas produtivas. Tais rupturas precisam se incorporar ao
Webjornalismo Audiovisual de tal maneira que se tornem regras, parte da rotina produtiva, ou
como diz Becker, se tornarem uma gramática própria deste meio.
Algumas sugestões envolvem repensar a função de quatro práticas televisivas, em um
contexto web:
- Pauta, que é uma previsão dos assuntos de interesse jornalístico;
- Cabeça de matéria, o nome dado à fala do apresentador antes da matéria, normalmen-
te um lead, ou abertura da matéria.
- Entrevista, que é o diálogo entre repórter e a personagem fonte da informação;
- Nota-pé, uma nota ao vivo lida no final de uma matéria, trazendo informação
complementar ou algo que faltou à reportagem.
Essas práticas, aliadas ao desenvolvimento de um meio particular para a veiculação
dos programas audiovisuais na web, podem auxiliar na contextualização dos assuntos antes e
depois da exibição da matéria.
Num primeiro momento deve-se pensar a pauta em termos de hiperpauta: o pauteiro
deverá pesquisar, além das fontes normalmente associadas ao assunto, uma contextualização
do mesmo. Ele deverá pensar: “e se o espectador não souber nada sobre esse assunto?” e
deverá trabalhar para que uma contextualização possa acontecer. A pauta deverá conter links
com reportagens já realizadas sobre o assunto pelo mesmo veículo, quando possível.
A hiperpauta, contudo, fica condicionada à existência de um novo tipo de pauteiro,
que trabalhará a notícia buscando responder quaisquer dúvidas que possam surgir
antecipadamente, para que tais questões possam ser respondidas nos links da reportagem.
Outra ruptura de ordem prática é a inserção de links nas Cabeças das Matérias e nos
Nota-pés. O apresentador poderá oferecer ao espectador uma chance de, antes da matéria
começar, atualizar seus conhecimentos sobre o assunto abordado; ou ainda, após a matéria,
oferecer esclarecimentos sobre o assunto, ou links para vídeos relacionados.
A Entrevista é outra prática televisiva que pode ser modificada em favor da
contextualização. Como o tempo na televisão é precioso, muitas vezes as entrevistas são
mutiladas, perdendo informações não tão importantes para os editores, mas importantíssimas
31
para os entrevistados e até para os espectadores. A sugestão de ruptura aqui seria a opção de
assistir à entrevista na íntegra, ou semi-íntegra, objetivando sempre trazer mais profundidade
ao assunto abordado. Outra possibilidade é uma entrevista híbrida; por exemplo, o repórter
entra numa entrevista ao vivo, e precisa “passar” o link de volta ao apresentador. Ele pode
anunciar que continuará a entrevista, que depois se tornará disponível como um link no nota-
pé.
São inúmeras as atualizações que podem ser realizadas na prática do audiovisual na
internet, e precisam ser pensadas e experimentadas, se os produtores de Webjornalismo
Audiovisual realmente quiserem inseri-lo na Terceira Fase do Webjornalismo.
O Webjornalismo Audiovisual não deve apenas mudar a maneira como utiliza as
características e práticas herdadas da TV; deve também olhar para as características do
próprio Webjornalismo e assimilá-las de uma maneira condizente com seu suporte.
Na primeira fase do Webjornalismo, existe apenas a transposição do conteúdo de
outras mídias. Na segunda fase, e encaixam os veículos de comunicação que começam a levar
em conta as peculiaridades da internet, e trabalham com algumas das características do
Webjornalismo. Na terceira fase, se encaixariam os jornais feitos especificamente para a
Internet e que levem em conta todas as possibilidades desse meio.
Partiu-se aqui da hipótese que não existe, atualmente, o Webjornalismo Audiovisual
que se encaixe na terceira fase. A hipótese foi confirmada, uma vez que se comprovou que há
muito que se fazer para distanciar o Webjornalismo Audiovisual do Jornalismo Televisivo.
Como considera Mielniczuk, é necessário que o webjornal modifique funções já
existentes. Indo um pouco mais longe no mesmo raciocínio, o webjornal precisa olhar para o
próprio webjornalismo e levá-lo adiante.
As características do Webjornalismo já foram abordadas neste trabalho. No entanto, o
que pode ser feito em relação a essas características para potencializá-las, utilizando o suporte
audiovisual? Que rupturas podem ser realizadas nestas características para que o
Webjornalismo Audiovisual finalmente se diferencie do Telejornalismo e o audiovisual se
firme como um suporte, ao invés de ser somente mais uma mídia englobada pela
multimidialidade?
Antes de prosseguir com as rupturas, é necessário que se conceitue um novo termo,
que será muito utilizado em cada característica: videolink.
Hyperlink é o nome dado às ligações hipertextuais realizadas em páginas da internet –
