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Coronel Fabriciano
2010
Luciano Fellipe Soares Alvim Webjornalismo Audiovisual: Um suporte
para o Webjornalismo de Terceira Fase
LUCIANO FELLIPE SOARES ALVIM
WEBJORNALISMO AUDIOVISUAL:
Um suporte para o Webjornalismo de Terceira Fase
Coronel Fabriciano
2010
LUCIANO FELLIPE SOARES ALVIM
________________________
*
Não se preocupe, era revólver de brinquedo,
daqueles carregados com bolinhas de plástico.
... Claro que doeu!
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, aos meus orientadores ao longo desses seis anos: a orientadora “atual”, Ana
Cláudia Resende, por ter topado o desafio quase impossível de se realizar – e, no entanto, aqui
estamos! Aos “ex-orientadores”: Flavio Barbosa, orientador no PIC, desligou-se do Unileste
durante o projeto, que ficou inacabado (mas por meio dele conheci Zygmunt Bauman e Georg
Simmel – um dia ainda terminamos o projeto, quem sabe?); Sávio Tarso, orientador no TCC I
e parte do II, também se desligou do Unileste durante o projeto – suas contribuições foram
imprescindíveis; e Rodrigo Vieira Ribeiro, de quem fui considerado “orientando honorário”
pelo tempo de orientação solidária não usufruído por mim durante o ano de 2009.
À minha família, que continuou acreditando mesmo após dois anos de TCC II. Pai e mãe,
obrigado e me desculpem pela demora. Carol, obrigado pela chance, agora é hora da ação!
Nanda, não siga meu exemplo (quero dizer, se forme, mas produza mais na faculdade).
À minha Luiza, que me apoiou e mostrou que devemos fazer o que deve ser feito, sem perder
os sonhos de vista. Agora é sua vez!
Aos professores da primeira etapa (2004-2007): Fernando Resende, Tatiana Carvalho,
Reinaldo Maximiano, Alemar Rena, Taílze Melo, Tia Rê, Juliana Franco, Adriana Camargo,
Dunya Oliveira, Marta Fenelon, Márcia de Lemos, Oswaldo Teixeira, Breno Inácio, Landéia
Ávila, Miguel, Marco Aurélio, Fábio Mussi e in memoriam Márcio Duarte.
Aos professores da segunda etapa (2007-2010): Ana Magalhães, Roberto Bertozi, Elaine
Emerick, Rodrigo Cristiano, Rogério de Souza e Silva e @patyfessora pelas ligações (“Olha,
você está na lista de possíveis formandos”, quatro semestres seguidos!).
Staff da TVUNI de Coronel Fabriciano pela contribuição (Valeu Alex!).
Ao Doutor Bruno Spacek Godoy, cuja prolífica vida acadêmica é um grande exemplo e
incentivo para continuar trilhando este caminho após a graduação.
Aos irmãos da Blind Device, pelo tempo de licença que me foi cedido para realizar este
projeto. LET ME TELL YOU THE STORY!
Aos amigos que sempre estiveram do meu lado.
The broadband internet has democratized audiovisual distribution throughout the world,
through sites such as Youtube, Dailymotion and Vimeo. Media companies, perceiving the raw
potential of this medium, started exploring audiovisual content in the web, but offering
content already broadcast in TV, radio or press, not adapting the information to the new
medium, which became a mere medium display. In this context it is deemed necessary to
create the concept of an interface that can be an adequate environment to the producing of a
third phase online audiovisual journalism. Researchers have pinpointed three development
phases for online journalism; however, this research has found that the third phase has not
been fully developed. Thus, this research proposes the creation of an Interactive Videolinks
Environment (the ANVIL), as an alternative for the practical feasibility of the online
journalism particularities, in a manner that could effectively place the Audiovisual Online
Journalism in the historical moment which is to be called third phase – the time in which
convergence of internet and TV is completely fulfilled. It has been presented a proof-of-
concept of this environment, which could become – when using the new concept of videolinks
along the ruptures and enhancements defended throughout this research – a new paradigm on
producing Audiovisual Online Journalism.
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................11
2 WEBJORNALISMO AUDIOVISUAL: UM SUPORTE PARA A TERCEIRA FASE .............13
2.1 O Desenvolvimento do Webjornalismo .................................................................................... 13
2.1.1 A Internet como nova mídia .................................................................................................... 13
2.1.2 O Webjornalismo e suas Fases ................................................................................................14
2.1.3 As características do Webjornalismo: continuidades e potencializações.................................. 17
2.2 Rompendo os laços com a TV: O Webjornalismo Audiovisual ............................................... 19
2.2.1 Alguns Conceitos e Práticas do Método Telejornalístico ......................................................... 20
2.2.2 Rupturas Possíveis entre o Webjornalismo Audiovisual e o Telejornalismo ............................ 23
2.2.3 Audiovisual na Internet X HDTV: lógicas de demanda X lógicas de oferta ............................25
2.3 O ANVIL – Ambiente iNterativo de VIdeo-Links.................................................................... 28
3 CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 31
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................35
1 INTRODUÇÃO
12
2 WEBJORNALISMO AUDIOVISUAL: UM SUPORTE PARA A TERCEIRA FASE
Por mais que alguns autores sugiram que definir a internet apenas como uma mídia é
um ato “insuficiente e parcial1”, e outros sugiram que a internet não é uma mídia, mas uma
“incubadora de medias, um espaço de gestação e experimentação mediática2”, é fato que a
internet é por si mesma um suporte. Assim como a televisão antes dela, e o rádio antes desta,
e a imprensa escrita antes do rádio. E assim como cada um desses suportes, a internet tem
suas características próprias e impõe suas mudanças na maneira dos seres humanos
interagirem entre si, com a rede comunicacional e com as máquinas.
