2 de Janeiro de 2007 - Todos os anos ais cresceram aproximadamente 350%. Os
centenas de faculdades particulares - as públi- ventos da mudança sopram devagar em nosso cas não se interessam pelo tema - formam mi- país. lhares de novos profissionais de Comércio Exterior. Melhor dizendo, alguns profissio- Para completar o triste quadro, faltam nais e muitos aspirantes. Essa seria somente boas escolas. A formação típica de um aluno mais uma conclusão - um tanto óbvia em se de Comércio Exterior é falha e induz os futu- tratando de formação profissional no Brasil - ros profissionais a um ambiente exclusiva- não fosse o setor tão sensível à saúde do país. mente operacional. Nada contra a venturosa e importante área, diga-se. O que não é possí- A capacidade de absorção de novos vel sustentar é a estranha vocação entranhada profissionais, por parte das empresas que atu- na estrutura educacional de não formar futu- am no mercado internacional, é pequena. E ros negociadores de classe mundial. Talvez ao que tudo indica não deve aumentar muito fruto de docentes pouquíssimos preparados, nos próximos tempos. Processos de internaci- talvez retrato de um mercado de trabalho que onalização ainda são vistos como apêndices não valoriza e não sabe como tratar a ques- nas estratégias empresariais brasileiras, ou tão, o fato é que uma área de tamanha impor- são percebidas como elaborados e complexos tância para a vida do país é tratada como demais. Apesar do dinamismo do comércio apêndice do curso de Administração de Em- mundial, grande parte do empresariado nacio- presas. Trágico. Enquanto o assunto segue nal permanece anestesiado para as oportuni- menosprezado, a economia mundial anda li- dades que se apresentam além-fronteira. geira e a distância entre nós e o resto do mun- do só aumenta. É preciso que o ensino de Co- O resultado é bem conhecido. Poucas mércio Exterior se reinvente com urgência a empresas, exportações medíocres, baixa qua- fim de criar uma futura geração que saiba co- lidade de serviço e nenhuma capacidade de mo inserir o país em realidades cada vez mais melhorar a péssima imagem que o país goza complexas e adversas. no exterior. Estima-se que um universo de 18 mil empresas venda lá fora nossos produtos. Arrisco um palpite para os próximos Se comparadas às quase 5 milhões de empre- dez anos. Não teremos uma reforma sensível sas legalmente registradas, temos um dos me- na graduação de Comércio Exterior. A próxi- nores coeficientes de capacidade exportadora: ma geração, salvo raras exceções, será tão 0.36%. Curioso é constatar que há exatos vin- pouco preparada quanto a atual. Também se te anos tínhamos 13,5 mil empresas exporta- frustrará em relação à profissão. E o mundo doras. Um aumento de 33%. Lamentável. cobrará um preço alto por esse ato falho de Nesse mesmo período, as exportações mundi- todos que pensamos e vivemos a realidade
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Internacional Terça, 02 de Janeiro de 2007
Educação Tipo Exportação
das trocas internacionais e do ambiente aca-
dêmico. O que pode ser feito está na Pós- Graduação. É a chance de ajustar - aos 48 mi- nutos do segundo tempo - os profissionais que cuidarão dos negócios internacionais do Brasil.
Não costumo citar nomes em meus ar-
tigos e aulas, mas não posso deixar de menci- onar iniciativas positivas. O Senac Campinas prepara o lançamento de um curso de Pós- Graduação em Gestão de Comércio Exterior que chama a atenção no meio do deserto qua- litativo do mercado. A proposta é robusta: 404 horas de estudo. A equipe por trás do curso é séria - vide o I Encontro Executivo de Comércio Exterior, realizado em Setembro último em São Paulo - o que serve como pre- núncio de um trabalho sério e bem intencio- nado.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág.
10)(Sergio Pereira - Trader e Gerente de Mercado Internacional da Cia. Nitro Quími- ca, do Grupo VotorantimE-mail: ser- gio.pereira@nitroquimica.com.br)