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A aceleração industrial do séc.

XX, que possibilitou o crescimento no acúmulo de capital,


mudou o desenho da estruturação capitalista, que passa a pautar-se a partir de junções e
formações de conglomerados. É nesse contexto, na ascendência do projeto capitalista, que as
holdings começam a tomar forma.

O termo holding é de origem inglesa, formada a partir do prefixo hold, que significa
“controlar”, ou seja, é uma sociedade que controla outras sociedades. Nesse sentido, Modesto
Carvalhosa conceitua holding como: "[...] sociedades operacionais, constituídas para o exercício
do poder de controle ou para a participação relevante em outras sociedades [...]". 1Já para Fábio
Konder Comparato,: [...] as holdings apresentam-se como um meio extremamente útil para
centralizar o controle de um grupo, descentralizando a administração, gerindo de forma unificada
grupos de sociedades, que se têm difundido pela prática econômica moderna [...] 2

Em suma, Holding é uma empresa que tem como sua principal atividade a participação
majoritária em várias empresas, detendo assim, controle da administração e políticas empresariais
das empresas “subsidiárias”.

Frisa-se que a formação de holdings é totalmente legal e regulada pelo ordenamento


brasileiro, tendo o Código Civil de 2002, entre os artigos 1.097 e 1.101 feito referência a tal
vocábulo, além da instrução nº 247 da CVM também ter disposto sobre o tema.

Tal arranjo institucional é muito utilizado contemporaneamente, e não sem motivos, pois,
há inúmeras vantagens que a criação de holdings, com os fins já expostos, oferece ao gestor do
referido arranjo.

O primeiro, pode ser definido como planejamento sucessório. Planejamento sucessório,


não é nada mais que a organização da transferência do patrimônio, protegendo-o de eventos
familiares imprevistos, bem como potencializando a escolha do herdeiro mais capacitado para dar
continuidade a administração da entidade. Nessa toada, também traz como benefício a redução de
custos com o processo de inventário, assim como evita a existência de um condomínio de bens,
pois, o patriarca, ainda em vida, determinará as ações ou quotas pertencentes a cada um dos

1 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedade Anônimas. Volume II. 3º edição. Editora Saraiva, São
Paulo: 2003.
2 COMPARATO, Fabio Conder. O poder de controle na sociedade anônima. 6ºed, rev. Atual. Editora Forense, Rio

de Janeiro: 2014.
herdeiros, além, através de cláusulas específicas no estatuto ou contrato social, indicar os
sucessores da sociedade, sem atritos ou processos judiciais.3

As vantagens tributárias tornam-se o segundo bom motivo para a criação de uma


holding. Elas são constituídas na forma de elisão fiscal, não confundir com o crime de evasão fiscal,
que é uma forma lícita de buscar a redução da carga tributária. Pelo controlador, a holding em si,
dessas empresas se tratar de uma pessoa jurídica, os lucros e dividendos recebidos, são isentos
de imposto de renda e contribuições que já foram tributadas na empresa subsidiaria. Além de que,
tal modalidade de administração, pode optar, se quiser, por uma tributação baseada no lucro
presumido em algumas situações, sendo assim, por exemplo, o recebimento de alugueres que
serão tributadas com carga máxima de 11,33%, seriam de 27,5% se o controlador dessas empresas
fosse uma Pessoa Física. Da mesma maneira, o recebimento referente a serviços prestados de
administração, contabilidade, financeiro, RH, entre outros, pela mesma modalidade de tributação
seguirão a mesma metodologia.4

Por último, a blindagem patrimonial é a principal motivação para a criação de uma


holding. Um grande patrimônio em posse de uma pessoa física, gera riscos e custos elevados,
principalmente quando tal faz parte de uma sociedade empresarial, pois, o sócio, pessoa física,
corre o risco de ter seu patrimônio sujeito a penhora por possuir responsabilidade solidária
subsidiária. 5 Nesse sentido, afirma Nascimento que “ na utilização de holdings não há comunicação
entre o patrimônio da pessoa jurídica com o de seus sócios, assim, os bens da holding ficam
blindados e protegidos contra os possíveis contingências e demandas judiciais6”.