1
WOLTON, Dominique. Internet et après: une theorie critique dês noveaux médies, Paris: Flammarion,
1999, p. 85 apud Palacios, 2003, p.5.
2
LEMOS, André. Anjos interativos e retribalização do mundo: Sobre interatividade e interfaces
digitais, 1999, apud Palacios, 2003, p.5.
13
“O conteúdo da escrita é a fala, assim como a palavra escrita é o conteúdo da
imprensa, e a palavra impressa é o conteúdo do telégrafo. (...) a „mensagem‟ de
qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, cadência ou padrão que esse
meio ou tecnologia introduz nas coisas humanas.” (MCLUHAN, 2003, p.22)
A partir da popularização da internet numa escala global, no início dos anos 90,
começou-se a estudar suas possibilidades. No início, existia o e-mail, a web e diversos outros
protocolos, mais complexos ao usuário comum. A internet era um meio bastante restrito, com
14
velocidades muito baixas. Para efeito de comparação, um modem de 9.600 bauds por
segundo, muito comum em 1995, atingia uma trigésima parte da velocidade mais baixa
oferecida por provedores de internet banda larga no Brasil em 2010 (300 kbps3).
Não era possível realizar muita coisa em termos de tecnologia, quando o aparato
tecnológico estava apenas começando a se desenvolver. A capacidade multimidiática da
internet não podia ser explorada num contexto de banda estreita. A visualização de fotos e
animações pecava pela baixa qualidade de imagem e demora no download. É neste momento
histórico que o Jornalismo começa a fazer suas incursões pela nova mídia.
Como deveria se chamar essa nova modalidade de Jornalismo? Essa é uma discussão
inerente à pesquisa sobre Jornalismo na internet. Murad define de forma simples, mas
eficiente, que “de certa forma, o conceito de jornalismo encontra-se relacionado ao suporte
técnico e ao meio que permite a difusão das notícias. Daí derivam conceitos como jornalismo
impresso, telejornalismo e radiojornalismo” (MURAD, 1999).
O Webjornalismo, portanto, seria o nome mais apropriado para o Jornalismo
desenvolvido na internet, desde que trabalhe de acordo com as particularidades desse suporte.
Toda mídia tem suas características, que são desenvolvidas e consolidadas após muitos
anos de experimento técnico e conceitual. Convencionou-se, como pode ser lido em vários
artigos de Beatriz Becker (2008), Edson Dalmonte (2005), Luciana Mielniczuk (2001, 2003,
2004), Leila Nogueira (2004) e Marcos Palacios (2002a), em subdividir o Webjornalismo em
três fases distintas, definidas de acordo com a utilização das características da web.
Silva Jr. (2002) definiu termos para identificar os três estágios4 (nomenclatura
utilizada por ele para designar as fases). Nas palavras do autor:
3
São oferecidas também conexões de 60 kbps, o que pode não ser considerado banda larga.
4
Existem diversas terminologias para as três fases, como por exemplo, “Contemplativa, participativa e
laborativa”, cunhada por Leila Nogueira (2004), entre outras. A definição de Silva Jr. foi escolhida por ter uma
relação com o conteúdo, enquanto outras buscam sistematizar a relação entre o internauta e o veículo de
comunicação. Essa terminologia será importante à definição do Webjornalismo Audiovisual, mais à frente.
15
- O hipermidiático. Mais recentemente, podemos constatar que há demonstrações de
uso hipermidiático por alguns veículos online, ou seja: o uso de recursos mais
intensificado hipertextuais, a convergência entre suportes diferentes
(multimodalidade) e a disseminação de um mesmo produto em várias plataformas
e/ou serviços informativos.” (SILVA JÚNIOR, 2002, p.3)
As fases descritas por Silva Jr. estão intrinsecamente ligadas às condições tecnológicas
do suporte online. Num primeiro momento, a internet era apenas uma vitrine para o
jornalismo impresso. As versões online dos jornais eram a mera reprodução das suas versões
impressas. Mesmo com as características da web ainda por ser desenvolvidas, já se
rascunhavam apocalipticamente as previsões do fim do jornal impresso; afinal, podia-se ler na
tela do computador o mesmo conteúdo veiculado na versão impressa 5. Mas seria essa a única
particularidade do jornalismo na internet, a de imitar o jornalismo impresso?
Eis que o desenvolvimento tecnológico permite à internet tanto a transmissão de áudio
quanto o download de vídeos, claro que inicialmente em baixíssima qualidade. O áudio era
transmitido no formato RealPlayer (.ra ou .ram), e o formato Vivo TV (.viv, já
descontinuado), de baixa resolução, foi o precursor do streaming de vídeo. O Jornalismo
online contava então com transmissão de áudio e vídeo, iniciando o percurso rumo à
multimidialidade, que seria uma das particularidades da internet.
