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Castigos ou consequências?

“Qual a diferença entre aplicar castigos e consequências na educação dos filhos”? – foi a primeira
pergunta da jornalista que me entrevistou para uma revista portuguesa.

O objetivo das consequências é educar crianças e adolescentes (e até mesmo alguns adultos) para se
responsabilizarem pelos próprios atos e fazer reparação de danos. É um modo de reconhecer as
repercussões de nossas ações em outras pessoas. Há adultos que não conseguem perceber isso e
culpam os outros por tudo que acontece. Não admitem que são, pelo menos em parte, responsáveis
pelo ocorrido.

As consequências referem-se diretamente ao que deixou de ser feito ou ao comportamento


inadequado: “ Primeiro acabe de fazer os deveres escolares, depois poderá brincar”; “Você rasgou a
página do livro de propósito: agora vai ter que consertar o que fez”. Lembro-me de uma conversa com
a diretora de uma escola em que vários alunos danificavam mesas e cadeiras das salas de aula.

Os castigos tradicionais (advertência, suspensão) não funcionavam. Um dia, contratou um marceneiro


para ensinar os “infratores” a consertar o que quebravam. No semestre seguinte, o índice de material
danificado foi muito menor. O comentário predominante: “Quebrar é rapidinho, consertar dá um
trabalho danado”!

Quando as consequências são aplicadas, a criança e o adolescente entendem melhor a ligação entre
seu comportamento e a ação que precisará ser feita para reparar o erro. É também possível combinar
antecipadamente com o filho quais as consequências que serão aplicadas: “Percebo que está difícil
para você sair das redes sociais para estudar e dormir no horário certo.

Nos dias em que você não conseguir fazer isso por conta própria, eu vou guardar seu celular até o
momento adequado”. O apelo do prazer e do entretenimento é tão forte que, muitas vezes, é difícil
tomar conta de si mesmo sem ajuda externa.

O comportamento inadequado dos filhos muitas vezes deixa os pais enraivecidos e, nessas ocasiões, o
castigo costuma ser desproporcional: “Não fez os deveres escolares hoje, então vai ficar um mês sem
jogos eletrônicos”. Quando a raiva acaba, o castigo costuma ser esquecido e, no dia seguinte, a criança
está com seus jogos eletrônicos novamente. Mas o que ela percebe é que a palavra dos pais não tem
credibilidade. Pior é quando o castigo envolve ameaças de perda de afeto: “Se você continuar se
comportando mal, eu vou sumir de casa e nunca mais vou ver você”. Isso cria insegurança e medo de
abandono.

Educar para a responsabilidade, a cooperação e a percepção de que precisamos contribuir para a


coletividade, seja na família, na escola, no trabalho, na comunidade em que vivemos é cada vez mais
importante para viver nesse mundo em rápida transição. Isso se solidifica por meio de pequenas ações
no dia a dia. É preciso colocar em foco a ação desejada, e dizer isso com firmeza. Por exemplo, se a
casa é de todos, todos precisam cooperar para a organização: “Você deixou sua toalha de banho no
chão do banheiro. Coloque-a no lugar certo, agora!”; “Hoje é seu dia de lavar a louça do jantar. Faça
isso antes de sair para se encontrar com os amigos”.

Aplicar consequências proporcionais ao que foi feito é uma questão de hábito, de criar uma disciplina,
educar. Os castigos físicos ou desproporcionais podem estimular o medo, e não o respeito. Educar
exige paciência, dá trabalho. Mas, se escolhemos ter filhos, é preciso criar tempo e disponibilidade
para isso.

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