utiliza-se a forma reduzida link com mais freqüência. Um videolink seria uma ligação
32
hipertextual realizada dentro de um vídeo, mas de uma maneira tal que o vídeo seria mantido
em pausa, esperando que o espectador volte para retomá-lo do ponto em que parou. Esse não
é um recurso inédito; contudo, ainda não é utilizado na plenitude de suas possibilidades, o que
aumenta a importância de se conceituar o videolink como uma ferramenta intrinsecamente
ligada ao hipertexto.
O videolink tem a capacidade de efetivamente trazer a web para dentro do vídeo; e
pode fazer com que apenas um evento audiovisual seja tão informativo quanto navegar em
diversas páginas web.
A Interatividade, característica do Webjornalismo, ganha novo contexto a partir do
momento em que permite uma interação com o próprio vídeo. O espectador pode responder
ao apresentador, e escolher seu caminho dentro do próprio programa; com isso, a
Personalização toma parte, permitindo que o usuário realize a personalização do conteúdo, ou
seja, o vídeo toma o rumo que o espectador desejar. Dependendo de seus conhecimentos
sobre o assunto, o espectador pode ainda evocar a Memória, clicando nos videolinks inseridos
nas cabeças de matéria, ou durante a matéria, ou nos nota-pés. A Instantaneidade e
Atualização Contínua também serão garantidas, uma vez que os videolinks poderão ser
inseridos a qualquer momento, guiando o espectador a atualizações referentes ao
acontecimento relatado. Por fim, os videolinks ainda não são restritos ao audiovisual, podendo
oferecer ligações para matérias em texto, áudio ou fotografias, respeitando a
Multimidialidade, característica (agora) chave da Internet.
Todas essas potencializações são possíveis devido aos videolinks. Com efeito, a
exacerbação da Hipertextualidade pode ser considerada uma das principais mudanças de
mentalidade no que diz respeito ao Webjornalismo Audiovisual de Terceira Fase. A outra
mudança, já enunciada aqui, tem relação com a mudança de Fase do conteúdo em si, e não
dos sites em que são disponibilizados. Os sites de notícias tem, obviamente, suas próprias
classificações com relação às Fases que se encontram; mas este trabalho defende que essas
fases são relativas ao Webjornalismo, e não ao Webjornalismo Audiovisual.
A hipótese de que não existe, atualmente, jornalismo audiovisual que seja veiculado na
internet e que esteja situado na terceira fase do Webjornalismo foi comprovada, uma vez que
se provou que é possível ir além do que já é considerado Webjornalismo de terceira fase.
Esta pesquisa responde ao problema proposto: como é possível realizar a convergência
entre TV e internet aplicando a terceira fase do Webjornalismo? Alguns objetivos precisariam
ser cumpridos antes de se responder tal pergunta.
33
A primeira necessidade, ignorada no estudo do webjornalismo não-audiovisual e
postergada no audiovisual, foi estudar a estrutura do telejornalismo, para aí sim propor
rupturas. É consenso que, antes de se propor mudanças, deva-se conhecer o que está sendo
mudado; para avançar o webjornalismo audiovisual, é necessário estudar o telejornalismo,
para depois se saber o que evitar ou buscar, em termos de produção de conteúdo. E isso foi
realizado neste projeto.
Contudo, apenas se separar da TV não bastaria; foi preciso propor uma radicalização
das características do webjornalismo, para que sua vertente audiovisual de terceira fase se
diferenciasse do praticado em outras fases; também foi necessária uma mudança de foco, da
forma para o conteúdo.
Uma pesquisa em projeto experimental, ainda que realizado como prova-de-conceito,
pôde demonstrar o objeto de discussão. A partir dessa pesquisa, foi realizado o produto
Ambiente Interativo de Videolinks (ANVIL), que é a aplicação prática dos conceitos teóricos
abordados aqui. É isso o que o projeto almejava: um conceito de interface que pudesse
transformar o Webjornalismo Audiovisual da Terceira Fase em realidade. Através da prova-
de-conceito, vislumbrou-se a possibilidade dessa realização ocorrer em sua plenitude. O
ANVIL é a resposta encontrada para o problema de pesquisa.
Conclui-se então, que é necessário que se desenvolva este Ambiente Interativo o mais
rápido possível, sempre se tendo em mente o conteúdo jornalístico, sua relação com o meio, e
a configuração do Webjornalismo Audiovisual de Terceira Fase como mensagem diferenciada
de outras, para que se torne, enfim, um meio diferente de todos os que já foram
experimentados no contexto jornalístico (e fora dele); e que ao mesmo tempo, absorva aos
meios anteriores e seja o sucessor deles – que serão então partes de um todo, e não mais
meros fornecedores de conteúdo para a mídia internet.