Anos de integração da internet à sociedade transformaram um sistema lento e pouco
funcional na rede mundial de computadores como é conhecida nos dias atuais. Várias
pequenas revoluções práticas e tecnológicas aproximaram as pessoas da rede, que desenvolvia
suas próprias características, se distanciando das mídias que a precederam e ao mesmo tempo
contendo-as, numa perspectiva mcluhaniana de apropriação midiática. A internet, depois de
uma década de desenvolvimento, finalmente definiu suas próprias particularidades e
características que a diferenciassem do suporte impresso, radiofônico e televisivo, se firmando
como um suporte independente.
O Jornalismo, por sua vez, fez uso dessas características para redefinir suas práticas
neste suporte. Surge o Webjornalismo como o Jornalismo feito especificamente para o suporte
online. Quais seriam as especificidades que caracterizariam essa nova forma de fazer
Jornalismo?
5
Ainda que Murad (1999) tenha chamado a atenção para o fato de que, “segundo o Instituto Nielsen, ler
na Web é 25% mais difícil que no jornal” (MURAD, 1999), a leitura de jornais e revistas no computador ou em
dispositivos especialmente designados para tal está se mostrando mais presente na sociedade. A Folha de São
Paulo, por exemplo, veicula diariamente uma edição digital, e já tem pacotes de assinatura para essa versão do
jornal. Também existem os dispositivos digitais Kindle e iPad, que rivalizam com impressos.
16
2.1.3 As características do Webjornalismo: continuidades e potencializações
6
Também engloba Customização do Conteúdo.
7
Também engloba Instantaneidade.
8
Também engloba Convergência.
9
Palacios conclui que a internet é um meio em que não há apenas oferta ou demanda. Ele a chama de
“rede híbrida”, em que há tanto a oferta quanto a demanda. O raciocínio completo pode ser lido em “Fazendo
Jornalismo em Redes Híbridas”, de 2003.
17
(PALACIOS, 2003, p.4). A grande diferença trazida pela internet é a Customização do
Conteúdo. O usuário de um site de notícias como Google News pode personalizar sua página
inicial (ou configurar um iGoogle, por exemplo) com notícias relativas ao seu gosto pessoal.
É um ponto impossível de se alcançar nas mídias anteriores; afinal, seria comercialmente
inviável a produção de revistas personalizadas ou programas de TV altamente segmentados
sem o devido subsídio econômico 10.
A Memória é uma característica também presente tanto na TV (retrospectivas,
reportagens históricas) quanto no jornalismo impresso (suplementos especiais, reedições),
mas é potencializada de tal maneira na internet que se tornou uma das características mais
fortes desta. Na internet pode-se assistir a um programa de TV obscuro da década de 70,
desde que alguém o tenha disponibilizado em algum site de vídeos. A reapresentação deste
programa na televisão, por sua vez, seria economicamente inviável. O mesmo se aplica a
músicas fora do contexto comercial e pronunciamentos históricos do rádio. No caso do
impresso, não há o desgaste físico das páginas, o que pode eternizar suplementos históricos e
fotocópias de arquivos. Com efeito, o arquivamento de vídeos, sons e documentos na internet
nunca esteve tão barato, favorecendo esta característica no Webjornalismo.
Atualização Contínua e Instantaneidade são características inerentes à prática do
Jornalismo. Com a diferença que nas outras mídias, existe a necessidade de esperar a próxima
edição, o próximo programa, a próxima intervenção de última hora. A internet potencializa
também essa característica, uma vez que a publicação de novo conteúdo não obedece a
amarras como grades de programação e horários pré-estabelecidos. Muitas vezes, a internet
acaba sendo fonte de outras mídias, quando veículos de comunicação tradicionais não podem
enviar representantes estrangeiros a acontecimentos de ordem global – recorrendo a agências
de notícias, que encontraram na internet uma maneira de vender suas reportagens a jornais em
todo o mundo, instantaneamente.
A Multimidialidade, como já foi descrito aqui, foi refém do desenvolvimento
tecnológico; à medida que houve uma melhora nas conexões de internet, a convergência de
mídias teve o seu lugar. A continuidade, de acordo com Palacios, ocorre “se considerarmos
que na TV já ocorre uma conjugação de formatos mediáticos (imagem, som e texto).”
(PALACIOS, 2002a). O interessante da Multimidialidade na internet é no que diz respeito à
possibilidade de escolher uma mídia por vez. A TV é sempre audiovisual; o rádio é sempre
10
Como acontece com TVs públicas ou revistas de baixa tiragem realizadas com apoio de leis de
incentivo à cultura.
18
áudio; o impresso é sempre visual. Na internet, é possível escolher entre a TV, o rádio e o
impresso, ou ainda qualquer combinação dos três, dentro de um mesmo produto midiático.
Palacios novamente aponta a pré-existência da Hipertextualidade, ao afirmar que ela
existe até mesmo “num objecto impresso tão antigo quanto uma enciclopédia” (PALACIOS,
2002a). Contudo, sua potencialização é tanta que Mielniczuk a trata como “específica da
natureza do jornalismo online” (MIELNICZUK, 2001). De fato, a hipertextualidade leva o
Webjornalismo a outra dimensão em relação às mídias tradicionais. A capacidade de
contextualização de uma página web não pode ser rivalizada pela Televisão, devido à grade de
programação e horários fixos, o que impossibilita o aprofundamento das reportagens11. Já o
jornalismo impresso pode contextualizar até certo ponto, limitado pelo espaço físico destinado
à matéria, que também fica destinada a se tornar datada sem a atualização das informações.