É nesse cenário, tendo conhecimento de tais riscos, que a holding serve como uma
medida legal que busque proteger o patrimônio, permitindo o repasse desses bens como

3 SILVA, N. R. V. da. Holding - um instrumento de blindagem patrimonial e de estratégia corporativa. 2016. 21f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Contábeis) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro
de Ciências Sociais Aplicadas, 2016.
4 SILVA, W.D. Holding – ênfase em planejamento tributário. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação em

Auditoria e Gestão de Tributos) – PUC- GO, 2011.


5 SILVA, N. R. V. da. Holding - um instrumento de blindagem patrimonial e de estratégia corporativa. 2016. 21f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Contábeis) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro
de Ciências Sociais Aplicadas, 2016.
6 SILVA, N. R. V. da. Holding - um instrumento de blindagem patrimonial e de estratégia corporativa. 2016. 21f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Contábeis) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro
de Ciências Sociais Aplicadas, 2016.
integralização do capital social da holding, distanciando a pessoa do sócio em relação ao
patrimônio, dessa maneira, blindando e protegendo seus bens.

No mesmo sentido, Juliana Paola Avilla Petrin e Ricardo Pereira Rios, elucidam:

Atualmente a maior preocupação do empresário em relação ao patrimônio seria o


envolvimento e vinculação de seus bens particulares e do grupo. Nesse contexto, a Holding
permite uma ‘blindagem patrimonial’, uma vez que todos os seus bens e participações
societárias passam para a Holding, evitando que estes sejam atingidos por eventuais
processos judiciais, que ocasionalmente, possam vir a ocorrer e acabar com aquilo que foi
construído em uma ou mais gerações.7

Nesse diapasão, os bens da pessoa física serão transferidos para uma holding por ela
constituída, a título de integralização de capital social. A pessoa física, por sua vez, em vez de ser
detentora de diversos imóveis e eventualmente bens móveis, passará a ser detentora somente das
quotas ou ações da holding, gerando uma segurança maior para o seu patrimônio. Isso faz com
que a probabilidade de penhora em demandas trabalhistas e execuções fiscais, seja bem menor
do que se tivesse em propriedade da pessoa física.

Além disso, a transferência/venda e tais bens para terceiros, não será exigido uma
Certidão Negativa de Débito, dessa forma, se a pessoa física for devedora de ativos trabalhistas
ou tributários, ela não terá como retirar essa certidão. Porém, com a transferência desses bens
para uma holding, eles poderão ser livremente transferidos para terceiros, mediante a apresentação
da certidão negativa da holding e não da Pessoa Física endividada.

Em suma, considerando todo o cenário apresentado, na hora da penhora dos bens para
a execução, o executante se deparará com ausência de bens passíveis de penhora, ao passo que
tais bens foram integralizados na constituição da Holding, em que o devedor figurará como
integrante.

Contudo, tal forma de blindagem, está sujeita ao peso da lei. Na medida em que fica
provado que a motivação para a criação da Holding foi com fins de dificultar a garantia do credor,
o ato se caracterizará como esvaziamento patrimonial do devedor, sendo isso constituído como
desvio de finalidade da holding, pois, tinha como objetivo ocultação de patrimônio.

7
PETRIN, Juliana Paola Avilla; RIOS, Ricardo Pereira. A Holding e o Processo da Sucessão Familiar. Revista
Eletrônica Gestão e Negócios, 2014. Vol. 5, nº 1, p. 18.
Assim sendo, vai ser anunciada a hipótese de desconsideração da personalidade
jurídica da holding, pois, configura-se abuso de tal, pois, desvia de sua finalidade, situações
fundamentadas pelo art.50 do CC e parágrafo 2º do art.4 da Lei 6.830/1980. Outra possibilidade, é
a partir do art.185 do CTN, se tal transferência de patrimônio ocorrer quando a dívida ativa. 8

Finalizando, conclui-se que há possibilidade de uma pessoa blindar seus bens, incluindo
suas participações societárias ou empresas em seu nome, criando uma holding. Porém, há também
formas, se for caracterizada fraude por sua parte, de tal blindagem ser desconstituída, sofrendo o
devedor assim a penhora dos referidos bens.

8MENEZES, B.B. de. A desconsideração da Personalidade Jurídica na Holding. Trabalho de Conclusão de


Curso (Graduação em Direito – Universidade São Judas Tadeu. 2014.

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