34
REFERÊNCIAS

BARDOEL, Jo & DEUZE, Mark. Network Journalism: Converging Competences of Media


Professionals and Professionalism. In: Australian Journalism Review 23 (2), pp.91-103,
2001. Disponível em: http://bit.ly/LFSA2010TCCREF001. Acesso em: jun. 2010.

BASTOS, Helder. Ciberjornalismo e Narrativa Hipermédia. 2005. Disponível em:


http://bit.ly/LFSA2010TCCREF002. Acesso em: jun. 2010.

BECKER, Beatriz. Webjornalismo Audiovisual: uma análise do jornalismo como forma de


conhecimento na contemporaneidade. Revista ECO-POS, Rio de Janeiro: UFRJ, Vol. II, n.2,
pp.80-94, 2008a. Disponível em: http://bit.ly/LFSA2010TCCREF003. Acesso em: jun. 2010.

______. Webjornalismo Audiovisual: Perspectivas para um Jornalismo de Qualidade no


Ciberespaço. In: Revista do NP de Comunicação Audiovisual da Intercom, v.1, n.2, p.97-
113, São Paulo. 2008b Disponível em: http://bit.ly/LFSA2010TCCREF004. Acesso em: jun.
2010.

DALMONTE, Edson Fernando. O Hipertexto enquanto Modalidade Discursiva do


Webjornalismo: entre promessas e limitações. In: XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências
da Comunicação. Rio de Janeiro: UERJ. 2005. Disponível em:
http://bit.ly/LFSA2010TCCREF005. Acesso em: jun. 2010.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. 1ª Edição. São Paulo: 34, 2002.

REDE GLOBO. Manual de Redação. Belo Horizonte: Globo Minas, Junho 2001.

MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. 13ª edição.


São Paulo: Cultrix, 2003.

MIELNICZUK, Luciana. Características e implicações no jornalismo na web. II


Congresso da SOPCOM, Lisboa, 2001. Disponível em: http://bit.ly/LFSA2010TCCREF006.
Acesso em: jun. 2010.

______. Sistematizando alguns conhecimentos sobre jornalismo na web. In: MACHADO,


Elias, PALACIOS, Marcos (org.). Modelos de Jornalismo Digital. Salvador: Calandra, 2003.
Disponível em: http://bit.ly/LFSA2010TCCREF007. Acesso em: jun. 2010.

______. Webjornalismo de terceira geração: continuidades e rupturas no jornalismo


desenvolvido para a Web. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO, 27, 2004. Porto Alegre. Anais... São Paulo: Intercom, 2004. Disponível
em: http://bit.ly/LFSA2010TCCREF008. Acesso em: jun. 2010.

MURAD, Angéle. Oportunidades e desafios para o jornalismo na Internet. In: Ciberlegenda,


Rio de Janeiro, n. 2, 1999. Disponível em: <http://www.uff.br/mestcii/angele1.htm>. Acesso
em: jun. 2010.

35
NOGUEIRA, Leila. O jornalismo audiovisual on-line e suas fases na web. In: Congreso
Iberoamericano de Periodismo em Internet. (5). Salvador, BA, 24 e 25 de novembro de 2004.
Disponível em: http://bit.ly/LFSA2010TCCREF010. Acesso em: jun. 2010.

PALACIOS, Marcos. Jornalismo Online, Informação e Memória: apontamentos para


debate. In: Jornadas de Jornalismo Online, 21 e 22 de Junho de 2002. Universidade da Beira
Interior, Portugal, 2002a. Disponível em: http://bit.ly/LFSA2010TCCREF011. Acesso em:
jun. 2010.

______ (et al). Um mapeamento de características e tendências no jornalismo online


brasileiro. Texto apresentado no Redecom, Salvador, 2002b. Disponível em:
http://bit.ly/LFSA2010TCCREF012. Acesso em: jun. 2010.

______. Fazendo Jornalismo em Redes Híbridas: Notas para discussão da Internet


enquanto suporte mediático, Salvador: FACOM, 2003. Disponível em:
http://bit.ly/LFSA2010TCCREF012. Acesso em: jun. 2010.

PATERNOSTRO, Vera Iris. O texto na TV: manual de telejornalismo. Rio de Janeiro:


Campus, 1999. 158p.

SILVA JÚNIOR, José Afonso. A relação das interfaces enquanto mediadoras de conteúdo
do jornalismo contemporâneo: agencias de notícias como estudo de caso. Trabalho
apresentado no XI Encontro Anual da Compós. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em:
http://bit.ly/LFSA2010TCCREF013. Acesso em: jun. 2010.

36

Você também pode gostar