Idealmente, o Webjornalismo se sustenta nessas seis características, e pode estar
situado completamente ou parcialmente 12 em qualquer uma das três fases citadas neste
trabalho, que não necessariamente são seguidas em ordem cronológica. Vários veículos de
comunicação on-line estão se adequando à especificidade da web.
Contudo, existe uma modalidade de Webjornalismo que se encontra presa à sua
contraparte tradicional, e avança pouco nas rupturas necessárias para que se potencializem as
características desse novo meio: o Webjornalismo Audiovisual13.
11
Exceto em programas de grandes reportagens, que são minoria na grade de programação da TV
aberta.
12
Becker explica que “as fases do webjornalismo não são rígidas, nem excludentes. Em um mesmo
período cronológico, é possível observar no mesmo site a existência de publicações jornalísticas de diferentes
estágios ou gerações” (BECKER, 2008b, p.111).
13
Leila Nogueira (2004) utiliza a terminologia Jornalismo Audiovisual On-Line para designar o
Webjornalismo Audiovisual. Contudo, este trabalho ancora-se na noção de que o Jornalismo produzido para a
Web e de acordo com as características da Web deva ser chamado de Webjornalismo, uma vez que Jornalismo
Online “é desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo real”, enquanto
Webjornalismo “diz respeito à utilização de uma parte específica da Internet, que é a web”, sempre nas palavras
de Mielniczuk (2003, p.4). Ou seja, Jornalismo Online é sempre um conceito mais amplo do que o
Webjornalismo – este diz respeito à utilização da web como mídia, e não como plataforma tecnológica.
19
mídias tradicionais; os sites noticiosos se valem de textos e fotografias espelhados nos jornais,
os podcasts contam com a infraestrutura do rádio aliada à distribuição RSS, enquanto o
webjornalismo audiovisual transpõe o conteúdo telejornalístico ao disponibilizar vídeos
originalmente transmitidos pela TV no ciberespaço. Chama-se de Webjornalismo aquele
praticado na Internet, que leva em conta as características do meio.
Fica claro, após uma análise a WebTVs e sites noticiosos que disponibilizam vídeos 14
online, que a maioria dos vídeos segue uma lógica de produção televisiva, não podendo assim
ser considerados parte do Webjornalismo Audiovisual de Terceira Fase.
Becker fez um trabalho minucioso de análise de quatro portais, analisando-os quanto à
“fase do web jornalismo que os sites se encontram” (BECKER, 2008a, p.86). Porém, aferir a
fase do Webjornalismo que os sites se encontram não é a mesma coisa que aferir a fase em
que os vídeos se encontram. É neste ponto que este trabalho propõe uma nova aproximação à
problemática do Webjornalismo Audiovisual: mudando o foco da forma e para o conteúdo.
É consenso entre pesquisadores que o Webjornalismo Audiovisual precisa descobrir
suas particularidades15. Isso não significa se distanciar da estrutura da Televisão –
principalmente quando uma separação dessa estrutura signifique não fazer uso da infra-
estrutura dos grandes estúdios de TV – e sim modificar as rotinas produtivas da TV para que
o conteúdo produzido seja inerente ao suporte web, impossível de se dissociar dele. Ou seja,
impossível de se transmitir pela TV.
Inicialmente, é necessário que se saiba como e o que se faz no Telejornalismo, para
depois responder à pergunta: “o que podemos fazer na web e que não podemos fazer no
impresso, nem no rádio ou na televisão?16”
14
Becker fez uma análise de quatro sites no artigo “Webjornalismo Audiovisual: uma análise do
jornalismo como forma de conhecimento na contemporaneidade” (2008a), cujo resultado reforça ainda mais a
necessidade de enxergar o Webjornalismo Audiovisual como um meio próprio, com suas próprias
especificidades, ao invés de enxergar a Terceira Fase na mera distribuição de conteúdo televisivo na internet.
15
BECKER, 2008a, p. 89 – ______, 2008b, p.111 – MIELNICZUK, 2004, p. 14 – BASTOS, 2005 –
DALMONTE, 2005.
16
ALVES, Rosental Calmon. Reinventando o Jornal da Internet, 2001, apud MIELNICZUK, 2004.
20
- Informação Visual: transmite mensagens através de uma linguagem que independe
do conhecimento de um idioma ou da escrita por parte do receptor. A TV mostra e o
telespectador vê: ele se informa, está recebendo a notícia e ampliando seu
conhecimento.
- Imediatismo: transmite informação contemporânea quando mostra o fato no
momento exato em que ele ocorre através da imagem – o signo mais acessível à
compreensão humana. A TV tem hoje uma agilidade muito grande, porque o aparato
técnico para uma transmissão está muito simplificado. Pequenas emissoras já
possuem unidades móveis de jornalismo para reportagens „ao vivo‟ que são
instaladas com rapidez e velocidade. Os satélites mostram fatos do outro lado do
mundo.
- Alcance: a TV é um veículo abrangente e de grande alcance. Ela não distingue
classe social ou econômica, atinge a todos. O jornalismo na TV tem, portanto, que
considerar como vai tratar uma notícia, já que ela pode ser „vista‟ e „ouvida‟ de
várias maneiras diferentes.
- Índice de Audiência: a medição do interesse do espectador orienta a programação e
cria condições de sustentação comercial. O índice de audiência interfere de modo
direto, a ponto de a emissora se posicionar dentro de padrões (trilhos) que são os
resultados de aceitação por parte do público-telespectador.
- Envolvimento: a TV exerce fascínio sobre o telespectador, pois consegue
transportá-lo para „dentro‟ de suas histórias. Não existe um padrão de linguagem
televisiva, mas há no telejornalismo a forma pessoal de „contar‟ notícia e a
familiaridade com repórteres e apresentadores, que seduzem e atraem os
espectadores.
- Instantaneidade: a informação da TV requer „hora certa‟ para ser vista e ouvida – a
mensagem é momentânea, instantânea. Ela é „captada‟ de uma só vez, no exato
momento em que é emitida. Não tem como „voltar atrás e ver de novo‟, ao contrário
de jornal ou revista.
- Superficialidade: o timing, o ritmo da TV proporciona uma natureza superficial às
suas mensagens. Os custos das transmissões, os compromissos comerciais e a briga
pela audiência impedem o aprofundamento e a análise da notícia no telejornal diário.
Há programas específicos de maior densidade jornalística” (PATERNOSTRO, 1999,
p. 64-65).
17
No capítulo 2.2.2 entraremos na discussão dessas características sob a perspectiva das rupturas que a
Internet pode proporcionar ao modelo tradicional.
18
Não se tenta aqui, contudo, explicar o Telejornalismo em todas as suas dimensões; é apenas um breve
resumo de como os telejornais são realizados, para contextualização.
21
matérias do dia. Algumas matérias são selecionadas para serem gavetas, ou seja, ficarem
guardadas para um dia em que falte material. Normalmente as reportagens de gaveta abordam
temas gerais, que não correm o risco de se tornarem datados.
Após a reunião, cria-se a pauta de cada reportagem, que é uma “previsão dos assuntos
de interesse jornalístico (...), o roteiro dos temas que vão ser cobertos pela reportagem”
(PATERNOSTRO, p. 147). Cada equipe de reportagem (normalmente compostos por um
repórter e um cinegrafista) segue então para a realização da matéria, que normalmente
envolve a visita aos locais relacionados ao assunto e entrevistas com as fontes da informação.
Após o fim das gravações, a equipe volta ao estúdio, onde a edição do material ocorre.
Os editores de vídeo (ou montadores20), em posse do material gravado, começa a
edição baseado no roteiro do repórter. A edição deve resumir ao máximo a matéria gravada,
devido à agilidade necessária para um programa de televisão 21. Uma reportagem de TV não
ultrapassa dois minutos de duração. A edição também é o momento de adequar a reportagem
ao estilo da emissora, com letterings formatados de acordo com o padrão, e também editar
entrevistas para que não se choquem com a linha editorial do veículo de comunicação.
Uma vez que todas as matérias estejam prontas, são retiradas da ilha de edição e
levadas ao estúdio onde o programa será gravado. O apresentador deverá ter seu roteiro, com
o texto das cabeças das matérias22 já pronto antes do jornal entrar no ar. O texto será inserido
ao tele-prompter, e então a transmissão se inicia. Ao começo do programa, há uma escalada23
das matérias, antes do break comercial. Após os comerciais, o apresentador pode tanto ler a
cabeça da matéria, que antecede a transmissão de matérias pré-gravadas, ou chamar um
repórter para uma participação ao vivo. Ao fim de uma matéria, o apresentador pode fazer
uma nota-pé, que é “uma nota ao vivo, lida no final de uma matéria trazendo informação
complementar ou que faltou à reportagem” (PATERNOSTRO, 1999, p. 146).
19
Os critérios de noticiabilidade não serão abordados neste trabalho. Mais informações sobre
newsmaking e critérios de importância e noticiabilidade, consultar WOLF, M. “Teorias da Comunicação”
Lisboa: Presença, 1987, Capítulo 3.3, p. 188.
20
A discussão sobre essa terminologia é ampla e não cabe ser revista aqui.
21
Contudo, deve-se evitar a “Editite”, que, como citada pelo Manual de Redação da Rede Globo, é o
“excesso de edição das matérias, seu picotamento em nome da agilidade, [que] com freqüência segmenta a
narrativa a um ponto que a exclui da capacidade de compreensão do espectador” (MANUAL DE REDAÇÃO
DA REDE GLOBO, 2001, p.9)
22
Cabeça da matéria é “o nome que se dá à fala do apresentador antes da matéria ser apresentada. É
normalmente o lead da matéria” (PATERNOSTRO, 1999, p.138).
23
Escalada é o momento no início do jornal em que o apresentador anuncia todas as matérias do
programa. Também pode ser realizada por dois apresentadores alternados.
22
Quando todas as matérias já foram exibidas, o jornal termina. O apresentador anuncia
o horário do próximo telejornal, e se despede do telespectador. No dia seguinte, o mesmo
processo toma conta. Esse processo é chamado de rotina produtiva. A televisão trabalhou essa
rotina por anos, até desenvolver manuais de redação e práticas próprias para que essas rotinas
pudessem ser incorporadas ao cotidiano dos jornalistas. Atualmente, essa rotina é seguida por
praticamente todos os telejornalistas, em algum grau.
Obviamente, houve um tempo em que essa rotina não existia, ou não estava
suficientemente estabelecida como uma gramática própria do Telejornalismo; é provável que
funções altamente especializadas como a do pauteiro e do editor de vídeo fossem aparecer
como tal somente depois de anos do estabelecimento da televisão. E os jornalistas se
adequaram à rotina. Não há dúvida, portanto, que esta lógica possa ser estabelecida na Web.
24
MIELNICZUK, 2004, p.14
23
Contudo, nos dias atuais a tecnologia de streaming de vídeos já não deve nada à TV analógica
– em alguns casos, pode ser até de qualidade superior25.
O Imediatismo, segunda característica aqui explicitada, também já não é exclusividade
da TV – tudo depende da qualidade da conexão à internet. Serviços de live streaming já
surgiram, e mesmo no Brasil já foram utilizadas conexões de internet para conectar um
enviado especial no exterior, sem perda gritante de qualidade no vídeo 26.
O Alcance da TV ainda é maior que o da Internet, por razões óbvias como o tempo de
exposição da sociedade à mídia. A internet é um meio jovem, mas sua popularização está
andando indiscutivelmente mais rápido do que a TV27.
Nas três características anteriores, houve uma paridade entre TV e Internet; contudo,
nas próximas duas, temos as verdadeiras possibilidades de potencializações, devido à maneira
que a Internet realmente possibilita funções que são impraticáveis na TV convencional28.
A medição do Índice de Audiência, uma característica que efetivamente define a
programação televisiva, na busca incessante do sucesso comercial, é algo difícil de realizar.
São necessários aparelhos especiais que monitorem uma parcela da população, que pode dar
resultados que nem sempre correspondam à realidade. Na internet, existem verdadeiros
marcos de análise da audiência, como o Google Analytics, que permitem ao dono do website
aferir a audiência em dados geográficos precisos, ou até mesmo medir o resultado da
publicidade – sabendo de qual site o internauta veio até o dele. Não há uma alternativa nem
parecida para a televisão.
O Envolvimento do espectador também vai além de qualquer possibilidade da TV; a
interatividade permite que o espectador da Web se envolva com a história de uma maneira
nunca imaginada na TV, e pouquíssima explorada em DVDs – só podendo ser rivalizada pela
interatividade de jogos eletrônicos.
25
Tanto o site Vimeo quanto o Youtube já contam com a opção de assistir vídeos em Full HD, resolução
alardeada como a revolução da TV analógica – a HDTV.
26
Um repórter da Rede Globo entrou ao vivo a partir de uma Lan House (ou cibercafé) da África do
Sul, filmado por webcam. Houve uma ligeira assincronia entre áudio e vídeo, provavelmente devido ao fato do
vídeo do repórter ter aparecido na tela de plasma atrás dos apresentadores, gerando o atraso em relação ao áudio,
que era reproduzido diretamente. O programa em questão era o Jornal Hoje.
27
Claro que se pode argumentar que o mundo hoje é mais rápido e globalizado do que na época do
surgimento da televisão. Mas isso não muda o fato de que iniciativas governamentais de apoio à internet (como a
Telebrás, que ressurge como uma estatal para assegurar o Plano Nacional de Banda Larga – link em:
http://bit.ly/LFSATCCLINK1) e também a inclusão digital podem em um curto período de tempo tornar a
internet uma mídia tão usada quanto – ou até mais que – a televisão.
28
A partir daqui, pode-se finalmente responder à pergunta de Alves: “o que podemos fazer na web e que
não podemos fazer no impresso, nem no rádio ou na televisão?” (ALVES, R. C. Reinventando o Jornal na
Internet, apud MIELNICZUK, 2004, p. 14).
24
As rupturas tomam o lugar nas duas últimas características. Podem ser consideradas,
efetivamente, as fraquezas do suporte televisivo; e é precisamente nessas características que o
Webjornalismo Audiovisual deve se amparar para finalmente se distanciar da televisão.
A Instantaneidade da TV é diferente da Instantaneidade do Webjornalismo; como
afirma Paternostro, na TV “não tem como „voltar atrás e ver de novo‟, ao contrário de jornal e
revista” (PATERNOSTRO, 1999, p. 46). A internet não tem hora certa para ser vista e
ouvida, ao contrário da TV. E também possibilita a revisão de conteúdos, atualização dos
mesmos, substituição, correção. A TV, por precisar entregar a informação imediatamente,
muitas vezes falha por repetir ao invés de informar, quando não há nova informação sobre um
fato.
Por último, a Superficialidade. Por mais que a TV se apoie em modelos como a TV
por assinatura para oferecer informação mais aprofundada, ela não consegue aprofundar tudo;
com efeito, quando um evento de grandes proporções acontece, a TV precisa fazer uma
escolha: aprofundar o evento em detrimento de outras informações, ou ignorar o evento para
que o restante das informações não seja ignorado? Na internet, podem-se aprofundar os
assuntos desejados pelo público, pois o público poderá efetivamente escolher o seu destino.
“Tem mais, e talvez o mais surpreendente: a HDTV vai mexer com a forma de se fazer
televisão. Aí sim, começa também uma revolução pra nós, jornalistas – e todos que trabalham
em televisão” (PATERNOSTRO, 1999, p.53-54); assim Vera Iris Paternostro externa sua
esperança com relação à TV de Alta Definição (HDTV). O questionamento que este trabalho
traz é: por que motivo deve-se esperar a HDTV, se a internet já superou as expectativas do
final do século passado?
Contava-se com a HDTV num tempo em que a internet ainda dava seus primeiros
passos. Por mais que o barateamento da tecnologia seja uma constante ao longo dos anos, não
se previa (ou não se acreditava) que o audiovisual na internet pudesse prosperar tão
rapidamente. De fato, nada do que aconteceu na internet durante os anos 2000 podia ser
previsto; o surgimento do Google como líder de audiência e faturamento com publicidade na
web, a vertiginosa escalada da velocidade de conexão, nem mesmo a invenção de uma
plataforma que popularizou o audiovisual sob demanda para o mundo: o Youtube.
25
Paternostro arrisca ainda um palpite sobre a colaboração entre HDTV e Internet, ao
afirmar que “quando a HDTV estiver linkada à internet, aí então... tudo pode acontecer”
(PATERNOSTRO, 1999, p.54).
“O telespectador vai escolher o que quer ver da programação de cada emissora, vai
criar sua própria programação, arquivar os programas que quiser. Utilizando
programas específicos, softwares, poderá, por exemplo escolher qual o lance do jogo
de futebol que quer ver no esquema do tira-teima. Pois é, não será mais a produção
da emissora que escolherá o lance duvidoso para ver de novo, será o telespectador.
Simples, rápido, como se faz atualmente o download de um site, você estará atuando
também como programador de TV. (PATERNOSTRO, 1999, p. 54-55)
“Comunicação direta, sem mediações, como uma mera performance técnica. Isso
apela para sonhos de liberdade individual, mas é ilusório. A Rede pode dar acesso a
uma massa de informações, mas ninguém é um cidadão do mundo, querendo saber
tudo, sobre tudo, no mundo inteiro. Quanto mais informação há, maior é a
necessidade de intermediários – jornalistas, arquivistas, editores, etc. – que filtrem,
organizem, priorizem. Ninguém quer assumir o papel de editor-chefe a cada manhã.
A igualdade de acesso à informação não cria igualdade de uso da informação.
Confundir uma coisa com a outra é tecno-ideologia.” (WOLTON, Dominique.
Entrevista a Catherine Mallaval, Liberation, 20/21 March 1999, apud PALACIOS,
2003, p. 3)
Esse é o principal descompasso entre Internet e HDTV; por definição, os dois meios
estão separados por uma diferença crucial, que é a oferta de conteúdo que norteia a
programação e lógica televisivas, e a demanda de conteúdo, que é característica da internet
como um todo, como disposto por Palacios:
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No que é prontamente refutado por Marcos Palacios, em seu texto “Fazendo Jornalismo em Redes
Híbridas”: “A ideia sugerida por Pierre Levy (1999:188) de um possível desaparecimento do Jornalismo (ou pelo
menos dos Jornalistas enquanto intermediários), em função do desenvolvimento da Internet soa, cada vez mais,
como uma simplificação descabida (...).” (PALACIOS, 2003, p.3).
26
Outro referencial útil como ponto de partida é a distinção estabelecida por
Dominique Wolton (WOLTON, 1999a:85) entre uma lógica de oferta que
caracteriza os meios tradicionais (rádio, TV, imprensa), que funcionam por emissão
de mensagens (o chamado modelo Um Todos) e uma lógica de demanda, que
caracteriza as Novas Tecnologias da Comunicação (NTC), que funcionam por
disponibilização e acesso (o chamado modelo Todos Todos). (PALACIOS,
2003, p.2)
Em tempo, não se deve confundir a tecnologia HDTV com a internet acessada pelo
aparelho de televisão30.
Como se pode notar através do trecho extraído do livro de Vera Iris Paternostro, a
tecnologia HDTV era aguardada com bastante expectativa por estudiosos de TV, devido a sua
alardeada possibilidade de interatividade. Infelizmente para os usuários e pesquisadores
brasileiros, “O Brasil optou pelo modelo japonês, (...) valorizando mais a portabilidade e a
mobilidade, do que a interatividade e a multiprogramação” (BECKER, 2008a, p.90). A
escolha deste modelo sepultou – ao menos para o momento – a intenção de a TV oferecer uma
Interatividade e capacidade maior de escolha ao telespectador; resta potencializar essas
possibilidades e continuar com as pesquisas de Webjornalismo Audiovisual, de modo a suprir
essa deficiência que haverá por conta da HDTV japonesa, e desenvolver uma plataforma que
posteriormente (possivelmente) poderá ser utilizada pela HDTV americana, que vai
justamente pelo caminho oposto, o da interatividade.
A demanda pode ser a palavra-chave que vai diferenciar a Internet de qualquer
modalidade de HDTV. O RSS, ferramenta muito utilizada de distribuição de conteúdo on-
demand, pode ser utilizado como uma subscrição a um determinado programa, em que o
internauta recebe as atualizações do conteúdo em seu e-mail ou leitor de feeds31. Este projeto
também abraça a seguinte sugestão de Luciana Mielniczuk:
30
Apesar de alguns aparelhos de TV já contarem com acesso à Internet, não se está fazendo uma
remediação da internet, mas sim uma modificação no uso do aparelho de TV, uma nova função na máquina. Isso
pode ser considerado uma concessão por parte dos fabricantes de TV, algo como se não podemos vencê-la...
31
Como os programas Google Reader (baseado na web), Bloglines, Rojo e Newsgator.
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Os feeds podem ser o caminho para a personalização final dos conteúdos: os leitores
poderão se subscrever à cobertura constante de seus bairros, cidades, regiões, estados etc.
Seria um jornalismo efetivamente descentralizado, sem os problemas com custos de
distribuição de conteúdo regional; a internet já possui a tecnologia para transformar a teoria
em realidade.
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compreensível aos criadores de conteúdo e intuitivo para os internautas. É óbvio que uma
rotina produtiva para este novo formato deverá ser criada, mas não foi assim com todas as
novas mídias?
O ANVIL será uma plataforma multimídia focada em material audiovisual, que
permitirá ao usuário realizar tudo aquilo que foi dito neste trabalho: ele poderá personalizar
um programa jornalístico, ao adicionar as matérias de seu interesse a uma playlist; poderá
responder a perguntas em tempo real, personalizando assim sua experiência frente ao vídeo,
ao interagir com as escolhas oferecidas, escolhendo o caminho que deseja seguir; poderá
compartilhar sua experiência, salvando suas decisões para que outros usuários possam
conhecer suas preferências; poderá se aprofundar nas reportagens, ao visitar outros vídeos
sobre o mesmo assunto, através de links em vídeo oferecidos a qualquer momento; poderá
assistir entrevistas completas ou minimamente editadas, de forma a ouvir tudo que um
entrevistado quis dizer, e não somente o enfoque dado pela edição do programa; poderá saber
mais sobre qualquer pessoa pública que aparecer nos programas, conhecer a trajetória e
história de cada um deles; poderá salvar matérias como favoritas, e compartilhar com os
amigos; mas poderá, principalmente, exercer seu poder de demanda, ao requisitar extensão de
conteúdos e participar ativamente de uma comunidade, em que poderá se comunicar com
outros usuários, ou com os jornalistas responsáveis pelo próprio veículo de comunicação.
O ambiente ANVIL será uma metáfora do ambiente da internet, com o foco inicial na
informação; contudo, tem potencial para diversos outros usos, entre eles a educação à
distância, treinamentos, tutoriais, interações de chat, compartilhamento de vídeos,
atendimento ao consumidor, entre várias possibilidades, impossíveis com a atual tecnologia.
Caso o ANVIL seja utilizado por uma grande empresa de mídia – que ao menos
possua conteúdo e boa infra-estrutura de produção – há uma possibilidade que este suporte
ajude a sustentar as atividades jornalísticas e por que não, audiovisuais, desta empresa na
internet, e poderá quem sabe se configurar no grande diferencial na difícil missão de cativar o
público neste início de milênio.
As limitações tecnológicas são superadas através de novas iniciativas, e o ANVIL é
apenas uma tentativa de criar um ambiente baseado em vídeo na internet; o momento
histórico em que o mundo se encontra é o ideal para tanto, uma vez que há o barateamento do
espaço virtual e vontade empresarial de se descobrir o próximo Youtube – ou ao menos sua
29
versão final32 – ou, quem sabe, a próxima “mudança de cadência ou padrão na vida humana”,
como diria McLuhan.
32
Desde 2008 o site Youtube já mantém um sistema de annotations (anotações), que permite ao criador
do vídeo inserir comentários no vídeo, que podem funcionar como hiperligações (links), assim como os
videolinks que serão definidos na conclusão. A diferença, contudo, está em como essa hiperligação é utilizada; os
usuários do Youtube não parecem possuir o conhecimento teórico relativo ao hipertexto e suas possibilidades, o
que faz com que usem o sistema de anotações para criar jogos interativos ou fazer propaganda de seus
respectivos canais (“inscreva-se no meu canal clicando aqui” etc.) ao invés de usar as anotações como uma
ferramenta de re-contextualização e intertextualidade, o que poderia efetivamente criar uma plataforma
audiovisual mais independente do formato de texto e imagens estáticas dos websites.
30
3 CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
REDE GLOBO. Manual de Redação. Belo Horizonte: Globo Minas, Junho 2001.
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NOGUEIRA, Leila. O jornalismo audiovisual on-line e suas fases na web. In: Congreso
Iberoamericano de Periodismo em Internet. (5). Salvador, BA, 24 e 25 de novembro de 2004.
Disponível em: http://bit.ly/LFSA2010TCCREF010. Acesso em: jun. 2010.
SILVA JÚNIOR, José Afonso. A relação das interfaces enquanto mediadoras de conteúdo
do jornalismo contemporâneo: agencias de notícias como estudo de caso. Trabalho
apresentado no XI Encontro Anual da Compós. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em:
http://bit.ly/LFSA2010TCCREF013. Acesso em: jun. 2010.
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